Estudos Foucault
Estudos Foucault
Estudos Foucault
O SU JE IT O DA
ED UC AÇ
-
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Est udo s Fou cau ltia nos
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• Traduç ão
Este ensaio foi escrito especialmente para o present e livro.
de Tomaz Tadeu da Silva. no mesmo mo-
Entre essas duas citações, escritas aproxim adamen te
ológica. De
• ão, Universi- mento históric o no século XX, há uma ruptura epistem
Roger Deacon é Professor do Departa mento de Educaç educaci onal e,
um lado, o raciona lismo universalizador de uma ciência
dade de Natal, Durban , Africa do Sul. Ben Parker é as coisas "não
de Durban - do outro, uma tentativ a irôni,ca de conside rar por que
Profess or do Departa mento de Filosofia, Univers idade o aqui explora r
eram tão necessárias assim". E minha modesta intençã
Westville, África do Sul. derna da peda-
as implica ções dessa diffefrance para uma leitura pós-mo
educacion~l _
• gogia, para a busca.•cada ~éi.-'mais estéril de uma ciência
t()taliza dora e-~s- implica ções dessaruptura·parã . à: práticã educ·aciorial.
111
110
Qual a implicação, pois, do projeto de uma ciência educacional?
o empreendimento para universalizar e tornar científica a educa-
1
• ~
eia desinteressada do Estado, constituiu a maquinaria que levaria a
po pulação a· uma condição racional. ·---- ··- - --- ·•
ção foi um projeto ilu_~nista.: Antecipad~ no pe~samento de Kant, que
propôs que "o ilum1msmo era a autohbertaçao do homem de sua l Uma geração posterior de pensadores coletivistas liberais e socia-
listas levou essa benevolência desinteressada um estágio adiante. A
l
auto-imposta tutelagem" e de sua existência como horda (Kant in educação, para socialistas fabian os como Sidney Webb, tornou-se uma-
Brock, 1988, p. 462), _o projeto do progresso universal através da questão de "e(ioêni::iâ:i)ac1011~f.'e ~
i~·"pifocüpaçãüõaCíô.~ãi'~~~ufüid~~ ..
.educação não careceu de prosélitêisenfiisíastâºf nos sécüfos XIX tx:X: / 'iELCn.frf.essé.-pe _!}ma CQmt.widade como _um tod_o" (Webb, 1904, pp.
.Filãritropõ~ ºigrejâs-eg-õvê-i:-i-íõs-progressÍstas ·estàvam prepârados ·para ,. 9-10).
investir em esquemas para transformar as pessoas em cidadãos moral e Essa visão da educação como uma questão de central imp ortância
politicamente úteis. Nessa visão ilurrúnista de progresso, democracia, para o desenvolvime nto nacional e para a produtividade moldaria
educação e crescimento econômico pareciam caminhar de forma firme forte mente as percepções governamentais da educação, tanto nas eco-
e solidária com a terra prometida da modernização e do desenvolvi- nomias em desenvolvimento quanto nas desenvolvidas, no curso do
mento. século XX. Assim, um "Panorama da Educação", na revista Th e Econo-
Esse projeto foi facilitado ainda mais, no curso do século XIX, pelas mist, anunciava em novembro de 1991 que o investimento governa-
emergentes disciplinas da Psicologia, da Sociologia e da Ciência Política. mental em educação "compensa. Se a virtude obtém sua recompensa
Essas ciências humanas estabeleceram, inicialmente de forma simples, _no céu, a educação a obtém na terra" · (21/lI/f9·92~p:·--rn~-Nésse
mas com crescente sofisticação, as metodologias empírica e cientifica- ~nten-dimento, a atual crise econômica nas economias européias e
mente verificáveis que identificariam objetivamente sistemas sociais anglo-americanas é diretamente atri buível ao fracasso da educação
mais racionais, apropriados à modernidade, os quais as Ciências Físicas popular em produzir a eficiência nacional. Em contraste, o milagre
e suas concomitantes descobertas tecnológicas tinham facilitado. ~~9nômico das economias dos_"t.ig~es" a$iáücQ~.~é. .Q.!~.~ª !!!~nte ag-ibliE
vel,-n éss·à-visão modernista, ao "culto da educação" nessas sociedades -"'.'
Esse plano de desenvolvimento político e progresso econômico
através da instrução racional é mais clara e influentemente pressagiado · confucianas (p. 13): · - - · --- - ·· - -
no esque_ma utilitário traçado por Jeremy Bentham em sua Chrestoma- AÓ rrie.smo tempo que governos progressistas co ncebiam a educação
thia-(1809). Embór,toriári izaçti'és ·religiosas; pessõa·s ·e-so~ieciâilêsTiiãn~ como vital para a pro moção de uma condição racional e moderna, a
trópicas tivessem, anteriormente, mostrado interesse na instrução 1·l
·.,,.
ciência educaci onal, de fo rma crescente, imaginava uma educação
moral dos pobres, foi Bentham quem, primeiramente, propôs essa apropriadamente científica que transformaria o capital humano. Uma
instrução.sobre um~ ba'~~-científicã; âpropr1adá para críarc.í êfidiôsúreis- influência seminal sobre a visão iluminista de Kant foi a do Émile"'â'e
ql}e. contribuíssem p~;;;··uma s~dedãd~ ..êfém.ocrática liberal .qµ~ .f!i~iJi:-_ Jean Jaéqu~s Rousseau. Uma educação corretamente àr-dênádã~nessã
-tasse "a mâior felicidade do maior ·-núínerci dê pessoas". No plano _visão, revelarià.ciú rêéupérâiii .ã nàtui--e iâ-ve·i-c1ãéieirã..dohõm'em.écriàriã-·
é:-re-srôm.ático, ~ apre~díz~gem tirii ·oc'orria~nürri'loéai' e·s pêcificamente em tod9 indivíduo ·a cãpacidade latente pára a liberâadüiiPiif.)\J'"à
designado e organizado - a sala de aula - através da inculcação de verdade, como aqueles que promoveram umà .. ciência da educação
hábitos de cálculo num regime de observação permanente, mediado por fundada numa psicologia do desenvolvimento neorrousseauniana, no
um sistema ·de recónipensas e punições. _A sala d~ aµla benthamiana .I:!:.ª _fin:;i! d.o s_éçu).oXIX, sustentavam, "o propósito todo da educação pode
um espaço_intensamente comp~Jiti_y9. ÂsiÍçó~s eram-·c urtãs-é--ápeda- ser resumido no conceito de moralidade" (Findlay, 1902, p. 1). Desse
gogia "inquiridora" (exigindo recitação e respostas) ou matética (exi- ponto de vista, ·um método correto ·d.é. educação po_g_~~i~.s~L cientifica-
gindo aprendizagem mecânica) e invariavelmente seguida por exame. . mente estabeleciôo por meio das. ciências huma_nas da Psicologia ~ .<i.?-
Nessa visão utilitária, os governos progressistas da Europa e dos Sociologia e das ciências médicas que inculcassem hábi'té;s· de saúde e
Estados Unidos "tomaram para si a administração das escolas e das l . higiene na população. ·
universidades" (Mill in Warnock 1970, p. 240). Apesar das reservas Era central a essa transformação dos recursos humanos a visão de
liberais sobre o crescente étatisme, pensadores como J.S.Mill e Mathew que exatamente da mesma forma que a economia se transformou do
Arnold acabaram por ver a "benevolência desinteressada" de uma feudalismo ao capitalismo e o governo do absolutismo irracional à
educaç~o patrocinada por um Ési:ad.o~rg.cÍqnal ·como o menor de ''dois democracia constitucional racional, assim a criança transforma-se num
males" (Mill, pp. 239-40), o outro mal sendo, naturalmente, a multidão cidadão útil através de estágios de crescimento e é papel do "bom"
vagando pelas ruas numa ignorância pouco iluminada. O exame legal- professor, cientificamente treinado, facilitar esse desenvolvimento. Esse
mente obrigatório, o mecanismo que claramente indicava a benevolên- progresso desenvolvimentista da natureza infantil, eloqüentemente
112 113
educadores progressis ta~. Por volta do início dos anos 1970, educa?or es
pressagiado no Émile de Rousseau, adquiriu forma material nos expe- como Mdntyre e Morrison (1971) podiam se basear numa quantidade
rimentos pedagógicos de visionários educacion ais como Pestalozzi e imensa de dados científicos que podiam facilitar melhorias na eficiência
tornou-se crescentemente regularizado e cientificizado no pensamen to · docente e, por sua vez, melhorar a eficiência das escolas em dar uma
pedagógico de Herbart, S~cer, F~oebel, D~~Y, !'-1~ ~sori e Mac- educação útil para sua clientela.
millan. Era centrafa essa g_eêlagog1a do desenvolvimento o papeÍcÍo
A imagem de uma população cientificamente educada é isomórfica,
b.-. professor tanto ~p.9.-un:urr9..delo a ser imitado quanto coroQ_lliP portanto, à de uma modernid ade plenamente desenvolvida. A realiza-
. volta do-"··-
Por
- ---
1aãl1taaõ rd'áºãprenctizagem através do fazer.
-··-·
início do século XX, os colégios da Euro pa e da
ção dessa imagem exigia, por sua vez, uma personalidade cientificamen-
te transform ada, uma personal idade que revel asse a ple na
América do Norte estavam treinando os professores numa pedagogia potencialidade de uma natureza humana latente ou obscura. A fim de
do desenvolvimento apropriad a a cada estágio do desenvolvimento alcançar essa transform ação, uma ciência educacional armada ·com
racional da criança. Essa ciência do desenvo lvimento permitia que o dados sociométricos e um conhecim ento progressivo do crescimento
professor eficiente "traçasse uma ordem de desenvolvimen to" no pro- emocional e intelectual dos seres humanos tornou possível uma meto-
cesso de aprendizagem (Findlay, p. 137). Esse conheci mento deu ao dologia de ensino cientifica mente objetificável. Além disso, mesmo
professor a liberdade para prever as ocorrências da sala de aula e quando críticos marxistas ou neoc;onservadores questiona ram i obiêti-·
antecipar a conexão entre estímulo e reação. Exatamen te da mesma vidade da ciência e a validade de suas prescrições, eles nunca duvidaram
forma que o médico tratava um paciente, a ciência educacional equipava . da possibi lidade de uma tal transform ação progressista. Pará qu~ à
o professor apropriadamente treinado com um "poder de diagnóstico modernid ade progressista - todos· os discursos pareciam anunciar -
e interpreta ção" (Sadler, 1901, p. 137). fosse realizável era necessário apenas que o desenvolvimen to humano,
Munido de uma ciência do desenvolvimento e da capacidad e para a organização econômic a e o desenvolvimento político fossem apro-
dividir cada lição em.cin~~ PASSOS herbalfia rnr, o profe~sor profission al priada e objetivamente racionalizados.
estava equipado, como sustentava o i óso o estadun ide nse William
James, "para educar as emoções" Games, 1949, p. 253 ). Nessa visão, o Discurso, Genealogia e Ciências Humanas
professor treinado levava a criança, "naturalmente", em direção a novos
conceitos. Na l;dh~gia transform ativa de Margaret Mcmillan, uma
nova raça de tra ai adores do ensino e da saúde educana a imaginação Vamos perverter nosso bo m senso e permitir que o pensamento
através de seu domínio da:_)ogã~Esses professoré;-enfermeiros criariam brinque fora da mesa o rdenada das semelhanças (Deleuze in
"jardins de crianças", na favela"urbana, os quais inculcariam hábitos de Bouchard, 1977, p. 23).
higiene. Ji saúde, -~~§i..lJl__çl)Jlli)_Q_Ç_re~çimÊ!!.to econômico,_e,r,a._<1gQE_ um
-
1
.'.'.li.~..r9g_µto·êló ·ensin9_: (Macmillan, 1903, p. 200). 1
Em suas tentativas , às vezes obscuras, para obter uma outra compreen -
Essa visão do ensino eficiente e científico oferecia a perspectiva, no 1
são, aqueles pensadore s historicistas nos quais, como sugere Richard
período após 1920, não apenas de um d$5envolv imento_ racional, mas
1
1
Rorty, "o desejo de autocriaç ão domina", têm exposto a densidade dei
também de uma ordem social. A escola tornou-se "o centr-;-ae interesse
;11arcisismo ocidental e_seu _longo e~fo~ço_~ ~t_afí~i~.9 para l~JCalizar uma
para todos os enVÕ!víãõs'nô trabalho de melhoria social que afetava a
_essência por trás da aparência e uma verdade obscureciêfa -pela~1n1aõ. ·- <-
vida infantil. O trabalhad or social na clínica para recém-nascidos e no
o O enfraquecimento das fundações ilürriinistás· da epistemologíã--põr
jardim de infância gratuito deve seguir jovem a seu cargo até a escola
parte de .<:~crito_r~s__irracion,\lis.tas, de Nietzsche a Foucault, Derrida e
infantil onde o médico e a enfermeira já estão em alegre função .. .
Deleuze, leva-nos a considera r as implicações de seus projetos arqueo -
Comissões de Cuidado procurarã o manter a criança em forma e em
lógicos e genealógicos para as Ciências Humanas em geral e a Ciência
freqüência regular... enquanto , ao final, o serviço de trabalho juvenil Educacional em particular.
entra na escola pàra registrar o trabalhad or potencial" (Allen, 1916, p.
217). Ao menos desde A História da Loucura (1976), Foucault, Deleuze,
Guattari e seus "companh eiros de jornada", buscaram ficar fora das
) \ .partir de outros desenvolvimentos na Psicologia Aplicada e na
tradições estabelecidas de pesquisa a fim de demonstr ar que o 4~~e11-
-~99.)Qg g...~2,Úuso dos anos 1:%0 é-i97Q, foi -possfrêl"cientÍfic1zaré
volvimento epistemológico nas _Ci~~cias Humai:!~~ atua de formã pQ\í:
. 9-l;>j~tifiqr_Jü_ngil_mais a sala de aula, o professor e o aluno,_Estudõs .. !ica. A pesquisa está intimame nte implicada no gerencíam ento prático
sociométricos e pesquisas' de ãtitudes ofereciam dados objetificáveis de problemas sociais. Um vocabulário científico não oferece apenas
para provar as observações impressionistas de gerações anteriores de
115
114
t~·.-,;,•
.. função legitimadora"; ele também constrói um olhar que torna transmitindo ou distribuind o carac re rísricas d iscursi vas particulares na
uma
· , 1 aquilo que Deleuze descreve como " a nova paisagem . . l" forma de um diagrama (Deleuz e, 198 6, p. 55 ).
socia .
v1s1ve , .
Arravés da observação metodica, os novos " o b.1etos d e mreresse
· " ·d
I en- Essa contestação discurs iva a uma razão essencialista, universalizan-
tificados nessa paisagem foram inseridos numa rede de práticas melho- te e fundaci o nal tem profundas implicações para uma leitura pós-mo-
rarivas ou terapêuticas. dernista do governo em geral e para a prática da educação em particular.
Segue-se disso que o pós-modernismo evita a reivindicação cientí- Cen tralmente Fo ucault distingu ia uma mudança na genealogia do
fica à originalidade, à descoberta e à melhoria da condição humana. gov erno ocid;n-ta1;_~cfe u_
r:nª soherãnta 1un9tea P'.'--'.~ª gov_~.!:n~en~jíl}aa-=--
Foucault, em partiçular, buscou separar a VQflt~de científica de sab~r _ ae de um pocfú de morte que um s~be ran o patnarcaf exe!~~~ _sobre u1::
t> da idéia de progresso humano, considerando ess~ projeto es~enci~li~t~ ~v Õ.sujêi ta-do a um põder-êfe ·v ida sobre úmã'p6p~cáõ ad.m0isrrãêra.
como sendo, em última instância; p"olítico. "O conhecimento do ho: Essa··mudariçã; expl orada mais notave lmente em Vigiar e Punir (1977)
· mem", ele sustentou, "diferentemente ·âas' ciências da natureza, está e na História da Sexualidade (1978) e em sua conferência publicada
sempre ligado ... à ética e à política" (Foucault, 1985, p. 328). Assim postumame nte como "Governamentalidade" (Gordon et al. , 1991),
que entram em funcionamento, pois, as Ciências Humanas "ofendem oferece uma perspectiva potenci alme nte iluminadora sobre o poder, a
e reconciliam, atraem e repelem, quebram, dissociam, unem e reúnem; sociedade civil, a ética liberal da li be rdade individual e suas impl icações
não podem senão libertar e escravizar" (p. 328). Conforme David Hoy : para uma ciência pedagógica progressista.
O conhecimento do homem .. . está ligado à política, isto é, ao poder, Em particular, a mudança discursiva ocorrida no século XJX - da
uma vez que o conhecimento não é apenas colocado em uso, mas os so berania co ncebi da em termos jurídicos para uma nova preocupação
usos que temos para coletar conhecimento determinam eles próprios com a técnica gerencial - , abriu um novo domínio de governamenta-
que tipo de conhecimento adquirimos. Q~çinh~firr,.~nto não é_9_9!i...9.9. _ lidade e criou, na frase de Deleuze, "a nova paisagem do social"
independentemente de seus usos, mas os fatos cõrecãâõs- estarão (Do nzelo t, 1979). O novo campo de governo - Foucaulr argumentou
.funcio'nálmente · relaciónâdõs- ãós-usos que lhes serão dados (Hoy, - era a população e as técnicas que se desenvolveram para adminisrrá-
1988, p. 19). la. Nesse novo domínio, a família, que anteriormente funcionou tanto
como um modelo da soberania quanto para a soberania, foi deslocada,
Nesse esforço disciplinar, Foucault identificou uma interação entre "um se ndo relegada a um instrumento para a administração da população.
código que rege formas de fazer coisas .. . e uma produção de discursos Em contraste com a soberania jurídica e a sua preocupação com a
verdadeiros que servem para fundar, justificar e fornecer razões para ordem, a governamentalidade e a ciência política que veio a acompa-
essas formas de fazer coisas" (Foucault, 1981, p. 8). O discurso expres- nhá-la na forma de administração pública, cuidado com a saúde e
sa, na verdade, a forma '.'como os h.on:iens g<Y'".'.Çn?am a si próprios e a _ educação popular, tinha como propósito não o ato de governo em si,
outros po~ mei9 _da_pr_~ dução_~ê-'!:~r_c!.~1:~'- _!a.r _".~~_9,a..9e1.._~lé~_.?i~~~1... mas "o bem-estar da população, a melhoria de sua condição ... e os meios
f:!)LICaul_t c:qrrwreer1d_ia não a produção de um enunciado verd~~e_!~Q,. que o governo usa para obter esses fins são eles próprios, em certo
. _rna.~~_(oç!_I!.i!çA,o__g,~~-c;l_g~[1_ú,9.f~~s g~~1f.'.I~efátg=~:~:?·:v_~(da<l.eiro ~ d_o sentido, imanentes à população : é a própria população sobre a qual o
_fals9__e._o~uu.o..m~r..P-mint:nt~:· (1981, P· 8). . - governo agirá, seja diretamente, através de campanhas de grande escala,
Seguindo Georges Canguilhem, Foucault sustentava que seu tema seja indiretamente, através de técnicas que tornarão possível, sem a
não era a sociedade como tal, mas o discurso do verdadeiro e do falso, plena consciência das pessoas, a estimulação de taxas de natalidade", a
"pelo qual quero significar a formação correlativa de domínios e economia, a saúde e a educação moral {p. 100).
objetos"._O discurso e;,_conseqüentemente, como Deleuze argumenta, Essa preocupação emergente com a população era para Foucault
uma '_'~~_n;~d9.ri,! pol(tica", cujo murmúrio anônimo espalha-se a partir absolutamente fundamental à invenção de novas técnicas de poder. A
de locais institucionais e invoca dois "registros". Em sua relação com o transição que ocorre ao final do século XVIII, na Europa, de "uma arte
conhecimento e seus objetos de interesse, o discurso exibe "princípios do governo a uma ciência política, de um regime dominado pelas
i!"l:_:m ences ~e re&ul_a~_idade". · · · · estruturas de soberania a um regido por técnicas de governo, baseia-se
De forma significativa, a maior parte das pesquisas em Ciências no tema da população e, portanto, também no nascimento da economia
Políticas pouco diz que seja impressionante, original ou mesmo mera- política" (p. 101).
mente interessante. Novos enunciados são raros. Entretanto, esse dis- Entretanto, Foucau lt não pensava que tivesse havido uma simples
curso também descreve programas planejados para moldar ou inventar evolução ou progresso de uma sociedade de soberania para uma socie-
a..r.e.._afül~9.~ soei~. Como explica Deleuze, o poder é genealógico -
dade disciplinar e a subseqüente substituição de uma sociedade disci-
116
117
tã$.%;::.-.
l•~:.,· ·
[ .~·· --
,1 .. -
p\inar: ·p or ·um sociedad e de governo. Em vez disso, ele argumen tou,
explica, "enquadr ando processos naturais em mecanismos de seguran-
"tem-se um triângulo : soberania -disciplin a-governo, que tem comg_seu
ça" (p. 138 ). A libe rdade aqui não é uma virtude, mas uma técnica
~\y9, primário ~ p__ç,_P.ul~o e com~ seu_mecarii~mo essencial os ~paratos
necessária de "governar os processos na tu rais da vida social e, particu-
'àrs~ànça" (p. 103). ~e proieto isola a ~1gura _d_a economia ~.o m_o larmente, aqueles das trocas auto-interessadas" (p. 138 ). No tem po, a
um setor específico da realidade e a Economia Pol1t1ca como a c1enc1 a
segura nça das leis e a liberdade individual se pressupõe m muruamente.
e a técnica da intervenç ão do governo naquele campo da realidade . N a
Além disso, como um correlato necessári o de uma "nova forma de
v~rdade, o que se torna importan te para a modernid ade não é tanto
governar , a sociedade civ il pode ser vista co mo forne cendo uma base
aquele curioso objeto - o Estado e sua · estatização da sociedade -
pa ra racion al izar a regulação legal de um governo autolimit ador,
quanto a governamentalização do Estado.
econô mico ou frugal, vinculado referencia lmente a processos econômi-
Como Graham Burchell (1991) explica de forma interessante, o cos" (p. 138). A sociedade civil situa o problema do exe rcício do poder
desenvolvimento de técnicas de governam entalidad e e seguranç a sob a político em relação a um domínio aparentem ente natural no qual o
orientação da economia de laissez-faire exigiu, paradoxa lmente, a poder, na forma de re lações espontan eamente desenvolvidas de auto-
liberdade na esfera da sociedade civil. O princípio do laissez-faire, que ridade e subordinação, já existe numa relação dinâmica interna com o
e
se desenvolveu a partir das teorias fisiocrãticas"fraiiéêsàs dÕ ·cetidsmõ· ·
--il~-~i~ts-tà 'escÕcê~. êf~ I-luf!1e,·Fe1:~~9..t:i•.<:.."S!l'iLth; permTtiu qüé-Bentnâm
exe rcício de inte resses. O papel do Estado define-se por referência a
uma sociedade "natural" já existente e é essa natu reza aparentem ente
- efab~ r~§~_"_1.ün "pjQkt_ç_ ~ifü~E!?. ~~s~~~~- ~~ma novã...
p.o.i:tuÍação _e da riguez~ (Burchell, 1991, j;:'TT?f. Efese constituiu
oõjet1tic~~~9_ 9i_ autoprod uzida da sociedad e civil que o Estado te m que assegurar que
fu ncione de forma otimizada. Isso exige a regulação de seus processos
como "um princípio de governo de acordo com a natureza das coisas, naturais po r mecanismos de seguranç a que coloquem a sociedade numa
pressupondo uma especificação dos objetos de governo de uma forma posição complexa e var iável tanto dentro quanto fora do Estado. A
tal que as regulações de que eles necessitam são, em certo sentido, sociedade civ il e o homem econômico natural são, na verdade, os
auto-indicadas e autolimit adas, com a finalidade de assegurar as condi- correlato s necessários de uma tecnologi a política de governo.
ções para uma função otimizad a, mas natural e auto-regu lada" (p. 127).
A Ciência Política, portan to , torna possível uma realidade transa-
A preocupação com o novo objeto da populaçã o to_rnou possível um
cional. Esse dom ínio na fronteira do poder político e daquilo que
_sujeito econômico baseado no inter.ess~ ;dculist~ , em vez de ~m sujeito
naturalm ente evita sua apreensã o oferece um terreno fértil para a
j u n ~ r contrato, à lei. Como argumen ta Burchell, essa
inovação experime ntal. Ela permite a formação de tecnologias tatica-
mudança crucial_eliminou restrições "sobre a busca do interes_se priva-
mente polimorfas, como o panóptic o benthami ano e a estratégia cres-
·a
do" e epistemo lógÍcae "praticam ente impfiê:Õu de;quaiif ic;ção- d;
soberania sobre o processo econômi co (p. 134). A Ciência Política, em
tomática para governar as vidas individuais. Essas novas tecnologias
outras palavras, criou a sociedade civil como o domínio da governa- moldam a conduta e os desempe nhos apropriad os à sua produtiva
mentalidade. inserção nos circuitos da vida social. ·
Esse novo poder sobre a vida desenvolv eu-se em duas formas
Entretant o, como Foucault e depois Deleuze e Donzelot descobri-
básicas ou, mais especificamente, constitu iu~ois p~~os ~e de_s!,'._nyç,Jxl~-
ram, essa nova governam entalidad e não contestou abertame nte o qua-
,!Jlento" (Foucault, 1978, p. 135).JJ.w._pólo centrou-s e no corpo, como
dro unificador de soberania legal e política. Em vez disso, questiono u
a identificação da razão governam ental com a razão totalizad ora _da
uma máquina caracteriz ada pelo desenvoTvimento ·das
disciplinãs, "uma
anátomo- política do corpo humano" (p. 139). O segundo pólo focali-
soberania ou do Estado. "Reform ular os objetos, instrume ntos e tarefas
zou-se no corpo da espécie, 2-. ROpul_aç~o. <;~. gf[~, cuja süpérvisão "foi
do governo com referência à sociedade civil torna tanto possível quanto
efetuada através de uma série inteira de intervenções e controles
necessário reformul ar também o problema entre o governo e a unidade
regulatór ios" (p. 140). Houve "uma explosão de técnicas numerosas e
legal do Estado" (p. 138). Na visão de Foucault, o liberalismo começou
diversas para obter ª ~subjugação dos corp9s_ ~ºcontro le das e9pulaçõ es,
com "o reconhec imento da heterogen eidade e incompat ibilidade dos
.IT\~nd o o começo de uma era de biopoder " (p. 140). Assim, como
princípios que regulam a multiplic idade não-totalizável dos sujeitos ·
GillesDeleúi.e observou, "as duàs funções puras nas sociedades moder-
econômicos baseados no interesse e aqueles que operam de acordo com
nas serão a anátomo- política e a biopolítica e as duas questões puras,
a unidade totalizado ra da soberania política e legal" (p. 13 7).
as de um corpo particula r e de uma populaçã o particular".
O objeto de uma Ciência Política, portanto, tornou-se o de assegu-
De forma crucial, o biopoder exigia o desdobra mento da sexuali-
rar condições para o funciona mento otimizad o e, tanto quanto possível,
dade. Situado na junção "do corpo e da população, o sexo tornou-se
autônom o, dos processos econômic os na sociedade ou, como Foucault
um alvo crucial de um poder organizad o em torno da administr ação da
118
119
vida e não da ameaça da morte" (Foucault, 1977, p. 147). Uma Uma Alternativa Pós-Modern a ao Gulag da Terapia Gerencial
combinação de mecanismos disciplinares como a escola, o hospital e o
hospício articulou e ordenou o biopoder. Essa biotecnologia empregou
Pois o próprio fundamento da pós-modernidade consiste em ver
táticas cuja
o mundo como uma plural idade de esp aços e temporalidades
operação não é assegurada pelo direito, mas pela técnica, não pela hete rogêneas. A pós-moderni dade, assim, pode se de fini r apenas
lei, mas pela normalização, não pela _punição, mas pelo controle, no interior dessa pl ural idade (H elle r .& .Feher, 1988, p. 1).
métodos que são controlados em todos os níveis e por formas que
vão além do Estado e seus aparatos (p. 89). Ao ge nealogizar dessa forma a mode rn idade, o ~ -modernismo
claramente mina as fundaçõ es epig~n:iológicas tan t9_da Ciê ~ci a Política
Em particular, as Ciências Humanas transformara m a técnica religiosa .cji:úfri'~ê;-~-~ Ciênci a Eduéáclo n;l. Co lo~~- im- d6vÍcÍa a noção de hi;tórfa
da confissão, sub°mt:Üind~-i-regra ·objé-rívãaõ··ríõi-õi.arecfôpâfü1õgifü .. c·omo pr:~i-i:'sso;-a nÕção de sõêiedacfeciVIn:omó õ cfómfo'wcfe
- ~ ir~-~-~~P~ª~ji~iQ[~f<:~Ú~~-~~:~i~~~~L : o pecado:.A formaçao -- ~ d e do-Cldãdã·Õ·autôn omo e maduro e·-a·i·déia de-um-g-:e-ssêõ ãa.õu
desse olhar normalizador necessitou ainda do desenvolvimento de naru; ~i;-q~;;--gÕv êrno -prà.gi:-éssisrã devê ria .r aé(onal~en te facil~~.
mecanismos regulatórios a fim de q.!}alifica!i medir, julgar e hierarqui- --··":E~;;d ~;~-mist-;i.içao' de~oli cl~;~ da modernidade democrática líbe-
zar-: Trata-se de um mecanismo de normal(zação mais claramenfe ral tem levado diversos analistas, notavelmen te Habermas (1988 ),
evidente na ciência educacional que veio a moldar o treinamento dos Rorry (1991) e O'Sullivan (1 993), a criticar o aparente niilismo do
professores e a regularização do espaço de sala de aula. discurso de pós-modernis tas proeminente s como Foucault, Deleuze e
Esse novo modo de biopoder, central à prática da moderna peda- De rrida. Em particular, eles têm observado uma "tendência a deixar a
gogia, exigia não submissão, mas um- -·jogo de sedução. Portanto:
~· . .,. _______ ____ ··-
_g~~~onstruçã o degenerar em algo pior qu~ 9 _relativismo'.;. No
Fouc~i:;-ic .éles.. denunci·ài-am sua própria
·e~~ de
"versão da obsessão mamsta
Captura e sedução, confrontação e reforço mútuos: pais e filhos, -é'o-ri-Í .desinascarar" relações de poder (O'Sulli~~~' Ú93~ p. 33). · -
adultos e adolescentes, educadores e alunos, médicos e pacientes, o -- -Aiém disso, quando ·~~ .pós~-~~dernistas oferecem sua versão alter-
psiquiatra com suas histéricas e seus pervertidos, todos jogaram esse nativa da libertação eles tenderiam ao inócuo e ao incompreensível.
jogo continuamen te desde o século XIX. Essas atrações, essas eva- Assim, em boa parte do pensamento social pós-moderno , notavelmente
sões, esses incitamentos circulares desenharam ao redor dos corpos naquele proposto por Jacques Derrida e por pós_-feministas como Julia
e sexos não fronteiras a serem cruzadas, mas perpétuas espirais de Kristeva e Luce Irrigaray, "a política desaparece da vista, sendo s.ubsó-
poder e prazer (p. 45). tuída por uma fé ingênua, quase mística, na harmonia natural, a qual,
se presume, será automaticam ente trazida pela desconstruçã o" (O'Sul-
Por volta do início do século XX, as exigências da governament alidade livan, p. 34). Nessa leitura, a pós-moderni dade deixa-nos com uma
tinham criado não uma modernidade progressista, mas um complexo mistura preocupante de desmascaram ento de relações de poder e uma
rurelar de conselho e segurança. A escola, o hospital, as agências }é_jnócllél, 11c1 cJ.ifférance. Existe - perguntaríam os - algo além dis·so?
multivalentes do bem-estar social, todos forneceram locais institucio-
Claramente, da perspectiva pós-moderna , a fé racionalista no
nais para uma constelação de conselheiros e técnicos praticar as estra-
progresso, que constrói o tempo histórico de forma positiva, desapare-
tégias de um biopoder sobre uma _P.Qp_qjaç~.Q . E~~s_c~n~-~~~!~. ce. Essa idéia de tempo ocorreu durante um período de enorme
~C:r~peutizada . Estratégias que podiam ter os objetivos aparentes de otimismo sobre a capacidade da vontade humana de moldar a história
"dizer não a tÓdas as sexualidades errantes e improdutivas ", na verdade, e fazê-la conformar-se às aspirações humanas. Em contraste, a pós-mo-
"funcionavam como mecanismos com um duplo ímpeto: prazer e dernidade reconhece que os eventos são contingentes. A transição da
poder" (p. 45). Uma tal modernidade movida pelo biopoder, na verda- modernidade à pós-moderni dade, como Antony Giddens tão prescien-
de, "questiona, monitora, vigia, espia, investiga, apalpa, traz à luz", de temente observou, está "limitada pela descoberta de que a razão não
forma incessante. Por volta do final do século XX, essas estratégias cria racionalid<!_de". Não existem, como conseqüência, rríais mêra~-
rutelares saturavam a família urbana com normas médicas, psicológicas .. ra.tiva1> propondo a marcha para frente e para cima da !~_zão. De forma
e pedagógicas. igualmente· impressionan te, a pós-moderni dadê -ríâo -oferece qualquer
120
121
possi.bi\idade de uma respo sta radical ou
"uma polít ica rede nto ra de
qual quer tipo" (O'S ulliv an, 1993 ). tente entre co mpan heiro s de ironi a e o recon hecime nto de que a
Mais: o discu rso pós-m oder nista subv erte "crue ldade ~ a pior coisa que fazem os" (Ror
a noçã o de uma iden ti- t y, 198 9).
. dad; coere nte e de um indiv idual ismo com Um conservad orism o pós-moder no, em
um ego segu ro, fund amen - con traste, ofere ce uma
tado na natur eza hum ana. Não exist e, na verd respo sta mais cética ao cola pso da certe
ade, nenh um eu essencial, za racio nal. Assi m, tanto Grey
~pen as ~~ j ~~5!~dC:_ _Co~tingentemen (1 992) q uant o O'S ullivan ( 199 3) têm cham
~~_!] ~gQÇ EQ.< !_~ ~T ado a atenção para o
dese ncan to (Rorn'..,__1989f ou em desin tegra problema pol ítico prático de reneg ociar a
ção perp étua. Na pós-m o- relação entre a auto ridad e
dern idàc iê, .tudo..é questlõnaêlo, tudO éprO política e a ident idad e móra l na pós-m
viso rio··e toao indiv íduo é oder nida de. Enquanró a Ciên cia
assom brad o pelo arrep endi ment o de ter perd Polít ica e a T eo ri a Política e Educ acional
ido o que pode ria ter sido. mais radicais tenta ram livra r-
De fato, é cada vez mais centr se do pode r através de meca nism os de respo
al, ao proje to pós- mod ernis ta e à sua nsab ilização e distr ibuição
respo sta à reali dade trans acion al da polít (no mod ernis mo educacio nal os estud antes
ica, ques tão da iden tidad e.
a são participan tes iguais no
Com o se age, ou no noss o caso, com o se ensin proc esso de a pren dizagem), a pós-m oder nida
a, num mun do mold ado de cada va mais recon he-
não por causas mas pela cont ingê ncia e infor ce o pode r co mo um fato social e polít ico
mad o pelo ceticismo e pela inescapáv el. Dessa perspec-
ironi a ? De form a igua lmen te impo tiva, a iden tificação pós- mod erna da cont ingên
rtant e, de uma persp ectiv a polít ico- / · cia dos arran jos políticos
peda gógi ca, com o man ter uma orde m socia e educ acion ais pode ser trata da através do
l plura lista na qual toda s as recu rso à ex periência tradi-
velha s hiera rquia s foram destr uída s e toda ciona l e cultu ralmente específica.
s as difer ença s receb eram um
certi ficad o de valid ade? Assim, Grey e O'Su lliva n obse rvam que o prob lema pós-m oder nista
Deve-se enfat izar, aqui , que o _e_mpr<:_endim tem, em várias ocas iões, invo cado pens ador
ento pós- es polít icos euro peus pré-
_no~n alist a e hist<2_ricista. mod ernis ta é ilu mi nistas, nota velm e nte Mac hiavelli,
Cons eqüe ntem ente , ele nega Hobbes e Mon taigne. Para
nista .parã fi.iiídái:-uma"Iiiiguagem da o esfor ço ilum i- O'Su llivan, o prob lema de rene
prese nça, gocia r um senti do de identidad e e
não- meta fóric a e objet iva auto ridad e requ er um retor no à política lim
ou trans paren te. Em outra s palav ras, ele itada prop osta por Hobb es.
reco nhec e apen as uma pers- E!"!}.1~r.Q1..Q~ ~du~acion ais, um currícu lo pós-
pectiva parti cular , selec iona da de uma mod erno rene gocia do reco-
varie dade de comp etido res n hece ria a co nting ência- de .üm i-prá ticae
pote ncial ment e válid os. Com o tal, uma cfucacío nal parti cular e reco-
mesm o temp o, mold ada por seu próp rio
persp ectiv a parti cular é, ao _:~tíéc~_r/ã_ :em~i:~\~~~
q1:1e~- ~i ' p_?uéo::?fe"recf ·_d~ r~su ~iªo sú~i-~t~?_S:_ - .
pass ado cultu ral e ofere ce De form a inter essan te, e com um tom mais
apen as uma presc rição mutá vel e cond radic alme n te social-de-
icion al para o prese nte. Tal . mocr ático , Habe~~as. (198 8) e
modé stia, natu ralm ente , cont rasta com os Zola (Y99 "Ifta ~lliJ Ü!l·a ~;'c~nsà ênci a
gran des plan os racio nais da dos limit es do proje to ilum inist a. Dess a
mod ernid ade, mas não nega as poss ibilid persp ectiv a mais radical, uma
ades nem da filosofia, nem da pól is pós- mod erna
educ ação . apro priad amen te comu nicat iva exigi ria um currí cu-
lo adeq uado às exigê ncias retór icas de uma
Polit icam ente, pois, o pós- mod ernis mo ofere cosm ópol is cada vez mais
ce uma gama de pos- plura lista. Uma educ ação civil é vital para
sibili dade s e respo stas imag inati vas, limit estab elece r um camp o dé jogo :\
adas e nece ssari amen te retór i- comu nicat ivo plano .
cas, à pred ição caus a tiva. r~r:~.1.:1.m. )ip_Ç_t<!Lb! '!
-!!Xl!~~-P2 S-mo dern ista ~~-1!1~ Uma peda gogi a pós- mod erna plura lista,
Rich ard Rort y, a saída está em aban dona na verd ade, ofere ceria
r a~ç~ ~qJº gias e total izaçõ es certo s recur sos tradi ciona is,
' '7~_péé19i~ ~ e_f!.Y9lvér~~i.~ m:frr í_i:i ~1õêr íição 1r◊ri
junta ment e com a possibilidade de uma
nece ssari amen te cond icion al e o eu;· jurir iç~, Tod a expe riênc ia é inter roga ção intel igent e e expe rime
ainen te com a pólis e a escol a, ntal de práti cas cultu ralm ente di-
está num cons tante estad o de rene goci ação versas, num espír ito de auto criaç ão e comu
prom etéic a. nicaç ão incessantes. Ao
mesm o temp o, uma nova aber tura peda gógi
Um tal liber alism o pós- mod erno aceit a que ca resistiria à poss ibilid ade
a peda gogi a ocid ental alter nativ a preo cupa nte de a pós- mod ernid
não tem nenh uma asser ção univ ade recua r a uma iden tidad e
ersal e está limit ada por sua próp ria essen cialis ta, àqui lo que Rort y cham aria
"mô nada " cultu ral. Cons eqüe ntem ente , de uma môn ada cultu ral
uma, _pc;dagogi~ liber al pós- mo- fecha da, ou a um geren ciali smo peda
dern a tenta facil itar um _q_Uf:Sti9namen gógi co deter mina do pelo Estad o.
to irô"nicô d9 c_u~r~:~~~- ~~er~I!. A últim a poss ibilid ade, para um grup o cresc
mas um currí culo livre das tenta tivas para ente de pirro nista s ocid en-
local izá-l o num a mora lidad e tais, cons titui o gran de med o pós- mod erno
racio nal fund acion al.__No luga r de verd ades . Em vez de urna intro duçã o
univ ersai s, segu indo Niet zs- às limit adas poss ibilid ades ofere cidas por
um currí culo irôni co não- re-
che e Heid egge r,. ~?'~~te . ipenas à" ·per spee ffy~ ~~J fü~~ ~-~~ ..fult ur~ dent or, livre ment e nego ciado , o Esta do
educ acion al geren cial pren de
.9!:1~.hÊ:~itàmos e imag inãt1 vame nte inter seus mem bros em relaç ões de cresc ente
rõga rriós e reinventa!!!.Q~- Tra- depe ndên cia, atrav és de uma
ta-se de ii"m Jirag m-ati smà i"~~g füiriv o füdiê
-e· ãmente irôni co. O cime nto maq uina ria de crede ncial isrno e exam es
cons tante s. Assim, escri tores
cons titut ivo desse arran jo polít ico-p edag com o Chri stop her Lasch e Phili p Rieff têm
ógic o é a solid aried ade exis- meta foriz ado o ocid ente ou
122
123
~ .";;:, mau, pcec;,amcnt c a G!l!fó~!__•.. co~_um _':"!_'Yº h_o sp; ta1ac no _(@ai possi bil idades 1mag1_naciva.s que: a contingência oícre.ce . U ma educação
pacientes cada vez mais na rc1s1stas, em vez C['C c1cfo d;iQs,_rcc_cb~i:n aprop ri ada mente pos-modern a torna-se uma propedêutica a uma lin-
conselho de uma variedad e de terapeutas forncc1dos_~l o Estad q. Essa gu agem qu e co nsrnu, a unid ade: comumcar1va da pólis moderna_
gerénciã terapêutica~ n_ã~ ape-nãs- de _n-ar cí~í~tâ~- ps.íéológicos , ~as dos Em ou tras pala vras , a pós- modernidade co nvida a uma resposta
novos movi mentos soc1a1s que lhes dao leg1rtm1dadc - ecol ogi a, femi - pl ura lista à con dição continge nre que an unci a_ Como cal, ela ofer ece
nismo, an ti -raci smo - é incompatíve l com uma reinventada pólis espaço pa ra uma interrogaç.áo intcl ige nrc de: práuca.s passadas e uma
pós-modern a de plu ralistas cosmopolita s. Esses movimentos buscam respos ta imag in ativa a novas con ri ngéncias. Uma cducacão comunica -
uma transform ação fundamenta l do "paradigma da vida", um a trans- tiv?__não-rede ~o ra é cenrr~ ( . rica comunicativ a da pós-moderni da ~
fo rmação que, em última instância, entra em conflito com as modestas ~ -- -- ·
possibilidad es de uma política e uma educação limitadas. Como seu pluralismo e rela rivismo sugere m, uma nova pedagogia
Esse novo fundamenta lismo e a certeza identificató ri a qu e ele será aberra, cm uma era de gl o bali zação, a con cribujções e práócas
oferece aos inseguros narcisistas é "a má consciência da condição culrurais de tradições alre rna rivas ou dife re ntes (confuc10nismo, isla-
pós-modern a flagelando-s e a si própria por sua excessiva indulgência mismo, etc.).
para com o relativismo" ..A retrib alizaç~pote ncial da pólis pós- moder- El a de ve resistir , enrretanto, a um recuo à tirania de uma verdad e
na exi.giria uma gama crescente de intervenções governamen tais para _única, çienrífica,re_!i_giosa o u esse ncialista~"Recon hecendo que o cu é
distribuir e equalizar as reivindicaçõ es de proliferante s soi-disant comu- - essencialmente conri ngen re e um consrruto das linguagens que habita e
nidad es. Um tal desenvolvim ento veria a substituição final da tradi ção modifica, a pedagogia pós-moderna é irônica e aberta. Ela nega uma
ocidental da educação liberal e do espaço político e pedagógico que naru reza ou um esse ncial ismo abso lutista. - ---- - ·-
aq uela permite por uma preocupante política pós-modern a de adminis- A desvantagem preocupante de uma nova ordem mundial sem
tração e segurança. ideologia é o recuo ao fu ndamentalism o, se ja de caráter ét nico, seja de
caráte r religioso. O pós-mode rn ista necessariame nte se o poria a uma
Conclusão tal dege nerescência. O reconhecime nto do contínuo problema do poder
numa pós-mode rnidade cética, irônica e distópica tem tom ado possível
Para concluir, tentemos sintetizar uma série de temas. Claramente, o um a renegociação das já limitadas possibi lidades da educação numa
perspectj vismo da pós-modern idade coloca em dúvida o raci o nalismo pós-modern idade cosmo polita o u um gerenciamen to pedagógico alter-
da ciéncia educacional e questiona a virtude necessária do desenvolvi - na tivo de soi-disant co munidades fundamental istas.
mento racional. Ao fazer isso, ele volatiza a natureza do poder obscu-
recido pelo empreendim ento funcionalist a e, em particular, chama a
ate nção para a forma pela qual o espaço da sociedade civil foi desenhado
pel o discurso liberal para criar um domínio de educabilidad e e gover-
namentalida de. Referências Bibliográfic as
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mos políticos, ela é relativista e historicista. Não pode haver nenhuma HELLER & FEHER, F. The Postmodcm, Political Condition. Cambridge, Poliry Press.
HOY, D. (Eu.). Fo11cault: A Criticai Reader. Oxfo rd, BlacJ...-well, 1986.
reivindicaçã o excra:fi}scóricá ou iãêiona'Hi.a&i ·a umà vérd~éi~ --fo~a de HABERMAS, J. The Philosophical Discourse of Modern ity . Oxford, Blackwell, 1990.
uma prática ~istóric;i ."çQn91cional_~ ne~é;~ari~7 rrt"~~~ ti~ger{te.:
Reconhecer isso, entretanto, não i~~à- ~º-de~~p~ro .. A. :·ç dµcaç~o
pós-mo~ern a deveria ser a "ciência gaia" (Nietzsche) abraçando as
l'Õ
i
!
Novamente, não existe aqui nada que impeça aprender com outros ou
revelar algo a eles. Foucault apenas apela em favor de uma certa cautela
e uma certa modéstia teórica autoconsciente.
compreender o seu pouco podçr de decisão uma vez que suas descobertas tivessem
sido assumidas pelo governo. E também interessante observar que na última parte
(Boyer, 1985, p. 342). 6 Mas mesmo que não possamos perdoar a esses 1~;
.
Honestidade e eficácia, pois, são dois princípios orientadores para
da fo rma como participamos da fabr icação da verdade. Foucault apre-
fr.: o intelectual específico. E, é meu argumento, eles são mais bem vistos
senta uma base para a harmonizaçã o da seguin te fo rma :
como dois momentos de um telos subjacente cuja máxima é algo como
"devemos nos esforçar para nos tornar mestres das conseqüênci as de todos aqueles sobre os quais o poder é exercido em seu pre1u1zo,
nossas ações". Isso representa um novo tipo de auto-relação para todos os que o consideram intolerável, pode m começar a lutar em
intelectuais (pós) modernos, a qual poderia ser designada pela "vontade seu próprio terreno e na base de sua próp ria atividade (ou passivi-
de poder" foucaultiana. dade). Ao se engaja r na luta que diz respeito a seus próprios
inte resses, cujos objetivos eles claramente compreende m e cujos
A Autocriação e o Intelectual Específico métodos sarnentes eles podem determinar, eles entram num proces-
so revo lucionário (Foucault, 19776, p. 21 6) .
Deixem-me aplicar a análise quadrúpla das auto-relaçõe s éticas encon-
tradas nos últimos escritos de Foucault à situação em tela, tendo em Para muitos intelectuais, a harmonizaçã o significa um estreitament o a
vista saber como podemos transformar um intelectual universal "deca- fim d e encontrar "seu próprio terreno". (E, naturalmente , possível,
dente" num intelectual específico "são". entretanto, que, dependendo da posição-de-s~jeito da qual se está
partindo, seja necessária uma ampliação para se obter uma harmonia :
Em primeiro lugar, a determinaçã o da "substância ética". Esse é o p. ex., o burocrata cuja inculcada e estreita visão leva a uma ati tude
material que é "trabalhado " pela ética; aquela dimensão do eu que excessivame nte laissez-faire em direção ao nexo ação-conseq üência) .
fornece o alvo da preocupação ou aquilo que, para o indivíduo, N o co ntexto institucional, os in telectuais não deveriam mais buscar
constitui "esta ou aquela parte de nós mesmos que é a matéria prima "ajudar" o o primido (ao final das contas, Fo ucault parece querer dize r
de sua conduta moral" (Foucault, 1986, p. 26). Em outras palavras, é que, de qualquer for-m a, eles nunca o fizeram - ao me nos politicamen-
aquela "parte de nós mesmos, ou de nosso comportame nto, que é te) . Em vez d isso, eles deveriam di rigir seu foco para os arranj os de
relevante para o julgamento ético" (Foucault, 1983, p. 238). No poder-saber que ex istem bem embaixo de seus narizes - arranjos que
Cristianismo, por exemplo, a substância ética consiste dos desejos, das congelam e pervertem suas "boas intenções".
intenções e da fé da pessoa. Esses são os objetos da preocupação clerical O terceiro modo de auto-relação é a "auto prática" ou "trabalho
durante. a confissão; a pessoa se transforma a fim de se tornar um cristão ético" : aquilo q ue a pessoa faz a si próp ria a fim de se comportar
melhor. Para o intelectual específico, a substância ética tem que ser algo eticamente; os meios de au totransform a ção - "asceticismo ", num
como "consciência ", "autocompr eensão" ou, talvez, o escopo da pró- sentido amplo. Os judeus observam as regras kosher, os católicos
pria consciência (isso não significa exclusivame nte conhecimen to) da- romanos usam o desejo sexual apenas para ter fil hos, os cristãos buscam
quilo que se passa no próprio ambiente e da forma como a pessoa está identificar e combater aqueles seus impulsos que são conduzidos por
nele implicada. No caso do intelectual, isso provavelmen te significa o Satã, e assim por diante. N um nível mais geral, o trabalho ético do
local de produção do saber e da "verdade" (p. ex., a universidade , o intelectual específico é a rigorosa prática da honestidade e as várias
laboratório, a sala de redação) e sua interface com a sociedade mais formas, dependendo do campo em questão, que essa pode assumir. Isso
·ampla. · implica um domínio. da própria esfera de investigação , um alerta para
Em segundo lugar está o "modo de sujeição": "a forma pela qual o os "resultados" e uma consciência de como esses resultados são usados
indivíduo estabelece sua relação com a regra e se reconhece a si próprio e sobre quem os usa. A pesquisado ra universitária , por exemplo, deve
como obrigado a pô-la em prática" (Foucault, 1986, p. 27). Essa é a possuir um conhecimen to profundo e variado do objeto de estudo
fonte ou a base a partir da qual a pessoa produz a auto-relação . (como se pode ser eficaz sem competência ?), assegurar-se de que o
Exemplos disso seriam o aristocrata grego q'-;le regula sua dieta de uma trabalho tem alguma conseqüênci a estratégica (do contrário, por que
forma que responde a certos critérios estéticos ou o/a acadêmico/a se dar ao trabalho?) e prestar atenção ao debate (se existir algum) em
torno desse trabalho. Não existe espaço para o diletantismo , para o
não-sexista que tenta eliminar o viés de gênero de sua linguagem. Em
"conhecime nto pelo conhecimen to", ou indiferença para com a audiên-
suma, o modo de sujeição do intelectual específico é a "harmonizaç ão", cia ou o público.
isto é, o ato de colocar suas palavras e ações em harmonia com a própria
"esfera de influência", com base no princípio de se evitar a "indignidad e Finalmente, o telos: o objetivo último é tentar realizar. Os cristãos
de falar pelos outros" (Foucault, 19776, p. 209). Isso implica um buscam a purificação ou a salvação, os humanistas, a liberdade ou a
auto-realiza ção e os gregos, o autodomínio . Como mencionado acima,
auto-exame da própria preocupação com a verdade; uma consciência
o telos para a vontade de poder de Foucault é um novo autodomíni o;
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um domínio sobre as próprias ações e seus resultados. Para dizer de coincide com o "indivíduo" e que um par de discursos pode ser
form a diferente, isso significa uma disseminação controlada e auto -re- incongrue nte entre si; a expectati va de consistência é baseada, prima-
gulada do sujeito no mundo; uma dissolução pos!tiva. Em ?utras riame nte, na ficção de um sujeito necessariame nte e estreitamente
palavras, embora transcender relações de poder seia uma quimera, integrado. A operação de separar os bons dormaus tornou-se anacrô-
podemos nos tornar um canal ou uma "junção privilegiada" através da ni ca; podemos certa mente perde r oportu nidades cruciais se descarta-
qual o poder pode ser dirigido. mos de forma global o vilão que possamos escolher, seja lá qual for ele
Por sua parte, o intelectual pode obter, por exemplo, uma com- - nazista, marxista ou democrata liberal.
preensão mais completa das fontes e "propósitos" de seu financ ia mento Em segun do lugar, como sugerido acima, ao estender a vontade de
(bolsas, salários) e usar aquela compreensão para realizar mais efetiva- poder para outras esferas da vida, o "ponto de partida" e as particula-
mente seus objetivos (alguns já são bastante eficazes quanto a isso). E, ridades da posição-de-sujeito em questão afetarão diretamente o esque-
naturalmente, aquilo que se é (ou não se é) mudará à medida que ma in teiro. Po r exem plo , começar de uma posiçã o-de-s ujeito
ganharmos controle e confiança em fazer isso, ao "exercitar os próprios relativame nte sem-poder implica diferentes métodos de harmonização
músculos (institucionais)", por assim dizer. Não auto-absorçãp, mas ser e de atitude de alerta (de acordo com o te/os) . Enquanto o intelectual,
absorvido no mundo; um "perder-achar" do eu. Podemos descrever isso em grande parte, "se estreita", as posições-de-sujeito co m menos poder
como uma nova ética de autocriação que evita os equívocos tanto do podem precisar se "alargar" ; assim, o nível exigido de associação com
esteticismo narcisista, por um lado, quanto a alienação da obsessão outros e o tipo de discurso enunciado variará de acordo com as
política, por outro. O "indivíduo" bem definido e de fronteiras vigiadas necessidades situacionais. Por exemplo, uma professora primária pode
dos humanistas, argumenta-se, obstrui esse processo : exigir um sindicato para ser eficaz ou uma camponesa analfabeta pode
precisar enuncar uma retórica universalizante a fi m de fortalecer (em-
Contrariamente ao discurso plenamente estabelecido, não existe power) sua posição-de-sujeito, como Paulo Freire argumentaria. Cru-
nenhuma necessidade de conservar o homem para resistir. O que a cialmente, entretanto, não existe ne nhum local central ou privilegiado
resistência extrai desse velho e reverenciado homem, como expressa para decidir estratégias específicas.
Nietzsche, são as forças de uma vida que é mais ampla, mais ativa, Em terceiro lugar, dada a ênfase de Foucault na microfísica do
mais afirmativa e mais rica em possibilidades. O super-homem nunca ·~
poder e a natureza descentralizada das relações de poder, parece claro
significou outra coisa senão isso : é no próprio homem que devemos
que um aumento no poder qua "dominação" (isto é, autoridade baseada
liberar a vida, uma vez que o próprio homem é uma forma de L
~ na coerção) não leva necessariamente a um aumento correspondente
aprisionamento do homem (Deleuze, 1988, p. 92). ;
·t em seu fortalecimento (empowerme nt). Na verdade, a dominação, na
O "homem" tal como definido pelo regime carcerário não tem nada a maior parte dos casos, parece impedir esse fortalecimento. Por exem-
~ plo, o "líder" nominal de um grande aparato de Estado deve depender
perder a não ser suas cadeias; um processo que significa, em uma ";
palavra, fortalecimento (empowerment). Assim, podemos esquematizar ,,
.j
de uma rede quase infinitamente complexa de nós de poder na medida
1.. em que não se pode dizer que esse líder tenha muito controle real -
a ética política de Foucault para os intelectuais engajados na "produção ~
de verdade" da seguinte forma : substância ética: consciência/autocom- t:\ ao menos no sentido exigido pelo te/os descrito acima. Isso não
l significa, entretanto, que as políticas nunca sejam implementadas ou
preensão; modo de sujeição: harmonização; trabalho ético: competên- ·d que o governante de uma nação do Grupo dos Sete não "tenha", num
c i a/honestidade/ a ti tu de de alerta; te/os: fortaleciment o 1
(empowennent)/ auto-superação. ~ importante sentido, poder. Apenas significa dizer que a forma como
uma escolha é feita e implementada freqüentemente tem pouco a ver
com "escolha" tal como usualmente a pensamos. Outra vez, é uma
Extensões e Implicações i.:
Farei aqui algumas considerações relevantes à ampliação desse esquema
l questão de conhecer e controlar o que faz (causa) o que eles "fazem".
Embora haja com freqüência "intersecções", o fortalecimento do poder,
no sentido de Foucault, pode muito bem, às vezes, funcionar ao longo
para outras esferas. Em primeiro lugar está o que podemos chamar de -~
de linhas diferentes das linhas do poder político e econômico.
"regra de nenhuma garantia". Isso significa que não devemos espera,f ~
-~
que qualquer indivíduo particular seja "totalmente progressista", "to- -~
talmente reacionário" ou totalmente qualquer coisa, o que, por sua vez, Referências Bibliográficas
indica que talvez seja hora de repensar inteiramente essas categorias.
l
BOYER, P. By the Bomb's E.arly Light: American Thought a11d C11/t11re at the Dawn of the
Isso é uma conseqüência da idéia de que a posição-de-sujeito não Atomic Age. No va York, Pantheon Books, 1985.
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