Daniel Gilbert - The Big Wombassa

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MÓDULO 5

“PERSONALIDADE”

Título original: “AFFECTIVE FORECASTING...OR...THE BIG WOMBASSA:


WHAT YOU THINK YOU'RE GOING TO GET, AND WHAT YOU DON'T GET,
WHEN YOU GET WHAT YOU WANT”
por Daniel T. Gilbert (Harvard University)
Você pode ler o texto original (e assistir ao vídeo do autor no qual o texto é
baseado) neste link: https://edge.org/conversation/daniel_gilbert-affective-
forecastingorthe-big-wombassa-what-you-think-youre-going-to

Decisões econômicas são inerentemente previsões afetivas. Economistas


acreditam que as pessoas engajam em transações econômicas a fim de
“maximizar sua utilidade”. Agora, para psicólogos a palavra utilidade não é
particularmente significativa a não ser que você esteja falando de gasolina ou
eletricidade. Psicólogos argumentam que utilidade é, na verdade, um substituto
para algo como felicidade ou satisfação – um estado hedônico 1 subjetivo do
tomador de decisão. Isso soa um pouco piegas para os economistas modernos,
que frequentemente confundem utilidade com riqueza, mas como poderia ser
diferente?

Indivíduos engajam em transações econômicas a fim de conseguir coisas que


eles acreditam que irão provê-los com experiências emocionais positivas, e
riqueza nada mais é do que um “crédito de experiência” que pode ser usado
para atingir tais experiências no futuro. Então, o comportamento econômico
racional requer que olhemos para o futuro e imaginemos o que irá fornecer
aquela experiência e o que não irá. Acontece que as pessoas cometem erros
sistemáticos quando elas

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1
Referente ao prazer e à felicidade.

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fazem isso, razão pela qual suas decisões econômicas são frequentemente sub-
ótimas.

O problema está em como imaginamos nossos estados hedônicos futuros. Nós


somos os únicos animais que conseguem contemplar profundamente nossos
futuros – o único animal que pode viajar mentalmente através do tempo,
prever uma variedade de futuros, e escolher aquele que nos trará o maior
prazer e/ou a menor dor. Essa é uma adaptação extraordinária – que,
incidentalmente, está diretamente ligada à evolução do lobo frontal – porque
significa que nós podemos aprender com nossos erros antes de cometê-los. Nós
não temos que efetivamente passar por uma cirurgia de vesícula ou passear por
uma praia Caribenha para saber que uma dessas coisas é melhor do que a
outra. Podemos fazer isso melhor do que qualquer outro animal, mas nossas
pesquisas sugerem que não o fazemos perfeitamente. Nossa habilidade de
simular o futuro e prever nossas reações hedônicas ao futuro é seriamente
imperfeita, e as pessoas raramente ficam felizes ou infelizes como suas
expectativas previam.

Que tipos de erros e enganos as pessoas cometem? A primeira coisa a se notar


é que psicólogos que estudam erros de julgamento estão apenas interessados
em erros sistemáticos. Há uma diferença entre um erro e um erro sistemático.
Se você está em pé em frente a um alvo de dardos e você está tentando atingir
o centro do alvo, você está fadado a errar algumas vezes, mas seus erros serão
randomicamente distribuídos ao redor do centro do alvo. O mero fato de que
você não consegue atingir o centro do alvo todas as vezes não é
particularmente interessante ou notável, e o mero fato de que as pessoas são
imprecisas ao prever suas reações hedônicas a eventos futuros não é
interessante ou notável, também. Mas se todas as vezes em que você errou o
centro do alvo você cometesse um tipo específico de erro – por exemplo, se
todos os seus erros fossem vinte graus para a esquerda – então algo
interessante e notável poderia estar acontecendo e nós poderíamos nos
perguntar o que seria isso.
Talvez você tenha um déficit visual, talvez o peso do dardo esteja mal
distribuído, talvez haja uma forte corrente de ar no recinto. Erros sistemáticos
clamam por explicações científicas, e acontece que os erros que as pessoas
cometem quando elas tentam prever seus futuros emocionais são
consideravelmente sistemáticos. Especificamente, as pessoas tendem a
superestimar o impacto de eventos futuros. Ou seja, elas preveem que
eventos futuros terão um impacto hedônico mais intenso e mais duradouro do
que eles efetivamente têm. Nós chamamos isso de viés de impacto.

Deixe-me dar-lhe dois exemplos reais desse viés. Nós fizemos dezenas de
estudos tanto no laboratório quanto em campo, e a estratégia geral da pesquisa
é realmente muito simples: Nós pedimos às pessoas que façam uma previsão
de como elas se sentirão minutos, dias, semanas, meses, ou mesmo anos após
algum evento futuro ocorrer e, então, medimos como elas realmente se sentem
após a ocorrência do evento. Se os dois números diferirem sistematicamente,
então nós temos um daqueles interessantes e notáveis erros sistemáticos que
mencionei.

Nós verificamos o viés de impacto em praticamente todo contexto que


estudamos. Por exemplo, estudamos diversas eleições ao longo dos últimos
anos, e eleitores invariavelmente predizem que se seus candidatos vencerem,
eles ficarão felizes por meses, e se seus candidatos perderem, eles ficarão
infelizes por meses. Na verdade, sua felicidade é pouquíssimo influenciada pelo
resultado de eleições. Nós vemos o mesmo padrão quando observamos a
dissolução de relações românticas.

As pessoas predizem que ficarão muito infelizes por muito tempo depois que
uma relação romântica se dissolve, mas o fato é que elas geralmente retornam
aos níveis médios de felicidade em um tempo relativamente curto – um tempo
muito
mais curto do que elas predisseram. Professores esperam ficar muito mais
felizes por anos após ter a livre-docência aprovada do que após tê-la negada,
mas os dois grupos estão igualmente felizes após um breve período de tempo.
Entenda, por favor, que não estou dizendo que esses eventos não tiveram
impacto. É claro que promoções fazem com que nos sintamos felizes e divórcios
fazem com que nos sintamos mal! O que estou dizendo é que, seja lá qual for o
impacto que tais eventos possuem, ele é demonstravelmente menor e menos
duradouro do que o impacto que pessoas que passaram pela experiência
esperavam que fosse.

Agora, perceba algo a respeito de tais eventos: Eles são notadamente


comuns. Nós não estamos pedindo para as pessoas nos dizerem como elas se
sentiriam após uma invasão de Marcianos. A maioria dos eleitores votou e
ganhou no passado, a maioria dos amantes amou e perdeu no passado. Na
maioria dos casos, os eventos que estudamos são eventos que pessoas já
experimentaram muitas vezes em suas vidas – eventos sobre os quais elas
deveriam ser consideravelmente especialistas – o que faz com que sua
imprecisão seja ainda mais curiosa e ainda mais interessante.

A questão, então, não é se existe ou não um viés de impacto, porque isso


foi amplamente demonstrado em nosso laboratório e em outros. A questão é
por quê? Por que somos tão estranhos a nós mesmos? Há duas respostas
diferentes para essa questão. A maioria dos fenômenos robustos na natureza
são multiplamente determinados [multiply determined], o que significa que
quando algo ocorre o tempo todo provavelmente há uma série de mecanismos
independentes fazendo com que ocorra. É isso que descobrimos no viés de
impacto. Deixe-me contar a respeito de alguns dos mecanismos que parecem
dar vida ao viés de impacto.

Primeiramente, as pessoas têm um enorme talento para mudar suas


visões sobre eventos para que elas se sintam melhor a respeito do evento.
Nós não
ficamos imediatamente satisfeitos quando nossa esposa foge com um outro
homem, mas em relativamente pouco tempo a maioria de nós começa a
perceber que “ela não era certa para mim” ou que “nós não tínhamos muita
coisa em comum”. Nossos amigos tiram sarro e dizem que nós estamos
racionalizando – como se essas conclusões fossem erradas simplesmente
porque são confortáveis. Na verdade, racionalização não significa
necessariamente autoengano. Tais conclusões podem de fato ter sido sempre
corretas, e a racionalização pode ser o processo de descobrir o que sempre foi
verdade mas não era previamente reconhecido. Mas realmente não importa, da
minha perspectiva, se tais conclusões são objetivas ou não.

O que importa é que seres humanos são excepcionalmente bons em


descobri-las quando é conveniente. Shakespeare escreveu que “nada é bom ou
mau, mas pensá-lo o faz” e, de fato, pensar é uma ferramenta notável que nos
permite mudar as visões de mundo para alterar nossas reações emocionais ao
mundo. Uma vez que descobrimos quão errada nossa esposa era para nós, sua
partida é transformada de um trauma em uma bênção.

Agora, não é novidade que as pessoas são boas nisso. O que é novidade é
que as pessoas não sabem que são boas nisso. A racionalização é um processo
largamente inconsciente. Nós não acordamos de manhã e falamos, “Hoje eu
vou enganar a mim mesmo”. Em vez disso, logo após um evento ruim ocorrer,
processos inconscientes são ativados e tais processos começam a gerar modos
diferente de interpretar o evento. Pensamentos como “Talvez eu nunca a
tivesse a amado de verdade” parecem vir à mente por si mesmos, e nos
sentimos como os recipientes passivos de uma sugestão razoável. Porque nós
não temos a experiência consciente dos processos cognitivos que estão criando
esses novos modos de pensar sobre o evento, não percebemos que eles
ocorrerão no futuro.
Uma das razões pelas quais pensamos que coisas ruins vão fazer com que
nos sintamos mal por muito tempo é porque não percebemos que temos esse
sistema de defesa – algo como um sistema imunológico psicológico, se você
quiser. Se eu pedisse a você para prever quão saudável você seria se você
contraísse um germe da gripe e você não soubesse que tem um sistema
imunológico físico, você esperaria ficar muito doente e, talvez, até morrer.

Similarmente, quando pessoas predizem como elas se sentirão em face de


adversidades, não saber que elas têm um sistema imunológico psicológico as
leva a esperar insatisfação mais intensa e duradoura do que elas irão
efetivamente experienciar. Nós temos diversos estudos demonstrando esse
ponto. Por exemplo, se você pede aos participantes de um experimento para
prever como eles irão se sentir minutos após receber um feedback negativo
sobre suas personalidades, dado por um computador ou um médico, eles
esperam se sentir péssimos – e eles esperam se sentir igualmente péssimos em
ambos os casos.

Mas quando você de fato lhes dá esse feedback, eles se sentem levemente
desapontados, mas não péssimos. Além do mais, eles se sentem muito menos
desapontados quando o feedback vem de um computador do que de um
médico. Por quê? Porque é muito mais fácil racionalizar o feedback de um
computador do que de um médico. Afinal, o que sabe uma máquina? O que é
interessante é que os participantes de pesquisas não percebem com
antecedência que eles farão isso. Resultados como esses sugerem que pessoas
simplesmente não estão visualizando suas oportunidades futuras de
racionalização quando predizem suas felicidades futuras.

Considere um outro mecanismo que causa o viés de impacto. Eu passo muito


tempo pedindo às pessoas para que imaginem como elas se sentiriam se um
filho morresse (como você pode imaginar, isso me torna muito popular em
festas). Todos me dão a mesma resposta, obviamente, que é algo como
“eu ficaria
totalmente devastado”. Eu pergunto, então, o que elas fizeram para chegar a
essa conclusão, e elas quase sempre reportam que tiveram a horrível imagem
mental de estar em um funeral em que seu filho está sendo enterrado, ou de
estar em pé no quarto da criança olhando um berço vazio, etc. Essas imagens
horríveis servem como a base de suas predições que, na verdade, estão
incorretas. A literatura clínica sugere que pessoas que perdem um filho
geralmente não ficam “totalmente devastadas” um ano depois. O evento tem
repercussões duradouras, é claro, mas o que é notável em pessoas que passam
por isso é quão bem elas geralmente passam por isso. Como sua vó dizia, a
vida continua.

Então, por que as pessoas predizem de forma incorreta suas reações a


tragédias como essa?

Uma imagem mental captura um momento de um evento singular. Mas a


felicidade de uma pessoa um ano depois do evento é influenciada por muito
mais do que o evento em si. Muita coisa acontece em um ano – há festas de
aniversário, peças de teatro, promoções, fazer amor, consultas com o dentista,
sundae com calda quente, e por aí vai. Essas coisas não são nem de perto tão
importantes quando a tragédia, é claro, mas elas são reais, muitas, e juntas
têm um impacto que as pessoas tendem a não considerar quando fazem
predições.

Quando estamos tentando predizer quão felizes ficaremos em um futuro que


contém o Evento X, nós tendemos a focar no Evento X e esquecer a respeito de
todos os outros eventos que também povoam esse futuro – eventos que
tendem a diluir o impacto hedônico do Evento X. Em certo sentido, nós somos
escravos do foco de nossa própria atenção. Por exemplo, em um estudo nós
pedimos a jovens universitários para predizer quão felizes ou infelizes eles
estariam alguns dias após seu time local ganhar o perder um jogo de futebol, e
eles esperaram que o jogo teria um grande impacto em seus estados
hedônicos. Mas quando nós
simplesmente pedimos que nomeassem doze outras coisas que aconteceriam
nesses dias antes que eles fizessem a predição, o jogo passou a ter um impacto
muito menor nessa predição. Em outras palavras, uma vez que eles pensaram
em quão bem-povoado o futuro seria, eles perceberam que o jogo era apenas
uma das muitas fontes de felicidade e que seu impacto seria diluído pelas
demais. Quando você estuda erros como esses, é natural imaginar como eles
podem ser evitados, e sempre me perguntam se eu gostaria de desenvolver
programas para aprimorar a acurácia das previsões afetivas das pessoas. Antes
que nos apressemos e desenvolvamos programas como esses, nós devemos
nos perguntar se o viés de impacto é algo que nós desejamos deixar de possuir
em nossas vidas. Erros nos julgamentos feitos por seres humanos são violações
da lógica – se você diz que sentirá 7 em uma escala de 1 a 10 e você de fato
acabar sentindo 5, então você cometeu um erro. Mas esse erro é algo ruim?

O fato é que erros podem ter um valor adaptativo. Por exemplo, talvez seja
importante para organismos acreditar que eles ficarão totalmente devastados
pela perda de seus filhos, e o fato de que isso não é de fato verdade não
importa. O que pode importar é que o organismo pensa que isso é verdade e
age de acordo. Talvez a melhor forma de pensar sobre um erro de julgamento é
como um mosquito no ecossistema. Você vê aquela peste e sua primeira
inclinação é perguntar, como nos livramos deles? Então você pulveriza DDT e
mata todos os mosquitos e então você descobre que os mosquitos estão na
base de uma cadeia alimentar e os peixes comem os mosquitos, e os sapos
comem os peixes, e os ursos comem os sapos, e agora a ecologia inteira está
devastada. Similarmente, erros nos julgamentos humanos podem exercer um
papel importante que os cientistas não veem.

Muitos economistas acreditam que erros de previsão afetiva são impeditivos à


ação racional e, portanto, devem ser eliminados – assim como todos nós
concordaríamos que analfabetismo e inumerismo são coisas ruins que merecem
ser erradicadas. Mas erros cognitivos podem ser mais como ilusões de óptica do
que analfabetismo. O sistema visual humano é suscetível a uma variedade de
ilusões de óptica, mas se alguém se oferecesse para reestruturar seus olhos e
córtex visual cirurgicamente, de modo que linhas paralelas não mais
parecessem convergir no horizonte, você deveria correr o mais rápido e para o
mais longe possível.

Eu estou interessado em aprender como as pessoas podem se tornar melhores


previsores afetivos, mas não porque eu acredito que as pessoas devem se
tornar melhores previsores afetivos. Meu trabalho como cientista é encontrar e
explicar esses erros e ilusões, e cabe a cada um decidir como eles querem
utilizar esses resultados.

Tendo isso dito, nossas pesquisas de fato sugerem que existe um simples
antídoto para erros de previsão. Considere o seguinte. Existem duas maneiras
de fazer uma predição sobre como você se sentirá no futuro. A primeira é
fechar os olhos e imaginar aquele futuro – é simular em sua própria mente e
prever sua própria reação hedônica. Esse é o tipo de previsão afetiva que nós
estudamos extensivamente, e o que sabemos é que o processo de projetar a si
mesmo no futuro é um processo que está repleto de erros. Mas existe uma
segunda forma de fazer esse tipo de previsão, a saber, encontrando alguém
que já experienciou aquele futuro e observando como essa pessoa se sentiu.

Se você está tentando decidir se você deve aceitar o emprego X ou Y, você


pode tentar imaginar você mesmo em cada um deles, mas você pode, em vez
disso, observar pessoas que têm o emprego X e o emprego Y e simplesmente
verificar quão felizes elas são. O que nós descobrimos é que (A) quando as
pessoas fazem isso, elas fazem previsões afetivas extremamente acuradas, e
(B) ninguém faz isso a não ser que você force a pessoa a fazê-lo!
Tente fazer este experimento mental: Você está saindo de férias para uma ilha
tropical. O preço está muito bom, e você tem que decidir se está disposto a
pagar. Oferecem a você dois tipos de informação para te ajudar a tomar a
decisão. Ou você escolhe um material impresso sobre o hotel e as atividades
recreativas na ilha, ou então você pode saber o quanto uma pessoa
aleatoriamente selecionada, que recentemente passou um tempo nessa ilha,
gostou da experiência. Qual você iria preferir? Em estudos que fizemos
baseados nesse experimento mental, aproximadamente 100% das pessoas
preferem o tipo de informação contidas no material impresso. Afinal, quem
diabos quer a opinião de um sujeito aleatório quando se pode olhar o material
impresso e julgar por si mesmo?

Não obstante, se você de fato oferecer às pessoas esses dois tipos de


informação, elas irão predizer com maior acurácia a própria felicidade quando
veem o relatório do viajante aleatório do que quando veem o material
impresso. Por quê? Porque o material impresso permite a você simular como é
a ilha e quanto você a apreciará, mas como mencionei, esse tipo de previsão é
suscetível a uma ampla variedade de erros.

Por outro lado, o relatório de outra pessoa permite a você evitar esses erros
porque permite a você basear suas previsões em experiências reais em vez de
experiências imaginárias. Se outra pessoa gostou da ilha, as chances são de
que você gostará também. Existe uma deliciosa ironia aqui, que é o fato de que
a informação que nós precisamos para prever como nos sentiremos no futuro
está geralmente em nossa cara na forma de outras pessoas. Mas porque os
indivíduos acreditam tanto em sua própria singularidade [uniqueness] – porque
nós pensamos que somos muito psicologicamente diferentes dos outros – nós
nos recusamos a usar a informação que está imediatamente em frente aos
nossos olhos.
Se você quer ser um melhor previsor afetivo, então, você fará bem ao basear
suas previsões nas efetivas experiências de outras pessoas que passaram pelas
situações que você está apenas imaginando. Quanto mais similar a pessoa for
em relação a você, mais informativa a experiência dessa pessoa será, é claro.
Mas o que é incrível é que mesmo a experiência de uma pessoa aleatoriamente
selecionada oferece uma base melhor para previsões do que a nossa própria
imaginação.

~~~
Se você de fato olhar para os correlatos de felicidade na população humana,
você aprende algumas coisas importantes. Primeiramente, riqueza é um
preditor pobre de felicidade. Não é um preditor inútil, mas é muito limitado. Os
primeiros US$
40.000 (ao ano) compram praticamente toda a felicidade que você é capaz de
conseguir advinda da riqueza. A diferença entre ganhar nada e ganhar US$
20.000 é enorme – essa é a diferença entre ter abrigo e comida ou ser
desabrigado e faminto.

Mas economistas nos mostram que após as necessidades básicas serem


atendidas, não existe muita “utilidade marginal” no aumento de riqueza. Em
outras palavras, a diferença entre um sujeito que ganha US$ 15.000 ao ano e
um sujeito que ganha US$ 40.000 é muito maior do que a diferença entre o
sujeito que ganha US$ 100.000 e o sujeito que ganha US$ 1.000.000.
Psicólogos, filósofos e líderes religiosos são um pouco precipitados ao dizer que
o dinheiro não é capaz de comprar felicidade, e isso revela uma incapacidade de
compreender como é viver nas ruas com um estômago vazio. Dinheiro faz uma
enorme diferença para pessoas que não possuem dinheiro algum.

Por outro lado, uma vez que as necessidades básicas são atendidas, mais
riqueza não parece predizer mais felicidade. Então a relação entre dinheiro e
felicidade é complicada, e definitivamente não-linear. Se fosse linear, então
bilionários seriam
mil vezes mais felizes do que milionários, que seriam cem vezes mais felizes do
que professores. Esse claramente não é o caso.

Entretanto, relações sociais são um poderoso preditor de felicidade – muito


mais do que dinheiro. Pessoas felizes têm extensivas redes sociais 2 e boas
relações com as pessoas dessas redes. O que é interessante para mim é que,
enquanto dinheiro possui uma correlação fraca e complexa com felicidade, e
relações sociais são simples e fortemente correlacionadas com felicidade, a
maioria de nós passa a maioria do nosso tempo tentando ser feliz pela busca de
riqueza. Por quê?

Indivíduos e sociedades não possuem a mesma necessidade fundamental.


Indivíduos querem ser felizes, e sociedades querem que indivíduos consumam.
A maioria de nós não se sente pessoalmente responsável por alimentar o motor
econômico de nossos países; nós nos sentimos pessoalmente responsáveis por
aumentar nosso próprio bem-estar. Esses diferentes objetivos oferecem um
verdadeiro dilema, e a sociedade ardilosamente resolve esse dilema nos
ensinando que o consumo nos trará felicidade.

A sociedade nos convence que o que é bom para a economia é também bom
para nós. Essa mensagem é entregue a nós em toda revista, televisão, jornal e
outdoor, em todo ponto de ônibus, supermercado e aeroporto. Ela nos encontra
em nossos carros e já chegou até às nossas roupas. A felicidade, nós
aprendemos, está logo ali, e ela requer apenas que nós consumamos só mais
uma coisinha. E depois uma coisinha mais. E nós consumimos, nós descobrimos
que a felicidade do consumo é frágil e efêmera, e em vez de pensarmos, “Poxa,
a promessa de felicidade-pelo-consumo é uma mentira”, nós pensamos, “Poxa,
eu não devo ter consumido o suficiente e eu provavelmente só preciso de mais

2
Não se trata de redes sociais digitais, como Facebook ou Instagram. Trata-se, aqui, de redes sociais no sentido de
conexões humanas reais.
um upgrade no meu equipamento de som, carro, armário de roupas, ou esposa,
e então eu serei feliz.”

Nós vivemos à sombra de uma grande mentira, e na hora em que percebemos


que é uma mentira nós estamos próximos à morte e nos tornamos
consumidores irrelevantes, e uma nova geração de consumidores jovens e
relevantes toma nosso lugar na cadeia de consumo.

Eu mesmo cometo todos esses erros de previsão afetiva? Pode apostar que sim.
Devido à pesquisa que faço, eu ocasionalmente observo a vida do ponto de
vista do experimentador científico, mas a maioria do tempo eu sou apenas mais
um dos sujeitos da vida e eu faço a mesma coisa que todo mundo faz. Eu
cometo os mesmos erros que outros sujeitos cometem, e se existe uma
diferença entre nós e que eu estou vagamente consciente dos meus erros
enquanto eu os cometo.
Mas tomar consciência não é o suficiente para me impedir. Erros de previsão
afetiva são um pouco como ilusões perceptivas nesse sentido. Alguém te
mostra uma ilusão bacana e você diz, “Uau, parece que o retângulo preto está
flutuando sobre o branco, mesmo que de fato não esteja.” Mas a tomada de
consciência não faz a ilusão desaparecer. De maneira similar, você pode saber,
em um nível intelectual, que uma previsão afetiva está errada, mas isso não é o
suficiente para mudar o fato de que a sensação é de que esteja correta. Por
exemplo, minha namorada é uma consultora que têm de viver em diferentes
cidades cinco dias por semana, e eu estou absolutamente convencido que se ela
encontrasse um emprego em Cambridge e estivesse em casa comigo à noite,
eu seria delirantemente feliz para todo o sempre. Eu estou tão convencido
quanto qualquer um que minha felicidade está logo ali, virando a esquina.

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