Estudos Foucault

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To m ~ Ta de u da S Iiva (O rg .

O SU JE IT O DA
ED UC AÇ
-
AO
Est udo s Fou cau ltia nos

~
VOZES

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• Traduç ão
Este ensaio foi escrito especialmente para o present e livro.
de Tomaz Tadeu da Silva. no mesmo mo-
Entre essas duas citações, escritas aproxim adamen te
ológica. De
• ão, Universi- mento históric o no século XX, há uma ruptura epistem
Roger Deacon é Professor do Departa mento de Educaç educaci onal e,
um lado, o raciona lismo universalizador de uma ciência
dade de Natal, Durban , Africa do Sul. Ben Parker é as coisas "não
de Durban - do outro, uma tentativ a irôni,ca de conside rar por que
Profess or do Departa mento de Filosofia, Univers idade o aqui explora r
eram tão necessárias assim". E minha modesta intençã
Westville, África do Sul. derna da peda-
as implica ções dessa diffefrance para uma leitura pós-mo
educacion~l _
• gogia, para a busca.•cada ~éi.-'mais estéril de uma ciência
t()taliza dora e-~s- implica ções dessaruptura·parã . à: práticã educ·aciorial.
111
110
Qual a implicação, pois, do projeto de uma ciência educacional?
o empreendimento para universalizar e tornar científica a educa-
1
• ~
eia desinteressada do Estado, constituiu a maquinaria que levaria a
po pulação a· uma condição racional. ·---- ··- - --- ·•
ção foi um projeto ilu_~nista.: Antecipad~ no pe~samento de Kant, que
propôs que "o ilum1msmo era a autohbertaçao do homem de sua l Uma geração posterior de pensadores coletivistas liberais e socia-
listas levou essa benevolência desinteressada um estágio adiante. A
l
auto-imposta tutelagem" e de sua existência como horda (Kant in educação, para socialistas fabian os como Sidney Webb, tornou-se uma-
Brock, 1988, p. 462), _o projeto do progresso universal através da questão de "e(ioêni::iâ:i)ac1011~f.'e ~
i~·"pifocüpaçãüõaCíô.~ãi'~~~ufüid~~ ..
.educação não careceu de prosélitêisenfiisíastâºf nos sécüfos XIX tx:X: / 'iELCn.frf.essé.-pe _!}ma CQmt.widade como _um tod_o" (Webb, 1904, pp.
.Filãritropõ~ ºigrejâs-eg-õvê-i:-i-íõs-progressÍstas ·estàvam prepârados ·para ,. 9-10).
investir em esquemas para transformar as pessoas em cidadãos moral e Essa visão da educação como uma questão de central imp ortância
politicamente úteis. Nessa visão ilurrúnista de progresso, democracia, para o desenvolvime nto nacional e para a produtividade moldaria
educação e crescimento econômico pareciam caminhar de forma firme forte mente as percepções governamentais da educação, tanto nas eco-
e solidária com a terra prometida da modernização e do desenvolvi- nomias em desenvolvimento quanto nas desenvolvidas, no curso do
mento. século XX. Assim, um "Panorama da Educação", na revista Th e Econo-
Esse projeto foi facilitado ainda mais, no curso do século XIX, pelas mist, anunciava em novembro de 1991 que o investimento governa-
emergentes disciplinas da Psicologia, da Sociologia e da Ciência Política. mental em educação "compensa. Se a virtude obtém sua recompensa
Essas ciências humanas estabeleceram, inicialmente de forma simples, _no céu, a educação a obtém na terra" · (21/lI/f9·92~p:·--rn~-Nésse
mas com crescente sofisticação, as metodologias empírica e cientifica- ~nten-dimento, a atual crise econômica nas economias européias e
mente verificáveis que identificariam objetivamente sistemas sociais anglo-americanas é diretamente atri buível ao fracasso da educação
mais racionais, apropriados à modernidade, os quais as Ciências Físicas popular em produzir a eficiência nacional. Em contraste, o milagre
e suas concomitantes descobertas tecnológicas tinham facilitado. ~~9nômico das economias dos_"t.ig~es" a$iáücQ~.~é. .Q.!~.~ª !!!~nte ag-ibliE
vel,-n éss·à-visão modernista, ao "culto da educação" nessas sociedades -"'.'
Esse plano de desenvolvimento político e progresso econômico
através da instrução racional é mais clara e influentemente pressagiado · confucianas (p. 13): · - - · --- - ·· - -
no esque_ma utilitário traçado por Jeremy Bentham em sua Chrestoma- AÓ rrie.smo tempo que governos progressistas co ncebiam a educação
thia-(1809). Embór,toriári izaçti'és ·religiosas; pessõa·s ·e-so~ieciâilêsTiiãn~ como vital para a pro moção de uma condição racional e moderna, a
trópicas tivessem, anteriormente, mostrado interesse na instrução 1·l
·.,,.
ciência educaci onal, de fo rma crescente, imaginava uma educação
moral dos pobres, foi Bentham quem, primeiramente, propôs essa apropriadamente científica que transformaria o capital humano. Uma
instrução.sobre um~ ba'~~-científicã; âpropr1adá para críarc.í êfidiôsúreis- influência seminal sobre a visão iluminista de Kant foi a do Émile"'â'e
ql}e. contribuíssem p~;;;··uma s~dedãd~ ..êfém.ocrática liberal .qµ~ .f!i~iJi:-_ Jean Jaéqu~s Rousseau. Uma educação corretamente àr-dênádã~nessã
-tasse "a mâior felicidade do maior ·-núínerci dê pessoas". No plano _visão, revelarià.ciú rêéupérâiii .ã nàtui--e iâ-ve·i-c1ãéieirã..dohõm'em.écriàriã-·
é:-re-srôm.ático, ~ apre~díz~gem tirii ·oc'orria~nürri'loéai' e·s pêcificamente em tod9 indivíduo ·a cãpacidade latente pára a liberâadüiiPiif.)\J'"à
designado e organizado - a sala de aula - através da inculcação de verdade, como aqueles que promoveram umà .. ciência da educação
hábitos de cálculo num regime de observação permanente, mediado por fundada numa psicologia do desenvolvimento neorrousseauniana, no
um sistema ·de recónipensas e punições. _A sala d~ aµla benthamiana .I:!:.ª _fin:;i! d.o s_éçu).oXIX, sustentavam, "o propósito todo da educação pode
um espaço_intensamente comp~Jiti_y9. ÂsiÍçó~s eram-·c urtãs-é--ápeda- ser resumido no conceito de moralidade" (Findlay, 1902, p. 1). Desse
gogia "inquiridora" (exigindo recitação e respostas) ou matética (exi- ponto de vista, ·um método correto ·d.é. educação po_g_~~i~.s~L cientifica-
gindo aprendizagem mecânica) e invariavelmente seguida por exame. . mente estabeleciôo por meio das. ciências huma_nas da Psicologia ~ .<i.?-
Nessa visão utilitária, os governos progressistas da Europa e dos Sociologia e das ciências médicas que inculcassem hábi'té;s· de saúde e
Estados Unidos "tomaram para si a administração das escolas e das l . higiene na população. ·
universidades" (Mill in Warnock 1970, p. 240). Apesar das reservas Era central a essa transformação dos recursos humanos a visão de
liberais sobre o crescente étatisme, pensadores como J.S.Mill e Mathew que exatamente da mesma forma que a economia se transformou do
Arnold acabaram por ver a "benevolência desinteressada" de uma feudalismo ao capitalismo e o governo do absolutismo irracional à
educaç~o patrocinada por um Ési:ad.o~rg.cÍqnal ·como o menor de ''dois democracia constitucional racional, assim a criança transforma-se num
males" (Mill, pp. 239-40), o outro mal sendo, naturalmente, a multidão cidadão útil através de estágios de crescimento e é papel do "bom"
vagando pelas ruas numa ignorância pouco iluminada. O exame legal- professor, cientificamente treinado, facilitar esse desenvolvimento. Esse
mente obrigatório, o mecanismo que claramente indicava a benevolên- progresso desenvolvimentista da natureza infantil, eloqüentemente
112 113
educadores progressis ta~. Por volta do início dos anos 1970, educa?or es
pressagiado no Émile de Rousseau, adquiriu forma material nos expe- como Mdntyre e Morrison (1971) podiam se basear numa quantidade
rimentos pedagógicos de visionários educacion ais como Pestalozzi e imensa de dados científicos que podiam facilitar melhorias na eficiência
tornou-se crescentemente regularizado e cientificizado no pensamen to · docente e, por sua vez, melhorar a eficiência das escolas em dar uma
pedagógico de Herbart, S~cer, F~oebel, D~~Y, !'-1~ ~sori e Mac- educação útil para sua clientela.
millan. Era centrafa essa g_eêlagog1a do desenvolvimento o papeÍcÍo
A imagem de uma população cientificamente educada é isomórfica,
b.-. professor tanto ~p.9.-un:urr9..delo a ser imitado quanto coroQ_lliP portanto, à de uma modernid ade plenamente desenvolvida. A realiza-
. volta do-"··-
Por
- ---
1aãl1taaõ rd'áºãprenctizagem através do fazer.
-··-·
início do século XX, os colégios da Euro pa e da
ção dessa imagem exigia, por sua vez, uma personalidade cientificamen-
te transform ada, uma personal idade que revel asse a ple na
América do Norte estavam treinando os professores numa pedagogia potencialidade de uma natureza humana latente ou obscura. A fim de
do desenvolvimento apropriad a a cada estágio do desenvolvimento alcançar essa transform ação, uma ciência educacional armada ·com
racional da criança. Essa ciência do desenvo lvimento permitia que o dados sociométricos e um conhecim ento progressivo do crescimento
professor eficiente "traçasse uma ordem de desenvolvimen to" no pro- emocional e intelectual dos seres humanos tornou possível uma meto-
cesso de aprendizagem (Findlay, p. 137). Esse conheci mento deu ao dologia de ensino cientifica mente objetificável. Além disso, mesmo
professor a liberdade para prever as ocorrências da sala de aula e quando críticos marxistas ou neoc;onservadores questiona ram i obiêti-·
antecipar a conexão entre estímulo e reação. Exatamen te da mesma vidade da ciência e a validade de suas prescrições, eles nunca duvidaram
forma que o médico tratava um paciente, a ciência educacional equipava . da possibi lidade de uma tal transform ação progressista. Pará qu~ à
o professor apropriadamente treinado com um "poder de diagnóstico modernid ade progressista - todos· os discursos pareciam anunciar -
e interpreta ção" (Sadler, 1901, p. 137). fosse realizável era necessário apenas que o desenvolvimen to humano,
Munido de uma ciência do desenvolvimento e da capacidad e para a organização econômic a e o desenvolvimento político fossem apro-
dividir cada lição em.cin~~ PASSOS herbalfia rnr, o profe~sor profission al priada e objetivamente racionalizados.
estava equipado, como sustentava o i óso o estadun ide nse William
James, "para educar as emoções" Games, 1949, p. 253 ). Nessa visão, o Discurso, Genealogia e Ciências Humanas
professor treinado levava a criança, "naturalmente", em direção a novos
conceitos. Na l;dh~gia transform ativa de Margaret Mcmillan, uma
nova raça de tra ai adores do ensino e da saúde educana a imaginação Vamos perverter nosso bo m senso e permitir que o pensamento
através de seu domínio da:_)ogã~Esses professoré;-enfermeiros criariam brinque fora da mesa o rdenada das semelhanças (Deleuze in
"jardins de crianças", na favela"urbana, os quais inculcariam hábitos de Bouchard, 1977, p. 23).
higiene. Ji saúde, -~~§i..lJl__çl)Jlli)_Q_Ç_re~çimÊ!!.to econômico,_e,r,a._<1gQE_ um
-
1
.'.'.li.~..r9g_µto·êló ·ensin9_: (Macmillan, 1903, p. 200). 1
Em suas tentativas , às vezes obscuras, para obter uma outra compreen -
Essa visão do ensino eficiente e científico oferecia a perspectiva, no 1
são, aqueles pensadore s historicistas nos quais, como sugere Richard
período após 1920, não apenas de um d$5envolv imento_ racional, mas
1
1
Rorty, "o desejo de autocriaç ão domina", têm exposto a densidade dei
também de uma ordem social. A escola tornou-se "o centr-;-ae interesse
;11arcisismo ocidental e_seu _longo e~fo~ço_~ ~t_afí~i~.9 para l~JCalizar uma
para todos os enVÕ!víãõs'nô trabalho de melhoria social que afetava a
_essência por trás da aparência e uma verdade obscureciêfa -pela~1n1aõ. ·- <-
vida infantil. O trabalhad or social na clínica para recém-nascidos e no
o O enfraquecimento das fundações ilürriinistás· da epistemologíã--põr
jardim de infância gratuito deve seguir jovem a seu cargo até a escola
parte de .<:~crito_r~s__irracion,\lis.tas, de Nietzsche a Foucault, Derrida e
infantil onde o médico e a enfermeira já estão em alegre função .. .
Deleuze, leva-nos a considera r as implicações de seus projetos arqueo -
Comissões de Cuidado procurarã o manter a criança em forma e em
lógicos e genealógicos para as Ciências Humanas em geral e a Ciência
freqüência regular... enquanto , ao final, o serviço de trabalho juvenil Educacional em particular.
entra na escola pàra registrar o trabalhad or potencial" (Allen, 1916, p.
217). Ao menos desde A História da Loucura (1976), Foucault, Deleuze,
Guattari e seus "companh eiros de jornada", buscaram ficar fora das
) \ .partir de outros desenvolvimentos na Psicologia Aplicada e na
tradições estabelecidas de pesquisa a fim de demonstr ar que o 4~~e11-
-~99.)Qg g...~2,Úuso dos anos 1:%0 é-i97Q, foi -possfrêl"cientÍfic1zaré
volvimento epistemológico nas _Ci~~cias Humai:!~~ atua de formã pQ\í:
. 9-l;>j~tifiqr_Jü_ngil_mais a sala de aula, o professor e o aluno,_Estudõs .. !ica. A pesquisa está intimame nte implicada no gerencíam ento prático
sociométricos e pesquisas' de ãtitudes ofereciam dados objetificáveis de problemas sociais. Um vocabulário científico não oferece apenas
para provar as observações impressionistas de gerações anteriores de
115
114
t~·.-,;,•
.. função legitimadora"; ele também constrói um olhar que torna transmitindo ou distribuind o carac re rísricas d iscursi vas particulares na
uma
· , 1 aquilo que Deleuze descreve como " a nova paisagem . . l" forma de um diagrama (Deleuz e, 198 6, p. 55 ).
socia .
v1s1ve , .
Arravés da observação metodica, os novos " o b.1etos d e mreresse
· " ·d
I en- Essa contestação discurs iva a uma razão essencialista, universalizan-
tificados nessa paisagem foram inseridos numa rede de práticas melho- te e fundaci o nal tem profundas implicações para uma leitura pós-mo-
rarivas ou terapêuticas. dernista do governo em geral e para a prática da educação em particular.
Segue-se disso que o pós-modernismo evita a reivindicação cientí- Cen tralmente Fo ucault distingu ia uma mudança na genealogia do
fica à originalidade, à descoberta e à melhoria da condição humana. gov erno ocid;n-ta1;_~cfe u_
r:nª soherãnta 1un9tea P'.'--'.~ª gov_~.!:n~en~jíl}aa-=--
Foucault, em partiçular, buscou separar a VQflt~de científica de sab~r _ ae de um pocfú de morte que um s~be ran o patnarcaf exe!~~~ _sobre u1::
t> da idéia de progresso humano, considerando ess~ projeto es~enci~li~t~ ~v Õ.sujêi ta-do a um põder-êfe ·v ida sobre úmã'p6p~cáõ ad.m0isrrãêra.
como sendo, em última instância; p"olítico. "O conhecimento do ho: Essa··mudariçã; expl orada mais notave lmente em Vigiar e Punir (1977)
· mem", ele sustentou, "diferentemente ·âas' ciências da natureza, está e na História da Sexualidade (1978) e em sua conferência publicada
sempre ligado ... à ética e à política" (Foucault, 1985, p. 328). Assim postumame nte como "Governamentalidade" (Gordon et al. , 1991),
que entram em funcionamento, pois, as Ciências Humanas "ofendem oferece uma perspectiva potenci alme nte iluminadora sobre o poder, a
e reconciliam, atraem e repelem, quebram, dissociam, unem e reúnem; sociedade civil, a ética liberal da li be rdade individual e suas impl icações
não podem senão libertar e escravizar" (p. 328). Conforme David Hoy : para uma ciência pedagógica progressista.
O conhecimento do homem .. . está ligado à política, isto é, ao poder, Em particular, a mudança discursiva ocorrida no século XJX - da
uma vez que o conhecimento não é apenas colocado em uso, mas os so berania co ncebi da em termos jurídicos para uma nova preocupação
usos que temos para coletar conhecimento determinam eles próprios com a técnica gerencial - , abriu um novo domínio de governamenta-
que tipo de conhecimento adquirimos. Q~çinh~firr,.~nto não é_9_9!i...9.9. _ lidade e criou, na frase de Deleuze, "a nova paisagem do social"
independentemente de seus usos, mas os fatos cõrecãâõs- estarão (Do nzelo t, 1979). O novo campo de governo - Foucaulr argumentou
.funcio'nálmente · relaciónâdõs- ãós-usos que lhes serão dados (Hoy, - era a população e as técnicas que se desenvolveram para adminisrrá-
1988, p. 19). la. Nesse novo domínio, a família, que anteriormente funcionou tanto
como um modelo da soberania quanto para a soberania, foi deslocada,
Nesse esforço disciplinar, Foucault identificou uma interação entre "um se ndo relegada a um instrumento para a administração da população.
código que rege formas de fazer coisas .. . e uma produção de discursos Em contraste com a soberania jurídica e a sua preocupação com a
verdadeiros que servem para fundar, justificar e fornecer razões para ordem, a governamentalidade e a ciência política que veio a acompa-
essas formas de fazer coisas" (Foucault, 1981, p. 8). O discurso expres- nhá-la na forma de administração pública, cuidado com a saúde e
sa, na verdade, a forma '.'como os h.on:iens g<Y'".'.Çn?am a si próprios e a _ educação popular, tinha como propósito não o ato de governo em si,
outros po~ mei9 _da_pr_~ dução_~ê-'!:~r_c!.~1:~'- _!a.r _".~~_9,a..9e1.._~lé~_.?i~~~1... mas "o bem-estar da população, a melhoria de sua condição ... e os meios
f:!)LICaul_t c:qrrwreer1d_ia não a produção de um enunciado verd~~e_!~Q,. que o governo usa para obter esses fins são eles próprios, em certo
. _rna.~~_(oç!_I!.i!çA,o__g,~~-c;l_g~[1_ú,9.f~~s g~~1f.'.I~efátg=~:~:?·:v_~(da<l.eiro ~ d_o sentido, imanentes à população : é a própria população sobre a qual o
_fals9__e._o~uu.o..m~r..P-mint:nt~:· (1981, P· 8). . - governo agirá, seja diretamente, através de campanhas de grande escala,
Seguindo Georges Canguilhem, Foucault sustentava que seu tema seja indiretamente, através de técnicas que tornarão possível, sem a
não era a sociedade como tal, mas o discurso do verdadeiro e do falso, plena consciência das pessoas, a estimulação de taxas de natalidade", a
"pelo qual quero significar a formação correlativa de domínios e economia, a saúde e a educação moral {p. 100).
objetos"._O discurso e;,_conseqüentemente, como Deleuze argumenta, Essa preocupação emergente com a população era para Foucault
uma '_'~~_n;~d9.ri,! pol(tica", cujo murmúrio anônimo espalha-se a partir absolutamente fundamental à invenção de novas técnicas de poder. A
de locais institucionais e invoca dois "registros". Em sua relação com o transição que ocorre ao final do século XVIII, na Europa, de "uma arte
conhecimento e seus objetos de interesse, o discurso exibe "princípios do governo a uma ciência política, de um regime dominado pelas
i!"l:_:m ences ~e re&ul_a~_idade". · · · · estruturas de soberania a um regido por técnicas de governo, baseia-se
De forma significativa, a maior parte das pesquisas em Ciências no tema da população e, portanto, também no nascimento da economia
Políticas pouco diz que seja impressionante, original ou mesmo mera- política" (p. 101).
mente interessante. Novos enunciados são raros. Entretanto, esse dis- Entretanto, Foucau lt não pensava que tivesse havido uma simples
curso também descreve programas planejados para moldar ou inventar evolução ou progresso de uma sociedade de soberania para uma socie-
a..r.e.._afül~9.~ soei~. Como explica Deleuze, o poder é genealógico -
dade disciplinar e a subseqüente substituição de uma sociedade disci-
116
117
tã$.%;::.-.
l•~:.,· ·
[ .~·· --
,1 .. -
p\inar: ·p or ·um sociedad e de governo. Em vez disso, ele argumen tou,
explica, "enquadr ando processos naturais em mecanismos de seguran-
"tem-se um triângulo : soberania -disciplin a-governo, que tem comg_seu
ça" (p. 138 ). A libe rdade aqui não é uma virtude, mas uma técnica
~\y9, primário ~ p__ç,_P.ul~o e com~ seu_mecarii~mo essencial os ~paratos
necessária de "governar os processos na tu rais da vida social e, particu-
'àrs~ànça" (p. 103). ~e proieto isola a ~1gura _d_a economia ~.o m_o larmente, aqueles das trocas auto-interessadas" (p. 138 ). No tem po, a
um setor específico da realidade e a Economia Pol1t1ca como a c1enc1 a
segura nça das leis e a liberdade individual se pressupõe m muruamente.
e a técnica da intervenç ão do governo naquele campo da realidade . N a
Além disso, como um correlato necessári o de uma "nova forma de
v~rdade, o que se torna importan te para a modernid ade não é tanto
governar , a sociedade civ il pode ser vista co mo forne cendo uma base
aquele curioso objeto - o Estado e sua · estatização da sociedade -
pa ra racion al izar a regulação legal de um governo autolimit ador,
quanto a governamentalização do Estado.
econô mico ou frugal, vinculado referencia lmente a processos econômi-
Como Graham Burchell (1991) explica de forma interessante, o cos" (p. 138). A sociedade civil situa o problema do exe rcício do poder
desenvolvimento de técnicas de governam entalidad e e seguranç a sob a político em relação a um domínio aparentem ente natural no qual o
orientação da economia de laissez-faire exigiu, paradoxa lmente, a poder, na forma de re lações espontan eamente desenvolvidas de auto-
liberdade na esfera da sociedade civil. O princípio do laissez-faire, que ridade e subordinação, já existe numa relação dinâmica interna com o
e
se desenvolveu a partir das teorias fisiocrãticas"fraiiéêsàs dÕ ·cetidsmõ· ·
--il~-~i~ts-tà 'escÕcê~. êf~ I-luf!1e,·Fe1:~~9..t:i•.<:.."S!l'iLth; permTtiu qüé-Bentnâm
exe rcício de inte resses. O papel do Estado define-se por referência a
uma sociedade "natural" já existente e é essa natu reza aparentem ente
- efab~ r~§~_"_1.ün "pjQkt_ç_ ~ifü~E!?. ~~s~~~~- ~~ma novã...
p.o.i:tuÍação _e da riguez~ (Burchell, 1991, j;:'TT?f. Efese constituiu
oõjet1tic~~~9_ 9i_ autoprod uzida da sociedad e civil que o Estado te m que assegurar que
fu ncione de forma otimizada. Isso exige a regulação de seus processos
como "um princípio de governo de acordo com a natureza das coisas, naturais po r mecanismos de seguranç a que coloquem a sociedade numa
pressupondo uma especificação dos objetos de governo de uma forma posição complexa e var iável tanto dentro quanto fora do Estado. A
tal que as regulações de que eles necessitam são, em certo sentido, sociedade civ il e o homem econômico natural são, na verdade, os
auto-indicadas e autolimit adas, com a finalidade de assegurar as condi- correlato s necessários de uma tecnologi a política de governo.
ções para uma função otimizad a, mas natural e auto-regu lada" (p. 127).
A Ciência Política, portan to , torna possível uma realidade transa-
A preocupação com o novo objeto da populaçã o to_rnou possível um
cional. Esse dom ínio na fronteira do poder político e daquilo que
_sujeito econômico baseado no inter.ess~ ;dculist~ , em vez de ~m sujeito
naturalm ente evita sua apreensã o oferece um terreno fértil para a
j u n ~ r contrato, à lei. Como argumen ta Burchell, essa
inovação experime ntal. Ela permite a formação de tecnologias tatica-
mudança crucial_eliminou restrições "sobre a busca do interes_se priva-
mente polimorfas, como o panóptic o benthami ano e a estratégia cres-
·a
do" e epistemo lógÍcae "praticam ente impfiê:Õu de;quaiif ic;ção- d;
soberania sobre o processo econômi co (p. 134). A Ciência Política, em
tomática para governar as vidas individuais. Essas novas tecnologias
outras palavras, criou a sociedade civil como o domínio da governa- moldam a conduta e os desempe nhos apropriad os à sua produtiva
mentalidade. inserção nos circuitos da vida social. ·
Esse novo poder sobre a vida desenvolv eu-se em duas formas
Entretant o, como Foucault e depois Deleuze e Donzelot descobri-
básicas ou, mais especificamente, constitu iu~ois p~~os ~e de_s!,'._nyç,Jxl~-
ram, essa nova governam entalidad e não contestou abertame nte o qua-
,!Jlento" (Foucault, 1978, p. 135).JJ.w._pólo centrou-s e no corpo, como
dro unificador de soberania legal e política. Em vez disso, questiono u
a identificação da razão governam ental com a razão totalizad ora _da
uma máquina caracteriz ada pelo desenvoTvimento ·das
disciplinãs, "uma
anátomo- política do corpo humano" (p. 139). O segundo pólo focali-
soberania ou do Estado. "Reform ular os objetos, instrume ntos e tarefas
zou-se no corpo da espécie, 2-. ROpul_aç~o. <;~. gf[~, cuja süpérvisão "foi
do governo com referência à sociedade civil torna tanto possível quanto
efetuada através de uma série inteira de intervenções e controles
necessário reformul ar também o problema entre o governo e a unidade
regulatór ios" (p. 140). Houve "uma explosão de técnicas numerosas e
legal do Estado" (p. 138). Na visão de Foucault, o liberalismo começou
diversas para obter ª ~subjugação dos corp9s_ ~ºcontro le das e9pulaçõ es,
com "o reconhec imento da heterogen eidade e incompat ibilidade dos
.IT\~nd o o começo de uma era de biopoder " (p. 140). Assim, como
princípios que regulam a multiplic idade não-totalizável dos sujeitos ·
GillesDeleúi.e observou, "as duàs funções puras nas sociedades moder-
econômicos baseados no interesse e aqueles que operam de acordo com
nas serão a anátomo- política e a biopolítica e as duas questões puras,
a unidade totalizado ra da soberania política e legal" (p. 13 7).
as de um corpo particula r e de uma populaçã o particular".
O objeto de uma Ciência Política, portanto, tornou-se o de assegu-
De forma crucial, o biopoder exigia o desdobra mento da sexuali-
rar condições para o funciona mento otimizad o e, tanto quanto possível,
dade. Situado na junção "do corpo e da população, o sexo tornou-se
autônom o, dos processos econômic os na sociedade ou, como Foucault
um alvo crucial de um poder organizad o em torno da administr ação da
118
119
vida e não da ameaça da morte" (Foucault, 1977, p. 147). Uma Uma Alternativa Pós-Modern a ao Gulag da Terapia Gerencial
combinação de mecanismos disciplinares como a escola, o hospital e o
hospício articulou e ordenou o biopoder. Essa biotecnologia empregou
Pois o próprio fundamento da pós-modernidade consiste em ver
táticas cuja
o mundo como uma plural idade de esp aços e temporalidades
operação não é assegurada pelo direito, mas pela técnica, não pela hete rogêneas. A pós-moderni dade, assim, pode se de fini r apenas
lei, mas pela normalização, não pela _punição, mas pelo controle, no interior dessa pl ural idade (H elle r .& .Feher, 1988, p. 1).
métodos que são controlados em todos os níveis e por formas que
vão além do Estado e seus aparatos (p. 89). Ao ge nealogizar dessa forma a mode rn idade, o ~ -modernismo
claramente mina as fundaçõ es epig~n:iológicas tan t9_da Ciê ~ci a Política
Em particular, as Ciências Humanas transformara m a técnica religiosa .cji:úfri'~ê;-~-~ Ciênci a Eduéáclo n;l. Co lo~~- im- d6vÍcÍa a noção de hi;tórfa
da confissão, sub°mt:Üind~-i-regra ·objé-rívãaõ··ríõi-õi.arecfôpâfü1õgifü .. c·omo pr:~i-i:'sso;-a nÕção de sõêiedacfeciVIn:omó õ cfómfo'wcfe
- ~ ir~-~-~~P~ª~ji~iQ[~f<:~Ú~~-~~:~i~~~~L : o pecado:.A formaçao -- ~ d e do-Cldãdã·Õ·autôn omo e maduro e·-a·i·déia de-um-g-:e-ssêõ ãa.õu
desse olhar normalizador necessitou ainda do desenvolvimento de naru; ~i;-q~;;--gÕv êrno -prà.gi:-éssisrã devê ria .r aé(onal~en te facil~~.
mecanismos regulatórios a fim de q.!}alifica!i medir, julgar e hierarqui- --··":E~;;d ~;~-mist-;i.içao' de~oli cl~;~ da modernidade democrática líbe-
zar-: Trata-se de um mecanismo de normal(zação mais claramenfe ral tem levado diversos analistas, notavelmen te Habermas (1988 ),
evidente na ciência educacional que veio a moldar o treinamento dos Rorry (1991) e O'Sullivan (1 993), a criticar o aparente niilismo do
professores e a regularização do espaço de sala de aula. discurso de pós-modernis tas proeminente s como Foucault, Deleuze e
Esse novo modo de biopoder, central à prática da moderna peda- De rrida. Em particular, eles têm observado uma "tendência a deixar a
gogia, exigia não submissão, mas um- -·jogo de sedução. Portanto:
~· . .,. _______ ____ ··-
_g~~~onstruçã o degenerar em algo pior qu~ 9 _relativismo'.;. No
Fouc~i:;-ic .éles.. denunci·ài-am sua própria
·e~~ de
"versão da obsessão mamsta
Captura e sedução, confrontação e reforço mútuos: pais e filhos, -é'o-ri-Í .desinascarar" relações de poder (O'Sulli~~~' Ú93~ p. 33). · -
adultos e adolescentes, educadores e alunos, médicos e pacientes, o -- -Aiém disso, quando ·~~ .pós~-~~dernistas oferecem sua versão alter-
psiquiatra com suas histéricas e seus pervertidos, todos jogaram esse nativa da libertação eles tenderiam ao inócuo e ao incompreensível.
jogo continuamen te desde o século XIX. Essas atrações, essas eva- Assim, em boa parte do pensamento social pós-moderno , notavelmente
sões, esses incitamentos circulares desenharam ao redor dos corpos naquele proposto por Jacques Derrida e por pós_-feministas como Julia
e sexos não fronteiras a serem cruzadas, mas perpétuas espirais de Kristeva e Luce Irrigaray, "a política desaparece da vista, sendo s.ubsó-
poder e prazer (p. 45). tuída por uma fé ingênua, quase mística, na harmonia natural, a qual,
se presume, será automaticam ente trazida pela desconstruçã o" (O'Sul-
Por volta do início do século XX, as exigências da governament alidade livan, p. 34). Nessa leitura, a pós-moderni dade deixa-nos com uma
tinham criado não uma modernidade progressista, mas um complexo mistura preocupante de desmascaram ento de relações de poder e uma
rurelar de conselho e segurança. A escola, o hospital, as agências }é_jnócllél, 11c1 cJ.ifférance. Existe - perguntaríam os - algo além dis·so?
multivalentes do bem-estar social, todos forneceram locais institucio-
Claramente, da perspectiva pós-moderna , a fé racionalista no
nais para uma constelação de conselheiros e técnicos praticar as estra-
progresso, que constrói o tempo histórico de forma positiva, desapare-
tégias de um biopoder sobre uma _P.Qp_qjaç~.Q . E~~s_c~n~-~~~!~. ce. Essa idéia de tempo ocorreu durante um período de enorme
~C:r~peutizada . Estratégias que podiam ter os objetivos aparentes de otimismo sobre a capacidade da vontade humana de moldar a história
"dizer não a tÓdas as sexualidades errantes e improdutivas ", na verdade, e fazê-la conformar-se às aspirações humanas. Em contraste, a pós-mo-
"funcionavam como mecanismos com um duplo ímpeto: prazer e dernidade reconhece que os eventos são contingentes. A transição da
poder" (p. 45). Uma tal modernidade movida pelo biopoder, na verda- modernidade à pós-moderni dade, como Antony Giddens tão prescien-
de, "questiona, monitora, vigia, espia, investiga, apalpa, traz à luz", de temente observou, está "limitada pela descoberta de que a razão não
forma incessante. Por volta do final do século XX, essas estratégias cria racionalid<!_de". Não existem, como conseqüência, rríais mêra~-
rutelares saturavam a família urbana com normas médicas, psicológicas .. ra.tiva1> propondo a marcha para frente e para cima da !~_zão. De forma
e pedagógicas. igualmente· impressionan te, a pós-moderni dadê -ríâo -oferece qualquer
120
121
possi.bi\idade de uma respo sta radical ou
"uma polít ica rede nto ra de
qual quer tipo" (O'S ulliv an, 1993 ). tente entre co mpan heiro s de ironi a e o recon hecime nto de que a
Mais: o discu rso pós-m oder nista subv erte "crue ldade ~ a pior coisa que fazem os" (Ror
a noçã o de uma iden ti- t y, 198 9).
. dad; coere nte e de um indiv idual ismo com Um conservad orism o pós-moder no, em
um ego segu ro, fund amen - con traste, ofere ce uma
tado na natur eza hum ana. Não exist e, na verd respo sta mais cética ao cola pso da certe
ade, nenh um eu essencial, za racio nal. Assi m, tanto Grey
~pen as ~~ j ~~5!~dC:_ _Co~tingentemen (1 992) q uant o O'S ullivan ( 199 3) têm cham
~~_!] ~gQÇ EQ.< !_~ ~T ado a atenção para o
dese ncan to (Rorn'..,__1989f ou em desin tegra problema pol ítico prático de reneg ociar a
ção perp étua. Na pós-m o- relação entre a auto ridad e
dern idàc iê, .tudo..é questlõnaêlo, tudO éprO política e a ident idad e móra l na pós-m
viso rio··e toao indiv íduo é oder nida de. Enquanró a Ciên cia
assom brad o pelo arrep endi ment o de ter perd Polít ica e a T eo ri a Política e Educ acional
ido o que pode ria ter sido. mais radicais tenta ram livra r-
De fato, é cada vez mais centr se do pode r através de meca nism os de respo
al, ao proje to pós- mod ernis ta e à sua nsab ilização e distr ibuição
respo sta à reali dade trans acion al da polít (no mod ernis mo educacio nal os estud antes
ica, ques tão da iden tidad e.
a são participan tes iguais no
Com o se age, ou no noss o caso, com o se ensin proc esso de a pren dizagem), a pós-m oder nida
a, num mun do mold ado de cada va mais recon he-
não por causas mas pela cont ingê ncia e infor ce o pode r co mo um fato social e polít ico
mad o pelo ceticismo e pela inescapáv el. Dessa perspec-
ironi a ? De form a igua lmen te impo tiva, a iden tificação pós- mod erna da cont ingên
rtant e, de uma persp ectiv a polít ico- / · cia dos arran jos políticos
peda gógi ca, com o man ter uma orde m socia e educ acion ais pode ser trata da através do
l plura lista na qual toda s as recu rso à ex periência tradi-
velha s hiera rquia s foram destr uída s e toda ciona l e cultu ralmente específica.
s as difer ença s receb eram um
certi ficad o de valid ade? Assim, Grey e O'Su lliva n obse rvam que o prob lema pós-m oder nista
Deve-se enfat izar, aqui , que o _e_mpr<:_endim tem, em várias ocas iões, invo cado pens ador
ento pós- es polít icos euro peus pré-
_no~n alist a e hist<2_ricista. mod ernis ta é ilu mi nistas, nota velm e nte Mac hiavelli,
Cons eqüe ntem ente , ele nega Hobbes e Mon taigne. Para
nista .parã fi.iiídái:-uma"Iiiiguagem da o esfor ço ilum i- O'Su llivan, o prob lema de rene
prese nça, gocia r um senti do de identidad e e
não- meta fóric a e objet iva auto ridad e requ er um retor no à política lim
ou trans paren te. Em outra s palav ras, ele itada prop osta por Hobb es.
reco nhec e apen as uma pers- E!"!}.1~r.Q1..Q~ ~du~acion ais, um currícu lo pós-
pectiva parti cular , selec iona da de uma mod erno rene gocia do reco-
varie dade de comp etido res n hece ria a co nting ência- de .üm i-prá ticae
pote ncial ment e válid os. Com o tal, uma cfucacío nal parti cular e reco-
mesm o temp o, mold ada por seu próp rio
persp ectiv a parti cular é, ao _:~tíéc~_r/ã_ :em~i:~\~~~
q1:1e~- ~i ' p_?uéo::?fe"recf ·_d~ r~su ~iªo sú~i-~t~?_S:_ - .
pass ado cultu ral e ofere ce De form a inter essan te, e com um tom mais
apen as uma presc rição mutá vel e cond radic alme n te social-de-
icion al para o prese nte. Tal . mocr ático , Habe~~as. (198 8) e
modé stia, natu ralm ente , cont rasta com os Zola (Y99 "Ifta ~lliJ Ü!l·a ~;'c~nsà ênci a
gran des plan os racio nais da dos limit es do proje to ilum inist a. Dess a
mod ernid ade, mas não nega as poss ibilid persp ectiv a mais radical, uma
ades nem da filosofia, nem da pól is pós- mod erna
educ ação . apro priad amen te comu nicat iva exigi ria um currí cu-
lo adeq uado às exigê ncias retór icas de uma
Polit icam ente, pois, o pós- mod ernis mo ofere cosm ópol is cada vez mais
ce uma gama de pos- plura lista. Uma educ ação civil é vital para
sibili dade s e respo stas imag inati vas, limit estab elece r um camp o dé jogo :\
adas e nece ssari amen te retór i- comu nicat ivo plano .
cas, à pred ição caus a tiva. r~r:~.1.:1.m. )ip_Ç_t<!Lb! '!
-!!Xl!~~-P2 S-mo dern ista ~~-1!1~ Uma peda gogi a pós- mod erna plura lista,
Rich ard Rort y, a saída está em aban dona na verd ade, ofere ceria
r a~ç~ ~qJº gias e total izaçõ es certo s recur sos tradi ciona is,
' '7~_péé19i~ ~ e_f!.Y9lvér~~i.~ m:frr í_i:i ~1õêr íição 1r◊ri
junta ment e com a possibilidade de uma
nece ssari amen te cond icion al e o eu;· jurir iç~, Tod a expe riênc ia é inter roga ção intel igent e e expe rime
ainen te com a pólis e a escol a, ntal de práti cas cultu ralm ente di-
está num cons tante estad o de rene goci ação versas, num espír ito de auto criaç ão e comu
prom etéic a. nicaç ão incessantes. Ao
mesm o temp o, uma nova aber tura peda gógi
Um tal liber alism o pós- mod erno aceit a que ca resistiria à poss ibilid ade
a peda gogi a ocid ental alter nativ a preo cupa nte de a pós- mod ernid
não tem nenh uma asser ção univ ade recua r a uma iden tidad e
ersal e está limit ada por sua próp ria essen cialis ta, àqui lo que Rort y cham aria
"mô nada " cultu ral. Cons eqüe ntem ente , de uma môn ada cultu ral
uma, _pc;dagogi~ liber al pós- mo- fecha da, ou a um geren ciali smo peda
dern a tenta facil itar um _q_Uf:Sti9namen gógi co deter mina do pelo Estad o.
to irô"nicô d9 c_u~r~:~~~- ~~er~I!. A últim a poss ibilid ade, para um grup o cresc
mas um currí culo livre das tenta tivas para ente de pirro nista s ocid en-
local izá-l o num a mora lidad e tais, cons titui o gran de med o pós- mod erno
racio nal fund acion al.__No luga r de verd ades . Em vez de urna intro duçã o
univ ersai s, segu indo Niet zs- às limit adas poss ibilid ades ofere cidas por
um currí culo irôni co não- re-
che e Heid egge r,. ~?'~~te . ipenas à" ·per spee ffy~ ~~J fü~~ ~-~~ ..fult ur~ dent or, livre ment e nego ciado , o Esta do
educ acion al geren cial pren de
.9!:1~.hÊ:~itàmos e imag inãt1 vame nte inter seus mem bros em relaç ões de cresc ente
rõga rriós e reinventa!!!.Q~- Tra- depe ndên cia, atrav és de uma
ta-se de ii"m Jirag m-ati smà i"~~g füiriv o füdiê
-e· ãmente irôni co. O cime nto maq uina ria de crede ncial isrno e exam es
cons tante s. Assim, escri tores
cons titut ivo desse arran jo polít ico-p edag com o Chri stop her Lasch e Phili p Rieff têm
ógic o é a solid aried ade exis- meta foriz ado o ocid ente ou
122
123
~ .";;:, mau, pcec;,amcnt c a G!l!fó~!__•.. co~_um _':"!_'Yº h_o sp; ta1ac no _(@ai possi bil idades 1mag1_naciva.s que: a contingência oícre.ce . U ma educação
pacientes cada vez mais na rc1s1stas, em vez C['C c1cfo d;iQs,_rcc_cb~i:n aprop ri ada mente pos-modern a torna-se uma propedêutica a uma lin-
conselho de uma variedad e de terapeutas forncc1dos_~l o Estad q. Essa gu agem qu e co nsrnu, a unid ade: comumcar1va da pólis moderna_
gerénciã terapêutica~ n_ã~ ape-nãs- de _n-ar cí~í~tâ~- ps.íéológicos , ~as dos Em ou tras pala vras , a pós- modernidade co nvida a uma resposta
novos movi mentos soc1a1s que lhes dao leg1rtm1dadc - ecol ogi a, femi - pl ura lista à con dição continge nre que an unci a_ Como cal, ela ofer ece
nismo, an ti -raci smo - é incompatíve l com uma reinventada pólis espaço pa ra uma interrogaç.áo intcl ige nrc de: práuca.s passadas e uma
pós-modern a de plu ralistas cosmopolita s. Esses movimentos buscam respos ta imag in ativa a novas con ri ngéncias. Uma cducacão comunica -
uma transform ação fundamenta l do "paradigma da vida", um a trans- tiv?__não-rede ~o ra é cenrr~ ( . rica comunicativ a da pós-moderni da ~
fo rmação que, em última instância, entra em conflito com as modestas ~ -- -- ·
possibilidad es de uma política e uma educação limitadas. Como seu pluralismo e rela rivismo sugere m, uma nova pedagogia
Esse novo fundamenta lismo e a certeza identificató ri a qu e ele será aberra, cm uma era de gl o bali zação, a con cribujções e práócas
oferece aos inseguros narcisistas é "a má consciência da condição culrurais de tradições alre rna rivas ou dife re ntes (confuc10nismo, isla-
pós-modern a flagelando-s e a si própria por sua excessiva indulgência mismo, etc.).
para com o relativismo" ..A retrib alizaç~pote ncial da pólis pós- moder- El a de ve resistir , enrretanto, a um recuo à tirania de uma verdad e
na exi.giria uma gama crescente de intervenções governamen tais para _única, çienrífica,re_!i_giosa o u esse ncialista~"Recon hecendo que o cu é
distribuir e equalizar as reivindicaçõ es de proliferante s soi-disant comu- - essencialmente conri ngen re e um consrruto das linguagens que habita e
nidad es. Um tal desenvolvim ento veria a substituição final da tradi ção modifica, a pedagogia pós-moderna é irônica e aberta. Ela nega uma
ocidental da educação liberal e do espaço político e pedagógico que naru reza ou um esse ncial ismo abso lutista. - ---- - ·-
aq uela permite por uma preocupante política pós-modern a de adminis- A desvantagem preocupante de uma nova ordem mundial sem
tração e segurança. ideologia é o recuo ao fu ndamentalism o, se ja de caráter ét nico, seja de
caráte r religioso. O pós-mode rn ista necessariame nte se o poria a uma
Conclusão tal dege nerescência. O reconhecime nto do contínuo problema do poder
numa pós-mode rnidade cética, irônica e distópica tem tom ado possível
Para concluir, tentemos sintetizar uma série de temas. Claramente, o um a renegociação das já limitadas possibi lidades da educação numa
perspectj vismo da pós-modern idade coloca em dúvida o raci o nalismo pós-modern idade cosmo polita o u um gerenciamen to pedagógico alter-
da ciéncia educacional e questiona a virtude necessária do desenvolvi - na tivo de soi-disant co munidades fundamental istas.
mento racional. Ao fazer isso, ele volatiza a natureza do poder obscu-
recido pelo empreendim ento funcionalist a e, em particular, chama a
ate nção para a forma pela qual o espaço da sociedade civil foi desenhado
pel o discurso liberal para criar um domínio de educabilidad e e gover-
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Este ensaio foi escrito especialmente para o presen te livro. Que Posso Fazer? Foucault e a Questão da
Frank Pignatelli
Tradução de Tomaz Tadeu da Silva.
Liberdade e da Agência Docente

David Martin Jones é Professor do Departamen to de Ciências
Políticas da Universidade N acional de Cingapura.

A pesar do uso generalizado do tra~alho de Michel Fouc~ult, tanto na
~ducação quanto fora dela, existe pouco reconhecimento entre
acadêmicos e intérpretes de seu pensamento de que a questão da
liberdade era uma de suas preocupações centrais. 1 Isso não é surpreen-
dente, dada a falta de atenção que o próprio Foucault concedeu a esse
tema em seus escritos e en trevistas. Além disso, a força retórica da escrita
de Foucault, seu estilo densamente descritivo e a natureza urgente dos
tópicos que ele resolveu tratar conduzem o ·leitor para um conjunto
limitado, estreitamente controlado, de questões centradas em torno de
situações específicas, problemáticas, tais como o tratamento do insano
o u do criminoso, a conduta sexual e as práticas éticas. O desafio é, pois,
duplo: aproximar aspectos de seu pensamento que demonstram quão
central era realmente sua preocupação com a questão da liberdade e
extrair sua implicação para questões mais próximas - no caso desse
ensaio, a questão da agência 2 docente. .
Embora o trabalho de Foucault possa ser conside rado co m um alto
grau de interesse por educadores atraídos po r sua forte e vívida crítica
às teorias e práticas sociais e políticas modernas, amplamente centradas
em torno de questões de poder, saber e. discurso, parece-me que
Foucault é mantido a uma distância respeitosa por aquelas mesmas
pessoas quando elas se voltam para o projeto de articular e identificar
uma práxis libertadora e exortar outros a fazer o mesmo. 3 Alguns, muito
provavelmente, podem ser repelidos por seu ceticismo filosófico e sua
p resença auto -anuladora, evasiva, autoria!. Para esses educadores, ver
as condições presentes e possíveis através das lentes da justiça social
1 Uma exceção se destaca. Ve ja Rajchman, 1985, 1986. Veja também Miller, 1993 ,
uma irresistível biografia de Foucault, uma biografia que trata da centralidade da
liberdade tanto em sua vida quanto em sua obra.
2 A palavra agency (traduzida aq_ui por agência) é usada na literatura sociológica
anglo-saxônica para salientar o elemento ativo da ação humana.(Nota do Tradutor).
3 Veja, por exemplo, Beyer e Liston, 1992; Giroux, 1991, pp. 79, 82; e McLaren,
1986, p. 391.
126 127
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WOLIN, R. Foucaulr's Aesrheric Decisionisrn. Te/os, 67, 1986): 71 -86. mo mentos mais cândidos, ele proclama defender. Sua análise de insti-
♦ tuições co mo a prisão, po r exemplo, expõe sórdidas origens, assinala
Ensaio inicialmente publicado em Educational Theory, 43(4), 1993: tendências alarmantes e revela relações de poder e dominação em toda
411-432. Transcrito aqui com a autorização do autor e daquela parte. Além disso, ele mostra como as técnicas disciplinares neo-orwe-
revista. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. lianas aperfeiçoadas na prisão se espalharam como câncer por todo o
♦ corpo social - prisões, escritórios e escolas. Entretanto, a despeito
Frank Pignatelli é Professor da Graduate Faculty, Bank Street dessa prognose pessimista e talvez até mesmo distópica, Foucault parece
College of Education, Nova York. se recusar de forma consistente a identificar ou até mesmo a esboçar
♦ · uma cura. É como se Marx tivesse exposto os males do vampiro Capital,
apenas para dar um constrangedor sacudir de braços, quando pergun-
tado : "Bem, que podemos fazer quanto a isso?".
Acho, entretanto, que essa visão é equivocada. Existe, na verdade,
muita coisa em Foucault a respeito do que "nós" devemos fazer e como
devemos fazê-lo. Ademais, e esse é um ponto que parece ter ficado
amplamente esquecido na literatura, o que ele tem a dizer é de particular
relevância e importância para intelectuais engajados na pesquisa no
interior de um contexto institucional tal como o da universidade
contemporânea .
Meu esforço para demonstrar isso tem dois aspectos, um negativo
e um positivo. Negativamente , argumentarei que o empreendimen to de
Foucault não é, pace alguns de seus mais influentes críticos, um exercí-
cio de ambigüidade e, em última instância, de auco-refutação . 1 Pelo
contrário, mesmo seus mais provocativos "argumentos" genealógicos
não cometem nenhum faux pas; embora talvez questionáveis sob outras
formas, não existe nada de formalmente errado com eles. Uma dose de
caridade interpretativa os vê, na verdade, como surpreendentem ente
1 Os mais lidos nos Estados Unidos são provavelmente: Taylor, 1985; Habermas,
1990, 1986 ; Fraser, 1989.
154
155
p..rtir ~ o...;I d.-., c...io. c.m ~r.;I. tnw,,:uda. ,. ....hu. i dn 1rcd«:nwJ
lb~,\ t cnn11n) - t..ah•n até mo.mo c:n.inávf"~ í ntrrunto, meu orcuri:iO''"" .i uri,.; 1nmtu,'yi"? O <.,an p-<&rJ4.'U"";.!."'1Ca U{!3 d~ r d.fc
~q:umc nlti nào ~ o de Qllf' 'f ouuult adt'rc ao!j clnonri da lóg,ca, formal rente d.iq.i.:le dn ff<lpnn Fo...uult. "1mf~,. de H Jron, ckJ5 SGa:m.u
('U rn!ornu.l. crw. que t.nü u::,ne>à contêm, na verdade, porus de entr ad.. d, Pen..... ~" ro ·· n..;; ~rtxmnc:. 11rn ê. Q'I p!'()Y('~f'CS d.:. ~ ~ lõ.pt,'_.c:fJ
ru~ lotorc1 qut nio 1,io, nrm querem !.l"r, íluent,..~ n0 1arg~o d.J teona e: kelnm.;d.. n<1 .;mb1to d.1 umvcr11d.õd<.
roa moderna
', , 1»0 de que Foucault i,.c: aulodGtró1 adqumu um coru.cn~ gcr.11
Um Me1odo na Loueurn
~ t a1t" rn.c.mo cons, dc-ra.d a coma i.ab1da Afirma -\e que, do ponto de
n \la d.J rraxa. o• "argument o•" ccntrau, de Foucauh .!.ão auto-refuc.á -
O cns;.. 1<> d.. t lo<ol .i e:<,.;dJn ,den <c: N.in<:Y F,L"-<r •M,c,Li.d F~u • A
,et, põrqlll' atâo ba.eado1 no• própr, ,,. 1de;m human1"ª·' que, cm Young Con:>êrv .. ovc>" c,c1:mpl1 fiu (l npo de aíbO 9nh::~ ~ frll.é.c
('tU[r0$ locaa, de re1e1ta. Com uma mã o, ele quer de!,C;inar o proJcto
·Fouc..hJlr r,.;o te:m n.. d.1 c:!e pmttlYo .1 oh:rear~ Fou,c:.;u!--. e'.. .;...;-.::-.e-
hu~t>'la libnal de tom.ar o mund o ma,~ ''humano" Ma!. com a outra,
ta. n~o pode npl1c.ir <> "npo de 1ulf.m14ên.-r> politKO r.crn-tt~ qw e.e
afirma ~, c, Foucau lt parece depender prec11,amente de~a idéia de huma -
íaz o tempo todo - por c:itcmplo. ·" d1sopli rw e urtQ coesa n.. .., ~
no pa ra gera r o choq ue, o terror e a indi gnação que sentimos quando
(Fr.1Ser. \989. p 4 l) t\ ,dn.i d<! quc .is e:~trufUr--'> arcc..-in.:s ..r....~
confro ntado~ com a.à técni ca.\ de do mina ção que ele tão v1vida me nrc
cm V,~r < Pumr ~o ··,o,.s..s nuns " p.,irc:cc: <n rcl~tJY"-..me:;-u: '"lCOrtrt>-
1l mrra. Ele, real mente, se contradiz ? Penso qu e não, e a prim eira parte
versa Mas por que e como eLs v1er.1m ..i ser puce:b1das ~ fol'r."'.:l'
de meu c:n;,a10 aponta para uma forma de ler as genealogias de Foucault ~n.ncs da --a de
Corno um outro ,m.1 list.1 pc: rguncou, qu,;.15 ~o ;is
quc: ._ Qntorna essa acusação, tornando, assim, seu proJ cto mai s acessível
do que frc:qik ntemente se pensa. Foucault (e da noss..1)'" U.Jy . 1986 . p 195) A m.uo r p--...rtt: dos ~,.os
de Fouoult, .i fin ~l. p.1rc:cc: ev1dc:no.Jr, embora de forrtl.l obuqua. U.7
Um;i v c 1 estabc:lec1do isso, entretan to , ainda resta dem o nstrar que forte senso de compromLSSO euco M.i.s, pergunta Frascr, corara que
fouca ult n;io fi ca nada a dever cm o utro sentido : de forma análoga às esrá de ex,uamcntc: e de que cst.i ele J fa vor> E qwus são seus cnttnos
acusaçõ es lcvantadab contra os teóri cos da "reprodução" em educação,
pa ra dcc1d1 r umJ ou outra coisa'
argu menta-se que as teonas de Foucault demonstram aquilo que Fre -
dcnc Jamcson chamou de: "l ógica do ganhador que perde" : na medida Fraser organrz. .1 seu ensaio sobre essas q uesté><:s cm romo de n!orc::s
cm que o te6nco de oposição constrói urna explicação totalizante e humanistas famtl, ares co mo liberdade, ra2ão, autonomia_ rcoproodad.c:
fech ada da forma como a dommação fun ciona, seu leitor se sente e co isas semelhantes. E da argu menta que a fo rma rruus plausi'vd de ler
impotente ; esse téonco ganha ao construir uma "máquina cada vez. mais Foucauh vi.s-a-111.S o hum:in1.smo é q ue: ele ofe rece uma rqc1çio radx:aJ
fechad;i e te rrí vel", mas ao mesmo tempo perde porque o potencial baseada cm "funda mentos norma twos substantiv os"
c:rínco de seu tr3balho é anulado na medid3 cm que todas as estra tégias O problema pode, então, ~cr fo rmula do co mo segue . se Foucauh
de mudança socia l parecem rnv1ais e sem esperança e são, pois, desri - ofe rece uma crítica descomprom,ssa d:i dos ,dc~us hurrutnJStaS., en tão,
rufdl.S de monvaç.10 Uameson, 1984 ).
1
precisamente, onde ele se co loca quando os cnnca> Como pode ele
Em minha inrcrprctaçáo, cntTctanto, Foucauh acaba por derrotar dizer qualquer cotsa, se m apresentar de mesmo algo pos1ovo >
~ lógica :10 ir além i:nnro da reprodução quanto da motivação. Mas Tem -se sugerido que o autor de V,giar e P1.m1r, na verdade, não t.5T:2
para cniC'ndcr prcc1s:1mcn1e como de faz isso, devemos primeiramente s1ruado em lugar algum; ou, mais precisamente, que ele n,cgou a Sl
rcr u.m.1 idéia de seu público - quais poderão possivelmente ser os próprio qualquer ponto críttco pnvileg,ado. lsso ocorre, argumcnt:1-se,
le11ores desse :iutor peculiar. porque nossas respostas J. prisio panópt tca - n~ o terror, raiva,
Dad..2 :i énfase dC' Foucauh na microfísica do poder, :issim como sua impotência - estão enraJLados nos próprios ideais que: estão sendo
recusa d.:i "1nd1gnidadc de fofa.r pelos ourros", est:i claro que ele deve co ntestados: nós abominamos o encarceramento porque ele nega a
s.cr um tinto ci uteloso cm su:is prescrições. M as nesse caso "cautela " autonom ia, o isolamento cel ular e a v1g1lànct:1 porque eles impedem a
n.io s.ign1 (10 siltncio. Em ver. disso, significa uma especific:ição delibt" - reciprocidade, a reincidência da delinqüência porque ela é ,rnao n,al e
r.?da do grupo ao qu:il ck se dirige. Assim, as observações mais concretas assim por diante . Por essas razões, :i postçio de Fouc:iult parece se
~e Fo ucaul t sobre fo ca acabam por referir-se à posição de sujeito a aucodestruir.
Deve-se reconhecer que a crítica :ic1m:1 pa.rtc dos csrudos ge nealó -
1 l'<Klr i.c 40CM, onu um certo p rcssupoSto ps, co lóg,co dessa críuca, por ex., de que gicos de Foucault para desenvolver argumentos que têm alguma susten -
o dnc rtr-..ru,mo leva ,n~ção Ptccisamos apenas lembrar que a ,~s1o de mundo
1 tação . O problema central p:ua Friser e colaboradores, portanto, é que
d nam, r.isr1 pa rad,,:.m ai, ca., o Calvinismo, nun ca 1c1•c falt a de aderentes Foucault se contradiz a s1 pr0pno; de tem, ao mesmo tempo, que negar
.. mo,,,,:>&°'•
157
156
msm o - co mo de a.lega fazê-
o h uma lo, em outro s locai s ·(Fou cault ,
· , 1 comp lexo pr ocess o de
l 970, p. J S7 : 1 ?77a.. pp. 22 1-~) - e ace ita- o ( para f az.er co~n que nos 1ncul caçáo
seja lá o que ele s1gn1f1que - e somo
, acab .mos por acc.i tar esse id~l -
santamo.s mal). E como se alguc m argu s lcvad «i à busca dess,c escor regad io
ment as.se cont ra a lógica fo rmal " igual "; exist e uma busca para 1dent1 hcar
usan do o modus pone ns. algum a mesm ice subja ce nte,
algo tido em co mum po r rodo s e sobre
Este problema.. enrre tanto , parece se r, afina o qi.nl posu mos a.fixar esse
], um pseu do -probl ema. n,guat•· . Na busca deses pe rada
Na verda de . não veio como suste ntar po r aquil o que 005 tOrn.l o "mes mo", e
a idéia de que Vig iar e Pun ir o u a incap azes de enco ntra r qua lq ue r coisa conc
Histó na da Sexua lidad e deva m ser lidos corno reta, pron tame nte aceHamos
cont rad itó rios . Emb o ra um cont eúd o dad o pelo po der hege mõm
a genea.log1a fo ucau lrian a de fato apres ente co. "O pode r abom ina o
uma série de co ntrad ições, vácu o •· , co mo drzem . Som
da não é, de form a algum a, autoc os trans fo rmad os em "'in divíd uos" e em
ontra dirór i a. Po r que não lê -la, "caso s" - so mos obrig ados a nos trans
supo ndo que se deva ler a gene alogi a corno fo rmar em um ideal exter na·
um "argu ment o " no se nt ido ment e ma nufa tu rado.
usual , de fo rma simi lar à reductio ad absu
rdum do huma nism o? Po r qu e Quan do a conf o rmid ad e torna -se a
não pode ser ela uma crític a iman ente que norm a reina nte (talvez, iniciaJ-
torna o di scurs o huma nista ment e, uma mud a nça q uase im perce tíve
prob lemá ti co por seus próp rios padrõ es? l em relaç ão ao ideal da iguaJ -
Dize r que o huma nism o se dade ), in icia-se um p
contr adiz. a si próp rio não é o mesm o que roces so que leva a um al inham ento e a uma
dizer que o argu ment o que
demo nstra esse fato é ele próp rio auto cont o rde naçã o cada vez mais esrre itos de acord
radit ó ri o. Uma tal mano bra o co m agud a norm a. Aq uel es
sena equ ivale nte a mata r o mens ageir o q ue se desv iam dela deve m ser coloc ados
de más notíc ias. na linha ; dev em ser disci pli-
Par:i Fouc ault, os ideai s assoc nados, puni dos, subm e tidos a testes de QI.
iados com o huma nism o não são Dess a fo rma, são cons truídas
me-re ntem ente contr aditó rios, mas a gene as caceg o ri:is de indiv íd uo " desv ia nte"
alogi a revel a que os atos que e de ind ivídu o "nor mal" : "o
dele resul tam parecem semp indi víd uo é, sem dúv ida, o á tomo fictício
re desa credi tar suas palav ras. O discu rso de uma represe ntaçã o 'ideo-
huma nista a servi ço da "refo rma" ou do lógic a' da socie dade ; mas ele é tamb ém
"prog resso " tem com dema - uma real idade fabri cada por
siada freqü ência sido enun ciado a fi m de justif essa tecno logia espec ífi ca de pode r que
icar ações profu ndam ente cham ei de 'disc i pli na'" (Fou -
inu manas; suas cons eqüê ncias cault , 1979 , p. 194). A apote ose desse
práti cas demo nstra m sua falsidade mais proc esso é o "exa me", esta
eloqü entem ente do que o faria qualq uer no velm ente form ada "ce rimô n ia de objet
dose de argu ment ação . A fo rça ifica ção" do indiv íduo. Aqui,
dessa argu ment ação , entre tanto , depe nd e a pesso a é ident ifica da, difer encia da, class
do peso das narra tivas empí- ificad a e marc ada ad infm itum
ricas forne cidas. E cada gene de acord o com a norm a - uma norm a
alogi a fo ucau ltian a está reple ta desses que nasce u da igual dade.
e.x.emplos, uma quan tidad e sufic iente dos Em segu ndo lugar está a figur a do
quais deve ria gerar a segui nte delin qüen te - o fraca sso (ou
induç ão: " Eles nos prom etem o 'Bem ', mas suces so?) do siste ma de prisã o. O sloga
as coisas deram errad o. Isso n dessa vez é a '' refor ma" do
aco ntece de novo e de novo e de nov o. co nvict o. "R eform a r": traze r de
Talvez. não devê ssem os mai s volta aquil o que se desvi ou, curar ,
acred itar em suas prom essas". torna r o utra vez norm al. Em opos ição a uma noçã o retrib utiva de justiç a
Par:i torna r esse argu ment o mais conc reto, pena l, esper a-se que a prisã o huma nista
descr evere i breve ment e liber al "corrija", eduq ue e
crês desses reductios narra tivos . Enfa refor me o crim inoso . Dess a form a, o
tizo outra vez. que nenh um desse s crim inoso e a socie dade são
exem plos, toma dos isola dame recon ciliad os, o prim eiro send o resta urad
nte, é sufic iente para prov ar a tese de que o a seu lugar ·•corr eto" na
os grand es ideai s do huma nism o são acom segu nda. Mas, natu ralm ente, para um gran
panh ados por realid ades de núm ero de conv ictos , esse
inu mana s. É o conj unto que conv ence , resul tado ideal nunc a é alcan çado . De
uma vez que o padr ão parec e fato, com muit a freqü ê ncia, a
estáv el. situa ção parec e, susp eitos amen te, ser a inver sa: o pequ eno crim i noso
O prim eiro exem plo, extra ído do livro trans form a-se num expe rt, o amad or, num
sobre as pnso es, é de pro fissio nal e o deli nqüe nte
int eresse óbvio para os educ juven il, num veter ano . As prisõ es são plane
ador es : o movi ment o em direç ão à "obs er- jadas par:i fracassar .
vaçã o hierá rquic a" e ao "julg amen to norm Ocor re, argu ment a Fouc ault, não apen as
aliza dor" que culm ina no que os delin qüen tes são
"exame " e é simb oliza do por ele. Aqui "frac assad os", mas tamb ém que eles pree
, a prom essa de igual dade form al nche m urna útil funçã o : eles
enrre os indiv íduos é o ideal proc lama do. são essen ciais à rede carce rária que se esten
Dize m-no s, porta nto, que de para além dos portõ es
somo s todo s "igua is". Mas mesm das prisõ es. "Os crim inoso s são conv enien
o uma análi se rápid a torna óbvi o que tes" (Fou cault , 1980 a, p. 40).
os se res hum anos , com todas as varia Eles se to rnam cafet
ções em fisio nomi a, talen tos, ões, prost ituta s, chan tagis tas, furad ores de
inrel igênc ia, erc., pode m parec er qualq uer greve e - o que é mais impo rtant
coisa , meno s iguais. e - infor mant es. Esses últim os são
M:i is: o anún cio huma nista (talv trans form ados , num "m ilieu fecha do de
ez-pu désse mos coloc ar no seu lugar delin qüên cia, comp letam ente
"o refor mado r progr essis ta") persi ste: estru turad o pela políc ia" (Fou cault , 198a
"Igua is! Iguai s!". E por um , p. 42). Assim, um band o
auto perp etuad or de figur:i.s a mbíg uas
circu la entre a popu lação em
1S8
159
geral, sempre escutando, registr ando e levand e. registr and_o as confissões; "o sexo é açamb arcado e corno
o a inform ação de volta 9ue encur -
aos que as mantêm. Longe de reformar ou educa r o delinq ralado por um discurso que pretende não lhe permi tir obscu
üente, o ridade ne m
sistema carcerário dele depende vi talmente : sossego" (Foucault, 1980d , p. 20). Assim, o processo
supos t~men te
liberta dor de estimu lar o discur so sexual ajuda a refi nar técnicas de
desde o final dos anos 1830, tornou-se claro que, na dominação e de fo rma geral alimenta o moinh o discip
verdad e, o linar. Mais coisas
ie-· objetivo não era recuperar os delinqüentes , torná- los virtuo a nosso respeito tornam -se visíveis; tornam o-nos
~: sos, mas abe rtos, nus e expos -
reagrupá-los no interio r de um milieu claram ente demar cado, tos a graus cada vez maior es de interv enção
inde- e penetr ação institucional.
~ xado, que pudesse servir de ins_trurnento para fins econô Além disso , de forma similar àquela pela qual as técnic
micos e as carcer árias
I! políticos. O prcble ma, dorava nte, não era ensina r algo "colonizam" outras áreas da sociedade,
\ aos prisio- o imper ativo a se confes sar se
neiros, mas nada ensinar-lhes, de forma a assegu rar que estend e a outras práticas sociais . E a sociedade
í eles não contem porân ea arregi -
t pudessem fazer nada quand o saíssem da prisão (Fouca ult, menta seus recursos para esse fim: "o sexo tornou-se uma
! 1980a). questã o que
exige que o corpo social corno um todo, e virtua lment
Da perspectiva da rede carcerária, a delinq e todos os seus
üência e a reincid ência são indivíduos, se coloq uem sob vigilân cia" (Fouc
sucessos triunfantes; aquela não apenas perpetua ault, 1980d , p. 11 6).
mas estend e sua Temos, assim, três processos que começ am com ideais
influência. ''Tão bem sucedi da tem sido a prisão que, após grandiosos
um século e mas que resulta m em realidades basica
meio de 'fracassos' ela ainda existe, produ zindo os mesmo mente inu manas : "igual dade-
s resultados, confo rmida de-exa me", "refor ma-de linqüe nte-in
existindo urna enorme relutância em dispensar seus serviço forma nte" e "libert a-
s" (Fouca ult, ção-confissão-con trole" . Desnecessário dizer que os
1979, p. 277). produ tos finais
dessas tríades negam os ideais que fornec eram o impul
Nossa terceira narrativa reductio captur a no ato so origin al. Mas
a noção de liber- nosso desco nforto - na verda de, nossa indign
dade sexual (vinda da "liberd ade" sexual ). Fouca ação - com relação a
ult contes ta a idéia esses resultados não precisa ser basead o
popularmente sustentada que ele chama de "hipót nesses ideais . T anto o huma-
ese repressiva": a nista liberal quant o Fouca ult conco rdam com o argum
idéia de que o poder é essencialmente "puritano" e, ento de que a
portan to, tem negaçã o da igual dade e da liberd ade é uma "coisa ruim"
reprimido e inibido as prática s e o discur so sexual . Somos .
afortu nados Entret anto, os dois deixam de co ncord ar a partir
por viver hoje numa "Era de Libera ção Sexua l", tendo daí. Enqua nto o
finalm ente huma nista
superado alguns séculos de "Idade Média " sexual ; enqua co ntinua a procla mar o ideal em questã o, alegan do talvez
nto o passado que o proble ma será resolv
mais distante é caracterizado por uma certa "inocência", ido assim que o ideal for plena e propr ia-
os séculos
XVII-XIX dão origem ao "vitoriano reprimido". Essa é a idéia. mente realizado, Fouca ult não vê razão alguma para tal
otimismo, pois
Após uma análise geneal o genealogista é pragm ático o suficie nte para consid
ógica, entret anto, fica claro que a era erar que conta
vitoriana assinala uma profusão em contra sua verdad e o fato de que um núme ro demas
larga escala do discur so sexual - iado grand e de
encontramos aí verdadeiras matracas da sexual palavr as de ordem human istas parece ter levado sempr
idade que podem ser e (ou ao menos
qualquer outra coisa menos inibida s. A sexual com demasiada freqüência) ao seu oposto . Enfati zo outra
idade tem sido, certam en- vez que, de
te, moldada pelo poder, mas ela não tem sido acord o com minha leitura, Fouca ult não "refut ou" o human
exatam ente reprim ida; ismo nem
na verdade, a situação é quase a oposta : o discur tentou fazê-lo. Em vez disso, ele pede àqueles que usam
so sexual "longe de seu jargão que
sofrer um proces so de restriç ão, tem estado sujeito , sejam responsáveis pelo legado de decepção de seus predec
pelo contrário, a essores. E,
um mecanismo de estimulação crescente" (1980d, p. 12). dada a evidência genealógica, uma resposta confo rtador
O poder tem, a - já não
assim, cultivado cuidadosamente o campo da sexual idade. pedimos que seja conv incente - parece pouco provável.
Mas ele faz sua colheita em uma série de prática s. A prolife Estive até aqui desenv olvend o a tarefa negati va
ração deste ensaio , isto
de rituais "confessionais" (sintomático da priorid ade dada é, o argum ento de que a genea logia foucau ltiana
à descoberta não é autod estrui dora.
da verdade sobre a própria "profu nda e _ocµlra". sexual E deveria estar claro que, uma vez que
idade), por Fouca ult oferec e um tipo de
exemplo, efetivamente inculc a a obriga ção de 'confe ssar-se reduct io contra a retóric a human ista,
. Usualm ente ele não está obriga do, ao longo
essa obrigação torna-se manifesta atravé s da manife stação de seu argum ento, a oferecer qualqu er alternativa positiv
de fluxos de a. Muito bem.
discurso sexual diante de autoridades propri ament e design Mas significaria certam ente
adas, como aband onar seus leitore s nesse po nto e
o padre, o consel heiro escola r ou o psican alista. Desco brir deixá-los numa difícil posição. Por
essas fanta- que "prob lemati zar", se não se tem
sias e impulsos soterrados é anunc iado como um ato "saudá nenhl!-ma idéia de solução? Assim, o human
vel" e até ismo é uma menti ra. Mas e
mesmo libertador e a pessoa , obedienteme nte, aquies ce, daí? E de fato justo pedir, juntamente com Fraser
a fim de ser , que Fouca ult diga
"livre". Entretanto, o tempo todo, o ouvido do confessor "em termos que sejam independentes do vocabulário do
está ouvindo human ismo,
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r·- exatamente o que há de errado com esta socie
dade carcerária e por que decência adm inist rativa" pode , em gran de
.
1 se deve resistir a ela"? (Fraser, 1989, p. 50). medida, ser desvestido: "o
! Fraser ainda dá a Foucault que prec is.a mos é de um estudo do pode
a responsabilidade de oferecer "algu m parad r em seu aspecto exter no;
igma alter nativo, pós-h u- naquele pont o no qual ele está em relação diret
manista" para responder à questão que ela coloc a ou imed iata com aquilo
a. E, na sua visão, ela que pode mos provisoriame nte chamar seu
conclui que ele não pode fazer isso: um silên obje to, seu alvo, seü camp o
cio ambíguo é tudo que
vem da parte de Foucault. Parece que nos resta de aplicação ... " (Fou cault, 1980 6, p. 97). Esse
uma escolha bastante é um aspe cto impo rtant e
infeliz: "eqtre um paradigma ético conhecido daqu ilo q~e as genealogias tenta m fazer.
(isto é, uma variante do
humanismo liberal] e um parad igma X, desc onhe cido" (Fraser, 1989, Isso não significa debater os méritos re lativ
pp. 5 0-1 ). Deste mod o, é objetivo do resto de os da "fe nom enologia"
meu ensaio fornecer uma e da "ont ologia" do pode r de Foucault (se
resposta para o desafio de Fraser, pree nche ndo é que se pode falar nesses
assim o "desconhecido termos). Gost aria apen as de subli nhar dois
paradigma X". pont os relev antes. Quan to
ao primeiro, vou de ixar o colega e por algu
m temp o colab orad or de
Problemas Locais, Soluções Locais Foucault, Gilles Deleuze, falar por rrúm:
o privilégio teó rico dado ao Estad o com o um
A fim de desenvolver o projeto apar ato de poder, em
ético posit ivo de Fouc ault devo primei- certa med ida, leva à práti ca de um partido
ramente fazer alguma menção à sua descr cond utor e centr aliza dor
ição do que é necessário para que even rualm ente se ap oder a do pode r de
superá-lo e de com o superá-lo. Para efetivame Esta do; mas, por outr o
nte combater a "rede lado , é a próp ria conce pção orga nizacional
infinitamente minuciosa das técnicas panóptica do parti do que é justifi-
s" da sociedade carcerá- cada po r esta teo ria de pode r. O inter esse
ria precisamos reconhecer que a sociedade indus do livro de Fouc ault
trial contemporânea é baseia-se num conj unto diferente de estratégia
caracterizada por relações de pode r radic alme s (Deleuze, 1988 , p.
nte difusas e localizadas
e que a fonte e os mecanismos de pode r não pode 30).
m ser encontrados em
um local único ou central.
Têm-se escrito e discutido A idéia que temos daqu ilo cont ra o qual estam
muit o sobre os capri chos da teoria das os lutan do afeta diret a-
relações de pode r de Foucault. Tudo ment e aquilo que nos torna mos quan do estam
o que prete ndo fazer aqui é os lutan do. É por isso
assinalar que sua afirmação de que o pode r oper que é tão impo rtant e, de um pont o de vista
a em rodos os níveis do estratégico, distanciar-se de
corpo social tem profundas implicações para teorias de pode r centr adas no Estado; a
qualquer pessoa interes- "rev oluç ão" política não é
sada em traçar um caminho viável para a mud suficiente para efetu ar uma mud ança prof unda
ança social. Por exemplo, e dura dour a.
Foucault contesta a eficácia (e a desej abilid ade) do modelo lenínista de Em segu ndo lugar, aqueles que prete ndem enun
revolução: um grupo de vanguarda, em nom ciar a ema ndpa ção
e das classes oprimidas, devem adqu irir uma certa mod éstia teórica.
apoderando-se do aparato do Estado e então Dada a (falta de) natu reza
"mu dand o" a estrutura de
poder. Um tal evento pode assinalar uma troca do pode r, não devemos esperar ser capazes
de guarda, mas é pouco de dizer muit a coisa sobr e
provável que altere a natureza básic a do ele que tenh a valor universal. Se o objetivo
"regi me de poder-saber" é "um a espécie autô nom a,
firmemente estabelecido -e mantido pela inérc não- centr aliza da de prod ução teórica, isto
ia. Com o Sheldon Wolin é, uma prod ução ·cuja vali-
sugere, a teoria de Foucault "exige uma brusc
a ruptu ra com as concep- dade não seja depe nden te da aprovação dos
ções de poder centradas no Estado e, por regimes estabelecidos de
extensão, com a política pens amen to", não deveríamos tenta r enun
revolucionária e radical que se define por opos ciar um discurso liber tado r
ição ao Estado ou por a parti r de uma posição auto rizad a de sujei
sua derrubada" (Wolin, 1988, pp. 184-5). to (Foucault, 19806, p. 81 ).
Uma resposta teórica muito mais promissora Por exem plo, algumas das observações mais
deve concentrar-se na incisivas de Fouc ault são
"microfísica" do poder. Uma vez que o pode dirigidas aos teóricos que tenta m legitimar
r não é hom ogên eo e pode suas idéias com o "científi-
ser abordado apenas em locais espe.cíficos de cas" (p. ex., certos marxistas estruturalistas,
aplicação, não deveríamos "cientistas" sociais de várias
esperar obte r uma compreens ão teóri ca útil corre ntes) , apro veita ndo- se, assim, da aura
no nível macro (algumas de auto ridad e da ciência.
vezes _Foucault parece indicar que não exist e tal coisa como o "pod er" Natu ralm ente , mesmo assim aind a pode mos
en:i s1)._ Em vez disso, o nível apro priad teorizar, desde que esteja-
o de análise é uma visão mos mais do que acautelados cont ra a "tira
m1crob1ana; o poder deve ser considerado a nia de discursos globaliza-
"par tir de baixo". Dessa dore s, com sua hiera rquia e todo s os privi
forma, nas extremidades locais do poder, légios de uma avant-garde
seu ofuscatório "véu de
teóri ca" (Foucault, 1980 6, p. 83). O pont o
162
centr al é que a perspectiv a
do teórico, embora ainda importante, não representa mai~ um local
privilegiado para a enunciação de um discurso emancipatório. coletiva. O in telectual "universal" prete nde estar situado fora do poder,
contrapondo ao "poder, ao despotismo e aos abusos da arrogância da
riqueza, a universalidade da justiça e a igualdade de uma lei ideal"
Estratégias Responsáveis na Política da Verdade (Foucault, 1980c, p. 128). Pensamos aqui em Locke, Rousseau, Jeffer-
son, Marx. Em contraste, o intelectual "específico" origina-se de uma
Em vez de esposar a "verdade", o papel primano do intelectual de figura bastante diferente: não o "jurista ou notável, mas o sábio ou
oposição deveria ser o de combater a forma pela .qual ela é arbitraria- expert" (Foucault, 1980c). Foucault identifica o cientista atômico dos
mente manufaturada e disseminada em massa. Esse processo é pré-con- anos 40 e 50 como um precursor desse novo tipo de personagem cuja
dição para o (e portanto indispensável ao) funcionamento do poder expertise é restrita a um campo particular. Isso não significa, entretanto,
hegemônico. O intelectual, qua participante (ou colaborador), está bem dizer que sua influência é limitada. Pelo contrário, mudanças na confi-
po~icionado para se engajar numa tal tarefa. 3 As linhas do campo de guração poder-saber tem tornado crescentemente possível a situação
batalha devem ser traçadas em torno da "política de verdade" da paradoxal de que experts em campos específicos, especialmente nas
sociedade: ciências natu rais e aplicadas desfrutem (e carreguem o peso) das conse-
qüê ncias bastante gerais que advêm de sua atividade. Assim, embora
O problema essencial para o intelectual não consiste em criticar o mais enredado no poder do que nunca, o intelectual específico adquiriu
conteúdo ideológico supostamente vinculado à ciência ou assegurar uma nova importância estratégica.
que sua própria prática científica seja acompanhada da ideologia Mas por que Foucault celebra esse desenvolvimento? Por que se
correta, mas em assegurar a possibilidade de constituir uma nova deve preferir o in telectual específico? Para responder a essa questão, o
política de verdade. O problema não está em mudar a consciência intérprete deve ir um pouco além daquilo que está explícito em seus
das pessoas - ou aquilo que está em suas cabeças - mas no regime textos. Tendo isso em conta, parece haver em funcionam ento dois
político, econômico, institucional da produção de verdade (Fou- princípios que provisoriamente chamarei de "eficácia" e "honestidade ".
cault, 1980c, p. 133).
Talvez não in teiramente surpreendente, como tentarei mostrar, esses
dois princípios traduze m-se em dois momentos de algo muito similar a
Não se trata de uma luta para emancipar alguma Verdade pristina das uma "vontade de poder" nietzschiana atualizada e especifi cada.
distorções impostas sobre ela pelo poder ou pela ideologia, nem de uma
batalha em nome ou em favor da Verdade. Um tal empreendimento iria Como afirmou Foucault: "As pessoas sabem o que fazem; elas
contra o espírito de todo o projeto de Foucaulc; não des-centramos algo freqüe ntemente sabem por que fazem o que fazem ; mas o que elas não
re-centrando algum conjunto novo de slogans universalizadores (sem sabem é o que faz (causa) aquilo que elas faze m" (Dreyfus & Rabinow,
conteúdo). Em vez disso, como diz Barry Smart, o que precisamos é de 1983, p. 187).4 Essa simples observação sintetiza de forma dar.a sua
"um exame crítico das várias formas pelas quais governamos a nós e aos recomendação estratégica para o intelectual de oposição.
outros através da enunciação de uma distinção entre verdade e falsida- A "eficácia", como sugeri acima, baseia-se no princípio da "trans-
de" (Smart, 1986, p. 171). versalidade" (para tomar emprestada uma palavra de Deleuze) (Deleu-
De acordo com sua ênfase em "ofensivas dispersas e descontínuas" ' ze, 1988, p. ~1). 5 A idéia é que, ao restringir o escopo de nossa atividade,
e com o que ele argumenta ser a "impressionante eficácia da crítica freqüente.mente ampliamos e aprofundamos as conseqüências (poten-
descontínua, particular e local", Foucault advoga o cultivo de um novo ciais) daquela atividade. Talvez o exemplo mais dramático disso e, sob
personagem, o "intelectual específico" (Foucault, 19806, p. 80). Este muitos aspectos, paradigmático, seja o do cientista atômico. Ao nos
deve ser contrastado com o "intelectual universal", um fenômeno centrarmos na esfera humana mais diminuta à qual os seres humanos
histórico dos dois últimos séculos, que pretende falar pela consciência podem ter acesso (p. ex., o sub-atômico), podemos nos tornar "Des-
truidores de Mundos", como o físico J. Robert Oppenheimer ofegan-
3 O "intelectual" contemporâneo pode ser compreendido primariamente como u~a temente afirmou, no campo de testes no qual a primeira bomba atômica
categoria de "poder-saber", em oposição a uma categoria econômica ou social. foi detonada. Um outro exemplo, talvez mais prontamente acessível, é
Assim como as classes na teoria marxista são definidas em virtude de sua relação o do médico. Nesse caso, a transversalidade pode ser um teste intuitivo.
com os meios de produção, assim as "classes" foucaultianas podem ser definidas por
sua posição nos processos de "manufatura da verdade".Conseqüenteme nte, o termo
1 Consideremos o cenário seguinte: esperando uma cirurgia, pede-se que
"intelectual" pode denotar pessoas em esferas que não a acadêmica, tais como
médicos, jornalistas, advogados ou mesmo administradores escolares 4 Eles afirmam que essa citação provém de uma "comunicação pessoal" de Foucault.
(provavelmente não professores na maioria dos casos).
5 Embora haja similaridades, não uso a palavra da mesma form a que Deleuzc.
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você escolha entre dois cirurgiões que farão sua operação. Suas opções cientistas sua ingenuidade política inicial, há muitos outros exemplos
são dois médicos credenciados e lhe fornecem apenas umas poucas impressio nan tes de deso nestidade. A cegueira à manipulação e à explo-
informações sobre cada um deles. O primeiro é "Dr. Renascença" : ração exibidas por ce rtos anticomu nistas "progressistas" (p. ex., a
culto, de muitas leituras, viajado, bem vestido e bem relacionado. Do posição assu mi da na últi ma parte de suas vidas pela anarquista estadu-
segundo você conhece apenas uma qualidade: sua competência. Acho ni dense Emma Gold mann e pelo filósofo, mistura de marxista com
que nesse ponto, quase sem discordar, você escolheria o último. Quan- combate nte da guerra fr ia, Sydney H ook, assim como a pos ição dos
do a eficácia é mais importante, todas as considerações empalidecem "N ovos Filósofos" franceses dos anos 70) só pode ser classificada, em
'j
perante a competência "específica". re lação à honestidade, como um escând alo. A motivação básica por
Acho que não é difícil ver como a transversalidade pode ser detrás da observação de Jean -Paul Sartre de que "um antico munista é
estendida a um grande número de instâncias - e nem todas "intelec- se mpre um rato" aplica-se co m toda força no Ocidente - hoje mais do
tuais" no sentido usual. Enfatizo que essa afirmação não implica que que nunca.
não se pode aprender ou se beneficiar de alguma outra forma de esfera Um corol ário importante (ou talvez um fa to necessário) da hones-
que não seja a sua. Mas indica de fato a necessidade de organizar nossos tidade é a observação de Anthony Giddens sobre um dos "modos
esforços em torno de um locus específico; "especializar-se" nesse sen- primá rios pelos quais a dominação é ocultada como do minação": a
tido não é necessariamente compartimen talizar-se. Do ponto de vista "representaç ão de inte resses particulares como sendo universais" (Gid-
da eficácia, pois, deplorar a crescente especialização da sociedade dens, 1979, p. 193). A fim de sustentar sua legitimidade, o poder
contemporân ea significa cair numa nostalgia autodestruid ora. A época
hegemô nico inventa a ficção de que representa os in teresses "comuns".
do aristocrático "Homem da Renascença" já passou.
As iniciativas principais do governo, desde orçamentos até à guerra e
A "honestidade " tem dois componente s essenciais, que chamarei ao holocausto, por exem plo, são quase sempre justificadas por algum
de "atitude de alerta" e "esforço". "Atitude de alerta" significa prestar suposto partilhado interesse ou ameaça, seja ela a "Ameaça Vermelha",
atenção às conseqüências da própria prática teórica; mais especifica- "Isso ou Aquilo do Povo", a "Escola Comum" ou a "Nova Ordem
mente, isso implica uma consciência de como os resultados de nossos Mundial". Os intelectuais deveriam tirar uma lição desse princípio; eles
esforços são usados. O esforço é simplesment e a vigilância persistente deveriam sempre perguntar: "em favor de quem estou pretendendo
e de boa fé exigida para sustentar essa consciência. Deve-se enfatizar falar?" . E deveriam compreende r que, como uma regra, quanto mais
que a honestidade não significa um esforço em direção ao autoconhe-
ampla a asserção, mais restrita é a posição-de-sujeito que ela serve. O
cimento; não significa uma hermenêutic a do eu, nem qualquer outra
genealogista-filósofo foucaulti :rno honesto, por exemplo, que diz sub-
busca da verdade sobre si próprio. Em vez disso, diz respeito às
verter pressupostos básicos, deve estar especialmente vigilante em
implicações de nossa busca da verdade; não auto-absorçã o, mas uma
atitude de alerta para a forma como as nossas ações acabam absorvidas i relação a esse tipo de desonestidad e:
pelo regime de poder-saber.
É por isso que Oppenheime r é descrito por Foucault como um 1 Existe sempre algo de ridículo no discurso filosófico quando tenta,
a partir de fora, ditar a outros, dizer-lhes onde está sua verdade e
"ponto de transição entre o intelectual universal ~ o específico" (Fou-
cault, 1980c, pp. 127-8). Apesar de sua política esquerdista, e embora
ele fosse eficaz, ele não era "honesto", no sentido acima. Na verdade,
e com muito poucas exceções (p. ex., talvez, Leo Szilard, o refugiado
l como achá-la, ou quando argumenta contra eles na linguagem da
positividade ingênua. Mas ele pode explorar o que deve ser mudado
em seu próprio pensamento, através da prática de um conheciment o
que é estranho a ele (Foucault, 1986, p. 9).
húngaro que parecia sensível aos perigos do projeto atômico desde o
início), os cientistas do projeto Manhattan que desenvolvera m a bomba
eram impressionan temente ingênuos sobre as ramificações sociais e
políticas que suas descobertas poderiam ter. A afirmação de Edward
Te Iler de que "não é tarefa do cientista determinar se uma bomba de
hidrogêneo deveria ser construída, se deveria ser usada, ou como
deveria ser usada" representa talvez o modelo dessa des-honestid ade

l'Õ
i
!

Novamente, não existe aqui nada que impeça aprender com outros ou
revelar algo a eles. Foucault apenas apela em favor de uma certa cautela
e uma certa modéstia teórica autoconsciente.
compreender o seu pouco podçr de decisão uma vez que suas descobertas tivessem
sido assumidas pelo governo. E também interessante observar que na última parte
(Boyer, 1985, p. 342). 6 Mas mesmo que não possamos perdoar a esses 1~;

de sua vida Oppenheimer tornou-se "honesto" e foi incisivo em sua denúncia do


uso da bomba por parte do governo. Mas juntamente com sua honestidade veio
i uma intensa perseguição política. Devemos extrair daí a lição de que a honestidade
6 Certamente os cientistas do Projeto Manhattan sabiam que a bomba podia ser
lançada sobre o Japão ou a Alemanha. Sua ingenuidade consistiu em não
1 entre intelectuais (especialmente entre os "eficazes") é extremamente ameaçadora
para o poder hegemônico.
166 j 167
~
l'{~t
.

.
Honestidade e eficácia, pois, são dois princípios orientadores para
da fo rma como participamos da fabr icação da verdade. Foucault apre-
fr.: o intelectual específico. E, é meu argumento, eles são mais bem vistos
senta uma base para a harmonizaçã o da seguin te fo rma :
como dois momentos de um telos subjacente cuja máxima é algo como
"devemos nos esforçar para nos tornar mestres das conseqüênci as de todos aqueles sobre os quais o poder é exercido em seu pre1u1zo,
nossas ações". Isso representa um novo tipo de auto-relação para todos os que o consideram intolerável, pode m começar a lutar em
intelectuais (pós) modernos, a qual poderia ser designada pela "vontade seu próprio terreno e na base de sua próp ria atividade (ou passivi-
de poder" foucaultiana. dade). Ao se engaja r na luta que diz respeito a seus próprios
inte resses, cujos objetivos eles claramente compreende m e cujos
A Autocriação e o Intelectual Específico métodos sarnentes eles podem determinar, eles entram num proces-
so revo lucionário (Foucault, 19776, p. 21 6) .
Deixem-me aplicar a análise quadrúpla das auto-relaçõe s éticas encon-
tradas nos últimos escritos de Foucault à situação em tela, tendo em Para muitos intelectuais, a harmonizaçã o significa um estreitament o a
vista saber como podemos transformar um intelectual universal "deca- fim d e encontrar "seu próprio terreno". (E, naturalmente , possível,
dente" num intelectual específico "são". entretanto, que, dependendo da posição-de-s~jeito da qual se está
partindo, seja necessária uma ampliação para se obter uma harmonia :
Em primeiro lugar, a determinaçã o da "substância ética". Esse é o p. ex., o burocrata cuja inculcada e estreita visão leva a uma ati tude
material que é "trabalhado " pela ética; aquela dimensão do eu que excessivame nte laissez-faire em direção ao nexo ação-conseq üência) .
fornece o alvo da preocupação ou aquilo que, para o indivíduo, N o co ntexto institucional, os in telectuais não deveriam mais buscar
constitui "esta ou aquela parte de nós mesmos que é a matéria prima "ajudar" o o primido (ao final das contas, Fo ucault parece querer dize r
de sua conduta moral" (Foucault, 1986, p. 26). Em outras palavras, é que, de qualquer for-m a, eles nunca o fizeram - ao me nos politicamen-
aquela "parte de nós mesmos, ou de nosso comportame nto, que é te) . Em vez d isso, eles deveriam di rigir seu foco para os arranj os de
relevante para o julgamento ético" (Foucault, 1983, p. 238). No poder-saber que ex istem bem embaixo de seus narizes - arranjos que
Cristianismo, por exemplo, a substância ética consiste dos desejos, das congelam e pervertem suas "boas intenções".
intenções e da fé da pessoa. Esses são os objetos da preocupação clerical O terceiro modo de auto-relação é a "auto prática" ou "trabalho
durante. a confissão; a pessoa se transforma a fim de se tornar um cristão ético" : aquilo q ue a pessoa faz a si próp ria a fim de se comportar
melhor. Para o intelectual específico, a substância ética tem que ser algo eticamente; os meios de au totransform a ção - "asceticismo ", num
como "consciência ", "autocompr eensão" ou, talvez, o escopo da pró- sentido amplo. Os judeus observam as regras kosher, os católicos
pria consciência (isso não significa exclusivame nte conhecimen to) da- romanos usam o desejo sexual apenas para ter fil hos, os cristãos buscam
quilo que se passa no próprio ambiente e da forma como a pessoa está identificar e combater aqueles seus impulsos que são conduzidos por
nele implicada. No caso do intelectual, isso provavelmen te significa o Satã, e assim por diante. N um nível mais geral, o trabalho ético do
local de produção do saber e da "verdade" (p. ex., a universidade , o intelectual específico é a rigorosa prática da honestidade e as várias
laboratório, a sala de redação) e sua interface com a sociedade mais formas, dependendo do campo em questão, que essa pode assumir. Isso
·ampla. · implica um domínio. da própria esfera de investigação , um alerta para
Em segundo lugar está o "modo de sujeição": "a forma pela qual o os "resultados" e uma consciência de como esses resultados são usados
indivíduo estabelece sua relação com a regra e se reconhece a si próprio e sobre quem os usa. A pesquisado ra universitária , por exemplo, deve
como obrigado a pô-la em prática" (Foucault, 1986, p. 27). Essa é a possuir um conhecimen to profundo e variado do objeto de estudo
fonte ou a base a partir da qual a pessoa produz a auto-relação . (como se pode ser eficaz sem competência ?), assegurar-se de que o
Exemplos disso seriam o aristocrata grego q'-;le regula sua dieta de uma trabalho tem alguma conseqüênci a estratégica (do contrário, por que
forma que responde a certos critérios estéticos ou o/a acadêmico/a se dar ao trabalho?) e prestar atenção ao debate (se existir algum) em
torno desse trabalho. Não existe espaço para o diletantismo , para o
não-sexista que tenta eliminar o viés de gênero de sua linguagem. Em
"conhecime nto pelo conhecimen to", ou indiferença para com a audiên-
suma, o modo de sujeição do intelectual específico é a "harmonizaç ão", cia ou o público.
isto é, o ato de colocar suas palavras e ações em harmonia com a própria
"esfera de influência", com base no princípio de se evitar a "indignidad e Finalmente, o telos: o objetivo último é tentar realizar. Os cristãos
de falar pelos outros" (Foucault, 19776, p. 209). Isso implica um buscam a purificação ou a salvação, os humanistas, a liberdade ou a
auto-realiza ção e os gregos, o autodomínio . Como mencionado acima,
auto-exame da própria preocupação com a verdade; uma consciência
o telos para a vontade de poder de Foucault é um novo autodomíni o;
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·'
um domínio sobre as próprias ações e seus resultados. Para dizer de coincide com o "indivíduo" e que um par de discursos pode ser
form a diferente, isso significa uma disseminação controlada e auto -re- incongrue nte entre si; a expectati va de consistência é baseada, prima-
gulada do sujeito no mundo; uma dissolução pos!tiva. Em ?utras riame nte, na ficção de um sujeito necessariame nte e estreitamente
palavras, embora transcender relações de poder seia uma quimera, integrado. A operação de separar os bons dormaus tornou-se anacrô-
podemos nos tornar um canal ou uma "junção privilegiada" através da ni ca; podemos certa mente perde r oportu nidades cruciais se descarta-
qual o poder pode ser dirigido. mos de forma global o vilão que possamos escolher, seja lá qual for ele
Por sua parte, o intelectual pode obter, por exemplo, uma com- - nazista, marxista ou democrata liberal.
preensão mais completa das fontes e "propósitos" de seu financ ia mento Em segun do lugar, como sugerido acima, ao estender a vontade de
(bolsas, salários) e usar aquela compreensão para realizar mais efetiva- poder para outras esferas da vida, o "ponto de partida" e as particula-
mente seus objetivos (alguns já são bastante eficazes quanto a isso). E, ridades da posição-de-sujeito em questão afetarão diretamente o esque-
naturalmente, aquilo que se é (ou não se é) mudará à medida que ma in teiro. Po r exem plo , começar de uma posiçã o-de-s ujeito
ganharmos controle e confiança em fazer isso, ao "exercitar os próprios relativame nte sem-poder implica diferentes métodos de harmonização
músculos (institucionais)", por assim dizer. Não auto-absorçãp, mas ser e de atitude de alerta (de acordo com o te/os) . Enquanto o intelectual,
absorvido no mundo; um "perder-achar" do eu. Podemos descrever isso em grande parte, "se estreita", as posições-de-sujeito co m menos poder
como uma nova ética de autocriação que evita os equívocos tanto do podem precisar se "alargar" ; assim, o nível exigido de associação com
esteticismo narcisista, por um lado, quanto a alienação da obsessão outros e o tipo de discurso enunciado variará de acordo com as
política, por outro. O "indivíduo" bem definido e de fronteiras vigiadas necessidades situacionais. Por exemplo, uma professora primária pode
dos humanistas, argumenta-se, obstrui esse processo : exigir um sindicato para ser eficaz ou uma camponesa analfabeta pode
precisar enuncar uma retórica universalizante a fi m de fortalecer (em-
Contrariamente ao discurso plenamente estabelecido, não existe power) sua posição-de-sujeito, como Paulo Freire argumentaria. Cru-
nenhuma necessidade de conservar o homem para resistir. O que a cialmente, entretanto, não existe ne nhum local central ou privilegiado
resistência extrai desse velho e reverenciado homem, como expressa para decidir estratégias específicas.
Nietzsche, são as forças de uma vida que é mais ampla, mais ativa, Em terceiro lugar, dada a ênfase de Foucault na microfísica do
mais afirmativa e mais rica em possibilidades. O super-homem nunca ·~
poder e a natureza descentralizada das relações de poder, parece claro
significou outra coisa senão isso : é no próprio homem que devemos
que um aumento no poder qua "dominação" (isto é, autoridade baseada
liberar a vida, uma vez que o próprio homem é uma forma de L
~ na coerção) não leva necessariamente a um aumento correspondente
aprisionamento do homem (Deleuze, 1988, p. 92). ;
·t em seu fortalecimento (empowerme nt). Na verdade, a dominação, na
O "homem" tal como definido pelo regime carcerário não tem nada a maior parte dos casos, parece impedir esse fortalecimento. Por exem-
~ plo, o "líder" nominal de um grande aparato de Estado deve depender
perder a não ser suas cadeias; um processo que significa, em uma ";
palavra, fortalecimento (empowerment). Assim, podemos esquematizar ,,
.j
de uma rede quase infinitamente complexa de nós de poder na medida
1.. em que não se pode dizer que esse líder tenha muito controle real -
a ética política de Foucault para os intelectuais engajados na "produção ~
de verdade" da seguinte forma : substância ética: consciência/autocom- t:\ ao menos no sentido exigido pelo te/os descrito acima. Isso não
l significa, entretanto, que as políticas nunca sejam implementadas ou
preensão; modo de sujeição: harmonização; trabalho ético: competên- ·d que o governante de uma nação do Grupo dos Sete não "tenha", num
c i a/honestidade/ a ti tu de de alerta; te/os: fortaleciment o 1
(empowennent)/ auto-superação. ~ importante sentido, poder. Apenas significa dizer que a forma como
uma escolha é feita e implementada freqüentemente tem pouco a ver
com "escolha" tal como usualmente a pensamos. Outra vez, é uma
Extensões e Implicações i.:
Farei aqui algumas considerações relevantes à ampliação desse esquema
l questão de conhecer e controlar o que faz (causa) o que eles "fazem".
Embora haja com freqüência "intersecções", o fortalecimento do poder,
no sentido de Foucault, pode muito bem, às vezes, funcionar ao longo
para outras esferas. Em primeiro lugar está o que podemos chamar de -~
de linhas diferentes das linhas do poder político e econômico.
"regra de nenhuma garantia". Isso significa que não devemos espera,f ~
-~
que qualquer indivíduo particular seja "totalmente progressista", "to- -~
talmente reacionário" ou totalmente qualquer coisa, o que, por sua vez, Referências Bibliográficas
indica que talvez seja hora de repensar inteiramente essas categorias.
l
BOYER, P. By the Bomb's E.arly Light: American Thought a11d C11/t11re at the Dawn of the
Isso é uma conseqüência da idéia de que a posição-de-sujeito não Atomic Age. No va York, Pantheon Books, 1985.
170
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