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AULA - Lei Maria Da Penha

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LEI MARIA DA PENHA

LEI Nº 11340/2006

Profa. Denise Leal F. Albano Leopoldo


CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 Breve histórico sobre o surgimento da Lei:
- O Caso “Maria da Penha”.
- A condenação do Brasil no caso.
- Os debates que antecederam a aprovação da Lei Maria da Penha.
- O marco legal internacional protetivo da mulher.
- A importância de um marco normativo para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher.
- A necessidade de uma atuação em rede dos órgãos e atores do sistema de
proteção à mulher.

 Natureza dessa Lei: multidisciplinar, compreendendo matérias de Direito


Penal, Cível, Administrativa, Trabalhista e Processual Civil e Penal.
O MARCO LEGAL INTERNACIONAL PROTETIVO DA
MULHER

 A Declaração aprovada na Conferência Mundial dos Direitos Humanos,


realizada em Viena em junho de 1993, estabeleceu no artigo 18 que: “os
direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem
parte integrante e indivisível dos direitos humanos universais. A violência de
gênero e todas as formas de assédio e exploração sexual são incompatíveis
com a dignidade e o valor da pessoa humana e devem ser eliminadas. Os
direitos humanos das mulheres devem ser parte integrante das atividades das
Nações Unidas, que devem incluir a promoção de todos os instrumentos de
direitos humanos relacionados à mulher”.
OS 2 TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE O TEMA
ATUALMENTE EM VIGOR NO BRASIL

 A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


contra a Mulher, aprovada em 1979. Ela integra o sistema normativo
global da Organização das Nações Unidas (ONU).

 A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência


contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará). Essa Convenção, de 1994,
se insere no sistema de proteção da Organização dos Estados Americanos
(OEA).
A LEI MARIA DA PENHA
 É um marco no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. Foi
editada, principalmente, em razão da condenação do Brasil pela OEA face à omissão
em relação à proteção das mulheres e, especialmente, em razão da morosidade do
processo relativo ao caso Maria da Penha.
 Esse texto normativo surge para atender tanto compromissos internacionais quanto
demandas e pressões de movimentos, associações e ONGs ligadas à defesa dos
direitos das mulheres e promover uma proteção mais efetiva às mulheres contra
violência.
 Assim, além da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher, aprovada pela ONU em 1979, temos também a Declaração sobre a
Eliminação da Violência contra a Mulher, aprovada pela ONU em 1993; a Declaração e
Programa de Ação de Viena, 1993; e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará, de 1994 .
CATEGORIAS CONCEITUAIS
 Dispõe sobre prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a
mulher.

- De que violência se trata? Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que


cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. (Vide art. 5º da Lei)

- Quem pode ser vítima? Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero. (Vide
art. 5º da Lei) Dispõe o parágrafo único desse artigo: As relações pessoais
enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
AS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER NA LMP
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de sua intimidade*, ridicularização, exploração e limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
*incluído em 2018
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.
HÁ PROPOSTAS PARA QUE A LEI MARIA DA
PENHA PREVEJA UMA NOVA ESPÉCIE DE
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A
VIOLÊNCIA POLÍTICA
UM NOVO TIPO PENAL: O CRIME DE VIOLÊNCIA
PSICOLÓGICA CONTRA MULHER
 A Lei Nº 14.188, de 29 de julho de 2021, incluiu no Código Penal brasileiro o
crime de violência psicológica contra mulher. Trata-se do artigo 147-B.
 Embora essa forma de violência já fosse prevista na Lei Maria da Penha (LMP),
ainda não havia sido mais especificamente tipificada.
 A nova norma teve origem no Projeto de Lei nº 741/2021, sugerido pela
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e apresentado pela Deputada
Margarete Coelho (PP-PI). No Senado, a relatora da matéria foi a Senadora Rose
de Freitas (MDB-ES). Além da tipificação detalhada da conduta, o texto também
prevê o programa “Sinal Vermelho”, que consiste em um “X” pintado em
vermelho na palma da mão da mulher ameaçada. Esse sinal é uma denúncia de
que aquela pessoa está em perigo e precisa de socorro urgente.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-ago-25/escritos-mulher-tipo-penal-violencia-psicologica-
contraa-mulher Acesso: 12/02/2022
CRIME DE VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu
pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não
constitui crime mais grave.

UMA QUESTÃO PARA DISCUSSÃO: A forma como o artigo foi redigido, a dificuldade de
provar o “dano emocional” e o seu caráter subsidiário, ajudam a reforçar uma
percepção de que talvez venha a cumprir uma mera função simbólica?
TRANSEXUAL FEMININA COMO SUJEITO PASSIVO
“(...) Com efeito, é de se ver que a expressão "mulher" abrange tanto o sexo
feminino, definido naturalmente, como o gênero feminino, que pode ser
escolhido pelo indivíduo ao longo de sua vida, como ocorre com os transexuais e
transgêneros, de modo que seria incongruente acreditar que a lei que garante
maior proteção às "mulheres" se refere somente ao sexo biológico,
especialmente diante das transformações sociais. Ou seja, a lei deve garantir
proteção a todo aquele que se considere do gênero feminino.” (TJDF, Acórdão
1152502, 20181610013827RSE, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS,
Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 14/2/2019, publicado no DJe:
20/2/2019)
UNIDADE DOMÉSTICA, ÂMBITO FAMILIAR E
RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO
Segundo o art. 5º da lei, a violência deve ocorrer:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive
as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E A HIPOSSUFICIÊNCIA
 Para a incidência da Lei Maria da Penha, é necessária ou não a
constatação concreta de vulnerabilidade (física, financeira ou social) da
vítima ante o agressor?
 Está razoavelmente consolidada a ideia de que a fragilidade da mulher,
sua hipossuficiência ou vulnerabilidade são os fundamentos que levaram
o legislador a conferir proteção especial à mulher e, por isso, têm-se
como presumidos.
 Prevalece na doutrina e jurisprudência o entendimento de que quando
for um homem o agressor, considera-se que a vulnerabilidade constitui
uma presunção absoluta.
ATENÇÃO!!
Não é sempre que houver uma agressão contra uma mulher que
necessariamente será aplicada a Lei Maria da Penha.
Para tanto, é necessário que:

• a violência tenha sido cometida em uma das situações descritas no


art. 5º da Lei Nº 11.340/2006 e;

• que o delito tenha sido motivado por questões de gênero (aferir o


dolo) ou que a vítima estava em situação de vulnerabilidade por ser do
sexo feminino.
A QUESTÃO DA VULNERABILIDADE EM UMA
RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO ENTRE MULHERES
“(...) 1. É possível a incidência dos preceitos da Lei n.º 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha) na hipótese de violência praticada contra mulher no seio de relação
íntima de afeto homossexual, acaso caracterizada a hipossuficiência e/ou a
vulnerabilidade da vítima. 2. Na hipótese, após breve namoro, com coabitação
de uma semana, a ré demonstrou intensa perseguição, intimidação e controle
sobre a vitima por não aceitar o término da relação afetiva, tratando a ex-
parceira como sua propriedade sexual, em verdadeira situação de
objetalização. Nesse contexto, a fim de sair desse ciclo de violência, a ofendida,
após buscar efetivo auxílio das autoridades públicas, alterou sua residência,
seu trabalho e seu automóvel, para evitar que a ré, conhecedora de toda a sua
rotina, a encontrasse novamente.
3. Com efeito, apesar da alegada independência financeira e emocional da
ofendida, ou da constatação de porte físico assemelhado entre as envolvidas,
denota-se, claramente, a repercussão psíquica da violência na vítima, tratada
como objeto no seio da relação afetiva em questão, ante o sentimento de
posse contra ela nutrido, tudo a evidenciar, sem qualquer dúvida, sua
fragilidade e vulnerabilidade dada a condição de mulher, dentro da relação de
poder e controle a que submetida. 4. Presentes todos os requisitos exigidos
para configuração de delito cometido em contexto de violência doméstica
contra a mulher, aplicam-se as regras da Lei n.º 11.340/2006 (art. 5º, III e
parágrafo único, c/c art. 7º, II), sendo o Juizado de Violência Doméstica e
Familiar contra mulher de Brasília competente para processar e julgar o feito.”
(TJDF, Acórdão 1301119, 07232110920208070016, Relator: CRUZ MACEDO,
Primeira Turma Criminal, data de julgamento: 19/11/2020, publicado no PJe:
21/11/2020)
 Súmula 600, STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar
prevista no artigo 5º da Lei Nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se
exige a coabitação entre autor e vítima.
 Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.

ATENÇÃO! No caso da violência patrimonial, há uma discussão sobre a


incidência ou não das imunidades absolutas e relativas dos arts. 181 e 182
do CP.
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á
por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública
com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a
perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à
freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a
serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da
família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência
doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º, no inciso IV do art.
3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas
Delegacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência
doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e
a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de
promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-
governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da
violência doméstica e familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo
de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I
quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito
respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos
relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da
violência doméstica e familiar contra a mulher.
ASSISTÊNCIA À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
ALGUNS DISPOSITIVOS:
Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de
forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da
Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre
outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o
acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os
serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos
necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.
§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular
seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou
transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios
do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso.
A REDE DE PROTEÇÃO À MULHER VÍTIMA DE
VIOLÊNCIA
 Essa rede compreende a atuação articulada envolvendo instituições/serviços
governamentais, não-governamentais e a comunidade, visando ao
desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção da violência contra a
mulher, sua devida proteção e o processamento dos casos.
 A rede de atendimento abrange o conjunto de ações e serviços de diferentes
setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e
da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento,
à identificação e ao encaminhamento adequados das mulheres em situação
de violência e à integralidade e à humanização do atendimento.
UM EXEMPLO: A REDE DE ATENDIMENTO DE BIRITINGA-BA

Fonte: ARAÚJO: 2017, p. 49.


SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE ATENDIMENTO À MULHER
VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
Vide o art. 35 da Lei Maria da Penha.
 Centros Especializados de Atendimento à Mulher em situação de violência
(Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de Atendimento
à Mulher em situação de Violência, Centros Integrados da Mulher);
 Serviços de Abrigamento (Casas Abrigo, Casas de Acolhimento
Provisório/Casas-de-Passagem);
 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher;
 Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas;
 Promotorias Especializadas;
 Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
AGÊNCIAS E ATORES DO SISTEMA DE JUSTIÇA NA REDE DE
PROTEÇÃO E ATENDIMENTO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
 Delegacias (especializadas ou não): delegados(as), agentes, escrivães,
etc, destacando a Autoridade Policial;
OBS: Devem ser lembrados também os servidores que atuam na perícia
(IML, ICs, etc.)
 Judiciário: membros da magistratura;

 Defensoria Pública: defensores públicos.

 Ministério Público: promotores públicos.

 Equipe Multidisciplinar: psicólogos ,assistentes sociais, etc.


AS DEAMs
 Como unidades especializadas da Polícia Civil, as DEAMs realizam ações de
prevenção, proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e
violência sexual contra as mulheres, entre outros. Entre as ações e
atribuições, cabe destacar: registro de Boletim de Ocorrência, solicitação ao
juiz das medidas protetivas de urgência nos casos de violência doméstica e
familiar contra as mulheres, realização da investigação dos crimes.
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e
planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e
familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias
Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), de Núcleos Investigativos
de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a
investigação das violências graves contra a mulher.
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais,
tendo por diretrizes:
(...)
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres,
em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
(...)
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal,
do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;

ATENÇÃO! As delegacias são a porta de entrada do sistema. É importante que,


durante o atendimento, as mulheres não passem por um processo de
revitimização.
A AUTORIDADE POLICIAL
 Em regra, desempenha função de Polícia Judiciária propriamente dita (ao
investigar ilícitos penais, p. e.) e função de auxílio ao Judiciário para o
cumprimento de medidas diligências relacionadas à atividade jurisdicional
criminal, como mandados de prisão e de busca e apreensão, etc.
 Mas na Lei Maria da Penha, a Autoridade Policial assumiu outras atribuições,
de natureza híbrida ou mista, em que não atua apenas em atividade própria
de investigação ou auxiliando o Poder Judiciário.
 Há medidas que podem ser determinadas pela Autoridade Policial que tem
nítido caráter administrativo, decorrente da assunção de uma espécie de
função de “garante” da proteção à mulher em situação de violência. Vejamos
exemplos adiante:
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato,
as providências legais cabíveis.
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a
autoridade policial deverá, entre outras providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério
Público e ao Poder Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro,
quando houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do
local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis,
inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo
competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável.
E a mais importante:
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da
ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se
apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido
da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros
exames periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes
criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências
policiais contra ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição
responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos do Estatuto do
Desarmamento;
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência
sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente.
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência
e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por
hospitais e postos de saúde.
OBS: Lembrando que nos termos do Art. 12-C, II, o delegado de polícia, quando o Município não
for sede de comarca, pode determinar medida protetiva de urgência.
PODER JUDICIÁRIO
 Cabe ao Juiz ou Juíza que atua nos casos judiciais relativos à violência
contra a mulher tomar as providências cabíveis, tanto as de natureza
propriamente jurisdicional como outras de caráter mais administrativo.
 Deve presidir o processo judicial, conduzindo o procedimento – inclusive a
fase de instrução com a colheita de provas – até uma decisão final.
 Deve a autoridade atuar como fiadora ou garantidora da proteção efetiva
da mulher vítima de violência e, dentre as medidas mais importantes,
estão as chamadas medidas protetivas de urgência.
COMPETÊNCIA
Onde forem implantados, os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem
competência para julgar as causas cíveis e criminais relacionadas a esse tipo de violência.
Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável
no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Exceção legal: Art. 14-A, § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens. É evidente que a possível
demora para exame dessa matéria não se coaduna com a razoável celeridade que se espera no
julgamento da questão relacionada à violência sofrida pela mulher.

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o
Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
II - do domicílio do agressor.
MEDIDAS QUE PODEM SER TOMADAS PELO MAGISTRADO
Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar
será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes
previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no
Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas
de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de
violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do
governo federal, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e
familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante
da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o
afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de
divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável
perante o juízo competente.
Mas há outras medidas que podem ser tomadas pelo magistrado ou pela
autoridade policial, como o imediato afastamento do lar do agressor.

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou
psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o
agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado
disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.
A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
- ASSISTÊNCIA DE DEFENSOR -
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação
de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado,
ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e
familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária
Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento
específico e humanizado.
ATENÇÃO! Ao longo de todo o procedimento, a mulher vítima de violência
sendo pobre tem direito a defensor público ou advogado ad hoc.
A EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser
criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada
por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe
forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério
Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas,
voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos
adolescentes.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá
determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe de
atendimento multidisciplinar.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais
decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e
de segurança, entre outros;
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em
situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas
administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
SÍNTESE DAS MAIS RECENTES ALTERAÇÕES NA LEI
MARIA DA PENHA
 Lei nº 13.827/19 - permitiu a aplicação de medida protetiva de urgência, pela
autoridade judicial ou policial, à mulher em situação de violência doméstica e familiar
ou a seus dependentes. O dispositivo também determinou que o registro da medida
protetiva de urgência seja feito em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ).
 Lei nº 13.836/19 - tornou obrigatório informar quando a mulher vítima de agressão
doméstica ou familiar é pessoa com deficiência.
 Lei nº 13.871/19 - determinou a responsabilidade do agressor pelo ressarcimento dos
serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento às vítimas de
violência doméstica e familiar e aos dispositivos de segurança por elas utilizados.
 Lei nº 13.882/19 - estabeleceu a garantia de matrícula dos dependentes da mulher
vítima de violência doméstica e familiar em instituição de educação básica mais
próxima de seu domicílio.
 Lei nº 13.880/19 - previu a apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos
de violência doméstica.
 Lei nº 13.894/19 - fixou a competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher para ação de divórcio, separação, anulação de casamento ou dissolução
de união estável. Também estabeleceu prioridade de tramitação dos procedimentos
judiciais que tenha como parte vítima de violência doméstica e familiar.
 Lei nº 13.984/20 - estabeleceu obrigatoriedade referente ao agressor, que deve
frequentar centros de educação e reabilitação e fazer acompanhamento psicossocial.
 Lei nº 14.188/21 - definiu o programa de cooperação “ Sinal Vermelho contra a violência
doméstica” como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar
contra a mulher; modificou a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida
contra a mulher por razões da condição do sexo feminino; e criou o tipo penal de
violência psicológica contra a mulher.
 Lei nº 14.310/22 - determinou o registro imediato, pela autoridade judicial, das medidas
protetivas de urgência em favor da mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou de seus dependentes.
OUTRAS MEDIDAS
 Em 2021, foram publicadas três normas diretamente relacionadas à Lei Maria
da Penha. Entre elas, a Lei nº 14.132/21, que inclui artigo no Código Penal (CP)
para tipificar os crimes de perseguição (stalking), e a Lei nº 14.149/21, que
institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, com o intuito de prevenir
feminicídios.
 Já a Lei n° 14.164/21 altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
para incluir conteúdo sobre a prevenção à violência contra a mulher nos
currículos da educação básica, além de instituir a Semana Escolar de Combate
à violência contra a Mulher, a ser celebrada todos os anos no mês de março.

Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2022/eleicoes-2022-periodo-


eleitoral/lei-maria-da-penha-completa-16-anos-e-muda-realidades-de-mulheres-em-situacao-de-
violencia-no-
pais#:~:text=Em%20julho%20de%202021%2C%20a,raz%C3%B5es%20da%20condi%C3%A7%C3%A3o%20
do%20sexo Acesso: 29/01/2023
O FORMULÁRIO DE RISCO
 Sobre a Lei nº 14.149/21, que institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, a
titular da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM/MMFDH), Ana
Muñoz Reis, afirma que a ferramenta é essencial para prevenir feminicídios e orientar a
atuação da órgãos de segurança pública.
 “São 27 questões que mapeiam a situação da mulher em situação de violência, do
agressor e o histórico de violência na relação entre os dois. O objetivo da aplicação do
formulário é unificar a avaliação de casos com potencial risco de violência nas relações
domésticas”, enfatiza a secretária.
 O formulário é utilizado na prevenção e enfrentamento de crimes e violência doméstica
e familiar contra a mulher e deve ser aplicado, preferencialmente, pela Polícia Civil no
momento de registro da ocorrência ou, em sua impossibilidade, pelo Ministério Público
ou pelo Poder Judiciário, por ocasião do primeiro atendimento à mulher vítima de
violência doméstica e familiar.
 O questionário permite, por exemplo, a classificação de três níveis de
gravidade de risco: baixo, médio e elevado, mediante a avaliação das
condições das vítimas. O formulário ainda indica o risco de nova agressão
ou de feminicídio, além de ajudar na elaboração de um plano de segurança
e de apoio.
 Entre as questões a serem respondidas também estão o tipo de violência a
mulher já sofreu, se o agressor já descumpriu medida protetiva
anteriormente, se faz uso de álcool e outras drogas e se já usou arma de
fogo em ameaças. Traz perguntas também sobre os filhos do casal, a cor da
vítima e a situação de moradia.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2022/eleicoes-2022-periodo-
eleitoral/lei-maria-da-penha-completa-16-anos-e-muda-realidades-de-mulheres-em-situacao-de-
violencia-no-
pais#:~:text=Em%20julho%20de%202021%2C%20a,raz%C3%B5es%20da%20condi%C3%A7%C3%A
3o%20do%20sexo Acesso: 29/01/2023
PROCEDIMENTO
(instrução e julgamento)
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão
as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica
relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido
nesta Lei.
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da
Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a
execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,
conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas
de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência
judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de
separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de
união estável perante o juízo competente;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do
agressor.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da
ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já
concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares
e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá
a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento
do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do
processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem
prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público.
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao
agressor .
AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
Podem ser determinadas em relação:
- ao agressor: suspendendo ou restringindo seus direitos;
- à vítima: visando a sua efetiva proteção.

O sistema de justiça criminal, em caso de violência contra a mulher, deve atuar


diligentemente para proteger a vítima. Isso mostra a importância de uma atuação
articulada, em rede.
ATENÇÃO 1! A concessão de medidas protetivas de urgência independem de
procedimento formal já instaurado.
ATENÇÃO! 2 ! Como toda medida cautelar, alguns doutrinadores entendem que
devem ser considerados os requisitos fumus boni juris (fumus comissi delicti) e
periculum libertatis.
Vide art. 12, III c/c o art. 18, I da Lei:
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de
imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no
Código de Processo Penal:
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao
juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de
urgência;
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas
de urgência;
NATUREZA JURÍDICA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA
 Há uma discussão doutrinária e jurisprudencial sobre a natureza jurídica das
medidas cautelares. Se são de natureza cível ou criminal, ou se tem natureza
híbrida.
 Essa discussão envolve também o debate em torno da necessidade de equilibrar
a efetividade da norma e o respeito a direitos e garantias de um devido processo
legal.(GARANTISMO-EFETIVIDADE)
 A questão ainda não está pacificada. Há quem defenda a tese de que algumas
medidas tem nítido caráter penal e, dessa forma, somente poderiam ser
requeridas pelo titular da ação penal, ou seja, o representante do MP. Exemplo:
as medidas protetivas de urgência do art. 22, incisos I, II e III, “a”, “b” e “c”
seriam espécies de medida cautelar penal. Já outras, especificamente aquelas
que não impliquem em certa constrição da liberdade do(a) agressor(a) teriam
natureza de medida cautelar cível.
NATUREZA HÍBRIDA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA

“1. Com efeito, esta Corte Superior firmou entendimento no sentido de que: "As
medidas protetivas previstas no art. 22, I, II, III, da Lei n. 11.340/06, possuem nítido
caráter penal, pois visam garantir a incolumidade física e mental da vítima, além de
restringirem o direito de ir e vir do agressor. Por outro lado, as elencadas nos incisos
IV e V possuem natureza eminentemente civil" (AgRg no REsp 1.441.022/MS, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIAS, QUINTA TURMA, DJe 2/2/2015). Assim, diante de sua
natureza jurídica penal, para que as medidas protetivas sejam concedidas, deve
haver ao menos indícios de autoria e materialidade de delito praticado com violência
doméstica e familiar contra a mulher (fumus boni juris) e o perigo da demora
(periculum in mora), consubstanciado na urgência da medida, a fim de proteger a
mulher de eventual reiteração criminosa.” (grifamos) (STJ, AgRg no AREsp 1650947 /
MG)
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O
AGRESSOR
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 /12/2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e
reeducação;e
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento
individual e/ou em grupo de apoio.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras
previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao
Ministério Público.

ATENÇÃO!! O poder geral de cautela é admitido no âmbito do processo civil,


mas é discutível sua admissibilidade no âmbito do processo penal.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas
condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22
de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou
instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a
restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor
responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de
incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o
juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto
no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil).
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À
OFENDIDA
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de
educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para
essa instituição, independentemente da existência de vaga.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas
e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo.
A QUESTÃO DA COMPETÊNCIA RECURSAL
"(...)Nesse contexto, embora a Lei nº 11.340/06 tenha outorgado ao Juizado Especial
de Violência Doméstica competência para apreciação de questões de natureza cível e
criminal decorrentes de violência doméstica, não estabeleceu a competência recursal
sobre as decisões dali derivadas. Tal omissão legislativa vem sendo debatida pela
doutrina e analisada pela jurisprudência por meio da compreensão no sentido de
que a competência recursal é firmada pela natureza da medida protetiva impugnada,
com observância do princípio da especialização. Ou seja, para medidas protetivas que
ostentem natureza cível, firma-se a competência da Turma Cível para conhecimento e
julgamento do recurso manejado e, para medidas protetivas de natureza penal, a
competência da Turma Criminal para apreciação da insurgência recursal."
(grifamos) Acórdão 1256663, 07208908320198070000, Relator: J.J. COSTA CARVALHO,
1ª Turma Criminal, data de julgamento: 10/6/2020, publicado no PJe: 29/6/2020.
TRIBUNAL DO JURI E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Os crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri. Porém, sendo
a vítima mulher e tendo o fato acontecido em decorrência de vínculo
doméstico, a instrução do processo deve ocorrer nas varas especializadas de
combate à violência doméstica, sob pena de a vítima de tentativa de homicídio
ficar privada dos benefícios da Lei Maria da Penha. No fim da primeira fase,
antes de pronunciado o réu, é que o processo deve ser encaminhado à Vara do
Júri para o julgamento em plenário. Ainda que o processo deva tramitar no
JVDFM, a sentença de pronúncia cabe ao Presidente do Tribunal de Júri (CPP,
art. 407). Assim, o deslocamento da ação ocorrerá após a inquirição das
testemunhas e das alegações finais e não depois da pronúncia. (DIAS)
RESTRIÇÕES
 A nova lei proibiu expressamente a substituição da pena privativa de liberdade
por pena restritiva de direitos, bem como as penas de fornecimento de cestas
básicas ou outras de prestações pecuniárias.
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra
a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como
a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

 Também limita o princípio da disponibilidade da ação penal condicionada.


Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de
que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da
denúncia e ouvido o Ministério Público.
Também veda a aplicação das medidas despenalizadoras dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais, a exemplo da transação penal e dos sursis
processual.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099,
de 26 de setembro de 1995.

Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a


mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico
impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos.
A INOVAÇÃO DE OBRIGAR O(A) AGRESSOR(A) A
RESSARCIR AS DESPESAS COM A VÍTIMA (2019)
Art. 9º (...)
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e
dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados,
inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos
relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação
de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de
Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os
serviços.
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e
disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar
amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor.
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus
de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar
atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada.
ÚNICO TIPO PENAL NA LMP
Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência

Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência


Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz
que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá
conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.
OBS: Esse tipo penal foi incluído na Lei em 2018.
REFERÊNCIAS
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 7. ed. São Paulo,
Saraiva, 2010.
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. 6. ed. Salvador:
Juspodivm, 2019.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Penal Especial Comentada. 4. ed.
Salvador, JusPodium, 2016.
SMANIO, Giampaolo Pagglio & MORAES, Alexandre de. Legislação Penal
Especial. 12. ed. São Paulo, Atlas, 2012

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