Artigo Penteado - Concausas - 2020
Artigo Penteado - Concausas - 2020
Artigo Penteado - Concausas - 2020
1 – Considerações iniciais
O
estabelecimento ou não do nexo de concausalidade, em acidentes e
* Médico, especialista em Medicina do Trabalho (RQE 14411), e especialista em Medicina Legal e Perí-
cias Médicas (RQE 24886); perito ad hoc há 18 anos das Varas do Trabalho no Paraná; professor de
pós-graduação de Ergonomia da Universidade Estadual de Londrina e pós-graduado em Valoração
do Dano Corporal pela Universidade de Coimbra.
Semana de 2019; conselheira da Escola Judicial do TRT-9, gestão 2020-2021; especialista em Direito
Civil e Processo Civil (UEL-Londrina) e em Direito do Trabalho (Unibrasil – Curitiba); mestra em
Ciência Jurídica (UENP – Jacarezinho).
de indenização.
Anteriormente, a pesquisa do primeiro autor havia estabelecido dez
critérios para análise de nexo de causalidade entre doenças e o trabalho, e sete
critérios para análise do nexo de concausalidade, como se verá abaixo. Mas a
prática diária da perícia e do julgamento indica que ainda subsistem problemas,
dano causado
Cumpre, primeiramente, distinguir acidente de trabalho de doença
doença
, assim entendida, é aquela produzida ou desencadeada pelo exer-
cício de trabalho, peculiar a determinada atividade, e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social; II – doença
do trabalho, assim entendida, é a doença adquirida ou desencadeada em função
de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente, constante da mesma relação acima mencionada. Por outro lado,
agente como causa necessária à produção do dano. O nexo também estará carac-
terizado quando o agente não for a causa necessária para o estabelecimento do
dano, mas contribuir para o seu aparecimento ou agravamento. Nessa segunda
nexo de concausalidade.
A Lei nº 8.213/91, no seu art. 21, estabelece que “equiparam-se também
ao acidente do trabalho, para efeitos desta lei, o acidente ligado ao trabalho
que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a
morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho,
ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação”.
saúde do trabalhador.
Pode-se dizer que concausa preexistente seria a existência de patologias
ou alterações funcionais prévias ao evento lesivo, ou à exposição ao risco, que
interferem direta ou indiretamente na doença ou da sequela. Essas situações
podem ser conhecidas, desconhecidas (estavam ainda em estágio assintomáti-
1 A mesma questão havia sido abordada anteriormente pelo primeiro autor, conforme os critérios de
Penteado, já divulgados desde 2014.
2 O primeiro autor, em sua prática médica-pericial, inclui como concausa superveniente a ausência de
indicação médica de tratamento adequado previsto na literatura e também a não realização, por parte
do paciente, dos tratamentos médicos adequados e que poderiam ter melhorado ou curado o quadro;
carregar um peso de 10 quilos ou, às vezes, levantar o braço acima dos ombros
pode ser danoso é acreditar na total imperfeição da máquina humana. O simples
trabalho em pé não é causador de problemas na coluna. A coluna foi feita para
de seus graus.
Ocorre que a concausa indica uma origem multifatorial da doença, e
nem todos os fatores que desencadeiam a moléstia podem ser atribuídos à
trazer novos critérios para elucidar como arbitrar, de forma mais equânime, qual
o grau de responsabilidade que pode ser atribuído ao empregador quando da
existência de concausas para a doença. Isso será feito a partir das perspectivas
jurídica e médica aplicáveis à discussão, observando a experiência dos autores,
respectivamente médico perito e magistrada laboral, que entendem que a obser-
vação de critérios com menor grau de subjetividade poderá gerar decisões mais
c) Tendinopatias
dano;
b) Transtornos mentais -
res organizacionais, no trabalho e/ou assédio moral, capazes de gerar um dano.
Neste caso, inclui-se também intensidade e tempo de exposição. É importante
lembrar que cerca de 25% da população mundial sofre de algum transtorno
doença. Portanto, deve-se ter certeza de que a doença pesquisada estaria melhor,
caso não houvesse exposição ao risco laboral.
Cita-se, como exemplo clássico de agravamento de uma doença pre-
etc.);
c) Trabalhador diabético, com idade superior a 50 anos, exposto à eleva-
ção e abdução de ombro no trabalho, e que tem sua doença diagnosticada em
estágios leves: quando afastado do risco laboral, que contribuiu com a doença,
esta permanece agravando, evoluindo de uma simples tendinite para roturas.
Conclui-se que houve apenas concausa temporária, pois os fatores extralaborais
passam a ser os únicos responsáveis pelo avanço da doença, não podendo mais
a empresa ser responsabilizada por danos posteriores, com os quais não tem
compromisso algum;
d) Trabalhador portador de uma doença degenerativa da coluna: sub-
risco maior que o esperado para o homem médio, não se pode falar em respon-
sabilização da empresa.
Nesse sentido a Súmula nº 34 do TRT 15: “O nexo concausal entre o
trabalho e a doença, nos termos do art. 21, I, da Lei nº 8.213/91, gera direito à
indenização por danos moral e material, desde que constatada a responsabilidade
do empregador pela sua ocorrência”.
Um exemplo: indivíduo previamente alérgico (não tendo sido diagnos-
ticado ou não tendo informado o empregador dessa situação) contratado para
-
dutos químicos abaixo do limite de tolerância (porém presentes), e com uso de
. Ao concluir a sua
Pontos dos fatores laborais x 100 / Pontos fatores laborais + pontos fatores
extralaborais
Por exemplo: partindo-se do caso de um trabalhador de 56 anos de idade,
Somam-se como fatores extralaborais: idade (2), vida laboral (3), tabagismo
(3); e como Fatores laborais: Risco alto (3) tempo exposição na empresa (2).
carpo. Somam-se como fatores extralaborais: obesidade (1), idade (2), vida
laboral (3), multípara (2); e como fatores laborais: risco médio (2), tempo ex-
gênese da doença.
Idade Caso exista relação entre a maior idade e o aparecimento da
doença, tal fato deve ser computado. Incluem-se, aqui, as al-
terações degenerativas, que ocorrem no decorrer do avanço da
idade.
Doenças concomitantes
Tabagismo -
Alcoolismo mo e uso de drogas. Da mesma forma, tais vícios estão relacio-
Drogas
uso, mais deletérios serão.
Gestação -
tentes, e o ganho de peso durante a gravidez.
Risco laboral A graduação do grau de risco deve ser realizada pelo uso de
-
pretação
de reparar-se o dano.
Os critérios acima apresentados avaliam cada uma das possíveis concau-
sas incidentes sobre a doença, instituindo um grau de intensidade para cada uma
delas e, a partir dos fatores extralaborais arrolados, sopesam o grau de incidência
-
dica qual o percentual de responsabilidade que deverá ser atribuído à concausa
laboral. A partir desse percentual é possível mensurar de forma objetiva o grau
de responsabilidade (e de indenização) que caberá ao empregador.
Com isso se atinge o objetivo principal do presente trabalho: apontar
critérios a serem utilizados de modo a objetivar a apreciação da responsabilidade
civil do empregador quando do desenvolvimento de doenças laborais que somam
em suas causas tanto o trabalho quanto fatores da vida particular do empregado.
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