Mecanismos de Formação Dos Sintomas 7 - para Mesclagem
Mecanismos de Formação Dos Sintomas 7 - para Mesclagem
Mecanismos de Formação Dos Sintomas 7 - para Mesclagem
Introdução à Psicossomática
Elementos Básicos
Capítulo 6
MECANISMO DE FORMAÇÃO DOS SINTOMAS
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Capítulo 6
MECANISMO DE FORMAÇÃO DOS SINTOMAS
Agradecimentos:
Na contribuição e revisão destes originais:
Sra. Célia Regina Marinangelo, Sra. Cecília Pinheiro,
Dr. Fernando Pardini, Profª Elisa Maria Parahyba Campos.
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INTRODUÇÃO
Neste texto a concepção de psicossomática define-se, como o estudo
sistemático das relações existentes entre os processos sociais, psíquicos e
transtornos de funções orgânicas ou corporais. Consiste em um ramo do
conhecimento que estuda e trata de questões humanas, ou seja, promoções de
saúde que pertencem, num só tempo, ao orgânico, ao psíquico e ao social. Tem,
também, como uma de suas principais motivações a recuperação de um diálogo
entre os saberes pertencentes às Ciências Bio-Médicas e as Ciências Humanas e
Sociais, muitas vezes prejudicado pelos excessos das especializações.
Podemos observar alguns estudiosos usarem métodos de abordagem tão
variados, que dificilmente conseguem estabelecer uma verdadeira comunicação
entre si; muitos profissionais, diante das complexidades inerentes a conquista da
verdadeira comunicação, renunciam a este objetivo.
O caminho para tal interação é longo, difícil. Raras são às vezes onde não
se encontra intolerância e desrespeito pela postura e pelo saber do outro. E, hoje,
tenho a convicção de que os maiores impedimentos para a aproximação das
ciências humanas e as ciências naturais não estão nestas ciências em si, mas na
postura dos homens que as praticam e professam. Evidentemente não se deve
desconsiderar os obstáculos epistemológicos presentes neste exercício
pretensamente interdisciplinar, que é a Psicossomática, mas afirmo que a
superação destas dificuldades só será possível por meio da ação humana.
De fato a ciência não existe sem o homem. Ela é um produto da cultura e,
como tal, se desenvolve na tentativa de responder a indagações e propor soluções
práticas. Mas é inegável, também -e isto se mostra muito claro nos saberes
relacionados à promoção de saúde - que particularidades deste campo de
conhecimento são levadas a tal extremo que se perde a noção do todo. Esse todo
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I
Para uma compreensão mais ampla do que pretendo significar com o termo Pessoa, ver Perestrelo, D. – A
Medicina da Pessoa. Rio de Janeiro: Atheneu,1974.
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II
Região superior ou mediana do abdome, que vai do apêndice xifóide até o umbigo.
III
Exame radiológico de vesícula biliar.
IV
Localização anormalmente baixa.
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* Paciente (AML): "Continuo com 'dor no estomago', com o mesmo mal-estar, com
desânimo, quero comer, mas evito, porque não me sinto bem após".
* Prof. Pontes (Profissional): Gostaria de conhecer algo mais sobre sua vida, o que
lhe tem acontecido.
* AML: Hesita, acha que nada demais tem acontecido, apenas alguns
desentendimentos, "meu pai e minha mãe não têm desejado que eu namore um
rapaz que conheço há 4 anos. Julgam-no um 'play-boy', que não está a minha
altura..." (o pai industrial, pecuarista e político eminente na região onde residem).
Neste momento, a paciente emociona-se, chora com lágrimas.
* Profissional: E você desistiu?
* AML: "Não, namoramos há quatro anos, ele se forma no próximo ano. Agora ele
está sendo mais aceito. Sou tímida (chora). Creio que há muita coisa errada. Sinto
muito as dores dos outros...".
* Profissional: Dê um exemplo.
* AML: "Como? (ligeira pausa) Quando vejo uma notícia, eu tomo as dores da
vítima, fico muito comovida".
* Profissional: Sim.
* AML: "É uma questão de sensibilidade, mas revolta-me".
* Profissional: Parece-me que você identifica-se com a vítima.
* AML: "É, é sim (sorri, com lágrimas). Sinto que muita coisa convencional sobre
educação (pausa) quadrada devesse sofrer modificação. Meu namorado, por
exemplo, é diferente; foi criado em ambiente mais simples, de mais conversação
com os mais velhos, com os pais, sei lá... ele é mais forte, mais aberto, é
completamente diferente".
* Profissional: É para isso que estamos conversando para você sentir-se mais
livre, deixar sair o que sente, seja o que for.
* AML: "Creio que isto faz bem".
* Profissional: Conversemos e veremos que o estômago não dói, quando a boca
fala pelo estômago.
A evolução clínica desta paciente apresentou melhora progressiva e os
sintomas praticamente desapareceram.
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V
Transferência: Na psicanálise freudiana este termo designa um processo, onde a paciente ‘transfere’ para o
profissional afetos relacionados a pessoas que lhe são significativas. Do ponto de vista teórico é um
deslocamento do afeto de uma representação para outra. Ver Laplanche, J e Pontalis, J.B. – Dicionário de
Psicanálisis. Ed. Labor S.A.. Barcelona, 1971..
VI
Relativo ao EGO, na teoria psicanalítica.
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VII
Síndrome Hipoestênica: Na maioria das vezes caracteriza-se por relaxamento do aparelho digestivo,
sensação de digestão lenta ou empanturramento ou empachamento, regurgitação, dor epigástrica, eructação, e
náusea, sendo mais secundários a azia e a queimação
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VIII
Alteração da mucosa gastrointestinal que se caracteriza por pequenos apêndices em forma de saco ou
bolsa, em geral no intestino.
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de Mello Filho diz o seguinte: toda doença é psicossomática, "já que incide num
ser provido sempre de soma e psique, inseparáveis, anatômica e funcionalmente"
8.
Por outro lado, seja qual for o fator etiológico preponderante considerado, a
doença incide no ser humano detentor de vida mental, além de social e somático.
Passa, portanto, a ser psicossomática (na conceituação atual), pelas suas
repercussões8.
Houve um momento na história do desenvolvimento da pesquisa e
construção do conhecimento em psicossomática, no qual se levantou a questão
da psicogênese, ou seja, o estudo dos sintomas ou das doenças a partir de
causas mentais. Este conceito ficou no tempo, embora alguns insistam em manter
esta atitude não obstante alertas e restrições levantadas por autores
internacionalmente importantes, como Franz Alexander9 e George Engel10 e
nacionais, como Pontes4, Perestrello11 e Eksterman12, que acrescenta o seguinte a
esta questão: "O que se tem veiculado com a designação de patologia
psicossomática, portanto, é tão somente a valorização de aspectos psicológicos.
Com isso não está incluída a dimensão da pessoa. Cuidar do doente não é o
mesmo que prestar atenção às manifestações psicológicas. Psicologizar a
patologia é incorrer em reducionismo inaceitável e não equivalente à concepção
psicossomática".
O termo psicossomático, como diz Engel10, deve ser usado como um
adjetivo, palavra qualificadora do substantivo, ou seja, designa a interface entre
os processos somáticos e psicológicos. O termo psicossomático não deve ser
utilizado no sentido de causalidade, mas de várias relações existentes entre a
mente e o cérebro, entre fenômeno e processo a ser observados tanto em termos
psicológicos, como em termos somáticos. Ressalta ainda, este autor, que a
utilização do termo doença ou desordem psicossomática é um engano,
(misleading), pois implica em considerarmos uma especial classe de transtornos
que teriam uma etiologia psicogenética e por inferência, a ausência da interface
psicossomática em outras doenças. Falando em termos estritos não existem
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IX
Enzima do suco gástrico que ajuda no processo de digestão.
X
Uma anomalia anatômica congênita, nesta criança, onde o seu esôfago apresentava uma oclusão e portanto
não se conectava com o estômago.
XI
Formação cirúrgica de fístula gástrica para a introdução de alimentos.
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1
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9
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