Psicoeducação - Limites e Efetividade PDF
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Bianca Amorim1
Introdução
A Psicoeducação
A Psicoeducação surgiu no início dos anos 70, trazendo um modelo que envolve
o paradigma da complexidade humana e a multidisciplinariedade, para
compreender e aplicar suas ferramentas frente ao adoecimento do indivíduo. A
psicoeducação, prioritariamente, é uma intervenção psicoterapêutica que
adentrou o contexto clínico, como uma forma de auxiliar no tratamento de
doenças mentais, contando com mudanças comportamentais, sociais e
emocionais. Entende-se que a psicoeducação no contexto clínico, ensina tanto
para o paciente quanto para seus familiares, sobre o processo psicoterápico e,
desta forma, todos os envolvidos terão consciência e preparo para lidar com as
mudanças que ocorrerão a partir de estratégias de enfrentamento, fortalecimento
da comunicação e adaptação trabalhadas. Conscientização e autonomia são
tidos como resultados desse processo psicoeducativo de auxiliar pessoas
ensinando-as a se ajudarem (LEMES; ONDERE NETO, 2017).
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Bianca Amorim é psicóloga perinatal, desenvolve um projeto educativo e online com puérperas
chamado Renascendo após a Maternidade e é sócia-diretora da Escola de Profissionais da
Parentalidade.
paciente sobre sua condição de forma ampliada e não fragmentada, para apoiá-
lo na compreensão de todas as fases do seu atendimento (LEMES; ONDERE
NETO, 2017).
No Brasil, entre os séculos XVI e XVIII, a organização familiar colonial ainda era
precedente ao que acontecia na Europa, aqui o poder paterno era supremo. Mas,
diferente do que acontecia na Europa, com a valorização do poder materno, no
Brasil, o poder paterno era similar ao poder de um patrão, visto que todos
(esposa, filhos e agregados) interessavam apenas enquanto “elementos a
serviço do patriarca”.
De acordo com a história, até ao fim do século XX, o pai exercia basicamente
uma função educadora e disciplinadora. A interação entre pai e filho era mínima,
em especial nos primeiros anos de vida, assim como sua entrada nos cuidados
diários à criança. Porém, em meio a estas mudanças, os homens ainda
caminham lentamente ao encontro de assumirem a função paterna, e o
movimento que tem acontecido ainda está muito interligado ao aumento de
mulheres que se, reconhecendo feministas, não toleram mais a mesma atitude
patriarcal das gerações anteriores. Portanto, o que vemos hoje de forma mais
clara e consumada é que o pai deixou de ser unicamente o provedor, para ser
também o cuidador. A ele cabe além do sustento, também prover amor, carinho,
brincadeiras, atenção e responsabilidade.
Todavia, almeja-se que esse homem também assuma a carga mental que, até
então, está nas mãos (ou melhor, na cabeça) das mulheres. Por carga mental,
nos referimos a nada mais do que o cuidado integral da criança, garantindo a
sobrevivência da cria, prevendo e antecipando tudo que é necessário para que
isso aconteça. Mas, a realidade é que ainda hoje, século XXI, grande parte dos
homens continuam sendo meros “ajudantes” da mãe, enquanto, o que se deseja,
é que eles assumam cinquenta por cento das responsabilidades pela criança,
inclusive dividindo a carga mental. 2
O papel do especialista
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É importante frisar que para que isso ocorra, é preciso que se dê condições sociais, com
mudanças ainda mais profundas, a nível de estado e mercado de trabalho. Um exemplo seria a
mudança da licença maternidade para uma licença parental, onde mãe e pai pudessem decidir
quem e, por quanto tempo, cada um ficará em dedicação integral à criança.
hoje observamos, como a necessidade de um afastamento da família de origem,
para um fechamento em si mesma nesse momento da constituição da
parentalidade (Moura; Araujo, 2004). Nos dias atuais observamos que os
médicos (obstetras, pediatras, neonatologias, ginecologistas, dentre outros) são
as primeiras referências de um casal antes mesmo da gestação, mas, em
especial, durante o ciclo gravídico-puerperal e fonte de muita confiança para pais
e mães.
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Em referência a Jean-Jacques Rousseau ser um dos primeiros autores a lançar a ideia do
instinto materno em seus escritos.
normalizaria uma “família edipiana”, situando no patriarcado a garantia
de transmissão da lei paterna.” (Teperman, 2014, p. 55).
Iaconelli (2019, p. 31) destaca três fatores que acompanham o ciclo gravídico-
puerperal e contribuem para esses pais se sentirem assim: “ciência, consumo e
busca por garantias”. A ciência, muitas vezes representada pelo discurso do
médico, mas que podemos estender para todo saber científico produzido a cerca
deste momento de vida. Hoje, é comum, escutar nos consultórios de psicologia
ou em grupos de gestantes ou pós-parto, pais buscando mais informações e
algum grau de respostas para entender os comportamentos dos filhos, observar
se há alguma “normalidade” no desenvolvimento das suas funções e como
podem melhor enquanto pais e mães. Não é raro que eles questionem
profissionais sobre algumas teorias da psicologia na busca de serem bons pais
e assim ajudarem no desenvolvimento emocional saudável da criança. Teoria do
apego e disciplina positiva estão entre as mais repercutidas entre pais, por
exemplo.
O consumo faz parte da nossa sociedade contemporânea de forma, muitas
vezes, exacerbada e capitalista. Portanto, indústria e serviço oferecem um leque
de opções e oportunidades para apoiar pais e mães na difícil tarefa de
maternar/paternar. Por último, mas extremamente correlacionado com os dois
primeiros fatores, está a busca por garantias. Nossa sociedade valoriza e vive
no mundo idealizado, que acredita piamente que será possível fazer ou comprar
algo que garanta a felicidade e desenvolvimento saudável do seu filho. Os
especialistas surgem como uma garantia que há algo a ser feito que produza os
efeitos desejados por todos.
Psicoeducação na parentalidade
Exemplificação da tentativa de
emancipar os pais e evidenciar que
eles precisam assumir as rédeas da
sua relação com os filhos. Porém,
uma frase solta, mais no sentindo de
autoafirmação, que soa como
autoajuda. Veja abaixo outro post
desta mesma psicoeducadora.
Aqui a mesma profissional que
escreveu a frase acima, muda a
postura e determina o que os pais
precisam fazer para solucionar o fato
da criança querer que a mãe a
acompanhe na hora de dormir.
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Fala escutada em bate-papo promovido em 01/11/2019, no lançamento do livro “Criar Filhos
no século XXI”, em Brasília.
por si próprios a respeito de temas que estão dados na atualidade. Os dados
sim, estão postos de uma forma homogênea e generalizada, mas como cada
uma responderá a isso, foi o que a autora se preocupou em não responder. 5
Apesar das críticas tecidas por Volpe (2006), em sua dissertação, que traça o
perfil do especialista da subjetividade como sendo aquele que se aproveita do
espaço que consegue em grandes mídias e nas massas para afirmar o seu
conhecimento e posição de detentor do saber em detrimento dos que estão
produzindo conhecimento nas academias e vinculados a uma instituição; afirmo
que o discurso acadêmico precisa sair da lógica subversiva de que o
conhecimento só mora dentro das universidades. É possível produzir (e muito
bem) enquanto ser autônomo, que tem coragem para sair das “caixinhas”
vendidas como caminhos prontos e únicos na vida profissional. Busque
supervisão independente da sua prática (na clínica ou fora dela), esteja próximo
de pessoas com mais percurso na área e, principalmente, busque sempre mais
embasamento teórico (dentro ou fora das academias). Mas, não se esqueça: na
sua frente (ou lendo você), sempre existirá uma pessoa na qual você não sabe
5
Aliás, o título do livro certamente foi fonte de muito cuidado pela autora para fugir da armadilha
do como, algo que incessantemente os pais procuram e muitos especialistas acreditam que
precisam entregar.
nada a respeito, portanto cuide-se para não acreditar que sabe mais dela do que
ela própria.
Referências Bibliográficas