Dewey
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Samuel Mendonça
PUC Campinas
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RESUMO: O conceito de experiência é nuclear para se discutir a relação entre teoria e prática,
assim, esse artigo discute os conceitos de experiência e de educação na perspectiva de John
Dewey, sem esgotar, evidentemente, estes que podem ser considerados eixos fundantes de sua
filosofia da educação. Sendo assim, a pergunta que melhor exprime o trabalho é: como a relação
entre teoria e prática se dá no pensamento de John Dewey? O trabalho foi realizado, do ponto de
vista do método, por meio de revisão bibliográfica, com destaque específico para a obra
Experiência e Educação do teórico norte americano. No contexto do pensamento deweyano,
justifica-se a perspectiva pragmatista como referencial teórico, adotando Charles Pierce e
William James como autores. Em que pese a preocupação de John Dewey com a experiência
docente e sua influência na tentativa de uma ressignificação da relação entre o educador e o
educando, visando à construção de uma nova forma de educação, o legado deixado por Dewey
se mostra bastante atual, mesmo suas obras datando de mais de setenta anos.
ABSTRACT: The concept of experience is core to discussing the relationship between theory
and practice, then, this article discusses experience and education conceptions in the John
Dewey meaning not intending thus exhaust the possibilities discussions of the topic. Thus, the
question that best summarizes the work is how does the relationship between theory and
practice take place in John Dewey’s thinking? With regard to the methodology to bibliographic
review, which means that the search will be made from documentary research, dealing with
explicit texts in the references, especially highlighting the work of John Dewey, Experience and
Education. Since it is the development of Dewey's thought, the theoretical framework will be
pragmatism, based on Charles Pierce and William James. Despite his preoccupation with
teaching experience and its influence on attempt at a redefinition of the relationship between the
educator and learner, seeking to construct a new form of education, the legacy of Dewey shows
enough current, even his works dating more than seventy years.
Introdução
1
É preciso reconhecer o trabalho de educadores brasileiros que estudam o pensamento de John Dewey de
forma sistemática, com publicações relevantes sobre o autor estadunidense. Marcus Vinícius da Cunha da
Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, Pedro Pagni (2007) da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Pesquisa Filho, campus de Marília, Leoni Maria Padilha Henning (2015) da
Universidade Estadual de Londrina e Claudio Almir Dalbosco (2017) da Universidade Passo Fundo. Cabe
observar que esses pesquisadores da filosofia da educação são conhecidos por suas publicações e por
atuação no GT Filosofia da Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação, ANPEd. Não se trata, neste ensaio, de recuperar escritos desses autores, mas, reconhecê-los
como referências em textos sobre John Dewey é, no mínimo, questão de honestidade intelectual. A obra
Desafios para a Educação Democrática e Pública de Qualidade no Brasil de Nobre e Mendonça (2016),
com prefácio de Pedro Pagni, atualiza o pensamento de Anísio Teixeira demonstrando a importância do
pensamento de John Dewey para a educação brasileira.
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2013, p.16)
2
Na perspectiva de Adorno, “emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade. Mas a
realidade sempre é simultaneamente uma comprovação da realidade, e esta envolve continuamente um
movimento de adaptação.” (ADORNO, 1995, p. 143). O mesmo autor continua seu raciocínio
asseverando que “a educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não
preparasse os homens para se orientarem no mundo. Porém, ela seria igualmente questionável se ficasse
nisto, produzindo nada além de well adjusted people, pessoas bem ajustadas, em consequência do que a
situação existente se impõe precisamente no que tem de pior. Nestes termos, desde o início existe no
conceito de educação para a consciência e para a racionalidade uma ambiguidade. Talvez não seja
possível superá-la no existente, mas certamente não podemos nos desviar dela.” (ADORNO, 1995, p.143)
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Cabe enfatizar que são as palavras de Dewey que autorizam a reflexão sobre o
sentido da intenção pedagógica que aponta para a dimensão filosófica. Em se tratando
da filosofia da educação, Dewey (2007) a define como a teoria generalizada da
educação. Ao classificar a filosofia como um modo de pensar, que, como todo
raciocínio, tem sua origem naquilo que é incerto no conteúdo da experiência, visando
localizar a natureza da perplexidade e elaborar hipóteses para que sua explicação seja
testada na ação. O pensamento filosófico se diferencia pelo fato de as incertezas com
que lida serem encontradas nos diversos objetivos e condições sociais, consistindo em
um conflito de interesses organizados e reivindicações institucionais. Como a educação
é o processo que permite que a necessária transformação seja alcançada e não
permaneça como mera hipótese acerca do que é desejável, chega-se a uma justificação
para o enunciado de que a filosofia é a teoria da educação como prática deliberadamente
conduzida. A filosofia da educação, compreendida como teoria generalizada da
educação, cuida justamente da compreensão filosófica da educação e é necessária à
compreensão do educador, em quaisquer níveis de ensino.
Passa-se a explorar o contexto de John Dewey e aspectos da obra Experiência e
Educação de John Dewey.
3
Um levantamento realizado em junho de 2014 revelou 181 teses e dissertações defendidas cuja temática
trate de John Dewey (BIBLIOTECA DIGITAL BRASILEIRA DE TESES E DISSERTAÇÕES, 2014).
Ademais, em análise quantitativa de artigos científicos, no mesmo período, no Scielo, 59 trabalhos foram
publicados entre o ano de 2000 e 2014, em revistas da área de educação no Brasil (SCIELO, 2014).
Destaca-se ainda a importante comentadora de John Dewey, Lyinda Stone, membro da John Dewey
Society, como referência internacional legitimada por pares.
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Dewey foi um pensador tão visionário que mesmo hoje, mais de sessenta anos
após sua morte, muitas de suas ideias continuam a causar resistências entre os
4
Em Dewey, a afirmação da democracia é a proposição de um programa de luta, é um projeto cujo
propósito é desencadear atitudes de mudança, transformação, movimento (CUNHA, 2001).
5
Em um dos esboços mais embrionários a respeito do pragmatismo, Peirce, criticando o pensamento
racional cartesiano, assevera que “[...] o mecanismo da mente só pode transformar conhecimento, mas
nunca originá-lo, a menos que alimentado com factos da observação” (PEIRCE, 1975, p.27). Ademais,
ainda em relação ao pragmatismo, na perspectiva do conceito de William James: “O termo deriva da
mesma palavra grega prágma, que significa ação, do qual vêm as nossas palavras prática e prático. Foi
introduzida pela primeira vez em filosofia por Charles Peirce, em 1878, em um artigo intitulado Como
tornar claras nossas ideias, em Popular Science Monthly de janeiro daquele ano. Peirce, após salientar
que nossas crenças são, realmente, regras de ação, dizia que, para desenvolver o significado de um
pensamento, necessitamos apenas determinar que conduta está apta a produzir: aquilo é para nós o seu
único significado, e o fato tangível na raiz de todas as nossas distinções de pensamentos, embora sutil, é
que não há nenhuma que seja tão fina ao ponto de não resultar em alguma coisa que não seja senão uma
diferença possível de prática. Para atingir uma clareza perfeita em nossos pensamentos em relação a um
objeto, pois, precisamos apenas considerar quais os efeitos concebíveis de natureza prática que o objeto
pode envolver – que sensações devemos esperar daí, e que reações devemos preparar. Nossa concepção
desses efeitos, seja imediata, seja remota, é então para nós, o todo de nossa concepção do objeto, na
medida em que essa concepção tenha afinal uma significação positiva.” (JAMES, 1967, p.40)
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educadores mais tradicionais. Por outro lado, determinados aspectos de sua obra se
mostram bastante claros para outros leitores6. E, diante deste paradoxo, faz-se
necessária a retomada de sua obra, cabendo a seus leitores utilizá-lo como ferramenta
crítica, uma vez que seus escritos, sobretudo o texto Experiência e Educação, constitui
uma ponte entre o pensamento abstrato da filosofia da educação e a prática, que remete
ao título deste texto: Teoria e prática no pensamento educacional de John Dewey.
Em Experiência e Educação, John Dewey trata da nova escola, relativa à
educação progressiva, numa dicotomia à chamada escola tradicional. No primeiro
capítulo, o autor apresenta as principais características que deveriam nortear este novo
modelo educativo, comparando-o com o velho modelo escolar e apontando suas
principais diferenças. De acordo com Dewey (2011), o principal objetivo da educação
tradicional é preparar o jovem para futuras responsabilidades, enquanto que a educação
progressiva enfatiza a individualidade como leitmotiv da formação das pessoas. Assim,
o educador progressista está atento a cada educando, observando suas características na
tentativa de aperfeiçoar suas qualidades. Ademais, a formação crítica é outra grande
característica desta nova educação7. A preparação para a discussão entre teoria e prática,
objeto do artigo, é clara já nesta construção do primeiro capítulo da referida obra.
No segundo capítulo, o autor defende a importância da experiência no processo
de educação. Contudo, Dewey (2011) adverte que tudo depende da qualidade das
experiências, algumas experiências são deseducativas, uma vez que impedem ou
limitam as possibilidades para novas experiências. Em que consiste, pois, a experiência
para o filósofo? Não se trata de qualquer experiência por ele valorizada, mas,
justamente, aquela segundo a qual modifica o status dos protagonistas envolvidos.
Pode-se chamar, portanto, de experiência significativa. Castigos e exposições vexatórias
6
A respeito das escolas de hoje cita-se Lynda Stone: “Even a quick look at the tropic connection of
democracy and schools, and indeed of actual presence today, reveals a somber picture. It is one in which
seemingly less and less democracy exists now than in the past. For example, consider how much time is
spent on achievement testing about which teachers and their students have little or no say. Consider
conventional school governance, hierarchically if not autocratically ordered, in the hands of ham-strung
administrators with little representation for those not in charge. Consider the diminished role of student
government and indeed the virtual absence of youth autonomy and choice over daily lives in schools.
Consider the all-too-familiar recognition that some few are members of and attend school board meetings,
and most parents and community members do not participate. If schools are places where democracy
ought to matter, as training grounds for and exemplars of larger and more comprehensive democratic
societies, one wonders how such societies flourish at all.” (STONE, 2007)
7
De acordo com Dewey (2011), a nova educação não deve ignorar os problemas que podem surgir a
partir de sua filosofia. Ao passo que a educação tradicional se baseia na transmissão dos conhecimentos
do passado, cita o autor, “temos que investigar como o fato de conhecer o passado pode ser traduzido em
um instrumental poderoso para lidar efetivamente com o futuro, podemos rejeitar o conhecimento do
passado como um fim da educação e, assim, apenas enfatizar sua importância como meio.” (DEWEY,
2011, p.25)
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Observa-se aqui a forte crítica a um saber que não articula a teoria e prática,
objeto deste artigo. O pano de fundo da perspectiva educacional de Dewey é a
preparação para a vida, por isso, a constante preocupação com o avanço profissional e
intelectual do educando.
Na sequência, no capítulo quarto, o autor trata especificamente a respeito do
controle social, defendendo a importância da liderança docente dentro da sala de aula e
a grande diferença entre a violência ditatorial nas escolas tradicionais e o controle que
deveria ser realizado, a partir dos princípios da escola nova. Conforme aponta Dewey
(2011), o controle social não necessariamente restringe a liberdade individual, sendo
assim, não interfere no satisfatório desenvolvimento educacional e criativo. É
importante que, sobretudo, as crianças vejam o professor como um líder, que irá
estabelecer regras e delimitar condutas.8
8
“Até as crianças aceitam um líder, contanto que ele não seja um ditador. Além disso, não é necessário
que essa diferença seja formulada em palavras, pelo professor ou pelo aluno, para que seja sentida na
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O capítulo quinto conta com uma breve discussão sobre a questão da liberdade e
importância de seu desenvolvimento e manutenção nas experiências em sala de aula. De
acordo com Dewey (2011), a liberdade dos educandos se liga diretamente à necessidade
do educador conhecer seus educandos e ter contado com suas realidades e experiências.
O professor, então, que prefere uma aula silenciosa e organizada jamais conseguirá
conhecer seus alunos9. Os educandos precisam se sentir confiantes para expressar suas
ideias e opiniões de forma crítica, por meio da contínua prática que se estabelece a partir
de teorias. É por meio dessa dinâmica que, segundo o pensamento deweyano, a criança
e o adolescente irá aprender o momento certo de falar. Sem embargo, Dewey ressalva
que a liberdade excessiva também é prejudicial:
No entanto, não pode haver erro maior do que tratar tal liberdade
como um fim em si mesmo. Assim tratada, ela tende a ser destrutiva
das atividades cooperativas compartilhadas, que são o recurso normal
da ordem. Dessa forma, a liberdade, que deveria ser um aspecto
positivo da condição humana, passa a ser algo negativo. (DEWEY,
2011, p. 66)
experiência. É pequeno o número de crianças que não sentem a diferença entre ação motivada pelo poder
pessoal e o desejo de impor ordens e a ação justa, voltada para o interesse de todos.” (DEWEY, 2011,
p.56)
9
A respeito da liberdade, Dewey assevera que “sem sua existência é praticamente impossível para um
professor conhecer os indivíduos com o quais ele está lidando. Silêncio forçado e aquiescência impedem
os alunos de mostrarem sua real natureza e criam uma uniformidade artificial que coloca o parecer antes
do ser.” (DEWEY, 2011, p. 64)
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Sobre a questão da sociedade: “Dewey’s concept... both the community of the classroom and the Great
Community that is to be society, is built on communication, participation, and association. His vision of
democracy welcomes plurality and diversity and rejects barriers that divide and exclude. Accepting the
spirit of Dewey’s vision, we are challenged to attend to whatever diminishes the growth of a democratic
society.” (STONE, 2007)
11
“Por ser tão confiante nas potencialidades da educação quando tratada como desenvolvimento
inteligentemente direcionado de possibilidades inerentes às experiências cotidianas, não sinto necessidade
de, aqui, criticar o outro caminho possível, nem de argumentar a favor da escolha pelo caminho da
experiência. A única possibilidade de fracasso na escolha desse caminho reside, a meu ver, no perigo de
que a experiência e o método experimental não sejam adequadamente concebidos.” (DEWEY, 2011, p.94)
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criança ou cada jovem irá absorver o que lhe é ensinado de uma forma singular, com
base nas experiências que já teve.12
Os educadores tradicionais não consideram as necessidades e
capacidades individuais dos alunos. O problema da educação
tradicional13 não foi o fato de os educadores serem responsáveis por
proporcionar o ambiente, mas o de não levarem em consideração a
capacidade e os propósitos de seus alunos. Partiam da pressuposição
de que certas condições eram intrinsecamente desejáveis,
independentemente de serem capazes de estimular certa qualidade de
resposta nos indivíduos. (DEWEY, 2011, p. 46)
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“O que estas observações indicam é que os princípios gerais da nova educação por si só não resolvem
nenhum dos problemas de condução concreta ou prática e da direção das escolas progressivas. Ao
contrário, apresentam novos problemas que precisam ser solucionados com base em uma nova filosofia
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Em sua obra John Dewey – a utopia democrática, Cunha (2007) irá concluir que
o sentido utópico que se desenvolve o pensamento deweyano se aproxima muito mais
de uma constituição ideológica. Sabendo-se que Dewey foi um pensador muito a frente
de seu tempo, suas críticas utópicas para a sociedade aterrorizada pelos reflexos da
guerra, tornaram-se plausíveis e palpáveis apenas nos tempos hodiernos. Sendo assim,
nas próprias palavras de Cunha (2007), a utopia democrática de John Dewey, como
qualquer outra, pode tornar-se uma ideologia, sim, mas pode também erguer-se ao
patamar das profecias.
A discussão sobre a praticidade e possibilidade de aplicação das ideias de Dewey
se encerra na medida em que sua obra já surtiu seus efeitos em influenciar a educação
tradicional de sua época e continua a gerar debates ainda hoje. De sorte que, pouco
importa que a escola nova seja, em sua plenitude, possível. O que importa é continuar a
pergunta para cada educador: qual educação se quer e qual educação se tem? Em outras
palavras, ao educador resta, em primeiro lugar, refletir sobre as teorias e críticas
filosóficas a respeito da educação e, em seguida, tão logo se desprender do discurso,
pondo em prática sua experiência na relação com seus educandos.
Considerações Finais
Com base nas ideias de John Dewey, pode-se concluir que o conceito de
educação aponta, em última análise, para uma relação harmônica entre educando e
educador, onde ambos se apresentam como ator e coadjuvantes do processo de
aprendizagem. Se o problema formulado na introdução desse texto consistiu na
pergunta: como a relação entre teoria e prática se dá no pensamento de John Dewey?,
fica evidente que a articulação entre a experiência e educação justifica a aproximação
entre teoria e prática, justamente na medida em que interessa ao educador promover o
ensino de algo que faça sentido para a vida do cidadão, para a vida profissional do
aluno, no futuro. É este o ideal da educação de Dewey que se apresenta como pano de
fundo para responder à pergunta do artigo, no sentido de demonstrar que é a experiência
significativa, aquela segundo a qual implicitamente contempla a relação teoria e prática,
que fundamenta o pensamento educacional de John Dewey.
O educador não é apenas aquele que ensina, mas é também aquele que apreende
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e quer apreender mais, enquanto o educando não é apenas aquele que aprende, mas
também aquele que ensina, mesmo sendo saber que o faz. Esta relação de aprendizado
que parte de sujeitos comprometidos com o saber tem a disposição teoria e prática como
baliza na concretização de um conhecimento que parte da experiência mas se realiza na
teoria.
Outrossim, o pensamento deweyano também aponta para a importância do
ensino crítico e participativo. O estudante não é apenas um receptáculo de
conhecimento, o educador deve favorecer meios para que o educando consiga chegar a
suas próprias conclusões. Sendo assim, nenhuma matéria deve ser ensinada de forma
dogmática e derradeira, sempre haverá espaço para a argumentação e a dúvida e,
novamente, a dimensão de correlação entre teoria e prática, manifestada pela
experiência que fundamenta a educação.
A vinculação entre educação e prática se torna bastante evidente em sua obra, na
medida em que o conhecimento abstrato requer a experiência como ponte para se
concluir o processo de aprendizagem. Dewey discute que a mera explanação de uma
matéria, totalmente desvinculada da prática, representa um conhecimento inútil, pois
não faz relação com a experiência de vida. Ao passo que quando o conhecimento é
vinculado com outros conhecimentos, de forma transdisciplinar, juntamente com a
experiência, o educando consegue apreendê-lo melhor e de forma mais crítica.
Em suma, a concepção de Dewey revela a importância da filosofia enquanto
instrumento na busca por uma ressignificação da educação. Destarte, utilizando-se da
filosofia da educação como ferramenta na construção desta nova educação, progressiva,
é possível cogitar novas possibilidades de torná-la realidade. Sendo assim, muito
embora a educação tenha mudado bastante desde a época em que Dewey publicou sua
obra, ainda há muito que refletir e discutir visando seu aperfeiçoamento; afinal, o
principal desafio para quem lida com a educação é, por certo, viabilizar a construção do
conhecimento.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADORNO, T. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995.
BIBLIOTECA DIGITAL BRASILEIRA DE TESES E DISSERTAÇÕES. Disponível
em <http://bdtd.ibict.br/>. Acessado em 20/03/2014.
BIESTA, G. Para além da aprendizagem: educação democrática para um futuro
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