01 - PARÂMETROS FÍSICO e QUIMICOS

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1 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS ÁGUAS MARINHAS E OCEÂNICAS

1. INTRODUÇÃO

O interesse do homem pelo mar é antigo, mas ele pôde velo com os olhos de
cientista a partir do século XVII, depois da Revolução Científica na Europa Ocidental.
Vários dos cientistas que tiveram papel de destaque nesta revolução também
ocasionalmente estudaram o mar. Isaac Newton (1643-1742) que é conhecido pelos
seus trabalhos com as leis de gravitação, e é esse fenômeno, a atração gravitacional
entre a Terra e a Lua, que explica as marés. Edmund Halley (1656-1742) que calculou
a órbita do cometa que leva seu nome estudou os ventos alísios. O “pai da Química”, o
francês Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), também foi o primeiro a analisar
quimicamente a água do mar.
A Oceanografia (também chamada oceanologia ou ciências do mar) é a ciência
que estuda os oceanos e ambientes costeiros, procurando compreender, descrever e
prever os processos que ocorrem nestes ambientes. É uma ciência com caráter multi,
inter e transdisciplinar, que aborda conhecimentos de quatro principais áreas:
Oceanografia Física, Oceanografia Química, Oceanografia Biológica e Oceanografia
Geológica. Cerca de 71% da superfície do planeta é ocupada pelos oceanos ou seja
aproximadamente 361x106 km2. A profundidade média dos oceanos é de cerca de 3.6
km e o seu volume médio é de aproximadamente 1370x106 km3. Os oceanos
constituem o maior repositório de organismos do planeta uma vez que existe vida em
maior ou menor abundância em todos os domínios do meio marinho. Altitude média
das terras emersas 840m. Profundidade média dos oceanos 3795m. Maior
profundidade oceânica 11500m (fossa de Mariana, oceano Pacífico). Principais
características dos oceanos.
A Oceanografia no Brasil teve seu início na década de 1950. Durante esses
anos, as ciências do mar evoluíram, sobremaneira referente a instrumentação e
metodologia de coleta e processamento, ao nível de compreensão teórica, no número
de cientistas e instituições envolvidas, no aporte de recursos financeiros, sem os quais
as pesquisas oceanográficas não poderiam ser desenvolvidas.
Um fator decisivo para o desenvolvimento da Oceanografia em nosso país, foi
o apoio da Marinha do Brasil, através da sua Diretoria de Hidrografia e Navegação
(DHN), onde na década de 1960, o Navio Escola Almirante Saldanha foi transformado
em Navio Oceanográfico, iniciando as pesquisas e aprimorando os conhecimentos da
comunidade científica, pois atuava como uma “universidade flutuante”. Cursos sobre
oceanografia foram ministrados por expoentes da oceanografia nacional e
internacional.
A Oceanografia Física tem como objetivo compreender, descrever e analisar
estes processos. Assim, para além de fazer o diagnóstico, poderá também fazer o
prognóstico da evolução destes sistemas e prever as suas implicações. É a ciência
que estuda os aspectos físicos dos oceanos, relacionando-os com as demais áreas do
estudo oceanográfico. Abrange o estudo sobre os movimentos das águas (correntes,
ondas e marés) e suas características físicas, como temperatura e densidade. Estuda,
também, as interações entre os oceanos e outros reservatórios de água como, p. ex.:
a interação entre o oceano e a atmosfera e entre o rio e o mar. Estas, não são só
físicas e, por isso, a Oceanografia é uma matéria interdisciplinar em que a
Oceanografia Física e oceanografia química representam uma parte fundamental.

A oceanografia química é a parte da ciência oceanográfica que estuda as


transformações químicas que ocorrem na água de maré nos sedimentos marinhos. No
sistema aberto oceânico, estas transformações, muitas vezes, interagem com
processos físicos, biológicos e geológicos e estão interconectados à atmosfera e aos
fluxos continentais de materiais. Infelizmente, o número de pesquisadores
interessados em Oceanografia Química foi sempre muito reduzido, acarretando com
isto, um prejuízo na compreensão mais profunda da natureza e dos processos físico-
químicos da água do mar. Além disto, outro fator muito importante é a necessidade da
Oceanografia Química ser desenvolvida, preferencialmente, no próprio ambiente
marinho. Para isto, necessita-se de meios flutuantes com infraestrutura capaz de
suportar um laboratório com os requisitos necessários ao desenvolvimento de técnicas
analíticas muito sensíveis, e possuir as melhores condições de limpeza e assepsia,
para não haver alteração na constituição original das amostras a serem analisadas,
em nenhuma fase de sua manipulação, incluindo desde a coleta até o fornecimento do
resultado final.

2. OCEANOGRAFIA FÍSICA
Oceanografia Física pode ser definida de várias maneiras. De acordo com
Stewart (2008), compreende o estudo das propriedades físicas e da dinâmica dos
oceanos. Já para Tomczak e Godfrey (2003), trata de entender os princípios físicos
que dirigemos movimentos oceânicos. Se as duas definições forem combinadas,
pode-se dizer que Oceanografia Física é a área da Oceanografia (ou da Geofísica),
cujo objetivo é o estudo dos movimentos das águas oceânicas, das forças que os
causaram e das consequências que esses acarretam em termos de transporte de
propriedades, sobretudo de salinidade e temperatura.
Assim, a área de Oceanografia Física ocupa-se do estudo de fenômenos que
podem ter uma escala temporal da ordem de segundos, no caso de ondas geradas por
ventos, até processos cuja escala pode exceder centenas de anos, como a circulação
termohalina ou de densidade. Em termos de escala espacial, essa varia de micro até
macrodimensões, podendo atingir milhares de quilômetros.
Se forem excluídas as ondas de curto período, geradas por efeito do vento e
as de maré, causadas por forças resultantes das interações Terra, Sol e Lua, que
pouco efeito têm sobre o transporte de propriedades, pode-se dizer que a circulação
oceânica é devida a três fatores externos: fricção do vento; aquecimento e
esfriamento; e evaporação e precipitação (TOMCZAK e GODFREY, 2003). Todos
esses processos estão, em última análise, ligados à incidência diferencial da radiação
solar sobre a superfície da Terra, sem falar, é claro, que as diferenças térmicas entre
uma região e outra afetam o campo de ventos.
O efeito combinado desses fatores gera condições para que a água circule
tanto em superfície, na forma de correntes geradas por ventos, como em camadas
mais profundas, na chamada circulação termo-halina. Esses movimentos tendem a
transportar grandes volumes de águas, denominados de massas de água, que
apresentam valores de temperatura e salinidade característicos de sua área de
formação, trazendo consequências que se refletem no clima, na composição química
das águas e, em última instância, na estrutura da flora e da fauna. Dessa maneira, a
determinação precisa de temperatura e salinidade é imprescindível para os estudos da
formação dessas massas, de seus movimentos e velocidades e das misturas que
podem sofrer ao longo de seu deslocamento.
Desde o início das investigações oceânicas, têm-se buscado métodos para
coleta de dados que procurem resolver as grandes questões oceanográficas relativas
às escalas espaciais e temporais próprias de cada tipo de movimento oceânico.
Diversos tipos de instrumentos foram, aos poucos, desenvolvidos, com o intuito de se
observar e registrar os fenômenos oceanográficos e caracterizar a estrutura da coluna
de água em termos de propriedades físicas, notadamente salinidade e temperatura, e
dos movimentos oceânicos. As primeiras medições destas propriedades ficaram
restritas à camada superficial com coleta de água, sendo que a temperatura era
medida por termômetros simples e a salinidade determinada por titulação. Aos poucos,
foram sendo desenvolvidos termômetros de máxima e mínima e garrafas de
amostragem, até se chegar à possibilidade de se obter valores discretos de
temperatura e salinidade, isto é, espaçados de dezenas ou mesmo de centenas de
metros.
As necessidades navais decorrentes da guerra submarina contribuíram para o
desenvolvimento de sensores contínuos de temperatura da água do mar e de perfis de
velocidade de propagação do som. A partir deles, chegou-se a registradores que
combinam medições contínuas em profundidade, de temperatura e salinidade, e
servem de plataforma para sensores de outras propriedades. A instalação desses
sensores em veículos rebocados por embarcações abre maiores possibilidades no
estudo da distribuição espacial dessas variáveis e de propriedades associadas.
As propriedades físicas relevantes da água pura para o estudo da dinâmica
de fluidos são a pressão e a temperatura. Para a água do mar temos que juntar a
salinidade. A densidade será pois função da temperatura, salinidade e pressão (ρ
(S,T,P)). Salinidade é uma medida da quantidade de sais dissolvidos, expresso em
gramas de material dissolvido num quilograma de água do mar. Um valor médio para a
água do mar é 35gr por 1000gr, expresso por 35‰ (partes por mil) ou, hoje em dia,
apenas 35.O efeito dos sais dissolvidos na água do mar, altera as propriedades físicas
da água pura,mas não desenvolve novas propriedades. Induz:

 pequenas variações na compressibilidade, expansão térmica e índice de


refracção.
 grandes variações no ponto de congelação, densidade, temperatura de
densidade máxima e conductividade eléctrica.

2.1 Temperatura
A temperatura é considerada um parâmetro físico importante na avaliação da
qualidade da água não apenas por representar as variações locais e sazonais do
ambiente, mas também por influenciar a velocidade das reações químicas e
biológicas.
Além disso, a variação da temperatura afeta diretamente a densidade da
água e, como consequência, altera os processos de transporte. Um exemplo
importante dos efeitos da temperatura sobre a química da água é o seu impacto sobre
o oxigênio que, em temperaturas mais elevadas, tem sua solubilidade na água
afetada, diminuindo-a e prejudicando diversas formas de vida aeróbicas aquáticas.
Alguns compostos também se tornam mais tóxicos para a vida aquática em
temperaturas mais elevadas. Além disso, o impacto da variação térmica exerce um
efeito particularmente nocivo para os organismos estenotérmicos, que são aqueles
não toleram grandes variações de temperatura, como o salmão e a truta. A
temperatura pode variar em função de fontes naturais, como a energia solar e fontes
antropogênicas, como os despejos industriais. Portanto, a temperatura é um dos
parâmetros mais importantes na obtenção de dados oceanográficos devido a sua
grande influência sobre outros parâmetros.
Em um cruzeiro oceanográfico, a temperatura pode ser medida utilizando-se
um termômetro comum, de cubeta, ou através de instrumentos digitais, tais como:
termossalinômetros, termopotenciômetro (pH-metro) ou sensores multiparâmetros. O
método mais simples é o d e coletar água em um balde ou béquer e introduzir um
termômetro com precisão de 0,1°C, deixar 30 segundos para a estabilização da
temperatura, retirar da água e ler o resultado o mais rápido possível para não haver
alteração. É possível medir diretamente no ambiente, protegendo o termômetro com
um compartimento metálico ou de plástico – cubeta – para que o bulbo permaneça
imerso numa espécie de copo com cerca de 200 mL de capacidade, permitindo a
leitura da temperatura mesmo com ele fora da água. Esses instrumentos, além de
serem simples de operar, oferecem ótima precisão, sendo utilizados para leituras de
águas superficiais.
A utilização de instrumentos como, por exemplo, termossalinômetro ou
sensores multiparâmetros, têm como base o mesmo princípio do termômetro comum,
porém é um sensor que é descido até o corpo hídrico ou introduzido em um recipiente
que contenha a amostra coletada, em que a leitura é direta no aparelho, depois de 30
segundos para a estabilização. Normalmente, esses instrumentos devem ser
calibradosantes de começar a amostragem. Eles facilitam a coleta de dados, pois
realizam a leitura de mais de um parâmetro, em profundidades superficiais e
subsuperficiais. Para a coleta da temperatura em profundidades abaixo da
subsuperfície, são utilizados instrumentos como o CTD.
2.2 Densidade
Do ponto de vista da oceanografia física o aspecto mais importante é a forma
quantitativa como a densidade varia com as alterações de temperatura, salinidade e
pressão. A densidade, ρ, decresce com a temperatura e cresce com a salinidade e a
pressão. Em oceanografia física utiliza-se por vezes a densidade, ρ, por vezes o
volume específico, α=1/ρ, e quase sempre uma quantidade chamada σt (sigma-t). A
densidade da água do mar é, na realidade, uma “densidade relativa”, porque as
determinações laboratoriais são feitas por comparação com água pura. Consegue-se
assim uma de 3 em 106. As determinações diretas de ρ têm uma precisão de 10 em
106. De qualquer maneira, em geral são as diferenças de densidade que são
importantes e não os seus valores absolutos. Por isso um certo grau de incerteza não
é relevante. Seguindo a prática corrente, tomamos ρ com dimensões [ML-3]. Em
oceanografia, quando falamos da pressão, esta refere-se à pressão hidroestática, isto
é, a pressão devida apenas à coluna de água acima de um dado nível (profundidade).
Isto implica que tomamos P=0 quando o nível é a superfície e está à pressão
atmosférica. Sigma-t (σt) é definido como σt=(ρS,T,P-1000), apenas por simplicidade.
A densidade da água do mar varia entre 1000 kgm-3 (água doce) e cerca de 1028
kgm-3 (a água mais densa à superfície, onde P=0). Como a variação é apenas nos
dois últimos algarismos, o uso de σt é mais prático (p.ex. T=10ºC, S=35‰ e P=0 ⇒
ρ=1026,96 kgm-3 ⇒ σt=26.96). Embora σt tenha unidades, é usual omiti-las.Todo o
oceano aberto está compreendido entre –2ºC e 30ºC de temperatura e 30‰ e 40‰ de
salinidade. Cerca de 90% do oceano aberto está entre –2ºC e 10ºC e 34‰ e 35‰ e
representa maioritariamente água de sub-superfície. O restante é água de superfície.
Não existe método rápido, prático e seguro para medir a densidade in situ. Pode ser
medida em laboratórios, mas os métodos são lentos. Na prática a densidade é
deduzida a partir da temperatura, salinidade e pressão, que são medidas diretamente.
A dependência entre a densidade e a temperatura, salinidade e pressão é
representada pela “equação de estado da água do mar”, que é bastante complicada.
No entanto: A relação entre a densidade e a temperatura e salinidade é não linear,
mais na temperatura que na salinidade. A densidade é menos sensível a variações de
temperatura a baixas temperaturas que a altas temperaturas.
A salinidade é determinada a partir de medições da conductividade eléctrica e
da temperatura. Sensores de conductividade (C), temperatura (T) e pressão (D, do
inglês depth) são habitualmente reunidos na mesma unidade de medida, o CTD.
2.3 Temperatura Potencial
Como a água é ligeiramente compressível, uma porção de água trazida do
oceano profundo para a superfície expande-se e, portanto, tende a arrefecer. A
temperatura de uma porção de água do mar trazida adiabaticamente até à superfície
será assim mais baixa do que a medida in situ. A esta temperatura chama-se
“temperatura potencial”. Esta propriedade termodinâmica é usada para comparar
massas de água a profundidades significativamente diferentes ou quando estudamos
movimentos verticais sobre uma gama de profundidades elevada.
2.4 Pressão
Define-se pressão (p) como a grandeza dada pela relação entre a
intensidade da força que atua perpendicularmente e a área em que ela se distribui.
Assim, uma mesma quantidade de força, aplicada a uma área pequena produzirá uma
pressão maior do que se aplicada a uma área grande, como quando se aperta a ponta
de um lápis, por exemplo. No cálculo da pressão se considera apenas a componente
da força perpendicular à superfície; ao se considerar todas as componentes
(tangenciais e perpendiculares), tem-se a grandeza denominada tensor de tensão (t),
que contém informações tanto sobre compressão quanto sobre deformação do fluido.
A unidade de pressão no SI é o newton por metro quadrado (N/m2), também
denominada pascal (Pa). Eventualmente é usado o dina por centímetro quadrado
(dyn/cm2) ou bária (b).
A relação entre essas unidades é: 1Pa = 10 b Muitas são as forças que
atuam sobre uma parcela de água no mar. Existem forças de atrito, forças que surgem
pelo fato de a Terra ser um corpo em rotação e forças associadas a movimentos de
outras massas d'água, entre outras. Cada uma dessas forças será abordada em
detalhe na secção I.3. Os movimentos no oceano podem ser divididos em verticais e
horizontais, sendo descritos por uma equação denominada equação do movimento.
Muitas vezes a componente vertical da equação do movimento para um ponto em
equilíbrio no interior do oceano (que possa ser considerado homogêneo e
incompressível) é dada pela expressão: p = pA + r.g.h, 8 ou seja, a pressão p em um
ponto situado à profundidade h no interior do oceano é o resultado da pressão
atmosférica (pA ) somada à pressão exercida pela coluna d'água situada acima do
ponto, denominada pressão hidrostática e expressa pelo produto r.g.h . D
2.5 Som
A velocidade do som c é uma função da temperatura T, salinidade S e pressão
p e varia ente 1400 m s-1 e 1600 m s-1. No oceano aberto, ela é influenciada pela
distribuição de T e de p, mas nem tanto pela de S. Ela diminui com o decréscimo de T,
p e S. A combinação da variação nesses três parâmetros com a profundidade
produzirá um perfil de velocidade do som com um mínimo bem marcado em
profundidades intermediárias: a temperatura decresce rapidamente nos primeiros 1000
metros e assim domina o perfil da velocidade do som, i.e., c diminui com a
profundidade. Em regiões com águas mais profundas que 1000 metros, as mudanças
de temperatura abaixo dessa faixa se tornam bem reduzidas e assim c começa a ser
determinada pelo aumento de pressão com a profundidade, i.e., a pressão aumenta
com a profundidade, i.e., c aumenta com a profundidade. Mudanças verticais de
salinidade são muito pequenas para ter uma influência, mas a salinidade média vai
determinar se c é baixa (se a salinidade média for baixa) ou alta (se a salinidademédia
for alta) em média
2.6 Instrumentos de medição ou de coleta
A seguir serão abordados os instrumentos mais utilizados em pesquisa para
medições de temperatura, salinidade, e direção e velocidade de correntes, levando-se
em conta aspectos da evolução histórica desses aparelhos. Antes de se passar a
essas abordagens, é importante ter em mente dois conceitos relativos ao desempenho
de instrumentos: acurácia e precisão. Segundo Stewart (2008), acurácia é a diferença
entre o valor obtido através de medições e o valor verdadeiro de uma determinada
variável. Precisão é a diferença entre medições sucessivas. As primeiras
determinações de temperatura nos oceanos consistiram de medições feitas através de
um termômetro de mercúrio em amostras superficiais, coletadas com um balde. O
desenvolvimento de garrafas dotadas de isolamento térmico, para medições em
grande profundidade, possibilitou as primeiras evidências de que a capa de água
abaixo dos 1.000 m de profundidade era fria, mesmo em regiões tropicais. A
tecnologia empregada nos termômetros utilizados em Oceanografia também evoluiu,
passando por termômetros de máxima e mínima, até chegar aos termômetros de
inversão, que começaram a ser construídos em 1874 pela companhia Negretti &
Zambra.
A versão mais moderna do termômetro de inversão é constituída, também, de
dois termômetros, sendo um para medir a temperatura do mar (termômetro principal) e
um menor (termômetro secundário) para registrar a temperatura do ambiente, onde
serão feitas as leituras do termômetro principal. As leituras do termômetro secundário
são utilizadas para as correções devidas à dilatação do sistema vidro-mercúrio. Ao ser
colocado na profundidade escolhida para a determinação da temperatura, espera-se
de 3 a 4 minutos para que o aparelho estabilize e, nesse período, a quantidade de
mercúrio que passa do bulbo principal para o tubo de vidro é proporcional à
temperatura desse local. Existem dois tipos de termômetros de inversão: o protegido
e o desprotegido. Normalmente, ambos são colocados num mesmo suporte
constituído de dois protegidos e um desprotegido. O primeiro é totalmente envolvido
por uma jaqueta de vidro, que evita o efeito da pressão hidrostática sobre o bulbo
maior; esse termômetro mede somente a temperatura in situ. Da mesma forma que os
termômetros, as garrafas para coleta de água também passaram por uma evolução
para obtenção de amostras em grandes profundidades. Partindo-se de aparelhos
isolados termicamente para que a temperatura fosse determinada a bordo, chegou-se
às garrafas de inversão que, combinadas com os termômetros de Negretti & Zambra,
permitiram que os primeiros perfis verticais de temperatura fossem obtidos. Dois tipos
estão entre as mais usadas: a de Nansen e a de Niskin, descritas a seguir, embora
existam outros como as de van Dorn e Kammerer.
A garrafa de Nansen foi desenvolvida em 1910 pelo oceanógrafo Fridtjof
Nansen. É um dispositivo utilizado para coletar amostras de água do mar em uma
determinada profundidade. Basicamente, trata-se de um cilindro de metal ou plástico,
onde são instalados os suportes para colocação de termômetros de inversão, que é
baixado no mar através de um cabo. Um cilindro feito de plástico, equipada com uma
tampa em cada extremidade, que são tencionadas por um elástico. Diferentemente da
garrafa de Nansen, é fixa nas duas extremidades, não havendo possibilidades de
inversão. O fechamento da garrafa ocorre pelo impacto de um mensageiro, que aciona
também o giro de um disco, se necessário, que causa a inversão dos termômetros
colocados em suportes de plástico. Esse modelo apresenta algumas vantagens em
relação à de Nansen, tais como: ser de plástico, mais leve e seu volume pode variar
de 1,6 L a 30 L – possibilitando um número maior de propriedades a serem medidas.
As garrafas de Niskin também podem ser instaladas em sistemas múltiplos de coleta
de água.
O aparelho conhecido como CTD – do inglês, Conductivity, Temperature and
Depth, é o instrumento-padrão utilizado em Oceanografia para a obtenção de perfis
verticais de profundidade, condutividade (salinidade) e temperatura. funcionamento
dos CTD baseia-se no princípio de medições elétricas. Uma vez que a resistência de
um termômetro de platinaaltera-se com a temperatura, se for incorporado um oscilador
elétrico, a mudança na sua resistência produz uma alteração na frequência desse
oscilador, a qual pode ser medida. Some-se a isso o fato de que a condutividade da
água do mar pode ser medida a partir de um segundo oscilador e variações na
pressão produzem alterações num terceiro oscilador; esse sinal combinado é enviado
por cabo condutor ao computador de bordo ou é armazenado na sua memória interna,
enquanto o mesmo é baixado ou içado durante a estação oceanográfica. O CTD é
dotado de uma bomba que faz a passagem rápida da água pelos sensores, em função
da diferença entre as constantes de tempo dos sensores de temperatura e
condutividade. O sensor de condutividade é mais lento do que o de temperatura;
assim, para evitar que cada sensor meça essas propriedades em diferentes níveis da
coluna de água e, por isso, amostrar águas diferentes, fez-se necessário instalar essa
bomba. Em instrumentos que não tenham este aparato, o fabricante recomenda
utilizar os dados coletados na subida do aparelho.
O CTD tem capacidade para fazer uma leitura contínua de temperatura e
condutividade, como função da profundidade, numa taxa de até 30 linhas de dados por
segundo. Essa combinação de pares de valores de temperatura e condutividade é
transformada pelos programas de processamento fornecidos pelo fabricante, em
salinidade e densidade, havendo opções para o cálculo de perfis de velocidade do
som ou outras variáveis. Frequentemente, outros sensores podem ser acoplados ao
CTD, tais como: turbidímetros que, quando devidamente calibrados, podem ser
usados para perfilar a concentração de sólidos em suspensão na coluna de água;
oxímetros; fluorímetros, utilizados para a determinação da concentração de clorofila-α;
medidores de pH; e sensores que determinam perfis de nutrientes. Perfiladores
acústicos de correntes por método Doppler também podem utilizar a roseta como
suporte e a comunicação com o computador de bordo é feita pelo cabo condutor.
O XBT, sigla em inglês para Expendable Bathythermograph, ou
batitermógrafo descartável, foi desenvolvido no final da década de 1960, pela Sippican
Corporation, hoje Lockheed Martin Sippican. Assim como seu equivalente mecânico, é
utilizado na obtenção de dados de temperatura da camada superior do oceano, sem a
necessidade de reduções de velocidade da embarcação utilizada no lançamento. Esse
instrumento é uma sonda com formato de torpedo (FIG. 5.6), cujo princípio de
funcionamento é baseado na relação negativa existente entre a resistência elétrica de
um termistor de metal e a temperatura do meio onde o sensor se propaga.
O ADCP – do inglês, Acoustic Doppler Current Profiler é um perfilador
acústico que mede a direção e a velocidade de correntes através da transmissão de
um sinal sonoro de alta frequência, que é refletido de volta para o aparelho pelas
partículas em suspensão na água. A velocidade e a direção são determinadas pelo
desvio Doppler da frequência do sinal que retorna ao aparelho (EMERY e THOMSON,
1997). Devido ao efeito Doppler, a onda sonora transmitida pelo transdutor, ao ser
refletida pelas partículas, sofre uma ligeira mudança de frequência, proporcional à
velocidade com que bobina de bordo medidor de temperatura. As partículas se
afastam ou se aproximam do instrumento, diminuindo ou aumentando a frequência. O
ADCP utiliza-se dessa diferença de frequência para calcular a velocidade das
partículas em intervalos de profundidade, denominados células, cujas dimensões são
determinadas pelo operador, no momento de regular o aparelho. A suposição básica
desse método é que as partículas em suspensão deslocam-se com a mesma
velocidade do fluxo da água.
Os perfiladores acústicos por Doppler funcionam transmitindo disparos (pings)
sonoros na água, através de transdutores cerâmicos em uma frequência constante e
são divididos de acordo com a frequência do som emitido, que é o fator predominante
no alcance máximo do instrumento – operam na faixa de 75 kHz até 3,0 MHz.
Aparelhos de 75 kHz medem correntes até 500 m de profundidade; os de 300 kHz
atingem profundidades em torno de 150 m; enquanto os de 1.200 a 1.500 kHz operam
até aproximadamente 20 metros. A finalidade principal, e a maior vantagem desse tipo
de instrumento, é o fato de possibilitar a obtenção de perfis verticais de velocidade de
correntes.
O termossalinógrafo (T-S) é um instrumento essencial em cruzeiros
oceanográficos, pois possibilita que sejam registrados, de forma contínua, valores de
temperatura e salinidade superficiais. O termossalinógrafo é instalado na rede de água
do mar bombeada para uso no sistema de refrigeração dos motores da embarcação.
Normalmente, o ponto de captação está situado no casco, a alguns metros abaixo da
superfície, e seu princípio de funcionamento é o mesmo dos sensores termo-halinos
do CTD. O T-S deve estar conectado ao sistema de posicionamento da embarcação e
a taxa de aquisição de dados pode ser regulada, fato que garante a vantagem de se
obterem dados praticamente contínuos de temperatura e salinidade, enquanto a
embarcação se desloca.
3. OCEANOGRIFIA QUIMICA
3.1 Salinidade
A salinidade é a quantidade total de material dissolvido na água do mar. Essa
é uma convenção que se aproxima à massa, em gramas, dos sólidos obtidos a partir
de 1 kg de água do mar, quando os sólidos tenham sido secados a 480°C até peso
constante e, nessa secagem, a matéria orgânica tenha sido completamente oxidada e
os brometos e os iodetos da amostra substituídos por uma quantidade equivalente de
cloretos, além de os carbonatos convertidos a óxidos (AMINOT e
CHAUSSEPIED, 1983).
A salinidade é uma grandeza química adimensional por ser a relação
proporcional entre outras grandezas. Por essa razão, geralmente os valores são
medidos em termos de partes por mil (ppm) ou parts per thousand (ppt). Com a
mudança da sua definição (relação entre a condutividade da água do mar e a de uma
solução balanceada de cloreto de potássio), foi estabelecida uma relação definitiva
entre a condutividade da água do mar e a sua salinidade, chamada Escala Prática de
Salinidades ou Practical Salinity Scale (S). Como a salinidade prática é definida como
sendo uma razão, isto é, uma divisão de dois termos com mesma unidade, não existe
nenhuma unidade (que se cancelam na divisão).
A partir de dados da salinidade, da temperatura e da pressão, é possível
determinar a densidade da água. Essa diminui quando a temperatura aumenta, e
cresce com o aumento da salinidade e da pressão. A densidade é importante, porque
o oceano tende a mover-se de maneira que a água mais densa esteja no fundo e a
menos densa, na superfície.
Até 1950, eram usados métodos químicos de laboratório para estabelecer a
salinidade, como o método clássico de Mohr (titrimetria de precipitação), embora já se
soubesse da possibilidade do emprego de métodos eletrométricos. A utilização de
refratômetros também era – e ainda é – bastante utilizada. Porém, com o
desenvolvimento de técnicas para medir a condutividade elétrica, foram adotados por
serem muito mais rápidos e práticos. Como a condutividade elétrica é diretamente
proporcional à salinidade, conversões algorítmicas são empregadas para a sua
determinação.
A densidade é importante no entendimento dos processos de circulação
oceânica. Os refratômetros utilizam o princípio da refração da luz. Como a salinidade é
diretamente proporcional à refração da luz provocada pelos cristais de sal, é possível
estimá-la, com uma precisão razoável, através do ângulo de mudança de direção da
luz ao passar pela amostra.
O refratômetro de mão é simples de ser utilizado, porém não possui uma boa
precisão, variando em torno de 0,2 de salinidade. Os aparelhos digitais, tais como os
salinômetros, termossalinômetros, sonda multiparâmetros e até mesmo os CTDs, são
dotados de um sensor que, internamente, possui pares de eletrodos, que medem a
corrente e a diferença de voltagem entre eles. A voltagem medida é convertida em um
valor de condutância em mili-Siemens (ou mili-Mhos) e, para converter esse valor para
o valor de condutividade (condutância específica) em mili-Siemens por cm (mS.cm-1),
a condutância é multiplicada pela constante da sonda, que tem unidades em cm (cm-
1). Todo esse processo é realizado automaticamente pelo aparelho fornecendo, no
visor, o valor da condutividade e da salinidade.
Muitas vezes, associados aos salinômetros, existem sensores de
temperatura, pH, OD, entre outros, e alguns de pressão, que coletam esses
parâmetros, simultaneamente, para a correção do valor da salinidade, que é bastante
influenciada pela temperatura e pela pressão.
3.2 Potencial hidrogeniônico (pH)
O potencial hidrogeniônico, pH, é um índice que indica a acidez, a
neutralidade ou a alcalinidade de um determinado meio. A sua escala varia de 0 a 14,
sendo um pH 7 considerado neutro. Substâncias com valores inferior a 7 são ácidas e
as substâncias superiores a 7 são básicas.
O termo pH foi obtido a partir do modo como a concentração de íons de
hidrogênio é calculada – é o logaritmo negativo da concentração do íon hidrogênio
(H+), ou seja, em pH mais elevado, há menos íons de hidrogênio livre, e uma
mudança de uma unidade reflete uma mudança de dez vezes a concentração do íon
hidrogênio. Por exemplo, há dez vezes mais íons de hidrogênio disponíveis em um pH
7 do que em um pH 8.
O pH da água influencia na solubilidade de constituintes químicos (montante
que pode ser dissolvido na água) e a disponibilidade biológica (montante que pode ser
utilizado pela vida aquática), como nutrientes (fósforo, nitrogênio e carbono) e metais
pesados (chumbo, cobre, cádmio, entre outros). Os métodos disponíveis para
determinação do pH são fundamentalmente colorimétricos e eletrônicos. Apesar de
esse último ser o mais comum hoje em dia, os métodos colorimétricos foram usados
empiricamente durante décadas. O método colorimétrico se baseia na mudança de cor
de compostos químicos quando estes entram em contato com um meio ácido ou
alcalino. A partir de 1920, os procedimentos eletrométricos começaram a ganhar
espaço, pois superavam as deficiências dos métodos colorimétricos. Em 1934,
Beckman desenvolveu o primeiro medidor de pH bem sucedido. Com o passar dos
anos, foram introduzidas grandes melhorias nos medidores, até sua forma atual,
incluindo eletrodos de vidro de alta estabilidade.
O princípio dos pHagametros atuais é a determinação da força eletromotriz
(FEM) de uma célula eletroquímica constituída por uma solução, cujo pH deseja-se
medir, e dois eletrodos. Um deles é o eletrodo de referência, cujo potencial independe
do pH da solução. O outro é o eletrodo indicador, o qual adquire um potencial
dependente do pH da solução sob exame. O eletrodo de vidro é o modelo mais usado
para as medidas. Para medir o pH é necessário transferir uma alíquota da amostra
coletada para um frasco, evitando o borbulhamento e a exposição prolongada da
amostra ao ar, mantendo-a em local sem a presença da luz até a análise por um
período não superior a uma hora. Ao serem introduzidos na amostra o(s) eletrodo(s)
devem ser agitados levemente para a retirada de possíveis bolhas de ar, mantendo-os
imersos por alguns segundos até o estabelecimento do equilíbrio e fazer a leitura do
pH. Ao término do procedimento e antes da próxima leitura, deve-se lavar o(s)
eletrodo(s) com água destilada entre as medidas e secá-lo(s) com papel absorvente
macio.
3.3 Turbidez
A turbidez de uma amostra de água é o grau de atenuação de intensidade
que um feixe de luz sofre ao atravessá-la. Essa redução ocorre devido à absorção e
ao espalhamento da luz, causado pelas partículas em suspensão e demais materiais
presentes na água. Os principais fatores que afetam a turbidez da água são: presença
de matérias sólidas em suspensão como silte, argila, sílica e coloides; matéria
orgânica e inorgânica; e organismos microscópicos e algas.
Concentrações elevadas de partículas em suspensão em águas rasas, como
em lagos e em baías, podem interferir na fotossíntese, levando a um decréscimo da
produtividade nesses habitats aquáticos. Material fino pode também obstruir ou causar
danos sensíveis às estruturas de alguns organismos como, por exemplo, os bivalvos
filtradores. A turbidez pode ser medida por um instrumento chamado de turbidímetro,
baseado em um sistema óptico que compara a intensidade de luz dispersa pela
suspensão encontrada na amostra com a dispersa por uma suspensão considerada
padrão. Quanto maior a intensidade da luz dispersa maior será a turbidez da amostra
analisada. Esse instrumento também denominado Nefelômetro, consta de uma fonte
de luz, para iluminar a amostra, e um detector fotoelétrico, com um dispositivo para
indicar a intensidade da luz dispersa em ângulo reto ao caminho da luz incidente,
sendo a turbidez expressa em Unidades Nefelométricas de Turbidez (UNT).
A determinação pode ser feita diretamente no ambiente ou pode-se recolher
amostras a serem analisadas em frascos de vidro ou plástico, para a determinação
posterior. É aconselhado que as amostras sejam armazenadas em local escuro, à
temperatura ambiente, e as análises realizadas em um período máximo de 24 horas. É
importante tomar o cuidado de verificar a presença de partículas ou materiais
estranhos. O aparelho deve detectar diferenças de 0,02 unidades para águas com
turbidez menores que um como, por exemplo, em águas oceânicas e uma máxima de
40 UNT, sendo necessário realizar diluições se as amostras apresentarem valores
superiores a este. Alguns interferentes podem se fazer presentes nesse processo
como, por exemplo, a presença de detritos e materiais grosseiros em suspensão que
se depositam rapidamente, o que levará a resultados subestimados; a cor que, devido
à sua propriedade de absorver luz, interfere negativamente nos r nos resultados; e
bolhas pequenas na amostra que provocarão resultados superestimados.
3.4 Transparência da água
Do ponto de vista óptico, a transparência da água pode ser considerada o
oposto da turbidez, uma vez que aquela se trata de uma medida de extinção da luz,
indicando a distância que um raio de luz consegue penetrar na coluna de água,
variando de poucos centímetros a dezenas de metros. A transparência da água é
afetada basicamente por algas, material em suspensão e matéria orgânica. Quando há
muitos nutrientes na água, as algas multiplicam-se, diminuindo a transparência. Do
mesmo modo, quanto mais material em suspensão estiver presente, maior será a
turbidez e, consequentemente, menor será a transparência. Além disso, a presença de
matéria orgânica pode interferir no resultado, já que essa aumenta a absorção de luz
na coluna de água.
A medida da transparência da água pode ser obtida de maneira muito
simples, através de um instrumento denominado disco de Secchi. Esse disco foi
inventado pelo padre italiano Pietro Ângelo Secchi, sendo utilizado pela primeira vez
em 1865, para medir a transparência da água do Mar Mediterrâneo. Era, na época,
constituído de um pesado disco de metal, preso por uma corda graduada, afundado na
água até seu desaparecimento. Inicialmente, foram utilizados discos de diâmetro
variável, tendo atingido até 2 metros. Atualmente, são utilizados discos padronizados
com 20-30 cm de diâmetro, podendo ser inteiramente brancos, como os utilizados por
muitos grupos de pesquisa no Brasil; podem, ainda, ter alternadas partes brancas e
pretas.
Segundo a literatura, este último oferece melhor possibilidade de ser
contrastado com a água, sendo mais bem relacionada com a transparência da água.
Mesmo não fornecendo dados qualitativos e quantitativos sobre a radiação
subaquática, é possível calcular o coeficiente de atenuação vertical (Kds) da luz,
através das medidas da profundidade do disco de Secchi. A transparência do disco de
Secchi (Zds) é basicamente função da reflexão da luz na superfície do disco, sendo
também dependente da intensidade luminosa subsuperficial (Io) e da intensidade
luminosa na profundidade do desaparecimento visual do disco de Secchi (Ids) e, de
acordo com a lei de Lambert-Bouguer, temos: Como a relação Io/Ids é de
aproximadamente 1,7, pode-se calcular Kds através da seguinte relação:
Dessa forma, a partir das equações 1 e 2 podem ser calculados fatores que,
quando multiplicados pela profundidade do disco de Secchi, permitem a obtenção d
profundidades correspondentes a percentuais da luz incidente na coluna de água
subsuperficial. Para calcular a profundidade na massa de água, cuja intensidade lumi
nosa corresponda a 1% do valor da subsuperfície, deve-se multiplicar a profundidade
no disco de Secchi por um fator fz de 2,709. As vantagens do disco de Secchi são:
simplicidade, baixo custo, facilidade de transporte e, por ser de uso universal, permite
comparações entre as informações obtidas. Para medir a transparência da água é
preciso posicionar-se no lado da sombra projetada por um dos lados da embarcação e
mergulhar o disco de Secchi preso por um cabo graduado em centímetros de forma a
visualizar o disco de cima para baixo.
As profundidades de desaparecimento que ocorrem quando o observador
perde de vista o instrumento, bem como a de reaparecimento quando é içado, devem
se anotadas em uma planilha de registro e então, utilizar-se uma média dessas como
a profundidade de extinção da luz na coluna de água. Preferivelmente, as medidas
devem ser realizadas entre as 10 e 16 horas, já que nesse período os raios solares
incidem em ângulo similar e todas as leituras devem ser realizadas pelo mesmo
observador, uma vez que a sensibilidade da visão varia para cada pessoa.
3.5 Oxigênio dissolvido
O Oxigênio Dissolvido (OD) é o elemento principal no metabolismo dos
microrganismos aeróbios. No ambiente aquático, o oxigênio é indispensável também
para outros seres vivos, como peixes, sendo que a maioria das espécies não
sobrevive a concentrações de OD inferiores a 4,0 mg.L-1. Um corpo aquático, em
condições normais, contém OD, cujo teor de saturação depende da profundidade e da
temperatura. Nesse sentido, quanto maior a pressão, maior a dissolução, e quanto
maior a temperatura, menor a dissolução desse gás.
Corpos com baixos teores indicam que podem estar recebendo matéria
orgânica, pois a decomposição dela por bactérias aeróbicas é, geralmente,
acompanhada pelo consumo e, consequentemente, pela redução do OD. Dependendo
da capacidade de autodepuração do ecossistema, a concentração de oxigênio pode
alcançar valores muito baixos, ou zero, propiciando até mesmo a extinção dos
organismos aquáticos. A determinação da concentração de OD também se faz
necessária para a determinação da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que
representa o potencial de matéria orgânica biodegradável nas águas naturais ou em
esgotos sanitários e efluentes industriais. A determinação do OD pode ser realizada
pelo método químico, que está baseado no método clássico de Winkler (titrimetria de
oxidação e redução), ou por instrumentos digitais, como oxímetros.
O método químico é uma determinação indireta da real concentração de
oxigênio no meio aquoso. A quantidade equivalente de oxigênio molecular dissolvido
na água é titulada com tiossulfato de sódio (Na2S2O3) usando-se como indicador uma
suspensão de amido na forma de iodo (I) molecular. Para a determinação do oxigênio
dissolvido OD pelo método químico, é necessária a utilização dos seguintes materiais:
frascos de DBO; frascos Erlenmeyer; reagentes R1 e R2; ácido sulfúrico; pipetas;
bureta para titulação; solução de tiossulfato de sódio; suspensão de amido.
Após coletar a amostra com, por exemplo, uma garrafa de Niskin ou um
balde, uma suba mostra deve ser retirada para um frasco de DBO, utilizando uma
mangueira acoplada à torneira da garrafa introduzindo-a até o fundo do frasco para
evitar a formação de bolhas de ar. Ainda no local de amostragem, é preciso adicionar
1 mL do reativo R1 (solução de sulfato manganoso monohidratado {MnSO4.H2O}),
agitar e após adicionar1 mL do R2 (solução alcalina de iodeto de potássio e hidróxido
de sódio {KI + NaOH}), logo após a transferência da subamostra para o frasco de
DBO, tomando o cuidado de colocar a ponta da pipeta abaixo da superfície da
amostra. O frasco, então, deve ser fechado com cuidado evitando a formação de
bolhas de ar e homogeneizar a amostra até o precipitado marrom ficar disperso,
podendo ser estocado por até 24 horas com o cuidado para não sofrerem trocas
térmicas.
Para a titulação, deve-se adicionar 1 mL de ácido sulfúrico concentrado,
fechar o frasco com cuidado e misturar até que o precipitado se dissolva. As amostras
acidificadas são estáveis por muitas horas ou dias, quando não apresentarem muita
matéria orgânica, e podem ser mantidas a temperatura ambiente. Porém, é melhor
não retardar a titulação em mais de 1 hora, já que o iodo formado na acidificação pode
ser lentamente consumido na oxidação da matéria orgânica. Após deve-se transferir
50 mL da amostra acidificada para um frasco de Erlenmeyer, utilizando uma pipeta
volumétrica e adicionar 1 mL do indicador de amido; o amido forma com o iodo
molecular um complexo de cor azul. Em seguida titular com solução-padrão de
tiossulfato de sódio, gota a gota, até a cor azul se tornar incolor. Anotar o volume
gasto do tiossulfato e repetir a titulação para obter um volume médio.
Os modelos digitais de oxímetros existentes no mercado possuem diferentes
métodos de determinação variando, de acordo com o fabricante, desde os de
membranas permeáveis até os de emissores de luz. Os mais utilizados na
determinação de oxigênio dissolvido na água são os de membranas permeáveis sobre
um sensor potenciométrico. O oxigênio que atravessa a membrana encontra o sensor
sob tensão polarizante e reage no cátodo, fazendo fluir uma corrente elétrica, que é
medida num galvanômetro. A força que faz que o oxigênio se difunda através da
membrana é proporcional à pressão absoluta do oxigênio fora da membrana (do lado
do ambiente em estudo) uma vez que, do outro lado (no sensor), a pressão do
oxigênio pode ser considerada nula já que o seu consumo é muito rápido.
Os oxímetros encontrados no mercado, em sua maioria, possuem um sensor
de temperatura acoplado ao seu sistema, facilitando a obtenção desse parâmetro, que
está diretamente associado à concentração de oxigênio dissolvido na água. Para os
que não possuem o sensor de temperatura, deve-se realizar a determinação do OD,
no mesmo momento da leitura da temperatura, para ser feita uma correção se
necessária.
3.6 Demanda bioquímica de oxigênio (dbo)
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é a quantidade de oxigênio
necessária à oxidação da matéria orgânica por ação de bactérias aeróbias.
Representa, portanto, a quantidade de oxigênio que seria necessário fornecer às
bactérias aeróbias para consumirem a matéria orgânica presente em um líquido. Esse
teste bioquímico empírico está baseado na diferença de concentração de OD em
amostras integrais ou diluídas durante um período de incubação de cinco dias a 20°C.
A estabilização ou decomposição biológica da matéria orgânica, lançada ou
presente no ambiente aquático, envolve o consumo de oxigênio (molecular) dissolvido
na água, nos processos metabólicos desses organismos aeróbicos. Em função disso,
a redução da taxa de OD em um recurso hídrico pode indicar atividade bacteriana
decompondo matéria orgânica. Logo surge o conceito da demanda de oxigênio em
relação à matéria orgânica, sendo muito utilizada a Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO), que é a quantidade de oxigênio molecular necessária à estabilização da
matéria orgânica carbonada, decomposta aerobicamente por via biológica. A
Demanda Química de Oxigênio (DQO) é a quantidade de oxigênio molecular
necessária à estabilização da matéria orgânica por via química.
Os processos oxidativos, dentre os quais ocupam lugar preponderante os
respiratórios, podem causar um grande consumo de oxigênio nas águas de um
manancial. Microrganismos e vegetais, quando em grande número, podem reduzir o
OD em nível zero, sendo que a proliferação de tais organismos depende das fontes de
alimento, ou seja, de matéria orgânica.
A DBO5 é um teste padrão, no qual é medida a diferença do oxigênio
dissolvido antes e depois do período de incubação de cinco dias. Esse teste é
questionado, principalmente porque as condições ambientais de laboratórios não
reproduzem aquelas dos corpos de água (temperatura, luz solar, população biológica
e movimentos das águas); mesmo assim, é ainda considerado um parâmetro
significativo para avaliação da carga orgânica lançada nos recursos hídricos.
As coletas das amostras devem seguir o protocolo descrito no parâmetro de
oxigênio dissolvido. Para as análises de DBO, em cada local de amostragem serão
necessárias duas suba mostras em que uma deverá passar pelo procedimento de
fixação do oxigênio e acidificação, como citado anteriormente, para se determinar o
oxigênio dissolvido no momento da coleta (OD1), e a outra deverá ser incubada, em
ambiente escuro a 20°C, por cinco dias. É aconselhado envolver os frascos estocados
em papel alumínio para evitar a exposição à luz durante eventuais aberturas da
incubadora. Após os cinco dias, proceder à fixação e acidificação da amostra, como
descrito anteriormente, para se determinar o oxigênio dissolvido de incubação (OD5).
Quando a amostra a ser analisada é de natureza desconhecida, é necessário
que se preparem diluições, de modo que se consiga uma depleção do OD, em cinco
dias, de aproximadamente 2,5 mg.L-1. Após ter os dois valores de oxigênio dissolvido,
realizaro cálculo da DBO5.
Antes de utilizar-se o cálculo para amostras com diluição é necessário realizar
um preparo que inclui quatro procedimentos distintos: o preparo da água, a DBO da
amostra, a diluição e a escolha do percentual. No preparo da água de diluição, saturar
com ar a água deionizada utilizando um compressor de ar comprimido, por
aproximadamente 12 horas, de maneira a obter um elevado teor de oxigênio
dissolvido. Após a saturação, manter a água 30 minutos em repouso, para a
estabilização. A cada litro de água deionizada, adicionar 1 mL de cada uma das
soluções: tampão fosfato, sulfato de magnésio, cloreto de cálcio e cloreto férrico.
Para a DBO da amostra de diluição, o processo é o mesmo da análise de
DBO sem diluição, com a finalidade de verificar a qualidade dessa água em termos de
matéria orgânica biodegradável. A água de diluição com um padrão aceitável, não
deverá ter, após cinco dias, uma depleção de oxigênio superior a 0,2 mg. Caso a
diluição não possa ser feita em campo, conservar a amostra a ser diluída em ambiente
sem presença de luz e refrigerada até a chegada no laboratório, onde se deve
adicionar o volume de amostra correspondente ao percentual de diluição previamente
determinado em um balão volumétrico de 1 L completando o volume com a água de
diluição, homogeneizar e encher os dois frascos de DBO com esta amostra, evitando a
criação de bolhas. Uma sub amostra deverá passar pelo procedimento de
determinação de OD1.
Sabendo que em cinco dias a percentagem de demanda de oxigênio é de
aproximadamente 68% e, considerando que, para a análise da DBO é recomendado
um mínimo de 1mg.L-1 de oxigênio ao final da incubação (MACEDO, 2001
3.7 MATERIAL PARTICULADO EM SUSPENSÃO
Material particulado em suspensão são partículas pequenas, com diâmetro
maior que 0,45 μm, que se encontram presentes na água. Pode ser composto de uma
fração mineral ou inorgânica (material mineral ou resíduo fixo em suspensão) e outra,
orgânica (material orgânico ou volátil em suspensão).
As concentrações na água dependem da hidrodinâmica do sistema, da
constituição do substrato e das margens, de fatores metereológicos, entre outros. Em
geral, as águas oceânicas profundas são pobres em material particulado em
suspensão, variando em média 50 ìg.L-1, enquanto as continentais, principalmente as
estuarinas, são mais enriquecidas (IVANOFF, 1972 apud BAUMGARTEN et al., 1996).
Quando presente em alta concentração, sua distribuição pode ser usada para inferir os
padrões de circulação e os locais de maiores descargas de drenagem ou esgotos,
responsáveis pelo aporte de sedimento para os corpos de água.
O princípio da determinação é o de gravimetria de volatilização, através do
método de Strickland e Parsons (1972), descrito em Baumgarten et al. (2010) e
consiste na filtragem de um volume conhecido de amostra por filtros de membrana de
0,45 ìm de porosidade.
Os equipamentos e materiais necessários para o estudo do material
particulado em suspensão são: água destilada; filtros de acetato de celulose ou de
ésteres com poro de 0,45 μm; pinça de ponta chata; bomba de vácuo; Kitasato; funil
de Büchner ou assemelhado; e mangueira.
3.7 Nutrientes inorgânicos
Os nutrientes no meio aquático são elementos biologicamente significativos,
que compõem estruturas e tecidos de organismos vivos, como esqueletos de
diatomáceas, aminoácidos, matéria-prima para a formação de hemoglobina, entre
outros. São essenciais para a manutenção da produtividade primária especialmente o
nitrogênio, o fósforo e o silício.
Nos ecossistemas aquáticos, os nutrientes estão disponíveis para a utilização
dos organismos na forma inorgânica dissolvida. Em mares e oceanos, eles ocorrem
em baixas concentrações, atuando como limitantes da produtividade primária do
fitoplâncton.Para a análise de nutrientes dissolvidos, é utilizada uma subamostra da
água jáfiltrada para a determinação do material particulado em suspensão com um
filtro de acetato de celulose de 0,45 μm (o de fibra de vidro não é recomendado por
contaminar a amostra com silício), para que haja a separação das formas solúveis e
dos materiais particulados em suspensão, diminuindo as interferências nas análises
espectrofotométricas. Esta suba mostra filtrada deverá ser subdividida em cinco
frascos, de preferência com as tampas de cores distintas, para as análises dos
nutrientes, com os seguintes volumes: 25 mL para nitrito, fosfato, silicato e amônio; e
100 mL para nitrato.
A estratégia de utilizar frascos individuais para cada parâmetro apresenta as
seguintes vantagens: eliminação das alterações da composição química original da
amostra, causadas pelas sucessivas etapas congela/descongela, necessárias a cada
vez que cada parâmetro tenha que ser analisado, caso uma única amostra seja
congelada para as análises dos cinco nutrientes; diminuição da possível
contaminação, tendo em vista que, com as análises feitas diretamente nos frascos de
armazenamento, evita-se o uso de vidraria de laboratório, mais especificadamente das
provetas, para o desenvolvimento das reações colorimétricas; aumento na otimização
do tempo gasto para as análises, principalmente porque elimina o preparo das
provetas, caso a reação fosse nelas desenvolvida; e diminuição da quantidade de
material de laboratório nas análises. É preciso, ainda, lembrar-se de realizar a
identificação do local, da data, da profundidade e do parâmetro a ser analisado. As
amostras para a determinação dos nutrientes inorgânicos devem ser congeladas a
-18°C.
3.8 Sonda multiparâmetros ysi modelo 556
O medidor portátil marca YSI modelo 556 possui uma sonda que tem
sensores que fazem a medição de oxigênio dissolvido, condutividade, condutância
específica, salinidade, total de sólidos dissolvidos, pH, potencial oxidação-redução e
temperatura. Pode ser utilizado para medições nos mais variados ambientes e, se
manipulado adequadamente, fornece dados com excelente precisão.

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