Daniel Gilbert - The Big Wombassa
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“PERSONALIDADE”
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Deixe-me dar-lhe dois exemplos reais desse viés. Nós fizemos dezenas de
estudos tanto no laboratório quanto em campo, e a estratégia geral da pesquisa
é realmente muito simples: Nós pedimos às pessoas que façam uma previsão
de como elas se sentirão minutos, dias, semanas, meses, ou mesmo anos após
algum evento futuro ocorrer e, então, medimos como elas realmente se sentem
após a ocorrência do evento. Se os dois números diferirem sistematicamente,
então nós temos um daqueles interessantes e notáveis erros sistemáticos que
mencionei.
As pessoas predizem que ficarão muito infelizes por muito tempo depois que
uma relação romântica se dissolve, mas o fato é que elas geralmente retornam
aos níveis médios de felicidade em um tempo relativamente curto – um tempo
muito
mais curto do que elas predisseram. Professores esperam ficar muito mais
felizes por anos após ter a livre-docência aprovada do que após tê-la negada,
mas os dois grupos estão igualmente felizes após um breve período de tempo.
Entenda, por favor, que não estou dizendo que esses eventos não tiveram
impacto. É claro que promoções fazem com que nos sintamos felizes e divórcios
fazem com que nos sintamos mal! O que estou dizendo é que, seja lá qual for o
impacto que tais eventos possuem, ele é demonstravelmente menor e menos
duradouro do que o impacto que pessoas que passaram pela experiência
esperavam que fosse.
Agora, não é novidade que as pessoas são boas nisso. O que é novidade é
que as pessoas não sabem que são boas nisso. A racionalização é um processo
largamente inconsciente. Nós não acordamos de manhã e falamos, “Hoje eu
vou enganar a mim mesmo”. Em vez disso, logo após um evento ruim ocorrer,
processos inconscientes são ativados e tais processos começam a gerar modos
diferente de interpretar o evento. Pensamentos como “Talvez eu nunca a
tivesse a amado de verdade” parecem vir à mente por si mesmos, e nos
sentimos como os recipientes passivos de uma sugestão razoável. Porque nós
não temos a experiência consciente dos processos cognitivos que estão criando
esses novos modos de pensar sobre o evento, não percebemos que eles
ocorrerão no futuro.
Uma das razões pelas quais pensamos que coisas ruins vão fazer com que
nos sintamos mal por muito tempo é porque não percebemos que temos esse
sistema de defesa – algo como um sistema imunológico psicológico, se você
quiser. Se eu pedisse a você para prever quão saudável você seria se você
contraísse um germe da gripe e você não soubesse que tem um sistema
imunológico físico, você esperaria ficar muito doente e, talvez, até morrer.
Mas quando você de fato lhes dá esse feedback, eles se sentem levemente
desapontados, mas não péssimos. Além do mais, eles se sentem muito menos
desapontados quando o feedback vem de um computador do que de um
médico. Por quê? Porque é muito mais fácil racionalizar o feedback de um
computador do que de um médico. Afinal, o que sabe uma máquina? O que é
interessante é que os participantes de pesquisas não percebem com
antecedência que eles farão isso. Resultados como esses sugerem que pessoas
simplesmente não estão visualizando suas oportunidades futuras de
racionalização quando predizem suas felicidades futuras.
O fato é que erros podem ter um valor adaptativo. Por exemplo, talvez seja
importante para organismos acreditar que eles ficarão totalmente devastados
pela perda de seus filhos, e o fato de que isso não é de fato verdade não
importa. O que pode importar é que o organismo pensa que isso é verdade e
age de acordo. Talvez a melhor forma de pensar sobre um erro de julgamento é
como um mosquito no ecossistema. Você vê aquela peste e sua primeira
inclinação é perguntar, como nos livramos deles? Então você pulveriza DDT e
mata todos os mosquitos e então você descobre que os mosquitos estão na
base de uma cadeia alimentar e os peixes comem os mosquitos, e os sapos
comem os peixes, e os ursos comem os sapos, e agora a ecologia inteira está
devastada. Similarmente, erros nos julgamentos humanos podem exercer um
papel importante que os cientistas não veem.
Tendo isso dito, nossas pesquisas de fato sugerem que existe um simples
antídoto para erros de previsão. Considere o seguinte. Existem duas maneiras
de fazer uma predição sobre como você se sentirá no futuro. A primeira é
fechar os olhos e imaginar aquele futuro – é simular em sua própria mente e
prever sua própria reação hedônica. Esse é o tipo de previsão afetiva que nós
estudamos extensivamente, e o que sabemos é que o processo de projetar a si
mesmo no futuro é um processo que está repleto de erros. Mas existe uma
segunda forma de fazer esse tipo de previsão, a saber, encontrando alguém
que já experienciou aquele futuro e observando como essa pessoa se sentiu.
Por outro lado, o relatório de outra pessoa permite a você evitar esses erros
porque permite a você basear suas previsões em experiências reais em vez de
experiências imaginárias. Se outra pessoa gostou da ilha, as chances são de
que você gostará também. Existe uma deliciosa ironia aqui, que é o fato de que
a informação que nós precisamos para prever como nos sentiremos no futuro
está geralmente em nossa cara na forma de outras pessoas. Mas porque os
indivíduos acreditam tanto em sua própria singularidade [uniqueness] – porque
nós pensamos que somos muito psicologicamente diferentes dos outros – nós
nos recusamos a usar a informação que está imediatamente em frente aos
nossos olhos.
Se você quer ser um melhor previsor afetivo, então, você fará bem ao basear
suas previsões nas efetivas experiências de outras pessoas que passaram pelas
situações que você está apenas imaginando. Quanto mais similar a pessoa for
em relação a você, mais informativa a experiência dessa pessoa será, é claro.
Mas o que é incrível é que mesmo a experiência de uma pessoa aleatoriamente
selecionada oferece uma base melhor para previsões do que a nossa própria
imaginação.
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Se você de fato olhar para os correlatos de felicidade na população humana,
você aprende algumas coisas importantes. Primeiramente, riqueza é um
preditor pobre de felicidade. Não é um preditor inútil, mas é muito limitado. Os
primeiros US$
40.000 (ao ano) compram praticamente toda a felicidade que você é capaz de
conseguir advinda da riqueza. A diferença entre ganhar nada e ganhar US$
20.000 é enorme – essa é a diferença entre ter abrigo e comida ou ser
desabrigado e faminto.
Por outro lado, uma vez que as necessidades básicas são atendidas, mais
riqueza não parece predizer mais felicidade. Então a relação entre dinheiro e
felicidade é complicada, e definitivamente não-linear. Se fosse linear, então
bilionários seriam
mil vezes mais felizes do que milionários, que seriam cem vezes mais felizes do
que professores. Esse claramente não é o caso.
A sociedade nos convence que o que é bom para a economia é também bom
para nós. Essa mensagem é entregue a nós em toda revista, televisão, jornal e
outdoor, em todo ponto de ônibus, supermercado e aeroporto. Ela nos encontra
em nossos carros e já chegou até às nossas roupas. A felicidade, nós
aprendemos, está logo ali, e ela requer apenas que nós consumamos só mais
uma coisinha. E depois uma coisinha mais. E nós consumimos, nós descobrimos
que a felicidade do consumo é frágil e efêmera, e em vez de pensarmos, “Poxa,
a promessa de felicidade-pelo-consumo é uma mentira”, nós pensamos, “Poxa,
eu não devo ter consumido o suficiente e eu provavelmente só preciso de mais
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Não se trata de redes sociais digitais, como Facebook ou Instagram. Trata-se, aqui, de redes sociais no sentido de
conexões humanas reais.
um upgrade no meu equipamento de som, carro, armário de roupas, ou esposa,
e então eu serei feliz.”
Eu mesmo cometo todos esses erros de previsão afetiva? Pode apostar que sim.
Devido à pesquisa que faço, eu ocasionalmente observo a vida do ponto de
vista do experimentador científico, mas a maioria do tempo eu sou apenas mais
um dos sujeitos da vida e eu faço a mesma coisa que todo mundo faz. Eu
cometo os mesmos erros que outros sujeitos cometem, e se existe uma
diferença entre nós e que eu estou vagamente consciente dos meus erros
enquanto eu os cometo.
Mas tomar consciência não é o suficiente para me impedir. Erros de previsão
afetiva são um pouco como ilusões perceptivas nesse sentido. Alguém te
mostra uma ilusão bacana e você diz, “Uau, parece que o retângulo preto está
flutuando sobre o branco, mesmo que de fato não esteja.” Mas a tomada de
consciência não faz a ilusão desaparecer. De maneira similar, você pode saber,
em um nível intelectual, que uma previsão afetiva está errada, mas isso não é o
suficiente para mudar o fato de que a sensação é de que esteja correta. Por
exemplo, minha namorada é uma consultora que têm de viver em diferentes
cidades cinco dias por semana, e eu estou absolutamente convencido que se ela
encontrasse um emprego em Cambridge e estivesse em casa comigo à noite,
eu seria delirantemente feliz para todo o sempre. Eu estou tão convencido
quanto qualquer um que minha felicidade está logo ali, virando a esquina.