Pacu

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Rev. bras. zootec.

, 29(3):646-653, 2000

Fontes e Níveis de Proteína Bruta em Dietas para Alevinos de


Pacu (Piaractus mesopotamicus)1

João Batista Kochenborger Fernandes2, Dalton José Carneiro3, Nilva Kazue Sakomura4

RESUMO - Foi conduzido um experimento, com 100 dias duração, utilizando-se 288 alevinos de pacu, distribuídos em 36 caixas de cimento
amianto com volume de 100 litros, para avaliar a substituição da farinha de peixe por farelo de soja e os níveis protéicos nas dietas. Durante
o período experimental, a temperatura média da água permaneceu em 28oC e os demais parâmetros limnológicos (oxigênio dissolvido, pH,
alcalinidade e condutividade) apresentaram-se dentro dos níveis adequados para o desenvolvimento desta espécie. O delineamento experimental
foi de blocos casualizados, em que foram avaliados nove tratamentos em esquema fatorial 3 x 3, três níveis de proteína bruta (22, 26 e 30%)
e três níveis de substituição da farinha de peixe pelo farelo de soja (0, 50 e 100%). O nível de 26% de proteína bruta foi mais adequado. A farinha
de peixe pode ser substituída parcial ou totalmente pelo farelo de soja, sem influir no ganho de peso, na conversão alimentar, na taxa de crescimento
específico e na taxa de eficiência protéica dos alevinos. A substituição das fontes protéicas também não influenciou a composição corporal dos
peixes, a eficiência de retenção de nitrogênio, o nitrogênio corporal, a gordura corporal e o nitrogênio e a gordura no ganho de peso.

Palavras-chave: alevinos de pacu, fontes de proteína, níveis de proteína

Sources and Levels of Crude Protein in Diets for Pacu (Piaractus mesopotamicus)
Fingerlings

ABSTRACT - A 100-d experiment was carried out with 288 fingerlings of pacu, allotted to 36 cement mansory box with 100 liters volume,
with eight fishes per each unit, to evaluate the replacement of fish flour by soybean meal and the protein levels in the diets. During the experimental
period, the average temperature of the water was 28oC and other limnology parameters (dissolved oxygen, pH, alkalinity and conductivity) remained
within the adequate levels for the development of this specie. The experimental design consisted of randomized blocks, with nine treatments in
a 3 x 3 factorial arrangement, three level of crude protein (22,26 and 30%) and three levels of fish meal replacement by soybean meal (0,50 and
100%). The results showed that 26% of crude protein was better and the fish meal, can be partially or totally replaced by soybean meal without
affecting fingerlings weight gain, feed: gain, specific growth rate and protein efficiency rate of the fingerlings. The protein source replacement also
did not affect the body composition, nitrogen retention efficiency, body nitrogen, body fat and nitrogen and fat in the weight gain of the fingerlings.

Key Words: fingerlings of pacu, protein sources, protein levels

Introdução utilizada nas rações comerciais para peixes. Contu-


do, devido ao alto custo das fontes protéicas, associ-
No Brasil, nos últimos dez anos, o nível de procura ado à poluição ambiental em função do uso excessivo
pela criação de peixes em cativeiro tem sido crescente, das fontes nitrogenadas nas dietas, há a necessidade
principalmente pelas espécies nativas tropicais, como de reavaliação tanto das fontes como dos níveis de
o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o tambaqui proteína a serem utilizadas em formulações comerciais
(Colossoma macropomun), que apresentam grande (SILVA e ANDERSON, 1995). Dessa forma, são
potencial para a piscicultura intensiva, uma vez que necessários mais estudos sobre as exigências e fon-
possuem carne de excelente qualidade, facilidade de tes protéicas na alimentação do pacu, visando otimizar
adaptação ao cultivo em tanques ou viveiros e grande o seu desempenho. Assim, o objetivo deste estudo
utilidade na pesca esportiva. foi avaliar a substituição da farinha de peixe por
A farinha de peixe, devido a seu elevado valor farelo de soja e os níveis protéicos em dietas para
nutritivo e palatatibilidade, tem sido tradicionalmente alevinos desta espécie.

1 Parte da tese de Doutorado em Aqüicultura do primeiro autor apresentada ao Centro de Aqüicultura da UNESP.
2 Zootecnista, técnico especializado em piscicultura do Centro de Aqüicultura da UNESP, Rod. Carlos Tonani, Km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP.
E.mail: jbatista@caunesp.unesp.br
3 Zootecnista, professor do Centro de Aqüicultura da UNESP, Rod. Carlos Tonani, Km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP. E.mail: daltonjc@caunesp.unesp.br
4 Zootecnista,professor do Departamento de Zootecnia da FCAV-UNESP, Rod. Carlos Tonani, Km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP.
E.mail: sakomura@fcav.unesp.br
FERNANDES et al. 647
Material e Métodos proteína bruta e três níveis de substituição da farinha
de peixe por farelo de soja, conforme a composição
O experimento foi conduzido no Laboratório de das rações apresentada na Tabela 2.
Nutrição de Organismos Aquáticos, do Centro de Para avaliar a eficiência das dietas experimen-
Aqüicultura da UNESP, Campus de Jaboticabal-SP, tais, foram determinados alguns parâmetros de de-
por um período de 100 dias. Foram utilizados 288 sempenho dos peixes, como consumo, ganho de peso,
alevinos de pacu, distribuídos em 36 caixas de cimen- taxa de crescimento específico, conversão alimentar
to amianto, com capacidade volumétrica de 100 litros, e taxa de eficiência protéica. Também foram avalia-
na proporção de 8 peixes/caixa. Foi realizado o das a composição corporal dos alevinos (água, nitro-
monitoramento da qualidade da água dos aquários gênio e gordura), assim como a taxa de eficiência de
experimentais por intermédio de análises físicas e retenção de nitrogênio e a porcentagem de nitrogênio
químicas, com leituras de temperatura diária, e sema- e gordura no ganho de peso.
nalmente foram determinados o potencial As análises estatísticas foram realizadas utilizan-
hidrogeniônico (pH), a alcalinidade total (mg de do-se o programa ESTAT, desenvolvido na FCAV/
CaCO3/l), a condutividade elétrica (µSiemens/cm) e UNESP-Jaboticabal, segundo o modelo matemático:
o oxigênio dissolvido (mg O2/l), de acordo com o Yijk = Bi + Fj + Pk + F.Pjk + Eijk
recomendado por POMEROY e KIRSCHIMAN em que
(1945) e GOLTERMAN et al. (1978). Yijk = variável estudada referente ao bloco i, à
O delineamento experimental foi o de blocos fonte j, ao nível k e à interação F x P;
casualizados, com quatro blocos, para controlar as Bi = efeito do bloco i = 1, 2, 3, 4;
diferenças dos pesos iniciais que estavam entre 4,62 Fj = efeito da fonte de proteína, j = 1, 2, 3;
e 11,31 g. Cada repetição foi constituída por oito Pk = efeito do nível de proteína, k= 1, 2, 3;
alevinos. Foram testados nove tratamentos em es- F.P jk = efeito do nível da interação da fonte j e
quema fatorial 3 x 3, três níveis de proteína bruta (22, nível k; e
26 e 30%) e três níveis de substituição da farinha de Eijk = erro aleatório associado à observação
peixe pelo farelo de soja (0, 50 e 100%). De acordo do i-ésimo bloco, j-ésimo fonte de proteína e k-ésimo
com as análises prévias da composição química dos nível de proteína, i=1-4, j=1-3 e k=1-3.
ingredientes (Tabela 1), foram formuladas nove die- As médias das variáveis estudadas foram com-
tas isocalóricas (4200 kcal EB/kg) com três níveis de paradas pelo teste de Tukey a 5%.

Tabela 1 - Composição química dos ingredientes utilizados nas rações experimentais


Table 1 - Chemical composition of ingredients used in the experimental diets
Composição química Ingrediente
Chemical composition Ingredient
Far. peixe Far. soja Far. arroz Far. trigo Milho Óleo Fosfato Sal
Fish meal Soybean Rice bran Wheat meal Corn de soja bicálcico Salt
meal Soybean Dicalcium
oil phosphate
Matéria seca (%) 91,45 87,22 86,94 85,71 87,21 - - -
Dry matter
Proteína bruta (%) 55,21 47,29 13,16 16,19 8,81 - - -
Crude protein
Energia bruta (kcal/kg) 4012 4303 4638 4165 3930 9100 - -
Gross energy
Extrato etéreo (%) 7,77 2,39 15,17 3,57 4,47 100 - -
Ether extract
Extrato não-nitrogenado (%) 2,74 26,1 38,08 54,31 71,18 - - -
Nitrogen free extract
Matéria mineral (%) 25,73 6,32 10,22 4,35 1,26 - - -
Ashes
Ca (%) 6,10 0,36 0,11 0,12 0,02 - 23,30 -
P (%) 3,00 0,55 1,59 0,87 0,27 - 18,50 -
Cl (%) 0,99 0,04 0,08 0,04 0,05 - - 60,66
Na (%) 0,30 0,09 0,04 0,04 0,02 - - 39,34
648 Rev. bras. zootec.

Tabela 2 - Composição percentual e calculada das dietas experimentais


Table 2 - Percentage and calculated composition of experimental the diets
Ingrediente FP 3 FP FP FP/FS4 FP/FS FP/FS FS 5 FS FS
Ingredient 22 26 30 22 26 30 22 26 30
Farinha de peixe 22,00 33,11 42,73 13,25 17,65 22,45 - - -
Fish meal
Farelo de soja - - - 14,90 20,70 26,12 29,43 41,60 52,71
Soybean meal
Farelo de arroz 29,40 28,40 19,63 18,14 10,05 5,42 15,00 10,00 10,00
Rice bran
Farelo de trigo 24,30 10,00 10,00 10,40 12,00 10,20 20,00 14,46 10,00
Wheat meal
Milho 22,80 26,64 24,85 40,21 36,00 32,47 32,30 30,00 24,04
Corn
Óleo de soja 0,50 1,00 2,00 2,00 2,50 2,63 1,49 1,81 1,17
Soybean oil
Fosfato bicálcico - - - - - - 0,75 1,11 1,08
Dicalcium phosphate
Sal 0,30 0,15 0,09 0,40 0,40 0,01 0,33 0,32 0,30
Salt
Sup. vitamínico 1 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45
Vitamin premix
Sup. mineral 2 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
Mineral premix
Composição calculada/Analisada
Calculated composition/Analyzed
Matéria seca 91,69 91,72 92,64 92,11 92,04 92,53 90,94 92,84 91,51
Dry matter
Proteína bruta 21,97 26,00 30,00 22,00 26,00 30,00 22,00 26,00 30,00
Crude protein
Extrato etéreo 8,61 9,49 9,81 8,34 7,95 7,14 6,66 6,20 5,40
Ether extract
Extrato não-nitrogenado 41,22 36,11 31,77 45,43 41,85 38,15 47,25 43,87 40,11
Nitrogen free extract
Ca 1,41 2,07 2,64 0,90 1,18 1,49 0,33 0,44 0,47
P 1,40 1,60 1,75 0,97 1,00 1,08 0,80 0,80 0,80
Fibra bruta 4,68 3,64 2,89 3,70 3,37 3,09 4,73 4,48 4,64
Crude fiber
En. bruta (kcal/kg) 4200 4200 4200 4200 4207 4216 4200 4200 4200
Gross energy
Metionina 0,54 0,70 0,84 0,46 0,55 0,64 0,33 0,38 0,43
Methionine
Metionina+Cistina 0,85 1,03 1,20 0,78 0,91 1,05 0,69 0,79 0,89
Methionine+Cystine
Lisina 1,40 1,84 2,24 1,31 1,64 1,97 1.13 1,41 1,69
Lysine
Treonina 0,88 1,09 1,27 0,87 1,03 1,20 0,81 0,97 1,12
Threonine
Triptofano 0,28 0,32 0,37 0,28 0,34 0,36 0,30 0,35 0,41
Tryptophan
1 Suplemento vitamínico (Vitamin premix): vit. A,12.000 UI; vit.D3, 2.000 UI; vit.E, 20 UI; vit.K3, 5 mg; vit.B12, 25 mg; tiamina (tiamin)
(vit. B1), 2 mg; riboflavina (riboflavin) (vit. B2), 8 mg; piridoxina (piridoxin) (vit. B6), 2 mg; biotina (biotin), 100 mg; ácido fólico (folic acid),
0,5 mg; ácido pantotêmico (panthotenic acid), 15 mg; niacina (niacin), 40 mg; e colina (coline), 350 mg.
2 Suplemento mineral (Mineral premix): Fe, 40 mg; Cu, 8 mg; Mn, 70 mg; Co, 0,5 mg; I, 2 mg; Se, 0,2 mg; e Zn, 50 mg.
3 Farinha de peixes (Fish meal).
4 Farinha de peixe + Farelo de soja (Fish meal + Soybean meal).
5 Farelo de soja (Soybean meal).
FERNANDES et al. 649
Resultados e Discussão Desempenho produtivo dos alevinos
Os resultados de desempenho dos alevinos de pacu
Parâmetros limnológicos da água dos aquários são apresentados na Tabela 4. Observa-se que as
experimentais fontes e os níveis de proteína avaliados não interferi-
Os resultados das análises da água dos aquários ram no consumo de ração (P>0,05). Isto pode ser
experimentais, realizadas durante o período experi- explicado pelo fato de que as rações eram
mental, são apresentados na Tabela 3. isoenergéticas, haja vista que o nível energético da
O teor médio de oxigênio dissolvido, durante o dieta pode limitar o consumo dos peixes (CARNEIRO,
período experimental, foi de 4,84 mg/L. Segundo 1990). Verifica-se que, no decorrer do experimento,
BOYD (1982), os valores obtidos atenderam per- houve aumento no consumo, principalmente em fun-
feitamente as exigências dos peixes. Da mesma for- ção do crescimento dos peixes e da adequada tempe-
ma, o potencial hidrogeniônico (pH) manteve-se den- ratura da água para o desenvolvimento da espécie.
tro dos padrões recomendados pelo mesmo autor e por Apesar de não ocorrerem diferenças estatísticas
CASTAGNOLLI e CYRINO (1986), entre 6,80 e entre as fontes protéicas testadas, os alevinos que
7,60. Os níveis de alcalinidade total e condutividade receberam a farinha de peixe (FP), como principal
elétrica da água ficaram entre 91,66 e 94,00 mg de fonte protéica, apresentaram tendência de menor
CaCO3/l e 166,66 e 190,00 mS/cm, respectivamente. ganho de peso, em relação àqueles que receberam
Os valores de alcalinidade apresentaram-se dentro farelo de soja (FS), enquanto a mistura farinha de
dos limites preconizados por TAVARES (1995). Con- peixe mais farelo de soja (FP+FS) tendeu a apresen-
tudo, os resultados da condutividade elétrica foram tar melhores resultados. Isto pode ser explicado pelo
elevados, provavelmente em função da alta presença fato de a ração FP+FS apresentar melhor
de íons de cálcio na água de abastecimento dos balanceamento dos aminoácidos e macrominerais,
aquários experimentais. A temperatura da água dos permitindo melhor atendimento das exigências
aquários experimentais apresentou-se adequada para nutricionais dos peixes. Resultados semelhantes fo-
os peixes tropicais, apresentando médias entre 27,89 ram obtidos por VIOLA et al. (1982), que, substituin-
e 28,51oC. Estes valores foram semelhantes aos do a farinha de peixe por farelo de soja até o nível de
obtidos por TORLONI et al. (1984) e CARNEIRO 45%, não encontraram prejuízos no desempenho de
(1990), que observaram os melhores parâmetros de carpas (Cyprinus carpio). Posteriormente, VIOLA
desempenho para alevinos de pacu com temperaturas et al. (1988) obtiveram resultados semelhantes com
entre 26,7 e 28,8oC e 28 e 32oC, respectivamente. tilápias híbridas (Oreochromis nilotius x O . aureus).

Tabela 3 - Parâmetros limnológicos da água das caixas de cimento experimentais1


Table 3 - Water limnological parameters of experimental cement mansory boxes1
1o Período 2o Período 3o Período 4o Período Média
1st Period 2nd Period 3rd Period 4th Period Average
Oxigênio dissolvido (mg/L) 6,86 4,33 4,13 4,06 4,84
Dissolved oxigen (mg/L)
pH (potencial hidrogeniônico) 7,60 7,20 6,80 6,80 7,10
pH (hydrogenic potential)
Alcalinidade (mg/L CaCO3) 94,00 92,00 91,66 94,33 93,00
Alcalinity (mg/L CaCO 3)
Condutividade (ms/cm) 190,00 190,00 180,00 166,66 181,66
Condutivity (ms/cm)
Temperatura média (°C) 27,89 27,90 28,51 28,37 28,16
Average temperature ( oC)
(1) Médias obtidas em todos os aquários experimentais por período.
(1) Averages obtaneid in all experimental aquariuns per period.
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Tabela 4 - Valores de F, coeficiente de variação (CV) e médias obtidas no desempenho dos alevinos
de pacu
Table 4 - F values, variation coefficients and averages on performance of pacu fingerlings
Parâmetros (Parameters)
Estatística Consumo GP TCE Peso CA
Statistic Intake WG SGR Weight FC
F Bloco 3,1208* 0,8304 ns 36,0246 ** 9,1614 ** 1,2651 ns
Block F
Fonte de proteína (FP) 0,6077 ns 2,6752 ns 2,6533 ns 2,7592 ns 1,9746 ns
Protein source
Nível de proteína (NP) 0,3523 ns 12,6049 ** 3,9297 * 14,8420 ** 7,1318 **
Protein level
Interação FP x NP 0,5478 ns 0,5013 ns 0,5478 ns 0,7276 ns 1,9601 ns
Interaction FP x NP
CV (%) 12,55 11,27 8,33 8,93 12,86
Fontes Médias
Sources Averages
Farinha de peixe 41,29 31,41 1,67 38,85 1,37
Fish meal
Far. peixe + Far. soja 45,59 34,94 1,80 42,32 1,23
Fish meal + soybean meal
Farelo de soja 41,93 33,13 1,74 40,47 1,31
Soybean meal
Níveis
Levels
22 % PB(CP) 40,79 29,02b 1,64b 36,22b 1,44a
26% PB(CP) 41,93 33,89a 1,77ab 41,23a 1,27b
30% PB(CP) 43,11 36,57a 1,80a 44,19b 1,19b
ns - Não-significativo - not significant . * (P< 0,05); ** (P< 0,01).
GP - Ganho de peso (WG - weight gain); TCE - tava de crescimento específico (SGR - specific growth rate).
CA - Conversão alimentar (FC - feed:gain ratio).
Médias, na coluna, seguidas de letras diferentes são diferentes (P<0,05) pelo teste Tukey.
Means, within a column, followed by different letters are different (P<.05) by Tukey test.

Por outro lado, o nível de 22% PB proporcionou os de crescimento dos alevinos (Figura 1), assim como
piores resultados de ganho de peso. Os níveis de 26 a conversão alimentar (CA), mostrou que não houve
e 30% PB não apresentaram diferenças significati- diferenças significativas entre as rações formuladas
vas, demonstrando que 26% PB podem atender as apenas com FP ou FS. Entretanto, a mistura das
exigências da espécie nesta fase. fontes (FP+FS) proporcionou tendência de maior
Seguindo a mesma tendência, apesar de não peso final e melhor CA. Também não houve diferen-
apresentar diferenças significativas, a ração com ças significativas entre os níveis de 30 e 26% PB.
FP+FS também tendeu a apresentar os melhores Contudo, os peixes que receberam 22% PB apresen-
resultados para a taxa de crescimento específico taram pior conversão alimentar e menor peso corpo-
(TCE). Contudo, houve diferenças entre os níveis ral. Segundo COX e COUTANT (1981), a conver-
protéicos testados sobre a TCE. O nível de 30% PB, são alimentar, o crescimento e as taxas de consumo
apesar de ter apresentado os melhores resultados, variam com a temperatura da água. LOVELL (1984)
não diferiu estatisticamente do nível de 26% PB. relatou que os peixes, em geral, aproveitam melhor as
Entretanto, o nível protéico mais baixo apresentou os dietas com teores protéicos mais altos, de maneira
piores resultados. JAUNCEY (1982), que trabalhou similar aos resultados obtidos no presente estudo.
com tilápia nilótica, e BRENNER (1988), com pacu, Apesar de não ocorrerem diferenças estatísticas
não encontraram diferenças significativas para a entre as fontes e níveis de proteína sobre a taxa de
TCE, ao utilizarem dietas com 30; 35; e 40% PB. eficiência protéica (TEP) e a eficiência de retenção
Corroborando os resultados obtidos com o ganho de nitrogênio (ERN), observou-se nítida tendência de
de peso e a taxa de crescimento específico, a curva a dieta composta por FP+FS apresentar os melhores
FERNANDES et al. 651
50
45
resultados para estes parâmetros (Tabela 5). Estes

Peso (g) - Weight (g)


40
35
resultados podem indicar melhor composição da dieta
30 mista no balanço de aminoácidos, resultando em
25
20 melhor desempenho dos peixes. Respostas seme-
15
10 lhantes foram obtidas por VIDOTTI (1997), com
5
0 alevinos de bagre africano (Clarias gariepinus), em
0 28 56 84 100
Dias
Dias- Days
- Days
rações compostas por 50% de farinha de peixe e 50%
Níveis
Níveis dede proteína
Proteína bruta
Bruta - Levels
- Levels of crude
of Crude protein
Protein de farelo de soja. SHIAU et al. (1989), trabalhando
22% 26% 30%
com tilápias híbridas, obtiveram resultados semelhan-
tes ao presente estudo, ou seja, TEP entre 3,7 e 4,6.
Quanto aos níveis de proteína bruta testados, obser-
vou-se que os peixes que receberam dietas com 22%
Figura 1 - Curvas de crescimento dos alevinos alimentados PB apresentaram TEP e ERN mais elevadas, o que
com diferentes fontes e níveis de proteína.
Figure 1 - Performance of fingerlings fed different sources and pode estar associado ao uso mais eficiente da prote-
levels of protein. ína, quando esta se apresenta deficiente na ração.

Tabela 5 - Valores de F, coeficiente de variação (CV) e médias da utilização de proteína e composição corporal dos alevinos
de pacu
Table 5 - F values, coefficients of variation and means of protein utilization and body composition of pacu fingerlings
Parâmetros
Parameters
Estatística TEP Água Proteína Gordura ERN NGP GGP
Statistic PER Water Protein Fat NER WGN WGF
F Bloco 1,0560 1,3172 1,3963 0,1763 1,6069 1,2756 0,7605
Block F
Fonte de proteína (FP) 2,7419 8,7192 ** 14,7089 ** 3,4190 * 2,8366 0,8133 2,2533
Protein source
Nível de proteína (NP) 2,2575 8,3720 ** 24,2542 ** 0,2039 1,2930 5,6058 * 2,1060
Protein level
Interação FP x NP 1,8937 1,5594 4,1384 * 1,7121 2,1337 1,2482 1,7138
Interaction FP x NP
CV (%) 11,47 1,04 2,67 10,72 10,42 2,80 12,16
Fontes Médias
Sources Averages
Farinha de peixe 2,94 72,41a 55,58 29,53 44,85 2,43 9,21
Fish meal
Far. Peixe + Far. soja 3,27 71,85b 54,39 26,55 49,64 2,43 8,29
Fish meal + Soybean meal
Farelo de soja 3,07 73,13a 57,65 29,16 47,25 2,46 8,70
Soybean meal
Níveis
Levels
22 % PB (CP) 3,23 71,95b 53,98 28,66 48,52 2,39 b 9,12
26% PB(CP) 3,13 72,28b 55,47 28,62 47,78 2,44 ab 8,84
30% PB(CP) 2,92 73,16a 58,16 27,95 45,43 2,49 a 8,25
* (P< 0,05) ** (P< 0,01).
TEP - Taxa de eficiência protéica (PER- protein efficiency rate); ERN - eficiência de retenção de nitrogênio (NRE - nitrogen retention efficiency);
NGP - Nitrogênio no ganho de peso (WGN - protein in weight gain); GGP - gordura no ganho de peso (WGF - weight gain).
Médias, na coluna, seguidas de letras diferentes são diferentes (P<0,05) pelo teste Tukey.
Means, within a column, followed by different letters are different (P<.05) by Tukey test.
652 Rev. bras. zootec.
Por outro lado, em níveis protéicos mais elevados, a dos peixes. Entretanto, verifica-se que, à medida que
proteína da dieta poderá ser parcialmente utilizada os níveis protéicos são elevados, a GGP tende a
como fonte de energia, induzindo os peixes a apresen- declinar. Isto pode também estar relacionado ao fato
tarem menor valor da TEP e ERN. Resultados seme- de a proteína não ter sido utilizada como fonte
lhantes foram obtidos por BRENNER (1988), com energética, possivelmente em função de adequado
alevinos de pacu, e HERNANDES (1995), com balanceamento das rações, que poderia ter atendido as
alevinos de tambaqui, em que os melhores resultados necessidades energéticas dos alevinos. Constatou-se
da TEP foram alcançados com as rações que conti- que as rações com nível mais elevado de gordura (FP)
nham níveis protéicos mais baixos. apresentaram valores mais elevados de GGP.
Avaliando-se ainda a composição corporal dos
alevinos (Tabela 5), observou-se que as fontes Conclusões
protéicas estudadas interferiram significativamente
na retenção de água das carcaças, sendo que a A farinha de peixe, tradicionalmente utilizada nas
composição FP+FS apresentou o menor índice. Com dietas de peixes, pode ser substituída parcial ou total-
relação à proteína corporal dos alevinos, foi obtida mente pelo farelo de soja, sem influir no desempenho e
interação significativa (P<0,05) entre as fontes e os prejudicar a composição corporal dos alevinos de pacu.
níveis protéicos testados. Pelo desdobramento da O nível de 26% de proteína bruta na dieta dos
interação, constatou-se que, ao se utilizar FP ou FS, os alevinos foi suficiente para atender as exigências e
maiores teores de proteína bruta corporal foram obti- proporcionar bom desempenho, sem comprometer a
dos com o nível mais elevado de proteína na dieta. A composição corporal dos peixes.
mistura FP+FS também proporcionou diferenças sig-
nificativas entre os níveis protéicos estudados. Na Referências Bibliográficas
avaliação da gordura corporal dos alevinos, foi obser-
vado efeito significativo dos tratamentos (P<0,05) BOYD, C.E. 1982. Water quality management for pond fish
apenas para fonte de proteína. Observou-se que a FP culture, development in aquaculture and fisheries science.
New York: Elsevier. v.9. 730p.
proporcionou valores mais elevados que a combina- BRENNER, M. Determinação da exigência de proteína do pacu,
ção FP+FS, o que, provavelmente, porque as rações Colossoma mitrei (Berg, 1895). Viçosa, UFV, 1988. 87p.
contendo FP, como principal ingrediente protéico, em Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Fede-
ral de Viçosa, 1988.
sua composição, também apresentaram níveis de extrato CARNEIRO, D.J. Efeito da temperatura na exigência de proteína
etéreo maiores. Com relação aos níveis de proteína e energia em dietas para alevinos de pacu, Piaractus
testados, observou-se que, nos mais elevados, as reten- mesopotamicus (HOLMBERG, 1887). São Carlos, SP:
ções de água e proteína foram maiores. Contudo, a UFSCAR, 1990. 55p. Tese (Doutorado em Ecologia) -
Universidade Federal de São Carlos, 1990.
gordura corporal apresentou tendência de diminuir, à CASTAGNOLLI, N., CYRINO, J.E.P. 1986. Piscicultura nos
medida que o nível de PB se elevou na dieta, indicando Trópicos. São Paulo: Ed. Manole. 152p.
direcionamento do extrato etéreo da dieta para uso como COX, D.K., COUTANT, C.C. 1981. Growth dynamics of
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fonte energética. MAZID et al. (1979) e MURRAY et Trans. Amer. Fish. Soc., 110:226-238.
al. (1985) também observaram que aumentos nos níveis GOLTERMAN, H.L., CLYMO, R.S., OHNSTAD, M.A.M.
protéicos induziam a redução da gordura corporal, em 1978. Methods for physical and chemical analysis of freswater:
London: Blackwel Science Publications, n.8, 213p.
tilápia mossambica e carpas, respectivamente.
IBP Handbook.
Observa-se, na Tabela 5, que as fontes de prote- HERNANDEZ, M., TAKEUCHI, T., WATANABE, T. 1995.
ína testadas não influíram na porcentagem de nitrogê- Effect of dietary energy sources on the utilization of protein
nio, no ganho em peso (NGP) e na porcentagem de by Colossoma macropomum fingerlings. Fisheries Science.
61(3):507-511.
gordura no ganho de peso (GGP). Por outro lado, os JAUNCEY, K. 1982. The effects of varying dietary protein level
níveis protéicos proporcionaram diferenças significa- on the growth, food conversion, protein utilization and body
tivas (P<0,05) para NGP, e, à medida que aumentou composition of juvenile tilapias (Sarotherodon
mossambicus). Aquaculture, 27:43-54.
a proteína das dietas, houve aumento no NGP. Apesar LOVELL, R.T. 1984. Use of soybean products in diets for
de o nível mais elevado apresentar a maior taxa de aquaculture species. Quartely Publication of the American
NGP, este não diferiu estatisticamente do nível inter- Soybean Association. p.1-6.
MAZID, M.A ., TANAKA, Y., KATAYAMA, T. et al. 1979.
mediário (26%PB). Estes resultados sugerem que o
Growth response of Tilapia zilli fingerlings fed isocaloric
aumento do nível de PB na dieta acarretou aumento diets with variable protein levels. Aquaculture., 18:115-122.
de nitrogênio corporal proporcional ao ganho de peso MURRAI, T., AKIYAMA, T., TAKEUCHI, T. et al. 1985.
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