História de Santa Cruz Do Sul PDF
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História de Santa Cruz Do Sul PDF
Olhos no futuro
Senhores Vereadores,
Comunidade Santa-Cruzense:
Estamos reunidos nesta casa legislativa por dois motivos de grande importância ao
Município. O principal deles é o encaminhamento deste relatório quadrimestral aos estimados
vereadores para apreciação dos mesmos e, por conseguinte, de toda a população santa-
cruzense. Este documento demonstra o nosso compromisso com a comunidade e a
transparência que buscamos a cada dia nas nossas ações. Através desta análise, é possível
verificar onde podemos melhorar, mas também revelar bons resultados, fixando em cima disso,
a base de todo o nosso futuro.
O segundo motivo é mostrar através da nossa história os rumos tomados e nos espelhar nas
vitórias obtidas pelos nossos antepassados. Certamente eles, como nós, sofreram com as pedras
no caminho. Mas temos certeza, que pelos frutos que hoje colhemos, eles conseguiram superar
estes percalços e se posicionaram positivamente na busca de soluções perante a crise. E nesta
situação que atualmente estamos vivenciando, há dois caminhos a qual podemos seguir: ou nos
conformamos, esperamos os fatos acontecerem sem a nossa intervenção e assistimos de
camarote as derrotas e as perdas da nossa cidade, ou então colocando-nos na posição de
enfrentar e encarar a crise de frente, assim como fizeram os nossos antepassados. Os resultados
desse documento vão lhes surpreender, tanto pelo levantamento histórico quanto pelos desafios
que temos pela frente.
Como já ocorreu em diversas outras oportunidades, Santa Cruz do Sul está mais uma vez
diante de um momento importante de sua história. Acabamos de sair da grande luta da
Convenção-Quadro, em que valeu a pena o exercício da mobilização que se fez, a união que se
conseguiu em torno de nossa grande causa, nosso fator maior de sobrevivência. E a essa luta
devemos e muito ao nosso grande líder da Afubra, Hainsi Gralow, que nos deixou a poucos
meses. Certamente seu trabalho e seu empenho serão sempre lembrados e seguidos por todos
que ao longo desses anos aprenderam a admirá-lo e a respeitá-lo.
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Além disso, nossas indústrias tiveram grandes problemas com a retenção do ICMS pelo
Governo do Estado, por falta das compensações da chamada Lei Kandir, concebida para
reparar as isenções nas exportações, impostas pela União. Precisamos conviver com a idéia de
que o setor fumageiro está fadado a ser hostilizado cada vez mais pelos movimentos mundiais
que, a pretexto de defender a saúde, criaram corpo e se solidificam a cada ano que passa.
Temos que compreender as realidades que nos cercam. Superar dificuldades faz parte dos
desafios humanos. Sem isso, não será possível chegar a lugar nenhum. Nossa reserva de energia
e capacidade é bem maior do que imaginamos. Por isso, queremos ir além das possibilidades.
Nós temos e vamos cumprir o dever de cidadão e de representantes de nossa Santa Cruz do
Sul.
Para isso, estamos conquistando estruturas cada vez mais amplas e sólidas para nos
tornarmos receptores de atividades e investimentos. Somos rota estratégica do Mercosul e do
porto de Rio Grande, através da RST-471, cuja conclusão é imperiosa. Temos potencial para
nos transformar num dos três principais eixos econômicos do Estado, ao lado da Capital e da
Região Serrana. E temos em andamento alguns grandes projetos de modernização das
estruturas municipais.
Potencialmente, gozamos de uma situação tão favorável que ela já se reflete em destaque
nacional. Somos o segundo maior exportador do Estado e acabamos de ganhar o troféu de
município mais dinâmico do Rio Grande do Sul, o de maior crescimento e melhores
indicadores para atrair novos empreendimentos. Temos altos investimentos sociais, refletindo
em índices como o da mortalidade infantil, que teve uma das maiores quedas. Movimentamos
muito dinheiro, aumentamos o produto interno bruto (PIB), criamos muitas empresas e a nossa
frota automotiva aumenta aceleradamente. Já temos sinais evidentes de recuperação de uma
situação preocupante, e estamos felizes porque isto acontece na nossa administração. Mas
precisamos repartir os méritos com todos os gestores públicos e privados, do passado e do
presente, sem dormir sobre louros, porque um grande município nunca será uma obra acabada.
O que somos hoje, só o somos porque alguém construiu antes de nós. Cabe agora, fazermos a
nossa parte na história. O tempo não pára. É como o vôo de uma aeronave: se parar, ela cai.
Para decidir sobre o futuro e continuar andando, é preciso unir as forças, entender-nos
sobre os objetivos e acertar o rumo sobre o caminho que queremos seguir. A resposta a este
desafio é responsabilidade de todos na comunidade, não apenas do grupo que está
transitoriamente no poder. É preciso acalmar ânimos, colocar todas as idéias – e até as
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divergências – sobre a mesma balança, no meio de uma mesa, em torno da qual estejamos todos
sentados para discutir, debater com sinceridade, assinalar alternativas, escolher o melhor
caminho, pavimentá-lo adequadamente e segui-lo com firmeza e determinação.
É assim que, como prefeito, nós nos colocamos diante da comunidade e de seus legítimos
representantes, sem preconceito e sem qualquer solução pronta, para ouvir a tudo e a todos.
Algumas boas idéias já estão postas, e queremos que mais segmentos da comunidade participem
dessa busca. Foi nesse sentido, também, que encomendamos à nossa Assessoria de
Comunicação, e neste momento agradeço especialmente ao Guido Ernani Kuhn, pelo
aprofundamento e empenho, à Silvana Daniela Sehnem pela dedicação e presteza e à Luciane
Marisa Lüdke pelo auxílio na realização dessa obra. A partir do trabalho dessas três mãos, entre
outras, nasceu uma profunda radiografia histórica, cultural, social e econômica de Santa Cruz do
Sul, onde foram garimpados os seus passos desde o começo, relacionando os méritos e as obras
de todas as gerações que aqui se sucederam para construir tudo o que hoje temos. Foram
levantadas as memórias mais remotas e esquecidas da Colônia e do Município de Santa Cruz, os
longos caminhos percorridos, os ciclos de desenvolvimento, os avanços mais importantes, as
estatísticas mais significativas, a estrutura e os equipamentos públicos de que hoje dispomos, ou
que ainda nos faltam para cumprir a complexa tarefa de prover as necessidades de uma
população cujas demandas são cada vez maiores.
Foi bom redescobrir primeiro como e onde a história aconteceu, o que foi feito e o que
deixou de ser feito, e principalmente o que é melhor que se faça daqui para frente. Enquanto
vinham crescendo os problemas sociais, a situação econômica atravessava ciclos, com altos e
baixos. No passado, os tempos eram diferentes e nossa economia mais diversificada. Ao longo
das últimas décadas, a cadeia do fumo se constituiu e se solidificou, de forma tão organizada e
eficiente que a agricultura e toda a economia foram-se concentrando sobre este ítem, de
comprovada produtividade e lucratividade, com o conseqüente abandono gradual de outras
atividades.
Nessa volta ao passado, descobrimos como o nosso desenvolvimento passou por vários
ciclos, cuja lógica procuramos entender e interpretar. Por exemplo, o fato de que a nossa
economia passou por dois importantes saltos tecnológicos, que definiram os nossos rumos. O
primeiro, a partir de 1917, quando o fumo de galpão foi substituído pelo de estufa, junto com o
surgimento de uma estrutura industrial efetiva, que nos deu diversas fábricas de cigarros nas
décadas subseqüentes. O segundo salto foi o surgimento da soja, nos anos 50, e o conseqüente
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municipalista que se espalhou pelo Estado e pelo País, ainda sem ter alcançado os frutos
esperados, mas erguendo sua voz e já conseguindo ser ouvida.
Muito mais do que uma ilha, devemos formar um arquipélago e nos integrar ao grande
continente brasileiro, construindo uma federação mais justa e igualitária, sem nos esquecer
jamais que a população vive nos municípios, e é nas prefeituras que o cidadão procura soluções
para as suas dificuldades. As ações não poderão mais continuar vindo impostas de cima, como
remédio comum a todos os brasileiros. Cada região tem suas peculiaridades, e cabe a nós,
dentro da nossa geografia, encontrar os próprios caminhos, que devem ir muito além dos
programas federais comuns a todas as regiões. Não podemos mais aceitar passivamente as
crises como irreversíveis e fatais. O que precisamos é aceitar o desafio de enfrentá-las,
combatendo principalmente o seu grande poder de destruição sobre os ânimos e as esperanças.
SUMÁRIO
I – HISTÓRIA
1. Os imigrantes
navio, a única alternativa era renunciar à própria pátria, onde não havia mesmo muita esperança,
e adotar a plena cidadania brasileira.
Sem esmorecer, eles enfrentaram as adversidades, construíram seus ranchos, desbravaram
matas e faxinais, sobreviveram e prosperaram. Com o tempo, suas povoações se transformaram
em vilas e cidades, as picadas em estradas, as artes de ofícios em indústrias de porte, os
armazéns em empórios comerciais. Sem dominar a língua do País, os colonos educaram seus
filhos com limitação de escolaridade, mas com robustez de valores éticos e morais. Assim,
apoiados no tripé inquebrantável de fé-educação-trabalho, muitos deles, pelas gerações afora,
galgaram posições de liderança, especialmente no mundo do trabalho, mas também nas
profissões liberais, no magistério, no clero, no esporte, em carreiras técnicas, militares e tantas
outras pelo Estado e pelo País.
Segundo o professor francês Jean Roche – que durante oito anos, na década de 1950, viveu
em Porto Alegre e pesquisou profundamente a imigração alemã no Estado – não mais que a
metade dos imigrantes eram realmente agricultores. Entre os demais, houve um grande
contingente de artesãos de ofícios, muitos colocando suas aptidões a serviço do
desenvolvimento industrial do Estado, e outros tantos, sem as mesmas oportunidades, indo
para as colônias, seja para engrossar o contingente dos agricultores, seja para oferecer-lhes o
serviço da profissão artesanal, tão útil e até necessária para aquela gente sem acesso ao
progresso das cidades. Havia entre eles ferreiros, serralheiros, fundidores, curtidores de couro,
mecânicos, sapateiros, alfaiates, seleiros, marceneiros, moleiros e tantos outros.
Nos primeiros seis anos de imigração (1824-1830), mais de cinco mil alemães chegaram ao
Rio Grande do Sul, para ocupar principalmente terras devolutas, nelas fixando suas pequenas
propriedades, sob as condições impostas pelo Império. Reconhecendo sua eficiência e seu
grande devotamento ao trabalho, e temendo a concorrência, quiseram os estancieiros que esses
imigrantes fossem peões em suas fazendas, carentes de mão-de-obra. Por causa dessa pressão,
de grande força política, o fluxo imigratório foi suspenso em 1830, e assim permaneceu até o
final da Revolução Farroupilha, que começou cinco anos depois e se estendeu por mais uma
década. Somente em 1847 é que voltaram à pauta as imigrações, agora transferidas para a
responsabilidade da Província. O governo provincial criou, então, a Colônia de Santa Cruz, no
município de Rio Pardo, para onde passaram a ser encaminhados todos os alemães imigrados
durante um certo período.
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O tempo se encarregou de mostrar que o temor dos pecuaristas em relação aos imigrantes
não tinha fundamento, porque as atividades das estâncias e das colônias eram distintas entre si,
as primeiras se dedicando mais à pecuária e seus derivados, e nas outras predominando as
lavouras, com criações domésticas de pequenos animais, que os fazendeiros não tinham. E aí
não apenas começaria o processo de integração, como ainda se abririam interessantes relações
comerciais de complementação recíproca entre as duas culturas, estruturalmente diferentes
entre si: a da grande propriedade, rigidamente hierarquizada, com fazendeiros, peões e escravos;
e a do minifúndio, mais igualitário e de concepção familiar.
Com o passar do tempo, o modelo trazido pelos imigrantes alemães – mais tarde também
seguido pelos demais grupos étnicos europeus – mostrou-se nitidamente mais eficiente do
ponto de vista social e econômico. Resultou num desenvolvimento mais harmonioso das
regiões de colonização européia, hoje situadas predominantemente na metade norte do Estado.
O modelo hierarquizado e escravocrata, aqui vigente desde antes das imigrações, era menos
eficiente por várias razões, e aí é preciso destacar que não se trata de uma mera distinção étnica.
Para os escravos, o trabalho simbolizava a prisão e o castigo. Os peões vendiam seu suor e, no
final do dia, o que tinham feito não mais lhes pertencia. Já os imigrantes europeus, movidos
pela esperança, embarcaram para o desconhecido sem muitas posses, mas donos do próprio
nariz. O trabalho era o grande símbolo da liberdade que buscavam (Arbeit macht frei – o trabalho
liberta), porque tudo o que produziriam seria deles e das suas famílias.
E os fatos o comprovaram. Em 1853, quatro anos após a chegada dos primeiros imigrantes
à colônia de Santa Cruz, o agente de colonização Pedro Kleudgen já o testemunhava: “O
colono é o seu próprio senhor e, por ser livre de tutela, aprende a se valorizar e a conhecer sua
força. Ele vive satisfeito com seu trabalho, porque tem sucesso e sabe que no futuro deixará
para os seus filhos uma bela e grande propriedade”.
E em 1868, o próprio presidente da Província, Francisco Inácio Marcondes Homem de
Melo, reconhecia na imigração um vantajoso contraponto para o regime escravocrata,
confessando-se “tomado de uma profunda admiração, ao contemplar os resultados do trabalho
livre. Há pouco tempo existia aqui apenas um vazio, povoado somente por animais. Hoje, este
chão se transformou e foi entregue para sempre ao homem civilizado, devido ao esforço de um
povo cheio de energia e religiosidade”.
Mas como esse colono terá encontrado tanta força, no meio de toda aquela adversidade?
Sentiu que sozinho não chegaria a lugar nenhum, por isso usou a fé cristã como combustível,
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unindo-se em comunidades para praticar sua religião e educar suas crianças. O governo
praticamente não alcançava o interior, por isso cada comunidade de fiéis tinha, além da igreja,
também a sua escolinha privada, sustentada no suor de cada um. Esta foi outra importante
contribuição dos imigrantes para a mudança do perfil humano e social do Rio Grande do Sul.
A vinda regular de alemães para o Estado se interrompeu em 1914, quando a Alemanha se
envolveu na Primeira Guerra, parecendo que os laços com a pátria-mãe se romperiam
definitivamente. Legiões de imigrantes germânicos tinham sido acolhidos aqui, trazendo
importante contribuição à força de trabalho e à construção do desenvolvimento agrícola e
industrial. E esta população se engrossou muito rapidamente por causa da tradição de famílias
numerosas. Jean Roche menciona que a taxa de natalidade, nas duas primeiras gerações de
imigrantes, se situava entre seis e 13 filhos por família.
O modelo da colonização européia sempre foi bem aceito, inclusive pelas autoridades, por
sua importante contribuição social e econômica. Júlio de Castilhos, no auge de seu poder quase
absoluto, em mensagem ao governo central, certa vez assim se referiu à imigração européia, que
estava em curso: “Importa desenvolver a imigração denominada espontânea, única a que sou
doutrinariamente adeso. O colono aqui se transforma logo em pequeno proprietário agrícola,
sente de imediato bem-estar em sua modesta propriedade, adquire condições de fixidez normal,
radica-se afetuosamente ao solo hospitaleiro, que lhe dá o pão para a família e a prosperidade
doméstica, e adapta-se facilmente aos nossos hábitos”.
A mesma boa-vontade a ditadura positivista da república não revelou quando se tratava da
participação política. Castilhos, líder maior dos estancieiros, se encarregou pessoalmente de
“enfrentar o perigo que advinha das pretensões políticas da gente colonial”, segundo o
sociólogo J. Fernando Carneiro. Mas a opressão já existia antes de sua posse como presidente
do Estado, em 1891. Um exemplo é o tratamento dado a Karl von Koseritz, influente ex-
inspetor geral das colônias alemãs, jornalista, escritor, advogado e deputado maragato por três
mandatos durante o Império. Nascido na Alemanha (1834) e naturalizado brasileiro, ele escrevia
em português e alemão com igual desenvoltura, sendo considerado o jornalista mais capaz do
primeiro século de germanidade no Estado e um dos nomes estrangeiros mais considerados no
País. Dele se dizia que não era um redator que usava a tesoura, mas a pena. Defensor da
integração plena entre todas as etnias, mas com a manutenção integral de cada uma, com sua
cultura e seus valores, Koseritz foi preso e trancafiado no presídio, em Porto Alegre, onde
morreu em 1890, em condições físicas e psicológicas deploráveis.
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O domínio dos republicanos estendeu-se até 1928, quando terminou a longa era Borges de
Medeiros. Nessa mesma década, desde a Semana da Arte Moderna de 1922, crescia no Brasil
um sentimento nacionalista, sobre o qual o novo presidente do Estado, Getúlio Vargas – que
em 1930 já ascenderia à presidência da república, através de um golpe militar – sedimentou a
base de seu projeto, que desembocou no Estado Novo (1937) e na opressão mais acentuada às
culturas européias (especialmente a alemã) durante a Segunda Guerra, com suas duradouras
conseqüências, muitas delas irreversíveis. As restrições, anteriormente limitadas à participação
política, ampliaram-se sobre a língua, a cultura e os costumes. Resultou disso que, até o presente
momento da história, nunca um representante da germanidade chegou ao cargo de Governador
do Estado, mesmo sendo os teuto-gaúchos o grupo étnico mais numeroso no Rio Grande do
Sul.
Apesar de todos os contratempos com autoridades do governo, a integração étnica e
cultural em nível de população foi admirável no Estado, mesmo com a quase intransponível
barreira da língua, no primeiro século. O governo não tinha escolas no interior. Por isso, os
colonos se organizavam por conta própria, e a escolarização se dava no idioma alemão. Houve,
mesmo assim, um grande esforço de integração com os brasileiros, e nessa interação cultural
aconteceram formidáveis evoluções no Estado.
Os alemães e seus descendentes mantiveram intactos os seus valores e a sua cultura, mas
adotaram plenamente o Brasil como sua nova pátria. O sentimento de brasilidade nas colônias
alemãs era pelo menos igual ao das demais comunidades, e isto se podia ver por ocasião das
grandes datas do País e da República, quando ruas e praças se engalanavam com as marchas e
comemorações. No auge das restrições à cultura germânica, ao encerrar-se a Segunda Guerra,
logo foi criado o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), a ele aderindo muitos
descendentes germânicos que já tinham o habitual convívio crioulo de usos e costumes. O
alemão e o gaúcho tinham absorvido inúmeros traços culturais um do outro, e a aproximação
ficou facilitada. Em Santa Cruz do Sul, a criação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas
(1956) se tornou possível pela liderança teuto-gaúcha do advogado Rolph Bartholomay.
2. A Colônia
A sede do município de Rio Pardo tinha sido elevada, em 1846, à condição de cidade, e a
Câmara local desejava estabelecer uma comunicação para os chamados “Campos de Cima da
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Serra”, na região da Soledade, então distrito de Cruz Alta, por meio de uma estrada ou picada,
para encurtar o caminho e atrair o comércio daquela região. Rio Pardo era um empório
comercial que atendia a uma vasta área da Província, compreendida entre o centro, a campanha,
o oeste e parte da serra a noroeste.
A abertura do caminho da Picada Santa Cruz, ou Picada Velha, mais tarde denominada
Linha Santa Cruz, foi contratada com Abel Corrêa da Câmara, o que deu origem à
denominação “Picada do Abel”, como o lugar também ficou conhecido. Mas ele terceirizou o
trabalho para José Rodrigues de Almeida. Depois, pela lei provincial nº 111, de 6 de dezembro
de 1847, o presidente da província, Manoel Antônio Galvão, outorgou a Delfino dos Santos
Moraes a tarefa de abrir a estrada entre os municípios da Cruz Alta e Rio Pardo, pelo preço de
45$800 (quarenta e cinco contos e oitocentos réis). Conta-se que a estrada a ser aberta não
deveria ter mais do que 18 léguas, mas de fato acabou em 22,5 léguas. Por isso, um encarregado
do trabalho mandou fincar os marcos em cada légua e um quarto, de modo que a contagem
final fechasse em 18 léguas. Outro fato curioso é que os exploradores que partiram para
abertura do caminho erraram a direção e, ao invés de alcançar o Rincão de Santo Antônio (atual
Barros Cassal), acabaram saindo no Faxinal do Tamanco (atual cidade de Venâncio Aires).
Ainda a respeito desta estrada, o padre Theodor Amstad contou, em 1924, uma outra
história pitoresca. Diz ele que “o Governo Provincial liberou uma soma de dinheiro para tornar
o caminho transitável para carroças até os Altos do Paredão. A condição do acordo de
empreitada rezava que o caminho deveria ser entregue em condições de trafegabilidade para
carreta. Mas o esperto empreiteiro soube ajudar-se. Antes da inspeção da comissão, ele carregou
no lombo de mulas as diversas partes de uma carreta. No Alto do Paredão, montou as peças da
carroça e, quando a comissão apareceu, provou, com a ajuda da carreta e de algumas garrafas de
bom vinho, que a estrada estava em condições de tráfego para carretas. Durante anos, a
histórica carreta podia ser vista no Alto do Paredão”.
Era presidente da Província o Tenente-General Francisco José de Souza Soares de Andréa,
Barão de Caçapava, quando foi constituída, a 2 de dezembro de 1849, a Colônia de Santa Cruz,
em terras do distrito rio-pardense da Serra do Botucaraí, entre a margem esquerda do rio Pardo
e o arroio Taquari Mirim. E já estavam no Brasil, desde 15 de setembro do mesmo ano, os
primeiros 12 imigrantes alemães destinados à nova colônia. Na verdade eram 13, mas um deles,
João Beckenkamp, foi retido no Rio de Janeiro pelo próprio imperador Dom Pedro II, para ser
o cocheiro do paço (que hoje seria o motorista do palácio), só vindo para a colônia no ano
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diretor geral da colonização, João Daniel Hillebrand, que morava em São Leopoldo. Antes, a
distribuição dos lotes vinha sendo feita pelos engenheiros Cabral e João Martin Buff, da
comarca de Rio Pardo. Evaristo teve uma atividade intensa no curto período que ficou no
cargo. Esforçou-se em ajudar os colonos, que, além de ameaçados pelos tigres, eram ainda
explorados no preço dos mantimentos e não tinham as promessas cumpridas por parte do
governo. Ele não sabia falar alemão, por isso se valia das traduções de João Beckenkamp, o
mesmo que tinha sido cocheiro do paço. Com o pretexto da língua, Evaristo foi demitido ao
cabo de dois meses, mas permaneceu no posto até receber a notificação e se apresentar o
substituto. Era ele o engenheiro civil e agrimensor João Martin Buff, alemão nascido em
Rödelheim, perto de Frankfurt, em 1800, e imigrado para o Brasil em 1824, que assumiu em
fevereiro de 1851, havendo já 64 lotes ocupados na Colônia. Uma das suas primeiras
providências foi pedir a construção de um barracão para abrigar os imigrantes logo que
chegassem, enquanto iam para suas terras e ainda não tinham casas. Nos primeiros tempos, os
colonos enfrentavam certa concorrência desigual de uma economia com mão-de-obra escrava,
que eles não podiam ter a partir de 18 de outubro de 1850 (Lei Provincial nº 183), tendo que
pagar e desbravar seus lotes, com todas as dificuldades já mencionadas. Mas Buff também foi
criticado, por morar longe da Colônia, no conforto da cidade de Rio Pardo.
A primeira escola da Colônia foi iniciativa de Guilherme Koch, um alemão da nobreza que
veio para o Brasil, incompatibilizado com o seu governo na revolução de 1848. E a primeira
vendola da picada foi aberta por um tal Cazuza.
Como, durante algum tempo, todos os colonos imigrantes chegados à Província eram
mandados para Santa Cruz, houve um crescimento rápido da Colônia. Em 1852, abriu-se uma
nova picada, paralela à Picada Santa Cruz, acompanhando o Rio Pardinho. Esta Picada Nova
ficou ligada à Picada Velha (ou Picada Santa Cruz) através do Travessão, ou Querpikade (atual
Linha Travessa), um caminho ao longo do qual já havia moradores em janeiro de 1852. Os
colonos moravam em choupanas ou ranchos, cobertos com folhas de jerivá. Em 1853, nos 196
lotes ocupados na Colônia já viviam 692 habitantes, exportando, através de Rio Pardo, 245
sacos de feijão e 160 arrobas de fumo em rama. Produziam também milho, batata, mandioca,
cevada e linho. O tabaco se revelou o produto agrícola de maior produtividade e rentabilidade,
por isso o governo da Província importava sementes para serem distribuídas, podendo assim os
colonos ganhar algum dinheiro e saldar pontualmente os seus débitos com a aquisição das
terras.
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Amstad afirma que Santa Cruz teve um “desenvolvimento promissor” nos primeiros anos,
o que estimulou a criação de novas colônias na região, como Rincão d’El Rei, em 1853, Santo
Ângelo (Agudo), em 1857, e também Monte Alverne, em 1859. Ele ainda registra o depoimento
atribuído a um certo Capitão Hornmeier, de que “Santa Cruz se distingue com grande vantagem
da velha colônia de São Leopoldo, pela índole mais pacífica e maior consciência comunitária
dos colonos”.
A afirmação está confirmada, de certa forma, no relatório do diretor Evaristo Alves de
Oliveira, de 26/12/1850, quando fala na “moralidade e bons costumes” dos colonos de Santa
Cruz, a maioria de origem prussiana, que para cá vieram “com atestados de conduta”. Segundo
ele, “os maus exemplos têm aparecido naqueles que residiam no Brasil, que obtiveram colônias
em outros lugares, e vieram tirar aqui por fim especulativo, e se ausentaram endividados,
havendo, contudo, honrosas exceções”. E mencionou o caso de um colono vindo de outra
localidade, que foi processado por crime de morte e, mesmo absolvido pelo júri de Rio Pardo,
ficou sem clima na comunidade e teve que ser transferido para outra colônia, por “reprovação e
perda de estima” diante dos outros moradores, que temiam fossem arranhados os valores
morais e os bons costumes.
Por sua vez, Robert Avé Lallement, médico de Lübeck, que trabalhou no Rio de Janeiro,
depois de visitar a colônia de Santa Cruz em 1858, escreveu: “Na minha visita à colônia, fiz
seguramente dez vezes a pergunta: Depois da primeira machadada, quanto tempo demora para
que se possa viver do que se planta? Razoavelmente, no prazo de um ano, foi a resposta de
todos”. E em outro trecho, disse ainda: “Não os intimida a mata, apesar de lá viverem onças.
Sem ânsia e sem temor, combatem corajosamente as cobras ou prudentemente se afastam do
caminho. Meninos e meninas de dez anos montam a cavalo, andam sozinhos longos trechos da
picada e trazem milho e feijão para o Faxinal”. Percebe-se que as crianças também tinham suas
tarefas laborais a cumprir, no aprendizado para a futura e difícil vida adulta, mas jamais uma
delas faltaria à escola por tal motivo. Ninguém se queixava, a não ser alguns jovens, por causa
da escassez de gurias para namorar. “Sozinho, no mato, nem o diabo pode suportar”, disse-lhe
um rapaz que não conseguia achar uma esposa.
Na obra Missões Orientais (1909), mencionada por J. Bittencourt de Menezes, Hemetério José
Veloso da Silveira afirma que “no Brasil inteiro, talvez não fosse tirado dinheiro de cofres
públicos e empregado com melhor êxito do que o da fundação da colônia de Santa Cruz”. E
não era para menos: em apenas 15 anos, de 1850 a 1865, os colonos de Santa Cruz tiraram do
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brejo e da mata virgem, além de todo o sustento das suas famílias e da produção exportada,
mais um milhão e 814 mil contos de réis em impostos, valor sete vezes superior aos 261 mil
contos de réis que tinham sido gastos pelo governo com toda a implantação da Colônia, a partir
de 1849.
3. A Povoação
no terreno hoje ocupado pelo edifício Dona Paula e pelo Clube União, na então rua de São
Pedro, atual Marechal Floriano.
Observando a lista dos primeiros 164 titulares de terrenos na povoação, nota-se que apenas
pouco mais de um terço deles tinha sobrenome alemão. Havia imigrantes de outras origens
européias, mas não em número suficiente, porque a maioria vinha mesmo para trabalhar na
terra. Por isso, parte substancial dos lotes foi destinada a autoridades, funcionários graduados
de Rio Pardo e cidadãos de outras procedências, aí predominando os de sobrenomes
portugueses. E dos 152 terrenos concedidos nos primeiros quatro anos da povoação, em apenas
62 houve posse efetiva, ficando os demais 90 desocupados. Isso pode ser explicado pelo fato de
que ainda não havia gente suficiente para ocupar o ambicioso projeto da povoação, já que os
colonos estavam estabelecidos em suas terras e poucos deles trocariam sua situação por
moradias e atividades urbanas, onde não poderiam ganhar a vida. Para desenvolver a povoação,
deveriam vir novos imigrantes, e isto demandaria tempo.
Previamente reservados na planta estavam quatro terrenos destinados à igreja católica e
outros tantos para prédios públicos, sobre a praça de São Pedro, respectivamente nas faces sul e
norte. Estes dois quarteirões ficaram, por isso, com apenas 18 terrenos disponíveis para
aquisição privada, contra 22 dos demais. Circundando o perímetro da povoação, foram também
demarcadas 22 chácaras, de tamanhos variados, a maioria esmagadora das quais coube a famílias
de origem alemã.
O catolicismo era a religião oficial do Brasil Império. Por isso, ainda em 1855, junto com a
implantação da povoação, mandou o governo da Província chamar concorrência para edificar
uma capela católica, obra que desde 1851 já tinha uma verba orçamentária de quatro contos de
réis. A construção seria feita “no lugar mais asado”, o terreno mais elevado da povoação, já
previsto na planta, onde hoje está a Catedral São João Batista. E foi o primeiro morador, o
americano Guilherme Lewis, quem apresentou a única proposta e arrematou a empreitada. A
igreja deveria ser construída em dois anos, mas só entraria em uso a partir de 1861, e ficaria
concluída em 1863. Lewis era proprietário da Fazenda São João da Serra, situada ao sul da
povoação, entre o arroio Pedroso, o arroio das Pedras e o Rio Pardinho, chegando até Rincão
d’El Rei. Ele possuía, também, uma olaria, de cuja produção devem ter saído os tijolos para a
igreja. Sua esposa, Carlota Leopoldina Pedroso Barreto, era filha do tenente-coronel Manoel
Pedroso e daria origem ao nome da localidade de Dona Carlota. E da junção dos dois
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sobrenomes surgiu o nome do arroio Lewis Pedroso, como passou a ser denominado o antigo
arroio Pedroso.
4. A Freguesia
Em 1859, foi a povoação de São João de Santa Cruz elevada a Freguesia, pela Lei Provincial
nº 432, de 8 de janeiro, e João Martin Buff substituído por Antônio Prudente da Fonseca como
diretor da Colônia, que já tinha 2.409 habitantes. A Freguesia foi instalada pelo padre vigário
Manoel José da Conceição Braga, titular da paróquia de Rio Pardo, já que a sede paroquial de
Santa Cruz só seria fundada com a nova igreja de São João, ainda não construída.
Entrementes, foi também fundada a colônia de Monte Alverne, em 1859, a partir de
Taquari, mas logo ela começou a ficar dependente de Santa Cruz. E na mesma época, pela
pressão das imigrações cada vez mais numerosas, no interior da própria colônia de Santa Cruz
vinham sendo abertas picadas para abrigar novos imigrantes. Aí surgiram Dona Josefa, Faxinal
de Dentro, Sinimbu, Ferraz, Bom Jesus, Vila Teresa (todas entre 1857 e 1859), Rio Pardense
(1862) e Linha Nova I e II (Rauberloch e Zinsertal, em 1864), entre outras. A que mais
rapidamente prosperou foi Vila Teresa, atual cidade de Vera Cruz, que já em 1866 se
transformaria em povoação.
Em 1860, o juiz de paz recém-eleito Carl August Maximilian Alexander von Schwerin
assumiu a direção da Colônia. Um dos seus primeiros trabalhos foi a fundação da picada que,
em sua homenagem, seria denominada Linha Schwerin, atual Linha Andrade Neves. Em 1863,
ele realizava medições para construção de uma estrada para Cima da Serra, ao norte de Ferraz e
São João, e ali encontrou, segundo seu próprio relatório, “vestígios da existência, por dentro
destes matos, de um quilombo numeroso, cuja destruição era tanto mais necessária que a
colonização de Santa Cruz haveria de se estender por este lado até chegar em Cima da Serra”.
Naturalmente, esta destruição não aconteceu e, no mesmo ano, Schwerin foi substituído no
cargo por Floriano Schorowsky (conforme J. Bittencourt de Menezes) ou Floriano von
Zurowskin (segundo Hardy Martin), ou ainda Floriano Zorowski (de acordo com o P. Theodor
Amstad). Era um polonês imigrado, que em 1857 tinha sido o primeiro diretor da Colônia de
Santo Ângelo (Agudo), onde chegou com a primeira leva de imigrantes e foi acusado de tê-los
enganado sobre as condições do lugar, onde estava tudo por fazer.
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Em 1864, foi criada uma agência do Correio Geral e assumiu o cargo de diretor o coronel
Affonso Pedro Mabilde, vindo do interior da colônia de São Leopoldo, onde atuara em 1850
para encontrar um caminho até Vacaria, através do Campo dos Bugres (Caxias do Sul), local em
que ainda havia índios, mas que estava reservado para a colonização que aconteceria em 1875,
com a chegada dos italianos. A colônia de Santa Cruz prosperava a olhos vistos, tanto que o
presidente da Província, Espiridião Elói de Barros Pimentel, afirmou, em relatório de 1864, que
“é esta a mais rica, a mais populosa, e por conseguinte a mais importante das colônias
provinciais, não obstante as dificuldades com que tem lutado, das quais a maior é a dificuldade
de comunicação com o mercado”. Ele apanhou muito bem o grande problema, porque a
produção em Santa Cruz explodia, mas o acesso ao mercado era precário. Esta situação, mais a
grande dívida dos colonos, que precisava ser cobrada, inviabilizava a idéia, defendida por Karl
von Koseritz e muitos outros, de extinguir a colônia e criar o município, apenas 15 anos após a
chegada dos primeiros imigrantes.
Mabilde foi sucedido, em 1870, por Carlos Trein Filho, e assim, segundo consta, pela
primeira vez um filho da terra chegou ao cargo de Diretor da Colônia, que já tinha 5.809
habitantes. Em 1872, pela lei nº 807, a Província extinguiu os cargos de diretor e ajudante de
diretor da Colônia de Santa Cruz, que foi dada como “emancipada e considerada nas condições
civis dos demais habitantes do país”. Era o fim da Colônia, que voltaria a ligar-se à
administração do município de Rio Pardo.
Mas o governo voltou a contratar os serviços de Carlos Trein Filho, pelo seu grande
conhecimento e, principalmente, porque precisavam ser arrecadadas as dívidas dos colonos,
provenientes de auxílios por eles recebidos. Além disso, havia problemas com divisas dos lotes,
que precisavam ser resolvidos. Talvez não por acaso, foi em 1872 que se falou pela primeira vez
na construção de um ramal ferroviário ligando a Estação do Couto (hoje Ramiz Galvão) a Santa
Cruz, assunto que só voltaria a ser tratado dez anos depois, já com o Município criado. Em
julho de 1878, Trein foi encarregado de fazer uma nova medição e demarcação de todos os
lotes da ex-colônia, para completar os cadastros e passar os títulos de propriedade aos colonos,
assim preparando definitivamente a freguesia para, ainda no mesmo ano, tornar-se município
autônomo.
Assim autorizado pelo governo da Província, Trein continuou suas atividades de diretor até
depois da emancipação e instalação da primeira Câmara de Vereadores (1878), da qual ele
mesmo fez parte. Ele foi, como se vê, uma figura de grande importância na história de Santa
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Cruz durante o período de transição entre a Colônia e a criação do Município, de 1870 a 1878,
como também na primeira década de autonomia municipal, ao lado do tenente-coronel Joaquim
José de Brito.
5. O Município
Passados escassos 27 anos desde que tinham chegado os primeiros colonizadores, o vice-
presidente da Província, João Dias de Castro, baixou a lei nº 1.079, de 31 de março de 1877,
elevando “à categoria de vila a povoação da freguesia de São João de Santa Cruz” e definindo
os limites do novo Município. E no dia 28 de setembro de 1878, instalou-se a Câmara
Municipal na casa situada na esquina das ruas São Pedro e Taquarembó (atuais Marechal
Floriano e 28 de Setembro). A investidura dos sete vereadores eleitos foi presidida por Joaquim
Alves de Souza, presidente da Câmara de Rio Pardo, e a ata lavrada pelo secretário Virgilio
Pereira Monteiro. A sessão de posse foi presidida pelo vereador Joaquim José de Brito (Ten.
Cel. Brito), mas na primeira reunião ordinária, dia 15 de outubro, a presidência já foi exercida
por Carlos Trein Filho. O novo município se emancipou com estimativa de aproximadamente
10 mil habitantes.
Em dezembro de 1879, o novo Município recebeu a sua primeira grande visita, a do famoso
tribuno e político federalista (maragato) Gaspar Silveira Martins. Em sua homenagem, na
presença das mais altas autoridades locais, foi plantada uma muda de carvalho na praça Simões
Lopes (atual Bandeira). Em conseqüência do ato, o logradouro teve o nome trocado para Praça
do Carvalho e a rua São Pedro (atual Marechal Floriano) virou Silveira Martins. Na mesma
ocasião, a antiga rua Taquarembó foi rebatizada com o nome de 28 de Setembro, que
permanece até hoje. Mas o carvalho plantado não teve muita sorte, porque morreu envenenado
pelas mãos de um republicano contrariado.
Durante os onze anos que se passaram até o final do Império, o Município foi administrado
apenas pela Câmara. O presidente respondia pelo governo, e os demais vereadores, em número
de seis, eram inspetores de cada um dos seis distritos. Neste período, alternaram-se na
presidência os vereadores Joaquim José de Brito, Carlos Trein Filho, Abrahão Tatsch, Frederico
Guilherme Bartholomay e Jorge Júlio Eichemberg.
Em março de 1882, a Câmara oficiou ao engenheiro chefe da ferrovia Porto Alegre-
Uruguaiana, pedindo estudos para um ramal ferroviário até Santa Cruz. Em abril do ano
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(federalista). A 27 de janeiro de 1894, o intendente assinou o seu último ato oficial antes de
fugir para Porto Alegre. Seguiu-se, a 10 de fevereiro, o assalto de um grupo de serranos sobre a
vila e a Intendência, ao comando do bandoleiro Zeca Ferreira. Neste período, assumiu
interinamente o subintendente do 1º Distrito, Ten. Frederico Lobo d’Ávila, nomeado vice-
intendente.
Quando voltou a Santa Cruz, em junho do mesmo ano, o Pereira da Cunha não encontrou
clima para reassumir, e o presidente do Estado, Júlio Prates de Castilhos, nomeou Galvão Costa
para substituí-lo. Pereira da Cunha voltou a Porto Alegre, onde por muitos anos ainda
continuou militando no Partido Republicano castilhista, ao lado do próprio Júlio de Castilhos e
outras figuras, como Borges de Medeiros, João Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, Carlos
Barbosa e do jovem Getúlio Vargas, entre outros. Em janeiro de 1895, ainda haveria uma
invasão revolucionária na Vila Teresa. A 7 de outubro de 1896, já finda a Revolução Federalista,
houve eleição para provimento definitivo do cargo de Intendente, sendo eleito Carlos Trein
Filho. Mas o pleito foi anulado, e Galvão Costa continuou governando o Município.
6. A cidade
A 3 de junho de 1897, Santa Cruz recebeu a visita do presidente do Estado, Júlio Prates de
Castilhos, permanecendo até o dia 5 e anunciando a reconstrução da ponte sobre o Rio
Pardinho. Durante banquete no Clube União, foi lançado candidato à presidência da república.
E dia 1º de setembro do mesmo ano, Jorge Henrique Eichenberg foi eleito novo Intendente,
assumindo o cargo no dia 16 do mesmo mês e retomando a mobilização em favor do ramal
ferroviário, que tinha sido iniciada em 1882. Em 1900, o engenheiro Dario Pederneiras
conseguiu o compromisso do governo para a construção do ramal. Mas o contrato só foi
assinado em maio de 1904.
A estação ferroviária deveria ser construída em área na várzea, doada pelo Estado ao
Município, a mesma que abriga hoje a Oktoberfest. Mas houve razões técnicas relacionadas ao
excesso de aclive para as saídas do trem, e por isso o projeto foi transferido para um terreno
pertencente a Carlos Trein Filho e Cirino Abdon Silva Branco, mais perto do centro. No dia 22
de setembro de 2005, foi colocado o último trilho e chegou o primeiro trem a Santa Cruz. A
inauguração aconteceu a 19 de novembro, com a presença de Borges de Medeiros, presidente
da Província, que de quebra ainda decretou a elevação da vila de Santa Cruz à condição de
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cidade, por causa do “seu notável progresso”, na presença de quatro mil pessoas. Já tinham
terminado os mandatos de Eichenberg e de seu sucessor, Adalberto Pitta Pinheiro, e o
intendente era novamente Galvão Costa.
Em 1899, foram inauguradas a ponte metálica de Rio Pardinho, a reconstrução da ponte do
Bom Jesus e da ponte sobre o arroio Schmidt, em Pinheiral, além do edifício para quartel da
Guarda Municipal e cadeia (atual Secretaria Municipal de Agricultura, no início da rua Marechal
Floriano). Começava a se projetar um período de paz e grande desenvolvimento para o
Município, principalmente a partir da administração do intendente Adalberto Pitta Pinheiro,
eleito em 1900 (tendo pela primeira vez um vice-Intendente eleito, Jorge Frantz), quando o
progresso também começou a vir de fora. Alguns sinais desse progresso foram o prado da
Várzea (1900), a chegada do cinema (1902) e a fundação da Caixa Cooperativa de Santa Cruz
(1904), que se transformaria no Banco Agrícola Mercantil, depois incorporado pelo Unibanco.
Anulada a eleição de agosto de 1904, por causa de um racha no Partido Republicano,
quando tudo apontava para a derrota de Pitta Pinheiro para Ernesto Wild, mais uma vez Galvão
Costa foi nomeado intendente provisório, mas logo houve nova eleição e ele foi confirmado
para governar no período 1904-1908. Em abril de 1905, foi inaugurada a linha telefônica entre
Santa Cruz e Vila Teresa (hoje Vera Cruz). E dia 19 de novembro, o ramal ferroviário. A luz
elétrica chegou em 1906, a rede telefônica urbana em 1907, a Hidráulica Municipal da Gruta e o
Hospital Santa Cruz em 1908.
Na eleição de setembro de 1908, Galvão Costa obteve maioria de votos, mas não alcançou
os dois terços exigidos por lei para se reeleger. O alferes reformado João Gomes Cardoso foi
nomeado provisoriamente, até que, um ano depois, uma nova eleição o confirmasse no cargo
até 1912. Foi ele quem viu, no seu governo, o primeiro automóvel circular em Santa Cruz, no
final de 1911. Findo o prazo do mandato e não tendo havido eleição, Cardoso entregou o cargo
ao subintendente do 1º distrito, José Werlang, a 7 de dezembro de 1912. Uma semana depois,
mais uma vez o governo do Estado nomeou Galvão Costa como intendente provisório, até
sagrar-se vencedor nas novas eleições, realizadas em março de 1913.
Em 1916, enquanto não se definia a legislação eleitoral, Galvão Costa encerrou o seu
mandato e o Governo do Estado nomeou, a 10/12/1916, o intendente provisório Gaspar
Bartholomay, que foi confirmado na eleição de setembro de 1917 e reeleito em outubro de
1920, ficando oito anos no governo. Este período coincidiu com um grande surto de progresso
no Município, instalando-se os bancos Pelotense (1916), Nacional do Comércio (1917) e da
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7. A guerra
e herdeiro do ex-intendente Adão Jost, foi empossado como novo Prefeito, na presença do
secretário do Interior João Carlos Machado e do prefeito porto-alegrense Alberto Bins. Na
eleição de novembro de 1935, quando Jost foi confirmado para um novo mandato, também foi
eleita a primeira Câmara de Vereadores, em lugar do Conselho, que foi extinto. Houve uma
campanha eleitoral acirrada, concorrendo três chapas: a do republicano Oscar Jost, a do
integralista Dario Bittencourt e a da Frente Única, liderada por José Wohlgemuth Koelzer. O
governo de Oscar Jost trouxe para Santa Cruz a construção da nova Usina Elétrica na Várzea,
com a nova rede de distribuição de energia, concluída em 1935. Ali havia uma piscina para
refrigerar os motores e por isso sua água ficava morna. Nos finais de semana, ela era liberada
para banhos públicos, e a população praticava natação e até saltos ornamentais. Em 1937,
Getúlio Vargas fechou o Congresso e dissolveu todas as casas legislativas municipais, criando
um clima de intranqüilidade. Era o Estado Novo, com proibição das línguas e das culturas
estrangeiras.
E em junho de 1938, o prefeito Jost foi retirado da Prefeitura e conduzido a Porto Alegre
por uma alta autoridade estadual, sendo Caio Brandão de Mello indicado para assumir o cargo
de Prefeito. Mas ele solicitou afastamento em novembro de 1940, e Dario de Azevedo Barbosa
foi nomeado para o cargo. Principalmente a partir de 1941, quando o Brasil entrou na guerra
contra o Eixo, Santa Cruz viveu um período de grande convulsão, devido ao projeto
nacionalista da ditadura Vargas, restringindo a língua e outras manifestações da cultura
germânica. Uma das conseqüências foi o fechamento definitivo do jornal Kolonie, editado em
língua alemã. Delegado de polícia aposentado, vindo de Porto Alegre como representante do
regime, Barbosa ainda pôde entrar na história como realizador das primeiras obras de
calçamento nas ruas da cidade.
Em janeiro de 1945, era fundado o jornal Gazeta de Santa Cruz (atual Gazeta do Sul). E pouco
mais de um ano depois, em abril de 1946, entrava no ar a Rádio Santa Cruz. Chegando a
Segunda Guerra ao seu final, em 1945, o interventor Ernesto Dornelles nomeou Willy Carlos
Froehlich, que respondeu interinamente pelo cargo, de junho a setembro, quando pediu
afastamento. Baarbosa voltou, mas Getúlio Vargas caiu em outubro, e Fröhlich reassumiu para
ficar até 15 de setembro de 1947, quando pediu substituição e o governo do Estado nomeou
Bruno Agnes, que permaneceu como prefeito interino até serem realizadas as primeiras eleições
livres, em novembro do mesmo ano.
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A guerra tinha acabado, e o fato fora até festejado com desfile, foguetório e comício no
centro da cidade. Mas as suas conseqüências se estenderiam ainda por longo tempo, algumas
definitivas. Tinha sido arrasador o combate aos valores germânicos, esteios basilares de toda a
construção do Município, desde a sua origem mais remota, quase um século antes. Em
conseqüência, muitas pessoas absorveram a lavagem cerebral e passaram a negar a sua origem.
Mas não a maioria. Em 1950, quando Getúlio Vargas veio a Santa Cruz para o até então maior
comício da história da cidade, na campanha para a presidência da república, ele teve que dar
explicações sobre as violências perpetradas em seu regime. E disse que as ordens não haviam
partido dele, e por isso os seus autores não estavam mais com ele. Fez uma votação
consagradora em todo o País, voltou ao Catete nos braços do povo, mas perdeu a eleição em
Santa Cruz do Sul.
A 1º de janeiro de 1945, em decorrência de um decreto de Vargas ainda no final de 1944,
proibindo duplicidade de topônimos no País, o Município passou a chamar-se Santa Cruz do
Sul, para distingui-lo dos demais. O nome da cidade foi salvo por intervenção de Francisco J.
Frantz, então secretário da Associação do Comércio, Indústria e Agricultura, e do advogado
Arthur Germano Fett, porque o prefeito Dario Barbosa trabalhava a idéia de escolher o nome
entre três sugestões que tinha recebido – Petituba, Itororó ou Andrade Neves – numa espécie
de represália contra a sua população predominantemente germânica.
A política sempre foi acirrada em Santa Cruz, mas nos últimos 60 anos o Município vive um
período de liberdade e democracia, atravessando inclusive o período do Regime Militar de 1964,
que durou cerca de 20 anos. Todas as 14 eleições municipais do período foram realizadas
livremente, saindo das urnas todos os Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores. Já sob novo
regime partidário, a primeira eleição realizou-se em novembro de 1947, sendo escolhido
Alfredo José Kliemann (PSD) para prefeito e seu companheiro Arnaldo Gruendling para vice.
Eles assumiram no mês seguinte. Durante este governo aconteceu, em dezembro de 1949, a
comemoração do centenário da colonização de Santa Cruz, com a inauguração de um
monumento em Linha Santa Cruz e o lançamento do projeto do Parque do Centenário, que
depois seria da Fenaf e atualmente da Oktoberfest. Também se realizaram obras importantes de
saneamento e reformas na Usina Elétrica, além da linha telefônica entre Santa Cruz e Porto
Alegre.
Em janeiro de 1952, assumiu o prefeito eleito Arthur de Jesus Ferreira (PSD) e no mesmo
ano saiu o primeiro trecho de rodovia asfaltada na região, ligando a cidade de Santa Cruz ao
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distrito de Vila Teresa. Em 1954, a Festa Nacional do Fumo ganhava o seu primeiro estatuto.
Em 1955, último ano de administração, o prefeito Ferreira se licenciou por motivo de saúde,
assumindo o vice Elíbio Mailaender para completar o mandato. No mesmo ano, foi fundada a
Associação dos Plantadores de Fumo em Folha (atual Afubra).
Com o suicídio de Getúlio Vargas (1954), o clima político voltou a ficar agitado e, no
embalo da comoção que se seguiu, o pleito de 1955 resultou na eleição do primeiro e único
prefeito do PTB na história do Município: Arthur Walter Kaempf, tendo como vice Frederico
G. Bartholomay. Em 1956, a Usina de Luz foi encampada pela CEEE, e em 1958 deu-se a
inauguração da ponte sobre o rio Taquari, em Mariante.
A mesma época também marcou profundamente os destinos do Brasil, com o projeto de
JK, prometendo “50 anos em cinco”. Além de construir Brasília, Juscelino Kubitscheck
implantou a indústria automobilística, optando pelo transporte rodoviário e deixando sucatear
as ferrovias. Santa Cruz do Sul ainda não se ligava por asfalto com os destinos de suas
mercadorias e passageiros, o que só viria a acontecer a partir de 1971. Mas já em 1965, depois
de 60 anos de funcionamento, o Município perderia o seu ramal ferroviário, considerado
deficitário, e permaneceria isolado durante um longo período, até 1971, com a inauguração do
trecho Santa Cruz-Pantano Grande da RST-471.
Em novembro de 1959, Edmundo Hoppe (PL) foi eleito Prefeito, e Orlando Oscar
Baumhardt (PTB), vice, enquanto Santa Cruz perdia o seu 2º distrito, Vila Teresa, que se
emancipou e se tornou o município de Vera Cruz. Na reorganização administrativa, feita em
1960, foram definidas as seguintes cinco secretarias municipais: Administração, Fazenda, Obras
Públicas, Agricultura e Ensino, Saúde e Assistência Social. Foi criada a Associação dos
Municípios do Vale do Rio Pardo (1961), a primeira do gênero no Estado e, provavelmente, no
Brasil. Foi, também, um período de dificuldades no Município e no País, com grande agitação
política e renúncia do presidente Jânio Quadros (25 de agosto de 1961), o assassinato do
deputado estadual Euclydes Kliemann, nos estúdios da Rádio Santa Cruz, pelo vereador
Floriano Peixoto Karan Menezes (31 de agosto de 1963), e a ida do vice-prefeito Orlando
Oscar Baumhardt do PTB para o PSD, candidatando-se a Prefeito e vencendo a eleição, tendo
Silvérius Kist como vice. O período eleitoral teve, também, a situação inusitada de o secretário
da Administração, Edgar Gruendling, assumir a Prefeitura por causa da desincompatibilização
simultânea do prefeito Edmundo Hoppe, do vice-prefeito Orlando Baumhardt e do presidente
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da Câmara Harry Werner. Terminada a eleição, eleito vereador para a legislatura seguinte, o
prefeito Edmundo Hoppe reassumiu o cargo.
8. A retomada
O governo de Orlando Oscar Baumhardt, que durou cinco anos (1964-69), atravessou a
crise nacional que culminou com a deposição do presidente João Goulart e a implantação do
regime militar, em 1964. Em Santa Cruz, a Câmara cassou os vereadores Roberto Hartungs e
Júlio de Oliveira Vianna, do PTB, mas eles foram reintegrados por decisão do juiz Alfredo
Zimmer. No mesmo ano, começava a funcionar o primeiro curso superior, a Faculdade de
Ciências Contábeis, no Colégio São Luís. Em 1966, realizou-se a 1ª Festa Nacional do Fumo
(Fenaf), foi criado o primeiro Distrito Industrial do Município e o telefone a manivela foi
substituído pelo sistema automático. Foram, também, extintos todos os partidos políticos e
criados apenas dois: a Arena, para sustentar o regime militar, e o MDB, como oposição.
Na eleição de 1968, havendo apenas dois partidos, vigorou pela primeira vez o sistema da
sublegenda, possibilitando ao mesmo partido lançar até três chapas para a disputa majoritária,
somando todos os votos da legenda para apuração final do vencedor. Com os dois partidos
registrando duas sublegendas, a Arena venceu o pleito com Edmundo Hoppe, tendo Edgar
Gruendling como vice. Neste seu segundo mandato (1969-73), Hoppe solidificou o Distrito
Industrial e liderou a realização da 2ª Fenaf (1972). Foi inaugurada a rodovia asfaltada entre
Santa Cruz do Sul e Pantano Grande (1971) e, no mesmo ano, o Município foi o primeiro do
interior do Estado com discagem direta à distância (DDD). Os primeiros orelhões (telefones
públicos) foram instalados em 1972. Inaugurando o processo de crescimento vertical na área
mais abastada da cidade, foi construído o Edifício Dona Paula, primeiro condomínio residencial
com elevador, ao lado do Clube União, mesmo local em que fora edificada a primeira casa de
alvenaria, em 1862, por Carlos Trein. Este período de governo, tanto quanto o anterior, marcou
importantes obras de eletrificação e de construção de escolas municipais, em substituição às
aulas particulares, que não conseguiam mais sobreviver.
A eleição de 1972 foi conturbada pela divisão do partido do governo, a Arena, que acabou
concorrendo com chapa única, contra duas do MDB. A vitória de Elemar Gruendling (MDB)
para prefeito, com Ruben Kaempf de vice, foi surpreendente e com pequena margem de votos,
graças à soma das sublegendas. Em seu governo, Gruendling criou as secretarias de
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com Arno J. Frantz e o deputado Telmo J. Kirst de vice. Neste segundo mandato (1989-1993),
Frantz teve como obra mais significativa a construção do Ginásio Poliesportivo. Iniciou,
também, a pavimentação de ruas e estradas com asfalto. Em 1992, desmembrou a secretaria de
Indústria, Comércio e Turismo, resultando separadas as pastas de Indústria e Comércio e de
Turismo, Esporte e Segurança. O Estado completou o asfaltamento para Sinimbu. O período
foi, também, de problemas econômicos: em 1990, o bloqueio da poupança pelo Governo
Collor e, em 1992, a falência da Arcal, com 700 desempregados. Outras empresas tradicionais,
de vários ramos de atividade, já vinham há mais tempo cerrando as portas, enfraquecendo a
diversificação econômica e fazendo crescer a hegemonia do tabaco.
O Prefeito seguinte, eleito para o período 1993-1996, foi Edmar Guilherme Hermany
(PDS), tendo Roque Dick (PL) como vice-prefeito. Ele assumiu com o município
sensivelmente reduzido em sua área, desmembrando-se quatro distritos pela emancipação de
Sinimbu (com Herveiras), Trombudo e Gramado Xavier. Santa Cruz do Sul transformou seu
perfil, tornando-se um município predominantemente urbano e passando a cidade a abrigar
cerca de 80% da população. O processo de industrialização já vinha produzindo, durante pelo
menos duas décadas, um acelerado crescimento urbano, junto com todos os problemas que o
acompanharam. Cada vez mais, os aparelhos e equipamentos públicos cresciam aquém das
necessidades. O município ultrapassava os 100 mil habitantes e a explosão demográfica já
produzira um elevado déficit habitacional. A pobreza pressionava o poder público, obrigando-o
a reforçar cada vez mais a sua ação social.
Em seu governo, Hermany modernizou o Parque da Gruta, com implantação de teleférico,
e a rua Marechal Floriano, com novo desenho de ajardinamento e semi-calçadão. Concluiu a
pavimentação asfáltica da estrada para Monte Alverne, iniciada pelo antecessor. Inaugurou-se a
Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc (1993). Na economia, o setor fumageiro
movimentava os seus capitais, a Souza Cruz anunciava no Município a maior e mais moderna
usina de beneficiamento de tabaco do mundo e o governo federal implantava o Plano Real
como instrumento de combate definitivo à inflação galopante.
A eleição de 1996 proporcionou a primeira grande virada eleitoral em 24 anos, com a
eleição de Sérgio Ivan Moraes (PTB) para Prefeito e Gastão Roberto Schmidt (PMDB) para
vice, com uma ampla coligação de partidos. Foi uma administração de oito anos, por causa da
reeleição de Moraes, em 2000, tendo como vice Emílio Hoeltgebaum. A reforma administrativa
de 1997 desmembrou a secretaria de Habitação e Serviço Social, criando a de Habitação,
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DIRETORES DA COLÔNIA
1851-1859 – João Martin Buff
1859-1860 – Antônio Prudente da Fonseca
1860-1863 – Carl August Maximilian Alexander von Schwerin
1863-1864 – Floriano Schorowsky (ou von Zurowskin, ou von Zorowski)
1864-1870 – Affonso Pedro Mabilde
1870-1890 – Carlos Trein Filho (contratado pela Província, através da lei nº 1158,
continuou exercendo o cargo de Diretor da Colônia até dois anos após a instalação do
Município, para cobrar as dívidas dos colonos, proveniente de auxílios por eles recebidos, e
regularizar a medição dos lotes coloniais).
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INTENDENTES MUNICIPAIS
1892-1894 – João Leite Pereira da Cunha
1894-1898 – Galvão Costa
1898-1900 – Jorge Henrique Eichenberg
1900-1904 – Adalberto Pitta Pinheiro
1904-1908 – Galvão Costa
1908-1913 – João Gomes Cardoso
1913-1916 – Galvão Costa
1916-1925 – Gaspar Bartholomay
1925-1928 – Felippe Jacobus Filho
1928-1929 – Felício Augusto de Almeida
1929-1930 – José Wohlgemuth Koelzer
PREFEITOS MUNICIPAIS
1930-1933 – José Wohlgemuth Koelzer
1933-1938 – Oscar Raphael Jost
1938-1940 – Caio Brandão de Mello
1940-1945 – Dario de Azevedo Barbosa
1945 – Willy Carlos Froehlich
1945-1946 – Dario de Azevedo Barbosa
1946-1947 – Willy Carlos Froehlich
1947-1948 – Bruno Agnes (substituto)
1948-1952 – Alfredo José Kliemann (vice: Arnaldo Gruendling)
1952-1955 – Arthur de Jesus Ferreira (vice: Elíbio Mailender)
1955 – Elíbio Mailaender (substituto)
1955-1959 – Arthur Walter Kaempf (vice: Frederico Guilherme. Bartholomay)
1959-1963 – Edmundo Hoppe (vice: Orlando Oscar Baumhardt)
1963-1968 – Orlando Oscar Baumhardt (vice: Silvérius Kist)
1968-1973 – Edmundo Hoppe (vice: Edgar Gruendling)
1973-1977 – Elemar Gruendling (vice: Ruben Guilherme Kaempf)
1977-1983 – Arno João Frantz (vice: Armando Wink)
1983-1989 – Armando Wink (vice: Normélio Egídio Boettcher)
1989-1993 – Arno João Frantz (vice: Telmo José Kirst)
1993-1996 – Edmar Guilherme Hermany (vice: Roque Dick)
1997-2000 – Sérgio Ivan Moraes (vice: Gastão Roberto Schmitt)
2001-2004 – Sérgio Ivan Moraes (vice: Emílio Hoeltgebaum)
2005-........ – José Alberto Wenzel (vice: Helena Hermany)
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II – CIDADANIA
1. A cultura
Dos primeiros habitantes de Santa Cruz, a partir de 1849, só não eram alemães algumas
autoridades e outros funcionários de apoio na constituição da Colônia. Assim continuou sendo
durante muitas décadas, e é por isso que a história do Município se confunde com a saga, a
trajetória, a cultura, os princípios e os valores da colonização alemã. É um modelo
empreendedor e produtivo, de devotamento ao trabalho penoso, ao qual também se adaptaram,
de alguma forma, os migrantes de outras etnias, que mais tarde viriam engrossar a comunidade.
Até os dias atuais, a reconhecida qualidade da mão-de-obra é fator importante que os
empreendedores levam em conta quando decidem investir no Município.
Foi sobre a forte característica da estrutura familiar que os antepassados construíram seu
mundo econômico e social, atrelados e fundamentados nos princípios cristãos trazidos da velha
Europa. Igrejas e escolas eram sustentáculo e base moral, em que as comunidades se apoiavam
para se manter e desenvolver. Qualquer núcleo humano que se formasse, sempre o seria ao
redor da sua igreja e, ao lado dela, uma escolinha particular mantida pela comunidade, onde as
crianças seriam instruídas com grande precariedade, mas do jeito deles, na língua deles, com os
valores deles e professores escolhidos a dedo. Escolas do governo praticamente não havia, a
não ser em centros urbanos já mais desenvolvidos.
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Foi fundamentalmente por esta ausência do estado que as crianças das colônias não
aprendiam a língua do País, e por isso depois tiveram que suportar a fúria nacionalista do
mesmo estado ausente, que em duas ocasiões, de uma hora para outra, proibiu a sua língua e a
sua cultura. Até os hospitais eram erguidos pelas comunidades, em muitas situações com
importante ajuda de entidades religiosas. Produzindo quase tudo para a própria subsistência,
resolviam sozinhos os seus problemas econômicos e sociais, pela ação de suas famílias e de suas
comunidades, sem interferência das autoridades.
O espírito comunitário também se refletiu na busca de opções de lazer para o domingo,
quando a atividade laboral era totalmente vedada, e era também o único dia da semana em que
as pessoas descansavam do trabalho. Surgiram, então, em grande número as associações e
sociedades, presentes praticamente em todas as localidades. Em 1896, existia no Município
cerca de uma centena delas, dedicando-se especialmente a práticas recreativas, mas também
culturais e sociais. Eram sociedades de cavalaria (lanceiros), bolão, atiradores, damas, e até de
ulanos, algumas se dedicando também a outros fins, como a Bauernverein (associação de
agricultores) e a Krankenverein, na área da saúde, numa época em que ainda não havia hospitais
no Município (o Hospital Santa Cruz foi fundado em 1908). Foi neste contexto que também
surgiram, já a partir de 1866, várias das sociedades ainda hoje existentes na cidade, como Clube
União, Ginástica, Tênis Clube e Aliança Católica (hoje Aliança Santa Cruz). Constituíram-se,
também, entidades essencialmente culturais e artísticas, como grupos de teatro, orquestras e
muitas sociedades de canto espalhadas por todo o Município.
Neste contexto, surgiram também os veículos de imprensa, dos quais houve dezenas de
tentativas, mas vingaram inicialmente apenas os jornais editados em alemão, porque esta era a
língua conhecida e usada no dia-a-dia da população. Estes veículos propunham-se
principalmente a divulgar as atividades da própria comunidade e de suas entidades. Entre eles,
destacou-se o jornal Kolonie, que circulou durante 50 anos, desde 1891 até 1941, quando foi
obrigado a fechar por causa das rígidas normas nacionalistas do Estado Novo. Antes, apenas
durante um curto período na Primeira Guerra (1918), ele teve que interromper a circulação,
também já por causa da língua alemã. Logo em seguida, surgiria para substituí-lo a Gazeta de
Santa Cruz (depois Gazeta do Sul), em língua portuguesa, mas apresentando ainda nos anos 50
um suplemento semanal em alemão, como exigência dos leitores mais antigos.
O choque cultural produzido pelo período Vargas (1930-1945) foi muito forte. Com a
população impedida de usar a sua língua habitual, muita gente sendo presa por falar alemão em
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locais públicos (nos bailes, nas portas das igrejas, no comércio, na rua...), produziu-se uma
geração sem leitura, de poucas luzes, de linguagem sofrível, principalmente no interior. Inibido,
ia desaprendendo o alemão e tropeçando no português. Esse colono era visivelmente
discriminado, chamado de “grosso e ignorante” até por seus próprios irmãos de etnia, mas
agüentava no osso do peito, porque o trabalho não tem idioma, sua linguagem é universal.
Dividiu-se a sociedade em duas castas: a da elite, que conhecia a língua nacional e passou a ter
as oportunidades, e a do “alemão-batata”, que quase não podia se comunicar fora do seu meio.
A vida cultural própria, que Santa Cruz levava dedicadamente, também começou a entrar
em queda, cedendo espaço para a moderna comunicação de massa. Os programas musicais,
teatrais e até de cinema – que costumavam encher as salas de exibição, algumas com mais de
mil lugares – foram encolhendo e a população começou a curtir a novidade da televisão, sem
precisar sair de casa para enfrentar o frio e a chuva. A cultura se globalizou tanto que, hoje em
dia, o sofá virou auditório preferido e só se reúnem multidões quando há grandes shows
nacionais, e todos reclamam quando eles não acontecem.
Quando, na segunda metade do século 20, após a predação cultural havida, começaram a
surgir pelo interior alguns clubes de futebol – um esporte mais urbano, preferido pelas novas
gerações – muitos colonos torciam o nariz, porque era um esporte bruto e muito cansativo para
ser praticado por quem passava a semana no serviço pesado da roça. Em 1956, havia na cidade,
para cerca de 20 mil habitantes, pelo menos uma dezena de times disputando o campeonato
citadino, enquanto no interior, com mais de 50 mil habitantes, jogava-se futebol só em Vila
Teresa (Esporte Clube Teresa), Sinimbu (Grêmio Esportivo Sinimbu) e Rio Pardinho (Esporte
Clube Rio Pardinho), localidades onde muitos jovens já tinham profissões urbanas, podendo
correr atrás da bola sem prejuízo para o trabalho.
Como extensão do sentimento de família e de comunidade, apoiado no respeito a valores
morais e religiosos, à hierarquia e à disciplina, é admirável também o espírito de profunda
veneração à pátria brasileira, às instituições e às autoridades constituídas, assumido como
compromisso pelos colonizadores, apesar das adversidades enfrentadas desde o início.
Datas nacionais, como 7 de setembro e 15 de novembro, eram comemoradas com um
fervor cívico extraordinário. Desfiles festivos, na cidade e no interior, tinham cenários
engalanados, adornados com arcos e faixas alusivas. O centenário da Independência do Brasil,
em 1922, durante o governo de Gaspar Bartholomay, teve uma programação liderada pela
Intendência Municipal, tão vasta que durou vários dias, com desfiles, batalhas de flores e outras
37
2. A população
Já foi dito que, no princípio, o índice de natalidade entre os imigrantes alemães era muito
elevado, situando-se entre seis e 13 filhos por casal, nas duas primeiras gerações. Isto se
justificava em parte pela valorização que a Igreja fazia de uma família com boa prole, mas por
outro lado também pela ausência de mecanismos de controle e pela necessidade de mão-de-
obra, numa economia essencialmente familiar. No censo de 1900, por exemplo, 63% da
população ainda era de idade inferior a 21 anos, o que atesta o elevado número de filhos nas
famílias. No período entre 1900 e 1920, havia a média de cinco nascimentos para cada óbito, e,
considerando ainda as imigrações, o aumento total da população no período foi de 48,8%. Este
índice já é bem inferior ao das duas últimas décadas do século 19 (1880 a 1900), quando a
população mais do que duplicou, com ajuda de levas maiores de imigrantes. Bem mais tarde, na
segunda metade do século 20, quando a proliferação humana começou a decrescer, veio o
incremento das migrações internas, em busca de emprego na cidade industrializada.
Essas movimentações se intensificaram a partir do final da Segunda Guerra, quando o
interior começou visivelmente a perder a corrida para o progresso, que chegava às cidades, mas
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não alcançava as colônias. Muitos agricultores passaram a mandar os filhos estudar na cidade,
donde não voltariam mais. Os seminários se encheram de adolescentes oriundos das colônias,
especialmente alemãs e italianas, e o clero passou a ser predominantemente dessas etnias. A
população rural praticamente não se alterou entre 1950 e 1970, apenas envelheceu 20 anos. E
em 1980, o IBGE contou no interior praticamente os mesmos habitantes de 1940. Nesse
período, o Município perdeu apenas o seu 2º distrito, Vila Teresa, que se emancipou em 1959.
Mas o grande impulso das migrações internas aconteceu a partir de 1970, quando a injeção
de capital externo desenvolveu sobremodo os negócios do fumo, gerando uma euforia pelos
empregos que a indústria oferecia na cidade. Coincidiu também que, na mesma época, começou
a se estabelecer o ensino superior na cidade, e muitos estudantes vinham de fora para cursar as
faculdades. Foi uma década em que a população urbana cresceu 67% e a do interior diminuiu
em 17%, invertendo a situação anterior, em que a maior parte dos habitantes morava nas zonas
rurais. Os jovens do interior já não vinham somente para estudar, mas também para trabalhar,
sendo até uma mão-de-obra preferida, por sua operosidade, e também por sua familiaridade
com a língua alemã, para atender os agricultores no comércio.
Foi neste período, também, que o domínio da etnia germânica começou a decrescer, de um
lado por causa da migração de outros grupos étnicos, de outro porque eram justamente essas
camadas pobres, geralmente vindas de situação precária, que passaram a formar as famílias mais
numerosas.
A década de 1970 começou com uma população urbana de 32.967 habitantes, contra 53.820
habitantes no interior. Já o censo de 1980 apontou uma brutal inversão desta relação, contando
55.152 habitantes urbanos e 44.493 nas zonas rurais. A mesma tendência se verificou na década
seguinte, embora já com menor intensidade. Em 1990, a população urbana era de 78.955
pessoas, enquanto a rural se reduzira para 38.818. Ainda na mesma década, com o
desmembramento dos distritos de Sinimbu, Trombudo, Gramado Xavier e Herveiras, mais a
anexação da região de São José da Reserva, a população rural ficou reduzida a apenas 13.840
habitantes, contra 93.786 na cidade (IBGE, censo de 2000).
Com esse crescimento urbano, mais célere do que qualquer possibilidade de
acompanhamento das estruturas do poder público, os problemas sociais começaram a crescer
assustadoramente. Somou-se esta nova situação à demanda maior provocada pelo regime de
Getúlio Vargas, que criou algumas leis sociais, com elas se tornando o “pai dos pobres” e
gerando um sentimento geral de que o governo passaria a resolver os problemas, que antes cada
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qual tivera que resolver por si. E estas soluções estavam mais ao alcance na cidade, por isso as
migrações começaram a acontecer cada vez mais nessa direção.
A população de Santa Cruz do Sul, que passou a ser contada oficialmente a partir da
República (o primeiro censo foi em 1890), evoluiu da seguinte forma, desde 1850, ano
imediatamente posterior à chegada dos primeiros imigrantes (19/12/1849), até os dias atuais:
Município, 31,5% procedem de outras localidades do Vale do Rio Pardo e os demais 14,6%
vieram de outras regiões. Pode parecer baixo o índice da população de origem germânica, mas o
passar do tempo se deu com a presença de muitos fatores, alguns deles mais palpáveis. É certo
que as migrações não se fizeram somente de fora para dentro, senão que também de dentro
para fora. Numerosas levas de santa-cruzenses, especialmente do interior, marcharam em busca
do futuro nas novas regiões de colonização, situadas na faixa ocidental do País, desde Santa
Catarina até a Amazônia. E da cidade, houve um movimento na direção dos centros maiores,
onde muitos sonhos juvenis foram perseguidos e realizados.
O elevado índice do contingente luso, praticamente um quarto da população, deve-se a
vários fatores. Além das já mencionadas migrações em busca de trabalho e estudo, a história
registra desde o início a presença de funcionários públicos e administradores nomeados. Esses
profissionais precisavam vir de fora, porque os habitantes daqui não estavam preparados e
sequer demonstravam muita vocação para a burocracia. Por outro lado, a história registra até
mesmo a chegada de 16 famílias de cearenses, que em 1900 foram assentados na localidade
serrana de Herval de Baixo, hoje pertencente ao município de Herveiras, fato que ajuda a
explicar a grande mistura étnica existente naquela região.
O elevado número de ítalo-brasileiros também se explica pelas migrações, facilitadas por
afinidades culturais, e também porque diversas localidades da região serrana do Município
foram colonizadas por italianos.
Uma palavra, ainda, se impõe sobre a presença dos negros. É claro que, nos períodos
anteriores e imediatamente posteriores à abolição da escravatura, ocorrida em 1888, muitos
negros fugidos ou libertos ficaram sem rumo, foram se dispersando ou se reunindo em
esconderijos. Em 1863, mais de 20 anos antes da Lei Áurea, já se descobriu a existência de um
quilombo ao norte de Ferraz e São João, o que, sem dúvida, também havia em outros pontos da
região. Há até, no interior de Candelária, uma localidade denominada Quilombo.
Na medida em que se difundia a notícia da liberdade dos negros, eles iam deixando os seus
refúgios, para sair em busca de vida nova e trabalho para sobreviver. Muitos pegavam as
estradas e batiam à porta dos colonos, onde eram recebidos como mão de obra importante,
porque o serviço braçal era fundamental na agricultura da época. Ganhavam um rancho para
morar, a bóia e uma paga diária, anotada no caderno e acertada a cada final de semana.
Analfabetos, os peões ou agregados tinham com os colonos uma boa integração para o
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trabalho, mas se mantinham segregados do ponto de vista cultural e social, resignados com a
situação de inferioridade.
Em 1890, quando foi feita a primeira contagem oficial da população no Brasil, Santa Cruz
tinha 15.572 habitantes, dos quais 1.897 (12%) eram negros, sem dúvida um índice bem alto,
levando em conta que os imigrantes e seus descendentes não tiveram escravos, e eram até
proibidos de tê-los. Como 92,6% da população total do Município moravam no interior, lá
também estava a maioria esmagadora dos negros. Na sede, viviam apenas 1.148 habitantes, dos
quais 181 (9,5%) eram negros.
Com grande respeito pela religião e pelas instituições, alguns freqüentaram as escolas dos
brancos, as igrejas cristãs e, por influência dos patrões, até batizaram seus filhos. Sem registro
civil, não tinham cidadania e costumavam ter só o primeiro nome. Quando foi criada a
aposentadoria rural, durante o regime militar, em alguns casos eles conseguiram aposentar-se,
também com ajuda dos patrões, graças a uma imprecisa certidão de batismo, só com o primeiro
nome, obtida na Mitra Diocesana. Além do natural instinto de preservação cultural entre uma e
outra etnia, impedindo a interpenetração, assim como água e óleo também não se misturam,
havia ainda o próprio conformismo desses “brasileiros”. O estado havia libertado os escravos,
mas logo depois trocou o império pela república, e não implementou um mínimo programa de
adaptação social e econômica para esses milhares de compatriotas analfabetos. Não conhecendo
a liberdade e não tendo sequer um ninho, eles não poderiam prover o próprio sustento.
Outros contingentes de negros saíram de seus refúgios diretamente para a cidade, onde
também não se integravam nas atividades sociais e culturais dos brancos. Tanto que os negros
não eram sócios dos clubes tradicionais da cidade e fundaram uma sociedade própria, como
entidade que buscava congregar o que chamavam a “população de cor”.
Pode-se dizer que, atualmente, embora ainda existam casos de discriminação, já reina uma
grande compreensão e uma consciência de igualdade de direitos, restringindo-se as diferenças
principalmente ao aspecto cultural, cultivado a seu modo, e com legitimidade, por cada um dos
grupos que formam a população. Os casamentos entre brancos e negros, apesar do natural
instinto de preservação étnica, também já são freqüentes, e é preciso dizer que o esporte tem
grande participação na quebra de tais barreiras. Até mesmo na colônia, quando começaram a
surgir os primeiros clubes de futebol, os meninos negros ficavam de “marrecão” atrás das
goleiras, onde apanhavam a bola e aprendiam a dominá-la com destreza, e muitos deles
acabaram, por sua habilidade, encontrando vagas nos times.
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Como se vê, a participação da mão de obra dos negros na construção de Santa Cruz do Sul,
como importante pólo econômico, social e cultural do Estado, é evidente e extremamente
valiosa, do que se faz, com justiça, o presente registro.
3. A educação
Como igualmente já se viu, no século 19 e nas primeiras décadas do século 20, a presença
dos governos da Província e do Império (e depois também da República) era muito pequena
nas regiões de imigrantes, como também no interior de um modo geral. Por isso, ou a
comunidade se virava sozinha, ou passaria necessidade. Em Santa Cruz, a população teve forças
para construir uma extraordinária estrutura de saúde e educação. Os colégios Mauá, São Luís e
Sagrado Coração de Jesus, além do Hospital Santa Cruz, são exemplos dos mais significativos.
Mais que isso, as comunidades cristãs ainda colocaram em pé, com o próprio suor, as suas
magníficas igrejas, que até hoje orgulham o Município. A Catedral São João Batista é hoje uma
das imagens mais bonitas e conhecidas do Estado.
E as comunidades tinham fôlego, ainda, para pontilhar a cidade e o interior com dezenas de
sociedades recreativas, para entretenimento dominical. Em 1924, quando se comemorava o
centenário da imigração alemã no Estado, havia no Rio Grande do Sul 327 dessas entidades, das
quais 97 estavam em Santa Cruz. Venâncio Aires, o município que ocupava o segundo lugar,
tinha 48. Parece não haver dúvida de que eram a necessidade e a fé inquebrantável que davam
força a cada um para cumprir a sua missão na vida, naquela época muito mais difícil do que no
mundo moderno, cada vez mais plugado na tecnologia e menos dependente do sacrifício
pessoal de quem quer que seja.
Para ilustrar o que acima foi dito a respeito das escolas, em 1878, ano em que a ex-Colônia
se tornou Município, havia em Santa Cruz um total de 25 unidades escolares, das quais 23 eram
privadas (duas delas subvencionadas), com 645 matrículas, e apenas duas públicas, abrigando 49
alunos. Em 1910, já eram 63 as escolas particulares (só uma delas subvencionada), abrigando
66% dos alunos, contra 26 públicas. E em 1921, as públicas já eram 31, com 1.016 alunos, mas
as particulares se elevavam a 78 (das quais 48 parcialmente subvencionadas pelo Estado ou pelo
Município), totalizando 2.940 matrículas. Isto significa que a escola privada ainda atendia 74%
da demanda de alunos, índice que nas colônias era ainda maior, quase beirando os 100%.
43
Os costumes eram tão rígidos que os meninos e as meninas não estudavam nas mesmas
salas, no início sequer nas mesmas escolas. A primeira escola mista foi o Colégio Mauá, fundado
em 1870 com nome de Colégio Sinodal. E a primeira escola pública de maior significação foi o
Colégio Distrital, fundado apenas em 1902, e que mais tarde passaria a denominar-se Colégio
Elementar Júlio de Castilhos, funcionando em prédio especialmente construído na esquina das
ruas Ten. Cel. Brito e Borges de Medeiros, posteriormente destinado ao Forum da cidade e
atualmente pertencente ao Município. No Colégio Distrital ainda havia classes separadas para
meninos e meninas. Mais tarde, quando todos já iam para a mesma sala, as meninas ficavam no
lado esquerdo e os meninos no direito, assim como os sexos também eram divididos nas igrejas,
até bem depois de 1950.
Em 1956, após o impacto cultural que debilitou as comunidades do interior, muitas escolas
comunitárias já passavam por dificuldades e tiveram que ser assumidas pelo Município. Havia,
então, em Santa Cruz do Sul um total de 161 escolas, com um quadro já bastante alterado: 85
municipais, 58 particulares e 18 estaduais. Mas os grandes colégios particulares pontificaram e
se mantiveram altaneiros. Pelo menos o Mauá (evangélico) e o São Luís (católico), que
atravessaram o século como as maiores escolas do Município, ganharam prestígio estadual. De
todas as partes do Rio Grande vinham estudantes para os seus internatos, atrás da qualidade da
educação e da instrução aqui ministradas.
Como se vê, o grande golpe cultural verificado no interior, que fez definhar o modelo
comunitário das escolinhas, não se repetiu na cidade. Além de as seculares escolas confessionais
se manterem altaneiras, ainda a comunidade urbana reuniu forças para entrar no grande desafio
do ensino superior, com o quase utópico sonho de uma futura universidade. O movimento
começou em 1962, com a fundação da Associação Pró-Ensino em Santa Cruz (Apesc), e em
1964 já funcionava a primeira faculdade, a de Ciências Contábeis, acolhida no Colégio São Luís.
Seguiram-se Filosofia, Direito, Educação Física e muitas outras, e ao cabo de três décadas
estava criada e autorizada a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), hoje com mais de 11 mil
alunos e com unidades em vários municípios da Região e do Estado. Mas isto só foi possível
com importante ajuda do Município, que pautou o ensino superior como grande prioridade,
dando-lhe inclusive sua primeira casa própria, em 1976.
O município de Santa Cruz do Sul, que hoje tem mais da metade do orçamento e dois
terços dos funcionários comprometidos com educação e saúde, apenas em janeiro de 1954, com
o prefeito Arthur de Jesus Ferreira, começou a organizar uma estrutura oficial voltada para a
44
educação. Foi criado o Departamento de Educação, que no ano seguinte ganharia um Inspetor
Escolar. A Secretaria Municipal de Ensino, Saúde e Assistência Social foi criada pelo prefeito
Edmundo Hoppe, em dezembro de 1960. Mais tarde, em 1973, já com o prefeito Elemar
Gruendling, fez-se o desmembramento em duas pastas: Secretaria de Educação e Cultura e
Secretaria do Trabalho e Ação Social.
Foi a partir da criação da secretaria, por força da municipalização em massa das escolas
particulares do interior, que o Município também começou a construir e criar unidades
escolares. Foram dez no início da década de 60, mais 27 nos anos 70, sete nos anos 80 e 16 nos
anos 90. Paralelamente, o modelo de estruturação do ensino foi sendo modificado ao longo do
tempo. Surgiu, assim, nos anos 80, o processo de nucleação, pelo qual as pequenas escolas do
interior eram fechadas e, para levar seus alunos até uma unidade-núcleo mais próxima,
implantou-se o transporte escolar, custeado pelo Município com aporte de recursos vinculados
da União. Melhorou-se, assim, a qualidade da estrutura e do processo de ministração do
conhecimento. Mas muitas pequenas localidades, perdendo a escolinha, também ficaram sem a
sua mais importante referência comunitária.
Ao contrário de hoje, quando o ensino público cumpre um papel predominantemente
instrutivo e politizador, a escola do passado era uma nítida extensão da família como agente de
educação, dentro de padrões e princípios determinados, o que só era possível no ensino
privado. Pais e professores exerciam complementarmente sua autoridade hierárquica sobre os
alunos, em tempo integral, num sistema rígido, cheio de limites e proibições. A grande mudança
aconteceu a partir de novos discursos, como “é proibido proibir”. O “eu quero” da criança
passou a ser impositivo. Os pais, mais envolvidos com seus interesses pessoais e profissionais,
entregaram ao estado a tarefa educativa, quando não à babá eletrônica no sofá da sala,
aumentando assim a distância e a divergência entre as várias gerações das mesmas famílias. O
mundo das crianças passou a ser diferente do mundo dos pais.
O novo modelo de sociedade humana gera cada vez mais atribuições para o poder público,
que passou a ser obrigado a prover o que antes era assumido pela própria sociedade. Em
contrapartida, temos os grandes avanços do conhecimento, da tecnologia e dos métodos
didáticos, com o inegável aperfeiçoamento intelectual dos agentes da educação. Estes aspectos
antigamente eram muito precários, porque as pessoas trabalhavam quase exclusivamente com
os seus valores pessoais, apoiadas em inesgotáveis reservas espirituais e morais. Para ter uma
45
escola, a comunidade só precisava se unir e fazê-la, com muito suor e quase nenhum dinheiro.
Isso não existe mais, porque o ensino agora é público e gratuito, e passou a custar caro.
4. A vida
Na área da saúde, todos os três hospitais do Município – Santa Cruz, Monte Alverne e Ana
Nery – continuam particulares até os dias atuais, bem como os dos distritos que se
emanciparam, obras do suor das próprias comunidades. Sempre que se tratasse de um paciente
sem recursos, era o médico humanitário que garantia o atendimento sem cobrar.
No tempo do Império, havia apenas as parteiras e as donas de casa com conhecimentos
básicos de enfermagem. O médico tinha que ser procurado em Rio Pardo. Tão logo se criou o
Município, a Câmara Municipal passou a ter entre seus seis funcionários um vacinador, que era
o médico José Krein. Depois, em 1891, o Dr. Gustavo Porckins, que tinha servido como lente
catedrático na Faculdade de Medicina de Buenos Aires, se ofereceu e foi contratado pela
Intendência, como médico e vacinador. Logo depois, em 1892, o Dr. João Weiss foi autorizado
a vacinar em Vila Teresa, onde surgiram casos de varíola. Em 1900, quando um grupo de
cearenses chegou para ser assentado na Serra (Herval de Baixo), foi detectado entre eles o vírus
da varíola. O Dr. Amadeu Masson era o Delegado da Higiene, conseguindo do governo do
Estado o envio de vacinas e de um médico para atender os migrantes. Mas foi só em 1907, já
tendo em vista a abertura do Hospital Santa Cruz pelas Irmãs Franciscanas, que chegou Hans
von Ortenberg, um desbravador saído da nobreza alemã para assumir a direção clínica do
hospital, a partir de 1908. Ele trabalhou durante três décadas na cidade, como responsável
maior pela saúde da população, com grande dedicação e competência. Ia para o interior de
carruagem, dava cursos de aperfeiçoamento para parteiras e atendia de graça a quem não podia
pagar.
Nos serviços sociais, não encontramos registro de importância a respeito de programas
públicos antes da Era Vargas, até porque, apesar de todas as dificuldades, praticamente não
havia a pobreza absoluta, pois todos tinham trabalho e alimento, a dependência do emprego era
menor por causa da economia familiar e a riqueza mais bem distribuída. O que havia, na área da
saúde, eram os chamados Postos de Higiene, para alguns atendimentos, onde também se
aplicavam vacinas contra doenças epidêmicas, como tifo, varíola, etc. Havia, inclusive, as
campanhas de vacinação, em que os vacinadores percorriam as escolas para imunizar todas as
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crianças. Pelo pequeno volume no atendimento, os órgãos públicos que cuidavam da saúde e
das ações sociais eram as próprias secretarias de educação.
O modelo econômico vigente no início supunha a existência de um grau de igualdade social.
Os empreendimentos eram familiares, por isso pequenos, com todos os membros da família
sendo sócios igualitários do negócio comum, desfrutando conjuntamente dos resultados. Mais
tarde, com a povoação transformada em vila e cidade, a situação na sede se modificava por
causa das relações de emprego, que extrapolavam ao âmbito familiar, embora as empresas ainda
fossem familiares. E mesmo ali, o empregado costumava sentir-se partícipe do negócio, nele se
envolvendo quase como se fosse dele.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que o distanciamento social entre os mais ricos e os mais
pobres cresceu na medida em que o Município se urbanizou e o poder público não teve
instrumentos para acompanhar o ritmo do crescimento conforme as necessidades. Ficaram
faltando cada vez mais os equipamentos necessários à vida normal dos aglomerados humanos,
que cresciam e se compactavam assustadoramente. Novas situações começaram a gerar novas
necessidades, para as quais os governos não estavam preparados, enquanto as comunidades já
não tinham a mesma união, e por isso também lhes faltavam meios para resolver por si os seus
problemas. É preciso dizer, também, que diante dessa nova realidade foram surgindo, com
alguma força, as diferentes formas de voluntariado entre os membros das comunidades mais
privilegiadas. Clubes de serviço e inúmeras outras entidades de cunho social acrescentaram-se
aos esforços do poder público.
As deficiências na educação e na saúde, agora atributos do Estado, as carências econômicas
da falta de emprego e a fragilização da unidade familiar criaram situações propícias para
divergências e conflitos. Na periferia, famílias sucumbiram, muitos pais desapareceram de casa,
mães foram atrás de empregos e crianças acabaram nas ruas. A ociosidade levou ao vício, o
vício desembocou na violência e a sociedade adoeceu.
Como foi dito mais acima, nessa questão o regime Vargas aparece como um grande divisor
de águas entre duas épocas bem distintas da história. Seu governo populista foi, de um lado, um
grande gerador de direitos sociais, e de outro, um liberador de deveres, deteriorando-se com
isso alguns valores, antes sólidos e até pétreos. À traumática ruptura com a história seguiram-se
algumas conseqüências importantes, que extrapolaram à simples questão da língua e da cultura.
Gradualmente, definharam as escolas comunitárias, as cooperativas e as empresas familiares. Os
novos direitos sociais – que oneravam mais as empresas que o governo – dirigiam-se
47
essencialmente às populações urbanas. Então começou o êxodo rural e a cidade cresceu para a
periferia, gerando sub-habitações, sem regras de plano diretor ou qualquer outro ordenamento.
Com o corte abrupto de uma tradição de costumes, os valores deixaram de ser transmitidos
com a histórica austeridade de pais para filhos, passando a ser emanados do estado e fortemente
influenciados pelo poder da emergente mídia de massa. A tarefa de educar passou para as
escolas, preferencialmente públicas e gratuitas, e para a televisão, sem qualquer controle moral.
A sociedade começou a migrar de sua tradicional base familiar e comunitária para um estágio de
massificação, em que vai desaparecendo aos poucos o poder familiar indissolúvel, e com isso a
própria responsabilidade individual. O cidadão é cada vez mais um titular de direitos, um rosto
na multidão, disputando a misericórdia oficial, cabendo ao governante o papel de pai e salvador.
Como se vê, foi uma drástica mudança no conceito de cidadania.
Só que o “pai dos pobres”, com que todos passaram a contar, não conseguia cuidar da
pobreza que crescia. Mais uma vez, foi a própria sociedade que se mobilizou e gerou novas
iniciativas para socorrer os menos afortunados. Em 1956, havia em Santa Cruz do Sul dez
instituições privadas que de alguma forma realizavam trabalho social, enquanto nenhum órgão
governamental ainda se apresentara para exercer tal papel.
48
III – ECONOMIA
1. A agropecuária
Segundo Robert Avé Lallement, os colonos chegados para transformar em colônia a mata
virgem, povoada de onças e outros animais selvagens, diziam que, a partir da primeira
machadada, precisariam de apenas um ano para começar a viver da própria plantação. Isso já
mostra a disposição com que, imigrados voluntariamente, eles encaravam a nova vida.
Satisfeitos com a nova existência, apesar de tudo, eles tinham esperança e fé. Não é de admirar,
por isso, que já em 1853, havendo 196 lotes ocupados e apenas 692 habitantes, a Colônia fazia a
sua primeira exportação, através de Rio Pardo: 245 sacos de feijão e 160 arrobas de fumo em
rama.
Mas o que plantaram os colonos no seu primeiro ano de produção, em 1851? É João
Bittencourt de Menezes quem conta, em 1914: “Na colônia cultivava-se a mandioca, o milho, o
feijão, batatas, etc. A cultura do fumo, então no seu início, já prometia o considerável
desenvolvimento que, mais tarde, deveria constituir a principal fonte de prosperidade e riqueza
da colônia. As primeiras sementes da futura planta de ouro de Santa Cruz vieram da ilha de
Cuba (Havana), donde as receberam os colonos”. O interesse e o apoio do governo da
Província na cultura do fumo eram notórios. Era o produto que dava o melhor resultado
financeiro e possibilitaria aos imigrantes amortizar mais tranqüilamente as prestações referentes
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à aquisição dos seus lotes. E continua Menezes: “O ensaio da cultura do linho, pelo silesiano
Augusto Wuttke, deu bons resultados, tanto em quantidade quanto em qualidade, e devia, como
o fumo, tomar apreciável incremento, mas não pôde, como aquele, prosperar ou aclimar-se
definitivamente na colônia. O algodão, cujas sementes vieram dos Estados Unidos da América
do Norte, também era cultivado e prosperava regularmente. Tanto o linho como o algodão
eram fiados pelos próprios colonos, que teciam as roupas de seu uso”. O linho também era
usado como alimento para cavalos, porque deixava os pelos reluzentes, detalhe importante para
o prestígio dos rapazes perante as moças casadoiras. Uma montaria reluzente e bem arreada era
fator de sucesso para o jovem galanteador, o carrão incrementado da época.
Ainda sobre os dois últimos produtos, o mesmo autor menciona que eles sobreviveram por
algum tempo, mas depois desapareceram. Em 1865, havia na Colônia 365 rodas de fiar linho. E
em 1880, ainda havia uma roda de fiar para cada duas famílias, chegando o Município a
produzir 15 toneladas de algodão e oito toneladas de linhaça (semente de linho). Amostras de
linho e algodão foram apresentadas em 1881, durante a Exposição Brasileira-Alemã de Porto
Alegre, idealizada por Karl von Koseritz, onde “o novo município de Santa Cruz se revelava o
importante centro produtor que era”, segundo Menezes, que relatou terem sido ali exibidas 106
amostras dos variados produtos de sua agricultura e de suas indústrias diversas, destacando-se
“o fumo em folha, não só por sua excelente qualidade, já então proclamada fora do município,
como também pela quantidade considerável em que era exportado”.
Naquele mesmo ano, Santa Cruz exportava onze itens, representando cerca da metade do
volume total da produção do município. Destacavam-se, pela ordem, o fumo, a erva-mate, a
banha e o feijão. Mas era o milho a primeira cultura em volume e a segunda em valor de
produção, porém era consumido quase integralmente no Município. No mesmo catálogo, seu
organizador, o Dr. Graciano Alves de Azambuja, escreveu que “ao município de Santa Cruz
deve-se a iniciativa da cultura do fumo em grande escala nesta província. Ali é que ela começou
e ali é que ela se tem desenvolvido mais do que em outro lugar qualquer da província. (...) A
nossa exportação total do fumo é formada em sua maior parte pela produção da ex-colônia de
Santa Cruz”. Ainda em seu relatório, Azambuja faz um prognóstico: “Dentro de um período
muito breve, o fumo terá chamado a si, nesta província, uma grande parte das forças de nossa
agricultura, até aqui ocupada em culturas de menor remuneração”. E arremata: “Sirvam estas
ligeiras observações para notar-se um fato em si mesmo eloqüentíssimo, e que vem comprovar
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quão produtivas são as despesas que o estado faz com a introdução e o estabelecimento de uma
colônia inteligente e laboriosa”.
A economia da Colônia era diversificada e ia tão bem que já em 1872 se falava em criar o
Município, o que só viria a ocorrer efetivamente em 1878. A força da nova unidade municipal
estava fortemente alicerçada na policultura, tanto que em 1886 as exportações (vendas para fora
do município) abrangeram 21 produtos, destacando-se fumo em folha (110.835 arrobas), feijão,
erva-mate, arroz, milho, batata, farinha de mandioca e banha de porco. Foram exportados,
também, fumo em corda, toucinho, farinha de milho, amendoim, aguardente, manteiga, couros,
cabelo, cebola, melaço, meios de sola, suínos, cavalos e pedra ágata.
Nos anos seguintes a pauta foi aumentando, já se implantando também a fabricação de
charutos, vinhos e licores. As produções de erva-mate e de banha tinham o maior crescimento.
Em 1895, a lista dos produtos vendidos para fora do município já tinha, também, fumo
preparado, cera e mel de abelha, casca para curtume e cevada. A partir de 1899, também foram
exportados: solas, charque, ervilha, fava, caroços de mamona, pinhão, alfafa, aves, banana,
chifres, centeio, frutas diversas, lã, laranjas, lentilhas, melaço, ovos, queijo e telhas de barro.
Com o tempo, os colonos iam descobrindo quais produtos eram mais vantajosos para as
condições locais de solo, clima e mercado. Passados 50 anos desde a fundação da Colônia, tinha
sido abandonada a produção de fazenda de linho, linhaça, painço, colza (Rapps), álcool
(conhecido como espírito) e polvilho. Alguns outros ainda se mantinham, mas com produção
reduzida, caso do linho, do trigo, do algodão e da farinha de mandioca.
A propósito da colza – uma variedade de couve, de cuja semente se extrai óleo – é
interessante mencionar que este vegetal voltou a ganhar grande importância. A Alemanha
domina a tecnologia mais avançada do mundo, tendo a colza como principal matéria prima do
biodiesel, que é vendido nos postos de combustível.
A seguir, mostramos um quadro com o movimento de exportação dos quatro principais
produtos de Santa Cruz, entre 1853 e 1921:
É preciso levar em conta que especialmente o feijão e a banha eram também produtos de
subsistência dos agricultores, o que leva à conclusão de que a produção total era muito superior,
no caso do feijão até dobrando os números das exportações.
A inauguração do ramal ferroviário, em novembro de 1905, deu um grande impulso à
economia local, facilitando sobremodo a exportação de produtos, principalmente de origem
agrícola, mas cerca de 10% de industrializados. O maior volume era de fumo, banha e toucinho,
cereais e erva-mate. Nos seus primeiros cinco anos, o trem embarcou em média mais de 5 mil
toneladas de produtos por ano, estatística que só cresceu nos períodos subseqüentes.
Enquanto o fumo avançava como principal cultura de comercialização, a agricultura e a
pecuária de subsistência se mantinham firmes como uma necessidade da população, cuja
esmagadora maioria habitava os distritos do interior. Parte mínima de sua alimentação era
adquirida no comércio. Arroz, feijão, milho, batata doce, batata inglesa, aipim, cana-de-açúcar,
frutas e verduras, suínos e aves, leite e derivados, além de outros produtos saíam da terra e dos
galpões para a mesa, de forma natural ou industrializados artesanalmente.
Entrementes, especialmente entre as década de 1920 e 1950, a colônia santa-cruzense
começou a sentir um certo esgotamento de seu potencial de expansão. A população rural do
Município explodiu de 30 para mais de 50 mil habitantes. Coincidiu que, na época, abriam-se
novas áreas de colonização nas regiões a oeste de Santa Catarina e do Paraná, com oferta de
terra barata e abundante. Eram projetos organizados e com credibilidade, muitos deles inclusive
com a chancela da Igreja. Aqui mesmo em Santa Cruz, na sede da Caixa União Popular (hoje
Sicredi), em janeiro de 1926, foi firmado o contrato de fundação da colônia de Porto Novo
(atual Itapiranga), no extremo oeste de Santa Catarina, por iniciativa do padre jesuíta João
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Evalgelista Rick. Ainda depois da Segunda Guerra, novas levas de agricultores seguiam para o
mesmo destino das novas colônias, alcançando também a região de Toledo, no Paraná.
Como as famílias ainda eram bem numerosas, muitos julgavam não haver espaço para todos
em Santa Cruz, onde as propriedades eram limitadas e mais caras. Foi assim que grande parte
do melhor potencial de trabalho, especialmente de agricultores mais jovens, migrou em bloco e
com apoio mútuo para as chamadas Novas Colônias, enfrentando o trauma da separação dos
parentes e a incerteza do reencontro. Famílias inteiras colocaram suas mudanças sobre
caminhões – levando até vacas e animais domésticos – enfrentaram vários dias de viagem, numa
verdadeira aventura até o novo destino, onde, repetindo a saga dos imigrantes do século 19,
encontrariam tudo por fazer.
Mas foi a era Vargas que, coincidindo com gigantescas transformações sociais no País,
serviu de divisor de águas entre os dois grandes ciclos econômicos da nossa história. Foi nessa
passagem que começou a transformar-se o modelo familiar de economia e das cooperativas
agrícolas, que eram verdadeiros símbolos de organização sem intervenção governamental, de
uma agricultura livre e independente.
O novo tempo, que gerou importantes direitos sociais para os trabalhadores urbanos,
encaminhou uma mudança radical na sociedade e nos negócios. A industrialização acelerada
produziu uma grande corrida para a cidade, que cresceu descontroladamente, sem estar
preparada para isso, e gerou bolsões de pobreza na periferia. Os colonos mais bem-sucedidos
adquiriam imóveis na cidade, e seus filhos vinham estudar em melhores condições, já que as
limitadas escolinhas comunitárias também entraram em colapso. Cada vez mais, o interior
buscava oportunidades na cidade, e migrantes de fora completavam o quadro.
O Município, que em 1960 ainda tinha 71% de sua população vivendo no interior, em duas
décadas inverteu a situação, passando a ter apenas 44% dos seus habitantes na colônia e 56% na
zona urbana. A euforia do milagre fez muito bem à economia, mas do ponto de vista social foi
um colapso, para o qual se geraram novas demandas junto a um poder público incapaz de
satisfazê-las.
O fumo se tornou rei, ouro fumegante, riqueza desejada intensamente por cada produtor
rural. Seu preço virou referência monetária. Negócios passaram a ser feitos não na moeda do
País, mas em arrobas de fumo, especialmente entre os agricultores. Com isso, e com as
facilidades do comércio e das comunicações, a agropecuária de subsistência ainda resistiu, mas
passou a entregar-se aos poucos, cedendo cada vez mais espaço ao tabaco. Paralelamente,
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As principais culturas alternativas passaram por situação semelhante. O milho ainda cresceu
entre 1975 e 1992, e depois permaneceu estável, com algumas oscilações.
A soja, que tinha sido introduzida a partir de 1950, ainda colhia a metade do volume do
milho nos anos 70, mas foi caindo e hoje a produção é insignificante.
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O arroz foi uma exceção, porque entrou no ciclo da irrigação, aproveitando as condições
favoráveis de algumas extensões de várzea, mais do que triplicando a produção entre 1975 e
1992; após a emancipação de quatro distritos, outra vez duplicou a produção em 12 anos.
O feijão, embora sem grande regularidade, conseguiu dobrar os resultados depois de 1993,
mas, apesar de sua tradição, é apenas uma cultura de subsistência. Como o são também a cana-
de-açúcar e o aipim, com produção bastante volumosa e estável.
As chamadas lavouras permanentes, especialmente os pomares, apresentaram nos últimos
15 anos um recuo imenso. De um total de 13 espécies frutíferas registradas pelo IBGE em
Santa Cruz, apenas a banana teve um crescimento significativo. Todas as demais, ou caíram
drasticamente, ou se mantiveram estáveis.
A seguir, apresentamos um quadro de alguns dos principais produtos, e a evolução dos seus
números nas últimas três décadas, em Santa Cruz do Sul:
Ano Milho em grão(ton) Soja em grão (ton) Arroz em casca (ton) Feijão em grão (ton)
1975 26.208 12.636 2.683 2.573
1980 31.474 13.500 6.100 1.491
1985 52.500 13.500 8.925 2.714
1990 39.600 3.990 5.320 3.000
1995 (*) 19.750 120 4.312 225
2000 36.480 1.620 8.554 504
2001 24.000 1.620 7.735 522
2002 26.000 1.620 8.042 582
2003 33.000 2.430 8.100 339
2004 18.480 1.620 9.630 835
(*) A queda brusca dos números se deve à emancipação dos distritos de Sinimbu, Trombudo, G. Xavier e Herveiras (1993).
Fonte: IBGE
Fora do rol de culturas tradicionais, o setor que migrou da mera subsistência para a
comercialização foi o de hortifrutigranjeiros, desenvolvido principalmente a partir de 1980,
quando surgiram as Feiras Rurais, e depois o Horto-Atacado. Está aí um segmento ainda não
suficientemente aproveitado, que vem ganhando importante apoio do Município e tem inclusive
uma garantia de mercado, dada pela organização do setor e pelo elevado potencial de consumo
da cidade. Mesmo assim, a oferta está longe de atender às demandas dos mais de 100 mil
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2. A fumicultura
Como se pode ver, era o tabaco que despontava cada vez mais forte como o principal
produto agrícola de Santa Cruz. A partir de 1881, já começou a entrar no mercado o fumo em
corda, ainda hoje usado para a confecção de palheiros. Em 1891 aconteceu o início de um novo
processo de industrialização, com o fumo desfiado, na época conhecido como caporal. Em
1908, o Município já contribuiu com 20% das 11.119 toneladas produzidas e exportadas pelo
Rio Grande do Sul. E a partir da instalação de indústrias de maior porte, pouco antes de 1920,
foi introduzido o fumo Virginia, curado em estufas (antes havia apenas fumo de galpão) e o
mercado passou a ser abastecido também com fumo destalado. Inaugurou-se aí uma nova fase
de desenvolvimento da economia fumageira, cujos números não pararam mais de crescer.
Daí até o final da Segunda Guerra, as estatísticas são escassas, mas o Município tem tido um
crescimento acima da média gaúcha, graças aos retornos tributários sobre este produto,
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altamente taxado. O transporte ferroviário, implantado em 1905, foi de vital importância para a
exportação, numa época em que não havia caminhões e sequer estradas em condições.
O quadro a seguir mostra a evolução da fumicultura santa-cruzense entre os anos de 1861 e
1921. Os números referem-se ao volume de tabaco exportado, entendendo-se por exportado
todo produto vendido para fora da Colônia e, mais tarde, do Município:
Pode-se perceber que a produção tinha, desde o princípio, um crescimento sólido, mas o
maior salto se deu a partir da segunda década do século 20, quando os agentes econômicos
passaram a se organizar melhor e o Município já respondia por 25% da produção estadual, que
era de 18 mil toneladas. Santa Cruz assistiu, aí, à instalação de indústrias de maior porte (Cia.
Brasileira de Fumo em Folha em 1917 e a fábrica da Cia. de Fumos Santa Cruz em 1919) e
recebeu as primeiras agências bancárias, com a vinda dos Bancos Pelotense (1916), Nacional do
Comercio e da Província (1917). Já existia desde 1904 a Caixa Cooperativa de Santa Cruz, que
desembocaria mais tarde no Banco Agrícola Mercantil, atual Unibanco. Fundou-se, também, a
União Comercial e Industrial (1918), logo sucedida pela Associação do Comércio, Indústria e
Agricultura, como importante instrumento de aglutinação de toda a cadeia econômica.
Na mesma época, surgia a empresa Hennig & Cia., que em 1948 se transformaria na Cia. de
Cigarros Sinimbu, também com fábrica de cigarros. Seguiram-se as empresas Kliemann (1921),
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Tabacos Tatsch (1937) e Sudan (1940), além de outras de menor porte, a maioria
empreendimentos familiares de capital local.
No interior floresciam, desde o início do século 20, as cooperativas agrícolas, ou criadas
pelos próprios colonos em suas regiões interioranas, ou de maior âmbito, com sede na cidade.
Inspirados no modelo alemão do sistema Reiffeisen, introduzido pelo padre Theodor Amstad
em Nova Petrópolis (1902), os agricultores levaram, assim, para o setor econômico o
associativismo que já cultivavam na igreja, na escola e na vida social. Em Santa Cruz, começou
com o Bauernverein, em 1904 se fundou a Caixa Cooperativa, e, mais tarde, a Caixa Rural União
Popular, hoje integrada ao sistema Sicredi. Firmaram-se, ainda, entre as entidades mais
representativas a União Sul-Brasileira de Cooperativas, a Cooperativa Agrícola Pe. Theodoro
Amstad, bem como as cooperativas de Linha Santa Cruz, Rio Pardinho, Boa Vista, etc. As
cooperativas se disseminaram pelas regiões de colonização alemã e, por elas, muitos colonos
passaram a vender suas colheitas, não apenas de tabaco, mas também de outros produtos.
A agricultura era ainda fortemente voltada para a subsistência, mas o fumo não era a única
alternativa de produto comercializado. Sendo a suinocultura a principal fonte geradora de
proteína animal para os agricultores (eles tinham o hábito diário de consumir carne de porco),
surgiu naturalmente a banha como segundo grande produto de exportação. As primeiras
partidas de banha aconteceram em 1881, mas o grande impulso se deu a partir da segunda
década do século 20. Em 1910, o produto chegou a desbancar o fumo como principal item
agropecuário do Município, participando com 44% no valor das exportações, contra 36% do
tabaco. O milho também produzia mais que o fumo, mas era produto de subsistência,
praticamente sem exportação. Na mesma época, o feijão também reagiu um pouco, mas como
cultura de subsistência, não passando de 9% a sua fatia na balança de exportações (1910). E a
erva-mate, que ganhara extraordinário impulso logo depois da autonomia municipal, chegando
a vender 900 toneladas em 1881, reduziu-se em 1910 a pouco mais de um terço, com 3,4% no
quadro de exportações.
Em 1921, quando foram produzidas 4.415 toneladas no Município, o fumo representou
53% da receita financeira dos agricultores, enquanto a banha ocupava destacado segundo lugar,
com 36%, o feijão era o terceiro, com menos de 3%, e outros 20 produtos somados
respondiam pelos demais 8% das vendas agrícolas. A explosão do fumo, que ainda era
transportado com carroças, obrigou a Intendência a investir pesadamente em estradas para o
interior, para que os colonos pudessem escoar sua produção. Assim, foram construídos trechos
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como o aterro do Bom Jesus, a subida do Grasel, o atalho do Batattenberg (Linha Nova), a
subida da Cava Funda, etc.
Nessa época, a erva-mate já não constava mais na lista de exportações. Mas a produção de
banha continuou forte até que, já na segunda metade do século 20, começou a ser introduzida a
cultura da soja, e com ela o óleo na cozinha brasileira, modificando drasticamente o perfil da
suinocultura e tendo que ser substituído o porco tipo banha pelo tipo carne. Eliminado o maior
atrativo do setor, que era a banha, seguiu-se a decadência da atividade pecuária mais importante
do Município, abrindo maiores espaços para o crescimento cada vez maior da fumicultura, não
só em Santa Cruz do Sul, mas também no Rio Grande do Sul, que tomou da Bahia a posição de
maior produtor nacional.
O quadro a seguir mostra a evolução da fumicultura gaúcha ao longo dos 50 anos que se
passaram desde 1915 até o início da crise da Rodésia, em 1965, que precipitou a abertura do
mercado mundial para o fumo brasileiro.
Durante a maior parte deste período, Santa Cruz do Sul manteve uma participação ao redor
de 25% na produção e exportação de tabaco no Estado, além de entrar firme na fabricação de
cigarros. O Município exportou 8.903 toneladas de fumo e 42.711 kg de cigarros já em 1930, e
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Nos anos 30, o fumo já respondia por dois terços das exportações de Santa Cruz do Sul
(65,79% em 1937), entrando a banha com 15,34%, o cigarro 4,93% e os demais produtos
13,94%. Somando o fumo em folha ao cigarro, constatamos que o setor fumageiro já tinha
ultrapassado o índice de 70% das exportações santa-cruzenses, cujos principais mercados
estavam no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia e na Europa.
Antes dos anos 1920, a produção cigarreira do Brasil era insignificante, praticamente só se
fabricavam charutos. Seu crescimento se deve à introdução dos fumos claros na Região Sul,
alavancada principalmente pela Cia. Brasileira de Fumo em Folha, que em 1947 detinha 36% do
mercado exportador de Santa Cruz, mesmo havendo 27 empresas atuando no setor.
Apesar dos estragos culturais da guerra, a economia santa-cruzense não sofreu maiores
prejuízos. A fumicultura também se reciclou e reestruturou rapidamente, e continuou a crescer.
Surgiram a Associação dos Fumicultores do Brasil e o sindicalismo, para equilibrar a relação na
qual a indústria se apresentava cada vez mais poderosa. O número de empresas foi caindo e a
Cia. Brasileira de Fumo em Folha se transformou em Souza Cruz (1955).
Nos anos 1960, o tabaco brasileiro foi bafejado pela sorte. Conflitos étnicos na Rodésia
(atual Zimbábue) comprometeram a produção e levaram a um embargo comercial contra aquele
país africano. Como o governo brasileiro tinha uma política favorável ao capital externo,
empresas multinacionais começaram uma corrida para cá, e Santa Cruz do Sul se beneficiou,
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como o principal produtor e beneficiador de fumo do Brasil, além de contar com duas
indústrias de cigarros, a Cia. de Fumos Santa Cruz e a Cia. de Cigarros Sinimbu.
A partir do início de 1967, logo após a grande crise da Rodésia, o ingresso do capital
externo trouxe um crescimento extraordinário para a fumicultura, não só em Santa Cruz do Sul,
como também nos municípios vizinhos e em diversas outras regiões do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná. Estruturou-se uma cadeia produtiva baseada na integração entre
produtor e indústria, com fortalecimento do mercado e grande melhora na qualidade do
produto, a ponto de o fumo brasileiro ser hoje considerado o melhor do mundo.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) faz um acompanhamento estatístico da
produção de tabaco desde a safra de 1978/79, cujos números, apresentados no quadro a seguir,
demonstram grande estabilidade na área plantada e no número de produtores, além de
considerável incremento na quantidade colhida e comercializada, resultado de novas tecnologias
na qualidade e no manejo. Santa Cruz do Sul continuava responsável por 25% da produção
gaúcha, e era líder de produção no país, posição que perdeu em 1993, quando se emanciparam
quatro dos seus distritos, levando a metade dos produtores. Eis o quadro:
Cronologia da Fumicultura
No Brasil
1492 – Companheiros de Cristóvão Colombo viram pela primeira vez os índios brasileiros fumar. Era fumo de
corda. Logo os marinheiros aderiram ao hábito, pois descobriram que era um ótimo meio de passar o
tempo nas longas viagens.
1542 – O fumo é levado a Portugal e cultivado em jardins como planta ornamental exótica e medicinal.
1560 – Jean Nicot descobre no hábito de fumar alguns elementos da planta que agem na cura de certas doenças.
1641 – O fumo é utilizado como moeda no tráfico de escravos. É o principal gênero do comércio de resgate
constituindo a grande originalidade do fumo brasileiro.
1674 – Criação da Junta de Administração do Tabaco estabelecendo o monopólio português, coincidindo com a
aplicação dos primeiros impostos sobre o fumo.
1680 – O Brasil produz 3.750 toneladas de fumo e consegue autorização para exportar 200 t através de Portugal.
1718 – Pernambuco ganha permissão para cultivar fumo e exportar até 660 rolos anuais, o que correspondia a
24.750 quilos. Até então somente a Bahia cultivava tabaco.
1751 – Criam-se novos órgãos especiais que introduzem inovações e mudanças na legislação vigente.
1808 – Criam-se 3 tipos de impostos sobre o fumo em nível federal, além das taxas alfandegárias.
O cultivo do fumo é liberado para todo o Brasil, e experimenta-se uma grande expansão com a criação de
novas áreas de cultivo. Houve diversificação nos níveis agrícola, industrial e comercial. Inicialmente, a
exploração do fumo era restrita a Bahia e após a Pernambuco.
1817 – Instalação das primeiras fábricas de rapé no Brasil. O principal centro produtor era o Rio de Janeiro e a
fábrica mais importante era a de João Paulo Cordeiro.
1821 – O Brasil exporta 4.240 toneladas de fumo em folha, equivalentes a 90% da produção.
1824 – Início do cultivo do tabaco no Rio Grande do Sul, com a chegada dos imigrantes alemães que se fixaram
em São Leopoldo. Eram produzidos apenas fumos escuros para charutos, feitos artesanalmente pelos
próprios produtores.
1842 – Os imigrantes alemães estabelecidos em São Leopoldo produzem um excedente de fumo e fabricam
manualmente 21.200 charutos, cuja venda lhes dá uma renda de 800.000 réis.
1850 – O cultivo do tabaco sofre um grande impulso, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Início do cultivo de fumo em Santa Cruz do Sul, que mais tarde se constituiria na capital mundial do fumo.
Surgem novas variedades de fumo escuro, criadas nas áreas fora da Bahia.
1852 – Santa Cruz do Sul produz experimentalmente 2.400 quilos de fumo estufa. Os testes fracassaram
parcialmente e não tiveram continuidade imediata.
1858 – Existem 11 fábricas de rapé no Brasil, empregando em média 22 operários cada uma.
1859 – Criam-se taxações sobre o fumo em níveis municipal e estadual, além dos tributos federais já vigentes.
1874 – Instalação da primeira fábrica de cigarros no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, sob a denominação de
Imperial Estabelecimento de Fumo. A primeira marca de fumo desfiado lançada foi a de Veado.
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1880 – Surge uma grande manufatureira de fumo em Pelotas, lançando a marca Cerrito, com a qual foi premiada
inclusive no exterior.
1899 – O fumo significa 25,5% de arrecadação do Imposto de Consumo e 1,1% do total da receita federal.
1900 – A região Sul do Brasil exporta 21.180 toneladas de fumo. O Brasil produz 70 milhões de charutos, sendo
90% de fabricação baiana. O fumo é comercializado em folhas, em corda, desfiado, charutos, cigarros e
rapé. 90% do fumo produzido é exportado para a Europa.
1913 – Da união dos pequenos empresários surge a formação de grandes indústrias manufatoras de charutos.
Destacam-se no setor:
Costa Ferreira & Penna, Bahia; Dannemann & Cia., Bahia; Suerdieck & Cia., Bahia; Fábrica de Charutos
Poock, Rio Grande do Sul.
1914 – A Souza Cruz (Cia. Brasileira de Fumo em Folha), fundada em 1903, se associa ao grupo British American
Tobacco (BAT).
1918 – Unem-se 6 empresas do Sul formando a Cia. de Fumos Santa Cruz, uma das primeiras usinas de
beneficiamento de fumo do país. No mesmo ano, surge a Cia. de Cigarros Souza Cruz no Rio de Janeiro,
primeira fábrica de cigarros.
1920 – Implantação do fumo Virgínia no Sul com sementes importadas pela Cia. Brasileira de Fumo em Folha,
atual Souza Cruz. Todas as tentativas anteriores de cultivar esta variedade fracassaram, pois exigia
investimentos com a construção de estufas. As sementes de Virgínia foram trazidas por agrônomos
americanos que, inicialmente, prestaram assistência técnica aos produtores. Surgem as primeiras estufas
no Rio Grande do Sul.
1925 – Bahia e Rio Grande do Sul produzem 55% do fumo brasileiro. Formam-se novas coligações e permanecem
ativas apenas três grandes fábricas de charutos.
1938 – O Rio Grande do Sul assume definitivamente a liderança na produção de fumo do Brasil. Até então, o
maior produtor era a Bahia.
1965 – O Rio Grande do Sul possui 16.000 estufas e produz 37.000 toneladas de fumo de estufa. Uma crise política
atinge a Rodésia, atual Zimbabwe, 2º maior exportador mundial de fumo Virgínia. Isto favorece o Brasil,
que conquista novos mercados e se consolida neste setor.
1986 – Existem no Brasil 25 empresas instaladas com usinas de processamento de fumo. No ramo cigarreiro,
existem quatro indústrias, com um total de 10 unidades fabris, instaladas nos mais diversos pontos do
Brasil.
1824 – Início do cultivo do fumo no Rio Grande do Sul, com a chegada dos imigrantes alemães que se fixaram em
São Leopoldo.
1849 – Início da Colonização de Santa Cruz do Sul.
1851 – Santa Cruz do Sul começa a plantar fumo com sementes importadas de Cuba. Eram fumos escuros, curados
em galpões.
1852 – Santa Cruz produz experimentalmente 2.400 quilos de fumo estufa. Os testes fracassam parcialmente e não
têm continuidade imediata.
1853 – Santa Cruz entra no mercado internacional, exportando 70 toneladas de fumo.
1917 – Em Santa Cruz é instalada a primeira usina de processamento de fumo do País. Este ano é marcado pelo
surgimento das primeiras estufas e pelo surgimento do fumo Virgínia.
1967 – Santa Cruz se consolida no mercado externo, com a vinda das empresas multinacionais.
2001 – Santa Cruz possui, em seu parque industrial, uma fábrica de cigarros e cinco usinas de beneficiamento, que
processam fumo procedente dos três estados do Sul.
3. Os negócios
atenção, além do fumo, os licores destilados a vapor e os tijolos ocos, duas novidades que
ganharam destaque no catálogo oficial da exposição, organizado para a Sociedade Filial de
Geografia Comercial pelo Dr. Graciano Alves de Azambuja.
Naquele documento, está mencionado que havia em Santa Cruz uma fábrica de licores com
destilação a vapor, de propriedade de Abrahão Tatsch, que também era vereador no Município.
Ele expôs um conjunto de 18 produtos, atingindo a respeitável produção de 20 mil litros
naquele ano. Outras bebidas, também já fabricadas na mesma época em Santa Cruz, eram a
cerveja, o vinho e a aguardente de cana, além do álcool, conhecido na época como espírito.
Grande curiosidade despertaram na exposição os tijolos ocos, fabricados em Santa Cruz por
Valentin Dahlen, sobre os quais o catálogo afirma o seguinte: “Estes tijolos, mais leves do que
os tijolos comuns, recomendam-se para a construção das paredes divisórias no interior das
casas. Absorvem menos umidade e são maus condutores dos ruídos que se fazem junto às
paredes”. E o historiador João Bittencourt de Menezes, em 1914, comentou: “Parece-nos que
estes materiais não tiveram aceitação aqui, nem nos consta que fossem aproveitados em alguma
edificação. Em todo caso, cessou o seu fabrico, desaparecendo assim mais uma indústria que
hoje poderia ser bastante remuneradora”. Aparentemente, esses tijolos ocos eram então uma
novidade exclusiva do fabricante santa-cruzense, mas hoje aquele protótipo de tijolo furado se
tornou realidade absorvida pelo mercado nacional.
Foi em 1891 que, segundo Menezes, “as administrações do Município começaram a
organizar mais ou menos metodicamente as estatísticas da produção e da exportação”. Os
dados anteriores a essa data, alguns dos quais mencionamos no presente trabalho, são
imprecisos e às vezes até divergentes, razão por que devem ser vistos com reservas. Nos
arquivos atuais da Prefeitura Municipal, encontra-se apenas um registro de atividade econômica
anterior a essa data, de 1874, quatro anos antes da instalação do Município (ver quadro de
atividades abertas/encerradas, a seguir).
Atividades: abertas/encerradas
Autônomo, prestação de serviços, comércio, indústria e outros
Período Abertas Encerradas
1874-1900 1 0
1901-1910 5 0
66
1911-1920 7 0
1921-1930 9 0
1931-1940 13 0
1941-1950 37 0
1951-1960 80 0
1961-1970 398 0
1971-1980 1.311 0
1981-1990 7.415 2.108
1991-2000 9.497 6.516
2001 731 4.300
2002 601 323
2003 649 281
2004 592 351
2005 679 233
2006 (1º quadrimestre) 183 85
TOTAIS 22.208 14.208
Fonte: Secretaria Municipal de Fazenda
Quando da proclamação da República (1889), Santa Cruz já tinha 243 fábricas e oficinas
(das quais apenas 68 na sede), número que se elevou para 418 em 1910, de um total de 1.060
contribuintes do imposto de indústrias e profissões. Eram 25 alfaiatarias, 30 alambiques, 16
curtumes e lombilharias, três engenhos de descascar arroz (a vapor), dois engenhos de erva-
mate (hidráulicos), quatro fundições de ferro e/ou metal, 12 funilarias, 42 ferrarias, 50
marcenarias, 35 moinhos hidráulicos, três moinhos a vapor, 16 serrarias hidráulicas, 23 serrarias
a vapor, 28 sapatarias, 65 fábricas diversas e 31 oficinas variadas.
Entende-se que a maioria desses estabelecimentos era localizada nos distritos, pelo fato de o
interior, com dificuldades de comunicação e de estradas, tinha que manter sua vida própria. Era
ali, também, que morava a esmagadora maioria da população. Em 1910, o município de Santa
Cruz tinha 30.010 habitantes, dos quais pouco mais de 10% moravam na cidade. No final do
século 19, ainda havia distritos com potencial econômico quase igual ao da sede. Em 1891, por
exemplo, havia 37 lojas de fazendas no Município, das quais 12 se localizavam na então ainda
vila de Santa Cruz, outras 12 na vila Teresa (Vera Cruz) e as demais 13 nos outros distritos do
interior.
67
Um pouco mais tarde, em 1921, já no meio do impulso das primeiras indústrias fumageiras
de porte, havia no Município 127 casas comerciais de fazendas, ferragens, louças e miudezas, 35
de secos e molhados, 209 botequins, 40 alfaiatarias, 23 sapatarias, 82 marcenarias e carpintarias,
43 ferrarias, 29 selarias e lombilharias, 32 fábricas de tijolos e telhas, 55 serrarias, 48 moinhos,
25 matadouros, 78 casas de baile, 15 engenhos de aguardente. Havia, ainda, três fábricas de
preparar fumo. Outras indústrias eram de banha (5), cigarros (1), charutos (3), vassouras e obras
de vime (3), sabão (2), chapéus (1), torrefação de café (4), formas e cadeiras (3), bolachas (2),
foguetes (1), licores (2) gelo (2). Existia um engenho de erva-mate e 34 fábricas de bebidas
diversas, a maioria de cachaça (alambiques), mas também de cerveja, licor, gasosa e água
mineral. Havia, ainda, quatro médicos na cidade, dois em Vila Teresa e um em Monte Alverne.
Os dentistas eram 14, as parteiras 17 e os advogados cinco. Como se vê, ainda era bem
diversificada a atividade industrial e profissional em Santa Cruz, mesmo com o potencial do
fumo já prevalecendo.
A partir da mesma década de 1920, foram surgindo fora do setor fumageiro algumas
empresas que sobreviveriam e teriam um importante crescimento. É o caso da Cervejaria Polar
(1921), a fábrica de caramelos e chocolates Sulina (1923), a fábrica de artefatos de borracha
Mercur (1924) e a refinaria de banha A. Evers (1925). Em 1940, seria a vez de do Frigorífico
Excelsior, na esteira de um período ainda fecundo da suinocultura. O grupo Excelsior seria,
também, responsável pelo primeiro supermercado da cidade, nos anos 60.
Nos anos 1950, já na nova fase da economia local, depois do grande choque cultural do
regime Vargas, os números apontam para um novo incremento da economia do tabaco, já três
vezes maior que na década de 20, e entrando num ritmo trepidante de crescimento,
principalmente a partir da modernização das estruturas e da entrada do capital externo em
decorrência da crise de 1965 na Rodésia (Zimbábue), país que até então liderava o mercado.
O desempenho da economia reflete-se nos números das receitas públicas do Município, que
evoluíram a partir de 1971, quando se inaugurou o moderno ciclo do tabaco e passou a vigorar
o atual sistema do índice de retorno de ICMS. O apogeu deste período se deu a partir da
metade dos anos 1980, quando os números oficiais revelam um grande crescimento. Dez anos
depois, já se registrou um lento declínio, em parte pela emancipação de quatro distritos e, com
eles, a perda de metade da produção primária. E em 2006, houve uma brutal queda no índice de
ICMS, resultante do desempenho de 2004, que já preocupa as autoridades e lideranças do setor.
68
E o peso do fumo no cômputo das receitas estaduais, medido na última década, revela um
índice entre 75 e 80% do total do valor adicionado municipal. O quadro a seguir mostra a
situação:
4. O transporte
abrigariam apenas o tráfego de carroças e montarias, durante pelo menos mais 57 anos, até a
chegada do primeiro automóvel, em 1911.
Em 1872, ano em que a Colônia foi emancipada e voltou a ligar-se ao município-mãe de Rio
Pardo, Carlos Trein Filho era o Diretor e falou-se pela primeira vez na construção de um ramal
ferroviário entre Rio Pardo e Santa Cruz. Dez anos depois, já com o município autônomo, a
Câmara tomou a primeira medida oficial, pedindo estudos para o ramal. Mas a idéia só viria a
concretizar-se em 1905, quando o presidente do Estado, Antonio Augusto Borges de Medeiros,
veio inaugurar a estação e a linha ferroviária, elevando também a sede do município à condição
de cidade, por causa do seu “notável progresso”, como registrou Menezes.
Apenas seis anos depois, no final de 1911, o cidadão Henrique Melchiors importou um
motor e construiu o primeiro automóvel em Santa Cruz. Já no ano seguinte, em agosto e em
novembro, o mesmo proprietário fazia chegar dois modelos norte-americanos, promovendo
passeios com os interessados, pela cidade e até pelo interior, especialmente Vila Teresa e Rio
Pardinho, em estradas que eram feitas para carroças. O primeiro acidente de trânsito aconteceu
no dia 6 de maio de 1914, na frente do Clube União, quando o Humber conduzido por
Melchiors, distraído por um curioso que o chamava na calçada, colidiu com o Colibri de Carlos
Lund, que estava estacionado.
No início da década de 1920, o transporte de cargas continuava entregue às carroças, mas os
veículos automotores começavam a entrar com força. Iniciou uma nova fase de euforia na
fumicultura, com a introdução do fumo Virgínia, de estufa. E com a chegada da Companhia
Brasileira de Fumo em Folha (futura Souza Cruz) e a fundação da fábrica de cigarros da Cia. de
Fumos Santa Cruz, a produção disparou e o intendente Gaspar Bartholomay se obrigou a
investir pesado em estradas. Assim, foram construídos o aterro do Bom Jesus, as subidas do
Grasel e do Cerro da Batata (entre Linha Nova e Linha Antão), as ligações da Cava Funda
(entre Sinimbu e Sete Léguas) e de Cerro Branco (entre Sinimbu e Herveiras), além de outras.
Após a fundação da Varig, em 1927, Santa Cruz do Sul entrou na história da aviação
comercial do Estado, como uma das primeiras cidades do interior servidas por linhas regulares,
a partir de 1931. O Junkers F-13 Santa Cruz da companhia, com cinco lugares, fazia sua escala na
rota Porto Alegre-Santa Maria, um luxo que, 75 anos depois, não existe mais. É verdade que as
circunstâncias são outras: os demais meios de transporte eram muito precários e demorados, e a
eles não se sujeitavam os capitalistas da florescente indústria santa-cruzense.
71
Enquanto o transporte rodoviário ia sendo desenvolvido, de forma muito lenta, por causa
da grande deficiência de estradas, o Município não deixava de se desenvolver. Nos anos 40, em
plena guerra, o prefeito nomeado Dario de Azevedo Barbosa realizou as primeiras obras de
calçamento urbano, com paralelepípedos de granito. Mas as pavimentações só ganhariam
impulso na década seguinte, quando também se inaugurou (1952) a primeira estrada asfaltada da
região, ligando a sede municipal ao distrito de Vila Teresa.
Quando, em 1956, o presidente Juscelino Kubitscheck assumiu o poder com seu grande
programa desenvolvimentista, decretou o início da era rodoviária e permitiu o sucateamento das
ferrovias. Santa Cruz do Sul ainda não tinha estradas asfaltadas para a Capital do Estado, mas
tinha uma ferrovia que ficava com os dias contados. A inauguração da ponte sobre o rio
Taquari, em Mariante, foi muito festejada, porque trouxe uma grande redução do tempo de
percurso até Porto Alegre. Mas antes que se concretizasse o sonho das estradas pavimentadas, o
trem parou de transportar passageiros e cargas, em 1965, 60 anos depois de ter sido inaugurado
festivamente por Borges de Medeiros. Foi um grande baque econômico e até sentimental para
Santa Cruz, que usava compulsoriamente a ferrovia para escoar os seus produtos, além do
carro-motor para transportar seus passageiros.
A 1ª Fenaf foi realizada sem trem e sem asfalto, em 1966. A primeira rodovia pavimentada
na direção da capital foi a BR-471, até Pantano Grande, inaugurada em dezembro de 1971. Três
anos depois, viria a ligação pela atual RST-287, via Venâncio Aires e Tabaí. No mesmo ano
também se inaugurava o asfalto da subida do Grasel, que era o mais importante acesso da
cidade.
Várias outras estradas também receberam pavimentação nos anos 80, mas uma grande
dívida ficou para trás: a ligação com Soledade, que tinha sido o motivo da criação da Colônia de
Santa Cruz, lá em 1849. Esta rodovia, ligando ao norte com as regiões produtoras e
constituindo-se ao sul no grande caminho para o mundo (porto de Rio Grande e outros
destinos), já tem uma história de 157 anos, e ainda não está concluída. O futuro de Santa Cruz
do Sul, como município pólo de uma das regiões de maior potencial econômico do Estado, por
sua localização estratégica, dependerá fundamentalmente da conclusão desta obra, pela qual
tanta luta já foi empreendida.
5. O turismo
72
A chamada indústria sem chaminé começou a ser despertada em Santa Cruz do Sul a partir
da instituição da Festa Nacional do Fumo (Fenaf), idéia acalentada desde o festejo dos 100 anos
da imigração (1949), quando foi lançado o Parque do Centenário, cujas obras foram logo
paralisadas. Naquela época, havia de parte do governo do Estado um incentivo especial ao
turismo, através de um dispositivo da Constituição Estadual (1947) e do Serviço Estadual de
Turismo, criado em 1950 pelo governador Valter Jobim, para “assegurar ao Rio Grande do Sul
a condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil”. No dia 28/5/1954, foi publicado o
primeiro estatuto da Fenaf, aprovado pela Câmara e sancionado pelo então prefeito em
exercício, Elíbio Mailaender.
No final de 1956, foi elaborado, pelo servidor João Waldemar Fontoura, na época Diretor
da Fazenda Municipal, o Guia Geral do Município de Santa Cruz do Sul, uma ampla radiografia
“em preparação à 1ª Festa Nacional do Fumo”, projetada para ser o primeiro grande evento
turístico na história local, mas só vindo a concretizar-se dez anos depois, em 1966. Falando dos
pontos turísticos da cidade, este guia enumerou apenas cinco locais: a gruta de Nossa Senhora
de Lurdes (Três Barulhos), a gruta da Hidráulica Velha (atual Parque da Gruta), a Hidráulica do
Estado (rua da Pedreira), a Piscina do Tênis Clube Santa Cruz e o parque da Festa Nacional do
Fumo (atualmente Oktoberfest). Destes cinco, apenas dois ainda permanecem incorporados ao
rol de atrações da cidade: os parques da Gruta e da Oktoberfest.
Na gruta da Hidráulica Velha, como era então denominado esse local aprazível próximo ao
centro da cidade, muitos moradores iam buscar água límpida da fonte, na qual confiavam mais
que no líquido retirado do rio Pardinho. Em 1976, este parque foi totalmente reformado e
definitivamente incorporado ao patrimônio de lazer da comunidade, sendo até hoje, junto com
a Catedral São João Batista, um dos principais pontos de interesse do Município.
A história do grande parque urbano, o atual palco da Oktoberfest, começou no dia 5 de
julho dm 1904, quando uma área de 412.738m2 (cerca de 41,2 ha), situada na várzea e de
propriedade da Província, foi doada ao município de Santa Cruz com o nome de Logradouro
Público, para que nela fosse construída a estação férrea. Suas dimensões eram três vezes
maiores que as do atual parque, limitando-se ao norte pela Sanga da Divisa (Sanga Preta), a leste
pelas ruas da República e Venâncio Aires, ao sul pela rua Borges de Medeiros e a oeste pela rua
Carlos Trein Filho e seu prolongamento norte. O terminal do trem foi construído em outro
terreno, menor e mais central, e o parque teve diversas outras destinações, como, aliás, já vinha
tendo antes, especialmente de lazer e entretenimento. Ali funcionaram as corridas de cavalo
73
(prado e cancha reta), o tiro de guerra, um quartel, pastagem para animais do serviço urbano,
circos e parques de diversões, a Sociedade dos Ulanos, um campo de futebol, acampamentos de
ciganos e, nos anos 30, o local acabou sendo escolhido para a nova usina elétrica municipal,
construída pelo prefeito Oscar Rafael Jost. Ali havia uma piscina, cuja água era usada para
refrigeração dos motores, por isso ficava morna e acabou sendo destinada também ao lazer da
população. Aos domingos, ali se praticavam natação e saltos ornamentais. Já era, como se vê,
uma prática de turismo doméstico.
No início dos anos 40, em plena época da guerra, quando a cultura germânica estava
proscrita, a área recebeu um projeto de urbanização e ganhou o nome de Parque do Centenário,
que seria inaugurado durante os festejos dos cem anos da imigração, em dezembro de 1949.
Passada a festa, as obras não continuaram por falta de recursos. Em 1950, foi lançada a idéia de
usar o local para abrigar uma Feira Nacional do Fumo, evento semelhante aos que já havia em
Caxias do Sul para a uva, em Novo Hamburgo para o calçado e em Pelotas para o pêssego.
Graças ao fumo, Santa Cruz do Sul era o município com maior arrecadação federal no Estado,
e isto justificava a iniciativa. Os impasses e divergências foram muitos, especialmente na área
política, no período de mais de uma década entre a aprovação dos estatutos, em 1954, e a
realização da 1ª Fenaf. A festa se viabilizou a partir e 1965, graças a um empréstimo da Afubra
para conclusão do pavilhão central, já que, por divergências sobre o destino do dinheiro, o
prefeito Orlando Baumhardt não liberava uma verba de Cr$ 30 milhões, arrancada do governo
federal em retribuição pelos Cr$ 5 bilhões que a União arrecadava por ano em Santa Cruz do
Sul. Finalmente, de 15 de outubro a 6 de novembro de 1966, concretizava-se o grande sonho e
realizava-se, com grande sucesso, a 1ª Festa Nacional do Fumo, com a presença do presidente
da república, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do presidente eleito para o
mandato seguinte, general Arthur da Costa e Silva, e daquele que seria o próximo sucessor, o
general.Emílio Garrastazu Médici. O acesso de turistas era muito dificultado pelo fato de não
haver rodovia asfaltada. Mesmo assim, o público calculado da festa foi muito superior aos 100
mil visitantes estimados para os dois primeiros finais de semana. A comissão central da festa foi
presidida pelo empresário Arcadius Swarowsky. Dez dias antes de começara a festa, tinha sido
inaugurado o primeiro hotel de luxo da cidade, o Hotel Charrua.
A 2ª Fenaf foi realizada em 1972, último ano do prefeito Edmundo Hoppe, de 28 de
outubro a 12 de novembro. A estrutura já estava bem melhorada, com a inauguração da
Bierhaus, o primeiro restaurante típico germânico no Município, na tentativa de incorporar ao
74
País. Ambas passaram a ser realizadas anualmente, mas a de Santa Cruz do Sul falhou uma vez,
em 1993.
Ao longo de sua história, entre 1984 e 2005, a Oktoberfest apresentou a seguinte evolução
em seus números de público e consumo de chope, junto com a nominata dos presidentes de
cada edição:
Pode-se observar, por estes números, que a Oktoberfest começou relativamente modesta,
mas apresentou um crescimento constante até a sua sexta edição, em 1989. Entrou em crise no
início dos anos 90, chegando a ser suspensa em 1993. E foi, a partir de 1994, completamente
76
reformulada no seu formato, ganhando uma feira paralela (inicialmente Feicap, depois Feirasul
e atualmente Oktoberfeira) e sua coordenação sendo terceirizada, para adquirir uma feição
menos política e mais empresarial. A partir daí, começou um novo período de crescimento, que
ainda se mantém, e, desde 1998, a média de público se mantém acima de 400 mil pessoas.
Um dos grandes méritos da mudança para um turismo mais permanente foi o estímulo que
significou para o comércio e os serviços vinculados ao setor. A rede de hotéis e restaurantes se
estruturou e ampliou, de modo que a cidade já pode suportar naturalmente a demanda turística
ao longo de todo o ano. E aí se viabilizaram, também, diversos outros eventos, animando os
empreendedores e a população. Em decorrência dessa organização, conquistou o Município,
também, o Selo Prioritário para o Desenvolvimento do Turismo.
O potencial turístico é inegável, graças a essa infra-estrutura, considerada uma das melhores
do interior do Estado para eventos. O setor hoteleiro tem 19 estabelecimentos, somando
aproximadamente 1.900 leitos. Quase uma centena de restaurantes e um número ainda maior de
bares oferecem, tanto ao visitante quanto ao consumidor da cidade, uma gastronomia variada e
de qualidade. Cinqüenta anos antes, em 1956, quando apenas se sonhava com o turismo, a rede
de hotéis e restaurantes era ainda muito precária, com ocupação apenas em dias úteis, quando
os caixeiros viajantes estavam na cidade para vender suas mercadorias. Autoridades e visitas
importantes eram hospedadas em casas particulares.
Hoje, levando em conta seu potencial, o Município tem uma extensa programação turística
e esportiva, com movimento permanente ao longo do ano. Consolidar Santa Cruz do Sul no
cenário turístico nacional e internacional é um desafio do governo e da iniciativa privada.
77
IV – ESTRUTURA
1. Geografia
O município de Santa Cruz do Sul foi emancipado de Rio Pardo, pela lei nº 1079, de
31/3/1877, e instalado a 28 de setembro de 1878, com a posse de sua primeira Câmara de
Vereadores. Tem, atualmente, uma população estimada pelo IBGE em 117.949 habitantes.
Deste total, 87,57% (103.288) constituem a população urbana e 12,43% (14.661) vivem nas
áreas rurais. Seu território compreende uma extensão de 794,49 km2, sendo 133,4 km2 (16,8%)
de área urbana e 661,09 km2 (83,2%) de área rural. A densidade demográfica é de 148,45
hab/km2. A altitude é de 54m no rio Pardinho (Travessia do Bom Jesus), 90m no centro da
cidade, 122m nos altos da rua Marechal Floriano, 215m no aeroporto de Linha Santa Cruz e
513m em Alto Boa Vista. A média anual de precipitação pluviométrica é de 1.604,1mm. O
recorde histórico de chuva é de 1941, com 2.325,4mm, e a menor marca foi registrada em 1962,
com 858,8mm. Há, em média, 124,7 dias de chuva por ano. A sede municipal se localiza a
29°43’ de latitude sul e a 52°25’ de longitude oeste. Situa-se na área central do Estado e
pertence à região da Encosta Inferior do Nordeste, próximo à Depressão Central. O clima é
subtropical e temperado e a temperatura média é de 19°C, a máxima no verão supera os 40°C e
a mínima no inverno desce a perto de 0°C.
Sede do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) do Vale do Rio Pardo, com 22
municípios e da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), é cidade pólo da
região fumicultora do Estado. A distância da Capital do Estado é de 155km.
Além do Distrito Industrial, que incorpora também a Vila Santo Antônio do Sul, a área
urbana da cidade está dividida em 45 bairros, conforme Lei Municipal nº 3.255, de 10/09/1998:
78
Bairros da Área Urbana de Santa Cruz do Sul – 133,4 km2 – 103.288 habitantes
A cidade, 151 anos depois de criada a povoação, possui hoje 1.058 ruas oficialmente
implantadas, totalizando 478,04 km de extensão. O começo, em 1855, foi bem mais modesto.
O capitão-tenente da Armada, Francisco Cândido de Castro Menezes, contratado pela
Província para elaborar o que se poderia chamar de primeiro plano diretor de Santa Cruz,
definiu as dez primeiras ruas e 16 quarteirões no tabuleiro de xadrez que montou, e que até hoje
ainda garante o belo traçado do centro da cidade, com quadras grandes, ruas largas e
direcionadas com absoluta precisão para os quatro pontos cardeais. O tráfego de carga era feito
apenas em carroças e cangalhas (transporte em mulas), e o transporte humano era de montaria
ou a pé, por isso a obra parecia de um visionário. Em 1870, com menos de mil moradores na
vila, já eram 25 quadras e 12 ruas, sempre obedecendo à planta desenhada por Castro Menezes.
Em 1922, já com a presença de algumas dezenas de automóveis, o tabuleiro urbano ficava entre
as atuais ruas Tomás Flores, Galvão Costa, Carlos Trein Filho e Senador Pinheiro Machado. A
rua São José também já estava mapeada, mas entre ela e a Carlos Trein continuavam existindo
as chácaras previstas no desenho inicial de 1855, e que aos poucos passaram a ser divididas em
quarteirões e terrenos urbanos.
79
Foi aí que acabou o planejamento. A cidade viveu mais de meio século praticamente sem
regras para sua expansão. Surgiram algumas leis de uso do solo, mas o primeiro projeto de
plano diretor urbano foi dado a Santa Cruz pelo prefeito Elemar Gruendling (1976), depois de
criar a Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação. E a aprovação e a vigência da
primeira lei de plano diretor urbano ficou para o governo seguinte, de Arno J. Frantz, já quase
no final da década. Mas a cidade já estava com uma população pelo menos dez vezes maior que
a de 1920, e o seu crescimento desordenado seria irreversível. Atualmente, há na cidade 32.851
domicílios.
Os distritos do interior são, atualmente, em número de cinco, mas deverão subir para nove,
com a implantação de outros quatro, dos quais dois já têm existência legal (Saraiva e São
Martinho) e os demais ainda serão criados (Reserva e Cerro Alegre), conforme quadro a seguir,
que mostra também a situação dos distritos em diferentes épocas e nas principais reformas
administrativas realizadas ao longo do tempo:
Distritos da Área Rural de Santa Cruz do Sul – 661,09 km2 – 14.661 habitantes
Distrito 1878 (*) 1956 1974 1988 1993 Previsão 2006
1º Distrito Sede Sede Sede Sede Sede Sede
2º Distrito Cerro Alegre Vila Teresa Boa Vista Boa Vista Boa Vista Boa Vista
3º Distrito Vila Teresa Monte Alverne M. Alverne M. Alverne M. Alverne M. Alverne
4º Distrito Faxinal de Dentro Sinimbu Sinimbu Sinimbu - São Martinho
5º Distrito Sinimbu Herveiras Herveiras Herveiras - Saraiva
6º Distrito Lª Santa Cruz Serafim Schmidt Serafim Schmidt Serafim Schmidt - Alto Paredão
7º Distrito - Trombudo Trombudo Trombudo - Reserva
8º Distrito - Gram. Xavier Gram. Xavier Gram. Xavier - Cerro Alegre
9º Distrito - - Rio Pardinho Rio Pardinho Rio Pardinho Rio Pardinho
10º Distrito - - Formosa Formosa - -
11º Distrito - - - Pinhal - -
12º Distrito - - - Alto Paredão Alto Paredão -
(*) Em 1878, quando o Município foi instalado, os distritos não tinham sede, mas apenas abrangiam determinadas regiões.
Os distritos rurais, que por ocasião da emancipação (1878) eram em número de seis, foram
crescendo com o passar do tempo, chegando a 12 na reforma administrativa de 1988. Depois
de Vila Teresa, que foi o 2º Distrito até 1959, quando se emancipou, outros sete distritos
(Sinimbu, Herveiras, Serafim Schmidt, Trombudo, Gramado Xavier, Formosa e Pinhal) se
desmembraram a partir de 1993, para formar novos municípios. Atualmente, há apenas cinco
distritos no interior (Pinheiral, Boa Vista, Monte Alverne, Rio Pardinho e Alto Paredão), mas
80
existem dois outros já criados por lei, além de ter sido anexada uma grande área ao sul,
proveniente do município de Rio Pardo, onde está indefinido o mapa distrital. Por isso, a
reforma prevista para breve deverá estabelecer uma nova divisão do Município, formando um
total de nove distritos.
As 4.064 propriedades rurais do Município, ocupando uma área total de 661,09 km2 e onde
vivem 14.661 habitantes, são servidas atualmente por uma malha rodoviária com 1.050
quilômetros de extensão, conforme levantamento recém-concluído da Secretaria Municipal de
Agricultura, que a partir do corrente ano assumiu a coordenação das subprefeituras e a
conservação das estradas do interior. Há 37,05 km de estradas municipais asfaltadas.
2. Trânsito
Como já foi dito, o largo traçado central da cidade é favorável a uma boa organização do
trânsito. Mas já vem de pelo menos três décadas a dificuldade de convívio da população com
dois problemas básicos: o fluxo do tráfego e o estacionamento na área central. Santa Cruz do
Sul é a segunda cidade mais motorizada do Estado, com 48.263 veículos cadastrados. É por isso
que o Município está em adiantados estudos, a cargo de uma empresa especializada, para
realizar uma completa reengenharia desse intenso fluxo de veículos no centro e também nas
vias de escoamento na direção dos bairros.
A presença do automóvel já está fazendo 95 anos em Santa Cruz do Sul. Foi no final de
1911 que um santa-cruzense montou o primeiro veículo, com motor importado, e no ano
seguinte trouxe do exterior o primeiro automóvel completo. O primeiro acidente aconteceu em
maio de 1914, quando um distraído motorista colidiu com um outro carro estacionado, na
frente do Clube União. Na medida em que se dava o crescimento econômico, também a
população aumentava, e com ela a urbanização. As ruas do tabuleiro central ganharam postes de
iluminação e canteiros centrais, inclusive no meio dos cruzamentos, onde os motoristas
precisavam fazer o contorno para converter à esquerda ou retornar. O transporte coletivo se
concentrava ali, como também quase todo o comércio. A primeira linha de ônibus urbano
passava pela chamada Rua Principal e a estação rodoviária era na rua 28 de Setembro. Ambas
foram transferidas para a Ten. Cel. Brito, e a esquina do Quiosque ganhou a primeira sinaleira
da cidade, desativada depois de pouco tempo. O prefeito Edmundo Hoppe retirou os postes e
canteiros do meio das ruas, para melhorar o fluxo de carros.
81
No início dos anos 70, a rodoviária já causava transtornos ao trânsito, e ali foi implantada a
primeira quadra de mão única na cidade. Para resolver um outro problema que começava a se
agravar, o governo de Elemar Gruendling implantou o disco de estacionamento temporário.
Mais tarde, o prefeito Arno Frantz tentou transformar a Marechal Floriano em calçadão e
assumiu o desafio de construir uma nova rodoviária, fora do perímetro central. Seu sucessor,
Armando Wink, implantou um esquema de mão única em todas as ruas do perímetro central,
com sinaleiras nas principais esquinas. Já nos anos 90, foi implantado o estacionamento rotativo
pago e o prefeito Edmar Hermany realizou uma completa reforma na rua Marechal Floriano.
Todas estas medidas foram tomadas tendo em vista os problemas com o trânsito de carros e
pedestres, e também a falta de vagas para estacionar.
Entre os 55.251 veículos emplacados no Município (abril de 2006), há 500 ônibus, 108
micro-ônibus, 1.802 reboques e semi-reboques, 1.491 caminhões, 13.416 motos e assemelhados,
30.347 automóveis, 3.863 camionetas e utilitários, 169 táxis e 3.455 tratores e outros veículos.
3. Desempenho
O município de Santa Cruz do Sul tem um desempenho histórico superior à média dos
demais municípios da região, do Estado e do País, tanto do ponto de vista social quanto
econômico, como mostram os números da Fundação de Economia e Estatística do Estado:
O bom desempenho também é revelado pelas receitas municipais, que historicamente têm
apresentado números significativos. Com 1,1% da população do Estado, o município de Santa
Cruz do Sul já teve momentos em que ultrapassou os 2% na receita do ICMS. Mas os últimos
anos já revelaram um considerável decréscimo do peso dos aportes estaduais no global da
arrecadação, em parte compensado pela melhora das recitas próprias, como mostra o quadro a
seguir, com o mapa da arrecadação municipal nos últimos cinco exercícios:
Por outro lado, as despesas municipais têm sido canalizadas cada vez mais para o setor
social, hoje com mais de 60% dos recursos orçamentários, e também para o eixo econômico,
que tem recebido maiores aportes em razão da necessidade de gerar emprego e renda.
Enquanto isso, as despesas administrativas e os custos de gestão já estão consideravelmente
reduzidos, conforme tabela a seguir:
Seis dos dez maiores contribuintes de ICMS são empresas fumageiras, ocupando as quatro
primeiras colocações e mais a sétima e a oitava. Estes dez contribuintes respondem pela maior
parte do valor adicionado das cerca de 2.500 empresas comerciais e industriais cadastradas. Não
deixa de ser preocupante o fato de que sejam poucas as empresas de maior porte, porque
qualquer dificuldade em uma delas já poderá afetar seriamente os índices da arrecadação
pública. Acresce ainda o fato de que a fatia das grandes empresas está em curva ascendente: em
2001, as dez maiores representavam 57,79% da receita, e em 2005 já alcançaram os 79,86%,
praticamente quatro quintos do total. A seguir, a tabela com o desempenho dos dez principais
contribuintes nos últimos quatro anos:
4. Trabalho
Embora as empresas industriais sejam em menor quantidade, é neste setor que se concentra
o maior número de oportunidades de trabalho para a população economicamente ativa, com
87
Foi durante as últimas décadas que Santa Cruz do Sul conquistou a maior parte dos
benefícios tecnológicos de que hoje desfruta, seja em benfeitorias, seja em outras estruturas de
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primeira necessidade, conforto e lazer. Mas o primeiro sinal de grande progresso já tem um
século. Junto com a chegada do trem e da elevação da vila à condição de cidade, em 1905,
vieram também os serviços de telefonia, luz e água, além do primeiro hospital. As estradas
tiveram seu primeiro impulso significativo no início dos anos 20, depois da chegada do
automóvel, quando também se inaugurou o novo ciclo econômico do fumo em estufa e das
fábricas cigarreiras. A preservação ambiental, o turismo, a educação, a saúde, as ações sociais e
outras benfeitorias públicas foram-se construindo ao longo do tempo. E hoje, pode-se dizer
que a tecnologia deu à cidade todas as condições de igualdade com as grandes cidades do País e
do mundo.
A cidade tem uma rede de abastecimento de água, operada pela Corsan, medindo 424
quilômetros, com 34.621 economias ligadas, e a de esgotos com 27 quilômetros. As redes rurais,
a cargo do Município, medem 116 quilômetros, com 1.285 tomadores. As principais fontes de
água são o rio Pardinho, através do Lago Dourado, além de fontes naturais e poços artesianos
no interior. No interior do Município, os serviços municipais de água têm 1.285 economias
beneficiadas.
A energia elétrica é fornecida pela A.E.S. Sul, através de uma rede de 1.586 quilômetros. São
34.052 consumidores urbanos e 6.505 rurais, com um consumo mensal médio de 24.298.575
KW/h. A rede de iluminação pública tem 13.970 pontos de luz. Duas subestações têm
capacidade de 79.000 KWA.
A telefonia é atendida através de 31.460 terminais convencionais, 917 públicos e cerca de 30
mil celulares móveis. No interior, o telefone fixo alcança 153 domicílios, mas também está
largamente propagado o sistema celular. Ainda na área da comunicação, a cidade abriga três
jornais, cinco emissoras de rádio, uma emissora de televisão, uma sucursal e uma universitária,
uma operadora de televisão a cabo, além de quatro agências dos Correios, estação rodoviária e
aeroporto.
Os órgãos vinculados a atividades de justiça são o Fórum, com três Varas Cíveis e duas
Criminais, Juizado Especial Cível, Juizado Regional da Infância e da Juventude; Justiça Federal,
Justiça do Trabalho, Promotoria de Justiça (Procuradoria Geral de Justiça), Procuradoria da
Fazenda Nacional, Procuradoria da República, Escritório Regional do Tribunal de Contas do
Estado (TCE) e Tribunal e Conciliação e Arbitragem (TCA), este último privado.
A segurança pública conta com Delegacia Regional da Polícia Federal, Batalhão do Exército
(7º BIB), três unidades da Brigada Militar, duas do Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária
89
Estadual, Delegacia Regional e mais seis Delegacias da Polícia Civil, Presídio Regional e 19
empresas de segurança privada.
Os equipamentos de saúde do Município compreendem 22 postos de saúde (dos quais nove
com o Programa de Saúde da Família – PSF), 15 consultórios dentários, duas unidades móveis e
108 agentes comunitários de saúde, além da farmácia com distribuição gratuita de
medicamentos. A iniciativa privada oferece, ainda, três hospitais, 22 laboratórios, 58 farmácias e
drogarias, três asilos e quatro casas geriátricas, algumas dessas instituições conveniadas com o
Município.
A estrutura de educação e ensino no Município está assim definida (maio/2006):
O Município responde, ainda, pelos serviços de transporte escolar para 2.574 alunos do
ensino fundamental e 326 do ensino médio, matriculados em escolas municipais e estaduais,
além de merenda escolar para todos os alunos da rede municipal de educação infantil e ensino
fundamental. Na rede municipal de ensino fundamental, os professores são 638, havendo 335
monitores na educação infantil, além de 39 supervisores, 21 orientadores e três psico-
pedagogos. As escolas estaduais têm 1.173 professores e nas escolas particulares de ensino
infantil, fundamental e médio atuam 178 profissionais de educação. Na estatística da educação
infantil, não estão incluídas as escolinhas privadas que só atuam neste segmento.
O ensino universitário é ministrado por 607 professores. A maior instituição é a
Universidade de Santa Cruz do Sul, que mantém 46 cursos de graduação, 37 de especialização,
cinco de mestrado e um de doutorado. Dos seus 537 professores, 132 são doutores, 285
mestres, 27 especialistas, 60 doutorandos e cinco graduados. A instituição tem 10.584 alunos
nos cursos de graduação, 240 em pós-graduação, 216 em mestrado e 24 em doutorado.
Como centro de convergência da região do Vale do Rio Pardo, Santa Cruz do Sul é,
também, sede de dezenas de órgãos e instituições das esferas estadual e federal, muitas delas
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apoiadas ou conveniadas com o Município. Entre eles estão a Junta Comercial do Estado do
RS, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE/RS), o Sebrae/RS, o Serviço Social da
Indústria (Sesi) o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Social do
Comércio (Sesc), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), etc.
6. Atrativos
Quem entra na cidade pela RST 287 pode obter orientação, obter impressos informativos e
adquirir suvenires junto a uma casa de informações turísticas, próxima aos bonecos Fritz e
Frieda. A cidade chama logo a atenção dos visitantes por sua beleza, por seu extraordinário
convívio com o verde e pela hospitalidade dos seus habitantes. Os morros formam uma grande
moldura verde pelos flancos norte, leste e sul, enquanto as ruas arborizadas fazem o cidadão se
sentir dentro da natureza. O túnel verde, no coração de Santa Cruz, é um dos bonitos cartões
postais, ao lado de pontos como a Catedral e o Parque da Gruta. Na cidade e em suas cercanias
há inúmeros logradouros, monumentos e outros pontos de interesse para visitação, dos quais os
mais importantes são estes:
Catedral São João Batista – Um dos maiores templos da América do Sul em estilo
neogótico tardio. Localiza-se na zona central da cidade, em frente à Praça Getúlio Vargas. Suas
dimensões são: 80 metros de comprimento, 38 metros de largura, 26 metros de altura na nave
central e suas torres alcançam 82 metros.
Parque da Gruta – Um dos recantos mais acolhedores da região, tem grande parte de sua
área coberta por mata nativa. Localizado na Rua Capitão Pedro Werlang, a 2 quilômetros do
centro da cidade, o Parque da Gruta tem dois lagos artificiais, cascata, míni-zoológico e
teleférico com 272 metros de comprimento. Ali foram construídos os primeiros reservatórios
de água de Santa Cruz do Sul, no início do século 20.
Parque da Santa Cruz – Inaugurado em 1996, o Parque da Santa Cruz apresenta uma área
total de 12 hectares. Localizado numa antiga pedreira do município, no bairro Monte Verde,
possui um cruzeiro iluminado de 20 metros de altura, orientado junto com três pirâmides de
basalto para o norte geográfico. Devido à sua grandiosidade, pode ser visto de qualquer
localização da cidade, e até de municípios vizinhos.
Parque da Oktoberfest – Área verde de 14 hectares. Dele faz parte o moderno Ginásio
Poliesportivo e Cultural, o Pavilhão Central, os Pavilhões II e III, a vila típica, o campo
91
municipal, quadras de tênis, basquete, futebol de salão, futebol de areia, quadras de bocha, pista
de bicicross e área para camping, tendo um terço de sua área total arborizada com mata
primária e secundária.
Praça Getúlio Vargas – Localizada na região central da cidade, em frente à Catedral São
João Batista, a Praça Getúlio Vargas é um belo exemplo de local de passeios, pois conta com
arborização, chafariz, muitos bancos e ótimo serviço de limpeza e conservação. Nela há
diversos monumentos, em homenagem ao ex-presidente Vargas, ao centenário do Colégio São
Luís, às Mães e aos 100 anos de comemoração do Dia do Trabalho (1º de maio de 1986). No
início era denominada Praça de São Pedro, depois Praça 15 de Novembro, até 1930, quando
recebeu a atual denominação.
Praça da Bandeira – Chamada inicialmente Praça Simões Lopes, depois Praça do
Carvalho, mais tarde Praça Marechal Floriano e, finalmente, Praça da Bandeira, nela se encontra
o prédio da Prefeitura Municipal, antigo Edifício da Câmara. Ali estão diversos monumentos
em homenagem a personalidades do município e à Liberdade, no centenário da Independência,
além da gruta da Coquinha, idealizada pelo intendente Galvão Costa e inaugurada em 1915.
Prefeitura Municipal – Localizado no centro da Praça da Bandeira, o prédio da Prefeitura
Municipal foi construído em estilo neoclássico, lembrando as formas dos templos gregos. A
escolha do local para o prédio foi feita em consulta aos moradores da Vila de São João de Santa
Cruz, em 1886, e a inauguração se deu em março de 1891.
Santuário de Schoenstatt – Pertencente ao Instituto Secular das Irmãs de Maria de
Schoenstatt, o Santuário da Mãe Três Vezes Admirável foi inaugurado em 11 de dezembro de
1977, como cópia fiel do Santuário original na Alemanha, construído em 1914, pelo padre José
Kentenich. Símbolo de fé da população católica e do trabalho das irmãs da congregação, o
pequeno Santuário é um refúgio de fé para muitas pessoas que o freqüentam, realizando
anualmente, em novembro, sua grande romaria.
Igreja Evangélica – O prédio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB) de Santa Cruz, construído em estilo neo-românico, é o maior templo evangélico do
Estado, com capacidade para 500 pessoas. Foi inaugurado em 1924.
Seminário São João Batista – Fundado em 1968, iniciou com o curso de 2º Grau para os
seminaristas, até o ano de 1970, quando começou o curso de Filosofia, que permaneceu até
1980. Atualmente, os seminaristas, após concluírem o 2º Grau, cursam no Seminário o
92
Mais Bela Negra do RS e Musa Festa das Cucas – Evento de final Domingo no Parque – Evento
Estadual do Samba – Eventos de de semana, no mês de junho, no regional comunitário, com atividades
projeção estadual, com escolha da parque da Oktoberfest, para de lazer, saúde preventiva, esporte,
representante da beleza negra no promover mais um produto de shows culturais, oficinas de leitura,
Estado. Ocorre anualmente, em grande tradição na cultura teatro, fantoches, brinquedolândia e
novembro. gastronômica do Município. baile da melhor idade.
95
V – ADMINISTRAÇÃO
1. Cronologia
Nos primeiros tempos da história do Município, o número de servidores públicos era muito
reduzido. Não havia grandes exigências da população, porque as comunidades estavam
habituadas a resolver elas mesmas as suas dificuldades. Basicamente, a função do Município era
arrecadar tributos, realizar obras públicas e manter o atendimento burocrático. No tempo de
Colônia (1849-1878), o Diretor da Colônia, o Juiz de Paz, o Subdelegado de Polícia e poucos
outros servidores eram nomeados e remunerados pela Província.
Com a autonomia, o Município passou a ter como autoridades o presidente da Câmara e
mais seis vereadores, além de sete funcionários remunerados: o secretário-contador, o
procurador, o fiscal da vila, o arruador, o fiscal dos ervais, o vacinador e o porteiro-contínuo,
todos vinculados à Câmara Municipal, já que ainda não havia poder executivo. Só em 7 de
dezembro de 1892, três anos após a proclamação da república, surgiu a estrutura administrativa
comandada pelo Intendente João Leite Pereira da Cunha, que prestou compromisso perante o
Conselho Municipal (novo nome atribuído à Câmara após a república). Logo em seguida,
promulgou a Lei Orgânica (que já tinha sido decretada pelo Conselho), criou as Secretarias da
Intendência e do Tesouro Municipal, a Guarda Municipal e os cargos de fiscal e porteiro-
contínuo, além de manter o Código de Posturas vigente desde 1880. Nos distritos do interior,
havia os Subintendentes. E a 23 de maio de 1893, foi pela primeira vez convocado o Conselho,
para votar e aprovar o orçamento municipal, promulgado pelo Intendente no dia 1º de julho.
96
2. Governo
O quadro geral do funcionalismo público municipal, que alcança um total 2.628 servidores,
além de outros 246 estagiários, consome com a folha de pagamento 38,67% das receitas
municipais, bem abaixo do limite constitucional de 54%, apesar dos reajustes substanciais de
16,6% concedidos durante o exercício de 2005. A par da remuneração salarial, estes servidores
também recebem benefícios como o vale-alimentação e o vale-transporte. Além de 1.901
servidores estatutários, o quadro tem ainda 144 cargos em comissão, 369 contratos
99
3. Ações
4. Eixo de Gestão
Fazenda:
• Isenção e/ou redução do IPTU para os contribuintes atingidos por enchentes e desastres
naturais;
Administração:
• Ampliação do Cadastro Imobiliário, com mais de 2896 novos contribuintes de IPTU e Taxa
de Lixo;
Planejamento e Coordenação:
• Apoio na obra do governo estadual na galeria da RS 409 para dar maior vazão às águas da
Várzea e do Arroio Lajeado;
• Consolidação das leis complementares que tratam do regime jurídico do estatuto dos
servidores e dos professores;
Procuradoria Geral:
5. Eixo Econômico
Agricultura:
• Programa Troca-Troca: 2.905 produtores atendidos com 4.596 sacas de semente de milho
(Convênio da Prefeitura com o Governo do Estado);
• Aviários: Duas novas unidades foram implantadas em São José da Reserva e Cerro Alegre
Baixo, para produção integrada de frangos;
• Ceasa Regional: Aquisição de área de 2ha no bairro Renascença, por R$ 300 mil, e início de
construção do prédio de 750m2, com 40 boxes e plataforma de 660m2, com recursos
federais e contrapartida de 20% do Município;
• Horto Florestal: Produção de mais de 59 mil mudas de árvores nativas e ornamentais, além
de 325 mil mudas de flores. De terceiros, houve repasse de mais de 9 mil mudas frutíferas;
• Granja Municipal: certificada em 2005 pelo Ministério da Agricultura, entregou 710 matrizes
e reprodutores suínos, 12 matrizes leiteiras e produziu 140.000 litros de leite;
• Oktoberfest: 21ª Oktoberfest e 1 ª Oktoberfeira, em 2005, com 376,1 mil visitantes, 203 mil
litros de chope e 165,4 toneladas de alimentos consumidos;
• Carnaval: em 2005 e 2006, mais de 51.500 mil pessoas no evento de desfile das escolas e na
escolha da rainha e do rei;
• Outros eventos: ENART 2005, 32° Rodeio Crioulo Estadual de Santa Cruz do Sul, Escolha
da Mais Bela Negra, Conferência Regional do Esporte;
• Fluxo turístico: Em 2005, aproximadamente 800 mil pessoas visitaram Santa Cruz do Sul e
os seus pontos de interesse;
• Quadras: Melhorias em quadras de esporte nos bairros Navegantes, Santo Antonio, Menino
Deus, Cíntea e Jardim Esmeralda;
108
Obras e Viação:
• Asfalto: Conclusão da rua Benno J. Kist (1.928m), rua Dr. José Carlos Pereira, reposições
nas ruas Cel. Oscar Jost (cobertura em 858m), Galvão Costa (duas quadras), Venâncio Aires
(uma quadra), bairro Harmonia, diversos outros locais e reposição em obras da Corsan;
• Canalização: Obras contra alagamentos na rua Assis Brasil (728m de galerias), bairro
Margarida Aurora (120m), desvio de águas pluviais no bairro Harmonia (110m), sanga na
rua João Schaefer (60m) e mais 5.800m de canalizações em outras obras na cidade,
totalizando cerca de 7 mil metros;
• Iluminação Pública: Atendidos 10.824 dos 13.970 pontos de iluminação pública existentes.
Nos 16 meses de governo, foram feitos 15.686 atendimentos ao público;
• Projeto Cidade Limpa: Cidade mais bonita, povo mais alegre – 4.292 atendimentos
realizados. Limpezas de praças, trevos e áreas verdes, cortes e podas de árvores, plantio de
flores, limpeza de meio-fio de calçadas, mais lixeiras no centro da cidade;
109
• Redes: Novas redes de água instaladas no interior do município e melhoria nas já existentes:
Alto Paredão, Linha Felipe Nery, Linha Antão, Monte Alverne, Linha Travessa, Boa Vista,
Alto Boa Vista, Cerro Alegre Baixo;
Desenvolvimento Econômico:
• Novas empresas: Vinda de mais de 20 novas empresas para Santa Cruz, entre elas Lerivo,
Vale Sul, Eletricidade Global, Mardigrás Ltda, e etc., gerando mais emprego e renda para o
Município;
110
• Novas empresas: Empresas abertas e encerradas: 2004 – saldo de 243 novas empresas
(diferença entre abertas e encerradas); 2005 – saldo de 448 novas empresas (diferença entre
abertas e encerradas);
• Emprego: Diferença entre vagas abertas e fechadas: 2004, até agosto, 1.620 vagas abertas;
2005, até agosto, 2.460 vagas abertas. Mais 840 vagas de emprego abertas em 2005;
6. Eixo Social
Saúde:
• Aumento de 1.000 para 2.000 mil consultas mensais com médicos especialistas;
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• Implantação de serviço odontológico nos postos dos bairros Faxinal, Avenida, Esmeralda,
no PSF Margarida/Aurora e no Hospitalzinho;
Desenvolvimento Social:
• Distribuição de três toneladas de alimentos para famílias carentes, entre janeiro e março de
2006;
112
• Fornecimento mensal de 150 litros de leite de cabra para crianças com intolerância à lactose;
• Instalação de dois novos pontos de distribuição no Projeto Prato Forte (Faxinal e Bom
Jesus), alcançando 1900 crianças atendidas diariamente;
Educação e Cultura:
• Oferta de transporte escolar para 2.574 alunos do ensino fundamental e 326 do ensino
médio, ao custo de R$ 2,2 milhões;
• Introdução da língua alemã na base curricular de seis escolas da rede municipal: Emefs
Christiano Smidt (Rio Pardinho), Dona Leopoldina (Linha João Alves), Rio Branco
114
(Saraiva), Cardeal Leme (São Martinho), Felix Hoppe (Linha Nova) e Guido Heberts
(Bairro Várzea);
1. Conclusão de 33% das obras do Loteamento Santa Cecília, para oferta de 224 apartamentos
em convênio com a Caixa Econômica Federal;
5. Entrega de 642 escrituras públicas, regularizando a situação dos cidadãos nos bairros
Beckenkamp, Cristal, Glória, Imigrante e Menino Deus;
VI – DESAFIOS
1. Situação atual
O município de Santa Cruz do Sul já superou muitos desafios nesses dezesseis meses.
Porém, há muitos ainda pela frente a serem enfrentados. A crise do País afeta diretamente a
nossa cidade. E os motivos são muitos, mas entre eles há de se destacar a queda do dólar e a as
dificuldades de ser um município exportador por causa da retenção dos créditos de ICMS.
Os aspectos negativos dessa situação podem ser resumidos em cinco pontos. Um deles é o
baixo índice de investimentos do Governo Federal. O Sul do Brasil é responsável, nos últimos
sete anos, por 47% do superávit da balança comercial brasileira e detentor do segundo melhor
PIB per capita do País. A Região permanece no final da fila quando se fala em recebimento de
verbas federais: apenas 14,6% dos valores distribuídos nos últimos dois anos foram destinados
ao Sul, enquanto o Nordeste recebeu quase o dobro e o Sudeste mais que o dobro. Esses dados
são do Congresso Nacional – Comissão Mista do Orçamento da União.
Além disso, há uma centralização de decisões técnico-burocráticas em Brasília, envolvendo
essencialmente a destinação de recursos. Outra consideração importante é que há uma
tendência crescente que induz a dependência social das pessoas através de programas. Claro que
esses programas podem e devem ser implementados, contanto que associados a projetos
116
2. Emprego e renda
Por outro lado, abrir o leque da matriz produtiva do Município é um grande objetivo que
desafia a todos. O tabaco, carro-chefe do desenvolvimento local e regional ao longo de toda a
história, precisa ser mantido e defendido com todas as forças. É a atividade comprovadamente
mais produtiva e eficiente, que colocou Santa Cruz do Sul na posição em que se encontra, com
índices de desenvolvimento invejados por todos. Isso é fundamental. Mas é necessário
incentivar cada vez mais outros setores, para que possamos construir outras cadeias produtivas
em torno de aspectos culturais e econômicos da nossa cidade. De nada adianta, investirmos em
monoculturas em que o nosso produtor terá dificuldades na implantação, seja pelo clima, pela
cultura ou pelo baixo retorno. Precisamos investir em uma atividade que dê o mesmo retorno e
os mesmos ganhos que a cultura do fumo nos dá atualmente.
É aí que surge a grande interrogação: para que lado ir nesta encruzilhada. Pela vocação
histórica e pelo grande potencial, será preciso não perder o foco da indústria. É o setor que,
além de oferecer empregos, mais contribui para as receitas públicas e para a geração de riquezas.
Além dos incentivos já existentes, e que vêm sendo bem aproveitados, um novo Distrito
Industrial é decisão já tomada, a ser viabilizada em médio prazo, já havendo recursos projetados
de R$ 6,5 milhões. Projetos regionais, que contemplem o interesse dos vários municípios,
teriam maior força e maiores possibilidades. Mas é preciso haver uma articulação forte, a ser
ainda estruturada, em que todos puxem para o mesmo lado. A obra da Ceasa Regional, já em
execução e programada para funcionar ainda este ano, é um exemplo de como se pode ampliar
o espaço de uma iniciativa em que há potencial de produção e mercado garantido. Podemos
produzir alimentos para a merenda escolar e outros programas sociais.
Há um grande trabalho de motivação a ser feito junto ao setor primário. Projetos
consistentes sempre encontrarão apoio e terão resultados. Pretende o Município otimizar seu
parque de equipamentos para oferecer este apoio, especialmente na infra-estrutura das estradas
e dos próprios empreendimentos individuais, inclusive com financiamentos, através de
programas já existentes. Há um investimento previsto de R$ 5,5 milhões em vários projetos de
infra-estrutura rural, já encaminhados ao governo e aos agentes financeiros, como recuperação
de estradas vicinais, mais 30 quilômetros de redes de água potável, eletrificação e habitação.
Estão previstos, ainda, recursos de R$ 3,1 milhões para aquisição de máquinas pesadas que
possibilitem as obras de infra-estrutura.
Precisamos incrementar a nossa vitrina, para que lá fora nos vejam melhor. Variando a
exposição, estaremos nos divulgando melhor, principalmente se incluirmos itens mais atraentes
118
3. Área social
Na área social, existem também importantes desafios a serem enfrentados. É preciso que o
cuidado social não se torne um agravador da pobreza no futuro. Tem-se a nitidez de visão
sobre a necessidade de promover ações educativas junto às populações necessitadas, fazendo-as
participar das soluções com sua própria capacidade e seu próprio esforço. Programas como o
Frentes de Trabalho e o Restaurante Comunitário caminham nessa direção. Mas, além disso, há
projetos encaminhados para captar recursos do governo federal na área de alimentação.
119
4. Gestão pública
As finanças municipais equilibradas são uma necessidade, e para isso o governo vem
adotando duas medidas fundamentais: a racionalização dos gastos e os cuidados com a
arrecadação do que é devido aos cofres públicos. A meta sobre a atual dívida ativa é reduzi-la de
R$ 20 milhões para R$ 10 milhões. A tentativa de reduzir a inadimplência também passa por
medidas como a deste ano, quando foram congeladas as alíquotas do Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU) e reduzidas alíquotas do Imposto Sobre Serviços (ISS) de diversas
atividades. Faz parte das medidas, também, um esforço para trazer muitos prestadores de
serviço ainda não cadastrados como contribuintes. Desenvolver um planejamento estratégico de
redução da carga tributária, através da ampliação do leque de contribuintes, também atrai novos
investimentos.
A respeito de investimentos públicos, eles começam a definir agendas e cronogramas. Os
financiamentos inicialmente previstos para 2006, que eram de aproximadamente R$ 10 milhões,
já estão ultrapassando os R$ 15 milhões, recursos que se destinarão aos mais diversos fins,
conforme quadro mais adiante. Um deles é o do desenvolvimento institucional. A
racionalização da administração pública, cuja estrutura está ultrapassada, passa por enfrentar a
atualização do cadastro imobiliário, elaborar o novo plano diretor de desenvolvimento urbano,
de acordo com o Estatuto das Cidades, além de investir em informatização e treinamento de
recursos humanos. Para o planejamento urbano, será implantado um sistema de informações
sobre a infra-estrutura da cidade, redes de abastecimento e comunicação, sistema hidrológico e
todo tipo de equipamento ou acidente natural. O cadastramento imobiliário terá um
mapeamento preciso de toda a área, com imagens de satélite para acompanhar a expansão
urbana em todos os passos e momentos.
Na área dos serviços públicos, há também uma grande preocupação ambiental, e uma das
metas mais perseguidas é implantar a coleta seletiva de lixo, além de resgatar o antigo título de
cidade mais limpa do Estado, através do programa Cidade Mais Limpa.
Entre as obras já devidamente projetadas, estão o Centro Administrativo Municipal, o Lago
Dourado, o Centro de Convenções, o Planetário, as obras indicadas pelas comunidades no
processo “Ouvindo os Bairros” e “Ouvindo o Interior”, saneamento básico e obras contra as
cheias, estas prevendo dique de contenção nos bairros Várzea e Navegantes e canal de
escoamento.
121
5. Projetos
Portanto, caros legisladores e querida população, temos muito ainda a fazer. Foram
enumeradas, neste documento, diversas obras realizadas nestes 16 meses do Governo Juntos
por Santa Cruz. Pretendemos, com o apoio de todos, produzir uma agenda positiva para o
nosso município. A partir disso, construiremos uma Santa Cruz do Sul do que sonhamos:
igualitária, pacífica, solidária e desenvolvimentista. Devemos ampliar nossos horizontes e buscar
o desenvolvimento em todas as nossas ações. Assim, os objetivos e as metas serão
concretizados e os percalços existirão, mas serão superados.
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