O Livro Dos Espíritos - A Obra Interminavel

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Grupo de Estudo “Velhos Amigos”

O L I V R O D O S
ESPÍRITOS
A O B R A

I N T E R M I NÁV E L

Esta obra, elaborada por espíritos encarnados e desencarnados,


está estruturada em perguntas e respostas, notas explicativas e textos
complementares, notas de rodapé e preces. Destina-se a todos que
desejam iniciar ou aprofundar seu vínculo com o Criador através da leitura
instrutiva e reflexiva, da oração, da prática do amor e da caridade,
do autoconhecimento e da busca constante por reforma íntima.

MATÃO-SP | 2021
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional

GRUPO DE ESTUDO “VELHOS AMIGOS”


Matão-SP | Início em 18/10/2018

ISBN 978-65-00-18385-6

O LIVRO DOS ESPÍRITOS – A OBRA INTERMINÁVEL

Esta publicação não tem fins lucrativos e destina-se a distribuição gratuita.


A reprodução total ou parcial está permitida desde que citada a fonte.

GRUPO DE ESTUDO “VELHOS AMIGOS”


Matão – São Paulo – Brasil
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Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

133.9 O57

O livro dos espíritos : a obra interminável / recebidos e coordenados por Grupo de Estudo
“Velhos Amigos” – Matão, SP : [s.n.], 2021.
292 p.

ISBN: 978-65-00-18385-6

1. Espiritismo. I. Velhos Amigos, grupo de estudo, 2018-2021. II. O livro dos espíritos : a obra interminável.

CDD 133.9
SUMÁRIO
Introdução a “O Livro dos Espíritos – A obra interminável”............... 10

PREFÁCIO

I. Complementação.........................................................................................14
II. A curiosidade e a Doutrina......................................................................14
III. Elementos universais e elementos morais...........................................15
IV. A maior das leis.........................................................................................15
V. A importância da fé....................................................................................16
VI. O preparo....................................................................................................16

PROLEGÔMENOS

“Os três pilares imutáveis”............................................................................18

PARTE PRIMEIRA
DOUTRINA DOS ESPÍRITOS

CAPÍTULO I – Complementação................................................................21
Propósito da obra: 21; Atualização da Doutrina: 23;
Escolha dos encarnados: 26; Consolação: 27;
Religião não pode causar divisão: 29; Globalização: 30

CAPÍTULO II – Elementos Gerais do Universo.......................................32


Humanidade e as quatro mudanças energéticas: 32;
Evolução: 34; Descobertas científicas: 38;
Antimatéria: 42; Perispírito: 46; Energia e vibração: 47;

CAPÍTULO III – Criação...............................................................................50


Infância do espírito: 50; Princípio material: 52;
Células inteligentes?: 52;
Vida orgânica e vida espiritual: 53;
CAPÍTULO IV – Fluidos no Universo........................................................56
Fluidos: 56; Fluido universal: 58;
Fluido vital e princípio vital: 59;

CAPÍTULO V – Transmissão Energética e Fluídica................................63


Intenção: 63; Passe: 64; Prática do passe: 65;
Magnetismo: 66; Prática do magnetismo: 67;

CAPÍTULO VI – Amor aos Animais..........................................................69


O homem e os animais: 69; Alma dos animais: 71;
Genética animal: 75; Animais em outros mundos: 77;
Animais e os espíritos elementais: 78;
Emoções e sentimentos: 78; Evolução dos animais: 79;
Instinto, inteligência e consciência: 83;
Desencarne dos animais: 88; Respeito aos animais: 95;
Animais e a mediunidade: 100; Extinção de espécies: 102;
Vegetarianismo e veganismo: 104;
Docilidade e agressividade nos animais: 105;
Animais: passes e preces: 106; Amor dos animais: 107;
Pandemias e os animais: 108; Pureza dos animais: 109;

PARTE SEGUNDA
MUNDO DOS ENCARNADOS

CAPÍTULO I – Infância dos Encarnados...................................................111


Infância: 111; Educação na infância: 113;
Evangelização na infância: 116;

CAPÍTULO II – Retorno à Vida Espiritual................................................118


Desencarne: 118; Doação de órgãos: 122;
Eutanásia: 122; Umbral: 124; Colônias espirituais: 126;

CAPÍTULO III – Retorno à Vida Corpórea...............................................129


Reencarnação: 129; Esquecimento do passado: 133;
Lembranças de vidas passadas: 135;
CAPÍTULO IV – Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo.......137
Mediunidade: 137; Período da mediunidade: 141;
Mediunidade na infância: 142; Espíritos protetores: 144;
Tipos e mecanismos: 145; Preferências dos espíritos: 148;
Pressentimentos: 151; Prática mediúnica: 152;
Prática indevida da mediunidade: 155;
Mediunidade equilibrada: 157; Reuniões mediúnicas: 158;
Reunião de desobsessão: 161;

CAPÍTULO V – Misticismo, Animismo e Charlatanismo.....................163


Misticismo: 163; Animismo: 167;
Charlatanismo: 168; Misticismo no caráter religioso: 168;
Misticismo na divulgação: 170;
Orgulho que cega, egoísmo que estagna: 173;

CAPÍTULO VI – A Cura................................................................................175
Introdução à cura: 175; Doença da matéria: 178;
Doença da alma: 179; A prece e a cura: 184;
Formas de cura: 186; Tratamento na casa espírita: 188;
Tecnologia na erraticidade: 194;
Medicina espiritual e medicina terrena: 195;
A busca pela cura: 196;

CAPÍTULO VII – Enfermidades Psicológicas...........................................197


Depressão: 197; Suicídio: 200;

PARTE TERCEIRA
A MORAL

CAPÍTULO I – Moral dos Homens.............................................................209


Moral e evolução: 209; A moral: 210;
O homem e a moral: 212; A mulher no mundo: 216;
Moral coletiva: 221; Moral e a sociedade: 223;

CAPÍTULO II – Sexualidade, Sexo e Moral...............................................226


Sexualidade: 226; Educação sexual: 227;
Aborto: 228; Adoção: 229;
CAPÍTULO III – A Consciência...................................................................232
O consciente: 232; Consciência ou conveniência?: 237;
Moral e consciência: 237; Mente e cérebro: 238;
Obsessão pela beleza física: 243;
Os mecanismos da psicologia e do psiquismo: 244;

CAPÍTULO IV – Flagelos Destruidores.....................................................247


Pandemias e catástrofes: 247;

CAPÍTULO V – As Penas Futuras...............................................................252


Equívocos substanciais: 252; Justiça Divina: 253;
Perdão: 259; Amor: 265; Fé: 266;

PARTE QUARTA
COLETÂNIA DE PRECES

I. Prece da Paz...................................................................................................270
II. Prece para o Planeta...................................................................................271
III. Prece do Livre-Arbítrio............................................................................272
IV. Prece da Consciência................................................................................273
V. Prece do Esforço..........................................................................................274
VI. Prece da Resignação.................................................................................275
VII. Prece da Reforma.....................................................................................276
VIII. Prece da Família.....................................................................................277
IX. Prece da Persistência................................................................................278
X. Prece da Proteção.......................................................................................279
XI. Prece do Respeito à Natureza.................................................................280

Considerações finais.......................................................................................281

Referências bibliográficas..............................................................................283
Introdução a “O Livro dos Espíritos –
A obra interminável”

Há 164 anos, ocorreu o primeiro contato da humanidade com O Livro dos Espí-
ritos. Kardec e sua equipe, com muito esforço, dedicação e o auxílio de espíritos supe-
riores, formularam uma obra que viria para concretizar a união dos planos espiritual
e material, demonstrando e provando essa ligação filosoficamente, utilizando-se da
ciência, da comunicabilidade e da interferência dos espíritos no mundo dos encarna-
dos.
Após tantos anos e os seus consequentes avanços, a ciência terrestre encontra-
-se na sua melhor versão; dessa forma, faz-se necessário um complemento da obra
inicial, a fim de desenvolver os conhecimentos previamente trazidos e de confortar
todos os humanos (encarnados e desencarnados) que necessitarem de ajuda.
Há muito tempo, o homem busca a verdade através da razão, porém, quando ela
já não lhe é suficiente para explicações, busca a verdade através da fé. Assim surgiram
os primeiros estudos doutrinários, cuja finalidade foi comprovar o contato entre os
mundos espiritual e material. A compreensão das leis naturais mudou um pouco para
os que aderiram à crença nos espíritos, e as compreensões, que, antes da Doutrina,
consistiam apenas na fé cega, passaram a embasar-se na fé raciocinada.
Conhecido por unir filosofia, ciência e religião, o Espiritismo é muito mais que
isso: apoia-se na fé aliada à razão, promovendo as descobertas espirituais em com-
patibilidade com as descobertas científicas. Ao transformar a fé cega em fé racional,
ampara a consciência daqueles que estudam as obras de amor com bases fortes no
intelecto e na moral do homem e da sociedade.
O objetivo desta obra complementar é somar-se à obra inicial, adaptando-se
aos dias atuais, em acordo com o natural amadurecimento da compreensão humana.
Como sabeis, só vos é dado aquilo que podeis compreender; por isso, após mais
de 160 anos de estudo, possuís hoje uma compreensão muito maior do que tínheis
quando da primeira obra de Kardec.1 Aqui, abordaremos alguns temas já citados e
diversos outros atuais, os quais foram questionados pelos estudiosos da Doutrina, e
nós, os espíritos, respondemos, assim como no primeiro livro.
As notas foram feitas em conjunto por encarnados e desencarnados, com a
única e exclusiva finalidade de esclarecer temas pertinentes ao crescimento espiritual
e à moral da humanidade, levando, assim, à prática do amor e da caridade.

1 O Livro dos Espíritos, questão 801: “Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensi-
nam hoje? — Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento
que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não
compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento, mesmo
incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai agora frutificar.”

10
O presente livro é composto por 598 perguntas, com respostas, notas explicati-
vas e textos complementares (quando pertinentes) e, ainda, notas de rodapé, pesqui-
sadas por encarnados.
É importante salientar que jamais tivemos por objetivo desmerecer os conceitos
estudados por Kardec, e, sim, complementá-los, de forma construtiva e somatória.
Não temos pretensões de vaidade; tampouco o grupo de encarnados que auxiliaram
neste trabalho as possuem, sequer financeiramente. A única e verdadeira intenção é
libertar a humanidade através da verdade e do amor.
Esta obra tem como objetivo instruir mais do que o público espírita: tem o an-
seio de despertar a fé existente em todos os que sentirem a necessidade de segui-la,
sem fronteiras nem preconceitos. O amor de Deus é para todos, e Suas leis sempre
estarão à disposição dos resignados.

A moral
O aperfeiçoamento moral é uma das reformas mais importantes a serem rea-
lizadas. É através disso que promoveremos o amor, a liberdade, a fraternidade e a
caridade, em busca de uma sociedade mais justa.
Para que a reforma moral seja efetiva, é necessário esforço coletivo e diário, de-
vendo ela ser o objetivo de todos. Promover o interesse de cada um na busca do seu
aprimoramento moral é o que pretendemos com esta obra.

A consciência
A consciência é a comunicação direta de todos os seres pensantes com o seu
Criador. É através dela que podemos ter momentos felizes e de tranquilidade para
continuar progredindo.
Ainda que algo vos desvie moralmente, vossa consciência sempre vos indicará
o caminho correto.
Como dito anteriormente, abordaremos nesta obra diversos temas, e, por mais
que alguns sejam de difícil aceitação, tereis as respostas na busca em vossa consciên-
cia.

O intelecto
O desenvolvimento intelectual é resultado de diversas encarnações de esforço
e aprimoramento. Ao passar por diversas experiências erráticas e carnais, o espírito
eleva seu intelecto.

11
Nesta obra, pretendemos unir o desenvolvimento intelectual com o moral de
cada indivíduo, propiciando, assim, progressos sociais por consequência.
É com esforço, dedicação e vigília que se garante o avanço moral e intelectual
de todos.
O amor
O despertar do verdadeiro amor é difícil, todavia, é indispensável para nosso
crescimento como espíritos. Sem amor, nada seríamos; é através dele que nos é per-
mitido renunciar ao nosso orgulho e egoísmo e desenvolver nossas faculdades mais
sublimes.
Embora possamos evoluir intelectual e moralmente, se não tivermos amor, qual
seria a real utilidade de todo esse desenvolvimento?
Desejamos que, por meio desta obra, todos possam começar a se enxergarem
como irmãos, dando alento, auxílio e conforto para que o crescimento de um seja
consequência do exemplo de outro.
O amor, dentre todas as qualidades humanas conhecidas, é a que mais trans-
cende barreiras e independe de religião. Ele deve prevalecer, sendo a principal lei de
Deus exemplificada por Jesus em sua passagem pela Terra.
Dos tantos objetivos de nossa obra, o principal é a propagação do amor, eluci-
dado através da caridade.

A fé
A nossa fé em Deus deve ser proporcional à fé que Ele tem em nós.
Criar espíritos simples e ignorantes, deixando o livre-arbítrio para as tomadas de
decisão, e ter plena convicção do nosso desenvolvimento final exige muita fé.
Sendo uma das maiores características do progresso, a fé faz com que continue-
mos quando pensamos em desistir, promove a crença sem a visão e possibilita crer
no que não vemos.
Através dela, mudamos nossas atitudes, reformamos nossas vidas e prossegui-
mos velejando em meio à tempestade, pois temos a convicção de haver mares mais
calmos em um futuro próximo.
Tão importante quanto a fé em Deus é o despertar da fé humana. Acreditar em
si mesmo é acreditar n’Ele por consequência, considerando que somos Suas criatu-
ras.2

2 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIX, item 5: “O poder da fé recebe uma aplicação direta e especial
na ação magnética. Graças a ela, o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades
e lhe dá impulso por assim dizer irresistível. Eis porque aquele que alia, a um grande poder fluídico normal,
uma fé ardente, pode operar, unicamente pela sua vontade dirigida ao bem, esses estranhos fenômenos de
cura e de outra natureza, que antigamente eram considerados prodígios, e que entretanto não passam de
consequências de uma lei natural. Essa a razão por que Jesus disse aos seus apóstolos: se não conseguistes
curar, foi por causa de vossa pouca fé.”

12
A fusão da fé humana com a fé divina é mais um dos objetivos desta obra e, tal-
vez, o que garantirá a propagação da boa-nova para todos os que têm fé, sem deixar
que ela não seja embasada de raciocínio.
Irmãos: podeis até não ver com os olhos do corpo, mas, ao vos permitirdes
enxergar com os da consciência, prosseguireis sem cessar!

A união
Se somos fruto do mesmo Criador, conseguis imaginar a importância de ser-
mos unidos?
A união promove o desenvolvimento coletivo de todas as nossas qualidades
e, por consequência, as do planeta. Ela faz despirmo-nos do orgulho e do egoísmo,
aproximando-nos como irmãos, para que saibamos o quanto, juntos, somos mais
fortes.
Conforme Jesus ensinou, onde houver duas ou mais pessoas reunidas em seu
nome, ele estará presente.3
Vamos nos unir para evoluir!

3 Mt 18:20 – “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”

13
Prefácio

I – Complementação

Em 18 de abril de 1857, foi lançada a primeira obra O Livro dos Espíritos, por
Allan Kardec. Uma obra de perguntas e respostas que viria para redirecionar a fé
humana e fazê-la caminhar lado a lado com a razão.
Com o passar dos anos, a necessidade de atualização tornou-se evidente e irre-
vogável. Conforme todos sabem, a depuração dos encarnados neste plano de provas
e expiações levou a novas dificuldades; as guerras que antes eram materiais se torna-
ram morais, e hoje novos temas são de extrema importância para ajudar a conduzir
todos os encarnados a um caminho de caridade, amor e reformas íntimas mais cons-
tantes.
Sem contradizer o primeiro livro, e sim, complementando-o, um conjun-
to de espíritos superiores vem dar continuidade às obras básicas, em um texto
simples e objetivo, com poder de síntese para facilitar o entendimento de to-
das as crenças, religiões e idades, trazendo, assim, novos adeptos à Doutrina,
além de reavivar a fé daqueles que já fazem parte dela.
A obra foi realizada sob o crivo de diversos estudiosos, que elaboraram pergun-
tas, as quais foram respondidas pelos espíritos, averiguando e confrontando as infor-
mações antes de sua inclusão neste material. O único objetivo é o bem promovido
pelo conteúdo, que irradiará pela humanidade.
A fé raciocinada, ligada à consciência divina, faz com que todos tenham a opor-
tunidade de progredir e amadurecer espiritualmente. Nós acreditamos que esta obra
poderá auxiliar e direcionar a todos nesse objetivo.
Que o amor possa destruir as barreiras físicas e imaginárias entre os irmãos,
levando-os, por consequência, à união e ao amor pleno.

II – A curiosidade e a Doutrina

Sabemos que a grande maioria dos espíritas nasce através da curiosidade pela
“paranormalidade” envolvida no desconhecido. Ela é o motor que impulsiona o es-
pírito às descobertas e à busca de respostas; é benéfica e, na dose e propósitos ade-
quados, desperta ainda o interesse e vos faz caminhar. Porém, apenas saná-la e sus-
tentá-la sem utilidade não resolve absolutamente nada.
Uma vez que buscais a verdade, encontrando-a, é importante enfrentá-la e utili-
zá-la para vosso desenvolvimento. A ignorância vos resguarda, entretanto, a curiosi-
dade que habita em cada um não vos permite, ao decorrer do vosso desenvolvimento,

14
a aceitação de perguntas sem respostas, e isso vos move em aproximação à verdade.
Mas sempre deveis ter humildade suficiente para admitir que algumas questões ainda
estão distantes de vossa compreensão.

III – Elementos universais e elementos morais

Cada elemento do universo possui sua função perfeitamente sincronizada e


previamente planejada pela Inteligência Suprema do Universo.
Apesar da quantidade de possibilidades e de transformações que o homem já
alcançou (e as inúmeras que ainda alcançará), dependerá do seu esforço e resigna-
ção a busca pelo conhecimento e desenvolvimento intelectual para compreender um
pouco mais sobre o complexo universo à sua volta.
Quase oito bilhões de habitantes encarnados no planeta se utilizam dos ele-
mentos universais para a existência humana o tempo todo e dependem deles para o
progresso e o desenvolvimento.
Os elementos universais dependem de alguns elementos morais, que são cons-
truídos no interior da consciência de cada ser, com os aprendizados das encarnações.
O primeiro elemento moral é o amor: ele é a matéria-prima principal da carida-
de, e, conforme já conhecemos, fora dela, não há salvação.4
O segundo é a fé: através dela, insistimos em permanecer no caminho do pro-
gresso, pois, ainda que possamos sucumbir a algumas adversidades, sabemos que o
amanhã será mais promissor.
O terceiro é o esforço: de que adiantaria amor e fé sem esforço? É este que
garante a continuidade da evolução.
Desenvolvam os elementos morais e chegarão mais perto de compreender os
universais.
Intelecto e moral devem caminhar simultaneamente.

IV – A maior das leis

De todas as leis que já descobri e proporcionei ao mundo, nenhuma se igualará


à lei do amor, o maior presente que nosso mestre Jesus nos deixou.
Deus, em Sua infinita inteligência, fez com que pudéssemos caminhar de acor-
do com a nossa visão limitada, mas sem que jamais deixássemos de progredir.

4 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 5: “Caridade e humildade, esta é a única via de salvação;
egoísmo e orgulho, esta é a via da perdição. [...] não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao pró-
ximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus, porque tudo quanto se faz contra o próximo, é contra Deus
que se faz. Não se podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do
homem se encontram resumidos nesta máxima: Fora da caridade não há salvação.”

15
A cada descoberta, sempre surgirão novas dúvidas; a cada dúvida, uma nova
busca por respostas, e cada resposta conduzirá ao progresso e à evolução universal.
Por mais sabedoria que possamos adquirir, é necessário ter em mente o quão
pequenos somos perante tudo o que existe, tendo a humildade de entender e a per-
sistência para modificar o mundo através do nosso exemplo.
Acredito em um mundo diferente na forma de ver, agir e amar. Peço a todos
que compartilhem dessa crença e a exemplifiquem todos os dias por meio do esforço
e da dedicação.
Onde houver uma mente empenhada no bem, haverá a esperança; dias melho-
res serão consequências do bom uso do nosso livre-arbítrio e do de todos os nossos
irmãos.
Isaac Newton
Matão, 11 de julho de 2019.

V – A importância da fé

Sem a fé, enlouqueceríamos ao pensar no futuro; não teríamos um motivo para


prosseguir ou continuar.
A fé nos faz avançar rumo ao desconhecido, prosseguir mesmo sem ter todas
as respostas, promover nossas reformas e melhorias mesmo sem conhecer o amanhã
que nos espera.
A razão é um ponto crucial e importante como sustentáculo desta fé.
Fé sem razão é cega e percorre caminhos tortuosos e pouco objetivos.
Se a razão é tão importante para sustentar a fé, como explicar a eterna evolução
do espírito? Qual seria a utilidade de evoluir eternamente? Por que evoluiríamos sem
cessar? Aonde chegaríamos no ponto final de nossa evolução?
Perguntas complexas não exigem nada além do que uma das principais caracte-
rísticas humanas, que sempre acompanhará a fé: a humildade.
Humildade para entender que o infinito é desconhecido, e tudo aquilo que ain-
da não conhecemos não pode ser compreendido. Portanto, permanecer no caminho,
um dia, levar-nos-á a novas respostas e, certamente, a novas perguntas.
Esta é a essência da existência espiritual: conhecer apenas aquilo que está com-
patível conosco (conforme visto na nota de rodapé n.º 1).
Quer conhecer mais? Evolua!

VI – O preparo

Do mesmo modo que, para enfrentar uma maratona, é necessário treinar com
disciplina, para evoluir, é imprescindível ter disciplina e preparo.

16
Quando reencarnais, estais vivenciando provas e expiações, com o objetivo de
desenvolver vosso espírito por meio do esforço em cada etapa. Portanto, preparar-
-vos, através das reformas íntimas, da busca pelo conhecimento e do exercício dos
bons hábitos, facilitará que consigais reverter as possíveis situações adversas, aceitan-
do as impossíveis de reversão com resiliência e resignação.
O preparo é o fundamento de qualquer espírito e não depende de nada mais
que esforço e organização. A fé não vos dá o direito de ser passivos e preguiçosos,
pois a verdadeira fé vem acompanhada da ação de tentar.
Esperar que Deus vos contemple com o sopro da verdade sem o vosso mereci-
mento e luta é interpretar equivocadamente as Suas leis; “Ele não escolhe os capaci-
tados, mas capacita os escolhidos.”5

5 2 Cor 3:5-6 – “Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos.
Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos a ser ministros da Nova Aliança, não a da letra, e
sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.”

17
Prolegômenos:
“Os três pilares imutáveis”
Antes de analisarmos qualquer obra ou mensagem, é de essencial importância
observar a época e a data em que foram escritas. É natural que qualquer encarnado
ou desencarnado evidencie mensagens proporcionais às necessidades de sua era.
As mensagens reveladoras auxiliam-nos a caminhar, dando a oportunidade de
fazer o encarnado pensar, discutir e refletir, sem que jamais acelere seu progresso
natural, que deverá ser oriundo do esforço e da dedicação. Se assim não o fosse, em
vez de ajudar, a mensagem estaria encurtando um caminho natural de evolução e
“quebrando” o livre-arbítrio (característica que Deus nos concedeu para dar a opor-
tunidade de evoluirmos).
Algumas questões são atemporais e vagam por séculos ou milênios com os
mesmos objetivos; dentre tais questões, encontram-se o amor, a caridade e a fé.
Desenvolver o amor não é simples, mas nem por isso deixa de ser necessário.
Ele é uma das faculdades mais importantes e complexas a serem desenvolvidas pelo
espírito; é através dele que o ser humano se torna capaz de seguir os passos propos-
tos por Cristo há mais de dois mil anos, pelo tempo da Terra. Seu aprimoramento
garante diversas outras características essenciais para a evolução humana e faz com
que a coletividade seja prioridade aos olhos do espírito.
O primeiro amor a ser despertado é o amor-próprio; com ele, devemos avivar
o amor pelos nossos familiares de convívio e, simultaneamente, pelos nossos irmãos,
que, ainda que sejam desconhecidos aos nossos olhos, são nossos semelhantes aos
olhos de Deus.
A caridade despretensiosa, por sua vez, é o amor posto em prática; é através
dela que percebemos a importância que o amor tem em nossas vidas e aprendemos
a realizá-la por meio de exemplos. “Fora da caridade, não há salvação” – e jamais
haverá.
Compreender as diversas formas de caridade e entendê-las na essência é o pri-
meiro passo, “dar o que nos falta”6 é o segundo, e exemplificá- las, ensinando-as aos
nossos irmãos, é o terceiro. No instante em que houver caridade suficiente, a evolu-
ção humana estará em outro patamar: não existirá escassez, nem fome, nem miséria.

6 Mc 12:41-44 – “Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro
nele; muitos ricos depositavam grandes quantias. Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moe-
das, no valor de apenas um quadrante. E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: ‘Em verdade vos digo:
esta pobre viúva deitou mais do que todos os que lançaram no cofre, porque todos deitaram do que tinham
em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento.’”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVIII, item 6: “[...] o óbolo do pobre, que o tira da sua própria
privação, pesa mais na balança de Deus que o ouro do rico, que dá sem privar-se de nada. [...] Na falta de
dinheiro, não dispõe cada qual do seu esforço, de seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos
outros? Isso também é a esmola do pobre, o óbolo da viúva.”

18
Todos aqueles que precisarem de recursos essenciais obtê-los-ão, pois Deus nunca
deixou de dá-los em abundância para nossa sobrevivência; no entanto, somos nós
quem deixamos, muitas vezes, de compartilhá-los com os que menos possuem. Vale
lembrar que a responsabilidade daqueles que detêm os recursos materiais ou intelec-
tuais é proporcional: “quanto mais lhe for dado, mais lhe será cobrado”7.
Para concluir a terceira (porém, não menos importante) questão imutável da
evolução, temos a fé.
Pequena palavra de grande significado e valor, a fé é uma das faculdades mais
difíceis de serem adquiridas enquanto encarnados, pois nascemos com o viés do “ver
para crer”8.
A fé garante-nos a humildade de entender que existe muito além do que pode-
mos enxergar ou sequer imaginar; ela nos permite acreditar e nos utilizarmos de fa-
culdades que ainda nem sabíamos que possuíamos, pois, quando temos a verdadeira
fé, entregamos nosso espírito nas mãos de Deus (e não há “mãos” mais capazes de
solucionar nossos problemas, sejam eles físicos, sejam psíquicos, sejam espirituais).
“A fé move montanhas”9 – ou permite que vós mesmos possais movê-las, de acordo
com vosso esforço e dedicação.
Felizes daqueles que possuírem esses três pilares como guias em suas encarna-
ções, pois jamais estarão desamparados ou abandonados.
Que o amor desperte a caridade e que jamais lhes falte fé para prosseguir.
Que assim seja!

7 Lc 12:47-48 – “O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobe-
deceu será açoitado a numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas
repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais
se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.”
8 Jo 20:24-25 – “Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros
discípulos disseram-lhe: ‘Vimos o Senhor’. Mas ele replicou-lhes: ‘Se não vir nas suas mãos o sinal dos
pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acre-
ditarei!’”
9 Mt 17:20 – “Jesus respondeu-lhes: — [...] Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda,
direis a esta montanha: ‘Transporta-te daqui para lá’, e ela irá; e nada vos será impossível’. [...]”

19
Parte primeira

Doutrina dos Espíritos


CAPÍTULO I
Complementação

CAPÍTULO II
Elementos Gerais do Universo

CAPÍTULO III
Criação

CAPÍTULO IV
Fluidos no Universo

CAPÍTULO V
Transmissão Energética e Fluídica

CAPÍTULO VI
Amor aos Animais
CAPÍTULO I

Complementação
Propósito da obra • Atualização da Doutrina • Escolha dos encarnados
• Consolação • Religião não pode causar divisão • Globalização

I – Propósito da obra

1. Com qual propósito foi lançado O Livro dos Espíritos, em 1857, por
Allan Kardec?
— Libertar os encarnados através da verdade, instruí-los e, consequente-
mente, levá-los à prática do bem.
A. Esse propósito foi alcançado?
— Sim; obviamente que depende do livre-arbítrio de cada indivíduo, mas
tudo está nos planos de Deus.
B. Diante disso, é necessário complementá-lo?
— Sim, as comunicações e formas de entendimento modificam-se com
o passar do tempo, e é importante que os ensinamentos acompanhem essas
mudanças.
Nota: A intenção jamais será contestar o que já foi escrito, e sim afir-
má-lo com mais clareza e objetividade, para que não haja dubiedade de
entendimento, trazendo a verdade de modo mais explícito, com o intui-
to de promovermos a prática outrora exemplificada pelo mestre Jesus.10

2. Quando a primeira obra foi lançada, o intuito era a criação de


uma nova religião?
— No lançamento da primeira obra, a intenção era auxiliar na transfor-
mação da humanidade mediante o conhecimento, fazendo-a abdicar do orgu-
lho e do egoísmo, potencializando a prática do amor através da caridade. Toda

10 A Gênese, capítulo I, item 28: “Se o Cristo não pode desenvolver o seu ensino de maneira completa,
é porque faltava aos homens o conhecimento que não poderiam adquirir senão com o tempo e sem
o qual não o poderiam compreender; há coisas que teriam parecido sem sentido, de acordo com os
conhecimentos de então. Completar o seu ensinamento deve ser interpretado no sentido de explicar e
de desenvolver e não o de adicionar verdades novas, porque ali tudo se encontra em germe: somente
faltava a chave para abrir o sentido de suas palavras.”

21
religião criada com o intuito de agregar ao invés de segregar os encarnados é
positivamente encarada (ver item V – Religião não pode causar divisão).

3. Existem falhas de tradução na primeira obra?


— É natural que haja incompatibilidades tradutórias ou de figuras de lin-
guagem, mas isso não compromete ou desconfigura a obra.
A. Como pretendem sanar esse problema?
— Simplificando a linguagem e tendo cautela quanto aos termos utiliza-
dos, de modo que a obra alcance um significado comum para a maioria. O que
realmente importa é que todos a interpretem corretamente e, principalmente,
pratiquem o bem.
B. O português é a língua mais adequada para o lançamento desta
obra?
— É a possível. A disseminação da primeira obra foi maior no Brasil, por-
tanto, é coerente e natural que a continuação venha do País.

4. Por que a Doutrina Espírita obteve maior propagação no Brasil se


ela foi iniciada na Europa?
— Não existe uma regra para o local; o que existem são pessoas que,
através da sua força de vontade, interesse e sede por conhecimento, propagam,
divulgam e exemplificam a Doutrina.
Nota: O fato de a Doutrina Espírita ter obtido maior desenvolvimento
no Brasil foi uma consequência dos pioneiros locais, idealizadores que,
através de suas escolhas e esforços, lutaram para que ela permanecesse
e perdurasse, ainda que com grandes dificuldades, por ser uma doutrina
nova, que discorria sobre a vida futura e sobre a comunicabilidade com
os espíritos.
Várias culturas tiveram sua participação notável, as quais, influencia-
das pelo espiritualismo, despertaram e ainda despertam nas pessoas o
interesse pelo conhecimento do Espiritismo no Brasil. Esse fato não
significa que a Doutrina Espírita não esteja presente em outros países
ou que não deva estar.
Os espíritos não têm fronteiras nem distinção de nacionalidade ou reli-
gião; por serem todos filhos do mesmo Criador, não poderiam favore-
cer uma região em detrimento da outra.

22
II – Atualização da Doutrina

Pensar que devemos apenas renovar nossa ignorância e acreditar que a


Doutrina não pode ser atualizada seria o mesmo que dizer que toda verdade foi
esclarecida em 1857 e que, após essa data, nada mais poderia somar em nosso
aprendizado no futuro.
É claro que nossa compreensão é limitada e nossos passos são lentos em
sentido ao progresso. No entanto, novas gerações habitam o universo, com no-
vas linguagens e novas formas de aprendizagem.
A ciência de hoje será obsoleta no amanhã; a modernidade é inevitável e
inquestionável. Não devemos nos proteger do novo, apenas analisá- lo de acor-
do com nossa consciência.
Aquilo que aprendemos no passado servirá de base para ensinarmos no
presente e melhorarmos no futuro.
Não tenham medo de questionar e aprofundar-se na verdade; apenas a
analisem de modo criterioso e sensato.
Quando nos deparamos com o novo, devemos questionar: Qual é a inten-
ção desse trabalho? Agride algo ou alguém? Qual é sua utilidade? Minha cons-
ciência concorda, ainda que meu orgulho não o aceite?
Somos todos passageiros de uma longa viagem, com diversas paradas.
Apesar dessas pausas, devemos prosseguir, pois a única certeza que temos é
que o caminho ainda não chegou ao fim.

5. Há algum motivo específico para que a obra seja apresentada


nesta data?
— Nada é por acaso. No entanto, o livre-arbítrio e a decisão dos encarna-
dos poderiam antecipar ou retardar esta apresentação.

6. Atualizar um aprendizado tão amplo seria o mesmo que dizer que


a Doutrina tem prazo de validade ou se tornou obsoleta?
— De forma alguma! Se os ditames da Doutrina nos levam à evolução
progressiva, por que a obra de codificação estaria condenada à estagnação? A
base foi um começo necessário, mas não um final.

7. O que garante que este trabalho seja oriundo de espíritos elevados?


— A garantia está na coesão e no conteúdo, alinhando-os ao que sentis no
âmago, para entender se há coerência ou não.

23
Ao filtrar, através da consciência, percebereis que a intenção da obra não
é a de demonstrar a elevação de quem vos instrui, assim como não é a de vos
convencer que apenas há uma nova comunicação, mas, sim, de fazer-vos prati-
car o amor e o bem.

8. O que Kardec diria a respeito de um complemento de sua obra de


codificação?
— Que jamais pretendeu ser dono da verdade absoluta, mas abrir o ca-
minho para que, por meio da ciência e das descobertas, as atualizações aconte-
cessem de forma natural e constante. Diria, ainda, que a verdade acompanha a
evolução moral humana; logo, necessita de atualizações conforme evoluímos.
A. Como os espíritas que têm como verdade o fato de a primeira
obra ser imutável poderão receber este complemento?
— Esperamos que o recebam com muito amor, mas, se assim não o for,
obtê-lo-ão pela coerência, rebuscando na própria consciência o discernimento
necessário.
Nada é imutável, apenas Deus.11 Todos sois aprendizes do eterno progres-
so; hoje conheceis mais do que ontem e menos do que amanhã.12
B. Como saber o que é pertinente de ser esclarecido atualmente?
— Tudo aquilo que ocasionar dúvidas ou incertezas poderá ser questio-
nado; a verdade não tem censura ou bloqueios e deve abordar tudo o que seja
necessário a um esclarecimento maior.
C. Como Kardec teve convicção da validade da obra proposta em
sua época?
— Não teve, mas teve a fé maior que a incerteza.
Nota: Kardec não deve ser colocado em um “pedestal”, mas ser visto
como um exemplo a seguir. Ele enfrentou inúmeras dificuldades e foi
somente com muito esforço, disciplina, resignação e uma fé inabalável
que as superou e prosseguiu com convicção sobre o caminho a ser tri-
lhado. Utilizou-se da razão e do raciocínio, com muito amor e enten-
dimento de que a verdade é despretensiosa e necessária. Despiu- se do

11 A Gênese, capítulo II, item 11: “Deus é imutável. Caso fosse sujeito a mudanças, as leis que regem
o Universo não teriam estabilidade alguma.”
12 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 3: “[...] Estuda as suas próprias imperfeições,

e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã,
que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera. [...]”

24
orgulho e do egoísmo para que o trabalho fosse realizado em benefício
da humanidade, e jamais em proveito próprio. Abriu mão de si por amor
e caridade, e esse foi seu maior legado. A razão da existência humana é
encontrar a verdade; que cada coisa venha ao seu tempo.13

9. Os espíritos que responderam às perguntas desta obra estiveram na


codificação iniciada por Allan Kardec, em 1857?
— Sim, e mais alguns, dada a necessidade de domínio dos assuntos abor-
dados.
O que realmente importa é o esclarecimento lógico e objetivo dos temas,
com a finalidade de auxiliar a todos em sua evolução e progresso.
Nota: É natural que esta obra tenha sido elaborada pelos mesmos es-
píritos que participaram da primeira. Sendo ela um complemento, é
coerente essa continuidade.
Os novos participantes destacaram-se em suas respectivas encarnações
com contribuições significativas para a humanidade e, agora, podem
continuar auxiliando-a espiritualmente.
Mais importante do que a identificação do autor são a análise do conte-
údo e o crivo através de vossa consciência.
Colocar irmãos espirituais em “pedestais” não ajuda a seguir seus exem-
plos; ao contrário, afasta-vos do objetivo, pelo pensamento de que ele
seja inatingível.
Nesta obra, optamos por uma linguagem compatível à época, simples e
objetiva, para evitar interpretações equívocas.

10. Por que, entre os espíritos construtores desta obra, há irmãos


que não participaram da primeira e outros que não eram espíritas quan-
do encarnados?
— Cada espírito possui uma “bagagem” trazida de suas diversas existên-
cias, adquirida com o passar do tempo, através do esforço pretérito.
Por ser uma obra que vem para modificar a humanidade por meio do
conhecimento e das reformas íntimas, fez-se necessário que os espíritos que a
construíram fossem especialistas nos temas propostos. Não importa se eram
ou não “espíritas”, afinal, conforme nosso mestre Jesus nos ensinou, a salvação

13O Livro dos Espíritos, questão 628: “Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos? — É
necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos
a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.”

25
não está na religião, mas na ação praticada todos os dias, realizada através do
esforço e da resignação.
Precisais abdicar do engessamento que vos transforma lentamente em
grupos intocáveis e parciais e estar abertos ao acolhimento a todos aqueles que
estiverem dispostos a aprender, compreender e enxergar a voz da consciência
que há em cada um.
Toda e qualquer prática que leve ao bem, à caridade e ao amor será bem-
-vinda e aceita por Deus.
Irmãos com um conhecimento atualizado, fruto de seus esforços incan-
sáveis, vieram para contribuir nesta obra, com a certeza de que conhecimento
adquirido não se guarda, mas retransmite-se.
Não vos apegueis a nada mais que aquilo que vos leva ao aprimoramento
moral, à caridade, e que vos faça abrir mão do orgulho e do egoísmo.

III – Escolha dos encarnados

11. Qual foi o critério utilizado na escolha dos participantes encar-


nados para a elaboração desta obra?
— Os participantes possuem um preparo que antecede esta encarnação.
Não buscamos perfeição, e sim esforço conjunto, com reformas íntimas e
de pensamento, para que pudessem compreender e serem bons codificadores
da boa-nova.

12. Os participantes podem ter sido influenciados por falsos profe-


tas?
— Conhecemos a veracidade de algo pelo conteúdo. A forma de realiza-
ção também tem relevância.
Falsos profetas fazem bastante alarde, mas não conseguem sustentar a
mentira por muito tempo.14
O simples fato de esta obra ter sido concluída com tanto esforço, dedica-
ção e de maneira despretensiosa já anula essa possibilidade.

13. Com tantos trabalhadores esforçados como Chico Xavier, por


que a escolha desta equipe imperfeita?

141 Jo 4:1 – “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus,
porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXI, item 10: “Os falsos profetas não existem apenas entre
os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo
amor e caridade, semeiam a desunião e retardam trabalho de emancipação da Humanidade, impingin-
do-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem. [...]” – Erasto.

26
— Quem disse que esses trabalhadores também não fazem parte desta
equipe?
A vida não acaba no desencarne, muito menos o auxílio ao próximo.

Distância da perfeição

Ao lerem uma obra desta responsabilidade, é natural que os encarnados


questionem a veracidade e queiram analisar sua procedência. É importante es-
clarecermos, através da razão, que todos os encarnados deste orbe, por habi-
tarem um mundo de provas e expiações, estão ainda muito distantes da perfei-
ção, entretanto, são muito próximos entre si em seu estado evolutivo. Não há
diferenças significativas entre um e outro; todos possuem estados evolutivos
similares e as mesmas oportunidades de progresso.
A grande diferença está no uso do livre-arbítrio: enquanto alguns o utili-
zam para construir um mundo melhor, com abundância de caridade e amor ao
próximo, outros o utilizam para julgar vossos irmãos, esquecendo-se de analisar
o conteúdo que poderia aprimorá- los.
Nem o Cristo, com todos os seus exemplos de amor, conseguiu agradar a
todas as opiniões. Nós, com nossa obra, também não temos essa ilusão. Ainda
assim, se pudermos despertar o caminho do bem em algum irmão que se iden-
tifique com nossos dizeres, estaremos completamente satisfeitos.

IV – Consolação

Há mais de dois mil anos, o mestre Jesus anunciou que seria enviado o
“Consolador Prometido”, através do Espírito da Verdade.15
Foi uma forma parabólica de dizer-nos que, assim, estaríamos amparados
e, apesar de muitas verdades não terem sido ainda reveladas, elas o seriam, de
acordo com nossa evolução.
Refleti: ficaríeis vós desamparados por 1.857 anos, até a chegada da Dou-
trina dos Espíritos? Sois perfeitos, ao ponto da desnecessidade de atualizações?
Ao refletir sobre essas questões, podereis concluir que Deus esteve cui-
dando de nós o tempo todo, através de muitos tipos de manifestações na histó-

15Jo 14:15-17, 26 – “Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. E o Espírito da Verdade, que o mundo
não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá con-
vosco e estará em vós. [...] Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o meu pai enviará em meu nome,
ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo que vos tenho dito.”

27
ria, utilizando-se de pessoas e ferramentas para propagar amor, paz e evolução.
O Espiritismo é mais uma dessas ferramentas. Então, além de não ter sido a
primeira, não será a última, e muitas outras virão.
É importante, como espíritas, a realização da unificação, jamais a segrega-
ção, dos meios de alcançar a Cristo e a Deus.
Alguns valores transcendem épocas, ultrapassam fronteiras e independem
de religião. Estes são a forma mais adequada para alcançarmos o caminho do
progresso.
Que o amor possa ser suficiente para abrirdes mão do vosso orgulho e
egoísmo e que possais enxergar um pouco além do que a doutrina vos propõe.
Fora da caridade, amor, paz e resignação, jamais haverá salvação, e fora da
humildade, não haverá evolução.

14. O Espiritismo é o “Consolador Prometido”?


— É apenas a “receita do bolo”; não os “ingredientes”, muito menos o
“bolo pronto”. É um caminho, que depende exclusivamente de esforço para
alcançar o objetivo.
Nota: Disse Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos livrará”16;
“Aquele que tem ouvidos, ouça”17. Portanto, “Consolador” no sentido
de libertar-nos das inverdades, conduzindo-nos para o verdadeiro cami-
nho, sem subterfúgios de buscarmos a verdade pelo que nos convém.
Despirmo-nos do nosso orgulho e do egoísmo é um processo (de des-
construção) muito doloroso. Tal enfrentamento nos remete ao auto-
conhecimento, e isso nos tira da posição de vítimas para a posição de
autores do nosso destino. Tira-nos da zona de conforto e mostra-nos
que somos responsáveis por todas as nossas escolhas nesta e em outras
existências.
O Espiritismo ensina-nos que nada é ao acaso, tudo é providência divi-
na para a nossa evolução e progresso. Hoje somos melhores que ontem
e estamos em nossa melhor versão. Somente o amor e a caridade des-
pretensiosa nos tornarão pessoas melhores. O consolo está na compre-
ensão e na aceitação de que somos seres falhos e em construção e de
que tudo sempre dependerá de nosso esforço e resignação diante das
adversidades da vida.18
16 Jo 8:32
17 Mt 13:9
18 A Gênese, capítulo XVII, item 40: “O Espiritismo realiza [...] todas as condições do Consolador pro-

metido por Jesus. Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer que
foi seu criador. É o produto do ensinamento coletivo dos Espíritos, ensino ao qual preside o Espírito
da Verdade. Nada suprime do Evangelho: ele o completa e elucida. [...]”

28
15. Se o conhecimento nos edifica e a prática nos liberta, o que mais
é preciso para sermos homens de bem?19
— A persistência em vossas próprias reformas, a consistência em vossos
atos, a coerência em vossos julgamentos (tanto para convosco quanto para o
próximo) e o amor sincero por aqueles que não vos favorecem.

V – Religião não pode causar divisão

Apesar de existirem diversas religiões que divergem umas das outras, o


principal objetivo de todas deveria ser o de resultar na união, jamais na divisão.
Toda religião séria, embasada na moralidade e com um considerável número de
adeptos coerentes, que concordam com as reflexões que ela promove em suas
consciências, alicerça-se nas mesmas leis: fé em Deus, caridade e amor ao pró-
ximo. Portanto, os conceitos, dogmas e discrepâncias de visão ficam para um
segundo plano, não podendo ser o suficiente para nos afastar, mas apenas um
jeito diferente de buscar o caminho do bem.
Todos nós somos irmãos, independentemente da crença. Quando esta-
mos encarnados, assim estamos pelo mesmo propósito: evoluir, lutar contra as
nossas más tendências e auxiliar no desenvolvimento do próximo, de maneira
despretensiosa e constante.
Na desencarnação, vos deparareis com um “mundo” sem fronteiras reli-
giosas, onde não há nada tão importante quanto o amor, a fé e a caridade. Aqui,
enxergareis tudo aquilo que fizestes de certo e todo aquele mal que não deve-
ríeis ter feito. A vossa consciência vos cobrará pelos equívocos cometidos e vos
confortará pelos progressos conquistados. Portanto, ainda há tempo de iniciar
vossas reformas, abrir mão do orgulho que impede o perdão, do egoísmo que
divide a nação e da vaidade que ofusca a razão.
Jesus, em sua passagem pelo mundo, deixou-nos exemplos claros e inques-
tionáveis; discerniu o certo do errado, mas não nos deixou religião alguma, pois
sabia, na sua grandeza, que a verdadeira religião está no que praticamos por nós
e pelo próximo. São essas realizações que pesarão em nossa evolução ou gera-
rão nossa estagnação.
Não permitais que vossa crença prevaleça sobre os verdadeiros valores

19O Livro dos Espíritos, questão 918, nota explicativa de Kardec: “O verdadeiro homem de
bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua mais completa pureza.
Se interrogar sua consciência sobre os atos praticados, perguntará se não violou essa lei, se
não cometeu nenhum mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém teve de se queixar dele,
enfim, se fez para os outros tudo o que os outros lhe fizessem. [...]”

29
deixados pelo Cristo. Não aceiteis nada que vos divida, pois, para a evolução, é
necessário que vos unais em fé e caridade.
Agostinho de Hipona
Matão, 24 de outubro de 2019.

16. Como promover a integração do Espiritismo com as demais re-


ligiões?
— O conteúdo deve ser o guia de vossa consciência; esta não possui re-
ligião, apenas o discernimento do certo e do errado. Logo, tudo aquilo que a
agradar deverá ser fator de união, e não de segregação.
Nota: O Espiritismo busca a prática dos ensinamentos do mestre Jesus,
promovendo a união e o respeito por meio de uma fé raciocinada, que
nos leva a pensar e a buscar em nossa consciência o verdadeiro cami-
nho; prende-se ao estudo, à reforma íntima e à procura incessante do
bem, que devem ser exercidos através do exemplo daquilo em que acre-
ditamos, e jamais impostos; mostra, de forma clara, que somos frutos
de nossas escolhas presentes e pretéritas, afastando-nos da imagem do
Deus punitivo e revelando-nos a do Deus infinitamente bom e justo,
conduzindo-nos à real essência do sentido da vida: o amor e a caridade,
em suas formas mais sublimes.

VI – Globalização

17. A globalização ajudará na propagação da Doutrina Espírita?


— Sim. A globalização é uma ferramenta que será de grande valia à propa-
gação da Doutrina, a fim de que ela chegue ao conhecimento de todos, gradati-
vamente.
Nota: Os meios de comunicação atingiram um alcance imensurável,
abrangendo todas as massas e idades. Utilizar-se desses recursos para
auxiliar na propagação do amor não é apenas justo, como também ne-
cessário.
A. As tecnologias de comunicação virtual podem ser utilizadas na
formação doutrinária na casa espírita?
— Desde que de forma agregadora, sim. Aliás, é natural que assim seja,
tendo em vista o desenvolvimento tecnológico da humanidade. O contato ma-
terial ainda é importante para os encarnados que tendem a assimilar melhor
o conteúdo presencial, entretanto, conforme sabeis, a matéria é perecível, e o
importante é o contato espiritual (intelectual e moral).

30
18. Com o lançamento desta obra, poderá ocorrer uma cisão no mo-
vimento espírita?
— O propósito é o oposto: consiste em unificar todas as religiões pela
prática do amor. Algo que siga os exemplos de Cristo e as leis de Deus jamais
virá para dividir os povos, e sim para unificá-los através da razão e da caridade.

19. Com o alcance da obra, espera-se a expansão dos fundamentos es-


píritas?
— Muito mais do que isso. Esperamos o exercício dos antigos e novos
fundamentos, fazendo-os sair apenas do campo teórico, tornando as boas prá-
ticas um hábito na humanidade.

20. Poderá a Doutrina, em algum instante, quebrar o paradigma da


incomunicabilidade entre os planos espiritual e material?
— A Doutrina jamais teve a pretensão de quebrar paradigmas, mas de
construir e unificar o homem. Acreditar na comunicabilidade do plano espiritu-
al com o material não é mais importante do que seguir as leis do amor por meio
da caridade. Quando a mensagem é verdadeira, ela toca a consciência de quem
a recebe, transformando, assim, seu modo de pensar e, consequentemente, sua
vida.
Nota: Os paradigmas que envolvem a imortalidade da alma20 e sua co-
municabilidade serão rompidos gradativamente. A própria ciência já re-
velou inúmeras descobertas; o que antes era impossível, ou improvável,
se tornou possível.
Portanto, tudo tem o seu devido tempo de maturação. Um dia, chega-
reis a um maior entendimento, no momento ou hora oportuna.

20O Livro dos Espíritos – Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item II: “[...] e por isso chama-
mos alma ao ser imaterial e individual que existe em nós e sobrevive ao corpo [...]”; questão 134: “O
que é a alma? — Um Espírito encarnado.”

31
CAPÍTULO II

Elementos Gerais do Universo


Humanidade e as quatro mudanças energéticas • Evolução • Descobertas científicas
• Antimatéria • Perispírito • Energia e vibração

I – Humanidade e as quatro mudanças energéticas

Há cerca de setenta mil anos, o Homo sapiens21 habitava a Terra, vivendo


em grupos de, aproximadamente, dez pessoas, coletando e caçando para so-
breviver. Eram povos nômades, portanto, uma vez que havia a escassez de ali-
mento, migravam em busca de novas terras, alcançando, assim, a sobrevivência
através de constantes jornadas.
Se fôssemos comparar a aparência física desses ancestrais com os homens
contemporâneos, haveria muitas similaridades, mas o tipo de pensamento era
primitivo e voltado quase que exclusivamente ao instinto.22
Com o passar dos séculos, houve a descoberta da agricultura, e esses po-
vos, por consequência, descobriram que poderiam, por meio do cultivo da terra,
permanecer por mais tempo no mesmo lugar, evitar a escassez de alimentos e
aumentar sua população significativamente.
Então, os primeiros modelos hierárquicos começaram a surgir: os mais
fortes e capazes de produzir mais eram os líderes, e os mais fracos respondiam
a eles.
No decorrer do tempo, essa força foi sendo gradativamente substituída
pela inteligência; ter força não garantia mais uma posição privilegiada no grupo,
mas ser inteligente e capaz de comandar os demais membros, sim.
Nesse momento, acontecia a primeira mudança energética do planeta: a
cooperação começava a agir sobre a força bruta. As brutalidades provindas do

21Espécie de hominídeo à qual pertence o homem moderno (HOUAISS; VILLAR, 2009).


22Instruções práticas sobre as manifestações espíritas – Vocabulário Espírita: “Instinto – espécie de inteligên-
cia rudimentar que dirige os seres vivos em suas ações, à revelia de sua vontade e no interesse de sua
conservação. O instinto torna-se inteligência quando surge a deliberação. Pelo instinto, age-se sem
raciocinar; pela inteligência raciocina-se antes de agir. No homem, confundem-se, frequentemente,
as ideias instintivas com as ideias intuitivas. Estas últimas são as que ele hauriu, quer no estado de
Espírito, quer nas existências anteriores e das quais conserva uma vaga lembrança.”

32
primitivismo começaram a perder importância, pois elas reduziam e dividiam o
grupo e, consequentemente, sua eficiência. Apesar de primitiva e pretensiosa,
essa foi a forma inicial de convívio coletivo.
Após alguns anos, esses povos começaram a unir forças com povos rivais
e vizinhos e a perceber que mesmo os inimigos poderiam somar algo dentro
da sua evolução. Ainda que não fosse uma evolução espiritual na época, a pre-
ocupação com seu progresso material movia as uniões, que começavam a ma-
nifestar-se.
As inteligências individuais começaram a perder relevância, pois havia di-
versos membros inteligentes, logo, para comandar, era necessário algo maior.
Nesse instante, surgiu a fé; através dela, os líderes diziam representar seus deu-
ses e, assim, estar acima da força e da inteligência.
A fé, comum a todos, fazia-os seguir o caminho, pois não poderiam con-
testar algo que não conseguiam explicar: as forças da natureza, o sol, o mar,
entre outras.
Ainda assim, os estudos e descobertas científicas avançavam, e essa fé, que
ora era dada à natureza e a diversos deuses, começou a unificar-se em apenas
um Deus. Nesse momento aconteceria a segunda grande mudança energética
do planeta.
Esse “Deus” (único e mal interpretado) era punitivo; desse modo, as pes-
soas, coagidas, realizavam Sua vontade, oferecendo até mesmo a própria vida
para honrá-Lo, sendo que, na verdade, era a vontade de alguns que se utilizavam
da interpretação conveniente para promover desejos pessoais.
Com a chegada do mestre Jesus, que, através do amor, exemplificou as
leis de Deus, colocando-as em prática por meio de sua própria carne, houve a
terceira grande mudança energética do planeta: a todos os humanos, foi dada a
chance de perceber que através do amor e da caridade é que se alcança a evolu-
ção moral e espiritual.
Em meados de 1850, Allan Kardec, mediante a codificação, viria a trazer
o conhecimento da Doutrina Espírita, da eternidade do espírito e da comuni-
cabilidade dos encarnados com o plano espiritual. Essa seria a quarta grande
mudança energética do planeta.
Os povos que já eram, então, civilizados, organizados e predominante-
mente cristãos viriam a conhecer uma força que aparentava superar a gravidade
e a razão, modificando a forma de pensar de todos os que com ela simpatiza-
ram. Ainda assim, tratava-se de uma lei muito simples: a lei do amor e da carida-
de, traduzida na reafirmação do mundo espiritual dentro do que a consciência
das almas já sabia.
A quinta grande mudança energética do planeta será a colocação em prá-

33
tica de tudo o que tendes de bagagem teórica referente ao exercício do bem, do
amor ao próximo e da caridade.
Após diversos milênios de guerra, dor, sofrimento, egoísmo, ambição e
individualismo, será que não sois capazes de analisar o passado o bastante para
alterar o presente e, por consequência, o futuro?
Sócrates
Matão, 12 de agosto de 2019.

II – Evolução

Desde a fase mineral, acumulais experiências, ampliais a bagagem de co-


nhecimentos e, além disso, colecionais questões orgânicas. Por esses motivos
é que vosso organismo, no ápice de sua evolução atual, carrega características
dos primeiros minérios, que vos possibilitaram desenvolver-vos. Contudo, esses
elementos trazidos do pretérito são constantemente transformados e adaptados
à necessidade que o “corpo” presencia na época, e essas transformações pos-
suem colaboração do instinto, cruzado com a inteligência. Um exemplo disso
é que vós possuís alguns elementos do pretérito nas quantidades ideais para o
organismo atual, como cálcio, carbono, magnésio, zinco etc. Vivereis a indepen-
dência orgânica apenas quando estiverdes no estado errático. Até lá, cuidai bem
das vossas ferramentas.

21. “Nascemos” no mineral, “passamos” pelo vegetal e “acorda-


mos” no animal?
— Somos frutos de um processo evolutivo e realmente acordamos a partir
do instante em que adquirimos consciência.
A. Como passamos pelo Reino Mineral?
— Durante o estado no Reino Mineral, organismos modificados utilizam-
-se do minério como meio para se proliferarem e são dependentes dele até o
momento em que conseguem se desvincular, podendo, assim, seguir seu pró-
prio rumo evolutivo. O minério que outrora fora necessário para essa prolifera-
ção se torna parte essencial daquele organismo, que levará essa conexão para o
futuro de suas transformações (inclusive humanas).
Desde o princípio de nosso processo evolutivo, o mineral, o vegetal e o
animal foram instrumentos que ajudaram a aperfeiçoar o que, um dia, gerou
nossa consciência.
Não sois pedra, mas não existiríeis sem que esta “permitisse” que, através
de sua face, micro-organismos gerassem a vida. Não sois planta, mas não exis-
tiríeis sem que esta tivesse evoluído para o animal. Sois frutos de um contínuo

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processo evolutivo, cuja perfeita sincronia une adaptação com posteriores com-
binações.
Uma evidência de vossa origem mineral é que deste dependeis em vosso
organismo para a sobrevivência do corpo físico. 23
Nota: Conforme a ciência da Terra já explorou, as olivinas minerais
(Mg,Fe)2 SiO4 permitiram a geração das primeiras formas de vida, ainda
subaquáticas.
O oxigênio, em sua forma livre, começou a se acumular na superfície
terrestre entre 3 e 2,4 bilhões de anos atrás, e há hipóteses que relacio-
nam o evento de oxigenação com as mudanças na composição da crosta
continental, mas que são difíceis de serem demonstradas.
Em suma, por meio de uma média de composição da crosta continen-
tal, com uma variedade de parâmetros calculados e compilados, pôde-se
constatar que ela era, no início dos tempos (período Arqueano), predo-
minantemente máfica (rica em elementos pesados de ferro e magnésio e
pobres em sílica), passando por outras composições, o que possibilitou
a acumulação de oxigênio nos oceanos e, subsequentemente, na atmos-
fera.
Alguns minerais ricos em magnésio, como as olivinas, formaram, atra-
vés de reações de hidratação, serpentinas minerais, liberando continu-
adamente oxigênio livre e outros compostos ao meio ambiente. Atual-
mente, atribui-se o desenvolvimento do ciclo de oxigênio ao surgimento
das cianobactérias (ocorrido na Era Mesoarqueana), e a incerteza está
no porquê de isso ter acontecido lentamente, e não de maneira contí-
nua, fato atribuído, nesses estudos, à mudança de composição da crosta
continental.

23De acordo com Erastova et al. (2017) e Kitadai e Maruyama (2018), desde as hipóteses de Bernal
(1949), que postulou que as argilas podem concentrar por adsorção os compostos orgânicos na
“sopa primordial”, proposta, por sua vez, por Oparin (1924) e Haldane (1929), a origem abiótica da
vida vem sendo estudada em várias linhas de pesquisa. Ainda assim, até os dias de hoje, não existe
uma prova concreta do real processo que originou a vida, porém, há muitas hipóteses e pesquisas
que se fundamentam em superfícies minerais como sendo parte do ambiente ideal que geraria a vida
(DOHM; MARUYAMA, 2015). Além disso, já foram encontrados aminoácidos (considerados os
blocos essenciais da composição da vida) em meteoritos e outros corpos cósmicos (KVENVOL-
DEN et al., 1970; ENGEL; MACKO, 1997), o que indica um processo de síntese química simples no
meio interestelar. Evidências experimentais também estão disponíveis para a síntese abiótica de ami-
noácidos, sob uma variedade de condições ambientais potenciais da Terra primitiva (PLANKENS-
TEINER; REINER; RODE, 2006; CLEAVES et al., 2008; FITZ; REINER; RODE, 2007; MILLER;
UREY, 1959). A carga de aminoácidos é dependente do pH e, portanto, permite sua associação com
diferentes minerais em diferentes ambientes.

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As olivinas também foram utilizadas nesses estudos como marcadores,
para diferenciar a composição da crosta continental superior mediante
bases de dados e outras razões, pois foi observado que elas estavam ali
presentes em quantidades significativas.
Os estudos observaram ainda que não havia quantidade significativa
de oxigênio enquanto essas rochas máficas (contendo olivinas) eram
abundantes na crosta, e o declínio delas foi sincronizado com a acumu-
lação de matéria orgânica e oxigênio nos oceanos; logo na sequência,
a remoção dessas rochas foi sucedida pelo grande evento de oxidação.
Ademais, concluiu-se que o desenvolvimento do ciclo de oxigênio na
Terra não foi limitado pela produção deste nos hábitats das cianobacté-
rias, mas, sim, pela dominante composição máfica das rochas dos con-
tinentes no período Arqueano.
Por meio das olivinas, foi possível a serpentinização, envolvendo uma
série de reações que as transformaram em outras rochas, aliadas a bai-
xas temperaturas, águas hiper alcalinas (incluindo os hábitats das ciano-
bactérias) e extremamente enriquecidas com compostos captadores de
oxigênio livre. Com a posterior remoção desses captores, no decorrer
de milhões de anos, foi possível a elevação do fluxo de oxigênio livre.
Do tempo semelhante ao grande evento de oxidação ao desapareci-
mento das olivinas na crosta continental superior, a indicação é de que
a superfície dos oceanos alcançou a saturação de oxigênio quando a
serpentinização foi cessada, alterando as composições da crosta.
Em suma, esses estudos elucidam o sincronismo entre a mudança de
composição da crosta com a acumulação de oxigênio nos oceanos e na
atmosfera durante o Pré-Cambriano.24

22. Do átomo ao arcanjo, em que grau da escala evolutiva se encon-


tra o homem hoje?
— Em diversos. De acordo com seu livre-arbítrio, o homem atinge maio-
res ou menores graus de evolução25; isso independe do planeta ou lugar em que
esteja, mas depende das escolhas que fez durante sua trajetória.26

24 Smit e Mezger (2017).


25 O Livro dos Espíritos, questão 843: “O homem tem livre-arbítrio nos seus atos? — Pois que tem a
liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria uma máquina.”
26 Obras Póstumas – Primeira parte, V – Doutrina Espírita: “As almas ou Espíritos progridem mais ou

menos rapidamente, mediante o uso do livre-arbítrio, pelo trabalho e pela boa vontade.”

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23. Tudo evolui na natureza. A progressão é uma faculdade apenas
dos espíritos?
— A evolução ocasiona o progresso, pois, para progredir, é necessário,
antes, evoluir. O progresso é fruto do desenvolvimento intelectual em conjunto
com o moral, portanto, não poderiam alcançá-lo sem antes ter a evolução ne-
cessária para tal.27
Nota: A evolução é inerente a todos os seres da natureza, no entanto,
progredir é uma faculdade dos espíritos. Somos seres em processo con-
tínuo de construção moral e intelectual.28

24. Existe hierarquia predeterminada na Criação ou ela é fruto do


processo evolutivo?
— Na Criação, a “hierarquia” é consequência do processo evolutivo;
conforme a evolução acontece, o ser ou elemento aumenta sua posição hie-
rárquica.29

25. Haverá algum momento em que não será mais necessário o cor-
po físico?
— Sim, haverá, mas, para isso, um alto grau evolutivo precisará ser atingido.
Nota: Chegará um momento, mediante a evolução, em que não haverá
mais a necessidade de reencarnar. Viveremos de maneira espiritual, que
é a nossa essência, mas, para isso, ainda serão necessários muitos apren-
dizados e reformas.30

26. Qual é a diferença entre a nossa composição e a dos seres que


habitam os outros planetas?
— Na Terra, a composição é compatível à necessidade, portanto, ela é

27 O Livro dos Espíritos, questão 780: “O progresso moral segue sempre o progresso intelectual? — É
a sua consequência, mas não o segue sempre imediatamente.”
28 O Livro dos Espíritos, questão 114: “Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mes-

mos que procuram melhorar-se? — Os Espíritos mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de


uma ordem inferior para uma superior.”
29 O Livro dos Espíritos, questão 96: “Os Espíritos são todos iguais, ou existe entre eles alguma hierar-

quia? – São de diferentes ordens, segundo o grau de perfeição a que tenham chegado.”
O Livro dos Espíritos, questão 115: “Uns Espíritos foram criados bons e outros maus? — Deus criou
todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. [...] Os Espíritos adquirem o
conhecimento passando pelas provas que Deus lhes impõe. [...]”
30 O Livro dos Espíritos, questão 168: “O número das existências corpóreas é limitado ou o Espírito se

reencarna perpetuamente? — A cada nova existência o Espírito dá um passo na senda do progresso;


quando se despojou de todas as impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea.”

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fruto do seu processo evolutivo natural. A similaridade ocorre em outros orbes:
a composição dos habitantes será fruto do processo evolutivo equivalente.31

III – Descobertas científicas

Desde a primeira obra, diversas áreas se desenvolveram, promovendo um


importante progresso humano.
A moral está naturalmente superior a como estava no passado, o intelecto,
mais aprimorado, e a ciência, por sua vez, desvendou diversos enigmas. Entre-
tanto, como sempre, para cada nova resposta científica, surgirão milhares de ou-
tras perguntas; estas serão os “motores” que impulsionarão o desenvolvimento
de métodos e mecanismos de pesquisa, que, no futuro, poderão proporcionar
novos esclarecimentos.
Além do material, a ciência de hoje busca compreender, com maior preci-
são, aquilo que ainda é invisível aos olhos humanos, tentando, assim, preencher
as lacunas, após séculos de pesquisas inconclusivas.
Certas mentes surgem no orbe com grande valor e utilidade; não se con-
tentam com a dúvida e desenvolvem ferramentas e métodos que levarão a hu-
manidade a caminhar em direção ao tão precioso “sentido da vida”.
Como surgiu o Universo? Quais energias nos regem? Como tudo foi cria-
do? Existem novos planetas? Há vida fora da Terra? Existem novos universos?
Certamente, há mais perguntas que respostas, o que faz com que a humildade
seja despertada mesmo nas mentes mais brilhantes do mundo, levando-as a crer
em uma força maior, que conhecemos como “Deus”.
Com o tempo, Deus nos permitirá alcançar um nível muito maior de escla-
recimento. Conforme progredirmos e aprimorarmos nossa tecnologia, iremos
aos poucos aperfeiçoando nosso raciocínio lógico e elucidando questões que
outrora eram apenas respondidas com o argumento da existência de Deus.
Obviamente que não alcançaremos todas as respostas, porém, a procura
não deve cessar. O essencial é que desvendemos o universo pelos propósitos
corretos, buscando sempre a construção, jamais a destruição.
O avanço tecnológico poderá ser a salvação ou a destruição do planeta. É
por esse motivo que os homens só irão possuir mais respostas quando tiverem
a moral compatível com esse privilégio.

31 O Livro dos Espíritos, questão 181: “Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos seme-
lhantes aos nossos? — Sem dúvida que têm corpos, porque é necessário que o Espírito se revista de
matéria para agir sobre ela; mas esse envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza
a que chegaram os Espíritos, e é isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de
percorrer. [...]”

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Um passo por vez. Solidificando a moral, a ciência dará saltos e desvenda-
rá muitos mistérios.

27. O que é a ciência segundo o Espiritismo?


— A ciência é um dos pilares do Espiritismo, é uma ferramenta necessária
para o desenvolvimento da humanidade. Através dela, o encarnado exercita seu
intelecto e caminha em direção ao progresso, mediante as descobertas.
Ela concede o sentido da vida de forma racional. Quando aliada à fé, é a
mais poderosa ferramenta de avanço.32

28. Qual é a relação entre a ciência material e a espiritual?


— Na ciência material, os recursos são limitados, já na espiritual, são ili-
mitados. A ciência espiritual complementa a material, pois, oferecendo recursos
infinitos, faz com que os avanços científicos aconteçam pelo uso da inteligência
humana.
Nota: Para que houvesse recursos ilimitados, seria necessário inteligên-
cia ilimitada. Os recursos nos são disponibilizados conforme nosso de-
senvolvimento científico. A matéria que conhecemos é finita, porém, os
recursos não se originam apenas dela; procedem, também, das escalas
energéticas que ainda não podemos compreender.

29. De onde viemos e para onde iremos?


— Somos a combinação perfeita que, dentre infinitas probabilidades,
prosperou; viemos de Deus e nosso destino pertence a Ele. Dentro de nossa
limitada visão, podemos enxergar apenas o próximo passo.

30. Na questão 243 de O Livro dos Espíritos, o que significa “inte-


grar-se a Deus”?
— Depurar-se no caminho da perfeição, aproximar-se d’Ele.33

32 A Gênese, capítulo IV, item 9: “[...] A missão da ciência é a de descobrir as leis da Natureza; ora,

como essas leis são obras de Deus, não podem ser contrárias às religiões fundadas sobre a verdade.
[...] Se a religião se recusar a caminhar com a ciência, a ciência prosseguirá sozinha.”
33 O Livro dos Espíritos, questão 969: “O que se deve entender quando se diz que os Espíritos puros

estão reunidos no seio de Deus e ocupados em lhe cantar louvores? — É uma alegoria para dar ideia
da compreensão que eles têm das perfeições de Deus, pois o vêem e compreendem [...]”; Introdução
ao Estudo da Doutrina Espírita, item VI: “[...] Os Espíritos pertencem a diferentes classes, não sendo
iguais em poder nem em inteligência, saber ou moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos
Superiores que se distinguem pela perfeição, pelos conhecimentos e pela proximidade de Deus, pela
pureza dos sentimentos e o amor do bem: são os anjos ou Espíritos puros [...].”

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31. Diante do pragmatismo científico, será possível, no futuro, para
a ciência da Terra, provar a existência de Deus?
— Ela já provou. Uma vez que vós não conseguis explicar a origem de
tudo, tem-se a prova fiel da existência divina.
Nota: Enquanto Deus nos convida a tentarmos provar a razão da exis-
tência de tudo, precisamos ter humildade o suficiente para percebermos
que Ele nos prova todos os dias Sua existência, escancarando nossa
limitação. Não concordais? Provai!

32. A ciência da Terra conseguirá constatar que há vida intelectual-


mente superior à humana em outros planetas?
— Sim, com o tempo e as novas descobertas, compreendereis que sois
apenas uma centelha no infinito universal. Todavia, é mais fácil que uma inte-
ligência superior vos contate primeiro.

33. A tecnologia pode contribuir para provar cientificamente a reen-


carnação e os processos mediúnicos?
— Poderá um dia, mas ainda é necessária muita evolução.

34. Desde a primeira obra, houve relevantes progressos na ciência.


Como os espíritos enxergam esse avanço?
— Com naturalidade, pois é um reflexo do esforço coletivo da humani-
dade. Entretanto, a utilização dessas descobertas nem sempre foi positiva; elas
foram permitidas por Deus para que os encarnados as utilizassem para o bem,
mas, em muitas ocasiões, utilizaram-nas para o mal.

35. O uso da Inteligência Artificial está aumentando exponencial-


mente. Em relação a esse fato, há mais bônus ou ônus para a humani-
dade?
— Depende de sua utilização. Toda tecnologia poderá gerar bônus, quan-
do utilizada de forma construtiva, e ônus, quando de forma destrutiva. O segre-
do está no propósito e na dose.
Nota: Em virtude do livre-arbítrio, somos arquitetos do nosso próprio
destino. O mesmo ocorre àquilo que criamos. Por mais avançada que
seja nossa criação, precisamos nos questionar se a humanidade está
pronta para utilizá-la de forma correta. Tivemos, no passado, diversas
provas de que a tecnologia mal utilizada causa destruição em vez de
progresso. Cabe a nós aprendermos com nossos erros pretéritos e pre-
venirmos possíveis falhas presentes e futuras. Vamos pedir a Deus para

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que tenhamos o discernimento necessário para utilizar nosso bom fruto
em favor de bons propósitos. Oremos e vigiemos.

36. As pesquisas de Robótica que buscam nos conectar a equi-


pamentos eletrônicos por meio do pensamento, necessitando de foco e
concentração para que os eletrodos/sensores o captem, podem colabo-
rar para que tenhamos maior controle sobre nossa mente?
— A Robótica também é criada pela mente humana, logo, ela pode au-
xiliar no controle da mente. Porém, o que definirá o nível desse controle são o
autoconhecimento e o equilíbrio, fatores que deverão surgir naturalmente com
a evolução humana.

37. Na visão dos espíritos, em que princípios deve se pautar a


Bioética?
— Nos mesmos em que ela já se pauta: beneficência, autonomia, justiça
e não maleficência. No entanto, é necessário que esses princípios sejam prati-
cados de fato, e não apenas existam como um conceito teórico. Podeis iludir os
homens, mas jamais enganar a perfeita visão divina.

38. Qual a visão dos espíritos sobre a tecnologia CRISPR/Cas9?34


— Desde que aplicada de forma moral, auxilia no progresso e faz parte
do processo evolutivo.
A. É ético aplicá-la ao genoma humano?
— Estais realmente preparados para isso? A criação original é de Deus;
podeis aprimorar o que por Ele foi criado?
Nota: Supor que estamos preparados para aprimorar o gene humano a
ponto de nos compararmos à Inteligência Suprema do Universo é mui-
ta audácia. Estamos, todavia, em um processo de evolução, inclusive in-
telectual, e a busca pelo aprimoramento deve ser constante. O que aqui
está em questão é a aplicação da tecnologia; provavelmente, demorará
um bom tempo. Enquanto isso, temos por obrigação aprimorar sem-
pre nosso intelecto e nossa moral, independentemente do nosso estado
evolutivo.

34A tecnologia CRISPR/Cas9 trata-se de uma técnica de edição genômica pela qual se pode alterar o
DNA de praticamente todos os seres vivos com muita precisão. A técnica consiste no uso do sistema
de imunidade adaptativa (CRISPR/Cas) em vírus que as bactérias Streptococcus pyogenes possuem, as
quais agregam parte do DNA do vírus no próprio genoma, como mecanismo de defesa. As autoras
da descoberta científica são Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna (THE NOBEL PRIZE,
2020a).

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IV – Antimatéria

Há inúmeras descobertas para acontecer; no tempo e na hora adequados,


o homem encarnado terá ferramentas de grande valor em suas mãos, podendo,
assim, auxiliar mais efetivamente no combate às doenças, reduzir as distâncias
e aumentar a velocidade do progresso de forma exponencial. No entanto, para
isso, é necessário que suas reformas íntimas estejam compatíveis com tais con-
quistas.
A antimatéria é algo que a ciência da Terra já comprovou através da for-
mação de antiátomos, ao observar elétrons com carga positiva (pósitrons ou
antielétrons), prótons com carga negativa (antiprótons) e nêutrons com carga
nula (antinêutrons). Isso se dá da mesma maneira que na constituição do átomo,
mas formado por essas antipartículas, antiquarks e léptons, que são, também,
responsáveis pela formação de antimatéria.
O encontro de matéria com antimatéria propicia a aniquilação de ambas,
produzindo, assim, uma energia (fótons) com potencial imenso e de grande es-
cala proporcional. Essa energia poderia ter diversas utilidades: ajudar ainda mais
na tecnologia da medicina terrestre, ser utilizada como combustível ou reduzir
as distâncias entre os planetas de modo significativo, por exemplo. A energia
que é gerada nessa reação tem potencial acima do nuclear, ou seja, é promissora
e ilimitada.
Ainda assim, como tudo no universo, se utilizada inadequadamente, pode
dar origem a armas terríveis de destruição em massa. Por esse motivo, nós, da
espiritualidade, deixamos o desenvolvimento seguir seu curso natural, para que,
quando as descobertas acontecerem, os encarnados estejam realmente prepara-
dos para utilizá-las para o progresso, e não para mais destruição.
A antimatéria já é utilizada no mundo espiritual para diversas finalidades,
dentre elas, o tratamento medicinal avançado de encarnados. Sua energia de rea-
ção com a matéria tem potencial inestimável e faz com que a tecnologia nuclear
pareça obsoleta, como já dissemos.
Tudo aquilo que existe, o poder do pensamento pode controlar – inclusi-
ve, a matéria e a antimatéria, mas, para isso, é necessário que o espírito já possua
certa experiência e merecimento. Através do pensamento, utilizando-se da anti-
matéria como fonte de energia, podemos nos deslocar de forma absurdamente
rápida e realizar tratamentos que ainda não podem ser explicados pelos conhe-
cimentos terrestres.
No caso, a locomoção com antimatéria utilizada como condutora é tão
rápida e eficaz que faz com que o tempo da Terra praticamente “congele”, per-
mitindo que o espírito possa, como na concepção humana, estar em diversos

42
lugares ao mesmo tempo.
Que possais aplicar a tecnologia para o amor, e não para a conquista de
poder ou dinheiro, e compartilhar o bem em vez de suprir vossas necessidades
instintivas por poder e satisfação individual.

39. O que é o tempo, na visão dos espíritos?


— O tempo é um dos mais complexos fatores universais, sobre o qual
apenas Deus possui o domínio e controle, e o que a vós compete é utilizá-lo de
forma sábia e proveitosa.35

40. Os hipotéticos “buracos de minhoca”36 (termo teórico que se


refere a uma topologia do contínuo espaço-tempo) existem?
— Não da forma como imaginais, porém, existem atalhos de deslocamen-
to entre o espaço-tempo que não podeis compreender. São infinitos os cami-
nhos criados por Deus.
A. Onde estão localizados?
— Com o tempo, podereis identificar a localização, por ora, basta saber
que eles existem.
B. É possível nos deslocarmos pelo tempo (tanto para o passado
quanto para o futuro) utilizando-os?
— Sim, sempre que houver utilidade, no entanto, esse deslocamento de-
penderá do vosso estado evolutivo e, principalmente, da necessidade. Assim, é
bom que saibais: jamais podereis modificar o passado, pois ele é imutável; o que
vos cabe é modificar o presente e, por consequência, o futuro.

41. Existem outros universos?


— Sim, existem.
A. Como eles foram criados?
— Através da inflação universal. Entretanto, diversos outros fatores cola-
boraram para essa criação, concebidos pelo poder divino.
B. Quais tipos de vida habitam neles?
— As mais diversas; são adequadas à situação de cada um. Assim como a
vida material que conhecem necessita de ar, água e luz solar, em outros univer-
sos, pode haver outras necessidades, compatíveis a cada realidade.

35 A Gênese, capítulo VI, item 2: “O tempo, tal como o espaço, é uma palavra definida por si só; fa-
remos uma ideia mais justa dele estabelecendo sua relação com o todo infinito. [...] O tempo não é
senão uma medida relativa de sucessão das coisas transitórias [...].”
36 Também conhecidos como “pontes de Einstein-Rosen” (1935).

43
C. Teremos contato com elas algum dia?
— Um dia terão, mas não é possível prever quando, porque esse fato ocor-
rerá de acordo com o avanço de ambas as partes, a depender do livre-arbítrio.

42. Como explicar o mistério da distribuição desigual de matéria e


antimatéria em nosso universo?
— Descobrindo novos universos. Existe muito mais do que vós ainda sois
capazes de entender. O tempo e o esforço serão os responsáveis por responder
a muitas perguntas e, também, originar outras novas.
A antimatéria já foi comprovada pela ciência terrestre, entretanto, pela
visão dos encarnados, nosso universo observável é composto majoritariamente
por matéria. Nesse caso, seria improvável a descoberta de onde foi parar toda a
antimatéria do universo.
Quando se esgotam as respostas científicas, entra o poder de Deus, o úni-
co capaz de “neutralizar” as maiores forças resultantes em prol de um propósito
maior ou, então, conduzi-las para novos universos.
Um dia, entendereis os propósitos divinos. Todavia, essa curiosidade que
vos cerca é produtiva, pois vos faz caminhar.
A. Qual foi o destino da antimatéria oriunda da criação do nosso
universo?
— A maior parte dela está em outros universos, “neutralizada”, no início,
pela atuação de Deus. Com a inflação universal, destinou-se à criação de novos
planetas, compostos por antimatéria.

43. Com qual intuito Deus neutralizou a antimatéria da matéria?


— Para que não se aniquilassem; com isso, permitiu que pudessem surgir
diversos universos e, consequentemente, oportunidades de evolução.

44. Nosso corpo físico possui antimatéria em sua composição?


— Sim, porém em pequenas quantidades, quase nulas.
A. Por que não a detectamos?
— Porque ainda não há utilidade.

44
45. A partir da equação de De Broglie37 (λ = h/mv), conseguimos
calcular a dualidade onda-partícula da matéria, chegando em compri-
mentos de ondas. Esse valor seria o responsável pela capacidade dos
humanos de magnetizar?
— Sim, o fato de possuir essa dualidade vos permite, organicamente, mag-
netizar. Entretanto, é necessário o controle e a expansão correta dessas energias,
que, conforme já comprovado, são quase insignificantes em sua forma original.
Nota: Tomando como exemplo para o cálculo da equação de De Broglie
um corpo de massa (m) de 50kg a uma velocidade (v) de 2m/s (7,2km/h)
e constante de Planck (h) de 6,62.10-34 J.s, obteremos um valor de com-
primento de onda (λ) na ordem de 6,63.10-36 metros (m). Em outras pala-
vras, para corpos macroscópicos – massa (m) com valores muito grandes
–, os valores de comprimentos de ondas associados (λ) são tão pequenos
a ponto de ser impossível perceber suas características ondulatórias. 38
A. Como magnetizar é possível se, na ordem de grandeza de 10-36
metros, os valores são indetectáveis?
— É possível através do controle mental e intencional. Com o devido
estudo e prática, o ser humano é capaz de amplificar e posteriormente projetar
suas ondas, expandindo os níveis energéticos de sua matéria com finalidade de
tratamento.
B. Como ocorre o processo de intensificação dessa energia, permi-
tindo-nos manipulá-la?
— Conforme a ciência da Terra já comprovou, a mente humana, por meio
do cérebro, é capaz de comandar tudo o que há no corpo material; órgãos fun-
cionam de forma involuntária, e as células regeneram-se da mesma forma.
O autoconhecimento, somado à prática de controle mental e emocional
profundo, permite ao ser humano controlar aquilo que outrora era involuntário,
manipulando, assim, as energias oriundas das partículas mais elementares (fér-
mions) e as expandindo conforme sua intenção. Não é um processo simples e

37 Maurice de Broglie foi um físico experimental francês que, desde o início, apoiou a visão de Comp-
ton sobre a natureza das partículas da radiação. Seus experimentos e discussões impressionaram tanto
seu irmão, Louis, com os problemas filosóficos da Física da época, que este mudou sua carreira da
História para a Física. Em sua tese de doutorado, apresentada em 1924 à Faculdade de Ciências da
Universidade de Paris, Louis de Broglie propôs a existência de ondas de matéria. O rigor e a origi-
nalidade de sua tese foram reconhecidos imediatamente, mas, devido à aparente falta de evidências
experimentais, as ideias de De Broglie não foram consideradas como tendo qualquer realidade física.
Foi Albert Einstein quem reconheceu sua importância e validade e, por sua vez, chamou a atenção
de outros físicos. Cinco anos depois, De Broglie ganhou o Prêmio Nobel de Física, tendo sido suas
ideias dramaticamente confirmadas por experimentos (EINSBERG; RESNICK, 1985, p. 56).
38Einsberg e Resnick (1985, p. 56-65); The Nobel Prize (2020b).

45
exige um autocontrole que raros encarnados têm. Entretanto, no futuro, será
completamente normal.
Aquilo que hoje é matematicamente irrelevante ou indetectável para vós
será a matéria-prima de tratamentos futuros. Não são imperceptíveis por acaso:
assim os são justamente para a aquisição desse autocontrole e domínio sobre a
própria matéria.

46. O universo se expandirá eternamente?


— A resposta cabe apenas a Deus; é lógico pensar que sim.

47. A lei da gravidade opera no plano espiritual?


— Não. No plano espiritual, operam outras leis, não necessariamente as
da Terra. Se um espírito é capaz de se deslocar através do pensamento, logo,
estaria infringindo a lei da gravidade.

48. Existem leis científicas do mundo material que podem ser apli-
cadas no mundo espiritual?
— Todas as leis científicas de vosso mundo atual são oriundas de Deus,
que, por sua vez, permitiu que as descobrísseis através de vosso intelecto e
esforço. Portanto, com a permissão d’Ele, podeis aplicar algumas no plano er-
rático, apenas se houver utilidade. A comunicabilidade com os espíritos é um
exemplo de utilização da lei que contempla os dois planos.

49. Quando uma estrela supernova explode, destruindo os planetas


que orbitam ao seu redor, o que ocorre com os espíritos que povoam es-
ses hábitats?
— São direcionados para novos planetas; nada é perdido, tudo é aprovei-
tado por Deus na evolução das criaturas.

V – Perispírito

Alimento do perispírito

Da mesma forma que o perisperma é o envoltório que fica ao redor da se-


mente, auxiliando sua germinação, “perispírito” é o envoltório do espírito, que
tem como função auxiliar no desenvolvimento de cada um de vós.
É claro que, embora seja um processo natural, esse desenvolvimento e sua
velocidade dependerão do que vos alimentardes. Do mesmo modo que um fru-
to precisa de nutrientes para amadurecer, o homem precisa buscar, no esforço,

46
com instruções e reformas, tudo aquilo que é necessário para o progresso de
seu intelecto e de sua moral.
São importantes o “adubo” de vossa caridade e a “rega” de amor de vos-
sas práticas para a “colheita” da vossa evolução espiritual.
Tudo aquilo que ficar armazenado em vosso perispírito é fruto de vossas
ações enquanto encarnados; portanto, a melhor forma de desenvolvê-lo é apro-
veitando a oportunidade que a vida material vos proporciona diariamente.
O perispírito é o elo entre a matéria e o espírito e, conforme se aprimora,
torna-se cada vez mais sutil. Quanto maior o progresso do espírito, menor a
densidade do perispírito; é um processo natural, longo e gradativo.

50. O perispírito de um encarnado pode adensar-se devido às suas


escolhas?
— Sim, até pode, apesar de não ser o curso natural. A densidade semima-
terial do perispírito pode sofrer variações de acordo com as escolhas dos encar-
nados, influenciadas pelos campos vibratórios ou energéticos que os cercam.

VI – Energia e vibração

51. Qual é a diferença entre energia e vibração?


— Existem diversos tipos de energia, e todas as energias são forças ca-
pazes de produzir um trabalho. Quanto à vibração, são ondas emitidas através
do pensamento, capazes de percorrer infinitas distâncias no tempo/espaço e
fundir-se com a matéria orgânica, promovendo um equilíbrio ou desequilíbrio
no corpo físico e no perispírito.
Todo pensamento emite vibrações; a depuração e a destinação dos pen-
samentos são o que definirão quais vibrações serão benéficas e quais serão no-
civas.

52. Qual é a composição fluídica de uma vibração?


— A composição dependerá da intenção aplicada. A vibração pode as-
sumir diversas formas, entretanto, a mais comum é a de ondas, emitidas pelo
poder do pensamento.

47
53. A Teoria das Cordas39 procede?
— Em partes. O caminho está correto, porém ainda faltam algumas des-
cobertas, que virão naturalmente com o tempo.
A maior delas será aprender como controlar essas vibrações que formam
essas partículas elementares.
A. De que forma essas vibrações e frequências são conduzidas?
— Deus, em Sua inteligência suprema, foi o condutor dessa “orquestra”
perfeita, permitindo que tudo o que conheceis hoje fosse formado a partir de
partículas elementares nas devidas proporções.
Conforme evoluímos, tornamo-nos capazes de modificar tais vibrações,
permitindo, assim, a geração de novos tipos de energia e a recuperação material
daquilo que hoje ainda é impossível para a ciência atual. O maior poder do ser
humano está no pensamento; controlá-lo é a chave para a evolução.
B. Como podemos provar cientificamente a existência das ondas
originárias das cordas?
— Cientificamente ainda não podem, entretanto, é um caminho lógico a
ser seguido. Com os avanços da ciência, em breve, terão as respostas.

54. Devemos considerar o pensamento como ondas e vibrações ca-


pazes de modificar a matéria?
— É muito mais do que isso. Ondas e vibrações são os meios que o pensa-
mento utiliza para agir sobre a matéria, porém não age apenas nela; age também
no âmbito espiritual, logo, possui uma abrangência muito maior.
Nota: Tentar definir o pensamento é muito difícil em vosso atual es-
tágio evolutivo, afinal, seria necessária a posse de um avanço muito
maior, para que pudésseis compreender a flexibilidade dessa poderosa
ferramenta concedida por Deus para nosso progresso. Entretanto, os
caminhos que os pensamentos utilizam para comandar a matéria e o es-
pírito se tornam mais plausíveis, na medida em que já estais a caminho
de comprovar que ondas e vibrações podem modificar a matéria.
Dentro da Teoria das Cordas que vibram, dependendo do modo que
ressoam, geram uma espécie de matéria, assim como as cordas de um
violão, que são capazes de emitir diversos sons diferentes de acordo
com a maneira com que são tocadas. Todavia, na maioria dos encarna-
dos, elas vibram apenas de forma involuntária; a grande dificuldade está
em aprender a coordená-las voluntariamente.

39 Teoria unificada do universo, postulando que os “ingredientes” fundamentais da natureza não


são as partículas pontuais de dimensão zero, mas minúsculos filamentos unidimensionais, chamados
“cordas”. A Teoria das Cordas une, harmoniosamente, a mecânica quântica e a relatividade geral, leis
previamente conhecidas “do micro” e “do macro”, que, de outra forma, são incompatíveis (GREE-
NE, 2009, tradução nossa).

48
Ao aprendermos que devemos controlar os pensamentos, é importante
compreender que, mais do que afetar nossa mente, o pensamento é
capaz de afetar nossa matéria orgânica enquanto estamos encarnados
e também nosso espírito após o desencarne. Por esse motivo, depen-
dendo de como o conduzimos, ele se torna o nosso maior remédio ou
o nosso pior veneno.

55. Como podemos ampliar a energia emitida por nosso corpo ma-
terial ou matéria orgânica?
— Controlando os pensamentos e aprendendo a conduzi-los. Esse é um
processo lento, que exige autoconhecimento e depuração.

56. Segundo a física, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar
no espaço, tampouco um corpo ocupar dois lugares ao mesmo tempo.
Essas leis serão derrubadas no futuro?
— Não, a matéria realmente não ocupa o mesmo espaço ao mesmo tem-
po; contudo, as leis são diferentes para tudo o que não é material, o que quebra-
ria as leis da física que hoje conheceis por verdade. Um exemplo disso são os
pensamentos: ocupam diversos espaços ao mesmo tempo.
Nota: Jamais devemos nos esquecer de que as leis da física são oriundas
das leis de Deus. Portanto, compreender o que a física nos traz significa
comprovar aquilo que já vivemos; acreditar nas leis de Deus é esperan-
çar aquilo que viveremos.

57. Como é possível o pensamento romper as leis da física?


— O pensamento “criou” todas as leis, logo, é capaz de rompê-las. Ele é
a maior força do universo.

58. Qual é a importância de controlar nossas vibrações e pensa-


mentos?
— É imensurável. Controlá-los é uma necessidade orgânica e espiritual;
o universo é regido pelos pensamentos e vibrações, e aprender a controlá-los é
um enorme passo para a evolução.

59. Qual é o melhor método para controlar nossos pensamentos?


— A prática e o hábito. Assim como as demais virtudes humanas são ad-
quiridas, o controle de pensamento exige exercício e esforço. Não acontecerá
repentinamente, mas de forma natural; uma hora ou outra, desenvolvereis esse
controle, pois ele faz parte da vossa evolução. Todavia, não vos cabe ficar es-
perando a natureza agir, e sim promover, por meio dos vossos esforços, essa
conquista.

49
CAPÍTULO III

Criação
Infância do espírito • Princípio material • Células inteligentes?
• Vida orgânica e vida espiritual

I – Infância do espírito
Um dos maiores mistérios universais é saber como, quando e de que for-
ma se originou o espírito. Deus, Inteligência Suprema do Universo, é o único
que tem completo domínio e conhecimento do início de nossas existências
como espíritos (tanto encarnados quanto desencarnados). Porém, já é de nosso
conhecimento que uma junção de fatores auxiliou a origem de nossa formação
espiritual. Através dessa formação, outrora iniciada pelo princípio inteligente,
somada à consciência e à moral, passaremos, por conseguinte, milhares de anos
na Terra, lapidando nossos espíritos. Quanto maior for a lapidação, menos den-
sos estaremos e mais desmaterializados permaneceremos, para cumprirmos
nosso “papel” no universo.
Como espíritos, percorreremos um longo caminho até a perfeição, ne-
cessitando, diversas vezes, repetir nossas vivências, a fim de buscarmos o apri-
moramento intelectual e moral. Entretanto, por sermos criaturas do Criador
Supremo Universal, teremos todas e quaisquer condições necessárias para en-
frentarmos, com êxito e resignação, esse processo.
Mais uma vez, o esforço e o amor a todas as formas de vida serão precio-
sos para nosso sucesso.
O princípio inteligente é consequência de um desenvolvimento e adapta-
ção natural. É inerente ao ser vivo que, com o passar de suas experiências, ad-
quire um “conhecimento acumulado” e desenvolvimento intelectual, que serão
imprescindíveis para a etapa atual de sua existência, sendo possível rebuscar, no
inconsciente, toda a bagagem vivida através de suas “facilidades” e “dons”. Ao
observarmos uma criança de três anos tocar piano com perfeição, lá, existe uma
mistura de esforço com reminiscências de existências anteriores, que conver-
gem perfeita e harmonicamente. Imaginemos: quantas experiências todos nós
passamos desde nossa infância espiritual? Sendo assim, quantas aptidões e dons
nós possuímos que apenas aguardam o esforço para serem desencadeados?
Por mais singelas que possam ter sido nossas passagens no mundo mate-
rial e no mundo errático, desde o início de nosso espírito, agregamos sempre
novos aprendizados, que serão úteis para a atual encarnação.

50
Contudo, se a evolução espiritual é natural, não significa que ela seja au-
tomática. É necessário que todos nós colaboremos com o aprimoramento de
nossos espíritos, acelerando o processo de desenvolvimento intelectual e moral.
Existem inúmeras formas de fazer isso: buscando conhecimento, autoco-
nhecimento, desenvolvendo nosso amor ao próximo e exercitando a caridade
despretensiosa.
Não somos passageiros à espera de que outrem nos guie para a próxima
estação, e sim motoristas, que conduzem a própria existência, procurando as
melhores rotas e destinos, carregando, na bagagem, amor e fé.
Por fim, não podemos definir com precisão aquilo que ocorre na infância
espiritual, mas dependerá sempre e exclusivamente de nós o aprimoramento,
desenvolvimento e progresso intelectual e moral de nossos espíritos.

60. O período de infância dos espíritos ocorre em um mundo primi-


tivo?
— Sim, na maioria dos casos, a infância espiritual inicia-se no mundo pri-
mitivo, onde começa o estágio hominal.
A. Por que na maioria?
— A evolução de cada ser depende de suas escolhas, livre-arbítrio e mere-
cimento. Em casos raros, o animal também pode dar saltos evolutivos, a ponto
de passar a infância espiritual em outros mundos.
Nota: Nesses casos, em que o salto ocorre do mundo animal terrestre
para gerar uma infância em outro mundo, há merecimento daquele es-
pírito, que, através de seu esforço e resignação, ainda que com poucas
ferramentas intelectuais, conseguiu evoluir a ponto de não necessitar
vivenciar a infância em um mundo de provas e expiações.
Embora pareça confuso aos vossos olhos, isso é uma prova de que
Deus reconhece o esforço de forma individual e particular.

51
II – Princípio Material
61. O que é o princípio material?
— Uma junção de elementos criados e adaptados para a formação da
matéria.40

62. As moléculas possuem princípio espiritual?


— Não, elas são partes da matéria. Possuem fluidos vitais, que, por sua
vez, as sustentam.
Os movimentos moleculares iniciam-se no princípio vital e são compostos
por fluidos vitais e magnéticos. As moléculas são exclusivamente orgânicas, e
não espirituais, porém servem ao espírito, por meio da matéria, quando com-
põem o organismo humano.

III – Células inteligentes?

Conforme a ciência já demonstrou há muito tempo, o corpo do encarnado


é constituído por ossos, músculos, tecidos e órgãos, os quais, por sua vez, são
constituídos por células.41 Estas poderiam conter um princípio inteligente em
sua individualidade? Em outras palavras, se as células são capazes de se multi-
plicar, regenerar e cumprir as complexas missões no organismo humano, seriam
elas inteligentes a ponto de ter um espírito?
Todos os seres vivos do planeta possuem instinto de sobrevivência, e este
os leva à adaptação. É inequívoca a ação divina por detrás de todos os seres
existentes nos universos, dotando-os das ferramentas necessárias para sobrevi-
verem e se adaptarem. Entretanto, instinto é uma inteligência primitiva, ou seja,
apenas provê o suficiente para desenvolver sua função e papel momentâneos.

40 O Livro dos Espíritos, questão 22: “Define-se geralmente a matéria como aquilo que tem extensão,
que pode impressionar os sentidos e é impenetrável. Essa definição é exata? — Do vosso ponto de
vista, sim, porque só falais daquilo que conheceis. Mas a matéria existe em estados que não percebeis.
Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que não produza nenhuma impressão nos vossos senti-
dos: entretanto, será sempre matéria, embora não o seja para vós.”
41 “[...] A maioria dos organismos vivos é composta por células únicas. Outros, como nós, são vastos
complexos multicelulares, nos quais grupos de células realizam funções especializadas e estão conec-
tados por intrincados sistemas de comunicação. Mas, mesmo para o agregado de mais de 1013 células
que formam um corpo humano, o organismo todo foi gerado a partir da divisão celular de uma única
célula. [...] As células gordurosas, as células epidérmicas, as células ósseas e as células nervosas pare-
cem tão diferentes quanto possível. Ainda assim, todos esses tipos celulares são descendentes de uma
única célula-ovo fertilizada, e todos (com poucas exceções) contêm cópias idênticas do genoma da
espécie. As diferenças resultam da maneira pela qual essas células fazem uso seletivo de suas instru-
ções genéticas, de acordo com os estímulos que recebem de seu ambiente durante o desenvolvimento
do embrião [...]” (ALBERTS et al., 2017, p. 2; 29).

52
Será fácil compreender essas questões mais adiante, quando falarmos sobre
desenvolvimento instintivo (ver item VIII do Capítulo VI – Instinto, inteligência e
consciência).
As células “capacitam” tudo o que é vivo no planeta a desenvolver-se; elas,
todavia, não possuem espíritos.
Apesar de elas não os possuírem, são essenciais na matéria, pois são instru-
mentos que possibilitam a vida, permitindo-vos evoluir enquanto encarnados.
No futuro, entendereis que o poder do pensamento é capaz de contro-
lá-las, o que explicará algumas realizações: a autocura e a mudança de forma,
que, hoje, são impossíveis, por exemplo, se tornarão plausíveis cientificamente.
No entanto, existe ainda um longo trajeto a ser percorrido antes de aprender a
controlar os vossos pensamentos a ponto desse feito.
No instante em que o encarnado conquistar autoconhecimento e auto-
controle em níveis mais avançados, perceberá que o poder do pensamento é
ilimitado e que nada é impossível para si.

IV – Vida orgânica e vida espiritual

A natureza humana provém de uma junção de evolução natural com inter-


ferência facilitadora divina. Organismos vivos trabalham em sintonia perfeita e
constante no aprimoramento da matéria e intensificação do progresso.
Uma vez que nos iniciamos no estado consciente (período animal), come-
çamos a ter o poder de controlar nossos instintos e a possuir empatia com a dor
e o sentimento alheios.
A perfeição está em todo o processo: cada célula se movimenta sincroni-
camente em todas as etapas de nossa evolução, preparando nossa matéria para
o estado humano, quando temos o poder de decidir conservar nossos corpos
ou danificá-los com nossas escolhas, vícios e maus hábitos. Nosso egoísmo
começa a prevalecer, e nossas escolhas se tornam menos sentimentais e mais
pretensiosas.
Será que fazemos por merecer toda essa perfeita harmonia que gerou nos-
sa inteligência e evolução? Com tantas possibilidades de aprimoramento, cresci-
mento e desprendimento, seguimos no caminho correto e benéfico? Utilizamos
nossa inteligência e experiências em favor do próximo e dos mais necessitados?
Evoluir não é apenas uma questão de adaptar-se ao meio, mas de auxiliar
todos aqueles que têm dificuldade de se ajustar.
Nenhum de nós é tão útil ou poderoso quanto todos nós unidos por um
mesmo objetivo.
Felizes daqueles que enxergam a dor de seus semelhantes e os ajudam a
sair de suas dificuldades, pois encontrarão a paz.

53
Não permitais que vosso egoísmo prevaleça e que vosso egocentrismo
governe os pensamentos. Permiti que o amor seja o real sentido de vossa exis-
tência.
Agradecei a perfeição que Deus proporciona ao universo, colaborando
para que ela se acelere com menos impedimentos causados por vós próprios.
Um dia, colheremos tudo aquilo que plantarmos. Conscientes da obriga-
toriedade da colheita, cultivai o solo de vosso coração, transplantai mudas de
amor, regai com persistência e fertilizai com esforço e comprometimento.
O mundo será um lugar melhor se vós ajudardes que ele seja.
Sereis mais felizes fazendo alguém feliz. A mudança do universo é cons-
tante, e toda recompensa ou cobrança virá em seu tempo certo.
Prossegui no caminho da fé, com fé e pela fé, não deixando que nada,
ninguém nem qualquer situação abalem os vossos objetivos.

Um Espírito Protetor,
Matão, 2019.

63. O que é a vida, segundo os espíritos?


— Depende. A vida material é a oportunidade concedida ao espírito para
suportar as suas provas e expiações, buscando a evolução. Já a vida espiritual é
eterna e, consequentemente, uma constante busca por conhecimento, aprimo-
ramento e desenvolvimento.
A. Qual é a sua essência?
— Existem diversas coisas essenciais para a vida, mas, dentre elas, ne-
nhuma é tão relevante quanto o amor, pois é através dele que todos podem se
conectar energética e fluidicamente, aproximando-se da verdadeira evolução, na
qual a união é imprescindível.
B. Quando e como a vida se manifesta?
— Quando necessário, de diversas e inúmeras formas, as quais têm por
finalidade fazer evoluir e progredir intelectual, fluídica e moralmente.

64. Pode-se afirmar que há vida em tudo?


— Não, o que podemos afirmar é que tudo é importante para a vida. Deus
não cria nenhum elemento sem uma finalidade; portanto, se existe, é útil para
algo ou alguém.

65. Pode-se conhecer a origem da vida orgânica?


— Apesar de não poderdes conhecer sua origem, podeis, mediante vossos
pensamentos e ações, modificá-la no presente, ao ponto de colher essas mudan-

54
ças no futuro. O caminho é através do pensamento: exercitai-o.
Nota: O desejo, neste mundo de provas e expiações, de conhecer o
princípio da vida seria o mesmo que querer a equiparação a Deus. Ain-
da estais muito distantes dessa compreensão; porém, com o passar dos
anos e da vossa evolução humana, ireis elucidar em vossas mentes, atra-
vés de diversas descobertas, muitas outras questões que outrora pare-
ciam impossíveis de esclarecer.
Esta é a beleza da evolução eterna: no amanhã, sempre haverá algo que
não conhecíamos no hoje e no ontem. O aprendizado é a vossa herança.

55
CAPÍTULO IV

Fluidos no Universo
Fluidos • Fluido universal • Fluido vital e princípio vital

I – Fluidos
Fluidos compõem o Universo e tudo o que há nele desde o início dos tem-
pos. Com o desenvolvimento tecnológico e avanço da ciência, as descobertas
chegam cada vez mais próximas à compreensão daquilo que hoje é invisível aos
olhos.
Se eles compõem o universo e, por consequência, através de sua transfor-
mação, os vossos corpos, vós sois responsáveis por eles, ainda que não os vejais.
Quando possuís hábitos que promovem a saúde orgânica, abasteceis o
corpo com fluido vital; em contrapartida, quando possuís vícios e vicissitudes,
promoveis sua perda: é uma consequência natural.42
Nada no universo é dado a um ser sem uma real utilidade e responsabili-
dade.
A manipulação fluídica está diretamente ligada à intenção e ao pensamen-
to e poderá auxiliar muito no desenvolvimento humano, especialmente na cura
das enfermidades.
Fluidos estão em tudo, portanto, aprender a manipulá-los é ampliar o al-
cance orgânico para o extramatéria, buscando o que hoje ainda é desconhecido
pela vossa ciência.
Fluidos universais são transformados em vitais, gerando o princípio da vida
(animando a vida), que, posteriormente, será abastecida por mais fluidos vitais,
provenientes das escolhas certas, ou desfazendo-se deles, por consequência das
erradas. Esses fluidos vitais, por sua vez, podem se transformar em magnéticos
em alguns casos, conforme a necessidade.43

42 O Livro dos Espíritos, questão 70 – nota explicativa de Kardec: “[...] A quantidade de fluido vital não
é a mesma em todos os seres orgânicos: varia segundo as espécies, e não é constante no mesmo indi-
víduo, nem nos vários indivíduos de uma mesma espécie. Há os que estão, por assim dizer, saturados
de fluido vital, enquanto outros o possuem apenas em quantidade suficiente. É por isso que uns são
ativos, mais enérgicos, e de certa maneira, de vida superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se incapaz de entreter a vida, se não for renovada
pela absorção e assimilação de substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que em maior quantidade pode dá-lo ao
que tem menos e, em certos casos, fazer voltar uma vida prestes a extinguir-se.”
43 O Livro dos Espíritos, questão 427: “Qual é a natureza do agente chamado fluido magnético? — Flui-
do vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.”

56
Os fluidos universais abrangem tanto a vida orgânica quanto o que é inor-
gânico e estão presentes em tudo aquilo que existe no universo, animando a
matéria ou não.
Existe um universo de fluidos que envolvem nossos planos e estão à nossa
espera e disposição, com a finalidade de melhorar a qualidade de nossas vidas,
material e espiritualmente.

66. Os fluidos podem ser modificados conforme nossos desejos?


— Não só podem como são. Conforme nossa intenção, os fluidos modi-
ficam-se e direcionam-se.
Nota: A intenção é poderosa a ponto de, através dela, haver as mais va-
riadas formas de manipulação fluídica, não apenas para o material (aqui-
lo que pode ser visto e tocado), como também para o energético (aquilo
que não pode ser visto e tocado, mas não necessariamente de menor
valor). Deus proporciona-nos o poder da modificação dos fluidos para
o uso em favor do bem e recompensa-nos por esse bom emprego; con-
tudo, se decidirmos usá-los para o mal, sofreremos as consequências
dessa má escolha.
O poder do amor pode produzir desejos puros, intenções belas e resul-
tados magníficos!
Na vida material, ao trocarmos alguns fluidos corporais com outrem,
podemos adquirir enfermidades ou benesses. O mesmo acontece com
os fluidos, que são invisíveis aos olhos humanos.
O gatilho da manipulação fluídica é a intenção, e ela habita o pensamen-
to; logo, a responsabilidade daqueles que se propõem a manipular os
fluidos é imensa e inquestionável.
No aplicar de um passe, por exemplo, nossa vibração atrairá os fluidos
que intencionamos. Ainda que de forma vibratória, a necessidade de
preparo e concentração é basal.
Estando despreparados ou mal-intencionados, seremos responsáveis
pela troca negativa.
Podemos correlacionar o seguinte exemplo: na vida orgânica, um mé-
dico necessita de grande atenção e responsabilidade ao prescrever uma
bolsa de sangue para um enfermo, checando sua compatibilidade e sa-
nidade, para que isso seja agregado eficazmente à recuperação da saú-
de do combalido, não o prejudicando ainda mais diante de seu estado
inicial.
Portanto, cabe a todos nós a intenção ao bem e a preparação com con-
centração e reformas íntimas preestabelecidas em quaisquer trabalhos
que envolvam fluidos, criando um campo favorável para uma maior
sutileza deles.

57
II – Fluido universal
67. O que é fluido universal?
— É o fluido emanado pelo universo, a matéria elementar primitiva que
gerará, através de suas transformações, diversos outros fluidos, fazendo parte
da formação universal e de tudo o que nele habita, seja de forma direta, seja
indireta (metamórfica).44
68. O fluido universal pode ser considerado parte da matéria?
— Sim. Se ele a compõe, por consequência, é parte; conforme já dissemos,
ele está em tudo o que existe no universo.
A. Existe uma dependência direta para coexistirem?
— A matéria depende do fluido universal, já o fluido universal independe
da matéria para sua formação, mas ambos coexistem de forma harmônica. Toda
matéria orgânica possui fluido vital (derivação do fluido universal), entretanto,
nem todo fluido universal coexiste com a matéria.
Nota: Existem alguns princípios na existência que ainda estão fora da
vossa compreensão.
Com o avanço científico, será possível, em um futuro breve, compre-
ender melhor “qual princípio provém de qual”, dentre outras questões.
O importante, neste instante, é assimilar que a matéria faz parte do uni-
verso, está nele inserida, e vice-versa.
O fluido universal é uma matéria extremamente sutil, cujas modifica-
ções e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos
da natureza, sendo a fonte geradora das demais energias, plasmas, on-
das e matérias que “povoam” o universo.
Deste modo seria exemplificada a relação da matéria com o fluido uni-
versal: vós sois frutos de vossa mãe, portanto, fazeis parte dela, mas
não sois iguais a ela. Ela não dependeu de vós para existir; ainda assim,
dependestes dela para nascer, e ela estará interligada a vós para o resto
dos dias, pelos vossos laços.

69. O fluido universal é parte da constituição do espírito?


— Sim, o fluido universal é parte de tudo o que habita o universo.

44 A Gênese, capítulo XIV, item 31: “Como vimos, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo
carnal do e do perispírito, do qual são transformações. Pela identidade de sua natureza, este fluido,
condensado no perispírito, pode fornecer ao corpo os princípios reparadores. [...]”

58
70. Conforme a primeira obra, quando estamos na erraticidade, so-
mos capazes de adquirir a forma fluídica de cada orbe. Como isso é pos-
sível?
— Sempre que houver o intuito de auxílio, Deus permitir-nos-á “trocar de
vestes” para nos deslocarmos a outros planetas e praticarmos o bem.45
É um processo natural no plano espiritual, e essa readequação fluídica é
muito frequente.

III – Fluido vital e princípio vital


71. Qual a diferença entre fluido vital e princípio vital?
— O princípio vital inicia todas as formas de vida e é comum a todos os
seres, já o fluido vital é o que vos mantêm vivos e é captado de acordo com a
necessidade específica de cada ser.
O ar que respirais, o alimento que consumis e a água que tomais são flui-
dos vitais que vos mantêm vivos (em matéria). Os vossos vícios e más escolhas
diminuem esses fluidos, e vossas escolhas certas, como, por exemplo, uma vida
saudável, aumentam-nos (conforme visto no item I – Fluidos).
Nota1: Em um processo complexo e que ainda foge à compreensão
humana, o fluido universal é transformado no fluido vital.
Após isso, o princípio vital depende desse fluido para sua formação,
portanto, com a evolução e a transformação da natureza, princípios
vitais darão origem à vida orgânica, que, outrora, era apenas abrangida
por fluidos universais.
Uma vez que cessa a vida, não há mais fluido vital naquele organismo,
porém, ainda há em seus seres decompositores; o fluido vital cessa no
indivíduo desencarnante, mas ressurge em outras diversas formas de
vida.
Nota2: Quaisquer divergências de compreensão são apenas por termi-
nologias diferentes, oriundas de diversas traduções. Por esse motivo, de-
vemos nos atentar ao significado, que nada mais é que o entendimento
de que o universo emite um fluido, que gera o fluido vital, que, por sua
vez, permite a manutenção da vida.

45 O Livro dos Espíritos, questão 94: “De onde tira o Espírito o seu envoltório semimaterial? — Do
fluido universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; passando de
um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”; questão 94-a: “Dessa
maneira, quando os Espíritos de mundos superiores vêm até nós, tomam um perispírito mais grossei-
ro? — É necessário que eles se revistam da nossa matéria, como já dissemos.”

59
72. Fluido magnético e fluido vital são a mesma coisa?
— Não, o fluido magnético é derivado do fluido vital, que, por sua vez,
provém do fluido universal (ver nota de rodapé n.º 43).

73. Existe uma relação entre fluido vital e o magnetismo?


— Sim. Tudo o que provém da matéria orgânica possui fluido vital.
A. Como ocorre essa conversão?
— Ela acontece através da intenção e da utilidade, ou seja, a conversão
ocorrerá quando houver, além do preparo necessário, a utilidade para o re-
ceptor.
Nota: O fluido vital pode se tornar magnético quando houver necessi-
dade. Já o magnetismo (ato de magnetizar) é capaz de exalar fluido vital,
transformando-o em magnético. O magnetismo exige estudo anterior à
prática (ver adiante questão 92).

74. É o fluido vital que determina o tempo de permanência humana


na Terra?
— A quantidade de fluido vital é determinada por Deus, porém, através
das vossas escolhas, podeis encurtar ou prolongar o tempo de permanência no
orbe.
A. A quantidade de fluido vital é diferente em cada indivíduo?
— Sim, de acordo com a necessidade, suas práticas e cuidados diários.
Nota: O fluido vital é originado do universal; através dele, surge o prin-
cípio vital, que possibilita que haja a vida orgânica.
Tudo aquilo que é inorgânico possui fluido universal (em seus elemen-
tos), mas não o princípio vital.
Como tudo o que existe de material no universo é importante para
a evolução da vida, mesmo uma pedra, quando tiver o princípio vital
como desencadeador, possibilitará a criação da vida.

75. A obra O Livro dos Espíritos, em nota explicativa da questão 70


(conforme visto na nota de rodapé n.º 42), menciona que o fluido vital
deve ser renovado pela absorção e assimilação das substâncias que o
contêm. Que substâncias são essas?
— Todas as necessárias para a vossa sobrevivência.
Elas estão nos alimentos, na água e, também, no amor intencionado. Tais
substâncias darão qualidade ao fluido vital, que se encontra em tudo o que sus-
tenta a vida.

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76. Os alimentos transgênicos possuem fluido vital na mesma pro-
porção que um alimento orgânico?
— Sim. A vida orgânica não prospera sem o fluido vital, no entanto, se
eles irão proporcionar os mesmos nutrientes aos que os consumirem, depen-
derá da qualidade dos estudos envolvidos antes de seu lançamento. Por isso a
importância de ser equiparada ao tempo de pesquisa e progresso.

77. As alterações transgênicas promovidas nos vegetais e animais


ferem alguma lei divina?
— Não, desde que realizadas de forma compatível à maturidade evolutiva
humana; contudo, antecipar etapas com experiências não comprovadas pela
ciência é prejudicial à saúde.

78. Quando exercitamos nosso corpo e o mantemos saudável, ad-


quirimos mais fluido vital ou apenas o conservamos?
— Ocorre a aquisição de mais. Tudo aquilo que propicia saúde amplia vos-
sos fluidos vitais, na mesma proporção que hábitos não saudáveis os diminuem.

79. Em O Livro dos Espíritos, é dito que quem possui maior quanti-
dade de fluido vital pode doá-lo a quem tem menos e, em certos casos,
fazer voltar a vida prestes a extinguir- se (conforme visto na nota de rodapé
n.º 42). Como isso ocorre?
— Só podeis doar aquilo que possuís, portanto, quando cuidais bem da
vossa saúde, tanto corporal quanto mental, sois agraciados com abundância,
podendo praticar a caridade através das doações fluídicas.

80. Em geral, as crianças expressam ter maior vitalidade por possu-


írem maior quantidade de fluido vital?
— Sim, porém possuem-na por diversos motivos, dentre eles o fato de
que é na infância que existe o desenvolvimento dos órgãos e agregados, exigin-
do, assim, abundância de fluido vital, bem como a necessidade do desprendi-
mento espiritual e aproximação material para cumprir sua prova no mundo dos
encarnados.
A lei natural já mostrou que os fluidos vão diminuindo com o passar da
idade.

81. Em caso de graves lesões ou doenças, o estoque de fluido vital


do corpo é afetado?
— Sim, é afetado e diminui na proporção da doença ou lesão, porém,
pode ser reposto, se houver o restabelecimento da saúde.

61
82. Como ocorre a interação dos medicamentos da Terra com o
fluido vital do encarnado?
— Os medicamentos desenvolvidos pelo homem, quando aplicados de
forma correta e responsável, auxiliam o corpo a produzir fluidos vitais e au-
torregenerar-se; se aplicados de forma irresponsável, diminuem- nos ou ces-
sam-nos.

83. As células-tronco, que estão sendo utilizadas para produzir ór-


gãos em laboratório, recebem fluido vital do mundo espiritual para se
multiplicarem ou a energia necessária para isso provém de seu próprio
mecanismo de replicação?
— Uma e outra coisa, a depender da necessidade de cada caso.
Nota: Deus é onipresente; está em tudo aquilo que o homem faz e, tam-
bém, naquilo que o homem não é capaz de fazer. Sendo assim, utiliza
Sua inteligência para alterar as leis naturais quando assim convir.
No caso das células-tronco, estas podem receber fluidos vitais do mun-
do espiritual quando o encarnado receptor tiver o devido merecimento
para esse feito. Pode, também, acontecer de a aplicação humana ser
bem sucedida com intervenção espiritual.

62
CAPÍTULO V

Transmissão Energética
e Fluídica
Intenção • Passe • Prática do passe • Magnetismo • Prática do magnetismo

I – Intenção
Não existe tema que não gere diferentes interpretações, visões e, até mes-
mo, que não divida opiniões. O que verdadeiramente importa, sempre, são o
objetivo e a intenção com que o abordamos.
É através da intenção que as formas fluídicas e magnéticas caminham para
a ajuda: o pensamento guia as oportunidades de evoluir e de dissolver tudo
aquilo que parecia indissolúvel.
Nunca percais essa oportunidade, utilizai o vosso livre-arbítrio para a dire-
ção das boas intenções e dos pensamentos para o amar.
Pensai em amar e amai sem pensar.
A vida encarnada é uma pequena jornada, porém com grandes oportuni-
dades de crescimento.

84. Qual a diferença entre transmissão energética e fluídica?


— Apesar de ambas serem movidas pela intenção, os fluidos são mais
maleáveis, pois a energia exige uma força para gerar um determinado trabalho.
Existe um mundo de fluidos e energias ao redor daquilo que vós podeis ver e
sentir, e os recebeis um ou outro, de acordo com a necessidade momentânea.
Nós, espíritos, manipulamos a energia ou fluido através da intenção oriunda do
pensamento e nos utilizamos daquilo que existe dentro de cada um dos encar-
nados, transformando os elementos de composição.
Nota: A matéria orgânica dispõe de diversos centros de força, que cap-
tam e distribuem a energia para todo o restante daquela matéria.
Por meio das intenções, ainda que de forma inconsciente quando es-
tamos encarnados, somos capazes de manipular as energias que foram
anteriormente adquiridas através da transformação dos fluidos vitais e
convertê-las no que for necessário. Essa reação é involuntária, porém,
para ser ocasionada, depende diretamente da intenção dirigida. Exem-
plo disso é o fato de cada movimento realizado pelo encarnado ser fru-
to de uma energia, derivada de um fluido oriundo da intenção.

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Conforme a ciência da Terra já comprovou, há diversos tipos de ener-
gia: o calor, a eletricidade, entre outras, as quais, por sua vez, dependem
dos fluidos que existem no universo.
Dessa forma, podemos criar uma analogia com a água. Água é sempre
água; ela flui quando está no rio, congela quando está ao frio e evapora,
transformando-se em gás, quando está ao calor. Mas para que todos es-
ses processos aconteçam, é necessário haver uma energia geradora, que,
por sua vez, para existir, precisa de fluido, assim como tudo (orgânico
ou inorgânico) o que habita o universo. Tudo o que existe é envolvido
por fluido universal, que irá se transformar em fluido vital quando hou-
ver a animação da matéria através do princípio vital. Caso não haja essa
animação, tudo permanecerá envolto por fluido universal.
A intenção possibilita diversas formas de transmissão, dentre elas, a
energética e a fluídica. A fluídica transforma-se em energética, ou mag-
nética, quando necessário ou útil para o receptor. Não é imprescindível
para o transmissor (passista) saber discriminar as duas, mas, sim, ser
capaz de purificar suas intenções.
Um Espírito Protetor,
Matão, 24 de junho de 2019.

II – Passe

85. O que é o passe?


— O passe é uma transmissão energética e/ou fluídica que se baseia na
intenção da pessoa que o aplica e que necessita da fé e merecimento daquele
que o recebe.46
A. Existe maneira correta para sua aplicação?
— Não tocar, manter certa distância, com pensamentos voltados ao bem
e a Jesus.
B. Devemos padronizá-lo?
— Não devem padronizá-lo, contudo, há outras coisas que não devem
fazer, como, por exemplo, mistificá-lo.
C. Existem passes espontâneos?
— Sim, não só existem como ocorrem o tempo todo. Onde houver a ver-
dadeira boa intenção e o amor, haverá o passe.
D. Qual deve ser a duração do passe?
— O tempo da oração que Jesus nos ensinou.

46 A Gênese, capítulo XIV, item 18: “[...] O pensamento do Espírito encarnado age sobre os fluidos
espirituais como também o dos Espíritos desencarnados; transmite-se de Espírito a Espírito, pela
mesma via, e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos circundantes. [...]”

64
86. Que tipos de fluidos são doados ou utilizados durante o passe?
— Aqueles que forem necessários para o receptor e intencionados pelo
doador.
Lembrando que a fé e o merecimento são fundamentais, tanto para quem
os doa quanto para quem os recebe; o receptor não receberá aquilo que não
merece, e o doador não doará aquilo em que não acredita.
A. E durante a magnetização?
— Durante a magnetização, o fluido não necessariamente tem origem es-
piritual, podendo ser doado pelo próprio aplicador, que necessita de conheci-
mento, estudo e aptidão para tal prática. É o magnetismo propriamente dito, ou
magnetismo humano, cuja ação se acha subordinada à força mental e, conse-
quentemente, à qualidade do fluido doado.

87. É necessário ser médium ostensivo para aplicação do passe?


— Não, qualquer um pode aplicá-lo, desde que tenha boas intenções. Tão
importante quanto a boa intenção é o esforço de querer fazer.
A intenção aplicada durante o passe não teria oportunidade de existir se
anteriormente não houvesse a boa vontade de iniciar esse trabalho de caridade.
Todos podem realizar o passe, mas, ainda assim, todos precisam de refor-
mas e melhorias constantes, para que sejam ferramentas cada vez mais aprimo-
radas e eficientes.
O querer é o primeiro passo, o instruir é o segundo, o realizar é o tercei-
ro, e o aprimorar é a eterna e infinita caminhada, afinal, estamos em constante
evolução e progresso.

III – Prática do passe

88. Em centros espíritas, quando um trabalhador está pronto para


aplicar o passe?
— Quando estiver com a vibração controlada e a intenção depurada o
suficiente.
A. É necessário ter o curso de passe?
— Não necessariamente o curso, mas o conhecimento suficiente para
controlar suas vibrações e intenções.
O que hoje conheceis por “passe” sempre foi uma transmissão poderosa
de amor. O passe é uma linda forma de transportar o amor de suas próprias
intenções para um irmão que necessita de auxílio e alento.
Para que essa transmissão não seja contaminada, é necessária a depuração
de quem aplica e a fé da pessoa que recebe; a depuração através de reformas
íntimas e de pensamento é imprescindível para amplificar o efeito desse belo
gesto de amor.

65
O estudo sempre ajuda, mas crucial é o autocontrole das vibrações ener-
géticas e dos pensamentos, que, por consequência, darão origem às boas vi-
brações.

89. O que seriam os centros de força?


— São pontos energéticos que canalizam a energia gerada, transmitindo-a
para regiões do corpo e perispírito.
A. A captação dessa energia se concentra em alguma parte especí-
fica do corpo?
— Não, pode ocorrer em qualquer parte.
Não poderíeis esperar que um passe prevalecesse em um determinado
ponto e perdesse sua eficiência em outros. Se ele é uma manipulação fluídica ou
energética oriunda do merecimento, logo, pode ser eficaz em qualquer local de
aplicação, levando-se em consideração apenas a intenção do aplicador, e não a
posição na qual foi aplicado.
Acontecem infinitos tratamentos o tempo todo com encarnados, mesmo
sem saberem ou perceberem; esses pequenos, porém sinceros gestos de amor,
são uma forma de passe. Portanto, precisai desmistificar ritos ou rituais que vos
limitam a acreditar apenas naquilo que podeis racionalizar.
Existem ilimitados caminhos que vos auxiliam enquanto encarnados, e
o que precisais saber apenas é trabalhar a intenção, merecimento e amor, pois
esses são os pontos que garantem a qualidade do que recebeis e do que doais.

IV – Magnetismo

90. É correto dizer que o Magnetismo e o Espiritismo são duas ci-


ências que se complementam?
— Sim, são ciências que, apesar de únicas, se complementam perfeita-
mente.47

91. A água pode ser magnetizada ou fluidificada sem o concurso do


médium?
— Sim, ela pode. Para que a água seja fluidificada, importa o despertar da

47 Revista Espírita – março de 1858, p. 114-115: “Quando apareceram os primeiros fenômenos espí-
ritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta, se assim a podemos chamar, iria desferir um
golpe de morte no magnetismo e que aconteceria como ocorre nas invenções: a mais aperfeiçoada
faz esquecer sua predecessora. Tal erro não tardou a se dissipar e prontamente se reconheceu o pa-
rentesco próximo das duas Ciências. Com efeito, baseando-se ambas na existência e na manifestação
da alma, longe de se combaterem, podem e devem se prestar mútuo apoio: elas se completam e se
explicam mutuamente. [...]”

66
fé da pessoa que a bebe.

V – Prática do magnetismo

92. Em que momento um trabalhador de casa espírita está pronto


para aplicar o magnetismo?
— Em nenhum momento; centro espírita não é lugar para a prática do
magnetismo.
Ainda que haja sempre a intenção de ajudar, a forma é tão importante
quanto o objetivo.
Ajudar o próximo é válido de qualquer maneira, e simples gestos de amor
são mais poderosos do que podeis imaginar.
O magnetismo instiga a curiosidade e é uma ciência intrigante, mas exige o
conhecimento necessário para não oferecer riscos a quem o pratica ou a quem
o recebe. Não podeis incluir sua prática na Doutrina ou confundi-lo com fluido
magnético.
Magnetizar é uma atividade antiga, que se utiliza do fluido vital (que pode
transformar-se em magnético ou outros) do aplicador e tem como pré-requisito
um autocontrole mental. Praticá-la sem essa premissa pode ser perigoso e não
é aconselhável.
Fluido magnético é diferente de magnetismo e é exalado sempre que há a
necessidade, através do concurso dos desencarnados ou de encarnados com o
devido preparo.
Já o magnetismo em si não necessita de desencarnados e é de total respon-
sabilidade e controle dos encarnados durante a aplicação.
Um dia, estareis preparados o suficiente para magnetizar, mas, enquanto
isso, trabalhai melhor as ferramentas que tendes à disposição: a fé e o amor.

93. Quais podem ser as consequências para quem exerce o magne-


tismo incorretamente?
— Enfermidades, desequilíbrios, entre outras.
Exercer o magnetismo sem o devido conhecimento é o mesmo que tentar
realizar uma cirurgia médica sem ter cursado a universidade de medicina. Além
de não conseguir realizar a cirurgia, corre-se o risco de ferir o paciente.
E para aqueles que pensam ter o conhecimento sem tê-lo de fato, deverão
prestar contas à sua consciência.
Passe e magnetismo são duas preciosas ferramentas desenvolvidas por
Deus com a finalidade de auxiliar a sua criação.
Passe: como o próprio nome diz, dá-se quando as energias e fluidos espi-
rituais “passam” pelo aplicador e chegam ao aplicado.
Magnetismo: não necessariamente provém do mundo espiritual; em geral,

67
o gatilho é orgânico. Através da intenção, o corpo é capaz de alterar as energias
entre o aplicador e o aplicado e transformar as moléculas, produzindo o bene-
fício.
Em ambos, são necessárias a reforma íntima e a boa intenção, mas, no
magnetismo, isso é um pré-requisito de extrema importância, afinal, o aplicador
está se utilizando das próprias energias e intenções.

94. O magnetismo pode ser exercido pelos espíritos sem o concurso


do encarnado?
— Não só pode como o é, sempre que houver utilidade.

95. O que é mais benéfico: magnetismo ou passe?


— Não podemos comparar, são faculdades distintas, porém complemen-
tares. Ambas são benéficas, se houver o preparo necessário.

68
CAPÍTULO VI

Amor aos Animais


O homem e os animais • Alma dos animais • Genética animal • Animais em outros mundos
• Animais e os espíritos elementais • Emoções e sentimentos • Evolução dos animais
• Instinto, inteligência e consciência • Desencarne dos animais • Respeito aos animais
• Animais e a mediunidade • Extinção de espécies • Vegetarianismo e veganismo • Docili-
dade e agressividade nos animais • Animais: passes e preces • Amor dos animais
• Pandemias e os animais • Pureza dos animais

I – O homem e os animais
A evolução gera o progresso, e as leis de Deus sempre sustentarão todos
os nossos passos, desde a fase mineral até a perfeição.
Passamos por processos de adaptação, provas, expiações, despertar de
consciência e busca pelo amor fraterno e despretensioso. Fomos, somos e sem-
pre seremos todos irmãos, filhos de um mesmo Deus.
É importante que possamos, a cada degrau que alcançarmos, olhar para os
degraus inferiores com amor e cuidado, auxiliando nossos irmãos independen-
temente do seu nível de consciência.
Amar a vida é amar, respeitar, preservar as criaturas de Deus e construir
um mundo melhor por meio do bom uso do livre-arbítrio. Defender os mais
“fracos” é garantir a continuidade do ciclo da vida, tanto material quanto espi-
ritual.
Para demonstrar gratidão pelo que nos tornamos, é preciso cuidar daque-
les que fomos um dia. O amor cabe em qualquer estágio de nossa evolução.
Caminhar sem amor é caminhar sem destino; caminhar com amor é caminhar
com objetivo.

96. O que são os animais, segundo os espíritos?


— Animais são criaturas de Deus; um estágio pelo qual todos passamos
para evoluir, uma etapa no todo.

97. De acordo com a questão 44 de O Livro dos Espíritos, os seres vi-


vos surgiram de germes, que deram origem a cada espécie. Dessa forma,
o neodarwinismo48 e seus conceitos estão incorretos?

48 Teoria baseada no darwinismo que nega a hereditariedade dos caracteres adquiridos, privilegiando
como fator principal da evolução a seleção natural e incorporando conhecimentos da genética e da
biologia molecular (HOUAISS; VILLAR, 2009).

69
— Eles se complementam. A adaptação também é uma forma de evolu-
ção quando não possuímos ainda a consciência para tal.
Nota: A natureza leva-nos à adaptação constantemente. Adaptação é
algo inerente ao espírito, que é transmitida ao corpo físico através da
inteligência e, antes de a inteligência ser desenvolvida, faz-se através do
instinto de sobrevivência.
Uma planta, submetida por milhares de anos a condições desfavoráveis,
adapta-se lentamente, para que, no futuro, essas mesmas condições se
tornem favoráveis. Isso é uma enorme prova da perfeição de Deus, que
possibilita a tudo o que existe na natureza, independentemente do seu
grau na escala evolutiva, a oportunidade de sobreviver e permanecer
evoluindo.
Porém, Deus também nos ensina uma lição com esse episódio, ao res-
saltar que a adaptação ocorre “lentamente”: é necessário tempo e esfor-
ço para que possamos transformar o desfavorável em favorável, a dor
em amor, e assim sucessivamente.
Adaptar-se é uma das qualidades que garantem a sobrevivência de qual-
quer espécie e é uma bela ferramenta desenvolvida por Deus.

98. Se todos os corpos da natureza e todos os seres do nosso pla-


neta são parte da Divindade, qual é a participação dos animais nesse
processo?
— Uma etapa para o todo.
Os animais são uma fase no todo, uma etapa a ser cumprida no processo
evolutivo. Sendo assim, são imprescindíveis na evolução.
Não se constrói uma casa sem alicerce, paredes e telhado; na falta de qual-
quer um desses elementos, não seria possível realizar a obra, pois todas as etapas
são necessárias para a conclusão da casa. Da mesma forma ocorre em vossas
reencarnações, com a diferença de que, com esforço, alguns seres aceleram esse
processo, enquanto outros, mais letárgicos, o retardam.

99. Os humanos e os animais são irmãos?


— Sim, apesar de estarem em diferentes fases evolutivas.
Nota: Todos no planeta são vossos irmãos; se ainda não são, um dia,
serão. Tudo está interligado.

100. Sendo a jornada dos animais avaliada e compreendida no sen-


tido da teoria evolucionista darwiniana49:
49 Darwiniano: que ou aquele que está de acordo com o darwinismo; darwinismo: teoria evolucio-
nista fundamentada nas ideias do naturalista inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), na qual são
propostos mecanismos baseados na seleção natural, para explicar a origem, a transformação e a per-
petuação das espécies ao longo do tempo (HOUAISS; VILLAR, 2009).

70
A. Eles reencarnam?
— Sim, assim como os humanos, são espíritos em evolução, portanto,
reencarnam.
B. Podem passar por diversas experiências, inclusive em espécies
novas?
— Sim, não só podem como passam.
C. Chegarão à fase hominal?
— Sim; afinal, evoluir é uma característica de todos os espíritos.
D. Em quanto tempo, em média?
— Qual seria a utilidade em saber isso?

101. Por que alguns animais vivem tão pouco?


— Vivem o suficiente para cumprir suas provas.
Nota: Nem muito nem pouco: o suficiente, ainda que esse tempo não
atinja o desejo, a vontade ou as necessidades emocionais de seu tutor.
A medida do “suficiente” não é a mesma para animais e homens, pois,
para os humanos, ela é associada à sua necessidade emocional. O im-
portante é a evolução daquele respectivo animal.
Por estarem em uma fase do processo evolutivo em que as durações
das encarnações são mais breves, reencarnam mais vezes, acelerando as
experiências vividas e a consequente evolução.
Deus não prejudica a evolução de um espírito em prol da vontade de
outro. Ele concilia para que tal experiência seja útil para ambos. É im-
portante que vocês aprendam que amar não é ter o animal por perto,
mas que o melhor aconteça para a evolução dele, ainda que deixe sau-
dades

II – Alma dos animais

102. Os animais têm alma?


— Sim, a partir de determinadas espécies, a alma vai se consolidando, atra-
vés do desenvolvimento da consciência.
Nota: Independentemente do estágio de consolidação da alma em que
se encontrem, todos os animais merecem o respeito e o afeto huma-
no. Por serem mais evoluídos que os animais, os humanos possuem a
obrigação de tutorá-los, respeitá-los e preservá-los, e as falhas nessas
questões lhes serão cobradas.
O “respeito à vida” não se refere apenas ao mesmo nível evolutivo; ele
é demonstrado especialmente aos seres mais frágeis, que carecem de
auxílio e possuem certa dependência.

71
A. Eles teriam, então, alguma noção de senso moral?
— Sim; em alguns casos, conforme a ciência da Terra vem comprovando.
Nota: Senciência é a capacidade dos seres de terem sensações e senti-
mentos de forma consciente, isto é, perceber o que lhes acontece e lhes
rodeia. As sensações, como a dor ou o frio, ou as emoções, como o
medo, são estados subjetivos assemelhados ao pensamento e estão pre-
sentes na maior parte das espécies animais. A comprovação foi docu-
mentada, divulgada mundialmente por Philip Low e publicada em um
manifesto conhecido como Declaração de Cambridge, em 7 de julho
de 2012.

103. Como considerar a existência da alma nos animais?


— De acordo com o processo evolutivo, intimamente ligada ao desenvol-
vimento da consciência primitiva.

104. Como considerar a existência do perispírito?


— Da mesma forma anterior.50
A. O perispírito dos animais é igual ao dos humanos?
— Não. O perispírito torna-se menos denso com a evolução; logo, na fase
animal, a densidade dele ainda é maior do que na humana.
B. Ele varia de espécie para espécie?
— A variação é de cada indivíduo, e não diz respeito à espécie, mas ao
estágio evolutivo.

105. Como considerar a existência do fluido vital?


— O fluido vital é a animação das criaturas, ou seja, o que dá vida.51

50 A Gênese, capítulo XIV, item 7: “O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos produ-
tos mais importantes do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de
inteligência ou alma. Já vimos que o corpo carnal tem igualmente seu princípio nesse mesmo fluido
transformado e condensado em matéria tangível; no perispírito, a transformação molecular se opera
diferentemente; pois o fluido conserva sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo
perispiritual e o corpo carnal, pois, têm sua fonte no mesmo elemento primitivo; um e outro são
matéria, embora sob dois estados diversos.”
51 O Livro dos Espíritos, questão 62: “Qual a causa da animalização da matéria? — Sua união com o
princípio vital.”

72
A. Há princípio inteligente? Como é sua ação?
— Todos nós fomos criados simples e ignorantes, mas adquirimos a in-
teligência com o passar das encarnações. É na fase animal que se instaura o
princípio de inteligência.52

106. Como compreender a existência de espíritos de animais na er-


raticidade?
— Eles habitam uma “espécie de erraticidade”53; porém, reencarnam com
velocidades e tempos diferentes.

107. Como seria a ordem de evolução espiritual entre os reinos bio-


lógicos do planeta?
— A forma e a ordem de evolução serão de acordo com a desenvoltura de
cada ser, através das suas adaptações, de seus saltos qualitativos e suas escolhas
instintivas. Não existe uma regra, mas, geralmente, a ordem é esta: mineral, ve-
getal, animal, hominal e angelical.
A. Entre o Reino Mineral e o “Angelical”, onde a alma começa sua
jornada?
— De forma consciente, no animal.

108. De que modo os animais evoluem?


— De forma natural, através das adaptações ao meio e às leis da natureza
(ver adiante item VII – Evolução dos animais).
Nota: Não significa dizer que não haja empenho envolvido, especial-
mente naqueles que convivem com tutores. Pelo esforço próprio, os
animais podem aprender o que lhes ensinam. Nessa fase, o animal tem
de viver com um “livre-arbítrio primitivo”54, possibilitando-o renunciar
parcialmente ao instinto e seguir as boas maneiras que aprendeu. Aos
não domesticados, existem espíritos que os influenciam através de in-

52 A Gênese, capítulo XI, item 7: “[...] O que Deus lhe transmite por seus mensageiros, e o que por
outro lado o próprio homem tem podido deduzir, partindo do princípio da soberana justiça que é um
dos atributos essenciais da Divindade, é que todos temos um mesmo ponto de partida; que todos são
criados simples e ignorantes, com aptidão igual para progredir mediante sua atividade individual; que
todos atingirão o grau de perfeição compatível com a criatura, através de seus esforços pessoais; que
todos, sendo os filhos de um mesmo Pai, são o objeto de uma igual solicitude; que não há nenhum
favorecido ou melhor dotado que os demais, e dispensado do trabalho que seria imposto a outros
para atingir seu alvo.”
53 O Livro dos Espíritos, questão 600: “A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado
errante, como a do homem após a morte? — Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida
ao corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre
vontade; o dos animais não têm a mesma faculdade. [...]”
54 O Livro dos Espíritos, questão 595: “Os animais têm livre-arbítrio? — Não são simples máquinas
como supondes, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser compa-
rada à do homem. [...] Sua liberdade é restrita aos atos da vida material.”

73
tuição, mostrando-lhes o caminho correto.

109. Quais são as características da individualidade da alma dos ani-


mais?
— Cada animal possui as características respectivas ao seu grau evolutivo.

110. Como é a formação da alma-grupo?


— Alma-grupo ocorre quando uma série de animais ainda não desenvol-
vidos se agrupam para buscar seu desenvolvimento.
A. Em que fase da evolução a alma-grupo se inicia?
— No Reino Animal.
B. Onde se individualiza?
— Também no Reino Animal.
C. Quais espécies se enquadram nessa classificação?
— Muitas espécies se encontram nessa condição, e isso faz parte do pro-
cesso natural de desenvolvimento do espírito.
D. Todos os animais se tornarão almas individuais?
— Todos terão a mesma oportunidade. Uma hora ou outra, se tornarão
individuais, não necessariamente nesse grupo em que estão nem na mesma ve-
locidade. Enquanto isso, eles auxiliam, ainda que sem consciência, o desenvol-
vimento dos demais.
E. Quanto tempo leva o processo?
— O tempo necessário para cada indivíduo. O destaque virá do aflora-
mento instintivo e do esforço para com o progresso do próprio grupo.
F. Havendo alma-grupo, como as espécies em extinção ou já extin-
tas são realocadas em outras categorias?
— Em novos grupos.
G. O que é feito com o fluido vital de um indivíduo de uma alma-
-grupo quando este morre?
— Retorna ao universo (fluido universal).
H. E com o seu princípio inteligente?
— O princípio inteligente em fase de grupo é uma ferramenta de auxílio
na evolução coletiva. Portanto, quando o indivíduo “morre”, ele retorna ao ele-
mento inteligente universal.
Nota: Conforme a questão 593 de O Livro dos Espíritos, os animais têm
instinto primitivo, e a inteligência, embora limitada, decorre da sua evo-
lução. Esse processo evolutivo dá causa à consciência.
Os animais que possuem apenas o fluido vital, ainda distantes de possu-
írem consciência, são alocados em almas-grupo, que mostram o poder
da coletividade em busca da evolução. A individualização virá do esfor-
ço de cada ser.
Em consonância com a questão 607-a em O Livro dos Espíritos, para

74
que a alma seja individualizada (ou seja, torne-se um espírito), é ne-
cessária uma transformação do princípio inteligente; em determinada
fase, os animais ainda não o possuem isoladamente, entretanto, a soma
dos esforços instintivos do grupo possibilitará que almas individuais se
constituam.
Com o tempo, alguns animais começarão a se destacar no grupo e pas-
sarão a individualizar-se gradativamente. Esse processo não ocorre de
uma hora para outra. Aqueles que ainda não se destacaram permane-
cem com o grupo até o instante em que se destacarem, a ponto de “me-
recerem” uma alma individual.

111. Conforme a questão 597-a em O Livro dos Espíritos, “[...] há,


entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre
a alma do homem e Deus”. Com as informações que temos hoje, essa
equiparação ainda é válida?
— Não, ela nunca foi válida. Essa mensagem foi uma falha de interpreta-
ção; contudo, já àquela época, não conseguíeis respeitar nem as vossas diferen-
ças como humanos, quem dirá respeitar os animais como irmãos!
A humanidade conhece a verdade conforme evolui, e esse processo leva
tempo e maturação espiritual. Não é possível vos dizer aquilo que ainda não
podeis compreender.
Nada se compara à distância que Deus tem de nós, ela é imensurável e
incalculável.

III – Genética animal

112. Seria uma prova o animal nascer deficiente ou tornar- se assim


ao longo de sua vida?
— Sim. Não há sofrimento que não gere evolução.
Nota: O animal que nasce com determinados problemas de saúde físi-
ca ou os adquire após seu nascimento passa por prova, como também
passa seu tutor, que poderá, através do seu amor, auxiliá-lo e confortá-
-lo. As provas, pelas quais todos passam no processo evolutivo, fazem
progredir. Vivenciar experiências de dor torna-os mais fortes.

113. Existe similaridade entre a formação dos fetos animal e humano?


— Em alguns casos, de forma embrionária.
A. Por quê?
— Não há razões espirituais, apenas científicas. Alguns mamíferos possuem
um estado embrionário que se assemelha ao dos humanos, conforme já sabeis.
Nota: As semelhanças embrionárias são uma das evidências de evolu-

75
ção em biologia, em que são observadas similaridades anatômicas entre
animais pertencentes ao grupo dos vertebrados.
Durante o desenvolvimento embrionário, esses animais apresentam ca-
racterísticas exclusivas, como: tubo nervoso dorsal (medula espinhal),
notocorda (molde cartilaginoso da coluna vertebral), fendas branquiais
(que, nos caso dos anfíbios, répteis, aves e mamíferos, serão substituí-
dos pelos pulmões) e cauda pós anal (regride na espécie humana)55.
B. O reencarne nos animais segue o mesmo processo que nos hu-
manos?
— A ligação do espírito com o corpo material ocorre de múltiplas formas
e em diversas épocas, dependendo da necessidade e tempo de amadurecimento
de cada indivíduo. Nem para os humanos existe um padrão.

114. A vida intrauterina de um animal (ou dentro do ovo, como nas


aves e répteis) é tão significativa quanto para o ser humano? O que esse
período poderia trazer de benefícios ou malefícios para eles?
— Proporcionais à sua evolução. A vida intrauterina é importante para a
sua formação física e instintiva.
Nota: A ciência da Terra já está evoluída a ponto de instruir os huma-
nos sobre a importância da vida intrauterina animal. Por serem criaturas
de Deus (assim como os humanos), possuem necessidades proporcio-
nais à sua formação.56

115. Cada espécie possui características físicas peculiares. De onde


elas provêm?
— Da necessidade de sobrevivência e adaptação ao meio em que vivem.

55 A Gênese, capítulo X, item 25: “Se se considerarem apenas os dois pontos extremos da cadeia, não
há nenhuma analogia entre tais seres. Porém se passarmos de um anel para o outro, sem solução de
continuidade, chegaremos da planta aos animais vertebrados sem transição brusca. Compreende-se
então que os animais de organização complexa possam não ser mais que uma transformação, ou se
assim o preferirmos, um desenvolvimento gradual, a princípio insensível, da espécie imediatamente
inferior, e assim, de aproximação em aproximação, até o ser primitivo elementar. [...]”
56 O estudo de Mossa et al. (2013) demonstrou que a desnutrição materna bovina, no primeiro tri-
mestre da gestação, resultou em uma prole feminina com reserva folicular ovariana menor, aorta
aumentada e aumento da pressão arterial, comparada à prole de mães adequadamente alimentadas. O
ambiente encontrado durante o período fetal e vida neonatal exerce uma profunda influência nas fun-
ções fisiológicas e no risco de doenças durante a vida adulta (BARKER, 2007; LANGLEY-EVANS,
2006). Estudos em animais demonstraram uma associação direta entre o desequilíbrio de nutrientes
durante a vida fetal e quadros clínicos futuros, incluindo hipertensão, diabetes, obesidade e doença
renal (MCMILLEN; ROBINSON, 2005).

76
Nota: Conforme dissemos anteriormente, não faltarão ferramentas. As
características são determinadas geneticamente, por meio de informa-
ções contidas no DNA, e sofrem influências do meio ambiente, através
da seleção natural (conforme visto na questão 100). A depender das condi-
ções impostas, uma característica pode ser “favorecida” em detrimento
de outra, permitindo ou não a adaptação do indivíduo.

IV – Animais em outros mundos

116. Há animais fora do orbe terrestre?


— Sim. Existe forma animal em diversos locais dos universos.
A. Seriam eles de mesma constituição física daqueles que conhece-
mos?
— Podem ser ou não; de acordo com o orbe habitado, essa readaptação
ocorre para permitir a existência na pluralidade de condições climáticas e influ-
ências do respectivo planeta.
B. Seriam eles dotados de outras habilidades e recursos espirituais?
— Sim, daqueles que necessitarem para o plano em que vivem.
Nota: Deus concede-nos os meios necessários para realizarmos nossas
tarefas, não importa em qual estado evolutivo estivermos. A cada pas-
sagem planetária, temos as ferramentas úteis para aquele determinado
plano. Jamais poderemos alegar estagnação por falta de instrumentos à
disposição, mas, sim, por falta de esforço e dedicação.

117. Que tipo de animais os humanos encontrariam em mundos in-


feriores, se para lá fossem?
— O futuro pertence a Deus; a questão é: o que podem fazer pelos ani-
mais neste planeta?

77
V – Animais e os espíritos elementais

118. Existem espíritos responsáveis pela natureza?


— Sim, existem espíritos responsáveis por tudo o que há na natureza.
Nota: Não há nada criado por Deus que não possua amparo espiritual.
Ainda que a hierarquia seja primitiva em determinados seres vivos, a
organização espiritual e responsabilidade sobre as criações de Deus são
eternas e inabaláveis.57

119. Há relação entre os elementais e os animais?


— Elementais são os responsáveis pela natureza; ainda assim, não se apre-
sentam de formas folclóricas ou irreais. A ligação entre eles e os animais é de
proteção.
Nota: É importante discernir folclore de realidade. Não se trata de fa-
das ou duendes, mas de espíritos ou “forças” responsáveis pela gestão,
organização e harmonização dos ciclos naturais.
Espíritos elementais, portanto, são trabalhadores de Deus, que se uti-
lizam das forças disponibilizadas para ajudar na gestão do progresso e
consequente evolução.
A. Espíritos elementais estão em transição do Reino Animal para o
hominal?
— Em alguns casos; espíritos elementais podem estar em transição, mas
não é uma regra.58

VI – Emoções e sentimentos

120. Os instintos, emoções e sentimentos dos humanos e dos ani-


mais têm a mesma origem?
— Cada um se origina de acordo com sua própria necessidade. A dife-
renciação acontece na utilização. Cada qual irá utilizá-los em um determinado
momento de sua evolução.59

57 O Livro dos Espíritos, questão 538-a: “Esses Espíritos pertencem às ordens superiores ou inferiores
da hierarquia espírita? — Segundo o seu papel for mais ou menos material ou inteligente: uns man-
dam, outros executam; os que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem inferior, entre
os Espíritos como entre os homens.”
58 O Livro dos Espíritos, questão 538: “Os Espíritos que presidem aos fenômenos da natureza formam
uma categoria especial no mundo espírita, são seres à parte ou Espíritos que foram encarnados, como
nós? — Que o serão, ou que o foram.”
59 O Livro dos Espíritos, questão 606: “De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui
a espécie particular de alma de que são dotados? — Do elemento inteligente universal.”; questão
606-a: “A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único? — Sem
nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos.”

78
Nota: Nenhum ser vivo adquire características emocionais sem necessi-
dade evolutiva. O desenvolvimento dessas características psicológicas é
consequência do aprimoramento intelectual e da necessidade real.
Alguns animais, entretanto, possuem a aceleração do afloramento emo-
cional pela convivência com seus tutores, mas isso não é necessaria-
mente bom; depende do emprego ou utilização.
O ser humano, com seu livre-arbítrio depurado, muitas vezes, busca
aproximar-se de animais e domesticá-los com interesses e conveniên-
cias, e isso lhe será cobrado na erraticidade.

121. Em qual nível de desenvolvimento, no campo das emoções, os


animais se encontram?
— Conforme a ciência da Terra já comprovou, os animais são seres sen-
cientes (conforme visto na questão 102-A). O desenvolvimento emocional pertence
a cada indivíduo, separadamente.

122. Qual a origem da diversidade de comportamentos, personali-


dades e habilidades de muitas espécies de animais?
— A individualidade de cada alma ocasiona a diversidade de reações aos
meios em que habitam.

123. Todas as tribulações, angústias e alegrias experimentadas por


um animal em sua vida foram previstas e escolhidas para sua evolução?
— Sim, não se move uma folha sem a vontade de Deus60, todavia, move-
se uma montanha com o Seu desejo.

VII – Evolução dos animais

124. O processo de evolução, sob o ponto de vista científico, é ba-


seado na anatomia61 e fisiologia62. A evolução espiritual também corres-
ponde a isso?

60 Nobre Alcorão – 6a surata, versículo 59: “E Ele tem as chaves do Invisível; ninguém sabe delas
senão Ele. E Ele sabe o que há na terra e no mar. E nenhuma folha tomba sem que Ele saiba disso, e
não há grão algum nas trevas nem algo, úmido nem seco, que não esteja no evidente livro.”
61 Anatomia: disposição, forma e situação dos órgãos de um ser vivo (MICHAELIS, 2008); disseca-
ção do corpo humano ou de qualquer animal ou vegetal para estudo e conhecimento de sua organi-
zação interna (HOUAISS; VILLAR, 2009).
62 Fisiologia: ciência que estuda o funcionamento do organismo vivo (MICHAELIS, 2008); estudo
das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-quími-
cos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios; biofisiologia (HOU-
AISS; VILLAR, 2009).

79
— De certa forma. Fisiologia e anatomia mais desenvolvidas são “casa”
de espíritos mais aprimorados.
Conforme já sabeis, o corpo material é uma ferramenta de evolução; por
essa razão, vós não a possuiríeis complexa, mas com capacidades limitadas ou
desproporcionais.
Existe certa proporcionalidade entre o corpo material e o espiritual, para
que o possuidor daquela fisiologia e anatomia possa usufruir delas em seu po-
tencial máximo.
Sabendo que a espécie humana é a mais desenvolvida deste orbe, especial-
mente em seu intelecto, ela possuirá, consequentemente, as maiores responsa-
bilidades com a oportunidade que lhe foi dada.

125. Os animais estão em contínuo estágio de evolução. Sua homi-


nização pode acontecer no planeta Terra?
— Sim, não só pode como acontece.
Nota: Animais da Terra podem hominizar-se também na Terra. Depen-
derá dos planos de Deus.63

126. Onde se situam os animais na escala evolutiva?


— Em um degrau dessa longa escalada, essa fase é imprescindível ao des-
pertar da consciência (conforme visto na questão 96).
Nota: Não haveria humanos se não houvesse os animais, não existiriam
animais se não existissem os vegetais, e, muito menos, vegetais sem os
minerais. Sendo assim, o humano depende da pedra para perpetuar-se.64
Levando em consideração essa máxima, podemos entender a impor-
tância da conservação do planeta e o quão prejudicial é quando, por
interesses materiais, a destruição acontece.

63 O Livro dos Espíritos, questão 607-b: “Esse período de humanidade começa sobre a nossa Terra? —
A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa,
em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia
acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. [...]”
64 O Livro dos Espíritos, questão 585 – nota explicativa de Kardec: “[...] A matéria inerte, que constitui
o reino mineral, não possui mais do que uma força mecânica; as plantas, compostas de matéria inerte,
são dotadas de vitalidade; os animais, constituídos de matéria inerte e dotados de vitalidade, têm ainda
uma espécie de inteligência instintiva, limitada, com a consciência de sua existência e de sua individu-
alidade; o homem, tendo tudo o que existe nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes
por uma inteligência especial [...], que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas ex-
tramateriais e o conhecimento de Deus.”; A Gênese, capítulo X, item 28: “Por pouco que se observe a
escala dos seres vivos, do ponto de vista do organismo, reconhece-se que, desde o líquen até a árvore,
e do zoófito ao homem, há uma cadeia que se eleva por graus, sem solução de continuidade, e da qual
todos os elos têm um ponto de contato com o elo precedente; seguindo passo a passo a série dos
seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente
inferior. Verificado que o corpo do homem está em condições idênticas aos outros corpos, que ele
nasce, vive e morre da mesma maneira, deve ter sido formado nas mesmas condições.”

80
127. Quais são os animais mais evoluídos?
— Os que demonstram um princípio de raciocínio e consciência, poden-
do pertencer a variadas espécies.
Nota: Não importa a qual espécie eles pertençam; desde que haja um
passado de esforços e controles instintivos, o animal poderá chegar a
níveis de consciência mais depurados.
É claro que algumas espécies, por possuírem um maior número de in-
divíduos favorecidos intelectualmente (como os símios65), facilitam o
processo evolutivo dos demais da mesma espécie, porém não é uma
regra. Assim, como vocês sabem, foi comprovado diversas vezes que
existem indivíduos de outras espécies que demonstram alto nível de
inteligência, ainda que sejam exceções.66

128. Os símios são os animais que mais se aproximam do homem?


— Fisicamente sim, conforme a ciência já comprovou.67
A. Pode-se dizer que descendemos deles?
— Fisicamente sim, porém, espiritualmente, somos provenientes de um
processo evolutivo. Não viemos de ninguém, somos uma melhor versão de nós
mesmos.68

65 Símio: adj Relativo ou semelhante ao macaco. sm Bugio, macaco, mono (MICHAELIS, 2008).
66 A Gênese, capítulo XI, item 11: “Para ser mais exato, será preciso dizer que é o próprio Espírito que
fabrica seu envoltório e o torna adequado às suas novas necessidades; ele o aperfeiçoa, o desenvolve
e completa o organismo à medida que sente a necessidade de manifestar novas faculdades; numa
palavra, ele o talha conforme sua inteligência; Deus lhe fornece os materiais; fica por sua conta colo-
cá-los em função; é assim que as raças adiantadas têm um organismo, ou se assim o preferirmos, um
instrumento cerebral mais aperfeiçoado que as raças primitivas. Assim se explica igualmente o cunho
especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia, e às linhas do corpo.”
67 Análises fósseis de Australopithecus sediba, um hominídeo que habitou a África há cerca de dois
milhões de anos, demonstraram uma mistura estrutural óssea, reunindo características dos humanos
modernos e dos grandes símios, como o chimpanzé (Pan troglodytes) (BERGER, 2013). O Australopithe-
cus sediba caminhava com a perna totalmente estendida e com o pé invertido durante a fase de balanço
da locomoção bípede (DESILVA et al., 2013). As costelas revelaram um tórax superior estreito e mé-
dio lateralmente, como o dos macacos de grande porte, ao contrário do amplo tórax cilíndrico, visto
em humanos (SCHMID et al., 2013). A análise dos elementos das regiões cervical, torácica, lombar e
sacral da coluna vertebral demonstrou que a espécie tinha o mesmo número de vértebras lombares
que os humanos modernos, mas possuía uma parte inferior das costas funcionalmente mais longa e
flexível (WILLIAMS et al., 2013).
68 A Gênese, capítulo XI, item 15: “[...] Corpos de macacos teriam sido muito adequados a servir de
vestimentas aos primeiros Espíritos humanos necessariamente pouco avançados, que vieram encar-
nar-se na Terra; tais corpos terão sido os mais apropriados às suas necessidades, e mais próprios ao
exercício de suas faculdades, que o corpo de qualquer outro animal. [...]”

81
129. Tendo o homem primitivo a faculdade dominante do instinto
para sobreviver, poderíamos situá-lo, evolutivamente, como pertencente
à fase animal?
— Não. Apesar dos instintos aflorados, o homem primitivo já possuía
capacidades mais desenvolvidas que as dos animais.

130. As almas dos animais hierarquizam-se? Há entre eles subordi-


nação e autoridade?
— A hierarquia é dada de acordo com o grau evolutivo. Toda subordina-
ção tem como intuito o progresso.
Nota: A hierarquia necessita de um determinado grau de evolução, pois
ela é proveniente da organização. Ainda assim, subordinar-se é uma re-
ação instintiva de sobrevivência.
Os animais subordinam-se para conviver com o grupo e tirar proveitos
que os levarão à sobrevivência e perpetuação da espécie.69

131. A convivência com os seres humanos contribui para a evolução


dos animais?
— Quando construtiva, ela contribui para acelerar o processo. Quando
destrutiva, leva muitos animais à extinção.
A tendência futura é que o convívio seja cada vez mais harmônico, pacífi-
co e respeitoso.
Nota: O convívio sem o respeito que os animais merecem levará conse-
quências graves para os malfeitores.

132. O ser humano não regride espiritualmente de uma encarnação


para outra.70 Essa peculiaridade se estende aos animais?
— Sim. Apesar de não regredir, a velocidade de evolução dependerá do
uso do livre-arbítrio de cada ser, ainda que primitivo.

69 Hierarquia de dominância: classificação social dentro de um grupo em que alguns indivíduos dão
lugar a outros, muitas vezes concedendo recursos úteis sem luta. Os membros desse grupo podem
competir pelo acesso a recursos limitados ou por companheiros; no entanto, em vez de brigar a todo
momento, relações de parentesco são formadas, estabelecendo-se uma hierarquia entre os machos.
Essas interações levam ao surgimento de uma ordem social, que poderá ser alterada caso o animal
dominante seja desafiado pelo dominado (ALCOCK, 2001).
70 O Livro dos Espíritos, questão 778: “O homem pode retrogradar para o estado natural? — Não, o
homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância. Se ele progride, é que
Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do
progresso.”

82
133. O planeta Terra é para provas e expiações. Os animais passam
por elas?
— O planeta Terra é para muito mais do que isso. Por provas, sim, expia-
ções, não. Provas fazem com que eles evoluam, para expiações, seria necessária
a consciência.
Nota: Não haveria razão para os animais expiarem, tendo em vista que
não possuem a depuração do livre-arbítrio.
Para expiar, é necessário ter consciência dos atos praticados, e as falhas
dos animais são oriundas das decisões ainda não lapidadas do instinto.
Podemos concluir que apenas expiamos os equívocos, os quais temos
condições de evitar.

VIII – Instinto, inteligência e consciência71


Durante a longa jornada existencial, passamos por diversas fases impor-
tantes para nosso desenvolvimento espiritual. O corpo, que nos é concedido
múltiplas vezes consecutivas, serve ao intuito evolutivo; assim, é importante
cuidar bem dele. Já o espírito é eterno e, transcendendo múltiplos corpos, co-
existe em estados instintivos, intelectuais e conscientes. O instinto (inteligência
primitiva) é inerente ao homem encarnado; através dele, desenvolvemos a so-
brevivência e a perpetuação da espécie. A inteligência permite-nos mais do que
sobreviver: progredir, alcançando patamares diferenciados, em comparação a
quando não a possuíamos. A consciência, por sua vez, sempre esteve conosco,
desde o seu despertar (na fase animal), e vem sendo, a partir de então, nossa
comunicação direta com o Criador, um instrumento que nos possibilita crivar e
discernir o bem do mal.
Irmãos, independentemente do estágio evolutivo em que estejais neste
instante, tenhais em mente que, para a evolução, é necessário o fazer evoluir,
auxiliando vossos irmãos que ainda não alcançaram essa fase.
Ter compaixão pelo próximo é o mesmo que ter fé, acreditar que, no pas-
sado, fostes imperfeitos, como agora o são aqueles que julgais.

71 A Gênese, capítulo III, item 11: “[...] O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos à rea-
lização de atos espontâneos e involuntários, em vista à sua conservação. [...]”; item 12: “A inteligência
se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, segundo a oportunidade das cir-
cunstâncias. Incontestavelmente, isto é um atributo exclusivo da alma. Todo ato maquinal é instintivo;
o que denota reflexão, combinação, uma deliberação, é intelectivo; um é livre, o outro não o é. [...]”

83
134. Os animais possuem livre-arbítrio?
— Não da forma humana. Fazem escolhas mais simples, ainda instinti-
vamente. O instinto requer algumas escolhas, as quais os animais realizam de
acordo com suas necessidades materiais e respectiva evolução. Quanto maior a
evolução, mais apurada será a escolha, o que, futuramente, irá gerar o livre-arbí-
trio de fato (conforme visto na nota de rodapé n.º 54).
Nota: Diferentemente dos homens, os animais possuem um livre- arbí-
trio primitivo, essencial para escolhas instintivas básicas à sobrevivência
e perpetuação da espécie. Com o passar das encarnações e a consequente
evolução, eles começam a depurá-lo, realizando escolhas que requerem
certo grau de consciência e discernimento. Uma vez que a consciência é
despertada, o livre-arbítrio é depurado, assim como a responsabilização
sobre o uso dele, e eles passam a ter graus primitivos de discernimento.
Já na fase humana, o livre-arbítrio é pleno; consequentemente, o instin-
to é ofuscado pela moral e pela inteligência, jamais deixando de existir,
porém sendo controlado com maior frequência.
Seres mais evoluídos possuem o instinto quase que imperceptível em
seus perispíritos, desde que tenham uma moral evoluída, a ponto de não
precisar mais lutar contra seus desejos instintivos primitivos.

135. Os animais possuem sentimentos primitivos?


— Algumas espécies já os possuem. O sentimento é o antecessor da cons-
ciência.
Nota: Os sentimentos antecedem a consciência e andam em paralelo
com a inteligência.
Os animais mais desenvolvidos intelectualmente são, também, mais de-
senvolvidos emocionalmente. Dessa forma, são capazes de possuir sen-
timentos “semelhantes” aos dos humanos, porém, por não possuírem a
depuração completa do livre-arbítrio, não possuem a consciência com-
pleta. Os humanos, por sua vez, carregam os sentimentos primitivos
ocultos em seu âmago, controlados pelo intelecto e pela consciência.

136. Os animais possuem instinto e inteligência. Quando um supera


o outro?
— O instinto fá-los sobreviver, a inteligência fá-los progredir; porém, es-
tes não foram feitos para serem superados, e sim, para coexistirem, aflorando
em suas respectivas fases.

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Nota: Instinto e inteligência não são feitos para ser superados, mas con-
ciliados. O instinto é uma inteligência primitiva, portanto, não poderí-
amos desenvolver a inteligência sem antes termos ampliado o instinto.
Uma vez que dilatamos o instinto, o papel inverte-se, e a busca passa a
ser conseguir controlá-lo, através da utilização da inteligência e da mo-
ral.72

137. Os animais cujos espíritos têm certo grau de consciência po-


deriam reencarnar em grupos nos quais a maioria ainda é brutalizada?
— Se necessário for, sim. Assim como ocorre com os humanos, os ani-
mais são espíritos que podem ocupar diversos grupos, de acordo com sua ne-
cessidade de aprendizado.
A. Eles poderiam, ao longo da nova encarnação, ser exemplos para
aqueles ainda brutalizados?
— Não só podem como são.
Nota: Não existem humanos evoluídos encarnados em planetas em
evolução? Acontece da mesma forma com os animais.73

138. Em muitas ocasiões, diz-se que o animal morreu de tristeza. É


possível?
— Não pela tristeza, mas pela ausência de algo a que foi condicionado.
Independentemente da fase em que se esteja, a verdadeira alegria não reside
em nada de material, e sim naquilo que edifica o espírito. Os animais, sendo
ainda “puros” em relação ao seu livre-arbítrio, são influenciados pelos condi-
cionamentos que recebem; assim, toda alegria ou tristeza será fruto disso. Por
esse motivo que, quando um animal padece pela tristeza, a responsabilidade é
humana.

139. Os animais sofrem de transtornos comportamentais?


— Não propriamente transtornos, mas representam sofrê-los através do
mau uso de seus instintos.

72 O Livro dos Espíritos, questão 73: “O instinto é independente da inteligência? — Precisamente, não,
porque é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência não racional; é por ele que todos
os seres provêm às suas necessidades.”; questão 74: “Pode-se assinalar um limite entre o instinto e a
inteligência, ou seja, precisar onde acaba um e onde começa o outro? — Não, porque eles frequente-
mente se confundem; mas podemos muito bem distinguir os atos que pertencem ao instinto dos que
pertencem à inteligência.”
73 O Livro dos Espíritos, questão 178: “Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo rela-
tivamente inferior àquele em que já viveram? — Sim, quando têm uma missão a cumprir, para ajudar
o progresso; e então aceitam com alegria as tribulações dessa existência, porque lhes fornecem um
meio de se adiantarem.”

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A. Por que certos animais se automutilam, semelhantemente aos
humanos com ansiedade?
— A automutilação animal é diferente da humana. A dos humanos é por
transtornos, e a dos animais é por ausência daquilo que outrora lhes fora con-
dicionado.
Nota: Os transtornos comportamentais estão totalmente vinculados às
crises de consciência, portanto, animais não poderiam possuí-los nessa
fase. Não podemos confundir inteligência com consciência; o animal
pode ter uma inteligência primitiva muito aflorada, contudo, não terá o
mesmo afloramento de sua consciência.

140. Como comparar a inteligência humana e a animal?


— São distintas. Cada uma na sua devida proporção e utilidade. A inteli-
gência do humano dá-se pelo raciocínio, e a do animal, pelo instinto (conforme
visto na questão 136).
Nota: Isso não significa que a inteligência humana, em todos os casos,
supere a animal. O raciocínio mal-empregado, algumas vezes, é mais
prejudicial que o instinto depurado. Sendo assim, com o raciocínio, sur-
ge a obrigação do humano em superar os instintos em suas escolhas,
mas nem sempre isso acontece.

141. O predomínio do instinto poderia explicar as atitudes irracio-


nais muitas vezes tomadas pelo ser humano?
— O que difere o instinto animal do instinto humano é que, nos homens,
já existe o livre-arbítrio, que pode controlar o instinto; nos animais, não.
Nota: O controle instintivo é uma prova, inclusive para os humanos. É
necessário aprimoramento moral e esforço para lidar com os instintos
que outrora vos fizeram sobreviver, mas que, no cenário atual, demasia-
damente, vos prejudicam.

142. A inteligência dos humanos, adquirida desde a fase animal, é


considerada um salto qualitativo?
— Sim; ainda assim, o uso da inteligência é que determinará o nível do
progresso (conforme visto na questão 140).
Nota: A inteligência é uma ferramenta conquistada através da evolução
daquele indivíduo, e a vigilância em sua utilização é o maior desafio. Ao
reencarnar e ser abençoado com o esquecimento, muitas vezes, o ho-
mem permite-se cair em tentações materiais e utilizar da sua inteligência
de forma equivocada.

86
143. Os animais têm as mesmas sensações, desejos e vontades dos
homens?
— Não. Possuem sensações, desejos e vontades proporcionais ao seu es-
tado evolutivo.
Acontece o inverso: homens possuem desejos e sensações animais, toda-
via, cabe a eles resistirem e controlarem os que forem moralmente inadequados.

144. Os animais, neurologicamente, são capazes de perceber, me-


morizar, ter juízo ou raciocínio sobre as coisas?
— Nem todos. Cada animal manifesta suas aptidões de acordo com seu
grau evolutivo. Ainda assim, na maioria das vezes, vós é quem projetais vonta-
des e visões em ações que são simplesmente instintivas e naturais dos animais
(especialmente os domésticos).
A. O ser humano primitivo tinha faculdades cognitivas limitadas?
— Sim, de acordo com seu estado evolutivo, sempre acompanhando a
devida proporção mental.

145. A manifestação cognitiva animal é o princípio da inteligência?


— Faz parte do princípio, mas ela apenas não basta. É necessária uma sé-
rie de outros desenvolvimentos para que a inteligência desperte.
Nota: Não se desenvolve uma inteligência apenas com a cognição ou
comportamento, mas juntamente com diversos outros atributos cons-
truídos com esforço no passar das encarnações.
Somos frutos de um passado que não podemos mudar, porém perten-
cemos a um presente que nos dá as condições necessárias para o apri-
moramento.

146. Qual a diferença entre instinto e condicionamento no animal?


— Comportamentos instintivos são inatos, enquanto condicionamentos
são adquiridos durante a encarnação. O instinto é concedido por Deus para a
sobrevivência, já os condicionamentos são de nossa responsabilidade, portanto,
é através deles que podemos auxiliar o espírito do animal, mediante instrução
adequada, controlando, muitas vezes, seus instintos em prol da evolução.

Controle instintivo
Na fase animal, o desenvolvimento do controle instintivo é natural. Entre-
tanto, os encarnados, por possuírem uma inteligência superior, têm como dever
auxiliar os animais nesse controle, quando esse auxílio for útil para a evolução
deles, e não apenas para a comodidade do humano.

87
O controle instintivo é um processo lento, o qual é depurado com o passar
das encarnações, inclusive na fase humana. E este (o instinto) é necessário para
garantir a sobrevivência das espécies em determinados graus evolutivos e pla-
netas. Cabe a vós buscardes o discernimento de quando, como e de que forma
contribuir através de vossa interferência. Nosso conselho é que, ao “domar” o
instinto, vos perguntais: é bom para o animal ou é bom para o homem?

IX – Desencarne nos animais


147. Os animais têm provas para suportar?
— Sim, não só as têm como as suportam.

148. O que determina o tempo de vida na Terra para os animais?


— A determinação ocorre pelos planos de Deus e também de acordo com
o uso dos instintos animais.
Nota: A utilização equivocada dos instintos pode antecipar o desencar-
ne daquele animal, porém, por não possuírem o livre-arbítrio depura-
do, não respondem com a mesma intensidade que o homem. A ação
humana é outro determinante no tempo vivido pelos animais. Muitos
retornam ao plano espiritual como resultado da crueldade e do mau uso
da liberdade de escolha de que os humanos usufruem.

149. Para onde vão os animais logo após desencarnarem?


— Dependendo da necessidade, vão para colônias ou permanecem por
pequenos momentos na erraticidade preparatória, até seu retorno (ver questão
106).
A. Existem colônias somente para os animais?
— Existem lugares específicos para o acolhimento deles.
Nota: O que ocorre com os animais não é muito diferente daquilo que
acontece com os humanos. O que difere é o nível de consciência e
depuração do livre-arbítrio; isso faz com que os homens sejam mais
responsabilizados por suas escolhas, uma vez que têm a possibilidade
de discernir entre o certo e o errado com maior clareza.
B. Existe um planejamento reencarnatório para os animais?
— Sim, existe para todos os seres vivos.

150. O perispírito dos animais sofre deformações ou alterações


quando no decurso de doenças crônicas, acidentais ou em alterações
ambientais?
— Não. As deformações que ocorrem nos humanos são frutos de suas
impressões mentais. Já nos animais, por não haver ainda impressões desenvol-

88
vidas, ao desencarnarem, retornam à sua forma original.

151. Os animais em morte lenta e dolorosa têm consciência da ago-


nia e sofrimento aos quais estão acometidos?
— A consciência não, mas as sensações físicas, sim.
Nota: E essas sensações serão importantes para a evolução dos animais
(e de seus tutores), não permitindo Deus a dor sem objetivo. Ainda que
doloroso enquanto estamos encarnados e com o véu da ignorância so-
bre nossos olhos, termos resiliência à dor sofrida pelos animais é uma
demonstração de fé e evolução.

152. Diante de uma condição grave de saúde do animal, a eutaná-


sia74 é permitida?
— Não, a vida sempre deve ser preservada. Se o animal está passando por
aquilo, é porque é a sua prova.
Nota: Em O Livro dos Espíritos, a questão 953, mesmo se referindo im-
plicitamente ao suicídio, traz embasamento à resposta dada, pois ratifica
que apenas Deus pode dar termo à existência dos seres.

153. O espírito de um animal pode sofrer perturbação após o desen-


carne? 75
— Não, para que haja perturbação, é necessário ter consciência.
A perturbação é oriunda da autoanálise da consciência versus realidade vi-
venciada. O animal não possui consciência estabelecida, portanto, não pode
perturbar-se.

154. O desencarne precoce de filhotes ou aborto na fase gestacional


tem relação com a evolução dos animais e de seus tutores?
— Tudo o que acontece tem uma necessidade.
A. Qual o sentido, reencarnatório ou evolutivo, para animais nati-
mortos?
— Sempre há um sentido e propósito nos planos de Deus. Nascemos ou

74 Eutanásia: ato de proporcionar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurá-
vel que produz dores intoleráveis (HOUAISS; VILLAR, 2009); 1. Morte serena, sem sofrimento. 2.
Prática ilegal pela qual se procura, sem dor ou sofrimento, pôr fim à vida de um doente incurável
(MICHAELIS, 2008).
75O Livro dos Espíritos, questão 165 – nota explicativa de Kardec: “No momento da morte, tudo, a
princípio, é confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada,
no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a sua
situação. A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, à medida que se extingue a influência da
matéria de que se desprendeu, e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.
A duração da perturbação após a morte é muito variável: pode ser de algumas horas, como de muitos
meses e mesmo de muitos anos. [...]”

89
desencarnamos para evoluir, nada é desperdiçado na perfeição do planejamento
Divino.
Nota: São planos de Deus e possuem diversas variáveis, portanto, não
poderíamos citar apenas um motivo.

155. É comum entre nós dizermos que o animal pressente o instante


da morte quando está na iminência do abate. Isso é verdadeiro?
— Não. Não pudestes prever vossa morte nem durante a fase animal; isso
ocorre apenas em casos excepcionais e com uma utilidade definida.

156. Tutor apegado prejudica a passagem de seus tutelados quando


eles desencarnam?
— Sim. O apego em pensamento pode prejudicar tanto o tutor quanto a
readaptação do animal em sua nova jornada.
Com o tempo, entendereis que saudade é diferente de apego, que querer
bem é diferente de querer estar junto, entre outras coisas.
O amor pelos animais transcende a compreensão, e, muitas vezes, é apa-
rentemente impossível não criar vínculos com aqueles que já partiram para o
outro plano.
É nesse momento que precisais desenvolver a fé, entendendo que melhor
que estar em vossas mãos é estar nas mãos de Deus e que o sinônimo de amar
é ver bem. O amor não pode ser confundido com posse, e o desenvolvimento
humano está a caminho dessa compreensão.
Chegará um dia em que o homem aprenderá a amar e voltará aos manda-
mentos propostos há mais de 2000 anos, dentre eles, “Amar a Deus sobre todas
as coisas.” 76

157. O tutor pode ter escolhido, como expiação ou prova, passar por
instantes de dor e saudade advindos de seu companheiro animal?
— Apenas se forem provas de ambos (homem e animal).
Não é possível que a vossa prova gere o sofrimento do próximo sem que
seja a prova dele também. Na Justiça Divina, é necessário que seja prova para
ambos, equilibrando, assim, os acertos.

158. Os animais podem absorver as energias negativas de seus tuto-


res, podendo isso até levá-los a óbito?
— Podem senti-las, contudo, não sofrerão consequências físicas a ponto
de levá-los a óbito.
Energias negativas afetam a matéria orgânica humana, podendo causar-lhe

76 Mt 22:37-38 – “Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma
e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento.”

90
grande prejuízo à saúde. Entretanto, é necessário que o receptor e o doador es-
tejam no mesmo estado vibracional (conforme visto na questão 93). Com os animais,
isso não ocorre, pois eles não possuem a depuração do livre-arbítrio a ponto de
serem capazes de rejeitar a má vibração. Sendo assim, são protegidos por Deus
com a preservação de suas vidas.

159. Animais que são homenageados ou condecorados por heroís-


mo, após seu desencarne, compreendem esse gesto humano?
— Não compreendem, porém recebem as boas vibrações.
Nota: E essas vibrações, quando boas, possuem grande valor para o
espírito, pois permitem que ele permaneça em um estado elevado, ace-
lerando, assim, seu processo evolutivo.
A. Ainda após o desencarne, podem sofrer com vibrações negativas
e palavras de maldizer?
— Por não possuírem ainda o entendimento, recebem auxílio em seu es-
tado vibracional, amenizando o sofrimento.

160. Podemos reencontrar no plano espiritual os animais que tutora-


mos quando encarnados?
— Até podem, se assim for necessário; dependerá da utilidade.
Sabemos que é desejo de muitos tutores se reencontrarem com seus ani-
mais no plano espiritual, porém, às vezes, não é dessa forma que ocorre. O ani-
mal é um ser individual e precisa seguir seu processo evolutivo. Portanto, Deus
prioriza a evolução em vez do reencontro, quando assim for necessário.

161. É relativo ao grau evolutivo o tempo de permanência dos ani-


mais nas colônias?
— Não, é relativo à necessidade.
A. Qual é o propósito de lá permanecerem?
— Há diversos propósitos, sempre voltados à evolução própria ou alheia.
Se possuem essa necessidade, permanecem por algum tempo, até que pos-
sam seguir seus cursos.
Nota: Ao contrário do que vosso egoísmo pleiteia, os animais não são
objetos, escravos, ou possuem dívida convosco. São espíritos individu-
ais que devem seguir sua evolução. Assim, ao habitarem as colônias,
fazem-no por motivos úteis e designados por Deus, jamais para saciar
vossas carências emocionais ou apegos. Cada ser possui um caminho a
seguir: durante a fase animal, é conduzido por irmãos mais evoluídos,
tornando-se mais breves os instantes nesse plano; já na humana, as fa-
lhas e livre-arbítrio depurado fazem com que o ser insista em cometer
os mesmos equívocos por múltiplas vezes, retardando, à vista disso, o

91
processo natural evolutivo.
Não deveis definir a evolução do espírito do animal por sua permanên-
cia em colônias, mas pelo seu esforço em direção ao controle instintivo.

162. Em colônias espirituais, os animais estabelecem contato uns


com os outros, mesmo sendo de espécies diferentes?
— Em alguns casos, se assim for necessário, ainda que breves.
A. Convivem pacificamente?
— Sim, em paz.
No plano espiritual, um leão convive pacificamente com uma gazela, pois
não é necessário que se alimente dela para sobreviver. Nesse caso, os instintos
desenvolvidos não são os da sobrevivência, e sim, os que darão suporte à inte-
ligência futura.

163. Os animais têm uma vida ativa na erraticidade?


— Sim. A vida na erraticidade é tão ativa quanto na encarnação (às vezes,
até mais), contudo, isso ocorre a uma velocidade imensamente superior, aparen-
tando frações de segundo no tempo terrestre.
A. Lá estando, são agrupados por espécie?
— Não, são agrupados de acordo com a necessidade de evolução ou
aprendizado, reiterando-se que as espécies podem ser comparadas às diferenças
fenotípicas dos seres humanos, não importando a aparência externa, e sim a
evolução do espírito.
Nota: Não há distinção de raça ou espécie nos agrupamentos ocorridos
no mundo espiritual. As equivalências são dadas de acordo com o grau
evolutivo.
Da mesma forma que uma criança do quarto ano não acompanharia o
conteúdo em uma faculdade e um aluno de faculdade sentir-se-ia ente-
diado no quarto ano, existe uma organização proporcional à necessida-
de de cada ser.
B. Há, na mesma espécie, animais em diferentes graus evolutivos?
— Sim, não há nos humanos?
C. Suas almas são direcionadas de acordo com o merecimento?
— Sim, lembrando que o merecimento pode ser decorrente da utilização
do instinto.
D. Há outros meios para alcançar o merecimento além do instinto?
— Não. Todo merecimento, na fase animal, é oriundo do controle instin-
tivo. Por não possuírem o livre-arbítrio depurado, é através do instinto que os
animais podem ser tutorados, levando-os, consequentemente, a uma conduta
mais evoluída.

164. Estando na erraticidade, os animais têm noção daquilo que irão

92
enfrentar na próxima encarnação em favor de sua evolução?
— Não. Apenas quando tiverem o desenvolvimento da consciência. En-
quanto isso, somente reencarnam de forma compulsória.

165. O animal reencarna imediatamente após seu desencarne ou


aguarda certo tempo?
— Geralmente, reencarna. Porém, se for preciso para sua evolução, aguar-
da um tempo (ver questão 106).
A. Os animais desencarnados sentem falta de seus tutores?
— Sim, mas superam-na.
B. Seus tutores podem prendê-los ao convívio deles, mesmo após o
desencarne?
— Não.
C. Como explicar, então, os relatos populares de que animais, após
o desencarne, mantêm-se junto aos seus tutores?
— Existem algumas exceções, assim como existem diversos falsos relatos;
é importante saber discerni-los, e a melhor forma de fazer isso é crivá-los atra-
vés da utilidade.
Seriam todos os encarnados privilegiados com informações espirituais?
Com qual intuito? É importante refletir.
Nota: Ao contrário dos homens, os animais não podem prender-se aos
humanos, assim prejudicando o reencarne; para que haja esse vínculo, é
necessário que os dois espíritos possuam o livre-arbítrio em permane-
cerem entrelaçados, e os animais ainda não detêm essa evolução.

166. Os animais domésticos que desencarnaram possuem direito de


escolha sobre seu plano reencarnatório?
— Não. Por não terem a capacidade de escolher, esse reencarne é compul-
sório ou reflexo de um merecimento (conforme visto na nota da questão 108).
A. Podem reencarnar várias vezes em um mesmo lar?
— Em alguns casos, dependendo da utilidade, porém não é tão frequente
como se supõe.
B. O animal reencarnado em outra família pode reconhecer seu an-
tigo tutor?
— Sim, se houver merecimento e necessidade, mas não é uma regra; ape-
nas o reconhecerá com o auxílio de espíritos superiores, que o abordarão atra-
vés do instinto e da “mediunidade primitiva” (ver adiante questão 195).
A mediunidade primitiva ocorre nos animais porque eles não possuem
ainda a consciência estabelecida, necessitando, portanto, da utilização instintiva
para se comunicarem com o plano espiritual. É uma espécie de mediunidade
que, apesar de grosseira e brutalizada, cumpre sua função na proporcionalidade
evolutiva dos animais.

93
Isso assim acontece porque Deus jamais deixaria um ser em evolução in-
comunicável com seu plano originário.

167. É necessário haver empatia para que o animal reencarne nesta


ou naquela família?
— É necessário nos humanos? 77

168. As vidas anteriores modelam a personalidade inicial dos ani-


mais ao reencarnarem?
— Sim, tudo no vosso passado possui um propósito para o presente e
futuro.
Nota: Sois reflexo do vosso passado.78

169. Para que servem as experiências e lembranças anteriores que o


espírito de um animal vivenciou?
— Assim como nos humanos, quando houver utilidade, servem como
aprendizado, para evitar futuras falhas.

170. Os animais possuem reminiscências79 após o desencarne?


— Conscientemente, não, mas possuem-nas de forma instintiva.

171. Os animais desencarnados são recolhidos imediatamente pela


espiritualidade?
— Sim, e redirecionados de forma específica. Cada ser vivo precisa de um
acolhimento adequado à sua evolução.

172. De que modo e por quem são acolhidos os espíritos dos ani-
mais que retornam ao plano espiritual?
— Por equipes especializadas, que os acolhem de maneira amorosa e ins-
trutiva.

77 Revista Espírita – março 1862, p. 74: “[...] Certamente objetareis que com a reencarnação um Espí-
rito estranho pode infiltrar-se na vossa linhagem e que, em vez de nela contar apenas gentis-homens,
podem- se encontrar sapateiros. É perfeitamente certo; mas isso não quer dizer nada. [...]”
78 O Livro dos Espíritos, questão 393 – nota explicativa de Kardec: “Se não temos, durante a vida
corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas
existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma
reminiscência do nosso passado, às quais a nossa consciência – que representa o desejo por nós con-
cebido de não mais cometer as mesmas faltas, adverte que devemos resistir.”
79 Reminiscência: lembrança quase apagada; vaga recordação (MICHAELIS, 2008); lembrança de
uma verdade que, contemplada pela alma no período de desencarnação (o entremeio que separa suas
existências materiais), ao tornar à consciência, se evidencia como o fundamento de todo o conheci-
mento humano (HOUAISS; VILLAR, 2009).

94
Nota: Não é por serem menos evoluídos que os animais não possuem
um amparo e acolhimento espiritual. Ao chegar no plano espiritual,
toda criatura de Deus é acolhida com amor, sendo, assim, encaminhada
ao curso da evolução natural. No curto período em que lá permanece, é
preparada espiritual e instintivamente e então conduzida para o retorno
ao plano material, no qual terá maiores condições de dar novos passos
em direção à evolução espiritual.

173. Qual é o tratamento dispensado aos animais que sofreram mor-


te violenta?
— Os mais variados possíveis, dependendo da necessidade de cada ser.
Todos são tratados com muito amor e acolhidos com muito carinho, para que
possam se recuperar.

174. Como ocorre a comunicação entre a equipe socorrista e os ani-


mais?
— De uma forma ainda sobrenatural para os encarnados, entretanto, na-
tural para os espíritos: através do pensamento.

175. Há espíritos incumbidos do resgate dos animais nos matadou-


ros após o abate?
— Com toda certeza! Onde houver um irmão ceifando uma vida, haverá
inúmeros espíritos amigos resgatando e acolhendo o espírito do corpo abatido.
A proporção do bem sempre irá superar a do mal.

176. Quais funções de auxílio exercem os animais no mundo espiri-


tual?
— Geralmente, estão ligadas à reabilitação psíquica dos desencarnados,
auxiliando-os em seu estado emocional e readaptando-os ao mundo espiritual.

X – Respeito aos animais


Há mais de um século, as visões e os conceitos dos seres humanos sobre a
evolução eram proporcionais à época, o que torna imprescindível atualizarmos
alguns deles, a fim de trazer coerência para determinados temas. Entre esses
assuntos diversos, está a questão dos animais.
Os animais são criaturas de Deus; são nosso passado como espírito e, atu-
almente, membros de nossas famílias, tendo se tornado a ênfase da sociedade
moderna: amados, respeitados e vistos com o valor que deveriam ter recebido
desde o princípio.

95
A humanidade começou a analisar o comportamento deles, a desvendar
seus níveis de compreensão e inteligência primitiva, e surpreendeu-se, sentindo
mais empatia e afeto por essas lindas criaturas.
Depois de milênios de dor, sofrimento e desprezo, os animais finalmente
ocupam seu espaço na sociedade, fazendo cada vez mais parte da vida dos en-
carnados. Nada há de mais justo e coerente que compreender os mistérios que
os cercam.
Haverá um dia em que os homens os enxergarão como irmãos, deixarão
de consumi-los e passarão a respeitá-los ainda mais. Até que esse instante che-
gue, é hora de conhecê-los.

177. Os animais têm anjo da guarda?80


— Sim, todos os seres que possuem alma possuem um protetor.81
A. Esse protetor é individualizado?
— Não necessariamente. A individualização de proteção será útil quando
houver consciência.
Ainda assim, não há diferença entre os níveis de proteção individual ou
coletiva, pois ambos são propostos por Deus, sendo suficientes para determi-
nado estágio.

178. Por que alguns animais sofrem abandonos, crueldades e doen-


ças graves?
— Por causa das más escolhas dos homens; livre-arbítrio que produz con-
sequências. Deus, na Sua grandeza, utiliza-se dessas falhas para fazê-los evoluir.
Nota: O abandono não é culpa do animal, mas do “tutor”. Ainda assim,
como o equilíbrio universal é inabalável, Deus utiliza-se de vossas más
escolhas para adequar situações que irão gerar progresso e evolução
para o animal.82 Os autores das más escolhas responderão por essas
atrocidades na devida proporção.

179. A subjugação tem algum aspecto benéfico no processo evoluti-


vo dos animais?
80 O Livro dos Espíritos, questão 490: “Que se deve entender por anjo da guarda? — O Espírito pro-
tetor de uma ordem elevada.”
81 O Livro dos Espíritos, questão 489: “Há Espíritos que se ligam a um indivíduo, em particular, para o
proteger? — Sim, o irmão espiritual; é o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.”
82 O Livro dos Espíritos, questão 602: “Os animais progridem como o homem, por sua própria
vontade, ou pela força das coisas? — Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não
existe expiação.”
83 Revista Espírita – março de 1864, p. 85: “[...] O Espiritismo nos ensina e nos prova que o
sofrimento, no homem, é útil ao seu avanço moral. Quem nos diz que aquele que os animais
suportam não tem também sua utilidade; que ele não é, na sua esfera e conforme uma certa
ordem de coisas, uma causa de progresso? [...]”.

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— Devido à perfeição de Deus, todo sofrimento concede evolução por
consequência.83 Entretanto, a subjugação é um enorme equívoco. O correto é a
instrução ou direcionamento.
Estar em um estágio diferente do processo evolutivo não vos faz superio-
res: faz-vos responsáveis.

180. Aquele que subjuga ou maltrata os animais aumenta suas pró-


prias provas futuras?
— Sim, sempre haverá consequência para todos os atos maléficos co-
metidos pelos encarnados em seu livre-arbítrio; entretanto, quando eles forem
benéficos, as consequências também serão.
Nota: Cuidar, zelar e amar os animais é uma dádiva, pois é através deles
que enxergamos o que fomos no passado e o quanto evoluímos para
chegar até o instante atual, sendo também através deles que ocorre a
oportunidade de praticar a caridade e agir com amor para acelerar o
processo de evolução, como outrora fizeram conosco.

181. Quem se cala ao presenciar uma injustiça contra um animal se


torna cúmplice?
— Mais do que isso, torna-se um responsável. Presenciar uma injustiça em
silêncio é responsabilizar-se por ela.

182. Como a espiritualidade vê a castração dos animais?


— Somos sempre a favor da preservação da vida. A mutilação nunca será
apoiada pelo Criador.84 Para que isso mude, é necessário conscientizar os encar-
nados a não abandonarem os animais, e nisso todos podem contribuir.
A. E a castração como meio de prevenção de doenças (castração
preventiva)?
— Apenas se houver claros indícios e probabilidades muito grandes de
um problema futuro. Cada caso merecerá ser analisado com muita cautela; do
contrário, haverá consequências.
B. E em caso de zoonoses e superpopulação?
— Não seria o ideal, pois ambos poderiam ser evitados, contudo, sabe-
mos que levará certo tempo até que a humanidade adeque seus procedimentos;
entendemos que, em alguns casos, torna-se necessário. Cabe a vós a responsa-
bilidade de prevenir esses acontecimentos. Sacrificais um doente contagioso ou
apenas o isolais de forma adequada?
Nota: Animais abandonados, protetores sobrecarregados, lares tempo-

84 O Livro dos Espíritos, questão 693: “As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito
criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural? — Tudo o que entrava a marcha da Natu-
reza é contrário à lei geral.”

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rários superlotados... é evidente que há trabalho de sobra! Trabalho em
excesso para alguns justamente pela responsabilidade e conscientização
ainda não desenvolvidas em outros.
Sabemos que a evolução não dá saltos e que o progresso não acontece
de repente, mas é necessário que façamos, todos nós, a parte que nos
cabe como criaturas mais evoluídas e “irmãos mais velhos” que somos.
Que tenhamos foco para tratar a causa do problema, e não os sintomas.
O respeito a toda criação divina é premissa para um mundo mais evo-
luído e feliz.

183. O que dizer da comercialização legalizada dos animais?


— Em um mundo perfeito, a vida não seria comercializada. Ainda assim,
sempre dependerá da intenção dessa ação e da benesse que isso irá propiciar.
Nota: A comercialização não seria o meio correto de distribuir os ani-
mais para seus tutores (o melhor seria a adoção), porém, neste momen-
to evolutivo da Terra, o comércio ainda presta um auxílio de forma
indireta para os futuros tutores e animais, permitindo o despertar do
amor e consequentes melhorias físicas e psíquicas para muitas famílias.

184. Quais aperfeiçoamentos genéticos em animais poderiam ser


considerados plausíveis?
— Tudo aquilo que vier para aprimorar e elevar o espírito será bem-vindo,
mas jamais se esquecendo de que o mau uso poderá gerar resultados indesejados.85

185. O que pensa a espiritualidade sobre os antigos costumes de


oferecer animais em sacrifício para entidades de poder?
— Um grande equívoco! Porém, tudo ocorreu de acordo com a evolução
da época. Agora, não é mais necessário.86

186. Como o voluntariado pode auxiliar na evolução dos animais?

85 O Livro dos Espíritos, questão 692: “O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência é
contrário à lei natural? Seria mais conforme a essa lei deixar as coisas seguirem o seu curso normal?
— Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se
serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua
conquista é corresponder àqueles fins.”
86 O Livro dos Espíritos, resposta à questão 669: “[...] Entre os povos primitivos, a matéria sobrepõe-
-se ao Espírito; eles se entregam aos instintos animais e por isso são geralmente cruéis, pois o senso
moral ainda não se encontra desenvolvido. Depois, os homens primitivos deviam crer naturalmente
que uma criatura animada teria muito mais valor aos olhos de Deus do que um corpo material. Foi
isso que os levou a imolar primeiramente animais e mais tarde criaturas humanas, pois, segundo sua
falsa crença, pensavam que o valor do sacrifício estava em relação com a importância da vítima. Na
vida material, como geralmente a levais, se ofereceis um presente a alguém, escolheis sempre o de
um valor tanto maior, quanto mais amizade e consideração quereis testemunhar à pessoa. O mesmo
deviam fazer os homens ignorantes, com relação a Deus.”

98
— De diversas formas: energéticas, vibracionais, físicas e emocionais. O
voluntariado é a forma mais pura de amor. Desde que os voluntários tenham
o conhecimento e a cautela necessários, estarão praticando um lindo ato de
caridade.

187. Os animais farejadores, usados nos resgates e na segurança, e


os utilizados em terapia assistida, como cães, gatos e equinos, estariam
encarnados nessa condição por merecimento?
— Não, eles exercem as funções por recompensa. O fato de os animais
exercerem funções de trabalho ou de caridade é reflexo do condicionamento
originado pelo homem. Cabe ao homem condicioná-los às práticas dignas de
caridade e amor, e não às inconvenientes ou demeritórias.

188. O trabalho faz parte das leis da natureza.87 Os animais que tra-
balham estão respondendo a essas leis ou sendo explorados?
— Depende da finalidade com que trabalham. Se trabalharem por uma
causa nobre, estarão respondendo a essa lei.88
Nota: Com o passar do tempo, o homem vai perdendo a dependência
dos animais para os trabalhos cotidianos. No passado, era necessária a
utilização de cavalos para arar o campo e produzir alimentos, mas hoje
existem máquinas. No passado, era imprescindível a vaca para fornecer
o leite, mas hoje se sabe extraí-lo a partir dos vegetais. Portanto, a uti-
lização dos animais deve acontecer quando não existem outros meios
para tal tarefa e da forma mais moral possível.

189. O que dizer daqueles que exploram a capacidade de trabalho de


um animal até o extenuar de suas forças?
— Sofrerão as consequências de seus atos. Na Terra, tudo o que se planta
é colhido.89
87 O Livro dos Espíritos, questão 674: “A necessidade do trabalho é uma lei da Natureza? — O trabalho
é uma lei da Natureza e por isso mesmo é uma necessidade. [...]”
88 O Livro dos Espíritos, questão 677: “Por que a Natureza provê, por si mesma, a todas as necessida-
des dos animais? — Tudo trabalha na Natureza. Os animais trabalham, como tu, mas o seu trabalho,
como a sua inteligência, é limitado aos cuidados da conservação. Eis porque, entre eles, o trabalho
não conduz ao progresso, enquanto entre os homens tem um duplo objetivo: a conservação do corpo
e o desenvolvimento do pensamento, que é também uma necessidade e que o eleva acima de si mes-
mo. Quando digo que o trabalho dos animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refiro-me
ao fim a que eles se propõem, trabalhando. Mas eles são ainda, sem o saberem, enquanto se entregam
inteiramente a prover as suas necessidades materiais, os agentes que colaboram nos desígnios do
Criador. Seu trabalho não concorre menos para o objetivo final da Natureza, embora muitas vezes
não possais ver o seu resultado imediato.”
89 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo VII, Código penal da vida futura, item 9º: “Toda falta
que se comete, todo mal praticado é uma dívida contraída e que tem que ser paga. Se não for nesta
existência, será na próxima ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquilo
que se paga na existência presente não será cobrado na seguinte.”

99
190. Tratamos nossos animais domésticos como as “crianças” da
família. Isso os auxilia na evolução?
— Não, animais precisam ser tratados como tais. Tratá-los como humanos
os priva de suas necessidades instintivas, prejudicando-os. Devemos tratá-los
com muito amor, mas sem descaracterizar seus instintos e propósitos.

191. É real a necessidade de utilizar-se dos animais para estudos


científicos, pesquisas medicamentosas e comportamentais ou afins?
— Vós quem deveis julgar cada caso. Os animais foram importantes para
o desenvolvimento científico, entretanto, hoje possuís diversas outras alternati-
vas. Não deveríeis buscar apenas a porta larga.90

192. A domesticação de algumas espécies contribuiu para sua evo-


lução?
— Sim, em alguns casos. Apesar de a domesticação auxiliar no desenvolvi-
mento de alguns animais, é possível que eles atinjam sua evolução também em
ambientes naturais.
Nota: A domesticação de animais tem sido utilizada como um meio de
condicioná-los ao controle instintivo. Entretanto, Deus, Inteligência Supre-
ma do Universo, não restringiria o desenvolvimento evolutivo de animais
apenas para ambientes domésticos; assim, inúmeras espécies de animais se
desenvolvem tanto quanto os domesticados em ambientes naturais.
A domesticação é uma oportunidade não somente para o animal, mas,
principalmente, para o tutor, que desenvolve seu poder de auxílio, resili-
ência e a habilidade de tutorar. A dificuldade que os encarnados têm de
domesticar os animais é proporcional à que os espíritos mais evoluídos
têm de domar as más tendências dos encarnados: tudo em etapas.

XI – Animais e a mediunidade
193. Qual seria a melhor conduta do ser humano para auxiliar os
animais em sua evolução?
— Os animais surgiram neste planeta anteriormente aos homens e segui-
ram seu processo evolutivo natural. Deus concedeu ao ser humano a oportuni-
dade de auxiliá-los por meio da tutoria, e é indispensável que esta seja respon-
sável e digna.

90 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVIII, item 5: “A porta da perdição é larga, porque as más
paixões são numerosas e o caminho do mal é o mais frequentado. A da salvação é estreita porque o
homem que deseja transpô-la deve fazer grandes esforços para vencer as suas más tendências, e pou-
cos se resignam a isso. Completa-se a máxima: são muitos os chamados e poucos os escolhidos. [...]”

100
Há muito ainda o que reformar: a primeira contribuição é não atrapalhar
o curso natural, orquestrado pela Inteligência Suprema Universal, e a outra é
tutorear com amor e respeito, tratando os animais de forma despretensiosa e
responsável.
A. Deve haver algum limite da nossa influência sobre eles?
— Sim, devem limitá-la às questões construtivas, sem a pretensão de hu-
manizá-los ou subjugá-los. É necessário compreender que tutoria não é posse.
B. Como explicar certos comportamentos humanizados dos ani-
mais?
— Através do condicionamento humano.

194. Os animais têm consciência da existência de Deus, mesmo que


intuitivamente?
— De forma intuitiva, sim. De modo consciente, não. Ainda assim, muitas
vezes, projetam a divindade em seus tutores.
Nota: A intuição é a maneira mais propícia para nós, da espiritualidade,
auxiliarmos os animais, pois, por não possuírem uma consciência total-
mente formada, as intuições ocorrem no instinto, permitindo, assim,
que as impulsividades sejam controladas quando houver o esforço mú-
tuo (animal e espírito protetor).

195. Os animais possuem faculdades mediúnicas?


— Possuem faculdades instintivas, ainda não ostensivas, ou seja, uma es-
pécie de “mediunidade primitiva”.
A. Eles podem realizar o que chamamos de “desdobramento”?
— Não, pois não possuem mediunidade como a dos humanos, entretanto,
podem desdobrar-se no sono, se houver uma utilidade evolutiva.

196. Os animais conseguem, através de sua visão, diferenciar os en-


carnados dos desencarnados?
— Quando surge a utilidade de animais perceberem os desencarnados
através da apuração de seus instintos, sabem diferenciá-los. Entretanto, essa
percepção não pode ser confundida com mediunidade.
É óbvio que existe muita influência espiritual nessa conduta; contudo, eles
só a perceberão quando houver propósitos de sobrevivência, geralmente oriun-
dos do merecimento.

197. Para a humanidade, o mundo espiritual expressa-se em luz,


cores e sons. Como os animais o enxergam?
— De acordo com aquilo que necessitam para sobreviver e evoluir, depen-
dendo de cada animal.
Nota: Não há regras, pois cada indivíduo terá as ferramentas necessárias

101
para caminhar em sentido ao progresso espiritual.

198. A espiritualidade pode se manifestar através dos animais?


— Não da forma que vós a conheceis. Ainda assim, todas as criaturas de
Deus podem ser Seus instrumentos quando houver a utilidade.
Nota: Há muitos mistérios que envolvem os dois planos (espiritual e
material). Deus utiliza-se dos animais, assim como se utiliza de nós, para
a manifestação de Seu amor.
Por sermos frutos da criação d’Ele, tal como os animais, podemos ser
utilizados como ferramentas da propagação do amor, auxílio e caridade,
mas, no caso humano, isso acontece através do livre-arbítrio.

199. Os animais podem demonstrar pressentimentos e premoni-


ções?
— Podem pressentir através da utilização de seus instintos, mas não atra-
vés da premonição.
A. O que explica o fenômeno de cães que parecem saber quando
seus tutores, mesmo com irregularidade de rotina, irão chegar?
— Não subestimeis os sentidos dos animais!

200. Animais podem estar no umbral?


— Apenas em casos de auxílio aos humanos desencarnados que lá estão.
A. Um espírito inferior pode obsidiar um animal?
— Não, os animais são protegidos pela sua simplicidade; por não terem
consciência, não estão suscetíveis a captar essas vibrações. Nenhuma vida ani-
mal pode ser utilizada diretamente pela erraticidade para prejudicar outro en-
carnado, apenas para auxiliá-lo.

XII – Extinção de espécies


Os animais fazem parte da natureza, portanto, não devem nem podem ser
analisados individualmente, sem se contextualizar a importância da preservação
ambiental. Aquele que ama um animal, porém destrói seu habitat, na verdade,
não o ama.
Animais não são objetos nem ferramentas que suprem as carências emo-
cionais dos encarnados. São espíritos individuais, ou coletivos, em evolução.
Chegou o momento de o homem aprender a utilizar alternativas substitu-
tivas e que não prejudiquem a natureza. Se vós possuís a capacidade intelectual
de criar armas e tantas outras coisas sem utilidade, será que não tendes essa
mesma capacidade para viabilizar vossa vida carnal sem a destruição ambiental?
O planeta é um organismo vivo e, como todo organismo, sente os im-

102
pactos positivos e negativos, reagindo a eles. Não espereis que a Terra vos
demonstre o quão sois insignificantes perante tudo o que há na natureza.
Demonstrai vossa superioridade intelectual através da conservação e melho-
ria do ambiente que vos sustentou no pretérito e deverá sustentar no futuro.
Buscais alcançar planetas superiores, contudo, vos questiono: aprendestes a
cuidar bem do vosso?
Da mesma forma que, na primeira obra, vos ensinamos a cuidar do corpo,
que é a casa do espírito, nesta, ensinar-vos-emos a cuidar do planeta, que é a
casa do corpo.
Sede a mudança que almejais através das pequenas atitudes e recebereis a
recompensa proporcional.

201. A extinção de espécies é consequência dos atos dos humanos


ou apenas parte do processo natural evolutivo?
— É uma consequência dos atos dos humanos, uma vez que é causada
por mau uso do livre-arbítrio, sendo diferente de extinções advindas daquelas
naturais ou por catástrofes.
A. Qual é o destino dos espíritos de espécies que são extintas?
— São realocados em novas espécies, para que possam continuar seu ca-
minho evolutivo.
Nota: A extinção física não significa a extinção espiritual. A matéria é
perecível, mas o espírito é eterno.

202. Por que Deus permite que uma espécie mais evoluída extinga
uma espécie não evoluída o suficiente para se proteger?
— Todos os seres passarão por diferentes estágios e situações evolutivas,
portanto, quem extinguiu ontem, hoje poderá ser extinto. Deus permite que
possamos decidir o que fazer com nossas encarnações. O mau uso do livre-arbí-
trio é o que causa a extinção; não esqueçais que respondereis pelos vossos atos.
A. A extinção de algumas espécies pode ajudar na evolução de ou-
tras?
— Sim. Deus equaliza tudo o que acontece no universo, transformando
nossos erros e falhas em novas oportunidades. Na natureza, nada se perde, tudo

91 O Livro dos Espíritos, questão 728: “A destruição é uma lei da Natureza? — É necessário que tudo
se destrua para renascer e se regenerar, porque isso a que chamais destruição não é mais que a trans-
formação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos.”

103
se adapta.91

XIII – Vegetarianismo e veganismo


203. Qual o sentido da frase “A carne nutre a carne”?
— A forma de expressão do Espírito de Verdade à época da frase era por
parábolas; o sentido cabe à interpretação de cada época e de cada ser. Entende-
mos que a matéria precisa de matéria para sobreviver.
Nota: A palavra “carne” é usada metaforicamente, tendo o sentido de
“matéria”. O atual estágio evolutivo do planeta ainda exige, em geral,
que nos alimentemos de compostos orgânicos.

204. Chegará um instante em que o homem não mais necessitará se


alimentar de carne?
— Sim, já está chegando, mas é preciso ter cautela para não acelerar esse
processo. É necessário dar o tempo de preparação para os organismos dos en-
carnados de acordo com sua individualidade. Cabe a cada um julgar em vossa
consciência o momento em que estará pronto.
A. Quais são as consequências que recaem sobre os que consomem
carne de origem animal mesmo sabendo que é um equívoco?
— Tudo aquilo que fazeis sabendo que é errado vos será cobrado.

205. Como o vegetarianismo auxilia a humanidade e os animais na


evolução espiritual?
— Preservar a vida através da mudança de hábitos é sempre bem visto
pelas leis de Deus e ocasiona reflexos positivos para todo o ciclo – mas tudo ao
seu tempo.

206. Se o consumo de carne fosse bem menor e isso reduzisse a


população de animais para abate, haveria insuficiência de corpos para o
reencarne de espíritos?
— Seriam redirecionados para outros fins. A programação divina é infa-
lível, portanto, haveria diversos outros caminhos que levariam esses espíritos à
evolução.

207. Como a espiritualidade se posiciona a respeito daqueles que


ainda consomem produtos derivados de animais, tais como leite, ovos,
mel, roupas de couro e seda?

104
— Tudo depende da necessidade de cada indivíduo. Alguns já podem so-
breviver sem isso, outros ainda necessitam. As mudanças precisam ser gradati-
vas e sem afetar a saúde física.
Nota: Com o avanço tecnológico, produtos de origem animal serão
substituídos, auxiliando, dessa forma, no desprendimento físico e psi-
cológico em relação ao consumo desses produtos. Tudo dependerá do
esclarecimento e da expansão do círculo de empatia das pessoas.

XIV – Docilidade e agressividade nos animais


208. A agressividade dos animais para com o homem relaciona-se
com experiências passadas?
— Não, relaciona-se com o instinto.
A. Existe ódio ou algo que se aproxime disso entre animais?
— Não, apenas instintos.
O ódio é uma criação humana, os animais são uma criação de Deus. Ana-
lisais as diferenças.92

209. Um animal pode ser rotulado como bom ou ruim?


— Nem um animal nem um humano. Não existe bom ou ruim; existe o
mais ou o menos evoluído. E isso se refere a diversos aspectos.
A. A docilidade é um sinal de evolução?
— Sim, é o princípio do amor.
B. A distinção entre o bem e o mal está ao alcance dos animais?
— De forma instintiva, sim. Conscientemente, não.

210. O que explica a agressividade de animais domésticos contra


humanos, chegando a matá-los?
— A ciência explica: podem ocorrer reações oriundas do medo, autodefe-
sa ou, simplesmente, instinto de sobrevivência.93
A. No caso de tutor obsidiado, é possível que seu animal tutelado se
desestabilize e até reaja agressivamente, a ponto de atacá-lo?

92 O Livro dos Espíritos, questão 292: “Há aversões entre os Espíritos? — Não há aversões senão entre
os Espíritos impuros, e são estes que excitam entre vós as inimizades e as dissensões.”
93 A domesticação é um processo evolutivo em que o perfil biocomportamental é substancialmente
remodelado. Os autores analisaram como os animais selvagens e domésticos da mesma espécie di-
feriram em comportamento, emoções, cognição e respostas de estresse hormonal (KAISER; HEN-
NESSY; SACHSER, 2015). As condutas defensivas são ações comportamentais que visam minimizar
as chances de ser lesado, isto é, quando confrontados com ameaças predatórias, os animais podem se
envolver em diferentes comportamentos defensivos, como fuga, congelamento, ataque, vocalizações
de alarme ou tanatose (“fingir de morto”). Os comportamentos que executam e em qual sequência
dependem de propriedades específicas da espécie predada e de seu predador, bem como de seu am-
biente atual, estado interno e experiência anterior (EVANS et al., 2019).

105
— Não, poderia reagir pelas atitudes do tutor, mas não pela obsessão em
questão.

211. Há ligação entre a evolução espiritual do planeta e a conscien-


tização do homem sobre sua responsabilidade para com os animais e a
natureza?
— Completamente! A evolução depende da conscientização na mesma
proporção que um peixe depende da água.94

XV – Animais: passes e preces


212. Em que centro vital do organismo animal o passe ou o magne-
tismo trarão maiores resultados?
— O passe, em qualquer um. O magnetismo exige depuração e conheci-
mento, pois os animais são ainda mais sensíveis às energias magnéticas.
A. Quando os tutores têm vida espiritualizada e o hábito da prece,
os animais podem ser beneficiados com essas práticas?
— Sim, através das vibrações e energias emanadas, todos os seres serão
beneficiados.95

213. De que modo proferir preces auxilia os animais em sua vibra-


ção?
— Toda prece é preciosa e contribui imensamente para os que a fazem ou
a recebem.
A prece é uma doação energética e vibracional capaz de modificar a “at-
mosfera espiritual” de cada indivíduo, especialmente se estiverem o doador e o
receptor na mesma sintonia.
A. Como os animais se sintonizam com essa vibração?
— Mesmo que ainda não estejam completamente lapidados, eles são cria-
turas de Deus, sendo, portanto, capazes de modificar suas vibrações. Contudo,
é claro que o condicionamento que lhes foi dado pode auxiliar ou atrapalhar

94 O Livro dos Espíritos, questão 185: “O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mes-
mo, em cada globo? — Não; os mundos também estão submetidos à lei do progresso. Todos come-
çaram como o vosso em um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação semelhante,
tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons.”
95 A Gênese, capítulo XIV, item 31: “[...] A potência curadora estará, pois, em razão da pureza da subs-
tância inoculada; ela depende ainda da energia da vontade, a qual provoca uma emissão fluídica mais
abundante e dá ao fluido uma força maior de penetração; depende, enfim, das intenções que animam
aquele que quer curar, quer seja ele homem ou Espírito. [...]”

106
esse processo, e essa é a importância de os tutores exercerem corretamente suas
funções.

214. Pode-se usar das próprias mãos para abençoar ou clamar a Deus
por um animal?
— Sim, não só se pode como se deve. Onde houver boa intenção, Deus
estará presente.

215. Quais as benesses da água fluidificada para os animais?


— Inúmeras, porém, diferentemente dos humanos, os animais ainda não
podem tomá-la com fé, de modo que são auxiliados por nós e por Deus, a fim
de terem reduzidas suas enfermidades e estarem amparados em suas necessida-
des físicas e espirituais.

XVI – Amor dos animais


216. Os animais são capazes de amar?
— O amor é demonstrado de diversas formas; portanto, sim, os animais
amam, dentro de suas limitações.

217. O amor aos animais demonstra uma grande conquista da socie-


dade. É correto amar mais os animais do que os seres humanos?
— Não. O correto é amar todos de forma plena e sem distinção.
A. Por que algumas pessoas ainda demonstram mais amor pelos
animais do que pelos humanos?
— Porque enxergam neles a pureza que não deveriam ter perdido.
B. Se já passamos por esse estágio evolutivo, o que nos fez então
perder a pureza?
— O mau uso do livre-arbítrio. É fácil serem puros quando não possuem
consciência e responsabilidade em suas ações; difícil é manter a pureza após a
adquirirem. Quanto maior o conhecimento, maior a cobrança.

218. Em uma civilização na qual a miséria é muito grande, os exces-


sos nos cuidados aos animais tornam-se uma afronta?
— Não. Haverá sempre espaço para cuidar de ambos, humanos e animais;
cabe a todos colaborarem. A união do amor sempre terá grande força.
Não podemos justificar a ausência de auxílio aos animais por haver misé-
ria humana, da mesma forma que não devemos justificar a desassistência aos

107
humanos por haver miséria animal. Ambos precisam ser auxiliados. Que a cari-
dade se estenda a todos.

XVII – Pandemias e os animais


219. Há pandemias entre os animais?
— Pode haver, sempre com o propósito de evoluir o espírito através des-
sas experiências (ver adiante Capítulo IV – Flagelos Destruidores da Parte Terceira – A
Moral).

220. As pandemias surgem devido ao consumo de animais?


— Em alguns casos, sim, conforme vossa ciência já comprovou.96

221. Há diferença entre o consumo de animais de criação e animais


selvagens no que tange ao surgimento de pandemias?
— As possibilidades são proporcionais às condições em que esse animal
se encontra; sendo de criação ou selvagem, o ideal seria não consumir nenhum.

222. Além dos malefícios, há algum benefício para os animais em


períodos de pandemia de doenças humanas?
— Não deveria haver apenas por esses motivos, mas, infelizmente, há,
pois são poupados das más escolhas de alguns encarnados. São menos preda-
dos, e a poluição do planeta diminui, favorecendo-os, por consequência.

223. Qual o motivo de a Covid-19 não ter atingido os animais, sendo


que se propagou por todo o planeta entre os humanos, levando muitos

96 Mais de 70% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas (JONES et al., 2008). Segundo os
pesquisadores Paim e Alonso (2020), quanto mais próximos, em termos evolutivos, de outro organis-
mo, maior a probabilidade de esse organismo nos infectar. Assim, as infecções de origem alimentar
são frequentemente associadas a produtos de origem animal pelo fato de os seres humanos serem
mais próximos evolutivamente de animais do que de plantas. A maioria das novas doenças que sur-
giram em humanos nas últimas décadas estão relacionadas com a busca humana por mais alimentos
de origem animal. O surgimento de alguns vírus, como o da imunodeficiência humana 1 (HIV-1),
encefalopatia espongiforme bovina, síndrome respiratória aguda grave (SARS) e os novos vírus in-
fluenza, pode ser rastreado até o consumo de alimentos de origem animal, envolvendo carne selvagem
e produtos da pecuária (FAO, 2013; JONES et al., 2008; WOLFE; DUNAVAN; DIAMOND, 2007).
97 O Livro dos Espíritos, questão 740: “Os flagelos não seriam igualmente provas morais para o ho-
mem, pondo-o às voltas com necessidades mais duras? — Os flagelos são provas que proporcionam
ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a
vontade de Deus, ao mesmo tempo em que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação,
de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo.”

108
ao desencarne?
— Não eram provas a serem suportadas por eles, mas, sim, por vós.97

XVIII – Pureza dos animais


Todas as criaturas deveriam ser respeitadas. Os animais são belos por serem
puros e, por serem puros, são suscetíveis aos nossos cuidados e ensinamentos.
Não olhar com amor para um animal seria o mesmo que não olhar com
amor para um irmão que precisa de compreensão e ajuda.
A vida de encarnado vos dá diversas oportunidades de evoluir. O respeito
por todas as formas de vida é uma das mais sublimes.
Ampliai vossos conhecimentos sobre os animais, vosso cuidado e, conse-
quentemente, vossa evolução. Que todos vós possais amar a pureza que um dia
tivestes, aprender com ela e continuar rumo ao progresso.

109
Parte segunda

Mundo dos Encarnados


CAPÍTULO I
Infância dos Encarnados

CAPÍTULO II
Retorno à Vida Espiritual

CAPÍTULO III
Retorno à Vida Corpórea

CAPÍTULO IV
Intervenção dos Espíritos no
Mundo Corpóreo

CAPÍTULO V
Misticismo, Animismo e
Charlatanismo

CAPÍTULO VI
A Cura

CAPÍTULO VII
Enfermidades Psicológicas

110
CAPÍTULO I

Infância dos Encarnados


Infância • Educação na infância • Envagelização na Infância

I – Infância
A infância é a fase em que o encarnado está mais apto a aprender e a
mudar; é nela que recebe as informações sem tantos paradigmas e travas emo-
cionais.98 Sendo assim, não poderia dar-se de forma diferente a ajuda espiritual:
buscamos o acesso e a suscetibilidade do espírito para podermos passar as ins-
truções e preparar as energias para as provas que estarão por vir, contando, e
muito, com a ajuda dos tutores, que, através de seus ensinamentos e exemplos,
ajudarão a conduzir, para um caminho mais seguro, os próximos passos na vida
desse recém-encarnado.
Cada etapa é importante no processo de reencarnação; todas têm seu valor
e seu peso. “Deixai vir a mim as criancinhas”99 – que vós possais resgatar na
vida adulta a pureza adquirida na infância.

224. Qual é a fase considerada “infância” para os espíritos encarna-


dos?
— Isso é variável, dependendo da época em que for atingida a maturidade.

225. A infância será extinta de acordo com nossa evolução?


— Sim, mas a essência que ela traz, não. Todos os estágios vivenciados
hoje possuem sua própria utilidade.

226. A evolução do planeta antecipará a maturidade da criança?


— Sim, a maturidade é mais precoce conforme o estágio evolutivo do
espírito.
Nota: Todos nós estamos vinculados à evolução coletiva, portanto, con-

98 O Livro dos Espíritos, questão 383: “Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infân-
cia? — Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível, durante esse
tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem
contribuir os que estão encarregados da sua educação.”
99 Mt 19:14 – “Disse-lhes Jesus: ‘Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque
o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.’”

111
forme o planeta evolui, nós também evoluímos, por consequência. Des-
sa forma, a antecipação da maturidade é natural e inevitável. À medida
que os conceitos morais e intelectuais atingem patamares maiores, exis-
te um amadurecimento precoce, que permite o encurtamento da infân-
cia e o desenvolvimento do espírito de modo mais veloz. Logo, quanto
mais evoluído for o planeta, mais precoce será o amadurecimento.

227. Existe infância em outros planetas?


— Sim, e de diversas formas. Cada um possui a infância de acordo com
sua evolução, ou seja, quanto mais evoluído o planeta, mais precoce será a ma-
turidade da criança.

228. Na infância, possuímos consciência suficiente para discernir o


certo do errado?
— Depende do estágio em que estiverem como espírito. Algumas crianças
aprendem a discernir antes, e outras, depois. Não há uma regra.
A. Existe uma idade em que as crianças já conseguem discernir o
certo do errado?
— Não podemos generalizar. Todo e qualquer amadurecimento espiritual
necessariamente passa pela fase da maturação física, e esta ocorre no tempo
adequado para cada indivíduo, variando de acordo com a utilidade. O benefício
virá por meio de diversos fatores, e o intento será sempre preparar esse espírito
para sua ascensão e para que possa enfrentar suas provas e expiações de forma
mais objetiva e dinâmica. É importante lembrar que um dos fatores preponde-
rantes para o amadurecimento é o uso do livre-arbítrio: através de seu emprego,
o espírito avançará antes ou depois; se usado de maneira positiva, aplicando o
aprendizado com inteligência, o caminho evolutivo será mais proveitoso.

229. Durante a gestação, o feto pode receber orientação espiritual?


— Sim, não só pode como a recebe. Porém, são orientações mais singelas,
com a utilidade de prepará-lo para a encarnação que virá.

230. Por que as crianças nos sensibilizam tanto, despertando nosso


amor incondicional e nossa proteção?
— Porque, nelas, vós projetais a pureza que sabeis o dever de possuir.
A. Isso possui alguma utilidade evolutiva?
— Sim, tudo possui utilidade evolutiva, sem exceções.

112
Nota: Passam as crianças por uma fragilidade momentânea, e, possuindo
ainda delicadeza nos traços e dependência dos tutores para sua sobrevi-
vência física, o amor irá despertar-se de forma espontânea e natural.100

231. Podemos afirmar que, nos dias atuais e mais adiante, haverá
reencarnações em massa de espíritos mais evoluídos, mais comprome-
tidos com causas ambientais, menos agressivos, mais verdadeiros e au-
tênticos?
— A quantidade de espíritos a reencarnarem com essas características dar-
-se-á na proporção do esforço individual e coletivo. É natural que, no futuro, os
que reencarnarem sejam mais evoluídos, afinal, a evolução é irreversível, e, com
ela, virão valores mais depurados.

II – Educação na infância
232. Podem os espíritos ajudarem na formação do caráter de uma
criança, que, sabemos, é moldado de acordo com a criação dos pais?
— Sim. Se houver o livre-arbítrio dos pais para buscarem a instrução e a
colocarem em prática, o auxílio será mais eficaz.
A. Como os espíritos auxiliam?
— De diversas formas; ainda assim, para que a ajuda seja merecida, é ne-
cessário que o lar e as pessoas que cercam a criança estejam em boas vibrações.
São quase infinitas as formas de exemplificar a sublime faculdade de amar,
todavia, uma das mais notórias é o auxílio às crianças.
Quando auxiliamos alguém, estamos abrindo mão do nosso egoísmo e
contribuindo na constituição e evolução de outrem; portanto, Deus está presen-
te. Quando se trata de crianças, então, o amor é mais acentuado: “Vinde a mim
as criancinhas” (conforme visto na nota de rodapé n.º 99).
Instruir uma criança é uma responsabilidade enorme, porém, sempre am-
parada por espíritos superiores. Dentre os variados meios de instruí-la, o que
importa não é o nível intelectual ou monetário, mas, sim, a depuração da inten-
ção.

100 O Livro dos Espíritos, resposta à questão 385: “[...] As crianças são os seres que Deus envia
a novas existências, e para que não possam acusá-lo de demasiada severidade, dá-lhes todas
as aparências de inocência. [...] Mas não é somente por elas que Deus lhes dá esse aspecto, é
também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à fragilidade infantil. E esse amor
seria extraordinariamente enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo,
enquanto, supondo os filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais
delicados cuidados. [...]”

113
É através da criança que o amor se molda em diversas formas e direciona
o crescimento do próximo. O amor não é apenas uma forma de ajudar, é a prin-
cipal, e, por meio dele, são produzidas muitas outras. Nós, da espiritualidade,
podemos auxiliar diretamente quando os pais ou tutores não contribuem. Isso
ajuda a criança, mas não tira a responsabilidade desses pais, que responderão
por sua ausência na formação de seus tutorados.
Podemos contribuir com intuições, através da mediunidade que todos
possuímos. É um trabalho constante e puro, pois não há interferência do encar-
nado na intuição. Porém, no que fazer com ela, há.
Podemos também contribuir no lar, para que a vibração esteja propícia
ao desenvolvimento daquela criança, dentre outras formas. Contudo, todas são
viabilizadas apenas pela capacidade de amar.

233. É necessária a interferência dos pais no livre-arbítrio dos filhos?


— Interferência em forma de instrução.101
O amor gera cuidados, portanto, é absolutamente normal os tutores inter-
ferirem para educar e precaver seus filhos das intempéries da encarnação, des-
de que o façam de modo bem-intencionado e instrutivo. Os espíritos que são
vossos filhos vêm coabitar convosco para que os ajudeis a vencer seus vícios e
imperfeições e os instruais para os deveres que a vida lhes reservou; simultane-
amente, em vós, pais ou tutores, são buriladas outras máculas, preparando-vos
para um novo patamar evolutivo. Que toda interferência venha para somar e
agregar, e não para destruir.

234. Qual é a melhor forma de preparação para a educação dos fi-


lhos?
— Só podemos oferecer aquilo que possuímos. Tudo se inicia na reforma
íntima dos pais e, consequentemente, nos exemplos que deixarão para cada um
de seus filhos.
Nota: É muito grande a responsabilidade dos tutores na educação dos
filhos, conforme esclarece a questão 208 em O Livro dos Espíritos.102
A melhor forma sempre será o exemplo. A lei divina dá ao espírito a
oportunidade do renascimento junto aos seres que têm condições de
ajudá-lo a realizar seu aprimoramento; portanto, os pais cumprem o pa-
pel de protegê-lo em sua fragilidade nos primeiros anos e de despertar
sua consciência para o bem.

101 O Livro dos Espíritos, questão 582: “Pode-se considerar a paternidade como uma missão?
— É, sem contradita, uma missão. E ao mesmo tempo um dever muito grande, que implica,
mais do que o homem pensa, sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a criança sob a
tutela dos pais para que estes a dirijam no caminho do bem. [...]”
102 O Livro dos Espíritos, resposta à questão 208: “[...] o Espírito dos pais tem a missão de de-
senvolver o dos filhos pela educação: isso é para ele uma tarefa? Se nela falhar, será culpado”.

114
235. Qual é a obrigação das escolas em relação à educação moral de
nossas crianças?
— A moral escolar é um reflexo da humana, portanto, a obrigação de me-
lhorá-la é de todos vós; conforme fordes evoluindo moralmente, tereis escolas
mais evoluídas.
Nota: A escola tem o papel de instruir, em reflexo às condições de
evolução moral da sociedade em que ela está inserida. Cabe aos tutores
promoverem a educação e uma base sólida para seus filhos, que, assim,
sempre saberão o caminho correto, tendo condições para discernir en-
tre o certo e o errado. Cabe às escolas promoverem o desenvolvimento
intelectual e também moral, levando os alunos a novas percepções; con-
tudo, o trabalho é mais eficaz quando em conjunto com os familiares,
pois essa união fortalece o poder de assimilação da criança.

236. Quão grande é a interferência psicológica que a educação pode


ocasionar no futuro de uma criança?
— Muito grande; a educação faz parte da construção do caráter e dos va-
lores de um indivíduo.
A educação é o maior molde que existe: por meio dela, podemos direcio-
nar nossas crianças para o caminho do bem. É necessário que essa educação
venha tanto da escola (instrução) quanto do lar (valores), para que esses seres
aprendam a discernir o certo do errado de forma mais precoce, facilitando,
assim, a boa utilização de seu livre-arbítrio. Deus permite que possamos nos
aprimorar com o passar dos anos e experiências vividas.
A responsabilidade em tutorar é tão grande quanto a responsabilidade em
acolher a tutoria: que vós sejais o exemplo daquilo que pregais, para que vossos
filhos sejam o reflexo do vosso espelho.

237. Como filtrar as informações que chegam até as crianças?


— Utilizando a moral, o conhecimento, a experiência de vida e a consci-
ência.
Nota: A infância é um período propício para a assimilação de valores
e informações. É de nossa responsabilidade, como pais e educadores,
aproveitarmos desse período para orientar e construir um mundo me-
lhor. As crianças necessitam de bons exemplos, mas as informações
disponíveis nos meios de comunicação nem sempre condizem com o
que entendemos como aceitável em comportamento e moral. Não po-
demos ser omissos: é nosso dever acompanhá-las e orientá-las.

238. Por que a personalidade da criança é mais suscetível a mudan-


ças?
— Pelo fato de estar com ela em formação e mais aberta à aprendizagem,

115
é nessa fase que sua maleabilidade é maior (conforme visto na nota de rodapé n.º 98).

239. A perda da pureza é motivada por influências externas?


— Não perdemos a pureza pelas influências, mas pelas escolhas que faze-
mos. Não é o meio que transforma o ser, e sim, o ser que transforma o meio.
Ainda que estejais rodeados de tentações e que sofrais influências más,
tendo a resignação necessária para praticar o bem, não sereis atingidos, pois,
além de resistir, transformareis o vosso redor.
Nota: Retornamos à vida carnal como crianças para que, assim, dian-
te da fragilidade momentânea do corpo infantil, possamos despertar o
amor e os cuidados em nossos tutores. Somos espíritos eternos e car-
regamos em nós a essência de quem realmente fomos e somos. Cada
reencarnação é uma oportunidade de evolução e aprendizagem. Tudo
dependerá sempre do livre-arbítrio e do esforço de cada um.
A. Os espíritos influenciam as crianças para o bem e/ou para o mal?
— Por serem crianças e possuírem uma pureza e inocência maior, prevale-
cem os espíritos de luz ao seu redor; de acordo com a maturidade, podem surgir
espíritos obsessores, devido às más tendências ou escolhas.

III – Evangelização na infância

Não há nada mais belo que introduzir uma criança a alguma crença que
leve a Deus.
A religião, sendo uma criação dos homens, é utilizada tanto para o bem
quanto para o mal. Tendo consciência disso, precisamos explorar o lado bom
que ela promove; toda criança conduzida a Deus terá melhores oportunidades
de tornar-se um adulto íntegro e, consequentemente, de evolução do seu espí-
rito.
É na infância que estamos, então, mais suscetíveis ao aprendizado e, como
“esponjas”, absorvemos os valores repassados pelos nossos tutores e exempli-
ficadores.
Se somos espíritos a caminho da perfeição, o que há de melhor para exem-
plificar o bom caminho do que nosso Criador?
Ao apresentar a verdade para uma criança, ela começará a compreender
quais escolhas deve tomar, sendo menos abordada por espíritos pouco instruí-
dos e desenvolvendo maior controle sobre seu livre-arbítrio.
É válido saber dosar, para não pular etapas importantes. Evangelizar uma
criança é belo e essencial, desde que o conteúdo esteja compatível ao seu enten-
dimento e idade.
Embora toda religião séria leve a Deus, o Espiritismo veio para aproximar
os homens de um novo nível de conhecimento, facilitando interpretar as facul-

116
dades naturais humanas e compreender tanto os bônus quanto os ônus de suas
escolhas presentes, pretéritas e futuras. O foco principal deve ser desenvolver a
caridade e o amor em nossas crianças, pois quem está ao lado do amor sempre
estará no caminho para Deus.

240. Qual a importância da evangelização na infância?


— É extrema. É na infância que o indivíduo está mais apto ao aprendi-
zado, e, consequentemente, a formação de seu caráter começa nessa época.
Aproximá-lo de Deus significa conduzi-lo ao caminho correto: “Deixem vir a
mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são
semelhantes a elas” (conforme visto na nota de rodapé n.º 98).
Nota: Tudo começa “no berço”, sendo grande a responsabilidade dos
pais e tutores nesse instante. É na infância que o indivíduo está mais
suscetível, diante da pureza momentânea. Aproximá-lo de Deus, des-
pertando o amor e os verdadeiros valores da vida, será o primeiro passo
para a formação do seu caráter.

241. Para a espiritualidade, quando deve ser iniciada a evangeliza-


ção?
— Estando adequada à idade, pode ser iniciada desde o nascimento.
A. Evangelizar uma criança na Doutrina, assim como em outras re-
ligiões, significa tolher seu livre-arbítrio?
— Não, significa direcioná-la.
B. Independentemente do credo, qual é a melhor maneira de evan-
gelizar na infância?
— Baseando-se nas leis de Deus, instruindo as crianças sobre a imortali-
dade da alma e criando a fé raciocinada, através do exemplo.

242. Qual é a melhor forma de difundir o Espiritismo entre o públi-


co jovem?
— Todos os meios atuais de comunicação sempre serão bem-vindos para
a propagação da Doutrina; em contrapartida, é necessário filtrar o mau conte-
údo, pois todo o potencial para o bem também pode ser utilizado para o mal.

117
CAPÍTULO II

Retorno à Vida Espiritual


Desencarne • Doação de órgãos • Eutanásia • Umbral • Colônias espirituais

I – Desencarne

243. Há auxílio dos espíritos no desligamento do corpo?


— Sim. Há interferência espiritual em tudo o que está habitando a Terra
e, também, quando deixa de habitar.
A. O espírito protetor, ou anjo da guarda, estará ao lado do indiví-
duo?
— Sim, da mesma forma.103
Nota: Ninguém será desamparado ou estará só. O auxílio é uma ordem
natural divina, e podemos contribuir sendo facilitadores dele. Assim,
para receber ajuda, precisamos querê-la. Abrir mão de visões egoístas,
orgulhosas e estagnadas é o primeiro passo para descobrir as maravilhas
que o acolhimento e o amor podem gerar.
Sejamos mansos e pacíficos, tanto para praticar a caridade quanto para
recebê-la. Deus não é apenas a Inteligência Suprema do Universo; é,
também, o Amor Supremo. Onde houver dor, haverá amor suficiente
para confortar a nós mesmos e, de sobra, para doar aos outros.

244. Quando há o desencarne, os espíritos são socorridos de ime-


diato ou ficam vagando na erraticidade?
— Depende de cada caso. O socorro existe, porém, para isso, é necessária
a aceitação do espírito.
Nota: A aceitação do espírito começa no seu encarne, quando aprende,
através do conhecimento, que a vida é eterna e que a passagem para
o outro plano é apenas mais uma etapa. Eis a importância de adquirir
conhecimento e aprender sobre a imortalidade da alma; tudo o que co-
nhecemos se torna mais fácil de aceitar.

103 O Livro dos Espíritos, questão 492: “O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu
nascimento? — Desde o nascimento até à morte, e frequentemente o segue depois da morte,
na vida espírita, e mesmo através de numerosas existências corpóreas, porque essas existên-
cias não são mais do que fases bem curtas da vida do Espírito.”.

118
245. É frequente que, ao desencarnar, sejamos “recepcionados” por
espíritos familiares ou que foram de nosso convívio?
— Sim, é frequente, mas não acontece em todos os casos, afinal, sois to-
dos irmãos e tendes por obrigação de conviver com a diversidade espiritual que
vos é dada, uma vez que estes tornar-se-ão vossa futura família de convívio.104

246. Após o desencarne, o espírito necessita de tempo para a recu-


peração de suas energias?
— Sim, salvo raras exceções.

247. No desencarne, o perispírito carrega consigo todas as enfermi-


dades do corpo físico?
— Todas, não, mas pode carregar algumas, de acordo com seu estado evo-
lutivo e, principalmente, aceitação.105
Nota: Carregamos em nosso perispírito, após o desencarne, as impres-
sões inerentes; a falta de resignação diante das intempéries da vida nos
torna resistentes a compreender que tudo o que passamos faz parte dos
planos de Deus.

248. Por que ocorrem desencarnes prematuros?


— Nenhuma folha se move sem a utilidade e permissão divina (conforme
visto na nota de rodapé n.º 60); todas as provas acontecem por algum motivo e, de-
certo, acrescentam muito para os espíritos envolvidos. As passagens pela Terra
podem ser breves ou longas e, ainda assim, sempre terão uma finalidade.
A. A morte de uma criança ocorre por resgate de suas faltas e por
prova para seus tutores?
— Pode ser prova para um ou para todos, depende da programação ou de
ser ocasionada pelo livre-arbítrio.
B. Qual é o melhor modo de aceitação?
— A melhor forma de aceitar é entender que as leis divinas são perfeitas.

104 O Livro dos Espíritos, questão 160: “O Espírito encontra imediatamente aqueles que co-
nheceu na Terra e que morreram antes dele? — Sim, segundo a afeição que tenham mantido
reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos e o
ajudam a se libertar das faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista
durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encon-
tram encarnados, que vai visitar.”
105 O Livro dos Espíritos, questão 257: “O corpo é o instrumento da dor; se não é a sua causa
primeira, é pelo menos a imediata. A alma tem a percepção dessa dor: essa percepção é o
efeito. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode implicar ação
física. [...] Podemos, portanto, supor que há qualquer coisa de semelhante nos sofrimentos
dos Espíritos depois da morte. [...]”

119
Nem sempre acompanham vosso tempo, ainda assim, sempre seguirão o cami-
nho correto e adequado para vosso crescimento.
Nota: Não somos vítimas do destino, ou seja, nada acontece aleatoria-
mente, nem mesmo um desencarne prematuro. A criança pode estar
em um corpo infantil diante de vossa visão humana, contudo, o espírito
já passou por muitos corpos e existências. A morte natural não é uma
condenação, e sim, uma libertação. Vossa visão ainda é limitada e ape-
gada à matéria, esquecendo-se de que somos espíritos livres, unidos por
laços de afinidade. Somente Deus conhece a forma e o instante em que
cada um fará seu retorno.

249. Por que algumas crianças desencarnadas ainda sofrem dores?


— Estando na erraticidade, não pertencem à matéria, portanto, são apenas
impressões do espírito (conforme visto na nota de rodapé n.º 105). Ainda assim, todo
sofrimento levará ao aprendizado.
O sofrimento é algo muito relativo: o que vós considerais sofrimento, nós
consideramos ferramenta de evolução.
Deus não é punitivo, portanto, todo bem e todo mal pelo qual passamos
em nossas encarnações e na erraticidade possuem o propósito de nos ensinar
algo.
Todos nós temos a capacidade de entender e minimizar o sofrimento no
instante em que passamos a compreender que é apenas através do amor que se
inibe a dor.
Nunca existiu e jamais existirá algum espírito desamparado aos olhos de
Deus; independentemente da forma com que ele se apresente, sempre terá o
livre-arbítrio para evoluir, uma hora ou outra.

250. Quando desencarnamos na infância, quanto tempo levamos


para adquirir a consciência adulta no plano espiritual?
— O tempo é relativo e depende do livre-arbítrio e desprendimento de
cada indivíduo.
Somos eternos e já passamos por várias encarnações e infâncias terre-
nas. O desencarnar quando criança não significa que permaneceremos como
crianças na espiritualidade. O despertar da consciência faz-se gradativa e pe-
culiarmente. A forma com que permaneceremos na espiritualidade dar-se-á de
acordo com nosso livre-arbítrio e utilidade, conforme os planos de Deus.

251. Podem ser espíritos protetores e/ou obsessores as crianças de-


sencarnadas?
— Sim, dependendo do estágio vibratório e do seu livre-arbítrio, lembran-
do que o estado infantil, na maioria das vezes, é material, e não espiritual.
Nota: Os espíritos desencarnados, tanto para proteger quanto para ob-

120
sidiar, utilizam-se do modo que lhes for mais eficaz (no caso, infantil).
Da mesma maneira que algumas pessoas são sensibilizadas para o bem
pela imagem de uma criança, outras o são para o mal; porém, o que
determina se o sentimento que as toca as guiará para o bem ou para o
mal é a sua vibração.
Somos donos do nosso campo vibratório e atraímos exatamente aquilo
que convidamos através de nossos pensamentos, independentemente
da idade.

252. Quando desencarnamos, levamos os conhecimentos de nosso


ofício?
— Tudo o que fazemos em vida enriquece nossa bagagem, tanto positiva-
mente quanto negativamente. Nada é perdido.

253. A capacidade intelectual do espírito desencarnado é a mesma


de quando era encarnado?
— Apesar de a capacidade intelectual ser a mesma, geralmente, a utilização
sofre diferenças significativas. Ao estardes desprendidos da carne e com uma
visão mais cristalina da realidade em que vos encontrais, tendeis a utilizar a in-
teligência com maior destreza, e também no estado errático, estais libertos da
matéria orgânica que vos limita por natureza.106
A. A velocidade de aprendizagem é a mesma na erraticidade?
— Não, ela é intensificada de acordo com a resiliência do espírito, poden-
do ser mais lento ou mais veloz esse aprendizado conforme suas escolhas.
Nota: A plasticidade do plano espiritual é imensamente superior à pri-
são material em que viveis. Assim, na erraticidade, sereis capazes de ra-
ciocinar e aprender em diversas velocidades, de acordo com a utilidade.
E quanto melhor forem vossas intenções, mais liberdade de agir tereis,
afinal, só são dados grandes poderes àqueles capazes de aplicá-los para
o bem.
B. A memória, nos encarnados, com o passar do tempo, pode dege-
nerar-se. Acontece o mesmo na erraticidade?
— Ao contrário, ela se depura e se amplifica, fazendo-os lembrarem-se
das escolhas pretéritas que os colocaram na posição atual. O tempo é aliado
da evolução e leva consigo o poder de aparar arestas que o esforço não
foi capaz.

106 O Livro dos Espíritos, questão 237: “A alma, uma vez no mundo dos Espíritos, tem ainda as
percepções que tinha nesta vida? — Sim, e outras que não possuía, porque o seu corpo era
como um véu que a obscurecia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas se manifesta
mais livremente quando não tem entraves.”

121
II – Doação de órgãos

254. Em que instante poderá ser feita a retirada post mortem dos órgãos
para doação, na visão dos espíritos?
— Quando se esgotarem todos os recursos conhecidos para a reversão do qua-
dro.
A. Mesmo com o consentimento, o espírito sentirá a retirada desses ór-
gãos?
— Não, a caridade é tão grande que o amor supera a dor.
B. Como é visto pela espiritualidade aquele que manifesta a intenção de
doação post mortem dos seus órgãos?
— É um dos gestos mais puros, belos e sublimes de amor. É a utilização plena
dos exemplos de Cristo.
Nota: É um dos gestos mais belos que, enquanto encarnados, podeis prati-
car: a doação de parte de vossa matéria, perecível e inútil após o desencarne,
dando a oportunidade para outros irmãos prolongarem suas vidas ou melho-
rarem a qualidade delas.
É um exemplo e prova de fé fazer com que um pedaço do corpo que vos
foi concedido possa servir para sustentar o corpo de irmãos, muitas vezes,
desconhecidos, por mais tempo.
Isso provoca alegria em todos os bons espíritos e garante saltos evolutivos
consideráveis, auxiliando no próprio desprendimento material e aumentando
o foco naquilo que realmente importa – a evolução espiritual.
Esse gesto de amor não passará despercebido em vossa trajetória; dai a um
irmão aquilo que não utilizais mais, pois o que é do corpo material jamais vos
fará falta por terdes realizado esse lindo gesto de amor.

III – Eutanásia

Houve um tempo em que a humanidade acreditava ter o poder de um deus


e pensava representar a inteligência suprema através de suas grandezas materiais.
Construiu pirâmides e templos, quando homens denominados “faraós” habitavam a
Terra, achando-se símbolos da grandeza divina.
Com o desenvolvimento intelectual, naturalmente, aconteceu o amadurecimen-
to espiritual, e o ser humano, quanto mais avançou na escala evolutiva, mais humilde
e racional se tornou. Hoje, a grande maioria dos homens sabe que estamos muito
distantes da sabedoria suprema e que, mesmo assim, jamais devemos deixar de bus-
cá-la incessantemente.
Dessa forma, perguntamos: qual direito teríamos de tirar a vida de outrem, ou a
própria, se absolutamente tudo é reflexo dos planos e desígnios de Deus?
Mesmo com pouco poder nas mãos, cometemos equívocos e falhas e devemos

122
desenvolver a humildade que nos habita a consciência para entender que o po-
der de escolha entre a vida encarnada ou seu desencarne não nos é dado. O que
nos cabe é cuidar para que nossa saúde, enquanto encarnados, esteja a melhor
possível, podendo, assim, prolongar nossa existência de aprendizado e evolução
pela carne.
A dor faz parte de nosso aprendizado e crescimento; encerrá-la por vonta-
de própria ou por “piedade” não é o correto se, para tal, a vida tem de se esvair.
Aceitar e entender que as escolhas divinas são as mais apropriadas para nosso
crescimento, tendo fé o suficiente para sustentar a vida, sim, é o certo.
Que possamos ser humildes o bastante para seguir a Deus sem querer ter
o poder d’Ele em nosso infinito despreparo.

255. Como a eutanásia é vista pelos espíritos?


— Tudo o que interrompe precocemente a vida é errado; seria antecipar
o desencarne de um indivíduo que ainda precisa passar por algumas provas ou
expiações.
A. Ela pode ser considerada um suicídio?
— Sim, se for conduzida pelo próprio paciente.
B. Seria um homicídio para aqueles que a praticam?
— Sim, agravado de acordo com a intenção.
Nota: Antecipar o desencarne, mesmo com “boas intenções”, de ne-
nhuma forma é o correto, pois todos nós temos um tempo necessário
de permanência no plano físico. Abreviar esse tempo prejudicará o pro-
cesso evolutivo na encarnação. Tudo tem um propósito.107

107 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 16: “A incredulidade, a simples dúvida
quanto ao futuro, as ideias materialistas, em uma palavra, são os maiores incentivadores do
suicídio: elas produzem a frouxidão moral. [...] De onde é forçoso concluir que, se o nada é o
único remédio heróico, a única perspectiva possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que dei-
xar para mais tarde, aumentando assim o sofrimento. A propagação das ideias materialistas é,
portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus após-
tolos assumem uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais
permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente
para além do túmulo, mas em condições inteiramente novas. Daí a paciência e a resignação,
que muito naturalmente afastam a ideia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.”

123
IV – Umbral

256. O que é o umbral, na visão dos espíritos?


— Umbral é um estado psíquico que alguns espíritos vivenciam, enfren-
tando sofrimentos promovidos pela própria consciência, cobrando-os das más
escolhas anteriores. Lá permanecem até o instante em que despertar o despren-
dimento dos motivos que lhes causaram essa dor.108
A. Por que ele existe?
— Para vos auxiliar no processo de transformação de valores, fazendo-
vos enxergar a necessidade de desprendimento material e emocional para pros-
seguir vosso curso evolutivo natural.
B. Há hierarquia no umbral?
— Embora ele seja apenas um estado mental, existe “hierarquia” para
todas as dimensões, com o propósito de resgate e aprimoramento do espírito,
jamais para proporcionar um mal ainda maior.

257. Os espíritos são julgados por “tribunais” ao desencarnarem?


— Não. Os “tribunais” são vossa própria consciência, cobrando aquilo
que sabíeis que não deveríeis ter praticado (uma espécie de arrependimento).
Espíritos superiores não julgam e muito menos condenam; ao contrário, apenas
instruem e auxiliam no progresso.

258. Como os espíritos são conduzidos para o umbral ou às colônias


espirituais após o desencarne?
— Através do controle mental, vossos pensamentos vos conduzirão para
um lado ou para outro; por esse motivo, dá-se a importância do início desse
controle ainda enquanto encarnados. Mais importante do que o não cometi-
mento de equívocos é saber lidar com eles, prevenindo-vos deles e procurando
a não repetição.
A. Qual a composição desses lugares?
— Dos mais diversos fluidos existentes, sendo estes compatíveis à neces-
sidade de cada situação.

108 O Céu e o Inferno – Segunda Parte, capítulo IV, O Castigo: “[...] Passam no entanto os sé-
culos e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o círculo
de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então, faz-lhe sentir os acerados espinhos
do remorso. Inerte, arrastado no turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo
a pele arrepiar-se-lhe de terror. Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em
torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele
vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança
e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia
nos olhos. [...]”

124
259. De acordo com nossos vícios, atrairemos cenários similares na
erraticidade?
— Sim, é natural que atraiais vossas principais inclinações. De acordo com
vossos vícios e “prisões mentais”, vivenciareis experiências compatíveis com
aquilo que vibrastes.109

260. Tudo o que existe no mundo espiritual é plasmado pela mente?


— Nem tudo; a mente, algumas vezes, é a condutora, em outras, a cria-
dora. Não há lugares ruins criados por Deus para promover dor e sofrimento,
entretanto, há locais bons para promover amor e restabelecimento.
A. Nossa mente, através do pensamento, é capaz de criar boas e
más experiências no mundo espiritual?
— Jamais subestimais o poder do pensamento; ele é capaz de construir ou
destruir uma parte de vossa existência. O pensamento, através da consciên-
cia, é nossa ligação direta com Deus e um dos maiores poderes concedidos
por Ele para cada um de nós, portanto, devemos fazer bom uso dele.

261. Conforme descrito na codificação, nas esferas inferiores, ao se


elevar moralmente, um espírito pode perder a simpatia para com aqueles
que não o acompanharam nos esforços de melhoria.110 Isso não implica-
ria em fazer sofrer os que o amam?

109 O Céu e o Inferno – Segunda Parte, capítulo IV, O Castigo: “Exposição geral do estado
dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita
de Paris, em outubro de 1860: ‘Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus
são logo tomados de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro.
Olham em torno de si e nada veem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade – o que
os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos. Não
levantam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram aquilo que os cerca e, então,
compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a
uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente
em ação pelos seus gestos ridículos. [...]’”
110 O Livro dos Espíritos, questão 300: “Dois Espíritos perfeitamente simpáticos quando reu-
nidos, ficarão assim pela eternidade ou podem separar-se e unir-se a outros Espíritos? —
Todos os Espíritos são unidos entre si. Falo dos que já atingiram a perfeição. Nas esferas
inferiores, quando um Espírito se eleva já não tem a mesma simpatia pelos que deixou.”

125
— Não, toda elevação é positiva e, quanto mais elevado o espírito estiver,
mais tentará elevar os demais, inclusive àqueles que não tiveram o mesmo es-
forço. Ainda que não lhes tenha mais a simpatia, sempre haverá espíritos que a
terão e podê-los-ão auxiliar em seu nome.111

V – Colônias espirituais

262. As colônias espirituais são reservadas apenas para espíritos


com equilíbrio moral?
— Nem sempre; muitas vezes, as colônias servem justamente para auxiliar
no restabelecimento desse equilíbrio, bastando o espírito estar disposto a abrir
mão de seu estado negativo e permitir a ajuda. Todo merecimento é uma con-
quista.
A. Existem diversas colônias? Elas são interligadas com a Terra?
— Sim, são muitas e de diferentes formatos, podendo ou não possuir li-
gações com o planeta Terra.

263. Os habitantes dessas colônias possuem necessidades mate-


riais?
— Alguns podem possuir ainda a vontade, entretanto, não a necessidade.
Nas colônias, trabalhamos para fazê-los enxergar o que é importante para a
respectiva evolução, alterando necessidades materiais por ferramentas que irão
auxiliá-los.

264. O espírito desencarnado no planeta Terra pode habitar um


mundo transitório, sendo que lá não existe a matéria?
— Se houver a utilidade para seu desenvolvimento e progresso, sim. A
matéria como a conheceis pertence apenas a este mundo; o vosso espírito não
é constituído de matéria, portanto, é livre para transitar por diversos mundos,
com diferentes formações. Apesar de o perispírito ser constituído de semimaté-
ria, é apenas uma roupagem temporária, que perderá sua densidade no decorrer
do processo evolutivo natural.112

111 O Livro dos Espíritos, questão 280: “Qual é a natureza das relações entre os bons e os maus
espíritos? — Os bons procuram combater as más tendências dos outros, a fim de os ajudar
a subir; é uma missão.”
112 Instruções práticas sobre as manifestações espíritas – Vocabulário Espírita: “Perispírito – [...] O
Espírito o tira do mundo em que se acha e o troca ao passar de um a outro; ele é mais ou
menos sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas
as formas, à vontade do Espírito; ordinariamente, ele assume a imagem que este tinha em sua
última existência corporal. [...]”

126
265. A composição atmosférica na qual estamos inseridos é a mes-
ma no mundo espiritual?
— Não, são de formas diferentes, de acordo com a necessidade de cada
planeta.
A. Nas colônias espirituais, como ocorrem os fenômenos climáti-
cos?
— Semelhantes aos da Terra, para que, dessa forma, haja readaptação às
novas necessidades de cada ser.
Nota: É importante saber discernir ambiente atmosférico material de
espiritual; os espirituais são plasmados conforme as necessidades de
cada ser, independentemente do planeta em que este habitar, facilitando
a readaptação do espírito em sua chegada ao mundo espiritual.

266. Como os espíritos trabalhadores das colônias resgatam os espí-


ritos das regiões umbralinas?
— Através de convites repletos de amor e, principalmente, pela vontade
dos resgatados. Não é possível auxiliar aquele que não queira ajuda.

267. Espíritos atraídos para colônias espirituais podem voltar a viver


com entes queridos?
— Sim, porém não é uma regra. Isso acontecerá apenas se houver utilida-
de para a evolução de todos os envolvidos.

268. Os espíritos residentes nas colônias têm permissão para visitar


seus familiares encarnados?
— Sim, desde que haja merecimento e tenham o preparo e o equilíbrio
necessários para isso.
A. De que maneira são transportados?
— Irão para onde os pensamentos os levarem, desde que haja permissão,
utilidade e merecimento.
Ainda que haja a dor da partida e que o apego permaneça mesmo quando
espíritos simpáticos estão separados por dois planos, o progresso deve conti-
nuar. O espírito é individual e nasceu para evoluir: nessa evolução, enfrentará
variadas experiências, com diversos grupos familiares, e reagirá das mais di-
ferentes formas. Mesmo assim, é necessário que ele mantenha o foco em seu
objetivo e se desprenda do passado. Desprender-se não significa esquecer ou
perder a importância, mas deixar que esse passado não se faça presente a ponto
de retardar sua evolução e a dos seus amados, entendendo, um dia, que esse
amor que desperta por alguns indivíduos deveria ser universal e que o amor é
imparcial e incondicional. Portanto, por sermos todos irmãos, temos a capaci-
dade de amar todos com o mesmo afinco.

127
O meio de transporte espiritual é o pensamento: bilhões de vezes
mais rápido que a luz, é a maior ferramenta desenvolvida por Deus para
nos auxiliar e nos conectar com nosso progresso.
Portanto, não vos apegueis aos vossos irmãos que já partiram, pois já estão
encaminhados de acordo com a vontade divina; apegai-vos a vós mesmos e aos
que permanecem no mundo físico, pois estes dependem diretamente de vós
para se desenvolverem e evoluírem.

269. Como são acolhidas as crianças nas colônias espirituais? Que


ensinamentos recebem?
— Acolhemo-las com muito amor e carinho. Os aprendizados far-se-ão
de acordo com o estágio evolutivo, reequilíbrio e aceitação de cada ser.

270. Por que os espíritos encaminhados para as colônias espirituais


visitam o plano físico mesmo quando não deveriam?
— Através do seu livre-arbítrio, todos os indivíduos, por mais orientados
que estejam, possuem direito de escolhas – e elas lhes serão cobradas.

128
CAPÍTULO III

Retorno à Vida Corpórea


Reencarnação • Esquecimento do passado • Lembranças de vidas passadas

I – Reencarnação

A reencarnação é uma imensa oportunidade de recomeçar, é o reflexo da


piedade divina, uma chance nova de fazer diferente. Algumas reencarnações
passam pela infância, adolescência, vida adulta e velhice e não utilizam essa
oportunidade de evoluir.
É importante que possamos aflorar nossa mais ampla visão e entender
que a evolução é um reflexo direto do esforço exemplificado. Jesus deixou-nos
diversos ensinamentos, mas o maior deles foi o exemplo.
O desenvolvimento humano depende da reencarnação, mas também do
que fazemos dela. Reabitar a carne não é um martírio, mas uma imensurável
oportunidade de fazer melhor, para que, um dia, possamos olhar para trás e ver
nossas conquistas.
Hoje é importante olhar para frente e ver o que nos falta aprimorar. Que
nunca percamos a fé em resistir aos nossos instintos nesta nova etapa.

271. Oque é reencarnação?113


— Reviver na carne. Reencarnação é uma nova oportunidade de, por meio
da carne, cumprir suas provas e expiações.
A. Como é sua organização?
— Composta por etapas, processos e escolhas.
B. É facultativa ou compulsória?
— Pode ser das duas formas, dependendo da evolução do espírito e da
necessidade.
C. Nesse instante, o espírito já sabe de suas provas?
— Apesar de conhecer algumas delas, entenderá que o verdadeiro apren-
dizado é vivenciá-las.
Nota: Diante dos questionamentos existentes sobre a reencarnação, a
Doutrina Espírita vem esclarecer e nos libertar da ideia do Deus puniti-

113 Instruções práticas sobre as manifestações espíritas – Vocabulário Espírita: “Reencarnação – volta
do Espírito à vida corporal. [...]”

129
vo. Somos seres espirituais vivenciando experiências humanas. A reen-
carnação faz parte das leis de Deus e permite sanar, corrigir e amenizar
erros diante das nossas múltiplas existências, através do esforço. Tudo
faz parte do processo evolutivo.114

272. Há alguma regra em relação à quantidade de encarnações ne-


cessárias ao espírito?
— Não, elas ocorrerão de acordo com o uso do livre-arbítrio dos indiví-
duos durante suas encarnações, podendo diminuir ou aumentar a quantidade
delas.115

273. Em relação à escala evolutiva dos mundos, existe uma quanti-


dade média de encarnações?
— Não, mas qual seria a utilidade de saber isso?

274. Esclarece-nos a codificação que um espírito pode adiantar ou


atrasar sua reencarnação se assim o quiser.116 Pode, também, protelar
seu desencarne?
— Se apenas o quiser, não; contudo, se assim fizer por merecer, através de
suas atitudes e reformas, sim.

114 O Livro dos Espíritos, questão 171, nota explicativa de Kardec: “Todos os Espíritos tendem
à perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la, com as provas da vida corpó-
rea. Mas, na sua justiça, permite-lhes realizar, em novas existências, aquilo que não puderam
fazer ou acabar numa primeira prova. Não estaria de acordo com a equidade, nem segundo
a bondade de Deus, castigar para sempre aqueles que encontraram obstáculos ao seu melho-
ramento, independentemente de sua vontade, no próprio meio em que foram colocados. Se
a sorte do homem fosse irrevogavelmente fixada após a sua morte, Deus não teria pesado as
ações de todos na mesma balança e não os teria tratado com imparcialidade. A doutrina da
reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única
que corresponde à ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral
inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois
oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim
nos diz, e é o que os Espíritos nos ensinam. [...]”
115 O Livro dos Espíritos, questão 169: “O número das encarnações é o mesmo para todos os
Espíritos? — Não. Aquele que avança rapidamente se poupa das provas. Não obstante, as
encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito.”
116 O Livro dos Espíritos, questão 332: “O Espírito pode abreviar ou retardar o momento da
reencarnação? — Pode abreviá-lo, solicitando-o por suas preces e pode também retardá-lo se
recuar ante a prova. Porque entre os Espíritos há também indiferentes e poltrões; mas não o
faz impunemente, pois sofre com isso, como aquele que recusa o remédio que o pode curar.”

130
275. Nos planejamentos reencarnatórios,temos“agendado” o dia, a
hora e a forma ou natureza dos desencarnes?
— Agendados, não, porém programados, embora variem de acordo com
a utilização do livre-arbítrio. Deus concede a opção da escolha entre o bom e o
mau caminho, e as vossas escolhas definirão se vossos desencarnes cumprirão a
programação natural ou serão antecipados.117
A. Não seria estranho alguém planejar o próprio desencarne, por
exemplo, de forma violenta?
— Estranho seria praticar o mal e acreditar que não precisais expiar para
quitá-lo. Quando habitais a erraticidade, possuís uma visão de vossas más esco-
lhas pretéritas com nitidez tamanha que vos fazem querer passar pelos maiores
sofrimentos da Terra para a obtenção da redenção.118
B. Podemos afirmar que as mortes nas quais impera o determinis-
mo têm sempre motivações ligadas às vidas passadas, como também
que as mortes nas quais predomina o livre-arbítrio pessoal têm sempre
causas ligadas à reencarnação atual?
— “Sempre” é um termo inadequado para definir aquilo que é fruto do livre-
arbítrio. Há mortes ligadas a escolhas passadas, assim como há desencarnes
oriundos de escolhas presentes; contudo, não há uma determinação imutável: o
único determinismo de Deus é o livre- arbítrio, e, utilizando-vos dele, podereis
arquitetar vosso presente e futuro, apesar de jamais haver o apagar das escolhas
pretéritas.119
Nota: Apesar de a questão 851 em O Livro dos Espíritos trazer o trecho
“[...] traça para si mesmo uma espécie de destino [...]”, o entendimento
deve ser de que o “traço” nos serve de guia, mas não “escreve” nossa
história, pois esta dependerá de nossa própria “escrita”.

117 O Livro dos Espíritos, questão 258: “No estado errante, antes de nova existência corpórea,
o Espírito tem consciência e previsão do que lhe vai acontecer durante a vida? — Ele mesmo
escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.”
118 O Livro dos Espíritos, questão 269: “O Espírito pode enganar-se, quanto à eficácia da prova
que escolher? — Pode escolher uma que esteja acima de suas forças, e então sucumbe. Pode
também escolher uma que não lhe dê proveito algum, como um gênero de vida ocioso e
inútil. Mas, nesse caso, voltando ao mundo dos Espíritos, percebe que nada ganhou, e pede
para recuperar o tempo perdido.”
119 O Livro dos Espíritos, questão 851: “Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segun-
do o sentido ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados,
e nesse caso em que se torna o livre-arbítrio? — A fatalidade só existe no tocante à escolha
feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para
si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encon-
tra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o
Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou
resistir. [...]”

131
C. Quanto à circunstância dos desencarnes, o determinismo poderá
ser modificado ao ocorrer mudanças morais profundas e suficientes pela
prática da caridade ou haverá situações preestabelecidas, em que ele está
aliado à fatalidade e, de forma alguma, as circunstâncias poderão ser al-
teradas, ocorrendo, então, uma espécie de “destino”?120
— Da mesma forma que podeis antecipar vossos desencarnes através das
más escolhas, podereis retardá-los com as boas, se assim houver utilidade para
vossa evolução e, obviamente, sempre com a permissão divina.
A programação é feita por vós, entretanto, Deus definirá a hora de
vossa partida quando o livre-arbítrio não puder operar para assim deter-
miná-la.
Um exemplo disso é o de alguém com uma enfermidade incurável aos
olhos da Terra, porém cumprindo anos extras de existência, além dos possíveis
pela medicina terrestre: esse encarnado possuía uma missão oriunda de seu
esforço nesta encarnação e Deus lhe concedeu esse tempo a mais para que a
cumprisse.

276. Alguém pode tirar a vida de outrem sem que tal fato estivesse
em seu planejamento reencarnatório?
— O fato de Deus poder controlar nossos destinos como Ele bem enten-
de não significa que assim Ele sempre faça. Uma vez concedido o livre-arbítrio
ao espírito, este é o responsável por suas escolhas, podendo até mesmo prejudi-
car outrem – responderá por isso.121
Ainda assim, como alguém poderia ser prejudicado por uma escolha que
não lhe pertenceu? A morte nem sempre é o prejuízo, mas, sim, a libertação.
Sois espíritos eternos, e estar encarnados não é um bônus, mas uma oportuni-
dade de evolução. Apenas seria uma punição se Deus extinguisse o espírito.

120 O Livro dos Espíritos, questão 872: “A questão do livre-arbítrio pode resumir-se assim: o
homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não ‘estavam escritos’; os
crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino. [...] Cabe à educação com-
bater as más tendências, e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo apro-
fundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza
moral chegar-se-á a modificá-la, como se modifica a inteligência pela instrução e a desídia
pela higiene. [...]”
121 O Livro dos Espíritos, questão 861: “O homem que comete um assassinato sabe, ao esco-
lher a sua existência, que se tornará assassino? — Não. Sabe apenas que ao escolher uma vida
de lutas terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não,
porque estará quase sempre nele tomar a deliberação de cometer o crime. [...] Se há fatalida-
de, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa está fora de vós e
que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do
próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos
não existe jamais a fatalidade.”

132
Quanto à carne? Extinguir-se-ia naturalmente de qualquer forma, uma
hora ou outra; contudo, ai daquele que fizer o mal. A obrigação do respeito à
carne é vosso exercício, para que, um dia, ocorra o aprendizado de respeitar o
espírito de vossos irmãos.
A. Poderemos ter situações ao acaso ou sempre haverá determinis-
mo em mortes por chamadas “balas perdidas”, nas quais o atirador não
teve intenção de atingir determinada pessoa?
— Quando a coincidência for algo inevitável, poderá ter ação divina122
para “equilibrar as contas”, entretanto, não exime a culpa de quem fez o dis-
paro. Aquele que sofreu o mal poderia ter seus débitos, mas que não seriam
quitados necessariamente dessa forma: a escolha humana altera a programação
e interrompe o equilíbrio universal inúmeras vezes.
B. Nas guerras em que ocorrem milhares ou até mesmo milhões de
mortes, como ficam os planejamentos reencarnatórios: sujeitos ao acaso
ou ao determinismo?
— Nem um nem outro; aí temos o espelho do mau uso do vosso livre-ar-
bítrio. Contudo, por não cair uma folha sem a permissão de Deus (conforme visto
na nota de rodapé n.º 60), Ele reequilibra tudo novamente, dando oportunidades
para aqueles que não escolheram desencarnar assim continuarem seu processo
evolutivo sem prejuízos.

II – Esquecimento do passado

Providência divina

Algumas vezes, questionamo-nos se o mal ocorrido é oriundo da vontade


de Deus. Como a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de todas
as coisas, poderia desejar ou permitir que o mal prosperasse em determinadas
ocasiões?
“Nenhuma folha se move sem a vontade e permissão divina”, portanto,
entender que há males para um bem maior também é uma questão de fé.
Ao entregar nossas vidas nas “mãos de Deus”, não devemos esperar que
sejamos apenas agraciados com coisas boas; precisamos entender que passare-

122O Livro dos Espíritos, questão 113: “[...] São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas
ordens executam, para a manutenção da harmonia universal. Dirigem a todos os Espíritos
que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e determinam as suas missões. Assistir
os homens nas suas angústias, incitá-los ao bem ou à expiação de faltas que os distanciam
da felicidade suprema, é para eles uma ocupação agradável. São às vezes designados pelos
nomes de anjos, arcanjos ou serafins. [...]”

133
mos por muitas situações difíceis, as quais nos tornarão pessoas melhores.
Os obstáculos que são inevitáveis, devemos ter resiliência para enfren-
tá-los, e não multiplicar as dificuldades que já teríamos naturalmente. Provas
fazem parte de nossas vidas; expiações, somos nós quem as atraímos.
Reflitais sobre quantos problemas Deus proporcionou para vosso cresci-
mento e quantos foram criados por vossas próprias escolhas. Certamente, con-
cluireis que colocar a vida nas mãos d’Ele é sempre a melhor opção.

277. Ao reencarnar, passamos pela infância e temos de reaprender


a falar e a andar, como se nunca os tivéssemos feito antes. Por que isso
é necessário?
— Ao reencarnar, somos abençoados com o esquecimento, portanto, é
nesse estágio de pureza infantil, como a que deveríamos ter, que estamos sus-
cetíveis à aprendizagem maior, e isso é de extrema importância, pois propicia a
oportunidade de adaptarmo-nos à vida nova com a influência de nossos tutores.
Nota: O esquecimento é uma bênção, a fim de que todos tenham as
mesmas oportunidades, sem benefícios ou prejuízos, nas escolhas de
cada um, para que, a cada nova existência, tudo dependa do esforço do
indivíduo encarnado.

278. Em qual momento o espírito passa pelo processo de esqueci-


mento?
— No momento em que se completa sua ligação com o corpo físico.123

279. Por que o esquecimento é tão necessário para nossa evolução?


— Qual seria a utilidade de se lembrar? Acreditai: o esquecimento é uma
enorme benção, na maioria dos casos.124

123 A Gênese, capítulo XI, item 18: “Quando o Espírito deve se encarnar num corpo hu-
mano em vias de formação, um laço fluídico, que nada mais é senão uma expansão do seu
perispírito, o liga ao germe em cuja direção ele se sente atraído por uma força irresistível
desde o momento da concepção. À medida que o germe se desenvolve, firma-se o laço; sob
influência do princípio vital material do germe, o perispírito, que possui certas propriedades
da matéria, se une, molécula por molécula, ao corpo que o forma; daí se pode dizer que o
Espírito, por intermédio do seu perispírito, de alguma forma toma raiz no germe como uma
planta na terra. Quando o germe está inteiramente desenvolvido, a união é completa, e então
ele nasce para a vida exterior. [...]”
124 O Livro dos Espíritos, questão 394, nota explicativa de Kardec: “[...] A lembrança de nossas
individualidades anteriores teria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humi-
lhar-nos extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho, e por isso mesmo entravar
o nosso livre-arbítrio. [...]”

134
Nota: Sempre seremos a melhor versão de nós mesmos, não seria lógico
de outra forma; em nossas encarnações anteriores, fomos menos evo-
luídos que na atual, logo, não há utilidade em descobrir as atrocidades
que possamos ter cometido no passado, afinal, muitas vezes, isso po-
deria ser prejudicial para nosso desenvolvimento, mantendo-nos presos
a ressentimentos criados em outras encarnações. Deus sabe o que faz,
nada acontece em vão.

280. Segundo O Livro dos Espíritos, um espírito pode sucumbir en-


ganando-se ao escolher determinada prova.125 Se os espíritos que o auxi-
liavam na reencarnação sabiam das fraquezas que ele carregava, por que
permitiram que fizesse tal escolha?
— Como o próprio nome diz, o arbítrio é livre.126

III – Lembranças de vidas passadas

281. No período da infância, ainda temos uma conexão com as re-


miniscências. Como funciona esse processo?
— Tendo em vista que é uma idade de construção de caráter em que a
pureza e a inocência prevalecem, não necessariamente temos acesso às lem-
branças; isso será permitido apenas se for útil.

282. É possível, em algum instante, ter acesso às vidas passadas


através de orientação espiritual?
— É possível apenas quando houver a utilidade; ainda assim, é necessário
vigiar. Acesso ao passado vem apenas para construir, e não para destruir ou
confundir os encarnados.

283. A espiritualidade concorda com a terapia de vidas passadas (re-


gressão)?
— Até o útero, sim. A vidas passadas, não. Qual seria a utilidade de conhe-
cer o passado? Não seria melhor modificar o presente e o futuro?

125 O Livro dos Espíritos, resposta à questão 393: “[...] Procura provas semelhantes àquelas por
que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que
são superiores para o ajudarem na nova tarefa a empreender [...]”.
126 O Livro dos Espíritos, questão 399, nota explicativa de Kardec: “[...] O Espírito goza sem-
pre do seu livre- arbítrio. É em virtude dessa liberdade que, no estado de Espírito, escolhe as
provas da vida corpórea, e no estado encarnado delibera o que fará ou não fará, escolhendo
entre o bem e o mal. Negar ao homem o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de máquina.
[...]”

135
A. É correto que casas espíritas a realizem?
— Não, pois, além de incorreto, é imoral e falta com a verdade; qual seria
a utilidade?
Nota: Será que estaríamos preparados para saber quem fomos e o que
realmente fizemos? Buscar no passado respostas para nossos dilemas
presentes poderia agravar ainda mais nossa existência atual.
Estamos sempre à procura de respostas que nos agradem e nos fortale-
çam. O esquecimento é a misericórdia de Deus para conosco, promo-
vendo igualdade para todos, sem privilégios. Tudo depende somente do
esforço de cada um.
Todos carregamos marcas das outras vidas. Aceitar com abnegação a
vida que nos foi confiada é prova de fé e confiança em Deus, que sabe
o que é melhor para cada um. Hoje somos nossa melhor versão.127

127O Livro dos Espíritos, questão 392: “Por que o Espírito encarnado perde a lembrança do
seu passado? — O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer, na sua sabe-
doria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas o homem ficaria ofuscado, como aquele que
passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado ele é mais ele
mesmo.”

136
CAPÍTULO IV

Intervenção dos Espíritos no


Mundo Corpóreo
Mediunidade • Período da mediunidade • Mediunidade na infância • Espíritos protetores
• Tipos e mecanismos • Preferências dos espíritos • Pressentimentos • Prática mediúnica
• Prática indevida da mediunidade • Mediunidade equilibrada • Reuniões mediúnicas
• Reunião de desobsessão

I – Mediunidade

A mediunidade, conhecida por esse nome há 164 anos, com as revelações


trazidas por Allan Kardec, sempre existiu entre os homens, porém, sua prática
era dificultada pela falta de conhecimento, levando diversas pessoas à loucura,
ao suicídio e ao prejulgamento. Sempre existiram os médiuns, pessoas capazes
de se comunicar com o mundo espiritual através de dons, que lhes vieram com
grandes responsabilidades e utilidades, porém, o aperfeiçoamento da mediu-
nidade iniciou-se no momento correto, quando o homem já possuía preparo
maior para compreendê-la e compreender, também, seus mecanismos.
Nesses anos, diversos médiuns desenvolveram sua mediunidade e aprimo-
raram o contato com o mundo espiritual. Hoje, o grau de conhecimento que
possuem é proporcional à responsabilidade de exercer esse dom de forma séria,
verdadeira e honesta, uma vez que essa aptidão é prova da existência de Deus e
nenhum aparato disponibilizado por Ele deverá gerar retorno financeiro ou de
ego, servindo apenas para o desenvolvimento do espírito através da prática da
caridade e do amor.
Portanto, médiuns, fazei por merecer o conhecimento que vos foi dado;
nós, da espiritualidade maior, esperamos que possais agir de maneira respon-
sável, digna e condizente com o propósito sob o qual viestes a este planeta.
Não permitais que vossas tendências e intenções materiais prevaleçam sobre o
real sentido desse instrumento de amor, não vos preocupeis em animizar, mas,
sim, em instruir-vos, para que esse animismo seja somatório, e não destruidor.
Haverá um dia em que a mediunidade não será mais necessária, e entendereis
que, por serdes espíritos, possuís a capacidade de aconselhar, consolar e instruir
vossos irmãos de menor preparo, mas, até que esse instante chegue, sejais fer-
ramentas construtoras da grande seara do Pai.
Que assim seja!

137
284. O que é mediunidade?
— A mediunidade é um instrumento que todos os encarnados possuem,
em intensidades e formas diferentes, e que lhes permite mediar: serem interme-
diadores entre os planos carnal e espiritual.128
Nota: Mediunidade é uma ferramenta que Deus nos concedeu para ser
exercida de modo despretensioso, em benefício dos necessitados. É
inerente ao ser humano, apresentando-se em alguns com maior osten-
sividade. Independentemente da religião ou doutrina professada, sua
prática deverá ser exercida dentro dos princípios da moral cristã.
Bendita luz que veio para confortar os que sofrem – sobretudo os pró-
prios médiuns, que, utilizando-se desse recurso, terão grandes oportuni-
dades no exercício da caridade. É necessário estudá-la e entendê-la para
não se cair em armadilhas, criadas, muitas vezes, pelo egocentrismo ou
pelo fanatismo.
Ela não é mística nem sobrenatural, muito menos uma enfermidade;
não deverá trazer retornos financeiros, e sim, ser fundamentada no
amor, na caridade e na fé baseada na razão.
A mediunidade, que deverá ser estudada e compreendida para a sua prá-
tica, é um dos alicerces dos estudos da Doutrina Espírita e está contida
com mais clareza em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.

285. Como explicar a mediunidade de forma objetiva?


— Faculdade que precisa de mediadores: instrumentos que necessitam de
aprimoramento constante para conectar os dois planos.
Nota: Sendo uma faculdade própria da espécie humana e que existe
desde as épocas remotas, a mediunidade não é privilégio exclusivo de
ninguém e não torna especial quem a pratica, mas responsável. Ainda
assim, sua manifestação é peculiar a cada indivíduo, um processo de
descoberta espiritual individual e único. É necessária a busca pelo co-
nhecimento intelectual e moral, em conjunto com as reformas íntimas,
para que sua prática seja salutar e despretensiosa e seus objetivos sejam
o amor e a caridade.129

128 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVI, item 10: “A mediunidade é coisa sagrada,
que deve ser praticada santamente, religiosamente. [...]”
129 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVI, item 10: “[...] Que aquele, pois, que não
tem do que viver, procure outros recursos que não os da mediunidade; e que não lhe consa-
gre, se necessário, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos levarão
em conta o seu devotamento e os seus sacrifícios, enquanto se afastarão dos que pretendem
fazer da mediunidade um meio de subir na vida.”

138
286. A mediunidade é prova, expiação ou missão?
— Pode ser todas as opções ou apenas uma, dependendo de cada caso.
A. Como podemos enfrentá-la?
— Não precisais enfrentá-la, basta o aprendizado de conviver com ela, por
meio das vossas reformas íntimas, da vossa vibração e da busca pela instrução.
B. Em sendo uma missão, por que ocorre?
— Alguns espíritos evoluídos escolhem reencarnar com a mediunidade,
com a finalidade de auxiliar outros irmãos.

287. A mediunidade é intrínseca ao indivíduo?


— Sim, de formas diferentes; ainda assim, nem todos têm a necessidade
de praticá-la.
Nota: É de vosso conhecimento que todos sois médiuns, porém, exis-
tem diversos tipos de mediunidade que não despertam ostensividade,
mas que, através de vossas intuições, vos conduzem para o caminho
correto.130 Nem todos os médiuns nascem precisando praticar sua me-
diunidade, contudo, todos os encarnados nascem com a carência de
entender o contato com algo maior, para, assim, poderem praticar a
caridade com maior efeito.
Outras religiões a denominam de modos diferentes, no entanto, todas
comungam que há o toque de Deus na vida dos médiuns. Não importa
o nome dado a ela: a mediunidade é uma grande oportunidade de evo-
luir e auxiliar na evolução do próximo.

288. Pode-se aflorar a mediunidade através dos estudos?


— Sim, se houver a utilidade e se estiver nos planos de Deus.
Através dos estudos, dá-se o meio mais adequado e ideal para se desenvol-
ver a mediunidade, sendo totalmente aconselhável que assim procedais. Caso
ela não venha a ser revelada por vós não a possuirdes ostensivamente, outros
importantes valores vos serão despertados, que também auxiliarão na vossa
evolução.

130 O Livro dos Médiuns, capítulo XIV, item 159: “Toda pessoa que sente a influência dos Espí-
ritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por
isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em
estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente,
porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem
caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma
organização mais ou menos sensitiva. Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela
em todos da mesma maneira. [...]”

139
289. Por que algumas pessoas querem ser médiuns ostensivos?
— Por pensarem ter importância ou utilidade apenas ao possuírem essa
faculdade, porém, enganam-se profundamente. A mediunidade é uma prova e
traz consigo imensas responsabilidades e renúncias. Existem infinitas formas de
as pessoas serem úteis e ajudarem o próximo com o mesmo valor.
Nota: Caros irmãos, a mediunidade é um tipo de prova, expiação ou
missão que permite que vos comuniqueis com o plano espiritual de
diversas maneiras, com a finalidade de auxiliar vossos irmãos e a vós
mesmos, por consequência.
O médium vem com grande responsabilidade, em especial, para con-
sigo mesmo. A prática mediúnica torna-se limpa e verdadeira na pro-
porcionalidade das reformas íntimas, portanto, seu compromisso em
tornar-se uma pessoa melhor é inevitável e imprescindível, para não ser
levado à loucura ou à insanidade.
Conforme mencionado no primeiro livro, simpatizareis com espíritos
de mesma vibração que a vossa131, por isso, permanecer em boas sinto-
nias é o primeiro passo para vos conectardes com o bem.
A mediunidade ostensiva acontece por diversos meios, e, quando ela
ocorre, não há dúvida: o médium consegue discernir e entender que
aquela mensagem não lhe pertence, sabendo, assim, que ela provém de
outro amado irmão. A ostensividade jamais vem de forma pretensiosa,
tendenciosa ou apenas para suprir desejos familiares ou dar as respostas
que tanto se espera; surge de modo imparcial, não possui fronteiras,
classes sociais, nem mesmo religião.
É importante o despertar da verdade dentro de vós e a consequente
paz de espírito. A vossa consciência fala convosco: sempre sabereis se
o que praticais é embasado na verdade ou apenas em vossas fantasias e
tentativas de suprir vosso ego e orgulho.
Não brinqueis com algo tão sério, permiti que outros irmãos tenham a
mesma oportunidade pela qual um dia vós suplicastes enquanto perma-
necíeis na erraticidade e que sejam ajudados por aqueles que possuem
essa prova. Buscai outras formas de tratar vosso psicológico sem a ne-
cessidade de vos utilizar de uma ferramenta que não possuís de verdade.
Quanto maior for o conhecimento, mais profundo o estudo. Quanto
mais aprimoramento, mais próximos estareis do discernimento entre o
que é vosso e o que nunca foi.
Se chegardes à conclusão de que não possuís a “tão esperada” mediu-
nidade, senti-vos merecedores de não possuí-la e, ao mesmo tempo,
buscais tantos outros jeitos que existem de ajudar e amar o próximo.
131O Livro dos Espíritos, questão 514, nota explicativa de Kardec: “[...] Os Espíritos simpáti-
cos são os que atraímos a nós por afeições particulares e uma certa semelhança de gostos e
de sentimentos, tanto no bem como no mal. [...]”

140
290. Quais as responsabilidades de um médium?
— Ser o mais fiel e transparente instrumento para o benefício de seus ir-
mãos, buscando a instrução, as reformas íntimas e a melhoria constante, tanto
moral quanto intelectual.
Nota: O médium precisa compreender que não possui responsabilidade
apenas para consigo mesmo, mas também para com seus irmãos, encar-
nados e desencarnados, que confiam em sua veracidade e transparência.
Iludir seus irmãos para beneficiar-se materialmente ou sustentar o pró-
prio ego é uma falta grave. Que jamais falte verdade em seus atos. O
bom médium não é aquele que é bom comunicador, e sim, aquele que é
fiel à assistência recebida do plano espiritual, ao mesmo tempo em que
converte os ensinamentos recebidos para sua própria vida.

291. A mediunidade será diferente no futuro?


— No futuro, ela não será mais necessária, todos os indivíduos serão capa-
zes de realizar suas próprias conexões de forma direta e objetiva, mas, para isso,
será fundamental o desenvolvimento de algumas faculdades.

II – Período da mediunidade

292. Existe instante ideal para o início e o encerramento da mediu-


nidade?
— Cada indivíduo possui seu próprio tempo, geralmente associado à sua
saúde física e capacidade mental.
O momento ideal sois vós quem criais, através dos cuidados que tendes
para convosco. Quanto maior o zelo por vossa saúde tanto física quanto emo-
cional, mais disposição tereis para enfrentar vossas provas, inclusive a mediúni-
ca, permitindo, assim, que possais auxiliar o maior número de pessoas mediante
esse ato de amor. Porém, quando, ainda que cuidando de vosso bem-estar, não
tiverdes mais a capacidade de exercer esse trabalho para com vossos irmãos,
então, é hora de encerrar essa prática, substituindo-a por tantas outras formas
de amar o próximo. Jamais vos esqueçais de que o objetivo principal desta en-
carnação é evoluir, e não há evolução sem boas ações. Em vista disso, desde
o início de vossa encarnação até vosso último suspiro material, utilizai-vos de
vossos esforços para propagar o amor, o bem, a fé e a caridade.

293. Com que idade o médium ostensivo poderia começar o contato


com os espíritos?
— Depende de seu preparo, de seu estado evolutivo e do instante de sua
prova.

141
294. A mediunidade não utilizada pode se extinguir?
— Não se extingue; ainda assim, o médium pode compensá-la praticando
outras boas ações.
Nota: Nada se aniquila, tudo toma outra forma de existir. Como o hoje
é parte do ontem, nós somos resquícios melhorados do nosso passado;
nesse caso, ainda quando não tiverdes mais a prova da mediunidade, ela
terá sido essencial em vosso processo evolutivo.
Quanto à prática de boas ações, não há contraindicação alguma.

295. Por que há médiuns que pedem o bloqueio de sua mediunida-


de?
— Porque não querem enfrentar essa prova. É muito importante saber-
mos discernir mediunidade de psiquismo. O ponto relevante que conduz mui-
tas pessoas aos centros espíritas é o descuido com a mente e com a sanidade
psicológica. Em casos mediúnicos, não há bloqueio, o que existe é o não exer-
cício dessa faculdade, que, como afirmamos acima, vindo em conjunto com
uma vida regrada, reformada e íntegra, não causará grandes interferências na
respectiva encarnação.
Espíritas, não presumais que todo problema seja de origem mediúnica,
pois o potencial de dano que uma mente doente pode causar não deve ser su-
bestimado. Podeis perguntar: como discernir um do outro? A resposta é indife-
rente, porém, o remédio é o mesmo para ambos os casos: reforma íntima, amor
ao próximo, amor a si mesmo e caridade.

III – Mediunidade na infância


296. Como devemos lidar ao surgir um caso de mediunidade na in-
fância?
— Com paciência, compreensão, orientação, naturalidade e muito amor.
Nota: Devemos ter sensibilidade para conduzir uma mediunidade in-
fantil. Na infância, é comum a criança ter contato com a dimensão es-
piritual, e, até próximo aos sete anos de idade, ela está formando sua
personalidade (conforme visto na questão 228-A); portanto, não possui apti-
dão para dedicar-se ao desenvolvimento mediúnico, tal como um adulto
não pratica algo com perfeição se não estiver habilitado. Nesse instan-
te, cabe aos adultos conduzirem-na com ensinamentos proporcionais
à sua idade física, pois pular etapas não é boa alternativa. Não devem
forçar o desabrochar das faculdades extrassensoriais, mas podem ofe-
recer condições apropriadas para que elas venham a aflorar espontânea
e equilibradamente. No momento adequado, o espírito terá o devido
preparo para exercer sua prova ou expiação mediúnica; mesmo assim,

142
nada impede os tutores de iniciarem a condução à mediunidade através
da instrução, apresentando-lhe os ensinamentos de Jesus, exemplifican-
do a prática familiar do Evangelho, da caridade, do perdão, ouvindo os
relatos da criança com atenção e respeito, sem incentivá-la, sem cons-
trangê-la, com naturalidade.

297. Crianças podem praticar a mediunidade?


— Não, pois não estão preparadas para isso.132
Não podemos confundir o possuir da mediunidade com sua prática. Exis-
te tempo para tudo, acelerar o processo é inadequado. O preparo para o bom
exercício da mediunidade passa pelos aprendizados e pela necessidade constan-
te de reformas íntimas e de pensamento. A criança ainda não está pronta para
isso, pois está na fase de formação de personalidade e de desenvolvimento físi-
co, assim como alguns adultos também não estão, por falta de estudo e preparo.

298. Por que as crianças possuem maior sensibilidade aos espíritos?


— A sensibilidade é gerada pela pureza da infância; quanto mais pura,
maior a suscetibilidade.
A. Como aprendem a lidar com isso?
— A pureza tira-lhes o fardo; sendo assim, aprendem com a naturalidade
daquela fase.
A pureza momentânea que ocorre na infância carnal se deve ao dom do
esquecimento e ao não envolvimento com as questões do uso do livre-arbítrio.
Uma vez que o espírito começa a utilizar-se de seu livre-arbítrio de forma
mais independente, principia a ceder ao orgulho e ao egoísmo, perdendo a can-
dura que outrora possuía.
Essa questão é resumida na frase: “A inocência protege, a sabedoria co-
bra”. Por conseguinte, ser mais puro na infância não significa ser mais evoluído,
pois ainda não se possui o fardo das escolhas. É através da pureza vivenciada
que se percebe que o caminho da evolução também é o da purificação.

132 O Livro dos Médiuns, capítulo XVIII, item 221, questão 6: “Será inconveniente desenvolver
a mediunidade das crianças? — Certamente. E sustento que é muito perigoso. Porque esses
organismos frágeis e delicados seriam muito abalados e sua imaginação infantil muito supe-
rexcitada. Assim, os pais prudentes as afastarão dessas ideias, ou pelo menos só lhes falarão
a respeito no tocante às consequências morais.”

143
IV – Espíritos protetores

299. Todo médium tem um espírito protetor?


— Todo encarnado tem um espírito protetor.133
Nota: Ainda que caiais, existirá quem vos levante, ainda que sintais a
dor, haverá aqueles que cicatrizarão vossas feridas, ainda que andeis
pelo abismo da depressão, sempre tereis uma ajuda, que vos livrará des-
se abismo mental. Deus, Inteligência Suprema do Universo, causa pri-
mária de todas as coisas, jamais deixaria uma criatura sem amparo ou
proteção.
Independentemente de religião, todos vós tendes espíritos amigos, su-
periores em intelecto e moral, proporcionalmente ao vosso estado evo-
lutivo atual.
Não vos preocupeis com quaisquer intempéries que possais enfrentar,
pois jamais as combatereis sozinhos. Até mesmo o mais solitário dos
encarnados estará amparado naquilo que mais importa, no espírito.
O que cabe a vós é aprenderdes a ouvir vosso protetor, orar por ele,
vibrar na mesma sintonia e seguir seus conselhos em vossas intuições
mais discretas. Se elas condizerem com vossa consciência, eis o vosso
protetor vos mandando uma mensagem!
Um dia, na erraticidade, também sereis protetores, dando conselhos
subconscientes às tentações que afloram à consciência, mas sem in-
terferir, torcendo para que vossos tutorados façam as escolhas certas;
nesse instante, entendereis o verdadeiro sentido de amar.
O ciclo do amor ao próximo é tão necessário e belo que é eterno; sem-
pre haverá alguém para vos guiar ao caminho do bem.

300. O espírito protetor tem poder de impedir um médium de come-


ter atos falhos?
— Não, o livre-arbítrio sempre prevalecerá, mas o espírito protetor pode
intuí-lo.134

133 O Livro dos Médiuns, capítulo XXXI, item X: “Todos os homens são médiuns. Todos têm
um Espírito que os dirige para o bem, quando eles sabem escutá-lo. Quer alguns se comu-
niquem diretamente com ele, graças a uma mediunidade especial, quer outros só o escutem
pela voz interna do coração e da mente. Isso pouco importa, pois é sempre o mesmo Espí-
rito familiar que os acompanha. [...] Ouvi pois essa voz interior, esse bom gênio que vos fala
sem cessar, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo da guarda que vos estende a
mão do alto do céu. [...]” – Channing.
134 O Livro dos Espíritos, questão 491: “Qual a missão do Espírito protetor? — A de um pai
para com os filhos: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus con-
selhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.”

144
V – Tipos e mecanismos

301. Quais são os tipos de mediunidade existentes?


— Os mesmos mencionados em O Livro dos Médiuns135, com algumas evo-
luções, de acordo com o progresso da humanidade.
Existem inúmeros tipos de mediunidade para nós, espíritos, nos comuni-
carmos com o plano material, e todos possuem a mesma validade se bem exer-
cidos, pois a “grandeza” da mediunidade está na boa prática, despretensiosa,
limpa e com muita responsabilidade.
Quanto mais elevado for o nível de progresso coletivo, mais conscientes
se tornarão as manifestações mediúnicas. No futuro, inclusive, serão até mesmo
desnecessárias, pois, sabendo utilizar vosso poder de pensamento e vos conec-
tar à vossa consciência, conseguireis caminhar com as próprias pernas, a ponto
de não haver necessidade dos nossos conselhos de luz. Quanto aos irmãos que
se comunicam na busca de auxílio, vós sereis capazes de senti-los e instruí-los
de forma consciente, utilizando-vos apenas do vosso espírito e do grau de per-
cepção para isso.

302. A telepatia pode ser considerada um tipo de mediunidade?


— Não, são coisas distintas. A telepatia é um grau evolutivo do poder do
pensamento.
A telepatia é inerente ao espírito e não precisa provir da erraticidade. Todo
encarnado poderá desenvolver essa ferramenta com o passar do tempo, porém,
para que esse instante chegue, serão necessárias muitas reformas íntimas. A te-
lepatia não irá desenvolver-se antes do progresso moral, para que sua utilização
e propósito sejam sempre construtivos e caridosos.136

135 O Livro dos Médiuns, capítulo XIV, item 159: “[...] Os médiuns têm, geralmente, aptidão
especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quan-
tas são as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, médiuns
sensitivos ou impressionáveis, auditivos, falantes, videntes, sonâmbulos, curadores, pneuma-
tógrafos, escreventes ou psicógrafos.”
136 O Livro dos Médiuns, capítulo XXV, item 285, questão 65: “Duas pessoas, evocando-se re-
ciprocamente, poderiam transmitir-se os seus pensamentos e corresponder-se? — Sim, e essa
telegrafia humana será um dia um meio universal de correspondência.”; questão 66: “Por que
não seria praticada desde agora? — Já é por algumas pessoas, mas não por todos. É necessá-
rio que os homens se depurem para que o seu Espírito se liberte da matéria, eis ainda uma razão
para que se faça a evocação em nome de Deus. Até lá, ela estará circunscrita às almas de eleição
e desmaterializadas, que raramente se encontram no estado atual dos habitantes da Terra.”

145
303. O que é uma mediunidade consciente?
— É uma mediunidade na qual o médium está totalmente consciente do
conteúdo transmitido, podendo inclusive interferir nele, tanto de forma cons-
trutiva como destrutiva.
A. E mediunidade semiconsciente?
— É uma mediunidade em que, apesar de permanecer alguns instantes
fora de consciência, o médium consegue lembrar-se de parte dos acontecimen-
tos.
B. E mediunidade inconsciente?
— Mediunidade em que o médium não se lembra do acontecido e não
interfere.
C. O médium inconsciente possui algum recurso para ajudá-lo ou
guiá-lo?
— Sim, geralmente a clarividência e a intuição estarão presentes; ainda
assim, é importante que realize suas reformas, para que permaneça sempre bem
acompanhado (conforme visto na nota de rodapé n.º 135).

304. Por que os médiuns inconscientes são raros?


— Porque a mediunidade inconsciente, nos dias de hoje, só ocorre caso
haja uma utilidade específica; do contrário, faz-se desnecessária.
Raridade não significa superioridade. Não é por a mediunidade ser incons-
ciente que ela tem mais valor que as demais formas existentes. A mediunidade
inconsciente acontece quando se tem um propósito específico para sua utiliza-
ção, algo em que não possa haver interferência do médium, por falta de conhe-
cimento, bagagem ou compreensão, através do animismo. São casos raros, que
surgem no planeta em determinadas épocas em que a mudança é necessária, e,
para que aconteça, esses instrumentos, os médiuns inconscientes, farão o papel
de transmitir essas mensagens para todo o orbe.

305. O médium inconsciente tem mais dificuldades de retornar ao


corpo?
— Existem dificuldades, mas a prática pode minimizá-las.
O grau de dificuldade na retomada do corpo dependerá de diversas cir-
cunstâncias e, especialmente, do preparo de cada indivíduo. A prática aliada às
reformas íntimas levarão a um exercício mediúnico mais leve, permitindo que
os médiuns que passam por essa prova possam percorrer suas encarnações de
um modo relativamente normal.
Caso a mediunidade não seja praticada ou essas reformas não estejam ade-
quadas ao grau da responsabilidade, poderá levar esses médiuns a alucinações, à
depressão e, em casos mais graves, ao suicídio.

146
306. Para onde são levados os médiuns inconscientes durante o ato
da comunicação?
— Depende de diversos fatores. Serão levados para os lugares que forem
precisos, de acordo com a necessidade de cada um.
No plano espiritual, há organização e instrução; nenhum espírito encarna-
do, ao “deixar” seu corpo com propósitos de caridade, permanece desampara-
do ou sozinho.
Tudo está no planejamento; cada ser é destinado ao aprendizado ou às ex-
periências de que necessita para seu crescimento como espírito, possibilitando
também que, em seu retorno à consciência, possa promover mudanças em seus
semelhantes, propagando esse conhecimento oriundo do mundo errático.
Ainda que não se recorde do que fez ou por quanto tempo esteve “au-
sente”, cada experiência é um passo largo em seu aprendizado e consequente
evolução.

307. Como diferenciar um médium consciente de um médium in-


consciente?
— Mais importante do que distinguir o nível de consciência do médium é
analisar o conteúdo de suas obras.137
Distinção leva a prejulgamentos ou a paradigmas desnecessários para essa
finalidade.
O mediador é avaliado pelo conteúdo de suas obras, assim como são ava-
liados os espíritos que se comunicam através dele.
Não importa qual tipo de mediunidade é praticada, o que realmente conta
é o fruto que ela gerou.

308. O médium consciente deve interferir na comunicação se achar


necessário?
— Se for consciente, poderá interferir, desde que seja sempre para somar,
e não para prejudicar, não devendo nunca levar qualquer tipo de vantagem.
Nenhum tipo de mediunidade deve proporcionar privilégios ou benefícios
aos médiuns que a exercem. Mediunidade é uma faculdade que sempre anda
junto à caridade e não tem como foco ser prestada apenas aos familiares ou às
pessoas próximas desses médiuns.
É necessária a vigilância de vossas más tendências, compreendendo o ver-

137 Lc 6:43-45 – “Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto.
Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem
se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu cora-
ção, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que
o coração está cheio.”

147
dadeiro propósito dessa missão. Temos convicção de que qualquer médium
possui o preparo necessário para lutar contra essas más inclinações e permane-
cer no caminho correto.

309. Um médium pode ter várias faculdades mediúnicas?


— Sem dúvida, pode ter uma ou mais faculdades, que serão afloradas de
acordo com a necessidade.
São ilimitadas as possibilidades mediúnicas quando há como alicerce a ne-
cessidade real. Deus permite-lhe desenvolver a mediunidade, estando em suas
mãos, dessa maneira, a ferramenta que for necessária para sua obra e o que faz
dela.

310. O que é doutrinação espontânea?


— A doutrinação espontânea é uma faculdade mediúnica que vem com
uma utilidade específica. O médium, através de suas reformas vibracionais, é
capaz de doutrinar irmãos necessitados de auxílio, de forma espontânea e in-
consciente (doutrinação vibracional).
A. E absorção espontânea?
— É também uma faculdade mediúnica, que faz com que o médium ab-
sorva (por aproximação) espíritos que precisam de auxílio, e a doutrinação deles
dependerá do estado vibracional que o médium promover.

311. O médium pode lapidar sua mediunidade na erraticidade?


— Não só pode como o faz.

VI – Preferências dos espíritos

312. Os espíritos têm preferência por certos tipos de médiuns?


— Preferência, não, mas aptidão. Alguns espíritos simpatizam com algu-
mas pessoas, as quais escolhem para transmitir suas mensagens; ainda assim,
nenhum espírito é exclusivo de nenhum médium, e vice-versa.
Os espíritos superiores não apresentam possessividade; sempre estarão
onde houver a necessidade.

313. Por que alguns espíritos se comunicam somente por meio de


um determinado médium?
— Porque encontram compatibilidade energética, intelectual ou moral
nesse médium, ou pela utilidade.

314. Os espíritos podem conhecer os pensamentos dos encarnados?


— Se for útil, necessário e se tiverem evolução para isso.

148
Nossa intenção não é conhecê-los pela curiosidade, mas para modificá-
los, tornando-os mais depurados e úteis ao vosso progresso.138

315. O conhecimento do médium ajuda na comunicação dos espí-


ritos?
— Não só ajuda como é essencial.
Nós, espíritos, empregamos o acervo do médium como primeira escolha;
ao enriquecê-lo com conhecimentos diversos, ele nos facilita em nossas comu-
nicações e obras. Portanto, podemos dizer que a qualidade da obra de um espí-
rito é proporcional à qualidade das informações daquele que a intermediou. Há
exceções, e utilizamo-nos do nosso acervo próprio quando há permissão divina
e um propósito.139

316. Espíritos superiores podem comunicar-se através de qualquer


médium, independentemente de sua conduta imperfeita?
— Não só podem como o fazem, é uma forma de moldá-los. Ainda assim,
é importante sempre observar o conteúdo e o propósito.140
A. Qual o critério usado pela espiritualidade na escolha do médium?
— Não há critérios. São os planos de Deus, que, por ter o conhecimento
das provas e expiações a serem cumpridas pelo médium, dá-lhe essa missão.
Nota: O estado de imperfeição de cada indivíduo é relativo. Diante da
pluralidade das existências, o esquecimento do passado limita-nos a
avaliação. Em um mundo de provas e expiações, todos os encarnados
carregam imperfeições. Somente nosso Criador tem o conhecimento

138 O Livro dos Espíritos, questão 457: “Os Espíritos podem conhecer os nossos pensamentos
mais secretos? — Conhecem, muitas vezes, aquilo que desejaríeis ocultar a vós mesmos; nem
atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles.”
139 O Livro dos Médiuns, capítulo XIX, item 225: “[...] quando encontramos num médium
o cérebro cheio de conhecimentos adquiridos na sua vida atual, e o seu Espírito rico de
conhecimentos anteriores, latentes, próprios a facilitar as nossas comunicações, preferimos
servir-nos dele, porque então o fenômeno da comunicação nos será muito mais fácil [...].” –
Erasto e Timóteo.
140 O Livro dos Médiuns, capítulo XX, item 226, questão 8: “É absolutamente impossível rece-
ber boas comunicações por médium imperfeito? — Um médium imperfeito pode às vezes
obter boas coisas, porque, se tem uma boa faculdade, os bons Espíritos podem servir-se
dele na falta de outro, em determinada circunstância. Mas não o fazem sempre, pois quando
encontram outro que melhor lhes convém, lhe dão preferência. OBSERVAÇÃO: Deve-se
notar que os Espíritos, ao considerarem que um médium deixa de ser bem assistido, tornan-
do-se, por suas imperfeições, presa de Espíritos enganadores, quase sempre provocam cir-
cunstâncias que revelam os seus defeitos e o afastam das pessoas sérias, bem intencionadas,
de cuja boa fé poderiam abusar. Nesse caso, sejam quais forem as suas faculdades, nada se
tem a lamentar.”

149
absoluto de quem realmente somos. Devemos confiar, ter fé e usar da
razão para o entendimento dos propósitos de Deus, que sempre saberá
o que é melhor para todos.

317. Após uma comunicação, um espírito sublimado pode expres-


sar-se de imediato para retirar os fluidos deletérios?
— Sim, se houver a necessidade.
Nenhuma folha se move sem o Seu consentimento (conforme visto na nota de
rodapé n.º 60).

318. Como perceber se o espírito está dizendo a verdade?


— Reconhecemos um espírito pelas suas obras e suas comunicações.
A melhor forma de perceber a verdade é senti-la; ocorre sinal de que es-
tamos nos aproximando dela, pois é compatível com nossa consciência quando
lemos algo com que nos identificamos e que nos apresenta uma similaridade,
ainda que não tenhamos tido contato anterior.

319. Um espírito em estágio superior pode decair moralmente?


— Não, a evolução moral é irreversível. Ainda assim, todos terão o livre-
-arbítrio para decidir quais atitudes tomar em suas novas encarnações, podendo
incidir em erros, mas não cair moralmente.141
Nota: Deus criou todas as almas tendo o mesmo ponto de origem; ne-
nhuma foi privilegiada, todos os seres buscam o mesmo objetivo, que é
a perfeição. A evolução moral é uma conquista de um longo processo
reencarnatório, mas não nos isenta do erro. Sempre teremos algo a evo-
luir em diferentes aspectos.

320. Os espíritos na erraticidade podem ser orientados sem o con-


curso do médium?
— Sim. Não só podem como o são frequentemente.142

141 O Livro dos Espíritos, questão 118: “Os Espíritos podem degenerar? — Não. À medida
que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito concluiu uma
prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionário, mas não
retrogradar.”
142 O Livro dos Espíritos, questão 227. “De que maneira se instruem os Espíritos errantes, pois
certamente não o fazem da mesma maneira que nós? — Estudam o seu passado e procuram
o meio de se elevarem. Veem, observam o que se passa nos lugares que percorrem; escutam
os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados que eles, e
isso lhes proporciona ideias que não possuíam.”

150
321. Os espíritos podem interferir em aparelhos eletrônicos e, inclu-
sive, através deles, se comunicarem com os encarnados?
— Até poderíamos, mas por que o faríamos? A tecnologia de aparelhos
eletrônicos é ultrapassada no mundo espiritual. Utilizamos formas mais ade-
quadas.
Nossa missão não é vos impressionar ou vos levar a acreditar no extraor-
dinário, pois ele não existe. O Espiritismo veio com a missão de reformar-vos,
possibilitar-vos evoluir através do próprio esforço e fazer-vos utilizar do conhe-
cimento para a prática do bem e da caridade despretensiosa.
A maior prova que podereis conseguir é enxergar em vós mesmos as gran-
des mudanças que promovestes com vossas encarnações, e esses frutos serão
colhidos no presente e no futuro.

VII – Pressentimentos

322. O médium deve expressar tudo o que pressente?


— Não, apenas o que for útil. Cabe ao médium crivar suas sensações ou
pressentimentos. É parte de sua prova, muitas vezes, suportar a dor do próximo
em silêncio e reflexão. Ainda que fuja nesse instante à compreensão da maioria,
tudo tem um propósito de aprendizado.
Em grande parte das vezes, sermos firmes diante do sofrimento do próxi-
mo, em silêncio, faz-nos refletir sobre o quanto devemos ser gratos por tudo o
que Deus nos proporciona.
O segredo para suportar a dor está, também, no controle dos pensamen-
tos.

323. Como o médium controla as sensações em seu cotidiano?


— Controlando os pensamentos. O controle pleno do pensamento é o
mais alto grau de evolução da mente humana, sendo capaz de aproximar o
mundo material do espiritual através do aumento exponencial do nível de per-
cepção e controle vibracional.
Ao controlardes vossos pensamentos, sereis capazes de perdoar, de não
vos magoar com intempéries inevitáveis e de evitar todas as possíveis. Conhece-
reis a autocura e entendereis: o que hoje se apresenta como impossível ou extra-
ordinário nada mais é do que uma ferramenta totalmente disponível e possível
em vosso acervo mental.
Quando vós entenderdes o poder que o pensamento exerce em vossas en-
carnações, cuidareis dele muito mais do que hoje, pois é o remédio ou o veneno
da alma, dependendo de como administrais suas doses.

151
324. Qual é a finalidade das premonições?
— Anteceder para poder contribuir com a ajuda ou com o silêncio, depen-
dendo da situação.143
A. Elas são mediúnicas ou telepáticas?
— Ambas. A intuição influencia o poder telepático. Como em uma reação
em cadeia, quando sois intuídos pelo mundo espiritual, essa intuição é alinhada
aos vossos pensamentos originais.
O propósito de intuir não é discriminar o que é espiritual do que é vosso,
mas apenas iluminar o caminho, indicando com maior clareza o que deveis se-
guir.
Aqueles que possuem premonições de forma intuitiva ou telepática devem
desenvolver o discernimento necessário para saber em quais instantes devem se
expressar ou silenciar.

VIII – Prática mediúnica

325. Deve-se praticar a mediunidade sem conhecimento?


— De forma alguma. A prática mediúnica é uma responsabilidade muito
grande. É imprescindível que ande concomitantemente com a busca incessante
do conhecimento. Caso seja realizada inadequadamente, pode gerar consequên-
cias vibracionais, psíquicas ou espirituais.
Que o exercício dessa faculdade seja sempre efetuado na vigia da vossa
consciência e embasado em todos os valores morais que conheceis; à vista dis-
so, minimizareis a possibilidade de erro.144
A. Ainda não tendo o conhecimento, o médium pode exercer a me-
diunidade concomitantemente aos estudos?
— O ideal é que possua conhecimento anterior, ainda assim, caso respeite
as etapas necessárias, poderá iniciar o exercício simultaneamente.
Nota: Fazê-los de modo simultâneo significa fazer os dois; o que não
deveis é vos enganar e realizar apenas o exercício mediúnico sem con-
ciliá-lo com os estudos.
Vós concedeis ao leigo a oportunidade de realizar uma cirurgia sem
nunca ter estudado medicina?

143 O Livro dos Espíritos, questão 522: “O pressentimento é sempre uma advertência do Es-
pírito protetor? — O pressentimento é o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos
deseja o bem. É também a intuição da escolha anterior: é a voz do instinto. [...]”
144 O Livro dos Médiuns, capítulo XX, item 226, questão 3: “Os médiuns que empregam mal as
suas faculdades, que não as utilizam para o bem ou que não as aproveitam para a sua própria
instrução, sofrerão as consequências disso? — Se as usarem mal, serão duplamente punidos,
pois perdem a oportunidade de aproveitar um meio a mais de se esclarecerem. Aquele que vê
claramente e tropeça é mais censurável que o cego que cai na valeta.”

152
B. Qual a maneira correta de exercer a mediunidade?
— Cumprindo as etapas necessárias, com responsabilidade e instrução. As
etapas necessárias percorrem um longo caminho de aprendizagem, que se inicia
pela aceitação, passa pela instrução e finaliza-se na prática, porém, é necessária
a vigilância constante do médium perante seus atos, pois as tentações ocorrerão
o tempo todo. Ser médium não é apenas comunicar-se com o lado bom, mas
também com o lado mau.
O bem ou o mal se referem ao estado evolutivo desses contatos – espíritos
inferiores ou espíritos superiores.145

326. Quais os atributos ideais para o exercício da mediunidade?


— Busca incessante do conhecimento, respeito às etapas, não faltar com a
verdade para consigo mesmo e, principalmente, o esforço, pois é esse o atributo
que garante os demais.

327. Quando o médium está apto a utilizar suas faculdades?


— Depende de cada caso; na grande maioria deles, quando há um emba-
samento nos estudos.
Estar apto é uma das questões mais complexas que existem. Quem real-
mente está completamente preparado para algo? O preparo é consequência do
esforço; no caso da mediunidade, de diversos esforços: nas reformas íntimas,
nos estudos e compreensão, na resignação e na aceitação da mediunidade.
Após muito empenho e algum tempo de prática durante algumas encarna-
ções e também no plano errático, o médium torna-se mais preparado para essa
dura, porém compensatória, missão, que o levará a praticar a caridade despre-
tensiosa, auxiliando seus irmãos em sua evolução e progresso.

328. Como discernir o que é fruto do médium ou do espírito?


— Não é necessário discernir, o importante é filtrar o conteúdo.146

145 O Livro dos Médiuns, capítulo XVII, item 211: “A dificuldade encontrada pela maioria dos
médiuns iniciantes é a de ter que tratar com os Espíritos inferiores, e eles devem considerar-
-se felizes quando se trata de Espíritos apenas levianos. [...] A primeira precaução é armar-se
o médium de uma fé sincera, sob a proteção de Deus, pedindo a assistência do seu anjo guar-
dião. [...] A segunda precaução é dedicar-se com escrupuloso cuidado a reconhecer, por todos
os indícios que a experiência oferece, a natureza dos primeiros Espíritos comunicantes, dos
quais é sempre prudente desconfiar. Se esses indícios forem suspeitos, deve-se apelar com
fervor ao anjo guardião e repelir com todas as forças o mau Espírito, provando-lhe que não
conseguiu enganar, para o desencorajar. Eis porque o estudo prévio da teoria é indispensável,
se o médium pretende evitar os inconvenientes inseparáveis da falta de experiência. [...]”
146 O Livro dos Médiuns, capítulo XIX, item 223, questão 3: “Como distinguir se o Espírito que
responde é o médium ou se é outro Espírito? — Pela natureza das comunicações. Estuda as
circunstâncias e a linguagem e distinguirás. [...]”

153
Não é importante distinguir, o animismo pode ser produtivo, desde que
haja filtro e coerência do médium (ver adiante questão 367).
Vós também sois espíritos, não sois menos que nós; em vez de nos dar
mais importância pelas nossas obras, aprimorai as vossas, para que possamos
trabalhar em conjunto.

329. Durante o sono, o médium pode exercer suas faculdades?


— Não só pode como o faz. É também durante o sono que algumas
pessoas, que nem sabem que possuem a mediunidade, exercem seu trabalho.
O sono é uma imensa oportunidade, na qual o espírito se desprende do corpo
físico por tempo determinado e “caminha” para outros planos em suas missões
de progresso.
Enquanto encarnados, o sono é a melhor oportunidade de vos orientar, o
que não torna a lembrança, em muitos casos, necessária.
Nem todos os sonhos são reais, porém todos possuem utilidade de evoluir
o espírito e corrigir sua direção durante a encarnação vigente. Apenas sabereis
qual trabalho exerceis se houver a necessidade ou utilidade para vosso progres-
so; caso contrário, é melhor permanecer no esquecimento, porém com a certeza
de ter sido útil. Não é à toa que uma boa noite de sono é, comprovadamente,
um dos maiores remédios de vigor e restabelecimento das energias para os en-
carnados.147

330. É correto que o médium abdique de sua vida profissional para


exercer somente a mediunidade?
— Não. Ainda assim, a decisão cabe ao seu livre-arbítrio, mas, se está en-
carnado, é porque possui missões a cumprir; portanto, é preciso conciliar a vida
material com a espiritual.148

331. Pode-se abdicar da prática mediúnica?


— Cabe ao livre-arbítrio; ainda assim, seria difícil lidar com as consequên-

147 O Livro dos Espíritos, questão 401: “Durante o sono, a alma repousa como o corpo? —
Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrou-
xam e o corpo não necessita do Espírito. Então ele percorre o espaço e entra em relação mais
direta com os outros Espíritos.”
148 O Livro dos Espíritos, questão 573: “Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
— Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e
materiais. Mas as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra
cumpre uma missão, como aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na
Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre por
essa forma para o cumprimento dos desígnios da Providência. Cada um tem a sua missão
neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido.”

154
cias. Porém, se decidir não praticá-la e tiver uma vida regrada e útil, não neces-
sariamente terá consequências negativas. Deus sempre permite que tenhamos
opções de escolha.
Nota: São incansáveis as vezes, no período errático, em que suplicamos
pela oportunidade de provas e expiações. Nesses instantes, com a visão
mais ampla, queremos aproveitar a próxima encarnação para dar saltos
evolutivos, e a mediunidade é uma dessas formas.
Quando chegais ao mundo encarnado e sentis a complexidade dessa
prova, que é ter contato e comunicabilidade com o mundo espiritual
sendo imperfeitos e não tendo as melhores faixas vibracionais, simpati-
zais com os espíritos da mesma frequência que a vossa, e, portanto, isso
se torna uma prova dolorosa, levando muitos médiuns a tentar “abrir
mão” dessa prática, e alguns dentre estes até à loucura e ao suicídio.
Cabe ao livre-arbítrio de cada ser cumprir ou não suas provas, porém,
no caso da mediunidade, abdicar do exercício, e não da faculdade em si,
gera ainda mais dor.
O aprimoramento moral e reformas íntimas levam ao médium novos
hábitos e consequentes novas faixas vibracionais, tornando a vida mais
leve e agradável.
Concluímos, então, que a mediunidade é uma prova que possui grau
de dificuldade equivalente às reformas pessoais: quanto maiores forem,
mais leve será.
Não fujais de vossas provas, aperfeiçoai-vos para cumpri-las.

IX – Prática indevida da mediunidade

332. O mau uso da mediunidade agrava a encarnação do médium?


— Sim. Não apenas agrava a encarnação, como cria novas expiações. O
mau uso da mediunidade é o descumprimento de uma missão previamente es-
tabelecida por vós mesmos. É a quebra de um compromisso de vós para com
vossos próprios objetivos reais, e refiro-me a objetivos reais pois, quando estais
no plano desencarnado, sem a matéria para vos tentar, vós mesmos buscais
cumprir provas e expiar vossos erros com o intuito de evoluir. E quando há
o uso indevido de uma faculdade que veio com o objetivo de praticar o bem,
duplicais o erro.
Pior que quebrar um compromisso é deixar de cumprir um acordo assu-
mido com vós mesmos, mas jamais deveis desanimar, pois, “no agora”, ainda
há tempo de recomeçar e fazer um novo futuro.

333. O médium pode adoecer pelo uso indevido da mediunidade?


— Sim, na maioria dos casos. O uso da mediunidade sem responsabilidade

155
pode acarretar consequências físicas e mentais.
Em breve, entendereis que o adoecimento do corpo é uma consequência
da enfermidade da alma e da mente, instrumentos que regem o corpo físico.
Portanto, a falta de responsabilidade faz com que vossa consciência gere a
culpa, e esta vos fará adoecer. A melhor forma de permanecer saudável é jamais
faltando com a verdade para convosco; quem encontra a paz interior encontrará
a fonte da saúde física.

334. Quais consequências resultam de um atendimento mediúnico


mal exercido?
— Se o receptor compartilhar da mesma vibração, pode propiciar con-
sequências físicas ou espirituais, mas, se estiver em boas vibrações e intenções,
não gerará sequela alguma.
Nota: Consequências são inevitáveis. Ainda que não para o receptor,
haverá para o doador, por mal praticar uma mediunidade sabendo a
maneira correta de exercê-la; responderá por essa escolha nas devidas
proporções.
É necessário acreditar na providência divina e confiar na piedade, po-
rém, isso não nos dá o direito de nos acomodarmos e não oferecermos
o máximo de nosso potencial, especialmente quando o objetivo for o
bem do próximo.

335. Médiuns com vícios149 prejudicam a comunicação dos espíritos


superiores?
— Sim, prejudicam-na e, em alguns casos, podem até mesmo impedi-la.
Nota: Vós vestiríeis uma roupa limpa sem tomar um banho? Ainda as-
sim, no momento em que julgais aquele que não se banhou e vestiu
roupa limpa, torna-vos tão sujos quanto.

336. Médiuns desequilibrados devem exercer a mediunidade?


— Não devem. É necessário ajudar-se primeiro, para poder, então, auxiliar
o próximo150 (ver também questão 426-A).

149 Vício: defeito físico ou moral; deformidade, imperfeição (MICHAELIS, 2008).


150 O Livro dos Médiuns, capítulo XXIII, item 254, questão 3: “A obsessão que impede um mé-
dium de receber as comunicações que deseja é sempre um sinal de indignidade de sua parte?
— Eu não disse que se trata de um sinal de indignidade, mas que pode haver obstáculos a
certas comunicações. Ele deve empenhar-se em vencer os obstáculos, que estão nele mesmo.
Sem isso, suas preces e suas súplicas nada farão. Não basta a um doente dizer ao médico:
Dá-me a saúde, quero passar bem. O médico nada pode, se o doente não faz o necessário.”

156
Nota: “Ajuda-te que te ajudarei.”151

337. Quais as consequências de exercer a mediunidade para bene-


fício próprio?
— Inúmeras, tanto físicas quanto espirituais. Aquele que exerce algo para
seu benefício já recebeu sua recompensa (conforme visto na nota de rodapé n.º 129).
Qualquer tipo de mediunidade exercida para o próprio bem através do
livre-arbítrio é a utilização, com parcialidade e egoísmo, de uma ferramenta des-
tinada ao amor para com o próximo.
As recompensas materiais são perecíveis e irrelevantes em comparação às
que tereis no saber usar dos vossos dons, doados por Deus.
Pensai nisso antes de buscar suprir vosso egoísmo e egocentrismo, praticai
o amor de forma despretensiosa e buscai sempre a evolução do espírito, pois
toda matéria perecerá, e o espírito permanecerá.
Dentre as consequências, a pior é a perda da paz, pois, ainda que o en-
carnado se satisfaça obtendo vantagem perante um dom concedido por Deus,
jamais terá a paz interior, dado que o regulador do espírito, a vossa consciência,
é parte de Deus.

X – Mediunidade equilibrada

338. Como manter equilibrada a mediunidade no mundo de provas


e expiações?
— Os mecanismos de mediunidade são compatíveis com o mundo em
que o encarnado habita, portanto, é possível manter o equilíbrio.
Nota: Qual outro objetivo haveria na mediunidade senão despertar o
equilíbrio e promover reformas íntimas?
Se fosse destinada apenas ao auxílio, nós, desencarnados, a praticaría-
mos sem a necessidade do encarnado.
A utilização da mediunidade por intermédio de médiuns é justamente
para unir o útil ao agradável, despertar o amor ao próximo e promover
equilíbrio e reformas, simultaneamente.

151 Js 1:9 – “Isto é uma ordem: sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo,
porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores.”; O Evangelho segundo o Espi-
ritismo, capítulo XXV, item 2: “Segundo o modo de ver terreno, a máxima ‘Buscai e achareis’
é semelhante a esta outra: ‘Ajuda-te, e o céu te ajudará’. É o princípio da lei do trabalho e, por
conseguinte, da lei do progresso. Porque o progresso é fruto do trabalho, desde que é este
que põe em ação as forças da inteligência. [...]”

157
339. Como o médium pode encontrar o equilíbrio entre a sanidade
e a loucura?
— Cabe a ele buscar seu próprio equilíbrio para facilitar esse processo; o
autoconhecimento é essencial.
Nota: “Conhece-te a ti mesmo.”152

XI – Reuniões mediúnicas

340. Qual é a importância de um trabalho mediúnico?


— Ainda existe sua necessidade, pois é através do trabalho mediúnico que
conseguimos equilibrar (extravasar), energética e psicologicamente, o médium,
e encaminhar os espíritos que precisam buscar o caminho da luz.
Nota: É uma ajuda para ambos: o encarnado “médium” beneficia-se
com essa prática obtendo o equilíbrio necessário para prosseguir em
sua encarnação, e os desencarnados são favorecidos por receberem as
instruções de orientadores, através dessas ferramentas que são os mé-
diuns, e poderem seguir um caminho de luz.
Porém, ambos os lados do plano também podem obter um malefício se
não se utilizarem corretamente desse recurso. Todo aquele que praticar
o mal o colherá na mesma proporção.

341. É aconselhável ter reuniões mediúnicas somente em casas es-


píritas?
— Sim, pois são necessários trabalhos prévios da espiritualidade para rea-
lizar uma sessão adequada.

342. Existe uma quantidade ideal de médiuns para uma reunião me-
diúnica?
— Não, desde que haja estrutura necessária para isso e uma quantidade
que não interfira na qualidade do trabalho, lembrando que o trabalho deve ser
sincronizado e organizado.

152 O Livro dos Espíritos, questão 919: “Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta
vida e resistir ao arrastamento do mal? — Um sábio da Antiguidade vos disse: ‘Conhece-te a
ti mesmo’”; questão 919-a: “Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificul-
dade está precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso? — Fazei o
que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia interrogava a minha consciência, passa-
va em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cum-
primento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que
cheguei a me conhecer e ver o que em mim, necessitava de reforma. [...]” – Santo Agostinho.

158
343. Em reuniões mediúnicas, pode haver pessoas assistindo?
— Pode, desde que haja uma preparação energética e vibracional, além de
conhecimento prévio.
Nota: Tudo dependerá da intenção com que as assistem. Cabem aos
visitantes, que podem ir com o preparo necessário, e não apenas para
suprir sua curiosidade, ficar em prece, para contribuir nos trabalhos.

344. O médium de sustentação é importante numa reunião mediú-


nica?
— É essencial. Construiríeis uma casa sem alicerce? Não se realiza uma
reunião mediúnica sem sustentação.
Nota: Lembramos que o orientador pode sustentar, se souber lidar com
as vibrações durante a orientação, e, também, que existem diversos ir-
mãos desencarnados que auxiliam no suporte e encaminhamento dos
que sofrem, em reuniões sérias.

345. Qual é a melhor forma de acolher potenciais médiuns em uma


casa espírita?
— Instruí-los de que a mediunidade, apesar de ser uma prova, pode ser
exercida desde que haja as reformas necessárias, em conjunto com os estudos.
Tudo isso com muito amor, pois o melhor acolhimento é aquele repleto de
amor e boas intenções.
A. Como descobrir a potencialidade de um médium?
— Qual seria a necessidade de descobri-la? Melhor do que revelar a poten-
cialidade é descobrir a utilidade.

346. Quando deve se iniciar a preparação dos médiuns para o exer-


cício na reunião mediúnica?
— Desde o início do dia, tanto para os espíritos quanto para os encarna-
dos.
A. De que forma?
— Concentrando seus pensamentos, evitando discussões e equilibrando
suas energias por meio da prece.
A verdadeira preparação do médium inicia-se na erraticidade, quando tem
uma visão muito mais ampla de suas falhas e pretende, através da próxima en-
carnação, cumprir sua missão.
A prova começa ao encarnar e ao entender que o cumprimento dessa mis-
são exige algumas renúncias e revisões de pensamentos, compreendendo que a
matéria é supérflua perante o infinito espiritual.

347. O médium pode ser um orientador?


— Sim, desde que não esteja exercendo a mediunidade naquele instante e

159
que tenha o conhecimento da Doutrina.
Nota: Um músico pode ser um pintor, mas não enquanto toca seu ins-
trumento.
A. Os orientadores de uma sessão espírita precisam ter conheci-
mento da Doutrina?
— É essencial, afinal, é através do exercício desse conhecimento que con-
duzirão os irmãos para o caminho do bem.
Não há a possibilidade de darmos aquilo que não possuímos. No caso
da orientação, o conhecimento é muito importante, pois será através daquelas
orientações ministradas que os irmãos seguirão ou não o caminho do bem, a
depender de seu livre-arbítrio. Uma boa instrução faz toda a diferença.

348. Qual é o mecanismo utilizado para transportar os espíritos para


uma sessão mediúnica?
— As estradas espirituais são construídas através do pensamento. A velo-
cidade sempre se dará de acordo com a real urgência e utilidade. Não há fron-
teiras nem limites, desde que haja amor e boa intenção.

349. O médium deve controlar os excessos dos espíritos comunican-


tes?
— Sim, pode e deve controlá-los.
Nenhum excesso é positivo, o ideal é o equilíbrio. O que difere o veneno
do remédio é a dose, portanto, é necessário saber discernir o que deve ou não
ser controlado.

350. Incorporação pode produzir reações mecânicas?


— Em alguns casos; porém, essas reações não só podem como devem ser
controladas, evitando excessos. Conforme já mencionamos, o equilíbrio deve
ser o que se busca.

351. Um espírito sofredor pode acompanhar o médium após a reu-


nião mediúnica?
— Sim, o que atrai o espírito é a vibração.
Acompanhar não significa interferir ou fazer mal; espírito algum poderá
tomar a decisão pelo encarnado, pois seria romper o livre-arbítrio. O espírito
pode influenciá-lo tanto para o bem quanto para o mal, cabendo ao encarnado
reformar-se e melhorar suas vibrações para atrair melhores companhias.

352. As psicografias devem ser lidas após as reuniões mediúnicas?


— Depende do seu conteúdo.
O médium deve praticar sua mediunidade e deixar que fluam suas psico-
grafias. Porém, passar o conteúdo adiante é outra história.

160
É necessário crivá-lo, entendendo se é ou se pode ser nocivo a outrem.
Não leia caso não tenha certeza, caso seja uma ofensa, caso haja algo que desa-
bone a moral ou contenha linguagem de baixo calão.
Esse filtro é essencial para que as reuniões mediúnicas sejam sempre cons-
trutivas, e não destrutivas.

353. De quais maneiras a vibração afeta um trabalho mediúnico?


— De todas as formas possíveis. A vibração é fundamental para o desen-
volvimento de qualquer trabalho que envolva tanto encarnados quanto desen-
carnados.
Nota: É fundamental que os trabalhos mediúnicos sejam exercidos em
equilíbrio. A instabilidade dos pensamentos gera desarmonia vibratória,
por isso, é importante a concentração aliada à meditação antes do início
dos trabalhos.

XII – Reunião de desobsessão

354. Quais as diferenças entre as sessões mediúnicas de desenvolvi-


mento e de desobsessão?
— Nas reuniões mediúnicas de desenvolvimento, são realizados processos
de orientação e direcionamento dos espíritos que precisam de auxílio, e então,
quando estas não forem suficientes para suprir a necessidade dos encarnados,
devem ocorrer as sessões de desobsessão, nas quais o acesso deve ser restrito e
o preparo, maior.
Uma ferramenta essencial em qualquer reunião de desobsessão é a con-
versa prévia com o encarnado que sofre o problema, realizando-se, assim, uma
dupla ajuda. É importante que este entenda que, se não realizar as mudanças
necessárias, não obterá um auxílio eficaz e permanente (conforme visto na nota de
rodapé n.º 150). Nós, espíritos, simpatizamos com vossas vibrações e ações; se
vós as melhorardes, aprimorareis, por consequência, vossa companhia.

355. Qualquer médium pode participar de uma reunião de desob-


sessão?
— Não, é necessário preparo e equilíbrio.
A. Como selecionar um grupo para essa função?
— Municiando-o com conhecimento e estudos e observando se está capa-
citado para aquela atividade.

356. No trabalho de desobsessão, o obsidiado pode estar presente?


— Apenas previamente; durante, nem sempre é aconselhável, tudo depen-
derá do seu preparo e conhecimento.

161
357. Até que ponto é permitido que um espírito possa prejudicar o
encarnado?
— Até o ponto em que o encarnado permitir. Na verdade, espírito ne-
nhum pode prejudicar aquele que não lhe dá permissão.153

153O Livro dos Espíritos, questão 467: “Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos
que o incitam ao mal? — Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos
ou os atraem por seus pensamentos.”

162
CAPÍTULO V

Misticismo, Animismo
e Charlatanismo
• Misticismo • Animismo • Charlatanismo • Misticismo no caráter religioso • Misticismo na
divulgação • Orgulho que cega, egoísmo que estagna

I – Misticismo

Onde houver a verdade, existirá a distorção; ainda assim, sempre caberá a


todos sua identificação, correção e modificação.
O misticismo é um mal que vem acometendo inúmeras pessoas e religiões.
Os místicos são os falsos profetas da atualidade e, para obter vantagens apenas
para si mesmos, utilizam-se, muitas vezes, de seus dons e capacidades pessoais
para iludir os homens de bem a seguirem um caminho fictício.
É necessário estarmos atentos aos sinais e falhas de conteúdo para, assim,
identificar e auxiliar esses irmãos, os místicos, que também precisam de ajuda
e amor.
O animismo tem um potencial para o bem, entretanto, depende direta-
mente da reforma íntima e de bons pensamentos, de constante e interminável
vigilância daqueles que o exercitam, cuidando para não cair na má prática.154
Sejamos adeptos do bem, da caridade, do amor e, especialmente, da verda-
de. Onde houver a verdade, existirá a paz.
Que sejamos sempre guiados pela verdade e pela fé, para que convivamos
de forma mais amorosa e sincera.

358. O que é misticismo?


— É a distorção da verdade mediante questões esotéricas ou místicas. O
misticismo falta com a verdade, não se embasando na lógica, coerência e razão.
Raciocinar a fé é uma dádiva de Deus, porém, não gratuita, já que a inte-
ligência é resultante do esforço. É necessário que todos nos esforcemos, am-

154O Livro dos Médiuns, capítulo XX, item 226, questão 11: “Quais as condições necessárias
para que a palavra dos Espíritos superiores nos chegue sem qualquer alteração? — Desejar o
bem e repelir o egoísmo e o orgulho: ambos são necessários.”

163
pliando o dom do raciocínio para poder crivar e acompanhar os ensinamentos
do Cristo e da ciência.
Todo aquele que adquire tal inteligência, ainda que pelo esforço, utilizan-
do-a para mistificar, será responsabilizado por sua escolha e responderá na de-
vida proporção.
Utilizar-se da superioridade persuasiva ou intelectual para dominar outrem
é muito grave e acarreta consequências severas no “ajuste de contas” da Justiça
Divina.
Irmãos, aplicai vossa superioridade para auxiliar, acalmar e espalhar a ver-
dade por todo o universo. De forma alguma a utilizai para mistificar, pois o
próprio Cristo nos ensinou que é através da verdade que alcançaremos a liber-
dade.155

359. O que é um processo místico?


— Ocorre quando o encarnado decide forjar uma mediunidade que não
possui.
A. Por que alguns médiuns se utilizam dessa prática?
— Para benefício próprio, seja moral, seja financeiro, ou para suprir seu
egocentrismo.
B. Como ajudá-los?
— A verdade os libertará. É importante instruí-los através dos estudos,
para despertar neles a consciência de seus atos.
C. Misticismo pode ser considerado um processo obsessivo?
— Não, misticismo é do próprio encarnado, e ele, sim, pode gerar proces-
sos obsessivos, através do seu livre-arbítrio. Mistificar é uma falta grave, pois,
além de prejudicar a evolução do próprio espírito, persuade os demais, na tenta-
tiva de ter algum ganho financeiro, de ego ou de interesse carnal.
Devemos vigiar o tempo todo para garantir que não estejamos buscando
esse caminho; infeliz aquele que mistifica, pois está iludindo a si mesmo e aos
seus irmãos.
Deus providenciou-nos o livre-arbítrio para que pudéssemos utilizá-lo sa-
biamente. Esperamos que possais permanecer no caminho correto, fugindo das
tentações levianas e passageiras, focados em vosso progresso moral.

A responsabilidade da propagação

Além do misticismo e charlatanismo voluntários, existem os involuntários.


Não é necessário que o charlatanismo e o misticismo involuntários estejam en-

155 Jo 8:32 – “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

164
raizados no subconsciente para ocorrer sua prática: ela também acontece quan-
do a pessoa, que não necessariamente precisa ser médium, compartilha de for-
ma consciente informações recebidas sem previamente crivá-las. Nos tempos
atuais, essa prática se torna mais comum com a globalização e suas ferramentas
de propagação da informação.
Irmãos, convidamo-los a filtrarem o conteúdo que recebem, checando sua
autenticidade e veracidade, para que não repassem informações inverídicas. A
mentira não propagada deixa de existir; contudo, disseminada, torna-se uma
pseudoverdade.

360. Por que existem os mistificadores?


— Devido ao mau uso do livre-arbítrio e à falta de reforma moral. Utili-
zam-se de seus dons, acrescidos da fé existente em outras pessoas, para a auto-
promoção, propagando a mentira.

361. Como o mistificador pode mudar sua atitude?


— Aceitando a verdade e realizando as reformas. Assim como uma crian-
ça aprende a enxergar a realidade, o mistificador pode libertar-se dessa prática,
com muito esforço e dedicação.

362. Todo médium está sujeito a um processo místico?


— Todo ser humano está! Dependerá do livre-arbítrio se irá sucumbir ou
não.
A. Como evitar que isso ocorra?
— Mantendo uma boa conduta moral, controlando seus pensamentos e
atitudes, bem como compreendendo as consequências que isso pode acarre-
tar.156

363. O médium será sempre responsável pelas atitudes inadequa-


das, palavras impróprias ou simulações de identidade feitas por um es-
pírito na psicofonia?
— Sim, seja de forma direta, seja indireta.
Quando é médium consciente ou semiconsciente, pode controlar suas pa-
lavras e atitudes; quando é inconsciente (caso raro), pode adequar sua vida atra-
vés de suas reformas íntimas, a fim de evitar a simpatia de espíritos inferiores,

156 O Livro dos Médiuns, capítulo XXVII, item 303, questão 1: “As mistificações são um dos
escolhos mais desagradáveis da prática espírita. Haverá um meio de evitá-las? — [...] há para
isso um meio muito simples, que é o de não pedir ao Espiritismo nada mais do que ele pode
e deve dar-vos; seu objetivo é o aperfeiçoamento moral da Humanidade. Desde que não
vos afasteis disso, jamais sereis mistificados, pois não há duas maneiras de se compreender
a verdadeira moral, mas somente aquela que todo homem de bom senso pode admitir. [...]”

165
consequentemente aumentando sua proteção espiritual.
O filtro sempre será a moral, que, uma vez estabelecida, permite que o
médium esteja protegido de impulsos ofensivos e mistificadores.

364. Todos possuem certo grau de mediunidade e confundem a in-


tuitiva com a ostensiva. Saber distingui-las nos auxilia a não mistificar?
— Não cair no misticismo independe do tipo de mediunidade que se pos-
sui. Enquanto a mediunidade intuitiva diz indiretamente o que deveríeis seguir,
a ostensiva exprime isso de forma mais direta. O misticismo é uma escolha do
encarnado e não depende de sua mediunidade.
Mistificar é a escolha do caminho da mentira, a porta larga, é a busca de
expandir vosso orgulho ou da obtenção de algum ganho, utilizando-vos da fé
pura e sincera dos vossos irmãos.
Para não cair no misticismo, o encarnado precisa renunciar aos pensa-
mentos ruins e ser resistente às tentações e influências tanto materiais quanto
espirituais.
A maior parte dos episódios de misticismo ocorre pela “imitação”; o mé-
dium busca a segurança ao comunicar-se através da observação e reprodução
dos métodos de outros médiuns, sustentando, assim, a mentira. Quando isso
ocorre, é inundado de uma profunda angústia, pois sua consciência insiste em
dizer que está no caminho errado, mas, ainda assim, ele persiste, e, é claro, por
uma questão psíquica, essa angústia diminui com o tempo (repetição), e o mis-
ticismo começa a enraizar-se em seu subconsciente, tornando-se real para ele.

365. Como evitar mistificações na prática espírita?


— Primeiramente, sendo o exemplo; em segundo lugar, tendo o conheci-
mento necessário para identificá-las e corrigi-las, sempre sem faltar amor, afinal,
quem pratica o misticismo também precisa de auxílio.
Mesmo que tenhamos com clareza a verdade, é necessário usar o amor
para com nossos irmãos ainda equivocados. O despertar para os verdadeiros
valores é diferente em cada um, e a maneira com que lidamos é importante
para não causar constrangimentos desnecessários a eles, que, nesse momento,
necessitam do nosso auxílio.

366. O misticismo pode acarretar um transtorno psicológico ou um


processo obsessivo?
— Sim. Todo transtorno psicológico se inicia de um hábito repetido subli-
minarmente por diversas vezes, somatizando, assim, no subconsciente.
A verdade não apenas assegura um bom caminho espiritual, mas também
garante sanidade mental.
Nota: Quando promovemos, mesmo que conscientes, padrões persis-
tentes de comportamento, acabamos por torná-los verdade em nosso

166
subconsciente, ocasionando transtorno de conduta. Esse transtorno de
comportamento gera um processo de autoafirmação tendo como causa
desarmonias psíquicas que podem gerar doenças físicas, ocasionando
a baixa de vibração e podendo, consequentemente, ocorrer processos
obsessivos. Sair dessa condição depende exclusivamente do encarnado,
ao executar mudanças de comportamento e reformas íntimas.

II – Animismo

367. O que é um processo anímico?


— É a interferência do médium na comunicação do espírito.
A. Quais são suas consequências?
— Podem ser positivas, se vierem a agregar através da instrução, ou nega-
tivas, se vierem a prejudicar a comunicação.
O animismo é algo natural e ocorre na maioria dos tipos de mediunidade.
É a interferência do médium na comunicação, que ocorre consciente ou incons-
cientemente e com boas ou más intenções. O que aconselhamos aos médiuns é
que desenvolvam o intelecto e a moral através dos estudos e reformas íntimas,
para que possam sempre contribuir de forma construtiva, auxiliando a media-
ção do plano espiritual com o físico e sendo, nesse contexto, bons intérpretes.

368. No exercício do fenômeno anímico, pode ocorrer o misticismo?


— Apesar de distintos, podem acontecer simultaneamente.
O animismo é comum e todo médium o possui em algum nível; já o mis-
ticismo é uma má conduta, visando a um benefício próprio.
Eles acontecem simultaneamente quando o médium, em seu exercício,
passa dos limites do animismo e o transforma em misticismo por sua própria
intenção.

369. Como o médium pode discernir o que é dele daquilo que é do


espírito?
— Através dos seus estudos, reformas e práticas. Com o passar do tem-
po, começa a discernir o que lhe pertence ou não. Ainda assim, se reformado a
ponto de contribuir, distinguir não será mais necessário.
Por que acreditais ter menos valor que um espírito desencarnado?157

157 O Livro dos Espíritos, questão 461: “Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos
que nos são sugeridos? — Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos
fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso. De
resto, não há grande interesse para vós nessa distinção e é frequentemente útil não o saber-
des: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade; se tomar
o mau caminho, sua responsabilidade será maior.”

167
370. Como saber quando a prática do fenômeno é anímica ou mís-
tica?
— Através do conteúdo e da consistência. Desde que não haja benefício
próprio e não cause mal a alguém, o animismo é aceitável. Já o misticismo, não,
pois, ainda que aparente fazer o bem, as intenções nunca são boas.
Não sois capazes de distinguir claramente um ante outro, porém, através
da análise cuidadosa do conteúdo, podereis compreender a verdadeira intenção
do autor de tal fenômeno.

III – Charlatanismo
371. Qual a diferença entre misticismo e charlatanismo?
— O misticismo é faltar com a verdade em algo que envolve assuntos
sobrenaturais, já o charlatanismo pode abranger outras questões naturais. Por-
tanto, quem é mistificador necessariamente é charlatão, entretanto, nem todo
charlatão é mistificador. Ambos estão equivocados.

372. Os mistificadores e charlatães podem ser induzidos e/ou ma-


nipulados pelos espíritos menos evoluídos?
— Sim, uma ação leva a outra.
Todo ato que vos leva ao caminho errado através de vossas intenções atrai
o que pensais e sentis. Todo processo de obsessão e manipulação por espíritos
malfazejos acontece com vossa permissão. A energia fluídica que emanais atrai
os que estão na mesma faixa vibracional.

IV – Misticismo no caráter religioso

373. O que é o misticismo no caráter religioso?


— É a utilização da fé para iludir ou enganar outros irmãos, assim buscan-
do benefícios próprios. É uma falta grave, que será cobrada de forma propor-
cional ao equívoco cometido.
O misticismo, em qualquer caráter, é prejudicial, mas, no religioso, é ainda
mais grave. Utilizar-se da fé de um irmão para a autopromoção é fazer uso de
um dos sentimentos mais puros em benefício próprio, e o que agrava ainda mais
a situação é o mistificador ter consciência daquilo que está fazendo.
Nossa mensagem é que nunca é tarde demais para arrependimentos. É
possível mudar o modo de agir, pois ainda há tempo. Deus sabe as dificuldades
de cada um e, através do seu amor, pode propiciar novas oportunidades e novos
rumos.
Instruam-se, modifiquem-se, desmistifiquem-se.

168
374. O misticismo pode levar à descrença religiosa?
— Não, o misticismo é uma escolha de alguns indivíduos, que não anula a
fé dos demais. Acreditar é impessoal e independe daquilo que os olhos podem
ver ou das mágoas causadas pela manipulação.158
Mais importante do que causar a descrença religiosa é não se perder a
crença em Deus.

375. Qual é o prejuízo que a prática do misticismo pode causar ao


Espiritismo?
— Confunde a crença dos que já o seguem e prejudica a adesão de novos
seguidores.
Todo misticismo ocasiona algumas consequências perceptíveis e muitas
imperceptíveis, por isso, é importante entender que, na maioria das vezes, os
resultados da mentira são desastrosos.
Toda pequena falha moral que leva ao misticismo se reflete na fé dos que
já se encontram em determinada crença e daqueles que pretendiam aderir a ela;
portanto, um pequeno erro hoje produzirá graves consequências amanhã.
Nota: Não é por acaso que Cristo vos ensinou que a verdade vos liber-
tará (conforme visto na nota de rodapé n.º 155). Estar alicerçado pela verdade
é a melhor forma de prosseguir sem espalhar a dor. A mentira pode
aparentar um conforto momentâneo, entretanto, é a soma de um fardo
a ser carregado.

376. Qual o melhor meio de identificar o misticismo dentro da Dou-


trina?
— Através do conteúdo, da coerência e, principalmente, da intenção. A
propagação da Doutrina, para ser verdadeira, tem por regra ser despretensiosa;
se houver algum tipo de benefício financeiro ou de ego, certamente será misti-
ficação.159

158 O Livro dos Médiuns, capítulo XXVII, item 303, questão 2: “Por que Deus permite que
pessoas sinceras, que aceitam de boa-fé o Espiritismo, sejam mistificadas? Isso não poderia
acarretar o inconveniente de lhes abalar a crença? — Se isso lhes abalasse a crença, seria por
não terem a fé bastante sólida. As pessoas que abandonassem o Espiritismo por um simples
desapontamento provariam não o haver compreendido, não se terem apegado ao seu aspecto
sério. Deus permite as mistificações para provar a perseverança dos verdadeiros adeptos e
punir os que fazem do Espiritismo um simples meio de divertimento.” – O Espírito da Verdade.
159 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXI, item 5: “[...] Desde todos os tempos, cer-
tos homens exploram, em proveito de sua ambição, de seus interesses e de seu desejo de
dominação, certos conhecimentos que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder
supostamente sobre-humano ou de uma pretensa missão divina. São esses os falsos cristos e
os falsos profetas. A difusão dos conhecimentos vem desacreditá-los, de maneira que o seu
número diminui, à medida que os homens se esclarecem. [...]”

169
377. Qual a parcela de responsabilidade do dirigente de casa espírita
por permitir que pessoas pratiquem o charlatanismo e/ou misticismo?
— O grau de responsabilidade é proporcional ao nível de consciência,
esteja ou não na direção.
Todos vos tornais responsáveis quando tendes a consciência e o discer-
nimento do certo e do errado. A consciência é a presença de Deus em vós, e é
necessário ser o exemplo para que, assim, de forma amorosa, possais conduzir
vossos irmãos ao caminho do amor.

378. Proferir a Doutrina sem praticá-la é considerado misticismo?


— Não, desde que tenhais boa intenção naquilo que fazeis. No entanto,
é fundamental buscar a prática naquilo que é dito. Misticismo é desvirtuar a
verdade.
O conhecimento tem como objetivo principal gerar uma prática. De que
adiantaria conhecer sem praticar? Perderia o sentido e a razão. A realização do
que se aprendeu é a confirmação de que o conhecimento valeu a pena; é a prova
final de que realmente foi adquirido tal aprendizado. Sem a prática, não “conhe-
cereis” absolutamente nada. Existem inúmeros encarnados e desencarnados
que pregam com a boca o que não sentem com o coração nem fazem “com as
mãos”.
O risco é grande, pois sois responsáveis por aquilo que conheceis
e, mais ainda, pelo que propagais (conforme visto no texto “A responsabilidade da
propagação”, neste mesmo capítulo, item I).
A verdadeira evolução não está em conhecer o que praticais, mas, sim, em
praticar aquilo que conheceis.
Adquirir o conhecimento e não praticá-lo é similar a plantar uma árvore,
regar, adubar, podar e, ao final, deixar que os frutos caiam e apodreçam no
chão. Divulgar o bem sem ser o exemplo é viver sob a hipocrisia que existe ape-
nas para suprir as próprias necessidades egocêntricas ou da vaidade.
Deus vos dá diversas oportunidades, e a maior delas é o “conhecer”, pois,
através dele, basta esforço e persistência para serdes o exemplo do que pregais.

V – Misticismo na divulgação
379. Por que alguns divulgadores mistificam a Doutrina?
— Para obter benefício próprio e por não confiar que a Doutrina é séria
e verdadeira, pois, se admitissem que é, jamais o fariam. As expiações geradas
àqueles que praticam o mal com consciência são muito mais graves do que
àqueles que o praticam por ignorância.
A mistificação, através da Doutrina, ocasiona malefícios significativos para
os que a recebem e, principalmente, para os que a praticam. Sabendo que a

170
consciência é a comunicação direta com Deus, quem mistifica conscientemente
não obterá a paz, mantendo baixas suas vibrações e simpatizando com irmãos
da mesma faixa vibracional, por consequência.
As consequências de praticar o misticismo utilizando-se da fé alheia são
enormes, e o espírito mistificador expiará essa escolha em vidas futuras (conforme
visto na questão 373). A verdade sempre será o caminho apropriado no sentido da
evolução. Deveis sempre optar por segui-la e buscá-la incansavelmente.

380. Consentir a mistificação por medo de ferir outrem é justificá-


vel?160
— O consentimento é participação, porém, mais importante do que ter
razão para proibir, é escolher a forma certa de instruir os irmãos, sem machucá-
-los. O consentimento não é correto, mas não devemos pagar o mal com o mal.
O medo explica, mas não justifica e deve ser superado pelo encarnado através
de suas reformas, que gerarão confiança.
Nota: No sentido de não consentir, não participar, não ser conivente
com a mistificação exercida por outrem e, além disso, de encaminhar à
instrução quem a pratica, concedamo-nos passar pelas seguintes apre-
ciações:
- 1º exame, o da censura:161 Pergunto-me: eu mistifico? Se minha res-
posta for negativa, permito-me censurar outrem.
- 2º exame, o do livre-arbítrio: Quero consentir a mistificação? Se não,
então, não pretendo aprová-la.
- 3º exame, o da participação: Desejo participar da mistificação? Se não,
então, não compartilho dela.
- 4º exame, o do princípio moral, em se tratando da diferenciação entre
o bem e o mal: É correto outrem deliberadamente mistificar? Se não,
isso me demonstra que o bem é não mistificar e que o mal é mistificar.
- 5º exame, o da consciência: Minha consciência me culpa se, por receio
de magoar meu irmão, sou condescendente com a mistificação? Se sim,
se me acusa, minha consciência está mostrando o caminho correto, o

160 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 21: “Há casos em que seja útil descobrir o mal
alheio? — Esta questão é muito delicada, e precisamos recorrer à caridade bem compreendida. Se as
imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não há jamais utilidade em divulgá-las. Mas
se elas podem prejudicar a outros, é necessário preferir o interesse do maior número ao de um só.
Conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor
que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem suas vítimas. Em semelhante
caso, é necessário balancear as vantagens e os inconvenientes.” – São Luís
161 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 19: “[...] a censura que se faz do outro deve ser
endereçada também a nós mesmos, para vermos se não a merecemos” – São Luís

171
rumo que me aproxima das leis de Deus: a direção do não consenti-
mento.
- 6º exame, o do conhecimento: É-me possível apontar ao mistificador
o percurso dos estudos? Se sim, tenhamos em mente que a instrução
desperta a consciência dos atos.

381. Por que, mesmo diante de tantos ensinamentos, ainda há aque-


les que interpretam a Doutrina de forma equívoca?
— As interpretações acontecem de acordo com a evolução de cada um. É
importante que sejam distintas para que haja o debate, enriquecendo o aprendi-
zado de todos. Ainda assim, os objetivos devem sempre ser os mesmos.
Nota: A fé raciocinada dentro do conhecimento e das experiências vivi-
das por nós leva-nos a analisar o mundo ao nosso redor de acordo com
aquilo que possuímos. Nossa natureza humana nos conduz a erros; es-
tes fazem parte do aprendizado e propiciam suas consequências, tudo
de acordo com a evolução.

382. O que leva os mistificadores a persuadirem tantas pessoas por


longos períodos?
— A aceitação e a falta de vigília dos mistificados. Não há efeito sem
causa, e não sereis iludidos se consultardes vossa consciência com a frequência
adequada e sentirdes Deus falando convosco.
A. Por que Deus permite que isso ocorra?
— Deus não interfere no vosso livre-arbítrio; na verdade, Ele o criou para
que pudésseis discernir entre o certo e o errado. Tudo vos é lícito, mas nem
tudo vos convém.162
Nota: A permissão ou negação divina está em nossa consciência, sendo
ela a reguladora de nossas ações (ou, ao menos, deveria ser).
Sempre que há oportunidade, precisamos escolher. Temos em nosso
âmago a diferença do certo e do errado e precisamos ser responsabi-
lizados por tais escolhas. Deus oferece-nos a opção do bem, e somos
nós, através de nosso orgulho, egoísmo e vaidade, que, muitas vezes,
optamos pelo mal.
O livre-arbítrio é inalterável e, portanto, é a principal ferramenta que
permite nossa evolução moral e intelectual. A cada nova encarnação,
aprimoramos nosso conhecimento e, consequentemente, aprendemos
a usá-lo de forma mais apropriada.
Sejamos verdadeiros e sensatos em nossas escolhas, consultando a
consciência e embasados na coerência. Assim, atingiremos o progresso.

162 I Cor 10:23 – “Tudo é permitido, mas nem tudo é oportuno. Tudo é permitido, mas nem tudo
edifica.”

172
383. Como proteger do misticismo e do charlatanismo a prática
doutrinária?
— Não os sustentando e não os incentivando. O melhor combate à menti-
ra é a busca da verdade, que, consequentemente, vem através do conhecimento.
Nota: Antes de olhar para o outro, é imprescindível analisar a si próprio.
Não podemos combater aquilo que ainda possuímos; é necessário que
sejamos o exemplo daquilo que pretendemos mudar. “O exemplo não é
a melhor forma de ensinar, é a única” – Albert Schweitzer.

VI – Orgulho que cega, egoísmo que estagna

Conforme mencionado nas obras básicas diversas vezes, o orgulho e o


egoísmo são os dois maiores freios da humanidade163. De modo avassalador,
o orgulho ofusca a fé, faz-nos incapazes de enxergar as grandes oportunidades
que a encarnação nos contempla e nos causa cegueira imensurável e nociva.
Desprovermo-nos do orgulho não é uma tarefa simples, exige grandes re-
formas e, dentre elas, o despertar da verdadeira humildade. A boa-nova é que o
orgulho não é eterno; no momento em que nos desprendemos de nossa vaida-
de e visualizamos nossa pequena participação no progresso universal, torna-se
lógico e racional que não somos capazes de dominar plenamente a verdade.
Portanto, todos os dias, temos muito a aprender e obteremos, infinitamente,
conteúdo para evoluir.
Quantas vezes, em nossas encarnações, as oportunidades batem à nossa
porta e as desperdiçamos por causa do orgulho? Pensamos que nossa inteligên-
cia (acanhada) e visão (curta) são capazes de enxergar além de nossos seme-
lhantes e nos isolamos em nosso conhecimento (limitado). Devido ao orgulho,
muitas vezes, fazemo-nos superiores ao próximo, tornando-nos pessoas com
visões imutáveis.
A dificuldade do espírito em encarar mudanças é uma realidade que todos
já enfrentaram ou enfrentarão em seu longo processo de evolução; o tempo que
levará para que cada um de nós possa despir-se do orgulho é variável e propor-
cional ao esforço empenhado.
O egoísmo elimina o amor. Não podemos confundir egoísmo com amor-
-próprio; o egoísta é incapaz de desenvolver o amor despretensioso e praticar a
caridade sincera. Assim, o orgulho é temporário, e, conforme formos progre-

163 O Livro dos Espíritos, questão 785: “Qual o maior obstáculo ao progresso? — São o orgulho e o
egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o intelectual avança sempre. [...] esse estado
de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o homem compreender melhor
que além do gozo dos bens terrenos existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais
durável.”

173
dindo, iremos, mais cedo ou mais tarde, nos despir dele.
Jesus ensinou-nos, através do exemplo, a importância de abandonar nossa
forma de enxergarmos apenas a nós mesmos e não buscar somente benefícios
próprios. Exemplificou-nos que o amor ao próximo nos faz evoluir e que, ape-
sar de sermos seres individuais, somos todos irmãos aos olhos de Deus.

174
CAPÍTULO VI

A Cura
Introdução à cura • Doença da matéria • Doença da alma • A prece e a cura • Formas de
cura • Tratamento na casa espírita • Tecnologia na erraticidade • Medicina espiritual e medi-
cina terrena • A busca pela cura

I – Introdução à cura

A cura sempre será consequência de reformas e alteração de hábitos.


Em vez de esperar, buscai, facilitai para que ela aconteça, modificai para
ver a mudança em vossas vidas.
A fé cura-nos, pois é através dela que realizamos tudo aquilo que é neces-
sário para nossa transformação e melhoria.

384. O que é a cura, na visão dos espíritos?


— É o restabelecimento da saúde.
A cura é consequência de diversas reações orgânicas em nosso organismo,
engatilhadas pela fé e merecimento.
Para que haja cura, o encarnado precisa entregar sua vida nas “mãos” de
Deus e prosseguir com a fé inabalável de que o impossível é apenas uma ques-
tão de percepção.
É impossível? Depende para quem.
Ainda assim, a cura material é temporária, do mesmo modo que o “cor-
po”. A verdadeira cura, buscamo-la através do conhecimento e do aprendizado:
quanto mais sabemos, menos sofremos e aceitaremos com mais resignação to-
das as etapas, provas e expiações que precisaremos enfrentar.
A obsessão pela cura corporal é uma característica imediatista do encar-
nado de querer, muitas vezes, oprimir enfermidades que ele próprio causou
através de suas más escolhas.
A cura é a colheita de um longo processo de cultivo.

385. A fé tem o poder de cura?


— Só a fé tem o poder de cura.
A fé sincera, buscando o amor ao próximo, é um verdadeiro manto de luz.

175
386. O que define o merecimento da cura?
— Deus.
Nota: Existem diversas formas de conquistar o merecimento, dentre
elas, a conquista trazida de uma encarnação a outra ou pelo esforço na
mesma encarnação. É Deus que define o merecimento, porém, pode-
mos conquistá-lo através de nossas reformas, de nossa fé, tanto humana
quanto divina164, e da busca incessante em evoluir, progredir e depurar
nossos pensamentos e, consequentemente, nossas atitudes. O esforço
é uma das principais características a serem desenvolvidas tanto na vida
material quanto na espiritual, pois ele garantirá nosso merecimento tan-
to presente quanto futuro.

387. A cura das enfermidades está na fé ou no mérito?


— Em ambos, mas vale lembrar que a fé também é um mérito, pois este
vem com mudança de pensamentos e atitudes. Buscais a cura, mas ela só acon-
tece mediante vossas reformas íntimas, que propiciam o merecimento, embasa-
do na fé.165

388. O que é preciso fazer para merecer a cura?


— Fazei todo o bem possível e despertai a vossa fé.
Toda cura é fruto de esforço e merecimento; muitas vezes, o esforço está
em despertar a verdadeira fé. Confiar em algo que não podeis ver ou tocar é
muito difícil, e essa dificuldade se agrava em momentos de dor ou sofrimento.
Portanto, quem alcança a cura é porque realmente foi merecedor dela.
Ainda assim, não significa que não haja provas pelas quais precisais pas-
sar ou suportar; ter resignação e resiliência necessárias garantir-vos-á os passos
evolutivos.

389. Por que os espíritos tratam encarnados que não têm o mereci-
mento de cura?
— Quem somos nós para julgarmos o merecimento? Nosso trabalho é
tratar a todos, com amor e dignidade.
Nem toda cura é inerente à matéria. Existem curas muito mais profundas,

164 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIX, item 12: “[...] A fé é humana ou divina, segundo a
aplicação que o homem der às suas faculdades, em relação às necessidades terrenas ou às suas aspira-
ções celestes e futuras. [...]” – Um Espírito Protetor, 1863.
165 Mc 5:25-34 – “Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue. [...]
Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto. Dizia ela con-
sigo: Se tocar, ainda que na orla do seu manto, estarei curada. [...] Jesus percebeu imediatamente que
saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas vestes? [...] Ora, a
mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e con-
tou-lhe toda a verdade. Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.”

176
que se principiam no espírito. Portanto, ao tratar um encarnado com fé e amor,
visamos prioritariamente à cura do espírito; se houver o merecimento, a cura
ecoará pela matéria. O corpo é perecível, o espírito, não.

390. Por que buscamos a cura das nossas enfermidades?


— As enfermidades geram dor e sofrimento, e a busca da cura é a busca
desse alívio; ainda assim, curar o corpo não significa curar o espírito: para isso,
fazem-se necessárias as reformas íntimas e consequentes mudanças de hábitos.

391. A cura pode ocorrer em pessoas que ainda não empreenderam


a reforma íntima?
— A cura pode ocorrer a qualquer um, desde que haja o merecimento. Po-
rém, as reformas íntimas, através das quais o indivíduo caminha em direção ao
progresso físico, psicológico e moral, garantem a prevenção de novas doenças.

392. De que forma transcorre a cura de nossas enfermidades?


— Ocorre através do trabalho conjunto do encarnado com o desencarna-
do. Se houver o merecimento e a fé necessários, é possível curar-vos.
A. A cura na erraticidade ocorre à mesma velocidade e tempo da
Terra?
— Não, pois não é uma cura carnal.
Nota: Dentre as muitas condições para o êxito da cura, podemos citar o
poder curativo do fluido magnético animalizado pelo médium; a vonta-
de do médium na doação de sua força; a influenciação dos espíritos para
dirigir e aumentar a força do homem e as intenções; mérito e fé daquele
que deseja se curar.
B. A cura decorrente de um tratamento espiritual pode ser tempo-
rária?
— Sim, depende das escolhas e reformas dos encarnados que a obtiveram.
Caso voltem a seus antigos hábitos, as enfermidades poderão retornar. A única
constância é a necessidade de reformas íntimas.

393. De que modo enfermidades de nossa programação original po-


dem ser amenizadas pela cura?
— Praticando o bem; o bem supera o mal.
Possuís uma programação, não uma determinação; tudo pode ser agrava-
do ou atenuado de acordo com vosso livre-arbítrio. O amor sempre será pre-
ponderante para abrandar vossas faltas desta e de outras encarnações.
Lembrando que “mal” é um termo que utilizais para vossa compreensão,
embasando-vos em vosso conhecimento, não há nenhum mal que seja de todo
mal e nenhum bem que seja de todo bem.

177
II – Doença da matéria

394. Por que adoecemos, segundo os espíritos?


— Toda matéria é perecível; a doença pode ser causada pelo mau uso do
livre-arbítrio ou por provas e expiações a serem cumpridas.166
O mau uso do livre-arbítrio normalmente leva ao adoecimento do corpo
e da alma ou ao aumento das provas e/ou expiações, tornando-vos, assim, sus-
cetíveis às doenças físicas e psicológicas.167

395. Todas as consequências de nossos erros são verificadas na for-


ma de doenças no corpo físico?
— Nem todas, mas grande parte. Os erros fazem parte do vosso aprendi-
zado enquanto espírito (encarnado e desencarnado), sendo que alguns originam
em vossa consciência a culpa, que, consequentemente, pode acarretar doenças
físicas e psíquicas (conforme visto na questão anterior).

396. Quais são os casos mais comuns de doenças compulsórias de-


terminadas pela lei divina?
— Não existe uma regra; todas as doenças vêm para vos ensinar algo e
gerar o crescimento como espírito, sejam elas frutos de provas, sejam de expia-
ções.
A. Quando a doença vem por prova ou expiação, poderá haver a
cura da enfermidade?
— Sim, nem toda prova ou expiação é imutável; algumas boas ações, atra-
vés da prática do bem e merecimento, compensam alguns males.

166 O Livro dos Espíritos, questão 964, nota explicativa de Kardec: “Todas as nossas ações são subme-
tidas às leis de Deus; não há nenhuma delas, por mais insignificante que nos pareçam, que não possa
ser uma violação dessas leis. Se sofremos as consequências dessa violação, não nos devemos queixar
senão de nós mesmos, que nos fazemos assim os artífices de nossa felicidade ou de nossa infelicidade
futura. [...]”
167 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo, item 12: “[...] Torna-se pois evidente que o homem é o
autor da maioria das suas aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com sabedoria e pru-
dência. É certo, também, que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus, e que, se as
observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes. Se não ultrapassássemos os limites do
necessário, na satisfação das nossas exigências vitais, não sofreríamos as doenças que são provocadas
pelos excessos, e as vicissitudes decorrentes dessas doenças. [...]”

178
397. Nossas enfermidades são originadas pela genética ou provoca-
das por escolhas atuais?
— Das duas formas; as enfermidades genéticas são frutos de nossas es-
colhas passadas, já as futuras serão consequências de nossas escolhas atuais.168
Nota: Colheis o que plantais.169

398. Se o corpo é perecível, qual a importância de buscar a cura de


nossas enfermidades físicas?
— O corpo é o facilitador do nosso desenvolvimento, portanto, mantê- lo
saudável auxiliará a evolução do espírito, por consequência.170
Nota: O corpo foi-nos confiado como instrumento em nosso processo
evolutivo. De acordo com o merecimento de cada um, possuímos o
corpo de que necessitamos a cada nova encarnação. Nada é por acaso,
tudo faz parte dos planos de Deus.

III – Doença da alma


399. Qual é a doença da alma?
— A falta de fé.
Nota: Ainda que possuíssemos todas as coisas, que tivéssemos todos os
poderes do universo, sem fé, nada seríamos. A fé é, junto ao amor, uma
das principais características evolutivas de qualquer espírito. É através
da fé que nos permitimos enxergar a oportunidade de um mundo me-
lhor; mas só a fé não basta, o esforço é primordial para que a fé seja
alcançada.171
Com tantas dificuldades que enfrentamos em um mundo de provas e
expiações, despertar a verdadeira fé é fruto de esforço, persistência e

168 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 4: “As vicissitudes da vida são de duas espécies,
ou, se quisermos, têm duas origens bem diversas, que importa distinguir: umas têm sua causa na vida
presente; outras, fora desta vida. Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos
são a consequência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem. [...]”
169 II Cor 9:6 – “Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em
profusão, em profusão ceifará.”
170 O Livro dos Espíritos, questão 730: “Desde que a morte deve conduzir-nos a uma vida melhor, e
que nos livra dos males deste mundo, sendo mais de se desejar do que de se temer, porque o homem
tem por ela um horror instintivo que a torna motivo de apreensão? — Já o dissemos. O homem deve
procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa. Foi por isso que Deus lhe deu o instinto de
conservação e esse instinto o sustenta nas suas provas; sem isso, muito frequentemente ele se entre-
garia ao desânimo. [...]”
171 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIX, item 11: “A fé, para ser proveitosa, deve ser ativa;
não pode adormecer. [...] Pregai pelo exemplo da vossa fé, para transmiti-la aos homens; pregai pelo
exemplo das vossas obras, para que vejam o mérito da fé; pregai pela vossa inabalável esperança, para
que vejam a confiança que fortifica e estimula a enfrentar todas as vicissitudes da vida. [...]” – José

179
resignação. Ter fé é acreditar sem ver, esforçar-nos para alcançar o inal-
cançável, atingir o inatingível.
O pior cego não é aquele que não quer ver, mas, sim, aquele que não
acredita naqueles que veem e não segue seus exemplos. Nosso mestre
Jesus e tantos outros espíritos superiores demonstraram através de suas
atitudes o poder da fé. Sejamos humildes o suficiente para seguir os
passos destes que tanto nos ensinaram e tenhamos o esforço necessário
para despertar a fé.
Santo Agostinho
Matão, 4 de março de 2019.

400. Qual é a diferença entre a cura do corpo e a da alma?


— A cura do corpo é material, e a da alma é energética.
A cura da alma é desenvolvida através da vossa reforma de pensamentos
e reformas íntimas, o que constantemente reflete, também, como cura do cor-
po.172
Para que possais curar vossa alma (perispírito), é necessário que estejais
desapegados da matéria, dos vícios terrestres, das lembranças que machucam,
e entenderdes que nada mais vos pertence, que estais em outra missão, que a
vida é eterna e um constante aprendizado de como praticar a caridade e amar o
próximo com mais frequência.
O pensamento é capaz de gerar a vibração necessária para cicatrizar todas
as feridas e transformar o mundo todo de forma transmissiva e progressiva.
O restabelecimento da saúde é perecível e temporário, assim como o cor-
po. Entretanto, a edificação do espírito, não; esta é eterna.
Tudo aquilo que construís através de aprendizados e boas escolhas servirá
de escada para vossa evolução, independentemente do estágio em que estiver
vossa saúde física ou, ainda, de que tenhais um corpo.
O maior remédio da alma é o conhecimento, e a cura é a prática desse co-
nhecimento e a aceitação através da fé.

401. Como a mente pode influenciar o corpo?


— De todas as formas possíveis, tanto para o bem quanto para o mal. O
poder do pensamento é o maior poder do universo, é a maior das criações de
Deus.

172 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 8: “[...] Tomai, pois, por divisa, essas duas pala-
vras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque eles resumem todos os deveres que a caridade
e a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará a tranquilidade de espírito e a
resignação. O coração bate melhor, a alma se acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque
o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito” – Espírito da Verdade

180
A capacidade mental é infinita: quando chegardes ao ponto de controlar
os pensamentos perniciosos, tereis a saúde física integral; mesmo que a saúde
física vos falte por motivo de crescimento espiritual, sereis mais resistentes às
enfermidades que surgirem.
O corpo vos é dado, por tempo determinado, para auxiliar a evolução do
espírito; pertencente ao corpo físico, o cérebro ajuda-vos a processar os pensa-
mentos e a controlar vossas enfermidades biológicas ou espirituais.
O espírito, por sua vez, não é temporário, mas eterno, e habitará diversos
corpos, com distintos sexos e características durante o processo de evolução,
até o instante em que, através do merecimento conquistado, o espírito não ne-
cessitará mais dessa matéria densa e buscará seu progresso na erraticidade, onde
terá novas tarefas e obrigações.
Eis a importância do controle mental; se possuis um corpo, é necessário
que saibais controlá-lo, e a mente não é só a melhor forma para fazer isso, é a
única.
Quando vós controlais os vossos pensamentos e racionalizais os sentidos,
conseguis prolongar a vida material e minimizar as dores e sofrimentos.
A ciência atual já demonstrou que, com o controle mental adequado, o
ser humano é capaz de suportar questões que seriam “impossíveis” aos olhos
comuns.173
Sendo assim, meus amados irmãos, o controle é um dos principais apren-
dizados que a vida material vos propõe, bagagem que levareis para o plano es-
piritual, onde pensamento é tudo o que tendes como matéria-prima.
O uso do controle não é uma faculdade egoísta ou individualista, mas uma
importante ferramenta de uso coletivo. Ao controlardes a vós mesmos, podeis
ajudar os outros a se controlarem, auxiliando seus pensamentos e reforçando a
caminhada longa e contínua em busca do aprimoramento moral, intelectual e
de resignação.
Sois capazes de controlar a vós mesmos! Condicionai-vos a isso, estai
equilibrados, multiplicai o amor e repassai o conhecimento.
A. É possível nos curarmos através do pensamento?
— Sim, através do vosso potencial existente e ainda inexplorado.
O pensamento é o principal condutor para a cura; é o maior dom conce-
dido por Deus. Através dele, podemos alterar a matéria, modificar as energias e
transformar as vibrações. Há ainda diversas outras funções do pensamento que
desconheceis, mas que, um dia, serão conhecidas e possíveis de realizar. O pen-

173Felicidade, saúde e altruísmo (Happiness, health and altruism): embora a saúde pública se preocupe
mais obviamente com a melhoria de doenças e disfunções, a prevenção primária frequentemente
envolverá esforços para melhorar o bem-estar humano (ou seja, felicidade), muitas vezes por meio de
comportamentos pró-sociais e altruístas (em relação aos outros) (POST, 2017, tradução nossa).

181
samento, ligado à fé e merecimento, pode curar qualquer enfermidade, tanto do
corpo quanto da alma.
O pensamento tanto pode curar como agravar a enfermidade. Cabe a vós,
enquanto encarnados, saberdes administrar vossas vibrações e tornardes vossas
práticas mais dignas de promover bons pensamentos, por consequência.
A cura é uma consequência; o pensamento é um condutor e facilitador
dessa cura. Em contrapartida, a enfermidade também é uma consequência, e o
pensamento, da mesma forma, pode ser um facilitador dela.
No dia em que conhecerdes melhor a vós mesmos, podereis auxiliar mais
vossos irmãos, através do autocontrole, amor e promoção do bom pensamento.
Iniciai a etapa pelo controle da ação, para, posteriormente, controlardes o
pensar.
Pensai para agir, e, no futuro, o ato será uma consequência da prática esta-
belecida em vosso subconsciente moral.

402. As doenças psíquicas e/ou materiais são gravadas em nosso


perispírito?
— Podem ser gravadas, dependendo da relevância que lhes damos. Obvia-
mente, algumas necessitam perdurar por encarnações para nosso aprendizado,
uma vez que, não possuindo a matéria, temos a capacidade de não trazer as
impressões, se assim estivermos reformados e desprendidos do mal que elas
causaram. Em um futuro, ocorrerá o mesmo com a matéria, afinal, doenças
psíquicas ou físicas podem ser autocuradas através do poder do pensamento,
reformas íntimas constantes e melhoria da moral.

403. Existe alguma enfermidade que possa ocasionar maior impres-


são no perispírito?
— Sim, de acordo com a importância que lhe for dada pelo encarnado.
Independentemente de qual seja a enfermidade, a impressão no perispírito é
controlada pelo pensamento e, principalmente, pela fé. Se o espírito, após o de-
sencarne, desapegar-se da matéria e tiver fé, não há porque sentir impressões do
corpo ao qual já não está mais ligado. Entretanto, mesmo após o desencarne, se
mantiver seus pensamentos relacionados à enfermidade que o afligia e não des-
pertar a fé, continuará sentindo os sintomas que possuía quando encarnado.174

174O Livro dos Espíritos, questão 257: “[...] Já vimos que esses sofrimentos são o resultado dos laços
que ainda existem entre o Espírito e a matéria. Que quanto mais ele estiver desligado da influência da
matéria, ou seja, quanto mais desmaterializado, menos sensações penosas sofrerá. [...]”

182
A. De que forma pode haver a cura das doenças gravadas em nosso
perispírito?
— Através de vossas mudanças, reformas, melhorias e do despertar da fé.
Gravais em vosso perispírito aquilo a que dais a devida importância; a par-
tir do momento em que modificais vossos pensamentos e alterais vossas rotinas
para o bem, sois capazes de regenerá-lo, assim como a vosso próprio corpo.
Ao modificardes vossos hábitos alimentares, por exemplo, o vosso corpo
não se reconstitui? Da mesma forma, o vosso perispírito: ele é um reflexo de
vossos atos e pensamentos.175

404. As enfermidades que trazemos de vidas passadas por meio do


corpo espiritual podem ser neutralizadas, se assim for para nosso bem?
— Se assim houver a utilidade e o merecimento, tudo será permitido, com
a aceitação de Deus.
Seria muito frustrante para todos os espíritos pensarem que não poderiam
neutralizar os erros cometidos no passado com boas ações.176 Precisamos ter
uma perspectiva boa, mesmo perante as intempéries da vida cotidianamente
falha.
Sabemos que o erro e a esperança fazem parte do instinto humano, por-
tanto, é racional esperar tempos futuros com menos tempestades e, até mesmo,
com mais calmarias.
Mente humana alguma está pronta ou apta para viver na escuridão eterna
e sem perspectiva de luz. A vida é um ciclo, no qual todos os humanos apenas
enxergam com memória curta e perecível a verdade que lhes convém momen-
taneamente.
Portanto, podemos esperar o melhor aceitando o pior, procurando o es-
forço necessário para nosso crescimento gradativo e constante.

175 O Livro dos Espíritos, questão 257: “[...] Que dome as suas paixões animais, que não tenha ódio,
nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; que não se deixe dominar pelo egoísmo; que purifique sua
alma, pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não dê às coisas deste mundo senão a impor-
tância que elas merecem; e, então, mesmo sob o seu envoltório corpóreo, já se terá purificado, des-
prendido da matéria, e quando o deixar, não sofrerá mais a sua influência. Os sofrimentos físicos por
que tiver passado não lhe deixarão nenhuma lembrança penosa; não lhe restará nenhuma impressão
desagradável, porque estas não afetaram o Espírito, mas apenas o corpo; sentir-se-á feliz por se ter
libertado, e a tranquilidade de sua consciência o afastará de todo sofrimento moral. [...]”
176 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo VII, Código penal da vida futura, item 29º: “A miseri-
córdia de Deus é sem dúvida infinita, mas não é cega. O culpado que ela perdoou não está dispensado
de satisfazer a justiça, passando pelas consequências de suas faltas. Por misericórdia infinita é neces-
sário entender que Deus não é inexorável, deixando sempre aberta ao culpado a porta de retorno ao
bem.”

183
IV – A prece e a cura
405. Qual tipo de energia é exalada em uma prece?
— Quando a prece é sincera, ondas de energias benéficas são emitidas, as
quais serão conduzidas ao seu destino intencional. Entretanto, no caso da prece,
não se trata apenas de ondas emitidas por quem orou: estas entram em “con-
tato” com o auxílio dos espíritos benfeitores, sendo, então, amplificadas.177 Da
mesma forma ocorre nas preces coletivas entre os encarnados.
A. Quando a prece tem o poder da cura?
— Quando ela é feita com fé, desde que haja o merecimento.
Toda prece bem-intencionada sempre será ouvida; ainda que não promova
a cura física, trará o alento e as forças para seguir, despertando, assim, a verda-
deira fé.178

406. Qual é a diferença entre a intenção e a fé?


— Ambas são atributos do espírito, porém, há vezes em que a fé atua em
conflito com a razão, pois, por mais que seja possível raciocinar a fé, chega-se a
um ponto em que ter fé é acreditar acima da razão.
Para que haja intenção, é necessária a fé humana. Para que haja a fé, é ne-
cessária a junção da fé humana e da fé divina.
Toda intenção com fé é mais eficaz. Ter fé é acreditar na vitória “antes do
jogo”.

407. Pode a prece a distância afastar os espíritos obsessores?


— Não só pode como os afasta.179
O poder da prece é inestimável. Conversar com Deus e com os vossos
amigos espirituais é um exercício de amor de imensurável validade.
Privilegiados sois quando confiais que vossa prece é recebida e conseguis

177 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 14: “Se a prece exerce uma espécie de ação
magnética, podemos supor que o seu efeito estivesse subordinado à potência fluídica. Entretanto, não
é assim. Desde que os Espíritos exercem esta ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário,
a insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome, seja ao lhe conferirem
momentaneamente uma força excepcional, quando ele for julgado digno desse benefício, ou quando
isso possa ser útil. [...]”
178 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 7: “[...] O que Deus lhe concederá, se pedir
com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe concederá, são os meios
de se livrar das dificuldades, com a ajuda das ideias que lhe serão sugeridas pelos Bons Espíritos, de
maneira que lhe restará o mérito da ação. Deus assiste aos que se ajudam a si mesmos [...]”
179 O Livro dos Espíritos, questão 479: “A prece é um meio eficaz para curar a obsessão? — A prece é
um poderoso socorro para todos os casos, mas sabei que não é suficiente murmurar algumas palavras
para obter o que se deseja. Deus assiste aos que agem, e não aos que se limitam a pedir. Cumpre,
portanto, que o obsedado faça, de seu lado o que for necessário para destruir em si mesmo a causa
que atrai os maus Espíritos.”

184
enxergar através da vidraça fosca que é a vossa encarnação. Deus vos deu a
prece para que pudésseis olhar para o vosso interior, trabalhar vosso amor e
evoluir, seguindo o caminho do bem.
Mais bela ainda é aquela prece direcionada para outrem, pois esta é despre-
tensiosa, sincera, silenciosa e efetiva.
Uma prece benfeita é uma injeção de boas vibrações e, sem dúvidas, o
primeiro passo para conquistardes vossos objetivos. É uma pena que, muitas
vezes, deixais para orar apenas em instantes de dor, quando há a impossibilida-
de da solução pelos meios da Terra. Deveríeis transformar a prece com fé em
hábito, pois ela vos recorda do quanto sois pequenos e dependentes de Deus.
A prece aproxima-vos do Pai e faz-vos seguir pelo caminho do amor e da
justiça.180

408. A prece em grupo tem mais força que a prece isolada?


— Apesar de ambas serem importantes, a prece da coletividade, quando
bem direcionada, sempre gera uma força energética maior.181

409. É correto terceirizar uma prece?


— Apenas terceirizar seria um comodismo, até porque toda prece chega a
Deus, desde que realizada com amor e com fé.
Para amplificar o poder da prece, basta ampliar as vossas reformas íntimas
e de pensamento.
Podeis pedir a outrem fazê-la, mas jamais deveis subestimar o poder da
vossa prece, que, em momento algum, tem menor valia do que a de outro ser.
Nota: Irmãos, jamais desconsidereis o poder que possuís para com o
Criador. Sois capazes de comunicar-vos e de alcançar todos os vossos
objetivos através da própria prece.182
Não importa o nível de falha ou equívoco que tenhais em vossa encar-
nação; a piedade divina é suprema, e, onde houver uma prece feita com
fé, haverá a presença de Deus.

180 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 23: “[...] A prece. Ah! Como são tocantes
as palavras que se desprendem dos lábios na hora da prece! Porque a prece é o orvalho divino que
suaviza o calor excessivo das paixões. Filha predileta da fé, leva-nos ao caminho que conduz a Deus.
[...]” – Santo Agostinho
181 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 15: “O poder da prece está no pensamento,
e não depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois, orar
em qualquer lugar e a qualquer hora, a sós ou em conjunto. [...] A prece em comum tem ação mais
poderosa, quando todos os que a fazem se associam de coração num mesmo pensamento e têm a
mesma finalidade, porque então é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. [...]”
182 O Livro dos Espíritos, questão 662: “Pode-se orar utilmente pelos outros? — O Espírito daquele
que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela prece, atrai a ele os bons Espíritos que se as-
sociam ao bem que deseja fazer.”

185
Em uma prece ante a outra, não há maior alcance; o que o define é a in-
tensidade dessa fé. Portanto, não deixeis de orar por comodismo ou in-
segurança e fazei vossa oração com fé, pois, certamente, sereis ouvidos.

V – Formas de cura

410. Pode ocorrer a cura apenas com o toque?


— Quem disse que é necessário o toque?
Não deveis jamais subestimar o poder da fé. Para a ferramenta que é capaz
de mover montanhas, o que seria realizar uma cura?
Quando acreditamos em Deus e buscamos nos reformar através do esfor-
ço diário, o merecimento é apenas uma questão de tempo.
Ainda que a cura não venha na vida atual, virá como livramento no peris-
pírito, pois a misericórdia divina, além de merecida, pode ser conquistada.
O toque não é necessário, pois podeis tocar somente a matéria, e, confor-
me já dissemos, existe muito além da matéria.
A intenção, as reformas e o merecimento serão sempre as melhores ferra-
mentas do encarnado para que possamos ajudá-lo em sua cura de corpo e alma.

411. A autocura existe?


— Sim, a autocura não só existe como será o caminho da humanidade.
Para que seja efetiva, é necessário um trabalho conjunto entre o conhecimento
e a fé do encarnado, além do seu estágio evolutivo.
A. Ela já é aplicada no mundo dos encarnados?
— Sim, em casos raros, nos quais os indivíduos já possuem o autoconhe-
cimento suficiente e controle para isso.
Nota: Um dia, todos chegarão a promover a autocura diante do nosso
processo gradativo de evolução. O intelecto em conjunto com a moral,
ambos embasados na fé, serão capazes de promover “milagres”.

412. Como o encarnado pode controlar e positivar um tratamento de


cura, por exemplo, com células-tronco?
— Quando há fé sincera e merecimento, o vosso corpo se cura. Vosso
corpo físico é um organismo vivo, que, durante a vida encarnada, se reconstitui
por natureza; as células renovam-se o tempo todo, mantendo esse organismo
saudável. Quando vosso corpo adoece, enfraquece a vossa mente, por conse-
quência.
O viés negativo do homem, que o fez sobreviver por tantos anos, agora o
prejudica, fazendo-o perder o otimismo e desacreditar da cura. Se ele conseguir,
através do esforço, despertar a fé sincera e, claro, merecer o amparo, seu corpo
será capaz de se curar; a inteligência tem ação nesse processo, mas a forma de

186
acioná-la é através da crença e do autocontrole.

413. Crianças podem ter o dom da cura?


— Sim, a cura é reflexo da intenção e merecimento, portanto, não importa
a idade, é acessível a todos.
Assim como a cura está vinculada à intenção, ela está à pureza, portanto,
durante a infância, a vossa energia e vibrações estão mais depuradas, permitin-
do, assim, um “passe” mais eficaz e com menores interferências do encarnado.
São inúmeras as vezes em que as crianças vos curam, sem que nem saibais disso.
Um exemplo é a cura da depressão através do sorriso de uma criança. Muitas
mães enfrentam a depressão pós-parto, porém seus filhos são capazes de des-
pertar o verdadeiro amor e transformar o que teria um potencial devastador na
vida da mãe em algo apenas passageiro.

414. Existem encarnados com maior potencial de cura que alguns


desencarnados?
— Ambos são espíritos em estados diferentes. O potencial dar-se-á de
acordo com sua evolução.
Não importa seu “estado físico”, mas, sim, seu estado mental.

415. Outras religiões têm o poder de cura?


— Todas têm. O poder não está na religião, e sim, na fé.
Toda crença que vos aproxima mais de Deus e promove o despertar de
vossa fé levar-vos-á ao merecimento da cura. São o amor e a caridade que tor-
nam as pessoas melhores, independentemente do credo. Conforme sabeis, o
Cristo não vos deixou uma religião, a fim de não vos segregar, mas, sim, o amor
ao próximo, para vos unir em prol do mesmo objetivo.
O amor não tem fronteiras religiosas ou territoriais, transcende quaisquer
classes econômicas ou sociais, é soberano e, portanto, a mais bela obra de Deus.
Precisai apoiar o próximo, e não apenas uma causa, pois, ainda que esta
vos pareça mais coerente ou avançada, o progresso real sempre estará nas refor-
mas íntimas e de pensamento e na prática da caridade.

416. Como orientar os encarnados que acreditam que todos os seus


problemas têm origem espiritual?
— Instruí-os, pois, por estarem encarnados, possuem suas próprias provas
e expiações.
Nota: Alegar que nossos problemas, enquanto encarnados, possuem
origem espiritual é o caminho mais fácil na tentativa de eliminar as cul-
pas de nossos próprios atos.
Até mesmo os problemas de origens espirituais nascem das escolhas
dos encarnados.

187
O encarnado é totalmente responsável por suas provas e expiações e
não deve responsabilizar o plano espiritual por suas más escolhas ou
tendências.183
Simpatizamos com o que vós produzis, portanto, se quereis boas com-
panhias, sede produtivos e não cedais às tentações mundanas que per-
correm o caminho inverso do sentido evolutivo.
“Diga-me com quem tu andas que te direi se vou contigo.”184

VI – Tratamento na casa espírita

417. Por que, nas obras básicas, não foi incentivado o trabalho de
cura nas casas espíritas?
— Não era o instante adequado. Precisávamos despertar outras questões,
anteriores aos procedimentos que envolvem a cura.
É comum, na visão espírita moderna, o paradigma dos tratamentos de
cura realizados pelas casas espíritas.
São tratamentos que exigem muita coragem, seriedade e controle. São de
extrema importância, pois possibilitam o acesso do mundo espiritual para o
mundo material, despertando, de uma forma mais acentuada, a fé dos frequen-
tadores.
Não é necessário temer tanto o exercício da “cura” nas casas espíritas, o
importante é ser responsável moralmente e trabalhar com comprometimento,
pois aqueles que não agirem desse modo responderão por seus atos na devida
proporção.
A cura não está em uma casa constituída por tijolos ou alvenaria, ela está
em todo lugar onde há fé e merecimento. Jesus demonstrou-nos isso curando
nas ruas e nos vilarejos por onde passava.
O que não é plausível é nos utilizarmos do nosso orgulho e egoísmo
para enriquecer a vaidade através da fé alheia.185 Fé é algo muito sério, é
um sentimento puro e intenso, e não se deve de jeito nenhum brincar com ela.

183 A Gênese, capítulo XIV, item 46: “Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas
que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre a decorrência
de uma imperfeição moral, que dá entrada a um mau Espírito. A uma causa física, opõe-se uma causa
física; a uma causa moral será preciso contrapor uma causa moral. Para se preservar das moléstias,
fortifica-se o corpo; para garantir-se contra a obsessão, será preciso fortificar a alma; daí resulta, para
o obsedado, a necessidade de trabalhar para sua própria melhoria, o que geralmente basta, na maior
parte dos casos, para o desembaraçar do obsessor, sem o auxílio de pessoas estranhas. [...]”
184 I Cor 15:33 – “Não vos deixeis enganar: ‘Más companhias corrompem bons costumes.’”
185 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVI, item 10: “[...] E se há uma espécie de mediunidade
que requer esta condição de maneira ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. [...] O médium
curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos, e não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os
Apóstolos, embora pobres, não cobravam as curas que operavam. [...]”

188
Deus nos deu o livre-arbítrio para optarmos entre ter ou não fé, mas não
aprovou em suas leis, em instante nenhum, que teríamos o direito de cessar a fé
dos demais através da nossa postura tendenciosa.
Eis, então, a importância da seriedade e da responsabilidade naquilo que
se faz.
Toda cura é silenciosa e não vem de um encarnado ou espírito, mas da
capacidade que o próprio receptor possui e não a teve ainda despertada. Cabe
a nós, desencarnados e encarnados, auxiliarmos nesse despertar e deixar que
Deus julgue o merecimento de cada um. A verdadeira cura é a do espírito. A
cura do corpo é perecível e temporária. Façamos nosso melhor, embasados na
seriedade de quem ama o próximo como a si mesmo (conforme visto na nota de
rodapé n.º 2).

418. Qual é a forma ideal de fazer os trabalhos de cura?


— Silenciosamente, de forma séria, responsável e organizada.
Os encarnados têm papel de extrema importância nesses trabalhos. Para
que ocorram, é necessário que as reformas íntimas sejam feitas, e as vibrações e
os pensamentos, controlados.
Nota: Que o amor por nossos semelhantes seja o único propósito. A
cura vem de acordo com o merecimento de cada um. Somos todos
meras ferramentas de trabalho na seara do Pai. Que nossas intenções e
a busca pela reforma íntima gradativa sejam sempre o nosso objetivo.

419. Pode-se afirmar que o tratamento espiritual dispensa o trata-


mento médico?
— Jamais! O tratamento terrestre é necessário, pois tratamos a matéria
também com a matéria.
O tratamento espiritual não dispensa o tratamento médico material. Hoje
existe a junção dos dois trabalhos, a cura da alma e a cura do corpo físico. Tudo
faz parte dos planos de Deus.
Deus, em Sua infinita inteligência, soube acondicionar tudo em seu devido
lugar. Deu aos encarnados a capacidade de curar o corpo físico através de ins-
trumentos materiais; deu a nós, espíritos, a capacidade de auxiliar os encarnados
quando o objeto material já não é mais suficiente para curá-los.
Hoje, com a expansão de consciência e aprendizado mais profundo, po-
deis entender que a verdadeira cura está no interior de cada um de vós; portan-
to, todos sois capazes de curar a vós mesmos, e caberá a nós fazer-vos acreditar
que o são.
Jamais dispenseis as ferramentas de Deus. Se Ele deu a vós a capacidade
de tratar a matéria com a matéria, aliada ao tratamento espiritual, permanecei
nos dois.

189
Tudo tem um propósito; não deveis pular uma ou outra etapa, e sim, acre-
ditar que os desígnios de Deus são perfeitos e contundentes.

420. Nos trabalhos de cura, há necessidade de diálogos com os pa-


cientes?
— Não.
A. Qual a forma ideal?
— O mais silenciosamente possível, evitando tratar questões de cunho
psicológico. Questões psicológicas exigem tratamentos específicos, inadequa-
dos para esses momentos.
Nota: Muitos necessitam desses diálogos, que podem ser feitos em oca-
siões adequadas, “à parte” dos trabalhos de cura, com pessoas aptas a
conversar e, principalmente, a ouvir aqueles que se encontram emocio-
nalmente fragilizados e adoecidos. Um trabalho de muita responsabili-
dade e valia, que requer muito tato (sensibilidade), para não agravar mais
o quadro de enfermidade; ainda assim, esse é um trabalho preparatório.
Durante o tratamento, o silêncio deve prevalecer, pois a concentração e
todas as energias devem estar focadas no amor e no receptor.

421. Em qual momento se inicia um tratamento para os frequenta-


dores de uma casa espírita?
— Nas primeiras horas do dia; quando há a intenção de ir, já iniciamos os
trabalhos.
O início dos tratamentos dá-se a partir da intenção. Quando se intenciona,
por consequência, começa o tratamento.

422. Para curar, é necessário ser médium?


— Não, desde que haja verdade e boa intenção, todos podem curar, assim
como o amor de uma mãe pode curar um filho.
Nota: Chegaremos a um ponto em que seremos capazes de promover a
autocura através do poder do pensamento (conforme visto na questão 411).

423. Para o trabalho de cura, os médiuns devem possuir faculdades


específicas?
— Sim. É fundamental que o médium tenha um preparo. Nem todos os
médiuns possuem tal faculdade. Daríeis a um carpinteiro a tarefa de fazer uma
pintura?
Dentre todas as faculdades necessárias para auxiliar o próximo, a Psicolo-
gia está entre as mais importantes.
A grande maioria das enfermidades nasce na mente, portanto, aprender
a auxiliar a mente dos nossos irmãos através do uso de técnicas comporta-
mentais, cognitivas ou analíticas é fundamental para ajudá-los a alcançar a tão

190
esperada cura.
Não basta tratarmos o efeito de uma enfermidade, precisamos cuidar da
causa, que, muitas vezes, está nas frustrações, na falta de resiliência e resignação.
Portanto, quando auxiliamos nossos irmãos a enxergarem isso, estamos auxi-
liando-os a se curarem, por consequência.
A. Nesses trabalhos, há necessidade de instrumentos específicos?
— Não. Instrumentos são necessários apenas para os trabalhos materiais,
não para os espirituais, porém, tudo aquilo que possa propiciar conforto, sem
caracterizar um hospital da Terra, será bem-vindo.
B. Está no planejamento reencarnatório do médium a prática desse
trabalho?
— Sim, sem dúvidas, nada acontece sem ter um porquê. Ainda assim, não
será uma tarefa fácil, pois exigirá mudanças no comportamento, principalmente
fora da casa espírita.
Todo médium de cura nasce com um propósito específico. O esforço e a
dedicação sempre o levarão às melhores práticas. Devemos confiar que Deus
permite o que é melhor para cada um, buscando sempre, nos estudos e nas re-
formas, a melhoria constante dos exercícios mediúnicos.
Nota: Houve o tempo em que Jesus caminhava pela Terra, realizando
suas curas por onde passava, deixando uma trilha de amor e de fé.
Ao alcançar uma cura que parecia impossível ao homem da época, Jesus
jamais se esquecia de mencionar: “Tua fé te curou.” (conforme visto na nota
de rodapé n.º 165).
Se Jesus, sendo o espírito mais resignado a habitar este plano, possuía
essa humildade, quem somos nós para, em algum momento, pensar que
seríamos capazes de curar alguém, a não ser nós mesmos?
Tenhamos a humildade necessária para entender que somos parte de
algo muito maior, desconhecido e inquestionável.

424. Como saber se o médium está apto para o tratamento fraterno?


— O tratamento fraterno exige reformas íntimas constantes e gradativas,
e esse esforço o levará à aptidão.
Um médium nunca está “pronto” a trabalho algum, mas sempre em for-
mação e aprendizagem. A mediunidade é como uma fôrma que nos molda,
faz-nos crescer, mas, muitas vezes, prende-nos em nossa vaidade, egoísmo e
orgulho. Dentre todos os desafios que ao médium são impostos, o maior deles
é ser despretensioso, faculdade essa que deve ser exercitada constantemente e,
especialmente, vigiada.
Médiuns, pratiquem a humildade, exerçam a caridade para toda a huma-
nidade.

191
425. Como o médium deve se preparar no dia de atendimento?
— A preparação do médium deve ser constante, não restrita apenas a dias
de tratamento. Deve realizar o maior número de reformas íntimas possíveis,
assim como reformas de pensamentos e controle alimentar.
A. Qual é a alimentação ideal nos dias de tratamento, tanto para os
médiuns quanto para os pacientes?
— Uma alimentação saudável, balanceada, evitando alimentos de origem
animal e abstendo-se de bebidas alcoólicas.
Pensar que a preparação é de importância apenas para dias de atendimento
ou trabalho mediúnico é uma visão equivocada.
A mediunidade é a consequência de uma prova ou expiação, que tem
como objetivo auxiliar o crescimento daqueles que a possuem, demandando,
assim, as reformas íntimas e mudanças necessárias para o crescimento daqueles
indivíduos.
A vida do médium não é representada somente em uma mesa mediúnica
ou em um tratamento fraterno, mas, sim, no seu comportamento diário e me-
lhoria constante e crescente.
Precisai atentar-vos aos sinais de Deus, geralmente enviados através da
consciência, e segui-los.
A paz interior só pode ser conquistada com uma consciência tranquila, e
isso não ocorre por um acaso.
Utilizai-vos do amor que existe no âmago de cada um e modificai vossa
forma de pensar e agir. Que a vida terrestre vos permita despertar o verdadeiro
amor pelo vosso progresso e dos vossos semelhantes.
Foi por amor que tudo se iniciou, é por amor que tudo deve caminhar.

426. Quando o médium está em desequilíbrio em sua vida, pode


exercer os trabalhos espirituais?
— Não, o equilíbrio é pré-requisito para qualquer tipo de trabalho espiri-
tual. Mediar sem equilíbrio seria propagar a desordem energética e psicológica.
A. Como perceber se estamos aptos a exercer os trabalhos espiritu-
ais?
— O autoconhecimento é tão importante quanto a própria prática; conhe-
cer a si mesmo é necessário para auxiliar o próximo.
A mesma caridade que exercemos para com nossos irmãos que buscam
auxílio na casa espírita é necessária para com os trabalhadores, que se encon-
tram também expostos às vicissitudes da vida. O trabalho de caridade não os
torna imunes; cuidar uns dos outros como uma grande família é imprescindível.

192
427. O que faz com que algumas pessoas sintam o tratamento espi-
ritual e outras não?
— A sensibilidade está ligada à fé e merecimento de cada um.
Independentemente das sensações físicas ou visuais durante o tratamento,
o que determina a cura são a fé e a convicção do “paciente”.

428. Os espíritos são capazes de fazer as cirurgias por cima das ves-
tes humanas?
— Sim, não só são como as fazem.
As cirurgias e curas ocorrem no perispírito; desse modo, não se fazem
necessárias intervenções no corpo físico (conforme visto na nota de rodapé n.º 44).

429. Algumas cirurgias espirituais aparecem em exames da Terra.


Como isso é possível?
— A energia pode manipular a matéria.
A. Por que isso ocorre?
— Para despertar a fé.
A fé daqueles que recebem a cura é apenas confirmada pelos exames; ain-
da assim, ela foi essencial para a cura em si.
Não deveis ancorar vossa fé na fé dos outros; todos sois seres que tendes
capacidade de despertar a própria fé, e esta, sim, será de grande ajuda para vos-
sas conquistas físicas e espirituais.
A energia, por sua vez, está em tudo e permite que possais manipular a
matéria através dos vossos pensamentos, sentimentos e fé.

430. Como evitar as dependências excessivas de alguns encarnados


ao tratamento espiritual?
— Instruindo-os; mostrando-lhes a necessidade de ampliar seus estudos
e conhecimentos.
Sejam compassivos com todos, buscando amorosamente libertar os encar-
nados que, inconscientemente, criaram dependência aos tratamentos espiritu-
ais, e direcionem-nos para os estudos e trabalhos voluntários, para entenderem
que o maior tratamento é a caridade e a melhor postura é o equilíbrio.

193
VII – Tecnologia na erraticidade

431. A espiritualidade possui equipamentos para tratar os encarna-


dos?
— Sim, a tecnologia espiritual possui equipamentos preparados para os
tratamentos tanto aos encarnados quanto aos desencarnados.
A. Como funcionam?
— De formas energéticas e fluídicas.
B. Exercem influência sobre a matéria?
— Sim, exercem.
Mais importante do que entender o funcionamento dos equipamentos e
tecnologias erráticas é compreender como podeis tirar maior proveito deles.
A melhor forma de aproveitamento de todas as tecnologias disponibiliza-
das por nós é exercitar vossa fé e realizar vossas reformas íntimas e de pensa-
mentos, o que, por consequência, potencializará nosso trabalho e dos equipa-
mentos.
Não permitais que vossa curiosidade seja maior que vosso credo; mais
importante que a prova da fé através do que vedes é a comprovação dos bene-
fícios que ela promove, através das mudanças diárias e do prosseguir em vossa
evolução.

432. Como funciona o desenvolvimento tecnológico na erraticidade?


— O desenvolvimento ainda foge à compreensão humana, mas a aplica-
ção na Terra acompanha a possibilidade de recebimento energético e o progres-
so dos encarnados.

433. Se a tecnologia da erraticidade é mais adiantada que a da Terra,


por que os espíritos não a compartilham, a fim de nos auxiliar no com-
bate às nossas doenças?
— Serão compartilhadas através de vossas descobertas, sempre que tiver-
des o preparo para isso.
Ainda que haja uma vontade infinita por maior auxílio espiritual ou pelo
desvendar dos mistérios terrestres, é necessário que consigais caminhar “com
vossos próprios pés”, pois, na chegada ao destino, estareis condicionados e
preparados para lidar com tais conquistas. O ser humano deveria exercitar mais
como lidar com aquilo que já descobriu ao invés de apenas tentar desvendar o
que ainda não foi descoberto. Um pássaro não nasce sabendo voar; ele precisa

194
praticar e aprender, e apenas voará quando as asas lhe forem úteis para que trace
seu próprio voo.186

434. Os aparelhos eletrônicos e objetos metálicos podem interferir


nos tratamentos de cura?
— Sim, conforme a ciência da Terra já comprovou.187
Nota: Orientar os frequentadores para que não usem equipamentos ele-
trônicos e objetos metálicos no ambiente de atendimento é muito im-
portante. O metal interfere energeticamente nos campos vibracionais,
conforme a ciência já nos demonstrou.

VIII – Medicina espiritual e medicina terrena


435. Os médicos da Terra podem receber ajuda dos espíritos?
— Não só podem como a recebem o tempo todo, muitas vezes, sem sa-
bê-lo.
A. Os médicos da Terra podem curar doenças no perispírito?
— Não, quem pode curá-lo é o próprio encarnado, através de suas me-
lhorias.

436. Existe uma equipe de espíritos responsável pelos hospitais da


Terra?
— Sim. Existem equipes espirituais por toda a Terra.
A. Como ela procede?
— De forma organizada e hierárquica, amparada por espíritos superiores,

186 O Livro dos Médiuns, capítulo XXVI, item 294, questão 28: “Os Espíritos podem dar orientação,
em pesquisas científicas e descobertas? — A Ciência é obra do gênio; só deve ser adquirida pelo tra-
balho, porque é somente pelo trabalho que o homem avança no seu caminho. [...] cada coisa deve vir
no seu tempo e quando as ideias gerais estão maduras para a receber. [...]”; questão 29: “O sábio e o
inventor nunca são assistidos pelos Espíritos nas suas pesquisas? — [...] Quando chega o tempo de
uma descoberta os Espíritos incumbidos de lhe dirigir a marcha procuram o homem capaz de a levar
a bom termo. Inspiram- lhe as ideias necessárias, com o cuidado de lhe deixar todo o mérito, porque
essas ideias ele terá de elaborar e pôr em execução. Assim acontece com todos os grandes trabalhos
da inteligência humana. [...]”
187 Na literatura, há diversos relatos de interferências de fontes eletromagnéticas, tais como car-
dioversão, ressonância magnética e eletrocirurgia, em dispositivos cardíacos implantados (MISIRI,
KUSUMOTO, GOLDSCHLAGER, 2012). O estudo de Martinsen et al. (2019) mostrou que a cor-
rente, na eletrocirurgia, pode ser conduzida através de um implante de metal, existindo um risco
significativo de danos ao tecido quando utilizada por longos períodos de ativação ou em níveis de alta
potência, dependendo do comprimento e da forma dos implantes. Os riscos à saúde para os pacien-
tes associados à exposição a campos magnéticos estáticos estão relacionados à presença de materiais
ferromagnéticos ou marcapassos cardíacos. São relatados diversos mecanismos de interação entre
tecidos e campos magnéticos estáticos, que podem levar a potenciais efeitos patológicos (FORMICA;
SILVESTRI, 2004).

195
embasada no amor e na competência que exerce.

437. Os médicos espirituais amparam mais facilmente quando o


hospital é moderno e tem equipamentos melhores?
— O amparo não está vinculado à modernização, mas à vibração: nosso
amparo sempre será maior onde houver maior necessidade.
Não poderia ser de forma diferente; o favorecimento espiritual não existe,
o que existe é o merecimento vibracional para que os amparados recebam aqui-
lo que emitiram.

IX – A busca pela cura


A busca constante pela cura do corpo material tem sido o centro das aten-
ções dos encarnados, que, por vários séculos, desenvolveram medicamentos,
tecnologias e novas técnicas, com o intuito de dar longevidade à carne e pro-
mover a evolução. Notoriamente, cuidar do corpo material é essencial e divino,
porém não se pode descuidar do espírito: corpo e espírito devem e podem ser
cuidados simultaneamente.
É importante lembrar que tanto o corpo físico quanto o espiritual são re-
flexos de vossas ações e cuidados.
Para obter a cura no corpo físico e a evolução espiritual, é necessário fé,
conhecimento, persistência e merecimento; portanto, nunca é tarde para fazer
por merecer. Com o passar do tempo e a progressiva evolução, os encarnados
poderão promover a autocura.
O remédio para o espírito é o conhecimento; sua busca deve ser constante
e interminável. O corpo é perecível, o espírito é eterno.

196
CAPÍTULO VII

Enfermidades Psicológicas
Depressão • Suicídio

I – Depressão

Neste mundo de provas e expiações, vossa consciência começa a cobrar-


-vos das mudanças e das reformas necessárias; podeis até praticar o mal por
livre-arbítrio, mas já sabeis discernir o certo do errado.
Estar encarnado é cumprir provas, expiações e dificuldades que mexem
e abalam vossas vibrações o tempo todo. É ter de resistir às tentações, é ser
resistente para suportar a dor da perda, é entender que nada possui, a não ser
o amor e a necessidade constante de evolução. Isso tem gerado um agravo por
pensamentos ruins, um aumento nas vicissitudes e, por consequência, a depres-
são em muitos irmãos.
É importante o cuidado de vossos pensamentos; é através deles que en-
contrais a cura ou criais a doença, que fazeis a guerra ou propagais a paz. O
pensamento é o dom mais precioso que Deus nos concedeu na Criação; é im-
portante que possais aprender a usá-lo corretamente.
As consequências da depressão na vida dos encarnados superam a carne e
ultrapassam gerações, atingindo filhos, netos e descendências futuras. Da mes-
ma forma que os pensamentos ruins se propagam para ocasionar o mal, o amor
e pensamentos bons irradiam-se para o bem; portanto, vós sempre sereis fru-
tos da vossa energia vibracional.

438. O que é a depressão, na visão dos espíritos?


— Como o próprio nome diz, é um declive, uma erosão circunstancial em
um trajeto que tendia a ser reto.
A mente humana possui declives de pensamentos, que decorrem de várias
e diferentes circunstâncias vivenciadas. Lidar com essas erosões subliminares
requer resiliência, autoconhecimento e discernimento, e, para adquirir esses
atributos, alguns espíritos levam mais tempo do que outros.
Essa doença que assola a humanidade atual se propaga como uma espé-
cie de “contágio psíquico”, atingindo crianças, jovens, adultos e idosos; uma
combinação do “fenótipo atual” com o uso fraco da aceitação aos dizeres da
consciência profunda e inerente ao ser.

197
Seu antídoto depende do esforço e do bom uso do livre-arbítrio e, apesar
de ativar reações biológicas, seu início é psíquico.188
Nota: O “contágio psíquico” é fruto da somatização causada pelo con-
vívio coletivo; quanto maior o número de pessoas depressivas, maior a
faixa vibracional afetada, e, consequentemente, essa reação cresce em
progressão geométrica. Um exemplo claro desse fato é que, se voltar-
mos 150 anos, não havia tantas pessoas depressivas em comparação às
que encontramos nos dias atuais.189 Sendo assim, é muito importante
combatermos a negatividade com a positividade e contagiarmos o orbe
terrestre com boas vibrações e bons pensamentos.

439. A depressão é a doença do século?


— Sim, é uma das principais doenças deste século.
A. Como evitá-la?
— A mudança de pensamento e a busca por uma vida saudável e equili-
brada ajudam muito a evitá-la.
B. Ela tem cura?
— Sim.
Nota: Não há nada incurável ou irreversível para Deus.
Tudo pode ser restabelecido e recolocado em ordem, quando souber-
mos resistir à depressão com resignação e resiliência sinceras.
Toda doença tem um remédio, toda dor tem um alívio, todo sofrimento
tem um fim.
Geralmente, o que “mata” não é a doença, mas, sim, como reagimos a
ela; toda prova enfrentada possui um propósito maior para nosso pro-
gresso.190

188 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 25: “Sabeis por que uma vaga tristeza se apodera
por vezes de vossos corações, e vos faz sentir a vida tão amarga? É o vosso Espírito que aspira à
felicidade e à liberdade, mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, se cansa em vãos esforços para
escapar. E, vendo que esses esforços são inúteis, cai no desânimo, fazendo o corpo sofrer sua influ-
ência, com a languidez, o abatimento e uma espécie de apatia, que de vós se apoderam, tornando-vos
infelizes. [...]” – François de Genève
189 Segundo Klerman (1988), existem algumas tendências que foram documentadas, dentre elas, o
aumento e a prevalência da depressão, particularmente após a Segunda Guerra Mundial. De acordo
com Twenge (2020), entre 2011 e 2017-18, os índices de depressão durante a adolescência nos Esta-
dos Unidos aumentaram em ao menos 60%, com um acréscimo maior entre as garotas.
190 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 25: “[...] Acreditai no que vos digo e resisti com
energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. Essas aspirações de uma vida melhor são
inatas no Espírito de todos os homens, mas não a busqueis neste mundo. Agora, que Deus vos envia
os seus Espíritos, para vos instruírem sobre a felicidade que vos está reservada, esperai pacientemente
o anjo da libertação, que vos ajudará a romper os laços que mantêm cativo o vosso Espírito. Pensai
que tendes a cumprir, durante vossa prova na Terra, uma missão de que já não podeis duvidar, seja
pelo devotamento à família, seja no cumprimento dos diversos deveres que Deus vos confiou.
E se, no curso dessa prova, no cumprimento de vossa tarefa, virdes tombarem sobre vós os cuidados,
as inquietações e os pesares, sede fortes e corajosos para os suportar. [...]” – François de Genève

198
440. Que tipos de pensamentos podem dar início a uma depressão?
— Pensamentos ruins, melancólicos e sem utilidade, mas eles podem ser
corrigidos e remodelados de acordo com o esforço do enfermo e auxílio de
todos os que estão à sua volta.
Nota: Já é de vosso conhecimento o poder do pensamento: a neces-
sidade de vigiá-lo e conduzi-lo a um cenário positivo é crucial para o
desenvolvimento do espírito e seu bem-estar (conforme visto na nota de
rodapé n.º 173).

441. A depressão pode levar ao suicídio?


— Sim, se não for tratada a tempo.
Feliz daquele que lhe resiste sem tomar essa triste escolha; tirar a própria
vida acarreta sofrimento e dor.
O suicídio é fruto do livre-arbítrio e, ainda que causado por uma depres-
são, sempre haverá um caminho melhor para seguir.

442. A depressão é uma doença da mente ou um processo obsessivo?


— A depressão é uma doença da mente que, por consequência, provoca
um processo obsessivo.
Não sois depressivos por serdes obsidiados, sois obsidiados por estardes
depressivos.

443. A depressão pode ser tratada somente na casa espírita?


— Não, deve ser tratada simultaneamente com a medicina terrena, assim
como qualquer outra enfermidade.
Nada pode ser tratado apenas em uma casa espírita; na verdade, a maior
parte dos tratamentos exige que ocorram em locais compatíveis com a enfer-
midade, mas também em seu próprio dia a dia, em sua própria mente e espírito.
A casa espírita ou qualquer outra casa de instrução, seja religiosa ou não,
vem como auxílio para consolar e iluminar os passos seguintes, porém, a verda-
deira cura das enfermidades físicas ou mentais começa de dentro para fora em
cada um.

444. Por que a depressão se desenvolve também em crianças?


— Porque as crianças são sugestionáveis e ainda estão com sua personali-
dade em formação.
A. Quais os principais fatores que propiciam a depressão nelas?
— Deformidades de ordem física, projeções psíquicas ou projeções in-
conscientes de experiências passadas, entre outros.
São inúmeras as causas que geram depressão infantil, porém, jamais deveis
deixar de responsabilizar a condução que os tutores terão em cada caso. Uma
criança está em fase de aprendizagem e absorção de informações, portanto, tem

199
seu discernimento alterado com muito mais dinâmica. Pode projetar um quadro
depressivo pela falha de comportamento dos seus familiares, ou por disfunções
genéticas ou mentais, ou, ainda, por rebuscar vivências de encarnações passadas
de modo inconsciente.
Tão importante quanto identificar as causas é saber lidar com elas. De-
pressão é um buraco no caminho, porém, pode ser superada com a conduta
correta, amor, carinho e paciência. Para quem sofre, não está tudo bem, para
quem cuida, deve acreditar que vai ficar.

II – Suicídio

445. O que é o suicídio, segundo os espíritos?


— O suicídio é muito mais do que tirar a própria vida; é retardar a oportu-
nidade de evoluir através das provas do mundo material, é ser ingrato com Deus
e egoísta para com os amados. É acreditar em uma fuga momentânea, enquanto
cria diversos agravos.
A. Quais são suas consequências?
— Proporcionais ao ato; sofrimento e dor até o verdadeiro desprendimen-
to das agonias anteriores ao suicídio.
Cada suicida responde de forma proporcional ao seu nível de conheci-
mento. Aqueles que não compartilham desses pensamentos possuem a obriga-
ção de auxiliar, amparar e encaminhar esses irmãos que sofrem. Não é apenas
fazer o mal que é um equívoco, deixar de praticar o bem também o é.191

446. O que leva uma pessoa ao suicídio?


— Diversas questões, entre elas: vicissitudes, falta de resiliência, falta de fé,
perda da esperança, falta de paz interior.192
O suicida comete esse ato acreditando que, com o fim do corpo físico, ter-
minarão todos os seus problemas; ledo engano: ao deparar-se com a realidade,
terá grande desapontamento, pois a vida que se acaba é somente a orgânica, a
qual está sob sua responsabilidade.
Tendes de preservar o que vos foi emprestado para seguir o caminho do
aprendizado, buscando evoluir e ainda progredir.

191 O Livro dos Espíritos, questão 642: “Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e
assegurar uma situação futura? — Não; é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada
um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.”
192 O que é o Espiritismo, capítulo I, Segundo diálogo – Loucura, suicídio e obsessão: “[...] o Espiritismo
[...] bem compreendido constitui um preservativo contra a loucura e o suicídio. Entre as causas mais
numerosas de excitação cerebral, devem-se contar as decepções, as desgraças, os afetos contrariados,
causas essas que são, também, as mais frequentes do suicídio. [...]”

200
A vida espiritual é concebida para a eternidade, diferentemente da vida
material, que, por ser perecível, depende dos vossos comportamentos para a
durabilidade a que vos foi confiada.

447. O que fazer quando uma pessoa demonstra intenção ao suicí-


dio?
— Fazer prece.193 Ajudar, se assim for capaz, e buscar auxílio com algum
profissional capacitado.
Nota: Ajudar sem a devida capacitação pode atrapalhar; uma pessoa,
quando se encontra nesse cenário mental, está muito sensível a quais-
quer conduções, portanto, pronunciar palavras erradas pode piorar a
situação ao invés de agregar. É necessário que tenhamos a humildade
de trabalhar dentro de nossas limitações, entendendo até que ponto
podemos chegar, pois, muitas vezes, o silenciar e o escutar são a melhor
forma de auxílio.

448. Por que o número de suicídios aumentou entre jovens e crian-


ças?194
— O acréscimo do número de suicídios está vinculado ao aumento de
sugestionamento psíquico.
Nota: Atualmente, o sugestionamento aumentou devido aos facilitado-
res e à mídia em geral, que prevalecem neste plano; as crianças, por
estarem em fase de formação, absorvem-no e, por consequência, criam

193 O Livro dos Espíritos, questão 662, nota explicativa de Kardec: “Possuímos em nós mesmos, pelo
pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera
corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons
Espíritos em auxílio daqueles por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe
darem a força necessária para o corpo e a alma. [...]”
194 De acordo com a Organização Mundial de Saúde (apud WHO, 2019), o suicídio é um sério pro-
blema de saúde pública global. Aproximadamente 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano,
sendo essa a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, de ambos os sexos. Carballo et al.
(2019) reuniram literatura científica relevante abordando fatores de risco psicossociais para suicídio
de crianças e adolescentes. A revisão identificou três fatores principais que parecem aumentar o ris-
co: fatores psicológicos (depressão, ansiedade, tentativa anterior de suicídio, uso de drogas e álcool
e outros transtornos psiquiátricos comórbidos), eventos de vida estressantes (problemas familiares e
conflitos) e traços de personalidade (como neuroticismo e impulsividade).

201
em suas mentes vieses negativos, que as levarão, em seguida, às más
escolhas. Para combater o sugestionamento negativo, basta praticar o
positivo.195

449. O que é a loucura, na visão espírita?


— É a perda da razão.
A. Ela pode induzir ao suicídio?
— Sim.196
Quando um ser chega à loucura e perde sua capacidade de raciocínio, pre-
cisa ser amparado, pois está sendo movido apenas pelos instintos.
Jamais deveis abandonar um irmão que possui essa enfermidade; deveis
vos responsabilizar pela causa e prestar o máximo de auxílio que puderdes.

450. Os espíritos obsessores podem levar seus obsidiados ao suicí-


dio?
— Podem induzi-los a buscar esse caminho, mas a decisão final sempre
caberá ao livre-arbítrio dos obsidiados. O encarnado sempre terá a última deci-
são e, se está simpatizando com espíritos dessa vibração, necessita buscar suas
reformas de pensamentos para, assim, alterar sua companhia.197

195 Através de vários estudos, Twenge (2020) defende que adolescentes e jovens adultos que pas-
sam mais tempo utilizando mídias digitais reportam um bem-estar psicológico inferior, incluindo
menor bem-estar psicológico geral (TWENGE; CAMPBELL, 2019), menor satisfação com a vida
(BOOKER et al., 2015), menos felicidade (TWENGE; MARTIN; CAMPBELL, 2018a), mais senti-
mentos de solidão e isolamento social (PRIMACK et al., 2017) e mais depressão (KELLY et al., 2019;
LIN et al., 2016; TWENGE; CAMPBELL, 2018b). Essas associações são frequentemente considera-
das; por exemplo, adolescentes que passam cinco ou mais horas ao dia (versus uma hora) em disposi-
tivos eletrônicos são 66% mais propensos a ter ao menos um fator de risco para suicídio, e usuários
intensos de internet têm duas vezes mais chances de ficar infelizes em relação aos que fazem menor
uso (TWENGE et al., 2017; TWENGE; MARTIN; CAMPBELL, 2018a). Similarmente, Kelly et al.
(2019) encontraram uma duplicação na depressão de não usuários comparados aos mais frequentes
utilizadores de mídia social.
196 O Livro dos Espíritos, questão 376: “Qual a razão por que a loucura leva algumas vezes ao suicídio?
— O Espírito sofre pelo constrangimento a que está submetido e pela impotência de manifestar-se
livremente. Por isso, busca libertar-se por intermédio da morte.”
197 O Livro dos Espíritos, questão 469: “Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espí-
ritos? — Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espí-
ritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de escutar as sugestões
dos Espíritos que suscitam em vós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós
todas as más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles vos atacam
na vossa fraqueza. Eis porque Jesus vos faz dizer na oração dominical: ‘Senhor, não nos deixeis cair
em tentação, mas livrai-nos do mal!’”

202
451. Os trabalhos de desobsessão podem evitar o suicídio, afastando
os espíritos obsessores?
— Não, a desobsessão é temporária. A realização das reformas íntimas e
verdadeiras mudanças é que permitirão aos encarnados modificarem suas atitu-
des, pensamentos e vibração.
Nota: É um exagero pensar que um trabalho de desobsessão evitará um
suicídio; apesar de auxiliar a aliviar a carga temporária, as reformas ín-
timas são imprescindíveis para esse processo. Assim como Hipócrates,
pai da medicina, ensinou, antes de curar alguém, pergunta-lhe se está
disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer.198

452. Como se situam, segundo os espíritos, os terroristas homicidas


que se embasam em crenças religiosas ao se suicidarem e consigo leva-
rem diversos irmãos?
— Crença alguma justifica esse ato; nesse caso, estão caracterizados o sui-
cídio e o homicídio. Ao optarem por essa escolha, responderão por seus atos,
agravando suas expiações consideravelmente.
A. Ao crerem estar com a verdade, ainda assim, serão responsabili-
zados pelo ato?
— Sim. Mas, em sua consciência, será que creem realmente estar com a
verdade?
O pensamento pode ser modificado com o tempo, mas a consciência é
incorruptível; apenas se aprimora, jamais regride.
B. Qual a responsabilidade dos que os induzem a cometer o suicí-
dio?
— Ainda maior, pois, além de praticarem o mal, estão propagando-o, por-
tanto, responderão pelo ato praticado e por induzirem quem o praticou.199
C. O perispírito também sofre a ação dessa destruição física?
— Depende da importância que o encarnado der a ela. No perispírito
reflete-se o pensamento do encarnado; dessa forma, quanto mais materializado

198 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVIII, item 81: “[...] A uma causa física, opõe-se uma
força física; a uma causa moral, é necessário opor uma força moral. Para preservar das doenças, for-
tifica-se o corpo; para garantir contra a obsessão, é necessário fortificar a alma. Disso resulta que o
obsedado precisa trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para o
livrar do obsessor [...]”
199 O Livro dos Espíritos, questão 946-a: “Os que levaram o desgraçado a esse ato de desespero sofre-
rão as conseqüências disso? — Oh! Infelizes deles! Porque responderão como por um assassínio.”

203
o encarnado for, mais as más ações ficarão gravadas nele; quanto menos mate-
rializado, menos ficarão.200

453. Espíritos podem sugestionar os suicidas a permanecerem nas


regiões umbralinas, a fim de puni-los?
— Podem convidá-los, porém, a decisão de ir ou não caberá a cada suici-
da. Sempre haverá o convite ao bom e ao mau caminho. A decisão cabe ao li-
vre-arbítrio de cada um (conforme visto na questão 258). Ninguém pode induzir-vos
a algo com que não concordais; o livre- arbítrio, uma ferramenta concebida por
Deus, é soberano a quase tudo dentro do universo e é através dele que vos é
dada a oportunidade de progredir ou estagnar, de acordo com vossa vontade,
proporcional ao vosso esforço.

454. O suicídio leva o espírito a cumprir na encarnação seguinte o


tempo que lhe restava, caso não o tivesse cometido?
— Não, o suicídio levará o espírito a cumprir novas expiações, proporcio-
nais ao seu nível de consciência ao praticar esse ato. A vida de encarnado é uma
enorme oportunidade que o espírito recebe para evoluir e desmaterializar-se.
Tirar a própria vida vai contra as leis de Deus, e essa má escolha resultará em
consequências proporcionais.201
A. O que acontece com os fluidos vitais restantes ao se interromper
a vida por suicídio, antes do tempo programado?
— Sofrerão uma transformação, extinguindo-se no encarnado e tendo
continuidade nos seres, pelo processo de decomposição, conforme já dissemos
(conforme visto na questão 71).
O livre-arbítrio é uma das maiores provas do amor de Deus por nós, tanto
que nenhuma lei divina é capaz de anular a lei do livre-arbítrio; nem mesmo
a influência de nosso anjo guardião o anula. Quando o encarnado ignora sua
consciência (voz de Deus em nós) e opta por tirar a vida do próprio corpo, sua
expiação estará diretamente ligada ao que sua consciência lhe cobrar. No entan-

200 O Livro dos Espíritos, questão 155-a, nota explicativa de Kardec: “[...] É lógico admitir que quanto
mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado,
a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento,
mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea. Este é o resultado dos
estudos efetuados sobre todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações
provam ainda que a afinidade que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo, é às vezes
muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excep-
cional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns suicídios.”
201 O Céu e o Inferno – Segunda Parte, capítulo V, O pai e o conscrito, Observações: “[...] Esta lhe foi
dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob
pretexto algum. Mas ao homem – uma vez que tem o seu livre-arbítrio – ninguém impede a infração
dessa lei. Sujeita-se porém às suas consequências. [...]”

204
to, Deus, em Sua misericórdia infinita, não deixa desamparado nenhum de seus
filhos. Ao suicidar- se, os fluidos vitais que antes animavam o corpo do suicida
se dirigem, agora, para demais seres da cadeia natural de subsistência e fazem
com que esses encarregados dos processos de decomposição devolvam ao pla-
neta tais fluidos, já processados, em forma de energia e matéria orgânica, para
que, dessa forma, possam alimentar e fazer a manutenção da vida de outros se-
res. Não é de forma matemática; os planos de Deus são muito mais complexos
do que imaginais. “Tudo na natureza se encadeia [...]”202 de forma harmônica,
e mesmo o exercício e o mau uso do livre-arbítrio são utilizados por Deus para
ajudar toda a Sua criação.

455. Como a Doutrina Espírita pode auxiliar na prevenção ao suicí-


dio?
— A ajuda não é uma exclusividade da Doutrina Espírita; qualquer religião
ou espécie de caridade auxilia, acolhendo, ouvindo, instruindo e dando um sen-
tido a essas encarnações.203

456. O anjo da guarda pode impedir o suicídio?


— Pode ajudar a impedi-lo, desde que a vibração do encarnado permita.204

457. Como o suicida é visto perante a lei de Deus?


— Como um filho que tropeçou e terá novas oportunidades para se redimir.
Nota: Ninguém será abandonado pelo seu Criador; não há falha ou
equívoco que não mereça redenção.
Nosso Deus não julga, não condena, não pune; apenas nos direciona
à evolução através de Seu infinito amor. Precisamos adquirir o hábito
de nos reformarmos através de nossas boas escolhas diárias. Mais im-

202 O Livro dos Espíritos, questão 604


203 Estudos revelam que fatores religiosos e espirituais estão cada vez mais sendo investigados na
pesquisa psiquiátrica e sugerem que a religião pode ajudar as pessoas a enfrentar melhor as tensões da
vida, reduzir a incidência de depressão e abuso de substâncias, facilitar a recuperação da depressão,
melhorar o apoio social e fornecer fontes de esperança, significado na vida, maior autoestima, otimis-
mo e satisfação com a vida (KOENIG, 2009; DEIN, 2018).
204 O Livro dos Espíritos, questão 495: “O Espírito protetor abandona às vezes o protegido, quando
este se mostra rebelde às suas advertências? Afasta-se, quando vê que os seus conselhos são inúteis
e que é mais forte a vontade do protegido em submeter-se à influência dos Espíritos inferiores, mas
não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. [...]”
Texto complementar: “Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto
e por sua doçura: a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre ao vosso lado seres que vos são
superiores, que estão sempre ali para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a montanha
escarpada do bem, que são amigos mais firmes e mais devotados que as mais íntimas ligações que se
possam contrair na Terra, não é essa uma ideia bastante consoladora? Esses seres ali estão por ordem
de Deus, que os colocou ao vosso lado [...]” – São Luís, Santo Agostinho

205
portante que o modo como seremos vistos perante a lei divina é como
agiremos para alcançar uma evolução maior através dela.
Irmãos, conforme já vos foi dito, ajudai-nos a ajudar-vos; da mesma
forma que a natureza depende da transformação para progredir, o ho-
mem dependerá de suas mudanças para aprimorar-se. Não temais o tro-
peço ou a falta, aprendei a caminhar, a fim de tropeçar cada vez menos
e seguir no caminho do bem.

458. O que o suicida encontra após a morte?


— Dor, sofrimento, arrependimento e solidão. Porém, também encontra
a oportunidade de se redimir.
A. O suicida tem, de fato, desejo de fuga antes de praticar o ato?
— Sim. Acredita que, tirando a própria vida, cessará sua dor. Ledo engano:
apenas encerra o ciclo da carne, não o do espírito, pois este é eterno.
B. O suicida realmente quer a morte?
— A morte não é o objetivo, mas a sua forma de fuga.
A questão não está naquilo que o suicida quer ao cometer esse ato, mas,
sim, no que ele pretende evitar. Em geral, busca o não enfrentamento das ques-
tões que o atormentam profundamente. O caminho mais fácil é o da fuga, ele
dá a falsa sensação de alívio momentâneo, porém o suicida irá se deparar com
a maior das dores ao realizar essa escolha: a dor de tirar a própria vida, a qual
é uma oportunidade única de evoluir através da carne. Mencionamos ser única
pois, apesar de ser plural, duas vidas jamais terão a mesma experiência.

459. Como lidar com o luto pelo suicídio de uma pessoa querida?
— Todo processo de luto exige paz e compreensão;205 o amor intenciona-
do através das palavras corretas pode e deve auxiliar os que sofrem a perda de
um ente querido.206 Onde houver amor, haverá esperança e o entendimento de

205 Estudos demonstram que quatro prognósticos cognitivos (características de memória, avaliações
negativas, estratégias de enfrentamento, resiliência do luto) foram significativamente associados à in-
tensidade do luto no decorrer do período analisado (SMITH; EJLERS, 2020). Embora a maioria dos
indivíduos sob luto termine por se adaptar à perda de um ente querido com mais ou menos sucesso,
uma minoria significativamente identificável experimentará luto crônico e incapacitante. O diagnós-
tico de transtorno por luto prolongado tem o potencial de melhorar a detecção e tratamento eficaz
de causa substancial de morbidade entre pessoas que sofreram a perda de uma pessoa importante
(PRIGERSON et al., 2009).
206 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVIII, item 72: “Sabemos qual a sorte que espera os
que violam a vossa lei, Senhor, para abreviar voluntariamente os seus dias! Mas sabemos também
que a vossa misericórdia é infinita. [...] E possam as nossas preces e a vossa comiseração abrandar as
amarguras dos sofrimentos que suporta, por não ter tido a coragem de esperar o fim das suas provas!
Bons Espíritos, cuja missão é assistir os infelizes, tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o remorso
pela falta cometida, e que a vossa assistência lhe dê a força de enfrentar com mais resignação as novas
provas que terá de sofrer, para repará-la. [...]”

206
que, apesar de a carne ser perecível, o espírito é eterno e está em constante aprendi-
zagem, transformação e crescimento, que o levarão ao progresso. Portanto, indepen-
dentemente do tempo que leve, todos nós temos de prosseguir e confiar no tempo
de Deus, para que tudo se resolva da forma mais amena e natural.

Francisco Cândido Xavier


Matão, 11 de novembro de 2019.

207
Parte terceira

A Moral
CAPÍTULO I
Moral dos Homens

CAPÍTULO II
Sexualidade, Sexo e Moral

CAPÍTULO III
A Consciência

CAPÍTULO IV
Flagelos Destruidores

CAPÍTULO V
As Penas Futuras

208
CAPÍTULO I

Moral dos Homens


Moral e evolução • A moral • O homem e a moral • A mulher no mundo
• Moral coletiva • Moral e a sociedade

I – Moral e evolução

Às regras estabelecidas e aceitas por uma comunidade por determinado


espaço de tempo, chamamos de “moral”, portanto, ela é mutável, de acordo
com a evolução da humanidade e da sociedade.
O que outrora era moral amanhã poderá não ser, bem como aquilo que já
foi moral um dia e é imoral hoje.
Sendo assim, estabelecemos que a moral está completamente interligada
à evolução humana e, principalmente, à percepção de valores comuns de uma
sociedade.
Sabemos que existem as leis dos homens, que foram feitas para fazer cum-
prir as condutas sociais, e seu descumprimento acarreta punição entre os encar-
nados. Entretanto, já vos questionais se essas mesmas leis, que foram elaboradas
para servir como guia na conduta, muitas vezes, não são a muleta necessária
para tornar legais as atitudes imorais?
“Sou um rei, era um escravo; eu pagava um tributo à república, hoje ela
me sustenta” (MONTESQUIEU, 2000, p. 122). Em outras palavras, nem tudo
aquilo que é lícito é moral.
Aquele que se utiliza da legalidade para adquirir benefícios que não lhe
pertenceriam por direito responderá por suas atitudes, pois não há ganho imo-
ral que não prejudique outrem.
Haverá um tempo em que não serão necessárias as leis punitivas dos ho-
mens, pois todos terão em sua consciência as leis de Deus. Até que esse instante
chegue, buscai em vossa consciência o real sentido de ser moral.

209
Aquele que levar vantagem na Terra já terá tido sua recompensa e, ao
adentrar o plano espiritual, não terá nada mais a receber.207
A moral é um dos alicerces da evolução, garantindo que toda uma socie-
dade evolua, e não apenas um indivíduo. Quando é bem formada, bem consti-
tuída, pode transformar positivamente uma nação, entretanto, quando é falha,
pode levá-la ao caos e à destruição.
Hoje não há o uso de armas nucleares, todavia, a humanidade vive uma
guerra moral sem precedentes. É necessário entender o prejuízo coletivo causa-
do ao beneficiar-se com o que é de direito do próximo. A mudança do planeta
começa através de cada indivíduo, e aqueles que têm poder na Terra neste ins-
tante são um reflexo de sua própria moral momentânea.

II – A moral

460. O que é a moral, segundo os espíritos?


— Moral é a regra de boas condutas definidas pela sociedade de uma
época, a distinção entre o bem e o mal; consiste em observar as leis de Deus e
colocá-las em prática através do esforço e da resignação.208

461. De onde vem a moral?


— A moral absoluta vem de Deus, entretanto, ela é proporcional ao
estado evolutivo do encarnado, estando em diferentes estágios, de acordo com
a evolução da sociedade de sua época.

207 Lc 6:24 – “Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!”


O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVI, item 10: “[...] Deus pode ter querido recompensar, du-
rante esta vida, os seus esforços, a sua coragem, a sua perseverança; mas se ele somente a empregou
para a satisfação dos seus sentidos e do seu orgulho, se ela se tornou para ele uma causa de queda,
melhor seria não a ter possuído. Nesse caso, ele perde de um lado o que ganhou de outro, anulando
por si mesmo o mérito do seu trabalho, e quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua
recompensa.” – Espírito Protetor
208 O Livro dos Espíritos, questão 629: “Que definição se pode dar à moral? — A moral é a regra da
boa conduta e portanto da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O
homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então
observa a lei de Deus.”

210
462. Os princípios morais são universais?
— Os princípios morais são, já a prática desses princípios, não. Apesar de
a sociedade definir a moralidade em sua respectiva época, as práticas variam de
acordo com a evolução individual.209

463. Como saber o que é imoral?


— Como não saber? Olhai o que está intrínseco em vossa consciência e o
que é reafirmado pela vossa sociedade. Não enxergará apenas quem não quiser
ver.210

464. Como a consciência moral se desenvolve e se depura?


— A consciência moral desenvolve-se de acordo com o progresso social;
a depuração é uma espécie de evolução. Portanto, quanto mais a humanidade
evolui, mais os valores morais serão depurados como um todo.211

465. Foi Jesus quem apresentou o amor como fundamental para a


vida, dando início ao primado do dever e da moral?
— Jesus contribuiu muito através dos seus exemplos, entretanto, o dever
moral nasceu muito antes de sua vinda ao mundo dos encarnados.212

209 O Livro dos Espíritos, questão 636: “O bem e o mal são absolutos para todos os homens? — A lei
de Deus é a mesma para todos: mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo.
O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está
no grau de responsabilidade.”
210 O Livro dos Espíritos, questão 621: “Onde está escrita a lei de Deus? — Na consciência.”; questão
621-a: “Desde que o homem traz na consciência a lei de Deus, que necessidade tem de que lha reve-
lem? — Ele a havia esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse lembrada.”
211 O Livro dos Espíritos, questão 791: “A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males
que tenha produzido? — Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto
não pode vir antes da flor.”
212 O Livro dos Espíritos, questão 647: “Toda a lei de Deus está encerrada na máxima do amor ao pró-
ximo ensinada por Jesus? — Certamente essa máxima encerra todos os deveres dos homens entre si;
mas é necessário mostrar-lhes a aplicação, pois do contrário podem negligenciá-la, como já o fazem
hoje. Aliás, a lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa máxima se refere apenas a
um dos seus aspectos. Os homens necessitam de regras precisas. Os preceitos gerais e muito vagos
deixam muitas portas abertas à interpretação.”

211
466. Jesus, quando disse que “Tudo o que quereis que os homens
vos façam, fazei-o vós a eles [...]” (Mt 7:12), resumiu todo o princípio
moral?
— Todo, não, mas grande parte dele; o princípio moral não está apenas
em realizar aos outros aquilo que desejais, mas também em desejar com maior
pureza; esse processo leva tempo, porém, faz parte da evolução.213

III – O homem e a moral

Entre tantas etapas de aprendizagem pelas quais passamos em nossa exis-


tência como espírito, a fase humana é a que nos traz a dependência absoluta de
nossos semelhantes para nosso desenvolvimento.
O ser humano é essencialmente gregário, diferentemente da maioria das
espécies de animais. Quando estamos no estágio humano, dependemos do meio
externo para desenvolver nossa cognição, cultura, raciocínio e, até mesmo, para
questões básicas, como nos alimentarmos.
Uma tartaruga, quando nasce na praia, instintivamente sabe que deve
quebrar seu ovo e alcançar o mar para sobreviver; algumas espécies de peixes
“sabem” que precisam migrar dos rios em que nasceram, nadando por longas
distâncias pelo oceano, para se reproduzir.
Nos humanos, entretanto, o processo é diferente: quando nascem, depen-
dem de seus tutores para que os alimentem, dos seus professores, para que os
instruam, e da sociedade, para que os conduzam ao progresso.
Portanto, percebemos que o ser encarnado mais evoluído do planeta é
também o mais dependente de auxílio para prosperar. Isso não ocorre ocasio-
nalmente: nas entrelinhas é que acontecem os ensinamentos de Deus, demons-
trando que a evolução é dependente de auxiliarmos uns aos outros na busca
pelo progresso.
Sendo assim, nosso desenvolvimento depende da sociedade, e os valores
desta é que definem a moral. Portanto, identificamos que a somatória daquilo
que fazemos por livre-arbítrio, mesmo que ninguém esteja vendo (individual-
mente), é indispensável na formação da moral de toda uma sociedade; afinal, a
moral coletiva é a soma de todos os valores individuais, chegando a um “deno-
minador comum”.
Se somos dependentes dos nossos semelhantes e nossa moral refletirá em

213 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 4: “[...] Não se pode ter, neste caso, guia mais
seguro do que tomando como medida do que se deve fazer aos outros o que se deseja para si mesmo.
Com que direito exigiríamos de nossos semelhantes melhor tratamento, mais indulgência, benevolên-
cia e devotamento, do que lhes damos? A prática dessas máximas leva à destruição do egoísmo. [...]”

212
toda a sociedade, concluímos que uma atitude isolada acabará influenciando
todas as outras.
O desenvolvimento moral é uma busca incessante de todos os espíritos,
entretanto, não ceder às tentações e facilidades que a vida encarnada traz é uma
prova difícil, exigindo desprendimento material e convicção nos valores pro-
postos por Cristo.
Podemos absorver aquilo que está correto no planeta e tentar modificar o
que não está exercitando os valores intrínsecos em nossa consciência.
Não devemos nos embasar nos maus exemplos para definir nossos pró-
prios valores. Não é porque alguém é imoral que temos o direito de sê-lo. Em
verdade, temos o dever de fazer nossa parte, transformando a moral daqueles
com quem convivemos através do exemplo.

467. Na visão dos espíritos, o que é preciso para ser um homem


virtuoso?
— O homem que se inspira na virtude, cultivando suas qualidades e se
esforçando para aprimorá-las constantemente está no caminho certo.214

468. Em que momento podemos afirmar que um indivíduo se en-


contra em estágio superior de adiantamento moral?
— No momento em que exemplifica o bem que aprendeu; quando se
conduz de acordo com sua consciência, pensando no bem de todos e agindo da
mesma forma que pensa.215
O homem frequentemente busca compreender as virtudes, no entanto,
pouco esforço faz para conquistá-las. Elas não virão de uma forma automática
e com inércia, mas serão frutos de um esforço, exemplificado em uma ação
prática. A virtude de um homem não está naquilo que possui, mas em como
utiliza aquilo que conquistou, não apenas materialmente, como também moral
e espiritualmente. Se buscais aprimoramento, não crieis a ilusão de consegui-lo
sem o devido esforço, resignação e perseverança. Colheis hoje aquilo que plan-
tastes no pretérito.

214 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 8: “A virtude, no seu grau mais elevado,
abrange o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, ca-
ridoso, trabalhador, sóbrio, modesto, são as qualidades do homem virtuoso. [...] A virtude realmente
digna desse nome não gosta de exibir-se. Temos de adivinhá-la, mas ela se esconde na sombra, foge
à admiração das multidões. [...]” – François-Nicolas-Madeleine
215 O Livro dos Espíritos, questão 893: “Qual a mais meritória de todas as virtudes? — Todas as virtu-
des têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtude sem-
pre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude
consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais
meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada.”

213
469. A vivência moral tem o poder de conduzir a pessoa à plena re-
alização?
— Plena, não. A plenitude é uma busca que depende de diversos fatores,
a moral, entre eles; no entanto, não se sujeita apenas a ela. Existem outras vir-
tudes imprescindíveis para a realização plena, como, por exemplo, o intelecto
e o amor.

470. Como explicar tantos desvios morais?


— O livre-arbítrio é a maior explicação de todos os desvios, sendo eles
morais ou não.216

471. Mesmo com todo conhecimento adquirido, poderíamos dizer


que estamos regredindo moralmente?
— Não, porém, em alguns aspectos, estagnados. Essa impressão ocorre
por haver discrepâncias de comportamento de alguns indivíduos perante a mo-
ral da sociedade; entretanto, essa é mais uma prova de que estais evoluindo, pois
o que hoje recriminais em alguns aceitaríeis passivamente ou ainda teríeis como
certo pela maioria séculos atrás.217

472. De que forma pessoas mais intelectualizadas podem contribuir


para o desenvolvimento moral da humanidade?
— Sendo a inteligência um dos principais atributos do espírito, possuí- la
desenvolvida significa ser responsável pela sua melhor utilização. Aqueles que
possuem um intelecto mais aprimorado têm por obrigação auxiliar os irmãos
que ainda não alcançaram esse estágio. Existem muitas formas de contribuição,
as quais dependerão de que áreas intelectuais esse indivíduo possui desenvolvi-
das, por exemplo: se possui uma inteligência emocional aprimorada, será capaz
de despertá-la naqueles que ainda não a despertaram.218

216 O Livro dos Espíritos, questão 121: “Por que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem, e ou-
tros o do mal? — Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e
ignorantes, ou seja, tão aptos para o bem quanto para o mal; os que são maus, assim se tornaram por
sua vontade.”
217 O Livro dos Espíritos, questão 784: “A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que
ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral? — Enganas-te. Observa
bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia
corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender a necessidade
do bem e das reformas.”
218 O Livro dos Espíritos, questão 779: “O homem tira de si mesmo a energia progressiva ou o progres-
so não é mais do que o resultado de um ensinamento? — O homem se desenvolve por si mesmo,
naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais
adiantados ajudam os outros a progredir, pelo contato social.”

214
Dai aos outros aquilo que um dia vos foi dado, pois “é dando que se re-
cebe.”219

473. Chegará um dia em que a moral estará intrínseca ao indivíduo?


— Chegará um dia em que o indivíduo estará intrínseco à moral. Como
ela provém de Deus, é absoluta; quem precisa buscá-la e compreendê- la somos
nós, desencarnados e encarnados.

474. Diante da frase encontrada em O Evangelho segundo o Espiritis-


mo, capítulo XVII, item 4: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral, e pelos esforços que faz para dominar suas más
inclinações”, essa afirmação é válida, visto que todo homem pode se
transformar moralmente?
— Sim. O Espiritismo revelou-se ao mundo com o propósito de libertar
os encarnados através do conhecimento, fazendo-os, consequentemente, agi-
rem para o bem próprio e de toda a humanidade. Entretanto, ele não é o cami-
nho absoluto da transformação moral; ela acontece de acordo com a prática do
encarnado, independentemente de qual crença siga. Fora da caridade, não há
salvação; fora do Espiritismo, há.220

O verdadeiro tesouro
O verdadeiro valor do homem não está em sua toga ou em seus bens, mas
em sua moral, comportamento e bondade. Envolvido por séculos de ganância,
avareza e luxúria, o homem vem conduzindo-se por caminhos não louváveis
em busca do material, perdendo o foco do que realmente importa na constru-
ção da ética social.
As disparidades entre as posses de bens materiais ecoaram por séculos em
divergências e distinções na forma de amar os irmãos. Abandonastes os ensina-
mentos exemplificados por Cristo e até mesmo as leis de Deus e, inundados de
orgulho e egoísmo, buscais incansavelmente o perecível.
Prosperar materialmente é apenas uma ferramenta de evolução do espírito

219 At 20:35 – “Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e
lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: ‘É maior felicidade dar do que
receber!’”. Conhecida popularmente como “Prece da Paz”, ou “Prece de São Francisco” – autoria
anônima.
220 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo XI, item 14: “[...] O culto religioso que estiver de posse
da verdade absoluta nada terá a temer da luz, porque a luz fará ressaltar a verdade [...].”; O Evangelho
segundo o Espiritismo, capítulo VIII, item 10: “[...] A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus.
Mas o homem não chega a Deus enquanto não se fizer perfeito. Toda religião, portanto, que não
melhorar o homem, não atinge a sua finalidade. [...]”

215
disponibilizada por Deus, no entanto, infelizmente, tornou-se o principal obje-
tivo atual de alguns encarnados, fazendo-os se esquecerem de que o verdadeiro
reino não é o material.
Felizes daqueles que enxergam os verdadeiros valores e interpretam corre-
tamente o sentido do progresso. Estes receberão o reflexo de suas boas ações,
na alegria e prosperidade de seus irmãos. Possuir riquezas na Terra é uma enor-
me responsabilidade, pois, para progredir e sustentar o progresso alheio através
da caridade, é necessário despretensão e discrição.
Ai daqueles que têm como principal objetivo de existência as recompensas
materiais e se esquecem da responsabilidade de compartilhar com aqueles que
menos possuem. Estes vivenciarão a verdadeira “pobreza” na erraticidade e,
então, perceberão que o outrora “valioso” agora não possui valor algum. “Fora
da caridade, não há salvação.”
A compreensão dos desígnios de Deus, interpretando que, de acordo com
a Justiça Divina, vivenciareis múltiplas experiências carnais e espirituais,
vos fará enxergar que, se hoje sois os provedores, amanhã sereis os ne-
cessitados. Amar ao próximo incondicionalmente, compartilhar e abrir mão
do egoísmo, é amar a Deus.
Conquistai com esforço, compartilhai sem pretensão, e recebereis por me-
recimento.
Paulo de Tarso
Matão, 5 de junho de 2020.

IV – A mulher no mundo

É importante saber discernir a mulher do plano espiritual e a do plano


material: no mundo espiritual, não se possui sexo definido; assim, ao espírito,
ser mulher ou homem é apenas a escolha da “vestimenta” da qual ele fará uso
para se apresentar aos outros espíritos ou aos encarnados. Já no mundo mate-
rial, isso acontece de forma diferente: vós sois, hoje, tendo-se em consideração
a dominância masculina e o machismo durante os últimos milhares de anos, o
reflexo de vosso pretérito. A humanidade viveu um processo evolutivo no qual
a força bruta (física) imperou, e lá, o homem prevaleceu como condutor de
normas e regras que iriam escrever as histórias do futuro. Atualmente, ainda é
comum que a maioria dos principais cargos e posições sociais estejam ocupados
por homens, o que não precisaria ser uma regra.
Nos dias presentes, há uma grande diferença em relação ao passado: ape-
sar de vós, mulheres, ainda não ocupardes vossa posição de direito, já sois ca-
pazes de racionalizar a igualdade entre os sexos. O desenvolvimento humano,
daqui por diante, tende a ser igualitário, transformando em supérfluas e desne-
cessárias vossas diferenças pretéritas. Qualquer pessoa em sã consciência jamais

216
questionaria o valor da mulher, pois ela é a única capaz de gerar a vida e, em al-
guns casos, sem sequer precisar da ajuda masculina. Contudo, há uma diferença
entre racionalizar e praticar essa igualdade; esta, nós, espíritos, acreditamos que
deva ser o centro de vossa atenção, doravante. Um dia, entendereis que vossas
existências ocorrem em ambos os sexos; portanto, é imprescindível respeitardes
as diferenças físicas em prol da igualdade espiritual.

475. Qual a visão dos espíritos acerca da atual condição social da


mulher no planeta?
— Que a mulher ainda não ocupa seu lugar de direito, devido ao curso
e ao rumo que a evolução humana tomou pela utilização do livre-arbítrio, va-
lorizando, por grande parte do tempo, a força física. Contudo, percebeis que
essa evolução, levando a equiparações que, no pretérito, pareciam improváveis,
ocorre de acordo com o desenvolvimento intelectual e moral da humanidade?
No futuro, a mulher e o homem ocuparão a mesma posição no plano material,
pois é assim que acontece no plano espiritual.

476. Qual é o lugar que a mulher deve ocupar na sociedade?


— O lugar que ela desejar, conquistado através de seu livre-arbítrio e es-
forço; portanto, deve ser, sem que haja diferenciação entre os sexos, fruto do
mérito de suas ações.

477. Quando todas as mulheres poderão ter reconhecidos os seus


direitos, diante das barbáries cometidas contra elas ao longo da história?
— Perante nós, já os possuem reconhecidos; perante os encarnados, seus
direitos serão fruto do processo natural que vem ocorrendo nos dias atuais. A
igualdade das mulheres na sociedade já está despertada na consciência da maio-
ria dos indivíduos e é uma questão de tempo para que se torne algo inerente a
todas as consciências humanas.

478. Por qual propósito Deus permite tanta desigualdade entre o


homem e a mulher?
— Deus tudo permite (livre-arbítrio), mas nem tudo aprova (consciência);
o propósito de todas as dores do mundo sempre será o da evolução do espírito.
Ainda que discordeis da forma, confiai no propósito, pois Ele sempre sabe o
que faz.

479. Por que a mulher ainda é tratada intelectual e economicamente

217
com inferioridade?
— As desigualdades que habitam o mundo não são oriundas de Deus, mas
das más escolhas dos homens. Por conseguinte, quaisquer desigualdades são
temporárias; posteriormente, a evolução certamente as liquidará.

480. Por que as discussões sobre os gêneros, que já ocorriam à épo-


ca, foram pouco abordadas na primeira obra?
— Não podíamos discorrer sobre alguns assuntos, os quais a humanidade
ainda não estava pronta para compreender. Tudo surge na hora adequada e no
momento útil; mais de 150 anos depois, já podemos tratar de tal tema, pois, para
isso, estais prontos.

481. Qual o caminho para romper com o ciclo de desigualdade de


gênero, perpetuado ao longo dos séculos?
— O caminho é o natural; com o passar dos anos e a consequente evolu-
ção, o homem tende a romper com diversos paradigmas outrora estabelecidos,
fazendo que a mulher possa ocupar, de fato, seu lugar de direito na sociedade.
Contudo, a velocidade em que ocorre esse processo, amparado pelo bom senso
e pela consciência, é oriunda do livre-arbítrio e do poder de aceitação da ver-
dade.

482. A educação que proporcionamos atualmente reforça o compor-


tamento machista?
— Não necessariamente a educação, mas, sim, a forma com que assimilais
o que vos é proporcionado. Depende de vós aprender a interpretar, de forma
construtiva ou destrutiva, o que vos é dado.
A. Qual a melhor forma de educar as crianças para não reproduzi-
rem o patriarcado?
— Não há nada de errado em reproduzirem o patriarcado, contudo, o
erro está em não educá-las para reproduzirem, igualitariamente, o matriarcado.
Respeitar pai e mãe é uma lei divina.221

483. Qual é a visão dos espíritos sobre a feminilidade?


— Quando originária dos fatores biológicos que distinguem os sexos, en-
quanto estais encarnados, a feminilidade é natural; porém, sua ausência não
deve gerar julgamento ou condenação social.
A. É essencial, de fato, que uma mulher seja feminina, ou a femini-

221Ex 20:12 – “Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o
Senhor, teu Deus.”

218
lidade é mera construção social?
— Conforme já dissemos, é natural, porém não essencial; o respeito, por
sua vez, é indispensável a qualquer espírito, independentemente do sexo que
ocupe no corpo físico.

484. Nos dias de hoje, ainda é culturalmente enraizado que as mu-


lheres possuam quase toda a responsabilidade sobre a criação dos filhos,
o que as sobrecarrega, ficando divididas entre trabalhar, cuidar da casa e
educar as crianças. A sobrecarga materna e a ausência da responsabili-
dade paterna prejudicam a educação e o desenvolvimento das crianças?
— A responsabilidade da criação deve ser equivalente entre os pais. Ne-
nhuma sobrecarga é saudável, porém, muitas vezes, as circunstâncias terrenas
fazem que, devido ao mau uso do livre-arbítrio por parte do pai, a mãe seja des-
tinada a criar sozinha o filho. Saibam, pois, que essas mulheres são amparadas
por nós e jamais estão sozinhas aos olhos de Deus, ocorrendo da mesma forma
ao haver o inverso desses papéis.
A. Que consequências isso poderá acarretar nas gerações futuras?
— Caso vós não desenvolverdes a resiliência necessária, isso poderá cau-
sar consequências negativas para os vossos filhos; contudo, quanto peso seríeis
capazes de suportar em prol de um objetivo tão nobre quanto a criação de um
filho? Quando a vida vos tira o auxílio material, Deus, por Sua vez, vos compen-
sa com amparo espiritual; não estais sozinhos.

485. Há prejuízo espiritual para as mulheres que optam por não se-
rem mães?
— Não, é apenas uma escolha, desde que tenham feito essa opção por
razões justas e que não remetam ao egoísmo.
A. E para as que entregam seus filhos para adoção?
— Sim. Não podeis destinar a outrem uma responsabilidade que vos per-
tence, e, independentemente do quanto ela pareça ser, sob algumas circuns-
tâncias, mais árdua aos vossos olhos, assumir tal responsabilidade sempre será
possível aos olhos de Deus.

486. Por que nos deparamos com tantos casos de feminicídio, prin-
cipalmente no ambiente familiar?
— Pelos mesmos motivos que vos deparais com tantas outras atrocidades
humanas. A relação familiar potencializa os males e os crimes passionais, pois
o mesmo convívio que permite o afloramento do amor assoma, quando mal-
-intencionado, o ódio oriundo do egoísmo. Para vos aproximardes de Deus a
ponto de enxergar todos como irmãos, será necessário despirdes dessas vestes
que vos corrompem.

219
487. A alta taxa de feminicídio atual é mera consequência da desi-
gualdade de gênero, que sempre existiu, ou é reforçada pelos meios de
comunicação e pelo sistema ineficaz de leis?
— Uma e outra coisa. As leis e os meios de comunicação da Terra tendem
a se aprimorar com o caminhar do processo evolutivo, até o momento em que
não serão mais necessários. Em um mundo evoluído, as leis que imperam são
as de Deus, e a consciência já cumpre as funções de ponderação e de equilíbrio
na ordem universal.

488. Qual é a visão dos espíritos sobre o feminicídio?


— É uma falta grave, pois a preservação da vida é uma lei divina. Todo
aquele que pratica o mal a outrem está agravando suas provas e expiações na
proporção do mal que cometeu, e esse agravo pode ser amplificado devido à
impossibilidade de defesa do oprimido. Contudo, com o passar do tempo e a
consequente evolução humana, o amor deverá imperar no planeta; a duração
desse processo depende do esforço dos que o habitam.
A. Feminicídio pode provir de um processo obsessivo?
— Não, as más ações é que convidam os obsessores a se aproximarem de
quem as comete, e não o contrário. O processo obsessivo é fruto de comporta-
mentos ou de hábitos indevidos. Nenhum espírito pode levar alguém a puxar o
gatilho, já que o livre-arbítrio é um atributo dado por Deus e, portanto, soberano.
B. De que forma podemos combater o feminicídio?
— Com amor, do mais sincero, exemplificado através de ações diárias por
quem o promove; dessa forma, combate-se o ódio.

489. Por que a omissão da sociedade é tão comum nos casos de vio-
lência contra a mulher?
— O egoísmo ainda prevalece na maioria dos encarnados neste mundo de
provas e expiações, levando-os a não se compadecer da dor do próximo nem se
movimentar para amenizá-la. Portanto, omitir-se é fazer um juízo equivocado:
aquele que se cala diante da injustiça também a está cometendo.

490. Como explicar o silêncio de tantas mulheres violentadas?


— A voz das encarnadas cala-se quando temem gritar e não serem ou-
vidas. No momento em que, no planeta, a maioria das pessoas estiverem mais
evoluídas moralmente, o silêncio será raro. O medo, por sua vez, é consequência
das experiências pretéritas malsucedidas, vivenciadas pelas próprias violentadas
ou por outrem; contudo, sabei que o verdadeiro temor devem sentir aqueles que
praticam esse mal: estes, mais cedo ou mais tarde, deverão ajustar as contas com
a própria consciência.
A. Qual a melhor forma de ampará-las?
— Amando vossas irmãs como a vós mesmos; escutando e compreenden-

220
do suas dores, a ponto de não praticardes ao próximo aquilo que vos ofende.
B. Devemos denunciar a violência cometida mesmo sem elas con-
sentirem?
— Não praticais o mal sem consentimento? Fazei da mesma forma com
o bem.

V – Moral coletiva

Panteísmo

O panteísmo, em sua essência, não é correto ao nosso entendimento; en-


tretanto, sois seres individuais, necessitados do coletivo para evoluir.
O despertar da consciência coletiva começa na individualidade, e a soma-
tória de diversas individualidades gera a consciência coletiva, que vos permite
evoluir como sociedade, porém, cada espírito evolui da sua forma e ao seu tem-
po. Quem já passou pelo aprendizado ensina aqueles que ainda não passaram,
para que todos possam ter a mesma experiência.
Deus é a causa, e não o efeito; se não fosse dessa forma, Deus não exis-
tiria, e Ele existe. Ao invés de tentarmos desvendar seus mistérios e nos ape-
garmos ao labirinto sem saída, deveríamos nos apegar às questões do cotidiano
“mais simples” de resolver, como nossas reformas íntimas e de pensamento.
Não deveríamos pensar em construir uma casa pelo telhado sem que o alicerce
já estivesse pronto; é necessário passar a viver por etapas, cumprir cada uma
com excelência, para que, ao final, tenhamos a solidez necessária para continuar.
Conversar com nossa consciência é conversar com Deus, mas interpretá-la
da forma que nos for mais conveniente não é: isso seria apenas conversar com
nosso próprio ego. Onde habita nossa humildade para pensar em nos equipa-
rarmos à causa primária de todas as coisas? Que possamos começar nosso dia
abrindo mão do orgulho, egoísmo e vaidade, nos quais já perceberemos dificul-
dade o suficiente para algumas encarnações. Deixemos para Deus a missão de
entender, criar e coordenar o todo.
Para encontrar a Deus, não necessitamos do esoterismo, muito menos de
rituais ou oferendas; encontramo-Lo em qualquer gesto de amor, em todo ato
que nos deixe com a paz de espírito necessária e que nos dê a convicção de estar
seguindo pelo caminho correto. Que tenhamos o discernimento de compreen-
der os desígnios da vida e a resiliência para aceitar aqueles que não podemos
compreender.
Buscai a verdade, mas não crieis a vossa própria.
Allan Kardec
Matão, 19 de agosto de 2019.

221
491. Podemos considerar as leis morais como instruções direciona-
das a toda a humanidade?
— Não. As leis de Deus são as principais instruções para a humanidade.
Quanto às leis morais, por serem mutáveis, são direcionamentos momentâneos,
sujeitos a constantes alterações222 (conforme visto nas questões 460 e 461).

492. Como ocorre o desenvolvimento moral coletivo?


— Quando um conjunto de regras e normas de boa conduta são os valo-
res a serem seguidos pela maioria da humanidade, desenvolve-se, então, a moral
coletiva.223
A. Como promovê-lo na educação?
— Exemplificando, através da prática, os valores morais; transmitindo- os
para os jovens e crianças, que formarão o mundo futuro. Assim como as refor-
mas íntimas, as morais exigem exercício e esforço. Como já sabeis, o exemplo
não é a melhor forma de educar, é a única.224

493. Em quais quesitos morais a humanidade deve depurar- se, na


visão dos espíritos?
— São inúmeros, entretanto, todos convergem para o caminho da carida-
de e da desmaterialização; a troca de posses e poder material por conhecimento
e amor fraterno é a peça fundamental desse processo.225

222 O Livro dos Espíritos, questão 615: “A lei de Deus é eterna? — É eterna e imutável, como o próprio
Deus.”; questão 616: “Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em
outra? — Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis, que são im-
perfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o Universo material e o Universo
moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.”
223 O Livro dos Espíritos, questão 793: “Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa?
— Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes
feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vesti-
dos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando
houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como
irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento, não sereis mais do que povos esclarecidos, só
tendo percorrido a primeira fase da civilização.”
224 O Livro dos Espíritos, questão 685-a, nota explicativa de Kardec: “[...] Há um elemento que não se
ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação
intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de for-
mar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos. [...]”
225 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 3: “Toda a moral de Jesus se resume na caridade
e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. [...] Bem-aventurados,
diz Ele, os pobres de espírito – quer dizer: os humildes – porque deles é o Reino dos Céus; bem-a-
venturados os que têm coração puro; bem aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os
misericordiosos. [...] Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e o de que ele mesmo
dá o exemplo. [...]”

222
VI – Moral e a sociedade

494. Como promover valores morais para a construção de uma so-


ciedade mais justa?
— Com o exemplo. A moral não é propagada pelo discurso, mas, sim, pela
prática: comece pela vossa.226

495. O que os espíritos superiores propõem como método de apren-


dizagem moral?
— Respeitar vossa consciência, a ponto de ocorrer o exercício da mo-
ral, permitindo que, além de vos conduzir à reflexão, possa ela vos corrigir na
prática de vossas ações. Quando todos praticarem, o aprendizado moral será
consequência.

496. Por que existem tantas desigualdades sociais?


— Tendo em vista que Deus possibilitou à humanidade possuir muito
mais do que necessita para sobreviver, qualquer desigualdade é oriunda do mau
uso do livre-arbítrio. Haverá um tempo em que o homem não obterá paz em
sua consciência, sabendo que possui mais do que necessita, quando seus irmãos
possuem menos do que precisam.227

497. Ao considerar os conflitos existentes no mundo atual, podería-


mos dizer que estamos em uma guerra moral?
— Sim. Enquanto os interesses próprios forem maiores que os coletivos,
o mundo enfrentará uma guerra moral, e, assim como nas guerras materiais,
todos perderão.
Será necessária uma reforma de valores para que este planeta prossiga no
caminho correto. A matéria-prima dessa reforma está em vossa consciência;
basta segui-la fielmente.

226 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 12: “[...] O Cristo nunca se esquivava: aqueles
que o procuravam, fosse quem fossem, não eram repelidos. [...] Quando, pois, o tomareis por modelo
de todas as vossas ações? [...] Começai por dar o exemplo vós mesmos. Sede caridosos para com to-
dos, indistintamente. Esforçai-vos para não atentar nos que vos olham com desdém. Deixai a Deus
cuidar de toda a justiça, pois a cada dia, no seu Reino, Ele separa o joio do trigo. O egoísmo é a nega-
ção da caridade. Ora, sem a caridade não há tranquilidade na vida social [...].” – Pascal
227 O Livro dos Espíritos, questão 806: “A desigualdade das condições sociais é uma lei natural? — Não;
é obra do homem e não de Deus; questão 806-a: “Essa desigualdade desaparecerá um dia? — Só as
leis de Deus são eternas. Não a vês desaparecer pouco a pouco, todos os dias? Essa desigualdade
desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a
desigualdade do mérito. [...]”

223
A. Quais as consequências dessa guerra moral?
— Perdas e destruição. Sendo a moral um dos principais valores da evolu-
ção, as perdas são inestimáveis.

498. Na visão dos espíritos, qual a diferença entre moral e ética?


— Enquanto a moral é universal, a ética é cultural e regional; o que é
correto para uma cultura pode não ser para outra. Entretanto, a soberania é da
moral, a ética apenas se utiliza de argumentos morais para gerar esse debate.
A. O que é revolução ética?
— Uma mudança brusca, um choque, o que não é o ideal e muito me-
nos o natural. O que deve haver é a “evolução” ética, que, diferentemente de
“revolução”, não produz choques ou conflitos, além de ser uma forma mais
construtiva de progresso.

Reformando é que se reforma

Existem diversas questões desconhecidas entre o plano espiritual e o ma-


terial, as quais ainda fogem à compreensão humana. A busca pela descoberta é
interminável e possui muita relevância.
Buscar o conhecimento é uma necessidade do espírito, mas não descarta
a fé. Por mais aprimorado que ele esteja, sempre haverá questões a serem escla-
recidas no futuro.
A vida material é diferente da espiritual, entretanto, complementam- se
com perfeição, pois o que fazem para o corpo se reflete no espírito, e vice-versa.
Há diversas ligações energéticas entre pensamento, intenção e ação. O
pensamento é o gerador da intenção, que, por sua vez, produz a ação. Contro-
lá-lo não é apenas importante, como essencial.
Como controlá-lo? Ao realizar nossas trocas de hábitos e reformas ínti-
mas, de forma subconsciente, estamos instalando em nosso pensamento “a se-
mente do bem”. Com a repetição constante das boas ações, o bom pensamento
torna-se hábito e atrai boas ações, que, consequentemente, aproxima espíritos
que simpatizam com essa linha. Acontece também o inverso: se pensarmos “no
mal”, refleti-lo-emos.
Sabendo que Jesus espera de nós a prática da caridade através do amor,
por que não nos reformamos?
Será que os prazeres momentâneos são mais importantes que o progresso
eterno? Ceder às vicissitudes, melindres e falta de fé é o melhor caminho a ser
seguido?
Irmãos, no entendimento da importância de praticar o bem, o mal perde
seu espaço, por consequência.
Não podeis vos esquecer da responsabilidade que é estar encarnado, não

224
apenas para convosco, mas também para com vossos semelhantes e tutelados;
as crianças e jovens refletirão aquilo que exemplificardes.
O futuro do planeta depende de vossas ações mais singelas. Não é apenas
questão religiosa, mas também necessidade de evolução.
Sabendo que hoje vos encontrais em vossa melhor versão, conseguiríeis
imaginar o que fostes no passado? Tal compreensão não explicaria vosso sofri-
mento?
É fundamental que possamos adquirir a resiliência necessária para conti-
nuar firmes durante tempestades da vida, pois, como já foi dito pelo homem:
“Toda tempestade tem como propósitos gerar a calmaria e formar bons mari-
nheiros.”
Um Espírito Protetor
Matão, 10 de julho de 2019.

225
CAPÍTULO II

Sexualidade, Sexo e Moral


Sexualidade • Educação sexual • Aborto • Adoção

I – Sexualidade
O tema “sexualidade” não deve ser um tabu ou um paradigma, entretanto,
deve ser tratado com a devida cautela, especialmente na vida infantil, quando o
espírito está mais suscetível à influência e à condução moral.
Ao mencionarmos, neste momento, um tema tão evitado por todas as
doutrinas e religiões existentes, em nenhum instante, tivemos a intenção de ferir
ou ofender os irmãos, mas apenas de instruí-los para o caminho correto.
Amparados pelas leis de Deus e repletos de amor e boas intenções, de-
sejamos que todos possam ter a oportunidade de seguir o caminho do bem,
diminuindo o julgamento e aperfeiçoando-se moral e intelectualmente.

499. Além da reprodução, há um propósito evolutivo no ato sexual?


— Tudo tem um propósito evolutivo; cabe a vós a utilização do ato sexual
de forma correta.
O sexo é tão divino que foi o modo escolhido por Deus para que pudés-
seis vos reproduzir, dando continuidade à vida.
É um ato de amor, unidade e uma troca física e psíquica de grande im-
portância. A desvirtuação foi fruto do vosso livre-arbítrio; não satisfeitos com
o que Deus vos deu, buscastes sempre mais. Os excessos, as prevaricações e a
falta de moral são frutos do homem.
Não podeis confundir o prazer que gera a vida com a vida baseada
apenas em prazer.

500. Há uma razão para que cada indivíduo encarne com determi-
nado sexo?
— Certamente, há uma razão para tudo o que acontece dentro e fora do uni-
verso. Muitas vezes, vós mesmos escolhestes com qual sexo gostaríeis de vir.228

228 O Livro dos Espíritos, questão 202: “Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo
de homem ou de mulher? — Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de
sofrer.”; nota explicativa de Kardec: “Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não
têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas
e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. [...]”

226
501. Caso a banalização do sexo continue a atingir o público jovem,
quais serão as consequências?
— Quantas crianças não serão influenciadas? Quais serão os reflexos para
o futuro? Não se tratar do assunto com o devido respeito e discrição poderá
afetar o futuro do planeta. Não deveríeis ser tão egoístas a ponto de não pensar
em vossos irmãos.
Além disso, seria insanidade acreditar que os jovens são os únicos respon-
sáveis pela banalização. O jovem de hoje é o espelho de sua criação, das regras
ou da falta delas; portanto, quando na análise das falhas em vossos filhos, olhais
internamente, pois tendes responsabilidades equivalentes.

II – Educação sexual

Nos dias atuais, as pessoas buscam, através de suas verdades, transformar


as verdades que foram exemplificadas pelo Cristo. O certo e o errado não im-
portam mais que vossa consciência (comunicação direta com Deus). Entretan-
to, não sois capazes de proporcionar aquilo que não possuís.
Como enxergais, no futuro, uma humanidade sem controle moral? O res-
peito que desejais receber, tendes proporcionado? Sentis vossa liberdade inva-
dida e o desejo pelos direitos crescente em vossa coletividade, mas será que não
invadis a liberdade daqueles que pensam diferente?
Enxergar a mesma tese de diversos ângulos pode vos fazer entender que
tudo no universo possui mais de uma dimensão ou forma de interpretação.
Sempre tereis vosso livre-arbítrio respeitado e respondereis por ele, mas pedi-
mos, também, que respeiteis o livre-arbítrio dos outros. O amor não tem sexo,
não tem fronteira, não tem barreira, e também, conforme já sabeis, não é fruto
da sexualidade, e sim, do convívio, aprendizado e troca de experiências. Sendo
assim, vos pergunto: o que defendeis é o amor ou o desejo sexual? Se o amor
deve prevalecer, o desejo sexual não precisaria ser uma consequência.
Não basta acreditar em Deus apenas quando vos é conveniente. É neces-
sário desenvolver a verdadeira fé, embasada nos valores morais de vossa época,
pois os valores morais de toda a sociedade caminham juntos. Ainda que haja
algumas discrepâncias, um dia, entendereis a diferença entre sexo, sexualidade,
amor e relacionamento. O mundo não julga se vós não julgardes primeiro. Em
vez de vitimizar-vos pelas circunstâncias pesadas que a vida vos impõe, observai
e percebei se realmente estais dando valor para as questões certas.
Santo Agostinho
Matão, 1º de julho de 2019.

227
502. Como os espíritos acreditam que deveríamos introduzir o
aprendizado sobre a sexualidade na infância?
— De forma a acompanhar a evolução moral coletiva. Elaborando e aper-
feiçoando, através da moral, o livre-arbítrio de cada pequeno ser. Lembrando
que a sexualidade é despertada naturalmente. É instintiva e necessária para a
perpetuação da espécie humana, hoje já intelectualizada, contudo, intrinseca-
mente animal.229

503. Estaria no plano reencarnatório passar, na adolescência, por


uma gravidez não programada?
— Apesar de a gravidez, em geral, ser fruto do livre-arbítrio, Deus, em Sua
inteligência suprema, corrige os cursos do destino; tudo é reorganizado para
que se encaixe no ciclo da evolução.
Com o passar do tempo e consequente aumento do nível de informação,
o livre-arbítrio tem relevância cada vez maior; crescente conhecimento gera
responsabilidade equivalente (tanto para os jovens quanto para os tutores, que
devem instruir corretamente).

III – Aborto

504. Como é vista, pelo plano espiritual, a legalização do aborto?


— Inaceitável, visto que a preservação da vida é soberana.230
Por mais difícil que seja uma gravidez não programada, em nenhuma cir-
cunstância, será lícito esse ato de abortar. Sois tutores e responsáveis por essa
vida, que se encontra em formação.
Entendei que tolheis o livre-arbítrio do espírito quando tomais essa de-
cisão, afetando gravemente esse ser em processo reencarnatório, que terá sua
vinda interrompida brutalmente. A vida é um presente de Deus, e vós não po-
deis banalizá-la de forma alguma, preservando-a sempre, com todas as vossas
forças. Que amar seja sempre vossa primeira escolha.

505. Ocorrendo concepção mediante o estupro, é correto abortar?


— Não, não é correto em nenhuma circunstância, pois todos deveis passar
pelas vossas próprias provas.

229 A Gênese, capítulo X, item 26: “Do ponto de vista corporal e puramente anatômico, o homem per-
tence à classe dos mamíferos, da qual não difere senão por alguns detalhes da forma exterior; quanto
ao mais, tem a mesma composição química que os animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e
os mesmos modos de nutrição, de respiração, de secreção, de reprodução [...].”
230 O Livro dos Espíritos, questão 358: “O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época
da concepção? — Há sempre crime, quando se transgride a lei de Deus. A mãe, ou qualquer pessoa,
cometerá sempre um crime ao tirar a vida da criança antes do seu nascimento, porque isso é impedir
a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser o instrumento.”

228
Ninguém é mãe ou filho por casualidade. A lei divina é sábia e tem como
principal meta corrigir ou atenuar sofrimentos. A lei de causa e efeito gera res-
ponsabilidades por todos os vossos atos, desta e de outras encarnações. Inter-
romper a reencarnação de um espírito, mesmo decorrente de um estupro, não
é correto: somente trará mais dor e ampliará o sofrimento dos envolvidos. A
preservação da vida diante da dor da violência é um ato de amor. Que possais
sempre combater o mal com o amor, por mais difícil que seja.

506. A concepção fruto de violência sexual foi determinada por ne-


cessidade provacional ou por simpatia a um espírito em busca de opor-
tunidade reencarnatória?
— Não existe uma regra, depende de cada caso.
Todo espírito será realocado para a reencarnação dentro da perfeita or-
ganização divina. Ninguém ficará fora do seu devido lugar, muito menos do
seu devido tempo.

507. Um feto anencéfalo está animado por um espírito?


— Pode estar, se assim for a prova do espírito.
Não há limites para a vontade de Deus; existem questões que ainda fogem
de vossa compreensão (e provavelmente fugirão por um longo tempo). Saben-
do que a inteligência é atributo essencial do espírito, como seria possível um
espírito habitar um corpo sem um cérebro?
Da mesma forma que outrora questionastes como seria possível viver
após a morte, toda compreensão gerará um esclarecimento futuro proporcio-
nal ao desenvolvimento científico e tecnológico de cada planeta. Entendereis,
por exemplo, que a inteligência está vinculada ao espírito, e não ao cérebro, até
porque, quando se desmaterializa, o espírito continua inteligente, mesmo não
possuindo massa cerebral, entre outras questões. São por esses motivos que o
aborto não cabe em nenhuma situação.

IV – Adoção

A adoção é um gesto sublime e de grande valor. Quando adotais um ser


de forma despretensiosa e imparcial, estais abrindo mão do vosso orgulho e
egoísmo e enxergando todos os filhos do Pai como iguais.
É um ato avançado no quesito da evolução, pois, conforme já menciona-
mos diversas vezes, enxergar todos como irmãos é uma das maiores propostas
de Cristo; porém, infelizmente, o mundo atual ainda enfrenta dificuldades em
praticá-la.
A adoção deve ser despretensiosa, dando, assim, oportunidade a todos
aqueles que Deus colocar em vossos caminhos.

229
Uma hora, sois o adotado, outra, o tutor, e esse ciclo de ensinar e aprender
é que constrói vosso espírito com a bagagem necessária para evoluir.
No futuro, tereis a capacidade de amar ao próximo de forma mais pura e
enxergar todos como família; percebereis que o maior auxílio que existe é fruto
da ajuda outrora ofertada aos vossos semelhantes.

508. Como a adoção é vista pelo plano espiritual?


— Como um imensurável ato de caridade, de amor e de acolhimento.
Adotar é um ato de amor e benevolência, desde que seja feito de forma despre-
tensiosa. Enxergar vossos filhos nos filhos de outrem é entender que tudo faz
parte dos planos de Deus, que vos permite reencontros de modos peculiares.
Em tudo, há uma lição a ser aprendida e um propósito aos olhos do Pai. O amor
foge aos laços consanguíneos e transcende a matéria na qual estais inseridos.
Sois espíritos reencontrando-vos mediante as múltiplas encarnações.231

509. Qual é a relação entre adoção e reencarnação?


— Pode haver diversas relações entre elas, não existe apenas uma, tudo
dependerá de cada caso, isoladamente.
O ato de adoção é um lindo gesto; em alguns casos, pode relacionar-se
com existências anteriores232, entretanto, não é uma regra, pode ser apenas uma
oportunidade de praticar o amor e a caridade.233

510. Como explicar para a criança que ela é adotada? Existe uma
idade ideal?
— Essa conduta dependerá de cada tutor, não podemos definir uma ma-

231 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 8: “[...] Os verdadeiros laços de família não
são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem
os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. De onde se segue que dois seres nascidos de pais
diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. [...]”
Mc 3:20-21, 31-35 – “Dirigiram-se em seguida a uma casa. Aí afluiu de novo tanta gente, que nem
podiam tomar alimento. Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: — Ele está
fora de si. Chegaram sua mãe e seus irmãos e, estando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Ora,
a multidão estava sentada ao redor dele; e disseram-lhe: — Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te
procuram. Ele respondeu- lhes: — Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, correndo o
olhar sobre a multidão, que estava sentada ao redor dele, disse: — Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
Aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
232 O que é o Espiritismo, capítulo II, questão 122: “Se as almas são independentes, de onde procede
o amor dos pais para com os filhos e vice-versa? — Os Espíritos reúnem-se por simpatia, e o nasci-
mento em tal ou qual família não é um efeito de mero acaso. Depende, isto sim, e as mais das vezes,
da escolha do Espírito, que se reúne àqueles a quem amou no mundo espiritual ou em existências
anteriores. [...]”
233 O Livro dos Espíritos, questão 886: “Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a en-
tende Jesus? — Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão
das ofensas”; nota explicativa de Kardec: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça,
porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. [...]”

230
neira correta ou época específica para noticiar. Porém, a verdade é sempre o
melhor caminho, e tão importante quanto o momento adequado é o aprimora-
mento da forma. Com o passar do tempo e evolução da humanidade, as ado-
ções tornar-se-ão algo natural, não haverá mais paradigmas, e esse gesto será
visto unicamente com bons olhos, tanto pela sociedade quanto pelo adotado.

511. Por que algumas crianças não são adotadas?


— Umas, por fazer parte de suas provas e expiações, outras, por mau uso
do livre-arbítrio dos encarnados. A segunda opção é a mais presente; a adoção
deveria ser desprovida de uma visão material da beleza. Uma criança não é um
produto a ser selecionado em uma prateleira, mas, sim, um espírito buscando
em um tutor a oportunidade de evoluir e fazer evoluir.234

512. Como a espiritualidade define a família?


— “Família” são as pessoas de convivência próxima, que escolhemos para
atravessar a jornada da existência terrestre; os seres dos quais precisamos para
conviver pacífica e amorosamente. Ainda que não tenhamos afinidades, família
é a escola de como amar o próximo, com seus defeitos e virtudes.235

234 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 10: “[...] Submetei todas as vossas ações ao
controle da caridade, e a vossa consciência vos responderá: não somente ela evitará que façais o mal,
mas ainda vos levará a fazer o bem. Porque não basta uma virtude negativa, é necessário uma virtude
ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre existe a ação da vontade; para se praticar o mal, basta as mais
das vezes a inércia e a negligência. [...]” – Paulo de Tarso
235 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 8: “[...] Há, portanto, duas espécies de famílias:
as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duradouras, fortifi-
cam-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da
alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo, e quase sempre se
dissolvem moralmente desde a vida atual. [...]”

231
CAPÍTULO III

A Consciência
O consciente • Consciência ou conveniência? • Moral e consciência • Mente e cérebro
• Obsessão pela beleza física • Os mecanismos da psicologia e do psiquismo

I – O consciente

Entre tantas confusões mentais e questionamentos que há no mundo mo-


derno, é difícil compreender os desígnios de Deus e entender a importância do
controle mental.
Manter a mente apurada e perceber a influência do estado consciente em
vossas decisões é um passo muito importante para vossa evolução.
O consciente é o estado em que todos vós podeis realizar as mudanças
necessárias para enfrentar uma encarnação de forma mais proveitosa e digna.
O motor que move o consciente humano é a vontade; por isso, o volunta-
rismo movimenta as ações e as reformas necessárias para o desenvolvimento e
o progresso.
Sem vontade, não há esforço, e tampouco atingiríeis vossos objetivos.
As experiências introspectivas vos auxiliarão a desenvolver dois importan-
tes aspectos em vossa existência: a sensação e o sentimento, ambos interligados.
Utilizai-vos das vossas sensações para despertar bons sentimentos e pro-
movei o amor e a paz no planeta, iniciando pelo interior de cada um de vós;
compreendei que não é através das camadas mais ocultas e profundas do vosso
ser que encontrareis as respostas, mas, sim, na simplicidade superficial de vosso
consciente ativo e operante.
Sentir é uma capacidade humana e despertar o sentimento para convosco
e para o próximo, por consequência, também.
Amai, senti, sensibilizai-vos e eternizai o amor.
Wilhelm Wundt
Matão, 8 de março de 2020.

513. O que significa “consciência”, segundo os espíritos superiores?


— Consciência é a vossa comunicação direta com Deus, é o meio que
permite o vosso progresso.
Ela é o discernimento do certo e do errado, que vos valoriza, quando ten-
des escolhas boas, e vos cobra, quando tendes escolhas ruins (conforme visto em

232
“A consciência”, na Introdução desta obra).
A. Em que instante há o despertar da consciência?
— Na transição da fase animal. Cada indivíduo ao seu tempo (conforme visto
na questão 21).
A consciência é o maior regulador do planeta, é a única ferramenta
capaz de controlar o livre-arbítrio e alterar o plano evolutivo de cada ser.
Nota: O ser humano, ao renascer, vem dotado de instintos, amparados
por processos orgânicos e biológicos, afiançados pela natureza, desen-
volvidos em muitas e muitas encarnações. Inserido o homem em um
mundo de relações complexas, esses instintos já não são mais suficientes
para expressar seus pensamentos, sentimentos, sensações, criatividade,
imaginação. Além disso, as ações humanas, antes impulsivas, agora são
intencionais e conscientes, por terem passado por processos de apren-
dizagem tanto individual quanto coletiva; sua relação com a natureza e
com seus semelhantes se dá através do trabalho, como atividade cons-
ciente e articulada às suas necessidades. Assim se processa a humani-
zação: o uso de instrumentos mediadores entre os seres humanos, que
determinam a passagem dos processos puramente naturais e instintivos
para os do desenvolvimento da consciência.
Nada ocorre aleatoriamente, e sim, por meio de condições históricas
e culturais, que serão aperfeiçoadas e requalificadas de acordo com a
amplitude da compreensão. Ora, pode-se chegar a tal situação de apri-
moramento da consciência que esta seja capaz de direcionar as ações
do encarnado a ponto de levá-lo a dar saltos qualitativos em sua jorna-
da evolutiva, inclusive dotando-o de um controle muito mais assertivo
sobre seu livre-arbítrio. Vale ressaltar que a ampliação da consciência
não é um processo linear e igualitário no escopo humano. O estudo e
o entendimento, a prática da caridade e do amor, tornam-se primor-
diais fontes de recursos que abastecem a consciência de pertencimento
a um novo estágio de maturidade psíquica e emocional. Há, por que
não dizer, um encontro do ser com a necessidade de sua alma, com o
verdadeiro sentido da vida; o homem passa a sentir o desejo de fazer
a diferença, demonstrar a que foi chamado. Isso aprofunda o senso de
conectividade com o absoluto, ao mesmo tempo em que o liga com
seus iguais e com o todo.
Os seus valores pétreos, os quais trouxe consigo ao reencarnar, e a in-
tuição mais sintonizada com Deus são a base para suas decisões e para
o amar e o doar desapegados. Dar e receber tornam-se à humanidade,
enfim, sinônimos do grande amor de Deus.

233
514. Como podemos aprimorar nossa consciência?
— Abrindo mão do orgulho e do egoísmo, criando a humildade dentro de
vós, aceitando aquilo que vossa voz interior vos indica e realizando as reformas
necessárias para vosso aprendizado com os erros, para que não volteis a come-
tê-los.

515. Como explicar que algumas pessoas, ao praticarem o mal, não


o sentem pesar em sua consciência?
— Será que não sentem?
Se a consciência é a comunicação direta com Deus, por menor que seja
vosso nível de acesso a ela, sem dúvida alguma, sentis o pesar de vossas falhas
e más tendências.
Não demonstrar ou camuflar o peso de vossa culpa não significa que não
a estejais sentindo; por isso é que não existe espírito irrecuperável ou erro
imperdoável.

516. A consciência é a maior parceira do arrependimento?


— Não, a consciência é a maior parceira da reparação; o arrependimento
é um primeiro passo, mas apenas arrepender-se não basta, é necessário reparar
e reconstruir.236
A. Até quando permanecerão os sofrimentos provenientes do arre-
pendimento?
— Até a mudança ser exercida, afinal, arrepender-se sem mudar é o mes-
mo que reconhecer uma falta e não fazer nada a respeito para evitá-la, inclusive
na atual encarnação.237
Nota: O espírito permanece com a dor na consciência até realizar as
mudanças necessárias e despertar o perdão, para poder prosseguir seu
caminho.
Muitas vezes, durante nossas encarnações, realizamos más escolhas e
isso nos é cobrado; sendo assim, para ficar em paz com a consciência, é
necessário mudar de verdade e perdoar-nos pelo erro cometido.

236 O Livro dos Espíritos, questão 992: “Qual é a consequência do arrependimento no estado corpó-
reo? — Adiantar-se ainda na vida presente, se houver tempo para a reparação das faltas. Quando a
consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.”
237 O Livro dos Espíritos, questão 991: “Qual é a consequência do arrependimento no seu estado espiri-
tual? — O desejo de uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições
que o impedem de ser feliz e aspira a uma nova existência, onde possa expiar as suas faltas.”

234
A consciência reparadora

A consciência não veio apenas para nos cobrar; ela veio, também, para
reparar as feridas e arestas em nossos sentimentos mais profundos.
A boa prática e as reformas íntimas constantes permitir-nos-ão ter a paz
de consciência necessária para seguir caminhando, mesmo após os erros e equí-
vocos das mais diversas jornadas encarnatórias.
Sabendo da eternidade do espírito e da superioridade que a consciência
exerce em nossos pensamentos e ações, precisamos despertar o verdadeiro
exercício de melhoria.
Vós conseguis dormir tranquilos com tudo aquilo que vossa consciência
vos diz?
Se ainda não, reformai-vos; caso sim, revede e repensai: nenhum de vós é
tão grande que não tenha nada a melhorar. “Ninguém é tão sábio que não tenha
algo a aprender.” – Blaise Pascal

517. A consciência atormentada pode levar uma pessoa ao desequi-


líbrio mental?
— A consciência não atormenta, ela apazigua. O que atormenta são os
maus pensamentos e não praticar aquilo que a consciência sugere.
Nota: A consciência é a reguladora do espírito, aliada ao desenvolvi-
mento moral, intelectual e racional, auxiliando muito todas as outras
qualidades, que, por consequência, permitem a evolução espiritual.
Existem diversas partes dentro da consciência: o estar ciente de algo,
o saber discernir o certo do errado e o estar acordado são alguns frag-
mentos do que a consciência pode proporcionar ao espírito.
A consciência é liberada conforme o uso que lhe aplicamos; quanto
mais ouvirmos a voz que nela reside, mais dela nos será concedido para
evoluir e, por consequência, para ampliá-la, e isso nos será cobrado.
Nosso nível de cobrança é proporcional ao de nossa consciência.
Uma fase por vez, de acordo com nosso merecimento, iremos desen-
volvendo nossa consciência e, principalmente, aprendendo a aplicar o
que ela nos intui em nossas ações do dia a dia.
Não importa em qual estado esteja vossa consciência: ouvi-la e praticar
o bem que existe dentro de vós permitem evoluir.

518. Qual é o sentido, para a consciência do encarnado, das atribu-


lações do corpo físico que chegam com a velhice?
— Aprendizado, assim como tudo o que ocorre em uma encarnação.
Nota: A senilidade pode ser uma fase muito difícil quando vista como
aquela que vem acompanhada de dores, solidão, abandono, dificuldades

235
financeiras, viuvez ou lamentos. No entanto, para aqueles que creem na
imortalidade do espírito, na continuidade da vida, chegar à velhice é um
mérito, pois podem, ainda, aproveitar do “cadinho” das atribulações
finais para extrair lições que lhes serão úteis no futuro, além do que o
desencarne não é o fim; ao contrário, é apenas o começo de uma nova
jornada, cuja bagagem estará mais equipada.

519. Espíritos podem influenciar nossa consciência?


— Não. Os pensamentos, sim, tanto para o bem quanto para o mal; ade-
mais, a consciência é reflexo de nossa evolução e sempre estará um passo à fren-
te na estrada do progresso, dizendo-nos aquilo que é certo e aquilo que é errado.
A. A consciência é fruto do desenvolvimento material ou espiritual?
— Ela é fruto do espiritual, mas muito utilizada no material; portanto,
ambos auxiliam o desenvolvimento da consciência.
B. Espíritos superiores podem controlar nossa consciência?
— Não, mas podemos despertá-la por meio das intuições, pois é através
dela que caminharão em direção ao progresso.
A consciência não é influenciável pelos espíritos, pois, conforme já dis-
semos, ela é nossa ligação direta com o Criador, logo, é influenciável apenas
por Ele.238

520. Sendo-lhe facultado intuir pensamentos, um espírito protetor


pode interferir na memória de um encarnado, para que este esqueça um
pensamento degradante?
— Esquecer até pode, se o encarnado assim quiser. Esse processo tam-
bém dependerá do esforço e autoconhecimento do indivíduo.
O pensamento pode ser esquecido temporariamente, porém, jamais é apa-
gado.

521. Qual é a importância da consciência em mundos mais evoluí-


dos?
— A importância é a mesma, entretanto, a utilização é imensamente maior.

238 A Gênese, capítulo III, item 6: “[...] Deus estabeleceu leis cheias de sabedoria, as quais não têm
outra finalidade senão o bem; o homem encontra em si mesmo tudo o que é necessário para segui-las;
seu caminho é traçado por sua consciência, a lei divina está gravada em seu coração. Além disso, Deus
faz lembrar estas leis sem cessar, por seus messias e seus profetas, por todos os Espíritos encarnados
que receberam a missão de esclarecê-lo, moralizá-lo, aperfeiçoá-lo, e nestes últimos tempos, pela mul-
tidão de Espíritos desencarnados que se manifestam em todos os lugares. [...]”

236
II – Consciência ou conveniência?

Muitas religiões, e até mesmo a filosofia humana, sempre pregaram para


que pudésseis ouvir vossa consciência. Muitos encarnados repetem esse lema
de forma fervorosa e acentuada, porém, existe uma grande diferença entre ou-
vi-la e ouvir vossa “conveniência”.
Uma é muito diferente da outra, sendo de enorme importância diferen-
ciá-las.
Consciência é aquilo que vos orgulha e acalma o coração, dando-vos uma
sensação de missão cumprida, ou é aquilo que vos cobra e, ainda que pela dor,
vos ensina a seguir o caminho do bem.
Conveniência é quando vós tentais convencer a vós mesmos de que algo é
certo, quando nem sempre o é.
Passou da hora de inverter os valores e dar ouvidos àquilo que verdadeira-
mente vos fará crescer: a vossa consciência.
A consciência é algo tão complexo e profundo que espírito algum pode
ter-lhe acesso; sendo ela vossa via de comunicação direta com Deus, garante-
-vos a não interferência em vosso livre-arbítrio.
Por isso, ainda que tenhais más influências ou direcionamentos tortuosos,
sempre tereis a condição de optar pelo caminho certo, se souberdes ouvi-la de
forma imparcial e com muita vigia, para jamais misturá-la com vossas inverda-
des, forjadas por vós mesmos para tornarem-se verdades.
O desenvolvimento moral e intelectual é imprescindível para a base cons-
ciencial: quanto mais evoluídos moral e intelectualmente, mais longe chegareis
na imensidão de vossas consciências.
Ela também é inalterada com o esquecimento, portanto, segue a evolução
de vosso espírito, e não apenas de vossa matéria.
O homem de bem deve utilizar-se de todos os meios possíveis para man-
ter-se no caminho correto, vigiando seus passos e corrigindo a rota, quando
necessário.
Nunca é tarde para aprender a consultar vossa consciência, buscando co-
erência para manter-vos em evolução. Ficai com Deus.
Paulo de Tarso

III – Moral e consciência

522. Qual é a diferença entre a moral e a consciência, na visão dos


espíritos?
— A moral é o que vós praticais, já a consciência é tudo o que deveríeis
praticar.

237
Nota: A moral manifesta-se segundo os valores que são vigentes em
uma sociedade, os quais diferenciam o certo do errado. Geralmente, são
valores atrelados às leis, normas de conduta, tradição e cultura, regendo
uma espécie de acordo de convivência social. A consciência está relacio-
nada à intimidade de cada indivíduo com seu próprio ser, demandando
autoconhecimento. Todas as escolhas e atitudes individuais resultarão
em consequências, e o que nos dá essa visão de sensatez é a consciência,
geradora de ponderação e equilíbrio em relação aos comportamentos
individuais e coletivos.

523. A consciência evolui proporcionalmente à moral?


— Um pouco mais; é necessário ter uma consciência evoluída para ser
moralmente evoluído. Portanto, o desenvolvimento da consciência é que per-
mite o aprimoramento moral, o qual acaba sendo um reflexo da prática da cons-
ciência que existe dentro de cada um.

524. Estamos em um processo de transformação moral?


— Sim, como todo espírito, nós estamos, estivemos e sempre estaremos.
A transformação moral é constante e interminável.239
Com exceção de Deus, não há nada tão bom que não possa ser melhorado.

IV – Mente e cérebro

Espiritismo e Psiquismo
Há inúmeras confusões que pairam no limite entre o Espiritismo e o Psi-
quismo, então, é importante esclarecermos as diferenças.
Nem tudo o que acontece conosco é de caráter espiritual, do mesmo jeito
que nem tudo é psíquico. Saber determinar o limite e as diferenças é importante
para nosso autoconhecimento e consequente evolução.
A maior parte da vida psíquica do indivíduo acontece em um lugar da
mente sem acesso direto: o inconsciente. Nele, habitam diversos pensamentos
e estímulos reprimidos, que se disfarçam através dos sonhos e comportamentos
neuróticos.
Os sonhos são o caminho direto para nosso inconsciente: se não fosse

239 A Gênese, capítulo XVIII, item 2: “[...] o nosso globo, como tudo o que existe, está submeti-
do à lei do progresso. Progride fisicamente pela transformação dos elementos que o compõem, e
moralmente pela purificação dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Esses dois
progressos se seguem e caminham paralelamente, pois a perfeição da morada está relacionada com a
do habitante. [...]”

238
através deles, tais percepções não sairiam de lá. É claro que eles podem também
ser um acesso e contato com o mundo espiritual (não em todos os casos, apenas
quando houver a necessidade ou a utilidade).
O id corresponde às nossas pulsões e desejos inconscientes, que atuam
em conjunto com nossas outras funções de forma geralmente conflituosa, por-
que o ego (consciente/realidade), sob os imperativos do superego (moral) e as
exigências da realidade, avalia e controla os impulsos do id (fonte de energia
psíquica), satisfazendo-os, adiando-os ou inibindo-os totalmente.
Neste momento, podeis atentar-vos ao poder do id; por ser nossa fonte de
energia psíquica, também é uma das áreas mais importantes a serem domadas
e controladas e que, por consequência, possui o maior potencial de exploração
humana. A percepção de que existe uma fonte de energia psíquica transcende o
mundo orgânico e se perpetua no espiritual, pois, mesmo quando não possuir-
mos mais o cérebro, ainda assim, manteremos nossa mente.
O nosso superego é formado a partir de nossa interação com nossos pais
encarnados, dos quais assimilamos as ordens e proibições (criação). Ele assume
os papéis de juiz e vigia; uma autoconsciência moral; controlando a excelência
dos impulsos do id e colaborando nas funções do ego. Existem, ainda, influ-
ências de espíritos superiores ou protetores em nosso superego, auxiliando em
nossa formação e discernimento para a vida futura.
O superego doma o id, ou seja, reprime os instintos primitivos, com base
em valores morais e culturais. Existe uma grande diferença entre “reprimir” e
“anular”. Ainda assim, todos possuímos um sistema mediador de impulsos ins-
tintivos do id e das nossas exigências do superego, além de outras interferências
espirituais que colaboram nessa mediação – claro que sempre dependente e
ligada à vossa vibração energética.
A pulsão situa-se na fronteira entre o psíquico e o somático; ela represen-
ta, de forma psíquica, os estímulos que se originam no organismo e alcançam a
mente. É diferente do instinto: não é biologicamente predeterminada e é insaci-
ável, pois se relaciona com o desejo, e não com a necessidade.
Portanto, podemos concluir que, apesar de humana e natural, a pulsão
possui alguns aspectos negativos para nosso desenvolvimento moral quando
mal utilizada, pois ofuscamos a necessidade e focamos nos desejos. Apesar de
ter características insaciáveis, com o tempo, desenvolvimento e evolução, a pul-
são torna-se menos evidente.
Sigmund Freud
Matão, 18 de novembro de 2019.

525. Cérebro e mente podem ser considerados a mesma coisa?


— Não, o cérebro é material, já a mente é psíquica.

239
A. Existe alguma relação entre os dois?
— Sim, pois o materialismo do cérebro permite o desenvolvimento da
mente enquanto estais encarnados.
Nota: O cérebro é orgânico; é através dele que existe o desenvolvimen-
to mental, portanto, é um instrumento muito importante.
O psiquismo pertence ao espírito, mas utiliza-se do cérebro para seu
desenvolvimento durante a vida material, assim como um encarnado se
utiliza de seu corpo para cumprir suas provas e evoluir.

526. O pensamento é produzido pelo cérebro?


— Também, mas não apenas; quando encarnados, utilizamo-nos do cére-
bro para gerar o pensamento, já quando desencarnados, não é necessário.

527. Memória é uma capacidade do cérebro orgânico ou do espírito?


— Do espírito. Apesar de utilizar-se do cérebro para seu processamento,
a memória permanece após o desencarne.240

528. A Teoria da Memória Holográfica, de Karl Pribam241, compro-


varia cientificamente os ensinamentos doutrinários de que a memória
está no espírito?
— Não comprovaria, mas é um caminho, afinal, faz-vos pensar em outras
possibilidades, abrindo, assim, a vossa mente.
Nota: Nessa teoria, Karl Pribam menciona que todo o cérebro pode ser
um instrumento na utilização da memória. Podemos perceber traços de
comprovação ao nos depararmos com acidentes ou doenças em que os
afetados, mesmo perdendo a área responsável pela memória em seu cé-
rebro, conseguem resgatar ou preservar suas lembranças, utilizando-se
de outras partes do cérebro. Assim sendo, seria racional a comparação
com o espírito, que não se utiliza da matéria orgânica em questão para
manter vivos suas memórias e pensamentos. Entretanto, só teremos
essa comprovação após o desencarne.

529. De que maneira a ciência prova a existência da mente e do pen-


samento?

240 O Livro dos Espíritos – Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item VI: “[...] No seu regresso
ao mundo dos Espíritos a alma reencontra todos os que conheceu na Terra e todas as suas existências
anteriores se delineiam na sua memória, com a recordação de todo o bem e todo o mal que tenha
feito. [...]”
241 Karl Pribam, da Universidade de Stanford, na Califórnia, afirma que a memória não se localiza em
algum ponto específico da estrutura cerebral, mas se distribui de forma igualitária por todo o cérebro,
como um holograma no espaço.

240
— Através dos seus feitos. Tudo o que fazeis ou criais é consequência da
utilização da mente e do pensamento; apesar disso, a ciência ainda não prova
sua potencialidade, apenas a supõe.

530. O livre-arbítrio é resultado do pensamento?


— Sim, porém não diretamente; o livre-arbítrio é resultado de vossas
ações, que, por sua vez, são resultantes dos pensamentos. De forma indireta,
tudo o que conheceis é reflexo do que pensais.
A. O tempo afeta nosso livre-arbítrio?
— É o oposto, o livre-arbítrio é que afeta vosso tempo. Através de vossas
escolhas, podeis usufruir melhor ou pior do tempo que possuís.

531. Qual seria o limite de liberdade de pensamentos e atitudes?


— Não há limites para a liberdade de pensamento; o limite deveria existir
nas ações negativas que o pensamento pode ocasionar.242
Não há limites para nossos pensamentos, afinal, todos usufruímos
do livre-arbítrio, entretanto, temos a responsabilidade de controlá-los243,
para que nossa atitude seja sempre a da busca do bem. Cada um colhe o que
planta, e, para colher boas atitudes, devemos sempre preservar os bons pensa-
mentos, a fim de que possamos ser influenciados por nossos mentores e espí-
ritos de boa índole.

532. Teremos um dia a habilidade de conhecer nossos pensamentos,


podendo controlá-los com maior destreza?
— Sim, esse desenvolvimento do autocontrole é natural e decorrente do
processo evolutivo, no entanto, leva um tempo, que poderá ser maior ou menor,
dependendo do uso do livre-arbítrio e do esforço. Cada indivíduo desenvolverá
o controle na velocidade de sua depuração; não seria dada a responsabilidade de
controlar a mente àquele que ainda nem controla os próprios instintos. Contro-
lar os pensamentos é uma tarefa que exige, além do autocontrole, um autoco-
nhecimento muito aprimorado, sendo o caminho mais eficaz rumo à evolução.

533. A mente e o corpo são de naturezas distintas?


— Sim, a mente é de natureza espiritual, e o corpo, material; ainda assim,

242 O Livro dos Espíritos, questão 833: “Há no homem qualquer coisa que escape a todo constrangi-
mento, e pela qual ele goze de uma liberdade absoluta? — É pelo pensamento que o homem goza
de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode-se impedir a sua
manifestação, mas não aniquilá-lo.”
243 O Livro dos Espíritos, questão 834: “O homem é responsável pelo seu pensamento? — Ele é
responsável perante Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, condena-o ou absolve-o, segundo a Sua
justiça.”

241
independentemente de sua essência, são complementares e trabalham em con-
junto.
Portanto, o corpo depende da mente, mas a mente não depende do corpo.

534. O equilíbrio mental pode evitar doenças no corpo físico?


— Não só pode como as evita. O equilíbrio é o primeiro passo para uma
melhora na saúde.
O equilíbrio mental sempre será o fator preponderante para a saúde fí-
sica e mental integral. A vigia constante dos pensamentos, a busca na prece, a
proteção e a inspiração dos bons espíritos e ser útil em trabalhos altruístas são
exemplos de como, certamente, poderíeis evitar dores e sofrimentos futuros
(conforme visto na questão 401).

535. Ao controlarmos os pensamentos, as emoções também são


controladas?
— Sim. Controlar, nesse caso, é sinônimo de equilibrar ou dosar as emo-
ções.
É um hábito saudável, pois permitirá que vosso livre-arbítrio aja sobre
vossas emoções, potencializando vossas utilidades.
Podeis transbordar de amor pelo próximo, ter menos ressentimentos, per-
doar com maior fervor e enraivecer com menor frequência.

536. O exercício da meditação e do silêncio contemplativo podem


colaborar no controle e melhoria de pensamentos?
— Sim, completamente. A meditação e o silêncio são ferramentas para
“olhar” ao vosso interior, aumentando consideravelmente vossa percepção e
autoconhecimento.
Conhecer-vos a vós mesmos é o primeiro passo para o autocontrole.

537. De que maneira podemos educar nossa mente para suportar as


dores físicas e morais?
— Através do controle dos pensamentos, podemos aprender a aceitar e
resistir a essas dores de forma temporária; ainda que elas voltem ou permane-
çam, sempre servirão de aprendizado e evolução.
A dor é por amor. Trata-se do exercício constante da resiliência (conforme
visto na questão 401-A).

538. As ondas eletromagnéticas geradas pelos sistemas modernos


de comunicação interferem no campo mental do encarnado?
— No campo cerebral, sim, e, consequentemente, por estardes encarna-
dos, no campo mental, afinal, o cérebro é a ferramenta utilizada pela mente para
gerir o corpo do encarnado.

242
A. Como se dá esse processo?
— A interferência ocorre na sinapse, prejudicando os impulsos nervosos
intracelulares.244

V – Obsessão pela beleza física

539. O que é considerado beleza, na visão dos espíritos?


— Beleza são os atributos não perecíveis e atemporais que enriquecem o
espírito. Ela manifesta-se de diversas formas, nas ações e intenções que levam à
prática do amor-próprio e do amor ao próximo.

540. O que a obsessão pelo “corpo perfeito” pode causar ao espírito?


— Todo excesso que prejudica a saúde física e mental é maléfico no pro-
cesso evolutivo; o equilíbrio está em aceitar com gratidão aquilo que foi designa-
do por Deus e em aprimorar os verdadeiros valores que conduzem à evolução.

541. Antes de reencarnar, o espírito pode fazer escolhas estéticas?


— Apenas se houver utilidade, entretanto, enquanto na erraticidade, o
espírito sabe que o valor estético é irrelevante perante os atributos morais e
intelectuais; portanto, a estética perde o enfoque.

542. Os transtornos alimentares motivados por padrões estéticos se-


riam alguma expiação ou prova do espírito?
— Uma e outra coisa, dependerá de cada caso. Contudo, quem passa por
essa prova ou expiação poderá suportá-la se estiver resignado o suficiente.

543. Intervenções no corpo para reparar esteticamente alguma falha


oriunda de doença, acidente ou deficiência são bem vistas pelos espíri-
tos?
— Possuís o direito de utilizar os avanços da medicina e da tecnologia para
minimizar vossas provas ou expiações, melhorando, assim, vossa qualidade de
vida física ou mental. Se existe a reparação disponível, não há por que não usu-
fruir dela; cabe submeter tal crivo à vossa consciência.

244 “No sistema nervoso central, um único neurônio pode receber informação de milhares de outros
neurônios e pode, por sua vez, formar sinapses com milhares de outras células. Vários milhares de
terminais nervosos, por exemplo, fazem sinapses em um neurônio motor médio na medula espinal,
cobrindo quase completamente seu corpo celular e dendritos. Algumas dessas sinapses transmitem
sinais do cérebro ou da medula espinal; outras trazem informações sensoriais dos músculos ou da
pele. O neurônio motor deve combinar a informação recebida de todas essas fontes e reagir dispa-
rando potenciais de ação ao longo do seu axônio ou permanecendo em repouso.” (ALBERTS et al.,
2017, p. 633)

243
VI – Os mecanismos da Psicologia e do Psiquismo

Desde o adquirir da consciência, o homem passa por um desenvolvimento


psíquico intenso e gradativo, aliado à moral proporcional à sua época, o que faz
a sociedade evoluir em sua forma de pensar e ampliar o campo de utilização
psíquica na vida cotidiana.
O desenvolvimento psíquico é aliado ao intelectual, pois o desenvolver
do intelecto permite ao homem a busca do conhecimento necessário para o
aprimoramento psíquico. No momento em que começa a entender a si mesmo,
os seus instintos e o porquê de agir de determinada forma, ocasiona, por con-
sequência, o progresso natural de seu esforço.
Antes de mencionarmos as ligações entre a Psicologia e o Espiritismo, é
importante que vós compreendais alguns aspectos basais da mente humana.
A mente humana projeta acontecimentos do passado no presente.245 Al-
guns traumas sofridos na infância do indivíduo geram, no subconsciente huma-
no, uma projeção que reflete nos dias atuais deste, impedindo, bloqueando ou,
até mesmo, interferindo de forma direta em algumas ações. Essas ações, que,
para todos, seriam um simples executar, tornam-se bloqueadas para aquele indi-
víduo que vivenciou o trauma, por exemplo. Tais projeções são consequências
de um mecanismo de autodefesa e preservação da mente, que provém de seu
instinto de sobrevivência, gerando e acentuando o viés negativo em cada um.
Há centenas de milhares de anos, o homem precisava do viés negativo
para garantir sua sobrevivência como espécie; ao se deparar com circunstân-
cias que colocavam sua vida em risco, a desconfiança futura iria garantir sua
preservação, pois, desse modo, ele não se submeteria a novos fatos similares.
Ou seja: a negatividade, que, por sua vez, propiciava a desconfiança, não era só
bem-vinda, como necessária, em um mundo no qual o homem não estava no
topo da cadeia alimentar.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento social, esse viés, ora instalado
na mente, foi perdendo seu perfil superficial e passando a habitar camadas mais

245 Projeção: em teorias psicanalíticas e psicodinâmicas, processo pelo qual a pessoa atribui suas pró-
prias características, afetos e impulsos individuais, positivos ou negativos, a outra pessoa ou grupo.
Isso é frequentemente um MECANISMO DE DEFESA, em que impulsos, estressores, ideias, afetos
ou responsabilidades desagradáveis ou inaceitáveis são atribuídos a outros. Por exemplo, o mecanis-
mo de defesa de projeção permite que uma pessoa com conflitos em relação a expressar raiva mude
do “Eu o odeio” para o “Ele me odeia”. Esses padrões defensivos são frequentemente utilizados para
justificar preconceito ou para fugir de responsabilidades; em casos mais graves, eles podem se desen-
volver para delírios paranoides, nos quais, por exemplo, um indivíduo que culpa os outros por seus
problemas pode vir a acreditar que aqueles outros estão tramando contra ele. Em teoria psicanalítica
clássica, a projeção permite que o indivíduo evite ver seus próprios defeitos, mas o uso moderno,
em grande medida, abandonou o requisito de que o traço projetado permaneça desconhecido ao self
(APA, 2010, p. 745).

244
profundas da mente, sendo utilizado pelo subconsciente humano em momen-
tos de traumas.
Por exemplo, ao ter uma experiência ruim na infância, o ser humano pode
adquirir traumas daquela experiência, temendo sua repetição e evitando, de for-
ma subconsciente, vivenciá-la.
Quanto maior for a evolução humana, mais interiorizado estará o instin-
to, que habita camadas menos ou pouco acessadas, o que diminui, assim, essas
projeções naturais e involuntárias.
A ligação do mundo psíquico com o espiritual é profunda e relevante, e
essas projeções da mente (atributo do espírito, ao contrário do cérebro, que é
atributo do corpo físico) ultrapassam as encarnações, reincidindo em vidas fu-
turas do mesmo ser, porém incubadas pelo grande dom do esquecimento.
O esquecimento desacelera ou até mesmo anula algumas projeções, que
são liberadas, pela Inteligência Suprema, apenas quando houver a necessidade.
Portanto, o ser projeta apenas aquilo que o auxilia de alguma forma a evoluir,
não projetando ocasiões que não teriam nenhuma validade para seu desenvol-
vimento.
Percebe-se, assim, que nossa evolução é prioridade para a Inteligência Su-
prema do Universo, porém, é claro que o esforço é que irá dosar esse processo
natural e inevitável.
Tão importante quanto o autoconhecimento e compreensão da base men-
tal humana é saber como aplicar as melhorias através do uso correto da Psico-
logia e da mente. O uso delas é fundamental para o convívio social e interior
de cada ser, bem como ferramenta indispensável para o desenvolvimento do
espírito. Através delas, somos munidos de diversas ferramentas construtivas,
que permitem que possamos aprimorar nosso modo de pensar, de agir e, espe-
cialmente, de influenciar com boas pretensões outros seres, ajudando-os a se
livrarem de momentos depressivos ou autodepreciativos.
Portanto, é imprescindível ter o autoconhecimento e a boa prática, utili-
zando-se das ferramentas que são oriundas dos pensamentos.
O pensamento e o intelecto permitem-nos desenvolver mecanismos e mé-
todos de auxiliar o próximo através de palavras consoladoras e atitudes carido-
sas.
A caridade é proveniente do pensamento em conjunto com o desenvol-
vimento moral. Este permite que o ser humano possa enxergar questões que
outrora não enxergava, pois, quanto maior a moral, maior será o sentimento de
amor ao próximo.
A moral coletiva é importante para o desenvolvimento de todos de uma
forma acelerada.
A utilização do pensamento como ferramenta de desenvolvimento é com-
plexa e exige diversos aprimoramentos, que ocorrem de maneira natural du-
rante as encarnações. Seres mais esforçados chegam primeiro ao maior desen-

245
volvimento, enquanto seres menos esforçados chegam depois, auxiliados por
aqueles que chegaram anteriormente.
Não podemos confundir mente e cérebro. “Cérebro” é orgânico, ao passo
que “mente” é um atributo do espírito. O cérebro é utilizado pela mente en-
quanto estamos encarnados, ainda assim, quando o cérebro se desliga, a mente
não sofre solução de continuidade; irá ocupar a erraticidade e, posteriormente,
outro corpo orgânico, através de futura encarnação. O cérebro é uma ferramen-
ta da mente, e não vice-versa, portanto, ele depende da mente, mas a mente não
depende dele para a sua continuidade após o desencarne.
Todos nós, estejamos encarnados ou desencarnados, teremos a oportuni-
dade de desenvolver nossa mente, porém, dependerá do nosso livre-arbítrio a
velocidade desse processo. Outro atributo da mente – aliás, o mais importante
– é a consciência.
Ela é o ponto mais desenvolvido da mente humana e permite que o pro-
gresso moral e intelectual possa ser cada vez mais bem aplicado para o bem
comum.
Possuímos atributos na nossa mente que são facilitadores de nosso de-
senvolvimento. A cognição é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento
mental, dentre outras.
Todos esses complexos, porém já conhecidos, mecanismos mentais pos-
suem utilidades evolutivas, e compreendê-los é um processo natural. Isso não
significa que aqueles que ainda não os compreendem não são evoluídos ou
dignos de praticar o bem; todos nós, independentemente do estágio evolutivo,
precisamos apenas de fé, amor e caridade para evoluir.
Sigmund Freud
Matão, 8 de agosto de 2019.

544. Qual é o papel da Psicologia na evolução humana?


— Fundamental; sem estudar a mente, não evoluís. Conforme já foi dito,
a matéria é perecível, entretanto, a mente é eterna; ao estudá-la, compreenden-
do-a, ocorre em vós um salto evolutivo.

246
CAPÍTULO IV

Flagelos Destruidores
• Pandemias e catástrofes

I – Pandemias e catástrofes

Desde o início dos tempos, os encarnados passam por provas coletivas,


que, na maioria das vezes, são causadas por seus próprios atos. Nesses instantes,
ocorre uma inversão de valores universais: os bens e posses perdem seu valor
perante o caos instalado no orbe. Quem tem mais recursos está tão exposto e
suscetível quanto quem não possui nenhum, e o objetivo passa a ser a preser-
vação da vida. Ainda que com o sacrifício dos bens e das posses, o ser humano
entra no modo instintivo de sobrevivência e percebe quão frágil é perante os
poderes da natureza.
Com a Covid-19, percebeis o planeta entrando em colapso: pessoas proi-
bidas ou impedidas de sair de seus lares até mesmo para trabalhar, posses e bens
desaparecendo em poucas semanas e tudo aquilo a que o homem dá valor se
mostrando sem valor algum.
Vê-se um caos tão grande que se torna impossível buscar auxílio na fé
através de seus templos, igrejas ou centros espíritas; com medo da contamina-
ção viral iminente, todos vos isolais, com o mínimo contato humano.
Muitos de vós questionais: como Deus permite que isso ocorra?
Todas as intempéries que acontecem em vossa vida têm um propósito,
mesmo quando causadas por vós mesmos, através de vossas más escolhas.
Servem para que os encarnados enxerguem o que realmente tem valor e
também ajudam a perceber que a fé independe de onde vós estejais, pois habita
o interior de cada um, bastando ser despertada. Ensinam a desenvolver conta-
tos que não sejam físicos e a aprender a vos expressar com a simplicidade de um
olhar. Enquanto todas essas mudanças acontecem no cotidiano, Deus aproveita
o momento e permite que a natureza possa reconstituir-se.
A camada de ozônio tende a se recompor do estrago milenar sofrido, os
oceanos ficam mais limpos, o ar, mais puro, os animais selvagens podem final-
mente multiplicar-se, sem a interferência humana. O planeta mostra a todos que
sabe se curar, mesmo com tantos males causados por todos vós.
A tecnologia, desenvolvida para alimentar guerras e ceifar vidas huma-
nas, então, passa a ser utilizada para salvá-las, através de respiradores, e usada,
também, para aproximar os encarnados, sedentos do mínimo contato externo,
247
através da internet. Deus prova a cada um de vós quão sábio Ele é e como é
possível utilizar vossa inteligência para construir ao invés de destruir.
Analisando todas essas questões, podeis, enfim, perceber que tudo por que
passais não é tão catastrófico assim e que só vos é permitido vivenciar aquilo
que leva à evolução e ao progresso.
O amor, a fé e os verdadeiros tesouros jamais poderão ser atingidos por
qualquer catástrofe ou pandemia; estes não são materiais e estão contidos em
todos vós, independentemente de classe social ou religião.
Tendes a liberdade para fazer um mundo melhor, cabendo a vós, pelo
amor, inverterdes os vossos valores e não esperardes a dor para os compreen-
der.

545. Por que ocorrem as pandemias?


— Por diversos motivos; em alguns casos, são oriundas das más escolhas
dos encarnados, em outros, das provas coletivas. Entretanto, todas as hipóteses
levarão à evolução. Com o caos, ocorrem algumas inversões de valores, e Deus,
em Sua inteligência infinita, utiliza-se desse “caos” para direcionar a humanida-
de ao progresso: “Quem não vier até mim pelo amor virá pela dor”.

546. Como os espíritos podem ajudar a humanidade em períodos de


pandemia?
— Da mesma forma com que a auxiliamos nos períodos sem ela: com
boas intuições e direcionamentos, instruindo os encarnados na busca das vaci-
nas e da cura e recepcionando os que desencarnaram por razão dela, com muito
amor e cuidado.

547. Sob a ótica da espiritualidade, o que a humanidade pode apren-


der com as pandemias?
— Muito; tudo o que ocorre no orbe e fora dele é para vosso aprendizado,
nada acontece sem um propósito maior. Há muito o que extrair da crise, inclu-
sive a oportunidade de construir um mundo melhor. Pelo âmbito material, as
pandemias ensinam a organizar-vos, a prevenir-vos e a cooperar entre vós; espi-
ritualmente, desenvolvem a resiliência, despertam a fé e promovem a caridade.

548. Os desencarnes pelas pandemias já estavam programados?


— Nem sempre, dependerá da origem dessa pandemia. Se promovida
pelo livre-arbítrio dos encarnados, esses desencarnes não estariam na progra-
mação do espírito, porém, começam a fazer parte da programação perfeita e
infalível de Deus.
A. Podemos ter desencarnes que são considerados suicídios invo-
luntários, como os ocasionados pela falta de cuidados sanitários básicos
em uma pandemia?

248
— Todo descuido com prévio conhecimento é displicente, entretanto, há
diversos fatores a serem analisados antes de considerarmos um suicídio invo-
luntário. Há diferentes níveis de suicidas; os mais comuns são aqueles que, ape-
sar de não tomarem a devida cautela, não possuíam a intenção de prejudicar a
própria saúde, e, nesses casos, as expiações serão abrandadas.

549. As pandemias anteriores serviram como aprendizado para a


ciência?
— Sim, conforme mencionado anteriormente, o caos permite novas opor-
tunidades, e existe uma ampliação no desenvolvimento científico.
Energias que eram desperdiçadas para promover destruição e guerra pas-
sam a ser focadas na conservação da vida, e, por força maior, os valores que
outrora estavam invertidos ou esquecidos retornam ao seu curso natural.
A. O que são vírus, na visão dos espíritos? Como esses seres da cria-
ção podem agir como se tivessem “inteligência”, como vemos em suas
mutações recorrentes?
— Conforme presumem, são toxinas que fazem parte da natureza; basica-
mente formadas por capsídeos, não possuem inteligência, porém, como todos
os organismos vivos, possuem instinto de sobrevivência e adaptação.246

550. Haverá um momento em que a ciência poderá conhecer todos


os mecanismos para combater qualquer tipo de vírus?
— Sim, chegará um momento em que a humanidade poderá coexistir com
esses vírus sem que seja afetada negativamente por eles, porém, ainda há um
longo caminho a ser percorrido até que chegue a esse ponto.247

551. Qualquer vírus criado ou modificado pelo homem pode ser


controlado por ele mesmo, ou será necessária a inspiração da espiritua-
lidade para contê-lo?

246 Os vírus são parasitas intracelulares que desenvolveram vários mecanismos para manipular a
biologia da célula hospedeira e as respostas de defesa imunológica, utilizando a maquinaria e o me-
tabolismo da célula hospedeira para seu estabelecimento e propagação (NASCIMENTO; COSTA;
PARKHOUSE, 2011). O conhecimento dos processos relacionados à taxa de mutação viral, que va-
ria amplamente entre os vírus, tem implicações para a compreensão e gestão na resistência a drogas,
escape imunológico, vacinação, patogênese e o surgimento de novas doenças (SANJUÁN; DOMIN-
GO-CALAP, 2016).
247 O Livro dos Espíritos, questão 741: “É dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem? — [...] À
medida que ele adquire conhecimento e experiência pode conjurá-los, quer dizer, preveni-los, se sou-
ber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza
geral e pertencem aos desígnios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior
proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de
Deus. Mas ainda esses males são geralmente agravados pela indolência do homem.”

249
— Tudo que é controlado pela espiritualidade pode ser também condu-
zido pelo homem encarnado, que, por sua vez, também é um espírito. A ins-
piração espiritual apenas serve para vos relembrar daquilo que já habita em
vossa consciência. Nós, da erraticidade, não podemos instruir-vos sobre algo
que ainda não tenhais capacidade de compreender. Portanto, instruir-vos-emos
quando já puderdes tanto compreender como praticar.

552. Como fica o estado de vibração do planeta em períodos de pan-


demia?
— Depende de quão evoluído for. O estado vibracional do planeta não
depende da crise enfrentada, mas de como se reage a ela; é possível habitar tem-
pos terríveis com serenidade ou vivenciar dias calmos com pavor.
O equilíbrio é fundamental para que não deixeis os acontecimentos inde-
sejados afetarem vossa preciosa vibração para o bem.
A. Podemos afirmar que as enfermidades pandêmicas são uma ex-
piação coletiva?
— Não necessariamente, tudo dependerá de como foram originadas; se
por motivos naturais, poderiam até ser uma expiação coletiva, entretanto, se por
mau uso do livre-arbítrio, não poderiam ser uma expiação, e sim, uma prova.
B. Por que alguns países sofrem mais do que outros com pande-
mias? São motivações do passado ou atitudes estratégicas de combate à
doença que resultam em acertos ou erros?
— Estratégias de combate malsucedidas, assim como melhor adaptabili-
dade dos vírus ou bactérias em determinadas regiões.
Não há país que sofra em sua totalidade uma consequência divina, isso
não seria racional; o mau controle das pandemias é oriundo das más escolhas
realizadas por um conjunto de pessoas que decidem pelos demais.

553. Na visão dos espíritos, em períodos de pandemia, os governan-


tes devem se preocupar mais com a saúde pública ou com a economia?
— Nesses instantes de difíceis decisões, o ideal é estabelecer o equilíbrio,
afinal, a quebra econômica também afetará a saúde pública; entretanto, exposi-
ções desnecessárias são imprudências.
Eis a importância da evolução moral: quando a sociedade for representada
de forma séria e despretensiosa por governantes que pensem no bem comum,
terá as informações necessárias para tomar as melhores decisões. Enquanto
esse momento evolutivo não chega, cabe a vós a incerteza construída pelo pró-
prio espelho da falha moral.

554. Conforme O Livro dos Espíritos, os flagelos destruidores fazem


parte das leis divinas de melhoria da humanidade. Os homens podem
ser considerados autores de tais flagelos?

250
— Tudo é previsto por Deus, mas isso não significa que tudo seja desejado
por Ele. Tendes, como homens, a obrigação de proteger a natureza e o meio
que vos foi concedido para viver, respondendo proporcionalmente pelas catás-
trofes que, de forma direta ou indireta, gerardes, da mesma maneira colhendo
todo o bem que plantardes. Portanto, apenas se torna flagelo aquele que fez a
má escolha.

O verdadeiro toque

A humanidade enfrenta uma terrível pandemia, que vos obriga ao afas-


tamento. Os contatos físicos, que são inerentes e comuns ao ser encarnado,
tornaram-se potencialmente letais, o amor, que outrora era expresso por meio
de um abraço, hoje tem sido demonstrado apenas por uma conversa distante
ou através de palavras.
Da mesma forma ocorre entre nós, no plano espiritual: não possuímos,
na matéria, a densidade necessária para nos tocarmos, porém, desenvolvemos
o amor na profundidade suficiente para tocarmos uns aos outros através do
conteúdo de nossas palavras e intenções.
Se somos seres movidos pela consciência, o maior “toque” que podería-
mos ter é aquele que transcende nossos corações e se perpetua em nossas almas:
o toque do amor, demonstrado através de nossas vibrações, palavras e atitudes.
Haverá um dia em que não precisareis de uma pandemia para a inversão
dos vossos valores. No futuro, aprendereis que “tocar” alguém não depende do
contato material, mas, simplesmente, do espiritual.
O homem vive múltiplas vezes na matéria e evolui através dela, mas jamais
por ela. Não permitais que o invisível deixe de ser essencial e dai a devida visi-
bilidade ao amor e à fé, que, uma hora ou outra, consolidarão vosso caminho
evolutivo.
Deus, Vós que jamais permitistes a tormenta sem elaborardes excelentes marinheiros,
fazei-os aprimorar os sentidos, adaptando-os à nova realidade; fazei-os perceberem que, mes-
mo sem o “antes” insubstituível contato físico, podem, hoje, demonstrar amor e manterem suas
relações.
Santo Agostinho
Matão, 2 de agosto de 2020.

251
CAPÍTULO V

As Penas Futuras
Equívocos substanciais • Justiça Divina • Perdão • Amor • Fé

I – Equívocos substanciais

Os principais equívocos, com os quais hoje possuís contato diário, são


oriundos das duas maiores chagas da humanidade: o orgulho e o egoísmo. Há
muitos séculos, a humanidade batalha contra essas duas falhas e lentamente
compreende o mal que elas causaram até os dias atuais.
A gula é alimentar-vos insaciavelmente, portanto, é oriunda do egoísmo.
Com tantos irmãos passando fome à vossa volta, querer demais para vós é não
praticar a caridade ensinada pelo Cristo.
A ira, por sua vez, é proveniente do orgulho; não permite que possais ser
humildes o suficiente para perdoar vossos irmãos, fazendo, dessa forma, acen-
tuar vossos equívocos.
A avareza é o culto ao materialismo, portanto, mais uma forma de egoís-
mo: a busca incessante por possuir mais para vós.
A luxúria é o apego carnal e passional, que provém do egoísmo.
A inveja é uma das maiores formas de egoísmo, expressada em desejar
aquilo que outrem conquistou pelos próprios méritos.
A preguiça é a falta de esforço, portanto, uma forma de egoísmo. O ser
pensa apenas em suas necessidades, deixando de lado o bem coletivo.
A soberba é sentir-vos superiores e deixar que o orgulho predomine.
Deus criou-nos simples e ignorantes, para que pudéssemos evoluir co-
letivamente e auxiliarmos uns aos outros. Apesar de serdes seres individuais,
necessitais da sociedade para progredir.
Desejamos que possuais “gula” de conhecimento para a busca da verda-
deira compreensão dos vossos propósitos; que a ira jamais habite vossos cora-
ções; que jamais haja preguiça na persistência de vossas lutas, sabendo sempre
enxergar vossos irmãos sem inveja.
Quando a soberba vos levar a pensar que sejais superiores a outrem, per-
mitais que a humildade vos recoloque em vosso estado inicial, simples e igno-
rantes. Não vos apegueis às luxúrias da Terra, pois a única vida eterna é a do
espírito.
Um dia, habitareis o plano espiritual, no qual a avareza é irrelevante e o

252
amor ao próximo é o único caminho para evolução.

II – Justiça Divina

555. Está citado na obra O Céu e o Inferno (Primeira Parte – capí-


tulo VII “Código Penal da Vida Futura”, item 10º), referindo-se ao espí-
rito: “Pela natureza dos sofrimentos e dificuldades enfrentadas por ele
na vida corpórea, podemos julgar a natureza das faltas cometidas numa
existência anterior e quais as imperfeições que as causaram”. O que isso
significa?
— A expiação é um ajuste de conduta necessário para que possais sentir
a dor causada ao próximo em sua real intensidade. Nem todas as dores são
originadas de expiações, todavia, com a aceitação adequada, estas podem ser
cumpridas até mesmo com alívio. O modo com que ireis encarar vossas expia-
ções definirá a qualidade de vossa fé e aceitação. A revolta com vossa expiação
apenas a agrava, pois é uma forma de, inconscientemente, questionardes a Jus-
tiça Divina. É necessário que saibais suportar vossas expiações e aprender com
elas, evitando criar novas e futuras. Aquele que se resigna e aceita sua expiação
está “pagando sua conta”, sem ocasionar novos débitos.

556. Como compreender a dor da expiação se possuímos o véu do


esquecimento?
— No exercício do mal, merecendo a dor da expiação, sabeis previamente,
em vossa consciência, as consequências. É natural do espírito saber discernir o
bem do mal à proporção de sua evolução, e, quando o conhece e mesmo assim
o pratica, optando pelo mal, estará gerando novas expiações, as quais precisarão
ser enfrentadas com resiliência.
O véu do esquecimento é uma benção divina, pois, apesar de não vos dei-
xar saber o motivo de vossos sofrimentos, não origina novas dores relacionadas
ao passado, que não pode ser mudado.
Com o cumprimento de vossas expiações com resignação, estareis apren-
dendo e, consequentemente, desenvolvendo vosso espírito. Conhecer o motivo
delas não vos livraria da necessidade de cumpri- las; apenas dificultaria essa
execução.248

248 O Livro dos Espíritos, questão 393: “Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas
dos quais não se recorda? [...] — A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode me-
lhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito se ele se recordasse de todo o passado? [...]
Nessa nova existência, se o Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si
próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio deles.”

253
557. Se a ignorância “protege” espíritos que praticaram o mal sem
conhecimento, estes poderão passar por momentos umbralinos?
— Na maioria dos casos, sim. O discernimento é uma das primeiras facul-
dades desenvolvidas pelo espírito, permitindo-lhe que aprimore seu livre-arbí-
trio, fazendo com que dome seus instintos e evolua como homem. A ignorância
“protege”, porém não abona, pois a maioria dos males cometidos podem não
parecer errados, com clareza, na mente dos espíritos, entretanto, estão intrínse-
cos em sua consciência, que os cobra.
Nesse caso, ir contra a consciência, que é a comunicação direta com o
Criador, prevalece sobre o fato de não se conhecer o erro.249

558. Quando desencarnamos, podemos ser “escravizados” por espí-


ritos obsessores com os quais temos débitos passados?
— Apenas se assim permitirdes; a escravidão é fruto do livre-arbítrio do
obsidiado, e não do obsessor. O que vos escraviza são os próprios pensamen-
tos, conforme já mencionado anteriormente (conforme visto na questão 453).

559. A expiação é necessária mesmo quando há arrependimento


sincero?
— Sim, e o arrependimento é útil para prevenir novas faltas, mas não apa-
ga as antigas (conforme visto na questão 516). Quanto às provas, podem ser ameni-
zadas com reforma íntima e mudanças de hábitos. A Justiça Divina nem sempre
acompanha a conveniência humana.250

560. Como é visto pela Justiça Divina o sofrimento de espíritos por


longos períodos?
— Todos são convidados a se regenerarem, mas nem todos aceitam esse
convite. Alguns irmãos preferem ficar presos a seus estados mentais conflituo-
sos por séculos, em vez de abrirem mão do orgulho e do egoísmo, em busca da

249 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo VII – A carne é fraca: “[...] A responsabilidade moral
dos nossos atos na vida permanece, portanto, inteiramente nossa. Mas a razão nos diz que as conse-
quências dessa responsabilidade devem estar em relação com o desenvolvimento intelectual do Es-
pírito. Quanto mais ele for esclarecido, menos desculpável será, porque com a inteligência e o senso
moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto. [...]”
250 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo VII – Código penal da vida futura, item 12º: “[...] A úni-
ca lei geral é a de que toda falta recebe uma punição e toda boa ação tem a sua recompensa segundo
o seu valor.”; item 16º: “O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas
não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação
são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências. O ar-
rependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas
somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa. O perdão seria uma graça e não uma
anulação da falta.”

254
redenção. Essa não é uma questão de Justiça Divina, mas da má utilização do
livre-arbítrio.251

561. Só poderemos causar dor a um irmão se essa for a expiação


dele?
— Não. Se assim o fosse, quem sofreu a primeira dor estaria expiando por
qual motivo? Deus, em Sua infinita sabedoria, criou o livre-arbítrio para que pu-
déssemos utilizá-lo de forma sábia; quando assim não o fazemos, prestaremos
nossas contas acerca disso. A dor pode ser oriunda de expiação, contudo, são
as más escolhas dos encarnados que geram o sofrimento alheio. Deus apenas
ajusta os débitos e créditos de cada um, fazendo-os cumprir suas provas e ex-
piações.

562. A questão 295 em O Livro dos Espíritos esclarece-nos que es-


píritos podem conservar ressentimentos por mais de uma existência;252
diante das leis divinas, quanto tempo é permitido a um espírito nutrir-se
de ódio, tentando prejudicar seu semelhante?
— As leis divinas não interferem nas escolhas dos espíritos, isso sempre
dependerá de seu livre-arbítrio e decisões. O ódio gera o ódio, mas, ao abrir
mão do orgulho e encontrar o caminho do perdão, esses espíritos poderão se
reconciliar e reencontrar-se com a merecida paz.
Nota: Todos temos a mesma origem e o mesmo destino. O espírito
sempre será o artífice das suas escolhas; o tempo de permanência na
ignorância das paixões será do seu livre-arbítrio. Deus só quer o bem de
seus filhos, permitindo que cada um leve o tempo que for necessário.
Ninguém está fadado à estagnação eterna: todos iremos evoluir.

563. O que são “as misérias deste mundo”, citadas na Revista Espí-
rita de setembro de 1863?
— As injustiças mundanas, causadas pela falta de caridade ou egoísmo da
humanidade.
A miséria não é uma escolha divina, e sim, a falta do exercício do amor ao
próximo. Em geral, tendes mais do que precisais, porém não sabeis comparti-
lhar aquilo que possuís, causando as misérias que hoje conheceis.

251 O Céu e o Inferno – Primeira Parte, capítulo VII – Código penal da vida futura, item 13º: “A du-
ração do castigo está subordinada ao melhoramento do Espírito culpado; nenhuma condenação é
pronunciada contra ele por tempo determinado. [...] O Espírito é assim e sempre será o árbitro do
seu próprio destino. [...]”
252 O Livro dos Espíritos, questão 295: “Que sentimento experimentam, após a morte, aqueles a quem
fizemos mal neste mundo? — Se são bons, perdoam, de acordo com o vosso arrependimento. Se são
maus, podem conservar o ressentimento, e por vezes vos perseguir até numa outra existência. Deus
pode permiti- lo, como um castigo.”

255
Entretanto, a sabedoria divina faz que passeis por diversas experiências, e
aqueles que hoje têm mais do que necessitam e não compartilham vivenciarão,
por conseguinte, a necessidade sem a ajuda.253

564. Tendo todas as ferramentas disponíveis para a prática da cari-


dade, por que não a praticamos?
— Por que essa pergunta é endereçada a nós?!
Nota: Kardec interpretou o caminho humano em busca da evolução:
“Fora da caridade, não há salvação.”
Conhecimento, experiência, oração, meditação, convivência harmonio-
sa, vão nos instrumentalizando para a prática da caridade, no sentido
salvífico empregado pelo mestre Jesus (O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo XV, item 5, O maior mandamento), o que requer ação des-
pretensiosa, afastada do egoísmo, do orgulho e da vaidade. A caridade,
nessas condições, é a prática do amor. E por que não agimos assim,
com tantas ferramentas à nossa disposição? Porque estamos distantes
da perfeição, estamos apegados ao que é “nosso”, significando que o
egoísmo ainda prevalece em nós, que o orgulho nos conduz e que a
vaidade nos fascina. Porém, a cada ato caridoso que realizamos, já apre-
sentamos tímidos lampejos de lucidez, que se tornarão resplandecentes
sob os ensinamentos do mestre.

565. Na questão 167 em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:


“Qual é a finalidade da reencarnação?” E obtém como resposta: “Expia-
ção, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isso, onde estaria
a justiça?”. Diante disso, perguntamos: por qual motivo ficaram de fora
da resposta “as provas”?
— Porque estas são cumpridas na própria encarnação, na maior parte das
vezes, geradas pelo próprio encarnado ou pela sociedade na qual ele vive. Já as
expiações são falhas graves, que poderão necessitar de uma ou mais encarna-
ções para seu cumprimento. Isso ocorre pois, muitas vezes, é necessário que
o espírito se arrependa, na erraticidade, dos males praticados enquanto estava

253 Revista Espírita, setembro de 1863, p. 312-313, Perguntas e problemas sobre a expiação e a prova:
“[...] Agora, se considerarmos o homem na Terra, veremos que ele aí suporta males de toda sorte, e
por vezes cruéis. Esses males têm uma causa. Ora, a menos que os atribuamos ao capricho do Cria-
dor, somos forçados a admitir que a causa está em nós mesmos, e que as misérias que experimenta-
mos não podem ser resultado de nossas virtudes. Então elas têm sua fonte nas nossas imperfeições.
[...] Como todo efeito tem uma causa, as misérias humanas são efeitos que devem ter uma causa. Se
essa causa não estiver na vida atual, deve estar numa vida anterior. Além disso, admitindo a justiça de
Deus, tais efeitos devem ter uma relação mais ou menos íntima com os atos precedentes, dos quais
eles são, ao mesmo tempo, castigo para o passado e prova para o futuro. São expiações no sentido de
que são consequência de uma falta, e provas em relação ao proveito delas tirado. [...]”

256
encarnado, decidindo retornar para quitar esses débitos.254

566. Em relação à questão 259 em O Livro dos Espíritos, a qual diz


que: “[...] o Espírito escolhe o gênero de suas provas [...]”, quais seriam
esses gêneros?
— Os mais variados possíveis, dependendo de sua escolha. Pode passar
pela riqueza, pela miséria ou por limitações físicas, entretanto, como reagirá a
essa própria escolha definirá seu êxito ou seu fracasso.255

567. Poderemos ser considerados espíritos avançados moralmente


mesmo não sendo testados em todas as situações que possibilitariam
nos ocasionar quedas?
— Sim. Não necessitamos passar por todas as dores do mundo para evo-
luirmos com elas; o amor ensina, e a dor do próximo exemplifica. “Orai e vi-
giai”256 também significa observar à sua volta e aprender.
A. As obras espíritas informam que as provas materiais são ape-
nas para espíritos imperfeitos. Como seriam as provas para espíritos em
graus superiores?
— Quando em grau superior, nossas provas serão as de nossos irmãos.
Enquanto a humanidade não caminhar conjuntamente no sentido da evolução,
todos ainda estaremos imperfeitos.257

568. Podemos afirmar que o único caminho do espírito sofredor,

254 Instruções práticas sobre as manifestações espíritas – Vocabulário Espírita: “Expiação – pena que sofrem
os Espíritos como punição das faltas cometidas durante a vida corporal. A expiação, sofrimento
moral, ocorre no estado de erraticidade como o sofrimento físico ocorre no estado corporal. As
vicissitudes e os tormentos da vida corporal são, ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiação
do passado.”; “Provas – vicissitudes da vida corporal pelas quais os Espíritos se purificam, segundo
a maneira pela qual as suportam. Segundo a doutrina espírita, o Espírito desprendido do corpo, re-
conhecendo sua imperfeição, escolhe ele próprio, por ato de seu livre arbítrio, o gênero de provas
que julga mais próprio ao seu adiantamento e que sofrerá em sua nova existência. Se ele escolhe uma
prova acima de suas forças, sucumbe, e seu adiantamento retarda.”
255 O Livro dos Espíritos, questão 851: “Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o
sentimento ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse
caso em que se torna o livre-arbítrio? — A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito,
ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de
destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza
física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio
sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. [...]”
256 Mc 14:38 – “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a
carne é fraca.”
257 O Livro dos Espíritos, questão 111: “[...] Espíritos Superiores [...] Quando, por exceção, se encarnam
na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e então nos oferecem o tipo de perfeição a que a
humanidade pode aspirar neste mundo.”; questão 233: “Os Espíritos já purificados vêm aos mundos
inferiores? — Vêm frequentemente, a fim de os ajudar a progredir. Sem isso, esses mundos estariam
entregues a si mesmos, sem guias para os orientar.”

257
o qual possibilitará sua elevação a um estado de maior conforto, é o do
arrependimento?
— O arrependimento possibilita a prática, e ela é imprescindível para o
conforto. Não basta vos arrepender e nada fazer para reparar vossos males. A
reparação, como o próprio nome diz, é a ação de reparar (conforme visto na nota
de rodapé n.º 250).

569. Quais são as situações vivenciadas em vidas passadas que le-


vam às doenças graves?
— Mais importante do que olhar para o passado imutável é construir, no
presente, um futuro melhor (conforme visto na questão 555).

570. Como os encarnados que carregam fardos aparentemente mui-


to pesados poderão suportar essas dores?
— A mesma intensidade da dor, outrora causada a outrem, deverá ser su-
portada, agora, por eles.258

571. Como nos ajudarmos quando precisamos de auxílio, mas não


o aceitamos?
— Instruí-vos e procurai não vos constranger, no entanto, a decisão de
abdicar do orgulho e vaidade caberá a vós; todos vós já estivestes na mesma
situação um dia ou estareis.
Nota: A ajuda é uma situação bilateral, pressupondo que a outra par-
te possa aceitá-la ou não. Nem sempre quem necessita de socorro se
enxerga como tal; às vezes, só lhe salta à mente sua própria convic-
ção contrária. É preciso ter paciência e empatia no processo de auxílio.
Experienciar conscientemente um processo de ajuda dessa natureza é
oportunidade valiosa; Deus permite que a vivenciemos para aprimorar-

258 Rm 2:5-8 – “Mas, pela tua obstinação e coração impenitente, vais acumulando ira contra ti, para o
dia da cólera e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras: a
vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade; mas ira
e indignação aos contumazes, rebeldes à verdade e seguidores do mal.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 7: “Os sofrimentos produzidos por causas anteriores
são sempre, como os decorrentes de causas atuais, uma consequência natural da própria falta come-
tida. Quer dizer que, em virtude de uma rigorosa justiça distributiva, o homem sofre aquilo que fez
os outros sofrerem. Se ele foi duro e desumano, poderá ser, por sua vez, tratado com dureza e desu-
manidade; se foi orgulhoso, poderá nascer numa condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se
empregou mal a sua fortuna, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com
os próprios filhos; e assim por diante. [...]”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 21: “[...] A severidade do castigo é proporcional
à gravidade da falta. A duração do castigo, para qualquer falta, é indeterminada, pois fica subordinada
ao arrependimento do culpado e ao seu retorno ao bem; assim, a pena dura tanto quanto a obstinação
do mal; seria perpétua, se a obstinação o fosse: é de curta duração, se o arrependimento vier logo. [...]”

258
mos nossa habilidade de convívio junto ao irmão necessitado.

572. Podemos afirmar que todos os suicidas deverão reencarnar,


obrigatoriamente, em corpos que lhes acarretem padecimentos?
— Não existe essa regra, cada equívoco possui sua própria carga (conforme
visto na questão 560).

573. As dificuldades em relacionamentos familiares são dívidas re-


encarnatórias?
— A dificuldade em vosso relacionamento familiar é fruto de vosso orgu-
lho e egoísmo. Apesar de as dívidas reencarnatórias serem elementos naturais
no processo evolutivo, elas são oriundas do livre-arbítrio, que, muitas vezes,
ressalta o material sobre o espiritual.
Pode até ser uma dívida passada, todavia, não é uma regra. Que vós vigieis
vossas prioridades morais, pois o exercício de viver bem coletivamente é um
gigantesco passo evolutivo.259

III – Perdão

Cegueiras temporárias

Quantas vezes, em nossas encarnações, sofremos “cegueiras” que prejudi-


cam nossa evolução?
Por mais que nossa consciência acuse a necessidade de seguir por deter-
minados caminhos, tendemos a enxergar aquilo que realmente nos convém,
renunciando, assim, a tudo aquilo que é imprescindível para exemplificar os
ensinamentos de Jesus.
Ser um bom cristão não se trata apenas de frequentar uma casa religiosa ou
seguir uma doutrina, mas de lutar contra essas “cegueiras” que nos abordam o
tempo todo durante nossas inúmeras existências, entendendo que mais impor-
tante do que conhecer é praticar aquilo que conhecemos.
Quantas oportunidades temos de ajudar um semelhante e simplesmente as
desperdiçamos para atender nossos objetivos temporários?
A pior cegueira não é não enxergar o mundo físico, mas não ver com os
olhos da consciência aquilo que é essencial para nossa evolução.

259 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo IV, item 19: “[...] Deus permite essas encarnações de
Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com a dupla finalidade de servirem de provas para
uns e de meio de progresso para outros. Os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons
e pelas atenções que deles recebem, seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias
desaparecem. [...]”

259
Ajudar um irmão necessitado, dar uma palavra amiga, estender a mão para
aqueles que precisam, respeitar pai e mãe, educar de forma adequada os filhos,
tratar bem os animais, amar ao próximo como a si mesmo, respeitar a natureza,
cuidar do corpo; tantas questões que parecem ser óbvias para todos nós, con-
tudo, uma vez que estamos encarnados, esquecemo-nos de praticá-las, seja por
orgulho ou egoísmo, seja por falta de foco momentâneo.
A encarnação é uma oportunidade constante de cumprir provas e expia-
ções, evoluindo com tudo aquilo que trouxemos de bagagem ou conhecimento.
Quando não utilizada adequadamente, transforma-se em um agravo, prejudi-
cando nossas futuras encarnações, assim como a atual.
Jamais deveis subestimar o fardo do conhecimento; ainda que a ignorância
vos proteja, ela cobrará na mesma proporção. Sois responsáveis por praticar
aquilo que conheceis.
A responsabilidade não está apenas na prática, mas também em ensinar
aqueles que ainda não possuem conhecimento similar, estimulando, por conse-
quência, as boas ações.
É instintivo que alguns de nós precisemos passar pela dor para promover
o amor. Experiências ruins são necessárias e naturais para nosso crescimento,
mas, racionalmente, não seria dessa forma. Com estudo e conhecimento ne-
cessários, não seria preciso colocar a mão no fogo para saber que ele queima.
Conhecimento, experiências alheias e confiança na fonte de quem vos ensinou
bastariam para tomardes as precauções suficientes para nem haver aproximação
da mão à fogueira.
“Cegos temporários”, geralmente, são individualistas, enxergam apenas
com seus olhos, em vez de buscar aprender com os conselhos dos mais expe-
rientes, os quais passaram outrora por isso.
Um exemplo é o de um pai que diz para um filho tomar cuidado com
certas companhias, pois, tendo em sua vida experiências que o prejudicaram,
tenta alertá-lo e resguardá-lo para que não vivencie algo similar. Ainda assim,
na grande maioria das vezes, o filho necessitará da dor da decepção para então
entender que os conselhos de seu pai eram sábios e pertinentes.
O maior problema na “cegueira” é ela começar a se tornar coletiva. Um
grupo de pessoas passa a sustentar crenças ou valores que apenas contribuem
para seus próprios egos ou necessidades, ou seja, uma pessoa apoia na outra sua
“cegueira”; desse modo, torna-se muito difícil voltar a enxergar a realidade. No
entanto, sempre haverá um caminho de luz, pois Deus, em Sua infinita sabedo-
ria, nos concedeu a consciência, crivo final para podermos discernir o certo do
errado.
Portanto, ainda que o mundo todo caminhe por estradas tortuosas, nossa
consciência, mais cedo ou mais tarde, levar-nos-á para pastagens verdes e relu-

260
zentes, junto ao amor de Deus.
Confiai em Deus, em vossa consciência, e permiti-vos voltar a enxergar a
essência da vida como ela realmente é.
Fora do amor, da fé e da caridade, não há salvação.
Santo Agostinho
Matão, 28 de julho de 2019.

574. O que é o perdão, na visão dos espíritos?


— O perdão é uma das mais belas capacidades humanas, exemplificado
pelo Cristo em sua passagem pela Terra.260 É enxergar, humildemente, vossa
imperfeição, aceitando com compaixão as próprias falhas ou as de vossos ir-
mãos. Portanto, é uma abdicação ao orgulho e um gigantesco passo evolutivo.

575. O que significa “perdoar”?


— Perante os outros: livrar-vos das vestes do orgulho, agindo, assim, com
a humildade necessária para o reconhecimento das vossas imperfeições, o sufi-
ciente para que não julgueis vossos irmãos pelas deles.
Perante vós mesmos: dar-vos uma nova oportunidade de redenção, acei-
tando vossas falhas a ponto de buscar corrigi-las e evitar, assim, erros futuros.261
Nota: A consciência, nossa ligação íntima com Deus, por mais imatura
que hoje se apresente, um dia manifestará necessidade ética e moral de
aliviar-se do peso causado por mágoas e rancores arrastados do pretéri-
to. Perdoar o outro e a si mesmo é uma necessidade humana para pros-
seguir a vida de maneira mais digna, liberta das sombras do passado. E,
assim, com novos olhares ao futuro, resta-nos reconstruir o presente
com perspectivas positivas e depuradas.

576. Podemos considerar o perdão uma escolha consciente?


— O perdão é uma escolha consciente, que gera uma consequente melho-
ra no estado emocional e vibratório.

260 Lc 23:34 – “E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem. [...]”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVIII, item 3, V: “[...] Dai-nos, Senhor, a força de sufocar
em nosso íntimo todo ressentimento, todo ódio e todo rancor. Fazei que a morte não nos surpreenda
com nenhum desejo de vingança no coração. Se Vos aprouver retirar-nos hoje mesmo deste mundo,
fazei que possamos nos apresentar a Vós inteiramente limpos de animosidade, a exemplo do Cristo,
cujas últimas palavras foram em favor dos seus algozes. [...]”
261 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 8: “Quando Jesus disse: ‘Vai te reconciliar primei-
ro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta’, ensinou que o sacrifício mais agradável ao Senhor
é o dos próprios ressentimentos; que antes de pedir perdão ao Senhor, é preciso que se perdoe aos
outros, e que, se algum mal se tiver feito contra um irmão, é necessário tê-lo reparado. Somente assim
a oferenda será agradável, porque é proveniente de um coração puro de qualquer mau pensamento.
[...]

261
577. Perdoar é simplesmente esquecer a ofensa?
— Não. Perdoar é aceitar a ofensa, conviver e aprender com ela, a ponto
de não buscar praticar ao próximo aquilo que vos tem ofendido.

578. Perdoar o agressor exime-o de suas faltas cometidas?


— Não. O perdão ameniza os efeitos de seus equívocos, entretanto, não
retira a responsabilidade pelo erro cometido. Se assim o fosse, onde estaria a
Justiça Divina?262

579. Perdoar é ignorar as injustiças?


— Não, perdoar é não querer fazer a justiça com as próprias mãos; é acreditar
na Providência Divina, porém, sem desejar o mal ao ofensor.
Nota: De forma alguma é ignorar as injustiças! Quem perdoa tem muito
claro em seu íntimo a injustiça que lhe foi acometida; no entanto, decide
não perpetuar em si um ciclo de fatos, qual seja, o de fazer justiça com
as próprias mãos e de permanecer desejando o mal a quem quer que
seja.

580. Existindo algumas situações em que perdoar nos parece im-


possível, como proceder nesses casos?
— Perdoar não é apenas possível, como necessário.
Não vos esqueçais de que os equívocos que hoje condenais são frutos de
vossas próprias ações pretéritas.263
Nota: Nessas ocasiões, nossa vontade e decisão devem estar acima de
nossos instintos e emoções. Devemos estar convictos de que, além de
termos todo o aparato interior para praticar o ato do perdão, estaremos
amparados pelas forças espirituais que almejam o bem e trabalham a
favor de nossa evolução. Ademais, as atitudes de nossos irmãos que

262 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 17: “[...] Que solicitais ao Senhor quando lhe
pedis perdão? Somente o esquecimento de vossas faltas? Esquecimento de que nada vos deixa, pois
se Deus se contentasse de esquecer as vossas faltas, não vos puniria, mas também não vos recompen-
saria. A recompensa não pode ser pelo bem que não fez, e menos ainda pelo mal que se tenha feito,
mesmo que esse mal fosse esquecido. Pedindo perdão para as vossas transgressões, pedis o favor de
sua graça, para não cairdes de novo, e a força necessária para entrardes numa nova senda, numa senda
de submissão e de amor, na qual podereis juntar a reparação ao arrependimento. [...]” – João, Bispo de
Bordeaux, 1862
263 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 15: “Perdoar aos inimigos é pedir perdão para
si mesmo; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora.
Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe. Porque, se fordes duros, exigentes, inflexíveis,
se guardardes até mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias ten-
des grande necessidade de indulgência? [...]” – Apóstolo Paulo

262
cometeram equívocos podem ser reflexos de nosso procedimento e fo-
ram trazidas a nós para que possamos nos autoanalisar e corrigir nosso
percurso evolutivo.

581. Há um limite para o perdão?


— O perdão é ilimitado. A limitação é decorrente de vossa própria vaida-
de.264

582. Por que temos tanta dificuldade em perdoar?


— Possuís essa relutância porque, para perdoar, é necessário o despir do
orgulho, que vos consome, e o vestir da humildade, que vos edifica.265
A. Como ter convicção sobre o real perdão?
— Quando os sentimentos de amor e compaixão superarem as lembran-
ças e rancores das faltas, recebidas ou cometidas, tereis, então, perdoado.

583. Qual é a forma de promovermos o autoperdão?


— Primeiramente, com o autoconhecimento, posteriormente, trocando
vossa autoflagelação por reformas íntimas e ações práticas.
Nota: Não raro, vemo-nos às voltas com a culpa interior. Acusamo-nos
de incapazes, fracassados, omissos, fracos, traidores. É o passado ba-
tendo às portas de nossa consciência e nos impedindo de caminhar em
paz. O autoconhecimento é o mecanismo para trazer à tona o que nos
aprisiona à dor. Tendo a medida certa do que se encontra enterrado em
nossa consciência, é possível promovermos a limpeza adequada e inse-
rirmo-nos no caminho de reformas e transformações de nosso íntimo.
A. Como reconhecê-lo?
— Através da consciência, que é a voz de Deus em vós. Quando ela esti-
ver em paz, é sinal de aprovação divina; quando estiver em guerra, é para que
mudais os vossos caminhos.

264 Mt 18:21-22 – “Então, Pedro se aproximou dele e disse: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar a
meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?’ Respondeu Jesus: ‘Não te digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete.’”
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, item 14: “[...] Perdoarás, mas sem limites; perdoarás cada
ofensa, tantas vezes quantas ela vos for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mes-
mo, que nos torna invulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias, serás doce e humilde de
coração, não medindo jamais a mansuetude; e farás, enfim, para os outros, o que desejas o que o Pai
celeste faça por ti. [...]” – Simeon
265 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XII, item 3: “Se o amor do próximo é o princípio da
caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque essa virtude constitui uma das maiores
vitórias conquistadas sobre o egoísmo e o orgulho. [...]”

263
584. Chegará um tempo em que não teremos a necessidade do per-
dão?
— Haverá um momento em que vosso espírito atingirá um alto nível evo-
lutivo, a ponto de nada mais vos ofender; contudo, ainda tereis de perdoar a vós
mesmos, nem sempre pelas vossas falhas, mas, sim, por aquilo que deixastes de
fazer para evitar as dos vossos irmãos.

585. A falta de perdão pode trazer prejuízos físicos e/ou psíquicos?


— Não só pode como traz, desde simples perturbações mentais, até mes-
mo podendo vos levar à morte antecipada.

586. O perdão tem o poder de curar?


— Sim, principalmente o autoperdão, assim como a ausência dele pode
vos adoecer.

587. Quais os benefícios para quem perdoa?


— Paz de consciência, afloramento do amor sincero, desenvolvimento da
humildade, entre tantos outros.
A. E para quem pede perdão?
— São incontáveis, entre eles, o “livramento” da culpa e a conquista da
paz de espírito.

588. É correto, ao perdoar, desejar que Deus promova a justiça?


— Não. O correto é perdoar sem pretensão. A justiça é tão avançada que
cabe apenas à Sabedoria Divina. Quando perdoamos esperando que haja puni-
ção aos que nos ofenderam, então, não perdoamos de fato.
Nota: Perdoar é uma decisão. Não perdoar, também. Mantermo-nos
apegados aos ressentimentos e mágoas de atos ocorridos no passado e
que são revividos constantemente pelo calor das emoções que os cer-
cam produz, muitas vezes, um fenômeno altamente destrutivo dentro
dos nossos corpos orgânico, psíquico e mental. A dificuldade ou recu-
sa em perdoar pode ocasionar variadas consequências patológicas. É

264
necessário termos consciência de que o ato de perdoar é libertador, é
bálsamo que fecha a ferida inflamada, ajuda-nos a extinguir a vaidade e
o egoísmo, conectando-nos com nossos semelhantes e com Deus.

IV – Amor
589. Como definir o amor, na visão dos espíritos?
— O amor é a principal matéria-prima da evolução, permitindo que pos-
samos seguir promovendo o bem a nós mesmos e ao próximo. Sem amor, nada
seríamos. O amor não se define, vivencia-se.266
A. Que “forma” de amor Deus espera de nós?
— Deus nada espera, pois tudo sabe. A questão é: que amor esperamos
de nós mesmos?

590. Paulo de Tarso, em uma de suas Epístolas, refere-se às nove


virtudes do amor.267 Poderiam explicá-las?
— Poderíamos mencionar 99 vezes 9 e, ainda assim, não teríamos citado
todas as virtudes que o amor é capaz de promover. O amor é uma ferramenta
tão poderosa que foi a escolhida por Deus para nos unir, sendo a única capaz
de superar os males da Terra; através do amor, a evolução é apenas uma questão
de tempo.

591. O amor também é instintivo?


— Sim. O amor é inerente a todas as criaturas da Terra, sendo aprimorado
e depurado com o avançar da evolução.
Ainda que de forma brutalizada e primitiva, o cuidado que as criaturas
expressam para a perpetuação de suas espécies é uma forma de amor não lapi-
dado. Assim sendo, fomos criados por amor, que faz parte de nossa existência
e até de nosso instinto.268

266 I Cor 13:1-3 – “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou
como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Mesmo que tivesse o dom de profecia e
conhecesse todos os mistérios e todo o conhecimento, e mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de
transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos dos meus
bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
caridade, de nada valeria!”
267 I Cor 13:4-7 – “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é
orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita,
não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta.”
268 O Livro dos Espíritos, questão 890: “O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo,
comum aos homens e aos animais? — É uma coisa e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos fi-
lhos, no interesse de sua conservação; mas no animal esse amor é limitado às necessidades materiais:
cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem ele persiste por toda vida e comporta um
devotamento e uma abnegação que constituem virtudes [...].”

265
592. Por que alguns demonstram não possuir a capacidade de amar?
— O fato de não expressarem amor através de suas palavras ou atitudes
não significa que não possuam a capacidade de amar.
Uma hora ou outra, todos desenvolverão a aptidão para o amor269, nem
que seja necessário, para isso, vivenciar a dor.

593. O amor é o caminho para chegar a Deus?


— Mais do que isso, o amor é o combustível necessário para que vos man-
tenhais caminhando.

594. Chegará um tempo em que o amor não precisará ser uma lei?
— Chegará um dia em que os homens não precisarão “cobrá-lo” pelas leis
da Terra, por ser uma lei natural. Vós o trazeis gravado em vosso ser, e assim,
naturalmente, ele brotará, expandir-se-á e será motivo de intercâmbio e felicida-
de entre os povos; o amor está gravado nas leis de Deus.270

V – Fé
595. Qual a relação entre fé e razão?
— Quando a razão é incapaz de preencher as lacunas deixadas pela encar-
nação, a fé entra em ação e prova que o essencial é invisível aos vossos olhos;
contudo, a racionalidade vos leva a terdes fé, pois, quando percebeis que sois
incapazes de explicar múltiplas questões universais, ter fé torna-se racional.271

269 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 8: “O amor resume toda a doutrina de Jesus,
porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progres-
so realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só
tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. [...]
compreendendo a lei do amor, que une a todos os seres, nela buscareis os suaves prazeres da alma,
que são o prelúdio das alegrias celestes.” – Lázaro
270 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 9: “[...] Pois bem: para praticar a lei do amor,
como Deus a quer, é necessário que chegueis a amar, pouco a pouco, e indistintamente, a todos os
vossos irmãos. A tarefa é longa e difícil, mas será realizada. Deus o quer, e a lei do amor é o primeiro
e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que deve um dia matar o egoísmo,
sob qualquer aspecto em que se apresente, pois além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de
família, de casta, de nacionalidade. [...]” – Fénelon
271 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIX, item 7: “[...] A fé raciocinada, que se apoia nos fatos
e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade: crê-se, porque se tem a certeza, e só se está certo quando
se compreendeu. Eis porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão
face a face, em todas as épocas da Humanidade. [...]”

266
596. Qual é o motivo do oscilar de nossa fé diante das intempéries
do mundo em que vivemos?
— As intempéries são inevitáveis, já a oscilação, não. Sois capazes de con-
trolar aquilo que os males vos proporcionam; ter a resignação necessária para
não perder a fé é uma característica de evolução. “Tudo é possível àquele que
tem fé.”272

597. Como mensurar o poder da fé?


— Ele é imensurável.273 A fé vos leva a Deus, e o poder de Deus é infinito.
A. Quando despertaremos a fé inabalável?
— Quando não precisardes esgotar as outras possibilidades para adquiri-
-la, quando não precisardes ver para crer, no momento em que perceberdes que
ela é o caminho lógico a ser seguido.
Nota: Desse modo, é essencial instruir-vos.274 Há caminhos simples, po-
rém não menos sérios, que podem ajudar os encarnados a evoluírem em
sua jornada de fé: a prece coloca-os em contato com a sublime sutileza
das boas vibrações, para darem e receberem o bem, revitalizando os
pensamentos e o corpo, e o estudo, aliado ao exercício mental em obras
esclarecedoras, que lhes aprimorem o conhecimento e o entendimento.
A laboração das virtudes, especialmente da paciência, da humildade e
da caridade, é tripé que alavanca o fortalecimento da fé verdadeira, dan-
do-lhes vitalidade e frescor.

598. Qual é a origem da fé?


— A fé, assim como o amor, é inerente ao homem, cabendo a vós seu
despertamento e desenvolvimento através do esforço; assim ela sai da dormên-
cia na fase humana, pois requer certo nível de desenvolvimento emocional e
intelectual.

272 Mc 9:23 – “Disse-lhe Jesus: ‘Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê.’”
273 Lc 17:5-6 – “Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta-nos a fé!’ Disse o Senhor: ‘Se tiverdes
fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos
obedecerá.’”
274 O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 5: “[...] Homens fracos, que vos limitais às trevas
de vossa inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar
vossa rota e vos reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai. [...] Irmãos: amai-vos, eis o
primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. [...]” – Espírito da Verdade
Nota: Ao substituirmos, na nota, a palavra “espíritas” por “irmãos”, pretendemos corrigir uma falha
de tradução, afinal, o Espírito da Verdade comunica-se para todos, independentemente da crença ou
religião. Entendemos que o termo “irmãos” inclui os espíritas, contudo, o termo “espíritas” exclui os
irmãos – Paulo de Tarso

267
Fé e amor
Não se trata de defeito, não se trata de religião, não se trata de crença;
trata-se de fé, amor e resiliência. Olhar para o próximo é um exercício diário e
eterno. Projetar o amor e a fé que sentimos é o caminho mais certeiro para a
caridade verdadeira e pura.
Irmãos, se vos faltar força, compensai em fé, se vos faltar coragem,
compensai em amor e, se um dia, vos faltar respostas, buscai em vossa
consciência, que Deus vos responderá.
Não há nada no mundo mais importante do que exemplificar aquilo que
aprendemos e sentimos.
Que assim seja.
Santo Agostinho
Matão, 16 de janeiro de 2020.

268
Parte quarta

Coletânia de Preces
CAPÍTULO I
Preces

269
CAPÍTULO I

Preces
Prece da Paz • Prece para o Planeta • Prece do Livre-Arbítrio • Prece da Consciência
• Prece do Esforço • Prece da Resignação • Prece da Reforma • Prece da Família
• Prece da Persistência • Prece da Proteção • Prece do Respeito à Natureza

I – Prece da Paz

O Mundo precisa de prece, o planeta precisa de paz. Os interesses de uma


nação não podem ser maiores que nossa união como irmãos; o amor deve pre-
valecer e abrandar os corações. Não existe religião ou crença que impeça de nos
unirmos neste instante e, em uma só voz, clamarmos por paz:
Pai-nosso que estais no céu, neste momento, esteja ao nosso lado, ampa-
rando-nos e edificando-nos;
Santificado seja o Teu nome, acalma as nossas intenções e depura as nos-
sas ações;
Venha a nós o Teu Reino, vem também Tu ao nosso, e nos ensina o cami-
nho do amor;
Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no céu; que a Tua vontade
prevaleça, jamais a nossa, pois somos falhos e ainda precisamos evoluir muito;
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje e que possamos aprender a dividi-lo
com nossos irmãos;
Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido; perdoa-nos por utilizar os exemplos que nos deste para nosso pró-
prio interesse, permite que possamos ter a humildade suficiente para perdoar
os nossos irmãos;
Não nos deixes cair em tentação, livra-nos de todo o mal; protege-nos de
nossas próprias ações e do mau uso do nosso livre-arbítrio, faze com que pos-
samos consultar nossa prudência em nossa consciência, antes de decidirmos.
Pedimos a todos os irmãos, independentemente de sua religião, que orem
pela humanidade, que ajudem a iluminar a mente dos líderes mundiais e respon-
sáveis pelas decisões mais importantes, que todos possam optar sempre pela
paz e pelo bem comum.
Não existem fronteiras para o amor: que tenhamos pontes, não muros.
Que assim seja.

270
II – Prece para o Planeta

Pai,
Fazei-me bondoso o suficiente para enxergar além da minha espécie.
Permiti-me compreender que, se Deus gerou a vida, devo conservá-la.
Quando sucumbir aos desejos do consumo de carne, fazei-me forte o su-
ficiente para resistir e persistir no caminho do respeito.
Solidificai esse propósito, para que ele permaneça em meu espírito mesmo
com o véu do esquecimento.
Sei que os animais do planeta necessitam de minha compaixão, assim
como um dia eu precisei dos que me tutoraram.
Protegei as florestas, rios e mares, para que o planeta possa prosperar.
Aflorai em meu instinto o amor, aprisionai o orgulho que me consome e
o egoísmo que me cega.
Onde houver destruição, que eu leve reconstrução,
Pois sei que sou responsável pelo mundo que me cerca.
Que assim seja.
Francisco de Assis
Matão, 1º de janeiro de 2021.

271
III – Prece do Livre-Arbítrio

Deus, que me concedestes o livre-arbítrio, fazendo de mim arquiteto do


meu próprio destino, suplico humildemente que me auxilie a depurar as minhas
escolhas, para que eu possa seguir no caminho do bem.
Permiti que eu suporte as provas e expiações que a existência me designar,
com resignação e resiliência.
Não me deixes sucumbir aos vícios e tentações mundanas, fortalecei a mi-
nha fé para que eu jamais me esqueça dos exemplos deixados pelo Cristo.
Despertai a caridade que existe dentro de mim, fazendo-me abdicar do
orgulho e egoísmo que tanto me estagnam.
Fazei-me amar a meus irmãos indistintamente, eliminando da minha exis-
tência qualquer preconceito ou discriminação que ainda tenha remanescido.
Guiai a minha consciência para que eu saiba sempre discernir o bem do
mal.
Concedei-me a oportunidade de retratar minhas faltas e aprimorar minhas
vitórias; conduzi-me através da intuição, pois sei que mesmo que meu destino
esteja em minhas mãos, com vossa vigia caminharei mais depressa.
Que assim seja.
Lucas
Matão, 14 de junho de 2020.

272
IV – Prece da Consciência

Deus, que permitiste me comunicar Contigo através da minha consciên-


cia, concede-me o discernimento para utilizar meu livre-arbítrio de forma sábia
e coerente.
Não deixes que minha conveniência contamine as minhas escolhas; faze
que eu seja digno de merecer Teu auxílio.
Quando a carne e o materialismo me tentarem, abre os olhos da minha
alma, para que eu prossiga no caminho do bem, praticando a caridade e desen-
volvendo o amor.
Apesar de saber o quão falho eu sou, confio em Tua vigília.
Ainda que por certos momentos eu trilhe caminhos obscuros, frutos do
meu livre-arbítrio, com Teu alento e instrução, conquistarei a redenção.
Sou fruto de Tua criação, buscarei a resignação para me fazer merecedor
do Teu amor.
Guia-me, instrui e protege.
Que assim seja!
Miguel
Matão, 17 de junho de 2020.

273
V – Prece do Esforço

Jesus veio à Terra e ensinou-nos a amar.


Viveu em sua própria carne o que é perdoar.
Diante de tantas dificuldades, o esforço exemplificou-nos,
No momento em que, em uma cruz, seus malfeitores perdoou.
Aprendemos, então, que por maior que seja nossa expiação,
Não há como fracassar quando enxergarmos todos como irmãos.
Mais importante que esperar a ajuda de Deus aparecer,
É nos esforçarmos para, assim, fazermos por merecer.
Deus é justo, e não punitivo.
Não permite que soframos sem um valioso motivo,
Razão à qual continuamos evoluindo, ainda que nossas escolhas nos tirem
do caminho.
Pedimos a Deus que nos dê resistência para encararmos nossas provas
com competência,
E quando as dificuldades aparecerem, que jamais nos esqueçamos
De estender a mão a quem amamos.
Com a certeza de que todo esforço é a peça fundamental de nosso avanço,
Obrigado, Jesus, pelos exemplos que nos deixou.
Proteja-nos com o seu infinito amor!
Scheilla
Matão, 17 de junho de 2020.

274
VI – Prece da Resignação

Deus, concede-me a resignação necessária para suportar minhas provas;


coloco a minha existência em Tuas mãos.
Confio que saberás conduzir-me para o melhor caminho, e esforçar-me-ei
para ser digno de Teu auxílio.
Faze que meu coração transborde de amor, para que a caridade possa tor-
nar-se um hábito em minha vida.
Perdoa minhas revoltas momentâneas; sempre irei me submeter à Tua
vontade, pois apenas Tu és a Inteligência Suprema do Universo, Tu que me
contemplaste com a oportunidade de existir.
Não deixes que me falte a humildade para enxergar o quanto sou depen-
dente de Ti.
Em momentos de adversidade, faze-me discernir o bem do mal; tenho a
convicção que, cumprindo as Tuas leis, alcançarei o progresso.
Não me deixes sucumbir aos desejos mundanos. O leme do meu espírito
está em Tuas mãos, mesmo assim ajudá-lo-ei remando.
Que assim seja.
Pedro
Matão, 17 de junho de 2020.

275
VII – Prece da Reforma

Criador, permitas que eu possa permanecer no caminho da reforma, fa-


zendo-me forte diante das adversidades que a encarnação me trouxer.
Sei quão perfeitas são Tuas criações; prometo esforçar-me ao máximo
para atender à imensurável oportunidade que me deste.
Ainda que caminhe por estradas tortuosas, não me deixes cair em tentação.
Faze com que meu espírito viva em constante aprimoramento, depura a
minha moral e enriquece o meu intelecto, para que, além de reformar a mim
mesmo, eu possa transmitir os meus exemplos para meus irmãos.
Tu és o guia da minha existência; agradeço por teres me concedido a vida
e, mais ainda, por permitires que eu seja um ser mutável e capaz de progredir.
Peço-Te, humildemente, que me mantenha focado em meus objetivos de
evolução; ainda que a vivência da carne me tire dos trilhos, recoloca- me através
da consciência, para que eu seja, no amanhã, superior ao que sou hoje.
Livra-me de praticar o mal, conduze-me ao bem.
Que assim seja.

Tiago
Matão, 17 de junho de 2020.

276
VIII – Prece da Família

Meu amado Pai,


Me ensinastes a respeitar minha família como a Vós; me dissestes que,
através dela, encontraria o Vosso Reino; por isso, venho agradecer por ter dado
a mim a oportunidade de, com ela, compartilhar os melhores momentos de
minha encarnação.
Protegei minha família, livrando-a de todo o mal que o mundo lhe possa
acometer; fazei-me paciente o bastante para compreender as divergências e re-
luzente o suficiente para aprender a perdoar os equívocos que fazem parte da
convivência.
Sei que preciso aprimorar meu ser para enriquecer o meu convívio; fazei-
-me sábio para suportar nossas provas coletivas.
Sei que a família que me deixastes transcende os laços consanguíneos,
portanto, permiti que, um dia, eu atinja a evolução, para enxergar todos como
irmãos.
Sou grato pela família que me destes, esforçar-me-ei para seguir Vossos
exemplos.
Que assim seja.
Santo Agostinho
Matão, 1º de janeiro de 2021.

277
IX – Prece da Persistência

Pai, ainda que haja inúmeras provas que me levem a pensar em sucumbir,
dá-me persistência para permanecer no caminho.
Sei que sou capaz de persistir, quando busco estar na direção moral de
Teus exemplos.
Permite que a minha vida seja envolta pelo Teu manto de luz; constrói a
pureza que um dia habitará o meu espírito com Tuas ferramentas de amor.
Sei o quanto sofreste para seguir os Teus valores; mesmo que minhas pro-
vas, perto das Tuas, sejam incomparáveis, as fiz por merecer e permanecerei
seguindo em minha programação, pois confio em Ti.
Quando o mal me cercar de intuições negativas, sê o sopro de paz em mi-
nha consciência, que apazigua a minha alma e fortalece o meu propósito.
Quando eu fraquejar e pensar em desistir, instrui-me, fazendo-me conti-
nuar a seguir os Teus passos.
Confio em Tua proteção, e sei que ao Teu lado jamais estarei sozinho.
Mesmo que chegue a hora de fazer a minha passagem para o mundo espiritual,
não me abalarei e continuarei crendo em Ti, pois Tu me ensinaste que o Teu
Reino não é da Terra.
Tu és o governador do céu e da Terra, faze-me persistir em Teu amor.
Que assim seja.
Bartolomeu
Matão, 18 de junho de 2020.

278
X – Prece da Proteção

Meu anjo da guarda protetor,


Por mais dolorosa que a vida material possa me parecer, jamais permitas
que eu perca a fé a ponto de, ainda que por um instante, deixar de reconhecer
o teu amor e o teu cuidado.
Sei que sou inundado pelo orgulho que me consome e pelo egoísmo que
me cega, mas ei de ampliar a minha visão e enxergar o quanto sou dependente
de ti!
Quando os meus olhos finalmente se fecharem neste mundo, confiarei que
se abrirão novamente ao teu lado, pois apenas tu compreendes os meus anseios.
Por maior que seja a minha vigília, sei que cometerei muitos tropeços, mas
contigo ao meu lado poderei ressurgir e reconquistar o meu valor.
Não permitas que as tentações mundanas me iludam a ponto de desviar-
-me dos meus caminhos; protege-me de todo o mal, especialmente daquele que
eu pratico a mim mesmo; governa o meu espírito e guia os meus passos.
Que assim seja.
Arcanjo Rafael
Matão, 21 de julho de 2020.

279
XI – Prece do Respeito à Natureza

Pai, sei que sou fruto da Vossa criação. Gostaria de agradecer por permitir-
des que eu tenha chegado até aqui, trazendo comigo toda a bagagem de Vossa
obra.
Se meu corpo possui minerais, é porque Vós permitistes que, um dia, eu
pudesse pertencer à rocha; portanto, fazei-me forte como ela.
Livrai-me da ingratidão, que me faz destruir aquilo que fui um dia.
Transbordai amor de meu coração, para que eu aprenda a amar todas as
formas de vida e a respeitá-las como a mim mesmo.
Prometo ser laborador da Vossa obra, fazendo do mundo um lugar de paz
e conservação.
Quando chegar a hora da minha morte, quero orgulhar-me dos meus fei-
tos em Vosso nome, pois sei que a única bagagem que levarei comigo é a que
Vós me ajudastes a carregar.
Que assim seja.
Francisco de Assis
Matão, 1º de janeiro de 2021.

280
Considerações finais

Esta obra tem como intuito a construção moral dos encarnados de todas
as religiões, sendo dedicada como guia evolutivo aos espíritos que com ela se
identificarem. Foi elaborada para sincronizar-se com a consciência de todos os
espíritos que buscam praticar os ensinamentos de Cristo e progredir através do
amor-próprio e ao próximo.
Sentindo uma necessidade de respostas para as novas questões que a evo-
lução natural humana propôs, nós, da primeira obra, O Livro dos Espíritos, vie-
mos através de uma linguagem objetiva, utilizando-nos das ferramentas dispo-
níveis à época, relembrar-vos dos verdadeiros propósitos da existência corpórea
e espiritual.
Esperamos, com esta obra, despertar valores intrínsecos em vós, que per-
manecestes adormecidos ou camuflados pelo instinto incontrolado e pelo ma-
terialismo, auxiliando-vos a atingir a verdadeira meta de qualquer espírito: a
evolução.
Dependerá do vosso livre-arbítrio encarar esses ensinamentos com a su-
perficialidade momentânea ou trazê-los para a prática cotidiana, refletindo, as-
sim, sobre quais serão os próximos passos importantes a serem seguidos em
direção ao progresso.
Não importa quais serão as vossas escolhas; nós, espíritos protetores, es-
taremos ao vosso lado, instruindo-vos através da intuição e corrigindo-vos na
difícil, porém glorificante, jornada evolutiva.
O amor que sentimos por todos vós, independentemente do nível de acei-
tação a esta obra, é imensurável; contudo, sempre estará incompleta sem a prá-
tica daqueles que a lerem e sem a propagação por todos que com ela se identifi-
carem, a ponto de assim desejarem compartilhá-la com os semelhantes.
Com a ajuda divina e dos bons espíritos, esperamos ter sido claros o sufi-
ciente a fim de elucidar as principais dúvidas da humanidade para o momento
atual.
Almejamos reencontrar-vos em novas oportunidades. Construí no presen-
te “o lar” que pretendeis habitar no futuro.
Paulo de Tarso
Matão, 18 de agosto de 2020.

281
Dedicatória
Este livro não possui fins lucrativos.
Agradecemos mais uma vez ao grupo de encarnados que através do incan-
sável esforço e dedicação possibilitou o lançamento de nossa obra.
Dedicamos este livro a todos aqueles que buscam, através do conheci-
mento, aprimorar a boa prática, independente de crença ou religião e a toda a
humanidade em suas distintas fases evolutivas.
Chegará um momento em que a humanidade caminhará pela fé e não
apenas pela visão; esta obra não poderá atingir seus objetivos se estiver fadada
à estagnação.
Continua...

282
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