Escalade Psicopatiade Hare Verso Jovens
Escalade Psicopatiade Hare Verso Jovens
Escalade Psicopatiade Hare Verso Jovens
Jovens (PCL:YV)
Pedro Pechorro, Ricardo Barroso, João Maroco, Rui Xavier Vieira e
2
Psicopatia
Rui Abrunhosa Gonçalves
2.1. Indicações
Desde há alguns anos que um número significativo de investigadores tem verificado que
os traços de personalidade psicopáticos, ainda que tradicionalmente associados à idade
adulta, são também observados em adolescentes e crianças. A Escala de Psicopatia de
Hare – Versão Jovens (Hare Psychopathy Checklist: Youth Version – PCL:YV; Forth,
Kosson, & Hare, 2003) foi especificamente construída para avaliar traços interpessoais,
comportamentais e afetivos que se encontram associados ao constructo da psicopatia
em adolescentes, rapazes ou raparigas, entre os 12 e os 18 anos de idade. Trata-se de
um instrumento útil para detetar e/ou compreender traços/padrões comportamentais
e afetivos, que frequentemente estão presentes num reduzido mas distinto subgrupo
de jovens com especificidades neurológicas, interpessoais, cognitivas e afetivas. O uso
deste instrumento poderá ser importante para o desenvolvimento de programas de pre-
venção ou intervenção precoce, com a expectativa de resultados mais positivos do que
em idades superiores, dada a maior facilidade de mudança nestes primeiros estádios de
desenvolvimento (Salekin, Worley, & Grimes, 2010). O instrumento vem descrito no
manual como possuindo quatro dimensões: Interpessoal (e.g., superficialidade, mani-
pulação), Afetiva (e.g., falta de remorsos), Comportamental (e.g., impulsividade, irres-
ponsabilidade) e Antissocial (e.g., problemas comportamentais precoces, versatilidade
criminal). Alguns estudos não têm confirmado a existência da dimensão Antissocial
(Forth et al., 2003; Salekin & Debus, 2008).
© PACTOR
44 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
2.2. História
2.4.1. Objetivos
A amostra foi obtida em oito centros de detenção juvenil sob tutela do Ministério da
Justiça. Concordaram em participar na investigação 192 jovens do sexo masculino com
idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos (M = 16.60, DP = 1.51). Os participantes
eram, na sua maioria, caucasianos (56%) e residiam em contexto urbano (96.1%). Os
crimes foram cometidos precocemente (M = 12.21, DP = 1.51), a maioria dos jovens foi
detida antes dos 16 anos (M = 14.52, DP = 1.11) e condenada a uma média de 19 meses
de detenção (DP = 6.2 meses). A maioria (85.8%) foi condenada por prática de crime
sério e violento (e.g., homicídio, extorsão, roubo, violação), tendo todos os casos sido
julgados em tribunal.
Na Tabela 2.2 são apresentadas as saturações fatoriais para o modelo de três fatores
estimado com o método ML Robusto. Como se pode verificar, os itens saturaram na
estrutura de forma muito semelhante à descrita por Cooke e Michie (2001).
Tabela 2.2: Saturações fatoriais para o modelo de três fatores robusto da PCL:YV
Nota. São descritos apenas os itens da PCL:YV com saturações > .35, devido às indicações expressas e aos
direitos de autor detidos pela Multi-Health Systems.
48 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Numa terceira fase foram estimados os alfas de Cronbach, a média das correlações in-
teritens e a média das correlações item-total corrigidas (Tabela 2.3). É de salientar que,
relativamente a amplitude das correlações item-total, sete itens da PCL:YV total e qua-
tro itens do modelo de três fatores total apresentaram correlações abaixo de .20, mas tais
resultados são compatíveis com outros estudos feitos (e.g., Hillege et al., 2011).
Tabela 2.3: A
lfas de Cronbach, média das correlações interitens e amplitude das correlações item-total
corrigidas da PCL:YV
α MCII ICITC
PCL:YV Total .71 .10 .01 - .57
Três fatores Total .70 .14 .04 - .57
Interpessoal .65 .31 .33 - .49
Afetiva .69 .35 .35 - .62
Comportamental .64 .26 .26 - .54
Nota. α = alfa de Cronbach; MCII = média das correlações interitem; ICITC = intervalo das correlações
item-total corrigidas.
Tabela 2.4: V
alidade convergente da pontuação total da PCL:YV com a CATS e o YLS/CMI, validade con-
corrente com o diagnóstico de PC, validade retrospetiva com ACP
Tabela 2.5: C
orrelações da pontuação total da PCL:YV com idade de início criminal, frequência de crimes,
número de vítimas e uso de violência física
nalguns aspetos (e.g., valores de alfa de Cronbach inferiores a .70 nas dimensões, algu-
mas correlações tendencialmente baixas em variáveis criminais como a idade de início
50 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
A PCL:YV é constituída por 20 itens que o perito forense cota com base nas informa-
ções recolhidas numa entrevista semiestruturada (elaborada para o efeito) e que poderá
ser complementada pelos elementos que possam constar nos ficheiros e processos judi-
ciais do jovem avaliado. Cada item é cotado numa escala de três pontos (0 = item não
se aplica, 1 = item aplica-se de algum modo e 2 = item aplica-se totalmente) em função
do grau de aplicação às características do adolescente avaliado e da respetiva inferência
feita pelo avaliador com base nas informações recolhidas.
Tal como a PCL-R, a PCL:YV possui uma pontuação total (com um máximo de 40
pontos), bem como a possibilidade de obtenção de pontuações para cada um dos três
fatores identificados no nosso estudo. No entanto, tal como foi referido anteriormente,
os autores optaram, contrariamente ao que acontece com adultos, por não facultar um
ponto de corte para o diagnóstico da psicopatia.
PCL:YV possuem robustez psicométrica adequada. A este nível, o estudo aqui apre-
sentado permite assegurar algum suporte a nível da fiabilidade e validade da versão
52 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Bibliografia
Acheson, S. K. (2005). Review of the Hare Psychopathy Checklist-Revised. In R. A. Spies, & B. S. Plake
(Eds.), The sixteenth mental measurements yearbook (2nd ed., pp. 429-431). Lincoln, NE: Buros Institute
of Mental Measurements.
Andershed, H., Kerr, M., Stattin, H., & Levander, S. (2002). Psychopathic traits in nonreferred youths: Initial
test of a new assessment tool. In E. Blaauw, & L. Sheridan (Eds.), Psychopaths: Current international
perspectives (pp. 131-158). Haag, The Netherlands: Elsevier.
Andrade, J. (2008). The inclusion of antisocial behavior in the construct of psychopathy: A review of the
research. Aggression and Violent Behavior, 13, 328-335.
Cooke, D., & Michie, C. (2001). Refining the construct of psychopathy: Towards a hierarchical model.
Psychological Assessment, 13, 171-188.
Edens, J. F., Campbell, J. S., & Weir, J. M. (2007). Youth psychopathy and criminal recidivism: A meta-
analysis of the Psychopathy Checklist Measures. Law and Human Behavior, 31, 53-75.
Essau, C., Sasagawa, S., & Frick, P. (2006). Callous-unemotional traits in community sample of adolescents.
Assessment, 13, 454-469.
Forth, A., Kosson, D., & Hare, R. (2003). Hare Psychopathy Checklist: Youth Version (PCL:YV): Technical
manual. Toronto, ON, Canada: Multi-Health Systems.
Frick, P., & Hare, R. (2001). The Antisocial Process Screening Device: Technical manual. Toronto, ON,
Canada: Multi-Health Systems.
Escala de Psicopatia de Hare – Versão Jovens (PCL:YV) 53
Frick, P. J., Kimonis, E. R., Dandreaux, D. M., & Farrell, J. M. (2003). The 4 year stability of psychopathic
traits in non-referred youth. Behavioral Sciences and the Law, 21, 713-736.
Glenn, A. L., & Raine, A. (2014). Psychopathy: An Introduction to Biological Findings and Their Implications.
New York, NY: New York University Press.
Hare, R. D. (1991). Manual for the Hare Psychopathy Checklist. Toronto, ON, Canada: Multi-Health Systems.
Hare, R. D. (1998). Psychopaths and their nature: Implications for the mental health and criminal justice
systems. In T. Millon, E. Simonson, M. Burket-Smith, & R. Davis (Eds.), Psychopathy: Antisocial,
criminal, and violent behavior (pp. 188-212). New York, NY: Guilford Press.
Hare, R. D. (2003). Manual for the Hare Psychopathy Checklist revised (2nd ed.). Toronto, ON, Canada:
Multi Health Systems.
Harpur, T., Hare, R., & Hakstian, A. (1989). Two-factor conceptualization of psychopathy: Construct
validity and assessment implications. Psychological Assessment, 1, 6-17.
Harris, G., Rice, M., & Quinsey, V. (1994). Psychopathy as a taxon: Evidence that psychopaths are a discrete
class. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62, 387-397.
Hillege, S., de Ruiter, C., Smits, N., van der Baan, H., & Das, J. (2011). Structural and metric validity of the
Dutch translation of Psychopathy Checklist: Youth Version (PCL:YV). International Journal of Forensic
Mental Health, 10, 346-357.
Hoge, R., & Andrews, D. (2003). The Youth Level of Service/Case Management Inventory. Toronto, ON,
Canada: Multi-Health Systems.
Kiehl, K. A., & Sinnott-Armstrong, W. P. (2013). Handbook on Psychopathy and Law. New York: Oxford
University Press.
Loney, B. R., Taylor, J., Butler, M. A., & Iacono, W. G. (2007). Adolescent psychopathy features: 6-year
temporal stability and the prediction of externalizing symptoms during the transition to adulthood.
Aggressive Behavior, 33, 242-252.
Lynam, D., & Gudonis, L. (2005). The development of psychopathy. Annual Review of Clinical Psychology,
1, 381-407.
Odgers, C. L., Moretti, M., & Reppucci, N. D. (2005). Examining the science and practice of violence risk
assessment with female adolescents. Law and HumanBehavior, 29, 7-27.
Pechorro, P., Andershed, H., Ray, J., Maroco, J., & Gonçalves, R. (2015). Validation of the Youth Psychopathic
Traits Inventory and Youth Psychopathic Traits Inventory – Short among incarcerated Portuguese
juvenile delinquents. Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 37, 576-586.
Pechorro, P., Barroso, R., Maroco, J., Vieira, R., & Gonçalves, R. (2015). Psychometric properties of the
Psychopathy Checklist: Youth Version among Portuguese juvenile delinquents. International Journal of
Offender Therapy and Comparative Criminology, 59, 1322-1337.
Pechorro, P., Hidalgo, V., Nunes, C., & Jiménez, L. (2016). Confirmatory factor analysis of the Antisocial
Process Screening Device: Self-Report among incarcerated male juvenile offenders. International
Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 60, 1856-1872.
Pechorro, P., Ray, J., Barroso, R., Maroco, J., & Gonçalves, R. (2016). Validation of the Inventory of Callous-
Unemotional Traits among a Portuguese sample of detained juvenile offenders. International Journal of
Offender Therapy and Comparative Criminology, 60, 349-365.
Salekin, R. T., & Debus, S. A. (2008). Assessing Child and Adolescent Psychopathy. In R. Jackson (Ed.),
Learning Forensic Assessment (pp. 347-386). New York, NY: Routledge.
© PACTOR
Salekin, R. T., Worley, C. B., & Grimes, R. D. (2010). Treatment of psychopathy: A review and brief
introduction to the mental models approach. Behavioral Sciences and the Law, 28, 235-266.
54 PSICOLOGIA FORENSE – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Sevecke, K., Pukrop, R., Kosson, D., & Krischer, M. (2009). Factor structure of the Hare Psychopathy
Checklist: Youth Version in German female and male detainees and community adolescents.
Psychological Assessment, 21, 45-56.
Vincent, G. M., Odgers, C. L., McCormick, A. V., & Corrado, R. R. (2008). The PCL:YV and recidivism
in male and female juveniles: A follow-up into young adulthood. International Journal of Law and
Psychiatry, 31, 287-296.
Material
Edição e distribuição
Este instrumento encontra-se protegido por direitos de autor, podendo ser adquirido
junto da Multi-Health Systems (https://ecom.mhs.com).