Monografia - Adolescentes...
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Monografia - Adolescentes...
São Paulo - SP
Dezembro de 2019
Ana Lucia de Jesus da Silva C33CGG-0
Simone Nogueira da Silva C54681-0
Tania Isabelle Moser Hanaoka C55HDA-1
Thayná Andrade dos Santos C625CH-3
Vitor Freitas de Souza C643GD-8
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SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................... 5
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….. 7
1.1 Objetivos……………………………………………………………………….. 12
2 MATERIAL E MÉTODO......................................................................…….. 13
2.1 Participantes.....................................................................................……. 13
2.2 Instrumentos.............................................................................................. 14
2.3 Procedimentos.......................................................................................... 14
2.3.1 Procedimento de Coleta de Dados........................................................ 14
2.3.2 Procedimento de Análise de Dados...................................................…. 15
2.4 Aparatos de Pesquisa............................................................................... 15
2.5 Ressalvas Éticas....................................................................................... 15
2.6 Resultados Esperados.............................................................................. 16
3 RESULTADOS.....................................................................................……. 17
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................………... 43
6 REFERÊNCIAS................................................................................………. 46
4
RESUMO
5
SUMMARY
6
1 INTRODUÇÃO
7
vulnerabilidade social que perpassa questões socioeconômicas, sociopolíticas e
biopsicossociais.
Sendo assim, as contribuições do profissional da psicologia devem privilegiar
não somente a não reincidência do ato infracional por parte do adolescente infrator,
mas, como ressaltam Costa e Assis (2006), deve beneficiar também a
reestruturação do escalão interventivo, tendo como eixo a promoção de saúde de
forma integral, construindo junto com o adolescente o estoicismo necessário para
novas possibilidades de ser e estar frente a sua condição. Santos e Menandro
(2017), ao fazerem uma pesquisa com psicólogos atuantes nesta área, evidenciaram
os obstáculos encontrados pelos profissionais no exercício da função. Sendo assim,
nos propomos a investigar quais são os fundamentos da prática da/o psicóloga/o,
bem como os limites e as possibilidades que estes profissionais encontram ao atuar
no contexto de medidas socioeducativas.
Considerados todos estes aspectos, se faz necessário compreender como o
surgimento deste modelo de cuidado e tratamento do adolescente infrator pôde ser
efetivo, afinal, a singularidade do adolescente neste período do desenvolvimento
vital nem sempre foi considerada na forma como tal problemática era gerenciada.
Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL,
1990), substituindo o Código de Menores (BRASIL, 1979), foram definidas diretrizes
específicas acerca da intervenção feita às crianças e adolescentes infratores, bem
como o estabelecimento de novas diretrizes e categorias de atendimento a essa
população.
Assim, composto por 267 artigos, o ECA tem por princípio a prioridade
absoluta da assistência à criança e ao adolescente. O documento estabelece
diretrizes sobre os direitos fundamentais das crianças e adolescentes, sobre as
prevenções de ameaça e violação destes direitos, sobre as ações, frente às práticas
infracionais, sobre o funcionamento dos conselhos, dentre outras normas que visam
assegurar direitos e deveres deste grupo.
Está garantido ao adolescente que cumpre medida socioeducativa o Plano
Individual de Atendimento (PIA), que nesse sentido, deve valorizar os aspectos
positivos e particulares do adolescente, visando fortalecer os laços sociais e/ou
familiares perdidos em algum momento.
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Em relação ao acompanhamento dos adolescentes, o ECA privilegia o caráter
socioeducativo em detrimento do punitivo, pautando-se no ideal de proteção. O
documento assinala que o ato infracional consiste na prática de transgressão ou
violação do que é pressuposto pelo sistema penal brasileiro (BRASIL,1990).
A partir do ECA, as medidas socioeducativas surgem como uma forma de
reorganizar as diretrizes de políticas públicas voltadas para atos infracionais
cometidos por adolescentes e ao mesmo tempo, busca responder à perspectiva da
sociedade à lógica da exclusão e extermínio, estabelecendo o enquadramento do
comportamento adolescente e sua subjetividade operacionalizada antes que sua
morte física ocorra. São estabelecidas as seguintes aplicações ao adolescente, após
verificada a ocorrência da infração: advertência; obrigação de reparar o dano;
prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de
semiliberdade e internação em estabelecimento educacional (BRASIL,1990).
Com a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em
2005 (BRASIL, 2005), surge mais política pública que assegura a atenção à
população de adolescentes infratores. Tal sistema integra atividades na esfera
pública e privada, atuando no nível básico de atenção social, prevenindo
vulnerabilidades e fortalecendo vínculos através de programas e serviços que
beneficiam a população. Articulando-se com a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) (BRASIL, 2005), opera junto às medidas socioeducativas na garantia
de direitos, fiscalização e integração das diferentes instituições públicas e
particulares.
10
Nota-se que a tarefa do profissional da psicologia é bastante complexa, pois
como ressaltam Santos e Menandro (2017) no estudo feito com psicólogos atuantes
nesta área, o profissional encontra inúmeros obstáculos ao desenvolver seu
trabalho, seja, por exemplo, pela falta de autonomia frente aos atendimentos
individuais, que podem contar com um terceiro monitorando ou pela demanda
excessiva de laudos e avaliações solicitadas pelo juiz. Diante de todos os elementos
apresentados e dos estudos realizados, compreendemos que as medidas
socioeducativas podem ser eficientes para a criação de formas de reinvenção e
como meio de superar o ato infracional. A necessidade da atuação do profissional de
psicologia nesse contexto se justifica pela demanda de atenção à saúde de
adolescentes que estão inseridos em tais instituições. Tal tarefa se faz trabalhando
aspectos individuais, grupais e comunitários, visando a promoção da saúde desses
sujeitos.
Entendemos que garantia de direitos e promoção de saúde envolvem
múltiplos fatores, sendo que o trabalho da (o) psicóloga (o) se volta inteiramente a
este fim, principalmente quando o situamos no contexto das instituições de
acolhimento de adolescentes infratores. Como assinalam Costa e Assis (2006), o
psicólogo deve intervir não somente em relação ao adolescente, mas também
perante a estrutura institucional em que se insere, articulando e desenvolvendo
competências propícias, no que se refere às diretrizes que amparam seu
atendimento ao adolescente infrator. Ao explorar como se efetiva neste seguimento
a garantia de direitos e a promoção da saúde pela/o psicóloga/o, esbarramos nos
fundamentos e limites que sustentam sua prática. Sendo assim a pesquisa se
propôs a compreender os limites e possibilidades de atuação do psicólogo no
sistema de medidas socioeducativas, que abrange áreas e profissionais diversos,
desde o campo jurídico até as instituições que acolhem esse público. A pesquisa
propôs responder: como a psicologia pode contribuir para a superação da
vulnerabilidade social que acometem o adolescente em cumprimento de medidas
socioeducativas?
11
1.1 OBJETIVOS
1.2 JUSTIFICATIVA
2 MATERIAL E MÉTODO
2.1 PARTICIPANTES
13
Quadro 1: Caracterização dos participantes
2.2 INSTRUMENTOS
2.3 PROCEDIMENTOS
14
informações. Cada entrevista foi conduzida por dois pesquisadores, com duração de
em média sessenta minutos; os profissionais responderam a todas as questões.
15
A pesquisa buscou incorporar a coleta de dados de acordo com ótica trazida
pelo indivíduo, assim firmando um compromisso e tendo a responsabilidade de
transcrever a visão do mesmo independente da opinião pessoal do pesquisador. A
pesquisa também tem por objetivo trazer benefícios de forma direta ou indireta, tanto
para o participante quanto para a comunidade em que o mesmo está inserido.
Quanto aos riscos, nesta pesquisa foram avaliados risco como: baixo. A
entrevista seguiu o roteiro com questões acerca da experiência da/o profissional e
de sua compreensão sobre a contribuição da Psicologia junto à população atendida.
Considerou-se ainda que o entrevistado pôde se recusar a responder a qualquer
pergunta que lhe cause constrangimento ou desconforto. Foram esperados os
seguintes benefícios imediatos de sua participação nesta pesquisa: sistematização e
reflexão sobre sua prática profissional, contribuição ao campo específico estudado, à
Psicologia, conhecimento procedente da pesquisa que contribuirá para o
desenvolvimento de alternativas para intervenções realizadas no cotidiano
profissional.
16
3 RESULTADOS
Este capítulo tem como propósito, apresentar os resultados obtidos por meio
das entrevistas realizadas com os profissionais. A seguir apresentamos uma síntese
do que foi exposto pelos profissionais nas entrevistas por eles concedida. Para fins
de identificação, utilizamos as letras “A”, “B”, “C”, e “D” para distinguir os
entrevistados. A descrição dos resultados se dará pela ordem em que as entrevistas
foram realizadas.
3.1 Entrevista 1
19
3.2 Entrevista 2
20
acabam por não conseguir realizar seu trabalho com a mesma qualidade, se fossem
resolvidas essas questões.
3.3 Entrevista 3
22
benéfica às demandas trazidas pelo adolescente. Segundo ela, em relação à/o
psicóloga/o, as contribuições desse profissional se sobressaem mais nas discussões
de caso, onde aspectos geralmente não explorados pelo resto da equipe são
problematizados pelo saber da psicologia. Em relação à junção do saber psicológico
com o de outras áreas, a psicóloga expôs que o trabalho é partilhado com o do
sociólogo, do assistente social, do pedagogo e do advogado.
A entrevistada frisou a importância do profissional da psicologia, inserido no
MSE, de estar atento às questões do ciclo de desenvolvimento vital que
caracterizam a adolescência de forma geral. Sua atenção especial deve respeitar a
singularidade de cada um deles, compreendendo essa postura como a contribuição
maior da psicologia neste cenário. Em se tratando da interface com a saúde, a
psicóloga enfatiza a importância de um acompanhamento intersetorial, articulado em
rede, para que o adolescente seja atendido de fato em suas necessidades. Ela
salienta que não basta fazer encaminhamentos e deixar que o adolescente procure
sozinho os serviços. É necessário que o técnico estabeleça comunicação com os
outros aparelhos dos quais o adolescente participa. Pensando nos casos em que há
dependência química ou alguma questão envolvendo saúde mental, a atuação
conjunta com esses serviços da rede de saúde se fazem mais notórios.
C apontou como principal entrave para sua atuação o diálogo com o poder
judiciário. Ela relatou que em muitos casos, não basta que o adolescente se supere
em relação a si mesmo, mas, por imposição do juiz, o adolescente é cobrado a
atingir metas que dele são esperadas, mas que não condizem com suas reais
possibilidades. Os serviços da rede também dificultam a efetividade do trabalho
desenvolvido com o adolescente; rejeitam, por exemplo, sua matrícula na escola,
quando o adolescente está cumprindo a medida.
Algo bastante explorado pela entrevistada foi a forma como a violência policial
tem acometido os adolescentes que cumprem medida. Ela expôs que a policial tem
cada vez mais agido de forma violenta para com os adolescentes, ameaçando-os e
em muitos casos infligindo violência física, como forma de “acerto de contas”. Ela
acredita que uma das causas para o baixo número de adolescentes em
cumprimento de medida, seja justamente a repressão policial: ela cerceia a vida
desses adolescentes ou não registra as ocorrências mediante pagamento de propina
oriundo do tráfico de drogas.
23
A psicóloga acredita que o que torna seu trabalho efetivo, apesar de todos
esses entraves, é justamente a capacidade de investir nas potencialidades dos
adolescentes, algo que na maioria dos casos, não é reconhecida em outros
contextos. Soma-se a isso, a necessidade de criar um vínculo de confiança, para
que o adolescente se sinta acolhido e se implique de fato no processo de
ressignificação.
Sobre suas perspectivas futuras em relação à medida socioeducativa, a
entrevistada disse que não vislumbra um quadro mais satisfatório, devido à atual
conjuntura política e as possíveis alterações feitas em relação às políticas públicas
para esta população, principalmente a proposta de redução da maioridade penal,
algo que, para ela, afetará diretamente e de forma extremamente negativa a MSE.
3.4 Entrevista 4
24
compreensão dos fenômenos subjetivos das situações postas, suscitados por uma
escuta qualificada. Na sua perspectiva, quando o adolescente consegue acessar
direitos que são assegurados por lei, mas que até lhes eram inacessíveis, se atinge
um dos objetivos da medida, e para que isso ocorra, ele acredita que será sempre
com o trabalho articulado, que no seu caso ocorria entre sociólogo, pedagogo,
assistente social, e cientistas sociais e ele, enquanto psicólogo.
O entrevistado apontou que o adolescente em cumprimento de medidas
socioeducativas, geralmente expressa um comportamento mais ativo e impetuoso,
no sentido de questionar regras e os padrões estabelecidos, sendo, para ele, o
próprio ato infracional, em alguns casos, uma forma de externalizar esse ímpeto,
que é parte do processo de adolescer.
Como um dos impeditivos encontrados em sua prática, D citou a falta de
recursos culturais e de espaços onde esses adolescentes possam acessar cultura,
como cinema, teatro, museus, ou até mesmo um espaço para apresentações dos
próprios adolescentes. O profissional expôs que o serviço tem que propiciar ao
adolescente o acesso a esses espaços, de alguma forma, mas a falta de
investimento tanto na criação desses espaços nos territórios, quanto em relação ao
repasse de verbas para esse fim, muitas vezes impossibilita que o profissional
ofereça tais recursos aos atendidos. A falta de verba pública acarreta em limitações
em toda a rede, acrescentou, e também na possibilidade de atendimento à família
do adolescente, que também precisa, mas não conta com os recursos financeiros,
como no caso do próprio adolescente, não recebendo bilhete para transporte.
Para D, os motivos que levam o adolescente a cometer infração são diversos,
mas algo bastante recorrente em seu cotidiano profissional foi a vulnerabilidade
social a qual estes adolescentes são submetidos. A impossibilidade de usufruir itens
de consumo marquetinizados pela mídia muitas vezes leva o adolescente a
infracionar. O profissional também vivenciou a experiência de auxiliar os
adolescentes a entrar para o mercado de trabalho formal, desejo de muitos deles.
Ele contou que na época em que trabalhava com MSE, há três anos, geralmente
esses adolescentes encontravam oportunidades na área de televendas, hoje, com a
quantidade de desempregados no Brasil, somada à baixa escolaridade dos
atendidos, encontra-se mais dificuldade para inseri-los no mercado de trabalho.
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Em relação aos objetivos da MSE, o psicólogo alega que, para o juiz, é
importante que o adolescente esteja estudando, trabalhando e tenha a compreensão
da infração por ele cometida, o que, em muitos casos, não ocorre, devido ao grau de
vulnerabilidade aos quais tais adolescentes estão submetidos. Mesmo assim, para o
profissional, alcança-se os objetivos da MSE, quando o adolescente evolui em
algum ponto, em relação à sua própria condição. Ele pontuou que a questão escolar
é algo muito exigido pelo judiciário, ao mesmo tempo em que para muitos
adolescentes é muito difícil permanecer no ambiente escolar, seja pela dificuldade
de aprendizado ou pela forma como é tratado pela instituição. Apesar dos entraves,
D salienta que é necessário dizer ao juiz que há um problema em determinado
quesito, apresentando também uma solução, em relação ao que já está sendo feito
para superá-la. A criticidade e conscientização sobre o ato infracional, por parte do
adolescente, são compreendidas por ele como principal parâmetro da efetividade ou
não da medida.
O entrevistado relatou que tem observado uma redução no número de
adolescentes cumprindo medidas socioeducativas. Acredita que não há um
consenso sobre o porquê da redução, mas o genocídio dos jovens e o
encarceramento em massa são possibilidades apontadas pelo profissional. Para ele,
a perspectiva sobre a MSE é desfavorável, pois compreende que a sociedade não
está interessada de fato na ressocialização do adolescente, tendendo mais para
uma perspectiva punitiva e criminalizada sobre tais sujeitos, sendo a proposta de
redução da maioridade penal um retrato desse posicionamento.
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4 DISCUSSÃO
O capítulo tem como objetivo articular os resultados obtidos por meio das
entrevistas, valendo-se da bibliografia sobre a temática e a análise interpretativa das
informações adquiridas. Utilizamos como literatura de referência para nossa análise
as políticas públicas que tratam da temática e textos científicos na área da psicologia
social, visto que tais documentos dialogam diretamente com o conteúdo e objetivo
de nossa pesquisa. Para uma melhor exploração das narrativas, elencamos quatro
eixos principais de análise, com temáticas que permearam os relatos dos
entrevistados. São eles: Adolescentes e ato infracional; medidas socioeducativas e
políticas públicas; psicologia e medidas socioeducativas e reflexões críticas.
Seja pela falta de acesso à bens de consumo ou mesmo por terem pouco ou
nenhum acesso a direitos e recursos sociais e econômicos, os adolescentes que
cumprem medida socioeducativa foram caracterizados pelos profissionais como
adolescentes que vivenciam situação de vulnerabilidade, na grande maioria dos
casos, como destacado pelos psicólogos B e D, ao relatarem casos atendidos por
elas:
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Tem menino meu, que rouba celular pra comprar uma mochila para ir pra
escola, isso é muito simbólico: gente! roubar para comprar uma mochila
para ir para a escola! (PSICÓLOGA B).
A maioria desses adolescentes eles tiveram direitos negligenciados ou não
acessados, né, então é você conseguir dar acesso aos direitos para eles,
garantia como um todo e responsabilizá-los pelo ato infracional.
(PSICÓLOGO D).
Muitas vezes essa família precisa ser encaminhada para assistência social
básica né porque a gente está na assistência social complexa [tosse] né,
mas muitas vezes essa família não, não recebe, por exemplo, um programa
de benefício né. Às vezes tem alguém da família que tem alguma questão
de saúde e que não consegue ser atendido pela saúde né, então tem
várias, várias questões que chegam junto com adolescente e que a gente
tem que ter esse olhar amplo para poder fazer todos os encaminhamentos
necessários.” (PSICÓLOGA C).
Tem coisa que nesse fazer desse menino que está se manifestando agora
como está vinculado ao tráfico, mas tem coisa por trás disso, que tem a ver
com a identificação dele com os grupos, com a identificação dele com os
pais, com a formação de subjetividade, como por exemplo, com a falta de
repertório que ele tem para construir uma personalidade que seja diferente
daquilo que ele tem só ofertado ali. (PSICÓLOGA A).
Então, muitas vezes só esse..., que não é pouco, né, mas só o fato de ele
poder ser enxergado, uma das coisas é isso, o adolescente antes de
cometer infração muitas vezes ele não é visto, então ele, enquanto
adolescente ele não tá sendo visto pela sociedade, às vezes o ato infracional
é uma forma… (PSICÓLOGO D).
A gente como psicólogo, a gente já pode olhar por esse lado, não só o lado
social, não só porque “eu sou pobre”, ou porque o meio influenciou, mas
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uma questão mesmo de prazer, “eu roubo por prazer”, mesmo que seja um
prazer inconsciente. (PSICÓLOGA B).
Pautar a temática do adolescente infrator enquanto um fenômeno social,
implica pensar sobre a forma como esses sujeitos são vistos pelo imaginário social,
discussão que se faz muito necessária em vista da possibilidade da redução da
maioridade penal, por exemplo, que impacta negativamente as políticas públicas que
assegurem direitos às crianças e adolescentes, como o SINASE. Leão (2007) afirma
que a sociedade têm como necessidade atribuir culpa a um sujeito a quem possa
responsabilizar pelas mazelas que na verdade são engendradas por um sistema
muito mais complexo que o ato infracional propriamente. A autora assinala que
“quando um adolescente comete um ato infracional e isso chega ao conhecimento
das pessoas, ele passa a carregar consigo o estigma de infrator ou criminoso”
(LEÃO, 2007, p. 53).
29
4.2 Medidas Socioeducativas e Políticas Públicas
O ECA foi interpretado pelos profissionais como política pública central para
assegurar os direitos dos adolescentes, pois em consonância com o que apontam
Brambilla e Avoglia (2010), trata-se de um documento que garante a tais sujeitos
proteção integral, dotando-lhes de direitos e deveres, impedindo que discriminações
em razão de suas faixas etárias sejam perpetuadas, como ocorria com o Código de
Menores. Em relação a este, as autoras afirmam que seu caráter era ineficaz, pois
além de se aplicar apenas a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
“essa doutrina concebia crianças e adolescentes, os ‘menores’, como seres
incapazes, não sujeitos de direitos nem deveres, não autônomos” (BRAMBILLA;
AVOGLIA, 2010, p. 110).
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A partir dos relatos dos entrevistados, que expuseram seu cotidiano de
trabalho com os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, observa-se
que o respeito às diretrizes estabelecidas no ECA; eles garantem prerrogativas à
criança e ao adolescente independentemente da situação a qual estejam inseridos,
sendo fundamentais para a promoção de um serviço que os considere enquanto
sujeitos e cidadãos, e portanto, dignos de acessar e usufruir de seus direitos
(BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010). Como afirmou o psicólogo D:
Então para mim é o ECA primeiro, porque ele vem estabelecendo a criança e
o adolescente como sujeito, junto com a constituição, né? (PSICÓLOGO D).
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Sobre o tema, a psicóloga A relatou que para além de entender as
vulnerabilidades às quais os adolescentes forma submetidos, é fundamental que
a(o) profissional tenha também um olhar responsável sobre a temática, no sentido
de não deixar de trabalhar aspectos da responsabilização perante a infração, que
podem ser algo difícil,
Então a gente vai dizer que a gente nunca vai tratá-lo como o bode expiatório
da sociedade, mas a gente tem que dizer sim que é, o que ele fez é
inadmissível, que isso gera danos, que gera danos inclusive para ele.
(PSICÓLOGA A).
A partir dos relatos expostos pelos entrevistados, o profissional de psicologia
inserido no serviço de medidas socioeducativas, atua como técnico, denominação
que é dada a todos os profissionais que atuam nesse contexto, independente de sua
formação profissional. Sobre esse fato, as psicólogas B e C afirmaram,
Então assim, o trabalho psicossocial vai às vezes te levar a fazer coisas, que
você vai falar ‘meu Deus!’. Lógico, no contexto clínico jamais pode fazer, é
por isso que a gente não pode ser clínico. Então, por exemplo, eu vou na
escola e eu faço matrícula do menino, a gente chama de menino, né? os
sócio-educandos, eu levo no dentista, levo para tomar vacina. (PSICÓLOGA
B).
Apesar deste fator, a presença da(o) profissional de psicologia na equipe de
medidas socioeducativa se faz necessária e valorativa, pois mesmo diante de tais
obstruções o saber da(o) psicóloga(o) contribui grandemente para o
desenvolvimento do atendimento ofertado ao adolescente e sua família. Penso e
33
Costa (2010) assinalam que a (o) psicóloga(o) “(...) mesmo estando em um contexto
regulador e decisório, precisa ser terapêutico no sentido de proporcionar
transformações pessoais, familiares e sociais” (PENSO; COSTA, 2010, p. 238).
Quanto a contribuição do profissional de psicologia na equipe interdisciplinar, o
psicólogo D colocou que
a gente é treinado para pescar essas falas, para pescar esses olhares, para
pescar essa forma de lidar, então, isso ajuda também, isso ajuda porque a
gente consegue movimentar a equipe para coisas que às vezes quem
recebeu outra formação não ta tão treinado a fazer, né? (PSICÓLOGA A)
agora, no que a psicologia, por exemplo, contribui muito... muito... muito nas
medidas é na hora da discussão de casos, porque daí vem olhar, que daí é
um olhar específico né? (PSICÓLOGA, C)
Em se tratando da viabilidade da(o) psicóloga(o) promover saúde no
ambiente da medida socioeducativa, verifica-se pela fala dos profissionais a
concretização de tal meta, a partir da intervenção feita junto ao adolescente e sua
família. A psicóloga B propôs:
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doenças. Destaca-se uma preocupação com o indivíduo em sua totalidade”
(BRAMBILLA; AVOGLIA, 2010, p. 107).
Só de você dar um lugar para ele se sentir escutado, né, poder falar, isso
também traz grandes benefícios, assim pra eles, então de meninos que se vê
histórias até de televisão já aconteceu, ah! que é super perigoso! e na sua
frente ele tá chorando, ele tá falando de coisas extremamente delicadas,
assim, então eu acredito muito nesse trabalho (PSICÓLOGO D)
Acontece dele [adolescente] sair em uma semana de um atendimento chegar
no atendimento seguinte, dizendo: “É, fiquei pensando naquilo que a gente
conversou e acha! que eu mudei de ideia!”, e agradecer e falar: “Olha, você
me disse uma coisa que eu nunca tinha pensado!”. Então você começa a
perceber uma mudança na posição, né? (PSICÓLOGA C)
Observa-se, que como assinala Leão (2007), a/o psicóloga/o tem uma função
ímpar enquanto parte da equipe interdisciplinar. Como pontua a autora, este
profissional “(...) auxilia o adolescente em conflito com a lei na revisão de sua
história de vida, na ressignificação do estigma de infrator e no encontro de sua ética”
(LEÃO, 2007, p. 59).
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“Eu acho que a maior dificuldade enquanto psicólogo é justamente, porque o
trabalho não é clínico, o trabalho não caracteriza... ‘a você é o psicólogo, a
psicóloga da equipe’, porque os mesmos encaminhamentos que uma
assistente social faz, você pode estar fazendo também posso fazer, a
dificuldade é mais essa mesmo a gente mesmo se colocar no lugar, e se
afastar um pouco” (PSICÓLOGA B)
A gente tem um primeiro obstáculo que é com o próprio poder judiciário né,
que muitas vezes, eles tem uma, um olhar totalmente criminalizador, né? Um
olhar totalmente preconceituoso mesmo, de verdade, assim, é real. Então,
esse é o primeiro obstáculo que a gente enfrenta, é o judiciário. (PSICÓLOGA
C)
Para o psicólogo D, a falta de espaços culturais que os adolescentes possam
usufruir no território consiste no principal dificultador de seu trabalho. Quando
perguntado sobre, ele afirmou que esse é seu maior obstáculo:
é uma atuação psicossocial, então vai ter coisas assim, que você fala, meu
Deus! mas na faculdade, não aprendi isso! (...) e mas ninguém diz o que o
psicólogo pode ou não pode fazer no serviço, onde ele é um técnico.
(PSICÓLOGA B)
As inquietações dos autores nos lançam para uma importante reflexão do que
poderá vir a ser uma proposta no futuro, junto do que buscamos investigar nesta
pesquisa através da análise dos discursos a respeito de proteção integral e
promoção de saúde. Para Maingueneau (2000) apud Paiva (2017 p.121), analisar o
discurso é pensar na relação entre lugar social e uma certa organização contextual.
Para a autora, esse método vai conceber o adolescente a partir das estratégias
subjetivas acionadas pelo jovem para lidar com suas condições.
Sobre a contribuição da Psicologia, o profissional identifica nas condições
deste jovem, aquilo que ele deixa de apresentar, ou seja, pela inadequação das
condições econômicas, das condições sociofamiliares, da escolarização, etc (PAIVA,
2017).
Nesse sentido, para o psicólogo/técnico, sua sensibilidade vai permitir ter um
olhar aprofundado sobre o fenômeno que lhe apresenta, possibilitando também, a
validação de seu trabalho conforme consegue conscientizar o adolescente, a família
e até mesmo a população o que é isto que está acontecendo. A respeito disso, a
presença de um diálogo construído entre técnico e atendido, oferece uma
intervenção não somente ao adolescente, mas ao contexto no qual está inserido. Em
entendimento a isso, uma das entrevistadas reiterou:
É.. e aí tem coisas do discurso, coisas do fenômeno que não tão sempre tão
claras assim, então o psicólogo, a escuta que a faculdade, essa formação que
nós psicólogos temos ela favorece a compreensão do fenômeno para além do
que tá dito, e não é só uma questão de inconsciente, psicanálise, nada, é a
questão de articular o fenômeno mesmo. (PSICÓLOGA C).
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Em consonância a isso, ao investigar dentro deste tema a relação que o
adolescente vem desenvolvendo entre si e o mundo, torna-se possível compreender
a noção de anomia e delinquência, exemplificada de maneira menos pejorativa do
que outros sistemas podem trazer, sem pressupostos baseado em crenças do senso
comum ou jurídicos por exemplo.
Considerando a reflexão social proposta a partir desta pesquisa, estudamos
brevemente alguns conceitos, para nos ajuda a repensar o lugar em que o
adolescente tido como transgressor é colocado.
Pesquisamos conceitos como a anomia, com seu uso articulado a campos do
conhecimento como a sociologia, consagrada por Émile Durkheim, como “patologia
social típica da organização complexa das sociedades modernas, cuja marca é o
aumento do individualismo” (ALVES; SANCHES; LUCCIA, 2018, p. 111) e a
justificativa dada, “na translação do conceito da teoria social durkheimiana para a
clínica por sua característica limítrofe entre o que é individual e o que é de ordem
coletiva” (ALVES; SANCHES; LUCCIA; 2018, p. 111).
O conceito mais simples de anomia, irá descrevê-la como “falta de
organização do indivíduo que dá origem ao comportamento desregrado e separado
de um modelo do grupo social” (DICIO, 2019).
Nesse contexto, ao falar de falência das normas, articula-se a falência da
regulação da lei moral, entretanto, o que está em cheque, vai além do afastamento
destas leis, “é uma ausência tão radical e intensa que conduz à experiência de
perda de sentidos da própria vida, a um afastamento não apenas concreto, mas
também de referências simbólicas, da solidariedade e descrença social” (DUNKER,
2018, p. 113).
Toda essa temática, entre muitas outras que não vamos trabalhar aqui,
enriquecem e problematizam essa discussão, porém ao abordá-las integralmente
corremos o risco de desvirtuar nosso objetivo. Contudo precisamos dela para dizer
no que ela implica ao elucidar o trabalho do psicólogo quando sua função dentro da
MSE também representa uma simbolização da função paterna, ou seja, a função de
autoridade, antes declinada.
A participante B, demonstrou através da sua fala o quanto essa
representatividade da função paterna e materna tem importância dentro do seu
trabalho, quando relata recorrer aos trabalhos de Winnicott em seus manejos, sobre
39
o que ele diz da conduta antissocial e a cobrança na sociedade pelo afeto perdido,
sobre a mãe suficientemente boa e o quanto isso tem a ver com o contexto familiar.
Para Winnicott (1999) citado por Tostes (2012), na constituição do sujeito, o
bebê busca a satisfação de suas necessidades básicas que provêm do ambiente.
Em linhas gerais, a privação durante o processo de desenvolvimento, seria uma
frustração vivida pelo bebê em busca da satisfação dessas necessidades, que nem
sempre são compreendidas e satisfeitas (TOSTES, 2012).
Dentro das perspectivas levantadas pelos participantes, o ato infracional
surge para o adolescente como um ato de poder não somente de posse, embora
essa discussão também tenha surgido, mas sim uma resposta ao apagamento
social, como poder de possibilidade em ser visto. Para Vorcaro; Mazzini; Monteiro
(2008) citados por Ferreira (2012), seria então, uma tentativa de inclusão nesse
contexto social do qual ele é expulso, isto é, o sujeito pode transgredir a lei como
forma de inscrever-se nela.
Um importante apontamento dos profissionais entrevistados foi a necessidade
de atuar com os adolescentes de forma com que estes possam compreender sua
responsabilidade sobre o ato, priorizando lhes proporcionar um espaço para reflexão
sobre o mesmo, de forma não coercitiva, mas empoderadora. Penso e Costa
corroboram tal objetivo, avaliando que é “(...) fundamental o caráter ressocializar e
educativo da aplicação da lei, levando o sujeito a uma reflexão sobre o seu ato, pois
este momento pode ser único e muito significativo como possibilidade de mudanças”
(PENSO; COSTA, 2010, p. 240). Como afirmou a psicóloga A:
Então é trabalhar criticidade falando a real, falando ‘olha, a gente não vai te
tratar como um bode expiatório como mártir, mas a gente não vai te tratar
como, a gente não vai também te vitimizar’, inclusive fala para eles que eles
são sim vítimas de uma série de questões estruturais do sistema, da família,
de vária falhas de várias instâncias, a gente fala isso, mas a gente também
coloca eles como protagonista das ações e eu acho isso muito importante,
colocá-los como protagonista das ações, das escolhas dele, mesmo que
sejam ações e escolhas limitadas mas, a gente tem que fazer isso.
(PSICÓLOGA A)
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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contexto ao qual estão inseridos, pois há diversos profissionais de diferentes áreas
que fazem essa articulação. Como afirma Amazarray e Koller, 1998; Gomes;
Junqueira, Silva e Junger (2012)
Quando uma criança não recebe credibilidade profissional ao relatar que sofre
qualquer tipo de violência, ela acaba sendo duplamente vitimizada. Essa
revitimização é caracterizada quando os profissionais não adotam as medidas
de proteção adequadas prevista em lei. A negligência dos profissionais diante
dos aspectos legais pode contribuir para o aumento do dano psicológico
sofrido pela criança, além de auxiliar para a perpetuação do abuso sexual e
com síndrome do segredo”. (Habigzang & Koller, 2012, p. 251)
44
Tendo em vista o atual cenário político, onde restrições significativas em
diversos âmbitos das políticas públicas estão sendo realizadas, essas alternativas
parecem estar longe de se concretizar, mesmo sendo algo que deve ser priorizado,
pois beneficiaria a sociedade como um todo, até porque a mobilização do governo
olhando e desenvolvendo um trabalho em rede, acabaria por promover uma
mudança na sociedade de modo geral, visto que o governo representa toda uma
população: quando há um olhar voltado para a compreensão e resolução dessas
dificuldades, ocorre uma mudança significativa na concepção de cada indivíduo.
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6 REFERÊNCIAS
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-812320050001
00014>. Acesso em: 20 mai. 2018.
BRASIL. Lei nº 6.697, de 10 de Out. de 1979. Código de Menores. Brasília, DF, out.
1979.
47
DIAS, Ana Cristina Garcia; ARPINI, Dorian Mônica; SIMON, Bibiana Rosa; Um olhar
sobre a família de jovens que cumprem medidas socioeducativas. In: Psicologia &
Sociedade; 23 (3), 2011, pp. 526-535.
Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v23n3/10.pdf>. Acesso em: 3 abr.
2018.
48
Crianças e Adolescentes: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012,
p. 242.
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APÊNDICE – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Bloco de Identificação:
✔ Idade
✔ Gênero
✔ Etnia
✔ Formação
✔ Período que atua na instituição
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⮚ Qual a responsabilidade do profissional de psicologia como promotores de
saúde, frente ao atendimento de tal público?
⮚ Agradecimentos.
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