Nicole Lazzari Garcia Desligamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SOCIOECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

Nicole Lazzari Garcia

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO


OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras para as
adolescentes

Florianópolis
2019
Nicole Lazzari Garcia

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO


OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras para as
adolescentes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Departamento de Serviço Social da
Universidade Federal de Santa Catarina como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Andréa Márcia


Santiago Lohmeyer Fuchs

Florianópolis
2019
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Dedico este trabalho e esta nova conquista de
minha vida com muito amor à minha mãe e meu
pai, por sempre lutarem para garantir a minha
educação.

E a todas as crianças e adolescentes que


conheci no Abrigo Municipal de Coqueiros,
este trabalho é para vocês!
AGRADECIMENTOS

Encerrar mais esta etapa da minha vida não seria possível sem antes agradecer àquelas
pessoas que estiveram ao meu lado durante este processo, me apoiando e incentivando a
continuar trilhando esse caminho.
Mãe e pai, vocês são minha base, minha força, minha inspiração e têm todo o meu amor.
Se hoje eu concluo essa graduação, é graças a vocês. Obrigada por sempre me incentivarem a
continuar estudando e a me proporcionarem os meios para isso. Obrigada por encararem comigo
essa loucura de mudar de cidade e começar uma vida nova aqui, só para me apoiar. É tudo pra
vocês! E sempre será! Amo vocês infinitamente!
Agradeço ao meu irmão Gabriel, que mesmo distante consegue se fazer presente. Te
levo sempre comigo, onde quer que estejamos. És parte dessa conquista também. Te amo,
Gabito!
Ao Eduardo, meu companheiro, obrigada pela tua paciência! Obrigada por compreender
minhas ausências e incentivar meu crescimento. Teu apoio foi fundamental. Te amo!
Bruna, Gabi e Breno, meus amigos nessa trajetória, agradeço pela parceria e pela
companhia nos momentos finais de cansaço. Que possamos manter essa amizade por muitos
anos e que nos encontremos em nossas trajetórias profissionais. Guardá-los-ei no meu coração!
O meu muito obrigada também ao Edelvan e a Simone, meus supervisores de estágio,
que contribuíram imensamente na minha formação profissional. Vocês foram meus primeiros
exemplos profissionais e serei eternamente grata. Com vocês aprendi o que significa ser
assistente social, o que significa resistir e se posicionar diante de um contexto que não nos
possibilita grandes mudanças. Grata por ter aprendido tanto com vocês! Parabéns pelo trabalho
que desenvolvem e pelas pessoas que são!
Aos demais profissionais do meu campo de estágio, vocês também foram parte da minha
trajetória. Obrigada por todas as contribuições!
Agradeço à professora Heloisa, que prontamente aceitou participar como examinadora
deste trabalho. Agradeço também à professora Eliete, que não só está presente nesse momento
final, mas que também participou de grande parte da minha formação. Obrigada por me permitir
ser sua aluna, monitora e te acompanhar em sala de aula. És um exemplo de profissional e de
docente para mim. Minha gratidão por todos os ensinamentos e contribuições em minha
trajetória. Sentirei saudades!
À professora Andréa, obrigada por me orientar nesse momento tão importante. És minha
inspiração profissional também. Teu apoio e dedicação (e os puxões de orelha também) foram
fundamentais para que eu conseguisse acreditar que era capaz de construir esse trabalho. Te
levarei sempre comigo. Também sentirei saudades!
À Ligia, obrigada pela atenção e comprometimento com a revisão do meu trabalho.
E por fim, mas não menos importante, agradeço a todas as crianças e adolescentes que
conheci durante a realização do meu estágio e na construção dessa pesquisa. Vocês são parte
fundamental da minha formação e crescimento não só profissional, mas também pessoal.
Obrigada por permitirem me aproximar de vocês e conhecer suas histórias. E um agradecimento
ainda mais especial para as duas adolescentes participantes dessa pesquisa. Sem vocês nada
faria sentido. Desejo, do fundo do meu coração, que todas estejam bem seguindo seus caminhos.
Obrigada por tudo!
"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes
presidenciais. [...] Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada,
dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo
cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz".

Ferreira Gullar
RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso buscou aprofundar a discussão acerca dos processos
de desligamento obrigatório pela maioridade de adolescentes/jovens acolhidos/as
institucionalmente, bem como apresentar a percepção destes diante desse momento de
desamparo pelo Estado. O objetivo geral teve como base analisar as estratégias
institucionais utilizadas por um Serviço de Acolhimento Institucional no processo de
desligamento obrigatório, os desafios impostos no sentido de garantir os direitos previstos
nos marcos normativos e regulatórios vigentes no Brasil e as expectativas das adolescentes
institucionalizadas. A pesquisa de abordagem qualitativa tem como unidade de análise
empírica e delimitação geográfica o Abrigo Municipal de Coqueiros em Florianópolis, e
como procedimento de coleta de dados: a observação participante da pesquisadora durante
seu período de estágio na referida instituição; pesquisa documental em arquivos e
documentos privados do Serviço de Acolhimento; e realização de entrevista
semiestruturada com duas adolescentes acolhidas e com um profissional técnico da
instituição. Os achados da pesquisa sugerem, primeiramente, que a aplicação da medida de
proteção de Acolhimento Institucional é, por vezes, determinada a partir de conceitos
errôneos dos órgãos de justiça e proteção que interferem nas famílias e, ainda, que ao
acolher estas crianças e adolescentes o Estado também não consegue garantir os direitos
que julgou violados pela família. Quanto ao desligamento obrigatório pela maioridade, os
dados sugerem que as adolescentes participantes não se sentem preparadas para deixar a
instituição aos 18 anos e encarar a transição para a vida adulta. Esse momento é permeado
por inseguranças, angústias e medo do que está por vir, devido à falta de preparação
gradativa para a saída. Além disso, há fatores externos à instituição pesquisada que
interferem no resultado do atendimento oferecido, sendo o principal a falta de articulação
entre os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes. Nesse
sentido, entendemos que a expansão da modalidade de Serviço de Acolhimento em
República no país, destinada à jovens egressos dos Serviços de Acolhimento Institucional,
se constitui em uma das principais alternativas para fortalecer a autonomia e o sentimento
de confiança, proporcionando condições de transformar a realidade desses sujeitos.

Palavras-chave: Acolhimento Institucional. Desligamento obrigatório. Sistema de


Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes. Política de atendimento à criança e ao
adolescente. Adolescentes.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Ciclo perverso da institucionalização no Código de Menores ................ 28


FIGURA 2 Linha do tempo anterior ao Acolhimento Institucional de Violeta ......... 60
FIGURA 3 Linha do tempo anterior ao Acolhimento Institucional de Íris ............... 69
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente em Florianópolis


- por faixa etária (2016) .......................................................................... 51
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Comparativo entre a Doutrina da Situação Irregular (Código de


Menores) e a Doutrina da Proteção Integral (Estatuto da Criança e do
Adolescente) .......................................................................................... 33
QUADRO 2 Princípios estruturantes do atendimento em Serviço de Acolhimento
Institucional para crianças e adolescentes ............................................. 45
QUADRO 3 Equipe profissional mínima para um Serviço de Acolhimento
Institucional ........................................................................................... 47
QUADRO 4 Unidades de Acolhimento Institucional em Florianópolis ......................50
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BO Boletim de Ocorrência
CAPS-AD Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas
CAPSi Centro de Atenção Psicossocial para Crianças e Adolescentes
CEPSH Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
CF/88 Constituição Federal de 1988
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CONEP Conselho Nacional de Ética em Pesquisa
CREAS Centro de Referência Especializado em Assistência Social
CT Conselho Tutelar
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FEBEM Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor
FINAF Fórum das Instituições de Acolhimento de Florianópolis
FUNABEM Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor
ICOM Instituto Comunitário Grande Florianópolis
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
NOB-RH Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
OSC Organizações da Sociedade Civil
PAEFI Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
PIA Plano Individual de Atendimento
PNAS Política Nacional de Assistência Social
PNBEM Política Nacional de Bem-Estar do Menor
PNCFC Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
POASF Programa de Orientação e Apoio Sócio Familiar
PPP Projeto Político Pedagógico
SAM Serviço de Assistência ao Menor
SEMAS Secretaria Municipal de Assistência Social
SGDCA Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
SUAS Sistema Único de Assistência Social
TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido
UBS Unidade Básica de Saúde
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

2 A POLÍTICA DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE NO


BRASIL....................................................................................................................................23

2.1 BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO


ADOLESCENTE NO BRASIL ............................................................................................... 23

2.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DA DOUTRINA


DA PROTEÇÃO INTEGRAL: DO ECA À LEI nº 12.010/2009 ............................................ 34

3 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL A PARTIR DO MÉTODO E GESTÃO DO


ATENDIMENTO: ENTRE O LEGAL E O REAL ............................................................ 39

3.1 O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS: PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA


DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACOLHIDAS/OS? .................................................... 39

3.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NO CONTEXTO DA POLÍTICA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL ......................................................................................................... 43

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL EM


FLORIANÓPOLIS ................................................................................................................... 49

3.4 O ABRIGO MUNICIPAL DE COQUEIROS: HISTÓRIA E DINÂMICA


ORGANIZACIONAL .............................................................................................................. 52

4 ADOLESCENTES E O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: O PERCURSO ANTES


E DURANTE A INSTITUCIONALIZAÇÃO ..................................................................... 57

4.1 PERCURSO METODOLÓGICO ...................................................................................... 57

4.2 TRAJETÓRIAS ANTERIORES AO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: OS CASOS


VIOLETA E ÍRIS ..................................................................................................................... 59

4.2.1 O caso Violeta ......................................................................................................... 60

4.2.2 O caso Íris ............................................................................................................... 68

4.3 AS TRAJETÓRIAS DE VIOLETA E ÍRIS DURANTE O ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL ................................................................................................................... 75

5 O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: RESULTADOS E DISCUSSÃO .................. 79


5.1 A PREPARAÇÃO E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO NA ÓTICA DAS
ADOLESCENTES ACOLHIDAS: saberes, sentimentos e perspectivas futuras .................... 79

5.1.1 A proximidade com a maioridade: significado, preocupações e expectativas .. 80

5.1.2 “Sentido obrigatório” da saída: O que é? Como? Quando? Para onde? .......... 82

5.1.3 A “habilitação para a saída”: o que sabem e qual a preparação? ..................... 85

5.1.4 Respondendo: Me sinto preparada? Que planos tenho? .................................... 90

5.1.5 Entre sair e ficar: a República seria uma possibilidade? ................................... 93

5.2 DESAFIOS NO DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO DE ADOLESCENTES


ACOLHIDOS INSTITUCIONALMENTE .............................................................................. 95

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 100

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 104

APÊNDICE A – Autorização para realização de pesquisa documental ......................... 111

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para profissional ........ 112

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para responsável


legal.........................................................................................................................................117

APÊNDICE D – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido para adolescentes


participantes .......................................................................................................................... 122

APÊNDICE E - Quadro de análise de entrevistas ............................................................. 127

APÊNDICE F - Entrevista semiestruturada com adolescentes ....................................... 128

APÊNDICE G - Entrevista semiestruturada com profissional da equipe técnica ......... 130

ANEXO A – Parecer Consubstanciado CEPSH/UFSC .................................................... 131


16

1 INTRODUÇÃO

Os registros historiográficos brasileiros datam o século XVI como sendo a origem do


atendimento às crianças e adolescentes em serviços de acolhimento no Brasil. O contexto social
era marcado pela dificuldade das famílias em proteger seus filhos, e por infâncias pobres,
negligenciadas e violentadas. Assim, a atenção destinada aos problemas sociais era de viés
caritativo, sendo a institucionalização de crianças e adolescentes carentes a estratégia para o
enfrentamento da pobreza (FIGUEIRÓ, 2012).
Ainda que a temática da infância e adolescência tenha sido assumida como
responsabilidade estatal somente a partir do século XIX, ao longo dos anos o Estado
desenvolveu suas políticas pautadas na culpabilização e responsabilização das famílias,
entendendo-as como incapazes de prover o cuidado a seus filhos. “Essa desqualificação das
famílias em situação de pobreza, tratadas como incapazes, deu sustentação ideológica à prática
recorrente da suspensão provisória do poder familiar ou da destituição dos pais e de seus
deveres em relação aos filhos” (BRASIL, 2006a, p. 15).
O debate sobre criança e adolescente no Brasil já passou por diversas variações,
resultado das diferentes perspectivas de atuação do Estado, passando desde um cenário
repressivo e correcional pautado na “Doutrina da Situação Irregular”, até o vivenciado hoje:
uma política direcionada à garantia de direitos, com vistas à sua proteção integral (ROCHA,
2004).
As importantes conquistas no campo formal-legal de direitos sociais para crianças e
adolescentes se iniciaram somente a partir da década de 1980, com a abertura democrática que
culminou na promulgação da Constituição Federal Brasileira em 1988 (CF/88) (BRASIL,
1988). Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90, construído a
partir da Doutrina de Proteção Integral, reconheceu-os como sujeito de direitos, em condição
peculiar de desenvolvimento e, portanto, prioridade absoluta na formulação de políticas
públicas, em especial as sociais, visando seu desenvolvimento social e pessoal.
Dessa forma, o ECA traz importantes mudanças em relação ao conteúdo, método e
gestão do atendimento, com a finalidade de romper com a lógica de atendimento à criança e ao
adolescente no Brasil (COSTA, 1995 e FUCHS, 2004). Essa nova forma de compreensão exige
uma ação intersetorial entre órgãos governamentais e Organizações da Sociedade Civil (OSC)1,

1
O Marco Regulatório do Terceiro Setor (Lei ordinária nº 13.019 de 31/07/2014) estabelece regime jurídico das
parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em
17

denominada de Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA). A


configuração do SGDCA se estrutura a partir de mecanismos de promoção, proteção e controle
da efetivação desses direitos (BRASIL, 2006b).
Outro grande avanço do ECA na política de atendimento diz respeito às medidas de
proteção, pois afirma que elas são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos na lei forem
ameaçados ou violados, “I- por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II- por falta,
omissão ou abuso dos pais ou responsáveis; III- em razão de sua conduta” (BRASIL, 1990a,
Art. 98). No que tange às medidas de Acolhimento2 (Institucional e Familiar), o ECA procura
romper com a cultura de institucionalização, garantindo a provisoriedade e a excepcionalidade
da medida, visando a reintegração familiar ou a colocação em família substituta, não implicando
a privação de liberdade (BRASIL, 2009a).
Assim, a direção social dada atualmente pelos marcos normativos e regulatórios se
sustenta no direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes. Muito
embora esteja garantido nas legislações vigentes, seu reconhecimento enquanto direito passa a
ser maior a partir de 2004, quando se iniciam discussões a respeito do apoio sócio familiar, do
“abrigamento” (ou, posteriormente, Acolhimento Institucional e/ou Familiar), e da adoção
nacional e internacional. Essas três ações públicas desenvolviam suas intervenções, porém de
forma fragmentada, com pouco ou nenhum diálogo institucional na elaboração de estratégias
interventivas. A construção do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) constituiu-se num
movimento concreto para integrar esse conjunto das ações públicas (HACK, 2016).
No que se refere ao Acolhimento Institucional, entende-se que toda criança e
adolescente acolhidos institucionalmente têm direito à convivência familiar e comunitária,
mesmo quando temporariamente afastados da família. Nessa perspectiva de vínculos familiares
fragilizados ou rompidos, “as estratégias de atendimento deverão esgotar as possibilidades de
preservação dos mesmos, aliando o apoio socioeconômico à elaboração de novas formas de
interação e referências afetivas no grupo familiar” (BRASIL, 2006a, p. 15). Sendo assim, os
princípios de brevidade e excepcionalidade previstos no ECA são fundamentais no atendimento
dessas crianças e adolescentes.

planos de trabalho, inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação


(BRASIL, 2014).
2
O uso das terminologias “Serviço de Acolhimento”, “Acolhimento Institucional” e acolhida” substitui os
termos relacionados a “abrigo”, “abrigamento”, “órfão” (alteração feita pela Lei nº 12.010 de 03 de agosto de
2009), pois entende-se o acolhimento como medida excepcional e provisória, utilizada como forma de transição,
uma vez que visa à reintegração familiar.
18

A Lei nº 12.010/2009 (BRASIL, 2009a) surge como uma das demandas resultantes do
PNCFC, alterando o § 2°, do artigo 19 do ECA que prevê a permanência da criança ou
adolescente na instituição de Acolhimento por no máximo dois anos, exceto quando
comprovada necessidade que atenda ao seu interesse, devidamente fundamentada pela
autoridade judiciária3. Entre essas situações encontra-se aquela em que “não foi possível”
restabelecer os vínculos com a família de origem e/ou encaminhá-la para uma família substituta,
resultando em um longo período na instituição. Nesse caso, permanecem acolhidas até
completarem 18 anos4, quando são desligadas obrigatoriamente e precisam seguir com suas
vidas.
No processo de desligamento cabe à equipe técnica dos serviços de Acolhimento
Institucional planejar estratégias para com os acolhidos, a fim de possibilitar o desenvolvimento
e reconhecimento de sua autonomia, responsabilidades e ingresso no mercado de trabalho –
necessários na transição para a vida adulta. O objetivo principal é encontrar condições que
garantam o sustento e a qualidade de vida desses adolescentes ou jovens5.
Mesmo após o desligamento obrigatório é preciso que haja acolhimento e proteção para
que se sintam seguros e apoiados. A equipe técnica da instituição deve se empenhar para
construir estratégias de saída desses adolescentes desde o momento de sua chegada no
Acolhimento. Por meio do Plano Individual de Atendimento (PIA) é possível alinhar essas
ações a curto, médio e, dependendo da situação, longo prazo, construindo redes para além do
Acolhimento Institucional, auxiliando os jovens no desenvolvimento e fortalecimento cotidiano
do sentimento de confiança, autonomia e pertencimento a um grupo cultural mais amplo do que
o Acolhimento Institucional (MARTINEZ; SILVA, 2008).
Nessa direção, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (BRASIL, 2004) e a
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009b) preveem o acolhimento
em República para jovens entre 18 e 21 anos após o desligamento dos outros serviços.
Entretanto, não são todos os municípios que possuem esse equipamento, como é o caso de
Florianópolis.

3
Dentre as alterações do Estatuto da Criança e do Adolescente que tratam do período de permanência nas
instituições de acolhimento, a mais recente (Lei nº 13.509/2017) estabelece 18 meses como tempo máximo, exceto
quando comprovada necessidade que atenda ao seu interesse, devidamente fundamentada pela autoridade
judiciária (BRASIL, 2017).
4
A medida protetiva de Acolhimento Institucional é direcionada a indivíduos de 0 a 18 anos de idade, podendo
ser estendida, em casos excepcionais, até 21 anos.
5
O termo “jovem” é utilizado quando nos referimos aos indivíduos com mais de 18 anos, de acordo com a Lei nº
12.852/13. Neste TCC, ao tratarmos das participantes, faremos referência ao termo “adolescentes”, pelo fato de
que ainda não tinham completado 18 anos durante o processo de coleta de dados.
19

Somadas às discussões teóricas e normativas que suscitaram questionamentos em


relação ao objeto de pesquisa neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o interesse da
pesquisadora pela temática da criança e adolescentes sempre foi presente, tendo em vista que
desde a adolescência acompanhava sua mãe no trabalho como Psicopedagoga na rede municipal
de ensino e convivia diariamente com os estudantes da escola. Em 2014 trabalhou em uma
clínica de atendimento psicopedagógico para crianças e adolescentes e, em 2016, em uma rede
privada de ensino, possibilitando a aproximação com a temática. Em 2015, com o ingresso no
curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ascendeu ainda
mais o interesse pelo tema, sobretudo pelos debates constantes em sala de aula e no
desenvolvimento da disciplina “Serviço Social e os Direitos da Criança e do Adolescente”,
podendo assim aperfeiçoar os conhecimentos sobre as principais políticas, serviços e dilemas
que acompanham o assunto. Posteriormente, em 2018, com o início do estágio curricular
obrigatório no Abrigo Municipal de Coqueiros6, Serviço de Acolhimento Institucional
feminino7 da cidade de Florianópolis, passou a aproximar-se do tema específico.
Durante o período de estágio nesta instituição de Acolhimento foi possível observar o
longo período de permanência de algumas adolescentes acolhidas que não possuíam nenhuma
perspectiva de retorno à família de origem e/ou encaminhamento para família substituta. Essa
vivência suscitou questionamentos empíricos sobre o Acolhimento Institucional de crianças e
adolescentes e as estratégias metodológicas adotadas pela instituição nos casos de desligamento
obrigatório após a idade limite de permanência.
Diante disso, a questão central deste estudo e pesquisa dizem respeito a: “como tem sido
o processo de preparação para o desligamento institucional obrigatório de adolescentes/jovens
em Acolhimento Institucional com remotas possibilidades de reintegração na família de origem
e/ou encaminhamento para família substituta, tanto na perspectiva institucional quanto na
percepção das próprias adolescentes institucionalizadas?”
Visando responder à questão central estabeleceu-se como objetivo geral: analisar as
estratégias institucionais utilizadas por um Serviço de Acolhimento Institucional em
Florianópolis no processo de desligamento obrigatório; os desafios impostos no sentido de

6
Embora a terminologia “abrigo” tenha sido substituída, a instituição de acolhimento em que foi realizada a coleta
de dados deste trabalho é intitulada de “Abrigo Municipal de Coqueiros”. Dessa forma, o termo “abrigo” será
usado apenas nos casos em que fizer referência a esta instituição específica.
7
No caso do Abrigo Municipal de Coqueiros, o atendimento é exclusivamente feminino. Sendo assim, quanto à
flexão de gênero das palavras, ao fazermos referência às adolescentes acolhidas apenas nesta instituição,
utilizaremos o gênero feminino.
20

garantir os direitos previstos nos marcos normativos e regulatórios vigentes no Brasil; e as


expectativas das adolescentes institucionalizadas.
Entre os objetivos específicos, tem-se: i) conhecer a trajetória das adolescentes anterior
ao Acolhimento Institucional; ii) conhecer, a partir da percepção das adolescentes, as
expectativas e anseios em relação ao seu desligamento obrigatório e seu futuro, e como
percebem as alternativas ofertadas pela instituição nesse processo; iii) identificar as ações
planejadas e realizadas no cotidiano do Acolhimento Institucional, quanto à preparação do
adolescente para o desligamento obrigatório; iv) identificar, com base nos documentos
institucionais, como é organizada metodologicamente a preparação dos adolescentes para o
desligamento obrigatório.
Em relação aos aspectos metodológicos da pesquisa, a base de estudo fundamenta-se a
partir da abordagem qualitativa por esta compreender um nível de realidade que não pode ser
quantificado e, portanto, ser mais adequado ao tema proposto. Minayo (2009, p. 21) afirma que
a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes”, correspondendo a um universo de relações, processos e fenômenos que não
se reduzem a quantidades.
Em relação ao corpus da pesquisa, definiu-se como unidade de análise empírica e
delimitação geográfica o Abrigo Municipal de Coqueiros, em Florianópolis, por este ser o
espaço sócio ocupacional onde foi realizado o estágio obrigatório da pesquisadora, permitindo
maior aproximação com a temática e facilitando a coleta de dados. Quanto aos sujeitos
participantes da pesquisa, foram selecionadas adolescentes entre 16 e 18 anos,
independentemente do tempo de permanência no Acolhimento Institucional.
Em relação ao processo da coleta de dados, optou-se por adotar instrumentos dispostos
em três etapas de realização da pesquisa de campo.
Na primeira etapa, a pesquisadora realizou observação participante durante seu período
de estágio na instituição. Considerou-se fundamental a inclusão desse processo tendo em vista
que possibilita maior conteúdo empírico para a compreensão da realidade. Segundo Marconi e
Lakatos (2003, p. 190) a observação participante é uma técnica utilizada “para conseguir
informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não
consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam
estudar”.
Na segunda etapa, foi realizada pesquisa documental em materiais compilados,
analisados ou criados pela pesquisadora. A exploração de fontes documentais e arquivos
privados, autorizada pelo responsável da instituição (APÊNDICE A), inclui as informações do
21

processo de Acolhimento Institucional das adolescentes durante sua permanência na instituição


e relatórios de trabalho e diários de campo da pesquisadora.
E na terceira etapa, foram feitas entrevistas semiestruturadas primeiramente com as
adolescentes acolhidas conforme definição metodológica da pesquisa a fim de entender o que
pensam, seus desejos, expectativas e anseios diante da situação em que se encontram. Posterior
às entrevistas com as adolescentes, um membro da equipe técnica da instituição também foi
entrevistado com o objetivo de compreender a maneira com que os profissionais deste serviço
atuam no processo de desligamento obrigatório das acolhidas, identificando as estratégias
utilizadas no cotidiano do Abrigo Municipal de Coqueiros.
Em relação aos aspectos éticos deste estudo, o projeto de pesquisa foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC conforme determina o Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) por meio da Resolução 510/2016, tendo sua
aprovação8 (ANEXO A). Assim, as entrevistas semiestruturadas foram gravadas mediante
autorização do sujeito participante previamente avisado e cientificado dos objetivos e direitos
de participação, seguindo as recomendações da Resolução. Esses direitos constam no Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) para os participantes adultos (APÊNDICE B) e para
o responsável legal das adolescentes (APÊNDICE C), e o Termo de Assentimento Livre e
Esclarecido (TALE) para as adolescentes participantes (APÊNDICE D).
A análise de dados foi realizada a partir dos registros em diário de campo, da observação
participante, dos prontuários físicos e Processos Jurídicos online das adolescentes participantes
e das entrevistas realizadas. A análise dos documentos institucionais (prontuários e Processos
Jurídicos) ocorreu dentro do Serviço de Acolhimento, sob supervisão da equipe técnica, visando
conhecer as trajetórias de vida anterior e durante o Acolhimento das participantes.
As entrevistas foram transcritas e analisadas em um quadro de análise (APÊNDICE E)
e, num primeiro momento, foram lidas de forma breve para a compreensão geral das respostas
obtidas. Na sequência as respostas foram analisadas considerando uma visão mais coletiva,
buscando identificar expressões-chave, ideias centrais e a ancoragem (manifestação linguística
explícita que o autor do discurso professa, que pode estar relacionada a uma teoria, ideologia
ou crença), a fim de extrair do conjunto dos sujeitos entrevistados o “discurso do sujeito
coletivo” (LEFÈVRE, 2003).
Feita essa etapa, as singularidades trazidas por cada sujeito participante foram
capturadas para realizar – somando aos achados documentais e aos registros da observação

8
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) número: 14154019.9.0000.0121.
22

participante – a análise dos dados, considerando o aporte teórico-conceitual, normativo e sócio


histórico que sustenta e direciona este estudo e pesquisa.
Este TCC está estruturado, além do capítulo introdutório e das considerações finais, em
mais quatro capítulos. No capítulo 2, discute-se a partir de uma abordagem teórico-conceitual
e sócio histórica, a política de atendimento à criança e ao adolescente no Brasil, enfatizando a
medida de proteção de Acolhimento Institucional a partir da Doutrina da Proteção Integral,
prevista no ECA. No capítulo 3, apresenta-se o SGDCA enquanto órgão de promoção, defesa
e controle dos direitos das crianças e dos adolescentes e ainda, expõe a estrutura de
funcionamento do Acolhimento Institucional a partir dos principais documentos que
estabelecem as diretrizes para um atendimento de qualidade. Aponta-se então a organização do
Acolhimento Institucional no município de Florianópolis para apresentar o Abrigo Municipal
de Coqueiros, unidade de análise empírica deste trabalho. Nos capítulos 4 e 5 é apresentada a
análise dos dados coletados.
O presente estudo pretende somar urgência ao debate sobre a preparação gradativa para
o desligamento obrigatório de adolescentes em instituições de Acolhimento, tendo em vista que
o processo de Acolhimento Institucional, por mais que vise a proteção dos direitos da criança
e/ou adolescente, é sempre um desafio, uma vez que essa medida, mesmo que protetiva, retira-
as do ambiente familiar.
Além disso, busca-se analisar a atuação do SGDCA sobre as adolescentes e suas
famílias anteriormente ao Acolhimento Institucional. Assim, os resultados apresentados
pretendem contribuir com o fortalecimento das políticas públicas sociais que envolvam os
serviços de Acolhimento Institucional, no sentido de que possam efetivamente garantir direitos
para este jovem que completou 18 anos e não é mais protegido pelo Estado, buscando
estratégias que fortaleçam sua autonomia e ampliem as possibilidades de futuro.
23

2 A POLÍTICA DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE NO BRASIL

Inicialmente, a política de atendimento à infância e à adolescência no Brasil foi pautada


pela repressão e controle social. A prática da institucionalização foi e continua sendo uma
alternativa para acolher aqueles com direitos violados.
É somente com o advento da CF/88 e, posteriormente, com o ECA, que a política de
atenção a crianças e adolescentes ganha novas dimensões. Pautado na Doutrina da Proteção
Integral, o ECA os reconhece como sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento e atribui
direitos e deveres a esse segmento da população.
A partir do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) (BRASIL, 2006a) e da
promulgação da Lei nº 12.010/2009 (BRASIL, 2009a), mudanças fundamentais foram
aprovadas na tentativa de romper com a cultura de institucionalização e segregação de crianças
e adolescentes, fortalecendo a garantia do direito à convivência familiar e comunitária.

2.1 BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E AO


ADOLESCENTE NO BRASIL

Crianças e adolescentes brasileiros nem sempre foram considerados sujeitos em


condição peculiar de desenvolvimento, com uma legislação própria que assegurasse seus
direitos. Segundo Rizzini (1997, p. 24), é a partir do século XIX que o conceito de infância
ganha novos significados no país. A criança, antes considerada apenas uma miniatura dos
adultos, ocupando uma posição secundária e irrelevante para a família e a sociedade, passa a
ser vista como patrimônio valioso, a “chave para o futuro”, tornando-se uma competência
administrativa do Estado.
Com esse novo conceito, zelar pelas crianças passa a ser um gesto humanitário, pois ela
agora é considerada um ser em formação que poderá se transformar (ou ser moldado) em um
“homem de bem”, útil para a nação, ou um “degenerado”, vicioso e inútil. Cabia aos homens
manipular os destinos da humanidade e, com isso, vigiar as crianças evitando que se desviassem
(RIZZINI, 1997). A regra era manter a ordem e a paz social, “como parte de uma missão
eugênica”. Cabia à medicina higienista, com suas divisões nas áreas da psicologia e pedagogia,
educar as famílias para exercerem a vigilância sobre seus filhos, e as crianças que não pudessem
24

ser criadas por suas famílias, consideradas “incapazes ou indignas”, seriam de responsabilidade
do Estado (RIZZINI, 1997, p. 26).
Rizzini (1997) também aponta que conforme a sociedade brasileira vivenciava um
período de crescente urbanização e industrialização, o pensamento social em relação ao
significado da infância era modificado. Por um lado, se fossem devidamente educadas, as
crianças simbolizavam o futuro da nação e, por outro, representavam uma ameaça à sociedade,
pois descobriam elementos de perversão e crueldade na alma infantil. Constrói-se então uma
visão ambivalente em relação a “criança em perigo” e a “criança perigosa”. A criança pobre e
abandonada, “filha da pobreza”, passa a ser tratada como um problema social.
A partir dessa dualidade é criado um mecanismo médico-jurídico-assistencial com o
objetivo de prevenir, educar, recuperar e repreender as crianças. A prevenção tinha o objetivo
de vigiar, evitando a perversão que contribuía para a degeneração da sociedade; a educação
tinha a função de educar o pobre, criando nele o hábito do trabalho e conhecimento das regras
do “bem viver”; a recuperação visava reeducar ou reabilitar a “criança perigosa” através do
trabalho, retirando-a da criminalidade e tornando-a útil para a sociedade; e a repressão tinha o
objetivo de conter a criança delinquente, impedindo que voltasse a causar danos, visando sua
reabilitação pelo trabalho (RIZZINI, 1997).
Esse mecanismo identificou nas crianças a possibilidade de transformar o Brasil, que
vivenciava um período de propagação do pauperismo urbano com o avanço das relações
capitalistas. Conforme Rizzini (1993, p. 19), “os ‘deserdados da fortuna’ constituíam
aproximadamente 70% da população urbana: eram os operários, camponeses, prostitutas,
marginais, mendigos, artistas, doentes, andarilhos, menores viciosos e setores pauperizados da
baixa classe média”. Então era extremamente necessário e urgente que essa urbanização fosse
controlada.
Era de responsabilidade da medicina identificar as possibilidades de recuperação da
criança e as formas de tratamento, e as primeiras intervenções com famílias pobres surgem a
partir da preocupação dos médicos em prevenir a delinquência infantil. Palestras, campanhas e
ações educacionais e moralizadoras, voltadas principalmente às mães e seus filhos, tinham o
intuito de evitar que essa criança “herdasse os males da sociedade” e dos seus pais, que
consistiam em degenerescências como alcoolismo, cocainismo e morfinismo. A população era
educada sobre as consequências desses vícios, em especial do alcoolismo, numa vertente de
“ortopedia social”. A filantropia prestava assistência aos pobres, e era de responsabilidade da
justiça regulamentar a proteção da criança e da sociedade garantindo a prevalência da educação
sobre a punição, e criando o hábito do trabalho (RIZZINI, 1997).
25

A preocupação com a infância nos meios médico e jurídico do início do século está
intimamente relacionada ao projeto de normalização da sociedade defendido por
representantes das elites intelectuais, econômicas e por autoridades do país. O que se
pretendia era eliminar as desordens de cunho social, físico e moral, principalmente
nos centros urbanos (RIZZINI, 1993, p. 19).

Esse mecanismo médico-jurídico-assistencial resultou na aliança entre Justiça e


Assistência nas duas primeiras décadas do século XX, visando “salvar a criança” para
transformar o país, dando origem à ação tutelar do Estado com a criação do primeiro Juízo de
Menores do país e instância regulatória da infância9, em 1923, e do primeiro Código de
“proteção e assistência aos menores”, em 1927.
O Código de 1927, também conhecido como Código Mello Mattos, foi fundamentado
no pensamento de que a Justiça brasileira precisava de uma reforma, devido ao aumento da
criminalidade infantil. Novos conhecimentos advindos da sociologia, psicologia, psiquiatria e
antropologia criminal são então incorporados para influenciar os menores que cometessem
crimes. Os defensores desse período intitulado de “Nova Justiça” afirmavam a necessidade de
organizar a Justiça sob novas bases, a partir do modelo de civilização moderna do século XX,
pois era notável o distanciamento entre a criança (objeto de ação da medicina ou da justiça) e a
intervenção do Estado (RIZZINI, 1997).

O Código de 1927 incorpora tanto à visão higienista de proteção do meio e do


indivíduo como a visão jurídica repressiva e moralista. Prevê a vigilância da saúde da
criança, dos lactantes, das nutrizes, e estabelece a inspeção médica da higiene. No
sentido de intervir no abandono físico e moral das crianças, o pátrio poder pode ser
suspenso ou perdido por falta dos pais. Os abandonados têm a possibilidade (não o
direito formal) de guarda, de serem entregues sob forma de ‘soldada’, de vigilância e
educação, determinadas por parte das autoridades, que velarão também por sua moral.
O encaminhamento pode ser feito à família, a instituições públicas ou particulares que
poderão receber a delegação do pátrio poder. A família é, ainda que parcialmente,
valorizada (FALEIROS, 2011, p. 63).

É importante salientar que a terminologia “menor”, enquanto categoria jurídica, se


referia às crianças e adolescentes que não se encontravam aptos para exercer a plena cidadania;
aqueles que ainda não eram responsáveis pelos seus atos e que necessitavam de um responsável.
Referia-se aos pobres que não estavam sob autoridade de seus pais ou tutores; eram os
abandonados, considerados perigosos e socialmente desajustados (ARANTES, 1995). O
referido Código utilizava a nomenclatura “menor” ligada à marginalidade e à pobreza, e o termo

9
O Juízo de Menores, na pessoa de Mello Mattos, estruturou um modelo de atuação que se manteria no país até a
década de 1980, com diversas funções relativas à vigilância, regulamentação e intervenção direta sobre os
“menores”. Houve uma crescente demanda por internações de menores abandonados e delinquentes, inclusive
pelas classes populares, tornando-se uma alternativa de cuidados e educação para os pobres, particularmente para
as famílias constituídas de mães e filhos (RIZZINI, 2004).
26

“criança” era utilizado quando fazia referência aos filhos das “boas famílias”, aquelas
“adequadas” aos níveis de organização, instrução e economia.
Em 1941, a partir do Decreto nº 3.799, surge o Serviço de Assistência ao Menor (SAM),
o primeiro órgão criado com o objetivo de fiscalizar e orientar os serviços que
institucionalizavam os “menores”. “Seu sistema de atendimento baseava-se em internamentos
para os adolescentes autores de infração penal e patronatos para menores carentes
abandonados” (ROSA, 2001, p. 186).
Rizzini (2011, p. 281) complementa dizendo:

O famigerado SAM surgiu rodeado por todos os princípios considerados os mais


modernos na época: voltado para a educação, formação profissional, estudo e
classificação do menor, com método de trabalho delineado, a chamada assistência
científica. [...] O menor e o meio social a que pertencia não tinham como cobrar e
muito menos exercer controle sobre as ações de um Estado ditatorial. Pela sua
condição de menoridade e pobreza, ele estava nas mãos daqueles designados para
“protegê-lo”, ou “recuperá-lo”. Os abusos foram muitos e deram ao SAM a fama que
permaneceu na história e no imaginário popular: Sem Amor ao Menor, sucursal do
inferno e muitos outros (RIZZINI, 2011, p. 281).

Por anos o SAM foi condenado por autoridades públicas, políticos e diretores que
propunham a criação de um novo órgão. Surge então, em 1964, a Fundação Nacional de Bem-
Estar do Menor (FUNABEM), que tinha como uma de suas obrigações implementar a Política
Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM). O principal objetivo era se opor às diretrizes do
SAM, prevenindo a marginalização dos “menores abandonados”, zelando para que estes “não
viessem a se transformar em presa fácil do comunismo e das drogas, associados no
empreendimento de desmoralização e submissão nacional” (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 27).
Ainda nesse período criaram-se as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEM)
com programas, pesquisas e atendimentos aos menores de 18 anos, favorecendo o aumento
da internação no país por meio de um modelo carcerário e repressivo.
Essas instituições foram criadas durante o período de Ditadura Militar no Brasil,
compreendido de 1964 a 1985, marcado pela extrema censura, repressão e torturas. Foi um
momento de grande industrialização e urbanização do país, culminando em desigualdades da
distribuição de renda e o aumento de crianças e adolescentes internados nas instituições.
Dessa forma, a institucionalização se dava, principalmente, pela criminalização e
judicialização da pobreza.
27

As FEBEMs se tornaram verdadeiros “depósitos de menores”, estabelecendo o que


Arantes (1995) chama de “complexo tutelar”, que ocorria quando se suspendia o pátrio poder10
e permitia-se o estabelecimento do processo de tutela destas crianças e adolescentes. O Código
de 1927 fez com que a rede de atendimento abarcasse os efeitos da pobreza, admitindo funções
de abrigo, casa, escola, hospital e prisão.
A criança era retirada da rua ou de seus familiares com a promessa de que lhe seria
oferecido um atendimento melhor que aquele prestado pela família; entretanto, o atendimento
oferecido não era suficiente e muito menos melhor. As instituições, também chamadas de
internatos, eram lugares de repressão, isolamento e de autoritarismo, e segundo Arantes (1995)
funcionavam como depósitos e laboratórios. Retirava-se a criança do seu ambiente de convívio
a fim de conhecer sobre a irregularidade, sobre a malandragem e tudo mais que a criança poderia
oferecer em sua vivência. Essa busca não tinha o propósito de conhecer para solucionar as
desigualdades, mas de aprender como submeter essa população. A criança passava a ser uma
mercadoria agenciada.
Essas formas de “assistência ao menor”, através da prática de recolher crianças,
propiciaram a construção de uma cultura de institucionalização que pressupõe “a segregação
do meio social a que pertence o ‘menor’, o confinamento e a contenção espacial, o controle do
tempo, a submissão da autoridade – formas de disciplinamento do interno, sob o manto da
prevenção de desvios ou da reeducação dos degenerados” (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 20)
(FIGURA 1).

10
O Código Civil de 2002 alterou o termo “pátrio poder” por “poder familiar”, tendo em vista que o primeiro,
etimologicamente, remete a “pai”. A expressão “poder familiar” deixa mais claro que a criação e a educação dos
filhos competem ao pai e à mãe, em igualdade de condições, em respeito à Constituição Federal (JUS, 2015).
28

FIGURA 1 - Ciclo perverso da institucionalização no Código de Menores

Fonte: FUCHS (2016). Elaboração própria.

Com a mudança do cenário político e social do país o Código de 1927 se torna


insuficiente, sendo então substituído pelo Código de Menores em 1979 (BRASIL, 1979). Uma
espécie de revisão do Código anterior, o de 1979 permaneceu em vigor até 1990, sustentado
pela Doutrina da Situação Irregular que, dentre suas bases conceituais, visava:

Não se dirigir ao conjunto da população infanto-juvenil, mas apenas aos menores em


situação irregular; considerar menores em situação irregular os carentes,
abandonados, inadaptados e infratores; não se preocupar com os direitos humanos da
população infanto-juvenil em sua integridade. Limitando-se a assegurar a proteção
para os carentes e abandonados e a vigilância para os inadaptados e infratores
(COSTA, 1998, p. 14).

Conforme o artigo 2º do Código de Menores, considerava-se em situação irregular o


“menor”:

I – Privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória,


ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;
II – Vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável;
III – Em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes;
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV – Privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou
responsável;
V – Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou
comunitária;
VI – Autor de infração penal (BRASIL, 1979).
29

Conforme o Código de 1979, os “menores em situação irregular” eram aqueles que não
estavam no controle de suas famílias por diversos motivos: não tinham família; a família não
tinha condições de assumir funções de proteção e bem-estar; pela conduta considerada
antissocial; suas ações o colocavam em risco e incidiam sobre sua família ou terceiros; o
menor era portador de doença/dificuldade/deficiência e a família não queria ou não sabia
lidar; ou o jovem fez da rua seu local de moradia e trabalho. As crianças e adolescentes que
se encontravam em alguma dessas situações eram sentenciadas como “irregulares” e
colocadas em instituições de recolhimento, ressocialização ou guarda.
O Código de Menores não se dirigia ao conjunto da população infanto-juvenil, mas
sim a quatro categorias de “menores”: os irregulares (carentes), que se encontravam em perigo
moral, cuja família não pôde assumir as funções de proteção e bem-estar; os abandonados,
que pela falta ou ausência dos pais não possuíam representação legal; os inadaptados, que
viviam em famílias e comunidades “desajustadas”; os infratores, que cometiam ações que
colocavam em risco a segurança e a integridade de terceiros, da família e da sociedade, autores
de infração penal. Conforme Fuchs (2012, p. 13), os “menores infatrores” institucionalizados
pelo Estado viviam “num ciclo perverso de institucionalização compulsória — apreensão,
triagem, rotulação, deportação e confinamento”.
Pela ação tutelar do Estado sobre as famílias, o poder de decisão sobre o destino destes
“menores irregulares” estava concentrado nas mãos dos juízes, que poderiam intervir nas
situações, definindo desde a privação de condições essenciais à subsistência, até a autoria de
infração penal (RIZZINI; PILOTTI, 2011). Por mais subjetivo que fosse o entendimento do
juiz sobre as motivações para uma possível delinquência de uma criança ou adolescente, em
razão da conduta ou da conduta de sua família, já se considerava razão legal para a decisão
de institucionalização pautada na lógica de “prender para proteger” (HACK, 2016).
Embora esse Código tenha representado uma importante intervenção do Estado na
área da criança e do adolescente ao reconhecer a responsabilidade pública na garantia dos
direitos dessa população, por outro lado se sustentou no assistencialismo e na repressão, ao
passo que caracterizava a situação irregular pelas condições de vida de suas famílias. Assim,
as famílias estavam expostas à intervenção do Estado devido a sua condição de pobreza
(RIZZINI, 2004).
Essas noções de irregularidade começaram a ser questionadas na medida em que
crescia o debate sobre a infância e adolescência no Brasil. A conduta do Estado, considerada
arbitrária e repressiva, não sobreviveu à abertura democrática do país a partir dos anos 1980.
Tomou corpo a compreensão de que as discussões deveriam ser as causas estruturais do
30

processo de desenvolvimento político-econômico do país, como a má distribuição de renda e


a desigualdade social (RIZZINI, 2004).
A população passou a se organizar na luta por direitos até então não garantidos
legalmente, ampliando a discussão sobre a segregação e o confinamento de crianças e
adolescentes como resposta às expressões da questão social no país. A pressão pelo
fechamento dos internatos, acompanhando as discussões internacionais de revisão das
políticas de atendimento baseadas em instituições totais (RIZZINI, 2004). Questionava-se o
desenvolvimento da criança e do adolescente dentro dos sistemas de internato, entendendo
enquanto prática “dispendiosa, ineficaz e injusta, produzindo o chamado ‘menor
institucionalizado’ – jovens estigmatizados, que apresentam grande dificuldade de inserção
social após anos de condicionamento à vida institucional” (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 21).

Diante desse quadro e graças às possibilidades de organização e participação


populares na luta pela garantia de direitos, novos atores políticos entraram em cena.
Em pouco tempo surgiu um amplo movimento social em favor das crianças e
adolescentes em situação de pobreza e marginalidade social. Essa frente, integrada
sobretudo pelas ONGs (organizações não governamentais), acrescida de demais
grupos, denominados como sociedade civil, com apoio da Igreja e dos quadros
progressistas dos órgãos de governo, desencadeou o processo de reivindicação dos
direitos de cidadania para crianças e adolescentes (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 28).

Frente a um cenário de violações de direitos de crianças e adolescentes, e em meio a


manifestações sociais em defesa da promoção, proteção, defesa e garantia de direitos destes, o
processo de abertura democrática no Brasil culminou na promulgação da CF/88. O artigo 227
da CF/88 assegura com absoluta prioridade os direitos de todas as crianças e adolescentes
brasileiras, incumbindo a família, a sociedade e o Estado desse dever, objetivando modificar o
tratamento dado a eles (BRASIL, 1988).
Marcos normativos internacionais influenciaram para que a CF/88 representasse uma
referência na garantia de direitos da criança e do adolescente e alterasse a forma como eram
tratadas no Brasil. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, em 20 de
novembro de 1989, constituiu um percursor nessa luta, “visto que incorporou em um mesmo
texto legal, regras de procedimentos flexíveis, adaptáveis às mais diversas realidades,
delineando as futuras políticas legislativas dos Estados-Partes” (ROBERTI JUNIOR, 2012, p.
113). Os três princípios básicos definidos foram: “(i) a proteção especial como ser em
desenvolvimento; (ii) o lugar ideal para o seu desenvolvimento é a família; e, (iii) as nações
obrigam-se a constituí-la como prioridade” (MENDES, 2010, p. 9). A Convenção dos Direitos
da Criança foi promulgada no Brasil por meio do Decreto Executivo nº 99.710 de 21 de
novembro de 1990 (BRASIL, 1990b). O Brasil foi o primeiro país a adotar integralmente os
31

princípios fundamentais desta Convenção, mesmo antes de ela ser efetivamente oficializada11,
dando origem aos artigos 227 e 22812 da CF/88 (RIZZINI; PILOTTI, 2011).

Assim, em 5 de outubro de 1988, o Brasil incorpora em sua Carta Magna os elementos


essenciais de uma Convenção Internacional que só será aprovada em 20 de novembro
de 1989. Isto ocorreu basicamente em razão da força, da habilidade, da resolução e do
compromisso do movimento social que se forjou em torno dos Direitos da Criança e
do Adolescente. [...] A síntese de todo esforço realizado encontra-se condensada no
extraordinário e seminal caput do artigo 227 da Constituição (MENDEZ; COSTA,
1994 apud HACK, 2016, p. 24).

A CF/88 também institui a Assistência Social enquanto política pública, integrante do


Sistema de Seguridade Social composto pelas políticas de saúde, previdência social e
assistência social, e a reconhece enquanto direito do cidadão e dever do Estado, como exposto
no artigo 203:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à
maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e
adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser a lei (BRASIL, 1988, grifo nosso).

A Política de Assistência Social só foi efetivamente concretizada a partir da criação da


Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). A Lei nº 8.742 de 7 de dezembro de 1993
estabelece a construção de serviços, programas, projetos e benefícios para garantir a efetivação
dos direitos sociais a quem necessitar. A formulação da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) acontece somente em 2004, onze anos após a promulgação da LOAS13 (BRASIL,
2004), e configura como uma garantia do direito à assistência social, buscando “incorporar as
demandas presentes na sociedade brasileira no que tange à responsabilidade política,
objetivando tornar claras suas diretrizes na efetivação da assistência social como direito de

11
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança foi aprovada na ONU somente em 20 de outubro
de 1989, mais de um ano após a promulgação da Constituição Federal do Brasil, de 05 de outubro de 1988.
12
O artigo 228 trata de inimputabilidade penal dos menores de 18 anos.
13
A PNAS foi aprovada em 22 de setembro de 2004, por meio do Conselho Nacional de Assistência Social,
regendo-se pelos seguintes princípios: I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências
de rentabilidade econômica; II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e
ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se
qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem
discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – Divulgação
ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder
Público e dos critérios para sua concessão (BRASIL, 2004, p. 32).
32

cidadania e responsabilidade do Estado”, visando o enfrentamento da questão social (BRASIL,


2004, p. 13).
O ano de 1988 foi importante não só pela aprovação da CF/88, mas também pela criação
do Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente que, após um período de discussões com diferentes segmentos
profissionais, deu origem à produção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado
pela lei nº 8.069 em 13 de julho de 1990 (BRASIL, 1990a).
O ECA procura romper com os ideais estabelecidos pelo Código de Menores de 1979,
detalhando os direitos das crianças e adolescentes através de diretrizes gerais e estabelece a
Doutrina de Proteção Integral já no seu 1º artigo, reconhecendo a criança e o adolescente como
cidadãos, sujeitos de direitos. Costa (2006, p. 26) salienta que:

Ao romper definitivamente com a Doutrina da Situação Irregular, até então admitida


pelo Código de Menores (Lei 6.697, de 10.10.79), e estabelecer como diretriz básica
e única no atendimento de crianças e adolescentes a Doutrina da Proteção Integral, o
legislador pátrio agiu de forma coerente com o texto constitucional de 1988 e
documentos internacionais aprovados com amplo consenso da comunidade das nações
(COSTA, 2006, p. 26).

Um novo paradigma de garantia dos direitos se estabelece com o ECA,


responsabilizando o Estado, a família e a sociedade por essa função, conforme seu artigo 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL,
1990a).

Segundo Costa (2007), é nesse artigo que o ECA garante direitos humanos fundamentais
para as crianças e adolescentes, visto que assegura o direito à sobrevivência por meio do direito
à vida, à saúde e à alimentação. Garante o desenvolvimento pessoal e social por meio do direito
à educação, esporte, lazer, profissionalização e à cultura. E ainda garante o respeito à
integridade física, psicológica e moral quando assegura o direito à dignidade, respeito, liberdade
e convivência familiar e comunitária.
O Quadro 1 faz um comparativo entre a Doutrina da Situação Irregular e a Doutrina de
Proteção Integral, e apresenta a mudança de paradigma instaurado com o Estatuto da Criança e
do Adolescente.
33

QUADRO 1 - Comparativo entre a Doutrina da Situação Irregular (Código de Menores)


e a Doutrina da Proteção Integral (Estatuto da Criança e do Adolescente)

CÓDIGO DE MENORES ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Doutrina da Situação Irregular Doutrina da Proteção Integral
Destina-se apenas aos “menores” em situação
Dirige-se a todas as crianças e adolescentes, sem
irregular: carentes, abandonados, inadaptados e
exceção alguma
infratores
Trata apenas da proteção (carentes e Trata da proteção integral, isto é, da sobrevivência, do
abandonados) e da vigilância (inadaptados e desenvolvimento e da integridade de todas as crianças
infratores) e adolescentes
Usa o sistema de justiça para o controle social do delito
Usa o sistema de administração da justiça para
e cria mecanismos de exigibilidade para os direitos
fazer o controle social da pobreza
individuais e coletivos da população infanto-juvenil
Vê o “menor” como objeto de intervenção Vê a criança e o adolescente como sujeitos de direitos
jurídico-social do Estado exigíveis com base na lei
É descentralizador e aberto à participação da cidadania
É centralizador e autoritário
por meio de conselhos deliberativos e paritários

Foi elaborado no mundo jurídico, sem audiência Foi elaborado de forma tripartite: movimentos sociais,
da sociedade mundo jurídico e políticas públicas
Segrega e discrimina os “menores” em situação Resgata direitos, responsabiliza e integra adolescentes
irregular “em conflito com a lei”
Estabelece clara distinção entre os casos sociais e
Não distingue os casos sociais (pobreza) daqueles aqueles com implicações de natureza jurídica,
com implicação de natureza jurídica (delito) destinando os primeiros aos Conselhos Tutelares e os
últimos somente à Justiça da Infância e da Juventude
Fonte: COSTA (2006, p. 23)

Conforme Costa (1995), o ECA apresenta três importantes mudanças: no conteúdo,


reorganizando as políticas públicas voltadas à infância, subdividindo-as em políticas sociais
básicas, políticas assistenciais e programas de proteção especial; no método, substituindo a
Doutrina da Situação Irregular pela Doutrina da Proteção Integral; e na gestão, adotando um
modelo democrático, garantindo a participação popular por meio dos Conselhos de Direitos das
Crianças e Adolescentes.
Os Conselhos de Direitos, em seus níveis municipais, estaduais e federal, são órgãos
deliberativos e paritários entre governo e sociedade civil, responsáveis pela formulação e
fiscalização de políticas públicas específicas. Os Conselhos Tutelares, primeira instância de
atendimento, são órgãos permanentes, autônomos e não jurisdicionais, responsáveis pela
fiscalização e garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Seus membros são eleitos pela
população local. Com a inclusão dessa nova forma de gestão democrática, a responsabilidade
pela questão da infância e adolescência é descentralizada, garantindo a participação da
sociedade civil (RIZZINI; PILOTTI, 2011).
34

Sendo assim, a proteção integral prevista no ECA objetiva o melhor interesse14 de todas
as crianças e adolescentes, e não mais entendendo-os como meros objetos de intervenção, como
nas doutrinas menoristas.

A condição de sujeito de direitos implica o reconhecimento, após a promulgação do


Estatuto e sua teoria da proteção integral, de que crianças e adolescentes não são
pessoas inacabadas, mas indivíduos detentores de inúmeras necessidades, desejos e
direitos. Este reconhecimento possui dupla faceta: crianças e adolescentes devem ser
respeitados como uma pessoa que já existe, mas, para desenvolverem plenamente suas
possibilidades necessitam de um mundo adulto responsável pelas suas vidas, que
garanta seu crescimento através da concretização de seus direitos fundamentais
(SANTOS, 2007, p. 47).

A Doutrina de Proteção Integral exige uma reorganização da política de atendimento à


criança e ao adolescente no que diz respeito a sua estrutura institucional, com base nos seus
direitos e necessidades. As mudanças trazidas com o ECA rebatem diretamente no atendimento,
sendo necessário romper com a cultura de institucionalização, passando a valorizar a família,
respeitando o direito à convivência familiar e comunitária.

2.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DA DOUTRINA


DA PROTEÇÃO INTEGRAL: DO ECA À LEI nº 12.010/2009

Com o advento do ECA, fica instituído que a pessoa com até doze anos de idade
incompletos é considerada criança, e considera-se adolescente aquela com idade entre doze e
dezoito anos. Para essa população se asseguram medidas de proteção que podem ser aplicadas
sempre que seus direitos forem ameaçados ou violados “por ação ou omissão da sociedade ou
do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; em razão de sua conduta”
(BRASIL, 1990a, Art. 98). Quando verificada alguma dessas hipóteses, o ECA definiu, em um
primeiro momento15, oito diferentes medidas que poderiam ser aplicadas pela autoridade
competente:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I -
encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II -
orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência
obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em

14
Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990a).
15
O Estatuto da Criança e do Adolescente passou por algumas alterações em seus artigos ao longo dos anos, que
serão apontadas no decorrer deste estudo. Neste momento, a referência é para a primeira redação da legislação.
35

programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V -


requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar
ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VIII -
colocação em família substituta (BRASIL, 1990a).

Se houver necessidade de afastamento do ambiente familiar16 por alguma dessas


hipóteses, é necessária uma mudança no entendimento de como se reparam os direitos violados
e, sobretudo, de como dever ser o Acolhimento e a permanência em um ambiente institucional
(na época, denominados de “abrigo” 17) (HACK, 2016).
Com essas novas formas de atendimento à população infanto-juvenil, as velhas
instituições do tipo “internato de menores” e “orfanatos” são pressionadas para que mudem e
passem a acolher crianças e adolescentes somente quando houver a violação de direitos que
coloquem em risco sua integridade física e/ou emocional (RIZZINI; PILOTTI, 2011).
Em 2003 o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) realizaram uma pesquisa intitulada
“Levantamento Nacional dos Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede de Serviços de
Ação Continuada”, com o objetivo de conhecer a realidade dos “abrigos” e as características
dos “abrigados”. Os dados obtidos possibilitaram o reordenamento das políticas e programas
de “abrigamento” (ROCHA, 2004).
A pesquisa abrangeu 88% das instituições do Brasil que compõem a rede de abrigos –
que recebe recursos federais – e revelou que 19.373 crianças e adolescentes se encontravam
“abrigadas”. Desse total, 86,7% possuíam familiares, mas apenas 58,2% continuavam
mantendo vínculos com estes. Conforme o levantamento, o motivo para o “abrigamento”
continuava se dando em razão da condição de pobreza das famílias (52%) (ROCHA, 2004).
O ECA define, em seu artigo 23, que a condição de pobreza não configura razão legal
para a suspensão ou perda do poder familiar e, “não existindo outro motivo que por si só
autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de
origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio”
(BRASIL, 1990a).
Os dados da pesquisa evidenciaram a execução indevida da medida protetiva de
Acolhimento Institucional (“abrigo”), violando os princípios do ECA e revelando a necessidade

16
Por ser o campo temático deste estudo, enfatizam-se as medidas de proteção e, em especial, as que se referem
ao Acolhimento Institucional, anteriormente denominado de “abrigamento”.
17
Somente em 2009, com a Lei nº 12.010/2009 (BRASIL, 2009), que as expressões “abrigo”, “abrigamento”,
“abrigados/as” ou “programa de abrigamento” foram substituídas por “Acolhimento Institucional”, “acolhidos/as”.
36

de reordenar os serviços, buscando estratégias de fortalecimento e preservação de vínculos


familiares, gestando políticas públicas e programas especiais para as famílias.
Com o intuito de materializar o direito a convivência familiar e comunitária, é
construído em 2006 o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças
e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC). Resultado de uma elaboração
conjunta envolvendo representantes do governo, da sociedade civil organizada e organismos
internacionais, aponta estratégias, objetivos e diretrizes fundamentados na prevenção ao
rompimento dos vínculos familiares, na qualificação do atendimento dos serviços de
Acolhimento e no investimento para o retorno ao convívio com a família de origem (BRASIL,
2006a).
Dessa forma, representou um avanço pois, ao mesmo tempo em que garante direitos,
evidencia a preocupação do governo na formulação e implementação de políticas públicas na
tentativa de romper com a cultura de institucionalização e fortalecendo o paradigma da proteção
integral e da preservação dos vínculos familiares e comunitários (BRASIL, 2006a).
A partir do PNCFC as estratégias de reordenamento institucional focam na construção
da política de atenção e proteção à criança e ao adolescente, priorizando a restituição do direito
violado, os vínculos com a família de origem, prevendo a inserção das famílias na rede de
atendimento para que possam cuidar e proteger seus filhos sem que seja preciso isolá-los ou
segregá-los da comunidade.
O PNCFC orienta a formulação e implementação de políticas com ações transversais e
intersetoriais, articulando o poder público e a sociedade de modo que as crianças e adolescentes
sejam vistos de forma indissociável do seu contexto familiar e comunitário. “As crianças e
adolescentes não são fragmentadas e, portanto, devemos sempre pensar no seu atendimento
humano integral, por meio de políticas públicas articuladas com vistas à plena garantia dos
direitos e ao verdadeiro desenvolvimento social” (BRASIL, 2006a, p. 13).
O reordenamento dos serviços de Acolhimento se constitui como um novo paradigma
na política social, devendo ser incorporado por toda a rede de atendimento do Brasil,
priorizando a família como unidade básica da ação social, não considerando a criança e o
adolescente isolados dos seus contextos familiares e comunitários.
Assim, “reordenar o atendimento significa reorientar as redes pública e privada, que
historicamente praticaram o regime de abrigamento, para se alinharem à mudança de paradigma
proposto”, com ações de mudança: i) no financiamento, eliminando as formas de repasse de
recursos por criança e adolescente atendido e incluindo recursos para o trabalho de reintegração
das famílias; ii) na qualificação de profissionais que atuam no serviço; iii) no estabelecimento
37

de indicadores qualitativos e quantitativos de avaliação dos programas; iv) no desenvolvimento


de metodologias de trabalho com famílias; v) no desenvolvimento e potencialização das
competências da família para cuidar e educar seus filhos; vi) na adequação do espaço físico e
número de crianças e adolescentes atendidos, garantindo o atendimento individualizado e em
pequenos grupos; vii) na adequação do espaço físico às normas de acessibilidade; viii) e na
articulação com a rede de serviços (BRASIL, 2006a, p. 72).
A partir dessa demanda é promulgada a Lei nº 12.01018, de 03 de agosto de 2009, que
exigiu a alteração do ECA. É importante destacar que a Lei nº 12.010/2009 altera a
nomenclatura utilizada, substituindo a terminologia “abrigo” e suas derivações por “instituições
de Acolhimento” e derivados. Segundo Ferreira (1977, apud SILVA; ARPINI, 2017, p. 425),
acolher significa hospedar, receber, atender e tomar em consideração.
Quanto ao afastamento da criança e do adolescente de suas famílias, a Lei nº
12.010/2009 altera o artigo 101 do ECA e inclui três medidas de proteção, garantindo seu
caráter provisório e excepcional:

Art. 101. [...] VII - Acolhimento institucional; VIII - inclusão em programa de


acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta. § 1o O Acolhimento
institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais,
utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade
(BRASIL, 2009a).

As crianças e adolescente só poderão ser encaminhadas ao Acolhimento Institucional


ou Familiar19 mediante medida de proteção e intervenção de autoridade judiciária. Essa
mudança visa assegurar maior controle judicial sobre os acolhimentos, coibindo práticas
abusivas e arbitrárias ainda disseminadas no Brasil, causando graves prejuízos àqueles que
ainda são institucionalizados e afastados do seu convívio familiar e comunitário de forma
indevida (DIGIÁCOMO, 2009).

18
Importante pontuar que essa lei foi denominada “lei da adoção”, por trazer mudanças significativas nesse campo.
Entretanto, as alterações foram elaboradas dentro do princípio maior de regulamentar ações que garantam o direito
a convivência familiar e comunitária.
19
Ressalta-se que a medida de Acolhimento Familiar é uma modalidade de Acolhimento provisório tida como
prioritária ao Acolhimento Institucional, pois ocorre em residências de famílias cadastradas, selecionadas e
capacitadas por profissionais da área da Infância e Juventude. Essa modalidade tem por objetivo garantir a
construção de vínculos individualizados e a convivência familiar e comunitária para crianças ou adolescentes
afastados da família de origem, auxiliando no processo de retorno para família de origem ou encaminhamento para
adoção. Esta família acolhedora deve receber do Estado acompanhamento psicossocial e financeiro, para auxiliar
na superação das situações que levaram ao Acolhimento. Nos últimos anos, o número de munícipios brasileiros
que possuem o serviço de família acolhedora aumentou significativamente, porém ainda são poucos, o que faz
com que o encaminhamento para os serviços de Acolhimento Institucional seja a regra (INSTITUO FAZENDO
HISTÓRIA, 2019). O município de Florianópolis ainda não possui este serviço implantado, apenas o projeto de
lei aprovado. A temática de Acolhimento Familiar não será abordada neste trabalho por não ser o objeto de estudo.
38

Além disso, a Lei nº 12.010/2009 torna obrigatória a revisão semestral da situação de


cada acolhido/a por meio de relatórios elaborados pelas equipes técnicas dos serviços, com o
objetivo de avaliar a necessidade da medida de proteção, estimulando o retorno à convivência
familiar. A alteração em relação ao tempo de permanência nas instituições estipula o período
máximo de dois anos20 para o Acolhimento, tendo em vista ser trabalhada a reintegração
familiar num tempo mais curto. Excedendo-se este prazo, a criança e/ou adolescente poderá
permanecer acolhido/a, salvo comprovação da impossibilidade do seu desligamento justificado
pela autoridade judiciária.
Para evitar a longa permanência nas instituições de Acolhimento e fortalecer a
reintegração familiar, a mesma Lei prevê a construção de um Plano Individual de Atendimento
(PIA). A elaboração se dará pelas equipes dos serviços, em consonância com a opinião do/a
acolhido/a, considerando suas necessidades e de sua família e construindo estratégias de ação
individualizadas a fim de impedir que o trabalho realizado seja semelhante àquele encontrado
nas instituições dos anos passados, onde o tratamento era idêntico a todos/as, subtraindo a
individualidade.
As normas incorporadas ao ECA, por meio da Lei nº 12.010/09, também explicitam o
que já está contemplado no direito infraconstitucional: a erradicação das práticas menoristas
que entendem a institucionalização de crianças e adolescentes como a “solução” do problema.
Com a nova legislação, enfatiza-se o encaminhamento de crianças e adolescentes aos programas
de Acolhimento em última instância, como medida excepcional, depois de se recorrer a outras
tentativas para que não sejam desvinculados de seu contexto social, pois o Acolhimento se trata
de uma medida que, por si só, já viola o direito fundamental expressamente assegurado pela
CF/88 e pelo ECA: o direito à convivência familiar e comunitária (DIGIÁCOMO, 2009).

20
Com a promulgação da Lei nº 13.509/2017, que altera novamente o Estatuto da Criança e do Adolescente, esse
período passa a ser de 18 meses.
39

3 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL A PARTIR DO MÉTODO E GESTÃO DO


ATENDIMENTO: ENTRE O LEGAL E O REAL

O ECA trouxe um conjunto de mudanças de conteúdo, método e gestão no campo do


atendimento, da promoção e da defesa dos direitos das crianças e adolescentes, com o objetivo
de contrapor a Doutrina da Situação Irregular que vigorou até a década de 1990 no Brasil.
Passados 29 anos de vigência do ECA e 10 anos da Lei nº 12.010/2009, os avanços são
significativos no que se refere aos direitos legalmente constituídos. Entretanto, há uma lacuna
entre o direito legal e o direito real, existem dificuldades na materialização dos marcos
normativos e regulatórios, as práticas sociais ainda preservam na estrutura e no funcionamento
dos programas de atendimento o antigo princípio da Doutrina da Situação Irregular. Ainda é
encontrado no campo do atendimento um discurso crítico, um planejamento espontaneísta e
uma prática autoritária (FUCHS, 2004).
Documentos como a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL,
2009b) e Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes
(BRASIL, 2009c) estabelecem orientações a respeito da estrutura física e quadro profissional
dos Serviços, além de princípios e diretrizes para um atendimento de qualidade. Isso garante a
proteção integral e a relação com o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes
enquanto instrumento de promoção, defesa e controle da efetivação dos direitos humanos
fundamentais. Dessa forma são construídas estratégias para romper com as práticas de
institucionalização pautadas na Doutrina da Situação Irregular, que ainda prevalecem na
sociedade e dificultam a efetivação das mudanças propostas pelo ECA em relação ao método,
conteúdo e gestão do atendimento.

3.1 O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS: PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA


DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACOLHIDAS/OS?

O ECA prevê direitos fundamentais a todas as crianças e adolescentes brasileiras e


atribui a responsabilidade em garanti-los a diferentes instâncias da sociedade. São eles: direito
à vida e à saúde; à liberdade; ao respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária;
educação, cultura, esporte e lazer; à profissionalização e à proteção no trabalho (BRASIL,
1990a, grifo nosso). Ao estabelecer essas garantias, se amplia a percepção de “sujeito de
direitos” e delimita ações a serem concretizadas por diferentes políticas sociais. Surgiu então a
necessidade de um mecanismo de fortalecimento da implementação no Brasil que produzisse
40

ações articuladas envolvendo intersetorialmente todas as políticas públicas com uma única
direção: garantir a proteção integral a todas as crianças e adolescentes.
É nesse sentido que o CONANDA institui em 2006 a Resolução nº. 113, que detalha o
Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), apontado no artigo 86
do ECA – que trata da Política de Atendimento –, com o objetivo de sanar as dificuldades ainda
existentes na garantia da proteção integral das crianças e adolescentes brasileiras.

Art. 1º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se


na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade
civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos
de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e
do adolescente, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal (BRASIL, 2006b).

A configuração do SGDCA operacionaliza-se a partir de três diferentes eixos


estratégicos de ação: (i) defesa, (ii) promoção e (iii) controle. O eixo da defesa se caracteriza
pela garantia do acesso à justiça, às instâncias públicas e aos mecanismos jurídicos de proteção
dos direitos da infância e da adolescência. O eixo da promoção dos direitos humanos é
operacionalizado por meio de programas e serviços das políticas sociais, de medidas de
proteção e de execução de medidas socioeducativas, relacionados à política de atendimento,
articulando as políticas de saúde, educação, assistência social, segurança, entre outras. E o eixo
de controle da efetivação das políticas públicas diz respeito às instâncias públicas colegiadas,
como os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, os Conselhos Setoriais de
formulação e controle de políticas públicas, e os órgãos e poderes de controle interno e externo
definidos na Constituição Federal, que também podem ser integrados pela sociedade civil
(GONSALVES; ANDION, 2019).
Dentre as instituições que integram o SGDCA destacam-se: os Conselhos de Direitos
em nível nacional, estadual e municipal, os Conselhos Tutelares, Varas da Infância e Juventude,
Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacias Especializadas, Centros de Defesa,
Organizações da Sociedade Civil (OSCs), e os órgãos governamentais do Executivo nas três
esferas governamentais responsáveis pela execução de Políticas Públicas Sociais - saúde,
assistência social, educação, esporte, cultura, lazer, profissionalização e emprego. Assim, o
SGDCA envolve diferentes atores sociais e políticos na efetivação da política de atenção à
criança e ao adolescente, igualmente articulados e responsabilizados “tanto na compreensão das
dificuldades e problemas existentes, quanto na construção de alternativas de enfrentamento, e
busca de soluções que favoreçam a população infanto-juvenil, seja no âmbito coletivo ou
individual” (AMORIM, 2017, p. 51).
41

Nessa organização não existe um órgão exclusivamente encarregado e nem uma


hierarquia entre os integrantes responsáveis pela efetivação da cidadania de crianças e
adolescentes, mas sim uma corresponsabilização entre todos os envolvidos. Não há como
definir uma centralização no atendimento partindo da perspectiva de atendimento integral, que
exige a promoção, a proteção e a defesa de direitos. Segundo Amorim (2017, p. 54), “a
completude da garantia dos direitos se dá pela complementaridade do atendimento dos diversos
serviços, programas, projetos e ações das diferentes políticas públicas e sociais, de instituições
da sociedade civil, e de profissionais que integram o sistema”, com vistas a enfrentar, superar,
prevenir e coibir a violação de direitos. Sobre essa questão, Rezende (2014 apud FARINELLI;
PIERINI, 2016, p. 72) esclarece:

Ao contrário dos demais sistemas oficializados no Brasil, como o Sistema Único de


Saúde – SUS, ou o Sistema Único da Assistência Social - SUAS, o SGDCA [...] além
de não estar sob a gestão de um único organismo (como os demais sistemas, sob a
gestão do governo brasileiro), ele não se refere aos aspectos operacionais, às regras
precisas e detalhadas de operação dos atendimentos. Ao contrário, estabelece
estratégias gerais de ação, que devem ser seguidas e adaptadas a cada realidade,
permitindo que os atores sociais estabeleçam novas formas de implementá-las, de
acordo com suas realidades e potencialidades (REZENDE apud FARINELLI;
PIERINI, 2016, p. 72).

A organização do SGDCA implica na atuação direta às necessidades das crianças,


adolescentes e suas famílias, desenvolvendo ações que integrem e responsabilizem todos os
envolvidos. A necessidade da sua construção reflete a complexa realidade das crianças e
adolescentes brasileiras, exigindo uma articulação ampla de diversos órgãos com vistas à
superação das injustiças e desigualdades sociais historicamente construídas pela sociedade.
Ao definir as competências e responsabilidades de cada ator integrante do sistema, em
conformidade com o ECA, estabelece o compromisso do Estado, das famílias e da sociedade
civil na efetivação dos direitos das crianças e adolescentes. A sociedade civil se torna um
importante ator corresponsável pela efetivação da cidadania, e a descentralização político-
administrativa, a participação popular e a noção de direitos humanos são fundamentais para a
consolidação e efetivação do SGDCA, possibilitando a proteção integral e reforçando a
necessidade de uma sociedade democrática, garantidora de direitos e socialmente justa
(AMORIM, 2017).
Compreender a responsabilidade de todos esses atores no reordenamento institucional
dos Serviços de Acolhimento Institucional ou Familiar “poderá possibilitar à população infanto-
juvenil o atendimento qualificado, sistemático e adequado, tanto nos serviços públicos, como
42

nas ações desenvolvidas, complementarmente, por organizações não governamentais”


(AMORIM, 2017, p. 57).
Quanto à medida protetiva de Acolhimento Institucional, esta envolve um conjunto de
instituições integradoras que precisam estar articuladas entre si. O princípio da incompletude
institucional torna-se uma ferramenta de ação desse Sistema, exigindo ações em conjunto e
responsáveis entre as diferentes políticas públicas, materializando o atendimento às demandas
e necessidades sociais das crianças e adolescentes (HACK, 2016).
Entretanto, ainda existem lacunas entre o direito legal e o direito real, com práticas
repressoras, preconceituosas e menoristas na postura e atuação dos integrantes do SGDCA. De
acordo com Oliveira (2011), exemplo disso é a promoção de atendimentos inadequados nas
realidades locais, o despreparo dos representantes da sociedade civil junto aos Conselhos, o
baixo poder de mobilização das famílias para exercer o controle social e a escassa articulação
interinstitucional e entre programas, projetos e políticas voltadas às crianças e adolescentes.
Segundo a autora, a gestão precisa ser pressionada para transformar demandas em ações
políticas à população infanto-juvenil, é preciso haver reciprocidade entre as necessidades
destas, as determinações econômicas e a vontade política.
O alcance dos direitos humanos de crianças e adolescentes perpassa o funcionamento
adequado do SGDCA, o desafio é avançar na articulação e atuação intersetorial e
interinstitucional que pressupõe a construção de redes de atendimento. Contudo, redes não se
constituem apenas por estarem no mesmo território, é fundamental construir fluxos de trabalho
e intervenção de forma a restituir os direitos violados. As dificuldades na compreensão da
Doutrina da Proteção Integral são perceptíveis nas ações políticas desenvolvidas,
comprometendo a implementação do SGDCA, se fazendo necessário um amplo debate entre
todos os integrantes que compõem o sistema para que seja possível efetivar e garantir os direitos
fundamentais às crianças e adolescentes.
O Acolhimento Institucional integra o conjunto dos Serviços ofertados pela Política de
Assistência Social (BRASIL, 2004). Inserida na Proteção Social Especial de Alta
Complexidade, a execução desse Serviço – na perspectiva de promoção e garantia de direitos –
exige, além dos esforços da própria política pública de assistência social, um conjunto
articulado de diferentes organizações governamentais e não governamentais para que cumpra
com seus objetivos protetivos. É importante analisar como esse serviço está organizado dentro
da Política de Assistência Social, sobretudo porque: a) historicamente, a Assistência Social
passou a ser considerada como direito social somente a partir da CF/88, o que torna sua
organização ainda jovem na perspectiva de direitos de cidadania; b) é recente, na Política de
43

Assistência Social, o esforço de detalhamento e parametrização dos serviços oferecidos


relacionados ao atendimento aos direitos da criança e adolescente, sobretudo àquelas vítima de
violação de direitos e que se encontram institucionalizados/as.
É necessário conhecer a estrutura organizacional do Acolhimento Institucional enquanto
serviço de proteção garantido pela Política de Assistência Social, por meio de documentos
técnicos e normativos que orientam o atendimento às crianças e adolescentes em medida de
proteção. Tais documentos se tornam fundamentais enquanto estratégias de garantia da
proteção integral e efetivação da rede de serviços do Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente.

3.2 O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NO CONTEXTO DA POLÍTICA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL

A medida de proteção de Acolhimento Institucional garantida pelo ECA é também


exposta na Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004) enquanto serviço de
Proteção Social Especial às crianças e adolescentes com direitos violados e vínculos familiares
rompidos.
A compreensão da assistência social enquanto política pública é recente no Brasil.
Durante anos, ela foi desenvolvida sob a doutrina da Igreja para com as classes subalternas,
caracterizada pela filantropia, caridade e solidariedade. O Estado incentivou e se tornou
responsável a partir de uma lógica de benemerência, dependente de critérios de mérito,
contribuindo para a cultura de que “para os pobres, qualquer coisa basta”, sem a definição de
uma política garantidora de direitos sociais (YAZBEK, 2008).
É somente com o advento da Constituição Federal de 1988 que a assistência social passa
a ser reconhecida enquanto política pública, iniciando o caminho da permanente luta pela
universalização do acesso aos direitos e da responsabilização do Estado enquanto garantidor
dessa política.
É também com a CF/88 que se institui o Sistema de Seguridade Social brasileiro,
composto pelo tripé das políticas de saúde, assistência social e previdência social. A
regulamentação da assistência social como política pública se deu em 1993 por meio da
promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/1993, quando é
reconhecida enquanto direito do cidadão e dever do Estado como “política de Seguridade Social
não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de
ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”
44

(BRASIL, 1993, Art. 1º), buscando romper com a tradição assistencialista e clientelista que
sempre permeou a área.
Na IV Conferência Nacional de Assistência Social21 realizada em 2003 se apontou a
necessidade de construção e implementação de um Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), com estruturas matriciais como a territorialização e hierarquização das atenções por
nível de proteção social. Deliberou-se pela divisão da proteção social em dois níveis: Proteção
Social Básica e Proteção Social Especial, sendo esta última subdividida em média e alta
complexidade; e a implantação do SUAS, visando efetivar a assistência social como política
pública e direito da população.
Em 2004 o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) aprovou a Política
Nacional de Assistência Social que estabeleceu as novas diretrizes para a organização do
SUAS, prevendo um sistema pautado na descentralização política e administrativa com a
participação da sociedade na sua estruturação e execução dos serviços, programas, projetos e
benefícios. Elas se organizam em diferentes eixos estruturantes: matricialidade sociofamiliar;
descentralização político-administrativa e territorialização; novas bases para a relação entre
Estado e Sociedade Civil; financiamento; controle social; desafio da participação
popular/cidadão usuário; política de recursos humanos; informação, monitoramento e avaliação
(BRASIL, 2004).
Para fins deste estudo, prioriza-se a discussão acerca da Proteção Social Especial de
Alta Complexidade por ser aquela referente à garantia da proteção integral (moradia,
alimentação, higienização e trabalho protegido) para famílias e indivíduos que se encontram
em situação de risco pessoal e social por ocorrência de abandono, negligência, violência física
e/ou psíquica, violência sexual (abuso e/ou exploração), uso de substâncias psicoativas,
cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil,
fragilização ou rompimento dos vínculos familiares, entre outros, necessitando ser afastado do
convívio familiar, onde se enquadra a modalidade de Acolhimento Institucional enquanto
medida protetiva para crianças e adolescentes (BRASIL, 2004).
Diante da necessidade de padronização dos serviços assegurados pela PNAS para
garantir o acesso aos direitos socioassistenciais, o CNAS aprovou a Tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009b) que organiza e descreve os serviços, programas,

21
Ressalta-se que as conferências de assistência social são espaços de caráter deliberativo, realizadas nas três
esferas de governo (municipal, estadual e nacional), que devem oportunizar a participação popular por meio de
discussões e avaliações das ações governamentais, elegendo prioridades políticas para cada nível de governo e
responsabilidades para as diferentes organizações da sociedade civil que representam os usuários, trabalhadores e
as entidades de assistência social (BRASIL, 2019).
45

projetos e benefícios de cada nível de complexidade. O documento caracteriza as modalidades


de abrigo institucional, casa lar, casa de passagem e residência inclusiva enquanto modalidades
integrantes do serviço de Acolhimento Institucional, além de apontar os serviços também
incluídos na Proteção Social Especial de Alta Complexidade, como o serviço de acolhimento
em República, serviço de acolhimento em Família Acolhedora e o serviço de Proteção em
Situações de Calamidades Públicas e de Emergências (BRASIL, 2009b).
Outro documento que reafirma a PNAS e regulamenta os Serviços de Acolhimento
Institucional é o “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes” (BRASIL, 2009c), construído a partir de diversas discussões e legislações sobre
a temática criança e adolescente, em conformidade com o ECA, o PNCFC e a PNAS. Ele
estabelece princípios, orientações metodológicas e parâmetros de funcionamento para o
atendimento aos usuários dos Serviços de Acolhimento Institucional. Também aponta sete
princípios que devem basear o atendimento com crianças e adolescentes em medida protetiva
de Acolhimento Institucional (QUADRO 2):

QUADRO 2 - Princípios estruturantes do atendimento em Serviço de Acolhimento


Institucional para crianças e adolescentes

PRINCÍPIO CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO


A medida protetiva de Acolhimento Institucional deve ser uma medida
excepcional, utilizada apenas quando representar o melhor interesse da
Excepcionalidade do afastamento criança ou do adolescente e o menor prejuízo ao seu desenvolvimento,
do convívio familiar sendo aplicada apenas nas situações em que for impossível realizar uma
intervenção mantendo a criança ou o adolescente no convívio com a sua
família
Se a medida de Acolhimento Institucional for a mais adequada, deve ser
viabilizado, no menor tempo possível, o retorno da criança ou do
adolescente para o convívio familiar (prioritariamente na família de
Provisoriedade do afastamento do origem e excepcionalmente em família substituta). De acordo com a Lei
convívio familiar nº 13.509/2017, o tempo máximo de permanência em serviço de
acolhimento é de 18 meses (BRASIL, 2017)22

Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários nas ações


cotidianas dos Serviços de Acolhimento Institucional, como visitas,
Preservação e fortalecimento dos encontros com a família ou pessoas de referência, passeios na
vínculos familiares e comunidade, por exemplo, visando o desenvolvimento saudável e a
comunitários formação da identidade da criança ou do adolescente. Além disso,
crianças e adolescentes com vínculos de parentesco, não devem ser
separados ao serem encaminhados para serviço de acolhimento23

22
Art 19 § 2º: a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se
prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária (BRASIL, 2017).
23
Exceto em situações que isso seja contrário ao seu desejo ou, se houver claro risco de violência. (BRASIL,
2009c).
46

Toda e qualquer forma de discriminação baseada em condição


socioeconômica, arranjo familiar, etnia, religião, gênero, orientação
Garantia de acesso e respeito à sexual, condições físicas e/ou mentais ou necessidades de saúde, devem
diversidade e não-discriminação ser combatidas, garantindo um atendimento inclusivo e de qualidade24

O atendimento deverá ser oferecido à pequenos grupos, garantindo


Oferta de atendimento qualidade e sendo condizente com os direitos e as necessidades físicas,
personalizado e individualizado psicológicas e sociais das crianças e adolescentes

Os antecedentes religiosos dos/as acolhidos/as devem ser respeitados


por todos aqueles com os quais venha a manter contato em razão de seu
Garantia de liberdade de crença e acolhimento. O serviço deve propiciar que as crianças e adolescentes
religião satisfaçam suas necessidades de vida religiosa e espiritual25

As decisões que possam repercutir sobre o desenvolvimento e trajetória


de vida dos/as acolhidos/as devem garantir-lhes o direito de ter sua
Respeito à autonomia da criança, opinião considerada. O serviço também deverá proporcionar o
do adolescente e do jovem fortalecimento gradativo da autonomia, de modo condizente com o
processo de desenvolvimento e a aquisição de habilidades nas diferentes
faixas etárias

Fonte: BRASIL (2009c). Elaboração própria (2019).

O documento ainda propõe orientações metodológicas para o atendimento, visando


contribuir para a melhoria destes princípios: elaboração de estudo diagnóstico; elaboração do
Plano de Atendimento Individual e Familiar; implementação de uma sistemática de
acompanhamento da família de origem; realização de articulação intersetorial (no âmbito do
SUAS, SUS e sistema educacional); elaboração de um Projeto Político-Pedagógico do serviço
que contemple os seguintes conteúdos: atitude receptiva e acolhedora no momento da chegada
da criança/adolescente e durante o período de acolhimento; não-desmembramento de grupos
com vínculos de parentesco e fortalecimento de sua vinculação afetiva; organização de registros
sobre a história de vida e desenvolvimento de cada acolhido/a; definição do papel e valorização
dos educadores/cuidadores e da família acolhedora; relação do serviço com a família de origem;
preservação e fortalecimento da convivência comunitária; fortalecimento da autonomia da
criança, do adolescente e do jovem; desligamento gradativo; organização da gestão do trabalho
e educação permanente em consonância com a Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS) que contempla seleção, capacitação e formação
continuada dos profissionais do serviço (BRASIL, 2009c).

24
O Serviço de Acolhimento Institucional deve pensar, e prever em seu Projeto Político-Pedagógico, estratégias
para atendimentos às demandas específicas, preservando a diversidade cultural e oportunizando acesso e
valorização das raízes e cultura de origem das crianças e dos adolescentes atendidos, bem como de suas famílias
e comunidades de origem. O equipamento também deve respeitar as normas de acessibilidade, possibilitando o
atendimento aos usuários com deficiência (BRASIL, 2009c).
25
Deve ser viabilizado o acesso às atividades de sua religião, bem como o direito de escolher não participar de
atos religiosos ou de e recusar instrução ou orientação religiosa que não lhe seja significativa (BRASIL, 2009c).
47

Também afirma que o Serviço deve estar inserido em áreas residenciais, sem distanciar-
se do ambiente de origem dos/as acolhidos/as, ter estrutura semelhante ao de uma residência,
sem placas indicativas da natureza institucional, oferecer um ambiente acolhedor e condições
institucionais para um atendimento digno. Deve evitar nomenclaturas ou denominações que
remetam a aspectos negativos, estigmatizantes ou que reforcem práticas superadas,
despotencializando os/as usuários/as. O Serviço deve garantir atendimento personalizado e em
pequenos grupos, favorecendo o convívio familiar e comunitário das crianças e adolescentes
acolhidos/as e utilizando os equipamentos e serviços da rede disponíveis na comunidade
(BRASIL, 2009c).
O Quadro 3 apresenta a composição da equipe mínima profissional dos Recursos
Humanos dos Serviços de Acolhimento Institucional, em conformidade com as orientações da
NOB-RH/SUAS e do documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes”:

QUADRO 3 - Equipe profissional mínima para um Serviço de Acolhimento Institucional


COORDENADOR
● Formação mínima em nível superior e experiência em função congênere;
Perfil ● Experiência na área e amplo conhecimento da rede de proteção à infância e juventude,
de políticas públicas e da rede de serviços da cidade e região.
Quantidade 1 profissional para cada serviço

● Gestão do serviço;
● Elaboração, em conjunto com a equipe, do projeto político-pedagógico do serviço;
Principais ● Organização da seleção e contratação de pessoal e supervisão dos trabalhos
atividades desenvolvidos;
● Articulação com a rede de serviços;
● Articulação com o SGDCA.
EQUIPE TÉCNICA
● Formação mínima em nível superior26;
Perfil ● Experiência no atendimento a crianças, adolescentes e famílias em situação de
risco.
Quantidade 2 profissionais para atendimento a até 20 crianças e adolescentes

26
De acordo com a NOB-RH/SUAS, a equipe técnica de referência dos Serviços de acolhimento deve ser
formada por um assistente social e um psicólogo e suas respectivas atividades deverão respeitar as atribuições
privativas da profissão, definidas pelos respectivos conselhos profissionais (BRASIL, 2006c).
48

● Elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) do serviço, em conjunto com a


equipe;
● Acompanhamento psicossocial dos usuários e suas respectivas famílias, com vistas à
reintegração familiar;
● Apoio na seleção dos cuidadores/educadores e demais funcionários;
● Capacitação e acompanhamento dos cuidadores/educadores e demais funcionários;
● Apoio e acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos cuidadores/educadores
encaminhamento, discussão e planejamento conjunto com outros atores da rede de
serviços e do SGDCA das intervenções necessárias ao acompanhamento das crianças e
Principais adolescentes e suas famílias;
atividades ● Organização das informações das crianças e adolescentes e respectivas famílias, na
forma de prontuário individual;
● Elaboração, encaminhamento e discussão com a autoridade judiciária e Ministério
Público de relatórios semestrais sobre a situação de cada criança e adolescente
apontando possibilidades de reintegração familiar, necessidade de aplicação de novas
medidas, ou, quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem, a
necessidade de encaminhamento para adoção;
● Preparação, do/a acolhido/a para o desligamento (em parceria com a equipe);
● Mediação, em parceria com a equipe, do processo de aproximação e fortalecimento
ou construção do vínculo com a família de origem ou adotiva, quando for o caso.
CUIDADOR/EDUCADOR
Perfil ● Formação mínima de nível médio e capacitação específica;
● Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes;
Quantidade 1 profissional para até 10 usuários, por turno27

● Cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção; organização do ambiente


(espaço físico e atividades adequadas ao grau de desenvolvimento de cada criança ou
adolescente);
● Auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida, fortalecimento
Principais da autoestima e construção da identidade;
atividades ● Organização de fotografias e registros individuais sobre o desenvolvimento de cada
criança e/ou adolescente, de modo a preservar sua história de vida;
● Acompanhamento nos serviços de saúde, escola e outros serviços requeridos no
cotidiano;
● Apoio na preparação da criança ou adolescente para o desligamento, sendo para
tanto orientado e supervisionado por um profissional de nível superior.
AUXILIAR DE CUIDADOR/EDUCADOR
Perfil ● Formação mínima em nível fundamental e capacitação específica;
● Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes.
Quantidade 1 profissional para até 10 usuários, por turno

● Apoio às funções do cuidador/educador;


Principais
● Cuidados com a moradia (organização e limpeza do ambiente e preparação dos
atividades
alimentos, dentre outros).

Fonte: BRASIL (2009c). Elaboração própria (2019).

27
De acordo com as orientações técnicas, é desaconselhável que os cuidadores/educadores trabalhem em esquemas
de plantão (rodízio de 12 por 36 horas, por exemplo) devido a grande alternância de profissionais prestando os
cuidados. Sugere-se turnos de trabalho fixos diários, para que o profissional possibilite a estabilidade e organização
da rotina diária, desenvolvendo sempre as mesmas tarefas (exemplo: preparar café da manhã, almoço, jantar,
preparar para a escola, apoiar as tarefas escolares, colocar para dormir, etc.) (BRASIL, 2009c).
49

Outro elemento importante que estrutura o atendimento nos Serviços de Acolhimento


Institucional é a adequação da infraestrutura com espaços sugeridos: quartos, sala de estar, sala
de jantar, ambiente de estudo, banheiro, cozinha, área de serviço, área externa (varanda,
quintal), sala para equipe técnica, sala para coordenação/atividades administrativas e sala de
reuniões. O documento detalha como devem ser construídos estes espaços, visando garantir
condições e mobiliário suficiente para propiciar um atendimento de qualidade para os usuários
e um espaço de trabalho de qualidade para a equipe, incluindo acessibilidade às pessoas com
deficiências (BRASIL, 2009c).
O estabelecimento destas orientações e parâmetros são fundamentais para a execução
da modalidade de Acolhimento Institucional no país e um atendimento de qualidade, pautado
nos direitos estabelecidos no ECA de forma a proteger, temporariamente, crianças e
adolescentes afastadas do convívio familiar.

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL EM


FLORIANÓPOLIS

A Pesquisa “Sinais Vitais”, realizada em 2016 pelo Instituto Comunitário Grande


Florianópolis (ICOM)28 constatou que o número de crianças e adolescentes no município de
Florianópolis representava 19% da população total. A mesma pesquisa registrou mais de sete
mil denúncias de violações de direitos contra crianças e adolescentes no município entre os
anos de 2013 e 2015, e que no ano de 2015 cerca de 260 crianças e adolescentes foram
acolhidos/as institucionalmente (ICOM, 2016).
Conforme dados do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas publicados pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ),29 em setembro de 2019 existiam no Brasil 4.582 instituições de
Acolhimento espalhadas pelos 27 estados. Deste total, 209 se encontram em Santa Catarina,
com 1.777 crianças e adolescentes acolhidos/as (BRASIL, 2019).
Atualmente o município de Florianópolis possui dez instituições que oferecem o serviço
de Acolhimento Institucional, sendo duas governamentais mantidas pela Prefeitura Municipal,

28
O Relatório Sinais Vitais (ICOM, 2016), é um diagnóstico social participativo realizado pelo Instituto
Comunitário Grande Florianópolis, que identifica áreas prioritárias e desafios para a comunidade, com o objetivo
de melhorar a qualidade de vida de um determinado município. A pesquisa em questão representa a edição de
2016: “Sinais Vitais Criança e Adolescente - Direito Deles, Transformação para Todos” (ICOM, 2016).
29
Dados acessados em 09/09/2019, nos relatórios de “Quantidade de entidades de acolhimento por Estado” e
“Quantidade de acolhidos por Estado”, disponível em: <http://www.cnj.jus.br/cnca/publico/#>
50

e oito Organizações da Sociedade Civil (OSC)30. Dentre elas, quatro se enquadram na


modalidade de Casa Lar e seis na modalidade de Abrigo Institucional, conforme o Quadro 4:

QUADRO 4 - Unidades de Acolhimento Institucional em Florianópolis

Responsabilidade
Instituições Sexo Faixa etária
legal
Abrigo Municipal de Coqueiros Governamental Feminino 07 a 18 anos
Casa de Acolhimento de Meninos Governamental Masculino 12 a 18 anos

Casa Lar Emaús OSC Masculino 06 a 12 anos

Casa de Acolhimento Darcy Vitória Feminino e


OSC 0 a 18 anos
de Brito masculino
Feminino e
Casa Lar Luz do Caminho OSC 0 a 05 anos
masculino
Feminino e
Casa Lar Semente Viva OSC 02 a 12 anos
masculino
Feminino e
Lar Recanto do Carinho OSC 0 a 06 anos
masculino
Feminino e
Lar São Vicente de Paulo OSC 0 a 06 anos
masculino
SERTE (Sociedade Espírita de Feminino e
OSC 0 a 06 anos
Recuperação, Trabalho e Educação) masculino
Masculino
Casa Lar Nossa Senhora do Carmo OSC 04 a 12 anos
Feminino
Fonte: Sites institucionais. Elaboração própria (2019).

Os Serviços de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes em Florianópolis


são majoritariamente executados por Organizações da Sociedade Civil (OSC). Dados do Censo
SUAS31 (BRASIL, 2018) apontam que, assim como acontece no município de Florianópolis,
as OSC também são responsáveis pela gestão de 63,8% dos Serviços de Acolhimento no país.
Apenas a Casa de Acolhimento Darcy Vitória de Brito presta atendimento à todas as
faixas etárias, enquanto o restante das instituições restringe-se a uma faixa etária específica, se
opondo ao disposto no caderno de “Orientações técnicas: Serviços de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes” (BRASIL, 2009c), que indica que se deve evitar o atendimento
exclusivo e/ou especializado, como “adotar faixas etárias muito estreitas, direcionar o

30
As OSC são mantidas por meio de convênios com o Poder Público, com pessoas jurídicas e doações espontâneas,
campanhas de arrecadações e eventos beneficentes.
31
O Censo SUAS é um instrumento de monitoramento anual da rede socioassistencial, que reúne informações
disponibilizadas pelos próprios agentes dos serviços da respectiva rede, com o objetivo de produzir informações
que subsidiem o planejamento da execução da política de assistência social e aperfeiçoem o Sistema Único de
Assistência Social (BRASIL, 2018).
51

atendimento apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender crianças e


adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS” (BRASIL, 2009b, p. 63).
Pode-se afirmar que Florianópolis ainda apresenta certa resistência em atender essa
prerrogativa. Entretanto, tem sido feito movimentos no sentido de se aproximar dessas
orientações por meio de discussões no Fórum das Instituições de Acolhimento de Florianópolis
(FINAF), um espaço que possibilita a troca de experiências entre as instituições governamentais
e as OSC do município, com vistas a melhoria do atendimento dos Serviços de Acolhimento
Institucional.
A pesquisa “Sinais Vitais” aponta o predomínio da faixa etária entre 06 e 11 anos, que
representa a maioria (41%) dos/as acolhidos/as (GRÁFICO 1).

GRÁFICO 1 - Crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente em


Florianópolis - por faixa etária (2016)

7% 1%

21%

30%
41%

0 a 05 anos 06 a 11 anos 12 a 17 anos 18 a 20 anos Sem informação

Fonte: ICOM (2016). Elaboração própria.

Como recorte do objeto de análise desse TCC, trazemos adolescentes com idade a partir
de 16 anos, faixa etária em que as acolhidas já estão engajadas em atividades relacionadas ao
mercado formal de trabalho e começam a se preocupar com seu futuro após o desligamento do
Serviço de Acolhimento Institucional. De acordo com o Gráfico 1, 37% do total32 dos/as
adolescentes acolhidos/as nas instituições de Florianópolis se enquadram nesse recorte etário.
Atualmente existem três instituições, sendo duas governamentais e uma OSC, que realizam

32
Considerando 30% de 12 a 17 anos e 7% de 18 a 20 anos.
52

atendimento aos adolescentes até 18 anos em Florianópolis, cada uma com 20 vagas (Abrigo
Municipal de Coqueiros, Casa de Acolhimento de Meninos e Casa de Acolhimento Darcy
Vitória de Brito).
A pesquisa empírica realizada para a discussão proposta no TCC foi realizada no Abrigo
Municipal de Coqueiros. Assim, é pertinente trazer alguns apontamentos históricos e
metodológicos do seu funcionamento, que já iniciam os procedimentos de análise empírica,
tendo em vista que a organização e funcionamento do Abrigo de Coqueiros trarão elementos
concretos para analisar o objeto de pesquisa.

3.4 O ABRIGO MUNICIPAL DE COQUEIROS: HISTÓRIA E DINÂMICA


ORGANIZACIONAL

A origem do Abrigo Municipal de Coqueiros33 remete ao ano de 2012, quando o


município de Florianópolis contava apenas com um serviço de Acolhimento Institucional
chamado de “Casa de Passagem”, que acolhia meninos e meninas de 07 a 17 anos. Após
constatar irregularidades, o Ministério Público solicitou seu fechamento. Criou-se então a Casa
de Acolhimento do Jardim Atlântico, com 20 vagas, que funcionou durante um mês, quando
foi dividida em duas: a “Casa de Acolhimento do Jardim Atlântico” com 10 vagas e o “Abrigo
Municipal de Coqueiros” com 20 vagas. Ambos de natureza pública-estatal, acolhendo meninos
e meninas, sendo a distribuição de vagas de acordo com a estrutura física disponível em cada
casa. Assim, o Abrigo Municipal de Coqueiros foi inaugurado em 27 de maio de 2013.
Em 2014, essas duas instituições foram segmentadas por sexo, sendo a Casa de
Acolhimento do Jardim Atlântico atendendo crianças e adolescentes do sexo masculino, e o
Abrigo Municipal de Coqueiros, crianças e adolescentes do sexo feminino, permanecendo
assim até os dias atuais.
Sendo assim, o Abrigo Municipal de Coqueiros faz parte da rede de serviços gerida pela
Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) da Prefeitura Municipal de Florianópolis
(PMF), uma das duas instituições de Acolhimento Institucional de natureza pública estatal do
município.

33
Torna-se importante ressaltar que parte as informações expostas neste subitem se encontram em documentos
institucionais do Abrigo Municipal de Coqueiros, de acesso da estudante pesquisadora durante seu período de
realização do estágio curricular obrigatório na referida instituição.
53

Este serviço se enquadra na Proteção Social Especial de alta complexidade34, pois se


destina a acolher provisoriamente crianças e adolescentes do sexo feminino do município de
Florianópolis, com idade entre 7 e 18 anos incompletos, afastadas do convívio familiar por meio
de medida protetiva de Acolhimento Institucional (BRASIL, 2009a), em função de abandono
ou cujas famílias ou responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitadas de cumprir
sua função de cuidado e proteção, até que seja viabilizado o retorno ao convívio com a família
de origem ou, na sua impossibilidade, encaminhamento para família substituta (BRASIL,
2009b).
Atualmente, para atender as crianças e adolescentes acolhidas, o serviço possui sua
equipe formada por: 01 coordenadora, 01 assistente social, 01 auxiliar administrativo, 12
educadores sociais, 01 cozinheira, 01 auxiliar de serviços gerais35 e 01 motorista. A estrutura
física contempla uma residência de 500 m² composta por 04 quartos, 04 banheiros, 01 sala de
jantar, 01 de estar, 01 sala de estudos, 01 cozinha, 02 depósitos, 01 lavanderia, 02 varandas
externas, 01 sala pra atendimentos e reuniões e 01 sala de trabalho para equipe técnica,
administrativo e coordenação (FLORIANÓPOLIS, 2017).
A adequação da equipe do serviço não está inteiramente de acordo com a composição
mínima estabelecida pela NOB-RH/SUAS. A equipe técnica é composta apenas por uma
profissional assistente social, e embora a coordenadora da instituição possua formação em
psicologia e já tenha exercido a função em algum momento, atualmente assume o cargo de
coordenadora.36
Entende-se que a ausência de um profissional desse reflete profundamente nas ações
desenvolvidas pela atual equipe técnica, pois além da sobrecarga de trabalho da assistente
social, o psicólogo auxilia no desenvolvimento pessoal e social, bem como no fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários das adolescentes acolhidas. Além disso, assistentes
sociais e psicólogos realizam um trabalho interdisciplinar com as adolescentes, suas famílias e
a comunidade, visando à reintegração familiar.

34
Conforme apontado anteriormente, a Proteção Social Especial de Alta Complexidade é aquela destinada à
garantia da proteção integral para famílias e indivíduos que se encontram “em situação de ameaça, necessitando
ser retirados do seu núcleo familiar e/ou comunitário” (BRASIL, 2004).
35
A cozinheira e auxiliar de serviços gerais são contratadas via empresa terceirizada, enquanto o restante dos
funcionários são contratados via concurso público, de forma a garantir a estabilidade do vínculo empregatício para
facilitar o desenvolvimento das relações de convívio e confiança entre as adolescentes e os funcionários
(FLORIANÓPOLIS, 2017).
36
Durante a finalização deste TCC (dezembro/2019), tomou-se conhecimento de que a equipe técnica da
instituição havia sido reformulada, estando com seu quadro pessoal completo. Entretanto, mantém-se as
informações obtidas durante a etapa de coleta de dados (agosto e setembro/2019) por estas influenciarem no
resultado final da pesquisa.
54

A não contratação de outro profissional motorista resulta na divisão de tarefas de um


único profissional entre as duas instituições geridas pela PMF, que precisam organizar suas
atividades não em razão das demandas apontadas no processo pedagógico do acompanhamento,
mas da disponibilidade do profissional e do automóvel.
Os educadores sociais trabalham em sistema de plantão ininterrupto de 12 horas37, sendo
normalmente dois educadores de plantão por turno (das 07:00 às 19:00 e das 19:00 às 07:00),
o que, segundo as orientações técnicas, enfraquece a construção do vínculo afetivo e da
organização de uma rotina diária entre o educador e a criança ou adolescente acolhido
(BRASIL, 2009c).
A estrutura física é suficiente para atender a quantidade de vagas disponibilizadas,
entretanto o espaço não possui acessibilidade, ou seja, não tem condições de acolher uma
criança ou adolescente deficiente física, conforme o documento orientador prevê (BRASIL,
2009c).
Embora sejam necessárias adequações no que se refere aos recursos humanos e estrutura
física, a metodologia de trabalho da instituição está pautada em um Projeto Político Pedagógico
e um Regimento Interno, construídos com base em princípios e diretrizes estabelecidos na
CF/88, no ECA, na Política Nacional de Assistência Social, na Tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais, nas Orientações Técnicas, dentre outros documentos que tem por
finalidade disciplinar, estabelecer e definir as normas que contemplem o funcionamento e
execução do atendimento nos Serviços de Acolhimento Institucional.
Cada funcionário que compõe a equipe da instituição é reconhecido enquanto educador
social por estar presente no cotidiano das crianças e adolescentes acolhidas. Todos
desempenham uma função essencial tanto no funcionamento da casa quanto na relação com as
meninas acolhidas.
As atribuições de cada um estão dispostas no PPP da instituição. É de responsabilidade
do educador social, por exemplo: auxiliar nos cuidados básicos com alimentação, higiene,
proteção, apoio e orientação na organização pessoal; no processo de adaptação ao novo
momento de vida; na organização do espaço físico e atividades adequadas ao grau de
desenvolvimento de cada criança e/ou adolescente; na compreensão e ressignificação das
histórias de vida das acolhidas; fortalecer a autoestima e a construção da identidade;
acompanhar nos serviços de saúde, escola, dentre outros; auxiliar no desenvolvimento da

37
Sendo sua jornada de trabalho em escala de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.
55

autonomia e responsabilidade; zelar pelo sigilo das informações de todas as crianças e


adolescentes acolhidas (FLORIANÓPOLIS, 2017).
O/A cozinheiro/a tem a função de preparo e manutenção dos alimentos diários,
organização e limpeza dos equipamentos e utensílios da cozinha. É de responsabilidade do/a
auxiliar de serviços gerais a limpeza e organização do espaço físico. Cabe à/ao motorista o
transporte da equipe e das acolhidas para as atividades que se fizerem necessárias. E é função
do/a assistente administrativo o controle da gestão financeira, administrativa e a organização
de arquivos (FLORIANÓPOLIS, 2017).
O coordenador do Serviço de Acolhimento é responsável por: supervisionar e orientar
o trabalho de toda a equipe de trabalho do serviço; trabalhar as relações interpessoais da equipe;
realizar articulações com a rede socioassistencial; organizar, solicitar e armazenar materiais de
limpeza, alimentação, vestimenta e outros que se fizerem necessários para o atendimento
integral das crianças e adolescentes acolhidas (FLORIANÓPOLIS, 2017).
As atribuições da equipe técnica são relacionadas a: realização de Diagnóstico
Situacional; construção do PIA de cada acolhida; elaboração de Relatórios Situacionais;
realização de visitas domiciliares; participação na elaboração do PPP em conjunto com a
equipe; apoio a equipe de educadores sociais; interlocuções com a rede socioassistencial;
realização de atendimentos individualizados; organização e registro de informações das
acolhidas (FLORIANÓPOLIS, 2017).
É de extrema importância definir atribuições a cada membro da equipe, pois contribui
na construção da rotina de trabalho partindo da necessidade de proporcionar um ambiente
acolhedor, que traga segurança e favoreça o desenvolvimento pessoal das crianças e
adolescentes acolhidas, construindo um atendimento integral com um ambiente que se
aproxime ao máximo do familiar, onde todas cooperam com a organização e limpeza do espaço,
da alimentação e de seus pertences38 e também usufruam de momentos de lazer e de
convivência familiar e comunitária. O Acolhimento Institucional não significa a privação do
direito à liberdade, contribui com a construção de vínculos significativos entre as adolescentes
e a comunidade, visando o desenvolvimento de sua autonomia e socialização.
As mudanças em relação ao conteúdo, ao método e à gestão do atendimento são
significativas comparadas às práticas de institucionalização antepassadas, entretanto estas ainda
chegam com dificuldade aos destinatários.

38
São estabelecidas, inclusive, rotinas de limpeza do ambiente, de lavagem de roupas e louças, de estudo, entre
outras.
56

Nos capítulos a seguir comparamos o que é competência do SGDCA e o que é garantido


nas legislações, orientações técnicas e demais documentos normativos e regulatórios com o que
os Serviços de Acolhimento Institucional, em especial o Abrigo Municipal de Coqueiros,
efetivamente oferecem. Para isso, primeiramente apresenta-se a trajetória de parte das vidas das
participantes, analisando os motivos que levaram ao encaminhamento ao Acolhimento
Institucional para, posteriormente, discutir as estratégias de atuação do Serviço para com essas
adolescentes que devem ser desligadas da instituição, obrigatoriamente, pela maioridade.
57

4 ADOLESCENTES E O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: O PERCURSO ANTES


E DURANTE A INSTITUCIONALIZAÇÃO

Num exercício atento e detalhado buscou-se reconstruir a história de vida de duas


adolescentes, Violeta e Iris, se detendo ao percurso antes e durante o Acolhimento Institucional
de ambas. A partir dos prontuários físicos e Processos Judiciais online foi feita a reconstrução
das histórias, considerando os registros documentais gerados no acompanhamento pelo Sistema
de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, e que culminaram com a
institucionalização dessas adolescentes. Como contraponto aos “autos dos processos”
procurou-se trazer suas percepções em relação aos acontecimentos e ações decorrentes dos seus
Acolhimentos.

4.1 PERCURSO METODOLÓGICO

Na busca por dados que possibilitassem a aproximação com a questão central, definiu-
se dois eixos de coleta de dados: o primeiro, a pesquisa empírica, contou com a entrevista
semiestruturada com duas adolescentes que se encontravam acolhidas na ocasião da pesquisa
de campo e com um profissional técnico do Abrigo Municipal de Coqueiros. Em relação às
adolescentes, por razões metodológicas, optou-se por entrevistar aquelas com idades entre 16 e
18 anos, independentemente do tempo de permanência no Acolhimento Institucional.
No segundo eixo buscou-se informações nos documentos institucionais do Abrigo
Municipal de Coqueiros, mais especificamente nos prontuários das adolescentes e no Processo
Judicial online de cada uma, a fim de complementar a pesquisa por dados sobre a trajetória das
entrevistadas e suas famílias. O prontuário é a denominação utilizada pela equipe do Serviço
de Acolhimento, para se referir a uma pasta física com arquivos pessoais. O Processo Judicial
online se configura por meio de um site oficial do Poder Judiciário onde é possível consultar a
situação dos processos em poder da justiça. Pelo fato de todos os acolhimentos e seus
desdobramentos serem notificados à Vara da Infância e da Juventude, todas as informações
judiciais ficam arquivadas nestes processos. Através de um Sistema de Automação da Justiça
(e-SAJ) é gerado um número de processo que disponibiliza o acesso às informações relativas à
sua tramitação no Tribunal de Justiça.
Por se tratar de uma pesquisa com seres humanos, somado ao fato de serem menores de
idade e em medida de proteção determinada por autoridade judicial, por questões éticas o
percurso metodológico desta pesquisa precisou ser avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
58

com Seres Humanos da UFSC, conforme determina o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa,
por meio da Resolução 510/2016 (BRASIL, 2016). A primeira versão do projeto de pesquisa
foi submetida ao CEPSH/UFSC no dia 02 de maio de 2019, tendo sua aprovação final em 06
de agosto do mesmo ano.
Deu-se início então à realização da metodologia. Em um primeiro momento foram
definidas quatro adolescentes que na época se encontravam acolhidas na instituição e possuíam
as características para participar. Contudo, na data proposta para o início da aplicação do
instrumental de coleta de dados – em razão do aguardo da autorização do CEPSH/UFSC – uma
das adolescentes havia sido transferida para outra instituição de Acolhimento do município, e
outra foi desacolhida. Dessa forma, a coleta de dados foi realizada com duas adolescentes, além
do profissional de Serviço Social.
Mediante autorização judicial emitida pela Juíza de Direito da Vara da Infância e da
Juventude – Comarca da Capital e pelo Coordenador da instituição de Acolhimento (também
responsável legal das adolescentes), as entrevistas com as acolhidas foram realizadas em
horários previamente agendados, de maneira a não comprometer suas rotinas diárias.
A pesquisadora compareceu à instituição em dois sábados do mês de agosto de 2019,
acompanhada da professora orientadora. As entrevistas foram realizadas individualmente, na
sala da equipe técnica da instituição, somente com a presença da pesquisadora, da professora
orientadora e da adolescente entrevistada. O roteiro de perguntas previamente elaborado
(APÊNDICE F) permitiu uma conversação livre, com informações aprofundadas e detalhadas,
objetivando “levantar motivações, crenças, percepções e atitudes em relação a certa situação
e/ou objeto de investigação” (MARTINS, 2008, p. 27). Cada entrevista com as adolescentes
durou cerca de 50 minutos, totalizando aproximadamente 100 minutos de conteúdo gravado.
Todas as conversas foram transcritas em 40 páginas de material, transferidos para um quadro
de análise de entrevista (APÊNDICE E).
Quanto a entrevista com o profissional técnico, também aconteceu no mês de agosto,
mediante agendamento prévio, em uma sala de atendimento privada da instituição, durante o
horário de trabalho do profissional. A partir de um roteiro previamente estabelecido
(APÊNDICE G), o conteúdo da entrevista gerou 40 minutos de gravação e 11 páginas de
transcrição, somando ao todo 51 páginas de relatos.
A pesquisadora também agendou com a coordenação da instituição dois dias no Abrigo
Municipal de Coqueiros para coletar as informações da pesquisa documental nos prontuários
físicos e Processos Jurídicos online. A coleta de dados foi realizada no mês de setembro, com
59

seleção de informações consideradas importantes para a pesquisa, e transcritas em um


documento para posterior análise.
Pelo fato de os processos das adolescentes acolhidas tramitarem em segredo de justiça,
sua consulta é restrita apenas a usuários portadores de uma senha de acesso ao Sistema.
Portanto, esse momento de coleta de informações foi realizado dentro da instituição, sob
supervisão do profissional técnico responsável que se encontrava no local em horário de
trabalho.
A observação participante da pesquisadora também se constitui enquanto instrumento
para a coleta de dados. A partir dessa técnica, “o pesquisador observador torna-se parte
integrante de uma estrutura social, e na relação face a face com os sujeitos da pesquisa realiza
a coleta de dados e informações” (MARTINS, 2008, p. 25). Durante o período de estágio no
Abrigo Municipal de Coqueiros, as observações foram reportadas para um diário de campo que
compôs mais um material de análise empírica para a pesquisa.
As transcrições das entrevistas, a coleta de dados nos prontuários e o diário de campo
da pesquisadora foram posteriormente analisados, possibilitando a construção das discussões
que seguem nos próximos capítulos.

4.2 TRAJETÓRIAS ANTERIORES AO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: OS CASOS


VIOLETA E ÍRIS

Para compreender o processo de desligamento obrigatório das adolescentes acolhidas


institucionalmente no Abrigo Municipal de Coqueiros se faz necessário compreender os
motivos que levaram à sua institucionalização. Tendo em vista que essas se encontram
institucionalizadas há mais de cinco anos, as adolescentes viveram cerca de 1/3 de suas vidas
afastadas do convívio familiar.
A pesquisa documental e análise das informações encontradas retratam as histórias de
vida das adolescentes anterior ao Acolhimento Institucional. Entretanto, também é importante
dar voz às adolescentes, permitir que estas relatem sobre suas experiências que durante anos
foram marcadas pela interferência de outras pessoas e instituições.
Esta seção está dividida de modo a apresentar primeiramente a trajetória anterior ao
Acolhimento Institucional das adolescentes, através da pesquisa documental realizada nos
prontuários das acolhidas. Em seguida, apresentação da mesma história a partir do ponto de
vista das adolescentes.
60

Para manter a privacidade das adolescentes sujeitos dessa pesquisa, cada uma foi
denominada a partir do nome de uma flor. Metáfora esta adotada em razão de que no processo
de vida de uma flor, a dialética da vida se faz presente no percurso. Além disso, como o
momento de mudança vivenciado pelas adolescentes devido à chegada da maioridade, as flores
escolhidas representam a força, a transformação, o crescimento, o renascimento, a resistência e
a adaptação.
Sendo assim, o conteúdo apresentado nesta análise está dividido de maneira a analisar
dois diferentes casos: Violeta e Íris.

4.2.1 O caso Violeta

Violeta, hoje com 18 anos, foi acolhida pela primeira vez no Abrigo Municipal de
Coqueiros em março de 2013, junto com sua irmã. A partir da pesquisa documental, construiu-
se uma linha do tempo da sua trajetória de vida antes do encaminhamento ao Acolhimento
Institucional, para melhor visualização e análise das informações (FIGURA 2).

FIGURA 2 - Linha do tempo anterior ao Acolhimento Institucional de Violeta

Fonte: Pesquisa documental. Elaboração própria (2019).

Com base nos documentos encontrados, há registros de que a família era acompanhada
pelo Conselho Tutelar (CT) desde 2005 e que em 2006 este mesmo órgão encaminhou a família
61

para atendimento no Programa de Orientação e Apoio Sócio Familiar (POASF)39, hoje extinto.
Seis anos depois, em 2012, há registros do início do acompanhamento da família no serviço de
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Estes documentos de
2005 a 2012 aos quais a pesquisadora teve acesso, não detalham 40 os motivos pelos quais a
família iniciou o acompanhamento pelo Conselho Tutelar, tão pouco a razão para o
encaminhamento ao POASF e PAEFI.
As próximas informações encontradas datam de 2012, quando o CT recebeu uma
denúncia por meio do SOS Disque Denúncia41 de que a genitora de Violeta “comparecia
sempre embriagada à escola” aonde as filhas estudavam e que Violeta, na época criança,
possuía comportamento agressivo e hematomas nos braços, consequência de episódios de
automutilação com objetos cortantes (Conselho Tutelar). Não foram encontrados registros com
maiores informações sobre os encaminhamentos realizados posterior à essa denúncia.
As informações seguintes se referem ao ano de 2013, cerca de seis meses após a
denúncia pelo SOS, relatando dois episódios envolvendo a Unidade Básica de Saúde (UBS)
frequentada pela família de Violeta no espaço de tempo de dois meses. Relatos do CT afirmam
que a UBS os acionou solicitando auxílio. Na primeira situação, relatam que a genitora de
Violeta compareceu ao Grupo de Apoio Psicológico realizado na UBS acompanhada das filhas
(Violeta e sua irmã), entretanto os/as profissionais de saúde observaram que a genitora se
encontrava embriagada e agredindo-as fisicamente. O CT buscou as irmãs e acompanhou-as na
realização de boletim de ocorrência policial (BO), seguido de exame de corpo de delito.
Em atendimento com o CT as irmãs confirmaram as agressões da mãe e o uso diário de
álcool e drogas. Questionadas sobre a possibilidade de serem cuidadas por algum outro familiar,
indicaram um tio, mas em contato telefônico ele afirmou não ter condições de cuidar das
sobrinhas. Dessa forma o CT conversou com a genitora, que se comprometeu a realizar
tratamento no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) assim
que conseguisse o benefício de transporte.
Aproximadamente dois meses após este fato a mesma UBS acionou novamente o CT
comunicando que o genitor de Violeta estava no local solicitando auxílio para as filhas, visto

39
Com a implantação do Sistema Único de Assistência Social em 2004 e posteriormente, com a Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais em 2009, o POASF, integrante do Programa Sentinela, foi substituído
pelo Serviço de Enfrentamento a Violência, Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes,
integrante dos serviços do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS).
40
Essa tônica de “poucas ou nenhuma informação” é recorrente nos documentos físicos ou processos judiciários
online das adolescentes acolhidas. Assim, dificultando a reconstrução do itinerário da vida dessas adolescentes
para que possamos, com riqueza de detalhes, compreender as decisões tomadas pelas instituições do SGDCA.
41
O SOS Disque Denúncia é uma ferramenta para realização de denúncias de violações de direitos contra crianças
e adolescentes, administrada pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Florianópolis.
62

que a genitora não havia iniciado o tratamento e ele também não tinha condições de prestar os
cuidados necessários por também ser usuário de álcool. O CT buscou as adolescentes e realizou
outra tentativa de contato com o tio, mas este não alterou sua decisão inicial.
Sob a justificativa da “situação emergencial”, o CT encaminhou as irmãs para o
Acolhimento Institucional com a seguinte motivação exposta no documento enviado ao Abrigo
Municipal de Coqueiros: “criança e adolescente vítimas de negligência. Genitora usuária de
substâncias psicoativas e genitor alcoolista. Família ampliada não aceita cuidar das crianças”
(Conselho Tutelar).
As irmãs foram acolhidas em maio de 2013, primeiramente na Casa de Acolhimento do
Jardim Atlântico e em seguida no Abrigo Municipal de Coqueiros, inaugurado na semana
seguinte. O CT enviou relatório explicando o motivo da decisão do Acolhimento Institucional
à Vara da Infância e da Juventude cerca de 20 dias após o acolhimento.
O único documento que contém informações pertinentes sobre a trajetória da família da
adolescente Violeta é o relatório complementar enviado à Vara da Infância e da Juventude,
elaborado pelo CT, e ainda deixa a desejar por não detalhar as informações, ações e
encaminhamentos realizados desde o início do acompanhamento da família. Não há como saber
os motivos que levaram o CT a iniciar o acompanhamento e o encaminhamento a outros
serviços assistenciais, mas é possível perceber que somente a partir da denúncia pelo SOS
Disque Denúncia que ele julgou importante detalhar as informações.
Essa ausência de informações reflete a qualidade técnica dos documentos elaborados,
resultando na dificuldade em conseguir organizar os poucos dados, estruturá-los em uma linha
do tempo para melhor visualização e compreensão dos processos, para assim analisar os
determinantes que ocasionaram a medida de proteção de Acolhimento Institucional de Violeta
e sua irmã.
A família de Violeta foi acompanhada pelo CT por mais de oito anos, sendo este mesmo
órgão de proteção responsável pelo encaminhamento ao Acolhimento Institucional. As
informações apontadas pelo/a profissional de saúde da UBS são as mais detalhadas e
importantes, pois somente a partir dele que o CT toma uma atitude e se faz presente enquanto
órgão de proteção e defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
Sabe-se que o CT é um órgão autônomo, não jurisdicional e administrativo, portanto
“integra o conjunto das instituições públicas municipais, sendo sua função executora no sentido
de prover o atendimento de direitos, não cabendo ao mesmo o julgamento e a solução de
conflitos de interesse e a aplicação da lei” (SILVA, 2011, p. 64). Assim, é ao Poder Judiciário
63

que o fato deve ser levado e onde as sanções serão aplicadas. Dessa forma, todos os
encaminhamentos e decisões do CT, devem ser comunicados ao Judiciário.
Conforme exposto no ECA, se o CT entender o afastamento do convívio familiar como
necessário, “comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações
sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a
promoção social da família” (BRASIL, 1990a, Art. 136). No caso de Violeta e sua irmã o
Conselho comunicou ao Poder Judiciário os motivos que levaram a decisão do Acolhimento
somente 17 dias após elas já estarem acolhidas na instituição, não cumprindo com o que dispõe
a legislação.
Embora o relatório complementar seja o único documento que apresente algumas
informações sobre parte da vida de Violeta anterior ao Acolhimento Institucional, nas quase
sete páginas de história é possível encontrar a atuação do Sistema de Garantia de Direitos de
Crianças e Adolescentes, representado pelo Conselho Tutelar que iniciou o atendimento; pelos
serviços da assistência social aos quais a família foi encaminhada; pela educação, visto que a
denúncia provavelmente foi feita por um membro da escola, pois se refere a frequência da
genitora e ao comportamento de Violeta neste espaço; pela Unidade Básica de Saúde
frequentada pela família que acionou o CT; e pela Vara da Infância e da Juventude, enquanto
instância do Poder Judiciário acionada posteriormente, para deferimento do pedido de
Acolhimento Institucional.
Ainda que o SGDCA tenha sido acionado por meio das instituições e políticas públicas,
sua operacionalização não se efetivou. A Doutrina da Proteção Integral estabelecida pelo ECA,
juntamente com a lógica de atuação do SGDCA, prevê uma rede de atuação articulada e
integrada entre as políticas, programas e serviços públicos. “No âmbito das políticas sociais a
concepção de redes surge como uma possibilidade de superação da histórica fragmentação
presente na intervenção de diferentes áreas” (TEJADAS, 2009, p. 45). Não cabem mais ações
isoladas ou aquela antiga concepção de que as instituições conseguem responder sozinhas às
necessidades sociais.
A importância de uma rede de atuação articulada entre os órgãos do SGDCA implica na
efetividade da garantia de direitos de crianças e adolescentes. Conforme Carvalho (2012, p. 39)
“organizar um trabalho numa perspectiva de rede significa articular instituições, organizações
e pessoas em torno de uma questão social comum envolvendo o planejamento, a execução e a
avaliação dos resultados dessa integração.” Essa rede de atuação presente na configuração das
ações do SGDCA é indispensável para garantir proteção integral.
64

[A noção de rede] permite traduzir com mais propriedade a trama de conexões


interorganizacionais em que se baseia o sistema de garantia dos direitos de crianças e
adolescentes, pois compreende o complexo de relações acionadas, em diferentes
momentos, pelos agentes de cada organização para garantir esses direitos (AQUINO,
2004, apud CARVALHO, 2012, p. 39).

A efetividade dessa atuação articulada e integrada entre os órgãos, autoridades e


instituições governamentais e não governamentais do SGDCA possibilitará o atendimento
interinstitucional e interdisciplinar necessário as crianças, adolescentes e suas famílias. De
acordo com Digiácomo (2013, p. 1):

Não é mais preciso esperar que uma criança ou adolescente tenha seus direitos
violados para que - somente então - o “Sistema” passe a agir, não sendo também
admissível que esta atuação se restrinja ao plano meramente individual e, muito
menos, que a institucionalização, responsável por tantos malefícios, seja
considerada uma “solução”, tal qual ocorria no passado (DIGIÁCOMO, 2013, p.
1, grifo nosso).

Na situação de Violeta, a falta de articulação entre os órgãos do SGDCA contribuiu para


o seu Acolhimento Institucional e de sua irmã. Em nenhum momento é relatado uma discussão
conjunta do SGDCA para se pensar estratégias de atuação coletiva, pelo contrário, o que se
percebe são ações fragmentadas e individualizadas de cada instituição que em algum momento
teve relação com a família.
Embora haja irregularidades, poucos documentos e informações relevantes, o que mais
chama atenção são os motivos que levaram à tal decisão do Conselho Tutelar. Não cabe aqui
negar a necessidade da medida de proteção de Acolhimento Institucional à Violeta e sua irmã,
mas sim problematizar a atuação do SGDCA, em especial do Conselho Tutelar.
De forma geral, o CT considera que a família não possuía condições de prover os
cuidados necessários a seus filhos, gerando motivos para a destituição do poder familiar. Neste
caso, ao determinar o motivo do Acolhimento, estão presentes estereótipos como “usuários de
substâncias psicoativas” ou “alcoolistas”, além de termos como “negligência”, para
caracterizar a “falta de cuidado e proteção” dos genitores.
Dentre os documentos analisados não há qualquer destaque à atitude do pai (genitor)
que procurou ajuda voluntariamente, movido pela falta de condições objetivas de prover o
cuidado das filhas. Essa atitude, embora expresse sua “incapacidade”, denota um movimento
responsável e preocupado com possíveis consequências na vida da família e das filhas. O
registro classifica o pai como “negligente e alcoolista” e suas ações são caracterizadas como
falta de cuidado e proteção.
65

É importante pontuar a utilização do termo “negligência”. Segundo Berberian (2015),


no campo de atendimento à infância e juventude tornou-se recorrente e vicioso a utilização
deste termo para qualificar a capacidade das famílias em proteger seus membros.

Famílias que vivem e convivem em condições-limite de vida e sobrevivência, muitas


vezes perpassadas pelo uso/abuso de drogas, desemprego/subemprego, exposição às
diversas manifestações de violência, fragilidade dos vínculos familiares, entre outros
desdobramentos da questão social, frequentemente são questionadas pelos
profissionais acerca da capacidade protetiva em relação a suas crianças e adolescentes,
ocupando então um lugar de completa responsabilização pela oferta de cuidados e
serviços a esses sujeitos, sem trazer para o debate a fundamental presença do Estado
como provedor de um sistema de garantia de direitos (BERBERIAN, 2015, p. 50).

De acordo com Azevedo e Guerra (1989, p. 41), a negligência “representa uma omissão
em termos de prover necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente” (grifo
nosso). Assim, ela se configura, por exemplo, “quando os pais (ou responsáveis) falham em
termos de alimentar, de vestir adequadamente seus filhos e quando tal falha não é resultado das
condições de vida além de seu controle”. Por esse motivo, Minayo (2001, p. 97) afirma que a
negligência é uma ação dificil de ser qualificada e quantificada, “sobretudo quando as famílias
estão em situação de miséria”.
A pesquisa “Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de
Acolhimento”, publicada em 2013 e realizada em 27 unidades de federação do Brasil, revelou
que entre os motivos do ingresso da criança ou do adolescente no Acolhimento Institucional,
em todas as regiões do país o motivo “negligência na família” se sobressai, representando
37,6% do total (ASSIS; FARIAS, 2013).
Se segundo a CF/88 o dever de assegurar direitos fundamentais as crianças e
adolescentes é de responsabilidade não só da família e da sociedade, mas também do Estado,
os casos de negligência familiar não poderiam ser considerados casos de negligência do Estado?
O ECA afirma, em seu artigo 23, que a condição de pobreza não configura razão legal
para a suspensão ou perda do poder familiar (BRASIL, 1990a). Diante da análise dos
documentos sobre a história de Violeta e sua família é possível perceber que ainda há resquícios
das práticas menoristas de culpabilização das famílias pela sua condição de vulnerabilidade,
executadas no antigo Código de Menores. Não querer cuidar e proteger seus membros significa
o mesmo que não poder cuidar e proteger?
Os órgãos e instituições que atuaram sob essa família, em especial o CT, desconsideram
as condições de violação de direitos de Violeta e sua irmã, e deixam de relacionar esse contexto
com a ausência de políticas públicas e a garantia de direitos previstos na CF/88 e no ECA.
66

Sendo assim, ao considerar os pais negligentes, o CT e o Poder Judiciário desprezam as


condições de vida desta família.
Fica clara a culpabilização da família como única responsável pela garantia de direitos
a seus membros. Novamente os órgãos e instituições que atuaram sob essa família a reconhecem
apenas como sujeitos singulares e suas demandas como inerentes ao seu contexto social. A
forma do Estado gerir e distribuir a proteção social interfere diretamente nas condições de vida
de uma população.
De acordo com Mioto (2010), em se tratando de família, existem duas tendências em
disputa no campo da proteção social. A proposta familista afirma que a família e o mercado são
as duas formas para satisfazer as necessidades dos indivíduos. Quando estes falham é que deve
acontecer a interferência pública. Ou seja, a proposta familista corresponde a regressão da
participação do Estado na provisão de bem-estar:

O fracasso das famílias é entendido como resultado da incapacidade de gerirem e


otimizarem seus recursos, de desenvolverem adequadas estratégias de sobrevivência
e de convivência, de mudar comportamentos e estilos de vida, de se articularem em
redes de solidariedade e também de serem incapazes de se capacitarem para cumprir
com as obrigações familiares (MIOTO, 2010, p. 170).

Já a proposta protetiva afirma a proteção social através da garantia de direitos sociais


universais, como forma de consolidação da cidadania, justiça e equidade social. Nesses moldes,
pressupõe a diminuição dos encargos familiares para com seus membros. A presença do Estado
fortalece a autonomia dos indivíduos e socializa as responsabilidades com a família (MIOTO,
2010).
Os documentos analisados no caso Violeta sugerem a intervenção a partir da proposta
familista. A ausência de proteção social e interferência do Estado resulta na ausência de
condições para o provimento das necessidades sociais e ainda implica na culpabilização e
responsabilização da família enquanto única violadora de direitos e na criminalização e
penalização da pobreza pela violência intrafamiliar.
O fato de que a família é vítima de um sistema social que reproduz a violência é
desconsiderado. Torna-se individual situações que são inerentes ao sistema capitalista
excludente.
67

• A voz de Violeta

Ao ser questionada sobre suas lembranças referentes ao momento em que foi acolhida,
Violeta afirma: “fiquei muito triste. Minha vontade era avançar na minha irmã.” Quanto a sua
preferência à sua casa ou ao abrigo, afirma preferir sua casa, por melhor que fosse o abrigo.
Sua resposta comprova que a medida de proteção de Acolhimento Institucional, ao passo
em que protege a criança ou o adolescente da violação de direitos a que foi submetido, também
viola o direito à convivência familiar e comunitária, tendo em vista que mesmo que o Serviço
de Acolhimento lhe proporcionasse melhores condições, Violeta afirma que preferia estar em
sua casa.
Para evitar essa institucionalização é necessário um conjunto de ações preventivas,
executadas por todos atores envolvidos no SGDCA. A convivência familiar e comunitária se
refere a possibilidade da criança ou do adolescente permanecer no meio à qual pertence e de
preferência, junto à sua família de origem (RIZZINI et al., 2006). Ou seja, as ações realizadas
devem ser pensadas de forma a priorizar o fortalecimento e a reintegração da família.
O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária organiza um plano de ação para garantir o
direito à convivência familiar e comunitária. No eixo relacionado ao “atendimento”, são
estabelecidas diretrizes para incluir as famílias em situação de vulnerabilidade em programas e
serviços de apoio sócio familiar como estratégia para a prevenção do rompimento do direito à
convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2006a).
No caso Violeta, dentre as ações dos atores do SGDCA não se constata a realização dos
encaminhamentos necessários aos serviços e programas de apoio sócio familiar para evitar a
institucionalização de Violeta e sua irmã. Ao deferir o Acolhimento Institucional, viola-se o
direito da convivência familiar, que também não é superado no cotidiano do acolhimento.
Quanto aos motivos que levaram ao Acolhimento Institucional, a Violeta conta:

Violeta: Eu vim pra cá porque minha mãe e meu pai eram alcoólatras. Minha mãe é
ainda e meu pai conseguiu parar. E eu vim pra cá praticamente pela minha irmã,
porque a minha mãe batia muito na minha irmã e minha irmã procurou o psicólogo
no postinho de saúde e nós viemo pra cá. Não pra cá né, pro outro abrigo, do Jardim
Atlântico. Aí quando abriu esse, nós viemo pra cá.
Pesquisadora: E como foi com o Conselho Tutelar? Te contaram para onde tu
virias?
V: Não, minha irmã já tava no carro, ai foram na minha casa e disseram que nós
ia pro Conselho Tutelar. Eu tava me arrumando pra ir pro colégio ai desci e fui pro
carro também.
P: Então disseram que você ia para o Conselho Tutelar?
68

V: Falaram pra minha mãe: “vamo leva elas pro Conselho Tutelar”.
P: Então lá do Conselho Tutelar te levaram para o abrigo, mas não te explicaram
pra onde você iria?
V: Não explicou nada (Violeta, grifo nosso).

Essas falas apontam para uma nova situação, pois do seu ponto de vista a culpada pelo
Acolhimento era sua irmã que contou ao psicólogo da UBS sobre a violência praticada pela
genitora. Nos documentos analisados pela pesquisadora não está descrito a busca espontânea
da irmã de Violeta pelo profissional da UBS. Segundo eles, em um primeiro momento o
profissional é quem observa a violência e relata ao CT, e em outra situação é o pai quem solicita
ajuda. Novamente os documentos possuem informações incompletas.
A irregularidade da atuação do CT novamente está presente quando Violeta conta que
ela ou sua família não foram informadas que seriam encaminhadas a uma instituição de
acolhimento. O ECA define os princípios que regem a aplicação das medidas de proteção, sendo
uma delas a obrigatoriedade da informação: “a criança e o adolescente, respeitado seu estágio
de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como
esta se processa” (BRASIL, 2009a, Art. 100). Desconsiderar o interesse da criança ou do
adolescente e não comunicar os encaminhamentos que serão tomados contraria o princípio da
proteção integral.

4.2.2 O caso Íris

Íris foi acolhida institucionalmente pela primeira vez em dezembro de 2012, juntamente
com sua irmã, em uma instituição de acolhimento do município de Florianópolis. Seu
acolhimento no Abrigo Municipal de Coqueiros se deu somente em 2014, após ter atingido a
idade limite de permanência na instituição anterior. A análise documental se refere a
documentos anteriores ao acolhimento nas duas instituições.
Para melhor compreensão dos fatos principais que levaram à decisão do Acolhimento
Institucional, construiu-se a seguinte linha do tempo (FIGURA 3):
69

FIGURA 3 - Linha do tempo anterior ao Acolhimento Institucional de Íris

Fonte: Pesquisa documental. Elaboração própria (2019).

Os primeiros registros encontrados no prontuário da adolescente datam de 1998, ainda


antes do seu nascimento. Segundo os documentos, a genitora de Íris foi encaminhada ao POASF
pelo Conselho Tutelar devido ao uso abusivo de substâncias psicoativas. Seu desligamento do
Programa se deu devido a “não adesão aos encaminhamentos e o desejo de continuar fazendo
uso de drogas” (POASF). Conforme informações do PAEFI, a família voltou a ser atendida em
2009 após a genitora dar à luz ao seu quarto filho, que nasceu com uma forte infecção
possivelmente consequência do uso de drogas durante a gestação, confirmado por ela. Há
informações de que esse filho foi encaminhado à adoção.
Quem tinha a guarda de Íris era sua avó materna. A genitora de Íris esteve internada por
dois anos para tratamento do uso abusivo de drogas em meados de 2009, e por esse motivo a
mesma avó também assumiu a guarda de seus outros dois netos. Não foi encontrado nenhum
documento que confirma a data exata em que esses fatos aconteceram.
O atendimento à família foi suspenso pela falta de equipe técnica no PAEFI naquela
época, até 2012 quando uma nova equipe assumiu o caso. Desta vez, o PAEFI é acionado pelo
Conselho Tutelar após denúncia de que a avó havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral
(AVC) e se encontrava debilitada e sem condições de prestar os cuidados necessários aos netos.
Não há nenhuma informação sobre o denunciante.
70

O PAEFI realizou visita domiciliar e constatou que a avó realmente apresentava


dificuldades para se locomover e que a residência se encontrava em péssimas condições de
higiene. A avó confirmou que sua filha estava novamente fazendo uso de drogas e não possuía
condições de cuidar das crianças.
Segundo as documentações, durante o ano de 2012 ocorreram algumas intervenções
junto à escola e com a rede de apoio da família, visando encontrar alguma estratégia para o
cuidado e proteção das crianças. Há registros de contatos telefônicos e pessoais com cinco
diferentes pessoas que possuem vínculo com a família, mas nenhuma demonstrou interesse em
auxiliar no cuidado com Íris e seus irmãos. Em novembro do mesmo ano há registros do “fato
mais grave” que motivou a decisão do Conselho Tutelar de encaminhamento ao Acolhimento
Institucional. O PAEFI foi acionado pela escola duas vezes: na primeira informaram que Íris
começou a apresentar comportamento agressivo, parecendo estar sob efeito de drogas. E no
segundo contato a representante da escola informou que observaram cortes nos pulsos dela,
levando a suspeita de tentativa de suicídio, hipótese negada pela adolescente.
O CT foi acionado solicitando o Acolhimento Institucional das crianças com a seguinte
motivação: “tendo em vista a situação de risco em que se encontram as crianças e também
porque no contato com familiares não foi identificada nenhuma pessoa que esteja disposta a
se responsabilizar por elas” (PAEFI). Íris também foi encaminhada ao Centro de Atenção
Psicossocial para Crianças e Adolescentes (CAPSi) para acompanhamento.
O próximo documento trata de uma representação do Ministério Público à Vara da
Infância e da Juventude para aplicação da medida de proteção de Acolhimento Institucional em
favor de Íris e seus irmãos. Após citar as informações trazidas pelo PAEFI e Conselho Tutelar,
o Ministério Público se posiciona:

[...] Diante desse contexto, conquanto se trate de medida excepcional, faz-se


necessária a aplicação da medida protetiva de acolhimento institucional,
resguardando-se os direitos constitucionais e legais da criança frente a negligência
perpetrados pela guardiã e pelos genitores. [...] As crianças em tela são vítimas de
negligência perpetrada por seus genitores e guardiã que se demonstram alheios aos
direitos de ‘Íris e seus irmãos’. Foi registrado pela equipe do PAEFI que a genitora
não apresenta habilidade para cuidar dos filhos e com a doença da avó, os mesmos
encontram-se desprotegidos. Verifica-se a situação vulnerável que os infantes são
submetidos, vez que os genitores não lhe dispensaram os cuidados necessários, não
lhe respeitam, não possuindo a guardiã condições de protege-los. Dessa forma, o
Acolhimento Institucional é medida que se impõe, tendo a situação vivenciada pelos
infantes no ambiente familiar (Ministério Público, grifo nosso).

Diante desse documento a Vara da Infância e da Juventude se manifesta 13 dias depois


e determina o Acolhimento Institucional de Íris e seus irmãos. “[...] Diante das circunstâncias
71

em que se encontram os infantes, negligenciados pela genitora e impossibilitados de contarem


com os cuidados da avó, não resta outra alternativa, a não ser o acolhimento, a fim de que se
garanta um adequado desenvolvimento físico e psicológico” (Vara da Infância e da Juventude).
O Acolhimento de Íris e seus irmãos ocorreu em dezembro de 2012, as meninas foram acolhidas
em uma instituição e seu irmão em outra.
Diferentemente de Violeta, as informações sobre a trajetória de Íris e sua família
anteriormente ao Acolhimento Institucional são mais completas e detalhadas, facilitando a
compreensão da decisão da medida de proteção.
O histórico de atendimento da família na assistência social inicia ainda antes do
nascimento de Íris e se prolonga até o momento do Acolhimento. O uso de substâncias
psicoativas pela genitora sempre se fez presente, culminando na perda da guarda de seus filhos.
A enfermidade da avó, que passou a ser guardiã dos netos, impossibilitou ainda mais a proteção
e o cuidado para estes. O PAEFI e o Conselho Tutelar seguiram com a legislação e
comunicaram primeiramente o Ministério Público e posteriormente a Vara da Infância e da
Juventude, antes de acolher Íris e seus irmãos.
Entretanto, é necessário pontuar algumas questões quanto aos desdobramentos da
atuação do SGDCA com esta família. Os serviços, programas, projetos e benefícios da
assistência social representam a intervenção do Estado na sociedade. Sendo assim, no caso Íris
também se repete uma atuação na perspectiva familista, como no caso Violeta. O Estado
brasileiro, ao reconhecer e preconizar a família “enquanto estrutura vital, lugar essencial à
humanização e à socialização da criança e do adolescente, espaço ideal e privilegiado para o
desenvolvimento integral dos indivíduos”, deveria garantir condições, por meio de políticas
públicas para que de fato conseguissem exercer sua função protetiva (BRASIL, 2006a, p. 15).
Mas isso não acontece e a população que vive em situação de vulnerabilidade é a mais
afetada. Segundo Fávero, Vitale e Baptista (2008, p. 139), em contextos permeados pela
desigualdade social, “a inserção em programas sociais, em especial os de assistência social, é
reduzida e, quando existente, não é acompanhada de trabalho social”. Ainda afirmam que a
política social para essa população, “está voltada principalmente para a concessão de benefícios
assistenciais focalizados, os quais têm se transformado em benesses, por vezes em moeda de
troca política, propiciando mudanças incipientes na vida dos usuários” (FÁVERO; VITALE;
BAPTISTA, 2008, p. 139).
O espaço de tempo entre o início do atendimento da família de Íris em 1998 e o retorno
do acompanhamento somente em 2009 (11 anos de hiato) comprova essa afirmação. A
concessão de benefícios ou o encaminhamento à programas e projetos sociais são ações
72

realizadas de maneira pontual e não continuada. Mesmo que a genitora de Íris não
interrompesse o uso abusivo de drogas nos atendimentos iniciais, o acompanhamento deveria
ter continuado, visto que a família se encontrava em situação de vulnerabilidade. Mas ele de
fato começa somente quando a avó adoece. E se não houvesse uma “denúncia” sobre a situação,
o SGDCA teria atuado sob essa família?
Todos os órgãos e instituições envolvidos neste caso e que ocupavam (ou deveriam
ocupar) uma posição de defesa, garantia e promoção do direito de crianças e adolescentes, são
corresponsáveis pela institucionalização de Íris e pelo rompimento dos vínculos familiares.
Quanto a utilização do termo “negligência” pelo Ministério Público, os documentos
sugerem que este órgão se manifestou a partir de uma concepção errônea do conceito de
“negligência”, pois se refere não só aos genitores, mas também a avó. Os documentos mostram
que a situação de enfermidade a impossibilitou de executar os cuidados sempre realizados. Não
foi negligência ou abandono, mas sim impossibilidade.
É possível ainda sinalizar a utilização da negligência familiar como principal motivo
para o Acolhimento Institucional. O Estado, representado pelo SGDCA, não é considerado
enquanto instância garantidora de direitos em nenhum momento, por nenhum dos atores
envolvidos.
Teixeira (2013, p. 112) afirma que a política dirigida à família no Brasil, mesmo que
ofereça proteção, “o faz para que ela possa proteger seus membros, o que reforça as suas
funções protetivas e a dependência do indivíduo das relações familiares, fortalecendo o
familismo, ao invés de ser desfamiliarizante”.
O Estado não seria negligente ao deixar de prover o atendimento necessário à essa
família durante anos e contribuir para a institucionalização das crianças? As famílias têm sido
historicamente sobrecarregadas e unicamente responsabilizadas pela promoção do bem-estar
aos seus membros e a participação do Estado sequer é considerada.
Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente determina que não haja o
desmembramento de grupos de irmãos, visando a preservação dos vínculos familiares
(BRASIL, 1990a). Sobre esta questão, ROCHA (2013, p. 7) afirma: “se as crianças vão sair de
sua família de origem, mesmo que por breve espaço de tempo, será mais fácil enfrentarem o
desconhecido juntas”. O encaminhamento ao Acolhimento Institucional de Íris e seus irmãos é
o desconhecido para eles naquele momento. Ao acolhê-los separadamente, viola-se novamente
o direito a convivência familiar e comunitária.
Após a análise dos documentos percebe-se a ausência de articulação do SGDCA
enquanto instrumento de promoção, proteção e defesa da efetivação dos direitos das crianças e
73

adolescentes, assim como no caso Violeta. Não há registros de acompanhamento do PAEFI


com o CAPSi, ou com o órgão da saúde que prestou o tratamento contra o uso abusivo de drogas
da genitora de Íris. Tampouco há registros de outras estratégias de atuação dos Serviços que
acompanhavam a família após o Acolhimento de Íris e seus irmãos.
Tanto no caso Violeta quanto no caso Íris os dados sugerem que houve um processo de
judicialização de duas famílias que poderiam ter continuado juntas, acompanhadas pelos
serviços e políticas públicas necessárias para a superação das situações de vulnerabilidade e o
fortalecimento dos vínculos familiares. Por processo de judicialização, se entende o fato de
recorrer ao Poder Judiciário “para arbitrar os conflitos gerados pelo descompasso entre o
reconhecimento dos direitos constitucionais – que se materializam por meio de acesso e
usufruto de serviços sociais – e a capacidade estatal de prover tais serviços” (MIOTO; PRÁ;
WIESE, 2018, p. 15). Ou seja, a precarização e, por vezes, a carência de políticas públicas,
impulsiona a demanda pela garantia de direitos.
Moreira (2014, p. 30) afirma que o ECA abriu espaço para um contexto de crescente
judicialização das relações familiares, ou seja, “as relações familiares entre pais e filhos têm
sido alvo da regulação jurídica na perspectiva de garantia e restituição de direitos das crianças
e dos adolescentes”:

Não se trata de colocar em dúvida a pertinência do ECA. Evidentemente, em tempos


de barbárie e de violação dos direitos, o ECA é um instrumento bem-vindo e
necessário à proteção de crianças e adolescentes; devemos, estar atentos aos modos
pelos quais esses direitos têm sido convertidos em uma forma de gestão das relações
afetivas e familiares, enfim, em uma forma de controle dos cidadãos. A intervenção
jurídica não esgota toda a complexidade das relações vividas por numerosas famílias
(MOREIRA, 2014, p. 31).

O que se constata é uma hegemonia do discurso jurídico, que propicia a judicialização


das relações familiares. O Poder Judiciário se encontra enquanto controlador das práticas
familiares e assim, acaba por tutelar as famílias ao invés de emancipar e fortalecer sua
autonomia.

• A voz de Íris

As informações relatadas são confirmadas nas falas de Íris, ao ser entrevistada e


questionada sobre sua trajetória até ser acolhida pela primeira vez.
74

[...] Eu morava com a minha avó, porque minha mãe usava muita droga, ela sempre
vivia em clínica de reabilitação e tal. Só que tipo, em 2010, ela veio morar com a
gente em Floripa, antes ela morava na Palhoça. Aí ela veio pra cá. Por um tempo ela
ficou de boa e tal, só que daí ela voltou a usar droga e eu sempre morei com a minha
vó. Aí ela (minha vó) ficou doente e em 2011 ela teve um AVC. Aí como a saúde dela
não era muito boa e tal, ela ficou pior e perdeu o movimento do lado esquerdo do
corpo. Aí a minha mãe já morava com a gente, mas a minha vó decidiu se mudar
porque não queria mais morar em Floripa, porque ela achava que os problemas da
minha mãe, relacionado com a droga, era por a gente morar nessa cidade. Aí a gente
se mudou pra Balneário Camboriú, meus irmãos também foram. Só que tipo, a gente
ficou lá um mês, ou dois. Não foi muito tempo, minha avó não gostava do lugar, a
gente tava longe da nossa família e aí a gente voltou pra Floripa. Depois que a gente
voltou de lá, uns seis meses depois, eu e meus irmãos fomos pra um abrigo porque
minha avó tava muito doente e minha mãe não tinha condição de cuidar da gente,
mentalmente falando. E ela tinha que cuidar da minha avó também. Aí a gente foi pro
outro abrigo (Íris).

As informações apontadas por Íris a respeito da mudança da família para o município


de Balneário Camboriú não constam em nenhum documento analisado. Entretanto, a partir de
sua fala, percebe-se a convergência das motivações que levaram ao Acolhimento Institucional.
Questionada sobre suas lembranças do dia em que foi acolhida, afirma:

Íris: Ah, o Conselho Tutelar foi lá em casa, por causa de denúncia. Aí a mulher do
Conselho foi lá. Só que tipo, a gente tinha uma vida boa, sabe? Uma situação
financeira boa, uma casa boa... Aí tipo, quando a conselheira chegou lá... É que tipo
assim, lá é perto de uma favela, mas não é na favela e nem é uma favela grande. Aí a
conselheira até estranhou, sabe? Achou que a casa ia ser de um jeito e não era do
jeito que ela achou. Aí quando ela chegou eu não tava em casa, e ela ficou esperando
um tempão eu chegar, porque eu tava no mercado. Aí eu cheguei, e a conselheira
falou: “ah, a gente vai levar vocês pra tomar sorvete”.
P: A conselheira convidou para tomar sorvete e em nenhum momento falou que
vocês seriam acolhidos?
I: Não, mas tipo, a gente já imaginava, né? Tipo, porque que o Conselho Tutelar vai
vir na minha casa? (Íris, grifo nosso).

Segundo Íris, sua família possuía boas condições financeiras e uma residência com boas
estruturas, mesmo que fosse próximo a uma favela. Do seu ponto de vista, esse fato causou
estranheza à conselheira tutelar que foi buscá-los.
E novamente constatam-se irregularidades na atuação do Conselho Tutelar. Conforme
a fala de Íris, em nenhum momento ela foi informada que estava indo para uma instituição de
acolhimento, entretanto a conselheira tutelar aproveitou para se aproximar dela e de seus
irmãos, convidando-os para tomar sorvete, para conseguir levá-los à instituição. Assim como
no caso de Violeta, contraria-se a legislação que torna obrigatória a comunicação dos
encaminhamentos que serão tomados para a família e inclusive, para as próprias crianças.
75

4.3 AS TRAJETÓRIAS DE VIOLETA E ÍRIS DURANTE O ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL

Além da compreensão dos motivos que levaram ao Acolhimento Institucional, torna-se


importante apresentar a vivência de Violeta e Íris durante quase seis anos de institucionalização
até os dias de hoje, quando já completaram 18 anos. Sendo assim, expõem-se a partir dos
documentos analisados e das entrevistas realizadas com as adolescentes os principais
acontecimentos que perpassaram os anos de institucionalização.
Violeta foi acolhida pela primeira vez em 2013. Os principais registros sobre a sua
trajetória se referem a notificações das mais de 11 evasões42 e retornos da mesma à instituição.
Não foram encontrados todos os documentos e boletins de ocorrência que comprovem estas
evasões, apenas alguns documentos elaborados pela instituição de Acolhimento comunicando
o Poder Judiciário.
Durante a entrevista com Violeta, questionada se já pensou em sair da instituição, a
adolescentes afirma: “eu já fugi quatro vezes. Eu ia atrás das meninas aqui da casa. Eu
arrumava amizade aqui e elas falavam ‘ah, vamo fugir, vamo fugir!’. A primeira vez eu fugi
com uma menina porque ela me falou um monte, aí cheguei e fugi”. A quantidade de evasões
informadas pela jovem difere daquelas notificadas pela instituição nos documentos
encontrados.
Questionada pelos motivos, comenta: “nem me lembro, só fugi”. O que leva a pensar
que a decisão de evasão não é, por vezes, planejada, mas sim uma decisão espontânea apenas
para sair da instituição por um tempo, pois sabem que conseguirão voltar se procurarem o
Conselho Tutelar.
Entretanto, uma das evasões mais longas de Violeta não foi espontânea, e sim planejada.
Em 2017 a jovem foi ao encontro de seu atual companheiro com quem, conforme os
documentos, estava vivendo maritalmente. Segundo ela, o relacionamento não deu certo, então
decidiu retornar à instituição: “dessa vez eu vim por conta própria. Fui no Conselho Tutelar e
pedi pra voltar”. Nessa situação, a instituição de Acolhimento se mostrou a melhor opção para
ela, que preferiu voltar, do que buscar outra alternativa.

42
Ressalta-se que o termo evasão se refere ao ato de deixar a instituição sem comunicar os responsáveis, ou o ato
de não retornar à instituição após o horário combinado com os responsáveis. Quando isso acontece, é realizado
boletim de ocorrência junto à Polícia Civil, e notifica-se a Vara da Infância e da Juventude. Na maioria das vezes,
o retorno da criança ou adolescente que evadiu para o Serviço de Acolhimento, ocorre a partir da procura
espontânea destes pelo Conselho Tutelar, que encaminha novamente ao Serviço.
76

O caráter provisório do Serviço de Acolhimento Institucional pressupõe que o


afastamento do convívio familiar e comunitário seja temporário e que o SGDCA que atua sob
a família consiga ressignificar o vínculo familiar, para que este não se rompa definitivamente,
e ainda que evite a institucionalização prolongada de crianças e adolescentes, mas no caso de
Violeta isso não aconteceu. Não há registros de continuidade dos acompanhamentos à família
e, consequentemente, não se construíram condições necessárias para volta ao convívio com seus
pais. A partir disso, e do desejo da adolescente de retornar por conta própria à instituição de
acolhimento, nos questionamos: será que após tantos anos, o espaço do Serviço de Acolhimento
não se tornou a referência de Violeta? E quais são as implicações disso para sua vida e sua
relação com seus familiares?
A jovem percebe que as evasões prejudicaram seu desenvolvimento pessoal e
profissional e afirma: “[...] me arrependo muito de ter fugido. Porque eu podia ter ficado aqui,
podia tá trabalhando, estudando... Mas eu fui burra, fui atrás do outros e me ferrei muito”
(Violeta). O fato de não permanecer longos períodos na instituição dificultava a permanência
no ambiente escolar e, consequentemente, o ingresso no mercado formal de trabalho.
Atualmente com 18 anos, está completando o ensino fundamental pelo supletivo.
O último documento que notifica o retorno de Violeta à instituição data de fevereiro de
2019, com a seguinte motivação exposta pelo Conselho Tutelar: “A adolescente procurou o
Conselho, relatando que sua genitora havia a colocado para fora de casa. A adolescente não
tem família que possa acolhê-la” (Conselho Tutelar).
De acordo com o documento, Violeta entrou em contato com o plantão do CT, à
01h45min. A adolescente solicitou auxílio pois sua genitora se encontrava “em estado de
embriagues há dias, e naquele momento, lhe colocando para fora de casa” (Conselho Tutelar).
Ela informou que não teria para onde ir, então “o Conselho deliberou que naquele momento
seria melhor encaminhá-la ao acolhimento, tendo em vista que a própria adolescente solicitou
esta ação” (Conselho Tutelar).
Sendo assim, Violeta foi reacolhida no Abrigo Municipal de Coqueiros e permanece na
instituição até então. A jovem completou 18 anos em agosto de 2019, permanece concluindo o
ensino fundamental e ingressou no mercado de trabalho por meio do Programa Jovem Aprendiz,
desenvolvendo as atividades profissionalizantes na empresa Caixa Econômica Federal.
Diante do desejo de Violeta de estar mais próxima da família, a equipe técnica do
Serviço de Acolhimento solicitou autorização do Juizado para ela que frequentasse a casa dos
pais. O pedido foi autorizado e assim, quando demonstra interesse, a jovem passa os finais de
77

semana com eles. Além disso, a família a visita na instituição frequentemente e realizam
passeios juntos pelo bairro, fortalecendo o vínculo afetivo.
Quanto à jovem Íris, sabe-se que ela foi acolhida em outra instituição de acolhimento
de Florianópolis em 2012. A partir dos documentos analisados, entre 2012 e 2013 a avó de Íris
faleceu e os seus irmãos foram residir com o genitor (que não é pai de Íris) oito meses após o
acolhimento, quando lhe foi concedida a guarda dos filhos. Íris tinha autorização judicial para
frequentar a residência dos irmãos.

Depois que minha vó morreu, o pai da minha irmã e do meu irmão conseguiu pegar
a guarda deles, e eu continuei lá. Aí depois eu fugi e fui morar com a minha mãe. Isso
foi tipo em 2012, eu acho. Aí fiquei morando com ela um tempo, um ano ou dois e
depois eu vim pra cá [Abrigo Municipal de Coqueiros] (Íris).

O episódio de fuga a qual Íris se refere é exposto nos documentos como sendo em 2014,
vez em que ela evadiu da instituição e retornou ao convívio com sua mãe. Segundo relatos da
instituição, o fato de a genitora estar grávida e fazendo uso de drogas durante a gestação
motivou a fuga de Íris, “que queria interferir para persuadi-la a parar com o uso, em favor do
bem-estar do seu irmão em gestação” (Instituição de Acolhimento).
Em junho de 2014, há uma determinação do Ministério Público solicitando a busca e
apreensão de Íris ao Conselho Tutelar e o encaminhamento da mesma ao Abrigo Municipal de
Coqueiros, pelo fato de ter ultrapassado a idade limite de permanência na instituição em que
estava anteriormente acolhida.
Seu Acolhimento no Abrigo Municipal de Coqueiros se deu em julho de 2014. No
decorrer dos anos há registros da construção de um vínculo afetivo entre Íris e uma madrinha,
que favoreceu o desenvolvimento da jovem, possibilitando a participação em um ambiente
familiar e afetuoso.
Além disso, com o passar dos anos Íris foi desenvolvendo suas potencialidades e
conquistando seu espaço. Realizou acompanhamento psicoterapêutico durante alguns anos,
ingressou no mercado de trabalho através do Programa Jovem Aprendiz, conquistou uma bolsa
de estudos em uma escola privada do município, iniciou a elaboração de um livro, criou um
blog na internet e era atuante no Conselho Municipal de Direitos das Crianças e Adolescentes
de Florianópolis. Em 2016 Íris foi eleita delegada estadual e participou da X Conferência
Nacional de Direitos das Crianças e Adolescente, em Brasília.
Quanto a relação com a família, há registros de que Íris evadiu da instituição algumas
vezes, sendo uma delas para morar com a sua mãe. Sobre esse episódio e sua relação com a
genitora, afirma:
78

I: Eu fui morar com ela, fiquei sete meses morando com ela. Eu quase rodei de ano,
porque eu tinha bolsa, mas tava muito complicado, sabe? Mas aquele tempo foi bom,
sabe? Independente de ela usar droga, essa é a vida dela, sabe? Ela sempre me
tratou bem, se alguma coisa acontecesse comigo na rua, eu sei que ela sempre vai
ta aqui pra me proteger e tal, mas é só a incompatibilidade...
P: Então vocês tinham uma relação de afeto?
I:Mano, é que assim. A gente nunca teve relação de mãe e filha. Desde pequena eu
ficava com a minha vó. Minha vó pegou minha guarda quando eu tinha seis meses,
que foi quando minha mãe casou com o pai dos meus irmãos e minha avó achava que
lá não era um bom lugar pra cuidar de uma criança. E aí ela pegou minha guarda.
Então tipo, eu e minha mãe, a gente não teve aquela relação de tipo: ah, minha mãe
que me ensinou as coisas, os momentos bons foram com ela... não, tipo, foi tudo com
a minha avó, sabe? Eu aprendi a ler, aprendi a andar com ela, todos meus
aniversários quem fez foi minha vó. E ela sabe disso, que a gente nunca teve uma
relação de mãe e filha que nem ela tem com minha irmã e meu irmão. Então tipo, eu
não vejo ela como uma mãe, eu sei que ela me pôs no mundo, mas ela não representa
maternidade pra mim (Íris, grifo nosso).

A “incompatibilidade” a que Íris se refere acaba a afastando de sua mãe. Demonstra


muito afeto pela sua falecida avó e a considera como sendo a pessoa que lhe criou e ensinou
sobre a vida. Embora a genitora continuasse fazendo uso abusivo de drogas, Íris compreende
esse fato e demonstra que elas mantinham uma relação.
O último episódio de evasão ocorreu em junho de 2019, quando Íris alegou que iria
embora para morar com uma amiga que estava voltando para Florianópolis (e inclusive já esteve
acolhida na mesma instituição). Entretanto, cerca de dois dias depois Íris retornou e foi
reacolhida afirmando que sempre teve a intenção de voltar, mas que precisava auxiliar esta
amiga no seu retorno ao município.
Atualmente Íris permanece acolhida no Abrigo Municipal de Coqueiros, completou 18
anos em julho deste ano, está no último ano do ensino médio e participa do Programa Jovem
Aprendiz, desenvolvendo as atividades de aprendizagem profissional na empresa Correios.
Segundo o último relatório elaborado pela equipe técnica do Serviço de Acolhimento,
Íris e sua mãe tentaram novamente uma aproximação, objetivando o seu desacolhimento,
entretanto a jovem “não consegue gerenciar suas emoções quanto às práticas autodestrutivas
da genitora” (Abrigo Municipal de Coqueiros). Há informações de que Íris não demanda mais
saber sobre os irmãos, que atualmente moram com o genitor.
Diante do exposto, é possível compreender parte da história de vida das jovens Violeta
e Íris. Não havia outra maneira de entender o desligamento destas jovens do Serviço de
Acolhimento sem pontuar questões importantes que motivaram a chegada no Acolhimento e
que aconteceram durante essa trajetória.
O capítulo a seguir se refere à análise do processo de desligamento obrigatório das
participantes, considerando a trajetória de vida já apresentada, a partir das entrevistas realizadas
com as adolescentes e a profissional da equipe técnica do Abrigo Municipal de Coqueiros.
79

5 O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: RESULTADOS E DISCUSSÃO

A medida de proteção de Acolhimento Institucional é direcionada à indivíduos de 0 a


18 anos de idade. O período máximo de institucionalização de uma criança ou adolescente,
segundo a legislação vigente, é de 18 meses (BRASIL, 2017). Durante esse tempo é necessário
que o Serviço de Acolhimento trabalhe, entre outras questões, na perspectiva da ressignificação
dos vínculos familiares e comunitários da criança ou do adolescente acolhido ou, na sua
impossibilidade, encaminhe para família substituta.
Entretanto, segundo o exposto nos casos Violeta e Íris, quando o Serviço entende que
esgotou suas possibilidades de intervenção com o/a acolhido/a e sua família, este acaba por
continuar na instituição até atingir a maioridade, quando obrigatoriamente deve ser desligado e
seguir com sua vida, sozinho.
Frente a esse novo contexto, o desligamento não deve ser visto apenas como a saída da
instituição de Acolhimento, mas um processo de desenvolvimento da autonomia que prepare
esta adolescente para viver e conviver em sociedade.
Nessa perspectiva, o momento de saída do Serviço de Acolhimento, em razão da
maioridade, se constitui como uma transição permeada pelo conflito entre estar na instituição e
estar na sociedade, considerando diversos aspectos, como: a ausência de programas de
reintegração familiar, os diferentes contextos sócio históricos dos adolescentes e o longo
período de institucionalização.
Diante do longo período de permanência na instituição pelas adolescentes participantes,
suas trajetórias antes e durante o período de Acolhimento e a chegada da maioridade, este
capítulo está estruturado de maneira a analisar os significados desse momento de saída para
elas e seus planos para uma vida fora da instituição e sem proteção do Estado. E ainda, a partir
do ponto de vista de um profissional da equipe técnica do Serviço, compreender como está (e
se está) metodologicamente estruturada essa preparação para o desligamento e os desafios para
sua concretização.

5.1 A PREPARAÇÃO E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO NA ÓTICA DAS


ADOLESCENTES ACOLHIDAS: saberes, sentimentos e perspectivas futuras

Ao iniciar a discussão sobre o desligamento institucional obrigatório devido a


maioridade, torna-se importante também entender o período da adolescência enquanto uma fase
específica do desenvolvimento humano, permeada por diferentes fatores sócio históricos.
80

A visão de que a adolescência não se constitui uma fase natural do desenvolvimento,


que está sendo constituída de acordo com o contexto histórico e social em que o
indivíduo se insere, possibilita a compreensão dessa fase da vida dentro do seu
potencial de adolescente como ator social, ativo no mundo, transformando e sendo
transformado de acordo com as contingências existentes no meio social (FIGUEIRÓ,
2012, p. 26).

Compreender os diferentes contextos sociais, políticos e econômicos que influenciam a


construção da adolescência é fundamental para discutir esse fenômeno, visto que são estes
aspectos que vão exigir dos adolescentes práticas sociais específicas. Assim, “os hábitos, os
interesses, as representações sociais, os projetos de vida também são determinados pela
totalidade social e histórica em que o indivíduo se insere” (FIGUEIRÓ, 2012, p. 27).
Considerando que, ao completarem 18 anos, da noite para o dia as acolhidas não estão
mais sob proteção do ECA e se encontram desamparadas diante do seu novo contexto de vida,
o que é feito para essas adolescentes saírem da instituição com segurança? Quais os serviços
garantidos pelo Estado que auxiliam neste momento de transição para a vida adulta?
O Serviço de Acolhimento Institucional lócus deste estudo está preparado para garantir
um processo de desligamento gradativo, contemplando o fortalecimento da autonomia,
profissionalização e educação às acolhidas?
E quanto às adolescentes, o que estas pensam? Se sentem seguras para encarar uma nova
vida, desprovidas da proteção que a instituição lhes proporcionava? Consideram que foram
preparadas para vivenciar este momento?
A partir das entrevistas realizadas tanto com as adolescentes, quanto com um
profissional técnico do Abrigo Municipal de Coqueiros, está exposto a seguir as principais
questões que permeiam essa transição, buscando respostas aproximadas para esses
questionamentos.

5.1.1 A proximidade com a maioridade: significado, preocupações e expectativas

Violeta e Íris foram entrevistadas quando estavam próximas de completarem seus 18


anos. Questionadas sobre o que esse momento representava e o que estavam sentindo, Violeta
expõe sentimentos de tristeza e alegria, e reflete a carga de responsabilidades que a maioridade
traz consigo. “Fico triste porque tô ficando velha, mas também fico feliz, porque vou poder
sair daqui, vou poder ter minha casa, poder morar sozinha, fazer minhas coisas..., mas é chato
ficar velha, ter responsabilidades, né?” (Violeta).
Já Íris apresenta diversos sentimentos em poucas palavras. Ao mesmo tempo que sente
ser um momento diferente dos outros, afirma não sentir grandes mudanças, exceto pelas
81

responsabilidades que estão se colocando:

Não sei, é.… é tipo, normal, sei lá... 18 anos, é muito estranho... Eu tô bem. Vou virar
gente, ter responsabilidades de gente, o que eu já tinha antes, né? Então não muda
nada. Tipo, ter 18 anos é ter 17 só que com um número a mais, não muda muita coisa.
Não é como se fosse “meu Deus, 18 anos!”, não é nada demais... É diferente por
causa das coisas que tão aí batendo na porta, vestibular e tal, né? Mas é legal (Íris).

Segundo Figueiró (2012), é compreensível que adolescentes nas mesmas situações que
Violeta e Íris apresentem sentimentos de angústia, medo, abandono, renovação do abandono e
revolta. O período de transição pode gerar insegurança e despreparo para lidar com o novo: a
passagem para a vida adulta. Domingues e Alvarenga (1997, p. 38) afirmam que os
questionamentos e sentimentos gerados neste momento são importantes, pois representam “a
busca do jovem do conhecer a si mesmo através da diferenciação do que foi e do que gostaria
de ser”.
Sem o apoio do poder público e do suporte familiar que não foi fortalecido, a falta de
segurança para seguir adiante e a ausência de suporte não só econômico, mas também afetivo
e social, se apresenta com o sentimento de desamparo e angústia ao se aproximarem do
momento de saída.
Deixar a instituição e completar 18 anos representa, nas falas das adolescentes, adquirir
mais responsabilidades. De acordo com Domingues e Alvarenga (1997, p. 43) “a forma mais
característica de reconhecimento da adolescência como despertar ‘consciente’ do sentido da
existência humana como devir histórico-social, [...] parece revelar-se nas formas típicas de
identificação com a noção de responsabilidade”.
Violeta e Íris percebem que precisarão desenvolver condições para a vida fora da
instituição, sendo as únicas responsáveis pela sua sobrevivência. Assim, sinalizam suas noções
de responsabilidade, como: ter uma casa, morar sozinha, fazer suas próprias coisas e passar no
vestibular, que interferem diretamente nas suas escolhas, desejos, ideias e atitudes. Muito além
de uma fase apenas definida judicialmente, a maioridade se expressa como momento de
reconhecimento próprio enquanto sujeito histórico, capaz de se inserir no “mundo adulto”,
assumir responsabilidades e conquistar o seu espaço.
Contudo, embora demonstrem sentimentos contraditórios de incerteza, felicidade e
angústia, nota-se que elas não relacionam a chegada da maioridade com a necessidade de saída
da instituição e todas as responsabilidades que essa independência acarretará. Isso também é
constatado pela fala do profissional técnico, quando questionado sobre como as adolescentes
encaram a proximidade do desligamento:
82

Ah, isso é muito individual. Recentemente vivemos a situação de que a menina


esperava ansiosamente completar 18 anos e tem outras que fazem de conta que não
estão fazendo 18 anos. Então assim, é muito individual essa questão de como ela
encara, porque pode ser um grito de liberdade, ou não. Mas a grande maioria, o que
a gente experimenta, é que tem medo, medo desse novo, medo de ter que encarar a
vida sozinha, medo de se sentir desamparada... Eu acho que é mais fácil a gente ver
isso do que meninas ansiosas pra fazer 18 anos e ir embora. A grande maioria tem
mais esse receio dessa vida adulta. A liberdade tem um preço muito alto, e porque a
vida adulta traz consigo essa responsabilidade. Elas têm uma trajetória de
negligências, abandonos, rupturas, perdas, então se deparar com essa vida adulta
onde não vai ter ninguém cuidando delas, ninguém protegendo, ninguém defendendo,
né, isso gera bastante medo, angústias, outras regridem no processo. A gente
consegue perceber, conseguem regredir em comportamento, em desenvolvimento,
negando alguns possíveis passos que poderiam ter sido dados e não deram, porque
não querem, como se fosse assim: “não quero ficar pronta porque não quero sair
daqui” (Profissional técnico, grifo nosso).

De acordo com o profissional, o receio de encarar a vida adulta, o medo e a insegurança


do novo se apresentam com mais frequência nos processos de desligamento. Segundo Figueiró
(2012), longos períodos de institucionalização não preparam o adolescente para a desvinculação
com o Serviço de Acolhimento, e encarar a nova realidade não se constitui um contexto
acolhedor.
O profissional técnico afirma ainda que o Serviço pode, em algum momento, acabar
tutelando as adolescentes e isso se apresenta radicalmente contrário à autonomia. Assim, uma
adolescente que não tem sua autonomia fortalecida não vai querer ficar pronta para deixar a
instituição, porque ainda está dependente desse Serviço em vários aspectos. “Só que ao mesmo
tempo é tênue em alguns momentos, porque tu promoveste a autonomia, mas tutelada, então
isso gera nelas essa insegurança, medo” (Profissional técnico). Figueiró (2012) aponta ainda
que uma rotina tutelada não prepara os jovens institucionalizados para a vida em sociedade, e
isso pode futuramente trazer algumas dificuldades.

5.1.2 “Sentido obrigatório” da saída: O que é? Como? Quando? Para onde?

De acordo com as legislações vigentes que tratam sobre a medida de proteção de


Acolhimento Institucional, sabe-se que há um “sentido obrigatório” a ser seguido pelo
adolescente que está acolhido institucionalmente, próximo de completar a maioridade, que não
teve os vínculos familiares reestabelecidos e ainda não possui condições suficientes de garantir
a sua própria subsistência.
De forma geral, este sentido compreende a preparação gradativa do adolescente para ser
desligado em segurança, seguido do desligamento do Serviço de Acolhimento Institucional ao
atingir seus 18 anos de idade, para posterior encaminhamento ao Serviço de Acolhimento em
83

República, modalidade prevista na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, que


garante o acolhimento para jovens entre 18 e 21 anos após desligados do Acolhimento
Institucional (BRASIL, 2009b).
O Serviço de Acolhimento em República oferece apoio e moradia subsidiada para o
jovem desacolhido, fortalecendo a sua independência e autonomia até que este se adapte à sua
nova situação e tenha condições de se sustentar. A República possibilita um tempo maior de
preparação e amadurecimento desse jovem que se encontra desamparado e desprotegido pelas
políticas sociais (BRASIL, 2009b). Atualmente, o município de Florianópolis não dispõe deste
equipamento.
O profissional técnico entrevistado, ao reconhecer a República como uma possibilidade
para as acolhidas, afirma que a Prefeitura deveria se responsabilizar pela ausência deste Serviço.
“Porque a partir do momento que a Prefeitura não nos oferta um outro serviço que pudesse
contemplar essa adolescente, que é a República, tem que absorver essa demanda também
dentro do próprio abrigo” (Profissional técnico). Diante desse contexto, o “sentindo
obrigatório” é modificado.
Na instituição de Acolhimento lócus deste estudo, o observado pela pesquisadora
durante o período de estágio, é que o sentido seguido na instituição compreende a permanência
das adolescentes que completaram 18 anos no Serviço até que seja viabilizada uma maneira
delas seguirem com sua vida.
Mas será que as adolescentes compreendem essa situação? Elas estão cientes de que,
perante a lei, precisariam deixar a instituição com 18 anos? Sabem o motivo que permite a elas
permanecerem na instituição por mais tempo? E quais as implicâncias disso na construção de
uma autonomia para serem desligadas com segurança?
Violeta afirma que soube que precisaria sair do Serviço aos 18 anos por meio das outras
meninas acolhidas. E ainda, questionada se a equipe técnica não a chamou para conversar sobre
essa situação, afirma:

Comigo não, com as outras não sei... de vez em quando tem reunião, mas não falam
sobre isso, só sobre a convivência na casa. Pelo o que eu sei, depois que a gente faz
18 anos, pode ficar mais três meses aqui. Nesses três meses eles vão ajudando nós a
arrumar uma casa e depois que passa os três meses tem que sair (Violeta).

E Íris, questionada se tinha ciência de que precisaria sair ao completar 18 anos, afirma:
“Na verdade eu não preciso sair daqui, né? Nessa casa aqui eu posso ficar até os 21”.
Após esclarecermos que, perante a lei, o Serviço de Acolhimento atende crianças e
adolescentes de 0 a 18 anos e ao atingir a maioridade mas ainda não ter condições de garantir
84

sua própria sobrevivência, deveria ser encaminhada para um Serviço de Acolhimento em


República - que não existe em Florianópolis, Íris afirma: “Ah bom... É, na verdade ninguém me
falou nada. Tipo, eu não sabia. Normalmente as meninas só saem daqui com 18 se elas são
rebeldes, saem por conta própria. Se elas não são rebeldes, a equipe diz: ‘ah, tá bom, um dia
a gente vê pra ti sair então’”.
As falas de Violeta e Íris comprovam que elas não foram informadas pela equipe técnica
de que precisariam sair. Ou seja, não houve um momento inicial de preparação para o
desligamento, onde a adolescente entende os motivos pelos quais não será mais protegida pelo
Estado. O cotidiano das relações entre as acolhidas permitiu que Violeta compreendesse uma
lógica errada do funcionamento do Serviço e da mesma forma, permitiu que Íris entendesse que
poderia permanecer ainda por mais três anos.
Corroborando o que foi dito, a partir das falas das adolescentes é compreensível que não
demonstrem medo em sair da instituição e encarar as responsabilidades consequentes da
independência, justamente porque ainda não entenderam que precisarão de fato sair de lá. Ainda
não lhes foi dito como o Serviço funciona, não foi explicado como irão se virar sozinhas. Se
Violeta acredita que tem mais três meses e Íris que poderá ficar até os 21 anos de idade, é
compreensível que não expressem angústias em imaginar esse momento, pois nas suas
perspectivas ainda está longe de acontecer.
E ainda, se a instituição diz “um dia a gente vê pra ti sair”, como Íris expõe, a
adolescente também se coloca nesse lugar de espera. A motivação para ser desligada deve partir
também da adolescente, que entende os motivos pelos quais deve sair e promove esse
sentimento de desacolhimento. Agora, se a própria instituição não se responsabiliza em auxiliar
no processo da promoção desse sentimento, como a adolescente vai compreender que precisa
ir embora?
Quanto a referência feita por Íris sobre as adolescentes que saem por conta própria ao
completarem 18 anos, entendemos que ela se refere a situações específicas, onde algumas
meninas esperam ansiosamente completar a maioridade para deixar a instituição e seguir com
suas vidas. Íris as denomina de “rebeldes” por acreditar que elas deixam a instituição sem
estarem preparadas, apenas levadas por uma idealização do que seria a maioridade, ou seja,
poderiam fazer o que quiserem sem dar satisfação de suas atitudes. “Elas já são adultas, elas
podem a qualquer momento ir embora também, por conta própria. Porque civilmente já são
maiores de idade, adultas” (Profissional técnico).
Como parte desse “sentido obrigatório” e dentre os princípios do artigo 92 do ECA, se
constitui a preparação gradativa para o desligamento, a ser seguida pelas instituições de
85

Acolhimento Institucional ou Familiar (BRASIL, 2009a).

Atenção especial deve ser dada à preparação nos casos de desligamento de


crianças/adolescentes que permaneceram no serviço de acolhimento por um longo
período. Uma articulação permanente com a Justiça deve garantir um planejamento
conjunto do processo de desligamento, de modo a prevenir separações abruptas e
permitir a avaliação do momento mais adequado para a ocorrência do desligamento
(BRASIL, 2009c, p. 54).

Íris afirma que até o momento da realização da entrevista a equipe técnica ainda não
tinha conversado com ela sobre o processo de desligamento e se refere a falta de tempo como
motivo para não ter acontecido. “Elas ainda não conversaram comigo. Tipo, eu não tenho
tempo. Mas podiam ter conversado nos outros anos, não sei porque não fizeram” (Íris). Já
Violeta, diz: “Não faz diferença conversarem. Eu sei que não vou viver o resto da vida aqui
né, um dia vou ter que sair. Não faz diferença”.
Embora Violeta acredite que conversar com a equipe não mudará o fato de que um dia
ela precisará sair obrigatoriamente da instituição, entendemos que esse momento de preparação
gradativa é extremamente importante e deve começar logo cedo. Se as duas adolescentes
participantes estão acolhidas a cerca de seis anos e o vínculo familiar não foi reestabelecido,
sabia-se muito antes que elas permaneceriam no Serviço até a maioridade, e o que foi feito?
De acordo com as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes, “o desligamento não deve ser visto como um momento apenas, mas como
resultado de um processo contínuo de desenvolvimento da autonomia e como resultado de um
investimento no acompanhamento da situação de cada criança e adolescente” (BRASIL, 2009c,
p. 55). Assim, o subitem a seguir aborda exclusivamente as questões relacionadas à preparação
para o desligamento obrigatório.

5.1.3 A “habilitação para a saída”: o que sabem e qual a preparação?

Altoé (1993), ao se referir ao processo de desligamento obrigatório pela maioridade de


jovens internos da FUNABEM em 1993, discute as dificuldades de se garantir o desligamento
pela maioridade aos internos de uma maneira que conseguissem seguir com suas vidas do lado
de fora da instituição.

A condição de “assistido” por vários anos dentro dos internatos que funcionam como
instituições totais ou “prisões”, na expressão de alguns alunos, não prepara o
indivíduo para enfrentar a vida fora, não só porque sai, na melhor das hipóteses, com
o 2º grau completo, como porque a grande maioria não tem um preparo profissional
(ensino profissionalizante) que os coloque em nível de competição com os colegas no
mercado de trabalho, como também pela falta de uma rede de relações sociais,
86

moradia, etc., que lhes deem um apoio necessário para que possam aprender aos
poucos as regras do convívio social. O próprio ato de desligamento é vivido por eles
como uma decisão das autoridades institucionais frente a qual têm que se submeter.
Na expressão de um dos nossos entrevistados, este ato se assemelha a libertação de
um preso (ALTOÉ, 1993, p. 64).

O trecho deste livro representa um momento da política de atendimento às crianças e


adolescentes brasileiras que converge com o atual. A legislação obriga o jovem a se desligar da
instituição aos 18 anos e define orientações para que ele seja preparado gradativamente para
esse momento. Mas isso de fato acontece? Quem acompanha esses processos de desligamento?
O jovem deixa a instituição realmente seguro para seguir sua vida independente ou é encontrado
o jeito mais fácil e rápido para que ele saia?
Embora retrate um período histórico diferente do momento atual, Altoé (1993) consegue
representar a realidade presente atualmente no Acolhimento Institucional sobre a
obrigatoriedade do desligamento. A autora completa:

Ao serem desligados, os jovens sentem a separação e perda desse ambiente


institucional provedor, com o chão ruindo sob seus pés. (...). Dessa forma o ambiente
institucional representa segurança, condições mínimas de sobrevivência material
garantida e para muitos representa a “família” que nunca tiveram, ou com a qual não
conviveram. É importante observar que o próprio ato de desligamento reflete os
mecanismos de funcionamento institucional onde o indivíduo não é considerado
ou respeitado. É uma norma que tem que ser aplicada a bem do funcionamento
organizacional (ALTOÉ, 1993, p. 69, grifo nosso).

Íris e Violeta, questionadas se poderiam relatar como estava sendo a preparação para os
seus desligamentos, afirmam que não estava acontecendo. “Acho que não tá acontecendo”
(Íris). “Elas não chamam a gente. Nós que entramos [na sala da equipe técnica], pedimos
licença, e entramos pra falar com elas. Senão elas não chamam” (Violeta).
Embora afirmarem não vivenciar esse processo de preparação, foram questionadas sobre
informações relacionadas ao desligamento, por exemplo, como ele iria ocorrer, para onde elas
iriam e de que forma. Violeta afirma que a instituição vai ajudá-la a encontrar uma casa e em
seguida, ela terá que sair: E Íris alega: “Ah, acho que eu não sei tudo. Eu sei que tenho que
achar um lugar pra ir, uma casa, né? Óbvio. E não sei mais, acho que só em ter um lugar pra
ficar, seguro, já ia ser bom”. Novamente, comprovando que as adolescentes não tem noção do
que é feito porque não sentem que estão sendo preparadas para deixar a instituição.
Entretanto, a questão da moradia aparece nas duas falas como sendo a necessidade mais
importante para conseguirem deixar a instituição. A moradia é um ponto fundamental a ser
definido no processo de desligamento, visto que representa uma proteção e assegura um espaço
de privacidade onde poderá se alimentar, dormir e guardar seus pertences. “A moradia é um
87

passo importante para o encaminhamento na vida social e permite ao ex-interno mobilizar mais
energia para o seu ingresso no mercado de trabalho” (ALTOÉ, 1993, p. 79).
Durante a entrevista com o profissional técnico diversos questionamentos foram feitos
a fim de identificar como acontecia (e se acontecia) essa preparação para o desligamento
obrigatório, visto que as adolescentes negaram este fato. Questionado como a instituição se
organizava para preparar as adolescentes, afirma:

De uma forma genérica, inserimos elas no mercado de trabalho, fortalecendo a


relação com a escola. Nós também tentamos, de alguma forma, organizar junto com
elas uma vida financeira, com essa questão de que a gente sempre sensibiliza elas de
tentar poupar 50% do ganho mensal, para que tenham uma poupança, e assim, pra
que quando saiam, tenham essa possibilidade de uma reserva financeira, pra alugar
um espaço. Nós ainda ajudamos a escolher um espaço, a montar esse espaço pra elas.
Existem vários movimentos e não podemos esquecer a especificidade de cada menina.
Olhar pra cada uma de acordo com a sua condição, né? Sua condição de maturidade,
sua condição de recursos próprios pra lidar com a própria vida, com suas situações,
a carga emocional que cada uma tem. Porque é muito diferente desacolher uma
menina de 18 anos que tem família, pra uma que, por exemplo, que não tem ninguém,
como nós temos casos atualmente aqui. E daí, por mais que essa adolescente, essa
jovem, queira morar sozinha, ela teria um apoio, uma rede, um referencial familiar.
Com as meninas que não tem família, os desacolhimentos se tornam muito
complicados. Atualmente também estamos vendo, com a gestão atual, a possibilidade
de um aluguel social pra esses desacolhimentos, porque também a Prefeitura tem que
se responsabilizar por essa ausência da República, que também seria uma
possibilidade pra essas jovens sem família. Então seria um aluguel social, que teria
um tempo determinado, que seria mais uma forma de colaborar com a autonomia
desse cidadão, dessa jovem (Profissional técnico, grifo nosso).

Questionado quanto a existência de um documento institucional que descreva como


deve acontecer esse processo (planejamento) para o desligamento obrigatório, comenta:

Tem, nós temos um Projeto Político Pedagógico que foi construído de uma forma
muito rápida, logo no início do serviço, que não contempla. Nós temos esse
entendimento de que ele não contempla as necessidades do Serviço, nem tão pouco
alcança a magnitude de tudo que é feito aqui dentro. Mas existe, existe minimamente
um protocolo. Ele é meio que baseado nas Orientações Técnicas, porque existe um
norte do que deve ser feito. Retomando minha fala anterior, entendendo a
subjetividade de cada uma, de como vamos construir com cada uma. Tem perfis que
facilmente elaboram essa transição, tem outras que não. Também temos casos aqui
de que a própria adolescente, hoje jovem, não consegue se planejar, não consegue
vislumbrar uma possibilidade. E essa possibilidade tem que ser construída junto com
a jovem. Não vamos chegar e dizer assim: “tu vais morar com tal pessoa e vai embora
amanhã”, porque o que a gente pode transformar? Pode daqui a pouco ser uma
pessoa em situação de rua, pode estar sofrendo uma violência doméstica, acabar
numa casa de mulheres, então tem que ser construído junto com ela, tem que ser
participativo (Profissional técnico, grifo nosso).

O profissional técnico afirma existir um processo de planejamento para o desligamento


das adolescentes que completam a maioridade e não tem perspectivas de retorno ao convívio
88

familiar. De uma forma geral, inserem as adolescentes no mercado de trabalho e auxiliam na


construção de uma poupança financeira para facilitar na busca por uma residência.
Além disso, afirma que o PPP da instituição pressupõe minimamente um protocolo de
atendimento, sendo este: “nos casos de adolescentes com necessidade de desligamento para a
vida adulta, o trabalho dará ênfase no processo de emancipação e autonomia do acolhido,
vislumbrando seu bem-estar biopsicossocial pós-desligamento” (FLORIANÓPOLIS, 2017, p.
14).
O profissional técnico ainda afirma que há um plano individual de preparação para o
desligamento construído com cada adolescente, que considera algumas questões importantes,
como: o nível de maturidade, responsabilidade e desenvolvimento de cada acolhida, as
possibilidades familiares (família de origem ou extensa) existentes, renda suficiente que
contemple suas necessidades e suas condições emocionais e psicológicas para viver a vida
sozinha.
Indagado se poderia explicar como é construída essa questão da maturidade e como que
a adolescente compreende se ela tem ou não maturidade e condições para ser desligada, afirma:

Não é um julgamento nosso, é algo que sempre tem a participação da adolescente ou


da jovem. De ela se perceber, ou não, em condições de sair. Por que às vezes também
isso não significa que vai ser 100% de acerto. Não podemos promover um
desacolhimento pensando que a pessoa tinha maturidade e não tinha. Mas é que é
uma condição humana, avaliamos sempre junto com elas, elas participam junto desse
“entender”, pra se entender em condições de ser desacolhida. Isso é uma leitura do
dia a dia, entende? Com os atendimentos, avaliando a condição de ter
responsabilidade, de ter compromisso, de ter autocuidado e um fator importante
também é de se proteger. Porque isso é bem importante... me veio essa lembrança
agora. Porque temos que ter muito certa essa condição de se auto proteger, porque
são meninas que em determinados momentos da vida estavam desprotegidas, então
nós temos que conseguir observar isso nelas. Porque a partir do momento que se
começa uma vida sozinha, é preciso ter minimamente essa condição (Profissional
técnico, grifo nosso).

Assim, entende-se que não há procedimentos protocolados para compreender quando a


adolescente está “pronta” para ser desligada, mas sim, avaliações diárias, “é a rotina, a
observação, que já começa muito antes dos 18 anos” (Profissional técnico).
As adolescentes afirmam não existir uma preparação para o desligamento e ainda,
afirmam que ninguém conversa com elas sobre esse momento. No entanto, o profissional
técnico afirma que sim, há uma preparação que começa ainda antes dos 18 anos. O que acontece,
então? Há uma preparação isolada, sem a participação das adolescentes nas escolhas que
interferem sob suas vidas? A equipe técnica de fato tem ações de preparação para a saída e de
89

construção e fortalecimento da autonomia, mas não informa as adolescentes do que está sendo
feito?
Como Íris e Violeta atualmente estão estudando e inseridas no mercado de trabalho
através do Programa Jovem Aprendiz, de fato ações foram feitas para que, aos poucos,
conquistem responsabilidades, compromisso e autonomia. Mas será que essa formação
oferecida às adolescentes garante uma remuneração que possibilite sua subsistência? Que
possibilite uma reserva financeira para cobrir gastos futuros com moradia, alimentação,
vestimenta, transporte, dentre outros?
Ao considerar que a independência financeira é uma das mais importantes questões que
permeiam o processo de desligamento e, portanto, imprescindível, destaca-se a necessidade de
pensar a educação e profissionalização das adolescentes para além de um curso técnico,
considerando também suas potencialidades e anseios. Muitas vezes as propostas de trabalho
oferecidas pelos Serviços de Acolhimento não condizem com os desejos e condições reais de
existência das adolescentes (FIGUEIRÓ, 2012).
Tendo em vista a realização de ações por parte da equipe do Serviço, Violeta, afirma
que a instituição já fez muito por ela, agora chegou sua vez de ir atrás dos seus sonhos. “Acho
que eles já me ajudam muito, né? Agora eu que tenho que batalhar e conseguir chegar onde
eu quero. Eles já me ajudaram muito, já ajudaram arrumando emprego agora só basta eu
querer, continuar e conseguir” (Violeta).
Íris, ao contrário, sente falta de ações mais pontuais por parte da equipe do Serviço:
“podiam conversar mais, dar um suporte maior, mostrar opções, uns bagulho assim, né? Que
começasse desde cedo. Ser abrigada te abre várias portas né… Aí não sei, mas acho que
poderiam ajudar mais sim, porque eles conhecem um monte de gente” (Íris).
Nesse sentido, há a necessidade de ações mais planejadas de toda equipe, inclusive dos
educadores que convivem 24h por dia com as acolhidas. Não somente a concretização dessas
ações, mas também a explicação do que é pensado e do que está sendo feito para com as
adolescentes. Em cada conversa, é importante retomar o que foi dito e enfatizar que as ações
estão sendo organizadas com vistas ao desligamento.

Discutir o assunto, mesmo que os adultos responsáveis não saibam dar todas as
respostas, indica que a instituição, de um modo geral, está implicada e também se
preocupa com o momento e que o adolescente não está sozinho na busca por soluções,
o que de alguma forma já transmite alguma confiança e suporte (ABREU, 2016, p.
66).
90

No momento em que as adolescentes perceberem que precisam deixar a instituição e


que estão sendo preparadas para sair em segurança, elas também se percebem nessa situação e
se preparam para este momento.
De acordo com as Orientações Técnicas: Serviços De Acolhimento para Crianças e
Adolescentes, a autonomia deve ser construída e fortalecida por meio de vínculos comunitários
significativos, com a participação do adolescente nas decisões a seu respeito, do conhecimento
da sua história de vida e da sua família, do estímulo ao autocuidado, da preservação de objetos
pessoais e da responsabilização pelos seus próprios atos. O atendimento oferecido no Serviço
de Acolhimento “deve favorecer a construção de projetos de vida e o fortalecimento do
protagonismo, desenvolvendo gradativamente a capacidade do adolescente responsabilizar-se
por suas ações e escolhas” (BRASIL, 2009c, p. 54).

Estimular a autonomia não significa deixá-los desprotegidos ou incentivar a


construções de perspectivas muito longe de seus alcances, mas sim dar espaço às suas
opiniões e anseios, de modo a incentivá-los a procurar soluções e alternativas
compatíveis com as demandas da sociedade sem precisar silenciar por completo seus
desejos (ABREU, 2016, p. 62).

Todos os integrantes da equipe devem desenvolver um trabalho articulado, pautado no


fortalecimento da autonomia e na busca por opções que auxiliem o desligamento dessa
adolescente em segurança e com condições suficientes para garantir o seu próprio sustento e
proteção. Tendo em vista que o fortalecimento da autonomia não deve se restringir apenas à
inserção no mercado de trabalho, mas sim relacionada a hábitos cotidianos, a construção do
senso crítico e a serem ativos e participantes conscientes do processo em que estão submetidos
(FIGUEIRÓ, 2012).

5.1.4 Respondendo: Me sinto preparada? Que planos tenho?

Diante de todas as questões apresentadas que envolvem o processo de desligamento


obrigatório das adolescentes Violeta e Íris e suas compreensões a respeito da chegada da
maioridade, buscou-se identificar se as adolescentes se sentem preparadas para deixar a
instituição e iniciar uma vida sozinhas e ainda, se elas têm planos para esse futuro que está por
vir. Segundo Violeta: “De vez em quando eu fico pensando e não sei se tô preparada”, já Íris
afirma: “Se me jogarem na rua hoje eu tô preparada, eu me viro. Não acho que seria legal,
mas a gente se vira, né?”.
As duas não demonstram confiança em deixar a instituição. Embora Íris afirme que
91

encontraria uma maneira para viver sozinha, não acredita ser uma opção interessante, assim
como Violeta. Quando questionadas o que significava fazer 18 anos, as adolescentes não
demonstram medo ou despreparo para lidar com a idade, porém quando indagadas se estão
prontas pra sair, o discurso muda.
Os sentimentos de libertação e independência que vêm junto com a maioridade não
ultrapassam as angústias de se imaginar saindo da instituição e encarando a vida sozinhas. E é
por esses motivos que os adolescentes desligados da instituição obrigatoriamente pela
maioridade não devem ficar desamparados. Esses “devem dispor de serviços garantidos pelo
Estado que os ajude com o momento de transição e com o fortalecimento da autonomia na sua
nova vida” (FIGUEIRÓ, 2012, p. 56).
Quando perguntadas sobre os planos e projetos de vida, Violeta prontamente afirma:

Eu penso em casar. Mas também não quero ser tão rápida assim, né? Quero esperar
alguém certo. Não vou fazer que nem a primeira vez, vou pensar mais um pouco. E
tô querendo arrumar um emprego melhor e estudar à noite. Mas eu quero terminar
meus estudos, fazer o Ensino Médio e tem que ver o que eu vou fazer, né? Uma coisa
que eu goste. Mas sonho assim, eu tenho três: quero ser policial, servir o exército e
ser veterinária. E pra essas três coisas eu tenho que ter estudo. E tenho que batalhar
muito pra isso (Violeta).

E Íris:

Meu plano é ganhar na loteria e ficar rica. Não, tô brincando, eu penso tipo assim ó:
vou continuar no meu trampo, acabar o Ensino Médio, depois achar outros trampos,
depois não sei... fazer um cursinho ou bagulho assim, né? Acabar o Ensino Médio é
a prioridade das prioridades, depois passar num vestibular. Depois que eu fizer o
vestibular em dezembro e o meu curso do SENAI acabar em dezembro também, aí eu
vou começar a procurar um emprego de verdade, de oito horas, né? Aí quando eu
encontrar outro emprego, é tchau (Íris).

O desejo de Violeta de se casar e constituir uma família pode significar, segundo Abreu
(2016, p. 66 ), “não só a importância desse grupo propriamente dito e o desejo de reconstruir
as experiências perdidas, mas principalmente a possibilidade estabelecer vínculos estáveis e
positivos com as pessoas ao seu entorno e de se sentir novamente pertencente a um lugar”.
Nas duas falas a educação aparece como sendo importante para conquistar seus
objetivos fora da instituição, provavelmente devido ao fato de a estrutura socioeconômica atual
considerar a educação como base para a construção de um projeto de vida, exigindo do
adolescente o ingresso no mercado de trabalho por meio do estudo e da profissionalização.
Entretanto, o adolescente pertencente às camadas mais enriquecidas da sociedade possui
um modo de ser e existir extremamente diferente daquele adolescente das camadas menos
favorecidas. Para este último o ingresso no mercado de trabalho ocorre muito mais cedo, e sua
92

fase de adolescência é vivida muito mais rápida – podendo nem chegar a existir. As
possibilidades de conclusão da educação básica ou de ingresso na educação superior, por
exemplo, são poucas devido à necessidade do trabalho e sustento da família.
De acordo com Martinez e Silva (2008), se para os adolescentes e jovens em geral a
garantia do acesso à educação significa um instrumento necessário para o ingresso no mercado
formal de trabalho, “para os jovens dependentes de programas de proteção especial, a violação
desse direito radicaliza o processo de marginalização.” Ou seja, a própria política produziu –
ou ao menos reforçou – os processos de desigualdade social (MARTINEZ; SILVA, 2008, p.
116).
Assim como a educação, o trabalho também aparece nas falas das duas adolescentes.
Isso porque, na atual estrutura social, o trabalho permite que se defina enquanto ser produtivo
e assim, aceito socialmente. Conforme aponta Nérici (1967, p. 96), “é preciso não deixar de
levar em conta que uma das grandes lutas que o adolescente sustenta é fazer-se reconhecer
como um ser responsável, que já não é mais criança; e excelente meio para alcançar tal objetivo
é o trabalho”. O futuro que está sendo pensado pela equipe para essas adolescentes, é
compatível com os sonhos delas? Figueiró (2012, p. 97) discute que, quando a instituição
planeja um futuro que o/a próprio acolhido/a não escolheu, “contribui para a elevação do
sentimento de angústia com relação à sua saída definitiva da instituição”. E assim, não consegue
resgatar as perspectivas e desejos desse adolescente.
Quanto ao futuro planejado para Violeta, o profissional técnico comenta:

Ela quer ir morar sozinha, mas o problema dela é a escolaridade. Ela está no Ensino
Fundamental ainda, ela tem que concluir esse ano e aí acho que entrar no CEJA43,
que aí consegue um status de Ensino Médio, pelo menos, pra daí pensarmos em algo,
de ela conseguir morar sozinha. Eu acho que ela tem condição de manter uma vida
pessoal, mas a vida econômica não está muito boa ainda. Mas aí se tivesse o benefício
do aluguel social, já ajudaria (Profissional técnico).

E quanto ao futuro de Íris:

Engraçado, sempre foi difícil falar sobre isso com ela, não sei o porquê. Acho que um
pouco é falha nossa, porque ela passa muito despercebida aqui. Ela está um pouco
nesse movimento de ficar um pouco invisível também. Eu acho que com a Íris a gente
falhou um pouco, ela meio que se tornou parte assim, sabe? Não sei, não sei uma
palavra certa. Ela se tornou um pouco invisível, não que ela passe despercebida,
porque a gente está sempre falando dela, perguntando dela e tal, mas essa coisa do
desacolhimento, eu não sei... Faz tempo que ela parou de demandar, ela não demanda
mais. Nesse movimento dela, da rotina dela, que ela já está há muito tempo, a gente
não vê ela quase. E isso é uma falha nossa, nós temos que procurar espaços de escuta,
de atendimento, eu faço minha mea-culpa com a Íris (Profissional técnico).

43
Centro de Educação de Jovens e Adultos (ensino supletivo).
93

A proposta de atuação da equipe para com Violeta se encontra na mesma perspectiva


do que é esperado pela adolescente: a prioridade é concluir os estudos. A opção da concessão
do benefício do aluguel social novamente se faz presente enquanto uma possibilidade para
alcançar a independência.
Quanto à Íris, nota-se que a adolescente se coloca numa situação mais estável, onde não
pretende deixar a instituição antes de concluir o Ensino Médio. Entretanto, o profissional
técnico percebe esse movimento feito por Íris de se “acomodar”, parando de demandar e assim
ficando invisível aos olhos da equipe. A própria ação de Íris pode ser um subterfúgio para
prolongar sua permanência na instituição, até que encontre outra saída.

5.1.5 Entre sair e ficar: a República seria uma possibilidade?

Perante todo o contexto exposto do Acolhimento Institucional de Íris e Violeta e as


questões que permeiam seus desligamentos obrigatórios pela maioridade, elas foram
questionadas se, caso pudessem escolher, preferiam permanecer na instituição após os 18 anos
ou sair. As duas adolescentes afirmam não saber a resposta. “Não sei” (Violeta). “Não sei, tô
pensando muito nisso também” (Íris).
A dúvida quanto a permanência na instituição retoma o fato de que a inexistência de
serviços, programas ou projetos que auxiliem os egressos dos Serviços de Acolhimento se
constitui como um empecilho para a concretização do desligamento. Nesse sentido, a
modalidade de Serviço de Acolhimento em República é apresentada como uma opção para o
desligamento gradativo de jovens em processo de desinstitucionalização e sem possibilidades
de retorno à família, oferecendo apoio e moradia subsidiada para estes.

O objetivo dessa modalidade de acolhimento é trabalhar a independência, a autogestão


e a autonomia do jovem que agora deve estar fora da instituição. Elas devem se
localizar numa área residencial, não muito diferente do local onde se situava o Serviço
de Acolhimento no qual o jovem estava inserido, e também não muito distinta da sua
comunidade de origem (FIGUEIRÓ, 2012, p. 58).

Diferentemente do Acolhimento Institucional, a República deve ser segmentada por


sexo e a equipe técnica deverá escolher os componentes de cada instituição, levando em
consideração demandas específicas, o grau de autonomia e a afinidade entre os integrantes.
“Sempre que possível e recomendável, os jovens deverão ter participação ativa na escolha dos
colegas de República, de modo a que, na composição dos grupos, sejam respeitadas as
afinidades e vínculos previamente construídos” (BRASIL, 2009c, p. 86).
94

Recomenda-se que o número de usuários por equipamento não ultrapasse seis. E ainda,
nos casos de imóveis alugados, que os custos da locação e tarifas adicionais possam ser
gradativamente assumidos pelos jovens, contribuindo para a construção de um senso de
administração financeira (BRASIL, 2009c).
Quanto à composição da equipe mínima do Serviço, esta deve compreender um
Coordenador e dois profissionais de nível superior, de acordo com os parâmetros estabelecidos
pela NOB-RH/SUAS, que define que a equipe de referência dos Serviços de Acolhimento deve
ser formada por psicólogo e assistente social (BRASIL, 2009c).
No entanto, este tipo de Serviço ainda não existe em todo o país e pouco se sabe sobre
sua existência, funcionamento e importância. A participante Violeta afirma que nunca ouviu
falar sobre República, e Íris já tem mais noção do que significa, e afirma: “Ah, é tipo um abrigo
dois. É um monte de gente que precisa de um lugar pra morar, por um preço mais barato”.
Após esclarecermos como funciona e qual o propósito da República, comenta: “Tá, então é
mesmo um abrigo dois. Igual aqui, só que a gente que tem que cuidar da casa então, não tem
a tia que faz a comida e a limpeza e tal, né?”. Compreendendo como seria uma República, as
adolescentes afirmam desconhecer algum Serviço deste tipo no município de Florianópolis.
Questionadas se a República se constituiria numa possibilidade para elas após o
desligamento, caso existisse em Florianópolis, Violeta diz que sim, que seria uma opção a mais
para lhe ajudar, enquanto Íris expõe: “Ia ser bom, né? Me ajudaria. Ah, mas na verdade não
sei”.
É de grande importância a existência da modalidade de República nos municípios
brasileiros, visto que embora represente mais uma institucionalização dos jovens, também se
constitui enquanto uma das únicas possibilidades para a construção de uma autonomia capaz
de garantir a subsistência desses indivíduos. O primeiro significado dado por Íris sobre a
República e a sua dúvida quando questionada se gostaria de morar nesse Serviço também
representa a pouca divulgação e reconhecimento desta modalidade.
Enquanto for pouco conhecido e divulgado, alcançará menos pessoas e continuará não
existindo. Existe uma legislação que prevê a construção e manutenção desse Serviço, portanto
este deve ser implantado e executado em todos os municípios que possuem adolescentes em
situações semelhantes às de Violeta e Íris.
É necessário que fora da instituição e desprovido da proteção ofertada pelo ECA, o
jovem egresso do Serviço de Acolhimento Institucional encontre políticas de atendimento que
ofereçam o suporte necessário para sua reconstrução num novo contexto, numa nova vida.
95

5.2 DESAFIOS NO DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO DE ADOLESCENTES


ACOLHIDOS INSTITUCIONALMENTE

Frente a tudo o que foi exposto até aqui, destaca-se, em conjunto com o profissional
técnico do Abrigo Municipal de Coqueiros e participante desta pesquisa, as principais
implicações e desafios que perpassam o processo de desligamento obrigatório pela maioridade
das acolhidas na instituição.
Num primeiro momento, o profissional aponta para o sucateamento dos serviços
públicos como um fator importante que afeta o cotidiano do Serviço e, consequentemente, a
preparação gradativa para o desligamento obrigatório.

Por exemplo, hoje eu estou há mais de um ano e meio trabalhando sozinha, sem um
psicólogo e em muitos momentos, sem coordenação. E o que que acaba acarretando?
Eu fico com uma imensidão de coisas pra fazer e acabo negligenciando muitas coisas
que poderiam ter sido agilizadas e resolvidas se tivéssemos uma equipe completa,
com pessoas trabalhando efetivamente. Então tem essas questões do Estado que são
importantes, que interferem diretamente no resultado do nosso trabalho (Profissional
técnico).

A ausência de um profissional psicólogo reflete diretamente nas ações desenvolvidas no


Serviço, pois compreende-se a extrema importância deste profissional para auxiliar no
desenvolvimento pessoal e social, bem como fortalecer os vínculos familiares e comunitários
das adolescentes acolhidas. Assistentes sociais e psicólogos realizam um trabalho
interdisciplinar com as adolescentes, seus familiares e a comunidade, visando prioritariamente
a reintegração familiar.
Além disso, a ausência de um profissional psicólogo é incompatível com os parâmetros
estabelecidos pela NOB-RH/SUAS para a composição mínima da equipe de referência para
atendimento psicossocial nos serviços de Proteção Social de Alta Complexidade, a qual deve
ser composta por no mínimo um profissional assistente social e um psicólogo para cada 20
usuários (BRASIL, 2006c).
Questionado sobre como acreditava que o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças
e Adolescentes poderia concretamente colaborar no processo de desligamento das adolescentes,
afirma:
Eu acho que se tivéssemos um trabalho de rede mais efetivo, onde as políticas
públicas trabalhassem juntas de verdade, olhando exclusivamente para aquela vida,
aquela jovem, nós teríamos um resultado mais efetivo pra elas, não pra nós, mas pra
elas. Porque todo mundo trabalha individualmente, cada um na sua caixinha, e um
atendimento fragmentado acaba gerando essa quebra, essa insegurança do Serviço.
Do meu ponto de vista, pensando agora a resposta pra isso, o trabalho em rede seria
96

o ponto chave, o início pra gente pensar o quanto que a gente poderia construir juntos
uma possibilidade pra aquela jovem em especifico (Profissional técnico).

Corroborando com a discussão feita no capítulo três deste TCC, o cotidiano do Serviço
de Acolhimento Institucional se articula com demandas urgentes que são consequências de uma
articulação falha com a rede socioassistencial, prejudicando a concretização do trabalho
desenvolvido. Segundo Boschetti (2009), a assistência social enquanto política de
universalização de direitos só será possível mediante a articulação com as demais políticas
sociais, caso contrário ficará focalizada e não propiciará a efetiva inclusão social.
Ou seja, o Serviço de Acolhimento não funciona por si só, é necessário um conjunto de
políticas atuando conjuntamente, assegurando os direitos das crianças e adolescentes e suas
famílias, com uma articulação estratégica que potencialize o atendimento às necessidades
desses usuários.
Dentre as dificuldades e desafios no processo de preparação para o desligamento
obrigatório, o profissional técnico expõe novamente a fragilidade do Serviço e a falta de
recursos humanos que interfere diretamente no atendimento que é oferecido às acolhidas.
Ainda, pontua que o Acolhimento Institucional não recebe da gestão a importância necessária.

Esse cuidado com o pessoal, esse cuidado da educação permanente, de capacitar as


pessoas, de rever conteúdos... Porque nós trabalhamos com pessoas, trabalhamos
com vidas, não com números ou com papel, mas com pessoas... Então é essa falta de
cuidado que se tem com o trabalhador desses tipos de serviços, porque nós também
acabamos adoecendo nesses espaços (Profissional técnico).

O profissional técnico sugere ainda uma estratégia para fortalecer o trabalho em rede
que, segundo ele, não existe em Florianópolis. “Eu já, inclusive em reunião com o Juizado,
sugeri audiências concentradas, onde a Juíza pudesse convocar representantes de todos os
serviços e a gente pudesse sentar e discutir determinados casos e o que cada serviço, cada
secretaria, pode ofertar pra cada situação” (Profissional técnico).
A estratégia proposta pelo profissional técnico se constitui enquanto importante
instrumento não só para o desligamento obrigatório, como também para todos os momentos
vivenciados no cotidiano do Serviço. Se existe um Plano Individual de Atendimento para cada
acolhida, com estratégias e articulações para com as demais políticas públicas e direitos dos
adolescentes, porque as ações desenvolvidas são fragmentadas e não construídas de forma
articulada com todos os órgãos e serviços que executam esses direitos?

Eu penso que essas audiências concentradas promovidas pelo Fórum - porque lá é o


nosso maior campo de atuação e é lá onde as coisas são determinadas e acontecem -
com representantes da saúde, educação, assistência social, Ministério Público, o
97

Juizado, todo mundo junto pensando quais as melhores estratégias para cada caso,
com certeza a gente daria mais suporte pra elas (Profissional técnico).

Aponta ainda que no processo de desligamento pela maioridade, o trabalho é


praticamente desenvolvimento pelo Serviço de Acolhimento, sem a participação de outros
atores importantes, o que também interfere no resultado final do trabalho e se constitui como
um desafio para o desligamento.

O Juizado entra com cobrança de relatório, é o que eles fazem pra basear as decisões
que eles vão tomar. A saúde e educação também não participam e a gestão também
não traz possibilidades pro desligamento. Acho que o principal desafio é esse, a gente
ter que fazer tudo sozinho e ainda sem equipe, né? Tendo que pensar tudo sozinho
(Profissional técnico).

Além disso, cita também as questões relacionadas a saúde mental das acolhidas, como
outra dificuldade vivenciada no cotidiano do Serviço e da preparação para o desligamento.

Penso que deveria ser assim: a menina entrou e já teria que ter um profissional
esperando por ela, mas a gente não tem nem isso. E até uma pessoa que pudesse dar
continuidade pro acompanhamento depois que saísse, que acompanhasse esse
processo de desacolhimento, porque a menina tem que promover dentro dela o
desligamento, o que é muito difícil. Você tem uma estrutura cuidando de ti, por pior
que seja, mas está cuidando de ti, e de repente você se percebe sem nada, é bem difícil.
Então se tivéssemos esse amparo da rede trabalhando junto por essa vida, faria mais
sentido (Profissional técnico).

Abreu (2016, p. 68) comenta sobre a importância de os adolescentes relatarem para


alguém o que viveram até o momento do desacolhimento, que é um marco importante em suas
vidas, para que possam dar continuidade às suas trajetórias. Afirma que as experiências
vivenciadas por eles como o rompimento dos vínculos familiares, não são um problema para a
formação da identidade, “pois o que importa é a possibilidade de significá-las ou simbolizá-las,
mesmo com o caráter traumático que as acompanha”.
É necessária a existência de uma rede articulada que trabalhe também a saúde mental
das adolescentes, visto que o Serviço de Acolhimento não consegue dar conta desse aspecto,
ainda mais sem a presença de um profissional psicólogo integrado à equipe técnica.

Tais reflexões remetem aqui a necessidade de o adolescente narrar sobre suas


experiências, anteriores e durante o acolhimento, justamente no momento do
desligamento, quando lhe é possível olhar para o passado já com certo distanciamento,
visto que é um momento também marcado pela expectativa do futuro. Tal
distanciamento também é sustentado a partir dessa “morte” simbólica com relação ao
seu lugar na instituição, que marcava não só o seu posicionamento enquanto sujeito a
ser cuidado por ela, mas também o seu lugar como criança/adolescente diante da
sociedade. A partir do desligamento, o jovem estará inserido no mundo por meio de
outra posição, não mais estando sob a proteção da lei e da instituição, o que atravessará
também suas novas relações sociais (ABREU, 2016, p. 75).
98

Dentre os apontamentos feito pelo profissional técnico, a falta de articulação entre os


serviços e programas que também atuam de diferentes formas sob as adolescentes se constitui
o principal desafio diante da preparação para o desligamento obrigatório pela maioridade.
Embora as adolescentes participantes não reconheçam ações do Serviço de Acolhimento
que estejam lhes preparando para o desligamento, algumas poucas ações acontecem, porém
ainda muito pontuais e fragmentadas resultado de um SGDCA que não funciona em sua
completude. Isso é resultado de um Estado que segrega suas políticas e desempara quem mais
precisa, que considera um/a recém jovem de 18 anos apto/a e autossuficiente para garantir sua
própria subsistência e, portanto, o/a deixa desamparado/a da noite para o dia sem nenhuma outra
possibilidade de emancipação.
Qual o critério estabelecido para determinar o fim da adolescência e início da vida
adulta? Quem determina que esse/a adolescente pode ser considerado/a maior de idade e auto
responsável por gerir sua vida de um dia para outro, apenas pelo fato de completar 18 anos?
Segundo Becker (1994, p. 74), “geralmente, um indivíduo é dito adulto quando alcançou o seu
perfeito ajustamento à sociedade, o encontro de sua posição e seu papel. Mas, ora, a forma como
esse ajustamento se dá é ditada pelo Sistema”.
Tendo em vista as dificuldades de se garantir um atendimento pautado na Doutrina da
Proteção Integral, os desafios apontados pelo profissional técnico neste capítulo não são
informações novas. As adolescentes foram retiradas do âmbito familiar diante de uma
concepção do Estado de que suas famílias não possuíam condições de prover o cuidado e a
proteção necessária a elas. Entretanto, os anos de institucionalização as forneceram tais
condições? O Estado conseguiu garantir a proteção e o cuidado necessários que, segundo ele, a
família não ofertou?
Uma política pública, um serviço, somente pode afirmar que é protetivo quando
efetivamente assegura e garante direitos humanos fundamentais. Embora existam marcos
normativos e regulatórios importantes que tratam dos direitos de crianças e adolescentes, ainda
há muito a melhorar. Cumprir o que a legislação estabelece é uma condição prioritária e
fundamental.
Em relação ao processo de desligamento institucional de crianças e adolescentes, é
necessário que seja pensado desde o momento de entrada deles na instituição a partir dos
instrumentos e estratégias de acompanhamento institucional. Nas situações de desligamento
obrigatório pela maioridade em especial, é preciso trabalhar cotidianamente para que esses/as
adolescentes possam vislumbrar um futuro autônomo, seguro e com condições dignas de
continuarem suas trajetórias e projetos de vida fora da instituição de Acolhimento. Essa
99

perspectiva de trabalho é o mínimo necessário para reconhece-los enquanto sujeitos de direitos


e, portanto, prioridade no atendimento e no campo público e político.
100

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a intenção de responder a questão central deste TCC: “como tem sido o processo
de preparação para o desligamento obrigatório de adolescentes/jovens em Acolhimento
Institucional com remotas possibilidades de reintegração na família de origem e/ou
encaminhamento para família substituta, tanto na perspectiva institucional quanto na percepção
das próprias adolescentes institucionalizadas?”, foram analisadas as estratégias institucionais
utilizadas por um Serviço de Acolhimento Institucional em Florianópolis no processo de
desligamento obrigatório, os desafios impostos no sentido de garantir os direitos previstos nos
marcos normativos e regulatórios vigentes no Brasil e as expectativas dessas adolescentes
acolhidas.
Para tanto, buscou-se conhecer as trajetórias de vida anterior e durante o Acolhimento
Institucional de Violeta e Íris, adolescentes participantes desta pesquisa, conhecer suas
expectativas e anseios em relação ao processo de desligamento obrigatório da instituição de
Acolhimento devido a maioridade e como percebem a oferta de alternativas deste Serviço para
esse momento. Por meio de pesquisa documental e entrevista com um profissional técnico da
instituição, foram identificadas as ações planejadas e realizadas para o processo de
desligamento obrigatório no cotidiano do Serviço de Acolhimento e como essa preparação está
metodologicamente estruturada.
A fim de alcançar esses objetivos propostos, o trabalho foi dividido em quatro capítulos,
além da introdução e das considerações finais. O segundo capítulo apresenta, a partir de uma
abordagem teórico-conceitual e sócio histórica, a política de atendimento à criança e ao
adolescente no Brasil, com ênfase na medida de proteção de Acolhimento Institucional. O
terceiro aborda a construção do SGDCA e sua importância enquanto órgão de promoção, defesa
e controle dos direitos das crianças e dos adolescentes, expondo a estrutura de funcionamento
do Acolhimento Institucional com base nos documentos que estabelecem suas diretrizes de
atendimento, enfatizando o município de Florianópolis e em especial, o Abrigo Municipal de
Coqueiros. O quarto capítulo inicia as aproximações com a análise empírica, discutindo sobre
as trajetórias de vida das participantes adolescentes antes e durante a aplicação da medida de
proteção de Acolhimento Institucional, com base na pesquisa documental e entrevistas. E no
quinto e último capítulo há a discussão sobre o desligamento obrigatório a partir das entrevistas
realizadas com as adolescentes e com o profissional técnico da instituição, com sequente
discussão dos resultados obtidos.
101

A análise dos Processos Judiciais e documentos institucionais que perpassam os longos


anos de institucionalização de Violeta e Íris sugere que há equívocos por parte dos diversos
órgãos integrantes do SGDCA que atuaram sob as famílias das adolescentes, desde o início dos
acompanhamentos pelos serviços da assistência social até o momento em que foram acolhidas.
O conceito de negligência familiar é utilizado erroneamente nos dois casos, culpabilizando as
famílias pelas situações de vulnerabilidade em que se encontravam. A participação do Estado
na promoção do bem-estar necessário à Íris e Violeta não é considerada em nenhuma das
situações, e as famílias são unicamente responsabilizadas pela garantia da proteção e cuidado
às adolescentes.
O Estado retira as adolescentes da família, as encaminha para o Acolhimento
Institucional e destitui o poder familiar. Na sequência, essa família não é assistida pela rede de
atendimento socioassistencial, o Serviço de Acolhimento não consegue garantir o
reestabelecimento dos vínculos familiares e as adolescentes permanecem acolhidas até que seja
viabilizada alguma solução. As adolescentes completam 18 anos dentro da instituição e qual a
solução encontrada?
A pesquisa apontou que as participantes não se sentem preparadas para deixar a
instituição aos 18 anos e enfrentar esse “novo mundo” que lhes espera. Demonstram que esse
momento de transição para a vida adulta é permeado por angústias, medos e incertezas que
interferem na aceitação de que precisarão, em algum momento, ir embora e seguir seus
caminhos sozinhas. As poucas possibilidades ofertadas pela equipe do Serviço são vistas pelas
adolescentes como a ausência de preparação para o desligamento, pois afirmam que não
conversam sobre este momento com os profissionais e sentem falta de ações planejadas que
possibilitem sua saída com mais segurança.
Os dados sugerem que a inexistência desse planejamento denuncia a falta de um Projeto
Político Pedagógico no Serviço que apresente diretrizes norteadoras para a construção gradativa
dos desligamentos obrigatórios e que não contempla o princípio de equidade na garantia de
direitos sociais, resultando em ações restritas ao momento do desligamento. O Estado,
representado por esse Serviço de Acolhimento, que deveria proteger e prover os direitos
violados, é o mesmo que impede essas adolescentes do pleno direito à vida.
A partir da entrevista com o profissional técnico da instituição é possível pontuar
situações que interferem diretamente no atendimento ofertado para o desligamento obrigatório:
o sucateamento dos serviços públicos, a equipe técnica incompleta, desconsideração quanto à
magnitude de um Serviço de Acolhimento e, principalmente, a inexistência de um SGDCA
eficaz.
102

Não há como afirmar que o Serviço de Acolhimento em questão não executa uma
preparação gradativa para o desligamento obrigatório. O que se revela com esta pesquisa, é que
são poucas, ou mesmo nenhuma, as ações planejadas desde cedo para com as adolescentes e
suas vidas. Essa ausência de planejamento é resultado de um conjunto de fatores externos à
instituição, sendo o principal, a falta de um SGDCA que efetivamente funcione. Assim, a não
articulação entre as políticas públicas que atuam sob a mesma adolescente culmina num
atendimento emergencial, desqualificado e fragmentado.
Violeta e Íris não são as únicas a completarem 18 anos e a se encontrarem desamparadas
por um Estado que, mais uma vez, viola os seus direitos. A inexistência de Serviços de
Acolhimento em República, direito assegurado pela legislação, comprova essa violação. A
preparação para o desligamento e sua concretização se tornam cada vez mais difíceis quando
não se tem alternativas e possibilidades para ofertar a estes sujeitos.
O desligamento obrigatório realizado sem a necessária preparação, sem a aceitação da
adolescente e sem a certeza de que no cotidiano fora da instituição ela conseguirá viver uma
vida por conta própria e garantir sua subsistência, se constitui mais uma violação de direitos.
Por isso a importância de se construir estratégias de articulação intersetorial e de
acompanhamento a esses sujeitos.
É fundamental a existência de uma contrapartida do Estado nesse processo, garantindo
direitos por meio de políticas públicas para esses sujeitos que estão desamparados pelo Serviço
de Acolhimento e por uma legislação específica, mas que ainda se encontram em situação de
vulnerabilidade. O jovem “deveria encontrar nas políticas a salvaguarda dos seus direitos como
cidadão e, por conseguinte, a continuidade do serviço prestado anteriormente” (FIGUEIRÓ,
2012, p. 125).
Ademais, é imprescindível que haja projetos de Repúblicas – não só em Florianópolis,
mas nos diversos municípios brasileiros que ainda não o possuem – que visem o engajamento
do jovem com o seu próprio futuro e que proporcionem espaços em que eles possam discutir
suas trajetórias e perspectivas futuras, fortalecendo o sentimento de confiança e autonomia.
Espaços que deem voz a esses sujeitos que viveram anos de suas vidas sob interferência de
outros.
Sem a pretensão de esgotar as discussões sobre esse tema, este estudo pretende
contribuir para a discussão do desligamento obrigatório de adolescentes/jovens acolhidos/as
institucionalmente sem possibilidades de retorno à família de origem ou de encaminhamento
para família substituta, suscitando reflexões sobre a necessidade desse momento ser construído
gradativamente, com participação ativa do/a acolhido/a.
103

Destaca-se a importância desta pesquisa como uma produção bibliográfica que analisa
trajetórias de vida e dá voz aos participantes, reconhecendo-os enquanto sujeitos de direitos. A
realização de outros estudos que discutam sobre as condições de vida desses obrigatoriamente
egressos dos Serviços de Acolhimento, para avaliar a qualidade dos atendimentos oferecidos
para estes, são de extrema importância para se pensar novas propostas de atuação. A luta pela
melhoria dos serviços de atendimento às crianças e adolescentes em situação de risco deve ser
constante.
104

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111

APÊNDICE A – Autorização para realização de pesquisa documental


112

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para profissional

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(PARA O PROFISSIONAL PARTICIPANTE DA EQUIPE TÉCNICA DA
INSTITUIÇÃO)

Você foi convidado(a) a participar como voluntário da pesquisa que será realizada no
Abrigo Municipal de Coqueiros, intitulada: “ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O
DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras
para as adolescentes”. Ela contará com a presença das pesquisadoras Profa. Dra. Andréa
Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs — Docente do Departamento de Serviço Social da UFSC e
Nicole Lazzari Garcia, estudante de Serviço Social da UFSC. O coordenador da instituição está
ciente da pesquisa e concedeu autorização para a sua realização.
Para tanto, abaixo apresentaremos as principais ideias e propostas dessa pesquisa para
que você participante, possa conceder a necessária autorização.

INFORMAÇÕES GERAIS
1) Título da Pesquisa: “ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO
OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras para as adolescentes”.
A pesquisa será realizada pela estudante Nicole Lazzari Garcia, sob orientação da professora
Dra. Andréa Márcia S. Lohmeyer Fuchs, para fins da realização do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
2) Objetivo principal da pesquisa: “Analisar as estratégias institucionais utilizadas pelos
Serviços de Acolhimento Institucional em Florianópolis no processo de desligamento
obrigatório, os desafios impostos no sentido de garantir os direitos previstos nos marcos
normativos e regulatórios vigentes no Brasil e as expectativas dessas adolescentes
institucionalizados”.
3) Motivo para a realização da pesquisa (justificativa): O interesse pela realização desta
pesquisa ocorre, a partir da presença de muitos (as) adolescentes acolhidos (as)
institucionalmente que não possuem nenhuma perspectiva de retorno à família de origem ou
encaminhamento para família substituta. A medida protetiva de abrigo é direcionada a
indivíduos de 0 a 18 anos de idade, sendo assim, o desligamento institucional deve ocorrer
obrigatoriamente com a maioridade. Ao completar 18 anos, o adolescente não é mais protegido
pelo ECA, o que torna este momento ainda mais desafiador e conflitante, onde muitos se veem
desamparados perante sua nova realidade. Nesse processo de desligamento, cabe à equipe da
instituição de acolhimento planejar estratégias para com o jovem que possibilitem o
desenvolvimento e reconhecimento de sua autonomia, responsabilidades, ingresso no mercado
113

de trabalho, entendidos como necessários na transição para a vida adulta, encontrando


condições que garantam o sustento e a qualidade de vida dessas jovens. O interesse está em
conhecer as expectativas e anseios dos adolescentes em relação ao seu desligamento obrigatório
e identificar as ações realizadas na instituição de acolhimento que preparem o adolescente para
esse momento.

4) Procedimentos metodológicos da pesquisa: inicialmente a estudante pretende fazer uso da


observação participante durante a realização do estágio obrigatório no Abrigo Municipal de
Coqueiros. Após, pesquisa documental em documentos institucionais, prontuários e Processos
Jurídicos online das adolescentes participantes, realização de entrevista semiestruturada com as
adolescentes acolhidas que se adequarem ao perfil proposto no projeto e com um profissional
da equipe técnica da instituição.
5) São direitos dos participantes da pesquisa (Art. 9º da Resolução n. 510/2016 do CONEP):
• Ser informado/a sobre a pesquisa;
• Desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo;
• Ter sua privacidade (identidade) respeitada;
• Ter garantida a confidencialidade (segredo) das informações pessoais;
• Decidir se sua identidade será divulgada e quais são, dentre as informações que
forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública;
• Ser indenizado/a pelo dano decorrente da pesquisa, nos termos da Lei;
• Ser ressarcido/a das despesas diretamente decorrentes de sua participação na pesquisa.

6) Desconfortos e riscos da pesquisa: esta pesquisa segue as orientações definidas na norma


regulamentadora de pesquisas com seres humanos expressa na Resolução 510/2016 do
Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Muito embora nos comprometamos a
tomar todos os cuidados, é preciso esclarecer que esta pesquisa poderá trazer alguns
desconfortos e riscos, entre eles:
● cansaço pela participação na entrevista, pois essa atividade levará em média 1 hora (60
minutos) de realização;
● cansaço e aborrecimento pelo tempo gasto ao responder as perguntas;
● sabemos que é muito importante para garantir o respeito ao indivíduo, participante, o que
nos obriga uma maior vigilância quanto ao anonimato do seu nome (será identificado apenas
como “profissional”). Contudo, mesmo tomando todos os cuidados necessários para a
garantia do anonimato (segredo) na participação, o (a) participante poderá indiretamente ser
identificada a partir dos depoimentos que serão dados. Mas fique certo (a) de que faremos
da melhor forma para que essa identificação não venha a acontecer. Para isso fizemos a
leitura e seguimos todas as orientações do documento chamado Resolução 510/2016, do
Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. Esse documento ensina o passo a passo para que
os pesquisadores, ao fazerem suas pesquisas envolvendo pessoas, a façam de forma
respeitosa e segura para os participantes; isso se chama ética em pesquisa;
● o resultado da pesquisa poderá inferir sobre determinados assuntos relacionados às práticas
(ou não) de preparação para o desligamento obrigatório dos adolescentes acolhidos
institucionalmente. Contudo, como falamos anteriormente, faremos todo o esforço para
cumprir o que chamamos na universidade de método cientifico, ou seja, seguimos um
caminho já realizado por outros pesquisadores que tratam de apresentar os resultados
pesquisados sem interferi neles.

7) Formas de acompanhamento e assistência aos participantes da pesquisa e seus


114

responsáveis: a execução da pesquisa e aplicação do instrumento de coleta de dados será


realizada pela estudante de Serviço Social Nicole Lazzari Garcia, conjuntamente com a
professora da UFSC Dra. Andréa Márcia Lohmeyer Fuchs (orientadora), que se compromete a
estar presente na coleta de dados envolvendo os/as adolescentes. As pesquisadoras responsáveis
estarão disponíveis todas as vezes em que os participantes tiverem dúvidas ou requisitarem
informações adicionais sobre a pesquisa. A definição da participação da professora da UFSC
na realização da coleta de dados visa garantir a integridade dos participantes e de todas as
normas definidas para a prática da pesquisa com seres humanos.

CIÊNCIA E ASSINATURA DO TCLE

Diante dos esclarecimentos acima, eu,


_______________________________________________________________, abaixo
assinado, forneço meu consentimento livre e esclarecido como voluntário(a) da pesquisa
“ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO:
trajetórias, significados e perspectivas futuras para as adolescentes”, realizada pela
estudante de Serviço Social Nicole Lazzari Garcia, sob a coordenação da professora do curso
de Serviço Social da UFSC, Dra. Andréa Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

a) fui informado/a sobre a pesquisa: assunto, finalidade, como será realizada, quem
participará dela e quem estará realizando a pesquisa;

b) tenho liberdade de recursar a minha participação na pesquisa em qualquer fase, sem


qualquer prejuízo à minha pessoa;

c) meus dados pessoais serão mantidos em absoluto sigilo e privacidade em toda a


pesquisa e depois dela terminar, e os resultados serão utilizados apenas para: o
trabalho de conclusão de curso (TCC) da pesquisadora; publicação de artigos sobre os
resultados dessa pesquisa, bem como a divulgação dos resultados dessa pesquisa em
congressos e seminários científicos;

d) não terei benefícios diretos (como por exemplo receber dinheiro ou presentes) com a
minha participação na pesquisa, mas estarei contribuindo para que o trabalho
desenvolvido pelas instituições de Acolhimento Institucional possa melhorar sua
forma de atender crianças e adolescentes, bem como prepará-los para quando saírem
da instituição;

e) terei a assistência das pesquisadoras responsáveis - enquanto participante da pesquisa


- em razão de eventuais prejuízos materiais (dano material) ou imateriais (dano
115

moral), durante o período que esse prejuízo existir, podendo solicitar indenização, de
acordo com a legislação vigente, desde que devidamente comprovada e documentada
a relação do prejuízo com a participação na pesquisa;

f) não terei nenhuma despesa com a minha participação na pesquisa, tendo em vista que a
pesquisadora fará a entrevista na instituição na qual estou trabalhando. Entretanto, caso
alguma despesa extraordinária e eventual venha a ocorrer, serei ressarcido(a)
financeiramente pelas responsáveis pela pesquisa;

g) não terei a identidade identificada em nenhuma fase da coleta de dados (entrevistas


semiestruturadas). As informações permanecerão em poder da pesquisadora e
coordenadora e não serão divulgadas parcial e nem mesmo integralmente após a
realização da pesquisa;

h) poderei entrar em contato com as seguintes pessoas sempre que eu achar necessário:

● Nicole Lazzari Garcia – estudante pesquisadora – pelo fone: (48) 991035459 ou


email: nick_lazz@hotmail.com;

● Andréa M. S. L. Fuchs — Professora coordenadora da pesquisa:


andrea.fuchs1966@gmail.com e andrea.fuchs@ufsc.br. Telefones: (48) 37213812,
(48) 991944346.

i) obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a


minha participação na pesquisa;
j) este Termo de Assentimento foi elaborado em duas vias: uma ficando comigo –
enquanto profissional participante - e outra com as pesquisadoras, sendo ambas as vias
rubricadas e assinada;
k) esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), órgão responsável
pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos (cuida para garantir a dignidade,
os direitos, a segurança e o bem-estar de todos os participantes da pesquisa) de pesquisas
que envolvam seres humanos.
l) em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos ou outras questões da pesquisa que
estou participando poderei consultar o:

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA EM SERES HUMANOS (CEPSH/UFSC):


O que significa: o CEPSH é um órgão colegiado interdisciplinar, deliberativo, consultivo e
educativo, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina, mas independente na tomada
de decisões, criado para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade
e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.
Contatos podem ser realizados:
1) Atendimento presencial: Campus Universitário da UFSC - Prédio Reitoria II,
localizado na rua Desembargador Vitor Lima, nº 222, sala 401, Trindade,
116

Florianópolis/SC, CEP: 88.040-400

2) Atendimento telefônico: (48) 3721-6094

3) Atendimento por e-mail: cep.propesq@contato.ufsc.br

Cidade:___________________________ Data: _________________ de 2019.

_______________________________
Assinatura do(a) participante profissional da instituição

___________________________________
Assinatura da professora pesquisadora

________________________________
Assinatura da estudante pesquisadora
117

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para responsável legal

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(PARA O(A) RESPONSÁVEL LEGAL DA INSTITUIÇÃO E GUARDIÃ(O) DOS
ADOLESCENTES PARTICIPANTES)

O(A) adolescente/jovem acolhido institucionalmente e legalmente sob sua guarda e


responsabilidade foi convidado(a) a participar como voluntário da pesquisa a ser realizada no
Abrigo Municipal de Coqueiros e intitulada: “ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O
DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras
para as adolescentes”. Ela contará com a presença das pesquisadoras Profa. Dra. Andréa
Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs — Docente do Departamento de Serviço Social da UFSC e
Nicole Lazzari Garcia, estudante de Serviço Social da UFSC.
Para tanto, abaixo apresentaremos as principais ideias e propostas dessa pesquisa para
que o(a) Senhor(a), responsável legal pelo(a) participante, possa conceder a necessária
autorização.
INFORMAÇÕES GERAIS
1) Título da Pesquisa: “ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO
OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e perspectivas futuras para as adolescentes”.
A pesquisa será realizada pela estudante Nicole Lazzari Garcia, sob orientação da professora
Dra. Andréa Márcia S. Lohmeyer Fuchs, para fins da realização do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
2) Objetivo principal da pesquisa: “Analisar as estratégias institucionais utilizadas pelos
Serviços de Acolhimento Institucional em Florianópolis no processo de desligamento
obrigatório, os desafios impostos no sentido de garantir os direitos previstos nos marcos
normativos e regulatórios vigentes no Brasil e as expectativas desses adolescentes
institucionalizados”.
3) Motivo para a realização da pesquisa (justificativa): O interesse pela realização desta
pesquisa ocorre, a partir da presença de muitos (as) adolescentes acolhidos (as)
institucionalmente que não possuem nenhuma perspectiva de retorno à família de origem ou
encaminhamento para família substituta. A medida protetiva de abrigo é direcionada a
indivíduos de 0 a 18 anos de idade, sendo assim, o desligamento institucional deve ocorrer
obrigatoriamente com a maioridade. Ao completar 18 anos, o adolescente não é mais protegido
pelo ECA, o que torna este momento ainda mais desafiador e conflitante, onde muitos se veem
desamparados perante sua nova realidade. Nesse processo de desligamento, cabe à equipe da
instituição de acolhimento planejar estratégias para com o jovem que possibilitem o
118

desenvolvimento e reconhecimento de sua autonomia, responsabilidades, ingresso no mercado


de trabalho, entendidos como necessários na transição para a vida adulta, encontrando
condições que garantam o sustento e a qualidade de vida dessas jovens. O interesse está em
conhecer as expectativas e anseios dos adolescentes em relação ao seu desligamento obrigatório
e identificar as ações realizadas na instituição de acolhimento que preparem o adolescente para
esse momento.

4) Procedimentos metodológicos da pesquisa: inicialmente a estudante pretende fazer uso da


observação participante durante a realização do estágio obrigatório no Abrigo Municipal de
Coqueiros. Após, pesquisa documental em documentos institucionais, prontuários e Processos
Jurídicos online das adolescentes participantes, realização de entrevista semiestruturada com as
adolescentes acolhidas que se adequarem ao perfil proposto no projeto e com um membro da
equipe técnica da instituição.
5) São direitos dos participantes da pesquisa (Art. 9º da Resolução n. 510/2016 do CONEP):
• Ser informado/a sobre a pesquisa;
• Desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo;
• Ter sua privacidade (identidade) respeitada;
• Ter garantida a confidencialidade (segredo) das informações pessoais;
• Decidir se sua identidade será divulgada e quais são, dentre as informações que
forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública;
• Ser indenizado/a pelo dano decorrente da pesquisa, nos termos da Lei;
• Ser ressarcido/a das despesas diretamente decorrentes de sua participação na pesquisa.

6) Desconfortos e riscos da pesquisa: esta pesquisa segue as orientações definidas na norma


regulamentadora de pesquisas com seres humanos expressa na Resolução 510/2016 do
Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Muito embora nos comprometamos a
tomar todos os cuidados por se tratar de adolescentes acolhidos institucionalmente, é preciso
esclarecer que esta pesquisa poderá trazer alguns desconfortos e riscos para eles, entre eles:
● cansaço pela participação na entrevista, pois essa atividade levará em média 1 hora (60
minutos) de realização;
● cansaço e aborrecimento pelo tempo gasto ao responder as perguntas;
● tristeza ao perceber que está próximo de seu desligamento e não tenha vislumbrado
alguma alternativa concreta de vida;
● sabemos que é muito importante para garantir o respeito de cada criança e adolescente
participante, o que nos obriga uma maior vigilância quanto ao anonimato (todas serão
classificadas por A1, A2, A3....). Contudo, mesmo tomando todos os cuidados
necessários para a garantia do anonimato (segredo) na participação, o(a) participante
poderá indiretamente ser identificado(a) a partir dos depoimentos que serão dados. Mas
fique certo(a) de que faremos da melhor forma para que essa identificação não venha a
acontecer. Para isso fizemos a leitura e seguimos todas as orientações do documento
chamado Resolução 510/2016, do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. Esse
documento ensina o passo a passo para que os pesquisadores, ao fazerem suas pesquisas
envolvendo pessoas, a façam de forma respeitosa e segura para os participantes; isso se
chama ética em pesquisa;
● o resultado da pesquisa poderá inferir sobre determinados assuntos relacionados às
práticas (ou não) de preparação para o desligamento obrigatório dos adolescentes
acolhidos institucionalmente, ocorrendo inclusive relativo incômodo por parte dos(as)
adolescentes. Contudo, como falamos anteriormente, faremos todo o esforço para
119

cumprir o que chamamos na universidade de método cientifico, ou seja, seguimos um


caminho já realizado por outros pesquisadores que tratam de apresentar os resultados
pesquisados sem interferi neles.

7) Formas de acompanhamento e assistência aos participantes da pesquisa e seus


responsáveis: a execução da pesquisa e aplicação do instrumento de coleta de dados será
realizada pela estudante de Serviço Social Nicole Lazzari Garcia, conjuntamente com a
professora da UFSC Dra. Andréa Márcia Lohmeyer Fuchs (orientadora), que se compromete a
estar presente na coleta de dados envolvendo os/as adolescentes. As pesquisadoras responsáveis
estarão disponíveis todas as vezes em que os participantes tiverem dúvidas ou requisitarem
informações adicionais sobre a pesquisa. A definição da participação da professora da UFSC
na realização da coleta de dados envolvendo os adolescentes visa garantir a integridade
emocional dos participantes e de todas as normas definidas para a prática da pesquisa com seres
humanos.

CIÊNCIA E ASSINATURA DO TCLE

Diante dos esclarecimentos acima, eu,


_______________________________________________________________, abaixo
assinado(a), forneço meu consentimento livre e esclarecido para que o(a) adolescente/jovem
sob minha guarda participe como voluntário(a) da pesquisa “ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: trajetórias, significados e
perspectivas futuras para as adolescentes”, realizada pela estudante de Serviço Social Nicole
Lazzari Garcia, sob a coordenação da professora do curso de Serviço Social da UFSC, Dra.
Andréa Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

a) fui informado/a sobre a pesquisa: assunto, finalidade, como será realizada, quem
participará dela e quem estará realizando a pesquisa;

b) tenho liberdade de recusar a participação do(a) adolescente/jovem sob minha guarda na


pesquisa em qualquer momento, sem qualquer prejuízo à minha pessoa e ao participante;

c) os dados pessoais dos adolescentes/jovens participantes serão mantidos em absoluto


sigilo e privacidade em todas as fases da pesquisa, e seus resultados serão utilizados
apenas para: o trabalho de conclusão de curso (TCC) da pesquisadora; publicação de
artigos sobre os resultados dessa pesquisa, bem como a divulgação dos resultados dessa
pesquisa em congressos e seminários científicos;

d) não terei benefícios diretos (como por exemplo receber dinheiro ou presentes) com a
participação do(a) adolescente/jovem sob minha guarda na pesquisa, mas estarei
contribuindo para melhor compreensão do trabalho em Acolhimento Institucional e a
importância de se preparar de forma a ajudar os adolescentes quando saírem da
instituição;
120

e) o adolescente/jovem sob minha guarda terá a assistência das pesquisadoras responsáveis


- enquanto participante da pesquisa - em razão de eventuais prejuízos materiais (dano
material) ou imateriais (dano moral), durante o período que esse prejuízo existir,
podendo solicitar indenização, de acordo com a legislação vigente, desde que
devidamente comprovada e documentada a relação do prejuízo com a participação na
pesquisa;

f) o adolescente/jovem sob minha guarda não terá nenhuma despesa com a sua
participação na pesquisa, tendo em vista que a pesquisadora fará a entrevista na
instituição a qual ele(a) está acolhido(a). Entretanto, caso alguma despesa extraordinária
e eventual venha a ocorrer, ele(a) será ressarcido(a) financeiramente pelas responsáveis
pela pesquisa;

g) o adolescente/jovem sob minha guarda não terá a sua identidade identificada em


nenhuma fase da coleta de dados (entrevistas semiestruturadas). As informações
permanecerão em poder da pesquisadora e coordenadora e não serão divulgadas parcial
e nem mesmo integralmente após a realização da pesquisa;

h) poderei entrar em contato sempre que necessário com as seguintes pessoas:


● Nicole Lazzari Garcia – estudante pesquisadora – pelo fone: (48) 991035459 ou
email: nick_lazz@hotmail.com;

● Andréa M. S. L. Fuchs — Professora coordenadora da pesquisa:


andrea.fuchs1966@gmail.com e andrea.fuchs@ufsc.br. Telefones: (48) 37213812,
(48) 991944346.

i) obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a


minha participação na pesquisa;
j) este Termo de Assentimento foi elaborado em duas vias: uma ficando comigo –
enquanto adolescente participante - e outra com as pesquisadoras, sendo ambas as vias
rubricadas e assinada;
k) esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), órgão responsável
pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos (cuida para garantir a dignidade,
os direitos, a segurança e o bem-estar de todos os participantes da pesquisa) de pesquisas
que envolvam seres humanos.
l) em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos ou outras questões da pesquisa que
estou participando poderei consultar o:

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA EM SERES HUMANOS (CEPSH/UFSC):

O que significa: o CEPSH é um órgão colegiado interdisciplinar, deliberativo, consultivo e


educativo, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina, mas independente na tomada
de decisões, criado para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade
e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.
121

Contatos podem ser realizados:


4) Atendimento presencial: Campus Universitário da UFSC - Prédio Reitoria II,
localizado na rua Desembargador Vitor Lima, nº 222, sala 401, Trindade,
Florianópolis/SC, CEP: 88.040-400

5) Atendimento telefônico: (48) 3721-6094

6) Atendimento por e-mail: cep.propesq@contato.ufsc.br

Cidade:___________________________ Data: _________________ de 2019.

_______________________________
Assinatura do(a) responsável legal e guardião dos adolescentes participantes

___________________________________
Assinatura da professora pesquisadora

________________________________
Assinatura da estudante pesquisadora
122

APÊNDICE D – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido para adolescentes


participantes

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(PARA ADOLESCENTES PARTICIPANTES)

Você foi convidado(a) a participar como voluntário(a) desta pesquisa que será
realizada no Abrigo Municipal de Coqueiros, intitulada: “ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO: trajetórias,
significados e perspectivas futuras para as adolescentes”. Estão com você as
pesquisadoras Profa. Dra. Andréa Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs — Professora de
Serviço Social da UFSC e Nicole Lazzari Garcia, estudante de Serviço Social da UFSC.
O coordenador da instituição e seu responsável legal está ciente da pesquisa e concedeu
autorização para a sua realização.
Sendo assim, faremos uma leitura junto com você sobre as principais ideias e
propostas dessa pesquisa para que você entenda e possa nos conceder sua autorização.

INFORMAÇÕES GERAIS

1) Título da Pesquisa: “Adolescente em acolhimento institucional e o desligamento


obrigatório”. A pesquisa será realizada pela estudante Nicole Garcia, com orientação da
professora Andréa, para Nicole poder fazer seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

2) Objetivo principal da pesquisa: pretendemos analisar como o Abrigo de Coqueiros


tem preparado os/as adolescentes para o desligamento obrigatório após os 18 anos e como
que vocês, adolescentes, se sentem nesse momento e como percebem que a equipe prepara
vocês para saírem do abrigo.

3) Motivo para a realização da pesquisa (justificativa): O interesse por essa pesquisa


aconteceu depois que a estudante Nicole iniciou seu estágio no Abrigo de Coqueiros e
percebeu que a medida protetiva de abrigo é válida, por lei, somente até os 18 anos de
idade e após completar essa idade, vocês, adolescentes, precisam deixar o abrigo e seguir
com suas vidas, sem nenhuma lei que os proteja. Por isso, com essa pesquisa pretendemos
entender como que a equipe do abrigo prepara vocês para esse momento de desligamento,
ou seja, como eles ajudam vocês a encontram um lugar para morar e a encontrar um
emprego para se sentirem seguras e iniciarem uma vida como adultos/as. E também,
queremos saber como que vocês se sentem nesse momento, quais as expectativas que
vocês têm em relação à sua saída do abrigo e como que percebem que a equipe ajuda
vocês.
123

4) Procedimentos metodológicos da pesquisa: sobre a metodologia: Primeiramente,


a Nicole já vem acompanhando vocês durante o período de estágio dela no abrigo,
observando como vocês se comportam e se preocupam com a possibilidade de sair. Ela
vai analisar alguns documentos da instituição que contam sobre a história de vida de vocês
e que tratam sobre o desligamento obrigatório. Depois disso, a Nicole e a Professora
Andrea realizarão uma entrevista individual com cada uma de vocês, sem identificar seus
nomes, para entender quais os seus sentimentos em relação a esse processo de saída e
também entrevistarão um membro da equipe técnica, para entender como eles preparam
vocês para o desligamento.

5) São direitos dos participantes da pesquisa (Art. 9º da Resolução n. 510/2016 do


CONEP):
• Ser informado/a sobre a pesquisa;
• Desistir a qualquer momento de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo;
• Ter sua privacidade (identidade) respeitada;
• Ter garantido a confidencialidade (segredo) das informações pessoais;
• Decidir se sua identidade será divulgada e quais são, dentre as informações que
forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública;
• Ser indenizado/a pelo dano decorrente da pesquisa, nos termos da Lei;
• Ser ressarcido/a das despesas diretamente decorrentes de sua
participação na pesquisa.

6) Desconfortos e riscos da pesquisa: esta pesquisa segue as orientações definidas na


norma regulamentadora de pesquisas com seres humanos expressa na Resolução 510/2016
do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Muito embora nos
comprometamos a tomar todos os cuidados por se tratar de adolescentes, é preciso
esclarecer que esta pesquisa poderá trazer alguns desconfortos e riscos, entre eles:
● cansaço pela participação na entrevista, pois essa atividade levará em média 1 hora (60
minutos) de realização;
● cansaço e aborrecimento pelo tempo gasto ao responder as perguntas;
● tristeza ao perceber que está próximo de seu desligamento e não tenha vislumbrado
alguma alternativa concreta de vida;
● sabemos que é muito importante para garantir o respeito da adolescente participante, o
que nos obriga uma maior vigilância quanto ao anonimato (todas serão classificadas por
A1, A2, A3....). Contudo, mesmo tomando todos os cuidados necessários para a garantia
do anonimato (segredo) na participação, o (a) participante poderá indiretamente ser
identificada a partir dos depoimentos que serão dados. Mas fique certo (a) de que faremos
da melhor forma para que essa identificação não venha a acontecer. Para isso fizemos a
leitura e seguimos todas as orientações do documento chamado Resolução 510/2016, do
Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. Esse documento ensina o passo a passo para
que os pesquisadores, ao fazerem suas pesquisas envolvendo pessoas, a façam de forma
respeitosa e segura para os participantes; isso se chama ética em pesquisa;
● o resultado da pesquisa poderá inferir sobre determinados assuntos relacionados às
práticas (ou não) de preparação para o desligamento obrigatório dos adolescentes
acolhidos institucionalmente, ocorrendo inclusive relativo incômodo por parte das
adolescentes. Contudo, como falamos anteriormente, faremos todo o esforço para
cumprir o que chamamos na universidade de método cientifico, ou seja, seguimos um
caminho já realizado por outros pesquisadores que tratam de apresentar os resultados
pesquisados sem interferi neles.
124

7) Formas de acompanhamento e assistência aos participantes da pesquisa e seus


responsáveis: a pesquisa e aplicação do instrumento de coleta de dados será realizada
pela estudante Nicole, junto com a professora Andréa, que se compromete a estar presente
na coleta de dados envolvendo as adolescentes. Elas estarão disponíveis todas as vezes em
que vocês tiverem dúvidas ou quiserem saber alguma informação sobre a pesquisa. A
participação da professora na realização da coleta de dados é importante para garantir a
integridade das participantes e de todas as regras definidas para a prática da pesquisa com
seres humanos, pois a Nicole ainda está aprendendo a ser uma pesquisadora.

CIÊNCIA E ASSINATURA DO TERMO DE ASSENTIMENTO

Diante dos esclarecimentos acima, eu,


_____________________________________________________________, abaixo
assinado, forneço meu assentimento livre e esclarecido como voluntário(a) da pesquisa
“ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO:
trajetórias, significados e perspectivas futuras para as adolescentes”, realizada pela
estudante de Serviço Social Nicole Lazzari Garcia, sob a coordenação da professora do
curso de Serviço Social da UFSC, Dra. Andréa Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs.

Assinando este Termo de Assentimento, estou ciente de que:

a) fui informado(a) sobre a pesquisa: assunto, finalidade, como será realizada,


quem participará dela e quem estará realizando a pesquisa;
b) posso recusar minha participação na pesquisa em qualquer momento e sem
qualquer prejuízo à minha pessoa;

c) meus dados pessoais serão mantidos em segredo durante toda a pesquisa e depois
dela terminar, e os resultados serão utilizados apenas para: o trabalho de conclusão
de curso (TCC) da pesquisadora; publicação de artigos sobre os resultados dessa
pesquisa, bem como a divulgação dos resultados dessa pesquisa em congressos e
seminários científicos;

d) não terei benefícios diretos (como por exemplo receber dinheiro ou presentes) com
a minha participação na pesquisa, mas estarei contribuindo para que o trabalho
desenvolvido pelas instituições de Acolhimento Institucional possa melhorar sua
forma de atender crianças e adolescentes, bem como prepara-los para quando
saírem da instituição;

e) terei a assistência das pesquisadoras responsáveis - enquanto participante da


pesquisa - em razão de eventuais prejuízos materiais (dano material) ou imateriais
(dano moral), durante o período que esse prejuízo existir, podendo solicitar
indenização, de acordo com a legislação vigente, desde que devidamente
comprovada e documentada a relação do prejuízo com a participação na pesquisa;

f) não terei nenhuma despesa com a minha participação na pesquisa, tendo em vista
que a pesquisadora fará a entrevista na instituição na qual estou acolhido(a).
Entretanto, caso alguma despesa extraordinária e eventual venha a ocorrer, serei
125

ressarcido(a) financeiramente pelas responsáveis pela pesquisa;

g) não terei a identidade identificada em nenhuma fase da coleta de dados (entrevistas


semiestruturadas). As informações permanecerão em poder da pesquisadora e
coordenadora e não serão divulgadas parcial e nem mesmo integralmente após a
realização da pesquisa;

h) poderei entrar em contato com as seguintes pessoas sempre que eu e meu


responsável legal acharmos necessário:
● Nicole Lazzari Garcia – estudante pesquisadora – pelo fone: (48) 991035459
ou email: nick_lazz@hotmail.com;

● Andréa M. S. L. Fuchs — Professora coordenadora da pesquisa:


andrea.fuchs1966@gmail.com e andrea.fuchs@ufsc.br. Telefones: (48)
37213812, (48) 991944346.

i) obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre


a minha participação na pesquisa;

j) este Termo de Assentimento foi elaborado em duas vias: uma ficando comigo –
enquanto adolescente participante - e outra com as pesquisadoras, sendo ambas
as vias rubricadas e assinada;

k) esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), órgão
responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos (cuida para
garantir a dignidade, os direitos, a segurança e o bem-estar de todos os
participantes da pesquisa) de pesquisas que envolvam seres humanos.

l) em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos ou outras questões da pesquisa
que estou participando poderei consultar o:

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA EM SERES HUMANOS


(CEPSH/UFSC):
O que significa: o CEPSH é um órgão colegiado interdisciplinar, deliberativo, consultivo
e educativo, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina, mas independente na
tomada de decisões, criado para defender os interesses dos participantes da pesquisa em
sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de
padrões éticos.

Contatos podem ser realizados:

1) Atendimento presencial: Campus Universitário da UFSC - Prédio Reitoria II,


localizado na rua Desembargador Vitor Lima, nº 222, sala 401, Trindade,
Florianópolis/SC, CEP: 88.040-400
126

2) Atendimento telefônico: (48) 3721-6094

3) Atendimento por e-mail: cep.propesq@contato.ufsc.br

Cidade: ______________________Data: __________________de 2019.

Assinatura do(a) participante

Assinatura da professora pesquisadora

Assinatura da estudante pesquisadora


127

APÊNDICE E - Quadro de análise de entrevistas

PERGUNTA:

ENTREVISTADO RESPOSTAS
128

APÊNDICE F - Entrevista semiestruturada com adolescentes

BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO E QUESTÕES APROXIMATIVAS

Data da entrevista: ______________

Nome da/o adolescente:____________________________________________


Gênero: ____________________Data da Nascimento: ___________________
Raça/Cor: ____________________Naturalidade________________________
Data do acolhimento: ________________

Atualmente estuda:
( ) Sim Onde: ___________________________________________________
Qual série?____________________ Horário: ___________________________
( ) Não
Outro: (Especificar)

Atualmente trabalha:
( ) sim Onde: ________________________________________________
Em caso afirmativo:
( ) Adolescente aprendiz, com carteira assinada
( ) Com carteira de trabalho assinada
( ) Sem carteira de trabalho
( ) não
Outro (especificar):
_______________________________________________________________

Atualmente faz curso profissionalizante:


( ) Sim Onde? _____________________________
( ) Não
Outro: (especificar) _______________________________________________

1. Poderias contar um pouco da tua história antes do processo de chegada no acolhimento?

2. Quais as tuas lembranças de sentimentos na chegada no abrigo? Quem te recebeu? Como


você foi recebida?

3. Durante a permanência no abrigo, teve algum momento em que pensou em sair


(fugir/evadir) daqui? Se sim, quando e porquê?

4. Você compartilhou esse desejo de “sair” com alguém aqui da casa? Se sim, o que essa
pessoa te disse?

5. Tem alguém aqui no abrigo que tu tens mais confiança?


129

6. Como você soube que, em tese, aos 18 anos precisaria sair do abrigo? (Explorar se soube
pela equipe técnica, por educadores, por outra acolhida...)

BLOCO 2 – SOBRE O PROCESSO DE DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO


1. Você está próximo de completar 18 anos de idade, o que isso significa para você?
(alegrias, expectativas, anseios, preocupações....)
2. Os profissionais que acompanham os adolescentes na casa já conversaram com você
sobre o processo de desligamento obrigatório?
● Em caso afirmativo: Quando foi isso? (Explorar)
● Em caso negativo da resposta anterior (questão 2), porque não o fizeram? E quando você
acredita que deveriam ter falado com você?
3. Você pode relatar como foi ou como está sendo essa preparação para o desligamento?
4. Quais são as informações passadas para você sobre o desligamento? Explorar: como,
quando, para onde, com quanto....)
5. Há algo que você acredita que a equipe do Abrigo poderia melhor lhe ajudar na
preparação para o desligamento obrigatório?
6. Você se sente preparada para a vida após o desligamento do Abrigo? Justifique.
7. Quais as questões da vida que são importantes para que um adolescente ao ser deligada/o
com segurança e consiga seguir sua vida? (Em caso de dificuldade na resposta espontânea
sugerir: saúde, educação, trabalho, moradia, família-amigos)
8. Se você pudesse escolher entre permanecer no Abrigo após os 18 anos e sair, o que você
escolheria e por quê?
9. Você tem planos para o futuro? Pode socializar quais são?
BLOCO 3 – SOBRE O SERVIÇO DE REPÚBLICA
1. Você já ouviu falar em República? Se sim, pode me explicar o que é? E para quem é
destinado?
2. Em Florianópolis você conhece alguma República nesse modelo?
3. Caso exista esse Serviço, você pensaria na possibilidade de ir para lá após o desligamento
do Abrigo? Justifique
130

APÊNDICE G - Entrevista semiestruturada com profissional da equipe técnica

BLOCO 1 - IDENTIFICAÇÃO

Data da entrevista:______________
Nome do profissional:_____________________________________________
Gênero:____________________________________
Escolaridade: ______________________
Formação profissional: __________________
Cargo: _________________________________________________________
Tempo de trabalho no Abrigo: ______________________________________

BLOCO 2 – SOBRE O PROCESSO DE DESLIGAMENTO OBRIGATÓRIO

1. Em sua opinião, quais os motivos que levam a longa permanência de crianças e


adolescentes em instituições de Acolhimento Institucional?
2. Em sua opinião, quais as implicações para o processo de desligamento, a longa
permanência de adolescentes na instituição (Abrigo)?
3. Como a instituição se organiza para preparar o adolescente para o desligamento
obrigatório?
4. Há um documento institucional que descreva como deve acontecer esse processo
(planejamento) para o desligamento obrigatório? Em caso afirmativo, o que ele apresenta?
5. Há um plano individual de preparação para o desligamento? Quais questões são
relevantes nessa preparação para o desligamento?
6. Como a instituição percebe que o adolescente/jovem está pronto para ser independente
e sair da casa?
7. Em sua opinião como os adolescentes encaram esse processo de desligamento e a
proximidade dele?
8. Como o Sistema de Garantias, em especial as Políticas Públicas, poderiam
concretamente colaborar no processo de desligamento de maneira que esse adolescente/ jovem
saísse da instituição e não ficasse desamparado?
9. Há acompanhamento institucional ao egresso? Como eles acontecem?
10. Em sua opinião, quais as dificuldades e desafios no processo de preparação para o
desligamento?
131

ANEXO A – Parecer Consubstanciado CEPSH/UFSC


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