Ilustríssimo (A) Senhor (A) Diretor (A) Do Departamento de Trânsito Do Rio de Janeiro (Detran)

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ILUSTRÍSSIMO (a) SENHOR (a) DIRETOR (a) DO

DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DO RIO DE


JANEIRO ( DETRAN)

AUTO DE INFRAÇÃO: C38794241

Edivaldo Marcilio da Silva, brasileiro, casado, inscrito no


CPF sob o nº: 006023957-39, e RG sob o nº: 08902115-8
IFPRJ, Registro de CNH nº 00103650288, residente e
domiciliado em RIO DE JANEIRO/RJ na Estrada do
Campinho, Nº2017, Bairro Campo Grande, Cep: 23070-220,
onde recebe notificações e intimações, vem muito
respeitosamente à presença de V. Sª, com base nos
incisos II, XXXIV e LV do artigo 5º da CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL, apresentar DEFESA
PRÉVIA contra o Auto de Infração nº C38794241, pelos
motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico,


perícia ou outro procedimento que permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma
estabelecida pelo art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de
dirigir por 12 (doze) meses;
Medida administrativa - recolhimento do documento de
habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no §
4º do art. 270.

DOS FATOS E FUNDAMENTOS

O recorrente, no dia 03/02/2019, foi autuado, nos termos do


art. 165 - A do CTB, por ter se recusado a utilizar o etilômetro,
conhecido popularmente como teste do bafômetro.
Ainda que a recente modificação da legislação indique que a
simples recusa em efetuar o teste constitui infração, não deve
prevalecer este entendimento, uma vez que incompatível com a
legislação vigente.

A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadão e


o próprio motorista contra acidentes que gerem transtornos
e/ou acidentes. Para tanto, é necessário que haja combinação
de determinados elementos para que seja configurada a
infração.

Não é razoável punir o condutor/recorrente se, após a


verificação pessoal do agente de trânsito, restar comprovado
que o condutor não apresenta sinais de ter utilizado bebida
alcoólica.

É cediço que a interpretação literal, aplicada isoladamente, é


insuficiente para atingir o “espírito da Lei”.

Pelo princípio da universalidade do direito ao trânsito seguro,


previsto no art. 1º, § 2º, CTB c/c art. 144, § 10, I, II,
da Constituição Federal, o agente autuador, através da
fiscalização, um dos tripés que norteiam este ramo do Direito
(educação – engenharia – fiscalização), deve trabalhar para
que haja a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do seu patrimônio. Todavia, não se pode chegar
ao exagero de punir quem não oferece nenhum risco, como no
caso em tela.
Apesar de a autuação constituir um ato administrativo
vinculado, é necessário que seja observado o caso concreto
para determinar a presença ou não do risco que o condutor
ofereça naquele determinado momento.

A jurisprudência já se pronunciou no sentido de que a


quantidade irrelevante de álcool, incapaz de atingir a
capacidade psicomotora do indivíduo, não devem ser punidas.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. INFRAÇÃO
DE TRÂNSITO. RECUSA EM REALIZAR TESTE DE
ALCOOLEMIA (BAFÔMETRO). APLICAÇÃO DE MULTA E
DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. SENTENÇA QUE
DENEGOU A SEGURANÇA. IRRESIGNAÇÃO DO
IMPETRANTE. O impetrante foi autuado em fiscalização
conhecida como Lei Seca por estar conduzindo veículo e ter-
se negado à realização do teste de alcoolemia. Denegada a
segurança, sob o fundamento de falta de provas capazes de
elidir a presunção de legalidade e legitimidade de que gozam
os atos administrativos, apelou o autor. A recusa em
submeter-se ao teste do bafômetro não implica, por
si só, em inexorável reconhecimento de estado de
embriaguez, sob pena de violação da vedação a
autoincriminação, do direito ao silêncio, da ampla
defesa e do princípio da presunção de inocência. Se o
indivíduo não pode ser compelido a se
autoincriminar, nemo tenetur se detegere, não pode
ser obrigado a efetuar o referido teste do bafômetro,
competindo à autoridade fiscalizadora provar a
embriaguez por outros meios de modo a aplicar as
sanções previstas pelo artigo  165  do  Código de
Trânsito Brasileiro. Não há qualquer menção sequer sobre
a tentativa de realização de prova indireta que pudesse
atestar o estado de ebriedade do condutor no momento da
abordagem. Concessão da segurança ao impetrante, ora
recorrente, para que o impetrado se abstenha de apreender a
sua carteira de habilitação, devolvendo-lhe o prazo legal para
apresentação de recurso, com o devido contraditório e ampla
defesa. CONCESSÃO DA ORDEM. RECURSO CONHECIDO e
PROVIDO (0417843-17.2014.8.19.0001 – APELAÇÃO; Des
(a). CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA - Julgamento:
14/02/2017 - OITAVA CÂMARA CÍVEL).

Importante a observação de que a não autoincriminação está


prevista no Pacto de São José da Costa Rica, que
possui status de supralegalidade, devendo prevalecer sobre
legislação ordinária que o contrarie.
Oportuna a menção de que o Manual Brasileiro de Fiscalização
de Trânsito determina que no campo de observações deve ser
pormenorizada a situação, com os elementos que demonstrem
o verdadeiro estado que em que se encontrava o condutor: se
apresentava sinais de embriaguez na fala, ao andar, de
consciência, bem como outros elementos que conduzam ao
entendimento de que a capacidade psicomotora se encontrava
atingida, o que não ocorreu no caso em tela.

Não é outro o entendimento da Resolução 432/13 do


CONTRAN:

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora


poderão ser verificados por:
I – Exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico
perito; ou
II – Constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos
sinais de alteração da capacidade psicomotora nos termos do
Anexo II.
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade
psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito, deverá
ser considerado não somente um sinal, mas um
conjunto de sinais que comprovem a situação do
condutor.

Frisa-se, ainda, que os sinais de alteração devem ser


mencionados no campo de observação do auto de infração e
corresponder aqueles enumerados no anexo II da Resolução
432/13, o que não ocorreu.

Resolução 432/13. Art. 5º, § 2º. Os sinais de alteração da


capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão ser
descritos no auto de infração ou em termo específico que
contenha as informações mínimas indicadas no Anexo II, o
qual deverá acompanhar o auto de infração.
Por fim, porém não menos importante, ressalta-se que não
houve, no momento da abordagem e realização do teste, a
apresentação do certificado de calibração do etilômetro, sendo
impossível verificar seu exato funcionamento. Tal fato, por si, é
capaz de justificar a recusa ao teste do bafômetro. Assim
caminha a melhor jurisprudência:
... Além dos fatores já mencionados, é também admissível que
a recusa do motorista possa estar lastreada no receio quanto
à exatidão do aparelho. A preocupação merece guarida, tanto
que a própria Resolução Contran 432, em seu artigo 4º.,
assim estabelece:
“Art. 4º. O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:
I - Ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;
II - Ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual,
em serviço e anual realizadas pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão
da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade -
RBMLQ;
Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição
realizada) deverá ser descontada margem de tolerância, que
será o erro máximo admissível, conforme legislação
metrológica, de acordo com a "Tabela de Valores Referenciais
para Etilômetro" constante no Anexo I”.

De tal sorte, a desconfiança de que o aparelho apresentado


para a realização do exame não preencha todos os requisitos
de segurança exigidos, pode sim, gerar o comportamento
negativo por parte do motorista.
Entretanto, nada impede a autoridade local, responsável pela
abordagem, na rua, de obter outros modos de aferição da
embriaguez, ou simples ingestão de bebida alcoólica,
conforme já mencionado anteriormente... (APELAÇAO CÍVEL
0319040-96.2014.8.19.001).
Pelos argumentos e provas apresentados, não deve prevalecer a
penalidade pela suposta infração cometida pelo recorrente.

Diante de todo o exposto, requer:

1. O deferimento do presente recurso, com consequente


cancelamento da multa indevidamente imposta, bem como
restabelecimento dos pontos retirados da CNH do recorrente,
assim como devolução da carteira de habilitação e
desconsideração da suspensão do direito de dirigir.

Nestes termos,
Pede deferimento.

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