Analise Real Livro PDF
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REAL
licenciatura em
matemática
Licenciatura em Matemática
Análise Real
Fortaleza, CE
2011
Créditos
Presidente Maria Luiza Maia
Dilma Vana Rousseff Saskia Natália Brígido Batista
Ministro da Educação Equipe Arte, Criação e Produção Visual
Fernando Haddad Ábner Di Cavalcanti Medeiros
Secretário da SEED Benghson da Silveira Dantas
Luís Fernando Massonetto Cícero Felipe da Silva Figueiredo
Elson Felipe Gonçalves Mascarenha
Diretor de Educação a Distância
Germano José Barros Pinheiro
Celso Costa
Gilvandenys Leite Sales Júnior
Reitor do IFCE José Albério Beserra
Cláudio Ricardo Gomes de Lima José Stelio Sampaio Bastos Neto
Pró-Reitor de Ensino Lucas de Brito Arruda
Gilmar Lopes Ribeiro Marco Augusto M. Oliveira Júnior
Diretora de EAD/IFCE e Navar de Medeiros Mendonça e Nascimento
Coordenadora UAB/IFCE Samuel da Silva Bezerra
Cassandra Ribeiro Joye Equipe Web
Vice-Coordenadora UAB Benghson da Silveira Dantas
Régia Talina Silva Araújo Fabrice Marc Joye
Hanna França Menezes
Coordenador do Curso de
Herculano Gonçalves Santos
Tecnologia em Hotelaria
Luiz Bezerra de Andrade FIlho
José Solon Sales e Silva
Lucas do Amaral Saboya
Coordenador do Curso de Ricardo Werlang
Licenciatura em Matemática Samantha Onofre Lóssio
Priscila Rodrigues de Alcântara Tibério Bezerra Soares
Elaboração do conteúdo Revisão Textual
Ângelo Papa Neto Aurea Suely Zavam
Zellaber Gondim Guimarães Nukácia Meyre Araújo de Almeida
Colaboradora Revisão Web
Lívia Maria de Lima Santiago Antônio Carlos Marques Júnior
Equipe Pedagógica e Design Instrucional Débora Liberato Arruda Hissa
Ana Cláudia Uchôa Araújo Saulo Garcia
Andréa Maria Rocha Rodrigues Logística
Carla Anaíle Moreira de Oliveira Francisco Roberto Dias de Aguiar
Cristiane Borges Braga
Secretários
Eliana Moreira de Oliveira
Breno Giovanni Silva Araújo
Gina Maria Porto de Aguiar
Francisca Venâncio da Silva
Glória Monteiro Macedo
Iraci de Oliveira Moraes Schmidlin Auxiliar
Isabel Cristina Pereira da Costa Ana Paula Gomes Correia
Jane Fontes Guedes Bernardo Matias de Carvalho
Karine Nascimento Portela Charlene Oliveira da Silveira
Lívia Maria de Lima Santiago Isabella de Castro Britto
Lourdes Losane Rocha de Sousa Nathália Rodrigues Moreira
Luciana Andrade Rodrigues Virgínia Ferreira Moreira
Maria Irene Silva de Moura Vivianny de Lima Santiago
Maria Vanda Silvino da Silva Wagner Souto Fernandes
Marília Maia Moreira
Catalogação na Fonte: Islânia Fernandes Araújo (CRB 3 - Nº 917)
ISBN 978-85-475-0018-4
A partir do século XIX, houve uma crescente formalização destas noções, que passaram a
ser tratadas sob um novo padrão de rigor. Os personagens centrais destas aulas serão os
números reais e as funções reais de uma variável real que apresentam alguma regularidade,
seja do ponto de vista topológico (continuidade), seja do ponto de vista geométrico (suavidade,
ou seja, derivabilidade). Serão estudados também os teoremas centrais do Cálculo, sob um
ponto de vista mais geral e mais profundo, dentro do espírito de crescente rigor que permeia
o desenvolvimento dos objetos matemáticos.
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO 7
AULA 1 Números reais –
parte 1
Objetivos
8 Análise Real
TÓPICO 1 Os números irracionais
O bjetivos
• Identificar as questões geométricas que motivaram o
estudo de números não racionais
• Compreender os princípios básicos da teoria de Eudoxo
sobre as proporções
AULA 1 TÓPICO 1 9
obtidos a partir de uma unidade multiplicando-se e dividindo-se essa unidade em
partes iguais.
De um modo mais preciso, um segmento de reta a pode ser medido usando-
se um outro segmento e como unidade de medida. Se e cabe um número inteiro
n de vezes em a , isto é, se n cópias do segmento de reta e , colocadas lado a lado,
cobrem perfeitamente o segmento a , dizemos que a tem medida n , ou que mede
n unidadesde e .
Dois segmentos a e b são ditos comensuráveis se existe um segmento
e que, quando tomado como unidade de medida, faça com que a e b tenham
medidas inteiras, isto é,
m
a = e ++ e ,
+
b = e + e ,
n
10 Análise Real
a a 1 1 1
= = = =
b n0 a + a1 n + a1 n + 1 n0 +
1
0
a0
0
a2 1
n1 + n1 + +
a1 1
ni-1 +
ni
A combinação de frações
1
[0; n0 , n1 ,, ni ] =
1
n0 +
1
n1 + +
1
ni-1 +
ni
Figura 2 - Pentagrama
AULA 1 TÓPICO 1 11
mostraremos que o lado a e a diagonal d de um pentágono regular são segmentos
d
incomensuráveis. De fato, mostraremos que a razão j = , conhecida como razão
a
áurea, ou número de ouro, não é um número
racional.
vo c ê sab i a?
O Número de Ouro é um número irracional
misterioso e enigmático que nos surge numa
infinidade de elementos da natureza na forma de
uma razão, sendo considerado por muitos como
uma oferta de Deus ao mundo.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/
icm17/ouro.htm
d a
= .
a d -a
Podemos, então, escrever
d a d 1 1 1 1
= =1 + =1 + =1 + =1 + =1 + .
a d -a d -a a d -a a -d 1
1- 1- 1+ 1+
d a a a
a-d
Este procedimento pode ser repetido, o que equivale a considerar um
pentagrama menor semelhante ao original (veja a Figura 3). Mais ainda, este
procedimento pode ser repetido indefinidamente. Assim, obtemos:
d 1
j= =1 + = [1;1,1,1,]
a 1
1+
1+
12 Análise Real
o que significa que o algoritmo de Euclides não termina em um número finito de
etapas.
Baseado em fatos deste tipo, Hipaso concluiu que existem segmentos de
reta incomensuráveis, isto é, que não admitem uma medida comum. No exemplo
descrito acima, a diagonal d e o lado a do pentágono regular são incomensuráveis.
As frações
1 1 3 1 5 1 8
1,1 + = 2,1 + = ,1 + = ,1 + =
1 1+1 2 1 3 1 5
1+ 1+
1+1 1
1+
1+1
são aproximações de j . Em geral, a sequência de frações contínuas finitas do tipo
1
1+
1
1+
1
1 ++
1+1
tem o seguinte aspecto:
3 5 8 13 F
1,2, , , , ,, n ,
2 3 5 8 Fn+1
AULA 1 TÓPICO 1 13
a diagonal e o lado de um quadrado são incomensuráveis é equivalente a afirmar
que 2 é irracional.
Não repetiremos aqui a demonstração clássica de Euclides. Em vez disso,
daremos uma demonstração geométrica, no espírito da Matemática grega.
Consideremos, por uma questão de simplicidade e porque não há perda de
generalidade, um quadrado de lado 1 e com diagonal d . Supor que 1 e d são
comensuráveis é equivalente a supor que existe uma medida comum e tal que
a
d = ae e 1= be , ou seja, d = , com a e b inteiros positivos.
b
14 Análise Real
Inicialmente, tracemos um arco de circunferência, com centro no ponto A
e raio AB = b . Seja E o ponto onde esse arco corta a diagonal AC do quadrado.
Temos: EC = AC - AE = a - b . Pelo ponto E , tracemos uma perpendicular à
diagonal AC , que corta o lado BC no ponto F . Como FE e FB são tangentes
a uma mesma circunferência, temos FE = FB . Por outro lado, o triângulo CEF é
retângulo e um de seus ângulos internos mede 45 , logo é um triângulo isósceles, com
FE = EC = a - b . Assim, FB = FE = a - b e CF = BC - FB = b - (a - b) = 2b - a .
Portanto, o triângulo CEF é semelhante ao triângulo ABC e possui os lados
inteiros. Agora vamos ao passo crucial: podemos repetir este procedimento
para o triângulo CEF , de modo a obtermos um outro triângulo ainda menor,
semelhante a CEF , e com os três lados inteiros. Como este procedimento pode
ser repetido indefinidamente, podemos obter triângulos arbitrariamente pequenos
com lados inteiros. Em particular, existe um triângulo semelhante a ABC , com
lados inteiros e contido em um círculo de diâmetro 1. Isso é impossível, pois os
lados do triângulo, sendo inteiros, devem ser necessariamente maiores ou iguais
a 1, mas estando o triângulo contido em um círculo de diâmetro 1, pelo menos
um dos seus lados deve ser menor do que o diâmetro, ou seja, menor do que 1.
Evidentemente, isto é um absurdo, pois não existem número inteiros positivos
menores do que 1. A contradição veio de supormos que a diagonal do quadrado de
lado 1 é um número racional. Logo, 2 não pode ser racional.
Cerca de dois séculos depois da descoberta de Hipaso, outro sábio
grego, Eudoxo de Knidos (408 a.C. - 355 a.C.), elaborou a teoria geométrica das
proporções, ferramenta capaz de lidar com quantidades incomensuráveis. A seguir,
descreveremos brevemente as ideias centrais da teoria de Eudoxo e o modo como
podem ser encontradas no livro V dos Elementos de Euclides.
Para Eudoxo, magnitudes de um mesmo tipo podem ser somadas. Assim,
podemos somar os comprimentos de dois segmentos para obtermos o comprimento
de um terceiro segmento. Da mesma forma, a soma de áreas de figuras planas é igual
à área de alguma figura plana. Eudoxo assume implicitamente que esta soma de
magnitudes é associativa e comutativa. Magnitudes de um mesmo tipo podem ser
comparadas: dadas duas magnitudes a e b de um mesmo tipo (dois comprimentos,
por exemplo), temos a < b , a = b ou b < a . O produto de uma magnitude por um
número natural tem sentido: na = a + + a ( n vezes). Vale, ainda, a seguinte
propriedade fundamental, conhecida como:
AULA 1 TÓPICO 1 15
Princípio de Arquimedes: dadas duas magnitudes a e b , existe n
natural tal que na > b .
Sendo assim, a < n implica que ma < nb e n < A implica que nB < mA ,
b m m B
o que contradiz uma das equivalências de (1). Reciprocamente, se valem as três
equivalências de (1), então não pode existir um número racional entre a e
A que,
b B
portanto, correspondem a um mesmo ponto sobre a reta, isto é, são iguais. De um modo
a
mais preciso, o que Eudoxo afirma é que duas razões e A são iguais se e somente
n a b B n A
se, para quaisquer m, n inteiros positivos, < é equivalente a < .
m b m B
É notável que esta seja exatamente a ideia sobre a qual R. Dedekind, no
século XIX (logo, mais de 2200 anos depois de Eudoxo!), se baseou para definir
número real como um corte, ou seção.
16 Análise Real
Concluímos aqui nosso primeiro tópico, que tratou da origem histórica
do estudo dos números irracionais. A descoberta dos números irracionais,
compreendidos pelos antigos gregos como magnitudes incomensuráveis, trouxe à
tona a necessidade de se trabalhar com um conjunto de números mais amplo do
que o conjunto dos racionais, mesmo para lidar com questões simples de geometria
plana, como a semelhança de triângulos. Este conjunto mais amplo passou, bem
mais tarde, a ser chamado de conjunto dos números reais, mas a determinação
precisa do conjunto dos números reais só se deu no final do século XIX. Vale notar
ainda que, desde sua origem, os números irracionais estão associados a processos,
ou algoritmos, que não cessam após um número finito de passos, ou seja, processos
de interação que continuam indefinidamente.
Assim, a descoberta dos números irracionais trouxe pela primeira vez à cena
matemática a presença do infinito, tão abominado pelos antigos gregos. Das várias
tentativas de se encontrar modos eficazes para lidar com estes processos infinitos,
nasceu e se desenvolveu o que chamamos hoje de Análise Matemática.
AULA 1 TÓPICO 1 17
TÓPICO 2 Propriedades dos
números reais
O bjetivos
• Reconhecer as propriedades que definem o conjunto dos
números reais
• Realizar intuitivamente a noção de completude e perceber a
necessidade de se considerar esta noção
18 Análise Real
nos moldes da definição de soma, dada acima, obtendo assim uma teoria puramente
geométrica.
Entretanto, para lidar com a noção de semelhança, Euclides precisou associar
a cada objeto geométrico uma magnitude, que nada mais é do que sua medida.
Assim, a magnitude é um número associado a um objeto geométrico.
A um segmento de reta podemos associar um número que representa seu
comprimento; a uma figura plana como um círculo ou um quadrado, podemos
associar um número que representa sua área; a um ângulo associamos um número
que representa sua medida (em graus ou em radianos); a uma figura no espaço, como
um cubo ou uma pirâmide, associamos um número que representa seu volume.
Uma vez que segmentos de reta podem ser somados, os números que indicam suas
magnitudes devem admitir também uma operação de soma. Além disso, a área de
um retângulo é dada como o produto das medidas de dois de seus lados. Como a
área de um retângulo também é um número, precisamos definir sobre os números
que indicam magnitudes um produto.
Números racionais podem ser somados e multiplicados, mas, como já
vimos no tópico anterior, os números racionais são insuficientes para exprimir
todas as possíveis magnitudes. Dessa forma, as magnitudes devem ser elementos
de um conjunto R que contenha os racionais e seja munido de duas operações,
uma soma e um produto. Devemos, ainda, exigir que as operações definidas
sobre este conjunto numérico R tenham as mesmas propriedades das respectivas
operações no conjunto Q dos números racionais, ou seja, devemos exigir que R
seja um corpo. Já encontramos a noção de corpo nos cursos de Álgebra Linear e
de Estruturas Algébricas, mas vamos repetir a definição de corpo aqui, por uma
questão metodológica.
Definição de corpo
Um conjunto K , munido de duas
ate nção!
operações binárias + : K ´ K ® K , chamada
Revise o conteúdo de corpo no material da soma, e × : K ´ K ® K , chmada produto, é
disciplina Estruturas Algébricas denominado corpo, se são válidas as seguintes
condições:
1. A soma é associativa: a + (b + c ) = (a + b) + c , para quaisquer
a , b, c Î K .
AULA 1 TÓPICO 2 19
2. Existe um elemento neutro para a soma: existe e Î K tal que
a + e = e + a = a , para todo a Î K . É possível demonstrar que este
elemento neutro é único e o denotamos por 0 .
Figura 7 - Segmento AC
O conjunto dos números que representam magnitudes de objetos geométricos
deve ser um corpo, como vimos acima, pois é conveniente que as propriedades
20 Análise Real
operatórias que valem para os racionais e, consequentemente, para os segmentos
cujas magnitudes são números racionais, sejam válidas para todos os segmentos,
quer tenham magnitudes racionais ou não.
AULA 1 TÓPICO 2 21
conhece e seja a o diâmetro de um átomo de hidrogênio. Evidentemente, b é muito
grande e a é muito pequeno, mas é possível, pelo menos teoricamente, enfileirar
uma quantidade n de átomos de hidrogênio, mesmo que uma quantidade enorme,
de modo a obter uma distância na maior do que b . Isto é uma propriedade que
se espera que nosso universo tenha, ou seja, espera-se que não existam objetos
infinitamente distantes. O Princípio de Arquimedes capta esta propriedade do
espaço geométrico.
Um subconjunto X Ì R é dito denso em R se, dados a, b Î R , com a < b ,
existe x Î X tal que a < x < b . Usando o Princípio de Arquimedes, podemos
demonstrar que o conjunto Q dos números racionais é denso em R .
22 Análise Real
A relação de ordem em R nos permite definir a noção de intervalo. De fato,
dados a, b Î R , se a < b , chamamos de intervalos com extremo inferior em a e
extremo superior em b , os seguintes conjuntos:
(a, b) ={x Î R|a < x < b},
AULA 1 TÓPICO 2 23
Figura 9 – Correspondência entre o número a e o ponto A sobre a reta
24 Análise Real
número racional corresponda a um ponto sobre a reta, existe pelo menos um
ponto da reta que não corresponde a um número racional. Surge, então o seguinte
questionamento:
Existe um corpo ordenado cujos elementos estejam em correspondência
bijetiva com os pontos de uma reta?
Na próxima aula, veremos como colocar de modo preciso a questão
geométrica acima e definiremos o corpo ordenado R dos números reais como aquele
que satisfaz esta condição, isto é, seus elementos correspondem bijetivamente aos
pontos de uma reta.
Concluímos aqui nossa primeira aula, que teve um caráter intuitivo e
geométrico. Exibimos aqui as origens geométricas que motivaram o estudo dos
números reais. O ponto principal é que os números racionais são insuficientes para
o estudo da geometria, mesmo em seu viés mais elementar. Assim, é necessário
lançar mão de um conjunto de números mais amplo, que deve ter as mesmas
propriedades operatórias de Q , ou seja, deve ser um corpo, que deve, assim como
Q , ser totalmente ordenado, e cuja ordem deve ser arquimediana. Além disso, o
corpo ordenado arquimediano de que precisamos, deve estar em correspondência
bijetiva com os pontos de uma reta. Esta última condição, que denominamos
completude, será estudada na Aula 2.
Ati v i da de de a p ro fu n da m e n to
1. Considere o plano cartesiano Q ´ Q , ou seja, o conjunto de pontos do plano que têm coordenadas
racionais. Sejam O a origem (0,0) e A o ponto de coordenadas (0,1) . Existe algum triângulo equilátero
em Q ´ Q , tendo OA como um dos lados? Por quê?
2. Seja ABC um triângulo isósceles retângulo em A e AD a altura relativa à hipotenusa, como mostrado
na figura abaixo.
Verifique que os triângulos ABC e ABD são semelhantes e que os segmentos AB e BD não
incomensuráveis. Discuta como este exemplo justifica a necessidade de se assumir a existência de números
não racionais para se trabalhar com semelhança de triângulos.
3. Determine a expansão dos seguintes números racionais como frações contínuas:
AULA 1 TÓPICO 2 25
(a) 17
7
(b) 13
31
(c) 55
34
(d) 158
49
4. Demonstração de Euclides da irracionalidade de 2.
a
(a) Para obter uma contradição, suponha que 2 seja racional, isto é,2 = . Verifique que é possível
b
supor que a e b sejam primos entre si, isto é, o máximo divisor comum de a e b é 1 .
a
(b) Mostre que a igualdade 2 = implica a 2 = 2b2 .
b
(c) Mostre que a 2 = 2b2 implica que a é par.
(d) Mostre que a par implica b par.
(e) Conclua que o mdc de a e b é maior ou igual a 2 , o que é uma contradição (por quê?).
5. Considere o número 2 . Podemos escrever
1 1 1
2 =1 + 2 - 1=1 + =1 + =1 + .
1+ 2 2 + 2 -1 1
2+
1+ 2
(a) Verifique que o procedimento acima pode ser repetido indefinidamente e conclua que 2 admite uma
representação como fração contínua infinita [1;2,2,2] .
(b) Use o item (a) acima para mostrar que 2 é irracional. (Sugestão: repita o argumento usado no texto
para demonstrar que a razão áurea j é irracional).
(c) Encontre a expansão de 5 como fração contínua infinita. (Sugestão: comece escrevendo
5 = 2 + 5 - 2 e repita o procedimento usado para 2 ).
Teorema de Tales.
26 Análise Real
O Teorema de Tales afirma que, se duas retas transversais cortam um feixe de retas paralelas, as magnitudes
dos segmentos delimitados pelas transversais são proporcionais. Com a notação da figura anterior, temos:
AB A¢B ¢
= .
BC B ¢C ¢
6. A proposta deste exercício é apresentar uma demonstração do Teorema de Tales que englobe os casos em
que os segmentos são incomensuráveis.
(a) Suponha, primeiramente, que AB e BC são comensuráveis. Seja e a medida comum destes
dois segmentos, ou seja, AB = m × e e BC = n × e , onde m e n são números naturais. Trace
m + n retas paralelas a AA¢ , dividindo o segmento AC em m + n segmentos congruentes
de medida e . Mostre que estas retas paralelas dividem o segmento A ¢B ¢ em m partes e o
segmento B ¢C ¢ em n partes, todas com medida e . Conclua que o teorema é válido neste caso.
(b) Procure adaptar o argumento acima para o caso em que os segmentos AB e BC são incomensuráveis.
AULA 1 TÓPICO 2 27
AULA 2 Números reais –
parte 2
Objetivos
28 Análise Real
TÓPICO 1 Valor absoluto
O bjetivos
• Identificar a noção de valor absoluto e suas propriedades
mais relevantes
• Perceber a possibilidade de existirem vários valores abso-
lutos definidos em um corpo ordenado
• Desenvolver a noção de espaço métrico a partir da noção
de valor absoluto sobre os reais
AULA 2 TÓPICO 1 29
Vamos verificar que, de fato, a função f(a ) =|a | satisfaz as condições 1,2 e
3 acima e, portanto, é um valor absoluto.
Primeiramente, |a |³ 0 para todo a Î K e |a |= 0 implica a = 0 ou -a = 0 ,
isto é, |a |= 0 implica a = 0 .
Para verificarmos a validade da condição 2, consideremos a, b Î K . Temos
alguns casos a considerar:
primeiro, se a ³ 0 e b ³ 0 , temos |a |= a e |b|= b e ab ³ 0 , logo
|ab|= ab =|a ||b|.
no caso em que a ³ 0 e b < 0 , temos |a |= a , |b|= -b e ab £ 0 , logo
|ab|= -ab = a(-b) =|a ||b|. O caso em que a < 0 e b ³ 0 é similar.
no caso em que a < 0 e b < 0 , temos |a |= -a , |b|= -b e ab > 0 , logo
|ab|= ab = (-a )(-b) =|a ||b|.
Finalmente, para verificarmos a validade de 3, devemos também considerar
alguns casos:
primeiro, se a ³ 0 e b ³ 0 , então a + b ³ 0 e |a + b|= a + b =|a |+|b| .
Note que, neste caso, vale a igualdade.
Se a ³ 0 e b < 0 , então |a |= a e |b|= -b . Observe que, neste
caso, b <|b| . Podemos ter duas situações: a + b ³ 0 ou a + b < 0 . Se
a+b³0 , então |a + b|= a + b < a+|b|£|a |+|b| . Se a+b<0 , então
|a + b|= -(a + b) = -a - b £|a |-b =|a |+|b|. O caso em que a < 0 e b ³ 0 é
similar.
Enfim, se a < 0 e b < 0 , temos |a |= -a , |b|= -b e a + b < 0 , logo
|a + b|= -(a + b) = -a - b =|a |+|b|. Observe que, neste caso, também vale a
igualdade.
Vale ressaltar que outros valores absolutos podem ser definidos sobre corpos
ordenados arquimedianos. Podemos, por exemplo, definir sobre o corpo dos
números racionais um valor absoluto para cada número inteiro primo p , chamado
a
valor absoluto p -ádico . De fato, fixado um inteiro primo p , seja r = um
b
número racional, onde podemos supor que a fração é irredutível, ou seja, a e b
são primos entre si. Pelo Teorema Fundamental da Aritmética, existe um único
c
número inteiro n tal que r = pn × , com c e d inteiros não divisíveis por p . A
d
função | | p : Q → Q + , dada por |r |p = p-n , satisfaz as condições 1,2 e 3 da definição
de valor absoluto. Dizemos que |r |p é o valor absoluto p -ádico de r . Este valor
absoluto tem papel central na resolução de equações diofantinas de grau 2, em
Teoria dos Números.
30 Análise Real
Convém ressaltar que nosso interesse é
o estudo do valor absoluto usual. Por isso, não
teceremos mais comentários sobre os valores
sa i ba ma i s!
absolutos p -ádicos. O leitor interessado pode
Acesse o site www.ime.usp.br/~niski/monitoria/
encontrar mais informações nos exercícios de
corpoarq.pdf e obtenha mais informações sobre
aprofundamento.
as propriedades arquimedianas
Continuamos a denotar por K um corpo
ordenado arquimediano (podemos pensar
momentaneamente em K como sendo o corpo
dos números racionais). Se a, b Î K , o que
significa o valor absoluto da diferença |a - b|?
O exemplo a seguir é elucidativo nesse sentido.
você sa b i a? Exemplo: Vamos resolver a equação
Em 1897, o método de Weierstrass de |x - 1|+|x - 3|= 2 em . A princípio, por se
desenvolvimento de séries para funções tratar de uma equação, pode parecer estranho
algébricas o conduziu à invenção dos números afirmar que o seu conjunto solução é o intervalo
p-adic. Hensel estava interessado no primo exato [1,3] ={x Î |1 £ x £ 3} . De fato, se x Î [1,3] ,
que divide o discriminante de um campo de
então 1 £ x £ 3 , logo x - 1 ³ 0 e x - 3 £ 0 .
número algébrico. Os números p-adic podem ser
Logo, |x - 1|= x - 1 e |x - 3|= 3 - x , donde
considerados como uma conclusão dos números
|x - 1|+|x - 3|= x - 1 + 3 - x = 2 . Assim, todo
racionais, de um modo diferente da conclusão
elemento do intervalo é solução da equação.
habitual que conduz aos números reais.
Por outro lado, se x <1 ou x > 3 , é possível
Fonte: http://www.somatematica.com.br/
determinar, de modo análogo ao que fizemos
biograf/hensel.php
acima, que x não pode ser solução da equação
(veja a questão 1 da tarefa).
Apresentaremos, agora, outra solução desse problema, que se baseia na
interpretação geométrica da equação: |x - 1| e |x - 3| podem ser vistos como
as distâncias entre x e os elementos 1 e 3 . Afirmar que |x - 1|+|x - 3|= 2 é
equivalente a afirmar que o ponto x está situado na reta de modo que sua distância
ao ponto correspondente a 1, somada à sua distância ao ponto correspondente a 3 ,
seja constante e igual a 2 . Isso acontece exatamente para os números situados no
intervalo [1,3] , que correspondem aos pontos racionais situados no segmento que
liga os pontos correspondentes a 1 e 3 (veja a Figura 1).
AULA 2 TÓPICO 1 31
Figura 1 - Número real entre 1 e 3
32 Análise Real
2. d (x, y ) = d ( y, x ) , para quaisquer x, y Î .
3. d (x, y ) £ d (x, z ) + d (z, y ) , para quisquer x, y, z Î
Estas condições são consequências diretas das propriedades de valor absoluto
que vimos anteriormente (veja o exercício de aprofundamento 3). A função d ,
definida acima, é chamada métrica, e o par ( , d ) é chamado espaço métrico dos
números reais. Em um espaço métrico, podemos definir as importantes noções de
conjunto aberto e de conjunto fechado.
Um subconjunto A Ì é chamado aberto se, para cada a Î A , existe d > 0
tal que (a - d , a + d ) Í A . Usando a noção de métrica dada acima, (a - d , a + d ) Í A
é equivalente a
d (x, a ) < d Þ x Î A.
Em outras palavras, todo elemento de que está a uma distância menor do
que d do ponto a Î A , pertence necessariamente ao conjunto A .
Os conjuntos abertos de satisfazem as seguintes condições:
1. Os subconjuntos Æ e são abertos.
2. Se A e B são abertos, então A Ç B é aberto.
3. Se ( Ai )iÎI é uma família de abertos, então a união i ÎI
Ai é um aberto.
A verificação destes fatos é uma tarefa de rotina e não será essencial para os
objetivos deste curso. Assim, não a faremos aqui (veja o exercício de aprofundamento
4).
Exemplos:
1. Todo intervalo aberto é um subconjunto aberto de . De fato, se
I = (a, b ) é um intervalo aberto e a Î (a, b ) , então a < a < b .
1
Se d = min {a - a, b - a} , então a < a - d e a + d < b . Logo,
2
(a - d , a + d ) Ì I , o que mostra que I é um conjunto aberto.
AULA 2 TÓPICO 1 33
Exemplos:
1. Todo intervalo fechado é um conjunto fechado em . De fato, se
J = [a, b ] , então - J = (-¥, a ) È (b, +¥) , que é aberto, por ser um
união de dois conjuntos abertos.
34 Análise Real
(a - d , a + d ) Ç X = Æ e isso é equivalente a afirmar que (a - d , a + d ) Ì - X .
Portanto - X é aberto e X é fechado.
Com este resultado, encerramos o tópico 1. Cabe observar que as noções de
conjunto aberto e de conjunto fechado estudadas acima fazem parte de uma teoria
mais geral, chamada topologia, que estuda os abertos e as funções que, de certo
modo, preservam abertos, chamadas funções contínuas, que estudaremos em uma
aula posterior. O espaço métrico dos números reais, ou, mais geometricamente,
a reta real, é uma espécie de protótipo de espaço onde se podem definir abertos
e fechados. Um ponto fundamental para estudarmos o conjunto dos reais como
espaço métrico foi assumir a identificação dos reais com os pontos de uma reta.
Esta identificação será estabelecida de modo preciso no tópico 2 desta aula, que
iniciaremos a seguir.
AULA 2 TÓPICO 1 35
TÓPICO 2 Completude de um
corpo K
O bjetivos
• Compreender a noção de supremo e ínfimo de um conjunto
limitado e assimilar suas propriedades básicas
• Perceber que a completude de um corpo ordenado é
condição suficiente para que os elementos de estejam em
correspondência bijetiva com os pontos de uma reta
36 Análise Real
Exemplos:
1. O intervalo (0,1] é limitado superiormente e inferiormente. Os números
0,-1,-2 são cotas inferiores de (0,1] . Os números 1,2,3 são cotas
superiores de (0,1] .
2. O conjunto dos números naturais não admite cota superior, mas
qualquer número negativo é cota inferior de .
3. O conjunto dos inteiros não admite cota superior nem cota inferior.
4. O intervalo (-¥,0] não admite cota inferior, mas 1 é uma cota superior
de (-¥,0] .
5. O conjunto de números racionais S ={r Î |r 2 < 2} é limitado
superiormente e 2 é uma cota superior de S .
AULA 2 TÓPICO 2 37
sup(0,1) =1 , pois 1 é cota superior de (0,1) e, dado d > 0 , 1 - d não pode ser cota
superior de (0,1) , pois existe x Î tal que 1 - d < x <1 . Dessa forma, não existe
cota superior de (0,1) menor do que 1, sendo o número 1, portanto, o supremo
de (0,1) .
No caso em que S é limitado inferiormente, o ínfimo de S é a maior entre
as cotas inferirores de S . O ínfimo de S é denotado por inf S .
A mesma discussão que fizemos acima sobre a diferença entre supremo e
máximo vale para ínfimo e mínimo. Convidamos o leitor a produzir um exemplo
de um conjunto que não tenha mínimo e tenha ínfimo (veja a tarefa 2, desta aula).
De um modo mais geral, podemos repetir a discussão acima para caracterizar
o supremo de um conjunto limitado superiormente. Faremos isso no teorema a
seguir, às vezes chamado propriedade de aproximação do supremo.
Figura 4 - Para cada δ > 0 , existe x ∈ S tal que s – δ < x < s Para
38 Análise Real
tal que s ¢ = s - d < x . Logo, s ¢ não pode ser cota superior de S . Mostramos assim
que s é a menor cota superior de S , portanto s é o supremo de S .
Vamos observar com um pouco mais de atenção o exemplo 5 dado acima. O
conjunto de números racionais S = {r ∈ Q | r 2 < 2} é limitado superiormente. Cabe
aqui a seguinte pergunta: S possui supremo? Em geral, o que garante que um
determinado conjunto possua supremo? Podemos argumentar geometricamente,
apelando para a identificação de R com a reta. Essa identificação nos permite
assegurar que existe um ponto correspondente a alguma cota superior de S ,
digamos o ponto correspondente ao número 2 , e que podemos “deslocar” este
ponto para a esquerda, mantendo-o sempre à direita de S até uma “posição limite”
(veja a Figura 5).
AULA 2 TÓPICO 2 39
a2 a2 a2 1 1
a2 < 2 Û <1 Û a 2 - <1 Û a 2 <1 + Û a 2 < (2 + a 2 ) < (2 + 2) = 2.
2 2 2 2 2
4
Segue daí que 1 < 2 , logo 1< o que é equivalente a
2 2+a 2 2 + a2
4a
a< = b,
2 + a2
absurdo, pois b Î S e a é o supremo de S .
Por outro lado, se ocorre (ii) temos
2 + a2 2 + a2
2< < a2 Þ < a.
2 2a
Como a = sup S , existe r Î S tal que
2 + a2
<r £a
2a
consequentemente
2
æ 2 + a 2 ö÷
çç ÷ < r 2 < 2,
çè 2a ÷÷ø
já que r 2 < 2 . Por outro lado, temos
(2 - a 2 )2 + 8a 2
(2 - a 2 )2 ³ 0 Û (2 - a 2 )2 + 8a 2 ³ 8a 2 Û ³2 Û
4a 2
2
(2 + a 2 )2 æ 2ö
Û ³ 2 Û çç 2 + a ÷÷ ³ 2
4a 2 èç 2a ÷ø÷
e chegamos novamente a uma contradição.
Assim, a = sup S satisfaz necessariamente
a condição (iii): a 2 = 2 e, como já demonstramos
na aula 1, nenhum número racional tem o
quadrado igual a 2 . Concluímos que S não
ate n ç ão !
possui supremo em .
Um corpo ordenado K é dito completo se O exemplo acima mostra que existem
satisfaz a seguinte condição: subconjuntos de que não admitem supremo em
Todo subconjunto S ÌK limitado Q. Esta condição, que falha no caso dos racionais,
superiormente admite supremo em K . é precisamente aquela que deve ser satisfeita por
um corpo ordenado arquimediano para que seus
A condição acima é chamada condição
pontos estejam em correspondência bijetiva com
de completude. Vamos exigir que o conjunto
os pontos de uma reta. Demonstrar que de fato
dos números reais seja um corpo, ordenado,
existe esta bijeção é nosso objetivo no restante
arquimediano e que também seja completo.
deste tópico.
Repetindo o que fizemos na Aula 1,
associamos os elementos de um corpo ordenado
40 Análise Real
arquimediano R , contendo , aos pontos de uma reta t da seguinte forma:
escolhemos dois pontos O e U de t de modo que O esteja à esquerda de U .
Consideramos, então, uma função f : R ® t , tal que f(0) = O e f(1) =U .
Dado um número natural n , seja f(n) = U n , onde U n é o ponto obtido justapondo-
se n cópias de OU à direita de O , de modo que OU n = OU + + OU ( n vezes).
1
Além disso, f( ) = Vn , onde OVn + + OVn = OU . Assim, todo número racional
n
positivo m / n tem como imagem o ponto P tal que OP = OVn + + OVn ( m
vezes). Se r é um número racional
negativo, então f(r ) = Q , onde Q está à esquerda de O e os segmentos QO e OP
são congruentes, com P = f(-r ) .
Seja a Î R é um número (racional ou irracional). Consideremos o conjunto
de números racionais
Ea ={r Î |r < a}.
A condição de completude para R
implica que sup Ea é um elemento de R . V
amos verificar que sup Ea = a . De fato, dado
ate nção! r Î Ea , temos r < a , logo a é um cota superior
AULA 2 TÓPICO 2 41
Demonstração: Vamos, primeiro, mostrar que f está bem definida, o que
significa que, para cada a Î R , existe um único ponto A da reta t tal que f(a ) = A.
De fato, se a Î , a construção que fizemos acima garante que f(a ) é único. Em
geral, se a é um elemento de R , não necessariamente racional, suponhamos que
f(a ) = A e f(a ) = B . Vamos mostrar que A = B . De fato, se A ¹ B , então um dos
dois pontos está à esquerda do outro. Para fixar ideias, podemos supor que B está
à esquerda de A . Como f(a ) = A , a condição (ii) e o fato de B estar à esquerda
de A implicam que existe r0 Î Ea tal que f(r0 ) está entre B e A , em particular,
f(r0 ) está à direita de B . Por outro lado, como f(a ) = B , (i) implica que f(r ) está
à esquerda de B , para todo r Î Ea . Isto gera uma contradição, pois f(r ) estaria ao
mesmo tempo à direita e à esquerda de B . A contradição vem de supormos que A
e B são pontos distintos. Logo, A = B e f está bem definida.
Vamos, agora, mostrar que f é injetiva. Para isso, tomemos a, b Î R tais que
f(a ) = f(b) = A . Queremos mostrar que a = b . Sejam
Ea ={r Î |r < a} e Eb ={r Î |r < b}.
Se r Î Ea , então f(r ) é um ponto de t que está à esquerda de A = f(a ) .
Como A também é igual a f(b) , a condição (i) implica que r Î Eb . Assim, Ea Í Eb .
De modo inteiramente análogo, podemos concluir que Eb Í Ea , logo Ea = Eb e,
consequentemente, a = sup Ea = sup Eb = b .
Finalmente, mostraremos que f é sobrejetiva. Para isso, consideremos
um ponto A Î t . Seja EA ={r Î |f(r ) está à esquerda de A} . Pela condição de
completude, a = sup EA é um elemento de R . Seja f(a ) = A¢ . Pela condição (i),
f(r ) é um ponto situado à esquerda de A¢ , para todo r Î , r < a . Em particular,
f(r ) está à esquerda de A¢ , para todo r Î EA , pois a = sup EA . Assim, o conjunto
dos pontos do tipo f(r ) , situados à esquerda de A , está contido no conjunto dos
pontos do tipo f(r ) situados à esquerda de A¢ . Como consequência deste fato,
segue que A¢ não pode estar à esquerda de A , pois isso implicaria a existência
de um ponto do tipo f(r ) entre A¢ e A , ou seja, f(r ) estaria à esquerda de A
e não estaria à esquerda de A¢ , o que é impossível, pelo que vimos acima. Por
outro lado, se A estivesse à esquerda de A¢ , então a condição (ii) implicaria a
existência de f(r ) entre A e A¢ , com r Î Ea . Logo, f(r ) estaria à direita de A , o
que implicaria r Î
/ EA . Mas r Î
/ EA implica r ³ a = sup EA e r Î Ea implica r < a .
Portanto a £ r < a é absurdo!
Concluímos, então, que A¢ não pode estar à esquerda nem à direita de A ,
ou seja, f(a ) = A¢ = A e a função f é sobrejetiva, como queríamos demonstrar.
42 Análise Real
Concluímos aqui o nosso segundo tópico desta aula. Vimos aqui a importante
noção de completude, que diferencia o corpo ordenado dos reais do corpo ordenado
dos racionais. Vimos que a condição de completude é exatamente aquela que nos
permite identificar o conjunto dos números reais com o conjunto dos pontos de
uma reta orientada.
Devido ao caráter introdutório destas
aulas, não trataremos dois pontos importantes:
a existência de um corpo ordenado completo e
sa i ba ma i s!
a unicidade de um corpo ordenado completo.
Mais informações sobre as sequências de Cauchy
A questão da existência pode ser atacada
no site www.ime.usp.br/~tonelli/map0151/pool/
construindo-se efetivamente os números reais
cauchy.pdf
a partir dos números racionais. Existem dois
Mais informações sobre os cortes de Dedekind,
modos clássicos de se fazer esta construção:
acesse o site www.dme.ufcg.edu.br/sites_
via sequências de Cauchy ou via cortes de
pessoais/professores/Marco/Dedekind.pdf
Dedekind. Não entraremos em detalhes, e o
leitor interessado pode consultar um dos livros
citados nas referências. Quanto à unicidade, deve-se demonstrar que dois corpos
ordenados completos são essencialmente idênticos, diferindo apenas quanto à
natureza dos seus elementos. Para isso deve-se construir uma função bijetiva entre
os dois conjuntos que preserve suas estruturas, ou seja, preserve as operações de
soma e de produto e preserve a relação de ordem. Para uma construção deste tipo,
remetemos o leitor interessado novamente a uma das referências bibliográficas.
No tópico 3 a seguir, estudaremos o conjunto dos números reais quanto à sua
enumerabilidade. Veremos que esta é outra diferença marcante entre o conjunto
dos reais e o conjunto dos racionais.
AULA 2 TÓPICO 2 43
TÓPICO 3 Enumerabilidade
O bjetivos
• Compreender a noção de equivalência de conjuntos
• Saber justificar a enumerabilidade do conjunto dos
racionais e a não-enumerabilidade do conjunto dos
números reais
44 Análise Real
2. A relação ~ é simétrica, isto é, se A e B são conjuntos tais que A ~ B ,
então B:A. De fato, se A ~ B , então existe uma função bijetiva
f : A ® B . Sendo bijetiva, f admite uma inversa, f -1 : B ® A que
também é bijetiva, logo B ~ A .
3. A relação : é transitiva, isto é, se A, B e C são conjuntos tais que
A ~ B e B ~ C , então A ~ C . De fato, A ~ B implica que existe
f : A ® B bijetiva e B ~ C implica que existe g : B ® C bijetiva. A
composta g f : A ® C é bijetiva, logo A ~ C .
Uma relação reflexiva, simétrica e transitiva, é chamada relação de
equivalência. Assim, podemos dizer que a relação definida acima é uma relação de
equivalência.
Como notação complementar, escrevemos A B se existe uma função
injetiva f : A ® B . Dizemos, neste caso, que a cardinalidade de A é menor do que
a de B . Escrevemos, ainda, A B se existe uma função sobrejetiva f : A ® B .
Dizemos, neste caso, que a cardinalidade de A é maior do que a de B .
Um conjunto A é dito finito se existe um número natural n e uma função
bijetiva
f :{1,, n} ® A.
O número n é chamado cardinalidade, ou número de elementos de A .
Usamos a seguinte notação:
|A|= n = número de elementos de A .
A seguir, faremos algumas observações para o caso em que os conjuntos A
e B são finitos.
Demonstração: (1) A:B se, e somente se, existe uma funçao bijetiva
f : A ® B . Como A é finito, existe um número natural n e uma função bijetiva
g :{1,, n} ® A . A função
f g :{1,, n} ® B
sendo a composta de duas funções bijetiva também uma função bijetiva. Logo
|B |= n =|A|.
AULA 2 TÓPICO 3 45
Reciprocamente, se |A|=|B |= n , então existem funções bijetivas
f :{1,, n} ® A e g :{1,, n} ® B . Assim, a função g f -1 : A ® B é uma
bijeção, o que mostra que A:B.
(2) Suponha, primeiro, que A B . Neste caso, existe uma função injetiva
f : A ® B . Supondo que |A|= m e |B |= n , existem bijeções g :{1,, m} ® A
e h :{1,, n} ® B . Assim, a função composta h-1 f g :{1,, m} ® {1,, n} é
injetiva (pois é a composta de três funções injetivas). Denotando F = h-1 f g ,
temos {F (1),, F (m )} Í {1,, n} , e, como F é injetiva, {F (1),, F (m )} possui m
elementos. Concluímos daí que m £ n .
Reciprocamente, se |A|= m £ n =|B |, então existem bijeções
f :{1,, m} ® A e g :{1,, n} ® B . Como m £ n , existe uma função injetiva
I :{1,, m} ® {1,, n} , dada por I (k ) = k , para 1 £ k £ m . Assim, a função
composta g I f -1 : A ® B é injetiva (pois é composta de funções injetivas) e,
daí, A B .
(3) O argumento é similar ao usado no item (2). Veja a tarefa 4.
Passemos, agora, a considerar conjuntos infinitos. Um conjunto infinito A
é dito enumerável é equivalente ao conjunto ={1,2,,} dos números naturais,
isto é, se existe uma função bijetiva f : ® A . Um conjunto A é chamado
contável se for finito ou se for enumerável.
O exemplo evidente de conjunto enumerável é o próprio conjunto dos
números naturais. Entretanto, é surpreendente que exista um conjunto infinito X
equivalente a um subconjunto próprio Y Ì X , como veremos no exemplo a seguir.
Exemplo: O conjunto 2 ={2,4,6,} dos números naturais pares é um
subconjunto de equivalente a . De fato, a função f : ® 2 , dada por
f (n) = 2n é bijetiva, logo 2 : .
Um fato ainda mais surpreendente é que os conjuntos e sejam
equipotentes. Este é o resultado do Teorema a seguir.
46 Análise Real
Para cada n Î , seja An o subconjunto de dado por
{a
b
a
An = Î + / éirredutívele a + b = n + 1 .
b }
1 1 2 1 3
Por exemplo: A1 ={ } , A2 ={ , } , A3 ={ , } . Observe que 2 Î / A3
1 2 1 3 1 2
1 2 3 4 5 6
pois 2 não é uma fração irredutível. Mais dois exemplos: A6 ={ , , , , , } ,
2 6 5 4 3 2 1
1 3 5 7
A7 ={ , , , } .
7 5 3 1
Afirmamos que
+ = An
nÎ
e que esta união é disjunta. De fato, dado um número racional positivo, podemos
AULA 2 TÓPICO 3 47
não é enumerável. Primeiramente, mostraremos que o conjunto dos números reais
é equipotente ao conjunto dos pontos do intervalo aberto (0,1) .
2x - 1
Lema: A função f : (0,1) ® , dada por f (x ) = , é bijetiva.
x(1 - x )
Consequentemente, os conjuntos (0,1) e são equipotentes.
2x - 1 x 2 + (x - 1)2
Demonstração: A derivada da função f (x ) = é f ¢( x ) = 2 .
x(1 - x ) x (x - 1)2
Logo, f ¢(x ) > 0 , para todo x Î (0,1) , o que mostra que a função f (x ) é monótona
crescente, portanto injetiva, no intervalo (0,1) .
Para demonstrar a sobrejetividade de f , basta notar que
2x - 1
lim+ f (x ) = lim+ = -¥
x®0 x ® 0 x (1 - x )
Sendo assim, há uma bijeção entre o intervalo (0,1) e a reta , o que mostra
que os conjuntos (0,1) e são equipotentes.
j =1 10 j =1 10
Se as representações decimais infinitas de xk e xi coincidem, então akj = aij ,
para todo j ³ 1 . Assim, concluímos que xk = xi .
48 Análise Real
Usaremos, agora, uma ideia de Cantor conhecida como método da diagonal.
Vamos construir um número x Î (0,1) que não pertence à lista x1 , x2 , x3 , . Para tal,
consideremos x = 0, a1a2a3 onde ai ¹ aii , ou seja, ai é um algarismo diferente
daquele que ocupa a casa decimal i do número xi . Mais especificamente, podemos
escolher ai =1 , se aii ¹ 1 e ai = 2 se aii =1 . Assim, construímos um número
x Î (0,1) cuja representação decimal infinita é diferente da representação decimal
infinita de qualquer elemento da lista x1 , x2 , . Isso mostra que vale a inclusão
{x1 , x2 ,} Ì (0,1) e que estes conjuntos não podem ser iguais, ou seja, (0,1) é não-
enumerável.
Com este resultado encerramos o terceiro e último tópico de nossa segunda
aula. Vimos que o conjunto dos números racionais é enumerável e que o conjunto
dos números reais é não-enumerável. Isto estabelece uma diferença entre e
como conjuntos. Este fato também esclarece um ponto importante: os números
irracionais, que historicamente surgiram como exceção, são, na realidade, maioria
entre os reais, no seguinte sentido: o conjunto - , sendo o complementar
de um conjunto enumerável em um conjunto não-enumerável, é também não-
enumerável, caso contrário, se - fosse enumerável, então = È ( - ) ,
sendo a união de dois conjuntos enumeráveis, seria também enumerável, o que
não ocorre. Desta forma é possível concluir que os conjuntos e - são
equipotentes, ou seja, há tantos números irracionais quanto números reais.
AULA 2 TÓPICO 3 49
AULA 3 Sequências e
séries
Bons estudos!
Objetivos
50 Análise Real
TÓPICO 1 Definição de sequência
O bjetivos
• Identificar a noção de valor absoluto e suas propriedades
mais relevantes
• Perceber a possibilidade de existirem vários valores abso-
lutos definidos em um corpo ordenado
• Desenvolver a noção de espaço métrico a partir da noção
de valor absoluto sobre os reais
AULA 3 TÓPICO 1 51
Definição 1: Uma sequência é uma função com domínio no conjunto dos
números naturais e toma valores (ou imagem) no conjunto dos números reais.
Assim, temos
x: →
n → x ( n) =
xn
Podemos ver uma sequência como uma lista de números reais em uma
dada ordem:
x1 , x2 , …, xn , …
onde o termo xn é chamado de termo geral ou n-ésimo termo da sequência.
1
Exemplo 2: x : → cujo termo geral é dado por: x(n=
) x=
n . O
n
1 1 1 1
conjunto de seus termos é dado por: {1, , , , …, , …} . E o gráfico do conjunto
2 3 4 n
dos seus pontos na imagem é dado abaixo. Como você pode perceber na Figura 2,
esses pontos tendem para zero quando n cresce arbitrariamente.
52 Análise Real
1
Figura 2: Gráfico da função x(n=
) x=
n
n
AULA 3 TÓPICO 1 53
1 1 1 1
Exemplo 5: xn= (1 + ) n e yn = 1 + + +…+ .
n 2! 3! n!
O principal fato a ser analisado sobre uma sequência é verificar se ela tende
ou não para um número real fixo. No primeiro caso, dizemos que a sequência é
convergente; no segundo, dizemos que é divergente. Podemos, então, enunciar a
seguinte definição.
lim n→∞ xn ae
Teorema 1: Se= =lim n→∞ xn b , então a=b .
a−b
Demonstração: Seja dado = > 0 , então existe n0 ∈ tal que para
2
todo n1 ≥ n0 implica que . E para todo n2 ≥ n0 também implica que xn − b < / 2 .
54 Análise Real
Agora considere n = mín{n1 , n2 } , então para todo n ≥ n0 implica que
a−b
a − b = a − xn + xn − b ≤ xn − a + xn − b < =
2
∣a − b∣
o que dá um absurdo, pois teríamos∣a − b∣< .
2
Dizemos que uma sequência ( xn ) n≥1 é injetiva se n ≠ m implica que xn ≠ xm ,
ou ainda que xn = xm ⇒ n = m . Neste caso, diremos que a sequência tem termos
dois a dois distintos.
AULA 3 TÓPICO 1 55
Dado a ∈ , temos que a é o limite de uma subsequência ( xnk ) k∈
de ( xn ) n≥1 se, somente se, para todo > 0 , o conjunto dos índices n tais que
xn ∈ (a − , a + ) é infinito. E podemos dar a definição.
Conforme o exemplo anterior, uma sequência pode ser limitada e não ser
convergente. Veremos, entretanto, que há tipos de sequências cuja limitação
garante que é convergente. Por enquanto, segue o seguinte teorema.
Demonstração: Com efeito, dado > 0 qualquer existe n0 ∈ tal que para
todo n ≥ n0 implica que xn − a < ⇔ xn ∈ (a − , a + ) . Isso nos diz que, a partir
do índice n0 + 1 , a sequência é limitada inferiormente por a - e superiormente
por a + . Então, tomando M = min {x1 , x2 ,…, xn0 , a − , a + } e, segue que
}
M = max {x1 , x2 ,…, xn0 , a − , a + m ≤ xn ≤ M , ∀n ≥ n0 .
56 Análise Real
TÓPICO 2 Operações com sequências
O bjetivos
• Entender as operações com sequências
• Compreender a definição de subsequência
• Conhecer as propriedades de sequência
Demonstração:
a) Dado > 0 , existem n1 , n2 ∈ tais que:
∀n ≥ n1 ⇒ xn − a < (i)
2
∀n ≥ n2 ⇒ yn − b < (ii)
2
Tomando n0 = máx{n1 , n2 } , então para todo n ≥ n0 implica de (i) e (ii) que
(xn + yn ) − (a + b) ≤ xn − a + yn − b < + =
2 2
AULA 3 TÓPICO 2 57
E, desse modo, estamos de acordo com a definição que
lim n→∞ ( xn + yn ) =a+b .
b) É análoga ao item a).
c) Por hipótese, temos que xn → a e yn → b e, portanto,∣yn∣≤ M ; então
xn yn − ab = (xn − a ) yn + a( yn − b) ≤ xn − a . yn + a . yn − b o que resulta na
desigualdade
≤ M. xn − a + a . yn − b ≤ M. +a. ≤
2.M 2. a
ε
uma vez que podemos tomar xn − a ≤ e∣yn − b∣≤ , pois as sequências
2.M 2.∣∣a
xn → a e yn → b .
d) Deixaremos como exercício para o aluno.
Definição 6:
Diz-se que uma sequência ( xn ) n≥1 é crescente quando xn < xn +1 , ∀n ∈ ,
ou seja, x1 < x2 < x3 < < xn < . Se xn ≤ xn +1 , ∀∈ , a sequência é dita
não-decrescente.
Uma sequência ( xn ) n≥1 é decrescente quando xn > xn +1 , ∀n ∈ , isto é,
x1 > x2 > xn > . Agora, se xn ≥ xn +1 , ∀n ∈ , dizemos que a sequência
é não-crescente.
58 Análise Real
Exemplo 7: No exemplo 5, consideramos uma importante sequência
1
xn= (1 + ) n que define o número irracional e base dos logaritmos naturais. A
n
primeira vez que se teve notícia do surgimento desse número foi em um problema
de juros compostos contínuos (séc. XVII). Assim, temos que
1
= e lim n→∞ (1 + ) n
n
Vamos mostrar que a sequência ( xn ) n≥1 dada acima é limitada e crescente e,
portanto, pelo Teorema 5, é convergente. De acordo com fórmula do binômio de
Newton,
∑ n(n − 1)…(n − [k − 1]) . 1 (1)
n
1 n
n 1
xn =+
n
∑
(1 ) n = k =
k =1 k n
1 + k =1
k! nk
n
1 1 2 k − 1 (2)
1 + ∑.
xn = 1 − 1 − 1 −
k =1 k ! n n n
Se substituirmos n por n + 1 na expressão (2) acima, temos
n +1
1+
∑ 1
. 1 −
1 2 k −1
xn +1 = 1 − 1 −
k =1
k ! n +1 n +1 n +1
Se desprezarmos o último termo na expressão acima, estaremos somando
até o termo k = n , como em (2). Observe que cada termo que aparece acima entre
parênteses é maior que os termos em (2), donde concluímos que xn +1 > xn , ou seja,
a sequência é crescente. Para provarmos que ela é limitada, basta observarmos que
cada parêntese que surge em (2) é menor do que 1, de maneira que, para n > 1 ,
segue que
∑
n
11 1 1 1 1
xn < k =1
=2 +
+ + < 2 + + 2 + + n −1 < 3
k! 2! n! 2 2 2
1
Ora, sendo crescente e limitada, a sequência xn= (1 + ) n tem limite pelo
n
Teorema 5 anterior.
O resultado que enunciamos a seguir é bastante importante, mas não será
dada a demonstração. Convidamos você, aluno, a vê-la nas referências que são
dadas.
AULA 3 TÓPICO 2 59
O aluno pode perceber que essa afirmação é mais forte que a dada no
Teorema 5. Foi tentando prová-la que o matemático K. Weierstrass (1815 – 1897)
viu a necessidade de fundamentar o conceito de números reais.
60 Análise Real
Uma sequência ( xn ) de Cauchy pode ser apresentada numa maneira
equivalente à apresentada na definição 6, anterior como: dado > 0 , existe
n0 ∈ tal que para todo p ∈ ,
n > n0 ⇒ xn − xn+ p <
x2 = f ( x1 ), x3 = f ( x2 ), …, xn +1 = f ( xn ), …
O que se quer provar é se a sequência é de Cauchy, pois nesse caso temos que
é convergente para um certo x0 , que é solução da equação dada. Vejamos a seguir
um exemplo de uma aplicação dessa ideia que são as aproximações sucessivas.
segue que
∣xn + p − xn∣≤∣xn + p − xn + p −1∣+ +∣xn +1 − xn∣≤ (λ n + p −1 + λ n + p − 2 + + λ n −1 )∣x2 − x1∣(1)
AULA 3 TÓPICO 2 61
TÓPICO 3 Sequências com limites
infinitos
O bjetivos
• Reconhecer uma sequência com limite infinito
• Calcular os limites infinitos de algumas sequências
• Rever as propriedades de sequências com limites infinitos
ate n ç ão !
Com limites infinitos para sequências, podemos
positivamente.
Como foi mencionado no tópico 1, nem
obter coisas indeterminadas, como ∞ −∞,
ou seja, se limxn = +∞ e limyn = −∞ . Nada
toda sequência ( xn ) é convergente. Dessa forma,
podemos afirmar sobre lim( xn + yn ) , pois pode
há sequências que divergem e mantêm certa
ser que a sequência ( xn + yn ) seja convergente,
regularidade, pois seus termos permanecem
ou tenda para +∞ , ou tenda −∞ , ou finalmente
arbitrariamente grandes positivamente ou
não tenha limite algum.
arbitrariamente grandes negativamente.
Quando uma sequência de números reais
( xn ) torna-se arbitrariamente grande positivamente ou tende para mais infinito, a
denotaremos por limxn = +∞ . Assim, dado M > 0 arbitrariamente grande, temos
um n0 ∈ tal que n > n0 que implica xn > M . Há apenas um número finito de
termos ( xn ) tal que xn < M . Na realidade, n0 termos.
62 Análise Real
tende para o infinito quando a > 1 . Como, de fato, seja a = 1 + r , com r > 0 , dado
M > 0 , pela desigualdade de Bernoulli, temos que a n = (1 + r ) n > 1 + nr > M .
M −1 M −1
Basta tomar n > . Assim, se tomarmos n0 > e n > n0 , teremos o que
r n r
queríamos, ou seja, a > M . De acordo com o que vimos anteriormente, segue
que lima n = +∞ .
Analogamente, pode-se enunciar que limxn = −∞ . Se dado M > 0
arbitrariamente grande existe n0 ∈ tal que n > n0 ⇒ xn < − M . Como você
pode perceber, limxn = −∞ ⇔ lim(− xn ) = +∞ . Desse modo, mostraremos
somente o caso em que a sequência tende para o infinito positivamente; o outro
caso você poderá obter trivialmente dessa observação feita. Enfatizamos que os
símbolos +∞ e −∞ não são números reais. Vejamos algumas propriedades para a
operação com limites infinitos.
AULA 3 TÓPICO 3 63
Exemplo 9: Se xn= n + a e yn = − n , então limxn = +∞ e limyn = −∞ ,
mas lim( xn + yn ) =
a.
Exemplo 10: Se x=
n n + 1 e yn = − n , então limxn = +∞ e limyn = −∞
.
Porém,
( n +1 + n ) 1
lim( xn +=
yn ) lim( n + 1 −=
n ) lim( n + 1 − n ). = lim = 0
( n +1 + n ) n +1 + n
64 Análise Real
TÓPICO 4 Séries numéricas
O bjetivos
• Entender as somas infinitas de termos
• Fazer operações com somas infinitas
• Analisar a convergência ou não das séries numéricas
∑x
n =1
n = x1 + x2 + + xn +
onde os termos xn são números reais dados. E xn é chamado de termo geral da série.
A partir da sequência ( xn ) de números reais, podemos formar uma nova sequência
( sn ) , onde sn = x1 + x2 + + xn . Chamamos os números sn de reduzidas da série
ou soma parcial da série. Se a sequência ( sn ) tiver um limite limsn = s , dizemos
∞ ∞
que a série ∑xn é convergente e s = ∑xn = x1 + x2 + + xn + = limsn , s será
n =1 n =1 ∞
a soma da série. No caso do limite limsn não existir, diz-se que a série ∑x
n =1
n é
divergente. Você deve ficar atento, pois, às vezes, começaremos a série pelo termo
x0 em vez de x1 , por uma questão de conveniência.
AULA 3 TÓPICO 4 65
1 − x n +1
Exemplo 14: Sabemos que 1 + x + x 2 + + x n = , para todo n ∈
1− x
x n = 0 se ∣∣
(Pode ser provado por indução!). Ora, temos que lim∣∣ x < 1 , então
2 2 n 1
segue que limsn = lim(1 + x + x + + xn ) =1 + x + x + + x + = .
1− x
Portanto, segue que a série anterior, que é chamada de série geométrica, é
convergente.
66 Análise Real
n
∞
n n , como o termo geral x = n = n . n … n > 1
Exemplo 17: Seja a série ∑
n =1 n !
n
n! 1 2 n
para todo n > 1 , segue do corolário 1 do teorema 8 que a série é divergente.
n n
Demonstração: Sejam as somas parciais sn = ∑xi e tn = ∑y j tais que
i =1 j =1
sn ≤ k .tn , ∀n ∈ . Se tivermos que limtn = t , então sn ≤ k .t é crescente e limitada
para todo n ∈ ; logo, pelo teorema 5, é convergente. Por outro lado, se sn é
divergente, portanto é ilimitada e daí temos que tn ≥ sn / k é também ilimitada e
assim divergente.
Exemplo 18: Vamos usar o teorema anterior para mostrar que a série
1
∑ nr é divergente para r < 1 , pois como 1/ nr > 1/ n para todo n ∈ , então
1 1
∑ nr > ∑ n . Como a série harmônica é divergente, segue que a série dada
também diverge.
AULA 3 TÓPICO 4 67
Teorema 11 (Teste da Razão ou Teste de D’Alembert): Seja dada a série
xn +1
∑x n e suponhamos que lim∣
xn
∣= r exista. Então: (a) a série é convergente
se r < 1 ; (b) a série diverge se r > 1 ; (c) e nada podemos afirmar se r = 1 .
xn +1
Demonstração: Vamos demonstrar que (a) sabemos que lim∣ ∣= r ,
xn
xn +1
segue que existe n0 ∈ tal que ∣ ∣≤ k para n ≥ n0 onde r < k < 1 . Dessa
xn
desigualdade obtemos as seguintes desigualdades abaixo:
. xn0∣
∣xn0 +1∣≤ k∣
. xn0 +1∣
∣xn0 + 2∣≤ k∣
. xn0 + 2∣
∣xn +3∣≤ k∣
0
. xn0 + p −1∣
∣xn + p∣≤ k∣
0
∞
Teorema 12 (Teste da raiz ou Teste de Cauchy): Seja a série ∑x . Suponha
n =1
n
que o limite lim n∣xn∣= r exista. Então: (a) a série converge absolutamente se
r < 1 ; (b) a série diverge se r > 1 ; (c) e nada se pode afirmar quando r = 1 .
68 Análise Real
Esperamos que você tenha achado
interessantes os resultados de sequências e
séries que tratamos nesta aula. Recomendamos
sa i ba ma i s!
que procurem um livro de análise real para
Mais informações sobre sequências e séries acesse
que possam se aprofundar mais no assunto e
os links
ver resultados que, por falta de espaço neste
www.ime.uerj.br/~calculo/LivroV/series.pdf material, não deram para ser tratados aqui. Na
www.ufjf.br/sandro_mazorche/files/2010/08/ próxima aula, veremos uma pouco de noções
Séries.pdf topológicas na reta real.
AULA 3 TÓPICO 4 69
AULA 4 Noções topológicas
na reta real
Olá, aluno(a),
Esta aula é uma preparação para a próxima aula, que tratará de limite de uma
função real. Embora o conceito de limite já tenha sido estudado por você, aluno, na
disciplina de Cálculo I, aqui você verá uma formulação mais rigorosa e cuidadosa
de algumas questões que não tinham sido formuladas, tais como os conjuntos em
que podemos tomar limites. Sabemos que, quando tomamos limites, os pontos
tendem para certo ponto. É sempre possível fazer isso, em qualquer conjunto?
Essas e outras são questões importantes, sinalizadas em Cálculo 1, serão agora
vistas, pois naquela disciplina não tínhamos como abordá-las.
Vamos lá?!
Objetivos
70 Análise Real
TÓPICO 1 Conjuntos abertos e
fechados
O bjetivos
• Compreender a definição de conjunto aberto e fechado
• Entender os conceitos sobre subconjuntos da reta real
AULA 4 TÓPICO 1 71
Definição 1: Consideremos X Ì e x Î X . Dizemos que x é um ponto
interior de X quando existe um intervalo (a, b) tal que x Î (a, b) Ì X . Isto
significa que todos os pontos suficientemente próximos de x ainda pertencem
ao conjunto X . Com isso, podemos estabelecer que x Î X é um ponto interior
de X se, somente se, existe > 0 tal que (x − , x + ) ⊂ X . Com efeito, basta
tomar = min{x − a, b − x}> 0 para x Î (a, b) Ì X , então
a ≤ x − ≤ x ≤ x + ≤ b , ou seja, (x − , x + ) ⊂ (a, b) ⊂ X .
72 Análise Real
É importante que você, aluno, lembre que a noção de limite de uma sequência
lim n®¥ xn = a pode ser reformulada usando a definição de aberto. De fato, se
fizermos A = (a − , a + ) para ò > 0 dado, então existe n0 Î tal que, para todo
n > n0 , implica que xn Î A . Agora, vejamos alguns exemplos de conjuntos abertos
da reta real.
AULA 4 TÓPICO 1 73
Observação 3: Um espaço topológico G é uma coleção de subconjuntos
abertos da reta que satisfaz às seguintes condições:
Æ e são abertos;
A intersecção de finitos abertos é também um conjunto aberto;
A união de uma família arbitrária de abertos é também um conjunto aberto.
74 Análise Real
TÓPICO 2 Conjuntos fechados
O bjetivos
• Compreender a noção de fechados na reta real
• Relacionar os conjuntos fechados com os conjuntos
abertos
• Perceber a diferença entre conjuntos fechados e abertos
AULA 4 TÓPICO 2 75
Definição 4: Chamamos fecho de um conjunto X Ì , que representamos
por X , ao conjunto formado por todos os pontos aderentes a X Ì . É
evidente que, se X Ì Y Þ X Ì Y e X Ì X , dizemos que um conjunto X é
fechado quando X = X , isto é, ele contém todos os seus pontos aderentes (
X É X ).
Fica claro, pela definição anterior, que, se X Ì é fechado se, só se, para
toda sequência (xn ) Ì X convergente, tem-se que limxn = a Î X .
Outra maneira de caracterizar se um conjunto X é denso em um conjunto Y
é quando Y Ì X , ou seja, se, para todo a Î Y , tivermos que limxn = a com xn Î X
é um ponto aderente de X . Desse modo, concluímos que = , pois todo número
real é limite de uma sequência de números racionais.
76 Análise Real
Reciprocamente, suponhamos que o conjunto A é aberto e a é um ponto
aderente ao conjunto F = - A , então, do Teorema 3, segue que toda vizinhança
de a contém pontos de F , e assim a Î Vò (a ) Ë A e a não é um ponto interior a A .
Ora, como A é aberto, temos que a Ï A e, consequentemente, a Î F . E assim todo
ponto aderente a F pertence a F , então F é fechado.
AULA 4 TÓPICO 2 77
definição do limite de função real, faz-se uso explícito de pontos de acumulação
como você poderá ver na aula seguinte.
Agora podemos enunciar um teorema que elenca algumas equivalências
sobre a definição de pontos acumulação.
Demonstração: Para provarmos que (i) Þ (ii) supondo que (i) ocorre,
1 1
tomamos os intervalos do tipo (x0 - , x0 + ) com xn ¹ x0 e xn Î X . Logo,
n n
teremos que limxn = x0 , o que prova (ii) .
Por outro lado, se admitirmos (ii) , devemos provar (iii) . Mas isso é fato,
pois o conjunto {xn : n > n0 } é infinito , porque, do contrário, existiria um termo
xi , i ³ n que se repetiria infinitas vezes e isso acarretaria que a sequência (xn ) seria
constante e convergente para x0 , mas com xn ¹ x0 por hipótese. O que resultaria
um absurdo! Portanto, segue que (ii) Þ (iii) . Por último, a implicação (iii) Þ (i) é
óbvia da definição de pontos de acumulação.
78 Análise Real
TÓPICO 3 Conjuntos compactos
O bjetivos
• Distinguir entre um conjunto fechado e um compacto
• Compreender a noção de compacto de um conjunto
• Saber relacionar a noção de subconjuntos compactos com
suas aplicações
AULA 4 TÓPICO 3 79
e limitado na reta. Por outro lado, o intervalo (a, b) é limitado, mas não é fechado
e, portanto, não é compacto. Os números inteiros não é conjunto compacto; é
fechado, mas não é limitado.
80 Análise Real
A prova pode ser vista nos livros que
colocamos nas referências.
Entendemos uma cobertura de um
sa i ba ma i s!
conjunto X como uma família de abertos ( Al )lÎL
Para mais informações sobre tópicos importantes
tal que X Ì ÈAl . Se o número de aberto
de análise real, acesse o material elaborado pelo lÎL
L = {l1 ,¼,ln } é finito, diz-se que a cobertura
Prof. Adriano Pedreira Cattai, disponível no link
é finita.
cattai.mat.br/site/files/AnaliseReal/AnaliseReal_
cattai_uneb.pdf
Exemplo 11: Os intervalos abertos
In = (1 / n,2) , n Î é uma cobertura de abertos
do conjunto X = (0,1] , uma vez que X = (0,1] Ì ÈAn . Entretanto, você pode ver
n Î
facilmente que o conjunto X = (0,1] não admite uma subcobertura finita.
AULA 4 TÓPICO 3 81
AULA 5 Limites de funções
Olá, aluno(a),
Bons estudos!
Objetivos
82 Análise Real
TÓPICO 1
Definição, propriedades e
exemplos de limites de funções
O bjetivos
• Compreender a definição de limite
• Obter, a partir da definição de limite, suas propriedades
AULA 5 TÓPICO 1 83
Um número L Î é dito limite de f (x ) , quando x tende a a se, para
todo e > 0 , existe d > 0 tal que 0 <|x - a |< d implica | f (x ) - L|< e . Usamos a
notação
lim f (x ) = L
x®a
Exemplos:
1. Seja f : (0,1) ® , dada por f (x ) = 2x + 1 . O número real 1 é um
ponto de acumulação de (0,1) . Assim, faz sentido calcularmos o limite
84 Análise Real
Assim, de acordo com a definição de limite, f (x ) tende a 3 quando x tende
a 1.
2. Além de ser uma condição suficiente para que o limite lim x®a f (x ) faça
sentido, o fato de a ser um ponto de acumulação do domínio de f é
também uma condição necessária, isto é, se a não é ponto de acumulação
de f , o limite lim x®a f (x ) não pode ser definido. Para ilustrar este
fato, exibimos a seguir um exemplo: seja f : (0,1) È {2} ® , dada por
f (x ) = x . A figura 2 é um esboço do gráfico de f .
AULA 5 TÓPICO 1 85
O resultado a seguir esclarece a questão da unicidade do limite de uma
função.
86 Análise Real
Teorema 3 (Teorema do confronto): Dados X Ì , f , g , h : X ® e a Î X ¢ ,
suponhamos que
g ( x ) £ f ( x ) £ h( x )
para todo x Î X , x ¹ a . Se lim x®a g (x ) = lim x®ah(x ) = L , então lim x®a f (x ) = L .
|x - a |< d1 Þ| g (x ) - L|< e,
|x - a |< d2 Þ|h(x ) - L|< e.
Assim, se d = min{d1 , d2 } , então |x - a |< d implica que | g (x ) - L|< e e
|h(x ) - L|< e .
Podemos reescrever as duas últimas desigualdades como
L - e < g (x ) < L + e, L - e < g (x ) < L + e.
AULA 5 TÓPICO 1 87
x Î I , onde I Í X é um intervalo da reta tal que a Î I . Como aplicação do Teorema
do Confronto, vamos demonstrar um corolário muito útil no cálculo de limites.
88 Análise Real
A seguir, demonstraremos as propriedades operatórias básicas dos limites.
AULA 5 TÓPICO 1 89
Dessa forma, | g (x )|×| f (x ) - L1 |< m×| f (x ) - L1 |. Podemos, então, escolher
e
d2 > 0 tal que |x - a |< d2 implica | f (x ) - L1 |< . Juntando estas informações
2m
com as desigualdades de (1) vemos que, para todo x Î tal que |x - a |< d , onde
d = min{d1 , d2 } , temos
| f (x ) g (x ) - L1L2 |£| g (x )|×| f (x ) - L1 |+|L1 |×| g (x ) - L2 |< m×| f (x ) - L1 |+|L1 |×| g ( x ) - L2 |<
e e e e
< m× +|L1 |× = + =e
2m 2|L1 | 2 2
Com este resultado, chegamos ao final do nosso primeiro tópico desta aula 5.
Exibimos a definição formal de limite e usamos esta definição para demonstrarmos
alguns teoremas fundamentais, como o Teorema do Confronto (Teorema 3) e o
Teorema da conservação do sinal (5). Obtivemos também algumas propriedades
operatórias do limite que serão úteis mais adiante.
90 Análise Real
TÓPICO 2 Limites laterais
O bjetivos
• Assimilar a noção de limite lateral
• Usar a noção de limite lateral como critério para a existência
de limite bilateral em um ponto
AULA 5 TÓPICO 2 91
A condição x Î (a, a + d ) é equivalente a 0 < x - a < d .
Seja f : X ® e x Î X-¢ . Um número real L é dito limite à esquerda de
f (x ) , denotado por lim x®a- f (x ) = L , quando x tende a a se, para todo e > 0 ,
existe d > 0 tal que
x Î (a - d , a ) Þ| f (x ) - L|< e.
A condição x Î (a - d , a ) é equivalente a 0 < a - x < d .
O resultado a seguir caracteriza a existência do limite de uma função em um
ponto a Î X+¢ Ç X-¢ .
92 Análise Real
x-a
Se x < a , então x - a < 0 e, consequentemente, = -1 . Logo, neste
|x - a |
caso,
1æM + L ö
f (x ) = çç × x - ( M - L)÷÷÷.
2è a ø
1
Assim, lim x®a- f (x ) = × ( M + L - M + L) = L .
2
x-a
Analogamente, se x > a , então x - a > 0 e =1 . Logo, neste caso,
|x - a |
1 æM + L ö
f (x ) = × çç × x + ( M - L)÷÷÷.
2 è a ø
1
Portanto, lim x®a+ f (x ) = × ( M + L + M - L) = M .
2
Mostramos, portanto, que, dados L e M reais, é possível produzir uma
função que tenha limite lateral pela esquerda igual a L e limite lateral pela direita
igual a M , em um ponto a ¹ 0 . Como consequência do Teorema 7, o limite
lim x®a f (x ) existe se, e somente se, L = M .
AULA 5 TÓPICO 2 93
Teorema 8: Sejam X Ì , f : X ® uma função monótona limitada, a Î X+¢
e b Î X-¢ . Os seguintes limites laterais existem:
L = lim f (x ),
+
x®a
M = lim f (x ).
-
x®a
94 Análise Real
Teorema 9: Sejam X Í , f : X ® uma função e a Î X ¢ . Vale a seguinte
equivalência
lim f (x ) = L Û lim f (xn ) = L
x®a n
Para toda sequência (xn ) tal que lim nxn = a .
Encerramos aqui nosso segundo tópico, que tratou de limites laterais. Vimos
que é possível usar a ideia de limite lateral para testar se uma função possui limite
em um determinado ponto. Vimos, ainda, um resultado (Teorema 9), que nos
permite usar sequências para testar se um determinado limite existe ou não.
AULA 5 TÓPICO 2 95
TÓPICO 3
Limites no infinito e limites
infinitos
O bjetivos
• Compreender as noções de limite no infinito e
de limite infinito
• Calcular limites no infinito de funções racio-
nais
Exemplos:
1 1
1. Temos lim x®+¥ = 0 e lim x®-¥ = 0 . De fato, dado e > 0 , existe
x x
1 1 1
N = >0 tal que x > N = implica 0 < f (x ) = < e , ou seja,
e e x
| f (x ) - 0|< e . O caso x ® -¥ é análogo.
96 Análise Real
2. Se f (x ) = e x , então lim x®-¥ f (x ) = 0 . De fato, dado e > 0 , existe
N = - ln e tal que x < -N = ln e implica 0 < e x < e ln e = e , ou seja,
x < -N implica |e x - 0|< e .
a
3. lim x®+¥ = 0 , para todo n ³ 1 natural e todo a Î constante. De
xn
fato, as propriedades operatórias de limite implicam que
n n
a æ1ö æ 1ö
lim n = a lim çç ÷÷÷ = a çç lim ÷÷÷ = a × 0 = 0.
n
x ®+¥ x x ®+¥ è x ø èx®+¥ x ø
4. Se p(x ) e q(x ) são funções polinomiais, então
p( x )
lim = 0,
x ®+¥ q( x )
AULA 5 TÓPICO 3 97
Exemplos:
1
1. Se f : -{0} ® é dada por f (x ) = , então lim x®0 f (x ) = +¥ .
x2
Observemos, primeiramente, que 0 não pertence ao domínio de f ,
mas 0 é ponto de acumulação do conjunto -{0} . Dado N > 0 , seja
1
d= . Consequentemente, se |x - 0|< d , então
N
1 1 1
|x |< d Þ|x |< Þ x 2 < Þ f (x ) = 2 > N.
N N x
Isso mostra que lim x®0 f (x ) = +¥ , como queríamos.
2. lim x®0+(ln x ) = -¥ . De fato, dado N > 0 , seja d = e -N > 0 . Se
0 < x < d = e -N , então ln x < ln(e -N ) = -N , e isso mostra que
lim x®0+ (ln x ) = -¥ .
98 Análise Real
AULA 6 Limites de funções
Objetivos
AULA 6 99
TÓPICO 1 Definição e exemplos de
funções contínuas
O bjetivos
• Identificar funções contínuas e funções descontínuas
• Reconhecer e aplicar as propriedades das funções con-
tínuas
Exemplos:
1. A função constante f : R ® , f (x ) = k , para todo x Î , é contínua.
De fato, se a Î , lim x®a f (x ) = lim x®ak = k = f (a ) .
Aplicando o item 3 do Teorema que o único ponto a da reta real onde o limite
Exemplos:
1. A função é contínua. De fato, dado a Î ,
f (x ) = senx
x-a
sen
x-a x+a 2 |×|cos x + a |×|x - a |.
|senx - sena |=|2sen cos |=|
2 2 x - a 2
2
Usando o limite trigonométrico fundamental, estudado no curso de Cálculo
x-a
sen
1, obtemos lim x®a 2 =1 . Como a função cos x + a é limitada e |x - a |
x-a 2
2
tende a zero quando x tende a a , obtemos lim x®a |senx - sena |= 0 , ou seja,
lim x®a(senx ) = sena .
Exemplos:
Seja f : ® , dada por f (x ) = x 2 e seja Y = (-1,0) ={x Î |-1< x < 0} .
Então f -1 (Y ) = Æ . De fato, se x Î f -1 (Y ) , então f (x ) Î Y , ou seja, x 2 Î (-1,0) .
Demonstração: Primeiramente,
suponhamos que f é limitada em I . Sejam
ate nção! a = inf xÎI f (x ) e b = sup xÎI f (x ) . Temos
O Teorema 5 nos dá um método para decidir se há f ( I ) Í (a, b ) . Se d é um número real tal que
alguma raiz de uma equação do tipo f ( x ) = 0 , a < d < b , então existe c Î I tal que f (c ) = d .
com f contínua, em um dado intervalo Isso mostra que (a, b ) Í f ( I ) . Assim, pode
I = [a, b ] . Se f (a ) = 0 , ou f (b) = 0 , então a , ocorrer f ( I ) = (a, b ) , f ( I ) = [a, b ) , f ( I ) = (a, b ]
ou b , é uma raiz da equação. Caso f (a ) ¹ 0 e ou f ( I ) = [a, b ] .
f (b) ¹ 0 tenham sinais contrários, o Teorema de No caso em que f não é limitada, a única
Bolzano afirma que há pelo menos uma raiz de diferença é que f ( I ) pode ser um intervalo do
f (x ) = 0 no interior do intervalo I . tipo (a, +¥) ou (-¥, b ) .
Exemplos:
1. Considere a função polinomial P:® , dada por
P (x ) = x - 2x - 3x + 1 .
3 2
Temos P (0) =1> 0 e P (1) = -3 < 0 .
Pelo Teorema 5, existe c , 0 < c <1 , tal que P (c ) = 0 .
Teorema 7: Seja f : [a, b ] ® [a, b ] uma função contínua. Mostre que existe
c Î [a, b ] tal que f (c ) = c . Um número real c tal que f (c ) = c é chamado ponto
fixo de f .
Demonstração: Se f (a ) = a ou f (b) = b ,
não há nada a demonstrar, pois basta
escolhermos c = a ou c = b , respectivamente.
Suponhamos, pois, que f (a ) ¹ a e f (b) ¹ b .
ate n ç ão !
Como o contradomínio de f é o intervalo [a, b ] ,
O Teorema 7 acima é um caso particular do
sabemos que f (a ) ³ a e que f (b) £ b . Como não
“Teorema do Ponto Fixo de Brouwer’’, descoberto
podem ocorrer igualdades nestas desigualdades,
por Luitzen Egbertus Jan Brouwer (1881 - 1966),
temos f (a ) > a e f (b) < b .
que garante a existência de um ponto fixo para
Consideremos, agora, a função
uma função contínua f : C ® C , onde C é um
h : [a, b ] ® , dada por h(x ) = x - f (x ) . Como f
conjunto compacto e convexo. Este resultado
é contínua, h também é uma função contínua. mais geral tem aplicações à teoria das equações
Além disso, h(a ) < 0 e h(b) > 0 . Pelo Teorema 5, diferenciais ordinárias.
existe c Î (a, b) tal que h(c ) = 0 , o que implica
f (c ) = c , como queríamos demonstrar.
Encerramos este tópico com um importante teorema devido a Karl Theodor
Wilhelm Weierstrass (1815-1897). O Teorema de Weierstrass trata de funções
contínuas cujos domínios são compactos. Relembremos que um conjunto C ,
contido na reta, é chamado compacto se é um conjunto fechado e limitado.
Isto significa que C contém todos os seus pontos de acumulação (pois é fechado)
e existe um número real positivo M tal que |x |£ M , para todo x Î (pois é
limitado). Podemos enunciar o teorema da seguinte maneira:
Com este resultado, encerramos a aula 6, que tratou das funções contínuas
e de suas propriedades, em especial do Teorema do Valor Intermediário e suas
consequências.
Ati v i da de s de a p ro fu da m e n to
Funções continuas
(Elaborado pelo professor Ângelo Papa Neto)
1. Seja I Ì , f : I ® uma função e a Î I tal que f é descontínua em a .
- O ponto a Î I é chamado ponto de descontinuidade de primeira ordem se os limites laterais
L+ = lim x®a+ f (x ) e L- lim x®a- f (x ) existem. Se L+ = L- ¹ f (a ) , dizemos que a é uma
descontinuidade removível. Se L+ ¹ L- , dizemos que a é uma descontinuidade não-removível. Neste
caso, a diferença L+ - L- é chamada salto de descontinuidade de f em a .
ìï1 2
ïï (2x + 3) se -¥ < x £ 1
ïï 5
f (x ) = ïí 6 - 5x se 1< x < 3
ïï
ïï x - 3 se 3 £ x < ¥
ïï
î
ìï-2x 2 se x £ 3
f (x ) = ïí
ïïî 3x se 3 < x
|2x - 3|
f (x ) =
2x - 3
f (x ) = x - êëx úû
x +2
f (x ) = x +
|x + 2|
ìï senx
ï se x ¹ 0
f (x ) = ïí x
ïï
ïî 1 se x=0
ïì1 se x Î
d (x ) = ïí
ïïî0 se x Î
/
é chamada função de Dirichlet, em homenagem a Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet (1805 – 1859).
Mostre que d é descontínua em cada x Î .
(Confira a biografia de Dirichlet, acessando o link
http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/Biographies/Dirichlet.html)
definida no problema anterior. Mostre que esta função é contínua em apenas um ponto e encontre esse
ponto.
Olá, aluno(a),
Objetivos
não são iguais. Portanto, concluímos que a função dada acima não é derivável na
origem.
r ( h ) f (x0 + h ) - f ( x0 )
De fato, basta observar que = - f '(x0 ) , logo
h h
r (h) é f (x0 + h ) - f ( x0 ) ù
lim = 0 Û lim ê - f '(x0 )ú = 0 e decorre da definição da
h®0 h h®0 ê h ú
ë û
derivada de uma função.
.
Exemplo 2: Seja a função constante f (x) = c (constante ) para todo xÎ
Então f ' (x) = 0 . Com efeito, por definição temos:
f ( x ) - f ( x0 ) c -c
lim = lim =0
x ® x0 x - x0 x ® x0 x - x
0
Se f (x) = ax + b é uma função afim, tem-se que f ' (x) = a . Por definição,
segue que:
f ( x ) - f ( x0 ) (ax + b) - (ax0 + b) a ( x - x0 )
lim = lim = lim =a
x ® x0 x - x0 x ® x0 x - x0 x ® x0 ( x - x )
0
n æn ö
facilmente, utilizando o binômio de Newton, (x + h) = å çç ÷÷÷ x n-k h k .
n
ç ÷
k =1 èk ø
segue que
f (x ) f (x )
f (x ) lim f '(a )
= lim x - a =
x®a x - a
lim =
x®a g (x ) x®a g (x ) g (x ) g '(a )
lim
x -a x ® a x -a
desde que, g '(a ) ¹ 0 . Podemos exemplificar essa regra, através da seguinte
questão, que você teve a oportunidade de ver no Cálculo I, que é calcular o limite de
sen x (sen x )' x=0 cos 0
lim = = = 1 . Você deve observar que nesse exemplo fizemos
x®0 x (x )' x=0 1
uso da derivada da função (sen x) ' = cos x . Essa derivada pode ser provada usando
a definição de derivada da função seno na origem e a identidade trigonométrica
sen (x + h) = sen x.cos h + sen h.cos x .
Demonstração:
1. A prova de (1) é imediato se observarmos que
( f + g )(x) - ( f + g )(x0 ) f (x) - f (x0 ) g (x) - g (x0 ) , aplicando o
= +
x - x0 x - x0 x - x0
que resulta (pela regra da cadeia) em ( f -1 ) ( y ). f ' (x) =1 que é o resultado que
'
queríamos provar.
Temos que uma função f : I ® tem um máximo local no ponto x0 Î I
se existe d > 0 tal que para todo x Î I , com x Î (x0 - d , x0 + d ) I implica
que f (x) £ f (x0 ) . E um ponto x0 Î I é um mínimo local se existe d > 0 tal que
para todo x Î (x0 - d , x0 + d ) I implica que f (x) ³ f (x0 ) . Os pontos máximo
e mínimo locais são ditos estritos, quando ocorrem as desigualdades estritas,
f (x) < f (x0 ) e f (x) > f (x0 ) , respectivamente. Agora, quando uma função tem um
máximo ou mínimo em todo o seu domínio, dizemos que a função tem um máximo
ou mínimo absoluto. Como vimos na definição de derivada de uma função é local,
e uma maneira de determinarmos se um ponto é o máximo ou mínimo local de uma
função derivável é respondida pelo seguinte teorema.
f (x0 + h ) - f ( x0 )
Ou ³ 0 , para h < 0
h
f (x0 + h ) - f ( x0 )
E como consequência, o limite lim = 0 , onde concluímos
h
h®0
que f ' (x0 ) = 0 . E de maneira completamente análoga provamos quando x0 é um
ponto de mínimo.
A recíproca desse teorema não é válida, pois podemos ter f ' (x0 ) = 0 sem que
o ponto x0 seja um máximo ou um mínimo. Conforme vimos, a função f (x) = x 3
tem derivada nula em x0 = 0 , mas esse ponto não é máximo, nem mínimo, como
você pode ver no gráfico abaixo:
é pù
Exemplo 5: Seja a função f : ê 0, ú ® com f (x) = x cos x , podemos ter
ëê 4 ûú
que a derivada não é necessariamente nula em todos os pontos de máximo ou de
Olá, aluno(a),
Bons estudos!
Objetivos
Prova: Seja um refinamento da partição P , dada por P ' = P È{x '} , isto
é, P ' é formada por mais um ponto. Suponha que x ' Î [xi-1 , xi ] da partição P .
Consideremos Mi = sup { f (x) : x Î [xi-1 , xi ]} e ainda sejam Mi' e Mi'' os supremos de
f nos subintervalos [xi-1 , x '] e [x ', xi ], respectivamente. É evidente que, Mi' £ Mi
e também que Mi'' £ Mi . Vemos ainda que xi - xi-1 = (xi - x ') + (x '- xi-1 ) , então
S ( f , P ) - S ( f , P ' ) = Mi (xi - xi-1 ) - Mi' (xi - x ' ) - Mi'' (x ' - xi-1 ),
que resulta em:
S ( f , P ) - S ( f , P ') = (Mi - Mi' )(xi - x ') + (Mi - Mi'' )(x '- xi-1 ) ³ 0 , o que
prova a segunda desigualdade da soma superior dada no teorema 1. Deixamos para
você, aluno, fazer a prova da desigualdade da soma inferior que é feita de forma
análoga.
ò f (x) dx = sup s( f , P )
a
E analogamente, o conjunto das somas superiores é limitado inferiormente
por m(b - a ) , logo tem um ínfimo finito, chamado a integral superior de f , que é
dada por:
b
ò f (x) dx = inf S ( f , P )
a
ò f £ò f
a a
Dizemos que uma função f : [ a , b ] ® é integrável quando essas duas
integrais dadas acima são iguais. E nesse caso, o valor comum da integral inferior e
superior é chamado a integral da função f e que denotaremos por:
b
ò f ( x) dx
a
Exemplo 1: Seja a função f : [ a, b ] ® definida por:
0, se x∈Q
f ( x) =
1, se x ∈ ( R − Q)
Seja uma partição P arbitrária do intervalo [a, b ] , como cada intervalo
[xi-1 , xi ] da partição contém números racionais e irracionais, logo m = 0 e M = 1 .
i i
Uma pergunta imediata que nos vem é: que condições uma função deve
satisfazer para ser integrável? Baseados nisso, enunciaremos o teorema 3.
c c b b
∫
a
∫ ∫ ∫
Prova: Sejam a = f , A = f , b = f e B = f . Então, decorre da definição
c
a c
da integral de Riemann, e tomando uma partição que refina a partição dada, que:
b b
∫f e a+b =
A+ B =
a
∫ f . Para isso basta tomar uma partição que contém o ponto
a
( )
s ( f , P ) ± s ( g , Q ) ≤ s f , PQ ± s ( g , PQ) ≤ ∫ ( f ± g ) . Então tomando o
a b b b
supremo sobre todas as partições P do intervalo, teremos que ∫ f ± ∫g ≤ ∫ f ± g
a a a
e o mesmo se pode concluir para a integral da soma superior e consequentemente:
b b b b b b
∫ f ± ∫g ≤ ∫ f ± g ≤ ∫ f ± g ≤ ∫ f ± ∫g
a a a a a a
A função G (x) = ò f (t) dt é derivável para a < x < b com G ' (x) = f (x )
a
e é contínua em [a, b ] e G (a) = 0 .
Para qualquer função F contínua sobre o intervalo [a, b ] e que diferen-
b
G (x + h) - G ( x ) ò f (t) dt - ò f (t) dt 1
x +h x +h
h
- f (x ) = a
h
a
- f (x ) =
h ò f (t) dt - f (x) = ò [ f (t) - f (x)]dt
x x
ò f = G (b) - 0 = G ( b) - G ( a ) = F ( b) + c - F ( a ) - c = F ( b) - F ( a ) .
a
g (d ) d
ò g (c)
f (x )dx = ò f ( g (t )). g '(t )dt
c
Com esse resultado, chegamos ao fim de mais uma disciplina. Espero que
você tenha apreciado a consistência e a produtividade dos argumentos que
apresentamos para caracterizar o conceito de uma função real, limites, derivadas e
integrais. Esses conceitos mudaram a visão e a forma de encarar os problemas em
Matemática. A Matemática deixa de tratar de objetos estáticos e passa a abordar
objetos em movimento. Por isso, com essa ferramenta matemática, o homem tem
conseguido feitos inimagináveis.
Angelo Papa Neto nasceu em Fortaleza, onde fez seus estudos básicos e sua graduação.
É licenciado em Matemática pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também fez
seu mestrado. Concluiu o doutorado em Matemática em 2007 na Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Sua área de pesquisa é a Álgebra Comutativa, área em que nutre
especial interesse pela Teoria de Valorizações, pela Teoria das Formas Quadráticas e pela
Álgebra Real. É professor efetivo do IFCE desde 1997. Casado desde 2000, é pai de dois
filhos. Na música, é um grande admirador de J. S. Bach, L. Beethoven e Dimitri Shostakovich;
no cinema, de F. W. Murnau, Fritz Lang e A. Hitchcock; na literatura, de F. Kafka, A. Tchekov
e Guimarães Rosa; na gastronomia, de sua esposa Sueli.
CURRÍCULO 141
142 Análise Real