Thresl Chronicles 06 - Saint Retorna - Amber Kell

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As Crônicas de Thresl 06

Saint Retorna
Amber Kell

Depois de séculos de isolamento, Saint retornou para


recuperar o que é seu...
Saint, um Thresl de poder inimaginável, passou séculos preso
sob escombros. Agora livre, ele está determinado a reclamar tanto o
seu trono, como o seu companheiro. Qualquer um que ficar em seu
caminho será aniquilado.
Marsley Jacks não tem certeza se ele quer ser o companheiro
de um Thresl implacável. Depois de ter passado a maior parte de sua
vida protegendo os shifters, ele não tem certeza se permitir que um
Thresl sedento de poder assuma é a melhor coisa para a espécie.
Dois homens com visões opostas - eles se juntarão a tempo
para salvar seu povo?

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Capítulo 1

A mandíbula de Mars se escancarou quando ele examinou o


homem esparramado sobre sua cama. Ele achava que já tinha visto
de tudo durante suas viagens no espaço, mas a perfeição do homem
deitado sobre suas cobertas superou todos os pontos quentes de
Mars. Claro que se esse homem fosse Saint, ele tinha sido criado
apenas para ele. O peito de Mars doía e ele lutou para reunir mais ar
em seus pulmões antes de falar. Será que o engenheiro desligou o
oxigênio?
"Quem é você?" Ele sabia que ele deveria ser Saint, todos os
Thresl o tinham alertado sobre ele, mas isso não o impediu de ter
esperança de que ele estivesse enganado. Talvez esse intruso sexy
fosse um plano de um passageiro clandestino para seduzir Mars, a
fim de permanecer a bordo. Tinha acontecido uma ou duas vezes no
passado. Às vezes, ele até os tinha deixado ficar.
"Você pode me chamar de Saint ou companheiro," Saint falou
pausadamente enquanto deslizava para fora da cama. "Ou... seu."
A marcha predatória de Saint causou arrepios de tesão na
espinha de Mars. Seu pênis endureceu com a visão de toda aquela
carne exposta, enquanto sua cabeça se enchia com todas as coisas
que ele poderia fazer com aquele homem lindo. Algumas posições
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possuía, mas, porra, ele tinha certeza que queria tentar. A
sobrecarga visual o distraiu, quase o suficiente, para ele não ouvir as
palavras. "Companheiro?"
O Thresl se aproximou e o cheiro almiscarado de tesão e flores
silvestres inundou os sentidos de Mars. Quando foi que o cheiro de
flores silvestres se tornou sexy? Ele nunca fora atraído por homens
cheirando a flores antes. Somente o fato de Saint ter usado a
palavra companheiro o impediu de pular sobre o homem. Mars
não poderia ser o companheiro de ninguém. A responsabilidade de
arrastar outra pessoa para seu mundo não era algo que ele queria
lidar. Mars não tinha relacionamentos, ele tinha encontros com
homens que ele nunca veria novamente.
Ainda assim, cada centímetro de seu corpo ansiava por Saint.
Sua boca encheu de água com o pensamento de sugar a grossa
ereção que flutuava em sua direção como se oferecendo a ele um
gostinho. Se ele tivesse um pouquinho mais de sangue Thresl, Mars
sabia que seus caninos teriam descido com a vontade de morder e
reivindicar o homem diante dele. Felizmente, ele era apenas um
quarto Thresl, ele não tinha muitas características físicas. O único
sinal de que Mars tinha sangue Thresl eram seus olhos, que eram
facilmente ocultados, quando ele ia resgatar Thresls sequestrados.
O tamanho de Saint o surpreendeu. Mars quase sempre
escolhia seus amantes menores do que ele. Se Saint simbolizava o
homem perfeito de Mars, então, Mars havia escolhido o tipo errado
durante anos. Mesmo Zander, o amor de sua vida, era mais delicado
do que Mars. O homem empertigado diante dele, superava Mars em
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largura e altura. Mars balançou a cabeça tentando dissipar o desejo
de tocar a pela dourada de Saint.
"Ouça, tem sido um longo dia. Tudo o que eu quero é minha
cama." Ele propositalmente bloqueou as ideias que vieram
imediatamente a sua mente sobre o que ele poderia fazer naquela
cama com a criatura impressionante diante dele.
Saint sorriu. Seus olhos dourados queimando com luxúria.
"Que coincidência, isso é o que eu quero também."
"De alguma forma eu acho que você não quer dizer que seja
para dormir." Mars deu um passo para trás. Ele precisava escapar
dos feromônios que escorriam de Saint antes que ele cedesse e
saltasse sobre o cara. Seus músculos tremiam com o esforço para
combater o instinto de se aproximar.
"Por que desperdiçar uma cama perfeita e boa para dormir?" A
voz de Saint abaixou num surdo ronronar. Os sons rolaram através
de Mars como uma carícia fantasma. Droga, ele não conseguiria
combater essa tentação por muito tempo. Mars tendia a ter prazer
quando ele podia ter e quando ele o encontrava. Não aceitar tal
evidente oferta ia contra sua natureza. No entanto, se Mars cedesse
ao apelo de Saint apenas uma vez, ele estaria biologicamente
vinculado ao Thresl para sempre.
Determinado a evitar esse destino, Mars se manteve recuando
até ele sair de sua suíte. Ele não respirou até a porta se fechar entre
eles. No segundo que a trava se fechou, Mars sugou oxigênio para
seus privados pulmões, aliviado por respirar um ar livre dos
hormônios gritantes de Saint.
Mars verificou ambos os sentidos do hall, mas o espaço
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permanecia deserto. A maioria de sua tripulação estava trabalhando
ou em suas próprias camas. Ele precisava encontrar um lugar para
dormir, que não incluísse um homem sexy compartilhando seu
espaço.
"Isso é algo que eu nunca pensei que eu fosse querer." Mars
balançou a cabeça pensando de como sua vida era estranha.
No que ele tinha se metido agora? Com a missão de sua vida
definida, destruir o círculo de contrabandistas de Thresl, para tornar
o universo um lugar mais seguro para a espécie Thresl, Mars não
tinha tempo para lidar com uma vida romântica.
"Merda".
Aleatoriamente, ele decidiu ir para esquerda. Ele rapidamente
seguiu pelo corredor antes que Saint decidisse segui-lo. Ele
encontraria outro lugar para dormir esta noite. Depois de um longo
dia, ele não tinha energia para lidar com qualquer um que clamava
ser seu companheiro. Ele sabia que algumas das cabines de hóspedes
estavam disponíveis. Ele pegaria uma daquelas para descansar um
pouco. Umas poucas horas de sono iria melhorar sua perspectiva
imensamente.
"Capitão!"
Mars congelou no seu caminho. Porra. Por que ele não
conseguia ter apenas um minuto sozinho? Ser capitão nunca lhe
dava tempo suficiente para ter um ataque de pânico adequado ou...
tirar um cochilo.
O mais novo membro da tripulação de Mars, Daniel Garin,
correu pelo corredor para encontrá-lo.
"Olá, Daniel, o que posso fazer por você?" Ele tentou manter a
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impaciência longe de sua voz, mas quando Daniel olhou para todos
os lugares, menos diretamente para ele, ele imaginou que devia ter
falhado.
"Hum, Capitão. Eu só queria agradecer por ter me aceitado.
Quero dizer depois..." a voz de Daniel sumiu.
"Depois que você tolamente se afastou do seu grupo de
trabalho e a merda caiu sobre você? Sem problemas. Afinal você está
se curando muito bem." As brutais contusões que cobriam o rosto de
Daniel quando Mars o resgatou estavam quase desaparecendo.
Apenas os traços da violência permaneceram.
Daniel corou. "É isso. Eu posso lhe dizer que eu não sinto falta
de construir as precárias habitações para os mineiros imbecis. Eu
nunca deveria ter acreditado naqueles cartazes de recrutamento de
trabalho. Aquilo foi o inferno, com certeza. Eu realmente aprecio que
você tenha me resgatado de ambas as situações.”
"Como eu disse, não há problema. Além disso, Grub disse que
você está fazendo um trabalho incrível." Mars deu um tapinha nas
costas de Daniel. Sinceramente, o chefe dos mecânicos grunhiu e
disse que Daniel não havia posto fogo em nada ainda, mas para Grub
isso era um elogio.
Daniel passou a mão pelo seu grosso cabelo preto e piscou para
Mars com seus cílios longos. "Eu... eu só queria que você soubesse
que se houver algo, qualquer coisa que eu possa fazer por você, me
avise."
Mars congelou. Ele sabia que o garoto o achava atraente, mas
ele não pensara que Daniel teria coragem de propor qualquer coisa a
ele. Seu pai teria dito que as estrelas estavam alinhadas, mas Mars
imaginou que a galáxia estava fodendo com ele. Por que dois caras
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que ele não podia ter, caíram no seu colo numa única noite? Mars
nunca trepou com um tripulante - isso era um carma ruim só
esperando para chutá-lo na bunda.
Com todo o estresse do dia, uma pequena dor começou a
apunhalar a nuca de Mars, um ligeiro aviso que uma enxaqueca
iminente se apresentava e o alertava que ele precisava encontrar um
quarto escuro e deitar-se. Enxaqueca era uma cadela e Mars tinha
acabado com as boas drogas, dois planetas atrás.
"Eu agradeço a oferta, Daniel, mas eu só estou procurando um
assistente de mecânico". Se Daniel não fosse um membro de sua
tripulação, Mars já estaria em cima dele. O jovem tinha uma
constituição esguia e o tipo de boca que qualquer homem gay
saudável sonharia. No entanto, com sua dor de cabeça iminente,
Mars apenas queria um travesseiro e um local para dormir na
horizontal, de preferência sem um predador Thresl o caçando.
Daniel deslizou um dedo pelo peito de Mars. "Eu estava
pensando em algo mais pessoal. Um homem como você precisa de
alguém para ajudá-lo a se livrar do estresse. Eu vi como você
trabalha demais por aqui."
Um rugido ecoou pelo corredor. O sangue de Mars gelou com o
som. Antes que ele pudesse gritar para que Daniel fugisse, um Thresl
preto enorme bateu em Daniel e o lançou a seis metros abaixo pelo
corredor.
"Saint!" Mars gritou.
Ele não tinha nenhuma dúvida sobre a identidade da fera que
rosnava. As patas dianteiras de Saint estavam plantadas no meio do
peito de Daniel, as patas eram tão grandes que cobria uma boa parte
do esterno de Daniel. Um rosnado baixo rolou para fora do Thresl
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como se ele não pudesse se decidir se mordia, ou rasgava Daniel em
pedaços com suas garras.
"Meu!" Saint rosnou. Seu tom raivoso ecoou na cabeça de
Mars, empurrando sua dor de cabeça eminente em um revirar de
estômago, em uma perfurante luz, e numa real enxaqueca. Mars
piscou, tentando clarear o poço de umidade em seus olhos que se
formou com a intensa e brilhante sobrecarga de luzes. O mundo
brilhava no limite de sua visão. Ele não sabia quanto tempo mais ele
poderia permanecer em pé.
"Eu o estava recusando. Deixe o garoto ir." A voz de Mars saiu
mais como um sussurro, enquanto ele tentava não vomitar seu
jantar no ladrilho. Ele sabia que ele deveria ter descansado
anteriormente. Mudanças climáticas planetárias e estresse era a
fórmula perfeita para suas enxaquecas.
"Volte para o seu quarto e eu vou liberá-lo." Saint não moveu
uma pata fora de Daniel enquanto esperava para ver se Mars seguia
suas ordens.
"Tudo bem, eu vou voltar para o meu quarto." Mars virou,
então, tropeçou quando o mundo girou ao redor dele. Ele estendeu a
mão para se firmar, aliviado quando a sua mão direita encontrou a
parede. Ele espalmou a mão, na esperança de parar a sua inevitável
visita ao chão duro.
"O que há de errado?" Saint enrolou um braço forte ao redor
de Mars e o puxou para perto. O calor do homem nu mergulhou no
corpo de Mars. Ele odiava ter que dar ao insistente Thresl qualquer
crédito, mas o abraço de Saint o acalmou. Suas náuseas pararam,
assim como a sala desistiu de sua viagem vertiginosa. Mars fechou os
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olhos e apertou a testa contra o peito nu de Saint. Inalar o aroma de
Saint ajudou em alguns pontos, mas o pico de dor que cavava através
da base de seu crânio ainda não havia desaparecido.
"Enxaqueca," Mars sussurrou. Qualquer coisa mais alto que
isso e sua cabeça explodiria. Sem dúvida, pedaços de seu cérebro
decorando o salão iria desmoralizar a tripulação. "Eu preciso me
deitar."
"Eu deveria ter sabido, você sempre as teve." Saint virou Mars
até que ele estivesse embalado do seu lado direito, então, os levou
em passos estáveis e lentamente pelo corredor.
Mars teria tentado decifrar as estranhas palavras de Saint, mas
juntar uma longa corrente de sílabas desafiava seu atual nível de
clareza.
"Quase lá." A promessa da Saint segurou Mars de pé, quando o
chão começou parecer uma possibilidade viável para o descanso.
Mars se perguntou como o predatório animal havia se
transformado em uma mãe galinha bastante competente.
O som suave da abertura de sua porta foi uma benção para
seus ouvidos. Ele ignorou o fato de ele estar procurando outro lugar
para descansar. Ele precisava de uma superfície macia. Ele precisava
dela agora.
“Diminuir luzes," Saint ordenou antes que ele pudesse proferir
uma palavra.
Ele teria argumentado com o Thresl estar controlando tudo,
mas ele não tinha energia para brigar. Ele permitiu que Saint
removesse sua camisa e calça sem protestar. Como uma boneca,
Mars deixou Saint lidar com ele até que ele estivesse escondido sob
as cobertas e sua cabeça aninhada sobre seu travesseiro favorito.
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"Obrigado."
Saint acariciou o cabelo de Mars em um toque reconfortante.
"Sem problemas."
Mars quase se assustou quando Saint deslizou ao lado dele,
completamente nu. Com a neblina de sua dor, ele tinha se esquecido
da determinação de Saint para reclamá-lo como seu companheiro.
Ele murmurou um suave som de protesto, mas ele não colocou
muita firmeza nele. Afinal de contas, argumentar demandaria uma
grande carga de energia, algo que ele não tinha.
"Shh, você pode brigar comigo mais tarde."
"Promete?" As pálpebras de Mars já estavam tocando suas
bochechas. A promessa mágica do sono sussurrou seu doce encanto
sobre ele.
"Absolutamente. Descanse um pouco agora. Eu ainda vou estar
aqui amanhã."
"Isso é o que eu tenho medo. Eu não tenho tempo para um
companheiro." Ele não tinha tempo, ou a energia, ou a coragem de
oferecer seu coração a alguém. Ele só tinha dado o seu coração uma
vez, e o teve despedaçado, os pedaços nunca voltaram a se juntar
corretamente.
"Você não precisa se preocupar comigo," Saint sussurrou em
seu ouvido. "Eu posso cuidar da gestão do tempo por nós dois.”
Mars não se preocupou em corrigir Saint. Ele aprenderia logo
que Mars tinha muitas coisas tomando sua energia. Pensamentos e
preocupações se evaporaram quando Mars deixou que o sono o
tirasse de seus problemas e o levava para a escuridão reconfortante.

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Mars endireitou-se, com o coração acelerado. Demorou alguns
minutos para ele recuperar o fôlego até que o pesadelo desfizesse seu
aperto terrível em sua mente desperta. Ele não conseguia se lembrar
dos detalhes, mas as emoções ainda o perseguiam em vigília. Dois
minutos se passaram antes que percebesse que alguém estava
esfregando suas costas. Virando a cabeça, ele encontrou os olhos
dourados de seu convidado Thresl.
"Bom dia, Saint". As palavras eram suaves, mas ele conseguiu
fazê-las sair. Enxaqueca sempre o deixava com a garganta seca e o
sentido nebuloso como uma noite depois de uma bebedeira.
"Como você pode dizer que é de manhã?" A boca generosa de
Saint exibia um sorriso torto.
"O que você quer dizer?" Talvez fossem os efeitos da dor de
cabeça, mas Saint não estava fazendo nenhum sentido.
"Você está no espaço. Por que se importa se é dia ou noite? É
como quando eu estava preso no castelo. O tempo não tem sentido,
quando você sabe que você pode viver para sempre."
O suave desespero na voz de Saint fez Mars se simpatizar com
ele um pouco mais. Talvez Mars não fosse o companheiro de Saint,
talvez o homem estivesse apenas solitário. Uma pessoa não pode ser
responsabilizada por querer um pouco de companhia depois de anos
de isolamento.
"O que você vai fazer agora que você está livre?" Mars sabia
que se ele tivesse recentemente escapado de ser enterrado vivo, ele
iria querer explorar a galáxia durante alguns séculos antes de
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escolher um novo lar.
Antes de Mars ter deixado Nillre, Vohne lhe contou sobre o
passado de Saint. Mars havia estado com o rei para obter
informações quando Hell havia mencionado que Saint estava
caçando Mars. Vohne não tinha muitos detalhes sobre o poderoso
Thresl exceto que ele era o tio de Vohne e que foi traído pelo pai de
Vohne. Mars suspeitava que o velho rei tivesse sido um idiota
monumental, mas Vohne não disse nada sobre seu pai a não ser para
expor os fatos. O rei Vohne era tolamente leal a sua família, mesmo
para com os mais indignos.
O poder rolou por Saint e um leve zumbido de eletricidade
dançou sobre a pele do Thresl e então continuou fazendo cócegas em
todo o corpo de Mars.
"O que você está fazendo?" Mars franziu a testa com o
estranho crepitar que atravessava seu peito.
"Você me perguntou o que eu gostaria de fazer." Uma
expressão maliciosa cruzou o rosto de Saint.
"Você quer me dar um choque como um bug?"
Saint riu. "Não. Quero compartilhar meu poder com você."
"Obrigado." Ele não tinha interesse em compartilhar o poder
do Thresl assustador. Ele tinha um sentimento de que Saint poderia
compartilhar seu poder com uma centena de homens e ainda ter
mais energia do que um Thresl deveria. Talvez se ele fugisse
lentamente da cama e tivesse sorte, Saint iria desistir e ir embora.
"Não." Saint colocou uma mão firme no ombro de Mars.
"Não o quê?" Ele tentou se passar por inocente. Pela expressão
de Saint não funcionou bem, como de costume, o que não significava
nada.
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"Você não pode escapar de mim. Você é meu. Você era meu
antes e você nasceu para ser meu novamente."
"Do que você está falando?"
Talvez a estadia naquele castelo tenha danificado o cérebro de
Saint. A realeza tinha admitido que questionou a aptidão mental de
Saint. Ele havia pedido, mas aparentemente nem Kres nem Vohne
planejavam interferir com a busca de Saint por Mars, eles disseram
que era uma questão entre companheiros. Aparentemente, um
companheiro, possivelmente, ser insano não justificava uma
intervenção. Mars estava certo que lhes enviaria uma mensagem de
agradecimento caso ele saísse ileso dali.
"Vohne não foi o primeiro e único rei a ter seu companheiro
reencarnado. Eu era, originalmente, o verdadeiro rei, mas meu
irmão matou o meu companheiro, e me enterrou e me cortou do
ciclo. O destino teve que preencher o vazio que minha ausência
causou, é por isso que Vohne é o rei agora. Se eu tivesse sido capaz
de ocupar meu verdadeiro lugar como rei, Vohne nunca teria
chegado ao poder.”
Mars franziu a testa. Isso poderia acabar mal muito rápido.
Mars havia se afeiçoado a Vohne e com seu modo de governar. O rei
Thresl assumiu a responsabilidade para com seu povo com o
coração. Até onde Mars sabia e se preocupou em saber, ninguém
trabalhou com mais afinco para o bem estar de seu povo do que
Vohne. Se Saint faria o mesmo, ele não tinha ideia. Mars não tinha
intenção nenhuma de ajudar Saint a assumir a casa dos Thresl e seu
mundo, e ele odiaria tem que denunciar o plano de Saint para a
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realeza. Kres poderia não receber as noticias muito bem e Mars
tentaria ficar do lado do bom companheiro do Rei.
"O que você vai fazer? Vohne não disse nada a respeito sobre
abdicar de seu reinado." Na verdade, Mars tinha recentemente
chegado a um acordo com os membros da realeza onde eles
concordaram em ajudar a financiar as cruzadas de Mars para fechar
as arenas de luta de Thresl.
"Ele não sabia que era para eu ser o governante anterior, antes
de seu pai roubar minha posição." Saint jogou o cabelo para trás.
Cada fio caiu perfeitamente no lugar, como se até mesmo o seu
cabelo não se atrevesse a resistir a sua vontade.
"Você vai dizer a ele?" Mars cautelosamente sentiu seu
caminho na conversa. Ele precisaria avisar Vohne se Saint planejasse
um golpe de Estado. Saint poderia reivindicar ser o companheiro de
Mars, mas aquilo não fazia dele um cara bom ou mesmo sano.
Saint deu de ombros. "Por quê? Ele faz um trabalho
competente. Não é culpa dele que Thresls estão sendo
contrabandeados. Estou satisfeito com o seu governo até agora."
"Você planeja assumir o trono?" O que ele faria se Saint
dissesse que sim? Mars tinha trabalhado longas horas e
desperdiçado milhares de dólares para apoiar os Thresls e levá-los
de volta para onde eles precisavam ir, recentemente, com a ajuda do
rei Vohne. Se Saint arruinasse o trabalho todo de Mars, ele iria
matá-lo... lentamente.
"Eu não vou estragar nada. Você não precisa planejar minha
morte".
Espere. Ele não tinha dito isso em voz alta. "Pare de ler minha
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mente!"
Saint sorriu. "Mas é tão interessante aí dentro. De que outra
forma eu saberia que você acha que eu sou um desequilibrado?"
"Você vai ter que adivinhar o que eu penso como todos os
outros. Eu gosto de estar sozinho na minha cabeça." Os deuses
sabiam que era o único lugar que ele tinha um pouco de paz. Sem
mencionar que o pensamento de ter alguém entrando e saindo de
sua mente o enervava.
"É uma pena. Eu tenho a sensação que se eu esperar por você
para me dizer o que você está pensando, eu chegaria a minha
terceira reencarnação antes que você decidisse compartilhar
qualquer coisa".
"Você já passou por uma primeira?" Se Saint estivera preso
durante todos esses anos sem contato, Mars imaginou se ele já tivera
a chance de reencarnar.
"Não. Desde que eu nunca morri, eu permaneci o mesmo."
"Então, como é que você sabe que é o verdadeiro rei?" Mars
recostou-se. Ele não se deu conta do quão perto ele estava de Saint.
"Como Vohne, eu nasci com o conhecimento coletivo do meu
povo. Além disso, quando o meu companheiro morreu, ele
reencarnou. Você reencarnou". Saint segurou a face de Mars entre
suas mãos. "Como você deve ter se sentido solitário em todas as
vezes que você voltou e falhou em me encontrar."
Mars saiu do alcance de Saint. Felizmente ele tinha uma cama
grande e havia ainda alguns centímetros de sobra.
"Como você sabe que eu sou seu companheiro?" Talvez Saint
tenha cometido um erro?
Saint deu de ombros. "Algumas coisas eu, simplesmente, sei.
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Um verdadeiro rei pode encontrar seu companheiro em qualquer
galáxia."
"Será que Kres passou pela mesma coisa?" Se Kres passou por
essa merda possessiva, então, o companheiro do rei era um cara
muito legal.
"Ele passou, mas ele parece lidar bem com tudo, assim que
acontece." A admiração na voz de Saint torceu algo no peito de Mars.
Certamente ele não poderia estar com ciúmes?
Mars deu de ombros. "Eu acho que é por que ele é o
companheiro do rei e eu não.”
Saint rosnou. "Por enquanto. Eu posso não ser, atualmente, o
rei no poder, mas isso não significa que eu não sou um rei. Eu
governei o mundo antes que Vohne fosse empurrado para fora entre
as coxas de sua mãe."
"Ah, uma imagem que eu não precisava na minha cabeça."
"Falando em cabeças." Saint inclinou o queixo de Mars para
cima e examinou seus olhos. "Você parece muito melhor."
"Estou feliz que você pense assim." Mars engoliu o nó
repentino de tensão em sua garganta. Os olhos dourados de Saint
brilharam com satisfação.
"Tenho certeza de que há muitas outras coisas pelas quais eu
poderia ficar feliz." Saint ronronou para ele.
Mars inclinou a cabeça. "Eu não tenho certeza se eu deveria
achar isso sexy ou lhe coçar atrás das orelhas."
Saint riu. "Você pode fazer as duas coisas. Eu gosto de ser
acariciado. Eu aposto que você tem sangue suficiente de Thresl que
lhe faz gostar de um bom carinho também".
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Mars segurou o ar quando Saint segurou sua virilha. Apenas
uma fina camada de tecido estava entre a mão de Saint e o pau de
Mars que endureceu rapidamente. Ele definitivamente conseguia
pensar em todas as maneiras que Saint poderia acariciá-lo ou lambê-
lo. "Você não é tímido?"
"Diga-me para parar e eu vou parar. Eu não tenho nenhum
interesse em homens que não estão a fim, companheiros ou não."
"Você irá embora?" Mars ignorou a pontada de ansiedade que
esse pensamento lhe deu.
"Nunca. Eu estou aqui para ficar. Eu posso não querer
ninguém indisposto, mas estou mais do que feliz em despender
energia para lhe fazer mudar de ideia."
Droga. Ele sabia que não seria assim tão fácil, mas ele teve que
tentar.
"Você acha que nós somos companheiros destinados como
Kres e Vohne?"
"Eu sei que nós somos."
"Eu nunca li nada sobre você." Quando Mars começou a
estudar o passado e a cultura dos Thresls para aprender sobre os
possíveis jogadores, ele não lera nada sobre o Rei Gerin ter
quaisquer irmãos.
Saint riu um som com pouca alegria. "Você nunca ouviu o
ditado que diz que a história é escrita pelos vencedores? Neste caso,
o vencedor não apenas minimizou o meu papel, ele me excluiu por
completo. Afinal, se ele não me mencionasse como alguém saberia
onde me encontrar? Gerin apagou toda a minha existência."
Mars não podia nem sequer conceber a dor que esse nível de
traição deve ter causado. "Isso é horrível."
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"Sim, é." Saint pressionou seu corpo contra o de Mars até que
estivessem completamente na horizontal. Mars se deleitou com o
calor do corpo de Saint por um momento antes de falar.
"Lamento que você foi enterrado vivo." Depois de tudo, foi
exatamente, o que aconteceu com Saint. Sua própria carne e sangue
o tinha enterrado em seu castelo. "Por que ele não o matou?"
"Porque, então, eu teria voltado e poderia reassumir o trono.
Ele teve que me imobilizar, assim eu não poderia ressuscitar e ser rei
novamente. Se ele tivesse simplesmente me matado, ele teria que
lutar comigo de novo. Eu não sei como ele soube que lhe matar, não
me mataria. Acho que ele esperava que isso fosse me deixar insano."
Mars não tinha certeza se o Rei Gerin não estivesse certo. Ele
tentou não deixar aqueles pensamentos continuarem em sua cabeça
por muito tempo. Ele não sabia se Saint lia sua mente
constantemente ou apenas mergulhava para ter um pensamento
ocasional.
"Se você sabia que você voltaria, por que você não se matou?"
Isso soou de forma horrível, mas Mars tinha um senso prático. Se
fosse ele naquela situação, ele teria cortado seus próprios pulsos e,
então, retornaria o favor ao rei quando ele o encontrasse novamente.
Saint rosnou. "Porque então ele teria ganhado. Recusei-me a
tirar minha própria vida. Ele não merecia o meu sacrifício. Eu tinha
fé, eventualmente, que eu ficaria livre com todas as minhas
memórias intactas. Contudo, eu pensei que Gerin ainda estaria vivo
para eu poder exigir minha vingança."
"Eu não sei se eu teria sido tão forte". Alguns dias, Mars mal
tinha esperança suficiente para fazê-lo atravessar um ciclo completo.
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Ele não podia sequer imaginar séculos de solidão. Anos de silêncio,
sem ter contato com ninguém, Mars teria ficado louco.
"Eu sabia que eu me reuniria com meu amor. Tive que me
empenhar um pouco para encontra-lo, mas você é exatamente como
eu sonhei."
"Eu sou a pessoa que eu era antes? Eu quero dizer, eu me
pareço com ele?" Mars tinha que admitir que estava curioso sobre
sua vida anterior. Como tantas pessoas eram capazes de voltar e
discutir sobre seus outros “eus”?
Saint inclinou a cabeça enquanto examinava Mars
cuidadosamente. "Um pouco. Você era uma parte Thresl também.
Não era tão grande fisicamente, mas você tem o mesmo cheiro.
Passei anos abraçado ao seu travesseiro”.
A imagem de Saint sozinho, só com o cheiro de Mars para lhe
fazer companhia quebrou um pouco à resistência de Mars. Como ele
poderia recusar um homem tão determinado a ser seu? Se Saint
estava falando a verdade, Mars nascera novamente só para estar
com Saint. Esse tipo de destino era difícil de ser ignorado.
Mars cedeu à tentação. Enfiando os dedos pelo cabelo de Saint,
ele puxou o Thresl para mais perto. "Vamos ver se eu tenho o mesmo
gosto".
Mars não tinha dúvida de que Saint permitiu que ele o puxasse
para baixo. Se o poderoso Thresl não quisesse ser beijado, Mars
sabia que aquilo não iria acontecer.
"Eu esperei séculos por você", Saint sussurrou contra os lábios
de Mars. "E eu faria tudo de novo."
Mars não teve chance de responder. Saint pressionou sua boca
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de forma firme contra a boca de Mars e todos os pensamentos
desapareceram como uma névoa em um dia ensolarado.
"Mmm." As palavras eram irrelevantes durante o duelo de
línguas, dentes e lábios. Mars sabia, que no fim das contas, ele
perderia a guerra, mas a batalha valeria algumas contusões. Saint
passava sua língua sobre a de Mars, dando-lhe um gostinho do sabor
decadente dele. Viciante. Ele o apertou ainda mais. Saint se afastou
de Mars, o deixando desolado.
"O quê?" Mars encarou Saint, confuso. Ambos não estavam na
direção do mesmo objetivo? "Você está brincando? Eu pensei que
você me queria."
Saint agarrou os pulsos de Mars e os colocou acima de sua
cabeça. "Sou eu que estou no comando."
Mars colocou seus pés ao redor de Saint e os rolou. "O que faz
você pensar assim?"
Ele mordeu o lábio inferior de Saint e em seguida o sugou para
sua boca. O sabor picante de Saint explodiu em sua boca,
despertando uma necessidade feral de possuir. Esse homem, esse
Thresl, era dele. Ele nunca fora um amante passivo antes e ele não
começaria com Saint.
Um grunhido retumbou na garganta de Mars. Assustado com o
som animalesco, ele se afastou.
"Hey, calma." Saint os rolou novamente, colocando Mars
debaixo dele.
"O que está acontecendo?" Sua pele doía como se seu corpo
estivesse grande demais para contê-lo. Ele precisava correr, morder,
fazer alguma coisa com toda a energia que fazia coçar sua pele.
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"Seu sangue Thresl está me chamando." Saint sorriu como se
Mars lhe tivesse dado o melhor presente do mundo.
"Dói". Até mesmo seus ossos doíam como se estivessem de
algum modo sendo quebrados.
"Deixe-o vir," Saint sussurrou contra a boca de Mars.
"O quê?"
"Seu gato interior."
"Eu não tenho um gato interior. Eu sou só um quarto Thresl.
Meu avô era Thresl, minha mãe não conseguia mudar e de qualquer
maneira, eu mal sinto meu animal." A ideia de Mars ter um gato
interior teria o feito rir, se não o estivesse aterrorizando em demasia.
"Você pode, no entanto," Saint argumentou. "Você tem mais
Thresl em você do que da última vez, e uma forte vontade. Eu não
tenho nenhuma dúvida que seu gato está só esperando o momento
certo para emergir."
Mars se mexeu debaixo de Saint, não tentando fugir, mas
incapaz de combater a necessidade de se mover. Sons saíam dele,
sons que ele não conhecia. Como um animal ferido, ele tentou atacar
e se libertar.
"Shh, vai dar tudo certo. Só renda-se."
"Não", Mars engasgou. O suor escorria em sua pele. Um calor
atravessou seu corpo, e ele começou a se sacudir com a sensação de
queima, quase uma explosão febril. "Deixe-me ir."
Ele tinha que correr. Ele fechou seus dedos sobre as palmas de
suas mãos. Minúsculas agulhas afiadas picaram sua mão. Surpreso,
ele olhou para cima e gritou: "O que está acontecendo comigo?"
"Hey, shh, vai dar tudo certo."
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"Eu tenho garras!" Nada poderia estar certo sobre isso. "Por
que eu tenho garras?"
Pânico sacudiu seu calmo comportamento habitual. Ele não
conhecia mais o seu corpo. Era como se um parasita que ele não
soubesse que estava lá, estivesse tentando arranhar seu caminho
para fora.
"Porque seu gato quer sair para me ver." A explicação de Saint,
demandada num tom de espontânea calma, quase acalmou Mars,
tirando-o de sua histeria gritante.
"Bem, não posso!"
"Por que não?" Saint perguntou no mesmo tom irritantemente
razoável.
"Porque eu não tenho um gato interior!" Por que não era a
lógica desempenhando um papel nessa conversa? Mars começou a
hiperventilar. Sua tripulação iria rir se vissem seu líder no comando,
agindo assim, mas ele não conseguia parar.
Saint beijou o canto da boca de Mars. "Vai ficar tudo bem. Eu
tenho gato suficiente para nós dois. Eu vou ajudá-lo a passar por
isso. Respire lentamente e profundamente. Nós vamos lidar com sua
fera, juntos."
"Ok. Tudo bem." Mars seguiu a liderança de Saint e respirou
profundamente várias vezes. O estranho formigamento nas pontas
de seus dedos começou a desaparecer e a sensação estranha sumiu
de seus dedos. Mars suspirou, feliz que suas mãos tinham voltado ao
normal. A respiração quente de Saint contra seu pescoço o distraiu
novamente. "Você é bom nisso."
"Em quê?"
23
"Me distrair."
"Bom. Você não precisa pensar em nada, exceto em mim."
"É meio difícil quando você está me esmagando."
O beijo de Saint sugou o restante do ar dos pulmões de Mars.
Ele poderia estar brincando em relação a ser esmagado, mas ele não
conseguia resistir à bela boca do homem. Saint o derretia e fez a sua
habitual determinação desaparecer. Ceder a um Thresl tão seguro de
si poderia ser o maior erro que Mars já havia cometido, mas ele não
tinha força para resistir. Tocar em Saint acalmava o espírito inquieto
de Mars, como se sua alma estivesse esperando por Saint a vida
inteira. Porra, talvez Saint estivesse certo e eles eram almas gêmeas.
Gemendo sua rendição, Mars relaxou sob Saint. Em resposta a
submissão de Mars, Saint intensificou o aperto, como se ele estivesse
preocupado com Mars poder mudar de ideia e fugir a qualquer
momento.
"Meu".
A palavra deslizou pela mente de Mars. Levou um momento
para perceber que era a voz de Saint, uma vez que coincidiu,
exatamente, com os pensamentos de Mars.
Mars se afastou. "Como você pode falar comigo
telepaticamente? Eu pensei que somente Thresls acasalados podiam.
Espere... Você fez isso antes, quando você atacou Daniel. O que
aconteceu com Daniel?" Com a enxaqueca confundindo seu cérebro,
Mars não se lembrava de muito sobre o que tinha acontecido com
seu tripulante.
"Ele está bem. Eu o deixei ir. Ele não vai mais dar em cima de
você."
Mars abriu a boca para continuar com seu interrogatório. Saint
24
teve outras ideias, porque ele não deu a Mars tempo para conversar.
Em vez disso, ele deslizou sua língua para dentro da boca de Mars e
a passou em suas papilas gustativas. Gemendo, Mars apertou os
ombros de Saint. Com um forte puxão, ele os virou até que ele cobriu
Saint novamente. "Prefiro que você responda minha pergunta."
"Você sabe que seus olhos se incendeiam num tom lindo de
dourado quando você está frustrado? Eles fazem isso também
quando você está no auge da paixão?"
Mars rosnou. "Você pode se concentrar?"
"Oh, eu estou extremamente focado," Saint protestou. "Você
tem toda a minha atenção. Sim, a maioria das pessoas só pode falar
telepaticamente se eles estiverem acasalados. Meus poderes, no
entanto, são mais fortes do que dos demais e posso fazer muito mais
coisas. A maioria dos Thresls não teve séculos para fazer nada, a não
ser se concentrar em suas habilidades. Não se preocupe com o que
posso fazer e os outros não podem. Preocupe-se com o que eu vou
fazer por você."
Mars franziu a testa. "Você vai fazer algo bizarro?"
Onde ele foi se meter? Ele deveria ter fugido com mais afinco
quando ele viu aquele homem lindo em sua cama. Um dia ele iria
parar de deixar sua curiosidade ganhar dele. Mergulhando para
beijar a boca tentadora de Saint, ele sabia que sua tendência a cair
em tentação não terminaria hoje.
"Onde está o seu lubrificante?" Saint perguntou contra os
lábios de Mars.
"Gaveta. Não é onde todos nós o escondemos?"
Saint mordeu de leve o pescoço de Mars. "Eu não quero
presumir que você é como todos os outros."
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"Bom." Mars sorriu. "Então devo lhe avisar que eu serei o
topo."
Um baixo ronronar saiu de Saint, surpreendendo Mars.
"Excelente."
"Sério?" Mars levantou a sobrancelha. Ele apostaria que Saint
insistiria em ser o topo.
"Eu posso ser um bastardo mandão, mas nem sempre eu tenho
que estar no controle. Eu fico feliz em receber, se eu tiver o parceiro
certo."
A ideia de Saint já ter tido outro amante fez Mars cerrar os
punhos. Ele não percebeu sua própria angústia até que suas garras
emergiram de seus dedos novamente.
Ouch.
"Ahh! Eu tenho que parar de fazer isso." Ele recusava-se a se
transformar em um homem-gato bizarro. "Eu nunca ouvi falar de
ninguém que se transforma pela metade, você já?"
Ele precisava de segurança. Se ele estava esperando isso de
Saint, só provava que ele havia perdido completamente a porra de
sua mente.
"Você é único de uma espécie. Talvez por eu ser tão forte, meus
poderes passaram para você. Nós não saberemos o efeito que eu
terei em seu sangue Thresl até que tenhamos passado mais tempo
juntos. Até lá, teremos de desfrutar da maravilha de suas habilidades
quando surgirem."
Embora soubesse que Saint quis dizer algo como esperar pelo
que viria, aquilo não conseguiu tranquilizar Mars. Ele não queria
nenhuma 'habilidade incrível'.
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Saint bateu uma garrafa contra a palma da mão de Mars. Ele
olhou para o recipiente por um longo momento antes de torcer a
tampa. Sua mente girava com todas as implicações que se acasalar
com Saint envolvia. Ainda assim, ele não podia se negar ao homem
diante dele. Qualquer pessoa disposta a esperar séculos e depois
caçá-lo por toda a galáxia merecia uma chance.
"Você quer que eu o prepare?" Ele não estava conseguindo
pensar direito e tomar decisões independentes. A ideia de Saint não
só aceitar ser o fundo, mas deixar Mars comandar tinha deixado o
cérebro de Mars em frangalhos.
Saint riu. "Você não costumava se deixar influenciar tão
facilmente, meu companheiro."
"Talvez eu não seja o homem que você pensa que eu sou." Mars
empurrou o lubrificante de volta para Saint e saiu da cama. Ele só
tinha dado dois passos quando Saint o agarrou por trás e o atirou de
volta para cama.
"Você é o homem mais irascível que eu já conheci", Saint
resmungou. "É isso aí. Eu vou ser o fundo, mas aqui de cima.".
A boca de Mars se escancarou quando o grande Thresl colocou
uma perna de cada lado de Mars e prendeu-o na cama. "Alguma
reclamação, ou eu posso fazer com você o que eu o quero?"
Mars pigarreou tentando reunir saliva suficiente para
conseguir falar. "Sinta-se a vontade.”
"Excelente." O rosnar animalesco de Saint juntamente com a
necessidade nos olhos do Thresl quase fez Mars gozar antes que ele
sequer entrasse em Saint.
"Não me entenda mal, eu nunca farei isso na minha forma de
gato".
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"Eca." Mars corcoveou para tirar Saint de cima dele. "Eu nunca
vou querer que você faça isso."
Saint deu de ombros. "Somente verificando. Você parece
gostar quando eu ronrono."
"Eu achei que, supostamente, fossemos almas gêmeas?"
Certamente que dependia deles serem sexualmente compatíveis.
Mas até agora eles só tinham provado que não eram compatíveis de
jeito nenhum. Mars poderia facilmente se imaginar passando sua
vida brigando com o shifter mandão.
"Isso não significa que você não possa ter um lado bizarro."
Mars riu. Ele não conseguiu segurar. Exatamente quando ele
achou que tinha decifrado Saint, ele mudava. Se eles fossem
verdadeiros companheiros, pelo menos a sua vida nunca mais seria
maçante. Só restava saber se isso seria bom ou não.
Saint untou o pau de Mars, em seguida, apontou para seu ânus
em uma exibição sexy que quase acabou com tudo antes mesmo de
começar. A respiração de Mars travou quando Saint começou a se
preparar para Mars entrar nele.
A visão sexy dos dedos de Saint desaparecendo em seu corpo
fez Mars morder seus lábios. "Isso é tão quente", ele sussurrou.
Incapaz de resistir, ele traçou um caminho até o ânus de Saint com
seus próprios dedos, saboreando o contato com outra pessoa. Ele
raspou levemente a unha contra a entrada lubrificada de Saint,
ficando satisfeito quando Saint estremeceu com seu toque.
Ser capitão de seu próprio navio continha certas
responsabilidades, e uma delas era que Mars nunca tinha relações
sexuais com pessoas que ele não sabia quais seriam o resultado. A
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despeito da declaração de Saint de que eram companheiros, a
maioria não desejava mantê-lo também. Mars tinha largado Zander
para o seu próprio bem, mas tinha se ferido.
"Já faz um tempo que..." Ele não sabia por que ele sentiu a
necessidade de compartilhar aquela informação, mas isso fez Saint
sorrir – um brilho feral de dentes, em vez de um sinal de alegria.
"Se fôssemos comparar, eu aposto que eu venceria no quesito
período de seca."
"Eu aposto que sim." Saint havia ficado enterrado por décadas.
Inferno, até mesmo uma foda por compaixão, neste ponto seria,
provavelmente, aceitável. Mars podia não ter certeza sobre seus
sentimentos em relação a Saint, mas compaixão não era um deles.
A capacidade de pensar de Mars desapareceu quando Saint
alinhou seu pau no buraco dele e enterrou até o punho, até suas
nádegas encontrarem a virilha de Mars. O calor tragou a ereção de
Mars. Ele mordeu o lábio e conteve um grito, não querendo
ensurdecer seu parceiro.
"Oh, porra," Mars sussurrou. Saint era tão apertado, quente e
perfeito. "Eu pensei que você iria mais devagar".
Se sua última foda tivesse sido há centenas de anos, Mars teria
ido mais devagar, lentamente.
"Sim, foda-me. Eu esperei tempo demais." Saint se levantou
um pouco, em seguida, se abaixou novamente no pau de Mars.
Depois de um algumas subidas e descidas cautelosas, Saint
estabeleceu um ritmo de envesgar os olhos. Mars agarrou os lençóis
até seus dedos ficarem brancos. Ele tentou ficar parado e deixar
Saint definir o ritmo. Ele não machucaria Saint por nada no mundo.
Mas seus quadris tinham outras ideias. Ele corcoveou e,
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involuntariamente, se enterrou mais profundamente dentro de
Saint.
"Desculpe." Mars cerrou os dentes, lutando para manter os
ruídos cobiçosos de explodirem. Ele nunca tinha sido um amante
barulhento. Ele não iria começar a balbuciar com o homem que
poderia significar tudo para ele.
"Eu não. Faça isso de novo", Saint insistiu.
Mars largou os lençóis e envolveu as mãos ao redor dos
quadris de Saint. "Posso assumir o controle?"
"Por favor."
Mars rolou, deitando Saint de costas para que ele pudesse ver
as expressões do Thresl. Se Mars causasse a ele qualquer
desconforto, ele queria ver no rosto de Saint. Ele duvidava que Saint
lhe desse qualquer informação. Mars sabia que ele seria o único a
por limites. Saint havia esperado muito tempo para encontrar Mars
novamente, e Mars não tinha dúvida de que Saint iria deixá-lo fazer
o que ele gostava e foda-se as consequências.
"Você é lindo." Mars pontuou cada palavra com uma estocada
de seus quadris até que finalmente ele deixou de lado as palavras e
concentrou-se em se comunicar com seu corpo. As palavras nunca
foram o seu ponto forte de qualquer maneira. Ele se expressava
melhor agindo.
"Eu sou seu, como você é meu." As palavras de Saint soaram,
desconfortavelmente, como um voto.
Mars foi para o lado da distração. Ele não estava nem próximo
de se estabelecer com um estranho, mesmo Saint alegando que eles
eram companheiros. Em vez disso, ele deslizou a mão para baixo e
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segurou as bolas de Saint, rolando-as suavemente em suas mãos.
Saint assobiou, e sua cabeça foi para trás, expondo seu
pescoço.
A boca de Mars se arreganhou e seus incisivos se alongaram.
Incapaz de lutar contra seus instintos, ele mordeu profundamente o
pescoço do Saint, golpeando uma veia. O sangue jorrou em sua boca
como um gêiser rico em ferro. O instinto animal assumiu. Ele
engoliu rapidamente, não querendo deixar uma única gota escapar
enquanto ele prendia sua presa no lugar, a necessidade de manter
Saint lutando e rasgar sua garganta.
Saint mergulhou as mãos nos cabelos de Mars, mas em vez de
empurrá-lo para longe, ele o puxou para mais perto. "É isso aí,
companheiro. Me reclame como seu. Eu sempre fui seu."
O ronronar de Saint vibrou nos lábios de Mars. A parte
humana dele assistiu com horror enquanto ele lambia a ferida
sangrenta. A menor, a parte animal que ele mantivera sempre sobre
estrito controle se libertou e insistiu em reivindicar seu
companheiro. Pela primeira vez o gato ultrapassou a maior parte
humana.
Depois que Mars lambeu a marca de acasalamento de Saint até
deixa-la limpa, a parte feral dele soltou um grunhido satisfeito.
Saint se arqueou sob Mars e gritou. O líquido quente espirrou
entre eles. O cheiro do gozo de Saint desencadeou o orgasmo de
Mars. Gemendo, ele gozou dentro de seu companheiro.
Companheiro.
A palavra brilhou em sua cabeça como um sinal de néon. Desta
vez, ela veio de Mars e o assustou para caralho.
Mars tirou seu pau de Saint, o horror o agarrando em um
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punho apertado. O que ele tinha feito? Ele rolou para longe de Saint
e depois deslizou para fora do colchão. Ele limpou o peito com a
camisa amarrotada em um fortuito trabalho de limpeza, em seguida,
jogou-a no piso e arrebatou sua calça. Não se importando com sua
dignidade, Mars pulou de pé em pé até vestir sua calça, e fugiu de
sua suíte sem sapatos ou camisa. Ele não podia lidar com isso agora.
Ele precisava respirar.
Mas que porra!
Saint chamou por Mars, mas Mars o ignorou e continuou
andando. Ele não poderia ficar longe de Saint para sempre, mas ele
precisava de um tempo. Ele tinha se acasalado a um homem que mal
conhecia e ele não tinha certeza se mesmo gostava dele. Forjar um
laço eterno com um governante potencialmente sedento de poder
com um controle questionável sobre sua sanidade mental não fora
sua melhor jogada na vida.
O estômago de Mars estava embrulhado. Somente sua força de
vontade não o fez decorar as paredes com suas entranhas. Aquilo já
estava começando a se tornar rotina para ele. Não uma boa rotina,
no entanto.
Mars andou o mais rápido possível, sem correr, para se afastar
de sua suíte. Se a tripulação o visse correndo pelos corredores, ele
poderia causar pânico. Ele não queria explicar para sua tripulação de
como seu capitão havia reivindicado seu companheiro, em seguida,
fugiu como um covarde. A onda de histeria não o pintaria com uma
imagem lisonjeira. Para um homem conhecido por ser um calculista
frio e usar de táticas cruéis, ele com certeza não queria que Saint
conhecesse esse lado dele.
Desde que o grande Thresl entrara em seu mundo, o universo
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de Mars havia virado do avesso. Ele precisava encontrar seu centro
novamente. Ele duvidava que ele tivesse muito tempo para por seus
pensamentos em ordem. Mars não tinha dúvida, que seu tempo
sozinho era limitado. Saint não o deixaria se afastar por muito
tempo.
Companheiro.
A palavra envolvia seu corpo com tentáculos de medo. Como
ele conseguiria fazer um companheiro feliz, enquanto ele tivesse a
compulsão de fugir como se um bando de zumbis Frens estivesse
atrás dele? Aquele era, sem dúvida, um planeta que ele nunca
voltaria.
"Capitão!"
Mars girou com alivio. Naquele instante ele falaria com
qualquer um que não planejasse discutir sobre companheiros.
Ele quase mudou de ideia quando ele viu quem o chamava, era
Red Claw, um dos Thresls que eles usavam como isca para as lutas
em arenas. Ele não queria falar com um Thresl agora. Depois de
focar sua vida inteira salvando-os, ele só queria ficar longe de toda a
espécie por um momento - uma esperança inútil desde que ele
estava certo que suas próprias tendências Thresl dormentes estavam
despertando. Segurando seus anseios pessoais, ele se concentrou em
seu companheiro de bordo.
"Hey, Red Claw. O que posso fazer por você?" Ele podia não
querer falar com Red Claw, mas ele não estaria fazendo o seu
trabalho como capitão se ele não verificasse se havia algo que o
Thresl precisava. Havia apenas um punhado de Thresls que eles
podiam colocar nas arenas de combate antes que os organizadores
começassem a suspeitar.
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Os olhos dourados de Red Claw brilharam e seu sorriso enviou
um arrepio de presságio pela coluna de Mars.
"Você encontrou seu companheiro!" Seu grito ecoando pelo
corredor.
Mars fez uma careta. "Sim, obrigado por anunciar."
Red Claw inclinou a cabeça. "Você não está feliz?"
"Vamos dizer, apenas, que foi inesperado." Indução de pânico,
mudança de vida - tantas frases podiam ser aplicadas e nenhuma
delas o fazia se sentir melhor. Respire. Sim, ele tinha que se lembrar
de respirar.
"Vai dar tudo certo. O destino não os teriam colocado juntos se
vocês não fossem perfeitos um para o outro."
Mars balançou a cabeça para Red Claw. A história provara com
vários casos de Thresls que encontraram o companheiro errado e
suas horríveis consequências. "É uma historia feliz de conto de fadas
contada para as crianças. Houve mais do que alguns exemplos de
acasalamentos ruins para contrariar essa história."
"Não quando vocês são almas gêmeas." Red Claw sorriu como
se estivesse satisfeito com sua conclusão sentimental. É claro que
Red Claw e seu companheiro eram perfeitos um para o outro. Billy
não só pensava que Red Claw podia fazer girar os planetas, mas que
fazia as estrelas brilharem em seu tempo livre.
"O que faz você pensar que meu companheiro, Saint, e eu
somos almas gêmeas?" Será que ele tinha aquilo escrito na testa ou
algo assim? Ele devia, porque, de que outra forma, Red Claw soube
que ele tinha acasalado?
A quantidade de tempo que Red Claw levou para responder fez
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os pés de Mars vacilarem. Ele precisava se manter em movimento.
Ele tinha que evitar Saint só mais um pouco, pelo menos até que ele
recuperasse sua compostura. Certamente, aquilo não levaria mais do
que um ou dois séculos?
"Seus olhos estão mais dourados agora. Você também está
mostrando mais sinais de Thresl. Se você não estivesse acasalado
corretamente, você não estaria exibindo os sinais." Red Claw
apontou para as mãos de Mars como se fossem a delação de tudo.
Mars ergueu os dedos e os puxou de volta em choque. As
garras haviam retornado.
Merda!
"Isso é um sinal de que nós somos companheiros apropriados?
Eu pensei que havia algo de errado comigo!" Porra, talvez Saint
estivesse certo. O contato com o poderoso Thresl trouxe para fora o
gato interior de Mars.
"Eu bem que avisei, meu amor", Saint ronronou.
Mars se virou. Ele estava tão absorto na conversa com Red
Claw, que ele não percebeu a chegada de Saint.
Saint colocou suas grandes mãos nos ombros de Mars, em
silêncio, mas não sutilmente expondo sua posse ao outro Thresl.
Poderia ser pior. Pelo menos, Saint não estava urinando na perna de
Mars o marcando com seu cheiro.
Red Claw ergueu as mãos em rendição. "Eu já tenho um
companheiro. Eu não estou aqui para roubá-lo."
Mars balançou a cabeça para Saint antes de voltar sua atenção
para Red Claw. "Sobre o que você queria falar comigo?"
"Quê?" Red Claw inclinou a cabeça como se Mars lhe houvesse
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presenteado com um quebra-cabeça.
"Você me parou aqui por algum motivo, que não fosse para me
dizer que eu me tornei um puto."
Red Claw fez uma pausa, como se ele não estivesse certo se ele
queria continuar depois de presenciar o humor de Mars. "Eu ouvi
rumores de que há uma nova competição de luta. Acho que devemos
ir conferir. Billy e eu poderíamos ir disfarçados." Red Claw e seu
companheiro haviam feito muito dessas coisas, planeta após planeta,
e tinham salvado com sucesso centenas de Thresls de desagradáveis
cativeiros e até possíveis mortes.
Os mestres das Competições compravam Thresls que não
tinham encontrado um companheiro, ou recusavam as pessoas
selecionadas para eles. Estes impotentes Thresls eram enviados para
arenas onde eles eram forçados a lutar, e muitas vezes matavam um
ao outro para sobreviver.
Mars coçou a bochecha enquanto ele pensava sobre o assunto.
"Não, melhor não. Eu estou preocupado, pois vocês dois estão se
tornando muito conhecidos. Poderíamos ter que retirá-los
completamente da operação de combate em breve. Eu estou
esperando que nós possamos encontrar a fonte dos lutadores antes
disso."
Salvar os Thresls das competições era o foco principal de Mars.
Fechá-las totalmente era o seu objetivo de vida. Vohne estava
ajudando, recusando-se a permitir que houvesse viagens para fora
do planeta por enquanto. Infelizmente, a escassez de Thresl só fez as
arenas mais rentáveis. Levaria tempo para erradicá-las
completamente.
"Se houver algo que pudermos fazer para ajudar, é só me
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dizer." Red Claw e seu parceiro eram dedicados a ajudar a causa
Thresl. Red Claw havia perdido um irmão nas arenas.
"Eu direi. Obrigado pelas informações".
Logo eles seriam capazes de identificar o cérebro por trás dos
raptos de Thresls, Mars podia sentir isso em seus ossos. Alguém
manipulava as cordas de tudo e eles eram espertos o suficiente para
a criação de um sistema complicado de vários níveis, entre eles e
seus compradores. No entanto, a cadeia de abastecimento estava
começando a se revelar e as chances de expor o centro da operação
estavam aumentando a cada camada que eles raspavam.
"Por que você não me deixa ser o único a entrar?" Saint
espremeu Mars em seus braços, em seguida, esfregou seu rosto na
nuca de Mars, marcando-o com seu cheiro. "Eu só estive em algumas
batalhas, e você pode dizer às pessoas que me encontrou em uma
das arenas e decidiu me manter como um lutador. Eles vão ficar
babando para apostar em mim."
"Isso pode funcionar, capitão," Red Claw disse. "Sua reputação
como um Thresl contrabandista vai ajudar a fazê-los a acreditar em
sua história".
"Verdade". Mars tinha trabalhado duro para construir sua
personagem. Ele precisava de uma razão para visitar as arenas de
luta sem levantar suspeitas entre a escória da sociedade que eles
caçavam. "Onde está a nova competição?"
"Esta é a parte que eu pensei que você estaria interessado. É na
base da Lua Nillre. Um militar está supostamente sancionando-a."
"Esses bastardos", Saint rosnou. "Eu sabia quando Vohne me
contou sobre a base militar de humano e Thresl que eles teriam más
notícias. Os seres humanos sempre foram gananciosos."
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"No passado, os militares denunciaram publicamente as
arenas de luta. Eu me pergunto o que aconteceu?" A mudança
abrupta na política preocupou Mars. "Pode ser uma armadilha para
atrair contrabandistas para a lua para roubar seus Thresls desde que
Vohne cortou qualquer outra forma de adquiri-los".
Os seres humanos foram inflexíveis sobre o recrutamento de
mais Thresls para o seu programa. Mars duvidava que tivessem
jogado fora esse plano quando os seus superiores hierárquicos
estavam, estupidamente, tentando ser mais espertos que o rei.
"Ou uma maneira de envergonhar o rei por humilhar seu
povo", Saint declarou. "Mas se eles pensam que Vohne vai deixá-los
fugir com isso por muito tempo, eles estão redondamente
enganados."
Mars passou os dedos por seus cabelos, puxando-o em
frustração. "Estou mais preocupado com Vohne planejando um
ataque para salvá-los. Ele não é do tipo que fica parado, enquanto
seu povo é ferido. Se isso é uma armadilha para atrair o rei para a
base da lua, nós não queremos que ele caia nela."
Vohne representava a esperança para os Thresls. Se ele fosse
capturado, os seres humanos não estariam a salvo da vingança dos
Thresls.
"Eu vou ligar para Vohne e avisá-lo", Saint rosnou. "Ele é do
tipo impetuoso."
Mars riu. "Isso não é como eu o classificaria".
Saint virou Mars para encará-lo. "Ele é muito parecido com
você. Estupidamente corajoso e disposto a sacrificar-se por seu povo.
Felizmente, ele tem Kres para proteger suas costas, e você tem a
mim."
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"Você é meu Kres?" Mars sorriu com o pensamento.
"Se você substituir as garras por facas e adicionar três vezes de
atitude, com certeza, eu sou seu Kres."
Sufocando o riso Mars olhou por cima do ombro para Red
Claw. Os grandes olhos do grande Thresl dançavam com de diversão.
"Que tal você ir buscar o Billy e vocês contatarem todos que
conseguirem pensar? Reuniam o máximo de informações que
puderem. Precisamos saber se estamos caminhando para uma
armadilha e em caso afirmativo, que tipo de armadilha."
Saint bufou. "Não uma grande suficiente para me parar."
"A confiança é sexy. Excesso de confiança vai te matar." Mars
fez uma careta para Saint e tentou não se perder em seus olhos
dourados brilhantes. Apesar de sua hesitação sobre seu
acasalamento com seu companheiro, Mars não queria ver Saint
ferido.
Saint deslizou suas mãos pelo peito de Mars. "Será que você se
lamentaria por mim, meu companheiro?"
Mars suspirou e olhou para o teto. "Você nunca alivia, não é?"
"Por que eu aliviaria?" Saint soou genuinamente intrigado.
Mars estupidamente baixou a cabeça para pegar o brilho de
determinação nos olhos do Saint.
"Eu sou como um pequeno rato para seu gigante gato, não
sou?"
"Hmm, talvez porque você seja tão suculento e macio?" Saint
ronronou.
"Eu vou... apenas... hum, vá."
Mars mal prestou atenção à saída rápida de Red Claw.
Saint também não percebeu a saída de Red Claw. O antigo
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Thresl manteve seu foco total em Mars.
"Volte para a cama." Saint fez uma careta para Mars, como se
ele tivesse cometido um enorme crime, deixando-o antes.
"Eu não estou cansado. Caso você tenha esquecido, eu acabei
de acordar."
"Você só tirou um pequeno cochilo para se livrar da sua dor de
cabeça. Não se preocupe. Tenho certeza que eu posso ajudá-lo a
adormecer. Vou me certificar de você esteja muito cansado."
"Jura?" Mars engoliu a pequena apreensão em sua garganta. A
energia sexual se derramando de Saint era como uma maré de
luxúria subindo. Ele havia agarrado Mars em um agarre apertado
como se Saint o estivesse tocando fisicamente. Ele sabia que era o
laço de acasalamento. Ele não podia nem culpar Saint, uma vez que,
fora ele mesmo que fizera a conexão.
Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, Saint
agarrou o pulso de Mars e o arrastou de volta pelo corredor. "Venha,
eu tenho planos".
"Planos?" Mars quase não queria saber. Isso poderia significar
qualquer coisa, especialmente com este Thresl em particular.
"Sim, eu vou lhe dar tudo que você precisa antes mesmo que
você perceba que precisa. Você não vai se arrepender, nunca, de ter
se tornado meu companheiro."
Mars não teve chance de responder desde que tinham chegado
a seus aposentos. Saint não deixou de segurá-lo até que ele
empurrou Mars para a cama. O calcanhar de Mars bateu na
estrutura da cama e ele caiu duramente. Felizmente a cama
amenizou sua queda.
O sorriso de Saint tinha mais dentes do que um Thresl em
40
forma humana deveria ter. Sua metade gato se espreitava mais
próxima da superfície do que qualquer um que Mars já conhecera
antes. Mars mordeu o lábio quando Saint arrastou-se pelo colchão
antes de se fixar entre as pernas de Mars.
A energia derramada do corpo de Saint atravessou a pele de
Mars como uma onda do sol. Em vez de empurrá-lo, Mars agarrou
os quadris de Saint, puxando-o para mais perto. "Eu deveria ter
minhas objeções contra um homem estranho que decidiu que eu
pertenço a ele".
Saint lambeu o pescoço de Mars. A morna sensação se
transformou em calor escaldante que queimou por seu corpo como
uma descarga de alta voltagem. Apesar de morder seus lábios, ele
não conseguiu segurar os gemidos que saíram.
"É isso aí, querido. Eu posso fazer você se sentir incrível."
Saint habilmente desceu o zíper de Mars. Ele deslizou para a
extremidade da cama, em seguida, arrancou a calça de Mars e sua
cueca juntos num rápido puxão.
"Ei, será que eu não conseguiria um encontro com uma bebida
antes?" Mars brincou. Ele não conseguia acreditar o quanto suas
mãos tremiam e seu estômago pulou como se estivesse saltando para
o espaço.
"Você vai conseguir algo melhor... a mim. Você pode ter
qualquer coisa, uma vez que nos unamos. Eu preciso sentir nossa
conexão novamente. Eu senti sua falta, meu companheiro." O tom de
Saint não deixava espaço para discussão, mas ele ainda fez uma
pausa antes de se juntar a Mars na cama como se não soubesse se
seria bem-vindo.
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Mars esperou. Quando Saint não se moveu para se aproximar
dele, ele o cutucou. "Uma trepada, depois, conversamos?”
"Deixe-me ter você, então você pode me perguntar o que
quiser", Saint prometeu.
Mars deixou seu olhar viajar pelos músculos bem definidos de
Saint e seus amplos ombros. O Thresl estava obcecado com o objeto
de sua afeição. Se ele dissesse a Saint um não, isso não iria parar o
Thresl de persegui-lo, só iria atrasar o inevitável. Se eles fizessem
sexo agora, Saint talvez percebesse que Mars não era seu verdadeiro
companheiro, ou confirmaria exatamente isso e resolveriam a
questão entre eles para sempre.
"Combinado". Mars concordou.
Saint examinou Mars com um calor tão intenso que deveria ter
queimado um buraco no corpo de Mars. "Você gosta do que vê?"
Mars passou a mão pelo plano estômago de Saint. Os músculos
de Saint se retesaram em relevo gritante enquanto Mars
provocativamente traçava os cumes de seus músculos abdominais
com as pontas dos dedos. "O que há para não gostar sobre a
perfeição?"
Saint sorriu. "Boa resposta."
"Foi o que eu pensei."
Saint beijou Mars, dissolvendo todos os pensamentos da
cabeça de Mars. Ele sabia que ele devia resistir ou tentar conversar
com Saint sobre o acasalamento, mas a sua habitual força de
vontade tinha saído de férias. Em vez disso, ele se entregou ao toque
magistral de Saint com, apenas, um gemido suave.
Pele roçou em pele. O ar tornou-se um lugar lotado de
42
suspiros, arquejos e gemidos. Ele realmente deveria ter sido mais
difícil. Os homens só apreciavam aquilo que eles tinham que lutar
para conseguir.
"Não, você não deveria," Saint argumentou. "Isso teria apenas
me irritado. Eu odeio ter que caçar desnecessariamente. De qualquer
maneira, você não poderia ir muito longe dentro de uma nave
espacial antes que eu encontrasse você. Não existem muitas opções
de lugares para se esconder. Melhor dar agora, depois tentar
escapar."
Mars congelou. "Pare de ler minha mente."
"Não." Saint esfregou seu nariz no de Mars com carinho. "Eu
quero e gosto de saber o que você pensa, para saber do que você
precisa." Ele pontuou cada frase com um beijo até que Mars já não
conseguia pensar em palavras suficientes para formar uma
refutação. Ele suspirou e cedeu. Não havia razão brigar por algo que
ele sabia que ambos necessitavam.
Mars envolveu as mãos ao redor dos ombros de Saint,
necessitando de alguma coisa para centrar-se quando o mundo
girou. Todo o seu universo se tornou um lugar preciso e restrito a
bocas, línguas e toques firmes.
Saint pegou o lubrificante que havia deixado sobre a cama.
Mars observou Saint, ele estava um pouco mais que
apreensivo. "Faz tempo que eu não sou o fundo."
Zander fora o último homem que ele confiara o bastante para
se dar.
"Bom. A partir de agora você vai aceitar só a mim em seu
corpo. Precisamos estar acasalados corretamente se vamos para o
meio dos nossos inimigos."
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"Menos conversa, mais foda," Mars ordenou. Era hora de ele
assumir um papel menos plácido em sua vida amorosa. Se fossem,
realmente, para serem companheiros, eles teriam que ser parceiros
igualmente. Saint não respeitaria, verdadeiramente, um
companheiro que não tivesse sua própria opinião e segurança contra
o dominante Thresl.
"Oh, você será minha outra metade, Capitão. Não tenha
medo." Saint ronronou e o som infiltrou-se, passando por todo o
corpo de Mars e o fez se arquear com a sensação. Ele afundou os
dedos na carne de Saint, tentando se firmar quando Saint
lentamente o masturbou. A mão calosa de Saint deslizou em
movimentos dolorosamente lentos para cima e para baixo no pau de
Mars até que seus dedos se curvaram com a sensação. Ainda o
acariciando, Saint lambeu o pescoço de Mars. Ele inclinou a cabeça
para dar ao Thresl um melhor acesso. E lá se foi à vontade de ser
mais agressivo. Tudo o que ele podia fazer era aceitar a paixão de
Saint.
"Se você continuar, eu vou gozar antes que você esteja dentro
de mim." Mars gemeu novamente.
"É isso mesmo, meu doce, pega tudo. Vou deixar você no
comando na próxima vez. Você pode até me foder novamente, se
você quiser." A voz profunda de Saint sussurrava palavras sujas no
ouvido de Mars.
"Ah, caralho!" Mars gritou. Seu orgasmo lhe pegou de
surpresa. Ele estivera tão focado na respiração quente de Saint e na
conversa sedutora que ele não esperava gozar tão rapidamente.
"Da próxima vez eu vou foder sua bunda", Saint prometeu
antes de jorrar sua semente sobre o estômago de Mars. Quando
44
Mars ficou sensível demais ao toque, Saint o soltou. Saint deslizou
um pouco para baixo e lambeu a porra dos dois juntos. "Delicioso".
Mars suspirou. Ele resistiu ao desejo de empurrar Saint. Ele
nunca fora o tipo de cara de abraçar depois, mas ele já tinha fugido
de Saint duas vezes - ele não tinha energia para fazer mais nada,
mesmo que fosse somente para mudar para o outro lado da cama.
Ele se contorceu quando Saint lambeu um ponto sensível.
"Relaxe, companheiro. Estou apenas limpando você para que
possamos dormir um pouco. Você não quer acordar com uma crosta
de porra no seu estômago."
"Verdade”. Mars tinha feito isso algumas vezes e nunca fora
agradável na manhã seguinte, especialmente se você estivesse
grudado com um cara peludo.
Saint rosnou.
"O quê?" Mars olhou ao redor do quarto, mas não viu razão
nenhuma para Saint ficar agressivo tão de repente. As emoções do
Thresl saltavam mais rápido do que uma nave em um campo de
meteoros.
"Eu não gosto que você pense em outros homens, enquanto eu
estou em sua cama," Saint explicou.
"Então, não leia a minha mente. Eu não vou passar o resto da
minha vida editando meus pensamentos. Se você não gosta deles,
não seja tão intrometido."
Apesar de suas palavras, Mars não fez objeção quando Saint o
puxou para perto. Ele deslizou sua cabeça no ombro de Saint e
prontamente adormeceu.

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Capítulo 2

Saint sorriu para a fácil rendição de seu companheiro. Ele não


tinha ilusões de que Mars aceitaria facilmente o seu destino. O
capitão não parecia disposto a ceder. Mars usualmente liderava
homens, não seguia as ordens de outra pessoa.
Que maravilha!
Saint sempre gostou de um desafio, mesmo que fosse para
ganhar o afeto de seu companheiro. O ronco suave quebrava o
silêncio do quarto. Saint não sabia se o quarto tinha isolamento
acústico ou não, mas certamente não permitia que os ruídos se
infiltrassem pelas paredes. Essa era a nave mais silenciosa que Saint
já estivera, e ao longo dos últimos meses, ele estivera em muitas.
Inclinando o queixo para baixo, ele examinou seu
companheiro. O cabelo escuro de Mars caía sobre seu rosto e sua
face estava sombreada com uma barba espessa desde o dia anterior.
Ele sabia que o capitão do espaço não tinha dormido muito nos
últimos dias. Ele ouvira a tripulação de Mars comentando de como
seu capitão correra sem descansar por vários dias. Até mesmo o
breve cochilo que Mars havia tirado para aliviar a sua dor de cabeça
não fora um sono verdadeiro. Mars necessitava de mais descanso.
Saint se certificaria disso. O descanso de Mars seria o seu prazer.
46 Saint abraçou Mars mais apertado. Ele sabia que teria uma
batalha em suas mãos. A resistência de Mars, sem dúvida,
contrariava as ambições de Saint. Depois de ficar preso por tanto
tempo sem qualquer alívio de sua própria mente, Saint tinha pouco
traquejo social. Recém-liberto, ele pegou o que ele queria e não
pediu desculpas a ninguém. Mars iria se acostumar a ele com o
passar do tempo. Saint não havia esperado tanto tempo para perder
seu companheiro na primeira semana. Ele protegeria Mars ou
morreria tentando.
Um ligeiro movimento do capitão fez Saint o segurar com mais
firmeza somente com uma mão. Mars não era um cara pequeno, mas
Saint sempre fora maior que a média. Depois da morte de seu
companheiro, ele se recusou a perder sua sanidade e deixar seu
irmão vencer. Ele só queria que Gerin ainda estivesse vivo para que
ele mesmo pudesse matar o filho da puta.
Ele afastou uma mecha de cabelo do rosto de Mars, tomando
cuidado para não acordá-lo. Ele esperou muito tempo para retornar
para seu companheiro. Ele cuidaria dele melhor desta vez. Desta vez,
ele teria certeza de que ninguém machucaria Mars.
Vohne podia ser um excelente governante, mas ele não
merecia a coroa. Ela pertencia a Saint. Uma vez que ele explicasse o
fato para Vohne, ele não tinha dúvida de que o rei veria as coisas da
sua maneira – se não, ele teria que depor seu sobrinho. Evitar o
derramamento de sangue era seu objetivo, mas isso poderia ser
dificultado se Kres decidisse que Vohne tinha que continuar no
trono. Saint respeitava a natureza sanguinária de Kres e não queria
se opor a ele em nada se isso pudesse ser evitado.
Saint planejava retornar ao trono e reivindicar a monarquia.
47
Ele apenas tinha que se certificar que o companheiro lindíssimo e
letal de Vohne não o esfaqueasse durante o desafio. Se Saint não
tivesse encontrado Mars, ele teria voltado sua atenção para Kres.
Kres era um bom humano e um companheiro leal. Infelizmente,
Kres tinha reencarnado como companheiro de Vohne. Observando
seu próprio companheiro dormindo, Saint não poderia dizer que ele
lamentava a escolha do destino ter escolhido por ele. Mars podia não
ter a delicada beleza de sua encarnação anterior, mas ele ainda
excitava Saint além da razão.
Com a iminente guerra com os seres humanos, agora era a
hora de golpear o medo nos corações de seus inimigos, e Saint estava
mais do que feliz em se voluntariar para o trabalho. Vohne poderia
desconfiar dos motivos de Saint, mas ele tinha uma boa razão para
ficar.

Saint acordou quando o corpo quente deitado contra ele tentou


sair da cama. Sem abrir os olhos, Saint o abraçou mais apertado. Ele
não via qualquer razão para perturbar a sua posição confortável de
aconchego.
"Você tem que me deixar ir", Mars murmurou.
"Não." Realmente, o pobre homem estava delirando se ele
achava que Saint iria mesmo libertá-lo. Mars passou tempo demais
tentando escapar de Saint.
"Banheiro".
"Bem, por isso, eu o deixarei escapar." Saint abriu os braços.
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Assim que Mars saiu, ele sentiu falta dele. Ele abriu os olhos,
somente uma fresta, para se certificar de que Mars não fugiria pela
porta afora, em vez de para o banheiro. Embora ele confiasse no
capitão, ele podia ouvir o falatório de pânico na cabeça de Mars e ele
não achava que seu companheiro tinha todos os seus pensamentos
em ordem.
O monólogo interior frenético continuou enquanto Mars foi ao
banheiro e continuou quando ele voltou para o pé da cama e olhou
para Saint.
"Tudo vai ficar bem", disse Saint empurrando um pouco de sua
força de vontade para Mars. Para sua surpresa, ela passou por fora
de Mars como água ao redor de um navio. Saint sentou-se. Isso
nunca tinha acontecido com ele antes.
Mars riu. "Você não pode me influenciar. Eu venho treinando
para proteger minha mente de habilidades persuasivas."
"Excelente, eu amo um desafio." A onda de orgulho de Saint
não fazia nenhum sentido, considerando que ele não tinha nada a
ver com a capacidade de seu companheiro. Ainda assim, ele gostou
do fato que seu companheiro não seria facilmente influenciado para
fazer o que ele desejasse. Ele não planejara transformar Mars em um
estúpido seguidor, mas ele se sentia feliz ao saber que ele
provavelmente não poderia, mesmo sem intenção.
Mars balançou a cabeça. "Eu vou me vestir. Eu tenho que
verificar a nave e me certificar de que tudo está funcionando sem
problemas."
"Ah, o trabalho de um capitão nunca termina."
"E o de um ditador na espera. O seu trabalho já está feito?"
"Eu não sou um ditador!" Saint fez uma careta. Ele levantou-se
49
para encarar seu companheiro. Ele não gostava de estar sentado e
Mars de pé – ele se sentia em desvantagem. Bem, se eles não
estivessem fazendo sexo, claro.
"De fato, o que você pensa de alguém que pretende assumir um
planeta com um golpe ilegal?"
O rosnado que rolou até a garganta de Saint veio totalmente
natural. "Eu nunca disse isso! Além disso, não é ilegal. Esse é o meu
direito de primogenitura. Reconheço que não é culpa de Vohne que
ele teve que assumir, mas isso não significa que ele tem o direito de
manter a coroa.”
Aquele era o trono de Saint e ele iria recuperá-lo, o fato de ele
estar se afeiçoando ao seu sobrinho não tinha importância. Gerin
não tinha deixado aquilo o impedir de lhe tomar a coroa.
"Uh-huh. Eu acho que Vohne e Kres têm feito um bom
trabalho cuidando do povo. Achar que você pode fazer melhor,
depois de eles terem passado séculos no trabalho, faz de você um
egocêntrico.”
Saint deu de ombros. "Quando você fica preso por séculos,
tudo gira ao redor de você. Eu não tive que pensar em mais
ninguém, além de mim, durante os meus anos de cativeiro. Eu estar
aqui, o ouvindo tagarelar, é um sinal de quanto eu evolui desde a
minha libertação."
Memórias obscuras ameaçavam assaltar sua mente enquanto
ele tentava explicar como ele merecia seu direito de primogenitura.
Vohne poderia ser o melhor rei na história dos Reis, mas a coroa
ainda pertencia a Saint.
Mars balançou a cabeça. "Eu vou ignorar o seu comentário
sobre o meu conselho tagarela. Eu gostaria de ouvir sobre o seu
50
aprisionamento."
"Não há muito que dizer. Eu tolamente confiei em meu irmão,
e ele me enganou dentro da minha futura prisão. Antes de esmagar-
me com o palácio, ele cortou a garganta do meu companheiro -
eficazmente arrancando meu coração."
As memórias ameaçavam esmagá-lo como as pedras em ruínas
de seu palácio, que foi também sua tumba. Ele passou muitas noites
chorando sobre os ossos de seu amante.
Inesperadamente, Mars puxou Saint para um abraço. Saint
congelou com a ação. As pessoas não o abraçavam. Elas ficavam com
medo, às vezes, fugiam mesmo. Elas, certamente, não lhe davam
carinho ou lhe ofereciam conforto. Saint permitiu a proximidade por
um longo momento antes de lentamente facilitar o distanciamento.
Ele não queria que Mars pensasse que ele precisava ser mimado. O
capitão precisava de um parceiro seguro e forte para ter ao lado dele,
e não um companheiro fraco. Saint nunca admitia a fraqueza.
Qualquer sinal menor que uma determinação de aço, poderia ser
usada contra ele. Sua afeição por Gerin havia terminado em tragédia
e comprovado a Saint que, mesmo a família poderia ser fatal. Daqui
em diante, ele iria reservar todo o seu amor para seu companheiro.
Todos os outros deviam ficar atentos.
Mars segurou o rosto de Saint e obrigou-o a olhá-lo nos olhos.
"Eu não gosto da ideia de ter um companheiro, porque você pode ser
usado contra mim. Nunca pense que é porque eu não lhe considero
um parceiro digno. Eu nunca vou usar a nossa ligação contra você.
Não posso garantir que outros não vão. Eu fiz muitos inimigos ao
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longo dos anos."
"Bom." Saint sorriu, a dor em seu peito diminuiu um pouco.
"Eu ficarei feliz em conhecê-los e partilhar as minhas opiniões com
eles. Eu duvido que eles iriam tentar prejudicá-lo depois disso."
Saint não tinha dúvida de que ele poderia manter seu
companheiro seguro. Ele aniquilaria qualquer um que se atrevesse a
colocar um dedo em Mars.
Mars riu. "Meu herói! Eu tenho que dizer que você é um
demônio bonitão. Eu tenho um excelente gosto."
"E você diz que eu tenho um grande ego," Saint zombou.
Mars lhe deu um tapa na bunda. "Se vista, companheiro, eu
tenho uma nave para administrar e eu não posso fazer isso se estiver
distraído com sua bunda".
Saint rosnou para Mars.
"Seja bonzinho, gatinho!" Mars fugiu do alcance de Saint
quando ele tentou agarrá-lo.
Fazia muito tempo desde que Saint tivera algo que o fizesse
sorrir. Mars o fazia feliz. Pena que ele aprendeu da maneira mais
difícil que a alegria era uma mercadoria que durava pouco.
"Minhas roupas podem ficar um pouco apertadas em você,
mas elas vão ter que servir até que eu possa encontrar algo que caiba
em você. Nós temos uma lavandaria totalmente equipada, mas eu
não sei se temos roupas tamanho gigante de Thresl."
"Obrigado." A parte animal de Saint gostou da ideia de usar
algo com o cheiro de Mars. Roupas, que ele sabia que tinham sido
usadas contra a pele de Mars, melhor lhe convinham do que
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qualquer outra que cheirasse a produtos de limpeza.
"Sem problemas. Roupas levam uma grande parte do nosso
orçamento. Isso e comida, é claro."
"Huh." Saint nunca pensara sobre todos os detalhes
necessários para salvar seu povo. Ele só assumiu Mars, pegou o
Thresl e correu. "Eles não estão na forma de Thresl quando você os
encontra?"
"Às vezes. Recebemos todos os tipos. Red Claw é um exemplo
de um Thresl que pode se transformar e depois voltar como você.
Você não é incomum, sabe."
Saint bufou. "Você não tem ideia."
Os outros podiam sentir o poder de Saint, mas eles não tinham
noção do que ele poderia fazer com todas as suas habilidades.
Algumas delas eram tão assustadoras que até Saint as evitava. Mas
ele deixaria que Mars mantivesse as suas ilusões no momento. Se ele
soubesse tudo que Saint podia fazer, isso, talvez, o fizesse ficar mais
desconfiado ainda de seu companheiro. Qualquer coisa que fizesse
Mars se distanciar deveria ser evitado.
Eles se vestiram rapidamente. A calça de Mars ficou um pouco
desconfortável em Saint e sua camisa ficou esticada sobre o peito do
Thresl, mas elas serviriam até que ele pudesse encontrar roupas
maiores. Saint preferia ficar nu ou em sua pelagem de Thresl, mas
ele usaria qualquer coisa que Mars quisesse para permanecer ao seu
lado. Ele não podia percorrer a nave com Mars, nu.
"Eu não sei se você deveria andar pela nave desse jeito. Alguém
pode querer pular sobre você."
Saint sorriu. "Eu acho que posso lidar com isso."
Mars suspirou. "Eu suponho que sim. Vamos encontrar
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algumas roupas maiores."
"Eu realmente não vejo razão para isso, já que eu vou mudar
para minha forma de gato em breve."
"Confie em mim, você precisa de roupas maiores", Mars
rosnou.
Saint sorriu enquanto seguia Mars pelo corredor.
Eles não foram muito longe antes que Red Claw viesse
correndo pelo corredor em direção a eles. "Nós estamos circulando a
base lunar. Nos informe quando você quiser iniciar o desembarque."
Mars passou os dedos através de seu cabelo. "Vamos descer. Se
ficarmos circulando por muito tempo, os militares descobrirão o que
estamos fazendo."
"Entendido". Red Claw voltou correndo por onde veio.
"Será que ele vai conseguir pousar a nave?" Saint perguntou.
Ele realmente não sabia muito sobre o que cada membro da
tripulação fazia. Ele tinha ficado muito ocupado perseguindo Mars,
para prestar atenção em qualquer outra pessoa.
"Não, eu que cuidarei de colocar a nave na órbita adequada.
Red Claw vai alinhar as comunicações para que tenhamos permissão
para nos aproximar. Eu e você desceremos com numa nave auxiliar e
deixaremos o resto da tripulação circulando acima. Eu não confio
nos militares, eles podem tentar se apoderar da nossa nave e mantê-
la em seu porto. Felizmente, se eles estão tentando atrair mais
Thresls para a base, eles ficarão mais do que felizes em lidar
comigo."
Saint rosnou. "Eu realmente odeio esses seres humanos. Nós
merecemos muito mais. Precisamos desenvolver melhores políticas
quando se trata de escolhermos companheiros para os Thresls. Esse
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desrespeito imprudente pela segurança de nosso povo precisa
acabar."
"Vohne está trabalhando nisso", Mars resmungou.
"Ele não está fazendo o bastante." Saint não estava gostando
que, continuamente, Mars defendesse Vohne. Seu companheiro
deveria ficar do seu lado. Além disso, Vohne já tinha um
companheiro.
"Quando você tiver uma fórmula mágica para salvar os
Thresls, você vem me contar. Vohne, Kres e todos os outros estão
fazendo o seu melhor."
Saint revirou os olhos. "Às vezes melhor é apenas outra palavra
para segunda classe".
"Eu estarei pousando uma nave auxiliar na base lunar. Você
fará o que megalomaníacos egocêntricos fazem." Mars lhe virou as
costas.
"Nós seguimos nossos companheiros." Saint sorriu com o
rosnado de Mars. "Você fica, realmente, sexy quando rosna."
Mars fez outro som frustrado. Saint o seguiu. A eficiência de
como as coisas ocorreu na nave de Mars apresentou-se em um
interior impecável e como a tripulação se movia ao redor, todos com
uma finalidade. Saint não viu ninguém parado sem um propósito.
Quando eles entraram na ponte os tripulantes não os saudaram, mas
Saint os observou ficarem mais empertigados e prestando mais
atenção às suas tarefas. Saint escaneou suas mentes e sorriu com o
quanto todos eles respeitavam Mars. Ele nem sequer rosnou para os
poucos tripulantes que olharam Mars com tesão em seus olhos. Ele
não poderia culpá-los por olhar - tocar os faria perder a mão, mas
ficar babando por Mars não lhes custaria suas vidas.
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"Boa tarde a todos", Mars falou para todos.
"Boa tarde, capitão", eles responderam em uníssono.
"Este é o meu companheiro, Saint. Tentem não deixar que ele
irrite vocês." Mars sorriu para Saint.
Saint dirigiu a Mars um olhar fingindo estar bravo quando
todos riram. A apresentação de Mars liquidou um pouco da tensão
na tripulação com a visão de Saint.
"A permissão para você pousar foi concedida. Eu já preparei a
nave auxiliar para decolagem", disse Red Claw.
"Obrigado." Mars acenou para seu tripulante.
Saint seguiu Mars através de uma curta alcova e para uma
nave auxiliar grande o suficiente para acomodar dez pessoas. Saint
tinha esperança que eles não teriam muitos Thresls para resgatar. Se
houvesse mais de uma dúzia, eles não teriam espaço.
"Ponha o cinto," Mars ordenou.
"Mandão". Saint afivelou o cinto em forma de cruz e olhou
para Mars com olhos semicerrados para que ele fizesse o mesmo. Ele
protegeria Mars se alguma coisa desse errado, mas ele não queria
exibir seu poder desnecessariamente. Ele tinha que mostrar seus
poderes para Mars lentamente.
A viagem até atracar a nave no porto levou pouco tempo. Logo,
Mars pousou a pequena nave em um das muitas plataformas de
aterrissagem que revestiam o porto.
O tamanho do espaço-porto surpreendeu Saint. Talvez porque
Red Claw havia dito 'base lunar', Saint achou que seria pequeno.
Haveria ali muitos parceiros Thresl-humanos?
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"É uma base grande," Saint comentou.
Mars deu de ombros. "Eu acho que eles fazem treinamento
diplomático aqui, como também treinamento básico para soldados
humanos. A parte de Thresl-humanos é um departamento pequeno,
mas um foco importante. Aparentemente não tão importante ou eles
não teria colocado nenhum Thresl nas arenas. Isso pode ser um
símbolo de cooperação entre humanos e Thresl, mas em algum
momento ao longo do caminho foi corrompido."
"Verdade".
Mars soltou seu cinto e se levantou. "Vamos cuidar do agora, e
depois, iremos atrás da raiz do problema".
"Sim, nós iremos.” Saint iria destruir aqueles que pensavam
que poderiam usar seu povo para seus próprios propósitos, em vez
de estimá-los pela herança valiosa que eram. Thresls deveriam estar
acasalados apenas com aqueles que eram dignos. No entanto, nem
todos os acasalamentos eram bons e nem todos aqueles que estavam
acasalados faziam um bom casal. Saint sempre suspeitou que foi o
companheiro de seu irmão que tinha planejado sua queda. Nan
sempre foi um filho da puta vingativo.
Mars desceu a prancha com Saint ao seu lado em sua forma de
gato gigante. Saint era uma figura imponente. Os soldados que os
esperavam no final da passagem seguravam suas armas, como se
esperassem uma desculpa para matá-lo. Mars não pretendia dar-
lhes uma.
A primeira pessoa que atirasse em Saint seria a primeira a
morrer. Se o Thresl não o rasgasse, Mars iria. Ninguém machucaria
seu companheiro. Mars quase tropeçou em seus próprios pés com o
pensamento. Seu acasalamento com Saint já tinha cavado suas
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garras nele. Ele mataria para proteger seu companheiro. Merda.
As informações de Inteligência que Red Claw tinha fornecido a
Mars eram que muitos dos Thresl haviam se recusado a se acasalar
com o companheiro nomeado pelo centro de treinamento. Os que
não puderam escapar e voltar para Nillre tinham sido enjaulados
pelos militares e enviados para lutar nas arenas. Eram os que
estavam em perigo agora. O plano de Saint era conversar com eles e
ver se eles estavam prontos para serem levados para casa ou se
haviam se tornado selvagens. Dois dos Thresl já haviam morrido
nas lutas. Se fossem selvagens, Mars iria matá-los e tirá-los de sua
miséria.
Devido às conexões de Red Claw, eles sabiam onde os Thresls
estavam sendo mantidos, tudo o que estava faltando era o motivo. Se
os militares houvessem enviado os Thresl para seu lar e solicitassem
substituições, eles poderiam ter, possivelmente, os obtido. Mas
manter os Thresls e enviá-los para a morte foi uma jogada tola tanto
politicamente como moralmente. Vohne não os perdoaria por matar
seu povo. Não, algo maior estava acontecendo aqui. A peça do
quebra-cabeça que estava faltando.
"Precisamos descobrir quem está no comando."
Mars assentiu com a cabeça para a declaração do Saint. Ele
não tentou responder telepaticamente. Ele não tinha muito domínio
nessa habilidade, e ele precisava de toda sua concentração sobre os
soldados. Ele duvidava que ele pudesse andar, falar telepaticamente
e manter-se atento ao problema, tudo ao mesmo tempo. Ele
precisava praticar.
Mars fez uma pausa quando chegaram aos homens armadas na
extremidade da prancha.
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"Algum problema?" Mars usou seu melhor tom de tédio como
se as armas apontadas em sua direção fosse um mero inconveniente
ao invés de um possível fim a sua vida.
"Onde está a sua documentação para seu Thresl?" O soldado
acenou em direção a Saint.
Mars fingiu surpresa. "Documentação? Eu não preciso de
qualquer documentação. Ele não é um filhotinho com pedigree. Eu o
salvei de uma competição. Ele era o melhor lutador lá, mas eu acho
que posso deixá-lo melhor. Ouvi que este era o lugar certo para
embrutecer um Thresl, se você entende o que eu quero dizer."
"Somente militares são permitidos aqui." O soldadinho de
chumbo franziu a testa para Mars, olhando entre Saint e Mars como
se estivesse avaliando o nível de periculosidade dos dois. "Eu não sei
o que você pensa que você ouviu, mas nós só permitimos militares
com documentos oficiais para serem treinados aqui."
Mars não disse ao soldado como aquilo era uma besteira. Em
vez disso, ele deu de ombros. "Eu não sou militar, mas eu tenho o
maior Thresl que eu já vi. Você pode querer verificar com seu chefe
antes de decidir que eu não tenho nada para fazer aqui."
Ele esperou para ver o que eles iriam fazer. Se eles os
rejeitassem, eles iriam ter que encontrar uma abordagem diferente,
eles não iriam desistir, não quando o seu povo estava envolvido.
"Tudo vai ficar bem", Saint tranquilizou Mars através da sua
conexão.
A nuca de Mars formigou com um ligeiro zumbido. Quase
como se...
"Tenho certeza que o Almirante Holland vai querer conhecê-lo.
Ele tem um interesse especial em Thresls". Ele se virou para o
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soldado à sua esquerda. "Mathews, leve-os para o Almirante
Holland".
Um deleite convencido deslizou pela mente de Mars.
Aparentemente, estes soldados não aprenderam a bloquear as
habilidades de Saint como ele. Mars rolou seus ombros, sacudindo a
onda de apreensão. A facilidade com que Saint havia controlado os
outros teve um efeito negativo sobre a ele.
As palavras do soldado o preocupou. Mars não esperava que
um almirante estivesse envolvido com uma competição de luta.
Holland era o chefe da organização das competições ou apenas mais
um peão? Mars tinha percorrido um longo caminho para chegar a
essa resposta. Um almirante dirigindo uma competição falava de um
nível de apoio entre os superiores que nunca tinha sido visto antes.
"Venha comigo." Mathews olhou para Saint. "Ele é um dos
grandões, não é?"
"É por isso que eu o apanhei." Mars injetou um pouco de
presunção em seu tom, determinado a manter seu disfarce, apesar
de sua nova descoberta.
"Você acha que alguém vai vir procurá-lo?"
"Não, se eles forem espertos."
Mars não gostou do brilho especulativo nos olhos do soldado.
Eles ficariam numa situação ruim se os idiotas tentassem levar Saint
para longe de Mars. Saint tinha mais do que alguns massacres
planejados em sua cabeça. Mars não precisava ter uma conexão
mental com seu companheiro para saber o que ele faria se fosse
encurralado ou se alguém ameaçasse Mars.
"Não se preocupe, companheiro, eu vou proteger você."
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De alguma forma, aquilo não deixou nada melhor.
"Acho que ele é uma fera numa arena", continuou Mathews.
"Isso é o que ele é. Eu ganhei um bom dinheiro com ele, mas
acho que podemos fazer melhor. Ouvi dizer que vocês têm a melhor
competição da galáxia." Ele realmente não tinha ouvido nada a
respeito, mas ele aprendeu ao longo dos anos que todo mundo
gostava de pensar que tinha o melhor lugar mesmo se ele fosse um
lugar do inferno infestado de ratos.
Mathews franziu a testa. "Não diga ao Almirante, mas eu
realmente não gosto desta parte do meu trabalho. Eu não acho que
isso é certo. Quero dizer, eles são seres sencientes e tudo mais. Não
devíamos colocá-los para lutar como animais."
Mars bateu nas costas de Mathews. "Você tem um bom
coração, soldado, mas eles não iriam querer lutar, se eles não
gostassem, certo?"
Ele não podia deixar Mathews saber o quanto ele concordava
com ele. O soldado provavelmente já ouvira algo sobre as
declarações de Mars uma ou duas vezes. Os mestres das competições
muitas vezes faziam as mais estúpidas declarações do por que eles
achavam que as lutas nas arenas eram uma boa ideia... até o
momento que eles eram jogados na cadeia.
"Eles não iriam se eles não tivessem ajuda." Mathews baixou a
voz. "Eu ouvi que alguns deles são drogados para que eles se sintam
compelidos a lutar. Você pode querer repensar em por seu Thresl
para lutar. Tenho escutado que o Rei Vohne está os pegando de
volta. Ele ainda encontra para eles um emprego e um companheiro."
Pura raiva queimou através de Mars como um rastilho de
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pólvora. Ele iria encontrar os responsáveis e iria fazê-los pagar. "Não
é esporte se eles os drogam."
"Eles vão aprender o erro de suas ações." As palavras de Saint
soaram como uma promessa entre eles. Eles podiam não ter muito
em comum, mas o objetivo comum de salvar os Thresls os tornava
mais próximos do que qualquer vínculo romântico.
Mathews deu de ombros. "Isso foi somente o que eu ouvi. Eles
não conversam conosco, só os soldados rasos."
Depois de uma longa caminhada pelos corredores estéreis da
estação, o azul frio da porta do almirante era como um oásis no
deserto pintado de bege.
"Aqui está, o escritório do Almirante Holland. Ele é um cara
bastante agradável, para um oficial. Tenho certeza que ele vai
conseguir o que vocês precisam", Mathews acenou com a mão em
direção a porta, como se não tivesse acabado de confidenciar seu
desconforto com a situação.
A mudança radical de Mathews tinha feito balançarem
bandeiras de advertência por toda a parte. Estariam sendo
gravados?
"Obrigado, Mathews. Eu apreciei sua ajuda." Mars não fez
mais nenhuma pergunta. Os olhos de Mathews olhavam para toda
parte como se ele soubesse que havia câmeras acompanhando todo o
encontro, mas não sabia onde.
A informação tinha ajudado. Eles agora sabiam que o
almirante não só tinha uma arena de combate, mas ele usava outras
táticas inescrupulosas. Um homem disposto a drogar Thresls e
forçá-los a lutar, teria pouca moral e os mantinha para outros atos
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criminosos.
"Precisamos começar tirando aqueles Thresl para fora
daqui!"
Mars assentiu.
Mathews bateu na porta de Holland. "Eu vou esperar aqui fora,
no caso que ele queira que eu os leve de volta para a nave."
"Eu acho que nós vamos ficar bem. Eu sinto boas vibrações
sobre isso. Estou usando minhas botas da sorte."
Saint ficou orgulhoso.
Uma voz profunda os mandou entrar.
Ao abrirem a porta um grande escritório se revelou com
móveis de madeira escura e pálidas paredes azuis que combinavam
com a porta. Um homem alto com uma postura conseguida pelo
longo período de sua carreira militar esperava por eles.
"Almirante Holland?"
"Isso é o que diz na porta."
Mars acenou para Mathews antes de entrar e fechar a porta
atrás deles. Os dois homens apertaram as mãos. Saint rosnou
levemente quando o aperto de mão durou mais de dois segundos.
"Shhh," Mars admoestou Saint.
Ele retrocedeu. Mars sabia que depois ele ouviria sobre isso.
"Então, ele escuta você? Vocês dois têm um laço?"
"Temos em certo grau. Como você pode ver, não estamos
completamente acasalados ou ele estaria em sua forma humana."
"Talvez ele lhe ouça, porque você tem sangue Thresl em você."
O olhar avaliador do Almirante Holland deixou Mars contente por
ele não ter quase nada do DNA Thresl nele. Holland não titubearia
em enviar Mars para as arenas se ele achasse que ele poderia se
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transformar.
Mars tinha que admitir que ficara um pouco surpreso por
Mathews não ter comentado sobre seus olhos.
"Eu sou um quarto Thresl", admitiu.
"Interessante." O sorriso sombrio do almirante fez arrepios de
alerta correr pela espinha de Mars. Uma sensação que ele nunca
ignorou.
"Isso é um problema?" Desde que ele não era um sangue puro,
ele não sabia por que isso importava para o almirante, mas Holland
continuou olhando para Mars, tempo suficiente para ele ficar
confuso.
"Não. Na verdade eu acho interessante que você possa ter
alguma influência sobre ele. Pode ser que você possa ajudar com
alguns dos outros?"
"Pode ser."
"Desgraçado."
Mars concordou. Ele estava quase esperando que Holland
tentasse algo com Saint, porque o Thresl o comeria e cuspiria
Holland em pedacinhos, se Saint não o engolisse inteiro.
"Eu preciso lhe dizer, eu pensava que Vohne fosse o maior
Thresl que eu já tinha visto. Mas seu Thresl é ainda maior do que o
rei. Eu sempre achei que os Thresls reais fossem os maiores
existentes."
Merda!
Mars pensou rápido. "Eu acho que o meu é um dos antigos. O
fato de Saint ser maior do que Vohne é uma das razões pelas quais
eu não estou atualmente em Nillre. O rei não gosta de ninguém mais
forte do que ele por perto, e seu companheiro não toleraria isso.
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Acho que ele é ciumento e não gosta de competição. Essa é outra
razão pela qual eu quero que Saint seja treinado. Se Vohne enviar
alguém atrás de nós, seremos capazes de nos proteger. Eu soube que
você tem uma das melhores competições das redondezas. Meu cara é
grande, mas ele ainda necessita se embrutecer."
"Você não está preocupado que ele se machuque?"
Mars acenou com a mão, dispensando a questão. "Ele é apenas
um animal, de fato. Eu posso ter um pouco de sangue Thresl, mas eu
não sou um gato, sou?"
Holland riu. "Verdade. Estou feliz que você não esteja
totalmente acasalado com ele. Acidentes algumas vezes acontecem."
Mars duvidava que quaisquer mortes nas competições fossem
verdadeiramente acidentes. Não depois do que Mathews tinha dito.
Um Thresl drogado não conseguia se controlar.
"Nós não estamos completamente acasalados. Eu não queria
passar pelo processo. Eu não poderia usá-lo nas lutas se ele se
tornasse humano." Mars deixou que a verdade de suas palavras
emprestasse validade à sua história. Ele não queria se acasalar, mas
não pela razão que ele falara ao almirante.
Almirante Holland assentiu. "Bem pensando. Onde você o
encontrou?" Holland acenou com a cabeça em direção a Saint.
"Passando fome numa competição de terceira categoria. Eles
não estavam cuidando dele, mas eu pude ver o seu potencial."
Holland fez uma careta. "Ele parece estar bem agora."
"Eu sei como cuidar de um Thresl"
"Já ouvi falar de você por sua reputação", Holland admitiu.
"Você tem feito isso há um tempo."
"Sim, faz tempo," Mars tentou parecer presunçoso em vez de
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enojado com o que o almirante disse a ele.
"Humm, bem, eu poderia ter um trabalho para você se o rei
não mudar suas políticas. O meu departamento é inútil sem
lutadores. Os lutadores das competições estão indo muito bem e em
breve estarão acasalados a soldados adequados. Uma vez que sejam
treinados, eles se tornarão parceiros e assassinos perfeitos em uma
batalha".
"Então, você os coloca nas competições para treiná-los para
serem soldados?" Agora eles estavam descobrindo a razão pela qual
as competições tinham sido criadas.
"Sim. Alguns deles são teimosos e acham que eles vão poder
escolher seus companheiros." Holland riu. "Por que os deixaríamos
escolher suas almas gêmeas ou o que quer que fosse, quando
podemos os ter em combate por séculos? Infelizmente alguns deles
se mostraram fracos e morreram no processo. Uma pena." O
almirante realmente parecia chateado com a perspectiva –
provavelmente porque ele não teria esses anos de batalha dos
Thresls que ele tanto queria.
"Eu não quero que o meu morra, ele será um guarda de
segurança para minha nave. Ele não me será de nenhuma valia
morto."
"O que você pode me oferecer para usar nosso treinamento? Já
que você é um civil, você pode pegar seu Thresl e depois tirar
vantagem do nosso treinamento."
Mars assentiu. "É verdade, mas como você disse, eu tenho
acesso a Thresls que você não pode conseguir através de suas
conexões militares. Eu tenho certeza que podemos ajudar um ao
outro."
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Holland permaneceu firme mesmo com a expressão de
camaradagem de Mars. "Normalmente eu nunca lido com escória
como você, mas pela primeira vez, temos objetivos comuns. É um
acordo."
Mars mordeu o interior de sua bochecha para segurar as
palavras ácidas que queimavam para sair. Se um deles era a escória,
era esse idiota hipócrita diante dele.
"Calma, amor."
Mars fechou os dedos para esconder as garras que deslizaram
para fora da ponta de seus dedos. Seu Thresl interior rosnou para o
almirante. Antes de Saint, Mars nem sabia que ele tinha um gato
escondido dentro dele. Ele esperava que isso não progredisse dos
rosnados para querer sair e brincar. Mars não tinha nenhum desejo
de se transformar em uma fera peluda.
"Poderia ser divertido. Eu perseguiria a sua cauda e você
perseguiria a minha."
Mars nem se preocupou em dizer a Saint para ficar fora de sua
mente. Ele agora sabia melhor das coisas. Saint considerava o
cérebro de Mars propriedade pública, um parquinho que ele podia
visitar sempre que quisesse. Em vez disso, ele cutucou Saint com a
perna para que ele soubesse que ele tinha ouvido. Não havia jeito
que ele pudesse subjugar o homem irreprimível, e Mars não sabia se
ele ainda queria tentar.
"Por que não vemos como sua besta se saí em treinamento? Se
ele se destacar como eu desconfio que ele irá, nós o usaremos como
modelo do trabalho que podemos fazer. Talvez o rei rescindirá sua
restrição se ele ver nosso programa. Ou com você trazendo Thresls
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suficientes, nós podemos treiná-los e podemos reunir muitos deles
para lutar sem a permissão do rei."
"Excelente. Eu ficarei feliz em ajudar de qualquer jeito que eu
possa." Vohne não aprovaria o programa de treinamento do
almirante nem fodendo. Se Kres não esfaqueasse o homem durante
seu encontro seria um milagre imenso. Mars manteve seu parecer
para si mesmo. Se Holland pensava que podia preparar um exército
de combatentes Thresls e humanos acasalados sem o rei saber, o
pobre homem estava delirando.
Holland abriu a porta de seu escritório. Como prometido,
Mathews estava ali fora. "Consiga um quarto e comida para os dois.”
Ele se virou para Mars. "Você vai começar o treinamento amanhã.
Eu vou elaborar o contrato delineando nosso acordo".
"Excelente."
"Mathews será o seu guia enquanto você estiver aqui. O leve
para o refeitório para comer antes de qualquer coisa. Você vai querer
se familiarizar com o local antes do treinamento amanhã. Você
poderá ficar aqui por alguns meses antes que seu Thresl esteja
totalmente preparado. Como eu disse antes, não finalize o
acasalamento ou ele vai se tornar humano e inútil para você. Quando
eles se transformam em seres humanos, eles começam a pensar que
têm direitos e essas merdas."
A expressão do almirante revelou o que ele pensava sobre
Thresls tendo opiniões. Se Mars tivesse qualquer tipo de impressão
positiva sobre o almirante antes, o que não era o caso, elas estavam
agora oficialmente mortas.
"Entendido. Obrigado, senhor." Mars não o saudou ou fez
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qualquer coisa mais do que um aceno distraído antes de sair. Saint o
acompanhou de perto, em seus calcanhares. Qualquer palavra que
saísse dos lábios de Mars naquele momento resultaria no almirante
expulsando-os da estação. Ele teve que concentrar toda sua atenção
para manter o controle, para não explodir com toda a raiva que
queimava dentro dele.
"Que cuzão."
"Sim. Precisamos ficar de olho nele."
Enquanto caminhavam pelos corredores lotados, era melhor
falar silenciosamente entre si. Se Mars fosse pego em suas mentiras,
eles poderiam executá-lo antes que ele pudesse pedir ajuda a Vohne.
De acordo com todo o conhecimento Thresl, ele não deveria ser
capaz de se comunicar telepaticamente com Saint até que estivessem
acasalados. Se eles suspeitassem que eles podiam se comunicar
agora, eles poderiam executá-los e interrogá-los depois. Os militares
não eram conhecidos por sua tolerância a mentiras, a não ser que
eles fossem os únicos a dizê-las.
Os humanos estavam se preparando para a guerra, e se
Holland pensou que Mars não notaria, então ele realmente o
subestimara. É claro que as pessoas, muitas vezes, pensavam que
Mars era um idiota, por causa de sua aparência. As pessoas
tolamente pensavam que por ele ser bonito, ele era estúpido.
Mathews virou à esquerda e os levou para baixo pelo corredor
antes de parar. "Você gostaria de comer primeiro? Quero dizer, eu
sei que o almirante disse para você conseguir um pouco de comida
antes, mas eu pensei que eu deveria perguntar."
"Sim, eu gostaria de comer primeiro." Mars deveria ter gasto
seu tempo bombardeando Mathews de perguntas para obter
69
informações, em vez de ficar conversando com Saint. "Há quanto
tempo você está na estação?"
"Hum, uns dois meses. Eu só me alistei um ano atrás. Terminei
o treinamento básico, então eles me mandaram para cá. Eu achei
que eles estavam planejando me acasalar com um Thresl." Excitação
exalou na voz do soldado. "Eu não sabia que eles só os acasalavam
com os oficiais. Quer dizer, eu sei que o rei se acasalou com um cara
normal como eu. Não que eu pensei que eu me acasalaria com um
rei, mas sabe, eu gostaria de me vincular com um deles."
"Por quê?"
Saint rosnou.
"Quê? Foi uma pergunta racional."
Mathews sorriu. "Seu Thresl é mais consciente do que a
maioria dos que eu já vi. A gente pode até pensar que ele sabe o que
está acontecendo. Eu me sinto meio mal por alguns dos animais.
Eles estão completamente agindo por instinto, por isso, quando são
colocadas na competição, eles lutam pela sobrevivência ou contra as
drogas".
A cada momento parecia que Red Claw estava mais certo, eles
eram exatamente como outros círculos de lutas que haviam visitado
durante todos esses anos. Holland podia pensar que ele tinha um
apelo maior para essa competição, mas tudo se resumia com os
impotentes Thresls se opondo entre si.
"O almirante disse que era para treiná-los para serem
melhores lutadores", Mars cutucou.
"Eu acho que sim. Quero dizer o almirante diz que estão
treinando, mas é mais como uma arena de luta. Se sobreviverem,
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eles são os vencedores. Não que todos eles morram, mas quando eles
morrem é muito brutal. Os caras me provocam. Eles dizem que eu
sou muito mole. Eu não acho que o Almirante Holland tem os
interesses dos Thresls em seu coração."
"Isso é uma acusação enorme." Mars balançou a cabeça como
se ele não pudesse imaginar tal coisa.
Mathews empalideceu. "Por favor, não diga nada ao almirante.
Eu gosto daqui. Eu gosto. Meu único desejo é me acasalar com um
Thresl e não para que ele tenha que lutar. Eu sempre achei que eu
teria um bom companheiro."
O sorriso tímido de Mathews lembrou Mars de Daniel. Um
jovem com muitos sonhos e precisando de alguém para cuidar. Se
eles conseguissem sair dessa vivos, Mars garantiria que Mathews
tivesse uma chance no centro de testes.
"Ele foi feito para ser um companheiro de Thresl".
Mars acenou, concordando com a avaliação do Saint. Seus
amigos podiam achar o soldado muito mole, mas Mars considerava
compaixão um atributo positivo na triagem para companheiros para
Thresls. Não que alguém tivesse perguntado a ele.
"Eu não acho que é moleza não querer um Thresl inocente ser
morto. Eu acho que isso diz muito sobre você."
Mathews se empertigou um pouco. "Você acha mesmo?"
Mars deu um tapinha nas costas dele. "Eu acho, e eu prometo
não contar ao almirante nada sobre essa conversa."
Eles se dirigiram para uma porta que era marcada pelo cheiro
de comida, se não por qualquer outro sinal exterior. Nenhuma placa
estava postada acima do arco, mas o aroma de carne cozida enchia o
71
salão.
"A comida está bem aqui. Sirvam-se a vontade. É tudo de
graça. Faz parte dos serviços das forças armadas."
"Eu não sou do serviço militar."
Mathews deu de ombros. "Você é um convidado."
Mars espiou e teve que admitir que ficou um pouco
impressionado com o tamanho do refeitório. A área se estendia até
onde ele podia ver com mesas que revestiam a sala inteira para
atender as centenas de soldados de um modo eficiente.
"Pegue um pouco de comida, e eu o encontrarei aqui por volta
de trinta minutos. Eu vou conseguir um quarto para você.”
"Eu gosto dele. Ele é honesto por fora e por dentro", Saint
comentou.
"Bom. Eu odiaria o colocar com um Thresl apenas para
encontrá-los nas competições depois."
Mars esperava que toda a situação com Mathews não tivesse
sido uma encenação, mas ao contrário de Saint, ele tinha que ir pelo
o que ele ouvia e não pelo o que os caras pudessem estar pensando.
Ele conseguia imaginar como a leitura de mentes viria a calhar
quando estivesse esmiuçando para espionar.
"O almirante não sabe nada sobre os contrabandistas de
Thresl. Ele estava muito ansioso para usá-lo como um informante."
"Merda."
Tinha chegado a outro beco sem saída. Se os militares
realmente não tinham nada a ver com o contrabando, eles
precisavam voltar para Nillre e caçar o parente do duque. Hell
achava que seu primo Svin poderia estar envolvido, mas ele estava
fora lidando com uma questão dos agricultores que queriam mais
72
direitos sobre a água em suas propriedades e não tivera a chance de
dar seguimento. Os deveres de Hell como duque e espião estavam, às
vezes, em desacordo. Pelo menos ele tinha enviado a Mars as
informações sobre o primo dele, antes de sair da cidade.
Mars pegou uma bandeja e seguiu o soldado na frente dele.
Aceitou duas tigelas de ensopado e um pedaço de pão. Ele não sabia
que tipo de carne que poderia ser.
"Eu não vou comer fora de uma tigela."
"Você vai comer, você precisa, para mantermos nosso
disfarce."
De jeito nenhum Mars iria comprometer toda sua operação
porque seu companheiro era muito fresco. Dirigiu-se para a mesa
mais próxima. Um grupo de soldados se sentava ali, mas um espaço
no final da mesa, tinha espaço suficiente para Mars e um lugar no
chão para Saint.
"Vocês se importam se nós comermos aqui?" Mars perguntou
para o soldado mais próximo.
O soldado olhou para cima. Vendo Mars e Saint, seus olhos se
arregalaram.
"Oh, com certeza. Você é novo aqui? É melhor colocar seu
uniforme bem rápido, antes que o almirante lhe veja andando por aí
como um civil. Ele odeia isso."
Mars sentou ao lado do soldado. Saint rosnou antes de se
deitar no chão.
"Desculpe, eu não tenho uma almofada para você, princesa."
Mars sorriu para o irritado resfolegar de Saint.
"Nós estamos apenas de visita para conseguirmos treinamento.
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Holland está nos ajudando com algumas coisas." Ele soltou a última
informação como se estivessem envolvidos em alguma missão
misteriosa, mas os soldados não morderam a isca.
Outro soldado, um cara magro com sardas e grandes olhos
castanhos, olhou para cima e quase se engasgou com a comida.
"Uau, esse é seu Thresl? Ele é maciço. Aposto que o almirante se
empolgou quando viu o seu cara. Ele seria um grande lutador."
Mars tentou esconder seu desprezo se fazendo de bobo. "É por
isso que estamos aqui. Para aprender a lutar."
"Não, isso não. Não combatendo os inimigos". O garoto magro
aproximou-se mais como se fosse passar informações secretas. "O
Almirante Holland dirige uma competição de lutas. Aposto que ele
vai querer o seu Thresl participando. Ele venceria todos. Ele é
enorme. Eu apostaria nele."
Cerrando os punhos sob a mesa, Mars resistiu à vontade de
estrangular o idiota. Quem colocava esse tipo de gente encarregado
para cuidar dos Thresls, precisava ser liberado no espaço profundo,
sem um traje espacial.
"Eu falei com o almirante sobre diferentes opções." Mars
tentou parecer indiferente, enquanto internamente ele se debatia em
socar ou não o soldado. "Eu só preciso de algumas dicas de combate.
Eu não vou colocá-lo numa competição. Ele poderia se machucar. Eu
preciso dele para minha segurança pessoal."
O primeiro soldado falou e deu-lhe um sorriso pesaroso.
"Vamos apenas dizer que isso nem sempre é uma questão de
escolha."
"Obrigado pelo aviso." Mars pensou que eles morderam bem a
isca. Se o almirante pensasse que Mars estava resistente para deixar
74
Saint lutar, ele poderia mandá-los até onde ele escondia os outros
Thresls. Se eles iam resgatar os lutadores, eles precisavam saber
onde o almirante os mantinha.
"De nada".
O cara magro saiu sem dar a Mars o seu nome. Saint pulou na
recém-desocupada cadeira. Mars deslizou uma tigela de guisado
para ele.
"Hey, Thresl não são permitidos nas mesas, a não ser que eles
estejam em sua forma humana." O soldado ao lado de Saint
declarou.
Saint rosnou.
"Bem, você pode explicar isso para ele. Eu vou comer a minha
comida." Mars ignorou o soldado irritante. Depois de um momento,
o homem pegou sua bandeja e saiu fora.
"Acho que ele mudou de ideia sobre sua objeção," Mars
declarou ao soldado sentado ao seu lado.
"Eu sou Tim."
"Mars".
Eles estavam muito perto para apertar as mãos, assim
assentiram com a cabeça.
A fungada desdenhosa de Saint quase fez Mars engasgar com
seu guisado.
"Eu espero que você consiga manter seu Thresl. Há algumas
coisas bem ruins acontecendo aqui embaixo desde que o rei nos
isolou." Tim verificou ao redor, mas os outros soldados estavam
concentrados em sua comida e conversando entre si. Depois de
afirmar que seus Thresls não lutariam mais nas competições, o Rei
tornou um grande negócio menos interessante para os outros.
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"Que tipo de coisas ruins?"
"Um amigo meu era acasalado com um Thresl. O Thresl fora
um grande competidor nas lutas, mas quando ele conheceu Jellan,
ele perdeu, completamente, sua agressividade. O almirante se
assustou quando descobriu que eles tinham acasalado. O Thresl
virou humano e Holland os expulsou do serviço militar por
insubordinação".
"Não me diga?" Mars tentou parecer surpreso. Holland lhe
pareceu o tipo que fazia tudo o que quisesse e tinha amigos com
cargos elevados para cobrir sua bunda. "Por quê?"
Tim deu de ombros. "Eu acho que uma vez que o almirante não
estava ganhando dinheiro com ele na competição, ele não os queria
por perto."
"Como é que o almirante ganha dinheiro?"
"Com o valor das entradas e ele recebe uma percentagem de
todas as apostas."
"Huh."
"Eu não conheço ninguém acasalado que quer deixar seu
Thresl lutar, mas eu conheço vários que retornaram para Nillre para
evitar o almirante. Você pode querer ficar de olho em seu amigo ali."
"Eu vou fazer isso, obrigado. Por que você me advertiu?" Mars
não estava entendendo esta precipitação de jovens que sentiam a
necessidade de contar a Mars todos os segredos que eles tinham.
Tim empalideceu. "Eu... eu realmente não sei. Acabei de
conhecer você e eu simplesmente tive que alertá-lo." Tim, então,
pegou sua bandeja. "Eu tenho que ir. Boa sorte."
Sem outra palavra, Tim foi embora apressadamente.
"Você fez isso?"
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Saint lambeu uma gota de molho de seus pelos. “Eles são tão
fáceis aqui. É como colher os frutos que estão mais baixos nas
árvores."
"Você o fez me contar!"
"Bem, não foi sua boa aparência, apesar dele estar
imaginando você nu na cama dele."
"Ele estava?" Mars não tivera uma vibração de interesse do
jovem soldado. Talvez ele estivesse perdendo o jeito.
"Eu não acho que você teria gostado. Havia uma grande
quantidade de cordas envolvidas, e você não parecia muito
confortável."
Ele definitivamente não tinha uma vibração pervertida.
Os olhos de Saint brilharam na penumbra.
Mars jogou o guardanapo no Thresl. "Idiota. Pare de fazer
brincadeiras de merda e se concentre."
"O que faz você pensar que eu estou brincando?"
"Porque, se aquele garoto estivesse pensando qualquer coisa
bizarra, você teria rasgado a garganta dele."
O silêncio de Saint disse mais do que um milhão de palavras.
Pelo menos agora eles sabiam quem dirigia as competições.
Mars se perguntava se o almirante era a única pessoa responsável ou
se havia alguém mais acima no comando. Pelo que os soldados
estavam dizendo, Holland comandava tudo, mas eram somente
soldados rasos e raramente sabiam de tudo.
"Por que o Almirante Holland está fazendo isso, pondo sua
carreira em risco?"
Os militares como Holland viviam por suas carreiras. Não fazia
sentido jogar tudo para o alto apenas por alguns dólares.
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"Eu não acho que é o dinheiro. Um cara como ele é tudo sobre
poder."
Mars pensou sobre aquilo por um momento e teve que
concordar que era o cenário mais provável. Holland queria construir
um exército de parceiros de batalha de Thresl e humanos, mas Mars
ainda duvidava que ele estivesse fazendo tudo por si mesmo.
"Nós vamos investigar mais amanhã," Saint prometeu.
"Combinado".
Eles terminaram a refeição em relativa paz. Mais do que alguns
olhares foram dirigidos para eles, mas ninguém chegou perto para
dizer que Saint tinha que sentar em outro lugar.
Depois que eles terminaram e Mars levou embora sua bandeja
de pratos, Mathews retornou. Mars teve que admirar a pontualidade
do soldado.
"Eu encontrei um quarto para você. Não é enorme, mas está
disponível."
"Nós não queremos um tratamento digno de reis. Nós só
queremos um lugar para dormir". Os acontecimentos do dia haviam
cobrado um preço para Mars. Ele só queria uma grande cama e a
companhia de seu companheiro.
"Uau".
"Cale-se."
"Aqui está!" Mathews parou diante de outra porta sem
identificação apenas diferente das outras portas deslizantes pelo
número na frente. Mars memorizou o número para que ele soubesse
para onde voltar mais tarde. "Eu adicionei algumas roupas e alguns
produtos de higiene pessoal, quando eu notei que você não tem
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nenhuma bagagem.”
"Obrigado." Eles não precisariam de nada disso porque eles
pensaram que desceriam e libertariam os Thresls. Eles não
contavam com uma estadia prolongada.
Mathews assentiu então se virou e foi embora.
Mars entrou primeiro. Saint rosnou para a ação.
"Oh, por favor. Se alguém estivesse aqui dentro, você teria
sabido no final do corredor".
Ele podia não saber a extensão dos poderes de Saint, mas Mars
tinha certeza que a declaração estava correta.
Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, Saint se
transformou e embalou Mars em seus braços. "Eu acho que é hora
de reivindicar o meu companheiro adequadamente."
"É porque o almirante disse para não nos acasalarmos, não é?"
"Em parte. Eu odiaria fazer qualquer coisa que ele aprova."
Saint escancarou a camisa de Mars. Os botões estalaram como
pequenas explosões de sua camisa e dispersaram para todos os
lugares.
"Eu tinha planejado vestir essa camisa novamente mais tarde."
"Planos mudam." A expressão presunçosa de Saint fez Mars
rir.
Ele não conseguia ficar com raiva de seu companheiro, não
quando Saint estava se divertindo. "Nós precisamos conversar."
"Será que isso tem a ver com quem será o topo? Bem,
jogaremos você para o alto. Se você pousar de barriga para baixo,
você é meu. Se você cair de cabeça, poderemos fazer o que você
79
quiser, pois você estará machucado."
Mars balançou a cabeça, com os disparates de Saint. "Não.
Você pode ser o topo. Eu acho que você está certo. É hora de você me
reivindicar. Precisamos cobrir todas as arestas. Eu não sei se vamos
adicionar algo mais em nossa conexão através do acasalamento, mas
nós não podemos correr esse risco. Se eles nos separar amanhã,
precisamos estar completamente conectados."
Saint beijou Mars, embaralhando seus pensamentos e fazendo-
o perder o controle da conversa. Quando Saint finalmente o deixou
sem ar, Mars ainda não conseguiu recuperar a respiração durante
vários minutos.
"Eu posso encontrá-lo em toda a galáxia. A única vantagem
que teremos, será que meu gato ficará satisfeito que você,
finalmente, nos pertencerá." Saint empurrou Mars.

80
Capítulo 3

Saint sorriu quando Mars tropeçou em seus próprios pés e caiu


desajeitadamente na cama.
"Você devia avisar um cara antes de você fazer coisas assim."
Saint sorriu. "Você é adorável."
Mars rosnou. "Eu não sou adorável, porra nenhuma. Eu sou
um grande, mau capitão de uma nave estelar, como você bem sabe."
"E adorável."
Saint não conseguiu se segurar mais, ele atacou.
"Ai!"
"Te peguei!" Saint sorriu para Mars.
"Sim, você me pegou. A questão é, o que você vai fazer comigo
agora?"
"Foder você?" Saint tinha muitos planos sobre o que ele queria
fazer com o seu disposto companheiro. Algumas dessas coisas
incluíam até mesmo estarem vestidos. Não exatamente agora, mas
eventualmente.
"Você tem uma mente com sentido único."
"É um sentido excelente, por que devo mudar isso?"
Saint abaixou o zíper de Mars. Ele já tinha eliminado a camisa
de forma traquina espalhando os botões pelo quarto. Libertando a
81 ereção de Mars, ele sorriu para o seu achado.
"O que você vai fazer agora?" Mars perguntou, sua voz
mergulhando em um tom sedutor.
"Mmm, o que eu quiser." Ele lambeu o líquido claro na ponta
do pau de Mars. O sabor deslizou por suas papilas gustativas. Saint
estremeceu com o delicioso néctar. Ávido por mais, ele engoliu Mars
até a base.
"Oh, porra," Mars gemeu. Ele afundou os dedos no grosso
cabelo de Saint, segurando-o num agarre apertado. Saint poderia
ficar sem algumas mechas de cabelos depois desse boquete, mas
valeria a pena. Ele finalmente estava voltando para casa.
Ele parou assim que ele percebeu que Mars estava perto de
perder o controle.
"Não!" Mars gritou tentando agarrar Saint.
"Shh, eu não terminei. Eu só quero que você goze quando eu
estiver dentro de você."
"Eu não me importaria de gozar primeiro" Mars pôs seu lábio
inferior para fora num beicinho surpreendentemente sexy.
"Sem ficar de mau humor, meu companheiro. Eu vou fazer isso
valer a sua espera. Eu suponho que você não trouxe lubrificante?"
Mars bufou. "Por incrível que pareça, eu não estava pensando
em lubrificante."
Saint abriu a pequena gaveta da mesinha ao lado e não
encontrou nada. "Deixe-me verificar o banheiro."
Mars suspirou. "Tudo bem, mas apresse-se."
"Paciência, meu companheiro," Saint admoestou.
No banheiro tinha óleo de banho. Um item meio estranho para
uma base militar, mas Saint não iria questionar a sua sorte. Ele o
82
trouxe de volta para o quarto, agitando-o triunfantemente.
"Bom trabalho. Quer que eu me prepare?"
"Não." Saint não entregou a garrafa na mão estendida de Mars.
"É meu privilégio."
"Mas quando foi minha vez, você se preparou."
Saint deu de ombros. "Eu estive preso por séculos. Eu não
conseguiria lidar com você me preparando. Teria gozado antes de
começarmos. Agora, pare de choramingar e role."
Mars rosnou antes de passar para a posição. "Você pode querer
aprimorar sua conversa de travesseiro".
"Eu vou fazer você gritar no travesseiro, então podemos
discutir as minhas habilidades no quarto depois."
Mars riu. "Por favor, fique à vontade para me mostrar esse
talento incrível que você tem."
Saint abriu o óleo e derramou sobre a mão. Com muito
cuidado, ele deslizou um dedo em seu companheiro, deslizando-o
para dentro e para fora até Mars começar a praguejar.
"Algum problema?"
"Você realmente não pode soar tão inocente. Foda-me!"
"Huh. Eu pensei que eu estivesse fazendo isso."
"Você não está. Chega de dedos. Quero mais pau!"
Saint sufocou uma risada. Seu companheiro impaciente era
mais divertido do que ele esperava. A primeira encarnação de Mars
não tinha muito senso de humor. Ele preferia esta versão. Se os
dedos de Mars se curvassem um pouco mais na cabeceira da cama e
com mais força, Saint achava que a madeira se racharia.
"Agora!"
83
"Companheiro Mandão." Saint espalhou óleo sobre seu pênis
numa camada grossa. Ele não iria machucar seu companheiro de
jeito nenhum, mesmo que Mars exigisse. Saint lentamente se
masturbou um pouquinho para provocar seu companheiro.
"Eu estou esperando," Mars estalou.
"Oh, você quer alguma coisa?"
Saint agarrou os quadris de Mars e antes que seu companheiro
sarcástico viesse com mais alguma coisa, ele o cortou. Alinhando a
ponta de seu pênis, ele pressionou lentamente dentro do buraco de
Mars. "Você é apertado."
"Eu lhe disse que já fazia um tempo."
Uma imagem de Zander fodendo Mars passou pela cabeça de
Mars.
Saint rosnou. "Eu avisei sobre isso."
"Ei, eu não posso controlar meus pensamentos. Você
perguntou."
Saint empurrou mais fundo tomando cuidado, mas
determinado a reivindicar seu companheiro. Ele gostara de Zander
quando eles se conheceram. Ele odiaria ter que matar o político
apenas para ser o primeiro amor de Mars.
"Eu vou apagar todos os outros homens de sua mente."
"Boa sorte." A mente de Mars passou cuidadosamente para
branco total.
Rosnando, Saint definiu um ritmo lento de provocação. Ele
lutou contra seu gato interno que queria uma foda dura como
punição até seu companheiro saber a quem ele pertencia. Sua
metade humana insistiu que ele iria ganhar Mars de forma mais fácil
84
através de uma corte lenta e cuidadosa. Sua forte metade Thresl
exigia uma completa dominação. Relacionamentos entre dois alfas
eram um cuidadoso equilíbrio, sem Saint ter que lutar uma guerra
dentro de si mesmo.
Impaciente, Mars empurrou. Saint deu um tapa em sua bunda.
"Eu estou no comando."
"Então, faça alguma coisa. Eu não sou de vidro. Foda-me."
"Parte de estar no comando é eu que defino o ritmo, não você."
Mars apertou ao redor dele. Saint deu um tapa na bunda de
novo.
"Pare com isso!" Mars reclamou.
"Então pare de tentar controlar. Você poderá ficar no comando
da próxima vez. Desta vez, você é meu." Saint poderia ter congelado
a capacidade de se mover de Mars, mas submeter seu companheiro a
isso o teria assustado, não o excitado.
Mars plantou seu rosto no travesseiro. "Tudo bem." Saint mal
pôde ouvir o que Mars disse.
Uma pressão suave dos lábios de Saint na nuca de Mars, fez
Mars levantar a cabeça para beijá-lo na boca. "Você pode se virar?"
Mars assentiu.
Saint retirou seu pau da bunda de Mars, para deixá-lo se virar.
Ele deslizou um travesseiro sob a bunda de seu companheiro antes
de empurrar para dentro de novo. "Melhor assim. Eu queria ficar
olhando para seus olhos."
"Por quê?"
"Porque seus olhos são os mais expressivos que eu já vi."
Como Mars mantinha sua reputação de um capitão de nave
85
espacial durão com seu olhar inocente desconcertou Mars.
A expressão confusa de Mars fez Saint mergulhar para outro
beijo. Seus lábios se encontraram, fechados, para em seguida,
abrirem o suficiente para suas línguas se entrelaçam. Mars abriu sua
mente para Saint até que ele pudesse arrancar os pensamentos de
Mars como flores num campo. Ele nunca conheceu ninguém que se
abrira assim para ele de forma tão completa.
Um desejo profundo se derramou de Mars para Saint como um
rio sem barragem. Afundando sob as ondas de tesão de Mars, Saint
mergulhou na enchente. Seus corpos se tornaram um só, em
sincronia, eles se moviam em um único e contínuo movimento, duas
partes que se tornaram um todo maior que se uniam em uma
conexão comum. Seus orgasmos vieram, não com gritos, mas com
suaves suspiros de prazer.
Felicidade explodiu de Saint como uma supernova, sua alma se
entrelaçou com a de seu companheiro por toda a eternidade. Para
sempre eles seriam destinados. Os incisivos de Saint saíram. Sem
pensar, ele entregou-se a sua metade Thresl e afundou os dentes no
ombro de Mars. Rosnando, ele chupou um pouco do sangue de Mars
para seu corpo. Quando seu instinto de reivindicação desapareceu,
ele retirou os incisivos e lambeu a ferida.
"Nós agora estamos acasalados", ele sussurrou.
Os olhos dourados de Mars estavam arregalados em choque e
admiração. Saint deslizou para fora de seu companheiro, mas
continuou segurando-o próximo. Eles estavam uma bagunça. Sêmen
revestia o peito de Mars e escorria de seu ânus, mas Saint nunca vira
ninguém mais bonito em sua vida.
"Pela primeira vez, eu me sinto como se eu fosse
86
verdadeiramente seu." A voz baixa de Mars envolveu Saint como um
manto de conforto.
"Você sempre foi meu. Você só esqueceu por um tempo." Saint
descansou sua cabeça no peito de Mars. "Tire uma soneca. Amanhã
nos preocuparemos com as lutas."
Mars acordou primeiro. Outra suave batida na porta o fez
perceber por que ele não acordou da primeira vez.
"É Mathews. Eu o fiz ir embora por mais dez minutos," Saint
rosnou.
O fato que seu companheiro podia controlar alguém para dar-
lhes mais um pouco de tempo, provavelmente, devia preocupar
Mars. Em vez disso, ele achou aquilo meio sexy. Mars nunca pensou
que ele iria gostar de um alfa como companheiro. Obviamente, ele
não conhecia a si mesmo tanto como ele havia pensado.
"Companheiro, precisamos nos levantar."
"Por quê?" Mars acariciou a cabeça de Saint, saboreando os
fios macios deslizar através dos dedos. "Volte a dormir."
Ele podia ficar lá por horas. Por que a pressa?
"Mathews voltará."
"Mas não em pelo menos dez minutos." Mars beijou Saint no
nariz. "Entretanto, o que iremos fazer com todo esse tempo?"
"Banho." Saint ficou de pé e, em seguida, puxou Mars para fora
da cama depois dele. "Estamos com crostas."
"Ótimo. Mas eu vou esfregá-lo primeiro."
"Eu só o mandei embora por dez minutos".
Mars gemeu, imediatamente começaram a planejar tudo o que
eles poderiam fazer nesse curto prazo.
87
Eles terminaram seu banho com apenas alguns minutos de
sobra. Saint mal havia se transformado em seu Thresl quando
Mathews retornou.
Mars abriu a porta na primeira batida. "Prazer em vê-lo
novamente."
Mathews não tinha a expressão animada do dia anterior.
"Sinto muito, senhor, ele me obrigou."
Mars não teve nenhuma chance para responder antes que
outro soldado aparecesse de um canto e atirasse um dardo em Mars.
"Porra."
O mundo ficou embaçado, e então, tudo ficou escuro.

Mars acordou. Demorou alguns minutos para ele perceber que


sua cabeça estava meio grogue e não era com os efeitos posteriores
de suas enxaquecas, mas resquícios de uma droga. Seus olhos não
conseguiram se focar por vários minutos, mas, finalmente, ele pôde
observar o espaço ao seu redor. Seu mundo consistia de uma grande
cela com uma cama estreita confortável. Uma mesa num canto tinha
um prato de comida que cheirava estranhamente tentador.
Movendo-se com movimentos lentos e cuidadosos, Mars se
sentou.
"Ei, cara."
88 Mars virou a cabeça para a voz. O resto dele não estava pronto
para se mover.
"Eu sou Balt."
"Mars".
"Eu ouvi os guardas dizendo que seu companheiro iria os fazer
ganhar um monte de dinheiro." Os cabelos loiros de Balt estavam
sujos há muito tempo, e seus olhos tinham um olhar cauteloso, como
um cão que havia apanhado por tanto tempo, que ele só estava
esperando o próximo chute.
Ocupado examinando o estranho, levou um tempo para as
palavras de Balt fazerem sentido para Mars. "Eles são uns idiotas.
Saint irá chutar suas bundas".
"Quem é Saint?"
"Meu Thresl."
"Oh. Bem, se ele é tão durão como você diz, ele vai ficar bem.
Eles sempre pegam leve nas primeiras vezes."
"O que você está fazendo aqui?" Mars não tinha que perguntar
o que ele estava fazendo ali. Os soldados estavam, sem dúvida,
colocando Saint numa luta enquanto eles conversavam.
"Minha Thresl é uma das lutadoras. Eles me mantêm aqui e
mais um casal de outros dois caras como um tipo de seguro. Quando
os nossos Thresls ganharem muitas lutas, eles dizem que vão nos
soltar, desde que nós lutemos por sua causa, ou alguma outra merda
desse tipo. Todo mundo sabe que eles nunca nos deixarão sair,
exceto num caixão. Os dois últimos, que perderam seus
companheiros, ficaram loucos. Eles atiraram neles como se eles
fossem cães selvagens."
"Merda!" Era pior do que Mars e Saint pensavam. Eles tinham
89
acreditado que eram somente Thresl não acasalados. Fazer Thresl
acasalados lutarem, mesmo que não fossem completamente
vinculados, era desumano. "Você sabe onde eles estão pegando os
Thresls?"
Balt balançou a cabeça. "Não, cara. As arenas de competição já
estavam aqui quando eu cheguei. Eu fui contratado para fazer alguns
serviços elétricos. Eu conheci Sage e eu simplesmente não podia
deixá-la aqui. Quero dizer, ela é minha companheira, cara."
"Há quanto tempo você está aqui?"
Balt parecia estar pensando por um momento, mas então Mars
percebeu que ele estava contando. Pequenas marcas estavam
esculpidas na parede ao lado dele. "Trinta ciclos".
"Eles permitem que você a veja?"
"Sim, antes de cada luta. Ela não entraria se eles não me
mostrarem para ela primeiro." Orgulho estava infundido em sua voz.
"Eles tentaram uma vez e ela mutilou seu encarregado."
"Alguma ideia de onde eles lutam?"
"Ouvi dizer que era no porão de carga norte. Há um monte de
caixas lá, então eles podem escondê-los de quaisquer superiores que
apareçam para uma inspeção."
"Você pode me fazer chegar lá?"
"Claro. Quero dizer, se eu estivesse fora daqui." Balt olhou ao
redor de sua cela. "Eu não vejo isso acontecendo, no entanto."
"Companheiro!" A voz de Saint perfurou o crânio de Mars.
Ele agarrou sua cabeça. "Eu o ouvi. Não grite. Onde você
está?"
"Nas arenas de competição."
90
Droga. Ele não queria distrair Saint, enquanto ele lutava. "Você
está bem?"
O desdém de Saint transmitido através de sua ligação tinha o
mesmo sarcasmo que em pessoa. "Eles só me fizeram lutar contra
dois. Eu mal tive que me esforçar para isso. Eu os teria chocado
agora, mas eu necessitava encontrá-lo primeiro."
"Fique aí, eu vou até você."
"Te vejo em breve."
Mars sorriu quando Saint cortou a comunicação sem pedir
mais detalhes. Aquilo o emocionou, que Saint tivesse total confiança
em Mars.
"Você está bem, cara?"
"Sim, eu estava conversando com Saint." Não havia razão para
esconder essas cosias agora. Eles terem se infiltrado tinha
funcionado bem, eles tinham descoberto o que eles precisavam.
Vohne poderia lidar com as coisas dali em diante.
"Uau, é uma poderosa conexão. Eu não posso falar com Sage
telepaticamente, a menos que ela esteja no mesmo cômodo, mesmo
assim somente algumas palavras."
"Onde estão os outros companheiros?" Mars não iria discutir
os detalhes de seu relacionamento com Saint.
"Do outro lado do corredor. Você pode ouvi-los gritar às vezes.
Eles estão muito bem amarrados."
Mars não riu do desgosto na voz de Balt, mas se esforçou
muito para isso. Mars bateu o pé no chão e abriu o calcanhar da sua
bota do pé direito. Sorrindo, ele tirou um abre fechaduras do
compartimento oco.
91
"Cara, você é um espião ou algo assim?"
"Não, apenas um homem que gosta de estar preparado. Você
nunca sabe quando alguém pode querer acorrentar você numa
parede."
"Bizarro".
Lembrando-se da cela que ele escapou da última vez, Mars
decidiu não compartilhar sua história de ex-amantes, ratos e um
quase estupro. Ele ficara livre e matado seu captor, mas ficara bem
perto de ficar ali para sempre. Sua outra bota tinha uma pequena
arma. Ele nunca deixava a nave sem estar preparado para o pior. Sua
captura havia ocorrido durante uma parada normal para
reabastecimento. Mars considerou a lição bem aprendida.
Abrindo novamente o salto da bota, ele rapidamente pegou o
abre fechaduras e moveu-se para abrir a cela de Balt.
"Para onde estamos indo?"
"Resgatar nossos companheiros."
"Demais, cara."
Mars franziu a testa para Balt, mas decidiu que não valia a
pena uma discussão. Ele não tinha tempo para tentar decifrar a
língua estranha de Balt. Eles facilmente localizaram os dois outros
homens do outro lado da prisão. "Eu sou Mars. Será que vocês dois
gostariam de resgatar seus companheiros?"
"Primeiro, liberte nossas bundas, depois veremos”, um homem
de cabelos escuros com um rosto magro declarou.
Mars deu de ombros. "Talvez, mas vou libertar meu
companheiro. Vocês podem vir comigo ou sentar-se aqui, enquanto
92
eu vou libertar todos."
"Eu vou." Um homem loiro com músculos salientes surgiu das
sombras da cela. "Eu quero o meu Thresl de volta."
"Bom. O meu está lutando agora. Vamos chegar lá antes que
ele mate todo mundo."
Agora que Mars tinha os meio humanos resgatados e Saint
lutava com os Thresls, eles poderiam realizar sua fuga. Eles não
iriam conseguir mais nenhuma informação ali.
"Eu estou pronto para ir para casa. Você terminou de fazer
amigos?" A impaciência de Saint chiou através de seu link.
"Eu estou indo, pare de reclamar."
"Ainda conversando com seu companheiro?" Balt perguntou.
"Sim e, aparentemente, ele está cansado de esperar. Balt você
pode nos levar a competição de lutas?"
"Eu posso", disse o loiro. "Eu sou Salan."
"Prazer em conhecê-lo. Eu sou Mars."
"Telto," o homem de cabelos escuros disse. "Você realmente
acha que pode nos tirar daqui?"
"Sim." Mars olhou ao redor. "Tem mais de vocês aqui?
Somente nós quatro não é suficiente para entrar numa luta nas
arenas."
"Há dez Thresls sobrando. Apenas três são acasalados. Os
outros sete nunca encontraram seus companheiros ou rejeitaram os
que o almirante queria que eles se relacionassem. Todos eles devem
estar na arena de luta. O almirante gosta de dar-lhes esperança de
ganhar sua liberdade."

93
"Bastardo." Mars teria um grande prazer em matar aquele
idiota. Infelizmente, ele provavelmente teria que se contentar em
denunciá-lo para Vohne e os grandões do exército.
Com Salan liderando o caminho, eles rapidamente
atravessaram a base. Estranhamente, ninguém tentou impedi-los de
ir a lugar nenhum. Mars se perguntou se os outros não eram cientes
dos homens presos. Ele perguntou a Balt.
"Eu acho que eles não sabem que nós estávamos presos.
Somente os mais próximos do almirante podiam nos ver."
"Huh." Mars não tinha uma resposta para isso.
Eles diminuíram o passo quando o ruído de gritos e vaias
substituiu o habitual som de uma estação espacial em
funcionamento.
"Não!", alguém gritou seguido por uma série de vaias.
Mars correu para uma fileira de caixas para conseguir dar uma
melhor espiada. O que ele viu o deixou de queixo caído. Saint estava
ali de pé, muito calmo, num canto isolado da arena de luta. Três
Thresls estavam na sua frente. Nenhum deles estava se movendo.
"Você vai ficar aí, encarando, amor, ou se importaria de vir
mais perto?"
Mars suspirou. Ser furtivo com seu companheiro seria uma
aventura em sua vida. "Vamos, rapazes."
Sem esperar para ver se eles o estavam seguindo, Mars
marchou através da multidão até o lado de Saint. "Você está
brincando um pouquinho?"
94
Saint voltou sua enorme cabeça preta e peluda na direção de
Mars.
Num piscar de olhos ele se transformou em humano. Um
aceno de sua mão ele já estava vestido. "Eu acho que sim."
"Você é acasalado com ele!" Almirante Holland saiu da
multidão. "Eu avisei."
De dentro de sua jaqueta ele puxou uma arma e apontou-a
para Mars. "Você nunca deveria ter vindo aqui. Você está arruinando
tudo".
"Bem, afinal nós concordamos com alguma coisa", disse Mars.
"Saint, companheiro, gostaria de fazer as honras?"
Saint assentiu. Ele estendeu a mão, palma para frente. O
almirante voou pelo ar e bateu numa parede de engradados. Os
engradados empilhados caíram com um estrondo retumbante.
"Nós vamos enviar alguém para buscá-lo." Saint apontou para
um homem alto, de pé ao lado da arena, como se fosse o arbitro das
lutas. "Você vai entregá-lo as autoridades quando eles vierem. Até
então, o prenda."
Mars estremeceu com o poder que saía de Saint. Não tinha
dúvida que seu companheiro tinha usado sua habilidade de
persuasão. O soldado se moveu de uma forma estranha e
desarticulada até o almirante. Mars desviou o olhar. A coisa de
controle da mente o enervava. Em vez disso, voltou sua atenção para
os Thresls e seus companheiros.
"Vocês gostariam de ir até Nillre conosco? Vamos informar ao
rei sobre as coisas que aconteciam aqui.”
Para a surpresa de Mars foram unânimes.
95
"Será que eu poderia ir também, senhor?" Mathews atravessou
a multidão para se aproximar deles.
"Você não tem uma obrigação com o serviço militar?", disse
Mars.
Mathews ergueu a cabeça teimosamente. "Depois do que se
passou aqui, eu acho que não vai ter nenhum problema em eu
desistir."
"Ele pode vir," Saint declarou. "Vamos levá-lo para as
casamenteiras. Se ele se acasalar com um Thresl, Vohne pode
conceder-lhe imunidade."
O sorriso largo de Mathews aqueceu o coração de Mars depois
de toda a sórdida situação.
"Tudo bem. Você pode dizer para Vohne o que você sabe sobre
este lugar e como ele começou."
"Legal!" Mathews gritou.
"Você tem 15 minutos para embalar tudo e nos encontrar na
nave." Mars queria ajudar o garoto, mas ele não iria esperar por
ninguém.
"Eu não preciso fazer as malas. Não há nada aqui que eu queira
levar comigo."
"E o resto de vocês?" Mars perguntou ao grupo.
Todos eles balançaram a cabeça que não.
"Ok, vamos dar o fora daqui."
Mars se perguntou por que ninguém os interceptou enquanto
eles seguiam seu caminho para saírem dali. Somente alguns dias
depois, descobriu que era porque Saint havia paralisado todo
mundo, impossibilitando-os de se mover.
96
Capítulo 4

Saint levou Mars para seus aposentos no palácio. Ele tinha


uma suíte na ala real.
"É lindo. Deve ter pertencido a alguém importante."
Saint o inspecionou como se o estivesse vendo pela primeira
vez, vendo os móveis finamente trabalhados e as tapeçarias um
pouco desbotadas. "Vohne me deu os antigos aposentos de seu pai.
Ele disse que eu poderia renová-los como eu quisesse. Eu estava
esperando por meu companheiro para tomar qualquer decisão
final."
"Por quê?"
"Eu achei que você poderia querer ter por um pouco de você no
lugar que você vai morar. Bobagem minha."
"Você está certo. Eu gosto de decorar." Mars bateu palmas. "Eu
estava pensando em um verde brilhante com guarnições roxa."
"Você está fora da comissão de decoração."
Ele segurou o travesseiro que Saint jogou nele. "O quê? Você
não gosta do meu estilo?"
Saint bufou. "Você não tem nenhum".
O comunicador de Mars tocou. Olhando de relance para o
leitor, ele sorriu. "Svin concordou em se encontrar com a gente."
97 Mars acenou o dispositivo para Saint.
"Eu sou o único que acha estranhíssimo que o primo de um
duque concorde em se encontrar com um capitão pirata?"
Mars bufou. "Quero que você saiba que eu tenho uma
reputação na galáxia de ser um cara nefasto que contrabandeia todos
os tipos de coisas. Eu já me reuni com membros da realeza de várias
espécies".
"Ah, um ladrão bem-relacionado, minhas desculpas."
"Desculpas aceitas," Mars gentilmente concordou.
"Você acha que ele está procurando por uma nova fonte para
ajudá-lo com o tráfico dele de Thresl e planos para se juntar com um
homem que tem uma reputação de contrabandeá-los?"
"Pode ser. Às vezes ajuda ter uma má reputação."
Saint cedeu. "Vou ter que confiar em você para me ajudar a
percorrer essa nova vida criminosa que eu adquiri."
"Eu concordo com você que há algo de errado com toda essa
situação. Meus instintos estão gritando que nós, possivelmente,
estamos caminhando para uma armadilha. Eu não estou,
completamente, alheio a um possível perigo."
"Por quê? Quer dizer, eu sei agora que você é um sequestrador
infame de Thresl, mas por que armar uma armadilha para você?"
Saint pararia qualquer um que quisesse ferir seu companheiro, mas
ele não gostava da ideia de caminhar cegamente em uma situação.
Havia algumas coisas que mataria até mesmo ele.
Mars deu de ombros. "Eu não sei, mas algo definitivamente
está estranho."
"Você acha que deve levar reforço?"
"Quem? Eu acho que nenhum dos soldados vão me ouvir."
98
"Devemos contar para Vohne e Kres o que está acontecendo",
disse Saint. "Vohne não vai gostar se ele pensar que estamos o
tirando da jogada."
"Eu pensei que você não se importasse com o que Vohne
pensa."
"Eu nunca disse isso. Eu acho que ele não deveria continuar
sendo rei. Isso é uma questão completamente diferente. Ele precisa
saber o que está acontecendo com os Thresls ou ele não poderá
tomar as decisões mais adequadas." Saint respeitava seu sobrinho, e,
embora ele planejasse tomar seu trono, ele esperava manter um bom
relacionamento entre eles.
"Nós também poderíamos pedir a Zander e Leo."
Saint rosnou.
Mars riu. "O que há com você? Zander é um cara legal."
"Ele foi o seu primeiro."
Mars sorriu para aquela lembrança. "Sim, ele foi. Eu tive
alguns bons momentos com Zander, então eu quebrei o seu coração.
Eu estou com você, e caso você tenha se esquecido, ele tem o Leo. O
seu companheiro pode não ser o fodão que você é, mas o Leo
eliminaria qualquer um que tentasse tocar em seu companheiro".
"Bom ponto, chame-o. Vou tentar manter meu ciúme só para
mim. Eu tenho uma grande afeição pelo Leo. Ele é um bom gatinho."
"Eu não diria isso a ele. Ele quase arrancou meu rosto por esse
erro." O pequeno Thresl tinha um lado feroz.
"Eu vou manter isso em mente. Eu não gosto dessa situação.
Não posso deixar de pensar que estamos perdendo uma peça
importante deste maldito quebra-cabeça."
"Concordo. Deixe-me chamar Zander e veremos se ele pode
99
nos ajudar."
Saint foi até a varanda enquanto Mars fazia suas ligações. Ele
não queria ficar ao alcance da voz de Mars, caso ele usasse aquele
tom carinhoso que ele sempre usava quando ele conversava com
Zander. Seu grande caso de amor poderia ter terminado anos atrás,
mas Mars tinha boas lembranças do político, e o coração de Saint
doía um pouco ao imaginar que Mars nunca pudesse ter os mesmos
pensamentos carinhosos com ele.
Mars não tinha uma escolha com relação a Saint, eles eram
destinados a ficarem juntos. Mars tinha escolhido deixar Zander por
si só, mas Saint imaginava se, às vezes, Mars não lamentava essa
decisão. Saint nunca teve que lidar com um ex-amante antes. A
surpreendente dor que aquilo produziu, o deixou feliz que Mars não
tivesse uma sequência de ex seguindo-o como cachorrinhos
perdidos.
Terminar com Zander tinha quebrado Mars um pouco e Saint
sabia que ele nunca seria capaz de consertar. Mars podia ser o
grande amor de Saint, mas estava cada vez mais evidente que Saint
nunca seria a primeira grande paixão de Mars. Essa posição já havia
sido preenchida por Zander e nunca poderia ser recuperada.
"Ele vai vir", disse Mars, pisando na sacada.
"É claro que ele virá.” Saint tentou não demonstrar sua
amargura em sua voz, mas ele sabia que tinha falhado quando Mars
o virou para que eles ficassem cara a cara.
"O que está errado?"
"É estúpido." Saint se voltou como se a paisagem fosse à coisa
mais fascinante no universo. Na realidade, ele nem sequer enxergava
a cena diante dele.
100
Mars segurou o queixo de Saint e obrigou-o a encará-lo. "O
quê?"
"Eu odeio o fato que Zander foi seu grande amor." Ele não
tinha planejado deixar isso escapar. Coragem, força e poder era a
imagem que ele projetou para o seu companheiro, não insegurança.
Esta vulnerabilidade o tinha flagelado mentalmente o
desiquilibrando.
Mars beijou Saint. "Algumas coisas você não pode mudar.
Zander é o meu passado. Você é o meu futuro."
"Você leu isso em algum lugar, não é?"
"Noites de filmes aos domingos. Eles têm filmes excelentes."
Saint riu. Sua melancolia desaparecia quanto mais tempo ele
ficava na varanda com seu companheiro. "Você está certo. Você é
meu agora. Eu não deveria deixar que o que você fez antes de me
conhecer interferisse em algo. Acho que o tempo todo que fiquei
preso no palácio, eu esperava que você estivesse aqui fora esperando
por mim. Eu nunca imaginei que você estaria vivendo sua vida por si
mesmo. Estúpido, eu sei."
Mars balançou a cabeça. "Não é estúpido, um pouco ingênuo,
talvez, mas não é estúpido. Se eu ficasse preso durante séculos, eu
gostaria de pensar que o meu companheiro permaneceu puro para
mim também. Eu diria que eu sinto muito, mas minhas experiências
são parte de mim. Eu acho que eu sou um melhor companheiro por
que eu tive alguma experiência de vida. Além disso, você não iria
gostar de um cara virgem e inocente. Você ficaria entediado em uma
semana."
"Verdade”. Saint não podia negar o fato. Se ele tivesse
101
encontrado um companheiro intocado, sentado e esperando por ele
para lhe ensinar tudo, ele não seria o companheiro perfeito que Mars
era. As experiências de Mars eram um adicional a sua atração. "Eu
estou, injustamente, culpando Zander quando eu deveria estar
agradecendo-lhe por fazer de você a pessoa você é."
"Eu não acho que você precisa ir tão longe." Mars corou. Saint
observou fascinado. Ele não sabia que seu companheiro poderia
corar.
Saint sorriu. "Ok, eu vou manter minha efusividade num nível
mínimo. Quando eles podem ir conosco ver o Svin?"
"Amanhã. Zander tem que terminar uma negociação de
direitos de mineração ou algo assim."
Saint deslizou um dedo no peito de Mars. "Então o que
poderemos fazer para matar todo esse tempo?"
O estômago de Mars roncou. "Eu estava pensando que
precisamos comer alguma coisa. Você pode pedir algo para
comermos aqui, no nosso quarto?"
Saint pensou sobre o pedido por um momento. "Não. Eu
preciso conhecer melhor nosso povo. Se eu pretendo me tornar rei,
eu tenho que aprender como eles são como humanos. Se eles não
puderem me respeitar, eu não poderei ajudá-los. Eu preciso
descobrir o que eles gostam ou não gostam e como querem que eu
reine. Se eles forem contra mim, eu também precisarei saber.”
"Eu pensei que você iria deixar isso para Vohne?"
"Eu gosto de manter minhas opções abertas."
Se Mars quis acreditar que Saint iria desistir de seu objetivo de
vida de recuperar o trono, esquece. Seus planos não tinham mudado,
mas ele teria que ser subserviente sobre como ele assumiria o trono.
102
Se Vohne, Kres e Mars estivessem irritados com ele, ele nunca teria
um momento de paz.
Mars suspirou. "Então... reconhecimento?"
"Yep. Vamos comer e espionar nossos nobres companheiros."
"Parece divertido," Mars falou pausadamente.

Se o lorde sentado ao lado deles não parasse de reclamar, Saint


iria arrancar seu coração e apresentá-lo como uma iguaria na mesa
de jantar. As lamentações incessantes do Conde Denford estavam
deixando-o com os nervos a flor da pele. Aquilo devia estar aparente
também, porque Mars não parara de sorrir.
"Então me deixe entender isso direito," Saint rosnou. "Você
acha que o rei deveria dar terras reais para seus filhos."
"Eles não estão fazendo nada com ela," Conde Denford
defendeu sua reivindicação.
"Se bem me lembro, é uma floresta protegida com direitos de
água para várias residenciais locais," Saint rosnou.
"São terrenos sem desenvolvimento!"
"Você é um idiota," Saint respondeu. "Você nunca terá essas
terras."
"Isso é o que você diz. O rei pode não ser tão antiquado. Ele é
um homem justo."
"É verdade," Mars entrou na conversa.
Ele deve ter lido a mente de Saint e soube que ele estava
103 prestes a rasgar o homem em pedaços. Certamente ninguém o
responsabilizaria.
"Vohne tem uma alma justa, e é por isso que ele jamais
deixaria sua ganância interferir para que seus vizinhos recebam água
doce. Talvez você devesse pensar numa maneira diferente para que
seus filhos se tornem proprietários de terra."
"De que jeito?" O conde petulante ficou com o rosto vermelho.
"Siga a tradição antiga e os acasale com proprietários de
terras," Mars sugeriu.
"Eu não vou barganhar meus filhos".
Saint achou a indignação do Conde ridícula desde que ele
planejava roubar as terras da coroa para seus filhos.
"Talvez você devesse falar com o rei ou com o companheiro do
rei. Tenho certeza de que eles seriam capazes de ajudá-lo a pensar
em novas ideias."
"Oh... hum... eu não gostaria de perturbar Kres. Ele é muito
ocupado. Vou pensar em alguma coisa." O conde se levantou e saiu
sem dizer adeus.
Mars jogou a cabeça para trás e riu. "Você terá que melhorar
suas habilidades de comunicação, querido."
Saint rosnou em frustração. Houve duas coisas que ele
aprendeu com as pessoas ali. Primeiro, o rei Vohne era
universalmente amado e segundo, Kres era visto com cautela e medo
pela maioria da população. A corte gostava das habilidades de Kres
para proteger o rei, mas, pessoalmente, queriam ficar bem longe
dele.
Ele compartilhou suas descobertas com Mars.
104
"Nós seremos o inverso. Eu sou adorável, e você pode ser o
ogro. Além do mais, nós já não havíamos afirmado que você era o
Kres nesse relacionamento?"
De tanto rir, Saint quase derrubou a bebida. Provavelmente
não seria tão engraçado se não fosse verdade. Depois que eles
terminaram de comer, eles voltaram para o quarto. Estavam
próximos a suíte, quando Saint congelou. Ele agarrou o braço de
Mars antes que seu companheiro desse mais um passo.
"Espere."
"Por quê?" Mars deixou Saint liderar e manteve a conversa
telepática.
"Sinto o cheiro de alguma coisa." Seus instintos se eriçaram
num aviso. Perigo.
Antes que Mars pudesse pedir por mais detalhes, Conde
Denford passou apressado por eles.
"Espere!" Saint gritou.
O conde deu um olhar desdenhoso a Saint por cima do ombro,
enquanto ele continuava seu caminho. "Não tenho interesse nenhum
em falar com você".
Saint segurou Mars para que ele não continuasse andando.
"Não. Ainda não."
Eles esperaram mais dez segundos. Saint contando.
"Talvez você esteja errado," Mars disse.
Uma explosão abalou o palácio. Concreto foi pulverizado do
canto junto com pedaços de pedra e madeira.
Saint sabia que ele havia reconhecido o cheiro, mas ele não
conseguia se lembrar de onde até ser tarde demais. Era o mesmo
cheiro que ele sentira nos barris fora da cidade. Pó das minas. Era
105
uma fórmula especial usada pelos mineiros para limpar as cavernas.
Por si só, o pó ficava inerte, mas combinado com um queimador
especial o material poderia explodir uma montanha.
O pessoal da emergência passou correndo por eles em resposta
a explosão e para verificar os danos. Saint esperou. Quando
nenhuma outra explosão foi desencadeada, ele soltou o braço de
Mars.
"Vamos?" Mars fez sinal para Saint seguir em frente.
Saint deu de ombros. "Vamos. Talvez nós possamos descobrir
quem plantou os explosivos."
"Eu acho que precisaremos visitar o primo do duque um pouco
antes do que planejamos", Mars disse. "Eu não gosto de onde isso
está indo. O timing foi muito preciso. Alguém não quer que nós
investiguemos ainda mais."
"Você acha que Svin fez isso?"
Mars deu de ombros. "Eu não estou o descartando."
Eles caminharam pelo corredor até o seu quarto em
frangalhos. Toda a parede de sua suíte tinha caído com a explosão.
Seus pertences estavam enterrados sob toneladas de escombros.
"Pelo menos, desta vez, eu não estou aí embaixo," Saint
murmurou.
"Isso não foi engraçado." Mars rosnou, um rosnado,
surpreendentemente, bom, para um homem que alegava ter apenas
um quarto de sangue Thresl.
Saint examinou os danos. O corpo caído do conde jazia como
uma boneca quebrada, do outro lado do corredor "Nada disso é
engraçado, de jeito nenhum. Eu acho que nós não precisaremos nos
preocupar em refazer as malas."
106
"O que aconteceu?", perguntou Kres. Vohne estava ao lado
dele, suficientemente amarrotado para que Saint tivesse uma ideia
muito boa do que eles estavam fazendo antes da explosão.
"Nosso bom conde ignorou meu conselho e caminhou até virar
no corredor." Saint apontou para o corpo.
"Como você soube do perigo?" Kres estreitou os olhos,
desconfiado.
"Eu senti o cheiro da pólvora. Deve ter sido um arame ou um
temporizador ligado a bomba. Infelizmente, eu não percebi até que
ele já havia me ignorado, ou eu poderia ter tentado dissuadi-lo com
mais afinco."
"Poderia ter?", perguntou Vohne.
"Bem, ele era muito irritante", Saint apontou razoavelmente.
"O que meu companheiro está tentando dizer é que ele teria
parado o conde se ele tivesse certeza de que algo estava errado, em
vez de apenas suspeitar. Não desejávamos a morde do conde."
Saint deu de ombros. Ele não se importava com a morte do
conde. No entanto, seu companheiro havia lhe dito que ele tinha que
pelo menos fingir sentir compaixão, mesmo que ele não pudesse,
honestamente, entender o porquê. Se o conde o tivesse escutado, ele
ainda estaria vivo. Saint tinha pouca paciência para idiotas.
"Pelo menos, agora, seus filhos terão algo para fazer", ele
ofereceu brilhantemente.
O olhar fulminante que ele recebeu de seu companheiro, não o
encorajou a pensar que ele tinha dito a coisa certa.
Mars suspirou.
"Nós vamos melhorar isso, amor."
"Melhorar o quê?"
107
O bufo de divertido de Mars não o tranquilizou absolutamente.
"Vamos conversar", disse Vohne.
Saint e Mars seguiram o casal real até o escritório. O cômodo
tinha um cheiro fraco de sexo e pelos lábios inchados de Kres, ele
tinha uma ideia do porquê. No entanto, mais uma vez o impulso de
dizer o que ele pensava, se apagou ante a carranca de seu
companheiro.
"Não foi culpa nossa," Saint começou a conversa. Ele não
gostava de estar sendo levado para um escritório, como uma criança
recalcitrante que havia cometido algum crime que seus pais
necessitavam o repreender.
"Alguém está tentando matá-lo." Vohne foi direto ao ponto,
sem meias palavras. Saint apreciava aquilo nele.
"Nós sabemos. Nós imaginamos que deve ser porque estamos
chegando perto de descobrir quem está por trás da operação de
contrabando. Temos cuidado que os primeiros planetas tenham suas
arenas de lutas finalizadas. Eu acho que é só uma questão de tempo
até que o resto deles caía no esquecimento", Mars concluiu.
"Excelente trabalho, a propósito." O sorriso de aprovação do
Vohne aqueceu Saint. Embora, cronologicamente, ele soubesse que
era mais velho que Vohne, o rei muitas vezes lhe parecia como um
irmão mais velho do que como um sobrinho. Felizmente, Vohne não
parecia ter qualquer tendência sádica como seu pai.
"Obrigado, sobrinho."
Kres sorriu cinicamente. "Eu não acho que Vohne esteja
pronto, ainda, para ter um momento de ligação com a família."
Saint deu de ombros. Não fazia mal lembrar ao rei que eles
108
eram parentes e quanto o pai de Vohne o tinha fodido.
"Amor, que tal não ser mais o companheiro do rei?",
perguntou Vohne, não deixando de encarar Saint.
Kres não olhou para cima. Sua atenção completamente focada
no seu projeto de limpar as unhas com um punhal mortalmente
afiado. "Por quê? Da próxima vez, você me fará um Imperador
Divino?"
Saint sorriu, mas conteve seu riso. De todos os homens na sala,
seus instintos Thresl gritavam que Kres era o maior predador de
todos eles. Se ele não garantisse que Kres estivesse completamente
de acordo com ele, Saint, sem dúvida, corria o risco de ser
envenenado ou ter a garganta cortada em seu sono. Ele tinha certeza
que o companheiro do rei faria qualquer coisa para garantir que
Vohne tivesse tudo o que ele queria. Esse tipo de lealdade era rara,
mesmo entre os Thresls.
"Eu acredito que Saint queira recuperar o trono." O tom
ameno de Vohne não enganou Saint. Ele poderia dizer que o rei
estava sondando seu companheiro.
Kres olhou para cima, prendendo Saint num olhar gelado. "Eu
nunca participei de uma resistência sangrenta. Pode ser divertido."
Vohne riu. "Eu acho que Saint está pensando mais em uma
rendição pacífica."
"Por que nós nos renderíamos? Quero dizer, eu posso não ser
capaz de sobreviver sem o meu baile de gala e eu aprecio minhas
joias brilhantes."
As únicas pedras preciosas que Saint podia ver no
109
companheiro do rei eram as do punhal decorado que Kres vinha
rodopiando durante a conversa.
"Ele vai nos matar enquanto dormimos."
A voz de Mars ecoou para Saint como seus próprios
pensamentos.
"Concordo".
"Eu tenho certeza que você poderá ficar com as joias que você
gosta," Saint disse suavemente. "Além disso, nós não os jogaremos
para fora do palácio. Vocês vão poder ficar em seus aposentos.
Estamos muito felizes com o que foi designado para nós. Bem, nós
estávamos. Tenho certeza de que poderemos encontrar outro. É um
castelo, afinal."
"Então, como é que essa mudança afetará o meu estilo de vida
luxuoso?" Kres disse pausadamente. “Será que eu não terei mais
meu café da manhã servido nas bandejas de prata? Eu vou dizer, eu,
realmente, gosto disso."
A boca de Vohne contraiu. "Eu tenho certeza que você
conseguirá um pouco de comida, amor."
"Será que eu vou me livrar dos eventos formais?"
"Não." Saint entrou na conversa, não contente de ser ignorado.
"Vocês dois seriam os herdeiros legítimos se algo acontecesse
comigo".
Kres levantou uma sobrancelha. "Como o quê? Ataque de
bomba? Eu não consigo pensar em nada mais forte que isso para
tirá-lo da jogada."
"Eu vou tentar não me ofender com o fato que você está
procurando coisas que podem me matar".
Kres deu de ombros. "Não leve para o lado pessoal. Eu sempre
110
procuro por fraquezas."
"Eu gosto de como você pensa, companheiro do rei. Se você já
não tivesse sido reivindicado quando eu voltei, eu poderia ter
cortejado você."
Um duplo rosnado ecoou pelo cômodo. Se olhares pudessem
matar, o olhar de Mars deveria ter incinerado Saint ali mesmo.
"O quê? Eu disse se".
"Eu sei que meu pai arruinou sua vida" Vohne disse,
quebrando a tensão. "E o que eu mais amaria acima de tudo seria lhe
entregar o mundo e ir embora e passear com Kres entre as estrelas,
mas o nosso povo merece mais do que isso. Se você for liderá-los,
você, primeiro, tem que aprender a ser um líder. Eu acho que se nós
propusermos um período de transição, as coisas irão fluir de forma
mais suave para todos."
"Quanto tempo levaria essa transição?" E se ele tivesse
subestimado Vohne? Se ele fosse tão mal como seu pai?
"Um ano."
"É uma proposta razoável. Aceite, amor, e nós dois
poderemos dormir bem à noite."
Saint viu que o companheiro do rei os observava de perto.
"Você está de acordo com isso, Kreslan? Eu não o quero como
inimigo."
Kres examinou Saint e Mars lentamente, como se ele não
tivesse certeza que eles eram amigos ou se precisava os medir para
fabricar seus caixões. "Eu estou se se você estiver disposto a guiar o
povo Thresl de uma maneira positiva. Eles passaram por muita coisa
111
recentemente. Eles precisam de um tempo de paz. Eu acho que a
proposta de Vohne é muita boa. Ele está cansado de liderar, eu
nunca quis ser um nobre e foi negado para você seu direito a sua
primogenitura. É um bom acordo sem fazer com que todos se
preocupem que você abrindo a força o seu caminho até o poder. Nós
não queremos que haja uma revolução."
Saint assentiu. "Eu não havia pensado nisso do ponto de vista
do povo." Estupidez dele. Ele precisaria que Vohne o apoiasse se ele
esperava ganhar a confiança de todo mundo. Se ele só assumisse o
trono, os fiéis seguidores de Vohne iriam o empalar. Saint só poderia
assumir o trono, se fosse dado a ele publicamente perante todos. Se
Vohne queria fazer dessa forma, Saint não poderia objetar. Aquilo
faria mais sentido para o seu povo.
"Parece justo. Só para você saber, Mars e eu iremos conversar
com o primo do Duque Hellbur, Svin, e Zander e o Leo irão conosco.
Achamos que ele sabe de alguma coisa. Não temos certeza se ele é o
contrabandista do nosso povo, mas ele vive em uma área isolada,
onde ele poderia, facilmente, esconder suas ações."
Vohne assentiu. "Tenha cuidado, se Svin está envolvido, ele
vem fazendo isso desde O Expurgo, e ele não terá medo de matá-los.
Vocês gostariam de mais reforços? Eu poderia designar alguns
soldados para acompanhá-los."
"Não. Se formos lá com um exército, nós iremos alertá-lo. Eu
não quero que ele esteja mais desconfiado do que já está. Eu disse a
ele que eu tenho algumas perguntas a respeito de sua propriedade.
Ela faz fronteira com umas terras que seu pai tinha, e elas deveriam
ser minhas."
Vohne franziu a testa. "Não me lembro de nenhuma terra por
112
lá."
"Fica ao sul das terras de Svin. Não há nada lá, mas é uma é
boa campina e eu sempre quis construir uma casa lá." Sonhos que
foram abandonados e agora voltavam à vida. Agora, Saint poderia se
atrever a ter esperança de ter um futuro com seu companheiro. "É
um bom lugar para um retiro real."
"Você quer dizer, quando estivermos de acordo em se afastar,"
Kres interrompeu.
"Sim. Eu esperava que vocês fossem imediatamente, mas a
ideia de Vohne faz mais sentido." Não havia razão para começar
entrar em pânico quando todas as partes entraram num acordo.
Vohne pegou um mapa. Depois de um pequeno exame, ele
apontou para um ponto no papel. "Esta é a terra que você estava
falando?"
Saint caminhou até o mapa. "Sim. Huh, ele é marcado como
um parque público. O que não faz sentido. Meu irmão não faria nada
com essas terras, nunca. Não é, apenas, um local valioso entre uma
mina de ouro e uma localização com grande quantidade de água
doce, mas ele não tinha no corpo um único osso para filantropia. De
jeito nenhum ele a deixaria para qualquer outra pessoa desfrutar."
"Por que eu não sei nada sobre essa propriedade? Ela deveria
ter sido registrada se pertencia à casa real." Vohne sacou seu
comunicador e Saint o ouviu falar com seu irmão Bleine. Depois de
uma breve conversa, ele desligou. "Bleine também nunca ouvi falar
nada sobre ela."
"Isso pode ser o local da base."
Kres inclinou-se sobre o mapa. "Eu acho que Saint está certo,
Svin está enfiado nisso muito mais do que eu suspeitava. As
113
montanhas poderiam esconder pequenos pousos de transporte."
Saint olhou para o mapa. "Poderia ser assim tão simples?"
Mars apertou o braço do Saint. "Por que não? Se ninguém mais
sabia sobre a propriedade, eles não teriam que mudar a sua
localização. Seria muito fácil esconder tudo."
"Precisamos investigar isso com cuidado." Saint olhou mais de
perto o mapa. "Se isso vem acontecendo há anos, não sabemos o que
tem lá dentro. Nós devemos agir com cautela. Eles poderiam ter um
exército inteiro e nenhum de nós saberíamos."
Vohne correu os dedos pelos cabelos. "Eu sempre sinto como
se eu estivesse um passo atrás. Desde que voltei esta última vez, eu
me sinto manipulado. É como se uma força externa estivesse
tramando para eu falhar. Apenas Kreslan me impediu de ficar
insano."
"Eu não tenho certeza se eu tenho feito um bom trabalho",
Kres brincou. Ele cutucou Vohne com o ombro.
Vohne beijou Kres na bochecha.
Saint desviou o olhar. A afeição casual de Vohne e seu
companheiro, o afetava mais do que somente vê-los se beijarem.
"Algo errado?" A voz de Mars em sua cabeça fez Saint encolher
os ombros.
"Nada. Eles formam um grande casal."
"Sim, eles formam."
"Vamos fazer um plano. Quero fazer parte disto também." Kres
esfregou as mãos como se ele não pudesse esperar para começar
uma invasão. Pelo que Saint havia observado, aquilo provavelmente
estava correto.
114
Capítulo 5

A casa de Svin poderia ter sido uma típica casa em algum


momento - talvez. Mars se esforçou para entender o apelo da
arquitetura que mais parecia como se alguém tivesse construído
continuamente outras seções sem se dar conta da estrutura ou
funcionamento. Era como algo atarracado no seu pedaço de terra
como uma bolha de pedra cinzenta que derretera no chão. Qualquer
pretensão de ter sido uma beleza arquitetônica havia desaparecido
no nada.
"Que casa mais feia," Saint declarou.
Mars não tinha que adivinhar nunca o que o seu companheiro
pensava. O grosseiro Thresl não tinha nenhum problema em
partilhar sua opinião, não se importando quão rudes suas palavras
poderiam ser. Talvez ficar tanto tempo isolado com somente si
mesmo para conversar, teria empenado os habituais filtros sociais.
Saint parecia não se importar se alguém, em particular, gostasse ou
não do que ele dizia. Ele dizia o que ele queria e as pessoas podiam
fazer com a informação o que elas desejassem.
"Todo mundo de olhos bem abertos", Mars advertiu. "Eu não
estou gostando disso, tudo está muito tranquilo."
"Eu concordo", a voz abafada de Kres soava estranhamente
115 alta no silêncio ao redor da casa.
Nem mesmo os pássaros piavam próximos ao enorme edifício.
Um predador vivia no interior da casa e até mesmo os animais
selvagens se deram conta.
Eles quase tiveram que trazer os guardas pessoais do rei, mas
com a insistência de Kres, Friln e Nelrin ficaram para trás para vigiar
o príncipe e seu companheiro. Se essa empreitada matasse todos os
quatro, Bleine seria necessário para governar o lar dos Thresls e
assumir a coroa. Mars havia aprendido alguns novos palavrões
quando Bleine soube sobre os planos.
Zander e Leo os encontraram na frente da casa de Svin e
estavam agachados na relva do lado dos outros. Com os seis, Mars
estava confiante de que eles poderiam superar qualquer obstáculo.
"Será que o primo de Hell faz magia?” perguntou Zander.
"Por quê?", perguntou Mars. Ele deu mais um passo para
frente. Um estalo alto de eletricidade foi seu único aviso, antes que
ele fosse pego por uma mão invisível e jogado a 9 metros no ar. Mars
perdeu o controle se estava para cima ou para baixo enquanto seu
corpo voava como um pássaro. Ele sempre invejara suas habilidades
até aquele momento. Gravidade não era sua amiga. A cadela
desagradável o puxou de volta para o chão com uma força de
quebrar os ossos.
"Ahh!" O som explodiu de seus lábios sem pensar. A dor
irradiou através de suas costas, seus quadris... Inferno, todo o seu
corpo doía.
"Mars! Você está bem?" Saint ajoelhou-se ao lado dele, os
olhos de ouro aflitos.
"Você vai se sujar." Esse pensamento circulou por sua mente
em um looping incessante. Depois de ficar enterrado debaixo de um
116
palácio empoeirado, Saint sempre se mantinha impecável. Ele
odiava qualquer poeira em suas roupas.
"Eu não me importo com minhas roupas. Como você está?"
"Eu devo parecer muito pior do que estou, se você não está
preocupado com a sua roupa."
Saint deslizou um braço sob os ombros de Mars para ajudá-lo a
sentar-se.
"Ouch".
Saint congelou. "Precisaremos o enviar de volta ao castelo para
cuidados médicos?"
"Eu estou bem. Apenas um pouco abalado. Eu tenho sangue
Thresl suficiente para me proteger de uma queda," Mars zombou. De
verdade, ele queria rastejar de volta para seu quarto e contar seus
dentes para se certificar de que nenhum deles havia se perdido.
"Você consegue continuar?" Zander se juntou a eles com Leo
em seus calcanhares.
"Sim, me ajudem a levantar."
Zander agarrou um braço enquanto Saint agarrava o outro.
Entre ambos, eles colocaram Mars de pé.
"Viu, sem problema." Mars oscilou um pouco. Saint envolveu
um braço ao redor dele para estabilizá-lo.
"Você vai ficar bem", Saint assegurou.
"Tem certeza?", perguntou Zander.
"Sim, foi o que ele disse." Mars apontou para Saint. Sua cabeça
girava. Que grande ajuda ele foi. Ele conseguiu ser abatido antes que
eles sequer chegassem até a porta da frente.
Zander puxou uma caixa preta de sua bolsa, em seguida,
entregou sua mochila para Leo. "Eu já volto."
117
"Cuidado!" Leo gritou atrás dele.
"O que ele vai fazer?" Mars perguntou, observando Zander
abordar o campo de força. A ansiedade torceu seu peito. Zander não
tinha sangue Thresl para mantê-lo seguro. Leo deu de ombros. "Eu
não sei. Parar o feixe, eu acho."
"Como?"
Zander abriu a caixa e tirou um pequeno triângulo de prata, ele
o colocou no chão. Ele deu três passos para trás, pegou um controle
remoto da caixa e apertou alguns botões. Uma onda de luz azul
estourou do triângulo.
Um fedor de algo queimando flutuou até eles. Em seguida, um
pequeno estalo fez Mars observar sua antiga paixão com
preocupação. "Não morra!"
Zander mostrou o polegar para cima.
"Tenho certeza que ele vai ficar bem", disse Saint.
"É melhor que ele fique", Mars rosnou. "Se não, o pai dele vai
matar a todos nós."
Ele não sabia como o alienado Zander, atualmente, estava com
o pai dele, mas ele sabia que o velho filha da puta durão, iria empalar
Mars somente por diversão se ele deixasse que algo acontecesse a
Zander.
O estalo aumentou até uma forte explosão vibrar pelo ar como
uma onda sonora. Os cabelos da nuca de Mars formigaram com
pequenas descargas elétricas. Em seguida, a tensão no ar se
dissipou.
Zander passou um sensor para trás e para frente pelo caminho.
"Está limpo."
Mars se afastou de seu companheiro, silenciosamente
118
aplaudindo quando ele não conseguia ver seu rosto.
"Sim, suas habilidades de caminhada estão progredindo bem",
Saint rosnou.
"Obrigado. Agora vamos ver o que mais Svin tem na manga,
além de um mata-mosquito gigante."
"Que tipo de inseto que você era?" Leo perguntou, diversão
dançando em seus olhos.
"Obviamente, do tipo que voa.” Mars mancou para longe dos
outros e pelo pátio para chegar até Zander.
Zander examinou seu andar. "Você vai conseguir?"
"Eu não consigo sempre?"
"Até agora," Zander concordou. "Se a sorte estiver conosco.
Isso é magia antiga. Svin está envolvido com algo poderoso."
"Ou o companheiro dele está."
"Verdade".
Ninguém sabia das particularidades do companheiro de Svin.
Cuidadosas investigações revelaram que ninguém conseguia se
lembrar de ver qualquer sinal do companheiro humano de Svin no
século passado. Isso não queria dizer que ele não estava ainda por aí.
Alguns dos membros da realeza que ficavam longe do castelo,
raramente, se davam ao trabalho de comparecer a corte.
"O que sabemos sobre seu companheiro?", perguntou Zander.
"Não muito. Totalmente humano e ferido no Grande Expurgo.
Ele, com certeza, não se importaria que seu companheiro estivesse
vendendo Thresl, já que ele foi ferido por um".
Zander absorveu a informação. Mars podia ver pelo brilho no
olhar de Zander que ele chegou a algumas conclusões por si só.
"Você acha que ele é o bruxo, não é?"
119
"Pode ser. Faria sentido. Ele não teria que se preocupar com
ninguém tagarelando. Se o seu companheiro já estiver envolvido, ele
não iria dizer mais nada ou ele seria indiciado."
"Verdade".
Saint liderou o caminho. Cada passo dado cautelosamente em
direção ao prédio, Saint parava e ouvia a cada um deles.
Mars bufou. "Nós nunca vamos chegar lá."
Saint fez uma careta para ele. "Prefiro demorar a bater numa
barreira novamente. Você está com pressa de ser um inseto voador
de novo?"
"Eu acho que eu gosto dele", Zander comentou.
Saint desejou que ele pudesse dizer o mesmo, mas levaria um
pouco mais de tempo para que ele pudesse afirmar que realmente
gostava de Zander. O belo político tinha muita influência sobre
Mars. Talvez quando Mars e Saint fossem acasalados por mais
um ou dois séculos, todos eles poderiam vir a ser amigos.
Incapaz de resistir, Saint mergulhou dentro da cabeça de
Zander, e bateu num bloqueio mental tão forte que repercutiu em
sua testa como um tapa físico.
"Fique fora da minha cabeça." Zander olhou para Saint, que
acenou em acordo. Ele não tentaria novamente.
"Você tem escudos fortes."
"Eu tenho que ter. Alguns idiotas acham que é divertido foder
com diplomatas."
O tom firme de Zander fez o impossível. Saint, na verdade, se
sentiu envergonhado consigo mesmo.
"Sinto muito."
Zander assentiu. "Poderemos conversar mais tarde."
120
"Eu gostaria." O respeito pelo lindo diplomata aqueceu Saint.
Pelo menos Mars tinha bom gosto.
Leo rosnou para Saint.
"Não comece, gatinho".
Zander agarrou Leo antes que ele pudesse avançar sobre Saint.
"Temos que nos concentrar."
"Sinto muito, amor," Leo respondeu numa voz suave.
"Se vocês já terminaram a brincadeira, podemos voltar à
atenção para o que viemos fazer aqui?", perguntou Kres. "Eu acho
que nós já sabemos, com certeza, que quem lhe enviou o convite
para conversar não foi Svin. Ou se foi, ele, definitivamente, mudou
de ideia."
"Concordo." Saint observou Kres girar duas facas em suas
mãos enquanto ele caminhava como se elas fossem uma extensão de
suas mãos em vez de armas mortais. Em todos os momentos, Kres se
manteve à frente de Vohne, inclinando o corpo para cobrir seu
companheiro sempre que viravam uma esquina.
Mars caminhava ao lado de Saint, ombro a ombro. Ele não
sabia se isso era um sinal de que Mars achava que Saint podia cuidar
de si mesmo ou se eles, apenas, não estavam tão conectados como
Vohne e Kres.
"Não se preocupe tanto, companheiro."
Saint sorriu. Mars não costumava iniciar suas conversas. Ele
recebeu aquilo como bom sinal.
Eles abriram a porta da frente e todo mundo chegou a um
impasse.
O fedor ali fez Saint engasgar. Apenas magia poderia ter
segurado aquele cheiro de se espalhar pelo terreno. Por mais que ele
121
desejasse virar as costas e correr, Saint seguiu os outros mais para
dentro da casa. Em um salão lateral, eles descobriram a origem do
cheiro.
Um cadáver que só se podia imaginar que uma vez foi Svin,
sentado numa cadeira no meio da sala. À sua direita, sentado numa
cadeira de rodas havia outra pessoa. Ambos estavam mortos. Mortos
há muito tempo.
"Puta que pariu", Kres sussurrou.
"Puta que pariu mesmo". Zander se aproximou.
"Cuidado", cinco vozes gritaram.
Zander sorriu. Ele puxou uma curta espada da bainha que
deveria estar escondida por baixo da camisa.
"Eu ensinei a ele tudo que ele sabe." Kres deu uma fungada.
Zander riu.
Ele usou sua lâmina para levantar a manga da camisa que
cobria a mão do primeiro cadáver. "Ele tem um anel com o brasão do
duque. Eu estou supondo que nós encontramos Svin".
"Então, quem enviou a mensagem?" Saint olhou ao redor da
sala como se ela pudesse, de repente, divulgar seus segredos.
"Eu acho que não estou gostando de nada disso,” Leo disse.
"Precisamos sair daqui."
A urgência de Leo escorreu por Saint até que ele também pôde
sentir a compulsão para sair.
"Precisamos ver se tem alguma pista aqui. Ele não morreu de
causas naturais", Zander insistiu.
Saint perguntou a questão que todos queriam saber. "Como ele
122
morreu?"
"Eu não sei. Leo, venha olhar isto aqui", Zander chamou seu
companheiro.
Leo olhou mais de perto. "Eu não sou um perito, mas parece
que foi um ferrão ou algo assim. Veja, esse é o ponto infectado."
Saint se aproximou e viu a marca vermelha no meio da testa de
Svin. "Huh. Mas isso não indica quem foi.”
O som de uma porta batendo tirou a atenção do cadáver para o
corredor.
Vohne gemeu. "Eu não gosto disso."
"Zander, você e Leo esperem aqui. Se nós não voltarmos,
chamem ajuda", Kres ordenou.
"E se houver mais magia?" perguntou Zander.
"Eu vou cuidar dela," Saint declarou. "Eu não estava esperando
por magia antes."
"Como eu disse, fique preparado para ajudar no caso de
problemas. Se sentirmos qualquer sinal de magia, vamos chamar por
você", Kres prometeu.
Zander trocou olhares com Leo antes de concordar. Saint
percebeu que o diplomata não queria colocar seu companheiro em
mais perigo. "Ok. Se vocês não voltarem antes de escurecer, nós
vamos atrás de vocês."
"Combinado", Vohne concordou. "Vamos."
"Deixe-me ir à frente. Meus sentidos são melhores." Saint
entrou na frente do outros.
"Tenha cuidado", alertou Mars.
"Eu terei." Saint não tinha intenção de ser morto. Não agora
que ele, finalmente, encontrara seu companheiro e, possivelmente,
123
teria seu trono de volta. Ele tinha muitas razões para viver. Um
cheiro familiar flutuou a sua frente.
Não, não podia ser.
"Algum problema?", perguntou Kres.
Saint balançou a cabeça. "Eu pensei ter sentido o cheiro de
alguém que eu conhecia, mas diferente. Eu devo ter me enganado."
"Quem?", perguntou Vohne.
"O seu pai."
"Não, isso não é possível. Ele morreu séculos atrás".
"Esse cheiro está por todo lugar." Saint continuou até o final
do corredor. Ele ouviu os outros o seguirem, mas toda a sua atenção
estava no que poderia estar a sua frente, possivelmente, esperando
por eles.
O corredor chegou a um fim abrupto com uma grande porta de
madeira.
"Sim, isso não é assustador," Kres murmurou.
Saint odiava concordar com o companheiro do rei, mas dessa
vez ele estava certo. "Prontos?"
"Tão prontos como conseguiremos estar", Mars respondeu.
"Não sinto ninguém do outro lado," Saint declarou antes de
abrir a porta. Nada. Uma escadaria levava para baixo para a
escuridão.
"Deixa para uma música assustadora," Kres sussurrou.
Vohne riu. "Existe um interruptor de luz?"
Saint localizou um no topo das escadas. Ele a acendeu.

124
Capítulo 6

Mars seguiu Saint diversos lances de escadas para baixo. Dava


num longo salão branco com tetos, anormalmente, altos.
"Eu aposto que isso leva a aquela área que vimos no mapa",
disse Kres.
"Ooh, uma toca subterrânea." Mars fez sons como num filme
de mistério até que chegaram num fim abrupto. "Você não tem que
me bater."
"Sim, eu tenho", respondeu Kres.
Saint não se virou. Se ele não viu acontecer, ele poderia negar
que aconteceu.
"Vamos ver o que tem do outro lado."
Os quatro caminharam e caminharam, até Saint quase se
transformar em seu gato apenas para quebrar a monotonia.
"Eu estou quase esperando por um ataque agora", disse Vohne.
Uma porta de aço bloqueava o fim do hall.
"Alguém do outro lado?" Mars perguntou. Saint não tinha sido
ele mesmo desde que sentiu o cheiro que ele achava que poderia ser
do rei morto.
Saint deu de ombros. "Eu não consigo sentir ninguém, mas eu
tenho uma sensação de que algo ruim vai acontecer. A propriedade é
125 muito grande e não há pessoas aqui. Se eles vão tentar controlar
uma passagem subterrânea de um casal morto, por que eles não têm
ninguém aqui a protegendo?"
"Essa é uma pergunta válida que se encontrarmos alguém a
faremos." Mars esfregou as costas de Saint, deixando-o saber por seu
toque que ele estava ali para apoiá-lo.
"Tem de haver pessoas aqui em algum lugar."
Mars concordou com a afirmação de Saint. A questão era: onde
estavam se escondendo?
A porta de aço começou a abrir. Sem nenhum lugar para se
esconderem, eles foram para ambos os lados da porta. Pelo menos
eles tinham o elemento surpresa.
Passos se aproximavam. Cada batida do calçado contra a pedra
poderia muito bem ser um trovão por toda a tensão que
desencadeou no corpo de Mars. Ele só conseguia ouvir os passos de
uma pessoa. Eles conseguiriam lidar com uma pessoa facilmente,
mas eles tinham que ter certeza que eles fariam isso antes que a
pessoa pudesse alertar os outros.
O intruso passou. Saint atacou. Envolveu um braço ao redor da
garganta do homem, ele apertou até que as mãos que o segurava se
tornassem mais fracas. "Olá, querido irmão."
"Papai!" A voz chocada de Vohne ecoou pelo corredor.
"Fale baixo, companheiro, nós não sabemos quem mais está
aqui", Kres advertiu.
Mars não poderia culpar Vohne. Achar, por séculos, que seu
pai estivesse morto, para depois descobrir que além dele estar vivo,
ainda estava se escondendo, realizando atividades questionáveis,
chocaria qualquer um.
126
"Se você não libertá-lo, você vai sufocá-lo até a morte", Mars
comentou.
Saint parou de apertar um pouco. "Eu estou bem com isso."
"Nós precisamos interrogá-lo", Vohne disse.
"Tudo bem." Saint lançou seu irmão para a laje. Gerin olhou
para ele, a malícia brilhando em sua olhar.
"Como você escapou do meu feitiço?" A expressão azeda de
Gerin fez Saint sorrir.
"Seu filho maravilhoso me resgatou. Ele deve ter puxado a sua
querida mãe."
"Por que você está aqui? Por que se esconder aqui, em vez de
assumir o trono?", perguntou Vohne.
Gerin zombou. "E o quê? Tornar-me um fantoche para o povo?
Eles já sabiam que você era o seu verdadeiro rei. Eu não ia me sentar
lá e deixar um pirralho tirar meu poder. Melhor eu morrer e ter o
mundo de qualquer jeito. Você achou mesmo que estava no poder?
Eu o segurei de voltar um ciclo completo antes de deixar você nascer
de novo. Eu pensei que eu tivesse você naquele momento. Seu irmão
supostamente iria falhar e, então, eu poderia assumir novamente.
Mas a esposa dele, estupidamente, se matou quando você voltou,
então, eu já não tinha um pé na monarquia."
"O que você fez, pai! Você vendeu o nosso povo para lucrar!
Por quê?"
"Porque eu posso! Porque não é o título que rege o mundo, é o
dinheiro. Os militares me enviavam toneladas de coisas, e eu posso
ter tudo o que eu quero. Tudo o que eles queriam eram alguns
Thresls."
"Uau, nada como ter um psicopata como sogro," Kres disse
127
secamente.
"Este é o meu companheiro, Kreslan." Vohne acenou com a
mão em direção a Kres. "Kres, meu amor, eu sinto muito em dizer-
lhe que esse é meu pai Gerin, o ex-rei Gerin."
Kres olhou para Gerin com um olhar gelado. "Eu meio que
gostava de não ter um sogro. Talvez possamos voltar a isso."
"Por que eu iria querer um gay como genro." Ele se virou para
Vohne com um olhar venenoso. "Eu sempre soube que você era um
erro. Eu disse a Nan que eu não queria filhos, mas ela disse que iria
selar o casamento com sua mãe."
"Nan? A enfermeira que anunciou a morte de mamãe?",
perguntou Vohne.
"Nan era a minha verdadeira companheira. Sua mãe era um
jogo político para que a linhagem Thresl real permanecesse pura.
Após seu irmão nascer, Nan cortou a garganta de sua mãe como uma
prova de amor a mim, para que eu pudesse, finalmente, ser livre."
"Que coincidência," Kres deslizou um grande punhal de sua
bota, "Eu estava pensando em fazer a mesma coisa."
Vohne agarrou o braço de seu companheiro. "Onde está Nan?"
Gerin sorriu. "Engraçado as coisas que eu aprendi com o
tempo. Um companheiro não precisa estar realmente ativo para ser
útil. Eu a coloquei num sono profundo, congelada, anos atrás. Ela
começou a dar muito trabalho. Ela queria muito ser rainha.
Depois que eu voltei dessa vez, eu decidi ficar aqui. Eu não planejava
reclamar o trono e ela não conseguia lidar com a ideia de não usar a
coroa. Ela ameaçou, contar para você, sobre meus planos. Eu prefiria
128
viver aqui onde posso assistir todos os meus planos se
concretizarem."
"Sozinho na sua casa subterrânea e sua companheira
congelada?" Kres perguntou.
"E os meus homens. Eu tenho mais pessoas aqui embaixo. Eles
virão em breve para verificar se estou bem."
"Maravilha!" O sorriso feroz que Kres deu, deixou Mars ainda
mais nervoso. "Estou ansioso para conhecê-los".
"Vocês não terão a chance. O orgulho tolo de vocês, será sua
morte. Antes de congelá-la, Nan me fez um último favor. Ela era um
gênio em química. Ela foi a única que criou uma fórmula para evitar
o acasalamento, e ela me presenteou com algumas melhorias".
"Eu acho que nenhum de nós está interessado em conhecer
qualquer melhoria que ela tenha lhe dado." Mars não se preocupou
em esconder sua repugnância. Este monstro prendera Saint num
inferno durante séculos. Ele não merecia nenhuma misericórdia.
"Ah, mas você vai querer ver isso aqui.”
Mars assistiu, horrorizado, enquanto o ex-rei se transformava.
Mars tinha ouvido rumores de que alguns Thresl poderiam se
transformar em outras criaturas além de gatos. Ele nunca tinha visto
nada parecido como isso antes.
"Merda, ele é um escorpião peludo." Kres retrocedeu para fora
do alcance, quando uma das garras de Gerin caiu sobre ele. O clack
alto da cartilagem batendo uma na outra soou nos ouvidos de Mars.
Mars tinha tido pesadelos que não eram nem metade tão
perturbadores quanto ver o rosto humano de Gerin num corpo de
escorpião.
129
"Que porra é essa que ela fez com você?" perguntou Vohne. O
horror em sua voz ecoava os pensamentos de Mars.
"Ela me libertou das minhas limitações humanas", Gerin
sibilou.
"Agora nós sabemos de onde veio à ferroada em Svin," Kres
comentou.
Mars viu que o companheiro do rei estava certo. O ferrão do
escorpião combinava, exatamente, com o buraco na testa do primo
do duque.
"Ele é meu", Saint declarou. "Ele tirou a minha vida de mim,
eu estou tomando-a de volta."
Mars resistiu ao impulso de agarrar Saint e puxá-lo para um
lugar seguro. Saint merecia lutar esta batalha. Ele precisava de um
encerramento.
"Cuidado, companheiro."
"Eu sempre tomo cuidado."
Apesar do medo travando sua garganta, Mars quase riu da
mentira óbvia.
Saint circulou seu irmão, esquivando-se do ferrão mortal de
Gerin apontado para ele.
"Desista. Você não vai ganhar, irmão. Sua forma insignificante
não é páreo para minha superioridade."
"Vejo que seu ego só aumentou com o passar do tempo. Eu
pensei que, agora, alguém o teria colocado em seu lugar."
"Nan tentou, mas eu cuidei disso. Você nunca vai me derrotar
nesta forma".
Mars assistiu com a boca seca quando Saint quase não
130
conseguiu se esquivar de outro ataque. Ele pensou em atirar em
Gerin, mas ele duvidava que ele faria qualquer coisa a não ser irritar
a coisa escorpião. Ele não tinha trazido poder de fogo o bastante
para derrubar aquela criatura.
"Você está certo, irmão," Saint concordou sem problemas.
A boca de Mars se escancarou quando Saint se transformou.
Ele não mudou para o seu grande Thresl preto com pêlos cor de
ébano. Em vez disso, ele se transformou em um enorme dragão de
pêlo como a meia-noite e brilhantes asas. Os olhos dourados
brilharam familiarmente para Mars antes que Saint soltasse um
fluxo de chamas no escorpião.
Gerin gritou. Seu ferrão escorregou pelas escamas peludas de
Saint com um clique alto. O enorme escorpião não era resistente ao
fogo.
"Eu não terei mais o seu espectro assombrando meus sonhos."
Saint não conseguia falar como seu irmão falou em sua forma
de escorpião, mas em alguns aspectos, aquilo foi ainda mais
intimidante. As palavras de Saint ressoaram com uma finalidade,
como se elas por si só houvessem selado a condenação de Gerin.
O escorpião e o dragão dançaram um duelo negro durante
vários minutos com Saint cuspindo fogo e Gerin estalando e
golpeando Saint com suas garras e cauda. O som de clique chiava
sobre os nervos de Mars. Ele sabia que se lembraria daqueles sons
glaciais pelos próximos anos.
"Não há esperança. Depois que eu matar você, eu matarei seu
companheiro", Gerin sibilou.
O rugido de Saint fez tremer o chão.
131
"Cuidado, companheiro." Mars não sabia se o túnel era um
lugar estável, ele não queria ficar enterrado ali.
Mars viu o momento em que Saint foi para cima de seu irmão
para aniquilá-lo. O momento que Gerin mencionou Mars, um flash
de fúria vibrou pelo link de sua conexão. Mars cerrou os dentes para
segurar uma mensagem.
Chamas, um fogo tépido antes, se transformaram no inferno. O
pop, o crepitar e o fedor de um escorpião híbrido queimando,
revestiu o ar ao redor deles.
"Basta!" Mars gritou. "Ele está morto".
Pelo menos, ele assumiu que estava. Os gritos de Gerin haviam
cessado. Mars viveria com o que aconteceria a seguir por muitos
anos.
Saint mudou de volta para sua forma humana. Mars correu e
pegou seu companheiro antes que ele batesse no chão. "Está tudo
bem, eu peguei você, companheiro."
"Não, eu peguei." Gerin levantou-se do chão. Carbonizado e
sangrando, ele perfurou o peito de Saint com o ferrão. Uma lufada
de ar se deslocando suavemente foi o único aviso antes que uma faca
se enterrasse na testa de Gerin. O escorpião meio humano tombou,
sangue saindo de sua cabeça.
"Porra, essa era a minha melhor faca," Kres amaldiçoou.
Saint começou a convulsionar.
"Precisamos levá-lo a um médico!" Vohne gritou. "Ele foi
envenenado."
A ferida começou a ficar roxa ao redor do buraco onde Saint
tinha sido perfurado.
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"Vamos," Mars agarrou Saint pelo lado direito enquanto Kres
pegava o esquerdo. Juntos, eles levaram o pesado homem pela longa
escadaria e, finalmente, até onde Zander os esperava com Leo.
"O que aconteceu?" Leo correu para o lado de Saint.
"Picada de escorpião", disse Mars. Era a explicação mais fácil.
Zander examinou a ferida. "Pelo quê? O maior escorpião da
galáxia?"
"Praticamente," Kres respondeu.
"Um médico já está a caminho. Nós os chamamos para
recolherem os cadáveres antes que vocês chegassem. Eles podem
levar Saint para o hospital."
"E eu", disse Mars.
"E você," Zander concordou.
Saint não iria a lugar nenhum sem seu companheiro, nunca
mais.

133
Epílogo

Saint abriu os olhos. Seu peito doía, e ele não conseguia


respirar direito. Piscando, ele percebeu do porque ele não conseguir
encher os pulmões de ar. Mars estava na cama ao seu lado, com a
cabeça sobre o peito de Saint.
Ele deve ter feito um barulho, pois Mars abriu os olhos e
sorriu. Alívio e amor brilharam em seus olhos. "Ei, você acordou."
"Você parece surpreso."
"Já faz uma semana. Eles disseram que se você não acordasse
logo, você não acordaria nunca mais." Lágrimas escorreram pelo
rosto de Mars.
"Ei, eu estou bem." Ele segurou o rosto de Mars e enxugou as
lágrimas com seus polegares. "O que aconteceu?"
"Gerin esfaqueou você com a sua cauda mutante de escorpião.
Eles limparam sua toca subterrânea. Eles encontraram Nan e mais
uma dúzia de Thresls que ele havia congelado para vender depois.
Acharam muitos arquivos em seu computador que implica dezenas
de funcionários. Temos todos os nomes. Todo mundo que já pensou
em sequestrar um Thresl será capturado. As pessoas que ele alegou,
que estavam lá embaixo, estavam congeladas. Ele estava morando lá
sozinho."
134 "Isso é incrível." Saint sorriu. "Então, nós ganhamos no afinal
das contas."
"Sim, agora você tem que melhorar. Eu tenho muitos planos
para você."
"Você tem?"
"Sim. Muitos anos curtindo a vida com o homem que eu amo."
"Você me ama?" Saint quase se odiou por perguntar, mas Mars
nunca tinha falado isso antes.
"Sim, eu amo você. Você tem algum problema com isso?" Mars
fez uma careta.
Saint balançou a cabeça. "Não, eu amo você também."
"Bom. Agora se recupere. Kres está pronto para começar sua
aposentadoria. Depois que ele matou Gerin com a faca, eu estou
disposto a dar-lhe qualquer coisa que ele quiser."
"Você disse a ele que ele ainda terá responsabilidades reais,
não é?"
Mars sorriu. "Não, eu pensei deixar isso como uma surpresa."
Saint riu. "Tenho certeza que ele vai adorar."
"Eu também." O beijo de Mars prometeu que eles iriam
desfrutar de muitos anos mais de risadas e amor juntos.
Kres deitou sua cabeça no travesseiro e fitou seu companheiro.
Eles haviam ido tão longe juntos. "Você vai sentir saudade de ser rei,
meu amor?"
Vohne sorriu. "Você está brincando? Eu fui rei por tanto tempo
que eu esqueci o que é ser uma pessoa comum. Eu estou ansioso
para passar mais tempo com você. Bleine prometeu ser assessor de
Saint enquanto nós iremos explorar as estrelas.”
"Nós ainda temos muito que ensinar a Saint antes que
possamos deixa-lo e Mars livres para governar os Thresls."
135
Vohne deu de ombros. "Eles aprenderão rápido. Quando as
pessoas se acostumarem a vê-los no comando, a transição será
calma. Já comecei o rumor que Saint é um rei que foi afastado. A
simpatia oscilará em direção a ele em breve, desde que ele não abra a
boca."
Kres riu. "Isso será um desafio".
"Não é problema nosso. Estou pensando em pegarmos a nave
de Mars. Sua tripulação vai ficar impaciente, se forem deixados ao
redor do planeta por muito tempo. Você poderá ser um capitão de
nave, como você sempre quis ser."
"Eu nunca disse isso." Kres sentou-se. Depois de aceitar o seu
destino, ele nunca ousou sequer pensar em sua ambição de vida. Ele
sabia que nunca seria um capitão de sua própria nave e ele tinha
desistido disso há muito tempo atrás. Acasalar com um rei
significava fazer sacrifícios. Qualquer coisa que ele poderia querer
não era nada comparada a sua devoção a Vohne.
"Você fez tanto por mim, meu companheiro. Eu lhe daria o
universo com um laço, ou pelo menos, uma nave estelar. Nós
podemos começar com saltos planetários curtos e depois aumentar,
gradualmente, nosso alcance, quando Mars e Saint assumirem mais
responsabilidades."
"Então, nós estamos livres?" A tensão que se estabeleceu,
definitivamente, nos ombros de Kres foi levada para longe, dando-
lhe uma nova leveza. Ele nunca ousara esperar que ele pudesse
desfrutar essa parte de sua vida novamente. Ele tinha, de bom grado,
desistido de seus futuros sonhos, a fim de ser para Vohne tudo que
fosse necessário. E agora lhe ser dito, que iria poder voltar para as
estrelas, era quase demais para aceitar.
136
Vohne sorriu. Amor queimou, brilhante e dourado, em seus
olhos. "Nós estamos tão livres como nós sempre seremos. Eu sempre
vou ter uma responsabilidade para com meu povo. Eu não vou
abandoná-los completamente, mas sim, nós poderemos,
definitivamente, viajar."
"Eu te amo, Vohne. Vou adorar viajar pela galáxia com você".
"Você ainda terá que ir aos eventos formais..."
"Putz, você está arruinando o momento." Kres beijou seu
companheiro, ansioso para começar a celebrar a próxima fase de
suas vidas juntos.

FIM

137

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