Mód 2 Sem 3

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 36

Curso de Tecnologia Assistiva para

Educandos com Deficiência Visual

Módulo2 (Semana 3)
Artefatos para Ensino de
Matemática Básica e Sorobã

Professores Responsáveis:

José Antonio dos Santos Borges


e
Angélica Fonseca da Silva Dias

Rio de Janeiro
Agosto de 2021
Presidente da República Instituto Tércio Pacitti
Jair Messias Bolsonaro de Aplicações e Pesquisas
Ministro da Educação Computacionais (NCE/UFRJ)
Milton Ribeiro Direção
Diretoria de Educação Especial Henrique Serdeira
Nídia Regina Limeira de Sá Vice-Direção
Secretaria de Mobilidades Jade Soares do Nascimento
Especializadas (SEMESP)
Equipe NCE/UFRJ
Ilda Ribeiro Peliz
Responsáveis pelo projeto
José Antonio Borges
Universidade Federal do Rio de
Angélica Fonseca da Silva Dias
Janeiro | UFRJ
Equipe Técnica
Reitora
Júlio Tadeu Carvalho da Silveira
Denise Pires de Carvalho
Silvia Martins Mendonça
Vice-Reitor
Programação Visual e
Carlos Frederico Leão Rocha
Diagramação
Rodrigo dos Santos Oliveira
CCMN - Centro de Ciências
Consultoria em Acessibilidade
Matemáticas e da Natureza
Isadora Machado
Decana
Tradução em Libras
Cássia Curan Turci
Raphael Lopes da Costa
Vice-Decano
Produção de Vídeo
Cabral Lima
Leonardo Teixeira Santos
Superintendente
Revisão de Texto
Mônica Pereira de Almeida Oliveira
Ana Lucia Rodrigues
Sumário

1. Incrementando o ensino básico da matemática para crianças


com DV 7
1.1 Blocos Lógicos 7
1.2 Barras de Cuisenaire 8
1.3 Material Dourado 10
1.4 Cubaritmo 12
1.5 Alternativas Computacionais Multimídia? 13
2. Ferramentas Táteis para Cálculo e Desenvolvimento Mental 14
2.1 O Ábaco 14
2.2 O Sorobã 16
2.3 O Sorobã Virtual 21
3. Ferramentas Táteis para Introduzir as Relações Geométricas e
o Desenho 23
3.1 O Tangram 24
3.2 Tangram para Estudantes com DV 26
3.3 O Geoplano 27
3.4 Industrializando o Geoplano: o Multiplano 28
4. Reprodução Tátil de Materiais Didáticos Impressos e
Outras Adaptações 31

Erro! Indicador não definido.

3
Prefácio
O conhecimento de matemática é fundamental para a vida de todas
as pessoas. Contar elementos, medi-los e estabelecer relações
entre eles são coisas presentes em todos os nossos diálogos e em
todos os problemas associados a eles.

Quando perguntamos a uma criança “quantos aninhos você tem?”


e a criança responde com três dedinhos, provavelmente ela vai
associar um pensamento intuitivo de crescimento, sabendo que até
um tempo atrás ela marcava dois dedinhos apenas, e que este
terceiro dedo a mais representava alguma coisa que ela não sabia
bem o que era, mas tinha certeza de que “era mais” do que a
situação anterior (Vide Figura 3).

Figura 1: três aninhos?

Na verdade, o ensino informal da matemática sempre usou


fortemente os paradigmas visuais e isso é um entrave enorme para
o ensino de deficientes visuais. Os três dedinhos são bem
percebidos pela criancinha que enxerga, mas não pela que não
enxerga. Para esta segunda, temos que associar esta contagem a
alguma outra forma, por exemplo:

● Tátil: bolinhas de gude representando a idade;

4
● Sonora: apitos de intensidade diferente, ou sequências
de vários apitos, em proporção à idade;

● E assim por diante.

Repare que estas associações criam um modelo, uma imitação da


realidade, e são elementos físicos que tentam gerar uma abstração
do que se quer apresentar, ou talvez, associar. Uma nota de
dinheiro cor-de-rosa compra certa quantidade de tomates, então
duas notas de dinheiro cor-de-rosa compram mais tomates (não
necessariamente o dobro, pois pode ser que a pessoa que vende
nos dê um desconto se comprarmos mais).

O professor de matemática não deveria jamais transmitir um


conhecimento fazendo o aluno dominar um procedimento
operacional de cálculo, ou forçando-o a decorar “fórmulas
mágicas”. Num ensino de matemática que deixa raízes
profundas e modificadoras, cada problema apresentado deve
ser muito claro e estar totalmente conectado à vivência do
aluno, o que vai permitir que ele se interesse pela questão e
perca algum tempo raciocinando sobre ela.

Então é isso: contar elementos, medi-los e estabelecer relações


entre eles, esta é a essência do que ensinamos em matemática.
Mas perceba: quando o aluno é deficiente visual, ensinar sobre
contar, medir e relacionar não é a mesma coisa, especialmente
porque nossa abordagem tradicional, aquela que está mastigada
nos livros didáticos, quase sempre fala de objetos do mundo, que

5
são olhados e percebidos com a visão. No mínimo, os objetos têm
que ser mudados e o ensino tem que ser trazido para o que é
tangível, independentemente da falta de visão. Parece uma
bobagenzinha de escolher exemplos corretos, mas eu garanto: isso
muda tudo.

Filosoficamente falando, independente de a pessoa ser ou não ser


deficiente visual, num verdadeiro aprendizado, várias tentativas de
resolver têm necessariamente que conduzir a resultados
equivocados, quase como uma brincadeira de esconde-esconde, e
só depois de algum tempo, se chegar a uma solução, não
necessariamente a melhor.

A essência do ensino e aprendizado está associada a uma máxima:


“só se aprende de verdade com o erro”. Só a partir da irritação
que resulta do erro, o conhecimento se cristaliza. Tudo depois será
direcionado pelo professor, descobrindo novas formas de solucionar
situações similares, e quem sabe, chegando a uma generalização:
uma fórmula mágica, que flutua no Nirvana dos Matemáticos.

Só se aprende com o amor ou com a dor.

6
1. Incrementando o Ensino Básico da
Matemática para Crianças com DV

São muitas e bastante diversas as abordagens utilizadas no início


do ensino da Matemática para crianças, hoje em dia. É possível,
por exemplo, tomar objetos físicos (por exemplo, objetos plásticos
ou de madeira) e colocá-los todos juntos, separá-los, dividi-los,
agrupá-los etc. As técnicas utilizadas são as mesmas do ensino
tradicional, apenas não fazendo uso de nada que for gráfico nem
tiver suporte em papel.

Independentemente do tipo de material, as abordagens com


objetos físicos não são muito diferentes, pois elas podem tatear e
mover os objetos, o que está acontecendo com os objetos sendo
colocados, retirados, movidos, amarrados, virados, e assim por
diante.

Hoje, é muito comum a utilização de materiais comerciais, criados


a partir de modelos pedagógicos específicos. Falaremos um pouco
sobre os principais deles, com uma breve descrição de como são
utilizados.

1.1. Blocos Lógicos

No estudo da classificação e seriação de objetos, pode-se trabalhar


com blocos lógicos.

Este material, inventado na década de 1950 pelo matemático


húngaro Zoltan Paul Dienes, é composto de 48 peças separadas
em:

7
● cores (amarelo, azul e vermelho);
● formas (faces circulares, quadradas, triangulares e
retangulares);
● tamanhos (grande e pequeno);
● espessuras (fino e grosso).

Nota: para torná-los completamente acessíveis para os alunos


cegos, devemos substituir o atributo cor, pela colagem de
texturas diferentes em suas superfícies. Isso, entretanto, não
é provido industrialmente.

De acordo com a Figura 2 as peças podem ser feitas de madeira ou


cartolina, sem medidas padronizadas e servem para estimular as
primeiras operações lógicas, como correspondência, classificação e
sequência.

Figura 2 - Blocos lógicos

1.2. Barras de Cuisenaire

Esse material, criado por Georges Cuisenaire (1891-1976), é


composto de barras em forma de prismas quadrangulares, feitas de
madeira, com cores padronizadas.

8
Os comprimentos variam de 1 em 1 centímetro, de 1 a 10. Serve
para explorar sequência numérica; frações (o aluno identifica as
relações entre a parte e o todo); coordenação motora; memória;
análise; constância de percepção de forma, tamanho e cores (Vide
Figura 3).

Nota: Aqui também as cores podem ser substituídas por texturas.

Figura 3: Barras de Cuisenaire

Como variante, podemos usar réguas numéricas adaptadas, cujo


uso é essencialmente o mesmo (Vide Figura 4).

Figura 4: Réguas numéricas adaptadas

9
1.3. Material Dourado

O Material Dourado foi uma invenção de Maria Montessori (1870-


1952). Este nome foi aplicado porque, inicialmente, era produzido
com contas douradas, como na Figura 5. Havia contas soltas, que
representavam as unidades, e dez contas colocadas numa haste de
arame.

Figura 5: Material dourado, versão original de Montessori

Este material hoje é disponibilizado em madeira, material mais


barato e fácil de fabricar. O material é composto de cubinhos,
barras, placas e um cubo grande (também chamado de cubão) que
pode também ser feito com papel quadriculado de 1 centímetro
quadrado.

10
Um cubinho representa uma unidade, uma barra é uma dezena,
uma placa é uma centena e um cubão um milhar (Vide Figura 6).

Figura 6: O cubão, a placa, a barra e o cubinho

Essa liberdade permite fixar o valor 1 para peças diferentes, dando


margem ao estudo das frações. Se o professor disser que a barra
vale 1, o cubinho passa a valer 1/10, a placa, 10 e o cubão, 100.
Mas se o cubão representar 1, o cubinho valerá 1/1000, a barra,
1/100 e a placa, 1/10. Serve para explorar o sistema de numeração
decimal, operações aritméticas, frações e decimais conforme Figura
7.

Figura 7: Material dourado – versão atual, em madeira

11
O material dourado é uma das alternativas mais atrativas para
introdução à Matemática, que pode ser aplicado de maneira
totalmente acessível.

Assista agora aos filmes onde as técnicas básicas deste material


são mostradas. Eles apresentam detalhes de uso mais utilizados
para alunos que enxergam, mas que são facilmente adaptáveis para
alunos com deficiência visual.

3. Parte 1 - Apresentação do material Dourado

https://www.youtube.com/watch?v=u96AVLdmOjk

4. Parte 2 - Ditado Numérico

https://www.youtube.com/watch?v=4X99Iy-Q1aI

1.4. Cubaritmo

O cubaritmo (Figura 8) é composto de uma grade onde se encaixam


cubos com pontos em relevo do sistema braile de escrita numérica
em cada um dos seis lados (os quatro pontos superiores),
correspondendo aos numerais de 0 a 9 (na verdade, às letras de a
até j em Braile), uma face lisa e uma face com um traço (que será
utilizado como separador na operação. Vide Figura 9).

O uso mais comum é no aprendizado das operações aritméticas.

12
Ex.: Numa soma, por exemplo, colocam-se as parcelas uma
por linha. Na linha inferior será colocado o resultado. Então,
como na conta realizada em papel, calcula-se mentalmente o
resultado de cada coluna, da direita para a esquerda,
escrevendo-se o resultado na linha seguinte, sem tirar nem
pôr, como quem enxerga faria com lápis e papel. O vai-um é
processado de forma idêntica.

Figura 8: Cubaritmo Figura 9: Cubos com faces em

Braile do cubaritmo

Existem apenas 6 tipos de pecinhas que quando rodadas


reproduzem os dígitos, o traço e o espaço. Basta virar os cubos e
teremos que o 2 pode representar o 2 e o 3; 1 é único; 4 pode
representar o 4, 6, 8 e 0; 5 pode representar o 5 e 9; 7 é único.

1.5. Alternativas Computacionais Multimídia?

Há uma tendência em muitas escolas de usar diversos programas


de computador ou tablet no processo de aculturação em

13
matemática para as crianças que enxergam. São programas
criados com computação gráfica e multimídia, de grande efetividade
pedagógica, mas geralmente com acessibilidade ZERO. Então é
praticamente impossível utilizá-los com alunos com deficiência
visual.

Infelizmente, existem ainda poucas aplicações de computação


que podem ser utilizadas de forma acessível para pessoas
cegas ou com grande déficit visual. Deixaremos esta
discussão para o módulo sobre o Dosvox.

2. Ferramentas Táteis para Cálculo e


Desenvolvimento Mental

2.1. O Ábaco

O ábaco foi um instrumento milenarmente utilizado para realizar


contas no comércio. Na Figura 10, um ábaco romano, hoje
estilizado para ser utilizado para crianças.

Figura 10: Ábaco romano em sua versão para crianças de hoje

14
O ábaco era uma estrutura com hastes em paralelo, cada qual
contendo 10 peças móveis (pedras), que representariam os
algarismos. Repare que seriam necessárias apenas 9 contas, em
vez de 10, para representar os algarismos de 0 a 9, mas naquela
época o conceito de zero ainda não estava bem resolvido
filosoficamente, muito menos na cabeça dos comerciantes.

Nota: é interessante esta questão de zero. Na tradição das


crenças monoteístas, se Deus é o inicio de tudo, e Deus é
único (ou seja, 1) como pode haver algo anterior a ele? O
zero foi sempre objeto de conflito filosófico! Leia mais sobre
isso em

https://ebrael.wordpress.com/2011/02/15/o-zero-e-deus/

ou ainda (repleto de anúncios) no site

https://super.abril.com.br/ciencia/a-importancia-do-numero-
zero/

O ábaco era especialmente simples para representar números. Por


exemplo, para representar o número 685, bastava puxar 6 contas
para a esquerda na primeira haste, 8 na segunda e 5 na terceira.
As operações matemáticas de somar também eram simples, e
podiam ser realizadas da esquerda para a direita, ou seja, na ordem
em que se fala.

15
Um exemplo: vamos somar 548 com 837:

1. Primeiro se escreve 548 no dispositivo.


2. Somando a casa das centenas:
8 + 5 = 13 (ou seja, 3 e vai um). Posiciona-se o 3 na vara
atual e o vai um é somado à vara anterior.
3. Somando a casa das dezenas:
3 + 4 = 7 (gerando 7 nesta haste).
4. Finalmente a casa das unidades
8 + 7 = 15 (ou seja, 5 e vai 1). Da mesma forma, o vai
um é somado à haste anterior.
5. No ábaco aparecerá a resposta: 1.385.

Tente reproduzir isso com feijõezinhos.

Nota: repare que a existência de 10 contas nas hastes torna o


processo de “vai um” mais simples, postergando a adição na casa
seguinte (quando uma haste estivesse com o valor 10) para após
o fim da conta. Não, os romanos não eram simplórios.

2.2. O Sorobã

O sorobã (ou soroban) é uma variante do ábaco, que se tornou


muito disseminado pelo tamanho reduzido e pela facilidade de ser
operado com enorme agilidade usando apenas o polegar e o
indicador. Há quem afirme que uma pessoa treinada consegue
fazer contas com maior rapidez e menor erro com o sorobã do que
com uma calculadora eletrônica.

16
Sorobã por quê?

Com a existência de equipamentos modernos, eletrônicos, que


possibilitam o registro e a conferência da conta e são
integrados a programas de computador, há quem questione
porque ensinar as técnicas do sorobã para pessoas com
deficiência visual.

É importante refletir sobre isso cuidadosamente...

O objetivo do uso do Soroban não é só é realizar contas com


rapidez e perfeição, buscando alcançar o resultado sem
desperdícios. Na verdade, ele ajuda a desenvolver
concentração, atenção, memorização, percepção,
coordenação motora e cálculo mental, principalmente porque
o praticante é o responsável pelos cálculos, não o instrumento.

A prática do soroban possibilita realizar cálculos em meio


concreto, aumentando a compreensão dos procedimentos
envolvidos e exercitando a mente.

O sorobã, Figura 11, conhecido também como ábaco japonês, tem


origem ocidental com a finalidade de contar e realizar operações
matemáticas. No Brasil foi adaptado para ser utilizado por pessoas
cegas.

17
Figura 11: Sorobã

O sorobã é originalmente chinês e foi levado para o Japão em torno


de 1600 d.C.. É utilizado até hoje no Japão e em outras partes da
Ásia. No Japão, o seu ensino é realizado para crianças a partir dos
3 anos de idade. Para poder trabalhar na maior parte dos escritórios
por lá, é necessário possuir uma certificação, pelo menos no grau
três, o menor grau de certificação.

A repetição dos exercícios leva o treinando a um nível de


eficiência tal que consegue realizar os cálculos mentalmente,
sem a necessidade de manipulação física no aparelho. Nesta
modalidade, existe um campeonato de cálculo mental, o flash
anzan. Por exemplo, no evento Flash Anzan no All Japan
Soroban Championship, o campeão Takeo Sasano conseguiu
adicionar quinze números de três dígitos em apenas 1,7
segundos.

O Soroban é composto de diversas colunas (hastes), cada uma


representando uma unidade, dezena, centena etc. Cada coluna, por
sua vez, contém duas partes: uma em cima e outra embaixo. Na
parte de baixo de cada coluna existem 4 peças móveis. Na parte de

18
cima de cada coluna há apenas uma peça móvel, que indica 5
unidades numéricas. Estas peças de cima se
chamam godama (em japonês, go significa cinco e dama, peça).

Observe na figura anterior. Há também uma régua entre a parte de


cima e de baixo, que é dividida em seis partes iguais, com pontos
salientes de três em três hastes, representando as unidades,
dezenas e centenas de cada classe. Ela serve, entre outras coisas,
para tornar mais simples a leitura de números grandes.

Regras básicas para representar números:

1) Quando as peças ou contas superiores estão para cima e as


contas inferiores estão para baixo, o Soroban está "zerado".

2) Quando movemos uma pedra da parte de baixo para cima,


teremos o 1, se movermos mais um, teremos a
representação do 2, e assim por diante.

3) Para representarmos o 5, basta movermos a pedra superior,


da casa numérica eleita como a casa das unidades, para
cima.

4) A pedra superior (representando 5) é somada às pedras


inferiores da haste.

Assista a dois filmes

onde a operação básica do Sorobã é mostrada detalhadamente.

MEC AEE 2017 - Conhecendo o Soroban


https://youtu.be/fRXwtssyBDU

19
MEC AEE 2017 - Como fazer contas no Soroban
https://youtu.be/X6mhKjKVfF8

Estes filmes, que são tutoriais muito simplificados, não mostram


o uso eficiente do aparelho. Ninguém soma 2 com 4 contando
com os dedinhos 3, 4, 5, 6, e ninguém manipula pedrinha por
pedrinha as somas. Cada dígito é somado de cabeça, e o resultado
já colocado na haste, a partir de uma tabuada previamente
decorada. As contas, como no ábaco, são realizadas da esquerda
para a direita (mas não há nada de errado se fizermos da direita
para a esquerda, embora isso não seja comum).

No uso real, para somar e subtrair com grande rapidez, deve-se


utilizar “formas padronizadas” para manipular os dedos.

A forma padronizada mais básica é a escrita de um número,


em que o polegar é usado para mover a peça de baixo
simultaneamente com o indicador para mover a peça de cima,
num movimento de pinça.

Os outros cálculos (multiplicar, dividir, e tirar raiz quadrada) são


realizados com as mesmas manipulações usadas na soma e
subtração, adaptando-as para as outras operações.

2.3. O Sorobã Virtual

20
Figura 12: Sorobã virtual

Você viu no segundo vídeo que existe um pequeno programa que


pode ser usado para treinar o uso do Sorobã sem que se tenha
acesso a um equipamento físico (Vide Figura 12). É muito bom para
você treinar as técnicas aqui descritas. Você pode obtê-lo no site:

http://intervox.nce.ufrj.br/~antonio2/mec_aee/soroban.exe

Há muitos programas de sorobã virtual disponíveis na Internet, e


também muitos tutoriais no Youtube. Fique à vontade para escolher
e estudar o que mais gostar.

Uma versão online de sorobã que executa bem em celular é

http://www.alcula.com/soroban.php

21
3. Ferramentas Táteis para Introduzir as
Relações Geométricas e o Desenho
À medida que observamos crianças cegas que vão sendo
introduzidas com mais segurança nas atividades de matemática
com o uso de ferramentas táteis, como vimos anteriormente,
percebemos que seu desenvolvimento posterior se torna muito
mais suave. Também se prepara o aluno para que ele tenha
segurança, como veremos mais adiante neste curso, ao aprender
outras técnicas, especialmente envolvendo computação, que vão
possibilitar a escrita e leitura matemática com maior segurança.

Um ponto essencial, entretanto, deve ser desenvolvido ainda neste


estágio inicial da criança com deficiência visual: a capacidade de
lidar com elementos geométricos. Ela deve conhecer pelo tato,
manipular, encaixar e medir uma boa variedade de elementos
(como quadrados, círculos, triângulos, e assim por diante), o que
deve ser feito de maneira o mais prazerosa possível, mas também
muito metódica, para permitir que a pessoa cega consiga conhecer
e explorar suas características, manipulá-los intuitivamente,
tornando-se capaz de promover seu posicionamento e encaixe em
duas dimensões.

Um cuidado importante: a Geometria, desde o primeiro dia de aula,


tem que ser apresentada como algo muito prazeroso e repleto de
desafios agradáveis de vencer. Para conseguir isso o professor terá
que lançar mão de várias alternativas, recursos e técnicas
pedagógicas, bons jogos, brinquedos e materiais, todos
completamente acessíveis.

22
4.1. O Tangram

O Tangram é um quebra-cabeça chinês, muito popular em vários


lugares do mundo e jogado por pessoas de diversas faixas etárias.
Acredita-se que o Tangram surgiu na China durante a dinastia
Song (960 – 1279 d.C.) e era um dos mais famosos “testes”
utilizados para estudar a inteligência humana, durante a China
antiga (Vide Figura 13).

O jogo é formado por 7 peças que são chamadas de “tans”:

● 2 triângulos grandes;
● 1 triângulo médio;
● 2 triângulos pequenos;
● 1 quadrado e
● 1 paralelogramo.

Numa versão de desafio, é possível organizar estas peças para


que formem um quadrado, como visto abaixo (Figura 13):

Figura 13: Solução do desafio do Tangram

23
O Tangram é vendido como um produto industrial, feito de
madeira, mas é muito fácil criar um Tangram “feito em casa”,
usando papelão, EVA, isopor, madeira etc.

O filme a seguir mostra como produzir um modelo para as


peças em papel, que depois pode ser usado para se produzir em
outros materiais.

https://www.youtube.com/watch?v=isiJ3veDzhA

O grande uso do Tangram no ensino não é montar este quebra-


cabeça (que se você não viu a solução antes, é um desafio difícil),
conforme Figura 14. O Tangram é apresentado como um jogo
de montagem de figuras. Usando essas sete peças, é possível
criar elementos que se assemelham a objetos do mundo real, por
exemplo:

Figura 14 – figurinhas montadas com o Tangram

Nas regras do Tangram original, para criar uma figura, todas as


peças devem ser utilizadas e não pode haver superposição de
peças.

Uma lista razoavelmente grande de desafios pode ser achada em

https://rachacuca.com.br/raciocinio/tangram/

24
3.2. Tangram para Estudantes com DV

Este uso do Tangram mostrado até o momento é muito comum


quando lidamos com alunos que enxergam, mas não funciona
com alunos cegos.

Primeiro, as crianças cegas não têm noção da projeção em


desenho de um coelho ou de um gato. Elas devem ser desafiadas
de maneiras muito mais sutis, mas igualmente prazerosas. São
jogos mais simples, que vão sendo complicados cada vez mais
para que a montagem mental vá sendo desenvolvida de forma
lenta, mas segura.

O processo segue o seguinte ritmo:

a) Ensinamos o nome das peças (triângulos grandes, triângulo


médio, triângulos pequenos, quadrado e losango);
b) Depois devemos treinar as crianças para que nomeiem a
figura que está sendo mostrada, apenas usando o tato para
reconhecê-las, mesmo quando rodadas;
c) A partir daí vários desafios são possíveis, por exemplo:
● Encoste dois triângulos para que formem outro triângulo
ainda maior;
● Encoste dois triângulos para que formem um quadrado;
● Coloque lado a lado três triângulos com dimensões cada
vez maiores;
● E assim por diante.

A restrição de não poder haver superposição de peças pode ser


relaxada ou não, dependendo do objetivo do professor. O aluno

25
deve propor desafios e descrever as montagens que vai criando
por experimentação.

Parecem desafios muito simples, mas pode levar um bom tempo


até que o aluno cego consiga entender e realizar a montagem.
Enquanto as crianças se divertem montando as figuras,
eles treinam a “visão tátil” espacial, exploram a criatividade,
aprendem sobre a classificação de formas geométricas e
aprimoram suas habilidades em resolver problemas.

Este processo contribui para o desenvolvimento da capacidade de


concentração, coordenação e orientação espacial na formação do
educando. Os benefícios desta atividade são muitos e podem ser
jogados simultaneamente por crianças que enxergam ou não.

3.3. O Geoplano

Figura 15: Geoplano

O Geoplano, Figura 15, é uma ferramenta criada para o ensino da


Geometria plana, mas que pode ser utilizada em muitas outras
aplicações.

26
O objeto é formado por uma placa de madeira onde são cravados
preguinhos, formando uma malha composta por linhas e colunas,
como mostrado na figura a seguir. Usando elásticos, podem ser
criadas figuras geométricas, usando os preguinhos como vértices.

O atrativo do Geoplano se baseia no fato de que o aluno pode


visualizar os conceitos abstratos da geometria de forma prática. O
Geoplano permite aos alunos a exploração de figuras poligonais
através da sua construção e visualização e exploração interativa.

Suas possibilidades são múltiplas. Algumas aplicações:

● Construção de figuras geométricas;

● Desenvolvimento dos conceitos de horizontal ou vertical;

● Fracionamento;

● Cálculo de perímetros e áreas de figuras simples;

● e muitas outras...

3.4. Industrializando o Geoplano: o Multiplano

O Multiplano é um objeto educacional comercial, que está sendo


utilizado em diversas modalidades de ensino de várias instituições
do país. Este recurso possibilita ao estudante a compreensão da
lógica existente nos conteúdos matemáticos e configura-se como
elemento decisivo para o entendimento e proposições de
alternativas na superação de problemas vivenciados nesta área,
principalmente para alunos com deficiência visual.

27
O Multiplano foi desenvolvido pelo professor paranaense Rubens
Ferronato no início dos anos 2000, a partir das dificuldades
enfrentadas por ele ao ensinar conteúdos matemáticos a um aluno
cego. Hoje, o multiplano está sendo muito utilizado por pessoas
com deficiência visual em todos os níveis, inclusive universitário.

O multiplano é composto pelo plano retangular que possui 546


furos, onde são feitos os cálculos e gráficos; temos também o
multiplano circular que possui 72 furos na circunferência
distribuídos de cinco em cinco graus.

● Os pinos têm várias aplicações como: fixar um elástico, indicar


a posição, entre outras; além disso, o pino com superfície
esférica indica números positivos e intervalos fechados nos
números reais, e o pino com superfície plana representa os
números negativos e intervalos abertos nos números reais.
● Os elásticos são usados para representar figuras geométricas,
intervalos, entre outros. As hastes são utilizadas para
representar sólidos geométricos e gráficos das funções. Nas
figuras abaixo temos as representações de alguns casos no
multiplano.

O multiplano é um instrumento de operação muito simples, que


permite ao estudante passar para a construção lógica do problema
a partir da experimentação concreta. Através do toque, e utilizando
a construção interativa autônoma, o estudante consegue perceber
o sentido das operações matemáticas e consegue entender a lógica
e a mecânica da construção de fórmulas matemáticas (Figura 16).

28
Figura 16: Aplicações do multiplano:
figuras geométricas, frações e subtração.

Fig. 16 - Gráficos gerados no multiplano: parábola (função do segundo


grau), reta (função do primeiro grau) e de barras

Inúmeras aplicações podem ser desenvolvidas com este dispositivo:


operações, tabuada, equações, proporção, regra de três, funções,
matriz, determinantes, sistema linear, gráficos de funções,
inequações, funções exponenciais e logarítmicas, trigonometria,
geometria plana e espacial, estatística, entre outras.

Assista ao filme

onde o Multiplano está sendo demonstrado em algumas de suas


possibilidades.

29
5. MULTIPLANO INTRODUÇÃO

https://youtu.be/Sfw66ibS8T4

Nota final: o prof. Rubens Ferronato foi um dos 50 finalistas do


Global Teacher Prize, que é concedido a um professor excepcional
que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão.

Para saber mais sobre o multiplano é interessante ir ao site:

http://www.multiplano.com.br

4. Reprodução Tátil de Materiais Didáticos


Impressos e Outras Adaptações

Metodologicamente falando, às vezes fica muito difícil, numa classe


inclusiva, abdicar do uso de certas atividades predominantemente
visuais que vem sendo usadas há tempos e são bem consolidadas
em termos pedagógicos, para atender aos requisitos dos alunos
com deficiência visual. Neste caso, não tem jeito: as atividades
devem ser adaptadas (sempre com antecedência), o que envolve
sua descrição detalhada, além do uso de informação tátil, auditiva,
olfativa, enfim, qualquer alternativa que permita que ela se torne
acessível.

Às vezes, é mais fácil modificar a atividade para todos, para que se


torne acessível, o que ocorre muito no caso específico dos jogos
pedagógicos. Aqui, uma estratégia que pode ser aplicável, é um
pacto com todos os outros alunos para que aceitem jogar segundo

30
regras alternativas, a fim de permitir a inclusão dos colegas com
deficiência.

Quando houver elementos metodologicamente indispensáveis, mas


de difícil adaptação, eles devem ser descritos oralmente e se
possível reproduzidos em relevo (por exemplo, utilizando
equipamentos de criação de relevo plástico). Isso, entretanto, tem
que ser feito com bastante critério, pois o papel que gera relevo é
MUITO caro, e deve ser realizado no âmbito da sala de recursos
multifuncionais.

Assista ao filme a seguir que mostra a operação de um


equipamento de criação de relevo tátil

6. Teca-Fuser no Encontro com Fátima Bernardes

https://youtu.be/0fAHpyJ3OuM

Acima de tudo, o ensino da Matemática precisa ser atrativo para


todos os alunos, e quando o aluno é deficiente visual isso também
é verdadeiro. Será preciso lançar mão de todas as alternativas
usadas normalmente, como jogos e brincadeiras. O grande
problema é que, em boa parte das vezes, será necessário adaptá-
los para serem utilizáveis com as restrições da deficiência visual, e
isso, com certeza, demanda grande criatividade e alguma vivência.

Na prática, não temos como fugir dessas adaptações ou aquisições


extras. Sem recursos especiais, alunos com deficiência visual terão
bastante dificuldade de acompanhar a matéria nas primeiras séries
do ensino fundamental, o que se torna mais demandante a partir
do 6º ano, quando as exigências de materiais específicos começam
a aumentar.

31
Retornaremos a este assunto quando falarmos de adaptação de
material didático em um próximo módulo.

32
Resumo do Que foi Apresentado Neste Módulo

Nesta semana apresentamos diversos dispositivos que são usados


para aumentar o potencial de aprendizado de matemática por
alunos com deficiência visual.

Apresentamos os Blocos Lógicos, as Barras de Cuisenaire, o Material


Dourado montessoriano e o Cubaritmo.

Nos fixamos no Sorobã, pela sua múltipla utilidade e potencial de


ser utilizado em vários níveis do aprendizado da matemática,
favorecendo a habilidade mental de calcular.

Para todos os alunos com deficiência visual, os aspectos


geométricos são um desafio imenso. Então, apresentamos duas
abordagens bem diferentes: o Tangram, que leva o estudante a
desenvolver o raciocínio espacial, e o Geoplano que permite a
implementação de muitas possibilidades geométricas e a criação de
pequenos gráficos. Apresentamos por último um objeto comercial
inventado no Brasil por um professor de matemática, que o aplicou
em muitas situações, para além da geometria: o Multiplano.

Por útil apresentamos uma alternativa muito conveniente para a


reprodução tátil de gráficos impressos.

Esperamos que este capítulo tenha sido muito prazeroso e tenha


trazido boas ideias para você!

Nos encontramos no próximo módulo!

33
Referências Bibliográficas

Recomendamos para leitura complementar:

1) O ensino da matemática para portadores de deficiência


visual
Por: Arielma da Luz Ferreira e outros
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos
_teses/2011/matematica/artigo_ferreira_correa_boron_silva.pdf

Este material, apesar de utilizar no seu título a nomenclatura que está


em desuso, “portadores de deficiência”, é bem abrangente na
descrição de dispositivos como Sorobã, Material Dourado, Tangram
etc. Para quem tem pressa, sugerimos ler apenas o conteúdo a partir
da oitava página: “A utilização de material didático no ensino da
matemática para portadores de deficiência visual”.

2) A construção do Conceito de Número e o Pré-Soroban


http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4619.pdf

Este é um texto do Ministério da Educação que tem como foco


exclusivo os professores de matemática e tenta estabelecer uma
sistematização no ensino dos conceitos fundamentais desta disciplina.

Para Quem tem um Pouco Mais de Tempo...


Deixo também como referência extra, um excelente estudo sobre
matemática e inclusão de deficientes visuais, a tese de mestrado de
Rubens Ferronato, na UFSC.

A Construção de Instrumento de inclusão no Ensino da


Matemática.

34
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/82939

Outro site interessante para quem tem um pouco mais de tempo;


OFICINA: Compreendendo o uso do Sorobã na aquisição de
Conceitos Matemáticos
Por Santa Terezinha Falcade Lavarda
http://www2.td.utfpr.edu.br/semat/I_semat/AS.pdf

35
Curso de Tecnologia Assistiva para Educandos
com Deficiência Visual

1. Conceitos e Características da Cegueira e Baixa Visão que Impactam


no Uso da Tecnologia Assistiva;
2. Braile e Sorobã em uma Perspectiva Tecnológica;
3. Acesso à informação e Comunicação para Deficientes Visuais Através
da Tecnologia Assistiva;
4. Vida autônoma de Deficientes Visuais Através da Tecnologia;
5. Conhecendo Deficiência Visual, Tendências do Desenvolvimento
Tecnológico, Inteligência Artificial e Ética.

36

Você também pode gostar