Semiótica Discursiva - Interpretação de Nanocontos
Semiótica Discursiva - Interpretação de Nanocontos
Semiótica Discursiva - Interpretação de Nanocontos
UFRRJ
DISSERTAÇÃO
Ensino-aprendizagem de leitura no
9º ano do Ensino Fundamental:
proposta didática para a interpretação de nanocontos a partir da
semiótica discursiva
2017
2
Seropédica, RJ
Setembro de 2017
3
4
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestra em Letras, no
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Letras, área de
Concentração em Linguagens e Letramentos.
_________________________________________________
Profa. Dra. Rívia Silveira Fonseca – UFRRJ
(Orientadora)
_________________________________________________
Profa. Dra. Marli Hermenegilda Pereira– UFRRJ
_________________________________________________
Profa. Dra. Raquel Silveira Fonseca – UFRJ
5
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
The reading teaching in the Portuguese language is one of the great challenges faced by the
teachers in the public school and the student’s reading improvement is still a goal to be
achieved. In the light of the bad results obtained by the evaluations in the country, the low
quantity of academic publications related to teaching practices of the Portuguese language and
the reports from the teachers experience, our research goal is to propose reading classes
whose methodology emphasizes the production of meanings by students. The semiotics from
France, inaugurated by A. J. Greimás and J. Courtés in the decade 60, is the theoretical
methodologic support to our research. This theoretical method was chosen because of the
following: provides a reading model based on the sense generative route that joins the content
and the expression plans; it overcomes the formal analysis level and constitute a fruitful
theoretical method which is able to aid the teacher’s work in the reading teaching. In this
study, we choose the nanotales written by Edson Rossatto, disclosed on social networks and
later published in books in order to explain some concepts addressed by the semiotics and to
propose the reading classes to the nine year students of the E.F. Further, we suggest some
reading activities related to the semiotic concepts and elaborated from two Rossatto’s
nanotale. It is worth mentioning that the theory of Greimás plays an important role to
developing of practical activities that aim the formation of competent readers and critics.
SUMÁRIO
I R .................................................................................................................. p. 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................p.84
REFERÊNCIAS..................................................................................................................p. 87
ANEXOS .............................................................................................................................p.91
Anexo 1 - Notícia divulgada pelo Jornal Extra, em 20 de setembro de 2016, no Rio de Janeiro,
em edição online................................................................................................................... p.91
Anexo 2 – Atividades realizadas por alunos do 9o. Ano do EF............................................ p.92
11
INTRODUÇÃO
... o ensino da língua portuguesa não pode afastar-se dos propósitos cívicos de tornar
as pessoas cada vez mais críticas, mais participativas e atuantes, política e
socialmente, ao contrário do que vem acontecendo na escola, com o passar dos
tempos, parece que a língua perdeu sua função, alunos e até mesmo professores
permanecem calados, mudos, apáticos diante das transformações do mundo. (2003,
p.15)
Para enfrentar uma nova realidade social, "é preciso também fazer uso do ler e
escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz
continuamente" (SOARES, 2003, p.20), contudo essa prática ainda não se tornou uma
constante no cotidiano escolar do aluno. Observa-se sua deficiência em compreender os
textos, sejam eles clássicos ou nascidos nos novos ambientes virtuais de interação. Estes
últimos, sobretudo, agregam à literatura contemporânea novos gêneros do discurso de difícil
classificação, todavia disseminados através de múltiplos suportes tecnológicos como as redes
sociais e mídias digitais, meios aos quais muitos estudantes têm acesso.
Neste cenário de aceleradas mudanças, grandes expectativas e constantes inquietações
em busca de estratégias que auxiliem o desenvolvimento dos alunos enquanto leitores críticos,
surge a necessidade de reflexão sobre os mecanismos de desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem e a ampliação de sua capacidade de leitura e compreensão textual.
Destarte, aliam-se dois grandes instrumentos utilizados em favor da aprendizagem: a
agilidade/acessibilidade da internet na disseminação de informações às micronarrativas da
literatura contemporânea.
13
Diante desse cenário, a presente pesquisa tem como principal objetivo desenvolver,
junto aos alunos do 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública no RJ, a competência
linguística e a habilidade no uso efetivo da língua materna através da leitura. Para tanto,
enfocamos o reconhecimento e a compreensão do gênero discursivo nanoconto, um exemplo
concreto das micronarrativas, definidas por Paulino como “um tipo de narrativa que tenta a
economia máxima de recursos para obter também o máximo de expressividade, o que resulta
num impacto instantâneo” (2011, p.137).
Como objetivos específicos, o trabalho pretende: 1. definir noções de texto e leitura; 2.
analisar e delinear as características do nanoconto, enquanto gênero discursivo, e identificar
seus pontos de semelhança com o gênero conto; 3. fornecer ao professor de língua portuguesa
um aporte teórico que norteie a produção de suas atividades de leitura; 4. explicitar conceitos
da semiótica discursiva a partir do uso de exemplos de nanocontos; 5. elaborar proposta
didática de atividades para ensino-aprendizagem de leitura de nanocontos, embasadas na
semiótica discursiva.
A construção da proposta de pesquisa que ora se apresenta tem como fundamento
teórico o aporte da semiótica discursiva, de origem francesa, elaborada em suas bases por
Algirdas J. Greimás. A escolha de tal aparato se justifica pelo fato de, diferentemente de
outras teorias textual-discursivas, que, ou enfatizam a análise formal, ou, por outro lado,
destacam apenas os efeitos de sentido, tais como a Linguística Textual e a Análise do
Discurso, respectivamente, a Semiótica Discursiva propõe analisar e interpretar os textos em
diferentes materialidades, contemplando tanto o plano da expressão (aspectos formais),
quanto o plano do conteúdo (produção de sentidos).
Diferentemente da teoria na qual se ancoram as matrizes referenciais de ensino e a
maioria dos livros didáticos (ROJO, 2005, p. 184), a metodologia adotada nesta pesquisa
ocupa um ramo das ciências da linguagem conhecido por conceber o texto, e não mais a frase
apenas, como unidade de sentido. Esta teoria inovadora designada Semiótica foi inaugurada
em 1966, com a publicação da obra Semântica Estrutural escrita de A. J. Greimás e J.
Courtés. Segundo Teixeira (2014), a pretensão da semiótica é "construir um modelo capaz de
prever uma gramática das relações entre sujeitos e entre sujeitos e objetos" (p. 5). No modelo
referido, a teoria concebe o seu plano de conteúdo sob a forma de um percurso gerativo de
sentido. Para apresentá-lo, fazemos referência aos estudos de José L. Fiorin, Diana Barros,
Lúcia Teixeira, Norma Discini, Luiz Tatit entre outros pesquisadores da área de estudos da
linguagem que se destacam publicando obras que disseminam a semiótica.
14
Além disso, elaboramos algumas atividades de leitura e para isso tomamos como
fundamento metodológico princípios adaptados de acordo com a proposta em questão. Ainda
no que concerne às questões metodológicas, para a condução da pesquisa, foi utilizada a
pesquisa bibliográfica e também a pesquisa-ação, pelo seu caráter prático.
O corpus estabelecido para realização da pesquisa é ao mesmo tempo nosso objeto de
análise, o gênero nanoconto, como dito anteriormente. Eleito por este trabalho e amplamente
popularizado pela cibercultura1, pertence à modalidade discursiva designada micronarrativa.
Essa composição, que abarca muitas designações como microconto, miniconto, nanoconto,
será nossa ferramenta para ampliar a competência leitora do estudante através do
desenvolvimento da sua capacidade crítica e extinguir algumas dificuldades diagnosticadas
pelos exames. As micronarrativas são narrativas que apresentam todos os elementos que
caracterizam tal modo discursivo, no entanto são bem mais reduzidas no que se refere ao
tamanho (formato), sendo constituídas de poucas linhas ou mesmo poucos caracteres, tais
como as que nos propomos a ler com os alunos ao longo da pesquisa.
Ressaltamos que neste trabalho optamos, em virtude dos textos que constituem o
nosso objeto de análise, pela designação "nanocontos", tendo em vista que todos os exemplos
utilizados aqui foram escritos por Edson Rossatto 2 e nomeados por ele como nanocontos.
Todos esses pequenos textos possuem cem exatos caracteres, incluindo pontuação e espaços,
e compõem uma parte da produção de Rossatto extraída de três fontes: do extinto blog "Cem
Toques Cravados", da sua conta no Twitter e do livro lançado pela editora Europa, em 2012,
batizado com mesmo nome de seu antigo blog.
O registro do trabalho de pesquisa está organizado em 5 partes, da seguinte forma: no
primeiro capítulo, foi abordado o cenário do ensino-aprendizagem da leitura na escola, em
linhas gerais. E, ainda, para aprofundar a discussão do tema, tratou-se das noções de texto e
leitura, cujas definições precisavam ser ancoradas nos fundamentos da semiótica.
1
Lévy designa cibercultura como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento
do ciberespaço”. Segundo ele, ciberespaço é “o novo meio de comunicação que surge da
interconexão mundial dos computadores”. (1999, p. 17)
2
EDSON ROSSATTO nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Letras, é escritor, editor
de livros e roteirista de HQ. Publicou os livros "Mansão Klaus e outras histórias" e "Curta-metragem –
Antologia de microcontos", ambos da Andross Editora, além de ter organizado dezenas de antologias
literárias. É roteirista da série "História do Brasil em Quadrinhos", tendo publicado os volumes
"Independência" e "Proclamação da República". É criador e organizador do "HQ em Pauta", um
evento destinado ao encontro de leitores e profissionais de quadrinhos. Seu conto “Cartas a um
irmão” foi adaptado para o cinema. (http://www.guiadosquadrinhos.com/artista/edson-rossatto/7417)
15
texto, ou seja, "como o texto faz para dizer o que diz" (BARROS, 1990), momento oportuno
para que o mesmo amplie sua visão crítica de mundo através do reconhecimento de
manifestações ideológicas que subjazem os textos.
17
Talvez não haja em nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como
aqueles que pensamos ter deixado passar sem vivê-los, aqueles que passamos na
companhia de um livro preferido. Era como se tudo aquilo que para os outros os
transformava em dias cheios, nós desprezássemos como um obstáculo vulgar a um
prazer divino: o convite de um amigo para um jogo exatamente na passagem mais
interessante (...) tudo isso que a leitura nos fazia perceber apenas como
inconveniências, ela as gravava, contudo, em nós, como uma lembrança tão doce
(...) que se nos acontece ainda hoje folhearmos esses livros de outrora, já não é
senão como simples calendários que guardamos dos dias perdidos, com a esperança
de ver refletidas sobre as páginas as habitações e os lagos que não existem mais.
(PROUST, s/d, pp. 9-10)
É na infância que experimentamos talvez, pela primeira vez, a natureza prazerosa que
reside na leitura: nas histórias narradas na hora de dormir, na curiosidade que impulsiona o
adolescente a visitar uma biblioteca, nos comentários dos amigos sobre as experiências com a
leitura, tudo aguça o interesse dos jovens em buscar nos livros momentos de lazer e prazer.
Nesta fase, frequentemente o livro ocupa o lugar de destaque na vida dos mais jovens, desde
que não materialize o cumprimento de um programa curricular que os obriga a realizar
fichamentos e preencher questionários. A partir do momento em que a leitura se torna
obrigação, há grandes chances deles se afastarem dessa tarefa e substituí-la por outras que
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envolvam celulares, vídeo games, programas de TV e muito acesso às redes sociais pela
internet. Como a nossa escola poderia contribuir para cultivar a prática da leitura prazerosa
que une as crianças e os adolescentes aos livros? Este trabalho se propõe refletir sobre esta e
outras inquietações presentes cotidianamente na prática docente.
No Brasil, no ambiente escolar, o ensino de leitura é regido por documentos oficiais
que fundamentam essa prática na formação e desenvolvimento do estudante brasileiro. Neste
sentido, destacam-se primeiramente os pressupostos apresentados nos PCN, Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998), no qual se afirma de modo categórico que “o trabalho com a
leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes”. E este processo, que se
realiza através de etapas para a construção de sentido, é visto como um trabalho coletivo, não
individual, em busca da interação entre leitor, autor e texto:
3
O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), desenvolvido conjuntamente pelos
países-membros da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico), é uma
avaliação internacional de habilidades e conhecimentos de jovens de 15 anos, se propõe a avaliar,
periodicamente, um leque amplo de conhecimentos, habilidades e competências nas áreas de leitura,
matemática e ciências.
19
4
Gramática Geral e Razoada (Gramática de Port-Royal, 1775 / 1783)
21
elaborar bons textos, visto que os mesmos eram resultados do encadeamento e contextura de
períodos igualmente bem constituídos. Esta concepção solidificou a frase e o período como
objetos de estudo e observação da gramática e mais uma vez o texto deixou de ocupar o
centro do conhecimento voltado para as questões da linguagem.
Ainda segundo Indursky, Ferdinand Saussure, em 1916, instituiu a linguística como
ciência e, para estudar o objeto língua em sua totalidade, formulou um conjunto significativo
de conceitos que constituem sua natureza sistêmica e homogênea. Para descrevê-la, Saussure,
os gerativistas e os estruturalistas utilizam vários níveis (fonológico, morfológico e sintático),
e a frase, seu observatório natural, continua sendo objeto e limite da linguística.
Mais tarde, em 1943, o dinamarquês Louis Hjelmslev (1975), profundo conhecedor da
obra de Saussure, propõe uma teoria que não esteja voltada apenas para língua, mas para a
linguagem e isso o faz refletir sobre a categoria texto:
Hjelmslev reconhece que o texto é uma categoria teórica que deve ser descrita e o
introduz como novo objeto de estudo tal como ocorreu com a frase anteriormente. Assim,
inaugura-se uma nova teoria da linguagem, que representa a extensão da teoria da língua
inaugurada por Saussure, e vai ser refletida mais tarde em diferentes vertentes de estudos
textuais cujo fundador foi o pensamento hjelmsleviano. A partir desse marco, ocorrido nos
anos 50 e 60, os linguistas se dividem quanto as suas convicções sobre o objeto de estudo da
linguística: enquanto uns acreditam que a frase continua sendo o centro das atenções, outros
questionam como poderiam pensar sobre o que vai além da frase.
Para ampliar o conhecimento sobre as concepções de texto, a seguir proponho um
recorte sobre a construção que algumas das teorias da ciência da linguagem elaboraram sobre
a noção de texto com base na visão de Indursky e outros autores.
22
O percurso teórico traçado pela linguística textual ao longo desses anos contou com a
participação de muitos estudiosos da linguagem e a fim de entender mais sobre a visão que
estes pesquisadores tinham sobre a noção de texto, convém percorrer alguns caminhos
trilhados por este campo.
É possível reconhecer três fases contempladas por esses estudos textuais. A primeira,
denominada transfrástica, ficou conhecida por considerar o texto como uma sequência
coerente de frases, embora buscassem compreender as regularidades que transcendem as
mesmas. Acredita-se que entre os elementos do texto são estabelecidas relações de
24
interdependência que permitem concebê-lo como um todo e sobre a qual deriva sua
compreensão.
Na segunda fase, nomeada gramática de texto, os linguistas tentaram entender o texto
partindo de uma descrição em si mesmo. Passou-se da sintaxe frasal para a sintaxe textual e
tais relações são conhecidas como coesão textual. A partir dessa etapa, formularam-se dois
conceitos para examinar as propriedades que inferem textualidade a um texto: coesão
(conexões entre as frases) e coerência (resulta da intenção global do texto), responsáveis pelas
relações internas que determinam a unidade de sentido.
Vários autores se inscrevem na terceira fase da linguística textual, cujo enfoque recai
sobre a necessidade de estudar o texto de maneira a transpor o exame de suas relações
internas. Propõe-se que toda manifestação linguística é a ampliação da atividade de
comunicação humana e deve ocupar o lugar de objeto texto. Nesta perspectiva teórica, o texto
é concebido como uma unidade "pragmático-comunicativa" - procura estabelecer
comunicação com o leitor; há nele intenções comunicativas presentes nas relações e
referências marcadas pelo autor no corpo do texto - compete ao leitor decodificar o sentido do
texto já fornecido pelo autor através das instruções.
De acordo com Oliveira, a partir da perspectiva da Linguística Textual, texto pode ser
definido da seguinte forma:
A seguir, além dos dois primeiros critérios já citados na primeira e na segunda fases da
linguística textual (coesão e coerência), são acrescidos cinco outros que remetem às
qualidades pragmáticas do texto: intencionalidade (objetiva desencadear determinado efeito
sobre o interlocutor) , aceitabilidade (diz respeito à recepção das instruções pelo receptor) ,
situacionalidade (dirige-se para a relevância e pertinência do texto inserido em seu contexto) ,
informatividade (relaciona-se ao grau de novas informações veiculadas pelo texto) e
intertextualidade (aponta para a relação de sentido criado, quando em contato com outros
textos inseridos em seu contexto).
Cabe à linguística textual o mérito de ter ultrapassado os limites da frase e da
linguística tradicional para constituir o novo objeto de análise: o texto. Entretanto, é a
semiótica de linha francesa, teoria escolhida para nortear nossa proposta de ensino de leitura
25
no ensino fundamental, que propõe um modelo de leitura que ultrapassa os níveis mais
formais para fazer o leitor alcançar o nível discursivo, em que há a manifestação do discurso
no enunciado. Assim Luiz Tatit descreve a semiótica:
Desde os seus primórdios, portanto, a semiótica concebe uma teoria para a análise
do conteúdo humano que se manifesta em dimensão transfrasal, independentemente
da configuração textual escolhida para sua organização e difusão (2014, p. 189).
A semiótica pode ser estudada por mais de uma escola teórica: a americana, fundada
pelo escritor norte-americano Charles Sanders Pierce (1839 - 1914), a desenvolvida por
Umberto Eco e a de linha francesa, cujo precursor foi A.J. Greimás (1917 - 1992), que
norteará os estudos deste presente trabalho. Todavia, antes de discorrer sobre a definição de
texto e leitura esboçada nesta teoria, convém revisitar alguns momentos da história
indispensáveis para a compreensão desta nova ciência.
Como já visto anteriormente, Saussure definiu a língua como um sistema de signos
dentre outros sistemas existentes. A partir do Curso5, o termo semiologia começa a designar a
ciência que se dedica ao estudo geral dos signos e da qual a Linguística é um departamento.
Mais tarde, embora tal ciência também fosse designada como semiótica, este nome começou a
ganhar importante perfil teórico nos estudos da linguagem e se separou da semiologia. Desde
então, cabe à semiologia a tarefa de descrever os sistemas de signos, ou seja, a organização de
alguns "códigos", enquanto a semiótica se debruça sobre a construção de uma teoria cujo
enfoque seja o sentido (VOGT, 2006, p. 108). Esta elege a significação como seu objeto, cuja
natureza não está limitada ao texto linguístico, e abrange todos os sistemas linguísticos e não-
linguísticos. A semiótica procurar explicar e descrever "o que o texto diz e como ele faz para
dizer o que diz" (BARROS, 1990, p.07).
O dinamarquês Louis Hjelmslev inicia a fundamentação desse novo campo de estudo e
um dos pilares erguidos por este autor diz respeito à cientificidade que "determina ser
imperioso dispor de uma teoria para sustentar as análises semióticas" (INDURSKY, 2006, p.
58). Em seguida, Greimás, envolvido em estudos da linguagem, lança uma obra que inicia a
construção da teorização da semiótica, inicialmente conhecida como "greimasiana" e hoje
designada também como "discursiva". Embora nascidas juntas, a linguística prioriza
fortemente a parte formal do enunciado, o significante; em contrapartida, a semiótica debruça-
se em investigar o conteúdo, o significado.
Convém ressaltar que a semiótica amplifica a noção de objetos de análise e este
posicionamento acaba abarcando novas configurações que aparecem em forma de um texto,
de uma imagem, uma música. Indistintamente todos são passíveis de análise no universo
dessa teoria, menos preocupada em descrever o que o texto diz "mas como o texto diz o que
diz, ou seja, os mecanismos internos de agenciamento de sentido" (FIORIN, 2012, p.17), que
concebem o texto como um todo significativo. A semiótica não elege como objeto o signo
empírico, mas o sentido que o signo suscita e articula através das relações estruturais e
5
Curso de Linguística Geral, Ferdinand Saussure.
27
Mais tarde, Barros (1990) desenvolve este conceito e define texto de duas maneiras
complementares: "pela organização ou estruturação que o torna um todo de sentido" e como
"objeto da comunicação que se estabelece entre um destinador e um destinatário" (p.07).
Diferentemente da linguística textual que se preocupa com o plano da expressão
desdobrado a partir do processamento do texto, sua sintaxe e seus encadeamentos formais, o
modelo idealizado por Greimás em meados do séc. XX é mobilizado pela semântica do texto
e ocupa-se do plano do conteúdo. Este modelo apresenta-se subdividido em três etapas, das
mais simples as mais complexas, que demonstram como se produzem os sentidos do texto
(BARROS, 1990, p. 09) e serão apresentados mais adiante. Nele são reproduzidos três níveis
de um processo gerativo que se inclina a explicar os sentidos do texto a partir do estudo de
seu plano do conteúdo, são eles: o profundo (ou fundamental), o narrativo e o discursivo
(FIORIN, 2014, p.20). Além do nível da manifestação.
Diferentemente de outras teorias linguísticas, a semiótica propõe um modelo, segundo
Denis Bertrand, 2003, um "simulacro metodológico", que capacita o leitor a compreender os
28
textos com mais êxito, de forma crítica. Sobre esse método de interpretação do sentido, Fiorin
afirma:
Esse modelo mostra aquilo que sabemos de maneira intuitiva: que o sentido do texto
não é redutível à soma dos sentidos das palavras que o compõem nem dos
enunciados em que os vocábulos se encadeiam, mas que decorre de uma articulação
dos elementos que o formam - que existe uma sintaxe e uma semântica do discurso.
(2014, p.44)
A escolha da teoria semiótica para compor o aporte teórico desta pesquisa se justifica
por alguns motivos, elencados anteriormente e ratificados a seguir: por se tratar de uma teoria
que oferece um modelo de leitura baseado no percurso gerativo de sentido cujo plano do
conteúdo será abordado neste trabalho; pelo fato de que a mesma que não está restrita a
descrever discursos, posicionamento adotado por outras teorias e que já se mostraram
insuficientes; por fornecer um modelo de leitura que se aplica a textos compostos por planos
de expressão de diferentes naturezas (visual, verbal, sincrética, multimodal, etc). Todos os
motivos elencados anteriormente concorrem para o objetivo deste trabalho que é contribuir
para que o aluno do 9º ano do E.F. se torne um leitor proficiente a partir de estratégias de
leitura que ampliem sua competência linguística.
29
2.1. O conto
(...) o conto se desenvolve estimulado pelo apego à cultura medieval, pela pesquisa
do popular e do folclórico, pela acentuada expansão da imprensa, que permite a
publicação dos contos nas inúmeras revistas e jornais. Este é o momento de criação
do conto moderno quando, ao lado de um Grimm que registra contos e inicia o seu
estudo comparado, um Edgar Allan Poe se afirma enquanto contista e teórico do
conto. (p.07)
Embora o conto nos pareça uma narrativa concisa, restrita aos elementos essenciais,
desenvolveu-se, a partir dos anos 60, um tipo de narrativa que tenta a economia
máxima de recursos para obter o máximo de expressividade, o que resulta num
impacto instantâneo sobre o leitor. Trata-se do chamado miniconto. Seu efeito de
recepção é muito forte exatamente por sua condensação. O discurso direto, tão
frequente no conto, é muitas vezes dispensado em nome de um ritmo de narração
quase alucinante. Isso o transforma numa metáfora da velocidade com que circulam
os seres, as mensagens, os objetos, os textos nas sociedades contemporâneas.
(PAULINO, 2001: 137-8, apud SPALDING, p.74)
por Edson Rossatto e nomeados por ele como nanocontos, que são pequenos contos narrativos
com exatos cem caracteres.
Antes de elencarmos algumas características presentes neste gênero em ascensão na
literatura brasileira, é importante ressaltar que essa pesquisa opta pela vertente bakhtiniana
denominada teoria dos gêneros do discurso por estar centrada "no estudo das situações de
produção dos enunciados ou textos e em seus aspectos sócio-históricos" (ROJO, 2005, p.
185). Para Bakhtin (1953/1979), os gêneros do discurso, diferentemente dos gêneros literários
(ou textuais), apresentam três dimensões essenciais e indissociáveis que, determinadas pelos
parâmetros das situações de produção, compreendem os temas, a forma composicional e as
marcas linguísticas. Assim Roxane Rojo explica essas dimensões:
6
ÁLVARES, Cristina. Revista Guavira Letras, nº15, ago-dez, 2012.
32
2.2.1 Brevidade
Embora a micronarrativa tenha surgido na transição do século XIX para o século XX,
com o desenvolvimento da imprensa, os novos meios de comunicação instaurados pelo
advento da internet foram muito propícios às novas práticas de comunicação na vida social.
Somados aos variados gêneros textuais emergentes nessa nova tecnologia narrativa, o conto
breve e hiperbreve se propagou pelos novos suportes e diariamente ganha novos leitores. Para
David Roas (apud Álvares, 2010) é um gênero que nasceu de uma variação do conto a partir
de uma das vias de evolução que é a intensificação da brevidade. Ele afirma que
características como concisão, depuração e intensidade também compõem traços que
descrevem a estrutura da micronarrativa, mas o efeito direto da brevidade "máxima expressão
a que são levadas as potencialidades do conto: condensação, intensidade, economia de meios,
unidades de efeito" (ROAS, apud, Álvares, 2012).
Muitos teóricos discutem sobre a extensão ser ou não considerada como um elemento
definidor da forma, dada a dificuldade de observação da sua medida. Todavia, o objeto
escolhido para o desenvolvimento do presente trabalho, denominado nanoconto, contém cem
exatos caracteres e contraria algumas teorias que identificam essa forma com até cinquenta
caracteres.
2.2.2 Narratividade
2.2.3 Intertextualidade
7
De acordo com o que foi previsto e afirmado anteriormente, todos os nanocontos mencionados
neste trabalho são de autoria de Edson Rossatto e foram extraídos do blog "Cem Toques Cravados",
cujo acesso foi realizado em 09/10/2012, do Twitter, através do endereço eletrônico
<https://twitter.com/cemtoques> ou do seu livro que consta na lista de referências bibliográficas e
recebe o mesmo nome do blog.
34
sociedade e se entrecruzam para criar novos sentidos sob uma única voz condutora. Carvalhal
(2006),
O ato de ler é uma necessidade humana pois a partir dele conferimos sentido às coisas
que nos cercam e nos fazem compreender o mundo no qual estamos inseridos. Desde
pequenos, ouvimos histórias fantásticas e coloridas que exercem sobre nós um fascínio de
quem está descobrindo um mundo novo e à medida que crescemos, nos são apresentados
outros tipos de textos capazes de nos despertar a curiosidade e ampliar nosso conhecimento.
Mais tarde, a escola será a grande agência de veiculação dos mais variados textos e uma de
suas tarefas será inserir o aluno numa sociedade letrada. Entretanto, convém refletir sobre
quais são os métodos utilizados nas aulas de português para formar alunos proficientes.
Embora as universidades contenham inúmeros grupos de pesquisas sobre inovações no
ensino de língua materna no Brasil, a escola tradicional ainda orienta seus alunos a ler e
redigir períodos e orações muitas vezes desvinculadas de um contexto. Segundo Fiorin (2014,
p.9), exige-se que os alunos interpretem textos a partir de questionários com perguntas que
não estimulam o entendimento global do texto nem os desafiam intelectualmente. Muitos
professores preocupados em enriquecer as aulas de interpretação selecionam outros textos,
literários ou não, e fazem uma bela leitura interpretativa em classe. Contudo, quando são
indagados pelos alunos sobre como ele chegou àqueles sentidos, a resposta se afasta daquelas
contidas nos manuais de estudos do discurso: sensibilidade, intuição e leituras repetidas.
Sabe-se através dos estudos sobre a linguagem que as respostas acima são
insuficientes para tornar o aluno proficiente em sua língua materna. Para Regina Gomes
(2004), é necessário fazê-lo entender o que precisa ser observado no texto em análise e para
isso o ensino de leitura não pode mais se restringir à linguagem verbal, visto que os textos são
compostos por linguagens de diversas naturezas. Por isso exige-se do leitor domínio sobre a
compreensão de textos construídos a partir da interação e coexistência entre os mais variados
tipos de linguagem: não-verbais, sincréticos, multimodais entre outros.
Para tornar o aluno hábil nessa tarefa, a preocupação com a leitura deve ultrapassar os
limites dos estudos com orações e períodos e permitir o acesso a outras áreas de conhecimento
além daquelas tratadas na escola. Na desafiadora tarefa cotidiana das aulas de interpretação de
texto são desenvolvidas algumas teorias do discurso em que se mostra a existência de uma
gramática que assiste à confecção de textos. Essa consciência torna imprescindível não apenas
o ensino da coordenação e subordinação como processos de estruturação do período, mas
36
(...) a semiótica concebe uma teoria para a análise do conteúdo humano que se
manifesta em dimensão transfrasal, independentemente da configuração textual
escolhida para sua organização e difusão. Esse conteúdo pode surgir como literatura,
filme, pintura, música ou até como linguagem coloquial; tudo isso é passível de
descrição semiótica. (TATIT, 2012, p.189)
Assim, a teoria inaugurada por Greimás oferece "uma espécie de estrutura geral da
significação que subjaz aos textos, sejam eles, verbais ou não verbais" (TATIT, 2012, p. 189).
Desse modo, pretende-se demonstrar o uso e eficácia da semiótica na (re)construção de
sentidos dos nanocontos durante o estudo da língua materna, no 9º ano do E.F., voltado para
as atividades de compreensão textual.
A partir da década de sessenta, sobretudo na França, o aparecimento de teorias-
método, cuja principal preocupação passa a ser a questão da leitura e da interpretação de
textos, direcionou os estudos da linguagem, de modo geral, para uma mudança significativa
no seu enfoque: ganham destaque as análises das unidades de sentido, em detrimento das
unidades sintagmáticas. As frases deixam de ocupar o lugar de destaque nas pesquisas sobre a
construção de significado e cedem lugar ao texto, que passa a ser compreendido de forma
37
mais ampla. No volume II da obra organizada por José Luiz Fiorin, Introdução à Linguística -
Princípios de Análise, Barros esclarece que
A teoria semiótica deve apresentar-se inicialmente como o que ela é, ou seja, como
uma teoria da significação. Sua primeira preocupação será pois, explicitar, sob a
forma de uma construção conceitual, as condições da apreensão e da produção de
sentido" (2016, p.415)
gramática das relações entre sujeitos e entre sujeitos e objetos, manifestando-se nos textos
como fundador" (TEIXEIRA, 2014).
Esse modelo de análise do sentido apresentado pelo percurso gerativo idealizado por
Greimás consiste num método para a leitura de textos confeccionados a partir de linguagens
de diversas naturezas. Segundo Gomes e Mancini (2006), a teoria parte do pressuposto de que
os textos possuem um lógica subjacente independentemente das características que o
individualizam.
O presente trabalho utilizará o percurso gerativo como modelo de análise do sentido
na construção semiótica do texto e apresenta-se subdividido em níveis, dos mais simples aos
mais complexos, que demonstram como se produzem os sentidos do texto. Teixeira esclarece
o modo como essa ciência funciona:
Fiorin (op.cit.) explicita os três níveis desse processo gerativo que se propõe a explicar
os sentidos do texto a partir do estudo de seu plano do conteúdo. São eles: o nível
fundamental (ou profundo), o nível narrativo e o discursivo a respeito dos quais tratamos a
seguir.
Num contexto escolar carente de modelos teóricos de práticas de letramento, a
semiótica propõe tornar o processo de leitura menos intuitivo e mais produtivo, através de
"um modelo que simula a produção e a interpretação do significado, do conteúdo." (FIORIN,
2014, p.44), e fornece ao professor uma metodologia apropriada à abordagem de textos capaz
de dar um novo sentido às aulas de leitura em língua portuguesa. Desse modo, convém refletir
de que forma a semiótica pode contribuir para a nossa prática docente na formação de leitores
competentes, capazes de compreender os textos criticamente e conscientes do seu papel na
sociedade? Trata-se, portanto, de uma teoria geral da significação aplicada à leitura de
nanocontos junto aos alunos do 9º ano do E.F., numa escola pública do Rio de Janeiro.
a) O Nível Fundamental
39
Exemplo 1
Entrou para o Guiness: o homem mais triste. Mas o sorriso de Ana atrapalhou seu
título no outro ano.
coocorrência dos termos que organizam as oposições fundamentais através dos valores
semânticos que os mesmos suscitam no próprio texto (FIORIN, 2014, p.200). Desse modo, os
alunos serão capazes de perceber que os conceitos de disforia e euforia estão ligados à
combinação lexical que inscreve no texto valores semânticos classificados como positivos ou
negativos, a depender do contexto em que são empregados
Fiorin conclui o estudo do nível fundamental afirmando que a semântica e a sintaxe
desse nível constituem o início da construção do percurso gerativo e pretendem explicar "os
níveis mais abstratos da produção, do funcionamento e da interpretação do discurso" (2012,
p.24).
b) Nível Narrativo
de conjunção com a tristeza, termina feliz após conhecer "Ana", passando a um estado final
de disjunção com a tristeza e de conjunção com a felicidade.
Esse movimento narrativo percebido na leitura semiótica ocorre na interação entre os
sujeitos, a partir de determinados valores que circulam na sociedade e conferem sentido às
ações humanas. Entende-se assim que as estruturas narrativas simulam a história da
humanidade à procura de sentido para seus relacionamentos pessoais e em busca de valores
sobre os quais ela constrói sua existência. Os enunciados operam a passagem de um estado a
outro, ou seja, de um estado conjuntivo a um estado disjuntivo e vice-versa. O sorriso de Ana
transforma o estado de conjunção do homem com a tristeza em estado de conjunção com a
alegria, com a companhia. O homem que figurou no Guiness como o mais triste do mundo
perdeu seu título ao conhecer Ana, que transformou sua tristeza e solidão em felicidade e
parceria.
Leiamos o que Barros afirma sobre a visão da semiótica acerca da narrativa:
Nem todos os textos são narrativos, por isso convém distinguir os conceitos de
narração e narratividade. Enquanto aquela, para Fiorin (2014), "constitui a classe do discurso
em que estados e transformações estão ligados a personagens individualizados" (p. 28), a
narratividade é uma transformação que perpassa dois estados diferentes que partem do estado
inicial ao estado final. Esse movimento desencadeia uma transformação de conteúdo e pode
ser encontrado em qualquer narrativa mínima. Os textos não são narrativas mínimas ou
simples, pelo contrário, são entendidos como narrativas complexas que se estruturam numa
sequência de quatro fases: a manipulação, a competência, a performance e a sanção.
De acordo com Luiz Tatit (2014), a manipulação "supõe uma espécie de contrato entre
as funções sintáxicas de destinador-manipulador e destinatário-manipulado" (p.191). Esse
processo ocorre sempre que existir uma situação de persuasão envolvendo dois sujeitos a
ponto de um agir sobre o outro para levá-lo a querer e/ou dever fazer alguma coisa. Essa
primeira fase supõe uma situação de comunicação persuasiva de um sujeito manipulador
sobre um sujeito manipulado e pode ser descrita sob quatro tipos mais recorrentes: tentação,
intimação, sedução e provocação. Vejamos outro texto:
42
Exemplo 2
Abriu outros dois botões e decotou ainda mais sua blusinha. "Ah! Quero só ver ele me
multar agora!"
Exemplo 3
Rosa o amava, mas não tolerava infidelidade: deixou-o, pois ele viva beijando outras
flores por aí.
o destinador julga a conduta do sujeito e os estados obtidos pelas operações, por sua
conformidade ou não com o sistema de valores que representa e, também, em
relação aos valores implicitados ou explicitados no contrato inicial com o
destinador-manipulador. (2001, p. 40)
O parceiro infiel é, portanto, o sujeito sancionado por Rosa pois o mesmo encara
valores contrários aos estabelecidos num contrato fiduciário entre os actantes de uma relação
amorosa. Entende-se por actante, "entidade sintática da narrativa que se define como termo
resultante da relação transitiva, seja ela uma reação de junção ou de transformação"
(BARROS, 1990, p. 84).
As quatro fases anteriormente apresentadas não estão obrigadas a obedecer uma
sequência cronológica e isso se deve a alguns motivos. Inicialmente, muitas narrativas não se
completam e outras nem sempre possuem sequências bem arranjadas. Há ainda aquelas que
optam por cumprir apenas uma dessas fases, como a descoberta de um segredo.
44
c) O Nível Discursivo
Exemplo 4
Retornou do mercado com a compra do mês: ração para os cães e gatos e cinquenta
pacotinhos de miojo.
Exemplo 5
CLASSIFICADO: "Alugo crianças para serviços externos. Oito a doze anos.
Especialidade em semáforos."
Exemplo 6
"Só acredito vendo", disse Tomé. Então Jesus se deitou e fez trezentas flexões por
minuto.
47
Exemplo 7
"Não, não! Tem que ser Josafá!". "Esse nome é feio! Só empresto a barriga se ele se
chamar Jesus!".
Nos dois casos acima, há debreagem interna. No exemplo 6, o narrador fornece voz a
uma pessoa do enunciado, no caso, Tomé. No exemplo 7, a voz é fornecida às pessoas da
enunciação já instaladas no enunciado, o Anjo e Maria. Tomé (o ele) fez uma debreagem
enunciativa já que instaurou no discurso o pronome pessoal reto de primeira pessoa, eu, o
advérbio de lugar, aqui e um advérbio de tempo, agora. Assim, Fiorin conceitua as
debreagens internas:
Cabe ao professor destacar a importância que essa mudança na perspectiva dos modos
de narrar suscita na produção do discurso. Visto que a linguagem não tem objetividade, a
criação de efeitos de sentido advém da escolha lexical por parte do narrador 8 . Logo, a
narração em 1ª pessoa - debreagem enunciativa - transfere para o texto um efeito de
subjetividade; em contrapartida, a narração em 3ª pessoa - debreagem enunciva - instaura no
discurso um efeito de objetividade, imparcialidade.
Portanto, torna-se imprescindível à atividade de leitura, o desenvolvimento de
competências específicas que farão os alunos descobrirem os rastros deixados pelo
enunciador e as possíveis interpretações do enunciado. O olhar do aluno deve estar voltado
para a detecção das consequências que a escolha do tipo de debreagem pode implicar no texto
e os efeitos de sentido gerados a partir dela.
Conhecidas algumas características da primeira categoria de enunciação, a debreagem,
vamos dar continuidade ao estudo conceituando a segunda categoria, chamada de embreagem.
Essa projeção também é considerada um recurso utilizado para criar efeitos de sentido e
ocorre quando há "uma suspensão das oposições de pessoa, de tempo ou espaço" (FIORIN,
2012 p.74). Quando usamos a terceira pessoa do discurso para falar de nós mesmos, estamos
materializando o mecanismo da embreagem. Fiorin exemplifica esse conceito da seguinte
forma: quando o pai vê o filho correndo num mercado e diz "Papai não quer que você
corra"9, suspende-se a oposição entre o eu e o ele. A substituição do emprego da terceira
pessoa pela primeira cria um efeito de objetividade que destaca o papel social que o pai
assume: o de zelar pelo filho. Outro exemplo do emprego da embreagem está no uso do lá em
lugar de aí, advérbio que indica o lugar próximo da pessoa com quem se fala. Barros resume
essa ideia da seguinte maneira:
O exame das relações entre efeitos e mecanismos é uma das etapas da construção
dos sentidos do texto, de seus afins e de suas "verdades". (...) O estudo das projeções
da enunciação permite analisar o discurso como objeto produzido por um sujeito que
procura construir seu objeto discursivo e atingir um certo fim. Resta abordar, na
sintaxe do discurso, os procedimentos argumentativos que definem o discurso como
objeto de comunicação manipuladora entre o enunciador e o enunciatário. (1990,
p.62)
8
Conceito fornecido por José Luiz Fiorin durante o Curso de Enunciação disponível no endereço <
https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc>, acessado em julho de 2016.
9
Idem.
49
conceitos em sala de aula, a maior parte dos livros didáticos oferece exercícios de leitura que
não valorizam a reflexão sobre os usos de determinados recursos. Essas atividades propõem,
mormente, a passagem do discurso direto para o discurso indireto e menosprezam algumas
funções assumidas pelo narrador, como por exemplo, a atestação da veracidade de fatos em
narrativas jornalísticas.
d) O Nível da Manifestação
Parte integrante do método que nos permite ler textos de modo mais crítico e eficaz, o
nível da manifestação é o último passo do percurso gerativo. Embora o percurso se manifeste
pelo plano do conteúdo, esta etapa nasce a partir da aproximação entre os planos de conteúdo
e de expressão que, relacionados entre si, originam outros novos, como romance, filmes,
agregando diversos valores significativos ao conteúdo: "o texto é, assim, uma unidade que se
dirige para a manifestação" (FIORIN, 2014, p.57).
No nível da manifestação, o plano de expressão ganha destaque na composição dos
textos literários a partir da utilização de recursos que auxiliam na criação de efeitos estilísticos
da expressão verbal. Fiorin elenca alguns desses elementos: recursos fônicos (aliteração e
assonância); recursos métricos e rítmicos; recursos sintáticos (tais como os paralelismos, por
exemplo); figuras de construção como repetição, gradação e outros (2012, p.45).
Antes de citar um exemplo que ilustre o nível da manifestação, convém salientar as
principais características que diferenciam o plano do conteúdo do plano da expressão.
Segundo Gomes10, a semiótica propõe uma análise de cada plano, separadamente, para em
seguida legitimar os dois planos de maneira a observar quais recursos de expressão
coincidirão aos valores de sentido veiculados no plano de conteúdo. Desse modo, a autora os
distingue da seguinte forma: o plano de expressão corresponde ao dos elementos sensíveis ao
signo que podem ser sonoros verbais orais segmentais ou suprassegmentais (unidades
fonético-fonológicas, a prosódia, a materialidade sonora, etc.), visuais gráficos (tamanho, cor,
textura, volume, etc.) ou de natureza visual (cromáticos, topológicos, cinéticos, etc.). O plano
do conteúdo corresponde aos conceitos e significações expressados pelos elementos do plano
de expressão.
10
Conceitos fornecidos por Regina Gomes durante o Curso de Extensão "Leitura de textos: uma proposta
metodológica" , no Rio de Janeiro (UFRJ), em junho de 2016.
50
EXEMPLO 8
Pilhas de livros em volta dele. Amava ler ali. Terminou o que estava fazendo, deu a
descarga e saiu.
Nos textos figurativos, representa-se o mundo a partir de sua função descritiva que cria
um efeito de realidade; simula-se o mundo a partir dos figurativos. Já os textos temáticos
possuem função interpretativa que busca explicar esse mundo simulado.
As figuras são termos que representam os seres, ações e outros elementos do mundo
natural ou do mundo criado pela ficção. Elas remetem a algo existente no mundo como flores,
carros, sol, crianças, cores, etc. Fiorin (2012 p.91) afirma que figura "é todo conteúdo de
qualquer língua natural ou de qualquer sistema de representação que tem um corresponde
perceptível no mundo natural".
Como o texto é um todo de sentido, temas e figuras se relacionam entre si por meio de
traços semânticos e de recorrências de sentido. Os textos figurativos concretizam temas,
portanto, ao ler um texto com predominância de termos concretos, é preciso identificar os
temas para que a leitura seja menos superficial. Isso significa que para chegar ao sentido do
texto, não basta compreender os termos, polissêmicos ou não, isoladamente, é preciso
observar as cadeias e percursos temáticos e figurativos que dão coerência aos textos
(BARROS, 1990, p. 71).
Um mesmo esquema narrativo pode ser tematizado de maneiras diferentes. O tema
morte (disjunção com a vida), por exemplo, pode tematizar-se como resultado de um
assassinato, de uma doença fatal que leva o paciente a óbito, de um acidente grave de trânsito,
53
entre outros. Da mesma forma, um tema pode ser figurativizado de diversos modos, como por
exemplo: o tema da religiosidade pode ser apresentado a partir de elementos variados como
crucifixos, terços, livros e objetos sagrados, imagens esculpidas, entre outros.
Segundo a semiótica discursiva, não se pode interpretar temas e figuras isoladamente,
precisa-se observar a relação que se estabelece entre eles na construção de significado. Fiorin
ilustra esse conceito ao usar a concretização da figura do sol em Vidas Secas, obra de
Graciliano Ramos, aliada a outros elementos como ossadas, terra seca, fome e inanição
remete ao tema da fome e seca no ambiente hostil do sertão nordestino. Ali, a figura do sol
ganha contornos negativos por causa dos grandes períodos de estiagem e de toda miséria que
a falta de chuva pode causar (2012, p. 100). Mas a imagem do sol pode remeter a outro
sentido, dessa vez, positivo: uma propaganda de um hotel no Nordeste convidando as famílias
brasileiras para curtirem o verão em suas dependências com piscinas, cachoeiras e muito lazer
(GOMES, 2016)11.
Neste contexto, a figura do sol aliada a elementos como praia, crianças sorridentes,
brinquedos aquáticos, conota aspectos totalmente positivos, visto que ele representa a
coroação do verão e um convite ao lazer durante as férias. A distinção entre tema e figura
remete à ideia de abstrato e concreto, mas ao contrário do que se pensa, esses pares não são
opostos, eles atuam de forma complementar e agem de maneira gradual, do mais abstrato ao
mais concreto12.
O nanoconto do exemplo 5, citado anteriormente, é constituído pela superposição de
gêneros que inferem ao texto novas possibilidades interpretativas. A enunciação atualiza
propriedades do gênero nanoconto, entretanto torna latente certas características de outro
gênero: o classificado do jornal. Esta concorrência é construída quando as características
composicionais dos classificados - frases curtas, verbos na 1ª pessoa do presente do modo
indicativo, comercialização de mão-de-obra - potencializam outras reconhecíveis e
pertencentes às micronarrativas e transformam dois gêneros em um só explicitado no próprio
enunciado "Alugo crianças" e "Especialidade em semáforos". Leiamos o que Gomes afirma
acerca da hibridização dos gêneros e sua natureza dinâmica que resulta da manifestação de
certos regimes de interação e instaura novas possibilidades significativas:
11
Exemplo fornecido por Regina Gomes durante o Curso de Extensão "Leitura de textos: uma
proposta metodológica" , no Rio de Janeiro (UFRJ), em junho de 2016.
12
Idem
54
[...] não é possível tratar dos gêneros sem considerar as relações intersubjetivas que
os fundam. (2009, p.583).
EXEMPLO 9
Malabarismo no farol, flanela no para-brisa, balas na calçada. Deixara de ser criança
aos cinco anos de idade.
13
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em 10/02/17.
56
14
Os conceitos de interatividade e classemas são mencionados no Dicionário de Semiótica, escrito
por de A.J. Greimas e J.Courtés, quando se trata da definição de isotopia. Segundo a obra,
iteratividade é "a reprodução, no eixo sintagmático, de grandezas idênticas ou comparáveis, situadas
no mesmo nível de análise (...) apresenta-se, então, como um dos termos da categoria aspectual,
opondo-se à duratividade" (2016, p.278).
57
norteadora nesta pesquisa, que tem como seu objeto o texto e procura explicar os
procedimentos e mecanismos que constroem os sentidos. Segundo Barros:
EXEMPLO 10
Achava que a garota era virgem, mas descobriu ser traiçoeira como um escorpião.
Agora ele era touro.
58
______________________________________________________________
assume valores de mulher livre de contrato fiduciário que apregoa a fidelidade feminina ao
parceiro.
Na última etapa do percurso gerativo, nível discursivo, as estruturas discursivas devem
ser examinadas sob o foco das relações que se instauram entre a instância da enunciação, cuja
função é produzir e comunicar o discurso e o texto-enunciado. No nanoconto em análise, ao
construir seu relato, o narrador deixa nele as marcas de seu ponto de vista acerca do fato
relatado, cuja focalização total desvenda os sentimentos e pensamentos do narrador sobre as
ações dos personagens, "achava" e "descobriu".
O diálogo entre outros textos da cultura se instala no interior do texto e gera um
cruzamento de imagens. Através do encadeamento dessas figuras, variados temas se tornam
fundamentais para a atribuição de sentido ao nanoconto e por meio desses elementos
compreende-se o conjunto de ideias que formam o texto.
No nanoconto de Rossatto, desenrolam-se algumas leituras temáticas como a
fidelidade feminina, a sexualidade masculina, a crença em previsões de astrologia, a astúcia
feminina. Para compreender esses temas é necessário identificar os termos que representam os
seres e ações: as figuras. Segundo Fiorin, "figura é todo conteúdo de qualquer língua natural
ou de qualquer sistema de representação que tem um correspondente perceptível no mundo
natural" (2014, p.91). Cabe a elas a tarefa de concretizar os temas a fim tornar a leitura menos
superficial.
Uma leitura crítica do nanoconto, embasada em fundamentos teórico-metodológicos,
ultrapassará a mera identificação de figuras que remetem ao universo do textos destinados a
previsões de astrologia, recuperados a partir dos vocábulos virgem, escorpião e touro. Fiorin
define tematização como "um investimento semântico de natureza puramente conceptual, que
não remete ao mundo natural. (...) são categorias que organizam e ordenam os elementos do
mundo natural." (2012. p.91). Ambos, temas e figuras, relacionam-se entre si por traços
semânticos a fim de fazer com que o texto seja um todo de sentido.
Em vista disso, a semiótica constitui um método que pode auxiliar o professor na
tarefa de formar leitores críticos capazes de transcender a leitura superficial. A teoria oferece
ao educador a compreensão de que os temas presentes no nanoconto estão ali para organizar,
conceituar e categorizar os elementos criados pelo discurso.
Sobre este mesmo nanoconto do exemplo 10, foi elaborada uma atividade com o
intuito de realizar uma avaliação de sondagem junto ao grupo de alunos do 9ºano.
60
É importante ressaltar que o pesquisador deve estar atento para alguns riscos da
pesquisa qualitativa como a confiança excessiva no investigador na coleta de dados, a falta de
detalhes sobre os processos que montaram a conclusão, o sentimento de dominar
profundamente seu objeto de estudo e o envolvimento com a situação e os sujeitos
pesquisados.
61
A realização deste projeto se deu no ano de 2016 em uma turma do 9° ano do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Lia Márcia Gonçalves Panaro, localizado na Avenida
Brasil, s/n, no bairro Vila São Luís, no 1º distrito de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O
município fica na Baixada Fluminense a 16,78 km da capital do estado e possui, segundo
63
dados do Censo 2010, aproximadamente 855.000 habitantes, divididos pelos quatro distritos
que compõem o município. A cidade possui como acessos a BR 040 e a Linha Vermelha.
A escola em questão foi inaugurada em 1974 e já recebeu muitas visitas da SEEDUC
com promessas de construção de um novo prédio, todavia o projeto nunca saiu do papel. A
escola funciona com 8 salas de aula e ao seu redor há fábricas, igrejas, padarias, bares,
consultórios dentários, praças, centro social e quadra de esportes. Em sua infraestrutura, a
unidade escolar ocupa uma área de 854,62 m² e pode contar com uma sala de multimeios,
uma sala de leitura, sala de informática, quadra de esportes e área de lazer coberta, cozinha,
refeitório e banheiros. Quanto aos recursos disponíveis, a escola oferece equipamentos de
multimídia, computadores administrativos, copiadora, impressora, TV, DVD, som,
retroprojetor, câmera fotográfica/filmadora e projetor multimídia (datashow). Não há
dependências e vias adequadas a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida. Ela atende à
comunidade local oferecendo turmas do 6º ao 9º ano do ensino Ensino Fundamental e turmas
do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, distribuídas nos três turnos: manhã, tarde e noite.
Fizeram parte deste projeto os alunos pertencentes ao 9º ano do turno vespertino,
matriculados no Ensino Fundamental. Trata-se de um grupo composto por 42 alunos que
apresentam idade entre 13 e 17 anos. No que diz respeito às relações de amizade, interesses,
discernimentos e dificuldades, o grupo pode ser considerado homogêneo. Quanto ao grau de
dificuldade diante do processo de ensino-aprendizagem, pôde-se perceber, de um modo geral,
algumas deficiências quanto aos conteúdos escolares de base, entretanto a turma se mostrou
apta a receber novos conhecimentos, o que sinaliza certa maturidade na construção da
aprendizagem.
A maioria dos participantes pertence a camadas de vulnerabilidade social e isso se
desdobra na realidade da prática docente quando se percebem inúmeros desafios enfrentados
no cotidiano escolar, que vão desde as dificuldades nas relações familiares dos alunos até as
incertezas e inseguranças típicas da adolescência. Contudo, a escola tem alcançado bons
resultados nas avaliações oficiais previstas no PDE.
De acordo com o documento de apresentação do Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE), lançado em 2007, a educação de qualidade deve ser assegurada como uma
obrigação governamental, a fim de garantir a igualdade de direitos, conforme se pode ratificar
na constituição: “Reduzir desigualdades sociais e regionais se traduz na equalização das
oportunidades de acesso à educação de qualidade” (BRASIL, 2007, p. 41). Nesse sentido, a
expectativa foi a de que o projeto de intervenção aplicado no grupo de alunos elencados
64
O IDEB da rede pública para os anos finais do ensino fundamental é de 4,2 e o índice
geral do país foi de 4,5. A unidade escolar em questão ultrapassou a meta prevista para o ano
de 2015, e embora desde 2009 obtenha resultados acima das metas traçadas pelo INEP, ainda
não atingiu a média estabelecida para o país - 6,0.
Observemos no gráfico abaixo a evolução dos resultados obtidos pelo Colégio
Estadual Lia Márcia G. Panaro, de 2007 a 2015 15:
15
Gráfico extraído da seguinte fonte: QEdu.org.br. Dados do Ideb/Inep (2015).
65
Em 2007, a escola atingiu a média 3,1, bem abaixo da prevista pelo Inep - 3,7.
Todavia em 2009, a escola atingiu a média 4,7, bem acima da prevista - 3,8. Em 2011, o
colégio Lia Márcia registrou média 5,0 - 0,9 pontos além da média prevista pelo INEP, que
era 4,1. O mesmo quadro se repetiu nos últimos anos: em 2013 a escola alcançou 4,8 de
média - acima da prevista, 4,5 - e em 2015 conseguiu chegar à maior média desde que essa
aferição começou 5,1. Este último número foi obtido a partir dos índices de aferição do
aprendizado (5,53) e do fluxo escolar (0,92).
O IDEB da escola em 2015 - 5,1 - alcançou a maior pontuação entre as unidades
escolares da Baixada Fluminense e apesar da comunidade aprovar a qualidade de ensino
oferecida pela instituição, sabemos que ainda há muito o que melhorar.
16
SPALDING, Marcelo. Os cem menores contos brasileiros do século e a reinvenção do miniconto na
literatura brasileira contemporânea. Diss. Dissertação (Mestrado em Literaturas Brasileira, Portuguesa e Luso-
africanas)–Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
17
"máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; apotegma,
ditado; texto curto e sucinto, fundamento de um estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica, ger.
relacionado a uma reflexão de natureza prática ou moral, in DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS da Língua
Portuguesa 1.0. Verbete “Aforismo”. Edição em C . Rio de Janeiro, Editora bjetiva.
69
4.3.2. Atividades
Atividade 1
Você, aluno matriculado no 9º ano do ensino fundamental, já deve estar habituado aos
novos meios de comunicação instaurados pela disseminação das mídias digitais e por isso
encaram as redes sociais e suas formas de transmitir e receber mensagens muito naturais.
Todavia nem sempre foi assim. Os meios de comunicação disponíveis antes dos avanços
tecnológicos que culminaram na popularização da internet eram muito diferentes dos modelos
70
de hoje. Discuta com seus colegas e professor o quanto essas transformações tecnológicas
alteraram nossas relações sociais. Reflita sobre a participação da internet na formação de
leitores e escritores no que tange à formação e ao desenvolvimento de nossa competência
linguística.
Atividade 2
Após o debate, organize-se em grupos com quatro componentes. Cada grupo receberá
do professor um envelope contendo cinco nanocontos, do escritor Edson Rossatto, que
deverão ser lidos por vocês. Reflitam sobre a criação de humor dos textos e os elementos que
os compõem.
"Quero ligá as trompa! Agora que tô com convênio de saúde bão, vô aproveitá!". "Mas
seu Genésio...".
Abriu outros dois botões e decotou ainda mais sua blusinha. "Ah! Quero só ver ele me
multar agora!"
Achava que a garota era virgem, mas descobriu ser traiçoeira como um escorpião.
Agora ele era touro.
Rosa o amava, mas não tolerava infidelidade: deixou-o, pois ele vivia beijando outras
flores por aí.
Segundo a profecia, o mundo acabaria à meia-noite. No dia seguinte, o pesar pelo sexo
com o cunhado.
Atividade 3
Agora, juntamente com o seu grupo, você vai realizar uma leitura mais detalhada de
alguns dos nanocontos presentes na atividade anterior. Para esta atividade, elaboraram-se
perguntas sobre eles. Vamos respondê-las?
71
Texto I
Achava que a garota era virgem, mas descobriu ser traiçoeira como um escorpião.
Agora ele era touro.
a. O narrador, ao construir o seu relato, deixa nele marcas do seu ponto de vista acerca
do fato relatado. Observe a maneira como o nanoconto é narrado e responda: o
narrador é considerado explícito ou implícito?
d. Como se sabe, sob o ponto de vista da construção, os textos podem ser figurativos ou
temáticos. As figuras são termos que representam os seres, ações, etc, do mundo
natural ou da ficção. Identifique as figuras presentes no nanoconto usadas para gerar
encadeamento de sentido.
g. Segundo Platão e Fiorin (2001), o mesmo tema pode ser figurativizado de diferentes
maneiras. Leia o nanoconto a seguir e compare.
Atividade 4
Texto II
Rosa o amava, mas não tolerava infidelidade: deixou-o, pois ele vivia beijando outras
flores por aí.
A proposta de intervenção desta pesquisa teve como foco atingir maior eficiência no
ensino de leitura e compreensão textual. Para tanto, vale apresentar as atividades planejadas e
o que se esperou alcançar com elas.
Em um primeiro momento, propôs-se uma discussão sobre os novos meios de
comunicação disseminados pela era digital. Convém destacar que essas novas tecnologias não
são novidade para a geração dos alunos do 9º ano. Por isso, para ilustrar essa discussão, foram
levadas para a sala de aula imagens de objetos que eram utilizados para comunicação há
alguns anos atrás.
A apresentação das imagens gerou muita surpresa. Os alunos manusearam as imagens
ampliadas e comentaram sobre as características dos objetos que julgaram ser muito curiosos.
Muitos estudantes nunca tinham visto uma máquina de escrever e expuseram muitas dúvidas
sobre o funcionamento desses aparelhos. O telex e o fax também suscitaram muitos
comentários com relação ao seu uso no envio e recebimento de mensagens.
Esse primeiro contato foi oportuno para que o grupo pudesse conhecer alguns dos
diferentes meios de comunicação utilizados no passado. Na ocasião, eles entenderam que o
desenvolvimento da tecnologia modificou profundamente nossas relações sociais e suas
formas de interação e comunicação. Graças ao avanço tecnológico dos meios de comunicação
de última geração - internet, tv, satélites, computadores, telefones celulares, tablets e outros-,
assistimos a transformações na forma de agir e pensar, no estilo de vida, nos desejos, na
conduta e nas atitudes sociais, políticas e econômicas.
Os alunos compreenderam como o fenômeno da globalização tem desafiado a todos a
entender e participar desta nova realidade potencializadora dos meios de informação e de
comunicação, da notícia em tempo real, estimulando a mudança comportamental dos seres
humanos e criando a necessidade de adaptação da vida e do mundo do trabalho. Marcuschi
analisa o fascínio que as tecnologias digitais exercem no ser humano da seguinte forma:
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Pode-se dizer que parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de reunir em
um só meio várias formas de expressão, tais com texto, com e imagem, o que lhe dá
maleabilidade para a incorporação simultânea de múltiplas semioses, interferindo na
natureza dos recursos linguísticos utilizados. A par disso, a rapidez da veiculação e
sua flexibilidade linguística aceleram a penetração entre as demais práticas sociais.
(2010, p. 16)
Após a atividade pré-textual que propôs a reflexão anterior, a turma foi organizada em
grupos com quatro componentes que receberam um envelope contendo cinco nanocontos de
Edson Rossatto. A leitura foi realizada em grupo e a recepção desse gênero foi recebida com
surpresa pelos alunos que desconheciam o autor e o termo "nanoconto".
Para sanar as dúvidas expostas pela turma, explicou-se que o sentido do termo
"nanoconto" refere-se a pequenos textos narrativos criados pelo escritor e roteirista Edson
Rossatto e veiculados em uma rede social. O fato que justificava a designação desses
pequenos contos era a quantidade exata de caracteres presentes em todos os nanocontos - 100
caracteres - incluídos os espaços e sinais de pontuação. Mostrou-se que o prefixo nano- pode
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o ponto de vista é, pois, a maneira como são vistos os acontecimentos que estão
sendo contados, a compreensão que se tem deles numa determinada altura da
narração, o que se sabe ou se conhece dos fatos que ocorrem num determinado
momento. É o que se costuma chamar foco narrativo. (2001, p.177)
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Segundo PLATÃO E FIORIN (2001), há três formas básicas de focalização: a parcial interna, a parcial externa
e a total. Na primeira, os fatos "são compreendidos a partir do ponto de vista de uma personagem. Neste caso, o
narrador sabe mais que a personagem, mas conta apenas aquilo que a personagem conhece" (p.177). Na segunda,
a focalização parcial externa, os leitores vêem apenas as ações das personagens, e não podem conhecer seus
sentimentos nem pensamentos; do personagem focaliza-se sua exterioridade e produz-se um relato mais
imparcial. O último tipo, a focalização total, "não se vêem os acontecimentos nem a partir do exterior nem a
partir do íntimo de uma personagem" (p177), ou seja, o que presencia a cena relatada é onisciente e conhece os
pensamentos e sentimentos de cada personagem.
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Atividade 1
NANOCONTO 1: Estava triste, pois não tinha amigos para tomar uma cervejinha. Eva não
contava e a cobra era falsa.
a. O narrador, ao construir o seu relato, deixa nele marcas do seu ponto de vista acerca
do fato. Observe a maneira como a história é narrada, as formas verbais inseridas nela
e responda: o discurso foi produzido em primeira ou em terceira pessoa?
c. Segundo nossos estudos, toda narrativa pressupõe mudança de estados. Com Adão
se sentia por não ter amigos para sair?
Questão A
A história é narrada em 3ª pessoa, ou seja, nela o narrador se instala como observador
dos fatos relatados a partir do mecanismo da debreagem temporal classificada como
enunciva, que instala no nanoconto uma pessoa (ele), um tempo (então) e um espaço
(alhures). Segundo Fiorin, "esses três elementos definem-se em relação à instância da
enunciação", em que se ocultam os actantes, os espaços e os tempos da enunciação
(2012, p. 58 e 59).
Questão B
O efeito de sentido gerado pela escolha da projeção de pessoa no interior do
nanoconto, de acordo com a debreagem enunciva, configura distanciamento e
objetividade. Esse procedimento é frequentemente utilizado quando se quer tornar o
discurso objetivo e imparcial. Portanto, não é suficiente ao aluno identificar o tipo de
narrador contido no nanoconto, é necessário ir além da mera classificação e fazer uma
análise completa para observar quais efeitos significativos podem ser apreendidos a
partir dessa escolha aparentemente gratuita.
Questão C
O texto se constrói sobre as oposições, por isso sua organização sintática é a seguinte:
afirmação da solidão, negação da solidão, e afirmação da coletividade. Neste contexto,
a ação de beber cerveja é a condição para que ele se torne feliz a partir da afirmação da
companhia para beber.
Questão D
Eva é uma figura que recobre o tema da mulher, do papel que ela exerce numa
sociedade machista ainda no século XXI, em que a mulher não conta como companhia
agradável e divertida para o homem. A cobra é outra figura que reveste o tema da
amizade que não é verdadeira, em quem não se pode confiar. Esses são os motivos
subjacentes utilizados por Adão para não convidar nenhuma delas para tomar cerveja.
Questão E
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Questão F
Os termos recorrentes no nanoconto que materializam a intertextualidade são "Eva" e
"cobra".
Questão G
Esta questão promove uma leitura mais acessível do nanoconto, visto que os conceitos
de figuras e temas podem ser facilmente apreendidos e são capazes de gerar
associações mais evidentes que abrirão caminhos para uma interpretação semiótica.
No nanoconto lido subjazem muitos temas relativos ao comportamento humano que
enriquecem a leitura. Através do plano da expressão criam-se novos sentidos nascidos
das múltiplas relações entre as figuras. No texto, o narrador se "transporta" para o
momento da enunciação da narrativa bíblica para fazer o leitor refletir sobre os
conflitos e particularidades dos relacionamentos humanos que existem desde a criação
do homem. A felicidade do homem em usufruir de momentos de lazer bebendo cerveja
com os amigos, e não com a esposa, é oriundo de tempos muito mais remotos do que
imaginamos. Ou seja, o comportamento da modernidade é justificado pela herança
adâmica. Eva é uma figura que recobre o tema da mulher, do papel que ela exerce
numa sociedade machista ainda no século XXI, em que a mulher não conta como
companhia agradável e divertida para o homem. Além disso, a leitura do nanoconto
propicia um efeito jocoso despertado pela quebra de expectativa acerca da narrativa
bíblica que geralmente é avaliada pela comunidade religiosa com circunspecção e
sobriedade.
Atividade 2
c. Diante do que foi exposto, qual foi o estado final alcançado pelos personagens?
f. No nanoconto em análise, após relatar a ação com a qual o texto se inicia ("comeram
o fruto"), o narrador dá voz a pessoas no enunciado. Transcreva essa fala.
Questão A
A ação de comer o fruto desencadeou duas possibilidades de leitura: os personagens
estavam vestidos antes de comerem o fruto ou eles, embora estivessem nus mesmo antes de
comerem o fruto, não se viam nus.
Questão B
A ação de comer o fruto
Questão C
O estado final dos personagens foi a conjunção com o conhecimento. Adão e Eva
querem entrar em conjunção com o objeto de valor /conhecimento/ . Eles saem de um
estado de não conhecimento para um estado de conhecimento.
Questão D
O par que atende à exigência contida na questão é conhecimento x desconhecimento,
visto que os personagens se sentiram observados após se certificarem de que estariam
nus. A menção ao termo Big Brother reforça o sentido de que os personagens estavam
sendo monitorados por alguém.
Questão E
O termo considerado eufórico, ou seja, de valor positivo é "privacidade" e o disfórico,
de valor negativo é "coletividade".
Questão F
Professor, a semiótica trata o exemplo que aparece no nanoconto como um caso de
debreagem interna, conforme estudado no nível discursivo do percurso gerativo. O
narrador dá voz às personagens já instaladas no enunciado: "Estamos pelados!".
Conforme já dito anteriormente, a debreagem interna cria os efeitos de sentido que
simulam a realidade. Em outras teorias, esse fenômeno linguístico é conhecido como
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discurso direto. Nele, cede-se a palavra aos interlocutores a fim de simular uma
situação "real" de diálogo, que no texto representam Adão e Eva.
Questão G
O primeiro texto com o qual o nanoconto dialoga é a narrativa bíblica acerca da
relação entre Adão e Eva e a desobediência à ordem divina. O segundo é a referência
que se faz ao programa de TV veiculado na rede Globo desde 2002, cujo tema está
centrado no confinamento de aproximadamente 12 pessoas numa casa monitorada por
câmeras dia e noite.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
de leitura não apenas de nanocontos, mas de outros gêneros discursivos. Nesta perspectiva,
aconselha-se ao professor estar devidamente embasado neste aporte teórico que proporcionará
ao seu aluno a transposição do nível textual para o nível discursivo, momento em que o
mesmo alcançará o patamar de leitor proficiente pois estará apto a identificar mais do que
conceitos gramaticais e sim, as possíveis manifestações ideológicas subjacentes ao discurso.
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