A Historia Do Acara Disco No Brasil

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A História do Acará disco no Brasil

Quando nos dedicamos à criação de um determinado animal é


importante que conheçamos a sua história, a sua origem, enfim a
sua trajetória até os nossos dias, ou seja, até os nossos aquários,
para que possamos interagir com eles e acima de tudo respeitá-los.
Neste artigo procuro demonstrar a odisséia deste fantástico ciclídeo,
considerado “o rei dos Aquários”, bem como, homenagear aqueles
pesquisadores que se embrenharam na floresta amazônica para
estudá-lo e aqueles aquariofilistas que se dedicaram pioneiramente
a sua reprodução.

Os primeiros registros do acará disco


no Brasil datam do ano de 1840.
Naquele ano o zoólogo e
pesquisador Alemão Johann Jacob
Ernest Heckel coordenou uma
expedição à Amazônia e encontrou
acara disco em vários rios daquela
região, classificando-os,
inicialmente, como Symphysodon discus heckel.

Em 1904, na França, o ictologista chamado Dr. Jacques Pelegrini


realizou um estudo detalhado sobre a gênero Symphysodon
verificando que havia significativas divergências morfológicas entre
os animais coletados de acordo com o rio que habitavam. Assim,
Pelegrini, efetuou uma nova classificação taxonômica dividindo-os,
então, em duas subespécies: Symphysodon discus heckel e
Symphysodon discus willischwartzi.

Posteriormente o etnólogo e naturalista brasileiro Haraldi Schultz


implementou uma expedição a Amazônia, com o objetivo de estudar
a fauna pisciária daquela região e encontrou, nos rio Manacapurú e
Purus, um outro tipo de disco cuja coloração que se destacava era o
azul. Schultz era colaborador da “Tropical Fish Hobbyst” e
freqüentemente enviava peixes ornamentais e artigos para aquela
editora. O disco descoberto por Schultz foi classificado com
Symphysodon aequifasciata heraldi, em sua homenagem.

Alguns anos mais tarde Haraldi Schultz voltou àquela região,


acompanhado do Dr. Herbert Axerold, titular das publicações TFH –
Tropical Fish Hobbyst e um outro tipo de disco foi encontrado na
região dos rios abacaxis, Unini, Quiuini, Xaruini e Curuim. Esta nova
subespécie, que apresentava como coloração predominante o
marrom, foi classificada posteriormente como Symphysodon
aequifasciatus axelrod.

Durante vários anos houve controvérsias sobre a correta


classificação da espécie em questão, sendo que, somente no ano de
1960 o dr. Leonard P. Schultz, naturalista a serviço do Museu
Nacional dos Estados unidos, efetuou uma revisão geral nos peixes
do gênero Symphisodon, classificando-os, então, em duas espécies
e três subespécies.

Este modelo é o aceito até os nossos dias:

Espécie:
Symphisodon aequifasciatus
Subespécie: S. aequifasciatus aequifasciatus
Nome Vulgar: Acará disco verde

Subespécie: S. aequifasciatus haraldi


Nome Vulgar: Acará disco azul

Subespécie: S. aequifasciatus axelrodi


Nome Vulgar: Acará disco marrom

Espécie:
Symphisodon discus
Subespécie: S. discus discus
Nome Vulgar: Acará disco heckel

Subespécie: S. discus willischwartzi


Nome Vulgar: Acará disco heckel (cabeça azul)

Nota: A denominação “symphisodon” tem o seguinte significado


etimológico: dentes na união das partes inferiores da mandíbula
inferior;

A denominação “aequefasciatus” tem o seguinte significado


etimológico: com linhas verticais onduladas.

Os Primeiros Acarás disco Mantidos em Aquários no Brasil

Tudo começou no final da década de 1920 com um Japonês


chamado Sigeiti Takase, que vendia peixes ornamentais em sua
chácara, no Bairro do Alto da Boa Vista. Takase costumava reunir,
nos finais de semana, diversos simpatizantes para conversar sobre o
hobby. Certa vez Takase conseguiu com pescadores ribeirinhos, em
Santarém, a captura de um casal de discos com mais de trinta
filhotes.

Os peixes foram trazidos para o Rio


de Janeiro e vendidos para diversos
aquariofilistas. Esses foram os
primeiros discos mantidos em
cativeiro, no entanto, por falta de
conhecimento, a maioria deles não
chegou a idade adulta.

Na década de 1930 havia um indivíduo chamado Frank Hans Griem,


de naturalidade alemã, que trouxe de sua terra natal conhecimentos
de aquariofilia e foi, também, um dos pioneiros do hobby no nosso
país. Ele vendia peixes em sua residência, na estrada da Covanca,
em Jacarepaguá e mais tarde montou a primeira loja de aquariofilía
do Brasil, chamada “Aquário Rio”, que ficava situada na rua da
Alfândega. Hans recebia acarás disco, oriundos dos estados de
Belém e Manaus e colocava à venda em sua loja. Naquela ocasião
os peixes eram transportados em latas de banha, daquelas de vinte
quilos.
Quando os discos chegavam à loja havia grande alvoroço entre os
aquariofilistas, pois, a maioria só conhecia os discos através de
livros e revistas importadas, porque no exterior já se mantinham
discos em cativeiro.

Outro nome que deve ser lembrado é o do Alemão Wasa Jordam,


que, na década de 1950 vendia peixes ornamentais e principalmente
Acará Disco, juntamente com sua esposa, a mineira dona Aída, na
Estrada do Bananal em Jacarepagua. Na ocasião corria um boato
que aquele cidadão era um ex-oficial da Gestapo que havia fugido e
estava escondido no Brasil, porém este fato nunca foi comprovado.

Os Primeiros Casos Documentados de Reprodução de


Acarás Disco no Brasil

O primeiro caso documentado de criação de acará disco no Brasil foi


o do cidadão chamado Luiz Fernando Belart, morador da Ilha do
Governador. O fato ocorreu no dia 17 de julho de 1962 e foi
testemunhado por diversos aquariofilistas. Luiz possuía um grupo de
discos no seu aquário comunitário, entre neons, acarás bandeira e
mato Grosso e quando menos esperava viu um casal de discos
separados dos demais com uma grande quantidade de alevinos ao
seu redor. Na ocasião o conhecimento sobre a procriação de discos
em cativeiro era precário e assim nenhum filhote sobreviveu. O
registro do fato foi descrito pelo próprio Luiz Fernando e foi
publicado na revista Viveiros e
Aquários do mês de março de 1983.

O segundo caso de reprodução de


discos ocorreu no ano de 1984 e foi
muito interessante. O fato
aconteceu na residência do sr. José
Veloso, conhecido entre os
aquariofilistas como “seu Zeca”. Ele
resolveu colocar um par de discos no aquário que havia construído
em sua sala. O aquário possuía um metro e trinta de comprimento,
trinta centímetros de largura e trinta centímetros de altura e foi
construído numa abertura entre a parede da sala e da varanda,
portanto com visão para os dois ambientes.Seu “Zeca” queria
apenas dois discos para enfeitar o seu aquário comunitário, jamais
pensava em reproduzir Acará discos. Ele não gostava de deixar um
peixe sozinho no aquário, procurava manter sempre um pequeno
cardume ou no mínimo um par.

Assim, solicitou ao famoso e conceituado aquariofilista Rubens


Ramalho Rangel que escolhesse para ele um casal de discos. A
compra foi feita no sr. Álvaro um cidadão que vendia peixes
ornamentais em sua residência, no bairro de Cavalcanti e que
atualmente é o dono da distribuidora de peixes ornamentais
chamada APOL situada no bairro de Pilares. Após o costumeiro bate
papo e opiniões diversas, tipo: “ aquele é macho... aquela é fêmea,
etc,” o senhor Rubens selecionou dois belos exemplares: um peixe
da variedade azul (Shymphisodom aequifasciatus haraldi) e o outro
do tipo marrom (Shymphisodom aequifasciatus axelrodi).

"Seu Zeca” levou o par de peixes para sua residência no bairro da


abolição, acondicionou-os no seu aquário e esqueceu aquela história
de “casal de disco”. Um dia, para seu espanto, verificou que os
peixes haviam desovado no vidro lateral do aquário. No outro dia o
casal devorou todos os ovos. E assim o fato se repetiu. Na terceira
desova, “seu Zeca”, aconselhado pelos amigos, retirou os outros
peixes do aquário, deixando somente os discos. O resultado foi
positivo, outra desova ocorreu, porém desta vez o casal cuidou dos
ovos e dos alevinos. Nasceram quarenta e sete disquinhos, sendo
que quarenta e quatro chegaram à idade adulta. Esta façanha foi
muito comentada no mundo da aquariofilía e muitos aquariofilistas
foram visitar o seu “Zeca” querendo ver para crer aquele fato
inédito para a época.

O Primeiro Caso Documentado de Reprodução Induzida de


Acarás disco no Brasil

Na década de mil novecentos e oitenta, através de revistas


importadas, já se tinha conhecimento da procriação de discos no
exterior, bem como dos hibridismos feitos pelos criadores
estrangeiros. Não muito freqüentemente chegavam as lojas
especializadas, exemplares importados cujas cores deixavam os
aquariofilistas boquiabertos. Os preços eram bem altos, mas mesmo
assim, geralmente, toda a remessa era vendida. A partir desses
peixes importados, já nascidos em cativeiro, muitos aquariofilistas
tentavam de todo jeito reproduzi-los, porém poucos conseguiram ter
êxito naquela empreitada.

Manuel Mourão Dias, residente no Rio de Janeiro, era mais um


daqueles aquariofilistas que estavam deslumbrados pelos acarás
discos. Ele também queria reproduzi-los, e assim, durante três anos
cultivou exemplares vindo do exterior tentando conhecer seus
hábitos para induzi-los a reprodução. Manuel com os seus
experimentos e a falta de informações sobre o assunto perdeu
muitos peixes.

No mês de outubro de 1989, Mourão finalmente obteve êxito. Era


um casal de discos, do tipo azul turquesa, que ele tinha adquirido
ainda juvenil e os criara até a idade adulta. As primeiras desovas
foram infrutíferas, pois, os peixes ora comiam os ovos ou ora
comiam os alevinos e assim, quando o criador, contrariado com
tantos desencontros, largara tudo de mão, inclusive desligando os
aquecedores e filtros, os peixes procriaram e trinta e nove
disquinhos chegaram à idade adulta.

O fato foi bastante comentado e muitos aquariofilistas foram visitar


o criador, alguns para ver a novidade e outros para comprar alguns
exemplares. A revista “Aquarismo” do mês de novembro de 1989
documentou o ocorrido através do artigo intitulado “Manuel e o
Disco Azul” de autoria do professor Wilson Vianna.

O Acesso aos Acarás disco turquesa e as Novas Linhagens


À partir dos milhares de discos criados por Mourão muitos criadores
conseguiram também criá-los e então na década de 1990 os discos
turquesas passaram a ser procriados
com relativa facilidade e,
portanto,eram vendidos por preços
mais acessíveis. Nesta década
ocorreu também a invasão de discos
importados sendo que novas
variedades foram trazidas do
exterior inicialmente os blue
diamond, os pandas e os pigeon. Os
criadores brasileiros passaram, então a cruzar as novas variedades
adquiridas com os turquezas “brasileiros”, melhorando, assim, o seu
material genético uma vez que os turquesas tinham sido originados
de um pequeno grupo de matrizes. Naquela ocasião outros
criadores também se destacaram na criação de discos dos quais
podemos destacar Roberto Colombo, da cidade Campos; Ney
Euriques do Rio de Janeiro; Tanabe e Luiz Wada do Estado de São
Paulo.

A grande explosão de discos importados ocorreu no período de 1994


até 1998, por conta da valorização do real frente ao dólar. No início
do plano real um dólar chegou a valer oitenta e seis centavos de
real fato que facilitou a importação em massa e conseqüentemente,
também, dos acarás discos. A partir desta data passamos a ter
acesso as variedades mais exóticas de discos como, por exemplo: o
red dragon, o snakeskin, o yellow face, o cobalto, entre outros.

Os Criadores de Acarás disco e o Cenário da Atualidade

Atualmente muitos aquariofilistas estão conseguindo procriar o


acará disco com relativa facilidade, em função, principalmente, da
tecnologia disponível no mercado em termos de material,
equipamentos e produtos, tanto nacional como importado, bem
como pelas informações disponibilizadas através de livros, revistas,
cursos, palestras e pela Internet.
A título de crítica, cabe ressaltar que apesar da grande quantidade
de criadores no Brasil o interesse prioritário tem sido de procriar as
espécies mais valiosas para a obtenção de um imediato retorno
financeiro; infelizmente não temos conhecimento de criadores que
estejam fazendo um melhoramento genético em seu plantel, com
base, por exemplo, na introdução de peixes nativos a exemplo do
que é feito no exterior.

Convém alertar, ainda, que entre os


criadores gera uma onda para
produzir peixes puros, ou seja,
cruzar animais da mesma variedade,
da mesma cor, do mesmo padrão,
indistintamente sem a renovação de
sangue. Este procedimento deve ser
observado com cuidado, pois
ocasionará a repetição do mesmo material cromossomial, entre
gerações consecutivas, fato que poderá trazer conseqüências
degenerativas para o plantel.

Vários criadores têm comentado que muitos alevinos estão


nascendo com anomalias morfológicas, tipo: falta de nadadeiras,
nadadeiras desproporcionais ao tamanho do corpo, formato ovóide
ao invés de discóide, peixes bicudos, peixes arrastadores, entre
outros.

Pouco se sabe relativamente à genética dos acarás discos,


entretanto estas anomalias demonstram um nítido sinal de
consangüinidade que deve ser estudado com seriedade.

Nota: Alguns aquariofilistas contestam se foram realmente, os


cidadãos citados neste artigo, os primeiros a obterem sucesso na
procriação dos discos, entretanto, convém ressaltar que, no âmbito
da aquariofilía se alguém consegue algum fato inédito e não
apresenta testemunhas, não fotografa ou não disponibiliza uma
publicação sobre o assunto, fica impossível comprovar. Os
aquariofilistas citados neste artigo cumpriram todos os requisitos, ou
seja: fotografaram, providenciaram testemunhas e publicaram,
então são proprietários do mérito e ficarão com os seus nomes
gravados na história do Acará Disco, pois, em qualquer lugar do
mundo, ”vale o escrito”.

Agradeço aos renomados aquariofilistas Gastão Botelho, Rubens


Ramalho Rangel, José Pereira e Alex Damásio.

Autor: Prof. Wilson Vianna (20/03/2010)

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