Parte 1 (Tyen) - Capitulo 1

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MAGIA ROUBADA

REGRA DO MILÊNIO LIVRO 1


Trudi Canavan
PARTE 1

TYEN

CAPITULO 1

Os dedos enrugados e inflexíveis do cadáver entregaram o pacote


relutantemente. Tirar o objeto das garras do morto parecia desrespeitoso, então
Tyen trabalhou lentamente, levantando delicadamente a mão quando uma unha
enegrecida presa na cobertura. Ele tocou o antigo morto tantas vezes que não o
adoecia ou o assustava agora. Sua carne desidratada há muito deixou de ser uma
fonte de doença transferível, e ele não acreditava em fantasmas.

Quando o pacote misterioso se soltou, Tyen se endireitou e sorriu em triunfo.


Ele não era tão implacável na coleta de artefatos antigos quanto seus colegas e
professor, mas não trazendo nada para casa dessas viagens de pesquisa faria com
que ele deixasse de se formar como arqueólogo-feiticeiro. Ele desejou sua pequena
chama movida a magia mais perto.

A cobertura do objeto, como o ocupante da tumba, estava seca e rígida


tendo, pela sua estimativa, permanecendo imóvel por seiscentos anos. Couro
grosso escurecido pelo tempo, não tinha marcas - nem adornos, nem pedras
preciosas ou metais. Quando ele tentou abri-lo, o embrulho se partiu e algo dentro
começou a deslizar para fora. Seu pulso acelerou quando ele pegou o objeto ...
… E seu coração afundou um pouco. Nenhum tesouro pousava em suas mãos.
Apenas um livro. Nem mesmo um livro incrustado de joias e adornado com ouro.

Não que um livro não tivesse valor histórico potencial, mas em comparação com
os tesouros brilhantes que os outros dois alunos do professor Kilraker tinham
desenterrado para a Academia, foi um achado decepcionante. Depois de todos os
meses de viagens, pesquisas, escavações e observação, ele tinha pouco a mostrar
de seu próprio trabalho. Ele tinha finalmente desenterrado uma tumba que ainda
não tinha sido saqueada por ladrões de túmulos e o que continha? Um caixão de
pedra simples, um cadáver sem adornos e um livro antigo.
Ainda assim, os velhos fósseis da Academia não se arrependeriam de
patrocinar sua jornada se o livro fosse significativo. Ele o examinou de perto.

Ao contrário da embalagem, a capa de couro parecia flexível. A


encadernação estava em bom estado. Se ele não tivesse quebrado a cobertura para
retirá-la, ele teria suposto a idade do livro em não mais do que cem anos ou mais.
Não tinha título ou texto na lombada. Talvez tivesse desgastado. Ele abriu.
Nenhuma palavra marcava a primeira página, então ele a virou. A próxima também
estava em branco e enquanto ele percorria o resto das páginas, ele viu que elas
também estavam.

Ele olhou sem acreditar. Por que alguém iria enterrar um livro em branco em
uma tumba, cuidadosamente embrulhada e colocada nas mãos do ocupante? Ele
olhou para o cadáver, mas não respondeu. Então algo chamou sua atenção de volta
ao livro, ainda aberto em uma das últimas páginas. Ele olhou mais de perto.

Uma marca apareceu.

Próximo a ele formou-se uma mancha escura, depois mais dezenas. Elas se
espalharam e se juntaram acima.

Olá,​ elas diziam. ​Meu nome é Vella.

Tyen pronunciou uma palavra que sua mãe teria ficado chocada em ouvir se
ela ainda estivesse viva. Alívio e admiração substituíram a decepção. O livro era
mágico. Embora a maioria dos livros de feitiçaria usasse magia em menor nível e de
maneiras frívolas, eram tão raros que a Academia sempre os levava para sua
coleção. Sua viagem não foi um desperdício.

Então, o que este livro faz? Por que o texto só apareceu quando foi aberto?
Por que ele tem um nome? Mais palavras se formaram na página.

Eu sempre tive um nome. Eu costumava ser uma pessoa. Uma vida,


respirando, uma mulher.

Tyen olhou para as palavras. Um arrepio percorreu sua espinha, mas ao


mesmo tempo ele sentiu uma emoção familiar. A magia às vezes pode ser
perturbadora. Ela era frequente inexplicável. E ele gostava que nem tudo sobre ela
fosse compreendido. Isso deixava espaço para novas descobertas. Razão pela qual
ele escolheu estudar feitiçaria ao lado da história. Em ambos os campos, existia a
oportunidade de fazer seu nome.
Ele nunca tinha ouvido falar de uma pessoa transformada em um livro antes.
Como isso é possível? Ele se perguntou.
Fui feito por um feiticeiro poderoso​, respondeu o texto. ​Ele pegou meu
conhecimento e carne e me transformou.

Sua pele formigou. O livro respondeu à pergunta que ele formou em sua
​ le perguntou.
mente.​ “Você quer dizer que essas páginas são feitas de sua carne?” e

Sim. Minha capa e páginas são minha pele. Minha encadernação é meu
cabelo, entrelaçados juntos e costurados com agulha, feita de meus ossos, e
cola dos meus tendões.

Ele estremeceu. ​“E você está consciente?”

Sim

“Você consegue ouvir meus pensamentos?

Sim, mas apenas quando você me toca. Quando não estou em contato
com um humano vivo, eu sou cega e surda. trancada na escuridão sem noção
do tempo passando. Sem dormir, sem estar morta. Os anos de minha vida
deslizando, perdidos.

Tyen fitou o livro. As palavras permaneciam, quase preenchendo a página


agora, escuras em contraste com o papel creme fino. Que era a pele dela…

Isto era grotesco e ainda… Todos os pergaminhos são feitos de pele.


Enquanto essas páginas eram pele humana, elas não tinham um toque diferente
das feitas de animais, Elas eram macias e prazerosas ao tocar. O livro não era
repulsivo de um jeito que corpos antigos e dissecados eram.

E isso era muito mais interessante. Conversando com o livro era como
conversar com a morte. Se o livro era tão antigo quanto a tumba, ele sabia sobre o
tempo antes de ser deixado lá. Tyen sorriu. Ele pode não ter achado jóias ou ouro
para ajudar a pagar a expedição, mas o livro poderia compensar isso com
informações históricas.

Mais palavras se formaram.

Contrário as aparências, eu não sou uma “coisa”.

Poderia ser o efeito da iluminação na página, mas as novas palavras


pareciam mais largas e escuras do que as anteriores. Tyen sentiu seu rosto
esquentar um pouco.
“Me desculpe, Vella. Isso foi rude de minha parte. Eu te garanto, eu não quis
te ofender. Não é todo dia que um homem se dirige a um livro, e eu não tenho total
certeza dos protocolos.”

Ela era uma mulher, ele lembrou-se. Ele deveria seguir as etiquetas que
cresceu ensinado a seguir. Embora falar com uma mulher poderia ser
diabolicamente complicado, mesmo seguindo as regras e etiquetas Poderia ser rude
começar sua parceria interrogando-a sobre seu passado. Regras de conversação
decretaram que ele só deveria perguntar após ela se sentir confortável.

“Então… É legal ser um livro?”

Quando estou em posse e sendo lida por alguém legal, é sim​. Ela
respondeu.

“E quando você não está? Eu posso ver que isso pode ser uma desvantagem
em sua condição, embora você deva ter antecipado isso antes de se tornar um
livro.”

Eu deveria, se eu tivesse o conhecimento antecipado do meu destino.

“Então você não escolheu se tornar um livro. O que o seu criador fez a
você?Isso foi uma punição?”

Não, apesar disso ser uma justiça natural por ser tão ambiciosa e
vaidosa. Eu procurei pela atenção dele, e recebi mais do que pretendia.

“Porque você procurou pela atenção dele?”

Ele era famoso. Eu queria impressioná-lo. Eu pensei que meus amigos


poderiam ficar com inveja.

“E por isso ele te transformou em livro. Que tipo de homem poderia ser tão
cruel?”

Ele era o feiticeiro mais poderoso de seu tempo, Roporien, O Sábio.

Tyen segurou sua respiração e um frio correu por sua espinha. ​“Roporien!
Mas ele morreu há mil anos atrás.”

Correto.

Então você é…
Pelo menos tão antiga quanto ele. Embora em meu tempo, não era
educado comentar a idade de uma mulher.

Ele sorriu. Ainda não é, e eu não acho que algum dia será. Eu peço
desculpas novamente.

Você é um jovem educado. Eu vou apreciar estar em sua posse.

“Você me quer como seu dono?” ​Tye subitamente se sentiu desconfortável.


Ele percebeu agora que pensar no livro como uma pessoa, e possuir essa pesssoa
era escravidão. uma prática imoral e não-civilizada que tem sido ilegal por pelo
menos cem anos.

Melhor que passar minha existência no esquecimento. Livros não


duram para sempre, nem mesmo os mágicos. Me mantenha. Faça uso de mim.
Eu consigo te dar a riqueza do conhecimento. Tudo o que peço é que me
segure o mais frequentemente possível e então posso gastar minha vida util
acordada e consciente.

“Eu não sei… O homem que te criou fez coisas terríveis, como você mesma
teve a experiência. Eu não quero seguir sua sombra.” ​Então, algo ocorreu a ele que
fez sua pele estremecer. “​Me perdoe por ser ignorante, mas o livro dele, ou
qualquer outra de suas ferramentas, poderiam ser projetada para propósitos
maléficos. Você é uma dessas ferramentas?”

Eu não fui projetada assim, mas isso não quer dizer que eu não possa
ser usada para esse fim. Uma ferramenta é tão má quanto a mão que a usa.

A familiaridade nos dizeres era surpreendente e inesperadamente


tranquilizadoras. Isso era um dos que o Professor Weldan gostava. A história antiga
sempre havia sido suspeita com coisas mágicas.

Como posso saber que você não está mentindo sobre ser má?

Eu não posso mentir.

Verdade? Mas se você estiver mentindo sobre não ser capaz de mentir?

Você vai ter que descobrir isso por si mesmo.

Tyen franziu enquanto considerava como poderia inventar um teste para ela,
então percebeu algo buzinando logo atrás de sua orelha. Ele se esquivou da
sensação, e então deu um suspiro de alívio quando viu que era Beetle, sua pequena
criação mecânica. Mais do que um brinquedo, ainda que não totalmente o que ele
poderia descrever como animal de estimação, ele se mostrava uma companhia
bastante útil durante as expedições.

Do tamanho de uma palma da mão, o insetóide mergulhou para pousar em


seu ombro, dobrando suas asas azul furta-cor e então apitou três vezes. O que era
um aviso para…

- Tyen
… Miko, seu amigo e colega estudante de arqueologia estava se
aproximando.

A voz ecoou na passagem curta que levava para o mundo fora da tumba.
Tyen murmurou um palavrão. Ele olhou para baixo para as páginas. Desculpe,
Vella. Eu tenho que ir. Os passos se aproximaram da porta da tumba. Sem tempo
para escorregá-la para sua bolsa, ele a escondeu debaixo de sua camisa onde ela
se estabeleceu contra o cós de sua calça. Ela era quente - o que era um pouco
perturbador agora que ele sabia que ela era uma coisa consciente criada de carne
humana - mas ele não tinha tempo para pensar nisso. Ele se virou para a porta a
tempo de ver Miko tropeçar em sua vista.

- Não pensou em trazer uma lâmpada? - ele perguntou.

- Sem tempo - o outro estudante engasgou - Kilraker me enviou para te buscar.


Os outros tem que voltar para o campo e empacotar. Estamos deixando
Mailand.

- Agora?

- Sim,​. Agora -​ Miko respondeu.

Tyen olhou para trás para a pequena tumba. Embora o Professor Kiralker
gostasse dessas viagens estrangeiras assim como caça ao tesouro, ele esperava
que os estudantes trouxessem evidências de que as jornadas também eram
educacionais. Copiando as decorações tênues nas paredes da tumba teriam dado a
eles algo para marcar. Ele pensou melancolicamente nos novos gravadores
instantâneos que alguns dos professores mais ricos e aventureiros autofinanciados
costumavam registrar seu trabalho. Eles estavam muito além de sua mesada.
Mesmo se não fossem, Kilraker não os levaria em expedições porque eram pesados
​e frágeis.

Pegando sua bolsa, Tyen abriu a aba.


- Beetle. Para dentro - O insetóide escorregou para baixo de seus braços para
dentro da bolsa. Tyen passou a alça por sua cabeça e ombros e enviou uma
chama pela passagem.

- Nós temos que nos apressar. - Miko disse, liderando o caminho - Os


habitantes locais ouviram sobre nossa escavação. Deve ter sido um dos
garotos que Kilraker pagou para entregar comida quem disse a ele. Um grupo
está vindo para o vale e eles estão soando seus chifres de batalha que
carregam.

- Eles não gostam que nós escavamos aqui? Ninguém me disse isso!

- Kilraker disse para não dizermos. Ele disse que você iria encontrar algo
impressionante, depois de todas as buscas que fez.

Eles alcançaram o buraco onde Tyen havia quebrado através da passagem e


se espremeu. Tyen seguiu, deixando a chama morrer a medida que subia para uma
brilhante tarde ensolarada. Suor seco o envolvia. Miko escalou os lados da vala.
Seguindo, Tyen olhou para atrás e apreciou seu trabalho. Não permaneceu nada na
tumba que os ladrões pudessem querer, mas ele não podia deixá-lo exposto a
vermes e se sentiu culpado por desenterrar uma tumba que os habitantes locais
não queria perturbada. Alcançando longe com sua mente, ele puxou a magia para si
e moveu as pedras e terra de cada lado de volta para a vala.

- O que você está fazendo? - Miko soou desesperado

- Preenchendo isso

- Nós não temos tempo! - Miko agarrou sua mão e o puxou para que ambos
olhassem abaixo para o vale. Ele apontou - Vê?

Os lados do vale eram penhascos quase verticais, e onde eram as faces


desintegrou-se com o tempo, pilhas de entulho se acumularam nas laterais para
formar encostas íngremes. Tyen e Miko estavam em cima de uma dessas.

No centro do vale, uma longa fila de pessoas estava se movendo, faces


inclinadas para procurar acima. Um braço levantou, apontou para Tyen e Miko. O
resto parou, com os punhos levantados.

Um calafrio percorreu Tyen, parte medo e parte culpa. Embora as pessoas


que habitavam os vales remotos de Mailand não fossem relacionadas a antiga raça
que enterrava os mortos em tumbas, ele sentiu que tais lugares de morte não
deveriam ser perturbados para que fantasmas não fossem acordados. Eles
deixaram isso claro quando Kilraker chegou, e para arqueologistas antes dele, mas
seus protestos nunca tinham sido mais que verbais e eles haviam indicado algumas
áreas que eram menos importantes que outras. Eles devem realmente estar
zangados, se Kiralker teve que diminuir o tempo da expedição.

Tyen abriu sua boca para perguntar, quando o chão abaixo dele explodiu.
Ambos jogaram seus braços para proteger seus rostos de poeira e pedra.

- Você consegue nos proteger? - Miko perguntou.

- Sim. Me de um momento… - Tyen reuniu mais mágica. Desta vez ele


paralisou o ar em torno deles. Muito do que os feiticeiros faziam era mover ou
paralizar. Aquecer e congelar era uma outra forma de mover e paralizar,
apenas um pouco mais interessante e focada. Assim que a poeira se
assentou além de seu escudo ele viu que os habitantes locais tinham se
reunido juntos atrás de uma mulher brilhante de vestido que servia como
sacerdotisa e feiticeira. Ele deu um passo em direção a eles.

- Você está louco?

- O que mais podemos fazer? Nós estamos presos aqui. Nós devemos falar
com eles. Explicar que eu não...

O chão explodiu novamente, desta vez mais perto.

- Eles não parecem em humor para conversar.

- Eles não machucariam dois filhos do Império de Leratian. - Tyen ponderou. -


Mailand lucra bastante sendo uma das colônias mais seguras.

- Você acha que os aldeões se importam? Eles não têm acesso a esse lucro. -
Miko bufou.

- Bem… Os Governadores irão puni-los.

- Eles não parecem preocupados agora. - Miko se virou para fitar a face do
penhasco atrás dele. - Eu não estou esperando para ver se eles estão
punidos. - Ele partiu ao longo da borda da encosta onde se encontrava com o
penhasco.

Tyen seguiu, se mantendo o mais próximo possível de Miko, então ele não
teve que estender seu escudo muito longe para cobrir os dois. Lançado olhares para
as pessoas abaixo, ele viu que eles estavam se apressando para o pé do penhasco,
mas os seixos soltos estavam retardando-os. A feiticeira andou através do centro,
seguindo-os. Ele esperava que isso significasse que, após usar usar magia, ela
precisava se mover da área que ela havia esgotado para acessar outra. Isso poderia
dizer que o alcance dela não era bom como o dele.

Ela parou e o ar tremeu atrás dela, um pulso que se moveu diante dele.
Percebendo que Miko havia se movido a frente, Tyen drenou mais magia e
propagou o escudo para protegê-lo.

O seixo explodiu em uma curta distância abaixo de seu pé. Tyen ignorou as
pedras e poeira saltando em seu escudo e se apressou para alcançar Miko. Seu
amigo alcançou uma fenda na face do penhasco. Firmando seus pés na área
rugosa da abertura estreita e agarrando as bordas, ele começou a subir. Tyen
inclinou sua cabeça para trás. Embora a abertura continuasse um longo caminho
acima do penhasco, ele não chegava ao topo. Em vez disso, em um ponto três
vezes sua altura, ele se abria para formar uma caverna estreita.

- Isso parece uma péssima idéia. - ele murmurou. Mesmo que ele escorregue e
quebre um membro, ou pior, uma vez na caverna, eles estariam encurralado.

- Essa é a nossa única alternativa. Eles irão nos pegar se descermos o


penhasco. - Miko disse com uma voz firme, sem tirar sua atenção da subida.
- Não olhe para cima, apenas suba. Também não olhe para baixo. Apenas
suba.

Embora a fenda seja quase vertical, as bordas eram esburacadas e


desniveladas, fornecendo muitos apoios para mãos e para os pés. Engolindo fundo,
Tyen girou sua bolsa para suas costas para que ele não quebrasse Beetle entre ele
e a parede. Ele colocou seus dedos e pontas dos pés na face rugosa e se lançou
para cima.

A princípio, era mais fácil do que ele esperava, mas logo seus dedos, braços
e pernas estavam cansadas e doloridas pela tensão. Eu deveria ter me exercitado
mais antes de vir para cá. Eu devia ter me juntado ao clube de esportes. ​Então, ele
sacudiu sua cabeça. ​Não, não existem exercícios que eu poderia ter fortalecido
meus músculos a não ser subir paredes de penhascos, e eu não ouvi falar de
nenhum clube que considere isso uma atividade recreativa.

O escudo atrás dele estremeceu no impacto súbito. Ele o alimentou com masi
magia, tentando não se imaginar esmagado como um inseto na parede do
penhasco. Miko estava certo em relação aos aldeões? Eles se atreveriam a
matá-lo? Ou a sacerdotisa simplesmente apostou que ele era um feiticeiro bom o
suficiente para deter seus ataques?
- Quase lá. - Miko chamou.
Ignorando a queimação em seus dedos e panturrilhas, Tyen olhou para cima
e viu Miko desaparecer para dentro da caverna. Não longe agora, ele disse a si
mesmo. Ele forçou seus membros a empurrar e puxar, carregando ele para cima em
direção a segurança de uma sombra escura. Olhando para cima novamente, ele viu
que estava a um corpo de distância, em seguida, perto o suficiente para que um
braço estendido pudesse alcançá-lo. Uma vibração atravessou a pedra sob sua mão
e lascas voaram da parede próxima. Ele encontrou outro ponto de apoio, empurrou
para cima, agarrou uma alça, puxou, sentiu o fria sombra da caverna em seu
rosto…

… Então, mãos agarram suas axilas e o puxou para cima.

Miko não parou de puxar até as pernas de Tyen estarem dentro da caverna.
Era tão estreito que os ombros de Tyen rasparam ao longo das paredes. Olhando
para baixo, ele viu que não existia nenhum chão na fenda. As paredes de cada lado
simplesmente eram tão próximas que formavam uma quebra que continuava abaixo
dele. Miko estava apoiando suas botas na parede de cada lado.

O “chão” não estava nivelado também. Ele inclinava para baixo à medida que
a caverna afundava. então a cabeça de Tyen agora estava mais baixa que suas
pernas. Ele sentiu o livro escorregar dentro de sua camisa e tentou agarrá-lo, mas
os braços de Miko atrapalharam. O livro caiu dentro da fenda. Ele xingou e
rapidamente criou uma chama. O livro tinha caído além de seu alcance, mesmo que
seus braços eram magros o suficiente para caber no vão.

Miko se soltou e se virou para examinar a caverna. Ignorando-o, Tyen se


agachou. Ele puxou sua bolsa para frente e a abriu.

- Beetle. - ele sibilou. A pequena máquina se mexeu saindo apressado para


seu braço. Tyen apontou para a fenda. - Busque o livro.

As asas de Beetle zumbiu em uma afirmativa, então seu corpo zumbiu


enquanto corria para baixo do braço de Tyen para a fenda. Ele teve que abrir suas
pernas para caber no espaço apertado onde o livro havia se alojado. Tyen deu um
suspiro de alívio quando suas pequenas pinças agarraram a lombada. Assim que
saiu, Tyen agarrou Vella e Beetle juntos e os empurrou para dentro de sua bolsa.

- Se apresse, o Professor está aqui.

Tyen se levantou. Miko olhou para cima e pressionou um dedo em seus


lábios. Um fraco, som ritmado ecoou no espaço.

- No carro de arl? - Tyen balançou sua cabeça - Espero que ele saiba que a
sacerdotisa está jogando pedra em nós ou será uma longa jornada para casa.
- Eu tenho certeza que ele está preparado para voar. - Miko se virou e
continuou ao longo da fenda. - Eu acho que podemos subir daqui. Venha
aqui e traga sua luz.

Levantando-se, Tyen caminhou até ele. Depois de Miko, a fenda estreitou de


novo, mas os escombros preencheram o espaço, proporcionando uma escada
irregular, íngreme e natural. Acima deles havia uma faixa do céu azul. Miko
começou a subir, mas os escombros começaram a se desalojar sob seu peso.

- Tão perto - ele disse, olhando para cima. - Você pode me levantar lá?

- Talvez … - Tyen se concentrou na atmosfera mágica. Ninguém tinha


usado magia na caverna por um longo tempo. Era uma suavidade dispersa e
estável, como uma piscina em um dia sem vento. E era abundante. Ele ainda não
tinha se acostumado com a magia muito mais forte e disponível fora dos vilarejos e
cidades. Ao contrário da metrópole, onde a magia estava aumentando
constantemente em direção a um uso mais importante, aqui o poder se agrupou e
girou em torno dele como uma névoa suave. Ele só encontrou Fuligem, o resíduo de
magia que permanecia em todos os lugares da cidade, em pequenas manchas que
se dissipavam rapidamente.

- Parece possível - disse Tyen. - Pronto?

Miko concordou.

Tyen respirou fundo. Ele reuniu magia e a usou para estabilizar o ar diante de
Miko em um quadrado pequeno e plano.

- Dê um passo à frente,- ele instruiu.

Miko obedeceu. Fortalecendo o quadrado para suportar o peso do jovem,


Tyen o moveu lentamente para cima. Jogando os braços para manter o equilíbrio,
Miko riu nervosamente.

- Deixe-me verificar se não há ninguém esperando lá antes de você me subir -


ele falou abaixo para Tyen. Depois de espiar pela abertura, ele sorriu. - Tudo
limpo.

Quando Miko saiu do quadrado, um grito veio da entrada da caverna.Tyen se virou


para ver um dos aldeões subindo dentro. Ele drenou mais magia para empurrar o
homem para fora, então hesitou. A queda lá fora pode matá-lo. Em vez disso, ele
criou outro escudo dentro da entrada. Olhando ao redor, ele sentiu as cicatrizes da
atmosfera mágica onde tinha se esgotado, mas mais magia já estava começando a
fluir para para repor. Ele demorou um pouco mais para formar outro quadrado,
esperando que os aldeões não fariam nada para prejudicar sua concentração,
pisou nele e moveu para cima.
Ele nunca gostou de se levantar, ou qualquer outra pessoa assim. Se ele perder o
foco ou ficar sem magia, ele nunca teria tempo para recriar o quadrado. Apesar de
ser possível mover uma pessoa em vez de estabilizar o ar em torno dela, uma falta
de concentração ou mover partes dela em diferentes taxas poderia causar
machucados ou até uma morte.

Alcançando o topo da fenda, Tyen emergiu na luz do Sol. Além da borda


do penhasco uma grande cápsula cheia de ar quente em forma de losango pairava -
o carro de ar. Ele saiu da praça para o chão e correu para se juntar a Miko na beira
do penhasco.

O carro de ar estava descendo em direção ao vale, a massa da cápsula


bloqueando o chassi pendurado abaixo dele e seus ocupantes da visão de Tyen.
Aldeões estavam se reunindo na base da fenda, alguns subindo a parede do
penhasco.A sacerdotisa estava a meio caminho da encosta da rocha, mas sua
atenção estava agora no carro de ar.

- Professor! - ele gritou, embora ele sabia que era improvável ser ouvido com o
barulho das hélices - Aqui!

A nave flutuou longe do penhasco. Abaixo, a sacerdotisa fez um gesto


dramático, simplesmente para se mostrar, uma vez que magia não requiria gestos
físicos extravagantes. Tyen prendeu sua respiração quando uma onda de ar subiu,
em seguida, solto-o quando a força se dissipou abruptamente abaixo do carro de ar
com um baque que ecoou pelo vale.

O carro de ar começou a subir. Logo Tyen poderia ver abaixo da capsula. O


chassi longo e estreito apareceu, em forma de canoa, com braços da hélice
estendendo-se para os lados e um leme em forma de leque na parte traseira. O
Professor Kilraker estava no banco do motorista na frente; seu servente de
meia-idade, Drem, e outro estudante. Neel, estavam agarrados ao corrimão de
corda e os suportes que prendiam o chassi à cápsula. O trio iria ver ele e Miko, se
ao menos eles se virassem e olhassem em sua direção. Ele gritou e acenou com os
braços, mas eles continuaram olhando para baixo.

- Faça uma luz, ou algo. - disse Miko


- Eles não vão vê-la. - disse Tyen, mas ele tomou ainda mais magia e formou
uma nova chama, fazendo-a mais larga e brilhante que a primeira na
esperança que ela poderia ser mais visível na luz solar. Para sua surpresa, o
professor olhou e viu eles.

- Sim! Aqui! - gritou Miko.

Kilraker virou o carro de ar de encontro a borda do penhasco, as hélices


girando e zumbindo. Bolsas e caixas tinham sido amarradas em cada extremidade
do chassi sugerindo que não houve tempo para arrumar a bagagem dentro da
cavidade. Por fim, o carro avançou pelo topo do penhasco em uma rajada de
cheiros familiares.

Tyen respirou o cheiro de tecido revestido de resina, madeira polida e


cachimbo e sorriu. Miko agarrou o corrimão de corda amarrado ao redor do chassi,
abaixou-se e subiu a bordo.

- Desculpe, menino - disse Kilraker. - A expedição acabou. Não adianta ficar


por perto quando os locais ficam assim. Preparem-se para algum ouvido
estourando. Estamos subindo.

Enquanto Tyen colocava sua mochila nas costas, pronto para subir a bordo,
ele pensou no que havia dentro. Ele não tinha nenhum tesouro para mostrar, mas
pelo menos tinha encontrado algo interessante. Abaixando-se sob a corda da grade,
ele acomodou-se no convés estreito, as pernas balançando para o lado. Miko
sentou-se ao lado dele. O carro de aviação começou a subir rapidamente, sua frente
girando lentamente para casa.

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