Projeto Indisciplina Detalhado
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I. ENQUADRAMENTO
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supõem diferentes intervenientes, diferentes espaços e diferentes níveis de intensidade. Exigem,
pois, diferentes formas e níveis de atuação.
As respostas tipicamente utilizadas na gestão da indisciplina são a exclusão e o castigo
(Sprick, Borgmeier & Nolet, 2002). Face ao aumento de problemas disciplinares, a maioria das
escolas tende a aumentar a monitorização e supervisão de forma a detetar futuras ocorrências
disciplinares, a redefinir e a reforçar regras e sanções, a ampliar o continuum de consequências
punitivas e a reforçar a consistência nas reações dos diferentes intervenientes em situações de
disrupção (Sugai & Horner, 2002). Paradoxalmente, a literatura é unânime quanto a ineficácia destas
medidas na redução dos problemas comportamentais (Sugai & Horner, 2002). Verifica-se que as
respostas reativas aos problemas disciplinares contribuem para a redução imediata e a curto prazo
dos problemas de comportamento. Contudo, a sua aplicação isolada é ineficaz na consolidação de
um clima de escola positivo que previna o desenvolvimento e a ocorrência de comportamentos
desajustados. A longo prazo, as ações reativas e remediativas promovem um falso sentido de
segurança, reforçam inadvertidamente os comportamentos anti-sociais tais como a agressão e o
vandalismo, contribuem para o aumento dos níveis de abandono escolar e reduzem as
oportunidades de aprendizagem (Skiba & Peterson, 2000; Sprick, Borgmeier & Nolet, 2002; Sugai &
Horner, 2002). A atitude reativa é, pois, insuficiente para criar ambientes seguros, com um clima de
escola positivo, e para maximizar a quantidade e a qualidade das oportunidades de aprendizagem.
Diversos autores defendem a adoção de modelos mais proativos de gestão da indisciplina, que
incidam em estratégias de prevenção (Amado, 2000; Amado & Freire, 2009; Sugai & Horner, 2002).
A literatura indica como fatores determinantes da eficácia das intervenções em contexto
escolar a prevenção, a definição de expetativas sociais positivas, o incentivo do comportamento
positivo, a adoção de consequências consistentes para os problemas de comportamento, o registo e
a monitorização de apoio à tomada de decisão, a liderança efetiva e o trabalho colaborativo.
Destaca-se a necessidade de se criar um sistema de apoio à promoção de comportamentos
positivos na escola, Positive Behavior Support (Sugai & Horner, 2002). Este modelo tem sido descrito
como uma ampla gama de estratégias sistémicas e individualizadas para a obtenção de resultados
sociais e de aprendizagem e, simultaneamente, para a prevenção de problemas de comportamento.
Advoga-se a necessidade de se consolidar um clima de escola positivo, orientado por uma visão,
objetivos, expectativas e linguagem comuns, pela promoção de experiências e rotinas partilhadas e
pela qualidade do serviço educativo (Sugai, 2014). Implica a integração de um conjunto de fatores
críticos, a adoção de uma perspetiva multissistemas e a consideração de um continuum de apoio aos
diferentes alunos (Sugai & Horner, 2002).
A intervenção organiza-se em 3 níveis distintos (cf. figura 1), considerando os diferentes
alunos que integram a escola e as especificidades relativas aos diferentes espaços da escola,
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designadamente a sala de aula, os corredores, a cantina, os espaços exteriores, entre outros. Com
efeito, distinguem-se ações de tipo universal, de tipo suplementar e de tipo intensivo. Pode dizer-se
que o objetivo último das intervenções é promover um clima de escola positivo, o que implica,
especificamente, maximizar o sucesso académico, ensinar competências sociais, modelar e
reconhecer o comportamento positivo e comunicar positivamente (Sugai, 2014). Os princípios
orientadores destas estratégias são a previsibilidade, a positividade, a segurança e a consistência.
Alguns dos princípios e formas de atuação referidos estão presentes em ações e atividades
desenvolvidas no agrupamento. Destacamos um conjunto de ações, que situamos ao nível da
intervenção universal, e que contribuem para maximizar o sucesso académico dos alunos (p.e., sala
de estudo, apoios educativos, Projeto Integrado de Melhoria de Escola, projetos/clubes). Além disso,
têm sido desenvolvidas outras ações que contribuem para o desenvolvimento de competências
pessoais e sociais relevantes (p.e., apadrinhamento dos alunos, Associação de Estudantes, Projeto
Melhor Turma, projetos/clubes). Conforme já referimos, a investigação recente tem demonstrado
que as intervenções de caráter preventivo e alargadas ao contexto escolar e comunitário são as mais
eficazes. As atividades promovidas pelo agrupamento têm constituído oportunidades para a
promoção do sucesso académico, de competências sociais e de cidadania e de saúde e bem-estar,
fatores identificados como protetores no desenvolvimento humano. Acresce a Oficina de Formação
“Indisciplina(s) na escola: Para uma prática integrada e sustentada de intervenção” como uma
atividade intencionalmente dirigida à gestão da indisciplina no agrupamento.
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Complementarmente a atividades que podemos situar ao nível da intervenção universal, o
agrupamento desenvolveu mecanismos de atuação face a comportamentos que põem em causa as
regras e o funcionamento da escola. Os alunos com ordem de saída de sala de aula são
encaminhados para a sala de estudo, o que permite uma monitorização e análise das situações de
indisciplina, podendo contribuir para a identificação de casos específicos e para uma visão macro
necessária à intervenção no fenómeno.
Além disso, existem também respostas de intervenção intensiva junto de casos específicos
como sejam a atuação em colaboração com o Serviço de Psicologia e Orientação do agrupamento.
Saliente-se, contudo, que os alunos reincidentes apresentam tendencialmente um percurso
desenvolvimental onde dominam fatores de risco (p.e., insucesso escolar repetido, desinteresse e
desmotivação, delinquência, patologias sociofamiliares), com problemáticas psicológicas e/ou
psiquiátricas associadas. Nestes casos, verifica-se um historial de acompanhamentos diversos com a
consequente adoção de medidas educativas e sociais (apoios educativos, formação diferenciada,
apoio psicológico/pedopsiquiátrico, apoio social). Apesar da sinalização precoce destas situações, as
intervenções tendem a ser pouco eficazes e os resultados escassos.
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ordem de saída de sala de aula por período letivo, em função do ano de escolaridade (2.º e 3.º
ciclos).
Número de ocorrências
Ano de escolaridade
1.º Período 2.º período 3.º período
5.º ano 0 0 7
6.º ano 0 1 2
7.º ano 33 51 52
8.º ano 0 5 8
9.º ano 1 19 7
CVB 3 1 2
CVS 7 2 -
TOTAL 44 79 78
Legenda: CVB: curso vocacional de 3.º CEB; CVS: curso vocacional de ensino secundário
Os dados recolhidos justificam uma intervenção que contribua para uma visão e atuação
partilhadas que garantam um clima de escola positivo. Destacam-se as seguintes necessidades: (i)
Manter as atividades de intervenção universal referidas e estimular a participação dos alunos nas
mesmas; (ii) Garantir a atuação concertada de todos os intervenientes educativos no sentido de um
ambiente previsível, positivo, seguro e consistente; (iii) Aprofundar mecanismos de atuação
relativamente aos alunos reincidentes e não reincidentes, através de uma ação integrada,
sistemática e articulada da equipa; (iv) Desenvolver formas de resposta coerentes e ajustadas aos
alunos encaminhados para a sala de estudo, após ordem de saída de sala de aula.
III. OBJETIVOS
Os objetivos gerais que se pretendem alcançar prendem-se com a melhoria do clima
psicossocial da escola e a consequente redução das ocorrências disciplinares dentro e fora da sala de
aula.
Os objetivos específicos são promover a atuação concertada de todos os intervenientes
educativos no sentido de garantir um ambiente previsível, positivo, seguro e consistente; estimular a
participação, envolvimento e responsabilidade dos alunos relativamente ao clima de escola; e
desenvolver uma resposta integrada, sistemática e articulada para as situações de reincidência em
termos de problemas de comportamento.
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Promover e reforçar os comportamentos positivos dos alunos (número de alunos alvo de
reforços por turma)
V. ATIVIDADES A DESENVOLVER
As atividades que se propõem assentam numa intervenção multinível e multissistémica,
conforme proposto pelo modelo que sustenta o projeto (Positive Behavior Support; Sugai & Horner,
2002).
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Visa melhorar o ambiente da cantina escolar, através da criação de equipas
Crescer bem comer responsáveis por turma, com um chefe de mesa. Implica a formação e
melhor orientação das equipas, reorganização do espaço da cantina e embelezamento
do espaço.
Para além das ações acima definidas propõe-se ainda um conjunto de atividades que visam a
promoção da participação, envolvimento e responsabilidade dos alunos na promoção de um
ambiente escolar positivo. Propõe-se a reorganização dos momentos de análise e reflexão acerca do
ambiente de escola/turma, designadamente das assembleias de representantes de turma e as
assembleias de turma.
Neste sentido, a equipa deverá sugerir um conjunto integrado e individualizado de atividades
a desenvolver em assembleia de turma, que tenham em vista o reforço de comportamentos
positivos. As atividades realizadas, as conclusões e as propostas obtidas em assembleia de turma
deverão “ter voz” em assembleias de representantes de turma, a realizar duas vezes por período. As
conclusões e propostas finais dos alunos deverão ser apresentadas e analisadas pela direção e
conselho pedagógico.
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Considerando a necessidade de continuar a promover momentos de reflexão conjunta acerca
de temáticas implicadas na prevenção e resolução de problemas no âmbito da indisciplina e na
melhoria da qualidade das aprendizagens, propõe-se a realização de uma segunda edição da Oficina
de Formação “Indisciplina(s) na escola: para uma prática integrada e sustentada de intervenção”.
VI. INTERVENIENTES
O projeto implica a constituição de uma equipa de trabalho que possa proceder ao
acompanhamento e monitorização das tarefas definidas. A equipa deve ser constituída por um
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psicólogo, professores de todos os níveis e ciclos de ensino do agrupamento, um representante dos
assistentes operacionais e, sempre que se revele necessário, um representante dos encarregados de
educação e dos alunos.
Esta equipa deverá reunir regularmente para efeitos de avaliação do processo de
implementação das ações bem como para a elaboração de lembretes de atuação. É fundamental que
os elementos da equipa tenham uma hora em comum semanal para a realização de reuniões
necessárias à concretização do projeto.
Um dos elementos da equipa assume funções de coordenação. Cabem-lhe as seguintes
funções: (i) formação de professores; (ii) apoio e acompanhamento de projetos; (iii) monitorização
regular; (iv) articulação com outros serviços; (v) avaliação do serviço; (vi) divulgação de resultados.
Os restantes elementos da equipa têm as seguintes funções: (i) colaboração na formação de
docentes; (ii) apoio e acompanhamento de projetos; (iii) reavaliação periódica das atividade.
A organização, implementação e monitorização do projeto implica a elaboração de materiais
específicos ao funcionamento das atividades previstas, que deverá ser assegurado pela equipa em
colaboração com a comunidade escolar.
VII. MONITORIZAÇÃO
O projeto implica a organização de mecanismos de avaliação e monitorização dos progressos,
dos resultados finais e das atividades desenvolvidas. Os dados de monitorização serão analisados
mensalmente em reunião de Conselho Pedagógico e servirão de base à tomada de decisões.
A avaliação das atividades desenvolvidas pressupõe o recurso a instrumentos de avaliação
diversos, como grelhas de registo e atas de reuniões.
A avaliação final do projeto implica a realização de uma análise SWOT, que servirá de base à
elaboração de relatórios trimestrais e finais de execução do projeto.
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Sprick, R. S., Borgmeier, C., & Nolet, V. (2002). Prevention and management of behavior problems in
secondary schools. In M. A. Shinn, H. M. Walker & G. Stoner (Eds.), Interventions for
academic and behavior problems II: Preventive and remedial approaches (pp.373-401).
Bethesda, MD: National Association of School Psychologists.
Sugai, G. (2014). MTSS: Connecting school climate, behavior support & academic success. DMSELPA,
Victorville.
Sugai, G. & Horner, R. (2002). The evolution of discipline practices: School-wide positive behavior
supports. Child and Family Behavior Therapy, 24(1/2), 23-50.
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