PÓRCIA Ó Bruto
PÓRCIA Ó Bruto
PÓRCIA Ó Bruto
Que parecia já muito inflamada, E esperando que tudo fosse fruto de algum humor volúvel,
caprichoso, ao qual homem algum está imune.
Esse humor não te deixa conversar, nem comer, nem dormir; e se ele agisse Em tua forma
física, alterando-a Assim como alterou a tua índole, Não te conheceria como Bruto.
Bruto é prudente. Se estivesse enfermo, procuraria os meios de curar-se. Se Bruto está doente,
é ACONSELHAVEL Andar de roupa aberta, respirando Os FRIO humores da manhã?
Doente, Bruto foge à proteção de um leito agasalhado e vem lançar-se Entre os contágios
DESLEAIS da noite, Provocando o ar impuro e catarroso A agravar seu estado?
Não, meu Bruto, A MANCHA doentia está na alma, a qual, por minha condição de esposa, é
meu direito conhecer.
De joelhos, em nome da beleza do meu rosto, Que um dia VOCÊ ELOGIOU, eu te suplico, Pelos
votos de amor e o grande voto Que nos incorporou e nos fez um, Que revele, a mim, à tua
metade, Teu próprio ser, que males te atormentam E quem confabulou hoje contigo.
Sei que vieram seis ou sete vultos com rostos encobertos, se esquivando Até mesmo ao olhar
da escuridão.
A lei do casamento acaso exige que eu fique sem saber os teus segredos?
Eu sou teu próprio ser, completamente, ou somente de forma parcial, Apenas pra ficar contigo
à mesa Adornar e aquecer a tua cama, E às vezes conversar?
Se acaso eu moro nos subúrbios banais do teu afeto, sou meretriz de Bruto, não sua esposa.
Eu sei que sou mulher, mas também sou A escolhida do Venerável Bruto;
Eu sei que sou mulher, mas também sou A respeitada filha de Catão.
Com esse pai e esse marido, pensa que não tenho mais força que o meu sexo?