Tese Final Ricardo PPE 2019
Tese Final Ricardo PPE 2019
Tese Final Ricardo PPE 2019
Rio de Janeiro
Março de 2019
POTENCIAL DO SISTEMA DIESEL ELÉTRICO PARA A REDUÇÃO DO
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL FÓSSIL EM EMBARCAÇÕES DE PESCA: UM
ESTUDO DE CASO DO CONSUMO DE ENERGIA DA FROTA DE ESPINHEL DE
FUNDO DO RIO DE JANEIRO
Examinada por:
________________________________________________
Prof. David Alves Castelo Branco, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Maurício Cardoso Arouca, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Marcos Aurélio Vasconcelos Freitas, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Luiz Antônio Vaz Pinto, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Bruno Soares Moreira Cesar Borba, D.Sc .
iii
Agradecimentos
iv
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
Março/2019
v
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
March/2019
This thesis concerns a model of the fuel consumption and emissions from the
bottom longline fishing fleet at Rio de Janeiro State, Brazil with data comprised vessel
and engine characteristics, fuel consumption, landings and fishing trip duration of
seventeen longliners operating in Rio de Janeiro between 2015 and 2016. The
operational pattern was investigated for this fleet, based on an empirical approach to
model the propulsion power requirements of the typical longliner fishing vessel, for
diesel and electric diesel systems, comparing them in terms of fuel consumption and
GHG emissions.
The results of estimated required power for the diesel system revealed that the
engines used are much more powerful than necessary, indicating a potential reduction in
fuel consumption only with the installation of smaller engines.
However, when the operational pattern evaluation is taken into account, it
indicates the future potential for diesel-electric propulsion for longliner fishing vessels,
as a result of a reduction in fuel consumption.
vi
Sumário
1. Introdução ................................................................................................................... 1
vii
3.3.4 Sistemas de propulsão elétrico e híbrido ............................................................... 48
5.3 Métodos de estimativa do consumo de energia para propulsão por etapas de uma
viagem de pesca .............................................................................................................. 83
viii
5.6 Análise e comparação da intensidade do uso de combustível da frota de espinhel de
fundo ............................................................................................................................... 95
6.1 Metodologia de seleção do motor e sistema propulsor de uma embarcação típica 101
6.1.4 Cálculo da potência total instalada e aplicação das margens de serviço ............. 119
6.2.4 Estimativa da potência total instalada utilizando o sistema diesel convencional 130
6.2.5 Estimativa da potência total instalada utilizando o sistema diesel elétrico ......... 132
7.3 Comparação do consumo de energia dos diferentes sistemas de propulsão para uma
embarcação típica de espinhel ...................................................................................... 141
ix
7.3.1 Consumo equivalente de energia do sistema de conservação do pescado .......... 143
Anexo II - Características dos motores utilizadas para estimar o CEC das embarcações.
.................................................................................................................................... 168
x
Índice de Figuras
Figura 2.21 - Perdas energéticas em barco de pesca de arrasto de pequena escala ....... 28
xi
Figura 3.3 - Sistema turbo elétrico ................................................................................ 46
Figura 4.2 - Parâmetros físicos da frota pesqueira do Rio de Janeiro: 2010/2012 ........ 66
Figura 5.2 - Distribuição do tempo gasto em cada etapa de uma viagem típica de
pesca ............................................................................................................................... 82
Figura 6.3 - Representação polinomial dos coeficientes Kt e Kq dos hélices da Série B111
Figura 6.4 - Diagrama em águas abertas de um hélice da série sistemática B .......... 111
xii
Figura 6.8 - Etapas necessárias para estimar a potência instalada .............................. 120
Figura 6.11 – Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,6 metros ...... 125
Figura 6.12 - Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,65 metros..... 125
Figura 6.13 - Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,7 metros....... 126
Figura 6.14 - Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,75 metros..... 126
Figura 6.15 - Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,8 metros....... 127
Figura 6.16 - Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,85 metros..... 127
Figura 6.17 - Variação da eficiência em águas abertas e rotação com a relação P/D do
propulsor selecionado ................................................................................................... 129
Figura 7.1 - Percentual de potência utilizada pelos geradores por etapas de pesca .... 140
xiii
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 - Revisão dos principais conceitos que definem a pesca artesanal. ........... 10
Tabela 5.1 - Parâmetros das embarcações da pesca de espinhel de fundo que operam
no Estado do Rio de Janeiro ........................................................................................... 80
Tabela 5.2 - Resumo dos dados de desempenho da frota de espinhel de fundo ......... 81
Tabela 5.4 - Consumo de combustível total de uma viagem de pesca estimado pelos
diferentes métodos para cada embarcação...................................................................... 89
Tabela 5.9 - Fatores de emissão e Global Warming Potential (GWP) por GEE
diferentes do CO2 ........................................................................................................... 99
Tabela 6.3 - Planilha de dados de cálculos pelo Método Holtrop e Mennem ............. 105
xiv
Tabela 6.5 - Resultados ótimos para os propulsores selecionados .............................. 124
Tabela 6.7 - Balanço Elétrico dos grupos consumidores para cada condição de
operação ........................................................................................................................ 130
Tabela 6.8 - Resultados da aplicação das margens de serviço na potência e rpm para o
sistema diesel ................................................................................................................ 132
Tabela 6.9 - Potências requeridas nos equipamentos do sistema diesel elétrico ......... 134
Tabela 6.10 - Resultados da aplicação das margens de serviço na potência e rpm para
o sistema diesel elétrico ................................................................................................ 135
Tabela 7.3 - Cálculo do consumo por etapas de uma viagem típica de pesca: Sistema
diesel “convencional”. .................................................................................................. 138
Tabela 7.5 - Cálculo do consumo de diesel dos geradores em cada etapa de pesca .... 140
Tabela 7.6 - Cálculo do consumo por etapas de uma viagem típica de pesca: Sistema
diesel elétrico. ............................................................................................................... 141
Tabela 7.9 - Emissões de GEE por etapas de uma viagem de pesca ........................... 146
xv
Lista de Siglas
Ae – Área expandida
Ao – Área do quadrante
Ap – Área projetada
CEC – Consumo específico de combustível
CH4 – Metano
CO2e – Dióxido carbono equivalente
D – Diâmetro do propulsor
Ee – Erro de estimativa
EPAM – Erro percentual xvimerican médio
FAO –Food and Agiculture Organization of the United Nations
FIPERJ – Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro
GEE – Gases de efeito estufa
IPCC - - Intergovernmental Panel on Climate Change
IUC – Intensidade do uso de combustível
J – Coeficiente de avanço
Kq – Coeficiente de torque
Kt – Coeficiente de empuxo
Lwl – Comprimento na linha de flutuação
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MCA – Motor de combustão auxiliar
MCI – Motor de combustão interna
MCP – Motor de combustão principal
N2O – Óxido Nitroso
ηd – Eficiência propulsiva
ηh – Eficiência do casco
ηo – Eficiência em água aberta
ηp – Eficiência do propulsor
ηrr – Eficiência rotativa relativa
ηt – Eficiência de transmissão;
P/D – Razão passo-diâmetro
Pa – Pressão atmosférica
Pd – Potência entregue ao propulsor (Delivered Power)
xvi
Pe – Potência efetiva
Pm – Potência fornecida pelo motor
Pt – Potência de empuxo
Q – Torque
Ρ – densidade do fluido
σ – Número de cavitação
RPM – Velocidade de rotação do motor (revoluções por minuto)
Rt – Resistência total da embarcação
T – Força de empuxo
t – Coeficiente de redução da força propulsora
τc – Coeficiente de Burril
Va – Velocidade de avanço
Vs – Velocidade de serviço
w – Coeficiente de esteira
xvii
1. Introdução
1.1 Considerações iniciais
O uso de energia tem um papel fundamental na viabilidade da atividade
pesqueira, na medida em que esta é altamente dependente do consumo de combustível
fóssil para satisfazer suas necessidades energéticas (DRISCOLL; TYEDMERS, 2010;
HUA; WU, 2011; MUIR, 2015). Estima-se que, em 2014, a frota pesqueira mundial era
de aproximadamente 4,6 milhões de embarcações, com 64% equipadas com motores de
combustão interna FAO (2016).
Em nível global, os custos com combustíveis representam de 30% a 50% dos
custos totais das frotas pesqueiras e podem representar 20-30% do valor total da
captura, com um consumo maior nas pescas em pequena escala e em países em
desenvolvimento (BASURKO; GABIÑA; URIONDO, 2012; GABIÑA et al., 2016;
PARKER; TYEDMERS, 2015; VAN BEEK; VAN DER STEENHOVEN, 2005). Em
2001, estimativas apontavam que o custo com combustível representava 21% da receita
obtida com as capturas desembarcadas, enquanto que em 2008, durante o período de
alta dos preços do combustível, este número aumentou para 50%, MUIR (2015).
CHEILARI et al. (2013) estimaram para o ano de 2008, uma emissão de 10
milhões de toneladas de CO2 equivalentes a aproximadamente 3,7 bilhões de litros de
combustível queimado por 54 diferentes frotas pesqueiras da União Europeia.
Como consequência da crescente preocupação com os custos e os impactos no
meio ambiente causados pelo uso de combustíveis fósseis, pode-se perceber um
interesse crescente na busca por novas tecnologias com consumo mais racional de
energia.
Diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento estão sendo realizados em
todo o mundo, com o objetivo de identificar o perfil de consumo energético de
diferentes tipos de embarcações pesqueiras e reduzir o uso de combustível (BASURKO;
GABIÑA; URIONDO, 2013; FERNÁNDEZ et al., 2010; GULBRANDSEN, 2012;
LOGASON, 2015; NOTTI; SALA, 2012; SALA; DE CARLO; BUGLIONE, 2010;
SCHAU et al., 2009).
O consumo de combustível de uma embarcação de pesca depende de seu perfil
operacional e da modalidade de pesca empregada (KARLSEN, 2012; SUURONEN et
al., 2012; THRANE, 2008). Algumas modalidades de pesca exigem manobras
1
frequentes das embarcações, o que confere a elas uma demanda de potência de
propulsão altamente variável nos diferentes estágios de operação da atividade de pesca.
Isto faz com que os motores não operem no seu ponto ótimo para o perfil operacional da
embarcação (FERNÁNDEZ et al., 2010).
A pesca de espinhel possui um perfil operacional característico, que combina
períodos de alta velocidade (lançamento e recolhimento das linhas), com períodos de
baixa demanda de energia (espera), além dos períodos de navegação entre as zonas de
pesca em uma velocidade maior. Com isso, suas embarcações possuem grande potencial
para redução do consumo de combustível através da utilização de sistemas de propulsão
mais adequados ao seu modo de operação, como a propulsão diesel elétrica ou híbrida
(FERNÁNDEZ et al., 2010; LOGASON, 2015).
Para fins de delimitação de escopo, nesta tese, a propulsão diesel elétrica será
definida como um sistema em que os propulsores são acionados por motores elétricos
alimentados por grupos geradores diesel compostos por motores de combustão interna
(MCI) e geradores elétricos. Já a propulsão híbrida faz referência a um sistema de
propulsão diesel elétrico combinado com um equipamento de armazenamento e
fornecimento de energia (normalmente um banco de baterias).
2
- Aplicar uma abordagem empírica para modelar as potências de propulsão
exigidas por uma embarcação típica da peca de espinhel para os sistemas diesel e diesel
elétrico, comparando-os quanto ao consumo de combustível e a emissão de GEE de
acordo com o seu perfil operacional.
- Comparar o desempenho no uso de energia da frota de espinhel de fundo
brasileira com as principais modalidades de pesca empregadas no mundo, através do
indicador de eficiência energética “IUC” (Intensidade do Uso de Combustível), que
relaciona a quantidade de combustível consumido e o total de pescado capturado por
uma embarcação em uma viagem de pesca.
As emissões de GEE das embarcações foram calculadas com base no método
‘Tier 1’ e os fatores de emissão water-borne navigation, incluídos nos fatores de
emissão de combustão móvel, fornecidos pelo Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas – Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Este
estudo estimou as emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso
(N2O), que representam cerca de 95% das emissões dos sistemas de energia conduzidos
pela combustão de combustíveis fósseis (IPCC et al., 2006; PARK et al., 2015).
3
posteriormente, possa ser feita a comparação da performance energética das principais
modalidades de pesca com a modalidade analisada nesta tese.
O terceiro capítulo será destinado a apresentar um histórico das tecnologias de
propulsão empregadas no setor marítimo, começando com uma breve descrição da
evolução histórica dos sistemas de propulsão utilizados e as denominações dos
principais componentes de uma instalação de propulsão marítima. Em seguida, será
definido o modo de funcionamento dos principais sistemas de propulsão, com ênfase
para o sistema elétrico, onde serão apresentadas suas principais vantagens e
desvantagens de operação.
No quarto capítulo será feita uma caracterização e quantificação do setor
pesqueiro fluminense, em que será explicitado o contexto de atuação das diferentes
modalidades de pesca encontradas no Estado do Rio de Janeiro e sua importância na
produção pesqueira nacional. Serão detalhadas as características, equipamentos e modo
de operação da pesca de espinhel de fundo para, por fim, apresentar as razões que
levaram a escolha deste tipo de arte de pesca para as análises deste estudo.
O quinto capítulo irá apresentar a metodologia utilizada para estimar o consumo
de energia e as emissões de GEE da frota de espinhel de fundo, com base em dados
coletados em uma pesquisa de campo realizada no Estado do Rio de Janeiro.
Inicialmente será definido um perfil operacional característico de uma viagem de pesca
típica, dividindo-a em diferentes etapas. Isto possibilitou estimar o consumo de
combustível por etapas, após a apresentação e comparação de quatro métodos de
estimativa testados. A escolha de utilizar diferentes métodos para estimar consumo de
combustível foi fundamentada na possibilidade de explorar as diferenças encontradas
nos resultados obtidos com cada método e determinar o mais adequado para realizar as
estimativas de uma frota específica, por etapas de uma viagem de pesca, com base nos
dados disponíveis e no perfil operacional da modalidade de pesca analisada.
A partir dos dados coletados na pesquisa de campo, também será realizada uma
análise referente à energia consumida para a conservação do pescado capturado, feita
exclusivamente com gelo fabricado em terra e levado a bordo. Foi definido um
indicador que representa a relação gelo consumido/captura desembarcada, com o
objetivo de avaliar a eficiência energética do método de conservação do pescado, a
partir do cálculo do consumo de energia necessário para a produção do gelo embarcado.
4
Em seguida, será feita a comparação da performance energética da frota
analisada neste trabalho com frotas pesqueiras de outros países, a partir da IUC
apresentada e discutida no capítulo 2. Finalmente, na última seção será exposto o
método utilizado para estimar as emissões de GEE, com a especificação dos parâmetros
utilizados em sua formulação.
No capítulo 6, será demonstrada a abordagem empírica e os resultados obtidos
para o dimensionamento da motorização total nos sistemas diesel e diesel elétrico de
uma embarcação típica da frota de espinhel de fundo como proposta de uso mais
racional de energia, com vistas à redução do consumo de combustível fóssil.
Deste modo, no capítulo 7 o consumo de combustível e a emissão de GEE nos
sistemas diesel e diesel elétrico da embarcação típica, de acordo com o perfil
operacional da frota analisada no capítulo 5, serão estimados e comparados para que no
oitavo capítulo sejam realizados os comentários finais da pesquisa e as recomendações
para trabalhos futuros.
O fluxograma a seguir mostra de forma esquemática todos os processos de
cálculos realizados, com base nos dados obtidos das características físicas e
operacionais da frota de espinhel de fundo em uma pesquisa de campo realizada no
município de Niterói, Rio de Janeiro.
5
Pesquisa de Campo - Frota de
Espinhel de Fundo do RJ
Comparação
Métodos de Sistema Sistema Diesel
Refrigeração: Diesel Elétrico
Gelo x Porão
Refrigerado
Estimativa consumo
Escolha do de combustível e
Método de emissões de GEE
Estimativa - EPAM
Estimativa
do Balanço
Elétrico
Comparação do Consumo de
Energia e Emissões de GEE
6
2. Definições e características da atividade pesqueira
2.1 Definição da atividade de pesca
A pesca é considerada uma antiga e importante atividade humana em muitos
países, praticada pelo homem desde a pré-história e contribuindo com a economia,
cultura, geração de empregos e o suprimento de alimentos de diversas comunidades.
A atividade pesqueira envolve uma série de fatores (histórico-culturais,
ambientais, sociais, políticos e econômicos). Portanto, uma questão importante quando
se trata da pesca é a heterogeneidade de sua atividade que pode ser dividida em
diferentes categorias, de acordo com a sua finalidade econômica e social.
A atividade de pesca pode ser definida segundo diversos aspectos, como os
meios ou equipamentos utilizados, sua finalidade e o tipo de mão de obra empregada.
No Brasil, a Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 – Lei Geral da Pesca, que institui a
atual Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca
define a atividade pesqueira nacional de acordo com as seguintes categorias (BRASIL,
2009):
I. Comercial
a) Pesca Artesanal: quando praticada diretamente por pescador
profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de
produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar
embarcações de pequeno porte1;
b) Pesca Industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e
envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-
partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade
comercial;
II. Não comercial
a) Pesca científica: quando praticada por pessoa física ou jurídica, com a
finalidade de pesquisa científica;
1
Os critérios de definição do porte das embarcações são estabelecidos pela referida Lei nº 11.959/2009.
As embarcações de pequeno porte são aquelas que possuem arqueação bruta (AB) igual ou menor que 20
(vinte). As de médio porte possuem AB maior que 20 (vinte) e menor que 100 (cem), enquanto as de
grande porte possuem AB igual ou maior que 100 (cem).
7
b) Pesca amadora: quando praticada por brasileiro ou estrangeiro, com
equipamentos ou petrechos previstos em legislação específica, tendo por finalidade o
lazer ou o desporto;
c) Pesca de subsistência: quando praticada com fins de consumo
doméstico ou escambo sem fins de lucro e utilizando petrechos previstos em legislação
específica.
Entretanto, a definição de pesca artesanal e industrial não é divida de forma
objetiva e clara, podendo ser modificada de acordo com o Estado ou a região, não
existindo um consenso acerca das características que as distinguem (LOPES, 2004)
apud (SILVA; AZEVEDO; FERREIRA, 2012). Definir a pesca que utiliza barcos de
pequeno porte, movidos a motor de baixa potência, remo ou vela como pesca artesanal,
no entanto, parece senso comum. Do mesmo modo, a pesca que utiliza grandes
embarcações com alguma tecnologia e grande poder de conservação e armazenamento
do pescado, geralmente é definida como industrial (LOPES, 2004).
(DIEGUES, 1983) divide a pesca empresarial/industrial em duas subcategorias:
a desenvolvida por armadores de pesca e a empresarial ou industrial.
A pesca industrial desenvolvida por armadores de pesca, pessoas físicas ou
jurídicas, caracteriza-se pelo fato de os proprietários das embarcações e dos petrechos
de pesca, no caso os armadores, não participarem de modo direto do processo
produtivo, função delegada ao mestre da embarcação. As embarcações utilizadas são de
maior porte e raio de ação que aquelas utilizadas pela pequena escala, além de exigirem
certa divisão de trabalho entre os tripulantes: mestre, cozinheiro, gelador, maquinista,
pescador, etc. São motorizadas, e dispõem, ainda, de equipamentos auxiliares à pesca,
que demandam algum treinamento formal para determinadas funções que, no entanto,
não substituem completamente o saber-fazer dos pescadores e, sobretudo, do mestre que
o emprega.
Na pesca industrial, considerada empresarial, a empresa é proprietária, tanto das
embarcações, como dos petrechos de pesca. É organizada em diversos setores e, em
alguns casos, integra verticalmente as etapas de captura, beneficiamento e
comercialização do pescado. As embarcações dispõem de mecanização não apenas para
propulsão, mas também para o desenvolvimento das fainas de pesca como o lançamento
e recolhimento de redes, e, em alguns casos, beneficiamento do pescado a bordo, o que
não acontece com as artesanais. Encontram-se a bordo equipamentos eletrônicos de
8
localização de cardumes, auxilio a navegação, etc. A mão-de-obra, embora recrutada,
em sua maioria, entre pescadores de pequena escala, ou nos barcos de armadores,
necessitam de treinamento específico para a operação da maquinaria que vem substituir
de maneira mais profunda o saber-fazer adquirido pela tradição.
Segundo GIULIETTI; ASSUMPÇÃO (1995), a pesca industrial é do tipo
empresarial, com embarcações de grande tonelagem e motorizadas, cuja tecnologia de
captura é desenvolvida com alta capacidade produtiva e em áreas distantes da costa,
com grande autonomia de navegação. Normalmente é direcionada à captura de
determinadas espécies, como camarão, de alto valor unitário; sardinha, capturada em
grandes volumes, mas com valor unitário baixo, assim como a pescada, corvina,
merluza entre outras.
Para REBOUÇAS; FILARDI; VIEIRA (2006), as atividades de pesca artesanal
contrastam com este cenário marcado pelo viés produtivista. Este mesmo autor afirma
que, apesar da ocorrência de práticas ilegais e predatórias, predomina a utilização de um
conjunto diversificado de técnicas eficientes e de baixo impacto sobre os ecossistemas
marinhos costeiros.
A distinção entre pesca artesanal e industrial não deve apenas estar atrelada à
questão do instrumental tecnológico empregado nas capturas e sim nas formas de
organização social das pescarias. A questão conceitual acerca da pesca é ampla,
envolvendo diversas modalidades de técnicas, modos de apropriação dos recursos
pesqueiros, formas de organização da produção e distribuição dos rendimentos NETO
(2009); CARDOSO (2001) apud NETO (2009).
Inúmeros trabalhos são encontrados com diferentes definições de pesca artesanal
e industrial. No entanto subdividir a atividade pesqueira simplesmente em artesanal ou
industrial é discutível, uma vez que nem sempre se pode contar com uma fronteira
claramente definida entre essas categorias LOPES (2004). A tabela 2.1 apresenta
algumas subcategorias de pesca artesanal definidas por diversos autores.
9
Tabela 2.1- Revisão dos principais conceitos que definem a pesca artesanal.
Autor Ano Termo Descrição
Utilizado
Trabalha sozinho ou com mão de obra familiar ou não assalariada;
Local de pesca próximo à costa;
Pesca Embarcação com pouca autonomia de rendimento;
Diegues 1973
Artesanal A produção destina-se ao mercado.
10
Trabalho com força familiar ou grupos de vizinhança;
Pesca
Pasquotto 2005 Pequenas embarcações; os pescadores detêm total ou
Artesanal
parcialmente os meios de produção.
Pesca Baixo incremento tecnológico, barcos motorizados ou não, 5 a 9 m
Costeira e de comprimento.
Mendonça 2007
Estuarino
Lagunar
Praticada diretamente por pescador profissional, de forma
autônoma ou em regime de economia familiar;
Comercial
Brasil 2009 Com meios de produção próprios ou mediante contrato de
Lagunar
parceria, desembarcado;
Embarcações de pequeno porte.
A pesca se realiza única e exclusivamente com base no trabalho
Pesca manual do pescador;
Silva 2010
Artesanal As tecnologias empregadas são rudimentares;
A produção não é estocada.
Fonte: (SILVA; AZEVEDO; FERREIRA, 2012).
2
Desde 2016, o Ministério das Pesca e Aquicultura foi extinto e incorporado ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para mais informações, ver:
http://www.agricultura.gov.br/assuntos/pesca-e-aquicultura.
3
Disponível em http://www.mpa.gov.br/101-apresentacao/250-o-diagnostico-da-pesca-extrativa-no-brasil
11
casos até o processamento da carga a bordo, muitas vezes em condições climáticas
adversas. Todos estes fatores conferem às frotas pesqueiras características de
embarcações especializadas, onde suas dimensões, capacidade de armazenamento de
carga, acomodações, máquinas e equipamentos estão relacionados ao cumprimento de
suas operações.
A concepção de uma embarcação de pesca é definida de acordo com os
seguintes parâmetros “FAO Fisheries & Aquaculture - Fisheries technology” (2017):
Os tipos de espécies, localização, abundância e dispersão dos recursos
pesqueiros;
Os métodos e os petrechos de pesca utilizados;
As características climáticas e geográficas do local de pesca;
As condições de navegação e segurança da tripulação;
O manuseio, processamento e armazenamento da captura;
A disponibilidade de financiamento;
A disponibilidade de construtores e expertise em barcos de pesca;
Leis e regulações aplicáveis a projetos, construção e equipamentos de
embarcações pesqueiras;
A escolha e a disponibilidade de materiais adequados para a construção;
Viabilidade econômica.
Devido às variações inerentes a cada um destes fatores, as frotas pesqueiras que
operam em todo o mundo possuem grande diversidade, podendo variar desde pequenas
canoas de 2 metros de comprimento até embarcações de mais de 100 metros, com
viagens de pesca que podem durar poucas horas ou até alguns meses.
12
Padrão das Artes de Pesca (ISSCFG – International Standard Statistical Classification
on Fishing Gears), que serão detalhadas a seguir.
13
3. Redes de arrasto: são redes em forma de cone, fechadas por um saco e
estendidas em suas aberturas por duas asas. Podem ser rebocadas por um ou dois barcos
e operam no fundo ou meia-água. A pesca que utiliza este tipo de rede é dividida em
categorias, de acordo com o tipo de equipamentos utilizados e a quantidade de
embarcações ou redes. Quanto à profundidade, são classificadas como arrasto de fundo
ou meia-água. Ambas podem ser classificadas como beam trawls, arrasto simples,
arrasto de parelha ou arrasto duplo.
No caso da pesca com rede de arrasto denominada beam trawls, a abertura
horizontal da rede é mantida por uma viga, feita de madeira ou metal com comprimento
maior ou igual a dez metros.
Já no arrasto simples (otter trawls) a rede é rebocada por uma única embarcação
e sua abertura é mantida por duas hidroportas, relativamente pesadas, em sua maioria,
feitas de aço e variam de tamanho e peso segundo as dimensões da rede e potência do
motor da embarcação.
14
Outro tipo de modalidade de arrasto utilizada é o arrasto de parelha (pair
trawls), onde a abertura da rede é mantida pela distância entre duas embarcações, cada
uma puxando um cabo unido às asas da rede por brincos, sem a utilização de portas. São
redes providas com asas mais longas e maior abertura vertical (altura da boca da rede)
que as redes utilizadas nas outras modalidades de arrasto.
Por fim, o arrasto duplo ou de tangones (double rig trawl) compreende duas
redes idênticas arrastadas por uma mesma embarcação. Os tangones são estruturas
utilizadas pelas embarcações para realizar o arrasto simultâneo das redes.
15
4. Dragas: são dispositivos arrastados no fundo do mar para capturar
mariscos. Normalmente possui uma boca feita de metal com um saco de malha preso.
As redes de maiores dimensões são puxadas por barcos, enquanto as menores podem ser
puxadas manualmente.
16
Figura 2.8 – Rede elevadiça operada por embarcação.
Fonte: AFONSO (2013).
17
deriva por meio de flutuadores. No emalhe de meia-água ou de fundo, a rede fica
fundeada por meio de âncoras ou cabos de lastro e sinalizada por boia na superfície. Um
tipo de rede muito utilizada em águas interiores (lagoas e represas) é a rede de emalhe
de cerco (encircling gillnets), também chamada de rede de volta/bate bate, em que os
peixes são cercados pelo petrecho e, em seguida, os pescadores batem com os remos na
parte interior da rede para os peixes ficarem emalhados. Vários tipos de redes podem ser
combinados em um mesmo aparelho (por exemplo, redes de emalhe combinadas com
tresmalho).
As redes de tresmalho são constituídas por três panos de redes sobrepostas: duas
alvitanas (panos externos) confeccionados com fio mais grosso e malhas maiores e um
miúdo (pano interno) com linha mais fina e malhas menores. Quando os peixes
atravessam uma das grandes malhas da alvitana, ficam emalhados na panagem menor, o
que confere a este tipo de pesca uma alta eficiência na captura de peixes de tamanhos
variados. As figuras 2.10 a 2.12 abaixo ilustram os tipos de redes descritas
anteriormente:
18
Figura 2.11 – Rede de emalhe de cerco.
Fonte: ICMBIO - CEPESUL/IBAMA (2017).
19
Figura 2.13 – Cerco fixo.
Fonte: ICMBIO - CEPESUL/IBAMA (2017).
O cerco flutuante é similar ao cerco fixo no que diz respeito à forma e função.
Geralmente são constituídos por grandes redes ancoradas ou fixadas por estacas, abertas
na superfície e providas de dispositivos de diversos tipos para orientar e reter os peixes
na armadilha (figura 2.14).
20
colocadas no fundo com ou sem iscas, individualmente ou em série, conectados por
linhas à boias na superfície para a localização do aparelho.
21
Figura 2.16 – Linha de mão.
Fonte: ICMBIO - CEPESUL/IBAMA (2017).
O Espinhel é um tipo de pesca que utiliza longas linhas e anzóis com iscas para a
atração dos peixes. É formado pela linha principal (linha madre), linhas secundárias
(alças) e anzóis, podendo ser horizontal ou vertical. O espinhel fixo ou de fundo (bottom
longline) é mantido fundeado por meio de poitas e sustentado por boias que também
servem para sua localização. As extremidades da linha madre são presas aos cabos que
ligam a boia às poitas (arinques).
No espinhel flutuante ou de superfície (22merican longline), boias luminosas são
colocadas nas extremidades do aparelho para facilitar sua localização, uma vez que
tanto o barco como o aparelho ficam à deriva durante toda a operação de pesca e
sujeitos à ação das correntes marítimas e ventos.
22
Figura 2.18: Espinhéis.
Fonte: AFONSO (2013).
23
Figura 2.19 – Pesca de corrico.
Fonte: HAIMOVICI (2007).
24
Figura 2.20 – Técnicas de pesca segundo a FAO.
1 – Arrasto de praia / 2 – Armadilhas de cerco ou currais / 3 – Tarrafas / 4 – Redes
elevadiças / 5 – Redes de emalhe / 6 – Espinhel de superfície / 7 – Redes de cerco
(traina) / 8 – Redes de arrasto / 9 – Covos ou potes / 10 – arrasto de fundo / 11 – Redes
de cerco (trainas) / 12 – Manzuá / 13 – Linha de mão / 14 – Emalhe de fundo / 15 –
Emalhe de superfície / 16 – Espinhel de fundo / 17 – Arrasto de fundo / 18 – Arrasto de
meia-água / 19 – Espinhel de superfície / 20 – Rede de cerco / 21 – Navio de pesca com
vara e linha.
Fonte: NÉDÉLEC; PRADO (1990)
Pela mesma Instrução Normativa, em seu artigo 3º, fica estabelecido que:
25
Art. 3º: As Modalidades de Pesca passíveis de autorização, nos termos desta
Instrução Normativa, integram, conforme suas peculiaridades ou
características operacionais, os Métodos de Pesca a seguir:
I – Linha: o que se realiza com o emprego de linha simples, com ou sem
o auxílio de caniços ou varas, ou múltipla com anzóis ou garateias
encastoados, do tipo espinhel, cuja operação requeira o auxílio de
Embarcação de Pesca.
II – Emalhe: o que se realiza com o emprego de rede-de-espera não
tracionada, à deriva ou fundeada, cujas operações de lançamento e
recolhimento requeiram o auxílio de Embarcação de Pesca.
III – Arrasto: o que se realiza com o emprego de rede-de-arrasto
tracionada, com recolhimento manual ou mecânico, cuja operação de pesca
requeira o auxílio de Embarcação de Pesca.
IV – Cerco: o que se realiza com o emprego de rede-de-cerco, com
recolhimento manual ou mecânico, cuja operação de pesca requeira o
auxílio de Embarcação de Pesca.
V – Armadilha: o que se realiza com o emprego de petrechos dos tipos
covos ou potes, cujas operações de lançamento e recolhimento requeiram o
auxílio de Embarcação de Pesca.
VI – Outros: qualquer outra Modalidade de Pesca não mencionada nos
incisos anteriores, cuja operação requeira o auxílio de Embarcação de Pesca.
26
congelamento, câmara frigorífica), modo de transporte utilizado para levar o produto
final até o consumidor, entre outros.
Entretanto, a energia consumida no processo de captura, ou seja, durante a
atividade de pesca propriamente dita, representa a maior parcela da energia demandada
em todo o processo produtivo, especialmente no uso de combustível para propulsão,
representando entre 75% e 90% do consumo total (CHEILARI et al., 2013;
GULBRANDSEN, 1986; TYEDMERS, 2004).
Porem, o perfil de consumo energético irá variar de acordo com o tipo de
embarcação pesqueira. Segundo JOHNSON (2014), tipicamente, metade da energia é
consumida no período de navegação, porem este consumo pode variar de modo
significativo (entre 8% e 55%). A energia consumida para propulsão na operação de
pesca pode variar entre 10% e 33%. Em algumas embarcações, as cargas hidráulicas
podem consumir mais de 50% da energia total e em outras, os sistemas de refrigeração
podem levar a um consumo de até 65% do total.
Normalmente, uma embarcação pesqueira atende suas demandas energéticas
para os sistemas de propulsão, elétrico, hidráulico e de refrigeração através da queima
de combustível fóssil. Portanto todos os custos destes tipos de energia estão associados
ao custo com combustível.
Com uma frota pesqueira mundial de aproximadamente 4,6 milhões de
embarcações em 2014, em que 64% são equipadas com motores de combustão interna
(FAO, 2016), o consumo de combustível e sua consequente emissão de poluentes
configura-se como uma variável chave para a viabilidade da atividade pesqueira.
O custo com combustível é o principal item entre os custos operacionais de uma
embarcação de pesca. Em nível global, os custos com combustíveis representam entre
30% e 50% dos custos totais das frotas pesqueiras e podem chegar a 20-30% do valor
total da captura, com um consumo maior nas pescas em pequena escala e em países em
desenvolvimento (BASURKO; GABIÑA; URIONDO, 2012; GABIÑA et al., 2016;
PARKER; TYEDMERS, 2015; VAN BEEK; VAN DER STEENHOVEN, 2005).
O uso de combustível fóssil também acarreta crescente preocupação sobre os
impactos no meio ambiente. Neste aspecto, a atividade de captura é a principal
contribuinte para a poluição, mesmo quando são levados em consideração diferentes
métodos de pesca, o que pode ser atribuído especificamente ao consumo de combustível
e a consequente emissão de gases de efeito estufa (SCHAU et al., 2009). (CHEILARI et
27
al., 2013) estimaram para o ano de 2008, uma emissão de 10 milhões de toneladas de
CO2 equivalentes a aproximadamente 3,7 bilhões de litros de combustível queimado por
54 diferentes frotas pesqueiras da União Europeia.
Ademais, toda a conversão da energia do combustível utilizado em trabalho útil
possui suas ineficiências inerentes. Energia é perdida sob diversas formas: calor, ruído,
vibração, fricção, conversão térmica, arrasto e resistência das ondas. Apenas cerca de
um terço da energia gerada pelo motor chega ao propulsor. A maior parte (cerca de
60%) da energia é perdida sob a forma de calor, nos gases de escape, radiação e nos
sistemas de refrigeração, e de 3% a 5% é perdida nos sistemas de transmissão. Já os
propulsores possuem eficiência em torno de 55% - 65%, devido aos efeitos de
deslizamento e cavitação (JOHNSON, 2014).
A figura 2.21 a seguir mostra a distribuição aproximada do uso da energia
gerada a partir da queima de combustível fóssil em uma embarcação típica de pesca de
arrasto de pequena escala (até 16 metros) no período de navegação (sem estar
arrastando uma rede ou draga).
Segundo (WILSON, 1999), da energia gerada pelo motor, apenas 35% chega ao
propulsor; 27% é usada para superar a resistência das ondas; 18% para vencer o atrito;
17% para superar a força de resistência no casco devido a corrente de esteira4 e 3% para
superar a resistência do ar.
4
Quando o navio está em movimento, arrasta consigo certa massa de água, em virtude do atrito do casco
na água, originando-se uma corrente chamada corrente da esteira. Ela depende da área de flutuação e,
portanto, atinge sua maior velocidade e volume na linha-d’água no navio, decrescendo até a quilha, onde
28
2.3.2 Indicadores utilizados na comparação do desempenho energético de
diferentes modalidades de pesca
Ao comparar diferentes modalidades de pesca, podemos observar perfis
diferenciados de consumo de combustível, visto que cada uma possui um perfil
operacional característico e utiliza petrechos específicos que irão influenciar em um
maior ou menor uso de combustível.
As figuras 2.22 e 2.23 exemplificam os padrões de uso de combustível em
algumas das principais artes de pesca utilizadas no mundo.
é praticamente nula. Na marcha AV a corrente da esteira origina-se na popa; ela reduz a velocidade dos
filetes líquidos resultantes do movimento do navio e uma das consequências deste fato é que o propulsor
não avança, em relação à água com a mesma velocidade do navio, mas sim com uma velocidade menor,
designada como velocidade de avanço. (FONSECA, 2005).
29
combustível
Uso de
A figura 2.22 mostra que para artes de pesca passivas, em que o petrecho
permanece estacionário no local de pesca, como nas modalidades de linha de mão, redes
de emalhe e espinhéis, o maior uso de combustível se dá no momento em que a
embarcação se desloca entre os portos e as zonas de pesca.
30
Volta
Combustível
Ida a
ao porto
Uso de
zona de pesca
Lançamento
Recolhimento
Carregamento
Combustível
Volta
Uso de
Ida a Volta
zona de pesca
ao porto
31
Segundo (BASURKO; GABIÑA; URIONDO, 2013), dois indicadores são
usualmente utilizados para avaliar o desempenho energético do setor pesqueiro: litros de
combustível consumido por tonelada de pescado desembarcado, e a produção de
proteína comestível (EROI), (SCHAU et al., 2009; TYEDMERS, 2004). O primeiro
fornece uma indicação da intensidade energética ou do uso de combustível de uma
embarcação pesqueira, enquanto o último indica a relação entre o consumo de energia
da embarcação e a produção de proteína comestível da espécie alvo (TYEDMERS,
2004).
O indicador do uso de combustível pode ser expresso em diferentes unidades ou
denominações. Como exemplo, (SCHAU et al., 2009) o denominou como um
coeficiente de uso de combustível, expresso em kg de combustível por kg de peixe
capturado. (CHEILARI et al., 2013) utilizaram dois tipos de indicadores para
representar o uso de combustível. Um denominado como intensidade energética (GJ/t) e
outro como intensidade do uso de combustível (l/t), que expressam o total de energia e a
quantidade de combustível requerido para capturar uma tonelada de pescado
respectivamente. Conhecendo-se a relação entre o poder calorífico e densidade do
combustível utilizado pela embarcação, é possível relacioná-los, já que um é uma
função linear do outro.
(TYEDMERS; WATSON; PAULY, 2005) estimaram a intensidade global do
uso de combustíveis (FUI – fuel use intensity) em 620 litros por tonelada de peixe
capturado no ano de 2000, onde o consumo total da indústria pesqueira foi de 40 bilhões
de litros. Em análises mais recentes, (PARKER; TYEDMERS, 2015) encontraram um
valor médio de FUI de 639 litros por tonelada, considerando todos os dados globais
disponíveis desde 1990 até 2014. A similaridade entre os resultados reforça as
estimativas anteriores, visto que ambos utilizaram o mesmo banco de dados – FEUD –
Fisheries and Energy Use Database.
A tabela 2.2 apresenta uma compilação dos registros da intensidade média do
uso de combustível (IUC)5das principais artes de pesca, destinadas à captura de diversas
classes de espécie alvo em diferentes regiões do mundo. Esta tabela é uma síntese da
tabela apresentada em (PARKER; TYEDMERS, 2015), que utiliza dados extraídos do
FEUD referentes a estudos de 1990 a 2014.
5
Neste estudo, será utilizada a sigla IUC (Intensidade do Uso de Combustível) para se referir ao termo
Fuel Use Intensity definido por (PARKER; TYEDMERS, 2015).
32
Tabela 2.2 – Intensidade do uso de combustível de diferentes artes de pesca,
espécies alvo e regiões.
Intensidade Média do
Grupo Zoológico Arte de Pesca Região de Pesca Uso de Combustível (l/t
peixe)
Crustáceos Arrasto de Fundo Oceania 4.125
Crustáceos Arrasto de Fundo Europa 3.083
Crustáceos Arrasto de Fundo América do Norte 1.231
Crustáceos Arrasto de Fundo África 2.600
(1)
Flatfish Arrasto de Fundo Europa 2.851
Flatfish Arrasto de Fundo América do Norte 1.084
(2)
Pelágicos Pequenos Arrasto de Meia-Água Oceania 234
Pelágicos Pequenos Arrasto de Meia-Água América do Norte 101
Crustáceos Redes de Emalhe África 630
Flatfish Redes de Emalhe América do Norte 517
Flatfish Redes de Emalhe Europa 598
(3)
Finfish Redes de Emalhe América do Norte 686
Pelagicos Grandes Redes de Emalhe Ásia 683
Pelagicos Grandes Redes de Emalhe Oceania 751
Pelágicos Pequenos Redes de Emalhe Europa 602
Pelágicos Pequenos Linhas e Anzóis Europa 323
Flatfish Linhas e Anzóis América do Norte 570
Finfish Linhas e Anzóis Europa 927
Finfish Linhas e Anzóis América do Norte 411
Finfish Linhas e Anzóis Oceania 549
Pelágicos Grandes Linhas e Anzóis Ásia 1.925
Pelágicos Grandes Linhas e Anzóis Oceania 1.676
Pelágicos Grandes Linhas e Anzóis Europa 1.745
Pelágicos Grandes Linhas e Anzóis América do Norte 1.495
Pelágicos Grandes Redes de Cerco Europa 447
Pelágicos Grandes Redes de Cerco Oceania 195
Pelágicos Grandes Redes de Cerco Ásia 156
Pelágicos Pequenos Redes de Cerco Oceania 89
Pelágicos Pequenos Redes de Cerco Europa 84
Pelágicos Pequenos Redes de Cerco América do Norte 42
Pelágicos Pequenos Redes de Cerco América Latina 10
Flatfish Redes de Cerco América do Norte 380
Crustáceos Armadilhas Oceania 3.803
Crustáceos Armadilhas América do Norte 783
Crustáceos Armadilhas Europa 834
Moluscos Armadilhas Europa 513
Fonte: Elaboração própria com base em tabela de (PARKER; TYEDMERS,
2015).
Notas: (1) Flatfish é uma categoria de peixes demersais, que possuem o corpo oval e achatado. Um
exemplo característico deste tipo de peixe na costa brasileira é o Linguado.
33
(2) Peixes Pelágicos é uma forma de classificação dos peixes quanto ao seu comportamento relativamente
à região das águas onde vivem. Os Pelágicos são peixes que vivem geralmente em cardumes, nadando
livremente na coluna de água. Fazem parte deste grupo as sardinhas e as anchovas (pequenos pelágicos) e
os atuns (grandes pelágicos).
(3) Finfish é um termo utilizado para caracterizar os “peixes com barbatanas” e diferenciá-los de outros
organismos aquáticos que não são considerados “peixes” no sentido estritamente biológico do termo,
como os crustáceos, mariscos e moluscos. Podem ser peixes ósseos, como o salmão, bacalhau e atum ou
cartilaginosos, como os tubarões e as raias.
Analisando a IUC com base nas espécies alvo e arte de pesca empregada,
podem-se notar diferenças acentuadas.
Em muitos casos, diversas modalidades de pesca podem ser utilizadas para
capturar uma mesma classe de espécies, resultando em grandes variações na eficiência
energética (THRANE, 2008; TYEDMERS, 2001, 2004; ZIEGLER et al., 2010;
ZIEGLER; HANSSON, 2003; ZIEGLER; VALENTINSSON, 2008). Como mostra a
tabela 2.2, as espécies flatfish podem ser capturadas com redes de cerco, emalhe ou
arrasto de fundo, onde o último pode exigir até 7,5 vezes mais combustíveis por
quilograma de pescado que a pesca com redes de cerco.
Com relação à pesca de grandes peixes pelágicos, também são observadas
variações na IUC. Enquanto a pesca com linhas e anzóis nas regiões da Europa, Oceania
e Ásia utiliza uma média de 1.782 l/t, a pesca destas espécies com redes de cerco
consome uma média de apenas 226 l/t nestas mesmas regiões.
Os diferentes perfis operacionais característicos de cada arte de pesca (figuras
2.23 e 2.24) podem ajudar a compreender estas variações encontradas na IUC.
Os tipos de pesca mais eficientes são aquelas destinadas à captura de pequenos
peixes pelágicos, especialmente as que utilizam redes de cerco, com valores abaixo de
100 l/t, chegando até a 10 l/t.
Como destaca (SUURONEN et al., 2012), algumas artes de pesca ativas como
redes de cerco são destinadas a captura de peixes que formam densos cardumes,
permitindo a captura de centenas de toneladas de peixes em um único lance. Deste
modo, o consumo de combustível destes tipos de pesca será pequeno em relação à
quantidade de peixe capturado.
As pescarias com menor eficiência energética são aquelas destinadas à captura
de crustáceos com armadilhas e arrasto de fundo. Outras formas de pescas mais
intensivas no uso de combustível, são as destinadas à captura de grandes peixes
pelágicos (principalmente atum) com anzóis e linhas, com uma média de 1.710 l/t. Este
34
método de pesca inclui o espinhel e outras formas de utilização de linhas e anzóis, como
a pesca de corrico.
Em uma avaliação sobre a IUC da pesca de determinadas espécies de atum, com
dados de 2009, (TYEDMERS; PARKER, 2012) encontraram uma IUC média de 1.069
l/t para a pesca de longline, enquanto que a pesca com rede de cerco apresentou uma
IUC média de 368 l/t. A pesca de corrico e vara com linha consumiram 1.107 e 1.485
l/t, respectivamente.
Apesar de não ser possível discernir a partir dos dados deste estudo se a menor
IUC da pesca de cerco é o resultado direto do tipo de arte de pesca utilizada ou das
espécies-alvo, os resultados estão em linha com outros estudos os quais constataram que
a pesca de cerco está associada com uma IUC relativamente menor, quando comparada
com a pesca de espinhel (TYEDMERS; PARKER, 2012).
Uma potencial explicação para a alta IUC destas pescas está relacionada com os
padrões migratórios do atum. Estas espécies possuem intenso processo de migração, o
que faz com que as embarcações de corrico e varas com isca-viva, destinadas a sua
captura, tenham que acompanhar a migração espaço-temporal desta espécie percorrendo
maiores distâncias (BASURKO; GABIÑA; URIONDO, 2013). Isto torna as viagens de
pesca mais irregulares em termos de duração e uso do motor, comparadas a outras artes
de pesca, como o arrasto e as redes de emalhe.
Deste modo, ao avaliar o emprego de distintas artes de pesca na captura de
determinadas espécies, além do padrão de uso do motor determinado pelo perfil
operacional de cada modalidade de pesca, é preciso levar em consideração na análise da
IUC, as características de concentração, dispersão e padrão de migração das espécies-
alvo.
Já as variações na IUC entre regiões são menos evidentes que as encontradas
entre as espécies alvo e artes de pesca utilizadas. Pode-se observar que a região da
Oceania possui uma IUC relativamente alta, devido, principalmente, às pescas de
crustáceos praticadas na Austrália, que são mais intensivas no uso de combustível
(PARKER; TYEDMERS, 2015).
Contudo, diversos fatores além do tipo de arte de pesca utilizada e sua espécie
alvo são essenciais para explicar as diferenças encontradas na IUC (CHEILARI et al.,
2013; GULBRANDSEN, 2012; MESSINA; NOTTI, 2007; NOTTI et al., 2012):
distância dos portos às zonas de pesca, estrutura e dimensões da embarcação
35
(comprimento, boca, material do casco, arqueação bruta, etc), características do motor
(potência, consumo específico de combustível, idade, etc) e variações no preço da
energia e do peixe.
Portanto, as mudanças observadas nas IUC ao longo dos últimos anos podem ser
compreendidas segundo três aspectos principais: técnicos (relacionados às
características e desenvolvimento tecnológico das embarcações e seus motores);
econômicos (variações no preço da energia e do pescado, relacionados à viabilidade
econômica da pesca) e aqueles relacionados à gestão da atividade pesqueira (p.
exemplo, a redução da capacidade de pesca, de modo a aumentar o estoque de alguns
recursos pesqueiros sobreexplotados).
O consumo de combustível de uma embarcação está fortemente relacionado com
a potência entregue pelo seu motor, que está diretamente relacionada com a resistência
ao avanço e sua velocidade6. Além disso, a geometria e deslocamento do casco e sua
combinação com a caixa de redução e o propulsor são aspectos determinantes na
quantidade de combustível requerida.
Pequenas modificações na forma do casco podem provocar variações
significativas na resistência ao avanço de uma embarcação. Com isso, diferentes tipos
de cascos de uma mesma frota irão exigir grandes variações na quantidade de potência
requerida para alcançar a mesma velocidade, (MESSINA; NOTTI, 2007).
Com relação ao motor, os avanços tecnológicos experimentados nas últimas
décadas permitiram alcançar reduções no consumo específico de combustível (a
quantidade de consumo necessária para produzir a mesma potência). Pode-se estimar
uma redução de aproximadamente 10% no consumo específico de combustível de
motores novos nos últimos trinta anos, (NOTTI et al., 2012). Além disso, é importante
ressaltar que, quanto maior a potência do motor, maior será o consumo de combustível.
Isto torna fundamental a seleção adequada do motor para o sistema de propulsão de uma
embarcação, de modo a otimizar o uso de combustível.
Já os preços do combustível e do pescado irão impactar sobremaneira a
viabilidade econômica da pesca, devido a grande representatividade dos custos com
combustíveis na composição dos custos totais da pesca.
6
No capítulo 5 será explicado o conceito da resistência ao avanço total, suas principais componentes e
sua relação com a velocidade e potência da embarcação.
36
O custo do combustível representa o principal item entre os custos operacionais
da pesca. Em 2001, estimativas apontavam que o custo com combustível representava
21% da receita obtida com as capturas desembarcadas, enquanto que em 2008, durante
o período de alta dos preços do combustível, este número aumentou para 50%, (MUIR,
2015).
Entre 1990 e 2005, os preços dos combustíveis mais baixos incentivaram o uso
de motores de alta potência e artes de pesca como o arrasto e outras que operam em alto
mar na captura de espécies de elevado valor, como o atum (GULBRANDSEN, 2012).
Baseado em uma série de estudos referentes à IUC, (TYEDMERS, 2004)
identificou que a eficiência energética em diversas frotas pesqueiras ao redor do mundo
teve um declínio no final da década de 90 e início dos anos 2000. Apesar dos
desenvolvimentos tecnológicos em equipamentos de localização de estoques pesqueiros,
esta redução de eficiência ocorreu principalmente devido à considerável sobrepesca de
muitos estoques de recursos pesqueiros neste período (MUIR, 2015). Em análises
referentes a frotas pesqueiras da Noruega, (SCHAU et al., 2009) chegaram a conclusões
similares.
O aumento no preço do combustível a partir de 2008, juntamente com o declínio
dos estoques de recursos pesqueiros, incentivou uma racionalização no uso de
combustível com inovações tecnológicas, redução da capacidade de pesca e o emprego
de artes de pesca com menor intensidade energética. Esta conjuntura tem provocado,
nos últimos anos, uma tendência de queda na IUC de algumas frotas pesqueiras da
Europa e Austrália (PARKER; TYEDMERS, 2015), mostrando uma reversão da
tendência de alta observada nas décadas anteriores.
Por fim, pode-se concluir que os combustíveis fósseis apresentam importante
papel no desempenho energético e financeiro do setor pesqueiro. A coleta e análise de
dados relativos ao seu uso são fundamentais para fornecer indicadores de eficiência
energética e rentabilidade econômica de frotas pesqueiras em nível global, nacional e
regional.
Neste sentido, a IUC é um indicador de eficiência amplamente utilizado em
diversos estudos realizados nos mais importantes países e centros de pesquisa do setor
pesqueiro. Além disso, a sua avaliação e acompanhamento ao longo do tempo permitem
identificar possíveis tendências futuras relativas à sustentabilidade da atividade
pesqueira em termos do uso de energia.
37
3. Histórico, conceitos e definições das tecnologias de propulsão de
embarcações
Este capítulo irá abordar de forma resumida o conceito das principais instalações
propulsoras utilizadas na indústria marítima. Primeiramente será apresentado um breve
histórico até o panorama atual dos sistemas de propulsão usados por diferentes tipos de
embarcações. Posteriormente, serão apresentadas as características e o funcionamento
dos principais sistemas, onde um maior destaque será dado às instalações de propulsão
elétrica, foco deste estudo.
38
diesel possibilitou pesquisas para se substituir as pesadas plantas propulsoras a vapor
por motores diesel mais compactos, de maior confiabilidade e manutenção mais
econômica.
O primeiro motor a diesel usado em navio data de 1912. Em 1940, cerca de 30%
de toda a tonelagem mundial transportada por meios marítimos, ocorria com sistema de
propulsão a motor diesel, (PINHEIRO, 2013).
Entretanto, como destaca (FILHO, 2011), a predominância das instalações
propulsoras diesel teve início na década de 1960, quando os motores de baixa rotação
passaram a operar com óleo pesado. Antes disso, apesar da ligeira vantagem de
eficiência térmica dos motores diesel, o preço de um combustível mais caro – óleo
diesel marítimo – não era suficiente para competir com as instalações de turbina a
vapor, que vieram a substituir as antigas máquinas a vapor com eficiência térmica muito
baixa. O domínio da propulsão diesel nos navios de grande porte com motores de baixa
rotação foi associado a dois fatores principais: baixo consumo específico de
combustível e o emprego de óleo pesado, combustível de menor preço por unidade de
energia comparado ao diesel (FILHO, 2011).
Também no final da Segunda Guerra, duas novas formas de propulsão
começaram a ser viabilizadas pela evolução tecnológica pós-conflito: a turbina a gás e o
reator nuclear. A primeira foi derivada das turbinas aeronáuticas, que foram marinizadas
para poderem ser acopladas ao eixo da embarcação, usar óleo diesel e trabalharem com
outras máquinas de forma combinada (esse tipo de uso é predominante em embarcações
militares, para possibilitar pronta resposta nas operações que requerem alta velocidade).
Já a segunda derivou dos reatores usados em centrais de produção de energia
elétrica. A energia térmica do vapor de água aquecido pela reação nuclear é
transformada em energia cinética para movimentar a turbina a vapor e assim girar o eixo
do gerador. No caso de aplicações marítimas, o torque transferido ao eixo faz girar o
hélice e movimentar a embarcação. Porem, mesmo diante das vantagens operacionais
verificadas no uso da propulsão nuclear em navios militares, os custos elevados e a
crescente polêmica em relação à questão ambiental acabou por restringir o uso deste
tipo de propulsão aos submarinos e aos porta-aviões (SOUZA, 2009).
Hoje em dia, a instalação diesel mecânica é o sistema propulsor dominante, com
os sistemas de propulsão elétrica em expansão. Como cita (FILHO, 2011), atualmente
há uma grande variedade de modelos de motores disponíveis para seleção de instalações
39
propulsoras, com uma ampla faixa de dimensões, potência e rotação, tendo em vista as
demandas de potência dos diferentes tipos de embarcações.
A propulsão com turbinas a vapor ainda é usada nos navios de grande porte,
especialmente nos navios que transportam gás natural liquefeito (LNG Carriers). Os
gases são usados, inclusive, para alimentar as caldeiras que produzem o vapor
necessário para as turbinas de propulsão. Há também um pequeno, mais crescente
número de aplicações com turbinas a gás, sejam isoladas ou combinadas com outro tipo
de propulsão. Segundo (FILHO, 2011), há um grande potencial de uso das turbinas a
gás em navios comerciais, devido ao aumento do preço dos combustíveis e ao sucesso
das turbinas modernas de alta eficiência. Com isso, tem-se observado sua utilização
crescente em navios porta contêineres e navios de transporte de gás.
Com relação à propulsão elétrica cabe ressaltar que, apesar de sua recente
expansão, não pode ser considerada uma tecnologia atual, pois o seu uso data do final
do século XIX. A primeira embarcação movida com propulsão elétrica e um sistema de
baterias foi construída em 1881 por Gustave Trouvé na França, conhecida como Eureka
(NSBA, 2015).
Nesta mesma época, alguns países como Rússia e Alemanha também realizavam
experimentos dirigidos à concepção de embarcações com propulsão elétrica.
Na navegação fluvial sua aplicação foi amplamente difundida nos Estados
Unidos, quando a Marinha americana construiu os primeiros “lightships”, navios faróis
que usavam propulsão elétrica para operarem nas hidrovias americanas no período de
1913 a 1938 (U.S. COAST GUARD, 2015).
Entretanto, por volta de 1940, melhorias tecnológicas foram obtidas no setor de
metalurgia e na manufatura de engrenagens redutoras, com peso e volume menores e
melhores resultados no desempenho acústico dos equipamentos. Com isso, o
desenvolvimento da tecnologia dos sistemas de engrenagens de dupla redução para
aplicações no setor naval e militar passou a apresentar preços competitivos nos Estados
Unidos. Aliado a este fator, algumas desvantagens da propulsão elétrica existentes
naquela época, como maior peso, volume e menor eficiência energética, inibiram
drasticamente a expansão do seu uso em detrimento da propulsão mecânica
convencional, (DOYLE; STEVENS; ROBEY, 1999).
Durante as décadas de 1980 a 1990, devido aos avanços tecnológicos na área de
Eletrônica de Potência, a transmissão elétrica de energia tornou-se mais eficiente e
40
compacta, possibilitando o retorno do emprego da propulsão elétrica em diversas
classes de navios, como quebra-gelos, oceanográficos, navios tanque e transatlânticos,
(ARRINGTON, 1998).
A partir de 1990, a empresa Asea Brown Boveri (ABB) desenvolveu um sistema
de propulsão encapsulada (POD – Podded Propulsion), sistemas elétricos com
propulsores azimutais localizados na parte externa do casco, denominados como Azipod
(PEREIRA, 2007). O sistema Azipod consiste basicamente em um motor elétrico,
alojado dentro de um “pod” com formato hidrodinâmico adequado para fornecer melhor
escoamento do fluido, conectado ao hélice. Este conjunto possui capacidade para girar
360° em torno do seu próprio eixo, providenciando um empuxo multidirecional e
consequente melhora da manobrabilidade.
Segundo (ADNANES, 2003; ALVES, 2007; DUNLOP, 2015), atualmente tem
sido crescente a utilização do sistema de propulsão elétrica em diversos tipos de
embarcações. Inicialmente adotada em projetos de quebra-gelos e navios especializados,
a propulsão elétrica tem conquistado novos mercados, como navios de cruzeiros, navios
sonda com posicionamento dinâmico para perfuração de poços de petróleo, balsas de
travessia, embarcações militares, navios de suprimento offshore, embarcações
pesqueiras, entre outros. Com isso, há diversas pesquisas e projetos em andamento
relacionados ao uso de propulsão elétrica nas mais diversas áreas de aplicação, como em
(HANSEN; LYSEBO, 2004; HIDEKI; HIROAKI; AIICHIRO, 2011; PEREIRA, 2007;
SCHOEPING, 2014; SOUZA, 2013). No caso de projetos associados a embarcações
pesqueiras, pode-se citar: (FERNÁNDEZ et al., 2010; LOGASON, 2015;
MONTENEGRO; RODRÍGUEZ, 2012; NOTTI et al., 2012).
Entre os principais motivos para a expansão do uso da propulsão elétrica, pode-
se citar: redução no consumo de combustíveis e emissão de poluentes; diminuição de
ruídos, vibrações e menores custos de manutenção7.
7
As principais vantagens associadas ao uso da propulsão elétrica serão detalhadas no item 3.3.4.4
41
suficiente para superar as forças de resistência que atuam na embarcação, de modo a
permitir o seu avanço na velocidade de serviço8 requerida.
Resumidamente, uma instalação propulsora pode ser definida como aquela
constituída por um conjunto integrado de máquina principal (prime mover), sistema de
transmissão e elemento propulsor.
8
A velocidade de serviço de uma embarcação corresponde à sua velocidade média mantida em condições
de ondas e ventos normais.
42
apropriadas, conforme o uso (lazer, trabalho, comercial leve, pesado, médio-contínuo e
contínuo).
Além dos MCPs, os navios são equipados com Motores Auxiliares (MCAs), que
geram a energia elétrica consumida a bordo. Estes motores são acoplados a geradores,
que fornecem a energia elétrica necessária à alimentação de todos os equipamentos e
sistemas da embarcação. Em embarcações de médio e grande porte também há a
possibilidade da instalação de um gerador acoplado ao eixo do MCP, que gera energia
elétrica durante o tempo de navegação. Seu funcionamento consiste em absorver energia
mecânica proveniente da rotação de qualquer eixo. Assim, não necessita de combustível
para seu acionamento, pois o combustível queimado para acioná-lo já seria usado de
qualquer maneira para acionar o propulsor.
Além de gerar energia quando a embarcação estiver navegando, o gerador de
eixo também funcionará em situações de operação em posicionamento dinâmico,
quando a embarcação se encontra em condição de “passo zero”. Neste caso, haverá
absorção de potência do motor principal pelo gerador e pelo propulsor, mesmo sem
estar gerando empuxo.
Entretanto, para a geração de energia a frequência de rotação do eixo deve ser
constante, ocasionando redução de eficiência do hélice (DUNLOP, 2015).
O sistema de transmissão é um subsistema do sistema de propulsão, constituído
por eixos, caixas de redução de velocidade e rolamentos. Suas principais funções são:
1 – Transferir a energia mecânica gerada pela máquina principal até o propulsor;
2 – Transferir o empuxo gerado pelo propulsor ao casco da embarcação.
Quanto ao tipo de transmissão, são usadas duas configurações. Os sistemas com
acoplamento direto e os sistemas com redutores de velocidade. O primeiro é utilizado
em motores diesel de baixa rotação, onde a máquina principal é acoplada diretamente ao
propulsor através do eixo. No sistema com redução, as caixas redutoras de velocidade
tem a função de reduzir a velocidade de rotação do motor para corresponder com a
velocidade de rotação requerida pelo hélice (EL-GOHARY; EL-SHERIF, 2004).
O propulsor é responsável por converter energia mecânica de rotação entregue
pelo motor em energia mecânica para a propulsão da embarcação, onde o hélice é o
mais comum. Em geral, dois tipos de hélice são utilizados; os de passo fixo (ou FPP na
sigla em inglês – Fixed Pitch propeller), em que as pás estão fixas no cubo do hélice, e
os de passo controlável (CPP – Controllable Pitch propeller), em que é permitida a
43
variação do passo para as diferentes condições de carregamento no hélice. Outras
variantes são os hélices contra rotativos, os hélices com dutos e a propulsão encapsulada
(POD – Podded Propulsion), propulsor cicloidal (propulsor de eixo vertical também
conhecido como propulsor Voith Schneider). Para mais informações sobre estes tipos de
propulsores ver: (MOLLAND; TURNOCK; HUDSON, 2011; PINHEIRO, 2013;
SCHOEPING, 2014; TRINDADE, 2012).
9
As características da propulsão nuclear serão apresentadas no item 3.3.5.
44
Entretanto, segundo (FONSECA, 2005) nas caldeiras queima-se quase
exclusivamente o óleo combustível, só se encontrando o carvão em navios antigos ou
em pequenos navios de regiões onde este combustível seja abundante e barato. O gás
natural liquefeito geralmente é utilizado nos LNG carries.
3.3.1.1 Máquinas alternativas
Representam o tipo mais antigo de instalação propulsora, que substituiu
rapidamente o uso das velas. Possuem baixa velocidade de rotação e, ao contrário das
turbinas, são ligadas diretamente ao eixo do hélice.
3.3.1.2 Turbinas a Vapor
É definido como um sistema em que uma turbina a vapor é acoplada diretamente
ao eixo propulsor da embarcação por meio de redutores de velocidade (figura 3.2), que
transmitem a potência gerada pela turbina em alta velocidade para o propulsor em
velocidade de rotação muito menor. Diferentes tipos de redutores podem ser utilizados,
como os redutores comuns e planetários.
Usualmente é aplicada quando se necessita de grandes potências. Como são
montadas horizontalmente, as turbinas a vapor ocupam um espaço menor que as
máquinas alternativas, principalmente em altura, significando melhor compartimentação
do navio. Outras vantagens são os baixos índices de vibração e peso menor. Uma
desvantagem considerável é o seu consumo de combustível, maior que o de um motor
diesel, além da baixa densidade de potência (relação potência/peso).
45
girar (PINHEIRO, 2013). Este conjunto possui maior flexibilidade de instalação, pois as
turbinas podem ser colocadas em qualquer local, mesmo longe dos eixos propulsores.
Também tem a vantagem de eliminar a turbina de marcha AR, pois a inversão de
marcha se faz por meio das conexões elétricas.
46
travessia e navios de transporte de gás natural liquefeito, (FILHO, 2011; SCHOEPING,
2014).
3.3.3 Sistema de propulsão diesel
O princípio de funcionamento dos motores diesel consiste na transformação da
energia química contida no combustível em energia mecânica do eixo.
O sistema de propulsão diesel é definido como aquele no qual os propulsores são
acionados diretamente por uma transmissão mecânica acoplada a um ou mais motores
diesel. São os mais adequados para navios de velocidade moderada e constante.
Quanto à forma de acoplamento ao hélice, os tipos de instalações diesel podem
ser:
a) Propulsão direta – Quando os motores e o hélice operam com um bom
rendimento a mesma velocidade de rotação, os motores são acoplados diretamente ao
hélice, sem a necessidade de uma caixa redutora. Assim, motores de baixa velocidade
podem acionar diretamente o eixo, tendo a vantagem de consumir menos combustível
que os motores de grande velocidade.
b) Propulsão indireta com engrenagem redutora – Quando os motores
operam com um bom rendimento a uma velocidade de rotação superior a do hélice, é
necessário utilizar uma caixa redutora. Se a rotação é alta o hélice tende a perder
potência. E um hélice eficiente significa um ganho de energia para a embarcação. De
acordo com (TRINDADE, 2012), as principais funções da caixa redutora consistem na:
determinação da velocidade e do sentido de rotação do hélice, além da capacidade de
inversão; proporcionar uma forma de acoplamento, permitindo estabelecer e
interromper a transmissão de potência entre o motor e o hélice; compatibilizar a rotação
do motor com a menor rotação e maior torque requeridos no propulsor e; ser capaz de
absorver o impulso recebido do hélice.
Apesar da necessidade de utilizar caixas redutoras, os motores de média e
alta rotação possuem menor peso e tamanho, além de maior flexibilidade de instalação
que os sistemas de propulsão direta com motores de baixa rotação.
As vantagens dos sistemas de propulsão diesel em comparação com as máquinas
a vapor são as grandes economias de peso e espaço, pois não é necessária a instalação
de caldeiras e condensadores, além de dispensarem a água de alimentação das mesmas e
consumirem menos combustíveis. E, durante as estadias no porto o consumo dos
47
motores é nulo, enquanto que as caldeiras dos navios a vapor devem ser mantidas sob
pressão.
Além disso, os motores diesel apresentam as seguintes vantagens (EL-
GOHARY; EL-SHERIF, 2004): podem operar com combustíveis residuais, como o
óleo combustível pesado, com menor preço por unidade de energia comparado ao
diesel; fácil manutenção devido a sua tecnologia simples, alta confiabilidade e menores
custos operacionais.
Suas principais desvantagens são: emissão de poluentes, vibrações e ruídos,
menor relação potência/peso (comparada com as turbinas a gás).
A figura 3.4 abaixo apresenta uma ilustração esquemática da configuração de
um sistema diesel mecânico com a utilização de caixa redutora.
48
3.3.4.1 Sistema de propulsão puramente elétrico
A propulsão puramente elétrica consiste em um banco de baterias que fornece
energia para um motor elétrico. Essas baterias podem ser carregadas na rede de energia
elétrica quando a embarcação estiver no porto ou através de uma fonte de energia
alternativa localizada em terra ou a bordo da embarcação, como painéis solares ou
turbinas eólicas.
49
Figura 3.6: Diagrama em blocos de um sistema de propulsão elétrica.
Fonte: (ALVES, 2007).
50
Figura 3.7: Principais componentes de um sistema diesel elétrico.
Fonte: (PADOVEZI, 2011).
51
Os motores elétricos utilizados podem ser de corrente contínua ou alternada e
são conectados ao hélice diretamente, ou por meio de uma engrenagem redutora.
Este sistema pode conter vários geradores ou motores elétricos, onde o número e
o tamanho dos mesmos serão definidos de acordo com a finalidade e demanda de
energia da embarcação, assim como da disponibilidade de espaço e peso para acomodar
estes equipamentos.
3.3.4.3 Sistema de propulsão híbrido
Ao contrário dos sistemas puramente elétricos, os sistemas híbridos possuem
além do sistema de armazenamento de energia e do motor elétrico, um motor de
combustão interna acoplado a um gerador elétrico. Sua diferença para o sistema diesel
elétrico consiste apenas na presença do elemento de armazenamento de energia elétrica
(normalmente um banco de baterias).
3.3.4.3.1 Sistema híbrido em série
Em uma configuração híbrida em série, o motor elétrico é o único meio de
fornecer energia ao propulsor (figura 3.8). Este motor poderá receber energia elétrica do
banco de baterias ou do gerador acionado pelo MCI.
Controlador
Motor Diesel
do Motor
Gerador
Elétrico
Motor
Controlador
de Carga
Banco de
Baterias
52
mais longos poderão ser os períodos com o uso de propulsão elétrica sem a necessidade
de recorrer ao gerador diesel.
3.3.4.3.2 Sistema híbrido em paralelo
No sistema híbrido paralelo, tanto o MCI quanto o motor elétrico podem
fornecer potência ao hélice, onde são mantidas as conexões mecânicas entre o MCI e o
eixo propulsor (figura 3.9).
Motor Diesel
Divisor de
Potência
Controlador de
Carga/Motor
Banco de Motor/Gerador
Baterias
53
Motor Diesel
Divisor de
Potência
Gerador
Controlador de
Carga/Motor
Banco de Motor/Gerador
Baterias
54
A utilização de mais de um gerador e/ou motor elétrico torna a embarcação mais
confiável, pois permite que em altas velocidades sejam utilizados todos os motores, e
nas velocidades econômicas sejam desligados os que não forem necessários. Isto
confere um aumento da segurança da navegação devido à redundância dos elementos
constituintes do sistema elétrico.
Os danos em um compartimento de máquinas podem facilmente ser detectados e
“by-passados”, mantendo-se o funcionamento do sistema inalterado, devido a um
sistema de geração de energia e de propulsão redundantes, distribuídos e
reconfiguráveis, (ALVES, 2007).
Os equipamentos elétricos também apresentam custos e períodos de manutenção
menores. Com a elevada automação dos sistemas elétricos, as manutenções preditiva e
preventiva são ferramentas eficazes para a redução dos custos totais de manutenção.
No campo técnico, a propulsão elétrica apresenta vantagens com relação à
manobrabilidade e redução de ruídos e vibração transmitida ao eixo do hélice. Na
questão da manobrabilidade, a propulsão diesel elétrica apresenta vantagens
principalmente nas manobras de parada brusca, como explicam (HANSEN; LYSEBO,
2004). Isto ocorre pelo fato do motor elétrico proporcionar um melhor controle da
rotação do hélice e mudar rapidamente o sentido da rotação do mesmo, o que reduz o
tempo e a distância de parada. Estudos realizados com navios de grande porte que
utilizam propulsão elétrica demonstraram uma redução de 30% a 50% na distância de
parada em caso de emergência em relação à propulsão convencional (ABB, 2002) apud
(PEREIRA, 2007).
Geralmente, a propulsão elétrica também proporciona um raio de giro menor em
comparação às embarcações com propulsão convencional. Como exemplo, podem-se
citar os navios que dispõem de propulsão diesel elétrica da marinha canadense, em que
o diâmetro tático10 destes navios é da ordem de 2,8 vezes o seu comprimento, bem
abaixo da recomendação que este parâmetro não ultrapasse cinco vezes o comprimento
da embarcação (Irving Shipbuilding Inc., 2006) apud (PEREIRA, 2007).
10
Diâmetro tático é a distância medida na direção perpendicular ao rumo inicial, numa guinada de 180º
em uma curva de giro. O diâmetro tático corresponde ao afastamento máximo (distância máxima medida
na direção perpendicular ao rumo inicial, desde o ponto em que o leme foi carregado até a proa ter
atingido o novo rumo), (MIGUENS, 1995).
55
A possibilidade da utilização de propulsores azimutais também proporcionam
melhor manobrabilidade devido à capacidade dos propulsores de girar em torno dos
seus eixos em todas as direções.
Já a redução das vibrações do eixo do propulsor se dá pelo fato do motor diesel
não ficar mais conectado com o hélice, e sim com os motores elétricos. Como estes
motores não produzem torques oscilatórios, o problema de vibrações tende a ser
minimizado durante as operações (APRIAINEN et al., 1993).
Com relação ao aspecto ambiental, a redução no consumo de combustíveis
fósseis resulta em uma consequente redução na emissão de poluentes. Estudos como o
(DEPARTMENT OF ELECTRICAL ENGINEERING OF UNITED STATES NAVAL
ACADEMY, 2006) e (WILGENHOF; STAPERSMA, 1997) afirmaram que a propulsão
elétrica reduz as taxas de emissões de gases poluentes em torno de 10% a 20% em
relação à propulsão diesel convencional.
A utilização de motores elétricos também permite a utilização de formas
alternativas de energia, com bancos de baterias alimentados por painéis solares,
geradores eólicos ou mesmo pilhas combustíveis.
Entretanto, os sistemas de propulsão elétrica apresentam algumas desvantagens
que devem ser consideradas na comparação com os sistemas diesel convencionais:
Possuem maior custo na aquisição dos equipamentos e maior peso em relação
ao motor diesel, (SOLER; MIRANDA, 1997). Entretanto seus custos tendem a diminuir
com o aumento da escala de produção (ADNANES, 2003).
Os equipamentos elétricos adicionais (geradores, conversores, motor elétrico)
entre o motor diesel e o propulsor elevam as perdas no sistema de transmissão devido às
múltiplas transformações de energia no sistema. O motor diesel gera energia mecânica
rotacional, que é convertida em energia elétrica pelos geradores, que por sua vez é
reconvertida pelos motores de propulsão em energia mecânica depois de passar pelos
dispositivos elétricos.
A eficiência total é o produto das eficiências dos equipamentos típicos do
sistema de propulsão elétrico em série. A figura 3.11 mostra um esquema simplificado
do fluxo de energia entre os componentes do sistema elétrico de uma embarcação.
56
Fluxo de Energia Esaída
Eentrada
Perdas de Energia
Eentrada Esaída
Transfor- Conversor Motor
Gerador mador de Frequência Elétrico
Painel de Distribuição
Figura 3.11: Fluxo de energia em um sistema elétrico simplificado.
Fonte: (ADNANES, 2003).
57
devem atender às normas estabelecidas pelas sociedades classificadoras em relação às
panes dos equipamentos, onde são recomendáveis os seguintes requisitos:
Sistemas de isolamento dos equipamentos em caso de curto circuito;
Procedimentos de eliminação das falhas para reduzir os riscos de
acidentes e evitar incêndios;
Separar a geração de energia dos motores elétricos em pelo menos dois
compartimentos;
Separação total dos equipamentos vitais para operacionalidade do navio
em caso de fogo ou alagamento de um compartimento;
58
Figura 3.12: Sistema de propulsão nuclear.
Fonte: (PINHEIRO, 2013).
59
CODLAG (Combined Diesel-Electric and Gas Turbine): É um sistema
variante do CODAG, onde motores elétricos são acrescidos ao sistema de propulsão,
com a finalidade de se obter níveis de ruído baixos quando operando em baixas
velocidades.
COSAG (Combined Steam and Gas): Neste sistema, a turbina a vapor
faz a função do motor a diesel para regimes mais econômicos. Em altas velocidades, os
dois atuam conjuntamente. É um sistema praticamente extinto e somente alguns poucos
navios obsoletos o utilizam no mundo.
CODAD (Combined Diesel and Diesel): Operam de forma semelhante
ao COGAG, possuindo um conjunto de motores em atividade para baixas velocidades e
todo o sistema trabalhando para desempenho máximo.
CONAS (Combined Nuclear and Steam): Este tipo de sistema é
composto por caldeiras que alimentam um grupo de turbinas a vapor para trabalhar em
baixas velocidades, e reatores nucleares alimentam outro grupo de turbinas a vapor para
operar em velocidades mais altas. Os reatores podem ser desligados e o navio operar
somente com as caldeiras, porem ambos podem ser acionados conjuntamente para obter
altas velocidades.
60
4. Avaliação do uso de energia na atividade pesqueira
61
Porem, a análise tecnológica da frota e dos petrechos de pesca fluminense
mostra que a atividade está baseada em materiais e tecnologias antigas. A frota
pesqueira fluminense é antiga e mal dimensionada (BEGOT; VIANNA, 2014;
VIANNA et al., 2009). As embarcações são predominantemente de madeira não
certificada e usam o mesmo projeto básico, independente da arte de pesca ou distância
da costa que opere.
Cabe ressaltar que a escassez de dados e pesquisas relativas ao setor pesqueiro
do Estado do Rio de Janeiro dificultam a quantificação e caracterização das diferentes
frotas pesqueiras que operam em sua costa.
Entretanto, alguns importantes esforços para a coleta de dados permitem ter uma
visão mais precisa sobre as características físicas e operacionais das embarcações
pesqueiras que operam nos principais portos do Estado.
Em um trabalho de coleta de dados realizado entre os anos de 2007 e 2012
através de entrevistas e medições diretas de 1.879 embarcações motorizadas no Estado
do Rio de Janeiro, (BEGOT; VIANNA, 2014) identificaram o perfil da frota pesqueira
do estado.
A área de estudo foi composta por 14 municípios: Angra dos Reis, Rio de
Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Saquarema, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos
Búzios, Rio das Ostras, Macaé, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São João da Barra
e São Francisco de Itabapoana.
Os resultados dos autores mostram que aproximadamente 56% das embarcações
investigadas apresentam idade superior a 20 anos, com um alto índice de embarcações
acima de 50, 40 e 30 anos de idade, perfazendo mais de um terço do total das
embarcações. Com relação ao material do casco, 94% das embarcações foram
construídas em madeira. Por não requerer técnicas apuradas no seu manuseio, a madeira
é apontada como o material preferido, embora aumente a necessidade de manutenção
frequente. Estes dados são uma forte evidência de que a frota fluminense é antiga e
obsoleta.
Quanto ao comprimento total, foi observado que mais de 80% das embarcações
possui comprimento total entre 5,1 e 14,0 m. A variação do comprimento das
embarcações oscilou entre 2 e 29 m, com média de 10,4 m.
Em relação à arqueação bruta, foi identificado que grande parte das embarcações
(71,0%) se caracteriza pelo pequeno porte, como mostra a figura 4.1.
62
Porte das Embarcações
3,40%
25,60% Pequeno
Médio
Grande
71,00%
63
desembarques de pescado tradicionais, distribuídos em Angra dos Reis (5 pontos),
Niterói (8 pontos), São Gonçalo (4 pontos), Cabo Frio (12 pontos), e São João da
Barra (11 pontos), entre 08/2010 e 12/2012.
Este trabalho permitiu a coleta de informações sobre a produção pesqueira e a
caracterização da estrutura de cada frota atuante no Estado do Rio de Janeiro, gerando
relatórios como o Diagnóstico da Pesca do Estado do Rio de Janeiro e o Boletim
Estatístico da Pesca do Estado do Rio de Janeiro, responsáveis por consolidar todas as
informações coletadas.
Observou-se nos dois anos, uma predominância do cerco como principal método
de pesca em termos de produção (76% e 74%). Isto se deu principalmente em virtude de
cinco das espécies mais capturadas serem espécies-alvo desta arte, entre elas a sardinha-
verdadeira e outras espécies de pequenos pelágicos, como a sardinha-lage, savelha e
cavalinha. Em seguida destacam-se as frotas de arrasto duplo (8% e 11%) e de vara e
isca-viva (6% e 8%).
Tabela 4.1 – Produção pesqueira das principais artes de pesca desembarcadas no Estado
do Rio de Janeiro (2011 e 2012).
2011 2012
Artes de Pesca Produção (t) % Artes de Pesca Produção (t) %
Cerco 59.743 75,6 Cerco 67.386 74,3
Arrasto Duplo 6.408 8,1 Arrasto Duplo 10.097 11,1
Vara e Isca-viva 4.794 6,1 Vara e Isca-viva 7.088 7,8
Linha de Superfície 1.927 2,4 Espinhel de Superfície 1.413 1,6
Emalhe de Fundo 1.377 1,7 Espinhel de Fundo 1.224 1,3
Espinhel de Superfície 1.169 1,5 Linha de Superfície 1.206 1,3
Espinhel de Fundo 746 0,9 Emalhe de Fundo 571 0,6
Armadilha/Covos/Pote 697 0,9 Covos 487 0,5
Linha de Fundo 629 0,8 Diversificado 256 0,3
Espinhel de Meia Água 447 0,6 Pote 210 0,2
Outros 1.053 1,3 Outros 752 0,8
Total 78.991 100 Total 90.689 100
Fonte: (FIPERJ, 2013b).
64
O município de Angra dos Reis tem sido nos últimos anos o principal porto de
descarga de sardinha- verdadeira, frequentado por embarcações de outros municípios do
Estado do Rio de Janeiro, mas também de outros Estados, como São Paulo e Santa
Catarina. Em Angra dos Reis registrou-se a maior produção em 2011, de 26.823 t,
devido principalmente aos desembarques de sardinha-verdadeira da frota de cerco de
todo Sudeste e Sul neste ano. Já em 2012, a produção registrada neste município foi de
20.760 t.
O Município de Niterói abriga a maior diversidade de frotas pesqueiras do
Estado do Rio de Janeiro que atuam na pesca de pequena, média e grande escala. A
produção desembarcada nos portos de Niterói foi de 25.582 t em 2011 e 31.437 t em
2012.
O Município de Cabo Frio ficou em terceiro lugar, com 16.354 t e 17.248 t,
respectivamente em 2011 e 2012, representando 21% e 19% da produção estadual. Seus
portos são utilizados por embarcações de pequena a grande escala, que possuem
características variadas de tamanho e potência de motor.
Com relação à estrutura e operação das frotas pesqueiras, o projeto cadastrou um
total de 1.632 embarcações, onde das embarcações com informações disponíveis,
constatou-se que 69% são provenientes do Rio de Janeiro, 9% do Estado do Espírito
Santo e 7% de Santa Catarina.
A figura 4.2 a seguir mostra as características físicas das embarcações
monitoradas, quanto a seus principais parâmetros:
65
Material do Casco Porte Embarcações
6% 1% 1%
4%
Madeira
17%
Aço/Ferro miúda
28%
Alumínio
pequeno
médio
Fibra de
92% Vidro 50% grande
A estrutura etária das embarcações indica que a maior parte delas foi construída
entre 2000 e 2010, todavia, algumas datam das décadas de 1910 e 1920. A idade média
foi de 18,5 anos, com idades variando entre 1 e 101 anos. Para as embarcações do Rio
de Janeiro, a idade média foi de 20 anos.
Quanto ao material do casco, para as embarcações que tiveram informações
disponíveis (1.241), 92% (ou 71% do total) são de madeira. As embarcações miúdas e
de pequeno porte representaram 67% do total de embarcações (1.118), seguido das
embarcações de médio porte (28%) e de grande porte (4%), o que confirmou o caráter
essencialmente artesanal da frota, identificado por (BEGOT; VIANNA, 2014)
66
A variação do comprimento das embarcações ficou entre 3,5 e 35 m, com média
de 13,42 m. A distribuição de frequência mostra que as embarcações se concentraram
nas classes de 11 a 15 m de comprimento. Considerando somente as embarcações do
Rio de Janeiro, o comprimento variou entre 3,5 e 28,5.
A figura 4.3 mostra que a frota de emalhe diversificado é a mais numerosa, com
304 embarcações (composta integralmente por embarcações provenientes do Rio de
Janeiro), seguida pelo cerco, com 289, diversificado (232) e arrasto duplo (169).
Analisando a figura 4.3 e a tabela 4.1, verifica-se a importância das frotas de cerco e
arrasto duplo, tanto em termos de quantidade de embarcações como de produção
pesqueira. A frota de cerco contou com 289 embarcações e mais de 70% da produção
desembarcada, enquanto a frota de arrasto duplo, com 169 embarcações, correspondeu a
8% e 11% da produção em 2011 e 2012 respectivamente. Já a frota de emalhe, embora
não represente percentual significativo de quantidade de pescado desembarcada, foi a
frota que apresentou o maior número de embarcações.
67
As Tabelas 4.2 e 4.3 caracterizam as embarcações monitoradas pertencentes ao
Estado do Rio de Janeiro, segundo o comprimento (m), arqueação bruta, ano de
construção, potência do motor (bhp) e modalidade de pesca:
68
Tabela 4.2- Parâmetros de caracterização física das embarcações da frota do RJ.
Comprimento (m) Arqueação Bruta
Modalidade Nº
de Pesca Total n Min Média Máx DESP n Min Média Máx DESP
Rio de Janeiro
Arrasto de
Fundo 24 20 5 9,81 13,75 1,91 16 0,4 6,83 15,6 3,92
diversificado
Arrasto Duplo 101 91 8,36 18,81 23,74 3,97 91 5,2 56,04 106 27,53
Arrasto
26 18 4,9 8,25 10,7 1,73 16 0,11 4,64 7,7 2,76
Simples
Cerco 174 158 5 13,71 27 4,3 136 0,2 23,86 121 28,01
Cerco
5 3 7,5 9,37 10,6 1,64 3 3,3 3,85 4,25 0,49
Flutuante
Covos 5 5 11 12,4 13 0,89 5 5 7,2 10 1,92
Diversificado 187 142 3,8 10,54 22 2,77 99 0,1 9,95 77 9,6
Emalhe
300 159 4 7,16 13,5 2 79 0,1 2,17 12,6 3,04
diversificado
Emalhe de
45 24 6 11,31 21 3,45 19 4 15,15 100 22,96
Fundo
Emalhe de
11 10 10,5 12,3 16 1,78 6 6 7,98 10 1,68
Superfície
Espinhel
6 6 11 13,2 16,2 2 6 8 17,42 30 8,71
Diversificado
Espinhel de
17 17 5,5 13,75 16,7 3,24 15 0,8 20,38 38 11,6
Fundo
Espinhel de
2 1 12,5 12,5 12,5 1 21,6 21,6 21,6
Meia água
Espinhel de
41 37 10 12,8 18 1,9 33 0,7 13,58 39 7,33
superfície
Linha
16 14 3,5 9,43 13 2,6 11 2 6,55 10,8 3,69
Diversificado
Linha de
52 9 6 9,13 11,3 1,97 7 0,1 4,17 9,6 3,31
Fundo
Linha de
7 6 11 15,08 19,7 3,16 6 10 29,12 61 17,54
Superfície
Linha e
Espinhel 37 37 9 12,25 19,5 2,3 34 2 10,22 30,8 5,93
Diversificado
Linha e
Espinhel de 8 6 7,5 11,52 16 3,2 3 7 12,93 19,8 6,45
Fundo
Linha e
Espinhel de 36 36 9,5 13,88 19 1,86 34 4 17,12 48 8,52
Superfície
Pote 3 2 19,7 20,85 22 1 49 49 49
Vara e Isca
16 16 21,2 25,26 28,41 2,42 16 75 141,05 350 66,9
Viva
Geral 1119 817 3,5 12,12 28,41 4,92 637 0,1 22,76 350 32,57
Fonte: (FIPERJ, 2013b).
Notas: (1) Período de monitoramento dos desembarques: agosto/2010 a dezembro/2012.
(2) Nº Total = número total de embarcações cadastradas.
(3) n = número de embarcações analisadas.
(4) Min = valor mínimo observado; Máx = valor máximo observado; DESP = Desvio Padrão.
69
Tabela 4.3- Parâmetros de caracterização física das embarcações da frota do RJ.
Ano de Construção Potência do Motor (bhp)
Modalidade
Nº Total
de Pesca n Min Média Máx D.Padrão n Min Média Máx D.Padrão
Rio de Janeiro
Arrasto de
Fundo 24 17 1937 1982 2006 16,55 14 15 80 150 43,97
diversificado
Arrasto Duplo 101 91 1938 1975 2007 14,81 90 30 261 425 94,67
Arrasto
26 16 1967 1988 2008 13,08 14 10 37 80 19,86
Simples
Cerco 174 135 1938 1989 2012 15,48 124 36 166 425 96,02
Cerco
5 3 2001 2005 2007 3,21 3 22 53 115 53,69
Flutuante
Covos 5 3 2000 2004 2007 3,61 - - - - -
Diversificado 187 120 1951 1998 2011 10,3 81 1 73 325 70,4
Emalhe
300 142 1912 2003 2012 10,35 97 3 27 221 36,23
diversificado
Emalhe de
45 20 1978 1997 2009 7,75 15 7,5 111 290 94,93
Fundo
Emalhe de
11 3 1970 1991 2003 18,01 4 33 67 100 28,04
Superfície
Espinhel
6 6 1992 2003 2007 5,73 3 115 172 220 52,99
Diversificado
Espinhel de
17 12 1925 1985 2009 29,76 12 120 196 250 45,7
Fundo
Espinhel de
2 1 2002 2002 2002 1 120 120 120
Meia água
Espinhel de
41 35 1987 2003 2012 4,62 15 60 169 352 89,68
superfície
Linha
16 11 1986 1999 2012 8,39 5 11 115 352 139,7
Diversificado
Linha de
52 8 1973 1999 2010 11,18 6 15 44 78 25,71
Fundo
Linha de
7 5 1991 2001 2011 7,11 4 120 213 310 91,12
Superfície
Linha e
Espinhel 37 33 1986 2001 2009 5,74 12 58 144 290 82,83
Diversificado
Linha e
Espinhel de 8 5 1986 1998 2002 6,87 5 12 139 229 92,23
Fundo
Linha e
Espinhel de 36 33 1980 2003 2010 5,43 19 70 204 366 95,64
Superfície
Pote 3 1 1967 1967 1967 1 170 170 170
Vara e Isca
16 16 1967 1986 2005 11,29 16 275 398 580 73,83
Viva
Geral 1.119 716 1.912 1.994 2012 15,43 141 1 141 580 120
Fonte: (FIPERJ, 2013b).
Notas: (1) Período de monitoramento dos desembarques: agosto/2010 a dezembro/2012.
(2) Nº Total = número total de embarcações cadastradas.
(3) n = número de embarcações analisadas.
(4) Min = valor mínimo observado; Máx = valor máximo observado; D. Padrão = Desvio Padrão.
70
A frota de espinhel de fundo do Estado do Rio de Janeiro é composta por 17
embarcações de madeira, de porte miúdo ao médio, que representaram 76% do total de
embarcações de espinhel de fundo que descarregaram nos portos monitorados. A maior
parte das embarcações apresentou comprimento maior do que 13 m, com média de
13,75 m. Os motores apresentaram potência entre 120 e 250 bhp, sendo a potência
média, 196 bhp.
A frota de espinhel de superfície possui 41 embarcações de pequeno e médio
porte, com comprimento médio de 12,8 m e amplitude de 10 a 18 m. As embarcações
foram construídas entre os anos de 1987 e 2012, apresentando idade média de 10 anos.
A potência dos seus motores variou entre 60 e 352 bhp, com média de 169 bhp.
Com relação às frotas que utilizam mais de um petrecho de pesca, a frota que
opera com espinhel de superfície e linha foi composta por 36 embarcações de pequeno e
médio porte, com comprimento variando entre 9,5 e 19 m e média de 13,9 m. Assim
como a frota de espinhel de superfície, apresentou idade média de 10 anos. A potência
dos motores variou de 70 a 366 bhp, com valor médio de 204 bhp.
Já a frota de linha e espinhel diversificado foi composta por 37 embarcações de
pequeno e médio porte, que operaram com os aparelhos tanto na superfície quanto no
fundo. Esta apresentou comprimento médio de 12,25 m, com amplitude entre 9 e 19,5
m. As embarcações foram construídas entre os anos de 1986 e 2009, e a potência dos
motores variou de 58 a 290 bhp, com média de 144 bhp.
Como concluiu (FIPERJ, 2013b) a partir destas análises, a frota de linha e
espinhel de superfície, que opera sobre recursos ainda subexplotados pela frota
brasileira, como as albacoras, foi a mais nova. Isto demonstra o incremento do esforço
de pesca sobre estas espécies pelágicas nos últimos anos, motivado pelo crescente
aumento da demanda de mercado e alto valor agregado deste grupo de pescado.
A frota de arrasto duplo, que atua principalmente sobre estoques
tradicionalmente sobreexplotados, como camarão-rosa, foi a mais antiga.
Cabe ressaltar que estes dados apresentados não representam a totalidade das
embarcações que operam na costa do Rio de Janeiro. Entretanto, pode-se afirmar, pelas
condições de infraestrutura de desembarque ao longo da costa fluminense, que grande
parcela das embarcações de médio porte e a totalidade das de grande porte estão bem
representadas por este estudo. Os pontos de descarga monitorados são os que
71
apresentam as melhores infraestruturas, ainda que não adequadas, para receber frotas
com estas características (FIPERJ, 2013b).
72
iscas através do olfato. A distância na qual podem ser atraídos varia principalmente com
o tipo de peixe, as iscas utilizadas, o tempo de permanência na água e a direção e
intensidade da corrente (FAO, 1976). Sendo assim, o tamanho da área de ação do
espinhel é muito variável e não pode ser estabelecido com precisão. O poder de pesca
do espinhel varia ao longo do tempo de imersão, já que o número de anzóis disponíveis
vai diminuindo devido a diversos fatores como a captura prévia, a perda das iscas, a
perda de atração das iscas, etc (HAIMOVICI et al., 2003).
Do ponto de vista comercial, o espinhel é um método de pesca interessante, pois
permite atrair e agregar peixes de uma grande área com um custo de operação
relativamente baixo. É considerado um método de pesca adequado para capturar peixes
com distribuição dispersa ou com baixa densidade. Por outro lado, por tratar-se de um
aparelho de pesca com ponto de saturação definido, pode ser considerado relativamente
pouco eficiente para a pesca em áreas onde as densidades de peixe são grandes quando
comparado com o arrasto e o cerco. Todavia, o espinhel tem sido considerado um dos
métodos que mais satisfazem às premissas da pesca responsável, com alta seletividade
de espécies e comprimentos, alta qualidade do pescado, baixo consumo de energia e
pouco impacto sobre o fundo oceânico (BJORDAL; LØKKEBORG, 1996; HALL,
2000).
A figura 4.4 a seguir mostra um esquema típico do petrecho de pesca espinhel de
superfície, que é constituído basicamente por um cabo principal (ou linha-madre), ao
qual são fixadas linhas secundárias (ou burãs) com anzóis, bem como boias cegas e
radio-boias para sua sustentação e localização. No caso do espinhel de fundo, este pode
ser mantido fundeado por meio de poitas.
73
Figura 4.4: Esquema típico de seção de espinhel de superfície.
Fonte: (KOTAS; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2005).
74
Figura 4.5: Tambor com guincho hidráulico utilizado no lançamento e recolhimento do
espinhel.
Fonte: (KOTAS; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2005).
75
armazenamento de energia (baterias ou células a combustível), e uso de fontes
alternativas de energia (solar ou eólica), como proposto em alguns estudos
(FERNÁNDEZ et al., 2010; LOGASON, 2015).
Essas características tornam esse tipo de embarcação promissora para ser
enquadrada em programas de uso mais eficiente do combustível, resultando em uma
redução no consumo de combustível fóssil e emissão de gases poluentes.
76
5 Estudo de caso do consumo de energia da frota de espinhel de fundo
do Estado Rio de Janeiro
77
A fase de captura dos peixes compreende as etapas de lançamento, espera e
recolhimento da linha. Estas etapas podem se repetir várias vezes ao longo de uma
viagem de pesca, sendo definida como “lance de pesca”.
Lançamento: momento de lançamento das linhas com anzóis e iscas para
a captura dos peixes;
Espera: período em que a embarcação espera a atração dos peixes para o
posterior recolhimento das linhas. Nesta etapa, a embarcação normalmente desliga o
seu motor principal ou permanece em velocidade reduzida;
Recolhimento: consiste no recolhimento das linhas com os peixes
fisgados para seu desembarque na embarcação.
78
Figura 5.1: Localização do Cais Sardinha 88 no Município de Niterói.
Fonte: (GOOGLE EARTH, 2017)
79
Tabela 5.1 – Parâmetros das embarcações da pesca de espinhel de fundo que operam no
Estado do Rio de Janeiro.
Consumo
Comprimento Fabricante/Mode Potência do RPMmáx do de
Embarcação Dias-mar
(m) lo motor motor (hp) motor combustível
(L)
Cummins – c 2.800
10 13,70 220 2.000 25
series – 220
80
A escolha dos locais, assim como o número de zonas de pesca percorrido pelas
embarcações são decisões específicas de cada viagem de pesca, pois dependem de
fatores como a disponibilidade de recursos marinhos no local, fatores climáticos, entre
outros. A quantidade de pesqueiros e o tempo necessário que uma embarcação necessita
para se deslocar entre eles , por exemplo, varia amplamente e é relativamente
imprevisível. Desta forma, o consumo de combustível na etapa de deslocamento entre
pesqueiros não foi considerado nesta análise.
pesca
Pesca
N° de
1 12 3 36 18 54 54 108 18
2 16 2 32 30 64 32 96 10
3 19 2 38 48 44 49 152 48
4 15 2 29 42 48 44 87 26
5 17 3 51 26 77 9 111 10
6 19 3 56 24 74 23 139 22
7 16 3 48 12 108 14 120 12
8 13 3 39 12 88 26 98 12
9 17 3 51 48 77 77 204 48
10 20 2 40 36 53 60 160 24
11 20 4 80 84 140 53 240 36
12 18 3 53 36 79 22 79 36
13 11 2 22 18 55 220 132 15
14 14 3 42 7 56 21 105 13
15 20 3 60 15 120 30 180 5
16 15 3 45 24 101 14 113 84
17 16 3 48 10 96 24 128 10
Média 16 2,76 45 29 78 45 132 25
Fonte: Elaboração própria.
81
Volta Ida
8% 9%
Lançamento
24%
Recolhimento
41%
Espera
18%
Figura 5.2: Distribuição do tempo gasto em cada etapa de uma viagem típica de pesca.
Fonte: Elaboração própria.
82
estimado a partir de curvas de motores dos mesmos fabricantes com potências próximas
às identificadas na pesquisa (ver Anexo II). Em todos os cálculos que utilizaram o CEC
destas curvas, foram consideradas a potência e rpm máximas destes motores.
5.3.1 Método 1
O método 1 é baseado em uma equação presente em “Fuel Savings for Small
Fishing Vessels: a manual; página 10; apêndice 3” (GULBRANDSEN, 2012), um guia
de referência em pesquisas e práticas adotadas para a redução do consumo de
combustíveis em embarcações de pesca publicado pela FAO.
Este método utiliza a seguinte equação para a estimativa do consumo de
combustível:
C = P. (RPM|RPMmáx )3 . CEC. t (5.1)
Onde:
C = consumo de combustível por embarcação em uma determinada etapa ou
viagem de pesca, [l];
P = potência máxima do motor da embarcação, [bhp];
RPM = velocidade de rotação do motor em determinada etapa;
RPMmáx = velocidade máxima de rotação do motor;
CEC = consumo específico de combustível; representa a quantidade de
combustível requerida para produzir uma unidade de potência por unidade de tempo,
[l/hp.h];
t = tempo de operação de uma embarcação em uma determinada etapa, [h].
83
Conforme a velocidade de rotação (rpm) do motor varia, a curva de potência do
motor acompanha a curva do propulsor, e a potência no propulsor varia com o cubo da
rpm. A relação (rpm/rpmmáx)³ é definida como propeller shaft power fraction e indica a
redução na potência consumida pelo motor quando a sua rpm é reduzida.
5.3.2 Método 2
O método 2 está disponível em Fisherman’s Workbook (PRADO; DREMIÈRE,
1990). Este manual foi preparado pelo Serviço de Tecnologia da Pesca; Divisão das
Indústrias da Pesca do Departamento da FAO, que apresenta referências sobre os
principais materiais, equipamentos e tecnologias utilizados no setor pesqueiro.
Sua equação é a seguinte:
C=P. c. CEC. t (5.2)
Onde:
C = consumo de combustível por embarcação em uma determinada etapa ou
viagem de pesca, [l];
P = potência máxima do motor da embarcação, [bhp];
c = coeficiente de utilização do motor; possui um valor médio de 0,75, variando
entre 0,7 e 0,8 em navegação e 0,5 e 0,8 no momento da pesca;
CEC = consumo específico de combustível do motor; representa a quantidade de
combustível requerida para produzir uma unidade de potência por unidade de tempo,
[l/hp.h];
t = tempo de operação de uma embarcação em uma determinada etapa, [h].
O consumo nas diferentes etapas foi calculado considerando os valores mínimos
do coeficiente c, ou seja, 0,5 para a fase de captura e 0,7 para a fase de acesso aos
pesqueiros. Mesmo com esses valores, os resultados obtidos com o Método 2 foram os
mais elevados entre todos os métodos.
5.3.3 Método 3
O Método 3 é o procedimento usado pelo governo brasileiro através do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para estimar a quantidade
de combustível consumido pelas frotas pesqueiras nacionais, que possam se enquadrar
no programa de subvenção econômica ao preço do óleo diesel existente no país.
Neste método, a quantidade de combustível consumida em cada etapa de uma
viagem de pesca foi estimada seguindo uma equação geral estabelecida pelo MPA na
84
Instrução Normativa nº 10, de 14 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011), descrita a
seguir:
C = P. CEC. t (5.3)
Onde:
5.3.4 Método 4
A metodologia de cálculo do Método 4 foi baseada em (TYEDMERS, 2001). Os
valores do consumo de combustível em uma viagem de pesca, obtidos na pesquisa de
campo, foram relacionados com o esforço de pesca (definido como o produto da
potência do motor pelo total de dias que a embarcação permanece no mar) através de
uma equação de regressão linear:
Y = a.x (5.4)
Onde:
Y = consumo de combustível total em uma viagem de pesca, obtido na pesquisa
de campo, [l];
85
x = esforço de pesca: produto da potência do motor principal pelo total de horas
que a embarcação permanece no mar, [bhp.horas-mar];
a = coeficiente angular da reta, que representa o consumo específico de
combustível (CEC), [l/bhp.horas-mar];
Vale ressaltar que a reta de regressão foi “forçada” a passar pela origem, pois
parte-se do pressuposto de que não há consumo de combustível quando a potência do
motor ou o tempo for zero.
Com o valor do coeficiente a calculado, o consumo de combustível nas etapas de
uma viagem de pesca foi estimado com a mesma equação (5.3) usada no Método 3.
𝐸𝑒
∑𝑛
𝑒=1| |.100
𝑌𝑒
𝐸𝑃𝐴𝑀𝑛 = (5.5)
𝑛
Onde:
Ee = erro de estimativa para cada embarcação. É a diferença entre o valor de
consumo informado e o estimado;
Ye = consumo de combustível total informado de cada embarcação;
N = número total de embarcações na amostra.
86
Tabela 5.3 – Parâmetros utilizados para a estimativa do consumo de
combustível de uma viagem de pesca.
Motores/Etapa Ida Lançamento Espera Recolhimento Volta
Potência
Embarca- RPMmáx
Motor RPM CEC RPM CEC RPM CEC RPM CEC RPM CEC
ção Motor
(bhp)
1 160 2.000 1.600 0,182 1.200 0,193 800 0,193 1.200 0,193 1.600 0,182
2 140 2.000 1.700 0,191 1.700 0,191 0 0 2.000 0,193 1.700 0,191
3 208 2.600 1.500 0,182 1.500 0,182 1.000 0,193 1.100 0,193 1.500 0,182
4 120 4.000 3.000 0,204 2.250 0,196 1.500 0,191 1.500 0,191 3.000 0,204
5 240 2.000 1.250 0,178 1.200 0,178 0 0 800 0,184 1.200 0,178
6 290 2.000 1.500 0,177 1.500 0,177 700 0,180 1.100 0,174 1.500 0,177
7 190 2.700 2.000 0,199 1.150 0,175 0 0 950 0,173 2.000 0,199
8 240 2.500 1.800 0,177 1.150 0,186 800 0,184 950 0,182 1.800 0,177
9 110 2.000 1.650 0,179 1.400 0,178 1.200 0,177 1.350 0,192 1.550 0,182
10 220 2.000 1.475 0,231 1.500 0,231 500 0,412 850 0,412 1.500 0,231
11 360 2.000 1.600 0,185 1.600 0,185 5 0,194 1.300 0,190 1.600 0,185
12 95 2.500 1.800 0,199 1.700 0,198 700 0,202 1.500 0,200 1.800 0,199
13 180 2.500 1.400 0,175 1.700 0,171 0 0 1.250 0,184 1.600 0,172
14 290 2.500 1.400 0,179 1.400 0,179 800 0,211 1.200 0,192 1.800 0,178
15 180 2.500 1.550 0,173 1.300 0,179 800 0,184 1.450 0,175 1.200 0,184
16 220 2.500 1.200 0,222 1.150 0,222 500 0,222 950 0,222 1.200 0,222
17 120 2.500 1.500 0,200 1.500 0,200 0 0 850 0,202 1.500 0,200
Média 198 2.400 1.643 0,190 1.465 0,189 547 0,205 1.194 0,203 1.650 0,191
87
8.000
y = 0,032x
7.000
Consumo de Combustível (l) R² = 0,9078
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
0 50 100 150 200 250
Esforço de pesca (HP*horas-mar *10³)
88
Tabela 5.4 – Consumo de combustível total de uma viagem de pesca estimado pelos
diferentes métodos para cada embarcação.
Resultados
Consumo-Pesquisa de
Embarcação Método 1 Método 2 Método 3 Método 4
campo (l)
1 3.294 1.107 5.698 3.883 1.434
2 3.059 1.436 3.293 2.696 819
3 4.118 1.735 7.775 6.851 1.946
4 2.000 2.898 4.190 2.852 1.010
5 2.706 1.976 6.729 5.158 1.784
6 4.118 5.410 9.902 7.872 2.704
7 2.941 2.809 6.464 4.611 1.773
8 2.500 2.887 7.123 5.440 1.882
9 4.706 8.618 12.354 4.799 3.187
10 2.800 1.669 17.387 7.062 2.398
11 6.471 1.7804 22.053 17.334 5.596
12 2.588 1.491 3.690 2.301 1.544
13 2.941 1.387 5.022 3.813 1.351
14 3.294 1.492 7.196 5.637 1.846
15 4.412 1.938 7.812 6.067 2.149
16 3.529 1.341 10.914 7103 2.305
17 2.200 655 3.503 2.820 1.498
89
Os métodos 2, 3 e 4 mostraram um perfil de consumo semelhante, onde a etapa
de recolhimento foi a mais representativa, com quase metade do consumo médio da
frota.
90
número médio de dias-mar (20 dias), o valor estimado seria de 3.432 litros. Neste caso o
consumo no deslocamento entre as zonas de pesca estaria incluso.
Pode-se notar que o Método 2 apresentou um EPAM bem superior ao dos
demais métodos.
Mesmo considerando o coeficiente c mínimo de 0,7 para as etapas de acesso e
0,5 paras as etapas de captura, o consumo de combustível estimado foi bem superior ao
obtido na pesquisa de campo.
Uma potencial explicação é que o coeficiente c utilizado no Método 2 foi
calculado com base em motores da década de 80, visto que está baseado na equação 5.2,
disponível em (PRADO; DREMIÈRE, 1990). Atualmente, estes coeficientes deverão
ser mais baixos em função da grande evolução tecnológica dos motores marítimos
diesel que ocorreu nos últimos anos, reduzindo seu consumo de combustível (NOTTI et
al., 2012; POUNDER; WOODYARD, 2004).
Analisando o consumo por etapas de uma viagem de pesca, é possível
identificar as causas das diferenças encontradas entre os consumos estimados pelos
quatro métodos. Além disso, a escolha do método e dos coeficientes mais adequados a
serem utilizados também irá depender dos tipos de dados disponíveis e da utilização de
parâmetros que mais se ajustam ao tipo de pesca analisada, como o uso de coeficientes
mais apropriados para a estimativa do CEC. E
A possibilidade, por exemplo, de obter dados referentes à relação
(𝑟𝑝𝑚⁄𝑟𝑝𝑚𝑚á𝑥 )³ dos motores das embarcações em cada etapa, permitiram a estimativa
do consumo de combustível segundo o Método 1. Porem, vale ressaltar a alta incerteza
na precisão dos dados de consumo e rpm informados pelos pescadores, o que contribuiu
para um elevado EPAM calculado nos quatro métodos testados.
No entanto, o melhor resultado obtido com a aplicação do Método 4 mostra
que, apenas com dados do consumo de combustível numa viagem de pesca e dados
relativos à potência e tempo de operação em cada etapa, é possível fazer estimativas
mais precisas.
Nas etapas de acesso aos pesqueiros, verifica-se que o Método 1 obteve
resultados semelhantes aos do Método 3. Isto indica a equivalência entre o produto do
CEC, estimado com base nos dados da rpm dos motores obtidos na pesquisa de campo,
pela variável (𝑟𝑝𝑚⁄𝑟𝑝𝑚𝑚á𝑥 )³ com o valor fixo de 0,0963 l/hp-h adotado no Método 3.
91
Na fase de captura, alguns pescadores relataram que mantêm o motor desligado
na etapa de espera, com rpm do motor igual a zero. Deste modo, foi considerado um
consumo nulo na etapa de espera para estas embarcações em todos os métodos, apesar
de somente o Método 1 considerar a variável rpm do motor em sua fórmula.
O valor elevado de consumo estimado pelo Método 3 nas etapas de captura
(lançamento, espera e recolhimento) mostra que, para o caso da pesca de espinhel de
fundo, o CEC de 0,0963 l/hp-h está sobre-estimando o consumo nestas etapas. Neste
caso, o valor calculado de 0,032 l/ hp.horas-mar no Método 4 a partir da linha de
regressão parece ser o mais adequado.
O valor adotado para o CEC no Método 3 seria mais adequado para modalidades
de pesca que exijam maiores níveis de potência e maior consumo de combustível na
fase de captura, como é o caso da pesca de arrasto.
Segundo (GULBRANDSEN, 2012; NOTTI; SALA; BUGLIONE, 2011; PORT;
ALVAREZ PEREZ; DE MENEZES, 2014), a pesca de arrasto possui um perfil
diferenciado das demais, onde o processo de arrasto da rede consome maior quantidade
de combustível devido a maior potência requerida do motor nesta etapa. É considerada
uma modalidade de pesca de alto consumo de combustível, que pode utilizar três vezes
mais energia durante a operação de arrasto propriamente dita, do que nos deslocamentos
entre zonas de pesca.
Ademais, cada modalidade de pesca possui um perfil operacional característico e
utiliza equipamentos específicos, que irá influenciar em um maior ou menor uso de
combustível.
Portanto, a metodologia de cálculo adotada pelo Governo Brasileiro com a
utilização de um valor único para o CEC em todas as modalidades de pesca pode gerar
erros de estimativa.
Esta afirmação é sustentada por (TYEDMERS, 2001; WATANABE; OKUBO,
1989), os quais afirmam que duas embarcações com motores de mesma potência e
operando pelo mesmo período de tempo, porem utilizando diferentes tipos de artes de
pesca, irão consumir quantidades diferentes de combustível. A razão para esta diferença
são os períodos relativos em que seus motores principais trabalham em diferentes níveis
de potência.
O mais indicado a fazer seria a realização de cálculos baseados na metodologia
do Método 4 para amostras de diferentes modalidades de pesca, de modo a obter um
92
valor de CEC mais adequado para cada uma e, consequentemente, estimativas de
consumo de combustível mais precisas.
11
A conversão de kWh para litros de diesel equivalente foi feita adotando-se um valor de 0,85 kg/l para a
densidade do óleo diesel e 10.100 kcal/kg para o seu poder calorífico inferior (PCI), (EPE, 2010).
93
A captura média da frota analisada foi de 5,4 toneladas e a quantidade de gelo
embarcada foi de 10,4 toneladas, o que representa uma relação de 1,92 toneladas gelo-
peixe.
Esta relação resultou em um consumo equivalente médio de 828 kWh ou 83
litros de diesel (tabela 5.7). Vale ressaltar que a conversão da energia consumida para a
produção do gelo em kWh para litros de diesel equivalente foi feita apenas com o
objetivo de ter uma noção do equivalente em diesel da quantidade de energia necessária
para a produção do gelo, considerando as propriedades físico-químicas do combustível
(densidade e poder calorífico). Portanto, este consumo equivalente de diesel não
representa a quantidade necessária de combustível para a produção de gelo com motores
diesel, visto que, neste caso, deveriam ser consideradas suas eficiências.
Caso utilizassem a relação recomendada de 1:1 ou 1:2, o consumo seria
reduzido para 432 kWh (43.3 litros de diesel) e 216 kWh (21.6 litros de diesel),
respectivamente. Ou seja, uma redução de 48% ou 74% no consumo energético relativo
à produção de gelo.
Tabela 5.7 - Indicadores de consumo energético do sistema de conservação do pescado.
Captura Relação kWh/gelo
Embarcação Gelo Embarcado (t)
desembarcada (t) gelo/peixe (t/t) embarcado (t)
94
5.6 Análise e comparação da intensidade do uso de combustível da frota de
espinhel de fundo
A tabela 5.8 mostra os dados obtidos na pesquisa de campo relativos ao
consumo de combustível e a quantidade de pescado capturado, utilizados para calcular o
IUC da frota de espinhel de fundo.
Tabela 5.8 - Intensidade do uso de combustível da frota de espinhel de fundo do
Estado do Rio de Janeiro.
Combustível Captura desembarcada Intensidade do Uso de
Embarcação
Consumido (l)* (t) combustível (l/t)
A IUC das embarcações variou entre 430 l/t e 1.080 l/t, com uma média de 630
l/t, valor bem próximo das estimativas globais de 620 l/t (TYEDMERS; WATSON;
PAULY, 2005) e 639 l/t (PARKER; TYEDMERS, 2015).
Comparando com os valores de IUC relativos às diferentes artes de pesca
apresentadas na tabela 2.2, podemos observar uma maior proximidade com as IUCs das
pescas de redes de emalhe e linhas e anzóis (modalidade de pesca que inclui o espinhel,
além das linhas de corrico e vara com linha).
95
A IUC encontrada neste estudo também apresentou similaridade com outros
estudos em escala nacional de frotas pesqueiras com artes de pesca semelhantes, como
as frotas de longline destinadas à captura de peixes demersais, em (TYEDMERS, 2001).
Os seus resultados mostraram um valor de 572 l/t para uma frota de longline da
Noruega, com embarcações de comprimento médio igual a 15,1 metros, semelhante à
média de 14,95 metros encontrada neste estudo.
Para duas diferentes frotas de longline da Islândia, foram encontrados valores de
538 l/t e 655 l/t. Entretanto, vale ressaltar que estas estimativas são referentes aos anos
de 1997 e 1998.
Apesar da proximidade com o valor de 630 l/t estimado neste estudo para a frota
de espinhel de fundo do Rio de Janeiro, aqueles estudos foram realizados cerca de vinte
anos atrás, em uma época de tendência de alta na IUC, conforme explicado na subseção
2.3.2.
Os preços mais baixos dos combustíveis durante esses anos permitiram o uso
mais intensivo de energia, visto que os aumentos modestos nos custos poderiam ser
mais facilmente compensados por mudanças tecnológicas e operacionais (PARKER et
al., 2015). Esta tendência tem sido revertida desde o início do século XXI. As frotas
europeias, por exemplo, vem diminuindo sua IUC desde 2002 (CHEILARI et al., 2013).
(SCHAU et al., 2009; THOMSEN et al., 2010) avaliaram o consumo de
combustível de frotas da Noruega (entre 2001 e 2004) e das Ilhas Faroé (entre 2001 e
2005) respectivamente. Nestes estudos a intensidade energética foi estimada através de
um coeficiente de uso de combustível, expresso pela relação entre o peso de
combustível e o peso de pescado desembarcado (kg de combustível/kg de pescado). Em
(SCHAU et al., 2009) a frota de longline apresentou um valor médio de 0,31 (365 l/t)12,
variando entre 0,17 (200 l/t) e 0,45 (529 l/t), enquanto que em (THOMSEN et al., 2010)
o valor médio para embarcações de longline foi de 0,24 (282 l/t), variando entre 0,17
(200 l/t) e 0,60 (706 l/t). Ambos apresentaram uma IUC inferior ao valor médio
calculado para as embarcações deste trabalho.
Estes exemplos indicam que há espaço para melhorias no desempenho
energético da frota de espinhel deste estudo.
12
Foi considerada uma densidade de 0,85 kg/l para o óleo diesel.
96
Por outro lado, estudos referentes à pesca de espinhel de superfície destinadas a
captura de peixes pelágicos, especialmente de algumas espécies de atum, indicam uma
IUC bem superior.
Isto é mostrado em algumas análises de (TYEDMERS, 2004), que apresentou
dados deste tipo de pesca referentes ao início da década de 1980 e 1990, com uma IUC
média de 3.400 l/t e 2.200 l/t respectivamente. Já (TYEDMERS; PARKER, 2012)
estimaram que as embarcações de longline consomem em média, 1.069 litros de
combustível por tonelada de peixe capturado.
Uma conclusão geral é que a IUC dos diferentes tipos de pesca é altamente
variável, com diversos estudos apontando conclusões variadas e uma falta de padrões
claros. É importante notar que as estimativas de IUC variam não só entre espécies, tipo
de artes e local de pesca, mas também ao longo do tempo (TYEDMERS, 2004) e entre
diferentes estudos e metodologias de pesquisa.
Um cenário mais claro do desempenho energético das frotas pesqueiras
brasileiras exigirá análises mais detalhadas de frotas específicas e comparáveis, assim
como o seu monitoramento ao longo do tempo para que possam ser identificadas suas
tendências.
Dito isto, é possível fazer as seguintes conclusões experimentais:
As embarcações que utilizam artes de pesca passivas e redes de cerco
têm normalmente menor IUC que as embarcações com artes de pesca ativas. As pescas
de arrasto, por exemplo, são mais intensivas que as pescas com rede de cerco destinadas
a captura das mesmas espécies (GASCOIGNE; WILLSTEED, 2009; PARKER et al.,
2015; SCHAU et al., 2009; TYEDMERS, 2001).
A pesca de arrasto e a pesca de longline destinada à captura de grandes
peixes demersais, geralmente apresentam maior IUC que as pescas de pequenos peixes
pelágicos.
Além do tipo de arte de pesca e a espécie alvo, outros fatores também
irão afetar a quantidade de combustível consumida, como as técnicas operacionais, as
distâncias entre os portos de embarque e desembarque e as zonas de pesca, bem como a
idade e o modelo das embarcações e seus motores. Isso significa que dentro de um
segmento de uma frota específica, pode haver variação significativa na eficiência do uso
de combustível entre cada embarcação.
97
A frota de espinhel de fundo deste estudo não pode ser considerada como
a mais ou menos intensiva no uso de energia em comparação com frotas de outras
regiões do mundo. Podemos observar que sua IUC foi semelhante à de outras
modalidades de pesca passivas, como a rede de emalhe e de algumas modalidades que
operam com linhas e anzóis, (modalidade que inclui a pesca de espinhel). Na
comparação com outras análises regionais ou nacionais específicas de frotas de
embarcações de longline (SCHAU et al., 2009; THOMSEN et al., 2010; TYEDMERS,
2001), a IUC foi semelhante ou superior. Além disso, é importante ressaltar que estes
estudos foram realizados em períodos bem distintos, com outros cenários de preços de
energia e desenvolvimento tecnológico (TYEDMERS, 2001) ou com embarcações de
características e padrões operacionais diferentes (THOMSEN et al., 2010).
A alta variação encontrada na intensidade energética das diferentes frotas sugere
que muitas poderiam obter melhorias significativas em seus consumos de combustível
por unidade de captura, operando de modo parecido com as frotas similares mais
eficientes.
Contudo, para um estudo mais aprofundado com relação à eficiência
energética, questão fundamental para a sustentabilidade financeira e ambiental das
diversas modalidades de pesca existentes é necessário maiores esforços na coleta e
análise de dados referentes ao consumo energético de embarcações pesqueiras,
especialmente no Brasil, onde poucos estudos desta natureza são encontrados.
98
combustível consumido e nos fatores de emissão para os gases CO2, CH4, e N2O
(Equação 5.6) (IPCC et al., 2006):
Tabela 5.9 - Fatores de emissão e Global Warming Potential (GWP) por GEE
diferentes do CO2.
Emissão Fator de emissão (kg/l) Global Warming Potential (GWP)
CH4 0,00015 28
N2O 0,00109 265
Fonte: Elaboração própria baseada em (IPCC et al., 1997).
99
6. Proposta de uso mais racional de energia em uma embarcação típica
da frota de espinhel de fundo
100
6.1 Metodologia de seleção do motor e sistema propulsor de uma embarcação
típica
6.1.1 Estimativa da resistência ao avanço
O primeiro passo para a seleção do sistema de propulsão de uma embarcação
consiste na realização de uma estimativa da resistência ao avanço da mesma.
A resistência ao avanço de uma embarcação a uma velocidade constante é a
força necessária para rebocá-la a essa velocidade em águas tranquilas.
Esta força age sobre o casco no sentido oposto ao da velocidade de
deslocamento da mesma. É decorrente das forças associadas ao campo de pressões e
cisalhamento ao redor do casco (decorrente do deslocamento nas águas) e da
superestrutura13 (decorrente da resistência ao avanço no ar da parte emersa do casco e
superestruturas) durante o movimento da embarcação. Tradicionalmente, a força de
resistência total é decomposta segundo os principais componentes apresentados na
figura 6.1 (MENDES, 2015; SCHOEPING, 2014).
13
Superestrutura é a construção feita sobre o convés principal, estendendo-se ou não de um
bordo a outro da embarcação. A parcela da força de resistência que atua na superestrutura da embarcação
é denominada resistência aerodinâmica.
101
Figura 6.1: Componentes da resistência ao avanço da embarcação.
Fonte: (MENDES, 2015).
102
Resistência aerodinâmica: contribuição das forças de resistência
(integração das forças de pressão e cisalhamento) entre o ar e a superestrutura da
embarcação;
Resistência adicional de mar: surge devido às ondas que se chocam com
a embarcação prejudicando o seu movimento de avanço;
Resistência de apêndices: propulsor, leme, eixo em contato com água etc.
provocam resistências adicionais que fazem parte da resistência ao avanço total.
Existem algumas maneiras de se obter estimativas confiáveis de resistência ao
avanço, com métodos que podem ser empíricos, experimentais ou numéricos.
Os métodos experimentais são baseados em testes de modelos em escala
reduzida para extrair informação que possa ser extrapolada para a escala do navio. Já a
simulação numérica é feita através do emprego da mecânica de fluidos computacional
com técnicas de CFD (Computer fluid analysis) para a simulação de escoamentos em
torno do casco.
Os métodos de regressão utilizam uma extensa base de dados de diferentes
embarcações para fornecer correlações para o cálculo da resistência ao avanço. Os
resultados obtidos são depois expressos sob a forma de constantes, fórmulas, tabelas ou
gráficos. As séries históricas utilizam alguma forma particular de casco para então
mensurar sua resistência ou a potência efetiva.
Entre as principais séries históricas e métodos de regressão usados para
embarcações de deslocamento (por exemplo, navios mercantes, rebocadores,
embarcações de apoio offshore etc.), as seguintes se destacam (MOLLAND;
TURNOCK; HUDSON, 2011) apud (SCHOEPING, 2014): séries compiladas da British
Ship Research Association (BSRA); Série 60; Average © Data e Holtrop e Mennen.
Neste estudo, cujo foco é a análise de embarcações de deslocamento da frota de
espinhel de fundo, decidiu-se trabalhar com o método de regressão proposto por “J.
Holtrop e G.G.J. Mennem, 1982” (HOLTROP; MENNEN, 1982), o método mais
utilizado em navios de deslocamento (SCHOEPING, 2014).
6.1.1.1 Método de Holtrop e Mennen
Holtrop realizou uma análise de regressão estatística a partir dos modelos e
resultados do NSMB (“Netherlands Ship Model Basin”). O objetivo deste estudo foi
desenvolver uma formulação teórica simplificada para o cálculo da resistência dos
navios e os efeitos de escala entre os modelos e protótipos. O método foi considerado
103
insuficiente quando combinações não convencionais dos parâmetros principais eram
usadas. Ao ajustar o modelo numérico original para dados obtidos em casos específicos,
o método resultou numa formulação com uma faixa maior de aplicação. A extensão de
sua base de dados permitiu a melhora da predição da potência de navios de altos
coeficientes de blocos14 com razões comprimento/boca (L/B) baixas e com complexo
arranjo de apêndices e popa “transom”15 submersa (HOLTROP, 1984). Desta forma, a
aplicação deste método possui limitações quanto à faixa de valores de alguns
parâmetros da embarcação, como mostra a tabela 6.1.
Tabela 6.1- Limitações para aplicação do Método de Holtrop.
Parâmetro Mínimo Máximo
Cp 0,55 0,85
Lwl/B 3,9 15
B/T 2,1 4
Fn 0,05 1
Fonte: (MENDES, 2015).
Onde:
Cp = Coeficiente prismático, que expressa a razão entre o volume deslocado pela
embarcação e o produto da área da seção mestra pelo comprimento da linha de
flutuação;
Lwl (waterline length) = Comprimento na linha de flutuação: Comprimento da
embarcação medido no plano de flutuação de projeto;
B = Boca moldada da embarcação;
T = Calado médio da embarcação;
𝑣
Fn = Número de Froude = (número adimensional relacionado com o cálculo da
√𝑔.𝐿𝑤𝑙
resistência ao avanço);
v = Velocidade de avanço da embarcação;
g = aceleração da gravidade;
As dimensões da embarcação (tabela 6.2) foram definidas com base nos
principais parâmetros da amostra da frota de espinhel apresentada no estudo de caso
14
Coeficiente de bloco é o principal fator de caracterização da forma do casco de uma embarcação. É
definido como a razão entre o deslocamento (em base volumétrica) e o volume de um paralelepípedo de
dimensões Lwl (comprimento na linha d’água), Bwl (boca máxima na linha d’agua (largest breadth on
waterline)) e T (calado).
15
Parte reta da popa (região traseira) da embarcação.
104
descrito no capítulo 5, e que estivessem dentro da faixa de valores que permita a
aplicação do Método de Holtrop e Mennem (tabela 6.1).
Para o cálculo da resistência por este método, é necessário estimar alguns
parâmetros além das dimensões apresentadas na tabela 6.2. Assim, foi modelada uma
forma característica deste tipo de embarcação no software FreeShip para a obtenção dos
inputs necessários ao método de Holtrop e Mennem, que estivessem dentro da faixa de
valores que permita a aplicação do método.
A tabela 6.3 ilustra a planilha utilizada para o cálculo da resistência ao avanço e
outros parâmetros necessários pelo Método de Holtrop.
Tabela 6.2 - Dimensões principais da embarcação.
Comprimento total (m) 14
Boca (m) 3,53
Calado (m) 1,5
Velocidade de serviço (kn) 6
Fonte: Elaboração própria.
Tabela 6.3 - Planilha de dados de cálculos pelo Método Holtrop e Mennem.
Planilha de Cálculo do Método de Estimativa de Potência Propulsiva por J. Holtrop e G.G.J. Mennem
e seleção de propulsor Série_B
Dos trabalhos: A statistical re-analysis of resistance and propulsion data. (J.Holtrop)
Further Computer-analyzed data of the Wageningen B-screw series. (MWC Oosterveld) RT (KN) 2,722
OBS: Apenas os valores em azul devem ser modificados.
Características Principais do Navio: Dados do propulsor Série B: Cálculo
Tipo do Navio: Navio Holtrop Diâmetro do Propulsor: (m) 0,75 Coef. Força Propulsiva (KTs): -0,06817
Comp. perpendiculares: (m) 12,5928 Número de Pás do Propulsor: 3 Coef. Torque (KQs): -0,00071
Comp. Linha D'água: (m) 12,7200 Profundidade do eixo (m): 1,125 Coef. avanço (J): 0,8168
Boca Moldada: (m) 3,1800 Rotação: 270,5 Veloc. avanço (Va) [m/s]: 2,7619
Calado Moldado na PV: (m) 1,5000 Razão de Áreas Fa/F: 0,60 Torque do propulsor (Q) [KN.m]: 0,00
Calado Moldado na PR: (m) 1,5000 Razão passo diâmetro: 0,60 Diferença Forças Propulsivas: -3,963
Vol. Desloc. Moldado: (m3) 15,9000 RESULTADOS
LCB rel. à PR: (m) 6,2300 CASCO:
Área Transv. do Bulbo (m2): 0,0001 Coef. Esteira (w): 0,10523 Eficiência propulsiva: 0,000867
Altura Centro Área Bulbo: (m) 0,0001 Coef. Red. Força Prop. (t): 0,22518 Potência por hélice (THP): -1,44
Coef. Seção Mestra: 0,4428 Efic. Rot. Relativa (hrr): 1,00072 Potência por eixo (PHP): -1.440,53
Coef. Linha D'água: 0,8719 Potência Efetiva (EHP): 11,3 Potência por motor (BHP): -1.454,03
Área Transom: (m2) 0,0001 Eficiência do casco: 0,86594
Área Apêndices: (m2) 1,0000 MOTOR:
Parâmetro Forma de Popa: 0,0000 PROPULSOR: Margem de rotação (%): 5,00
Velocidade de serviço (nós) 6,0000 Rend. águas abertas (h0): 0,0010 Margem de mar (%): 15,0
Eficiência Mec.Transmissão: 0,9900 Força Propulsiva (KN): Margem de motor (%): 10,0
Quantid. motores: 1 Requerida: 3,5 Pot. Req. motor (MCR) [HP]: -1839,34
Quantid. propulsores: 1 Disponível: -0,4 Rotação do motor (rpm): 307,18
Cavitação: 5 % dorso ok
105
A potência efetiva ou de casco nu (sem a presença do hélice operando na popa
do casco) da embarcação é definida como o produto da resistência total pela velocidade
de serviço:
Pe = Rt.Vs (6.1)
Além da Rt, outros outputs foram obtidos desta planilha: o coeficiente de esteira
(w), o coeficiente de redução de força propulsiva (t), a eficiência do casco (ηh) e a
eficiência rotativa relativa (ηrr). Estes dados são necessários para calcular as demais
potências e eficiências exigidas no dimensionamento do hélice e motor de propulsão e
serão definidos a seguir.
Segundo (HOLTROP; MENNEN, 1982), na passagem de uma embarcação
sobre as águas, observa-se duas características no escoamento do fluido: um padrão de
ondas se movimentando ao longo do casco e uma região de escoamento turbulento que
cresce ao longo do comprimento da embarcação e se prolonga atrás do casco na forma
de esteira. A figura 6.2 apresenta estas características do escoamento ao redor do casco.
O efeito do atrito entre a água e casco cria, portanto, uma “esteira”, que faz com
que haja uma redução da velocidade da água que chega ao hélice do propulsor (a
velocidade de esteira gerada tem mesma direção e sentido do movimento da
embarcação, (CASSERES, 2018)).
Uma das consequências da esteira é que o propulsor avança relativamente à água
a uma velocidade Va, chamada de velocidade de avanço, menor que a velocidade de
106
serviço da embarcação. O coeficiente de esteira é utilizado para relacionar estas duas
velocidades:
𝑉𝑠−𝑉𝑎
w=
𝑉𝑠
Assim, obtém-se a seguinte relação entre as velocidades:
Va = Vs.(1-w) (6.2)
A força produzida pelo hélice responsável por deslocar a embarcação sobre a
superfície da água é chamada de empuxo (T). Esta força de empuxo é avaliada a partir
de ensaios experimentais para levantamento da resistência ao avanço no casco,
realizados sem a presença do hélice em sua popa. A presença do hélice provoca um
aumento na resistência da embarcação devido ao aumento da velocidade do escoamento
e diminuição da pressão na popa do navio (TRINDADE, 2012). Isto significa que a
força de empuxo T fornecida pelo hélice terá que superar a resistência total Rt da
embarcação mais este aumento devido a presença do mesmo.
O coeficiente de redução da força propulsora t expressa este fator de aumento da
resistência da embarcação devido à presença do propulsor, sendo definido como:
𝑇−𝑅𝑡
t=
𝑇
O empuxo requerido pela embarcação é expresso pela equação:
𝑅𝑡
T= (6.3)
(1−𝑡)
107
Cada casco deve ser projetado de acordo com a finalidade da embarcação,
podendo apresentar vários formatos. Esta característica torna a seleção do propulsor um
projeto único para cada tipo de embarcação, tendo em vista a perturbação do fluido
causada pela passagem do casco.
A eficiência do casco está relacionada com os efeitos de interação casco-hélice e
representa a relação entre a potência associada ao empuxo fornecido pelo hélice e a
potência do casco nu ou potência efetiva. É expressa pela seguinte relação:
𝑃𝑒 (1−𝑡)
ηh = =( (6.5)
𝑃𝑡 1−𝑤)
108
𝑇
Kt= (6.7)
𝜌 𝑛2 𝐷 4
𝑉𝑎
J= (6.8)
𝑛𝐷
A eficiência em água aberta (ηo) é definida pela razão entre a potência fornecida
pelo propulsor (Pt = T.Va) e a potência entregue pelo eixo ao mesmo (Pd = 2π.Q. n), de
acordo com a equação 6.9:
𝑇 𝑉𝑎 𝐽 𝐾𝑡
ηo= = (6.9)
2𝜋𝑄𝑛 2𝜋 𝐾𝑞
109
A série sistemática de Wageningen foi adotada neste estudo por ser uma das
mais populares e a mais utilizada, pois cobre uma ampla faixa de aplicações e possui um
grande número de estudos publicados (MENDES, 2015).
A nomenclatura dos hélices nesta série é representada primeiramente pela letra
B, simbolizando a série. Em seguida aparecem o número de pás e a razão de área
expandida. Exemplo: Hélice B- 4.45 (hélice da série B, com quatro pás e razão de área
de 0,45).
Os propulsores da série B foram projetados e testados no NSMB, através da
análise de múltiplas regressões polinomiais das características dos testes de águas
abertas de 120 modelos de propulsores da série B, (OOSTERVELD; OOSSANEN,
1975). Os polinômios expressam os coeficientes de empuxo (Kt) e de torque (Kq) em
função do número de pás do propulsor (Z), da razão de áreas (Ae/Ao), da razão passo-
diâmetro (P/D) e do coeficiente de avanço (J). Os efeitos do número de Reynolds e da
variação da espessura da pá nos propulsores também foram avaliados no NSMB.
O termo Ae/Ao consiste na razão de área do propulsor, onde:
Ae = área expandida ou desenvolvida, que representa a soma das áreas das faces
das pás do propulsor;
Ao = área do quadrante = π.D²/4
A faixa de aplicações da série é apresentada a seguir:
Número de pás: 2 ≤ Z ≤ 7.
Razão de área expandida: 0,3 ≤ Ae/Ao≤ 1,05;
Razão passo-diâmetro: 0,5≤ P/D ≤ 1,4.
A figura 6.3 apresenta as equações dos polinômios gerados pela análise de
regressão e a figura 6.4 mostra um exemplo de um diagrama da série B (Z = 4 e Ae/Ao
= 0,45), para várias relações P/D. A tabela com os coeficientes polinomiais CTs,t,u,v e
CQs,t,u,v e os termos “s”, “t”, “u” e “v” está disponível no Anexo III.
110
Figura 6.3: Representação polinomial dos coeficientes Kt e Kq dos hélices da Série B.
Fonte: (MENDES, 2015).
111
Esses polinômios serão utilizados na implementação computacional para a
seleção do hélice capaz de produzir o empuxo necessário com maior eficiência.
112
estabelecida entre Kt e J (adimensionalizada) através das equações (6.7) e (6.8), obteve-
se a seguinte equação:
𝑇.𝐽2
Kt= (6.11)
𝜌.𝑉𝑎2 .𝐷2
113
1° Passo: após inserir os parâmetros do hélice, temos a seguinte
equivalência: Kt hélice = ∑ 𝑐 𝐽 𝑠 𝑃 𝐷 𝑡 𝐴𝑒 𝐴𝑜 𝑢 𝑍 𝑣 , torna-se Kt hélice = a.j²
+ b.j + c
114
anular as eficiências nas quais os valores de Kt do hélice resultam em números
negativos e a regressão quadrática feita para encontrar a equação do Kt do hélice se
limitou até o valor de J anterior aquele que anula o Kt do hélice.
Onde:
Pt = potência de empuxo;
ηp = eficiência do propulsor.
O coeficiente de eficiência propulsiva (Quasi-propulsive coefficient ou QPC do
termo em inglês) relaciona a potência efetiva (Pe) com a potência entregue ao propulsor
(Pd):
𝑃𝑒
ηD = = 𝜂𝑟𝑟 . 𝜂ℎ . 𝜂𝑜 (6.13)
𝑃𝑑
115
dezenas de ensaios em túneis de cavitação de hélices de geometrias variadas, em que
relaciona o coeficiente de Burril (τc) e o número de cavitação (σ).
116
𝐴
Ap = 𝐴𝑒 . 𝐴𝑜 (1,067 − 0,229. 𝑃⁄𝐷 ) (6.16)
𝑜
Ae = área expandida ou desenvolvida, que representa a soma das áreas das faces das pás
do propulsor;
Ao = área do quadrante = π.D²/4
O número de cavitação (σ) é calculado por:
𝑃𝑎 + 𝜌 𝑔 ℎ− 𝑃𝑣
σ(0,7R) = (6.17)
0,5 .𝜌.(𝑉2𝑎 +(0,7.𝜋 .𝑛.𝐷)2 )
Onde:
𝐷
h=0,2. 𝐷 + 2 (6.18)
117
O critério de cavitação utilizado será calculado através de 28 pontos extraídos
das curvas de 20%, 10%, 5% e 2,5% de cavitação do diagrama de Burril (MENDES,
2015), que estão disponíveis no anexo V. Será considerado um limite aceitável de
cavitação de até 5%.
Esses pontos foram plotados em um gráfico, em escala logarítmica, onde as
equações das curvas de cavitação podem ser obtidas (figura 6.7). As equações estimadas
que melhor representam as curvas de cavitação são do tipo logarítmica:
Y2,5% = 0,103.ln(x)+0,2388
Y5% = 0,1154.ln(x)+0,278
Y10% = 0,1422.ln(x)+0,3507
Y20% = 0,17838.ln(x)+0,4481
118
6.1.4 Cálculo da potência total instalada e aplicação das margens de serviço
Após o cálculo da Pd, a potência total instalada é calculada considerando-se a
eficiência de transmissão do eixo propulsor (perdas mecânicas no eixo e perdas relativas
à caixa redutora de velocidade) e as margens de potência aplicadas devido às condições
de mar, envelhecimento e incrustações no hélice e casco da embarcação.
Esta potência total instalada é definida como a potência necessária no motor
(Pm), ou BHP - Brake Horse Power, de acordo com a seguinte expressão:
𝑃𝑑 𝑃𝑒 1
Pm = = . + 𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑛𝑠 (6.19)
𝜂𝑡 𝜂𝑑 𝜂𝑡
Onde:
Pm = potência fornecida pelo motor;
Pe = potência efetiva;
ηt = eficiência de transmissão;
ηd = eficiência propulsiva.
119
(MAN, 2012b), ou seja, a embarcação vai operar com capacidade entre 90% a 85% de
sua capacidade máxima em condições de projeto. Neste estudo será adotada uma
margem de 10%.
Margem de rotação: Aplicada para compensar o envelhecimento do
hélice e seu maior carregamento devido às incrustações acumuladas no propulsor. Seus
valores variam de 3% a 7%. Essa margem é aplicada na rotação e não na potência. O
valor adotado foi de 5%.
Desta forma, após definir as margens de serviço e verificar o critério de
cavitação do projeto do sistema propulsor, a potência instalada total pode ser estimada.
A figura 6.8 ilustra os processos de estimativa necessários em um projeto de instalação
propulsora de uma embarcação (MOLLAND; TURNOCK; HUDSON, 2011). Esta
sequência começa com o cálculo da resistência ao avanço e termina com a estimativa de
potência total instalada.
120
6.1.5 Balanço Elétrico
Após a estimativa do consumo de energia necessário para a propulsão, é
necessário fazer o Balanço Elétrico da embarcação para saber a sua demanda elétrica.
O balanço elétrico trata-se de uma estimativa de todos os consumidores elétricos
a bordo e sua demanda para que os MCA’s, que são os equipamentos responsáveis por
suprir essa demanda, possam ser dimensionados.
O cálculo do balanço elétrico foi baseado na norma NBR 7567 NOV/1982 –
Execução de Balanço Elétrico (ABNT, 1982). Esta norma determina os equipamentos
que devem ser considerados e apresenta a tabela do Balanço Elétrico que deve ser
preenchida.
Primeiramente, o sistema elétrico da embarcação será divido em onze grupos de
cargas elétricas dividas de acordo com o seu tipo de funcionalidade e seu grau de
importância dentro da embarcação.
O balanço elétrico foi feito por grupo separadamente subdividindo em quatro
situações normais em que a embarcação poderá estar operando: no mar navegando
apenas com os sistemas essenciais em funcionamento, navegando com condições
normais da geração principal, momento da pesca (lançamento e recolhimento do
espinhel) e momento da pesca (espera).
Em cada situação será listado todos os equipamentos que deverão estar
funcionando com seus devidos fatores de carga (relação entre potência absorvida e
potência nominal) e simultaneidade (indica a percentagem dos consumidores que são
acionados em um mesmo instante) do grupo. Ao final deste processo, o
dimensionamento da geração de energia elétrica será feito considerando o pior caso, ou
seja, a situação que irá demandar a maior quantidade de energia elétrica.
6.2 Resultados
Após detalhar todo o processo metodológico adotado para estimar a potência
necessária na máquina motriz principal de um sistema propulsor, esta seção irá
apresentar os resultados obtidos para o caso de uma embarcação típica da frota
pesqueira de espinhel de fundo.
121
6.2.1 Potência efetiva e potência de empuxo
Para uma velocidade de serviço de seis nós, a resistência ao avanço da
embarcação foi calculada através da planilha de cálculo do método de Holtrop (tabela
6.3). Com o seu valor foi possível obter a Potência efetiva:
Rt = 2,72 KN
Pe = 2,72 KN . 6 nós = 8,4 KW
As figuras 6.9 e 6.10 a seguir ilustram o comportamento da resistência ao avanço
e da potência efetiva da embarcação em função da velocidade.
10
9 y = 0,0745x3 - 1,0052x2 + 5,1414x - 8,1171
R² = 0,9974
8
7
6
Rt (KN)
Velocidade de serviço
5
4
3
2
1
0
2 3 4 5 6 7 8 9
Velocidade (nós)
122
45
y = 0,4253x3 - 5,8069x2 + 28,454x - 45,603
40 R² = 0,9974
35
30
PE (KW)
25
20
15
10
5
0
2 3 4 5 6 7 8 9
Velocidade (nós)
123
Com os valores de ηo estimados para cada propulsor ótimo e os valores de ηh e
ηrr obtidos da planilha de Holtrop, pode-se calcular a eficiência propulsiva, dada pela
equação 6.13.
Tabela 6.5 - Resultados ótimos para os propulsores selecionados.
Diâmetros (m)
Parâmetros
0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85
Z (n°pás) 4 4 4 4 3 3
BAR 0,4 0,4 0,4 0,4 0,45 0,45
P/D 0,8 0,8 0,8 0,9 0,8 0,8
Kt 0,2079 0,1989 0,1901 0,2111 0,1644 0,1567
Kq 0,0277 0,0268 0,0260 0,0315 0,0223 0,0214
Joperação 0,402 0,428 0,453 0,514 0,485 0,505
RPM 683 593 521 430 427 387
ηo 48% 50% 53% 55% 57% 59%
ηd 41% 43% 46% 48% 50% 51%
Fonte: Elaboração própria.
124
0,45
0,4 Cavitação
B4-40 - P/D=0,8 2,5%
0,35
Cavitação 5%
0,3
0,25 Cavitação
τc
10%
0,2
0,15 Cavitação
20%
0,1
Propulsores
0,05 Testados
0
0 0,5 1 1,5 2
σ(0,7R)
Figura 6.11: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,6 metros.
Fonte: Elaboração própria.
0,45
0,25
Cavitação 10%
τc
0,2
0,05 Propulsores
Testados
0
0 0,5 1 1,5 2
σ(0,7R)
Figura 6.12: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,65 metros.
Fonte: Elaboração própria.
125
0,45
0,35
Cavitação 5%
0,3
0,25
τc
Cavitação 10%
0,2
0,15
Cavitação 20%
0,1
0,05 Propulsores
Testados
0
0 0,5 1 1,5 2
σ(0,7R)
Figura 6.13: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,7 metros.
Fonte: Elaboração própria.
0,45
B4-40 - P/D=0,9 Cavitação 2,5%
0,4
0,35
0,3 Cavitação 5%
0,25
τc
0,15
0
0 0,5 1 1,5 2 Propulsores
Testados
σ(0,7R)
Figura 6.14: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,75 metros.
Fonte: Elaboração própria.
126
0,45
Cavitação 2,5%
0,4
0,35
0,3 Cavitação 5%
0,25
τc
0,15
0
Propulsores
0 0,5 1 1,5 2
Testados
σ(0,7R)
Figura 6.15: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,8 metros.
Fonte: Elaboração própria.
0,45
Cavitação 2,5%
0,4
0,35
0,3 Cavitação 5%
0,25
τc
0,15
B3-45 - P/D=0,45
0,1 Cavitação 20%
0,05
0
Propulsores
0 0,5 1 1,5 2
Testados
σ(0,7R)
Figura 6.16: Resultados do critério de cavitação para o diâmetro de 0,85 metros.
Fonte: Elaboração própria.
127
hélice foi de 0,75 metros. Este valor de diâmetro oferece uma boa eficiência (55%) e
sua dimensão é adequada, representando 50% do comprimento do calado, além de
possuir um limite aceitável de cavitação.
Com isso, o propulsor selecionado foi o B4-40, com quatro pás, razão de área de
0,40 e relação P/D de 0,9, pois foi o que apresentou a maior eficiência entre as relações
P/D avaliadas para o propulsor com diâmetro igual a 0,75 metros, como mostra a tabela
6.6 e a figura 6.17.
Tabela 6.6 - Resultados de eficiência, velocidade, torque e potência para o propulsor
selecionado.
P/D h n (rps) Qo (kN-m) PD (kW)
0,5 48,17% 10,51 0,302 19,9
0,6 51,85% 9,32 0,318 18,6
0,7 53,95% 8,42 0,339 17,9
0,8 54,81% 7,72 0,364 17,7
0,9 54,86% 7,16 0,393 17,7
1,0 54,37% 6,71 0,423 17,8
1,1 53,53% 6,34 0,455 18,1
1,2 52,53% 6,03 0,487 18,5
1,3 51,46% 5,77 0,519 18,8
1,4 50,68% 5,55 0,548 19,1
128
55% 11
10
54%
9
53%
8
Eficiência Águas Abertas
52% 7
n (rps)
51% 6
5
50%
4
49%
3
48% 2
0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,5
P/D
Eficiência Águas Abertas n (rps)
Figura 6.17: Variação da eficiência em águas abertas e rotação com a relação P/D do
propulsor selecionado.
𝑃 𝑃 9,7
Pd= 𝜂𝑝𝑡 = 𝜂 .𝜂
𝑡
= 1,001.0,5486 = 17,7 kW
𝑟𝑟 𝑜
129
6.2.3 Estimativa da demanda elétrica
A tabela 6.7 apresenta um resumo do consumo de energia elétrica de cada grupo,
para cada condição de operação da embarcação:
Tabela 6.7- Balanço Elétrico dos grupos consumidores para cada condição de operação.
NO MAR Pesca -
Lançamento e Pesca -
Classificação dos Grupos
ESSENCIAL (kW) NORMAL (kW) Recolhimento Espera (kW)
(kW)
Praça de Máquinas (serviço
1- 0,03 0,13 0,13 0,13
contínuo)
Praça de Máquinas (serviço
2- 0,0 0,43 0,0 0,0
intermitente)
3- Praça de Máquinas (diversos) 0,0 0,05 0,06 0,06
Ar condicionado / Ventilação /
4- 0,01 1,56 0,01 0,01
Aquecimento
Frigoríficas de Provisões
5- 0,20 0,20 0,20 0,20
(equipamentos)
6- Máquinas de Convés 0,0 0,0 0,65 0,0
130
𝑃
Pm= 𝜂𝑑 = 19 kW
𝑡
Potência
Margem de operação
(10% de SP)
Margem de mar
(30% de PD)
Rotação
131
Tabela 6.8 - Resultados da aplicação das margens de serviço na potência e rpm
para o sistema diesel.
Sem Margens:
Margem de operação:
Pm = 29 kW Margem de rotação: 5% Margem de mar: 30%
10%
RPM = 430
Pm (kW) 29 38 42
132
Gerador 1
Conversor de
Motor Diesel
Quadro de Distribuição
Frequência
Elétrico
Motor
Gerador 2
Motor Diesel
Outras
Cargas
133
A potência necessária nos grupos geradores e demais equipamentos elétricos
serão calculadas considerando os valores típicos da eficiência de cada componente do
sistema, descritos na subseção 3.3.4.4:
Gerador: 95 – 97%;
Painel de distribuição: 99,99%;
Conversor: 98 – 99%;
Motor elétrico: 95 – 97%
Eixo propulsor: 94%
A tabela 6.9 apresenta os resultados obtidos das potências requeridas em cada
equipamento do sistema, considerando suas eficiências mínimas, ou seja, uma eficiência
total de 82%.
Tabela 6.9 - Potências requeridas nos equipamentos do sistema diesel elétrico.
Eficiências Mínimas Potência (kW)
Onde:
Peixo: Potência entregue ao eixo pelo motor elétrico;
PMe: Potência fornecida ao motor elétrico;
Pconv: Potência no conversor de frequência;
PPd: Potência entregue ao painel de distribuição;
PGe: Potência requerida pelos grupos geradores.
134
A potência requerida nos geradores PGe deve ser somada com a demanda elétrica
máxima requerida (estimada através do balanço elétrico) para encontrarmos a potência
total demandada pelo sistema diesel elétrico:
Potência requerida pelos grupos geradores: 21,3 kW
Demanda Elétrica Requerida (Balanço Elétrico): 10,4 kW
Potência total = 21,3 kW + 10,4 kW = 31,7 kW
Por fim, serão aplicadas as margens de serviço para que se possa estimar a
potência necessária nos grupos geradores em condições reais de operação. As margens
adotadas serão as mesmas adotadas no caso anterior.
Tabela 6.10 - Resultados da aplicação das margens de serviço na potência e rpm
para o sistema diesel elétrico.
Sem Margens:
Margem de operação:
PGe = 31,7 kW Margem de rotação: 5% Margem de mar: 30%
10%
RPM = 430
Como a configuração proposta para este sistema possui dois grupos geradores, a
potência requerida em cada um será de:
45,7
PGe = = 22,9 kW ou 30,7 bhp.
2
135
7. Estimativa e comparação do consumo de combustível e emissões de
GEE dos diferentes sistemas de propulsão para uma embarcação típica
da pesca de espinhel
136
Porcentagem Potência = Potência Requerida ÷ Potência Instalada
Deste modo, o consumo de combustível foi calculado da seguinte maneira:
Onde:
Preq = Potência requerida em uma determinada etapa;
Pinst = Potência do motor selecionado = 54 kW (72,4 bhp);
T = Tempo de operação em uma determinada etapa [h].
A potência requerida em cada etapa de uma viagem típica de pesca foi calculada
através da mesma metodologia da seção 6.1, utilizada no cálculo da potência total
instalada. Porém, para calcular a Rt e a Preq a partir da planilha de Holtrop (tabela 6.3),
serão utilizadas as velocidades médias em cada etapa, obtidas na pesquisa de campo.
Tabela 7.2 - Parâmetros utilizados na estimativa do consumo de combustível das etapas
de uma viagem típica de pesca: Sistema diesel “convencional”.
Etapas V (nós) Tempo (h) Rt (kN) Pe (kw) Pt (kW) Pd (kW) Pm (kW) Preq (kW)
137
Para todas as etapas da viagem de pesca, foi considerado o CEC de 0,21 l/hp-h
informado na tabela 7.1.
A tabela 7.3 apresenta os resultados da estimativa do consumo de combustível
por etapas de uma viagem típica de pesca.
Tabela 7.3 - Cálculo do consumo por etapas de uma viagem típica de pesca: Sistema
diesel “convencional”.
Consumo médio estimado (l): Sistema Diesel “convencional”
Etapas
- motor 72,4 hp
Ida 342
Volta 300
Total Acesso aos Pesqueiros 642
Lançamento 607
Espera 84
Recolhimento 524
Total Captura 1.215
Total Viagem de pesca 1.857
Fonte: Elaboração própria.
Vale ressaltar que no cálculo do tempo das etapas de lançamento, espera e
recolhimento, considerou-se o número médio de lances de pesca multiplicado pela
média dos dias efetivos de pesca.
138
Tabela 7.4 - Características do Grupo Gerador selecionado.
Modelo Potência Elétrica (kW) RPM Motor Frequência (Hz)
25% da carga máxima 50% da carga máxima 75% da carga máxima 100% da carga máxima
O cálculo do consumo em cada etapa de uma viagem típica de pesca foi feito
levando-se em consideração o consumo horário informado pelo fabricante (tabela 7.4),
assim como a porcentagem de potência necessária de cada grupo gerador em cada etapa:
C = [(% Potência Ger 1 . Consumo Ger 1) + (% Potência Ger2.Consumo Ger 2)].t (7.2)
139
Figura 7.1: Percentual de potência utilizada pelos geradores por etapas de pesca.
Fonte: Elaboração própria.
Tabela 7.5 - Cálculo do consumo de diesel dos geradores em cada etapa de pesca.
Potência
Potência
Requerida Consumo Consumo
Requerida
Etapas Tempo (h) Balanço Geradores Combustível Combustível
Propulsão
Elétrico (l/h) (l)
(kW)
(kW)
Gerador 1 9,2 243
Ida 28,8 10,4 21,3
Gerador 2 6,7 144
Gerador 1 6,7 359
Lançamento 77,5 7,4 13,4
Gerador 2 5,1 160
Gerador 1 3,7 40
Espera (*) 59,1 5 -
Gerador 2 0 0
Gerador 1 5,1 187
Recolhimento 134,7 7,4 2,5
Gerador 2 3,7 121
Gerador 1 9,2 213
Volta 25,2 10,4 21,3
Gerador 2 6,7 126
(*) Na etapa de espera foi considerada somente a potência requerida para suprir a demanda elétrica, visto
que nesta etapa os pescadores mantêm seus motores com rotações próximas a zero ou desligados,
conforme explicado no capítulo 5; seção 5.4.
140
gerenciamento de utilização dos geradores em cada etapa de pesca para minimizar o
consumo total.
A estimativa final do combustível consumido total e por etapas de uma viagem
típica de pesca é apresentado na tabela 7.6 a seguir:
Tabela 7.6 - Cálculo do consumo por etapas de uma viagem típica de pesca: Sistema
diesel elétrico.
Consumo (l) /Etapas Consumo médio estimado (l) - Sistema diesel elétrico
Ida 387
Volta 339
Total Acesso aos Pesqueiros 726
Lançamento 518
Espera 40
Recolhimento 309
Total Captura 867
Total Viagem de pesca 1.593
Fonte: Elaboração própria.
141
Tabela 7.7 - Comparação das estimativas do consumo de combustível.
Consumo
Consumo Sistema Diesel Sistema
médio
Consumo Estimado(l) por Etapas médio “convencional”- diesel
estimado –
informado Motor 72,4 bhp elétrico
Método 4
Ida - 208 342 387
Volta - 177 300 339
Total Acesso aos Pesqueiros - 385 642 726
Lançamento - 567 607 518
Espera - 163 84 40
Recolhimento - 956 524 309
Total Captura - 1.687 1.215 867
142
no consumo total ocorreu em função do menor consumo verificado na fase de captura,
que consiste nas etapas de lançamento, espera e recolhimento. Nestas etapas, é
justificada a utilização do sistema diesel elétrico, em que a embarcação opera com
velocidades reduzidas.
Portanto, com o perfil operacional traçado para a embarcação de espinhel, a
utilização de propulsão diesel elétrica se mostrou adequada, já que a embarcação
permanece, em média, 83% do tempo em atividades de pesca, onde a etapa de
recolhimento do espinhel consome 41% do tempo total de uma viagem de pesca.
Ou seja, durante 41% do tempo de sua operação, uma embarcação de espinhel
com motor diesel de 72,4 bhp opera com algo em torno de 26% da potência instalada. O
funcionamento do motor diesel em baixa carga irá impactar o seu desempenho,
aumentando o seu CEC.
143
conservação do pescado. Somente com o uso de gelo embarcado ou a utilização de
porões refrigerados para garantir a preservação e reduzir a quantidade de gelo. Para
realizar os cálculos necessários, foi considerado um equipamento de refrigeração com
potência de 3,49 kW e capacidade de refrigeração de 3.000 kcal/h (RECRUSUL, 2016).
O consumo de combustível estimado será maior devido à potência do
equipamento de refrigeração que terá de ser considerada no balanço elétrico (tabela 6.7).
Considerando este equipamento de refrigeração a demanda elétrica no pior caso
será de (10,4 + 3,49 = 13,9 kW) para a situação de navegação em condições normais.
No momento da pesca, a potência será aumentada para (7,4 + 3,49 = 10,9 kW) nas
etapas de lançamento e recolhimento, enquanto que na etapa de espera, a nova potência
requerida para atender a demanda elétrica será de (5 + 3,49 = 8,5 kW).
A tabela 7.8 mostra a variação do combustível consumido para os dois tipos de
sistema propulsor, com a utilização do sistema de refrigeração.
∆ % (sistema com
refrigeração - sistema sem 24% 31%
refrigeração)
Fonte: Elaboração própria.
144
Adotando uma redução mais conservadora de 30% na relação 1:1 gelo-peixe,
recomendada para águas tropicais, ou seja, uma relação 0,7:1 gelo-peixe, resultaria em
um consumo equivalente de 302 kWh.
Comparando com a relação gelo:peixe de 1,92:1 verificada na amostra
pesquisada (seção 5.5) que resultou em um consumo médio equivalente de 828 kWh,
poderíamos obter uma redução de 64% no consumo energético relativo ao gelo
embarcado. Com esta redução da relação gelo-peixe de 1,92:1 para 0,7:1 com uma
captura média de 5,4 toneladas, haverá uma redução de aproximadamente 6,6 toneladas
de gelo (10,4 para 3,8 toneladas).
Além do menor consumo energético, a redução no uso de gelo com a utilização
de porões refrigerados ocasionará importantes benefícios, como: maior facilidade de
manuseio do pescado nos porões das embarcações e menor risco de dano, devido a
menor quantidade de gelo necessária para seu acondicionamento; aumento de espaço
útil na embarcação; diminuição de custos relativos ao gelo e redução de peso
embarcado, que poderá reduzir também o consumo de combustível.
7.4 Emissões
A quantificação das emissões de GEE da frota de espinhel de fundo mostrou
possibilidades de redução de emissões somente pelo correto dimensionamento da
potência instalada nos motores das embarcações ou pela substituição do sistema de
propulsão.
A tabela 7.9 mostra a comparação das emissões de GEE com base no consumo
estimado da embarcação típica para os sistemas diesel convencional e diesel elétrico
com as emissões médias da frota, baseadas na estimativa de consumo feita pelo método
4.
145
Tabela 7.9 - Emissões de GEE por etapas de uma viagem de pesca.
CO2e (kg) -
CO2e (kg) - CO2e (kg) -
Sistema diesel
Etapas de uma viagem de pesca Método 4 (média Sistema diesel -
elétrico -
da frota) embarcação típica
embarcação típica
Ida 623 1.023 1.158
Lançamento 1.697 1.817 1.550
Espera 488 251 120
Recolhimento 2.860 1.567 921
Volta 529 896 1.014
Total 6.197 5.554 4.763
Fonte: Elaboração própria.
146
8. Considerações finais
8.1 Principais conclusões
O objetivo deste estudo foi examinar, qualitativa e quantitativamente, a escala do
uso de energia e o potencial de redução do consumo de combustível fóssil e das
emissões de GEE no setor pesqueiro.
A avaliação quantitativa restringiu-se a frota de espinhel de fundo do Rio de
Janeiro, a partir de uma comparação entre quatro métodos de estimativa de consumo de
combustível para as diferentes etapas de uma viagem de pesca destas embarcações. Esta
estimativa foi feita com o auxílio de informações obtidas em uma pesquisa de campo
com uma amostra de dezessete embarcações de espinhel de fundo que operam no Rio de
Janeiro, durante campanhas de campo em 2015 e 2016.
Foi utilizada uma abordagem empírica para modelar a potência necessária em
uma embarcação típica de espinhel para os sistemas de propulsão diesel e diesel
elétrico, a fim de avaliar as variações no consumo de combustível e emissões de GEE.
Entre os métodos de estimativa de consumo de combustível avaliados, o método
4 apresentou o melhor resultado com base no cálculo do EPAM, comparativamente ao
consumo obtido na pesquisa de campo.
Isto mostrou que é possível fazer estimativas mais precisas somente com dados
relativos ao consumo total de combustível de uma viagem de pesca e à potência e tempo
de operação dos motores em cada etapa. Além disso, podemos concluir que a adoção de
um valor único para o CEC para diferentes artes de pesca irá gerar erros de estimativa,
uma vez que cada método de pesca possui um perfil operacional característico e
utilizam equipamentos específicos, o que influenciará o seu consumo de combustível.
Adicionalmente, foram avaliados os perfis de consumo energético das principais
artes de pesca empregadas no Brasil e no mundo, com o intuito de comparar o
desempenho no uso de energia destas modalidades de pesca com a pesca de espinhel de
fundo analisada nesta tese. Esta comparação foi realizada com base no cálculo do
indicador de eficiência energética denominado IUC (Intensidade do Uso de
Combustível), que relaciona a quantidade de combustível utilizada com o total de
pescado capturado.
147
Foi observada uma grande variação na IUC calculada para diferentes tipos de
pesca, variando segundo as espécies alvo, tipo de artes de local de pesca e entre os
diferentes estudos e metodologias de pesquisa.
Os resultados obtidos com os dados da pesquisa de campo mostraram que a frota
de espinhel de fundo que opera nos portos do estado do Rio de Janeiro possui uma IUC
semelhante à de outras modalidades de pesca passivas, como a rede de emalhe e de
algumas modalidades que operam com linhas e anzóis, (modalidade que inclui a pesca
de espinhel). Na comparação com outras análises regionais ou nacionais específicas de
frotas de embarcações de longline a IUC foi semelhante ou superior, apesar do fato que
estes estudos foram realizados em períodos bem distintos, com outros cenários de
preços de energia e desenvolvimento tecnológico (TYEDMERS, 2001) ou com
embarcações de características e padrões operacionais diferentes (THOMSEN et al.,
2010). Isto indica um elevado potencial de redução no consumo de combustível por
unidade de captura da frota de espinhel, operando de modo mais eficiente.
Contudo, para um estudo mais aprofundado com relação à eficiência energética
são necessários maiores esforços na coleta e análise de dados referentes ao consumo
energético de embarcações de diferentes frotas pesqueiras, especialmente no Brasil,
onde poucos estudos desta natureza são encontrados.
A metodologia de dimensionamento da motorização total nos sistemas diesel e
diesel elétrico buscou avaliar se as embarcações estão utilizando motores com potência
adequada às operações da pesca, de modo a ajudar os pescadores a diminuir o consumo
de combustível com um uso mais racional de energia. Isto pode ser conduzido com a
redução da potência instalada, selecionando um motor adequado com o perfil
operacional da pesca de espinhel ou com a utilização de outras tecnologias de
propulsão, como o sistema diesel elétrico.
Os resultados da estimativa de potência requerida para o sistema diesel
mostraram que os motores utilizados são muito mais potentes que o necessário,
indicando um potencial de redução no consumo de combustível somente com a
instalação de motores menores.
Entretanto, o perfil operacional observado na frota de espinhel indicou a
possibilidade de economias importantes com a utilização de propulsão diesel elétrica.
As embarcações permanecem, em média, 83% do tempo de uma viagem de pesca na
fase de captura, com seus motores operando em cargas baixas. Somente a etapa de
148
recolhimento representou 41% do tempo total de uma viagem de pesca. O
funcionamento do motor diesel em baixa carga irá impactar o seu desempenho,
aumentando o CEC.
No caso da embarcação típica com motor diesel de 72,4 bhp, a carga no motor
foi de 26% em 41% do tempo, resultando em um consumo de combustível 70% maior
que o estimado para o sistema diesel elétrico na etapa de recolhimento.
Deste modo, apesar do consumo ligeiramente superior nas etapas de acesso, o
consumo total do sistema diesel elétrico foi 14% inferior ao consumo estimado do
sistema diesel e 23% inferior ao consumo estimado pelo método 4 para a frota
analisada.
As emissões de GEE da frota também foram quantificadas, indicando
possibilidades de redução de emissões somente com o correto dimensionamento da
potência instalada nos motores das embarcações ou pela substituição do sistema de
propulsão, em função da redução no consumo de combustível explicitada anteriormente.
Os resultados mostraram que a redução no consumo de combustível com a
utilização do sistema diesel elétrico indicou uma potencial redução de aproximadamente
0,8 tCO2e nas emissões totais de GEE, em função da considerável redução nas etapas de
lançamento e recolhimento. Somente nestas duas etapas, quase uma tonelada de CO2e
poderia ser evitada. Em comparação com as emissões médias da frota, estimadas pelo
método 4, a redução de emissões de GEE em uma viagem de pesca seria de 23% (1,4
tCO2e), assim como a redução do consumo de combustível verificada.
As informações coletadas na pesquisa de campo também possibilitaram avaliar a
eficiência do sistema de conservação do pescado, com relação à energia consumida para
o seu acondicionamento, através do cálculo do indicador que relaciona a quantidade de
gelo embarcado com o total de pescado capturado. Foi observado que todas as
embarcações da frota utilizam gelo produzido em terra e levado a bordo para o
resfriamento do pescado. Esta técnica consiste em intercalar camadas de peixe e gelo no
porão de armazenamento.
Verificou-se um grande potencial de redução de gelo consumido, devido a
elevada relação de 1,92:1 gelo-peixe calculada para a amostra, mostrando-se bem
superior à relação recomendada em referências internacionais de 1:2 para águas
temperadas ou 1:1 para águas tropicais, podendo ainda ser reduzida em 30% a 50% caso
149
seja utilizado porão refrigerado (PRADO; DREMIÈRE, 1990; SHAWYER; MEDINA
PIZZALI, 2003).
Comparando a relação gelo:peixe de 1,92:1 verificada na amostra pesquisada,
com a relação 0,7:1 gelo-peixe16, pode-se observar uma redução de 64% no consumo
energético relativo ao gelo embarcado, com uma redução de aproximadamente 6,6
toneladas de gelo, apesar do aumento no consumo energético com a utilização do
sistema de refrigeração.
Vale destacar também os outros benefícios da redução no consumo de gelo com
a utilização de porões refrigerados, como o manuseio mais adequado do pescado nos
porões das embarcações e menor risco de dano; aumento de espaço útil na embarcação;
diminuição de custos relativos ao gelo e redução de peso embarcado, que poderá reduzir
também o consumo de combustível.
16
Esta relação 0,7:1 gelo-peixe foi obtida adotando uma redução de 30% na relação 1:1 gelo-peixe
recomendada para águas tropicais.
150
séries de Wageningen e a estimativa de potência dos principais componentes do sistema
propulsor;
Comparação da estimativa de consumo de combustível e emissões de GEE com
outros tipos de sistema de propulsão, como o sistema híbrido em série e em paralelo;
Análise da viabilidade econômica e tempo do retorno de investimento da
substituição do sistema de propulsão diesel pelo diesel elétrico;
Avaliação econômica do impacto da redução do consumo de combustível fóssil
em frotas pesqueiras, dada a sua representatividade na estrutura de custos das
embarcações.
151
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161
Anexos
Anexo I – Questionário aplicado na pesquisa de campo
Características da Embarcação
Nome da Embarcação
Comprimento da embarcação Boca da Produção Desembarcada Capacidade
(m) embarcação (toneladas) Porão
(m) (toneladas)
Método de Pesca
Dias de Viagem: N°
Espinhel horizontal de Boiado ( ) Meia
Tripulantes:
superfície água ( )
Espinhel horizontal de fundo Dias Efetivos de Nº de anzóis:
( ) Pesca:
Latitude / Longitude Horário médio Horário médio de Profundidade
de lançamento recolhimento de atuação
162
Comprimento linha principal: N° lances por Quantidade de Zonas Distância entre
dia: de Pesca: a costa e a
zona de pesca
1:
N° Médio de viagens/ano: N° lances por Distância entre as
viagem de Zonas de Pesca
pesca:
Distância entre a última zona
de pesca e o porto de
desembarque:
Propulsão
163
Fabricante / Modelo Gerador
Consumo combustível
(litros/hora):
( ) elétrico ( )
Sistema de refrigeração do porão hidráulico ( ) mecânico
( ) nenhum
Fabricante / Modelo
Perfil Operacional
164
Outros consumos de energia: luzes, ar condicionado, geladeira, equipamentos de
navegação, bombas, outros
N° médio de horas
Quantidade em
Equipamento Potência (w) de funcionamento
funcionamento
no deslocamento
Lançamento do Espinhel
Espera
165
Tempo de imersão do espinhel (espera) Tempo de funcionamento motor na espera (h)
Recolhimento do Espinhel
166
Tempo de funcionamento do Sistema de refrigeração:
167
Anexo II - Características dos motores utilizadas para estimar o CEC
das embarcações.
Tabela II.1 - Características dos motores utilizados para estimar o CEC das
embarcações.
Motor – Curvas
Motor - Embarcações Potência (bhp) RPMmáx Potência (bhp) RPMmáx
de CEC utilizadas
168
Anexo III – Coeficientes dos polinômios da série de Wageningen
Tabela III.1 - Coeficientes para o cálculo de Kt.
Coeficientes Kt
i Cs,t,u,v s(J) t(P/D) u(Ae/Ao) v(Z)
1 0,0088049600 0 0 0 0
2 -0,2045540000 1 0 0 0
3 0,1663510000 0 1 0 0
4 0,1581140000 0 2 0 0
5 -0,1475810000 2 0 1 0
6 -0,4814970000 1 1 1 0
7 0,4154370000 0 2 1 0
8 0,0144043000 0 0 0 1
9 -0,0530054000 2 0 0 1
10 0,0143481000 0 1 0 1
11 0,0606826000 1 1 0 1
12 -0,0125894000 0 0 1 1
13 0,0109689000 1 0 1 1
14 -0,1336980000 0 3 0 0
15 0,0063840700 0 6 0 0
16 -0,0013271800 2 6 0 0
17 0,1684960000 3 0 1 0
18 -0,0507214000 0 0 2 0
19 0,0854559000 2 0 2 0
20 -0,0504475000 3 0 2 0
21 0,0104650000 1 6 2 0
22 -0,0064827200 2 6 2 0
23 -0,0084172800 0 3 0 1
24 0,0168424000 1 3 0 1
25 -0,0010229600 3 3 0 1
26 -0,0317791000 0 3 1 1
27 0,0186040000 1 0 2 1
28 -0,0041079800 0 2 2 1
29 -0,0006068480 0 0 0 2
30 -0,0049819000 1 0 0 2
31 0,0025983000 2 0 0 2
32 -0,0005605280 3 0 0 2
33 -0,0016365200 1 2 0 2
34 -0,0003287870 1 6 0 2
35 0,0001165020 2 6 0 2
36 0,0006909040 0 0 1 2
37 0,0042174900 0 3 1 2
38 0,0000565229 3 6 1 2
39 -0,0014656400 0 3 2 2
169
Tabela III.2 - Coeficientes para o cálculo de Kq.
Coeficientes Kq
i Cs,t,u,v s(J) t(P/D) u(Ae/Ao) v(Z)
1 0,0037936800 0 0 0 0
2 0,0088652300 2 0 0 0
3 -0,0322410000 1 1 0 0
4 0,0034477800 0 2 0 0
5 -0,0408811000 0 1 1 0
6 -0,1080090000 1 1 1 0
7 -0,0885381000 2 1 1 0
8 0,1885610000 0 2 1 0
9 -0,0037087100 1 0 0 1
10 0,0051369600 0 1 0 1
11 0,0209449000 1 1 0 1
12 0,0047431900 2 1 0 1
13 -0,0072340800 2 0 1 1
14 0,0043838800 1 1 1 1
15 -0,0269403000 0 2 1 1
16 0,0558082000 3 0 1 0
17 0,0161886000 0 3 1 0
18 0,0031808600 1 3 1 0
19 0,0158960000 0 0 2 0
20 0,0471729000 1 0 2 0
21 0,0196283000 3 0 2 0
22 -0,0502782000 0 1 2 0
23 -0,0300550000 3 1 2 0
24 0,0417122000 2 2 2 0
25 -0,0397722000 0 3 2 0
26 -0,0035002400 0 6 2 0
27 -0,0106854000 3 0 0 1
28 0,0011090300 3 3 0 1
29 -0,0003139120 0 6 0 1
30 0,0035985000 3 0 1 1
31 -0,0014212100 0 6 1 1
32 -0,0038363700 1 0 2 1
33 0,0126803000 0 2 2 1
34 -0,0031827800 2 3 2 1
35 0,0033426800 0 6 2 1
36 -0,0018349100 1 1 0 2
37 0,0001124510 3 2 0 2
38 -0,0000297228 3 6 0 2
39 0,0002695510 1 0 1 2
40 0,0008326500 2 0 1 2
41 0,0015533400 0 2 1 2
42 0,0003026830 0 6 1 2
43 -0,0001843000 0 0 2 2
44 -0,0004253990 0 3 2 2
45 0,0000869243 3 3 2 2
46 -0,0004659000 0 6 2 2
47 0,0000554194 1 6 2 2
170
Anexo IV - Expressões para correção do efeito do número de Reynolds
(maiores que 2.106)
171
Anexo V - Pontos retirados do Diagrama de Burril
Tabela V.1 - Pontos retirados do Diagrama de Burril
Cavitação 2,5% Cavitação 5% Cavitação 10% Cavitação 20%
σ(0,7R) ζc 2,5% σ(0,7R) ζc 5% σ(0,7R) ζc 10% σ(0,7R) ζc 20%
0,189 0,0739 0,16 0,074 0,14 0,076 0,115 0,08
0,199 0,0779 0,17 0,079 0,145 0,08 0,12 0,086
0,21 0,0819 0,18 0,0858 0,149 0,084 0,125 0,092
0,22 0,086 0,19 0,089 0,16 0,092 0,13 0,096
0,24 0,0937 0,204 0,098 0,165 0,096 0,14 0,107
0,25 0,0964 0,219 0,105 0,17 0,1 0,151 0,12
0,27 0,104 0,239 0,114 0,183 0,11 0,172 0,13
0,29 0,111 0,26 0,122 0,198 0,12 0,18 0,14
0,32 0,12 0,289 0,132 0,209 0,127 0,19 0,156
0,35 0,13 0,31 0,14 0,229 0,14 0,199 0,165
0,39 0,14 0,339 0,15 0,24 0,146 0,22 0,18
0,43 0,149 0,379 0,161 0,26 0,157 0,23 0,189
0,46 0,155 0,41 0,17 0,284 0,17 0,245 0,198
0,498 0,163 0,449 0,18 0,298 0,176 0,259 0,21
0,56 0,175 0,49 0,19 0,329 0,19 0,279 0,224
0,6 0,181 0,539 0,201 0,379 0,21 0,289 0,229
0,64 0,188 0,58 0,209 0,419 0,224 0,299 0,235
0,7 0,197 0,66 0,222 0,47 0,24 0,31 0,24
0,78 0,208 0,72 0,235 0,539 0,26 0,34 0,26
0,82 0,214 0,79 0,249 0,58 0,27 0,359 0,27
0,898 0,224 0,839 0,253 0,66 0,289 0,379 0,28
0,998 0,235 0,94 0,27 0,74 0,303 0,41 0,29
1,1 0,249 0,98 0,278 0,798 0,318 0,45 0,31
1,2 0,258 1,09 0,29 0,86 0,33 0,48 0,32
1,29 0,269 1,16 0,3 0,919 0,34 0,5 0,33
1,39 0,279 1,29 0,312 0,979 0,35 0,56 0,35
1,49 0,286 1,34 0,32 1,09 0,37 0,62 0,37
1,51 0,293 1,43 0,33 1,18 0,382 0,68 0,39
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