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O Licenciando
_______________________________
O Supervisor
__________________________
_____________________ _______________________
Declaro por minha honra que este trabalho nunca foi apresentado integralmente para obtenção
de qualquer grau académico, e que constitui fruto da minha investigação, estando indicadas no
texto, assim como na bibliografia, as fontes que foram utilizadas na elaboração do mesmo.
O Licenciando
_______________________________
i
EPÍGRAFE
“Chamo de eficientes as instituições quando elas melhoram (com respeito ao status quo) a
condição de todos (ou quase todos) os indivíduos ou grupos numa sociedade (…)”
ii
DEDICATÓRIA
iii
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos vão para a minha família, especialmente aos meus pais; Mário Filipe
Mapurango e Leonor Zano Mazumba; meus irmãos, Dilce (Tafadzua), Edilson (Jacob) e
Lavureta (Baninha); meus primos, Creig Anway, Fourguet, Filipe, Timóteo, Calton, Reagan,
Assam, João, Maria dos Anjos; minha sobrinha, Anticha; assim como a família Fuleque,
Tsoca, Marondo e, outros que directa ou indirectamente contribuíram para que este estudo
fosse a realidade que é.
Meus ostensivos agradecimentos vão ao Prof. Doutor Salvador Cadete Forquilha, meu
supervisor, pela confiança que depositou em mim, disponibilidade no seu pouco e rico tempo
para demonstrar a sua benevolência, paciência, para não dizer, a transmissão da sua
experiência, pois, sem o seu carácter na correspondência das exigências deste trabalho, nada
se concretizaria.
Agradeço igualmente aos meus colegas do curso de Ciência Política “ingresso 2010”, com
destaque para Domingos, Simeão, Fidel, Justo, Rajú, Régio, Carmen, Nelson e Dário. Aos
companheiros da Administração Pública: Muaga, Lineu, Batone, Joyce e Elsa pelo
companheirismo na dinâmica enquanto estudantes.
iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
v
RESUMO
vi
Índice
DECLARAÇÃO DE HONRA ..............................................................................................I
EPÍGRAFE ......................................................................................................................... II
DEDICATÓRIA.................................................................................................................III
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... IV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ......................................................................... V
RESUMO ........................................................................................................................... VI
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................... 3
1.2 GOVERNAÇÃO DISTRITAL EM MOÇAMBIQUE .................................................................. 5
1.3 MINERAÇÃO ARTESANAL DE OURO EM MOÇAMBIQUE .................................................... 7
1.4 BREVE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO SOBRE O SECTOR MINEIRO EM MOÇAMBIQUE ................ 8
1.4.1 Lei de Terra (Lei nº20, de 1 de Outubro) ................................................................ 8
1.4.2 Lei de Minas (Lei n°20/2014, de 18 de Agosto) ...................................................... 9
1.4.3 Lei do Ambiente (Lei n° 20 de 1 de Outubro de 1997) .......................................... 10
1.5 CARACTERIZAÇÃO, IMPACTOS SOCIOECONÓMICOS E AMBIENTAIS DO MAPE EM
MOÇAMBIQUE ................................................................................................................... 10
1.6 PROBLEMÁTICA ........................................................................................................... 12
1.7 HIPÓTESES................................................................................................................... 14
1.8 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................... 14
1.9 OBJECTIVOS DO ESTUDO .............................................................................................. 15
1.9.1 Geral.................................................................................................................... 15
19.2. Específicos ........................................................................................................... 15
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 17
2. DESCENTRALIZAÇÃO E SUAS DIMENSÕES ........................................................................ 17
2.1. A dimensão social ou espacial ................................................................................ 19
2.2. A dimensão administrativa ou desconcentração ..................................................... 19
2.3. A dimensão política ou devolução .......................................................................... 20
2.4. ÓRGÃOS LOCAIS DO ESTADO AO NÍVEL DOS DISTRITOS ................................................ 20
2.4.1. Conselho Consultivo Distrital (CCD) .................................................................. 21
2.4.2. Fóruns Locais e Comités Comunitários ............................................................... 22
2.5 A ARTICULAÇÃO DOS ÓRGÃOS LOCAIS DO ESTADO NA GESTÃO SUSTENTÁVEL DA
MINERAÇÃO ARTESANAL DE OURO NOS DISTRITOS. ............................................................. 22
1
4.1. 2ª FASE: TRABALHO DE CAMPO ................................................................................... 32
4.2. 3ª FASE: ANÁLISE DE DADOS ....................................................................................... 34
4.2.1. Análise do conteúdo ............................................................................................ 35
4.2.2 Análise da coincidência de padrões ...................................................................... 35
4.3. CONDIÇÕES ADVERSAS AO TRABALHO DE CAMPO ........................................................ 35
CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ... 37
5. BREVE CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO DE MANICA ....................................................... 37
5.1. LOCALIZAÇÃO, SUPERFÍCIE E POPULAÇÃO.................................................................... 37
5.1.1 CLIMA E HIDROGRAFIA ............................................................................................. 38
5.1.2. INFRA-ESTRUTURAS, SERVIÇOS, TRANSPORTE , COMUNICAÇÃO E REDE ELÉCTRICA .. 38
5.1.3. ESTRUTURA SOCIO-ECONÓMICA ............................................................................... 39
5.1.4 AGRO-PECUÁRIA E MERCADO DE PRODUTOS .............................................................. 40
5.1.5. COMÉRCIO ............................................................................................................... 40
5.1.6. SOCIEDADE CIVIL .................................................................................................... 41
5.1.7. ESTRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA .................................................................. 41
5.2. ESTÁGIO DA GOVERNAÇÃO DISTRITAL DE MANICA E A RETROSPECTIVA DA MINERAÇÃO
ARTESANAL DE OURO. ....................................................................................................... 42
5.3. ARTICULAÇÃO DO GOVERNO DISTRITAL DE MANICA NA GESTÃO DO
GARIMPO ILEGAL DE OURO .......................................................................................... 44
5.4. A PARTICIPAÇÃO E RESPONSABILIDADE DO GOVERNO DISTRITAL DE
MANICA NA GESTÃO DO GARIMPO DE OURO: UM OLHAR PARA A LOCALIDADE
DE MHARIDZA.................................................................................................................. 46
5.5. DA PARTICIPAÇÃO DO GOVERNO DISTRITAL NA GESTÃO DO GARIMPO
ILEGAL À REALIDADE EMPÍRICA DO NEO-PATRIMONIALISMO COMO
OBSTÁCULO DO DESENVOLVIMENTO. ....................................................................... 49
CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................... 53
6. CONCLUSÕES................................................................................................................. 53
6.1. SUGESTÕES................................................................................................................. 55
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 56
8. ANEXOS ........................................................................................................................ 64
ANEXO I : GUIÃO DE ENTREVISTAS DIRIGIDO AOS 3 GRUPOS ALVO.................................... 65
ANEXO II: REPRESENTAÇÃO DOS GRUPOS ENTREVISTADOS POR TABELAS. .......................... 66
ANEXO III. IMAGENS FOTOGRÁFICAS ................................................................................. 69
2
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
Nesta lógica, NGUIRAZE & AIRES (2011) confirmam que o Governo Central iniciou um
processo de planificação e gestão do desenvolvimento local no país, onde uma das acções-
chave deste processo foi a descentralização e modernização dos instrumentos de programação
de recursos públicos ao nível provincial e distrital, acompanhados da articulação entre a
administração do Estado e as comunidades locais.
O debate actual sobre o papel da descentralização está cada vez mais virado à postura do
Estado na gestão do boom de recursos naturais ocasionalmente descobertos. Aliado ao debate,
PERONE (2013) advoga que a descoberta de recursos naturais significa que Moçambique
dispõe de mais activos económicos e que a sua exploração deveria induzir rendimentos mais
elevados. As rendas obtidas no sector dos recursos naturais podem proporcionar ao Governo
receitas adicionais para financiar o investimento em bens públicos e projectos de
desenvolvimento. Desta forma, contemplando as reformas da descentralização, deveria existir
facilidades e uma forte articulação entre as instituições que representam o Estado e as
respectivas populações locais.
Para tal, sobre a crescente descoberta de recursos minerais, BAKKER (2008) apud SINOIA
(2010) argumentou que, Moçambique deve apostar no seu grande potencial em recursos
minerais para o seu desenvolvimento socio-económico, apontando para a necessidade de uma
maior transparência na gestão destes recursos para que beneficiem a maioria da população. E
1
ainda sugere que o país adopte uma política de melhor gestão dos recursos públicos e de
descentralização da administração que pode ser crucial para a promoção do desenvolvimento
socio-económico.
Por esta razão consideramos que o distrito de Manica é um dos mais ricos em recursos
naturais, particularmente, no sector mineiro, com destaque para o ouro, cuja exploração é feita
de forma alheia, uma das condição básicas para o chamariz da mineração artesanal ilegal e
clandestina que, para além de comprometer a sustentabilidade, proporciona outras actividades
de sucesso transitório, contribuindo para o abandono da agricultura, pecuária, aquacultura,
indústria e o comércio, dando origem à queda da produção e sustentabilidade económica nas
zonas onde estas actividades são básicas.
Consequentemente, para aquele distrito, a Governação tem estado a par de uma série de
dificuldades na prestação dos seus serviços. Estas dificuldades são causadas pela deficiente
articulação entre as instituições do Estado e o grupo-alvo na actividade (mineradores
artesanais), alimentando a deficiência da boa Governação em detrimento da gestão sustentável
do recurso mineral em destaque.
Em termos estruturais, o trabalho está dividido em (6) seis capítulos. Incluindo a introdução, o
primeiro capítulo, é composto pela contextualização do estudo, estágio da Governação
distrital, seguido pela descrição da mineração artesanal de ouro em Moçambique, onde
procuramos explicar o conteúdo legislativo inerente ao sector mineiro, características,
impactos socio-económicos e ambientais da mineração artesanal em Moçambique. De
seguida, apresentam-se as hipóteses, como respostas provisórias à pergunta de partida que
conduz o trabalho, justificativa e relevância do estudo, como forma de explicar as motivações
da escolha do tema, alem disso, apresentam-se os objectivos (geral e específicos). Fazem
parte do segundo capítulo, a revisão da literatura, na qual se expressa a partir da
descentralização e suas dimensões para se chegar a caracterizar o funcionamento das
instituições ao nível dos distritos em Moçambique.
2
O terceiro capítulo, com vista a adequar o estudo na sua análise, aborda sobre o
enquadramento teórico, seguido pela definição de conceitos-chave de trabalho. No quarto
capítulo versa-se sobre o quadro metodológico do trabalho, descrevendo as dinâmicas
percorridas nas etapas para a efectivação dos objectivos traçados no trabalho, assim como se
apresentam as condições adversas ao trabalho (limitações). O quinto capítulo dedica-se à
apresentação e discussão de resultados, avançando uma breve localização do distrito de
Manica, caracterização do Governo do distrito e uma retrospectiva na gestão da mineração
artesanal de ouro. Igualmente, faz-se uma análise sobre a articulação, participação e a
responsabilidade do Governo distrital de Manica na gestão da mineração artesanal de ouro:
um olhar sobre a localidade de Mharidza e também sobre a participação do Governo distrital
na gestão sustentável da mineração artesanal à realidade empírica do neo-patrimonialismo
como obstáculo do desenvolvimento. E, por último, no sexto capítulo apresentam-se as
conclusões do trabalho e as respectivas recomendações.
1.1 Contextualização
De acordo com ÉVORA (2001), o final da década 80 e início dos anos 90 foi marcado por
grandes transformações políticas que se traduziram em processos de transição de regimes
autoritários para regimes democráticos. Ademais, os processos de transição política
concentraram-se, particularmente, em países do Leste Europeu, da América Latina e da
África. Paralelamente a este debate, a autora supracitada faz menção à HUNTINGTON
(1994), ao afirmar que esse fenómeno global se designou de “terceira onda de
democratização” que, segundo ele, iniciou com o movimento de Abril de 1974, em Portugal,
onde um golpe de Estado pôs fim à ditadura de Marcelo Caetano.
Um dos impactos das transições políticas na África subsaariana foi a geração das reformas de
descentralização, nas quais FORQUILHA (2007) argumenta que, “embora as reformas de
descentralização na maior parte dos países africanos datem do período colonial, foi sobretudo
com o processo de transição política dos anos 1990 que elas ganharam um novo impulso,
passando a estar associadas a ideia do reforço à democracia e tidas como sendo capazes de
favorecer à “emergência de novos actores”, a mobilização da “sociedade civil”, a construção
de campo político local e a renovação das práticas participativas”.
Nesta perspectiva, FORQUILHA & ORRE (2011) afirmam que, “diferentemente do que
aconteceu em muitos países da África subsaariana, a transição política em Moçambique, nos
finais dos anos 1980 e início dos anos 1990, esteve profundamente ligada ao fim da [guerra
3
civil]. Com efeito, os Acordos de Paz assinados pelo Governo da FRELIMO e pela
RENAMO em Roma, em 1992, estabeleceram as bases políticas e jurídicas que moldaram o
contexto subsequente. Nesta óptica, segundo FORQUILHA (2010):
Dentro das competências conferidas aos Órgãos Locais do Estado em sua representação ao
nível do distrito, concretamente, na coordenação e gestão sustentável dos recursos naturais, na
carteira mineira, o distrito de Manica tem registado constantemente a descoberta de jazigos de
ouro, facto que AFONSO & MARQUES (1993, p. 55) alegam que se trata de “um metal
nobre que desempenha um papel fundamental como instrumento monetário. Além desta
aplicação, aquele metal é utilizado também para a manufactura de jóias, ligas etc”. Nesta
óptica, compreende-se que a exploração sustentável deste metal pode transformar a situação
socio-económica actual do distrito e da região em próspera. Desta forma pretendemos no
subtema abaixo arrolar sobre o funcionamento do distrito em Moçambique, no âmbito da
Governação descentralizada.
4
1.2 Governação Distrital em Moçambique
O modelo de organização dos distritos é uniforme para todas unidades existentes. Em 1977,
foi definido como unidade-base de planificação, onde eram exercidas as seguintes funções:
Atribuição dos órgãos centrais exercidos por estes directamente no distrito, cabendo
ao Administrador do distrito uma função de mera coordenação e acompanhamento,
como é o caso da Lei e ordem, administração fiscal, administração aduaneira, etc.;
Atribuições centrais delegadas aos órgãos distritais como o caso da gestão de terras; e
Atribuição eminentemente local como o caso das estradas e caminhos rurais,
protecção de meio ambiente e promoção de economia local (feiras e mercados).
Á luz do decreto 6/2006, art.1 em colaboração com a lei nº 8/2003 de 19 de Maio, o estatuto
orgânico do Governo distrital em Moçambique compreende a seguinte estrutura tipo: Serviço
Distrital de Planificação Infra-estrutura, Serviço Distrital de Educação, Juventude e
Tecnologias, Serviço Distrital de Saúde Mulher e Acção social, Serviço Distrital de
Actividades Económicas e outros serviços (1 a 2) a definir localmente em coordenação com a
Província. O Diploma Ministerial (23) 99 de Março classifica os distritos em três (3) grupos
de acordo com o grau de desenvolvimento socio-económico e cultural de cada região.
Para se fazer presente nos escalões inferiores, o Governo distrital é representado por órgãos
locais que chegam a abranger, também, as áreas das autarquias locais compreendidas no
mesmo território. Os distritos, na sua constituição político-administrativa, são compostos por
postos administrativos, que de acordo com MÉTIER (2004), constituem uma representação
administrativa subordinada ao distrito e manifestam a presença da sua administração e, o seu
órgão máximo designa-se por chefe do posto administrativo. Os postos administrativos são
em número de 393 postos rurais a que se acrescentam 127 postos administrativos urbanos.
Podem distinguir-se nos postos administrativos aqueles que estão sediados em locais com
uma estrutura urbana do tipo vila e onde, em regra, a administração possui infra-estruturas
organizativas e físicas e aqueles que têm um grau de desenvolvimento reduzido.
1
Para mais detalhes veja o Ministério de Administração Estatal.
5
O posto administrativo não dispõe de orçamento, as suas actividades principais são a cobrança
de impostos e a realização do censo populacional.
Ademais, o mesmo estudo afirma que a reflexão sobre a organização social do país vem-se
inclinando para aceitar que entidades existem, e embora não eleitas, possuem outras fontes de
legitimidades. A propósito do papel das autoridades comunitárias, a filosofia legislativa e
governamental parece encaminhar-se para a criação de Conselhos Consultivos a todos níveis
da administração formal.
Sobre esta matéria, AFRIMAP (2009) aduz que, a implementação de ambos processos tem
sido reticente e marcada por mudanças legislativas, facto que tem originado um sistema
complexo, marcado por lacunas, incongruências e ambiguidades face à dinâmica e aos
desafios impostos na sociedade, tendo como destaque a gestão participativa de recursos
naturais, com enfoque para o sector mineiro, no contexto da mineração artesanal de ouro,
conforme pretendemos discutir no subtema seguinte.
6
1.3 Mineração Artesanal de ouro em Moçambique
Como parte integrante do trabalho, pretende-se fazer uma abordagem sobre a Mineração
Artesanal ou de Pequena Escala (MAPE) 2, não só no que diz respeito ao seu perfil, à
legislação mineira, mas também, no que diz respeito às características, impactos socio-
económicos e ambientais.
Dos estudos preliminares que versam sobre a mineração artesanal em Moçambique, o maior
destaque vai para DONDEYNE et. al. (2009) e MAUVILO (2011). Particularmente, ao
segundo, afirma-se que na região Austral de África, a MAPE está associada ao sector
informal, isto é, não regulada por Lei, descapitalizada e com operações menos equipadas,
onde há falta de capacidade técnica e de gestão, embora seja uma das actividades económicas
alternativa da agricultura e que emprega um número considerável de cidadãos.
Estima-se que, em muitos países da região da SADC, a MAPE contribui até 5% do PIB nos
respectivos países. No Zimbabwe e Tanzânia, por exemplo, os operadores mineiros artesanais
ou de pequena escala já chegaram a contribuir com cerca de 25% do total da produção de ouro
(DRECHSLER, 2001 apud MAUVILO, 2011).
Partindo do pressuposto de que na era colonial a produção de ouro tinha atingido escalas
industriais, tendo baixado durante a [guerra civil] do pós-independência (1976-1992), pelo
facto de muitos garimpeiros se terem refugiado nos países vizinhos. Depois do seu regresso,
com o Acordo Geral de Paz (AGP), os garimpeiros retomaram o seu trabalho (Idem, 2010).
A este facto, DRECHSLER (2001) apud MAUVILO (2011) afirma categoricamente que, a
procura de ouro na parte arqueológica de Moçambique é reportada desde o tempo do Império
de Mwenemotapa (Século XIV), quando se extraía o ouro para comercialização com os árabes
e posteriormente com os portugueses.
2
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 6ª Edição Corrigida e Aumentada (p. 815),
apud CIP (2010), em Moçambique atribui-se aos praticantes do MAPE o nome de garimpeiro, na qualidade de
um pesquisador de preciosidades, indivíduo que busca lucros à custa de mixórdias e traficâncias. NHACA &
CASTIGO (2009), definem o garimpeiro como “uma pessoa que pratica a extracção mineira ilegal”.
7
Em Moçambique, estima-se que mais de cem mil pessoas, entre nacionais e estrangeiras,
estejam envolvidas no exercício de mineração artesanal, nalguns casos de forma ilegal e
clandestina, com maior incidência para as províncias de Manica, Tete, Zambézia, Niassa,
Nampula e Cabo Delgado, que apresentam alto potencial mineiro.3Este facto constitui um
constrangimento para o aumento da contribuição da economia para o desenvolvimento
sustentável, o que significa que a existência desses operadores não é registada, ou as
quantidades da sua produção mineira e os seus negócios não estão registados.
Para arrolar sobre a actividade mineira, recorreremos ao quadro legal associado a este sector
em Moçambique, começando pela Lei de Terra, Lei de Minas e a Lei do Ambiente.
Para o efeito, o artigo 11 da Lei de Terra estabelece que, “podem ser sujeitos do DUAT, as
pessoas nacionais, singulares e colectivas, enquanto as pessoas estrangeiras, singulares ou
colectivas somente podem ser titulares do “Direito de Uso e Aproveitamento de Terra”, desde
que tenham projectos de investimento estrangeiro devidamente aprovados, e sendo pessoas
colectivas, desde que estejam constituídas ou registadas em Moçambique”.
3
JORNAL@VERDADE; acessado no dia 12 de Abril de 2014.
4
MINISTÉRIO DOS RECURSOS MINERAIS E ENERGIA
5
Para mais detalhes veja a Constituição da República nos termos do artigo 110 e a Lei de Terras nos termos do
artigo 12 e artigos 9,10, 11 do respectivo regulamento.
8
Assim, a aquisição do DUAT operacionaliza-se de duas vias:
Aquisição costumeira ou de boa-fé6, processo pelo qual alguém se instala, com ou sem
autorização de uma autoridade local, num determinado pedaço de terra e faz seu
aproveitamento para fins de natureza agrária, habitação, dentre outros;
Aquisição por autorização, resulta do deferimento de um pedido dirigido por uma pessoa
singular ou colectiva a um órgão da Administração Pública, central ou local (art. 12, al. c) da
Lei de Terras). Esta autorização será posteriormente consubstanciada num título de DUAT
emitido pelo Estado.
6
De acordo com ALFREDO (2009), as normas e práticas costumeiras notam-se quando a ocupação tiver como
base os laços que ligam uma linhagem ou segmento de linhagem a um determinado território. Nos restantes
casos estaremos em face de uma ocupação de boa-fé, independentemente das relações de parentesco ou
afinidades entre o indivíduo e o grupo em que está inserido.
9
1.4.3 Lei do Ambiente (Lei n° 20 de 1 de Outubro de 1997)
No seu artigo 9, a Lei preconiza a proibição da poluição em todas vertentes, partindo das
causas, disposição e/ou o descarte e/ou lançamento de quaisquer substância tóxica e poluentes
no solo e subsolo, na água ou na atmosfera, bem como a importação de resíduos para o
território nacional, salvo em casos de cobertos por legislação específica.
A grande parte dos garimpeiros leva uma vida nómada e precária CIP (2010). Neste debate,
de acordo com GEOIDE (2010), muitas vezes, no seu exercício, estes aplicam dois (2)
métodos, dentre os quais se destacam: i) a mineração a céu aberto, que consiste na remoção da
terra vegetal ou decapagem e segue-se à remoção do minério; ii) a mineração subterrânea,
praticada na situação em que o minério está a profundidades impossibilitando a mineração a
céu aberto. O dispositivo de suporte do tecto é feito por meio de madeiras.
Como afirmado anteriormente, as mais de cem mil pessoas que praticam o garimpo de ouro
em todo o país, maioritariamente ilegais, são caracterizadas pelo uso de meios rudimentares
de escavação e processamento dos minérios (enxadas, picaretas, pás, bacias, peneiras e água
corrente dos rios circunvizinhos) DIRECÇÃO NACIONAL DE MINAS apud CIP &
AWEPA (2013). Adicionalmente, elas não só tiram benefícios directos de emprego, ao nível
da extracção, como também se beneficiam de oportunidades criadas pela sua comercialização
em termos de intermediação, melhoria da renda, aumento de imigrantes nas áreas de
mineração, melhoria de economia local, novos assentamentos, aumento dos problemas sociais
ou conflitos e problemas de saúde (saneamento nas áreas especialmente em campos de minas)
(idem, 2013).
Ademais, na inevitável dependência das águas dos rios, como afirma ANTÓNIO (2011),
artesanalmente, o ouro associado a outros minerais é processado usando o mercúrio branco
10
para separá-lo de outras substâncias minerais7. Por sua vez, este processo é feito mediante a
queima do mercúrio que resulta na inalação do seu vapor. Como substância solúvel, no
sangue, a sua contaminação tem consequências desastrosas para o homem e para o ambiente:
provoca fraqueza, insónia, cegueira, surdez, perda da coordenação dos movimentos
voluntários (ataxia), problemas na articulação das palavras (disartia), perda da sensibilidade
nas extremidades das mãos, dos pés, em torno da boca (parestesia), danos ao sistema nervoso,
câncer e pode levar à morte (MANUEL, et al., 2010).
O esquema abaixo mostra o ciclo de intoxicação do homem pelo manuseio de mercúrio sob
diferentes formas na natureza.
O ouro também é extraído nos sedimentos aluvionares8 de forma solta, não sendo necessário o
uso do mercúrio para separá-lo de outros minerais associados. O ouro solto é recolhido nos
rios e este processo turva as águas, priva a luz ao ecossistema fluvial, destrói a vegetação
7
Dados apurados pela Reunião Nacional Conjunta da DNAIA/DNGA do MICOA (2014), mostram que
actualmente um instrumento legal vinculativo sobre o mercúrio hydragirium simbolicamente representado por
Hg0 está no processo final de elaboração. O mesmo inclui 35 Artigos e os respectivos anexos, dentre os quais
são abordados aspectos relacionados com a saúde, emissão, descargas resíduos de mercúrio em locais
contaminados, capacitação/assistência técnica e transferências de tecnologias sobre a mineração artesanal de
pequena escala. O mesmo foi discutido durante as sessões dos INCs (Comités internacionais de Negociação),
desde 2009 nas quais Moçambique esteve presente. Para mais informações, veja-se a convenção de Minamata
sobre Mercúrio que foi ratificada e adoptada por Moçambique em Japão (Kumamoto) a 10 de Outubro de
2013.
8
O ouro concentrado de forma residual nos rios ou riachos.
11
ribeirinha, perturba a flora e a fauna aquática (DONDEYNE, 2007 et al., apud ANTÓNIO,
2011).
Estudos efectuados pelo GEOIDE (2010) mostram que esta prática contribui para erosão das
terras, principalmente nas zonas montanhosas; a degradação das terras para agricultura na
medida em que a maior parte das minas se localizam nas propriedades agrárias; a existência
de grandes fendas e buracos, pelo facto de os mineradores artesanais não fazerem o aterro das
minas abandonadas.
À semelhança do que acontece com a mineração industrial, o Estado tem muitas dificuldades
de pôr ordem na mineração artesanal CIP & AWEPA (2013). Este Facto impulsionou a
institucionalização do Fundo de Fomento Mineiro (FFM), sob tutela do MIREM, através do
Decreto n° 2/88 de 16 de Fevereiro, aprovado pelo Conselho de Ministros e dotado de
personalidade jurídica e autonomias administrativas e financeiras (BOLETIM do FFM, 1988-
2008).
Segundo o Decreto nº 17/05 de 24 de Junho, o FFM tem duas atribuições: (i) o apoio e a
assistência financeira das acções que visem o incremento da exploração mineira de pequena
escala, do aproveitamento e valorização dos respectivos produtos; (ii) a promoção das formas
de associação para o desenvolvimento do sector mineiro de pequena escala e artesanal CIP &
AWEPA (2013). É através do FFM que o Governo compra o ouro produzido pelos
garimpeiros. No entanto, o preço pago tem sido sempre abaixo dos preços aplicados no
mercado informal. Por exemplo, quando os compradores informais pagam 1000Mts/grama, o
FFM costuma pagar 517Mts/grama, o que incentiva aos garimpeiros a não venderem à metade
do preço (Idem, 2013).
12
1.6 Problemática
Com ênfase para os distritos, a autora supracitada advoga que, “em resultado da
desconcentração, estes também conheceram uma maior autoridade. Embora exerçam um
menor poder discricionário do que os municípios, na verdade, exercem uma influência
considerável sobre o desenvolvimento local. Por exemplo, a agricultura, a indústria, o
comércio, os recursos minerais, os transportes, as florestas, a pecuária e o turismo são áreas
que estão na mesma carteira de serviços económicos colocada sob tutela de um Director de
Serviços Económicos. Consequentemente, o desafio nos distritos mais remotos é de
identificar e reter indivíduos qualificados para se responsabilizarem por estas carteiras tão
vastas”.
Na área dos recursos minerais, sobre o seu boom nos distritos, com destaque para o ouro, tem-
se propiciado a persistência na prática da mineração artesanal ilegal e clandestina, facto que
tende a mostrar a ineficácia da actuação dos Governos distritais na gestão sustentável,
justificada por um desequilíbrio na lógica de articulação das Instituições de Participação e
Consulta Comunitária, no âmbito da implementação da Lei dos Órgãos Locais do Estado e do
seu regulamento, destacando: os Conselhos Locais, Posto Administrativo, Localidade,
Povoação, Fóruns Locais e Comités de Desenvolvimento Comunitário. Este facto parece estar
em conivência com as autoridades locais, através de práticas neo-patrimonialísticas,
demonstradas pela corrupção, seja ela puramente económica ou, ligada a uma troca social.
1.7 Hipóteses
A descoberta dos recursos minerais tem resultado num catapultar socio-económico e político
da sociedade moçambicana, particularmente, no distrito de Manica. Assim, o estudo justifica-
se por dois (2) pilares motivacionais, sendo o primeiro de ordem interna e pessoal e o segundo
de ordem externa e académica.
Relativamente à motivação pessoal, diga-se que se justifica pelo forte desejo de prestar um
contributo positivo e explicar o lento processo de desenvolvimento do distrito de Manica, que
apesar de alguns estudos geológicos preliminares ligados às pesquisas mineiras de ouro
naquele distrito de forma implícita, provarem que aquela parcela do país chega a se qualificar
14
como El dorado9. Consequentemente, o impavimento das autoridades locais e as lacunas na
implementação da legislação abrem espaço para a exploração ilegal e clandestina de ouro.
Entende-se que o final do ano 2012 e início de 2013, foram marcados pela redução do afluxo
de estrangeiros11, compradores privados de ouro naquele distrito. Como amostra, optou-se
pela escolha dos três povoados da localidade de Mharidza, nomeadamente, Chazuca,
Nhamucuarara e Nhamachato, duma forma tendenciosa por divergirem nas situações de
associativismo e grupos minerais na cadeia de valores (GEOIDE, 2010).
1.9.1 Geral
19.2. Específicos
9
De acordo com MOSCA & SELEMANE (2011) Eldorado ou El Dorado é uma antiga lenda narrada pelos
índios aos espanhóis na época da colonização das Américas. Falava-se de uma cidade cujas construções seriam
feitas de ouro maciço e cujos tesouros existiriam em quantidades imagináveis.
10
FFM que representa o Governo na monitoria e avaliação da actividade mineira ao nível local.
11
Libaneses, Israelenses e europeus, indivíduos taciturnos que vagueiam pelos bares de hotéis mal iluminados,
onde fazem seus negócios incluindo o fortalecimento do mercúrio aos garimpeiros como incentivo de trabalho.
O ouro é exportado por eles, ainda sujo para outros países de forma ilegal. Eventualmente, o metal acaba nos
maiores mercados em Londres, Nova York e Zurique: brilhoso, refinado e caro.
15
Avaliar o tipo de relação estabelecida entre os Órgãos Locais do distrito e os
praticantes do garimpo de ouro face às vantagens comparativas do desenvolvimento
local;
Identificar os principais desafios do Governo distrital de Manica face ao cumprimento
da legislação do sector mineiro;
Descrever a eficácia do Governo distrital de Manica no fortalecimento da Governação
participativa com os garimpeiros e a comunidade local, para a mitigação dos impactos
negativos na vertente socio-económica e ambiental do garimpo de ouro.
16
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA
Para TOBAR (1991), “as teses descentralistas começam a ser defendidas mais enfaticamente
por organismos internacionais como a ONU, o World Bank e a OPAS, nos começos da
década de 80. Talvez, nenhuma publicação tenha sido mais paradigmática que a de G.
SHABBIR CHEEMA & DENNIS A. RONDINELLI, intitulada Decentralization and
development (1983)”. Ora, nesse estudo, os autores enunciam diversas funções da
descentralização do poder, tais como, a diminuição dos efeitos negativos da burocracia, o
respeito às prioridades e às necessidades locais, facilitação duma maior representatividade na
formulação de decisões e uma maior equidade na alocação dos recursos, o aumento da
legitimidade e estabilidade institucional etc.
12
Partimos da ideia segundo de DILLINGER (1995, p.1), apud ARRETCHE, (1996), na qual expressa queʺ dos
75 países considerados em vias de desenvolvimento ou em economias de transição, 63 teriam implementado
reformas nas quais teria ocorrido um processo de transferência de poder político para os governos locais”
17
permitam aos núcleos decisórios do Estado “reduzir a carga de decisões, compartilhar com
outras pessoas, permitir que a decisão seja tomada por escalões inferiores, ou na periferia”,
livrando-os de tal tarefa um centro de decisões por demais esgotado.
MEDICI (1994); ABRUCIO (2006) apud BINOTTO et al. (2010) seguem o mesmo
pensamento. O primeiro afirma que a descentralização está sempre associada a um
determinado objecto, podendo ser a Administração Pública ou as políticas sociais que, quando
administradas ou executadas por diferentes esferas do Governo, caracterizam a
descentralização como uma transmissão de comando, execução ou financiamento destas
políticas do nível central para o nível intermediário ou local. O segundo afirma que a
descentralização também é utilizada para denominar a transferência de atribuições do Estado
à iniciativa privada, privatização ou dando concessão de serviços públicos e a transferência de
poder do Governo para uma comunidade ou organização não-governamental (ONG).
Finalmente, TOBAR (1991, p.3) afirma que tanto na análise quanto na prática política tem-se
aplicado diferentes usos ao conceito "descentralização". O termo cobra uma funcionalidade
particular em cada caso, de acordo com as características dos seus usuários. Ou seja,
diferentes actores utilizam o conceito de maneiras particulares. Apesar disso, encontram-se
também elementos comuns às definições desenvolvidas por diferentes autores. Algumas
destas características comuns são as seguintes:
18
BINOTTO et al. (2010) situa a descentralização dentro de um plano político-institucional,
onde esta é concebida como desagregação do poder público através de diversas modalidades
que vão de uma simples desconcentração de actividades até à descentralização de poder
decisório, ou seja, da transferência de competências ou poderes.
No plano político-institucional acima descrito por BINOTTO et al. (2010) identificam-se três
dimensões/formas de descentralização, a saber: a dimensão social (Espacial), administrativa
(Desconcentração) e Política (Devolução).
19
definitiva de autoridade, poder de decisão e implementação da administração central para
outros agentes fora dos órgãos centrais.
Os Órgãos Locais do Estado, ao nível do distrito, são definidos como centros de decisão
dispersos pelo território nacional mais habilitados por Lei para resolver assuntos
administrativos em nome do Estado e, por conseguinte, fazem parte da administração directa
do Estado e devem obediência às instituições do Governo (AMARAL, 1998).
Correlação à Lei n° 8/2003 de 19 de Maio, no artigo 8: “Para o exercício das suas funções, os
Órgãos Locais do Estado organizam-se nos escalões de província, distrito, posto
administrativos, localidade. Ademais, sobre o distrito, o artigo 35 n°1 al. c) especifica que
13
Neste trabalho IPCCs entende-se como um conjunto de instituições criadas a nível local no âmbito da
implementação da Lei dos Órgãos Locais do Estado e do seu regulamento, nomeadamente os conselhos
locais dos níveis de distrito, Posto Administrativo, Localidade, Povoação, Fóruns locais e Comités de
Desenvolvimento Comunitário.
20
“compete ao Administrador do distrito promover a participação das comunidades e das
autoridades comunitárias nas respectivas actividades de desenvolvimento social e cultural ao
nível local. Igualmente, salienta-se que compete ao Governo distrital promover e apoiar as
iniciativas de desenvolvimento local com a participação das comunidades e dos cidadãos na
solução dos problemas”. A monitoria deste processo está sob responsabilidade do Ministério
da Administração Estatal (MAE) e o Ministério de Plano e Finanças (MPF), então Ministério
de Planificação e Desenvolvimento (MPD).
Desta forma, em Moçambique, ao nível distrital, estão criadas instituições de diálogo entre os
Órgãos Locais do Estado, sociedade civil incluindo as comunidades locais que,
hierarquicamente, se distribuem da seguinte forma: Conselho Consultivo Distrital (CCD),
Fóruns Locais e Comités Comunitários14.
Com vista a fortalecer a economia do distrito, o Conselho Consultivo Distrital é tido como a
instituição máxima de consulta no distrito, existindo outras instâncias consultivas abaixo do
conselho Consultivo Distrital ao nível territorial. Aliás, actualmente, o Governo distrital é o
Órgão Local do Estado dotado de maior protagonismo na programação, coordenação e gestão
da intervenção ao nível local. Assim, este permite que haja um diálogo eficaz entre a direcção
e o distrito (Administrador do distrito, os directores distritais e a sociedade civil local), e bem
como que permite aos vários grupos sociais do distrito a colaborarem com as autoridades da
Administração Local na busca de soluções para as questões fundamentais que afectam a vida
da população, o seu bem-estar e o desenvolvimento sustentável do seu território.
Os Fóruns Locais e Comités Comunitários são instituições da sociedade civil que têm o
objectivo de organizar os representantes das comunidades e dos grupos de interesses locais
para permitir que eles definam as suas prioridades e exprimam-se junto dos Conselhos
Consultivos dos Postos administrativos e Conselhos Consultivos Distritais. Por sua vez, os
Fóruns Locais estão inseridos nos postos administrativos, geralmente, em números 2 (dois) e
4 (quatro) por posto administrativo, variando conforme a extensão territorial, a dimensão da
população, as actividades e a forma de organização dos habitantes. Dai que, estes são os
locais onde a sociedade civil se prepara internamente para entrar em diálogo a partir do nível
administrativo.
Para a gestão dos recursos naturais os Governos de África Austral têm deparado com uma
crescente demanda do envolvimento público na tomada de decisões, dito em outra forma, este
exercício se traduz na necessidade de fazer sentir a Governação participativa, em que muito
dos casos, se baseia na consulta pública. Neste trabalho, usa-se o termo Maneio Comunitário
de Recursos Naturais.
O Governo moçambicano estabelece, não só a sua visão e liderança sobre o processo, como
também, o quadro institucional dentro do qual as parcerias, em colaboração entre as partes
interessadas poderão ser bem-sucedidas (MICOA, 2007).
15
De acordo com MICOA (2007). O CDS-RN está vocacionado na promoção do desenvolvimento
sustentável principalmente nas zonas rurais. Isto significa um desenvolvimento em que os benefícios económicos
são adquiridos de maneira equitativa e respeitando o meio ambiente. O impacto ambiental deve ser mitigado para
permitir que as gerações vindouras possam também usufruir dos recursos naturais.
16
Refira-se que para MACUCULE (2006, p.15-16), estas entidades têm papéis diferentes embora
complementares no processo de gestão participativa, que são: Autoridades administrativas; Líderes
comunitários; Líderes religiosos, associações ou grupos de interesse; as ONG‟s e o sector privado.
22
Ora, tal como está plasmado no Decreto 6/2006, sobre o Serviço Distrital de Planeamento e
infra-estruturas art 5. al, 3), basicamente, no âmbito da indústria, compete ao Governo
distrital: divulgar o potencial industrial, atrair investidores, promover a pequena indústria para
o aproveitamento das capacidades e potencialidades locais, emitir pareceres sobre pedidos de
licenciamento de actividades económicas, inspecionar a rede industrial e promover e fiscalizar
a mineração artesanal.
Neste contexto, existem poucos estudos pragmáticos que fazem a abordagem sobre a gestão/
maneio comunitário de recursos naturais (minerais) de forma sustentável, em particular para o
garimpo de ouro, facto que leva as autoridades locais a não incluir a participação das
comunidades locais, uma vez que, para o uso sustentável dos recursos naturais locais é
necessário que haja participação dos dois actores sociais que são o Governo e a comunidade
local.
Embora em pequena escala, para uma boa Governação e gestão sustentável de ouro, os
Órgãos Locais do Estado no distrito têm promovido uma série de actividades traduzidas na
Governação participativa, sendo uma delas a criação de Comissões de Maneio Comunitário
(CMC) de terra e/ ou outros recursos naturais. 17
Nesta perspectiva, LOFORT & RAIMUNDO (1998) apud MATUELE (2008) afirmam que a
participação é tida como sendo um processo que permite aos actores sociais, com diferentes
poderes e recursos, actuarem em instâncias formais e informais para discutir seus interesses,
identificar e negociar conflitos bem como desenvolver acções tomando em consideração os
interesses e preocupações das partes envolvidas. E, neste estudo, os autores salientam que o
sucesso da participação comunitária é alcançado com a representatividade dos líderes locais
na tomada de decisões, a que implica a motivação, liderança comunitária, meios e vontade de
aprender.
17
Os recursos naturais são definidos como aqueles que não foram feitos pela mão humana e que são necessários
para existência da vida na terra. Estes providenciam insumos para a economia. Isto é, a sua existência permite
que a economia de um país se desenvolva. Os recursos naturais classificam-se em renováveis e não renováveis.
Os renováveis incluem as florestas, a fauna, a vida o solo, etc, os quais podem fornecer produtos de uma forma
indefinita dada a sua capacidade de regeneração. Contudo, em certos casos e quando utilizados de forma
excessiva podem não ser renováveis. Recursos naturais não renováveis, fornecem produtos de uma forma finita
e uma vez utilizados podem acabar. Neste grupo encontram-se as minas, jazigos de petróleo e outros
(HIGMAN, 1999; apud MACUCULE , 2006, p.21).
23
incentivos económicos directos e mudanças na legislação que estimulam a valorização dos
recursos minerais.
Ademais, refere-se que o esforço das autoridades comunitárias face à gestão participativa dos
recursos naturais têm estado a par de um conjunto de obstáculos, com destaque para os
políticos-legais destacados por MACUCULE (2006), como a divergência e contradição de
interpretação entre alguns instrumentos legais relativos à gestão de recursos por parte dos
líderes locais e a inadequação de alguns instrumentos legais do processo da gestão de recursos
e a devolução de poderes para as comunidades.
24
CAPÍTULO III: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Pretendemos com este trabalho, fazer uma abordagem em torno da articulação das instituições
políticas ao nível do distrito mediante o boom dos recursos naturais. Efectivamente,
adequamos o estudo a duas teorias: o Neo-institucionalimo e a Maldição dos recursos
naturais.
3. O Neo-Institucionalismo
Ora, HALL & TAYLOR (2003), argumentam que apesar dessa orientação teórica central, o
Neo-institucionalismo reúne diferentes argumentos que assumem pressupostos específicos,
tendo em conta que não constitui uma corrente de pensamento unificada. Por sua vez, estes
autores demonstram a preocupação em avaliar a variedade de novos institucionalismos
presentes no interior de uma mesma disciplina, seja ela Ciência Política, Economia e
Sociologia, chegando analiticamente a distinguir três (3) versões do Neo-institucionalismo a
saber: o institucionalismo histórico, institucionalismo da escolha racional e o
institucionalismo sociológico.
Das três (3) versões supracitadas, optamos pelo institucionalismo da escolha racional, por
privilegiar um conjunto de pressupostos que se relacionam com nosso objecto, operando-se
nos seguintes termos: (i) os actores têm um conjunto fixo de preferências e agem de maneira
estratégica movida por uma racionalidade instrumental em busca da realização dessas
preferências; (ii) a política é concebida como um conjunto de dilemas de acção colectiva,
situação em que os actores agindo com o propósito de maximizar a realização das suas
preferências, terminam por produzir resultados colectivamente insatisfatórios; (iii) em relação
à forma como as instituições afectam o comportamento, enfatiza-se o papel da interacção
25
estratégica na determinação dos processos políticos; (iv) os actores criam as instituições
fundamentalmente para obter ganhos de cooperação.
Tal como SINNOTT, NASH E DE LA TORRE, 2010 apud MEDEIROS (2011) sustentam, o
Governo deve ter um papel importante na gestão responsável das rendas oriundas da
exploração dos recursos naturais, pois eles apresentam alta volatilidade dos seus preços. Essa
questão é extremamente grave para os recursos não renováveis, pela sua vulnerabilidade que
chega a conduzi-los para a famosa maldição dos recursos naturais, explicada a seguir.
A maior parte da literatura que aborda sobre este subtema sugere que os países em
desenvolvimento com recursos abundantes tendem a crescer mais lentamente que os com
recursos escassos. Ao mesmo tempo há grandes evidências da existência de um efeito de
crescimento negativo a longo prazo, devido à abundância de recursos, para tal, a abundância
de bens de mercadorias, até mesmo em África, aumentou a taxa de crescimento de forma
significativa Esta literatura é conhecida por maldição dos recursos naturais (RADDATZ,
2005 apud ANDERSSON, PER-ÅKE et al., 2007).
Relativamente a esta ideia, COLLIER (2007, p.64) refere que há uma considerável variação
institucional no seio das sociedades ricas em recursos naturais. Embora as instituições sejam
afectadas pela existência destes, é habitual que um país construa as instituições antes da
descoberta de riqueza natural, pelo que, a variação global nas instituições reflecte-se nos
países que dispõem de recursos naturais. Desta forma, é possível perceber estatisticamente a
forma como as instituições políticas interagem com a riqueza natural.
Neste contexto, encontram-se três (3) explicações da maldição dos recursos naturais que
apoquentam as economias africanas no processo das descobertas de recursos naturais e
Moçambique não é excepção. De acordo com COLLIER (2007, p. 60), a primeira explicação
é a doença holandesa18. Esta doença se baseia na ideia de que a exportação da riqueza natural,
faz com que o valor da moeda do País aumente em relação a outras moedas, tornando não
18
Para HANS FALCK (2000, p. 6), por vezes, na sua forma original concebida como uma teoria que visava
explicar os efeitos surtidos na economia holandesa pela descoberta na década de 1960 dos campos de gás no
Mar do Norte. O gás beneficiou os países baixos na colheita de grandes receitas de exportação. O aumento
subsequente da procura de florim holandês deu origem a uma apreciação real da moeda holandesa, o que
dificultou mais a concorrência dos produtos não petrolíferos comercializáveis em mercados internacionais.
Desde já, a teoria tem sido usada para explicar os efeitos de diversos tipos de choques ou internos. E, esta tem
sido usada para estudar booms noutros sectores de produtos primários tais como o cobre na Zâmbia
(KAYIZZi-Mgerwa, 1998), o café no Quénia (BEVAN et al.,1992); e produtos primários na Malasia
CLAASSEN,1992). Moçambique não é excepção, ao tratarmos da gestão das descobertas de Carvão em
Moatize (Tete) e areias pesadas em Moma (Nampula) Ouro em Manica (CIP, 2010).
26
competitivas as outras exportações, que possivelmente teriam sido melhores veículos de
progresso tecnológicos.
E, ainda, de acordo com COLLIER (2007, p. 61), a doença holandesa pode afectar
negativamente o processo de crescimento ao provocar o desaparecimento de actividades de
exportação que, caso contrário, teriam um potencial para crescer rapidamente. Isto é, um país
de baixo rendimento com recursos naturais abundantes tem poucas probabilidades de ter
grandes mercados porque as divisas que gera não são suficientemente valiosas.
A segunda explicação, está ligada aos efeitos da volatilidade começada nos anos 80 até aos
meados dos anos 90, baseados nas investigações levadas a cabo pelo economista JEFFREY
SACH, cujo foco de investigação estava a par dos problemas de rendas associadas aos
recursos naturais. Desde já, diga-se que, os cientistas políticos têm vindo a juntar-se para fazer
o estudo em questão, sugerindo que a existência de receitas provenientes de recursos naturais
contribui para piorar a qualidade da Governação (COLLIER, 2007, p. 61).
Finalmente, a essência da maldição dos recursos naturais é dada pelo facto de que as rendas
que lhes estão associadas provocam o mau funcionamento da Democracia. Quanto a isto,
COLLIER (2007, p. 64) frisa que, “poderia pensar-se que este regime político é precisamente
aquilo que as sociedades com riqueza natural mais necessitam. Afinal, nesse tipo de
sociedades, o Estado tem inevitavelmente de gerir inúmeros recursos e a Democracia deveria
proporcionar uma certa disciplina, de que carecem os ditadores, ou seja, poderia esperar-se
que a Democracia atingisse o seu potencial máximo de utilidade para a economia quando
abundam os recursos naturais. Ademais, poderíamos pensar assim, mas estaríamos errados se
o fizéssemos”.
3.2. Conceptualização
Uma vez percorrida a literatura sobre o tema em destaque, é de relevância para este trabalho
esclarecer alguns conceitos basilares que estão patentes no seu decurso, nomeadamente:
Governação distrital, Gestão, Sustentabilidade e Mineração Artesanal de Ouro.
Governação distrital
28
estruturas administrativas de escalão inferiores, municipais, comunitárias, organizações,
socioeconómicas e cidadãos proeminentes com vista a fortificar a autoridade do Governo. No
entanto, THOMSEN et al. (2010) salientam que, nesta função, o Governo central não cede
nenhum poder a ninguém, uma vez que tais funcionários cumprem simplesmente tarefas e
implementam as decisões tomadas pelo Governo central. Todas as linhas de comando são de
cima-para-baixo e a prestação de contas é de baixo-para-cima.
Gestão
Sustentabilidade
Esta definição foi sofrendo várias modificações com a inclusão de aspetos de parcerias
(partnership) no planeamento da protecção do ambiente como desenvolvimento económico e
social. No passado, acreditava-se que o crescimento da economia era inversamente
proporcional à protecção do ambiente.
Adicionalmente, o mesmo autor afirma que, com a definição acima deste aspecto é dissipado.
E o alcance do desenvolvimento sustentável só será possível quando a geração de hoje
realizar as suas actividades económicas e sociais dentro da capacidade de carga dos
ecossistemas (carring capacity). Contudo, o domínio da sustentabilidade pode ser
representado no âmbito da ecologia/ambiente, social e económico.
Mineração Artesanal
A Mineração Artesanal não é consensual, mas sim contextual, pois de um modo geral está
associado ao seu resultado, o que implica que pode ser designada por Mineração Artesanal ou
29
de Pequena Escala (MAPE). Para tal, recorremos à definição de CHAPARRO (2004), no seu
trabalho “a característica fundamental a que se denomina pequena mineração”, que não é fácil
de definir. Mas, a MAPE, de acordo com os parâmetros de medição universal, termina por
defini-la conforme as suas características na seguinte forma: (i) Intensa utilização de mão-de-
obra; (ii) Conflituosidade social e legal; (iii) Baixo desenvolvimento tecnológico; (iv)
Deterioração ambiental; (v) Geração de cadeias produtivas locais; (vi) Precárias condições de
segurança e higiene; (vii) Baixos custos de produção.
30
CAPÍTULO IV: QUADRO METODOLÓGICO
Dada à configuração teórica nos capítulos anteriores, pretende-se com este capítulo, delinear
os procedimentos metodológicos que conduziram a materialização e sistematização deste
trabalho. PRODANOV & DE FREITAS (2013, p.14) concebem a metodologia como a
aplicação de procedimentos metódicos e técnicos que devem ser observados para construção
do conhecimento, com o propósito de comprovar a sua validade e utilidade nos diversos
âmbitos da sociedade.
Ora, a pesquisa desenvolvida neste estudo é eminentemente qualitativa. Refira-se que, DIAS
(2000) apud VIEIRA (2010) sintetizou as ideias de GLAZIER & POWELL (1992), acerca
dos principais dados a serem buscados na pesquisa qualitativa. À luz destes autores, os
pesquisadores devem fornecer descrições detalhadas dos fenómenos e comportamentos
observados no campo de pesquisa. Devem, igualmente, buscar junto das pessoas que
vivenciaram ou convivem um momento ou um facto histórico que passa a ser objecto de
estudo, isto é, reunir documentos e todo o tipo de registos ou correspondências disponíveis,
realizar entrevistas e observar a interacção entre os indivíduos, as instituições a fim de primar
pela riqueza dos detalhes.
De facto, a escolha do método indutivo para este trabalho deveu-se ao conhecimento prévio e
presencial da mineração artesanal de ouro que se explica pela tendência evolutiva ao longo do
tempo, partindo do pressuposto de que a região de Manica foi intensamente estudada devido
aos minérios que ai se encontram, cuja história de Moçambique menciona como sendo um dos
motivos de várias guerras entre distintos reinos desta região e posteriormente a colonização.
Actualmente, esta actividade persiste alastrando problemas de vária ordem naquele distrito e
um pouco por toda província, com o mesmo diagnóstico, constituindo deste modo um dilema
19
Para MARCONI & LAKATO (1992, p. 47), a indução é um processo mental por intermédio do qual partindo
de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas
partes examinadas. Portanto, o objectivo dos argumentos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais
amplo do que o das premissas nas quais se baseiam.
31
consumado em vantagens e desvantagens entre os utentes e a Governação local de base
legitimada, preferencialmente, nas zonas rurais.
Nesta fase, para a familiarização com o tema, desenvolveu-se a revisão bibliográfica com base
no material já elaborado, constituído por livros, artigos científicos, monografias, teses, dados
documentais, fontes secundárias em revistas e relatórios especializados, arquivos de registo e
jornais publicados (alguns acessados nos sites da internet). Da pesquisa bibliográfica arrolada
privilegiamos a descentralização administrativa (Governação distrital) e Mineração Artesanal
de ouro (garimpo), de cariz internacional e nacional, pela capital importância que fazem ao
estudo.
20
Sobre estudos de caso, ABBOTT (2001) apud REZENDE (s/d), na medida em que os estudos de caso
representam agentes ou instâncias situadas historicamente, a partir da observação comparada de múltiplos
casos, os cientistas sociais podem compreender e explicar mais profundamente os comportamentos e acções de
agentes, instituições e colectividades situadas em contingências específicas.
21
Relevo montanhoso que chega a atingir cerca de 2000m de altitude, coberto de Pinheiros e Eucaliptos
originando a oscilação das temperaturas. De referir que as principais Serras são Vumba, Vengo, Mangota,
Isitaca, Moriangane e Penhalonga.
22
Ver os questionários em anexo.
32
vez que, na sua rotina diária não tem sido preferência a língua portuguesa23. NICHOLAS
(1991) apud MATUELE (2008) realça que se a natureza de pesquisa for exploratória em que
se pretende fazer a descrição de um certo assunto, não faz sentido usar um grande número de
amostra, indicando 30 a 50 indivíduos como um número de amostras suficiente.
Nesta ordem de ideia, entrevistou-se 27 (Vinte e Sete) pessoas, sendo 10 (Dez) direccionadas
aos membros do Governo distrital por parte dos Serviços Distritais de Actividades
Económicas, Geologia e Minas, assumindo a hierarquia estabelecida abrangendo a liderança
localmente instituída na base 24, 9 (Nove) membros das associações e garimpeiros individuais
incluindo crianças e mulheres na idade compreendida entre 825 aos 50 anos e 8 (Oito)
direccionadas aos membros da comunidade local nos pontos focais (Homens, Mulheres e
Crianças).
Ora, para a selecção do grupo-alvo a entrevistar, optamos por duas técnicas de amostragem
não probabilística,26 a saber: a amostragem de rede ou bola de Neve (Snowball Sampling) e a
amostragem acidental ou de conveniência.
23
Tal como advoga PIJNENBURG & CAVANE (2000), a prática de entrevista semi-estruturadas é eficiente
para obter dados de uma forma mais aprofundada, pois, não exige que os entrevistados saibam ler e escrever.
Este método é flexível para esclarecer a pergunta, sondar a resposta ou ainda adaptar-se às pessoas e às
circunstâncias da entrevista.
24
Através do SDAE, na repartição de Geologia e Minas e líderes de opinião, basicamente (Chefe do Postos
Administrativo, chefes das Localidades, secretários de bairros, chefes tradicionais).
25
Como afirma GEOIDE (2010), também é significativa a participação de crianças nas actividades auxiliares
de mineração. Na sua maioria estas crianças são órfãs e vítimas de várias situações de vulnerabilidade social e
económica. Elas realizam as mesmas actividades auxiliares como as mulheres. A idade mínima das pessoas
abrangidas pelo estudo é de 8 anos, e vai até mais de 50 anos. A idade média situa-se em 36 anos. Consta que a
maior percentagem dos mineradores no campo é de jovens com idades compreendidas entre os 20 e 30 anos de
idade.
26
POCINHO (2009) afirma que amostragem não-probabilística é um procedimento de selecção segundo o qual
cada elemento da população não tem a mesma probabilidade de ser escolhido para formar a amostra. Este tipo
de amostragem tem o risco de ser menos representativa que a probabilística, no entanto, é muitas vezes o único
meio de construir amostras em certas disciplinas profissionais nomeadamente na área da saúde. Este tipo de
amostragens requerem critérios de inclusão e exclusão rígidos para evitar o maior número possível de
viezes. O tamanho da amostra neste tipo de amostragens é muito importante, pois quanto maior for menor é a
probabilidade de que casos idiosincráticos possam afectar o todo de uma forma significativa. Daí que as
amostras provindas deste tipo de amostragens devam ter sempre um nº superior àquele que seria representativo
do todo se utilizasse uma amostragem do tipo probabilística.
33
responsável dos Serviços Distritais de Actividades Económicas até a estrutura da base27. De
salientar que alguns distanciavam-se das outras questões alegando ser sensíveis, optando por
indicar os que achavam ser mais interactivos com garimpeiros e, assim procurávamos
aproximar ao indicado.
Ainda neste quadro temático, ARTUR (1999) apud MATUELE (2008) aponta as
desvantagens das entrevistas semi-estruturadas, ao afirmar que estas não são apropriadas para
obter informações estruturadas, pois envolve diferentes questões com diferentes pessoas. Para
tal, o uso do método de triangulação /cruzamento de diferentes métodos de recolha de dados
(revisão da literatura, entrevistas semi-estruturadas, observação directa, reunião em grupo),
facilita ao investigador combinar pontos fortes e corrigir algumas deficiências encontradas
com o uso de cada método, separadamente.
Esta fase de estudo também é conhecida por trabalho de gabinete. Consistiu na organização
dos dados ou informação adquiridos no trabalho de campo 29, facto que se operacionalizou na
análise dos depoimentos feitos pelos entrevistados em resposta ao questionário em anexo,
auxiliado pelas notas tomadas no bloco/caderno, um dispositivo gravador de conversas e, a
observação de imagens fotográficas. Por fim, a selecção das repostas mais pontuais do guião
de entrevista direccionadas para cada grupo-alvo permitiram a tomada de decisão, conclusões
e a apresentação dos resultados.
27
Da Secretária Permanente distrital ao Director Distrital de Serviços e Actividades Económicas, chefe do
Posto etc.
28
Importa referir que em vários casos as entrevistas com garimpeiros foram realizadas nas zonas ribeirinhas,
em algumas áreas concessionadas, assim como nas machambas e quintais.
29
Tal como DIAS (2000) apud VIEIRA (2010), sintetizando as considerações de MILES & HUBERMAN
(1984), afirmou que o processo de análise de dados em pesquisa qualitativa tem etapas a obedecer. O
pesquisador deve buscar a redução dos dados por meio de um processo contínuo de selecção, simplificação,
abstracção e transformação das informações originais proveniente das observações do campo.
34
Com vista a compreender o nível de eficácia da gestão do garimpo ilegal30 por parte do
Governo distrital, nesta fase, o estudo processou-se sob duas (2) formas:
Segundo BARDIN (1977), esta fase é constituída por um conjunto de técnicas destinadas a
analisar a comunicação por meio de documentação ou registo de arquivos que contenham
informações sobre o assunto em destaque.
Depois da triagem das respostas optamos pela selecção e compilação das respostas dos
diferentes entrevistados de acordo com o seu estatuto social no grupo-alvo, em termos de
semelhanças e diferenças, organizando-as através da concordância no depoimento31.
Qualquer pesquisa é feita com base em ideias planificadas atempadamente, para uma gestão
eficaz e eficiente. A maior dificuldade desta pesquisa residiu nas constantes alterações do
cronograma de trabalho de campo, dada a oscilação da tensão político militar no país travada
com maior destaque na região central, concretamente, no posto administrativo de Muxúngue,
ponto de inevitável passagem da região Sul para o Centro e Norte ao longo da estrada
nacional (EN1).
30
Para o presente estudo são resursos minerais.
31
As respostas colectadas no campo, aplicando esta análise, permitem fazer a selecção e agrupamento das
respostas baseando-se nas semelhanças e diferenças das respostas distribuindo as frequências na análise
qualitativa (MATAKALA 2001 apud MATUELE, 2008).
35
de Governo distrital pelas condições de desregulação, desorganização, nomadismo, em certos
casos confundindo-se com a comunidade local.
32
Importa referir que alguns mineradores artesanais do ouro / garimpeiros sempre encaminhavam a entrevista
para o dono da concessão ou machamba alegando que fosse da sua inteira responsabilidade dar qualquer
satisfação necessária para o efeito.
36
CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
O distrito de Manica situa-se na parte central, a Oeste da província de Manica, com Sede no
Município de Manica. Tem limite a Norte com o distrito de Bárue, a Oeste com o Zimbabwe,
a Sul com o distrito de Sussundenga e a Este com o distrito de Gondola. A superfície é de
4,383 km² e uma densidade populacional de 58.7hab/km² (INE, 2013)33.
De acordo com o CENSO (2007, o distrito de Manica tem uma população de 257,419
habitantes e uma taxa média de crescimento anual de 3.4%, com uma estrutura etária jovem.
O maior número de população nas idades iniciais (0 a 4 anos), correspondente a 18.8%.
O mesmo tem 99.6% razão de dependentes, uma taxa de fecundidade de 6.6%, taxa de
mortalidade de 46%, dando um saldo migratório de 0.6%, no período de compreendido entre
(2002-2007) e 62.2% da população economicamente activa e 29.1% é analfabeta (CENSO,
2007).
33
ESTATÍSTICAS DO DISTRITO DE MANICA (2013), INE (2012).
37
5.1.1 Clima e Hidrografia
A estação chuvosa inicia no mês de Novembro e tem o seu término no mês de Abril. A
evaportranspiração média anual é de 1220-1290, sendo superior ao valor da precipitação
anual. O balanço hídrico permite apurar que o período de excesso de água ocorre no mês de
Novembro a Março, no qual a precipitação é maior em relação a quantidade de
evaportranspiração (Idem,2005).
A região de Manica é drenada pelo rio Révuè e os seus afluentes. Por sua vez, este drena as
suas águas no rio Búzi que é a bacia hidrográfica principal (MAE, 2005). O clima é
relativamente favorável à prática da agricultura. Manica é um dos distritos mais
desenvolvidos da província, com um número relativamente elevado de empresários e
comerciantes (CÁCERES et al., 2007).
O distrito de Manica é servido pelo corredor da Beira, estrada Beira- Manica e pela via-férrea
ligando Beira à República de Zimbabwe, na fronteira de Machipanda. A infra-estrutura de
telecomunicações inclui a rede de telefones, telégrafo e postos de rádio 34.
O acesso ao distrito, nas partes limítrofes, é feito passando pelas estradas pavimentadas e em
boas condições. Neste caso, o movimento dentro do distrito, passando pelas estradas de terra
batida, mas que não apresentam grandes limitações de trânsito, excepto durante a época
chuvosa. Três zonas estão pouco acessíveis devido à falta de reparação das estradas (numa
extensão de 159km).
34
Importa referir que no distrito existe uma estação emissora, designada por Radio Comunitária Macequece,
cita ao longo da EN1. Através desta o Governo distrital tem feito a sensibilização com base em anuncios e
propagandas no ȃmbito da prevencão e protecçao Social dos impactos que cada actividade produz.
38
A empresa CFM está a par de alguns pequenos transportadores privados, o garante do
transporte de mercadorias nacionais e internacionais na linha férrea Beira-Machipanda, coluna
vertebral do Corredor da Beira.
As empresas Água Rural, GEOMOC e outras organizações (GTZ, PRONAR) têm prestado
apoios, quer em termos da construção ou reparação de Bombas de água, quer na abertura de
poços e furos e no seu financiamento (ACNUR).
Todas as localidades do distrito dispõem de fontes de água (poço, furos e nascentes) todas
equipadas com bombas Afridav e/ ou moinhos de vento que funcionam durante todo o ano,
com excepção do posto administrativo de Vanduzi35 com sérios problemas de água, pois dez
furos não estão operacionais.
Alguns constrangimentos do distrito são, por exemplo: as vias de acesso inadequadas, falta de
acesso a produtos e insumos agrícolas, drogas veterinárias e ao crédito agrário. Apontam-se
outros problemas, tais como os elevados custos de transporte e energia (CÁCERES et al.,
2007).
35
À luz do decreto 26/2013, de 13 de Dezembro, o mesmo foi elevado a categoria de distrito.
36
Relatório do distrito Manica (2012). Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural
(PRONASAR); estudo de base sobre a situação de abastecimento de água e saneamento rural e o Relátório
sobre capacidade institucional do distrito de Manica, Província de Manica.
37
Produzida pela Hidroelectrica de Chicamba real.
39
5.1.4 Agro-Pecuária e mercado de produtos
De acordo com CÁCERES et al., (2007), o distrito tem uma área de terra arável de cerca de
439.100 hectares, dos quais 75.411 são usados pelo sector familiar. Existem, ainda 135
operadores agropecuários com pedidos de uso e aproveitamento da terra que ocupam uma
área de 89.926 hectares, sendo 19 desses operadores de origem Zimbabweana. A área
actualmente irrigada é estimada em 1.662 hectares e, pelas boas características dos recursos
hídricos, tem um alto potencial para ser expandida futuramente.
Dados do MAE (2005) sustentam que o sistema de produção predominante nos solos de
textura pesada e mal-drenado é a monocultura de batata-doce em regime de camalhões ou
matutos (época fresca), ao passo que nos solos moderadamente bem drenados predominam as
consociações de milho, mapira, mandioca e feijão nhemba. O Algodão e Tabaco são culturas
de rendimento, produzidas em regime de monoculturas. Este sistema de produção é ainda
complementado por criações de espécie como gado bovino, caprino e aves.
5.1.5. Comércio
Como afirma CÁCERES et al., (2007), o comércio fronteiriço informal com o Zimbabwe
joga um papel importante, dada a fronteira comum entre este distrito e aquele país vizinho.
Embora a situação económica no Zimbabwe tenha piorado muito, a importância do país
vizinho é visível. Devido a essa proximidade com o Zimbabwe, a cidade de Manica também
possui diversos estabelecimentos hoteleiros e restaurantes muito frequentados.
40
5.1.6. Sociedade Civil
No distrito de Manica existem várias Organizações da Sociedade Civil, sendo a mais vulgar
designada por ANDA MANICA, uma Organização da Sociedade Civil nacional sem fins
lucrativos que se dedica na ajuda humanitária de pessoas que vivem em condições de pobreza
extrema no distrito e província de Manica (TAIMO, 2010).
Esta organização foi fundada em 1992, basicamente, sempre implementou projcetos nas áreas
de Educação, HIV/SIDA, atendimento às crianças órfãs e vulneráveis e cuidados domiciliares
em áreas geográficas próximas ao distrito de Manica e ao longo do corredor da Beira. De
salientar que este é o primeiro projecto na área de monitoria e advocacia da Governação
implementado pela organização (Idem, 2010).
Neste contexto, a ANDA MANICA é membro de vários Fóruns de ONG‟s, tais como: o
Fórum da Sociedade Civil de Manica (FOCAMA), Fórum de organizações que trabalham na
área do HIV/SIDA (MONASO), Fórum de ONG‟s que trabalham na área do direito à terra
(Fórum Terra), Associação Kwaedza Simukai Manica 38 e Fórum de Parceiros de Educação na
Província e no distrito.
38
À luz do Decreto 29 de Agosto de 2001, a Associação kwaedza Simukai Manica, com Sede na cidade de
Manica, requereu o reconhecimento jurídico da associação, nos termos da Lei n° 8/91 de 18 de Julho que
regula o direito sobre a livre associação.
39
Ao abrigo da aplicação do dispositivo legal número 26/2013, de 13 de Dezembro, anteriormente citado, os
antigos posto administrativo Vanduzi (Manica) e Macate (Gondola) ascenderam a categoria de distrito.
41
5.2. Estágio da Governação Distrital de Manica e a retrospectiva da Mineração
Artesanal de ouro.
Ainda de acordo com o MAE (2005), a Governação tem na sua base os chefes das
localidades, autoridades locais comunitárias e tradicionais. Os chefes das localidades são
representantes da Administração e subordinam-se ao chefe do posto administrativo e,
consequentemente, ao Administrador distrital, sendo coadjuvado pelos chefes de aldeias,
Secretários de bairro, chefes de quarteirão e chefe de blocos. E, a actividade do Governo
distrital segue uma abordagem essencialmente empírica e de contacto com a comunidade. O
Conselho Consultivo Distrital (CCD) de Manica é composto por 50 membros representantes
de todas as localidades, dentre os quais 36 são homens e 14 mulheres (CIP. 2011 p. 11).
42
De acordo com AFONSO & MARQUES (1993, p.55), a mineração de ouro já vem dos
tempos. Diversas descobertas de artefactos deste metal, feitas em território do antigo Império
Momomotapa, provam-nos que a exploração daquele metal precioso foi bastante intensa.
Essa exploração, por meios rudimentares, continuou até à segunda metade do século XIX.
Adicionalmente, em Manica, na época passada, o ouro era visto como símbolo de poder,
sendo também usado em rituais como lobolo e em trocas comerciais com os árabes, somente
foi no século XVI que, com a forte interferência da Administração colonial, se verificou uma
diminuição desta prática, onde de acordo com GEOIDE (2010), a sua revitalização foi da
seguinte forma:
Durante a administração colonial, a indústria artesanal de ouro foi banida e fortemente controlada
pelo governo de então. Depois da independência nacional, a extracção informal de recursos minerais
preciosos era proibida, mas, mais tarde foi tolerada e em certo sentido estimulado pelo Estado, através
da compra dos minerais produzidos e através da organização dos produtores em associações. E, em
2002, com a revisão da lei da actividade mineira artesanal e de pequena escala foi formalmente
legalizada.
Assim como outros distritos fronteiriços de Manica, estudos realizados pelo GEOIDE (2010)
confirmam que a adesão a esta actividade está associada a vários factores que se
consubstanciam no seguinte: (i) crise económica no vizinho Zimbabwe, que precipitou
milhares de cidadãos zimbabueanos para a indústria extractiva de ouro e Turmalina em
Manica e Báruè, respectivamente; (ii) a tolerância do Governo moçambicano em relação a
este sector de actividade; (iii) o desemprego generalizado, especialmente no seio da
juventude, agravado pela falta de oportunidade de continuação de estudo por parte dos jovens
que concluem as classes terminais nas regiões mineiras; (iv) o facto de a produção de ouro e
Turmalina constituir uma importante fonte de rendimento e enriquecimento.
A contínua e constante procura de ouro hoje é maior, com fins diferentes a dos anteriores,
pois, o ouro já é visto como fonte de capital para o alívio das necessidades básicas da
população, desde o auto-sustento, traduzido na compra de vestuários, aquisição de alimentos,
pagamento de propinas e apoio a outras actividades terciárias. Nisto importa referir que dados
43
do DPREME (2012) indicam que no distrito de Manica estão registados cerca de sete mil
garimpeiros que operam em 14 focos, dos quais 1870 são mulheres.
Dada a maior demanda de ouro no distrito, dependendo da descoberta do filão, nos dias de
hoje, principalmente na zona rural, esta actividade tem sido a causa de enormes
constrangimentos socio-económicos, culturais e ambientais e, até políticos, pois, a procura
desse minério resulta no devastamento de florestas, poluição das águas dos rios ou riachos
locais, nomeadamente: Púngue, Révuè, Mussambudzi, Nhamucuarara, Chua e Chimedza, ou
seja, a degradação dos solos que antes eram machambas, recintos de casa, estradas, lugares
cuja tradição os considera de patrimónios sagrados da humanidade 40.
Para além da subida de preços no mercado de alimentos no distrito, causada pela distorção da
agricultura familiar 41, as mortes acidentais e, pelo manuseio directo do mercúrio colocam a
população em risco de gradualmente ficar exterminada pela contracção de doenças mentais e
crónicas.
Ademais, tal como afirma FORQUILHA (2007), a dominação do Estado, num determinado
meio, apoia-se em outros meios como por exemplo, o processo de socialização através do
qual os cidadãos adquirem modelos de comportamento que permitem o consentimento. Com
efeito, o mesmo autor prossegue argumentando, para chegar a inculcar a atitude, o
comportamento e adesão às normas jurídicas nos cidadãos há um processo de socialização que
conta com uma importante participação do próprio Estado.
Uma das manifestações deste processo de socialização que vincula o Estado e o cidadão nos
escalões inferiores é a descentralização distrital, implementada ao abrigo do regulamento da
Lei dos Órgãos Locais do Estado (Decreto 11/2005), passando a reflectir a sua participação e
40
Pretendemos referir os Cemitérios locais ou familiares por lá existentes, maioritariamente conhecidos em
nome da respectiva família.
41
Algumas pessoas na comunidade vendem, alienam as suas machambas para fins de garimpo.
44
responsabilidade em diferentes níveis que o compõem. E, à luz do mesmo Decreto, no seu
artigo 48, refere-se que ao nível do distrito, o aparelho de Estado é composto por três
elementos principais: Secretaria distrital, Gabinete do Administrador e Serviços Distritais.
Neste processo de socialização entre o Estado e o cidadão uma das acções-chave promulgada
pelo Governo distrital de Manica, para garantir a sua participação na gestão dos recursos
minerais se reflete pela implementação dos planos do Centro de Desenvolvimento para os
Recursos Naturais (CDS-RN)- Manica, focalizados na mitigação dos efeitos resultantes da
poluição das águas, dos rios, pelos garimpeiros, onde os líderes comunitários e chefes de
postos administrativos têm vindo a serem capacitados em técnicas usadas na extracção de
ouro, para disseminar aos garimpeiros.
(…) Para começar, o distrito é rico em recursos minerais principalmente o ouro, razão pela qual há um
recrudescimento da mineração artesanal ilegal (...) porque não se sabe o lugar certo da sua
ocorrência, o certo é que esta é praticada duma forma solta e irresponsável (…) Por exemplo, com a
descentralização de competências junto às autoridades locais instituídas, temos feitos trabalhos de
campo com vista a sensibilizar e mobilizar os garimpeiros a optarem por boas práticas e vias
sustentáveis da exploração mineira baseando-se na ideia de Associativismos, capacitações, palestras
para que se sigam trâmites legais da exploração de qualquer recurso natural, principalmente, o ouro
(…). 42
42
Entrevista com António Paulino. Técnico superintendente e delegado do DIPREM afecto nos Serviços
Distritais de Actividades Económicas do distrito de Manica, 14 de Julho de 2014.
45
Nesta lógica, estas instituições existem porque são tidas como as que representam o mais alto
nível de diálogo e planificação participativa nos seus respectivos níveis, abrangendo a
comunidade local, oficialmente representada pelo CCP na definição de prioridades e gestão
das oportunidades descobertas (matérias e financeiras), em conformidade com as necessidades
locais. Assim, face à gravidade e forte demanda de ouro, quase em todos os povoados de
Mharidza, a Administração local por intermédio das Instituições de Participação e Consulta
Comunitária arroladas acima, tem-se empenhado na intervenção através de fóruns de debate
estruturados por uma agenda comum, junto às comunidades. Nisto, a nossa entrevistada
afirmou nos seguintes termos:
(…) Aqui no P.A de Machipanda a zona mais afectada com problemas de garimpo é na localidade de
Mharidza (…), mas temos feito a nossa parte através dos Conselhos Consultivos nos termos das
Governação aberta baseando-se nas reuniões com todos intervenientes da sociedade de diferentes
faixas etárias para trocar ideias e sensibilizá-los a praticar uma mineração responsável e sustentável;
mas, é difícil acabar duma vez por todas com esta prática, pois, me parece que esta já é uma actividade
normal e costumeira ou transmitida de geração em geração (...). 43
Ora, o processo de fiscalização nas actividades desenvolvidas por este elenco, parece estar a
par da lógica reprodutiva das funções desempenhadas pelas estruturas dos Grupos
Dinamizadores, demonstradas na capacidade de promover o trabalho de participação colectiva
na gestão da coisa pública.
43
Entrevista com Lurdes Pita Ngange. Chefe do P.A de Machipanda, 29 de Julho de 2014.
46
competências, por um lado. Pelo não conhecimento dos dispositivos legais que lhes dão
legitimidade para tal, como é o caso do regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado Lei
8/2003 (Decreto 11/2005), Diploma Ministerial n° 80/2004 e outros que complementam a sua
legitimidade. A deficiente interpretação das suas competências, nalguns casos, faz com que
estes tenham tendências à prática de neo-patrimonialismo da vertente económica ou social,
fragilizando a sua actuação.
44
Nas aldeias e Machambas onde não existe água, os garimpeiros têm usado uma técnica tradicional que em
língua local designa-se por “DHIK”, consistindo no desvio do curso de água duma nascente para o local de
trabalho por forma a facilitar a descapagem e remoção do solo compacto para encontrar as pedras que
confirmam a existência do mineral designado em língua local por “Munyaka”, e isso resulta em aberturas de
fendas e alteração da biodiversidade. E, esta prática tem criado conflitos entre os grupos de garimpeiros e
camponeses locais tendo como motivo, a tendência simultânea do uso da água da Água.
45
Casal e seus filhos com e sem idade laboral, normalmente identificados pelo mesmo sobrenome.
47
garimpeiros Moçambicanos e Zimbabweanos residentes nas zonas próximas46, o que implica
que, apesar do Governo ter feito a sensibilização e palestras sobre boas práticas da mineração,
a sua intervenção tem-se arredondado ao fracasso 47.
(…) assim que estamos nesta associação, o Governo através de Geologia e Minas aparece para fazer
reuniões, selecção e capacitações de alguns membros cá e fora do País (…) não só, como vês, o
material que estamos a usar para desfazer as rochas é parte do apoio por parte da Geologia, pois, a
nossa mineração não é aluvionar (….) nos apoiamos com mercúrio branco que no fim depositamos
num tanque de decantação (...)50 .
46
Importa referir que a empresa mineira do Monarch, de concessão mineira se localiza no bairro Nhamombe
(Povoado de Chadzuca) e agora não está activa, e não protegida pela guarda moçambicana razão pela qual há
um recrudescimento de comunidade de garimpeiros. Sendo de caracter não aluvionar, as pedras nela extraída
são transportadas em sacos para as suas respectivas casas, a fim de triturar ou friccionar nas pedras para reduzir
o tamanho e de seguida para a trituração através de moinhos feitos de Botijas de conservação de gás e outros
resíduos sólidos em sucata/vazias, para facilitar a moagem. Feito isso, depois vai-se ao rio com o apoio de
mercúrio branco (silver), é capturado o ouro das pedras proveniente do Monarch ou duma qualquer montanha
com estas características.
47
Importa referir que a única empresa de propriedade moçambicana de propensão mineira activa no distrito é
do cidadão moçambicano Crisphin Chibaia designada por Clienten Teach Mining, empregando a mão-de-obra
local.
48
De acordo GEOIDE (2010), a associação foi fundada em 2001, actualmente com 81 Membros.
49
De acordo com o nosso entrevistado Célio. Anil. a 25 Julho 2014, Técnico e funcionário de Geologia e Minas
de Manica por parte dos recursos mineiras, o Fundo de Fomento Mineiro parou e já está criado o Instituto
Geológico Mineiro (IGM) para continuar com as mesmas funções do FFM.
50
Entrevista com Ernesto Banda membro da associação mineira de Mimosa. 22 de Julho de 2014.
51
Cf. GEOIDE (2010). Fundada em 1999 e até a data da realização deste estudo continua inativa, alegadamente
por falta de parceiros para manutenção
48
plásticos, constituído por grupos de famílias, singulares, dentre eles zimbabweanos e
moçambicanos que, para além da mineração, fomentam várias actividades temporárias, entre
elas a abertura de barracas de venda e consumo de géneros alimentícios. Naturalmente, esta
concentração proporciona problemas de saneamento do meio e o fortalecimento da prática da
prostituição. Sobre a associação de Munhena disse o nosso entrevistado:
Tal como afirmou ANTÓNIO (2011), uma vez que a actividade de garimpo tem sido
alternativa da agricultura, sobretudo na zona rural de Manica, para os intervenientes directos
desta actividade assim como a população local, através das somas provenientes do garimpo, é
notório o desenvolvimento que se reflecte na compra de meios de transporte, construção de
casas convencionais, compra de gado bovino, maior poder de compra para diversificação da
dieta alimentar, pagamento de propinas aos seus filhos e atendimento a problemas de saúde.
Nisto a nossa entrevistada confirmou pelas seguintes palavras:
(…) sou viúva e o meu marido era membro da associação. Para além da agricultura, tenho praticado a
mineração e, juntamente com a minha família (...) fizemos pequenos negócios no acampamento de
garimpeiros. Tenho esta casa, como vês. Os meus três filhos já concluíram o nível médio em
Machipanda-sede (… ) Assim como o Governo é amigo da mineração, os seus membros têm vindo a
fiscalizar a associação através de cobrança de senhas e quotas. Não vejo problema nisto (...)53.
52
Entrevista com Norberto. N. Chiururu, membro da Associação Mineira de Munhena dia 19 de Julho de 2014.
53
Entrevista com Lucinda Tembo. Cidadã residente nos arredores da Associação mineira de Munhena 19 de
Julho de 2014.
49
autoritária, com critérios de precisão estabelecidos, não pela aplicação de regras
despersonalizadas, mas sim pela vontade do „chefe‟.
(…) Sou técnico médio em serralharia Mecânica pelo Instituto Comercial Joaquim Marra do Chimoio
(…) não é nosso desejo fazer esta actividade, apenas estamos a procura de auto-sustento porque não
temos emprego formal; o Governo tem -nos sensibilizado para formar associações, mas, a experiência
que tenho é que o Governo não tem sido justo connosco, pois, nós processamos o ouro, todavia, na
hora de acertos finais nenhum de nós participa e, quando levamos o ouro para negociar com a
Geologia e Minas na vila, demoram fazer o reembolso do dinheiro conforme o combinado, levando
mais de dois meses para o seu reembolso; às vezes, até um ano e, veja que somos uma equipa com
necessidades para cumprir nas nossas famílias, razão pela qual preferimos negociar no mercado
informal com os compradores privados (…) 54.
A partir do que foi dito acima, podemos notar que há uma tendência das práticas económicas
estarem aliadas à incapacidade do Estado, como protector e provedor de bens e serviços aos
respectivos beneficiários, evidenciando o forte pensamento liberal e crise económica em que a
grande demanda do mineiro vai provocar grandes distorções no sector produtivo das
economias. Dentre as distorções, pode-se apontar o abandono da agricultura em benefício da
mineração artesanal, excessiva regulamentação e intervencionismo exagerado do Estado nos
negócios privados.
54
Entrevista com Moisés Nicolau Chingoto. Minerador artesanal de chazuca.18 de Julho de 2014
55
Cf. MÉDARD 1990, 1991, p. 323-353 apud NGUIRAZE (s/d).
50
De facto, ao nível do distrito de Manica, mediante a participação das instituições do Estado
pode-se compreender que as atitudes neo-patrimonialísticas na persistência da mineração
artesanal de ouro manifestam-se nos moldes do nepotismo e clirntelismo, que se
consubstancia na instrumentalização dos processos participativos por elites, com interesse
alheios à gestão sustentável56. Nisto, com o nosso entrevistado extraímos os seguintes
detalhes:
(…) olha a reacção do Governo quanto a esta prática não tem sido muito significativa, pois, acho que
estamos a ser usados (… ) Nas reuniões que temos tido, no âmbito dos Conselhos Consultivos Locais, o
Governo provincial dá-nos ordem de trabalho e nós cumprimos(…) mas, no terreno, passamos
vergonha, visto que os garimpeiros reagem verbalmente dizendo que por mais que vocês tentem nos
proibir, não negociamos convosco, mas sim, os vossos superiores hierárquicos(…); mesmo assim,
notamos que alguns dos nossos colegas têm-se beneficiado desta prática ao ficarem no silêncio sem
denunciar o perigo que corremos ou alegando que o ouro está no território da minha jurisdição e
também estou ganhando por isso(…) 57.
Com base nesta informação, pode-se acreditar que com a elevada prevalência de corrupção de
pequena escala na administração estatal, a confiança das instituições do Governo e do Estado
está em decadência (LALÁ & OSTHEIMER, 1990-2003).
(...) o Estado através do Governo provincial tem feito muito esforço, mas, as pessoas que estão dentro
dele não ajudam (…) na verdade digo-lhe que na altura em que fui empossado como líder comunitário
e fiscal, pude confiscar o material de garimpeiro como Moto-bombas, Picaretas, Moagens de
trituração de rochas auríferas e Pás (…) este material entreguei à Geologia e Minas, mas, passado um
tempo, nas minhas jornadas de campo, apanhei o mesmo material no local de confisco anterior com os
56
Cf. MACUCULE (2006).
57
Entrevista com Vasco B. Dias. Líder comunitário de Nhamucuarara 22 de Julho de 2014
51
respectivos garimpeiros (…) Fiquei muito desmotivado porque vi que a minha atitude foi insignificante,
razão pela qual prefiro deixar assim (…) fico amedrontado porque muitos deles são nativos e outros
zimbabweanos, que de qualquer forma, para além de estragar a nossa relação de convivência social, a
qualquer momento podem me ferir recorrendo a magia negra e fugirem para Zimbabwe como forma de
se aliviarem do crime (…)58
Por um lado, é possível notar que a dinâmica contínua do garimpo no distrito, não só está
ligada à componente político-institucional, mas também, está a par da componente socio-
cultural que se consubstancia na continuidade de hábitos e costumes a tempo e superação da
objectividade pela subjectividade, visto que, para os garimpeiros, a intervenção do Estado
através da sua representatividade e implementação da legislatura implica inibir a livre prática
da actividade que garante a subsistência e criação de obstáculos na sua realização, fazendo
com que estes recorram às práticas de superstição para lograr os seus intentos e,
consequentemente, o Estado perde a sua legitimidade como provedor e protector das
populações, deixando de fazer o seu devido papel, optando pela tolerância desta actividade.
Por outro, verificou-se que o discurso dos dois líderes comunitários está associado às
limitações técnico-legais, configuradas na fraqueza da implementação da legislação vigente
para a resolução dos desafios impostos pela sociedade no que diz respeito à responsabilidade
do Estado como o garante e provedor do bem-estar aos cidadãos, em confirmação com
MACUCULE (2006), ao sublinhar que o processo de gestão participativa tem estado a par de
incapacidade dos serviços de Estado aos diferentes níveis e Departamento para a
implementação dos instrumentos legais existentes (fiscalização, elaboração e implementação
participativa de planos de maneio).
Portanto, da interpretação feita nestes dois últimos discursos, é notória a clarificação da falta
de transparência na gestão de benefícios gerados pelos processos participativos deste recurso
mineral por parte dos garimpeiros e o Estado (Geologia e Minas), fazendo com que haja um
sentimento de desencorajamento na adesão do discurso associativista, assim como por parte
dos líderes locais, existe uma falta de compromisso que o Estado desenvolve desde o escalão
superior, tendendo viciar a transparência de gestão dos recursos para satisfazer as suas
necessidades, optando pela instrumentalização dos líderes locais como o garante da existência
do Estado, confundindo a verdadeira delegação de poderes, competências, as motivações,
meios e vontade de aprender nas lideranças comunitárias.
58
Entrevista com David Wiri. lider comunitário de Mharidza no povoado de Penhalonga. 14 de Julho de
2014.
52
CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES E SUGESTÕES
6. Conclusões
Este trabalho teve como principal objectivo averiguar a paternidade do Estado como
protector e provedor dos serviços aos beneficiários ao nível local em preceito da
descentralização administrativa (desconcentração).
Por conseguinte, em Moçambique, nos termos da Lei, uma vez autorizada a mineração
artesanal, seja do ouro, Turmalina ou de outros recursos minerais, o Estado, com base na
desconcentração, tem vindo a exercer o seu controlo da melhor maneira possível, em
conformidade com as políticas públicas sustentáveis e adequadas às circunstâncias da
descoberta dos recursos naturais.
De igual modo que, as intervenções das instituições governamentais ao nível local têm sido
limitadas, alimentando a conivência traduzida na corrupção de pequena escala,
consubstanciada na troca de favores em pretexto da Lei e a sua competência, aliciados pelas
somas que o garimpo proporciona aos praticantes, em detrimento da sua motivação salarial.
Ademais, a pesquisa constatou que a mineração artesanal naquele distrito, para além de gerar
emprego directo, alivia o flagelo da pobreza económica nas famílias intervenientes, redução
do êxodo rural, criminalidade nas zonas urbanas, uma vez que a maior parte dos praticantes
que se aglomeram nas regiões de extração são jovens nativos e zimbabweanos formalmente
desempregados. Estes últimos, na sua maioria quando interpelados constata-se que são
imigrantes ilegais e clandestinos; em casos acidentais nas minas, fazem a transladação do
cadáver, também de forma clandestinos especialmente no período nocturno, aproveitando-se
das lacunas da vigilância fronteiriça e a corrupção que já estão corroendo os serviços
migratórios.
O trabalho de campo, de igual modo, mostrou que, de facto, a fraca divulgação dos
dispositivos legais tem sido influenciada pelas dinâmicas sócio-históricas baseadas na lógica
de irmandades e vizinhanças entre os dois países (Moçambique e Zimbabwe), no que diz
respeitos à expansão do Imperio Monomotapa e, mais tarde, a mútua cooperação para o
alcance das independências nacionais, o que fortifica o clientelismo, nepotismo a corrupção
económica ou social entre os dois actores sociais (autoridades comunitárias e os imigrantes).
Embora seja controverso, a pesquisa de campo revela que o investimento local é visível duma
forma indirecta, na medida em que os mineradores artesanais têm aumentado a demanda de
produtos básicos, consequentemente, a fixação de mercados nos locais próximos de
mineração tem-se transformando na principal fonte de arrecadação de receitas através de
fiscalização nas regiões da sua prática.
54
6.1. Sugestões
Com base na pesquisa realizada através da literatura de capital importância, auxiliada pelo
trabalho de campo, a fim de evidenciar as hipóteses levantadas, confirmamos que em
Moçambique, particularmente no distrito de Manica, para a exploração sustentável de
recursos minerais, especialmente o ouro, o Governo provincial assim como distrital deve:
Tomar medidas profundas, através de sector migratório, de modo a tirar melhor proveito dos
imigrantes através da fiscalização baseada no conhecimento do perfil do imigrante (legal,
ilegal e clandestino), motivos e o tempo de estadia de acordo com os documentos formais, em
coordenação com as autoridades locais da zona de chegada para melhor gestão e controlo nos
moldes da Lei;
Mobilizar mais estudos do género com vista a fazer a recuperação e mitigação de impactos
ambientais para salvaguardar os ecossistemas com base na identificação de plantas específicas
das áreas em causa e a reconstrução gradual dos solos degradados apostando nos Centros de
Desenvolvimento para os Recursos Naturais (CDS-RN).
Negociar com os proprietários das concessões, sejam elas adquiridas DUAT costumeiro ou
de boa-fé, ou convencional, para a permissão das pesquisas de propensão mineira para que se
projetem empresas de género baseadas nas práticas responsáveis e sustentáveis da mineração
assim como a criação de emprego à comunidade local.
55
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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mineração artesanal e de pequena escala em Moçambique” Direcção nacional de Minas.
Legislação
http://www.verdade.co.mz/nacional/20926-mineração-artesanal-atrai-mais-de-cem-mil-
pessoas-com-maioria-ilegal consultado no dia12 de Abril de 2014.
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaImprimir.cfm?coluna_id=5699 (consultado no
dia: 20 Abril de 2014).
63
8. ANEXOS
64
ANEXO I : Guião de entrevistas dirigido aos 3 grupos Alvo.
Apresentação do entrevistado
65
Grupo III: Membros da comunidade local: Mulheres, Homens, Crianças
Apresentação do entrevistado
1. Qual é a principal actividade que garante o teu auto-sustento?
2. Qual é a actividade básica que o seu agregado pratica?
3. Com a descoberta desta mina consegues aumentar a tua renda? Explique-me como?
4. O garimpo tem gerado outros negócios, será que fazes um deles?
5. Quais são as mudanças que o garimpo, praticado aqui, trouxe na vida da sua família?
6. Face ao garimpo, que se pratica no povoado, explica-me quais são os métodos
sustentáveis para garantir o bem-estar das gerações vindouras?
7. O que achas da relação entre os garimpeiros e as autoridades locais do distrito?
8. O garimpo aqui desenvolvido proporciona algumas vantagens ou desvantagens na sua
opinião? Quais são?
9. Em que mecanismo vocês tem participado com o Governo na gestão dos recursos
naturais?
Gov. do Distrito
N° Função Local e data
de MANICA
66
Grupo II: Membros das Associações e Mineradores não associados
Rodriques
11 Marquiston Mineirador Artesanal de Chadzuca Rio Mussambuzi-18/07/2014
Marondo
Criança Residante
20 Foster Sezine Residência Pessoal-15/07/2014
de Chadzuca
Cidadã comum de
22 Eva Chadzuca Residência Pessoal-18/07/2014
Chadzuca
Cidadã comum de
23 Ruzeta Luís Residência Pessoal-19/07/2014
Nhamachato
Cidadã comum de
24 Lucinda Tembo Residência Pessoal-19/07/2014
Nhamachato
Cidadão comum
25 Johan Maraquen Quiosque pessoal -18/07/2014
de Chadzuca
67
Filimone Cidadão comum
26 Machamba pessoal -16/07/2014
Marondo de Chadzuca
Criança residente
27 Dito Chiururu Terminal de Chapas -21/07/2014
de Nhamucurara
68
Anexo III. Imagens fotográficas
Figura 3. Secretaria da localidade de Mharidza Figura 4. Ao lado direito está o Secretário do povoado de
(Penhalonga). Fonte: O autor-14/07/2014 Chadzuca após entrevista. Fonte: O autor-16/07/2014
69
Figura 5. Membros da Associação Mineira de Mimosa Figura 6. Garimpo aluvionar sobre o rio Mussambudzi
reunidos para entrevista (Nhamucuarara). Fonte: O autor- (Chadzuca). Fonte. O autor-18/07/2014
22/07/2014
Figura 7. Crianças praticando o garimpo aluvionar de ouro Figura 8. Agregados familiares praticando o garimpo
no rio Nhamucuarara. Fonte: O autor-22/07/2014 no povoado de Chadzuca. Fonte: O autor-18/07/2014
70
Figura 9. Garimpeiro trabalhando no povoado de Chadzuca. Figura 10. Equipamento mineiro da Associação
Fonte: O autor-18/07/2014 Mineira de Munhena (Nhamachato). Fonte: O autor-
19/07/2014
Figura 11. Garimpeiros não-associados arredores das Figura 12. Membros da Associação Mineira de
cabanas de Munhena-Révuè (Nhamachato). Fonte: O autor- Mimosa (Nhamucuarara), junto ao funcionário de
19/07/2014 IFLOMA exibindo equipamento mineiro de
trituração de rochas encachante de ouro, fornecido
pelo FFM actual IGM. Fonte: O autor-22/07/2014
71
Figura 13. Garimpeiro trabalhando no interior do povoado Figura 14. Garimpo aluvionar nas margens do rio
de Chadzuca. Fonte: O autor-18/07/2014 Nhamucuarara. Fonte: O autor-22/07/2014
Figura 15. No final do dia, os garimpeiros fazendo compras Figura 16. Casa cercada por fendas causadas pelo
no mercado local (interior das cabanas de Munhena- garimpo no povoado de Chadzuca. Fonte: O autor-
Nhamachato). Fonte: O autor-19/07/2014 18/07/2014
72
Figura 17. A água do rio Mussambudzi (Chadzuca) turva Figura 18. O garimpo nas extremidades do cemitério
pelo garimpo aluvionar de ouro. Fonte: O autor16/07/2014 familiar numa concessão (Chadzuca). Fonte: O autor-
16/07/2014
Figura 19. Material rudimentar usado pelos garimpeiros Figura 20. Mercúrio branco usado por garimpeiros no
na trituração de rochas auríferas (Chadzuca). Fonte: o magnetismo do ouro extraído nas rochas (Chadzuca).
autor 17/07/2014. Fonte: O autor-17/07/2014
73
Figura 22. As casas convencionais da comunidade local,
Figura 21. Ouro bruto extraído da mineração aluvionar
investidas pela renda do garimpo (Nhamucuarara). Fonte: O
sobre o rio Mussambudzi (Chadzuca). Fonte: O autor-
autor-22/07/2014
18/07/2014
Figura 23. Terapeuta socorrendo uma pessoa intoxicada pelo Figura 24. Criança com deficiência resultante do
mercúrio no Japão (Minamata, 1953). Fonte: manuseio do mercúrio no Japão (Minamata,1953).
MICOA/DNAIA. Maputo.Caso de experiência. Fonte: MICOA/DNAIA. Maputo. Caso de
experiência.
74