Cartas Brasileiras: Um Estudo Lingüístico-Filológico
Cartas Brasileiras: Um Estudo Lingüístico-Filológico
Cartas Brasileiras: Um Estudo Lingüístico-Filológico
Cartas Brasileiras
(1809 - 1904)
Um estudo lingüístico-filológico
Volume 1
Campinas, 2005.
INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM
PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Orientadora:
a a
Prof Dr Charlotte Marie Chambelland Galves
Campinas, 2005.
2
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp
Orientador: C ha r lot t e M a r i e Ch am be ll a n d Ga lv e s .
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da
Linguagem.
3
Banca Examinadora:
Suplência:
Profa. Dra. Maria Eugênia Lamoglia Duarte (UFRJ)
4
À Carmélia Laura, minha avó (in memoriam)
pela dedicação e orações.
Aos queridos
Antonio, Leonardo, Maria Clara e Maria Laura,
simplesmente e tudo,
encontro de pura felicidade.
5
Agradecimentos
Agradecer é tão íntimo, pode prescindir até de palavras. Quantos gestos grandes para pequenos problemas!
Sem dúvida, muitos anônimos nos vários arquivos tornaram mais leve o “peso” do volume 2 que, ao sair, afinal, não
fica concluído, pois é novo e antes de seu uso, precisa deformar o gume, como diria o poeta Marcus Accioly.
À Profa Dra Charlotte Marie Chambelland Galves pela competente orientação acadêmica.
O seu incentivo constante e sua paciência foram fundamentais.
6
contribuição dos colegas desse projeto aparece em várias partes desta pesquisa. Aproveito ainda
menção ao Phpb para agradecer o incentivo de Ataliba Castilho.
Pelo acesso ao material de pesquisa, agradeço as pessoas que indicaram os caminhos. Os
documentos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (Ighb) foram apresentados de maneira
magnânima por Consuelo Pondé de Sena, que também permitiu as reproduções fotográficas feitas
por Aldo Lima, um trabalho já iniciado no Arquivo Público da Bahia, através das indicações das
cartas de Maria Augusta Ferrão de Argollo por Anna Amélia Vieira Nascimento. No Ighb, agradeço
ao arquivista Fernando da Costa Pinto.
Pelas fontes do arquivo do barão de Jeremoabo, agradeço a indicação de José Calasans (in
memoriam). Essa indicação culminou em um encontro feliz e produtivo com o Sr. Álvaro Dantas de
Carvalho, a quem vou ser sempre grata por ter aberto as portas de sua casa para que eu e Norma
Lúcia Fernandes de Almeida pudéssemos conhecer o fascinante arquivo do barão de Jeremoabo,
totalmente inédito na época. Com sua generosidade ímpar, disponibilizou-me suas anotações
preciosas. Agradeço a Álvaro Dantas de Carvalho Jr., seu filho, que não poupou esforços para que
eu fotografasse e editasse as cartas de sertanejos baianos ainda durante o processo de depósito desse
arquivo na Fundação Clemente Mariani, trabalho facilitado por Maria das Graças Nunes Cantalino.
À Karina Uchôa, agradeço o auxílio por parte da transcrição das cartas do barão de Jeremoabo.
Na fase de edição, pude contar com a colaboração de várias outras pessoas. Em algumas das
cartas da primeira parte, tive a ajuda inestimável de Maria Helena Ochi Flexor no esclarecimento de
dúvidas com a transcrição e com as abreviaturas. Agradeço à Norma Lúcia Fernandes de Almeida
pela colaboração na fase inicial desta pesquisa, em 1999, e às bolsistas de Iniciação Científica Aldísia
Malafaia, Hilmara Moura e Vanúsia Batista, pela primeira leitura de 100 cartas de “Baianos Ilustres”.
E, ainda, durante o processo de pesquisa biográfica dos remetentes, agradeço a boa vontade
de várias pessoas do Arquivo Público de Sergipe e de diversos arquivos baianos, a saber: Cachoeira,
Santo Amaro da Purificação, Rio de Contas, Caitité e, sobretudo, dos arquivos da Cúria Diocesana,
em Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas, Paulo Afonso e Senhor do Bonfim. Em especial,
menciono a disponibilidade do bispo Dom Jairo, a colaboração de Alana Brito, Vera Nathalia e
Adriana Soares. Para a identificação de dados biográficos dos remetentes do barão de Jeremoabo,
contei, também, com a colaboração de diversos secretários de prefeituras do interior da Bahia. Cito,
em especial, o Prof. Nelson Almeida Santiago, de Crisópolis, e Marcos Antonio Dantas de Almeida,
de Jeremoabo. Várias outras pessoas foram importantes no esclarecimento de dúvidas, em
particular, agradeço aos historiadores, João José Reis, Cândido da Costa e Silva, Heloísa Belloto,
7
Eduardo Silva (Fundação Rui Barbosa) e, também, a Luís Leal Filho (biógrafo da família Almeida
Couto).
Na pesquisa sobre escolarização, agradeço à Antonieta de Aguiar Nunes e aos bolsistas de
seu projeto do Arquivo Público do Estado da Bahia. Ao genealogista Dr. João da Costa Pinto, pelas
deliciosas conversas durante as pesquisas na Cúria Diocesana de Feira de Santana, quando, muitas
vezes, me senti transportada ao recôncavo baiano oitocentista, um ambiente que lhe é, literalmente,
familiar.
A continuação dessa pesquisa teria sido mais difícil sem o préstimo de amigos queridos do
Departamento de Letras e Artes da Uefs, agradeço, em especial, a Iderval Miranda, Clodoaldo
Moraes e Lenilda David Carneiro. Sou muito grata, também, pela disponibilidade de Reijane Ribeiro,
Denise Sampaio e Graça Simões da Biblioteca Central Julieta Carteado, Cristiana Barbosa de
Oliveira Ramos (Centro de Estudos Feirenses) e Norma Gonçalves.
Aos amigos e familiares (filhos, marido, pais, meus seis irmãos, enfim, toda a minha enorme
família sertaneja) o meu reconhecimento pelo carinho e compreensão. E, pelo convívio na minha
casa, agradeço à Semiralva Reis, à Marizete Souza e à Jaciara Sena pelos cuidados com Maria Laura.
Em Campinas, sou grata pelas carinhosas acolhidas de Telma Vianna Magalhães e sua doce Laiane.
***
Por fim, não posso deixar de registrar, como uma forma de homenagem, a um decisivo
encontro com Fernando Tarallo através do seu instigante “Tempos Lingüísticos”.
8
Resumo
Tento mostrar a essencialidade da integração entre filologia e história para a seleção de amostras de
língua externa, o material empírico para estudos lingüísticos diacrônicos. As fases da elaboração da
pesquisa foram as seguintes: (i) seleção e identificação da autenticidade das cartas; edição; localização
espacial e temporal; (ii) identificação de dados relevantes sobre os remetentes e os destinatários; (iii)
contextualização da amostra com base na história externa do português brasileiro e (iv) descrição
lingüística, enfocando padrões de colocação dos clíticos. Como resultado final mais importante, há a
identificação, a partir de um modelo de representação de linguagem, de um interessante processo de
competição de gramáticas em textos escritos por brasileiros nascidos entre fins do século 18 e
meados do século 19. Atestam-se três padrões distintos na colocação dos clíticos: 1)construções
equivalentes à escrita do português europeu em sua fase clássica; 2) construções que refletem as
mudanças em direção ao português europeu moderno, e 3) construções que definem o português
brasileiro. Esses padrões mostram o efeito nos documentos de duas mudanças, diferentemente do
que comumente tem sido demonstrado.
9
Abstract
I try to show the main aspect of the integration between Philology and History in the choice of the
samples of external language as a provider of empirical raw material to diachronic linguistic studies.
The phases of the elaboration of the research were as the following: (i) choice and identification
related to authenticity of letters; editing, spatial and temporal localization; (ii) identification of
relevant data on senders and addressees; (iii) contextualization of the sample based on external
history of the Brazilian Portuguese and (iv) linguistic description focusing patterns of locating clitics.
The most important result of it is the identification, from a model of language representation, of a
interesting process of competition among grammars with texts written by Brazilians born between
the end of 18th century and the middle 19th century. There are three distinct patterns of locating
clitics: constructions equivalent to the written Modern European Portuguese in its classic phase;
constructions that reflect the changes in direction toward the Modern European Portuguese and
constructions that define the Brazilian Portuguese. These patterns show the effect of two changes in
the Brazilian Portuguese differently for what has commonly been asserted.
10
Sumário
Agradecimentos [vi]
Resumo [ix]
Abstract [x]
Lista de tabelas [xvi]
Listade gráficos/figuras [xix]
VOLUME 1
Apresentação .01
Primeira Parte
Preliminares
11
1.4.1.1.1.3.1.2 Construções sem elevação do clítico 61
1.4.1.1.1.3.1.3 Classificação do verbo finito nas construções com grupos verbais 62
1.4.1.1.1.3.1.3.1 Verbos auxiliares, temporais e aspectuais 63
1.4.1.1.1.3.1.3.2 Verbos modais, volitivos, epistêmicos e conativos 64
1.4.1.1.1.3.1.3.3 Verbos causativos e perceptivos 65
1.4.1.1.1.3.1.3.4 Construções com verbos seguidos de preposição 66
1.4.1.1.1.3.1.3.5 Construções passivas 67
Segunda Parte
Descrição dos dados
12
precedido de orações dependentes
3.2.1.3.1 Verbo em posição inicial de coordenadas 157
3.2.1.3.2 Verbo precedido de orações dependentes reduzidas e orações desenvolvidas 157
3.2.1.4. Ativadores de próclise 159
3.2.1.4.1 Orações precedidas de quantificadores, advérbios modais, complementos diretos, 159
predicativos, sujeitos quantificados, focos morfológicos, sujeito de passiva e sujeito do
verbo parecer
3.2.2 Orações imperativas 163
3.2.3 Orações parentéticas e apositivas 164
3.2.4 Orações com prevalência para a próclise 166
3.2.4.1 Orações negativas 166
3.2.4.2 Orações com sintagma-Q 167
3.2.4.3 Orações interrogativas diversas 171
3.2.4.4 Expressões fixas 172
3.2.5 Orações coordenadas ou subordinadas com “porque” 172
3.3.6 Estudo comparativo: Cartas Brasileiras (CB), GBPS (2005) e Pagotto (1992) 173
3.3.6.1 A variação diacrônica e as implicações para a gramática do português brasileiro 174
3.3.6.1.1 Próclise em posição inicial absoluta 175
3.3.6.1.2 Contexto de variação I: estudo comparativo 176
3.3.6.1.3 Contexto de variação II: GBPS (2005) e Cartas Brasileiras (CB) 185
13
Terceira Parte
Sócio-história: configuração do corpus e estudo contrastivo
14
VOLUME 2
Edição fac-similada de cartas brasileiras
Primeira Parte
Cartas avulsas para vários destinatários
Terceira Parte
Cartas para Cícero Dantas Martins
15
Lista de tabelas
Capítulo 2
Capítulo 3
16
coordenadas em CB
Tabela 3.21 Contexto de variação II, verbo precedido de orações dependentes
reduzidas e desenvolvidas em CB. Por data de nascimento
Tabela 3.22 Construções em grupos verbais em CB
Tabela 3.23 Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura em CB. Por
data de nascimento
Tabela 3.24 Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura em CB. Por
data de produção
Capítulo 4
Capítulo 5
17
Capítulo 6
18
Lista de gráficos/figuras
Capítulo 1
Capítulo 3
Gráfico 3.1 Percentual de clíticos fortes, fracos, clítico SE e grupos clíticos: CB versus
Português Europeu Moderno atual (Galves, 2001)
Gráfico 3.2 Ênclise/próclise por tipos de clíticos em orações raízes declarativas, principais
com verbo único no contexto de variação I (Suj. V, Adv.-V e PP –V)
Gráfico 3.3 Ênclise/próclise em posição inicial absoluta (V1) CTB e CB. Por data de
nascimento
Gráfico 3.4 Ênclise/próclise no contexto de variação I GBPS (2005) e CB. Por data de
19
nascimento
Gráfico 3.5 Ênclise/próclise no contexto de variação I, Pagotto (1992) e CB. Por data de
produção dos documentos
Gráfico 3.6 Ênclise/Próclise no contexto de variação I, CTB (Paixão de Souza, 2004),
Pagotto (1992) e CB. Por data de produção dos documentos
Gráfico 3.7 Ênclise/Próclise no contexto de variação I, GBPS (2005). Por data de
nascimento dos autores e Pagotto (1992) e CB. Por data de produção dos
documentos
Gráfico 3.8 Ênclise/próclise com sujeito pré-verbal no contexto de variação I, GBPS, 2005;
CB. Por data de nascimento
Gráfico 3.9 Ênclise/próclise com sujeito pré-verbal (excluindo o clítico SE) (GBPS, 2005 e
CB). Por data de nascimento
Gráfico 3.10 Ênclise/próclise no contexto de variação I, GBPS, 2005 e CB (excluindo S-V
com nome próprio). Por data de nascimento
Gráfico 3. 11 Ênclise no contexto de variação I Sujeito, GBPS, 2005 e CB (excluindo S-V
com nome próprio e o sujeito com o clítico SE). Por data de nascimento
Gráfico 3.12 Ênclise/próclise em V1 de coordenada, GBPS, 2005 e CB. Por data de
nascimento
Gráfico 3.13 Ênclise/próclise com oração dependente precedendo o verbo (GBPS, 2005;
CB). Por data de nascimento
Gráfico 3.14 Freqüência da variante nos grupos verbais em CB. Construções do português
clássico e europeu moderno. Por data de nascimento
Gráfico 3.15 Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em CB. Inovação brasileira.
Por data de produção dos documentos
Gráfico 3.16 Freqüência da variante nos grupos verbais, Pagotto (1992) e CB. Construções
do português clássico e europeu moderno. Por data de produção dos
documentos
Gráfico 3.17 Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais, Pagotto (1992) e CB.
Inovação brasileira. Por data de produção dos documentos
Capítulo 6
20
nascimento
Gráfico 6.9 Ênclise/próclise em V1 de coordenada, GBPS (2005) e CB (costa/culto) CB
(interior/semi-culto). Por data de nascimento
Gráfico 6.10 Ênclise/próclise com oração dependente precedendo o verbo, GBPS (2005) e
CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto). Por data de nascimento
Gráfico 6.11 Freqüência da variante os grupos verbais em CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto). Construções do português clássico e europeu moderno
Por data de nascimento
Gráfico 6.12 Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto). Inovação brasileira. Por data de nascimento
Gráfico 6.13 Freqüência da variante os grupos verbais em Pagotto (1992) e CB (costa/culto)
versus CB (interior/semi-culto). Construções do português clássico e europeu
moderno. Por produção dos documentos
Gráfico 6.14 Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em Pagotto (1992) e CB
(costa/culto) versus CB (interior/semi-culto). Inovação brasileira. Por data de
produção dos documentos
21
0.
Apresentação
Depois de pouco mais de três séculos de expansão pelo território brasileiro, a língua
portuguesa que se firma como língua hegemônica no século 19 não apresenta a mesma gramática do
português europeu. Identificar quando e como aconteceu essa transição é um dos desafios para os
estudos diacrônicos. O século 19, tomado sob essa perspectiva, é visto como uma etapa importante
na história do português brasileiro porque parece apontar para a conclusão desse processo de
mudança.
O objetivo desta pesquisa é estudar o século 19 sob uma perspectiva histórica com base em
textos oitocentistas, focalizando a colocação dos pronomes clíticos em dois tipos principais de
construções, orações finitas com um único verbo e orações com grupos verbais. A ordenação dos
pronomes clíticos (me, te, nos, vos, o, lhe, se e variantes), dada a sua visibilidade gramatical, tem
especial relevância para os estudos do português brasileiro, por ser um dos aspectos que o
distinguem do português europeu. As conclusões apontam para o instanciamento de padrões
rítmicos diferentes que, no português brasileiro, parecem ter se dado na direção contrária à do
português europeu, o de integrar fonologicamente o clítico, naquele, da esquerda para a direita e,
nesse, da direita para a esquerda, em algum momento entre o século 17 e o século 18.
Embora seja esse um tópico amplamente descrito por apresentar diferenças profundas com
o português europeu, a questão que se pretende abordar é ainda pouco explorada, a integração entre
sintaxe (1ª e 2ª partes, volume 1), sócio-história (3ª parte, volume 1) e filologia (volume 2, que
traz a edição de 500 cartas manuscritas datadas entre 1809-1904).
Esse corpus foi constituído de forma a representar as duas formas principais de diversificação
externa do português no Brasil, a ocupação do litoral e a do interior, durante o século 17, que se
maximizam, por dispersão, no século 19. Ambas resultantes de contato lingüístico. Logo, para além
de uma descrição do português brasileiro desse período, os documentos analisados permitem opor
duas possíveis variantes geográficas, com o objetivo de verificar a relação entre história interna e
externa no português brasileiro. A organização da tese em 2 volumes reflete esses objetivos.
O volume 1 compõe-se de 6 capítulos divididos em três partes. A primeira parte, que
trata de considerações gerais, foi constituída com o objetivo de montar um quadro de referências
22
teóricas que servisse de guia de trabalho. As pesquisas mais empregadas foram as que trataram
diacronicamente do português brasileiro na linha da gramática gerativa. A intenção do capítulo 1 é
enfocar as mudanças no comportamento dos clíticos em etapas anteriores do português e fornecer
um quadro de sua evolução. Traz, ainda, a metodologia e a hipótese de trabalho. No capítulo 2,
detalho o tipo de documentação, o contexto de produção, localização espacial e temporal, e os
diversos dados sobre a biografia dos remetentes, destacando, principalmente, os que interessam
diretamente a esta pesquisa, a naturalidade/nacionalidade. Esse capítulo, que resulta de um estudo
das cartas e seus remetentes (cf. volume 2), é fundamental para uma adequada interpretação dos
dados.
A segunda parte (capítulo 3) é dedicada, exclusivamente, à descrição da sintaxe dos clíticos.
No capítulo 3, são analisados os contextos de colocação dos pronomes clíticos no corpus em
sentenças simples finitas e, em separado, neste mesmo capítulo, trato dos grupos verbais. As
discussões dos resultados, sob uma perspectiva diacrônica e comparativa, encerram o capítulo.
A terceira parte é composta por 3 capítulos (4, 5 e 6). No capítulo 4, relaciono fatos
históricos à amostra. Apresento as propostas de autores que defendem que o português brasileiro
contemporâneo resulta de pelo menos dois processos, um de fixação da língua portuguesa na costa,
onde passa a viver a maioria dos reinóis, e um outro que se disseminou pelo interior, a partir de
amplo contato com línguas autóctones e as línguas chegadas, posteriormente, sobretudo, as línguas
africanas, até meados do século 19. O outro aspecto externo considerado refere-se à questão da
escolarização no Brasil, de fins do século 18 a meados do século 19, tratado no capítulo 5. Esse
estudo informa sobre a situação educacional dos remetentes, aspecto que assume especial relevância
nos estudos sobre o português brasileiro no século 19, uma vez que os brasileiros cultos se viam
diante de uma situação bastante complexa, frente às mudanças sofridas no português europeu, a
gramática que lhes servia de modelo. E, por fim, no capítulo 6, que apresenta uma descrição dos
clíticos a partir de critérios externos, submeto os dados a critérios de variação geográfica e à
influência da escolarização. A intenção é verificar se há diferenças intralingüísticas. Esse estudo
contrastivo, em última instância, pode tornar visíveis os efeitos da norma culta sobre os usos
vernáculos e vice-versa, por um lado e, por outro, opor vertentes históricas distintas do português
brasileiro. Finalizo o volume, em considerações finais, com a discussão dos resultados.
A edição de fontes fidedignas para uso lingüístico é o segundo objetivo desta pesquisa. Essas
fontes compõem o volume 2. Trata-se de uma edição fac-similada das 500 cartas particulares já
citadas. Parte dessas cartas foi escrita por pessoas que se fixaram na costa, e parte foi escrita por
23
pessoas radicadas, principalmente, no sertão da Bahia. Embora seja constitutiva da tese e também
corpus de trabalho, a organização das cartas, nesse volume, funciona também de forma independente
como anexo ao volume 1.
Esse volume divide-se em 3 partes: 1ª, cartas avulsas para vários destinatários; 2ª, cartas
para Severino Vieira e, 3ª, cartas para Cícero Dantas Martins, barão de Jeremoabo. Cada parte
é precedida de um índice analítico e de um estudo detalhado da biografia de seus remetentes. Os
critérios da edição fazem parte da apresentação. No início constam, ainda, as siglas e as abreviaturas
usadas nesse volume.
24
1
Pressupostos e metodologia
Neste capítulo, falo sobre a distinção entre língua interna (Língua-I) e língua externa
(Língua-E), segundo a concepção da gramática gerativa (seção 1.1). Será tematizado o reflexo dessa
distinção sobre a análise de corpora diacrônicos. Sumarizo os aspectos relevantes da mudança
ocorrida na colocação dos clíticos na língua portuguesa do século 16-20 (seção 1.2). As bases da
descrição são estabelecidas a partir dos resultados das análises diacrônicas sobre a colocação dos
clíticos no português brasileiro e no português europeu (seção 1.3). Em seguida, apresento a
metodologia utilizada na descrição da colocação dos clíticos (seção 1.4) que, tal como foi concebida,
pode receber também uma interpretação dentro da teoria gerativa, além de possibilitar que os
resultados sejam comparados com estudos nessa linha teórica. Por fim, finalizo o capítulo com a
hipótese de trabalho (seção 1.5).
1 Por “I” entenda-se “interno”, estado interno da mente/cérebro de um indivíduo, opõe-se ao conceito de “E”
25
outros)4. A língua-E, definida como o produto cotidianamente exteriorizado em situações de uso,
ativa essa capacidade inata.
marcação paramétrica durante a década de 80 (cf. Adams, 1987, Vance, 1989 e Roberts, 1993a), entre outros.
7 “Catastrófica” nos termos de Lightfoot (1989, 1991).
26
Para resolver esse impasse, estudiosos na área da gerativa defendem que a mudança é gradual
nos textos porque a mudança paramétrica é o fim de um processo, como Roberts (1993) que
reinterpreta as fases da lingüística histórica tradicional e diz que é possível ver isso através de
alterações de freqüência, baixa na freqüência, reanálise e o seu desaparecimento. Ou seja, em seus
termos, a mudança paramétrica é captada nessa última fase. Do seu ponto de vista, assim como o
de Lightfoot (1999), nesse momento é que a mudança se torna abrupta, daí ser vista como o fim de
um processo. Por outro lado, Kroch (1994, 2001), ao associar a relação entre língua-I e alterações de
freqüência, defende que o que se vê nos textos é a tensão entre a gramática nova e a gramática antiga
captada através de alterações na freqüência que atingem um conjunto de propriedades associadas a
um determinado parâmetro, resultando na denomina Hipótese da Taxa Constante8. Segundo essa
assunção o que aparece nas amostras de língua-E é apenas o efeito da mudança.
A natureza da mudança, se endógena ou exógena, não será aprofundada nesta pesquisa.
Entretanto, assumiremos com Kroch (1989, 1994, 2001) a origem externa da mudança,
especificamente no ponto sobre o qual defende que a interação de fatores ambientais com princípios
da gramática universal durante a aquisição, tanto de língua materna quanto de segunda língua, em
situação de contato lingüístico, pode provocar alterações na marcação paramétrica e,
conseqüentemente, desencadear a mudança lingüística, via aprendizagem imperfeita9. Esse será o
pressuposto assumido implicitamente na interpretação dos dados na terceira parte deste volume,
sobretudo no capítulo 6.
8 Ou seja, a Constant Rate Hypothesis seria expressa pela alteração da freqüência de uso em todos os contextos onde se
manifesta uma dada mudança. Isso se refletiria através da substituição gradual de uma forma gramatical por outra.
9 A situação de aquisição imperfeita parece se adequar à situação das cartas dos remetentes que chamo de semi-cultos
27
linguagem. Por outro lado, o conhecimento prévio do que determina uma mudança paramétrica é
também crucial para que as construções que a representam, normalmente pouco representativas nos
textos, não sejam ignoradas, principalmente em se tratando de amostras de língua escrita, por natureza
conservadora e que podem estar refletindo a norma ou a tradição escrita de um dado período. A
separação entre usos provocados por influências artificiais como, por exemplo, as influências de cunho
estilístico ou discursivo, é importante para a identificação da mudança relevante em análises a partir de
textos escritos, como é o caso desta pesquisa. No caso da colocação dos clíticos no Brasil de fins do
século 19, a ênclise em determinados contextos é vista como representando uma escrita culta12,
levando a usos incompatíveis com a mudança gramatical tanto do português europeu quanto do
português brasileiro13.
Além dessas questões colocadas acima, há um aspecto importante que marca os estudos
diacrônicos no Brasil no âmbito da gramática gerativa, o de interpretar dados quantificados em
amostras de língua-E com base nas hipóteses sobre gramáticas abstratas apreensíveis nos textos,
como se verá no próximo tópico. A evolução das freqüências indicadoras de tipos de mudanças e
escolhas paramétricas (cf. Lightfoot (1997) seria manifestada em curva sigmoidal ou curva em “S”
(cf. Kroch, 1989, 1994, 2001)14.
Esses resultados foram possíveis a partir de estudos de diversas linhas teóricas e, sobretudo,
aos estudos diacrônicos recentes na linha de pesquisa da gramática gerativa na teoria dos Princípios
e Parâmetros, os créditos sobre propriedades específicas do português brasileiro (cf. Galves, 1987).
Essas propriedades têm sido atestadas por diversos pesquisadores em resultados quantitativos e
baseados em corpora15 diacrônicos da segunda metade do século 17 até o século 20 (cf. Tarallo, 1989
e Roberts e Kato; 1993).
12 Por escrita culta, em oposição à norma popular, entende-se aquela usada por pessoas com nível superior (cf. Lucchesi,
1994).
13 Outra questão importante ter conhecimento sobre novas regras lingüísticas aprendidas, em especial aquelas adquiridas
na escola, por serem fundamentais para o estudo da gramática de uma língua, de forma a que não se lhe imputem
construções que de fato não lhe são próprias ou específicas do texto escrito, a exemplo dos recursos estilísticos. A
consideração desses recursos, embora considerados secundários para a análise de língua-I, adquire especial importância
para os estudos diacrônicos, considerando-se o significado que transportam no material empírico.
14 Por outro lado, para os pesquisadores da lingüística diacrônica que lidam essencialmente com dados de textos escritos,
é importante saber que nem todos os dados de variação podem estar relacionados à competição de gramática.
15 Sobre a interpretação gerativa do português europeu versus português brasileiro na qual se basearam esses estudos (cf.
28
Os resultados desses estudos trouxeram um avanço teórico significativo para a compreensão
do português brasileiro. Uma das mais importantes contribuições deve-se à hipótese sobre
mudanças no sistema pronominal brasileiro. Essas mudanças estariam relacionadas à reestruturação
do sistema de caso e ao surgimento de uma gramática distinta do português entre o século 17 e o
século 1916. Interessa, de forma particular, nesta pesquisa, a correlação desses fenômenos com a
mudança no sistema de clíticos, a saber:
1. Perda de clíticos
- Baixa freqüência dos clíticos acusativos e dativos com referência à terceira pessoa (Cyrino,
1994, Pagotto, 1992). Os casos de uso desses clíticos no português contemporâneo seriam
resultantes de uma aquisição artificial via escolarização (cf. Corrêa, 1992)
- Clíticos de 3ª pessoa como vestígios e não mais produzidos pela gramática do português
contemporâneo e o surgimento de novos pronomes (Galves [trabalhos reunidos em 2002,
capítulos 2-8]);
16 As mudanças no sistema de clíticos que distinguem o português brasileiro favoreceram, segundo Mattoso Câmara Jr.
(1975), uma profunda evolução morfológica, que estava prefigurada no sistema pronominal do português.
29
4. Avanço da próclise generalizada no português brasileiro (cf. Cyrino, 1993, Galves e
Abaurre, 1996, Galves, 1996, 2002);
os séculos 18-19, divididos em períodos de cinqüenta anos, Tarallo usou textos brasileiros de vários gêneros: peças de
teatrais, cartas e diários. E, para o século 20, entrevistas sociolingüísticas gravadas em 1981.
30
Gráfico 1.1
Percentual da retenção do objeto direto anafórico em cinco
momentos históricos
120
96,2
100 89,2
83,7
80
60,2
%
60
40
18
20
0
Século 18-1 Século 18-2 Século 19-1 Século 19-2 Corpus
Sincrônico
1982
Gráfico 1.2
100
96,5 98,9
90 89,2 91,3
96,2
83,7
80 79,4
70 72,9
60 60,2
%
50
44,8
40
30 32,7
26,6
23,3
20 18,2
16,4
10
0
1725 1775 1825 1880 1981
31
Baseado nesses resultados, Tarallo (1993:99) identifica mudanças na gramática que define o
português brasileiro entre fins do século 19 e o início do século 20. O autor, evidentemente,
reconhece que essas mudanças podem estar refletindo o passado da língua, ao dizer que fatores
externos no Brasil desse período teriam possibilitado que “a pena brasileira começasse escorrer sua
própria tinta”. Cyrino, em uma pesquisa diacrônica sobre a emergência do objeto nulo no português
brasileiro, tendo como base a análise de textos escritos entre os séculos 16-20, em um total de 2.308
dados, mostra, no gráfico 1.3, feito a partir de Cyrino, (1997:246, tabela 1)21, a subida de posições
nulas anafóricas antes ocupadas pelos clíticos acusativos.
Gráfico 1.3
Distribuição de posições nulas por período de 100 anos (Cyrino,
1995/1997)
90
80 79,1
70
60
50
%
45
40
30
20 18,5
10 10,7 12,6
0
Século 16 Século 17 Século 18 Século 19 Século 20
Nulas
21
Cyrino (1997:232-236) utiliza documentos literários, basicamente, peças teatrais, além de algumas poesias, a saber:
• Século XVI: Gil Vicente – Auto da Índia (1509); Auto da Alma (1518); Farsa de Inês Pereira (1523); Auto da Feira
(1527); Auto da Mofina Mendes (1534); Camões (El-Rei Seleuco (157?, data incompleta); Filodemo (157?, data
incompleta);
• Século XVII: Gregório de Mattos – Obras Completas (algumas páginas aleatórias representativas de sua poesia
satírica, lírica e graciosa, 1655-1690);
• Século XVIII: Antonio José da Silva, o Judeu – Guerras do Alecrim e da Manjerona (1737) e Domingos Caldas
Barbosa – Viola de Lereno (coleção de cantigas e lundus em, 1760-1780);
• Século XIX: Martins Pena – O Juiz de Paz na Roça (1837) e O Judas no Sábado de Aleluia (1844); Artur de
Azevedo – O Tribofe (1891) e José de Alencar – O Demônio Familiar (1857) e
• Século XX: Marques Rebelo – Rua Alegre, 12 (1840); Dias Gomes – O Pagador de Promessas (1960);
Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Parado no Ar (1973) e Miguel Falabela – No Coração do Brasil (1992).
32
O uso de objeto nulo, segundo a autora, embora tenha sido sempre possível, sofre uma
mudança não apenas de freqüência, mas também na extensão dos contextos: 1º) posição nula com
antecedente “sentencial”; 2º) posição nula com antecedente predicativo [NP +específico] e 3º)
posição nula antecedente [NP -específico]. No caso específico do [NP +específico], aumenta de
freqüência de forma significativa partir do século 19 (séc. 16, 2.9%; séc.17, 4%; séc. 18, 7,5%; séc.19,
31,4% e séc. 20, 67,4%).
A elipse sentencial passa a ser preferida ao clítico neutro o a partir do século 18. A queda do
clítico o é interpretada como tendo sido afetada por uma mudança na direção da cliticização, já
referida na introdução que, no PB, passa a ocorrer da esquerda para a direita. A autora não atesta em
seus estudos exemplos como em (1.2). A justificativa fonológica é de que, por ser uma sílaba sem
onset, não teria onde se apoiar em posição inicial de sentença.
O processo de perda desse clítico está expresso no gráfico 1.4, a seguir (feito a partir de Cyrino,
1997:261, tabela original 10):
Gráfico 1.4
Clítico neutro em posição de início de sentença versus posição
nula (elipse sentencial) por períodos de 100 anos
(Cyrino, 1995/1997)
120
100 100 100
80 81,8
60
%
50 55,6
40 44,4
20 18,2
0 0 0
Século 16 Século 17 Século 18 Século 19 Século 20
33
Essa mudança também é atestada em grupos verbais (Aux +V), como ilustrado no exemplo
1.2.
(1.2) * tinha o-dito [Cyrino, (1997:262) , ex. original 8b]
No gráfico 1.5 (feito a partir de Cyrino, 1997:261, tabela original 11), é possível observar que
esse fenômeno não mais se verifica nos textos do século 17.
Gráfico 1.5
Clítico neutro em posição enclítica na estrutura AUX+V (ênclise ao auxiliar)
versus posição nula (elipse sentencial) por período de 100 anos
(Cyrino, 1995/1997)
120
100 100 100 100 100 100
80
%
60
40
20
0 0 0 0 0 0
Século 16 Século 17 Século 18 Século 19 Século 20
Seguindo a linha de interpretação desenvolvida nesse item, vou levantar no item 1.3 os
resultados de estudos diacrônicos do português brasileiro que se centram na colocação dos clíticos,
especificamente a colocação nas orações finitas com único verbo e em grupos verbais. Em seguida,
faço o mesmo com base em estudos sobre a colocação dos clíticos no português europeu.
Como já foi dito na apresentação, essa revisão, que não pretende ser exaustiva, vai servir de
base para a descrição dos clíticos. Os resultados encontrados, nesses estudos, também vão orientar,
em parte, a metodologia de trabalho.
34
1.3 Alguns aspectos da sintaxe dos clíticos no português brasileiro e no
português europeu
1.3.1 Estudos sobre a ordenação dos clíticos no português brasileiro
1.3.1.1 Pagotto (1992, 1993)
Em “A Posição dos clíticos em português: um estudo diacrônico”, Pagotto (1992) investiga
o percurso diacrônico dos clíticos pronominais em português (do século 16-20)22. O autor trabalhou
com um total de 1.436 dados extraídos de cartas e documentos oficiais. Esses dados são divididos
em orações com clíticos, antecedidas ou não de negação ou advérbio, em orações com único verbo
e em grupos verbais definidos pela combinação de um verbo finito com um segundo verbo não
finito (cf., item 1.3.1.3, ainda, nesta seção). O autor relaciona as mudanças ocorridas na colocação
22 O corpus utilizado por Pagotto (1992:64-66) é misto e não uniforme, tanto quanto à tipologia quanto com relação à
nacionalidade de seus autores, até o século XIX, quando, a partir de então, os textos são escritos por brasileiros (cf.
Lobo para uma análise crítica (2001:553-558). Prevalecem os textos não literários, assim distribuídos por metade de
século:
• 1ª metade do século XVI (XVI1): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; Documentos Históricos do
Espírito Santo (série documentos históricos, cartas, um relatório e um testamento); Anaes de Elrei Dom João III,
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (capítulo I e II), Crestomatia Arcaica (fragmentos do Sacramentale do Ho Flos
Sanctorum em lingoage portugues);
• 2ª metade do século XVI (XV12): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; livro do tombo do Mosteiro de São
Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento);
Documentos Históricos do Espírito Santo; Cartas dos Primeiros Jesuítas no Brasil (volume III, cartas 34 e 35).
• 1ª metade do século XVII (XVII1): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; livro do tombo do Mosteiro de
São Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento);
Documentos Históricos do Espírito Santo;
• 2ª metade do século XVII (XVII2): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; livro do tombo do Mosteiro de
São Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento);
Documentos Históricos do Espírito Santo;
• 1ª metade do século XVIII (XVIII1): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; Livro do tombo do Mosteiro
de São Bento da Cidade do Rio de Janeiro; Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de
documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento); Governadores do Rio de Janeiro (Correspondência de
governadores do Rio de Janeiro activa e passiva com a Corte, cartas das páginas 11-24); Documentos Históricos do
Espírito Santo; Cartas dos Primeiros Jesuítas no Brasil;
• 2ª metade do século XVIII (XVIII2): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; Livro do tombo do Mosteiro
de São Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento);
Documentos Históricos do Espírito Santo; Cartas dos Primeiros Jesuítas no Brasil; Cartas do Rio de Janeiro (série de cartas
do Vice-Rei do Marquês de Lavradio);
• 1ª metade do século XIX (XIX1): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; Livro do tombo do Mosteiro de
São Bento da Cidade de São Paulo (conjunto de documentos que arrolam posses do Mosteiro de São Bento);
• 2ª metade do século XIX (XIX2): Livro do tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia; parte do Processo contra escravos
(Arquivo Público Municipal de Uberaba, MG); Cartas diversas do século XIX (conjunto de cartas de diversas
origens).
• 1ª metade do século XX (XX1): Cartas diversas (Arquivo de cartas pessoais de diversas origens) e
• 2ª metade do século XX (XX2): Cartas do Nordeste (Arquivo de cartas pessoais de A. C.; Arquivo de cartas de
S. L (conjunto de cartas pessoais).
35
dos clíticos nesses dois tipos de orações, à perda de duas possibilidades de movimento no português
brasileiro contemporâneo, a saber: movimento do verbo e movimento longo do clítico23.
Selecionei, em seus estudos, fatos que poderiam apontar para mudanças na gramática do
português brasileiro. Antes, vejamos a posição dos clíticos com verbo único em sentenças raiz,
depois especificada por estrutura de sentença e, mais adiante, a posição dos clíticos por grupos
verbais:
O gráfico 1.6 (extraído de Pagotto, 1992:69, tabela 2) apresenta a ênclise em sentenças raiz
com tempo finito em três períodos de tempo. Nesse contexto, estão excluídos os casos em que o
verbo é precedido de algum elemento “atrator”, além de gerúndios e infinitivos. Em um total de
436 casos, 25% (107) são de ênclise. O autor chama a atenção para o fato de que o maior número de
casos está concentrado entre os séculos 16 e 19.
Pagotto diz ainda que, do total de ênclises, 107 casos, 63 casos, ou seja, 59% estão registrados
a partir da 2ª metade do século 19. Os 44 casos restantes (41%) se encontram distribuídos nos
outros períodos de tempo.
Outro fato importante é a subida da ênclise a partir do século 19. O comportamento
diacrônico dessa variável com relação ao percentual de ênclise é o seguinte:
23 Esse é um ponto importante sobre a colocação dos pronomes clíticos ressaltado nos estudos de Pagotto, a
sensibilidade dos clíticos à posição ocupada pelo verbo na estrutura superficial da sentença. Para sua análise, o autor se
baseia em Duarte (1983), Kayne (1989), Rouveret (1989), Silva (1990), entre outros.
36
Gráfico 1.624
100
80
71
60
45 46
40
20 17 16 15 15
8 12 11
0
Séc.16 1 Séc.16 2 Séc.17 1 Séc.17 2 Séc.18 1 Séc.18 2 Séc.19 1 Séc.19 2 Séc.20 1 Séc.20 2
Ênclise
De fato, esse gráfico mostra duas situações importantes: 1) a baixa ocorrência de ênclise até a
primeira metade do século 19, equivalendo a primeira metade do século 19, variando entre 17% e
11% e a outra, o aumento significativo da ênclise em orações raízes sem atratores, um
comportamento não compatível com a gramática do português brasileiro desse período, justamente
nos textos que o autor (1992:70) assume com sendo de “autoria brasileira”.
Esses resultados seriam estranhos se pensarmos no português brasileiro, mas podem ser
explicados se considerarmos que os textos datados entre o séculos 16-19 podem ter sido escritos
por brasileiros cultos influenciados pela norma portuguesa ou mesmos por portugueses. Fato que
pode ser evidenciado quando comparados com os estudos dos Corpora Históricos Anotados do
Português Tycho Brahe25 (doravante, CTB).
Os resultados se mostram de forma extremamente interessante no gráfico comparativo (cf.
gráfico 1.15 e gráfico 1.16). A aparição de padrões convergentes de gramáticas distintas em
competição nos textos escritos no Brasil, aliada aos resultados dessa pesquisa, com uma gramática
tipicamente brasileira no século 19, mostraria não apenas a competição de duas gramáticas, mas de
24 Quanto ao percentual de ênclise da segunda metade do século 20, em Pagotto (1992:69) há uma divergência, 46%
correspondem à próclise (22/48), corrigido em Pagotto (1999:188). O título original da tabela 2 de Pagotto (1992:69), de
onde foi adaptado esse gráfico, informa se tratar de períodos de 50 anos com números que representam a primeira e a
segunda metade de cada período.
25 Cf. estudos com base em Corpora Históricos Anotados do Português Tycho Brahe em
http://www.ime.usp.br/~tycho/Corpora. Galves, Britto e Paixão de Souza (2005).
37
três. Os detalhamentos dessa suposição serão vistos adiante. Vemos que, com exceção da queda da
ênclise no século 20, de novo aqui, com atraso de 100 anos, aparentemente, a gramática que emerge
dos textos de Pagotto apresenta uma curva similar aos gráficos 1.15 e 1.16, referente à GBPS, 2005
(cf. adiante).
Pagotto (1992:161) diz que o “encontro” das duas gramáticas se deve ao português europeu
que, “após ter mudado em relação ao português clássico, passou a exercer pressão sobre o
português brasileiro”. Segundo essa assunção, os casos de ênclise no século 20 não seriam relevantes
para a gramática do que viria a ser o português brasileiro contemporâneo, mas estariam indicando
uma pressão do português europeu moderno, após ter mudado em relação ao português clássico.
Essa dedução é apoiada por estudos posteriores (cf. Pagotto, 1998, 1999). Nesse último, feito
com base nos textos de duas “Constituições”, a do Império (1824) e da República (1892), o autor
mostra que foram escritas em gramáticas diferentes26.
A Constituição do Império corresponderia à gramática do português clássico em competição
com a gramática do português brasileiro, já que são encontrados casos de próclise com verbo em
primeira posição, e a Constituição da República corresponderia, por sua vez, ao português europeu
moderno.
Se, como assume Pagotto, a ênclise majoritária no século 20 reflete a imposição da norma
portuguesa européia, e a prevalência da próclise até o século 18, média 85%, também não
corresponde ao português brasileiro, ao dizer que os textos do século 16 ao século 18 são
“claramente de autores portugueses”, há dúvidas sobre o momento que o português brasileiro seria
captado no seu material de pesquisa.
Esses dados são detalhados a seguir com relação à ordem na colocação dos clíticos por
estrutura de sentença. Essas estruturas são vistas de acordo com a possibilidade do verbo começar
ou não a sentença. É importante destacar três contextos: 1. Verbo inicia o período; ou a sentença;
o contexto 2. Verbo precedido de sujeito e o contexto 3. Verbo precedido de algum elemento
(ou outro material lexical argumental/não argumental).
26 Na constituição do Império há 91% (21/23) de próclise em configurações X V e apenas 14% (5/34) na constituição
da República.
38
As estruturas analisadas são as seguintes27:
(1.3) (s) V Peço-lhe que vocês não esqueça da gente aqui em casa (ACP/A. C,
segunda metade do século 20).
[Pagotto, (1992:59), ex. original (a)]
(1.4) V S Sentiose Geralmente esta morte por ser assim apressada (DHES, 17-1).
[Pagotto, (1992:59), ex. original (b)]
(1.5) S V eu lhe deito a minha benção. (CRJML, segunda metade do século 18)
[Pagotto, (1992:59), ex. original (e)]
(1.6) ... (s) V Enquanto aguardo a chegada de sua carta, escrevo-lhe estas linhas.
(Arq. C.P.se S.L, segunda metade do século 20)
[Pagotto, (1992:59), ex. original (c)]
Os percentuais apresentados pelo autor em três períodos de tempo (século 16/18, século 19 e
século 20) constam do gráfico, 1.7, a seguir (extraído de Pagotto, 1992:82, tabela 6).
27 Além da análise dessas estruturas em orações não dependentes foram analisadas, pelo autor, as dependentes,
adverbiais e dependentes coordenadas, além de outro contexto com elemento precedendo o verbo, a saber: Verbo
precedido de algum elemento Qu-. Ex.: ...escolhendosse oitenta hoens quesehão deachar debayxo doGoverno da
Cappitania do Spirito Sancto (DHES, primeira metade do século 18) [Pagotto, (1992:60), ex. original (h)]. Como se verá
adiante, esse é um contexto de próclise praticamente categórica na história do português europeu.
39
Gráfico 1.7
Ênclise/próclise por estrutura básica da sentença em três períodos de tempo
(Pagotto, 1992)
120 100
100 100
89
100 91
75
80 75
53
%
60 50
40
40 33 25 25
20
20 13 12 9
4 8
0
0
Ênclise Ênclise Ênclise Ênclise Ênclise Ênclise Ênclise
Vejamos os resultados das ocorrências de ênclise por século e por tipo de estrutura:
1. Verbo inicia o período; ou a sentença com sujeito elidido [(s) V] ou pós-verbal [V S].
Um contexto não variável na história do português europeu:
[(s) V]
Séc. 16/18: 91% (10/11); séc. 19: 100% (6/6) e séc. 20: 89% (24/27)
[V S]
Séc. 16/18: 75% (6/8); séc. 19: 100% (1/1) e séc. 20: 0% (0/0)
Pagotto não apresenta exemplos relativos aos 9% de próclise nas estruturas (s) V, e aos 15%
nas estruturas VS28 no período do 16-18, um contexto que caracterizaria o português brasileiro, uma
vez que não foi atestado em nenhum momento da história do português europeu. Os 9% de
próclise, registrados nos textos entre o século 16-20, correspondem a apenas 4 casos, sendo 3 do
século 20 e 1 caso do primeiro período, século 16-18, cujo exemplo não foi registrado pelo autor. O
único exemplo dado parece ser do século 20 e não há crédito do documento (cf. exemplo 1.10b).
(1.10a) Peço-lhe que vocês não esqueça da gente aqui em casa. (ACP de A.. C, século 20-2).
(1.10b) Lhe peço que você não se esqueça da gente.
[Pagotto, (1992:80), ex. original (18a e 18b)]
28Esse ponto é importante porque essa mudança na colocação pós-verbal do sujeito está relacionada à mudança na
colocação dos clíticos, tendo acontecido ao mesmo tempo na história do português europeu (cf. adiante Paixão de
Souza, 2004). Sobre a perda da ordem VS no português brasileiro (cf. Berlinck, 1988, 1989).
40
De qualquer modo, o próprio Pagotto (1993:199) diz que a tendência à próclise nesse período
seria refreada apenas pelo verbo em posição inicial e que “na situação em que o verbo inicia o
período, a ênclise é majoritária29”. Nesse estudo, também afirma que os casos de próclise
encontrados nos textos do século 16-18 estão condicionados a algum material lexical antes do verbo.
A segunda construção, a seguir, é de variação na história do português europeu, com
tendência acentuada de ênclise a partir do século 18 (cf. Gráfico 1.14 de Galves, Britto e Paixão de
Souza, de agora em diante, GBPS, 2005). Percebe-se um aumento significativo da ênclise no século
19, indicando um caminho que se opõe à tendência da próclise no português brasileiro30.
X (s) V31
Séc. 16/18: 9% (11/124); séc. 19: 25% (5/14) e séc. 20: 53% (8/15)
XVS
Séc. 16/18: 8% (4/48); séc. 19: 0% (0/1) e séc. 20: 100% (1/1)
3. Verbo precedido de sentença adverbial ou gerundiva com sujeito elidido [... (s) V] ou
pós-verbal [... V S]. Contexto 2 de variação (cf. adiante).
... (s) V
Séc. 16/18: 13% (4/31); séc. 19: 40% (2/5) e séc. 20: 75% (6/8)
41
... V S
Séc. 16/18: 33% (2/6); séc. 19: 25% (1/3) e séc. 20: 50% (2/2)
De modo geral em todos os períodos de tempo, fica evidenciada a tendência à ênclise nos
casos em que o verbo é o limite do período em (1) e a queda da ênclise quando o verbo é precedido
de algum elemento a sua esquerda, mostrando a sensibilidade em relação à posição do verbo.
Pagotto (1992:84-85) conclui que, em relação à posição dos clíticos em sentenças raiz, o português
clássico tinha um padrão muito semelhante ao português brasileiro atual e a mudança não é evidente
no padrão superficial, lembrando, entretanto, que fazia uma restrição ao verbo ser ou não o primeiro
elemento do período.
Passo a agora a apresentar os resultados de Lobo (2001) relativos ao século 19.
Lobo (2001) apresenta uma importante descrição sobre a sintaxe brasileira e portuguesa da
colocação dos clíticos na Bahia do século 19, resultante de uma cuidadosa investigação em um
conjunto de cartas particulares do Recôncavo da Bahia, século 19, editadas pela autora. O objetivo
central de sua análise lingüística é averiguar se havia convergência entre a norma escrita socialmente
prestigiada de colocação dos clíticos dos brasileiros e a norma vernácula de colocação dos clíticos
dos imigrantes portugueses no Recôncavo da Bahia nesse período. A conclusão a que chegou é a de
há uma grande convergência entre ambas.
Os gráficos de 1.8-1.10, a seguir, foram feitos com base no estudo citado. Os dados de
imigrantes portugueses e brasileiros foram extraídos de Lobo (2001:608-785)33.
32 Cf., também, Lobo (1990, 1992). No estudo de 1992, a autora trabalhou com dados do português europeu,
especificamente, as cartas da corte de D. João III, escritas por familiares, e uma amostra do português brasileiro culto
formado pelo corpus mínimo do projeto Norma Urbana Culta (NURC).
33 Na elaboração dos gráficos, não foram incluídas as construções de cartas apógrafas.
42
Gráfico 1.8
Colocação pós-verbal de pronomes átonos por tipo de orações com verbos
simples finitos
(Lobo, 2001)
70% Coordenadas com conectivos
60,0%
60% 56,0%
50,0% Negativas
50%
Imperativas
40%
Dependentes finitas (completivas)
30%
Adverbiais
20% 11,6%
Clivadas
10% 2,7%
0,0% 0,0% 0,0%0,0%0,0%0,0%0,0%
0%
Brasileiros Portugueses
A distribuição dos clíticos em orações dependentes finitas nos textos portugueses não é
variável, os clíticos ocorrem sempre em posição pré-verbal. Nos textos dos brasileiros, há uma
pequena variação, com 11,6% de ênclise34. Nas orações com verbo em posição inicial absoluta, um
contexto que distingue fortemente o português brasileiro do português europeu, nenhuma variação
foi regristrada nos textos escritos por portugueses. Nos textos de brasileiros, o percentual de
anteposição do clítico, 4,2%, ocorre em uma única sentença e em posição intercalada, exemplificada
em 1.12, portanto, não se deu no contexto de posição inicial absoluta, uma das principais
construções de colocação de clíticos que identifica a gramática do português brasileiro35.
34 Essa variação, que também se dá nas cartas dos remetentes escolarizados, é interpretada pela autora como
hipercorreção.
35 Essa construção em 1.12 também é atestada no português europeu clássico (cf. GBPS, 2005).
43
(1.12) Quando, n’essa Cidade, o Senhor Mello m’ encarregou es-|ta cobrança, e a do Adão,
deixei de proceder a um prévio ajus-|te do meu trabalho, não só por que estava, então, com
pressa, co-|mo por que, me disse elle, Vossa Reverendíssima gratificaria devidamente. ECM,
II.
[Lobo, (2001:692), ex. original 24]
A variação da colocação pós-verbal nesse contexto 95,8% (23/24), segundo Lobo, não reflete
uma diferença em termos qualitativos.
Gráfico 1.9
Colocação pós-verbal dos pronomes átonos com
verbo em posição inicial absoluta
(Lobo, 2001)
95,8 100
100
80
60
%
40
20
0
Brasileiros Portugueses
(1.13) A minha Familia toda lhe|beija a Mao e agradece suas recomendaçoens JTB, I
[Lobo, (2001:696), ex. original 35]
(1.14) Como eles querem da|quela forma, aqui lhe envio as letras que lhe mostrei,|assim
como hua notta por minha letra, aindicar aforma pe|la qual querem as Freiras, eoutra por
diverça pela qual que|rem aqueles, JPL, XXVIII
[Lobo, (2001:612), ex. original 27]
44
Entre os casos de elementos deslocados, acusativos em posição pré-verbal, houve 1 entre 3
ocorrências de colocação pós-verbal (1.15). As outras 2 são expressões fixas (cf. ex. 1.16).
(1.16) Saude e muitas felicidades lhe deseja o|DeVossa Senhoria| Muito attencioso
venerador Criado JJL, IV
[Lobo, (2001:696), ex. original40]
Gráfico 1.10.
Colocação pós-verbal de pronomes átonos em senteças simples com
verbos finitos: elementos em posição pré-verbal
(Lobo, 2001)
Sujeito neutro
45
O percentual de 78% de colocação pós-verbal encontrado nos textos portugueses se
aproxima dos resultados do português europeu desse período (cf. GBPS) que registram em 1850,
93% de colocação pós-verbal.
(1.18) finalmente, depois de| 33 dias depenoso trabalho concluio-se esse malfadado negocio
ECM, VI.
[Lobo, (2001:707), ex. original 111]
Por outro lado, a diferença na colocação pós-verbal nas orações com verbo precedido de
sujeito neutro surpreende, porque o maior percentual ocorre na amostra dos brasileiros, 41,7%, um
contexto de avanço da ênclise no português europeu. A autora atribui a elevação desse índice a um
dos remetentes, autor de 6 (entre 10/19) ocorrências. A não contabilização das ocorrências desse
remetente reduz o percentual para 25%, um índice próximo aos 20% encontrados por Pagotto (cf.
gráfico 1.9).
(1.19) O mestre de Leopoldina entregou-me|o fato, que lhe encommendei, o qual|veio todo
muito bom, não só nas fazendas,|como no feitio. ZGV, I
[Lobo, (2001:704), ex. original 90]
Tomando por base os resultados do estudo feito com o Corpus Histórico Tycho Brahe
(CTB), (cf. GBPS, 2005), como visto também no estudo de Pagotto, anteriormente, é possível fazer
novas leituras da figura acima. Nesse estudo, as autoras mostram a evolução da ênclise na história do
português europeu em orações afirmativas finitas, matrizes e coordenadas, introduzidas por sujeitos,
sintagmas preposicionais e advérbios não modais, denominadas de V2, ou seja, orações com verbo
em segunda posição.
O percentual de ênclise em 1800 é de 68% e em 1850 é de 89% (cf. gráfico 1.14). Juntando
as orações com sujeito neutro, preposição e certos advérbios, o percentual de colocação pós-verbal
nos textos escritos por brasileiros é de 23,3% (14/60) e nos textos escritos por portugueses, é 22,2%
(12/54). Ambos os resultados, embora fiquem abaixo do percentual apresentado em textos escritos
em português europeu, indicam um aumento significativo da ênclise que, até o século 18, era inferior
a 10%. A gramática que “emerge” nos textos escritos por brasileiros, segundo Lobo (2001:792), não
46
reflete a gramática vernacular brasileira. A conclusão da autora é de que, no Brasil “recém-saído de
um passado colonial, a tradição escrita” estava, “ainda, inequivocamente marcada pela tradição
escrita portuguesa”36.
O item seguinte apresenta a posição dos clíticos em grupos verbais nos estudos de Pagotto
(1992) e de Lobo (2001). O interesse principal recai sobre a perda do alçamento ou da elevação de
clítico (clitic climbing) e o aparecimento da inovação brasileira, a próclise ao verbo não finito, uma vez
que ambos os fenômenos caracterizam a gramática do português brasileiro atual.
1. cl-V V (1.20) ... afim deque entrando povo, quesem estabelicimento o não
quer fazer...(DHES, segunda metade do século 18)
[Pagotto, (1993:191), ex. original 12]
36 Entretanto, é importante lembrar que, no século 19, nas estruturas com verbo em segunda posição antecedido por
sujeitos, a posposição do sujeito pode ainda ser a “linguagem familiar e mais corrente” (cf. Figueiredo, 1944 [1909]: 207).
37 Com exceção dos verbos de elevação que condicionam a subida do clítico.
47
[Pagotto, (1993:191), ex. original 15]
Um dos locais de pouso do clítico em contexto de elevação que pode ser em próclise ou em
ênclise. Até o século 19, a próclise ao primeiro verbo era majoritária, chegando, por vezes, a 100% a
seqüência [Verbo finito + V não finito (gerúndio/particípio)]:
(1.23) ... e lhe fui dando na mão terra, pedras da dita terra e areja, e seixos da dita praya.
(LTMSB, 1ª metade do século 17).
[Pagotto, (1992:47), ex. original d]
O gráfico 1.11 (extraído de Pagotto, 1992:106, tabela original 13) aponta a variante 1 (original
variante a) como bastante favorecida até o século 18 e a perda total no século 20.
Gráfico 1.11
A próclise ao verbo não finito em grupos verbais de não subida do clítico, construção 4, é
apontada como típica do português brasileiro38, não tendo sido usualmente registrada na história do
português europeu.
38
Todos os trabalhos têm mostrado que esse contexto é francamente resistente à próclise no português clássico (cf.
Martins, 1994, Galves, 2000, Pagotto, 1992), dentre outros.
48
4. V cl-V (1.24) pois ja|Lê esCrevi ataL respeito dando parte que nem
francisco Ignaçio|enem adonana quis me em tregar as terás FAP,
V.
[Lobo, (2001:762), ex. original, variante 3 a]
Gráfico 1.12
Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais com e sem atratores, século
16-20
(Pagotto, 1992)
110
100
90
80 69
70 67
60
50
40 38
30
20
10 11 11
0 0 0 0 0 0 3 0 0
Séc.16 1 Séc.16 2 Séc.17 1 Séc.17 1 Séc.18 1 Séc.18 2 Séc.19 1 Séc.19 2 Séc.20 1 Séc.20 2
Já Lobo (2001) trabalhou com 249 casos de colocação de clíticos em grupos verbais (146 nos
textos escritos por brasileiros e 103 nos textos de portugueses). Vê-se no gráfico 1.16 (extraído de
Lobo, 2001:788-789) que, a exemplo do que ocorre em Pagotto, há um claro predomínio das
49
construções com elevação de clíticos em ambas as amostras, sendo que, nos brasileiros, o percentual
é de 58,2% e, entre os portugueses, é de 71,8%. Com relação às construções sem elevação de
clíticos, verifica-se na variante em que o clítico ocorre posposto e enclítico ao verbo não finito (Vfinito
V-cl) que os percentuais nas duas amostras são equivalentes, 26% nos remetentes brasileiros e
25,2% nos remetentes portugueses.
A variante vernacular do português brasileiro, anteposição e proclítico ao verbo não finito
(V cl-V), foi registrada nos textos de brasileiros em 8,9% e de forma majoritária nos remetentes
pouco escolarizados. Nos textos dos portugueses, há apenas uma ocorrência, com freqüência de 1%,
que foi interpretada como reflexo de “leves indícios de ‘reestruturação’ da gramática de um
imigrante português em direção à gramática do português brasileiro” (cf. Lobo, 2001:678).
Registrou-se, ainda, a próclise ao verbo não finito na construção V finito + Preposição + I,
1,6% (2 ocorrências) com o verbo haver de (1.25), um contexto considerado de variação livre. E a
construção V cl Vfinito (1.26).
(1.25) Vai hua carta feita|segundo o que entendo par Vossa Senhoria asignár, edirigir|ao
Senhor Joaquim Joze dos Reis, visto que sabe avia|de lha remeter JPL,XXVI
[Lobo, (2001:675), ex. original 39]
(1.26) Entregue mefoi a de Vossa Senhoria FSM, I
[Lobo, (2001:662), ex. original variante 6a)]
39Esse gráfico é o resumo das construções que incluem contextos de ordem categórica pré-verbal e pós-verbal atestadas
na história do português. Esses contextos são analisados por Lobo (2001) em função das variantes apontadas nos
gráficos, a saber: cl-V finito V (variante 1); Vfinito –cl V (variante 2), Vfinito cl V (variante 3, inovação brasileira), Vfinito V-cl
(variante 4), Vfinito cl-V (variante 5) e V cl Aux (variante 6) apenas 1 caso na amostra de brasileiros.
50
Gráfico 1.13
Colocação de pronomes átonos em orações com grupos verbais
(Lobo, 2001:763)
70% 61,20%
60% 52,70%
50%
40%
26,00% 25,20%
30%
20% 10,70% 8,90% 6,20% 7,00%
10% 5,50%
1,90% 0,00%
1,00%
0%
cl - Vfinito V Vfinito-cl V Vfinito cl V Vfinito V - cl Vfinito + prep. cl V cl Vfinito
V
Brasileiros Portugueses
40 Sobre a interpolação na história do português europeu (cf. Mattos e Silva, 1989:841, Lobo, 1990, Martins, 1994:161-
199/272-277) e, também, sobre a ocorrência desse fenômeno a partir do século 17 com base no CTB (cf. Namiuti,
2003).
41 Como atestado por Said Ali (1908).
51
amostras, são contextos onde ocorrem “atratores”, ou seja, contextos proclíticos. Em 1.27, um
contexto onde em princípio poderia ocorrer interpolação, mas tal não se verifica.
52
1.3.2 Estudos sobre a ordenação dos clíticos na história do português europeu e os
resultados de Galves, Britto, Paixão de Souza (2005) com base em CTB
(1.28) Peço lhe que por vos mnde escrever 26, 34-35 (?)
(Lobo, 1992:64)
A ênclise com verbos em posição inicial é bastante estudada na história do português. Esse
fenômeno é conhecido como aplicação da lei Tobler-Mussafia42, que prevê a impossibilidade de o
clítico ocorrer em primeira posição absoluta na frase. O aspecto fonológico desse fenômeno foi
interpretado por Wackernagel como um reflexo de uma propriedade que define as línguas indo-
européias, a de que as palavras não acentuadas sempre aparecem enclíticas ao primeiro elemento da
frase, o que levou a formulação da chamada “lei de Wackernagel”. Ou seja, essa restrição não se
aplica apenas aos pronomes clíticos, mas se estende, também, às demais palavras não acentuadas. Os
casos de ênclise no português europeu são interpretados como sendo uma preservação dessa
restrição. É interessante destacar que em toda em sua história somente o português europeu e o
galego43 mantêm essa propriedade. As demais línguas românicas passaram a admitir o clítico em
posição inicial de sentença (V1). Esse contexto, como se viu, distingue fortemente o português
europeu moderno e o português brasileiro, que passa admitir a próclise em posição inicial absoluta44.
42 Essa formulação origina-se com o trabalho de Tobler (1875) a partir da observação de que no francês antigo os
pronomes átonos objetos nunca ocorriam em 1ª posição e com o trabalho de Mussafia (1886), que verificou o mesmo
para o italiano. Os estudos sobre a colocação dos clíticos nas línguas românicas normalmente relacionam essas duas
interpretações.
43 Cf. Meyer Lübke (1897).
44 Para uma interpretação teórica desse fenômeno (cf. vários trabalhos de Galves listados na referência bibliográfica).
53
II. Ambientes não variáveis de próclise
2. Orações negativas
(1.29) e queredo que na posa ne lhes seja a ello recebjda nehua auçõ... (NO, 1514)
(Martins, 1994:17 ex. original 6).
3. Orações com sintagmas-Q (pronomes relativos, interrogativas e indefinidas).
(1.30) cõue A saber eyllj A leyxar o casal de vilar chão e o casal de braffomes que y ey e
mãdo que lhy ffiquen... (NO, 1275) (Martins, 1994:93 ex. original 5)
(1.31) E todos assy o outorgarom (NO, 1467) (Martins, 1994:19, ex. original 8)
(1.32) Joaninha apertou a avó com ambos os braços; e sem dizer uma palavra, sem fazer um
só gesto, lentamente e silenciosamente se retirou para dentro de casa. (CTB, Almeida
Garrett)
(GBPS, 2003, ex. original 91)
45 Há uma pequena variação marginal observada em orações subordinadas com ênclise em relativas e completivas nos
54
III. Alçamento predominante de clítico para o verbo finito em seqüências verbais ou grupos
verbais [Verbo finito + Verbo não finito].
Martins (1994) e também Salvi (1990) afirmam que no português europeu até o século 17
geralmente os clíticos “ligam-se ao auxiliar” ou verbo finito.
Abdo (2003), a partir de um estudo com o CTB, observa que a tendência à ênclise em grupos
verbais com o segundo verbo precedido por preposição segue o padrão das orações finitas com
verbo único. Nas infinitivas introduzidas por a, um contexto onde havia variação, torna-se um
contexto essencialmente enclítico. E nas demais, como a preposição de, ocorre o contrário, de um
contexto onde a próclise se fazia quase absoluta para um contexto de variação.
O padrão atual do português europeu moderno reflete esse fato, a ênclise no português
europeu moderno é categórica com a preposição a e com as demais há variação. A próclise ao verbo
não finito no português europeu somente é possível com preposição apontada como um fator que
favorece a próclise. Em 106 ocorrências, Martins (1994:154) identifica apenas uma sentença com
clítico ligado ao verbo não finito (cf. exemplo 1.35c).
c. e começou logo de sse hir come home camjnhante que segundo paresçia queria
seguir caminho. (Lisboa, 1426)
(Martins, 1994:154, ex. original 113)
55
IV. Ambientes variáveis
46 Cf. sobre a variação nesse período e novas interpretações sobre o “português médio” ou “português clássico”, Paixão
de Souza (2004) e GBPS (2005).
47 Os autores e os documentos utilizados por GBPS (2005) com base no CTB são:
1. Diogo do Couto (nascido em 1548) com Décadas (publicadas em 1602), 47,448 palavras;
2. Luis de Sousa (nascido em 1556) com A vida de Frei Bertolomeu dos Mártires (data considerada na produção,
1619), 53,928 palavras;
3. Francisco Rodrigues Lobo (nascido em 1579) com Corte na aldeia e noites de inverno (data considerada na
produção, 1619), 52,429 palavras;
4. Padre Manuel da Costa (nascido em 1601) com A arte de furtar (publicada em 1614-1744?, data considerada,
1652, segundo Paixão de Souza, 2004, apêndice, 3), 52,867 palavras;
5. Padre Antonio Vieira (nascido em 1608) com Cartas (publicadas em 1735, data de produção considerada,
1670, data da escrita da última carta, segundo Paixão de Souza, 2004, anexo, 3), 57,088 palavras e com Sermões
(publicados em: 1679, 1699, 1710, 1748, doze tomos, data considerada, 1679, segundo Paixão de Souza, 2004,
anexo, 3), 53,855 palavras;
6. Francisco Manuel de Mello (nascido em 1608) com Cartas familiares (data considerada na produção, 1664),
58,070 palavras;
7. Frei Francisco das Chagas (nascido em 1631) com Cartas espirituais (data considerada na produção, 1662),
54,445 palavras;
8. Manuel Bernardes (nascido em 1644) com Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegemas (data considerada na
produção, 1706, 1708, 1711 e 1728, cinco tomos, data considerada, 1706, segundo Paixão de Souza, 2004,
anexo, 3), 52,374 palavras;
9. José Cunha Brochado (nascido em 1651) com Cartas (publicadas em 1735), 35,058 palavras;
10. Maria do Céu (nascida em 1658) com a Rellaçaõ da Vida e Morte da Serva de Deos a Venerável Madre Elenna da Crus
(publicada em 1721), 27,410 palavras;
56
5.369 orações matrizes afirmativas finitas e coordenadas com verbo em segunda posição.48 Esses
dados foram divididos em dois contextos principais de variação. O contexto 1 com verbo em
segunda posição antecedido por sujeitos, sintagmas preposicionais e advérbios não modais e o
contexto de variação 2 com verbo precedido apenas por conjunção de coordenação (V1 de
segunda coordenada) e em orações em que o verbo é precedido por uma sentença dependente.
Veja exemplificação, a seguir:
6. Contexto de variação I (2.533 dados)
(1.37) a. Em troca disto, ofereço-lhe da parte de Inglaterra defesa de tôdas as suas colónias e
...(Alorna, 1750)
b. A respeito de Prado diz-me Queiroz “Não sei se Você já o viu depois de casado”.
(Ortigão, 1836)
c. Com este aviso lhe foi juntamente infundida notícia dos excessos que entre estas
duas súbditas suas passavam. (Bernardes, 1644)
d. Para os críticos me deu Nosso Senhor excelente coração, porque sempre vou a
ganhar com eles ... (Melo, 1608)
(GBPS, 2005:4, ex. originais, e, f, g, h).
11. André de Barros (nascido em 1675) com A vida do Padre Antonio Vieira (data considerada na produção, 1746),
52,055 palavras;
12. Alexandre Gusmão (nascido em 1695) com Cartas (publicadas postumamente em 1841, 1943, data
considerada, 1753, ano de sua morte), 32,433 palavras;
13. Matias Aires (nascido em 1705) com Reflexões sobre a vaidade dos homens ou Discursos Morais (data considerada na
produção, 1752), 56,479 palavras;
14. Antonio da Costa (nascido em 1713) com Cartas de Abade António da Costa (publicadas em ?, data considerada,
1752, segundo Paixão de Souza, apêndice, 3), 27, 096 palavras;
15. Luis Antonio Verney (nascido em 1714) com Verdadeiro método de estudar (data considerada na produção,
1746), 49,335 palavras;
16. Correia Garção (nascido em 1724) com Dissertações (data considerada na produção, 1778), 24,924 palavras;
17. Marquesa de Alorna (nascida em 1750) com Inéditos, Cartas e Outros Escritos (data considerada na produção,
1839), 49,512 palavras;
18. Almeida Garrett (nascido em 1799) com Viagens à minha terra (data considerada na produção, 1846), 51,784
palavras e
19. Ramalho Ortigão (nascido em 1836) com Cartas a Emília (data considerada na produção, 1914), 32,441
palavras.
48 Lembrando que os conectivos não contam com elementos que antecedem o verbo. Esse tipo de coordenada recebe
57
- Advérbio-V (365 dados)
a Para os começar a render, amimou-os com donativos, língua a todas as Nações não
menos inteligível, que grata. (A. Barros, 1675)
b. Vendo-o um Cónego no adro daquela antiga Sé lhe disse: De quem sois meu
menino? (A. Barros, 1675)
(GBPS, 2005:4, ex. originais, c e d).
58
Instead, it is the reflex of grammar competition (in the sense of Kroch, 1994). This means
that a grammatical change has already taken place.
No gráfico 1.14 (adaptado de GBPS, 2005, gráfico original 1), que apresenta a mudança nas
estruturas com verbo em segunda posição antecedido por sujeito neutros, sintagma
preposicional e advérbios não modais, referidas anteriormente como contexto de variação I, se
vê a curva de subida quantitativa da ênclise a partir de autores nascidos na primeira metade do
século 18. O fim dessa mudança é captado em Ramalho Ortigão, nascido em 1836. Esse autor passa
a usar ênclise em 90% dos casos, um padrão próximo do que se verifica nessa língua
contemporaneamente, cujo percentual de ênclise é de 100%. É importante destacar que cada ponto
corresponde à data de nascimento de um autor (cf. nota 45).
Gráfico 1.14
Ênclise versus próclise no contexto de variação I
(Galves, Britto e Paixão de Souza (GBPS), 2005)
Por data de nascimento
90
85
80
70 70
60 63
50 48
45
40 41
%
30
27
20 21
15
10 10 12 8 11
3 52 55 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875
GBPS, 2005
GBPS (2005) interpretam a variação entre ênclise e próclise, observada entre 1500 e 1700,
como produzida por uma única gramática, denominada de português clássico50. A ênclise com média
de 0 a 15%, salvo exceções51, seria uma opção marcada e é identificada como uma construção de
verbo em posição inicial correlacionada à Lei Tobler-Mussafia, citada anteriormente.
50 A acepção Português Clássico é usada no sentido genérico. Para uma discussão e, em específico sobre a gramática
que subjaz aos textos escritos entre 1400-1700, denominada de português médio (cf. Paixão de Souza, 2004).
51 Cf. Galves (2001/2003) para uma análise sobre esse tipo especial de ênclise (45%, 1600) encontrado nos “Os
59
Nos demais contextos, a próclise é a única opção. A partir do século 18 (1705-1750), a
variação mostra a competição nos textos entre a gramática do português clássico e a nova gramática
do português. Nesse período, a construção com verbo em posição inicial se mantém ativa na língua.
A principal mudança foi atribuída às construções com sujeito pré-verbal (Suj. V)52.
A representação gramatical proposta pelas autoras para a gramática do português europeu
clássico e para a gramática do português europeu moderno com relação à posição do sujeito é a
seguinte.
1. Português europeu clássico:
S # [V →SVcl (a ênclise ocorre somente com sujeitos externos)
52A principal diferença entre as duas gramáticas com base na análise dessa estrutura deve-se à hipótese de que no
português europeu moderno o sujeito é interpretado como em uma posição interna à oração. Sobre essa questão (cf.
GBPS, 2005).
60
Gráfico 1.15
Ênclise/Próclise em sentenças raiz (contexto de variação I)
Paixão de Souza (2004) e Pagotto (1992)
Por data de publicação/data de produção
90
85
80
70 70 71
63
60
50 48
45 45 46
40 41
%
30
27
20 21
17 16 15 15
15
10 10 128 8
12 11 11
6
35 5 5
2
5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
A subida da ênclise no contexto de variação I torna ainda mais clara no gráfico 1.16 se a
comparação dos dados de Pagotto, referente à data de produção dos documentos, for feita com
GBPS (2005), por data de nascimento.
Gráfico 1.16
Ênclise/Próclise em sentenças raiz (contexto de variação I)
GBPS (2005) por data de nascimento dos autores e Pagotto (1992) por data de
produção/publicação dos documentos
100
90
85
80
70 70 71
60 63
50
%
45 48 45 46
40 41
30 27
20 21
17 16 15
15 15
10 10 12 8 8 115 5
12 11
3 52 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
Como referido, o aumento da ênclise não condiz com a gramática do português brasileiro.
A possibilidade lógica a partir da hipótese de Galves (2001) é a de que a gramática do português
61
brasileiro teria como opção a próclise. Nesse caso, um dos contextos mais relevantes para o estudo
do português brasileiro passaria a ser a próclise em posição inicial absoluta.
Para a descrição, faço uso de dados empíricos (cf. volume 2), extraídos do conjunto de cartas
escritas por brasileiros “Cartas Brasileiras” (de agora em diante CB) e os interpreto a partir do
contraste entre língua-I e de língua-E (cf. Chomsky, 1981, 1986) e da noção de competição de
Gramática (cf. Kroch, 1989, 2001). Esses conceitos serão explorados como suporte para explicar a
forte variação nessas cartas que uma vez descritas parecem indicar gramáticas distintas em
competição. Essa variação pode ser assim agrupada.
1. Construções equivalentes à escrita do português europeu em sua fase clássica (século 16-
17);
2. Construções que refletem as mudanças em direção ao português europeu moderno
(século 18);
3. Construções que definem o português brasileiro (século 19).
A comparação das duas evoluções, uma em direção ao português europeu moderno (GBPS,
2005) e outra em direção ao português brasileiro contemporâneo, é um dos principais objetivos
deste estudo. É importante destacar que essa comparação não é importante apenas para a
identificação da consolidação do português brasileiro, mas, sobretudo, para a compreensão do tipo
de competição de gramáticas nos textos produzidos no Brasil no século 19. Mostrarei que as
alterações de freqüências nos dados de início do século 19 ao início do século 20 são indicativas
dessa competição.
Vou defender que as construções variáveis identificadas são resultantes de três gramáticas
distintas (português clássico, português europeu moderno e português brasileiro) e que, por isso, a
comparação diacrônica de fases distintas do português é fundamental para se entender a variação
nos textos. Considero que será extremamente importante comparar o português europeu que
aparece em textos portugueses do século 19, com as CB, uma vez que são também desse período.
Outro exercício interessante será contrapor os dados por data de nascimento dos autores e por data
de produção dos textos (cf. capítulos 2 e 3), assim como a comparação dos dados escritos por
62
indivíduos cultos e não cultos, tendo em vista que a norma culta do Brasil nesse período se pautava
fortemente na escrita portuguesa culta53. Isso dito, não se pretende postular algum efeito de língua-
E sobre língua-I, mas apenas separar os dados produzidos por indivíduos de um lado, nascidos em
períodos distintos de tempo e, por outro, também com processos diferenciados de domínio de
escrita para verificar se isso se reflete de alguma forma nos dados.
O quadro que utilizo na organização e na classificação dos dados foi feito inicialmente a
partir da distribuição da colocação pronominal em contextos de variação e de não variação, tanto de
próclise quanto de ênclise, registrados na história do português europeu (cf. Martins, 1994; Torres
Morais, 1995; Galves, 1998; Britto, 2001 e GBPS, 2002, 2003 e 2005).
Os pontos já especificados e que retomo, a seguir, tem como propósito guiar a descrição.
Trata-se, portanto, de um quadro geral e os detalhamentos serão feitos sempre que necessários. A
divisão dos dados por contexto de não variação e variação na história do português europeu guiará a
análise dos dados, tornando mais fáceis as comparações entre os estudos da gramática européia e da
brasileira (cf. Pagotto, 1992, 1993; Lobo, 2001 e Cyrino; 1997, entre outros).
53 Para uma interpretação desse processo segundo uma concepção sócio-histórica (cf. Mattos e Silva, 2001:298-299)
discutida na 3ª parte deste volume (capítulo 6). A autora defende que “O português europeu, que teria ao longo do período
colonial um contingente de 30% da população brasileira; é a base histórica do português culto brasileiro, elaborado a partir
da segunda metade do século XVIII”. E, por outro lado, “o português geral brasileiro, antecedente histórico do português
popular brasileiro que, adquirido na oralidade e em situações de aquisição imperfeita”, foi difundido pelo geral do Brasil,
sobretudo, pela maciça presença africana e de afro-descendentes que perfizeram, em média, 60% da população por todo
o período colonial.
63
5. Alçamento de clítico para o verbo finito em seqüências verbais [Verbo finito + Verbo não
finito].
À coleta de todas as orações com clíticos com verbos finitos únicos e em grupos verbais,
seguiu-se a classificação das construções com ênclise (V-cl) e com próclise (cl V). Os detalhamentos
de classes mais largas, tais como tipos de sujeito ou tipo de clíticos, serão esclarecidos quando
pertinente.
64
futuro. Com relação aos dados de mesóclise, incluídos nos casos de ênclise na descrição de “Cartas
Brasileiras” são pouco significativos. Há pequena variação na colocação com verbo no tempo
futuro.
(1.41)
a. Consolar-me-ia| com a convicção de, nas circunstancias especialissimas| em que me vi,
_ ter escripto direito por linhas| tortas _ .| carta 98
a. O Octavio estava muito corda-|to, e á não ser o Doutor Pedro| Mendes, o resultado seria|-nos
mais favoravel. Carta 438
b. Nada sei de novo. Mande entregar a Iaya Carminha| a inclusa logo, faço á ella hua encomenda,
e Vosmice lhe dará| o dinheiro preciso, segundo ella dicer, como á ella mesmo digo. Saudades de|
todos. Recomendações saudosas á minha Comadre, e Senhora, ás Iayas, e| Ioyos, a Senhora Dona
Formosa, e á todos. Sou do Coraçam.| carta 13.
c. O artigo está| escripto com summa habilidade, _ todas| as premissão estão bem
estabelecidas,_| restava saber se outra conclusão| não se poderia tirar.| O Antunes lhe
responderá.|carta 57
(1.43) [O effeito d’elles] já se| fez sentir, pondo á prova o peso da tua in-|fluencia, e no que
conseguiram já terão| talvez adiado a decisão do assumpto para|1v.epoca em que seja mais
facil o golpe de frente.|carta 273
54 Para a relevância dessa estrutura no processo de mudança do português europeu (cf. GBPS, 2005).
65
(1.44) Tenho feito gran|des investidas para deixar a| maldicta vida de politico| porem,
[infelismente,] o Lama me obriga a continuar n’ella.| carta 131
5. As orações com mais de uma ocorrência de clíticos são contadas pelo número de clíticos
que possuem.
A descrição dos tipos de clítico é fundamental para o estudo do português brasileiro, tendo
em vista as mudanças ocorridas no sistema pronominal (cf. Monteiro, 1991, Lobo, 1992, Pagotto,
1992; 1993; Galves, 2001 [1994] e Abaurre e Galves, 1996)55.
Chociay (2003) fez um estudo do tipo de clítico em 12 textos do CTB (1500-1850) e
demonstrou que os clíticos me, te, lhe (s), nos e vos, considerados clíticos fortes, favorecem a
ênclise. Com o clítico o/a(s), proclítico até o século 18, demonstra o surgimento da gramática do
português moderno, ao passar de um percentual de ênclise de 29% para 81%.
Na descrição, analiso os seguintes tipos de clíticos: me, te, nos, vos, e os clíticos o, lhe e se
e suas variantes e os seguintes agrupamentos clíticos (mo, to, lho, no-lo, vo-lo, se-lhe, se-me, lhe-
o, lhe-as).
Os exemplos ilustram essas ocorrências:
Clítico me
(1.45) João Ramos medisse que hia es|crevêr-lhe pedindo escusa da De|legacia, eu
aconselhei-o que não fi|sesse, pois VossaExcelência muito o considera e| n’este sentido
o nomeará, não| sei se mandará.| carta 459
Clítico te
(1.46) Em casa do João Pedro de Souza| Brito, conferente d’Alfandega,| vai elle morar, e
peço-te que| o tenhas sempre, sob tuas vistas| e bons conselhos, como recorda-|ções
de nossos saudosos tempos| academicos. carta 299
Clítico se
55 Sobre mudanças no estatuto categorial do clítico (cf. Silva, 1990 e especificamente Galves (2001 [1994]) detalhado no
capítulo 3). Sobre tipos de clíticos no português europeu com base no CTB (cf. Chociay, 2003), além de perdas
importantes, tais como a do clítico se apassivador (Nunes, 1990), do clítico acusativo de terceira pessoa e do uso
acusativo do dativo lhe, etc.
66
(1.47) O Decreto reformou-se para Siqueira debaixo de minha res-|ponsabilidade, mas
pedio-se explicação á Presidencia| da Bahia para que os papeis da Secretaria
d’Estado fiquem em| harmonia com o Decreto expedido. carta 17
Clítico o
(1.48) Mitre os mandara como explora-|dores para policiarem; e elles| quizerão fazer uma
acção d’eilat| e pensárao que lhes bastava| desembainhar a espada para| fazerem
fugir o inimigo.| carta 57
Clítico lhe
Clítico nos
(1.50) No intuito de melhor ainda cumprirmos com esse| dever, nos manifestamos
desejosos de publicar a| Mensagem, que no proximo mez de Abril, Vossa Excelência,|
enviará ao Congresso do Estado. carta 290
Clítico vos
(1.51) Envio-vos por Sabião e Francisco| o seguinte, roupa limpa: 4 pares de| meia, 1
atadura, 1 fronha grande, 2| fronhas pequenas, 2 camisas de dormir,| 3 ciroulas, 1
calsa, 3 camisas de algodão,| 12 lenços de linho, 2 lençoes e 4 lenços de mão.| carta
107
Clítico lhes
(1.52) Os jagunços quando lhes passão| pela frente as cargas de generos e| munições,
tratão logo de mattar| os animais e os bois de carro| para se apossar das cargas.|
carta 454
Grupos clíticos
Os clíticos dativos me, te, nos, vos e lhe (s) combinam-se com os clíticos acusativos, o (s),
a (s) e resultam nas formas mo, to, lho, lha, no-lo, vo-lo.
67
(1.53) Vosmice diga ao Henrique que eu lembro| sempre o seu nome ao Prisco, que o famoso|
juiz de direito antes da abertura da nova| Camara, assim m’o prometteo, e elle é|
seu amigo.| carta 126
(1.54) Tem paciencia, que o que te| digo he de amigo e digo-t’o| só a ti.| carta 63
(1.55) Não lho fiz gratifi|cação: porque ora parte para a Bahia, onde| espero que
VossaSenhoria o remunere como merece,| pois nesta terra de calmas e lamas, todo| o
serviço he penoso.| carta 4
(1.56) Conhecendo-me Vossa Excelência mais do que| alguns de seus illustres collegas,| visto
que nossas relações teem sido| mais intimas, cabe-lhe tambem| imprimir a sua policia
nos| seus impetos de diffamação contra| o escriptos que, como Vossa Excelência
sabe,| nunca solicitou de ministro algum| o menor favôr pessoal e os teem| regeitado
de alguns que lh’os| offerecerão.| carta 41
2. Associação de clíticos
Casos em que o clítico se se agrega aos dativos: me, te, nos, vos e lhe (s), resultando nas
seguintes formas: se-me, se vos e se-lhe.
(1.57) Hontem fui| tambem procurar aVossaExcelência para mostrar lhe uma car[ta]|de um
Director de duas Companhias Brazileiras em| Londres em que se me diz que até o
dia 23 de Dezem[bro]56| não se julgava o Senhor Carvalho Moreira habilitado a dar|
satisfação aos accionistas da Estrada deferro <de Pernambuco> que procurão|
transferir suas accões por Apolices!– carta 27
(1.58) Tenho tido o prazer de| ser testemunha do bom acolhimento| que em geral aqui se
lhe faz, tanto| nos circulos officiaes como na sociedade| mais grata do paiz. carta 34
56 Corroído.
68
1.4.1.1.1.2 Organização e classificação dos dados
Como explicitado acima, a variação nos textos brasileiros do século 19 é muito mais ampla.
Não está limitada às orações matriz afirmativas em que o verbo é precedido de um item referencial,
como ocorre no português e conforme foi demonstrado nos estudos com o CTB (cf. GBPS, 2005).
No corpus analisado no volume 2, há variação em contextos não variáveis em toda a história do
português europeu.
A classificação de orações finitas com variação (ênclise: V-cl ou próclise: cl V) seguiu os
seguintes critérios:
- Orações com prevalência para a ênclise. Separando-se o contexto não variável para a
ênclise no português europeu dentre os que se configuram como ambientes de variação.
- Orações com prevalência para a próclise, ambientes não variáveis na história do
português europeu.
Essa classificação preserva, internamente, os seguintes contextos de colocação na história do
português europeu para fins comparativos: 1. contextos de variação; 2. contextos de ênclise
obrigatória e 3. contextos de próclise obrigatória.
Nesse item, passarei a apresentar os critérios para a classificação com verbos simples. E,
seguido, com um tipo de sintaxe diferente, as construções com grupos verbais.
b. Marcelino lhe explicará melhor| pois o official está em caza d’elle.| carta 332
69
- Orações raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas sem conectivo
(1.60) a. Mademoiselle e Josephina estão boas, vos envião| suas respeitosas lembranças.| carta
109.
b. O Cesar mandou-me hu)a| conta honte de dous Sobrecazacos, refuguei-a, por que
apesar| da fraqueza57 de minha memoria, recordei-me que Vosmice recambiara a| preta,
por não lha-haver encomendado, dando-a áo Professor| para a - levar; mas este usa
della, e á Cesar dice que dalli hou-|vesse a paga, quando tiver mais vagar, mandarei a
minha| conta. Eu passo mal do meu peito. carta 32
(1.61) a. Para satis|fazer este triplicado fim, passarei ainda na Belgica, e vezitarei a
Hollanda, a Prussia,| Allemanha, e Suissa, e me recolherei a Italia à fim de ali
procurar azilo contra o inver-|no. carta 32
- Orações Imperativas
(1.62) a.Faze-me o favôr de explicar ao| Gomes a razão porque hoje o não| procuro. carta
42
b.Nada mais 2v. acceite vizitas| de meu Pai e recommende-me com visitas| a
Excelentissima Baronesa, Joaozinho| e Totonio –| carta 323
57 Borrado.
70
(1.63)
a. Confidencial: Logo que aqui cheguei segui para as Pia=|bas a scientificar ao nosso amigo
(chamo-o de amigo| porque, como talves ja tenhais sabido pretendo unir-|me em
casamento com sua filha Elvirinha, que| não communiquei-vos por não termos marcado| o
dia, deixando para fazer a devida communi=|cação n’essa data, quando tenho de pedir-vos
a| dar-me a honra de ser o meo paranynpho) do que|1v.mandastes dizer-lhe e também do
que eu disse-vos| concernente aos candidatos do 5º districto. carta 354
(1.64) a. Não espero bom exito; pois hade ser Juiz| o Medico que está hoje nas graças de| sua
Alteza, e que se acha tão favore-|cido. carta 3
b. Confidencial: Logo que aqui cheguei segui para as Pia=|bas a scientificar ao nosso
amigo (chamo-o de amigo| porque, como talves ja tenhais sabido pretendo unir-|me
em casamento com sua filha Elvirinha, que| não communiquei-vos por não termos
marcado| o dia, deixando para fazer a devida communi=|cação n’essa data, quando
tenho de pedir-vos a| dar-me a honra de ser o meo paranynpho) do que|1v.
mandastes dizer-lhe e também do que eu disse-vos| concernente aos candidatos do
5º districto. carta 318
(1.65) a. O Nicoláu, que parte por estes dias, fallou-|me em emprestimo externo; mas permita
VossaExcelência| que lhe diga: não guarde illusões a esse respeito.| carta 251
71
- Orações negativas
Apenas foram incluídas as orações negativas raízes e coordenadas.
(1.66) a. Por uma carta do Grasino Mor| Duarte da Ponte Ribeiro fui informado de| que o
Cansansão deixou a pasta das Obras Publi=|ca, mas não me diz, como eu creio, que
ficou| com a da Justiça, nem si o teu Joven collega|1v. de Maranguape se resolveo a
despensar| os Correios e Ordenanças: tambem me diz| que o Hollanda está muito
mal, mas sempre| sustentando que póde carregar com as sete| pasta. Crê o Duarte
que não havera disso=|lução, mas sim mudança de Ministerio e| não sabe em que
sentido.|carta 80
b. A secca aqui continua hor=|rivelmente, não da-se [...]58 um| espaço de 3 mezes que
não| se manifeste casos fataes| de fome!!!. carta 326
(1.67) Examinei o Ne-|gocio; e achando que assim era, e que de nenhum modo| lhe servia o
pôr-se na cauda de quanto regimento ou batalhão| se posesse em marcha, concordei
com o Mont’alegre| em mandar saber – quem he ahi o Encarregado da Vacina?....carta
15
Os casos de interpolação foram computados com uma marca específica que torna possível a
recuperação desses dados.
(1.68) Por esse motivo me| não satisfaz ainda de todo| o estado della; a minha tran-|quilidade
não está restabelecida.| carta 306
(1.69) a. O Ceo derrame sobre toda a tua| pequena Familia todas as graças que pode
apetecer-te a minha sincera estima, a nossa antiga e boa| amizade: e como te peza
o fardo dos trabalhos públicos? carta 32
- Expressões fixas
72
- Orações coordenadas ou subordinadas com “porque”
(1.71) Será para mim| dobrado allivio, porque te| satisfaço e me satisfaço.| carta 63
Separei, também, diferentes tipos de sujeitos por se mostrarem relevantes (cf. capítulo 3), a
saber, sujeito simples e composto, de sujeito de com nome próprio e com pronome de tratamento.
(1.72)
a. O Decreto reformou-se para Siqueira debaixo de minha res-|ponsabilidade, mas
pedio-se explicação á Presidencia| da Bahia para que os papeis da Secretaria
d’Estado fiquem em| harmonia com o Decreto expedido. carta 17
b. Eu lhe dei algumas imformaçoes da| Ribeira, sem conhecimento, por que náo sabia|
em vida de meo irmáo quem eráo os| de immediata confiança, eajui|zei sem estudar os
homens; agora| vou conhecendo meo erro, por que me| 2r.vi obrigado a áprecialos.
carta 345
e. O Marcelino lhe explicará melhor| pois o official está em caza d’elle.| carta 332
73
- Sujeito complexo pré-verbal. Sendo que o sujeito formado por sintagma nominal seguido de
oração subordinada relativa conta como um único constituinte
(1.73) a. O Nicoláu, que parte por estes dias, fallou-|me em emprestimo externo; mas
permita VossaExcelência| que lhe diga: não guarde illusões a esse respeito.| carta 251
b. Paulino a quem tudo disse vos explicará| melhor que eu por escripto.| carta 111
- Advérbios e locuções adverbiais de tempo, modo e lugar, etc., ou advérbios não modais.
(1.74) a. Escrevi-lhe esta semana pelo Doutor João Dantas| Coelho e hoje o faço pelo correio
d’ama-|nhã. carta 383
(1.75) a. Nas mesmas suas| cartas ordena-me para no dia| 10 de março achar-me em|
Camuciatá dia em que tem| de benzer seo palacete. carta 432
b. É para infor-|mar te do sucesso deste projecto, e não menos para renovar o prazer
tantas vezes enterrompi-|do de tua comunicação, que te derijo a presente, dezejando
que ella axe em teu coração o acolho de| efuzão dos mesmos sentimentos, que neste
momento sente minha alma com a recordação e lembrança de| nossa amizade,
consideração esta, á que meu Angelo, sem a menor duvida me presto, e| na maior
certeza me entrego. carta 32
(1.76) a. Tendo regressado ha poucos dias da| minha excursão diplomatica, apresso-me a
ter| o prazer de acusar recepção da sua obzequiosa| Carta de 7 de septembro
ultimo, estimando muito| o melhoramento da sua saude. carta 86
74
- Posição vazia antes do verbo, a chamada V1, tanto de raízes quanto de segundas coordenadas.
As orações VS foram computadas junto com V1 (cf. exemplo 1.122). A próclise nas orações
com verbo em posição inicial absoluta constitui-se uma das mais importantes diferenças do
português brasileiro em relação ao português europeu, como dito, um contexto não variável em toda
a sua história. No corpus, esse é, também, um contexto variável.
b. Disse-me o Dr. Estevão Siqueira que o| meu amigo Colega o Conselheiro José
Bonifácio tambem| me enviara pelo correio, fazendo-me a mesma| recommendação;
mas eu não recebi carta alguma| d’elle, nem agóra nem antes. D’esde que sahi| deSão
Paulo nunca tive esse prazer.|carta 105
c. Me entendi com o João Victorino a serca| do seo boi que matarão, e depois
disto>| 4r. tudo resolvido trataremos da liqui|dação, me paresse é que o tal sugei=|to
não terá com que pague, com quanto| á pesar de ser morador aqui eu| não conheço
bem se elle pode pa|gar.| carta 418
(1.78) a. ADeus, meo caro Conselheiro, creia-me que| lhe asseguro que sempre serei o seo
velho| amigo| carta 92
- Advérbios modais, ou modais de VP, a saber: cá, bem, já, lá, mal, sempre, também, talvez,
mais, melhor, maior.
A exemplo da classificação larga feita com advérbios não modais acima, os detalhamentos de
subclassificações serão, também, feitos, se relevante, na descrição no capítulo 3. Incluem-se nessa
categoria os advérbios antes e assim com valor modal, ambos ocorrem com próclise no português
europeu.
75
(1.79) a.Sempre lembro-me de| V. e não me esqueço de ser grato.| Se minha memoria me
não falhar|2r. creio ter-lhe remettido uma| vez, em signal de lembrança,| um numero
da Indépéndance| belga.| carta 40
b. Depois da que accusa escripta| por mim com data de 21 de Junho faltan-|do lhe ser
entregue 1 ou 2 entre 6 e 16,| já enviei-lhe uma escripta em Alagoinhas| a 24, e duas
depois de meu regresso|carta 455
c. Tambem peço lhe que| não veja nas ponderações que vou fazer a defeza do in-|teresse
individual d’este seu humilde amigo, o| qual nunca servirá de obstaculo a qualquer me-
|dida ultil que deva ser tomada em beneficio da| Empreza. Carta 219
d. Ficamos tão bem aruinados| com a secca em nossos diminu-|tos bens, não
podendo talvez, fa-|zer-mos o que faziamos de an-|tes, mas a nossa lealdade e gra-
|tidão nunca nos fará esqueci|do, e sempre nos encontrará| como amigos sinceros
promp-|tos a cumprir suas ordens, ain-|2r.do mesmo retirado da poli-|tica. carta 429
(1.80) a. Sua Comadre vai sofrendo nervo|zo- os mais empas, graças a Deus; tou|dos vizitao
lhes, seu afilhado pede| abençáo, seu| Primo Compadre amigo obrigado| carta 345
d. Eu tenho feito todos os meios| dever seme iscapassem essas 4 rezinhas e 2-|
cavallos que ainda tenho, para vêr seassim adi-|ante me ajudava combater meus
compre-|miços porem em fim não sei só Deus osabera.| carta 445
e. O Nabuco no seo| Ministerio faltou a promessa que fez| me: o mesmo acconteceo-
me com| o Sr. Rego Barros. carta 30
f. Fico certo de entre-|gar as chaves de uma casa ao Capitam| Mariano, más Thotonio só
me en-||tregou a chave da porta da rua, não| me disendo onde tinha deixado| as
outras. carta 386
76
- Complementos diretos (não retomados) e predicativos
(1.81) a. Tão agradavel ser=me=|hia festejar na intimidade| com V. e com dois ou| trez
amigos e companhei<ros>|1v.mais o grande aconte-|cimento, como custa=me|
acceitar a ideia de ser al-|vo d’uma manifesta-|ção popular, - prova dian-|te da qual
tremem os mais| fortes.| carta 163
(1.82) Este desgosto elle o teve, e veio da parte de um| homem que em 1890 subia as
escadas da casa| de um chefe, chamando-o protector, que tinha| a custo arracado a
licença para a sua can-|didatura de deputado do Marechal Deodoro, que| ao ouvir a
pretensão desse candidado, transfe-|riu-o como militar para a guarnição da|
fronteira do Rio Grande do Sul, sendo precisa| a intervenção de quase todos os
membros do gover-|4r. 4|no Provisorio, para o consentimento na can|didatura,
vindo-se notar que o Marechal Deo-|doro tanto conhecia o candidato, que no| acto
do consentimento disse ao protector: “Que| lhe faça bom proveito” (palavras
iguaes).|carta 294
Passo, agora, a apresentar as construções com grupos verbais, colocadas, em separado, dado
o comportamento distinto das construções com verbos simples. Essas construções são classificadas
considerando os aspectos que passo a apresentar.
59Assume-se, nessa classificação de elementos que antecedem o verbo, que o complemento subcategorizado pelo verbo
aparece em posição pré-verbal e que a posição argumental correspondente, preenchida pelo clítico, apresenta
propriedades de conectividade referencial, de traços sintáticos, casual e temática.
77
1.4.1.1.1.3.1 Construções com grupos verbais
Por grupo verbal entende-se a combinação de uma forma verbal inicial com morfemas
obrigatórios de tempo, pessoa e aspecto, a essa forma finita segue-se uma não finita que pode vir no
gerúndio, particípio ou no infinitivo, como visto abaixo. A descrição mostra já construções próprias
do português brasileiro60.
(1.83) Existem ainda dous| lousadores, que é o Coronel Ara-|ponga e o Santa Rita; ambos tem
direito a aposentadoria, os que| fiz-lhe ver, e elle respondeo-me| que para essa
prettenção minha| tinha um candidato, logo que| houvesse vaga; más, dou de ba-|rato,
que elle tinha um candi-|dado [*]61 para arrumar, más se| ambos os lousadores podem
ser| aposentados, por que rasão não| me colloca n’um desses logares,| se só depende
da vontade| d’elle governador, e caso identi-|co já se deo no governo do|2r. Marechal?
carta 363
(1.84) Chegou| a ponto o desespero do Sr. Bulas, por não| se achar só no campo, que tem
se| empenhádo, com o Sr. Leitão, Juvencio| Alves e outros, para conseguir com o
Gover-|nador a muda do distinto official| que sendo do governo, não desconhece
que| nós da opposição sabemos mais respei|tar as leis, do que os Srs governistas,
que| so quer a ladroeira, e assassinato etc etc.| carta 311
(1.85) Meos So|brinhos Ignácio, Octaviano, meo Genro Bar|boza, Antonio da Catinga, e
muitos outros| estáo muito tristes; eu os vou animan-|do, epedindo lhes que náo se
mováo| carta 345
As construções de colocação de clíticos em grupos verbais são classificadas por tipo de oração
em duas classes largas:
a. não dependentes com e sem atrator (declarativas afirmativas, coordenadas com e sem
conectivos, principais, imperativas, parentéticas e negativas) e
60 Apesar de ser interessante uma comparação com estudos sobre o português europeu, não foi feita nesta pesquisa, uma
vez que os trabalhos com o CTB não separa grupos verbais. Esse é um campo a ser explorado em estudos futuros.
61 Por “candidato”.
78
b. dependentes (dependentes de todos os tipos, dependentes sem cabeça, interrogativas e
coordenadas de dependentes).
c. E, em separado, as expressões idiomáticas e orações com “porque”.
As estruturas das construções com verbos finitos e verbos não finitos são separados da
seguinte forma:
7. V XX V-cl: ênclise ao verbo não finito dois elementos separando o par verbo não finito -
clítico do verbo finito
8. VXclV: próclise ao verbo não finito com um elemento separado o clítico do verbo
finito
9. V cl-V: próclise ao verbo não finito marca gráfica une o clítico ao verbo finito ou ao
verbo não finito e algum constituinte separa o clítico ou do verbo finito ou do
verbo não finito.
10. V cl V: clítico entre o verbo finito e o verbo não finito
62 Situação em que a cliticização se dá ao primeiro verbo. Para a uma interpretação teórica clássica sobre as estruturas de
79
As construções 1, 2, 3 4, 5, 6 e 7 são próprias do português clássico ou do português
europeu moderno. Já as construções 8 e 9 são próprias do português brasileiro, não sendo atestadas
em toda a história do português europeu. A estrutura 10 é ambígua, podendo tanto ser interpretada
com ênclise ao verbo finito quanto próclise ao verbo não finito. Essa ambigüidade ocorre quando:
i. sintaticamente podia ser ênclise ao verbo finito (gramática do português clássico ou do
português europeu) ou próclise ao verbo não finito ou verbo temático (gramática do PB) ou
ii. não há nenhuma marca que junte o clítico ao verbo finito ou ao verbo não finito.
O verbo finito nos grupos verbais tem natureza distinta, a saber: auxiliares temporais e
aspectuais e também verbos que selecionam uma oração com verbo no infinitivo63, seja na função
de sujeito, os verbos epistêmicos, volitivos e conativos ou na função de objeto, os causativos,
perceptivos e sinônimos64. As particularidades próprias de cada grupo, especificadas a seguir, serão
colocadas quando da oposição entre português europeu e português brasileiro. Serão vistos, em
separado, os verbos com preposição e as construções com valor de passiva65.
80
Próclise ao verbo finito: PE (com atratores), PB66
(1.86) Ao que| me dizem elles, não te tem faltado nem saude,| nem contrariedades. carta
272
(1.87) Meu bom Pae, estou agoniadissima|1v.pois tenho hoje que dar-vos a triste noticia| da
morte do pobre escravo Regulo, o qual| hontem até 3 horas da tarde esteve
perfeitamente| bem dando as rações aos mais pretos etc| as 3 horas e tanto cahio elle
na tulha mesmoa|gonisando e dizendo que estava com muitas dôres| de barriga,
levarão-o para a enfermaria| lá entrou a lançar muito, eu mandei-lhe| um pouco de
cognac que é muito bom| para semelhantes dôres, pois já tem-se| aqui feito
experiencias, elle tomou o| cognac e achou-se um pouco alliviado| assim passou até as
6 horas da tarde quando| veio Anna Joaquina dizer-me que| elle se achava um pouco
fraco, por _| não ter comido o dia inteiro e que| ella vinha ver alguma comida para
elle,| a única cousa que dei, foi um|2r.pouco de arroz e assucar, para dar-lhe| | aga a
agoa. carta 111
Em estruturas de não elevação, a norma portuguesa européia se pauta pela ênclise ao verbo
não finito. Nos dados, há ênclise ao verbo não finito, inclusive em construções impossíveis no
português europeu, com o clítico em posição pós-verbal ao particípio em 1.88, além de ênclise com
atratores67 como em 1.89.
(1.88) Aqui nada mais|1v.de nôvo. Estava rezolvido ir até| o Camuciatá, mas não achei| uma
montada suffisciente| para esse fim. O nosso juiz de| Direito vai indo, e segundo o|
que tem manifestado-se temos| um Pompilio ou pior; disse-me| que havia de
contar-lhe aqui em| tudo, e na fuctura Eleicão Mu|nicipal não deixaria um governo|
obista votar, sobre pena de ser pre-|so!!. carta 330
(1.89) a. Do Jiji nada lhe posso dizer desta vez, por| que ha dias não o vejo, e agora tenho
occasião pa|ra deplorar esta minha falta, de que vou reunir me| qualquer dia
destes.| carta 19
b. Vossa Excelência tem toda bondade commigo,| que ainda vou a sua presença rogar-
lhe| benigno accolhimento para a pertenção| inclusa, de cuja veracidade do exposto|
66 No português brasileiro contemporâneo não mais se registra o movimento longo de clítico nas subordinadas, o clítico
fica em ênclise ao verbo não finito, um padrão que também ocorre com o português europeu.
67 No português brasileiro não ocorre o movimento longo do clítico nas subordinadas. O pronome aparece enclítico
81
me assegura pessoa a quem desejo servir;| isto, no caso de Vossa Excelência não ver
nisso algum| inconveniente.| carta 28
c. A anna veio hontem aqui pedir-me| 10.000 reis imprestado, disendo-me que V.| e
os meninos lhe havião dito, que eu ti-|nha ordem de dar-lhe algum dinheiro| de que
fosse necessitando, más como não ti-|ve essa ordem sua, nem de seus filhos, dei-|xei
de satisfazer o pedido d’ella. carta 367
68 Rasgo.
82
(1.92) Quero mostrar-lhe| a famosa descripçãodo de Clarke recebida de Londres,| e de que
feito Scherbe, cujo livro| desejo ainda ver, por estar o ex-|tracto que me deu, em
mao do| estudante que me recommendou| Sempre seu| velho collega e criado
obrigado| SilvaLima69| carta 174
(1.93) a. Depois de vêres esse artigo| do Courier, manda-o transcrever| naEuropa.| carta
52
b. Isto faz-me lem-|brar o celebre espicha de que tanto se doeu| o Monte-Alverne.|
carta 18
(1.94) a. Tenho de remetter-lhe por estes dois| dias cem mil libras que mandou me| pedir.
Não sei se ainda por este paquete| terei de mandar te os saques.| carta 49
Foram excluídos os casos ambíguos de elevação com próclise ao verbo finito, uma vez que
podem ser interpretados como objeto do verbo não finito, como no exemplo 1.95a. Nesse caso, o
clítico pode ser objeto de dizer com elevação ou o objeto do verbo “mandar”.
(1.95) a. Bem sabe71 que tem casa para estar, e que nisto dará áo| seu fiel Amigoe tão obrigado
o maior gosto, minha Mana| lhe pede este favôr, e lhe manda dizer que agora n’esta|
casa há mais ordem, por que ella a governa. carta 8
69 Grafismo.
70 Podem ocorrer com infinitivo flexionado, entretanto, esses casos não são tratados nessa pesquisa.
71
Corroído.
83
d. Como não estarei neste domin-|go em Monte Santo, d’aqui, e de| passagem para
capital escrevo-|lhe não obstante já o haver| feito nesta mesma semana.| Como lhe
mandei diser, já mar-|charão <os> que tinhão de ir á visita| a Antonio Conselheiro,
sendo os| ultimos a seguir, os do 5º corpo Policial|Não tratei de saber o dia em que|
tencionavão72 começar <o> ataque, porem|1v.calculo que será de 27 em diante.| Me
parece que já lhe mandei| que os taes phanaticos, principi-|arão a matar e a roubar
como| fiserão com os 2 irmãos Torquato| e Honorio VasFerreira, eMartinho d’Assis|
e o filho de João Gomes, pois destes| ficarão com quantia seguramente de 14 a| 15
contos.| carta 450
e. Como lhe mandei dizer| á minha filha deve| casar-se até o dia| 15 de Junho e tendo|
o Sr. <sido> convidado pelo| meu mando para| Padrinho della, peço| o favor73 de
mandar á| procuração para um| dos seus amigos aqui.|carta 230
(1.96) Em resposta|1v. a carta alludida de| Vossa Excelencia| tenho a dizer lhe| que se tenho
adorado| a Vossa Excelencia, quando o sol é nas|cente, do mesmo modo| o tenho
adorado quan|do o sol é poente ou| que está no occazo.| carta 497
(1.97) Antes da eleição procurei oDoutor Sa-|lustio para o mesmo emprego que lhe| mandei
fallar, e elle depois de ter dado| algumas providencias para scienti-|ficar-se d’onde
vinha a nomeação,| respondeo-me que não podia, por| depender da capital federal,
onde| não tinha força, em vista disto, dei-|xo de procural-o para não me tor-|nar
imprudente. carta 357
b.Outro sim, sei do meo com-|promisso que ja tenho comsigo, tenho percurado me-
|us recurços daqui, daculá, e que hoje estou rezolvi-|do imcomodado, não tenho geito,
para vêr siassim| posso trevessar oresto destacruz; tendo nós imverno| Deus sendo
cervido, sei que Vossa Excelentissima (pois assim me disse) não| adianta mais dinheiro
avaqueiro quem todavia ainda mesmo assim| miatrevo, e comfio em sua generozidade
que há de-| miauxiliar no seguinte sentido. carta 445
72 Rasurado.
73 Rasurado.
84
1.4.1.1.1.3.1.3.5 Construções passivas
A variação nesse contexto, no entanto, não é específica de grupos verbais, uma vez que se
aplica aos verbos simples.
b. Me foi entregue sua carta de 8 do| vigente; é serto que as forças rece-|berão balla
e muita da garganta de| Cocorobó até Canudos, sendo o| ataque em Cocorobó no dia
25 do passado| e houve grande perda nas força,| tão bem morrendo jagunços, o Coro-
|nel Sucupira foi victima de| duas ballas no Trabubu, distan-|te meia legua de
Canudos, á lem| de outros officiaes; chegando á|1v.a Collunna do General Lavaget|
a Canudos no dia 27; carta 418
85
2
Sobre a natureza do corpus ou as cartas e os
remetentes
Neste capítulo, faço uma descrição das cartas e dos remetentes. O objetivo é discutir a
natureza do material empírico, base deste estudo.
O capítulo está organizado da seguinte maneira: No item 2.1., falo brevemente sobre a
constituição de corpora manuscritos para o estudo da língua portuguesa no Brasil. Em 2.1.1, detalho
sobre a natureza dos documentos. No item 2.1.1.1, seguindo a linha de organização de materiais
dessa natureza, informo sobre a localização temporal e espacial dos documentos. No item 2.1.2,
faço um resumo nos dados biográficos dos remetentes que interessam diretamente a esta pesquisa,
especificamente, a naturalidade/nacionalidade.
Não se tinha nesse tempo – dos inícios do período arcaico ao século XVI em Portugal – um
problema crucial da documentação que, a partir da colonização – pelos meados do século
XVI em diante – ocorrerá na documentação escrita no Brasil.
A pergunta a seguir não se colocaria nesse tempo, acima sintetizado em Portugal: a
documentação escrita no Brasil, a partir da colonização, foi escrita por portugueses ou por
indivíduos de naturalidade brasileira que estudaram em Portugal ou por outros habitantes no
Brasil, aqui literatizados? Quanto aos “letrados (ou literatados)” do Brasil colonial, vale
lembrar, segundo Houaiss, ao iniciar-se o século XIX, não seriam mais que 0.5% (1985:137),
aí incluídos portugueses, brasileiros descendentes de portugueses e, possivelmente, índios e
africanos e seus descendentes, mestiços ou não.
86
Dois participantes do phpb concluíram edições fidedignas de documentos inéditos
como parte de suas teses de doutoramento, cujos projetos já haviam sido apresentados em 1997.
Essas teses trazem contribuições importantes a perguntas sobre tipologia de textos, tipos de autores
(brasileiros e portugueses), história externa do português, questões sobre mudança sintática do
português brasileiro, entre outras.
A primeira tese, “Para uma história do português colonial: aspectos lingüísticos em cartas de
comércio”, foi defendida por Afrânio Barbosa em 1999. Trata-se de uma edição composta por 117
documentos da última década do século 18. Sendo 93 cartas de comércio, escritas no Rio de Janeiro
por um comerciante português e seus funcionários, e 24 documentos oficiais da administração
pública do Rio de Janeiro. O autor define esses documentos (cf. Barbosa, 1999:134) como “um dos
melhores materiais já reunidos para o estudo do Português europeu no Brasil durante a gestação
colonial do Português do Brasil”.
A segunda tese, “Para uma sociolingüística histórica do português no Brasil: edição filológica
e análise lingüística de cartas particulares do recôncavo da Bahia, século XIX”, foi defendida por
Tânia Lobo em 2001 (cf. estudo citado no capítulo 1). Essa tese é composta por 4 volumes. O 3º
volume traz uma primorosa edição de 158 cartas particulares do Recôncavo da Bahia depositadas no
Convento do Desterro da Bahia, fundado em 1677. Essa edição, como o título sugere, tem especial
relevância para a realização de estudos dentro de uma perspectiva sociolingüística, na medida em
que é possível determinar, na ampla maioria dos casos, segundo a autora, onde, quando, por quem
e para quem os textos foram escritos. Informações que são detalhadas no 2º volume de sua
tese75.
Os documentos editados pela autora compõem-se de duas amostras distintas: uma escrita
por brasileiros e outra por imigrantes portugueses, fato que lhe possibilitou fazer um estudo
lingüístico contrastivo da colocação dos pronomes átonos, como visto no capítulo 176.
75 Nesse estudo (3º volume), a autora levanta fatos da sócio-história do português brasileiro com implicações para a
constituição de possíveis corpora diacrônicos para o estudo do português brasileiro: 1) A transplantação do português
para o Brasil (identificação dos colonizadores e discussão sobre a correlação entre a procedência geográfica dos
colonizadores e traços lingüísticos gerais do português brasileiro); 2) A estratificação sociolingüística (língua falada por
portugueses, aloglotas e seus descendentes) e contato lingüístico (português e línguas indígenas, português e línguas
africanas, possível formação de pidgins e crioulos); 3) Agentes promotores da hegemonia e da estandartização lingüística
(políticas lingüísticas e escolarização).
76 Diversos outros documentos importantes estão sendo editados por pesquisadores do PHPB, Rio de Janeiro, Santa
Catarina, Paraná, Minas Gerais, Recife, Bahia, entre outros estados. Destaca-se, na Bahia, um tipo de documentação
bastante rara e recentemente editada por Oliveira (2001), um conjunto de atas escritas na Bahia durante a primeira
metade do século 19 por negros forros, africanos e nascidos no Brasil.
87
O material empírico de que se compõe a minha pesquisa segue essa linha de investigação,
como será demonstrado, a seguir.
Trata-se de um corpus formado por 500 cartas manuscritas77 escritas entre 1809-1904 por
indivíduos nascidos entre fins do século 18 até o terceiro quartel do século 19, cuja nacionalidade
brasileira identificada ou inferida, permite opor duas variantes distintas (cf. 3ª parte):
Variante 1: textos escritos por brasileiros cultos nascidos e ou educados em regiões urbanas;
Variante 2: textos escritos por brasileiros semi-cultos e não cultos nascidos/radicados no
interior, especificamente da Bahia.
Essas cartas foram editadas em versão diplomático-interpretativa. Esse tipo de edição
demonstrou ser o mais apropriado para estudos lingüísticos, por preservar o texto original. A parte
de interpretação limitou-se, basicamente, ao desenvolvimento de abreviaturas, marcadas em itálico,
segundo critérios estabelecidos previamente. A edição dessas cartas, acompanhadas de fac-símile,
bem como as normas adotadas, constam do volume 2.
Para dar unidade ao conjunto, estabeleci dois critérios para a apresentação das cartas. O
primeiro foi organizá-las por destinatários. Esse formato levou-me a subdividir o volume 2 em três
partes: 1ª: cartas avulsas para vários destinatários; 2ª: cartas para Severino Vieira e 3ª: cartas para
Cícero Dantas Martins, o barão de Jeremoabo. O segundo foi apresentar as cartas dos remetentes
por ordem alfabética, preservando internamente a cronologia de sua correspondência78.
A conclusão é a de que são documentos relativamente homogêneos. Definem-se, sobretudo,
como mensagens particulares escritas por um número relativamente grande de pessoas, ao todo 217,
que escrevem sem preocupações estéticas excessivas79, inclusive, como se verá adiante, muitos
documentos possuem rasuras. Trata-se de cartas fechadas, por oposição às circulares80. Prevalecem
as correspondências particulares trocadas entre amigos e familiares. São cartas autógrafas, sendo
77 Nesta pesquisa, a carta enquanto gênero tem um caráter marginal, embora não secundário. Para uma discussão sobre
texto; (ii) saudação ao destinatário (prenome, título, etc.), iniciada, no geral, com votos de saúde que podem também vir
no final do texto; (iii) corpo da carta, cujos tópicos mais comuns versam sobre assuntos de interesse pessoal, pedidos,
agradecimentos, etc; (iv) despedida, local em que geralmente o remetente se identifica quanto ao tipo de relação com o
destinatário; (v) o encerramento com a assinatura e, eventualmente, algum (vi) post scriptum ou notas.
80Apenas uma parece ter essa característica. Trata-se uma carta de Tanajura (1ª parte), dentre as várias escritas ao coronel
88
raras as apógrafas81, escritas por indivíduos quase todos identificados (cf. fichas dos remetentes no
volume 2).
Quanto ao total de dados analisados, verifica-se que as cartas perfazem um total de 139.748
palavras, aproximadamente. A divisão por partes é a seguinte: 1ª: cartas avulsas para vários
destinatários, 41.65682 palavras e 1.055 dados; 2ª: cartas para Severino Vieira, 35,170 palavras e 733
dados e 3ª: cartas para Cícero Dantas Martins, 62.922 palavras e 1.408 dados. O total de dados com
clíticos é 3.276. Foram eliminados 80 dados de remetentes estrangeiros. Sendo assim, foram
descritos 3.196 (2.515 referentes às orações simples finitas e 681 dados em grupos verbais). A
descrição lingüística dessas três partes, exclusivamente cartas de remetentes brasileiros, consta do
capítulo seguinte, onde também, comparo os resultados com dados do português europeu, a partir
dos estudos baseados nos Corpora Anotados Históricos do Português Tycho Brahe, (CTB) (cf.
capítulo 3 e capítulo 6). Essa comparação é bastante plausível, em termos de proporção de
ocorrências, como se pode ver no cálculo a seguir, com relação à quantidade de clíticos por 1.000
palavras:
1. Número de palavras:
3. Índice de ocorrências:
81 Trata-se das seguintes cartas, a saber: cópia feita pelo próprio remetente, a carta nº.43 e outra ditada (nº.236);
duas cópias simples (nº.75 e nº.136) e as cartas feitas a pedido dos remetentes (nº. 33, nº.46, nº. 123, referente a 1ª
parte; nº. 280, nº. 292, nº.293, nº.302, referente a 2ª parte e as cartas nº.333, nº.409, 410, nº. 411, nº.469, nº.470, nº.482 e
nº.483), referente a 3ª parte.
82 Esses números são aproximados porque incluem as notas.
89
2.1.1.1 Modos de circulação e condições de produção das cartas
2.1.1.1.1 Modos de circulação
83 Essas cartas não foram excluídas para preservar a história dos documentos.
84 A formalidade de algumas correspondências é apenas aparente se se levar em conta a forma de tratamento usada por
amigos possuidores de títulos nobiliárquicos ou ocupantes de cargos públicos. Entretanto, a intimidade da maior parte
das cartas e a pouca formalidade das informações trocadas indicam se tratar de cartas bem menos formais do que
algumas fazem parecer à primeira vista.
90
2.1.1.1.2 Condições de produção
Muitas cartas foram escritas no calor da hora, sobretudo, as da 3ª parte. Como o serviço de
correio era precário e somente os senhores abastados possuíam os seus próprios positivos, como
eram denominados os mensageiros, as cartas do sertão eram enviadas por amigos em comum87,
conforme demonstram os excertos das cartas, a seguir.
Aproveito o Antero as pressas para dar-|lhe nossas noticias, estimando que| com a
Excelentissima Familia fruam perfeita sau-|de que é oque de coração lhes dizejo|(Carta 467,
Tucano 25 de Junho de 1898| Marcelino Pereira de Miranda|)
As pressas lhe escrevo para ver| se axo quem va para o Bom Conselho|(carta 490, Maria
Preta 9 de outubro de 98|Severo Correia de Souza)
85 Rasurado.
86 Rasurado.
87 Charles Expilly (apud, Mauro, 1991:45-46), ao se referir ao sistema de correios do Brasil, diz que o “O carteiro é quase
um mito”. O sistema de correios, segundo Silva et all (1989:143), somente começou a operar na Bahia na segunda
metade do século 19, com 7 linhas e centros coletores. A 1ª e a 2ª linhas incluíam a região de atuação do barão: Salvador,
Cachoeira, Feira de Santana, Monte Santo, Jacobina Senhor do Bonfim, Xique-Xique, Barra, Santa Rita de Cássia e
Cotegipe, a 2ª linha incluem Santo Amaro, Alagoinhas, Inhambupe, Jeremoabo e Itapicuru.
88 O corpus pode ser explorado, com relação às questões gráficas, já que no período em que as cartas foram escritas não
havia critérios ortográficos oficiais. Estrela (1996:10-11) denomina esse período, anterior a reforma de Gonçalves Viana
em 1911, como “Babel Ortográfica”, porque todos os critérios eram admitidos. Um dos pontos mais discutidos pela
comissão desse acordo foi a “abolição das consoantes dobradas”. Nas cartas, há um número grande de letras dobradas
cc, dd, ff, gg, ll, mm, nn, pp e tt, tanto etimológicas, quanto etimológicas. Esse fato, segundo mostra Figueiredo (1909:131-
202), era indicativo de pouco domínio da escrita.
91
Tabela 2.1 Modos de circulação e de produção das cartas da 1ª parte
Nº da Modos de circulação Condições de produção Informações
carta adicionais
Destinatário Natureza da carta diversas
Em exercício de Particular Familiar Presença de Adendo (feito
função pública rasura pelo remetente)
acima da linha
1. - + - - - -
2. - + - - - -
3. - + - - - -
4. - + - - - -
5. - + - - - -
6. - + - 1 - -
7. - + - - - -
8. - + - - - -
9. - + - - - -
10. - + - - - -
11. - + - 1 - -
12. - + - - - -
13. - + - - - -
14. - + - - - -
15. - + + - - -
16. - + + - - -
17. - + + - - -
18. - + - - - -
19. - + - - - -
20. - + - - - -
21. + + - - - -
22. + + - - - -
23. + + (mista)* - - - -
24. + + (mista)* - 1 - -
25. + + (mista)* - - - estilo mais
formal (carta
com timbre)
26. + + (mista)* - - 5 -
Entre gente pouco letrada, é trivial a errônea aplicação das consoantes dobradas, umas vezes por ignorância e outras
por influência de vocábulos similares. Sirvam de exemplo as disparatadas grafias cautella, querella, innundar, ellucidar,
addiar, anniquilar, deffeito, deffender, etc. Mas esses erros não são comuns a gente letrada, e facilmente os corrigirá o
mais insignificante dicionário. O que não é raro entre a gente letrada é estribarem-se na etimologia, para escrever,
por exemplo, licção. As tradições etimológicas, tendo exercido notável influência nos nossos homens letrados,
explicam e pode dizer-se que justificam a geminação de consoantes em elle, aquella, innocente, oppor, aggredir, etc., etc.;
mas o hábito desta geminação e a analogia fonética têm levado escrevedorres ingênuos a supor que, assim como
escrevem bella, colla, valla, cavalla, cella, capella, bacillo, pupillo, sigillo, aquillo, colla, golla, nulla, [...] etc., o que realmente são
grafias injustificáveis, poderiam também escrever salla, galla, balla, bengalla, clientella, tutella, querella, cautella, [...], etc., o
que são grafias crassamente errôneas, visto que nelas a duplicação dos ll não se justifica pela etimologia, nem pela
fonética, nem pelo bom senso.
Também determinados tipos de hifenizações: “A grafia leval-lo, trazel-o, seguil-o [...] está condenada sem apelo nem agravo”
(cf. Barreto, 1954:271). Esse tipo de hifenização dos clíticos é freqüente nas cartas.
92
27. - + (mista)* - - 3 -
28. - + - - - -
29. + + (mista) - - - -
30. - + - 1 - -
31. + + (mista) - - - -
32. - + - - - -
33. + +(mista) - - - carta escrita a
pedido
34. + + (mista) - - - -
35. + + (mista) - - - -
36. + + (mista) - 1 - -
37. + + (mista) - - - -
38. + + - - - -
39. + + (mista) - - - -
40. - + - - - -
41. + + (mista) - 1 - -
42. - + - - - -
43. + + (mista) - - - cópia feita pelo
próprio
remetente
44. - + - - - -
45. - + - 1 - -
46. - + - - - escrita por uma
mão e assinada
por outra
confidencial
47. - + - - - -
48. - + - - - -
49. - + - - - reservada
50. - + - - - -
51. - + - - - -
52. - + - 1 - -
53. - + - - - -
54. - + - - - -
55. - + - - - -
56. - + - - 1 -
57. - + - 1 - confidencial
58. + + (mista) - 7 2 -
59. - + - - - -
60. + + (mista) - - - -
61. - + - - - -
62. - + - - - -
63. - + - 1 - -
64. - + - - - -
65. + + (mista) - - - -
66. + + (mista) - - - -
67. + + (mista) - - - -
68. + + (mista) - - - -
69. - + - - - -
70. - + - - - -
71. - + - - - -
72. + + (mista) - - - -
73. + + (mista) - - - -
74. + + (mista) - - - -
75. + + (mista) - - - Cópia.
93
76. + + (mista) - - - -
77. - + - - - -
78. - + - - - -
79. - + - 1 - -
80. - + - 1 - -
81. - + - - - -
82. - + - - - -
83. - + - - - -
84. + + (mista) - - - -
85. - + - 1 1 -
86. - + - 1 - -
87. - + - - 1 -
88. - + - - - -
89. + + (mista) - - - -
90. + + (mista) - - - -
91. + + (mista) - - - -
92. + + (mista) - 3 - -
93. + + (mista) - 3 - -
94. + + (mista) - - - -
95. - + - - - -
96. + + (mista) - - - formal
97. + + (mista) - - - -
98. - + - - - -
99. + + (mista) - - - formal
100. + + (mista) - - - -
101. - + - 1 - -
102. - + - - - -
103. - + - - - -
104. - + - 1 - -
105. + + (mista) - - - -
106. + + (mista) - - - -
107. - + + - 1 -
108. - + + - 1 -
109. - + + 1 - -
110. - + + - - -
111. - + + 2 - -
112. - + + - - -
113. - + - - - -
114. - + - 2 - -
115. - + - - - -
116. - + - - - -
117. - + - 1 - -
118. - + - 2 - -
119. - + + - 1 -
120. - + - 1 - -
121. - + - - - -
122. - + - - - -
123. - + - 1 - Carta apógrafa
(apenas
assinada pelo
remetente)
124. - + + - - -
125. - + + - - -
126. - + + - - -
127. - + + - - -
94
128. - + - 1 - -
129. - + - - - -
130. - + - 3 - -
131. - + - - - -
132. - + - 6 - -
133. - + - - - -
134. - + - 1 - -
135. - + - - - -
136. - + - - - Cópia de uma
carta circular
em que o
remetente
solicita apoio
político,
assinada por
Tanajura e
escrita por
outra mão.
137. + + (mista) - 1 - -
138. + + (mista) - - - -
139. - + - - - -
140. + + (mista) - - - -
141. + + (mista) - - - -
142. - + - - - -
143. - + - - - -
144. - + - - - -
145. - + - - - -
146. - + - 1 - -
147. - + - - - -
148. - + - 1 - -
149. - + - - - -
150. - + - - - -
151. - + - - - -
152. - + - - - -
153. - + - - - -
154. - + - - - -
155. - + - - - -
156. - + - - - -
157. - + - - - -
158. - + - 2 - -
159. - + - 1 - -
160. - + - - - -
161. - + - 2 - -
162. - + - - - -
163. - + - - - -
164. - + - - - -
165. - + - - 1 -
166. - + - - - -
167. - + - 1 - -
168. - + - - - -
169. - + - - - -
170. + + (mista) - - - -
171. + + (mista) - - - -
172. + + (mista) - - - -
173. - + - - - -
95
174. - + - - - -
175. - + - - - -
176. - + - - - -
177. - + + - - -
178. - + - - - -
179. - + - - -
180. - + - 1 - -
181. - - fac-símile da
carta original
182. - + - - - -
183. - + - - - -
184. - + - - - -
185. + + (mista) - - - -
186. + + (mista) - - - -
187. - + - - - -
188. - + - - - -
189. + + (mista) - - - -
190. - + - - - -
191. - + - 3 1 -
192. + +(mista) - - - -
193. - + - - - -
194. - + - - -
195. - + - 1 - -
196. - + - - - -
197. + + (mista) - - - -
198. - + - - - -
199. - + - - - -
200. - + - - - -
201. - + - - - -
202. - + - - - -
203. - + - - - -
204. - + - 1 - -
205. - + - 2 - -
206. + + (mista) - - - formal
207. + + (mista) - - - -
208. + + (mista) - - - -
* Assunto comercial.
96
220. - + - - - -
221. + + (mista) - - - formal
222. - + - - - reservada
223. - + - - -
224. - + - 2 -
225. - + - - - -
226. - + - - - -
227. - + - - - reservada
228. - + - 2 - reservada
229. - + - 1 - reservada
230. - + - 5 - -
231. - + - 1 1 -
232. - + - - - -
233. - + - - - formal (Companhia
do Queimado)
234. + + (mista) - - - -
235. - + - - - endereçada
originalmente a
Saboya
236. - + - - - escrita a pedido e
ditada pelo
remetente.
237. + + (mista) - - - formal
238. - + - - - -
239. - + - - - -
240. - + - - - 1
241. - + - - - -
242. - + - - - -
243. - + - 1 - As cartas 243-265
foram escritas pelo
procurador de
Severino Vieira.
244. - + - - -
245. - + - - -
246. - + - - 1
247. - + - 2 1
248. - + - - -
249. - + - - -
250. - + - 1 1
251. - + - - -
252. - + - - -
253. - + - - 1
254. - + - - -
255. - + - 1 -
256. - + - - -
257. - + - 1 -
258. - + - 1 -
259. - + - - -
260. - + - - -
261. - + - - -
262. - + - - -
263. - + - - - Procurador
/confidencial
264. + + (mista) - - - -
265. - + - 2 - -
97
266. - + - - - -
267. - + - - - -
268. - + - - - -
269. - + - - - -
270. - + - - - -
271. + + (mista) - - - -
272. - + - - - -
273. - + - 5 - -
274. - + - - - -
275. - + - 3 - -
276. + + (mista) - 2 - -
277. + + (mista) - 1 - -
278. + + (mista) - - - -
279. - + - - - -
280. + + - - - escrita a pedido
281. - + - - - -
282. + + (mista) - - - -
283. + + (mista) - - - -
284. + + (mista) - - - -
285. - - - - -
286. - - - - -
287. + + (mista) - 1 - -
288. - + - - - -
289. - + - 14 - -
290. + + (mista) - - - secreta
291. + + (mista) - 1 -
292. + + (mista) - 1 - escrita a pedido
293. + + (mista) - - - escrita a pedido
294. - + - - - -
295. + + (mista) - - - -
296. - - 1 - -
297. + + (mista) - - - -
298. - + - - - -
299. - + - 2 - -
300. - + - - - -
301. - + - 2 - -
302. - + - - - Apenas assinada pelo
remetente.
303. - + - - - -
304. - + - 1 - -
305. - + - - - -
306. - + - - - -
307. - + - - - -
308. - + - - - -
309. - + - - - -
310. - + - 1 - -
311. - + - - - -
98
Tabela 2.3 Modos de circulação e de produção das cartas da 3ª parte
Nº da Condição do Natureza da carta Condições de produção Informações
carta destinatário adicionais
Em exercício de Particular Familiar Presença de Presença de diversas
função pública rasura adendo
312. - + - - - -
313. - + - - 1 -
314. - + - - - -
315. - + - 1 - -
316. - + - - - -
317. - + - - - -
318. - + - - - -
319. - + - 1 - -
320. - + - 3 - -
321. - + - - - -
322. - + - - - -
323. - + - - - -
324. - + - - 1 -
325. - + - - - -
326. - + - 2 - -
327. - + - 1 - -
328. - + - 2 - -
329. - + - - - -
330. - + - 1 1 -
331. - + - 3 2 -
332. - + - - - -
333. - + - 1 - escrita a pedido
334. - + + - - -
335. - + + - - -
336. - + + - - -
337. - + + 1 - -
338. - + + - - -
339. - + + - - -
340. - + + - - -
341. - + + - - -
342. - + + - - -
343. - + + - - -
344. - + + - - -
345. - + + - - -
346. - + + - - -
347. - + + - - -
348. - + - - - -
349. - + - - - -
350. - + - - - -
351. - + - - - -
352. - + - - - -
353. - + - - - -
354. - + - 5 - -
355. - + + 1 - -
356. - + + - - -
357. - + + - - -
358. - + + - - -
359. - + + - - -
360. - + + - - -
361. - + + - - -
99
362. - + + 3 - -
363. - + + 4 - -
364. - + + - - -
365. - + + 2 3 -
366. - + + - - -
367. - + + - - -
368. - + + 2 - -
369. - + + - - -
370. - + + 1 - -
371. - + + 2 - -
372. - + + - 1 -
373. - + + - - -
374. - + + 3 - -
375. - + + 1 - -
376. - + + - - -
377. - + + 1 - -
378. - + + - - -
379. - + + - - -
380. - + + - - -
381. - + + 2 - -
382. - + + 2 - -
383. - + + - - -
384. - + + - - -
385. - + + 1 - -
386. - + + 2 - -
387. - + + - - -
388. - + + - - -
389. - + + - - -
390. - + + 1 - -
391. - + + 2 - -
392. - + + - - -
393. - + + 3 - -
394. - + + - - -
395. - + + 1 - -
396. - + + - 1 -
397. - + - - - -
398. - + - 1 - carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
399. - + - 1 - -
400. - + - 1 - -
401. - + + - - -
402. - + + - - -
403. - + + - - -
404. - + + 1 - -
405. - + + 1 - -
406. - + + - - -
407. - + + 1 - -
408. - + + - - -
409. - + + 2 - escrita a pedido
(reservada)
410. - + - 1 - escrita a pedido
411. - + - - - escrita a pedido
412. - + - 1 - -
100
413. - + - - - -
414. - + - - - -
415. - + - - - -
416. - + - - - -
417. - + - - 1 -
418. - + - 1 1 -
419. - + - 5 - -
420. - + - - - -
421. - + - - - -
422. - + - - - -
423. - + - - - -
424. - + - - - -
425. - + - - - traçado
inseguro
426. - + - - - -
427. - + - 1 1 -
428. - + - 2 - -
429. - + - - - -
430. - + - - - carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
431. - + - - - carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
432. - + + 4 (rasura de 1 traçado
clítico) inseguro
433. - + + - - -
434. - + + 2 - -
435. - + + 12 - -
436. - + - - - -
437. - + - 1 - traçado
inseguro
438. - + - 4 - -
439. - + - - - -
440. - + - - - -
441. - + - - - -
442. - + - - - -
443. - + - - - -
444. - + - - - carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
445. - + - 1 2 carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
446. - + - - - -
447. - + - - - -
448. - + - 2 - -
449. - + - 3 - -
450. - + - 5 - -
451. - + - 6 1 -
452. - + - 3 - -
101
453. - + - 9 - -
454. - + - 6 - -
455. - + - - - -
456. - + - 6 - -
457. - + - - - traçado
inseguro
458. - + - - - traçado
inseguro
459. - + - - - traçado
inseguro
460. - + - 1 - traçado
inseguro
461. - + - - - traçado
inseguro
462. - + - 1 - traçado
inseguro
463. - + - - - traçado
inseguro
464. - + - - 1 traçado
inseguro
465. - + - - - traçado
inseguro
466. - + - - - traçado
inseguro
467. - + - - - traçado
inseguro
468. - + - - - traçado
inseguro
469. - + - - - escrita a pedido
470. - + - - - escrita a pedido
471. - + - - 2
472. - + - - - -
473. - + - - - Muito hábil
474. - + - - - -
475. - + - 1 rasura de - -
clítico
476. - + - - - traçado
inseguro
477. - + - - - traçado
inseguro
478. - + - 1 1 traçado
inseguro
479. - + - - - traçado
inseguro
480. - + - - - traçado
inseguro
481. - + - 1 - -
482. - + - - - escrita a pedido
483. - + - - - escrita a pedido
484. - + - - 1 traçado
inseguro
485. - + - 1 - traçado
inseguro
486. - + - 1 - traçado
inseguro
487. - + - - - traçado
102
inseguro
488. - + - - - traçado
inseguro
489. - + - - - traçado
inseguro
490. - + - - - -
491. - + - 1 - carta de
vaqueiro,
traçado
inseguro
492. - + - 1 - -
493. - + - 2 1 -
494. - + - - 1 traçado
inseguro
495. - + - 1 - traçado
inseguro
496. - + - 1 - traçado
inseguro
497. - + - 1 - traçado
inseguro
498. - + - - - traçado
inseguro
499. - + - 1 - traçado
inseguro
500. - + - - - traçado
inseguro
O tipo de letra mais usado é a cursiva, quase sempre com inclinação para a direita. E, apesar
de apresentarem algumas marcas idiossincráticas, as letras têm traços aparentemente semelhantes,
fato notado também por Barbosa (1999:121), embora o autor se refira de modo geral aos
documentos oficiais.
Os documentos oficiais e mesmo alguns particulares escritos em cidades das várias
capitanias do Brasil colonial apresentam em sua maioria, dois tipos de letra: a humanística –
com desenho bem cuidado, de módulo e espaçamento regulares – e a letra cursiva. Tem-se
forte impressão de terem sido escritos num mesmo lugar. Não importa se do Pará ou de
Porto Alegre, a homogeneidade dos caracteres somente revelará certas diferenças diatópicas,
talvez, após compararem investigações acerca das diferenças de uso da língua por
escreventes naturais do Brasil trabalhando em cidades de capitanias bem afastadas umas das
outras. Pelo tipo de letra vê-se que são pessoas diferentes que, aparentemente, seguiram um
mesmo manual de estilo caligráfico e de abreviaturas.
Chama a atenção, o traçado arredondado das cartas de remetentes pouco cultos, dando a
impressão, a partir de uma análise superficial, de terem sido escritas por pessoas com um maior
domínio da escrita89. Sobre isso é esclarecedor o comentário de Aras (2003:289) que, ao se referir
89
Os remetentes com menor grau de instrução também apresentam certa semelhança no traçado, mesmo no interior da
Bahia, apesar da falta de livros. Sabe-se que foi utilizado largamente, até a primeira década do século 20, conhecido
103
aos livros adotados no Cumbe, atual Euclides da Cunha, nas cercanias de Jeremoabo, diz que o
traçado arredondado servia como forma de prestígio, pois quem “contasse com uma bonita letra era
elogiado e podia tirar vantagens, inclusive, fazendo cartas para os analfabetos que eram muitos”90.
Na Bahia, há algumas informações que indicam ter havido algum tipo de preocupação com a
orientação caligráfica91, apesar da escassez de manuais, como pode ser observado no relatório do
inspetor da instrução pública, A. Gonçalves Dias (1852), publicados em Primitivo Moacyr
(1939:525-526):
Um dos defeitos é a falta de compendios: no interior por que os não ha, nas capitais por que
não ha escolha, ou foi mal feita; por que a escola não é suprida, e os pais relutam em dar os
livros exigidos, ou repugnam aos mestres os admitidos pelas autoridades. Voltando ainda a
Bahia, foram ali os compendios de Monteverde, com injuria e prejuizo dos escritores brasileiros
superiores de muito ao autor português: estão admitidos somente estes: a gramatica, aritimetica e
moral de Monteverde, o catecismo de Fleury, e a caligrafia de Vanzeller, de que se não
poderão litografar exemplares [...]; não pensou que as nossas litografias não podem ainda
tirar bons traslados, motivo por que se estragou a caligrafia de Vanzeller, e não ha modelos
de escrita nas escolas; não atendeu a que não ha livros, pelos quais se dê lições de leitura
manuscrita, de modo que se o professor quer dar remedio a esta falta, exige que os alunos
tragam cartas, e como estas não podem ser identicas, tambem não póde haver o emprego do
metodo que a lei recomenda”.
popularmente como “paleógrafo” (segundo Houaiss (2001) um “livro em que se aprendia a leitura de caracteres
manuscritos”).
90
A aquisição da escrita, segundo o autor, passou, entre meados do século 19 até a década de 40 do século 20, por três
fases: “cartas do ABC”, “cartilha do povo ou cartilha das mães” e a “leitura intermediária”.
91 O barão de Jeremoabo, em carta ao seu compadre e amigo José Gonçalves da Silva, datada de 3 de setembro de 1875,
faz uma lista de livros a serem comprados e entre esses, normas para a escrita: Os livros mencionados são os seguintes:
Método fácil de aprender a ler em 15 lições pelo Dr. Victor Renault; Dito pequeno ou carta de A. B. C; Livro variegado,
contendo 75 contos morais por Francisco Hoffman; Coleção de normas para a escrita de N° 1 até 12; 7 histórias em
7 folhetos, a saber: João Felpudo, Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho, Pequeno Polegar, Barba Azul, Rosa dos
Espinhos e Maria Borralheira, além de jornais e outros livros. (cf. Carvalho Jr. 2000:278).
104
2.1.1.2 Da localização temporal e espacial
2.1.1.2.1 A temporal
Destaca-se a concentração de cartas datadas entre os meados até a segunda metade do século
19.
1ª Parte
As cartas dessa parte são datadas entre 1809-190492. As 26 cartas sem data são as seguintes:
92 São 18 cartas entre 1809-1845, 105 cartas entre 1851-1870, 53 cartas entre 1871-1889 e apenas 6 cartas entre 1900-
1904.
105
2ª parte
As cartas da 2ª parte abrangem apenas dois anos, 1901-190293.
As cartas 3 não datadas da 2ª parte parecem ter sido escritas entre 1901-1902, uma vez que
fazem parte de um conjunto de cartas recebidas nessa época, quando então Severino Vieira exercia o
primeiro biênio de seu mandato de governador da Bahia (1901-1902). As outras inferências
possíveis são:
Quantidade Remetente Data provável Observação
2 Francisco 1901-1902 Procurador de Severino Vieira nesse período,
Rocha assunto também tratado nas correspondências
3ª Parte
As cartas dessa parte são datadas entre 1880-190394. As 3 cartas não datadas são:
e 2 e por outro 3 e 4.
96 Data da primeira carta em ordem cronológica.
106
2.1.1.2.2 A espacial
Na 1ª parte, 124 cartas são originárias do Brasil. O maior número de cartas escritas no país
provém do Rio de Janeiro, possivelmente da capital, 52 cartas e mais 2 de Petrópolis, seguidas das
cartas escritas na Bahia, 51, sendo 22 cartas originárias, provavelmente, da capital das da província,
Salvador. As demais cartas da Bahia merecem uma explicação adicional porque destoam das demais
partes98. São basicamente as cartas enviadas por parentes, amigos e correligionários ao coronel
Exupério Canguçu, provenientes da região da Chapada Diamantina e da Serra Geral, área de atuação
desse coronel, 1 carta do recôncavo, 1 carta proveniente de uma localidade mineira onde possuía
terras. E a carta da Bahia (Salvador) é do seu sobrinho Marcolino de Moura e Albuquerque.
As cartas do Recôncavo foram enviadas ao barão da Cajaíba por sua filha Maria Augusta, do
engenho Cajaíba e por amigos de Maria Augusta, provenientes da Villa de São Francisco, do
Engenho Marapé e da Santa Casa do Mucuri99. O Engenho Marapé fazia divisa com as terras do
Engenho São José de Vanique de propriedade do barão da Cajaíba.100 Já as cartas para o Engenho
97 Data da última carta que, apesar de datada no século 20, foi considerada com final do século 19.
98 Além dessas, apenas mais 1 carta do interior, a de Lençóis, destinada ao Desembargador João José de Almeida Couto
por um companheiro correligionário.
99 A expressão “Santa Casa” era usada também para designar residência.
100 Cf. consta em Ott (1996:36), que o teria registrado em 12 de março de 1858 (sem grifos no original):
O engenho Vanique, colocado entre os engenhos de São José do Coronel Luís Manoel de Oliveira Mendes, Macaco
das Pedras do Barão do Rio de Contas, Marapé de Francisco José Matos Vilela e o mar salgado; divide-se o
primeiro pelo oeste partindo do salgado onde tem um marco de pedra de mármore do qual marco segue com
diferentes variações até o rio “macaco das pedras” onde se encontra o segundo partindo do ponto onde termina o
engenho São José pelo mesmo rumo até encontrar o riacho cocô, extremo da fazenda “Engana Mundo” do qual
riacho segue para o norte na direção da cerca que divide os pastos do engenho Macaco até o alto da montanha
Laranjeira onde termina com o terceiro marco pelo leste com diversas variações, partindo do ponto em que
terminou o engenho Macaco onde começa a cerca do Posto Vanique seguindo pelo alto das montanhas Laranjeira e
Pinheiro pela mesma cerca abaixo pelo arvoredo até encontrar uma as terras da fazenda denominada “Marapé
Pequeno”, onde está fazendo ângulo e vai dividindo pelo sul em direção do arvoredo até encontrar uma cajazeira a
pequena distância antes do rio “beijú”, da qual cajazeira volta em linha reta a uma gameleira antiga junto a ponte do
mesmo riacho e desta gameleira segue em rumo sul mais sudeste até encontrar um mulungú à beira da praia, onde
termina; do refendo mulungú segue o rumo do noroeste quarta de oeste e parte até encontrar o marco de pedra
mármore que servia de ponto de partida na divisa do engenho São José”.
Também em Pinho (1942:138) há um trecho extraído de uma escritura de venda ou de doação em pagamento a um
negociante comissário em 1º de dezembro de 1808, assim resumido pelo autor:
Engenho denominado Marapé moente corrente, sito no termo dessa Vila, com sua terras, fabrica, oficinas, cobres,
cavalos, bois, cavalos, assessórios, pertences e sobre-celentes, fazendas obrigadas, pastos, casa do engenho, de
caldeira, de purgar, de caixaria e de vivenda, senzalas, capela e seus paramentos, moendas, carros e ferramentas,
107
Freguesia, também no Recôncavo baiano, foram escritas para o administrador de um dos engenhos
do barão de Cotegipe, Fructuoso Maia, pelo próprio barão. Outras 39 cartas, embora não tenham
seus locais de origem especificados, podem ser inferidos. Há indícios de que foram escritas no
Brasil. As cartas do exterior são ao todo 45, quase todas provenientes de remetentes brasileiros em
trânsito, ou em exercício de missões no exterior ou, então, lá residindo, temporariamente, 22 cartas
da Europa e mais 23 cartas de localidades envolvidas na Guerra do Paraguai. Os detalhamentos
constam na tabela 2.4, a seguir:
balcoens, pesos, balanças, formas, taboas de furo, bicas e coxos e o mais da oficina e laboração do mesmo engenho,
huma lanxa velejada e tudo quanto lhe pertence.
108
São Paulo
Cidade do Bananal 1
São Paulo (Capital) 1
Santa Catarina
Santa Catarina (Capital) 1
Rio Grande do Sul
Porto Alegre 1
Rio Grande [do Sul] 1
São Borja 1
Total Parcial 124
As cartas destinadas a Severino Vieira são, na maioria, vindas da capital federal, o Rio de
Janeiro, 78, dentre essas, 1 de Petrópolis, conforme detalhamento na tabela 2.5:
109
Tabela 2.5 Localização geográfica das cartas da 2ª parte
Estado Atual Cidades/ Localidades/ N° de cartas
(Período Republicano)
RJ Rio de Janeiro (Capital Federal) 78
Petrópolis 1
BA Bahia 6
Barra de Caravelas 1
Estação de Macaúbas 1
MG Belo Horizonte 3
Fructal 1
PE Recife 1
RGS Pelotas 1
Em trânsito Vindo de Paris 1101
Nome incompleto S. C. 2
Sem especificação de local 6
Total Geral 102
As cartas dirigidas ao barão de Jeremoabo são do interior da Bahia. Como se trata de regiões
rurais pouco documentadas, acrescentei na tabela, a seguir, as interessantes observações de um
funcionário da polícia, Durval Vieira de Aguiar que visitou essas localidades em 1882, quando em
viagem de trabalho102. Essas impressões foram originalmente publicadas no Diário da Bahia nesse
período, sendo inclusive usadas por Euclides da Cunha em seus relatos de viagem.
No que se refere as cartas provenientes da “Bahia”, como era chamada a capital da
província, é importante dizer que foram escritas por dois remetentes, sendo 35 cartas do seu primo
Benício Penalva, comerciante de peles de Itapicuru, provavelmente nascido nessa região, já
residindo em Salvador, para acompanhar os estudos de seus filhos, como relata diversas vezes em
sua correspondência103, período em que assumiu as funções de oficial de registro. As outras 2 cartas
da “Bahia”, datadas entre 26 e 29 de novembro de 1891, foram escritas pelo afilhado do barão de
Jeremoabo, Amaro Tavares de Macedo, tabelião interino de Jeremoabo, quando lá esteve em
viagem.
101 Carta escrita por um amigo vindo de Paris marcando um encontro com Severino Vieira quando estivesse passando
pela Bahia.
102 Apenas parte das localidades de onde se originaram as cartas para o barão de Jeremoabo é conhecida pelos limites
com Canudos, que se notabilizou pelo famoso conflito conhecido como “Guerra de Canudos”. Muitos povoados são
referidos por Euclides da Cunha quando lá esteve para fazer a cobertura jornalística dessa guerra para o jornal o Estado
de São Paulo. Essas localidades constam dos mapas feitos por esse autor (Cunha, 1998 [1901]:73).
103 Cf. trechos das cartas do remetente, a seguir: “Tenho implorado a Vossa Excelência sua prote-|ção e de sua
Excelentissima familia, afim de| que tenha eu alli na Bahia uma col-|locação da qual possa passar com| a numerosa
familia que tenho;| meio este, unico que vejo de dar a| meos filhos a educação, e athe o fa-|ser desta cousa alguma
tenho con-|seguido! carta 364”; Sua Comadre| está muito saptisfeita aqui,-| por ter o mesmo desejo que eu|3r. tenho de
ver os filhos educados.|carta 354 e “Meos filhos prestarão| exame de portuguez, Francez103 e| latim, e forão aprovados
plenamente. carta 362”.
110
Tabela 2.6. Localização geográfica das cartas da 3ª parte
Localidades (município Região N° de Impressões de Durval Vieira de Aguiar (1979 [1882])
atual) econômica cartas
atual
Bahia (Salvador)104 37
Alagoinhas Litoral Norte 4 “Até o ano de 1866 a atual cidade constava apenas de umas
quatro casas de telha junto ao rio [...] a cidade de
Alagoinhas, anualmente prosperando, tanto em edificação
como em população, ao ponto de impedir, com segurança,
os dados estatísticos [...].”
Barracão Litoral Norte 7 “Os terrenos que atravessam esse rio são fertilíssimos
(Rio Real) especialmente para a lavoura de cana, em profusão tal que
alimenta cerca de 40 engenhos, sendo a maioria da grande
safra exportada, em barcos, pela Abadia, por causa das
distâncias e maus caminhos dificultarem o embarque nas
estações do ramal do Timbó”.
Monte Alegre Paraguaçu 4 -
(Mairi)
Petamuté Baixo Médio 3 -
(Curaçá) São Francisco
Abobreira [Fazenda] Nordeste 1 Ver Jeremoabo.
(Jeremoabo)
Nordeste 2 Ver Monte Santo.
Acaru
(Monte Santo)
Nordeste 1
Amparo [Ribeira do]
Nordeste 1 Ver Itapicuru.
Baixa [Grande] [fazenda do
barão]
(Itapicuru)
111
edificação não podia prosperar por causa do monopólio das
terras da vila, que pertencem a único proprietário, que só o
afora a quem lhe convém [...]. Os moradores dessa vila
comerciam com o centro de Sergipe por Simão Dias, que
distam 15 léguas [...]”.
Cipó [Caldas de] Idem 1 “E nas margens do Itapicuru que se acham as célebres
fontes termais, geralmente conhecidas por águas do Sipó
[...]”.
Itapicuru Idem 1 “A vila, que data de 28 de abril de 1728, tem sua sede
presentemente no antigo e acanhadíssimo povoado da
Missão do Saúde, distante uma légua da primitiva sede [...].
112
Monte Santo Idem 10 “De uma simples fazenda de gado, junto à serra de Piguaraçá,
surgiu, em 1785, uma povoação, hoje vila de Monte Santo
[...]. A vila, que data de 21 de março de 1837, consta de
ordinária edificação em volta de uma espaçosa praça tendo
no centro a Matriz, sob a invocação de Nossa Senhora da
Conceição, e um pouco adiante o barracão da feira, que
funciona nas segundas-feiras [...]”.
Queimadas Idem 1 -
Ribeira do Pombal Idem 13 “Conta este termo da freguesia da vila com a da Ribeira, 6
léguas distante, tendo a extensão de uma 15 léguas sobre 10
de largura e a população de 6. 406 habitantes, dos quais
2.690 pertencem à freguesia da vila, e são na maior parte
muito pobres e analfabetos [...]”.
Santa Rita do Rio Preto Idem 4 “Esta vila criada em 1840, fica na margem esquerda do rio
(Campo Largo) Preto, a 16 léguas distante da foz (Boqueirão), 32 da cidade da
Barra e 22 de Campo Largo, de onde está separada por uma
grande travessia, de imensos gerais que se estendem pelo
poente, em uma grande vastidão que o vulgo crê sem fim,
porque não se conseguiu explorar, apesar das tentativas dos
vaqueiros. [...]”.
113
quais eram as únicas do termo, ambas de pequena
freqüência e desprovida de livros e utensílios, especialmente
a das meninas, que aprendiam por velhas escritas, tabuadas
copiadas à mão e pregadas em pedaços de papelão, e
assentavam-se em tamboretes forrados de couro, mais altos
do que a improvisada mesa, a cuja roda estavam”.
São João [Fazenda do Idem 1 -
barão] (Petamuté, atual
Curaçá)
Idem 2
Serra/Serrinha
O comércio é nulo.
Baraúnas ? 1 -
(Não identificada,
remetente em trânsito entre
litoral norte e nordeste)
Fazenda do Cortiço ? 2 -
(?)
114
4 de Britto (Santa Cruz?)
1 de José do Nascimento (vaqueiro)
Total Geral 190
2.1.2 Os remetentes
2.1.2.1. Indicadores individuais: nacionalidade
Também, os dados dos seguintes remetentes foram controlados por não haver segurança
quanto à nacionalidade105.
1ª parte:
Antonio Estevão Bitancourt [e] Silva (carta nº.22);
Duarte (carta nº.101);
Crispiniano (carta nº.104);
João Manuel Monis Barreto (carta nº. 67);
Luiz Carvalho (carta nº. 83);
Miguel Machado (carta nº. 89) e
105Ainda estão sendo pesquisados quanto a dados sobre sua nacionalidade. Nas tabelas 2.7, 2.8 e 2.9, a seguir, trazem
alguns indicativos sobre os mesmos.
115
Rodrigo Antonio da Gama (carta nº. 91).
2ª parte, volume 2:
Agnello Leite (carta nº. 209);
Alfredo Pinto (carta nº. 213);
Antonio José Marques (carta nº. 218);
Arthur A. Evertoso (carta nº. 221);
Domingos Olympio (carta nº. 235);
Geraldo Barbosa Lima (carta nº. 264);
Hermann Carlos Palmeira (carta nº. 267);
Irineu Machado (carta nº. 268 e carta nº. 269);
Joaquim da Costa Barros (carta nº. 277);
Joaquim Mendes de Souza (carta nº. 278 e carta nº. 279);
L. Samuel (carta nº. 284 e carta nº. 285)
Leoncio Correia (carta 287);
M. Torres (carta nº. 291);
Pedro José Oliveira (carta nº. 300);
Pires (carta nº. 301) e
Ramos Junior (carta nº. 302).
As tabelas abaixo trazem um resumo de dados extraídos das fichas da 1ª, 2ª e 3ª partes do
volume 2, onde constam informações de cada remetente. Os critérios para indicar a nacionalidade
dos remetentes, a partir de fonte documental, primária ou secundária, estão especificados nessas
fichas que antecedem cada uma das três partes do volume 2. Os remetentes cuja nacionalidade foi
inferida, referentes a 1ª parte e a 2ª parte, aparecem com a naturalidade/nacionalidade indicadas
entre colchetes. Os detalhamentos sobre as inferências, tanto a partir de fontes documentais quanto
a partir de critérios lingüísticos com marcas de escrita de brasileiros, constam nas referidas fichas.
Com relação aos remetentes da 3ª parte, embora não tenha sido possível determinar o local
de nascimento de todos os remetentes, eles são seguramente brasileiros e amigos do barão. Muitos
amigos sertanejos da região estavam na inauguração de seu palacete (cf. apresentação do volume 2).
O barão não se referiu a nenhum português no seu livro de notas. De um levantamento preliminar
nos seus arquivos, consta apenas um português radicado em Sergipe. A presença de estrangeiros
116
nessas localidades, segundo o censo de 1872, é praticamente nula. Em Itapicuru, por exemplo, o
percentual foi de 0,032%, e em Jeremoabo, 0,016%, além de inexistente em Ribeira do Pombal.
Monteiro (1982:141), que tratou da imigração portuguesa na Bahia na segunda metade do século
XIX no capítulo “Fortunas portuguesas na Bahia”, com base nos testamentos portugueses, Livro de
registros de Testamento do APEBA, identifica entre um total de 193 estrangeiros, apenas 11 com
propriedades rurais na Bahia. Além das fontes documentais, corrobora para essa interpretação o fato
de serem os remetentes da 3ª parte os que apresentam mais marcas de escrita própria de brasileiros
(cf. capítulos 3 e 6) e fichas do volume 2. Nessas fichas, destaco, ainda, os remetentes que possuem
assinaturas em documentos notariais e outros que servem para corroborar a autenticidade dos
documentos.
117
Tabela 2.7 Dados sobre os remetentes de cartas da 1ª parte
Nº Nome do remetente conforme a carta Naturalidade (ou Nacionalidade), grau de Código do
(Obs.: Com indicação de assinatura escolaridade, idade e ocupação principal ou de remetente
comprovada em documentos notariais) maior destaque (cf. Catálogo de Fichas na 1ª parte
do volume 2).
7. Almeida Couto [José Luiz de Almeida Couto] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1JLAC
Bahia), 56 anos. Senador (PPB).
10. Antonio Estevão Bitancourt [e] Silva (Escreve do Rio Grande). 1AEBS
Não há outras informações.
12. Antonio Jose Nogueira Radicado em São Paulo, [Brasileiro] alfabetizado, 1AJN
[maduro]. Presidente do Partido Liberal de São
Paulo.
118
Não há outras informações.
13. Antonio Rodriguez de Araújo Basto Radicado no Rio de Janeiro [Brasileiro], 1ARAB
[provavelmente é parente de Basto (Visconde de
Fiais)].
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de outros
critérios..
14. Araujo Porto-alegre [Manuel José de Araújo Gaúcho. Pintor (Academia de Belas Artes do Rio 1APA
Porto – Alegre] (depois barão de Santo de Janeiro), 49 anos. Cônsul Geral do Brasil em
Ângelo) vários países da Europa.
19. B. de Muritiba (depois visconde de Muritiba e Baiano. Bacharel em Direito (Universidade de 1MVT
marquês de Muritiba) [Manuel Vieira Tosta] Coimbra e Faculdade de Direito de São Paulo), 59
anos. Ministro.
Obs.: Há um autógrafo do barão de Muritiba
em S. A. Sisson (1999:241).
20. Barão de Mauá (depois visconde de Mauá) Gaúcho, autodidata, 47/48 anos. Deputado e 1BM
[Irineu Evangelista de Sousa] Empresário.
21. Barão de Porto Alegre Gaúcho. [Engenheiro], militar (Escola Militar), 1BPA
[Manuel Marques de Souza] 61/62 anos, General. Ministro.
22. Basto (depois barão dos Fiaes e 1° visconde Carioca, Bacharel em Direito (Universidade de 1AB
dos Fiaes) [Luiz Paulo de Araújo Basto] Coimbra), 28/32 anos. Presidente da Província de
São Paulo.
23. C. Madureira [Cassemiro de Sena Madureira] Brasileiro (Radicado da Bahia), [Bacharel em 1CM
Direito], 45 anos. Desembargador.
119
24. Cândido José Rodrigues Torres (depois barão Carioca, escolarizado, 59 anos. Negociante. 1CJRT
de Itambí)
25. Candido Leão Brasileiro. Radicado no interior da Bahia 1CL
[Candido da Silva Leão] (Chapada Diamantina), [Bacharel em Direito],
[maduro]. Magistrado.
26. Cansanção [João Lins Vieira de Cansanção de Alagoano, Bacharel em Direito (Faculdade de 1C
Sinimbu] (depois visconde de Sinimbu) Direito de Olinda), 27/43 anos. Ministro.
27. Cesar Sauvan Vianna de Lima (barão de Paulista (residiu muitos anos no exterior), Curso 1CSVL
Jauru) de relações exteriores na Europa, 42 anos.
Diplomata.
28. Conde d’ Eu. [Luiz Felipe Maria Gastão de Francês (estrangeiro radicado no Brasil), [culto], 1CD
Orleáns] (Príncipe do Brasil por casamento) 56 anos.
29. Condessa de Barral [Luíza Margarida Borges de Baiana (residiu na Europa), [culta], [madura]. 1CB
Barros] (marquesa de Monserrat) e condessa Dama de honra da família real brasileira.
de Pedra Branca
30. Dario Rafael Callado Uruguaio (estrangeiro), Bacharel em Direito 1DRC
(Faculdade de Direito de São Paulo), 53 anos.
Promotor.
33. Domingos José Gonçalvez de Magalhaens Carioca. Médico (Faculdade de Medicina do Rio 1DJGM
(depois barão de Araguaia e visconde de de Janeiro), 52 anos. Escritor (Academia Brasileira
Araguaia) de Letras).
36. Doutor Antonio Ferreira Viana Gaúcho. Bacharel em Direito (Faculdade de 1AFV
Direito de São Paulo), 34 anos. Ministro.
37. Doutor Octaviano Moniz Barreto Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1OMB
Bahia), 38 anos. Senador.
120
39. Egas Moniz de Aragão [Egas Moniz Barreto Baiano (residiu na Europa). Bacharel em Direito 1EMA
de Aragão] (depois barão Muniz de Aragão) (Faculdade de Direito na Alemanha), 25 anos.
Secretário das Legações em Paris, depois,
Presidente da Câmara Municipal da Vila de São
Francisco do Conde na Bahia.
40. F.M. Alvares de Araujo [Francisco Manuel Baiana. [Engenheiro]. (Academia Militar), 49 anos. 1FMAA
Alvares de Araujo] 1º Tenente da Marinha.
41. Francisco Antonio de Sousa Queiroz (depois Paulista. (Iniciou estudos em Coimbra), 54 anos. 1FAS
barão de Sousa Queiroz) Senador.
42. Francisco de Paula de Negreiros Sayão Lobato Mineiro. Bacharel em Direito (Faculdade de 1FPNSL
(depois visconde de Sabará) Direito de São Paulo), [maduro]. Ministro.
43. Francisco José de Mattos Villela Radicado no recôncavo baiano, [Brasileiro] 1FJMV
alfabetizado, 48 anos. Senhor do Engenho
Marapé.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
documentação e outros.
44. Francisco Octaviano de Almeida Rosa Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 1FOAR
Direito de São Paulo), 38/41 anos. Ministro.
46. Guilherme S. de Capanema [Guilherme Schüch Mineiro (residiu na Europa). Bacharel em Ciências 1GSC
de Capanema] (depois barão de Capanema) Naturais e Matemática (Universidade de Viena),
44 anos. Diretor dos Telegráficos.
48. Hermenegildo d’ Albuquerque Porto carrero Pernambucano. [Engenheiro]. (Escolar Militar), 1HAPC
(depois barão do Forte de Coimbra) 48 anos. Brigadeiro.
49. Homem de Mello [Francisco Inácio Homem Paulista. Bacharel em Direito (Faculdade de 1FIHM
de Mello] (barão Homem de Mello) Direito de São Paulo), 56 anos. Ministro.
121
51. Ignacio da Costa Quintella Português (estrangeiro radicado no Brasil), 1ICQ
[Engenheiro], (Escola Militar), 63 anos. Ministro.
53. J. J. Fernandes da Cunha [Joaquim Jerônimo Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JJFC
Fernandes da Cunha] Direito de São Paulo), 33/34 anos. Senador.
54. J. J.O.Junqueira Junior [João José de Oliveira Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JJOJ
Junqueira Junior] Direito de Recife), 34 anos. Ministro.
58. João Manuel Monis Barreto Radicado em Gel, alfabetizado [maduro]. 1JMMB
Não há outras informações.
59. João Pedro Dias Vieira Maranhense. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JPDV
Direito de São Paulo), 41 anos. Senador.
60. Joaquim Nabuco [Joaquim Aurélio Barreto Pernambucano. Bacharel em Direito (inicia na 1JABNA
Nabuco de Araújo] Faculdade de Direito de São Paulo e conclui em
Recife), 37 anos. Embaixador.
61. Joaquim Pereira Marinho/visconde de Pereira Português (estrangeiro, radicado no Brasil), 1JP
Marinho alfabetizado, 47/61 anos. Comerciante.
62. Joaquim Pires Machado Portella Pernambucano. Bacharel em Direito (Faculdade 1JPMP
em Direito de Olinda), 45 anos. Diretor de
Obs.: Há um autógrafo de Joaquim Pires de Instrução Pública.
Machado Portella em um ofício para o Cônsul
da Suíça na Bahia, datado de 21/08/1872,
coleção particular de Arnold Wildberger. (cf.
Wildberger, 1949:159, grav. 154).
64. José Alfredo de Campos França Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JACF
Direito da Bahia), 31 anos. Senador.
122
Obs.: Há um autógrafo de José Augusto
Chaves em um ofício para o Cônsul da Suíça
na Bahia, datado de 01/07/1861, coleção
particular de Arnold Wildberger. (cf.
Wildberger, 1949:432, grav. 103).
66. Jose Egidio [de Moura e Albuquerque] Baiano (radicado no interior), alfabetizado 1JEMA
(depois barão de Santo Antonio da Barra) [maduro], entre 40 ou 45 anos. Proprietário rural
(Coronel da Guarda Nacional).
67. Jose Freire de Lima Baiano, alfabetizado, 64 anos. Intendente de Feira 1JFL
de Santana/Ba.
68. Jose Joaquim Fernandes Torres Mineiro. Bacharel em Direito (Universidade de 1JJFT
Coimbra). Ministro.
69. José Marcellino Pereira de Vasconcelos Capixaba, alfabetizado, 45 anos. Deputado. 1JMPV
70. José Maria da Silva da Paranhos (depois Baiano. Bacharel em Ciências Matemáticas 1JMSP
visconde do Rio Branco) (Engenharia) (Escola Militar), 41 anos. Ministro.
71. José Maria Pachecco Telle[s] Radicado no recôncavo baiano, [Brasileiro] 1JMPT
alfabetizado, [maduro]. Senhor de Engenho.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
documentação e outros.
73. Jozé da Silva Lisboa (depois barão e visconde Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JSL
de Cairu) Coimbra), 53/54 anos. Senador.
75. Leal [Felipe José Pereira Leal] Carioca. [Culto], 51 anos. Ministro 1FJPL
Plenipotenciário.
76. Luis Pedreira do Coutto Ferraz/Bom Retiro Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 1LPC
(barão do Bom Retiro, depois visconde do Direito de São Paulo), 42 anos (1ª carta) e 60 anos
Bom Retiro) (2ª carta). Ministro.
78. M. A. de Araujo [Marcos Antonio de Araújo] Mineiro. Bacharel em Direito (Faculdade de 1MAA
(depois 1° visconde de Itajubá) Direito de Olinda). Ministro Plenipotenciário.
123
79. M. F.Correia [Manoel Francisco Correia] Paraense. Bacharel em Direito (Faculdade de 1MFC
Direito de São Paulo), 30 anos. Ministro.
80. Manuel Antonio da Cruz Brilhante Português (estrangeiro radicado no Brasil), 1MAC
alfabetizado, 79 anos.
81. Marcolino [de Moura e Albuquerque] Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1MMA
Direito de Recife), 45 anos. Deputado.
82. Maria Augusta Ferrão de Argolo [Saldanha da Baiana, alfabetizada, 21 anos. 1MAFA
Gama]
83. Marques de Herval [Manuel Luís Osório] Gaúcho. Bacharel em Ciências Matemáticas 1MLO
Herval)
84. Martim [Francisco Ribeiro de Andrada 2º] Nascido na França quando do exílio do seu pai, o 1FRA
brasileiro Martim Francisco. Bacharel em Direito
Obs.: Há um documento assinado por Martim (Faculdade de Direito de São Paulo). Ministro.
Francisco Ribeiro de Andrade datado de
25/05/1867 no acervo do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA),
no qual concede o diploma de habilitação ao
Sr. Antonio Muniz Sodré de Aragão.
85. Miguel [Calmon du Pin e Almeida] (Visconde Baiano. Bacharel em Direito (Universidade de 1CDPA
de Abrantes e depois marquês de Abrantes) Direito de Coimbra), 57 anos aproximando.
Ministro Plenipotenciário.
87. N. A. Nogueira do Valle da Gama [Nicolau Mineiro. [Culto], 59 anos. Deputado. 1NANVG
Antonio Nogueira Valle da Gama] (depois
barão de Nogueira da Gama e visconde
Nogueira da Gama).
88. O. F. C [Oscar Freire [de] Carvalho] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1OFC
Bahia). Jovem. Diretor do Instituto Nina
Rodrigues.
89. Paranaguá [João Lustosa da Cunha Paranaguá] Piauense. Bacharel em Direito (Faculdade de 1JLCP
124
182).
90. Patricio Correa da Camara (depois 1° Gaúcho. Bacharel em Direito (Universidade de 1PCC
visconde de Pelotas) Coimbra), 66 anos.
91. Pedro Luis P.[ereira] de Sousa Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 1PLPS
Direito de São Paulo), 43 anos. Ministro. (PPB).
Obs.: Há um autógrafo de Pedro Luiz Pereira
de Souza em um ofício para o Cônsul da
Confederação Suíça na Bahia, datado de
13/09/1883, documento pertencente ao
arquivo do Consulado da Suíça na Bahia (cf.
Wildberger, 1949: 708, grav. 187).
92. Pinheiro [Antonio Pinheiro Canguçu] Baiano. Bacharel em Ciências Matemáticas 1APC
(Engenharia) (Escola Politécnica de Salvador),
[jovem]. Funcionário da Ferrovia Leste Brasileira.
93. Pinto Lima [Francisco Xavier Pinto Lima] Baiano. [Bacharel em Direito], [maduro]. Ministro. 1FXPL
(depois barão Pinto Lima)
95. Romualdo, Arcebispo da Bahia [Romualdo Paraense. Religioso (Convento de Santo Antonio 1RAS
Antonio de Seixas] (depois conde Santa Cruz de Belém), 53 anos. Deputado.
e 2° marquês de Santa Cruz )
96. Rozendo Aprígio Pereira Guimarães Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1RAP
Bahia), 52 anos. Professor de Farmacologia de
Medicina.
97. S. Vicente (Visconde de São Vicente e depois Paulista. Bacharel em Direito (Faculdade de 1SV
marquês de São Vicente) [José Antonio Direito de São Paulo), 66 anos. Senador.
Pimenta Bueno]
98. Salustiano [Ferreira Souto] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1SFS
Bahia), 48 anos. Deputado.
100. Severino Vieira [Severino dos Santos Vieira] Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1SSV
Direito de São Paulo), 50 anos. Ministro.
Governador.
101. Silva Lima [José Francisco da Silva Lima] Português (estrangeiro, veio para o Brasil aos 14 1SL
anos). Médico (Faculdade de Medicina da Bahia),
[maduro].
102. Speridião José da Silveira (depois 3° barão de Capixaba. Bacharel em Direito (Faculdade de 1SJS
Itapemirim) Olinda), 45 anos. Senador.
125
103. Tanajura [José de Aquino Tanajura] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1JAT
Bahia), 47/58 anos. Presidente interino da
Província da Bahia.
104. Vicente de Souza [Vicente Ferreira de Souza] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1VFS
Bahia), 31 anos. Dirigiu a liga contra a vacina
obrigatória).
105. Vigário José Telles de Meneses [Baiano]. [Brasileiro]. Religioso. [maduro]. Pároco. 1JTM
106. Virgilio Damazio [Virgilio Clímaco Damazio] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 1VCD
Bahia), 46 anos. Senador.
108. Visconde da Boa Vista [Francisco do Rego Mineiro. Bacharel em Ciências Matemáticas 1FRB
Barros] (depois conde da Boa Vista) (Engenharia) (Faculdade de Matemática, 59 anos.
Presidente da Província de Pernambuco.
109. Visconde da Torre [Antônio Joaquim Pires de Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 1AJPCA
Carvalho e Albuquerque] Direito de Olinda), 56 anos. Coronel.
110. Visconde de Abaeté [Antônio Paulino Limpo Português (estrangeiro residente no Brasil). 1VA
de Abreu] Bacharel em Direito (Universidade de Coimbra),
Obs.: Há um autógrafo do visconde de 65 anos. Ministro.
Abaeté em Sisson (1999:55).
111. Visconde de Caravellas [Carlos Carneiro Baiano. Bacharel em Direito (Universidade de 1VC
Campos] (3° visconde de Caravelas) Coimbra), 70 anos. Ministro.
112. Visconde de Olinda [Pedro de Araújo Lima] Pernambuco. Bacharel em Direito (Universidade 1VO
(depois marquês de Olinda) de Direito de Coimbra), 61 anos. Presidente do
Conselho de Ministros.
Obs.: Há um autógrafo do marquês de Olinda
em Sisson (1999:65).
113. Visconde de Paraguaçu/F. Moniz [Francisco Baiano (residiu na Europa). Diplomata (Faculdade 1VP
Muniz Barreto de Aragão] (antes barão de em Heidelberg), 53 anos (1ª carta) e 79 anos (2ª
Paraguaçu) carta). Diplomata.
114. Visconde de Sapucahy [Cândido José de Mineiro. Bacharel em Direito (Universidade de 1VS
Araújo Viana] (depois marquês de Sapucaí) Coimbra), 67 anos. Senador.
126
São 60 remetentes, a saber: 8 baianos, 1 goiano, 1 mineiro, 1 paraibano, 1 paraense, 1
pernambucano, 1 piauense, 8 cariocas, 1 potiguar e 1 sergipano, 2 brasileiros sem especificação de
naturalidade e 16 brasileiros por inferência. Constam 2 estrangeiros e 16 não identificados.
127
Tabela 2. 8 Dados sobre os remetentes de cartas da 2ª parte
Nº Nome do remetente conforme a carta Naturalidade (ou Nacionalidade), grau de Código do
(Obs.: Com indicação de assinatura comprovada escolaridade, idade e ocupação principal ou remetente
em documentos notariais) de maior destaque (cf. Catálogo de Fichas na
2ª parte do volume 2).
121. Anna [Theophila Filgueiras] Autran Baiana. [Culta], 45 anos. Escritora. 2ATFA
122. Antonio Augusto Cardoso deCastro Brasileiro (Carioca?). [Bacharel]. Secretário 2AACC
da Estrada de Ferro D. Pedro II, [maduro].
Jornalista.
123. Antonio José Marques [Secundário (Escola Normal). Professor de 2AJM
Instrução Pública.
Não há outras informações.
124. Aragão [Francisco Pires de Carvalho Aragão] [Baiano], [Nível Superior], [maduro]. 2AFPCA
Presidente e Diretor Interino da Viação e
Obras Públicas.
126. ArthurRios [Arthur César Rios] Baiano. Médico (Faculdade de Medicina da 2AR
Bahia), 56 anos. Senador.
127. Augusto da SilvaRibeiro [Augusto da Silva [Baiano], alfabetizado, [maduro]. Político do 2ASR
Ribeiro] Timbó, interior da Bahia.
128
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
critérios lingüísticos.
136. Dr. Emilio Teixeira dos Santos Imbassahy [Baiano], [Brasileiro]. [Nível Superior], 2ETSI
[maduro]. Intendente de Caravelas/Ba.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
outros critérios.
138. Dr. Joaquim Carlos Travassos Carioca. Médico (Faculdade de Medicina da 2JCT
Bahia), [maduro]. Senador.
141. FranciscoMendes darocha [Francisco Mendes da [Baiano]. [Brasileiro]. [Nível Superior], 2FMR
Rocha] [maduro]. Agente Financeiro pela “Rocha &
Richamond”.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
critérios lingüísticos e outros.
142. Geraldo Barbosa Lima [Bacharel em Direito (Faculdade?). 2GBL
129
Não há outras informações.
146. J.B. Lacerda [João Batista de Lacerda] Carioca. Médico (Faculdade de Medicina do 2JBL
Rio de Janeiro), 46 anos. Sub-Diretor do
Laboratório de Fisiologia Experimental.
147. João [Käpk ou Köpke] Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 2JK
Direito de São Paulo), 48 anos. Promotor
Público.
151. Joaquim Mendes de Souza [Brasileiro?]. Cf. ficha do remetente com inferência 2JMS
a partir de outros critérios.
Não há outras informações.
154. Jose Julio de Freitas Coutinho Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 2JJFC
Direito de Recife), 28 anos. Juiz de Direito.
156. Leão Velloso Filho [Pedro Leão Velloso Filho] Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 2LVF
Direito de Recife), 46 anos. Professor da
Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e
Sociais do Rio de Janeiro.
130
158. Leonel Rocha [Brasileiro?]. Cf. ficha do remetente com inferência 2LR
a partir de outros critérios.
159. L. de Bulhões [José Leopoldo de Bulhões Goiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 2LB
Jardim] Direito de São Paulo), 45/46 anos. Ministro.
160. Leovigildo Filgueiras [Leovigildo Ipiranga Baiano. Bacharel em Direito (Faculdade de 2LIAF
Amorim Filgueiras] Direito de Recife), 46 anos. Deputado
Federal. Fundador da Faculdade de Direito
da Bahia.
161. Luiz H.Lins deAlmeida [Luiz H. Lins de [Brasileiro]. Secretário da Gazeta Comercial e 2LHLA
Almeida] Financeira.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
outros critérios.
167. Nuno de Andrade [Nuno Ferreira de Andrade] Carioca. Médico (Faculdade de Medicina do 2NFA
Rio de Janeiro), 51 anos. Professor da
Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro.
168. Oliveira Coelho [José de Oliveira Coelho] Carioca. Bacharel em Direito (Faculdade de 2JOC
Direito de São Paulo), 49 anos. Delegado.
169. Pedro José Oliveira [Pedro José de Oliveira] Fiscal dos Inflamáveis. 2PJO
Não há outras informações.
173. Serzedello Correa [Innocêncio Serzedello Paraense. Bacharel em Ciências Físicas e 2ISC
Corrêa] Matemáticas (Escola Militar [da Praia
Vermelha]), 43 anos. Ministro.
131
174. Tobias [Monteiro] Potiguar. Médico (Faculdade de Medicina, 2TM
curso incompleto), 36 anos. Auxiliar de
Gabinete do Ministro da Fazenda.
175. Alexandre Ferreira Moreiras Monte Alegre (Ba), 26/28 anos. Comerciante. 3AFM
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de fontes
(1) Obs.: Autógrafo do remetente no livro manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
dos municípios com trecho referente ao
remetente Amaro Tavares de Macedo na
condição de Tabelião Interino.
177. Annibal Galvão de Oliveira (Coronel da Bonfim. Proprietário Rural. [Cadeira de Latim] 3AGO
Guarda Nacional) Cf. ficha do remetente com inferência a partir de critérios
lingüísticos.
178. Antero de Cirqueira Gallo Natural de Bom Conselho. 33/34 anos. Agente de 3ACG
Correios.
Obs.: Autógrafo do remetente no Livro de
Notas dos Municípios. (cf. APEBA. Seção
Judiciária. Livro de notas dos municípios
(1878 – 1888). Livro de Manuel do
Nascimento Silva. Doc. 19, ano de 1886,
p.48).
132
referente à compra de escravo (cf. APEBA.
Seção Judiciária. Livro de notas dos
municípios: Tucano (1865 – 1869). Livro de
José Raimundo Nonato. Doc. 16, documento
referente a compra de escravos, p. 15).
180. Antonio Ferreira de Brito (Tenente-Coronel Ribeira do Pombal. Intendente de Ribeira do 3AFB
da Guarda Nacional) Pombal.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de fontes
Obs.: Autógrafo do remetente em livro de manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
notas de município (cf. APEBA. Seção
Judiciária. Livro de notas dos municípios:
Jeremoabo (1875 – 1908). Livro de João
Batista de Souza. Doc. nº 14. p. 22).
181. Antonio Lourenço [de Carvalho] (Coronel da Jeremoabo. Intendente em Jeremoabo. 3ALC
Guarda Nacional) Cf. ficha do remetente com inferência a partir de fontes
manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
Obs.: Autógrafos de Antonio Lourenço de
Carvalho em livros de notas dos municípios.
Jeremoabo (cf. APEBA. Seção Judiciária.
Livro de notas dos municípios; Jeremoabo
(1873 – 1880). Livro de Trajano José de
Carvalho. Doc. nº 13, ano de 1875, p. 84;
APEBA. Seção Judiciária. Livro de notas dos
municípios. Jeremoabo (1890 – 1896). Livro
de Porfírio da Costa Borges. Doc. nº 18,
p.19 e APEBA. Seção Judiciária. Livro de
notas dos municípios: Jeremoabo (1873 –
1880). Doc. nº 13, p. 95).
182. Augusto da Silva Ribeiro Ponta da Mato (Itapicuru). Político local. 3ASR
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de fontes
manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
185. Caetano Mauricio Rodriguez [Baiano]. Professor de primeiras letras (Escola 3CMR
(Capitão da Guarda Nacional) Normal).
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de fontes
Obs.: Autógrafo de Caetano Maurício manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
Rodrigues, (cf. APEBA. Procuração do
133
Professor Caetano Mauricio Rodrigues
(1876), p. 75, 110).
186. Domingos Victor de Jesuz [Baiano]. Vaqueiro em atividade na Fazenda São 3DVJ
José.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de outros
aspectos.
Obs.: Autógrafo de Francisco Ferreira de Brito Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
(cf. APEBA. Livro de notas dos municípios: fontes manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
Itapicurú (1878 – 1889). Livro de João Antonio
Hermenegildo dos Santos, p.101 e APEBA. Seção
Judiciária. Livro de notas dos municípios:
Itapicuru (1875 – 1878). Livro do tabelionato de
José de Faria Góes. Doc. 26, ano de 1877, p. 110,
onde assina como testemunha de Boaventura da
Silva Caldas).
190. Gustavo de Caldas Britto Santa Rita do Rio Preto. Intendente. 3GCB
(Tenente da Guarda Nacional) Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
critérios lingüísticos.
134
Manuel Cardoso Varjão. Doc. nº 19).
196. João Moreira [de Matos] (Tenente Coronel da Itapicuru. Juiz de Paz em Itapicuru. 3JMM
Guarda Nacional) Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
fontes manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
Obs.: Autógrafo do remetente em livros de notas
(cf. APEBA. Seção do Judiciário. Livro de notas
dos municípios: Itapicuru. Livro de João Antonio
Hermenegildo dos Santos (1878 – 1889), 53).
200. Jose Americo [Camelo de Souza Velho] (Coronel Fazenda Ilha (atual Euclides da Cunha), 55 e 3JACSV
da Guarda Nacional). 58 anos. Proprietário rural.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
fontes manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
135
outros aspectos.
136
Tucano (1879 – 1886). Livro de Manuel do
Nascimento Silva. Doc. 21, 1879, p. 5, 22).
210. Mariana Cordeiro [da Silva] Miranda (esposa de Tucano. Professora de primeiras letras em 3MCSM
Marcelino Perreira de Miranda). Patrocínio do Coité.
Cf. ficha da remetente com inferência a partir de
Obs.: Autógrafo da remetente em livros de vários outros aspectos.
documentos: (cf. APEBA. Seção Judiciária. Livro
de notas dos municípios: Tucano (1887 – 1888).
Livro de Manuel do Nascimento Silva. Doc 23 p.
22 e APEBA. Seção Judiciária. Livro de notas dos
municípios: Paripiranga (1880 – 1881). Livro de
João Luis dos Santos Baptista. Doc. 3, p. 19) e
APEBA. Seção Judiciária - Livro de notas dos
municípios: Tucano (1878 – 1888). Livro de
Manuel do Nascimento Silva. Doc. nº 19, p. 52.
Obs.: assina como testemunha Quintino José
Gallo; (cf. APEBA. Seção Judiciária. Livro de
notas dos Municípios: Paripiranga (1880 – 1881).
Livro de João Luis dos Santos Baptista. Doc. 3, p.
19. Obs: com autógrafo); (cf. APEBA. Seção
Judiciária. Livro de notas dos municípios: Tucano
(1878 – 1888). Livro de Manuel do Nascimento
Silva. Doc. nº 19, p. 52. Obs: assina como
testemunha Quintino José Gallo).
211. Octavio [de Souza Leite] Itapicuru. Coletor de Rendas Provinciais. 3OSL
(Coronel da Guarda Nacional) Senhor de Engenho.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
Obs.: Há um autógrafo no livro de notas de fontes manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
municípios (cf. APEBA. Seção Judiciária. Livro de
notas dos municípios: Itapicuru (1878 – 1889).
Livro de João Antonio Hermenegildo dos Santos,
ano de 1883, p.115 e APEBA. Seção Judiciária.
Livro de notas dos municípios: Itapicuru (1878 –
1889). Livro de João Antonio Hermenegildo dos
Santos, p. 6, 7). Processo crime. Série lesões
corporais, 1873, nº 08/282/24.
137
Silva. Doc. nº 19, p. 52.).
214. Severo Correia de Souza Bom Conselho (atual Cícero Dantas). 3SCS
(Tenente da Guarda Nacional) Proprietário rural.
Cf. ficha do remetente com inferência a partir de
Obs.: Autógrafo do remetente no livro de notas fontes manuscritas em arquivos sobre posse de terra.
do município: (cf. APEBA: Seção Judiciária. Livro
de Notas dos Municípios: Cícero Dantas (Bom
Conselho) (1879-1884). Livro de Pedro Augusto
César. Doc. nº 1, p.71.
138
2.1.2.2. Data de nascimento dos remetentes
A comparação dos remetentes com outros autores, tanto brasileiros quanto portugueses
nascidos no mesmo período, poderá também trazer resultados importantes para o esclarecimento
sobre a gramática do português brasileiro. Também, a partir da data de nascimento e do cruzamento
com a data de escrita da carta, foi possível identificar a idade de parte dos remetentes. A idade média
variou entre 13 e 65 anos107.
O capítulo seguinte tratará da descrição dos dados no geral, denominado “Cartas Brasileiras”
(CB). Na 3ª parte, faço uma nova descrição através de uma subdivisão da amostra, tendo por base,
variantes geográficas (costa/interior) e variantes sociais (culto/semi-culto).
106 Data de nascimento do remetente mais jovem, o menino Potâmio [Américo de Souza] de 13 anos.
107 Essas idades foram agrupadas ainda em três faixas etárias: (1). 13- 35 anos. 13 é a idade do remetente mais jovem, o
afilhado do barão de Jeremoabo, Potâmio [Américo de Souza]; (2). 36 – 60 anos e (3). 61 anos em diante.
139
140
3
A colocação dos pronomes em orações simples finitas
e em grupos verbais: variação em “Cartas Brasileiras”
O objetivo deste capítulo é o estudo da colocação dos clíticos em orações finitas com verbo
único e em orações com grupos verbais nos documentos editados no volume 2. Trata-se de 3.196
itens subdivididos por partes de documentos: 1ª parte, 1055, 2ª parte, 733 e 3ª parte, 1.408.
O capítulo está organizado como segue. Em 3.1, faço uma descrição preliminar dos tipos de
clíticos com o objetivo de avaliar a freqüência e a atuação de cada um no processo de colocação.
Nesse item, serão estabelecidos contrastes com estudos do português europeu (cf. Galves, 2001) e
do português brasileiro (cf. Monteiro, 1992; Abaurre e Galves, 1996, entre outros).
No item seguinte, 3.2, trato da classificação de todas as ocorrências por tipos de oração
(3.2.1), cuja variação geral me levou a fazer uma divisão inicial entre aquelas com prevalência para
a ênclise (3.2.1.1) e aquelas com prevalência para a próclise (3.2.4).
Diferentemente do que ocorreu com o português europeu moderno em que a próclise e a
ênclise caminharam para uma distribuição complementar em orações finitas (3.2.1.2), o português
brasileiro que aparece em CB apresenta variação, indistintamente. A subclassificação dessas orações
parte das condições que separam contextos variáveis e não variáveis na história do português
europeu, especificamente entre o século 16-19. Julguei procedente ter como parâmetro de
comparação dois momentos distintos do português europeu, o período que corresponde a sua fase
clássica e o período de mudança que viria a se configurar no chamado português europeu moderno.
O objetivo é identificar construções com clíticos não compatíveis com a gramática do português
europeu e mostrar em que medida podem ser atribuídas ao português brasileiro. Nas orações com
prevalência para a ênclise, separo dois ambientes distintos: o primeiro, o verbo em posição inicial
absoluta (3.2.1.1.1), como visto, a próclise nessa estrutura caracteriza uma importante inovação
brasileira. O segundo é o denominado contexto de variação I nos estudos de GBPS (2005),
baseados nos dados de CTB, a saber: orações raízes declarativas afirmativas, principais, com verbo
em segunda posição antecedido por sujeitos neutros, sintagmas preposicionais e advérbios não
modais (3.2.1.2.2). Nessas orações, há também um contexto de próclise categórica. Trata-se das
construções com o verbo precedido pelos chamados “atratores”: quantificadores, focalizadores e
141
advérbios modais, entre outros. Também, nessas estruturas, pode ocorrer variação em CB (3.2.1.4).
Além do contexto de variação I, GBPS (2005) estabelecem um segundo contexto de variação, o
chamado contexto de variação II com verbo em posição inicial em segunda coordenada e verbo
precedido de orações dependentes, onde atuam aspectos prosódicos (3.2.1.3). Como já dito, salvo
alguns casos de variação marginal em dependentes na história do português europeu, a próclise é
categórica nas orações negativas (3.2.4.1), orações com sintagma-Q (3.2.4.2) e em orações
interrogativas diversas (3.2.4.3). Em (3.2.4.4) as expressões fixas e em (3.2.5), as orações
coordenadas ou subordinadas com “porque”.
Depois da descrição global das orações com verbos simples finitos, os mesmos dados são
submetidos a um estudo longitudinal a partir da data de nascimento de seus autores. Essa fase, além
da relevância por reavaliar os dados em uma perspectiva histórica, tendo como objeto de estudo a
mudança na colocação dos clíticos, serve de suporte para um estudo comparativo inédito (3.3.6)
com os estudos diacrônicos do português europeu a partir de GBPS (2005) do português brasileiro,
com Pagotto (1992). A variação diacrônica e as implicações para a gramática do português brasileiro
(3.3.6.1), primeiro, nas construções com verbo em posição inicial absoluta (3.3.6.1.1) e depois no
contexto de variação I (3.3.6.1.2) e no contexto de variação II (3.3.6.1.3).
As orações com grupos verbais são descritos em (3.4), elevação e não elevação de clíticos nos
verbos auxiliares, modais e volitivos, causativos e perceptivos, verbos em construções passivas e
verbos seguidos de preposição. Esses mesmos dados são analisados por data de nascimento e por
data de produção. Depois são vistos a partir da data de nascimento, especificamente sobre a perda
de elevação e as construções de próclise ao verbo não finito (V cl-V). Em separado alguns casos de
interpolação em (3.5).
Através da comparação com GBPS (2005) e Pagotto (1992), no item descrito acima (3.3.6)
foi possível identificar em CB, três gramáticas em competição com relação à colocação dos clíticos,
como hipotetizado na introdução: i. construções equivalentes ao português clássico; ii. construções
em que fica evidenciado o reflexo das mudanças em direção ao português europeu moderno e iii.
construções do português brasileiro. Os dados de grupos verbais nas estruturas V cl-V mostram, de
de forma inequívoca, a atuação da gramática brasileira.
Por fim, a conclusão do capítulo e da segunda parte (3.6). Essa mesma metodologia será a
aplicada no capítulo 6, onde submento os dados globais de CB a uma divisão por amostras: cartas da
costa produzidas por indivíduos cultos e cartas do interior produzidas por indivíduos não cultos
com suporte na caracterização dos documentos feita nos capítulos 4 e 5.
142
Os excertos a seguir ilustram a documentação no volume 2, base da descrição e denominada
de “Cartas Brasileiras” ou CB, como dito.
143
3.1 Descrição preliminar
3.1.1 Mudanças no sistema pronominal
Neste item, mostro alguns exemplos ilustrativos da variação observada em CB com relação à
colocação dos clíticos e às mudanças no sistema pronominal, como forma de melhor interpretar o
item que descreve os tipos de clíticos adiante.
Começo pelo significativo exemplo de dupla colocação pronominal (3.1a, 3.1b e 3.1c).
Depois apresento pequenos e sugestivos aspectos gráficos. Esses exemplos foram extraídos das
cartas de Quintino José Gallo, baiano de Tucano, nascido em 1818, que escreve ao barão de
Jeremoabo aos 78 anos. Também a reduplicação clítica de pronome que aparece em (3.1d) consta na
carta de remetente e primo do barão de Jeremoabo, Benício Penalva de Faria, sertanejo baiano,
nascido em 16/05/1847.
(3.1)
a. P.S. se lhe for po çi|vel mande me nomiar me|1° Juis de Paz| carta 476
b. Homtem 22 paçou o dia imvernado| e a 6 horas da tar[de] fexou omundo e ras-|gose as nuves que
só parecia que o mundo queria| 2r. queria se arasar xouveio108 forte the depois| de 8 horas das 10 im
diante tornou a pegar| ainda mais groça athe madrogada as| aguas zuava que parecia omar aqui|
esbaro por hoje o mais para amaham hia me|esqueçendome digame alguma Coisa| sobre o mento
da Agencia, vou conclu-|ir, as chuvas segundo as noticias de hoje| forão geral. e depois que vim delá
devido| uma grande trovoada que tomei em caminho não ti-|vi saude perfeita um grande de Fluço
porem| sempre apé; carta 488
c. apareçeo aqui o Diario da| Bahia de 10 publicando uma Eleição que| sevirificoçe ser a do João
Ramos|1v.Ramos, emtão, [emtão] o João digo o Doutor| Thotonio pacou adiser que eu prendia-|
Eleição delle, e que por isso hé a outro foi plu-|blicado e creio trata de minha deminção segun-|do
diseme, emtão eu logo que sube oficiei| para Bahia igegindo109 os ricibos dos officios os quaes| meveio
as mão e com eles me justificei-| elle Thotonio não mandou a Eleição para| villa nova faser a
aporação, eu não me-| emvolvo nos negocios delles estou só| apreciando de fora e conhecendo o|
lado que está com cinciridade para seo lado| só sei lhe diser que aqui tem quem lhe atrecoi110.|carta 488
d. “Jornal de Noticias” de 19, procure|lhe, e veja em que prettesto se pegou-|lhe para provar sua
passagem,| ou aliáz, para provar o seu proce-|dimento já por demais conhecido.| carta 387
144
E aqui as hifienizações que podem ser indicativas da direção da cliticização, com em (3.2a)111.
Embora não trate especificamente desse tópico, essa questão gráfica das hifienizações, ou o fato do
clítico e verbo se apresentarem com uma única palavra como em (3.2b e 3.2c)112 e (3.2d)113, indica
que os remetentes têm percepção da relação entre o clítico e o verbo. Isso é importante, sobretudo,
nos casos de próclise.
(3.2)
a. Dezejando á Vossa Excelencia saúde, e ventu=|ras passo á sollicitar com instancia que me-| empregue
no seu serviço, pois sempre me – acha|rá prompto por ser| carta 1
b. Homtem 22 paçou o dia imvernado| e a 6 horas da tar[de] fexou omundo e ras-|gose as nuves que
só parecia que o mundo queria|2r.queria se arasar xouveio114 forte the depois| de 8 horas das 10 im
diante tornou a pegar| ainda mais groça athe madrogada as| aguas zuava que parecia omar aqui|
esbaro por hoje o mais para amaham hia me| esqueçendome digame alguma Coisa| sobre o mento da
Agencia, vou conclu-|ir, as chuvas segundo as noticias de hoje| forão geral. e depois que vim delá
devido| uma grande trovoada que tomei em caminho não ti-|vi saude perfeita um grande de Fluço
porem| sempre apé; Temho mevisto a falta dere-|cruço pois athe opoco que me sobra dos selos que
ven|do não me mandão pagar Deos guarde o Dr.|visitas aos Doutores e aminha Comadre do Seo
Compadre|Amigo e muito obrigado| carta 488
(i) Na-| falta do Sabino fiquei com-|pletamente sozinho, porque o Prezidente| do Conselho não ajuda, sinão e|
unicamente com a-a signatu-|ra; para tal trabalho tem me-|auxiliado Jose Ramos, que o tenho|2r. utilizado muito. carta
461
(ii) No dia 18 as 6 horas da tarde me-| foi intregue sua presada carta| de 13 deste, e no mesmo envolu-|cro vierão
diversas, que entreguei| a seus donos, sendo algumas in-|tregues no mesmo dia 18, e outras| no dia 19. carta 370
(iii) Outro sim, sei do meo com-|promisso que ja tenho comsigo, tenho percurado me-|us recurços daqui, daculá, e que
hoje estou rezolvi-|do imcomodado, não tenho geito, para vêr siassim| posso trevessar oresto destacruz; tendo nós
imverno| Deus sendo cervido, sei que Vossa Excelentissima (pois assim me disse) não| adianta mais dinheiro avaqueiro quem
todavia ainda mesmo assim| miatrevo, e comfio em sua generozidade que há de-| miauxiliar no seguinte sentido. carta
445
(iv) Quer me-|paricer que o Dr. Fraga não| acceita, e neste cazo se o candi-|dato for pessôa desconhecida no-|
districto haverá probabelidade de| entrar no 2. escrutinio, eneste| cazo com qual dos 2 liberaes, qu-|1v. qual será
oprocedimento ao elemen-|to de nosso amigo Dr. M. Mou|ra no cazo do 2.º escrutinio cor|rer entre o conservador eo
Dr.| Spinola: rogo-lhe de me dizer| sem demora o que pensa – com| bastante franqueza.| carta 121
(v) Remeto-lhe pelo| compadre Manoel os recibos, ficando a-|inda o ultimo de 271$ que tomou| por conta d’elle, para
conclusão do ser-|viço em 10 do corrente hoje findo. Conti-|nua a secca, e os prejuisos, não sabe-|mos the quando
Deos de nos-castigar,| se compadecerá. carta 469
145
c. Muito tenho medado com o Tenente e continuo elle| me dice que lhe presa e que meo compadre
he| muito Amigo do Padrinho e tio delle que| mora na esplanada. carta 485
d. Não fosse merecedor, mas|como aeleição estava perto que| meprestaria aesta depois| que lhevisse
por que não sei| seo ceo ricentimento he deforma| que eu oacompanho em [to]|do centido Digame
como ver|dadeiro amigo com franque|za pois ja tenho lhedito que so V. eso| V. emais ninguem.
Apareço| breve elhe trazer odinheiro do Mel|quides pois não oaxei nas canas| esim navarzia Salgada|
carta 403
No exemplo (3.3), há a sugestiva inserção posterior <-> do clítico115 feita pelo vaqueiro João
Vieira de Andrade.
(3.3)
He oportador daprisente o Alipe| lí contara deminha vida sobre| otrabalho dagrande peleija em-|que
<mi> vivo por rasão da grande ceca| carta 431
- Segunda pessoa
Substituição do lhe pela forma preposicionada a/para vosmicê
(3.4) A vosmicê
a. Saudades áos Amigos_ Rogo a Vosmice| me mande o Subsidio, se o|tiver entrado.|116 carta 9
c. Já escrevi aVosmice, e lhe dei parte de| ter vendido a sua parelha de Cavalos por 300$000 Reis para
o| Marquez deSanto Amaro, tomei esta resolução, meditando nas ava-|rias, á que são sugeitos os
folegos. carta 13
146
d. O meu maior prazer é que Vosmice minha| Madrinha e todos de nossa Familia tenhão| sempre
gosado perfeita saude e filicidades| aceitando com todas minhas vistas de Xiquinha eas nossas que
até apresenta| Vosmice ao Dr. vamos passando sem maiores novidades.| carta 119
e. O nosso distinto amigo Senhor| Tenente Coronel Carlos da Cunha Peixoto pediu-me| para dirigir
esta carta a Vosmice, para por seu inter|medio remetter lhe os Titulos da Fazenda Pey|auhý, que elle
comprou enmão do nosso finado| Pai ou do Finado Jesuino eos Irmãos este| amigo tem grande
percizão] para| saber das demarcações da referida Fazenda,| por tanto pesso a Vosmice mandar os
titulos| se estivér em seu puder ou então procu|1v.rár em mão dos filhos do finado Je|suino e
remetterme pelo proprio que ca| vai a este porem, incluso essa escritura| tambem uma procuração
para Vosmice| requerér por mim ao Senhor Dr. Juiz| de Direito da Comarca, os meus direitos de|
Eleitór como tal ahi fui qualificado| e fazêr oque mais for nessessario o tal| respeito carta 119
f. Acabo| de receber cartas da Bahia que disem| estar os Deputados descontentes| com o
Governador por isso o que| a eleissão será alterada ou demiti-|do o Governador. Eu não serei|
despretijiado com a derrotta e| sem a Deputacão que a minha re|velia apresentarão o meu nome|
Em vista do que expus a Vosmice|carta 125
g. Porem a liberdade de apresentar a| Vosmice e aos nossos parentes e amigos como| candidato na
proxima eleição para De|putados provinciais o Dr. Manoel| José dos Reis, que acaba de ser
depu|3r.tado na legislatura que findou-se| por esta capital, onde reside e é advo|gado. O lima
Rodrigues – [...]117-|acha que não podemos mais fazer| um deputado provincial, e havemos| de
mostrar-lhe que fazemos no| primeiro escrutinio.| Vosmice escreve a elle e aos novos| amigos,
pedindo-lhes que escrevão| tambem para Monte=Alto. carta 126
h. Sua Tia fica vigorosa, e os meninos de Petro-|polis em boa saude: todos se recomendão
affectuosamente| a Vosmice á Emilia, e as meninas, e á todos os nossos.| carta 16
i. Hontem depois de já ter deitado na cai|xa uma carta para V., ao meio dia| recebi um chamado do
Doutor Ribeiro-| dos Santos, e como estav[a]118 o almoço na| meza, fui primeiro almoçar e lo-|go
depois, quando já estava prompto| para sahir veio o criado novamente| chamar-me; segui immediata-
|mente, e alli chegando encontrei| com [com] o Doutor Ribeiro e Bahia;| perguntarão-me elles qual o
meio| mais facil de lhe dar um aviso| urgente,| respondi que telegraphan-|do para o Timbó,
responderão-me| que não éra possivel ser-lhe trans-|mittido este aviso pelo telegrapho| que dependia
do maior sigilio;| carta 381
- Terceira pessoa
117 Ilegível.
118 Rasgado.
147
a. Agora| digame onde le procurava| V. em suas fazendas apello| para o Martinho que inda
Sa|bado nos vimos eoque man|dei dizer por elle antes da ul-|tima eleição que V. mandasse| a lista
dei aelle on° de 500| eleitores eque V. dividisse| com seos candidatos fizece| logo a distribuição
pois não| fis posso fazer mande os nomes| e divida on° assino tudo|carta 404
b. Recebi sua carta selada on-|tem que respondo, o Profirio| ainda não veio porem deixou| o
cavalo eu ainda não ovi porem di|semme que he muito bom e do 2º man|do e grande em comenda
esta| que V. fes aelle atras emos porem| logo que xegue elle vai escrevi119 para| [...]120 [...]121aelle não
pode demorar| carta 405
c. Peço para elle uma|2r. recommendacão á| algum advogado amigo| seu nesta Capital, onde| elle
possa praticar me-|diante mesmo um| pequeno ordenado.| carta 230
B. Modificações no acusativo
- Segunda pessoa122
(3.7) Vosmicê
Desejo que esta emcontre Vosmice| gosando perfeita saude, e| assim minha Tia Primos, e Pri-
|mas. carta 124
- Terceira Pessoa
(3.8) Ela
a. Estou achando ella| muito abatida e fraca muito du|ente. apezar d’emeanima=|rem eu ja perdi toda
espe-|rança, seja tudo pelo amor| de Deus elle me acuda.| carta 426
b. que estando| meos filhos e genro na Roça quando meu| irmão chega lá de siguida para a casa|
honde elle vivi, com uma criacão de| cabra uma banda levava dentro| de uma capanga grande q’elle
tem,| e foi da-lha, o troco de litros di| milho; e não fátúro Outros factos| por ter vergonha; pergunte a
elle| odia que eu encomtrei elle pega=|do com o filho Manoel; em um to=|matoma, de Ovelhas;
quem, tomou; quem,| pegou; quem, comeu; e quem furtou; per-|gunte aelle; enquanto ao Coronel Passo
e| verdade que pegou 4 resis gado que| por direicto sagrado pertencia| pertencerá aminha Mai,
como|2r. já tentei provár e não decha-|ru de tentár, pois tenho provas de| Canudo; por pessoa que lá
ocorre também no espanhol (cf. Lapesa, 1993). O lhe com verbos que exigem argumentos diretos tem sido atribuído à
ambigüidade para a 3a pessoa> a ele. Segundo Câmara Jr. (1975), o lhe ao tornar-se uma forma sintática invariável, à
maneira dos nomes e demonstrativos, pôde ser empregado em todos os casos, mesmo no acusativo no lugar vazio que
viria a ser deixado pelo clítico o. A perda total do acusativo o e suas variantes no português brasileiro contemporâneo,
além da transmutação do lhe para a 3ª pessoa ouvinte, me viu, te viu, lhe viu, foi atribuída pelo autor, às mudanças no
sistema pronominal brasileiro.
148
esteve e viu| amorte dos filho do Déá e este| inda sobrevivio nove dias prezo| por isso eu não timia
aprocesso que| oPasso tentou; Sinto foi eu não| as ter vindido, forão esparamado| na istrada;
pergunte as seo vaqueiro| novo quantos cabritos engeitados recebeo| que eu n’este recinto mais| logo
terei alguma couza adizér;| oconego Agripino retirou as delle por| que só Parião para engeitár;|carta
444
(3.9) Lhe
a. Não tenho tempo de escrever ao| Vigario Jaime que fomos colegas| e que bem me podia servir Si
meu| Tio ver que elle me possa servir| escreverei a elle Adeus abrassa-lhe| com saudades -| Seu
Sobrinho Amigo do Coraçam| José Egidio.|carta 125
b. Eu continuo emcomodado e sua| comadre tão bem sofrendo, os meninos| bons, que todos
visitamos-lhes.|carta 467
c. Hontem tive uma comferencia com o Mi-|randaque muito não tinha senão pacageira123| por o achava
muito emgorfado com povo| do Thotonio, agora já o acho tão bem| descomfiado, ainda temos mas
coisas| isso é de minha descomfiança isso fica para mais| adiante se eu virificar o que descomfio,|
lenbrese que seo velho compadre não lhe| atracôa124|carta 487
d. segun-|do diseme, emtão eu logo que sube oficiei| para Bahia igegindo125 os ricibos dos officios os
quaes| meveio as mão e Com eles me justificei-| elle Thotonio não mandou a Eleição para| villa nova
faser a aporação, eu não me-| emvolvo nos negocios delles estou só| apreciando de fora e conhecendo
o| lado que está com cinciridade para seo lado| só sei lhe diser que aqui tem quem lhe atrecoi126.|carta
488
a. Assim pois, caso V. queira fazer me| o obsequio de remover estas novas| difficuldades, peço-lhe que
promova| uma solução para esta situação| pelos meios ao seo alcance,| e me communique por|
telegramma.Com fran-||2v.quesa lhe digo que o meo desejo| é verdes lindado esse assumpto| sem demora
e seja de que forma| fôr afim de poder orientar a minha| vida. carta 301
149
d. Naquela primeira diz-me voce não res-|pondeu suas cartas por me ter| esquecido de vocês: o que tal|
não é; e pior[...]127 por offencia, pois só lhe| tributo seria amizade e a todos| os seos. carta 432
e. Já deve ter Vosmicê recebido telegramma meu sobre a ida| ahi do meu amigo Dr. Borges Vieira, que
lhe apresento agora.|carta 173
f. Em consequencia da Presada carta de| Vossa Excelência, de ontem, na qual exije que| eu lhe declare,
quem na auzen-|cia do finado Pai de Vossa Excelência o Excelentissimo| Senhor Barão da Cajahiba, se
dirijio| sempre sua Caza. carta 116
i. Náo pude| como V. pediume, e eu pretendi,| pagar seo dinheiro athe o fim do anno;| e mesmo ainda
náo o tinha hoje| toudo pronto; porem avista de náo| de morar, remeto lhe por meo ir|máo (700$000)
sete centos mil reis,| e peço lhe por dizerme quanto resto.|carta 338
j. Presado compadre e amigo Senhor Barão.|Bahia 5 de Janeiro de 1900.|A melhor saude ao lado de todos
os| entes que lhe são charos, muito esti-|mo, aureolada de todas as felicidades| e aceitando nossas
vizitas.129|Por intermedio do Senhor Au-|gusto da Silva Ribeiro lhe escre-|vi, remettendo-lhe a “Bahia” do
“Jor-|nal de Noticias” de 2 para lhe ir| adiantando noticias da eleição,| de accordo com o seo pedido, e|
não mandei mais nenhu-|ma gasêta por falta de portador| para o Timbó, e mesmo; o correio- de
Domingo, é provavel levar sem| correspondencia. carta 391
l. Prezado Amigo Barão de Geremoabo|Tenho prezente sua prezada carta de| 16 de Dezembro ultimo, e
agradeço-lhe| os pezames que nos dá pelo passamento| de meu parente e nosso prezado Amigo
Onofre.| A viuva chama-se Candida Galdino| d’Andrade.|Depois da eleição estadual lhe| escrevi
commonicando o rezultado,| se não recebeu é por|que foi extravia-|da, recebendo sua carta na mesma|
semana da eleição, nada podia a-|diantar, accertei o terço.|carta 442
a. Diga áo nosso Telles que tome esta| como sua, eu escrevi lhe hua carta de empenho, obrigado| pelas
formulas deste mundo, e elle desempenhe como custuma.| ADeus. carta 13
b. Se for, como desejo, falsa aquella| noticia, entende te com elle e pede lhe| que me desculpe, porque a
minha intenção| he somente não perder tempo.|carta 49
d. Nada sei de novo. Mande entregar a Iaya Carminha| a inclusa logo, faço á ella hua encomenda, e
Vosmice lhe dará| o dinheiro preciso, segundo ella dicer, como á ella mesmo digo. carta 13
e. Rogo te que mostres estas| cartas a teus collegas, porque nada| lhes escrevo sobre estas coisas de|
guerra. |carta 52
f. Si o vires,| peço te que lhe digas que eu espero que elle não| passará por Turim sem ver o antigo
amigo do| Senhor de Itaborahy.|carta 80
127 Rasurado.
128 Por “tranquilidade”.
129 Borrado.
150
g. Elle conta muito com V; pois| lhe tenho assegurado quanto V. o| estima, alem do q’ue elle sabe das|
finesas de V. recebidas.| carta 309
a. Achei justo o| que VossaExcelência disse sobre a| Colectoria para o Zeze em| vista do que tenho
procu|rado outro Amigo, e nem| um tenho encontrado que| possa prestar a fianca,| ainda vou ver se
con|venco a um Amigo, e a|vizarei a VossaExcelência já|2v. chegou a nosso Amigo o| Alferes Sepulveda.|
carta 496
b. A anna veio hontem aqui pedir-me| 10.000 reis imprestado, disendo-me que V.| e os meninos lhe havião
dito, que eu ti-|nha ordem de dar-lhe algum dinheiro| de que fosse necessitando, más como não ti-|ve essa
ordem sua, nem de seus filhos, dei-|xei de satisfazer o pedido d’ella. [a ordem] carta 367
(3.13)
a. Si preocupações e affaseres| quanto distrahem a gente| desses deveres, que se pode| adiar – Sergipe
me tem feito| este anno resumir enorme-|mente a minha correspondencia.| carta 281
b. Estes senhores que se collocarão chefes,| xingando a Gente não vão bem, muitos homens| do
centro não crêem no que escreve a Gazeta| eu mesmo que me prezo de não <ser> dos piores sol-
|dados, com franquesa digo a Vossa Excelência que não confie| nos actuaes generaes e como eu muitos
assim| pensão: o Sr. de Guahy nem mais quer ser can-|didato a deputado geral, vai se guardar|2v. como
fês o Conselheiro Franco para somente pretender o| Senado, entretanto que elle mesmo foi quem mais|
concorreo para dismoralisação do partido [pro]tegendo| aos Durvais Covas e seo rancho, faltando [aos]
pe-|didos que lhe fasião os correligionarios não para| seo proveito, mas para ben do partido.| carta 412
151
3.1.2 Tipos de clíticos
A tabela 3.1 mostra a distribuição e a quantificação dos clíticos em CB. Na tabela 3.2 são
estabelecidos alguns paralelos com o sistema de pronomes do português europeu com base em
Galves (2001 [1994]) e do português brasileiro contemporâneo com Abaurre e Galves (1996) e
Monteiro (1994 [1991]:196), entre outros.
152
Tabela 3.2 Dados comparativos dos tipos de clíticos: CB; Monteiro (1991); Abaurre e Galves (1996)
e Galves (2001)
Tipo de clíticos Século 19 Português brasileiro Português
contemporâneo europeu
moderno
CB Monteiro (1994 Abaurre e Galves Galves
[1991]:196) (1996) (2001)
me 1173 519 48 30
36,70% 26,0% 27,9% 16,8%
te 104 12 3 2
3,25% 0,6 1,7% 1,1%
nos 100 86 5 16
3,12% 4,3% 3,0% 9,0%
vos 52 - - 2
1,70% 1,1%
lhe130 626 47 1 28
19,58% 2,3% 0,60% 15,6%
o/a 340 73 10 19
10,60% 3,6% 5,8% 10,6%
se 764 1.266 105 82
23,90% 63,2% 61,0% 45,8%
Grupos clíticos 37 - - -
1,15%
Total Geral 3.196 2003 172 179
O clítico ME
Chama a atenção o grande número de clíticos me, mas isso pode ser explicado pelo tipo de
documentos, cartas, que favorece o uso da 1ª pessoa do singular.
(3.14)
a. Assegurão-me que o Juis de Orfãos do Termo| do Rio pede sua demissão. carta 96
b. O Terencinho está em casa do| Pai na Estação do Sitio do Meio, posso| lhe garantir, por que no dia
20 quando| fui ao Timbó embarquei-me com o Pai| d’elle e este disse-me estar elle em casa,| e na
minha volta no dia 22, o vi na ja-|nella e disse-lhe adeos, mesmo do trem.| carta 382
c. Eu me reservo para com| a vista conversarmos sobre| este negocio, que é longo e| vem de longe,
pois devemos| isto a afamada politica dos| governadores, inaugurado| 2r. pelo illustre cidadão, que
vae| deixar o governo a 15 de novem-|bro proximo. carta 281
153
d. Este Minis|tro veio foi garantir ao Vian-|na, e é tão serto que o filho do Lei|tão disse na Serrinha
que elle vi-|nha garantir o Vianna|3r.E demitir o Oscar, e que o Pai| ia com o marechal para Ca-
|nudos: mas depois que o| tal marechal chegou| me a Queimadas e Monte Santo,| conhecendo a
força que o Os|car tinha com ás forças,| caio dos quartos e então fi-|cou em Monte Santo. carta 435
O clítico TE
O percentual do clítico te é de 3,25%. Embora baixo, fica apenas acima do clítico vos e dos
grupos clíticos com 1,15%, e dos índices encontrados no português contemporâneo, 0,6% (cf,
Monteiro 1994 [1991]) e 1,7% (cf. Abaurre e Galves, 1996) e do português europeu moderno, 1,1%
(cf. Galves, 2001). Nos dados de Chociay (2003) em seu estudo sobre a história do português
europeu, baseado no CTB, esse clítico aparece como um dos menos usados, 22/2390.
Por outro lado, seria interessante verificar se tais construções em CB apresentam a flexão
verbal correspondente, uma vez que há no português brasileiro contemporâneo um sincretismo com
a entrada de você que utiliza as formas verbais de 3ª pessoa (cf. entre outros, Duarte, 1993). Em CB,
como visto, anteriormente, há modificações do dativo, exemplos anteriores (3.4) e (3.5) e você na
função de acusativo exemplo (3.7).
(3.15)
a. Pesso-te muito que o procures, eque cultives sua boa e prestante amizade. Que saudades nos causa
elle a todos os Brasileiros, que o amava-mos pela| sua pessôa, e respeitavamos por suas qualidades!
carta 32
b. Houtrora te escrevi sobre o pedido| feito pelo Osorio de roupa de inverno no| Rocha Faria. carta
56
O clítico NOS
Quanto ao uso de nos, não há diferenças significativas entre o número de clíticos em CB,
3,12% e o português brasileiro contemporâneo, 4,3% (cf. Monteiro (1994 [1991]:196)) e 3,0% (cf.
Abaurre e Galves, 1996). No português europeu, esse índice é maior, 9%.
(3.16)
154
b. O nosso distincto| amigo Dr. Paulo Guimarães digno deputado por| esse Estado, é de opinião que
façamos essa pu-|blicação e nes’se sentido nos entregou o cartão| que incluimos. carta 290
c. Logo que tivêmos sciencia darapi|da viagem de Vossa Excelência e Excelentissima Sra Baronêza|
ficamos desagradavelmente impressiona|dos e em continente manda-mos| um portador saber do
amigo Doutor Totonho| aqui havia de real – infelismente| elle nos confirmou agravidade da no|ticias –
mas que esperava noticias dadas por VossaExcelência.|carta 350
O clítico VOS
O clítico vos também apresenta poucas ocorrências, apenas 52. Além disso, restringem-se às
cartas de apenas 10 rementes entre os 217. A maior quantidade foi extraída das cartas da baiana de
23 anos, Maria Augusta Ferrão de Argollo, dirigidas ao seu pai, o barão da Cajaíba, 61,53% (32/52).
(3.17)
a. Mando-vos 1 frigideira, 1 prato com| sururus 12 mangas e 4 padas de pão _| acceitae tudo, como
pequena prova| do subido amôr filial que vos consagra| Vossa filha e amiga fiel até o tumulo.|carta
109
b. Recebi vossas charas lettras vindas por Silverio| Francisco e Paulino, sinto vosso encommodo| do
qual espero já vos achareis livre, na verdade| o excesso foi grande, meu Pae, assim vos -| molestaes
muito! e isto por amor por vossos| filhos! carta 111
(3.18)
a. Rogo-vos o espe-|cial obsequio de recommen-|dal-o a uma pessôa de vossa| amizade afim de que
elle consi-|ga o que pretende com a possi-|vel brevida. carta 123
b. Nos primeiros dias d’este mes| vos escrevi pedindo todo o favor e pro-|tecçaó em favor do vosso
estudante| o Sr. Galdino de Freytas Travassos.|carta 104
c. Minha Mãe não vos| escreve porque não pode| e está muito veixada.|carta 436
d. Com os mais attenciosos cumprime-|ntos vos apresento o XI volume dos “Archi-|vos do Museu,
declarando ao mesmo| tempo que aguardarão as nossas or-|dens, para que tenham conviniente|
endereço, 22 volumes da mesma publi-|cação destinados ás bibliothecas – da Esco-|la Agricola da
Bahia, do Instituto His-|torico e Geographico, do Museu, da Facul-|dade de Medicina, e bibliothecas
munici-|paes das cidades de Santo Amaro, São Francisco,| Cachoeira, Maragogipe, Nasareth, Valen-|ça,
Camamú, Ilhéos, Canavieiras, Porto-| Seguro, Alcobaça, Caravellas, Joaseiro, Fei-|1v.ra de Santa Anna,
Jacobina, Lençoes,| Caetité e Barra do Rio Grande.| carta 214
155
e. Confidencial: Logo que aqui cheguei segui para as Pia=|bas a scientificar ao nosso amigo (chamo-o
de amigo| porque, como talves já tenhais sabido pretendo unir-|me em casamento com sua filha
Elvirinha, que| não communiquei-vos por não termos marcado| o dia, deixando para fazer a devida
communi=|cação n’essa data, quando tenho de pedir-vos a| dar-me a honra de ser o meo
paranynpho) do que|1v. mandastes dizer-lhe e também do que eu disse-vos| concernente aos
candidatos do 5º districto. carta 318.
f. Em quanto as du-|as cartas que o meu cunhado| lhe escreveu de pois da mor=|tede meu tio e sôgro
a=| primeira que Vossa Excelência accuza| não ter recebido e a 2a| sem dacta esta foi escri-|pta em
nossa caza| no dia 13 de Março do mesmo| anno pois fui eu quem adi=|verti a elle que podia lhe es-
|crever visto ter ficado| em logar de seu pai em|2r.companhia de 3 irmãs, sendo| esta criança hoje
nasceu| em 6 de setembro131 pois nasceu| de 1876, de pois que Vossa Excelência| já era proprietario no
Regalo,| desde novembro132 de 66 eu que vos| conheço desde sua infancia| d’aquido Caritá fui quem|
disse a elle que podia commu-|nicar-lhe em logar de seus| pai, que a vossa palavra| sempre valeu e
vale tudo.| carta 425
Os GRUPOS CLÍTICOS
(3.19)
a. Quanto aos meus deveres, diz-m’o| a consciencia, desempenho-me| d’elles com a precisa correção,
sem| poupar esforços para bem corres-|ponder a confiança com que nume|rou o Governo.| carta 224
b. Vosmice diga ao Henrique que eu lembro| sempre o seu nome ao Prisco, que o famoso| juiz de
direito antes da abertura da nova| Camara, assim m’o prometteo, e elle é| seu amigo.| carta 126
c. Tem paciencia, que o que te| digo he de amigo e digo-t’o| só a ti.| carta 63
d. Recebi tua carta| e somente hoje| t’a respondo porque| andava atarefa-|do em cumprir| tua
ordem. carta 172
e. não há muitos dias que estando| meos filhos e genro na Roça quando meu| irmão chega lá de
siguida para a casa| honde elle vivi, com uma criação de| cabra uma banda levava dentro| de uma
capanga grande q’elle tem,| e foi da-lha, o troco de litros di-| milho; e não fátúro Outros factos| por
ter vergonha; pergunte a elle| odia que eu encomtrei elle prega=|do com o filho Manoel; em um
to=|matoma, de Ovelhas; quem, tomou; quem,| pegou; quem, comeu; e quem furtou; per-|gunte aelle;
enquanto ao Coronel Passo e| verdade que pegou 4 resis gado que| por direicto sagrado pertencerá|
aminha Mai, como|2r. já tentei provár e não decha-|ru de tentár, pois tenho provas de| Canudo; por
pessoa que lá esteve e viu| amorte dos filho do Déá e este| inda sobrevivio nove dias prezo| por isso
eu não timia aprocesso que| oPasso tentou; carta 444
156
f. O Instituto d’Agricultura tem| aqui excellentes sementes ou mudas de| canna de Cuba, e lh’as
enviarei logo| que fôr occasião opportuna, isto é,| quando me avisár que o terreno está| preparado
para recebêr a nova plan-|tação.| carta 179
g. Si no copiar um retrato, arrebi-|-ta se-lhe o nariz hoje, engrossam se lhe mais os| labios amanhã,
repassam-se tintas ao depois,| acaba se por desfear lhe as feições, e reprodu-|-zir-se uma
Caricatura.|carta 158
h. Doente desde Dezembro, muito se me aggravou o mau mas| desde Fevereiro, com hu) ataque de
cabeça, do qual não estou| ainda escasso, Vosmice terá idea do meu estado, quando eu lhe di|ga que
nem assignar o meu nome eupodia, hoje mesmo| eu não posso ainda fazer applicaçam, e por isso não
sou ex| tenso. carta 8
O clítico LHE
O lhe é o terceiro clítico mais usado em CB, representando 19,58% do total. Esse percentual
é relativamente próximo do número de ocorrências do português europeu (15,6%), mas, como visto,
com um comportamento distinto, uma vez que em CB prevalece o lhe/2ª pessoa, 71,25%
(446/626), exemplos (3.10), como visto.
(3.20)
a. Acho-lhe rasão, e melhor| seria que abandonasse de vez a po-|litica, por que, a não ser uma oppo-
|sição séria em todo o Estado e bem-| arregimentada, não valle apenas:| más com que garantias ficão os
seus| amigos que tanto se sacrificarão, acarretan-|do as maiores odeosidades, por contarem| com o seu
apoio e do Doutor José Gonsalves?| carta 371
b. Escrevo lhes ás pressas, para ainda| aproveitar o vapor, e, por isso, desculpe| a concisão desta
carta.|carta 227
c. Já escrevi aVosmice, e lhe dei parte de| ter vendido a sua parelha de Cavalos por 300$000 Reis para
o| Marquez deSanto Amaro, tomei esta resolução, meditando nas ava-|rias, á que são sugeitos os
folegos. carta 13
d. Por que elle esteve com meo compadre em| Macará não insistio para meo compadre| voltar por aqui
que muito aproveitava| mais não lhe comvinha a elle.|carta 487
O clítico O/A
157
(3.21)
a. O Cesar mandou-me hu)a|conta honte de dous Sobrecazacos, refuguei-a, por que apesar| da
fraqueza133 de minha memoria, recordei-me que Vosmice recambiara a| preta, por não lha-haver
encomendado, dando-a áo Professor| para a - levar; mas este usa della, e á Cesar dice que dalli hou-
|vesse a paga. carta 13
b. O Terencinho está em casa do| Pai na Estação do Sitio do Meio, posso| lhe garantir, por que no dia
20 quando| fui ao Timbó embarquei-me com o Pai| d’elle e este disse-me estar elle em casa,| e na minha
volta no dia 22, o vi na ja-|nella e disse-lhe adeos, mesmo do trem.| carta 382
Clítico SE
133 Borrado.
134 Sobre as funções do se e problemas de definição (cf.Monteiro, 1994).
135 Exclui 15 ocorrências de expletivos.
158
(3.22) Lexicalizados (pronominais, reflexivos e recíprocos)
Pronominais
a. O pai dessa mulher foi quem pedio| a elle, que coitado, embora reco-|1v.nheça o procedimento
pessimo| da filha, é pai e deve apiedar-|se de sua miseria. carta 441
b. Rogo á VossaExcelência, de accordo com o seo offerecimento se digne nomear Inspector da Barra
do Rio| Grande o Capitão de Fragata Carlos Frederico| de Noronha, o qual deverá seguir d’aqui
com=|mandando o vapor carta 183
Reflexivos
c. O Conselheiro conser-|va-se no seu solio dan|do suas ordens e baixou uma ordem do dia dizen-
|do a seus adeptos, que lo-|go que acabasse esta| lucta iam arrazar tudo desde o Cumbe, Monte
Santo, Pombal, Tucano,| Soure!! e Itapicurú, e| fazendo brinde das se|guintes propriedades:|3r.as
fazendas pertencentes a Jose| Americo e Dr. Americo, ao| frei Matheus – propriedades e En|genho
do Coronel Antonio Ferreira de| Brito em Pombal à João Abb-|ade, o seu Engenho Camocia|tá depois
de assassinar-lhe,|a Jose Villa nova – e outras| mais propriedades a outros.| carta 319
d. O Ministro Maia tendo tudo preparado para| ser paga a indemnisação de Santa Catarina, cuja|
historia já VossaExcelência sabe, irritou-se por ter o ministro da| Fazenda retardado esta, e feito
processar rapida-|mente, cinco outras, cujos pagamentos exigião| 2r. do Presidente.|
Recíprocos
e. Os reposteiros, as senefas os| salamaleques em cima de tapetes começam mais| depressa do que
aquellas gaitadas sem cerimo-|nia, com que durante tantos annos, o deputado|2v.e o Senador se
desopilaram das contrariedades da| via nas alturas, confabulando e brincando com| o mestre escola,
hoje convertido em imbelhão, mas| tão immutavel ora escrevia da sua pessoa quanto| cambiante no
officio, em que moureja. Carta 274
Indeterminador do sujeito
a. Como o tenho por calisto, sempre tive| muita duvida sobre a verificação do seu despacho, que se|
antolhava tão facil: esperou-se mais de 15 dias pelo| Ministro da Guerra, o qual declarou que não
podia ser Delegado| senão um Medico pertencente ao Corpo deSaude do Exercito,| que tenha
assentado praça etc: e esta? carta 15.
b. Isto he urgente. Por Deos, não me| respondas com um adiamento.| Como por aqui se espalhou
que o Lobo| estava doente, não me diriji a elle e sim| a ti. Se for, como desejo, falsa aquella| noticia,
entende te com elle e pede lhe| que me desculpe, porque a minha intenção| he somente não perder
tempo.|carta 49
Apassivador
c. Eu considero isso como uma|verdadeira indisciplina partidaria,| mas as opiniões, muitas vezes
mu|dão-se por vaidade ou interesses| mal entendidos e por isso venho| 2r.por meio desta exigir-lhe
159
toda a| franqueza, para como chefe do partido| nessa localidade, tomar as providen|cias que o cazo
merece. carta 196
Para sintetizar esses dados, reagrupo os clíticos apresentados nas tabelas 3.1 e 3.2 em quatro
categorias, 1. os chamados clíticos fortes, me, te, lhe, lhes, vos e nos (2.055); 2. clítico fraco o/a; 3.
o clítico se (764) e 4. os residuais grupos clíticos (37). O resultado comparado com dados do
português europeu (cf. Galves, 2001) é significativo, porque diferente desse, em CB há desproporção
entre os clíticos fortes e o SE.
Gráfico 3.1
Percentual de clíticos fortes, fracos, clítico SE e grupos clíticos
CB versus Português Europeu Moderno em sua fase atual
(Galves, 2001)
100
80 64,35
60 45,81
43,58
40
%
23,9
20 10,6 10,61
1,15 0
0
Fortes se Fracos (o, a, os, as) Grupos clíticos
(me, te, lhe, lhes, nos
e vos)
CB Português Europeu Moderno (fase atual), Galves (2001)
160
Tabela 3.4 Ênclise/próclise por tipo de clítico no contexto I de variação com verbo único
em CB
Tipo de clíticos Orações raízes declarativas afirmativas, principais, com verbo único em
segunda posição
Contexto de variação I
(Sujeito neutro, sintagmas preposicionais e advérbios não modais)
Próclise Ênclise Subtotal
me 38 69 107
36% 64%
te 13 1 14
93% 7%
se 17 38 55
31% 69%
lhe 27 22 49
55% 45%
nos 2 5 7
29% 71%
o/a 11 10 21
52% 48%
vos 5 3 8
63% 37%
combinações 2 1 3
67% 33%
Subtotal 119 145 264
45% 55%
A distribuição da ênclise/próclise por tipo de clítico pode ser visualizada de forma mais clara
no gráfico 3.2.
161
Gráfico 3.2
Ênclise/próclise por tipos de clíticos em orações raízes declarativas,
principais com verbo único no contexto de variação I (Suj-V,Adv-V,PP-V)
100 93
80 69 71
64 67
63
60 55 52
45 48
36 37
40 31 33
29
20
7
s
s
e
e
se
s
te
õe
no
vo
lh
m
o/
ç
na
bi
m
co
Ênclise Próclise
Além da orientação para a ênclise do clítico se136, o clítico me e o clítico nos também
favorecem essa colocação137. Por outro lado, a próclise é majoritária em CB com lhe, vos, o/a e te.
Destaco, como significativa, a próclise com o clítico o/a (cf., também, Pagotto, 1992). Nos seus
estudos, registra 100% de colocação pré-verbal138. Olhando no geral dos dados em CB, vê-se que,
embora a ênclise seja levemente favorecida em todos os tipos de clíticos, há evidência da próclise. O
clítico o/a não acompanha a direção verificada no português europeu.
Já a tendência de o clítico te de se comportar como proclítico se verifica nos dados
históricos do português europeu139. Em CB, essa tendência, que parece ser própria do português,
também se confirma, com apenas 1 caso de ênclise. Monteiro (cf. 1994 [1991]:196), em seu estudo
136
Chociay (2003), que estuda o papel do clítico ao longo da história do português europeu com base em CTB, chama a
atenção para o fato de que o clítico se eleva o percentual de ênclise antes do século 18. A próclise, no entanto, é mais
geral. Somente no século 18 é que começa a aumentar o percentual de ênclise, chegando a atingir 98%.
137 O clítico me em Ortigão atinge 92% de ênclise e o nos, 100% (cf. Chociay, 2003).
138 O percentual do clítico o/a com ênclise é inferior ao encontrado no português europeu do século 19. Chociay (2003)
ilustra as mudanças no português europeu com autores de CTB (cf. lista no capítulo 1) e mostra, por exemplo, que
Ortigão, nascido em 1836, usa 98% de ênclise. O percentual de 60% foi registrado com Alorna, nascida em 1750. É
interessante ver no trabalho de Chociay que o lhe, que geralmente aparecia em próclise passa a ser lentamente afetado
pela ênclise a partir de 1750. O clítico vos também é raro e proclítico, tanto no português europeu (apenas Garção,
nascido em 1724, apresenta 20% de ênclise), como no português brasileiro. É interessante destacar que o salto brusco
para a ênclise no português europeu acontece com Garrett (83%), nascido em 1799, considerado o primeiro autor
representativo do português moderno. Antes com Alorna, nascida em 1750, o percentual era de apenas 6%. Essa
mudança drástica levou a autora a concluir que o clítico o/a atua sobre a ênclise no português europeu moderno.
139 Nos dados analisados por Chociay, apenas 2, entre os 22 casos de te (2.390), ocorrem com ênclise.
162
do português brasileiro contemporâneo, não registrou ocorrências de ênclise com esse clítico. O
único caso de ênclise no contexto de variação I em CB consta abaixo:
(3.24)
Embora, em outros contextos de variação, haja mais casos de ênclise, como em orações com
verbo precedido de orações dependentes.
(3.25)
a. Se ahi me agredirem, autorizo-|te a dizer que embora os artigos| sejão bem pensados, bem
escriptos| não são meus. carta 57
b. Si o vires,| peço te que lhe digas que eu espero que elle não| passará por Turim sem ver o antigo
amigo do| Senhor de Itaborahy.| carta 80
c. Não sabendo para que ponto de tua pro-|vincia devo mandar a carta inclusa para| nosso amigo
Pedreira, peço-te que lhes dês a| direcção conveniente e segura.| carta 102
e. Por| agora, se entenderas possivel, peço te a remessa| de suas cartas, uma ao Rodrigues Alves e
outra| ao Silviano afim de que elles, junto á bancada| dos seus Estados, se interessem contra o
projecto| da divisão – pedido que não acho indiscreto desde| que te declaro que o Campos Salles, tendo
me mandado dizer| que se interessava pelo mesmo projecto, disse-me tambem| não se prendia elle á
restricção, com que fez| a minha nomeação; e, assim, não tendo tu, por parte| d’elle, sciencia de que
tenha interesse, ficas em muito| melhores condições para te oppor ao que não foi com-|binado de que
elle poe sophismas o seu compromisso.| carta 272
f. Se for, como desejo, falsa aquella| noticia, entende te com elle e pede lhe| que me desculpe, porque
a minha intenção| he somente não perder tempo.| carta 49
g. Ensina meu nome a teu filhinho, e tu mesmo| lembra-te do teu amigo_| carta 32
163
3.2 Orações finitas com verbos simples e em grupos verbais
3.2.1 Classe de orações
164
Tabela 3.5 Ordenação dos clíticos em orações finitas com verbos simples e em grupos verbais em
CB
Tipo de orações/amostra CB
Próclise Ênclise Total
140 Para uma discussão sobre a natureza da categoria envolvida na verficação de traços (cf. Galves, 2002).
165
imediatamente anterior ao verbo. Na terceira posição, a descrição se restringe às estruturas XSV
superficiais. E as orações com prevalência para a próclise serão analisadas, independentemente,
tendo em vista apresentarem itens em sua configuração que também inibem a ênclise.
Por contexto V1 absoluto, com já referido, entende-se aquele em que não há nenhuma frase ou
elemento precedendo o verbo finito. Esse é um contexto categórico de ênclise em toda a história do
português europeu, definindo-se a próclise em V1 absoluto como uma das grandes inovações do
português brasileiro, assim como a próclise ao verbo não finito em grupos verbais (V finito cl-V não
finito), como se verá em 3.4.
Em CB, embora prevaleça a ênclise, a colocação dos clíticos em posição inicial absoluta
apresenta uma pequena e importante variação. Esse é, como visto, um ambiente importante para
diagnosticar a gramática do português brasileiro uma vez que não é facilmente encontrada em
estudos históricos do português brasileiros (cf. Cyrino, 1995)141. Recorde-se que Pagotto (1992) e
Lobo (2001) que estudam o português brasileiro histórico não registram a próclise em posição inicial
absoluta.
a. Peço-lhe que emende a mão| quanto á escripta, por que lembra-me que a sua letra ja| foi clara, e
boa.carta 17
b. Abstenho me de outras noticias, pois| por completo as terão com a volta do Ledeira| carta 275
c. Responda-me, depois| de informar-se bem, sobre estes quesitos pelo Vapor In-|gles ou antes,
se houver occasião. carta 15
141 A autora mostra o clítico em primeira posição em sílabas métricas em Gregório de Mattos no século 17 (cf. nota 13
no capítulo 1).
166
(3.27)
Me recommendando a Excelentissima| Familia que toda estima, consideração e respeito| sou
o|Vosso Respeitador amigo muito obrigado Criado| Annibal Galvão de Oliveira142| carta 318
Na tabela 3.6, há o registro numérico dessa próclise em orações com verbos simples e em
grupos verbais.
(3.28)
a. Me parece que não proponho, nem tenho pe-|-dido nenhum deproposito, para que ate hoje| não
tenha sido attendido, e tenha de ver a offi-|cina continuar no estado pouco lisongeiro| em que a
consideram.| carta 158
Essa ocorrência, proveniente da carta 158, datada de 1878, foi escrita por um médico baiano
de 52 anos, o Dr. Rosendo Aprígio Pereira Guimarães, professor da cadeira de Farmácia, nascido
em 1826.
142O remetente Annibal Galvão de Oliveira, um coronel da Guarda Nacional da região de Bonfim na Bahia que escreve
ao barão de Jeremoabo é, entre os sertanjeos da 3ª parte, o que parece mais escolarizado. Na sua carta, convida o barão
para ser seu padrinho de casamento com “Elvirinha”, filha de um grande amigo do barão, José Gonçalves.
167
As demais ocorrências foram escritas por indivíduos que escrevem do Sertão da Bahia ao barão
de Jeremoabo. 2 dessas ocorrências encontradas na carta 418 de João Cardoso Varjão de 60 anos,
escrita em 1897.
b. Me entendi com o João Victorino a serca| do seo boi que matarão, e depois disto>| 4r. tudo
resolvido trataremos da liqui|dação, me paresse é que o tal sugei=|to não terá com que pague, com
quanto| á pesar de ser morador aqui eu| não conheço bem se elle pode pa|gar.| carta 418
c. Me foi entregue sua carta de 8 do| vigente; é serto que as forças rece-|berão balla e muita da
garganta de| Cocorobó até Canudos, sendo o| ataque em Cocorobó no dia 25 do passado| e houve
grande perda nas força,| tão bem morrendo jagunços, o Coro-|nel Sucupira foi victima de| duas
ballas no Trabubu, distan-|te meia legua de Canudos, á lem| de outros officiaes; chegando á|1v.a
Collunna do General Lavaget| a Canudos no dia 27; carta 418
O caso encontrado na carta 442 é de José de Faria Góes, da região de Itapicuru, tabelião e
escrivão da Vila de Barracão (atual Rio Real/Bahia) e da Comarca de Itapicuru (1875).
d. Me diz a consciencia que ainda| não commetti acto algum com| relação a sua pessôa pelo
qual|2r. se posso dizer que eu hoje sou menos| dedicado a si, entretanto que aqui| se diz o
contrario, e se me tem como| um dos mais dedicados e afeiçoados| seu. carta 442
e. Me parece que já lhe mandei| que os taes phanaticos, principi-|arão a matar e a roubar como|
fiserão com os 2 irmãos Torquato| e Honorio VasFerreira, eMartinho d’Assis| e o filho de João
Gomes, pois destes| ficarão com quantia seguramente de 14 a| 15 contos.| carta 451
O maior número de ocorrências foi registrado nas cartas do baiano Marcelino Pereira de
Miranda, ‘branco, cazado, negociante, natural e morador de Tucano nesta Freguezia de Santa Anna
do Tucano’143. Esse senhor, compadre do barão de Jeremoabo, nasceu em 6 de abril de 1837. No
período em que travou correspondência com o barão tinha entre 53 e 63 anos.
f. Mefoi intregui| a Intendencia com o debito de 90 $ =| e o cofre vazio com 680 reis, d’ahi| para
esta dacta comprou-se| 2 fortes, fezse uma istrada cal =|1v.calsou-se uma rúa, milhorou-se| um
banheiro publico, collocou|-se illuminação e seos emprega-|dos, e outras muitas dispezas inclusi-|ve
o custeio dos empregados eguar-|das municipaes que conforme| as contas prestadas sobe a arre-
|cadação tal vez a maior de cinco| contas, tendo actualmente um cofre| mais de um conto de
reis.|carta 462
143 APEBA. Seção Judiciária. Processo Crime. Série lesões corporais, ano de 1878, nº 09/289/02.
168
g. Nos dê suas| noticias. carta 463
h. Me| disse o Vigário Sabino que a mortandade que| fêz Moreira Cezar, calcula-se em dois mil|
pois não se pode contar, isso dito por dois| individuos que o conselheiro fez prisioneiro, eque|
depois soltou-os que tinhão marchado com o ga-|do. carta 464
i. Lhe dirigi carta por o Coronel Porfirio do-| Geremoábo que passou para Bahia em 7 do-| corrente
que não acusa recebida.|carta 464
j. Mefoi intregue pello Antero a-| sua presada carta de 1 do-| corrente acompanhada com-|
428.000 que fico recebido.|carta 468
A carta 472 seguinte, onde consta apenas 1 ocorrência, é de Marianna Cordeiro Miranda,
viúva de Marcelino Pereira de Miranda, baiana, professora primária da Vila de Nossa Senhora do
Patrocínio do Coité e de Tucano.
l. Me| responda se a relação tem pode-|res de impedir que se faça inventario| porque o Gallo <ou
outra pessoa> me disse que eu requerese| a relação alegando motivo justo| que não havia bens a
inventario eu ig|noro Porque o que tenho é para os filhos, afim| de ver se posso realizar a educação|
delles, para que se repartir? carta 472
O senhor Gallo, referido na carta de Marianna acima, é o remetente da carta 482 onde foi
encontrada também 1 ocorrência de clítico em posição inicial absoluta. O senhor Quintino José
Gallo, pai do remetente Antero de Cirqueira Gallo, foi agente do correio da Vila de Tucano, político
na mesma localidade e tabelião interino depois da morte desse seu filho. Quintino nasceu em
Tucano, Bahia, em 1819 e tinha mais de 70 anos quando escreveu ao barão entre 1890-1903.
m. Me está muito dif|ficil ir lá e com muita vontade de| o vêl-o, o que farei quando puder.| carta
482
A última ocorrência, extraída da carta 498, foi escrita pelo coronel da Guarda Nacional Victor
Marcolino de Menezes, de Patrocínio de Coité (atual Paripiranga), nascido em12 de abril de 1842.
Ele foi intendente de Patrocínio do Coité e subdelegado de Polícia. Quando escreveu a carta, tinha
já 60 anos.
n. Me é impossi-|vel procurar noticias por| mim, visto os portadores| para o Camociata serem|
raros. carta 498
169
Coloco em separado os casos de verbo prcedido de vocativos. Alguns autores lhe dão o
estatuto de construção verbo inicial.
(3.29)
a. São 10 horas quando despacho Pompilio.| Meu bom Pae remeto-vos 1 carta do Sr.| Vilena144
vinda hontem pelo vapôr.| carta 09
b. Adeos meo adorado Pae abençoai-me| eternamente vossa filha e amiga fiel| carta 108
c. Adeus abrassa-lhe| com saudades -| Seu Sobrinho Amigo do Coraçam| José Egidio.|carta 125
d. Amigos, arrasta-me para um re-|trahimento que bem sei- em po-|litica é um erro.| carta 302
144 Manchado.
170
3.2.1.2.2 Contexto de variação I: sujeitos não focalizados-V; sintagma preposicional-V
e sintagma adverbial-V
As orações são exemplos das produções dos remetentes. Embora prevaleça a ênclise o
número de próclise é bastante significativo, conforme tabela 3.8.
a. Elle pedio me que| renovasse o pedido de reserva a VossaExcelência, neste assumpto, que pode
ainda mais comprometter a sua situação|2r. carta 258
b. Esse des-|gosto abateo-me muito: ten-ho oespi-|rito muito cahido. Carta 140
c. O Zinho pede-me| o cavallo foreiro e o outro.|carta 147
d. O Exercito conselhei|rista compoe-se de mais| de 5 mil homens capaz de lucta, fora as
mulheres| que sobem á outro tanto| e tambem brigam fanati|camente. carta 319
e. Estive com o Se-|veriano e elle disse-me que 5ª feira hia a-| Jequitaia dar andamento ao seu
pedido;- | carta 384
f. Conforme participei ver-|1v. balmente a Vossa Excelência quando ultimamente ahi estive,| concedi a
pedido do agente| o praso de 10 dias para en|trar com a quantia des|falcada; mas o praso es-|gotou-
se hontem e não| foi satisfeito o compro-|misso.| carta 279
h. Eu me dou por| satisfeito que ahi do Rio| ordenes tudo o que se deve| fazer. carta 63
i. Este exigio um saque para Sousa| e o Banco lh’o deo. carta 43
A Felicia te dará o abraço, que pessoalmente| eu teria dado se não fosse a vinda do Saldanha| pela
molestia de Lourdes. carta 275
j. Eu com elles me recomendo a ti e ás Meninas, abra-|7v.çando te como| Velho amigo do coração|
carta 273
m. Liberaes e conservado|res se confundem pro e contra a grande| causa da civilização e da
humanidade:| é a lucta de interesse contra o direito e| contra a historia da escravidão em todos| os
tempos.| carta 126
a. Hontem encontrei-me, no banco de Santa The-|reza, com o Senhor Franken, que mani-| 2r. 9-1-
02| 3|faltou de novo a possibilidade de ser| levada a effeito uma operação externa| para a Bahia,
passado como está o passado| agudo da crise Europeia.| 253
b. Hoje lhe escrevi com toda a amizade. 59
c. Aqui se fogem as transfe-|rencias das accões e desdobramentos e substitui-|ções das cautelas dos
debentures, sendo esses ti-|tulos assignados por dois Directores e tem de se| representar nas 10
acções que lhe movem diver-|sos individuos no foro d’esta Capital. 219
a. Com effeito telegraphei lhe, pedindo socorro| para a Empreza Viação em permanente ameaça de|
liquidação forçada pela falta de pagamento dos| juros dos seos debentures.| carta 219
171
b. Da ultima conferencia disse-me o Dr. Ludolfe, | que era seu companheiros o Dr. Custodio
Coelho,| seu cunhado e deputado pelo Estado doRio de Janeiro; e| que mantinham o preço de
25$000.| carta 254
c. Compreça dirijo lhe esta| a diantando lhe sertas| noticias. Carta 478
d. Com a vista lhe| narrarei os pormenores a respeito.|carta 442
e. Em outra carta te escrevo sobre outros| assumptos.| carta 57
f. De Corrientes me escrevem, com a chegada| alli dos vapores hospitaes “11 de julho” e Duque|
de Saxe que os nossos mortos forão 40 e| os feridos 94145.| carta 58
Tabela 3.8 Classes de constituintes que precedem o verbo ou o clítico nas orações matrizes e
principais no contexto I de variação em CB
Tipos de constituintes que precedem o Orações matrizes e principais
conjunto verbo/clítico Contexto de variação I em construções X-V
(V2)
Próclise Ênclise
S-V 62 79
verbo precedido de sujeito não focalizado 44% 56%
AD-V 24 18
verbo precedido de advérbios não modais 57% 43%
PP-V 33 48
verbo precedido de preposições 41% 59%
S-x V 3 13
Verbo precedido de sujeito composto por SN 19% 81%
seguido de oração relativa146
Subtotal 122 158
Total geral 280
A ênclise nas estruturas com sujeito complexo pré-verbal, em que o sujeito é composto por
SN seguido de oração relativa, apresenta um percentual bastante elevado em relação às demais
estruturas.
(3.33)
a. OSaldanha, que| apoiou o gabinete até ser servido, fez-lhe| todos os dias uma careta mais
feia.|carta 18
b. Os Cordeiros apesar de não se| fiarem em permancer147 no Aca-|rú, achão-se perto delle, e
uma| vez por outra dão-nos 1 ou 2| horas de estada nesta villa.| carta 450
c. O JoãoGonsalves Paim, que vai tractar-se,| pede me que obtenha deVossaExcelência dar lhe|
uma patente de comissão, quando regressar| para o exercito. carta 51
d. Paulino a quem tudo disse vos explicará| melhor que eu por escripto.|carta 111
145 Rasurado
146 Esse ambiente não está incluído na comparação do contexto I de variação com GBPS (2005). Na análise das autoras,
esse tipo de sujeito conta como um único constituinte.
147 Borrado.
172
e. O Senhor Gosme, que hoje partio para Milão só me| dice que tu pensavas dar me o parecer de
fazer te estu|dante comigo por um mes[...]148, respondi que as=|1v.sim o permittisse Deos ao meu
egoismo e a|misade e á tua ....tranquilidade.| carta 82
Nas estruturas com SV com nome próprio prevalecem a ênclise. A incidência dessa ênclise
no contexto de variação I será objeto de discussão adiante. É interessante notar que no CTB, este é
um dos ambientes que mais parece resistir à ênclise, inicialmente149. Registre-se, ainda, que o
gramático português Figueiredo (1909) apresenta exemplos de sujeito com nome próprio quando
chama a ênclise de nesse contexto como própria do ambiente “familiar”.
(3.34)
a. O Cesar mandou-me hu)a| conta honte de dous Sobrecazacos, refuguei-a, por que apesar| da
fraqueza150 de minha memoria, recordei-me que Vosmice recambiara a| preta, por não lha-haver
encomendado, dando-a áo Professor| para a - levar; mas este usa della, e á Cesar dice que dalli hou-
|vesse a paga. carta 13
b. Confidencial O Vergne fallou-me hontem, ao chegar| de um negocio qua ahi tem e que segundo
o que| ouvi está em máo pé. Em desespero de causa| volveu seus olhares para mim, porem eu
escusei-|me fazendo lhe ver que aqui estou ao inteiro serviço| de VossaExcelência, esperando a todo o
momento ordens em negocio| de grande responsabilidade e importancia que não| pode ser
facilmente substituido.| carta 256
c. General Euphrasio embarcou-|se hontem com a familia para o Rio.| O Doutor Flavio de Araujo,
deve chegar hoje| aqui, segundo me consta. Examinei| o n° do bilhete que mandou-me, e está bran-
|co. carta 367
d. O Rui mandou-me| um cartão de visita,| quando cheguei e pelo Car|los mandou-me pedir| que
eu fosse jantar| com elle domingo (5 de| outubro,) para conversar|mos sobre as bases
do|7v.15|requerimento de informações| e do protesto, que elle| enunciará da tribuna| do senado
contra esse prentendido direito da| União a 18:000:000$| de garantia de juros á| retra[...]
Inglesa.|carta 289
d. Neusinha e eu constristamo-nos| muito com o topico da carta, que VossaExcelência| escreveu a D.
Carolina, referindo, que| tivera noticia de nosso casamento,| por intermedio do digno representan-|te
de VossaExcelência, |carta 267
e. O Coronel Mo|reira Cezar e Tamarindo, por-|taram-se heroicos e denoda|2r.damente. O
Governo deve evitar| ataque ferro’ frio com os fana|ticos e sim bombardiar e| por meio de acédio.
Quando| d’[a]qui enviavamos noticias para| esta Capital que o Conselhei|ro tinha151 5 á dez mil
ho|mens era julgada inveridica.| carta 49
f. Osorio me escreveu com data de 2, um| tanto queixoso de lhe mandares officiaes| paisanos e
<de> lhe teres suspendido o direito| de dar patentes de comissão, quando elle| estava creando
artilheiros para as| baterias novas. carta 49
g. O Antunes lhe responderá. carta 57
148 Corroído.
149
É interessante ver que o primeiro autor a usar sujeito com nome próprio com ênclise no CTB é Verney, nascido em
1713. Isso parece reforçar o problema de uma melhor definição do que seja “tradição escrita” ou a “norma culta
portuguesa”.
150 Borrado.
151 Borrado.
173
h. O Doutor Americo Gomes me escreveo pedindo votos e exigindo| logo antecipadamente
resposta, que acha Vossa Excelência d’essa ur-|gencia? motivo que me foi não lhe dar votos.|carta 416
Como visto na descrição dos tipos de clíticos, destaca-se a ênclise também com o clítico se
(cf. Galves, 2001:137). A autora mostra, a partir de dados de Pagotto (1992), a elevação da ênclise no
século 19 (séc. 16 ao século 18, com 20,79%; séc. 19 com 54,54% e no séc. 20 com 16,66%). A
importância dessa ênclise e a atuação no contexto de variação I estão representadas na comparação
com GBPS (2005) em 3.3, adiante.
174
3.2.1.3 Contexto de variação II: verbo em posição inicial em segunda coordenada e
verbo precedido de orações dependentes
3.2.1.3.1 Verbo em posição inicial de coordenadas
3.2.1.3.2 Verbo precedido de orações dependentes reduzidas e orações desenvolvidas
(3.35) Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas com verbo precedido de conectivo
a. Nunca esquece-|rei o que recebi d’esses Senhores;| porem, como o homem que se involui| nesta
mizeravel pulitica, não| tem sentimentos, eu, coro a face,| e abrolhes os dentes.| carta 337
152 Nos dados CTB são contabilizadas nas “coordenadas” sentenças iniciadas por pois, contudo, todavia, porém, ou e
porque. Nos dados de CB, separei os tipos de conectivos em três grupos: 1. e; 2. mas e 3. outros (pois, contudo,
todavia, porém e ou). Os casos de porque, tal como ocorre com o CTB, são contados em separado (cf. metodologia,
capítulo 1).
175
b. Por vezes quis escrever-lhe, e faltou-me o| animo; com outros de nossos parentes e ami-|gos
deplorei o justo motivo da sua dôr.| carta 199
c. Nestas condições,| julgo desonrosa para o governo a derrota| do Conselheiro Lisboa, e me parece
que por elle| se deve trabalhar com affinco.carta 35
d. Escrevo a Vossa Excelência apressadamente e lhe peço| desculpa pelo desalinho desta carta153 O
Recife| a vai levar a Montevidéo para vêr se alcança| o vapôr da linha de Liverpool.| carta 58
e. Tive oprazer de receber sua apreci|avel cartinha, eofellicito por seu bem| estar e daExcelentissima
comadre emeninos| aquem, com o devido acatamento,| Saudo –carta 193
(3.36) Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas com verbo em posição inicial
a. O Cesar mandou-me hu)a| conta honte de dous Sobrecazacos, refuguei-a, por que apesar| da
fraqueza154 de minha memoria, recordei-me que Vosmice recambiara a| preta, por não lha-haver
encomendado, dando-a áo Professor| para a - levar; mas este usa della, e á Cesar dice que dalli hou-
|vesse a paga. quando tiver mais vagar, mandarei a minha| conta. Eu passo mal do meu peito. carta
13
c. Me entendi com o João Victorino a serca| do seo boi que matarão, e depois disto>|4r.tudo
resolvido trataremos da liqui|dação, me paresse é que o tal sugei=|to não terá com que pague, com
quanto| á pesar de ser morador aqui eu| não conheço bem se elle pode pa|gar.|o mesmo| carta 418
d. Porem os meos| veixames, oque penço no meo| fuctoro, que acho um tanto| escuro, perdendo
minha com|panhia de 53 anos me atra-|palha d’um modo que mefas| esquecer os deveres aque sou|
obrigado por muitas razões; lhe|1v.peço que medisculpe por quem é| sinhorinha continua naquele
mesmo| epara mim ainda mais abatida| efraca carta 426
b. Se eu tiver tempo me darei a honra| de visitar a sua capital antes de regressar| aos Estados
Unidos.| carta 280
153 Corroído.
154 Borrado.
176
3.2.1.4 Ativadores de próclise
3.2.1.4.1 Orações precedidas de quantificadores, advérbios modais, complementos
diretos, predicativos, sujeitos quantificados, focos morfológicos, sujeito de passiva e
sujeito do verbo parecer
É significativa a ênclise nas orações raízes declarativas afirmativas, principais com sujeito
quantificado ou verbo precedido de quantificadores, e determinados tipos de advérbios (cá, bem,
já, lá, mal, sempre, também, talvez, mais, melhor, maior), complementos diretos (não
retomados); predicativos e sujeitos focalizados morfologicamente (só, mesmo, próprio, até).
Tabela 3.11 Classes de constituintes que precedem o verbo no contexto de não variação em
CB
Tipos de constituintes que precedem o Contexto de não variação em
conjunto verbo/clítico construções X-V
(V2)
Próclise Ênclise
AD-V 32 7
verbo precedido de determinados tipos de 82% 18%
advérbios
X, V 8 5
Verbo precedido de complementos diretos e 62% 38%
predicativos
Q, Foc 35 12
verbo precedido de partícula focalizadoras, 74% 26%
quantificadora e sujeitos quantificados, sujeito de
passiva e do verbo parecer
Subtotal 75 24
75,8% 24,2%
Total geral 99
a. Sempre lembro-me de| V. e não me esqueço de ser grato.| Se minha memoria me não
falhar|2r. creio ter-lhe remettido uma| vez, em signal de lembrança,| um numero da Indépéndance
belga.| carta 40
b. Tambem peço lhe que| não veja nas ponderações que vou fazer a defeza do in-|teresse individual
d’este seu humilde amigo, o| qual nunca servirá de obstaculo a qualquer me-|dida ultil que deva ser
177
tomada em beneficio da| Empreza. Represento porem interesses de maior| valia que me cumpre zelar
e defender.| carta 219
c. Já te mandei pelo Sr. Francisco tudo| quanto julguei importante para teu| conhecimento e do
Imperador. carta 44
d. O logar de ins-|pector da linha telegraphica-|no estado de Sergipe, da secção-| vaga, que está addida
ao Antônio| Ribeiro, tambem me serve: final-|mente, Vossa Excelência fará o que melhor| entender a
meo beneficio; com-|tanto que seja empregado| n’uma repartição da fasenda| nacional, que me dê
quanto chegue| para minha subsistencia e de minha fa-|milia. carta 360
f. Talvez se affigure a Vossa Excelência, estranha esta| minha suggestão, que é tambem uma ro-|gativa.
carta 297
a. Tenho em meo puder suas| duas carta de 23 de Janeiro e de| 14 deste que vou responder|.
Naquela primeira diz-me voce não res-|pondeu suas cartas por me ter| esquecido de vocês: o que tal|
não é; e pior[...]155 por offencia, pois só lhe| tributo seria amizade e a todos| os seos. carta 432
b. Na tua carta a mim fallas me de regressar áo| Brasil, e na que escreveste a Gomes e elle me leo, só|
lhe fallas de doença de insonnia e falta de ape-|tite. Oh! Senhor Ferraz! o que he isto para quem ja|
passou meio seculo?|carta 82
c. O Nabuco no seo| Ministerio faltou a promessa que fez| me: o mesmo acconteceo-me com| o
Sr. Rego Barros. carta 30
d. Muito| alegroume dizerme, que náo podem ser milhores as qu-|alidades do Mendonça, pelo que
receba meos parabens, pela aa-|quiziçáo. carta 343
e. Tereza, O Tio, a Tia, Bello e| Leone muito agradecem e retri-|buem as saudações. O Jorge, o|
Pedro, o Cintra e outros renovão-se| carta 305
f. Todos envião lhe a-|braços e recommendações. Lourdes| e Thereza, digo Felicia, envião beijos| e
pedem ben-çãos.| carta 306
g. Muito contentamento causou-me sua carta| de 13 do corrente, em que me noticia sua| boa
viagem, sua estada ahi e pasar| a exercer de seu elevado cargo| carta 140
h. Sua Comadre vai sofrendo nervo|zo- os mais empas, graças a Deus; tou|dos vizitaolhes, seu
afilhado pede| abençáo, seu| Primo Compadre Amigo obrigado |carta 345
i. Conversando a respeito com| amigos, poisque não pareceu um| caso de requerimento de
informa|ções ao Governo, feito na Cama|ra, senti que lá pela Cama|ra, e por causa do Freitinha,| a
155 Rasurado.
178
coisa poderá ter o desenvolvimento preciso, e o proprio| Paula deu-me a entender que|5v.a occasião
mais opportuna de| se tratar do assumpto deverá ser| a de quando se discutir o proje-|cto de
orçamento da fazenda.|carta 289
j. Sua carta| de 24, foi-me entregue a 29 do proximo passado| a qual respondo. carta 357
m. O assucar parece-me bom, e o rendimento| de 4 formas de barro – regular. etc.| pergunto: Tenho
aqui a sua disposição| mais 96 formas de ferro.| carta 154
n. Não paguei porque não tinha mais dinheiro| como vereis pela lista que incluso vos| remeto, só
me restam alguns cobres| 1v. na lista não mencionei o dinheiro dispendido| em miudesas para
gasto de casa, como _| peixe camarões ovos etc. carta 108
o. Muito lhe agradecerei o que fiser por| meo neto. carta 291
p. Tendo vindo| 1v. muito tarde, a ultima para Senador, não| pude conciliar os amigos pelo lado de|
Sr. Dr. João dos Reis, e Dr. Virgilio Da-|mazio, por mais esforço que eu fizesse,| como verá da
mesma lista, e eu muito me en-|teressei pelo Senhor Dr. Vir[gí]lio Damazio; não pudendo eu obter
maior vota-|ção para elle, por entender o eleito-|rado que elle não é catholico de fé.| carta 333
A próclise prevalece nessa estrutura, embora a ênclise seja significativa, como se viu.
c. Saude e felicidades lhe deseja de coração| este| Seo Amigo velho e attencioso| criado| Francisco de
Paula de Negreiros Sayão Lobato| 187
179
do Doutor Filgueiras a noute[*]157, e dis-|se-me já o terem despachado, é o que sei| até o presente.
Bahia 29 de Novembro158 de 1897.| carta 382
b. Este desgosto elle o teve, e veio da parte de um| homem que em 1890 subia as escadas da casa| de
um chefe, chamando-o protector, que tinha| a custo arracado a licença para a sua can-|didatura de
deputado do Marechal Deodoro, que| ao ouvir a pretensão desse candidado, transfe-|riu-o como
militar para a guarnição da| fronteira do Rio Grande do Sul, sendo precisa| a intervenção de quase
todos os membros do gover-|4r.no Provisorio, para o consentimento na can|didatura, vindo-se notar
que o Marechal Deo-|doro tanto conhecia o candidato, que no| acto do consentimento disse ao
protector: “Que| lhe faça bom proveito” palavras iguaes).| carta 294
c. Devo dizer te| que o governo argentino não acha excessivos| os preços e os vai adoptar tambem.
A| mim me parecerão excessivos. Mas não sei| se administrativamente fariamos melhor| e mais
barato. carta 49
d. Na tua carta a mim fallas me de regressar áo| Brasil, e na que escreveste a Gomes e elle me leo,
só| lhe fallas de doença de insonnia e falta de ape-|tite. Oh! Senhor Ferraz! o que he isto para quem
ja| passou meio seculo?|carta 82
(3.42)
a. Conversando com minha mulher| a respeito, Ella lembrou-me que o meu| esquecimento de lhe
communicar os re-|conhecimentos das firmas, foi talvez| devido a afflição em que ainda me| achava
nesse tempo com a moles-|tia que ella soffreu carta 442
b. Seguio n’esta semana finda|1v.para Monte Santo o General-| Girard com 3 batalhões, com des|tino
a Canudos, e estando hoj[e]159| com o Conselheiro Benigno, es[te]160| disse-me, que o Vianna
dissé[ra]161| ter o General Oscar pidido| mais 5 mil soldados, ao gov[er]162|no Federal; se assim é, as
cous[as]163| em Canudos estão perigosissi|mas e o Oscar está em maus [len]164|çóes. carta 376
c. Conforme mandei dizer a VossaExcelência a directoria| do banco declarou-me que em caso de|
liquidação apenas forcei o abatimento| de 5% cinco porcento| o que me pareceu ridicula offerta diante
da operação que| se poderá fazer, entrando, com elle, no mer|cado e obtendo o abatimento, pelo
menos, de 30% trinta porcento.| carta 252
d. Con|tinua a secca horrivel aggrassadora| – devastando tudo sem termos para onde| procurar
abrigo – [Tenho estado com| Vaqueiros seus,] esses me disem que| continua morrer gados –
180
Chuvas| por aqui; apenas appareceu| um orvalho sexta e Sabbado -|, porem não continuou mais
e|1v. nem mais esperanças – Hontem| foi que chegou Correio aqui:| pelos jornaes, vi a grande
ma|nifestação a posse de Campos| Salles e retirada de Prudente.| carta 331
e. Vossa Senhoria não se lembrou mais| do que me prometeo em Fevereiro 1900| quando encontrou se
comigo em| Campestre que subia para o S. Geral|do com Sr. Barrow, neste dia Vossa Senhoria
apresentou-me a elle e prometeo| me um lugar de fiel <e amanuense> da Alfandega| ahi na Bahia,
[perguntou me se| eu tinha fiança de 3000:000] eu lhe| respondi que tinha, creio que| de mirar sem
recurso para dar| comer os filhos não sei o que| será só o desaparecimento para não velos| morrer s
afome| carta 276
f A. Watson referio-me que o Sr.| Dr. Arthur Rios, [interpellando o mes-|mo Dr. Lauro si ainda
agora| não era usada a occasião de| dar-me um logar na repre-|sentação do Estado,] este lhe res-
|pondera que sim, o que não| se dava em 1900, motivo por| que não tomára compromisso,| e o Dr.
Arthur Rios vira como era| fundado o seu juizo.| carta 302
g. Mas, em vista da fraquezas| dos nossos amigos, principiando| pelo primeiro, (chefe) elle faz| tudo
quanto quer e não há| reação; [se eu dispuzese de al|guns ellimentos,] a cousa| lhe seria outra, mais
sosinho| com meia duzias de amigos| que faço? – Disse-lhe mais;| ao mesmo juiz, que o meu| voto
elle, [jamais]165 contaria com| o seus amigos <uzasse> do que quizesse;| carta 330
h. [Pedro Mendes esteve aqui e meo fi-|lho José,] este examinou-me e disse-|me restar uma pequena
differença-| na respiração do pulmão esquerdo, mo-|tivado pelo catarro, más que não havia| perigo
presentemente. carta 393
Com relação às imperativas, destaco o percentual de 89% de ênclise nas orações imperativas
encontrado em CB, 89%, um percentual equivalente ao encontrado em Cyrino (1993:168), 86% na
segunda metade do século 19.
(3.43)
a. Vosmice mande-me por intermedio de| José Egidio ou directamente a minha| a sua proposta para
os supllentes de| Juiz Municipal que devem ser nomea|dos em Novembro.| carta 126
b. Acabo de receber a tua car-|tinha de 27. Vê o Papa, beija lhe o sapato, mas| toma cuidado com as
cadeiras de mola| carta 81
c. Mandeme por elle um animal, não queria| <nem quero> meo cavallo no cazo de estar bom, sem
um bur-|ro emprestado emquanto chove que o cavallo possa vir| nem tambem para tão grande
percizão de carre-|gar da feira um bocado, sim por que demomento| pode fugir uma rez, como defato
165 Rasurado.
181
tenho uma| vacca que já fui vêlla no jacurisci, e mais dos dias es-|ta remetendo seguir, eu estou longe,
apezar de|1v. todas as semanas estou oumando ario porque de-|momento pode fugir uma rez, iapé
nao pos-|so seguilla, por tanto tenho muita nessecedade do ani-|mal como já disse. Outro sim, sei do
meo com-|promisso que já tenho comsigo, tenho percurado me-|us recurços daqui, daculá, e que hoje
estou rezolvi-|do imcomodado, não tenho geito, para vêr siassim| posso trevessar oresto destacruz;
tendo nós imverno|carta 445.
d. Hontem the hoje| sempre tem xuvido assim| continui por aqui V. não| avalia como vamos
diga|me como dexou anossa quarta166| de feijao quero he saber ou| mesmo assacas de la acomo| se
compra não tive os repu|blicanos Visitas a toudos| e a V. abraça o seo|Primo amigo pelo
Coração|Britto| carta 407
Em Paixão de Souza (2004) sobre o português europeu do século 16-18 com base no CTB,
as orações parentéticas constituem-se o único grupo de orações com verbo em posição inicial (V1)
com próclise. Nos dados de CB ocorrem com ênclise. E nos demais contextos, há variação com
verbo em segunda posição (V2). Os outros tipos ocorrem com próclise.
V1
(1.44) a. Confidencial: Logo que aqui cheguei segui para as Pia=|bas a scientificar ao nosso amigo
(chamo-o de amigo| porque, como talves ja tenhais sabido pretendo unir-|me em casamento
com sua filha Elvirinha, que| não communiquei-vos por não termos marcado| o dia, deixando
para fazer a devida communi=|cação n’essa data, quando tenho de pedir-vos a| dar-me a
honra de ser o meo paranynpho) do que|1v. mandastes dizer-lhe e também do que eu disse-
vos| concernente aos candidatos do 5º districto. carta 318
b. Como o tenho por calisto, sempre tive| muita duvida sobre a verificação do seu despacho,
que se| antolhava tão facil: esperou-se mais de 15 dias pelo| Ministro da Guerra, o qual
declarou que não podia ser Delegado| senão um Medico pertencente ao Corpo deSaude do
Exercito,| que tenha assentado praça etc: e esta? carta 15
166 Borrado.
182
V2: contexto de variação I
(1.45)
a. Oxalá que a mais tempo o tivesse feito! E que meus 6 annos (oh quanto eu os amo!)| que
perdi na inutilidade de nossos meus estudos de Olinda, os tivesse aqui empregado! ou que| ao
menos a tão longa e já avansada idade de meu Pae me não impozesse a lei de voltar junto| á
elle para adoçar-lhe a taça da velhice: eu te confesso, que não voltaria em 5 annos.| carta 32
b. Saudades de todos dessa casa| O senhor conde de Taparica já terá|escripto á Vossa Senhoria
sobre o caso:|elle o venera e trata|como seu parente|carta 3
Outros tipos:
(1.46)
a.Outro sim, sei do meo com-|promisso que já tenho comsigo, tenho percurado me-|us
recurços daqui, daculá, e que hoje estou rezolvi-|do imcomodado, não tenho geito, para vêr
siassim| posso trevessar oresto destacruz; tendo nós imverno| Deus sendo cervido, sei que Vossa
Excelentissima (pois assim me disse) não| adianta mais dinheiro avaqueiro quem todavia ainda
mesmo assim| miatrevo, e comfio em sua generozidade que há de-| miauxiliar no seguinte
sentido. carta 445
b. Dezejarás saber, meu Angelo, se estou contente com o passo, que| dei de vir à Europa? Oh!
meu bom amigo, é esta certamente uma coiza, de que nunca poderei| arrepender-me. Oxalá
que a mais tempo o tivesse feito! e que meus 6 annos (oh quanto eu os amo!)| que perdi na
inutilidade de nossos meus estudos de Olinda, os tivesse aqui empregado! ou que| ao menos a
tão longa e já avansada idade de meu Pae me não impozesse a lei de voltar junto| á elle para
adoçar-lhe a taça da velhice: eu te confesso, que não voltaria em 5 annos.| carta 32
d. Não vão os preguinhos que pedio por não _| ter vindo nem a nota nem a medida| que me
diseis ter mandado talvez ahi ficasse| por esquecimento, não recebi tambem os _| ovos de
annum167; vai a caixinha das| [...]168gas (como a intitulais) com _| tudo o que n’ella estava,
não se achou| os botões de camisas. Pompilio procurou,| por todas as costureiras[?], vão os 5
feixos_| grandes e 3 pequenino, a escova e ferro| no outro barco.| carta 109
e. Ainda continúa a abusar de nossa| bondade, o celebre agente de correios| d’aqui; hoje recebi
uma carta da| Redacção da - Bahia, a qual me| chegou as mãos, com indicio de| aberta, assim
como, devido a recla|mação, que fiz a poucos dias, por| intermedio do Sr. J. B. de Castro
Menezes| ao Sr. Administrador dos correios, este| mandou a proposito a – Bahia – pela| malla
da viação, para a devida expe-|riencia, o que causou-nos prejuiso| porque até hoje (Bahia)!
Temos lucra-|do muito com nossa malla parti-|cular por santa Luzia, nem só por| que temos
nossas correspondencias com| mais urgencia, mas tambem não|2r. nao ha extravio. Carta 311
167 Manchado.
168 Manchado.
183
f. – Esses caminhos| estão dizertos; dentro de Mon|te Santo só têm 2 ou 3 pessoas| do lugar,
o mais e os Soldados| que segundo disseram-me| é de 80 a 100 praças – As ca|zas todas
abertas e muitas des|sas quebrada a coice d’arma| e outra tiraram para lenha.-| carta 322
Nesse item, apesar dessas orações requererem uma análise mais detalhada, os dados são
reunidos em grupos largos. Para o objetivo estabelecido, o de fazer comparações com os contextos
de variação I e II, é sufuciente elencar a sugestiva variação nesses ambientes categóricos de próclise
no portugês europeu: negativas, dependentes de vários tipos e interrogativas.
(3.47)
a. Oportador vai com or|dem de puchar, náo demore-o|2r. Que com minha Comadre passe sem
altera|ção - Disponha do|Primo compadre amigo do Coração| Antonio Ferreira| carta, 348
b. N. B Elle foi SubDelegado, Dele|gado <muitas vezes> Juiz Municipal, Capitam e| Tenente Coronel
o mais não lembra-me|| Intendente| carta 472
c. Consta que os adversarios estão pro-|cedendo a apuração da eleição d’essa[...]169| em Caxoeira, para
tambem serem [di]-|plomados, como os nossos amigos. Nen-|hum só adversario apresentou-se hoje|
na apuração que procedeo-se aqui, e| nem tão pouco prottestarão, pelo que170| tanto melhor foi para
nós. carta 366
d. Não me nego de forma al-|guma ao seu serviço, más| sinto aparecer estes desgostos| entre amigos,
e mórmente| em um logar como o Timbó,| que precisamos trabalhar |3r. muito para combater os
adver-|sarios, que alli dispoem de| todos os elementos. carta 370
e. Recebi uma| carta de Barretto dactada de 9, e nada-| me diz sobre a vinda delle agora nas| férias. O
Diario tem estado soberbo,-| não é possivel melhor, más o Sr. Gover-|nador não liga menor
importancia.| carta 365.
f. Não sei se o André da Crus cor-|reu para os Canudos, porque| o que a seu respeito sabia| achava-
se[...]171 refugiado nos| mattos, onde ninguem lhe| puzesse a vista e que lá o| estavão esperando
em virtude| de ser listado na companhia| do Bom Jesus.| carta 448
169 Rasgado.
170 Corroído.
171 Borrado.
184
3.2.4.2 Orações com sintagma-Q
(3.48) Relativas
a. O Nabuco no seo| Ministerio faltou a promessa que fez| me: o mesmo acconteceo-me com| o
Sr. Rego Barros. carta 30
172 Martins (1994:98-102) se refere à ênclise observada no português europeu e no galego, embora como restrita às
completivas e às consecutivas com verbo no indicativo.
173 Autor de “O problema da colocação pronominal: suprimento às gramáticas portuguesas” [1909].
185
b. O portador desta| é o nosso escravo Quintino| que leva uma carta que meu| Mano Fulgencio
pede=me| para mandar levar, di-|zendo que já está feita| a dias, e que por falta| de portador não
tem| hido a mais tempo| carta 24
c. Vou pedir-lhe um favor para mim da| maxima importancia, em que ponho to-|do empenho; _ é a
nomeação do meu| amigo Sr. Pedro Jaime Lisbôa para um| lugar de 3. Escripturario da Thezouraria
da=|qui, ou da de Pernambuco, em ambas| as quaes da-se vaga _| carta 70
d. Satisfazendo com muito praser ao pedido que| VossaExcelência fez me em sua carta de 14 do
corrente, relativo| aoSenhor Carlos José Botelho, acabo de escrever| ao nosso Ministro em Pariz
recommendando lhe| muito particularmente aoSenhor Botelho.| carta 106
e. Recebi hontem pelas 2 horas da tarde vossas| estimadas lettras vindas por Francisco o-| qual
entregou-me tudo quanto vossa| paternal bondade nos mandou, de tudo| muito vos agradecemos,
e altamente nos| regosijamos por vosso bem estar cuja| continuação almejamos de todo coração.|
carta 117
f. Hontem passei hor|rivelmente atacado174 por uma depressão| na região precordial, que durou-
me| até as 5 horas da tarde. carta 132
g. Por cá| tem aproveitado muito o eu| 2r.calypto feito chá, que durante| o dia toma-se por
colheres, -| depois de frio e a noite quente.| carta 132
h. Estive uns dias no Rio de Contas| onde o seu saudavel clima apro-|veitou- me muito- carta 133
i. Soube entracçar com ellas| a mais linda moldura| que eu poderia desejar para| o retrato que sua
terra| offereceu-me. carta 166
j. Além das relações amistosas que Vossa Senhoria, generosamente, concedeu-me| e pelas quaes
grato ser-lhe-ei sem-|pre, seguramente prendem-nos| profissões de fé social identica,| como
abolicionistas; carta 167
l. Em resposta a carta que Vosmices| dirigirão me em 1.º do corrente, tenho| a dizer, que não sou
mais the-|soureiro da Comissão da Commemora-|ção do 4.º centenario, por motivo| de ordem
superior, que obriga me| a ausentar-me d’esta Capital.| carta 189
m. Recebi a sua de oje em que| lembra-me as cartas em| favor do Correio da Tarde.| carta 200
n. Sou medico por contracto das unicas fazendas aqui existentes, en|tre estas a do senhor Dr. Alfredo
Ellis a quem fui recomendado pelo senhor Dr. Rodrigues Alves, que despensou-me as maiores
gentilêzas.| carta 209
o. Poucos dias depois d’aqui chegar fui acommettido de uma| febre renittente de carater typhico que
me| perseguio durante 28 dias e me deixou em mesmo| estado de depauperamento e fraqueza. carta
219.
p. É a unica prova que| enquanto lhe posso dar de mi-|nha eterna e profunda gratidão| 1v. pela
mais acentuada gentileza e| distincção com que sempre honrou-|me.|carta 226
174 Borrado.
186
r. Sem titulo, a não ser a nossa convivencia no meio da re-|presentação federal, vou recomendar o
pedido que ha tempos| fez-lhe, afim de servir a meu amigo Doutor Miguel C. Villa| Nova, medico
aqui em Batataes residente, que empenha-|se para que o seu cunhado Doutor João da Motta Ramos
Cos-|ta, juiz preparador no Cumbe, para que seja nomeado Juiz| de Direito de qualquer comarca
d’esse Estado. carta 234
t. Fui hontem procurado pelo Sr.| Dr.Tosta, deputado geral pela| Bahia, o qual apresentou-me o|
telegramma de Vossa Excelência que pedia| a remessa de vaccina anti-cor-|bunculosa, para ser ahi appli-
|cada. carta 271
u. Escrevi muni|ciozamente175 ao Dr. Gomes sobre o mo|tivo que levou-me ao Monte| Santo –
Os autos o Geraldo levou| para botar no Correio da Serrinha| para Monte Santo – fique serto| de
seu convite. Nada mais|2v.Acceite vizitas de meu Pai| e recomende-me com visitas| a Excelentissima
Baronesa, Joaozinho| e Totonio –| Podendo dispor|Do amigo obrigadissimo|Antero dCirqueira
Gallo176|carta 322
v. P.S.: Tenho tido saudosas recor-|dações da nossa viagem, visto| a amabilidade com que Vossa
Excelência| tratou-me.| Vizitas a Dr. Antonio, sua res-|peitavel consorte e Dr. Mello| com a
familia.|O mesmo.| carta 332
b. Não é caso novo por o collector -tam-|bem administrador Fiscal, assim, Vossa Excelência pra-|ticará
um acto de justiça, reentregando| o Coronel Antonio Jacintho, pois que na| ponta d’areia pode ser
elle um agente| Fiscal de sua Confiança que zelará.|2v. perfeitamente os interesses do Estado, sem
que| passem-se os contrabandos, denunciados| pelos nossos intigrantes adversarios!| carta 236
c. Vossa Senhoria não se lembrou mais| do que me prometeo em Fevereiro 1900| quando encontrou se
comigo em| Campestre que subia para o S. Geral|do com Sr. Barrow, neste dia Vossa Senhoria
apresentou-me a elle e prometeo| me um lugar de fiel <e amanuense> da Alfandega| ahi na Bahia,
perguntou me se| eu tinha fiança de 3000:000 eu lhe| respondi que tinha, creio que| de mirar sem
recurso para dar| comer os filhos não sei o que| será só o desaparecimento para não velos| morrer a
fome|. carta 276
d. Quando arretirava-se, 5 para 6 horas da tarde, foi attingido por uma balla,| fallecendo as 2 para 3
horas da madrugada: 321
f. Estava disposto a man|dar um portador directamente| ahi; ou a Secretaria passar um| lelegramma
visto como| desde que d’ahi regressei-me| não tive mais noticias. carta 328
187
g. Soube| por intermedio do Geraldo a| outro que Dona Adelaide não| se achava restabelecida;
fiquei| avexadissimo, pois quando| d’hi ausentei-me dexei|-a muito melhorada. A secca| aqui
continua intucidamente| apparece indicios de chuvas| não sei o que surtirar|1v.surtirá. carta 328
h. Náo pude| como V. pediume, e eu pretendi,| pagar seo dinheiro athe o fim do anno;| e mesmo
ainda náo o tinha hoje| toudo pronto; porem avista de náo| de morar, remeto lhe por meo ir|máo
(700$000) sete centos mil reis,| e peço lhe por dizerme quanto resto.| carta 338
i. Hontem o Governador| baixou o acto suspendendo a lei da| organisação da guarda municipal;| más
creio, que o Conselho e o In-|tendente, não se submeteu a seme-|lhante arbitrariedade; tanto assim,|
que consta-me ter feito hoje as-| nomeações da dita guarda ou par-|te d’ella. carta 368
j. O Con-|selheiro e os177 fanaticos d’elle, estão-| muito audazes, más creio, que se derem| um novo
combate, como espera-se, fi-|carão aniquilados para sempre, por que|1v. a força178 que para alli
seguio, [de]179|ve constar de 500 praças, entre [li]180nha e policia, e foi muito bem ar[ma]181|da e
municiada; carta 371
l. Do mesmo criou-se um| diretorio para o Partido com| a denominação de Catho|lico sendo o
Vigario| escolhido chefe e o Elpi|dio vioce chefe se bem| que este disse-me não| acceitar. Com a
vista| conversaremos a respei|to de tudo quanto dis res|peito a Politica de aqui| carta 494
m. E de facto só no| começo do mez de Maio foi que a febre| deixou-a e por muitos dias ainda|
estavamos sempre receiosos. Sabe-o| Deos, eu e alguns amigos que nessa occasião| frequentarão-me
a casa, e mais que| todos, o Doutor Pedro Mendes que por duas| veses veio medical-a, o estado de|
prostração, afflição e desconfian-|2v.ça em que me achava; cuja conva-|licença prolongou-se até o
meado| de Junho. carta 442
Por fim, passo aos exemplos dos seguintes tipos de orações: Orações interrogativas diversas;
Expressões fixas e orações coordenadas ou subordinadas com “porque”.
(3.50)
a. Sua carta de 16 d’este, em resposta| as minhas de 18 e 25 do passado e de 5 e-| 11 deste, me foi
entregue no dia 22-| V. não se persuadia que o pôvo do Con-|selheiro recuava perante a força Fede-
|ral, embóra fosse elle em numero-| muito inferior? Já desenganou-se? carta 371.
177 Rasurado.
178 Rasurado.
179 Corroído.
180 Corroído.
181 Corroído.
188
b. Quan|tos raios, brilhantes de luz,| não terá augmentado a aureola| da gloria, que o circunda?|
Adeos. Sempre e cada vez mais|Seo doCoração| Pinto Lima| carta 205
c. Porque| D. Adelia não me escreveu quando ultimamente| a ella me dirigi? Como vai teu Irmão?
O| João tem apparecido aqui, depois das ferias,| que connosco passou desde que o Roche se| foi: está
bonito, crescido e gordo, e á espera dos| 900$000 para comprar roupa, alfinete de| gravata, etc. Se te
não esqueceres, manda-| 7r. 7|-me d’ahi umas sementes de mamão, mas do que| tem a forma de
melão, para ir substituindo os do| nosso quintal. Até hoje não recebi o requeijão| que vão mandar pelo
Doria: quando chegar pro-|vavelmente já trará ninhada.| carta 273
c. No dia 17, está| anunciado uma grande reunião| para formar-se o partido nacio-|nal, o que me
diz a respeito? Aqui| ou em qualquer parte que esteja con-|tará sempre com o meo fraco ser-|viço.
Tem chovido bastante aqui.|Abençôe sua affilhada e dê-| suas ordens a este que com toda|2r.
estima, concideração e respeito é|De Vossa Excelência|Primo compadre e amigo pelo Coração|Benicio
Penalva|carta 355
(3.51)
a. O Céo lhe dê consolações.| carta 199
A variação nesse contexto não é esclarecedora, uma vez que não foi feita distinção entre o
conectivo porque coordenativo/explicativo e a conjunção subordinada causal devido à instabilidade
diacrônica desses conectivos para a contagem da ênclise e da próclise (cf. Martins, 1994, Britto, 1999
e GBPS, 2005). Os exemplos ilustram as ocorrências das orações com conectivo “porque”, tanto em
coordenadas quanto em dependentes.
(3.52)
a. Não tenho tempo, disponivel|1v.porque, não obstante haver| sahido muita gente, acho|me só no
balcão, as noticias| que colho não me são| minestradas pelos princi-|paes, pelo que só vou trans-
|mittindo oque posso colher| sem poder sellar como| veridico-182|os taes conselheristas estão|
182 Borrado.
189
cada vez mais ousados,| ultimamente forão ao Caixa-| [a] qui atacar o Sabino Barros| irmão de João
Roque que| foi vaqueiro do Dr. Fiel e soube-|mos aqui que o Sabino tendo| aviso antecipado
fugiu,| porem parece que oplano| era para diversos, porque soube-|se que indo d’aqui diversos|
em numero de 6 a 8[...]183, a pro-|cura de animaes, quatro,| foram mortos, podendo o res|to fugir e
por isso escapa-|rão.| carta 449
c. Mana| lhe pede este favôr, e lhe manda dizer que agora n’esta| casa há mais ordem, por que ella a
governa. carta 8
d. Sciente do| que me comunica sobre o| sarampo é difficilimo traçar lhe| uma linha de conducta,
pelas| formas diversas por que elle| se apresenta – carta 132
Os dados desse item buscam confirmar a hipótese apresentada na introdução, a de que, nos
textos de CB, é possível encontrar três gramáticas em competição com relação à colocação dos
clíticos. Para isso, a discussão neste item visa apresentar as ocorrências encontradas em CB sob uma
perspectiva longitudinal com base na data de nascimento dos remetentes e de produção dos
documentos. Em um segundo momento, esses resultados são comparados com estudos históricos
do português europeu e do português brasileiro, tendo como parâmetro GBPS (2005) para os
escritos por portugueses e Pagotto (séc. 16-20) para os textos escritos no Brasil.
Um ponto complicador diz respeito à forma de tratar os dados de maneira pragmática em
uma perspectiva quantitativa, considerando a data de nascimento dos autores, assim como a data de
produção dos textos. O problema reside, tanto no primeiro caso quanto no segundo, na forma de
agrupamento, já que essa não é uma decisão trivial. Ou seja, é impossível tratar cada rementente e
inseri-lo em um ponto no tempo como é feito nos Corpora Históricos Anotado do Português (CTB). Isso
porque estamos tratando de correspondências particulares de uma população extensa, pessoas
nascidas em diferentes anos de uma mesma década e que escrevem suas cartas ao longo de suas
vidas. Não se trata de um único autor. Logo, para tratar de um universo de 217 que produzem no
total 500 cartas, são necessárias algumas tomadas de decisões que podem ter implicações na análise,
mas são necessárias, considerando-se a especificidade da documentação. Além disso, estamos
juntando gramáticas individuais como se fossem uma de certo período. Mas se por um lado há
183 Rasurado.
190
implicações teóricas nesse sentido, por outro, os textos representam uma amostra substancial de
língua-E do século XIX, além de ser também uma amostra pouco formal.
A forma de organização dos dados, embora questionável, foi feita de maneira a agrupar
indivíduos em um período comum de tempo. Como foi resultado de um agrupamento de datas
distintas, foi tirada uma média para inserção em determinado ponto na linha do tempo, ficando os
dados organizados da seguinte maneira quanto ä data de nascimento dos remetentes:
1. nascidos entre 1724184 e 1799: ponto no tempo, 1775;
2. nascidos entre 1800 e 1850: ponto no tempo, 1825 e
3 nascidos entre 1851 e 1880185: ponto no tempo, 1875.
Uma vez esclarecidos esses aspectos, parte-se para apresentação dos tipos de orações
analisados:
(i) Verbo em posição inicial absoluta.
(ii) Contexto de variação I: orações raízes declarativas afirmativas e principais com verbo
precedido de sujeitos neutros, advérbios não modais e sintagmas preposicionados.
período, a maior parte das cartas da segunda metade se concentrava no último quartel.
191
(iii) Contexto de variação II: Verbo em posição inicial em segunda coordenada e verbo
precedido de orações dependentes
Em (ii), é também observada a atuação do clítico SE sobre o sujeito pré-verbal. E, quando
pertinente, outras possibilidades de análise dos percentuais, com o objetivo de avaliar o impacto de
determinadas construções como, por exemplo, o de sujeitos pré-verbais com nome próprio na
incidência de ênclise. Nesse contexto, o padrão curvilínio pode indicar a direção do português
europeu moderno ou indicar a atuação da gramática do português brasileiro.
192
3.3.6.1.1 Próclise em posição inicial absoluta
Tabela 3.13 Ênclise/próclise em posição inicial absoluta em CB. Por data de nascimento
Data de Posição inicial absoluta
nascimento Orações declarativas, afirmativas principais com verbo único
1724-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
V
Ênclise 6 156 32 42 236
Próclise 0 8 0 0 8
% Ênclise 100 95,12 100 100 96,72
TOTAL 6 164 32 42 244
O gráfico 3.3, comparativo com GBPS (2005), mostra de forma clara a variação nesse
ambiente, embora o percentual de CB seja pequeno.
Gráfico 3.3
Ênclise/ próclise em V1 absoluto
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
40
30
20
10
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
193
A variação encontrada no contexto I mostra, de forma inequívoca, a atuação da gramática do
português brasileiro.
Esses dados foram contrastados com GBPS (2005) que, como dito, estudam o português
europeu (1500-1850). Nessa comparação reside o ponto chave para a identificação das gramáticas
que produziram as construções com clíticos em orações com verbo único. Conforme seja a curva
ascendente, em construções no contexto I, com ênclise, é interpretada como correspondendo às
construções próprias do português europeu moderno. Esse contexto é bastante importante para a
descrição de construções com clíticos em toda a história do português europeu e com implicações
para o entendimento do português brasileiro, sobretudo em um momento de competição de
gramáticas, como o verificado em textos escritos por brasileiros nascidos a partir do século 17.
No gráfico apresentado com base nos estudos de GBPS (2005), sobre o português europeu
de 1500-1850, verificam-se, como já mostrado, duas fases distintas na colocação dos clíticos nas
orações raízes declarativas afirmativas e principais com verbo precedido de sujeitos neutros,
advérbios não modais e sintagmas preposicionados. Na 1ª fase, a variação nesse contexto até o
século 18 é interpretada como característica de uma mesma gramática, sendo que a ênclise inferior a
15% é considerada uma opção marcada. A partir do século 18, há um início de uma curva que
mostra os efeitos da mudança na gramática do português europeu, caracterizando a 2ª fase, o
denominado português europeu moderno. Nessa nova gramática (cf. GBPS, 2005), os percentuais
de ênclise atingem em meados do século 19 quase 90%.
Vejamos a seguir, os percentuais encontrados em CB. A tabela 3.14 traz os dados
encontrados em CB cruzados com a data de nascimentos dos remetentes das cartas.
194
Próclise 2 17 3 2 24
% Ênclise 0 45 25 60 43
PP-V
Ênclise 0 32 7 9 48
Próclise 0 25 5 3 33
% Ênclise 0 56 58 75 59
TOTAL
Ênclise 4 93 28 20 145
Próclise 8 84 14 13 119
% Ênclise 33,33 (33) 52,84 (53) 66,66 (67) 60,6 54,92
No gráfico 3.4, a seguir, que trata do mesmo contexto acima, quando cruzado com a data
de nascimento dos autores nos três períodos, vê-se que a ênclise não é compatível com a do
português europeu moderno, embora apresente a mesma curva ascendente. Então o que temos: algo
que parece ser, até meados do século 18, uma variação que não é ainda a do português europeu
moderno e pode ser interpretada como conseqüência da competição com o português clássico. E,
de outro, a ênclise a partir daí, que se aproxima do português europeu moderno, aparece em
competição com a gramática do português brasileiro. Vejamos os percentuais no gráfico que segue e
que se referem à comparação de CB e GBPS (2005).
Gráfico 3.4
Ênclise/ próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
100
90
85
80
70 70
67
63
60
53
%
50 48
45
40 41
33
30
27
20 21
15
10 10 12 8
11
5 55 6 5
3 2
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
195
A hipótese que tem sido defendida, conforme dito no capítulo 1, sobretudo Pagotto (1992,
1999), é de que a ênclise que aparece nos textos escritos no Brasil do século 19 ocorre pela
imposição da norma brasileira que tem o português europeu como padrão em um momento de
mudança, do português clássico ou médio para o português moderno. Essa situação de mudança se
reflete nas curvas do gráfico 3.4 acima187.
Para comparar esses resultados aos apresentados por Pagotto (1992), submeto os dados do
contexto de variação I à data de produção em cartas brasileiras, conforme tabela 3.15, a seguir:
Os dados de CB são vistos agora segundo a data de produção dos documentos e serão
novamente comparados aos estudos de Pagotto (1992). Os resultados são os seguintes:
Gráfico 3.5
187
Os portugueses usam já bastante ênclise no século 18. No entanto, parece que a “norma portuguesa” só vai afetar os
textos brasileiros no século 19. Por quê? Temos que levar em conta o atraso na atuação das mudanças nos textos,
primeiro em Portugual, depois no Brasil. Logo, de fato, não é possível considerar a ênclise como opção normativa no
século 19 (cf. Paixão de Souza, comunicação pessoal). E a próclise ainda se reveste de opção possível também, e é
prestigiada (cf Figueiredo, 1909).
196
Ênclise/próclise no contexto de variação I
Pagotto (1992) e CB
Data de produção dos documentos
100
90
80
70 71
66
60
50 51
45 46
%
40
30 31
20 17 16 15 15
10 12 11
8
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
Pagotto, 2005 CB
Gráfico 3.6
Ênclise/Próclise no contexto de variação I
Paixão de Souza (2004), Pagotto (1992) e CB
Por data de publicação/data de produção dos documentos
100
90
85
80
70 70 71
63 66
60
50 48 51
45 45 46
40 41
%
30 31
27
20 21
17 16 15 15
15
10 10 128 85
12 11 11
0 35 5 6 2 5
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
197
Gráfico 3.7
Ênclise/Próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) por data de nascimento dos autores e Pagotto (1992) e CB por data de produção/publicação
dos documentos
100
90
85
80
70 70 71
63 66
60
51
%
50 48 46
45 45
40 41
30 31
27
20 21
17 16 15 15
10 10 12 8 8 115 5
12
6 5
11
3 52
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
Tendo em vista a importância das construções com SV nesse contexto, comparo os dados
de CB com GBPS (2005).
Tabela 3.16 Ênclise/próclise com sujeito pré-verbal em CB. Por data de nascimento
Data de Sujeito pré-verbal
nascimento S-V
1724-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Ênclise 4 47 20 8 79
Próclise 6 42 6 8 62
% Ênclise 40 53 77 50 56
TOTAL 10 89 26 16 141
Gráfico 3.8
198
Ênclise/ próclise com sujeito pré-verbal
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
100
90
93
85
80
77
70
67
65
60
54 51
50
%
49
40 40
31 36
30 29
20
14 13 11
10 8 9 8
5 6 7
0 0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
Tabela 3.17 Ênclise/próclise com sujeito pré-verbal (excluindo o clítico SE) em CB. Por data de
nascimento
Data de S-V (excluindo o clítico SE)
nascimento 1724-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Ênclise 3 34 12 6 55
Próclise 3 36 5 7 51
% Ênclise 40 49 71 46 52
TOTAL 6 70 17 13 106
A análise das estruturas SV sem o SE eleva a curva. Comparem-se os resultados dos dois
gráficos, 3.9 e 3.10, a seguir, sendo que, no primeiro, as construções não são comparadas com os
índices de sujeito de GBPS (2005), mas com todo o contexto de variação I. Isso é importante para o
entendimento em CB.
Gráfico 3.9
199
Ênclise/ próclise com sujeito pré-verbal (Excluindo S-V com o clítico SE)
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
100 98
90
80 76
70 71
60
53
%
50 47 49 49
40 40
30
20 21 19
11 14
10 6 6 4 6 7 6
0 0 3 0 0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
Seguindo esse raciocínio, faço uma nova tomada dos dados, desta vez excluindo do
contexto I, os sujeitos com nome próprio, porque foi percebido que apresentam tendência à ênclise.
Após isso, novamente, voltando ao contexto I: orações raízes declarativas afirmativas, principais,
com verbo em segunda posição antecedido por sujeitos neutros, sintagmas preposicionais e
advérbios não modais, para verificar se o índice de ênclise em sujeitos com nomes próprios
interferiu. Adiante, faço o mesmo com os casos de sujeito com SE.
Nessa fase da descrição, o passo seguinte é a exclusão dos sujeitos com nomes próprios.
Tabela 3.18 Ênclise/próclise no contexto de variação I (excluindo S-V com nome próprio) em CB.
Por data de nascimento
Data de Contexto de variação I
nascimento (excluindo S-V com nome próprio)
1824-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Ênclise 3 31 6 4 44
Próclise 6 32 4 7 49
% Ênclise 33 49 60 36 47
ADV-V
Ênclise 0 14 1 3 18
Próclise 2 17 3 2 24
% Ênclise 0 45 25 60 43
PP-V
Ênclise 0 32 7 9 48
Próclise 0 25 5 3 33
% Ênclise 0 56 58 75 59
200
TOTAL
Ênclise 3 77 14 16 110
Próclise 8 74 12 12 106
% Ênclise 27,27 (27) 50,99 (51) 53,84 (54) 59,25
Gráfico 3.10
Ênclise/ próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) e CB (excluindo os casos de sujeito com nome próprio)
Por data de nascimento
100
90
85
80
70 70
60 63
51 54
%
50 48
45
40 41
30 27 27
20 21
15
10 10 12 8 11
3 52 5 5 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
Tabela 3.19 Ênclise/próclise no contexto de variação I (excluindo S-V com nome próprio e sujeito
com clítico SE) em CB. Por data de nascimento
Data de Contexto de variação I
nascimento (Excluindo SV com nome próprio e S-V com o clítico SE)
1824-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Ênclise 2 23 3 3 31
Próclise 3 26 3 6 38
% Ênclise 40 47 50 33 45
ADV-V
Ênclise 0 11 1 3 15
Próclise 2 14 3 1 20
% Ênclise 0 44 25 75 43
PP-V
Ênclise 0 24 6 7 37
Próclise 0 23 5 3 31
201
% Ênclise 0 51 55 70 54
TOTAL
Ênclise 2 58 10 13 83
Próclise 5 63 11 10 89
% Ênclise 28,57 (28) 47,93 (48) 47,61 (48) 56,52 48,25
O gráfico 3.11 mostra a comparação com GBPS (2005). Esse gráfico é importante porque
evidencia que, de fato, em CB, tais construções, isto sujeitos pré-verbais com nome próprio e com o
clítico SE, interferem nos resultados. Não é, entretanto, conclusivo, porque não se tem um
equivalente com relação aos nomes próprios em GBPS (2005).
Dos gráficos equivalentes ao contexto de variação I, fica como conclusão aproximada que a
curva em CB não acompanha a mesma tendência do português europeu. Desse ponto de vista,
interpreto CB como reflexo de competição de gramáticas. É significativa a distância nos dados
relativos ao português europeu e CB.
Gráfico 3.11
Ênclise/ próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) e CB (excluindo S-V com nome próprio e o S-V com o clítico SE)
Por data de nascimento
100
90
85
80
70 70
60 63
50 48 48 48
45
40 41
%
30 28
27
20 21
15
10 10 12 8 115 5
3 52 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
202
3.3.6.1.3 Contexto de variação II: GBPS (2005) e Cartas Brasileiras (CB)
Tabela 3.20 Contexto de variação II, raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas em CB
Data de nascimento Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas
1824-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Ênclise 5 119 15 21 160
Próclise 4 31 6 4 45
% Ênclise 55,6% (56) 79,3 (79) 71,4 (71) 84 78,0
TOTAL 9 150 21 25 205
Gráfico 3.12
Ênclise/ próclise em coordenadas V1
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
100 97 97
90
80 80 80 79
7477 71
70 69
67
60 63
56
%
50
4746 46
40
33 36
30 32
25 27
20 22
10
4
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
A tabela 3.21 traz os resultados da construção com verbo precedido por oração dependente
reduzida ou desenvolvida que faz parte do contexto de variação II nos termos propostos por GBPS
(2005).
203
Tabela 3.21 Contexto de variação II, verbo precedido de orações dependentes reduzidas e
desenvolvidas em CB. Data de nascimento
Data de nascimento Or. V
Verbo precedido de orações dependentes reduzidas e desenvolvida
O gráfico 3.13 mostra os resultados comparativos com GBPS (2005). O percentual de 100%
para o ano de 1750 não é relevante porque se refere a apenas 1 ocorrência.
Gráfico 3.13
Ênclise/ próclise com oração dependente precedendo o verbo
GBPS (2005) e CB
Por data de nascimento
100 100
94
90 88 88 90
86
80 78 77
70 73
62 64
60 59 58
53
%
50 48
40 43
36 36
30 29
26
20 18
10 8
0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
GBPS, 2005 CB
Julgo que, a partir dos elementos apresentados nesse item, é possível postular a atuação da
gramática do português brasileiro no século 19. Há evidências de que os brasileiros do século 19 de
fato falavam como os brasileiros de hoje, mas tentavam reproduzir as gramáticas portuguesas que
lhes serviam de norma. Nesse item, mostrou-se que a próclise que aparece nos textos, somente em
parte, representa a gramática do português clássico. Parte importante dessa próclise representa a
gramática do português brasileiro em orações com verbos simples, além da próclise ao verbo não
finito, como será visto adiante.
204
Pode-se inferir que as construções com ênclise são produzidas por gramáticas distintas do
português em processo de competição de gramáticas. Aliada a essas duas gramáticas em competição,
ou seja, construções da gramática do português europeu de um período anterior ao século 18 com a
nova gramática a partir desse período, há a gramática de uma das vertentes do português brasileiro,
que apenas os falantes cultos conseguem escapar em parte, mas não os falantes não cultos (cf.
capítulo 6). Digo em parte porque, embora de forma restrita, os falantes cultos (1/13) usam a
próclise em início de oração, um contexto altamente marcado, uma vez que sempre foi um contexto
de ênclise categórica na história do português europeu. Todos os outros casos (12/13) foram
registrados nas cartas dos remententes semi-cultos. Isso indica que essas construções são próprias da
gramática nuclear do falante brasileiro do interior da Bahia. Por outro lado, também apresentam,
mais do que os falantes cultos, propriedades que não caracterizam a gramática do português de
nenhum período. Ou seja, aspectos que não são parte de sua gramática nuclear e nem da Língua-I de
falantes do português. Por exemplo, as construções com ênclise indevida, podendo ser uma
tentativa de generalizar a ênclise aprendida de forma imperfeita nessas construções que não fazem
parte nem da escrita e nem da fala do português que lhes serve de referência social.
No próximo item serão analisadas as construções com grupos verbais.
A próclise ao verbo não finito em construções com grupos verbais, V finito cl-V não finito,
como foi mencionado anteriormente, caracteriza uma importante inovação da gramática do
português brasileiro, aliado a isso, a perda de elevação do clítico, cl Vfinito V não finitio ou V finito-
cl V não finito. Esses serão os principais fenômenos a serem investigados na próxima seção.
Para demonstrar a instabilidade na colocação dos clíticos, destaco como significativa a
construção com o clítico em ênclise ao particípio, um tipo de estrutura estranha a gramática do
português europeu e ao português brasileiro.
a. O novo Juiz de direito vai indo;|2r. muito Viannista – tem trata=|do-me bem, e até aqui| vai
indo. Fiquei sciente so=|bre Urpia. Tenho estado com| seus vaqueiros, e disem-me| que há serios
prejuisos. –|carta 328
b. Estava rezolvido ir até| o Camuciatá, mas não achei| uma montada suffisciente| para esse fim. O
nosso juiz de| Direito vai indo, e segundo o| que tem manifestado-se temos| um Pompilio ou pior;
disse-me| que havia de contar-lhe aqui em| tudo, e na fuctura Eleicão Mu|nicipal não deixaria um
governo| obista votar, sobre pena de ser pre|so!!. (rezerva) a minha pozição de| Escrivão é critica: Eu
respon|di-lhe ao pé da letra, que só| assim elle podia ganhar elei-|ção pela força bruta – e, que| não
dispunha de outros ellimen|tos, e que neste procedimento|2r. seguio o Procopio e depois as|
consequencias foram fataes–| carta 330
205
Esse dado consta na carta de Antero de Cirqueira Gallo, filho do remetente Quintino José
Gallo, o mesmo que usou próclise com verbos em posição inicial absoluta. Antero, autor das cartas
328 e 330, natural, também, de Bom Conselho, na Bahia. Nasceu em 5/5/1864 e exercia o cargo de
escrivão municipal e era agente de correio em Tucano, função que seu pai assumiu após a sua morte
em 1/6/1899. O que parece é que Antero evitou a construção brasileira, usando a ênclise ao
particípio.
Também aparece na carta do remetente para o barão de Jeremoabo188.
c. O Senhor Governador, está-| parecendo um governador de bob[ão]| Consta que no Rio tem
havi[do]189| grande movimento dos E[studan]190-|1v. tes da Eschola militar e os Jacobi[nos]191| com a
Policia e que alguns offi-|ciaes ou Generáes tem apresenta-|do-se em favor dos estudantes; e por|
telegramma que vi no Jornal de| Noticias, creio que de hontem ou an-|tehontem, diz, estar a Armada
de| prontidão, pelo que, parece-me| que as cousas lá não vão bôas.| Parece-me192que aqui haverá ba-
|rulho antes do fim de Março,| se o governador intender de fazer| valer sua arbitrariedade.| carta 368
Além de outro dado não contabilizado, por se tratar de uma construção não finita, foi
retirado da carta do coronel da Guarda Nacional João Cordeiro d’Andrade. João Cordeiro d’
Andrade, radicado em Jeremoabo, na Bahia, além de proprietário de terras, foi intendente em Monte
Santo (1892-1894).
d. Não pude ir n’esse| dia e até hoje cumprimental-o, por| ter saido-me um leicenço no pesco-|ço,
junto a nuca, temi viajar. Foi| o Cezar e os outros parentes. Já o-| tinha visto quando veio até junto|
da Vila e regressou-se a Queimadas.| carta 422
Há ainda exemplos de dupla colocação do clítico, revelando pouco domínio com a gramática
do português europeu, encontrados nas cartas do baiano, natural de Tucano, Quintino Gallo,
nascido em 1819.
e. P.S. se lhe for po çi|vel mande me nomiar me|1° Juis de Pas| carta 476
f. Homtem 22 paçou o dia imvernado| e a 6 horas da tar[de] fexou omundo e ras-|gose as nuves que
só parecia que o mundo queria|2r.queria se arasar xouveio193 forte the depois| de 8 horas das 10 im
188 O exemplo (3.53c) foi extraído da carta do baiano, Benício Penalva de Faria, nascido em 16/05/1847 falecido em
20/02/1925, vereador em Rio Real e primo do barão de Jeremoabo.
189 Rasgado.
190 Rasgado.
191 Rasgado.
192 Rasurado.
193
Por “choveu”.
206
diante tornou a pegar| ainda mais groça athe madrogada as| aguas zuava que parecia omar aqui|
esbaro por hoje o mais para amaham hia me| esqueçendome digame alguma Coisa| sobre o mento
da Agencia, vou conclu-|ir, as chuvas segundo as noticias de hoje| forão geral. carta 488
Além de expressões causativas com elevação (cf. capítulo 1). Esses resultados são vistos
primeiro em sua totalidade, separando os casos de elevação e não elevação, conforme item 3.4.1.
Do total inicial, 681 itens, serão analisados como relevantes 620 em grupos verbais.
207
3.4.1 Elevação e não elevação de clíticos
Como relatado no capítulo, a elevação do clítico passa de um contexto não variável até o
século 17 para um contexto variável no português europeu moderno. Em Pagotto (1993:192), a
próclise ao primeiro verbo era majoritária no século 19. Os dados de Lobo (2001) também
apresentam um predomínio das construções com elevação de clíticos entre os portugueses (71,8%) e
essa tendência se mantém nos brasileiros, mas com um percentual menor (58,2%). Com relação às
construções sem elevação de clíticos em que o clítico ocorre enclítico ao verbo não finito (Vfinito V-
cl), os percentuais nas duas amostras praticamente se igualam: 26% (brasileiros) e 25,2%
(portugueses). A organização dos dados, segundo essas duas classes principais (elevação e não
elevação dos clíticos), é feita como segue:
(3.54)
O Dr. Alfredo Ellis, cuja fazenda visito duas vêzes por semana,| me tem dispensado finêzas e nas
nossas palestras (unicas que tenho)| faz as maiores referencias a Vossa Senhoria, podendo mesmo Vossa
Senhoria contar| nêlle um verdadeiro admiradôr.| carta 209
(3.55)
(3.56)
208
4. V finito-cl X V não finito: ênclise ao verbo finito com um elemento separando o par
verbo finito-clítico do verbo não finito
(3.57)
Pode-se| pois considerar o Norte da Allemanha annexado á| Prussia. A situação actual da Europa
parece mais| confusa e perigosa do que era antes da ultima guerra.| carta 87
(3.58)
Estando o meu| compadre e amigo Sr. Bernardo José Pinto muito| desgosto n’este lugar pelos
motivos que de| mim vos lhe exporá, e desejando ir para| Bahia, mas não pudendo ser já, quer| ir se
aproximando, e aspira uma re|moção de sua Sr.a, minha ExcelentissimaComadre| para ahi por um a
dous annos até que| conclua certos negocios, por ser ella Profes-|sora aqui, por isso elle ahi vae
enten-|der-se com o amigo a ver si concor-|da, e eu então rogo-lhe com toda effi-|cacia todo seu
valioso apoio em seu| favor, certo de que ligo viva impor-|tancia a este meu pedido por causa das|
tristes circunnstancias em que se ache| o meu dito amigo carta 129
6. V finito X V não finito-cl: ênclise ao verbo não finito com um elemento o par verbo
não finito - clítico do verbo finito
(3.59)
Agora que assas te tenho fallado de mim, vou tão bem ocupar-me com tigo para per-|guntar-te
como estás meu Angelo? carta 32
7. V XX V-cl: ênclise ao verbo não finito dois elementos separando o par verbo não finito -
clítico do verbo finito
(3.60)
A anna veio hontem aqui pedir-me| 10.000 reis imprestado, disendo-me que V.| e os meninos lhe
havião dito, que eu ti-|nha ordem de dar-lhe algum dinheiro| de que fosse necessitando, más como
não ti-|ve essa ordem sua, nem de seus filhos, dei-|xei de satisfazer o pedido d’ella. carta 367
209
8. VXclV/ V XX cl-V: próclise ao verbo não finito com um elemento separado o clítico do
verbo finito
(3.61)
a. Quero ainda uma vez lhe| agradecer as boas e generosas| palavras com que hontem|
eloquentemente saudou-me| em nome do povo bahiano!| carta 166
b. Li sua correspondencia e a ousada resposta do taturfo João Dantas,| apresentou-se n’este escripto
como homem sem macula, porem conto| que Vossa Excelência o esmagará e para o faser não será
preciso discrever todas| essas [...]194 mazellas! porque em toda sua vida tem por artimanhas se
apossa-| do de uma grande parte da fortuna dos que o tem acompanhado| e locupletando-se dos
dinheiros dos cofres publicos!: carta 415
9. V cl-V: próclise ao verbo não finito marca gráfica une o clítico ao verbo finito ou ao
verbo não finito e algum constituinte separa o clítico ou do verbo finito ou do
verbo não finito.
(3.62)
a. Na-| falta do Sabino fiquei com-|pletamente sozinho, porque o Prezidente| do Conselho não
ajuda, sinão e| unicamente com a-a signatu-|ra; para tal trabalho tem me-|auxiliado Jose Ramos, que
o tenho|2r. alizado muito. carta 461
b. Muito tenho medado com o Tenente e continuo elle| me dice que lhe presa e que meo compadre
he| muito Amigo do Padrinho e tio delle que| mora na esplanada. carta 485
c. Não fosse merecedor, mas|como aeleição estava perto que| meprestaria aesta depois| que lhevisse
por que não sei| seo ceo ricentimento he deforma| que eu oacompanho em [to]|do centido Digame
como ver|dadeiro amigo com franque|za pois ja tenho lhedito que so V. eso| V. emais ninguem.
Apareço| breve elhe trazer odinheiro do Mel|quides pois não oaxei nas canas| esim navarzia Salgada|
carta 403
d. Não te-|nho lhe escripto supondo ja| se ter regressado para o Regalo,| e Camuciatá onde devo
mandar| Potamio visital-o, a Baronesa e os| Primos. carta 433
f. Lamento que a peste de man=|queira, (uma das fórmas do carbru-|culo) tenha se manifestado
assim| intensamente no territorio da Bahia.| carta 271
g. Como, porem, deixaste sem resposta as minhas| primeiras cartas, a certeza de que, por esse meio,|
não tevi noticias directas tuas, tem me feito| contacto com o que sei pelos amigos. carta 272
194 Rasgado.
210
10. V cl V: clítico entre o verbo finito e o verbo não finito
(3.63)
Esses exemplos permitem dupla interpretação, tanto pode ser visto como ênclise ao verbo
finito quanto como próclise ao verbo não finito.
a. Os jagunsos estáo se re-|unindo nas catingas, e| dizendo que o infeliz tem| de reçuçitar para vir
mos-|trar que é Deus ja vi por tanto| que o fanatismo ain-|da não se acabou des-|tes malvados, e
fican-|do sem serem persegui-|dos nestes pontos onde es-|tão muito pior. carta 435
b. Permita-me Vossa Excelência que lhe diga que convem tratar bem| o Lamas; he <elle> o primeiro
vulto intellectual detodo o Rio| daPrata, e, se não morrer cedo, tem ali de figurar, inevitavel=|mente
nos primeiros cargos inclusive o dePresidente da| Republiqueta, ecomo, bom ou maus, são esses os
vesinhos mais| proximos quetemos convem nos entreter com elles rellações de| boa vesinhança,
não por amor d’elles, más porque isso está em| nossos interresses. –|carta 26
c. A eleição vae se ferir amanhã, mas não haverá, provavelmente, numero e segunda| e terceira serão
talvez preciso| carta 243
d. Elles ahi vão todos para a| Festa do comissario Antonio Ferreira| com Jose Galdino, Vigario; e
outros, pois-|4r.pois, tudo, diz o Vigario são seos| amigos, só não conta com migo| e João Costa por
sermos teimozos; ri|almente; este não se querendo involver, po-|rem tem seportado com seriedade|
enfim desculpe a massada| edepois de meditar o meo| sofrimento resolver conforme achar| justo,
pois mais minucioso só| posso ir com a vista.|carta 462
e. De variós pontos tem se| ouvido continuamente o| ribombar do canhão.| Dizem que195 a igreja
mais velha| está completamente destruida196| e que a nova estava já| em parte, aguardamos che-
|gada de outros pormenores.| carta 452
f. Dizem fazer horror o que| lá se passa – os doentes| a pedir uma gotta <d’agoa> ainda que|
depois os mattem; uma| rapadura das pequenas tem| se vendido por 5$000; um| litro d’agua pela
mesma| quantia; um punhado| de sal por 1$000; um gollo de| cachaça por 1 e 2$000 e muitas|
cousas nas mesmas condicções.| Os jagunços quando lhes passão| pela frente as cargas de generos
e| munições, tratão logo de mattar| os animais e os bois de carro| para se apossar das cargas.197|
carta 454
195 Rasurado.
196 Rasurado.
197 Rasurado.
198 Essa variante típica do português brasileiro é registrada em Pagotto (1992) em fins do século 18, 2 itens, um na
construção com infinitivo e outro na construção com gerúndio. Em Lobo foi registrada 8,9%, majoritariamente nos
textos de brasileiros pouco escolarizados. Há apenas 1 entre os portugueses (1%). Se para Pagotto (1992), a
generalização dessa estrutura se estende para os demais somente no século 20 (infinitivo: 18/36=50%; gerúndio:
11/13=84% e no particípio: 2/8=25%).
211
Essa ambigüidade pode ocorrer quando: i. sintaticamente pode ser ênclise ao verbo finito (gramática
do português clássico ou do português europeu) ou próclise ao verbo não finito ou verbo temático
(gramática do PB) ou ii. não há nenhuma marca que junte o clítico ao verbo finito ou ao verbo não
finito. Por outro lado, não haverá ambigüidade quando: iii. sintaticamente não poderia ser ênclise
ao verbo finito no português clássico ou no português europeu, ou seja, quando há “atratores” e sim
próclise ao verbo não finito; iv. alguma marca gráfica une o clítico ao verbo finito ou ao verbo não
finito e algum constituinte separa o clítico ou do verbo finito ou do verbo não finito. Esses são os
critérios que vamos usar para descrever casos de ambigüidade ou não ambigüidade.
Apresento, a seguir, os resultados de todos os dados com construções verbais, distribuídos
por tipo de estrutura: elevação e não elevação de clíticos. O maior percentual de elevação do clítico
ocorre com causativos, percetivos e construções passivas. E o menor com auxiliares, além de
também com o verbo querer, considerado um elemento favorecedor da elevação do clítico.
Ambíguos
10. V cl V 32
Total Geral 620
212
3.4.2 Classificação do verbo finito nas construções com grupos verbais
3.4.2.1 Verbos auxiliares
(3.66)
b. Os insuccessos constantes em| todas as minhas pretensões| tem-me creado uma situa=|cão que
facilmente comprehen=|derá quanto me é penosa.|carta 239
c. Do Jiji nada lhe posso dizer desta vez, por| que ha dias não o vejo, e agora199 tenho occasião pa|ra
deplorar esta minha falta, de que vou reunir me| qualquer dia destes.|carta 19
d. É uma extenso territorio de mais de 16 leguas| quadradas, povoadas de oleo de Copahiba,| cravo
de cascas, canella, que eu reputava exo-|tica, e outras especiarias, terras para qualquer|1v.especie de
cultura, e campos para duas Fazendas| de gado, que se vão situar, e para as quaes vai pas-|ar-se o
gado, que tinhamos na Chapada, onde| existe a mina de cobre de Paizinho, que a tem| tratado
vender ao Sr. Dezembargador Lião, por não poder| por si só lavra-las.| carta 177
e. Vossa Excelência tem toda bondade commigo,| que ainda vou a sua presença rogar-lhe| benigno
accolhimento para a pertenção| inclusa, de cuja veracidade do exposto| me assegura pessoa a quem
desejo servir;| isto, no caso de Vossa Excelência não ver nisso algum| inconveniente.|carta 28
f. Eu considero isso como uma| verdadeira indisciplina partidaria,| mas as opiniões, muitas vezes
mu|dão-se por vaidade ou interesses| mal entendidos e por isso venho|2r.por meio desta exigir-
lhe toda a| franqueza, para como chefe do partido| nessa localidade, tomar as providen|cias que o
cazo merece. carta 196
g. Agora que assas te tenho fallado de mim, vou tão bem ocupar-me com tigo para per-|guntar-te
como estás meu Angelo? carta 32
h. Estimo que tivesse chegado ahi incolu|me e encontrado a Excelentissima Senhora minha| Comadre
vigorosa, Excelentissima Senhora D. Rosa etc. Como disse-me hoje| o Ceciliano que VossaExcelência
indagou d’el|le quaes os limites da freguezia do| Aporá, e não sabendo eu se elle| lh’os deu conforme
são realmente,| vou por meio d’esta dal-os. carta 447
i. Boa saude_ e boas entra-|das do novo anno a V.| e a toda a Excelentissima Familia _| Matarão a
porrete o| Joaquim Dionilho _, é a-|quelle homem aleijado da| mão braço que ahi foi| há tempos
pedir-lhe uma| carta de recommendação| para Sr. Gomes Filho. carta 118
j. Fallei-lhe sobre minha pre-|ttenção, e elle desenganou-me que| não podia servir-me; más, peço-|lhe
liçença para diser-lhe, que| elle só não me dá a collocação| que Vossa Excelência pede, por que não
quer,| visto não depender da vontade| de outro e sim da d’elle, assim| como tambem o que pedi, não|
é caso virgem, pois já se/deo| no governo do Marechal Hermes,| que aposentou um dos
lousado|1v.res e nomeou o Ponphilo de| Santa Cruz: carta 363
199 Borrado.
213
(3.67)
a. Já lhe mandei dizer que nosso negocio não tem havido| precisa reserva; e ainda hontem o Pinto
Vieira, director| da Companhia J. Botanico, meu amigo, veio me inquerir| sobre esse negocio, para
informar ao Presidente da Companhia| que é sobrinho do Pimentel Barbosa, director da Empresa
Viação.| carta 257
b. Note que Honorio era meo| vaqueiro eque ia em companhia| do irmão, com| trezentos e tantos
mil reis meu,| afóra outras quantias, que havia| tomado emprestado para com-|prar tambem
alguns animais;| especialmente da minha parte eu| havia lhe fornecido para| elle ir á Vila Nova
comprar| roupas e outros artigos|2v. necessarios ao fortalecimento da 200força áqui.| carta 450
(3.68)
a. Quero mostrar-lhe| a famosa descripção do| de Clarke recebida de Londres,| e de que feito
Scherbe, cujo livro| desejo ainda ver, por estar o ex-|tracto que me deu, em mao do| estudante que
me recommendou| Sempre seu| velho collega e criado obrigado| SilvaLima201| carta 174
b. Os Bulhões tambem acham| que seria conveniente escreveres, apezar da conside|ração com que
elle me trata: elle, que já votou| contra a medida do substitutivo quando elle foi proposto|
isoladamente, poderia aferil-o agora para| 2r. evitar, pelo veto, a divisão do Registro.| carta 275
200 Rasurado.
201 Grafismo.
214
c. Recebi a sua de 18 do corrente, em letra tão miuda e| grifa, que muito me custou a ler: do mesmo
se queixa| o Pedreira, e á ponto tal, que não pode pelas suas| assignaturas decidir-se, que o seo
appelido era Siqueira| como diria o Imperador, ou Serqueira como vinha escripto| na nomeação e
informação da Prisidente da Bahia.| carta 17
(3.69)
a. Nas proxi-|mas eleiçoes que aqui francamente as pleiteia meo Pai contra o| Dr. Monteiro
unicamente não si pode, e nem si deve appelar| para o espirito pulitico deste Municipio, nada há que
não sejão con|siderações pessoaes, e como eu desejo ter direitos a obzequios seos| por amizade e
parentesco não posso me eximir de deregir lhe| a prezente pedindo=lhe para nos prestar como
fracos o seu valio|zo apoio, mas em todo cazo tomo esta liberdade, salvando| o juizo que o meo
amigo de huma tal cauza possa fazer, pois| como seo amigo, e como homem não exijo a quebra de
suas ideias| politicas, e muito menos o sacrificio de sua honra, e dignidade.|carta 120
b. Em quanto as du-|as cartas que o meu cunhado| lhe escreveu de pois da mor=|tede meu tio e
sôgro a=| primeira que Vossa Excelência accuza| não ter recebido e a 2a| sem dacta esta foi escri-|pta
em nossa caza| no dia 13 de Março do mesmo| anno pois fui eu quem adi=|verti a elle que podia lhe
es-|crever visto ter ficado| em logar de seu pay em|2r.companhia de 3 irmãs, sendo| esta criança
hoje nasceu| em 6 de setembro202 pois nasceu| de 1876, de pois que Vossa Excelência| já era proprietario
no Regalo,| desde novembro203 de 66 eu que vos| conheço desde sua infancia| d’aquido Caritá fui
quem| disse a elle que podia commu-|nicar-lhe em logar de seus| pay, que a vossa palavra| sempre
valeu e vale tudo.| carta 425
215
(3.70)
a. Fez-me vêr que estava compromettido|1v. para as primeiras vagas, e que só d’aqui ha| alguns
meses poderia consideral-o.| Vere)mos se cumpre a promessa.| carta 105
b. Em casa do João Pedro de Souza| Brito, conferente d’Alfandega,| vai elle morar, e peço-te que| o
tenhas sempre, sob tuas vistas| e bons conselhos, como recorda-|ções de nossos saudosos204 tempos|
academicos. Manda-o buscar| a bordo e entrega-o ao Brito.|2r. Elle é completamente inexperien-
205|te e é a primeira vez que sae| da casa paterna.| Olhe por elle, meu Severino e| mais penhorarás| ao
velho, grato, amigo,| Jose d’Oliveira Coelho|P. S. O que elle ahi precisar| lhe darás e contra mim|
sacarás. Si adoecer, olhe| ainda por elle.|Oliveira Coelho|206 carta 299
c. a lem disso, que haven|do dispezas extraordinarias com os Vinculos he| a sua importancia lançada
no quinhão dos Suc|cessores delles; talvés, que votem pela emenda, sem| attenção a estas
circunstancias, e a outras mais, di=|gnas todas de concideração; como sejão: aobriga=|ção de
concorrer o Admenistrador de hu) Vinculo para| a sustentação dos Irmaos quando percizem, e
se=|jão pobres: o direito que tem o immediato suc=|cessor de entrar na admenistração do Vinculo
quando| o actual Admenistrador deixa arruinar-se os be)s,| de que elle se compoem finalmente que
esses bens vem| aficar no numero das Nacionaes, quando o Admenis|trador não tem parentes que lhe
succedão. carta 14
O exemplo abaixo, sem hífem é ambíguo. A colocação do clítico ao verbo finito caracteriza o
PE, enquanto a colocação do clítico ao verbo não finito é tipicamente brasileira.
(3.71)
a. Tenho de remetter-lhe por estes dois| dias cem mil libras que mandou me| pedir. Não sei se
ainda por este paquete| terei de mandar te os saques.| carta 49
Além de contextos ambíguos que permitem duas leituras, ênclise ao verbo finito ou próclise
ao verbo não finito, o que caracterizaria o padrão de inovação brasileira em (3.72).
(3.72)
Manda me dizer o que| entendes sobre isto, e| se lhe devo dar aquella| quantia com o titulo de|
gratificação, fazendo| cessar quaesquer outros| vencimentos militares,| menos cavalgadura, que| he
um achêgo necessario.| carta 45
204 Borrado.
205 Borrado.
206 Grafismo.
216
Além de exemplos de ênclise em contextos de próclise tanto em PE quanto em PB.
(3.73)
a. Como já mandei-lhe dizer, as for-|ças que estiverão no Cumbe eMas|2073v. sacará etc forão as que
compu|nhão a 3ª Brigada, coman|dada pelo coronel Flôres, cuja regressou| 2ª ou 3ª da semana
passada e ante|hontem teve de seguir em procura| de Canudos. A 1ª seguiu hontem| as 1ª horas da
manhã e a 2ª já| havia seguido anteriormente.|carta 450
b. Apesar de mediár poucos dias| da penultima para esta, vejo-me| obrigado de o fazer em razão da|
obrigação que me impoz de ir| pondo-o ao corrente do que me| constar sobre a expedição.|Pois
bem, já mandei-lhe dizer| o que sabia sobre os 1° embates| das forças legaes com os phanaticos,|
hoje soube [...]208 demais algumas| cousas seaqui as consigno-:|Que as cargas de munição não forão|
na totalidade tomadas [...]209 e sim uma| parte; que a mortandade de officiais| já sobe a grande
numero; que tem| sido enorme o numero de solda-|dos mortos; que o numero de phana-|ticos
mortos tem sido zero em relação| daquelles, que além de quasi todos| officiais da artilharia que forão
mortos,| tambem foi morto o Dr. Plinio;|1v. que ha desgostos entre as patentes,| superiores; que os
jagunços| é que tem em cerco as forças| legaes, porque de plano, deixarão se| a proximar das
rebanceiras de| Canudos e por fóra, ou rectaguar-|da os trazem em continuo e nu-|trido fogo; que
nas estradas| conservão numerosa gente| para lhes fazer fogo na passa-|gem como agora fizerão
com| a brigada commandada pelo| Coronel Medêiros que veio até esta| Villa em busca de muni-|coes
de boca e de guerra; tendo| morrido alguns soldados victi-|mas dos tiros sahidos dos mattos| e
nenhum jagunço foi alcan-|çado; que hoje para conducção| degado é preciso que o fornecce-|dor
pague a 20$ por dia aca-|da tangedor e para conseguir| animaes de cargas é preciso| que saião a
recrutal-os.|carta 454
c. Disse-me que tinha despachado|2r. o capitam com a força por elle tra|sido; mas este telegraphou ao|
Chefe de policia, que mandou-|o ficar por mais algum tempo.| Esse capitam é muito insolente e|
audaz. Carta 441
d. Recebi| esta semana uma carta de meo| filho, o que está no Rio, disendo-me| que consta estar o colera
em Mi-|nas e já a um mez ou mais, [...]210 e que aí| no Rio tambem disião ter apare-|cido alguns casos,
más que elle| não acreditava, visto já estar| com tanto tempo e a commu-|nicação que tem aquelle
Estado-|2v. com o do Rio, todos os dias pelo trem| de ferro, e não estar tudo devastado;| pela molestia,
e que o estado sani-|tario do Rio era presentemente| o melhor possivel; o que faz-me| tambem crer, que
não é o colera| morbus que alli, como em Minas| está graçando; por que esta moles-|tia desenvolve-se
com uma rapi-|dez extraordinaria, salvo porém,| se agora ella vem mais mo-|derada do que em 1856.
carta 368
e. Elle, como mandei dizer-lhe, compra e não vende deben-|tures. Todos os possuidores de| maior
somma destes, estão con|vencidos, como elle e o Ludolf, de que a empreza é de grande| futuro. carta
305
207 Rasurado.
208 Rasurado.
209 Rasurado.
210 Rasurado.
217
Em resumo, a principal diferença desse grupo deve-se ao alçamento de clíticos em orações
raízes declarativas e coordenadas V2, com próclise ao verbo não finito. No PE, somente a ênclise é
possível.
Como dito no capítulo 1, a tendência à ênclise em grupos verbais com o segundo verbo
seguido por preposição segue o padrão das orações finitas com verbo único (cf. Abdo 2003)211. As
infinitivas introduzidas por a tornam-se essencialmente enclíticas. A variação ocorre com as
construções com a preposição de, antes um contexto favorecedor de próclise.
(3.74)
b. Pois, meu caro, quem enbrulhou que desenbrulhe. Se| o não conseguir, não me ha de faltar
ensejo para| desforra. carta 274
e. O boato a meu respeito foi o preludio| de alguma cousa que havia de| me acontecer, porquanto
aprincipio| foi agarrado um idiota que| pretendeu atravessar os piquetes| fazendo manganjas, e
disse-|ra que vinha a meu chamado;| ora que era para[...]212 receber de mim,| ora que era para me
pagar| certa quantia; carta 448
f. Outro sim, sei do meo com-|promisso que já tenho comsigo, tenho percurado me-|us recurços
daqui, daculá, e que hoje estou rezolvi-|do imcomodado, não tenho geito, para vêr siassim| posso
trevessar oresto destacruz; tendo nós imverno| Deus sendo cervido, sei que Vossa Excelentissima (pois
assim me disse) não| adianta mais dinheiro avaqueiro quem todavia ainda mesmo assim| miatrevo, e
comfio em sua generozidade que há de-| miauxiliar no seguinte sentido. carta 445
g. Hasde lembrar-te que te mandei um documento| a respeito dos saques de Mauá em favor de
Lopes. Já exami-|nei a questao. Não podia o banco deixar de faze-lo, porque| era depositario de
fundos do Agente de Lopes que ali esta-|vão há muito tempo. carta 43
h. Tenho de remetter-lhe por estes dois| dias cem mil libras que mandou me| pedir. carta 49
i. Em virtude de seu pedido, tenho a diser-|lhe, que por algumas veses que fui a sua casa, em
tem=|po do finado Sr. seu Pae, meu mui presado Amigo,| sempre d’elle ouvi diser que Vossa
Excelência era quem lhe regia| sua casa, e eu mesmo presenciei Vossa Excelência dar ordens,| e pedir ao
211
Alguns autores colocam esse contexto com um dos menos salientes entre o português europeu e brasileiro (cf.
Galves, Ribeiro e Torres Moraes, 2003) dada a variação que apresenta.
212 Rasurado.
218
dito Sr. seu Pae coisas para a casa si alguem| ha que lhe queira extorquir esse direito, é uma injusti=|ça
que lhe querem fazer estou mui convensido de que| todos que ião á sua casa n’esse tempo, o mesmo
affirma=|rão. carta 115
j. V. venha a diser-lhe o que agora me disse| com tanta crença e sinceridade = meu velho| amigo
=carta 265
l. À esta simples expozição com o acrescimo dos tormentos, que me| causou a terrivel e penoza
estação, que vem de passar, a certeza, que a pezar de um clima| tão rude, tem o teu amigo sido
favorecido de sofrivel saude, se deverião limitar as novas, que| de mim tenho a dar-te; se não
considerasse, que o interesse de tua amisade a meu respeito| se estende a uma outra epocha a lem do
passado, e até do presente. carta 32
(3.75)
a. Consumei o maior dos sacrificios, meu amigo! pus-me| acima das minhas forças para vencer as
lagrimas de minha Familia, para me vencer a mim mesmo sobrepujando| o excesso de filial afecto,
para aventurar nova carreira, e apurar ainda sentimentos já tão apurados| em 6 annos de separação
daquelles, de quem um só minuto dezejara viver separado!|carta 32
b. Tomo a liberdade de enviar-|lhe 200 exemplares do primeiro| opusculo de uma serie para me|
fazer o favor de collocar á venda <a 300 reis>| em alguma, ou algumas, casa| de confiança que se
queira encar-|regar d’isso com 30% de commissão| e condição de ajustar contas com-|migo a cada
numero.| carta 165
c. Quando es|tive na Bahia em Fivereiro, náo pu-|de pagar as 6 rodas de arame, por náo| ter
recebido um dinheiro ali; por isso só| agora remeto lhe 130$000 para me|1v. fazazer213 o favor
mandar pagar,| e por que náo tivesse o Palmeira re|metido conta, náo sei ao certo quanto de|vo,
pedindo lhe que se for mais pague, e| me mande a conta. carta 346
d. Hontem mesmo foi uma| commissão do centro operario pe-|dir providencias ao conselho muni-
|cipal sobre a carestia dos generos de| primeira necessidade, e aglome-|rou-se mais de 100 pessoas na
ca-|mara e sahirão satisfeitos; O con-|selheiro Couto, já providenciou de| maneiras tal, que ouvi elle
dizer| que a carne <verde> amanhã será vendida| a 700 reis o kilo; para mil reis, como esta-|va, e
ameaçada a população de com-|<prar> nestes 8 dias a 1$500 reis, já foi por| conseguinte uma
vantagem ex-|traordinaria. Quanto a farinha-| creio que elle deo tambem providencias.| carta 365
219
3.4.2.5 Verbos em construções passivas
(3.76)
a. Me foi entregue sua carta de 8 do| vigente; é serto que as forças rece-|berão balla e muita da
garganta de| Cocorobó até Canudos, sendo o| ataque em Cocorobó no dia 25 do passado| e houve
grande perda nas força,| tão bem morrendo jagunços, o Coro-|nel Sucupira foi victima de| duas
ballas no Trabubu, distan-|te meia legua de Canudos, á lem| de outros officiaes; chegando á|1v.a
Collunna do General Lavaget| a Canudos no dia 27; carta 418
b. Mefoi intregui| a Intendencia com o debito de 90 $ =| e o cofre vazio com 680 reis, d’ahi| para
esta dacta comprou-se| 2 fortes, fezse uma istrada cal =|1v.calsou-se uma rúa, milhorou-se| um
banheiro publico, collocou|-se illuminação e seos emprega-|dos, e outras muitas dispezas inclusi-|ve
o custeio dos empregados eguar-|das municipaes que conforme| as contas prestadas sobe a arre-
|cadação tal vez a maior de cinco| contas, tendo actualmente um cofre| mais de um conto de
reis.|carta 462
c. Mefoi intregue pello Antero a-| sua presada carta de 1 do-| corrente acompanhada com-|
428.000 que fico recebido.|carta 468
(3.77)
a. Sua carta de 11 foi-me entregue em 16 do| corrente, e muito estimei saber que com toda|
Excelentissima familia gosa perfeita saude e todos| os bens, aceitando nossas sincéras visi-|tas e dando
um beijo no pequeno Cicero.| O Doutor Reis Magalhães lhe telegraphou no| dia 7, avisando-lhe os
acontecimentos que derão-|se no Rio, e eu lhe escrevi no mesmo sen-|tido; se não recebeo, foi então
destraviada[*]214| minha carta. O telegramma do Doutor Reis Ma-|galhães foi por intermedio do Anisio-
| ou do nosso amigo o expreparador de Alagoinhas,| que não me recordo do nome. carta 379
b. O sr. Visconde de Tamandaré| escreve ao senhor ministro da| marinha sobre o combate| de 24,
segundo me foi com-|2r.municado. carta 60
c. Fica em meo poder o Officio, em que Vossa Excelência pede a| continuação de licença, que pelo
Senado lhe foi| concedida na Sessão de 1862 – carta 98
d. Estou porem certo que vencerá todas as diffi-|culdades, para o que sobrão lhe coragem civica,|
competencia e tino administrativo e que não| desertaria do honroso posto que lhe foi em boa| hora
confiado ainda que fosse simplesmente frio.| carta 219
f. Logo que me sejam entregues pelo corretor, as cautelas,| mandarei os numeros com os
respectivos proprietarios| para que VossaExcelência| remetta as procurações com plenos
poderes|2r.para representar nas assembéas ordinarias e extraordi-|narias cuja convocação poderia
requerer estas1 carta 260
220
A colocação dos clíticos em orações com grupos verbais apresenta-se com construções
próprias tanto do português europeu quanto do português brasileiro, evidenciando um processo de
competição de gramáticas. No próximo item, esses dados serão submetidos à data de nascimento e
à data de produção.
3.4.3 Colocação dos clíticos em grupos verbais: por data de nascimento e por data de
produção
Quando feita a comparação, o que se observa é uma maior concentração de dados na
primeira metade do século 19, tanto para as estruturas de elevação quanto para a inovação brasileira.
Tabela 3.23. Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura em CB. Por data de
nascimento.
Estruturas Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de
estrutura
CB
Por data de nascimento
1824-1799 1800-1850 1851-1880 Data não TOTAL
identificada
Elevação de clítico
1. cl-V V 6 176 27 80 289
2. cl-VXV 1 8 2 4 15
3. V-cl V 2 57 19 10 88
4. V-clXV 0 8 0 1 9
Não elevação de clítico
5. V V-cl 3 103 7 14 127
6. V X V-cl 0 11 2 0 13
7. V XX V-cl 1 6 1 1 9
Inovação brasileira
8. VXclV 0 31 4 3 38
VXXcl V
9. V cl-V
Ambíguos
10. V cl V 0 24 3 5 32
Subtotal 13 424 65 118 620
Total Geral 620
Na tabela, a seguir, vê-se uma melhor distribuição e, ao contrário do que ocorre com a data de
nascimento, há um maior número de ocorrência entre meados do século 19 e início do século 20.
221
Gráfico 3.14
Freqüência da variante nos grupos verbais em CB. Construções do português clássico e europeu
moderno. Por data de nascimento
100 100
90 89,23
87,02
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1850 1875 1904
CB
Gráfico 3.15
Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em CB
Inovação brasileira
Por data de nascimento
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10 7,31 6,15
0 0
1850 1875 1904
CB
222
Tabela 3.24. Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura em CB. Por data de
produção
Estruturas Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de
estrutura/CB
Por tipo de produção
1809- 1825 1826-1850 1851-1875 1876-1904 TOTAL
Elevação de clítico
1. cl-V V 1 9 175 104 289
2. cl-VXV 0 2 7 6 15
3. V-cl V 0 1 61 26 88
4. V-clXV 0 0 8 1 9
Não elevação de clítico
5. V V-cl 0 5 98 24 127
6. V X V-cl 0 1 9 3 13
7. V XX V-cl 0 0 7 2 9
Inovação brasileira
8. VXclV 1 0 25 12 38
VXXcl V
9. V cl-V
Ambíguos
10. V cl V 1 0 23 8 32
Subtotal 3 18 413 186 620
Como visto nos dados de Pagotto (1992), no capítulo 1, não foram encontradas
construções com a inovação brasileira no século 19. Em CB há um percentual significativo desse
tipo de construção na segunda metade do século 19. Também se registra a queda das estruturas
de elevação dos clíticos nas construções cl V V.
Gráfico 3.16
Freqüência das construções do português clássico e moderno
Pagotto (1992) e CB
Por data de produção dos documentos
Pagotto, 1992 CB
223
Gráfico 3.17
Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em Pagotto (1992) e CB
Inovação brasileira
100
90
80
70 67,5
60
%
50
40
30 33
20 23,53
10 6,45
0 0 0 0 0 0 5 0 0 6,05
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
Pagotto, 1992 CB
3.5 A interpolação
(3.80)
a. Por to|dos estes motivos parece, que são necessarios, e athe| uteis as Instituicoens de Vinculos de
Morgados,| e a conservação dos que existem, pelos principios| por que os querem extinguir com o
ffença da inviola|bilidade do Direito de Propriedade, fazendo dividir hu)| todo, que he administrado
por quem tem obrigação de o| conservar, e o não pode a lienar por principio ou| cauza alguma
Sempre que Vossa Excelência queira occupar-me| em seu serviço me achara pronto com a cordialidade e
esti|ma com que sou carta 14
b. Oxalá que a mais tempo o tivesse feito! e que meus 6 annos (oh quanto eu os amo!)| que perdi na
inutilidade de nossos meus estudos de Olinda,os tivesse aqui empregado! ou que| ao menos a tão
longa e já avansada idade de meu Pae me não impozesse a lei de voltar junto| á elle para adoçar-lhe
a taça da velhice. carta 32
c. Taes são minhas| intenções, meu amigo; resta só que para as executar me não apareção
embaraços invencíveis, que| em verdade não espero ter. carta 32
224
d. Se os não submette, não| he ainda Vossa Excelencia| responsavel pelo| ridículo insulto que em
contestação[...]215| de supostas allusões ao imperador| me atirou um buffa no com-|mmunicado
entrelinhado, que acabo| de ter naquella folha.|carta 41
e. Faze-me o favôr de explicar ao| Gomes a razão porque hoje o não| procuro. Dize-lhe que muito
cedo| lhe fallarei amanhã.|carta 42
f. Fomos forçados a vir para a Tijuca, por causa da Lourdes, cujo estado me não agrada. carta 307
g. Sinto mesmo, que não se apresen-|te alguma vaga em concurso, por| que elle não deixava de se
inscre-|ver, muito embóra, o governo o não| nomeasse, más, ficaria todo o pu-|blico conhecendo de
suas habilitações.| carta 390
h. Deve assim logo toqui| em caza dos pae domesmo e exigi| cautela e providencia; em ordem que|
ou elle sahia ou eu, pois menão| emportava com tropa mais não| queria que elle aqui fosse achado|
por forma alguma, seguio para caza| de uns parentes em Estado deferente| eja mais óvi. carta 427
i. Por que não seno miao Jeraldo mem|bro da intentença216 Amigo que ain|da não nos troçeo217 qual
omodo do|1v. do Miranda sendo Geraldo| seo affilhado Amigo serto,| elle não, combina comigo
[n]em| só dinheiro emgrandeçe onosso par|tido, elle mereçe e talves sem [que]| estiveçe presente
quando sefes as no|meação meo compadre o não deixa|va fora por que the hoje ainda| não deo
prova de traidor| hé este omeo pari cer e | se me acridita o mande nomiar.| o capitam João não sei
se açeita|rá a nomeacão de 1º Suplente a| Delegado. carta 476
j. Recebi seo recado para lhes dar noticias| do fenado José Americo e logo| de momento escrevelhe
pela mai da| Agua mais sube e que onão achou| mais em casa, senti o pasamento delle| por que sei
que era seo Amigo, muitos Amigos|1v. Amigos tem meo Compadre perdido e estes| escolhidos.|
carta 485
215 Rasura.
216 Por “intendência”.
217 Por “traíram”, criação de verbete dialetal a partir de “traição”~“traiçoou”.
225
3.6 Algumas considerações finais
Os dados foram examinados nestre capítulo inicialmente sem uma perspectiva diacrônica. A
variação geral observada na colocação dos clíticos evidencia que, em casos de ênclise em contextos
de próclise no português europeu, tal se deve a fatos da língua-E, uma vez que não se justifica na
gramática do português brasileiro.
Os mesmos dados foram descritos sob uma perspectiva diacrônica, tanto a partir da data de
nascimento dos remetentes, quanto da data de produção dos documentos. A variação geral nos
dados ganha contornos de competição entre contruções do português brasileiro com a gramática do
português europeu. Esse fato nos levou a comparar os resultados com os dados do português
europeu: século 16-19 com base nos resultados de estudos do CTB, sobretudo GBPS (2005). E o
mais importante, através da comparação com dados do português europeu, foi possível observar a
atuação da colocação dos clíticos, no mesmo período, em textos produzidos por portugueses e
brasileiros contemporâneos, diferentemente do que vinha sendo feito em estudos diacrônicos do
português brasileiro, como sugerido por Mattos e Silva (1998) e como chamou a atenção Ribeiro
(2001). A autora mostra que as comparações entre o português brasileiro e o português europeu têm
sido pautadas no português europeu do século 20.
Essa comparação diacrônica possibilitou que se identificasse, no século 19 em CB, tanto
construções produzidas pela gramática do português europeu anterior ao século 18 em processo de
competição com o português brasileiro. Depois a competição do português brasileiro com o
português europeu posterior a esse período.
Diante do quadro, a interpretação que pareceu ser mais plausível é a de que há competição
de gramáticas no sentido de Kroch (1994, 2001), mas não apenas relativa a uma mudança gramatical,
mas a duas mudanças. Por exemplo, no contexto de variação I em CB há um paralelismo com o
português europeu (cf. GBPS, 2005), mostrando a direção da mudança e o processo de competição
entre as construções entre o português europeu clássico e o português europeu moderno. Por outro,
evidencia-se claramente a atuação da gramática brasileira com construções de próclise em posição
inicial absoluta e o movimento curto de clítico, como a próclise a verbo não finito, construções
próprias do português brasileiro.
Viu-se que a mudança que caracteriza o português europeu moderno interfere na produção
de brasileiros do século 19. A questão é saber em que medida. A hipótese é de que afete as
226
produções de língua-E em falantes cultos. Esse é o tópico que será explorado na segunda parte deste
trabalho, conforme foi proposto, a de ter controle sobre as amostras de língua-E, através da
integração entre conhecimentos de filologia e sócio-história.
Então o passo seguinte é procurar verificar se a competição entre o português brasileiro e o
português europeu moderno afeta apenas a língua-E, o que parece ocorrer. No capítulo 6,
subimento os dados a outra descrição, em função da variação dialectal geográfica e social, mas antes,
apresento dois capítulos que oferecerão subsídios para essa abordagem nos capítulos 5 e 6.
227
4
Algumas considerações sobre a expansão da língua
portuguesa no Brasil e a sua relação com o corpus
Neste capítulo, levanto alguns dados sobre o processo de expansão da língua portuguesa no
Brasil. O objetivo não é apresentar uma proposta sobre os domínios ou sobre a configuração
lingüística do Brasil Colonial e Imperial, mas apenas examinar os contextos sócio-históricos em que
a documentação editada no volume 2 foi produzida.
A organização é a seguinte: no item 4.1, tomo como ponto inicial a proposta de Mattos e
Silva (2001), em 4.2, o processo de ocupação territorial brasileiro e o avanço da língua portuguesa
entre os séculos 16-19, centrando-me no interior da Bahia.
A partir de fontes e estudos sobre a configuração social brasileira, Mattos e Silva (2001:298-
299), ao tratar sobre a formação do português brasileiro no período colonial, defende que os atores
fundamentais no contexto de multilingüismo/multidialetalismo foram o português europeu, as línguas
gerais indígenas e o português geral brasileiro, nos termos definidos abaixo:
a. o português europeu na sua dialetação diatópica, diastrática, que teria ao longo do período
colonial um contingente de 30% da população brasileira; seria esse português europeu, base
histórica do português culto brasileiro que começaria a elaborar-se a partir da segunda metade do
século 18;
b. as línguas gerais indígenas, que, plurais e dialetalizadas, poderiam até confundir-se com o
português geral brasileira nas áreas geográficas delimitáveis em que se difundiram;
c. o português geral brasileiro, antecedente histórico do português popular brasileiro que, adquirido na
oralidade e em situações de aquisição imperfeita, é difundido pelo geral do Brasil sobretudo
pela maciça presença africana e dos afro-descendentes que perfizeram uma média de mais de
60% da população por todo o período colonial.
228
Essas variantes, segundo, Lucchesi (cf. 1994, 2001)218, teriam se constituído a partir de duas
grandes vertentes principais, oriundas de situações sócio-históricas assim definidas:
2. A outra vertente da formação da língua no Brasil fincou suas raízes no interior do país, para onde
se dirigiu a maior parte da população no período colonial. Fora dos reduzidos centros da elite, nas
mais diversas regiões do país, o português era levado, não pela fala de uma aristocracia de altos
funcionários ou de ricos comerciantes, mas pela fala rude e plebéia dos colonos pobres.
218 Lucchesi (1994, 2001) concebe o português do Brasil como um sistema não apenas heterogêneo e variável, mas
plural, um diassistema formado por dois subsistemas, por sua vez, igualmente heterogêneos e variáveis, definidos como
“normas”. Distingue-se, fortemente, de Silva Neto (1986 [1950]:234-235) sobre a unidade e o conservadorismo no
português do Brasil e, sobretudo, da visão de uma suposta hierarquia de culturas.
219 Tendo em vista essa situação, Mattos e Silva (2002:443-462), no seu artigo intitulado “Para a história do português
culto e popular brasileiro: sugestões para uma pauta de pesquisa”, chama a atenção, justamente, para essas dificuldades e
mostra que as vias de pesquisa para a reconstrução do passado do português são distintas, tendo em vista que a
reconstrução do passado do português culto brasileiro se “esteia numa tradição escrita”.
220 Cf. Carvalho Júnior (2002).
229
mais isoladas a freguesia de Jeremoabo, região de onde provém a maior parte da documentação da
3ª parte do volume 2,
“A freguesia de São João Batista de Jeremoabo tem três povoações221, a saber, uma no sítio de Jeremoabo, onde
está a matriz, e consta de 32 casas, ou choupanas, por serem todas cobertas de palha, exceto a paroquia e outra.
Nelas vivem 252 pessoas de comunhão, entre brancos, que não passam de cinco, pardos, mestiços, índios
e pretos cativos de um e outro sexo [...].
Em todo o continente ou território desta não há mais povoação alguma que as sobreditas três, salvo se por
povoação se estender cada um sítio ou fazenda, as quais em 70 léguas, pouco mais ou menos, que tem o terreno
desta freguesia de longitude de nascente ao poente, em trinta léguas, pouco mais ou menos, que tem de latitude
de sul a norte, se acham dispersas em distâncias diversas, umas das outras, a saber, umas distam das outras uma
légua, duas, três, e mais até de 12 léguas.
As fazendas ou sítios são 152, promiscuamente situados e nas mais delas não se acha mais que o curraleiro com
um, dois, e mais escravos, dos donos das fazendas, por benefício dos gados, e em muito poucas se chegam a
contar vinte pessoas [...] Nestas 152 fazendas e povoações de Jeremoabo ou em todo território desta freguesia,
que consta de 70 léguas não numerando os sertões despovoados e desertos há 1365 pessoas de comunhão
entre brancos que não chegam a 80, pardos, mestiços e pretos cativos de um e outro sexo.
[...] Vivem estas pessoas em 285 casas ou choupanas, porque só quatro são cobertas de telhas em toda a freguesia,
e as mais de palha; gente a mais dela toda pobre, e de servir de criadores de gados ou curraleiros; de sorte que
somente 12 pessoas há fazendas suas próprias, quanto aos gados, que quanto a terra só um se acha em sítio seu,
que o comprou a Casa da Torre, e os mais todos são foreiros à mesma casa. [...]
Exceto os 12 donos de fazendas, ou dos gados delas, que existem nesta freguesia, e curraleiros que são tantos
quantos são as fazendas, tiradas as mulheres e pretos cativos, também tudo o mais é gente ociosa, sem ocupação
alguma, malfeitores e foragidos, uns naturais da terra, outros que de fora se vem acoitar nesta freguesia, e
não poucos vivem como bandoleiros, porque não tem casa, e assim são incríveis e indizíveis as perturbações e
malefícios que experimentam os bons, principalmente os párocos, contra os quais todos os dias se atrevem com
injúrias, opróbrios e malefícios, tais quais se podem considerar de um povo que não tem nem temor de Deus,
nem respeito às leis humanas, por não conhecerem justiça nem malícia, mas que pelo nome, e não haver quem os
reprima ou castigue...”.
Por fim, o contraste entre as cartas provenientes do interior com as cartas de regiões
costeiras poderá trazer subsídios às questões sobre a formação externa do português brasileiro.
No item, a seguir, apresento alguns dados sobre o processo de re-ocupação e organização
social do território brasileiro no período colonial e imperial.
221Segundo, ainda, Carvalho Júnior, “as outras duas povoações eram aldeias de índios, a de Massacará aldeia de Kaimbés
e Kiriris, governada pelos religiosos franciscanos, e do Saco dos Morcegos dos jesuítas; ambas eram isentas da jurisdição
paroquial”.
230
4.2 A re-ocupação territorial brasileira: séculos 16-19
O povoamento brasileiro não autóctone teria se dado, segundo a maioria dos estudos que
tratam do tema, através do afluxo espontâneo de colonos brancos (portugueses na grande maioria) e
da imigração forçada de africanos222. De acordo com Prado Jr. (1970:185-186 [1945]), a corrente
demográfica formada por trabalhadores braçais em finais do século 19223, como a que ocorreu na
região sudeste, não foi uma regra. Da mesma forma, o autor considera como sendo excepcionais as
formas de ocupação em áreas estratégicas dominadas pela imigração espontânea (como a que se deu
em setores fronteiriços), a imigração açoriana e os demais núcleos coloniais formados por imigrantes
alemães, suíços224, entre outros.
À ocupação do litoral nos meados do século 16, segue-se à abertura de entradas no início do
século 17, que se intensifica nos séculos subseqüentes.
Como sabemos, a ocupação do litoral tem como principal motivação econômica, para além da
curta fase pau-brasil, os núcleos açucareiros e a reduzida economia pecuarista. Essa ocupação, por
sua vez, costuma ser definida como agro-latifundiária, conservadora, patriarcal e aristocrática. E,
principalmente, de domínio português. O avanço da economia pecuarista e o das entradas rumo
ao interior em processo progressivo, principalmente, a partir do século 17, constituem, por sua vez,
obra exclusiva de brasileiros na visão de Freire (1998).
Esse processo de ocupação de terras de população autóctone, como se sabe, não foi pacífico,
antes resultou de grandes genocídios. Inicialmente, Ayron Rodrigues (1994:19) calcula que, na época
da chegada dos primeiros europeus ao Brasil, o número de línguas indígenas tenha sido superior a
250. Em cálculo posterior, estimou que houvesse 1.175 línguas. Segundo o autor, desapareceram,
sobretudo, aquelas línguas sedimentadas em áreas que foram mais intensamente colonizadas, região
Sudeste e a maior parte das regiões Nordeste e Sul do Brasil225.
222 A chegada dos africanos ao Brasil data de fins do século 1 até 1850, fim oficial do tráfico de escravos, embora o
mesmo continuasse a ocorrer.
223 A exemplo dos imigrantes da Europa e da Ásia, sobretudo, em 1890.
224 Nash (1950:199-201), com base nos dados publicados no Diário Oficial de 13 de janeiro de 1921, referentes ao
o Guarani, de onde provêm as línguas de regiões de floresta tropical e subtropical, e a família Macro-Jê. A distribuição
dessas famílias lingüísticas é a seguinte: Jê (campos cerrados), Karíbe, (norte da região amazônica), aruák e arawa (oeste
231
No século 17, já serão os brasileiros descendentes de portugueses, mestiços de índios e,
posteriormente, de africanos, em uma costa em que a língua geral é a mais falada, que terão sido os
primeiros difusores da língua portuguesa rumo ao interior, inicialmente através das bandeiras226, em
volta dos rios brasileiros (cf. Capistrano de Abreu, 1930). Foram esses caminhos que deram origem
às estradas e às vias de comunicação entre o interior e as sedes das capitanias. Além desses
caminhos, destacam-se as entradas iniciadas na região da Amazônia Setentrional no século 17,
através da rota das chamadas “drogas do sertão”, posterior caminho da borracha no século 19,
constituídas pelos domínios de terras indígenas e da atuação dos jesuítas e, também, no século 19,
do pólo de crescimento cafeeiro em parte da região sudeste.
No que diz respeito às bandeiras, convém ressaltar que várias passavam pelos transitados
caminhos da região do rio Itapirucu, região Nordeste da Bahia. Por lá passaram os paulistas em
direção ao Piauí e ao Maranhão e os próprios baianos, também em direção ao Maranhão.
Puntoni (2002:204-206), em seu livro “A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização
do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720”, escrito, originalmente, como tese de doutoramento,
fornece um quadro em que mostra a composição étnica de uma dessas marchas em direção ao
interior. O autor baseou-se na análise de 243 registros do livro do escrivão do terço dos paulistas do
mestre de campo Manuel Álvares de Morais Navarro. Destaca-se a grande presença indígena nessas
marchas, em algumas regiões do Brasil, sem contar a “bagagem”, como se denominavam as
mulheres e as crianças dos tapuias que os acompanhavam. É importante dizer ainda que nessas
de Mato Grosso e no Brasil Central). E, ainda, as famílias lingüísticas menores, provenientes de áreas especiais (pantanal
matogrossense). E, ainda, o Tukáno, Makú e Yanomámi (norte do Rio Amazonas). Além dessas, há outras línguas
faladas por menos de 200 falantes e por isso em adiantado processo de extinção nas regiões de Rondônia e Roraima,
além de pequenas áreas de Minas Gerais e de São Paulo.
226 Prado (2001:99-100) resume o avanço das bandeiras a partir da obra de Capistrano de Abreu da seguinte forma (sem
destaques no original): “a) bandeiras paulistas, ligando o Paraná ao Paraguai, e pelo Guaporé, Madeira, Tapajós e Tocantins
atingindo o Amazonas (o Xingu, pelas más condições de navegabilidade, nunca foi freqüentado; bandeiras paulistas,
ligando o Paraíba ao São Francisco, ao Parnaíba e Itapicuru até o Piauí e Maranhão por um lado; ligando o São
Francisco, o Doce, o Paraibuna, ao Paraíba do Sul, galgando a serra dos Órgão, para terminar na Guanabara; bandeiras
paulistas, entre a serra do Mar e o Paraná, todas elas atravessando o Uruguai para o Rio Grande do Sul; b) bandeiras
baianas, ligando o São Francisco ao Parnaíba, e chegando ao Maranhão pelo rio Itapicuru; bandeiras baianas ligando o
São Francisco ao Tocantins; bandeiras baianas, que indo do Serro e Minas Novas, procuravam o rio pelo caminho da terra
do ouro; c) bandeiras pernambucanas entre o Capibaribe e serra da Ibiapaba, muito menos importante que as duas
anteriores, traçadas a menor distancia do litoral, pelo sertão “de fora”; recebendo muita gente diretamente do litoral,
subindo os rios que nele desembocam; d) bandeiras maranhenses, de pouco alcance, ligando o Itapicuru ao Parnaíba e São
Francisco, e o Parnaíba às terras aquém da Ibiapaba; e) bandeiras amazônicas, que pelo Madeira se ligaram às de São Paulo;
alcançaram os limites do Javari e ocuparam a Guiana. Para Boris Fausto (1996:94) as entradas paulistas eram formadas
por grupos de origem portuguesa ou mestiça que, por uma série de condições geográficas, sociais e culturais construíram
uma sociedade como menor distinção entre brancos e mestiços”.
232
marchas havia a presença de “línguas”, isto é, espécie de intérprete de línguas indígenas e variedades
de língua geral227. Veja-se tabela 4.1.
Uma amostra da população do Piauí apresentada por Mott (1979:68), entre fins do século 17 e
início do século 18 é, em parte, indicativa desse processo. Também nos dados apresentados por esse
autor prevalece o número de não-brancos, como destacado na tabela 4.2, a seguir:
227 A língua geral – a variante paulista de base tupininquim/guarani falada por colonos e índios nas bandeiras e a variante
amazônica, de base tupinambá (Maranhão), além de outras – perdurarem no Brasil por duzentos e cinqüenta anos
aproximadamente. Eram faladas por grande parte da população brasileira, não apenas por índios aculturados e
integrados, como pela população lusa. Holanda, em “Raízes do Brasil” (2002:354) caracteriza essa situação com a
ilustrativa situação ocorrida na província de São Paulo. Um juiz de órfãos quando tratou do processo de inventário de
Brás Esteves Leme teria precisado do intérprete Álvaro Neto, prático na língua geral da terra, para que pudesse
compreender as declarações de Luzia Esteves, filha do inventariado, “por não saber falar bem a língua portuguesa”. Isso
leva a crer que os paulistas mestiços ocupantes da região das minas nos séculos XVIII tenham adquirido um português
de seus pais que o adquiriram como segunda língua (ou L2).
228 A presença indígena segundo o autor seria resultante da agregação informal de guerreiros aliados.
233
Tabela 4.2 Composição da população por etnia no Piauí (1697-1723)
Composição da população por etnia no Piauí (1697-1723)
Etnias 1697 % 1772 %
Brancos 155 35,3 3.205 16,7
Índios 59 13,5 1.131 5,9
Negros 210 48,0 6.343 33,0
Mamelucos - - 1.354 7,0
Mulatos 4 0,9 4.050 21,1
Mestiços 10 2,3 3.108 16,3
Total 438 100 19.191 100
Fonte: Adaptado de Luís Mott (1979:68)
Evidencia-se, também, na distribuição, o fato de os brancos terem sempre sido minoria, tanto
no período colonial quanto no imperial, conforme também atesta Mussa (1991:163) na tabela 4.3,
abaixo, a partir de dados extraídos de Hasenbalg (1979), Carreira (1981) e dos censos (1850-1890),
entre outros. Os africanos em sua maioria, algo em torno de 50%, pertenciam ao grupo lingüístico
banto.
Após a escravidão indígena em meados do século 17, a presença de escravos africanos até 1850
(quando da extinção do tráfico) eleva o percentual de não-brancos de origem africana229 (negros
brasileiros e mulatos)230.
229 A extensão da presença africana na formação do português brasileiro está fartamente documentada na literatura
corrente brasileira e outras, desde aqueles autores que as diferenças entre o português (cf. Renato Mendonça, 1933).
Além dessas interpretações, destacam-se: a formação do português vernacular a partir do aprendizado imperfeito (cf.
Neto, 1963, Elia, 1979), ou de que o português popular seria resultante de um processo de transmissão lingüística
irregular (cf. Lucchesi, 1998). Entre os que situam as línguas africanas como base para a configuração das variedades
brasileiras (cf. Guy, 1981-1989 e Holm, 1988) e, ainda, na visão particular de Silva Neto (1963: 125), segundo a qual o
234
No século 18, a configuração demográfica de parte do Brasil se modifica e se intensifica com a
descoberta das minas auríferas, para quais afluíram, segundo Freire (1998:116), enormes massas
populacionais vindas das outras capitanias e de Portugal. O autor destaca, como ilustrativo dessa
situação, o testemunho do jesuíta André João Antonil (sem grifos no original).
Cada ano vem nas frotas quantidade de portugueses231 e de estrangeiros para passarem às
minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos, pretos e
muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas,
homens, mulheres, moços e velhos, nobres e plebeus, seculares e religiosos de diversos
institutos, muitos dos quais não têm no Brasil nem conventos nem casas232.
À proporção que a população crescia, o interior com urbanização ainda rarefeita, para além
dos pontos de concentração em áreas de mineração, o Brasil de meados do século 19 aparece
interligado por novas vias de comunicação, um crescimento motivado, também, pela transferência
da sede da monarquia portuguesa.
A elite brasileira que aparece escrevendo nas cartas do volume 2, sobretudo na 1ª e 2ª partes,
compõe-se dos nascidos em regiões costeiras, ou descendentes daqueles brasileiros e portugueses
que enriqueceram no interior e de lá se deslocaram para estudar em faculdades nacionais ou
universidades no exterior, sobretudo, em Coimbra, e por descendentes de portugueses costeiros.
Uma gente, sobretudo, branca. São homens que ocuparam os mais altos postos administrativos
brasileiros, diferem da elite rural (3ª parte) radicada no interior, formada por homens que não
cursaram faculdade.
“os negros trazidos para o Brasil já vieram, na sua grande maioria, falando português, o seu português simplificado e
deturpado, eram os negros ladinos, os que não falavam esse português, os negros boçais aprendiam-no com os ladinos”.
230 Nash (1950:209), com base em avaliações aproximadas compiladas nos estudos históricos sobre a população africana
forra e escrava no Brasil no início do século 19, apresenta população africana em quatro províncias, conforme tabela, a
seguir:
População livre e escrava em algumas províncias na primeira década do século 19
Anos Província Homens livres Escravos
Negros Mulatos Total Negros Mulatos Total
1813 São Paulo 3.951 44.053 48.004 37.602 10.648 448.250
1804 Goiás 7.963 15.645 23.608 - - 19.889
1812 Santa Catarina - - 665 - - 7.578
1812 Paraíba 8.000 28.000 36.000 - - 17.000
Total 108.277 Total 92.717
Fonte: Adaptado de Nash (1950:209).
231Estima-se que 800.000 portugueses se dirigiram às regiões de mineração.
232Freire (2000 [1907:118]) destaca, ainda, a fala de Capitão-Mor Silva Pontes, ao dizer que tanto os brasileiros quanto
os portugueses conduziam às costas tudo quanto possuíam, sendo raros os nobres que haviam se mudado para as minas.
235
4.2.2 Rumo ao “íntimo” dos sertões baianos e os indícios da configuração das
variedades semi-culta e popular no interior da Bahia: contextualizando os remetentes
de Cícero Dantas Martins (barão de Jeremoabo) e do coronel Exupério Pinheiro
Canguçu
Andrade (1996) diz que houve dois grandes pólos de irradiação da pecuária na Bahia, um em
direção ao Ceará (ainda no século 16) e outro pelo Rio São Francisco em direção ao Centro
(Tocatins e Araguaia). O avanço do gado para os “sertões” e o processo de colonização através das
guerras de extermínio e escravização de populações autóctones234 deram lugar a uma vastíssima rede
de propriedades, as fazendas de gado de pessoas oriundas, principalmente, das regiões Norte e do
Recôncavo baiano235.
233 Na Bahia, as primeiras entradas datam de meados do século 16, a exemplo da entrada feita por Francisco Bruza
Espinosa, em 1553. Ele partiu de Porto Seguro e chegou até o Rio São Francisco. No século 17, as primeiras foram
feitas pelos Ávilas e as dos chamados sertanistas de contrato, os bandeirantes paulistas, e, ainda, a do baiano Pedro
Barbosa Leal, que explorou a famosa Serra de Jacobina. A essas se seguiram várias outras.
234 Pedro Puntoni (2002:289) diz, ainda, que as novas vilas do sertão “foram controladas por administradores,
recrutados entre os membros das elites vizinhas, grandes sesmeiros ou seus prepostos, e as populações indígenas
paulatinamente marginalizadas do convívio “urbano” foram submetidas a novas situações de opressão. Vários grupos
ou indivíduos optariam, certamente, por uma estratégia de incorporação, negando, para tanto, sua identidade e seu
passado indígena”.
235 As estradas do recôncavo até o sertão eram muito transitadas. A variante de Itapicuru, assim conhecida por margear
o rio Itapicuru até Amparo da Ribeira do Pau Grande, atravessava muitas fazendas. Provavemente terá sido do
recôncavo que se originaram muitos dos habitantes do Sertão.
Es, margeavam o rio Itapicuru até Amparo da Ribeira do Pau Grande, passando, também, por muitas fazendas. Foi
justamente do recôncavo que se originaram muitos dos habitantes do Sertão.
236
Com a chegada de pessoas dessas regiões a partir do século 18, através de variantes de
velhos caminhos, a população aumenta bastante no sertão. Um dos caminhos mais antigos é a
marcha do gado, do Rio São Francisco até Jeremoabo e, daí, em direção a Ribeira do Pombal,
Alagoinhas e Salvador e a chamada “Estrada Real do Gado”, que ligava os Sertões do Piauí, Bonfim,
Queimadas, Coité, Serrinha, e de novo, Alagoinhas para Salvador.
Através desses caminhos e das veredas do gado pela bacia do Itapicuru, do caminho do Raso
(Araci), ou do caminho de Massacará e Monte Santo, passando por várias fazendas e, a mais
importante, a que ligava Monte Santo a Tucano, além de outras variantes, no século 18, é que muitas
pessoas se fixaram na região, misturando-se com índios “mansos”. Esses índios ficavam sob
domínio de brancos, vaqueiros, camaradas, cabras, fábricas, passadores, tangedores e guias, escravos
e forros (caboclos e mamelucos, em sua maioria). Assim, cresceram muitas vilas, antigos
aldeamentos ou pousos de viajantes, de onde se originaram as cartas da 3ª parte, a exemplo das
localidades de Serrinha, Ribeira do Pombal e Jeremoabo.
Essa via de ocupação baiana tem como principais caminhos as margens do rio São Francisco e
do rio Itapicuru (até o interior do Piauí, por um lado, e por outro, até o Tocantins); é definida por
Capistrano de Abreu (1963:147) como “sertão de dentro”, em oposição à via pernambucana (até o
Ceará) por regiões próximas à costa, o chamado “sertão de fora”.
Já as feiras de gado, organizadas em São João da Mata no século 18, entre outras localidades,
principalmente Feira de Santana, já no século 19, ligando o recôncavo a Serra Geral, fazem aparecer
um importante núcleo pecuário constituído ainda no século 18, os domínios do poderoso coronel
Exupério Pinheiro Canguçu, cuja sede é a Fazenda Brejo Seco.
Esse tipo de dispersão de vilas, localizadas em pontos de interseção das estradas que serviam
de rotas para o gado, ouro (cf. item 2, acima, Silva et al, 1989:94-97) e, em especial, o avanço ao
interior via agropecuária, em que Prado Jr.236considera, como fruto de uma economia “recalcada
para o íntimo dos sertões”. Segundo Francisco Silva (1996:123-159), essa forma de ocupação
desenvolveu-se, sobretudo, a partir do chamado rush fundiário (1670-1690). Inicialmente com uma
forma de distribuição de terras similar aos grandes latifúndios das áreas de plantation, conforme item
236 A configuração proposta por Serafim da Silva Neto (p. 124) para as áreas rurais em fins do século 19 que segundo o
autor, seriam a continuação e o desenvolvimento das seguintes áreas: a) antigos aldeamentos indígenas (cultura caipira);
b. antigas fazendas onde conviviam brancos, índios e negros, ou só brancos e negros; c) quilombos com mesclas de
tribos índias; d) antigos acampamentos e estabelecimentos militares, com a presença de mulher índia e, portanto, do
mameluco e e) antigos agrupamentos de colonização açoriana;
237
a abaixo, modificando-se, posteriormente, com a redistribuição dessas em pequenas e médias
extensões territoriais num processo que vai caracterizar a área de dominância da pecuária sertaneja.
Em termos de Bahia, observa-se que as formas colocadas nos itens a e b, até o fim do século
18, e c e d, a partir do século 19, caracterizam esse processo (sem grifos no original):
Esse, como referido, é o ambiente que caracteriza o momento de produção das cartas para o
barão do Jeremoabo, região Nordeste da Bahia.
A presença portuguesa na região acontece através da exploração dessas sesmarias. Muitas
fazendas foram habitadas por portugueses238, como a fazenda Caimbé, de propriedade do português
Manuel Américo de Souza e as Fazendas Ilha e Olho do Meio, pertencentes ao coronel José
Américo Camelo de Sousa Velho e a Potâmio Américo de Souza, remetentes da 3ª parte. Potâmio
era afilhado do barão de Jeremoabo, como já mencionado.
Encontramos os remetentes do interior da Bahia, sobretudo aqueles que escreveram ao barão
de Jeremoabo, aparecendo na documentação do APEBA no período pós-extinção do sistema de
sesmarias, ocorrido em 1822, conforme resolução de 17 de julho (item a), dando início ao processo
de legitimação de propriedades.
Quase todos os remetentes das cartas para o barão de Jeremoabo e para o coronel Exupério
Pinheiro Canguçu são proprietários de terras (cf. fichas do catálogo que precede cada parte do
volume 2). Esses remetentes foram mencionados em vários documentos, principalmente nos
Registros Eclesiásticos da Freguesia de Itapicuru e nos termos de Jeremoabo, em cumprimento à Lei
de Terras de 1850.
A maioria aparece como herdeiros ou comprando terras entre si, denotando se tratar,
principalmente, de uma elite local. Aparecem, entre os remetentes do barão, vaqueiros e alguns
comerciantes. A lei de 1850, segundo Silva (1996:334), foi mais utilizada como um instrumento para
237Os principais latifúndios são os de Gárcia d’Ávila (Casa da Torre) e os de Guedes de Brito (Casa da Ponte).
238A presença portuguesa deve-se ao processo de doação de sesmarias e à instalação de currais e engenhos de cana de
açúcar. Os seus descendentes tornaram-se a elite local.
238
conciliar grupos sociais estabelecidos, o que leva a crer que se tratava de grupos com longo domínio
na região, muitos dos quais coronéis da Guarda Nacional, como são muitos dos remetentes do
barão de Jeremoabo.
Consta, em Mattoso (1992:242-244), que o serviço da Guarda Nacional na Bahia, além do
grande prestígio social, era elitista e conservador. Para fazer parte dessa corporação, era necessário
que a pessoa fosse “bom cidadão” e livre, com mais de dezoito anos e menos de sessenta, com
renda superior a 200,000 réis anuais para as províncias da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e
Maranhão e 100.000 para as demais. Por outro lado, a atuação desses coronéis era limitada aos
municípios onde residiam. Esses indicadores, por si só, ajudam a compor o perfil de parte dos
remetentes das cartas para o barão de Jeremoabo, muitos dos quais detentores do título de coronel,
como dito e como fica evidenciado no levantamento apresentado a seguir (para maior detalhamento,
ver fichas no catálogo anexo ao volume 2). Dos 43 remetentes, 21 (48,83%) possuíam patentes da
Guarda Nacional, conforme a tabela 4.4, a seguir:
Tabela 4.4. Patentes da Guarda Nacional dos autores das cartas da 3ª parte do volume 2
Patentes da Guarda Nacional Nº.
Coronel 9
Tentente - Coronel 6
Tenente 2
Major 1
Capitão 3
Como se vê, são patentes do “Regimento do Estado Maior”, que incluía, além dessas, outras,
como, sargento-mor, ajudantes e quartel mestre. As outras funções menores, a saber, tambor-mor,
corpo de regimento, tenente, furriel, porta-bandeira, pífanos, tambor e soldados não aparecem, com
exceção da função de capitão.
Essa elite rural da 3ª parte é distinta da que aparece na 1ª parte e na 2ª parte, como mostrado
por Pang (1979:19-26), no interessante estudo sobre esse tipo de coronelismo, que atinge seu ápice
justamente no período de regularização de terras na década de 1850.
O título de coronel era ofuscado por cinco categorias de nobreza: duque, marquês, conde,
visconde e barão, em ordem decrescente, além disso, os títulos acadêmicos de bacharel, para
os advogados, e doutor, para os médicos, davam mais prestígio que “coronel”. Enquanto
proprietários de terras são, também, possuidores de patentes da Guarda Nacional, fundada
em 1831, que tinha como característica, justamente essa, a de ser controlada por
proprietários de terras, tinha como função a manutenção da ordem interna com poderes
mandatários.
239
O autor (1979:19) também aponta para o fato de o comandante militar da Guarda Nacional
ser proprietário de terras, sendo muitos provenientes de famílias de coronéis de milícias coloniais de
fins do século 18, a exemplo dos antecessores de Exupério Pinheiro Canguçu, já citado. Essa
família, segundo o autor, “gabava-se de ter três gerações com títulos, desde o avô, Capitão-mor
Antonio, da milícia colonial, até o neto, coronel Exupério Pinheiro Canguçu,, da Guarda Nacional”.
Esse coronel, como se viu, é um dos destinatários da 1ª parte e traduz no seu arquivo particular os
tipos de relações formados por um grupo com destaque local. Muitos membros poderiam chegar a
barão, como foi o caso do sobrinho de Exupério Pinheiro Canguçu, um dos remetentes de suas
cartas, Jose Egidio [de Moura e Albuquerque] (depois barão de Santo Antonio da Barra), mas parece
que não era tão comum que os coronéis da Guarda Nacional fizessem curso superior. Apenas as
famílias mais ricas enviavam seus filhos para faculdades. Na família desse senhor, possuía nível
superior o irmão de José Egídio, o bacharel Marcolino [de Moura e Albuquerque] e o filho do
próprio Exupério Pinheiro Canguçu, o engenheiro Pinheiro [Antonio Pinheiro Canguçu].
O mapa 1, a seguir, (extraído de S. Leão, 1989), traz em destaque a região onde viveram
tanto o barão de Jeremoabo, atual região econômica do Nordeste, quando a região onde viveu o
coronel Exupério Pinheiro Canguçu, atual região econômica da Serra Geral, localizada mais ao
centro da Bahia, próximo à Chapada Diamantina. E, ainda, o processo de expansão do povoamento
não autóctone da Bahia do século 19.
240
Mapa 4.1. Expansão do povoamento não autóctone na Bahia: 1539-1899
241
Com exceção desses, o sertão na verdade foi reocupado, principalmente, por populações
pobres provenientes de várias províncias, Pernambuco e Alagoas, entre outras, além ex-escravos,
como atesta Antero de Cirqueira Gallo, em uma carta datada de Tucano, em 19 de março de 1897,
enviada ao barão de Jeremoabo, onde dá notícias sobre a presença de ex-escravos na região de
Canudos (sem grifos nos originais):
Quanto os jornais allegarem que lá existe vultos| habilitado para dirigir combate e que João
Abbade| é filho de Ilheus e foi estudante de um lyceu e| matou uma namorada, é
completamente inveridico. Lá os vultos que estão dezenvolvendo a revolta, é| o mesmo
Conselheiro com seus sequazes d’entre estes| soldados dezertores de diversos
Estados e o povo do 13 de| Maio239, que é a maior parte; advirto mais, que gente| de cor
branca poucos lá têm, quanto mais homem| que occupa serta projeção! Ainda mesmo o
Conde| d’Eu se aparecesse lá, éra até vitima pois não o co|nhecem; e finalmente, João
Abbade é filho d’aqui, co|nheço de tenra idade, tem Pai, mãe e irmaos [e]240| todos
morigerados; é um typo alto, grosso, mo-lato,| pouca barba espigado presúmia valentia
d’esde| seus principios e apresentando aspecto dizagrada-|vel.
242
Tabela 4.5 Quantidade de escravos por propriedade na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição
do Coité, na Bahia
Número de escravos Quantidade de propriedade %
1 110 59,8
2 27 14,7
3 12 6,5
4 13 7,1
5 7 3,8
6-9 13 7,1
+ de 10 2 1,0
Total 184 100,0
Fonte: Rios (2003:60) com base nos Livros de Escrituras (1856-1859, 1869-1875, 1863-1868 e 1876-1883) do APEBA.
A presença indígena na região, com dito, é marcante. No século 18241, diversas vilas foram
criadas a partir de antigos aldeamentos, a exemplo de Jeremoabo, índios Cariris (Jeremoabo), Bom
Conselho (Cícero Dantas), Santa Teresa de Canabrava, Pombal (Ribeira do Pombal), aldeia de
Tupinambás (Soure), Tucano, Saco dos Morcegos/Mirandela, aldeia de índios Moritis e Cariris
(Ribeira do Pombal), Maçacará (Euclides da Cunha)242. Há hoje na Bahia nessa região remanescentes
e emergentes de indígenas, a exemplo dos Tuxá (Ibotirama), Kantaruré (Glória), Pankararé (Glória,
Rodelas e Paulo Afonso), Kaimbé (Euclides da Cunha) e Kiriri (Cícero Dantas, Quinjingue e Banzaê),
entre outros. A população, no entanto, é pequena (em média com 50 indivíduos), a exemplo dos
Kiriri das terras do Rodeador em Cícero Dantas e os Atikúm do Angical até, no máximo, 1.350,
como os Kiriri do Banzaê243. Todos são falantes do português. Aliás, em todo o nordeste brasileiro,
somente os fulniôs se expressam em sua própria língua (cf. Puntoni, 2002).
Por fim, penso que os documentos do volume 2, contextualizados neste capítulo, permitem
opor duas amostras do português brasileiro (cf. capítulo 6). De um lado, a produção dos remetentes
da costa, representada, sobretudo, pelos documentos depositados no IGHB e, de outro, a produção
dos remetentes do interior, pelos documentos dos arquivos de sertanejos, como o do barão de
Jeremoabo e do coronel Exupério Pinheiro Canguçu. Esses últimos são representativos de um tipo
de documentação rara, os registros de parcela da sociedade sertaneja do interior baiano.
241 Dados de MATTOSO, Kátia M. Queirós de. (1992) e de VILHENA, Luís dos Santos (1969).
242 Cf. Maria Flexor (2001).
243 Pedro Puntoni (p.46-47) ressalta que em todo o Nordeste os indígenas são apenas 5,5% da população estimada na
época do descobrimento que está distribuída em 26 grupos estabelecidos em pouco mais de 40 áreas.
243
O capítulo seguinte vai tratar de um outro aspecto importante para justificar o caráter sócio-
histórico da documentação, a formação educacional do Brasil e Bahia, após expulsão dos jesuítas,
como forma de justificar o nível de escolaridade dos remetentes das cartas do volume 2.
244
5
Do desenvolvimento do sistema de escolarização no
Brasil em fins do século 18, sua relação com o corpus e
indicadores sociais
O principal objetivo deste capítulo é apresentar alguns dados sobre o sistema educacional
brasileiro no período imperial. E, de forma específica, informar sobre o nível de escolaridade dos
remetentes das cartas editadas no volume 2.
O capítulo está organizado da seguinte forma: Em 5.1, faço um breve histórico sobre alguns
processos de escolarização no Brasil, a partir de meados do século 18. Em 5.2, falo rapidamente da
das universidades brasileiras onde estudaram parte dos remetentes cultos (1ª e 2ª parte), enfim, a
elite, os filhos de funcionários públicos, de senhores de engenho, de pecuaristas e descendentes de
mineradores. No item 5.3, trato da criação de escolas no interior da Bahia no século 19, destacando
as escolas da região Nordeste e da Chapada Diamantina, onde provavelmente estudaram os
remetentes do barão de Jeremoabo e alguns dos que escreveram ao coronel Exupério Pinheiro
Canguçu. Contraponho, nesse item, também, os índices de escolarização desse período, chamando a
atenção para a discrepância entre a média do interior do estado da Bahia, especificamente a de
localidades isoladas. E, por fim, discuto sobre a formação de uma norma semi-culta no interior
baiano para justificar a produção dos documentos provenientes do interior da Bahia, tanto aquela
formada por pecuaristas de médio porte quanto por pequenos produtores, a exemplos, de um tipo
específico de vaqueiros. Em seguida, estabeleço um paralelo entre indicadores sociais do século 19 e
os remetentes das cartas.
245
5.1 Breve histórico da educação no Brasil
A educação no Brasil esteve confiada ao clero secular até meados do século 18244, período
que pode ser dividido em duas vias concomitantes, a partir de uma origem comum, a saber245:
1ª) Fundação de colégios para meninos246, aulas primárias e avulsas, seminários, cursos
superiores de Teologia, Artes e Matemáticas e o envio dos alunos mais abastados para a
Universidade de Coimbra 247.
2ª) Aldeamentos e aculturação dos indígenas sobreviventes entre os que não conseguiram
recuar rumo ao interior do país248.
244 Basicamente formado pelos jesuítas e, em menor proporção, por carmelitas, franciscanos e capuchinhos.
245 Inicialmente havia na costa escolas de indígenas, onde estudavam, também, filhos de colonos, portugueses (inclusive
os órfãos), conforme está fartamente documentado na historiografia.
246 O de meninas conservou o nome de conventos (Almeida, 2000:25).
247 Durante o período jesuítico (1529-1759) foram criados 17 colégios. Além de cursos superiores, também, no Rio de
ascensão de mestiços ou negros, remetentes mesmos da 1ª parte citados por ele, os Rebouças (cf. André Rebouças no
catálogo de fichas da 1ª parte), José Maurício, Torres Homem, Saldanha Marinho, além do médico Juliano Moreira. Não
por acaso, uma gente possuidora de muitos títulos nobiliárquicos: barões, muitos dos quais receberam, posteriormente,
títulos de viscondes, condes e marquês (cf. catálogo de fichas no volume 2), além de muitas honrarias e outros inúmeros
títulos de ordens, associações e patentes. Na 2ª parte, apenas um possuí título nobiliárquico, trata-se do barão de Traipu.
Os remetentes da 3ª parte possuíam apenas patentes da Guarda Nacional, como já visto no capítulo anterior.
246
Tabela 5.1 Distribuição de estudantes brasileiros na Universidade de Coimbra (1772-1872)
Período Estudantes brasileiros na
Universidade de Coimbra
1772-1800 527
1801-1814 116
1815-1827 355
1828-1849 145
1850-1872 99
Fonte: Adaptado de Nunes (2002:12).
250Gilberto Freyre (1950:434) diz, ainda, que para Recife se dirigiam, principalmente, os estudantes do Norte e Nordeste
do Brasil e para São Paulo (Faculdade de Direito de São Paulo ou Academia do Largo de São Francisco), os estudantes
do Centro Sul “com suas cartolas e sobrecasacas pretas e calças brancas, mais próprias ao clima brasileiro, no trajo, por
assim dizer, oficial da classe alta e letrada do seu tempo”.
251 Cf. Cunha (2000:163-165).
247
médicos das faculdades baianas ou cariocas, artistas, jornalistas, etc., enfim, a elite letrada da alta
aristocracia do século 19, ocupantes de cargos públicos de projeção nacional e local.
Contam, ainda, 2 remetentes que fizeram seminário, 1 autodidata, o barão de Mauá, 1
músico internacional, Carlos Gomes, 3 mulheres cultas, a condessa de Barral, Maria Augusta e
Accillyna. Dos 30 remetentes não identificados quanto ao grau de escolaridade é possível observar
que possuíam um com bom nível de letramento. No total, 67,54% dos remetentes da 1ª parte
cursaram faculdade. Definem-se como representantes de uma variedade culta do Brasil de fins do
século 18 e início do século 19, conforme fica evidenciado na tabela 5.3 abaixo252:
Há, ainda, um pequeno grupo que escreveu ao coronel Exupério Pinheiro Canguçu
provavelmente não terá cursado faculdade, a saber: Arlindo Gomes, Cândido Leão, Dechy Pinheiro
252 Gilberto Freyre (2000:121, nota 10) mostra, ainda, que os “Estatutos do Colégio de Nossa Senhora do Bom
Conselho”, Recife, 1859 podem ser considerados típicos dos estatutos dos colégios do meado do século 19 para onde
foram enviados os filhos de abastados da época, meninos ainda crianças “não só os senhores da cidade e educados por
mestres que os faziam perder vários de suas características rurais, inclusive vícios de pronúncia”, continuando seus
estudos nas faculdades. Cf. também, Ribeiro (2002). Autora mostra que no final do século 19, os falantes cultos eram
ainda poucos, giravam em torno de 15% da população brasileira.
253 Como dito, a primeira geração de bacharéis do Brasil (fins do século 18 e início do século 19) foi formada em
Coimbra. E, salvo exceções, era formada de “brancos”, originários de classes sociais elevadas, já que não era permitido o
acesso de pessoas cujos pais exerciam ofícios mecânicos, entre outros embargos. Os estudos eram custeados pela
família.
254 Inclui o barão de Muritiba (esse embora tenha começado o curso em Coimbra , o concluiu em São Paulo).
248
Canguçu, irmão de Exupério, Deraldo, Henrique Teixeira, João Batista Muniz, João Júlio Jacob e
José Egídio de Moura e Albuquerque, barão de Santo Antonio da Barra255. Além desses, 3 senhores
de engenhos, que escreveram a Maria Augusta Argollo, não tiveram seu grau de escolaridade
identificado. Seus nomes também não constam nas listas das faculdades pesquisadas.
Passo a apresentar agora os remetentes da 2ª parte, os “continuadores” da alta aristocracia da
1ª parte. São também cultos, nascidos em meados do século 19. Dentre esses, 56,66% cursaram
faculdade. Outros 21 remetentes, provavelmente, também cursaram faculdades ou aulas maiores.
Veja-se a tabela 5.4, a seguir:
255
Esses remetentes do coronel Exupério Pinheiro Canguçu assemelham aos do barão de Jeremoabo, Cícero Dantas
Martins (3ª parte). Parece se tratar de sertanejos das regiões circunvizinhas a Bom Jesus do Meira (atual região da Serra
Geral).
249
descentralização regencial, período em que provavelmente foram criadas as escolas onde estudaram
os remetentes do interior da Bahia, conforme passo a detalhar no próximo item.
256 Parte desse levantamento foi apresentada no VI PHPB, realizado em setembro de 2004 na Ilha de Itaparica/Bahia.
257 O Regulamento de 5 de janeiro de 1871, art. 10 estabelece que “a matrícula do aluno seria feita pelo professor
mediante a guia do pai, tutor ou protetor, em que se declararia, além da naturalidade e filiação, sua condição de não
escravo, ter entre cinco a quinze anos, estar vacinado e não sofrer de doença contagiosa”.
258 Com relação aos escravos, há na legislação da província da Bahia (1835-1888) uma resolução e quatro regulamentos
que tratam da proibição do acesso dos escravos à escola no final do século XIX, a saber: “que os escravos não são
admitidos à matrícula, pois não poderiam freqüentar as escolas primárias” (cf. Resolução nº 1.561 de 28 de junho de
1875, Art. 86, § 4º, Regulamento de 22 de abril de 1862, art. 46, § 3º e Regulamento de 27 de setembro de 1873, art. 83,
§ 3º).
250
Tabela 5.5 Aulas existentes na província da Bahia (1808- 1840): resoluções da Assembléia Legislativa
da Bahia e atos dos presidentes da província (1835-1889)
Localidades onde foram Data da APEBA. Leis e Resoluções da Assembléia Legislativa da Bahia (1835-
instaladas escolas Fundação 1889). (Sem grifos no original).
primárias (Almeida,
(*cadeira pública de 1889)260.
Latim ou particular)259
(Rabelo, 1929; Nunes,
2003) e documentos do
APEBA.
Água Fria Lei nº 1.490 de 29 de maio de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
masculino na povoação d’Água Fria, termo da Purificação, p.60/1).
Arraial Capela de Santana Lei nº 13 de 2 de junho de 1835 (Criando uma Escola de primeiras letras no Arraial da
da Serrinha Capela de Santana da Serrinha, p.36/7). Volume 1.
Resolução nº 2.588 de 18 de junho de 1888 (Criando cadeiras nos arraias da Pedra, termo de
Serrinha, Boqueirão e Tapera, termo de Amargosa, p.23/4).
Arraial da Gameleira Lei nº 2.121 de 26 de agosto de 1880 (Criando cadeiras na vila do Riacho de Santana, na
povoação de São Francisco do Paraguaçu, no arraial da Jibóia, na povoação da Gameleira,
na freguesia de Passé, na povoação da Ponta de Nossa Senhora, na povoação do Brejo da
Serra e na povoação de S. José das Canastras, p.302-4).
Arraial de Bom Jesus 16/6/1832 Lei n º 2.686 de 10 de julho de 1889 (Criando uma cadeira mista no arraial do Bom Jesus,
(Rio de Contas) p.130/1). (?).
Arraial de Brejinho Lei nº 1.547 de 22 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
masculino no arraial do Brejinho, termo do Urubu, p.150/1).
Arraial de Catulés Resolução nº 2.587 de 11 de junho de 1888 (Criando cadeiras do ensino primário nos
arraiais de Catulé e Bonito, no de Beija-Flor, Boqueirão da Parreira e Boqueirão do Riacho
de Santana, comarca de Monte-Alto, nas povoações de Matarandiba, termo de Jaguaripe, e
Maragogipinho, termo de Nazaré, p.21-3).
Arraial de Furna Lei nº 1.543 de 18 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
feminino no arraial da Furna, de Minas do Rio de Contas, p.144/5).
Arraial [ou Vila] de 16/6/1832 Lei nº 469 de 25 de abril de 1853 (Criando uma cadeira de ensino primário para o sexo
Juazeiro feminino na vila do Juazeiro, comarca de Sento Sé, p.27/8). Volume VII.
Resolução nº 535 de 30 de abril de 1855 (Criando uma cadeira de primeiras letras para
meninos na povoação do Salitre termo de Juazeiro, p.42/3). Volume VIII.
Arraial de Montes Altos - (Comarca de Jacobina) “Capela Nossa Senhora Mãe dos Homens”.
Arraial de Santa Rita Lei nº 1.322 de 18 de junho de 1873 (Criando duas cadeiras de ensino primário para o sexo
feminino, uma na vila do Campo Largo, e outra na de Santa Rita do Rio Preto; e cinco para
[do Rio Preto?] o sexo masculino, sendo uma no arraial do Brejo Grande, outra no do Boqueirão, ambos do
município do campo Largo, outra no arraial do Boqueirão, outra no do Icatu e outra no de
259Destaque (*) das localidades onde existiam as poucas cadeiras de Latim na época.
260 Almeida (1889) diz, entretanto, que a maior parte dessas escolas embora tenha sido criada em 1832 não foram
instaladas de imediato.
251
Porto Alegre do município da vila da Barra do Rio Grande, p.115/6).
Arraial do Bom Jesus - “Comarca de Jacobina”.
Arraial do Boqueirão da Lei nº 1.341 de 3 de julho de 1873 (Criando uma cadeira de ensino primário para o sexo
masculino na povoação de Boqueirão das Parreiras, no termo da vila de Monte Alto,
Parreira (p.171/2).
Arraial do Morro Fogo Lei nº 1.488 de 29 de maio de 1875 (Criando duas cadeiras de instrução primária na
freguesia do Morro do Fogo, termo de Minas do Rio de Contas e no arraial do Bom Jesus
da Lapa, termo de Urubu, p.57/8).
Arraial dos Remédios Resolução nº 555 de 5 de junho de 1855 (Criando duas cadeiras de primeiras letras para
meninos no Arraial de Nossa Senhora dos Remédios do Campestre freguesia do Senhor do
Bom Jesus da Vila de Rio de Contas, p.84/5). Volume VIII.
Lei nº 2.260 de 9 de agosto de 1881 (Criando uma cadeira na freguesia de Santo Antonio
das Queimadas, da comarca da Vila Nova da Rainha e outra no arraial da Missão do Sahy,
p.233/4).
Camisão 16/6/1832 Resolução nº 571 de 30 de junho de 1855 (Criando uma cadeira de primeiras letras para
meninos na povoação de Serra Preta, Freguesia da Comisão, p.117/8). Volume VIII.
Lei nº 1.263 de 21 de março de 1873 (Criando três cadeiras de instrução primária para o
sexo masculino, sendo uma na freguesia do Riachão do Jacuípe, outra na vila do Camisão e
a terceira na freguesia de Massacará, termo de Monte Santo, p.15/6).
Resolução nº 571 de 30 de junho de 1855 (Criando uma cadeira de primeiras letras para
meninos na povoação de Serra Preta, Freguesia da Comissão, p.117/8).
Conde Lei nº 1.553 de 25 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
masculino no arraial do Timbó, termo do Conde, p.159/160).
Itapicuru de Cima 1801 Lei nº 1.296 de 14 de maio de 1873 (Criando uma escola primária para o sexo feminino na
vila do Itapicuru, p.67/8).
Lei nº 1.996 de 6 de julho de 1880 (Criando duas cadeiras para o sexo masculino nos arraiais
de Areias, da freguesia do Barracão e dos Nambis, do termo do Itapicuru, p.70/1).
Lei nº 2.003 de 14 de julho de 1880 criando uma cadeira para o sexo masculino na povoação
denominada Sambaíba, da freguesia do Itapicuru, p..82/3).
Lei nº 2.261, de 9 de agosto de 1881 (Criando três cadeiras, sendo uma no arraial de S.
Francisco, da freguesia de Nossa Senhora da Oliveira dos Campinhos; outra na povoação de
Catingas, termo do Brejo Grande, e a outra no arraial do Mucambo, termo do Itapicuru,
p.234/5).
Jacobina* Fundação Resolução nº 259 de 15 de abril de 1847 (Criando uma cadeira de primeiras letras pelo
antiga método simultâneo para meninas da Vila de Santo Antonio da Jacobina., p.329/30).
Volume IV.
Julgado de Jeremoabo 16/6/1832 Lei nº 1.395 de 04 de maio de 1874 (Criando uma cadeira de primeiras letras para o sexo
feminino na freguesia de Nossa senhora do Patrocínio de Coité, no termo de Jeremoabo, p.
95/6).
Lei nº 1.505 de 4 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
feminino na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, p.77/8).
252
Lei nº 2.127 de 27 de agosto de 1880 (Criando uma cadeira na freguesia de Santo Antonio
da Glória, termo de Jeremoabo, p.311/2).
Julgado de Tucano 16/6/1832 Lei nº 1.387 de 04 de maio de 1874 (Criando uma cadeira de instrução primária para
meninos na Povoação de S. Francisco de Paraguassú, termo de Cachoeira, e outra no Raso,
termo de Tucano, p.79/80).
Mirandela 16/6/1832 -
* (particular)
Missão do Saí Lei nº 2.260 de 9 de agosto de 1881 (Criando uma cadeira na freguesia de Santo Antonio
das Queimadas, da comarca da Vila Nova da Rainha e outra no arraial da Missão do Sahy,
p.233/4).
Monte Santo 1838 Lei nº 1.263 de 21 de março de 1873 (Criando três cadeiras de instrução primária para o
sexo masculino, sendo uma na freguesia do Riachão do Jacuípe, outra na vila do Camisão e
a terceira na freguesia de Massacará, termo de Monte Santo, p.15/6).
Lei nº 1.323 de 18 de junho de 1873 (Criando duas cadeiras de instrução primária para o
sexo feminino, sendo uma no curato do Rio Vermelho, município da capital e outra na vila
de Monte Santo, p.117/8).
Lei nº 1.608 de 13 de junho de 1876 (Criando uma cadeira de instrução primária para o
sexo masculino na Capela do Uauá, pertencente à freguesia do Monte Santo, p.46/7).
Lei nº 1.965 de 11 de junho de 1880 (Criando no arraial do Cumbe uma cadeira de
primeiras letras para o sexo masculino, p.26/7).
Lei nº 2.238 de 6 de agosto de 1881(Criando uma cadeira no arraial de Santo Antonio dos
Canudos, p.194/5).
Montes do Boqueirão Lei nº 1.322 de 18 de junho de 1873 (Criando duas cadeiras de ensino primário para o sexo
feminino, uma na vila do Campo Largo, e outra na de Santa Rita do Rio Preto; e cinco para
o sexo masculino, sendo uma no arraial do Brejo Grande, outra no do Boqueirão, ambos do
município do campo Largo, outra no arraial do Boqueirão, outra no do Icatu e outra no de
Porto Alegre do município da vila da Barra do Rio Grande, p.115/6). (?)
N. S. do Livramento de 16/6/1832 Lei nº 117 de 26 de março de 1840 (Criando Cadeiras de Primeiras Letras na Comarca do
Rio de Contas* Rio de Contas, p.103/4). Volume I.
Resolução nº 555 de 5 de junho de 1855 (Criando duas cadeiras de primeiras letras para
meninos no Arraial de Nossa Senhora dos Remédios do Campestre freguesia do Senhor do
Bom Jesus da Vila de Rio de Contas, p.84/5).
Lei nº 1.225 de 3 de junho de 1872 (Criando uma cadeira de instrução pública no arraial da
Vila Velha, município do Rio de Contas, p.103/4). (?)
Lei nº 1.304 de 15 de maio de 1873 (Criando duas cadeiras do ensino primário para o sexo
masculino, sendo uma no arraial de Catolés e outra no do Paramirim no município de Minas
do Rio de Contas, p.79/80).
Lei nº 1.416 de 07 de maio de 1874 (Criando uma cadeira de primeiras letras para o sexo
feminino no Arraial da Chapada Velha do termo dos Lençóis., p.139/40).
Lei nº 1.417 de 07 de maio de 1874 (Criando duas cadeiras no lugar denominado Estiva e
outra no lugar denominado Campestre do termo de Lençóis, p.141/2).
Lei nº 2.068 de 11 de agosto de 1880 (Criando diversas cadeiras, sendo uma para o sexo
masculino na povoação das Tabocas e outra na povoação do Cedro, do termo de Minas do
Rio de Contas; uma para o sexo masculino e outra para o feminino na povoação de S.
Miguel, do termo de Santana do Catu e uma para o sexo feminino na freguesia de N. Sra. do
Amparo, do termo de Pombal, p.183/4).
Lei nº 2.172 de 18 de junho de 1881 (Criando duas cadeiras na povoação da Tapera do Lima,
termo do Itapicuru e na povoação do Gravatá, termo de Minas do Rio de Contas, p.54/5).
Resolução nº 2.242 de 6 de agosto de 1881 (Criando uma cadeira de primeiras letras no
253
arraial de Paramirim, em Minas do Rio de Contas, p.202).
Pambu Lei nº 1.636 de 14 de julho de 1876 (Criando três cadeiras primárias para o sexo masculino,
uma na vila do Pambu, outra no arraial do Chorrochó, e outra no lugar denominado Pé da
Serra , p.131/2).
Lei nº 2.068 de 11 de agosto de 1880 (Criando diversas cadeiras, sendo uma para o sexo
masculino na povoação das Tabocas e outra na povoação do Cedro, do termo de Minas do
Rio de Contas; uma para o sexo masculino e outra para o feminino na povoação de S.
Miguel, do termo de Santana do Catú e uma para o sexo feminino na freguesia de N. Sra. do
Amparo, do termo de Pombal, p.183/4).
Vila de Feira de Santana Resolução nº 486 de 6 de junho de 1853 (Criando uma cadeira de latim na vila da Feira de
* Santana, p.62/3). Volume VII.
Lei nº 788 de 8 de julho de 1859 (Criando uma cadeira de primeiras letras para meninos no
arraial do Bom Despacho, termo da vila da Feira de Santana , p.125/6). Volume XII.
Resolução nº 572 de 30 de junho de 1855 (Igualando o ordenado do professor de primeiras
letras da Feira de Santana, ao do professor do mesmo ensino da cidade de Nazaré,
p.119/20).
Lei nº 1.498 de 2 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
masculino no arraial do Limoeiro, termo da Feira de Santana , p.69/70).
Lei nº 1.803 de 10 de julho de 1878 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
feminino na freguesia de N. Sra. dos Humildes do termo da cidade de Feira de Santana, p.4-
6).
Resolução nº 2.413, de 29 de julho de 1883 (Concedendo sete loterias para obras de diversas
igrejas e fundação de uma biblioteca popular na Feira de Santana, p.178/9).
Vila de Macaúbas Lei nº 1.529 de 17 de junho de 1875 (Criando uma cadeira de instrução primária para o sexo
feminino na sede da Vila de Macaúbas, p.127/8).
Vila Nova da Rainha - Lei nº 1.578 de 30 de junho de 1875 (Criando uma cadeira para o sexo masculino no arraial
(Senhor do Bonfim) de Bananeiras, termo da Vila Nova da Rainha, p.281/2).
Vila Nova do Príncipe Resolução nº 474 de 7 de maio de 1853 (Restabelecendo a cadeira de Latim da Vila de
(Caitité) * Caetité, p.38/9). Volume VII.
Resolução nº 528 de 30 de abril de 1855 (Criando uma cadeira de primeiras letras para o
sexo masculino no Arraial de Canabrava das Cadeiras termo de Caetité, p.27/8). Volume
VIII.
261 Na fala que recitou o presidente de província, o desembargador João José de Moura Magalhães, em 25 de março de
1848 sobre o mapa das aulas públicas, com base na freqüência do ano de 1847, para a região semi-árida, se destaca o
baixíssimo número de alunos em Santo Sé (4) e Urubu (16) em comparação com as demais localidades, Rio de Contas
(248), Itapicuru (190), Rio de S. Francisco (172) e Jacobina (152).
254
Lei nº 1.285 de 6 de maio de 1873 (Criando duas cadeiras para instrução primária do sexo
masculino, sendo uma na povoação do Bonito, e outra na povoação de S. Sebastião, ambas
no termo de Caetité, p.50/1).
Lei nº 1.598 de 30 de maio de 1876 (Criando cadeira de instrução primária para o sexo
masculino na povoação das duas Barras, município de Caetité, p.23/4).
Lei nº 2.063 de 6 de agosto de 1880 (Criando mais uma cadeira do sexo masculino na cidade
de Caetité, p.175/6).
Xique-Xique 16/6/1832 Lei nº 1.467 de 3 de abril de 1875 (Criando duas cadeiras para o sexo feminino, uma na
* (particular) povoação de Xique-Xique, termo de Santa Isabel do Paraguaçu, e outra na povoação da Ilha
do Senhor Bom Jesus dos Passos, da freguesia da Madre de Deus do Boqueirão; e uma para
o sexo masculino na referida povoação de Xique-Xique, p.29/30).
Lei nº 2.309 de 15 de junho de 1882 (Criando três cadeiras de instrução primária do sexo
masculino, sendo uma para o povoado do Banco d’Areia, outra no povoado do Bromado,
ambas no Xique-Xique, e na povoação do Pau a Pique, no termo do Remanso, p.47/8).
Fonte: Leis e resoluções da Assembléia Legislativa da Bahia; Atos do Governo da Província (1835-1889); Almeida
(1889:68 e 69) e Rabelo (1929:5-235, apud Nunes, 2003:276-178).
É interessante dizer que o número de escolas primárias na Bahia cresceu muito nos anos
subseqüentes. Em 1875, o número de escolas públicas passou para 428, além de mais 26
particulares. Um número muito maior do que foi dado, anteriormente, por Almeida (1889:80), por
exemplo, para todo o Império que tinha, trinta e cinco anos antes, apenas 441 escolas, como
referido. Também o diretor geral da instrução pública da Bahia, Dr. Eduardo Freire de Carvalho, em
relatório ao presidente de província de 1º de março de 1877, diz que a Bahia contava nesse período
com 460 escolas primárias, sendo 310 para meninos e 150 para meninas, freqüentadas por 13.001
meninos e 5.206 meninas (cf. Nunes, 1997: 189).
Com relação às demais províncias, houve, também, um crescimento razoável nas demais
províncias, como pode ser observado nos dados do relatório estatístico apresentado pelo Ministro
Paulino José Soares de Souza (1869:533) publicado em Primitivo Moacyr (1939) para o ano de 1869
(relatório de 1879), conforme está explicitado na tabela 5.6, a seguir:
255
Tabela 5.6 Dados do relatório do Ministro Paulino José Soares de Souza
Províncias N° total de Para Meninos Para Meninas Freqüência total
escolas matriculados
Minas Gerais 378 317 61 12.709
Bahia 274 217 57 9.635
São Paulo 240 132 108 9.323
Pernambuco 236 140 96 7.603
Rio Grande do 203 129 76 6.865
Sul
Rio de Janeiro 191 121 70 6.514
Ceará 174 112 62 5.693
Pará 106 80 26 5.234
Alagoas 104 64 40 4.710
Paraíba 103 79 24 4.459
Maranhão 101 60 41 4.121
Sergipe 100 69 31 2.958
Santa Catarina 73 50 23 2.448
Goías 69 45 24 1.871
Rio Grande do 56 38 18 1.571
Norte
Espírito Santo 51 39 12 1.174
Paraná 48 32 16 1.153
Piauí 47 27 20 897
Amazonas 31 24 7 627
Mato Grosso 15 - - 549
O relator diz que em todo o Império o número de escolas, incluindo as particulares que não
constam nessa tabela, era de 3.378 (2.187 de meninos e 1.079 meninas). Com relação ao número de
escolas públicas secundárias, diz que as mesmas estão em proporção inversa a de particulares. O
relator explica que isso se deve aos “lucros que deixa o ensino secundário procurado pelos filhos de
famílias abastadas, encarregando-se os diretores de colégios e professores menos de instruir os
alunos, do que de dispô-los para os exames de admissão nos cursos superiores”.
Um pouco antes, Dias (1852 apud Primitivo, 1889:526) fala que entre os “defeitos da
instrução pública” está a não obrigação de freqüência escolar. “Nas melhores escolas na capital, e
em tempos ordinários, falta diariamente 1/4 ou 2/9 e quando menos 1/5 dos matriculados”. Nesse
relatório, também apresenta um dado novo, o fato de as escolas de todas as províncias visitadas por
ele, incluindo a Bahia, quer pública, quer particular, “se achar em mãos de nacionais, salvo raras
exceções”.
A despeito do aumento de escolas, o percentual de letrados no Brasil e na Bahia ainda é
baixo em fins do século 19, como está demonstrado na tabela 5.7, a seguir:
256
Tabela 5.7 Distribuição do índice de alfabetizados nas províncias em fins do século 19
Dados de Ferreira (1875:15) colhidos Dados de Novais e Alencastro
em 1874. (1997:474-475) da população livre que sabe
ler e escrever com base no censo de 1872.
Províncias Índice de Livres Instruídos Índice de
Alfabetizados Alfabetizados
Alagoas 13,41 312, 268 41,860 13,4
Amazonas 13,44 56.631 7.613 13,4
Bahia 20,19 1.211. 792 249.072 20,6
Ceará 11,53 689.773 79.560 11,5
Espírito Santo 16,36 59.478 9.732 16,4
Goiás 15,13 149.743 22.656 15,1
Maranhão 24,14 284.101 68.571 24,1
Mato Grosso 20,31 45.851 9.721 21,2
Minas Gerais 13,51 1.669.276 224.539 13,5
Município Neutro262 43,87 - - -
Pará 24,55 247.779 60.395 24,4
Paraíba 11,53 354.700 41.212 11,6
Paraná 27,39 116.162 31.816 27,4
Pernambuco 19,58 746.753 146.663 19,6
Piauí 15,56 178.427 27.770 16,5
Rio de Janeiro 32,49 716.120 213.756 29,8263
Rio Grande do Norte 18,02 220.959 39.822 18,0
Rio Grande do Sul 25,97 367.022 95.303 26,0
Santa Catarina 15,14 144.818 21.926 15,1
São Paulo 20,72 680.742 141.067 20,7
Sergipe 18,64 153.620 29.138 19,0
Total 18,98 18,82
Fonte: Adaptado de Ferreira (1875:115) e Novais e Alencastro (1997:474-475).
Destacam-se, inicialmente, o Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão,
Mato Grosso e São Paulo com os maiores índices e o Ceará com o menor. A Bahia com
aproximadamente 20% aparece levemente acima da média nacional que era de 18,82%. Esses
percentuais mostram, por outro lado, como é óbvio, o altíssimo percentual de iletrados na
população brasileira do período, algo em torno de 81,08 %. Esses números estão de acordo com o
que é dado por outros autores para fins do século 19 e início do século 20 (cf. Houaiss, 1985:137 e
Boris Fausto, 1994:237). Mattos e Silva (2002:452), com base nesses números, chama a atenção para
o fato de que a discrepância entre o número de letrados versus iletrados “está na raiz da polarização
sociolingüística do português brasileiro de hoje”. Como se verá adiante, essa polarização parece
262 O autor separou a população da Corte estabelecida no Rio de Janeiro do restante da província.
263 Nesse caso, os autores incluíram a população da Corte no geral da província do Rio de Janeiro.
257
ainda mais acentuada nos vastos sertões baianos, principalmente, nas regiões mais adversas ou nas
áreas ribeirinhas do vale do São Francisco.
A criação de mais uma Cadeira na Esplanada| (por enquanto) será apenas objecto de luxo, que só
trará| a vantagem do sobrecarregar os cofres do estado.| No Timbó tem muito maior numero de
crianças do| que tem a Esplanada – isto é que é real.| Consta-me que o Sr. Intendente segue para
ahi| munido d’um rescenciamento das crianças de Esplanada| no qual figurão muitos, como criados
para augmentar o|numero e ver se conseguem a criação da almejada ca-|deira para collucar a filha de
José Ferreira de Souza – aqual| legalmente já tinha perdido a cadeira de Timbó, por ter-|se auzentado
para Entre Rios em 15 de Novembro do Anno| proximo passado de donde voltou em 15 de maio
deste anno, 6 mezes| completos; durante os quaes somente de dois mezes te-|ve licença da
Intendencia; mas, me consta, que nem des-|tes 2 mezes a secretaria teve sciencia; isto é publico e|
notório – creio que o unico que o ignorava (eu creio-| cinceramente) era o Sr. Intendente por que
dava os attes-|tados para ospagamentos.| Timbó 20 de agosto de 1901.| Augusto da Silva Ribeiro
Para fins comparativos, seguindo o raciocínio de Almeida (1889), foi elaborada uma tabela
com base em informações sobre população geral e escolar do recenseamento de 1875 e o de Ferreira
258
(1892), respectivamente, em diversas localidades do interior. Vê-se que se a média nacional, algo em
torno de 2% dada por esse autor para 1854 (cf. apêndice 1) se aplicasse a Bahia, os 15% obtidos no
recenseamento de 1875 demonstrariam que houve um avanço de 12% em trinta anos. No entanto,
duas questões precisam ser consideradas. A primeira diz respeito ao próprio índice de 15%,
praticamente o mesmo para todas as localidades. Regularidade essa que não deixa de ser curiosa. A
segunda refere-se aos problemas qualitativos, uma vez que a situação de grande parte das escolas era
bastante precária, como pode ser presumido a partir do testemunho de Aguiar (1882), sem falar na
evasão escolar, um problema que ainda persiste no Sertão. Veja a seguir, na tabela 5.8, os
comentários do autor:
Tabela 5.8 População geral e escolar com base no recenseamento (1875) e das impressões de Durval
Vieira Aguiar (1882) sobre a região de semi-árido baiano
Cidade e Ferreira 1892. Mensagem e Impressões de Durval Vieira de Aguiar (1882)266
região Relatórios apresentados à Obs.: Os dados em geral referem-se às sedes. As
Assembléia Geral Legislativa. informações sobre os distritos parecem ter sido
Bahia (baseado no recenseamento obtidas com base em informações recolhidas na
de 1875) própria sede.
População Nº de alunos %
na escola
Feira de Santana 72.320 11.352 15,69 Não há referências.
Serrinha 17.440 2.738 15,69 “Há na vila duas escolas e uma casa ordinária que serve de quartel e
cadeia, com um destacamento de 4 a 5 praças.” (p. 109).
Camisão 34.616 5.420 15,65 “Funcionava duas escolas com escassa freqüência” (p. 114).
(Atual Ipirá)
Orobó 17.303 2.710 15,66 “A instrução anda lá muita atrasada, apesar das duas escolas da vila
dirigidas por hábeis e zelosos professores, e freqüentadas por avultado
número de crianças dos dois sexos; ressentindo-se ambas de falta de
bons compêndios e mobília, que consiste em toscos bancos arranjados
pelos ditos professores. Estas escolas à maioria da população,
moradora nas matas e caatingas”. (p. 130).
Itapicuru 34.732 5.486 15,79 “Funcionavam também 2 escolas freqüentadas com cerca de 30
crianças de cada sexo. No Barracão havia outras duas. No arraial dos
Nambis, que dista da vila 7 léguas, também uma contratada e outra no
Mocambo.”267
Pombal 17.366 2.743 15,79 “Na vila existem 2 escolas de 1ª classe com 50 meninos e 30 meninas,
outras duas na Ribeira e mais duas em Mirandela, antigo Saco dos
Morcegos, 5 léguas abaixo; povoação formada pelo aldeamento hoje
reduzido a cerca de mil índios”.
Bom 15.520 2.436 15,69 Funcionavam duas escolas de 1ª classe dos dois sexos; tendo a de
Conselho268 meninos 30 de freqüência e a de meninas 26; ressentindo-se essa de
mobília, e ambas de compêndios. [...]. Na freguesia do Coité existem
duas escolas mais ou menos em idênticas condições”. (p. 79-80).
266Aguiar (1889.) apresenta dados sobre a população mais ou menos equivalentes ao recenseamento de 1875.
267Sena (1972:186-187), a partir da Fala dos Presidentes de Província da Bahia e do Mapa de aulas públicas e particulares
da Bahia no ano de 1851, ambos documentos do APEBA, informa que sobre a existência de 6 escolas públicas para
meninos com 128 matriculados. A escola para meninas aparece apenas em 1866.
268 Cf. APEBA. Lei nº 1.546 de 22 de junho de 1875 criando uma cadeira de instrução primária para o sexo feminino
na freguesia do Bom Conselho (p.149/50).
259
Jeremoabo 31.040 4.872 15,69 “A população do termo [...] muito pobre e ignorante, pois que as duas
escolas da vila de nada servem à maior parte dos moradores que
habitam nas caatingas”. (p. 76).
Vila-Nova [da 37.183 5.928 15, 94 “Encontramos na vila, perfeitamente regidas duas escolas de ambos os
Rainha] atual sexos com alguns utensílios angariados pelos respectivos professores,
Senhor do faltando translado e compêndios e freqüentada por cerca de 50 alunos
cada uma. As duas do sexo masculino de Jaguari e Saí estavam bem
Bonfim
freqüentadas. Existiam mais uma de meninos na Itiúba, outras nas
Bananeiras, 2 dos dois sexos, nas Queimadas e outras duas na Vila
Velha” (p. 121).
Jacobina 37.808 5.934 15,69 “Funcionava na cidade duas bem dirigidas escolas primárias com cerca
de 80 crianças; tendo a de meninos 47 e a de meninas 30. Ambas
precisavam de compêndios e tinha por mobília toscos bancos. Havia
mais uma cadeira de meninos no Riachão, outra na Utinga e outra na
Saúde”. (p. 125).
Monte Santo 26.444 4.151 15,69 Funcionavam na vila duas escoas públicas com 30 meninos e 20
meninas de freqüência, ambas sofrivelmente providas de livros e
utensílios; bem como uma outra particular. Existiam mais duas
contratadas, uma no Uauá e outra no Cumbe, que é um lugar muito
habitado”. (p. 83).
Juazeiro 22.976 3.601 15,67 “Encontramos duas escolas habilmente dirigidas, bem freqüentadas e
melhor servidas de bancos e umas toscas carteiras; se bem que tivesse
falta de bons livros”. (p. 66).
Minas do Rio 72.179 11.331 15,69 “Na Vila Velha existiam três escolas; sendo duas na povoação do alto
de Contas da Matriz, com poucas meninas e uns 34 meninos e uma, de meninas
do bairro de baixo, também com escassa freqüência. As duas da cidade
tinham melhor aparência, mais freqüência e regularidade.
Brejo Grande 22.219 3.488 15,69 “A vila [...] sofrível edificação de perto de 300 casas, onde se abrigam
cerca de 1800 moradores; havendo duas escolas públicas que tinham
matriculados 47 meninos e 22 meninas”. (p. 159).
Maracás 25.587 3.911 15,28 “No Caldeirão [povoado de Maracás] onde o povoado não é pequeno,
lamentavam os pais de família a falta de uma escola”. (p. 216).
Caetité 36.334 5.703 15,69 “A instrução pública constava de três cadeiras primárias e uma
particular de preparatórios. As públicas eram duas de meninas com 43
matriculadas. Além destas, havia mais: uma com 33 meninos no
Barracão, uma S. Sebastião, quase deserta, por desagrados com o
260
professor, que, entretanto apresentava uma matrícula de 56, outra nas
Aroeiras, então vaga, outra no Caculé269, idem; outra no Gentio com 32
meninos matriculados; outra na Canabrava com 27; outra no Bonito,
vaga; duas dos dois sexos nas Umburanas com 34 meninos e 15
meninas”. (p. 182).
Urubu 29.473 4.626 15,69 “Existiam no termo as seguintes escolas: duas, de ambos os sexo, na
vila que tinham 56 meninos e 30 meninas matriculados, e outras
contratadas, sendo duas no Bom Jesus da Lapa, duas no Bom Jardim,
que fica 12 léguas abaixo, uma de meninos no sítio do Mato, a 8 léguas,
outra no Brejinho, a 12 léguas.
Macaúbas 49.884 7.830 15,69 “É lamentável o estado de ignorância daquelas populações de cerca de
40 mil almas, em 40 léguas quadradas, inclusive Brotas, e onde só
existiam seis desprovidas escolas apenas com a matrícula de 223 alunos,
dos quais somente 29 meninas em uma das da vila, pois que as demais
eram de meninos; sendo uma em Santa Rita – 8 léguas, uma na Lagoa
Clara – 8 léguas, lugar de muito frio, onde encontramos no verão, à
noite, uma temperatura de 10º, uma em S. Sebastião – 12 léguas, e uma
na Vila de Brotas – 30 léguas; escolas estas que a necessidade impõem
serem mistas não só por economia e pequena freqüência, como para
não continuarem sem instrução as pobres meninas”. (p. 166-167).
Xiquexique 28.406 4.439 15,62 Cidade em conflito: “Quando em 1882 aportamos a este infeliz termo,
achamos a vila completamente saqueada”. (p. 59).
Fonte: APEBA. Seção Colonial e Provincial. Série Polícia. Recenseamento. Doc. 6176 – 1 e Aguiar (1872).
Entretanto, quando se compara o percentual não mais de alunos matriculados, mas o índice
geral de alfabetizados da Bahia, 20,6%271 com o geral do interior, 17,13% vê-se, no entanto, que não
é uniforme, ao contrário, há um desequilíbrio muito grande na distribuição. Em Juazeiro, por
exemplo, o percentual de alfabetizados é de apenas 4%, enquanto que em outras localidades há
índices superiores, inclusive acima da média nacional, como por exemplo, Monte Alegre, 34%,
269 Cf. APEBA. Lei nº 2.062 de 6 de agosto de 1880 criando duas cadeiras para o sexo masculino nos distritos de
Aroeiras e Caculé (p.174/5).
270 Cf. APEBA. Lei nº 1.977 de 23 de junho de 1880 criando uma cadeira de instrução primária para o sexo feminino na
261
Lençóis com 30%, Morro do Chapéu, 28,58% e Itapicuru, 27% (região dos remetentes para o barão
de Jeremoabo), como detalhado na tabela 5.9, a seguir.
Não se sabe se houve algum interesse governamental em mascarar a realidade apresentando
índices maiores nas localidades mais populosas. Ou, talvez, esses índices se justifiquem, em parte
pela história das localidades, como, por exemplo, àquelas que foram urbanizadas a partir de ganhos
auríferos (Lençóis e Morro do Chapéu).
Tabela 5.9 Classificação da população em (livre ou escrava), nacionalidade (brasileira ou outras), por
instrução (alfabetizados ou analfabetos) e por localidade (Censo de 1872)
Município Situação Nacionalidade Instrução
262
Surpreendentemente, as localidades onde residiam os remetentes apresentam nesse censo
bons índices de escolarização, a exemplo de Itapicuru e Jeremoabo.
Esse é o contexto dos remetentes radicados no interior da Bahia. Como se ver, nesse
período não é possível falar de um português culto272 mas, apenas, de um português semi-culto, e,
principalmente, de um português popular, se, de fato, o processo de escolarização ocorreu nessa
região nos termos como parece evidenciado pelos dados apresentados nos itens precedentes.
Provavelmente é essa variedade que aparece nos escritos dos remetentes dos dois arquivos supra-
citados, principalmente, o do barão de Jeremoabo, Cícero Dantas Martins e o do coronel Exupério
Pinheiro Canguçu.
Os mestiços aparecem nos dados do censo de 1872 em número muito superior ao número
de brancos, algo em torno de 73% do total da população baiana. Essa, inclusive, é a população que
aparece nas escolas públicas de primeiras letras, conforme documento sobre instrução pública (cf.
APEBA. Seção Colonial. Série Instrução pública, maço 3971 e maço 3997), a partir de dados
assistemáticos, apresentados, abaixo, a título de exemplificação, para os meados e fins do século 19
no interior da Bahia273.
1840
Nossa Senhora da Saúde 17 (10 pardos e 7 brancos)
Coração de Jesus de Riachão de 14 (10 pardos, 3 brancos e 1 cabra)
Jacobina
Santo Antonio de Jacobina 53 (sem distinção de cor)
1842
São João Batista de Jeremoabo 21 (sem distinção de cor)
1843
Barra do Rio Grande 62 (35 pardos, 8 brancos, 7 cabras, 5 pardos claros, 1 pardo
mestiço, 4 mamelucos e 2 crioulos)
1844
Pombal 32 (sem distinção de cor)
Barra do Rio Grande 31 (3 crioulos, 27 pardos e 1 branco)
Caitité 28 (sem distinção de cor)
Jequiriça
Vila Nova da Rainha da 34 (17 pardos, 15 brancos e 2 pretos)
Freguesia de Jacobina
Jequiriça 13 (sem distinção de cor)
Vila Velha do Rio de Contas 45 (sem distinção de cor)
1845
272 Definido aqui como o falado ou escrito por portadores de nível superior.
273 Documento pesquisado no APEBA e apresentado no VI PHPB, Bahia, setembro de 2004.
263
Vila da Barra do Rio São 80 (62 pardos, 15 cabras e 3 brancos)
Francisco
Alagoinhas 31 (sem distinção de cor)
Aporá 28 (sem distinção de cor)
Feira de Santana 46 (sem distinção de cor)
1879
Feira de Santana 106 (sem distinção de cor)
Por outro lado, a grande maioria das localidades de onde provêm as cartas desses arquivos
não tinha aulas maiores274 ou mesmo cursos preparatórios, situações nas quais em que realmente
haveria um maior contato com a leitura, a escrita e o estudo não só da gramática do português, mas
também da gramática latina, grega etc. Mesmo que o percentual de alfabetizados entre os livres para
o geral do interior gire em torno de 17,13%, essa média não se aplica ao interior como um todo.
A implantação de uma possível variante culta do português brasileiro no interior da Bahia
parece ser recente. É provável que a variedade semi-culta, encontrada nos textos produzidos por
remetentes do interior, adquirida via pouquíssimo contato com a escolarização, ofereça dados da
língua vernácula do interior da Bahia. É certo que os remetentes de regiões interioranas tiveram
pouco contato com a variante culta, conforme pode ser inferido do relatório, já citado, do Ministro
Paulino José Soares de Souza (1869:533 apud Primitivo Moacyr, 1939). Esse relator chama a atenção
para a discrepância entre o número de matriculados e aqueles que de fato terminavam o curso (sem
grifos nos originais):
Em todas as províncias o número de alunos aprovados e dados por prontos não está em
relação com os matriculados. Aponta-se como causa deste fato o ser eles retirados das
escolas antes de concluírem os estudos, julgando os pais, logo que os vêem assinar o
nome e soletrar a letra redonda, que já sabem bastante para os misteres em que os
pretendem entregar.
Contrapondo-se aos demais, pode-se afirmar, com relativa segurança, que os remetentes do
barão de Jeremoabo e alguns do coronel Exupério não possuíam nível superior. Não há indícios de
que tenham feito cursos preparatórios para as faculdades. Não encontrei, também, nenhum registro
desses remetentes nos internatos e externatos da capital da província. É provável que a maioria
tenha feito o curso de primeiras letras na região e, ainda, quando crianças ou na fase infanto-juvenil,
uma vez que as escolas para adultos, destinadas aos maiores de 25, foram criadas em fins do século
19. Dessa forma, penso que os textos da 3ª parte tenham sido produzidos por pessoas pouco cultas,
274Havia em algumas localidades que fazem parte da zona de mineração (século 18), cursos preparatórios e os cursos
secundários. Com a “queda” da extração de ouro e diamantes uma parte dos abastados dessas localidades migrou,
fazendo com que muitos desses cursos fossem extintos.
264
fato evidenciado pelas marcas de oralidade (menos evidentes nas cartas da 1ª e 2ª partes).
Provavelmente, apenas os remetentes mais abastados tenham tido maior contato com as pessoas
com maior grau de escolaridade, como os páracos ou professores contratados.
A região de Jeremoabo tinha antes da saída dos jesuítas diversos aldeamentos. Dos indígenas
remanescentes, antes sob a tutela dos jesuítas, sabe-se que não receberam educação formal, como
pode ser inferido a partir do relatório escrito em 1852 (apud Primitivo Moacyr, 1939):
No antigo regime era costume criarem-se cadeiras primarias nas localidades em que
estabeleciam índios novamente convertidos. Se nos não convém ir procurar novos índios ás
florestas para os converter e civilizar, nem mesmo olharmos de perto para a instrução dos
aldeamentos, é de necessidade atendermos ao menos a essa outra classe, que, entremeada
com a população livre, tem ela uma ação desmolarizadora, que não procuramos remediar.
Quero crer perigoso dar-se-lhe instrução, mas porque não se lhe dar uma educação moral e
religiosa.
Com base nesses dados, dividi as cartas segundo o grau de escolaridade dos remetentes em
dois grandes grupos:
1. Grau universitário no Brasil275 e fora do Brasil (Universidade de Coimbra e outras):
variante culta.
2. Grau não universitário (intermediário e de primeiras letras): variante semi-culta.
Encerro o capítulo com alguns indicadores sociais dos remetentes e algumas palavras sobre
gênero.
Voltando à situação dos letrados da 1ª parte e de uma parcela da 2ª parte, comprova-se o que
foi dito por Holanda (1995 [1936]:156) para o Brasil desse período. O autor diz que os formados em
medicina, bacharelado e em minas não foram homens de sua profissão:
“Ninguém aqui procura seguir o curso natural da carreira iniciada, mas cada qual almeja
alcançar aos saltos os altos postos e cargos rendosos: e não raro o conseguem”. “Os alferes
de linha sobe aos pulos a major e a coronel de milícia e cogita, depois, em voltar para a
tropa de linha com essa graduação. O funcionário público esforça-se por obter colocação
de engenheiro e o mais talentoso engenheiro militar abandona sua carreira para ocupar o
cargo de arrecadador de direitos da alfândega. O oficial da marinha ao uniforme de chefe
265
de esquadra. Ocupar cinco ou seis cargos ao mesmo tempo e não exercer nenhum é coisa
nada rara”.
276
Os remetentes formados nas faculdades (bacharéis e médicos, principalmente) não
exerciam suas profissões de formação. As profissões exercidas, também em parte cumulativas,
estavam ligadas à administração pública. Muitos exerceram diversidades diplomáticas no exterior
(adido, chanceler, cônsul, diplomata, enviados especiais, ministros residentes e plenipotenciários,
secretário de legações, entre outras). São pessoas que podem ser enquadradas como pertencentes à
elite.
Na tabela a seguir, tento identificar os 217 remetentes a partir de classes sociais. Como não há
uma classificação de grupos sociais do interior, faço uma adaptação da proposta de Mattoso
(1992:598-599) para a Salvador no século 19. Os agrupamentos de Mattoso, por sua vez, foram
feitos a partir da proposta de Vilhena (1969 [1798-1799]) para o século 18. A autora, tendo por base
outros indicadores, estabelece 4 grupos principais, a partir dos 7 grupos propostos por Vilhena.
A distribuição dos remetentes por classes conta na tabela 5.10, a seguir:
Tabela 5.10 Indicadores sociais no período colonial e imperial (Vilhena, 1969 [1798-1799]) e
Mattoso (1992:259-599)
Vilhena Kátia Mattoso 114 remetentes 60 remetentes 43 remetentes
séc. 18 século 19 (Bahia, Salvador) da 1ª parte da 2ª parte da 3ª parte
(Bahia)
1. Magistrados e 1. Rendas acima de R$ 1.000.000, 00 de
funcionários das réis
finanças. Altos funcionários graduados da
administração real:
2. Corporação Governador geral, chanceler, 27 ministros 1 presidente da -
eclesiástica desembargadores do Tribunal da Relação. 12 senadores república
Ouvidor geral do crime, ouvidor geral do 1 cônsul 3 ministros
cível. 5 embaixadores 3 senadores
Tesoureiro geral da Real Junta da 3 presidentes de 1 deputado
Arrecadação da Real Fazenda. província
Juízes da alçada, deputado da Real Junta de 9 deputados
Arrecadação da Real Fazenda.
Secretário de estado e Governo.
Intendente geral do ouro, intendente da
Marinha e provedor da Alfândega.
Oficiais de patentes mais elevadas 1 general - -
(coronéis, tenentes-coronéis, sargentos- 1 brigadeiro
mores). 3 tenentes coronéis
1 major
O alto clero secular (arcebispo e 1arcebispo - -
membros do alto clero)
Grandes negociantes 3 grandes negociantes - -
Grandes proprietários de terras *1 filha de um grande - -
proprietário de terras
* 1 escritor filho de
grande proprietário
276
Entre os remetentes das cartas do volume 2, há na 1ª parte 51 bacharéis e 13 médicos e, na 2ª, 15 bacharéis e 9
médicos.
266
rural
* 1 músico
internacional filho de
grande proprietário
rural
Senhores de engenho ou pecuaristas 2 senhores de engenho
*2 filhas de senhores
de engenho
3. Corporação 2. Rendas acima de R$ 500.000,00 réis 1 juiz de direito 1 Juiz de direito
militar. Funcionários de nível médio: 2 desembargadores 1 promotor
4. Corpo de Juízes de primeira instância, tabeliães, 1 promotor público 10 intendentes
comerciantes. almoxarifes do Arsenal, diretores 5 diretores 1 procurador municipais
da Casa da Moeda, entre outros. 1 intendente de 4 diretores 1 “político”
município 1 intendente
6 “políticos” 5 “políticos”
Oficiais de nível médio: 1 alferes
Capitães, tenentes e suboficiais. 1 “ militar”
267
1ª parte: classe 1 (74/109 - 67,889%) e classe 2 (35/109 - 32,110%).
Além de 5 não identificados. Como se vê, os remetentes são oriundos, em sua maioria, da
classe mais alta ou da classe imediatamente inferior, mas, sobretudo, constituem uma classe alta
letrada. É o único grupo em que não há representantes da classe 3.
2ª parte: classe 1 (8/46 - 17,391%); classe 2 (29/46 - 63,043%) e classe 3 (9/46 -
19,562%), além de 14 não identificados. Nesse grupo, a situação se inverte e a maioria pertence à
classe 2, já com um percentual em torno de 20% da classe 3. Uma elite imediatamente inferior à
primeira, mas, ainda, letrada e, sobretudo citadina.
3ª parte: classe 2 (27/43 - 62,790%) e classe 3 (16/43 - 37,209%). Essa 3ª parte parece ter
as características da categoria 2, mas diferente da 2ª parte, como já referido no capítulo 5, uma elite
pouco letrada. E, diferente daqueles, não há representantes da classe 1, como era de se esperar.
É importante destacar que em nenhuma das 3 partes, até onde se pôde apurar, haja
representantes da classe 4 (ou 7 de Vilhena).
5.3 Gênero
Por fim, algumas observações sobre gênero. As cartas foram escritas, majoritariamente, por
homens, conforme se vê, a seguir, há apenas 7 mulheres277.
Partes/Gênero Masculino Feminino Total
1ª parte 111 3 114
2ª parte 57 3 60
3ª parte 42 1 43
No Brasil, a taxa de iletrados entre as mulheres é alta, principalmente, entre as mulheres das classes
menos abastadas. O ensino de primeiras letras para mulheres, tanto no espaço doméstico, quanto nos
conventos ou recolhimentos, era fundamentalmente destinado às mulheres de classes mais ricas. No caso do
interior da Bahia, eram raras as mulheres que sabiam escrever. Em Lycurgo Filho (1956), há um relato sobre a
atitude do coronel Exupério Pinheiro Canguçu com relação as suas filhas. Esse senhor, apesar de ter contratado
um professor e um sacerdote português em Bom Jesus dos Meiras para ministrar aulas para seus filhos, não
permitiu que as meninas dessem continuidades aos estudos. Depois de aprenderem a ler, passaram a se ocupar
com bordados e costuras.
277Esses remetentes aparecem com relação ao estado civil em sua maioria na condição de casados, 46 em cartas avulsas,
15 cartas para Severino Vieira e 21 nas cartas para Cícero Dantas Martins, barão de Jeremoabo entre os identificados
quanto ao estado civil.
268
Os aspectos estudados, tanto nesse capítulo quanto no capítulo 4, serviram de base para a
descrição dos dados no capítulo seguinte e último, em que submeto os dados a critérios externos.
269
6
Estudo comparativo em Cartas Brasileiras (CB): costa/culto
versus interior-semi-culto
Neste capítulo, submeto a descrição do corpus a critérios externos. A pergunta que se pretende
responder é se o caráter diglóssico das cartas do volume 2 será mais claramente explicitado com
base em questões dialetais, tanto geográficas quanto sócio-culturais (item 6.1).
A organização segue, em linhas gerais, o capítulo 3, destacando as diferenças encontradas nas
amostras (item 6.2), tanto em orações finitas com verbos simples, quanto em grupos verbais.
6.1 Divisão dos dados em Cartas Brasileiras (CB): costa/culto versus interior/semi-
culto
Foram retirados 1.748 itens das cartas que identifico como escritas por pessoas com
formação superior278 ou equivalente, nascidas ou radicadas na costa e 1.448 itens das cartas escritas
por pessoas sem formação superior, nascidas ou radicadas em áreas rurais279. Essa divisão permite
também opor, para além de critérios geográficos, o português culto e o português semi-culto do
Brasil do século 19. Dessa forma, optei também por agrupar as duas variantes na descrição. Essas
duas amostras serão referidas de agora em diante, respectivamente como “português da costa/culto”
versus “português do interior/semi-culto”.
A comparação feita neste capítulo tem como propósito identificar os padrões de distribuição
dos clíticos nessas duas possíveis vertentes históricas. A hipótese que comumente tem sido
defendida é a de que a variante culta seria mais suscetível à pressão da norma portuguesa moderna
veiculada pela educação formal. A outra, oriunda de regiões marcadas por contatos inter-étnicos
com pouco contato com a escola, estaria mais próxima do português brasileiro vernacular (cf.
capítulos 4 e 5).
278Inclui os falantes radicados na costa e em sua hinterlândia. Alguns remetentes, apesar de terem nascido em áreas
rurais, se radicaram ou foram estudar em centros urbanos (caso de alguns da 1ª parte e da 2ª parte). Embora a maior
parte seja citadina e culta, há um pequeno grupo formado por pessoas do interior, basicamente, os remetentes que
escreveram ao coronel Exupério Pinheiro Canguçu, a saber: os correligionários Antônio Gomes Calmon, Arlindo
Gomes e Cândido Leão, e os parentes de Exupério, Dechy Pinheiro Canguçu, José Egídio [de Moura e Albuquerque] e
Deraldo.
279 Além dos citados na nota anterior, todos os remetentes da 3ª parte.
270
Seguindo essa perspectiva, mostro os pontos contrastantes entre as duas amostras.
Primeiro os dados são vistos por amostra, depois serão cruzados tanto por data de nascimento dos
remetentes quanto por data de produção das cartas (cf. detalhamentos no capítulo 3). O
agrupamento, considerando-se três períodos de tempo, é o seguinte:
a) data de nascimento:
1. 1724280 – 1799: ponto no tempo, 1775;
2. 1800 – 1850: ponto no tempo, 1825 e
3. 1851 – 1880281: ponto no tempo, 1875.
b) data de produção:
1. 1809-1825: ponto no tempo, 1825;
2. 1826-1850: ponto no tempo, 1850;
3. 1851-1875: ponto no tempo, 1875;
4. 1876-1904: ponto no tempo, 1900.
271
6.1.1 Diferenças entre tipos de clíticos
(6.1) Interior
Náo pude| como V. pediume, e eu pretendi,| pagar seo dinheiro athe o fim do anno;| e mesmo ainda
náo o tinha hoje| toudo pronto; porem avista de náo| de morar, remeto lhe por meo ir|máo
(700$000) sete centos mil reis,| e peço lhe por dizerme quanto resto.|carta 338
(6.2) Interior
a. Estou achando ella| muito abatida e fraca muito du|ente. apezar d’emeanima=|rem eu ja perdi toda
espe-|rança, seja tudo pelo amor| de Deus elle me acuda.| carta 426
b. que estando| meos filhos e genro na Roça quando meu| irmão chega lá de siguida para a casa|
honde elle vivi, com uma criação de| cabra uma banda levava dentro| de uma capanga grande q’elle
tem,| e foi da-lha, o troco de litros di-| milho; e não fátúro Outros factos| por ter vergonha; pergunte
a elle| odia que eu encomtrei elle prega=|do com o filho Manoel; carta 444
272
Quanto ao clítico NOS, maior na amostra do interior, aparece nas duas amostras
competindo com a expressão A GENTE.
(6.3) Interior
Estes senhores que se collocarão chefes,| xingando a Gente não vão bem, muitos homens| do
centro não crêem no que escreve a Gazeta| eu mesmo que me prezo de não <ser> dos piores sol-
|dados, com franquesa digo a Vossa Excelência que não confie| nos actuaes generaes e como eu muitos
assim| pensão: carta 412
(6.4) Costa
Si preocupações e affazeres| quanto distrahem a gente| desses deveres, que se pode| adiar –
Sergipe me tem feito| este anno resumir enorme-|mente a minha correspondencia.| carta 281.
Na colocação dos clíticos no contexto de variação I, destaca-se o maior uso da ênclise com o
clítico o. Entretanto, como será visto adiante e já detectado na descrição geral CB no capítulo 3,
parte da ênclise é estranha à gramática do português brasileiro, como visto: orações negativas,
dependentes e orações matrizes declarativas afirmativas, principais precedidas de “atratores”.
A seguir, mostro na tabela 6.2 as diferenças por tipo de orações. É significativo o maior
percentual de ênclise na amostra do interior em negativas, interrogativas e dependentes. Como visto,
esse é um contexto categórico de próclise na história do português europeu. Essa ênclise “indevida”,
que vai contra a tendência também do português brasileiro, pode ser interpretada como aquisição
imperfeita da ênclise do português europeu moderno282.
282
Ou como o defende, o gramático Figueredo (1909:119-120) em resposta ao Sr. Paulino de Brito:
Mas todos sabemos que a suposta repugnância não abrange estes modismos que o Sr. Paulino de Brito
defende:
− “Quem chamou-me?”
− “Por que fugiu-lhe”
− “Já enganaram-me?”
Etc.
E mais adiante: Esses modismos passaram dos campos para as cidades; e, quando os gramáticos brasileiros deram conta
do desatino, a muitos pareceu que já era tarde para a correcção, e outros, como o Sr. Paulino de Brito, tentaram dar
foros de cidade à gramática dos negros.
Que os Negros estão de acôrdo com o Sr. Paulino de Brito, êle próprio o poderá fàcilmente verificar; mas, se imagina
que foram eles que aprenderam a colocação com os pais dos Brasileiros do Sr. Brito, então, como gramático, que é, pode
273
Tabela 6.2 Ordenação dos clíticos em orações finitas e em grupos verbais: CB (costa/culto) versus
CB (interior/semi-culto)
Tipo de orações/Amostras Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-
culto
a.
Segundas coordenadas dependentes 34 11 45 31 12 43
76% 24% 72% 28%
Dependentes 689 96 785 428 146 574
88% 12% 75% 25%
Negativas 74 2 76 109 19 128
97% 3% 85% 15%
Interrogativas 18 - 18 12 1 13
100% 92% 8%
Expressões fixas 7 1 8 12 1 13
88% 13% 92% 8%
b.
Coordenadas ou subordinadas com 25 7 32 23 9 32
"porque" 78% 22% 72% 28%
Total Geral 1.105 643 1.748 831 617 1.448
63% 37% 57% 43%
comparar a pura gramática portuguesa, não a gramática das escolas, mas as dos factos – com as gramáticas das línguas
africanas, e verá como diferem”.
274
Esse contato pode ter se dado através da leitura de jornais uma vez que os livros eram pouco
comuns. Como é sabido, o jornal apresenta uma grande diversidade de tipos de textos, desde
editoriais e cartas do redator até anúncios escritos por pessoas com diferentes graus de escolaridade.
Uma outra possibilidade seria o contato com os destinatários, geralmente homens com maior grau
de escolaridade. O barão, que na documentação da 3ª parte do volume 2, aparece como principal
destinatário, era bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Recife (cf. explicação na
apresentação do volume 2). Vivia parte do tempo na capital da província, Salvador, na época
denominada de “Bahia”. No levantamento da colocação dos clíticos em sua correspondência ativa
para o amigo e compadre José Gonçalves da Silva, editada por Carvalho Jr. (2000:273-343), vê-se
que o próprio barão apresenta ênclise em contextos de próclise no português europeu (i-vi).
Também foi encontrada a próclise da gramática brasileira em posição inicial absoluta (vii).
(i) O Marcelino vai já muito desconfiado com a direção da política republicana. Aqui continua o mesmo
marasmo, enfim não chegou-nos os benefícios da República. (Camuciatá ,24 de janeiro de 1890)
(ii) O ministério como o nosso não sustenta-se mais. Os liberais virão e isto é sem a menor dúvida.
Por falta de tempo não te escrevo mais irei fazendo o possível. O Manuel Nolasco te procurará. É de
família minha delicadíssima. (Corte em 30 de maio de 1888)
(iii) Torno a dizer-te que agradeço-te teus esforços e acredito que não serão baldados. (Camuciatá , 22
de fevereiro de 1887)
(iv) Passamos por uma crise medonha e se faltam-nos inverno teremos as cenas do Ceará. Já se morre
de fome pelo Pombal e Bom Conselho. Os furtos são em alta escala. Ainda não vi crise igual; nada se
vende e tudo sem valor. Tenho me visto em apuros. (Camuciatá em 22 de fevereiro de 1887)
(v) Na quarta, na passagem do trem de carga para Alagoinhas, meteram-se nele os tais emissários e
foram-se corridos... ia deixando de vergonha, mas lembrei-me em tempo que eles não as tem. Com a
fuga das pestes, voltou a cidade a calma, mas eu lá demorei-me até hoje...(Piabas em 6 de janeiro de
1895)
(vi) Teve 7 votos contra 8, foi o Freire que salvou-me. (5 de agosto de 1893)
(vii) O nosso Monarca está agonizante, ora está melhorado. Me parece que o seu estado é gravissimo e
que só por milagre de Deus voltará ao Brasil vivo283. Parece haver dito o necessário para avaliares o
nosso estado. O Gomes de Castro foi atirado para a oposição. (Corte em 30 de maio de 1888)
283Ao se referir ao Imperador, D. Pedro II, que havia adoecido desde 17 de fevereiro de 1887, e, depois de longa estada
na Europa, voltou ao país em 5 de dezembro de 1891.
275
6.2.1 Prevalência dos clíticos em 1ª posição na amostra do português brasileiro do
interior/semi-culto
A variação ênclise/próclise com verbo em posição inicial absoluta, tanto na amostra da costa
quanto na amostra do interior, é uma evidência da gramática do português brasileiro. O fato de a
próclise nesse contexto se concentrar na amostra do interior/não culto pode ser interpretado de
duas maneiras. Ou era mais freqüente na amostra do interior ou era evitada pelos remetentes cultos
por ser uma construção vernacular. A seguir, os dados da tabela 6.3.
276
Gráfico 6.1
Ênclise/próclise em posição inicial absoluta em CB (costa/culto)
versus CB (interior/semi-culto)
99,00 94,59%
100 91,67%
93,63
90
80
70
60
50
40
30
20
10 0% 0%
0
Orações com verbo único: Orações Imperativas Orações com grupos verbais:
matrizes declarativas construções passivas
afirmativas, principais
Costa Interior
Os exemplos das ocorrências de próclise em posição inicial absoluta por amostra são os
seguintes:
a. Me parece que não proponho, nem tenho pe-|-dido nenhum deproposito, para que ate hoje| não
tenha sido attendido, e tenha de ver a offi-|cina continuar no estado pouco lisongeiro| em que a
consideram.| carta 158
Como mostrado no capítulo 3, essa ocorrência de próclise foi encontrada em uma carta
escrita em 1878 por Dr. Rosendo Aprígio Pereira Guimarães, médico baiano, nascido em 1826.
277
(6.6) Raízes declarativas afirmativas, principais com verbos simples: Interior/semi-culto284
a. Me entendi com o João Victorino a serca| do seo boi que matarão, e depois disto>| 4r. tudo
resolvido trataremos da liqui|dação, me paresse é que o tal sugei=|to não terá com que pague, com
quanto| á pesar de ser morador aqui eu| não conheço bem se elle pode pa|gar.| carta 418
b. Me diz a consciencia que ainda| não commetti acto algum com| relação a sua pessôa pelo qual|2r.
se posso dizer que eu hoje sou menos| dedicado a si, entretanto que aqui| se diz o contrario, e se me
tem como| um dos mais dedicados e afeiçoados| seu. carta 442
c. Me parece que já lhe mandei| que os taes phanaticos, principi-|arão a matar e a roubar como|
fiserão com os 2 irmãos Torquato| e Honorio VasFerreira, eMartinho d’Assis| e o filho de João
Gomes, pois destes| ficarão com quantia seguramente de 14 a| 15 contos.| carta 451
d. Me| disse o Vigário Sabino que a mortandade que| fêz Moreira Cezar, calcula-se em dois mil| pois
não se pode contar, isso dito por dois| individuos que o conselheiro fez prisioneiro, eque| depois
soltou-os que tinhão marchado com o ga-|do. carta 464
e. Lhe dirigi carta por o Coronel Porfirio do-| Geremoábo que passou para Bahia em 7 do-| corrente
que não acusa recebida.|carta 464
f. Me está muito dif|ficil ir lá e com muita vontade de| o vêl-o, o que farei quando puder.| carta 482
g. Me é impossi-|vel procurar noticias por| mim, visto os portadores| para o Camociata serem|
raros. carta 498
(6.7) Imperativas
284 A próclise com forma não finita referida no capítulo 3 foi registrada também na amostra do interior.
(i) Me recommendando a Excelentissima| Familia que toda estima, consideração e respeito| sou o|Vosso Respeitador
amigo muito obrigado Criado| Annibal Galvão de Oliveira284| carta 318
278
(6.8) Orações com grupos verbais: construções passivas
a. Mefoi intregui| a Intendencia com o debito de 90 $ =| e o cofre vazio com 680 reis, d’ahi| para
esta dacta comprou-se| 2 fortes, fezse uma istrada cal =|1v.calsou-se uma rúa, milhorou-se| um
banheiro publico, collocou|-se illuminação e seos emprega-|dos, e outras muitas dispezas inclusi-|ve o
custeio dos empregados eguar-|das municipaes que conforme| as contas prestadas sobe a arre-
|cadação tal vez a maior de cinco| contas, tendo actualmente um cofre| mais de um conto de reis.|carta
462
b. Me foi entregue sua carta de 8 do| vigente; é serto que as forças rece-|berão balla e muita da
garganta de| Cocorobó até Canudos, sendo o| ataque em Cocorobó no dia 25 do passado| e houve
grande perda nas força,| tão bem morrendo jagunços, o Coro-|nel Sucupira foi victima de| duas ballas
no Trabubu, distan-|te meia legua de Canudos, á lem| de outros officiaes; chegando á|1v.a Collunna
do General Lavaget| a Canudos no dia 27; carta 418
c. Mefoi intregue pello Antero a-| sua presada carta de 1 do-| corrente acompanhada com-| 428.000
que fico recebido.|carta 468
Tabela 6.4 Ênclise/próclise em posição inicial absoluta em cartas brasileiras: CB (costa/culto) versus
CB (interior/semi-culto). Por data de nascimento
Data de Posição inicial absoluta em orações com verbo único
nascimento orações declarativas, afirmativas principais
Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724- 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1799 1850 1880 identificada
V
Ênclise 6 83 22 37 148 - 73 10 5 88
Próclise 0 1 0 0 1 - 8 0 0 8
% Ênclise 100,0 98,80 100,0 100,0 99,32 - 90,12 100,0 100,0 92,63
TOTAL 6 84 22 31 149 - 81 10 5 95
Esses mesmos resultados são comparados ao português europeu (1500-1850) com base em
GBPS (2005).
279
Gráfico 6.2
Ênclise/ próclise em V1 absoluto
GBPS (2005) e CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Por data de nascimento
50
40
30
20
10
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
280
6.2.2 Contextos de variação na história do português: oposição variante da amostra do
português da costa/culto versus interior/semi-culto
Tabela 6.5 Classes de constituintes que precedem o verbo ou o clítico nas orações matrizes e
principais no contexto de variação I: CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Tipos de constituintes que Raízes declarativas afirmativas, principais
precedem o conjunto verbo/clítico Contexto de variação I em construções X-V
Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
Próclise Ênclise Total Próclise Ênclise Total
%
S-V verbo precedido de sujeito não 40 39 79 22 40 62
focalizado 51% 49% 35% 65%
AD-V verbo precedido de advérbios 16 5 21 8 13 21
não modais 76% 24% 38% 62%
PP-V verbo precedido de preposições 15 23 38 18 25 43
39% 61% 42% 58%
S-x V Verbo de sujeito composto por 2 9 11 1 4 5
SN seguido de oração relativa 18% 82% 20% 80%
De novo esses dados precisam ser olhados com mais cuidado. E se, aparentemente indicam
a influência da norma portuguesa moderna nos dados do interior, tem um estatuto diferente dos
dados da costa, porque deixa de ser relevante quando vemos que os remetentes do interior
generalizam a próclise em outros contextos, situação não verificada no português europeu, isto é
contextos de próclise categórica, como se verá adiante.
Vejamos os dados segundo a data de nascimento dos remetentes.
281
Tabela 6.6 Ênclise no contexto de variação I: CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto). Por
data de nascimento
Data de Contexto de variação I
nascimento Cartas da costa/culta Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724- 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1799 1850 1880 identificada
S-V
Ênclise 4 19 8 8 39 0 28 12 0 40
Próclise 6 25 2 7 40 0 17 4 1 22
% Ênclise 40 43 80 53 49 0 62 75 0 65
ADV-V
Ênclise 0 2 0 3 5 0 12 1 0 13
Próclise 2 9 3 2 16 0 8 0 0 8
% Ênclise 0 18 0 60 24 0 60 100 0 62
PP-V
Ênclise 0 7 7 9 23 0 25 0 0 25
Próclise 0 9 3 3 15 0 16 2 0 18
% Ênclise 0 44 70 75 61 0 61 0 0 58
TOTAL
Ênclise 4 28 15 20 67 0 65 13 0 78
Próclise 8 43 8 12 71 0 41 6 1 48
% Ênclise 33,33 39,65 65,21 62,50 48,55 0 61,32 68,42 0 61,90
(33) (40) (65) (61) (68)
Essa distribuição temporal por data de nascimento é comparada com GBPS (2005). As duas
amostras ficam abaixo da curva de crescimento do português europeu moderno na segunda metade
do século 19. O fato de que há mais ênclise no interior mostra, por outro lado, que a norma
portuguesa que, por hipótese, seria mais flexível aos cultos ainda não é ainda a ênclise. Ou seja,
parece que a variante culta está mais próxima do vernáculo efetivo do português europeu por ter
mais familiaridade com os contextos, em contrapartida, no interior (semi-cultos), há maior diferença
na colocação dos clíticos, incluindo a ênclise indevida, maior entre os semi-cultos. Outros aspectos
indicam isso: mais construções brasileiras em grupos verbais, como se verá adiante, uso de LHE de
segunda pessoa, variação NÓS/A GENTE.
282
Gráfico 6.3
Ênclise/próclise no contexto de variação I
GBPS, 2005; CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Por data de nascimento
100
90
85
80
70 70 68
63 65
60 61
50
%
45 48
40 41 40
30 33
27
20 21
15
10 10 12 8 115 5
3 52 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
283
Com exceção dos 100% (1/1) do interior, de apenas 1 ocorrência, que não é siginificativo,
verifica-se que, diferentemente, dos dados da costa/culto, com índices similares àqueles
apresentados por Pagotto para a primeira metade do século 20. Isso parece confirmar o efeito do
português moderno. Essa tendência se mantém em outros contextos por data de nascimento (cf.
adiante, a estrutura SV). No gráfico 6.4, comparo esses resultados com Pagotto (1992). Com relação
aos resultados da costa/cultos, devido ao pouco número de dados no primeiro quartel, agrupo os
dois primeiros quartéis. Em CB (costa culto) verifica a mesma tendência em Pagotto. Os dados do
interior/semi-culto se concentram nos dois últimos quartéis do século 19 e embora, aparentemente
siga a mesma tendência, é também nesse grupo que a ênclise é generalizada nos contextos de
variação.
50
45 46
40
30 30
26
20 17 16 15 15
10 12 11
8
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
O gráfico 6.5 mostra a comparação com Pagotto (1992) e CTB (2005) e CB (costa/culto
versus interior/semi-culto). Essa comparação evidencia, de forma de interessante, que a curva
referente ao português europeu aparentemente se repete no português do Brasil, tanto em Pagotto
quanto em CB, mas com relação à CB com uma diferença de tempo, como se vê no gráfico.
284
Gráfico 6.5
Ênclise/Próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) por data de nascimento dos autores e Pagotto (1992) e CB por data de
produção/publicação dos documentos
100
90
85
80
70 70 71
67
60 63 61 61
50 48
45 45 46
41
%
40
30 27 30
26
20 21
17 16 15 15
10 10 12 8 8 115 5
12 11
3 52 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
285
Gráfico 6.6
Ênclise com S-V pré-verbal no contexto de variação I
GBPS, 2005; CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Por data de nascimento
100
93
90
85
80 80
70 75
67
65
60 62
54
50 51
%
40 40 43
31 36
30 29
20
14 13 11
10 8 9 7 8
5 6
0 0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
Na tabela 6.9 seguinte, separo as construções SV com o clítico SE e comparo também com os
resultados de GBPS (2005). A influência do clítico se para a ênclise foi apontada em estudos sobre o
português brasileiro contemporâneo (cf. capítulo 3).
Tabela 6.9. Contraste entre os sujeitos com o clítico SE e os outros tipos: CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto)
Raízes declarativas afirmativas, principais
Contexto de variação I em construções X-V
Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
Próclise Ênclise Total Próclise Ênclise Total
%
Sujeitos com SE 6 10 16 5 14 19
38% 62% 26% 74%
Outros 34 29 63 17 26 43
54% 46% 40% 60%
Subtotal 79 62
Total geral 141
286
Tabela 6.10 Ênclise/próclise com sujeito (excluindo o SE): CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto). Por data de nascimento
Data de S-V excluindo o SE
nascimento Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724-1799 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1850 1880 identificada
Ênclise 3 14 6 6 29 0 20 6 0 26
Próclise 3 23 2 6 34 0 13 3 1 17
% Ênclise 50 38 75 50 46 0 61 67 0 60
TOTAL 6 37 8 12 63 0 33 9 1 43
Gráfico 6.7
Ênclise/ próclise com sujeito pré-verbal (Excluindo S-V com o clítico SE)
GBPS (2005) e CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Por data de nascimento
100 98
90
80
76 75
70
67
60 61
53
%
50 49 50
47
40 38
30
20 21 19
11 14
10
6 6 7
3 4 6 6
0 0 0 0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
A tabela 6.11 seguinte apresenta o contexto de variação sem as ocorrências de SV com nome
próprio.
287
Tabela 6.11 Ênclise/próclise no contexto de variação I: CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-
culto), excluindo S-V com nome próprio. Por data de nascimento
Data de Contexto de variação I
nascimento Cartas da costa/culta Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724- 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1799 1850 1880 identificada
S-V
(excluindo
sujeito nome
próprio)
Ênclise 3 11 2 4 20 0 20 4 0 24
Próclise 6 20 1 6 33 0 12 3 1 16
% Ênclise 33 35 67 40 38 0 63 57 0 60
ADV-V
Ênclise 0 2 0 3 5 0 12 1 0 13
Próclise 2 9 3 2 16 0 8 0 0 8
% Ênclise 0 18 0 60 24 0 60 100 0 62
PP-V
Ênclise 0 7 7 9 23 0 25 0 0 25
Próclise 0 9 3 3 15 0 16 2 0 18
% Ênclise 0 44 70 75 61 0 61 0 0 58
TOTAL
Ênclise 3 20 9 16 48 0 57 5 0 62
Próclise 8 38 7 11 64 0 36 5 1 42
% Ênclise 37,5 34,48 56,25 59,25 42,85 0 61,29 50 0 59,60
Total Geral 11 58 16 27 112 0 93 10 1 104
Gráfico 6.8
Ênclise/ próclise no contexto de variação I
GBPS (2005) e CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Excluindo S-V com nome próprio)
Por data de nascimento
100
90
85
80
70 70
60 63 61
56
50 50
%
45 48
40 41
37 34
30 27
20 21
15
10 10 12 8 115 5
3 52 6 5
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
288
As ocorrências exemplificam a colocação dos clíticos em SV com nome próprio na amostra
da costa/culto e no interior/semi-culto.
a. O Cesar mandou-me hu)a| conta honte de dous Sobrecazacos, refuguei-a, por que apesar| da fraqueza285
de minha memoria, recordei-me que Vosmice recambiara a| preta, por não lha-haver encomendado, dando-a
áo Professor| para a - levar; mas este usa della, e á Cesar dice que dalli hou-|vesse a paga. quando tiver mais
vagar, mandarei a minha| conta. Eu passo mal do meu peito. carta 13
b. O Netto douctorou-se em| Pisa; deo um passeio na Italia, e|em Junho volta para Pernambuco,| de
presente aqui se axa e com saude,| dado aos seus romanismos. carta 32
d. OSr. Visconde de Tamandaré fal-|tou-me, é verdade, em um Aviso, que na opi-|nião d’aquelle Visconde,
parecia derogatorio| do ajuste anterior.|carta 46
g. OVictor disse=me| ter=lhe ouvido, e| hoje li no Jornal| de Noticias de hon-|tem que vão os li-|bertos
cumprimen-|tar=me amanhã.| Imagina o effeito de| tal noticia sobre meos| nervos. Eu que tenho| deixado
de vir á cidade| ver as festas, só para| poupal=os!| 163
h. O deputado Pereira de| Brito, de Pernambuco, pediu-me| que lhe entregasse o officio| junto interessando-
me ao| mesmo tempo pelo seu benigno| acolhimento.|carta 20
i. Confidencial O Vergne fallou-me hontem, ao chegar| de um negocio qua ahi tem e que segundo o que| ouvi
está em máo pé. carta 256
j. O Odlon fez-se fazendeiro; comprou fazenda| em Franca por 170:000 reis e vai muito contente| entre os pés
de café e a clinica, que, suppo-|nho, lhe vai dar bons fundos, pois o unico| instrumento, que ahi hoje me
mandou pedir,| foi um Speculem anal. carta 273
l. O Neiva procurou|-nos em teu nome, e| deu-me os pesames| e á minha familia. carta 286
m. Não sei se é caso de| tal recusa; mas o Leitão da Cunha| assevera-me que o interpoz com fun-|damento
constitucional, como verei| pelas razões que elle mandou impri-|mir para se fazer a respectiva dis-|tribuição
pelos juises. carta 289
285 Borrado.
289
n. O Paula mostrou-me uma carta| sua sobre um topico do Relato-|rio de Martinho, assim como| um
officio seu ao Campos Salles,| prostestando conta o que d’elle| consta. carta 289
o. O Rui mandou-me| um cartão de visita,|quando cheguei e pelo Car|los mandou-me pedir| que eu fosse
jantar| com elle domingo (5 de| outubro,) para conversar|mos sobre as bases do|7v.requerimento de
informações| e do protesto, que elle| enunciará da tribuna| do senado contra esse prentendido direito da|
União a 18:000:000$| de garantia de juros á| retra[...] Inglesa.|carta 289
a. Osorio me escreve com data de 2, um| tanto queixoso de lhe mandares officiaes| paisanos e <de> lhe
teres suspendido o direito| de dar patentes de comissão, quando elle| estava creando artilheiros para as|
baterias novas. carta 49
b. Mitre os mandara como explora-|dores para policiarem; e elles| quizerão fazer uma acção d’eilat| e
pensárao que lhes bastava| desembainhar a espada para| fazerem fugir o inimigo.| carta 57
f. A Felicia te dará o abraço, que pessoalmente| eu teria dado se não fosse a vinda do Saldanha| pela molestia
de Lourdes. carta 275
b. Nada mais José Ame|rico, Dr. Americo, acha-se em Serrinha com os familiares[...]|286 logo que souberam
da noticia. Adeus, pode VossaExcelência dis| por do Criado amigo| carta 321
a. P.S. o Dr. Urpia pede-me para| pedir-lhe uns sellos velhos do| tempo da Monarchia, bastan|do somente 2
de cada quallidade;| sendo o mais breve possivel -| não sei para que será| Antero289| carta 324
b. O Conselheiro conser-|va-se no seu solio dan|do suas ordens e baxou| uma ordem do dia dizen-|do a
seus adeptos, que lo|go que acabasse esta| lucta iam arrazar tudo| desde o Cumbe, Monte| Santo, Pombal,
Tucano,| Soure!! e Itapicurú, e| fazendo brinde das se|guintes propriedades:|3r. 5| as fazendas pertencentes
a Jose| Americo e Dr. Americo, ao| frei Matheus – Propiedades e En|genho do Coronel Antonio Ferreira de|
Britto em Pombal à João Abb|ade, o seu Engenho Camocia|tá depois de assassinar-lhe,|a Jose Villa nova – e
outras| mais propriedades a outros.|carta 319
c. O Coronel Mo|reira Cezar e Tamarindo, por-|taram-se heroicos e denoda| 2r.damente. carta 320
290
d. O Mar|celino escreveu-lhe: Aqui vamos dis-|posto ao que Deus quizer; farinha| a 40$000 (hoje)!!! até
onde vamos.|1v. carta 329
f. Antônio Ro|drigues mostrou me um pedido seu| (por prevencão) dei os nomes.|carta 344
g. O General Euphrasio embarcou-|se hontem com a familia para o Rio.| carta 367
h. O Doutor Lago-| disse-me que seguia para| o Conde no dia 25, e na Ab-|badia, o Argemiro pedio ao|2r.
Conselheiro Couto para man-|dar um dos nossos amigos| para guial-os alli, e até o-| fazer esta, não soube qual|
será o que vai, nem mesmo-| sei se hirá algum. carta 370
i. O Felipino res-|pondeo-me que a vender cá-| vende aqui mesmo i não sai| para fora. Consta me que|
seos serviços do Alegrete es-|tão findos, de portêras tranca-|das. Adeus, saude lhes| desejamos com toda
Excelentissima Familia|Seo Compadre|amigo obrigadissimo|Marcelino Pereira de Miranda|290 carta 468
j. Do mesmo criou-se um| diretorio para o Partido com| a denominação de Catho|lico sendo o Vigario|
escolhido chefe e o Elpi|dio vioce chefe se bem| que este disse-me não| acceitar. Com a vista|
conversaremos a respei|to de tudo quanto dis res|peito a Politica de aqui| carta 494
l. Aristides escreveme| dizendo que tinha-mos| qua|lificacão, porem the a|qui não recebi officio| para isso, e se
veio foi an|tes de sermos nomiados.| carta 496
m. Com a pena não posso discrever.| O Marcelino lhe explicará melhor| pois o official está em caza d’elle.|
carta 332
n. O Doutor Reis Magalhães lhe telegraphou no| dia 7, avisando-lhe os acontecimentos que derão-|se no Rio,
e eu lhe escrevi no mesmo sen-|tido; se não recebeo, foi então destraviada[*]291| minha carta. carta 379
o. O Doutor Americo Gomes me escreveo pedindo votos e exigindo| logo antecipadamente resposta, que
acha Vossa Excelência d’essa ur-|gencia? motivo que me foi não lhe dar votos.|carta 416
p. O compadre Joaquim Cardozo lhe| pede que mande pagar| sua assignatura de Gase|ta, que brevemente lhe
envia| a importancia, e lhe envia| visitas.|As292 ordens fica o seo.|Compadre amigo obrigado.|José de Góes|293
carta 437
q. Diversos censurarão o procedimento| dotal capitam e o Seixas me garantiu| nada haver porque fallaria ao
General Barbosa.| carta 448
r. João Ramos medisse que hia es|crevêr-lhe pedindo escusa da De|legacia, eu aconselhei-o que não fi|sesse,
pois VossaExcelência muito o considera e| n’este sentido o nomeará, não| sei se mandará.| carta 459
290 Grafismo.
291 Por “extraviada”.
292 Rasurado.
293 Grafismo.
291
Com a exclusão de sujeitos com nome próprio no contexto de variação I, a curva na amostra
do interior passa a ser descendente, fato que não ocorre com a amostra da costa, apesar da
diminuição da freqüência.
No item seguinte, mostro as construções do contexto de variação II, a saber: orações raízes
declarativas afirmativas, segundas coordenadas e construções com verbos precedidos de oração
reduzida ou desenvolvida. O contraste se dá entre os tipos de segundas coordenadas. A conjunção
“mas” é a que mais favorece a ênclise em ambas as amostras (78% na costa e 100% no interior),
seguida da conjunção “e” (costa 56% e 65% no interior). As demais apresentam ênclise de 36%
(costa) e 48% (interior).
a. Vossa Senhoria não se lembrou mais| do que me prometeo em Fevereiro 1900| quando encontrou se comigo
em| Campestre que subia para o Geral|do com Sr. Barrow, neste dia Vossa Senhoria apresentou-me a elle e
prometeo| me um lugar de fiel <e amanuense> da Alfandega| ahi na Bahia, perguntou me se| eu tinha fiança
de 3000:000 eu lhe| respondi que tinha, creio que| de mirar sem recurso para dar| comer os filhos não sei o
que| será só o desaparecimento para não velos| morrer a fome|De Vossa Senhoria Amigo Velho e obrigado|
carta 276
a. Sua Comadre vai com milhora, os mais sem| novidade. Seguirão os chefes, na sema|na proximapassada,
para comferenciarem com o João| Dantas; chegou o Monte Santo na 4ª feira, e o Ricardo| 5ª; procurei sondar
este, achei-o um| pouco indiciso; no dia seguinte inter|pelei-o sobre o passado com o Agripino,|
respondeu-me que por forma alguma com|sentiria o rompimento do Agripino com-| Benigno, e que por sua
parte tinha escripto| ao João dos Reis {pelo Benigno que seguio para Bahia}| que o dever pulitico oobrigava á
acompa|nha-lo; e o Christão o chamava a suas fi|lheiras; pelo que estava disposto a dividir o| seo
contingente- porem que só na chegada|1v.do Benigno poderia diserme o que faria| ao certo. carta 335
(6.15) Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas com verbo precedido de conectivo:
costa/culto.
b. Já escrevi aVosmice, e lhe dei parte de| ter vendido a sua parelha de Cavalos por 300$000 Reis para o|
Marquez deSanto Amaro, tomei esta resolução, meditando nas ava-|rias, á que são sugeitos os folegos. carta 13
c. Para satis|fazer este triplicado fim, passarei ainda na Belgica, e vezitarei a Hollanda, a Prussia,| Allemanha,
e Suissa, e me recolherei a Italia à fim de ali procurar azilo contra o inver-|no. carta 32
292
d. Veja isso e me escreva-| carta 289
(6.16) Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas com verbo precedido de conectivo:
interior/semi-culto.
a. Nunca esquece-|rei o que recebi d’esses Senhores;| porem, como o homem que se involui| nesta mizeravel
pulitica, não| tem sentimentos, eu, coro a face,| e abrolhes os dentes.|carta 337
b. Tenho estado muito do-|ente de antrazes e parece-me| sarna estou em remedio.| carta 390
c. O prejuiso foi inorme, e| consta-me que foi cresci-|do nas fazendas do fallecido Doutor| Fiel. carta 419
d. Aceite com a excelentissima Prima e| os Primos visitas de Maria| Vivalda e Potamio oqual pede|3v.lance
sua benção; e eu saudosamente a todos visito e abraça-o |carta 432
e. Tenho estado muito do-|ente de antrazes e parece-me| sarna estou em remedio.|Adeos muitas vizitas a
todos| carta 390
f. O prejuiso foi inorme, e| consta-me que foi cresci-|do nas fazendas do fallecido294 Doutor| Fiel. Se não
tiver-mos 5 ou -|mais annos bons, não rehave-|remos o gado que perdeo-se-| carta 419
g. Recebi sua carta emque nos comoni|cava sua rezolução noque fiquei| certo, o dipois recebi úma carta| do
Doutor Jose Gonçalvez convidandome para| eu continuar V. sabe que ja temos relaçoens amuito porém
respon|dile que minha politica he touda| pessoal eque por isso me disculpace| que V. retirado eu tão bem|
pois estava certo não encontra|ria outro que me prestace igu|al considiração embora eu|1v. não fosse
merecedor, mas| como aeleição estava perto295 que| meprestaria aesta depois| que lhevisse por que não sei|
seo ceo ricentimento he deforma| que eu oacompanho em [to]296|do centido carta 403
h. Peço por tanto recommendar-me aos| Doutores Jâjão, e Totonio e receba Vossa Excelência e a Excelentissima
Senhora Baroneza, recommmen-|dações minhas e de minha humilde com-|panheira, e nos queirão honrar
sempre| com suas amisades.| carta 313
i. Sentimos que não encontrásse o Sertão nas condic|ções que esperáva eque desejavamos – mas já
desconfiá|vamos que isto se daria, porque na occasião de sua| partida chegou de lá o Coronel Chichi e me
deu a triste no|ticia que VossaExcelência acaba de confirmar; aopasso que por| aqui as chuvas tem sido
abundantes e continúadas, por| fórma a tornárem os caminhos quasí intransitaveis.| carta 352
j. Escrevi-lhe a semana passada para Ala-|goinhas e lhe remetti 6 gazetas, o “De-|bate” que o Doutor Ribeiro
dos Santos deo-me| para lhe mandar. Passamos regular[mente]297| graças a Deos. carta 378
294 Rasurado.
295 Por “certo”.
296 Corroído.
297 Rasgado.
293
A tabela 6.12 mostra os dados globais do contexto de variação II: raízes declarativas
afirmativas, segundas coordenadas por amostra: costa/culto versus interior/semi-culto.
Tabela 6.12 Ênclise/próclise no contexto de variação II, raízes declarativas afirmativas, segundas
coordenadas e com verbo precedido de orações dependentes reduzidas e
desenvolvidas: CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Contexto de variação II
O contraste entre ambas as coordenadas visto globalmente não é significativo, assim como
os ambientes em que o verbo é precedido de oração.
Esses dados do contexto II: raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas são vistos
abaixo na tabela 6.13 com base na data de nascimento e comparados adiante com os resultados de
GBPS (2005).
Tabela 6.13 Contexto de variação II, raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas: CB
(costa/culto) versus CB (interior/semi-culto). Por data de nascimento
Data de Raízes declarativas afirmativas, segundas coordenadas
nascimento Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1850- Data não TOTAL 1724- 1800- 1850- Data não TOTAL
1750 1849 1880 identificada 1750 1849 1880 identificada
Ênclise 4 47 7 8 66 0 72 8 1 81
Próclise 4 12 4 0 20 0 18 2 1 21
% Ênclise 50 79,66 63,63 100 76.74 0 80,0 80,0 50,0 79,41
TOTAL 8 59 11 8 86 0 90 10 1 102
A ênclise categórica apresentada na costa para o ano de 1750 na amostra culta não é
significativa porque se refere a apenas a 1 dado.
294
Gráfico 6.9
Ênclise/ próclise em coordenadas V1
GBPS (2005) e CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-interior)
Por data de nascimento
100 97 97
90
80 80 80 80 80
7477
70 67 69
63 64
60
50 50
%
4746 46
40
36
30 32 33
25 27
20 22
10
4
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
Tabela 6.14 Contexto de variação II, verbo precedido de orações dependentes reduzidas e
desenvolvidas. Por data de nascimento
Data de Verbo precedido de orações dependentes reduzidas e desenvolvidas
nascimento Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724- 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1799 1850 1880 identificada
Ênclise 1 24 8 10 15 0 13 2 0 15
Próclise 0 10 2 5 5 0 4 1 0 5
% Ênclise 100 71 80 67 75 0 76 67 0 75
TOTAL 1 34 10 15 20 0 17 3 0 20
O gráfico 6.10 apresenta a comparação com GBPS (2005). A ênclise categórica na amostra
da costa entre os remetentes nascidos por volta de 1750 não é significativa, porque se refere também
a apenas 1 dado. Nesse caso, a amostra do interior apresenta tendência de queda em relação à
amostra culta.
295
Gráfico 6.10
Ênclise/ próclise com oração dependente precedendo o verbo
GBPS (2005) e CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Por data de nascimento
100 100
94
90 88 88 90
86
80 78 80
76
70 71
64 67
60 62 59 58
50 53
%
48
40 43
36 36
30 29
26
20 18
10 8
0 0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
6.2.3 Variação na colocação dos clíticos em contextos não variáveis para a próclise na
amostra do interior/semi-culto
296
Tabela 6.15 Classes de constituintes que precedem o verbo no contexto de não variação: CB
(costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Orações matrizes e principais
Contexto de variação I em construções X-V
Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
Próclise Ênclise Total Próclise Ênclise Total
AD-V 14 4 18 18 3 21
verbo precedido de advérbios 78% 22% 86% 14%
modais
Q, Foc 17 5 22 18 7 25
verbo precedido de partículas 77% 23% 72% 28%
focalizadoras e quantificadoras
X-V 2 1 3 6 4 10
verbo precedido de complementos e 67% 33% 60% 40%
predicativos
Subtotal 34 10 44 41 14 55
77% 23% 75% 25%
Total Geral 99
Conectivo nulo 23 6 29 9 7 16
79% 21% 56% 44%
Relativas 261 36 297 151 49 200
88% 12% 75% 25%
Completivas 165 16 181 84 15 99
91% 9% 85% 15%
Clivadas 6 - - 5 1 6
100% 83% 17%
Adjuntas e outras 96 11 107 78 39 117
90% 10% 67% 33%
Total 620 438
Total Geral 1058
297
(6.17) Costa/culto
a. Porem a liberdade de apresentar a| Vosmice e aos nossos parentes e amigos como| candidato na
proxima eleição para De|putados provinciais o Dr. Manoel| José dos Reis, que acaba de ser
depu|3r.tado na legislatura que findou-se| por esta capital, onde reside e é advo|gado. carta 126
b. As ophthalmias| invadem todas as partes do olho, porem em graós differentes,| principalmente são
muito pronunciadas na conjunctiva,| debaixo da qual formão-se algumas veses pequenos abces-
|sos, que podem abrir-se com uma lanceta, e que| alguns oculistas aconselhão tocar estas especies
de| pustulas com nitrato de prata – carta 130
(6.18) Interior/semi-culto
a. Estive de viagem para ahi, porem| no dia anterior a minha viagem| adoicir de uma constipação| de
cujo emcomodo acho-me| radicalmente curado. carta 324
b. A pelle aqui| está, assim como um chapeo que| o João-sinho emcomendou-me.| ainda não
foram por falta de portador| carta 325
c. Tenho em mão seo favor de 11 do andante| que muito alegroume por saber que a| Excelentissima
Comadre já vai milhorada; Deos| e sua Santicima May lhe prolongue| vida e robusta saúde. Dei
distino| as cartas que vierão, bem como, as que vi|erão pelo Compadre Jose Americo.|carta 334
d. Vivo sempre resignado com os infor-|tunios da sorte, Deus um dia se com|padecerá de mim! Já
tinha sabi-|do da traição que a ultima hora fez|-lhe o Doutor João Dantas, não me causan-|do
porém admiração. carta 357
e. Recebi hoje298 uma carta de Bar-|retto datada de 25 do mez findo,| onde dizeme que alguns299
<desses> Generáes| tem pedido demissão dos Cargos| que estavão occupando, motivo| pelo qual
corre com muita insistencia| no Rio, que querem proclamar| o Marechal Floriano Dictador;| más
acressenta elle que não crê.| carta 365
f. Consta que os adversarios estão pro-|cedendo a apuração da eleição d’essa[...]300| em Caxoeira, para
tambem serem [di]-|plomados, como os nossos amigos. Nen-|hum só adversario apresentou-se hoje|
na apuração que procedeo-se aqui, e| nem tão pouco prottestarão, pelo que301| tanto melhor foi para
nós. carta 366
298 Rasurado.
299 Rasurado.
300 Rasgado.
301 Corroído.
298
i. No dia 23 foi-me entregue sua carta de 16 d’es-|te, em resposta a minha de 12, a qual deo-me
muito| prazer por saber que com toda Excelentissima familia gosa-|va saude, aceitando nossas sincéras
visitas-| e saudades. Permitta escrever-lhe esta n’es-|te papel sem ta[r]302ja, por não ter hoje outro-| em
casa.carta 377
j. Tendo havido ultimamente algumas| alterações na magistratura do nos-|so Estado, como sejão,
remoções, no-|meações, etc, e estando eu com| o meo parente Doutor Raul Passos,-| que é promotor
do Tucano, este-|1v.mostrou-se-me receioso de ser remo-|vido da comarca onde serve, por per-
|tencer ella ao 5º destricto, onde V. é| influencia politica; pelo que eu| disse-lhe que não havia
motivo pa-|ra receios, visto como estava certo que| V. não o perseguiria. carta 394
l. Para aproveitar| o vaqueiro do jacurici| fasço esta a Vossa Excelencia pro|curando suas noticias| e
responder-lhe[...]303 a ulti|ma carta que dignou se| mandar-me pelo Fran|celino do Saturno, que| lá,
soube, da viagem| delle para ahi, depois| da saida delle por| dizer-me meu Irmão Paulo. carta 397
m. Pelo correio chegado hoje recebi a presada carta de Vossa Excelência de 28 do mez| proximo passado
que cauzou-me contentamento pela certesa que tenho de ficar gosando| saude e a Excelentissima
Senhora Baronesa a quem respeitosamente comprimento e visito| carta 415
n. No Patamute| tem chovido bastante verde o qual| estende-se até o São Francisco.|De Cachaqui,
Curral velho,|4r. até o Uauá, ha somente verde [...]304| de ramos e capim pequeno.| O prejuiso foi
inorme, e| consta-me que foi cresci-|do nas fazendas do fallecido305 Doutor| Fiel. Se não tiver-mos 5
ou -|mais annos bons, não rehave-|remos o gado que perdeo-se-|A Senhora do Cezar tem está-|do
bastante duente, e serio| o mal.| carta 419
o. O prejuiso foi inorme, e| consta-me que foi cresci-|do nas fazendas do fallecido306 Doutor| Fiel.
Se não tiver-mos 5 ou -|mais annos bons, não rehave-|remos o gado que perdeo-se-|A Senhora do
Cezar tem está-|do bastante duente, e serio| o mal.| carta 419
p. Li seus artigos, e o ulti|mo, embora verdadeira a sua| narração fez-me ficar re|ceioso de sua
pessôa, em vista| da exaltação do povo com| aquelles acontecimentos,| suppondo o tirano capaz|
de instigar o povo e no for[...]307| para vingar-se de [...]308| mas depois da chegada do| compadre
Joaquim Cardoso, que| disse-me estar e exercito| consigo e o Doutor Jose Gonçalves, des-|cansei
dessa minha apprehen-|são.| carta 439
q. Confirma-se que alli existem| as melhores armas e já hão sido| muitos mortos por ballas [...]309
explo-|sivas cujas assemelhão-se| do estourar de foguetes.310| carta 454
r. Depois da que accusa escripta| por mim com data de 21 de Junho faltan-|do lhe ser entregue 1 ou
2 entre 6 e 16,| já enviei-lhe uma escripta em Alagoinhas| a 24, e duas depois de meu regresso|Nas
ultimas dava-lhe conta do que| aqui soube relativamente aos combates| e citei-lhe diversos nomes
dos que| havião fallecido, dos feridos ect, entre| os quaes achão-se amigos seos.|Além desses, hoje
302 Rasgado.
303 Rasura.
304 Rasurado.
305 Rasurado.
306 Rasurado.
307 Rasgo.
308 Rasgo.
309 Rasurado.
310 Rasurado.
299
soube mais da morte| do capitam João Gutierre que era secretario| ou ajudante do general Barbosa
e do Tenente| Meirelles e capitam Barbosa d’arma de artilharia.| carta 455
s. Tive carta de meu procurador| Manoel Dionizio, do dia 12 do corrente;| na qual dizia-me que o
Governador| já tinha dispachado todos os meus pa|peis, e que o Thesouro já tinha conta|do o
tempo de serviço e dado d’isto a| certidão; creio só faltar o Decreto de| minha jubilação.. carta 457
t. O Gallo quer recrutar o sugei|to guarda costa do Jose Gonçalvez a que des|feitiou-o, porque este
vae casar-|se sabbado eadquuire inzenções; eu| era de opinião mais adiante, por tanto se suceder
esteja previni|do. O Jose Filho do Manoel piraú, an|da nas quinas da rua lendo a| correspondência do
Jose Dantas contra VossaExcelência| e elles gostando e fasendo alarde| isto é, Julio, Vigario Bento
muitos porem| depois que cheguei não tive afortu|na de vêr, já tinha passado.| carta 458
u. Não|3v. apressei logo em responder aespera| de seo portador que disse-me voltava bre-|ve,
aopasso que muito demorouse.| carta 464
v. E vamos bem com| o Vigario. Quanto a ex|cluzão de VossaExcelência nem| elle pretendeu e
ainda|2v. que pretendesse não o conse|guiria inta[?]tum>. A esta| acompanha a copia da acta| da
Eleição, que parece-me| estara conforme. Se| bem <não< dizem empenhei fiz oque| pude, e
lembrado da fra|queza humanna que| é proprio da natureza| cair em falta e por isso| descupará
a|Não houve| precizão|da vaca|311De VossaExcelência seu Amigo|e fiel criado|Victor Marcolino de
Menezes| carta 494
Passo agora a mostrar a colocação dos clíticos em orações com grupos verbais.
A distribuição geral por tipo de verbo não finito em grupos verbais está na tabela 6.17. Nos
itens seguintes, os contextos são visto de forma mais detalhada.
Tabela 6.17 Grupos verbais: verbo finito e verbo não finito: CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto)
Seqüências V finito V não finito Orações com grupos verbais
300
Total 233 117 352 198 131 329
67% 33% 60% 40%
Total Geral 681
A comparação nas duas amostras evidencia que o interior segue as tendências do português
brasileiro. Inclusive os casos estranhos à gramática do português europeu e do português europeu,
como visto no capítulo 3 e repetido abaixo, como a ênclise ao particípio e a dupla colocação
pronominal.
O exemplo (6.19a) consta na carta de Antero de Cirqueira Gallo era natural de Bom
Conselho na Bahia, nascido em 5/5/1864, exercia o cargo de escrivão municipal e agente de correio
em Tucano, função que seu pai assumiu após a sua morte em 1/6/1899.
b. Estava rezolvido ir até| o Camuciatá, mas não achei| uma montada suffisciente| para esse fim. O
nosso juiz de| Direito vai indo, e segundo o| que tem manifestado-se temos| um Pompilio ou pior;
disse-me| que havia de contar-lhe aqui em| tudo, e na fuctura Eleicão Mu|nicipal não deixaria um
governo| obista votar, sobre pena de ser pre|so!!. (rezerva) a minha pozição de| Escrivão é critica: Eu
respon|di-lhe ao pé da letra, que só| assim elle podia ganhar elei-|ção pela força bruta – e, que| não
dispunha de outros ellimen|tos, e que neste procedimento|2r. seguio o Procopio e depois as|
consequencias foram fataes–| carta 330
c. O Senhor Governador, está-| parecendo um governador de bob[ão]| Consta que no Rio tem
havi[do]312| grande movimento dos E[studan]313-|1v. tes da Eschola militar e os Jacobi[nos]314| com a
Policia e que alguns offi-|ciaes ou Generáes tem apresenta-|do-se em favor dos estudantes; e por|
telegramma que vi no Jornal de| Noticias, creio que de hontem ou an-|tehontem, diz, estar a Armada de|
312 Rasgado.
313 Rasgado.
314 Rasgado.
301
prontidão, pelo que, parece-me| que as cousas lá não vão bôas.| Parece-me315que aqui haverá ba-|rulho
antes do fim de Março,| se o governador intender de fazer| valer sua arbitrariedade.| carta 368
Além de outro dado em uma construção não finita do coronel da Guarda Nacional João
Cordeiro d’Andrade, radicado em Jeremoabo, na Bahia, proprietário de terras e intendente em
Monte Santo (1892-1894).
d. Não pude ir n’esse| dia e até hoje cumprimental-o, por| ter saido-me um leicenço no pesco-|ço,
junto a nuca, temi viajar. Foi| o Cezar e os outros parentes. Já o-| tinha visto quando veio até junto| da
Vila e regressou-se a Queimadas.| carta 422
e. P.S. se lhe for po çi|vel mande me nomiar me|1° Juis de Pas| carta 476
315 Rasurado.
302
7. V XX V-cl 3 6
Inovação brasileira
8. VXclV 11 27
VXXclV
9. V cl-V
Ambíguo
10. V cl V 13 19
Subtotal 322 298
Total Geral 620
a. Quero ainda uma vez lhe| agradecer as boas e generosas| palavras com que hontem|
eloquentemente saudou-me| em nome do povo bahiano!| 166
a. Li sua correspondencia e a ousada resposta do taturfo João Dantas,| apresentou-se n’este escripto
como homem sem macula, porem conto| que Vossa Excelência o esmagará e para o faser não será
preciso discrever todas| essas [...]316 mazellas! porque em toda sua vida tem por artimanhas se
apossa-| do de uma grande parte da fortuna dos que o tem acompanhado| e locupletando-se dos
dinheiros dos cofres publicos!: carta 415
316 Rasgado.
303
b. Me foi entregue sua carta de 8 do| vigente; é serto que as forças rece-|berão balla e muita da
garganta de| Cocorobó até Canudos, sendo o| ataque em Cocorobó no dia 25 do passado| e houve
grande perda nas força,| tão bem morrendo jagunços, o Coro-|nel Sucupira foi victima de| duas
ballas no Trabubu, distan-|te meia legua de Canudos, á lem| de outros officiaes; chegando á|1v.a
Collunna do General Lavaget| a Canudos no dia 27; carta 418
c. Mefoi intregui| a Intendencia com o debito de 90 $ =| e o cofre vazio com 680 reis, d’ahi| para
esta dacta comprou-se| 2 fortes, fezse uma istrada cal =|1v.calsou-se uma rúa, milhorou-se| um
banheiro publico, collocou|-se illuminação e seos emprega-|dos, e outras muitas dispezas inclusi-|ve
o custeio dos empregados eguar-|das municipaes que conforme| as contas prestadas sobe a arre-
|cadação tal vez a maior de cinco| contas, tendo actualmente um cofre| mais de um conto de
reis.|carta 462
d. Mefoi intregue pello Antero a-| sua presada carta de 1 do-| corrente acompanhada com-|
428.000 que fico recebido.|carta 468
e. Muito tenho medado com o Tenente e continuo elle| me dice que lhe presa e que meo compadre
he| muito Amigo do Padrinho e tio delle que| mora na esplanada. carta 485
f. Não fosse merecedor, mas|como aeleição estava perto que| meprestaria aesta depois| que lhevisse
por que não sei| seo ceo ricentimento he deforma| que eu oacompanho em [to]|do centido Digame
como ver|dadeiro amigo com franque|za pois ja tenho lhedito que so V. eso| V. emais ninguem.
Apareço| breve elhe trazer odinheiro do Mel|quides pois não oaxei nas canas| esim navarzia Salgada|
carta 403
g. Muito tenho medado com o Tenente e continuo elle| me dice que lhe presa e que meo compadre
he| muito Amigo do Padrinho e tio delle que| mora na esplanada. carta 485
h. Não fosse merecedor, mas|como aeleição estava perto que| meprestaria aesta depois| que lhevisse
por que não sei| seo ceo ricentimento he deforma| que eu oacompanho em [to]|do centido Digame
como ver|dadeiro amigo com franque|za pois ja tenho lhedito que so V. eso| V. emais ninguem.
Apareço| breve elhe trazer odinheiro do Mel|quides pois não oaxei nas canas| esim navarzia Salgada|
carta 403
i. Não te-|nho lhe escripto supondo ja| se ter regressado para o Regalo,| e Camuciatá onde devo
mandar| Potamio visital-o, a Baronesa e os| Primos. carta 433
j. Na-| falta do Sabino fiquei com-|pletamente sozinho, porque o Prezidente| do Conselho não ajuda,
sinão e| unicamente com a-a signatu-|ra; para tal trabalho tem me-|auxiliado Jose Ramos, que o
tenho|2r. alizado muito. carta 461
l. Festas alegres e entrada do no-|vo anno com todas as felicida-|des de coração apeteço e a
Excelentissima Prima e Primos. Damos-lhes eu| com Potamio, mãe e Irmã| nossos parabens pelo
feliz| conçorcio do Primo Joãozinho; e| que o Sr. do Bonfim queira dar-lhe[...]317| muitos anos de
vida com todas| as felicidades que se pode am-|bicionar na vida. Não te-|nho lhe escripto
supondo ja| se ter regressado para o Regalo,| e Camuciatá onde devo mandar| Potamio visital-o, a
Baronesa e os| Primos. Eu vivo sem saber se|1v. vivo padecendo dia e noite,| ate quando o sr. do
Bonfim for ser-|vido. Vamos no pior estado aque| pode uma terra sem governo che-|gar. Carta 433
317
Rasgado.
304
Além de outras construções.
(6.22) Costa/culto
a. Tomo a liberdade de enviar-|lhe 200 exemplares do primeiro| opusculo de uma serie para me|
fazer o favor de collocar á venda <a 300 reis>| em alguma, ou algumas, casa| de confiança que se
queira encar-|regar d’isso com 30% de commissão| e condição de ajustar contas com-|migo a cada
numero.| carta 165
b. Consumei o maior dos sacrificios, meu amigo! pus-me| acima das minhas forças para vencer as
lagrimas de minha Familia, para me vencer a mim mesmo sobrepujando| o excesso de filial afecto,
para aventurar nova carreira, e apurar ainda sentimentos já tão apurados| em 6 annos de separação
daquelles, de quem um só minuto dezejara viver separado!|carta 32
(6.23) Interior/semi-culto
a. Quando es|tive na Bahia em Fivereiro, náo pu-|de pagar as 6 rodas de arame, por náo| ter
recebido um dinheiro ali; por isso só| agora remeto lhe 130$000 para me|1v. fazazer318 o favor
mandar pagar,| e por que náo tivesse o Palmeira re|metido conta, náo sei ao certo quanto de|vo,
pedindo lhe que se for mais pague, e| me mande a conta. carta 346
b. Hontem mesmo foi uma| commissão do centro operario pe-|dir providencias ao conselho muni-
|cipal sobre a carestia dos generos de| primeira necessidade, e aglome-|rou-se mais de 100 pessoas na
ca-|mara e sahirão satisfeitos; O con-|selheiro Couto, já providenciou de| maneiras tal, que ouvi elle
dizer| que a carne <verde> amanhã será vendida| a 700 reis o kilo; para mil reis, como esta-|va, e
ameaçada a população de com-|<prar> nestes 8 dias a 1$500 reis, já foi por| conseguinte uma
vantagem ex-|traordinaria. Quanto a farinha-| creio que elle deo tambem providencias.| carta 365
Por fim, as estruturas de colocação dos clíticos em grupos verbais são vistas por data de
nascimento e por data de produção nas duas amostras: CB (costa/culto versus interior/semi-culto),
especialmente, perda de elevação e a inovação brasileira.
305
6.3.3 Colocação dos clíticos em grupos verbais: por data de nascimento e data de
produção em Cartas Brasileiras (CB), costa/culto versus interior/semi-culto
Tabela 6.19 Colocação dos clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura: CB (costa/culto versus
interior/semi-culto). Por data de nascimento
Estruturas Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura em CB (costa/culto)
versus CB (interior/não culto)
Por data de nascimento
Cartas da costa/culta Cartas do interior/semi-culto
1724- 1800- 1851- Data não TOTAL 1724- 1800- 1851- Data não TOTAL
1799 1850 1880 identificada 1799 1850 1880 identificada
Elevação de
clítico
1. cl-V V 6 75 19 74 174 - 101 8 6 115
2. cl-VXV 1 2 2 3 8 - 6 0 1 7
3. V-cl V 2 16 13 10 41 - 41 6 0 47
4. V-clXV 0 6 0 1 7 - 2 0 0 2
Não elevação
de clítico
5. V V-cl 3 39 5 13 60 - 64 2 1 67
6. V X V-cl 0 5 0 0 5 - 6 2 - 8
7. V XX V-cl 1 1 0 1 3 - 5 1 0 6
Inovação brasileira
8. VXclV 0 7 2 2 11 - 24 2 1 27
VXXcl V
9. V cl-V
Ambíguos
10. V cl V 0 8 0 5 13 - 16 3 0 19
Subtotal 13 159 41 109 322 - 265 24 9 298
Total Geral 620
É interessante ver que a maior concentração das construções referidas ocorre no período
posterior à data de nascimento. Os resultados do interior confirmam a maior queda dessa variante
na amostra.
306
Gráfico 6.11
Freqüência da variante os grupos verbais em CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-
culto)
Construções do português clássico e europeu moderno
Por data de nascimento
100 100
95,12
90 90,56
84,9
80 79,16
70
60
50
40
%
30
20
10
0
1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
Costa/culto Interior/semi-culto
O próximo gráfico 6.12 trata da construção V cl-V, a inovação brasileira. Trata-se de casos
não ambíguos:
Gráfico 6.12
Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em CB (costa/culto) versus CB (interior/semi-culto)
Inovação brasileira
Por data de nascimento
100
90
80
70
60
50
%
40
30
20
10 8,33
4,4 4,87
0 0 0
1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900
Costa/culto Interior/semi-culto
307
Tabela 6.20 Colocação dos clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura: CB (costa/culto versus
interior/semi-culto). Por data de produção
Estruturas Colocação de clíticos em grupos verbais por tipo de estrutura: CB (costa/culto) versus CB
(interior/não culto)
Por data de produção
Cartas da costa/culto Cartas do interior/semi-culto
1809-1825 1826-1850 1851-1876 1876-1904 TOTAL 1809-1825 1826-1850 1851-1899 1876-1904 TOTAL
Elevação
de clítico
1. cl-V V 1 9 79 85 174 0 - 96 19 115
2. cl-VXV 0 2 1 5 8 0 - 6 1 7
3. V-cl V 0 1 18 22 41 0 - 43 4 47
4. V-clXV 0 0 6 1 7 0 - 2 0 2
Não
elevação de
clítico
5. V V-cl 0 5 37 18 60 0 - 61 6 67
6. V X V-cl 0 1 4 0 5 0 - 5 3 8
7. V XX V-cl 0 0 1 2 3 0 - 6 0 6
Inovação
brasileira
8. VXclV 0 0 6 5 11 1 - 19 7 27
VXXcl V
9. V cl-V
Ambíguos
10. V cl V 0 0 8 5 13 1 - 15 3 19
Subtotal 1 18 160 143 322 2 - 253 43 298
308
Gráfico 6.13
Freqüência da variante os grupos verbais em Pagotto (1992) e CB (costa/culto) versus CB
(interior/semi-culto)
Construções do português clássico e europeu moderno
Por produção dos documentos
50
40
30 32,5
20
10
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
Gráfico 6.14
Freqüência da variante V cl-V nos grupos verbais em Pagotto (1992) e CB (costa/culto) versus
CB (interior/semi-culto)
Inovação brasileira
Por data de produção dos documentos
100
90
80
70 67,5
60
50
%
40
30 33
20 23,53
16,27
10 7,5
5 3,49
0 0 0 0 0 0 0 0 3,75
0
1500 1525 1550 1575 1600 1625 1650 1675 1700 1725 1750 1775 1800 1825 1850 1875 1900 1925 1950 1975
309
6.3.4 Resumo do capítulo
310
7
Considerações finais
311
i. seleção de fontes fidedignas para o estudo do português brasileiro através de técnicas
convencionalmente adotadas pela filologia;
ii. identificação do remetente quanto ao uso de L1 ou L2 nos textos;
iii. exploração da integração entre história interna e história externa do português brasileiro;
iv. comparação do processo de colocação dos clíticos: português europeu versus português
brasileiro;
v. estratificação da amostra para comparação de variantes dialetais geográficas e sociais
brasileiras.
As conclusões feitas com base na integração desses campos com referência a uma teoria da
linguagem apontam algumas breves considerações que julgo relevante retomar com relação ao
fenômeno sintático descrito, a partir da diversificação interna da amostra: cartas brasileiras
representando a amostra na sua totalidade e o contraste por amostra: costa/culto versus interior/não
culto:
i. colocação dos clíticos com verbo em posição inicial de sentença. Apesar de ser uma das
construções mais relevantes por definir a mudança do português brasileiro não é facilmente
encontrável em textos produzidos por sujeitos cultos, tendo em vista ser um contexto estável de
ênclise do português, mas que os resultados aqui apontam como sendo de uso inequívoco no século
de 19 por brasileiros não escolarizados, principalmente, mas também de uso dos brasileiros cultos.
ii. contexto de variação I, definido pelas construções com orações raízes declarativas
afirmativas, principais com verbo único em segunda posição (Sujeito neutro, sintagmas
preposicionais e advérbios não modais). Esse contexto mostrou que não se trata simplesmente de
dizer que os falantes cultos teriam mais influência da norma portuguesa moderna, evidencia uma
situação mais complexa. Embora mais homogêneos, mostram claramente as construções que
indicam a mudança do português brasileiro. Por outro lado, surpreendentemente, na amostra do
interior, a despeito de uma ênclise elevada, fruto do que parece ser a incidência de construções
específicas, como a ênclise em nomes próprios, também verificada na costa, não se distancia da
amostra da costa nesse sentido, ao contrário.
Por outro lado, é na amostra do interior onde mais claramente aparecem as inovações
brasileiras: rearranjo pronominal com mudanças no sistema de caso, próclise ao afirmativo, próclise
ao verbo temático e “confusão” com ênclises “inesperadas” em contextos categóricos de próclise no
português europeu. Obviamente, que essa “ênclise” carece de estudos aprofundados, sobretudo, o
padrão de ordem nas dependentes.
312
No geral, penso que o modelo apresentado abre perspectivas para os estudos diacrônicos no
Brasil e para a lingüística histórica na medida em que é possível captar nos textos a competição de
mais de uma mudança. Aponta por outro lado, para a necessidade de um estudo detalhado das
diferenças dialetais no processo de formação do português brasileiro.
Mas é com o estudo comparativo diacrônico do português europeu com o português
brasileiro do século 19 que espero ter contribuído mais. Especialmente pelas evidências
significativas, extraídas de fontes primárias produzidas por brasileiros comuns desse período,
sobretudo a de brasileiros semi-cultos do interior da Bahia. Obviamente que dado o esforço para
congregar áreas distintas e o trabalho com a seleção de materiais do passado do português, as
dificuldades para identificação do tipo de língua utilizado por quem escreve os textos, se primeira ou
se segunda, impediram avanços mais significativos na interpretação do fenômeno. Nesse sentido,
este trabalho não é explicativo, mas descreve as construções relevantes a partir de uma
representação de linguagem com base no que tem sido colocado como pertinente no âmbito da
gramática gerativa.
O ponto de confluência é um estudo descritivo da colocação dos clíticos. O fato de ser um
tópico bastante explorado oferece uma vantagem adicional, a de permitir identificar quais gramáticas
estão em jogo no processo de aquisição e de mudança do português brasileiro. O objetivo principal
foi atingido, o de que o século 19 fosse visto sob uma perspectiva diacrônica, tanto a partir da data
de produção dos textos, mas, sobretudo, da data de nascimento dos autores, em consonância com a
noção de gramática e mudança na perspectiva gerativa, através do modelo apresentado, neste
trabalho. Acredito que isso pode abrir novas perspectivas para os estudos diacrônicos no Brasil.
Viu-se que é possível captar, em amostras da língua, a competição de três gramáticas nos
textos brasileiros do século 19. Fato tornado possível através da comparação de textos produzidos
por brasileiros com textos produzidos por portugueses no mesmo período. Nesse sentido, penso
também ter contribuído com dados importantes para um problema dos estudos diacrônicos no
Brasil, como levantado por Ribeiro (1998), ao salientar que as comparações entre o português
brasileiro e o português europeu terem sido pautadas no português europeu moderno. A autora
defende que a base do português brasileiro atual se acha em duas gramáticas portuguesas,
correspondentes aos séculos 16-18 e aos séculos 19-20.Este trabalho, penso, traz novos dados que
ajudam a esclarecer essa questão se considerarmos o processo de competição de gramática, no
sentido de Kroch (1994, 2001), a substituição de uma gramática antiga, a do português europeu
anterior ao século 18 pela gramática do português brasileiro. Isso traz outros problemas ao revelar
313
um processo mais complexo na análise de textos do passado do português brasileiro. Primeiro,
porque a competição da gramática do português europeu anterior ao século 18 estava também em
processo de mudança. Segundo, porque a segunda gramática do português europeu não parece ter
afetado a gramática nuclear do brasileiro do século 19, mas apenas a língua-E. É interessante ver que
os dois processos de mudança, uma primeira mudança, a gramática do português europeu anterior
ao século 18 em competição com o português brasileiro, e uma segunda mudança, a gramática do
português europeu moderno com o português brasileiro, dão-se de forma distinta, fato que fica
evidenciado quando se submete a análise da amostras de língua-E a critérios sócio-históricos, como
a oposição dos textos escritos por brasileiros cultos e não cultos (cf. capítulo 6). Ficando
demonstrado através de outros estudos diacrônicos, baseados no português brasileiro, que a variante
do português que parece ter se disseminado pelo Brasil em meados do século 18 já não apresentava
a mesma gramática do português europeu do mesmo período. Até onde foi possível verificar, parece
que as características da nova gramática do português europeu, posterior ao século 18, captada nos
textos escritos por brasileiros (cf. capítulos 3 e 6,) mais presentes nos textos dos indivíduos mais
escolarizados, apresentam as características inequívocas da gramática do português brasileiro no
fenômeno analisado, através de construções com próclise em posição inicial absoluta e próclise ao
verbo temático. O outro contexto relevante, a colocação dos clíticos em orações raízes declarativas
afirmativas, principais, com verbo em segunda posição antecedido por sujeitos neutros, sintagmas
preposicionais e advérbios não modais, expresso pela subida da ênclise tanto na amostra produzida
por indivíduos cultos e não cultos, não se justifica por si só. Principalmente se se considerar o uso
de ênclise em construções proclíticas do português europeu em toda a sua história nas duas
amostras. Por outro lado, o fato da gramática do português brasileiro ser mais claramente
evidenciada na amostra do interior aponta para a necessidade de um estudo mais detalhado das
diferenças dialetais no processo de formação do português brasileiro.
Obviamente que dado os vários percalços em relação às dificuldades de integração entre
sintaxe (1ª e 2ª partes, volume 1), sócio-história (3ª parte, volume 1) e filologia (volume 2, que
traz a edição de 500 cartas manuscritas datadas entre 1809-1904) deixam ainda muitos pontos em
aberto.
314
8
Fontes e referências
8.1 Fontes
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Paripiranga
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Outros
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315
IMPRESSAS
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3ª. Seção:
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4ª. Seção:
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