Psicologia Jurídica Ensaios Sobre A Violência PDF
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Psicologia Jurídica
ensaios sobre a violência
2012
Marcelo Ribeiro (org.)
2012
Revisão:
Edilane Ferreira da Silva
Diagramação/Arte Final:
Ana Paula Arruda
Textos
Alzení Tomáz
Bruno Heim
Darlindo Ferreira de Lima
Franklin Barbosa Bezerra
Juracy Marques
Leonardo Sousa
Liércio Pinheiro de Araújo
Luiz Eduardo
Marcelo Ribeiro
Maria Elisa Pacheco de Oliveira Silva
Rita Luiza Garcia Rangel Britto
Robson Marques
Imagem da Capa:
Salomé com a cabeça de São João Batista (Andrea Solario), provavelmente c. 1506-7.
Óleo sobre madeira, 57,2 × 47 cm. The Friedsam Collection, doação de Michael
Friedsam, 1931. Fonte: http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/32.100.81
116p.
Vários autores.
Contém bibliografia ao final de cada capítulo.
CDD 347.066019
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca - SIBI/UNIVASF
Sumário
Apresentação.................................................................................................... 05
Apresentação
Já não podemos falar que a chamada Psicologia Jurídica é uma nova subárea
no campo das Ciências Humanas. Mesmo no Brasil, há inúmeras
experiências, muitas formações e uma considerável publicação no contexto
nacional. Apesar dessa consolidação e dos seus desdobramentos (na
Psicologia Forense, na Psicologia Policial e Criminal, na Psicologia da
Vítima etc.), há ainda uma miríade de possibilidades a ser explorada. Na
fronteira dos consagrados campos de saber da Psicologia, como a Saúde e a
Educação, a Psicologia Jurídica oferece profícuos espaços de reflexões e de
inserções para práticas nas quais os profissionais estão, cada vez mais,
ampliando suas ações em uma interdisciplinar.
Marcelo Ribeiro
Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência 09
1
por Marcelo Ribeiro
Este texto visa refletir sobre as exigências e as produções das dimensões da formação
profissional no âmbito da psicologia jurídica, especificamente, a dimensão pessoal.
Acreditamos que essa dimensão da formação profissional é específica, à medida que seu
desenvolvimento não se dá como mera aplicação da teoria sobre a prática e que não está
garantida na qualificação técnica, sobretudo, oriunda da formação inicial.
Nossa empreitada será caracterizar a área de atuação daquele que lida com a chamada
psicologia jurídica. Antes de tudo, é importante dizer que não estaremos nos
restringindo aos profissionais psicólogos, mas estaremos englobando todos aqueles
profissionais que gravitam na ordem do direito e que necessitam de compreensões
psicológicas para efetivar suas diligências, interpretações e ações. Como exemplo,
poderíamos citar os operadores de direito, de modo geral, os assistentes sociais, os
educadores, os psicólogos, que atuam nas mais diversas áreas judiciais. Poderíamos
também acrescentar os policiais, investigadores, mediadores de conflitos, profissionais de
saúde atuando na área jurídica etc.
indignar com a injustiça social, pode se revoltar contra um ato brutal e pode
perceber que muitas das desgraças e atrocidades fazem parte da dimensão e
capacidade humana, portanto, dele próprio.
Donald Schön (2000) vai propor um “ensino prático reflexivo” para dar
conta de uma formação mais global, que inclua o aproveitamento das
experiências do cotidiano profissional, no qual se possa refletir sobre a
ação e na ação. Esse profissional reflexivo seria mais habilitado a lidar com
as situações de imprevistos e sempre se manteria atualizado, porque estaria
constantemente aprendendo com as suas experiências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
4
Que não se limite na formação inicial, mas que seja também continuada e em exercício.
Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência 17
1
Psicóloga Clínica e pesquisadora colaboradora do Laboratório de Estudos e Práticas Transdisciplinares –
Letrans-Univasf.
2
Professor Adjunto do Colegiado de Psicologia da Univasf e pesquisador titular do Laboratório de Estudos e
Práticas Transdisciplinares – Letrans-Univasf.
18 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
A partir desse contexto, a violência pode ser compreendida como toda ação
que cause ou possa causar dano e inferiorizar o sujeito, além de prejudicá-lo
em vários âmbitos, como físico, psíquico, social e mental. Isto posto,
reportamo-nos para a violência praticada contra as mulheres, mais
especificamente, em relação à violência doméstica contra a mulher e seus
desdobramentos, a qual a OMS (2002, p. 91) denomina de “violência
perpetrada por parceiro íntimo”.
Para a pesquisa, foi realizada uma entrevista aberta com cada delegada
titular das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, em
funcionamento, do Estado de Pernambuco. Como critério de exclusão, foi
vetada a participação de homens, caso houvesse algum ocupando o cargo
de delegado. Desse modo, apenas cinco (05) delegadas colaboraram com a
pesquisa, uma se encontrava de férias durante o período da colheita, sendo
substituída naquele momento por um delegado e outra se recusou a
participar, correspondendo a um total de 71,4% de todas as delegadas da
mulher de Pernambuco.
Após a colheita5 dos dados, foi realizada a transcrição literal das entrevistas
e, posteriormente, a literalização, que se constitui num processo de
transformação da narrativa transcrita numa narrativa literária. Em seguida,
a produção literária foi enviada às entrevistadas, por correio eletrônico, para
que elas pudessem verificar a literalização realizada, até que esta estivesse
em perfeito acordo com o sentido primeiro de sua fala. A etapa seguinte foi
a leitura das narrativas, a partir da qual foram anotados os agrupamentos de
sentidos, que brotaram em decorrência da nossa relação com as narrativas,
produzindo, então, as tematizações.
Assumir essa função foi um desafio muito forte (...) mas sempre quis trabalhar com
mulheres (...) nós somos tudo para quem nos procura, na verdade, somos psicólogas,
amiga, protetora e delegada de polícia. (...) Ser delegada da mulher não é nada fácil, não
é qualquer uma que encara isso. [Delegada I]
No início (...) tive que fazer uma terapia porque chegava em casa muito estressada. Com o
passar do tempo, aprendi a vir para o trabalho, ouvir o que está aqui e deixar aqui mesmo,
não levar nada para casa. [Delegada I]
Às vezes chegava a chorar junto com as mulheres. Então, me envolvia mesmo, mas agora
consigo me preservar mais, acho que é um distanciamento necessário. [Delegada II]
Para lidar com a violência no dia-a-dia (...) não pode ser aquela pessoa fragilizada,
porque senão vai trazer problemas, não só para si, mas para a pessoa que está sendo
atendida... [Delegada IV]
Não sei como é que aprendi, na verdade, acho que, com o tempo, fui me acostumando. O
que me proporcionou aprendizado mesmo foi o tato. Não estudamos uma teoria de como
lidar com mulheres vitimizadas... Não temos essas teorias, entendeu? Então, acho que
vem muito da experiência mesmo. [Delegada I]
Ser Delegada da Mulher: Construindo Sentidos Frente às Vicissitudes da Profissão 29
Entretanto, mais especificamente sobre minha atuação, acho que adquiri traquejo no dia
a dia. [Delegada II]
Carneiro (2009, p. 79) ressalta que “existe um saber de ofício que passa pela
experiência pessoal”, e se soma ao conhecimento científico e à prática, na
resolução de uma demanda. O conhecimento nomeado, por alguns autores,
como tácito, (FIGUEIREDO, 1993; POLANYI, 1891; SAIANI, 2004
apud CARNEIRO, 2009) costuma ser pouco valorizado pela academia,
devido à dificuldade encontrada para sua transmissão, uma vez que suas
origens “não se fundamentam em operações explicitamente lógicas” (p.77).
Esses dois conceitos, saber acadêmico e conhecimento tácito, parecem se
complementar e, ao mesmo tempo, indicar que situações semelhantes a
outras já vividas podem ser solucionadas mais facilmente.
Trabalhos anteriores foram uma escola (...) fui e vi que aprendi e, agora, sou capaz de ir
para qualquer especializada, que vou saber fazer o trabalho. [Delegada V]
está exposto já foi um dia submerso, como também o que ainda está
submerso pode tornar-se visível a qualquer momento.
Hoje a academia está preparando muito melhor do que preparava na minha época. Se
compararmos os policiais de antigamente com os de hoje, veremos uma diferença gritante
com relação a tudo: ao tratamento, à formação. (...) [Delegada I]
Todos os policiais daqui têm cursos na área de violência doméstica e também participamos
dos cursos periódicos da SENASP. Vários cursos são oferecidos. Agora mesmo estamos
no meio de um curso... [Delegada IV]
É muito importante, gosto muito, digo que é agregar conhecimento. Por mim, teríamos
treinamento de seis em seis meses, uma espécie de reciclagens. Mas não espero só pelo
departamento, procuro fazer cursos que são oferecidos pelo SENASP. Para o exercício
da profissão há uma necessidade de busca pessoal. [Delegada V]
Gosto de orientar meu pessoal, até porque os policiais são como o esboço da delegada.
Ela é o exemplo, se ela for ruim, então, aqueles policiais vão procurar se espelhar nela.
(...) Digo aos meus policiais: perguntem o que a mulher está precisando. Não quero
saber de nenhuma mulher saindo dessa delegacia reclamando de atendimento.
[Delegada V]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nos últimos anos, temos acompanhado um aumento da atenção dada aos grupos
violentos de rua. Profissionais e pesquisadores esforçam-se para compreender e
neutralizar os efeitos de participação dos jovens nesses grupos. No entanto, apesar de uma
riqueza de quadros teóricos e resultados empíricos, mesmo em questões fundamentais,
como uma definição consensual, continuam a nos iludir. Consideramos, neste trabalho,
algumas das estruturas teóricas mais influentes e resultados empíricos associados e
descobrimos que, tal como está, o nosso conhecimento sobre esses grupos violentos é ainda
limitado. Sugerimos que os caminhos futuros devem adotar uma abordagem mais
multidisciplinar para o estudo dos grupos de jovens violentos. Para este fim,
argumentamos que há um papel para a psicologia nesta importante obra, e que sua
participação vai nos fornecer uma compreensão mais profunda e mais significativa das
gangues e dos jovens que se juntam a elas.
Outros têm sugerido que um grupo de jovens pode ser considerado uma
quadrilha se identificar o seu grupo como unidade coletiva, se outras
pessoas também identificá-los como um grupo e se o grupo considera a
atividade antissocial ou criminal como uma norma de grupo (Hakkert,
van Wijk, Ferweda & Eijken, 2001). Por outro lado, alguns pesquisadores
(Bennett & Holloway, 2004) não consideram a criminalidade como um
critério necessário para a definição de uma gangue, enquanto outros têm
argumentado que a ausência de criminalidade faz com que a definição de
uma gangue seja muito ampla (Klein & Maxson, 1989; Howell, 1998). Se
a atividade criminosa não é um pré-requisito para a definição de uma
quadrilha, então, inevitavelmente, haverá "bons" e "maus" grupos (ou
seja, aqueles envolvidos em atividade criminosa e os que não são). O
resultado disto é que, simplesmente, agrava a confusão que já contamina
parte da literatura. Por exemplo, Araújo (2006) observa que, em São
Paulo, no Brasil, grupos de jovens que foram rotulados como "gangues",
relataram que a principal razão de eles estarem juntos era ficar longe de
problemas. Outros observam a dificuldade em identificar membros de
gangues e os medos de que as referências ao "gang" sejam entendidas
como princípio para estigmatizar os jovens e criar um "gangster" de
identidade (Bullock & Tilley, 2008).
40 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
Uma vez que existem muitas diferenças entre e dentro de grupos (Fagan,
1989), alguns defendem o abandono do termo "gang" completamente (Ball
& Curry, 1997). Outros argumentam que uma definição precisa não é
possível nem vantajosa, desde que gangues, como qualquer outro grupo,
não pode ser caracterizada por uma definição única que iria perdurar ao
longo do tempo e do local (Goldstein, 1991). Goldstein (1991) argumenta
que muitas das definições que foram oferecidas, ao longo dos últimos 80
anos, todos são muito corretos e o que constitui uma quadrilha varia de
acordo com as condições políticas e econômicas, com as diversidades
culturais e o sensacionalismo gerado pelos meios de comunicação ou com a
indiferença em relação à lei.
Sutherland também têm seus críticos. Uma das críticas é que elas não
conseguem especificar o quanto as pessoas necessitam para favorecer o
crime, antes que se tornem influentes no sentido pró-penal, uma vez que,
geralmente, as pessoas têm crenças que justificam o crime apenas em
determinadas situações (Agnew, 1995; Akers, 1997). A associação
diferencial também foi criticada por dizer, simplesmente, que as atitudes
pró ou anticriminal pode ser desenvolvida através da associação com outras
pessoas, sem explicar como esse processo funciona (Akers, 1997).
Expandindo as ideias da associação diferencial, aproveitando a teoria dos
processos de aprendizagem social, Akers (1997) propõe que o crime é
aprendido graças ao desenvolvimento de crenças de que ele é aceitável em
algumas situações, o reforço positivo de envolvimento criminal (por
exemplo, a aprovação dos amigos, ganhos financeiro) e da imitação do
comportamento criminoso dos outros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAGAN, J. E. (1989). The social organization of drug use and drug dealing
among urban gangs. Criminology, 27, 633-669.
FAGAN, J., & Meares, T. L. (2008). Punishment, deterrence and social control:
The paradox of punishment in minority communities. Ohio State Journal of
Criminal Law, 6, 173-229.
GOVER, A. R., Jennings, W. G., & Tewksbury, R. (2009). Adolescent male and
female gang members’ experiences with violent victimization, dating violence
and sexual assault. American Journal of Criminal Justice, 34, 103-115.
HALL, G. P., Thornberry, T. P., & Lizotte, A. J. (2006). The gang facilitation
effect and neighbourhood risk: Do gangs have a stronger influence on
delinquency in disadvantaged areas? In J. F. Short, & L. A. Hughes (Eds.),
Studying youth gangs (pp. 47-61). Oxford, UK: Altamira Press.
SHORT, J. F., Jr., & Strodtbeck, F. L. (1965). Group process and gang
delinquency. Chicago, IL: Universityof Chicago.
INTRODUÇÃO
1
Autores (as): Juracy Marques (Pós-Doutor em Antropologia, Prof. da UNEB e FACAPE); Alzení Tomáz
(Estudante de Direito, Coord. do LAPEC/NECTAS); Leonardo Sousa (Estudante de Direito e Técnico do
NECTAS/UNEB); Bruno Heim (Advogado, Prof. da UNEB); Luiz Eduardo (Advogado, Prof. da FACAPE);
Robson Marques (Estudante de Educação Física, integrante do NECTAS).
58 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
ECOLOGIA DE SANGUE
3
In « Sacrifício de Animais em Rituais de Religiões de Matriz Africanas (Yannick Yves Andrade Robert).
Ecologia de Sangue: Interpretações Jurídicas dos Sentidos Sagrados dos Povos de Terreiros 61
Enquanto essas reflexões não ganham novos contornos, apesar dos avanços
jurídicos na proteção dos direitos culturais, imateriais, práticas tradicionais,
que fazem uso do sacrifício de animais em seus rituais sagrados, têm sido
motivo de muitas ações judiciais em diversas partes do Brasil e do Mundo.
Nestes casos, direitos e garantias fundamentais, com substratos diversos,
entram em conflito.
Mãe Estela (2012), integrante do Terreiro, relata que estava no local na hora da
chegado do referido Servidor e que, perguntando a ele sobre que autorização
tinha para entrar no Terreiro, teve a resposta de que ele tinha “19 denúncias”.
Diz que o mesmo entrou e começou a fotogravar partes dos animais que
tinham sido abatidos no Terreiro. Desabafou: “nos sentimos invadidas”.
A fauna brasileira era tratada como Res nullius, fato que atribuía à mesma a
natureza de direito privado, pois se observava o animal apenas como
objeto passível de ser propriedade. Contudo, esta concepção privatista
Ecologia de Sangue: Interpretações Jurídicas dos Sentidos Sagrados dos Povos de Terreiros 65
Fato a ser destacado, é o de que a previsão do art. 225, 1º, VII, da Carta
Magna, que proíbe os atos cruéis contra os animais, deriva do fato do ser
humano, ao buscar planificar as suas relações sociais, valorou que o ato de
submeter o animal a um mal além do necessário, afronta a “saúde psíquica
do ser humano”, pois este não consegue ver, “em decorrência de práticas
cruéis, um animal sofrendo”. Com isso, a “tutela da crueldade contra os
animais fundamenta-se no sentimento humano” (FIORILLO, 2011, p. 273).
O ser humano sempre teve a utopia de, através do método científico, chegar
ao conhecimento verdadeiro sobre um objeto. Este sonho também
impregnou o modo de pensar e conceber o direito, sendo esta filosofia
jurídica denominada de positivismo jurídico.
Surge, assim, uma nova corrente teórica que busca estabelecer uma relação
adequada entre o direito, os valores, os princípios e as regras da sociedade,
utilizando-se, para tanto, dos estudos da nova hermenêutica constitucional
e dos direitos fundamentais, de forma que a aplicação do direito retome aos
laços anteriormente cortados com a justiça e com a ética. A esta nova forma
de pensar o direito, foi dada a nomenclatura de pós-positivismo
(BARROSO, 2009).
passar por três etapas (BARROSO, 2009). A primeira e segunda etapas são
comuns a todo processo interpretativo, devendo o hermeneuta,
primeiramente, definir o sistema de normas relativas ao conflito e estabelecer
uma interação dos fatos com as respectivas normas.
Tensão analóga foi motivo de ação judicial no Rio Grande do Sul. Ao ser
criado o Código de Proteção Ambiental do Estado do Rio Grande do Sul
(Lei n. 11.915 de 2003), não havia referência às práticas de sacrifícios de
animais para rituais religiosos. Todavia, em 22 de julho de 2004, entrou em
74 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
vigor a lei n. 12.131, que acrescentou ao Art. 2º. da lei 11.915, um parágrafo
único que, expressamente, diz : "não se enquadra nessa vedação o livre
exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana".
CONCLUSÃO
Tudo que foi pensado aqui está assentado sobre a percepção sagrada, ou
não, dos sacrifícios de animais. A Yalorixá Edneusa (2012) esclarece:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
por Maria Elisa Pacheco de Oliveira Silva
Refletir o que leva a família e escola a não cumprirem os direitos da criança pré-escolar,
assegurados pela Lei Nº 8.069/90, e quais as repercussões dessas violações para o
desenvolvimento integral da pessoa é o foco deste trabalho. Dados oficiais da Secretaria
Especial de Direitos Humanos - SIPIA, quando confrontados com os documentos
legais a favor dos direitos da criança, apontam a família, a escola e o Estado como os seus
principais agentes violadores. A leitura interpretativa das condições contextuais
violadas são discutidas à luz da Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano
de Urie Bronfenbrenner, possibilitado uma profícua discussão sobre as condições e
preparos da família e da escola para cuidar, proteger e educar.
1
Professora Assistente de Psicologia da Educação da UEFS, Mestre em Educação - UFBA, Doutorando Em
família e Sociedade Contemporânea (Universidade Católica do Salvador) UCSAL. Email: mel@uefs.br
78 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
2
Quadro das violações em todo o território nacional; principais violações e os agentes violadores. SIPIA –
Secretaria Especial de Direitos Humanos.
Violação dos Direitos da Criança em Idade Pré-escolar 83
Isso significa deduzir que quando a criança sofre algum tipo de violação,
como privação social, material, emocional, restringe seu universo de
significação à medida que também diminui suas possibilidades de
convivência com a diversidade de familiares, de espaços sociais e de
referências com pessoas que simbolicamente têm importância em sua vida,
havendo restrições no seu desenvolvimento natural.
ativamente, mas de alguma maneira tanto afeta como é afetado pelo o que
acontece nesses espaços; e, por fim, o macrossistema que pode ser
pensado como consistências e regularidades que estão presentes nos
demais ambientes e fazem parte ou poderão fazer da sub-cultura ou da
cultura. Os sistemas de crenças, valores e ideologia é um exemplo. No
modelo PPCT, contexto de desenvolvimento é o meio global onde o ser
humano está inserido e onde ocorrem os seus processos de
desenvolvimento em todos os ambientes, do mais imediato ao mais
remoto (ALVES, 1997; MARTINS; SZIMANSKI, 2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
por Franklin Barbosa Bezerra
Se soubéssemos quem sempre está por traz de toda destruição, das inúmeras mazelas, dos
inúmeros genocídios e das inúmeras perversões sádicas que cotidianamente nos enchem de
pavor, possivelmente, acordaríamos para avaliar nosso papel como cidadão e como
responsável por tudo que nos rodeia.
1
CRP15 0361 Psicanalista. Professor/Supervisor da Clínica Escola do CESMAC. Professor da Matéria
Psicologia da Personalidade Criminal.
96 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
Se soubéssemos quem sempre está por traz de tudo o que não presta,
das inúmeras mazelas, dos inúmeros genocídios e das inúmeras
perversões sádicas/necrofílicas que, cotidianamente, enchem-nos de
medo. Se soubéssemos o que aqueles que, às vezes, idealizamos e
veneramos são capazes de fazer. Possivelmente, acordaríamos para
avaliar nosso papel como cidadão e como responsável por tudo de bom
e de ruim que nos rodeia.
Existem patologias mentais que podem estar por trás de um serial killer,
Segundo Palomba (1995, p.24), como certos tipos de esquizofrenia, a
psicose paranóide, ou também, para alguns, a eplepsia condutopática; no
entanto, por mais difícil que pareça, a maior parte deles não possui
nenhuma doença mental. Segundo Butcher (1971, p.76), “Não apresentam
o que mais caracteriza as doenças mentais que são as alucinações e os
delírios, apresentam geralmente ausência de afeto e senso moral, um
caráter exibicionista, calculista e manipulador, são verdadeiros mestres da
camuflagem, são meticulosos e ardilosos na execução do crime e na
ocultação de evidências que possam prejudicá-los”. Tudo isto, segundo
Lindner (1972, p.144), “porque não são afetados por algo que sempre nos
denuncia: a ansiedade antecipada,vulgarmente falando, são frios o
suficiente para serem interrogados e acusados por algo que sabem que
cometeram, mas que não manifestam nenhuma ou quase nenhuma
emoção”. O poder da sedução é sentido através da identificação que
muitos sentem por estes tipos. Por que será que muitos serial killer
possuem um fã clube tão apaixonado e fiel? Por que recebe tanta proposta
de casamento? Por que alguns são protegidos e defendidos por cidadãos
acima de qualquer suspeita?
A Verdadeira Personalidade Criminal 99
Sabemos o quanto é negativo para um filho (a) assistir ao ato sexual dos pais.
Imagine a tragédia dele fazer parte de um ato sexual. Por mais madura e
encorpada que seja a criança, sua personalidade não consegue elaborar
positivamente o sexo, como “alguns” adultos conseguem. Se a criança
abusada por estranhos irá apresentar sequelas psíquicas dolorosas e
desestruturantes, avalie este abuso sendo cometido por seus familiares ou
por pessoas próximas a família? As características mais conhecidas destes
agressores são: o interesse exagerado de alguns adultos por crianças; o
agressor, normalmente, tem mais de 30 anos e adora tudo que diz respeito a
crianças, geralmente, usa de presentes e confeitos para atrair a amizade das
crianças; procura atividades profissionais nas quais possa ter um contato
prolongado com crianças; adora visualizar o corpo nu de crianças, muitas
vezes, adora tocar, apalpar e acariciar crianças; adora colecionar coisas
infantis; procura crianças que são tratadas com indiferença e brutalidade,
aquelas que vivem de casa em casa e às oriundas de lares desfeitos, Na
maioria das vezes, são vistos como sociáveis, prestativos e até solidários
pelos vizinhos. Cuidado com eles!!
Quando pessoas são atingidas por estes atos, elas, geralmente, vivenciam
uma situação conflituosa de perder a confiança e a segurança naquilo que
faziam. Desenvolvem uma insegurança e um medo exacerbado de
continuar produzindo, trabalhando e, ao mesmo tempo, de viver situações
de prazer que faziam parte do seu cotidiano. Imagine o que representa para
os pais a ida de um filho (a) a uma boate depois daquela onda de violência e
brutalidade que todos assistimos? Imagine as famílias que perderam ou
quase perderam seus filhos em episódios semelhantes?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
Este texto é uma versão revisada e atualizada de um trabalho apresentado na mesa redonda sobre Psicologia e
Direitos Humanos, na II UNPSI da Universidade Salvador, em março de 2004.
2
Preferimos utilizar o termo “modernidade” e não “contemporaneidade” ou “pós-modernidade” porque
achamos que as condições básicas do projeto civilizatório que nos marca foi constituído, sobretudo, na era
moderna.
104 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
Os resultados de uma promessa que não cumpre seus fins, mas sim, a
radicalização e o desenvolvimento dos seus meios, geram algumas
consequências. Não obstante, seria desviar muito querer abarcar todas
estas. Por isto, nos damos por satisfeitos apontar algumas consequências.
Esta contradição nasce também de uma promessa que não se cumpre, mas,
principalmente, de uma promessa que não se pode cumprir. A contradição
parece ser uma questão muito profunda para se entender a condição
humana da contemporaneidade. Somos forjados pela contradição.
Queremos ser algo que não somos, descobrimo-nos outros em um ritmo
que nos escapa, negamos o que nos constitui e necessitamos buscar algo
que não sabemos. Toda essa problemática faz parte da nossa atual
itinerância e história, empurrando-nos, cada vez mais, para a incredulidade
de um mundo melhor.
A decepção é de cada ser humano, de cada ser psicológico que, quando esteve diante da
promessa, não apenas esperou que ela se cumprisse. A promessa foi, subliminarmente, ou,
inconscientemente, feita por nós, a nós mesmos. Esse, a meu ver, é o grande trunfo do
capitalismo moderno: assumirmos as promessas que não, efetivamente, fizemos.
3
Jornalista e estudioso das ciências sociais. Esta crítica se deu a partir de mensagens via e-mail, em 22 de abril
de 2004, em relação ao texto que aqui se apresenta. Como achei de importância esclarecedora, resolvi
colocar na íntegra.
106 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
(...) direitos humanos (...) não o globalizado, mas aquele que faz com que um ser
humano veja o outro na sua versão individualizada, não homogeneizada para sermos
um grande mercado de consumo. O direito do outro não é, a meu ver, o direito de ser
negro, mulher, homossexual, deficiente, etc, mas o direito de termos o que comer, o que
vestir, onde estudar, morar, não ser assassinado nas ruas. A categorização nasce para
dar uma nova roupagem da discussão do social, discussão (desculpe se o termo é da
década de 60, mas...) essa apenas burguesa. Sempre haverá seres humanos que não
tolerarão o outro, a cor do outro, o aspecto do outro, a opção do outro, mas não que esse
seja um vaticínio da humanidade, mas o é do sistema de produção competitivo, sem
contemplação do belo...
Diante dessa perda da relação com o sagrado, que começou com Deus, e
que seria também uma relação divina entre os próprios homens, abriu-se
espaço para uma relação do homem com o mundo mais
instrumentalizada e mais individualizada. É neste sentido que Max Weber
(2003) nos diz:
Este cindir do mundo não separa apenas valores. A divisão entre pobres e
ricos e entre países centrais e periféricos é também evidente. Embora a
produção da riqueza humana, dos bens de consumo, de alimentos, de
tecnologias e informação seja, extraordinariamente, marcante na
atualidade, como apontado por Eric Hobsbawm (1995), não são
compartilhados por todos e nem pela maioria.
4
Aqui me refiro a ideia do ser-sendo, desenvolvida por Dante Gallefi, em seu livro “O ser-sendo da
Filosofia”. Salvador: EDUFBA, 2001. Esta ideia indica que ser se dá na relação com o outro no mundo.
Psicologia e Direitos Humanos: Contradições Geradoras para um Fazer Crítico 109
Tal poder termina oprimindo o ser humano, pois este fica muito mais a
mercê de interesses extrínsecos à própria vida. Sua liberdade passa a ser
tolhida, seus passos mais controlados, sua vida mais previsível e sua
importância, enquanto existente, cada vez mais reduzida a números. O ser
humano perde importância, justamente, naquilo que parece caracterizá-lo,
ou seja, na constante realização de sua humanidade.
Não só o ser humano perde importância enquanto ser. Tudo parece perder
algo, tudo parece estar reduzido à produtividade, à eficiência, ao econômico
e ao deus ex machine do mercado. Essa redução do ser, por sua vez, veio
acompanhada com o tic tac do relógio, com a máquina do tempo. Esse
ritmo acelerado, que teve início na era moderna, ganha mais velocidade no
mundo atual. Agora não são mais as buzinas das fábricas acordando cidades
e nem relógios de bolso marcando a chegada do trem. Agora são os micro
chips em tempo virtual-real transcendendo a sua própria lógica linear. A
produção, com o tempo on line, atinge níveis de velocidade que o homem já
não é mais capaz de acompanhar.
110 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência
As mudanças são tão rápidas que não há tempo para o homem apreender as
diversas coisas por ele, supostamente, experimentadas. Não só as coisas
materiais que são descartáveis, mas também as próprias pessoas e relações
são dimensionadas nessa perspectiva da inconstância, da impermanência e
da descartabilidade, pois num momento servem e, logo no momento
seguinte, já estão superadas e descartadas.
Em parte, esta velocidade ganhou novo ritmo (mais voraz) com o advento
das novas tecnologias, principalmente, as relacionadas com a informática
e as telecomunicações. Estas tecnologias lançaram o homem numa
vivência muito particular. O homem reinventa o tempo e se reinventa
nesse tempo. E ainda é cedo para se ter uma boa ideia dessa condição, que é
também contraditória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
5
Embora fosse importante uma maior adesão por parte dos psicólogos nesses movimentos, mais
explicitamente engajados.
114 Psicologia Jurídica: Ensaios Sobre a Violência