Elaboração de Um Projecto de Uma Unidade de Piscicultura
Elaboração de Um Projecto de Uma Unidade de Piscicultura
Elaboração de Um Projecto de Uma Unidade de Piscicultura
PISCICULTURA
DOCUMENTO DEFINITIVO
2008
LISBOA
ELABORAÇÃO DE UM PROJECTO DE UMA UNIDADE DE
PISCICULTURA
DOCUMENTO DEFINITIVO
2008
LISBOA
ELABORAÇÃO DE UM PROJECTO DE UMA UNIDADE DE PISCICULTURA
Agradecimentos
Gostaria de agradecer em primeiro lugar a todos aqueles que contribuíram para a realização
desta dissertação. Ao meu orientador, o Prof. Dr. Fernando Ribeiro Alves Afonso, pela ajuda
em obter o estágio que pretendia e pela disponibilidade, por manter sempre a porta do seu
gabinete aberta para me ajudar. Ao Eng. José Alexandre pelos conhecimentos e pela visão
esclarecedora das coisas, sempre com simpatia. À Dra. Teresa Baptista por me ter aceite no
estágio na TIMAR. A todos os colegas e amigos de trabalho que ganhei no decorrer destes
cinco meses de estágio e sem os quais não seria possível aprender tanto quanto aprendi.
Acima de tudo gostaria de agradecer aos meus Pais, que me proporcionaram chegar onde
estou hoje, à minha Mãe pela motivação que sempre tentou transmitir e um grande
Obrigado ao meu Pai pela orientação na parte financeira/económica do projecto. Agradeço à
minha Família e aos meus amigos por tornarem tão agradável todo o meu percurso
académico.
Por último gostaria de agradecer a Rita Mendes, pela companhia, pela grande ajuda, pelo
apoio e por estar sempre presente.
Resumo
Abstract
Aquaculture plays an important role in the production of protein of high quality. This thesis
includes a project of a semi-intensive fish farm of sea bream and sea bass located near
Setúbal.
The execution of an aquaculture project requires multidisciplinary effort, mobilizing different
skills and resources. Aquaculture projects are linked directly to specific sites and may be
adversely affected by pollution, local economic factors or social changes that may jeopardize
the success of this economic activity.
The major purpose of this work is to provide guidance to people wanting to know more about
aquaculture project formulation. The example of the project done for this work provides the
standards of design and analysis needed to develop an aquaculture project in a real
situation.
Keywords: Aquaculture, Veterinary; project; semi-intensive system, sea bream; sea bass
Índice Geral
Resumo ................................................................................................................................................... I
Abstract .................................................................................................................................................. II
Índice Geral ........................................................................................................................................... III
Índice de Figuras ................................................................................................................................... V
Índice de Tabelas ................................................................................................................................. VI
Índice de Gráficos ............................................................................................................................... VII
Índice de Abreviaturas e Símbolos .................................................................................................. VIII
Nota Prévia.............................................................................................................................................. 1
1.Introdução e Objectivos........................................................................................................................ 2
2. Aquacultura ......................................................................................................................................... 3
2.1 Definição de aquacultura................................................................................................................... 3
2.2 História da aquacultura ..................................................................................................................... 4
2.3 História da produção da dourada e do robalo................................................................................... 7
3. Estado mundial da aquacultura........................................................................................................... 8
4.Estado da aquacultura em Portugal ................................................................................................... 11
5. Papel do médico veterinário na aquacultura..................................................................................... 13
6.Áreas de intervenção do médico veterinário numa piscicultura......................................................... 16
7. Elaboração de um projecto de uma unidade de piscicultura ............................................................ 20
7.1 Fundamento teórico ........................................................................................................................ 21
7.2 Projecto da unidade de engorda de robalo e dourada.................................................................... 29
7.2.1 Ideia do Projecto .......................................................................................................................... 29
7.2.2 Estudo de viabilidade técnica....................................................................................................... 30
7.2.2.1 Caracterização da área e localização do Projecto.................................................................... 30
7.2.2.2 Condições do terreno ................................................................................................................ 31
7.2.2.3 Plano de produção .................................................................................................................... 32
7.2.2.3.1 Planificação da produção ....................................................................................................... 32
7.2.2.3.2 Métodos de produção............................................................................................................. 38
7.2.2.3.3 Matérias-primas e recursos necessários à fase de exploração............................................. 47
7.2.2.4 Plano de desenvolvimento ........................................................................................................ 49
7.2.2.4.1 Infra-estruturas e layout da exploração.................................................................................. 49
7.2.2.4.2 Equipamento e materiais de construção................................................................................ 53
7.2.2.4.3 Planos de construção............................................................................................................. 54
7.3. Legislação referente à instalação e exploração de estabelecimentos de aquacultura ................. 55
7.3.1 Legislação relativa à higiene e comercialização dos produtos de aquacultura ........................... 56
7.4. Análise do mercado........................................................................................................................ 56
7.4.1 Oportunidades e ameaças para a indústria da aquacultura ........................................................ 57
7.4.2 Produção de dourada e robalo..................................................................................................... 58
7.4.3 Principais países produtores e principais mercados para a dourada e o robalo ......................... 62
7.4.4 Consumidores e clientes da exploração ...................................................................................... 64
7.4.5 Empresas concorrentes ............................................................................................................... 66
7.5.Marketing......................................................................................................................................... 68
7.5.1 Produtos oferecidos e as suas características............................................................................. 67
7.5.2 Estratégias de divulgação e promoção da empresa.................................................................... 70
7.5.3 Estratégias para lidar com as dificuldades do mercado .............................................................. 72
7.5.4 Definição dos preços a praticar.................................................................................................... 75
7.5.5 Meios de distribuição do produto ................................................................................................. 75
7.6.Análise de viabilidade do projecto................................................................................................... 76
7.6.1 Orçamento.................................................................................................................................... 77
7.6.2 Cálculo do valor líquido actualizado (VLA) .................................................................................. 79
7.6.3 Cálculo do rácio benefício-custo .................................................................................................. 80
7.6.4 Cálculo do período de recuperação do capital ou Payback Period ............................................. 81
Índice de Figuras
Índice de Tabelas
Índice de Gráficos
ºC Grau Celsius
g Grama
Kg Quilograma
L Litro
m Metro
mg Miligrama
2
m Metro quadrado
€ Euro
m3 Metro Cúbico
ha Hectare
Ton Tonelada
OD Oxigénio Dissolvido
ICN Instituto de Conservação da Natureza
FAO Food and Agriculture Organization
IFOP Instrumento Financeiro de Orientação das Pescas
INIAP Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas
LNIV Laboratório Nacional de Investigação Veterinária
DGPA Direcção Geral de Pescas e Aquicultura
VLA Valor Líquido Actualizado
TIR Taxa Interna de Rentabilidade
Nota Prévia
Este trabalho foi efectuado com base em dados e informações recolhidas ao longo do
estágio curricular, que decorreu durante um período de cinco meses, entre 13 de Setembro
de 2007 e 13 de Fevereiro de 2008. O estágio foi realizado em duas empresas de
aquacultura, sob orientação do Prof. Dr. Fernando Ribeiro Alves Afonso.
A primeira parte do estágio foi passada na TIMAR LDA. (culturas em Água), e teve a
duração de um mês. Esta empresa possui a única maternidade de dourada e robalo do
Algarve e está localizada perto de Tavira. Neste local é feita a produção de juvenis para
venda a outras explorações, assim como, a cultura integrada de dourada e robalo.
O estágio nesta empresa permitiu adquirir conhecimentos em aquacultura e, através da
participação activa nas actividades de rotina da empresa, obter prática nos trabalhos
realizados numa piscicultura. Entre as diversas actividades desenvolvidas sublinha-se a
participação na reprodução de peixes em aquacultura, nas técnicas de anestesia,
amostragem e triagem de peixe, nas técnicas de alimentação, nas tarefas de manutenção
da unidade e na pesca, abate e embalagem dos produtos da empresa. Esta fase permitiu
também observar actividades como a colheita de amostras de água e peixe, a necrópsia de
peixes, o tratamento para alguns processos patológicos e a determinação de temperatura,
oxigénio dissolvido e pH da água. As informações relativas às instalações e técnicas
utilizadas em aquacultura, recolhidas durante a permanência nesta empresa, foram
essenciais para a elaboração deste projecto.
O restante período de estágio decorreu na empresa Leonídeo Alexandre, localizada nas
praias do Sado, perto de Setúbal. Esta unidade é composta por um conjunto de três
pisciculturas, que ocupam uma área de aproximadamente 55 ha. A empresa pratica a pré-
engorda e engorda de dourada e robalo em sistema semi-intensivo. O trabalho desenvolvido
nesta etapa do estágio permitiu continuar a aprendizagem sobre as técnicas de
amostragem, de alimentação, de pesca e de abate de peixe. Este período possibilitou
adquirir conhecimentos sobre a realidade da aquacultura em Portugal, quer pela
participação na actividade de venda dos produtos, quer pela observação dos actos de
gestão da piscicultura. Durante a permanência em Setúbal foi ainda possível assistir à
discussão sobre o plano de ordenamento da Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) e
à apresentação, na Câmara Municipal de Setúbal, do novo Programa Operacional de
pescas 2007-2013. A experiência obtida nestas unidades pisculas foi fundamental para a
elaboração deste trabalho.
1.Introdução e Objectivos
2. Aquacultura
Com o passar do tempo, estes conhecimentos foram difundidos para outras regiões
asiáticas, sendo aproveitadas pelas suas populações para a produção de novas espécies e
Ampliação da
Idade Média Europa Carpa comum
Ciprinicultura
Método Dubisch de
Europa Central Carpa comum
Reprodução
Utilização de alimentos
Século XIX Europa Central Carpa comum
Artificiais
Reprodução artificial para França, Escócia e
Salmonídeos
repovoamento de rios Alemanha
Propagação artificial.
Início do Século XX Argentina e Brasil Argentinas e brasileiras
Hipofisação
Reprodução e incubação URSS, Europa
Carpas chinesas
Artificial Central e China
Anos 60
Europa, América do
Produção comercial Salmonídeos
Norte e Japão
Domesticação de várias Vários Países Salmão, esturjões,
Anos 70 e 80 Espécies do Mundo Silurideos
Reversão sexual da
Filipinas, Tailândia Tilápia do Nilo
Tilápia do Nilo
A aquacultura mundial teve um crescimento muito acentuado nas últimas cinco décadas.
Observando o Gráfico 1, verificamos que no início dos anos cinquenta, a produção mundial
de peixe em aquacultura era inferior a um milhão de toneladas. Actualmente, esta indústria
produz cerca de 59.4 milhões de toneladas. No que concerne aos principais produtores
desta indústria, a China destaca-se como o maior produtor mundial, representando 69.6%
do total da produção a nível mundial. Seguem-se claramente distanciados a Índia, com 4.2%
do volume de produção e as Filipinas com 2.9% (FAO, 2006).
Observando o Tabela 2, podemos constatar a predominância de países asiáticos nos dez
países com maior produção em aquacultura. As razões para este desequilíbrio podem ser
explicadas por razões de carácter histórico, cultural, económico e ambiental.
PAÍS PRODUÇÃO EM VOLUME (TONELADAS) GLOBAL (%) PRODUÇÃO EM VALOR (1000 US$) GLOBAL (%)
CHINA 41 329 608 69.6 35 997 353 51.2
ÍNDIA 2 472 335 4.2 2 936 478 4.2
FILIPINAS 1 717 028 2.9 794 711 1.1
INDONÉSIA 1 468 612 2.5 2 162 849 3.1
JAPÃO 1 260 810 2.1 4 241 820 6.0
VIETNAME 1 228 617 2.1 2 458 589 3.5
TAILÂNDIA 1 172 866 2.0 1 586 625 2.3
COREIA 952 856 1.6 1 211 741 1.7
BANGLADESH 914 752 1.5 1 363 180 1.9
CHILE 694 693 1.2 2 814 837 4.0
No que concerne às espécies produzidas, são adaptadas à cultura, por ano, uma média de
1.5 novas famílias e 5 novas espécies. O número total de espécies listadas na base de
dados da FAO FISHSTAT Plus como já tendo sido produzidas é de 442 espécies (FAO,
2007). Os peixes representam o grupo taxonómico de espécies aquáticas mais produzidas,
correspondendo a uma produção que representa 47.4% da produção mundial, sendo o
segundo grupo mais produzido as plantas aquáticas com 23.4%, seguidas dos moluscos
com 22.3% e em quarto lugar aparecem os crustáceos com 6.2% (FAO, 2006). Quando
consideramos o valor monetário gerado pela produção de cada um destes grupos, as
posições alteram-se conforme o exposto no Gráfico 2.
Gráfico 2- Comparação do valor global da produção dos principais grupos taxonómicos (fonte:
FAO 2006)
14,20% 1,80%
20,40% 53,90%
9,70%
A história da aquacultura tem uma grande influência nas famílias taxonómicas mais
produzidas, razão pela qual surgem em primeiro lugar os ciprinídeos, com uma produção
anual de 18.2 milhões de toneladas. A uma grande distância, com uma produção de 4.5
milhões de toneladas, surge a família Ostreidae. Observando o Gráfico 3, podemos ver que
famílias com grande interesse na Europa e em Portugal, como a Salmonidae e a Mytilidae
ocupam os lugares sete e oito, respectivamente, em termos de volume de produção (FAO,
2006).
Gráfico 3- Famílias com interesse para a produção aquícola (fonte: FAO 2006)
Quantidade Valor
(milhões de toneladas)
Gráfico 4-Importância do meio de cultura no que toca ao volume de produção (fonte:FAO 2006)
6%
43%
51%
A aquacultura, em termos económicos, insere-se no sector das pescas. Este sector tem um
peso relativamente baixo para a economia Portuguesa. O Valor Acrescentado Bruto (VAB)
da pesca, representou, em 2005, apenas 0.29% do VAB Nacional, tendo o conjunto dos
sectores pesca/captura, aquacultura e indústria transformadora dos produtos da pesca
representado cerca de 0.6% de emprego directo numa população activa de 5.5 milhões de
pessoas. É importante também referir que o saldo externo dos produtos da pesca é
altamente deficitário, ou seja, a produção nacional consegue satisfazer apenas uma parte
das necessidades de consumo nacional (Direcção Geral de Pescas e Aquicultura [DGPA],
2007).
O total do pescado capturado em Portugal permite satisfazer níveis de consumo per capita
da ordem dos 23 Kg/ano, o que apesar de representar um valor idêntico à média
comunitária, é insuficiente para satisfazer um consumo per capita de 57 kg/ano exigido pela
população nacional. Portugal posiciona-se assim no 3º lugar a nível mundial, em termos de
consumo de pescado, sendo unicamente ultrapassado pelo Japão e pela Islândia. Este
consumo representa uma necessidade de pescado na ordem das 650 000 ton/ano, muito
acima das 218 205 produzidas pelo somatório da aquacultura com as capturas, como
demonstra a Tabela 3. Apesar destes dados poderem transparecer uma imagem pessimista
do sector das pescas em Portugal, revelam um grande potencial para o sector da
aquacultura. Esta actividade pode ser um complemento para aliviar a dependência externa
da balança de pagamentos referente aos produtos da pesca, ajudar a estabilizar o preço de
determinadas espécies e fornecer proteína de qualidade em quantidades consideráveis e a
preços acessíveis (DGPA, 2007).
Até meados dos anos 80, a produção portuguesa em aquacultura consistia principalmente
de truta produzida nos rios e moluscos bivalves produzidos em estuários. No entanto, a
partir do início dos anos 90 deu-se um período de grande aumento na produção em
aquacultura marinha, a que se seguiu uma fase de algumas flutuações. Em 2003, a
produção total desta actividade era de 8 041 toneladas, distribuindo-se principalmente em
3 186 toneladas de amêijoa, 280 toneladas de mexilhão, 423 toneladas de ostra, 1449
toneladas de dourada e 1386 toneladas de robalo. De acordo com os dados referentes ao
ano de 2005, as principais espécies produzidas em aquacultura eram a amêijoa-boa, a
dourada e o robalo, os quais, em 2005, representam 70% da produção aquícola total
(DGPA, 2007). A aquacultura de água doce esteve ainda representada por 953 toneladas de
truta. Actualmente, a produção em águas doces perdeu a sua grande importância,
correspondendo a produção em meio marinho e águas salobras a 87% da produção total
(5639 toneladas). Os dados da Tabela 4 demonstram esta evolução.
O grande peso da produção (cerca de 50%) continua a ser centrado na Região do Algarve,
o que é explicado pela importância da cultura de amêijoa-boa e ostra. Estas espécies são
produzidas em zonas estuarinas ou nas rias, colocando-as numa situação de fragilidade
face ao estado do meio ambiente, nomeadamente em resultado de outras actividades
humanas (poluição, aumento das temperaturas médias, entre outras). A Região Norte surge
em 2º lugar, devido à produção em água doce, sendo a truta arco-íris a principal espécie
produzida (DGPA, 2007).
Dados recolhidos no final de 2005 indicam a existência, em Portugal, de 1 472
estabelecimentos de aquacultura (crescimento e engorda). Destes, 87% eram viveiros, 11%
eram tanques e apenas 2% estruturas flutuantes, predominando as empresas exploradas
por estruturas familiares, em regime extensivo e semi-intensivo. Na Região Autónoma da
Madeira estão a ser ensaiadas técnicas de produção de peixe, em cativeiro, para espécies
locais ou outras espécies, tendo-se registado, em 2005, uma produção de 26,5 toneladas.
Com o desenvolvimento das estruturas off-shore perspectivam-se, para esta região, valores
de produção de algumas centenas de toneladas a breve prazo (DGPA, 2007). Embora os
dados recolhidos indiquem que houve um pequeno retrocesso no desenvolvimento da
aquacultura em Portugal, as perspectivas futuras e os incentivos comunitários irão com
certeza levar a um aumento deste tipo de cultura.
De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS) e com a Lei Portuguesa, a sanidade
dos animais aquáticos é da responsabilidade do Médico Veterinário. A sua formação
específica em medicina animal e os seus conhecimentos na área de produção animal
garantem-lhe um espaço neste mercado de trabalho. No entanto, a aquacultura é uma
actividade comercial com um desenvolvimento relativamente recente, onde ainda existe
muito por fazer e desenvolver. Os Médicos Veterinários, à semelhança de outros
profissionais, devem identificar os pontos críticos na cadeia produtiva onde podem actuar,
levando a um aumento da produtividade da aquacultura, de forma sustentável.
cadeia de produç
produção em aquacultura
C
Médico Veterinário
O
Consumíveis:
N
• Dinheiro
• Conhecimentos Produção: S
Processamento
• Terreno • Maternidade
• Pré-engorda e U
• Reprodutores
• Engorda comercialização
• Ração M
• Medicamentos
• etc. I
D
O
Legislação Sanitária e Ambiental, Investigação, etc. R
indústria da aquacultura e onde o Médico Veterinário pode estar inserido, entre eles o
Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) e o Instituto Nacional Investigação
Agrária e Pescas (INIAP), para além de empresas privadas de alimentação e empresas
farmacêuticas.
Outro dos campos de trabalho da responsabilidade do Médico Veterinário é a sanidade, a
saúde pública e a segurança alimentar. Os futuros inspectores sanitários devem ter
formação específica e estar integrados nos organismos públicos que regulam esta indústria,
nomeadamente, a Direcção Geral de Veterinária (DGV) e Direcção Geral de Pescas e
Aquicultura (DGPA). Esta formação revela-se fundamental, tendo em vista uma perspectiva
futura de crescimento no número de unidades de produção e na importância deste tipo de
produtos na alimentação humana. É importante que o Médico Veterinário assegure o
controlo e fiscalização dos produtos aquícolas nas diferentes fases da produção e colocação
no mercado. Através da rastreabilidade, controlo e inspecção, o Médico Veterinário e as
autoridades competentes devem verificar toda a informação referente ao produto ao longo
da cadeia de produção e assegurar que os produtos sejam colocados no mercado em
concordância com a legislação, nomeadamente a sanitária. Na Figura 6 está exemplificado
um dos organismos responsáveis pelo cumprimento desta legislação.
respectivas medidas de combate. A aplicação desta legislação irá traduzir-se numa mais
fácil circulação de animais e produtos aquícolas e numa maior segurança alimentar em
termos de sanidade animal.
O Médico Veterinário deve também ter presente a existência de laboratórios nacionais de
referência para as doenças dos animais marinhos. Conforme Decisão da Comissão n.º
2001/288, o Laboratório Nacional de referência para doenças de peixes é o Laboratório
Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) e para doenças dos moluscos é o Instituto
Nacional Investigação Agrária e Pescas (INIAP).
Por último, os conhecimentos abrangentes do Médico Veterinário permitem-lhe trabalhar na
área da aquacultura através da gestão de uma piscicultura ou a instalação de uma
piscicultura por conta própria. O presente trabalho é um exemplo desta última opção.
Biosegurança
Controlo de doenças e maximização do bem-estar
Gestão e maneio
Monitorização e registo de dados, códigos de boas práticas e sistemas de autocontrolo
impedir a predação pelos animais selvagens, o que representa uma parte significativa das
perdas produtivas de uma exploração e um vector de introdução de doenças vindas do meio
ambiente ou de outras explorações. Como parte das medidas de biosegurança devem ainda
ser garantidos mecanismos que garantam um tratamento adequado dos resíduos da
exploração. Na Figura 7 estão alguns exemplos práticos de medidas de biosegurança.
Medidas de Biosegurança D
C
Legenda:
A - Acima e à esquerda - Pedilúvio para pessoal
B - Acima e à direita - Pedilúvio para veículos à entrada da exploração
C - Abaixo e à esquerda - Rede anti-predadores nos tanques
D - Abaixo e à direita - Pistola de ar comprimido para afugentar aves
Considerando que a maior parte dos procedimentos de gestão e maneio dos animais
aquáticos tem influência directa nos factores predisponentes ou agravantes das doenças, o
Médico Veterinário deve saber dar formação e aconselhar o produtor dos procedimentos de
maneio e gestão mais adequados ao seu tipo de produção, ajudando-o no aumento da
produtividade e na redução dos riscos de produção. O Médico Veterinário deve, também,
aconselhar sobre o manuseamento e o armazenamento correcto dos medicamentos de uso
veterinário utilizados nesta indústria, ajudando desta forma a garantir a segurança no
trabalho. O risco para a saúde pública dos resíduos de medicamentos e outras substâncias
químicas nos animais ou em produtos deles derivados e destinados ao consumo humano
torna-se um ponto de particular importância, uma vez que o incumprimento destas normas,
para além de consequências legais, tem graves consequências para a saúde pública e para
o meio ambiente, podendo levar ao aparecimento de estirpes bacterianas antibiorresistentes
que podem transmitir essa resistência a outras bactérias, nomeadamente às que são
patógenicas para o Homem.
Legenda:
Armazenamento de ração para engorda do peixe (esquerda)
Armazenamento do anestésico Fenoxietanol (direita)
Análise de Mercado
O mercado oferece oportunidade de crescimento?
Estratégia de Marketing
Regulamentação Aplicável
Elaboração do Plano de Investimento
O negócio é um bom investimento?
Caracterização do local
Área
Localização
Verificação das condições do terreno
Abastecimento de água
Tipo de solo
Condições climáticas
Topografia e cotas de terreno
Hidrologia (marés, cheias, caudais de água)
Recursos, acessibilidades e distância do mercado
Plano de produção
Planificação da produção
Técnicas de produção
Matérias-primas, recursos e fornecedores necessários à fase de exploração
Plano de desenvolvimento
Infra-estruturas e layout da exploração
Equipamento e materiais de construção
Planos de construção
Instalações
Acessibilidades
Qualidade e
Disponibilidade da água
Tipo de Solo
Velocidade Facilidade
Facilidade de Resistência à Aceitabilidade Tecnologia
Espécies de de
domesticação doença do mercado adequada
crescimento alimentação
Camarão *** *** * *** ***** **
Dourada **** **** **** **** *** ****
Robalo **** **** *** **** *** ****
Carpa ***** *** **** **** ** ****
Linguado * ** *** * ***** **
Nível de Aquisição de
Regime Densidade Produção Alimentação
investimento juvenis
800 a 1000
Extensivo Baixa Baixo Meio ambiente Natural
Kg/ha/ano
Mais elevada que 1 a 15 Meio ambiente ou
Semi-intensivo Médio Alimentação mista
a anterior Ton./ha/ano maternidade
Alimentação
Intensivo Elevada 20 Ton./ha/ano Alto Maternidade
artificial
na unidade que este projecto pretende criar. Na Figura 12, encontra-se representado o ciclo
de produção completo da dourada.
Consumidor
Stock de reprodutores Produto final
Raç
Ração
2-6 anos 16 meses - 300 a 500 g
Reprodução
Dieta
Reprodução Engorda
2-3 anos de 4-6 anos de
idade idade
Ovulação Tanques ou jaulas nas
pisciculturas
Incubação
Tanques
Ovos 6 000-10 000/litro
Pré-engorda 8-10 meses
Maternidade Alevinagem
5–9 dias
30 dias
55-60 dias
Juvenil 5 g
Larva com saco Larva
Dieta (microalgas,
vitelíneo rotiferos, artémia)
Reprodução
A primeira etapa na produção de peixes em cativeiro é a reprodução. Todo o processo está
dependente da manutenção de um viveiro de peixes (robalos e douradas) de grandes
dimensões e idade avançada, designados por reprodutores. Estes podem ser capturados no
mar ou comprados a outras maternidades. As idades ideais para os reprodutores são as
indicadas no esquema do ciclo de produção. As condições ambientais nos tanques
(temperatura e luminosidade ou fotoperíodo) são controladas de modo a permitir a
programação da produção. Os tanques dos reprodutores são cobertos e a iluminação é
100% artificial, permitindo efectuar variações de luminosidade que simulam o crescimento
ou decrescimento dos dias. Estes tanques permitem também aquecer ou arrefecer a água
captada para o seu enchimento, variando a gama de temperaturas entre 13 e 24 ºC. As
fases do ciclo sexual dos peixes são controladas pelas variações temporais de temperatura
e luminosidade e pela injecção de hormonas. Ou seja, para se obter uma postura de ovos
numa determinada altura é necessário simular as condições naturais para as quais as fases
do ciclo sexual dos peixes são completadas em condições óptimas. Esta manipulação
ambiental é feita de forma a obter ovos de acordo com a disponibilidade das restantes zonas
da exploração, para receber os peixes que estes irão originar. As posturas destes peixes
darão origem a muitos milhares de ovos, tornando necessário gerir a programação dos
tanques de reprodução, para que elas ocorram de forma a permitir o encaminhamento da
totalidade dos peixes para as restantes fases do seu crescimento.
Na fase de reprodução não se deve reutilizar a água que corre em continuo pelos tanques.
A inexistência de um sistema de tratamento de água adequado faz com que em caso de
Incubação
A segunda fase deste processo é a incubação. Os ovos são aspirados dos tanques de
reprodução e são colocados nos tanques de incubação. Aqui eles encontram as condições
ideais para o seu desenvolvimento e após se ter dado a eclosão dos ovos, as larvas de
peixe permanecem neste local durante alguns dias. As larvas são separadas em lotes e
mantidas em tanques de pequenas dimensões durante um período de 5 a 9 dias. Estes
tanques servem para proporcionar às larvas estágios diários de adaptação a uma nova
temperatura e luminosidade, através de um aumento gradual da temperatura da água de
0,5 ºC por dia. O objectivo é que ocorra uma adaptação ao ambiente existente na
maternidade.
Maternidade
Após a incubação, as larvas são transferidos para o sector da maternidade. Este sector é
constituído por um conjunto de tanques mantidos à temperatura constante de 20 ºC e onde
a renovação de água é feita em circuito fechado, ocorrendo apenas uma renovação diária
de 10% do volume total dos tanques. Devido à grande sensibilidade das larvas neste estágio
de produção, a água passa por um processo de tratamento por raios ultravioleta antes de
entrar no circuito. Nestes tanques, a permanência dos peixes é em geral de 30 dias e a cada
tanque ou conjunto de tanques corresponde um lote com as mesmas características de
tamanho e grau de desenvolvimento.
Alevinagem
Segue-se o estágio de crescimento dos peixes chamado de alevinagem. Nesta fase, os
peixes provenientes da maternidade são sujeitos a sucessivas triagens de forma a
homogeneizar o tamanho dos peixes em cada tanque durante um período de 55-60 dias.
Esta fase destina-se a retirar os peixes com anormalidades e a melhorar a qualidade dos
stocks. Os peixes que sobrevivem até ao final desta fase (aproximadamente 15%) ficam
disponíveis para comercialização imediata, podendo ser vendidos às explorações, nas
quais, posteriormente se realizarão as fases de pré-engorda e engorda, dando origem ao
produto final. É neste ponto que se pode realizar a compra de juvenis para o projecto que se
pretende desenvolver. As técnicas referentes à pré-engorda e à engorda encontram-se
descritas no plano de produção do projecto.
Produção de Alimento
As técnicas de produção de juvenis são indissociáveis das técnicas de produção de alimento
vivo, o que torna importante esclarecer algumas destas técnicas.
Micro-Algas
As micro-algas são um tipo de alimento usado para a alimentação dos rotíferos e da
artémia. São armazenadas sob a forma de culturas de inóculo, enriquecidas com os
nutrientes típicos para vegetais, tais como azoto, fósforo, sais minerais e vitaminas. Quando
existe necessidade, estas culturas são inoculadas em balões volumétricos e postas a
crescer em condições ideais sendo posteriormente transferidas para recipientes de
capacidade sucessivamente maior. Na fase final, são produzidas em mangas plásticas
transparentes envolvidas por conjuntos de lâmpadas fluorescentes de 58 W, mantidas
acesas em permanência. A água contida nas mangas mantém-se à temperatura de 20 ºC, o
que permite um crescimento exponencial das micro-algas.
Rotíferos
Os rotíferos (Brachionus plicatillis) são organismos aquáticos microscópicos utilizados como
primeiro alimento para larvas de peixes, servindo de alimento para a maternidade. A cultura
dos rotíferos compreende três fases: a manutenção de uma cultura de inóculo num meio de
cultura constituído por uma cultura à base de algas de baixa concentração celular; a
produção de culturas intermédias, que constituem já uma primeira forma de produção
massiva de rotíferos e por último, a cultura massiva de rotíferos, feita em tanques cilindro-
cónicos de várias centenas ou milhares de litros.
Artémia
A artémia (Branchipus stagnalis) faz parte da cadeia alimentar dos peixes nas fases de
maternidade e alevinagem. É um crustáceo branquiópode, que vive em tanques de salinas
ou em lagos com elevada salinidade. A artémia encontra-se armazenada sob a forma de
quistos desidratados. Quando se pretende utilizar a artémia procede-se à hidratação dos
quistos. Os quistos hidratam-se ao fim de 1 a 2 horas ficando com a forma esférica e após
um determinado período de tempo, quando o embrião está completamente desenvolvido, o
córion rompe-se e eclode o náuplio. Após a eclosão dos náuplios, estes são fornecidos
directamente às larvas ou então são previamente enriquecidos. Os náuplios também podem
ser produzidos para obter alimento de maiores dimensões, que são utilizadas na
alimentação de estados mais desenvolvidos das larvas de peixes.
Esta tabela permite fazer uma escolha rigorosa de fornecedores com os quais se pretende
trabalhar. Esta deve basear-se em questões como o preço do produto, a regularidade das
entregas e a qualidade dos serviços prestados. Na Figura 13 encontram-se representados
alguns dos possíveis fornecedores.
A última fase e em termos práticos, uma das fases mais importantes da execução de um
projecto, é a elaboração de um plano de desenvolvimento. Este plano define as condições
de instalação da exploração e é composto por infra-estruturas e layout da exploração,
equipamento e materiais de construção e também pelos planos de construção.
além de permitir criar um produto final com características muito apreciáveis, quer do ponto
de vista do produtor como do ponto de vista do consumidor, caracterizando-se por:
frescura,
qualidade,
segurança alimentar,
preços estáveis,
tamanhos uniformes,
oferta permanente
O terreno necessário para a instalação do projecto é um terreno de família obtido
recentemente onde esteve em funcionamento uma salina que foi desactivada, por esta
actividade deixar de apresentar rentabilidade nos moldes em que funcionava. Pretende-se
agora converter essa salina para a prática de piscicultura. O projecto apresentado por este
trabalho foi desenvolvido tentando simular o modelo de exploração mais comum em
Portugal e tem como objectivo imediato a engorda de dourada e robalo, de modo a produzir,
anualmente, cerca de 150 toneladas de peixe.
Figura 14- Localização do terreno onde será instalada a piscicultura (fonte: Google Earth)
A renovação da água será feita complementando a bombagem de água com o uso das
marés. A cota média da superfície do terreno de 2 metros possibilita o aproveitamento das
marés para fazer a circulação de água pelos tanques, diminuindo os custos da bombagem
de água. Pretende-se construir tanques de terra para a cultura do peixe, utilizando o
diagrama presente na Figura 15 para fazer o enchimento e circulação de água.
Legenda:
R- Tanque de admissão
F- Tanques de cultura
S- Tanque de sedimentação
Observando a figura acima observa-se que a água entra pelo reservatório R na maré-alta,
ou por meio de bombas de água (se a maré não for suficientemente alta ou em casos de
emergência) e corre para os tanques de engorda F. Destes tanques a água dirige-se aos
tanques de sedimentação S, o que permite aos efluentes da área produtiva sedimentar,
antes de serem libertados para o ambiente marinho durante a maré baixa.
Interessa também referir que o terreno para o qual está projectada a piscicultura possui solo
argiloso, facilitando a construção deste tipo de sistema de tanques de terra e possibilitando
um aproveitamento máximo da água bombeada.
Instalações, acessibilidade, electricidade, esgotos, estradas e distância ao mercado
Este projecto irá reaproveitar as instalações previamente existentes na salina,
reaproveitando um armazém com 90 m2, onde era armazenado o sal, as ferramentas e os
veículos utilizados nesta indústria e uma casa de apoio, utilizada pelos antigos funcionários
da salina como cozinha, vestiário e escritório. Estas instalações já possuíam esgotos e
energia eléctrica da rede pública. Os acessos à exploração são funcionais, necessitando
apenas da construção de alguns novos caminhos dentro da exploração de forma a facilitar o
uso de veículos de trabalho. Por se situar perto de Setúbal, este terreno tem uma
proximidade ao local de venda aceitável para o produto em causa, estando localizado
próximo de diversos clientes alvo.
Família – Sparidae
Género – Sparus
Distribuição Geográfica
Como representado na Figura 16, a dourada (Sparus aurata) é comum ao longo das costas
Este do Oceano Atlântico, desde o Reino Unido até às costas de Marrocos. É comum em
todo o Mediterrâneo e rara no Mar Negro (FAO, 2007).
Figura 16- Países onde é possível realizar a pesca de dourada (a laranja) (fonte: FAO, 2007)
Características Morfológicas
O corpo é oval e achatado. A cabeça é curva com olhos pequenos. A boca é terminal e
encontra-se numa posição ligeiramente oblíqua. A dourada possui lábios grossos, pouco
protácteis. A dentição é constituída por 4 a 6 dentes caninos anteriores em cada maxila e 2
a 4 fiadas de dentes molares. O número de escamas na linha lateral varia entre 73 e 85. A
barbatana dorsal possui 11 raios duros e 13 a 14 raios moles. A barbatana anal é
constituída por 3 raios duros e 14 raios moles. A sua cor é prateada acinzentada,
apresentando no entanto uma grande mancha negra que se estende da origem da linha
lateral até à margem superior do opérculo, e uma banda dourada entre os olhos. A
barbatana caudal encontra-se marginada de preto, possuindo uma linha preta sobre a
barbatana dorsal (FAO, 2007).
Habitat e Biologia
A dourada é um peixe bentopelángico, habitando os fundos arenosos e rochosos do fundo
do mar e os bancos de algas junto à costa. Os espécimes adultos podem ser encontrados
até 150 metros de profundidade. Trata-se de uma espécie sedentária, que pode viver só ou
em pequenos grupos. Os juvenis de dourada podem viver em águas salobras, quando
penetram em lagoas e rios em busca de refúgio e alimento. A maturidade sexual é atingida
em 1-2 anos para os machos, quando estes atingem tamanhos de 20-30 cm. As fêmeas
atingem essa maturidade em 2-3 anos, com um tamanho de 33-40 cm. A ovulação nesta
espécie dá-se de Outubro a Dezembro (FAO, 2007; Santinha, 1998).
Regime Alimentar
Esta espécie é carnívora e muito raramente herbívora. A sua alimentação no meio natural é
composta sobretudo por moluscos bivalves, crustáceos, peixes e por vezes algas. A sua
dieta está muitas vezes dependente da idade do peixe: os juvenis alimentam-se de
poliquetas e crustáceos e os adultos principalmente de moluscos (lamelibrânquios e
gastrópodes), crustáceos, equinodermes e ascidáceos.
Família – Moronidae
Género – Dicentrarchus
Espécie–Dicentrarchus labrax
Distribuição Geográfica
Como representado na Figura 16, o robalo (Dicentrarchus labrax) é muito frequente no
Atlântico, desde a Islândia até Marrocos. Esta espécie pode ainda ser encontrada ao longo
de todo o Mediterrâneo e também no Mar Negro (FAO, 2007).
Figura 17- Países onde é possível realizar a pesca de robalo (a laranja) (fonte: FAO, 2007)
Características Morfológicas
A forma do corpo destes peixes é alongada. A boca é terminal e razoavelmente protáctil. O
opérculo possui 2 espinhos achatados e uma mancha difusa na sua extremidade. As
escamas interorbitárias são do tipo ciclóide. A sua coloração é cinzenta prateada, azulada
no dorso, e o ventre, não raras vezes, amarelado. Possui duas barbatanas dorsais distintas,
a primeira com 8-10 raios duros e a segunda com 1 raio duro e 11-14 raios moles
segmentados. A barbatana anal tem 3 raios duros e 10-12 raios segmentados. A barbatana
peitoral não possui escama axilar. Os dentes do vómer estão dispostos segundo uma banda
em forma de crescente, sem prolongamento posterior na região média (FAO, 2007).
Habitat e Biologia
A biologia desta espécie permite que os seus indivíduos habitem em mar aberto e por
pequenos períodos em rios. O robalo é normalmente encontrado ao longo das costas
litorais, e, em certas alturas do ano, sobe os rios e entra em águas doces para desovar. Os
adultos habitam o mar em fundos de diversos tipos. Já os juvenis habitam os estuários dos
rios durante o seu primeiro ano de vida, encontrando aí protecção e alimento (FAO, 2007;
Blanquet, 1998).
Regime Alimentar
O regime alimentar dos juvenis desta espécie, baseia-se em crustáceos (anfípodes,
isópodes e decápodes) e peixes (sobretudo gobídeos, aterinídeos e formas juvenis de
outras espécies migradoras). Os adultos são considerados predadores vorazes de outros
peixes e alimentam-se também de cefalópodes (Loligo e Sepiola), crustáceos braquiuros e
moluscos bivalves.
Sistema de Produção
Este projecto prevê um sistema de produção semi-intensivo com uma produção de 600g/
m2. A Tabela 12 apresenta alguns dados relevantes para o ciclo de produção.
Tabela 12- Alguns dados relevantes para o ciclo de produção da piscicultura a instalar
Número de tanques 25
Área média dos tanques 1 ha
Área do tanque de admissão de água 5 ha
Área do tanque de sedimentação 10 ha
Profundidade dos tanques 1,5 m
Total da área de produção 25 ha
Numero de juvenis para povoamento 428 570
Taxa de sobrevivência à engorda 90%
Produção final 150 Toneladas
produção baixo prende-se com uma estratégia de marketing que pretende vender um
produto menos intensivo. Outra condicionante na escolha do sistema de produção é a
localização, o plano de ordenamento da reserva natural do estuário do Sado, sob a alçada
do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), condiciona legalmente a adopção dos
regimes de produção semi-intensivo alto e intensivo.
Sistema de Policultura
Na escolha das espécies a produzir, optou-se por fazer uma cultura em regime de
policultura, em detrimento da monocultura. A adopção de um sistema de policultura para
estas duas espécies está relacionada com a sustentabilidade económica e ecológica deste
projecto. De acordo com a FAO, a policultura é a cultura na mesma unidade de produção,
de duas ou mais espécies de peixe, que não compitam directamente uma com a outra.
Desta forma, não existe competição pelo alimento nem pelo habitat e não há interacções
tróficas entre as duas espécies, ou seja, não há predação de uma espécie para a outra. O
sistema de policultura é uma ferramenta extremamente útil na diminuição da contaminação
ambiental por excesso de nutrientes. Esta cultura permite aproveitar os nutrientes não
utilizados por uma espécie para o crescimento da outra (FAO, 2006). O uso de um sistema
de policultura de dourada e de robalo tem também a vantagem de corrigir a proliferação de
algas que se verifica na monocultura de robalo em tanques de terra. A cultura na exploração
de duas espécies distintas permite ainda explorar o mercado com maior elasticidade, pois
torna a sustentabilidade económica da exploração menos dependente de um produto
apenas. O único cuidado a reter quando se aplica este sistema, é o facto de a dourada ter
um crescimento mais rápido do que o robalo, o que pode ser corrigido com uma introdução
mais tardia dos juvenis de dourada ou pela introdução de juvenis de robalo maiores.
Aquisição de Juvenis
O grande desenvolvimento na tecnologia de produção de larvas faz com que já não se
verifique uma dependência da captura de juvenis do meio natural. Os códigos de boas
práticas de aquacultura incentivam a aquisição de juvenis às maternidades como meio de
preservação ambiental. Em Portugal, as maternidades existentes produzem juvenis em
número suficiente para abastecer o mercado nacional e exportar uma parte significativa da
sua produção para Espanha. Para este projecto está programada a aquisição de juvenis de
dourada e robalo com um peso de 20g. A sua aquisição deverá ser feita preferencialmente
no mercado nacional, nas maternidades existentes ou no mercado internacional, em
Espanha. Em caso de importação, será cumprida a legislação em vigor, tendo um especial
cuidado no controlo sanitário dos juvenis. Será dada preferência às maternidade certificadas
quanto à ausência de determinadas doenças; a importância deste controlo prende-se com o
facto das doenças que afectam os juvenis de outros países serem diferentes das que estão
presentes em território nacional. Nestes casos devem ter-se todos os cuidados para
proteger o estado sanitário da piscicultura.
Gráfico 5-No final de um ano é possível obter uma produção de 10 000kg a partir de juvenis de
dourada (esq) com 50g e a partir de juvenis de robalo(dir) com 25 g(Fonte:Pousão,et al.,1995)
kg
g
Renovação da Água
O produtor deve garantir uma correcta oxigenação da água, de forma a compensar o
consumo de oxigénio pela biomassa e remover os produtos de excreção. Para garantir uma
boa qualidade da água nos tanques de produção, está prevista uma renovação diária média
de 50% de água. O sistema de renovação utilizará uma bomba de água que permite um
caudal de 500m3/hora, complementando a utilização das marés para encher os tanques. A
oxigenação da água é feita pela entrada de nova água e recorrendo a arejadores,
aproximadamente dois por tanque. O uso deste equipamento é ideal para os tanques de
terra, estes aparelhos permitem a dissolução de oxigénio na água através da injecção de ar
atmosférico que contém aproximadamente 21% de oxigénio. Considerando as cargas
animais utilizadas, este sistema é suficiente manter o nível de oxigénio dentro dos limites
correctos, à volta dos 5mg/L de OD. É importante referir que os níveis de CO2 na água
devem ser mantidos abaixo dos 20mg/L, uma vez que o excesso de CO2 irá libertar H+,
levando a uma acidificação do pH.
Engorda
A opção de fazer apenas a engorda de juvenis de 20g em detrimento da pré-engorda de
indivíduos de 5-20 g, prende-se com o facto da mortalidade ser efectivamente mais reduzida
e de permitir efectuar ciclos de cultura anuais. Isto evita os custos de instalação de uma fase
de pré-engorda e possibilita um retorno do investimento mais rápido e com menos riscos, o
que compensa o facto de os indivíduos de 20g serem mais caros. Os juvenis com este
tamanho são mais resistentes à manipulação e possuem um tamanho suficientemente
grande para se protegerem mais eficazmente dos predadores e não serem comidos por
outros peixes maiores que já se encontrem nos tanques (Martins, 2007).
O plano de produção da fase de engorda prevê que os peixes sejam adquiridos às
maternidades e colocados nos tanques de terra, onde lhes será fornecido o alimento. Está
planeada a instalação de um sistema automático de distribuição de alimento que permitirá
uma boa dispersão do alimento composto pela superfície aquática e, acima de tudo,
economia de tempo e de meios. Uma boa dispersão do alimento composto à superfície da
água permite uma flutuabilidade superior do alimento composto, dando ao peixe mais tempo
para a ingerir. Isto significa uma redução dos desperdícios em alimento não ingerido e da
carga de poluição. Deve no entanto realçar-se a importância de observar o peixe no período
de alimentação, pois permite detectar precocemente problemas no comportamento e saúde
destes animais.
Num ciclo de engorda típico, os juvenis serão introduzidos nos tanques no início da
Primavera. Estes irão desenvolver-se nestes tanques até atingirem o tamanho adequado à
sua captura e posterior comercialização. O abate dos peixes iniciar-se-á na Primavera do
ano seguinte e pode decorrer até Dezembro desse ano, esta decisão dependerá dos
tamanhos comerciais pretendidos e da oferta de peixe de aquacultura no mercado. Esta
planificação permite também tirar partido do aumento da temperatura da água e maximizar o
crescimento, aproveitando a temperatura superior a 12 ºC. Durante o Inverno, com
temperaturas abaixo dos 12 ºC, a dourada deixa de se alimentar e o robalo, embora
mantenha a ingestão do alimento, cresce a um ritmo bastante inferior ao que cresce no
Verão.
Para se obterem tamanhos de 1Kg podem ser realizados ciclos de produção de dois anos.
Os inconvenientes deste ciclo tão prolongado são o alargamento do período de retorno
financeiro e o aumento do risco de perder a produção. De acordo com um estudo realizado
pela Universidade de Sterling, foi calculado que a realização de ciclos de dois anos pode
causar perdas económicas significativas, provocando nos peixes uma perda de peso
corporal de 15 a 20% depois da maturação e aumento do custo de produção em cerca de
0.3 €/kg devido a alimentação adicional e perdas de produção (Universidade de Sterling,
2004). O principal risco de realizar culturas num período superior a um ano está relacionado
com a Síndrome da Doença de Inverno. Esta patologia tem uma etiologia multifactorial que
está relacionada com características próprias da biologia destas duas espécies. Estas duas
espécies atingem a maturidade após passarem dois Invernos no mar, surgindo esta doença
geralmente no decorrer do segundo Inverno de produção, o que pode estar correlacionado
com a diminuição da temperatura da água. Apesar de não existirem certezas relativamente
à etiologia desta doença, os estudos indicam que a sua etiologia é uma combinação de
Como já referido, devem ser tomadas medidas de dissuasão dos predadores como parte do
plano de biosegurança da exploração.
Numa piscicultura de engorda, para além da alimentação e da oxigenação da água, existe
um conjunto de trabalhos de rotina que devem ser realizados, orientados por técnicas
próprias.
1. Transporte de Juvenis para a Exploração
O transporte dos juvenis para a exploração será feito em viaturas com tanques providos de
um sistema de arejamento da água. Como forma de reduzir a mortalidade durante
transporte e manter aceitáveis os padrões de qualidade da água, esses tanques serão
refrigerados, utilizando gelo, para reduzir o metabolismo dos animais. Outro cuidado a ter é
o de instituir um período de jejum de 24 horas antes do transporte. Pretende-se com esta
medida reduzir a contaminação da água pelos produtos de excreção.
2. Monitorização da Qualidade da Água
A qualidade da água é um dos factores condicionantes do crescimento e da sobrevivência
dos animais aquáticos. Uma boa qualidade da água é essencial para a manutenção da
3. Amostragem e Triagem
A realização de amostragens ao longo do ciclo de produção é uma ferramenta eficaz para
controlar o crescimento das douradas e dos robalos. Para este projecto está programada a
amostragem mensal dos tanques, o protocolo da amostragem é o seguinte: (1) primeiro
pesa-se um balde com um pouco de água e retira-se a tara da balança; (2) utiliza-se um
camaroeiro para apanhar um balde de peixes e mergulham-se os indivíduos em anestésico;
(3) coloca-se o peixe no balde previamente pesado e pesa-se o balde com os peixes; (4)
aponta-se o resultado e libertam-se rapidamente os indivíduos um a um de modo a efectuar
a sua contagem; (5) repetem-se três ou mais vezes os passos anteriores e faz-se a média e
o desvio padrão de todos os resultados. A amostragem fornecer-nos-á informações sobre o
crescimento dos juvenis. Este procedimento deve ser feito o mais rapidamente possível e
com o mínimo de manipulação dos peixes, pois o stress que lhes é induzido pela captura e
manuseamento pode fazer com que deixem de se alimentar por um período de até 48 horas.
Esta operação também permite detectar o grau de dispersão de tamanhos dos peixes
presentes no tanque. Uma dispersão muito acentuada irá ter consequências para o
crescimento dos peixes mais pequenos, uma vez que os peixes maiores irão interferir com a
alimentação dos mais pequenos. Quando este problema for detectado na exploração serão
efectuadas calibrações e proceder-se-á à transferência desses peixes para outros tanques
de acordo com o seu tamanho. Esta triagem também é útil para a detecção de peixes com
deformações (Christofilogiannis, 2000).
Figura 22- Dispersão no crescimento dos juvenis (esquerda), deformação nos juvenis(direita)
4. Qualidade do Peixe
Proceder-se-á à realização de análises ao peixe produzido, as quais permitem controlar a
qualidade do peixe produzido e cumprir as medidas de autocontrolo exigidas pelo Decreto-
Lei n.º 148/99, de 4 de Maio, em que é exigido a pesquisa de resíduos de certas substâncias
nos animais e nas carnes frescas. Os parâmetros que devem ser avaliados são o Arsénio
(mg As/Kg mat. seca), o Cádmio (mg Cd/Kg mat. seca), o Chumbo (mg Pb/Kg mat. seca), o
Crómio (mg Cr/Kg mat. seca), o Estanho (mg Sn/Kg mat. seca), o Mercúrio (mg Hg/Kg mat.
seca) e o Zinco (mg Zn/Kg mat. seca) (Poxton, 2003). O esquema de autocontrolo que se
pretende montar exige ainda a pesquisa de bactérias, fungos e parasitas nos tecidos dos
peixes. Estas análises serão realizadas recorrendo a um laboratório externo (o volume de
produção não justifica a instalação de um laboratório na exploração). Os valores de
referência destas análises estão contidos no Regulamento 221/2002, de 6 de Fevereiro da
Comissão Europeia. Embora para estas duas espécies nunca tenham sido detectadas, no
nosso país, doenças de declaração obrigatória, prevê-se a realização de análises periódicas
para estas doenças, como parte de um plano de monitorização.
origem a um produto final com uma consistência mole (Giuffrida, Pennisi, Ziino, Fortino,
Valvo, Marino & Panebianco, 2007).
Os peixes são retirados de dentro de água com o auxílio de camaroeiros e são rapidamente
transportados para o interior de contentores com água e gelo. Neste método de abate, o
peixe irá morrer em água gelada. À semelhança do que acontece com animais terrestres, a
técnica de abate deve resultar numa perda de consciência rápida e irreversível, reduzindo
ao mínimo o sofrimento dos animais. Adicionalmente, deve evitar-se sobrecarregar os
contentores, uma vez que o peso do peixe acaba, invariavelmente, por esmagar o peixe que
está em baixo, provocando uma perda de qualidade do produto final.
Dourada Robalo
Juvenis de 20g
Início da Primavera
E
N
G
O
R Ração
D fornecida
diariamente
A
Produto final
A
B
Produto Final A
T Ração
fornecida
E
diariamente
Tamanhos Novembro a
maiores Dezembro
6. Embalagem
A embalagem do pescado será feita num local da exploração denominado Sala de
Embalagem, para onde o peixe é transportado após a captura. Esta zona deve possuir um
código de boas práticas e respeitar todas as normas de higiene para a indústria alimentar.
Uma vez que não se pretende investir numa máquina de produção de gelo, este será
adquirido no exterior. O protocolo previsto para este projecto prevê a separação do peixe em
lotes de 300/400g, 400/500g, 800/1000g e 1000/1200g. Após a pesagem, o peixe é
colocado em caixas de esferovite de 15 unidades. Deve ser disposta uma pequena
quantidade de gelo directamente sobre o peixe para este não perder a humidade. Coloca-se
assim uma folha de papel vegetal e cobre-se toda a caixa com gelo, o que evita as
queimaduras de gelo no produto quando chega ao cliente. Em seguida, as caixas são
rapidamente carregadas na carrinha frigorífica e enviadas aos clientes. Apesar de, algumas
explorações utilizarem já máquinas de calibração de lotes como a presente na Figura 25, na
maior parte dos casos a calibração é feita através de um sistema não automático.
7. Vazio Sanitário
Entre cada ciclo de produção, os tanques de engorda serão esvaziados e o sedimento que
compõe o fundo, retirado e seco ao sol. Este procedimento tem como objectivo eliminar os
predadores que possam ter entrado nos tanques (caranguejos e tainhas) e quebrar o ciclo
de transmissão de possíveis parasitas e doenças, através da radiação solar e da privação
de água. Pode ser utilizada cal viva sobre o sedimento para garantir a eficácia deste
procedimento. No entanto, esta prática não é livre de consequências ambientais. Só se deve
proceder ao repovoamento dos tanques com juvenis depois deste sedimento estar bem
seco.
8. Tratamento dos Efluentes
Numa indústria dependente de boas condições ambientais, é essencial que os efluentes da
piscicultura não venham a constituir um problema ambiental. O processo de tratamento
primário dos efluentes baseia-se na construção de um tanque de decantação. A matéria
orgânica em suspensão na água, proveniente dos tanques de cultura, será aqui retida antes
da libertação dos efluentes no estuário. Esta técnica, juntamente com a baixa carga de
produção prevista, garantirá que os níveis de poluição gerados por esta piscicultura serão
relativamente baixos. Para o assegurar, devem ser realizadas amostragens dos efluentes da
exploração tendo em vista a análise de parâmetros como: temperatura, oxigénio dissolvido,
pH, sólidos suspensos totais, CBO (Carência bioquímica de oxigénio), fósforo total, nitritos,
compostos fenólicos, hidrocarbonetos, amoníaco não ionizado, azoto amoniacal, cloro
residual disponível total, zinco total, cobre solúvel. A periodicidade desta amostragem
deverá estar de acordo com o estipulado no Decreto Lei n.º 236/98 de 1 de Agosto.
150 000(kg)
X 90 % ≈ 428 570 juvenis
0.35 (kg)
150 000 Kg
= 270 000Kg
1.8
Meios Humanos
O último recurso necessário à produção é a mão-de-obra. Esta unidade de piscicultura irá
exigir um número de trabalhadores compatível com a sua actividade. Quando estiver em
pleno funcionamento, a piscicultura deverá criar 5 postos de trabalho, que serão ocupados
por trabalhadores da região de Setúbal, onde a unidade será instalada. Assim, o quadro da
empresa será composto por 4 trabalhadores e 1 administrador/promotor. Este número de
funcionários permite que a piscicultura possa funcionar durante 24 horas, como é exigido
num estabelecimento deste género. Para além da segurança das instalações, as funções
exigidas aos trabalhadores serão o controlo dos parâmetros físico-químicos, já atrás
referidos, inclusivamente durante o período nocturno, uma vez que é neste período que são
atingidos os valores mais baixos de oxigénio dissolvido, podendo tornar-se perigoso para a
produção. A mão-de-obra também será necessária para a amostragem, pesca, embalagem,
entre outras actividades. Será dada aos trabalhadores formação específica relacionada com
a indústria de aquacultura e com a higiene dos produtos alimentares. As questões
relacionadas com os custos de produção serão tratadas mais adiante, no capítulo referente
à análise financeira.
Tendo em conta que o elevado custo do terreno é um dos factores produtivos mais
onerosos, torna-se importante definir um layout da exploração, de modo a reduzir ao mínimo
possível as áreas não produtivas da exploração (Pousão, Cancela & Machado, 1995). O
modelo mais correcto a aplicar numa piscicultura de engorda em sistema semi-intensivo
encontra-se apresentado na Figura 27.
água o mais curtos possível e o facto de a água que sai de um tanque não voltar a circular
noutros tanques. Esta última medida é essencial para evitar que eventuais doenças que
apareçam num tanque não se alastrem a outro.
A opção por tanques de terra para este projecto de aquacultura ficando-se a dever à
disponibilidade de salinas e ao facto de, em Portugal, a linha costeira não ser a ideal para a
instalação de jaulas marinhas. Se a compartimentação for adequada como previsto, esta
exploração de regime de produção semi-intensivo terá tanques rectangulares providos de
comportas nos lados menores e com uma área de 1 hectare (Pousão, Cancela & Machado,
1995). Os tanques devem ser preferencialmente construídos com o lado menor no sentido
dos ventos dominantes, o que serve para evitar a formação de correntes na coluna de água,
dentro dos tanques de cultura.
Apesar da diminuição das áreas não produtivas serem uma prioridade, deve-se planear uma
zona de protecção à volta da exploração, buffer zone (Pillay & Kutty, 2005). Esta zona
permitirá instalar medidas de protecção contra predadores, construir valas que impeçam a
água doce vinda das chuvas de entrar nos tanques de cultura e plantar árvores ou arbustos
como medida de diminuição do impacto paisagístico da exploração. Levando em conta
todas estas informações, juntamente com as condicionantes do local, foi desenvolvida a
planta da exploração.
A planta dos edifícios de apoio da piscicultura é apresentada à escala de 1:50, conforme
exigido no processo de licenciamento (simulação).
Legenda:
Nota: A planta dos edifícios aqui apresentados foi elaborada utilizando o programa SmartDraw.
construção e o equipamento devem ser o mais simples, barato e durável possível, desde
que isto não implique uma perda de qualidade do produto final (Pousão-Ferreira, 1990).
Em relação ao equipamento de bombagem e monitorização das condições da água, uma
das características mais importantes é a fiabilidade. Estes equipamentos devem ser
duráveis, de fácil manutenção e rápida reparação, uma vez que o seu comprometimento
colocará em risco toda a produção, podendo implicar a perda do rendimento de um ano e
meio de trabalho.
Considerando outros equipamentos que poderão vir a ser instalados na piscicultura, existem
os equipamentos de tratamento de água, que podem ser utilizados para melhorar a
qualidade da água ou facilitar a sua reutilização. Os processos a que esta água pode ser
submetida incluem o aquecimento ou refrigeração, a desgaseificação para remover o
excesso de nitrogénio ou dióxido de carbono (utilizado nos sistemas em que se faz a
bombagem se água de furos subterrâneos), a oxigenação por meio de arejadores ou
oxigenadores, a filtração física ou a sedimentação para remover os sólidos em suspensão e
a filtração biológica para fazer a nitrificação da amónia e reduzir os compostos orgânicos
dissolvidos. Todo este equipamento irá ajudar a reduzir o impacto ambiental da piscicultura
e a aumentar a produtividade da mesma.
será concedida após a aprovação do projecto numa Comissão de Vistoria, convocada para
o efeito.
Após a conclusão das obras de instalação do estabelecimento, deverá ser feito um
requerimento à Direcção Geral de Pescas e Aquicultura, presente no anexo I, no prazo de 3
meses, para obter a licença de exploração - artigo 24º do Decreto Regulamentar nº 14/2000,
de 21 de Setembro. A licença é emitida após a aprovação do estabelecimento, em vistoria a
efectuar pela DGPA.
Os dados estatísticos referentes ao ano de 2005, apontam para uma produção nacional de
robalo de aquacultura na ordem das 1500 toneladas, o Gráfico 7 mostra este crescimento.
Segundo os últimos dados oficiais, referentes ao ano de 2005, o somatório destas duas
espécies representa um total de produção de 3044 toneladas. No entanto, é possível que os
valores reais de produção e as estimativas calculadas pelas entidades oficiais não
Quando a produção destas duas espécies teve o seu início, o mercado encarava estes
produtos como um complemento às capturas no meio natural e os preços praticados eram
elevados, à semelhança dos da dourada e do robalo capturados no mar. Com o aumento da
produção aquícola, o preço do peixe capturado no mar sofreu inicialmente uma quebra de
preços. No entanto, à medida que os intervenientes no mercado se adaptaram a estes
novos produtos, foi criado um mercado completamente independente para a dourada e o
robalo de aquacultura. Os preços praticados para este mercado são comparativamente
muito mais baixos do que aqueles estabelecidos para a dourada e robalo de captura no mar.
Este facto pode ser explicado pela atitude do consumidor face ao peixe produzido em
aquacultura, o qual é ainda encarado com alguma desconfiança, valorizando-se, ao invés, o
peixe capturado no mar, visto como natural e de melhor qualidade.
Após os sucessivos aumentos de produção nas duas últimas décadas, os mercados que
eram anteriormente naturalmente receptivos a estas espécies, começam a ficar saturados.
O crescimento na oferta destes produtos tem levado a uma progressiva diminuição do valor
de mercado destas espécies. Se, em termos económicos, forem analisados os ciclos do
produto de diferentes espécies produzidas em aquacultura, tal como estão representados na
Tabela 16, verifica-se que a produção de dourada e robalo começa a entrar na fase de
maturidade (Tisdell, 2003).
Tabela 16- Ciclo do produto de diferentes espécies com aptidão aquícola (adaptado de Tisdel)
Estádio Espécie
Bacalhau
Introdução Atum
Esturjão
Crescimento Tilápia
Salmão do Atlântico
Maturidade Dourada
Robalo
Truta arco-íris
Carpa
Estabilização
Ostra
Enguia
Declínio Nenhum
O mercado do robalo apresenta uma evolução paralela ao mercado da dourada. Isto pode
ser explicado pelas condições semelhantes de cultura e pela prática de policultura com
estas duas espécies.
Em comparação com a tabela anterior, podemos verificar que existe uma valorização
superior do robalo em relação à dourada. De realçar, na Tabela 18, o grande crescimento no
consumo desta espécie, que embora tenha sido acompanhado por um grande aumento de
produção, demonstra como Portugal não é auto-suficiente em robalo.
Portugal apresenta uma balança comercial negativa para ambas espécies, uma vez que
consome mais dourada e robalo do que aquele que produz. Numa altura em que as
capturas de dourada e robalo no mar estão estabilizadas, o crescimento na procura tem que
ser abastecido pelo crescimento na produção de aquacultura, como mostra o Gráfico 8.
Pode-se então concluir que ainda é possível uma grande margem de crescimento, de modo
a suprimir as carências do país nestes dois produtos.
Cultivada
Capturada
Gráfico 9- Balança comercial de dourada (esq.) e robalo (dta.) de diversos países europeus
(Fonte: FAO 2006)
Por motivos que mais adiante serão devidamente aprofundados, a grande procura destes
produtos é satisfeita por importações vindas de países como a Grécia.
Tabela 19 - Características dos países produtores de dourada e de robalo (Fonte: FAO 2006)
Jaulas
País Maternidades Tanques Tanques de terra Total
flutuantes
França 5 4 1 20 30
Grécia 36 1 377 414
Itália 20 74 48 142
Espanha 9 3 16 48 76
Total U.E. 74 8 213 494 790
Turquia 21 1 18 188 228
A Grécia exporta 70% da sua produção para a Itália, Península Ibérica e França, que
constituem os principais mercados importadores destes dois produtos. Actualmente, devido
à saturação dos mercados tradicionais, os países exportadores tentam introduzir os seus
produtos em novos mercados como o Reino Unido e a Alemanha. O Gráfico 10 representa
os principais mercados para o robalo. Como nota, deve sublinhar-se o facto da Turquia,
França e Grécia serem auto-suficientes neste produto.
Ambas as espécies são comercializadas quase exclusivamente sob a forma de peixe fresco,
não há uma boa aceitação para dourada e robalo congelado e a maioria do peixe vendido
tem tamanhos compreendidos entre as 300g e as 400g. A grande maioria do peixe é
vendido sob a forma de peixe inteiro, uma vez que ainda existem poucas formas de fazer a
transformação e processamento destes dois produtos, de forma a obter um produto de valor
acrescentado ou a prolongar o seu tempo de vida. Este facto pode ser explicado pelo
tamanho relativamente pequeno destas espécies, quando comparadas com outras espécies
com aptidão aquícola como o Salmão do Atlântico (Adachi, Kato, Wakamatsu, Ito.,
Ishimaru, Hirata, Murata, & Kumai, 2005).
Produtos Oferecidos - Como se pode observar pela Tabela 20, a maioria do robalo e da
dourada comercializados têm tamanhos entre as 300 e as 450g.
Tabela 20- Percentagem de produção em cada tamanho (Fonte: Governo Grego, citado por
GFCM, 2006)
Preços Praticados - Na Tabela 21, está representado o preço de primeira venda (preço a
que o produtor vende o peixe) que este tipo de empresas consegue praticar em Portugal.
Tabela 21- Preços médios de primeira venda praticados em Portugal no ano de 2006 (Fonte:
Universidade de Sterling, 2006)
Empresas Portuguesas
A maioria das empresas portuguesas localiza-se em regiões costeiras utilizadas
anteriormente para a produção de sal. Cerca de 33% destas empresas utilizam um sistema
de produção extensivo (baixas cargas, dependem do alimento natural), sendo que, a grande
maioria, ou seja, 63%, são empresas que cultivam robalo e dourada em sistema semi-
intensivo e apenas 4% usam sistemas de cultura intensivos. Na Tabela 22 referente à
analise de duas empresas portuguesas, uma que utiliza um sistema intensivo e outra que
utiliza um sistema semi-intensivo. A empresa A é uma das maiores a operar em Portugal,
possui uma maternidade onde produz juvenis para venda a outras pequenas empresas
portuguesas e espanholas. A empresa B é uma empresa semelhante à que este trabalho se
propõe instalar, está localizada na mesma região e produz em sistema semi-intensivo
(Mispeces.com el portal de la acuicultura, 2007).
Preço dos
Empresas Tipo de empresa Clientes Tipo de produtos
produtos
O preço é variável
Possui um contrato Produz
com a época do
com uma grande principalmente
ano e com a
superfície dourada de 300-
Produz em sistema procura mas
A comercial, que lhe 450g
integrado geralmente
garante escoar a Produz juvenis para
pratica preços à
totalidade da sua venda a outras
volta dos 5.25 €,
produção pisciculturas
para 300/450g
O preço é variável
Tamanhos variáveis com a época do
de dourada e ano e com a
Principalmente
Produz em sistema robalo, peixe com procura, em regra
B restaurantes, venda
semi-intensivo alimentação mista são semelhantes
na lota
(natural+alimento aos que se irá
composto) estabelecer para
este projecto
* Ambos os exemplos são baseados em empresas reais e por motivos comerciais foi suprimido o nome real
7.5 Marketing
capturado no mar. Este objectivo será conseguido fazendo uso das baixas cargas animais,
praticando boas condições de maneio e fornecendo uma alimentação artificial que é
complementada por alimento natural.
Devido à grande oferta de robalo e dourada de calibre 300/450g, optou-se por produzir
tamanhos mais variados, estando prevista a produção de peixe em quatro categorias,
300/400g, 400/500g, 800/1000g e 1000/1200g. Os motivos que levaram a esta decisão
serão posteriormente discutidos neste trabalho.
Foi estabelecida a melhor forma de apresentação do produto ao consumidor. O peixe será
vendido inteiro. O estudo anteriormente realizado indicou que os povos mediterrânicos são
tradicionalistas e têm grande preferência pela compra de peixe inteiro. Dourada e robalo
vendidos às metades ou eviscerados não são uma prática frequente em Portugal.
Quando se considerou as várias maneiras de apresentar o produto ao comprador,
exploraram-se, essencialmente, duas possibilidades. A primeira foi a embalagem tradicional
em paletes de esferovite de cerca de 15 unidades cobertas com gelo. A segunda hipótese
considerada foi o acondicionamento em embalagens de duas ou três unidades. As
vantagens deste último tipo de embalagem são permitir uma melhor identificação do
produtor, pelo consumidor, permitindo ser usada como meio de divulgação da empresa.
Este sistema permite um melhor acondicionamento do peixe e fornece-lhe uma maior
protecção. Além disso, hoje em dia, é possível aplicar nesta embalagem uma atmosfera
modificada (MAP), permitindo alargar o tempo de vida do produto.
As desvantagens deste tipo de apresentação são o facto de os consumidores ainda não
estarem habituados a ver o peixe embalado deste modo, podendo olhar com desconfiança
para o produto, passando a ideia que o pescado é “menos natural”. Por outro lado, este tipo
de embalagem implica um investimento significativo no equipamento de embalagem e um
aumento nos custos de produção, o que não será rentável para os volumes de produção
considerados para este projecto. Este tipo de apresentação está direccionado para os
grandes produtores, como é o caso das empresas gregas e espanholas, que necessitam de
exportar o peixe para grandes distâncias, nomeadamente para os mercados nórdicos, onde
os consumidores são mais receptivos a esta apresentação. Os principais alvos deste tipo de
embalagens são as grandes cadeias de retalho (General Fisheries Comission for the
Mediterranian [GFCM], 2007). Na Figura 33 encontra-se exemplificada uma embalagem
deste tipo.
Este logótipo será o selo do produtor, o que permitirá ao comprador associar a qualidade do
produto à sua origem. As embalagens e todos os peixes saídos da exploração devem
possuir este selo, o objectivo é garantir a fidelização dos consumidores.
A estratégia que se pretende desenvolver prevê a promoção dos produtos de aquacultura
através da demonstração aos consumidores das suas virtualidades. O robalo e a dourada
de aquacultura estão, actualmente, classificados pela opinião pública como peixes de “má
qualidade”, conotados com uma textura mole e com sabor “a farinha”. Este facto está por
vezes relacionado com o modo como são produzidos. O sistema de cultura e o seu grau de
intensidade exercem, através do maneio e da técnica de abate, uma grande influência na
qualidade do produto final. Um estudo demonstrou que os sistemas de cultura super-
intensivos afectam significativamente a aparência do peixe, produzindo peixes com formas e
colorações sem os padrões típicos da espécie. O peixe produzido em sistema semi-
intensivo possui maior semelhança, quer na coloração, quer na aparência, com o peixe
selvagem (Flos, Reig, Oca, & Ginovart, 2002).
Numa sociedade que procura, cada vez mais, divulgar estilos de vida saudáveis, as
preocupações com o meio ambiente e com a alimentação estão na ordem do dia.
O objectivo desta campanha de publicidade será mudar a ideia negativa que os
consumidores têm dos produtos de aquacultura e mostrar como esta é um meio de
preservar o ambiente, através de métodos de cultura pouco intensivos. Para tal, serão
elaborados folhetos informativos que explicam ao consumidor os benefícios para o ambiente
da aquacultura, como, por exemplo divulgando a aquicultura como sendo um meio de aliviar
a pressão sobre os recursos naturais de pesca e mostrando como os baixos regimes de
produção praticados, por ela, possuem um impacto ambiental reduzido.
Através de publicidade divulgar-se-à a aposta da empresa numa política de produção de
peixe de qualidade ao invés da quantidade. Procurar-se-à informar os consumidores sobre
as diferenças em termos de sabor e qualidade do peixe, de um produto de aquacultura
produzido em regime intensivo e de outro produzido em regime semi-intensivo.
A população, em geral, valoriza muito o peixe selvagem em detrimento do peixe de
aquacultura. Para tentar inverter esta tendência, um dos factores em que a aquacultura deve
apostar é na segurança e higiene alimentar. O consumidor terá de ser informado de que a
aquacultura pode oferecer maiores garantias em termos de segurança alimentar, uma vez
que ao contrário do peixe selvagem, em aquacultura é possível assegurar a rastreabilidade
do peixe. As diferentes análises e o controlo de qualidade, efectuados ao longo do ciclo
produtivo, garantem a segurança do alimento final. Por outro lado, uma captura e abate
rápidos fornecem peixe de maior qualidade, em vez de um peixe selvagem que se debate
durante horas nas redes de pesca e que muitas vezes não tem um método de conservação
imediato, em oposição ao que acontece na aquacultura (Universidade de Sterling, 2004).
Para aumentar a apetência pelo consumo de dourada e de robalo deve aproveitar-se o facto
de a alimentação mediterrânica estar em voga. A alimentação mediterrânica é tida como um
exemplo de uma dieta variada e equilibrada e estas duas espécies devem ser promovidas
como ingredientes essenciais numa alimentação saudável. Os alvos desta publicidade serão
não só os consumidores anónimos como também os restaurantes da região.
A principal dificuldade em estabelecer e promover uma marca de peixe de aquacultura está
relacionada com o hábito dos consumidores de terem grandes volumes de peixe sem marca
e não estarem habituados a este conceito. A outra é a impossibilidade de garantir que,
depois da venda do produto, o selo do produtor seja respeitado, pois é muito fácil misturar,
no expositor, o peixe com selo com outros peixes de produção intensiva.
Os meios de comunicação que podem ser usados para fazer publicidade são os jornais, a
rádio ou a televisão, sendo que cada uma das opções tem diferentes custos associados. A
via de divulgação para este projecto passará pela elaboração de panfletos de publicidade e
a sua distribuição pelos compradores alvo. O resultado desta estratégia de divulgação será
semelhante ao exemplificado na Figura 36.
Este recorte de jornal também é um exemplo das estratégias que podem ser usadas para
valorizar e diversificar os produtos de aquacultura.
Em termos imediatos, o plano passa por considerar a produção de tamanhos de peixe fora
da oferta normal dos grandes produtores. Como anteriormente já foi referido, existe uma
grande oferta de peixe nas categorias 300/450g, como tal, a diversificação da produção pela
cultura de tamanhos superiores, permitirá ocupar um nicho de mercado onde a oferta é
menor e os preços praticados mais elevados (Flos, et al , 2002).
A última estratégia a explorar pretende tentar tirar maior rentabilidade da produção
explorando a sazonalidade da oferta destas duas espécies. Após o estudo do mercado
chegou-se à conclusão que existe pouca articulação entre a oferta e a procura em Portugal.
A oferta concentra-se nos últimos meses do ano, tal como está representado no Gráfico 11,
o que está relacionado com a tentativa de aproveitar até ao máximo o período de
crescimento destas duas espécies. A procura, por sua vez, é maior nos meses de Verão. É
nesta altura que o consumidor tem maior apetência para o consumo de peixe e vai com
maior frequência aos restaurantes. A consequência deste comportamento é uma crise de
preços e dificuldade em escoar estes produtos. A estratégia que se pretende aplicar para
aumentar a rentabilidade da produção será vender fora das alturas de maior oferta.
Considerando um plano a longo prazo, existe um conjunto variado de opções que poderão
ser exploradas. A União Europeia prevê a possibilidade de certificar oficialmente os produtos
de aquacultura de dois modos. O primeiro é a certificação de produto biológico. Inicialmente
a ideia deste trabalho previa a execução de um projecto em que o processo de produção
seria adaptado à cultura biológica. Contudo, devido à legislação da produção biológica em
aquacultura ser relativamente recente, ainda não estão disponíveis factores de produção
essenciais como ração em conformidade com a legislação ou juvenis de produção biológica.
No entanto, está previsto a médio prazo tentar explorar a hipótese de adaptar o processo de
produção à cultura biológica. A legislação relativa a produção biológica em aquacultura está
contida no Artigo 15 do Regulamento nº 834 de 28 de Junho de 2007.
Estes preços encontram-se dentro dos valores médios praticados pelo mercado. Embora
estes sejam os preços a praticar, nos primeiros meses pode adoptar-se uma política de
preço baixo de modo a divulgar os produtos da exploração. O objectivo é conquistar
clientes, incentivando-os a experimentar os produtos e cativando-os pela sua qualidade.
Posteriormente quando se alcançar um número suficiente de clientes poderá aumentar-se
progressivamente o preço para o ajustar ao real valor de mercado.
Após terem sido completados todos os passos anteriores, onde foi comprovada a viabilidade
técnica do projecto e delineada a estratégia com que se abordará o mercado, é necessário
determinar a viabilidade económica do projecto. Assim, é necessário que a piscicultura seja
rentável, definindo-se rentabilidade como a capacidade para obter um retorno superior ao
custo de capital, considerando os riscos envolvidos. A Análise de Viabilidade consiste num
estudo técnico de cariz financeiro que procura determinar as possibilidades de sucesso
económico e financeiro de um determinado projecto.
Para realizar esta análise, deve fazer-se uma previsão dos custos e proveitos gerados pelo
projecto, o que servirá mais tarde para calcular os diversos indicadores de viabilidade.
Inicialmente, deve ter-se em conta os custos do investimento envolvidos na instalação. O
investimento a considerar passa pela construção dos tanques, custos com os estudos
realizados ou o custo inicial do equipamento.
Seguidamente, devem definir-se as despesas decorrentes da actividade normal da empresa,
sendo que estas podem ser variáveis ou fixas conforme estão ou não relacionadas com os
volumes de produção. Serão variáveis se estiverem de alguma forma indexadas ao volume
das vendas e serão fixas se não se alterarem com a variação no volume de vendas. As
licenças de bombagem de água são um exemplo de custo fixo, enquanto que, os custos
com o fornecimento de produtos e serviços, como água, electricidade, alimento composto
são exemplos de custos variáveis.
O último passo será calcular as receitas geradas pela futura empresa, fazendo uma
estimativa do valor das receitas, ou seja, quanto se irá vender. Para isso, serão
estabelecidos objectivos realistas de vendas para um determinado número de anos (no caso
deste projecto será de 10 anos), baseados no número de potenciais clientes, no número de
clientes dos seus potenciais concorrentes, nos resultados esperados dos seus esforços de
marketing.
A exactidão das projecções em que se irá basear esta análise, é o reflexo dos estudos de
viabilidade técnica, de mercado e de marketing realizados anteriormente neste trabalho.
Levando em consideração todos os passos aqui dispostos, foi elaborado o orçamento
apresentado na Tabela 24.
7.6.1 Orçamento
Um bom indicador na tomada de decisão do produtor é o custo de produção por ciclo. Este
indicador é importante na medida em que permite determinar o custo médio (custo/kg), que
pode ser comparado rapidamente com o preço de mercado. A informação do custo de
produção é uma ferramenta relevante para auxiliar na negociação para venda do produto,
assim como para avaliar os itens que mais causam impacto nos custos e, muitas vezes,
verificar a necessidade de adequação da tecnologia. Assim, através da Tabela 25 pode
concluir-se que, considerando uma produção anual de 150 toneladas, o custo de produção
rondará os 3.64 Euros/kg e deve também realçar-se a importância do custo dos juvenis e do
alimento composto, que representam cerca de 47% e 30%, respectivamente, dos custos
totais de produção. Para assegurar a viabilidade da exploração, as receitas anuais foram
calculadas com base no tamanho comercial de 350 g, uma vez que são o tamanho mínimo a
que o peixe deverá ser comercializado e o que possui menor valor de mercado.
Os dados presentes nas Tabelas 24, 25 e 26 permitem fazer uma avaliação dos fluxos de
tesouraria esperados e criar a Tabela 27. Foi considerado que os volumes de vendas se
manteriam constantes e foi tomada em conta uma taxa de inflação dos preços do peixe e
dos custos de produção de 3%. Como os ciclos de produção são anuais, o resultado do
exercício corresponde à receita por ciclo de produção, também se deve referir que no
primeiro ano apenas existiram custos correntes, pois a produção só se completa no ano
seguinte.
Tabela 27- Fluxos de tesouraria esperados para o projecto
Resultado do
Ano Entradas Saídas
Exercício
Receitas da Custo do Custos
venda de peixe investimento correntes
2009 0 0 1333330 545 672 -1 879 002
2010 1 901 250 562 042.16 339 207.84
2011 2 928 287.05 578 903.42 349 383.63
2012 3 956 136.12 596 270.53 360 465.59
2013 4 984 820.2 614 158.64 370 661.56
2014 5 1 014 364.81 632 583.4 381 781.41
2015 6 1 044 795.76 651 560.9 393 234.86
2016 7 1 076 139.63 671 107.73 405 031.9
2017 8 1 108 423.82 691 240.96 417 182.86
2018 9 1 14 1676.53 711 978.19 429 698.34
Trata-se de uma medida absoluta de rendibilidade que traduz o montante residual dos
benefícios líquidos gerados durante o período de vida útil do investimento, depois de lhe ser
deduzida a remuneração do conjunto dos capitais nele envolvidos a uma taxa de juro igual à
de actualização usada nos cálculos. A taxa de juro que irá ser utilizada para o cálculo do
VLA deste projecto é de 8%.
Como referido anteriormente, é necessário actualizar todos os valores referentes aos fluxos
de tesouraria do projecto, para o fazer basta multiplicar todos os valores pelo respectivo
-t
Factor de Desconto (1+i) , sendo i=8% e t = número de anos.
Tabela 28- Actualização dos resultados de tesouraria, considerando uma taxa de juro de 8%
O facto do VLA ser positivo indica que os benefícios gerados durante o período de vida útil
do investimento serão suficientes para assegurar a recuperação dos capitais aplicados na
instalação e exploração do projecto, fazer face aos respectivos juros, supostos à taxa anual
de 8%. Ou seja, remunerar os capitais a uma taxa de 8% ao ano e ainda gerar um benefício
residual ao longo daquele período que, reportado ao momento presente, se traduziria no
montante de 477056.83 euros. No caso do VLA ser negativo o projecto seria rejeitado.
6259875.93
RBC= 1333330 + 4449488.24 = 1.082
Uma vez que o Rácio Benefício-Custo é superior a 1, este indicador confirma que a
viabilidade do projecto é positiva. Esta análise fornece directamente uma estimativa rápida
de quanto poderão aumentar os custos incluídos no denominador (custos totais=custo do
investimento+custos correntes), sem que a rentabilidade do investimento seja posta em
causa. Deste modo, pode determinar-se que aumentos dos custos totais superiores a 8.2%,
iriam tornar o projecto inviável.
I= 8% I=15%
VLA VLA
Ano (t) t t
(Bt -Ct –It) (1+i)- (Bt -Ct –It) (1+i)-
0 -1 879 002 -1 879 002
1 314 081 294 963.34
2 299 539.62 264 184.22
3 285 672.91 237 011.97
4 272 447.32 211 926.95
5 259 834.02 189 812.83
6 247 804.66 170 006.28
7 236 332.23 152 266.49
8 225 390.92 136 377.81
9 214 956.15 122 147.08
Total 477 056.83 € -100 305.03 €
A TIR, a taxa de desconto para a qual o VLA se anula, deverá portanto situar-se entre 8% e
15%. Por uma interpolação linear simples pode calcular-se esse valor. Assim, 7% (a
distância de 8 a 15%) corresponde a uma variação de VLA de 577 361.86 (a distância de
477 056.83 € a -100 305.03 €). Logo, uma taxa de x % corresponderá a uma variação de
VLA de 577 361.86 € (o VLA que se quer anular). Ou seja:
7% ------- 577 361.86
x% ------- 477 056.83 x% = (7% ×477 056.83) / 577 361.86 = 5,78%
Assim, TIR = 8% + 5,78% = 13,78%
Adachi, K, Kato, K, Wakamatsu K, Ito S, Ishimaru K, Hirata T, Murata O,& Kumai H. (2005).
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Bruxelas
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9. Anexos
I – IDENTIFICAÇÃO DO REQUERENTE
Nome/Denominação social ___________________________________________________________________,
identificação fiscal n.º _______________, bilhete de identidade n.º _______________, emitido em __/__/____,
pelo arquivo de identificação de _____________, com residência/sede em _____________________________
_____________________________________________________, código postal ______-____ ____________,
na localidade de ____________________________, freguesia de ________________________________,
concelho de ___________________________________, telefone ______________, telemóvel ___________,
fax _______________, e-mail ______________________________________, na qualidade de: proprietário
arrendatário outro _________________________ do prédio: urbano rústico misto, denominado
___________________________, no concelho de _____________________, freguesia de _______________,
descrito sob o n.º ____ da Conservatória do Registo Predial de __________ e inscrito na matriz no artigo ____.
II – LOCALIZAÇÃO DA UTILIZAÇÃO
IV – ELEMENTOS A ANEXAR:
1. Cópia do Bilhete de Identidade.
2. Cópia do Cartão de Contribuinte.
3. Título de propriedade dos terrenos ou, não sendo o proprietário, documento que confere o direito à sua
utilização. Quando este documento não consubstancie um contrato de arrendamento, deverá o
requerente juntar declaração do proprietário do terreno, bem como cópia do título de propriedade. No
caso de águas subterrâneas ficam dispensados de entregar nas situações em que tenha sido emitida
licença de pesquisa.
4. Declaração da entidade gestora respectiva da impossibilidade de integração na rede pública de água,
quando a utilização prevista é o consumo humano. No caso de águas subterrâneas ficam dispensados
de entregar nas situações em que tenha sido emitida licença de pesquisa.
5. Inventário das captações existentes na propriedade, nos casos de legalização da captação ou quando
seja necessário proceder à actualização da informação fornecida na fase de pesquisa (águas
subterrâneas), de acordo com a seguinte estrutura:
Tipo de N.º de autorização Utilização da Volume médio Volume máximo N.º de horas médio
captação licença/ /concessão água extraída anual extraído (m3) mensal extraído (m3) em extracção
CONSUMO HUMANO
REGA
ACTIVIDADE INDUSTRIAL
OUTROS
Abeberamento animal
N.º de animais por espécie: à data do pedido ___________________ no horizonte de projecto __________
Distância dos bebedouros à linha de água ____________ (m)
outro (especificar) _______________________________________________________________________
________________________________________
(Assinatura)