Aula 5 - Da Nacionalidade: 1. Brasileiro Nato

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE

XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO


AULA 5 - DA NACIONALIDADE

A Constituição brasileira previu duas forma de aquisição de nacionalidade:


a primária (originária) e a secundária (adquirida ou derivada). A primeira
resulta do nascimento, sendo estabelecida por critérios sanguíneos ou
territoriais. Já́ a segunda depende de ato volitivo (da vontade), praticado depois
do nascimento (em regra, pela naturalização).

Nascimento

Primária (ou
originária)
jus Solis (regra) ou jus
Sanguinis
NACIONALIDADE

Secundária
(Adquirida ou Ato voluntário
derivada)

1. BRASILEIRO NATO
Cumpre esclarecer que a doutrina majoritária entende que o termo
“nascido” deve ser interpretado sistematicamente. Desta sorte, os filhos
adotados também gozam de nacionalidade, posto que o art. 227, § 6º, da
CRFB/88, preceitua que os filhos adotados têm os mesmos direitos dos filhos
retirados do ventre materno. Sendo assim, a sentença que concede adoção ou
reconhece a paternidade terá efeito ex tunc, aplicando a esse filho os mesmos
efeitos.1
O art. 12, I, da CRFB/88, traz hipóteses taxativas de previsão de aquisição
da nacionalidade brasileira. Assim serão brasileiros natos:


1 PADILHA, Rodrigo, Direito Constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro. São Paulo: Método, 2014, p. 311
DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

jus Solis (CRFB/88, art. 12, I, "a")

jus Sanguinis + Serviço do Brasil (CRFB/88, art. 12,


I, "b")
BRASILEIRO NATO
jus Sanguinis + Registro em repatição competente
(CRFB/88, art. 12, I, "c" - primeira parte)

jus Sanguinis + opção confirmativa (CRFB/88, art.


12, I, "c" -segunda parte)

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda


que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
serviço de seu país;
Pelo art. 12, I, a, observa-se que o Brasil adotou como critério-base a
territorialidade – jus solis –, pois considera brasileiro nato os nascidos na
República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, salvo se eles (um
ou ambos) estiverem a serviço de seu pais.
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;
A expressão “a serviço da República Federativa do Brasil” deve ser
entendida ampliativamente, compreendendo o serviço prestado à União, aos
Estados, Distrito Federal e Municípios, além dos entes da administração indireta
– autarquias, fundações públicas (de direito público e de direito privado),
empresas públicas e sociedades de economia mista.
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
O constituinte originário mesclou o critério da consanguinidade com o
registro no órgão competente ou a fixação de residência no Brasil junto com a
opção. Nessa alínea, verifica-se a existência de duas possibilidades distintas de
DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

aquisição de nacionalidade daquele que tem pai ou mãe brasileira: registro em
repartição brasileira competente ou residência no território brasileiro e, uma
vez adquirida a maioridade, a opção expressa pela nacionalidade brasileira. É a
chamada nacionalidade protestativa, por depender da vontade da pessoa.

2. BRASILEIRO NATUZALIZADO
A naturalização ocorre de forma expressa após o interessado requerê-la.
A naturalização expressa subdivide-se em ordinária e extraordinária.

Originários de países de
lingua portuguesa
ORDINÁRIA
(CRFB/88, art. 12, II, “a”)
Não originários de países
NATURALIZAÇÃO de lingua portuguesa
EXTRAORDINÁRIA
(CRFB/88, art. 12, II, “b”)

A aquisição da nacionalidade primária deve respeitar todos os requisitos


legais e constitucionais previstos. Dessa forma, de acordo com o art. 112, da lei
6.815/80, renumerado pela lei 6.964/81, são considerados requisitos legais
para a aquisição da nacionalidade: capacidade civil, segundo a lei brasileira;
ser registrado como permanente no Brasil; residência contínua no território
nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao
pedido de naturalização; ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as
condições do naturalizando; exercício de profissão ou posse de bens suficientes
à manutenção própria e da família; bom procedimento; inexistência de
denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a
que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior
a um ano; e boa saúde – não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum
estrangeiro que residir no País há mais de dois anos.

2.1. Naturalização Ordinária


DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Nos termos do art. 12, II, “a”, da CRFB/88, temos a hipótese de
naturalização ordinária, concedida aos estrangeiros que cumpram os requisitos
descritos no Estatuto do Estrangeiro. No caso de estrangeiros originários de
países de língua portuguesa, o processo de naturalização é facilitado, sendo
apenas exigidos dois requisitos: residência no Brasil por um ano ininterrupto e
idoneidade moral.
Cabe destacar que o mero cumprimento dos requisitos não assegura ao
estrangeiro a concessão da nacionalidade brasileira. A concessão da
naturalização ordinária é ato discricionário do chefe do poder executivo, ou
seja, depende de uma análise quanto à conveniência e à oportunidade.

2.2. Naturalização Extraordinária


Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil há mais
de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram
a nacionalidade brasileira.
Ao contrário da naturalização ordinária, cumpridos esses três requisitos, o
interessado tem direito subjetivo à nacionalidade brasileira. Portanto, não pode
ser negada pelo Poder Executivo. É ato vinculado do Presidente.

3. QUASE NACIONALIDADE
Os portugueses são beneficiados desde que comprovem sua residência
fixa no Brasil e desde que o ordenamento jurídico português também dispense
tratamento recíproco aos brasileiros. Dessa forma, os portugueses com
residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros,
serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na
Constituição. A norma inscrita no art. 12, § 1°, da CRFB/88.

4. CARGOS PRIVATIVOS DE BRASILEIROS NATOS


O art. 12, §2º, da CRFB/88, estabelece que lei não poderá́ estabelecer
distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos na
própria Constituição. Neste sentido, só́ a Constituição pode estabelecer
distinção entre brasileiros natos e naturalizados, jamais a lei.
DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Em relação à diferenciação decorrente de alguns cargos, a Constituição
determina em seu art. 12, § 3º, os cargos que somente poderão ser ocupados
por brasileiros natos, são eles: Presidente e Vice-Presidente da República;
Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro
do Supremo Tribunal Federal; de carreira diplomática; de oficial das Forças
Armadas e de Ministro de Estado e de Defesa.

Ministro do Supremo Tribunal Federal

Presidente e Vice-Presidente da República


CARGOS PRIVATIVOS DE
BRASILEIROS NATOS

Presidente da Câmara dos Deputados

Presidente do Senado Federal

Carreira diplomática

Oficial das Forças Armadas

Ministro de Estado da Defesa

Entretanto, não são apenas esses cargos que são privativos de brasileiros
natos. Para composição do conselho da república, somente brasileiros natos
podem ser indicados como representantes dos cidadãos, nos termos do art. 89,
VII, da CRFB/88.
Da mesma forma, só poderá ocupar o cargo de Presidente do Tribunal
Superior Eleitoral, aquele que for brasileiro nato, conforme o art. 119, parágrafo
único, da CFRB/88. Não sendo, portanto, diferente com o Presidente do
Conselho Nacional de Justiça, cargo que será ocupado pelo Presidente do
Supremo Tribunal Federal e, consequentemente, brasileiro nato, de acordo com
o art. 103-B, §1º, da CRFB/88.
DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

É, também, privativo de brasileiro nato o cargo de Ministro do Superior
Tribunal Militar, como previsto no art. 123, da CRFB/88.

5. PERDA DA NACIONALIDADE
A perda da nacionalidade segue uma ordem taxativa – numerus clausus –,
pois só pode ocorrer nas hipóteses previstas no art. 12, §4º, I e II da CRFB/88,
sendo absolutamente vedada a ampliação de tais hipóteses pelo legislador
ordinário. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, firmou entendimento que
a perda da nacionalidade brasileira “somente pode ocorrer nas hipóteses
taxativamente definidas na Constituição da República, não se revelando
lícito, ao Estado brasileiro, seja mediante simples regramento legislativo, seja
mediante tratados ou convenções internacionais, inovar nesse tema, quer para
ampliar, quer para restringir, quer, ainda, para modificar os casos autorizadores
da privação – sempre excepcional – da condição político-jurídica de nacional do
Brasil”.2
4o – Será́ declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
que:
I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial,
em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II – adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira,
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis;

6. REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE
Conforme disposto no art. 76, da lei 13.445/17, a nacionalidade, originária
ou derivada, pode ser readquirida, pois a sua perda não tem caráter
irreversível. Assim, o brasileiro que, houver perdido a nacionalidade, poderá

2 STF, HC 83.113-QO, Rei. Min. Celso de Mello, DJ de 29-8-2003.
DIREITO CONSTITUCIONAL | OAB 2ª FASE
XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

readquiri-la por decreto dirigido a Presidente da República, se estiver
domiciliado no Brasil, devendo o pedido de reaquisição, será processado no
Ministério da Justiça.

Você também pode gostar