Relatório Mesa Redonda
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A primeira palestra teve como intuito mostrar os aspectos históricos no que diz respeito à
construção da psicologia enquanto ciência e prática e, também, como aspectos sócio-
históricos influenciam nos efeitos que alcançam os sujeitos mais ou menos vulneráveis.
Nesse sentido, o docente Alcides nos apresenta eventos de impacto no desenvolvimento da
psicologia, apresentando, já de início, a óptica de que a psicologia não existe enquanto
unificada, mas, na verdade, existe enquanto um contexto plural de investigação, produção de
saberes e práticas. Portanto, não existe a Psicologia, mas as Psicologias que, segundo suas
construções históricas, foram aprimoradas mediante diversos contextos de pesquisa, partindo
desde a filosofia, da fisiologia, da genética e alcançando instâncias diversas de campos por
onde se realizaram as pesquisas. No que se refere à história da psicologia, forneceu-nos duas
abordagens: Uma internalista, que se debruçava sobre a história intelectual da disciplina
enquanto acadêmica, dos autores que a forjaram, dos métodos de pesquisa e das práticas que
surgiram como produto. A abordagem externalista, por sua vez, inclina-se para o
determinismo social e político, vincula-se aos aspectos históricos e as relações de força que
neles se tencionaram.
A psicologia, durante seu desenvolvimento, atravessou momentos obscuros onde a pesquisa
se inclinou para fins não tão honrosos, tal como a tentativa de validação da eugenia.
Na década de 60 os primeiros cursos de psicologia e laboratórios de pesquisa foram
inaugurados, mas, no entanto, ainda com produção e disseminação assistida pela ditadura
após o golpe militar em 64. Na década de 70, por sua vez, houve um movimento de crítica à
psicologia importada dos Estados Unidos e, aqui já é necessário fazer um link com a fala do
docente Alexandre onde vem a criticar a manutenção das referências estrangeiras quando, em
território nacional ou vizinho, há produção científica de alto nível.
Já na década de 80, a partir da mobilidade social, conquistamos a criação da ABRAPS,
associação brasileira de psicologia social. Nesse contexto, a psicologia havia se expandido
enquanto ciência e, principalmente, como campo de atuação, atingindo a assistência social e
comunitária.
Na década de 90, com o retorno da democracia representativa, o processo de participação
popular oferece impulso às pesquisas, elevando a disposição dos cursos de pós graduação.
Faço um comentário aqui, referenciando a fala da professora Sonia, na mesa II: a psicologia
enquanto ciência foi conquistada (digo conquistada pois oferece grandes benefícios) mediante
movimento social, isto é, através das intenções, das reivindicações, das procuras por espaço
de atuação e de direitos, das associações organizadas, dos centros acadêmicos, dos votos em
representantes que oferecem auxílio à educação, e de outras formas diversas, que
conquistamos e elevamos a psicologia como ciência e prática.
O docente Alexandre toca em um ponto crucial a ser analisado quando olhamos a perspectiva
histórica da Psicologia. A validação da violência da colonização mediou-se pela
desqualificação do outro como sujeito e como existente. O eurocentrismo da época restringia
a análise do outro mediante uma identificação narcísica, isto é, só é sujeito aquele que se
assemelha a “mim” enquanto cor, cultura, raça, descendência ou costume. Nesse sentido, só
poderiam exercer sua capacidade racional, isto é, exercer sua cidadania livre e autônoma, os
europeus.
Como primeira palestrante a Dra Alejandra nos propõe que os saberes que devem ser
produzidos em tempos de crise são os da diversidade, isto é, saberes e práticas que
proporcionem existências, no plural! Nesse sentido, apresentando como arcabouço teórico a
Escola de Frankfurt, a pesquisa visa, desde aquela época, impedir a instalação do fascismo na
medida em que fornece mecanismos de existência, de liberdade nos mais amplos sentidos, na
política, na expressão da sexualidade, na arte, entre outros.
A professora sônia, por sua vez, fornece-nos a crítica que o boicote do governo às pesquisas
do campo social e linguístico são expressões de que as pesquisas e essas áreas de
conhecimento fornecem incômodo na medida em que expõe as consequências de um regime
autoritário, que promove a existência de políticas públicas que alcancem os menos
privilegiados e que, sobretudo, fornece resistência às mais variadas estruturas de repressão.
Tal resistência se efetua tanto no campo macropolítico, através das instituições, conselhos,
movimentos sociais, centros acadêmicos, quanto no campo micropolítico onde, mesmo
oferecendo incômodo, é necessário a militância entre nossos parentes, amigos e clientes para
que nenhuma forma de autoritarismo e discriminação se perpetue.
É referenciado também, de maneira implícita, o campo da ética. Nós, nesses tempos de
pandemia, temos vidas de outros nas nossas mãos ao passo que, se não executamos a higiene
correta com álcool em gel ou sabão e água, podemos contribuir negativamente com o
contágio do vírus.
No que se refere à pesquisa ação participante, somos convocados a fazer pesquisa no
cotidiano, ou seja, essas novas experiências nunca vividas anteriormente devido a pandemia,
buscamos a cada dia melhores estratégias de higiene, de mobilidade urbana, de aquisição de
fontes confiáveis de informação, em especial por precaução das fake news, etc.
A mesa começou com a Fala da Professora Alejandra, nos dando um pouco de sua psicologia
através da arte. Mencionando também o trabalho artístico com populações em situação de rua
como medida socioeducativa. Como exemplos da conexão arte- psicologia temos a arte com
população de rua, rap, hip-hop, grafite, etc., como formas de medidas socioeducativas com
adolescente. Seguindo essa forma, tem diferentes coletivos que vê na arte uma forma de
conectar e relacionar universidade com a periferia, com modus operandis diferente do que
trabalhado a extensão com a população. De um jeito que as pessoas de um cotidiano de rua,
menos privilegiadas, conseguem se adaptar de uma forma mais natural. Trabalhar com a arte,
é transformar os indivíduos e a interação entre eles, não só pelo falar, mas por expressões
corporais e criativas. Sendo essas outras formas de fala. O que nos fazer pensar, até onde
podemos chegar com a psicologia para alcançar essas múltiplas formas de fala e o quanto que
os psicólogos estão dispostos a se modelar para poder momento expressões e criações. Uma
frase da Alejandra foi, "O Ciranda independe da Universidade, mas ele se fortalece com ela".
Podendo entender o quão é diferenciado o conhecimento aplicado nas mais diversas áreas e
de forma que os integrantes consigam entender e executar, de um jeito que transforme a vida
e que independentemente aonde estejam, a potência está sempre nelas mesmas.
Após a fala da Alejandra, foi a vez da professora Ananda Kenney. Nos mostrando uma
perspectiva da saúde mental e arte, discutindo a Psicanalise no enredo do sofrimento psi. Ela
comenta que para entender sobre o psiquismo com conceitos essenciais e fundamentais, é
possível se fazer uso das mitologias. Ananda fala também da Psiquiatra Nise da Silveira, que
em meados de 1950, usa pinturas e modelagem como meio de acesso ao inconsciente dos
pacientes. Com essas pinturas, Nise constrói um Museu de Imagens do Inconsciente. Nesse
espaço foi possível encontrar, através do olhar do cotidiano de Nise, uma diversidade de
sujeitos que utilizando pincéis para expressar o que era oprimido através de fármacos. E de
tão impactante que foi esse espaço, os pacientes continuaram indo e se expressando, mesmo
após a morte da médica. Mostrando a possibilidade de conciliar a arte com saúde mental.
Por último, mas não menos importante, tem a vez da estudante Mariana Aniz, do quinto ano
de psicologia da UEL, que nos conta sobre suas experiências durante os estágios. Ela nos
apresenta como funciona o centro pop, que é voltado para a população de rua, e como é
trabalhar com a psicologia pensando mais em fenômenos sociais do que a clássica com
atendimento individual. E para trabalhar com essas pessoas de uma maneira que as
potencializasse e as fizessem protagonista, foi a arte, e nesse caso, o teatro. Nos dando, mais
uma vez, a ideia de transformação. A Palestrante relata que as potências criativas vieram da
transformação das situações de opressões que foram vivenciadas.
No dia 25 de agosto de 2020, foi a quarta e última mesa. Já iniciando com um alerta que faça
um engajamento e atenda às necessidades da vida social, e com a indicação do livro “ Normal
Patológico, que se mostra com relevância para tais engajamentos. No livro, o autor, que
também é médico e filosofo, difere o normal e saúde, sendo de forma mais ampla o normal e
que tanto a saúde e a doença são consideradas, por ele, normais. Considerando os
atravessamentos de uma época, a normalidade vai se moldando de forma histórica e social.
Com o atual momento em que estamos vivenciando, a mesa aponta a greve feito pelos
entregadores de aplicativos, expondo a condições trabalho que os mesmos estavam passando.
Uma greve que teve um peso grande por causa da pandemia, visto que muitos usuários dos
apps não podiam sair e efetuar a suas compras presencialmente.
Outro ponto que a mesa nos mostra é que quais profissões serão protegidas e quais serão
expostas aos riscos de contaminação. Em um momento marcado pelo negacionismo do risco,
o trabalhador não suporta ideia de uma parada. Já não possível ficar parado, sem trabalhar, de
tão fixado que o trabalho imaterial está na vida das pessoas. Em contraste estão aquele que
não tiveram a possibilidade de escolher se parassem ou não, simplesmente tiveram que
continuar. Os trabalhadores considerados essenciais para a manutenção da sociedade. O
negacionismo, pode nos levar ao adoecimento físico e mental, pois é uma defesa psíquica que
mostra o modo de vida envolvida com trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS