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Moraes

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RECLAMAÇÃO 42.

358 RIO DE JANEIRO

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


RECLTE.(S) : WILSON JOSE WITZEL
ADV.(A/S) : ANA TEREZA BASILIO
ADV.(A/S) : MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI PINHEIRO
ADV.(A/S) : ROBERTO PODVAL
ADV.(A/S) : MANOEL MESSIAS PEIXINHO
RECLDO.(A/S) : MESA DIRETORA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
RECLDO.(A/S) : PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
RECLDO.(A/S) : PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DE
IMPEACHMENT DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO DO PROCESSO Nº
5.328/2020
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
RECLDO.(A/S) : RELATOR DO MS Nº 0045844-70.2020.8.19.0000
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADV.(A/S) : RODRIGO LOPES LOURENCO

DECISÃO

Trata-se de Reclamação, com pedido de tutela de urgência, proposta


por Wilson José Witzel, Governador do Estado do Rio de Janeiro, contra
atos praticados pelo Presidente da Mesa Diretora da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, pelo Presidente da Comissão
Especial de Impeachment do Processo nº 5.328 da ALERJ, pelo Relator do
Processo nº 5.328 da Comissão Especial de Impeachment da ALERJ, bem

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como contra o indeferimento do pedido liminar nos autos do Mandado


de Segurança 0045844-70.2020.8.19.0000, em trâmite no Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por suposta violação à Súmula
Vinculante 46 e às autoridades das decisões proferidas no julgamento da
ADPF 378 MC (Redator p/ o Acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Pleno,
julgamento em 17/12/2015, DJe de 8/3/2016) e da ADI 5.895 (Rel. Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Pleno, julgamento em 27/9/2019, DJe de
15/10/2019).
Em razão de sua completude, reproduzo o relatório lançado pelo
Presidente desta SUPREMA CORTE na decisão que analisou a medida
liminar requerida:

O reclamante diz que [e]m 27.5.2020, o Exmo. Deputado


Estadual Sr. Luiz Paulo Correa da Rocha e a Exma. Deputada
Estadual Sra. Lúcia Helena Pinto ofereceram denúncias perante
a ALERJ contra [si]. A primeira, foi distribuída sob o nº
5.328/2020, e a segunda, apensada à primeira, sob o nº
5.360/2020, ambas com fundamento nos arts. 4º, V, 9º, VII, 74 a
79, todos da Lei nº 1.079/1950.
Afirma que [t]ais processos ficaram com prazo de defesa
suspenso até o dia 3.7.2020, sexta-feira (doc.3). Isso em razão,
segundo entende, com de base em 2 (dois) relevantes motivos: i)
a ALERJ deveria informar o rito processual a ser adotado para
julgamentos dos Processos Administrativos de nºs 5328/2020
(principal) e 5360/2020 (apenso); e (ii) deveriam ser acostados
aos autos os documentos que motivaram as denúncias, para
somente então ser avaliada a pertinência ou não do
prosseguimento dos gravíssimos processos políticos
administrativos ( o principal e o apenso).
Informa que [s]obre o item (ii), em sessão posterior, o
eminente relator da Comissão Especial de Impeachment, para
evitar coação ilegal (CPP, art. 648, I), solicitou ao STJ o
compartilhamento da documentação relativa à medida cautelar
de produção antecipada de provas. Esse pedido, no entanto, foi
indeferido pelo Ministro Benedito Gonçalves (doc. 3), o que não

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impediu o procedimento de anomalamente retomar seu curso.


Alega que [...] sobre o item (i), o reclamante se
surpreendeu, ao pesquisar nos Diários Oficiais do Estado do
Rio de Janeiro e ali constatar, então, que a ALERJ já tinha
definido o rito de prosseguimento das denúncias e que alguns
atos dessa liturgia ad hoc já tinham sido praticados de forma
inidônea, porque destoantes do rito fixado por esta e. Corte
para o processo de impeachment (ADPF 378 e da ADI 5.895), a
partir da lei 1.079/50, cuja disciplina é de competência exclusiva
da União Federal (SV 46).
O autor aduz que [a] Comissão Especial de Impeachment
foi instituída pela simples indicação de líderes partidários, sem
qualquer posterior votação (aberta, ainda que simbólica,
veiculada no Diário Oficial) [...]
Assevera que a formação da Comissão Especial
desrespeitou por completo a regra da proporcionalidade
partidária, tendo em vista que cada partido teve direito a
indicar um membro. Com isso, partidos restaram sub-
representados (aqueles com as maiores bancadas, mas com
apenas um representante na Comissão Especial), enquanto
outros, de bancadas pequenas, foram super-representados, com
artificial desvirtuamento das próprias forças políticas no
Parlamento.
Relata que por meio do mandado de segurança, deduziu,
inicialmente, pedidos de urgência, a fim de que o Órgão
Especial do e. Tribunal a quo suspendesse ou anulasse os
referidos atos ilegais, praticados pela Alerj em total
descumprimento à autoridade decisória de precedentes
vinculados desta Suprema Corte e do rito a ser
compulsoriamente observado em tema de crime de
responsabilidade.
Expõe que […] o Ilustre Desembargador Relator, também
indicado como autoridade reclamada, indeferiu o pedido de
medida liminar ali formulado, chancelando, assim, ele próprio,
os descumprimentos dos comandos deste Supremo Tribunal
Federal realizados pelo Poder Legislativo.

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Argumenta [...] que se mostra viável a presente


reclamação (movida contra decisão judicial e também contra
atos praticados pela ALERJ na tramitação do processo de
impeachment) sendo plenamente legítimos os pedidos nela
veiculados, já acolhidos por esta Suprema Corte em outras
reclamações movidas em contexto em tudo idêntico,
considerado o desrespeito à SV 46 e aos julgamentos
vinculantes proferidos na ADPF 378 e na ADI 5.895.
O reclamante sustenta a presença dos pressupostos para a
concessão da tutela provisória de urgência. No mérito, requer a
procedência do pedido para que seja desconstituída a Comissão
Especial formada no âmbito da ALERJ (Processo
Administrativo nº 5.328/2020 e Processo Administrativo nº
5.360), com a anulação de todos os eventuais atos por ela
praticados, determinando-se a formação de outra em seu lugar,
agora com observância dos parâmetros vinculantes desta Corte
e da Lei Federal específica, ou seja, com representantes que
correspondam tanto quanto possível à proporcionalidade
partidária e apenas após a votação em plenário dos nomes
apresentados pelos respectivos líderes, ainda que o escrutínio
seja feito de modo simbólico, comunicando-se com urgência as
autoridades reclamadas.
Em 23/07/2020, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio
de Janeiro prestou, voluntariamente, informações nos autos,
ocasião em que defendeu o respeito à Lei federal 1.059/1950 e ao
julgado desta Corte na ADPF 307. Informa que o Parlamento
fluminense não formou nenhum bloco parlamentar e que
[n]o caso da Reclamada, (...) a composição da Comissão
Especial é de vinte e cinco Excelentíssimos Senhores
Deputados, porque vinte e cinco Partidos Políticos nela são
representados. Considerando-se que o Colendo Plenário da
Reclamada conta com setenta Parlamentares, a Comissão
Especial já representa 35,7% da composição plenária do
Parlamento fluminense. A busca obsessiva pela irretocável
proporcionalidade aritmética, além de ignorar a expressão
constitucional tanto quanto possível, implicaria a composição

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da Comissão Especial com número de Membros perto da


totalidade da Casa Legislativa fluminense (...).
Quanto ao argumento de necessidade de eleição da
comissão especial, defende que, nos termos do julgamento da
ADPF 378-MC, [a] eleição da comissão especial significa, assim,
escolha; escolha se dá pelos respetivos Líderes.
Por fim, pugnam pelo indeferimento da medida liminar e,
no mérito, a declaração de integral improcedência do pedido.

Em 27/7/2020, o Presidente deste TRIBUNAL, nos termos do art. 13,


VIII, do RISTF, deferiu a medida liminar requerida “para sustar os efeitos
dos atos impugnados, desconstituindo-se, assim, a comissão especial formada,
para que se constitua outra comissão, observando-se a proporcionalidade de
representação dos partidos políticos e blocos parlamentares, bem como a votação
plenária dos nomes apresentados pelos respectivos líderes, ainda que o escrutínio
seja feito de modo simbólico, consoante o previsto no art. 19 da Lei nº 1.079/50 e
o assentado no julgamento da ADPF 378 -MC/DF”. Na ocasião, o Ministro
Presidente determinou, ainda, a citação da beneficiária da decisão
reclamada (art. 989, III, do CPC), a requisição de informações e a
manifestação da Procuradoria-Geral da República.
Em 1º/8/2020, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro apresentou
manifestação contra a liminar deferida, reiterando os argumentos
aduzidos na prestação de informações, anteriormente apresentadas (doc.
18).
Em 3/8/2020, o TJRJ prestou informações sobre o indeferimento do
pedido liminar requerido no MS 0045844-70.2020.8.19.0000, cuja
transcrição segue abaixo:

Nesse contexto, destaca-se que a decisão reclamada


entendeu que não houve contrariedade à regra da
proporcionalidade, diante da composição partidária da
Assembleia Legislativa deste Estado, com representação por 25
partidos políticos, percebendo, num juízo de cognição sumária,
a possibilidade de indicação dos membros da comissão especial
pelos líderes de cada partido com representação na ALERJ,

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entendendo inexistir incompatibilidade com as orientações


firmadas pelo Supremo Tribunal Federal e tampouco existir
contrariedade à Súmula Vinculante 46 também da Suprema
Corte.

Em 3/8/2020, o eminente Ministro LUIZ FUX, relator sorteado,


declarou sua incompatibilidade para julgamento da presente ação
reclamatória, com fundamento no art. 277 do RISTF, sendo os autos
redistribuídos para minha relatoria.
Em 20/8/2020, a Procuradoria-Geral da República apresentou parecer
pela improcedência do pedido reclamatório, em manifestação assim
ementada:

RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. PROCESSO DE


IMPEACHMENT. COMPOSIÇÃO DE COMISSÃO ESPECIAL.
INDICAÇÃO DE LIDERANÇAS PARTIDÁRIAS. ELEIÇÃO DE
MEMBROS. VOTAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL. PROPORCIONALIDADE. REGRA CONDICIONADA
À POSSIBILIDADE. PARECER PELA IMPROCEDÊNCIA.
1. A indicação dos membros da Comissão Especial de
impeachment, prevista no art. 19 da Lei 1.079/50, é prerrogativa
dos partidos políticos, por meio de suas lideranças, não estando
sujeita a deliberação por partidos diversos.
2. Havendo a Suprema Corte decidido que a função de
indicação de membros para a composição da comissão especial
de impeachment recai sobre as lideranças partidárias e
inexistindo previsão constitucional e legal de votação para
referendar tais indicações, não há que se impor tal
procedimento às Casas Legislativas.
3. Existindo número alargado de partidos políticos na
assembleia legislativa, a formação de comissão especial de
impeachment com um representante de cada partido atende ao
comando constitucional de proporcionalidade na medida de
sua possibilidade, conferindo legitimação material e formal
para a sua atuação.
— Parecer pela improcedência do pedido.

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O reclamante peticionou, contrapondo à ALERJ, no que diz respeito


ao pedido de reconsideração do deferimento da medida cautelar (doc.
46).
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro peticionou, reiterando o
requerimento de revogação da liminar e o pedido de julgamento da
improcedência do pedido (doc. 48).
Por fim, o reclamante, mais uma vez, defendeu a subsistência da
medida liminar (doc. 50).

É o relatório. Decido.

A respeito do cabimento da reclamação para o SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, dispõe o art. 102, I, l, e o art. 103-A, caput e § 3º,
ambos da Constituição Federal:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
l) a reclamação para a preservação de sua competência e
garantia da autoridade de suas decisões;

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício


ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional,
aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua
revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-
a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com

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ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.

Veja-se também o art. 988, I, II e III, do Código de Processo Civil de


2015:

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do


Ministério Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III garantir a observância de enunciado de súmula
vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em
controle concentrado de constitucionalidade;

Na presente hipótese, o reclamante invoca como parâmetro principal


de controle a Súmula Vinculante 46, cujo teor é o seguinte:

A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento são de competência legislativa privativa da União.

A questão primordial da presente reclamação, portanto, é saber se,


em respeito à Separação de Poderes, a Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro respeitou as normas constitucionais e legais referentes ao processo
de responsabilização do Governador do Estado por crime de
responsabilidade, em especial os termos da Lei Federal 1.079/1950 no
tocante a composição da Comissão Especial.
A Constituição Federal, visando, principalmente, a evitar o arbítrio e
o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência
dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo
entre eles as funções estatais para que bem pudessem exercê-las, bem
como criando mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia
da perpetuidade do Estado Democrático de Direito (MARCELO
CAETANO. Direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. v. 1,
p. 244; NUNO PIÇARRA. A separação dos poderes como doutrina e princípio

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constitucional. Coimbra: Coimbra Editora, 1989; JOSÉ ALFREDO DE


OLIVEIRA BARACHO. Aspecto da teoria geral do processo
constitucional: teoria da separação de poderes e funções do Estado.
Revista de Informação Legislativa, Brasília: Senado Federal, ano 19, n° 76, p.
97, out./dez. 1982; JOSÉ LUIZ DE ANHAIA MELLO. Da separação de
poderes à guarda da Constituição: as cortes constitucionais. 1969. Tese
(Cátedra) – Fadusp, São Paulo; MARILENE TALARICO MARTINS
RODRIGUES. Tripartição de poderes na Constituição de 1988. Cadernos de
Direito Constitucional e Ciência Política, São Paulo: Revista dos Tribunais,
ano 3, N° 11, p. 16, abr./jun. 1995; MÁRCIA WALQUÍRIA BATISTA DOS
SANTOS. Separação de poderes: evolução até à Constituição de 1988:
considerações. Revista de Informação Legislativa, Brasília: Senado Federal,
ano 29, N° 115, p. 209, jul./set. 1999).
Assim, apesar de independentes, os Poderes de Estado devem atuar
de maneira harmônica, privilegiando a cooperação e a lealdade
institucional e afastando as práticas de guerrilhas institucionais, que
acabam minando a coesão governamental e a confiança popular na
condução dos negócios públicos pelos agentes políticos.
Para tanto, a Constituição Federal consagra um complexo
mecanismo de controles recíprocos entre os três poderes, de forma que,
ao mesmo tempo, um Poder controle os demais e por eles seja controlado.
Esse mecanismo denomina-se teoria dos freios e contrapesos (WILLIAM
BONDY. The separation of governmental powers. In: History and theory in
the constitutions. New York: Columbia College, 1986; JJ. GOMES
CANOTILHO; VITAL MOREIRA. Os poderes do presidente da república.
Coimbra: Coimbra Editora, 1991; DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA
NETO. Interferências entre poderes do Estado (Fricções entre o executivo
e o legislativo na Constituição de 1988). Revista de Informação Legislativa,
Brasília: Senado Federal, ano 26, n° 103, p. 5, jul./set. 1989; JAVIER
GARCÍA ROCA. Separación de poderes y disposiciones del ejecutivo com
rango de ley: mayoria, minorías, controles. Cadernos de Direito
Constitucional e Ciência Política, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 7, n°
7, p. 7, abr./jun. 1999; JOSÉ PINTO ANTUNES. Da limitação dos poderes.

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1951. Tese (Cátedra) – Fadusp, São Paulo; ANNA CÂNDIDA DA CUNHA


FERRAZ. Conflito entre poderes: o poder congressual de sustar atos
normativos do poder executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p.
2021; FIDES OMMATI. Dos freios e contrapesos entre os Poderes. Revista
de Informação Legislativa, Brasília: Senado Federal, ano 14, n° 55, p. 55,
jul./set. 1977; JOSÉ GERALDO SOUZA JÚNIOR. Reflexões sobre o
princípio da separação de poderes: o “parti pris” de Montesquieu. Revista
de Informação Legislativa, Brasília: Senado Federal, ano 17, n° 68, p. 15,
out./dez. 1980; JOSÉ DE FARIAS TAVARES. A divisão de poderes e o
constitucionalismo brasileiro. Revista de Informação Legislativa, Brasília:
Senado Federal, ano 17, n° 65, p. 53, jan./mar. 1980).
Dentro do mecanismo de controles recíprocos constitucionalmente
previstos em uma República, a Constituição Federal estabelece várias
hipóteses, entre elas encontra-se, exatamente, o processo e julgamento do
Chefe do Poder Executivo por crime de responsabilidade – impeachment
pelo Poder Legislativo, que deverá sempre ser utilizada com precaução,
por tratar-se da mais devastadora arma à disposição do Poder Legislativa contra
o Chefe do Poder Executivo (conferir: MADISON, The federalist papers LXVI;
KURLAND, Philip B. The rise and fall of the doctrine of separation of
powers. Michigan Law Review. Ann Arbor, ano 3, v. 85, p. 605, dez. 1986.
Conferir, ainda: KURLAND, Philip B. The rise and fall of the doctrine of
separation of powers. Michigan Law Review. Ann Arbor, ano 3, v. 85, p.
605, dez. 1986; YODER, Edwin M. The presidency and the criminalization
of politics. Saint Louis University Law Journal. Saint Louis, ano 3, v. 44, p.
749-760, 1999; GRIESBACH, John M. Three levels of trouble: a comment
on Edwin Yoder’s. Saint Louis University Law Journal. Saint Louis, ano 3, v.
43, p. 761-777, 1999; CAVALCANTI, Themistocles Brandão. A constituição
federal comentada. Rio de Janeiro: Forense, 1948. v. 2, p. 263 ss.;
MAXIMILIANO, Carlos. Comentários à Constituição brasileira... Op. cit. p.
643 ss; BROSSARD, Paulo. O impeachment. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1992.
p. 118).
Diferentemente do princípio da absoluta irresponsabilidade,
inerente ao caráter vitalício do cargo real – The King can do no wrong –, as

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constituições presidencialistas, seguindo o modelo norte-americano,


preveem regras especiais de responsabilização do Presidente da
República, integralmente aplicáveis aos Governadores de Estado,
permitindo sua responsabilização, tanto por infrações político-
administrativas, quanto por infrações penais (ALBUQUERQUE, Roberto
de. A Revolução Francesa e o princípio da responsabilidade. Revista de
Informação Legislativa. Brasília, ano 26, no 104, p. 299, out./dez. 1989;
SIQUEIRA, Galdino. O impeachment no regime constitucional brasileiro. 1912.
Dissertação no concurso ao lugar de Professor Extraordinário Efetivo da
1a Seção da Faculdade de Direito de São Paulo; FRANCO, Ary Azevedo.
Em torno de impeachment. 1926. Tese (cátedra) – Fadusp, São Paulo;
FIGUEIREDO, Paulo de. Impeachment: sua necessidade no regime
presidencial. Revista de Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal, ano
2. no 6, p. 31, abr./jun. 1965).
O regime republicano, diferentemente do monárquico, não pode
ficar indefeso, desprovido de mecanismos que garantam a aplicabilidade
das constituições e as defendam, principalmente, dos governantes que
buscam ultrapassar os limites das funções conferidas a eles pelas normas
constitucionais (PIOUS, Richard M. Impeaching the president: the
intersection of constitutional and popular law. Saint Louis University Law
Journal. Saint Louis, ano 3, v. 43, p. 864, 1999; FITTS, Michael A. The
legalization of the presidency: a twenty-five year watergate retrospective.
Saint Louis University Law Journal. Saint Louis, ano 3, v. 44, p. 728, 1999).
Como, historicamente, salientado por HAMILTON, o princípio
republicano requer que o senso deliberado da comunidade governe a
conduta daqueles a quem ela confia a administração de seus assuntos
(The Federalist papers nº LXVIII).
RUI BARBOSA sempre advertiu para a grande importância da
previsão constitucional de responsabilização política do Chefe do
Executivo, afirmando que:

“o presidencialismo americano sem a responsabilidade


presidencial, porém, é a dictadura canonizada com a sagração
constitucional. Basta a eliminação deste correctivo, para que

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todo esse mecanismo apparente de freios e garantias se


converta em mentira. Todos os poderes do Estado então vão
sucessivamente desapparecendo no executivo, como nas
espiraes revoluteantes de um sorvedoiro” (BARBOSA, Rui.
Comentários à Constituição Federal Brasileira. São Paulo:
Saraiva, 1933. p. 435).

Nesse sentido, essa CORTE SUPREMA entende que o impeachment


concretiza

“o princípio republicano, exigindo dos agentes políticos


responsabilidade civil e política pelos atos que praticassem no
exercício do poder” (ADPF 378/DF, Rel. Min. EDSON FACHIN,
16, 17 e 18-12-2015).

Tal previsão, tanto no âmbito federal quanto estadual, torna-se


necessária quando se analisa que a eficácia da Constituição é dependente
de fatores alheios à mera vontade do legislador constituinte. Por esse
motivo, a Constituição Federal não pode ficar indefesa, desprovida de
mecanismos que garantam sua aplicabilidade e a defendam,
principalmente, dos governantes que buscam ultrapassar os limites das
funções conferidas a eles pelas normas constitucionais.
Dentro deste mecanismo de defesa, que corresponde ao já citado
sistema de “freios e contrapesos” existente em um sistema de Separação
de Poderes, o processo e julgamento por crime de responsabilidade são
estabelecidos pela Lei Federal 1.079/1950, em sua maior parte
recepcionada pela Constituição de 1988.
Em que pese minha posição doutrinária – no sentido de que, em
relação aos chamados crimes de responsabilidade, deveria ser a própria
Constituição de cada Estado a fixar competência para o processo e julgamento,
em face de sua autonomia em um Estado Federal (Constituição do Brasil
Interpretada. 9. ed. São Paulo, Atlas, p. 1.284), conforme ressaltei na ADI
5895/RR, de minha relatoria, é entendimento assentado do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL de que compete apenas à União (art. 22, I, c/c art.

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85, parágrafo único, da CF) legislar sobre a definição de crimes de


responsabilidade e sobre o processo e julgamento deles.
Nesse sentido, essa SUPREMA CORTE aprovou, por unanimidade, a
Súmula Vinculante 46 editada em 9 de abril de 2015, mediante a
conversão da antiga Súmula 722 da CORTE, aprovada em 26 de
novembro de 2003, que estabelecia o mesmo enunciado, porém sem
caráter vinculante, para, finalmente, pacificar a questão:

A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento são de competência legislativa privativa da União.

Com a edição da SV 46, o posicionamento adotado pelo SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL tornou-se vinculante no tocante à competência
privativa da União para legislar sobre a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo
e julgamento; ou seja, o verbete vinculante tanto se refere às normas de
direito material – a definição dos crimes de responsabilidade –, quanto às de
direito processual – o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento (ADI 1.890, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
julgado em 10/12/1998, DJ de 19/9/2003; ADI 1.628, Rel. Min. EROS
GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2006, DJ de 24/11/2006; ADI
2.220, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 16/11/2011,
DJe de 6/12/2011; e ADI 4.791, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal
Pleno, julgado em 12/2/2015, DJe de 23/4/2015).
O Ato 41/2020, editado pelo Presidente da Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro, portanto, deve estar plenamente de acordo com
a Constituição Federal e a citada legislação federal e, especificamente,
para a análise da presente reclamação, o ato deve ser compatível com as
normas previstas para a formação da Comissão Especial de impeachment.
Eis o ato impugnado:

Atos do Presidente ATO/E/GP/N° 41/2020


Dá cumprimento, nos termos da Súmula Vinculante n° 46,

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à Legislação federal sobre crime de responsabilidade.

O Presidente da ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições e
em estrito cumprimento à Súmula Vinculante n° 46 e às normas
da Lei federal n° 1.079/1950, RESOLVE:

Art. 1° Abrir prazo de quarenta e oito horas a cada um dos


Excelentíssimos Senhores Líderes a fim de que indiquem cada
qual um Membro da Comissão Especial competente para emitir
Parecer sobre a Denúncia por crime de responsabilidade contra
o Excelentíssimo Senhor Governador do Estado documentada
no processo ALERJ n° 5.328/2020.
Parágrafo único - Esgotado o prazo sem indicação de
Liderança, o Presidente da Assembleia Legislativa fará as
indicações necessárias, sempre respeitando, tanto quanto
possível, a proporcionalidade partidária.
Art. 2° Determinar a citação do Excelentíssimo Senhor
Governador do Estado para, querendo, defender-se, no prazo
de dez sessões, perante a Comissão Especial dos fatos
articulados na Denúncia.
Parágrafo único A citação deverá ser acompanhada do
inteiro teor do processo ALERJ n° 5.328/2020 e eventuais
apensos.
Art. 3° Depois que os Membros forem indicados, a
Comissão Especial terá quarenta e oito horas para reunir-se,
elegendo seu Presidente e seu Relator.
Art. 4° A Comissão Especial terá cinco sessões para emitir
Parecer sobre a admissibilidade ou não da Denúncia, contadas
do oferecimento da Defesa do Excelentíssimo Senhor
Governador do Estado ou do término do prazo mencionado no
caput do art. 2°.
Art. 5° O Parecer será lido em Plenário da Assembleia
Legislativa e publicado no Diário Oficial, sendo imediatamente
inserido na Ordem do Dia.
Art. 6° Os Excelentíssimos Senhores Deputados, no limite

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máximo de cinco por Partido, poderão discutir o Parecer por


uma hora, ressalvado ao Excelentíssimo Senhor Deputado
Relator da Comissão Especial o direito de responder a cada um.
Art. 7° Encerrada a discussão do Parecer, e submetido à
votação nominal, será a Denúncia, com os documentos que a
instruam, arquivada, se não for considerada objeto de
deliberação ou recebida, hipótese em que, publicado o
resultado, comunicar-se-á o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça para
a composição do Tribunal previsto no art. 78, § 3°, da Lei
federal n° 1.079/1950.
Art. 8° A Denúncia será arquivada se não for recebida até
o final do mandato do Excelentíssimo Senhor Governador do
Estado.
Art. 9° Este Ato Executivo entra em vigor na data de sua
publicação

O reclamante, entretanto, aponta duas ordens de nulidades do


referido ato, por flagrante desrespeito à legislação federal, no tocante a
formação da Comissão Especial:

(i) “desrespeitou por completo a regra da


proporcionalidade partidária, tendo em vista que cada partido
teve direito a indicar um membro. Com isso, partidos restaram
subrepresentados (aqueles com as maiores bancadas, mas com
apenas um representante na Comissão Especial), enquanto
outros, de bancadas pequenas, foram super-representados, com
artificial desvirtuamento das próprias forças políticas existentes
no Parlamento” (doc. 1, fl. 5); e
(ii) “a Comissão Especial de impeachment foi instituída pela
simples indicação de líderes partidários, sem qualquer posterior
votação (aberta, ainda que simbólica, veiculada no Diário
Oficial)”.

A questão essencial a ser analisada, portanto, diz respeito à


regularidade na composição da Comissão Especial, prevista

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expressamente no artigo 19 da Lei 1.079/1950:

Art. 19. Recebida a denúncia, será lida no expediente da sessão


seguinte e despachada a uma comissão especial eleita, da qual
participem, observada a respectiva proporção, representantes de todos
os partidos para opinar sobre a mesma.

Importante ressaltar, entretanto, que a recepção do referido artigo 19


da Lei 1.079/1950 deve ser interpretada nos exatos termos do artigo 58 da
Constituição Federal, conforme salientado pelo SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, no julgamento da ADPF 378 MC (Pleno, red. p/ o Acórdão
Min. ROBERTO BARROSO, j.17/12/2015), no sentido de que houve
delegação ao próprio Poder Legislativo – seja por meio de seu regimento
interno, seja pela próprio ato específico – para a constituição de suas
Comissões, nos seguintes termos:

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão


comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e
com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato
de que resultar sua criação.
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é
assegurada, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que
participam da respectiva Casa.

Dessa maneira, o artigo 58 da Constituição Federal assegurou a


possibilidade da Comissão Especial ser constituída “na forma e com as
atribuições previstas no ato de que resultar sua criação”, como ocorreu com a
edição do Atos do Presidente ATO/E/GP/N° 41/2020 e, nos termos de seu
§1º, indicou a necessidade de observar “tanto quanto possível, a
representação proporcional dos partidos ou blocos parlamentares”, no sentido de
espelhar a escolha popular de seus representantes parlamentares,
garantindo, por consequência, o pluralismo político e a democracia
representativa; e, principalmente, para garantir a participação da

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“maioria” e “minoria” do órgão legislativo.


Não me parece que o Ato do Presidente da Assembleia Legislativa
tenha desrespeitado o texto constitucional ou mesmo a legislação federal,
pois refletiu o consenso da Casa Parlamentar ao determinar que cada um
dos partidos políticos, por meio de sua respectiva liderança, indicasse um
representante, garantindo ampla participação da “maioria” e da “minoria”
na Comissão Especial. Basta verificar que não houve irresignação por
parte de nenhum dos partidos políticos representados na Assembleia
Legislativa.
Tratando-se de legítima opção política realizada pela Assembleia
Legislativa, com observância do consenso dos partidos políticos e nos
termos do artigo 58 da Constituição Federal, em proteção ao princípio
fundamental inserido no artigo 2º da Constituição, segundo o qual, são
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário, fica afastada a possibilidade de ingerência do
Poder Judiciário em escolhas eminentemente políticas, dentro das opções
constitucionais, conforme posicionamento pacificado no SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL (MS 34.099, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
Plenário, Sessão Virtual de 28/9/2018 a 4/10/2018; MS 33.558 AgR, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 21/3/2016; MS 34.578,
Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe-073, 10/4/2017; MS 26.062
AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJe de 4/4/2008; MS
30.672 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Pleno, DJe de
17/10/2011; MS 26.074, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, DJ de 13/9/2006;
MS 34.406, Rel. Min. EDSON FACHIN, Dje-139, 26/6/2017; MS 21.374, Rel.
Min. MOREIRA ALVES, Pleno, DJ de 2/10/1992).
Anoto, ainda, que, no julgamento da ADPF 378/MC, o SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL não analisou a possibilidade do Poder Legislativo,
por ato consensual e unânime dos partidos com representação no órgão
legislativo, garantir a participação de todos os partidos – mediante
indicação dos respectivos líderes – na Comissão Especial.
A discussão à época foi quanto a proporcionalidade na formação da
Comissão Especial “poder ser aferida em relação a blocos parlamentares”,

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conforme consta no item III, 3 da Ementa, tendo sido, por unanimidade,


reconhecido que “a proporcionalidade na formação da comissão especial pode
ser aferida em relação aos partidos e blocos partidários:

3. A PROPORCIONALIDADE NA FORMAÇÃO DA
COMISSÃO ESPECIAL PODE SER AFERIDA EM RELAÇÃO A
BLOCOS (ITEM D DO PEDIDO CAUTELAR) : O art. 19 da Lei
nº 1.079/1950, no ponto em que exige proporcionalidade na
Comissão Especial da Câmara dos Deputados com base na
participação dos partidos políticos, sem mencionar os blocos
parlamentares, foi superado pelo regime constitucional de 1988.
Este estabeleceu expressamente: (i) a possibilidade de se
assegurar a representatividade por bloco (art. 58, § 1º) e (ii) a
delegação da matéria ao Regimento Interno da Câmara (art. 58,
caput). A opção pela aferição da proporcionalidade por bloco foi
feita e vem sendo aplicada reiteradamente pela Câmara dos
Deputados na formação de suas diversas Comissões, tendo sido
seguida, inclusive, no caso Collor. Improcedência do pedido.

Por fim, importante observar que, em momento algum, essa


SUPREMA CORTE afirmou a necessidade de realização de eleições para a
escolha dos representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares
para a Comissão Especial, tendo reafirmado que o artigo 58, caput e §1º da
Constituição Federal estabelece a indicação pelos líderes como
mecanismo para sua composição, exatamente como ocorreu no
procedimento instaurado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A CORTE, expressamente, declarou que “a hipótese não é de eleição”,
somente deixando de invalidá-la desde que a eleição a ser realizada fosse
limitada “a ratificar ou não as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou
blocos”, como expressamente constou no item II. 4 da Ementa do
julgamento da ADPF 378/MC:

4. NÃO É POSSÍVEL A APRESENTAÇÃO DE


CANDIDATURAS OU CHAPAS AVULSAS PARA
FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL (CAUTELAR

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INCIDENTAL): É incompatível com o art. 58, caput e § 1º, da


Constituição que os representantes dos partidos políticos ou
blocos parlamentares deixem de ser indicados pelos líderes, na
forma do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para
serem escolhidos de fora para dentro, pelo Plenário, em
violação à autonomia partidária. Em rigor, portanto, a hipótese
não é de eleição. Para o rito de impeachment em curso, contudo,
não se considera inválida a realização de eleição pelo Plenário
da Câmara, desde que limitada, tal como ocorreu no caso
Collor, a ratificar ou não as indicações feitas pelos líderes dos
partidos ou blocos, isto é, sem abertura para candidaturas ou
chapas avulsas. Procedência do pedido.

Diante do exposto, com base no art. 161, parágrafo único, do


Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, JULGO
IMPROCEDENTE o pedido, mantendo a plena validade do art. 1º do Ato
41/2020, editado pelo Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro e regular a consequente composição da Comissão Especial,
ficando revogada a medida liminar deferida.
Comunique-se, com urgência, à Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro e ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
(Mandado de Segurança 0045844-70.2020.8.19.0000).
Publique-se.
Brasília, 28 de agosto de 2020.
Ministro Alexandre de Moraes
Relator
Documento assinado digitalmente

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