Plano Terapeutico
Plano Terapeutico
Plano Terapeutico
Metadados
Data de Publicação 2013-11-07
Resumo Este relatório pretende apresentar o trabalho efetuado no estágio
académico do mestrado em psicologia clínica realizado na Dialógicos.
O período do estágio, permitiu compreender os conceitos de psicologia
clínica, teoria psicodinâmica, psicoterapia de apoio e ludoterapia, na sua
aplicação em prática clínica. A aquisição de novas competências, também
possibilitou efetuar em pacientes, a avaliação psicológica, elaboração
do psicodiagnóstico, estabelecimento de metas psicoterapêuticas,
diagnóstic...
Palavras Chave Psicoterapia psicodinâmica, Psicologia clínica - Prática profissional
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-IPCE] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
In s t i t u t o d e Ps i c o l o g i a e C i ê n c ia s d a E d u c aç ã o
Mesttrado e m Psico
ologia Clínica
C
Diag
gnóstic
co e in
nterve
enção psicollógica
co
om paccientess em contex
c xto clín
nico
Realizado
R p
por:
Luís A
António Nuunes Monteeiro
Orientado por:
p
Dr.ª Paula Cristina Ramos
R Barb
bosa
Suupervisão de:
Mestre Túlia Rutee Maia Cabbrita
Constituiçã
C ão do Júrii:
Presidente
P : Prof.ª
P Douttora Tânia Gaspar Sin
ntra dos Saantos
Arguente:
A Prof.
P Doutoor Horácio Pires Gonçalves Ferrreira Saraiva
Vogal:
V Prof.ª
P Douttora Maria Leonor Janeiro Seguurado de Falé Balanccho
Dissertação
D o aprovada
a em: 28
2 de Nove
embro de 2012
2
Lisboa
a
2012
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Setembro 2012
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Setembro 2012
Luís António Nunes Monteiro
Lisboa
Setembro 2012
Ficha Técnica
Autor Luís António Nunes Monteiro
Coordenadora de mestrado Prof.ª Doutora Tânia Gaspar Sintra dos Santos
Supervisora de estágio Mestre Túlia Rute Maia Cabrita
Orientadora de estágio Dr.ª Paula Cristina Ramos Barbosa
Título Diagnóstico e intervenção psicológica com pacientes em contexto
clínico
Local Lisboa
Ano 2012
Diagnóstico e intervenção psicológica com pacientes em contexto clínico / Luís António Nunes
Monteiro ; coordenado por Tânia Gaspar Sintra dos Santos ; supervisionado por Túlia Rute Maia
Cabrita ; orientado por Paula Cristina Ramos Barbosa. - Lisboa : [s.n.], 2012. - Relatório de estágio
do Mestrado em Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade
Lusíada de Lisboa.
LCSH
1. Psicoterapia psicodinâmica
2. Psicologia clínica - Prática profissional
3. Dialógicos (Lisboa, Portugal) - Ensino e estudo (Estágio)
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Teses
5. Teses - Portugal - Lisboa
1. Psychodynamic psychotherapy
2. Clinical psychology - Practice
3. Dialógicos (Lisbon, Portugal) - Study and teaching (Internship)
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Dissertations
5. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon
LCC
1. RC489.P72 M66 2012
Aos meus pais, pelo seu amor incondicional.
Agradecimentos
conhecimentos.
Agradeço a todos aos profissionais da Universidade Lusíada pela atitude cordial e profissional
Agradeço á orientadora de estágio, Dra. Paula Barbosa, por tudo o que me ensinou através da
sua experiência clínica e pela compreensão e apoio prestado durante o estágio clínico.
Agradeço com sincera gratidão à minha supervisora de estágio, Dra. Túlia Cabrita pela total
disponibilidade que sempre demonstrou ao longo dos últimos cinco anos, e pela competente
coordenação do mestrado.
Agradeço á Professora Doutora Teresa Leite pela generosidade como transmitiu os seus
Agradeço à Professora Doutora Luísa Carrilho pela energia e dedicação que imprimiu às suas
aulas.
Um agradecimento especial e sentido, à Helena e à Teresa, com quem percorri este último
Finalmente, agradeço aos meus pais, Carolino, Isabel, António, Amélia e Luís pelo amor e
afeto partilhado.
Resumo
intervenção.
O relatório descreve a análise de dois casos, uma criança e um adulto, acompanhados durante
o período do estágio. A recolha e interpretação dos respetivos dados foi efetuada através da
criança, adulto.
Abstract
This report aims to present the work done at the intership of the academic master's degree in
clinical practice. The acquisition of new skills also make it possible for patients, the
techniques.
The report describes the analysis of two cases, one child and one adult, accompanied during
the intership. The collection and interpretation of the respective data was made through
observation, interview and clinical application of psychological tests, selected based on the
The results obtained were classified phases of psychodynamic authors, mentioned in the
theoretical framework. The symptoms and personality type of patients are described
according to the classification of the Psychodynamic Diagnostic Manual (PDM: Task Force,
2006).
The complete findings, are those relating to the proposed objectives and achieved the
child, adult.
Lista de tabelas
IBM – SPSS: International Business Machines - Statistical Package for the Social
Science
Portuguesa
Índice
Introdução.................................................................................................................................. 1
Ludoterapia............................................................................................................ 16
Método ............................................................................................................................... 43
Participantes ................................................................................................................ 43
Procedimento ............................................................................................................... 45
Programação semanal ............................................................................................ 46
Instrumentos ................................................................................................................ 50
WISC-III............................................................................................................... 52
Bar-Ilan.................................................................................................................. 53
CAT-A ................................................................................................................... 56
TAT ....................................................................................................................... 58
PDM ...................................................................................................................... 61
Psicodiagnóstico ................................................................................................... 69
Psicodiagnóstico ................................................................................................... 79
Conclusões ............................................................................................................................. 85
Referências .............................................................................................................................. 91
Diagnóstico e intervenção psicológica com pacientes em contexto clínico 1
Introdução
população alvo que recorre aos seus serviços, com os mais diversos tipos de problemáticas
profissional.
Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças III – Aferição Portuguesa (WISC-III); Bar-
Ilan; Desenho da Família Imaginária e Real; Teste de Aperceção para Crianças (CAT-A);
psicoterapêutica.
referidos no estudo de casos são descritos de acordo com a classificação do PDM: Task Force,
2006.
Foi ainda efectuada uma conclusão sobre os objetivos propostos e concretizados e uma
Caraterização da Instituição
emergentes nas diversas áreas da psicologia, quer a nível da oferta de serviços quer da
clínica, com técnicos especializados nas diferentes áreas da psicologia clínica e na área
formativa, com serviços de formação e realização de workshops dos mais variados temas da
a idosos, que procuram ajuda para as suas problemáticas como: queixas de depressões,
coloca-se na posição do paciente de modo a lhe ser possível observar o mundo dele e
enquanto ser humano. Para isso utiliza técnicas não--directivas, sem aconselhar nem
interpretar mas sim clarificar os sentimentos do paciente através da reflexão e do ecoar. Este
modelo utiliza as técnicas centradas na emoção para que o paciente reconheça e dê significado
e nome à sua experiência emocional. O psicólogo clínico funciona então como continente da
preparação mental e psicológica dos atletas para os treinos e competições desportivas, tão
Ecklund, 2007).
máximo dos atletas através do desenvolvimento dos recursos intrapessoais como: orientação
2001).
metas e na gestão de equipas. Efectua-se também a avaliação do perfil psicológico dos atletas
para os treinadores, à posteriori, adequarem os programas de treino aos atletas (Tenenbaum &
Ecklund, 2007).
hábitos de estudo. Neste âmbito, a clínica estabelece parcerias com colégios, centros de
e social com o foco de análise na relação que existe entre todos, e a partir dessa análise
descobrir e solucionar a origem dos seus problemas (Sampaio & Gameiro, 2002).
em constante evolução ao logo do ciclo de vida, ajustando algumas dificuldades que podem
surgir em diferentes fases da vida como: a formação do casal, nascimento de filhos, entrada
dos filhos na escola, adolescência, saída dos filhos de casa e questões de luto e perda no final
relacionam entre si, quer ao nível consciente ou inconsciente. A terapia de casal é uma técnica
específica da terapia familiar, onde o casal é a unidade de análise (Bateman, Brown, &
Pedder, 2003).
promover um espaço de ajuda e de apoio psicológico não só aos indivíduos que apresentam
como também apoiar e ajudar indivíduos que, apesar de não estarem dependentes deste tipo
Conforme McCrady & Epstein (cit. por Dodgen & Shea, 2000), pretende-se
igualmente ajudar, esclarecer e orientar todos aqueles que não sofrendo directamente de
dependência, sofrem com os seus efeitos. A família próxima, é um exemplo de que sente o
pretende-se: informar e esclarecer sobre uso, abuso e dependência de álcool e drogas; orientar
Com a consulta de Sexologia, pretende-se ajudar uma pessoa, numa das áreas mais
anorgasmia, dor no acto sexual, a existência de uma má relação interpessoal com o/a
segurança emocional durante a interação sexual), stress, ansiedade e insegurança e baixa auto-
compreender as suas dificuldades específicas e a dar passos concretos para debelar a situação
que originou a disfunção e ajudar a interiorizar que é existir necessário uma nova perspetiva
competências sociais que permitem aos jovens identificar problemas pessoais e a encontrarem
terapia da fala, tendo-se estabelecido uma parceria com o Centro Aurora em Mem Martins
(Dialógicos, 2012).
para receber estagiários que desejem efetuar os respetivos estágios académicos em psicologia
(Dialógicos, 2012).
psicológico, é o primeiro passo para que uma instituição se torne eficiente e profissional nos
sintomas físicos associados a mal-estar psicológico, tais como fortes e constantes dores de
desenvolvimento da personalidade.
insucesso escolar.
A Instituição recebe também por parte dos adolescentes, inúmeros pedidos para
Enquadramento teórico
Psicologia clínica
psicólogos experimentais, tem um longo passado e uma história recente. Desde a antiguidade,
A psicologia enquanto ciência, tem origem nos filósofos gregos tendo-se separado da
filosofia no final do século 19. Wilhelm Wundt em Leipzig na Alemanha no ano de 1879, funda
o primeiro laboratório psicológico para estudar os processos mentais mais elementares. Nele
foram formados a primeira geração de psicólogos que depois se disseminaram pela Europa e
A psicologia clínica, surgiu num contexto científico em que a noção de clínica já era
(APA) um novo método de investigação. Utilizou a palavra clínica para se referir à função
observação e análise aprofundada dos casos individuais, quer normais quer patológicos
(Pierón, 1968). Para Garfield (1965), é o ramo da psicologia que se interessa pelos problemas
ação humana quer na sua orientação prática, que se centra no sofrimento ou nos conflitos de
teorias, técnicas e métodos com o objetivo de procurar compreender qual a razão psicológica
da queixa do indivíduo, para lhe ser possível iniciar um processo de intervenção psicológica
(Brito, 2008).
que forneceram informação concreta sobre determinada pessoa e que expressa a existência de
que o método clínico está direcionado para o estudo de caso. Deste modo, o método clínico
dados, testes e entrevistas; e o segundo nível que comporta o estudo aprofundado do caso, de
1999).
Qualquer que seja o modelo ou orientação teórico seguido pelo psicólogo, existem
métodos e técnicas utilizadas de modo transversal de modo a ser possível recolher toda a
(Leal, 2010).
Na profissão de psicólogo clínico, existem atitudes que devem estar sempre presente,
pois são essenciais para a construção de uma autêntica relação terapêutica. Assim, deve: ter
uma verdadeira atitude ética e deontológica implicando um profundo respeito para com a
profissional em todos os casos; ter uma atitude empática, compreendendo o mundo interior do
sujeito através da apreensão intuitiva o que implica a necessidade de ter um domínio pessoal
das suas emoções e de conseguir manter algum distanciamento com a problemática do sujeito;
e por fim deve ter uma neutralidade benevolente não formulando juízos nem críticas, para
possibilitar que o indivíduo se expresse num clima de abertura e de confiança mútua (Bénony
Psicoterapia de Apoio
A psicoterapia é uma prática humana com a sua origem nos primórdios da História.
Apesar de não ser reconhecida como tal nem ter o caráter sistematizado de agora, em todas as
sociedades existiu sempre alguém a quem foi confiado o poder de curar através da palavra.
Mesmer no século 18 tenha iniciado o seu desenho, o conceito moderno de psicoterapia tem a
método de tratamento que utiliza os meios psicológico para aliviar e debelar o sofrimento
psíquico com vista a que o indivíduo atinja o seu equilíbrio psico-emocional (Doron & Parot,
1991).
neurose em geral. A partir dos seus trabalhos na psicanálise inicia-se não só o estudo e
normal, com os seus lapsos, actos falhados, sonhos, ou seja, o funcionamento do seu aparelho
limite, afeções psicossomáticas e determinadas psicoses e perversões (Doron & Parot, 1991).
para eles o psicoterapeuta é aquele a quem podem recorrer para ultrapassar os seus estados
disfuncionais e de infelicidade. Estes estados têm cinco causas principais que levam o
diferentes escolas diferem entre si quanto ao alvo primário, à orientação temporal, mudar
quer em clínica privada, apesar de só recentemente lhe ser sido dada o devido relevo.
Com não tem uma ligação teórica com qualquer escola de pensamento psicológico,
intervenção diversas e ser considerada como uma psicoterapia de cariz essencialmente prático
(Viederman, 2008).
paciente através do suporte emocional que lhe permita ultrapassar uma inibição ou um
sintoma incómodo existente e adquirir as capacidades psicológicas suficientes para gerir o seu
Está indicada para pacientes que apresentem: estados de reatividade, apesar de nos
impulsos agindo de modo destrutivo contra si ou com outros; nos casos de patologia
(Bloch 1999).
paciente, uma mudança pela tomada de consciência das motivações e dos sentimentos mais
problema do paciente e no reforço dos seus mecanismos de defesa para se atingir os objetivos
terapeuta e o paciente. Uma das forma passa por utilizar a escuta seletiva, para ser possível
apreender com rigor qual o foco do conflito do paciente (Winston, Rosenthal, & Pinsker,
2004).
paciente no reforço das defesas úteis. Para reforço das funções do ego do paciente, na
Ludoterapia
Para as crianças, o ato de brincar é tão natural como respirar. É uma expressão
(Drewes, 2006).
própria (Russ, 2007). A intensa estimulação sensorial e física recebida no início do seu
Quando a criança se confronta com situações traumáticas, crises ou que lhe causem
instabilidade emocional, não tem ainda a capacidade suficiente para as verbalizar e expressar
(Landreth, 2002).
dos adultos, e a interpretação da brincadeira era igual à dos conteúdos das fantasias
inconscientes que com o brincar era possível aceder. Através da interpretação do significado
pessoas que brincam juntas. Neste caso, o setting é um espaço criativo e real para a criança,
considerado por ela como um espaço entre o mundo interno e o externo (Winnicott,
1971/1975).
A relação da criança com o objeto de brincar, no início passa por estar fundido com
ele, depois é repudiado e por fim aceite de novo e objetivamente percebido. Enquanto brinca,
por vezes o conteúdo da brincadeira não é muito importante, mas sim o estado de
velhas ou de adultos que estão por perto. A criança habita uma área muito pessoal, com
jogo, de modo a reduzir as suas defesas, adquirir experiências e expressar melhor os seus
1971/1975).
Aconselhamento Psicológico
mas também nos que surgiam na área profissional, perda ou inter-relacionais. Posteriormente,
assistir a um elevado número de soldados que regressavam da 2ª. Grande Guerra com
É considerado como uma relação de ajuda que visa a adaptar o indivíduo à situação
em que se encontra, com a qual sente dificuldade para a resolver e otimizar os seus recursos
em psicologia. Pela sua amplitude e diversidade, é uma área que apresenta uma vasta
mais limitada no tempo: mais orientado para a ação do que para a reflexão; e
psicoterapia a nível individual, familiar, de casal, infantil e adolescentes e a grupos para além
personalidade. A nível relacional, encontramos como principais distúrbios os que têm origem
psicológico; diminuição dos sintomas; reforço das defesas; e melhoria da adaptação da pessoa
ao meio exterior. Neste caso, é particularmente indicado para pacientes que se apresentam
com estados reativos, neuróticos, ansiosos e com um ego mais frágil e incapaz de suportarem
Para Burton & Suss (cit. por Palmer, 2000), a relação estabelecida é considerada
como este influencia as atuais inter-relações. O aconselhamento pode ainda, em muitos casos,
ser utilizado como ponto de partida para uma psicoterapia de maior profundidade
substituída pela ideia de estar com o paciente, para o ajudar e a facilitar o seu crescimento e o
Com o decorrer dos anos, surgiram diversas correntes teóricas que utilizaram as
orientação psicanalítica que difere da psicanálise pois a associação de ideias não é livre mas
sim orientada para o problema em que o terapeuta circunscreve a área de intervenção (foco)
(Cordioli, 2008).
contexto terapêutico, sem divã, que o terapeuta intervém, esclarecendo e dando sugestões e
utilizada de uma a três sessões semanais com duração variável (Cordioli, 2008).
sobre si próprio e de identificar situações do passado e que na sua vida actual presente se
motivar; reforçar ao longo do tempo sobre uma temática focalizada com a correção de
Ética e deontologia
suportado por um código de ética que salvaguarda toda a relação com os clientes, pares
Qualquer que seja a profissão, existem sempre questões éticas que podem ser
identificadas em três áreas: a que tem a ver com os fundamentos dos princípios morais; a
aspecto da investigação quer da prática clinica, pois as pessoas estão numa situação de
os Ethical Standards for Psychogists que eram aplicados aos clínicos e à sua relação com os
todos os psicólogos e estabelece como princípios éticos: o respeito pela dignidade da pessoa
humana e pela ética profissional: respeito pelo segredo profissional; um cuidado especial
da Ordem dos Psicólogos e em que a Ordem dos Psicólogos passou a ser responsável da sua
princípios éticos da atividade profissional do técnico de psicologia, qualquer que seja a sua
área de aplicação e o contexto onde está inserido, tem o objetivo de direcionar o psicólogo no
sentido de se pontuar sempre por práticas excelentes e éticas no exercício da sua profissão (de
estão as regras de conduta ética pelas quais os psicólogos se orientam, como: consentimento
Lei nº 57/2008).
A partir do momento que surgiu a psicanálise não faltou, desde então, diversas formas
para a definir. Enquanto para uns é uma teoria da personalidade, para outros é um sistema
psicológico. Uma ciência, para os que seguiram a linha de pensamento freudiano (Brenner,
1987).
afectivo e sexual. É dominado pelo instinto de vida, eros, que assegura a satisfação das
necessidades básicas e pelo instinto de morte, thanatos, que está presente em todos os
modo mais primário através do princípio do prazer e por outro lado de modo mais secundário
ego e o superego. O id, é inconsciente e funciona como o depósito dos impulsos instintivos,
agressivos e sexuais. Tem muita importância estrutural no início de vida da criança e funciona
de acordo com o princípio do prazer exigindo de imediato a satisfação plena das pulsões
O ego, a parte racional da personalidade, está em contacto com o mundo real e opera
através do princípio da realidade por processos secundários. É modelado pelo jogo das
ele é dada a função de mediar entre o id, o superego e o mundo exterior dependendo em
nossa consciência e representa a interiorização mental dos padrões e proibições dos nossos
pais e da sociedade. Uma parte dele é consciente pois sabemos o que a consciência nos
oral, anal, fálico, latência e genital. Em cada uma destas fases, uma parte do corpo e as suas
atividades assume uma especial importância neles, realçando o prazer como um dos aspetos
principais que cada região corporal proporciona. (Greenberg & Mitchell, 1994).
A fase oral oral abrange o primeiro ano de vida e a boca, fonte de prazer, é a zona
erógena primária ou fonte de pulsão. As primeiras frustrações são orais tais como a fome,
sede e necessidade de sugar para além de também utilizar a boca como órgão agressor para
morder ou chorar (Golse, 2005). O objeto de pulsão é representado pelo seio materno com a
alimentação a servir como mediadora na relação simbiótica entre a mãe e o filho. Subdividiu
esta fase na sub-fase oral primitiva, em que o seio ainda não é classificado bom ou mau e a
sub-fase oral tardia que cobre o segundo semestre de vida e onde já surge a ambivalência face
ao objeto. É nesta sub-fase que surge o conflito relacional ligado ao desmame (Marcelli,
2005)
A fase anal compreende o segundo e terceiro ano de vida com o ânus a ser a zona
erógena. É um período em que já existe controlo e domínio, para além do prazer em defecar e
reter as fezes. Nesta fase existem duas sub-fases: na anal-sádica expulsiva que abrange o
terceiro semestre de vida da criança, a expulsão dos objectos funciona como desafio ao
adulto; e na anal-masochista retentiva existe um prazer ligado à retenção das fezes. Esta fase é
caracterizada por uma grande ambivalência pois as fezes funcionam como bom ou mau
relações com a figura maternal ou sua substituta (Mijolla & Mijolla-Mellor, 2002).
Na fase fálica, ainda uma fase pré-genital, abrange o período entre os três e os cinco
anos de vida e onde a uretra e os órgãos genitais são as zonas erógenas. É o período em que as
crianças a ficam curiosas sobre as diferenças anatómicas entre os sexos. A uretra funciona
como fonte de pulsão e de prazer pela micção ou retenção. Nesta fase, os conflitos da criança
(Marcelli, 2005).
A criança entre os dois e os cinco anos desenvolve um sentimento de amor pela figura
do sexo oposto e de hostilidade pelo do próprio sexo a quem vê como rival e tem o desejo de
o eliminar. Estes sentimentos são percecionado com uma grande intensidade e ambivalência,
porque odeia o progenitor do mesmo sexo impedindo-o de realizar os seus sonhos como se
fosse um concorrente incómodo e em simultâneo também sente amor e ternura pelo que de
bom representa para ele. Assim, surge a culpa e o medo da castração, com tendência a um
declínio por volta dos cinco anos e a reativar com o início da puberdade, o que contribui para
O período de latência, é uma fase entre os sete e os doze anos e não existe conflito
pois a energia psíquica está mais direcionada para atividades não sexuais, como a escola e o
desporto. Nesta fase surgem as formações reativas que permitem à criança ultrapassar os
conflitos sexuais do período anterior através de sentimentos de ternura e de respeito para com
substitutos das figuras parentais, que a criança vai encontrar nas suas novas relações sociais
(Golse, 2005).
infantil à sua forma definitiva. No adolescente, que até então a única finalidade da
sexualidade era ter prazer em certas zonas erógenas que os impulsos sexuais despertavam,
Freud considerava importante as experiências que a criança tinha na sua infância, pelo
que considerava que os três primeiros estágios que ocorrem até aos cinco anos de idade,
Na teoria freudiana, existe uma evolução do tipo de relação de objeto de estádio para
estádio oral-sádico até ao domínio no estádio anal. No estádio oral e anal a relação de objeto é
marcada por um narcisismo primário que a torna de tipo homossexual. No estádio fálico a
Melanie Klein é considerada como uma das figuras mais importantes no movimento
Ao contrário de Freud que começou a trabalhar com adultos e só mais tarde estudou o
funcionamento psíquico das crianças, Klein iniciou o seu trabalho teórico e prático com
A sua contribuição para a teoria e técnica psicanalítica têm três fases distintas: na
Klein defende como pressuposto para o desenvolvimento do sua teoria que o lactente
ativa uma dualidade e um conflito pulsional entre as pulsões de vida e de morte por um lado e
com o mundo exterior e que é ao mesmo tempo ameaçador e gratificante. É a partir desta
ideia, que estabelece relações entre o lactente e os seus objetos internos e externos e os
Através do seu trabalho com crianças, Klein percebeu a importância que na fase
precoce, a mãe tem na vida do bebé. Estes nascem com pulsões instintivas e com uma
agressividade inata (Bateman, Brown, & Pedder, 2003). O nascimento do bebé é vivido de
mundo exterior. O seio da mãe, é o primeiro objeto separado do self que existe na sua mente e
é considerado como hostil devido à ansiedade persecutória (Tyson & Tyson, 1990).
desenvolvimento e para realçar que não é uma fase passageira mas que implica uma
configuração específica de relações de objeto, ansiedades e defesas que vão persistir durante
toda a vida da criança. É um conceito mais estrutural que cronológico, pois trata-se de fases
normais necessárias à evolução de qualquer criança. Podem ser consideradas como sub-
Foi assim possível confirmar as teorias defendidas por Freud sobre a sexualidade
infantil, não só a partir do material infantil mas também observar fenómenos que até então
não eram esperados. Por exemplo, pensava-se que o complexo de Édipo se iniciava por volta
do três ou quatro anos de idade, contudo verificou que em crianças de dois anos e meio já
Nesta perspetiva, o bebé possui uma vida mental fantasmática já muito elaborada e um
defesa e também de estabelecer relações de objeto quer com o fantasma quer com a realidade
(Figueiredo, 2006).
A partir do nascimento, no bebé existe um ego primitivo ao qual lhe falta coesão e que
colocado perante a angústia suscitada pelo antagonismo entre a pulsão de vida ligada às
pulsões libidinais e amor, e a pulsão de morte ligada às pulsões agressivas destrutivas. Esta
relacionamento apenas com objetos parciais e pela prevalência dos processos de divisão.
Desde o nascimento que existe uma imagem, como seio ou biberão, que fica marcada
no psiquismo da criança e cuja imagem fica ligada a representações mentais com ligações ás
solicitações pulsionais. Quando surge uma tensão interna, se a mãe a satisfaz num prazo
satisfatório, então para o bebé essa situação é experienciada como um bom seio. Caso isso
não aconteça, a experiência não é sentida como ausência mas sim como seio mau perseguidor
(Klein, 1957/1991).
Os processos psíquicos essenciais desta posição são a introjeção, ligada ao objeto bom
A posição depressiva surge por volta dos cinco meses quando a mãe é reconhecida
como um objeto total, com a criança a tomar consciência de que a mãe boa e a mãe má é a
mesma. Nesta ambivalência confronta-se com o aparecimento da ansiedade depressiva por ter
(Segal, 1975).
depressiva surge a angústia depressiva em relação à perda de objeto. Nesta situação, a criança
apela à reparação como um mecanismo de defesa para preservar e reparar o objeto. É através
do jogo e o seu próprio desenvolvimento motor e psicológico, que irá conseguir ultrapassar a
No entanto, no caso de o processo de reparação ser posto em causa, pode ocorrer uma
situação de perda de objeto. Assim, a criança dá início à sua atividade simbólica ao desviar
pois é quando a criança constrói a sua relação com o mundo exterior. (Klein, 1975).
Esta perceção da sua dependência leva a que o objeto considerado bom seja
Winnicott começou a sua carreira profissional como pediatra o que lhe permitiu,
adultos para contribuir de forma inovadora em relação á tradição psicanalítica. Com base na
teoria de Freud e Klein desenvolveu a sua própria teoria do desenvolvimento (Mazet &
Soleru, 2003).
de certas funções. No entanto, é necessário estarem reunidas condições favoráveis para que se
da mãe consegue cuidar do ego da criança que se está a formar, evitando assim a existência de
Com o nascimento do bebé, a mãe desenvolve uma identificação projectiva para com
ele, ao mesmo tempo que se torna completamente disponível para cuidar de todas as suas
primária e que passa pela capacidade da mãe de renunciar a alguns dos seus interesses
pessoais e canalizar todos os seus recursos afectivo para o bebé, favorecendo desde o início
Este primeiro estado, é caracterizado pela relação que o bebé tem com os objectos
parciais e no modo como se relaciona com o seio da mãe. Não existe ainda a consciência da
figura da mãe, embora possa sentir a mãe em momentos de contacto afectuoso. Este processo
permite a gradual integração da personalidade da criança com o objeto parcial e passar a ser
Nesta fase da vida do bebé, a mãe desempenha o papel de espelho e quando vê o rosto
da mãe, vê-se a si próprio, correspondendo ao estádio da identificação primária. Por volta dos
três a quatro meses, a vai começando a ter a sensação da realidade e quando vê o rosto da
existência da pessoa como mãe. A função especular da mãe é muito sensível, pois reflete os
seus estado de alma para a criança. Toda a informação que passa, será absorvida pela criança,
objeto. O holding, tem na criança uma função de proteção a todas as experiências angustiantes
que sente nas suas relações quotidianas, sejam de natureza sensorial ou psíquica. O handling,
relação de dependência, entre ela e a mãe, através de três fases. Numa primeira fase até aos
cinco meses, a dependência é absoluta pela sua completa fusão com a mãe. Numa segunda, de
dependência relativa até ao fim o primeiro ano, a criança diferencia-se cada vez mais da mãe e
começa a estabelecer uma relação de objeto e a ter capacidade de iniciativa para satisfazerem
as suas necessidades A terceira fase, no início do segundo ano, a criança torna-se cada vez
mais independente e a iniciar o seu processo de identificação e socialização com o meio social
processo de construção das primeiras relações de objecto. (Mazet & Soleru, 2003).
A criança com a sublimação, adquire as condições que lhe permite confrontar-se com
a realidade e assim diferenciar-se do seu mundo interior. A partir dos 5 meses já apresenta um
ego mais amadurecido e capaz de ultrapassar as ruturas na sua vivência, em parte devidas à
espontâneo e com a capacidade de simbolizar. No caso de a mãe não estar presente nos
momentos em que é necessário para efetivar a omnipotência do bebe, pois dá mais prioridade
á satisfação das suas próprias necessidades, este irá desenvolver um ego submisso que será o
primeiro estádio para o aparecimento de um falso ego (Mazet & Soleru, 2003).
sua relação com o bebé. Quando se relaciona de forma sensível, o bebé sentirá uma satisfação
física e emocionalmente reconfortante que lhe permitirá construir uma unidade estável entre
modo como a mãe dá a conhecer o mundo exterior ao bebé para que este construa um
sentimento de unidade e confiança própria que lhe permita, ou uma ligação ou separação em
construído entre a mãe e o bebé, tem um efeito terapêutico, reduz a angústia e a ansiedade de
terapia, o objeto de transição é criado entre o terapeuta e o paciente (Barbieri, Jacquemin &
Alves, 2005).
como vai estabelecer a relação de objeto o qual que é efetuada através de dois esquemas, o
carinhosa tornando-o seguro quando tem de enfrentar a separação da mãe. Por vezes, o objeto
transicional é mais importante do que a mãe real em situações ansiosas ou quando o bebé vai
dormir. A evolução do objeto transicional passará pelas atividades lúdicas como o brincar a
mãe é determinante no modo harmonioso como a criança evolui, pois na posição depressiva
entre os seis meses e o primeiro ano, tem a capacidade de receber as pulsões agressivas e de o
Para a criança um dos sinais mais evidentes de ter conseguido uma maturação sólida
passa pela capacidade de estar só. Esta capacidade desenvolve-se através do modo como a
mãe transmite segurança, o que permite à criança experiências de solidão de curta duração.
Por volta dos seis meses quando o ego da criança está amadurecido, o símbolo materno já está
percurso para o seu estado de independência com a capacidade de estabelecer relações num
ênfase que deu à vinculação com os últimos trabalho realizados por Freud, onde era dada
relevância ao objeto que era visto como o alvo dos instintos libidinais (Gomez, 2005).
pulsionais que permitiram a sua sobrevivência ao longo dos tempos, salientando o apego da
criança à mãe como um dos sistemas mais importantes. Este apego é mediado por cinco
respostas pulsionais, sucção, sorriso, colagem, choro e seguimento e que estão organizados
vinculação dos mais novos aos mais velhos. Todos estes comportamentos garantem a
vinculação pois surge no momento que existe relação entre a mãe, ou cuidador, e a criança.
Esta relação não é determinada pela figura maternal ou intensidade, mas sim pela sua
No período até aos três anos, existe uma fase inicial até aos seis meses em que os
bebés demonstram uma vinculação mais geral e não se perturbam se for outro cuidador
carinhoso, sem ser a mãe, a tomar conta deles. Para o bebé a base segura da vinculação está na
interação reconfortante e nos jogos interativos que tem com o cuidador (Bénony, 2002). Aos
seis meses, já desenvolveu uma vinculação mais intensa com o cuidador principal, para além
de existirem vinculações secundárias com outras pessoas com quem se relaciona. Surge então
fase de menor dependência da mãe, apesar da necessidade interna de a ter sempre por perto
(Gomez, 2005).
Dos seis meses até aos três anos, a criança necessita de estar fisicamente próxima do
cuidador principal, apenas tolerando a sua ausência por períodos curtos. Quando existe uma
separação longa, para a criança é um processo muito traumático se não conseguir estabelecer
uma nova vinculação. Por volta dos três anos, a criança tolera ausências temporais mais
longas do cuidador se souber onde ele está e quando regressa. Nesta fase começa a ter
recém-nascido e em que imediatamente após o seu nascimento estabelece uma ligação afetiva
crianças e o grau de segurança que a criança sente junto dos pais, que lhes permite depois
munir-se de capacidades para explorar o mundo que a rodeia (Goldlberg, Grusec & Jenkins,
1999).
Ainworth, identificou quatro tipos de vinculação com base no grau de separação entre
que a criança mostra que não necessita de apoio, é independente e não reage quando os pais
regressam; a insegura-ambivalente, no caso da criança que procura o conforto dos pais pois
está assustada e ansiosa pela separação, reagindo de modo irritada ou passiva; e por fim, a
chegada da mãe. Deste modo, nas crianças que têm uma vinculação segura quando a figura de
vinculação se aproxima a angústia é anulada, enquanto que no caso de existir uma vinculação
Estudos que realizou em crianças que na sua primeira infância sofreram privações e perdas
posteriori síndromas de personalidade psicótica, depressão e suicídio e todas elas tiveram uma
(Cassidy, 1999)
hereditários; no modo como a criança se relaciona e vincula com os pais nos seus tempos
mais precoces; com as frustrações e os conflitos que vão surgindo; em função das defesas do
2004).
interno ou externo, a realidade pode ser deformada ou mesmo anulada com o objetivo de
defesa asseguram a própria segurança do indivíduo ao adaptar a mente para resolver situações
consoante o seu tipo de caráter e ativados quando ocorre uma situação semelhante à original.
angustiante ou assustador, ou então alguma situação que lhe cause uma desorganização
estável, no entanto passível de ser alterada, onde se estabelece o seu funcionamento psíquico.
Esta estrutura inclui os mecanismos de defesa, relação de objeto e evolução libidinal e do ego.
estrutura da personalidade do indivíduo. No período mais fusional não existe uma separação
entre o eu e o não-eu, evoluindo depois para uma período de pré-organização com o início de
um conflito profundo com a realidade ao recusá-la, pois o ego sofreu séria fixação e
primeiros anos de vida traduzida numa atitude mais ou menos radical, em função do grau
regressivo das fixações. A angústia está centrada na fragmentação, pois como está num estado
fusional com a mãe não consegue vivenciar uma relação de objecto tipo genital, como um ser
superou a fase da relação precoce com a mãe não conseguindo no entanto, efectuar a relação
segurança ao nível do ego não existe garantida uma estabilidade emocional (Mcwilliams,
2005).
indivíduo a superar a fase anal, sem fixações precoces nem frustrações intensas e acedendo à
triangulação genital. Apesar da estrutura ser neurótica, pode suceder que o ego do indivíduo
regrida a uma fase psicótica durante a adolescência e sofrer conflitos muito intensos, internos
ou externos. Nesta estrutura, o conflito situa-se entre as pulsões e o ego, surgindo a angústia
próprio indivíduo. Uma descrição de caracteres inclui o nível de organização destes padrões
Objectivos propostos
Método
Participantes
Os nomes dos participantes referidos na tabela são fictícios de modo a manter a sua
confidencialidade.
Idade 8 22 45 3 43 31
Pedido Colégio/
Próprio Próprio Colégio Próprio Próprio
Pais
Isolamento
Baixa auto-
Distração Avaliação social
Tristeza Atraso no estima
Apatia de Humor
Apatia desenvolvimento Humor
Motivo do Desinteress Orientação deprimido
Humor Isolamento em deprimido
pedido e pela vida vocacional Baixa auto-
deprimido sala de aula. Dependência
escolar profissional estima
de drogas
Apatia
Data da
19-11-2011 19-11-2011 12-05-012 14-11-2011 04-02-2012 18-02-2012
1ª consulta
WISC-III
Entrevista Growing Skills Entrevista Entrevista
Bar-Ilan
Instrumentos Teste de BPRD Desenho da Teste de Teste de
Desenho da
Rorschach COPS Família Rorschach Rorschach
Família
TAT Ludodiagnóstico TAT TAT
CAT-A
Data da
26-11-2011 26-11-2011 12-05-2012 14-11-2011 06-02-2012 25-02-2012
avaliação
Data do
início das 28-11-2011 ___ ___ ___ ___ 05-03-2012
sessões
Data da
16-01-2012 ___ ___ ___ ___ 05-03-2012
última sessão
Nº de sessões 7 ___ ___ ___ ___ 1
Local de
Dialógicos Dialógicos Dialógicos Colégio Infantil Dialógico Dialógico
intervenção
Abordagem
Conclusão Dropout Alta Alta Dropout Alta
problemática
Procedimento
pelos psicólogos da clínica, o que permitiu uma melhor compreensão dos conceitos da teoria
resultados das provas efetuadas. Após a elaboração do relatório clínico, inicia-se o processo
mesmo dia e hora. Em caso da avaliação ser efetuada a crianças, a respetiva devolução de
Dialógicos num colégio infantil; trabalho teórico sobre estrutura de personalidade psicótica;
Síntese do livro Psicanálise e Mudança Psíquica-Cartografias para uma Viagem; tabela das
Programação Semanal
14:00 Formação
15:00 Formação
16:00 Formação
19:00 Supervisão
24:00
Atividades desenvolvidas
Consultas
Avaliação psicológica
Supervisão individual
Supervisão de grupo
Elaboração de poster
Formação e workshops
Duração/
Designação Tema Data
horas
Defesas do Ego-Compreensão e
Workshop identificação dos mecanismos de defesa 14/10/2011 6
do Ego
Crianças bipolares - Transtornos de
Workshop 18/11/2011 4
humor na infância
Avaliação da personalidade da criança -
Testes projetivos. CAT-A (Teste de 4/02 a
Formação 27
Aperceção Temática) e As Aventuras de 09/3/2012
Pata Negra
Interpretação clínica de resultados de
Workshop provas psicológicas - Wisc III e Desenho 17/03/2012 8
da Família
Teste de Rorschach - Sistema 23/03 a
Formação 27
Compreensivo de EXNER 27/04/2012
“Perdi-te…E agora? – Processos
Workshop 28/04/2012 4
psicológicos de luto e de perda”
Instrumentos
Entrevista Clínica
Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças III – Aferição Portuguesa (WISC-II)
Bar-Ilan –Entrevista semi-projetiva
A avaliação psicológica efetuada neste relatório, teve por base o exame da criança
através das seguintes provas: WISC-III, Bar-Ilan, Desenho da Família Imaginária e Real e
CAT – A.
Compreensivo de Exner.
Entrevista Clínica
Existem dois estilos diferentes de entrevista. Um, próximo do senso comum e utilizado
principalmente por polícias, jornalistas ou juízes e outro, mais utilizado pelas profissões
o início do método de entrevista psicológica de modo detalhado, para ser possível efectuar os
em psicologia clínica aquela em que o cliente espera que, não só lhe coloquem questões mas
também lhe dêem respostas aos seus problemas psicológicos (Aguilar, Oliva & Marzani
2003).
A entrevista clínica, envolve uma modificação na interação social entre dois sujeitos,
pois a relação estabelecida é de caráter formal. Aquela, é importante para avaliar e ajudar o
Flanagan, 2003).
relação humana. Neste processo, o terapeuta deve procurar apreender toda a informação
preocupações pessoais que os afligem. Neste sentido, é considerada como entrevista não-
diretiva ao colocar a ênfase nas técnicas de escuta ativa. O clínico não orienta o discurso do
paciente, pois é este que controla e conduz a entrevista. A sua participação é de questionar ou
(WISC-III)
permitindo avaliar sujeitos com idades entre os 6anos e 16 anos e 11 meses (Simões, Rocha &
Ferreira, 2003).
pensar de modo racional e agir com eficiência em relação ao meio onde está inserido. Os
global, dois quocientes parcelares segundo a natureza verbal e não verbal das suas provas e
outros indicadores a partir de novos agrupamentos dos seus sub-testes. A prova inclui 13 sub-
testes, distribuídos por duas sub-escalas, uma verbal e outra de realização. Na sub-escala
situações por crianças e adolescentes normais ou com algum tipo de problema psicológico. A
analisar o funcionamento intelectual nos seus diferentes aspetos possibilitando que os sujeitos
O Bar-Ilan é uma prova semi-projetiva construída para crianças dos 4 aos 16 anos de
aplicação permite detectar qual a perceção da criança em relação ao seu lugar na sociedade,
na família e em contexto escolar, os seus pontos fracos e o seu potencial para gerir as diversas
É constituída por 15 figuras no total, em que nove são figuras básicas e seis são
específicas no caso da criança ser do sexo masculino ou feminino. Cada figura representa uma
tornaria mais difícil de obter apenas através de técnicas projetivas (Werner & Kaplan,1963).
da criança, que permitem analisar quais as suas perceções acerca da escola e da família e
como as relações com os professores, pais, irmãos e outros pares, podem influenciar as suas
próprias atitudes. A importância relativa dada aos outros, permite-nos saber sobre a sua
educação familiar e das suas atitudes em relação à escola (Mussen, Conger & Kagan, 1979).
Com esta prova, obtêm-se informação sobre o desempenho da criança em áreas tão
distintas como o estado emocional, conflitos, atitudes significativas face aos outros,
Durante a aplicação, para além das respostas dadas pela criança, é importante o
evasivas são indicações de tensão ou alívio (Strauss, Gottesdiener & Fogel & Tamari, 1981).
implementação de novas atitudes dos pais com efeito direto nas crianças (Itskowitz & Strauss,
1980).
Desenho da Família
qualquer lugar e sem ser necessário ter um parceiro. No início, a criança através do desenho
de riscos imita a escrita para depois tentar desenhar objetos, o mais semelhante possível com a
assim como os seus desejos, angústias e conflitos. Todas as expressões gráficas representam
uma linguagem simbólica e a sua interpretação é efetuada com base na teoria psicanalítica
(Malchiodi, 1998).
psicólogo compreenda qual a representação que tem do contexto familiar e a sua maturidade
Através desta prova, é possível observar o modo com a criança se diferencia dos
que desenhe uma família imaginária e na qual se irá projetar mais facilmente. Na segunda
parte é solicitada a desenhar a sua família real. Depois de finalizado cada desenho, efetua-se
figuras, localização e ritmo e detalhe do desenho; o das estruturas formais exprime o próprio
O teste do desenho da família tem a vantagem de ser bem aceite pelas crianças pois é
realizado com agrado o que facilita a relação com o técnico. Também permitir que o
psicólogo percecione quais são os conflitos e desejos inconscientes da criança assim como o
(Corman, 1982).
Aperceção Temática (TAT) de Henry Murray com a substituição das figuras humanas por
animais, para facilitar a sua adesão por parte das crianças. É um teste projetivo e percetivo e é
considerado como um dos mais importantes aplicados a crianças dos 3 aos 10 anos. Permite
aceder às dinâmicas das relações interpessoais, ao conjunto dos impulsos e à natureza das
além de consequências traumáticas que surgem após abusos, abandono, maus tratos, perdas e
estão relacionados com as reações das crianças quando em grupo, na escola ou em ambiente
O CAT-A é constituído por 10 cartões com o formato de 26cm por 26cm, nos quais
estão desenhadas figuras, a preto e branco mais ou menos esbatidas, representando animais
familiares e selvagens, alterando a espécie de cartão para cartão. A sua aplicação, começa
com uma instrução, vamos contar uma história sobre estas imagens, e deves dizer o que vai
acontecendo, o que os animais estão a fazer. A partir das respetivas respostas, identifica-se e
analisa-se o modo como a criança acedeu ao conteúdo manifesto de cada cartão, ou seja como
imagina e descreve o que vê na figura, e ao conteúdo latente expresso pelos conflitos relativos
A partir da verbalização dos conteúdos das figuras dos cartões do CAT-A, é possível
do mundo, naturezas das ansiedades principais defesas, como são vistas as figuras, severidade
que está a observar. Inicialmente era composto por 31 imagens que representavam
personagens de idade e sexo diferentes, bem como paisagens pouco estruturadas que
Ego e das suas funções, resistências e defesas. Posteriormente, em 1958, Scafer acentua as
modalidades do discurso permitindo assim o estudo das narrativas dadas, quer na forma quer
permitiu recolocar o TAT entre as provas projetivas mais importantes, e com base na
quantidade de cartões, que passam apenas a serem aplicados numa só vez, ao mesmo tempo
que elabora uma grelha de decomposição que permite efetuar a cotação das respostas às
O TAT pode ser utilizado em qualquer situação que seja necessário efetuar um exame
Atualmente são utilizados 18 cartões, com alguns a serem apresentados apenas a indivíduos
do sexo masculino e outros apenas ao sexo feminino. De todos, apenas um deles não é
apresentado a crianças. A ordem de apresentação dos cartões deve ser respeitada, na medida
em os cartões representam imagens que vão do mais para o menos estruturado. Na sua
aplicação é dada a instrução de imagine uma história a partir desta imagem, conduzindo o
indivíduo a construir a sua narrativa face aos elementos manifestos e latentes dos cartões,
Como teste projetivo, o TAT permite detetar o conteúdo e a dinâmica das relações do
contada em cada cartão, é possível efetuar a sua interpretação com base em categorias de
classificação como: o tema principal, nível descritivo, nível diagnóstico, nível simbólico,
herói principal da história, conceção do meio, atitudes face às figuras de autoridade e conflito
significativo. Na análise efetuada às respostas dadas, é possível aceder aos diversos registos
de funcionamento emocional, que pode ser aplicado e interpretado de diversos modos. A sua
na perceção. O contacto com Bleuer, Jung e com a psicanálise foram fatores determinantes
alguns cartões com manchas simétricas a doentes e colegas, o que permitiu a partir das
respostas dadas, efetuar estudos empíricos e escolher as figuras que atualmente compõem este
Mais tarde na década de 1940, vários autores preocupados com o caráter subjetivo e
uma base teórica e científica que conduzisse a uma maior objetividade (Pires, 1986).
por Rorschach Workshops, e iniciou uma série de pesquisas entre os clínicos e investigadores.
Concluíu que existiam diversos sistemas desenvolvidos a partir da ideia original de Rorschach
consoante a formação teórica dos seus autores, e onde cada um utilizava procedimentos de
aplicação e codificação do teste de acordo com a sua experiência pessoal e sem se pautarem
de organização torna-se mais sensível e profunda quando os sujeitos são confrontados com
estímulos ambíguos, tais como as manchas de tinta. Assim, eles devem recorrer às suas
imagens internas, ideias e relacionamentos para criar uma resposta. (Groth-Marnat, 2003).
Este processo exige que as pessoas organizem as suas perceções através da associação
mesmo tempo representativa pelo modo de como elas reagem quando confrontadas com
são pontuados de acordo com três categorias gerais como a localização ou área da mancha de
tinta no qual se concentraram, os determinantes utilizados nas respostas com a cor e a forma e
por fim conteúdo, ou classe geral de objetos à qual a resposta pertence como os humanos,
número relativo de respostas que cada uma daquelas categorias contempla (Exner, 2003).
PDM
considera a pessoa como um todo nos vários estágios de desenvolvimento. A sua abordagem
envolvem diversas áreas que se articulam no seu conjunto. Apesar de se basear na teoria
psicodinâmica e apoiar a investigação, o PDM Task Force, 2006 tem a flexibilidade suficiente
para ser utilizado em conjunto com o CID-10 ou DSM-IV TR devido à sua linguagem
psicodinâmica.
posicionamento da pessoa numa linha entre o saudável até ao funcionamento de modo mais
determinados sintomas ou problemas que necessitam de serem tratados (PDM Task Force,
2006).
capacidade contribui para a saúde mental ou patologia. A vida mental é analisada de forma
expressa os diferentes níveis afetivos e emocionais, como utiliza as suas defesas e o modo de
clinicamente estão associados a cada indivíduo. Deste modo, apresenta padrões de sintomas
um guia para tipos específicos de observação e avaliação (PDM Task Force, 2006).
Estudo de casos
adulto. Na aplicação das provas, foram utilizadas provas cognitivas e projetivas. No primeiro
Wechsler para Crianças III – Aferição Portuguesa), Teste semiprojectivo- Bar-Ilan (Itzkowotz
& Strauss), O Desenho da Família Imaginária e Real (Corman, 1979), CAT – A - Teste de
Apercepção para Crianças (Monika Boekholt, 2000).. No segundo estudo de caso, foram
Compreensivo de EXNER.
Em ambos os casos, foi informado previamente que seriam atendidos por psicólogos
Apresentação do caso
O Gustavo tem 8 anos, vive com os pais e tem um irmão mais velho. Veio à consulta
do ensino básico e vem referenciado por uma das coordenadoras que o caracteriza como
inteligente e sem dificuldades de aprendizagem mas que “distrai-se com tudo e no caderno
apaga cinquenta vezes e fica igual (…) tanto faz como fez”.
O Gustavo durante a aplicação das provas psicológicas foi cooperante, apesar de não
Wechsler para Crianças III – Aferição Portuguesa), Teste semiprojectivo- Bar-Ilan (Itzkowotz
& Strauss), O Desenho da Família Imaginária e Real (Corman, 1979), CAT – A - Teste de
Apercepção para Crianças (Monika Boekholt, 2000). A escolha destas provas prende-se com
WISC III (anexo F), o Gustavo apresenta o Q.I. Verbal situado na banda Superior, acima do
esperado para a idade em que se encontra. O Q.I. de Realização, encontra-se na banda Média.
pontuação obtida nas provas correspondentes aos sub-testes de realização, o que sugere
Nos índices fatoriais, verifica-se que estão consentâneos com os Q.I.’s, com excepção
latente.
No Bar-Ilan (Itzkowotz & Strauss), após a análise figura a figura (anexo F) e tendo em
conta as áreas a avaliar, regista-se que ao nível emocional o Gustavo apresenta humor triste e
Ao nível interpessoal com os pares e com a figura fraterna parece ser capaz de
iniciativa e integração.
de estimulação extrínseca no que respeita à realização das tarefas escolares, pelo que não
parece investir nas expetativas dos pais e da professora em relação à sua aprendizagem e ao
seu comportamento. Os reforços parentais parecem ser do tipo punitivo, através do castigo, o
que parece refletir por um lado o conforto da fuga e evitamento à frustração, como por outro
gráfico, o Gustavo desenha figuras de pequena amplitude, reveladoras de uma expansão vital
O traço é forte, sem no entanto deixar marcas no papel, o que poderá indiciar alguma
As figuras só são diferenciadas pela cor, o que poderá indicar perda de espontaneidade
instintos primordiais de conservação da vida, sendo esta a principal localização dos sujeitos
Ao nível das estruturas formais, parece encontrar-se num tipo de estrutura intermédia
uma vez que, apesar de uma certa falta de espontaneidade existe alguma sensibilidade quanto
No desenho da família real (ver anexo F) regista-se: ao nível gráfico, figuras bem
O traçado é forte sem contudo deixar marcas no papel e as figuras têm contornos
arredondados, o que parece indicar alguma contenção pulsional. Não existe preocupação com
As figuras são pequenas, o que parece indiciar dificuldades de afirmação, sendo todas
de cores diferentes.
certo isolamento das figuras à rigidez, com predominância de linhas redondas e cores
diferentes.
O facto de desenhar-se a si próprio sem mãos, pode indiciar dificuldade ou recusa face
De acordo com a análise cartão a cartão do CAT-A (anexo F), o Gustavo apresenta
uma excessiva contenção libidinal e emocional. Utiliza como principais defesas emocionais
Psicodiagnóstico
tempos precoces, tornando-se muito sensíveis e tímidas. Na maior parte dos casos, os pais
fóbicos «estes são três carros da polícia e este é um táxi (…) arrancaram e xiiiii… pum!
(os carros chocaram) não quero brincar mais com os carros (…) não quero brincar mais
tranquila do Gustavo na primeira vez sozinho com o clínico «então vou fazer, hummm, eu
sei fazer um jogo que se chama quero/quero. Queres ver?». Na adolescência, podem ser
muito tímidas evitando os seus pares, especialmente em relação a pares sexuais por quem
como é exemplo em sessões posteriores «vamos conversar sobre o que gosto de fazer.
Gosto de brincar com carros e também gosto de brincar com os meus amigos à
Segundo Freud, está na fase anal, na entrada na fase edipiana, ou seja, não
consegue avançar para o fluir da líbido do édipo, por isso evita os contactos de cariz
sedutor, e talvez por isso esta brincadeira represente controlo e defesas obsessivas, no
sentido de fazer tudo certinho, a receita sempre da mesma maneira “agora quero ir
para casa comer” … Está difícil cortar a plasticina pois está dura. Vou cortá-la com a
faca. E isto é arroz, vou misturar tudo e por ao lume”… “agora vou fazer
depois vamos transformar tudo numa mini pizza e por ao lume”… “sim, mas parece
versus o receio de punição pela fantasia de agredir esse mesmo objeto «terapeuta:
podemos fazer tudo o que o Gustavo quiser; Gustavo: então não sei o que vou fazer»
(Malpique, 2010).
De acordo com Winnicott, se a mãe não oferecer holding suficiente e não permitir
manter a ilusão no tempo suficiente para que a criança seja ela própria a encontrar e a
criar o objeto, então forma-se um falso-self traduzido numa estrutura defensiva que
casa quase nunca brinco e só nas férias e fins de semana é que posso e quando é dia de
ao nível da vinculação, o Gustavo não obteve a proximidade mãe-bebé positiva, pelo que
quando a mãe sai da sala, é independente e não reage quando os pais regressam e não
utiliza o pai como base segura «estou pai, sim, a que horas? Está bem, mas não posso
estar aí ao meio-dia (…) hoje quero brincar às escondidas. Conta até 20 e eu vou
esconder-me e o depois vai encontrar-me (…) estava a dizer tudo errado para o pai não
me encontrar, mas já estava a ficar cansado e disse onde estava» (Bénony, 2002).
sugerem-se:
defesas fóbicas;
sujeita à crítica.
papel expectante, com pouco à vontade num ambiente que não lhe era familiar e no qual
preferiu uma actividade estruturada. As suas atitudes pareciam reflectir mecanismos do foro
de iniciativa. Partilhou brincadeiras «agora é o Luís a ver se consegue acertar (…) não
parece fácil» e fez apelo à representação da figura paterna ou de autoridade «estes são três
agressividade e uma aparente regressão, apesar de num tema primário e precoce a acção de
cortar simbolizar igualmente agressividade contida «são bocadinhos de carne (…) como não
há faca, corto com a tesoura, e quero fazer uma pizza (…) agora quero cortar». A utilização
reparação do material e como processo criativo que possibilita e facilita a descarga da pulsão
agressiva.
sessões «primeiro eu queria sair logo e depois comecei a gostar e queria ficar mais». A
evitante inicialmente observada «agora vou comer a sopa e este é para ti».
Na sessão seguinte, o Gustavo parece entrar em contacto com o seu mundo interno e
com o seu self verdadeiro, assumindo que não se envolve e não intervém, mesmo que goste ou
deseje «eu gosto de ver tudo arrumado, mas não gosto de arrumar as minhas coisas nem as
dos outros». A relação com a figura materna parece ser apresentada como distante e
inacessível, portanto difícil de encontrar «agora vou ligar à minha mãe para saber onde ela
mora. Estou, mãe, onde é que tu vives? Está bem já vou lá ter, adeus». Ao invés da posição
evitante do conflito, o Gustavo parece denotar o recurso ao acting out, quando de seguida
expressa raiva face à figura materna, como reclamação do vínculo. A procura de contacto
brincadeira muito gira. Ao princípio gostei, depois queria que acabasse rápido, mas agora
manifestava grande satisfação e alegria quando era encontrado pelo clínico, como se
na sua individualidade.
O Gustavo estava a ter progressos positivos face aos objectivos propostos. Assistia-se
a um incremento de uma relação interpessoal mais aberta e desinibida e com uma maior
capacidade de decisão, introduzindo novas iniciativas lúdicas que visivelmente lhe traziam
interrompida por iniciativa da figura materna, com natural prejuízo para o seu crescimento e
amadurecimento psico-emocional.
Apresentação do caso
O Tiago tem 31 anos. É o segundo filho de três irmãos. Sempre viveu com os pais e
até iniciar os estudos universitários. Descreve a relação com a figura paterna como distante e
com a figura materna de amor-ódio. Houveram decisões de vida em que sentiu a pressão de
universitário na área agrária e o seu posterior abandono pela discordância da mãe, seguido do
ingresso no curso por esta aprovado e nova desistência pela falta de identificação pessoal com
agrónoma.
Desde a adolescência que mantém o interesse pela música, tocando numa banda,
embora actualmente mais desmotivado. Este, no entanto, é o interesse que parece prolongar-se
mais temporalmente, visto referir abandonar frequentemente a actividade pouco tempo após o
seu início.
da presença de ansiedade. Explica: “tenho uma obsessão sexual muito grande e um vício nas
drogas leves, mas neste momento considero que está controlado (…) a minha maneira de ser
é de uma instabilidade emocional (…) quero resolver a minha relação amorosa e tudo isso
está um pouco condicionado, se vai ou não haver casamento porque as coisas não estão
bem… e depois está tudo pago e estar-me a casar e depois chegar daqui uns meses e estar
Foram escolhidas as seguintes provas: TAT - Teste de Aperceção para Adultos e Teste
Compreensivo de Exner.
defensivo do Tiago.
ambos as provas aderiu facilmente e não mostrou relutância em responder quando os cartões
foram apresentados.
No TAT - Teste de Aperceção para Adultos (Boekholt, 2000) (anexo H), a análise dos
este pautado pela sexualização, bem como tentativa de controlo intrapessoal. Assiste-se
Abordagem
Procedimentos Designação Quantificação
Quantitativa
Justificação interpretações através de
A2.2 1 Presente
pormenores
A2.3 Precauções verbais 2 Presente
válido.
perceções e tenta evitar o processamento das emoções e dos afetos. Esta atitude não permite
condiciona a elaboração e a riqueza das suas respostas (L=1.07). Revela energia mental para o
deficit intelectual ou, mais frequentemente, a bloqueio emocional (PSV=6). Tem pouca
Na mediação cognitiva demonstra ser pouco convencional nas suas perceções, ou seja,
não percebe as coisas como a maioria dos indivíduos (X+%=34%). Utiliza ineficazmente os
(Xu% = 34%).
(MOR=3). O estilo vivencial é extratensivo, pelo que prefere recorrer aos aspectos afetivos na
tensão interna (ansiedade, entre outras sensações) (eb=4:6). Os recursos disponíveis são
Nos aspetos afetivos, apresenta-se preocupado com a manutenção do seu espaço vital
e não sente o contacto com os outros como algo de positivo, mas antes invasivo (T=0).
Mostrou tendência para a impulsividade ao não controlar as descargas afectivas, por vezes
(DEPI=4).
tende a centrar-se em si mesmo mais do que seria esperado, demonstrando uma preocupação
com o self, conjugada com uma despreocupação com o mundo exterior (3r+(2)/R=0.34).
Registou-se uma excessiva preocupação com o seu corpo, pelo que poderão ocorrer
das sua condutas, o que reflete normalmente o modo como se vê a si mesmo e os outros
(MOR=3).
nas inter-relações, sendo usualmente distante e desligado, bem como não apresenta a
(COP=0 e AG=0). Tem dos outros uma perceção fantasiada, o que favorece sentimentos de
desilusão/revolta (H:(H)+Hd+(Hd)=3:4).
Psicodiagnóstico
psicológica, assim como o desenrolar das sessões, o Tiago parece enquadrar-se no tipo de
nível neurótico, os indivíduos dependentes podem procurar tratamento na fase adulta depois
quando entregues a si próprios, pelo que dependem do reforço dos que os rodeiam «Sempre
precisei que as pessoas me elogiassem para me puxarem pela auto-confiança para cima». As
sobrevalorização da mulher com quem tem casamento marcado «pois é uma pessoa que tenho
grande empatia e que vejo como mãe dos meus filhos e a fazer família comigo». No entanto, à
sentimentos de desilusão «as conversas dela andam sempre à volta do que fez no dia a dia e
isso não me interessa (…) ou fala dos miúdos ou dos hobbys dela, que são os cavalos, que eu
detesto… descreve todos os pormenores e eu não sou descritivo … Sou capaz de estar 3 horas
a falar de um tema que gosto, mas do dia a dia não gosto mesmo nada e não faz parte da
minha maneira de ser (…) eu interesso-me muito pelas áreas das ciências e ela, não digo que
é limitada, mas não se esforça por aprofundar mais o que se passa à volta dela».
problemas de auto-estima devido à relação amor-ódio com a minha mãe e sempre precisei
que as pessoas me elogiassem para puxarem-me para a auto-confiança para cima» o que
muita dificuldade em fazer amigos. Não tenho muitos, mas tenho bons amigos. Tenho
dificuldade por exemplo quando estou com pessoas novas, tenho dificuldade em abrir-me e
depois ficam com uma imagem diferente do que eu sou» e, consequentemente, a sentimentos
de carência afetiva «eu até tenho pensado muito e gostava de conhecer pessoas novas, e
indivíduo toma consciência de que o objeto é, ao mesmo tempo, bom e mau e isso conduz à
criança ao crer ter danificado e destruído o objeto total. A primeira manifestação do superego
Em Winnicott, é importante que exista uma mãe suficientemente boa que assegure que
competente e internalizados por parte do bebé de modo consistente. O bebé vai gradualmente
aumentando o seu sentimento de ser real e de ter uma identidade, com o ego a tornar-se uma
maturo e a criança vai tendo resistências para resistir a roturas derivadas do ambiente a que
está exposta. Caso a criança não disponha dos recursos necessários para enfrentar as
(Mcwilliams, 2005)
quando acontece a separação. Muitas vezes procura o contacto, do mesmo modo que tenta
2002).
seguintes metas:
Na entrevista inicial, o Tiago admitiu ser-lhe difícil a gestão da realidade, pelo que
relatou formas de refúgio na fantasia e no prazer “tenho uma obsessão sexual muito grande e
um vício nas drogas leves, mas neste momento considero que está controlado (…) resolver a
minha relação amorosa e tudo isso está um pouco condicionado, se vai ou não haver
casamento, e se as coisas não estão bem, está tudo pago… e estar-me a casar e depois chegar
conjugal, e o aparente medo da transição de uma dependência actual mais satisfatória do que a
nova a que se propunha «É por isso que também estou aqui, pois são dez anos de relação que
também não quero deitar fora, pois é uma pessoa que tenho grande empatia e que vejo como
mãe dos meus filhos e a fazer família comigo (…) parece que somos dois amigos que vivem
numa casa e assim eu comecei a desligar um bocado e sinto que chegou a um ponto de falta
de comunicação e não me importo se ela vai lá ficar a casa ou não. E sinto que a parte que
me está afetar mais é a parte sexual». Apesar do desânimo, o Tiago não apresenta capacidade
de autonomia nas suas decisões, caraterística de uma personalidade dependente, pelo que não
se permite impor a sua vontade «ela já anda com a minha mãe a ver tudo e a minha própria
mãe quer um casamento grande… eu acho que, por um dia, não é necessário gastar um
balúrdio e as duas acham que tem de ser uma coisa em grande». Esta ambivalência
observada parece ter surgido unicamente no decorrer da imposição do casamento, que parecia
representar para o Tiago uma entrada na vida adulta, e que poderia contrariar a posição
dependente até então assumida. A sua namorada parece, porém, substituir a sua mãe na
liderança da relação.
Na primeira sessão, o Tiago surpreende com a tomada de decisão «No domingo fui
jantar com os meus supostos padrinhos para lhes informar que o casamento foi adiado»,
como se parecesse ter sido o psicólogo um elemento aliado ao reforço da segurança pessoa,
que permitiu a sua afirmação. Esta aconteceu igualmente perante as figuras parentais
«Primeiro falei com o meu pai (…) depois falei com a minha mãe e ao princípio foi um
bocado de choque, pois ela estava mais motivada com o casamento e a sua organização, mas
agora tem dado todo o apoio e afinal ela quer o melhor para mim e diz que tomámos a
melhor decisão e que devemos pensar melhor». De realçar a significativa alteração do estado
princípio do prazer «agora parece que estou um pouco mais aliviado e sem aquele peso nos
ombros (…) levei a bateria eletrónica para a quinta e há cerca de duas semanas tenho tocado
um pouco. Ao nível mental faz-me muito bem (…) estou a pensar em juntar-me a alguns
amigos ou conhecer alguém na zona, e era uma forma de fazer alguma ligação com o
pessoal».
de conhecer alguém daquela zona, e até já pensei por exemplo no voluntariado… assim até
podia ser mais fácil para mim, pois ali não conheço ninguém».
Conclusões
O período de estágio foi importante para permitir a aplicação na prática clinica, dos
conhecimentos teóricos adquiridos nos anos antecedentes. O estágio, realizado sob orientação
acompanhamento psicológico.
opinião, foi necessário recorrer a alguma pesquisa teórica para a sua concretização.
disponibilizados pela clínica. Estes serviços, estão disponíveis na sede ou nos colégios e
Para além dos objetivos iniciais, um outro foi determinado á posteriori através da
casos, as metas terapêuticas propostas para os respectivos casos , não foram atingidas na sua
totalidade.
uma relação interpessoal mais aberta e desinibida. Igualmente se verificou uma maior
capacidade de decisão através da introdução de novas iniciativas lúdicas que lhe davam
natural satisfação. O facto da psicoterapia de apoio ter sido interrompida por iniciativa
amadurecimento psico-emocional.
No caso do Tiago, constatou-se que a sua vinda à psicoterapia tinha como objetivo
psicológico, foi possível ao Tiago ultrapassar o bloqueio emocional que lhe estava a gerar
psicoterapia de apoio de modo a que seja possível refletir sobre os aspectos dependentes da
paciente, para que lhe fossem disponibilizados os serviços de uma psicóloga, em detrimento
de um psicólogo do género masculino. Por fim, saliente-se que este estágio foi realizado em
horário pós-laboral, o que se traduziu num esforço adicional, após a actividade profissional
diária.
experiência prática fosse uma realidade, considerada de vital importância para a prática
clínica futura.
Reflexão final
existe uma enorme diferença entre o que se adquire a nível académico e o modo como temos
angustiantes, pois é nesse momento que sentimos o que nós representamos para o outro, que
procura em nós a solução dos seus problemas psicológicos, e que se apresenta numa situação
iniciais da prática clínica são marcantes e dificilmente serão esquecidos. Sentimos, e tomamos
consciência nesse momento, das nossas próprias limitações e do caminho que teremos ainda
de formações e workshops, permitiu colmatar muitas das debilidades que sentia em termos de
reconfortante, na medida em que se pode efetuar um balanço muito positivo entre o momento
inicial e o final do estágio. É então, que percebemos o quanto é útil a prática clínica, para se
conseguir aos poucos, com muito trabalho interior, desenvolver uma capacidade de perceber e
clínico da clínica. Uma ressalva especial para a Dra. Paula Barbosa, com a sua incansável
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ANEXOS
Anexos
Compreensivo de Exner”
ANEXO A
Caraterização da população alvo e problemáticas frequentes
ANEXO B
Objetivos e horas de estágio
ANEXO C
Formações e workshops
ANEXO D
Modelo cálculo de agrupamentos e constelações Rorschach – Sistema Compreensivo de Exner
ANEXO E
Tabela médias valores – adolescente 14 anos- Rorschach – Sistema Compreensivo de Exner
ANEXO F
Resultados da avaliação psicológica do caso Gustavo
ANEXO G
Análise das sessões do Caso Gustavo
ANEXO H
Resultados da avaliação psicológica do Caso Tiago
ANEXO I
Análise das sessões do caso Tiago
ANEXO J
Artigo de opinião “ Mais vale prevenir”
Anexo L
Poster apresentado no congresso