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COMPORTAMENTO
EM FOCO
Vol. 9
C737
346 p. : il.
ISBN 978-85-65768-09-2
CDD 150.1943
Instituição Organizadora
Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental
Pareceristas
Dr. Adriano Rozendo (UFMT/CUR)
Dra. Aline Beckmann Menezes (UFPa)
Dra. Ana Carina Stelko-Pereira (Universidade Federal do Ceará)
Dr. André Vasconcellos da Silva (Universidade Federal de Goiás)
Dr. Candido Vinicius Bocaiuva Barnsley Pessôa (Paradigma)
Me. Cassiana Stersa Versoza Carvalhal (Universidade Estadual de Londrina)
Dr. César Antonio Alves de Rocha (USP)
Dra. Eileen Pfeiffer Flores (UnB)
Dr. Fábio Leyser Gonçalves (UNESP-Bauru)
Dr. Gabriel Gomes de Luca (UFPR)
Dra. Gabriela Mello Sabbag (FACEL)
Dr. Hernando Neves Filho (Imagine Tecnologia Comportamental)
Dr. Jorge Mendes de Oliveira-Castro Neto (UnB)
Me. José Umbelino Gonçalves Neto (Universidade Federal de São Carlos)
Dra. Josiane Rosa Campos (INAC)
Dra. Juliane Viecili (UNISUL)
Dra. Maísa Pannuti (Universidade Positivo)
Dr. Mariéle Diniz Cortez (Universidade Federal de São Carlos)
Dr. Paulo Chereguini (Universidade Federal do Ceará)
Msc. Renato Molina (Unic)
Dr. Rodrigo Miranda (Universidade Católica Dom Bosco)
Me. Táhcita Medrado Mizael (Universidade Federal de São Carlos)
Dra. Thaissa Neves Rezende Pontes (PUC-GO)
Sobre a ABPMC
Conselho Fiscal
Membros efetivos André Amaral Bravin
Bernardo Dutra Rodrigues
Conselho Consultivo
Membros permanentes Bernard Pimentel Rangé
Claudia Kami Bastos Oshiro
Denis Roberto Zamignani
Hélio José Guilhardi
Isaías Pessotti
João Claudio Todorov
João Ilo Coelho Barbosa
Maria Martha Hubner
(em licença temporária do conselho)
Maria Zilah Brandão
Roberto Alves Banaco
Wander Pereira da Silva
Sobre a coleção Comportamento em Foco
Cristiano Coelho
Elizeu Borloti
Psicólogo (CRP 16/450), Doutor em Psicologia (Psicologia Social) pela
PUC-SP, Mestre em Psicologia pela UFES, Especialista em Terapia
Comportamental pela USP e em Dependência Química pela UFES, Tutor
do PET Psicologia UFES. Atua como Professor-pesquisador da UFES em
nível de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da UFES. Atualmente
desenvolve estudos/atividades sobre análise comportamental da lingua-
gem, de práticas culturais e da dependência química.
Glauce Rocha
Psicóloga, Mestre em Psicologia pela PUC-SP, Coach (Executive e Life
coaching), Consultora Organizacional, com experiência na área organi-
zacional, educacional e pesquisa; publicações na área de performance,
autora do Livro - Avaliação de Performance: diagnósticos e soluções para
prestação de serviços.
Graziela Freire Vieira
Psicóloga (CRP 01/20451), Doutoranda em Psicologia pela PUC-GO, Mestre
em Psicologia pela PUC-GO, Especialista em Psicopatologia pela PUC-GO.
Atua como docente e orientadora de estágio no IESB-DF. Atualmente
desenvolve estudos/atividades sobre Dor Crônica.
Mariana Batista
Psicóloga (08/23423), Mestra em Análise do Comportamento pela
Universidade Estadual de Londrina – UEL. Pós-graduada em nível de es-
pecialização em Psicologia e Análise do Comportamento Aplicada pelo
Centro Universitário Filadélfia – UniFil e em Psicopedagogia pela UEL.
Atua como psicóloga clínica e psicopedagoga. Compõe a equipe de coor-
denadores do PSac: Grupo de estudos sobre Política, Sociedade e Análise
do Comportamento. Atualmente desenvolve estudos sobre ética skinne-
riana, justiça social, formação docente, práticas educativas, processo de
ensino-aprendizagem e Habilidades Sociais e Educativas.
Reginaldo Pedroso
Psicólogo (CRP-20/ 2714), Mestre, Doutor e Pós-Doutorado pela PUC/
GO. Especialista em Terapia Comportamental. Atualmente é professor
adjunto da Universidade Federal de Rondônia.
Diego Zilio
Referência
Resumo Abstract
O presente estudo visa discorrer sobre a avaliação da The present study aims to discuss about the
aprendizagem de sentenças e traçar possíveis apro- assessment of learning of sentences and to outline
ximações entre os testes de consciência sintática e possible approximations between the tests of
os testes comportamentais que aferem relações de syntactic awareness and the behavioral tests that
ordem entre palavras. Os aspectos teóricos e metodo- measure words-order relations. Theoretical and
lógicos desses testes foram descritos a partir da abor- methodological aspects of these tests were described
dagem da Análise do Comportamento e da Psicologia from of the Behavior Analysis and Cognitive
Cognitiva. Esse trabalho identificou que os testes de Psychology approaches. This work identified that
consciência sintática compartilham de componentes the syntactic awareness tests share of commons
comuns aos mensurados nos testes experimentais components, to those measured in experimental tests
que envolvem relações de ordem entre estímulos. that involve order relations between stimuli. Thus,
Logo, os testes de consciência sintática são compa- the tests of syntactic awareness are compatible and
tíveis e correspondentes em vários aspectos com a correspondents in several aspects with the Behavior
Análise do Comportamento, e podem configurar como Analysis, and can configure as relevant tools to
instrumentos relevantes para avaliar e monitorar a evaluate and to monitor learning of sentences.
aprendizagem de sentenças.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Agradeço ao Prof. Dr. Jair Lopes Jr. pelas profícuas discussões nas aulas da pós-graduação da UNESP-Bauru em 2012, as quais
possibilitaram lançar essa proposta. Agradeço ao Me. Christian Pineda (UFRJ) pelas discussões que tivemos sobre os aspectos
teórico-metodológicos da consciência sintática. Agradeço também a Profa. Dra. Ana Claudia Moreira Almeida-Verdu (UNESP-Bauru),
Prof. Dr. Grauben Assis (UFPa) e Profa. Dra. Deisy das Graças de Souza (UFSCar) pelas oportunidades de dialogar sobre esse tema
ao longo de minha formação. Agradeço a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP# 2012/05696-0;
2016/09109-3; 2018/16694-5) e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Comportamento, Cognição e Ensino (INC&T-
ECCE) (FAPESP#2008/57705-8 e 2014/50909-8; CNPq#573972/2008-7 e #465686/2014-1; CAPES#88887136407/2017‐00).
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de categorização de palavras); logo, deman- 2003; Pratt et al., 1984; Rego & Buarque,
dam também memória auditiva, pensamento 1997), tarefas de localização (Smith-Lock &
lógico e abstração. O presente estudo se- Rubin, 1993; Gaux & Gombert, 1999), tarefas
lecionou algumas tarefas relacionadas à de complementação (Rego & Bryant, 1993;
disposição (ordinalidade) das palavras na Tunmer et al., 1987) e tarefas de analogia
sentença e que são semelhantes às que com- sintática (Nunes et al., 1997). O Quadro 1
põem a PCS e outros testes de consciência ilustra essas tarefas de consciência sintática,
sintática1: tarefas de correção (Guimarães, e serão sucintamente descritas a seguir.
TAREFA DE ESTÍMULO
CONSCIÊNCIA FALADO PELO RESPOSTA DO
SINTÁTICA AVALIADOR AVALIADO
Futebol O menino
CORREÇÃO o joga joga
menino futebol
A sentença está
Come errada porque
LOCALIZAÇÃO maçã “menina” vem
menina antes de “come
maçã”
Mamãe Mamãe
COMPLEMENTAÇÃO “ ” “come”
bolo bolo
A
Mica come pão
B D
Mica come bolo Malu joga
vôlei
ANALOGIA
C Malu joga
futebol
Quadro 1. Quadro ilustrativo das tarefas envolvidas nos testes de consciência sintática.
1 Todos os exemplos apresentados ao longo do trabalho foram elaborados a partir da descrição das tarefas e dos exemplos
relatados na literatura e não constituem traduções ou réplicas dos testes originais.
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Tarefa de correção
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palavras que ocupam a mesma função sin- controle de estímulos por uma ou mais dessas
tática. A tarefa de analogia sintática impõe propriedades/dimensões (dos estímulos), de
ao avaliado, portanto, atentar para a rela- modo que o operante e o reforço ocorram
ção entre o primeiro par de sentenças e a somente se essas propriedades/dimensões
sua aplicação intencional ao segundo par. estiverem presentes (Catania, 1999). Nesse
Considerando que esse teste requer a capa- escopo, a topografia de controle de estímulos
cidade de raciocinar por analogia, não pode (TCE) refere-se às propriedades, relações e
ser considerado como uma medida exclusiva dimensões dos estímulos (ou entre os es-
da consciência sintática (Correa, 2004). tímulos) que controlam um determinado
responder (McIlvane & Dube, 1992).
Até o presente momento, foram apresentados
alguns aspectos relacionados à consciência A ordinalidade é uma relação de controle de
sintática e aos principais testes embasa- estímulos relevante para vários repertórios
dos na Psicologia Cognitiva. A seguir, serão comportamentais. Diversos procedimentos
apresentados alguns aspectos de avaliação e podem ensinar relações de ordem entre estí-
aprendizagem das sentenças pela perspec- mulos, como o encadeamento, a sobreposição,
tiva analítico-comportamental. ensino por matrizes e o constructed-response
matching to sample (CRMTS) (Almeida-Verdu,
de Souza, & Lopes Jr., 2006; Assis, Baptista &
Aprendizagem de sentenças Nunes, 2009; Goldstein, 1983; Golfeto, 2010;
Sigurdardottir, Green & Saunders, 1990; Dube
O modelo de seleção pelas consequências et al., 1991; Stromer & Mackay, 1993; Mackay,
descreve que a ocorrência do operante está 2013; Neves et al., 2018; Silva, Neves, & Almeida-
relacionada às consequências produzidas no Verdu, 2017). Condições de ensino arranjadas
meio, de modo que respostas consequenciadas por meio desses procedimentos podem derivar
por eventos reforçadores aumentam a proba- mais que as relações diretamente ensinadas e
bilidade de ocorrência (Skinner, 1969). Além produzir classes de estímulos ordinais (Green,
de aumentar a probabilidade de ocorrência Stromer, & Mackay, 1993).
do operante, os eventos reforçadores podem
favorecer que eventos antecedentes adquiram A proposta da formação de classes de estímu-
função sinalizadora e de controle discrimina- los ordinais expande o modelo das relações de
tivo em determinadas contingências (Sério, equivalência (Sidman & Tailby, 1982) e tem
Andery, Gioia, & Micheletto, 2002), em uma sido adotado no estudo das relações de ordem
relação definida como “controle de estímulos”. entre os estímulos. Green et al. (1993) propu-
seram que as relações ordinais são atestadas se,
Os estímulos são compostos por proprieda- por meio de testes comportamentais (Stevens,
des, dimensões ou componentes, tais como 1951), apresentarem as propriedades da assi-
tamanho, cor e textura. As contingências metria, da irreflexibilidade, da transitividade e
de reforço podem estabelecer relações de da conectividade. A assimetria é definida pela
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A Análise do Comportamento tem especial são apresentadas por meio de softwares com-
interesse nos procedimentos de ensino e nos putacionais, fichas ou cartões impressos; (c)
processos de aprendizagem da construção a resposta requerida do aprendiz é a seleção
de sentenças e dos repertórios sintáticos. motora e ordenada dos estímulos para formar
A avaliação da sintaxe geralmente integra a sequência; e (d) não há feedback para acertos
a sequência de etapas dos estudos e ocorre ou erros. Considerando o objetivo do presente
antes (pré-testes) ou depois (pós-testes) do estudo, o Quadro 2 ilustra os testes de conec-
ensino. O presente trabalho visará os testes tividade e de sequenciação com sentenças,
após o ensino e que configuram medidas que serão descritos a seguir.
de aprendizagem.
Quadro 2 (Parte 1). Quadro ilustrativo das tarefas envolvidas nos testes das relações ordinais.
TESTE DE SEQUENCIAÇÃO
EU → EM →FOCO
COMO PÃO VOL. 8
1 TERMOS
os
2 TERMOS
os
3 TERMOS
os
EU COMO PÃO
ELE → PEGA → BOLO
ELE PEGA BOLO
TESTE DE SEQUENCIAÇÃO
EU
TESTE DE SEQUENCIAÇÃO
ELE
ELE
Quadro 2 (Parte 2). Quadro ilustrativo das tarefas envolvidas nos testes das relações ordinais.
Teste de conectividade
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Está errada
porque “Mica”
MICA COME PÃO MICA COME PÃO
vem 1º, depois
“come” e em
3º “pão”
COMPLEMENTAÇÃO CONECTIVIDADE
Quadro 3. Quadro ilustrativo das aproximações entre os testes de consciência sintática e os testes de relações ordinais.
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Conclusão
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Flávia Caroline Figel, Mariana Ducatti,
COMPORTAMENTO Sabrina R. Oliveira Fontanesi, Andréia Schmidt
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Flávia Caroline Figel, Mariana Ducatti,
COMPORTAMENTO Sabrina R. Oliveira Fontanesi, Andréia Schmidt
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Abstract
The increasing number of elderly people in Next, we will discuss interventions with
the population is a relatively recent phe- family / caregivers and with elderly people
nomenon in developing countries and has affected by neurocognitive disorders (mild
generated the demand for different solu- cognitive impairment and dementias) and
tions to problems related to the health and by aphasias, two frequent conditions in the
well-being of the elderly. The aim of this elderly population. Behavioral gerontology
chapter is to present a brief overview of stu- is expanding, but it also presents a series
dies that have been developed in the field of of challenges that can be faced by behavior
behavioral gerontology directed to different analysts interested in developing studies
problems related to aging. Initially, we will and interventions on this topic.
present the contingencies most common-
ly associated with behavioral difficulties KEYWORDS
found in institutional settings and studies Behavioral interventions; Institutions for elderly;
developed to manage these difficulties. Ddementia; Aphasia; Elderly people
Gerontologia Comportamental:
uma breve introdução
O processo de envelhecimento não está re- aspectos relacionados à história de vida dos
lacionado apenas a aspectos biológicos, mas indivíduos, como seu estilo de vida, a quali-
também, a aspectos relativos à história de dade de seus relacionamentos sociais, suas
vida dos indivíduos e a aspectos culturais. condições econômicas, grau de escolarida-
Em termos biológicos, ao longo do envelhe- de, entre outros (WHO, 2015). Além disso,
cimento ocorre o declínio de funções mo- é preciso levar em consideração aspectos
toras, sensoriais e cognitivas, o que pode culturais, como políticas públicas relacio-
acarretar prejuízos em diversas áreas para nadas ao envelhecimento e seus problemas,
os idosos, como nos seus relacionamentos e a forma como a sociedade se comporta em
sociais e na manutenção de sua autonomia. relação ao envelhecimento e ao idoso. Todos
A extensão e os impactos desses prejuízos na esses processos concorrerão para um enve-
saúde geral e no bem-estar do idoso, porém, lhecimento mais ou menos saudável (Liu &
dependerão de predisposições orgânicas e de Su, 2017).
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de moradia anterior dos idosos pode contri- 1995). Assim, em determinados casos a
buir para a diminuição de comportamentos dependência pode ser reforçadora para os
considerados problema. A implementação idosos, uma vez que eles não precisam entrar
desses estímulos pode aumentar as chances em contato com a aversividade de não con-
dos idosos permanecerem durante um tempo seguir realizar alguma tarefa. Para que sejam
maior nesses ambientes do que no restante resolvidas questões relativas à dependên-
da casa (Cohen-Mansfield & Werner, 1998), cia, é necessário buscar intervenções que
provavelmente em virtude desses ambientes desenvolvam o repertório de autonomia do
se tornarem mais reforçadores, o que di- idoso. Van Ort e Phillips (1995), por exem-
minuiria a probabilidade de comportamento plo, implementaram uma intervenção com
agitado ou de fugas. Contudo, em um am- a equipe de enfermagem de uma instituição
biente institucional a intervenção individu- com o objetivo de aumentar a autonomia
alizada seria possível? Essa é uma dificul- dos residentes no momento da alimenta-
dade comumente trazida por profissionais ção. As intervenções realizadas foram des-
que trabalham nessas instituições. Embora critas como ambientais e comportamentais,
seja possível e necessário realizar uma ma- sendo que as ambientais incluíram treinar
croanálise das contingências em vigor na a equipe para diminuir o barulho no am-
instituição, intervindo nesse aspecto, é de biente e posicionar os residentes à mesa e
suma importância analisar, também, cada a comida em frente a eles. As intervenções
caso individualmente. comportamentais diziam respeito a utilizar
dicas visuais e táteis, realizar instruções e
No caso de déficits comportamentais, como a modelar o comportamento de se alimentar
dependência, o arranjo de contingências am- com independência. Exemplos como esse
bientais das ILPI’s poderia auxiliar na ma- evidenciam a importância de serem reali-
nutenção de habilidades funcionais e suprir a zadas, concomitantemente, intervenções
necessidade de contato interpessoal (Allen & com os cuidadores, não apenas para que eles
Burgio, 1999). Entretanto, essas instituições não punam comportamentos de autonomia
são repletas de contingências ambientais que (e.g., impedir os idosos de se alimentarem
reforçam comportamentos de dependência sozinhos, para que o horário da refeição seja
(Baltes, 1988), uma vez que o ambiente é mais rápido), mas também para que refor-
pouco responsivo, é negligente ou espera cem as tentativas de independência.
incompetência, fornecendo auxílio mesmo
quando não é necessário (Baltes, 1995). A Em relação à incontrolabilidade dos am-
dependência deve ser vista, também, como bientes institucionais, a privação sensorial e
uma estratégia adaptativa empregada pelos ausência de controle sobre o ambiente pode
idosos como forma de lidar com o próprio exacerbar a ansiedade e a depressão, além
envelhecimento, em virtude de possíveis de induzir o desamparo aprendido (Langer &
limitações físicas que implicam em maior Rodin, 1976; Seligman & Beagley, 1975). Em
dificuldade para realizar as tarefas (Baltes, situações como essa é comum o aumento da
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memória”, mas mantém a condição física descrição do comportamento seja feita pelos
preservada. Considere também que este familiares ou cuidadores do idosos com DA.
idoso, por diferentes motivos, pouco se mo- Apesar do analista do comportamento ter o
vimenta em sua casa e passa a maior parte do domínio sobre os passos da análise funcio-
dia na sala de televisão. Por fim, imagine que nal, é importante que cuidadores de idosos
este idoso se comunica com gritos sempre com DA também compreendam o funciona-
que precisa de algo, desde o auxílio para ligar mento dos comportamentos operantes, para
a televisão até um pedido para ser levado ao que possam manipular estímulos ambientais
banheiro. Provavelmente a queixa da família e promover a alteração de comportamentos.
deste idoso é que o mesmo “grita muito”.
Diante deste quadro, é possível supor que o McCurry e Drossel (2011) propõem que cada
comportamento de gritar ocorra em função comportamento alvo seja anotado em uma
da necessidade de resolver um problema, folha de registro a fim de auxiliar os envolvi-
mas que só se mantenha ocorrendo porque dos com o idoso na compreensão do mesmo.
toda vez que o comportamento é emitido, Isto pode ser feito não só pelo analista do
gera consequências reforçadoras (positivas comportamento, mas pelo cuidador de idosos
ou negativas). que seja instruído para este fim. Assim, o
familiar/cuidador do idoso com DA deveria,
As intervenções sobre o comportamento alvo ao realizar o registro, responder as seguintes
necessitam da identificação do comporta- perguntas: “Onde e perto de quem o com-
mento (como ele ocorre e com que frequên- portamento ocorreu?”, “O que exatamente
cia), da descrição dos efeitos comportamen- ocorreu que precisa de mudança?” e “Qual a
tais, (o que ocorre depois que ele é emitido consequência imediata do comportamento?”.
e com que frequência essas consequências
sucedem o comportamento), da identificação Considerando novamente o exemplo ante-
dos estímulos antecedentes (qual a situação rior é possível supor que o seguinte registro
ambiental ou condicional anterior ao com- ocorra: o comportamento de gritar ocorre
portamento alvo ser emitido), da formulação quando o idoso está sozinho na sala ou em
de hipóteses dos possíveis efeitos gerados algum cômodo da casa; o comportamento
caso haja manipulação das variáveis, e da que necessita de mudança é o de gritar, uma
aplicação e acompanhamento da intervenção vez que o idoso ainda tem independência para
(Garrison-Diehn, Rummel, & Fisher, 2013). realizar as tarefas em que grita por ajuda; e
a consequência imediata do comportamento
Diferentemente do contexto clínico tradi- é o idoso receber o auxílio de que necessita.
cional, em que o cliente, juntamente com o Quando o cuidador do idoso identificar que o
terapeuta, identificarão o comportamento e comportamento dele de atender aos chama-
as variáveis que o antecedem e sucedem, a dos concorre para a manutenção do compor-
aplicação da análise funcional à gerontologia tamento de gritar, ele pode propor mudanças
comportamental exige, muitas vezes, que a ambientais que alterem o comportamento
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alvo: ao invés de fazer a tarefa pelo idoso, por direcionamento da atenção (Gitlin et al.,
exemplo, arranjar o ambiente de tal forma 2006) e aumento da socialização (Gentry &
que o controle da TV esteja à mão em um Fischer, 2007; Teten, Dagenais, & Friehe,
lugar determinado, ou que o caminho para o 2015) também têm sido estudadas por ana-
banheiro esteja bem sinalizado; além disso, listas do comportamento, com efeitos po-
o cuidador poderia dispor de condições para sitivos, tanto em ambientes residenciais,
que o idoso aprendesse onde o controle da TV quanto institucionais. Esses são apenas
permanece (e garantir que o controle sempre alguns exemplos de intervenções bem-su-
permaneça naquele lugar) e a iniciar o trajeto cedidas com idosos com DA e seus fami-
para o banheiro sempre que necessitasse. liares/cuidadores, mas ilustram um campo
de estudos em ampla expansão, com forte
O exemplo acima ilustra de forma simples potencial para ações socialmente relevantes.
como arranjos ambientais podem favorecer
não apenas a emissão de comportamen- Goyos, Rossi, Elias, Escobal e Chreguini
tos adaptativos em pacientes com DA, mas (2009) ressaltam que o processo de enve-
também o decréscimo de comportamentos lhecimento é usualmente explicado por al-
considerados desadaptativos pelas pessoas terações do sistema nervoso que aparente-
que com eles convivem. Vários autores têm mente não são sensíveis ao ambiente e isto
desenvolvido estudos sobre técnicas efetivas provavelmente faz com que analistas do
para diferentes tipos de problemas encon- comportamento não se dediquem ao traba-
trados frequentemente entre idosos com lho com pessoas com declínio cognitivo. Pelo
DA. Dificuldades relacionadas à memória e mesmo motivo, familiares de idosos com DA
a problemas em aprender novas informa- podem não procurar ajuda para alterar os
ções têm sido estudados por diversos au- comportamentos-problema desses idosos.
tores com o uso de técnicas como ajudas Os exemplos de intervenções acima cita-
externas de memória (Benigas & Bourgeois, dos mostram que a DA deve ser entendida
2016; Bourgeois, 1993), recuperação espa- como uma condição antecedente que pode
çada (Wu, Lin, Su, & Wu, 2014), aprendi- favorecer a ocorrência de alguns compor-
zagem sem erros (Choi & Twamley, 2013) tamentos disfuncionais para o idoso e seus
ou a combinação dessas e outras técnicas familiares, contudo, a DA não é uma condi-
(Kelly, Lawlor, Coen, Robertson, & Brennan, ção determinante: os comportamentos não
2017). Outros autores têm focalizado seus são mantidos pela demência, mas pelas suas
estudos nas alterações do repertório verbal consequências. Isso significa que ao invés de
de idosos com DA e em intervenções nos considerar que o idoso se comporta de deter-
estilos de comunicação de cuidadores desses minada forma porque tem DA (uma relação
idosos (Christenson, Buchanan, Houlihan, & causal) se considere que o idoso se comporta
Wanzek, 2011). Mudanças ambientais para o de determinada maneira devido à relação de
aumento da segurança de idosos (Chaudhury, dependência entre os eventos que antece-
& Cooke, 2014), melhora na orientação e dem e que sucedem seu comportamento.
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modelo, para três homens com acometimen- mais graves, tenham apresentado um ganho
tos cerebrais e prejuízos em diferentes áreas maior no procedimento de ensino de subs-
anatômicas relacionadas à linguagem. Pós- tantivos em comparação com o ensino de
testes demonstraram a emergência de rela- verbos. Além disso, em ambos os procedi-
ções não diretamente ensinadas, indicando mentos houve emergência de nomeação, mas
a formação de classes de equivalência entre esta ocorreu mais rapidamente nos proce-
os estímulos, e dois participantes mostra- dimentos de ensino de substantivos do que
ram melhoras na nomeação de fotos, além de no procedimento de ensino de verbos.
relacionarem corretamente nomes escritos
às suas respectivas faces. Sigurdardottir e Todos esses estudos mostram que proce-
Sighvatsson (2006) realizaram uma inter- dimentos desenvolvidos por analistas do
venção com três idosos com afasia crônica, comportamento para diferentes populações
empregando procedimentos de ensino sem e dificuldades são aplicáveis a idosos que
erros (e.g., reforçamento diferencial, fading e passaram por agravos cerebrais e que apre-
imitação) para os desempenhos de nomeação sentam afasias. As dificuldades de comuni-
de pessoas ou objetos, construção de frases, cação decorrentes da afasia trazem prejuízos
sequenciação de estímulos, leitura e elabo- sociais importantes para os pacientes, daí a
ração espontânea. Todos os participantes importância do desenvolvimento de procedi-
apresentavam desempenhos muito pobres mentos para recuperação desses repertórios,
em todas as tarefas e apresentaram melhoras além do desenvolvimento de procedimentos
nos pós-testes dos desempenhos que foram de orientação para familiares e cuidadores
ensinados. Em posterior replicação dessa desses indivíduos.
intervenção, Sigurdardottir e Sighvatsson
(2011) trabalharam com outros quatro par- Em geral, as pessoas com afasia apresentam
ticipantes com afasia crônica, e encontraram esquiva de contato social, uma vez que as
resultados tão satisfatórios quanto os ante- interações com as pessoas tornam-se aver-
riores, com mudanças nos comportamentos sivas: por um lado, os indivíduos com afasia
vocais de três participantes. discriminam suas dificuldades, sentem-se
envergonhados por não conseguirem falar
Em outra série de estudos conduzidos com corretamente ou entender o que escutam,
indivíduos com afasia, Conroy, Sage e Ralph além de terem suas tentativas de emissão de
(2009a; 2009b; 2009c) comparam tipos de respostas verbais frequentemente punidas
terapias (com fading in e fading out de dicas) pelos interlocutores; por outro lado, os in-
para ensinar substantivos e verbos. Na terlocutores de pessoas com afasia sentem-se
maioria dos casos não foi possível observar desconfortáveis em sua presença (especial-
diferenças significativas entre as apren- mente porque não entendem o que a pessoa
dizagens de substantivos e verbos, e nem fala ou porque não sabem como reagir às
entre os tipos de terapias aplicadas, embora dificuldades do paciente), esquivando-se de
alguns dos participantes, os com alterações estabelecer interações verbais com eles ou
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1 Os trechos de conversas apresentados neste tópico são excertos retirados da anamnese realizada com os participantes ou seus
cuidadores na pesquisa de doutorado da terceira autora (Fontanesi, 2017).
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Nessas circunstâncias, é fundamental a orien- tratá-la de acordo com sua idade cronológica,
tação das pessoas envolvidas com os indiví- lembrando que a alteração na comunicação
duos com afasia para a organização de um altera sua forma de falar e compreender, mas
ambiente que ofereça oportunidades de inte- não a transforma em outra pessoa ou em uma
rações verbais reforçadoras, e que os eventos criança. Não confundir falta de iniciativa e de
aversivos decorrentes das dificuldades sejam motivação para falar com “preguiça”; a falta
evitados ou reduzidos. Isso pode ser realiza- de iniciativa para falar pode ser decorrente de
do pelos familiares e cuidadores a partir de um ambiente que não favorece tais iniciati-
algumas orientações práticas. Um exemplo vas, por isso é necessário o arranjo adequado
desse tipo de organização foi desenvolvido em do ambiente comunicativo.
um estudo realizado por Michellini e Caldana
(2005) com familiares de pessoas com afasia, Arranjando o ambiente comunicativo: Toda a
a partir de discussões sobre as dificuldades comunicação deve ser facilitada por arranjos
de comunicação, conceituação das afasias, e simples no ambiente. Sempre que possível,
estratégias facilitadoras da comunicação. As evitar ambientes muito ruidosos durante a
autoras verificaram que, após 25 horas de par- comunicação, para que a pessoas com afasia
ticipação no grupo, as dificuldades de comu- possa estar atenta à atividade que está re-
nicação dos pacientes com afasia passaram a alizando. Posicionar-se sempre de frente
afetar menos negativamente a relação com os para a pessoa, facilitando que a pessoa com
familiares. Além disso, e o grupo forneceu aos afasia mantenha sua atenção para a fala de
participantes um canal de informação sobre o seu interlocutor.
quadro e apresentou manobras facilitadoras
de comunicação. Fornecendo os estímulos: No caso de difi-
culdades de compreensão de diálogos, utili-
As orientações trabalhadas no programa de zar sempre frases simples, diretas e curtas,
Michellini e Caldana (2005) foram organizadas suplementadas, se necessário, por recursos
em etapas para o manejo comportamental e como gestos ou objetos concretos. O mesmo é
envolvem desde orientações gerais, até arran- válido para dificuldades na expressão: nesses
jos ambientais específicos, descritos a seguir: casos fazer perguntas simples para que o in-
divíduo responda sim ou não, falando ou por
Orientações gerais: seguir sempre as orienta- meio de gestos. Utilizar, também, recursos
ções médicas e dos profissionais presentes no alternativos de comunicação, como fichas
processo de reabilitação. Sempre que possível, com desenhos, materiais escritos, álbum
durante as diversas atividades do dia a dia, de fotografias, computadores/tablets, entre
estimular a pessoa com afasia a realizar as outros. Apresentar um assunto de cada vez
ações de forma autônoma, mesmo que isto e não mudar rapidamente de tópico, o que
resulte em um tempo maior para execução da facilita a compreensão do afásico sobre o
tarefa. Não obrigá-la a participar de ativida- assunto da conversa. Falar devagar, mas com
des que não queira. Respeitar suas opiniões e naturalidade e sem elevar o tom da voz.
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COMPORTAMENTO Cristina Belotto da Silva
EM FOCO VOL. 9
Resumo Abstract
Este artigo consiste na revisão de literatura dos A literature review about the diagnoses of Conduct
diagnósticos de Transtorno de Conduta e Transtorno Disorder and Oppositional Defiant Disorder was
Desafiador Opositivo, segundo a psiquiatria, e a iden- developed, regarding the psychiatric concepts, and
tificação de variáveis ambientais relacionadas à pre- the environmental variables related to anti-social
sença e manutenção de respostas antissociais infan- behaviors in children. Parental trainings analyzed in
tis. Foram levantados treinos parentais avaliados em researches were found in PubMed articles identified
pesquisas a partir de artigos selecionados no PubMed by the key words: Conduct Disorder, Oppositional
com as palavras de busca: Transtorno de Conduta, Defiant Disorder, anti-social behavior, and Parental
Transtorno Desafiador Opositivo, Comportamento training. Researches about interventions of parental
Antissocial e Treino Parental. Pesquisas de inter- training to anti-social behavior in children developed
venções de treinamento parental em casos de com- in Brazil were also found in brazilian universities
portamento antissocial infantil realizadas no Brasil, indexes, and PuBMed. The categories of parental
também foram levantadas a partir de banco de teses practices developed by Paula Gomide, and the
de universidades brasileiras e publicações identifica- understanding of anti-social behavior by the behavior
das no PubMed. Por fim, as categorias de práticas pa- analysis are described.
rentais desenvolvidas por Paula Gomide são apresen-
tadas, assim como a compreensão do comportamento
antissocial a partir da análise do comportamento.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
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1 O paradigma do condicionamento operante de B.F. Skinner aponta que eventos antecedentes e subsequentes ao comporta-
mento podem aumentar ou diminuir a emissão de um comportamento. Assim, quando um comportamento inadequado é emitido
em determinado contexto e consequenciado com atenção ou qualquer outra consequência interessante para o sujeito, costuma
ocorrer um aumento da probabilidade deste mesmo comportamento ser emitido em uma situação semelhante futura. Neste caso,
a consequência acaba mantendo o comportamento em questão. E quando observa-se o aumento da frequência nestes casos,
podemos dizer que o comportamento foi reforçado por determinada consequência.
2 Reforçar positivamente é apresentar um evento subsequente ao comportamento que aumenta a frequência da emissão do
mesmo comportamento em situações semelhantes futuras.
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COMPORTAMENTO Cristina Belotto da Silva
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3 Reforçamento negativo é o processo no qual há um aumento na frequência do comportamento devido ao fato deste ser con-
sequenciado pela retirada de uma situação aversiva. Por exemplo: estudar para não ir mal na prova, para não levar bronca ou para
não ficar de castigo. Ou ainda brigar e agredir para não ser agredido por outros. Neste último caso, o brigar e agredir resultam na
retirada da situação aversiva, e suas frequências aumentam
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COMPORTAMENTO Cristina Belotto da Silva
EM FOCO VOL. 9
de que os pais podem superar as dificulda- Outro programa, desenvolvido por Ormeño
des de manejo de problemas com crianças. e Williams (2006), focou a intervenção pre-
Como os estudos utilizando o Triple-P não coce de três crianças agressivas em idade
têm sido avaliados por dois investigadores pré-escolar a partir de trabalhos com as
independentes ou por diferentes grupos de crianças, mães e professoras. Entre os temas
pesquisa, para que se pudesse avaliar a ge- trabalhados estiveram: imposição de regras,
neralização do programa, ele foi considerado formas alternativas à agressão e resolução
apenas como um tratamento provavelmente de conflitos. Houve diminuição da frequência
eficaz em uma meta-análise conduzida por de comportamentos agressivos das crianças,
Thomaz e Zimmer-Gembeck (2007). mas observou-se que isto ocorreu em geral
no contexto terapêutico, sem ocorrer gene-
ralização para outros ambientes.
Intervenções familiares para
cuidado de comportamentos Com o foco em crianças diagnosticadas com
Transtorno Desafiador Opositivo, Serra-
antissociais infantis desenvolvi- Pinheiro, Guimarães e Serrano (2005) ava-
das no Brasil liaram a eficácia de um programa de treina-
mento de pais de cinco crianças para redução
No Brasil, ainda não foram desenvolvidos de sintomas tanto desafiadores e opositivos,
estudos com programas de treino parental como de problemas de conduta. O programa
com base teórica e prática bem estabelecidas de treinamento teve como base o protocolo
(Rios & Williams, 2008). Um estudo pioneiro de R. Barkley (Barkley, 1995), no qual são
na área é o de Santos e Williams (2006) no qual trabalhados em dez sessões semanais de duas
um programa sistemático de intervenção foi horas cada: o conhecimento dos pais em re-
elaborado e testado com três famílias com lação a suas próprias características e dos
histórico de agressão. A intervenção focada filhos, como aumentar e melhorar o tempo
em reduzir e, quando possível, eliminar dispensado à criança, técnicas de atenção,
comportamentos coercitivos dos pais durou sistema de fichas para aumentar obediên-
sete meses e buscou ensinar novos reper- cia (sistema em que fichas são entregues ao
tórios de comportamento para educar utili- sujeito quando este se comporta de deter-
zando discussões, aulas expositivas, vídeos, minada forma e que podem ser trocadas por
tarefas de casa, role-playings, feedbacks coisas interessantes para o sujeito) e utili-
e técnicas de relaxamento. Embora tenha zação de time-out (não consequenciação a
ocorrido alta desistência (duas famílias), comportamentos e retirada do ambiente).
a família que participou integralmente do Embora as crianças tenham continuado com
treinamento beneficiou-se com a elimi- o diagnóstico, houve uma redução significa-
nação de comportamentos agressivos por tiva na gravidade dos sintomas (p=0.031), e
parte de seus integrantes. redução no número de critérios diagnósticos
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Esta proposta busca o desenvolvimento de foram reforçados (não foram seguidos por
estratégias preventivas, considerando que atenção ou por consequências importantes
possui ênfase no desenvolvimento da mora- para sobrevivência do indivíduo que possibi-
lidade, variável preventiva do comportamen- litassem a manutenção deste). Este conceito
to antissocial, bem como permite a detecção é diferente da ideia de que uma pessoa age
das práticas que favorecem a problemática de de forma adequada moralmente simples-
conduta, as quais devem ser evitadas. mente porque possui virtudes e é consciente
de seus semelhantes e de seus direitos, e
Com relação às práticas educativas positivas leva em conta a forma como pessoas que
segundo Gomide (2006), a monitoria positi- participaram do desenvolvimento da pessoa
va envolve o uso adequado da atenção e dis- consequenciaram seus comportamentos – o
tribuição de privilégios, utilizando regras de que dá espaço e importância para prestarmos
forma adequada, promovendo afeto de forma atenção às ações dos pais de crianças que
contínua e segura, e acompanhando e super- apresentam comportamentos antissociais.
visionando atividades escolares, afetivas e
de lazer da criança de forma agradável para Inicialmente, comportamentos relacionados
ambas as partes. Já o desenvolvimento do a valores, empatia, moral e ética são adqui-
comportamento moral implica em promo- ridos por meio de imitação de comporta-
ver condições favoráveis ao desenvolvimento mentos de outros, comumente dos pais, e
de virtudes como empatia, senso de justiça, podem ser intermitentemente reforçados por
responsabilidade, trabalho e generosidade, sorrisos, toques, atenção, elogios, imitações
as quais são apresentadas como não com- recíprocas de pessoas em torno da criança.
patíveis com condutas antissociais. Ao longo do desenvolvimento da criança,
as imitações passam a ser emitidas após
De acordo com pesquisadores da análise do os modelos, depois um certo tempo após o
comportamento (Skinner 1974; Silva, 2003; modelo, ou ainda na ausência dos modelos,
Weber & Gomide, 2004, Gewirtz & Peláez- podendo envolver formas mais elaboradas
Nogueras, 1992), o comportamento moral e de interação social (Weber & Gomide, 2004).
ético é produto de contingências ambientais,
produzidos e mantidos pelas consequências Considerando especificamente o desenvol-
resultantes destes comportamentos. Ou seja, vimento do comportamento moral, costu-
uma pessoa que apresenta condutas consi- mam ser mais efetivas práticas educativas
deradas moralmente adequadas em nossa que induzem à reflexão, como a aprendi-
sociedade age desta forma porque ao longo zagem a partir de contingências saudáveis
de sua vida houve ambiente para desen- junto à identificação das consequências
volver estes comportamentos e eles foram das ações que produzimos, do que prá-
reforçados por consequências tanto sociais ticas punitivas, como simplesmente re-
quanto intrínsecas, enquanto que os atos tirar coisas importantes para criança sem
considerados inadequados moralmente não explicar porque, quando ela se comporta
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inadequadamente. Weber e Gomide (2004) como se sentem e não com o que a criança
apresentam o seguinte exemplo (pag. 277): fez. Dessa forma, a criança não aprende que
O pai que leva o filho a imaginar como se certas coisas não podem ser feitas, e fica
sentiria caso estivesse no lugar da pessoa apenas sob controle do humor dos pais, ge-
prejudicada por ele desenvolveria uma res- rando situações de incontrolabilidade (não
posta empática que seria emitida em situa- saber quando será punido ou não – o que
ções diversas, enquanto um pai que pune o resulta em ansiedade, medo e prostração),
dano causado pelo filho sem que um diálogo ou ainda de aprendizado apenas com relação
seja estabelecido para que ambas as partes se a identificação do estado emocional dos pais
expressem não pode esperar a generalização e não aprendizado de determinados valo-
do comportamento adequado para outras si- res. E por fim, a monitoria negativa inclui
tuações. O esperado neste caso seria o com- instruções excessivas independentemente
portamento opositivo, a mágoa, a mentira, a do cumprimento das mesmas, gerando um
omissão e outras consequências que podem ambiento hostil.
levar a uma convivência infeliz.
Com intuito de detectar as práticas parentais
Com relação às práticas educativas negativas, vigentes e a sua frequência, foi desenvol-
Gomide (2006) categoriza como importan- vido o Inventário de Estilos Parentais (IEP,
tes variáveis relacionais a negligência, abuso Gomide, 2006), o qual contempla as práticas
físico, disciplina relaxada, punição inconsis- apresentadas Para isto, contem 42 questões,
tente e monitoria negativa. Pais que agem de e cada uma das sete práticas educativas
forma negligente são aqueles não responsivos do modelo é investigada por meio de seis
às necessidades básicas da criança, e limita- questões espaçadas ao longo do inventá-
dos quanto à competência de se relacionar rio. Este instrumento foi avaliado quanto a
de forma saudável com seus filhos. O abuso sua validade interna, constructo e validade
físico muitas vezes é caracterizado por atos externa (Gomide, 2007), e tem sido utili-
que procuram disciplinar por meio de práti- zado em algumas pesquisas nacionais que
cas corporais negativas, ameaças e chanta- investigaram e interviram na relação entre
gens envolvendo abandono e humilhação da comportamentos parentais e comportamen-
criança, e acaba produzindo pouca disciplina. tos infantis (Carvalho, 2003; Pinheiro, 2003;
A disciplina relaxada caracteriza-se pelo não Weber, 2004; Gomide, Pinheiro, Sabbag,
cumprimento de regras previamente expos- Salvo, 2005; Berri, 2004).
tas. A criança recebe ameaças, e a experi-
ência mostra que elas não se concretizam, Considerando que os diagnósticos de
o que resulta em um não cumprimento das Transtorno de Conduta e Transtorno Desafiado
regras por parte da criança e não aprendiza- Opositivo estão relacionados a ações que trazem
do do porque cumprir acordos com os pais. prejuízos aos demais e a própria criança, e
Já a punição inconsistente é quando os pais identificando-se que a ausência de empatia é
punem ou reforçam a criança de acordo com um dos fatores que possibilita a manutenção
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COMPORTAMENTO Paulo César Morales Mayer, Marcus Bentes de Carvalho Neto
EM FOCO VOL. 9
Resumo Abstract
O controle aversivo é tradicionalmente definido pelas Aversive Control is traditionally defined by the
contingências de reforçamento negativo (fuga e es- contingencies of negative reinforcement (escape and
quiva) e de punição (positiva e negativa), podendo se avoidance) and punishment (positive and negative),
estender, também, para relações comportamentais in some texts, it is extended to behavioral relations
que envolvem o contato do organismo com eventos involving non-contingent contact of the organism
aversivos de modo não contingente (e.g. supressão with aversive events (e.g. conditioned suppression
condicionada e desamparo aprendido). Trata-se de and learned helplessness). The theme is broad and
um tema abrangente e fundamental para a formação fundamental for anyone interested in becoming a
de qualquer analista do comportamento. Contudo, behavior analyst, however, different authors indicate
diferentes autores destacam a queda no número de a decrease in behavioral studies on the subject,
estudos comportamentais sobre o tema desde o final since the end of the 1970’s decade. The purpose
da década de 1970. O objetivo do presente capítulo of this chapter is to highlight the relevance and to
é destacar a relevância e tentar incentivar o estudo encourage the study of the aversive control. First,
do controle aversivo. Para tanto, discorre-se sobre a we discuss the relevance of experimental studies for
importância dos estudos experimentais para a com- the comprehension of different phenomena such as
preensão de diferentes transtornos psicológicos e o stress and depression and for the development of
desenvolvimento de tratamentos e fármacos; apre- treatment and drugs; then we present an analysis
senta-se uma análise de como o estudo do compor- of how the study of the aversive control provides us
tamento aversivo permite discutir fenômenos sociais some perspectives on complex social phenomena
complexos como violência e cooperação; e por fim, são such as the urban violence and cooperation; and
descritas algumas questões conceituais relevantes. finally we present some relevant conceptual issues.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Controle aversivo; Punição; Reforçamento negativo; Aversive control; Punishment; Negative reinforcement;
Violência; Violence.
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1 Ao leitor interessado em uma apresentação didática e detalhada das operações comportamentais que envolvem o controle
aversivo, recomenda-se a leitura de Mazzo e Gongora (2007).
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eliminar o controle dos controladores, seja (2014) sugere limitações na concepção predo-
pela maior acessibilidade ao reforçadores minante de que punição teria apenas efeitos
dos quais se está privado ou pela preven- deletérios sobre as pessoas e sobre a socie-
ção de contato com contingências punitivas dade. A situação básica em tais experimen-
(Carvalho Neto, Alves, & Baptista, 2007). tos é composta de contingencias nas quais
Segundo Andery e Sério (1997), o problema a colaboração produziria maior benefício
é que para lidar com tais questões, ao invés para o grupo, mas a não cooperação (padrões
de se promover alterações nas suas variá- egoístas e individualistas) poderia produzir
veis determinantes, geralmente utilizamos vantagens para o indivíduo. Permite-se aos
de punições que precisam ser cada vez mais participantes a administração de punição
intensas. Tal estratégia tem como produtos (na forma de multas), a outro participante
a naturalização e a banalização da violência, a qualquer momento. De um modo geral, os
além de seu escalonamento. Os autores de participantes utilizam a punição de forma
ambos os estudos citados concordam que consistente e contingente a comportamentos
uma abordagem mais efetiva seria a análise de não cooperação (em benefício do grupo).
e a busca de alternativas que visem lidar com Em um estudo, por exemplo, era oferecido
as variáveis que produziram a violência, o aos participantes possibilidade de, volunta-
que, a longo prazo, poderia ser mais benéfica riamente, se retirar do grupo e participar de
para a sociedade como um todo. um outro grupo, no qual a possibilidade de
punição não existia, verificou-se, nas pri-
Sidman (1989/2003) destaca o papel de con- meiras rodadas, uma grande migração para
tingências punitivas na determinação de o grupo sem punição, porém, conforme o
violência e diversos prejuízos sociais de seu experimento continuava, progressivamente
uso e do controle aversivo como um todo, os participantes migraram para o grupo com
quando utilizado nas relações interpesso- possibilidade de punição e lá permaneciam2
ais. Publicações mais recentes, contudo, (Gürerk, Irlenbusch, & Rockenbach, 2006).
apesar de não invalidarem as considerações
de Sidman, indicam que elas precisam ser Em outro estudo (Andreoni, Harbaugh, &
contextualizadas e não meramente generali- Versterlund,2003) os participantes poderiam
zadas para qualquer episódio comportamen- utilizar seus próprios rendimentos para re-
tal. Um exemplo de tal análise é a discussão forçar o comportamento de colaboração de
do papel da punição no estabelecimento do outros participantes, essa estratégia contudo,
comportamento de cooperação. produziu apenas aumento sutil de compor-
tamentos de cooperação. Índices interme-
Com base em estudos experimentais sobre o diários, porém significativos de cooperação
comportamento de colaboração, Critchfield foram encontrados quando o comportamento
2 Critchfield aponta que os dados deste estudo não permitem identificar a variável que determinou essa migração reversa para
o grupo com possibilidade de punição (e.g. diferença nos níveis de cooperação; diferenças nos ganhos micro/macro; diferenças
dinâmica de interação/ludicidade; ou até possíveis efeitos reforçadores intrínsecos de se punir indivíduos que não cooperam).
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Perone (2003) aponta para os riscos de inferir destas questões será aprofundada no pre-
a aversividade de um estímulo em uma situa- sente ensaio por exceder a sua temática, mas
ção a partir de outra. O autor verificou que em exemplificam a amplitude de questões con-
um estudo a intensidade mínima do choque ceituais relacionadas ao tema (ver Mayer &
elétrico necessária para produzir supressão Gongora, 2011, para maiores detalhes).
comportamental em contingências de puni-
ção era de 0,4 mA, enquanto que, em outro Embora diversas questões conceituais re-
estudo, respostas de esquiva só ocorriam a ferentes ao controle aversivo ainda estejam
partir de 1,0 mA. Ou seja, a intensidade do abertas, e a própria definição do conceito
choque que funcionava como punição não era seja insatisfatória, ela é válida para uma va-
a mesma que funcionava como reforçador ne- riedade de situações e sua precisão, mesmo
gativo em uma tarefa de esquiva. Tal exem- que apenas descritiva das relações com-
plo revela que a aversividade de uma relação portamentais que a compõem, permitiu o
organismo-ambiente (eficácia funcional em desenvolvimento de modelos experimentais
uma dada contingência) nem sempre pode consistentes e de suma importância.
ser inferida a partir de outra.
3 Recentemente, Magoon, Critchfield, Merrill, Newland e Schneider (2017) testaram experimentalmente com humanos, usando
ganho e perda de pontos, se as duas contingências (reforçamento positivo e negativo) seriam funcionalmente equivalentes e
concluíram que seriam processos comportamentais distintos.Contudo, chama atenção o fato da contingência social que envolve
punição ser a preferida pelos participantes, ao contrário do genericamente esperado.
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Resumo Abstract
O presente texto apresenta uma discussão sobre a This paper presents a discussion regarding the
importância da produção de conhecimento derivado importance of knowledge production derived from
de estudo empírico acerca das aplicações da ciência empirical study of behavioral science applications
do comportamento ao estudo da dor A dor tem função to the study of pain. Pain has an adaptive function
adaptativa e é vital ao desenvolvimento filogenético e and it is vital to phylogenetic and ontogenetic
ontogenético, o que possibilita ao indivíduo escapar development, which enables individuals to avoid
de situações danosas à sua sobrevivência. O estudo situations harmful to their survival. The study of
da dor se torna relevante para a ciência, porém, como pain becomes relevant to science; however, because
trata-se de um evento privado ou comportamento en- it is a private event or hidden behavior, it is difficult
coberto, dificilmente se terá acesso a sensação de dor to have access to a person’s sense of pain. The study
de uma pessoa. O estudo da dor ficará incompleto se of pain will be incomplete if it is based only on the
for baseado apenas a partir das mudanças biológicas underlying biological or neurophysiological changes.
ou mudanças neurofisiológicas subjacentes. Há outras There are other environmental variables involved that
variáveis ambientais envolvidas que devem ser estu- should be studied through behavioral relationships.
dadas por meio de relações comportamentais. Fordyce Fordyce emphasized possible learning processes
ressaltou possíveis processos de aprendizagem que that are directly related to the pain response. It is
estão diretamente relacionados com a resposta de concluded that the behavioral analyst, supported by
dor. Conclui-se que o analista do comportamento, other areas of science that study this phenomenon,
amparado por outras áreas da ciência que estudam should devote himself to the task of describing the
esse fenômeno, deve se dedicar a tarefa de descrever main behavioral effects of various environmental
os principais efeitos comportamentais das várias mu- changes related to pain responses.
danças ambientais relacionadas às respostas de dor.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Dor; Resposta de dor; Avaliação Funcional; Pain; Pain Response; Functional Evaluation;
Análise do Comportamento Behavior’s Analysis
O presente capítulo é derivado de uma Mesa redonda apresentada no XXV Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental, realizada no dia 08 de SETEMBRO de 2016, sob o título: Dor Crônica na Perspectiva da Análise do Comportamento.
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torna-se possível aos pesquisadores delinear (1967/1955) argumenta que nenhuma aná-
intervenções que se baseiam nas investigações lise do fenômeno emocional seria completa
das variáveis antecedentes e consequentes de sem alguma descrição das mudanças fisio-
um comportamento, seja relato de dor ou não. lógicas envolvidas. Em suas palavras, os
limites entre as disciplinas científicas são
Por sua vez, Hunziker (2010) argumenta quase sempre traçados de forma arbitrária
que a dor é um fenômeno complexo e mul- e é obvio que um cientista interessado nos
tideterminado, sendo necessária a junção fenômenos emocionais pode utilizar-se da
das ciências para o seu estudo. A análise do análise comportamental, da fisiologia do
comportamento destaca as diferentes rela- reflexo, da neurofisiologia etc., no entanto,
ções que podem ser estabelecidas entre o or- cabe ao analista do comportamento descre-
ganismo e o seu ambiente, o que pode gerar ver os principais efeitos comportamentais
processos que se relacionam diretamente das várias mudanças ambientais.
com a resposta de dor. O estudo da dor como
relações comportamentais deve abranger va- Para os neurofisiologistas, a dor é conceitu-
riáveis ambientais presentes ou históricas, ada como algum tipo específico de atividade
às variáveis neufisiológicas, uma vez que, o no sistema sensorial. Skinner (1974/2006)
que há para observar são comportamentos e esclarece que os organismos respondem ao
fisiologia (Skinner, 1956/1959; Zilio, 2015). seu próprio corpo com três sistemas senso-
riais, o interoceptivo (e.g., transmite a es-
timulação da bexiga, do aparelho digestivo,
A função adaptativa da dor glândulas e vasos sanguíneos) o proprio-
ceptivo (e.g., transmite a estimulação dos
A dor tem função adaptativa e é vital ao de- músculos, articulações e tendões do esque-
senvolvimento filogenético e ontogenético, o leto e de órgãos envolvidos na postura e na
que possibilita ao indivíduo escapar de situ- execução de movimentos) e o exterocepti-
ações danosas (e.g., reforçamento negativo) vo (e.g., envolvido no ver, ouvir, degustar,
à sua sobrevivência (Fordyce & Steger, 1979). cheirar, sentir) com os quais os organismos
Porém, ela pode ser prejudicial e incapaci- respondem ao mundo que os cercam.
tante principalmente quando se torna crôni-
ca (Murta, 1999). A International Association Os estudos da dor evoluíram a partir de dados
for the Study of Pain (IASP) define dor como sobre a natureza da dor na fisiologia humana.
uma resposta sensorial, geralmente tida Porém, as teorias sobre dor não conseguiam
como experiência emocional desagradável explicar certas relações envolvidas na resposta
decorrente de uma lesão real ou potencial de dor. Algumas provas disso ocorreram em
dos tecidos do organismo (APA, 1994). experimentos envolvendo estados ansiogêni-
cos induzidos experimentalmente. Nestes es-
Sentir a dor envolve fatores filogenéti- tudos, os participantes relataram aumento de
cos, ontogenéticos e culturais. Millenson intensidade de dor significativamente maior
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em comparação com os relatos do grupo de dor aguda se refere a uma resposta de dor
controle. Além disso, o efeito da morfina para causada por um dano a um tecido orgânico,
diminuição das respostas de dor mostrou-se sendo facilmente identificada por exames
mais eficaz quando os estados ansiogênicos clínicos. Geralmente, a dor aguda é aliviada
do paciente eram altos, e mostrou pouco ou com tratamento médico não persiste com o
nenhum efeito quando os relatos de dor destes passar do tempo. A dor crônica, geralmente,
estados diminuíram (Fordyce & Steger, 1979). começa com um episódio de dor aguda e não
apresenta diminuição com os tratamentos
Uma nova concepção de dor, derivada de médicos (Fordyce & Steger, 1979; Hanley,
estudos com medicamentos, placebos e de Ehde & Smith, 2006). Pode haver transição
observações diretas de pacientes, levou os da dor aguda para a dor crônica quando a
pesquisadores a adotarem uma definição pessoa experimenta medo da dor e quando
mais geral e descritiva de dor que envolve ela emite respostas de esquiva da dor. Nestes
não só as respostas sensoriais de mecanis- casos, possíveis sinais pré-correntes de dor
mos fisiológicos, mas também a compo- se tornam ameaçadores e provocam respos-
nentes comportamentais e culturais. Assim, tas de esquiva (Vandenberghe, 2005).
as discussões e descrições de dor com base
unicamente em fatores fisiológicos ou neu- Fordyce e Steger (1979) salientam que a
rológicos ficaram aquém em suas tentativas correlação entre dor e estados de ansiedade
de identificar e contabilizar todos os aspec- pode ser uma variável adicional importante
tos da dor experimentada na situação clínica na diferenciação entre o sofrimento crônico
(Fordyce, 1984; Fordyce & Steger, 1979). e agudo. A pessoa experimenta quantidades
crescentes de relatos de ansiedade, seguido
Em comum acordo com essas discussões, por sua redução após o início do tratamento
Hanley, Ehde e Smith (2006) ressaltam ainda nos casos de dor aguda. Nos casos de dor
que a dor é uma resposta sensorial, em res- crônica, o relato de ansiedade inicial é asso-
posta a uma estimulação periférica específi- ciado com a experiência de dor que persiste
ca, e ao mesmo tempo, uma interação desta apesar do tratamento. A pessoa pode ficar
resposta com um conjunto complexo de va- sob controle de estados emocionais como
riáveis a nívelfisiológico e comportamental solidão e frustrações por não visualizar o
que não podem ser descritas facilmente. Por fim de seu sofrimento mesmo com admi-
sua vez, Fordyce e Steger (1979) argumentam nistração do tratamento médico adequado.
que dor é uma resposta privada que ainda O comportamento emocional de frustração
não foi observada, até porque os eventos poderá afetar ou se estender ao sistema de
privados não são expostos em laboratórios saúde e à família, que começam a sugerir que
para serem observados e manipulados. a dor sentida não seja real, e que o fracasso
no tratamento seja de algum modo, culpa da
Os estudos sobre dor demonstram dife- própria pessoa. Portanto, focar no tratamen-
renças entre dor aguda e dor crônica. A to somente ao dano tecidual, pode ser efetivo
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na dor aguda, mas pode levar a conclusões impossível o estudo do mesmo, o que signi-
enganosas em casos de dor crônica. fica que, na prática, não exista um problema
de dor (Fordyce, 1984; Fordyce, Roberts &
De acordo com Fordyce (1984), o estudo da Sternbach, 1985).
dor pelos analistas de comportamento deve
ser feito com base em modelos teóricos e Portanto, quando se observa um atleta rece-
afirmações sobre fatos. Este apontamento é bendo e suportando um golpe forte, pode-se
importante, pois ajuda no desenvolvimento concluir que ele está experimentando a no-
de teorias ou modelos conceituais para au- cicepção (termo utilizado para expressar a
xiliar na construção de padrões mais coe- capacidade fisiológica para sentir dor). No
rentes de explicações. Observações oriundas entanto, se esse atleta prossegue sem sig-
da perspectiva de um determinado modelo nificativa mudança de comportamento, ou
podem levar a um conjunto de conclusões. sem expressões visíveis de dor, dificilmente
As mesmas observações, vistas a partir de se pode concluir que há um problema de dor.
um modelo conceitual diferente, levam a Pode ter havido nocicepção e, presumivel-
conclusões diferentes. mente, a resposta privada de dor, mas não
há nenhum problema de dor (Fordyce, 1984;
Tradicionalmente, a dor tem sido explica- Fordyce, Roberts & Sternbach, 1985)
da com base no modelo de doença, que a
descreve como sinais e sintomas resultantes Comportamentos emocionais de dor podem
de processos que se encontram dentro da incluir queixas verbais e sofrimento, sons
pessoa. As explicações para a dor são infe- sem linguagem, expressões faciais, postura
ridas como consequência de algum processo corporal e gestos, e limitações nas ativida-
mental. Geralmente está relacionada a uma des. Medir relatos verbais de dor rende mais
histeria (hipocondria), como uma personali- dados sobre os estímulos envolvidos que as
dade ou um problema motivacional, ou ainda medidas fisiológicas, o que comprova que
como fingimento. Este modelo de explicação a dor é um conjunto complexo de variáveis
é tido como conceitual, e não há relação com e não simplesmente um evento sensorial.
declaração de fatos (Fordyce, 1984; Fordyce, Através dos relatos, o indivíduo sinaliza o
Roberts & Sternbach, 1985). tipo de dor experimentada, assim como a
intensidade e a frequência (Fordyce & Steger,
Diferente da perspectiva tradicional, o 1979). Avaliação desse fenômeno exige uma
modelo comportamental considera que dor contínua interação entre medicina e a ciência
é um comportamento emocional sujeito a do comportamento (Fordyce, 1984).
controle do ambiente, como qualquer outro
comportamento. Os problemas de dor são Tem havido uma atenção crescente nos últi-
observados pelas sinalizações que a pessoa mos anos para a visualização da dor crônica
emite, ou seja, sem indicações visíveis ou em termos comportamentais. Tomando como
audíveis do sofrimento da pessoa, será um todo, as premissas básicas subjacentes à
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da dor podem se tornar reforçadores, como a clínica universitária, como o objetivo de avaliar
medicação administrada por equipe médica, a relação entre a atenção à dor e à intensidade
permanecer em repouso, e até a compensação de dor. Essas relações foram examinadas em
monetária (auxílio doença, por exemplo). A circunstâncias naturais. Os resultados mostra-
situação dolorosa pode envolver não só reforço ram que pessoas com dor lombar crônica que
dos relatos de dor, mas também o não reforça- relataram maior atenção à dor também rela-
mento de comportamentos de enfrentamento taram maior intensidade de dor, maior sofri-
da dor. As consequências da dor estão relacio- mento emocional e mais visitas médicas devido
nadas a diminuição de atividades do dia-a-dia, a dor. Os resultados deste estudo forneceram
diminuição da eficácia social e diminuição da suporte para uma conceituação comportamen-
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Poliana F. da Silva, Rogério G. dos Santos Baia,
COMPORTAMENTO Alina B. Cabral, Fábio H. Baia, Carlos R. X. Cançado
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Abstract
O reaparecimento de respostas após ex- Nessa fase, para os seis pombos, observou-se
tinção é um fenômeno bem conhecido na que o comportamento de bicar o disco voltou
literatura comportamental. Epstein (1983), a ocorrer. Vale destacar que o bicar ocorreu
em um experimento com pombos, relatou apenas no disco que tinha história previa de
o reaparecimento de respostas previamente reforçamento. Esse resultado sugere que o
reforçadas após terem sido extintas quando reaparecimento de respostas (nesse caso a
reforços alternativos foram descontinuados. ressurgência) depende da história de refor-
Na primeira fase, o comportamento de bicar çamento prévio para o comportamento.
foi reforçado em um esquema de interva-
lo variável (VI) 1 min. Após estabilidade no Os três procedimentos mais comumente uti-
responder, todos os sujeitos foram expostos lizados para a investigação da recorrência de
a sessões de extinção (1 a 15 sessões, entre respostas previamente reforçadas são ressur-
pombos). Em seguida, respostas incompatí- gência (como no estudo de Epstein, 1983, des-
veis com o bicar (e.g., levantar a asa) foram crito acima), reestabelecimento e renovação
reforçadas 20 vezes. Por fim, a resposta al- (Bouton, Winterbauer, & Todd, 2012). Esses pro-
ternativa também foi colocada em extinção. cedimentos envolvem, comumente, três fases.
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A ressurgência é investigada de modo que na como“renovação ABA” (em que cada letra re-
Fase de Reforçamento uma resposta é refor- presenta um contexto). Já quando o contexto é
çada até atingir estabilidade no responder. Na diferente entre as fases, nomeia-se o procedi-
Fase Eliminação a resposta (R1) reforçada na mento de renovação ABC (Bouton et al., 2012).
Fase de Reforçamento é extinta e uma segunda
resposta (R2) – resposta alternativa – é re- Kelley, Liddon, Ribeiro, Greif e Podlesnik
forçada. No Teste não há reforçados progra- (2015) realizaram um estudo que visou
mados, isto é, ambas as respostas reforçadas contribuir para colaboração entre pesqui-
previamente (R1 e R2) são submetidas a ex- sa básica e translacional no paradigma
tinção (Pontes, 2014). O efeito deste procedi- da renovação comportamental. Pombos
mento é que a reposta reforçada (R1) na Fase (Experimento 1) e crianças diagnosticadas
de Reforçamento tende a reaparecer (Villas- com autismo (Experimento 2) foram ex-
Bôas, Haydi, & Tomanari, 2010; ver Pontes & postas ao procedimento de renovação ABA.
Abreu-Rodrigues, 2015, para uma revisão da Para pombos o contexto foi determinado pela
literatura). No procedimento de restabeleci- taxa de alternância entre as cores vermelho
mento uma resposta é reforçada na Fase de e branco do disco de respostas – 0.1 s para
Reforçamento. Na Fase Eliminação é condu- o Contexto A e 0.5 s para o contexto B. Na
zida a extinção do responder. No Teste são Fase de Reforçamento, respostas de bicar
apresentados eventos ambientais não contin- foram reforçadas em um esquema intervalo
gentes ao responder, como comida ou pontos fixo (FI) 10 s. Para as crianças o contexto foi
- isto é, o mesmo evento utilizado como re- determinado pela cor da camisa do pesqui-
forçador na primeira fase – o que produz o sador e por um quadro situado na parede a
reaparecimento do responder previamente frente do participante – no contexto A foi
reforçado (e.g., Epstein, Preston, Stewart, & utilizada a cor amarela, no contexto B a cor
Shaham, 2006). No procedimento de reno- verde. A tarefa para as crianças exigia ligar
vação, na Fase de Reforçamento respostas são números em quadro branco ou escolher car-
reforçadas até que o critério de estabilidade do tões iguais. As respostas foram reforçadas na
responder seja atingido. Em seguida, é condu- Fase de Reforçamento sob um esquema de
zida a Fase de Eliminação (ou Extinção, como razão fixa (FR) 1. Nas Fases Extinção – com
denominada no presente trabalho), na qual a contexto distinto da Fase de Reforçamento
resposta previamente reforçada é extinta em – nenhuma resposta (de pombos ou crian-
um novo contexto ou em contexto similar a ças) foi reforçada. No Teste a extinção con-
Fase de Reforçamento. Por fim, é conduzida a tinuou em vigor, mas houve retorno ao
Fase de Teste na qual a extinção continua em contexto da primeira fase.Os resultados
vigor, porém em contexto diferente da Fase foram similares entre pombos e crianças.
de Extinção (e.g., Crombag, Bossert, Koya, & Isto é, no Teste, o responder aumentou de
Shaham, 2008). Quando o contexto do Teste frequência em relação a como ocorria na
é similar a Fase de Reforçamento e distinto da segunda fase, o que indica a ocorrência de
Fase de Extinção, classifica-se o procedimento renovação comportamental.
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Ambiente e Materiais
Procedimento
O experimento foi conduzido no LAPEX-
UniRV. O local de coleta dos dados continha No início da primeira sessão, a seguinte ins-
uma cadeira e um computador de mesa equi- trução era apresentada na tela do computador:
pado com teclado e mouse. Para a programa-
ção de contingências e registro dos dados foi Você deverá clicar no retângulo vermelho para
utilizado o ProgRef v4 (ver Costa & Banaco, obter pontos. Cada ponto será trocado por
2002, 2003 para detalhes). dinheiro ao final de sua participação. Tente
ganhar o máximo de pontos. Quando conse-
Neste experimento, cada ponto produzido guir obter pontos, uma carinha feliz (smile)
pelos participantes era trocado ao final da será apresentada no canto superior direito.
Para que seu ponto seja registrado, clique na
participação por R$0,09. Este estudo foi sub-
barra abaixo da carinha feliz. Caso você não
metido ao Comitê de Ética em Pesquisa via
clique na barra da carinha feliz, seu ponto
Plataforma Brasil e foi aprovado sob o CAAE:
não será registrado e você perderá o dinheiro
56798616.4.0000.5077.Como a Resolução
daquele ponto. Ao final de cada sessão será in-
466/12 e 510/16 proíbem o pagamento de
formado o quanto de dinheiro você conseguiu.
participação em pesquisa, a estratégia uti- Para mover o cursor (a seta) utilize o mouse.
lizada foi estabelecer a troca de pontos por Quando a sessão terminar o computador irá
dinheiro de modo que o valor pago ao parti- apresentar o quanto de dinheiro você ganhou.
cipante fosse referente ao ressarcimento de Nessa hora, chame o experimentador.
gastos com transporte e alimentação. Deste
modo, caso o total de pontos obtidos em uma
visita ao Laboratório não atingisse o valor A Figura 1 mostra a tela do computador que
do ressarcimento, os pesquisadores infor- era apresentada ao participante durante o ex-
mavam: “você receberá X reais pelos pontos perimento. A tarefa exigia que o participante
produzidos e lhe daremos mais Y reais para clicasse com o botão esquerdo do mouse no
ressarcir seus gastos com transporte e ali- retângulo na parte central da tela. As res-
mentação” (totalizando cerca de R$260). postas no retângulo no canto superior direito
Nas sessões nas quais extinção esteve em eram respostas de consumação. A resposta
vigor (o que implica em nenhum ponto de consumação foi programada para garan-
produzido) os pesquisadores informavam: tir que o participante estava atento a tela do
“Esses X reais são para ressarcimento com computador e aos eventos programados.
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utilização de cores de tela idênticas às utili- ambos os componentes, para cada participan-
zadas na Fase de Reforçamento caracterizam te. Na Fase de Teste, renovação ocorreu de
o retorno ao contexto de treino (i.e., contexto forma consistente (e teve magnitude relati-
A). A Fase de Teste foi encerrada quando a vamente alta, com valores próximos aqueles
taxa de respostas em cada componente fosse observados para cada participante nas últimas
menor ou igual a 5 respostas por min por sessões da Fase de Reforçamento) para cada
duas sessões consecutivas. participante, em ambos os componentes do
esquema múltiplo (vale destacar que apenas
Cada sessão deste experimento durava 9 min P1 apresentou taxas de respostas próximas a
(i.e., 4 min de cada componente do esquema zero nas últimas sessões da Fase de Teste.
múltiplo e 1 min de ICI). Uma visita ao LAPEX Tanto P2 quanto P3 tiveram sua participação
envolvia no máximo 8 sessões. Foi reali- encerrada por desistência). Como detalhado
zado um intervalo de 2 min entre sessões. abaixo, contudo, renovação diferencial siste-
Nesse momento o experimentador solicitava mática não foi observada entre participantes.
ao participante que se retirasse da sala de
coleta de dados, quando o experimentador A Figura 3 apresenta a taxa de respostas na
programava uma nova sessão. Fase de Extinção como proporção da média
da taxa de respostasdas últimas cinco sessões
da Fase de Reforçamento. Para o Participante
Resultados 1, em quatro das 10 sessões (2, 4, 5 e 6) da
Fase de Extinção, houve maior resistência no
A Figura 2 apresenta a taxa de respostas em componente previamente correlacionado ao
cada componente do esquema múltiplo em VI 15 s, em três sessões (1, 3 e 7) houve maior
cada sessão do experimento. Para cada par- resistência no componente previamente cor-
ticipante, embora o comportamento em cada relacionado ao VI 60 s. Nas últimas três ses-
componente tenha sido variável nas primeiras sões dessa fase, os valores se sobrepõem para
sessões da Fase de Reforçamento, todos os par- ambos os componentes. Para o Participante 2,
ticipantes atingiram o critério de estabilidade. em seis (1, 8, 10, 11, 12, 13) das 15 sessões foi
Nas sessões finais dessa fase, a taxa de respos- observada maior resistência no componen-
tas foi semelhante entre os componentes para te previamente correlacionado ao VI 60 s. O
o Participante 2, e maiores no componente comportamento no componente previamente
correlacionado ao VI 60 s para os participantes correlacionado ao VI 15 s foi mais resistente
1 e 3. Na primeira sessão da Fase de Extinção, a em apenas duas sessões (3 e 5); nas demais
taxa de respostas aumentou em ambos os com- sessões não houve diferenciação entre os
ponentes em relação à última sessão da Fase componentes. O Participante 3, por sua vez,
de Reforçamento (exceto para o Participante apresentou maior resistência no componente
1, no componente previamente correlacionado previamente correlacionado ao VI 60 s em 16
ao VI 15). Entre sessões dessa fase, a taxa de (1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 12, 13, 16, 17, 18, 19, 20, 22,
respostas diminuiu para próximo de zero em 24, 25, 26, 27, 28 e 35) das 37 sessões.
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Figura 2. Taxa de respostas (por min) em cada sessão do experimento. Círculos fechados representam o com-
ponente correlacionado com o VI 15 s na Fase de Reforçamento; círculos abertos representam o componente
correlacionado com o VI 60s nessa mesma fase. Note as diferentes escalas do eixo Y em cada gráfico.
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Figura 3.Taxa de respostas em cada componente na Fase de Extinção como proporção da média da
taxa de respostas nas últimas cinco sessões da Fase de Reforçamento. O cálculo de proporção foi
realizado da seguinte maneira: primeiro a taxas de respostas das últimas cinco sessões foram somadas
e o total dividido por cinco, o valor obtido foi a média da taxa de respostas. Depois a taxa de respostas
de sessão da Fase de Extinção foi dividida pelo valor da média da taxa de respostas. Círculos fechados
representam o componente correlacionado com o VI 15 s na Fase de Reforçamento; círculos abertos
representam o componente correlacionado com o VI 60 s nessa mesma fase.Note as diferentes escalas
do eixo Y em cada gráfico.
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Figura 4. Log (base 10) da taxa de respostas na Fase de Teste como proporção da média da taxa de respostas
nas últimas duas sessões da Fase de Extinção. Círculos fechados representam o componente correlacionado
com o VI 15 s na Fase de Reforçamento; círculos abertos representam o componente correlacionado com
o VI 60 s nessa mesma fase. Note as diferentes escalas do eixo Y em cada gráfico.
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jeab.1990.53-345
119
COMPORTAMENTO Táhcita M. Mizael, Ariane R. Gomes, Gabriela J. T. Silva
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Resumo Abstract
O objetivo deste capítulo foi analisar pesquisas da The aim of this chapter was to analyze behavioral-
análise do comportamento com questões raciais, de analytic research with racial issues, in order to justify
modo a justificar o estudo dessa temática, elencar a the study of this theme, to summarize the academic
produção a respeito do tema e apontar novas propos- publications on the subject and to propose new
tas de investigação. Uma revisão da literatura analíti- research ideas. A literature review regarding behavior
co-comportamental sobre questões raciais evidenciou analysis and racial issues showed the scarcity of
a escassez de estudos dessa temática na área. Em such studies in the field. Then, a brief description
seguida, foi feita uma breve descrição de cada uma of each of the studies found in the literature review
das pesquisas encontradas. Utilizando as ideias de was summarized. Using Skinner’s ideas concerning
Skinner sobre os propósitos da ciência, justificativas the purposes of science, the social and scientific
sobre a relevância social e científica deste tema foram relevance of this theme was presented and related
apresentadas e relacionadas com dados estatísticos to statistical data on the social disparities between
a respeito das disparidades sociais entre negros e Black and non-Black individuals in Brazil. Finally,
não-negros no Brasil. Por fim, foram mostradas al- some research ideas that can be addressed in future
gumas ideias de pesquisas que podem ser conduzidas studies were shown.
no futuro.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Raça; Análise do comportamento; Preconceito racial; Race; Behavior analysis; Racial prejudice; Blackness
Negritude
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EM FOCO VOL. 9
121
COMPORTAMENTO Táhcita M. Mizael, Ariane R. Gomes, Gabriela J. T. Silva
EM FOCO VOL. 9
Understanding racial attitudes through the Carvalho, M. P., & de Rose, The Psychological
2014
stimulus equivalence paradigm J. C. Record
Reinforced racial integration in the first Hauserman, N., Walen, S. R., Journal of Applied
1973
grade: A study in generalization & Behling, M. Behavior Analysis
122
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analisar comportamentos envolvidos em prá- brancas com crianças negras. Apesar de ter
ticas racistas, bem como para entender ati- resultados promissores, não encontramos
tudes negativas com relação a um indivíduo replicações ou pesquisas do mesmo tipo, o
ou grupo de indivíduos, a despeito de uma que mostra como a área tem negligenciado
história de punição ou outras consequências a negritude como tema de importância.
aversivas com essa pessoa ou grupo.
Procedimento de Avaliação
Reforçamento Diferencial Relacional Implícita (IRAP)
O trabalho de Hauserman, Walen e Behling O IRAP (Implicit Relational Assessment
(1973) teve como objetivo a promoção de in- Procedure, Barnes-Holmes et al., 2006) é
tegração entre crianças brancas e negras em um instrumento que utiliza a latência de
uma sala de aula predominantemente branca. resposta como medida central para a ava-
Participaram da pesquisa cinco crianças liação de relações consideradas consistentes
negras e 20 crianças brancas de uma mesma ou inconsistentes com a história de vida de
sala de aula. A escolha dessa sala de aula se cada participante. No computador, termos
deu devido a reclamações da professora, que relacionais são apresentados (e.g., negro-
percebeu que as crianças negras eram isola- positivo, negro-negativo, branco-positivo,
das pelo resto da turma. Neste estudo, a pro- branco-negativo), e os participantes devem
fessora foi instruída a reforçar (com elogios) responder rapidamente (geralmente em até 2
os alunos que se sentavam durante o lanche segundos para adultos) e de maneira acurada
com uma criança negra (embora não fosse a essas relações, de acordo com uma regra
pedido explicitamente que as crianças bran- dada pelo experimentador. Assim, em cada
cas se sentassem com as negras, e sim que se tentativa, um estímulo-alvo é apresentado
sentassem com um novo colega) e que reali- (e.g. negro) junto com dicas contextuais,
zavam atividades em grupo com tais crianças. também chamadas de rótulos (e.g. bom/
Depois, o reforço continuou a ser dado sem ruim), e os participantes devem confirmar
que a professora desse as instruções sobre o ou não essa relação apertando teclas do
“jogo” (se sentar com um novo amigo). Os computador (opções de resposta; e.g. D para
elogios aumentaram a integração das crian- sim e K para não; D para verdadeiro e K para
ças, e após a fase experimental, verificou-se falso). As tentativas são separadas em blocos
que as crianças brancas também generali- considerados consistentes e inconsistentes
zaram tais comportamentos de integração, com a história de vida dos participantes, e
passando a brincar e sentar em grupo com a avaliação é feita pela diferença da latência
as crianças negras durante as aulas também. de respostas nos blocos consistentes e in-
consistentes, obtendo-se informações sobre,
Essa foi a única pesquisa encontrada que por exemplo, vieses e preconceitos. Cinco
utilizou reforçamento diferencial para au- pesquisas encontradas utilizaram o IRAP
mentar diretamente a interação de crianças para a investigação de questões raciais.
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Nesta condição, os resultados do IRAP evi- viés significativo anti-negro. Assim, todos
denciaram vieses pró-branco e anti-negro, os participantes (brancos e negros) tende-
embora as medidas de autorrelato continu- ram a atribuir mais características positivas
assem a evidenciar vieses pró-negro. a seu próprio grupo racial sem, entretanto,
atribuir características negativas ao outro
A pesquisa de Drake, Kellum, Wilson e Luoma grupo. Nas medidas de autorrelato, os par-
(2010) investigou a sensibilidade do IRAP in- ticipantes brancos demonstraram maiores
vestigando quatro temas: raça, gênero, re- níveis de viés negativo para os negros, em
ligião e obesidade. Por conta da temática do comparação com o viés demonstrado pelos
presente capítulo, só serão apresentados os negros com relação a pessoas brancas.
métodos e resultados relativos a raça. Quinze
estudantes universitários de raças não iden- Power, Harte, Barnes-Holmes e Barnes-
tificadas no texto responderam o IRAP que Holmes (2017) tiveram como objetivo iden-
mostrava os estímulos-alvo “branco” e tificar a existência de viés racial em indiví-
“negro” juntamente com atributos positivos duos negros e brancos residentes na Irlanda.
e negativos (e.g., bom e ruim) e as opções Participaram da pesquisa 22 jovens adul-
de resposta verdadeiro e falso. Nesse grupo, tos, com idades entre 17 e 26 anos de idade,
os resultados mostraram a presença de viés nascidos na Nigéria e residentes na Irlanda
pró-branco nos participantes, enquanto os desde os cinco anos de idade. Além disso,
vieses pró e anti-negro não foram estatis- outros 18 jovens adultos irlandeses, com
ticamente significativos. idades entre 18 e 28 anos foram recrutados
para a pesquisa. Os instrumentos utiliza-
Drake, Kramer, Sain, Swiatek, Kohn e Murphy dos foram o IRAP e medidas de autorrelato.
(2015) tiveram como objetivo utilizar o IRAP No IRAP, os estímulos-alvo eram “Eu acho
em uma amostra de estudantes negros e que pessoas brancas/negras são”, os rótu-
brancos. Participaram da pesquisa 57 estu- los “estúpido” e “esperto” (stupid e clever,
dantes de psicologia, sendo 22 declarados respectivamente), e as opções de resposta
brancos, 22 negros, nove de outras raças e verdadeiro e falso. De maneira geral, os re-
quatro com classificação mista. Os instru- sultados mostraram a existência de vieses
mentos utilizados foram medidas de autor- anti-negro e pró-branco nos participantes
relato e o IRAP. No IRAP, os estímulos-alvo irlandeses, e vieses pró-negro e pró-branco
foram “pessoas brancas” e “pessoas negras”, nos participantes nigerianos. Nas medidas
os rótulos, atributos positivos e negativos, e de autorrelato, ambos os participantes de-
as opções de resposta, verdadeiro e falso. Os monstraram viés pró-negro.
resultados mostraram que os participantes
brancos demonstraram um viés pró-bran- Os estudos com o IRAP permitem verificar
co e nenhum viés significativo anti-branco. a complexidade das relações que podem ser
Da mesma maneira, os participantes negros identificadas. Em alguns casos, foi identifi-
demonstraram viés pró-negro, mas nenhum cado um viés positivo para o endogrupo sem,
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no que é referido como pesquisa básica (ou Para o pensamento skinneriano, a ciência
translacional), contudo, os autores comen- seria encarada então como uma ferramenta
tam que seus resultados podem ser úteis em prol da liberdade1 e do bem-estar social.
para a criação de intervenções futuras que Para colocá-la em prática seria necessário
objetivem a redução do preconceito racial (e seguir quatro objetivos que norteariam o
de outros tipos de preconceito). trabalho dos cientistas:
Como pode ser visto nas pesquisas encon- 2. A descoberta da relação: buscar compre-
tradas, existem poucos estudos da AC no ender e tentar descobrir ordem no mundo,
que se refere ao tema “negritude”. Seria tentando encontrar causalidade entre
este então um tema desnecessário ou uma fenômenos/eventos;
variável sem grande impacto nos problemas
sociais? Antes de responder estas questões, 3. Previsão: a partir do conhecimen-
primeiro é necessário compreender qual a to dos fatos e das relações entre estes,
função da ciência. Para isso, será realiza- tentar prever quais seriam os próximos
do um breve resgate deste tópico na obra acontecimentos.
“Ciência e Comportamento Humano” de B.
F. Skinner (1953/2003). 4. Controle e modificação do comportamen-
to: caso, após a análise, constatar-se a
Logo no primeiro capítulo Skinner (1953/2003) necessidade de alteração da situação, uti-
discute questões relacionadas ao (mau) uso lizar-se-ia então a ciência como método
da ciência e enfatiza a necessidade de que o para alteração do contexto atual.
conhecimento seja útil e possua um objetivo
prático e relevante socialmente. Este argu- Por que levar em consideração a variável
mento é bastante presente em suas obras negritude nos estudos?
relativas ao comportamento humano, de
modo que Skinner defende uma ciência que Utilizemos a proposta de Skinner (1953/2003)
possa ter impactos práticos positivos para referente aos objetivos da ciência para ana-
a sociedade (e.g., Dittrich, 2004; Sampaio, lisar e responder esta questão:
2005; Skinner, 1953/2003).
1 Dentro da AC existe uma discussão importante acerca do conceito de “liberdade”. Aqui utilizamos este termo não como “pessoa
liberta de quaisquer contingências ou agências de controle”, mas sim como “a possibilidade de, por meio do conhecimento, modificar
suas interações com o ambiente (e o próprio ambiente) de forma a melhorar sua qualidade de vida” (Brandenburg & Weber, 2005).
Para maior aprofundamento da questão, ver mais em “O Mito da Liberdade” (Skinner, 1971/1973).
128
COMPORTAMENTO Táhcita M. Mizael, Ariane R. Gomes, Gabriela J. T. Silva
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De acordo com dados disponibilizados pelo podemos encontrar as raízes destas dispari-
IBGE (2017), 54,9% da população brasile- dades. Inicialmente, logo após a chegada dos
ira é negra2. Tendo este dado como base, colonizadores no país, era necessária mão
podemos analisar pesquisas que realizam de obra barata para transformar a terra em
recortes sociais para verificar a existência algo produtivo. Assim, se aproveitando do já
de alguma disparidade: Quase 70% da pop- existente e lucrativo mercado escravagista,
ulação carcerária é composta por pessoas inicia-se em 1583 a vinda à força dos africa-
negras (Brasil, 2014); no campo da educação, nos para o Brasil, prática que terminou (pelo
apenas 20% dos estudantes universitários menos legalmente) com a assinatura da Lei
são negros (Brasil, 2016) e, de acordo com o Áurea em 1888 (Fernandes, 2016).
IBGE (2013), a diferença de salários entre pes-
soas negras e não-negras chega a 57%, com Os africanos eram considerados pela Igreja,
prejuízo para as primeiras. Pessoas negras instituição de grande poder no século XVI,
são as que mais morrem devido a condições como seres sem alma. Com o declínio do poder
reversíveis como desnutrição, mortes vio- da Igreja e advento da ciência como uma das
lentas, abortos sépticos, hanseníase, aids e maiores agências de controle (especialmente
doenças do trabalho (ONU, 2018). a partir do Iluminismo), a Frenologia ganha
força e adeptos em toda a Europa e é uti-
Pesquisas apontam também que profissionais lizada para reforçar a ideia da inferiorida-
de saúde ainda referenciam a pessoas negras de das pessoas negras. Em linhas gerais, a
uma suposta “resistência maior” a doenças e Frenologia afirmava que as características fí-
dores, o que resulta em negligências por parte sicas do crânio dos indivíduos determinavam
da equipe médica e sofrimentos desnecessári- traços da sua personalidade e inteligência. Os
os dos pacientes (Carias & Silva, 2016). Um moldes considerados ideais coincidiam com
exemplo deste estereótipo é trazido no estudo os traços europeus, enquanto os considerados
de Pinto (2016), onde evidencia-se que mul- inadequados e/ou limitados estavam ligados a
heres negras recebem menos anestesia em traços negroides (Macedo, 2016). Ao mesmo
procedimentos cirúrgicos, tendo maior mor- tempo, a economia era fortemente enrique-
talidade que mulheres brancas. cida com o tráfico de escravizados cada vez
mais crescente, uma vez que a expectativa
de vida de uma pessoa escravizada era ex-
Descobrir a relação tremamente baixa, o que resultava em uma
necessidade constante de novas “mercado-
Ao realizar o resgaste histórico da construção rias” (Amantino, 2007). Apesar da homolo-
do nosso país e do processo de miscigenação, gação da Lei Áurea em 1888, a escravatura
2 O IBGE não trabalha com o que os autores chamam de “raça”, mas sim com o chamado “quesito cor” (a cor da pele; Oliveira, 2004).
129
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EM FOCO VOL. 9
continuou como prática ilegal no país – ainda Nunes, 2006) e ausência de qualquer medida
atualmente temos registros de fazendas que de acesso ou permanência aos espaços ocu-
mantêm trabalhadores em condições análogas pados pelos indivíduos brancos.
à escravidão (e.g., Figueira, 2000; Rezende &
Rezende, 2013). Com base no exposto, é possível prever o que
acontece depois?
Durante a monarquia e, mesmo após a tran-
sição para a República, não houve qualquer
medida de apoio para os escravizados re- Previsão
cém-libertos. Eles não tinham amparo
algum, seja para voltar para seu continente Conforme os estudos supracitados, pode-se
de origem, seja para tentar reconstruir a pensar que a aprendizagem do preconcei-
vida no Brasil. Os mesmos argumentos que to racial se dá pelos menos das seguintes
justificavam a escravidão como algo não formas: aprendizagem direta, via, por exem-
passível de punição (como a afirmação de plo, reforçamento e punição; e aprendiza-
que eram desprovidos de inteligência) foram gem indireta, via formação de classes de
utilizados e reforçados após a (suposta) li- equivalência (ou de outras relações, como
bertação, o que se tornou mais uma barreira oposição, hierarquia, etc.) e via transferência
para a reconstrução da vida destas pessoas e transformação de funções. É interessante
(Amantino, 2007). Não houve qualquer tipo salientar que tanto nos casos de aprendiza-
de campanha ou movimento por parte dos gem direta quanto indireta, é possível que
governantes que visasse a humanização do a generalização baseada em características
indivíduo negro. Crenças difundidas pelas físicas ocorra3. Uma vez que não é necessá-
instituições de poder, como mencionado rio que as relações entre a população negra
anteriormente, não foram contraditas e se- e atributos negativos sejam acuradas para
guiram sendo reproduzidas no discurso do serem estabelecidas, a população negra sofre
senso comum. O corpo negro seguiu sendo com as consequências nefastas dessas formas
considerado inferior, “sem alma”, e desca- de aprendizagem, algumas delas brevemen-
racterizado enquanto ser humano – situação te supracitadas nas estatísticas do IBGE que
que segue até os dias atuais. mostram as disparidades entre a população
branca e não-branca.
Em resumo, temos 305 anos de escravatura
(legal) contra 130 anos da Lei Áurea, aliado Um exemplo interessante que ilustra como
ao ensino e manutenção de estereótipos essas crenças são amplamente difundidas e
perpetuados por instituições de poder (e.g., possuem implicações importantes na vida de
2 As formas de aprendizagem abordadas aqui não esgotam as análises ou as formas de aprendizagem possíveis (e.g., a aprendizagem
por regras também pode ocorrer, embora ainda não encontramos publicados estudos da área que discorram sobre o assunto), apenas
ilustram algumas maneiras pelas quais o preconceito racial pode ser aprendido”.
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EM FOCO VOL. 9
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Mariana Frediani Sant’Ana,
COMPORTAMENTO Fábio Henrique Silva de Souza, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
Resumo Abstract
Identidade de gênero e orientação sexual estão em Gender identity and sexual orientation are being dis-
pauta em debates políticos e educacionais atuais. cussed in current political and educational matters.
Trata-se de uma pesquisa teórico-conceitual cujo This chapter is about theoretical research, which
objetivo é apresentar apontamentos para uma pos- aims to present notes to a possible definition of
sível definição de identidade de gênero e orientação gender identity and sexual orientation according
sexual pelo Comportamentalismo Radical. Textos de to Radical Behaviorism. Texts of B. F. Skinner and
B. F. Skinner e Richard Malott foram as principais Richard Malott were the main sources utilized, beside
fontes utilizadas, além de publicações que auxiliaram others papers on current definitions of sexuality.
nas definições contemporâneas sobre sexualidade. Sexual orientation and gender identity are discussed
Discute-se orientação sexual e identidade de gênero as sexual values and behavioral styles, according to
enquanto valores sexuais e estilos comportamentais, the explanatory model of selection by consequen-
de acordo com o modelo explicativo da seleção por ces. It concludes that sexual orientation and gender
consequências. Conclui-se que a orientação sexual e identity are mainly derived from learning during
a identidade de gênero decorrem principalmente da lifetime, including cultural context features. Future
aprendizagem durante a história de vida, atravessa- research should consider recent investigations on
da por características do contexto cultural. Futuras biological variables. It is mentioned the relevance of
pesquisas devem considerar produções recentes sobre behavioral psychology, as science and profession, to
variáveis biológicas. Comenta-se a importância da psi- engage in this discussion, paying attention to ethical
cologia comportamental participar desse debate, en- and political aspects of the sexual diversity.
quanto ciência e profissão, atentando-se para aspectos
éticos e políticos a respeito da diversidade sexual.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Gênero; Orientação sexual; Comportamentalismo Radical; Gender; Sexual orientation; Radical behaviorism; Sexuality;
Sexualidade; Seleção por consequências. Selection by consequences.
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Introdução
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Direito para regular as relações sexuais. Na não havia uma diferença natural entre os
passagem da “sociedade primitiva” para a sexos biológicos, entretanto o gênero femi-
sociedade de classes, com o desenvolvimen- nino nas relações sociais se diferenciava do
to da produção de excedentes e da prática gênero masculino. Stearns (2007) discorre
escravista, houve a “substituição do consen- que as mulheres gregas ocupavam-se de ati-
so pela dominação na relação entre homens vidades maternas e domésticas e não parti-
e mulheres [...] A relação sexual passou a cipavam da política, pois eram consideradas
ocorrer entre maridos e esposas ou entre incapazes de raciocinar.
senhores e prostitutas” (Lessa, 2012, p. 31).
A relação familiar entre marido e mulher No Ocidente, as religiões como o Catolicismo,
visava a garantia de um herdeiro homem o Judaísmo e o Protestantismo tiveram um
que pudesse perpetuar a acumulação de papel decisivo para uma regulamentação
riqueza da família, muito importante para da heteronormatividade, ou seja, na valo-
a manutenção de um status na sociedade. rização da heterossexualidade como única
Dessa forma, a virgindade da mulher a se orientação sexual normal e a consequente
tornar esposa revelou-se essencial, pois ga- condenação de qualquer relacionamento
rantia que a herança familiar fosse para o sexual que não fosse entre um homem e uma
primogênito legítimo (Lessa, 2012; Stearns, mulher. A defesa da heteronormatividade
2007). Em decorrência dessa exigência para visava assegurar a função da família nucle-
a mulher, Lessa (2012) aponta que houve ar heterossexual e monogâmica, garantindo
uma limitação em seu desenvolvimento, a reprodução humana e a manutenção da
uma vez que as funções da esposa passaram ordem social (Adelman, 2000). A normati-
a envolver atividades restritas como limpar zação da constituição familiar e da relação
a casa, cozinhar, bordar e etc. A mulher era entre homem e mulher, já presentes desde
destinada aos afazeres domésticos enquanto algumas sociedades antigas, passam a ser
o homem participava da vida pública. consolidadas pelos ensinamentos e práticas
das instituições religiosas mais poderosas.
Na Grécia Antiga não havia diferenças entre os
sexos feminino e masculino, uma vez que os Durante a Idade Média, a sexualidade fe-
órgãos íntimos femininos eram considerados minina foi alvo de violenta repressão por
órgãos masculinos invertidos. A referência parte da Igreja Católica. Malleus Maleficarum
era o padrão masculino. “Segundo essa aná- ou ‘O martelo das feiticeiras’, foi um manual
lise, pode-se concluir que a anatomia nada utilizado pela Inquisição para a classificação
mais fez do que reiterar a ideia da supre- e para o julgamento de mulheres considera-
macia do homem, tomando-o como modelo das bruxas. Baseando-se no conteúdo desse
da estrutura do corpo humano e tratando a livro, Zordan (2005) mostra que a sexualida-
diferença sexual em termos de imperfeição” de e a expressão de poder estavam atreladas
(Martins, 2004, p. 29). Martins afirma que aos comportamentos das chamadas bruxas.
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bruxas era inerente à fé cristã, conside- sociais ao afirmar que a Natureza não era
uniforme e que a existência de diferenças
rando heresia quem apresentasse a opinião
naturais entre os seres humanos podia ex-
contrária sobre sua existência. Szasz (1978)
plicar o motivo pelos quais alguns eram mais
afirma que o Malleus Malleficarum era um
aptos a assumir responsabilidades, a explicar
instrumento que justificava a superioridade
as coisas e a comandar, enquanto outros, por
masculina, pautando-se na figura mascu-
um impedimento natural, estavam destinados
lina de Jesus enquanto as mulheres eram a obedecer, a serem explicados e a se subor-
vistas como pecadoras e perigosas. Mulheres dinarem. (Martins, 2004, p. 30)
que dançavam nuas sob o luar, que provo-
cavam excitação sexual nos homens, que No final do século XIX surgem estudos no
participavam de orgias, que se rebelavam campo científico na tentativa de definir e clas-
ou incomodavam a comunidade, que viviam sificar pela primeira vez as pessoas homosse-
solitariamente ou eram vizinhas indiscretas xuais, construindo limites com o seu oposto,
poderiam ser castigadas pela Igreja sendo a heterossexualidade. Com estudos médicos
enforcadas, queimadas ou destinadas ao con- sobre os comportamentos sexuais que fugiam
finamento. Tais mulheres eram consideradas à norma, essas pessoas começaram a ser con-
bruxas justamente por divergirem da norma sideradas doentes, o que pressupunha haver
moral que ditava os limites da sexualidade uma dualidade entre a sexualidade saudável
(Zordan, 2005; Szasz, 1978). As bruxas eram e a doentia. O objetivo dos estudos era o de
rotuladas e torturadas por representarem a classificar a homossexualidade dentro das
insubmissão aos homens e a manifestação patologias, permitindo discutir suas possíveis
livre de sua sexualidade (Zordan, 2005). causas e promover uma terapização e norma-
tização da vida sexual, já que eram vinculados
No século XVIII, com o declínio do poder da a um movimento de higiene social (Adelman,
Igreja, estabelece-se uma visão científica e 2000; Vieira, 2009). Se a homossexualidade
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era entendida como doença, logo, haveria afirmações científicas que se pautavam no uso
uma cura. Evidencia-se uma concepção de da anatomia e fisiologia para classificação e
sexualidade heteronormativa e inerente ao patologização (Adelman, 2000; Vieira, 2009).
aspecto biológico.
Adelman (2000) esclarece que, de acordo com
Divergindo do discurso médico hegemônico, a teoria freudiana, as instituições criadas ao
uma das abordagens da sexologia enquanto longo do desenvolvimento da civilização são as
ciência concebia a homossexualidade como mesmas que limitam o ser humano de maneira
uma variação natural humana, não havendo repressiva e violenta. A institucionalização das
razão para classificá-la enquanto patologia. práticas sexuais colide com as possibilidades
A teoria de Karl Heinrich Ulrichs, por exem- de expressão sexual, visto que Freud defende
plo, pautou-se no materialismo e positivismo que somos predispostos à bissexualidade e
das ciências biológicas vigentes para afastar que as pressões e tabus culturais reduzem-na
a homossexualidade enquanto expressão de à escolha de um parceiro ou objeto de gênero
vício, devassidão ou doença (Vieira, 2009). específicos (Adelman, 2000).
Ulrichs, estudioso sobre a sexualidade e
advogado defensor da diversidade sexual, De acordo com o recorte histórico apresen-
“pensava que essa naturalidade baseava-se tado até o momento e considerando alguns
numa inversão sexual ‘natural’: a existên- fatos históricos mais recentes como as con-
cia de pessoas com corpos masculinos mas quistas das sufragistas e a retirada da ho-
possuidores de um desejo sexual ‘feminino’” mossexualidade da lista de doenças pela OMS
(Adelman, 2000, p. 166). em 1990, entende-se que a sexualidade não
é estanque e apresentou ao longo da história
Percebe-se que as justificativas da Igreja definições e práticas variadas, além de ainda
Católica para a heteronormatividade apoia- ser atravessada pela ciência e pela religião,
vam-se na moral religiosa e faziam menção ambas produzindo e ditando o que é certo e
a aspectos imateriais, como a alma, enquan- errado sobre práticas sexuais. A sexualidade
to que a abordagem da Ciência Moderna re- atualmente é definida, segundo o Caderno de
duzia a sexualidade ao biológico. Por outro Atenção Básica de Saúde Sexual e Reprodutiva
lado, Sigmund Freud (1856-1939), apesar de do Ministério da Saúde (Brasil, 2010), como
apresentar algumas contradições teóricas ao uma dimensão que envolve aspectos bioló-
longo de sua obra, foi um dos responsáveis gicos, psíquicos, sociais, culturais e históri-
na época por questionar a redução da cons- cos, constituindo-se das relações amorosas
tituição da sexualidade a aspectos biológicos. e do laço afetivo entre as pessoas e não se
Freud afirmou que as possíveis expressões da restringindo à reprodução. Pautando-se na
sexualidade são reprimidas pelas formas ins- compreensão contemporânea sobre o assun-
titucionalizadas da prática sexual e sua obra to, elenca-se a seguir algumas definições a
possibilitou pensar o masculino e o femini- respeito do que é sexo biológico, identidade
no para além da anatomia, questionando as de gênero e orientação sexual.
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1 A teoria dos papéis sexuais utiliza as categorias “papel masculino” e “papel feminino” para delimitar quais são as atividades e ca-
racterísticas esperadas de cada gênero numa sociedade. Assim como um ator, o indivíduo exerce um papel designado pela sociedade
para exercer determinada função pré-estabelecida. Apesar de sua contribuição para afastar o determinismo biológico e ressaltar
as influências sociais na identidade de gênero, a teoria é alvo de críticas por reiterar o binarismo composto somente pelos gêneros
feminino e masculino, desconsiderar as relações de poder construída na própria relação entre os gêneros, além de ter como fonte
para a definição dos papéis sexuais a família nuclear abstrata, tida como ideal (Connell, 1987). Cientes dessa crítica, substituímos a
nomenclatura originalmente empregada por Mallot (1996) por expressão de gênero (APA, 2011), devido suas definições semelhantes.
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valores sexuais do indivíduo. Primeiramente, Por essa razão, Malott (1996) afirma que o
Malott (1996) inclui a expressão de gênero estilo de comportamento sexual “feminino”
como orientação sexual, sendo que ela está ou “masculino” é aprendido e depende de
associada a identidade de gênero. Em segun- contingências de reforçamento ou punição.
do lugar, a discriminação do que é expressão
de gênero e estilo de comportamento fica Considerar que as expressões de gênero, en-
imprecisa e é tratada como a mesma coisa. quanto comportamentos, sejam aprendidas
e mutáveis pode parecer impossível para
Para Malott (1996) os valores sexuais dizem alguns. Malott (1996) faz uma comparação
respeito a qual estimulação sexual é reforça- entre aprender um estilo comportamental
dora para determinada pessoa e advinda de novo e aprender uma língua nova. Seria im-
qual fonte (pessoa do sexo oposto, pessoa do possível para a maioria dos anglofônicos falar
mesmo sexo, objetos, etc), logo, diz respeito espanhol sem soar como estrangeiro, por
à orientação sexual. Sem abordar pormenores, tratar-se de um comportamento complexo
pode-se afirmar que heterossexuais valorizam e novo que se sobreporia a um previamente
estimulação sexual advinda de pessoas do sexo instalado com bastante dificuldade. Mesmo
oposto, homossexuais valorizam estimulação assim, não se considera que falar a língua
sexual advinda de pessoas do mesmo sexo original seja um comportamento inato, ao
e bissexuais valorizam a estimulação sexual contrário da crença geral sobre o inatismo de
advinda de pessoas de ambos os sexos. Estilos comportamentos relacionados à sexualidade.
de comportamento aproximam-se do con- Assim como as contingências que contro-
ceito de expressão da identidade de gênero, lam a utilização de determinada língua na
pois Mallot (1996) estabelece-os como com- comunidade verbal, as contingências con-
portamentos determinados culturalmente que troladoras dos estilos sexuais são sutis e em
definem como homens e mulheres devem constante presença (Malott, 1996).
sentar-se, andar, falar, etc.
Pode-se discutir orientação sexual a partir
Mallot (1996) cita o estudo de Barlow, da consideração sobre a estimulação física
Reynolds, e Agras (1973 apud Mallot) no de zonas erógenas. Mallot (1996) diz que ela
qual ensinaram um homem transexual a ter própria tem valor reforçador inato, produ-
estilo de comportamentos típicos masculi- to da história filogenética com a função de
nos, como andar, falar e sentar de maneira aumentar as chances de reprodução e sobre-
diferente do estilo considerado feminino vivência da espécie. Mas e quanto ao objeto
emitido até então. Os experimentadores con- ou pessoa que serve como fonte estimula-
seguiram ensinar novos comportamentos de dora? O autor argumenta que a estimulação
acordo com expressões do gênero masculino, sexual é reforçadora a despeito de por quem
mesmo com o fato da família e a comunidade ela é estimulada, sendo que certas fontes de
terem o ensinado a agir como uma menina de estimulação passam a ser aversivas pelo em-
acordo com o sexo assignado no nascimento. parelhamento com outros estímulos, como
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reprovação verbal de terceiros, dizendo que relações comportamentais, não havendo algo
o ato é vergonhoso ou pecado. O argumento de positivo inerente ou essencial em qual-
central de Malott (1996) pode ser resumido quer tipo de relação. Historicamente, quem
com o seguinte trecho: ditou as regras do comportamento sexual no
mundo ocidental foi principalmente a Igreja
(...) tudo isso sugere para mim que nós nas- Católica, contando com o apoio da educação
cemos bissexuais ou até mesmo multissexu- e do governo, das agências de controle como
ais (ou seja, suscetíveis a reforços sexuais de define Skinner (2003/1953). Os comporta-
uma ampla variedade de fontes). É somente mentos aceitáveis e condenáveis definidos
por meio de nossa história comportamental pelas agências de controle têm relação com
que nós nos tornamos mais focados em nosso o interesse da sobrevivência e manutenção
comportamento sexual e nas nossas preferên-
do poder da própria agência (Skinner, 1987).
cias por e aversões contra fontes específicas
Como uma forma de enfrentar e descons-
de estimulação sexual. (Malott, 1996, p. 130,
truir padrões rígidos e que já não se aplicam
tradução nossa)
às características do contexto social atual,
ou seja, regras que não correspondem a
O emparelhamento entre certas práticas se- contingências, movimentos sociais como o
xuais - como o sexo anal, pré ou extramatri- Movimento LGBT e o feminismo lutam por
monial e a relação homossexual - e estímulos mudanças nas descrições de regras presentes
verbais como “imoral”, “errado” ou “nojen- nas leis e em outras práticas culturais.
to”, além de punições físicas e exclusão de
círculos sociais, explicam o caráter aversivo Utilizando-se de dados de pesquisas sobre
que tais práticas exercem em certas pessoas comparações entre culturas e espécies,
(Malott, 1996). Por isso é comum pessoas Malott (1996) defende que não há espaço
transexuais e homossexuais sentirem-se para argumentações a favor do inatismo da
culpadas, angustiadas, além de perderem heterossexualidade. Bonobos, também co-
empregos e laços familiares, serem vistas nhecidos como chimpanzés pigmeus, podem
como prostitutas e relacionadas ao vírus da ser considerados bissexuais (de Waal, 1995,
AIDS. Tal análise é válida para o outro lado citado por Mallot, 1996) e ratos machos cria-
da dicotomia aceitável/inaceitável ou corre- dos desde o nascimento sem contato com
to/errado. Pode-se dizer que os sentimentos fêmeas engajam-se em relações sexuais
envolvidos no relacionamento amoroso hete- entre eles (Moss, 1924, citado por Mallot,
rossexual e dentro da norma são compreen- 1996). Segundo Marvin Harris (1989, citado
didos como sensações corporais geradas pela por Malott, 1996), a homossexualidade na
interação do sujeito com as contingências, Grécia Antiga não somente era valorizada,
sendo este sentimento resultante da apren- mas também era oficialmente sancionada
dizagem do que a sociedade descreve a res- para os guerreiros, que tinham jovens apren-
peito do que se sente. Ou seja, os sentimen- dizes como parceiros sexuais. O sexo entre os
tos positivos são igualmente construídos por homens tornava os guerreiros mais efetivos
147
Mariana Frediani Sant’Ana,
COMPORTAMENTO Fábio Henrique Silva de Souza, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
em batalha. De acordo com Malott (1996), Apesar da determinação biológica não estar
não haveria razão para tanto controle aver- clara para a formação da identidade de gênero
sivo legal e religioso contra práticas sexuais e da orientação sexual apontadas pelos auto-
não procriativas se os seres humanos fossem res discutidos, desconsiderar previamente a
heterossexuais por natureza. estrutura e o funcionamento do corpo, como
os genes e os hormônios, seria desconside-
Mallot (1996) mostra-se bastante crítico rar a história filogenética e o corpo humano
ao comentar pesquisas que investigaram o como produto de tal história. Sem o corpo,
papel dos genes e das estruturas biológicas não haveria comportamento, nem reprodução
na orientação sexual. As pesquisas realiza- e sensação de prazer sexual. Skinner (1990),
das com o intuito de verificar a correlação entendendo o comportamento humano como
entre as estruturas biológicas e a homos- fruto da filogênese, ontogênese e da história
sexualidade não eliminaram a possibilidade cultural, defende um diálogo entre disciplinas
da atuação de elementos ambientais. Além como a Etologia, a Fisiologia, a Psicologia e a
disso, há possíveis interesses de patologi- Antropologia, sem que os respectivos objetos
zar a diversidade sexual e resgatar o de- de estudo e os princípios explicativos sejam
terminismo biológico, como nas pesquisas mesclados ou confundidos de maneira ingê-
médicas do século XIX. No caso da pes- nua. Skinner (1990) aponta que a fisiologia
quisa de Hamer (1993, citado por Malott, explica o corpo como “máquina bioquími-
1996), “afirmava-se uma aparente trans- ca”, em sua composição e funcionamento,
missão materna da orientação homossexual enquanto ciências que lidam com a variação e
masculina baseada em uma ligação entre seleção de comportamentos explicam o porquê
marcadores no DNA do cromossomo X e do corpo comportar-se como tal, ou o corpo
a orientação sexual masculina” (p. 130). “como ação”, como exemplos de ciências da
Entretanto, não foi descartada a possibi- variação e seleção estão parte da Etologia e da
lidade da criação da mãe ser determinante Antropologia e a Análise do Comportamento.
na formação do comportamento sexual da Nesse sentido, pesquisas que deixam de olhar
criança. Outra pesquisa (Ezzell, 1991, citado ou ignoram totalmente as variáveis biológicas
por Malott, 1996), estabeleceu uma corre- desconsideram a complexidade e a multide-
lação de dados entre aglomerados celulares terminação do comportamento.
na parte frontal do hipotálamo em homens
heterossexuais e homossexuais, mostrando A partir dessas discussões, de uma forma
que os últimos apresentam menor quanti- sintética, orientação sexual pode ser defi-
dade de massa na estrutura do hipotálamo. nida comportamentalmente como uma ten-
Mesmo assim, Malott (1996) aponta que, dência estável a engajar-se em obtenção de
nessa pesquisa, não fica claro se a estru- estimulação sexual advinda de alguma fonte
tura cerebral é causa ou consequência da reforçadora, como uma pessoa do mesmo
orientação sexual, criticando o controle de sexo (homossexual), pessoas do mesmo sexo
variáveis nos estudos. e do sexo oposto (bissexual), ou advinda por
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Mariana Frediani Sant’Ana,
COMPORTAMENTO Fábio Henrique Silva de Souza, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
uma pessoa de outro sexo (heterossexual). fatores biológicos, avaliando sua influência
A pessoa assexual não apresenta essa ten- sobre aspectos da sexualidade. Mesmo Malott
dência, podendo-se pensar sua adequação (1996) negando a influência de fatores bioló-
na presente definição de orientação sexual. gicos na sexualidade, a história filogenética
A tendência é entendida como produto da é essencial para se compreender a evolução e
história de reforçamento por meio de con- funcionamento do corpo humano, seus órgãos
tingências mantidas pela comunidade que sexuais e a suscetibilidade ao contato sexual.
emparelham práticas sexuais e fontes de
estimulação como certo/moral e errado/ Abordou-se neste texto aspectos culturais
imoral. Abordou-se a identidade de gênero, enquanto influências sobre a orientação
principalmente na compreensão de como sexual e a identidade de gênero dos indivídu-
ocorre a expressão de gênero. Nesse senti- os, priorizando as contingências no âmbito
do, a identidade de gênero é composta por ontogenético. Futuras pesquisas podem con-
padrões comportamentais, estilos de vesti- siderar o terceiro nível de seleção mais pro-
menta, cortes de cabelo e demais caracterís- fundamente, tomando a própria evolução das
ticas que são diferencialmente reforçados em práticas culturais relacionadas à sexualidade
contingências sociais. O sentir-se bem como como objeto de estudo.
homem ou mulher pode ser entendido como
um produto de tais contingências, sendo que O Comportamentalismo Radical contribui para
os sentimentos variam de acordo com o valor a discussão da diversidade sexual, pois per-
reforçador ou punitivo das mesmas. Pelas mite que a sexualidade seja compreendida nos
consequências produzidas nas interações so- domínios dos três níveis de seleção do com-
ciais, padrões “femininos” e “masculinos” portamento. A análise de contingências mos-
são estabelecidos. tra-se útil e produtiva para a discussão cien-
tífica em oposição a explicações que atribuem
unicamente a causas internas ou puramente
Conclusão biológicas as diversas orientações sexuais e
identidades de gênero. Por elucidar que se
Segundo as pesquisas e autores utilizados trata de um aspecto influenciado e construído
neste estudo, pode-se concluir que a iden- no mundo, no ambiente físico e social, com
tidade de gênero e a orientação sexual são possibilidade de manipulação de variáveis,
determinadas principalmente pela história isto traz compromissos éticos e práticos para
de vida, sendo esta intimamente permeada atuações do profissional que trabalha com a
pelo contexto cultural. Segundo as pesquisas sexualidade, como no campo terapêutico e
comentadas por Malott (1996), fatores bio- das políticas públicas. A importância deste
lógicos como genes e hormônios têm pouca estudo reside num contexto de discussão no
atuação sobre a identidade de gênero e orien- qual argumentos e discursos visam naturali-
tação sexual. Futuras pesquisas devem consi- zar e criminalizar práticas sexuais que fujam
derar as recentes produções a respeito desses dos padrões heteronormativo e cisgênero. A
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COMPORTAMENTO Fábio Henrique Silva de Souza, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
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152
COMPORTAMENTO Mariana Batista, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
Resumo
Professores, como agentes de controle, podem fun- e aprimoramento de práticas educativas positivas e
cionar como modelos e ambiente social para a emis- reconhecimento do papel do professor como agentes
são de comportamentos socialmente relevantes de no processo educacional de seus alunos, viabilizan-
seus alunos, maximizando o papel socializador da do a socialização e escolarização dos aprendizes a
escola. Este estudo objetivou avaliar na literatura partir da redução de problemas de comportamento
Analítico-Comportamental estratégias e efeitos de e aumento no desempenho acadêmico. Portanto,
intervenções direcionadas às práticas educacionais concluiu-se que a condução de intervenções com
de docentes do Ensino Fundamental I na promoção professores é relevante dada a sua amplitude e ao seu
de comportamentos pró-éticos e prossociais junto caráter preventivo, especialmente junto a crianças
aos aprendizes. Realizou-se uma revisão bibliográfi- na primeira e segunda infância.
ca considerando trabalhos nas bases de dados: Banco
de Teses Capes, Index Psi Teses, IBICT, LILACS,
PePSIC e SciELO, catalogados entre 2004 a 2014.
Foram selecionados sete estudos que atenderam as PALAVRAS-CHAVE
palavras-chave “práticas educativas docentes” e
Práticas educativas de professores;
“habilidades sociais”. Os programas analisados, de “Comportamentos pró-éticos e prossociais”;
treinamento em Habilidades Sociais com docentes, Behaviorismo Radical; Ensino Fundamental;
funcionaram como estratégia para desenvolvimento Habilidades Sociais
153
COMPORTAMENTO Mariana Batista, Camila Muchon de Melo
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Abstract
Teachers, as control agents, can function as models developing and improving positive educational prac-
and social environment for the emission of socially tices and recognition of their role as agents in the
relevant behaviors of their students, maximizing educational process of their students, enabling the
the socializing role of the school. This study aimed socialization and schooling of learners by reducing
to evaluate in the analytical-behavioral literature behavioral problems and increase academic perfor-
strategies and effects of interventions directed at mance. Therefore, the conduction of interventions
the educational practices of primary school teachers with teachers is relevant given their breadth and
in the promotion of ethical and prosocial behaviors their preventive character, especially with children
among apprentices. A bibliographic review was car- in the first and second childhood.
ried out considering works in the databases: Banco
de Teses Capes, Index Psi Teses, IBICT, LILACS,
PePSIC and SciELO, cataloged between 2004 and
PALAVRAS-CHAVE
2014. Seven studies were selected that met the ke-
ywords “practices Educational teachers” and “social Teaching practices of teachers; “pro-ethical behavior
skills”. The programs analyzed, of training in Social and prossocial”; Radical Behaviorism; Elementary
Skills with teachers, functioned as a strategy for Education; Social Skills
O Compromisso Social da
Escola com a Formação
Integral do Aprendiz
154
COMPORTAMENTO Mariana Batista, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
(Skinner, 1953/2003, p. 256). Seu interesse essa razão, uma função social da escola é
nos processos educacionais, especificamen- preparar o indivíduo para viver e participar
te, nas diferentes redes de relações que se numa sociedade democrática e multicultu-
estabelecem no contexto escolar, permitiu ral, por meio da implantação de estratégias
uma análise do sistema educacional como que permitam a construção e manutenção
uma rede de relações que não envolve, de comportamentos sociais adequados,
apenas, professor-aluno, mas aqueles “que possibilitando a capacitação da população
organizam o sistema educacional” (Skinner, para desenvolver valores compatíveis com
1968/1972, p. 218). Essas pessoas, como a cidadania (Bolsoni-Silva, Almeida-Verdu,
parte de um sistema, determinam a política Carrara, Melchiori, leite, & Calais, 2013b;
a ser adotada e estabelecem os objetivos de Lopes, 2013; Zanotto, 2004).
ensino a serem alcançados. Dessa forma,
estão sujeitas a contingências que também Delineamentos culturais e políticas públicas
devem ser analisadas. são discutidos como estratégias no campo da
educação a fim de desenvolver cidadania e
Nesta direção, Pereira, Marinotti e Luna gerar uma sociedade mais preocupada e vol-
(2004) afirmaram que o conceito de Educação tada para a promoção dos direitos humanos
contempla (1) as diferentes relações ime- e comportamentos pró-éticos e prossociais.
diatas que se estabelecem entre professor- Dentre as possíveis práticas, programas de
aluno e aluno-aluno dentro de uma sala de treinamento para o desenvolvimento de habi-
aula e, (2) o quadro político-econômico que lidades sociais são considerados na medida em
responde pela formulação de políticas públi- que contribuem para produzir consequências
cas, considerando suas prioridades. Assim, o positivas, de longo prazo, para o indivíduo
processo de Educação não se resume apenas - favorecendo repertórios comportamentais
ao ensino de conteúdos curriculares, mas pró-éticos e prossociais - e para a sociedade
também, a preocupação com a formação in- (Carrara, Bolsoni-Silva, & Almeida-Verdu,
tegral de indivíduos a partir da promoção de 2006). A importância das habilidades sociais
autonomia e capacidade de operar no meio (HS) para a infância vem sendo amplamen-
de forma crítica e efetiva. te discutida na literatura, em função do seu
papel decisivo na socialização, pelo impacto
A escola consiste em um espaço privilegia- na qualidade das relações interpessoais, no
do, pois ocorrem relações que pretendem ser desenvolvimento acadêmico, social e emo-
educativas. Esse espaço constitui-se em uma cional da criança (Bolsoni-Silva, et al., 2013b;
das primeiras e mais fundamentais instân- Borelli, 2016; Del Prette & Del Prette, 1999,
cias que permite contato com conceitos fun- 2005, 2011; Rocha & Carrara, 2011;).
damentais para uma convivência respeitosa,
cooperativa e construtiva, fornecendo assim, De maneira geral, o termo HS é usado por di-
a base para valores éticos que constituem ferentes autores para “designar um conjunto
alguns dos pilares da formação cidadã. Por de capacidades comportamentais aprendidas
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Análise de Dados
dados consultadas foram: Banco de Teses No que concerne ao tratamento dos dados,
da Capes; Index Psi Teses, Biblioteca Digital os trabalhos foram lidos e classificados, por
Brasileira de Teses e Dissertações (IBICT); meio da análise das propostas dos programas
LILACS; PePSIC e SciELO. de capacitação, sendo distribuídos em cate-
gorias previamente elaboradas: (1) Estrutura
A pesquisa se deu a partir da combinação e Temas abordados na Intervenção, (2)
dos seguintes descritores: programas de Práticas utilizadas e (3) Objetivos pretendi-
treinamento em habilidades sociais, edu- dos com as práticas; (4) Efeitos observados
cação, professores, comportamentos pró-é- quanto ao (a) comportamento de professores
ticos, comportamentos prossociais, análise e (b) comportamento dos alunos.
do comportamento e ensino fundamental. O
critério de seleção dos textos foi baseado na
identificação de pelo menos dois descritores Resultados
no título. O critério de recuperação foi esta-
belecido com base na leitura preliminar dos Foram selecionados sete estudos, sendo dois
resumos dos trabalhos. Foram seleciona- artigos, três dissertações e duas teses que
dos aqueles que atenderam aos objetivos da atenderam aos critérios descritos anterior-
pesquisa: desenvolvimento de programas de mente. Na Tabela 1 a seguir são descritas
capacitação em HS ou comportamento pró- informações para identificação dos textos
-éticos e prossociais cujo público-alvo con- selecionados, bem como a posição de cada
sistiu em docentes do Ensino Fundamental I. um na presente investigação.
Revista ou
Tipo de Referência Ano de
Título Autor(es) Programa de Base
Texto no trabalho Publicação
Pós-Graduação
Ampliando
Comportamentos Pró-
BOLSONI-
Éticos dos Alunos: Relato Temas em
Artigo 2 SILVA, A. T, SciELO 2013ª
de pesquisa e interven- Psicologia
et al.
ção com educadores do
ensino fundamental.
158
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Treinamento de
Habilidades Sociais em
grupo com professores Programa de Pós-
de crianças com dificul- Graduação em
Dissertação 3 VILA, E. M. IBICT 2005
dades de aprendizagem: Educação Especial
Uma análise sobre pro- da UFSCar
cedimentos e efeitos da
intervenção.
Programa de
Avaliação dos efeitos da
Pós-Graduação
variação de estímulos FACCO, F.
Dissertação 4 em Análise do IBICT 2008
para a generalização de N.G.
Comportamento
habilidades sociais.
da UEL
Avaliação de programas
de treinamento de pro- Programa de Pós-
fessores para promover MOLINA, R. Graduação em
Tese 6 IBICT 2013
habilidades sociais de C. M. Educação Especial
crianças com dificuldades da UFSCar
de aprendizagem.
Programa universal
de habilidades sociais Programa de
aplicado pelo professor: LOPES, D. Pós-Graduação
Tese 7 IBICT 2013
Impacto sobre com- C. em Psicologia da
portamentos sociais e UFSCar
acadêmicos.
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COMPORTAMENTO Mariana Batista, Camila Muchon de Melo
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Categorias
(1) parte inicial: Discussão de Expressão de Sentimento Atribuição e dis- Melhorar a comunicação e
acontecimentos da semana Positivo: Elogio, Feedback cussão de tarefas relacionamento com o docen-
que envolveram a habilidade Positivo, Afetividade e de casa; te e entre os discentes;
discutida e/ou tarefas de Empatia;
casa estruturadas; Aplicação de Promover o comportamento
Habilidades Sociais de vivências perti- de valorizar diferencialmen-
(2) parte central: (a) forne- Direito, Cidadania e nentes ao tema de te os comportamentos dos
cimento de conceitos - ex- Assertividade: resolução cada sessão; discentes;
posição teórica dialogada de conflito, expressão
acerca do tema e aplicação sentimento negativo, Uso de instruções Promover comportamento
de recursos; (b) modelos manejo de compor- verbais; empático (lidar e ensinar a
de atuação; (c) experiências tamento e lidar com lidar com sentimentos);
práticas e/ou vivências; críticas; Encorajamento de
auto exposição; Promover comportamento
(3) parte final: Solicitação de Habilidades Sociais assertivo (lidar e ofertar mo-
tarefas. Educativas: arranjo de Modelagem; delos de comportamentos
contingências para ati- adequados frente a situações
Capacitação e/ou elucidação vidades pedagógicas e Modelação; de enfrentamento)
sobre princípios básicos da interativas.
Análise do Comportamento: Role-playing; Favorecer manejo
comportamental;
(A) relação contingente entre Reforçamento
uma situação ambiental, sua positivo; Possibilitar condições de
ação e uma consequência compreender a contingência
que a segue; Análise funcional; de três termos, os processos
comportamentais e realizar
(B) seu papel na ampliação e Feedback informa- análise funcional;
manutenção de repertórios tivo e positivo.
socialmente habilidosos. Favorecer condições para
discriminar possíveis recursos
facilitadores da aprendizagem;
Tabela 3. Sistematização dos principais elementos constituintes dos programas de intervenção analisados.
161
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Comportamento dos
Efeitos Comportamento dos Professores
alunos
162
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Discussão
estudos contemplaram as seguintes cate-
Os estudos avaliados (e.g. Facco, 2008; Grassi, gorias: elucidação dos conceitos básicos do
2009; Lopes, 2013; Molina, 2003; Rocha & campo das habilidades sociais e da Análise
Carrara, 2011; Vila, 2005) apresentaram (a) do Comportamento durante a intervenção;
intervenção apoiada em sólida fundamenta- descrição da estrutura do programa - forma-
ção teórica (todos os estudos contemplaram to da sessão e temas; apresentação precisa
o item elucidação dos conceitos básicos do dos objetivos em termos comportamentais
campo das habilidades sociais e da Análise pretendidos com os recursos selecionados
do Comportamento durante a intervenção e para a intervenção; promoção de condições
três apresentaram capacitação prévia sobre para o desenvolvimento de análise funcional;
os princípios comportamentais – Tabela 2), exceto o estudo dois para categoria descri-
(b) condições aos participantes para descre- ção formal dos recursos utilizados – Tabela
ver comportamentos de acordo com con- 2) e as consequências observadas após a
ceitos éticos, sociais e de cidadania (todas intervenção (Tabelas 4). Foi possível per-
as intervenções promoveram apresentação ceber, nas Tabelas 3 e 4 que as estratégias
precisa dos objetivos em termos comporta- estabelecidas favoreceram: (1) promoção da
mentais aliados aos recursos selecionados, aquisição de comportamentos socialmente
proporcionando condições para o desenvol- valorizados (efetivos) por meio de instruções
vimento de análises funcionais - Tabela 2) e modelos; (2) a possibilidade do aperfei-
e (c) prática que fosse eficaz para produzir çoamento do desempenho dos comporta-
comportamentos socialmente habilidosos mentos efetivos para que sejam emitidos
em detrimento de respostas agressivas, via- em maior frequência. Dito de outra forma,
bilizando redução de conflitos, dificuldades “ensinar” especificamente como desempe-
de interação e de competência acadêmica, nhar um comportamento social a partir da
favorecendo, dessa forma, a socialização e promoção de arranjos apropriados das situa-
escolarização dos alunos. ções que antecedem o comportamento e das
consequências que o seguem, favorecendo
Os resultados apontaram que a condução a discriminação das diferentes situações;
de práticas educativas mais positivas, pelos (3) a remoção ou redução dos problemas de
docentes, favoreceu o desenvolvimento de interação social que podem derivar-se de
relacionamentos interpessoais e reduziu padrões socialmente indesejáveis.
conflitos e problemas de comportamentos,
sugerindo que repertórios inassertivos, es- De maneira geral, quanto à estrutura da in-
pecialmente agressivos tendem a diminuir tervenção, a condução das sessões (Tabela 3)
de frequência à medida que alunos são ex- potencializou a possibilidade de observação,
postos a outras formas de se comportar. Os identificação e análise de variáveis que in-
programas avaliados sugeriram haver uma fluenciam o comportamento dos docentes,
relação direta entre sua aplicação (todos os seja para aprimorar repertórios adequados
163
COMPORTAMENTO Mariana Batista, Camila Muchon de Melo
EM FOCO VOL. 9
já presentes, seja para desenvolver com- 2010, 2011) afirmaram que um dos princi-
portamentos socialmente habilidosos em pais problemas enfrentados pelos humanos
detrimento de práticas educativas negati- se relaciona a área de relacionamento inter-
vas (apresentação dos objetivos em termos pessoal. Frequentemente, nos estudos dos
comportamentais e promoção de análises autores os eixos temáticos em questão são
funcionais foram identificados em todos destacados como os principais prejuízos no
os estudos). O estabelecimento da estrutu- que tange aos repertórios comportamentais.
ra dos programas a partir da análise inicial
das necessidades dos docentes e discentes, Os dados da avaliação dos efeitos das in-
seguidos da descrição precisa de objetivos tervenções (Tabela 2) sugeriram que 43%
de ensino em termos comportamentais, bem dos estudos (1, 2, 6 e 7) buscaram verificar
como dos recursos utilizados como condição as consequências alcançadas a partir das
de ensino atendeu aos fundamentos de uma avaliações de desempenho tanto dos alunos
educação baseadas nos princípios compor- quanto dos professores antes e depois da
tamentais (Kubo & Botomé, 2001; Santos, etapa de intervenção. Enquanto 28,5% ava-
Kienen, Viecili, Botomé, & Kubo, 2009). O liaram apenas o comportamento das crianças
planejamento de atividades estruturadas (estudos 3 e 5) e 28,5% avaliaram somente os
com instruções bem organizadas e protocolos repertórios dos professores (estudos 4 e 5).
facilmente compreensíveis parecem ter sido Considerando as práticas descritas na Tabela
elementos fundamentais para a efetividade 4, de modo geral, o treino em Habilidades
do processo de intervenção (Tabela 3). Sociais funcionou como uma estratégia im-
portante para alterar os déficits de aquisição
A organização dos temas em três grandes de comportamentos socialmente competen-
eixos - (1) Expressão de Sentimento Positivo: tes, os déficits de desempenho encontrados e
Elogio, Feedback Positivo e Afetividade; (2) aprimorar os repertórios adequados já exis-
Habilidades Sociais de Direito, Cidadania tentes. Os resultados em termos de efeitos
e Assertividade: resolução de conflito, ex- das intervenções, descritos na Tabela 4, su-
pressão de sentimento negativo, manejo geriram que os professores alcançaram mu-
de comportamento e lidar com críticas; (3) danças positivas em relação às habilidades
Habilidades Sociais Educativas: arranjo de sociais apresentadas, tanto no que concerne
contingências para atividades pedagógicas e a modificação de seu próprio desempenho,
interativas - descreve demandas cotidianas e quanto na promoção de HS em seus alunos,
comuns ao contexto escolar. Embora, o es- além de redução de comportamentos pro-
tabelecimento dos temas contemplados nos blemáticos como efeito indireto do treino.
programas derivou-se da análise inicial das
necessidades de cada escola, verificou-se que O comportamento das crianças foi avaliado
as dificuldades vivenciadas pelos docentes positivamente em todos os estudos analisa-
e discentes assumiram função similar. Del dos direta (71% via instrumentos – Tabela
Prette e Del Prette (1999, 2001, 2002, 2005, 2) ou indiretamente (29% descrição pelas
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Os relatos dos professores sugeriram, ainda, segue, bem como seu papel na ampliação e
que as práticas implementadas produziram manutenção de repertórios socialmente ha-
“efeitos emocionais” descritos como: senti- bilidosos (estudos 5, 6 e 7). Cabe salientar
mentos de valorização, satisfação quanto ao que os resultados descritos nos trabalhos que
seu desempenho; “segurança” no manejo de adotaram a capacitação prévia sobre os prin-
conflitos e comportamentos de seus alunos, cípios comportamentais foram mais efetivos
além de interações mais adequadas entre os para os docentes na promoção de repertórios
alunos, sugerindo melhora no relacionamen- mais hábeis em (a) analisar funcionalmente
to em sala de aula (Tabela 4). É importan- as contingências de ensino, (b) relacionar seu
te que professores sejam treinados sobre o comportamento com os comportamentos de
manejo de comportamentos de seus alunos, seus alunos, (c) manejar comportamento e
promoção de habilidades sociais infantis e resolver conflito interpessoal e (d) programar
habilidades de enfrentamento de situações condições de ensino mais efetivas. Ao mesmo
conflituosas dentro do contexto escolar. tempo, a avaliação dos alunos apontou redu-
ção significativa na apresentação de compor-
Isso pode permitir aos docentes, com alta tamentos problemas, aumento na frequência
probabilidade, condições de produzir con- de comportamentos cooperativos e amistosos
sequências reforçadoras para si e para os e aumento no desempenho acadêmico com-
demais indivíduos do grupo social em que parados aos demais estudos.
estão inseridos, especialmente para seus
alunos, assumindo ainda função de modelo. A importância em se trabalhar de forma
Programas THS viabilizam a alteração de consistente os conceitos da Análise do
padrões indesejáveis e aumentam a compe- Comportamento reside no fato de que é im-
tência social de um indivíduo em diferentes prescindível para a obtenção de resultados
contextos. Possibilitam a aprendizagem de positivos que os professores estejam de acordo
estratégias e habilidades interpessoais a fim com a concepção adotada pelos promotores
de melhorar as respostas de uma pessoa e/ do programa. Conforme Luizzi e De Rose
ou promover a aquisição de comportamentos (2010, p.66), é de suma relevância que os
necessários em tipos específicos de situa- professores tenham pleno entendimento dos
ções sociais, bem como reduzir problemas referenciais teórico e empírico que norteiam
de comportamentos concorrentes (Del Prette as atividades e das “práticas inadequadas de
& Del Prette, 2001, 2011). socialização favorecem que as crianças in-
gressem na escola com baixo preparo para as
Por fim, ao incluir a capacitação e/ou elu- tarefas sociais, emocionais e cognitivas que
cidação sobre princípios básicos da Análise lhes são exigidas”.
do Comportamento observou-se maior apro-
priação por parte dos professores quanto à Bijou (2006) discutiu a aplicação dos princí-
relação contingente entre uma situação am- pios comportamentais à educação justificando
biental, sua ação e uma consequência que a que essa ação promoveria professores hábeis
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Sugeriram, ainda, que intervenções com pro- uma análise das contingências que atuam
fessores são uma estratégia efetiva, de am- sobre o seu comportamento e o planejamento
plitude vasta e consistente no que concerne para sua mudança. Entende-se que o papel
à prevenção de problemas de aprendizagem do docente assume relevância social quando
e de comportamento, dada a possibilidade o educador considera seu compromisso com
de se conduzir um trabalho junto ao público o futuro da sociedade, haja vista que, neste
geral (todos os alunos) ou para populações espaço, os alunos compartilham uma jorna-
com características específicas (alunos com da significativa de seu tempo. Essa jornada
TDAH ou com problemas de comportamento, pode ser ainda mais intensa ao se ponderar
por exemplo). Os programas, em sua grande a implantação da Escola em tempo integral,
maioria, visam propor um treinamento sobre fazendo deste um ambiente de significativas
manejo dos comportamentos dos alunos e e variadas relações sociais.
investimentos no ensino de habilidades so-
ciais dos mesmos (Lopes, 2013). É importante ressaltar que, em alguns es-
tudos analisados (Tabela 2), a descrição dos
O desenvolvimento de estudos que avaliam a procedimentos não foi tão bem detalhada,
eficácia e eficiência dos programas em THS fa- especialmente quanto aos recursos utiliza-
vorecem a compreensão da função do profes- dos ou esteve ausente a avaliação e/ou des-
sor como um facilitador para a aprendizagem crição de desempenho de um dos públicos-
de comportamentos pró-éticos e prossociais -alvo (alunos ou professores). Destaca-se
dos alunos, colaborando para o entendimento a importância em se conduzir estudos que
das contingências que favorecem uma forma- priorizem esses elementos como base de
ção pautada em valores éticos e compromis- dados consistentes para a replicação de in-
sada com a cidadania. Possibilitam, ainda, tervenções e como modelos para promoção
considerar que a preparação do professor de programas ao longo dos anos escolares,
como um pilar fundamental na construção tornando a atividade uma proposta curricu-
de um sistema de ensino eficaz pressupõe lar (Lopes, 2013).
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COMPORTAMENTO Paulo Elias Gotardelo Audebert Delage
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Resumo Abstract
O processo educacional deve ser compreendido a partir The educational process must be understood through
de sua abrangência de todo o percurso educativo, de its impact on the whole educational path, beyond
forma articulada, indo além da noção convencional the traditional teach-learn approach. Therefore, it
de ensino-aprendizagem. É constituído assim desde involves since planning educational goals, based
o planejamento dos objetivos educacionais, pautado upon the concept of competencies development,
na noção de desenvolvimento de competências, até until critical and reflexives evaluation strategies.
estratégias avaliativas crítico-reflexivas. Uma forma One way to organize this process is with active
de estruturar este processo é a partir da adoção de methodologies. These methodologies have some
metodologias ativas. Tais metodologias têm por ca- essential characteristics: 1) apprentice protagonism; 2)
racterísticas essenciais: 1) o protagonismo do aprendiz; apprentice autonomy; 3) social and critical formation.
2) a autonomia deste aprendiz; 3) sua formação críti- They might be applied to any educational context,
ca e social. Podem ser, assim, aplicadas em qualquer with timely interventions or even as constitutive
contexto educacional, desde intervenções pontuais até aspects of the politic and pedagogical project. It is
como elementos constituintes do projeto político pe- expected to contribute with an initial contact with
dagógico. O presente trabalho se propõe a apresentar this literature, enabling future implementation of
a perspectiva do uso de metodologias ativas no pro- what is discussed in distinct educational contexts.
cesso educacional por meio de exemplos aplicados de
práticas educacionais. Espera-se contribuir com um
contato inicial com a literatura da área, de modo a
favorecer a aplicação futura em contextos educacionais
variados dos tópicos discutidos.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
O presente capítulo é derivado de um Minicurso apresentado no XXIV Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental, realizado no dia 07 de setembro de 2017, sob o título: “Processos Educacionais Pautados em Metodologias Ativas”.
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COMPORTAMENTO Paulo Elias Gotardelo Audebert Delage
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Este é um Artigo de Revisão de Literatura (ARL) em refletir sobre o seu real significado. Em
que propõe uma aproximação dos princípios alguns contextos, pode ser encontrada como
e diferentes modelos de Metodologias Ativas sinônimo de “processo de ensino-aprendiza-
de Ensino e a Análise do Comportamento. gem”; de “processo de ensino”; de educação;
ou mesmo de formação. Considerando que
Por se tratar de um ARL, seu objetivo é or- tais expressões acabam por denotar senti-
ganizar e integrar criticamente conteúdos dos estanques, opta-se no presente texto por
já produzidos anteriormente, de modo que utilizar o sentido atribuído por Anastasiou
não são apresentadas informações sobre (1998) ao termo “ensinagem”. Para a autora,
procedimentos de busca, descritores e locais o termo apresenta a inerente implicação do
utilizados (Hohendorff, 2014). Assim, o ma- ensino na aprendizagem e vice-versa, enfa-
terial-base aqui analisado foi selecionado a tizando sua perspectiva processual.
partir de sua relevância para a área e adesão
ao tema em estudo. Deste modo, propõe-se discutir o processo
educacional como envolvendo tanto ensino
A discussão está aqui organizada nas se- quanto aprendizagem de forma indissociada.
guintes seções: Processo educacional, onde Nesse sentido, aprender estaria relaciona-
é apresentada a concepção aqui adotada; do ao próprio processo de desenvolvimento
Metodologias ativas, onde o tema é intro- humano e seria mais eficaz em situações de
duzido a partir de suas características defi- horizontalidade, que favoreçam a identifi-
nidoras e então são apresentados exemplos cação da influência mútua entre estes ele-
de metodologias ativas muito utilizados mentos constituintes do processo.
em outras áreas mas pouco conhecidos
na comunidade analítico-comportamen- Falar de processo não pode ser apenas uma
tal (Aprendizagem Baseada em Problemas; questão vocabular. Implica, acima de tudo,
Metodologia da Problematização pelo Arco desconstruir a fragmentação usualmente
de Maguerez; e Processo do Incidente); feita entre planejamento docente, metodo-
Metodologias Ativas na Perspectiva da Análise logias de ensino e avaliação. Essa reflexão é
do Comportamento, onde um paralelo entre também proposta por Kubo e Botomé (2001),
as premissas já apresentadas e o referencial que enfatizam que “ensinar” é um verbo que
analítico comportamental é sintetizado; e, se refere a um processo que pressupõe a in-
por fim, as considerações finais do trabalho. teração entre, pelo menos, dois organismos.
Desta forma, propõem que o processo en-
sinar-aprender implica na análise do com-
Processo Educacional portamento do aluno como decorrência do
comportamento docente – logo, interdepen-
Apesar da expressão “processo educacio- dentes. Nessa perspectiva, o docente deve
nal” ser utilizada de forma recorrente na estar sob controle tanto de estímulos con-
literatura. Observa-se pouca preocupação textuais (como objetivos de aprendizagem)
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A função diagnóstica da avaliação merece desempenho” (Kubo & Botomé, 2001, p.2).
destaque, pois ela amplia a função do ato de Essa preocupação com uma nova função para
avaliar de algo restrito à hierarquização de o processo de avaliação pode ser percebida
desempenhos para o próprio planejamento ainda em propostas como a programação
em si, afinal, caso seja identificado que a de contingências de ensino no modelo de
aprendizagem não ocorreu como esperado, “aprendizagem sem erros” (Melo, Carmo
deve ser revisto o processo e viabilizados & Hanna, 2014). Estes autores defendem,
recursos que favoreçam tal aprendizagem. a partir de uma vasta linha de pesquisa já
Como afirma Barbosa (2008, p. 2), existente, a aprendizagem gradual de desem-
penhos precisos, com a evocação de poucas
A avaliação assume uma dimensão orien- respostas emocionais e de esquiva da tarefa e/
tadora, cooperativa e interativa, onde os ou do professor. Para tal, todavia, a avaliação
resultados obtidos no decorrer do trabalho deve ter a função de nortear a tarefa docente
conjunto do professor e dos alunos são com- de planejamento de novas contingências e ou
parados com os objetivos propostos, a fim de arranjos de estímulos que favoreçam a apren-
constatar progressos, dificuldades e, também dizagem. A avaliação não poderia ser, assim,
reorientar o trabalho docente e a construção
um fim em si mesma, mas uma importante
dos projetos pedagógicos.
fonte de informações para o planejamento
contínuo do processo ensinar-aprender.
Assim, o resultado da avaliação não é apenas
a “nota” obtida pelo aluno, mas um diag- Muito tem sido discutido quanto a como de-
nóstico do desenvolvimento individual de senvolver e avaliar as competências propostas.
cada aprendiz, do desenvolvimento coletivo A tendência educacional atual tem sido da uti-
da turma, da eficácia do processo de ensino lização de metodologias ativas. Considerando
aplicado. São avaliados, assim, o aprendiz, o potencial destas metodologias dentro da
a turma, a disciplina, o professor – pois é perspectiva educacional aqui adotada, o foco
da interação entre todos estes componentes do presente texto será, assim, a apresentação
que se poderá inferir o sucesso (ou não) do do conceito de metodologias ativas e descrição
processo educacional. dos limites e possibilidades de algumas das
mais relatadas na literatura da área.
Skinner (1964) criticava a aplicação de testes
como medida de fracasso escolar, o qual era
interpretado como total responsabilidade do Metodologias Ativas
aluno. Nesta mesma direção, Carolina Bori
defendia um processo de ensino no qual um A ênfase em metodologias ativas tem sido
dos princípios básicos consistia em que “a muito forte em especial no ensino supe-
cada aprendizagem, em lugar de notas, o rior, fazendo parte inclusive das Diretrizes
aluno deveria ter conseqüências informativas, Curriculares Nacionais de cursos de graduação
tanto técnicas como sociais, conforme seu como Medicina (Brasil, 2001); Odontologia
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(Brasil, 2002); Engenharia (Ribeiro, 2005). modo que seu progresso se torna dependen-
Contudo, sua proposição não é tão nova e te diretamente de sua ação. Desta forma, é
nem restrita a este nível de ensino (Leite, preciso que sejam desenvolvidos repertórios
Cunha & Schneider, 2017), muito menos à de estudo independente, de resolução de pro-
realidade nacional. blemas e outros. Cabe ao professor, orien-
tar e acompanhar o desenvolvimento destes
A origem das metodologias ativas remonta repertórios.
ao Relatório Delors (Delors et al, 1996) de-
senvolvido a partir de uma conferência da Formação Crítica do Aprendiz - Aprendiz
Unesco sob influência filosófica do pragma- está apto a avaliar a eficácia de suas deci-
tismo de John Dewey, que destacava (entre sões, considerando as consequências sociais,
outras coisas) a importância de aprender- acadêmicas e pessoais do que foi feito. Para
-a-aprender. Neste relatório foram defini- tal, o professor deve favorecer a reflexão e
dos, então, os chamados quatro pilares da avaliação contínua do processo educacional.
educação: aprender a aprender; aprender a
fazer; aprender a ser; e aprender a conviver. A utilização de metodologias ativas não é
um “modismo” e sua operacionalização não
Para favorecer tais pilares, foram propos- significa que práticas que atendam tais cri-
tas metodologias que fossem centradas no térios não possam ter sido implementadas
aprendiz. Isto implica mais do que a simples em diferentes momentos da história, como
designação de atividades a serem desempe- é o caso do Personalized System of Instruction
nhadas pelos alunos, mas no envolvimento – PSI, proposto por Keller, em seu artigo
deste aprendiz no seu processo de constru- clássico Goodbye, teacher (Keller, 1972/1999).
ção do conhecimento. Assim, para uma me- Apesar do PSI não adotar a nomenclatura de
todologia ser considerada ativa ela precisa “metodologia ativa”, nem atender plena-
atender três critérios (Berbel, 2012; Diesel, mente todos os critérios aqui apresentados,
Baldez & Martins, 2017): é possível classifica-lo como uma impor-
tante proposição nessa direção. Contudo, a
Protagonismo do aprendiz - Aprendiz toma ênfase atual em sua utilização não é casual,
parte e é o foco dos processos decisórios. mas decorre de mudanças socioculturais
O professor muda seu papel, devendo não relevantes que precisam ser contempladas
mais apresentar suas decisões sobre a con- por mudanças na forma de se conduzir o
dução do processo mas sendo um mediador ambiente educativo.
da aprendizagem, compartilhando com os
discentes a responsabilidade ante a definição É interessante ressaltar que a adoção de
dos percursos a serem percorridos. metodologias ativas de ensino não representa
uma abdicação da sistematização e rigor
Autonomia do aprendiz - Aprendiz toma dos métodos de ensino – pelo contrário
as rédeas do processo de aprendizagem, de – por serem estratégias de ensino menos
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Unidos, por sua vez, isso já tem ocorrido e fazer a implementação das metodologias
em escolas de ensino fundamental, que têm ativas em semestres ou períodos específi-
sido reconfiguradas a partir da proposta de cos. Nesses casos, grupos de professores
Aprendizagem Baseada em Projetos (como precisam ser articulados para que durante
o Buck Institute for Education, citado por um período específico pré-definido possam
Toyohara, de Sena, Araújo & Akamatsu, 2010). trabalhar conjuntamente a partir de uma
Ao reformular o PPP a partir desta proposta, (ou mais) metodologia ativa, possuindo,
finda-se o conceito de disciplinas e toda a deste modo, formas comuns de produção
dinâmica interacional entre a equipe precisa e avaliação do conhecimento. Este forma-
ser reestruturada, muitas vezes com impli- to pode ser observado em vários relatos de
cações para a estrutura física da instituição caso, tanto da educação básica, quanto do
também, já que as salas de aula convencionais ensino superior (Berbel, 2012).
passam a ser inadequadas ou insuficientes
para a proposta pedagógica adotada. Considerando as dificuldades muitas vezes
encontradas para que tais articulações sejam
A limitação das salas de aula em seus forma- efetivadas, há a possibilidade do desenvol-
tos convencionais não deveria surpreender. vimento de metodologias ativas circunscri-
Historicamente, segundo Araújo (2011), o for- tas apenas a uma disciplina. Nesse caso, há
mato das salas de aula em filas de carteiras uma articulação entre diferentes conteúdos
padronizadas e voltadas ao quadro-negro da disciplina e entre o ensino e a avaliação,
surge para atender uma demanda específica dentro de uma única disciplina. Apesar de ter
do final do século XVIII na Prússia – carência suas limitações, há relatos de benefícios não
de material impresso e necessidade de ho- só de aprendizagem quanto de engajamento
mogeneidade do aluno (técnica e ideológica). em situações do tipo (Cohen, 2017).
Em 1974, Skinner critica a falta de avanços
em transformar este cenário: predomínio de Por fim, é possível ainda aplicar este tipo de
controle aversivo; atraso do contato com os metodologia de forma ainda mais restrita.
(poucos) reforçadores; e ausência de plane- Como em uma única aula ou em apenas um
jamento de aproximações sucessivas com o conteúdo específico (Massignani, Oliveira,
comportamento final. Pode-se refletir que de Kubo & Botomé, 2012). Neste caso, o objetivo
1974 até hoje já houve avanços, mas muito da é favorecer o desenvolvimento de compe-
estrutura física e social das escolas permanece tências específicas e/ou a dinamização de
(Paro, 2017). As alterações no PPP aqui des- conteúdos tradicionalmente enfadonhos e
critas demandam, deste modo, mudanças sig- tediosos (Menezes, 2016).
nificativas nesta estrutura e por isso não são
facilmente aceitas pela comunidade escolar. Tendo por base o que foi apresentado até o
momento e visando contribuir com a ins-
Tendo em vista as implicações descritas trumentalização de docentes interessados
acima, é possível reduzir esta abrangência na temática, serão apresentados a seguir
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COMPORTAMENTO Paulo Elias Gotardelo Audebert Delage
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(como o uso de dramatização proposto por com vários cobertores, não consegue sentir-se
confortável e treme continuamente. Isto dura
Massignani et al., 2012; ou a tutoria por
uma hora e meia. A seguir, você começa a sentir
pares proposta por Arreaga-Mayer, 1998) ou
calor e mesmo depois de tirar todas as cobertas,
por já terem sido apresentados previamente
ainda transpira abundantemente. Sua mãe diz
na literatura analítico-comportamental e,
circunspectamente que você pegou uma “gripe”.
assim, fugindo dos objetivos do presen-
te trabalho (é o caso do precision teaching, Explique os fenômenos.
ensino programado, PSI, direct instruction
e interteaching, descritos por Henklain & De acordo com Berbel (1998), o problema
Carmo, 2013, entre outros autores). precisa ser simples, conciso, focado, rea-
lista e com base em conhecimentos prévios
que o aprendiz já possua. Deve demandar
Aprendizagem Baseada no máximo 16h de estudo para ser resolvido
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Segundo Mamede (2001), as tutorias devem pelo enunciado – no exemplo anterior, po-
ser compostas por um tutor; um coordena- deria ser discutido quais são os fenômenos
dor; um secretário; e debatedores. O papel de apresentados que demandam explicação.
tutor é exercido pela figura docente, que aqui O terceiro passo refere-se à formulação de
assume uma função distinta. O tutor deve fa- hipóteses explicativas aos problemas identi-
vorecer que a tutoria se desenvolva de acordo ficados, a partir do conhecimento pré-exis-
com os objetivos de aprendizagem, podendo tente. Nesse momento, o grupo deve debater
apresentar perguntas e sugerir alguns dire- e podem surgir hipóteses contraditórias. No
cionamentos. Contudo, não lhe cabe respon- quarto passo, o secretário deve resumir as
der o problema em si nem explicar o que não hipóteses levantadas e então todos (inclusive
foi compreendido. O tutor tem por objetivo o tutor) contribuem com a formulação dos
favorecer o estudo, a autonomia do aprendiz. objetivos da aprendizagem. O primeiro en-
contro é então encerrado pois o sexto passo
Todos os demais papéis são exercidos pelo se refere ao estudo individualizado, quando
corpo discente e não devem ser fixos, isto todos os aprendizes devem buscar alcançar
é, ao mudar o problema, os papéis devem os objetivos de aprendizagem. No segundo
ser redistribuídos. Cabe ao coordenador ge- encontro ocorre o sétimo e último passo, que
renciar a tutoria, no que tange as falas dos consiste na rediscussão do problema a partir
colegas e os direcionamentos necessários. do que foi estudado no passo anterior.
Ao secretário, cabe o registro das falas e,
principalmente, das decisões tomadas pelos A participação na tutoria é avaliada não só pela
debatedores. Esse registro pode ser feito em frequência mas, principalmente, pela qualidade
quadro na sala de tutoria, favorecendo o das contribuições. Dessa forma, é fundamental
acompanhamento por todos, mas deve ser que haja uma Comissão de Avaliação formada
posteriormente compartilhado de modo que de forma interdisciplinar por docentes que es-
todos tenham clareza do que será investi- tabeleçam critérios claros do que e como serão
gado durante o tempo de estudo individual. avaliadas as tutorias. Tais critérios devem ser
Por fim, os debatedores devem discutir o socializados com os aprendizes. Esta comissão
problema tal qual se apresenta, construindo deve também prever como serão avaliadas as
os caminhos para a sua resolução. habilidades psicomotoras.
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(onde ocorre ao longo de todo o curso, abar- da educação especial. O resultado final foi
cando todas as disciplinas de cada semestre socializado com toda a comunidade aca-
letivo) e Psicologia (restrita a uma discipli- dêmica em evento interno, favorecendo o
na). Com fins de ilustração para favorecer a debate crítico dos limites e dos alcances das
compreensão, será descrita brevemente uma ações efetivadas, bem como estimulando a
destas experiências. autoavaliação de cada subgrupo.
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as respostas de cada instrumento que uti- (como já proposto por Kubo & Botomé, 2001),
lizem (por exemplo, fichas de anamnese) as estratégias ativas de ensino criam condições
e uma descrição de como foi o início das para que as histórias filogenética, ontológica
aulas. Essa descrição configura o segundo e cultural deste aprendiz sejam respeitadas
incidente. Progressivamente, as equipes vão e que os conteúdos trabalhados lhes sejam
planejando ações complexas para viabilizar naturalmente mais relevantes. Essa proposta
a inclusão da criança fictícia. remete às considerações de Skinner (1987)
sobre o que há de errado no mundo ocidental
Em avaliação da implementação dessa me- moderno, quando trata do distanciamento das
todologia, Cohen (2017) encontrou que que consequências naturais das atividades labo-
os alunos atribuíram em média notas 4,6 rais em si. Assim, ao adotar, por exemplo, a
e 4,4 (máximo de 5) para os aspectos mo- metodologia da problematização, o professor
tivacionais e de assimilação de conteúdo. permite que o aprendiz selecione aspectos
Foram destacados por eles a autonomia e da realidade que lhe sejam mais relevantes
a liberdade para buscar conhecimento e a (estímulos discriminativos) e cuja resolução
aproximação com a prática, possibilitados lhe pareça mais impactante (reforçadora), de
pela metodologia. modo a estabelecer uma contingência natural
para o processo de aprendizagem.
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A utilização de metodologias ativas pode tornam este um caminho sem volta. Como
parecer custosa e desafiadora, mas os au- afirmou Skinner (1973/1978, p.148), “quando
tores aqui defendem, com base em expe- encontrar seus métodos mais efetivos, a
riência pessoal e em relatos da literatura, educação será quase totalmente dedicada à
que o impacto sobre a aprendizagem, a tarefa de estabelecer e manter uma melhor
motivação discente e a motivação docente forma de vida”.
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PALAVRAS-CHAVE
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Abstract
strategies used to overcome it, such as the
The aim of this work is to describe the first creation of study groups, common among
experience of the Behavior Analysis and activities carried out by academic leagues,
Education Studies Group - An Introductory managed by students and traditionally found
Overview (GEACE) and part of the GEDAC in the health area. Despite similar objectives,
(Studies and Dissemination in Behavior the GEACE experience is introductory and
Analysis) experience as works focused on reaches a diverse profile of participants,
the diffusion of the Analysis of Behavior and including professionals. The importance
Education. Behavior. GEACE was created in of student insertion in group management
2016 at the State University of the West of is emphasized, and directions in the
Paraná, so that students and professionals improvement of the teaching-extension
of Pedagogy, Psychology and related areas experience are pointed out, as well as the
could know more about Behavior Analysis, potential for conducting research.
accurately. The GEDAC has existed since
2012. We discuss the importance of the
KEYWORDS
dissemination of Behavior Analysis, about
GEDAC; GEACE; Dissemination of Behavior Analysis;
some commonly encountered mishaps and
Study Groups; University Extension.
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Rodrigues (2000, 2002, 2011) alertava para interface com outras áreas do conhecimen-
o fato de que, mesmo conhecendo AC e o to, Jardim (2007) e Rodrigues (2000, 2002 e
Behaviorismo Radical (BR), indivíduos podem 2011) são exemplos de autores que afirmam
apresentar discordâncias entre pressupostos a inexistência de comportamentos suficien-
teórico-filosóficos e metodológicos da AC/ temente efetivos, por parte dos analistas do
BR e valores próprios do indivíduo e/ou da comportamento, para influenciar outras pes-
cultura em que se encontram . Os exemplos soas a adotarem a AC. Seguindo essa lógica,
mais comuns de pontos de divergência são Jardim (2007) provoca para a necessidade
concepção de homem (dualista/monista), de da criação de instrumentos de pesquisa para
comportamento, de liberdade e de determi- difundir a AC com base em princípios analí-
nação. Os trabalhos de Otta et al. (1983), Silva tico-comportamentais, colocando a difusão
(1987), Hickey, (1987), Miguel e Nakamura como um desafio aos profissionais da área,
(1996) Mallot (1996) e Cruz (2011)também para o qual devem buscar soluções analíti-
apontam a existência de discordâncias ou co-comportamentais a fim de ampliar seu
diferenças filosófico-epistemológicas. Já reconhecimento público e relevância social.
Miraldo (1985), Carrara (1998/2005) e Carmo Ainda destaca que a colaboração com profis-
e Batista, (2003) apontam a existência de sionais de outras áreas teria impacto positivo
diferenças metodológicas. sobre esse processo.
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Ligas Acadêmicas e
Grupos de Estudos
No Brasil, existe pouca produção intelectual ativo em sua própria formação, escolhendo
sobre grupos de estudo e discussão que fun- sobre o que se aprofundar e interagindo com
cionem baseados no tripé ensino-pesquisa- os outros estudantes. Também torna pos-
-extensão, muito embora sejam utilizados sível a criação de iniciativas de ação junto
com frequência por estudantes e profissio- à comunidade acadêmica, o que fomenta a
nais. As iniciativas mais comumente descri- interlocução entre teoria e prática.
tas na literatura (embora não em profusão)
são as das Ligas Acadêmicas (LAs), com Depois do período de redemocratização do
tradição na área de saúde, principalmente a país e com o advento da Constituição de
Medicina. Vários artigos já foram publicados 1988, em que se elaborou o princípio da
descrevendo objetivos, criação e funciona- indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
mento dessas ligas Brasil afora, havendo até extensão, o papel das LAs se fortaleceu. A Lei
mesmo artigos de revisão que efetuam re- de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
flexões críticas a respeito (Botelho, Ferreira, (LDB) de 1996, também teve essa influência,
Souza, 2013; Hamamoto Filho, 2011; Torres, uma vez que definiu o papel da educação
Oliveira, Yamamoto, Lima, 2008). superior na prática e na formação acadê-
micas, destacando o estímulo ao conheci-
Despontando durante o período da Ditadura mento dos problemas do mundo presente
Militar, as chamadas Ligas Acadêmicas (mundiais, nacionais e regionais). Diante
(LAs), consistem em associações estudantis, das novas diretrizes, o maior contato com a
modelo idealizado e organizado por alunos comunidade recebeu destaque rumo a uma
sob a tutela de um professor coordenador, formação acadêmica mais contextualizada
cuja função é auxiliar e orientar as atividades, e comprometida com a realidade (Torres,
objetivando estudar e se aprofundar em um Oliveira, Yamamoto & Lima, 2008).
determinado tema. Segundo Ferreira, Aranha
& Souza (2011), as LAs constituem um espaço No campo da psicologia, regulamentada como
no qual os alunos assumem os seus respecti- profissão no país em 1962, as LAs chegaram
vos processos de construção de aprendizado, mais tarde, também influenciadas pelas mu-
o que possibilita a aplicação de novas me- danças nas diretrizes curriculares dos cursos
todologias de ensino que contribuem como de graduação em 2004, com a descrição das
uma alternativa consideradas mais eficazes competências e habilidades para a formação
do que o modelo tradicionalista do professor e o exercício profissional da área. Em le-
como transmissor da informação e o aluno vantamento feito por Magalhães, Rechtman
como receptor. Dessa maneira, possibilitam & Barreto (2015) nas plataformas on-line e
a flexibilização curricular por meio da criação em bases de dados foram encontradas onze
desse espaço em que o aluno pode ser mais ligas acadêmicas de Psicologia no Brasil, com
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1 Para acessar a descrição detalhada das contingências que levaram a mudanças no GEDAC ao longo dos anos, consulte de Souza,
de Freitas e Amorim (2018).
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não da teoria, que vão para o grupo pela pri- dos estudantes, ampliando seu repertório de
meira vez, comentem sobre o filme e como planejamento e execução das atividades e se
consequência recebam reforçadores sociais comportar de maneira coordenada em relação
contingentes à exposição em grupo, e au- aos seus parceiros, sob controle da ocorrên-
mentando a interação entre os participantes cia dos encontros e avaliação dos participan-
e o debate no decorrer dos encontros. tes. Esse tipo de iniciativa também colabora
para que os extensionistas se mantenham na
No ano de 2015, foram realizados encontros organização e sob contingências de refor-
temáticos com a participação de profissio- çamento natural, pelo próprio engajamen-
nais de outras áreas para discutir fenômenos to na atividade que seja de seu interesse e
do cotidiano, com o objetivo de aproximar do grupo. Propicia, ainda, uma experiência
a AC de outras áreas. Alguns temas debati- compatível com parcela da prática docente,
dos foram: Sustentabilidade, Criatividade, haja visto o contato com planejamento de
Comportamento Verbal, Autocontrole, ensino de conteúdos da AC para pessoas em
Habilidades Sociais, Práticas culturais e diferentes níveis de compreensão da teoria.
compromisso social com a participação de
uma engenheira ambiental, empreendedor, A autogestão do grupo de estudos ainda per-
intérpretes de Libras, nutricionista, psicólo- mitiu que, além dos encontros temáticos de
gas clínicas e representantes de movimentos estudo, os estudantes pudessem implemen-
e organizações sociais que trataram, respec- tar intervenções junto à comunidade, como
tivamente, sobre sua relação com as temá- ocorreu na execução, pela primeira vez no
ticas abordadas. Essa aproximação permite ano de 2017, de um programa de Orientação
que os participantes vejam a possibilidade Profissional com alunos do Pró-Enem da
de troca com diferentes áreas e o alcance UFMT, projeto de cursinho popular condu-
explicativo da teoria que permite ao analisar zido pelos acadêmicos dos cursos de licen-
o comportamento, onde quer que ele ocorra. ciatura da instituição que tinha como público
estudantes de ensino médio de escolas pú-
Em 2016, o grupo passou a se organizar pelo blicas periféricas da região de Cuiabá- MT2.
modelo de autogestão, em que os próprios A iniciativa revela o potencial do grupo em
extensionistas passaram a escolher as te- não só se aprofundar teoricamente no estudo
máticas, textos, dinâmicas dos encontros e em AC, como também criar oportunidades de
seleção de novos membros. Tal modelo que atuação e prestação de serviço à comunidade
vigora até a edição deste ano (2018) ajuda a baseada nos temas previamente estudados.
fomentar a autonomia e autogerenciamento
2 O programa tem como base a experiência de Moura (2004) com 10 encontros semanais com atividades de autoconhecimento,
conhecimento sobre a realidade do mercado de trabalho e de tomada de decisão, que foram adaptadas de acordo com a realidade
do grupo e os recursos disponíveis pelos extensionistas que foram responsáveis pela mediação dos grupos, que contavam em
média com 10 estudantes do Pró-Enem.
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O modelo de autogestão também possibilita Além das ações de extensão, duas pesqui-
que os próprios estudantes utilizem os prin- sas foram realizadas por membros do grupo
cípios da AC para estabelecer contingências visando avaliar a aprendizagem dos parti-
de gestão do grupo e de ensino. Assim, além cipantes do grupo e o seu desenvolvimento
de se aprofundar no ‘saber sobre’, cria-se como prática cultural. Todas as atividades ao
contexto para o desenvolvimento do ‘saber longo das seis edições do GEDAC mostram a
como’ aplicar esses princípios em condições relevância do grupo para a difusão da AC no
semelhantes e espera-se que tais habilidades cenário regional. Como também alcançam
possam se generalizar para o exercício profis- o tripé ensino-pesquisa-extensão que, se-
sional dos extensionistas. Aprende-se, então, gundo Enumo (1996), “oferece ganhos para
a se comportar de maneira mais efetiva rumo a qualificação profissional do aluno, cujo de-
aos objetivos estabelecidos em seu percurso. sempenho melhora em rigor metodológico
e ético” (p. 196).
Nesse contexto, em que extensionistas e
professores vêm trabalhando intensamente Dentre as atividades desenvolvidas, as apre-
pela disseminação da ciência do compor- sentações em eventos científicos são de fun-
tamento e de sua filosofia em uma região damental importância, pois consistem em
onde há pouquíssimos analistas do compor- ocasiões em que as contingências acabam
tamento, o repertório adquirido e transmi- por evocar e fortalecer ainda mais respos-
tido ao longo de gerações de extensionistas tas relacionadas ao estudo e difusão da área.
do GEDAC desempenha mais uma função. O Para o presente trabalho, destaca-se o XXIII
grupo foi capaz de se manter em atividade encontro anual da Associação Brasileira
mesmo após a formatura/saída de extensio- de Psicologia e Medicina Comportamental
nistas que eram muito ativos na condução (ABPMC) em 2014 . Alguns membros do
do grupo, mostrando que, através de pla- GEDAC, juntamente com uma professora
nejamento e parceria entre extensionistas e da UNIOESTE (uma das autoras do presente
professores (que permanecem na instituição capítulo), organizaram uma mesa redon-
ao longo dos anos e podem acompanhar o da sobre “Dificuldades e possibilidades da
andamento), é possível evitar que a renova- formação em Análise do Comportamento”.
ção de membros prejudique a manutenção da Naquela ocasião foram apresentados resul-
prática, conforme já alertado por Marques, tados dos anos iniciais do GEDAC e a profes-
Holanda e Nogueira (2009). Espera-se sora da UNIOESTE se aproximou do grupo da
ainda, que após dois anos de autogestão, UFMT, se inspirando para o que, mais tarde,
o grupo seja capaz de continuar atraindo veio a ser o GEACE.
interessados e mantendo as discussões da
área presentes na graduação, mesmo com o A seguir serão apresentados a história deste
afastamento dos poucos professores da área novo grupo, o método adotado, seus resulta-
para qualificação e dedicação parcial de um dos e relações com resultados já verificados no
deles à pós-graduação. GEDAC (de Souza, de Freitas e Amorim, 2018).
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Os resultados indicam que o grupo de estudos também um desafio metodológico para atin-
pode ter sido eficiente em modificar concep- gir um público de participantes com caracte-
ções sobre BR/AC para a maior parte dos par- rísticas diferenciadas em nível (profissionais,
ticipantes (exceto o participante 5), variando estudantes) e natureza formativa (psicólogos,
níveis de aquisição. Mantiveram-se as con- pedagogos, outros profissionais), pelos dois
cepções dos que já possuíam conhecimento grupos. Os objetivos são semelhantes, porém,
elevado sobre o assunto (participantes 1 e 3). ressalta-se a experiência introdutória do
GEACE, atingindo um perfil diverso de parti-
cipantes, incluindo profissionais de diferentes
Conclusões áreas como o Direito. Quanto ao GEDAC, ao
longo de suas seis edições, o grupo de es-
Entre os principais resultados obtidos pelos tudos permanece recebendo participantes de
dois grupos, estão a maior participação de es- outras áreas e instituições. Os encontros de
tudantes de Psicologia do que de outros cursos, estudo e ações de extensão na comunidade
mas com a presença de estudantes de outras continuam ocorrendo, seguindo o modelo
áreas e alguns poucos profissionais (maioria de autogestão. Pesquisas em que o grupo é
psicólogos) no GEDAC e maior quantidade objeto de estudo e/ou seus extensionistas são
de profissionais (maioria psicólogos) em re- pesquisadores podem voltar a ocorrer, contri-
lação aos estudantes no GEACE. Também buindo para diminuir a escassez de produção
pode-se notar que os encontros iniciais têm científica na área.
mais participantes, número que ao longo dos
encontros vai reduzindo. Paralelamente, as O ideal é que grupos dirigidos a estudantes
discussões passam de mais rasas para mais sejam organizados por estudantes, tal como na
profundas no decorrer da edição. Entre os tradição ancorada nas ligas acadêmicas, tradi-
efeitos da participação no grupo, observa-se cionais na área de saúde, o que já ocorre com
um efeito sobre a aprendizagem, pelo au- o GEDAC. Para Marques, Holanda e Nogueira
mento no número de acertos no pós teste. (2009) a falta de planejamento para a reno-
vação dos membros pode comprometer a ma-
A criação de grupos de estudos como o GEACE nutenção da prática. Caso se decida pela con-
e o GEDAC permite a estudantes e profissio- tinuidade do GEACE na região, o grupo optará
nais o acesso a discussões de vários temas pela inserção na organização de alunos de pós-
sob a perspectiva da AC/BR. No caso especí- -graduação e inserção de novos extensionistas
fico do GEACE, tais discussões, até então, só a cada ano, para que possam aprender com os
ocorriam na região sudoeste do Paraná numa mais antigos e criar uma prática cultural. A
perspectiva clínica. Há seis anos, quando o supervisão docente continuará existindo.
GEDAC surgiu em Cuiabá, não existia nenhum
espaço para discussões da área. Além do de- A não existência de um núcleo forte em AC
safio da disseminação da AC, permeada por na região oeste e sudoeste do Paraná, assim
inúmeros fatores, é possível dizer que existe como o fato dos profissionais e estudantes
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COMPORTAMENTO Pollianna Galvão Soares de Matos, Ana Beatriz Rocha Lima
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Resumo Abstract
Pessoas com deficiência já pertencem às classes re- People with deficiencies already belong to regular
gulares de ensino. Contudo, comumente apresentam classrooms. However, deficits on academic repertoi-
deficiências em repertórios acadêmicos. Intervenções res are common. Interventions by behavior analysts
de analistas do comportamento voltam-se para o are established to develop skills such as math, rea-
desenvolvimento de habilidades como matemática, ding and writing. This study is about an interven-
leitura e escrita. Esta pesquisa trata de uma inter- tion conducted with three children with autism with
venção realizada em três crianças com autismo para the purpose of assessing the efficacy of a procedure
o incremento de repertórios em matemática relativos to solve addition problems (sum and subtraction)
a resolução de problemas aditivos (soma e subtração) through visual cues and reinforcement. The teaching
a partir da manipulação de pistas visuais e refor- of sum was successful for all participants. For sub-
çamento. O ensino da soma foi bem-sucedido para traction, the criterion of 100% correct responses was
todos os participantes. Para subtração, o critério de established for just one. It was shown a generalizing
100% de acertos foi verificado para apenas um. Foi effect of the training, and, in the end, the sums were
identificado efeito de generalização do treino para established as intraverbals for two participants. The
todos e, ao final, as somas foram mantidas como data are discussed as to the efficacy of the procedure
intraverbais para dois participantes. Os dados são and its implications for generalization and emergen-
discutidos em relação a eficácia do procedimento e ce of intraverbal repertoire. It is expected that this
suas implicações para generalização e emergência de study may contribute to the improvement of school
repertório intraverbal. Espera-se com esse estudo teaching to children with deficiencies.
contribuir com o aperfeiçoamento do ensino escolar
para crianças com deficiência.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
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Introdução
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O ensino do repertório de adição com os pro- impressa). As crianças não tinham acesso a
blemas manipulados permitirá um efeito de qualquer recurso concreto como blocos para
emergência de repertório de subtração ou o verbalizar o resultado.
mesmo precisará ser diretamente ensinado?
Embora o protocolo original de Whitman e
Dewitt (2011) não tenha enfatizado especi- Método
ficamente a possibilidade de emergência de
um repertório de subtração como função do Participantes
ensino da soma e nem mesmo o ensino direto
da subtração, as investigações do presente Três crianças com diagnóstico de autismo
estudo a esse respeito tiveram duas razões: a) participaram da pesquisa. Na ocasião da
os pais das crianças, que participaram desta coleta de dados, P1 e P2 tinham 6 anos de
pesquisa, tinham grandes demandas quanto idade e P3, 7 anos. Elas eram atendidas com
a aprendizagem de repertório de soma e, base em currículos individualizados com
também, de subtração por causa do ano es- programas da Análise do Comportamento
colar das crianças e houve a preocupação por Aplicada pelo menos duas vezes por semana.
parte dos autores em testar a eficácia das in- Vale destacar que todas as crianças não apre-
tervenções no sentido de atender as deman- sentavam repertório de resolução de proble-
das sociais de família e escola; b) a própria mas aditivos (soma e subtração) no início da
literatura científica destaca a importância pesquisa, mas já existia uma preocupação
de desenvolvimento de intervenções para o antes da mesma quanto a aprendizagem de
ensino de um repertório e que promovam a habilidades acadêmicas por parte de familia-
emergência de outro, considerando que são res e escolas. Por parte dos autores sempre
importantes e valorizados os procedimentos existiu a preocupação com a realização de
cujos ganhos estão para além daquilo que é avaliações sistemáticas quanto a habilidades
diretamente ensinado, implicando em menor acadêmicas e diversas outras por meio dos
exposição dos aprendizes a arranjos de con- protocolos VB-MAPP e ABLLS. Na ocasião da
tingências de ensino (Greer & Ross, 2008; pesquisa, as crianças já apresentavam re-
Matos, 2016; Sundberg & Partington, 1998). pertórios de centenas de tatos, respostas de
ouvinte e diversas respostas intraverbais na
O posterior esvanecimento do uso dos blocos presença de perguntas e esse nível de desen-
permitirá o estabelecimento das respostas volvimento nesses repertórios foi o principal
aos problemas como intraverbais (Valentino critério de seleção de participantes, pois a
et. al. 2015)? Nesse sentido foram considera- ênfase em habilidades acadêmicas é secun-
das intraverbais apenas as respostas verbais dária quando são identificadas grandes de-
vocais arbitrariamente correspondentes aos ficiências em repertórios mais básicos, como
problemas de soma e subtração manipulados tato de objetos e figuras e responder como
(ex: dizer “5” diante de um estímulo verbal ouvinte (Partington, 2006). Entretanto,
vocal como “2+ 3” e também de sua forma as posteriores avaliações de repertórios
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Ambiente Procedimento
A coleta de dados foi realizada na clínica-es- Vale destacar que, na presente pesquisa,
cola de uma Universidade particular em São habilidades pré-requisitos apresentadas na
Luís - MA. A criança e dois terapeutas esta- primeira e segunda condições a seguir foram
giários do curso de graduação de Psicologia avaliadas e ensinadas (primeira e segunda
permaneceram em uma sala equipada com condições, respectivamente) antes do tra-
uma mesa e três cadeiras. Um dos terapeutas balho com resolução de soma e subtração.
sentava frente a frente com a criança, sendo As demais condições do estudo representam
este o estagiário responsável pela manipula- investigações com as principais variáveis
ção de materiais relevantes para avaliação e dependentes, os percentuais de acertos de
intervenção. Atrás da criança havia ainda uma soma, subtração e intraverbais, conforme se
cadeira onde se acomodava outro estagiário destaca na ordem, a seguir.
que, por sua vez, tinha o papel de fornecer
modelos de ajuda durante momentos de in- Primeira condição. Avaliação de matemática
tervenção em que correções eram necessárias. por meio de tarefas adaptadas dos protocolos
VB-MAPP e ABLLS-R. Dentre os repertórios
Materiais e instrumentos avaliados, destacaram-se os seguintes: A)
identificação dos números de 1 a 10 como
Os instrumentos selecionados para avaliação ouvinte; B) tatear números de 1 a 10; C) em-
com as crianças foram VB-MAPP e ABLLS-R, parelhar numerais de 1 a 10 às quantidades
que, para além da ênfase da presente pes- de blocos correspondentes e vice-versa; D)
quisa com repertórios acadêmicos de mate- contar 10 objetos (blocos idênticos). Cada
mática, tinham o propósito de definir metas repertório foi avaliado com 20 tentativas
curriculares de intervenção visando o desen- discretas. Para cada tentativa de cada reper-
volvimento de outros repertórios. Durante as tório, o experimentador apresentava uma
avaliações dos pré-requisitos previamente instrução (ex: na tarefa de tato, apresentava
mencionados, cartões representando estí- o numeral 8 impresso junto com a pergunta
mulos como numerais e pontos medindo “que número é este?”). Cada participan-
quantidades, quando fosse o caso, mediam te tinha até 5s para responder e havia um
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Sexta condição. Ensino do repertório de no acesso a fichas que poderiam ser, poste-
soma. As características dessa condição riormente, trocadas pelo acesso a itens de
foram semelhantes às da quarta condição de preferência da criança, como brinquedos.
avaliação de soma. Uma diferença foi o fato Erros em quaisquer passos da cadeia eram
de consequências diferenciais para acertos imediatamente corrigidos fisicamente pela
e erros terem sido programadas. Tentativas segunda pessoa, que ficava atrás da criança,
bem-sucedidas no sentido de uma dada ou pelo experimentador que se encontrava à
criança cumprir os critérios de uma cadeia frente da mesma. Durante o ensino da subtra-
comportamental para um dado problema ção, cada bloco consistia em cinco tentativas,
de soma resultavam no acesso a fichas que de modo que cada tentativa correspondia a
poderiam ser, posteriormente, trocadas pelo uma de cinco subtrações selecionadas. O cri-
acesso a itens de preferência da criança, como tério na condição era alcançado mediante dois
brinquedos. Erros em quaisquer passos da blocos de tentativas com 100% de acertos.
cadeia eram imediatamente corrigidos fisi-
camente pela segunda pessoa, um auxiliar de Oitava condição. Avaliação de somas inver-
pesquisa que ficava atrás da criança, ou pelo tidas. Esta condição foi semelhante à quarta
experimentador que se encontrava à frente de avaliação de soma. No entanto, apenas as
da mesma. Durante o ensino da soma, cada cinco somas, que consistiram em inversões
bloco consistia em cinco tentativas, de modo das que foram utilizadas no treino, foram
que cada tentativa correspondia a uma das manipuladas. Os blocos consistiram em dez
cinco primeiras somas selecionadas (as in- tentativas discretas.
versões foram excluídas do treino). O crité-
rio na condição era alcançado mediante dois Nona condição. Avaliação de intraverbais.
blocos de tentativas com 100% de acertos. Esta foi idêntica à terceira condição.
Vale destacar que, enquanto esta condição
estivesse em vigor, a subtração continuava A Tabela 1 apresenta uma esquematização de
em processo de avaliação. Com o cumpri- todas as nove condições da pesquisa.
mento do critério nesta condição, o ensino
da subtração passava a ser implementado. As principais variáveis dependentes (VD) da
pesquisa referiram-se aos percentuais de
Sétima condição. Ensino do repertório de respostas corretas diante dos problemas de
subtração. As características dessa condição soma e subtração nas condições de avaliação
foram semelhantes às da quinta condição de e intervenção para resolução de problemas; e
avaliação de subtração. Uma diferença foi a também os percentuais de respostas corretas
programação de consequências diferenciais de soma e subtração como intraverbais. O
para acertos e erros. Tentativas bem-sucedi- controle experimental foi definido por meio
das no sentido de uma dada criança cumprir os de um delineamento de linha de base múl-
critérios de uma cadeia comportamental para tipla com diferentes operações matemáticas
um dado problema de subtração resultavam (soma e subtração).
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SOMAS
INVERT INTRAVERBAL
TREINO SOMA PÓS- TESTE PÓS-TESTE
100 LB LB
INTRA SOMA
80
60
40
Percentual de acertos
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
TREINO SUBTRAÇÃO
100
LB
INTRA
80
60 LB
SUBTRAÇÃO
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Blocos de tentativas
Figura 1. Percentual de acertos referentes às respostas de resolução de soma, subtração e intraverbais para P1.
de critério. Deste modo, o ensino da sub- foi interrompido. Quando as inversões das
tração foi implementado, mas o treino da somas foram avaliadas, após esse momento
soma continuou em operação por propósito de interrupção, foi verificado efeito de emer-
de manutenção de desempenho. Por outro gência do responder correto em 100%, sendo
lado é possível constatar que o desempe- que o mesmo foi mantido ao longo de seis
nho caiu ao longo de blocos de tentativas blocos de tentativas. Por fim, na avaliação
seguintes ao treino de soma e os 100% de de intraverbais pós-treino, foi constatado
acertos foram restabelecidos nos blocos de também efeito de emergência do respon-
número 18 e 19. A partir daí, o treino da soma der em 100% de acertos e manutenção do
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SOM AS
SOMAS
I INVERT
NVERT
TREINO
TREI NO PÓS-
PÓS-
Soma TESTE
TESTE
LLB
B IINTRAVERBAL
NTRAVERBAL
100 LLB
B PÓS-TESTE
PÓS-TESTE
SOM
SOMA A
IINTRA
NTRA
80
60
40
acertos
deacertos
20
0
Percentual de
Percentual
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
SUBTRAÇÃO TREINO
TREI NO
100 IINTRAVERBAL
NTRAVERBAL
LLB
B PÓS-TESTE
PÓS-TESTE
IINTRA
NTRA
80
LLB
B
60 SUBTRAÇÃO
SUBTRAÇÃO
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
Blocos de
de tentativas
tentativas
Figura 2. Percentual de acertos referentes às respostas de resolução de soma, subtração e intraverbais para P2.
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três blocos de tentativas. O ensino da soma foi A Figura 3 exibe os resultados de resolução
insuficiente para a emergência do responder de de problema de soma e subtração e intra-
resolução de problemas de subtração. Quando verbais para P3.
o ensino foi programado, foram necessários
quatro blocos de tentativas para cumprimento Nota-se na Figura 3 que, também para o caso
de critério. No entanto, assim como aconteceu de P3, não houve acertos nas linhas de base
com o caso da soma, o ensino da resolução de resolução de problemas de soma e subtra-
de problemas de subtração também foi insu- ção, assim como o foi caso dos intraverbais.
ficiente para o estabelecimento do responder Quando o ensino de resolução de soma foi
como intraverbais. programado, 17 blocos de tentativas foram
SOMAS
INVERT INTRAVERBAL
PÓS-TESTE
LB TREINO Soma PÓS-
LB TESTE
100 SOMA
INTRA
80
60
40
20
Percentual de acertos
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Subtração
100 TREINO
LB
INTRA
80
LB
60 SUBTRAÇÃO
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Blocos de tentativas
Figura 3. Percentual de acertos referentes às respostas de resolução de soma, subtração e intraverbais para P3.
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reforçadores de preferência. Caso um erro recurso indicado para os casos das crianças
acontecesse ou não respondesse dentro de em que um efeito de emergência de intra-
um período específico em segundos, o expe- verbais não foi demonstrado após o ensino
rimentador mostrava o verso da tira de papel com os blocos. Na resolução dos problemas
que continha o resultado de modo que cada de subtração com a manipulação dos blocos,
criança pudesse ler o mesmo. Era esperado o não cumprimento de critério de um de-
que, com mais exposição às contingências sempenho livre de erros foi verificado para
programadas, as crianças respondessem livre dois dos participantes (P1 e P3). Esse dado
do controle de pistas de correção, de modo parece indicar que as condições de ensino
que um desempenho intraverbal fluente, foram insuficientes para o estabelecimento
livre de erros e dentro de um tempo fixo de dos sinais mais (+) e menos (-) como estí-
3 minutos arbitrariamente definidos pelos mulos discriminativos para o comportamento
autores fosse estabelecido. de resolver problemas. É possível que os par-
ticipantes (especialmente P1) não estivessem
Os resultados indicaram que a criança mais respondendo sob controle dos sinais, mas
nova de 8 anos de idade não apresentou evo- sim dos números e do que primeiramente
lução na direção de um desempenho fluen- aprenderam a fazer com eles. Inclusive vale
te, mas as crianças mais velhas (de 10 e 11 destacar que, durante o ensino da subtração,
anos) apresentaram maiores percentuais de P1 e P3, em diversas ocasiões, responderam
acertos por meio do procedimento. A de 10 nas tentativas discretas em função do que
anos, na realidade, cumpriu com o critério aprenderam durante o ensino da soma, o que
de fluência. Essa pesquisa não enfatizou a parece fortalecer ainda mais a hipótese do
manipulação de recursos concretos como não controle do responder pelos sinais. Isso
blocos para a resolução dos problemas. As pode ter sido mais crítico no caso de P1, cujo
respostas foram ensinadas como intraverbais percentual de acertos nos últimos seis blocos
e com mais limitações nos resultados de dois de treino de subtração foi de 23% e, no caso
dos participantes. Na presente pesquisa, com de P3, chegou a 80% de acertos, manten-
ênfase na manipulação de recursos concretos do-se estável em cinco blocos de tentativas.
consistindo em blocos para a resolução de P1 também apresentou altas frequências de
problemas de soma e subtração, foi verifica- “respostas emocionais” e “frustração” com
do um efeito de emergência de respostas de choro e tentativas de fuga da atividade, o que
soma como intraverbais para dois dos três também dificultou sua adesão à condição de
participantes (P1 e P3). Tais dados sugerem ensino de subtração.
que o uso de recursos concretos como blocos
para a resolução de problemas de soma pode A dificuldade de P1 e P3 durante o ensino da
auxiliar no estabelecimento das respostas subtração e o possível não estabelecimento
como intraverbais para algumas crianças, o do controle do responder pelos sinais, espe-
que é relevante. Do contrário, o ensino direto cialmente para P1, sugere a necessidade de
das respostas como intraverbais pode ser um adaptações metodológicas sob controle dos
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COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
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Resumo Abstract
O objetivo do estudo foi verificar o conhecimento de The aim of the study was to verify the knowledge of
selos de certificação ambiental e de comportamen- environmental and behavior labels with undergraduate
to pró-ambiental por universitários, como meio de students, as a mean to evaluate if the environmental
avaliar se os selos ambientais estão exercendo sua labels are exerting their discriminative functions. Two
função discriminativa. Duzentos e quatro universitá- hundred and four university students responded to
rios responderam a um de dois protocolos sobre selos one of two protocols on environmental labelling, one
ambientais, sendo um com imagens de 18 selos am- with images of 18 environmental and recycling labels
bientais e de reciclagem e o outro com nove nomes de and the other with nine label names. The task was
selos. A tarefa consistia em relatar se conhecia ou não to report whether or not one knew the labels, then
os selos e em seguida descrever a que se referia cada describe what each Figure/Name was referring to.
Figura/Nome. A coleta foi individual. Para cada condi- The participants responded individually. The results
ção foram mensuradas as porcentagens de indicação de demonstrate a low level of knowledge for all labels,
conhecimento e de descrições corretas do significado and less than 25% of the participants recognized the
de cada selo. Os resultados demonstram baixo nível labels appropriately in both conditions. The label with
de conhecimento para todos os selos, com menos de the highest level of knowledge was ABNT / ISO 14000
25% dos participantes reconhecendo apropriadamente with 22.55%. When asked about labels meaning, most
os selos nas duas condições. O selo com maior nível de participants responded they didn’t know. From those
conhecimento foi o ABNT/ISO 14000 com 22,55%. Com who indicated to know, most responses were not
relação ao que se referia os selos, a maioria respondeu appropriate. It can be concluded that the labels are
não saber. Dos que indicaram saber, a maioria das not exerting their discriminative function. The work
respostas não apontou a indicação correta dos signi- suggests some contributions based upon behavior
ficados dos selos. Pode-se concluir que os selos não analysis to increase the efficacy in controlling the
exerceram função discriminativa para a maioria dos desired behavior.
participantes. Sugere-se contribuições da Análise do
Comportamento para aumentar a eficácia do controle
do comportamento desejado.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
230
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
Introdução
A literatura tem apontado que o modelo atual Silva, Ribeiro, & Bertolini, 2014). Uma em-
de consumo é influenciado pelo desejo, pelos presa só escolherá estratégias sustentáveis
estímulos ambientais, por necessidades, pela se isso for compatível com lucro (Manzini &
idade e renda, nível educacional, padrão de Vezzoli, 2011).
mobilidade, gosto dos consumidores e pelas
diferentes propostas do marketing. E é esse Essa preocupação com os impactos sobre o
modelo de consumo que vem se tornando meio ambiente fez com que empresas mudas-
preocupante no que se diz respeito à fini- sem o uso dos recursos naturais para serem
tude dos recursos naturais. Não só para as consideradas sustentáveis, levando a um
pessoas, mas também para empresas que modelo atual no qual sustentável será aquela
necessitam desses recursos para atender as empresa que busca soluções para minimizar
demandas dos consumidores (c.f. Brandalise, o impacto sobre o meio ambiente promo-
Silva, Ribeiro & Bertolini, 2014). vendo o desenvolvimento sustentável e que
proporcione equidade social (Evangelista,
Desde que o dilema sobre crescimento eco- 2010; Hart & Milstein, 2003). Ou seja, atu-
nômico e desenvolvimento sustentável tor- almente as empresas precisam desenvolver
nou-se questão mundial, algumas empresas novas propostas para o desenvolvimento de
passaram a buscar soluções para minimizar produtos para serem consideradas susten-
o impacto do seu processo sobre o meio am- táveis (Jabbour & Santos, 2007).
biente, mas também se iniciou uma corrida
por lucratividade associada ao tema. Buscando O Marketing exerce importante papel no que
ganhos financeiros, as empresas investem na se refere à obtenção de lucros para empresas.
sustentabilidade de seus processos. Porém, Sua intenção é criar produtos, aguçar dese-
essas empresas esbarram na questão da com- jos e vender o máximo que puder, para com
petitividade, pois ao oferecer um produto ou isso, possibilitar um retorno para a empresa
serviço, é necessário obter o lucro necessário (Kohlrausch, 2003). Para solucionar problemas
tanto para sua manutenção quanto para lidar sobre questões ambientais, surge a proposta
com a competitividade do mercado. de um Marketing Verde, que se refere a instru-
mentos mercadológicos destinados a explorar
Dificilmente, no curto prazo, todas as empre- os benefícios ambientais proporcionados por
sas se voltarão para as questões ambientais, um produto, contribuindo para a sustentabili-
ficando a cargo do consumidor a escolha por dade (Gonzaga, 2005). O Marketing Verde con-
produtos sustentáveis ou não. As empresas seguiu, com suas ferramentas, criar elementos
estão voltadas para a rapidez no processo que facilitam a percepção de consumidores,
de produção e lucratividade; do outro lado, fazendo com que os mesmos reconheçam o
os consumidores estão preocupados com o diferencial entre produtos sustentáveis e não
que lhes interessam, o produto (Brandalise, sustentáveis. Isso se deu a partir dos selos e
231
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
rótulos ambientais que tem como objetivo: critérios de uma certificação acaba levando
1) proteger o meio ambiente, 2) encorajar a os indivíduosa relacionarem uma certificação
inovação ambiental sustentável na indústria, a um selo verde ou prêmio por não poluir o
e 3) desenvolver a consciência ambiental dos meio ambiente (Silva & Ribeiro, 2005).
consumidores (Tomé, 2008).
Mesmo com uma vasta quantidade de nomes
De acordo com Kohlrausch (2003), a rotulação para os mais variados tipos de selos ambien-
ambiental tem por objetivo passar informa- tais, existe concordância na literatura que os
ções claras e concisas a respeito do ciclo de rótulos ambientais devam ser precisos, ve-
vida de um determinado produto que contenha rificáveis, relevantes e não enganosos. Caso
o rótulo. Com isso, as empresas começaram a contrário, não serão eficazes, fazendo com
aderir a um processo de gestão ambiental para que o consumidor não se familiarize com
conseguir incrementar vendas de produtos questões ambientais (Kohlrausch, Campos
diferenciados em um mercado cada vez mais & Selig, 2004).
crescente. Assim, selos verdes são etiquetas
colocadas em produtos com a finalidade de As informações contidas na embalagem
tornar a marca socioambiental e conscientizar devem ser objetivas e compreensíveis, visto
o consumidor com relação ao consumo sus- que no momento da escolha de um produto,
tentável (Deus, Felizola & Silva, 2010; Godoy o consumidor não tem tempo para leitura
& Biazin, 2000). Sua outra função é fazer com de muitas informações contidas nas emba-
que, de forma voluntária, indústrias mudem lagens, sendo que o espaço em embalagens
seus processos de produção devido à preferên- para selo é limitado. No entanto, existe muita
cia de consumidores por produtos sustentáveis confusão em relação às informações contidas
em relação aos seus substitutos (Dias, 2008). nos rótulos ambientais (Kohlrausch, 2003).
A rotulagem ambiental acaba por fazer com
que empresas adotem estratégias de produção Só mensagens claras não seriam suficientes
mais limpas, e por consequente, fazer com que para que o consumidor faça escolhas positi-
consumidores mudem seu padrão de consu- vas em prol da sustentabilidade. É necessária
mo diante dos riscos ambientais (Campanhol, uma política de educação ambiental, o que
Andrade & Alves, 2003). envolve ciência e tecnologia, órgãos gover-
namentais e não governamentais, instituições
Apesar do objetivo de uma certificação ser de ensino e meios de comunicação, no int uito
desenvolver um sistema de certificação am- de capacitar o usuário a relacionar as infor-
biental para a melhoria contínua e no aten- mações contidas nas embalagens com outros
dimento da legislação e normas existentes dados sobre responsabilidade social e impacto
no local onde as empresas estão situadas, ambiental (Zavadil & Silva, 2014). Segundo
buscando diminuir os riscos ambientais Tomé (2008), “Um consumidor/comprador,
daquela atividade certificada, a falta de co- entre decidir adquirir um produto ou serviço
nhecimento da sociedade sobre as normas e ao qual tenha sido concedida uma ecoetiqueta
232
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
233
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
sua função de sinalizar ao consumidor que James, Oliveira-Castro & Ribier, 2010). Nesse
a empresa tem gestão ambiental, principal- caso, o marketing verde vem buscando ma-
mente considerando-se que os selos devem neiras de fazer com que aumente a preferência
apontar para consequências específicas. por produtos sustentáveis.
234
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
FSC Certifica áreas e produtos florestais, como toras de madeira, móveis, lenha, papel, nozes e sementes.
Certifica alimentos, cosméticos e algodão orgânicos. Além de cumprir os requisitos básicos para a
produção orgânica (como fazer rotação de culturas e não usar agrotóxicos), garante que a fabricação
IBD
daquele produto obedece ao Código Florestal Brasileiro e às leis trabalhistas. Os produtos industriali-
zados devem ter ao menos 95% de ingredientes orgânicos certificados.
Figura 1 (Parte 1). Nomes dos selos de certificação ambiental e respectivos critérios gerais de certificação.
235
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
ISO Certifica sistema de gestão ambiental de empresas e empreendimentos de qualquer setor. Em sua
operação, a empresa deve levar em conta o uso racional de recursos naturais, a proteção de flores-
14001 tas e a preservação da biodiversidade, entre outros quesitos.
Selo Verde Selo Verde é a ecoetiqueta que atesta a qualidade ecológica, socioambiental, do produto ou serviço que
tem o apoio da sociedade civil. E fornecida para empresas que comprovam periodicamente, por meio
CNDA de laudos técnicos, que seus ciclos de vida são amigáveis para o planeta e a vida que nele habita.
Figura 1 (Parte 2). Nomes dos selos de certificação ambiental e respectivos critérios gerais de certificação.
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COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
Você está participando de uma pesquisa sobre participantes quando confrontados com a
sustentabilidade. Será apresentado algumas Figura referente ao selo de certificação am-
imagens e siglas, você terá que responder se biental e selo de reciclagem e o Nome do
conhece cada imagem/nome, caso conheça selo de certificação ambiental. A Tabela 1
descreva a que se refere, e caso não conheça, apresenta a porcentagem de conhecimento
descreva o que você acha que se refere. de cada selo nas duas situações.
Abaixo das instruções, os participantes se Pode ser observado que na condição Figura, a
deparavam com o protocolo de respostas porcentagem de conhecimento dos selos ficou
que apresentava o respectivo selo (Condição abaixo de 4% para 15 dos 18 selos utiliza-
Figura) ou o nome do selo de certificação dos, com dois deles, Demeter e CNDA com
(Condição Nome). A Figura 2 mostra um nenhum participante tendo informado co-
exemplo do protocolo em cada condição. nhecê-los. Dos outros três selos, todos foram
indicados como conhecidos por menos de
25% dos participantes. Destes, as porcenta-
Resultados gens de conhecimento pelos participantes da
pesquisa foram: ISO 14001 (22,55%); PROCEL
Conhecimento dos selos (18,63%); e Embalagem reciclável (11,76%).
237
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
mais participantes foram o ISO 14001 (4,9%) A comparação entre a porcentagem de co-
e IBD (2,94%). Todos os demais foram co- nhecimento nas condições com Figura e
nhecidos por 1,96% dos participantes. As Nome, realizada a partir do teste Binomial,
informações dos selos DEMETER e Carbono indicou que as diferenças não foram signi-
Neutralizado não foram inclusas nos ques- ficativas (p >0,05; Z <2,96) para oito dos 10
tionários referentes a esta condição. selos avaliados (SUSTENTAX, FSC, GREEN
SEAL, IBD, ECO CERT, LEED, RAINFOREST
Teste ALLIANCE e CNDA), indicando porcentagem
Selo Figura Nome Binomial – de conhecimento semelhante em ambas as
Z (p)
condições. Para os selos ISO 14001 e PROCEL,
ABNT/ISO 14001 22,55 4,90 3,66 (0,0001*)
os únicos selos ambientais para os quais a
PROCEL 18,63 1,96 3,92 (0,0000*)
porcentagem de conhecimento na condição
EMBALAGEM
11,76 - com a apresentação da Figura foi superior
RECICLÁVEL
SUSTENTAX 3,92 1,96 0,83 (0,204) a 10%, observou-se que a porcentagem de
ALUMÍNIO conhecimento da Figura foi estatisticamente
3,92 -
RECICLÁVEL maior que observada na condição Nome nos
LIXO COMUM 3,92 - dois casos (ISO 14001 – Z = 3,66 e p = 0,0001;
FSC 2,94 1,96 0,45 (0,325)
PROCEL – Z = 3,92 e p = 0,0000).
VIDRO RECICLÁVEL 2,94 -
GREEN SEAL 1,96 1,96 0 (1)
IBD 1,96 2,94 0,45 (0,325) Análise das questões abertas
CONSTRUIR
1,96 -
SUSTENTÁVEL Foram utilizadas para análise as respostas dos
ECO CERT 0,98 1,96 -0,58 (0,28) participantes que mencionaram o que signi-
LEED 0,98 1,96 -0,58 (0,28) ficaria a Figura ou Nome referente ao selo
RAINFOREST apresentado. Para os que não responderam e
0,98 1,96 -0,58 (0,28)
ALLIANCE
os que responderam que não sabiam a que
AÇO RECICLÁVEL 0,98 -
CARBONO se referia, não foi computado nas referidas
0,98 -
NEUTRALIZADO análises. Pode-se observar na Tabela 2 que a
CNDA 0,00 1,96 - maioria dos participantes não deram respostas
DEMETER 0,00 - apropriadas para todos os selos, com exceção
* p < 0,05 do selo PROCEL para o grupo Figura, tanto
para os que conheciam quanto para os que não
Tabela 1. Porcentagem de pessoas que afirmaram co-
nheceros selos de certificação e selos de reciclagem nas o conheciam. No entanto, os participantes do
condições com apresentação da Figura e Nome. Dados grupo Figura, no geral, relataram mais sobre
com (-) indicam que a informação não foi obtida. Os
dados do teste Binomial compararam as porcentagens o significado do que o grupo Nome.
nas condições com Figura e Nome para um mesmo selo.
238
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
FIGURA NOME
NÃO
CONHECE CONHECE NÃO CONHECE
SELOS CONHECE
APROPRIADO APROPRIADO APROPRIADO
APROPRIADO
EMBALAGEM
7 5 6 14
RECICLÁVEL
Tabela 2. Relação das respostas apropriadas e não apropriadas dadas pelos participantes que relataram conhecer a que se
referia a Figura e Nome dos selos apresentados. Foi considerada apropriada a resposta que descrevia o significado do selo.
239
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
respostas daqueles que indicaram conhecer Para o selo ISO 14001/ABNT, dos participan-
os selos, tanto na condição Figura quanto tes submetidos à condição Figura, 20 dentre
na condição Nome, estava de acordo com o os que responderam conhecer o selo indi-
significado apropriado de cada selo. Uma caram seu significado. Destes, 10 indica-
resposta apropriada necessitava conter pelo ram ABNT ou descreveram o significado da
menos um termo que se referia ao tipo de sigla como Associação Brasileira de Normas
certificação; não apenas indicar sustentá- Técnicas, seis indicaram estar relacionado a
vel ou sustentabilidade. Por exemplo, no normas de trabalhos acadêmicos / normas
Rainforest, a indicação da biodiversidade no da ABNT, dois relacionaram a controle de
ISO 14001, gestão ambiental, e assim, por qualidade, um sobre preservação ambiental
diante, conforme cada certificação. e um seria certificação ambiental. Na condi-
ção Figura, dos que relataram não conhecer,
Visto o baixo nível de participantes que in- dois relacionaram às normas da ABNT para
dicaram conhecer os selos, tanto do grupo trabalhos acadêmicos, três a controle de
Figura quanto no grupo Nome, procedeu-se qualidade e um mencionou que seria sobre
uma análise descritiva das respostas apro- preservação do meio ambiente. Para os par-
priadas e não apropriadas à questão “a que ticipantes do grupo com Nomes, dos que
se refere o nome (a Figura)”, tanto para os informaram conhecer, dois relacionaram a
participantes que indicaram conhecer os aspectos ambientais, e dois a controle de
nomes ou figuras quanto para os partici- qualidade. De forma semelhante, dos que
pantes que indicaram não conhecê-los. indicaram não conhecer o selo neste grupo,
três responderam a esta questão, com dois
Para o selo PROCEL, na condição com Figura, relacionando a controle de qualidade, um a
32 participantes indicaram o que significa ou meio ambiente.
o que acham que significa. Dos 18 partici-
pantes que relataram conhecer o selo, cinco Para o grupo com Figura, dois responderam
indicaram que ele significa o consumo de conhecer o selo FSC. Desses, um demons-
energia, 11 indicaram que significa baixo trou conhecimento total sobre o objetivo da
consumo de energia, dois indicaram teste/ certificação, outro relacionou sobre meio
selo INMETRO. Dentre os participantes que ambiente. Para os que relataram não co-
relataram não conhecer, 10 relacionaram nhecer a Figura seis responderam sobre o
ao gasto da geladeira ou economia de gasto que achavam que o selo se relacionava, dos
da geladeira, três indicaram o consumo de quais cinco relataram que estava associa-
energia e um ao programa de certificação de da a algo sobre o meio ambiente e um que
eletricidade. Na condição com Nome, quatro era uma fundação. Para o grupo com Nome,
participantes que indicaram não conhecer, um relatou conhecer o Nome associando-o a
responderam ao significado que considera- manejo florestal. Para os que não conheciam
vam ser PROCEL. Todos esses participantes o Nome, três relataram sobre o que achavam
relacionaram a celular, telefonia ou energia. que o Nome se referia, um relatou que vem
240
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
em produtos recicláveis, algo sobre floresta Para a Figura do selo IBD, um relatou conhe-
e um sobre time de futebol respectivamente. cê-la relacionando-a a produtos orgânicos.
Para os participantes que não conheciam,
Com relação ao selo LEED para o grupo Figura, quatro disseram sobre a que relacionaria,
nenhum relatou sobre ela. Os demais que não sendo que três relacionaram a agrotóxico e
conheciam o selo referente à imagem, oito produto orgânico, e um à indústria brasilei-
responderam o que achava a que se referia, ra de derivados. Os participantes do grupo
sendo que apenas um soube descrever o sig- Nome, dois relataram conhecê-la, sendo que
nificado do mesmo, cinco disseram algo sobre disseram ser um índice brasileiro de desen-
meio ambiente e/ou proteção ambiental, um volvimento, nenhum que não conhecia o
que era de uma universidade ecológica, outro Nome relataram sobre o mesmo.
que era algum jardim aberto para visitação.
Para o grupo com Nome, nenhum relatou co- Com relação ao selo CNDA, nenhum parti-
nhecer. Para os que não conheciam o Nome, cipante conhecia. Dos participantes que não
dois relataram que se referiam e lâmpada. conheciam e que relataram a que se refe-
ria, cinco relacionaram a meio ambiente,
Para a Figura do selo Rainforest Alliance, sustentabilidade e ecologia. Com relação ao
apenas uma pessoa relatou conhecê-la, mas grupo Nome, nenhum relato.
não soube dizer ao que se referia. Para os
que não conheciam a Figura, 8,9% desses O selo de certificação Green Seal não teve
relataram o que achavam que se referia a reconhecimento por nenhum participante no
Figura, sendo que três associaram ao meio grupo Figura, sete participantes relataram
ambiente, dois disseram que era sobre certi- sobre ele mesmo não conhecendo, onde as
ficação ambiental, um sobre alguma campa- respostas de seis estavam relacionadas a selo
nha sexual, outro sobre proteção ambiental verde, meio ambiente certificado de proteção
e dois sobre proteção de rãs. Para o grupo ambiental, apenas um relacionou de forma
com Nome, 1,96% relataram que conheciam correta que é sobre produto adequado. Dentre
o Nome, mas não souberam dizer ao que se os participantes do grupo Nome, os três que
referia. Os demais 98% que não conheciam relataram, o relacionaram a sal e dois a algo
o Nome também não souberam responder. verde, mesmo indicando que não o conhecia.
Sobre o selo ECO CERT, no grupo da Figura O selo Sustentax teve três participantes que
nenhum relatou conhecer. Para os que não mencionaram conhecê-la, e disseram que
conheciam, mas se referiam a Figura, um estaria relacionado a produto sustentável.
relacionou com selo para produto orgânico Dos que relataram não conhecer a Figura,
e sete relacionaram à questão de meio am- dez relacionaram à sustentabilidade. Para o
biente e ecologia. Para o grupo do Nome no grupo Nome, um disse conhecer e indicou a
houve descrição. produto sustentável. Dos que não conhecia
241
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
o Nome apresentado, sete participantes dis- material magnético, um disse que seria objeto
seram estar associado à sustentabilidade. de metal e outro falou que seria atração.
242
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
243
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
parece não ter efeito sobre o conhecer suas parece que os selos, aqui sendo entendidos
funções. A esta tendência, apenas Embalagem como uma regra de acordo com a definição
Reciclável demonstrou maior nível de co- acima, não estão afetando o comportamen-
nhecimento em relação aos demais selos de to desejado, visto que os consumidores não
reciclagem, mas para uma porcentagem da entram em contato com a regra descrita pelo
amostra pouco acima dos 10%. selo (por exemplo: “comprar o produto afeta
menos o meio ambiente”) nem com as con-
Sendo os selos ambientais uma estratégia de sequências às quais a regra aponta. Como
Marketing em diferenciar as empresas em assinalado por Kohlrausch, Campos e Selig
um mercado competitivo, e como apontado (2004), pode-se inferir, a partir dos dados
por Botelho e Manolescu (2010) onde os con- aqui apresentados, que as pessoas não estão
sumidores estão adotando um hábito em es- tendo acesso a essas informações.
colher produtos sustentáveis, pode-se dizer,
a partir dos presentes resultados, que essa Também, não se pode esperar que apenas o
estratégia não está sendo efetiva no sentido conhecimento sobre o que venham a ser os
de controlar as escolhas por produtos que selos possa controlar por si só o compor-
apresentem os selos aqui apresentados. Além tamento de escolher produtos sustentáveis.
da baixa porcentagem, é importante sinalizar Neste caso, a manipulação nos antecedentes
que a maioria dos participantes não soube e o contato com as consequências. Segundo
descrever o que seriam os selos apresenta- Moreira e Medeiros (2007), dizemos que
dos, dado que não corrobora o pensamento alguém sabe sobre algo quando ele sabe como
dos autores supracitados, tendo em vista que e/ou sabe sobre. Saber como está relaciona-
o selo é uma propriedade do estímulo que do à pessoa responder ao estímulo discri-
sinaliza o seu diferencial sustentável. minativo adequadamente; e saber sobre, ao
comportamento verbal estar sob controle do
Um dos objetivos da certificação ambiental é ouvinte em ter acesso aos mesmos estímu-
o de informar ao consumidor que um produ- los discriminativos. Para Matos (1999), uma
to afeta menos o meio ambiente, tendo uma pessoa sabe quando ela se comporta sob con-
função de regra como “um sistema que esta- trole de relações com variáveis diretas quando
belece certas contingências de reforçamento” está em contato (nesse caso com o selo) no
ou “derivadas de contingências, na forma de momento e com variáveis indiretas, as quais
injunções ou descrições que especificam oca- foram estabelecidas na história de vida.
siões, respostas e consequências” (Skinner,
1969, p. 160). Contudo, estímulos anteceden- Mesmo indicando conhecer os selos, a maio-
tes verbais passam a afetar o comportamento ria dos participantes não demonstrou co-
quando eles sinalizam uma consequência e nhecimento sobre eles quando perguntados
possibilitam o contato com as consequên- sobre a que se referiam. Apenas para os selos
ciass, seja por regras ou pela exposição às sustentáveis PROCEL, ISO 14001 e para o selo
contingências (Galizio, 1979). No entanto, de reciclagem EMBALAGEM RECICLÁVEL
244
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
obteve-se mais participantes que relataram meio acadêmico com relação às normas dos
sobre os selos em relação aos demais selos. trabalhos que os alunos devem realizar. Ao
Essa baixa frequência de participantes que re- mesmo tempo, os participantes não ficaram
lataram sobre o selo demonstra a ineficiência sob o controle das propriedades relevantes
do controle exercido pelos selos sustentáveis. do estímulo que seria referente à certificação
de Gestão Ambiental.
No entanto, para o selo PROCEL, em ambas as
condições (Figura e Nome) a maioria dos par- A falta de conhecimento sobre princípios de
ticipantes que relatou sobre o selo conseguiu análise do comportamento, das pessoas que
relacionar com o significado do selo, ou seja, elaboram essas ferramentas, pode levar a
relacioná-lo com o consumo de energia. Esse essa ineficácia no controle do comportamen-
dado abre campo para novas estratégias em to desejado. Além da necessidade de treino
relação aos demais selos, onde a exposição ao discriminativo para que um dado estímulo ou
estímulo e o contato com as consequências, propriedade dele exerça controle eficaz sobre
diminuição na conta de energia, pode tê-lo o comportamento, a representação gráfica
tornado mais efetivo no seu controle. Mesmo deve levar em conta essas particularidades,
que a quantidade de participantes que men- pois os participantes generalizaram a pro-
cionaram conhecer o selo ainda seja baixa, os priedade mais comum; ABNT para normas
que relataram conhecê-lo souberam relacio- de trabalhos técnicos, e ISO para controle de
nar com seu significado. Independentemente qualidade (ISO 9000).
de ter ocorrido pelo contato com represen-
tação gráfica ou com o nome, a exposição a Conforme apontaram Nakahira e Medeiros
esse estímulo passou a fazer parte da história (2009), no cenário empresarial tem-se maior
de aprendizagem desses participantes. aderência à ISO 9000 em relação à ISO 14001,
o que pode ser justificado pelo tempo de ex-
Outro dado que demonstrou o efeito de posição maior que os indivíduos e empresas
história de aprendizagem foi em relação às tem com a primeira e pelas consequências
respostas sobre o selo ISO 14001/ABNT. O oferecidas por essa certificação. Talvez a
fato da amostra pesquisada ser composta por falta de expressão no meio social da ISO
universitários, a maioria dos participantes 14001 (Certificação de Gestão Ambiental) e
relacionaram o selo a normas de trabalho o maior contato com a ISO 9000 (Certificação
acadêmico (normas da ABNT). Ou seja, pode- de Gestão de Qualidade) pode ter feito com
-se analisar esse resultado a luz do conceito que alguns participantes relacionassem a ISO
de Abstração (Catania, 1999; Skinner, 1953), 14001 com controle de qualidade.
onde o comportamento dos participantes
em responder a que se referia o selo estava Os selos apresentam imagens que muitas
sob controle de uma propriedade do estí- vezes estão relacionados a outras respostas
mulo, que é comum a mais de um estímulo, verbais ou não verbais estabelecidas nas his-
nesse caso a história de aprendizagem no tórias dos participantes. Nem sempre essas
245
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
respostas que são evocadas são compatíveis sobre as Figuras do que sobre os Nomes,
com as contingências que são descritas pelos mesmo para aqueles que não conheciam a
selos, nem mesmo com as contingências que Figura, as respostas não apropriadas dadas
levaram à obtenção do selo pela empresa ou pelos participantes, quando era para Figura
pelo produto (gestão ambiental, retorno de ou Nome que continham algum estímulo
carbono, preocupação com a biodiversidade, comum com sustentabilidade (CNDA com a
etc.). Essas respostas podem levar ao bloqueio expressão “Green Seal” e SUSTENTAX com
na aquisição de uma resposta discriminativa uma palavra que compartilha propriedades
nova (cf. Catania, 1999). Além disso, os selos topográficas comuns com sustentabilidade)
são dispostos nas embalagens em tamanho estava dentro da temática, por exemplo, o
reduzido e entremeada a logotipos e quanti- selo SUSTENTAX, atesta a qualidade ecológica,
dade de informação que podem sombrear o socioambiental, do produto ou serviço que tem
estímulo selo. Mesmo para Figuras que ti- o apoio da sociedade civil, mesmo que o par-
veram poucos participantes que indicaram ticipante relatasse não conhecer a Figura,
conhecê-las, pode-se observar que na pre- quando mencionava algo sobre ela, associava
sença de propriedades de estímulos comuns a algo como sustentável ou meio ambiente.
ao tema, como imagem de árvore ou palavras
semelhantes à sustentabilidade (como no Com relação aos selos de reciclagem, nova-
caso dos selos FSC, CNDA e SUSTENTAX) os mente a falta de controle de estímulos pode
relatos dos participantes que indicaram o que ser observada. Isto pode ser ilustrado pelo
significam (ou o que achavam que significam) caso da imagem de vidro reciclado, outro
se aproximam a algo sobre meio ambiente e/ exemplo de falha de controle na represen-
ou sustentabilidade. Em contrapartida, selos tação gráfica, na qual os participantes que
como DEMETER que não apresenta similari- responderam sobre seu significado relacio-
dade com aspectos diretamente relacionados naram a reciclagem e/ou jogar no lixo. No
ao meio ambiente, não controlaram respostas entanto seu objetivo é sinalizar que recipien-
relacionadas à sustentabilidade. Do ponto do te de vidro deve ser jogado naquele local. O
conceito de gradiente de generalização (Sério, que pode ser observado para essa classe de
Andery, Gioia & Micheletto, 2002), deve-se selos relacionados à reciclagem é um caso de
levar em conta a similaridade com o tema ao generalização inapropriada, pois as pessoas
propor uma representação gráfica para um os percebem como tendo apenas a função de
selo que contenha estímulos próximos tanto sinalizar reciclagem de forma geral, e não
do tema quanto da história de aprendizagem abstendo às suas particularidades, e isso
das pessoas, como por exemplo, conter uma pode estar relacionado à falta de campa-
árvore e uma palavra ou sigla com proximi- nhas efetivas de educação ambiental e da
dade à palavra sustentabilidade. própria coleta seletiva pública de lixo. Como
no caso de praças e ruas onde são colocadas
Como também pode ser observado na Tabela latas de lixos para separar lixo, e as pessoas
2, onde os participantes relataram mais não separam adequadamente, a coleta não é
246
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
totalmente seletiva e não há divulgação dos Talvez o problema mais significativo esteja
destinos ou do retorno à sociedade deriva- relacionado à espera, que empresas e órgãos
dos deste padrão comportamental. Além do governamentais ou não tem em relação ao
mais, aqui entra um problema em relação consumidor se tornar consciente para que
à exposição, pois esses selos de reciclagem ocorra uma mudança nas escolhas por pro-
estão presentes em praticamente tudo que dutos sustentáveis. Diferentemente das pro-
se compra e que pode ser reciclado, levando postas tradicionais da psicologia em relação
à ineficácia de controle discriminativo do à consciência, as quais tem a consciência
próprio selo, tanto pela estrutura (repre- como um processo mental com um status
sentação gráfica) quanto pela função (não causal, do ponto de vista da análise do com-
sinaliza uma consequência efetiva). portamento estar consciente é descrever o
próprio comportamento e as condições que
Os resultados obtidos indicam ainda que, produziram tal comportamento (Simonassi,
talvez, pouco estejam adiantando as estra- 1999a, Simonassi, Cameschi, Coelho, Coelho
tégias de Marketing Verde e das empresas & Fernandes, 2011). No caso da sustentabili-
em colocar produtos diferenciados no mer- dade, o indivíduo estaria consciente quando
cado tendo em vista que os consumidores ao entrar em contato com um ambiente onde
não reconhecem a propriedade do estímulo está disponível uma variedade de produtos
que diferencia um produto sustentável de substitutos, escolhesse aquele com selo am-
seu substituto. Diminuir a quantidade de biental pelo fato de saber que aquele produto
selos e melhorar suas representações gráfi- agride menos o meio ambiente e com isso
cas poderia ser uma estratégia, pois mesmo estaria dando mais condições para gerações
com uma vasta quantidade de nomes para futuras poderem continuar a usufruir dos
os mais variados tipos de selos ambientais, recursos naturais. Atualmente, tem sido
como apontado por Kohlrausch, Campos e frequente campanhas pró-ambientais que
Selig (2004), existe concordância na lite- abordam o dizer, baseadas na descrição do
ratura de que os rótulos ambientais devam comportamento. Como a literatura demons-
ser precisos, verificáveis, relevantes e não tra, porém a correspondência entre o fazer
enganosos. Caso contrário, não serão efica- e o dizer é incrementada quando a corres-
zes, fazendo com que o consumidor não se pondência dizer-fazer é reforçada (Porto &
familiarize com questões ambientais. Selos Oliveira-Castro, 2013).
maiores, colocados em locais mais visíveis
e com textos e/ou imagens com maior pro- Além disso, estudos tem demonstran-
ximidade à função do selo podem elevar o do (Simonassi, 1999a; Simonassi, 1999b;
poder discrimativo desses selos. Para tanto, Borges, Todorov & Simonassi, 2006) que
a Análise Experimental do Comportamento o comportamento das pessoas é alterado
pode contribuir com pesquisas específicas mesmo antes dela descrever a relação entre
sobre a temática. seu comportamento e ambiente, ou seja, não
247
COMPORTAMENTO Reginaldo Pedroso, Cristiano Coelho
EM FOCO VOL. 9
precisa estar consciente para que o ambiente Para finalizar, a busca por um padrão de
afete o comportamento das pessoas. Essa comportamento ambientalmente sustentável
mudança se dá a partir do contato com as apresenta-se hoje como uma necessidade.
consequências reforçadoras, o que acaba Infelizmente, muitas das consequências de
tendo uma função organizadora do compor- comportamento não sustentável são atrasadas
tamento verbal. Entretanto, deve-se levar e afetarão indivíduos e sociedades nas pró-
em consideração que ao ler a literatura geral ximas gerações. Isso faz necessário o uso de
sobre sustentabilidade, a proposta de esperar controle por estímulos verbais e não verbais
que a pessoa se torne consciente para depois para que comportamentos pró-ambientais au-
mudar seu padrão de compra, não é, a partir mentem sua frequência. Os selos de certifica-
de uma perspectiva analítico comportamen- ção têm um papel fundamental para sinalizar
tal, muito viável. A mudança no arranjo das e fortalecer um consumo com menor impacto
variáveis ambientais juntamente com regras sobre o meio ambiente. Porém, para cumprir
que, além de sinalizar, dê condição para que a sua função, os presentes dados mostram que é
pessoa entre em contato com consequências necessário que essa função discriminativa seja
reforçadoras pode ser uma estratégia mais estabelecida, fazendo com que o consumidor
efetiva na mudança do padrão de consumo passe a se comportar de forma mais efetiva
por produtos sustentáveis. das consequências sinalizadas por esses selos.
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Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
PALAVRAS-CHAVE
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Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
Abstract
Objectives: Categorizing violent and non-violent of violent episodes and the superficial description
behaviors and functionally analyzing those categori- of the situations that precede and result in these
zed as violent. Methodology: Document analysis using incidents indicate a need for improvement of these
the incidence report book from a municipal middle descriptions. This may accomplish incident report
school in Goiânia, Brazil. Results: We identified 329 books that are a more useful instrument to identify
incidents, 181 were classified as violent and 148 as determinant variables and contribute to designing
non-violent. The category “Disrespect” was most effective interventions.
frequent (50%), followed by “Physical Aggression”
(22%), and “Verbal Aggression” (20%). Only 16%
of incidents specified antecedents and 221 conse-
KEYWORDS
quences were recorded, such as “Send to director’s
office” (34%) and “Call parents” (41%), which were Violent Behavior; Functional Analysis;
the most frequent. Conclusions: The high frequency Incident Reports; School
Análise Funcional de
Comportamentos Violentos
registrados em Livro de
Ocorrências Escolar
Uma das formas mais eficazes do controle do Os membros das agências de controle atuam
comportamento de pessoas é exercido pelas com o objetivo de estabelecer um repertório
agências de controle social (governo, religião, bem determinado, de modo tal, que mesmo
psicoterapia, economia e educação). Estas na ausência do agente controlador, os indiví-
são geralmente bem organizadas e exercem duos continuem se comportando da maneira
controle sobre seus membros por meio de considerada adequada. A Escola é uma agência
reforçamento e punição de comportamentos. de controle, segundo Skinner (1953/2003)
Os membros do grupo no qual o indivíduo “Educação é o estabelecimento de compor-
está inserido reforçam os comportamentos tamento que seja vantajoso para o indivíduo e
adequados (isto é, atendem a critérios pre- para os outros em um tempo futuro” (p.437).
viamente estabelecidos pelo grupo), aumen- Nesta conceituação, é possível identificar três
tado a probabilidade destes voltarem a ocor- aspectos: o primeiro é que educar envolve a
rer, assim como punem os comportamentos atuação de alguém em relação a outrem; o
considerados inadequados, diminuindo à segundo aspecto refere-se ao fato de que o
probabilidade de recorrência destes com- comportamento a ser estabelecido deve ser
portamentos (Skinner, 1953/2003). vantajoso não apenas para o indivíduo alvo
253
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
da ação educativa, mas também, para outros Do ponto de vista de alguns analistas do
indivíduos; e o terceiro aspecto refere-se ao comportamento existem várias deficiências
fato de que educar implica atuação temporal notáveis nos atuais métodos de ensino: um
dos agentes educativos ocorrendo no presente dos grandes problemas do ensino é o uso
para o estabelecimento de comportamento do controle aversivo (Todorov, 2001, 2011).
que deve ser vantajoso em um tempo futuro. Skinner (1953/2003) por exemplo, acredita
Nesse sentido, pode-se dizer que o estudan- que os professores, em sua maioria, não
te passa grande parte de sua rotina fazendo desejam usar esse tipo de controle, porém,
coisas para as quais não há reforços positivos por não conhecerem alternativas mais efi-
imediatos e que provavelmente não deseja cazes acabem fazendo uso da coerção. Por
fazer (Moroz, 1993). conseguinte, os alunos tendem a se com-
portar com a principal função de eliminar
A Escola, como instituição e agência de estimulação aversiva. Por exemplo, aten-
controle, tem como um de seus objetivos a dendo a mandos do professor, já que o não
transmissão de comportamentos. Por meio atendimento acarretaria em estimulação
de modelagem os membros dessa agência aversiva como a perda de pontos ou adver-
de controle tentam ampliar o repertório dos tências. Um dos efeitos do controle aversivo
aprendizes ao estabelecer diversos tipos de é o contra controle (Sidman, 1989/2001). O
controle de estímulos sobre ampla gama de contra-controle se caracteriza por emissão
comportamentos (Skinner, 1953/2003). Como de respostas que tem como função elimi-
agência de controle uma instituição educacio- nar ou diminuir o controle aversivo. Como
nal faz mais do que simplesmente transmitir exemplo, o estudante atrasa-se, falta, não
o conhecimento, ela deve ensinar o aluno a tem atenção às aulas (retirando reforçado-
pensar, estabelecer um repertório especial que res do professor), devaneia ou inquieta-se,
tem como efeito a manipulação de variáveis, esquece o lecionado, torna-se agressivo e
as quais encorajam o surgimento de soluções recusa-se a obedecer, exercendo assim o
para problemas (Moroz, 1993). Nas salas de contra-controle (Skinner, 1972). O contro-
aulas tradicionais, as contingências de refor- le-controle pode ainda envolver outros tipos
ço mais eficiente para controlar o estudante de estimulação aversiva para o comporta-
provavelmente estão além das capacidades de mento do agente de controle. Os membros
um professor. Pode-se afirmar que Skinner controlados passam a agir, inconformados,
propõe, enquanto projeto educacional, formar escapando dos controladores, ou então os
os alunos para o autogoverno intelectual, e atacando a fim de desmoralizá-los ou des-
isto é possível se os agentes educacionais tituir o poder que eles exercem sobre o
tiverem como foco de atuação planejada o grupo, seja de forma branda ou de forma
desenvolvimento de comportamentos precor- extrema (Skinner, 1974). Isso significa
rentes – isto é, comportamentos cuja função que, em longo prazo, o controle surtiu um
é tornar mais provável a ocorrência de outras efeito negativo e não previsto, a saber o
respostas (Moroz, 1993). contra-controle.
254
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
registro da violência nas Escolas é o “Livros registros somente foi encontrado, na presen-
de Ocorrências”. Neste são registradas ocor- te revisão da literatura, o estudo de Santos
rências relativas à indisciplina e violência e Gomide (2014).
(Fonseca, Salles e Paula & Silva, 2014).
Santos e Gomide (2014), realizaram a análise
Por se tratar de um instrumento da gestão, de documentos para obtenção de dados sobre
os livros de ocorrência poderiam permitir a violência na escola a fim de respaldar a
compreender os episódios que conturbam o aplicação de um programa chamado “Justiça
cotidiano escolar. Para tanto, seria necessá- Restaurativa”. O estudo teve como objetivo
rio que os relatos fornecessem informações elaborar, aplicar e avaliar este programa em
necessárias como antecedentes, respostas e uma escola pública estadual localizada na
consequências. Também deveriam propiciar região metropolitana de Curitiba, Paraná.
a identificação dos alunos e demais membros Observou-se no Livro de ocorrências da
da comunidade escolar envolvidos nessas si- escola o registro de 353 comportamentos,
tuações e os procedimentos adotados (Vóvio destes 225 comportamentos classificados
et al., 2016). Entretanto, do modo como é re- como comportamento indisciplinar
alizado (apenas um relato superficial de todos e 128 comportamentos classificados
os eventos relativos a indisciplina) o livro de como comportamento antissocial. Entre
ocorrência acaba por gerar a necessidade de os comportamentos considerados
constante vigilância e controle sobre os edu- comportamento indisciplinar, o de maior
candos (Ratto, 2006; 2007). Além da função incidência foi desobedecer à autoridade (40%),
de controle do comportamento do aluno, este e entre os comportamentos classificados
recurso também é utilizado para resguardar o como comportamento antissocial foi agressão
professor e a escola de possíveis acusações, de verbal (34%). As autoras concluíram que a
questionamentos sobre alguma atitude dis- forma com que os episódios foram regis-
ciplinar tomada e os motivos que os levaram trados não favoreceu a categorização dos
a isto (Fonseca, Rodrigues & Antônio, 2012; comportamentos, pois, em alguns casos,
Ratto, 2007). sequer foi possível a identificação do com-
portamento do aluno devido a uma narrativa
Vários estudos já foram realizados sobre as evasiva, tampouco a identificação clara dos
diversas funções ou implicações do uso do antecedentes e consequentes dos comporta-
livro de ocorrências nas escolas brasilei- mentos registrados que permitissem a ava-
ras, incluindo sua utilização como fonte de liação funcional desses episódios.
análise do índice de violência nas mesmas
(Cunha, 2009; Fonseca et al., 2012; Fonseca A análise funcional é uma estratégia que
et al., 2014; Nascente, Luiz & Fonseca, 2015; permite compreender a determinação de
Nascimento, Dias e Souza & Azevedo, 2006; comportamentos (Skinner, 1953/2003). Isso
Ratto, 2006; Vóvio et al., 2016). No entanto, porque em uma análise funcional é possível
sob a perspectiva analítico funcional desses identificar a relação de dependência entre
256
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
eventos e a regularidade entre variáveis de- descrição de contingências que fazem parte
pendentes e independentes (Chiesa, 2006). A da história do indivíduo, permitem trabalhar
definição de análise funcional é controversa. com um conjunto extenso de variáveis de uma
Diferentes definições têm sido propostas (ver única vez, possibilitando a predição de com-
Neno, 2003). O termo análise funcional é aqui portamentos futuros que poderão ser obser-
empregado como uma descrição do compor- vados e manipulados (Carrara, 2008).
tamento individual em termos operacionais.
Tal descrição operacional envolve especi- Partindo da possibilidade do uso da análi-
ficar as consequências do comportamento se de relatos verbais como potencial fonte
em termos funcionais, isto é, em termos de de informações, e compreendendo que uma
dependência entre respostas e eventos am- análise funcional é impossibilitada pela na-
bientais consequentes (i.e., produzidos pela tureza da fonte de dados (um relato verbal
resposta) e dos eventos ambientais antece- que indiretamente descreve eventos compor-
dentes (i.e., correlacionados a disponibilidade tamentais e ambientais) o presente estudo
de consequências) (Sturmey, 1996). foi realizado: (1) utilizando os relatos verbais
como fonte de dados para (2) proceder a uma
Sturmey (1996) sugere que um modo de obter interpretação das relações entre eventos am-
dados para condução de uma análise funcional bientais e comportamentais de modo a per-
é por meio da avaliação comportamental. A mitir (3) a compreensão da violência em uma
avaliação comportamental consiste no uso de escola municipal da cidade de Goiânia. Nesse
estratégias que forneçam informações indiretas sentido, o presente estudo pode ser caracte-
(isto é, sem observação direta do comporta- rizado como uma interpretação dos eventos
mento) para coleta de dados que pode fomen- registrados no Livro de Ocorrências com base
tar a análise funcional. Entre as estratégias nos conceitos da Análise do Comportamento.
apontadas por Sturmey estão o uso de produ-
tos permanentes e a condução de entrevistas Para atingir tais objetivos, buscou-se primei-
(seja com o emissor do comportamento alvo ramente identificar e categorizar os compor-
ou com pessoas que possam fornecer infor- tamentos violentos (isto é, agressões físicas e
mações sobre a emissão do comportamento). verbais) e não violentos registrados no livro
Por produtos permanentes entende-se “traços de ocorrência da escola; em seguida, identificar
ambientais de comportamentos como lixo, os tipos de antecedentes e consequentes dos
danificações, materiais escritos, produtos de episódios categorizados como comportamentos
trabalho ou comportamentos relacionados a violentos e a frequência de sua ocorrência, além
educação” (p.69). Nesse sentido o Livro de de identificar o contexto/ambiente físico em que
Ocorrências de uma escola poderia funcionar esses episódios ocorreram, a frequência de epi-
como material para avaliação comportamental sódios registrados por aluno identificado como
uma vez que possui relatos verbais (materiais protagonista dos comportamentos violentos e a
escritos). Os instrumentos que se baseiam em frequência em que os responsáveis pelos alunos
relatos são importantes por auxiliarem na compareceram à escola após convocação.
257
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
Método
O presente estudo foi submetido e apro- funcional dos eventos registrados no Livro
vado pelo ao Comitê de Ética da Pontifícia de Ocorrências.
Universidade Católica de Goiás sob o pro-
tocolo nº 34169814.5.0000.0037. Após a 1ª Etapa – Elaboração de Categorias
aprovação do CEP a Secretaria Municipal de Comportamentais e Treino dos
Educação de Goiânia indicou uma escola com Categorizadores
alto índice de violência escolar. A escola indi-
cada era composta por uma comunidade com De posse das fotocópias do Livro de Registro
550 estudantes. A escola é localizada em uma uma pesquisadora leu os 329 eventos regis-
região considerada de vulnerabilidade – em trados e a partir destes eventos criou duas
função do alto índice de violência, segundo categorias: (1) Comportamentos Violentos
relato da Secretaria Municipal de Educação – e (2) Comportamentos não violentos. Os
da cidade de Goiânia. De posse do nome da Comportamentos violentos foram definidos
escola e da autorização prévia da Secretária como relatos no qual os eventos registrados
Municipal de Goiânia entramos em contato descreviam respostas que se enquadravam
com o Diretor da unidade de ensino e soli- nas subcategorias descritas na Tabela 1, a
citamos livre acesso ao livro de ocorrências saber: (a) desacatar – comportamento verbal
do ano de 2015. Com permissão do Diretor que envolvia palavrões emitidos pelo aluno
fotocopiamos todas as páginas do livro com como falante e tendo o professores, funcio-
a descrição de eventos registrados naquele nários ou outros alunos como ouvinte ou
ano. Por questões éticas não apresentaremos desobedecer às normas e regras e ordens
o nome da escola ou qualquer dado que possa emitidas por professores ou funcionários
identificar membros da comunidade escolar da escola; (b) agredir fisicamente - bater,
que participou desta pesquisa. chutar, morder, pisar, torcer, imobilizar e
socar qualquer parte do corpo de outra pessoa,
enforcar, derrubar ou tentar jogar outra
Material pessoa no chão, tocar em partes íntimas do
corpo de outra pessoa sem sua permissão ou
Foram utilizadas três cópias do Livro de jogar objetos de qualquer formato e tamanho
Ocorrências da escola, três computadores em outra pessoa podendo ser emitida entre
com MS-Excel, lápis, caneta e papel. quaisquer membros da comunidade escolar;
(c) agredir verbalmente - na qual a respos-
Procedimento ta envolvia ameaças verbais, discriminação
por cor, gênero ou sexualidade proferida por
Este estudo foi dividido em duas etapas: (1) pares, isto é de aluno para aluno, professor
elaboração das categorias comportamentais para professor ou servidor para servidor (d)
e treino dos categorizadores e (2) análise causar danos – produzir estragos em objetos
258
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
259
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
260
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
Categoria Tipos de
Frequência Frequência Tipos de Consequentes Frequência
Desrespeitar Antecedentes
Encaminhou
Aluno professor 31 Ordens 2 31
coordenação
Aluno foi
Aluno funcionário 5 1 Aluno foi advertido 7
orientado
Lanche fora da
Aluno aluno 1 1 Orientou responsável 4
escola
Orientou aluno 2
Responsável orientado
a procurar o Conselho 2
tutelar
Responsável orientado a
1
procurar um psicólogo
Total 91 10 106
Tabela 2. Frequência de comportamentos pertencentes à Categoria Desrespeitar (normas e regras da escola, aluno-pro-
fessor, aluno-funcionário e aluno-aluno) e frequência dos diferentes tipos de antecedentes e consequentes relatados
como relacionados à emissão destes.
261
Sônia M. M. Neves, Fábio H. Baia, Fernanda dos S. Cerqueira,
COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
Categoria Tipos de
Frequência Frequência Tipos de Consequentes Frequência
Agredir Fisicamente Antecedentes
Encaminhado à
Aluno professor 2 Agressão física 1 18
coordenação
Não uso de
1 Aluno foi advertido 4
medicamento
Interação com
1 Suspensão 3 dias 4
o colega
Orientação aluno 3
Responsável orientado
2
procurar psicólogo
Responsável orientado
1
procurar Conselho tutelar
Responsável orientado
1
levar aluno ao CAIS
Total 40 7 54
A Tabela 3 apresenta a frequência dos regis- à coordenação”. Nos demais registros houve
tros classificados como envolvendo a categoria grande diversificação do tipo de consequência
agredir fisicamente. Em geral a agressão física liberadas pela escola para episódios de agres-
envolveu conflitos entre alunos. Vale destacar são física. Na Tabela 4 é possível observar as
que foi possível categorizar ao menos dois categorizações de registros classificados como
episódios nos quais um aluno agrediu um pro- envolvendo agressão verbal. Em geral os re-
fessor. Nas situações nas quais foram possíveis sultados são similares aos da categoria agredir
identificar os eventos ambientais antecedentes, fisicamente. A maioria dos episódios envolveu
na maioria das vezes, o registro descrevia que agressões entre alunos. Porém a frequência de
um desentendimento entre alunos havia ocor- agressões de alunos a professores foi maior
rido. Em relação aos eventos consequentes foi – 11 ocorrências. O evento antecedente mais
possível perceber que “chamar o responsável frequente foi “chamar a atenção do aluno”.
pelos alunos envolvidos na agressão” foi a con- Novamente as consequências mais frequentes
sequência mais comum em casos de agressão foram respectivamente, “encaminhar à coor-
física seguida da consequência “encaminhar denação” e “chamar o responsável”.
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
EM FOCO VOL. 9
Categoria
Agredir Frequência Antecedentes Frequência Consequentes Frequência
Verbalmente
Desentendimento Encaminhado à
Aluno aluno 19 4 20
entre alunos coordenação
Escola convocou o
Aluno professor 11 Agressão física 3 11
responsável
Não uso de Aluno foi chamado
Aluno Funcionário 7 2 3
medicamento atenção
Interação com Responsável orientado a
1 3
o colega procurar um psicólogo
Coordenadora foi chama-
2
da à sala de aula
Orientação ao
1
responsável
Suspensão por 3 dias 1
Orientação ao aluno 1
Retirou o recreio do aluno 1
Total 37 10 44
Tabela 4. Frequência de comportamentos pertencentes à Categoria Agredir Verbalmente (normas e regras da escola,
aluno-professor, aluno-funcionário e aluno-aluno) e frequência dos diferentes tipos de antecedentes e consequentes
relatados como relacionados à emissão destes.
A Tabela 5 apresenta a frequência dos regis- “Não realizar tarefas” e “Atrapalhar a aula”
tros categorizados como “causar danos”. De foram as categorias mais registradas como
modo geral os danos foram causados mais não violentas. Vale destacar que a categoria
à escola do que aos pertences de outros “usar drogas” correspondeu à apenas 4% das
alunos. Não houve danos a propriedades de ocorrências. Em relação ao contexto/ambiente
professores e funcionários. Em apenas três físico “Sala de aula” foi o de maior frequência.
registros foi possível identificar o evento an-
tecedente. Nesses casos, em cada registro Dada a frequência com que o evento “chamar
o evento antecedente foi diferente. Já em responsável a escola” apareceu nos registros
relação às consequências novamente “en- foi realizada a verificação da correspondência
caminhar à coordenação” e “chamar o res- entre esse registro e o comparecimento dos
ponsável foram os registros mais frequentes. responsáveis. Essa checagem foi realizada
por meio de registros de comparecimento.
Os episódios não violentos foram categoriza- Das 92 vezes em que foram registradas as
dos em 148 registros como pode ser observa- convocações após episódios de violência ob-
do na Tabela 6. Em relação aos registros dos servou-se que em 61 delas (66%) os respon-
comportamentos não violentos, as categorias sáveis compareceram.
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
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Tabela 5. Frequência de comportamentos pertencentes à Categoria Causar Danos (depredação a escola, danos a pertences
pessoais) e frequência dos diferentes tipos de antecedentes e consequentes relatados como relacionados à emissão destes.
Não realizar tarefas: Não realizar atividades propostas pelos professores em sala de aula ou para
488 32
serem feitas em casa e não realizar atividades propostas pela escola.
Atrapalhar a aula: Conversar e brincar durante a aula com colegas de dentro ou do lado de fora
da sala de aula. Assoviar dentro da sala de aula. Gritar ou conversar alto com um colega. Fazer
barulho com as mãos, batendo em alguma coisa ou falando sozinho de forma que atrapalhe o
43 29
trabalho do professor e dos colegas, chamando atenção para si. Fazer com que atenção dos co-
legas e do professor se volte à um objeto específico não relacionado com o tema da aula. Entrar
em outras salas durante as aulas de outros professores que não seja a do aluno.
Faltar com zelo em relação aos materiais escolares: Não levar livros e/ou matérias escolares
20 14
necessários para as aulas. Desorganização com os materiais escolares.
Apresentar baixo rendimento escolar: Tirar notas baixas, demonstrar incapacidade de realizar
13 9
tarefas escolares, dificuldades de aprendizagem em relação aos conteúdos escolares
Produzir situações aversivas no relacionamento interpessoal: Entrar em conflito e gerar intrigas com
9 6
colegas. Demonstrar nervosismo, falta de educação e arrogância ao se relacionar com outras pessoas.
Usar drogas: Relatos e suspeitas do uso de drogas dentro e fora da escola. 5 4
Usar celular: Fazer ou atender ligações durante as aulas. Usar aparelhos celulares para conectar à
3 2
internet ou mandar mensagens durante as aulas.
Fazer comentários com conteúdo sexual: Conversas sobre relatos de relação sexual e com con-
3 2
teúdos pornográficos em público.
Sentir-se mal: Sentir mal-estar corporal dentro ou fora da sala de aula. Desmaiar ou ficar inconsciente. 2 1
Relacionar-se com intimidade física: Beijar colega dentro do ambiente escolar. 2 1
Total 148 100
Tabela 6. Relação das categorias de comportamentos não violentos, sua respectiva frequência e porcentagem.
264
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
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Discussão
Os resultados obtidos a partir da leitura e Nesse sentido vale destacar que o presente
categorização dos episódios relatados ver- estudo envolveu uma interpretação dos re-
balmente no Livro de Ocorrências permiti- gistros comportamentais presente no Livro
ram conhecer alguns aspectos da realidade de Ocorrências. Dada a impossibilidade de
da violência experienciada por membros de acesso direto ao comportamento e em função
uma escola pública inserida em um território das ocorrências terem sido registradas de
de vulnerabilidade. Estes relatos facilitaram modo incompleto, não foi possível proceder
a análise do fenômeno, permitindo identifi- uma análise funcional do comportamento. O
car possíveis relações de dependência entre o uso da interpretação não é novo na Análise
comportamento violento dos alunos e even- do Comportamento. Skinner (1957) fez uso
tos ambientais. O relato verbal é, portanto, de interpretações para compreender o com-
considerado um dado que se apresenta útil portamento verbal. É necessário que as in-
para interpretação dos fenômenos compor- terpretações sejam amparadas por conceitos
tamentais (Neno, 2003). desenvolvidos com base em estudos empíri-
cos, especialmente de caráter experimental.
A análise documental ofereceu a possibili-
dade de interpretação dos registros ao serem Outro ponto de limitação deste trabalho en-
categorizados. Entretanto, é preciso consi- volve a definição do que é um comportamen-
derar com cuidado os resultados apontados to violento. Isso porque a variabilidade na
neste estudo. Isso porque os registros não compreensão do que é um comportamento
são produtos diretos dos comportamentos violento ou não, é determinado por diferen-
descritos no Livro de Ocorrências. De fato, tes realidades sociais. A categorização dos
os registros podem no máximo serem con- eventos registrados no livro de ocorrências
siderados como produto do comportamento de uma escola permite identificar que tipos
de quem redige os registros. Essa limitação de episódios mostram-se relevantes para
é exatamente importante a ser considerada esta comunidade, ou seja, que tipos de even-
pelo leitor. Entretanto, é preciso destacar tos conturbam o seu ambiente, comprome-
que o Livro de Registros pode tornar-se tendo a segurança e intervindo na qualidade
uma importante ferramenta para diagnós- das relações interpessoais do cotidiano da
tico situacional da violência nas escolas. Para escola. Também permite comparar os dados
tanto, seriam necessários treinos do com- obtidos em diferentes estudos, caracteri-
portamento de registrar tanto para professo- zando como a violência ou indisciplina se
res quanto funcionários. A correspondência manifestam em diferentes ambientes esco-
verbal fazer – dizer, a acurácia do tato são lares (Vóvio et al., 2016). Porém, é preciso
fatores importantíssimos para que o Livro de ainda considerar que o Livro de Ocorrências
Ocorrências seja uma ferramenta mais eficaz é utilizado mais como uma forma de coagir
para mensuração da violência nas escolas. o estudante. O registro de comportamentos
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
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depende de um julgamento moral por parte Além das categorias de comportamentos vio-
de quem registra. Pode ser que o livro seja lentos, também foi identificado um número
usado mais como um modo de suprimir expressivo de episódios que foram catego-
comportamentos do que permitir um re- rizados pelos pesquisadores como inapro-
gistro do que ocorre na escola. O uso do priados. Em outros estudos, (Cunha, 2009;
Livro de Ocorrências como um instrumen- Fonseca et al, 2012; Santos & Gomide, 2014;
to para suprimir comportamentos denota Vóvio et al., 2016) estes são identificados
a incapacidade da comunidade escolar em como indisciplinares. Mas vale questionar
programar contingências que promovam se episódios como “passar mal” deveriam
comportamentos pró-estudo e pró-sociais. ser considerados indisciplina.
Vale destacar que o modo como a interpreta- No presente estudo, observamos maior fre-
ção foi possível neste trabalho não permite, quência de ocorrência de comportamentos
por exemplo, determinar se dada consequ- considerados violentos do que não violen-
ência de fato controla o comportamento. O tos corroborando os dados encontrados por
que foi realizado é uma interpretação por Cunha (2009) e por Vóvio et al. (2016), cujas
meio da contiguidade entre eventos des- pesquisas também foram realizadas em es-
critos no registro. É sabido que no caso de colas da rede pública municipal de grandes
controle coercitivo existem ao menos duas centros urbanos, localizadas em regiões,
contingências que precisam ser considera- descritas pelos autores, com alto índice de
das. A saber (1) do comportamento passível violência. Diferentemente dos achados do
de punição e (2) do comportamento do pu- presente estudo onde episódios categorizados
nidor. Neste estudo não foi possível detec- como “Desrespeito” foram mais frequentes
tar eventos ambientais que determinaram o que a “Agressão Física” e “Agressão Verbal”,
comportamento dos punidores – isto é, quais em ambos os trabalhos citados acima, episó-
eventos estão relacionados na determinação dios de agressão física lideraram nos relatos
do comportamento de registrar episódios no dos livros de ocorrência. Os relatos utiliza-
Livro de Ocorrências. dos nesta análise não permitiram identificar
outras variáveis que possam explicar essas
As categorias identificadas no presente diferenças, mas apontam para a urgência de
estudo mostraram que comportamentos medidas que visem conter os altos índices
como desrespeito, agressão física, verbal e de comportamentos considerados violen-
causar danos são frequentes relatados pelos tos e que também sejam adotadas medidas
agentes disciplinadores e foram considera- preventivas para que episódios de violência
dos violentos já que implicam o uso de força física não venham a sobrepor os outros tipos
física ou poder, ameaçados ou reais, contra de violência já identificados.
si mesmo, contra outra pessoa ou contra um
grupo ou comunidade, que possam resultar Observou-se, no entanto, maior número
em ferimento, morte ou dano psicológico. de comportamentos indisciplinados que
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COMPORTAMENTO João Claudio Todorov, Anna C. G. Souza, Ivaldo F. de Melo Junior
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violentos nos estudos de Santos e Gomide comportamentos, entendendo que essa análise
(2014), Nascimento et al. (2006) e Nascente nos permite averiguar a determinação desses
et al. (2015). O fato de Nascente et al. (2015) comportamentos (Catania, 1999). Nesse sen-
e Nascimento et al. (2006), conduzirem seus tido, a análise funcional dos episódios de vio-
estudos em escolas do interior dos estados de lência identificados no presente estudo, assim
São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, como o relatado por Santos e Gomide (2014)
indica uma importante diferença contextu- evidenciou, principalmente, que o registro
al, muito discutida na literatura e na mídia, dos episódios carecem de informações sobre
que apontam a formação de grandes centros os antecedentes, ou seja sobre as circunstan-
urbanos como preditores do aumento da vio- cias que geram essas ocorrências. No presente
lência (Kaztman, 2001) e correlacionado este estudo dos 181 eventos registrados no Livro
fenômeno a baixa qualidade das oportunidades de Ocorrência e categorizados como compor-
educativas para aqueles situados nas periferias tamentos violentos apenas em 30 (16,5% dos
das metrópoles (Érnica & Batista, 2012). registros) foi possível identificar descrição de
evento antecedente. Havia 40 ocorrências de
Segundo Mattaini (1996), o comportamento comportamentos violentos do tipo agredir fi-
violento deve ser analisado como uma prati- sicamente e em apenas sete registros o evento
ca cultural, composta por contingencias en- antecedente foi descrito (ver Tabela 3). Chama
trelaçadas. O comportamento violento é uma atenção o fato de que mesmo em casos de
prática em nossa cultura e sociedade onde comportamentos violentos – como agressão
aprendemos através de modelos e instrução física – o registro não envolveu a descrição
a emitir o comportamento violento, o qual é de eventos antecedentes o que dificulta com-
mantido pela cultura através de reforçamen- preender por exemplo quais situações estão
to positivo e negativo. Análises culturais do envolvidas na determinação deste comporta-
comportamento violento podem, portanto, mento. Por outro lado, em dois dos três re-
ajudar a identificar as várias e complexas gistros de danos a pertences de outros alunos
relações que nos permitirão compreender e foi realizado o registro do evento antecedente
intervir não só no âmbito do comportamento (ver Tabela 5). Na subcategoria “desrespeitar”
do indivíduo como da sociedade. nota-se que os eventos categorizados como
“Normas e regras da escola” foram poucos os
Diferentemente de outros estudos que tive- registros nos quais foi possível identificar o
ram como fonte de dados os livros de ocor- evento antecedentes. Nestes casos de registro
rências, visando compreender o fenômeno da do antecedente todos envolveram o professor
violência escolar acima citados, as pesquisas “chamar a atenção do aluno”. Entende-se que
analítico funcionais se interessam não só com a atitude do professor de chamar a atenção do
a descrição topográfica dos eventos compor- aluno pode ter funcionado como um estímulo
tamentais, mas se atentam principalmente discriminativo para uma resposta violenta por
com a identificação dos eventos ambientais parte do aluno nessas ocasiões. Porém, como
antecedentes e consequentes na emissão dos destacado anteriormente é preciso considerar
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e um pequeno e especifico grupo de alunos foi uma das consequências mais frequentes
responsáveis pela alta frequência desse tipo dada emissão dos episódios de violência.
de prática nessa escola. Porém, é preciso considerar que isso não
significa que as famílias estejam presen-
Em relação aos protagonistas, os dados do tes na comunidade escolar. É possível que
presente estudo, corroboram os de Fonseca tenha ocorrido uma espécie de “devolução
et al. (2012). Nas duas escolas investigadas do problema” para os responsáveis. A Escola
naquele estudo, 9% e 12% do total de alunos deveria ser capaz de auxiliar no ensino de
dessas instituições apareceram como sujei- comportamentos pró-sociais. E não apenas
tos desses episódios de violência. Deve-se imputar aos responsáveis legais como os
considerar um grupo alvo no delineamento únicos responsáveis pelo ensino de habili-
de uma intervenção efetiva e levar em con- dades sociais e comportamentos pró-sociais.
sideração aspectos específicos do contexto O estreitamento da relação família escola é
de sala de aula. Além disso, casos específicos frequentemente apontado na literatura como
como o identificado nesse estudo, em que um importante e frágil aspecto para lidar
dois alunos que aparecem mais de 10 vezes com as mais diversas situações problema na
nos registros, indicam a necessidade de in- escola (Fonseca et al., 2012).
tervenção comportamental individualizada.
Certamente, o comportamento violento de Biglan e Glenn (2013) afirmam ser necessária
poucos alunos pode comprometer a sensação a identificação das variáveis controladoras
de segurança e bem-estar de todos os mem- do comportamento violento na escola e os
bros da comunidade escolar (Fonseca et al., autores descrevem algumas formas de pro-
2012). É preciso ainda considerar a limitação mover um ambiente que favoreça compor-
nestes estudos uma vez que os alunos são tamentos pró-sociais (comportamento que
sempre os protagonistas de atos de violência contribui positivamente para a sociedade e/
já que cabe aos professores e funcionários o ou o próprio indivíduo), nos diversos seto-
registro de eventos no Livro de Ocorrências. res da sociedade, como a família e a escola,
Nesse sentido, os alunos não podem registrar ressaltando a importância do reforçamento
os episódios em que são vítimas da violência dos comportamentos pró-sociais e seu re-
perpetrada por professores e funcionários. conhecimento pela sociedade.
Um modo de compreender a violência a qual
alunos estão sujeitos seria considerar que o Mattaini e McGuire (2006) afirmam que vários
contra-controle é um sintoma de um am- programas de treinamento de habilidades
biente aversivo. Deste modo, alta frequência universais e alguns programas comunitários,
de contra-controle poderia estar correlacio- parecem ter a promessa significativa para a
nado a ambientes coercitivos. operacionalização da diminuição da violên-
cia, porém as estratégias comportamentais
A participação da família na tentativa de básicas (por exemplo, treinamento de ha-
lidar com o problema da violência escolar bilidades, aumentos substanciais no reforço
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Maria E. Rodrigues, Caio F. F. Felisberto,
COMPORTAMENTO Taysa G.Castrillon, Virgínia C. Amorim, Thiago M. de Brito
EM FOCO VOL. 9
PALAVRAS-CHAVE
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Maria E. Rodrigues, Caio F. F. Felisberto,
COMPORTAMENTO Taysa G.Castrillon, Virgínia C. Amorim, Thiago M. de Brito
EM FOCO VOL. 9
Abstract
for the families. The teaching was based
Public policies can be understood through on an intersectoral and interdisciplinary
the behavioral analysis of culture. In the discussion of cases, through a learning
case of drug use policies, it is possible to strategy based on drug problems. The
propose educational strategies, implemented training provided changes in the perception
by Regional Reference Centers. This chapter about family, self-confidence in intervention
describes the formative process “Theory with family members, and construction of
and Practice in Interventions with Families the intersectoral care network, according to
of Drug Users”, coordinated by behavior data from the various instruments applied
analysts, in which 43 professionals from before, during and after the training process.
the Unified Health and Social Care Systems
were trained in the following topics: impact
of drug use in the family, evaluation of KEYWORDS
the collaborative behavioral profile of the
Cultural practice; Permanent education; Public policy;
relatives, and proposition of interventions Chemical dependency; Family.
Análise do comportamento e
políticas públicas
A análise comportamental da cultura foi da seleção cultural do comportamento de
iniciada no livro Ciência e Comportamento grupos (Skinner, 1981).
Humano (Skinner, 1953), desenvolveu-se
nos anos de 1980 e 1990, e aperfeiçoou-se Em meados dos anos de 1980, Glenn (1986)
nos últimos anos com uma robustez teó- propôs o conceito de metacontingência e,
rico-metodológica que permite entender o em seguida, formulou novos conceitos, tais
surgimento, a manutenção, a modificação como produto agregado (Glenn, 1988) e
e a extinção de práticas culturais (Glenn et macrocontingência (Glenn, 2004), apresen-
al., 2016). Isto foi possível pela potencia- tados como úteis na mudança de compor-
lidade da análise funcional do comporta- tamentos envolvidos em problemas sociais
mento individual, com o conceito de con- (Malott & Glenn, 2006), como a incidência
tingência de reforço, transferida ao nível ou a prevalência do uso arriscado de drogas1.
1 Este capítulo emprega o termo arriscado para os dois padrões de uso de drogas constantes nos manuais diagnósticos e relevantes
à saúde pública: o abuso e a dependência (Barbor, Campbell, Room, & Saunders, 1994).
274
Maria E. Rodrigues, Caio F. F. Felisberto,
COMPORTAMENTO Taysa G.Castrillon, Virgínia C. Amorim, Thiago M. de Brito
EM FOCO VOL. 9
Como unidade de análise de uma prática cul- de drogas ilícitas ou de atenção integral a
tural, metacontingência descreve relações usuários e familiares podem ser analisadas
funcionais em um conjunto de contingências como metacontingências, porque são con-
de reforço entrelaçadas, formando uma cul- tingências comportamentais entrelaçadas
tura, ou seja, a prática na qual comporta- em práticas culturais que geram um pro-
mentos de membros individuais e produtos duto agregado que as mantém, por reforçar
desses comportamentos interagem, gerando o entrelaçamento.
um produto agregado que seleciona a prática
dos membros, em vez dos seus comporta- Políticas públicas (e.g., saúde, assistência
mentos individuais (Glenn, 1988). O produ- social, segurança) são conjuntos de regras e
to agregado é selecionado por um sistema de contingências que controlam programas
receptor (Glenn, 2004). Quando o compor- de ações governamentais (nos níveis federal,
tamento individual tem como consequên- estadual ou municipal) com objetivos defi-
cia um produto e esse produto é recorrente nidos e procedimentos de enfrentamento de
como a mesma consequência para o com- problemas sociais. Tais políticas iniciaram-
portamento de vários indivíduos, tem-se um -se com o controle das epidemias e hoje são
macrocomportamento, que é parte de uma dirigidas a uma ampla variedade de proble-
macrocontingência. O produto cumulativo mas psicológicos e comportamentais, bem
do macrocomportamento em uma macro- como aos fatores de risco a eles associados
contingência não retroage sobre os compor- (Biglan, 2016), como os problemas do abuso
tamentos individuais (Glenn, 2004). e da dependência de substâncias psicoati-
vas (drogas). Esses conjuntos de regras e
Os conceitos da análise comportamental da contingências são interconectados (em por-
cultura podem ser empregados na compre- tarias/decretos que funcionam como guias
ensão do problema social do uso arriscado de para intervenções), e as contingências são
drogas e da proposta para seu enfrentamen- em geral entrelaçadas, e visam a execução
to, segundo descrevem, em geral, as políticas direta de intervenções e/ou o treinamento
públicas sobre drogas no Brasil (cf. Brasil, para a realização de tais intervenções por
2003; 2005). Assim, padrões de uso indivi- meio de políticas de educação permanente.
dual (e.g., o abuso) podem ser compreen-
didos como componentes de contingências, Uma vez que se configuram como aspecto
porque são relações de dependência entre do ambiente cultural, as políticas públicas
eventos envolvendo o uso; já a prevalência interferem em vários contextos da nossa
desses padrões em muitos indivíduos pode vida, e se integram (ou deveriam se inte-
ser entendida como macrocontingência, uma grar) na consecução da atenção integral às
vez que essa prevalência, em epidemiologia, necessidades dos cidadãos que pagam os tri-
é o somatório das contingências individuais butos que sustentam tais políticas (Biglan,
das quais o uso é um componente. Por sua 2015; Dittrich, 2004). Tal integralidade se
vez, as estratégias de produção e comércio relaciona com as características-chave das
275
Maria E. Rodrigues, Caio F. F. Felisberto,
COMPORTAMENTO Taysa G.Castrillon, Virgínia C. Amorim, Thiago M. de Brito
EM FOCO VOL. 9
políticas públicas (Biglan, 2016): a redução Descreve-se esse processo formativo conce-
da incidência ou prevalência de transtornos bendo-o como parte de um conjunto de prá-
ou do comportamento-alvo; a realização ticas culturais, que segundo o “Plano Crack”,
de pesquisas sobre fatores de risco e pro- possui três eixos (prevenção, cuidado e auto-
teção relacionados a tal comportamento, ridade), sendo a educação permanente parte
bem como sua vigilância epidemiológica; e do eixo prevenção. Tal conjunto de práticas
a implementação de programas ou práticas culturais tem como objetivo, como produto
que incidam sobre o comportamento-alvo. agregado final, a redução da oferta e da pro-
cura de substâncias psicoativas no contexto
A Análise do Comportamento, como corpo social. As práticas do eixo prevenção, pela
de conhecimento sólido e sistematizado, via da capacitação de servidores públicos, a
tem participado da avaliação e do enfrenta- maioria do poder executivo municipal, deve-
mento de problemas sociais, contribuindo riam ter como efeito (ou produto agregado)
para a elaboração e reformulação de políticas o aumento do número de profissionais (das
públicas (Sampaio & Leite, 2015), demons- redes de saúde, segurança pública, educação,
trando efetividade no trabalho com práticas assistência social, justiça, operadores do di-
culturais (Fawcett et al., 1988). O trabalho reito, lideranças religiosas e comunitárias)
do analista de comportamento em políticas capacitados para fazerem ocorrer a redução
públicas é o meio mais prático de influenciar da incidência de fatores de risco e o aumento
práticas culturais. Nesse contexto, o alcan- da incidência de fatores de proteção para o
ce dos objetivos das políticas públicas pode comportamento de usar drogas.
ser expandido por meio da disseminação de
intervenções eficazes para lidar com proble- Para que se compreenda o processo formativo
mas comportamentais (Biglan, 2016). aqui descrito, aborda-se nas seções seguin-
tes a política pública como prática cultural,
Este capítulo é sobre um desses meios: a especificamente a política sobre drogas atu-
educação permanente em saúde e assistên- almente em vigor no Brasil, destacando-se
cia social, um trabalho realizado na política nela o papel da família do usuário de drogas
pública em álcool e drogas no Brasil, deno- como parte dos objetivos e procedimentos
minada Plano Integrado de Enfrentamento da execução dessa política. A experiência em
ao Crack e outras Drogas, instituído pelo política pública aqui descrita se insere nas
Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010, ou características-chave descritas por Biglan
resumidamente “Plano Crack” (Brasil, 2010). (2016), mais especificamente, em seus objeti-
Assim, o objetivo deste trabalho é descrever vos de reduzir fatores de risco familiares para
um processo formativo do “Plano Crack” de- o uso de drogas e criar condições de ensino de
nominado “Teoria e Prática em Intervenções práticas apontadas na literatura como tendo
com Familiares de Usuários de Drogas”, uma efeitos sobre a incidência ou prevalência de
prática cultural de educação permanente co- problemas na família relacionados ao uso de
ordenada por analistas do comportamento. drogas por um ou mais dos seus membros.
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Nesse contexto, o comportamento usar droga para mudar o repertório de agentes de ser-
é analisado como tendo sido selecionado viços de saúde e assistência social diante da
por três histórias inter-relacionadas: a da prevalência do uso de drogas, a fim de que
espécie humana (filogênese), a do usuário eles pudessem mudar os comportamentos
ou indivíduo (ontogênese) e a da cultura do de familiares de usuários de drogas, como
grupo do usuário (Skinner, 1981). Uma vez parte da atenção integral e intersetorial pre-
que essas histórias interatuam na determina- conizada pelo “Plano Crack” (Brasil, 2010).
ção da dependência química, vista como um
processo biopsicossocial, seu enfrentamento
em políticas públicas deve envolver ações em Políticas públicas sobre drogas
variáveis derivadas destes três níveis de se- e famílias de usuários
leção (Borloti, Machado, & Haydu, 2015), tais
como a farmacoterapia, a terapia compor- A Lei Federal 10.216 (Brasil, 2001) redire-
tamental individual e o delineamento cul- cionou o modelo de assistência em saúde
tural que, segundo as práticas selecionadas mental (aí incluída a atenção decorrente de
de reinserção social de usuários de drogas transtornos pelo uso de substâncias psico-
(Arsa & Comas, 2000), poderia ocorrer no ativas), assegurando tratamento realizado
nível microssocial (como a intervenção fa- preferencialmente em serviços comunitá-
miliar) ou macrossocial (como a educação rios de saúde mental, em ambientes extra-
permanente do funcionalismo público que -hospitalares e com adequada participação
objetiva torná-los capacitados para executar da sociedade e da família (Brasil, 2001). A
essa intervenção). partir dessa legislação, a família foi sendo
gradualmente incorporada às políticas pú-
Seja como for, ao mudarmos qualquer prá- blicas, como parte ativa e como parceira no
tica cultural, como as de uma família, as do tratamento em saúde mental.
tráfico ou as da execução de serviços aos
usuários de drogas, estaremos diante do A criação dos Centros de Atenção Psicossocial
objeto da Análise do Comportamento, visto (CAPS), nas suas múltiplas modalidades
que “Propor uma mudança em uma práti- (Brasil, 2002), foi determinante para a con-
ca cultural, fazer tal mudança e aceitar tal solidação da oferta de serviços ambulatoriais
mudança são todas partes do nosso objeto aos usuários de drogas e suas famílias. O
de interesse” (Skinner, 1953, p. 427). Assim, CAPS Álcool e Drogas (CAPS ad), direciona-
para propormos uma mudança em uma prá- do à prevenção do uso arriscado de drogas
tica cultural relacionada ou inserida em uma e ao tratamento e reabilitação de pessoas
política pública, devemos estar cientes de com transtornos relacionados a este uso, é
que estamos tentando mudar práticas dentro o principal serviço especializado para acom-
de práticas. No caso discutido neste capítulo, panhamento dos usuários e de suas famílias.
mudamos a forma de ensinar em educação Nele, as famílias são atendidas e orientadas
permanente em saúde e em assistência social por meio de diversos serviços previstos, como
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controle coercitivo produziriam uma melhora e o membro usuário de drogas. Por fim, é
no bem-estar humano, uma vez que: (a) en- necessário avaliar as modificações produzi-
frentariam um processo que afeta múltiplos das nessas relações a partir das intervenções
problemas de comportamento e de saúde; e implementadas com os familiares dos usu-
(b) expandiriam as estratégias de redução da ários de drogas.
coerção e de sua prevenção, antes que ela re-
sulte nos problemas significativos que produz. O protocolo de atenção a familiares de usuá-
rios de drogas estudado no processo forma-
A tarefa principal em uma intervenção com tivo “Teoria e Prática em Intervenções com
familiares de usuários de drogas, a partir do Familiares de Usuários de Drogas” (Servicio
que foi descrito por Banaco (2008), portanto, Extremeño de Salud, 2011) apesar de não ser
é descrever as relações membro-membro e oriundo do modelo conceitual da Análise do
grupo(s)-membro(s) de modo empático, não Comportamento, apresenta uma compre-
julgador, entendendo como essas relações ensão que se assemelha em muitos aspec-
podem ter sido fatores de risco para o uso tos à análise funcional do comportamento,
de drogas e como podem estar atuando na ferramenta básica de trabalho do analista
manutenção desse uso. Além disso, é im- comportamental. A classificação do familiar
portante descrever como o uso é avaliado em não-colaborador (com o tratamento do
por cada familiar individualmente e como usuário de drogas), colaborador (com esse
ele impacta a família como grupo. Em outros tratamento) e codependente (da condição do
termos, é importante entender como cada usuário), apresentada no referido protocolo,
membro é impactado individualmente e se refere a relações funcionais que se estabe-
pode estar atuando na manutenção do uso de lecem entre o usuário de drogas e o familiar
drogas e poderia ajudar na sua modificação. com quem ele interage.
Ademais, faz-se necessário criar contingên-
cias para promoção do bem-estar e aquisição Assim, em uma análise funcional, o familiar
de respostas no repertório de cada familiar não-colaborador é, em geral, alguém que
que busca ajuda, uma vez que no médio e apresenta um padrão de fuga-esquiva de en-
no longo prazo essas contingências podem volvimento com o usuário e seus problemas
alterar as relações do familiar com o usuá- com as drogas, muitas vezes em função de
rio e, consequentemente, reduzir fatores de punições sofridas em tentativas anteriores
risco para o consumo de drogas, na medida de aproximação, ou como forma de alívio do
em que as interações familiares promovam sofrimento causado pelo envolvimento com o
mais bem-estar e ocorram a partir de menos usuário. O familiar colaborador, por sua vez,
controle coercitivo. Nesse contexto, “a parte pode ser entendido como aquele que consegue
mais demorada de uma intervenção em um se aproximar do usuário e auxiliá-lo na busca
grupo familiar” (Banaco, 2008, p. 202) é por tratamento, ainda que consequências aver-
a autossustentação das contingências não sivas advenham dessa aproximação; enquan-
coercitivas nas relações entre os familiares to que o familiar codependente é aquele que,
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pela rede de contingências estabelecidas com Drogas” foi ofertado pelo Centro Regional
o usuário, já desenvolveu comportamentos de Referência em Prevenção, Atenção e
não-saudáveis ou adoecedores nessa relação, Reinserção – Álcool e Drogas, ação da política
tais como os comportamentos emocionais da pública “Plano Integrado de Enfrentamento
“depressão” e os comportamentos agressivos. ao Crack e outras Drogas” (Brasil, 2010),
com financiamento da Secretaria Nacional
de Políticas sobre Drogas, do Ministério da
Método Justiça. Nesta política, a educação perma-
nente dos servidores públicos que atuam na
Participantes atenção integral aos usuários de drogas e
seus familiares foi proposta de modo a in-
Participaram deste curso 43 profissionais com tegrar servidores de setores governamentais
nível superior de ensino, trabalhando como que executavam políticas que objetivavam a
enfermeiros (N=8), psicólogos (N=12), assis- resolução de problemas relacionados ao uso
tentes sociais (N=17), médico (N=1) e outras de drogas (problemas na saúde, problemas
funções (N=5); o tempo desses profissionais legais, problemas de moradia, dentre outros).
em seu cargo ou função foi de 8.4 anos em Dada esta intersetorialidade, a educação per-
média (Min=menos de um mês, Max=32 anos, manente tornou-se um dos eixos estrutu-
DP=8.6 anos). A maioria dos participantes rantes, de fato, de uma política interminis-
era mulheres (N=38), e sua idade variou de terial, o Plano Integrado de Enfrentamento
20,7 a 58 anos (M=37,9 anos, DP=9.1 anos). ao Crack e outras Drogas, em uma tentativa
A maioria dos participantes já havia partici- de ter esse “enfrentamento” como um pro-
pado de algum evento, curso ou treinamen- duto agregado da ação de vários servidores
to sobre tema relacionado a drogas (N=41). em diferentes ministérios.
Os profissionais eram oriundos de diversos
equipamentos da RAPS de dois municípios da Assim contextualizado, o processo forma-
Grande Vitória/ES: Unidades Básicas de Saúde tivo “Teoria e Prática em Intervenções com
(N=19); Centros de Referência de Assistência Familiares de Usuários de Drogas” atrelou a
Social (N=10); Unidade de Pronto Atendimento pesquisa na educação permanente de modo
(N=4); Centros de Atenção Psicossocial (N=3); a avaliar a sua eficácia, treinou o uso de um
Gestão de Saúde Mental (N=2); Gestão da protocolo de intervenção com base em evi-
Assistência Social (N=1); e outros locais (N=4). dência (Servicio Extremeño de Salud, 2011)
e arranjou contingências para promover
a aprendizagem dos conceitos envolvidos
Instrumentos e procedimentos nesse protocolo e do planejamento da sua
execução, bem como ensinar o monitora-
O processo formativo “Teoria e Prática em mento do impacto de sua implantação nos
Intervenções com Familiares de Usuários de serviços (Borloti & Romanholi, 2014).
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apoio utilizado, instalações físicas, estraté- físicas do curso (M=3.9), enquanto os itens
gias de ensino, dentre outros aspectos. No que receberam a menor avaliação foram en-
encerramento do processo formativo foi feita cadeamento dos temas e aplicabilidade dos
uma avaliação de reação, na qual os alunos conteúdos abordados, ambos com M=3.3. Os
puderam expressar sua percepção do curso, alunos relataram aproveitamento médio igual
a partir de questões norteadoras: Como foi o a M=8.5, DP=.8, em uma escala de 1 a 10.
processo formativo? O que foi positivo? O que
foi negativo? Quais as sugestões de melhora? Na avaliação de reação, os participantes apre-
sentaram como principais pontos positivos:
a relevância dos conteúdos abordados no
Resultados curso; a ampliação e troca de conhecimentos
entre os participantes; a aplicabilidade dos
O escore médio de conhecimento do grupo conteúdos do curso na realidade dos servi-
antes do curso, avaliado pelo Instrumento de ços; as mudanças na percepção geral sobre
Verificação de Domínio de Conhecimentos, a família e sobre a dependência química; o
foi de M=1.9, DP=.5, em uma escala de 1 a favorecimento da construção da rede entre os
5, enquanto o escore médio do grupo após municípios participantes mediante articula-
o curso foi de M=3.1, DP=.8. A comparação ção entre as áreas da saúde e da assistência
entre os escores mostrou aumento signifi- social; dentre outros. Foi reforçador ouvir
cativo do conhecimento após a realização do relatos de prazer: (a) em conhecer as “caras”
curso (Teste de Wilcoxon, Z=-5.2, p<.0001). dos que compõem a RAPS; (b) em solucionar
Calculamos ainda os escores médios de todas de modo intersetorial os encaminhamentos
as questões para cada indivíduo, antes e após de casos de usuários de drogas; (c) em visu-
o curso. Houve correlação significativa entre alizar um modo operacional de classificar e
os escores médios individuais antes e após o atender grupos de familiares de modo mais
curso em cada afirmação avaliada (Correlação efetivo, conforme indicado pelo protocolo
de Spearman, χ=.57, p=.008). Houve também adotado como parâmetro da formação.
diferença significativa entre os resultados
dos itens do instrumento antes do curso Como aspectos negativos os alunos aponta-
(χ2=400.9, p<.0001) e após o curso (χ2=153.7, ram: as atividades de dispersão, vistas como
p<.0001), indicando que o conhecimento dos onerosas pelos participantes, na medida em
diferentes tópicos variava antes do curso e que não tinham as condições ideais de exe-
continuou variando após a conclusão deste. cutá-las fora do horário do curso e fora do
horário de trabalho, gerando sobrecarga; e o
A avaliação média do curso, a partir da Ficha de envio do material didático (plano de aula e
Avaliação dos Centros de Referência foi M=3.5, slides) sem muita antecedência da respectiva
DP=.5, em uma escala de 1 a 5, denotando aula, não permitindo que os alunos pudes-
uma avaliação positiva da formação. O item sem acessá-los antes e se preparar melhor
que recebeu a melhor avaliação foi instalações para as aulas.
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Discussão
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aumento do número de capacitados para re- que mostra a cooperação entre atores de dife-
duzir a incidência de fatores de risco e au- rentes metacontingências no enfrentamento
mentar a incidência de fatores de proteção do mesmo macrocomportamento-problema.
para o usar drogas. Como analistas do comportamento observa-
mos como o espaço de educação permanente
O cotidiano das aulas mostrou que a PAIAUD é importante para que os atores da RAPS se
(Brasil, 2004c) pareceu antever alguns dos vejam como a concretude dessa rede, uma vez
comentários de Biglan (2016) sobre os efeitos que ela é uma propriedade da interação entre
do controle aversivo nos problemas enfrenta- os atores da política pública; não é apenas a
dos pelas políticas públicas na área de drogas, existência de equipamentos públicos. De fato,
ao incluir a atenção integral aos familiares os comportamentos desses atores (no caso,
de usuários como sua prioridade, tanto como os capacitandos do processo formativo) são
ação terapêutica quanto como ação preventiva componentes das contingências comporta-
do uso de droga na família. O uso de droga mentais entrelaçadas responsáveis pelo pro-
como tendo função nas interações coercitivas duto agregado concreto da prática cultural
na família (Banaco, 2008) pôde ser discutido definida pela política (Glenn et al., 2016).
em sala de aula. Nessas discussões, apontou-
-se que esse uso tende a se tornar um produto Reiteramos a necessidade de uma interferên-
não desejado dessas interações coercitivas. cia da Análise do Comportamento nas políti-
Este apontamento foi especialmente enfati- cas públicas de educação permanente para o
zado quando se abordaram na formação os desenvolvimento do repertório de compor-
conflitos familiares, definidos na literatura tamentos do funcionalismo público (Brasil,
preventiva como fatores de risco da família 2004b; Brasil, 2007). A necessidade desse
para o uso de drogas (Borloti et al., 2015). desenvolvimento para o enfrentamento dos
problemas do uso arriscado de drogas está
Minimizamos a diferença dos efeitos entre descrita na política a qual esteve atrelado o
a aprendizagem por regra e a por con- referido processo formativo (Brasil, 2010).
tingência (Skinner, 1969) pela estratégia A experiência de educação permanente aqui
“Aprendizagem Baseada em Problemas com descrita é um exemplo de como analistas do
Drogas”. A estratégia evocou o relato verbal comportamento podem participar da avalia-
de casos reais de familiares de usuários, que ção e do enfrentamento do problema social
foram discutidos por atores de práticas cul- do uso arriscado de drogas (Sampaio & Leite,
turais do SUS e do SUAS (intersetorialidade), 2015). Nas justificativas da Política Nacional
e de diferentes formações (interdisciplinari- de Educação Permanente (Brasil, 2004b), o
dade). As práticas culturais intersetoriais são controle instrucional (educação) tem sido um
cruciais no enfrentamento do problema social dos meios de influenciar as práticas culturais
do uso arriscado de drogas e se configuram, reguladas por políticas públicas, conforme já
podemos dizer, como uma metacontingência apontado por Fawcett et al. (1988).
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COMPORTAMENTO Elizeu Batista Borloti, Claudinei Pereira Gonçalves
EM FOCO VOL. 9
Resumo Abstract
O presente ensaio tem como objetivo descrever a This essay aims to describe the influence of
influência da cooperação no processo de desenvol- cooperation in the process of development of culture,
vimento da cultura, dos bandos ao Estado, e arti- from bands of individuals to the State, and articulate,
cular, em termos comportamentais, essa influência in behavioral terms, this influence to the concept
ao conceito de intersetorialidade nas políticas públi- of intersectorality in Brazilian public policies on
cas brasileiras sobre drogas. Desde a formação dos drugs. From the formation of the first human groups
primeiros grupos humanos até as estruturas sociais to the more complex structures, the cooperative
mais complexas, o comportamento cooperativo se fez behavior was present, ratifying its relevance for
presente, ratificando sua relevância para a espécie. the species. In the sphere of public policies on
Na esfera das políticas públicas sobre drogas, ela é drugs, it is expressed through intersectoriality,
expressa por meio da intersetorialidade, que pode which can be described as the main property of the
ser descrita como a propriedade principal da meta- metacontingence of resolving the social problem in
contingência de resolutividade do problema social question. Intersectoral arrangements represented in
em questão. Arranjos intersetoriais representados na the form of interlocking contingencies must occur
forma de contingências entrelaçadas precisam ocor- and be selected by the State itself or by society. This
rer e serem selecionadas pelo próprio Estado ou pela is the property of social behavior, cooperation, which
sociedade. É esta a propriedade do comportamento will be selected by contingencies of reinforcement
social, a cooperação, que será selecionada por con- maintained by the states themselves, invariably as
tingências de reforçamento mantidas pelos próprios public policies.
Estados, invariavelmente, como políticas públicas.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
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1 A recente publicação dos trabalhos de Hublin et al. (2017) e Richter et al. (2017) acerca de novos fósseis encontrados no
Marrocos questiona a presunção estabelecida de que a origem da nossa espécie se deu há 195 mil anos, na África Oriental. Os
ossos de ao menos cinco indivíduos, incluindo uma criança e um adolescente, foram atribuídos a um Homo sapiens mais primitivo
que teria ocupado o noroeste africano há 300 mil anos. Segundo Stringer & Galway-Witham (2017), análises genéticas demonstram
que a linhagem dos humanos modernos se diferenciou de nossos parentes mais próximos - neandertais e denisovanos - há cerca
de 500 mil anos, ou seja, antes mesmo dos fósseis marroquinos. Isso significa que Homo sapiens com características ancestrais
como maxilares largos, dentes grandes e crânios alongados, iguais aos descobertos no Marrocos, podem ter ocupado essa lacuna
de tempo e feito parte da nossa história filogenética.
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
pode-se esquivar dos mais notórios egoís- e altruísmo teriam maior vantagem compe-
tas e trapaceiros, o que facilitou a formação titiva frente a grupos nos quais estas re-
de bandos maiores e mais estáveis. Mas foi lações eram menos reforçadas ou extintas.
outro aspecto particular do comportamento Mas, mesmo entre uma maioria cooperativa,
verbal que possibilitou que os grupos final- egoístas podiam se beneficiar dos produtos
mente ultrapassassem a casa das dezenas agregados do entrelaçamento dos indivíduos
para atingir centenas, milhares e milhões: cooperadores, conquistando grandes parce-
a extensão do tato e do mando (Skinner, las dos reforçadores primários ao trapacea-
1957), a capacidade de falar sobre coisas que rem, esquivarem-se de tarefas perigosas ou
de fato não existem, como deuses e per- de seguir as regras do que era “certo” para
sonagens de lendas, e lançar pragas sobre o grupo. Logo, a moralidade passou a ser
os que não cooperavam. O repertório verbal uma propriedade do comportamento social,
permitiu o ensino de crenças (descrições de fortalecendo a cultura, numa combinação de
probabilidades de relações entre eventos do traços adquiridos, transmitida de uma gera-
ambiente ou entre comportamentos e esses ção para outra, que costuma distinguir um
eventos; Guerin, 1994), contribuindo para grupo de outro da mesma espécie (Darwin,
que os sapiens pudessem cooperar em larga 1871; Trivers, 1971; Wilson, 2012).
escala e fundassem assim sociedades mais
complexas do que as dos limitados bandos Em meio a conflitos étnico-culturais e a ne-
de primatas. Afinal, “um grande número de cessidade tribal de expandir domínios que
estranhos pode cooperar de maneira eficaz garantissem maior acúmulo de reforçadores
se acreditar nos mesmos mitos” (Harari, primários, impérios surgiram, cresceram e
2016, p. 35). Esses mitos ou religiões com- se dividiram em novas nações concorrentes
põem toda cultura existente e são parte das até se fundirem em sociedades mais coope-
condições simbólicas compartilhadas sob as rativas. Wright (2001) ilustra essa dinâmica
quais o grupo vive (Skinner, 1953/2002). dizendo que há cerca de três mil anos havia
em torno de 600 mil comunidades autôno-
As tribos derivavam de contingências en- mas espalhadas pelo planeta. Atualmente,
trelaçadas sólidas construídas entre bandos depois de muitos conflitos, extinções e
vizinhos que em certo momento passavam fusões, existem apenas 193 estados politi-
a compartilhar a mesma língua, regras, va- camente reconhecidos.
lores e, principalmente, as mesmas crenças.
Com o surgimento das primeiras tribos era Maior território e alcance significam mais
esperado que o desenvolvimento da vida em complexidade, mais problemas socioculturais
grupos com centenas de indivíduos depen- a serem solucionados. Para Wilson (2012), da
desse da evocação e da manutenção de com- mesma forma como ocorre com a comple-
portamentos cooperativos. Possivelmente, xidade de um sistema biológico, a sociedade
tribos que cultivassem relações interpessoais precisou desenvolver a cultura do controle
fortes de obediência, fidelidade, solidariedade hierárquico para conquistar estabilidade e
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
manter-se sem o risco de extinção. O Estado sociedade, gerando grupos que precisavam
“é um sistema composto de subsistemas inte- se fortalecer por meio da cooperação para
ragentes, com estrutura hierárquica, descendo usufruir dos reforçadores que não lhes eram
em sequência até que o nível de subsistema acessíveis. Pequenos agricultores formavam
mais baixo seja alcançado, nesse caso, o ci- alianças para o arrendamento conjunto de
dadão” (Wilson, 2012, p. 127). Ao nível do terras cultiváveis na Babilônia. Grupos com-
Estado, Harari (2016) leciona que a cooperação postos por escravos, estrangeiros e alguns
que ocorre em larga escala e une milhares cidadãos livres na Grécia se uniam em as-
ou milhões sob a mesma bandeira está ali- sociações conhecidas como Oglonas e Tiasas
cerçada no estabelecimento de uma realidade para garantir enterros de seus mortos ou
imaginada coletiva, na qual criações ficcionais tratamentos de seus doentes. Carpinteiros,
como a religião, a moeda ou o próprio Estado sapateiros e serralheiros fortaleciam a classe
oferecem motivos comuns para estranhos co- artesã dando origem aos Colégios romanos.
laborarem entre si. Assim, desde a Revolução Agricultores e artesãos formavam agremia-
Cognitiva2, nos termos de Skinner (1981, p. ções para usufruir benefícios concedidos pelo
213), quando “a espécie humana se tornou faraó no antigo Egito (Klaes, 2005).
muito mais social”, porque “sua musculatura
vocal ficou sob controle operante”, os sapiens
vivem em uma “realidade dual” na qual a re- Cooperação diante do proble-
alidade objetiva dos rios, das montanhas e dos ma do uso de drogas
animais passa a ser impactada pela “realidade
imaginada de deuses, nações e corporações” A cooperação para a resolução do problema
(Harari, 2016, p. 41). social do uso de drogas se transformou ao
longo da história do período de formação dos
No período da história conhecido como Estados em sua necessidade de responder
Antiguidade, o poder do Estado já era buro- ao contracontrole exercido pelos excluídos e
crático e necessitava ser delegado a vice-reis marginalizados e suas famílias, em especial
e a outros governantes de segundo e terceiro quando esses excluídos e marginalizados
escalões para ser representado nos mais lon- consomem drogas em “uso arriscado”, uso
gínquos territórios. Com um número de sú- que reúne os padrões de uso abuso e de-
ditos e uma quantidade de riqueza suficientes pendência, termos diagnósticos relevantes à
alguns serviços públicos podiam ser entre- saúde pública porque impactam a socieda-
gues em benefício, primeiramente da elite, de e o Estado (Barbor, Campbell, Room, &
depois descendo até o nível mais baixo do Saunders, 1994). Saad (2001) destaca que o
público geral (Wilson, 2012). Mas dificilmente surgimento da ideia de “perda de controle”
chegava aos excluídos ou marginalizados da está atrelada a prejuízos na vida do usuário de
2 O termo “Revolução Cognitiva” se refere, segundo Harari (2016), ao período entre 70 mil anos atrás a 30 mil anos atrás, no qual
novas formas de pensar e se comunicar surgiram e possibilitaram um salto evolutivo aos Homo sapiens.
296
COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
drogas e também a um desvio de um padrão causalidade do uso de drogas úteis para en-
de comportamento desejado para o benefício tender o controle por regras subjacente à
do grupo. Foi nos séculos XVII e XVIII que cooperação diante da ameaça do problema
surgiram os primeiros “tratamentos” para do uso arriscado de drogas para o grupo.
controlar este “mal”, com diversas noções
de causalidade, em geral nos Estados Unidos A cooperação é pela via da moral quando os
da América, com o álcool como o principal membros do grupo têm a crença (ou seja,
vilão ao bom convívio social. descrevem probabilidades de relações entre
eventos envolvendo o uso de drogas) de que o
O Movimento de Temperança, associado à usuário foi responsável pela história de aqui-
Igreja Protestante, encarregou-se de salvar sição e é responsável pela modificação do uso,
os “degenerados”. Em sua prática, descre- o que implica em considerar a manutenção
viam a “destrutividade” do álcool e o impe- do uso como crime ou fraqueza de vontade.
rativo da abstinência, porque o álcool era o A cooperação é pela via espiritual, como nos
grande vilão da cooperação por estar asso- grupos de ajuda mútua, quando os membros
ciado a crime, pobreza, abandono e falência acreditam que o usuário permitiu a aquisição
econômica. “A bebida alcóolica era o bode e permite a manutenção do comportamento
expiatório, no sentido clássico do termo: de uso de droga, sendo a manutenção desse
algo para ser sacrificado a fim de livrar a comportamento um afastamento de um ser
América dos seus principais males e pro- superior. Os cooperados pelo modelo de doença
blemas. Tudo estaria bem, se toda a nação não consideram o usuário como agente da
fosse abstinente” (Levine, 1984, p. 111). história de aquisição do uso e nem o agente
Nas práticas da Inquisição, a Igreja Católica de sua modificação, sendo a manutenção do
transferiu o termo lapso (“transgressão uso a recidiva de uma doença crônica. Por
moral”, “pecado” e “afastamento da fé”) fim, os cooperados pelo modelo compensa-
para o lapso do retorno ao uso do álcool. O tório não consideram o usuário como agente
Movimento da Temperança apropriou-se do da história de aquisição do uso, mas sim da
termo com o seu sentido religioso, visando a sua modificação, sendo a manutenção do uso
que os bêbados não atrapalhassem a harmo- uma interrupção breve da mudança.
nia do grupo (White, 1998; Borloti & César,
2015). O alcoolismo foi considerado doença Estes modelos coexistem atualmente nos
em 1810, consideração esta que influenciou serviços governamentais e privados, nas co-
a cooperação em grupos de ajuda mútua, munidades terapêuticas religiosas e no senso
como os atuais Alcoólicos Anônimos (Seibel comum (Schneider, 2010; Schneider & Lima,
& Toscano Jr., 2001). 2011; Da Silva & Calheiros, 2017). Ao nosso
olhar, as políticas públicas, dada a laicidade
Brickman et al. (1982) apresentaram os do Estado, ao menos na legislação, deveriam
modelos de compreensão das noções de atuar num modelo compensatório.
297
COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
veio através do Decreto 5.912/2006, estabe- que envolvam a ação integrada do próprio
leceu os seguintes objetivos para o SISNAD: Estado junto à sociedade civil organizada.
A essa nova estratégia de gerir demandas
1. contribuir para a inclusão social do ci- públicas atribui-se o termo intersetorialidade
dadão, tornando-o menos vulnerável a (Veiga & Bronzo, 2014).
assumir comportamentos de risco para o
uso indevido de drogas, tráfico e outros Intersetorialidade pode ser vista como sendo
comportamentos relacionados; “a articulação de saberes e experiências no
2. promover a construção e a socialização do planejamento, realização e avaliação de ações,
conhecimento sobre drogas no país; com o objetivo de alcançar resultados inte-
grados em situações complexas, visando um
3. promover a integração entre as políticas
efeito sinérgico no desenvolvimento social”
de prevenção do uso indevido, atenção e
(Junqueira et al., 1997, p. 24). Ela emerge
reinserção social de usuários e dependen-
como estratégia para superar o histórico e
tes de drogas;
ineficaz particionamento do Estado, agindo
4. reprimir a produção não autorizada e o
como um processo que perpassa diferentes
tráfico ilícito de drogas;
políticas públicas, as quais, frequentemente,
5. promover as políticas públicas setoriais giram em torno de demandas sociais comuns.
dos órgãos do Poder Executivo da União,
Distrito Federal, Estados e Municípios. Os problemas sociais, como a pobreza, o
desemprego, a exclusão social e a depen-
Tais objetivos demandam ações conjuntas dência química são fenômenos heterogênios
entre órgãos/entidades públicas e a socie- e multidimensionais e, assim, exigem ar-
dade civil, e sua efetivação compreende a ranjos intersetoriais (Veiga & Bronzo, 2014).
um grande desafio cooperativo para o país. Entretanto, como superar as peculiaridades
O caminho lógico para a integração dos es- que distinguem diferentes agentes e estru-
forços de diferentes entes governamentais e turas em prol da necessária sinergia exigida
dos variados atores comunitários envolvidos para alcançar a intersetorialidade? Talvez a
pode repousar na adoção da intersetoriali- resposta esteja relacionada ao mesmo com-
dade como estratégia de cooperação. portamento que possibilitou que uma espécie
frágil e relativamente nova viesse a conquis-
tar o planeta: a cooperação.
Intersetorialidade como
estratégia de cooperação A cooperação tem sido definida por analistas
do comportamento como um comportamen-
A complexidade dos problemas sociais con- to social selecionado por contingências de
temporâneos já não responde às soluções reforçamento (Hake & Vulkelich, 1972; Keller
unissetoriais comuns à administração pú- & Schoenfeld, 1950; Schmitt, 1984; Skinner,
blica, exigindo novos arranjos de governança 1953/2002). Ela ocorre quando, ao menos,
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COMPORTAMENTO Kester Carrara
EM FOCO VOL. 8
dois organismos combinam respostas para a sociedade e o Estado não são necessaria-
a obtenção de reforço positivo ou negativo mente usuários de drogas). Entretanto, estas
para um, para o outro ou para ambos (Keller condições podem potencializar a probabi-
& Schoenfeld, 1950). Na dimensão das po- lidade de ocorrência do comportamento de
líticas públicas, a intersetorialidade segue, usar drogas que, por sua vez, pode deteriorar
analogamente, o mesmo padrão do com- as condições de vida do indivíduo e ser parte
portamento cooperativo dos organismos. Ou das contingências individuais para o uso de
seja, os produtos agregados de contingências drogas, acirrando a exclusão e a marginali-
comportamentais individuais entrelaçadas zação. Isto justifica o olhar comportamental
devem possibilitar um efeito selecionador para a cooperação que caracteriza a interse-
que reforce o seu entrelaçamento, a fim de torialidade no manejo estatal do uso arris-
manter as metacontingências envolvidas cado de drogas.
dentre as diferentes estruturas e processos
intersetoriais estabelecidos. Por este olhar, o comportamento individual
de uso de drogas é arriscado para a saúde
pública (sociedade e Estado) porque de-
Conclusão pendente de variáveis antecedentes e con-
sequentes, em geral socioeconômicas (que
Este ensaio descreveu a influência da coo- têm um grande peso na exclusão social do
peração no processo de desenvolvimento da indivíduo; UNODC, 2016), e é um elemento
cultura, dos bandos ao Estado, e articulou da contingência individual. Quando muitos
em termos comportamentais essa influ- usuários se comportam nesse padrão
ência ao conceito de intersetorialidade nas comportamental arriscado, em geral em
políticas públicas brasileiras sobre drogas. graus de leves a graves de exclusão, con-
Mostrou-se que a cooperação que caracteriza figura-se um macrocomportamento, que é
este conceito teve origem na necessidade de ou deveria ser observado por pesquisadores
resolver os problemas complexos que acom- em Epidemiologia como indicador de pre-
panharam a complexidade progressiva que valência do uso, a ser reduzida por ações
caracterizou a formação das culturas huma- estatais intersetoriais. Estas ações, por en-
nas. Nesta formação destacou-se a formação volverem contingências comportamentais
de grupos de excluídos e marginalizados pa- para comportamentos de atores governa-
ralela à formação dos grupos detentores dos mentais que interagem entre si na chamada
benefícios do comportamento cooperativo intersetorialidade, são políticas públicas em
(Wilson, 2012). metacontingências, que devem dar resolu-
tividade ao problema do uso arriscado, um
Segundo o relatório da UNODC (2016), usu- produto agregado que reforçará o entrela-
ários de drogas não são necessariamente çamento definidor da intersetorialidade da
excluídos ou marginalizados (e os que estão política pública. Um ponto principal que
nestas condições sociais impactantes para emerge de toda esta argumentação é que a
300
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EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 9
Fadesp / Fapespa
Resumo Abstract
Estudos que levantam a lacuna entre importância e Studies about the gap between importance and
domínio de uma competência inferem que o domínio domain of a competence consider that domain is
é suficiente para o exercício da competência. Contudo, enough to exercise of the competence. However,
há condições que contribuem com a distância entre o there are conditions that interfere into the relation
“saber” e o “fazer”. Objetivo: Investigar o exercício between “knowing” and “doing”. Objective:
de competências de profissionais que atuam no con- Investigate the exercise of competencies by
texto da inclusão. Método: Pesquisa quanti-qualita- professionals that work with inclusive education.
tiva, com três profissionais da psicologia escolar que Method: Quanti-qualitative research with three
atuam com inclusão na rede municipal de ensino de school psychology professionals that work with
Belém-PA. Foram realizadas entrevistas individuali- inclusive education at municipal schools of Belém-
zadas semidirigidas e aplicado um questionário com PA. Individualized semi-directed interviews were
44 competências, no qual deviam ser assinalados o conducted and it was applied a questionnaire with
grau de importância e de aplicabilidade no cotidiano 44 competencies, in which it should be mark the
profissional de cada uma. Resultados: 30 competências grade of importance and applicability to their work.
apresentaram-se como críticas (elevada importância, Results: 30 competencies were found critical (high
baixa aplicabilidade). Nas entrevistas, identificou-se importance, low applicability). At the interviews, the
como principais condições interferentes: identida- main conditions found were identity, high demand,
de; demanda elevada; infraestrutura; isolamento; infrastructure, motivation. Discussion: to fully
motivação. Discussão: Para o exercício pleno destas exercise those competencies professional training
competências é importante a capacitação profissio- is required but not enough, it is even more urgent
nal. Todavia, esta ação poderá ser inócua sem uma the need to change contingencies.
contingência laboral que reconheça as competências
do Psicólogo Escolar e possibilite o seu desempenho.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
O presente capítulo é derivado de um simpósio apresentado(a) no XXVI Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina
Comportamental, realizada no dia 08 de setembro de 2017, sob o título: VARIÁVEIS INTERVENIENTES AO EXERCÍCIO DE
COMPETÊNCIAS DO PSICÓLOGO ESCOLAR NO CONTEXTO DA INCLUSÃO.
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Exercício de competências
profissionais
Competências foram definidas como compor- desempenho; avaliação de estudos de caso;
tamentos diretamente observáveis que des- dados de evolução de pacientes; formulários
crevem o desempenho esperado de um indiví- de avaliação de competência; levantamento
duo em determinado contexto (Ramos, Costa, com consumidores; análises de desempe-
Borba & Barros, 2016; Botomé & Kubo, 2002). nho presenciais ou filmadas; exames clínicos
objetivos e estruturados; portifólios; análise
Diversas iniciativas foram conduzidas com o de dados; autoavaliação; ensaio comporta-
intuito de mapear as competências necessá- mental; entrevistas padronizadas com pa-
rias para o exercício profissional da Psicologia cientes; exames orais; e exames escritos. Os
mais especificamente, da Psicologia Escolar autores destacaram que a escolha de qual
(Dunsmuir & Atinkson, 2015; Atinkson, destes métodos de construção de compe-
Dunsmuir, Lang & Wright, 2015; Marinho- tências será utilizado dependerá do tipo de
Araújo, 2005; Santos, Menezes, Borba, competência que se pretende construir, de
Ramos & Costa, 2017). Estas iniciativas têm aspectos operacionais que viabilizem o pro-
sido descritas como fundamentais para uma cesso e dos limites e possibilidades de cada
prática baseada em evidências. método. Para validar esse processo, Rodolfa
et. al. (2013) aplicaram um instrumento a
Kaslow et. al. (2004) descrevem o processo 403 profissionais de Psicologia dos Estados
de construção de uma série de diretrizes para Unidos e Canadá, no qual as competências
a construção de competências do profissio- descritas eram avaliadas quanto sua relevân-
nal de Psicologia, discutindo que avaliações cia para eficácia da atuação, sua frequência
centradas apenas no conhecimento seriam de utilização e sua importância para a prática
insuficientes e apontando a importância de no último ano. Foram avaliados, ainda, o
avaliar também habilidades e atitudes, a domínio (conhecimento) acerca da compe-
partir de modelos de avaliação que inclu- tência e em que momento da formação ela
am a perspectiva do paciente, avaliações deveria ser adquirida. Como resultado, foram
360 graus (nas quais todos os membros da propostas seis categorias de competências:
equipe avaliam as competências de acordo base de conhecimento científico (com oito
com o desempenho individual de todos os competências); processo decisório baseado
membros) e/ou autoavaliações Anos depois, em evidências (com cinco competências);
foi publicado um conjunto de ferramentas competências cultural e interpessoal (com
para delimitar as competências profissio- quatro competências); profissionalismo e
nais da Psicologia (Kaslow et al., 2009), a ética (com 10 competências); avaliação (com
partir de diferentes métodos possíveis: ava- 10 competências); e intervenção, supervisão
liações 360 graus; avaliações periódicas de e consultoria (com oito competências).
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
profissional de Psicologia Escolar mais re- Em um estudo que investiga a relação entre
cente. Estas competências apareceram com o “dizer” e o “fazer” no comportamento de
mais frequência nos trabalhos analisados por professores, Ricci e Pereira (2006) aplica-
esses autores. ram um questionário a docentes sobre como
reagiriam a determinadas situações em sala
A categoria de “Atuação Clínica” descreve de aula e posteriormente observaram estes
competências referentes a “...detecção de professores, analisando as correspondências,
problemas de aprendizagem, avaliação e aten- tanto topográficas quanto funcionais, entre
dimento psicológico.” (Santos et al., 2017, p. os padrões relatados e aqueles registrados
228). Enquadra-se nesta categoria competên- nas sessões de observação. Os autores en-
cias como: “Realizar intervenção psicológica contraram então que houve mais situações
às demandas do aluno auxiliando-o em suas em que não havia correspondência, nem
dificuldades emocionais, comportamentais e/ topográfica e nem funcional, entre o que
ou cognitivas” (Apêndice A). Segundo os auto- foi dito e o que foi observado nas salas de
res, tais competências possuem respaldo tanto aula. Os autores discutiram tal discrepância
em artigos quanto em normativas da área. a partir de três aspectos: “a multidetermina-
ção do comportamento, o comportamento de
Por fim, a categoria “Competências Pessoais” auto-observação e o comportamento auto-
apresenta competências transversais, ines- descritivo do falante” (p. 44), isto é, análise
pecíficas da prática da Psicologia Escolar, das contingências em vigor; a habilidade in-
mas que se referem a habilidades relacionais, dividual de discriminar o próprio repertório;
postura crítica e atualização teórico-prática e, por fim, as diferenças entre o que controla
constante. Um exemplo desta categoria é a o dizer e o fazer.
competência: “Buscar feedback sobre o seu
próprio desempenho identificando possibili- Ainda para Ricci e Pereira (2006), o relato
dades de melhoria contínua de sua atuação” pode ser destoante da prática, pois contin-
(Apêndice A). gências diferentes podem controlar o com-
portamento verbal e a resposta descrita em
A despeito das iniciativas em descrever com- seu contexto natural. Ao relatar sobre como
petências profissionais, seu desempenho reagiria a uma determinada situação, o fa-
depende diretamente, como qualquer outro lante pode estar sob controle de um número
comportamento, da interação do indivíduo mais reduzido e/ou diferente de variáveis do
com contingências ambientais específicas que quando está exposto à situação concreta.
(Skinner, 1953). O reconhecimento do que Desta forma, as contingências em vigor para
se espera do profissional no contexto escolar o comportamento verbal nem sempre são
e a oferta de ferramentas e ambiente físico coincidentes com aquelas em vigor para a
adequado para o seu desempenho exempli- resposta previamente descrita. Neste caso,
fica tais especificidades. ao responder ao pesquisador, o indivíduo
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
pode estar sob controle de contingências es- estabelecedoras, como a saciação. Pode-se
pecíficas da entrevista, mas que não refletem refletir, assim, que além da instalação de um
sua prática profissional cotidiana. repertório (no caso presente, do treinamento
e desenvolvimento de competências profis-
A contraposição entre dizer/fazer gera uma sionais), mesmo que este continue produ-
reflexão acerca dos limites da formação pro- zindo consequências reforçadoras (como os
fissional. Um indivíduo pode ser considerado produtos do exercício profissional), não se
competente a emitir uma determinada res- pode esperar a ocorrência do mesmo caso as
posta na presença de determinados conjuntos contingências vigentes no âmbito da atuação
de estímulos, mas ainda assim não o fazer, profissional não sejam eficazes.
pelo fato de estar inserido em um ambiente
onde estímulos concorrentes sinalizam res- Considerando o que foi exposto até este mo-
postas antagônicas. Em outras palavras, um mento, é possível afirmar que o grau de domínio
Psicólogo Escolar que recebe instruções de de uma competência, o quão bem determinado
sua instituição de trabalho a se comportar indivíduo poderia desempenhar determinada
como clínico, pode não apresentar as com- competência, é insuficiente para prever a sua
petências almejadas para este profissional, ocorrência. Além da descrição de que com-
a despeito de desempenhá-las a contento. portamentos são necessários ao exercício pro-
fissional, o desempenho do Psicólogo Escolar
Miguel (2000), afirmou, por exemplo, que estaria diretamente atrelado a determinadas
um indivíduo pode ter aprendido um de- contingências de trabalho, o que definiria a
terminado comportamento (saber), mas não diferença entre a importância da competência
haver “reforçamento disponível para que o e sua aplicabilidade no contexto laboral.
comportamento ocorra” (p. 259) – seja pela
inexistência ou pela ineficácia das consequ- Assim, o objetivo do presente trabalho foi
ências. O autor discutiu o conceito de ope- identificar elementos que podem interferir
rações estabelecedoras, como aquelas que no desempenho de competências necessárias
operam no fortalecimento de uma resposta ao Psicólogo Escolar de acordo com relatos
(como a privação e a saciação), alterando de profissionais que trabalham cotidiana-
a efetividade de um estímulo reforçador e mente na área.
mudando a função de um estímulo neutro
para discriminativo (dentre outros efeitos).
Método
No contexto da Análise Aplicada do
Comportamento, Miguel (2000) relatou estu- Participantes
dos que demonstraram que comportamentos
poderiam ser extintos mesmo que continu- Participaram três profissionais do sexo fe-
assem produzindo consequências mantene- minino, concursadas e lotadas na Secretaria
doras, em função da presença de operações Municipal de Educação de Belém, atuando
311
COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Materiais e instrumentos
Procedimento
Foram utilizados neste estudo dois instru-
mentos: formulário de mapeamento de com- O projeto foi submetido para apreciação no
petências do psicólogo escolar e roteiro de Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de
entrevista semidirigida. Ciências da Saúde da Universidade Federal do
Pará, sendo aprovado no parecer 1.996.825. O
A entrevista semidirigida era composta por projeto foi encaminhado junto a um ofício à
perguntas abertas iniciais, sendo que após as Secretaria Municipal de Educação solicitando
respostas das mesmas, novas perguntas com a autorização para a realização da pesquisa
objetivos descritivos foram feitas: 1) Como e a listagem de profissionais de Psicologia
você caracteriza a sua atuação? 2) Quais as atuantes junto à mesma. Encaminhou-se
maiores dificuldades para o seu exercício então ofício ao setor de inclusão solicitando
profissional? 3) Quais os fatores facilitadores autorização para a realização da pesquisa e,
da sua atuação? através de contato pessoal, foram agendadas
as coletas no próprio local de trabalho, em
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Figura 1. Graus de importância e aplicabilidade das competências com discrepância equilibrada (entre 0 e 1,5).
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Figura 3. Graus de importância e aplicabilidade das competências com discrepância crítica (superior a 3).
Por sua vez, 15 competências apresentaram relataram não aplicar tais competências no
discrepância crítica (superior a 3), indicando seu cotidiano profissional.
apesar da importância elevada (variando de
4,3 a 5), possuem aplicabilidade baixa (va- Como já exposto anteriormente por Ricci e
riando de 0 a 1,7), ou seja, são consideradas Pereira (2006), há uma série de condições
de grande importância pelas profissionais, que podem explicar a não aplicação de com-
mas com pouca inserção nas suas práticas. petências em ambiente laboral, a despeito de
seu grau de domínio elevado. Com o objetivo
A discussão pormenorizada de cada uma de identificar tais condições, foram feitas as
das competências foge o escopo do presente análises qualitativas das entrevistas.
estudo. Todavia, os dados indicaram que os
participantes se identificaram com a atuação A análise dos dados qualitativos da entre-
descrita na literatura enquanto da área de vista apontou cinco categorias de condições
Psicologia Escolar de acordo com a proposta que afetavam o desempenho das compe-
estabelecida por Santos et al. (2017), atri- tências de acordo com os participantes:
buindo elevada importância às competên- Identidade; Demanda elevada; Infraestrutura;
cias descritas. Ainda assim, em sua maioria, Isolamento; Motivação.
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
a configuração da atuação, tal como se encon- trabalho clínico. A alta demanda de avaliações
tra no cenário investigado, dificulta que este acaba por ser concorrente com o desenvolvi-
profissional possa modificar as contingências mento de outros tipos de atuação.
em vigor nas escolas em questão.
A terceira categoria de condições interferen-
Este contexto parece indicar, assim, que de- tes identificada foi referente à infraestrutura.
terminadas respostas (referentes especial- Segundo as participantes, há falta de espaço
mente ao modelo institucional de atuação) para guardar apropriadamente documentos,
eram reforçadas durante a formação profis- o que provoca desorganização de forma pre-
sional, enquanto outro conjunto de repostas judicial ao andamento das atividades. Além
(referentes ao modelo clínico) são reforçadas disso, descreveram a sala como pequena e
quando no exercício profissional, gerando sem isolamento sonoro, o que reduz o sigilo
assim, contingências concorrentes. dos atendimentos realizados. Outro aspecto
destacado foi a existência de poucos materiais
No que se refere à demanda elevada, as na Sala de Recursos, limitando o aprofunda-
participantes relataram que cada psicólo- mento da avaliação apenas aos instrumentos
ga é responsável pela demanda oriunda de existentes, mesmo que elas estejam aptas a
múltiplas escolas distintas, o que resulta em avaliações mais completas. A P2 relata que
um número elevado de alunos encaminhados “a sala de recursos tem poucos materiais...
diariamente para avaliação. De acordo com a avaliação acaba sendo superficial!”.
P3, cada psicóloga atua “dando assessoria
a cinco escolas diferentes”. É válido des- A aquisição destes materiais é descrita por
tacar que a assessoria a qual a participante elas como inviável. P1 relatou que “a dificul-
se refere configura-se como o atendimento dade em ter retorno da secretaria é grande
pontual a situações problemas enfrentadas quando fazemos pedidos de materiais. E
pelas escolas, havendo então a solicitação da muitas vezes os que vem são de baixa qua-
profissional para intervir em caráter emer- lidade”. Além disso, os pedidos de materiais
gencial. Esse cenário já se encontra descrito básicos (como canetas) não são atendidos.
na literatura da área, como se pode observar
em Marinho-Araújo e Almeida (2005). É preciso que haja contingências favoráveis
para o exercício de determinados
Segundo Souza e Almeida (2013), a ausência repertórios comportamentais, mas o
de regulamentação da prática do psicólogo profissional também é um construtor destas
escolar possibilita situações de carga horária contingências. Skinner (1953) afirmou que
baixa e/ou restrição a projetos específicos, “é natural que os consumidores se voltem
sem que esteja “construído o seu espaço pro- para os defeitos mais conspícuos de local,
fissional” (p.249). Novamente, pode-se per- pessoal e equipamento, em vez de voltar-se
ceber que a estrutura de atuação profissional para o método” (pp. 89-90). Assim, as li-
parece criar contingências que favorecem o mitações físicas da atuação são acentuadas,
317
COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
afetando o olhar sobre as formas de atu- relatos de sentimentos de solidão entre psi-
ação que poderiam ser desenvolvidas. Em cólogos escolares.
contrapartida, sem um protocolo claro de
atuação deste tipo de profissional, a infra- Por fim, a última categoria derivada das entre-
estrutura ideal necessária para sua atuação vistas foi Motivação. Segundo as participantes,
se torna de difícil idealização. o engajamento no trabalho era reduzido em
função da baixa remuneração, de condições
Outra condição que foi destacada nas en- de trabalho e pelo pouco interesse na atuação
trevistas foi o Isolamento. De acordo com na área escolar, tendo assumido o cargo mais
as profissionais entrevistadas, há escassez em função da estabilidade enquanto servidor
de serviços públicos ofertados para o en- público do que pela prática em si.
caminhamento de demandas específicas,
dificultando o estabelecimento de parce- Na perspectiva analítico-comportamental, as
rias. Mesmo quando tais serviços estão variáveis motivacionais têm sido compreendi-
presentes, elas percebem que a quantidade das a partir do conceito de operações estabe-
de profissionais é reduzida, havendo pouca lecedoras. Dentre os diversos tipos existentes,
disponibilidade dos mesmos. P3 destacou pode-se aplicar ao exemplo aqui presente a
que até “a distância dos serviços oferecidos privação, que é pré-requisito para que uma
de psicologia tornam a ida à terapia mais dada consequência (a estabilidade financeira
difícil para as famílias”. decorrente do concurso público) adquire função
reforçadora. Após a obtenção da consequên-
Para as participantes sua atuação se tornava, cia, a função reforçadora da mesma tenderia,
assim, isolada e pouco contextualizada. Os assim, a diminuir (Miguel, 2000). Seguindo
próprios relatórios referentes às avaliações este raciocínio, a estabilidade financeira con-
foram percebidos como documentos proto- trolou a resposta de concorrer e de assumir a
colares, comumente arquivados na escola e vaga, mas não é suficiente para controlar di-
pouco utilizados para a elaboração de pro- versas respostas demandadas cotidianamente
postas de atuação profissional. Esta situação e que, como apresentado, estão inseridas em
ilustra uma situação em que a ausência de outras contingências concorrentes.
consequências para o desempenho profis-
sional pode afetar a emissão da resposta, Isso também já foi observado em outros es-
conforme defendido por Miguel (2000). tudos. Em pesquisa realizada na cidade de
Natal-RN, 70% dos psicólogos escolares re-
Esse dado é corroborado pela literatura. Por lataram atuar “circunstancialmente” na área
exemplo, Medeiros e Aquino (2011) encontra- (Yamamoto, 1990). Este dado pode descrever
ram que psicólogos escolares da rede pública uma atuação que está mais sob controle de
da Paraíba reconheceram a importância da consequências não contingentes ao traba-
interdisciplinaridade, mas não conseguiam lho desenvolvido e que independe da forma
exercê-la efetivamente. Por sua vez, Prediger como o trabalho é executado, como o salário
e da Silva (2014) encontraram recorrentes recebido no final do mês, por exemplo.
318
COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Considerações Finais
O presente trabalho demonstrou que, além da de um psicólogo escolar que deveria estar
necessidade de identificação de competên- contribuindo com o desenvolvimento de
cias profissionais e o respectivo domínio das habilidades educativas e com o ambiente
mesmas, outras condições podem afetar seu organizacional. Com a análise do relato
desempenho. O trabalho do psicólogo escolar dos participantes, é possível atestar que,
envolve aspectos culturais que demandam embora estes profissionais sejam capazes de
análise e manejo de contingências. descrever o que se espera de um Psicólogo
Escolar, a realidade da instituição de ensino
A capacitação profissional, tal qual desta- e suas demandas dificultam que as mesmas
cada por Brandão (2012) é essencial, mas os se desempenhem condizentemente.
dados do presente trabalho indicaram que é
insuficiente. Sem uma contingência laboral Desta forma, os trabalhos que se predispõem a
que reconheça as competências do Psicólogo identificar competências profissionais podem
Escolar e possibilite o seu desempenho, o se beneficiar diretamente do conceito de con-
desempenho de suas competências pode tingências, considerando que determinados
ficar comprometido. desempenhos só ocorrem na relação entre o
indivíduo e seu ambiente de trabalho.
Pode-se inferir que a limitação da prática
da Psicologia Escolar à avaliação psicoló- O presente estudo é preliminar, com amos-
gica tem a função de possibilitar a esqui- tra reduzida e método quanti-qualitativo,
va dos demais agentes educacionais em se sendo limitado em seu potencial de genera-
envolverem diretamente com as demandas lização. Contudo, seus resultados são cor-
do contexto escolar. Desta forma, tentativas roborados pela literatura no que se refere
de atuação mais contextualizadas podem ser à descrição de algumas contingências ne-
punidas, tornando mais provável que o pro- cessárias para o exercício profissional em
fissional da Psicologia restrinja a sua atuação contexto organizacional.
a atividades que não refletem as expectativas
de um psicólogo escolar. É importante que estudos sejam realizados para
investigar possíveis condições que interfiram
Os Psicólogos Escolares, retratados no tra- no exercício de competências do Psicólogo
balho, são demandados a realizar avalia- Escolar, propondo possíveis estratégias de
ções diagnósticas e conduzir psicoterapias modificação das práticas culturais que limitam
para resolução de comportamentos proble- o exercício pleno das competências conside-
ma. Tais atividades estão muito distantes radas relevantes pelos profissionais.
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
Apêndice A
Lista de Competências com Descrição Completa
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
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Educação Especial: Propor programas e ações Mediação: Atuar como mediador nas rela-
adequados às especificidades de cada aluno ções sociais e institucionais, favorecendo a
com necessidades especiais e à legislação articulação entre os membros da comuni-
vigente, que auxiliem a sua inclusão e o seu dade escolar e auxiliando na resolução de
processo de ensino-aprendizagem. conflitos e obtenção de acordos.
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COMPORTAMENTO Aline Beckmann Menezes, Thiago Dias Costa
EM FOCO VOL. 8
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COMPORTAMENTO Glauce Rocha, Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni
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Resumo
uma customização da ferramenta ao tipo de partici-
Alguns métodos podem ser utilizados para a iden-
pante em que se utilizará em termos de vocabulário,
tificação de variáveis que promovem, mantêm ou
descrição do problema de desempenho e instituição.
limitam classes de comportamentos. A ferramenta
Além disso, sete intervenções foram constatadas a
de diagnóstico de desempenho chamada Performance
partir das respostas de líder e liderados. Além dessas,
Diagnostic Checklist – Human Services (PDC-HS), pode
os liderados sugeriram outras sete que descreviam
ser um instrumento útil na identificação de variáveis
condições específicas do trabalho, tais como reduzir o
funcionais, além de indicar intervenções possíveis
esforço e a aversividade da atividade. Percebe-se que
de serem implementadas, quando há problemas de
as informações dos dois segmentos são complemen-
desempenho. A presente pesquisa visou a (1) tradução
tares e contribuem para a identificação de variáveis
e adaptação desta ferramenta que foca no relato verbal
de impacto em déficits comportamentais de forma
da liderança e nas observações diretas do aplicador;
ágil, econômica e mais ampliada.
(2) criação da versão equipe para ser respondida pelos
liderados; e (3) apresentar suas respectivas aplicações
da ferramenta em uma empresa. O método consis-
tiu em sete etapas que incluiu cada um dos objeti-
vos propostos. A tradução e criação da ferramenta PALAVRAS-CHAVE
passou por quatro verificações antes da aplicação em
Ferramenta de diagnóstico de desempenho; Análise
líderes e liderados de uma empresa de limpeza. Os aplicada do comportamento; Performance Diagnostic
resultados da aplicação da ferramenta nos diferen- Checklist – Human Services (PDC-HS); Organizational
tes públicos permitiram identificar a necessidade de Behavior Management (OBM)
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COMPORTAMENTO Glauce Rocha, Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni
EM FOCO VOL. 8
Abstract
Some methods may be used to identify variables to the type of participant that will be used in terms of
that promote, maintain or limit classes of behaviors. vocabulary, description of the performance problem
The performance diagnostic tool called Performance and institution. Seven interventions were found from
Diagnostic Checklist - Human Services (PDC-HS), the leaders and employees responses. In addition,
can be a useful tool in identifying functional va- the employees suggested seven others interventions
riables, as well as indicating possible interventions describing specific work conditions, such as reducing
to be implemented when there are performance effort and activity aversivity. It is noticed that the
problems. This research aimed to (1) Translate and information of the two segments is complementary
adapt this tool that focuses on the verbal report of and contributes to the identification of variables of
the leadership and the direct observations of the impact in behavioral deficits in an agile, economic
applicator, (2) create a team version to be answered and more extended form.
by the employees, and (3) present their respective
applications in a company. The method consisted
of seven steps that included each of the proposed
objectives. The translation and creation of the tool KEYWORDS
went through four checks before applying to leaders
Performance Diagnostic Tool; Applied Behavior
and employees by a cleaning company. The results Analysis; Performance Diagnostic Checklist –
of the application of the tool in the different publics Human Services (PDC-HS); Organizational Behavior
allowed identifying the need of a tool customization Management (OBM)
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COMPORTAMENTO Glauce Rocha, Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni
EM FOCO VOL. 8
eficazmente com o comportamento dos tra- para centenas de empresas quando a OBM
balhadores devem-se planejar contingências estava em seu início.
que são reforçadoras.
A partir de 2010, no Brasil, algumas ações estão
sendo realizadas na área de OBM, tais como
Organizational Behavior dissertações pela Pontifícia Universidade
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COMPORTAMENTO Glauce Rocha, Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni
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atualizada, com ajustes que foram feitas no pertence a este ramo. A escolhida foi uma
PDC-HS, pois três questões estavam incor- empresa brasileira, privada, com mais de 22
retas na publicação do artigo em 20131. anos de mercado, de grande porte com uma
média de 570 trabalhadores e 60 postos de
A ferramenta PDC-HS traduzida e adaptada, trabalho em todo o território nacional. Um
como já apresentado, consiste de 20 ques- termo de autorização institucional foi elabo-
tões, organizadas em quatro categorias: trei- rado, apresentado para o diretor designado
namento; esclarecimento de tarefa e sinalizações; para acompanhar o tema que o assinou. Essa
recursos, materiais e processos; e consequências pesquisa foi, também, aprovada pelo Comitê
para o desempenho, esforço e competição. Cada de Ética e Pesquisa da PUC/SP. A aplicação
seção inclui de quatro a seis questões sobre o da ferramenta se deu em um dos postos de
desempenho da tarefa e o foco da aplicação é trabalho da empresa, indicado pelo diretor
na liderança. É necessária a definição de um da instituição, por ser o maior cliente.
problema de desempenho que será avaliado
a partir das perguntas da ferramenta. Não havia um local específico reservado para
a coleta das informações e foi necessária certa
O processo de desenvolvimento do PDC-HS adaptação às condições possíveis de aplica-
versão equipe foi realizado com base nas ção no posto de trabalho designado com o
questões originais do PDC-HS versão lide- público escolhido, procurando ser individual
rança e possui as mesmas características, e silencioso.
porém é direcionado aos liderados.
1 Posteriormente ao término da pesquisa aqui relatada, os autores publicaram uma correção da ferramenta no próprio Behavior
Analysis and Practice, v. 9, n.1, 2016.
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5º – Observação da pesquisadora.
Etapa 6 - Quinta verificação -
Aplicação do PDC-HS no
grupo alvo Etapa 7 – Análises
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COMPORTAMENTO Glauce Rocha, Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni
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Um objetivo do PDC-HS é identificar, por meio ocorrido uma interrupção durante a aplicação.
de avaliação feita por um informante, variá- Outros resultados com menor compatibilidade
veis que possam impactar em desempenhos (13 entre 20) foram os de P3 e P8. Em relação
abaixo do esperado de pessoas empregadas a P8, do mesmo modo que para P11, parte do
em empresas do ramo de serviços. As pesqui- vocabulário usado na ferramenta pareceu não
sas realizadas até o momento com o PDC-HS pertencer ao contexto do participante, sendo
levavam em consideração apenas a avaliação necessárias repetições. No caso do partici-
de gestores das empresas. Neste trabalho, o pante P3, a Líder afirmou que este acabara
relato de líderes (versão original da ferra- de entrar na empresa (1 mês) e apresentava
menta de Carr et al, 2013) e o de liderados muitos erros de preenchimento do cartão,
(versão criada) foi coletado e comparado. mesmo tendo tido treinamento prático para
a atividade. Estas informações reafirmam a
Na Tabela 1 é possível verificar o número obrigação em se customizar a terminologia
de questões que tiveram compatibilidade de de acordo com o público.
respostas entre gestores e liderados. Na pri-
meira coluna é mostrado o resultado da com- Na Figura 1 há a consolidação das respostas
paração entre as respostas da Coordenadora com Não e Sim dos liderados e da Líder sobre
(C1) e da Líder (L1) e nas demais colunas é as questões pesquisadas.
possível observar as comparações entre as
respostas da Líder (L1) e cada um dos par- A atribuição de Não para as diferentes ques-
ticipantes (P1 a P13). tões indicava déficits em determinado aspec-
to. Assim, a partir da análise das respostas da
Conforme é apresentado na Tabela 1, a média líder e dos auxiliares de limpeza, é possível
da compatibilidade das respostas entre lide- identificar intervenções a serem realizadas,
rança e liderado foi de 15 questões em um seguindo orientação de Carr et al. (2013), prio-
total de 20. O resultado com maior compa- rizando as áreas em que o Não foi atribuído
tibilidade das respostas foi de P2, em que 18 com mais frequência. Uma vez que a aplicação
foram respondidas da mesma forma. A menor do PDC-HS foi feita com dois públicos, uma
compatibilidade entre liderança e liderado foi análise mais geral pode ser feita somando-se
com P11 (12 compatibilidades), que apresen- as respostas da líder e dos liderados.
tou dificuldades na compreensão das ques-
tões, sendo necessário que a pesquisadora as Recursos, Materiais e Processos foi a área com
explicasse de diferentes formas, além de ter o maior número de respostas negativas
Participantes
L1 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 Média
16 16 18 13 15 17 17 17 13 14 14 12 16 13 15
Tabela 1.Número de questões em que houve concordância entre a liderança e liderado (total = 20).
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As questões que contém asterisco (*) foram as que envolviam observação direta.
Respostas dos Participantes 2 10 1
Questão 1
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Respostas dos Participantes 6 7
Questão 2*
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Respostas dos Participantes 3 10
Questão 3*
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Recursos, Materiais e
Respostas dos Participantes 6 7
Processos Questão 4*
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 13 0
Respostas dos Participantes 5 8
Questão 5
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Questão 6 Questão 6 - Não se aplica 0 0
Total/Total
35/130 94/130
possível
Respostas dos Participantes 0 13
Questão 1
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Respostas dos Participantes 4 9
Questão 2
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 4 9
Respostas dos Participantes 4 9
Consequências sobre o Questão 3
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
desempenho, empenho e
Respostas dos Participantes 4 9
competição Questão 4
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Respostas dos Participantes 3 10
Questão 5
Resposta da Líder 1 sobre os participantes 0 13
Total/Total
19/130 111/130
possível
Figura 1. Número de questões respondidas com a atribuição de Não e Sim pelos liderados e pela Líder.
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indicadas pelo grupo que, de um total pos- as seguintes intervenções: (1) sinalizações/
sível de 130 respostas, obteve 35 negativas lembretes (mais especificamente, a disponi-
(28%). Corroborando com essa avaliação, bilização das ferramentas para a realização
nas três questões que requeriam observa- das tarefas), (2) mudar/alterar a localização
ção direta, a pesquisadora em duas destas da tarefa e (3) esclarecimento de tarefa (esta
também considerou que determinados re- última intervenção seria aplicada apenas no
cursos, materiais ou processos não eram participante que necessita desta intervenção).
adequados. A partir dos resultados, as in-
tervenções sugeridas seriam: (1) melho- Na última área, Consequências para o desem-
rar o acesso, redesenhar e reorganizar os penho, esforço e competição, (15% de atribui-
materiais para as tarefas, (2) reavaliar os ções negativas) as intervenções sugeridas
processos da tarefa e equipe e (3) ajustes da seriam: (1) feedback sobre o desempenho para
equipe. A intervenção sugerida “reorganizar os liderados que relataram não o receber,
os materiais para a tarefa” seria uma prio- (2) destacar regularmente os resultados da
ridade para ambos os públicos (já que foi tarefa, (3) reduzir o esforço da tarefa e (4) re-
indicada em primeiro lugar pela líder e em duzir propriedades aversivas da tarefa. Como
segundo pelos liderados). Milani (1989) já na Questão 1 (sobre monitoramento), houve
havia indicado que ao se realizar um diag- divergências entre os relatos em relação a
nóstico de problemas organizacionais é frequência do monitoramento, sugere-se o
importante considerar o suporte ambiental aumento da presença do supervisor.
necessário para que o desempenho adequa-
do/esperado possa ocorrer e que quando as A análise geral das dificuldades apresentadas
condições de trabalho são inadequadas não pelos trabalhadores para desempenhar suas
há como esperar um bom desempenho de tarefas, no caso uma empresa de serviços, já
trabalhadores. oferece um indicativo das intervenções que
devem ser realizadas e que podem ser estru-
Para a área de Treinamento (22% de respos- turais da própria empresa. O PDC-HS permite,
tas negativas) as ações sugeridas seriam: (1) ainda, que se possa identificar dificuldades es-
Treinamento de habilidades comportamentais pecíficas para determinadas pessoas ou para
(i.e., instruções, modelagem, ensaio, feedba- grupo de pessoas de modo a poder agir mais
ck) e (2) melhorar a seleção de pessoal. No precisamente, respeitando a possibilidade de
caso de intervenções com treinamento, su- aprimoramento de cada um. Pode-se, então,
gere-se tal intervenção a quatro participantes afirmar que a ferramenta diagnostica e propõe
que possuíram respostas negativas, seja pelo ações tanto para a instituição quanto para
próprio relato verbal, pelo relato da líder ou grupos, e de forma individual. Além disso, a
a partir das observações da pesquisadora. construção da versão para os liderados am-
pliou a avaliação do próprio trabalho contando
As respostas obtidas para a área Esclarecimento com aqueles que o executam diretamente.
de tarefa e Sinalizações (20% negativas) sugerem
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a seleção do pessoal*
Mudar/alterar a localização da tarefa* Feedback sobre o desempenho*
Esclarecimento de Tarefa e checklists* Aumento da presença do supervisor*
Treino de habilidades comportamentais/ Melhorar a sele-
ção do pessoal*
Feedback sobre o desempenho*
Destacar regularmente os resultados da tarefa
Reduzir o esforço da tarefa
Reduzir propriedades aversivas da tarefa
Aumento da presença do supervisor*
Tabela 2. Comparação entre as propostas de intervenção sugeridas a partir do relato verbal dos liderados X
propostas de intervenção a partir do relato verbal da liderança, em ordem de indicação
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