Caderno 4 - Avaliação Da Aprendizagem
Caderno 4 - Avaliação Da Aprendizagem
Caderno 4 - Avaliação Da Aprendizagem
NO ENSINO MÉDIO
4
AVALIAÇÃO
DA APRENDIZAGEM
4
AVALIAÇÃO
DA APRENDIZAGEM
1. Conceito de
Educação Integral 4. Formação e
acompanhamento
Construir uma visão comum de educação
Garantir a formação profissional das
integral e reconhecer a importância das
equipes e os recursos indispensáveis
competências para o século 21, tendo a
para a implantação e operação das
escola como um dos locais, por excelência,
diretrizes da política de educação
para o seu desenvolvimento.
integral em seus diversos âmbitos.
6. Monitoramento e Avaliação
3. Estratégias de organização
integrada do currículo Desenvolver um sistema de
monitoramento e avaliação da
implementação da política de educação
Adotar estruturas curriculares,
integral e de seu currículo.
metodologias e práticas pedagógicas
efetivas, inovadoras e integradoras na
implementação de um currículo de
educação integral, considerando aspectos
da gestão escolar, como clima escolar.
7. Institucionalização
6 7
SUMÁRIO
AVALIAÇÃO DA
APRENDIZAGEM
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 11
NA EDUCAÇÃO INTEGRAL:
Da régua à bússola
CONSTRUINDO
UM NOVO OLHAR
10 | VOLTAR AO SUMÁRIO
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
NA EDUCAÇÃO INTEGRAL:
DA RÉGUA À BÚSSOLA
VOLTAR AO SUMÁRIO | 11
A educação integral – que considera todas as dimensões do desenvolvimento humano – demanda um modelo em
que avaliar não se reduza a julgar sem analisar todas as evidências. É preciso buscar caminhos em que a avaliação se
configure num ato diagnóstico, em que os processos de ensino e de aprendizagem sejam permanentemente revistos,
analisados e melhorados, a partir da combinação, sobretudo, dos pontos de vista do professor e do estudante.
No entanto, a avaliação escolar ainda é considerada na
perspectiva da quantidade, sob o viés exclusivamente cognitivo:
“Quanto o aluno acumulou de conhecimento?”. O parâmetro punição, “moeda” de barganha, medida
é a métrica, a medição de desempenho, a atribuição de nota. de classificação, fator de exclusão. todos
Acredita-se que, adotando instrumentos padronizados, seja esses mecanismos que fazem da avaliação
possível se chegar a uma medida, precisa e justa: a nota. na escola apenas um sistema de controle
Trata-se de uma perspectiva descontextualizada, em que um do professor negam o sentido de qualquer
número ou conceito é o final do processo, um dado com o prática de avaliação: gerar subsídios para
qual não se dialoga. É nesse cenário que a nota emerge como o aperfeiçoamento de um processo.
moeda de troca entre professores e alunos, e não como algo
que ajude na aprendizagem. a “pedagogia do exame” instaura um círculo
Um bom caminho para a construção de um novo sentido vicioso: o professor usa a nota como um
para a avaliação é, ao invés de perseguir a régua, que traz a instrumento para garantir que o aluno
ideia de uma métrica, adotar a perspectiva da avaliação como cumpra determinadas tarefas, e este, por
uma bússola: o professor pode usar um conjunto diverso de sua vez, passa a fazer as coisas “só se
instrumentos de avaliação, entendendo que tais instrumentos valerem nota”. o primeiro passo para romper
são um poderoso recurso para orientá-lo ao longo do percurso, com esse ciclo é perceber que avaliar não
são uma bússola que o auxilia a ver se está ou não na direção é apenas medir, e que a nota não é o único
do projeto pedagógico da escola. Afinal, mesmo que o processo indicador a ser considerado. ela deve
de avaliação envolva uma nota, ela não é o único fator que ser cotejada com instrumentos e práticas
traduz a aprendizagem do jovem. Ela não é nem o ponto de que permitam um olhar mais complexo em
partida, nem o ponto de chegada. O ponto de partida é fazer relação ao desenvolvimento do estudante.
boas perguntas: Que efeito essa escola quer causar na vida do
seu aluno? Que competências esse aluno precisa desenvolver
para construir sua autonomia para articular conhecimento e vida?
12
AVALIAÇÃO PARA “MEDIR CONTEÚDOS” AVALIAÇÃO PARA DESENVOLVER COMPETÊNCIAS
Avaliar é sinônimo de atribuir nota. É o Avaliar é ser parceiro do aluno, para que ele construa um olhar sobre
olhar do professor acerca da aprendizagem o próprio desenvolvimento, com vistas a incrementá-lo. É também,
de conteúdos pelo aluno. para o professor, um exercício constante de analisar e aprimorar sua
estratégia de ensino. A competência do autoconhecimento ganha
importante relevo.
Avaliar é “classificar” os jovens em bons Avaliar é gerar desenvolvimento para a aprendizagem de todos. Não
e maus alunos, com base em seu desem- pode ter foco apenas no desempenho individual, nem se prestar à
penho. Os “bons” são exemplo de mérito mera “classificação” dos alunos. É um processo em que se faz possível
e destaque; os “maus” são punidos. Há identificar as dificuldades e potencialidades em comum e buscar pos-
um clima de competição (quem tira a sibilidades, na turma, de os jovens agirem com foco na ajuda mútua.
melhor nota, quem é o melhor aluno...). Colaboração é um fator essencial.
Avaliar é emitir uma mensagem ao aluno, A avaliação é um instrumento de comunicação, de diálogo entre professor
que a recebe passivamente: o indicador de e estudante. É uma construção, marcada por múltiplos processos, de
seu desempenho. Cabe ao jovem buscar, um conhecimento compartilhado sobre o percurso do aluno, sempre
por sua conta, meios de melhorar esse na perspectiva de ampliar os horizontes de desenvolvimento do jovem.
desempenho.
Avaliar é um instrumento para o professor Avaliar é assumir a corresponsabilidade nos processos de ensino e de
mostrar ao jovem os pontos em que ele – aprendizagem. Professor e aluno – os dois sujeitos principais desse
aluno – precisa avançar, para que construa processo – se colocam em parceria. Cada um assume o compromisso e
meios para se desenvolver. a responsabilidade com o desenvolvimento mútuo.
Avaliar é dar um veredicto: adequado ou Avaliar é fazer um convite ao estudante a sempre buscar novos modos
inadequado, bom ou mau, certo ou errado. de conhecer, a identificar novas possibilidades de aprender o que lhe
parece difícil, de perceber que o caminho da construção do conhecimento
é múltiplo e, por isso, singular para cada estudante. É um exercício
constante de abertura para o novo.
Avaliar é checar a capacidade do aluno Avaliar é problematizar, é rever o processo de construção de respostas
de dar a resposta certa. para as mais diversas questões, analisando as variadas possibilidades
de elaboração de tais respostas. Há que se compreender que aprender
é tornar-se apto a resolver problemas complexos e a avaliação deve
ser um exercício que incremente essa competência.
Avaliar é checar se o aluno “assimilou” Avaliar é promover uma reflexão sobre a relação do jovem com o conhe-
o conhecimento. cimento – que deve ser de apropriação e recriação, e não de repetição.
Afinal, conhecer não é assimilar. Conhecer é investigar, selecionar,
interpretar informações. É estabelecer conexões entre ideias e teorias,
num movimento de autoria intelectual. Ou seja: a avaliação precisa
estar a serviço do pensamento crítico.
Avaliar é aplicar provas e trabalhos e Avaliar é um exercício rico em possibilidades. Pode envolver instrumentos
atribuir notas. variados e deve deslocar o olhar do aluno: convidá-lo a resolver proble-
mas de novas maneiras, reinventar seu jeito de aprender, romper com
pensamentos padronizados e experimentar diversas formas de construir
o conhecimento. É um processo que exige e desenvolve a criatividade.
13
TRAVESSIAS
A professora de Física Cláudia Sosinho relata que, quando o assunto é avaliação, a grande dificuldade
para o professor é mudar concepções arraigadas: “Vivi um processo de desconstrução direta, porque,
para mim, avaliação era uma prova – prova de múltipla escolha, prova discursiva, aquele modelão bem
vestibular. Fui aprendendo que a gente pode fazer avaliação de aprendizagem de formas diferentes, de
modos variados. Tem o processo de avaliar durante a aula, que eu estou ainda aprendendo a fazer. Já
aprendi a fazer uma prova muito melhor do que eu fazia. Percebi que, às vezes, o objetivo da prova não
é a nota, é provocar medo no aluno com isso: ‘Sua prova é difícil, professora’. Eu nem falo mais prova,
mudei até isso. É prova ou teste? É avaliação. Porque é um processo de avaliar o ensino, o que eu ensinei,
o aprendizado dele. E faz diferença? Toda. Porque testar conhecimento é diferente de avaliar”.
A professora de Matemática Denise de Oliveira também viveu processo semelhante: “Mudou minha
visão da forma de avaliar o aluno, porque até então eu tinha aquela ideia de que avaliar era quantificar,
de alguma forma, o conhecimento. A visão que tenho hoje mudou muito nesse aspecto, porque eu já
consigo entender a avaliação como um processo – não uma coisa de quantidade, e sim de qualidade do
aprendizado. São 36 anos de magistério, romper essa barreira foi muito duro para mim, sofri no início,
porque achava que não era bem por aí. Hoje em dia, quase três anos depois de trabalho na escola, avalio
o aluno como um todo: a participação dele em sala, a postura, como ele aceita seu erro. Eu trabalho com
processos de avaliação com os quais eu nunca trabalhei em outras escolas e que realmente, para mim,
têm se mostrado revolucionários”.
A AVALIAÇÃO FORMATIVA
E INTEGRADORA
E xperiências como as das professoras Cláudia e Denise reforçam a importância de mudar paradigmas
e romper com a prática de avaliações que apenas fazem a aferição de resultados por meio de provas
e notas. Avaliar, na perspectiva da educação integral, é gerar insumos para a qualificação do processo
formativo de cada estudante, bem como para o aperfeiçoamento contínuo do trabalho docente.
Afinal, educar, na perspectiva integral proposta, é formar o jovem para que conheça seu modo de
aprender e compreenda o sentido de aprender em sua vida, para que desenvolva o pensamento crítico,
resolva problemas de forma criativa, colabore, dialogue com variados interlocutores. Competências como
essas podem ser ativadas e mobilizadas em processos avaliativos dialógicos.
A avaliação se configura, então, como uma via de mão dupla de compromisso, em que professores e
alunos se implicam. Por isso, é essencial que o professor defina com clareza e explicite aos jovens qual
é o projeto de ensino para aquela turma, como ele será desenvolvido, quais são as metas e as formas
previstas para que sejam alcançadas. E, é claro, o que será avaliado e de que forma. Com isso, instaura-se
um clima de transparência e confiança, fundado num pacto ético, de compromisso recíproco. Assim, a
avaliação se torna uma prática de diálogo com o estudante.
É importante que a avaliação se configure em um instrumento que ajude o jovem a avançar, um
recurso útil para a escola fazer com que todos aprendam. E como fazer isso? Dialogando. O professor,
por meio da avaliação, pode dizer claramente ao aluno: “Isso é o que você sabe agora” ou “isso é o que
você ainda não sabe”. Precisa, também, fazer perguntas importantes, do tipo: “Como é que vamos seguir
daqui para frente? O que podemos estabelecer como meta, e como você, aluno, se compromete? Como é
que eu, professor, me comprometo com o seu processo de desenvolvimento?”.
A avaliação emerge, portanto, como um precioso instrumento formativo, em que é necessário:
14
• Perceber o estudante em suas múltiplas dimensões – cognitiva, socioemocional,
corpórea e produtiva –, de modo a melhor compreendê-lo em suas diferenças,
identificando sua forma singular de aprender. Isso implica reconhecer que nem
todos aprenderão as mesmas coisas, no mesmo tempo e da mesma forma e que,
além disso, os fatores de motivação dos jovens podem ser diferenciados em
cada grupo, classe ou comunidade escolar. Por isso, é fundamental, no processo
avaliativo, identificar o que os alunos já sabem, conhecer suas histórias de
vida e em relação ao conhecimento, e planejar propostas de ensino que sejam
adequadas às especificidades de cada turma e dos sujeitos que a integram.
• Perceber a avaliação como um elemento determinante para o desenvolvimento
da autonomia do estudante. Ela deve ser aliada do jovem no processo de definir
e realizar as ações importantes ao seu desenvolvimento, responsabilizando-se
por essas mesmas ações e por sua aprendizagem. Deve ser, enfim, um processo
que gere autoconhecimento e autoconfiança, ao mesmo tempo em que dê
elementos para que o aluno perceba o valor do que aprende.
A avaliação se torna, assim, um meio de identificar e analisar fatores como a relação dos jovens com
o conhecimento, sua capacidade de resolver problemas e de se apropriar dos resultados desse processo,
seu envolvimento, sua capacidade de atuar em colaboração, incorporando aspectos do desenvolvimento
cognitivo e socioemocional dos alunos.
Também é fundamental que o professor tenha por hábito avaliar o próprio trabalho, bem como utilizar
os resultados das avaliações dos estudantes como referência para seu próprio aprimoramento.
Para que a avaliação seja cotidiana, processual e formativa, três ações são fundamen-
tais: a coleta de dados, o diagnóstico e a intervenção.
COLETA
DE DADOS DIAGNÓSTICO
De início, é preciso delinear os Tratar os dados coletados,
objetivos e planejar o percurso 1 2 identificando os avanços e as
formativo da turma. Os passos necessidades, identificando os
seguintes são estabelecer indicadores avanços e reconhecendo as
e empreender, no cotidiano das aulas, lacunas na aprendizagem.
processos avaliativos múltiplos, com 3 Exemplo: retomar os registros das
o uso de instrumentos diversificados, observações e, a partir deles,
de modo a contemplar as diversas refletir se os alunos demonstram
singularidades dos jovens. que atingiram as metas de ensino
Exemplo: observação das atividades e e aprendizagem previstas para a
produções dos alunos (individual- próxima etapa.
mente/em times), com registros INTERVENÇÃO
(anotações) dos aspectos observados.
De posse dos dados analisados, o professor
e a escola intervêm nos processos de ensino
e de aprendizagem, de modo a aprimorá-los.
Exemplo: de acordo com o que foi verifica-
do, decidir se avança com as atividades ou
retoma algo, programar aulas para resolver
dúvidas, propor planos de estudo comple-
mentares (individuais ou em times).
15
1. COLETA DE DADOS
A cada etapa do ano letivo, é preciso definir com clareza o que se pretende ensinar, de que forma, e quais com-
petências serão trabalhadas intencionalmente em sala de aula, para se planejar o que será avaliado. Também é
fundamental considerar o uso de múltiplos instrumentos avaliativos, o que oferece ao professor a possibilidade de avaliar
o estudante a partir de perspectivas diversas, superando a prática de olhar o jovem apenas em momentos pontuais.
Uma coleta de dados cuidadosa é a base de uma boa avaliação. É preciso ter uma finalidade bem clara para cada
instrumento utilizado. No processo de escolha, é importante que o professor reflita e estabeleça com clareza o que
precisa avaliar. Essa reflexão deve ser feita com antecedência – não funciona, por exemplo, pensar nas questões de uma
prova somente em sua véspera.
Outra ação importante é elaborar, a cada ciclo, uma lista das expectativas de aprendizagem. Essa lista deve ser revista
com o cuidado de verificar se, de fato, são aprendizados legítimos de se esperar naquele ponto do processo educativo.
A partir dessa lista, o professor abre um bom caminho para selecionar os melhores instrumentos para avaliar, tendo em
vista as expectativas estabelecidas.
É importante realizar balanços periódicos dos instrumentos escolhidos, já a partir das primeiras semanas de aula, para
verificar se é necessário fazer alguma regulação. Como já dissemos, a avaliação formativa é uma prática processual, em
que é fundamental a análise frequente, pelo professor, dos instrumentos utilizados. Também é de suma importância dar
retornos aos estudantes durante o processo, e não apenas ao final do bimestre ou do ano letivo, propondo intervenções
que ampliem as aprendizagens.
RUMO À MULTIPLICIDADE
16
de competências, e em como vai agir para se desenvolver mais. além disso, o estudante precisa aprender
a se autoavaliar, pois esse é um processo difícil até para os adultos. por isso, necessita ser ensinado.
a autoavaliação pode começar com um instrumento escrito (até que os alunos se sintam
à vontade para falar), e ter perguntas como: o que você aprendeu de mais importante?
o que foi mais difícil para você? como o aprendizado poderia ser melhor? há algo na
dinâmica da classe que precisaria ser melhorado para você aprender mais?
REGISTROS ELABORADOS PELOS ESTUDANTES. os registros feitos pelos jovens podem ser diversos:
impressões sobre determinado tema trabalhado ou sobre como cada um percebe o seu desenvolvimento
de competências, uma lista de descobertas, uma lista de dúvidas. os registros dão indícios de como o
aluno discorre a respeito de determinada questão e podem permitir a identificação de sua aprendizagem.
há que se considerar, ainda, que são diversas as possibilidades de se elaborar e aplicar uma prova.
o professor pode montar duplas e observar como elas interagem, que tipo de atitude os alunos
têm ao resolverem as questões juntos. já a prova com consulta possibilita a observação de como o
estudante usa as anotações pessoais e as informações dos livros para resolver novos problemas, novas
situações. é possível aplicar uma prova metade resolvida, metade sem resolver, sendo que a parte
resolvida é analisada pelo jovem, que vai refletir se aquela resolução é boa ou não é, e corrigir.
há ainda a prova em dois tempos. o educador aplica a prova e, depois, devolve ao estudante. dá a
ele a oportunidade de repensar e pede que refaça ou escreva um texto crítico sobre aquela prova.
assim, esse instrumento é acrescido de muito mais elementos, que incrementam a avaliação.
a prova, para ganhar esse caráter formativo, pode ser acrescida de elementos que indiquem,
ao aluno, os objetivos e parâmetros da avaliação proposta. ela pode, por exemplo,
apresentar uma página de rosto, contendo os seguintes itens: breve retomada do percurso
do estudo em foco; instruções; quais as expectativas; critérios de avaliação.
17
2. DIAGNÓSTICO
18
3. INTERVENÇÃO
O terceiro e decisivo passo da avaliação envolve uma pergunta básica: “O que fazer a partir do
conhecimento sobre a turma obtido por meio do diagnóstico?”. A partir dessa questão, o professor
organiza a próxima etapa do seu trabalho. Planeja e empreende ações, individuais e coletivas, para
sanar os problemas observados, articular as retomadas necessárias e promover os avanços possíveis,
incluindo as novas noções e os novos conceitos que já estavam previstos em seu planejamento. Além
disso, elabora e implanta estratégias para mobilizar as competências cognitivas e socioemocionais
importantes para o desenvolvimento pleno dos jovens.
A intervenção pode ser imediata. Ao detectar, por exemplo, que determinado conceito não foi
compreendido, o professor volta àquele ponto e faz uma intervenção. E é importante que busque uma
nova forma de abordar o conceito, pois a abordagem inicial não funcionou. Então, ele pode elaborar
uma atividade mais interativa, acrescentar materiais audiovisuais, trabalhar a questão a partir de uma
pesquisa em times. O essencial, nessa intervenção imediata, é construir outro caminho.
Em outras circunstâncias, a intervenção relacionada a um problema
de compreensão pode ser realizada mais adiante, quando um conceito
semelhante ou complementar for trabalhado. O fundamental é não é preciso, ainda, realizar intervenções
perder de vista os pontos de aprimoramento e a busca por ampliar os avaliativas com um foco ampliado,
processos de promoção da aprendizagem. voltado ao desenvolvimento integral
As ações precisam ser cuidadosas e planejadas. O professor pode, do aluno. possibilitar que a avaliação
por exemplo, dizer: “Esse grupo não aprendeu a conjugar verbo do seja uma grande oportunidade
jeito certo. Então, daqui pra frente, todas as vezes em que eu trabalhar de promover, para o jovem, o
alguma coisa em língua, haverá algum aspecto vinculado a verbos”. E autoconhecimento, a colaboração,
ele planeja que em um momento posterior – um mês ou dois –, voltará a comunicação, a responsabilidade,
a esse conteúdo. Não deixa cair no esquecimento. o pensamento crítico, a resolução
Com esse tipo de cuidado, o professor promove a recuperação de problemas, a abertura para
em processo – não deixa para retomar tudo só quando há ameaça ou o novo e a criatividade.
ocorre a reprovação. Vale destacar que a melhor recuperação acontece
quando o educador tem clareza do que o estudante precisa aprender,
por que é importante ele aprender aquilo e como ensinar de um jeito diferente, já que, da primeira vez,
o processo não foi bem-sucedido. E é essencial propor a si mesmo perguntas como: “O que fazer para
que o aluno continue aprendendo, de forma que vá lidando com aquilo de que ainda não deu conta?”,
“De que modo posso estimulá-lo a tornar seu processo de aprendizagem mais crítico e autônomo?”,
“Como fomentar a colaboração entre os alunos para a superação das dificuldades de aprendizagem?”.
A intervenção pode ser momentânea, de médio ou de longo prazo. Ela também não tem que ser,
necessariamente, com toda a classe. Às vezes, precisa ser feita só junto a um grupo. O crucial é que
ocorra a recuperação em processo. Não para “recuperar o conteúdo”, mas para que o jovem possa viver
a aprendizagem necessária.
19
AVALIAR É DIALOGAR
é preciso, por fim, ter o compromisso ético de conversar com o jovem sobre como
ele está sendo avaliado. muitas vezes, as impressões dos professores acerca
do desenvolvimento do aluno são discutidas nos conselhos de classe e com os
familiares do jovem – mas não com ele. na busca de uma avaliação formativa,
com foco na construção da corresponsabilidade e da autonomia do estudante
em seu processo de desenvolvimento, esse tipo de prática é inconcebível. o
diálogo com o aluno é um pilar fundamental da prática avaliativa integral.
20
CUIDANDO DA AVALIAÇÃO
• Mesmo que você tenha muitos alunos, ao final da aula, peça para eles marcarem duas aprendi-
zagens importantes que tenham feito naquele momento. Não precisa nem levar a lista para ler
em casa se não quiser. E comece a aula seguinte pedindo que alguns estudantes – aqueles que
desejarem – leiam as suas aprendizagens. Com o tempo, por meio dessa prática, você cria um
aquecimento para a aula seguinte. Mas o principal é que, a partir das aprendizagens que não
forem mencionadas, você já tem uma dimensão daquilo que precisa retomar. Ou, se os alunos
relatarem um aspecto aprendido de forma equivocada, isso também é um indicativo. Essa é
uma prática simples e eficiente de um bom registro, seguido de uma boa análise.
• Peça que os estudantes, em dupla ou em pequenos grupos, escrevam textos contando as
dificuldades deles ou o que aprenderam. Analise esse material. Certamente, tais textos trarão
muitas pistas para o incremento de sua estratégia didática.
• Crie uma caixinha de dúvidas. Apenas coloque uma caixa em cima da mesa e deixe os jovens
marcarem para você as dúvidas que têm. Leia aquilo, discuta com cada um. Ocorre que, às
vezes, o que aquele jovem quer é ter um espaço para falar só com você.
• O erro pode ser um aliado importante. Não tome os erros e as compreensões equivocadas
como ofensas. É muito mais produtivo tomá-los como parte do processo de aprendizagem dos
estudantes e de avaliação da estratégia que você está adotando. Ao detectar um erro, pergunte
ao estudante: “Vamos retomar isso? Será que foi isso mesmo que nós estudamos?”. Dessa
forma, você, em processo, já faz uma recuperação, já faz a intervenção, não deixa a dúvida
ficar para depois. Não precisa esperar meses para fazer uma prova, num momento pontual, e,
só aí, descobrir que os alunos têm dúvidas.
• Analise os erros com a turma. A prática de análise coletiva de erros pode ser uma discussão
muito cara ao jovem: uma oportunidade de ir além de sentimentos como de fracasso ou de
culpa, compreender o processo que levou ao erro (e não apenas ter acesso a uma “resposta
certa”), refazer o pensamento que construiu acerca da questão.
• Um simples caderno pode fazer a diferença. Deixe um caderno em cima da mesa e faça peque-
nas anotações ao longo das aulas. Depois, olhe para aquilo. Certamente, lá estarão registros
valiosos para a sua reflexão sobre como está indo o processo de ensino-aprendizagem.
• Em vez de coibir o uso da “cola”, que tal propor aos estudantes fazerem um resumo que possa
ser utilizado durante a prova? Um resumo feito por eles, que depois será recolhido e analisado
junto com a prova.
• Ao corrigir um conjunto de provas, mesmo que sejam muitas, coloque uma folha ao lado e
anote: erraram muito a questão X; estão confundindo determinado conceito; não entenderam a
relação entre dois fatores... Essas anotações podem ser um registro importante, que te ajudará
a pensar sobre o que melhorar nas aulas.
• Promova a avaliação entre os pares, reservando momentos para que os jovens mostrem seus
trabalhos, troquem informações entre si sobre o que vêm produzindo e de que forma, e ava-
liem as produções uns dos outros. Isso estimula a comunicação, evidencia que as dificuldades
muitas vezes são coletivas e fomenta o respeito à diversidade.
21
GLOSSÁRIO
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM. Avaliação que está alinhada à educação integral, ou seja, que considera diversas
dimensões do desenvolvimento humano. Configura-se num ato diagnóstico, em que os processos de ensino e de aprendi-
zagem são permanentemente revistos, analisados e melhorados, a partir da combinação, sobretudo, dos pontos de vista
do professor e do estudante. Ao invés de perseguir a régua, que traz a ideia de uma métrica, adota-se a perspectiva da
avaliação como uma bússola e uma prática de diálogo com o estudante, balizada por uma proposta pedagógica. Mesmo
que o processo de avaliação envolva uma nota, ela não é o único fator que traduz a aprendizagem do jovem.
COMPETÊNCIAS PARA O SÉCULO 21. Competências cognitivas e socioemocionais necessárias para viver, conviver,
aprender e produzir na sociedade contemporânea. A perspectiva de desenvolvimento socioemocional aqui proposta –
por exemplo, a habilidade de traçar metas e ser persistente no alcance delas, de construir interações colaborativas,
de ser capaz de valorizar e aprender com as diferenças e de crescer em situações adversas – tem como objetivo maior
ressignificar os propósitos da educação. A busca é por enfatizar como seu objetivo maior o desenvolvimento de com-
petências que articulem aspectos cognitivos e socioemocionais de cunho emancipatório, dado que o desenvolvimento
intencional dessas competências colabora para a construção da autonomia dos estudantes. Estão reunidas na Matriz de
Competências para o Século 21.
CURRÍCULO INTEGRADO E FLEXÍVEL. Organização do currículo em Áreas do Conhecimento e Núcleo Articulador,
pressupondo o planejamento integrado das atividades, além do acompanhamento e avaliação da aprendizagem. A cada
período letivo (bimestre, trimestre ou semestre), os professores das Áreas de Conhecimento se revezam na orientação
dos alunos nos componentes do Núcleo Articulador.
EDUCAÇÃO INTEGRAL PARA O SÉCULO 21. Promove a escola do jovem do século 21, baseada na formação plena dos
estudantes. Considera o aluno e seu processo formativo em sua inteireza, singularidade e diversidade, nas dimensões
do modo como convive e se relaciona com a escola, o conhecimento e o mundo do trabalho. Para isso, é preciso que as
ações educativas invistam fortemente no desenvolvimento da autonomia dos estudantes, por meio do desenvolvimento
de competências cognitivas e socioemocionais, a fim de superar a cisão entre os conteúdos escolares e a vida do aluno.
Educação integral e educação de tempo integral são conceitos diferentes: o primeiro se refere à dimensão qualitativa
que se quer agregar à educação, enquanto o segundo trata de um importante avanço quantitativo no tempo de exposição
do aluno a diferentes aprendizagens.
MATRIZ DE COMPETÊNCIAS PARA O SÉCULO 21 . Articula aspectos cognitivos e socioemocionais, partindo de dois
propósitos. O primeiro congrega aspectos relacionados à ressignificação da educação integral para o século 21, res-
pondendo à pergunta: Quem são a criança e o jovem que queremos formar? Já o segundo diz respeito a tornar tangível
a orientação de propostas curriculares que tenham como princípio norteador o desenvolvimento de competências. A
matriz é composta pelas oito macrocompetências: autoconhecimento, responsabilidade, colaboração, comunicação,
criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas e abertura para o novo.
22 | VOLTAR AO SUMÁRIO
A gradecemos a todos os estudantes, professores e gestores que colaboraram com
a elaboração desta publicação.
GESTORES ESCOLARES
PROFESSORES
24
Rita Quaresma – professora de História – Colégio Estadual Chico Anysio
Roberto Pereira – professor de Matemática – Colégio Estadual Chico Anysio
ESTUDANTES
25
BIBLIOGRAFIA
ABRAMO, Helena Wendel. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista
Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 5 e n. 6, p. 28, maio/dez. 1997.
ANDRADE, Paulo Emílio de Castro. ONGs e educação: significados atribuídos por jovens à participação
em projetos educativos. Belo Horizonte: UFMG, 2009. Dissertação de Mestrado.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Plano Nacional de Educação. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em: 16 out. 2015.
CARRANO, Paulo; DAYRELL, Juarez (Orgs.). O jovem como sujeito do Ensino Médio. Curitiba: Ministério
da Educação; UFPR, 2013.
CAVALIERE, A. M. Escolas públicas de tempo integral: uma ideia forte, uma experiência frágil. In:
CAVALIERE, A. M.; COELHO, L. M. C. Educação brasileira e(m) tempo integral. Petrópolis: Vozes, 2002.
COSTA, Antonio Carlos Gomes da. A presença da pedagogia: métodos e técnicas de ação socioedu-
cativa. São Paulo: Global; Instituto Ayrton Senna, 1999.
______. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras,
1996.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. São Paulo: Editora e
Livraria Instituto Paulo Freire, 2008.
26 | VOLTAR AO SUMÁRIO
LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2009.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2000.
MACHADO, Nilson José. Sobre a ideia de competência. In: PERRENOUD et al. As competências para
ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed,
2002.
MARTINS, João Carlos. Vygotsky e o papel das interações sociais na sala de aula: reconhecer e des-
vendar o mundo. In: Centro de Referência em Educação Mário Covas. Publicação on-line. Disponível
em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_28_p111-122_c.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2015.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2000.
______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2002.
MAFFESOLI, M. O ritmo da vida: variações sobre o imaginário pós-moderno. Rio de Janeiro: Record,
2007.
MENEZES, Janaina S. S. Educação integral & tempo integral na educação básica. In: COELHO, L. M. C.
C. (Org.). Educação integral em tempo integral: estudos e experiências em processo. Petrópolis:
DP; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2009.
MOSÉ, Viviane. O homem que sabe: do Homo sapiens à crise da razão. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2012, 5. ed.
______. Avaliação. Da excelência à regulação das aprendizagens. Porto Alegre: Artmed Editora, 1999a.
______. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
PRIGOGINE, Ilya. O fim da certeza. In: Candido Mendes (Org.). Representação e complexidade. Rio
de Janeiro: Garamond, 2003.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão. São Paulo: Parábola, 2009.
______. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SEE: CENP, 2004.
27
______. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: ROJO, R.
H. R; MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
SAUL, Ana Maria Avela. A avaliação educacional. In: Centro de Referência em Educação Mário Covas.
Publicação on-line. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_22_p061-068_c.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2015.
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São
Paulo: Cortez, 2008, 12. ed.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZEMELMAN Hugo. Sujeito e sentido: considerações sobre a vinculação do sujeito ao conhecimento que
constrói. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente:
um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Cortez, 2004.
28