Monografia - Adolescentes...

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

Ana Lucia de Jesus da Silva C33CGG-0


Simone Nogueira da Silva C54681-0
Tania Isabelle Moser Hanaoka C55HDA-1
Thayná Andrade dos Santos C625CH-3
Vitor Freitas de Souza C643GD-8

ADOLESCENTES E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS


CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NO ENFRENTAMENTO E SUPERAÇÃO
DE VULNERABILIDADES SOCIAIS

São Paulo - SP
Dezembro de 2019
Ana Lucia de Jesus da Silva C33CGG-0
Simone Nogueira da Silva C54681-0
Tania Isabelle Moser Hanaoka C55HDA-1
Thayná Andrade dos Santos C625CH-3
Vitor Freitas de Souza C643GD-8

ADOLESCENTES E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS


CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NO ENFRENTAMENTO E SUPERAÇÃO
DE VULNERABILIDADES SOCIAIS

Relatório Final de Pesquisa


apresentada, sob orientação da
Profª Dra. Vanda Lúcia Vitoriano
do Nascimento, ao Instituto de
Ciências Humanas da
Universidade Paulista - UNIP, no
âmbito do curso de graduação em
psicologia como parte das
exigências para a obtenção do
título de Bacharel em Psicologia.

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SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….. 7

1.1 Objetivos……………………………………………………………………….. 12

1.1.1 Objetivos Gerais...............................................................................….. 12


1.1.2 Objetivos Específicos............................................................................. 12
1.2 Justificativa................................................................................................ 12
1.2.1 Justificativa Social.................................................................................. 12
1.2.2 Justificativa Científica............................................................................. 13

2 MATERIAL E MÉTODO......................................................................…….. 13

2.1 Participantes.....................................................................................……. 13
2.2 Instrumentos.............................................................................................. 14
2.3 Procedimentos.......................................................................................... 14
2.3.1 Procedimento de Coleta de Dados........................................................ 14
2.3.2 Procedimento de Análise de Dados...................................................…. 15
2.4 Aparatos de Pesquisa............................................................................... 15
2.5 Ressalvas Éticas....................................................................................... 15
2.6 Resultados Esperados.............................................................................. 16

3 RESULTADOS.....................................................................................……. 17

3.1 Entrevista 1.......................................................................................…….. 17


3.2 Entrevista 2............................................................................................... 20
3.3 Entrevista 3............................................................................................... 22
3.4 Entrevista 4............................................................................................... 24
3
4 DISCUSSÃO………………………..................................................……….. 27

4.1 Adolescentes e Ato Infracional....................................................……….. 27


4.2 Medidas Socioeducativas e Políticas Públicas......................................... 30
4.3 Psicologia e Medidas Socioeducativas..................................................... 32
4.4 Reflexões Críticas..................................................................................... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................………... 43

6 REFERÊNCIAS................................................................................………. 46

APÊNDICE – ROTEIRO DE ENTREVISTA................................................. 50

4
RESUMO

A presente pesquisa intencionou explorar a visão dos profissionais de psicologia


inseridos nas instituições de atendimento a adolescentes que cumprem medida
socioeducativa, caracterizando suas atuações junto a estes sujeitos. Entendemos
que as práticas nas instituições demandam recursos e conhecimentos específicos,
que possibilitem a oferta de atendimento adequado, em um enquadre que muitas
vezes acaba por limitar a prática dos psicólogos. Dessa forma, nosso intuito foi
compreender como diferentes profissionais psicólogos efetivamente contribuem para
o sobrepujamento da vulnerabilidade em que encontram-se adolescentes que
cumprem medida socioeducativa. Foram entrevistados quatro profissionais, três do
gênero feminino e um do gênero masculino, que atuam ou atuaram com
adolescentes em medidas socioeducativas, na região metropolitana de São Paulo.
Exploramos as percepções desses profissionais acerca da forma como promovem
saúde à adolescentes infratores e como suas práticas contribuem efetivamente para
a suplantação da vulnerabilidade social. A partir das entrevistas, foi possível
demarcar as possibilidades e limitações encontradas pelos profissionais durante o
exercício de suas práticas.

Palavras-chave: adolescentes; medida socioeducativa; psicologia; vulnerabilidades


sociais.

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SUMMARY

The research aimed to explore the view of Psychology professionals inserted in


institutions for the care of adolescents who comply with socio-educational steps,
characterizing their actions with these subjects. We understand that the practices in
the institutions demand specific resources and knowledge, which enable the
provision of adequate care, in a framework that often ends up limiting the practice of
psychologists. Thus, our goal was to understand how different professional
psychologists effectively contribute to overcoming the vulnerability of adolescents
who are complying with socio-educational steps. Four professionals were
interviewed, three female and one male, who work or worked with adolescents in
socio-educational steps in the metropolitan region of São Paulo. We explored these
professionals 'perceptions of how they promote adolescent offenders' health and how
their practices effectively contribute to the overcoming of social vulnerability. From
the interviews, it was possible to demarcate the possibilities and limitations
encountered by professionals during the exercise of their practices.

Keywords: adolescents; socio-educational step; Psychology; social vulnerabilities.

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa intencionou explorar a visão de quatro profissionais da


psicologia, que atuam junto à adolescentes em cumprimento de medidas
socioeducativas na região metropolitana de São Paulo, acerca de suas contribuições
em relação ao atendimento a este público. Situam-se as/os psicólogas/os como
agentes propulsores de desenvolvimento e cidadania, sendo sua prática
essencialmente norteada pela garantia de direitos, promoção de saúde e seguridade
social.
Ao investigar as possibilidades e limitações de sua atuação, articulamos a
temática da pesquisa ao tema comum fornecido pelo Centro de Estudos e Pesquisas
em Psicologia e Pedagogia (CEPPE): “A Psicologia na promoção da saúde dos
indivíduos, grupos, organizações e comunidades: estudos sobre fundamentos,
limites e possibilidades das práticas”.
Segundo dados do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do
Sistema Carcerário e das Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça
(DMF/CNJ), de 2018, há mais de 22.000 jovens internados, que cumprem medida
em meio fechado, nas 461 unidades socioeducativas em funcionamento em todo
território brasileiro (BRASIL, 2019). No estado de São Paulo, o número de
adolescentes que cumprem tais medidas em regime de internação é o maior, com
um total de 8.085 adolescentes confinados.
Associada a ampla exposição à vulnerabilidade social, têm-se a adolescência
como período crítico do desenvolvimento vital. Como ressaltam Schmitt, Nascimento
e Schweitzer (2016), neste período, estes sujeitos experienciam mudanças
biológicas, subjetivas e em sua posição no contexto social, que geram crises,
inquietações, dissensões e questionamentos envolvendo a adequação, ou não, a
uma nova posição frente a configuração familiar e social. Tal fato denota a
necessidade de uma discussão aprofundada a respeito do tema, fundamentalmente
em relação à posição do profissional de psicologia diante da tríade adolescência,
medidas socioeducativas e seguridade social.
O debate sobre a atuação do psicólogo junto a medidas socioeducativas
engloba e se articula juntamente às questões citadas, uma vez que os indivíduos
aos quais tais práticas se destinam estão inseridos em um contexto de

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vulnerabilidade social que perpassa questões socioeconômicas, sociopolíticas e
biopsicossociais.
Sendo assim, as contribuições do profissional da psicologia devem privilegiar
não somente a não reincidência do ato infracional por parte do adolescente infrator,
mas, como ressaltam Costa e Assis (2006), deve beneficiar também a
reestruturação do escalão interventivo, tendo como eixo a promoção de saúde de
forma integral, construindo junto com o adolescente o estoicismo necessário para
novas possibilidades de ser e estar frente a sua condição. Santos e Menandro
(2017), ao fazerem uma pesquisa com psicólogos atuantes nesta área, evidenciaram
os obstáculos encontrados pelos profissionais no exercício da função. Sendo assim,
nos propomos a investigar quais são os fundamentos da prática da/o psicóloga/o,
bem como os limites e as possibilidades que estes profissionais encontram ao atuar
no contexto de medidas socioeducativas.
Considerados todos estes aspectos, se faz necessário compreender como o
surgimento deste modelo de cuidado e tratamento do adolescente infrator pôde ser
efetivo, afinal, a singularidade do adolescente neste período do desenvolvimento
vital nem sempre foi considerada na forma como tal problemática era gerenciada.
Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL,
1990), substituindo o Código de Menores (BRASIL, 1979), foram definidas diretrizes
específicas acerca da intervenção feita às crianças e adolescentes infratores, bem
como o estabelecimento de novas diretrizes e categorias de atendimento a essa
população.
Assim, composto por 267 artigos, o ECA tem por princípio a prioridade
absoluta da assistência à criança e ao adolescente. O documento estabelece
diretrizes sobre os direitos fundamentais das crianças e adolescentes, sobre as
prevenções de ameaça e violação destes direitos, sobre as ações, frente às práticas
infracionais, sobre o funcionamento dos conselhos, dentre outras normas que visam
assegurar direitos e deveres deste grupo.
Está garantido ao adolescente que cumpre medida socioeducativa o Plano
Individual de Atendimento (PIA), que nesse sentido, deve valorizar os aspectos
positivos e particulares do adolescente, visando fortalecer os laços sociais e/ou
familiares perdidos em algum momento.

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Em relação ao acompanhamento dos adolescentes, o ECA privilegia o caráter
socioeducativo em detrimento do punitivo, pautando-se no ideal de proteção. O
documento assinala que o ato infracional consiste na prática de transgressão ou
violação do que é pressuposto pelo sistema penal brasileiro (BRASIL,1990).
A partir do ECA, as medidas socioeducativas surgem como uma forma de
reorganizar as diretrizes de políticas públicas voltadas para atos infracionais
cometidos por adolescentes e ao mesmo tempo, busca responder à perspectiva da
sociedade à lógica da exclusão e extermínio, estabelecendo o enquadramento do
comportamento adolescente e sua subjetividade operacionalizada antes que sua
morte física ocorra. São estabelecidas as seguintes aplicações ao adolescente, após
verificada a ocorrência da infração: advertência; obrigação de reparar o dano;
prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de
semiliberdade e internação em estabelecimento educacional (BRASIL,1990).
Com a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em
2005 (BRASIL, 2005), surge mais política pública que assegura a atenção à
população de adolescentes infratores. Tal sistema integra atividades na esfera
pública e privada, atuando no nível básico de atenção social, prevenindo
vulnerabilidades e fortalecendo vínculos através de programas e serviços que
beneficiam a população. Articulando-se com a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) (BRASIL, 2005), opera junto às medidas socioeducativas na garantia
de direitos, fiscalização e integração das diferentes instituições públicas e
particulares.

As medidas socioeducativas têm o intuito de promover a reinserção social dos


adolescentes, articulando propostas inclusivas que levam em consideração o
período peculiar da fase de desenvolvimento em que esses sujeitos se encontram.
Para atingir esse objetivo, as medidas intencionam oferecer uma atenção integral,
possibilitando educação de competências, proficiências e habilidades por meio de
uma equipe interdisciplinar que inclui educadores, psicólogos, assistentes sociais,
terapeuta ocupacional, sociólogos, pedagogos e corpo administrativo. É válido
pontuar que tais medidas não deixam de ser uma forma de "punição" para os
adolescentes; afinal, referem-se à aplicação de medidas judiciais contra os
adolescentes que cometeram atos infracionais e foram julgados pela Justiça
Especial para Crianças e Adolescentes.
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É de extrema importância que o ato infracional e as medidas socioeducativas
sejam pensados a partir de um diálogo interdisciplinar. Tal diálogo harmoniza os
aspectos sociais, políticos, econômicos, jurídicos, sociológicos e psicológicos, visto
que a prática do ato infracional é multideterminada: compreendida por distintos
fatores e motivações abarcadas na dinâmica do ato (COSTA, ASSIS, 2006; DIAS,
ARPINI, SIMON, 2011; SANTOS, MENANDRO, 2017).
Mais da metade dos jovens que estão cumprindo medidas socioeducativas
são de classe média baixa, classe essa bastante marginalizada. Observa-se elevada
vulnerabilidade social entre esses adolescentes, cuja história de vida usualmente
envolve situações de negligência, abandono, criminalidade, violência na família,
abuso de substância química e pobreza (ASSIS; CONSTANTINO, 2005).
Para além de tais fatores, leva-se em consideração o processo de
estruturação biológica e subjetiva que o adolescente enfrenta neste período,
havendo a necessidade de apoio estrutural, envolvendo a toda a sociedade, não
apenas a família, bem como uma proposta de atuação da equipe interdisciplinar que
supra tais especificidades.
Em vista de tais fatos, pode-se afirmar que a principal preocupação e trabalho
da equipe interdisciplinar é a reinserção social, readaptação, ajustamento social e
integração à família e à sociedade. Quanto ao papel do psicólogo, um dos princípios
norteadores de sua atuação é “devolver este adolescente a si mesmo”, pensar em
suas condições mais urgentes e construir junto a estes sujeitos a oportunidade de
pensar em projetos futuros e não se ater a uma tarefa de mero assistencialismo,
mostrando a ele as possibilidades de que dispõe. O trabalho do(a) psicólogo(a)
atuante nas instituições de atendimento a adolescentes infratores se dá na
reconstrução de vínculos (família e comunidade), no trabalho de ressignificação dos
motivos que levaram o adolescente a cometer o ato infracional, contribuindo para
que o adolescente tenha capacidade de desenvolver-se autonomamente,
favorecendo o reconhecimento de sua identidade, dentre outros âmbitos. Além
disso, a (o) psicóloga (o) atua com o corpo institucional, com todos os outros
profissionais que vão atender o adolescente, na produção de documentos e
relatórios que auxiliam as instâncias jurídicas a determinar a redução ou ampliação
das medidas, estabelecendo contato com membros da família, professores e outras
pessoas associadas ao adolescente.

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Nota-se que a tarefa do profissional da psicologia é bastante complexa, pois
como ressaltam Santos e Menandro (2017) no estudo feito com psicólogos atuantes
nesta área, o profissional encontra inúmeros obstáculos ao desenvolver seu
trabalho, seja, por exemplo, pela falta de autonomia frente aos atendimentos
individuais, que podem contar com um terceiro monitorando ou pela demanda
excessiva de laudos e avaliações solicitadas pelo juiz. Diante de todos os elementos
apresentados e dos estudos realizados, compreendemos que as medidas
socioeducativas podem ser eficientes para a criação de formas de reinvenção e
como meio de superar o ato infracional. A necessidade da atuação do profissional de
psicologia nesse contexto se justifica pela demanda de atenção à saúde de
adolescentes que estão inseridos em tais instituições. Tal tarefa se faz trabalhando
aspectos individuais, grupais e comunitários, visando a promoção da saúde desses
sujeitos.
Entendemos que garantia de direitos e promoção de saúde envolvem
múltiplos fatores, sendo que o trabalho da (o) psicóloga (o) se volta inteiramente a
este fim, principalmente quando o situamos no contexto das instituições de
acolhimento de adolescentes infratores. Como assinalam Costa e Assis (2006), o
psicólogo deve intervir não somente em relação ao adolescente, mas também
perante a estrutura institucional em que se insere, articulando e desenvolvendo
competências propícias, no que se refere às diretrizes que amparam seu
atendimento ao adolescente infrator. Ao explorar como se efetiva neste seguimento
a garantia de direitos e a promoção da saúde pela/o psicóloga/o, esbarramos nos
fundamentos e limites que sustentam sua prática. Sendo assim a pesquisa se
propôs a compreender os limites e possibilidades de atuação do psicólogo no
sistema de medidas socioeducativas, que abrange áreas e profissionais diversos,
desde o campo jurídico até as instituições que acolhem esse público. A pesquisa
propôs responder: como a psicologia pode contribuir para a superação da
vulnerabilidade social que acometem o adolescente em cumprimento de medidas
socioeducativas?

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1.1 OBJETIVOS

A pesquisa tem por princípio um objetivo geral e quatro objetivos específicos


que serviram de base norteadora do projeto. Esses são descritos a seguir.

1.1.1 OBJETIVO GERAL

Compreender como a/o profissional da psicologia contribui para a superação


da vulnerabilidade social do adolescente em medidas socioeducativas.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Investigar como a psicologia contribui para a promoção da saúde psíquica


dos jovens que cumprem medidas socioeducativas.

Identificar possibilidades e limites da prática psicológica neste contexto.

Identificar como a atuação da/o psicóloga/o pode contribuir para a não


reincidência de atos infracionais cometidos pelos adolescentes.

Explorar como a psicologia pode contribuir para o enfrentamento à


vulnerabilidade social a qual estão submetidos os menores infratores.

1.2 JUSTIFICATIVA

A importância de uma pesquisa se constitui pelo valor que agregará ao campo de


atividade social e científico. Elaboramos essa pesquisa compreendendo-a enquanto
contributiva a esses dois campos. A seguir, explicamos porque tal propósito seria
alcançado.

1.2.1 JUSTIFICATIVA SOCIAL

O contato precoce de adolescentes com fatores de risco ao seu


desenvolvimento como uso de drogas e a criminalidade é cada vez mais frequente
em nossa sociedade, principalmente entre as camadas mais vulneráveis da
população. Diante disso, a necessidade de pautar intervenções e práticas efetivas,
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que visem a recuperação e reinserção dos adolescentes condenados judicialmente
ao convívio social se faz extremamente necessária, principalmente na área da
psicologia, que desempenha papel importante nesse contexto.

1.2.2 JUSTIFICATIVA CIENTÍFICA

As limitações encontradas pela/o psicóloga/o na execução de seu trabalho ao


atender adolescentes que cumprem medidas socioeducativas acabam por tolher a
efetividade da intervenção. Pensando nisso, o exame dessas dificuldades, bem
como os avanços já conquistados pelos profissionais inseridos nesse contexto, se
mostra necessário para fomentar o debate a respeito da atuação da/o psicóloga/o,
as possibilidades de novas metodologias e maior autonomia do profissional, tendo
em vista, obviamente, o oferecimento de um serviço psicológico que efetivamente
possibilite a recuperação desses indivíduos.
Como apresentado no documento elaborado pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) (BRASIL, 2019), a população de adolescentes internados no país
ultrapassa a marca de 20.000 mil jovens. Em tempos onde o debate sobre a redução
da maioridade penal mobiliza os diversos setores da sociedade, a produção de
estudos a respeito do tema também se faz valiosa, uma vez que tais pesquisas
podem agregar novas percepções à discussão, fomentando novos pontos de vista
que priorizem uma maior compreensão sobre os impactos possíveis diante da
adoção de uma medida drástica como esta.

2 MATERIAL E MÉTODO

2.1 PARTICIPANTES

Foram entrevistadas quatro profissionais psicólogos, três mulheres e um


homem, atuantes nos Serviços de Medidas Socioeducativas na região metropolitana
de São Paulo.

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Quadro 1: Caracterização dos participantes

Profissional Idade Gênero Etnia Tempo de Região


Atuação com
Participante MSE

A 27 Feminino Negra 18 meses Oeste

B 43 Feminino Branca 72 meses Norte

C 29 Feminino Branca 5 meses Leste

D 29 Masculino Negro 33 meses Norte

2.2 INSTRUMENTOS

Como instrumento de pesquisa utilizamos a entrevista semiestruturada, que


possibilitou a análise das diferentes perspectivas das profissionais entrevistadas. O
roteiro de entrevista foi utilizado como norteador para nosso diálogo com os
profissionais (Apêndice A).

2.3 PROCEDIMENTOS

A seguir destacamos os procedimentos por nós adotados para a coleta de dados


e a análise das informações obtidas durante a execução da pesquisa.

2.3.1 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Como instrumento de coleta de dados realizamos entrevistas com roteiro


semiestruturado, de forma que houvesse liberdade para o surgimento de tópicos
trazidos pelos próprios profissionais, ao mesmo tempo em que direcionamos para os
temas abordados. As quatro entrevistas foram realizadas em dia e horário
combinado com os profissionais, de acordo com sua disponibilidade, em local que
possibilitasse a qualidade de gravação do áudio e a garantia de sigilo das

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informações. Cada entrevista foi conduzida por dois pesquisadores, com duração de
em média sessenta minutos; os profissionais responderam a todas as questões.

2.3.2 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram analisados qualitativamente de acordo com as informações


obtidas junto aos profissionais, fazendo comparações entre a percepção de cada um
sobre suas atuações nas instituições. Após leituras das entrevistas foram
identificadas categorias de análise que possibilitaram eixos de discussão. As
informações obtidas por meio das entrevistas foram analisadas com base no
referencial teórico-metodológico da Psicologia Social, com a bibliografia
especializada no tema, como os documentos das políticas públicas do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS, 2005) - Plano Nacional de Assistência Social
(PNAS, 2004), bem como o debate proposto pelos diferentes autores consultados.

2.4 APARATOS DE PESQUISA

Dentre os materiais utilizados na elaboração da pesquisa, listamos: lápis


preto; borracha; canetas; folhas de sulfite; tinta para impressão; notebook;
computador; caderneta e gravador.

2.5 RESSALVAS ÉTICAS

De acordo com as diretrizes estabelecidas na Resolução nº 466/12 do


Conselho Nacional de Saúde (CNS) visamos o respeito pela dignidade humana,
zelando pela legitimidade das informações, privacidade e o sigilo das informações,
quando necessários tornando os resultados desta pesquisa públicos.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), com parecer


favorável (CAAE: 3.285.995). As entrevistas foram iniciadas após a apresentação do
Termo de Consentimento, Livre e Esclarecimento (TCLE) e todos demonstraram
compreender os objetivos, riscos e benefícios do estudo proposto.

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A pesquisa buscou incorporar a coleta de dados de acordo com ótica trazida
pelo indivíduo, assim firmando um compromisso e tendo a responsabilidade de
transcrever a visão do mesmo independente da opinião pessoal do pesquisador. A
pesquisa também tem por objetivo trazer benefícios de forma direta ou indireta, tanto
para o participante quanto para a comunidade em que o mesmo está inserido.

Quanto aos riscos, nesta pesquisa foram avaliados risco como: baixo. A
entrevista seguiu o roteiro com questões acerca da experiência da/o profissional e
de sua compreensão sobre a contribuição da Psicologia junto à população atendida.
Considerou-se ainda que o entrevistado pôde se recusar a responder a qualquer
pergunta que lhe cause constrangimento ou desconforto. Foram esperados os
seguintes benefícios imediatos de sua participação nesta pesquisa: sistematização e
reflexão sobre sua prática profissional, contribuição ao campo específico estudado, à
Psicologia, conhecimento procedente da pesquisa que contribuirá para o
desenvolvimento de alternativas para intervenções realizadas no cotidiano
profissional.

2.6 RESULTADOS ESPERADOS

Por meio da pesquisa, esperávamos compreender as percepções dos


diferentes profissionais acerca da forma como promovem saúde a adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas, bem como descrever de que forma suas
práticas contribuem efetivamente para a suplantação da vulnerabilidade social.
Almejamos que por meio dos relatos, se mostrasse o cotidiano da prática
institucional, assim como aspectos ligados ao campo acadêmico de formação,
servindo-nos também, como parâmetro a ser considerado.

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3 RESULTADOS

Este capítulo tem como propósito, apresentar os resultados obtidos por meio
das entrevistas realizadas com os profissionais. A seguir apresentamos uma síntese
do que foi exposto pelos profissionais nas entrevistas por eles concedida. Para fins
de identificação, utilizamos as letras “A”, “B”, “C”, e “D” para distinguir os
entrevistados. A descrição dos resultados se dará pela ordem em que as entrevistas
foram realizadas.

3.1 Entrevista 1

A participante A tem vinte e sete anos de idade, gênero feminino, é negra e


atua no Serviço de Medida Socioeducativa na Zona Norte da cidade de São Paulo. A
psicóloga está na instituição há um ano e seis meses. Contou que sua rotina é
variada, sendo que entre suas atividades fixas está o atendimento individual com os
adolescentes e visitas domiciliares, participação nas supervisões e discussões de
casos, organização e montagem de grupos para os adolescentes e os familiares,
com temáticas de interesse dos mesmos e elaboração de relatórios acerca dos
atendimentos que realiza e o desenvolvimento dos adolescentes. A profissional
participa de reuniões com profissionais do serviço social atuantes no território e
contou que participa formação em cursos externos, que agregam a prática
profissional. Nessas reuniões os profissionais elaboram documentos e projetos para
trabalhar questões pertinentes à realidade da população atendida, como por
exemplo, a violência contra a mulher. A psicóloga afirmou que o contato com a rede
do território é importante, pois também é sua função buscar nesses espaços que os
direitos dos adolescentes, estabelecidos pelo ECA e pelo SINASE sejam efetivados,
bem como possibilitar que os atendidos acessem esses espaços. Explicou também
que há um grupo em que participam um representante de cada serviço de medidas
socioeducativas da cidade de São Paulo, para pensar questões pertinentes aos
adolescentes e os serviços.

A entrevistada contou que também atua como “responsável” pelo adolescente


diante na comunicação com os gestores das instituições, ou seja, caso haja alguma
pendência a ser resolvida referente aos adolescentes, ela e os outros profissionais
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do serviço é que dialogam com os gestores ou coordenadores das outras
instituições. Contou-nos que uma grande demanda dos adolescentes em medidas
socioeducativa é a questão do analfabetismo e dificuldade de leitura e escrita.
Alertou-nos para a realidade bastante vulnerável que maioria dos adolescentes e
suas famílias enfrentam e sobre a necessidade de um cuidado com a saúde do
profissional que lida diretamente com tais situações. Expôs também alguns
problemas que mobilizaram toda a equipe do serviço, como o caso de um
adolescente que faleceu devido à negligência policial.

A psicóloga explicou que não desempenha atividades que regularmente


fazem parte da atuação da (o) psicóloga (o), como terapia individual, em grupo ou
aplicação de testes psicológicos. Salientou também que o serviço de medidas
socioeducativas pode não contar com profissionais de psicologia, pois não há uma
obrigatoriedade na inclusão desse profissional, devido ao fato de que suas
atividades são as mesmas que a dos profissionais de outras áreas que atuam na
equipe. Mesmo assim, para ela, nossa formação nos prepara melhor para o trabalho
com grupos, muito pelo fato de sermos preparados para agir de forma mais sensível
frente a alguns elementos importantes para uma vivência grupal transformadora.
Para a psicóloga, é o tipo de formação profissional que possibilita uma contribuição
maior para a elaboração de intervenções ou estratégias, não necessariamente a
formação em psicologia. Se o profissional tiver uma formação crítica, que considere
os diversos elementos que contribuem para as situações de vulnerabilidade às quais
tais sujeitos estão submetidos, atuará de forma mais responsável em relação a
esses aspectos, principalmente o manejo com familiares que não estão motivados a
colaborar com a equipe. A entrevistada considera que apesar disso a (o) psicóloga
(o) pode ser “alienado” pelo discurso da instituição, no sentido de que em alguns
casos o (a) profissional age de forma a favorecer a manutenção da estrutura vigente.
Ela pontuou também que a rotina agitada da instituição muitas vezes a impede de
preparar melhor as ações com os grupos.

Para a psicóloga, os objetivos principais de seu trabalho na área de medidas


socioeducativas são distintos, de acordo com o estabelecido por lei, é diminuir a
reinserção dos adolescentes no sistema penal, fazer com que o adolescente tenha
uma perspectiva crítica sobre seu ato infracional, sem puni-lo, de forma educativa e
reinseri-lo na sociedade de forma plena. Mas, na prática, a demanda recebida pelo
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juiz é, na maioria das vezes, que a equipe consiga fazer com que o adolescente
volte a estudar e que pare de causar “transtornos”. Relata que é praticamente
impossível impedir o adolescente de voltar a cometer infração, devido à extrema
vulnerabilidade a qual estão sujeitos. Ela cita que, o serviço de medidas
socioeducativas oferece ao adolescente a possibilidade de refletir sobre seus atos,
de voltar para escola (que deveria ser um ambiente facilitador e acolhedor), e de ser
inserido no mercado de trabalho. Essas medidas socioeducativas demandariam
ações que demandam do sujeito as suas responsabilidades. Embora o tráfico lhe
ofereça meios mais rápidos de ganhar dinheiro e obter sustento, este não lhe exige
submissão às regras sociais. Fazer com que o adolescente não volte a transgredir,
para ela é um objetivo de médio a longo prazo, que na maioria dos casos não ocorre
enquanto o adolescente cumpre a medida. A profissional objetiva fazer com que o
adolescente adquira “ferramentas” no período em que cumpre a medida, para que
no futuro, em uma situação que o convoque a infração, ele possa lembrar-se do que
apreendeu nesse processo e agir de forma mais assertiva. Entretanto, para a
entrevistada, é fundamental que a equipe trabalhe a corresponsabilidade do
adolescente em relação ao ato infracional, de forma não punitiva, mas assertiva,
favorecendo a criticidade do adolescente, fazendo com que eles se vejam como
protagonistas de suas ações e escolhas.

A entrevistada prioriza um diálogo real e sincero com o adolescente, sempre


de forma construtiva, mas instruindo-o a lidar com situações reais às quais lidará no
futuro. Ela pontua também que é preciso que os profissionais acreditem no potencial
dos adolescentes, o que é difícil em certos casos, mas extremamente necessário,
segundo a mesma. Em relação ao referencial teórico, a psicóloga respondeu que
pode ser qualquer um, pois o profissional desempenhará as mesmas atividades, o
que muda é a leitura que o profissional fará em relação à demanda e ao manejo com
grupos, por exemplo. Disse ainda que a base teórica do profissional interfere muito
pouco no trabalho. Ela salientou também que não há uma intervenção individual do
psicólogo; a intervenção é conjunta e similar em toda equipe.

19
3.2 Entrevista 2

A segunda participante, é uma mulher de vinte e nove anos, atua na


instituição há cinco meses e já trabalhou no CREAS com Medidas Socioeducativas.
Atualmente trabalha em uma instituição onde atende adolescentes em situação de
vulnerabilidade social e medidas socioeducativas. Nessa instituição trabalha como
técnica psicóloga, atendendo os adolescentes em suas necessidades primordiais;
tais como fazer matrícula na escola, levar ao dentista e levar para vacinar. Foi
contratada pela empresa que trabalha atualmente justamente por ter trabalhado no
CREAS e ter participado das oficinas e seminários para criação de medidas
socioeducativas para todo o estado do Nordeste, onde residia.

Segundo B, um psicólogo deve atualizar-se constantemente com leituras, não


esquecer a ferramenta da escuta atenta quando está em contato com os
adolescentes. B incentiva “os meninos” (maneira utilizada por ela para se referir aos
atendidos) a estudarem e adquirirem uma profissão. As medidas socioeducativas
são consideradas cumpridas pelos adolescentes quando estes cumprem as normas
estabelecidas pelo juiz que julgou o caso. Alguns adolescentes precisam somente
frequentar a escola, o que por vezes não ocorre, fazendo com que não sejam
liberados. Outros, quando desejam ter uma profissão, recebem auxílio de B, que os
matricula em um curso profissionalizante escolhido pelo adolescente.

B também falou sobre a importância do profissional manter seus estudos em


dia, ainda que sua ocupação seja como técnica como é o caso de cargos órgão
públicos. Também é preciso estudo e leituras contínuas, porque apesar de atuar em
um contexto social, usa as ferramentas psicológicas sempre que tem oportunidade.
B também acrescentou que, para o fortalecimento dos laços, deveria haver maior
investimento no quadro da equipe por parte do governo, algo que com o atual
cenário político, segue pelo caminho inverso, a partir dos cortes de custo como o da
educação, por exemplo. Com o fechamento de serviços, atualmente a Fundação
Casa tem um quadro de adolescentes crescente em relação aos equipamentos da
MSE, o que fortalece apenas laços de conflitos de interesse em relação aos desvios
de verbas e mau uso do dinheiro público. B acredita que o serviço deveria ser
ampliado, visto que hoje não há vagas para tanta demanda, e os profissionais

20
acabam por não conseguir realizar seu trabalho com a mesma qualidade, se fossem
resolvidas essas questões.

A entrevistada nos convoca à reflexão a respeito do desenvolvimento do


pensamento crítico e resiliência nos adolescentes como algo fundamental diante da
própria realidade. O profissional tem que estar atento para trabalhar em cima das
transformações inerentes a fase de desenvolvimento da adolescência e fazer bom
uso do tempo em que ele está em cumprimento da sua medida, trabalhando sobre
as questões e apostando na “virada de chave” de uma fase para outra, aproveitando
destes momentos para fazer sua intervenção. Nesse sentido, muitas vezes,
profissionais dessas áreas acabam se desgastando e desistindo do adolescente e,
por pouco, acabam mandando para o juiz por qualquer descumprimento,
desconsiderando o contexto do adolescente inserido na sociedade e suas mudanças
psíquicas. Nesse sentido, um psicólogo na equipe não só atua com o jovem em
medida, mas também faz a interface entre a equipe, no sentido de ampliar sua visão
para detalhes não valorizados, como a idade em que o jovem tinha ao cometer tal
infração e a idade que ele tem agora, quais mudanças foram provocadas e quais
mudanças estão ocorrendo e o próprio adolescente.

A promoção da saúde foi vista por B a partir da proposta do seu próprio


trabalho de acreditar e escutar, dar acesso a equipamentos que antes não foram
acessados por falta de conhecimento e a noção de que aquilo é algo para uso deles,
sendo seu direito, apontando que eles também são sujeitos de direito e desejos,
independente se irão se ressocializar ou não. Quanto à perspectiva sobre futuro, a
participante disse que tanto ela quanto os demais profissionais da área têm uma
visão bastante negativa por conta da conjuntura política, porque não há mais
liberdade assistida e também estão reduzindo muito o número de jovens atendidos.
Algo relevante citado pela mesma é que a questão do porte de armas pode
influenciar muito mais nas mortes desses jovens.
A dificuldade do profissional foi apontada no sentido de que, por não se tratar
de um trabalho clínico, o profissional pode se perder na identificação da
transferência; por exemplo, com os técnicos homens que podem representar a figura
paterna para jovens que nem sequer chegaram a conhecer seu pai e uma técnica
que pode representar uma tia, irmã ou até mãe, bem como saber fazer a devolutiva
dessa transferência de modo que eles deem conta dessa devolutiva. Outro
21
apontamento refere-se ao aumento do investimento das faculdades em ensino
voltado a serviços da área social que promovam, despertem e aumentem o desejo
por estas áreas, que hoje se limitam apenas a dar mais ênfase à clínica.

3.3 Entrevista 3

A psicóloga C tem quarenta e três anos, se identifica com o gênero feminino,


é branca e atua na instituição há três anos. Dentre as atividades realizadas em seu
cotidiano profissional, ela cita o atendimento individual e em grupo aos
adolescentes, a realização de oficinas para os mesmos, participação de reuniões
com a rede intersetorial, socioassistencial, o setor de saúde e a Rede de Assistência
Psicossocial (RAPS). Além disso, a profissional se mantém em contato com a rede
jurídica, informando a quem compete as ações desenvolvidas junto ao adolescente.
A entrevistada expôs que seu trabalho no MSE se volta não só para o
adolescente, mas também para as famílias dos mesmos, que geralmente se
encontram em situação de vulnerabilidade. Há uma articulação com as instâncias da
assistência social para que tais sujeitos acessem os serviços e benefícios dos quais
têm direito. Segundo ela, os objetivos de seu trabalho consistem em auxiliar o jovem
na criação de um processo de transformação de vida. Ela distinguiu o objetivo de
ressocializar, como preconiza o judiciário, da noção de ressignificação do projeto de
vida dos adolescentes, a qual acredita que seu trabalho se propõe de fato.
Como referenciais teóricos de sua atuação, a profissional assinala o Sistema
Municipal Socioeducativo (SIMASE), o SINASE e o ECA como os documentos que
norteiam sua atuação. A profissional defendeu a importância de acompanhar as
diretrizes do Conselho Federal de Psicologia, que dispõe sobre o trabalho da/o
psicóloga/o no contexto socioeducativo, sendo este documento também norteador
da atuação profissional. Ela alega que não há uma abordagem específica para o
trabalho, que segundo ela, carece muito mais do conhecimento psicológico, no
sentido de pensar e problematizar a vivência subjetiva dos adolescentes, por meio
de uma escuta atenta.
Para C, a prática do profissional de psicologia no contexto das medidas,
prioritariamente, se constitui na articulação dos casos, no sentido de, junto aos
profissionais que compõem o serviço e toda a rede envolvida, responder de forma

22
benéfica às demandas trazidas pelo adolescente. Segundo ela, em relação à/o
psicóloga/o, as contribuições desse profissional se sobressaem mais nas discussões
de caso, onde aspectos geralmente não explorados pelo resto da equipe são
problematizados pelo saber da psicologia. Em relação à junção do saber psicológico
com o de outras áreas, a psicóloga expôs que o trabalho é partilhado com o do
sociólogo, do assistente social, do pedagogo e do advogado.
A entrevistada frisou a importância do profissional da psicologia, inserido no
MSE, de estar atento às questões do ciclo de desenvolvimento vital que
caracterizam a adolescência de forma geral. Sua atenção especial deve respeitar a
singularidade de cada um deles, compreendendo essa postura como a contribuição
maior da psicologia neste cenário. Em se tratando da interface com a saúde, a
psicóloga enfatiza a importância de um acompanhamento intersetorial, articulado em
rede, para que o adolescente seja atendido de fato em suas necessidades. Ela
salienta que não basta fazer encaminhamentos e deixar que o adolescente procure
sozinho os serviços. É necessário que o técnico estabeleça comunicação com os
outros aparelhos dos quais o adolescente participa. Pensando nos casos em que há
dependência química ou alguma questão envolvendo saúde mental, a atuação
conjunta com esses serviços da rede de saúde se fazem mais notórios.
C apontou como principal entrave para sua atuação o diálogo com o poder
judiciário. Ela relatou que em muitos casos, não basta que o adolescente se supere
em relação a si mesmo, mas, por imposição do juiz, o adolescente é cobrado a
atingir metas que dele são esperadas, mas que não condizem com suas reais
possibilidades. Os serviços da rede também dificultam a efetividade do trabalho
desenvolvido com o adolescente; rejeitam, por exemplo, sua matrícula na escola,
quando o adolescente está cumprindo a medida.
Algo bastante explorado pela entrevistada foi a forma como a violência policial
tem acometido os adolescentes que cumprem medida. Ela expôs que a policial tem
cada vez mais agido de forma violenta para com os adolescentes, ameaçando-os e
em muitos casos infligindo violência física, como forma de “acerto de contas”. Ela
acredita que uma das causas para o baixo número de adolescentes em
cumprimento de medida, seja justamente a repressão policial: ela cerceia a vida
desses adolescentes ou não registra as ocorrências mediante pagamento de propina
oriundo do tráfico de drogas.

23
A psicóloga acredita que o que torna seu trabalho efetivo, apesar de todos
esses entraves, é justamente a capacidade de investir nas potencialidades dos
adolescentes, algo que na maioria dos casos, não é reconhecida em outros
contextos. Soma-se a isso, a necessidade de criar um vínculo de confiança, para
que o adolescente se sinta acolhido e se implique de fato no processo de
ressignificação.
Sobre suas perspectivas futuras em relação à medida socioeducativa, a
entrevistada disse que não vislumbra um quadro mais satisfatório, devido à atual
conjuntura política e as possíveis alterações feitas em relação às políticas públicas
para esta população, principalmente a proposta de redução da maioridade penal,
algo que, para ela, afetará diretamente e de forma extremamente negativa a MSE.

3.4 Entrevista 4

O psicólogo D, tem vinte e nove anos, se identifica com o gênero masculino, é


negro e atuou em dois serviços de medida socioeducativa. No primeiro atuou por
dois anos e meio, no segundo três meses. Sua rotina na primeira instituição
consistia na apresentação do programa e da instituição, às famílias e adolescentes
encaminhados pelo judiciário, seguido da confecção do Plano de Desenvolvimento
Individual (PIA) de cada adolescente, também fazia atendimentos individuais e em
grupos, atividades externas, em que o profissional acompanhava os atendidos em
visitas a museus, parques e cinema, por exemplo, e a articulação com a rede,
buscando a garantia dos direitos dos adolescentes e suas famílias.
Para o profissional, o trabalho na MSE tem como foco tanto o adolescente,
quanto suas famílias. Os objetivos do trabalho, para ele, consistem em promover a
ressocialização do adolescente ao convívio social, de forma que se responsabilize
pela sua infração, tendo também a possibilidade de acessar e usufruir direitos
garantidos por lei. Para isso, o profissional utiliza como referencial teórico
documentos como o SINASE e o ECA. Ele citou também a obra Vigiar e Punir, de
Michael Foucault, como um referencial à sua prática.
D afirmou que a intervenção do psicólogo é comum aos outros profissionais
do serviço, consistindo na busca de que os direitos dos adolescentes sejam
efetivados, mas sinalizou que o profissional da psicologia deve se voltar para a

24
compreensão dos fenômenos subjetivos das situações postas, suscitados por uma
escuta qualificada. Na sua perspectiva, quando o adolescente consegue acessar
direitos que são assegurados por lei, mas que até lhes eram inacessíveis, se atinge
um dos objetivos da medida, e para que isso ocorra, ele acredita que será sempre
com o trabalho articulado, que no seu caso ocorria entre sociólogo, pedagogo,
assistente social, e cientistas sociais e ele, enquanto psicólogo.
O entrevistado apontou que o adolescente em cumprimento de medidas
socioeducativas, geralmente expressa um comportamento mais ativo e impetuoso,
no sentido de questionar regras e os padrões estabelecidos, sendo, para ele, o
próprio ato infracional, em alguns casos, uma forma de externalizar esse ímpeto,
que é parte do processo de adolescer.
Como um dos impeditivos encontrados em sua prática, D citou a falta de
recursos culturais e de espaços onde esses adolescentes possam acessar cultura,
como cinema, teatro, museus, ou até mesmo um espaço para apresentações dos
próprios adolescentes. O profissional expôs que o serviço tem que propiciar ao
adolescente o acesso a esses espaços, de alguma forma, mas a falta de
investimento tanto na criação desses espaços nos territórios, quanto em relação ao
repasse de verbas para esse fim, muitas vezes impossibilita que o profissional
ofereça tais recursos aos atendidos. A falta de verba pública acarreta em limitações
em toda a rede, acrescentou, e também na possibilidade de atendimento à família
do adolescente, que também precisa, mas não conta com os recursos financeiros,
como no caso do próprio adolescente, não recebendo bilhete para transporte.
Para D, os motivos que levam o adolescente a cometer infração são diversos,
mas algo bastante recorrente em seu cotidiano profissional foi a vulnerabilidade
social a qual estes adolescentes são submetidos. A impossibilidade de usufruir itens
de consumo marquetinizados pela mídia muitas vezes leva o adolescente a
infracionar. O profissional também vivenciou a experiência de auxiliar os
adolescentes a entrar para o mercado de trabalho formal, desejo de muitos deles.
Ele contou que na época em que trabalhava com MSE, há três anos, geralmente
esses adolescentes encontravam oportunidades na área de televendas, hoje, com a
quantidade de desempregados no Brasil, somada à baixa escolaridade dos
atendidos, encontra-se mais dificuldade para inseri-los no mercado de trabalho.

25
Em relação aos objetivos da MSE, o psicólogo alega que, para o juiz, é
importante que o adolescente esteja estudando, trabalhando e tenha a compreensão
da infração por ele cometida, o que, em muitos casos, não ocorre, devido ao grau de
vulnerabilidade aos quais tais adolescentes estão submetidos. Mesmo assim, para o
profissional, alcança-se os objetivos da MSE, quando o adolescente evolui em
algum ponto, em relação à sua própria condição. Ele pontuou que a questão escolar
é algo muito exigido pelo judiciário, ao mesmo tempo em que para muitos
adolescentes é muito difícil permanecer no ambiente escolar, seja pela dificuldade
de aprendizado ou pela forma como é tratado pela instituição. Apesar dos entraves,
D salienta que é necessário dizer ao juiz que há um problema em determinado
quesito, apresentando também uma solução, em relação ao que já está sendo feito
para superá-la. A criticidade e conscientização sobre o ato infracional, por parte do
adolescente, são compreendidas por ele como principal parâmetro da efetividade ou
não da medida.
O entrevistado relatou que tem observado uma redução no número de
adolescentes cumprindo medidas socioeducativas. Acredita que não há um
consenso sobre o porquê da redução, mas o genocídio dos jovens e o
encarceramento em massa são possibilidades apontadas pelo profissional. Para ele,
a perspectiva sobre a MSE é desfavorável, pois compreende que a sociedade não
está interessada de fato na ressocialização do adolescente, tendendo mais para
uma perspectiva punitiva e criminalizada sobre tais sujeitos, sendo a proposta de
redução da maioridade penal um retrato desse posicionamento.

26
4 DISCUSSÃO

O capítulo tem como objetivo articular os resultados obtidos por meio das
entrevistas, valendo-se da bibliografia sobre a temática e a análise interpretativa das
informações adquiridas. Utilizamos como literatura de referência para nossa análise
as políticas públicas que tratam da temática e textos científicos na área da psicologia
social, visto que tais documentos dialogam diretamente com o conteúdo e objetivo
de nossa pesquisa. Para uma melhor exploração das narrativas, elencamos quatro
eixos principais de análise, com temáticas que permearam os relatos dos
entrevistados. São eles: Adolescentes e ato infracional; medidas socioeducativas e
políticas públicas; psicologia e medidas socioeducativas e reflexões críticas.

4.1 Adolescentes e Ato Infracional

Pensar sobre o ato infracional cometido pelos adolescentes que cumprem


medida socioeducativa, implica em reflexões sobre a forma como tais sujeitos se
relacionam com o mesmo, bem como os motivos que direcionam seus
comportamentos para tal. Sabe-se que diante da desigualdade social que
caracteriza o Brasil enquanto Estado, muitos desses adolescentes, principalmente
os que pertencem a parcela mais pobre da população, estão sujeitos à condições de
extrema vulnerabilidade, o que os torna mais suscetíveis à prática de atos
infracionais. Aqui, é válido citar o que Cairus et al. (2010) denunciam em sua
pesquisa, ao circunscrever a forma como o próprio Estado propicia ao adolescente
cometer infrações, se não lhe é assegurado, de forma eficiente, seus direitos. No
entanto, é o mesmo Estado que o responsabiliza e o pune pelo ato infracional
cometido, eximindo-se da responsabilidade diante do fato, o que corrobora para uma
manutenção circular dessa dinâmica.

Seja pela falta de acesso à bens de consumo ou mesmo por terem pouco ou
nenhum acesso a direitos e recursos sociais e econômicos, os adolescentes que
cumprem medida socioeducativa foram caracterizados pelos profissionais como
adolescentes que vivenciam situação de vulnerabilidade, na grande maioria dos
casos, como destacado pelos psicólogos B e D, ao relatarem casos atendidos por
elas:

27
Tem menino meu, que rouba celular pra comprar uma mochila para ir pra
escola, isso é muito simbólico: gente! roubar para comprar uma mochila
para ir para a escola! (PSICÓLOGA B).
A maioria desses adolescentes eles tiveram direitos negligenciados ou não
acessados, né, então é você conseguir dar acesso aos direitos para eles,
garantia como um todo e responsabilizá-los pelo ato infracional.
(PSICÓLOGO D).

É importante considerar que na maioria dos casos todo o sistema a qual o


adolescente é pertencente está suscetível a estas vulnerabilidades, sendo
necessário um trabalho com esse entorno, principalmente o contexto familiar, que é
núcleo formador do indivíduo. Sobre a importância da funcionalidade da família em
relação ao enfrentamento do ato infracional, a psicóloga C afirmou que:

Muitas vezes essa família precisa ser encaminhada para assistência social
básica né porque a gente está na assistência social complexa [tosse] né,
mas muitas vezes essa família não, não recebe, por exemplo, um programa
de benefício né. Às vezes tem alguém da família que tem alguma questão
de saúde e que não consegue ser atendido pela saúde né, então tem
várias, várias questões que chegam junto com adolescente e que a gente
tem que ter esse olhar amplo para poder fazer todos os encaminhamentos
necessários.” (PSICÓLOGA C).

Obviamente, não se pode considerar que a vulnerabilidade social dos


adolescentes seja um aspecto determinante para a efetivação do ato infracional,
pois há outros motivos que podem levá-los a infracionar, motivos que podem se
relacionar a características específicas da vivência adolescente, como a
identificação com os pares. Em relação a isso, os entrevistados A, B e D
argumentaram que:

Tem coisa que nesse fazer desse menino que está se manifestando agora
como está vinculado ao tráfico, mas tem coisa por trás disso, que tem a ver
com a identificação dele com os grupos, com a identificação dele com os
pais, com a formação de subjetividade, como por exemplo, com a falta de
repertório que ele tem para construir uma personalidade que seja diferente
daquilo que ele tem só ofertado ali. (PSICÓLOGA A).
Então, muitas vezes só esse..., que não é pouco, né, mas só o fato de ele
poder ser enxergado, uma das coisas é isso, o adolescente antes de
cometer infração muitas vezes ele não é visto, então ele, enquanto
adolescente ele não tá sendo visto pela sociedade, às vezes o ato infracional
é uma forma… (PSICÓLOGO D).
A gente como psicólogo, a gente já pode olhar por esse lado, não só o lado
social, não só porque “eu sou pobre”, ou porque o meio influenciou, mas

28
uma questão mesmo de prazer, “eu roubo por prazer”, mesmo que seja um
prazer inconsciente. (PSICÓLOGA B).
Pautar a temática do adolescente infrator enquanto um fenômeno social,
implica pensar sobre a forma como esses sujeitos são vistos pelo imaginário social,
discussão que se faz muito necessária em vista da possibilidade da redução da
maioridade penal, por exemplo, que impacta negativamente as políticas públicas que
assegurem direitos às crianças e adolescentes, como o SINASE. Leão (2007) afirma
que a sociedade têm como necessidade atribuir culpa a um sujeito a quem possa
responsabilizar pelas mazelas que na verdade são engendradas por um sistema
muito mais complexo que o ato infracional propriamente. A autora assinala que
“quando um adolescente comete um ato infracional e isso chega ao conhecimento
das pessoas, ele passa a carregar consigo o estigma de infrator ou criminoso”
(LEÃO, 2007, p. 53).

Tal entendimento é corroborado pelo que os profissionais expuseram nas


entrevistas. Há uma culpabilização do adolescente como único responsável pela
infração cometida por ele, que resulta da desconsideração de todo o contexto de
vulnerabilidades sociais a qual o indivíduo está submetido, que é resultado da
ineficiência do Estado em assegurar direitos básicos à população e da negligência
dos cidadãos, uma vez que como estabelece o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990), a sociedade civil também é responsável pela
oferta de um desenvolvimento favorável das crianças e adolescentes. Nas palavras
do psicólogo D,

Depende de nós profissionais conscientizarmos a população, assim, nós


psicólogos, independente do serviço que a gente tá, de poder conscientizar o
que que é isso, que tá acontecendo. (PSICÓLOGO D).

Quando a sociedade e o próprio adolescente passam a compreender a


amplitude inerente ao ato infracional, o trabalho desenvolvido com esses sujeitos
pode ser efetivo e validado. “Investigar a relação que esses adolescentes e o mundo
vêm desenvolvendo entre si, torna possível ampliar a compreensão a respeito da
delinqüência.” (LEÃO, 2007, p. 54).

29
4.2 Medidas Socioeducativas e Políticas Públicas

As medidas socioeducativas foram estabelecidas a partir da criação do


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990). É preconizado no
próprio documento que o trabalho neste contexto deve ser de cunho educativo e não
punitivo. As medidas são aplicadas pelas autoridades do nível judiciário, em razão
da confirmação de infração cometida pelo adolescente. Como exposto pelos
profissionais, os adolescentes são encaminhados pelas instâncias judiciais que
zelam pelo âmbito infanto juvenil, para as instituições que os acompanharão durante
o período de cumprimento da medida.

Em se tratando do papel das políticas públicas no contexto das medidas


socioeducativas, todos os entrevistados consideram-nas como centrais para a
efetivação do trabalho desenvolvido com este público, citando o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo (SIMASE) e a Rede
de Assistência Psicossocial (RAPS) como políticas que fundamentam suas práticas
e garantem ao adolescente as condições favoráveis para seu desenvolvimento,
tanto no contexto das medidas, quanto fora delas. A psicóloga C citou ainda o
documento Referências técnicas para atuação de psicólogos no âmbito das medidas
socioeducativas em unidades de internação, elaborado pelo Centro de Referências
em Políticas Públicas (CREPOP), órgão gerido pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP), como um documento valorativo para atuação dos psicólogos.

O ECA foi interpretado pelos profissionais como política pública central para
assegurar os direitos dos adolescentes, pois em consonância com o que apontam
Brambilla e Avoglia (2010), trata-se de um documento que garante a tais sujeitos
proteção integral, dotando-lhes de direitos e deveres, impedindo que discriminações
em razão de suas faixas etárias sejam perpetuadas, como ocorria com o Código de
Menores. Em relação a este, as autoras afirmam que seu caráter era ineficaz, pois
além de se aplicar apenas a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
“essa doutrina concebia crianças e adolescentes, os ‘menores’, como seres
incapazes, não sujeitos de direitos nem deveres, não autônomos” (BRAMBILLA;
AVOGLIA, 2010, p. 110).

30
A partir dos relatos dos entrevistados, que expuseram seu cotidiano de
trabalho com os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, observa-se
que o respeito às diretrizes estabelecidas no ECA; eles garantem prerrogativas à
criança e ao adolescente independentemente da situação a qual estejam inseridos,
sendo fundamentais para a promoção de um serviço que os considere enquanto
sujeitos e cidadãos, e portanto, dignos de acessar e usufruir de seus direitos
(BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010). Como afirmou o psicólogo D:

Então para mim é o ECA primeiro, porque ele vem estabelecendo a criança e
o adolescente como sujeito, junto com a constituição, né? (PSICÓLOGO D).

O SINASE é outro documento importante para a execução do trabalho dos


profissionais. O documento foi elaborado em 2006 pelo Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) (BRASIL, 2006), e dispõe sobre
as diretrizes que devem nortear as atuações de profissionais inseridos no contexto
das medidas socioeducativas, assegurando que o serviço ofertado aos adolescentes
seja pautado pela ética e pelo direcionamento pedagógico. Ainda, de acordo com o
documento, “a implementação do SINASE objetiva primordialmente o
desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos
humanos” (BRASIL, 2006, p. 16).

É importante ressaltar: tanto o ECA, quanto o SINASE, constituem-se além


dos diretrizes para atuação, como ferramentas para que os profissionais possam
agir no sentido da garantia de acesso dos adolescentes e seus familiares a direitos
básicos, que muitas vezes são negados pelas outras instituições que compõem a
rede de atenção psicossocial (BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010). Como exemplifica a
psicóloga A, diante da negativa das escolas em matricular adolescentes que
cumprem medidas:

Tem escola que às vezes se nega a matricular o menino, aí a gente tem


sempre que chegar lá com o ECA e dizer: “Olha, você conhece o ECA? Aqui
tá dizendo etc, etc, etc...” (PSICÓLOGA A).
A utilização dessas políticas públicas como instrumento de proteção e
garantia de direitos não se restringe apenas ao adolescente, mas também às suas
famílias, que para além do aspecto protetivo, também são responsabilizadas e
encarregadas de deveres para com os adolescentes.
31
O fator integrativo do SINASE e do ECA, caracterizam a intersetorialidade
facultada no serviço de medidas socioeducativas. Há nestas políticas públicas a
compreensão de uma necessidade de articulação intersetorial, para que o
atendimento concedido ao adolescente e sua família seja efetivo. Os critérios
jurídico, político, pedagógico e assistencial são preconizados e encarnados na
atuação de todos os profissionais que compõem o sistema. (BRASIL, 2006). Os
diferentes campos devem assumir práticas conjuntas, que priorizem o bem-estar e a
promoção de saúde ao adolescente. Como assinalam as psicólogas A e C,

A gente sempre procura fazer um trabalho junto porque é isso, os serviços de


medidas socioeducativas ele só acontece se a rede estiver fortalecida, o
trabalho só é bom se a rede está fortalecida. (PSICÓLOGA A).
A gente pede ajuda, porque a rede tem que trabalhar junta, né, então ele
não é acompanhado só por um equipamento, muitas vezes esses jovens,
eles são acompanhados por vários equipamentos. (PSICÓLOGA C).

4.3 Psicologia e Medidas Socioeducativas

Ao colocar em lume a prática do profissional de psicologia no contexto das


medidas socioeducativas, se faz necessário atentar para o público a qual a(o)
psicóloga(o) está a serviço, os “adolescentes infratores”. Em razão das
especificidades da atuação com adolescentes inseridos no contexto das medidas
socioeducativas, Brambilla e Avoglia (2010), defendem que o profissional de
psicologia deve compreender-se em um papel de agente social, assumindo o lugar
por ele ocupado considerando o contexto social e institucional no qual atua. Santos
e Menandro (2017) ressaltam que “uma prática profissional coerente com este
campo de atuação requer por base um referencial teórico-metodológico ligado à
área Social” (SANTOS; MENANDRO, 2017, p. 110).

Sobre a importância de os profissionais atuantes nesta área assumirem uma


visão crítica do contexto social em que estão inseridos, bem como as
especificidades da população que atendem o psicólogo D expôs que,

A minha experiência pessoal assim, com pessoas que eu conheço que


trabalham na medida, a sua grande maioria é muito politizada, então tende a
fazer um trabalho legal para os meninos (PSICÓLOGO D).

32
Sobre o tema, a psicóloga A relatou que para além de entender as
vulnerabilidades às quais os adolescentes forma submetidos, é fundamental que
a(o) profissional tenha também um olhar responsável sobre a temática, no sentido
de não deixar de trabalhar aspectos da responsabilização perante a infração, que
podem ser algo difícil,

Então a gente vai dizer que a gente nunca vai tratá-lo como o bode expiatório
da sociedade, mas a gente tem que dizer sim que é, o que ele fez é
inadmissível, que isso gera danos, que gera danos inclusive para ele.
(PSICÓLOGA A).
A partir dos relatos expostos pelos entrevistados, o profissional de psicologia
inserido no serviço de medidas socioeducativas, atua como técnico, denominação
que é dada a todos os profissionais que atuam nesse contexto, independente de sua
formação profissional. Sobre esse fato, as psicólogas B e C afirmaram,

A nossa atuação ela é muito diferente da atuação que a gente já fantasia na


faculdade né, da que a gente espera, ela não é uma atuação clínica, ela é
uma atuação psicossocial. (PSICÓLOGA B).

O psicólogo, na verdade, é, dentro da medida socioeducativa... ele é muito


visto como um articulador, né? Então, não tem diferença se durante a
atuação se ele tá no atendimento individual, se ele tá no atendimento grupal
é, é não vai ter muita diferença, assim de uma assistente social, de um
advogado entende (PSICÓLOGA C).

Tal enquadramento implica em certa descaracterização do que


convencionalmente se entende como função do profissional de psicologia, uma vez
que sua atuação volta-se muito mais para os aspectos psicossociais que compõe as
demandas dos adolescentes, em detrimentos do trabalho voltado para o
atendimento clínico destes, como exemplifica a psicóloga B,

Então assim, o trabalho psicossocial vai às vezes te levar a fazer coisas, que
você vai falar ‘meu Deus!’. Lógico, no contexto clínico jamais pode fazer, é
por isso que a gente não pode ser clínico. Então, por exemplo, eu vou na
escola e eu faço matrícula do menino, a gente chama de menino, né? os
sócio-educandos, eu levo no dentista, levo para tomar vacina. (PSICÓLOGA
B).
Apesar deste fator, a presença da(o) profissional de psicologia na equipe de
medidas socioeducativa se faz necessária e valorativa, pois mesmo diante de tais
obstruções o saber da(o) psicóloga(o) contribui grandemente para o
desenvolvimento do atendimento ofertado ao adolescente e sua família. Penso e
33
Costa (2010) assinalam que a (o) psicóloga(o) “(...) mesmo estando em um contexto
regulador e decisório, precisa ser terapêutico no sentido de proporcionar
transformações pessoais, familiares e sociais” (PENSO; COSTA, 2010, p. 238).
Quanto a contribuição do profissional de psicologia na equipe interdisciplinar, o
psicólogo D colocou que

o psicólogo dentro do serviço de medida ele, ele tem, a função de técnico,


então ele faz atendimento junto com a equipe, né, mas ele é responsável pela
leitura, uma escuta do fenômeno além do, do concreto, né, então uma das
funções do psicólogo é compreender o fenômeno subjetivo da situação, do
fenômeno como um todo, né? (PSICÓLOGO D)

Ainda sobre os aspectos que diferenciam a atuação do psicólogo em relação


aos outros técnicos que compõem o serviço, as psicólogas A e C defenderam que

a gente é treinado para pescar essas falas, para pescar esses olhares, para
pescar essa forma de lidar, então, isso ajuda também, isso ajuda porque a
gente consegue movimentar a equipe para coisas que às vezes quem
recebeu outra formação não ta tão treinado a fazer, né? (PSICÓLOGA A)
agora, no que a psicologia, por exemplo, contribui muito... muito... muito nas
medidas é na hora da discussão de casos, porque daí vem olhar, que daí é
um olhar específico né? (PSICÓLOGA, C)
Em se tratando da viabilidade da(o) psicóloga(o) promover saúde no
ambiente da medida socioeducativa, verifica-se pela fala dos profissionais a
concretização de tal meta, a partir da intervenção feita junto ao adolescente e sua
família. A psicóloga B propôs:

Eu acredito que também é promover saúde, né, essa questão de acreditar, de


escutar. (...) É que saúde também é bem-estar social, né, então acho que a
gente promove um bem-estar social, dá acesso a esses, esses meninos a
lugares que eles não teriam acesso, às vezes por falta de conhecimento, por
falta de saber que ele tem direito, né? (PSICÓLOGA B).

Com base na fala da psicóloga, compreende-se que há promoção de saúde a


partir do trabalho desenvolvido pelos profissionais, visto que a promoção de saúde
envolve justamente a compreensão do indivíduo, no caso o adolescente, enquanto
um ser inserido em diversos contextos, que fazem parte de seu processo de saúde-
doença, ou seja, a partir da intervenção feita no contexto psicossocial da vivência
dos adolescentes, há promoção de saúde. Como pontuam Brambilla e Avoglia
(2010), “a saúde é aqui entendida não apenas como ausência de sintomas ou de

34
doenças. Destaca-se uma preocupação com o indivíduo em sua totalidade”
(BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010, p. 107).

Ainda sobre as contribuições das(os) psicólogas(os) neste campo de atuação,


os entrevistados expuseram que através da escuta e olhar voltados para a
subjetividade dos adolescentes, é possível acessar conteúdos que às vezes não são
acessados ou observados por outros profissionais. Sobre isso, o psicólogo D e a
psicóloga A narraram:

Só de você dar um lugar para ele se sentir escutado, né, poder falar, isso
também traz grandes benefícios, assim pra eles, então de meninos que se vê
histórias até de televisão já aconteceu, ah! que é super perigoso! e na sua
frente ele tá chorando, ele tá falando de coisas extremamente delicadas,
assim, então eu acredito muito nesse trabalho (PSICÓLOGO D)
Acontece dele [adolescente] sair em uma semana de um atendimento chegar
no atendimento seguinte, dizendo: “É, fiquei pensando naquilo que a gente
conversou e acha! que eu mudei de ideia!”, e agradecer e falar: “Olha, você
me disse uma coisa que eu nunca tinha pensado!”. Então você começa a
perceber uma mudança na posição, né? (PSICÓLOGA C)

Observa-se, que como assinala Leão (2007), a/o psicóloga/o tem uma função
ímpar enquanto parte da equipe interdisciplinar. Como pontua a autora, este
profissional “(...) auxilia o adolescente em conflito com a lei na revisão de sua
história de vida, na ressignificação do estigma de infrator e no encontro de sua ética”
(LEÃO, 2007, p. 59).

Em se tratando das dificuldades encontradas no desempenho de suas


atuações, os entrevistados expuseram alguns dos entraves que encontram para o
oferecimento de um trabalho apropriado. Entre os obstáculos citados estão o baixo
investimento público no setor, tanto no que diz respeito à infraestrutura dos serviços,
quanto no que concerne a remuneração salarial. A psicóloga A pontuou que

o principal obstáculo é você ver a falta de investimentos que a Assistência


Social recebe para fazer o trabalho que tem que fazer. (PSICÓLOGA A)

As atribuições dadas ao profissional, que atua como técnico no sistema de


medidas socioeducativas, também foram colocadas como um entrave para a ação,
de acordo com a psicóloga B

35
“Eu acho que a maior dificuldade enquanto psicólogo é justamente, porque o
trabalho não é clínico, o trabalho não caracteriza... ‘a você é o psicólogo, a
psicóloga da equipe’, porque os mesmos encaminhamentos que uma
assistente social faz, você pode estar fazendo também posso fazer, a
dificuldade é mais essa mesmo a gente mesmo se colocar no lugar, e se
afastar um pouco” (PSICÓLOGA B)

A psicóloga C compreende que a maior dificuldade está justamente no trabalho


vinculado ao poder judiciário. Ela relatou que,

A gente tem um primeiro obstáculo que é com o próprio poder judiciário né,
que muitas vezes, eles tem uma, um olhar totalmente criminalizador, né? Um
olhar totalmente preconceituoso mesmo, de verdade, assim, é real. Então,
esse é o primeiro obstáculo que a gente enfrenta, é o judiciário. (PSICÓLOGA
C)
Para o psicólogo D, a falta de espaços culturais que os adolescentes possam
usufruir no território consiste no principal dificultador de seu trabalho. Quando
perguntado sobre, ele afirmou que esse é seu maior obstáculo:

a falta de recurso cultural, geral, assim, cultural, é geral mesmo, assim, de


um cinema, de um teatro, de um lugar onde eles possam fazer rap, que eles
possam fazer poesia... (PSICÓLOGO D, destaque nosso)

4.4 Reflexões Críticas

O campo da assistência tem sido alvo de grande discussão nos últimos


tempos para a psicologia, muito tem se falado a respeito da capacitação de
profissionais por meio teórico e prático, além da produção de conhecimento
científico no meio acadêmico. As competências consistem, entre outras questões,
“(...) na investigação e atuação sobre os fenômenos e processos psicológicos em
interface com campos afins do conhecimento, assegurando a compreensão integral
e contextualizada do ser humano” (BOBATO et al., 2016 p. 19). Dessa maneira, “a
boa formação, juntamente com o desenvolvimento e treinamento de competências
se tornam uma área mais sensível quando o profissional lida com população em
situação de vulnerabilidade” (RAMOS; TEODORO, 2018, p. 242).
Para isso, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), aprovadas em 7
de agosto de 2018 considera como, “fundamental a inserção de estudantes nas
políticas públicas vinculadas à saúde, educação, a assistência social, educação
perante as demandas brasileiras” (CFP, 2018, p. 39-40).
36
Na experiência, ao iniciar o trabalho de assistência, em medida
socioeducativa, o que se mostra para o profissional, é um cenário diferente daquele
ofertado para ele durante seu ensino na graduação. Ainda que seus estudos
contenham temáticas sociais, no ensino, pouco se fala do que realmente pode ser
feito nesta prática e muito se diz do que não pode ser feito, como assinalou a
psicóloga B:

é uma atuação psicossocial, então vai ter coisas assim, que você fala, meu
Deus! mas na faculdade, não aprendi isso! (...) e mas ninguém diz o que o
psicólogo pode ou não pode fazer no serviço, onde ele é um técnico.
(PSICÓLOGA B)

Após uma experiência clínica dentro de um centro comunitário de uma


comunidade de uma periferia em Campinas, Torres (2005) revela a partir de uma
menção crítica, a importância de tratar deste tema com mais ponderação quando diz
que: “tais experiências mostram-me quanto tudo o que tentam nos ensinar tão
somente a partir dos livros exclusivamente teóricos e distantes de um substrato real
fecha-se cada vez mais em mero papel e tem pouco valor na experiência”
(TORRES, 2005, p. 56).
Ao falar sobre esse deficit de ensino nas universidades, Ramos e Teodoro
(2012), falam dos possíveis determinantes que atravessam a formação dos
estudantes, quando em sua afirmativa diz que “existem evidências de que as
universidades estejam formando profissionais despreparados para diagnosticarem
casos de violência na infância e na adolescência” (RAMOS; TEODORO, 2012, p.
243 - 244).
Em um levantamento feito pelos mesmos autores (RAMOS; TEODORO,
2012), com 34 formandos em psicologia, com intuito de avaliar a capacidade dos
universitários de identificar e denunciar situações de violência contra criança e
adolescentes, foi revelado, entre outras complicações, a dificuldade em diferenciar
um local de notificação e um local de atendimento da rede de proteção, indicando a
sensação relatada de despreparo com a pouca prática clínica da amostra.
Analisando a importância da formação acadêmica, Penso e Colaboradores (2008)
apud Habigzang e Koller (2012) descrevem a vivência com atendimento multifamiliar
do estágio como indispensável para o amadurecimento profissional e pessoal, assim
37
como a reavaliação de preconceitos e discriminações pessoais, colocando a teoria e
prática como fundamental. Como propôs a psicóloga B:

A gente fala as coisas deles, o que eles gostam de falar que é de


maconha, de baile, de que correu da polícia, é isso, sabe? Então, tem
que tentar também... tem que ser uma pessoa muito aberta, porque se
você tiver preconceito, você não vai criar vínculo. Se você virar para o
menino, “Nossa, mas por que você fez isso?!” Já era! Você quebra o
vínculo. (PSICÓLOGA B)

As inquietações dos autores nos lançam para uma importante reflexão do que
poderá vir a ser uma proposta no futuro, junto do que buscamos investigar nesta
pesquisa através da análise dos discursos a respeito de proteção integral e
promoção de saúde. Para Maingueneau (2000) apud Paiva (2017 p.121), analisar o
discurso é pensar na relação entre lugar social e uma certa organização contextual.
Para a autora, esse método vai conceber o adolescente a partir das estratégias
subjetivas acionadas pelo jovem para lidar com suas condições.
Sobre a contribuição da Psicologia, o profissional identifica nas condições
deste jovem, aquilo que ele deixa de apresentar, ou seja, pela inadequação das
condições econômicas, das condições sociofamiliares, da escolarização, etc (PAIVA,
2017).
Nesse sentido, para o psicólogo/técnico, sua sensibilidade vai permitir ter um
olhar aprofundado sobre o fenômeno que lhe apresenta, possibilitando também, a
validação de seu trabalho conforme consegue conscientizar o adolescente, a família
e até mesmo a população o que é isto que está acontecendo. A respeito disso, a
presença de um diálogo construído entre técnico e atendido, oferece uma
intervenção não somente ao adolescente, mas ao contexto no qual está inserido. Em
entendimento a isso, uma das entrevistadas reiterou:

É.. e aí tem coisas do discurso, coisas do fenômeno que não tão sempre tão
claras assim, então o psicólogo, a escuta que a faculdade, essa formação que
nós psicólogos temos ela favorece a compreensão do fenômeno para além do
que tá dito, e não é só uma questão de inconsciente, psicanálise, nada, é a
questão de articular o fenômeno mesmo. (PSICÓLOGA C).

38
Em consonância a isso, ao investigar dentro deste tema a relação que o
adolescente vem desenvolvendo entre si e o mundo, torna-se possível compreender
a noção de anomia e delinquência, exemplificada de maneira menos pejorativa do
que outros sistemas podem trazer, sem pressupostos baseado em crenças do senso
comum ou jurídicos por exemplo.
Considerando a reflexão social proposta a partir desta pesquisa, estudamos
brevemente alguns conceitos, para nos ajuda a repensar o lugar em que o
adolescente tido como transgressor é colocado.
Pesquisamos conceitos como a anomia, com seu uso articulado a campos do
conhecimento como a sociologia, consagrada por Émile Durkheim, como “patologia
social típica da organização complexa das sociedades modernas, cuja marca é o
aumento do individualismo” (ALVES; SANCHES; LUCCIA, 2018, p. 111) e a
justificativa dada, “na translação do conceito da teoria social durkheimiana para a
clínica por sua característica limítrofe entre o que é individual e o que é de ordem
coletiva” (ALVES; SANCHES; LUCCIA; 2018, p. 111).
O conceito mais simples de anomia, irá descrevê-la como “falta de
organização do indivíduo que dá origem ao comportamento desregrado e separado
de um modelo do grupo social” (DICIO, 2019).
Nesse contexto, ao falar de falência das normas, articula-se a falência da
regulação da lei moral, entretanto, o que está em cheque, vai além do afastamento
destas leis, “é uma ausência tão radical e intensa que conduz à experiência de
perda de sentidos da própria vida, a um afastamento não apenas concreto, mas
também de referências simbólicas, da solidariedade e descrença social” (DUNKER,
2018, p. 113).
Toda essa temática, entre muitas outras que não vamos trabalhar aqui,
enriquecem e problematizam essa discussão, porém ao abordá-las integralmente
corremos o risco de desvirtuar nosso objetivo. Contudo precisamos dela para dizer
no que ela implica ao elucidar o trabalho do psicólogo quando sua função dentro da
MSE também representa uma simbolização da função paterna, ou seja, a função de
autoridade, antes declinada.
A participante B, demonstrou através da sua fala o quanto essa
representatividade da função paterna e materna tem importância dentro do seu
trabalho, quando relata recorrer aos trabalhos de Winnicott em seus manejos, sobre

39
o que ele diz da conduta antissocial e a cobrança na sociedade pelo afeto perdido,
sobre a mãe suficientemente boa e o quanto isso tem a ver com o contexto familiar.
Para Winnicott (1999) citado por Tostes (2012), na constituição do sujeito, o
bebê busca a satisfação de suas necessidades básicas que provêm do ambiente.
Em linhas gerais, a privação durante o processo de desenvolvimento, seria uma
frustração vivida pelo bebê em busca da satisfação dessas necessidades, que nem
sempre são compreendidas e satisfeitas (TOSTES, 2012).
Dentro das perspectivas levantadas pelos participantes, o ato infracional
surge para o adolescente como um ato de poder não somente de posse, embora
essa discussão também tenha surgido, mas sim uma resposta ao apagamento
social, como poder de possibilidade em ser visto. Para Vorcaro; Mazzini; Monteiro
(2008) citados por Ferreira (2012), seria então, uma tentativa de inclusão nesse
contexto social do qual ele é expulso, isto é, o sujeito pode transgredir a lei como
forma de inscrever-se nela.
Um importante apontamento dos profissionais entrevistados foi a necessidade
de atuar com os adolescentes de forma com que estes possam compreender sua
responsabilidade sobre o ato, priorizando lhes proporcionar um espaço para reflexão
sobre o mesmo, de forma não coercitiva, mas empoderadora. Penso e Costa
corroboram tal objetivo, avaliando que é “(...) fundamental o caráter ressocializar e
educativo da aplicação da lei, levando o sujeito a uma reflexão sobre o seu ato, pois
este momento pode ser único e muito significativo como possibilidade de mudanças”
(PENSO; COSTA, 2010, p. 240). Como afirmou a psicóloga A:

Então é trabalhar criticidade falando a real, falando ‘olha, a gente não vai te
tratar como um bode expiatório como mártir, mas a gente não vai te tratar
como, a gente não vai também te vitimizar’, inclusive fala para eles que eles
são sim vítimas de uma série de questões estruturais do sistema, da família,
de vária falhas de várias instâncias, a gente fala isso, mas a gente também
coloca eles como protagonista das ações e eu acho isso muito importante,
colocá-los como protagonista das ações, das escolhas dele, mesmo que
sejam ações e escolhas limitadas mas, a gente tem que fazer isso.
(PSICÓLOGA A)

Nossos entrevistados desempenham atividades diversas dentro dos serviços,


atividades essas não restritas aos muros das instituições – fato que nos chamou à
atenção. Como os profissionais pontuaram, há um trabalho de garantir a cidadania
dos adolescentes, viabilizando recursos e buscando junto a rede que os
40
adolescentes tenham acesso a uma cidadania plena, seja ajudando-os a adquirir
documentos, matriculá-los na escola, fazer com que frequentem espaços de lazer ou
mesmo buscando cursos de aperfeiçoamento. Como propõe Penso e Costa, o(a)
psicólogo(a), “(...) participa ativamente de uma política de restabelecimento de
direitos violados” (PENSO; COSTA, 2010, p. 237). O psicólogo D, em consonância
com essa proposição, disse que

é você conseguir fazer a garantia de direitos, porque a maioria desses


adolescentes eles tiveram direitos negligenciados ou não acessados, né,
então é você conseguir dar acesso aos direitos para eles, garantia como um
todo e responsabilizá-los pelo ato infracional, e aí isso é feito do que eles
chamam de socioeducativo. (PSICÓLOGO D).

O trabalho do profissional parece ser desenvolvido tencionando a criticidade,


elemento central na colaboração da construção da subjetividade do adolescente em
cumprimento de medida, a fim de minimizar a naturalização daquilo que até o
momento foi visto como único ideal de vida, como por exemplo, o sonho de ser
bandido e ter poder na comunidade.
A rede é fundamental nos acompanhamentos dos casos, a partir da
articulação entre os diferentes serviços. Os desafios estão na dificuldade do trabalho
com o sistema educacional, tendo em vista que todos os adolescentes têm direito à
educação, demandas que não são respondidas, mesmo nas consideradas por tais
instituições, na maioria dos casos. Tal fato denota a violação das diretrizes
estabelecidas por documentos como o SINASE e o ECA (BRASIL, 2006), que
asseguram a intersetorialidade como elemento primordial no serviço de medidas
socioeducativa. Há nestas políticas públicas a compreensão da necessidade de
articulação intersetorial para que o atendimento do adolescente e sua família seja
efetivo.
A falta de informação sobre o que são de fato as medidas socioeducativas
também foi considerada como forte agravo diante do trabalho desempenhado. Em
detrimento disso, a relação destes jovens com os serviços assistenciais, uso de
equipamentos de saúde e educação são prejudicados.

As relações estabelecidas entre equipe técnica e o âmbito judiciário também


foram ilustradas como conflitivas, por exemplo em situações em que o juiz não leva
em consideração a individualidade daquele adolescente e o mantém o cumprimento
41
da medida, mesmo que ele já tenha evoluído em comparação a suas condições
singulares.

Visto isso, é possível considerar que apesar da ampliação do debate e dos


avanços na legislação referente a temática, ainda é um desafio para o profissional
de psicologia e das outras áreas que compõe a equipe técnica, possibilitar a
superação da vulnerabilidade às quais estes sujeitos estão submetidos.

42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento dessa pesquisa possibilitou uma análise da atuação dos


psicólogos que estão nas instituições de atendimento aos adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas. Dando ênfase para a compressão desses
profissionais e do quanto eles efetivamente contribuem para o sobrepujamento da
vulnerabilidade em que esses adolescentes se encontram. Foi possível realizar tal
análise através das informações coletadas após as entrevistas com quatro
psicólogos que compartilharam suas vivências e suas concepções sobre o trabalho
exercido dentro da instituição.

No decorrer da pesquisa pudemos perceber a extrema relevância que o tema


possui, tanto para o meio social quanto para o meio acadêmico, pois não há muitas
pesquisas que tratem dessa temática, sendo a maior parte do material com foco
jurídico, algo que também foi colocado pelos quatro entrevistados. Todos eles
expressaram a necessidade de nos atentarmos para a promoção da saúde mental
tanto dos adolescentes quanto dos profissionais que facilitam o processo de
ressocialização dos atendidos.

A necessidade de suporte para que consigam desenvolver seu trabalho e até


mesmo modificar a visão social que é carregada de preconceitos, tanto com os
adolescentes quanto com o trabalho desenvolvido por esses profissionais, também
foi algo assinalado pelos entrevistados, visto que a psicologia inserida no contexto
da MSE, como foi citado nas entrevistas, ainda é uma área de atuação que na maior
partes das vezes é considerada um trabalho apenas clínico.

A pesquisa também nos possibilitou uma quebra de paradigmas a respeito


desses adolescentes e até mesmo do trabalho desenvolvido por esses profissionais,
pois nos fez repensar sobre nós mesmos como indivíduos inseridos em uma
sociedade e nossa percepção sobre o desenvolvimento de um trabalho que carrega
como principal diretriz a vulnerabilidade.

Através das entrevistas conseguimos desvelar o cotidiano das instituições que


recebem esses adolescentes, e principalmente o cotidiano dos profissionais de
psicologia. Algo que foi muito citado por todos os psicólogos entrevistados, foi o
quanto a troca na rede de trabalho é importante para o desenvolvimento de todo o

43
contexto ao qual estão inseridos, pois há diversos profissionais de diferentes áreas
que fazem essa articulação. Como afirma Amazarray e Koller, 1998; Gomes;
Junqueira, Silva e Junger (2012)

Quando uma criança não recebe credibilidade profissional ao relatar que sofre
qualquer tipo de violência, ela acaba sendo duplamente vitimizada. Essa
revitimização é caracterizada quando os profissionais não adotam as medidas
de proteção adequadas prevista em lei. A negligência dos profissionais diante
dos aspectos legais pode contribuir para o aumento do dano psicológico
sofrido pela criança, além de auxiliar para a perpetuação do abuso sexual e
com síndrome do segredo”. (Habigzang & Koller, 2012, p. 251)

Dessa maneira, o profissional realiza intervenções com os adolescentes,


voltado ao desenvolvimento de sua criticidade e autonomia e expande para a família
também, visto que, do contrário, ela também continuará sendo vítima do mesmo
sistema arbitrário.

Dada à importância do assunto, entendemos que é preciso desenvolver mais


pesquisas sobre a atuação de psicólogos em inserção nesses serviços, para que tal
temática possa ser constantemente avaliada, o que propicia mudanças efetivas no
campo de atuação desses profissionais. Há necessidade de qualificação e
capacitação profissional para assim potencializar a rede de atendimento. É
necessário que as faculdades de psicologia preparem futuros psicólogos que
possam desenvolver trabalhos visando a superação da vulnerabilidade social e não
apenas a reprodução do modelo clínico e de uma psicologia elitista, pois algo
bastante citados por todos os psicólogos é o quanto a faculdade gira em torno do
modelo clínico e não nos prepara para as demais possibilidades que a psicologia
pode nos proporcionar.

Acreditamos que algo cooperará efetivamente para a superação dessas


dificuldades vivenciadas pelos adolescentes e pelos profissionais que os atendem:
o investimento do governo nas políticas públicas; assegurando que estas sejam
viabilizadas de fato, seja através de investimentos na área da assistência social, seja
combatendo as raízes da problemática: a situação de vulnerabilidade a qual esses
sujeitos estão implicados.

44
Tendo em vista o atual cenário político, onde restrições significativas em
diversos âmbitos das políticas públicas estão sendo realizadas, essas alternativas
parecem estar longe de se concretizar, mesmo sendo algo que deve ser priorizado,
pois beneficiaria a sociedade como um todo, até porque a mobilização do governo
olhando e desenvolvendo um trabalho em rede, acabaria por promover uma
mudança na sociedade de modo geral, visto que o governo representa toda uma
população: quando há um olhar voltado para a compreensão e resolução dessas
dificuldades, ocorre uma mudança significativa na concepção de cada indivíduo.

45
6 REFERÊNCIAS

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autoridade paterna. In: DUNKER, Christian; JUNIOR, N. S. Safatle, V. Patologias
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49
APÊNDICE – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Bloco de Identificação:

✔ Idade
✔ Gênero
✔ Etnia
✔ Formação
✔ Período que atua na instituição

Bloco sobre a vivência institucional:

⮚ Descrição das atividades realizadas na instituição;

⮚ A quem está endereçado o trabalho do psicólogo em MSE?

⮚ Qual o objetivo principal deste trabalho?

⮚ Há um referencial teórico e metodológico utilizado? Qual? Como é utilizado?

⮚ Como é construída a intervenção do psicólogo?

⮚ É possível notar que o adolescente se beneficiou de sua intervenção? Como?

⮚ Como é realizado o trabalho do psicólogo com outros profissionais? Quem


são eles?

⮚ Pensando no SUAS, quais são os laços a serem fortalecidos na vida do


adolescente?

⮚ Como você enxerga as mudanças que o adolescente em MSE enfrenta, dado


a sua fase de transformação causada pela adolescência?

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⮚ Qual a responsabilidade do profissional de psicologia como promotores de
saúde, frente ao atendimento de tal público?

⮚ Quais são os obstáculos e impeditivos encontrados pelo profissional de


psicologia no exercício da função?

⮚ Como o surgimento deste modelo de cuidado e tratamento do adolescente


infrator pode ser efetivo?

⮚ Quando o psicólogo consegue perceber que o adolescente atingiu os


objetivos do MSE?

⮚ Em vista do crescente número de adolescentes cumprindo MSE, você, como


psicólogo, como enxerga essa alta demanda? Qual a sua perspectiva para o
futuro?

⮚ Gostaria de acrescentar ou perguntar algo?

⮚ Agradecimentos.

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