Energia Eólica No Estado Da Paraíba: Produção, Perspectivas E Desafios

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ENERGIA EÓLICA NO ESTADO DA PARAÍBA: PRODUÇÃO,

PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Wandson do Nascimento Silva¹, Adryane Gorayeb²

¹Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia


Universidade Federal do Ceará – Fortaleza/CE
wandsongba@hotmail.com

²Profª Drª do Departamento de Geografia


Universidade Federal do Ceará - Fortaleza/CE
gorayeb@ufc.com

Eixo: Territorialidades, conflitos e planejamento ambiental

Resumo
Nas últimas décadas do século XX e primeiras do século XXI, vêm acontecendo diversas discussões a nível
mundial sobre as questões ambientais, evidenciando a busca por fontes alternativas de energia que apresentem
baixos impactos ambientais. Assim, o presente trabalho teve como finalidade apresentar informações sobre a
produção, perspectivas e desafios da energia eólica na Paraíba. O estado da Paraíba apresenta-se com significativo
potencial de produção de energia eólica, uma vez que atualmente conta com um total de 15 usinas produtoras, as
quais geram uma potência de 157.200 kW e nos próximos anos devem entrar em funcionamento mais 15 usinas
com potência outorgada de 471.905 kW. Destacam-se, portanto, incentivos como a elaboração do Atlas eólico da
Paraíba (2008) e a instituição da Política Estadual de Incentivo à Geração e Aproveitamento da Energia Solar e
Eólica, através da Lei n. 10.720/2016.

Palavras chave: Energia eólica. Planejamento Energético. Fontes alternativas.

1 Introdução

As últimas décadas do séc. XX e as primeiras do séc. XXI vêm sendo marcadas por uma
sequência de discussões relacionadas as questões sobre o meio ambiente em diversos aspectos.
Cunha; Guerra (2003), afirmam que é a partir dessas discussões que ocorreram após a segunda
guerra mundial, que a humanidade começa a perceber que os recursos naturais são finitos e que
se utilizados de forma irracional podem representar a extinção de sua própria espécie.

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Destacam-se, portanto, algumas conferências realizadas em escala global, que reuniram
grande parte dos países com a finalidade de discutir a questão ambiental e traçar metas que
viessem a desencadear ações mitigadoras de problemas existentes, como também a efetivação
de um desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, houve a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo; em 1992 ocorreu no Rio
de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, ou,
ainda, Cúpula da Terra (Eco-92); em 2002 houve em Johanesburgo a Cúpula Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio+10); e em 2012 a Conferência da ONU sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) no Rio de Janeiro.
É a partir dessas discussões que surgem os grandes desafios, principalmente no que
tange à demanda da sociedade em relação à oferta, onde deve-se pensar numa sociedade
consciente pautada nos modelos postos pelo desenvolvimento sustentável e na sustentabilidade.
É a partir desse entendimento e associado aos recursos tecnológicos disponíveis, que a
sociedade, o governo e empresas vêm buscando alternativas que supram suas necessidades, sem
que aconteçam agressões severas ao meio ambiente.
Uma alternativa que surge nesse cenário são as fontes de energia renováveis. Em se
tratando do Brasil, atualmente a principal fonte energética vem das hidrelétricas, porém, nos
últimos anos vêm crescendo os investimentos relacionados à geração de outras fontes,
destacando-se a produção de energia de fonte eólica, através da implantação de parques eólicos
em três regiões do país, tendo o Nordeste uma significativa participação. É notório que a
implantação dos parques produtores de energia eólica no Brasil surge como potenciais agentes
colaborativos na geração de energia limpa, uma vez que os ventos são uma fonte natural
inesgotável. Contribuindo, com o desenvolvimento de práticas sustentáveis, bem como de
preservação e conservação dos recursos naturais disponíveis no meio.
Todavia, apesar da energia eólica ser de matriz renovável e sua geração não emitir gases
do efeito estufa, especialmente o CO2, os processos de instalação e operação de usinas eólicas
não estão isentos de impacto ambiental. Esse pressuposto é discutido na literatura nacional e

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internacional a partir da publicação de Meireles (2011), que abordou os inúmeros impactos
ambientais que a instalação de parques eólicos provocou em ambientes litorâneos do Ceará
(desmonte de dunas, soterramento de lagoas de água doce, desmatamento e aterramento de
manguezais, etc.), e de estudos subsequentes que identificaram uma série de problemas sociais
nas comunidades pesqueiras que perderam territórios de uso tradicional, devido a processos
fraudulentos de compra e aquisição de grandes faixas de terra pelos empreendedores
(GORAYEB et al., 2018; BRANNSTROM et al., 2017).
Desta forma, objetiva-se com o presente trabalho apresentar uma sistematização de
informações referentes à produção de energia a partir de fonte eólica, permitindo uma análise
sobre as perspectivas e desafios da operação da atividade energética no estado da Paraíba. A
metodologia empregada no desenvolvimento da pesquisa foi predominantemente analítica, a
partir do levantamento e sistematização de dados secundários, planos de governo, relatórios
técnicos e pesquisas acadêmicas sobre a temática, recorrendo-se aos sites oficiais dos governos
e municípios, órgãos de fiscalização, associações e instituições de pesquisa nacionais.

2 A Sustentabilidade e o Desenvolvimento Sustentável no contexto da Energia Eólica

Atualmente, muitos são os problemas encontrados na sociedade, advindos do aumento


populacional, crescimento da malha urbana e uso irregular dos recursos naturais. Há algumas
décadas vêm sendo discutido, em diversos países, a problemática ambiental e como o uso de
tecnologias disponíveis podem colaborar com ações mitigadoras, assim como gerar um
desenvolvimento socioeconômico pautado na sustentabilidade.
Surgem, nesse sentido, conceitos que pautam essas discussões e que vêm sendo
introduzidos como fundantes para o entendimento da relação dinâmica entre o homem e o meio.
O primeiro conceito aqui abordado é o de sustentabilidade, o qual é concebido por vários
autores, entre eles Boff (2012) e Lozano (2012), que leva em consideração dimensões da
sustentabilidade, tais como os aspectos ambientais, econômicos ou sociais.

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Desta forma, apresenta-se o conceito de sustentabilidade de acordo com Boff (2012),
onde o mesmo deve ser entendido como uma ação cujo objetivo seja a preservação das
condições energéticas, físicas e químicas que permitam sustentar todos os seres vivos,
mantendo, portanto, a própria Terra viva. Visando desta forma, a continuidade da vida e
atendendo as necessidades da geração presente e das futuras, de modo que o capital natural seja
mantido e enriquecido na capacidade de se regenerar, reproduzir e coevoluir. Assim, a
sustentabilidade deve estar sempre alinhada a temas mais amplos como o desenvolvimento,
educação, sociedade e indivíduo.
Corroborando com o entendimento do autor acima citado, Lozano (2012) afirma que a
sustentabilidade condiz com o crescimento econômico, tendo por base a justiça social e a
eficiência na utilização dos recursos naturais. Outro conceito que se difundiu na década de 1970
do século XX foi o de desenvolvimento sustentável. Este termo surge nas discussões acerca das
questões ambientais durante a realização da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972.
Contudo, o desenvolvimento sustentável (DS) torna-se amplamente divulgado a partir
de 1987, com a publicação do Relatório Brundtland, intitulado como “Nosso Futuro Comum”,
no qual o DS é concebido como o desenvolvimento que visa suprir as necessidades presentes,
sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades
(ONU, 1987). Assim, o referido relatório busca apresentar análises referentes ao modelo de
desenvolvimento adotado por países desenvolvidos, bem como a reprodução desses modelos
pelos países em desenvolvimento, enfatizando a utilização dos recursos naturais de forma
desordenada, sem levar em consideração a capacidade de suporte da própria natureza.
Nascimento (2012) aborda três dimensões importantes relacionadas ao DS, à primeira
trata da dimensão ambiental, destacando que os sistemas de produção e consumo devem
garantir a capacidade de autorreparação dos ecossistemas. A segunda dimensão é a econômica,
a qual entende que uma contínua inovação tecnológica pode permitir a saída do ciclo fóssil de
energia e desmaterializar a economia. A última dimensão trata-se do social, onde os cidadãos

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possuam o mínimo necessário para uma vida digna e que ninguém extraia bens, recursos
naturais e energéticos que venham prejudicar outros indivíduos.
Nesse sentido, surgem os estudos envolvendo o uso de fontes renováveis que permitem
o desenvolvimento econômico e social em diversas regiões, de forma consciente. É uma
realidade existente em diversas partes do planeta, onde a partir das discussões e informações
disseminadas através de documentos assinados por grande parte dos países, sejam
industrializados ou em desenvolvimento, traçam metas que visam diminuir os efeitos nocivos
ao meio natural e incorporar um desenvolvimento pautado na sustentabilidade.
Atualmente, com a tecnologia disponível, a sociedade consegue desenvolver atividades
econômicas com baixo grau de impactos socioambientais. Surge no Brasil uma alternativa que
vem crescendo nos últimos anos no setor energético, que é a produção da energia eólica. De
acordo com a ANEEL (2002), denomina-se energia eólica como sendo:

[...] a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu


aproveitamento ocorre através da conversão da energia cinética de translação em
energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas, também denominadas
aerogeradores, para a geração de energia elétrica, ou através de cataventos e moinhos
para trabalhos mecânicos, como bombeamento de água (p. 63).

Apesar da matriz de energia elétrica no Brasil de fonte hídrica representar 60,76%, a


eólica já aparece em quarto lugar com 8,56% da produção elétrica, estando atrás apenas da
energia de fonte fóssil (14,98%) e da biomassa (8,61%) e na frente da energia proveniente de
importação (4,76%), nuclear (1,16%) e solar (1,13%) (ANEEL, Fevereiro/2019).
Esse cenário demonstra que, apesar da produção de energia proveniente de fonte eólica
ser recente no Brasil, a mesmo vem crescendo continuamente em decorrência de seus aspectos
competitivos no mercado. Isso dá-se pelo avanço tecnológico, modernização da transmissão e
a necessidade de gerar energia limpa de fontes renováveis mais baratas, uma vez que a principal
matriz energética brasileira sofre com a sazonalidade das chuvas, ocasionando a escassez de
água nos reservatórios.

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3 Produção, Perspectivas e Desafios da Energia Eólica no Estado da Paraíba

Um marco importante no Brasil foi a criação do Programa de Incentivo às Fontes


Alternativas (Proinfa), instituído pela Lei n. 10.438/2002 e tendo como objetivo o aumento da
participação elétrica oriunda de empreendimentos de produtores autônomos junto ao Sistema
Interligado Nacional (SIN), tendo por base fontes limpas, à exemplo da eólica (BRASIL, 2002).
De acordo com o BIG1, em fevereiro de 2019 encontravam-se em funcionamento um
total de 595 usinas produtoras de energia eólica em todo o Brasil. Por sua vez, a região Nordeste
desponta como a maior região produtora de energia eólica do país, com 494 usinas instaladas,
apresentando significativo abastecimento tanto em nível nacional, como também regional,
como pode ser visualizado no Quadro 1.

UF Nº de Usinas em Operação Potência Total


Rio Grande do Norte 149
Bahia 140
Ceará 81
Rio Grande do Sul 81
Piauí 60
Pernambuco 35
Santa Catarina 16 14.721.688,86 kW
Paraíba 15
Maranhão 13
Sergipe 01
Rio de Janeiro 01
Paraná 01
São Paulo 01
Minas Gerais 01
Total 595 14.721.688,86kW

Quadro 1: Distribuição das Usinas e Potências Instaladas no Brasil em Fevereiro de 2019


Fonte: ANEEL (2019).

1
http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/GeracaoTipoFase.asp

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Como pode ser analisado no Quadro 1, a região Nordeste apresenta-se como a maior
produtora de energia de fonte eólica em comparação as demais regiões do Brasil, com um total
de 494 usinas em operação. Isso dá-se através, principalmente, da incidência de ventos fortes
que propicia a geração de energia durante todo o ano. Especificamente no caso do estado da
Paraíba, esse potencial eólico dá-se pela sua própria localização, estando situado na porção leste
da região Nordeste, também conhecida como “Ponta” do Nordeste, próximo a zona de
convergência intertropical, onde recebe os ventos alísios. Estes ventos fazem parte de um
considerável sistema de ar presente no globo, vindo do hemisfério norte em direção ao equador.
São ventos fortes e contínuos e, portanto, de grande relevância para a geração de energia eólica
(COLTRI, 2006).
Atualmente, o estado da Paraíba possui, em funcionamento, 15 usinas produtoras de
energia elétrica de fonte eólica, distribuídas da seguinte maneira: 3 parques no município de
Mataraca, situada no Litoral Norte do estado, 2 parques em São José do Sabugi e 1 parque em
Santa Luzia, ambos localizados na mesorregião da Borborema, como pode ser visualizado
graficamente na Figura 1.

Figura 1: Localização dos Parques de Energia Eólica na Paraíba

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A produção de energia de fonte eólica no estado teve início em 2007 com a implantação
de apenas uma usina produtora. Por sua vez, em 2009 houve um forte investimento na
implantação desses parques produtores, sendo caracterizado como o ano que mais se construiu
empreendimentos do segmento na Paraíba até então, com um total de 10 usinas. No ano
seguinte, apenas 1 usina entrou em operação e, em 2017 novos empreendimentos voltaram a
surgir, principalmente devido à Lei estadual n. 10.720/2016 de incentivos à produção de energia
de fonte eólica, entrando em operação 3 parques produtores instalados pioneiramente na região
da Borborema (Serra), gerando uma potência de 157.200 kW. O Quadro 2 apresenta
detalhadamente as informações sobre o panorama das usinas em operação no estado da Paraíba,
obtidas junto ao BIG, disponível pela ANEEL (Fevereiro/2019).

USINAS EM OPERAÇÃO
POTÊNCIA POTÊNCIA DATA DE
USINA OUTORGADA FISCALIZADA OPERAÇÃO PROPRIETÁRIO MUNICÍPIO
(KW) (KW)
28-11-2007 SPE Millenium
Millennium 10.200 10.200 Central Geradora Mataraca - PB
Eólica S.A
14-01-2009 Vale dos Ventos
Presidente 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
14-01-2009 Vale dos Ventos
Coelhos IV 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
14-01-2009 Vale dos Ventos
Mataraca 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
17-01-2009 Vale dos Ventos
Atlântica 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
31-01-2009 Vale dos Ventos
Albatroz 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
31-01-2009 Vale dos Ventos
Camurim 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
31-01-2009 Vale dos Ventos
Caravela 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A

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10-02-2009 Vale dos Ventos
Coelhos II 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
05-03-2009 Vale dos Ventos
Coelhos III 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
05-03-2009 Vale dos Ventos
Coelhos I 4.800 4.800 Geradora Eólica Mataraca - PB
S.A
28-11-2010 Cardus Energia
Vitória 4.500 4.500 Mataraca - PB
Ltda
30-09-2017 Canoa Energia São José do
Canoas 31.500 31.500
Renovável S.A Sabugi – PB
30-09-2017 Lagoa 2 Energia São José do
Lagoa II 31.500 31.500
Renovável S.A Sabugi – PB
31-10-2017 Lagoa 1 Energia Santa Luzia – PB
Lagoa I 31.500 31.500
Renovável S.A

Quadro 2: Usinas Eólicas no Estado da Paraíba (Fevereiro/2019)


Fonte: ANEEL (Fevereiro/2019).

As perspectivas é que nos próximos anos novos empreendimentos entrem em operação


no estado. No BIG já se encontram cadastradas 15 novas usinas, que ainda não tiveram suas
obras iniciadas. Dessas, 8 serão instaladas no município de Santa Luzia-PB, 3 em São José do
Sabugi-PB, 2 abrangendo os municípios de Areia de Baraúnas e Santa Luzia, 1 entre os
municípios de Areia de Baraúnas e São Mamede e 1 compreendendo áreas dos municípios de
Areia de Baraúnas, Santa Luzia e São Mamede, com uma potência outorgada de 471.905 kW
(ANEEL, Fevereiro/2019).
De acordo com o mapeamento realizado e apresentado no Atlas Eólico da Paraíba
(PARAÍBA, 2018), existe no estado um total de sete áreas distintas com potencialidade na
produção de energia eólica e que, aproximadamente 89% desse potencial estimado encontram-
se localizados nas áreas de serra e no Planalto da Borborema. Apresenta-se, portanto, o Quadro
3 com uma estimativa do potencial eólico distribuído por áreas, tendo por base 120 metros de
altura e velocidade média anual dos ventos igual ou superior a 7.5 (m/s).

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Área Capacidade Máxima Instável (MW)
Mataraca 317 MW
Curimataú 959 MW
Serra da Borborema 1.475 MW
Seridó Oriental 3.989 MW
Seridó Ocidental 1.452 MW
Serra de Teixeira 1.236 MW
São João do Tigre e Camalaú 451 MW
Quadro 3: Potencial Eólico Estimado no Estado da Paraíba
Fonte: Paraíba (2018).

A partir do exposto, percebe-se que a Paraíba possui perspectivas de crescimento na


produtividade nos próximos anos. Com esses levantamentos realizados é possível notar que
novas empresas venham despertar interesses em instalar seus empreendimentos e produzir
energia de fonte eólica. Porém, atrelado aos empreendimentos já existentes e aos futuros que
por ventura venham instalar-se no estado surgem os desafios a serem enfrentados.
Alguns incentivos vêm colaborando para a participação de projetos de instalação de
parques eólicos na Paraíba. Em 2016, foi instituído pelo governo estadual a Lei n. 10.720/2016
que versa sobre a Política Estadual de Incentivo à Geração e Aproveitamento da Energia Solar
e Eólica (PARAÍBA, 2016). Outro marco importante foi a publicação do Atlas Eólico da
Paraíba, disponibilizado em 2018, o qual apresenta informações basilares que atrai novos
investidores para o estado.
Ao refletirmos sobre os desafios da produção da energia eólica, devemos levar em
consideração dois fatores importantes: o ambiental e o social. Se, por um lado, a produção de
energia a partir de fonte renovável é inesgotável e revela-se como uma importante alternativa
para suprir a necessidade da sociedade, por outro, é necessário analisar e compreender os
mecanismos que permitem a instalação dos empreendimentos a partir de um planejamento
ambiental ordenado e responsável. Talvez esse seja o principal desafio do setor energético,
compreender as possíveis interferências e impactos socioambientais oriundos da implantação

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dessas usinas produtoras, que na maioria das vezes se distancia das questões que precisam ser
enfrentas no campo.
Com base no exposto pela EPE (2018) ao analisarmos os impactos socioambientais,
especificamente, na Paraíba, se torna importante considerar as áreas de expansão de
empreendimentos produtores de energia eólica, uma vez que ocorre no litoral sobre vegetação
de restinga de Mata Atlântica e no interior na Caatinga, biomas que apresentam
vulnerabilidades e fragilidades que nem sempre são observadas. Em decorrência disso, surgem
os seguintes problemas: fragmentação da vegetação, com ênfase à florestal, associada à inserção
das linhas de transmissão e, consequentemente, impactos sobre a paisagem ecológica; impacto
visual; poluição sonora; mortalidade de aves e morcegos; conflitos fundiários e disputas por
recursos naturais.
Soares (2016) aponta alguns impactos ambientais oriundos da implantação dos parques
eólicos no município de Mataraca-PB, apresentando suas causas e o referido impacto. Tendo
como causa os aerogeradores, destacou-se o impacto visual, a emissão eletromagnética e os
ruídos com som de 1 km. Os cortes e aterros modificaram a paisagem natural e alteraram
ambientalmente os ecossistemas de preservação permanente. Já a implantação de vias de
acesso, a retirada da vegetação e o volume de areia removidos, acarretaram, respectivamente,
no soterramento de dunas fixas, desmatamento da vegetação nas dunas fixas e soterramento de
lagoas interdunares.
É sabido que para a implantação e operação dos parques produtores de energia de fonte
eólica existe a necessidade da execução do licenciamento ambiental, o qual caracteriza-se como
de baixo potencial de impacto ambiental, regulado pela Resolução CONAMA n. 279 de 2001
e sua atualização através da Resolução CONAMA n. 462 de 2014. Para tanto, necessita-se da
realização dos Estudos de Impactos Ambientais e seus respectivos relatórios (EIA-RIMA) ou a
partir do Relatório Ambiental Simplificado (RAS), a depender do potencial grau de impactos
ambientais. Apesar dessa obrigatoriedade, existem possíveis lacunas entre o que está contido

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oficialmente nesses documentos e a realidade encontrada nas áreas onde estão instalados esses
empreendimentos.

4 Considerações Finais

De acordo com o exposto, evidencia-se que vem crescendo o número de parques


produtores de energia eólica na Paraíba, bem como sua produção, tendo como incentivos as
políticas públicas de geração de energia de fontes renováveis, a forte demanda por energia,
tanto por parte das indústrias como pela sociedade, a disponibilização de tecnologia e a
competitividade de mercado em relação a outras fontes produtoras de energia.
Portanto, a energia eólica se apresenta com elevada potencialidade no que se refere à
produção de energia, geração de empregos e renda e desenvolvimento sustentável. Contudo, é
importante salientar que, apesar dos grandes benefícios, a implantação desse modelo produtivo
pode acarretar sérios danos socioambientais, tais como, poluição visual, danos a fauna e flora,
empasses fundiários e conflitos sociais por recursos naturais. Por isso, é importante ressaltar a
necessidade de estudos desenvolvidos no âmbito do planejamento ambiental, fundamentado na
sustentabilidade e no DS.
Em relação ao estado da Paraíba, o mesmo vem aumentando sua produção e implantação
de usinas produtoras nos últimos anos, e atualmente conta com o Atlas Eólico da Paraíba
(2018), o qual contribui para o conhecimento das potencialidades locais, possibilitando os
investimentos por parte de empreendimentos interessados na produção e comercialização da
energia de fonte eólica. Como também da Lei estadual n. 10.720/2016 que incentiva a produção
de energia de fonte eólica.
Em fevereiro de 2019, a Paraíba possuía um total de 15 usinas em operação, gerando
uma potência de 157.200 kW. Projeções indicam que até 2023, 15 novos empreendimentos
devem iniciar o processo de instalação e operação no estado, aumentando consecutivamente a
produção e comercialização da energia produzida, com potência outorgada de 471.905 kW,
como também gerar emprego e renda tanto na Paraíba como a nível regional. Para tanto deve

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enfrentar desafios relacionados a efetivação das políticas voltadas ao setor energético, e a
competitividade de mercado. Deve-se também pensar do ponto de vista social e ambiental,
levando em consideração os aspectos naturais locais e as comunidades que são atingidas direta
e indiretamente pela instalação e operação dos parques produtores de energia eólica.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio do PRONEM FUNCAP/CNPq Proc. PNE 0112-


00068.01.00/16; Análise socioambiental da implantação de parques eólicos no Nordeste:
perspectivas para a sustentabilidade da geração de energia renovável no Brasil, coord. Profa.
Maria Elisa Zanella.

À CAPES PGPSE Proc. 88887.123947/2016-00; Sistemas Ambientais costeiros e


ocupação econômica do Nordeste, coord. Prof. Antônio Jeovah de Andrade Meireles.

Ao CAPES/ PRINT Proc. 88887.312019/2018-00, Tecnologias socioambientais e


metodologias integradas na sustentabilidade territorial: alternativas comunitárias frente as
mudanças climáticas, coord. Prof. Antônio Jeovah de Andrade Meireles.

Ao Dimas de Brito Souza pela contribuição na elaboração cartográfica.

REFERÊNCIAS

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PARAÍBA. Atlas Eólico Paraíba. Disponível em: http://paraiba.pb.gov.br/atlaseolico/areas-
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SOARES, Diogo da Fonseca. Implantação da energia eólica no estado da Paraíba, Brasil:


estudo de caso dos parques dos ventos e Millennium, Mataraca-PB. Anais do Encontro
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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 15

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