Extensao Rural em Mocambique
Extensao Rural em Mocambique
Extensao Rural em Mocambique
Sumário
DECLARAÇÃO ........................................................................................................................................... I
DEDICATÓRIA ......................................................................................................................................... II
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................ III
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................4
JUSTIFICAÇÃO ........................................................................................................................................9
PROBLEMATIZAÇÃO ..........................................................................................................................11
OBJECTIVOS ..........................................................................................................................................14
1.1.1.1 OBJECTIVO GERAL ..............................................................................................................14
1.1.1.2 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................15
HIPÓTESES .............................................................................................................................................15
METODOLOGIA ....................................................................................................................................15
CAPÍTULO IV .........................................................................................................................................49
CONCLUSÃO ..........................................................................................................................................49
REFERÊNCAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................................52
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude iii
Book Sambo
ANEXOS ...................................................................................................................................................62
COMO? ......................................................................................................................................................69
QUANDO ?................................................................................................................................................70
RESULTADOS ESPERADOS..................................................................................................................70
Declaração
Declaro por minha honra, que este trabalho, em nenhum momento foi apresentado como
dissertação para obtenção de qualquer grau académico. Ele é fruto do meu esforço,
sacrifício e empenho.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude ii
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Dedicatória
Em primeiro lugar dedico este trabalho aos meus pais: Maria da Graciette Livino e Chico
Sambo. Foi de vós que eu vim ao mundo. Este trabalho é a vossa conquista e vitória ao
mesmo tempo. Se dependesse só de nós, eu diria que isto é só o começo.
Em segundo lugar, dedico este trabalho à todos os que foram sancionados e chamados
de loucos, por quererem dizer a verdade.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude iii
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Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar à Deus que me deu forças, energias e inspiração para que
se concretizasse o meu projecto. Em segundo lugar quero agradecer aos meus
supervisores, muito especialmente ao Dr. Elísio Macamo que sempre se mostrou
disposto em me dar apoio do qual necessitava para a minha dissertação, pese embora
tivesse muitas outras ocupações. Obrigado pelo encorajamento que me deu na altura em
que começava a ficar desesperado.
Quero também agradecer ao Sr. Zeca Mizé – um extensionista a trabalhar em Magude –
que me deu muito apoio durante o período em que fazia o trabalho de campo. Lembro-
me que foi graças a ele que conheci o primeiro CDR (Campo de Demonstração de
Rendimentos).
Não me esqueço do dr. Salim Valá que me inspirou na escolha do tema presentemente
investigado. Tudo começou na cadeira de Seminário de Pesquisa na qual foi meu docente
no ano lectivo 2000/2001.
Agradeço à minha grande amiga Eunice Taíbo que sempre se interessou em superar as
demais dificuldades que enfrentei durante os cinco anos de faculdade.
Capítulo I
Introdução
PROAGRI (2000)
Nesta tese analisamos a aplicação da Extensão Rural no distrito de Magude, pois que ela
destaca o carácter agrícola da economia rural moçambicana. Daremos destaque ao facto de,
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 5
Book Sambo
1
Vide Programa Agrícola de Cooperação Nórdico-Moçambicana; Maputo, Fév. De 1984;
República de Moçambique; Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural; PROAGRI;
Programa Sectorial de Investimento Público; PAAO – 2001; Componente Extensão Rural; Maputo;
Setembro de 2000
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 6
Book Sambo
Extensão não tivesse ligações com a agricultura, ela caracterizava-se por quatro elementos
comuns aos modernos programas de Extensão Agrícola.
1. O conhecimento por ser difundido;
2. O povo a ser servido;
3. A organização central de Extensão;
4. O extensionista ou o homem de contacto
O termo Extensão Agrícola é originário dos Estados Unidos da América. Até 1914, os
professores universitários convocavam conferências para o público em geral, a que era
vulgarmente denominada dissertação extensiva. Mas com a passagem do Smith-Lever Act2
naquele ano, o termo (Extensão) passou a ser vulgarmente usado para designar a educação
não formal dada às comunidades de farmeiros. O propósito do acto era de ajudar a difundir
informações úteis e práticas aos farmeiros e aos seus familiares, em assuntos relacionados
com a agricultura e a economia doméstica. As universidades estatais, as faculdades,
vulgarmente denominadas faculdades de concessão de terras, estavam engajadas na
pesquisa, treinamento, e avaliação.
Em relação ao historial da Extensão Rural nos países do III Mundo, um estudo levado a
cabo pela FAO traz-nos a seguinte informação:
2
Estabelecido em 1914, o Smith-Lever Act foi um sistema educacional que funcionava sob a forma de
Extensão Cooperativa. Esta Extensão Cooperativa foi projectada como uma sociedade ou consórcio que
envolvia o Departamento norte-americano de Agricultura e as várias universidades de concessão da terra.
Para mais informações consulte as seguintes fontes bibliográficas:
www.ifas.ufl.edu/ls_grant/smith.htm
www.alabamamoments.state.al.us/sec41.html
www.higher-ed.org/resources/smith.htm
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 7
Book Sambo
(Swanson: p.5-6)
Segundo Swanson, actualmente, a maior parte dos países do Terceiro Mundo possui algum
tipo de organização de Extensão, mas a experiência destas organizações não tem sido muito
satisfatória.
Muitos países doadores têm manifestado frustrações ao tentar melhorar estes sistemas. Esta
frustração consta dum recente relatório preparado por Clifford Wharton Jr. (1983, p.11),
presidente da States University of New York (Universidade Estadual de Nova York) e ex-
presidente da Board for International Food and Agricultural Development (Junta para o
Desenvolvimento Internacional da Agricultura e da Alimentação), a entidade que fornece a
orientação de política agrícola para a United States Agency for International Development
(Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional-USAID):
Clifford Wharton Jr. (1983, p.11) citado por Swanson (pp 5-6)
Augusto, L. (1994)
3
Augusto, L. (1994) A Extensão Rural em Moçambique: Breve historial; Moçambique
4
Sublinhado meu.
5
O conceito de Extensão Agrária usado pelo MADER equivale ao nosso conceito de Extensão
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 9
Book Sambo
Justificação
Nesta secção, vamos falar em primeiro lugar da população que habita o meio rural
moçambicano, para de seguida debruçarmo-nos sobre a questão da pobreza absoluta. O
nosso objectivo é justificar a escolha deste tema.
Do total da população moçambicana, mais de 70% vive nas zonas rurais6. E dentre o total
da população rural, podemos afirmar que uma boa parte dela dedica - se a agricultura de
subsistência. É também nas zonas rurais onde se encontram pessoas vivendo em situação
de pobreza absoluta.
Agrícola.
6
CONSELHO DE MINISTROS (2000) Abordagem de Desenvolvimento rural em Moçambique;
Maputo
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 10
Book Sambo
A Extensão Rural é um dos programas do Governo que visa reduzir a pobreza absoluta, e
acima de tudo visa impulsionar o Desenvolvimento Rural através do combate à fome.
Vários estudos (como por exemplo as teses de licenciatura dos estudantes da UEM) feitos
sobre a Extensão Rural, debruçam-se sobre a perspectiva agronómica, limitando – se,
portanto, no âmbito descritivo do processo.
Como vimos, a maior parte da população moçambicana vive no meio rural, sendo esta a que
vive abaixo da linha média da pobreza. Uma grande parte desta população dedica-se a
agricultura de subsistência. Apesar dos esforços encetados pelo Governo, no sentido de
mitigar esta situação, parece-nos que os resultados são até ao momento irrisórios. Isto
associa-se ao facto de existirem poucos estudos sociológicos na área da Extensão Rural.
Estes foram os motivos que justificaram a escolha do tema em questão.
Problematização
Neste item, começaremos por apresentar o que o Governo faz para chegar ao
Desenvolvimento Rural. De seguida, analisaremos a sua estratégia segundo o critério de
compatibilidade entre meios e fins. O nosso objectivo é portanto, problematizar a prática da
Extensão Rural em Moçambique, no caso específico do distrito de Magude.
Num estudo que se pretende levar a cabo sobre a Extensão Rural, poder-se-á observar que
dentre as várias estratégias de Extensão Rural, [Segundo Ban et al (1994), para além da
Extensão Agrícola, as outras estratégias de Extensão Rural são nomeadamente: a Extensão
Formativa, Extensão Persuasiva, e a Extensão Informativa.] o governo moçambicano
privilegiou a Extensão Agrícola. Tal como acontece em Magude, o mesmo verifica-se
noutros pontos do país como o seguinte trecho nos pode mostrar:
Depois de exposto o posicionamento do Governo em relação aos meios que usa para atingir o
fim da Extensão Rural - o Desenvolvimento Rural - gostaríamos de recorrer a Weber para
7
República de Moçambique; Província do Niassa; Direcção Provincial de Agricultura e
desenvolvimento Rural; Relatório do primeiro Trimestre 2000; Lichinga; Abril de 2000; p. 1-3
8
Os caracteres em itálico são o nosso sublinhado. In. Ministério da Agricultura; Serviços de
Extensão Agrária; III Seminário Nacional de Extensão Agrária: Constatações e Recomendações;
(s.l); Junho de 1991. Para uma melhor compreensão do contraste, recomenda-se uma confrontação
com o conceito de Tetra Extensão que apresentamos mais adiante.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 13
Book Sambo
apresentarmos a nossa questão de partida. Para o efeito, faremos referência à sua teoria da
acção por acharmos mais adequada na análise do fenómeno em estudo.
Parafraseando Weber, qualquer análise reflexiva que diz respeito aos elementos últimos da
actividade humana está, em princípio, ligada às categorias do "fim" e dos "meios" [...] Em
primeiro lugar, o mais directamente acessível a um estudo científico é a questão da
conveniência dos meios em face dos fins dados (Weber: 1991;5). Assim sendo, colocaríamos
a seguinte questão de partida: Até que ponto a Extensão Rural (mal ou bem implementada)
contribui positivamente para o Desenvolvimento Rural?
Esta questão surge na medida em que o Governo concebeu como fim último da Extensão
Rural, o Desenvolvimento Rural. A nossa preocupação com esta pergunta, é de compreender
em que medida se processa a relação entre meios e fins. A preocupação aumenta por se partir
do pressuposto segundo o qual, o Governo tem uma visão problemática do conceito de
Extensão Rural.
No caso de Moçambique, é curioso o facto de se ter escolhido necessariamente a Extensão
Agrícola como o meio mais adequado para o Desenvolvimento Rural, dado que na altura da
tomada dessa decisão o país vivia a guerra civil. É claro que muitas vezes o Governo diz
estar a fazer a Extensão Rural enquanto na realidade aparenta estar fazendo a Extensão
Agrícola. Assim sendo, os considerados campos de cultivo eram autênticos campos de
batalha, constantemente minados durante a passada guerra civil. Poder-se-ia questionar por
exemplo: Sabendo o Governo, que o país estava em guerra, o que é que foi feito para que a
Extensão Agrícola fosse conduzida seguramente?
Para responder a questão anteriormente levantada será necessário um estudo minucioso do
caso. Entretanto Aruna Bagchee (1994) o autor de Agricultural Extension in Africa, afirma
que a importância da agricultura para a economia africana foi posteriormente apresentada
num documento9 em Abidjan pelo Sr. Kevin Cleaver ( Director do Departamento da
10
Agricultura e Desenvolvimento Rural no Banco Mundial ). Afirmava Bagchee (idem) que a
agricultura constituía a principal ocupação da maior parte da população africana. A
agricultura constituía então o maior sector produtivo em África contribuindo com uma média
de 32% do PNB (Produto Nacional Bruto) em cada um dos países. Moçambique tal como os
demais países do Terceiro Mundo dedica-se mais às actividades do sector primário (a pesca,
9
Cleaver, K. (1993) A strategy to Develop Agriculture in Sub-Saharan Africa and a focus for the
World bank; Africa Technical Department. Washington; DC; World Bank
10
www.ruralforum.info/papers/Cleaver4En.pdf
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 14
Book Sambo
a agricultura, e a caça), dando maior realce a agricultura. Muito provavelmente seja esta a
razão que influenciou no posicionamento do governo moçambicano face a estratégia da
Extensão Rural.
A Extensão Agrícola pode ou não ser a melhor estratégia da Extensão Rural para se chegar
ao Desenvolvimento Rural. Sem um estudo que se debruce sobre a relação meios e fins
poderemos tirar conclusões precipitadas e sobretudo imbuídas de juízos valorativos.
Finalmente podemos afirmar que no contexto moçambicano, o estudo levar-nos-á a analisar
passo a passo, a adequação da Extensão Agrícola ou Agrária (como é vulgarmente designada
pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural - MADER) ao Desenvolvimento
Rural do distrito de Magude.
O Distrito de Magude tal como qualquer outro, são como uma célula ligada a um organismo
que é o governo moçambicano. Assim sendo, as decisões tomadas ao nível central
(MADER) afecta directamente a maneira como poderá funcionar a Direcção Distrital da
Agricultura e Desenvolvimento Rural (DDADR) em Magude. Esta é a razão pela qual temos
vindo a fazer menção ao governo moçambicano ao invés do governo de Magude. Isto não
discura o nosso campo de análise. Em situações concretas poder-se-á falar do Distrito de
Magude. Portanto a DDADR é do governo moçambicano, representado ao nível distrital.
Como acabamos de ver, neste item tratamos de apresentar dois pontos principais: em
primeiro lugar mostramos os esforços empreendidos pelo governo com vista a promover o
Desenvolvimento Rural. Em segundo lugar, tratamos de analisar a sua acção mediante a
relação entre meios e fins. Vimos que os meios usados para resolver o problema da pobreza
absoluta que se vive no meio rural, aparentam uma inadequação para o efeito. Na secção que
se segue, apresentaremos sinteticamente os aspectos metodológicos gerais usados neste
trabalho.
Objectivos
Hipóteses
• O conceito de extensão rural pressupõe as seguintes práticas: 1º identificar, com
ajuda das comunidades, os principais problemas locais; 2º ensinar ao grupo alvo
como enfrentar e superar as suas dificuldades; 3º evitar que tais ensinamentos
terminem em conflitos culturais etc. sempre que uma ou mais destas práticas estiver
ausente estamos em presença duma outra coisa: Extensão Agrícola ou outra coisa.
• Uma vez que o objectivo da Extensão Rural é o Desenvolvimento Rural quanto mais
limitada for a sua aplicação menores possibilidades tem de alcançar os seus
objectivos.
Metodologia
Nesta parte falar-se-á das metodologias usadas, e a maneira como foram usadas; isto
facilitará o teste da autenticidade da informação recolhida.
Para a realização do presente trabalho foram usadas as técnicas de pesquisa a saber: a
aplicação das entrevistas semi-directivas aos técnicos da DDADR, do MADER, e aos
representantes das comunidades rurais. Estas entrevistas tiveram por objectivo colher dados
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 16
Book Sambo
que me permitiriam analisar a maneira como o processo da Extensão Rural está sendo
conduzido no Distrito de Magude.
O que se tinha em mente é que o projecto não estava colhendo resultados positivos por se
limitar apenas à Extensão Agrícola. Procuramos saber das comunidades, de que maneira os
extensionistas trabalham com elas.
Aos extensionistas procuramos saber a maneira como têm levado a cabo o seu trabalho,
quais os sucessos e as dificuldades por eles enfrentados. Por além das entrevistas semi-
directivas usaram-se as conversas informais para recolher os dados.
Fez-se o uso dos métodos qualitativos na recolha dos dados, com o objectivo de permitir
uma abordagem aprofundada do nosso objecto de análise.
Esperávamos naturalmente poder encontrar dados que confirmassem as nossas
hipóteses. Por exemplo pudemos constatar que existe em Magude uma percepção
problemática do conceito de Extensão Rural, que de certa maneira afecta negativamente
no desenvolvimento distrital.
Recolhidos os dados fizemos uma análise de conteúdo, estudando minuciosamente a
mensagem subjacente à eles. Isto porque os entrevistados podiam não dizer
directamente tudo o que pensavam. Entretanto, através de códigos linguísticos (ironia,
metáforas, e até mesmo o silêncio perante algumas das questões por nós levantadas etc)
poderiam exprimir o forte do seu pensamento. Em segundo lugar confrontamos os
resultados da análise de conteúdo, com a operacionalização dos principais conceitos
(Extensão Rural, Extensão Agrícola, e o Desenvolvimento Rural), bem como com a
informação recolhida da revisão bibliográfica. Finalmente tiramos as nossas conclusões.
Enfoque teórico
Aqui falar-se-á das teorias a usar neste trabalho, de modo a facilitar a percepção do
leitor em relação ao enquadramento das nossas ideias.
Neste trabalho procurar-se-á usar a teoria accionista (da Sociologia da acção), bem
como as teorias de Extensão Rural (da Sociologia Rural) para explicar o
Desenvolvimento Rural. Temos de referir que o maior enfoque estará virado para a
teoria da acção. A teoria da acção segundo Boudon «procura analisar e explicar as
acções, e em termos mais gerais, os comportamentos que dão ao observador a sensação
de irracionalidade» (Boudon, 1979b:15). O que Boudon (idem) procura mostrar através
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 17
Book Sambo
da teoria da acção, é que não devemos julgar as pessoas (para não falar de actores
sociais) de irracionais por elas usarem meios que não se adequam aos fins por elas
pretendidos; Isto porque elas têm razões válidas para agirem como agiram. Assim
sendo, se o observante fosse submetido às mesmas condições em que se encontrava o
observado, ele (o observante ou observador) agiria da mesma maneira. Nós julgamos o
comportamento dos outros porque não os compreendemos. Compreender uma acção, é
segundo Boudon (1979), o observador estar em condições de dizer para si que agiria da
mesma maneira se fosse submetido às mesmas condições a que o observado esteve. É
neste âmbito que Boudon(1979) inspirando-se em Weber (1991), afirma que todos
actores sociais são racionais, na medida em que têm razões válidas que justificam a sua
acção.
O estudo em causa será abordado na óptica dos efeitos de composição. Este é o
princípio segundo o qual a teoria da acção (que se encontra no âmbito das micro-
teorias), procura explicar os fenómenos macro – sociológicos. Mais uma vez convém
citar Boudon por ser defensor dos efeitos de composição. O que se verifica é que a
teoria da acção explica os fenómenos micro-sociais, mas neste estudo estamos a tratar
de um fenómeno macro-social, que portanto não se processa à nível de dois actores
sociais, mas sim, ao nível estrutural e/ou conjuntural.
As teorias de Extensão Rural variam consoante a escola em que ela é abordada. Em
algumas escolas, cingem-se apenas à Extensão Agrícola, como se fosse a melhor
maneira de fazer Extensão Rural (Swanson, 1981); as outras escolas são mais abertas,
portanto não se limitam apenas à Extensão Agrícola no processo de Extensão Rural
(Hawkins, 1994). Os motivos destes posicionamentos é que os primeiros, para além de
acreditarem que a Extensão Agrícola é um vector da economia de qualquer país, têm
insumos suficientes para transformarem uma região árida num campo de cultivo
sofisticado e a curto prazo. Os segundos, acreditam que a agricultura é importante, mas
não é condição sine qua non para a prosperidade económica de um país, razão pela qual
buscam as outras facetas ou componentes da Extensão Rural.
Poder-se-iam usar várias outras teorias, mas para a dimensão deste trabalho
convencionou-se apenas estas duas.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 18
Book Sambo
Fontes a utilizar
Recolha do material
Esta fase consistiu na requisição de várias obras nas bibliotecas do Campus Universitário.
Para algumas obras não foi possível a sua requisição, por se tratarem de Trabalhos de defesa
de tese, ou porque as respectivas instituições11 não admitiam, e como tal a sua consulta
efectuou-se nesses mesmos locais.
Tema
11
Centro de Estudo Africanos; Centro Cultural Brasileiro; Arquivo Histórico de Moçambique;
Instituto Camões; Biblioteca Nacional; Link etc.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 19
Book Sambo
Modelo de análise
Desenvolvimento Rural Melhoria do padrão de vida do emprego agrícola ou não, vestuário, assistência
Campo de análise
Nesta parte falaremos do local e período em que fizemos o estudo; falaremos também dos
indivíduos entrevistados. O objectivo disto é levar o leitor a inteirar-se do contexto em que
se procedeu a recolha dos dados.
O presente trabalho foi de preferência efectuado no Distrito de Magude. A escolha dos
nossos entrevistados foi feita de acordo com um certo critério. Este, consistia em seleccionar
os indivíduos do nosso grupo alvo, capazes de se expressar na língua portuguesa, pois
tinhamos dificuldades em nos expressar no idioma local. A não obediência deste critério
levar-nos-ia à sérias dificuldades na recolha de dados. Este facto culminaria em incoerência
na transcrição dos dados. Pudemos contudo entrevistar às comunidades locais (camponeses,
artesãos, pequenos criadores de gado, pequenos comerciantes, etc.), por ser esta o principal
alvo ou beneficiários da Extensão Rural. Pudemos também entrevistar aos funcionários da
Direcção Distrital da Agricultura (os extensionistas), por serem estes quem estão
directamente virados à prática da Extensão. Um outro grupo entrevistado é composto pelos
técnicos do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, em particular da Direcção
Nacional de Extensão Rural. Escolheram-se estes últimos por trabalharem no órgão central e
dinamizador da prática da Extensão Rural em Moçambique.
O cronograma de actividades foi de Agosto de 2002 a Julho de 2003. De Agosto a
Novembro foi feita a elaboração do protocolo de pesquisa. De Dezembro a Fevereiro foi
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 21
Book Sambo
Capítulo II
Revisão da literatura
Nesta secção propomo-nos a apresentar o que vários autores já disseram sobre a extensão
rural. Para o efeito apresentaremos os pontos de discórdia ou de concordância entre os
autores que se debruçaram sobre a temática ora em estudo. Perante o posicionamento dos
autores que a seguir serão apresentados, tomaremos por vezes um posicionamento crítico.
Segundo a etimologia da palavra extensão, ela vem do latim em que significava animação.
Em francês a palavra animação é também usada, mas neste caso específico, ela é entendida
como a tarefa de encorajar a um grupo de gente a tentar por si mesmos uma solução para
os seus problemas.
Segundo Hawkins (1994), para que se note eficácia nos programas de extensão rural, é
sempre necessária a participação da população durante o processo todo.
“La participation de la population es souvent vue comme une manière de réaliser un
développement rural plu efficace et visant davantage à résoudre les problèmes des groupes
les plus pauvres”. Esta ideia de participação das populações é salientada por parte de vários
autores como por exemplo Schall(1998), Chantran(1973), e Carlsen(1980), etc. O conceito
de participação com o qual nos identificamos é definido por Ban et al (1994), um dos
autores de La vulgarisation rurale en Afrique, ao afirmar que ela " é o envolvimento dos
representantes da comunidade rural nos processos de decisão no concernente aos
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 22
Book Sambo
12
Ban, H. et al (1994) La vulgarisation rurale en Afrique; Editions Karthala et CTA, Nigeria –
tradução de Book Sambo.
13
Boon. Et al (1997); Participação e estratégias de extensão
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 23
Book Sambo
14
Pélissier, René;(1994); História de Moçambique;Lisboa;Editorial Estampa
15
Centro de Estudos Africanos-CEA; Pasta no 967.9; Cota73/B; Agosto-Outubro /1989
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 24
Book Sambo
Para não se menosprezar uma componente da Extensão Rural em prol das outras, certos
autores afirmam que a extensão agrícola é um vector que estimula a investigação e que para
tal deve ser explorada.
Autores como é o caso de Biggs & Farrington (1991) afirmam porém, que a extensão
agrícola é um meio pelo qual se deve desenvolver as investigações científicas, quer seja na
área das ciências naturais como nas ciências sociais. Cada área deverá preocupar-se em levar
avante os seus estudos de modo a permitir uma melhoria significativa na agricultura. Estes
autores não põem de parte a ideia segundo a qual as tecnologias e técnicas da revolução
verde devem ser aplicadas de forma eficiente, como resultado das necessidades extremas da
Extensão Agrícola. Neste ponto não diferem tanto de Droy (1990) que afirma: Avec le
crédit, la vulgarisation agricole est le principal vecteur de pénétration des nouvells
techniques dans un monde rural souvent considéré à tort comme figé et réfractaire aux
innovations. Para explicar por que motivos os terceiro mundistas apegaram-se à extensão
agrícola, Gebregziabher (1975:3) diz - nos o seguinte:
“Numa análise final, o Desenvolvimento Rural integrado envolve todas as coisas que
promovem as condições de vida das massas rurais, o qual nas condições dos países
subdesenvolvidos, não foi bem sucedido e por isso, nestes países, acabou-se por concentrar
as suas atenções na agricultura” Gebregziabher (1975:3) citado por Mazive (1995). Esta
posição é secundada por Aruna (1994) ao afirmar que a maior parte da população africana
dedica-se à agricultura, e como tal, os governos locais dos países africanos apostaram na
agricultura como o vector do desenvolvimento.
Numa visão geral é de salientar que a Extensão Rural deve-se adequar ao meio em que se
pretende implementar. Para um país como Moçambique, em que existe uma enorme
diversidade cultural, climatérica, topográfica, etc., é sempre necessário tomar em
consideração esses factores todos, na implementação dos Programas de Extensão Rural.
Existem Distritos em que as condições climatéricas, topográficas, e geológicas, não permitem
o desenvolvimento da agricultura. Entretanto parece-nos que o Governo continua
implementando a extensão agrícola.
Num trabalho de tese (para obtenção do grau de licenciatura) feito por Mazive (1995) nos
distritos de Boane e Moamba, o autor diz existirem nestes Distritos, condições necessárias
para a implantação de indústrias rurais especializadas na produção de sal de cozinha; blocos e
tijolos; extracção pedreira para construção civil; produção de bebidas espirituosas de carácter
tradicional etc. Concordando com este autor, “ com a prática das actividades acima referidas
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 25
Book Sambo
16
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 26
Book Sambo
neste trabalho, demonstram que a situação vivida em Magude mantém - se em grande parte
a mesma. Pudemos observar este facto durante o trabalho de campo. E como pretendemos
com este trabalho observar em que medida a Extensão Rural contribui para o
Desenvolvimento Rural, fizemos uso destes dados para ver as diferenças entre o período
anterior e posterior a introdução da Extensão rural no Distrito.
A outra parte dos dados a serem apresentados, têm a ver com o resultado das entrevistas
semi-estruturadas por nós levadas a cabo no distrito de Magude. Para a realização das
entrevistas, foi - nos necessário marcar antecipadamente os encontros com os nossos
entrevistados. As entrevistas decorriam nos seus postos de trabalho ou nas suas residências.
Estas entrevistas decorreram durante o Mês de Fevereiro, porque assim estava marcado no
nosso cronograma de actividades. As dificuldades tidas durante o trabalho de campo,
estavam relacionadas com a ausência de certas pessoas de quem pretendíamos as
informações. Em alguns casos, a comunicabilidade com os entrevistados era difícil devido
ao domínio (por nossa parte) da língua local. Para tal optamos por entrevistar apenas os
falantes da língua portuguesa.
O nosso guião de entrevistas estava dividido em três partes. A primeira parte continha
questões direccionadas às comunidades locais; a segunda parte continha questões
direccionadas aos técnicos da Direcção Distrital da Agricultura; e finalmente a última parte
continha questões direccionadas aos técnicos do Ministério da Agricultura e
Desenvolvimento Rural. Assim foi feito porque pretendiamos colher informações dos
diferentes intervenientes no processo de Extensão Rural. Por outro lado pretendíamos
colher informações sobre a maneira como são traçadas as políticas de Extensão Rural, a sua
aplicação, e a maneira como elas são encaradas pelas comunidades. Com os dados obtidos,
poderemos analisar se os objectivos pretendidos pelo Governo (durante o processo da
Extensão Rural) são alcançados ou não.
17
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 27
Book Sambo
podiam descrever os serviços dos extensionistas. Desta feita, procuramos conversar com os
camponeses, que foram capazes de nos explicar o que sabiam dos extensionistas, do seu
trabalho, e como os encaravam. Para os extensionistas a escolha não obedeceu nenhum
critério específico dado que todos estavam em condições de se comunicar em português. No
MADER, conversamos com indivíduos directamente ligados a Extensão Rural, para tal
dirigimo-nos à Direcção Nacional de Extensão Rural (DNER). Nesta Direcção procuramos
conversar com indivíduos capazes de nos facultar informações das quais necessitávamos, o
que foi nos possível achar.
As entrevistas levavam cerca de quinze à vinte minutos cada. Em certos casos vimo-nos
obrigados a alterar as questões, sem que se perdesse de vista o seu objectivo. Isto aconteceu
frequentemente nas entrevistas tidas com as comunidades locais. O facto deveu-se às
dificuldades de comunicação em português por parte dos nossos entrevistados; apesar de
termos duas ou três questões alternativas para cada pergunta do nosso guião de entrevistas.
Nas entrevistas mantidas com os restantes técnicos, não houve tanta necessidade de alterar
as questões do nosso guião.
Começaremos então por apresentar os dados gerais de dois inquéritos sobre o distrito,
para depois apresentarmos os dados recolhidos nas entrevistas feitas aos extensionistas,
e às comunidades do distrito de Magude, bem como aos técnicos do MADER18.
18
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 28
Book Sambo
Neste item apresentaremos o nosso campo de estudo, com base nos dados de relatórios e
observações feitas ao longo do trabalho de campo. A apresentação destes dados será
feita de maneira intercalada, i.e., apresentaremos quando necessário os dados dos
relatórios usados, e noutros casos apresentaremos os dados do trabalho de campo.
Segundo o relatório sobre o perfil de desenvolvimento elaborado pelo PNUD (1997) em
parceiria com o ACNUR (1997), o distrito de Magude apresenta-nos a seguinte
situação:
Este Distrito consiste em cinco postos administrativos – Mahele, Mapulanguene,
Motaze, Panjane, e Magude, a capital do distrito – com dezassete localidades. As
instituições governamentais representadas incluem as Direcções Distritais de
Agricultura e Pescas, de Educação, do Plano e Finanças, de Obras Públicas e Habitação,
de Coordenação da Acção Social (ainda adstrita à Direcção Distrital da Saúde) e de
Cultura, Juventude e Desportos. Para além destas instituições, existem também o
Registo Civil, a Polícia, o Tribunal, os Serviços de Informação do Estado, os Correios e
as empresas públicas de Caminhos de Ferro, de Telecomunicações e de Electricidade.
No distrito estão também presentes as autoridades tradicionais, que segundo a nossa
fonte, estão representadas por régulos e chefes de terras.
A população do distrito de Magude está estimada, com base em números
disponibilizados pela administração distrital ao PNUD, em 76.810 pessoas. A superfície
do distrito está avaliada em 6.960 quilómetros quadrados, e a densidade populacional
situa-se em cerca de 11 habitantes por quilómetro quadrado. Este dado tem implicações
para o nosso trabalho, na medida em que nos pode ajudar a analisar em que medida a
Extensão Rural pode contribuir para o Desenvolvimento rural. Uma vez que a Extensão
Rural visa promover o Desenvolvimento Rural, o dado anteriormente apresentado, pode
- nos ajudar a avaliar o número de indivíduos em idade activa que exercem uma
actividade remunerada; quantos quilómetros quadrados são explorados para a prática
agrícola ou outras actividades do sector primário19, e as suas razões; onde se concentram
maioritariamente os postos de trabalho, e quais as implicações desse facto para a
densidade populacional etc.
19
Fazem parte das actividades do sector primário, a agricultura, a caça, e a pesca.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 29
Book Sambo
O distrito de Magude está basicamente afectado pelas secas. As condições climáticas bem
como as geológicas da região, incluindo o distrito vizinho de Xinavane, não são muito
apropriadas para o desenvolvimento da agricultura. Isto tem levado a que a população não
se limite apenas na prática da agricultura para a sua sobrevivência. Para tal a população
dedica-se à outras actividades como é o caso do trabalho migratório, para as minas da
África do Sul; ao emprego doméstico nas famílias mais abastadas do distrito; e até mesmo
ao comércio informal.
Apesar das condições agro-ecológicas dos distritos de Magude e Xinavane serem das
piores, há uma diferença no desenvolvimento destes dois distritos. O distrito de Xinavane é
o mais próspero pelo facto de se beneficiar de uma agricultura empresarial virada ao cultivo
da cana-de-açúcar. Estas plantações de cana de açúcar visam abastecer a indústria
açucareira local, que por sua vez oferece emprego às comunidades locais. As plantações de
cana-de-açúcar, em Xinavane, dissimulam a precariedade das condições agro-ecológicas da
região, devido a maneira como o canavial se desenvolve. Este canavial beneficia de um
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 31
Book Sambo
Augusto Five
A Direcção Nacional de Extensão Rural traça as políticas a serem levadas a cabo durante
o processo de Extensão Rural. Para além desta função, ela está encarregada na angariação
de fundos que fomentem a prática da Extensão Rural por parte do Governo. A Extensão
Rural é feita pelo Governo através da Direcção Distrital da Agricultura e
Desenvolvimento Rural. Os extensionistas a trabalharem nesta instituição interagem
directamente com o seu grupo alvo, através daquilo que chamam de transferência ou
expansão de tecnologias. A Estrutura orgânica deste sistema é composto da seguinte
maneira: Ao nível central (Direcção Nacional de Extensão Rural), funcionam na sua
maioria os técnicos superiores e médios. Estes técnicos não são necessariamente
agrónomos, isto porque têm formações em diversas áreas. Ao nível da Direcção Distrital,
os técnicos são maioritariamente agrónomos de nível básico e médio. Para além da
formação agronómica, alguns extensionistas têm outras formações como por exemplo a
pedagógica. Isto tem muito a ver com a sua experiência profissional. Por sua vez, as
comunidades locais, em particular os camponeses, são maioritariamente analfabetas, com
excepção de alguns que têm a formação no ensino primário e secundário geral.
O Ministério da Saúde também contribui para a Extensão Rural, através das campanhas
de sensibilização para a prevenção das doenças de transmissão sexual e o SIDA. Isto
contribui para a Extensão Rural sobretudo na componente da Extensão Informativa ou
Persuasiva. Este tipo de extensão tem como principal objectivo, fazer com que as
pessoas mudem de comportamento para fazerem face a uma certa endemia ou epidemia.
Por exemplo, os extensionistas podem fazer a Extensão informativa no sentido de
sensibilizar as populações a se prevenirem contra a epidemia da cólera ou mesmo da
malária. Os extensionistas são formados, pelos técnicos da saúde, no sentido de
conhecerem as causas de cada uma das doenças, os seus respectivos métodos de
prevenção e combate. Depois desta fase, os extensionistas lançam-se em campanhas de
sensibilização, nas escolas e igrejas. Em entrevista à Augusto Five obtivemos a seguinte
informação: “trabalhamos também na área de HIV Sida. Fazemos a formação de
activistas, e damos palestras nas escolas e igrejas”.
Passamos de seguida a apresentar o processo pelo qual a Extensão Rural, segundo o
governo, é praticada pela DDADR.
Alcino
Neste capítulo apresentamos os dados colhidos durante o trabalho de campo. Para além
dos dados obtidos no trabalho de campo, apresentamos alguns dados de inquéritos feitos
no distrito, que consideramos pertinentes para o conhecimento do nosso objecto e campo
de estudo (Distrito de Magude) . Tais dados basearam-se nos relatórios do Ministério da
Saúde bem como do PNUD.
Uma outra natureza dos dados tem a ver com a observação directa feita no campo de
estudo. Tal observação permitiu-nos constatar a situação agro-climática em que os
campos de cultivos se encontram. O que se pretende com isto dizer, é que há dados que
fora de nos serem facultados pelos entrevistados, tivemos a possibilidade de observar
directamente durante a nossa estadia no Distrito de Magude. Um exemplo disso são os
campos de cultivo afectados pelas secas.
Assim terminamos com a apresentação dos dados que apuramos durante o trabalho de
campo. O objectivo deste capítulo era de apresentar o nosso campo de estudo com o fim
de indicar que há coisas que estão a ser feitas lá sob o nome de Extensão Rural. No
capítulo seguinte vamo-nos interrogar se essas coisas são mesmo Extensão Rural ou não,
para depois justificarmos o nosso posicionamento.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 35
Book Sambo
Capítulo III
A Extensão Rural
Nesta secção, faremos uma análise do conceito de Extensão Rural com base na percepção
que o MADER tem sobre o mesmo. Para tal, mostraremos, em primeiro lugar, que
entendimento as autoridades têm sobre o conceito. De seguida mostraremos se o que se faz
em Magude corresponde à noção governamental de Extensão Rural. Finalmente diremos se
tal percepção é compatível com a definição científica do conceito.
A Extensão Rural é entendida pelo MADER, como uma série de actividades desenvolvidas
no meio rural a fim de promoverem o desenvolvimento desse espaço. Chegamos a esta
percepção pela forma como se tem falado sobre o conceito. Com base nos vários
documentos (como por exemplo os relatórios dos seminários nacionais de Extensão
Rural20) do MADER dos quais tivemos acesso, não encontramos nenhuma definição clara e
objectiva do conceito Extensão Rural. Por uma definição clara e objectiva neste estudo
deve-se entender, por uma relação significado/significante que não acarrete contradições, e
cujo a mesma se manifeste em todas as vezes em que se pretenda fazer o uso do conceito.
O que se pode constatar, foi o uso de várias designações para significar um só facto – a
Extensão Rural. Por exemplo, usam os conceitos de Extensão Pública, Extensão Agrária,
Extensão Unificada, e Extensão Rural Pública. Contrariamente a Extensão Unificada, todos
os conceitos anteriormente mencionados são usados para mencionar as actividades dos
extensionistas ao nível da agricultura. Como exemplo deste facto passemos a citar um
pequeno trecho:
20
Direcção Provincial de Agricultura e Desenvolvimento Rural, (Abril de 2000); Relatório do 1º
Trimestre de 2000; Lichinga
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural; Serviços de Extensão Agrária (Junho de 1991)
III Seminário Nacional de Extensão Agrária: Constatações e Recomendações; (sl.)
Direcção Nacional de Desenvolvimento Rural (1992); II Reunião Nacional de Extensão Agrária;
Maputo
Extensão Rural (Janeiro de 2000)
Extensão Rural (Outubro de 2000)
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 36
Book Sambo
Situações como estas verificam - se em vários relatórios do MADER alguns dos quais
fizemos menção na nota de rodapé anterior. Um ponto a reter deste trecho, é que se faz
menção aos serviços prestados ao nível da agricultura bem como a transferência de
tecnologias. Estes serviços são enquadrados tanto na Extensão Pública como na Extensão
Agrária. Mas como veremos mais adiante estes serviços processam-se ao nível da Extensão
Agrícola.
Em nenhum dos casos os autores dos referidos documentos fazem uma operacionalização
dos conceitos que usam. Tal operacionalização devia ser feita mediante a apresentação dos
elementos que mais caracterizam cada um dos conceitos usados Por exemplo, se quisermos
traçar os indicadores do conceito de idoso, teremos o seguinte: peso igual ou superior a 45
Kg; pele enrugada; falta de alguns dentes; cabelos brancos; deficiência na locomoção e
fala, etc. Sempre que se achar um indivíduo com estas características diremos que estamos
diante de um idoso. A operacionalização dos conceitos permitiria a qualquer leitor saber
diferenciar os conceitos em uso.
Os extensionistas sabem que fazem a extensão rural porque durante a sua formação técnico
profissional são ditos que trabalharão para a Extensão Rural. Entretanto podemos entender
que no contexto em que se aplicavam, os conceitos de Extensão Agrária; Extensão Pública;
Extensão Rural; e Extensão Rural Pública, tinham a mesma significação. Para facilitar a
compreensão da análise em causa, aglutinaremos à estes quatro conceitos de extensão num
só conceito – a Tetra Extensão. Assim sendo, a Extensão Unificada tem uma significação
diferente da Tetra Extensão.
A Extensão Unificada compreende a aglutinação dos serviços prestados ao nível da
engenharia florestal, Extensão Pecuária, e a Extensão Agrícola.
Os indicadores básicos da Tetra Extensão são nomeadamente a existência de uma
campanha agrícola; serviços de investigação; fornecedores de insumos; agentes de
comercialização, entre outros.
Por campanha agrícola deve entender - se um período específico do ano calendário em que
se processa o cultivo de certas culturas agrícolas. Este período pode ter início num dado
trimestre ou semestre do ano calendário e terminar num outro trimestre ou semestre do
seguinte ano calendário.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 37
Book Sambo
21
Extensão Pecurária é definida pelo MADER como os serviços pecuários prestados no meio rural,
no qual se põe em prática a transferência de tecnologias ligadas à pecuária. Esta transferência é
processada do extensionista às comunidades rurais.
22
Carlos Agostinho do Rosário foi ministro da Agricultura e Pescas entre 1994 – 1999.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 38
Book Sambo
exemplo vejamos a seguinte definição que nos foi feita por um técnico da Direcção
Nacional de Extensão Rural:
Manhiça
Esta percepção do conceito de Extensão Rural verifica-se na prática com o trabalho feito
pelos extensionistas em Magude. Por outras palavras, esta percepção prende - se com o
facto de os extensionistas trabalharem maioritariamente com os camponeses. Conforme
dissemos no capítulo anterior, o quotidiano dos extensionistas desenrola-se nos CDR. É lá
onde se faz a transferência de tecnologias agrícolas aos camponeses. Vamos a seguir
descrever o processo de transferência de tecnologias.
O CDR é uma farma preparada ao lado de uma outra farma na qual os camponeses
cultivam com os métodos ditos rudimentares. Nos CDR os extensionistas cultivam com
base nos pacotes tecnológicos23. Por outras palavras é lá onde os extensionistas aplicam as
tecnologias agrícolas. O objectivo deste processo de trabalho é que no final da colheita os
camponeses estejam convictos de que as tecnologias demonstradas no CDR são mais
rentáveis em relação aos métodos (considerados rudimentares pelos extensionistas) por si
usados. Portanto, dá-se por terminada o processo de transferência de tecnologias, quando os
camponeses aceitam adoptar as técnicas ou os insumos agrícolas demonstrados pelos
extensionistas. Este processo dá-se durante o período em que decorre uma campanha
agrícola. Assim sendo, ele pode por exemplo decorrer desde Setembro de um ano
calendário até Abril do seguinte ano calendário. Um exemplo do processo de transferência
de tecnologia por nós observado em Magude foi o seguinte: Com o dinheiro resultante de
uma contribuição, a comunidade alugou um tractor para lavrar o CDR. Lá, o extensionista
(Zeca Mizé) ensinava como deviam proceder com a sementeira, ou por outra, com o
23
Ver páginas 32/3
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 40
Book Sambo
lançamento das sementes à terra. Ele explicava igualmente o distanciamento a ser dado
entre as sementes, e o número de sementes a serem depositados em cada cova.
Durante o trabalho de campo não verificamos qualquer outra actividade dos extensionistas
que não estivesse ligada à agricultura. Embora alguns extensionistas tenham-nos dito que
as suas actividades vão para além da agricultura. Como exemplo, falam da gestão de
conflitos locais e comunitários (problemas conjugais; acusações de maus olhares ou
feitiçaria, etc), bem como das campanhas de sensibilização e prevenção à certas doenças
como é o caso das DTS/SIDA24. Se isto acontece em Magude, garantimos que não se
processa ao mesmo nível dado a agricultura. Assim afirmamos dado que às comunidades
locais conhecem os extensionistas apenas pelos trabalhos prestados na área da agricultura.
Como exemplo disso, podemos citar um jovem, Augusto Chemo, por nós entrevistado.
Quando lhe perguntamos que é que os homens da agricultura25 faziam em Magude,
respondeu-nos que ensinavam-lhes a semear, e a fazer machambas.
A agricultura é o principal vector da actividade dos extensionistas no distrito de Magude.
Comparando a teoria e a prática da Extensão Rural em Magude, constatamos que esta
última não se adequa à primeira. Isto porque teoricamente a Extensão Rural é muito vasta,
e dá muita atenção à todos os focos que contribuam para o bem estar sócio-económico do
meio rural. Esta ideia está patente na noção de sistema de ensino patente na definição do
conceito de Extensão Rural. Diríamos que existe em Magude a noção de sistema de ensino,
se, por exemplo, aplicassem para além da Extensão Agrícola, as outras dimensões da
Extensão Rural como por exemplo a Extensão Formativa, Extensão Persuasiva, e até
mesmo a Extensão Pecuária que o MADER incluiu na Extensão Unificada. Como muito
bem disse Adams (1982), o termo Extensão foi inicialmente usado em conexão com a
educação há cerca de 100 anos. Assim sendo, diríamos que a noção de sistema de ensino
implica uma modalidade de ensino muito abrangente, i.e., que vai para além do ensino
sobre as tecnologias agrícolas. Este ensino ou educação às comunidades rurais estende-se
aos conhecimentos pecuários, bem como às estratégias pelas quais elas podem descobrir os
seus problemas básicos e resolverem-nos com os recursos locais. É isto que encerra a noção
de sistema de ensino.
24
Doenças de Tranmição Sexual e o Sindroma de Imuno Deficiência Adquirida.
25
Usamos a designação homens da agricultura, porque as comunidades sabem que os extensionisas
trabalham para a Direcção Distrital da Agricultura e Desenvolvimento Rural. Portanto desconhecem
o termo extensionista.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 41
Book Sambo
Na prática, em Magude não existe esta noção de sistema de ensino. O que se tem por base
no trabalho que os extensionistas fazem em Magude é a noção de transferência de
tecnologias agrícolas. Assim sendo, concluímos esta secção com a ideia segundo a qual em
Magude pratica-se uma Extensão Agrícola sob capa de Extensão Rural. Outrossim, pratica-
se uma Extensão Rural que talvez poderíamos considerar de mal feita.
Neste item pretendemos fazer uma análise sobre as discrepâncias entre os conceitos de
Extensão Rural e de Extensão Agrícola. Procuraremos mostrar as razões pelas quais torna-
se pernicioso confundir estes dois conceitos. Para tal começaremos por apresentar as
diferenças entre estes dois conceitos, e de seguida teceremos considerações sobre os fins
almejados por cada um deles. Faremos menção ao conceito de Desenvolvimento Rural para
ajudar na compreensão da ideia que pretendemos transmitir.
Na secção anterior definimos os dois conceitos ora em análise, por esta razão não
voltaremos a defini-los. O que pretendemos mostrar, é que o conceito de Extensão Rural é
mais abrangente que o da Extensão Agrícola. Isto pode-se entender claramente se
considerarmos a Extensão Rural, como um pacote que engloba tanto a Extensão Agrícola,
como a Extensão Formativa e Persuasiva. Portanto, estas ultimas formas de Extensão estão
incluídas dentro da Extensão Rural. Falando concretamente da Extensão Agrícola, diríamos
por exemplo que ela é um satélite de um grande planeta – a Extensão Rural.
A Extensão Rural é teoricamente tida como um vector para o Desenvolvimento Rural.
Assim sendo, o Desenvolvimento Rural é um conceito que engloba vários aspectos que
reflectem o bem estar socio-económico do meio rural. A título de exemplo, podemos falar
de uma dieta alimentar equilibrada; de acesso a um emprego agrícola ou não, de vestuário,
de assistência médica e medicamentosa; de acesso ao ensino, desporto, aos meios e vias de
comunicação; de manifestações dos usos e costumes da cultura local, etc. Por sua vez, a
Extensão Agrícola está apenas virada ao Desenvolvimento Agrícola ou da agricultura, o que
o MADER tem designado de Desenvolvimento Agrário. Extensão Rural (Outubro de 2000).
O Desenvolvimento Agrícola consiste no aumento dos rendimentos nas farmas, sejam elas
dos pequenos ou grandes farmeiros e/ou camponeses. Este aumento do rendimento na
produção agrícola vem resolver necessariamente o problema da fome e/ou subnutrição. Para
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 42
Book Sambo
Um outro facto que surge como resultado da acção levada a cabo pela DDADR, é o
esquecimento das outras componentes (para além do combate a fome ), que constituem o
Desenvolvimento rural. Tais componentes que fazem parte dos indicadores do
Desenvolvimento Rural são por exemplo: o acesso a um emprego agrícola ou não,
vestuário, assistência médica, acesso ao ensino, desporto, cultura, etc. Este facto afigura-se
importante para a nossa análise, na medida em que se pretende demonstrar o impacto da
compreensão problemática do conceito de Extensão Rural. Como anteriormente foi dito, a
Extensão Rural não põe em causa as manifestações culturais das comunidades rurais, pelo
contrário procura incentivar o Desenvolvimento Rural respeitando a cultura local26.
Se considerarmos a fome como sendo um problema, então diremos que com a introdução da
batata de polpa alaranjada em Magude, está-se a resolver um problema, criando-se um outro
problema. O problema que se cria ao se tentar resolver um outro problema – o da fome –, é
a marginalização das outras facetas (diferentes do combate a fome) do Desenvolvimento
Rural; facto este que de certa forma pode afectar negativamente para o Desenvolvimento
Rural. A dado momento consta-nos que o objectivo dado a Extensão Rural é o combate a
fome. Ou por outra, o combate a fome e não o Desenvolvimento Rural, tem se afigurado o
26
O que se verifica, é que o governo moçambicano nunca-se mostrou a favor do desmembramento
dos usos e costumes locais. Isto tem-se verificado com as atitudes do Ministério da Cultura. Este
ministério tem feito tudo para o insentivo da música tradicional moçambicana, entre outros aspectos
que constituem o folclore nacional. Seria uma contradição se um ministério (como o MADER) do
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 44
Book Sambo
fim último da Extensão Rural. Esta clausula é importante para o nosso argumento, dado que
tínhamos como objectivo mostrar as discrepâncias entre os conceitos de Extensão Rural e
de Extensão Agrícola.
Pretendemos, neste item, fazer uma análise sobre a relação entre os meios e os fins no
processo da Extensão Rural. Esta secção vem responder a um dos nossos objectivos
específicos a nortear este trabalho: Analisar a maneira como a Extensão Rural pode
contribuir para o Desenvolvimento Rural em Magude. Por outro lado, esta secção pode-nos
ajudar a responder a nossa questão de partida - Até que ponto a Extensão Rural (mal ou bem
implementada) contribui positivamente para o Desenvolvimento Rural?
A análise consistirá no estabelecimento da relação entre duas variáveis: a Extensão Rural e
o Desenvolvimento Rural. Para o efeito faremos o uso da teoria da acção clássica e
contemporânea.
Para começar faremos alusão à um dos princípios que norteia a teoria da acção clássica ou
mesmo a teoria das escolhas racionais. Segundo Pareto (1968), no decurso de qualquer
acção social, os actores procuram num vasto leque de opções, o meio mais adequado ao fim
que pretendem atingir. Só depois disso é que põem em curso a sua acção. Esta posição foi
contraposta por Boudon (1984) ao afirmar que em muitos casos a racionalidade das
escolhas vê-se limitada. Vê-se limitada porque o actor não encontra o meio mais adequado
para atingir o seu objectivo, mas para não ficar inerte deve usar qualquer meio que estiver
ao seu alcance. Isto acontece mesmo que ele tenha na consciência a ineficácia do meio por
si usado:
Boudon (1984:76)
Como acontece no decurso de qualquer acção social, o MADER procurou num vasto leque
de opções, o meio mais eficaz para atingir o Desenvolvimento Rural. E para tal,
encontrou-se aquilo que denominamos por Tetra Extensão. Este facto não se deu ao acaso.
Como diria Boudon (1979), os mentores desta opção tiveram razões válidas para tal.
Razões válidas são os motivos que convenceram ao actor social a agir de uma certa
maneira. Isto encontra-se portanto na definição clássica de racionalidade - Segundo os
clássicos é racional todo o comportamento em relação ao qual seja possível fornecer uma
definição do tipo "X tinha razões válidas para fazer Y, porque…"
A título de exemplo passemos a citar um pequeno trecho que elucida as razões válidas que
determinaram a escolha da Tetra Extensão pelo MADER, como um vector para o
Desenvolvimento Rural:
PROAGRI (2000)27
27
República de Moçambique; Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural; PROAGRI;
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 46
Book Sambo
O que a teoria da acção clássica defende, é que nem sempre os meios escolhidos pelos
actores sociais conduzem necessariamente aos fins almejados. É nesta acepção em que
Pareto (1968) denomina toda acção social como sendo não lógica. Para ele as acções são
lógicas quando os meios usados adequam-se necessariamente aos fins almejados. Isto não
acontece senão na acção do engenheiro que age em função do cálculo matemático. Por esta
razão o resto da acção social é não lógica. Na acção social os meios podem-se adequar aos
fins almejados, mas não necessariamente. Isto acontece porque os actores sociais não estão
em condições de escolher exaustivamente o meio mais adequado para o fim que pretendem
atingir.
Um exemplo que damos é o caso de Magude. Neste distrito, tem se como meio para o
Desenvolvimento Rural a Tetra Extensão. Merece sublinhar que o conceito de Tetra
Extensão corresponde ao que Hawkins (ibiden) definiu como Extensão Agrícola. Mas nesta
secção preferimos usar o conceito de Tetra Extensão (ao invés da Extensão Agrícola)
devido a sua peculiaridade. A Tetra Extensão é uma estratégia que não é muito eficaz para a
promoção do Desenvolvimento Rural.
A Tetra Extensão não se tem mostrado um meio eficaz para o Desenvolvimento Rural
porque na sua implementação em Magude, ele corresponde ao conceito de Extensão
Agrícola. E não ao conceito de Extensão Rural. Conforme vimos na secção anterior, a
Extensão Agrícola por ser uma componente de um todo – a Extensão Rural – está longe de
conduzir ao Desenvolvimento Rural. Não queremos com isto negar a possibilidade de a
Extensão Agrícola ser um meio, talvez o mais eficaz para o Desenvolvimento Rural. Mas se
admitirmos um cálculo probabilístico, diremos que a Extensão Rural como um conceito
mais abrangente que a Extensão Agrícola, está em melhores condições de ser o meio mais
eficaz para o Desenvolvimento Rural.
Programa Sectorial de Investimento Público; PAAO – 2001; Componente Extensão Rural; Maputo;
Setembro de 2000
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 47
Book Sambo
De uma maneira geral, a Tetra Extensão em Magude tem como fim último combater a fome
e não promover o Desenvolvimento Rural – como é o objectivo da Extensão Rural. Como
exemplo disso temos as declarações de Carlos A. do Rosário (Extensão Rural, Janeiro de
2000). Neste caso estamos perante uma inadequação dos meios usados para se atingir o
Desenvolvimento Rural. Isto porque ao se concentrarem as atenções especificamente à
Tetra Extensão, as outras facetas importantes para o Desenvolvimento Rural são
negligenciadas. Esta é apenas uma das razões centrais constatadas. Existem outros factores
que podem contribuir para o fracasso do Desenvolvimento Rural. Por exemplo segundo as
constatações apuradas na segunda Reunião Nacional de Extensão Rural:
DNDR (1992:11)
Os catalisadores da Extensão Rural são vários, alguns dos quais, estão longe da imaginação
humana. É preciso um estudo muito profundo e longo para detectar exaustivamente todos
os catalisadores da Extensão Rural.
Capítulo IV
Conclusão
No presente estudo, procuramos efectuar uma análise sobre a relação entre a Extensão
Rural e o Desenvolvimento Rural. Este trabalho foi realizado no distrito de Magude através
de um estudo de caso.
Tivemos como fio condutor deste estudo a seguinte questão de partida: Até que ponto a
Extensão Rural (mal ou bem implementada) contribui positivamente para o
Desenvolvimento Rural?
Como resposta à nossa questão de partida diremos o seguinte: da maneira como a Extensão
Rural é praticada em Magude, os resultados do Desenvolvimento Rural serão pouco
significativos. Isto porque existe uma visão problemática do conceito de Extensão Rural.
Assim sendo, a Extensão Rural é reduzida à Extensão Agrícola, o que limita a possibilidade
de se buscarem outras estratégias que contribuam para o Desenvolvimento Rural. Esta
resposta encerra, em si mesma, a validação de duas hipóteses.
Em segundo lugar, temos a sublinhar que os meios não se adequam necessariamente aos
fins almejados. Assim sendo, a própria Extensão Rural não conduz necessariamente ao
Desenvolvimento Rural. Desta feita podemos concluir que quanto mais limitada for a sua
implementação (o uso de apenas uma componente), mais remota é a possibilidade de
conduzir ao Desenvolvimento Rural.
Uma outra conclusão a que chegamos é de que no distrito de Magude a DDADR se tem
como fim último, o combate a fome e não o Desenvolvimento Rural. E para tal usa-se
como meio a Tetra Extensão. Este facto vem sobretudo contradizer o que alguns
documentos oficiais28 dizem. Dado que estes afirmam que o objectivo do MADER é
promover o Desenvolvimento Rural.
A eficácia da Extensão Rural passa pela consideração de vários factores (os quais
chamamos de catalisadores) dentro dos quais se destacam: a corrupção; o nível de
formação dos técnicos de extensão; o incentivo à eles dado; os moldes em que se processa
a investigação; a disponibilidade dos recursos financeiros; a percepção que o Governo tem
sobre o conceito de Extensão Rural, etc. Satisfeitas todas as condições necessárias à
Extensão Rural, ela conduziria necessariamente ao Desenvolvimento Rural. Mas porque os
actores sociais não estão em condições de identificar exaustivamente e agregar todos os
catalizadores necessários à Extensão Rural, diríamos na linguagem paretiana que o
Desenvolvimento Rural seria ou será uma contingência.
Das três hipóteses que nortearam este estudo, duas foram confirmadas e uma foi infirmada.
A terceira hipótese foi a seguinte: Quanto mais se levar em conta as outras facetas da
Extensão Rural (a participação comunitária; a descentralização; a coordenação
intersectorial; e a pesquisa-acção sistemática) durante a Extensão Agrícola, maior é a
possibilidade de se chegar ao Desenvolvimento Rural. Esta hipótese foi infirmada porque
o que foi considerado como facetas da Extensão Rural são na realidade os catalisadores a
serem consideradas no âmbito da Extensão Rural. As facetas da Extensão Rural são,
portanto, a Extensão Formativa, a Extensão Persuasiva, Extensão Informativa, e a Extensão
Agrícola.
O nosso estudo observou certas limitações que contribuíram para a não profundidade desta
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 51
Book Sambo
investigação.
Em segundo lugar, o nosso tempo de permanência em Magude foi muito curto, razão pela
qual contribuiu para que não pudéssemos entrevistar um número significativo dos
extensionistas. O curto tempo de permanência em Magude deveu-se a falta de recursos
financeiros que pudessem custear a nossa estadia.
Constatamos igualmente que existem poucas publicações nacionais sobre a Extensão Rural,
com um carácter analítico. Isto dificultou-nos de certa forma a encontrar algum suporte que
fortalecesse o nosso argumento. Para superar este problema tivemos que analisar os dados
recolhidos, à luz das teorias e estudos desenvolvidos fora do país.
Assim, damos por terminado o nosso estudo relativo à Extensão Rural no distrito de
Magude.
28
Ver página 10
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 52
Book Sambo
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Weber, M. (1991), Sobre a teoria das Ciências Sociais, São Paulo, Editora Moraes
Anexos
Ás comunidades locais
Alternativas:
Desde quando é que mora neste local?
Quando é que veio morar aqui?
Objectivo:
Introduzir a conversa.
Alternativas:
Desde quando é que os homens da agricultura têm vos ajudado?
Quando é que começaram a receber ajuda da Direcção Distrital da Agricultura?
Objectivo:
Estimar o período em que a Extensão Rural foi introduzida no distrito.
Objectivo:
Saber se existe em Magude a Extensão Agrícola ou Extensão Rural;
Saber se eles (as comunidades locais)consideram como ajuda, os serviços de Extensão.
• Em que vos ajuda o trabalho dos extensionistas? Será que esta ajuda resolve os
vossos problemas? Quais são os vossos problemas? Em que medida a sua vida
mudou com a introdução deste projecto?
Alternativa:
A ajuda que vos dão resolve os problemas das vossas machambas (Identificar os
problemas)?
Objectivo:
29
Aos homens da agricultura referem-se aos extensionistas.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 63
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Alternativas:
Em que momentos é que aparecem os homens da agricultura?
Qual é a altura em que os homens da agricultura vem ter convosco?
Objectivo:
Identificar as circunstâncias em que os extensionistas põem em prática as suas
actividades.
Alternativa:
Os homens da agricultura têm entrado em acordo com as autoridades tradicionais na
resolução dos vossos problemas?
Objectivo:
Saber se existe o método participativo30 no acto da Extensão Rural.
Alternativas:
Quando chegam os homens da agricultura a quem se dirigem primeiro?
Os homens da agricultura perguntam a qualquer indivíduo sobre os vossos problemas?
Se não, especifique as pessoas.
Objectivo:
Conhecer (para poder descrever) a estrutura de articulação entre o projecto e a
comunidade local.
30
Ver a operacionalização do conceito de participação na página 6.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 64
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Alternativas:
Desde quando é que a Extensão Rural começou a ser posta em prática no Distrito de
Magude?
Há quanto tempo é que Magude se beneficia da Extensão Rural?
Objectivo:
Iniciar a conversa.
Alternativas:
Quais os problemas que o Distrito enfrenta na sua opinião?
Como pode caracterizar as dificuldades que o Distrito atravessa?
Objectivo:
Perceber a definição oficial do problema de Magude, definição essa que está por detrás do
projecto.
• Que pensa da agricultura local? Acha que as culturas são as mais adequadas?
Acha que os métodos são os mais adequados? Pode explicar porquê?
Alternativas:
Que é que acha da prática agrícola local em relação as condições que julga
favorecerem para a prosperidade agrícola?
Que acha da relação entre o clima, as condições do solo, e a prática agrícola no
distrito?
Objectivo:
Saber como a extensão rural intervém no meio local.
• Para além dos problemas ligados a agricultura, que mais faz aqui?
Alternativa:
Quais são os outros problemas nos quais os extensionistas têm-se ocupado em resolver por
além da agricultura.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 65
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Objectivo:
Avaliar a dimensão ou limitação da Extensão Rural no Distrito de Magude.
Alternativa:
Através de que mecanismos os extensionistas conseguem identificar os problemas de
uma certa comunidade?
Objectivo:
Saber como o projecto define o problema.
Alternativas:
Existe algum papel desempenhado pelas autoridades tradicionais no âmbito da
Extensão Rural? Qual?
Qual o contributo das autoridades tradicionais na Extensão Rural?
Objectivo:
Ao Ministério da Agricultura
Alternativas:
Do ponto de vista do Governo qual é a sua noção de Extensão Rural?
Qual é a sua percepção sobre o conceito de Extensão Rural?
Objectivo:
Introduzir a conversa.
Identificar a noção governamental de Extensão Rural.
Alternativas:
Pode descrever a prática da Extensão Rural?
Quais as modalidades em que a Extensão Rural é praticada?
Objectivo:
Conhecer as modalidades segundo as quais a Extensão Rural é praticada
Alternativas:
Que é que o governo mais prioriza no processo da Extensão Rural?
Qual é a área mais priorizada na Extensão Rural?
Objectivo:
Confrontar as prioridades mencionadas pela literatura, e as prioridades mencionadas pelos
funcionários do Ministério da Agricultura.
Alternativas:
Que papel desempenha a agricultura para a Extensão Rural?
Que relação estabelece entre a agricultura e a Extensão Rural?
Objectivo:
Saber os motivos pelos quais é valorizada a agricultura na Extensão Rural.
Alternativa:
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 67
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Que é que existe (do seu ponto de vista) de convergente e de divergente entre a
Extensão Agrícola e a Extensão Rural?
Qual é a percepção que tem sobre os conceitos de Extensão Agrícola e Extensão Rural?
Objectivo:
Saber qual a diferenciação que o Governo faz sobre os conceitos de Extensão Agrícola e
Rural.
Alternativa:
Qual o seu posicionamento, em relação a ideia do uso de sementes geneticamente
modificadas?
Objectivo:
Saber o posicionamento do Governo em relação ao uso de tecnologia de ponta na
agricultura nacional.
Alternativa:
Existem outras áreas por além da Extensão Agrícola, em que a Extensão Rural opera?
Objectivo:
Conhecer as outras áreas da Extensão Rural consideradas pelo Governo.
• Comunidades rurais
Oito (8) entrevistados: camponeses, pequenos comerciantes, criadores de gado, etc
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 68
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Operacionalização
Participação comunitária
31
Ban, H. et al (1994) La vulgarisation rurale en Afrique; Editions Karthala et CTA, Nigeria
32
Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural
33
Organizações Não Governamentais
34
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
35
Extensão Rural
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 69
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O trabalho de campo consistitá numa pesquisa que terá como base as conversas
intrevistas não estruturadas com alguns membros das comunidades rurais do Distrito de
alvo que são as comunidades locais. Desta forma poderei recolher informações de
diversas sensibilidades que irão de acordo com o nível de informação e de instrução dos
intrevistados.
Mês. Porque até ao momento não dispomos de algum financiamento, esperamos que o
trabalho será feito por meios próprios, i.e com base nos recursos que estiverem ao
nosso alcance.
Como?
pelas ideias do grupo alvo em relação a temática em estudo, bem como algumas
O registo dos dados que têm a ver com as ideias do grupo alvo será feito com base no
material disponível até a altura (gravadores, bloco de notas entre outros). As suas
Quando ?
O trabalho de campo terá lugar em Fevereiro de 2003. Escolheu-se este período que é
Resultados esperados
Espero naturalmente poder encontrar dados que confirmam as minhas hipóteses. Por
exemplo poderei constatar que existe em Magude uma percepção problemática do conceito
de Extensão Rural, que de certa maneira afecta no desenvolvimento distrital. Poderei
igualmente constatar que em Magude faz-se mal a Extensão Rural, pelo facto de não
levarem em consideração as condições culturais, climatéricas, e o estado de fertilidade dos
solos.
Poderei notar que o pessoal técnico da Direcção Distrital da Agricultura tem uma visão
muito limitada do conceito de Extensão Rural, cingindo-se apenas à Extensão Agrícola.
Segundo uma sondagem que fiz ao Distrito, verifiquei que apesar das comunidades
Gill (1996)36 é útil pensar na análise de conteúdo como tendo quatro temas principais:
uma preocupação com o discurso em si; visão do idioma como algo construtivo e
para analisar a visão que os entrevistados têm sobre a Extensão Rural. Numa análise de
conteúdo como a que pretendo levar a cabo, há mais itens por considerar, como por
silêncio versus o que não foi dito pelo entrevistado. Isto é importante porque na análise
de conteúdo não é aconselhável que nos deixemos convencer pela transparência dos
factos; pelo obvio; pela claridade; etc. É preciso tomar sempre uma atitude céptica,
fazendo a nós próprios interrogações constantes como por exemplo porquê é ele disse
assim e não assado? Porquê o seu silêncio nesta ou naquela circunstância? Porquê é que
eu acho que ele devia dizer isto mais aquilo e não...?; Porquê é que acho que ele não
disse isto e disse aquilo? Porquê é que ele pensa assim e não....?; etc. Na análise de
36
Gill, R. (1996) “Discourse analysis: practical implementation”, in J. Richardson (ed.), Handbook
of Qualitative Research Methods for Psychology and the Social Sciences. Leicester: British
Psychological Society.
Extensão Rural: Um estudo de caso no Distrito de Magude 72
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testar se os dados recolhidos encaixam-se a ela ou não. Assim sendo a confrontação dos
dados recolhidos e filtrados pela análise de conteúdo, passará por avaliar a sua
adequação aos conceitos operacionalizados. Depois disto poderei por exemplo inferir
que com base na definição que usei para a Extensão Rural, em Magude existe de facto
concluir que os meios usados na Extensão Rural em Magude adequam-se aos fins
dados; isto porque segundo os dados ou informação colhida dos relatórios quer seja da