Boas Praticas Morango
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Boas Praticas Morango
d i s q u a l
D I S Q U A L
Manual de Boas
Práticas
Instituições do consórcio
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CARACTERIZAÇÃO
Aspectos Gerais
O morangueiro pertence à família Rosaceae. As cultivares mais difun-
didas comercialmente pertencem à espécie Fragaria x ananassa
Duchesne, originada no século XVIII a partir de hibridações espontâneas
entre duas espécies selvagens de frutos grandes, que tinham sido trazidas
da América para a Europa no século XVII.
São plantas herbáceas perenes que formam uma espessa roseta ao nível
do terreno. São constituídas por um caule curto (coroa), folhas trifoliadas
inseridas na coroa por pecíolos mais ou menos longos e um sistema
radicular fasciculado, constituído por numerosas raízes superficiais.
Quando as condições climáticas são adequadas, a planta emite estolhos,
que são caules finos e prostrados, com entrenós longos, que facilmente
enraízam dando origem a plantas autónomas. Das axilas das folhas surgem
inflorescências com um número variável de flores que, na maior parte das
variedades cultivadas, são hermafroditas. A parte comestível do morango
não corresponde ao que botanicamente se denomina fruto; é na verdade
um falso fruto originado pelo engrossamento do receptáculo da flor após
a fecundação dos óvulos. Os verdadeiros frutos (aquénios) são aquilo a
que por vezes se chama de sementes e estão distribuídas à superfície da
parte carnuda avermelhada.
Cultivares
- Não reflorescentes ou de dia curto: Camarosa, Chandler, Osso
Grande, Douglas, Sequoia, Tudla, Dorit.
- Remontantes ou indiferentes à duração do dia: Irvine, Selva, Fern,
Seascape.
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Zonas de Produção
O Ribatejo e Oeste (Palmela, Oeste e Ribatejo), o Algarve (sobretudo a
campina de Faro/Olhão) e o Alentejo (concelho de Odemira) destacam-se
como as principais regiões de produção de morango. A Beira Litoral
(Coimbra, Leiria e Aveiro) e Trás–os-Montes (Macedo de Cavaleiros e
Vilariça), embora menos representativas assumem importância por pro-
duzirem morango fora de época.
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Caracterização da Cadeia
A cadeia típica do morango para o mercado em fresco é apresentada
esquematicamente na Figura 1. É importante que todas as etapas sejam
coordenadas e realizadas com rapidez de forma a evitar a exposição do
morango a temperaturas elevadas.
Figura 1:
PRODUÇÃO Cadeia típica do morango
COLHEITA
CAMPO
EMBALAGEM
TRANSPORTE
PRÉ-ARREFECIMENTO
INSTALAÇÕES DE CALIBRAÇÃO
PREPARAÇÃO
EMBALAGEM E CONSERVAÇÃO
CONSERVAÇÃO
TRANSPORTE
ENTREPOSTO TRANSPORTE
DISTRIBUIÇÃO E VENDA
TRANSPORTE
LOJA
Segundo dados fornecidos por uma das mais importantes empresas de dis-
tribuição nacional na área dos hortofrutícolas frescos, em 1998 e 1999 os
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PRODUÇÃO
Condições Edafoclimáticas
Clima
Embora seja originária de climas frescos e húmidos, existem cultivares
que se adaptam perfeitamente a climas quentes e secos, desde que haja
disponibilidade de água para rega. A parte vegetativa é bastante resistente
às geadas, no entanto, na fase de floração, as flores são destruídas por
temperaturas inferiores a 00C. Para formar um número adequado de folhas
e obter uma boa produção na Primavera seguinte a maior parte das varie-
dades cultivadas necessita de um período de repouso vegetativo, de
duração variável, com temperaturas inferiores a 70C.
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Solo
O morangueiro é uma planta sensível a solos compactos, com tendência
para encharcar no Inverno e Primavera. Nestes solos o desenvolvimento
das plantas é muito reduzido; o sistema radicular, já de si frágil, fica muito
superficial e, por isso, mais sujeito à asfixia e à escassez de água. Embora
em solos arenosos a maturação dos frutos seja antecipada, os melhores
morangais encontram-se em solos francos, com melhor retenção de água.
Operações Culturais
Preparação do Terreno
O morangueiro exige uma cuidadosa preparação do terreno, dado o seu
frágil sistema radicular. O tipo de operações realizadas depende muito
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Desinfecção do Solo
O cultivo repetido vários anos no mesmo solo conduz, normalmente, a
uma elevada percentagem de plantas mortas e diminuição da produção.
A causa mais frequente é o aumento de microorganismos parasitas, como
fungos e nemátodos, que prejudicam o crescimento normal das plantas.
A desinfecção do solo com brometo de metilo tem sido a solução mais uti-
lizada. No entanto, uma política ambiental seguida pela generalidade dos
países industrializados tem levado à obrigatoriedade de redução deste
produto e à sua total proibição para este fim a breve prazo, pelo que
outras alternativas terão que ser usadas. O metame sódio pode ser uma
alternativa ao brometo de metilo. Em certas regiões produtoras, a solari-
zação ou a solarização conjugada com tratamentos químicos a baixas
doses (como o metame sódio ou o dazomete) tem dado bons resultados.
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Figura 2:
Armação dos
camalhões
Fertilização
Para se realizar a correcção e adubação de fundo é essencial proceder à
análise de terra.
Estrumação:
A cultura do morangueiro é bastante exigente em matéria orgânica. Esta
é muito importante na manutenção da estrutura do solo e na conservação
da humidade e dos nutrientes. Deve ser aplicada ao solo algum tempo
antes da plantação, de preferência 1 a 2 meses, com estrume de bovinos
bem curtido. A escassez de estrumes tem levado à sua substituição por
matéria orgânica desidratada, proveniente de estrumes de vaca ou de
cavalo, disponível no mercado na forma de granulado. É bastante usual
a aplicação localizada (5-7 t/ha) em simultâneo com a armação dos
camalhões.
Adubação:
São muitos os factores que fazem variar as necessidades de nutrientes da
cultura, pelo que é impossível indicar uma fórmula de adubação que se
adapte às diferentes condições. Para as condições do sul da Europa, a
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Cobertura do Solo
A cobertura do solo com plástico preto é uma prática generalizada na
cultura do morango. A sua utilização tem várias finalidades:
- impede o crescimento de ervas infestantes,
- evita o contacto directo dos frutos com a terra obtendo-se frutos mais
limpos e com menos podridões,
- exerce um efeito benéfico sobre a estrutura do solo favorecendo o
desenvolvimento radicular,
- reduz a perda de água por evaporação,
- permite o aquecimento do solo antecipando o início das colheitas.
Figura 3:
Cobertura do
camalhão
Plantação
A situação mais comum é a plantação entre fins de Setembro e princípio
de Novembro, utilizando para o efeito plantas frescas, produzidas em
viveiros de altitude.
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Figura 4:
Plantação do
morangueiro
(Fonte: Branzanti, 1989)
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Polinização
A instalação de colmeias na proximidade das plantações e o uso de pes-
ticidas inócuos para as abelhas, melhoram a polinização e o vingamento
dos frutos.
Eliminação de Flores
Por vezes, a seguir à plantação, ocorre uma floração precoce. Estas flores
prematuras devem ser eliminadas à medida que vão aparecendo, para
que a planta consiga um bom desenvolvimento vegetativo e uma abun-
dante frutificação após o repouso vegetativo invernal.
Rega
Como é comum o uso da cobertura do solo com plástico preto, utiliza-se
geralmente o sistema de rega gota-a-gota, que permite a realização de
fertirrigação. Este sistema adapta-se bastante bem à cultura, uma vez
que as plantas possuem um sistema radicular superficial, raramente
ultrapassando os 30 cm de profundidade.
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Pragas e Doenças
Praticamente todas as pragas e doenças que reduzem a qualidade pós-colheita
dos morangos atacam a planta ou o fruto antes da colheita. Nas Tabelas
2 e 3 estão indicadas, respectivamente, as doenças e pragas mais repre-
sentativas.
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Mancha encarnada Manchas arredondadas Dias frescos e Limpeza das folhas mortas
(Mycosphaerella nas folhas. Com o humidade relativa Bom arejamento das culturas
frageriae) tempo evoluem, elevada Tratamento com cobre ou
aumentam de tamanho captana
e ficam com o centro
branco acinzentado ou
bege e o bordo púrpura
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Tabela 3:
Pragas mais comuns Pragas Sintomas Condições favoráveis Medidas preventivas /
curativas
na cultura do
morango Nemátodos Crescimento reduzido Repetição da cultura Rotações de culturas
(Ptrathylenchus Folhas ligeiramente do morangueiro ou Eliminar resíduos de plantas
pratensis, cloróticas de outras espécies atacadas
Melotdogyne sp. e Produção escassa sensíveis no mesmo Desinfecção do solo
Ditylenchus dipsaci) Lesões nas raízes terreno
(Prathylenchus)
Galhas nas raízes
(Meloidogyne)
COLHEITA
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Técnicas de Colheita
Para consumo em fresco, a colheita do morango deve atender ao seguinte:
- ser feita manualmente,
Figura 5:
Colheita de frutos
para consumo em
fresco (A) e para
indústria (B)
(Fonte: Branzanti, 1989)
Figura 6:
Colheita para godés
de comercialização
(Fonte: Branzanti, 1989)
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Índices de Qualidade
Devido à sua elevada taxa de actividade fisiológica, as características
qualitativas que os morangos apresentam na altura da colheita vão-se
rapidamente deteriorando, se não forem devidamente cuidados.
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EMBALAGEM
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TRANSPORTE
PRÉ – ARREFECIMENTO
A pré refrigeração deve ser efectuada rapidamente, uma vez que o morango
é um produto com elevada taxa respiratória. Atrasos de mais de 1 hora
após a colheita reduzem a percentagem de frutos comercializáveis. São
vários os sistemas usados, embora o mais comum seja a refrigeração por
ar forçado com atomização de água. A maioria dos sistemas de
refrigeração por ar forçado são capazes de reduzir a temperatura do
fruto à temperatura adequada em menos de uma hora.
O tempo a que o morango está sujeito à refrigeração não tem limites precisos,
sendo adaptado às necessidades do produto em particular e função da etapa
posterior a executar. Esta etapa é cumprida adequadamente quando o produto
atinge temperaturas de 5-100C com humidade relativa da ordem dos 90-95 %.
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PREPARAÇÃO
Triagem
A principal triagem deve ser efectuada logo no campo. Devem ser rejeitados
frutos que não satisfazem as características mínimas de qualidade e de
calibre: frutos com pisaduras graves, sem consistência e com defeitos de
forma e desenvolvimento. Devem igualmente ser rejeitados os morangos
colhidos sem pedúnculo, pois são muito perecíveis.
Separação em Categorias
Estão definidas três categorias para o morango: Extra, I e II. O morango
incluído na categoria Extra deve ser de qualidade superior, com a coloração
e forma típicas da variedade. Deve igualmente ser uniforme e regular do
ponto de vista da maturação, coloração e tamanho. O seu aspecto deve
ser brilhante e isento de terra. Na categoria I deve ser incluído produto
de boa qualidade. Para além de apresentarem as características da
variedade podem apresentar ligeiros defeitos de forma, homogeneidade
de tamanho e coloração. Na categoria II o morango pode apresentar
alguns defeitos de forma desde que os frutos mantenham as suas carac-
terísticas varietais, ligeiras pisaduras e ligeiros vestígios de terra. No
anexo I encontram-se especificadas as características de cada categoria
de acordo com as normas em vigor.
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Calibragem
A separação por calibres é determinada com base no diâmetro da secção
equatorial.
Tabela 5:
Calibres mínimos Categoria Extra 25 mm
estipulados por
norma para Categoria I e II 22 mm
o morango 18 mm (variedade “Primelia” e “Gariguette|”)
Com o produto:
- O morango deve ser arrefecido imediatamente após a colheita para
reduzir/evitar o amadurecimento excessivo e a podridão;
- A manipulação do morango na linha de preparação deve ser mínima,
de forma a não causar danos internos e externos;
- Arrefecer cargas pequenas de forma a tornar frequente o arrefecimento
e assim reduzir os atrasos;
- Após o arrefecimento, não sujeitar os morangos a oscilações de tem-
peratura, já que isso levaria ao seu precoce apodrecimento.
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CONSERVAÇÃO
Período de Conservação
Mesmo em condições ideais de conservação, os morangos raramente
podem ser mantidos com qualidade por mais de 7 dias após a colheita.
Tabela 6:
Temperatura Humidade relativa Concentração O2 e CO2 Condições óptimas
para a conservação
0±0.5°C 90-95% 5-10% O2 e 15-20% CO2 de morango
Resposta ao Etileno
A presença de etileno não acelera a maturação dos morangos. No entanto,
a remoção do etileno presente na câmara de armazenamento pode reduzir
o desenvolvimento de doenças.
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DISTRIBUIÇÃO
Expedição
A distância entre o local de produção e o de consumo é por vezes muito
grande sendo necessário transporte refrigerado. O transporte com tem-
peratura controlada tem custos muito superiores aos do transporte à tem-
peratura ambiente, por isso a optimização dos veículos é ainda mais
importante.
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Esta prática deve ser evitada porque como o sistema de frio está dimen-
sionado apenas para manter a temperatura, o arrefecimento é lento.
VENDA
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BIBLIOGRAFIA
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ANEXO I
Normas Oficiais de Qualidade para o Morango
(Regulamento CE nº 899/87, de 30 de Março)
1. Definição do Produto
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2.2. Classificação
Os morangos são objecto de uma classificação em três categorias a seguir
definidas:
a) Categoria “Extra”
Os morangos classificados nesta categoria devem ser de qualidade supe-
rior. Devem apresentar a coloração e a forma típicas da variedade e devem
ser particularmente uniformes e regulares do ponto de vista do grau de
maturação, coloração e tamanho.
b) Categoria I
Os morangos classificados nesta categoria devem ser de boa qualidade e
apresentar as características do tipo varietal.
c) Categoria II
Esta categoria inclui os morangos que não podem ser classificados nas
categorias superiores mas que correspondem às características mínimas
acima definidas.
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a) Categoria extra
5 % em número ou em peso de morangos que não correspondam às
características da categoria, mas são conformes às exigências da cate-
goria I ou sejam, excepcionalmente, admitidos nas tolerâncias desta
categoria. No âmbito desta tolerância, os frutos deteriorados são limitados
a 2 %.
b) Categoria I
10 % em número ou em peso, de morangos que não correspondam às
características da categoria, mas são conformes às da categoria II ou
excepcionalmente admitidas nas tolerâncias desta categoria. No âmbito
desta tolerância, os frutos deteriorados são limitados a 2 %.
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c) Categoria II
10 % em número ou em peso de morangos que não correspondam às
características da categoria nem às características mínimas, com
exclusão dos produtos afectados por podridão, pisaduras pronunciadas
ou de qualquer outra alteração que os tornem impróprios para consumo.
5.1. Homogeneidade
O conteúdo de cada embalagem deve ser homogéneo e deve incluir ape-
nas frutos da mesma origem, variedade e qualidade.
5.2. Acondicionamento
Os morangos devem ser acondicionados de modo a assegurar uma pro-
tecção conveniente do produto.
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6.1. Identificação
Embalador e/ou expedidor – nome e endereço ou identificação simbólica
emitida ou reconhecida por um serviço oficial. Todavia, sempre que seja
utilizado um código (identificação simbólica), a menção “embalador e/ou
expedidor (ou uma abreviatura equivalente)” deve ser indicada na
proximidade deste código (identificação simbólica).
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