GULLAR, Ferreira. Cultura Posta em Questão

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dJ/uta Posta un Oueslia* \

Ferreira Gullar

1 . Cultura Popular
A expressão "cultura popular" desig- ceitos culturais em voga que buscam
na um fenômeno novo na vida brasilei- esconder o seu caráter de classe. Quando
ra, cuja importância está na razão direta se fala em cultura popular, acentua-se
dos complexos fatores sociais que o de- a necessidade de por a cultura a serviço
terminam. do povo, isto é, dos interesses efetivos
Fenômeno inquietante, que se ma- do país. Em suma, deixa-se clara a sepa-
nifesta hoje em todos os setores da ati- ração entre uma cultura desligada do
vidade intelectual, provocando natural- povo, não-popular, e outra que se volta
mente a reação dos que defendem como para ele e, com isso, coloca-se o proble-
privilégio a posse da cultura. Um dos ma da responsabilidade social do intelec-
argumentos mais comuns, e mais super- tual, o que obriga a uma opção. Não se
ficiais , é o que pretende restringir a trata de teorizar sobre a cultura em ge-
discussão à área terminológica, afirman- mi , mas de agir sobre a cultura presente ,
do que a expressão "cultura popular" procurando transformá-la, estendê-la
não tem sentido, uma vez que toda cul- aprofundá-Ia . '
tura é do povo. Procura-se, mesmo, para O que define a cultura popular, no
• Dois primeiros capítulos do livro Cultura Pos- estabelecer a confusão, sugerir que os sentido que apreciamos aqui , é a cons-
ta em Questã~, editado em 1963 pela Edito- ciência de que a cultura tanto pode ser
ra Universitária da UNE , queimado na inva- defensores da cultura popular ignoram
são desta entidade após o golpe, em abril de uma noção ampla de cultura, dentro da instrumento de conservação como de
1964, e, posteriormente, reeditado pela Clvi- qual se incluem todas as atividades hu- transformação social. E é essa visão des-
l!zação Brasile ira em 1965 (esgotado) . Neste manas. mistificada dQs valores culturais que, na-
ltv~o apar7cem sistematizadas as posições es-
t~t1co-pollt1cas que animaram o · CPC , tendo P~ fato , tais argumentos não têm tu~al~ente , leva o intelectual a agir, em
s!dO Ferrei ra Gullar um de seus maiores teó- co~,s1stencia. A expressão "cultura popu- primeira etapa , sobre seus próprios ins-
ricos e expoentes .
lar surge como uma denúncia dos con- trumentos de expressão para , através de-

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les, contribuir na transformação geral_ da rico, contingente, de sua atividade e do conta e está presente na elaboração
sociedade. t preciso , no entanto , deixa r rompimento da parede que pretendia iso- trabalho de cultura popular, com do
claro que tal decisão por parte do inte- lar os problemas culturais dos demais peso que o autor "descompromi·s uni
lectual é conseqüência direta de se ter problemas do país. O escritor, o cineas- .
ignora . E e, natura 1 que a cultura Sado•
esvanecido aquela figura ideal do ho- ta , o pintor, o professor, o estudante, lar lide tão intimamente com prob\opu.
mem de cultura como pairando ucimn o profissional liberal redescobrem-se co- objetivos, uma vez 9ue isso é det!~a_s
dos problemas concretos. lidando com va- mo cidadãos diretamente responsáveis , nado por seu propósito de atuar na nii.
lores absolu tos e desempenhando um a como os demais trabalhadores , pela so- lidade concreta. O fato mesmo de rea.
função semp re benéfica à sociedade. Pa- ciedade que ajudam a construir diaria- tender a obra de cultura popular te-
ra a jovem intelectualidade brasileira , mente, e sobre cujo destino têm o direi- tribuir para levantar o nível de coº n-
o homem de cultura está também mer- to e a obrigação de atuar. ciência do público, de se dirigir ora p;s-
gu lhado nos problemas políticos e so- A cultura popular é, em suma, a to- esta ora para aquela faixa da populaçã:a
ci ais . sofre ou lucra em função deles , mada de consciência da real idade brasi- levando-lhe uma mensagem que é e~
rontribui ou não para a preservação do leira . Cultura popular é compreender última análise, política, põe em r~levo
status q110 , assume ou não a responsabi- que o problema do analfabetismo, como aqueles obstáculos, e mesmo impede-lhe
lidade social que lhe cabe. Ninguém está o da deficiência de vagas nas Universi- uma série de vias normalmente à dispo-
fora da briga. dades, não está desligado da condição sição do intelectual descompromissado
B impossível entender o fenômeno de miséria do camponês, nem da domi- Daí porque a cultura popular, hoje, n~
da "cultura popular" sem levar cm con- nação imperialista sobre a economia do Brasil, tem que se apoiar fundamental-
ta o espaço e o tempo históricos em país . Cultura popular é compreender que mente na classe estudantil e na classe
que surgiu . Não é que fosse ignorado as dificuldades por que passa a indús- operária, como também nas organizações
no Brasil o instrumento de análise capaz tria do livro , como a estreiteza do cam- camponesas, utilizando-lhes os meios de
de mostrar as relações de interdependên- po aberto às atividades intelectuais, são comunicação e de ação, para atingir
cia entre a infra-estrutura social e a su- frutos da deficiência do ensino e da cul- áreas cada vez maiores de público.
perestrutura cultural. Tanto mais que, tura , os quais são mantidos como privi- Tal colocação deixa evidente que a
de longa data , é freqüente a discussão légios de uma reduzida faixa da popula- atividade de cultura popular não se res-
desse problema no meio intelectual bra- ção. Cultura popular é compreender que tringe à realização de obras literárias,
sileiro e no âmbito das Universidades . não se pode realizar cinema no Brasil, teatrais ou cinematográficas, mas avança
Mas , se tais discussões jamais tinham com o conteúdo que o momento histó- para o espetáculo de rua, às vezes atuan-
conseguido empolgar as novas gerações rico exige, sem travar uma luta política do como numa "blitz", em comícios, em
de professores, escritores e artistas, é contra os grupos que dominam o merca- sindicatos, em facudades ou grêmios.
que outros fatores da realidade cultural do cinematográfico brasileiro. 1:. com- Noutros casos, é necessário ir além, pa-
e política contribuíam para abafar a re- preender, em suma, que todos esses pro- ra atingir massas totalmente marginali-
percussão dessas idéias e dificultavam a blemas só encontrarão solução se se rea- zadas da vida cultural, analfabetas . Este
identificação delas com o problema do lizarem profundas transformações na é um dos pontos mais importantes do
intelectual e com os problemas coleti- estrutura sócio-econômica e, conseqüen- trabalho de cultura popular, pois se tra-
vos . Foi, portanto, o próprio processo temente, no sistema de poder. Cultura ta de trabalhar diretamente com o povo,
desenvolvido na infra-estrutura da socie- popular é, portanto, antes de mais nada , ensiná-lo a ler e transmitir-lhe um míni-
dade que, agravando as contradições, consciência revolucionária. mo de conhecimento básico para se si-
abalou os conceitos vigentes e trouxe à Só partindo dessa visão geral, pode- tuar na realidade · social do país. Esse
luz do dia o que era conhecido apenas se perceber como se coloca para o poeta, trabalho vem sendo realizado por grupos
dos analistas especializados. A inatuali- como para o autor teatral, para o ci- de voluntários, ligados ou não a governos
dade do sistema econômico, das estrutu- neasta, como para o novelista o proble- e entidades religiosas e políticas, muitas
ras sociais, com respeito às necessidades ma da criação artística, no âmbito da delas com a visão correta da cultura
do povo e do país, revelou-se como a cultura popular. Dentro de uma tal popular (1) .
causa fundamental das crises que se ma- perspectiva, não pode o intelectual con- Assim, para o intelectual integrado
nifestavam em todos os setores da vida ceber seu trabalho como uma atividade no trabalho de cultura popular, a cul-
brasileira, do campo à cidade, do ensino indeterminada e gratuita, ou como a tura se coloca em termos de problema
à saúde, da dívida externa ao custo de simples expressão de obscuros sentimen- social. Não há nada de novo nessa colo-
vida , da produção agrícola ao desenvol- tos individuais. Tampouco pode satisfa- cação. O que é importante é que se
vimento cultural. zer-lhe o exercício de seu virtuosismo recupera a visão correta da cultura e se
Se, no plano literário e artístico , a plástico ou vocabular. Novos problemas parte da constatação para a ação .
cultura popular se manifesta como uma se colocam e passam a participar da Essa ação deve se desenvolver em
"nova tendência" , que se caracteriza por elaboração mesma do poema, da peça : todos os níveis simultaneamente, como
uma temática nacional e, direta ou indi- o problema do público ao qual a obra criação e como crítica, junto aos inte-
retamente, didática, cumpre não perder se dirige, que condiciona inúmeros ou- lectuais e junto ao povo. Seria errado
de vista suas profundas raízes sociais, tros , como o da linguagem a adotar, do pensar que somente a produção de
que a distinguem dos movimentos apenas tratamento dos problemas, o tom, etc. obras dirigidas às classes proletárias da-
estéticos ou ditados preponderantemente A obra é concebida como um tipo de riam à cultura popular condições de se
pela dialética interna dos meios de ex- ação sobre a realidade social e deve-se ampliar e aprofundar. De fato , é tam-
pressão artística. Nesse sentido, as ma- buscar o modo mais eficaz de fazê-la bém necessário desenvolver a crítica dos
nifestações da cultura popular na arte exercer essa ação . valores culturais vigentes , desmistificá-
e na literatura tendem a se dar mesmo Mas além desses problemas, surgem los, assentando paralelamente a perspec-
quando signifiquem ruptura com o de- outros, ~parentemente distantes da c~i~- tiva nova do trabalho cultural. Se esse
ção artística , mas que, de fato , part1c1- trabalho talvez não tenha maiores con-

,
senvolvimento normal das tendências em
vo~a. Daí certo "barbarismo", que é pe- pam dela , se deixamos de lado a concep- dições de êxito junto a grande parte da
culia_r. a essas manifestações e que leva ção de arte pela arte . São os problemas intelectualidade madura hoje , excessiva-
a _critica comprometida com a conceitua- dos meios práticos que levarão a obra mente comprometida com as posições
çao esteticist a a subestimar essas obras ao público que se deseja atingir: a peça idealistas, tem , no entanto, as melhores
novas . deverá ser feita para um palco de tea- cond ições junto às gerações novas , que
. Não resta dúvida que , se nos man- tro ou para um palco volante , tipo " car- se in iciam na literatura, na arte , no tea-
ti v~ rmos n~ pl ano do juízo estético puro reta"? O poema deverá ser feito para tro , no cinema. E o que nos importa é,
e. simples, Jamais abarcaremos a comple- edição em volume ou para ser lido por sobretudo, ganhar os jovens que serão
xid ade desse fenôme no cultural em cur- jogral? E, conforme seja o caso , também, no futuro os produtores de cultura.
so hoje ~o Brasil. J?. preciso não esquecer, se uma história é escrita para cinema ou
como dissemos antes, que se trata da para livro , deve-se levar em conta as (1) O golpe militar de !.• de abril de 1964 fechou
dram ática _tomada ?e consciênci a, por d ificuldades da cc;:nsura e a resistência tod as essas entidades e prendeu ou persegue
parte dos intelectuais, do caráter histó- dos distribuidores e exibidores . Tudo isto seus Integrantes .

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onto deve-se acen tua r a im- rnsa men~e paru a renovação cultural do
Ne~se pue te:n desempen hado , na vi- vencer os entraves econom1cos e políti-
pafs, .c ~1and o nos jovens a necessária cos para dar condições de produção ao
port ânc1a , q1 brasileira, o mov ·imento uni- ·
rece ~t1 v1dade àquela crítica dos val ores
da ~u}t~ra cujo centro de irrad iação é produtor de cultura popular, não cum-
csté t_1cos , fil osófi cos e polít icos a que priria a sua missão sem a criação de or-
vers11 ~! 1º •Nacional dos Estudantes. O pa- alud imos.
gani smos capazes de impulsioná-la. Esses
a U~;18ºuNE se realiza não só a tra vés do . Pa ralelamente a esse trabalho de crí- organismos, surgidos por imposição da
pel 8 que dá aos Centros Popul ares ti ca dos valores culturais, que visa a necessidade mesma do processo, são os
imP~~~ura, que hoje se multiplicam pe- ganhar a nova geração de produtores de centros e movimentos populares de cul-
de , . inteiro, mas também através dos cultura , e que se completa na produção tura , os mais importantes dos quais, pe-
'o
· pais. á1·ios que organtza. , d as pu bl'1caçoes
- de obras que estabel eçam padrões para lo pioneirismo e pelo trabalho já realiza-
se 1:;1" campa nh as públicas de escl areci- o trabalho criador no campo da cultura do, são o MCP do Recife e o CPC da
e ~~ do homem da rua e da própria popul ar, é necessário desenvolver uma UNE, na Guanabara . Outros organismos
rnen estudan til. O trabalho dessa van- ação 11:ais próxima da massa, não apenas surgiram - na sua maioria pela ação do
rnassd\ que se ampliou através dos anos, produzmdo obras "para " ela, como pro- CPC da UNE através das UNE-volante
guar , b,
convocando ta m ~rnd dpara suas. carnpa_- curando trabalhar "com" ela, visando anuais - nas principais capitais e ci-
has a intelectua1I a e progressista, vai tanto desenvolver, nela, os meios de co- dades, orientando seu trabalho ou no
n ccndo as limitações do ensino uni- municação e produção cultural, como sentido da alfabetização, ou na realiza-
vcn ,. d' .
versitário, o espmto com? 1st~ e a1:tt- obter, nesse trabalho, um conhecimento ção de espetáculos populares, formação
acional que se procura mcut1r na JU· mais objetivo de determinada comunida- de grupos teatrais, edição de folhetos ,
~cntude, e abriu a mentalidade do estu- de que permita maior eficácia na ela- em suma, de acordo com a necessidade
da nte para a visã? atu_al, 1ª vida brasilei- boração da obra que seja dirigida à mas- e possibilidade do meio em que atuam.
ra. A reform a umvers1tana , . que os estu- sa. Trata-se de problemas de grande Seria uma ilusão pensar que os fru-
dantes reclamam mas os mteresses re- complexidade e num campo apenas aflo- tos de uma tal atividade virão imediata-
trógrados impedem que s~ faça , está rado pelos estudiosos e interessados em mente. Nem têm essa visão oportunista
sendo imposta de fato pelos próprios tais experiências. os homens da cultura popular. Estão
estudantes , na medida em que seu com- Como se vê, a cultura popular, eles conscientes da complexidade do fe.
portamento e suas idéias não têm nada abrangendo desde a crítica de idéias es- nômeno cultural e, por isso mesmo, sa-
a ver com o comportamento e as idéias téticas ao trabalho de alfabetização, da bem que só o trabalho contínuo e de-
que os seus velhos professores gostariam crítica das idéias políticas à ação de rua morado poderá conduzir a resultados
de impingir-lhes. Em conseqüência disso , nos espetáculos de comício, da produção satisfatórios. E, porque o sabem, não
o movimento estudantil contribui gene- de poesia , teatro, cinema à luta para querem perder tempo.

2. Cultura e Nacionalismo
A cultura popular tem caráter emi- sito de também enfrentar - no setor de que a assimilação daqueles princípios
nentemente nacional e mesmo naciona- da economia , da educação, da indústria, e valores não implique a anulação ou
lista . Nem poderia ser de outro modo, das finanças , da alimentação - aquela entrave da consciência do intelectual
já que a visão cultural que a alimenta dominação, são logo transformados , para com respeito à realidade nacional.
- como movimento e corno fenômeno a opinião pública, em inimigos dos in- Não há como negar que vivemos
- emerge dos problemas de estrutura teresses do país. Questões fundamentais , uma época de crescente internacionali-
do país e coloca a necessidade da parti- como a da reforma agrária ou da remes- zação . Os meios de transporte e comu-
cipação do intelectual na solução desses sa de lucros, são sistematicamente defor- nicação anularam as distâncias e as bar-
problemas. madas, a fim de que o povo não tenha reiras entre as nações . Os livros circu-
Se por cultura popular se entende , a visão clara do problema . . . Como en- lam simultaneamente em quase todos os
inclusive , o trabalho de desalienação das frentar tal situação, como esclarecer a países, na língua original ou em tradu-
atividades culturais em suas várias ma- opinião pública? Esta é uma das funções ções. As exposições internacionais de
nifestações , logicamente se põe em ques- do trabalho de cultura popular que, para arte tendem a impor um estilo único a
tão uma série de valores e princípios cumpri-la, lança mão de · todos os meios todos os países. Os mesmos filmes circu-
que se apresentam como investidos de ao seu alcance : a peça de teatro , o poe- lam, num breve espaço de tempo, por
validez universal. A desalienação das ma , a gravura, a música, o cinema, .º li- cinemas espalhados por quase todas as
atividades culturais conduz o escritor e vro etc. E aí está outro aspecto nac1ona- cidades do mundo. Diante de tais fatos ,
o artista a se defrontarem com os pro- lista da cultura popular. seria simples demência pretender forjar
Assim o que determina o caráter um isolacionismo cultural, qualquer que
blemas reais de sua própria situação so-
cial e lança uma luz nova sobre as ques- nacionalist~ da cultura popular é a sua fosse o pretexto.
tões internas de seu trabalho : revela as visão básica da realida_de . '.'1ã~ é, nem Mas essa intercomunicação não é
poderia ser, o comprom1ss? m~enuo com apenas inevitável : ela é necessária e be-
relações existentes entre esses dois cam- preconceitos de raça, nac1onahdade , tra-
pos_ ?e ação. A redução dos problemas néfica, na maioria de seus aspectos . Ela
dicionalismos escusos ou qualquer outra permite, no campo da ciência e da téc-
soc1~1s à sua justa expressão leva à con-
clusao de que parte considerável desses forma de chauvinismo. nica, a aquisição de conhecimentos e a
Mas é certo também que o trabalho
Problemas tem causa em interesses es- atualização cultural dos países menos
de cultura popular não se faz sem _q~e desenvolvidos . Possibilita maior aproxi-
?ª~ hos ao país, na dominaçãoA in:tperia- se abra o conflito entre a nova _v1sao
151ª· Como o poder de influencia da- mação entre povos distantes , revelando-
nacional e os princípios e valores, vmdos os uns aos outros , tanto através da in-
q~eles interesses sobre os órgãos de de fora , que se int~grar~m, n_o processo
~ivulgação é quase total e como esses formação científica, como da narração li-
o - cultural do país. Tais p__rmc1p1~s. e ~ala-
d~gaos atuam de n:iodo 'd~cisivo e1:1 to- res são frutos de sit~açoes sociais ~1v_er- terária e da expressão poética, teatral
. s os setores da vida nac10nal - mclu- cinematográfica . '
sas, exprimindo, mu!tas ve_zes , pos1çoe_s
s1ve no veto ou promoção de valores anuladoras da atuaçao efet1~a do escn- Não_ obstante, seria ingênuo ignorar
cult
. urais · - a luta do escritor e do ar- que a hteratura . e a arte que importa-
tor no mundo. Não se pode 1gnor~r que,
ttista engaJados
,·' na cultura popu Jar se dadas as peculiarid~des da forma~ao, c_ul- mos trazem consigo uma visão-de-mundo
rava, de saíd a, contra o imperialismo .. tural brasileira, mmtos desses prmc1p1os uir,la co)o~ação ,d.e problemas sociais 0 ~
Aquela dominação dos meios de "'d 1• estão de fato integrados em nosso pr~- e_x1stencia1s , p~ht1cos ou filosóficos , esté-
vu 1gaçao
-
evita , por outro lado , que 0 cesso cultural , não tendo qualquer senti- ticos ou rehg1osos que influem direta-
~ovo tome conhecimento de fatos fun- do tentar extirpá-los como corpos estra- ~ente na f~rmaçAão . de nossa intelectua-
amentais para se situar corretamente nhos. Pelo contrário , o importante é es- lidade. Tal mfluenc1a é sempre positiva
~i° 1
face de determinadas questões. Os
omens públicos que revelam o propó-
ta r armado de uma visão crítica, a fi m quando se exerce sobre culturas com a

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consistência necessana para absorver de- ao que, lá fora , significa a uúltima pala-
la o que é útil , fecundo , e rejeitar o cuja sobrevivência depende diret
resto . Mas, nos países em formaçã o, as
vra ", sem ser obrigatoriamente o que há
de melhor ou mais novo em seu verda- do grande público, isto é, do
Mas, nem por isso deixa de hav mi r.
consi:rn.:te
infl uências externas tendem , muitas ve- deiro sentido.
zes, a agir como fa to r de perturbação Des ligado do "seu " público, o in-
Con 1mua, •
pressao, .
nsando a im.er urna
do processo formativo , introduzindo des• telectual se volta para o exterior. Escre- grande públi co o gosto e os Po~~r ªº
vios e discrepâncias , que só se dão devido ve , no fun do, para ser um dia traduzido vista da e1ite intelectual. o cas~s de
à fragilidade do movi mento cultural nou ve/le vague ilustra bem a da
ou quem sa be lido por um grande crí- -
t ao. A que Jes Jovens
· • ques-
imp lantado. cineastas france
tico inglês , fran cês , norte-americano, que ligados à revista Cahiers du Ci _ses,
No se tor das artes plásticas , por saiba português . . . Porque só os nomes .
exemplo. isso tem sido fenômeno fre-
de fora lhe inspiram respeito , sonha em ignoraram tota 1mente em suas obras nema~
qüente entre nós . O movimento pictóri- problemas cotidianos de seu país P 0 ~
co surgido em 22 se desenvolve u com
granjear prestígio em Paris ou Roma , .
cupa dos com a arte .do cinema puro. As
,reo.
alguma tranqüilidade até o fim da guer- e se impor, assim, implacavelmente, so- bombas dos terronstas explodiam ,
ra, quando o isolamen to involuntário do bre os pobres-diabos nacionais. O entra- portas de. suas residênc!as. Seus jove:
país se aca bou : a iníluência de Max Bill ve é a língua . . . Mas, com os pintores, companheuos eram enviados para luta
chamou os jovens para a arte concreta por exemplo, não há esse empecilho e na Argélia. O Exército francês praticav:
que , an tes de dar seus frutos, já era já o sonho dos poetas é por eles posto atos desu_manos de tortura nos prisionei-
substi tuída pelo " tachi smo ", que já co- em prática . Não adianta, porém, apenas ros argelinos que lutavam pela indepen.
meça, por sua vez, a ser deslocado por conseguir expor nas galerias da Europa dência de seu país. Os artistas da nou.
um certo neo-figurativismo . . . Se essas ou da América do Norte. :Ê preciso mu- velle vague preocupavam-se com pro.
mudanças tivessem sido determinadas dar-se para Paris, porque, do . contrário, blemas morais e psicológicos, paixões
por necessidades surgidas do trabalho os críticos olharão sua arte como imita- adolescentes e adultérios poético-libidino.
dos artistas brasileiros, nada de mais . ção subdesenvolvida dos pintores de lá. sos. Logo, no Brasil, surgiu um grupo de
Sucede, porém, que todas essas mudan- E muitos dos nossos seguiram esse ca- jovens intelectuais evoluídos, que passa-
ças são impostas de fora , pelas transfor- minho que , de fato , é bem mais coeren- ram a divulgar, por todos os meios, 0
mações operadas em Paris ou New te do que o dos que aqui ficam a pintar, que liam nas páginas do Cahiers du
York. Resultado : torna-se impossível aos atrasados , a pintura européia. Dep_ois Cinéma. Até que um dia, Resnais, le-
nossos artistas , submetidos a tais injun- de instalados em Paris, de ter obtido vando às últimas conseqüências suas pes-
ções do mercado de arte, aprofundarem um e outro artigo de crítico conhecido, quisas formais , realizou L'année der-
qualquer experiência. Isso só será possí- voltam ao Brasil, a passeio, para realizar niere à Marienbad. O mesmo mecanismo
vel quando se compreender a necessida- exposições que são efusivamente saud?- conduziu as revistas semanais a falarem
de de enfrentar criticamente o que vem das pela crítica. Os colecionadores loca1_s do filme, citando as opiniões de Cocteau,
de fora para aceitá-lo ou refutá-lo. Não tratam de adquirir as obras desse brasi- de Bréton, de . . . Os críticos patrícios
se trata: pois, de pretender " uma pintu- leiro que conseguiu se impor até em criaram a espectativa: um filme genial,
ra nacional" ; trata-se de, simplesmente, Paris ... obra-prima do cinema universal. O filme
criar condições para a pintura, qualquer B óbvio que o grande público, _qu~ foi lançado, mas não passou da primeira
que seja, uma vez que ela só surgirá do não o conhecia antes, nenhuma cunos!- semana. O público não gostou, não en-
aprofundamento e da contin~idad_e da dade tem pela obra desse ser extraor?1• tendeu. Parece que não foi maior o êxito
experiência. O caminho para isso e vol- nário . Mas, a essa altura, importantes m- do filme nas outras grandes cidades. D u-
tar-se para o que já foi feito entre n_ós, teresses foram criados e, como os donos vido muito que Resnais continue a rea•
das grandes revistas também investem lizar genialidades semelhantes. Nem os
ou para o que, lá fora , melhor afma dinheiro em obras-de-arte que ~ plebe
com a necessidade cultural interna, e seus admiradores no Brasil terão con•
não entende (nem eles) , suas re".1stas l_o- dições para fazer frutificar aqui o cine-
apoiar-se na tem~tica q~e o país ofe- go se abrem para contar ao pais a his- ma formalista . Apesar disso, em nome
rece. E preciso agir consc1enteme!1te: . tória daquele rapaz que, surgind~ ?º desse cinema inviável, muitos deles com-
Urge, pois , combater_ o pr~vmciams- nada , conseguiu, com esforço propno, batem o trabalho dos jovens cineastas
mo acrítico que, por mgenu1dade ou chegar até Paris e lá impor o seu talento, brasileiros que hoje realizam filmes vol-
oportunismo, trabalha cor:3tra os inter~~- alevantando bem alto o nome do B_ra- tados para os problemas do país e para
ses culturais· do país, mmtas vezes . utili- sil . . . E eis O pobre funcion~ri~, pú~hco a realidade que o público experimenta.
zando o nome de pensadores e escntor~s a ler com orgulho essa história nac10na- Pelos exemplos citados, vê-se quanto
estrangeiros para se valorizar no me10 lista " e a engolir, à força , co~o _arte, os é complexa a relação da cultura popular
cultural. E o que é pior nessa _fo_rma borrões que ocupam página~ inteiras , ~◊­ com as formas culturais contemporâneas
de oportunismo é que tais arnv1stas loridas, de sua revista pred1let~. B ?ssf que nos chegam de outros países. E _as
freqüentemente deformam o pensamento que o Fulano, por . força ~~ simpatiaov~ coisas seriam mais simples se se restr~n-
daqueles escritores ou pensadores para classe dominante , vira her~1 par~ o p gissem ao campo das idéias, . o que _nao
adaptá-lo à conveniência dest~ ou daque- que ele não leva em cons1deraçao qu_a~- acontece. Ainda no caso do cmema, e de
la tese que defendam. Tudo isso aconte- do perpetra suas obras. Se~elhante ex_1- conhecimento público que o vasto mer·
ce, sem dúvida, devido a certas caracte- . a os pmtores mais cada brasileiro está hoje praticamente
to naturalment_e amm lo . . . Não se tomado pela produção americana e, ~m
rísticas de nosso ambiente cultural, onde jovens a segmr o é exe;Je todo o êxito menor grau , pelos filmes franceses: 1ta·
ainda impera o carreirism.9 à ~as~ da deve esquecer, por m,p · se resume a lianos e japoneses. Sem entrar na d1sc~s-
troca de elogios e promoçao mutuav.. A d e nosso homem .
em ans
mesmo algum prestt-
,
são do que isso significa como evasao
consciência da missão social do escritor alguma am;z~de r!duzida de intelectuais, de capital brasileiro, resta o probler:ia da
é difusa e rara entre nós, donde a fre-
qüência de tais comportamentos irres-
ponsáveis . _
gio numa aixa t mbém desconhecidos
críticos de ~rt~, d~ seu povo. São cola-
da vasta da1or1a istas de arte, compradas
exibição dos filmes nacionais, que _e ~re·
judicada para favorecer à pro~UÇ?º 1
P ortada ' na sua maioria , const1tu1da
r~
Esse tipo de pertubaçao sobre o tra- boradores e rev aros A mesma mino- · Ora •. o
P elículas medíocres ou pess1mas .
balho cultural age com mais facilidade por uns po1;1cos eo r Rio · em São Paulo , cinema brasileiro nascente precisa · f'do. in·
.
sobre as atividades que não vivem . d? ria que existe n
York em
Tó' .
qmo,
em Roma
. centivo da crítica e dos poderes O 1c1 1s· d
consumidor, sendo exercidas am~donst1- em N ew ' 0 na classe intelectual A falta de compreensão por parteª ~~
M in . oria mesm . d
ca mente , ou que se dirigem à. eh!e eco- . ' . ue como uma seita, e- homens que escrevem sobre cmem f .
nômica , como a poesia, no primeiro ca- Minona ativa ir{cípios de aristocracia es- Brasil pode signif~car um golpe pro un
so , e as artes plásticas, no segundo ., E~sa f~n.de seus f:i~ndo inteiro. do nesse novo cmema. . dos
independência com relação ao publico ptrttual n? ema embora se tente por em Cump,re observa~ que mu~t~!mado
cond uz o poeta a se iden tificar, cada vez No cm , d
. to O mesmo esquema as q.ue combatem os filmes do de
mais , com os pontos de vista de ~ma fu?cio_nª11:!~nadas , a coisa complica, por- "ci nema novo " O f ª zem. em nome · tas
minoria superintelectualizada , submissa mmonast ata de uma arte de altos custos, princípios estéticos, bebidos em revis
a influências externas e, particul armente, que se r

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. estrangeiros, que não podem se r elimi na preliminarmente uma sene de vôos interplanetários que os camponeses
e l~vr~~s indiscriminadamente a todas as problemas que se coloca nas relações en- nordestinos passam a viver numa reali-
aplica e a todos os países. Em nome tre cu ltura nacional e internacional. Os dade em tudo igual à dos habitantes de
culturas. teorias. que muito· pouco . s1·gm·r·1- concei tos da físic a e da matemática , por New York, Moscou ou Rio. Nem por
dc taisdesligadas' das s1tuaçoes
. - co ncrern_s ~xcmplo , são válidos para qualquer país , viverem nessas grandes cidades os ho-
cam e surgiram combate-se um movi- mdependentemente de seu estágio de de- mens encontrarão a expressão de sua
em qu itên tico da · cultu ra nac1·ona1. p or senvolvimento econômico e de sua for- experiência de vida num mesmo modo
menta al d ' br mação cultural. Embora sejam produtos de escrever, de pintar, de representar, de
outro lado, devem os po_ cre; .P~ , ic~s
wmar medidas de pr~tcçnof' 1
cinematop:nHica do pa.1s , a im e a rir
us~n.a de u!11 .estágio determinado da evolução
econom1ca - que não é o mesmo em
cantar.
Uma coisa é ver," aprec iar uma obra
ca minho . no mcrcHdo mterno, ~ara a sua todos os países - o nível de objetividade de arte; outra coisa é fazer uma obra de
exibição. Tamp.ou~~ pode-se . ignorar o que alcançam aqueles conceitos garante- arte. São graus de compromisso diferen-
que O cinema s1gndif1 ca 501110 mstrum_ent o lhes indiscutível universalidade . tes. Quando essa diferença se torna im-
d, formação e c ucaçao , como ve1cu 1o , ~ão é o mesmo o caso dos produtos perceptível, estamos perto demais do es-
d: 111 t:nsÍigens políticas e ideológicas. art1st1cos . O argumento do "passo adian- teticismo, da arte-pela-arte< 3! Quando um
o"'cixar o mercad~ br~sileiro entregue ~ te" , que é válido para a ciência, não po- intelectual nordestino, radicado do Rio,
prod ução estrangeira e, portanto , permi- de ser usado para a arte. A pintura dos afirma que os verdadeiros problemas do
tir que se molde de fora o pensamento países super-desenvolvidos não é, obriga- homem de hoje são as relações entre o
de uma vasta parte de nossa população . toriamente , "mais evoluída" que a de um nosso planeta e as galáxias, ele está ten-
Sem qualquer má vontade ou má fé , de- país subdesenvolvido. A arte muda, tando substituir a realidade cotidiana por
ve-se reconhecer que o cinema norte- transforma-se, mas não evolui. E não um sonho bebido em livros de science-
americano, pelo domínio que exerce so- evolui porque seu compromisso funda- f iction. O certo não é deixar de ler no-
bre nosso mercado, desempenha indireta mental é com a expressão concreta da velas de ficção científica, se nos agradam,
_ e às vezes diretamente - o papel de realidade . A arte tem ciclos e a "evolu- ou livros de divulgação sobre astronomia,
uma gigantesca máquina de publicidade ção" que se verifica, por exemplo, na porém fazê-lo sem perder a noção de nos-
dos interesses dos Estados Un idos sobre poesia, da linguagem coloquial para a sa situação no mundo e a perspectiva dos
a opinião pública brasileira<2>. Ora , quan- linguagem simbólica ou alegórica , não sig- valores humanos.
do se sabe que a solução de nossos mais nifica evolução para melhor mas, apenas, Qualquer um de nós pode ver e gos-
graves problemas sociais depende de uma transformação . tar de uma escultura de Max Bill. E eu
luta decisiva contra os interesses ameri- Assim é que o nouveau roman da sei de um artista que me veio contar, en-
canos aqui enraizados e contra a domi- França não é, do ponto de vista da cria- tusiasmado, a história de um operário
nação econômica e política exercida so- ção , a linha de vanguarda a que inevita- que se interessou por uma das obras des-
bre nós pelos Estados Unidos, pode-se velmente chegará o romance moderno, se escultor suíço, exposta no Rio . Mas ,
avaliar quão urgente se faz neutralizar como tampouco o era o romance natura- daí a tentar fazer, no Brasil, escultura
ou diminuir os efeitos daquela propa- lista de Zola, na época. J! claro que esse daquele tipo é perder a noção da reali-
ganda. A maneira mais efetiva de fazê- tipo de romance resulta de uma linha de dade : aquela arte é produto de alto de-
lo é proteger e incentivar o cinema bra- tradição do romance, no que se refere ao senvolvimento técnico e industrial. Pro-
sileiro nas suas expressões mais autên- modo de encarar os problemas humanos va disso é que o mais evidente defeito
ticas. e, conseqüentemente, os problemas da das esculturas concretas realizadas no
expressão. Mas , por isso mesmo, seu ca- Brasil era a sua péssima execução. E isso
Em suma, não se trata de usar de ráter vanguardista só existe em relação
discriminação contra os produtos cultu- era um grave, gravíssimo defeito, pois
ao que fo i realizado anteriormente den-
rais importados , mas de colocar em ter- tro da mesma tendência . E esse vanguar- o rigoroso acabamento das obras de Bill
mos objetivos as necessidades de nosso é propriedade inerente à precisão das
dismo não implica um julgamento de
próprio desenvolvimento cultural. Esse suas formas escultóricas, matematica-
valor. mente concebidas. A impossibilidade de
desenvolvimento tanto exige a troca de Essa é a visão que devemos ter quan-
experiências com o exterior, como a crí- do se coloca o problema da arte brasi- realização material, no Brasil, de tais es-
tica do que de lá nos chega. Uma crítica leira com respeito às influências exter- culturas não é apenas uma limitação
fundada numa visão objetiva da nossa nas. Seria ingênuo perseguir um nível eventual mas um dado objetivo que re-
realidade , que não pode ser a crítica vela o desligamento entre o artista con-
de "modernidade" equivalente ao das creto e a realidade do país. A contingên-
submissa a teorias elaboradas noutros "vanguardas" européias ou norte-ameri-
países para responder a problemas espe- canas , uma vez que tais fenômenos se cia cotidiana obrigou os escultores con-
cíficos de sua conjuntura cultural. cretos do Brasil a buscarem uma expres-
referem a realidades culturais específi-
Nosso ponto de vista, pelo que ex- cas , das quais não participamos com a são ao nível da capacidade profissional e
pusemos, não aceita sem restrição a tese mesma intensidade. J! inútil tentar im- técnica das oficinas disponíveis ...
da cultura contemporânea como um fe- pingir a concepção de que há hoje no. Essa incapacidade de manter-se cons-
nômeno internacional. Concordamos, na- mundo uma única realidade internacio- cientemente situado na realidade está evi-
turalmente , com a constatação de um fa- nal da qual todos os povos participam dente num fato acontecido em Brasília,
to objetivo que é a tendência , cada vez na mesma medida . em 1961 , quando lá esteve o astronauta
mais acentuada, à internacionalização da Se é fato que o mundo tende a essa soviético Yuri Gagárin, que chegara num
cultura, por efeito do desenvolvimento contemporaneidade efetiva , não é meno_s avião Iliuchin-18, turbo-hélice. Momentos
dos meios de transporte e comunicação certo que, pela diversidade mesma da si- depois , quando o avião decolava na pis-
e ou tros fatores . tuação econômica , os países enfrentam ta , uma nordestina que estava no aero-
Resta, no entanto , analisar o fato realidades concretas diversas . Isso para porto, descalça, de roupas imundas e ro-
constatado. Em primeiro lugar, deve-se não falar nas diferenças da formação tas , mas que já vira chegar ali Boeings
separa r, den tro do campo da cultura , o cultural. N ão é, portanto , pelo . simples e Caravelles, exclamou : "Bolas, pensei
que é ciência do que é arte . O caráter fato de que o rádio e o jornal levam a que o russo vinha de foguete e ele vem
universal do conhecimento científico já todos os pontos do mundo a notícia dos num avião mixo desse!" .

(2)
· i~and o film~va Deus e o Diabo na Terra do uma cabine de cinema . Pois foi nessa cabine , não geram superestruturas , senão sob a forma
con' no sertao da Bahia , Glauber Rocha en- onde passam filmes em 16mm contra n revo- de uma herança de inércia e passividade: elas
di ss1'.º~: num povoado , um camponês que lh e lução cubana , contra a China e URSS , e lou- são engendradas , não por " partenogênese",
. e . Se vier a revolução fico com os ame- vando os norte-americanos, que aquele cam- mas pela intervenção do elemento " macho ",
~;a,nos. Os comunistas sã~ m aus . E reforma ponês sem terra aprendeu a ser contra a re- a história , a atividade revolucionária que
íic~~,a é coisa de comuni sta " . O cineasta forma agrária e a favor do latifúndio , que cria "o homem novo " , isto é novas relações
vo d su:Preso. Além das poucas casas , o po- nem o ensinou a ler . . . . sociais". Anton io Gramsci " Problemas de cr-
ca ª .0 _tinh a apenas um pos to e garagem de (3) ·' A literatura não -gera n literatura . As ideo- tica literária", in Les IeÍtres nouve/les, Jan .
mtnhoes da Coca-Cola e, junto d a igreja , gias não criam ideologias. As superestruturas 1955 , Paris .

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