Guiaboaspraticas Relatorios Avaliacao Psicologica Forense
Guiaboaspraticas Relatorios Avaliacao Psicologica Forense
Guiaboaspraticas Relatorios Avaliacao Psicologica Forense
PÁG. 1
DE BOAS
PRÁTICAS
Nota das autoras: O género utilizado ao longo deste guia refere-se de forma indistinta a pais
e mães, filhos e filhas, psicólogos e psicólogas. Pretende-se facilitar a leitura do texto e de
modo algum estabelecer diferenças em razão do género.
ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS
PSICOLÓGICOS FORENSES/PERICIAIS EM
PROCESSOS DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO
DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
E DEFINIÇÃO DE REGIME DE CONVÍVIOS
ENTRE PAIS E FILHOS
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FICHA TÉCNICA
—
Guia de boas práticas sobre a avaliação forense
pericial em processos de Regulação do Exercício
das Responsabilidades Parentais, publicado pela
Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Sugestão de citação
Guia de boas práticas sobre a avaliação forense
pericial em processos de Regulação do Exercício
das Responsabilidades Parentais. Lisboa.
ISBN: 978-989-53170-3-5
www.ordemdospsicologos.pt
PÁG. 3
PREÂMBULO
Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS resulta da tradução e adaptação do guia publicado pelo
Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid – “Guía de buenas prácticas para la elaboración de
informes psicológicos periciales sobre custodia y régimen de visitas de menores” (2009), com-
plementada com a consulta de outras referências bibliográficas sobre o tema e, ainda, a
experiência das autoras e dos consultores na área da Psicologia Forense e do Direito.
Versão 2 para os psicólogos, na medida em que contém anexos cujo conteúdo é exclu-
sivo para a prática psicológica.
1. Embora no texto apenas façamos referência à regulação do exercício das responsabilidades parentais, este Guia de Boas Práticas é
extensível aos processos de alteração, incumprimento e inibição do exercício das responsabilidades parentais que exigem, naturalmente,
outros procedimentos de avaliação complementares.
2. Também designados com a abreviatura de ERP (Exercício das Responsabilidades Parentais).
PÁG. 4
SOBRE AS AUTORAS E
CONSULTORES
Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicoterapia e Psico-
logia da Justiça. Terapeuta Familiar. Pós-graduada em Análise de Dados para
as Ciências Sociais.
RUTE AGULHAS
primária de diversas problemáticas em crianças e adolescentes.
ALEXANDRA
ANCIÃES
MÁRIO R.
adaptação/validação de instrumentos de avaliação (neuro)psicológica e dos re-
latórios psicológicos.
SIMÕES
MIGUEL RICOU
Serviços de Saúde.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid a autorização para a tradução e
adaptação do guia à realidade portuguesa, tendo em conta aspectos legais, éticos e pro-
cessuais.
Um especial agradecimento aos consultores deste guia, António José Fialho, Mário R.
Simões e Miguel Ricou, cujas revisões e sugestões muito contribuíram para o enrique-
cimento do documento.
Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração da Ordem dos Psicólogos Portu-
gueses [OPP], a quem agradecemos a disponibilidade para se associar a este projecto, com
a edição e divulgação gratuita deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS junto dos psicólogos e de
toda a comunidade.
GRUPO DE TRABALHO
Fernando Chacón Fuertes
José Francisco García Gumiel
Antonio García Moreno
Rocío Gómez Hermoso
Blanca Vázquez Mezquita
CONSULTORES
Deborah Calvo Rodríguez
María José Catalán Frías
Marta Ramírez González
PÁG. 7
ÍNDICE
08 Clarificação prévia de conceitos e terminologia
14 Introdução
38 Bibliografia
ANEXOS
1. Guião de entrevista aos pais/cuidadores.
2. Guião de entrevista à criança.
3. Instrumentos não estandardizados, questionários e escalas.
4. Boas e más práticas para a avaliação psicológica forense/pericial.
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CLARIFICAÇÃO PRÉVIA DE
CONCEITOS E TERMINOLOGIA
Ao longo deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS são utilizados Embora o legislador não as identifique de forma con-
diversos conceitos e terminologia que importa desde já creta, seguem-se alguns exemplos comummente con-
clarificar e diferenciar, por forma a permitir uma melhor sensuais: 7
compreensão dos diversos âmbitos de utilização deste
documento, por um lado, e também dos variados fins a A) A escolha e inscrição da criança em estabelecimento
que este tipo de avaliação pode destinar-se, por outro. de ensino privado ou público;
A RERP e o conhecimento das questões a esta respei- C) O exercício de uma actividade laboral por parte da
tantes, como a entrega judicial da criança, a inibição, to- criança ou adolescente (incluindo as passagens de mo-
tal ou parcial, o estabelecimento de limitações ao ERP, delos, participação em espectáculos e actividades artís-
bem como a regulação dos convívios da criança com os ticas ou de publicidade);
irmãos e ascendentes está previsto no Regime Geral
do Processo Tutelar Cível [RGPTC], nos termos da Lei D) A escolha da orientação religiosa até aos 16 anos;
4
n.º 141/2015, de 8 de Setembro. Para além do RGPTC,
o psicólogo deve conhecer os artigos 1877.º a 1972.º E) As saídas (de férias ou participando em actividades)
do Código Civil [CC] (sobre o exercício e conteúdo das para o estrangeiro;
responsabilidades parentais), nomeadamente, as alte-
rações introduzidas nos últimos anos aos artigos 1906.º F) A localização ou determinação do centro de vida (al-
5,6
a 1912.º do CC. teração da residência que implique uma mudança geo-
gráfica para local distante dentro do próprio país ou para
Em relação às situações de incumprimento e altera- o estrangeiro);
ção do exercício das responsabilidades parentais, estas
constam dos artigos 41.º e 42.º do RGPTC. Quando à G) A prática de actividades desportivas que impliquem
inibição ou limitação do exercício das responsabilidades risco para a vida, saúde ou integridade física;
parentais, estas podem verificar-se, nos termos dos ar-
tigos 1915.º, n.º 1 do CC e 52.º do RGPTC, quando qual- H) A celebração de casamento aos 16 anos;
quer dos progenitores:
I) A interrupção da gravidez até aos 16 anos;
Infrinja culposamente os seus deveres para com os
seus filhos, com grave prejuízo destes; J) A obtenção de licença de condução de ciclomotores
e de carta de condução de motociclos de cilindrada não
Por inexperiência, enfermidade, ausência ou outras superior a 125 cm3;
razões, se não mostre em condições de cumprir os
seus deveres. K) O exercício do direito de queixa;
Com base em um ou em ambos os fundamentos, o Mi- L) As decisões de administração que envolvam onera-
nistério Público, qualquer familiar da criança ou pessoa ções ou alienações de bens ou direitos da criança;
sob cuja guarda se encontre, ainda que de facto, têm
legitimidade para requerer a inibição total ou parcial do M) A escolha do nome a atribuir à criança;
exercício das responsabilidades parentais.
N) As decisões que envolvam questões de disciplina gra-
ve relativas à criança ou adolescente, nomeadamente,
QUESTÕES DE PARTICULAR IMPORTÂNCIA aquelas que possam implicar a aplicação de medida
As questões de particular importância dizem respeito a educativa disciplinar sancionatória;
questões existenciais graves e raras na vida da criança.
O) A escolha da naturalidade.
A regra geral é de que as responsabilidades parentais F) As decisões quanto à higiene diária, ao vestuário e
relativas às questões de particular importância para a calçado;
vida do filho sejam exercidas em comum por ambos os
progenitores nos termos que vigoravam na constância G) A imposição de regras de convivência;
do matrimónio, salvo nos casos de urgência manifesta,
em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, H) O uso e utilização de telemóvel e do computador;
devendo prestar informações ao outro logo que possí-
vel.8 Contudo, o tribunal pode, por decisão fundamen- I) As decisões sobre as idas ao cinema e saídas à noite,
tada, determinar que essas responsabilidades possam consultas médicas de rotina.
ser exercidas apenas por um dos progenitores,9 quando
o exercício em comum for julgado contrário aos interes-
ses da criança (e.g., nas situações de desinteresse por
parte de um dos pais ou grave conflituosidade entre am-
bos), ponha em causa uma parentalidade funcional e um
adequado ajustamento da criança, quando for decretada
medida de coação ou aplicada pena acessória de proi-
bição de contactos entre os progenitores (a não ser que
haja prova em contrário, conforme disposto no n.º 9 do
artigo 40.º do RGPTC), ou estiverem em grave risco os
direitos e a segurança de vítimas de violência doméstica
e outras formas de violência em contexto familiar, como
maus-tratos ou abuso sexual de crianças.10 No mesmo
sentido, o n.º 8 do artigo 40.º do RGPTC (concretizando
o n.º 2 do artigo 1906.º, n.º 2 do CC) refere que pode ser
determinado por sentença que o ERP relativo às ques-
tões de particular importância pode ser exercido apenas
por um dos progenitores.
8. N.º 1 do artigo 1906.º do CC. 9. N.º 2 do artigo 1906.º do CC. 10. Artigo 1906.º-A do CC, aditado pela Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio.
11. N.º 3 do artigo 1906.º do CC. 12. N.º 4 do artigo 1906.º do CC. 13. Ver Fialho, A. (2013).
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50 50
gência ou exposição da criança à violência na relação de
intimidade (violência interparental), que estão na origem
de incumprimentos e pedidos de alteração do regime fi-
xado.
14. Actualizada pela Lei n.º 26/2018, de 05 de Julho e conhecida como a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.
15. N.º 1 do artigo 3.º da Lei nº 147/99, de 1 de Setembro.
16. O psicólogo pode solicitar ao processo de RERP ao abrigo do qual se encontra a realizar a avaliação, informação sobre estes processos e, inclusive, solicitar que sejam
extraídas certidões para que essa informação lhe seja remetida.
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COMPETÊNCIA PARENTAL
Diz respeito aos recursos dos pais (comportamentais,
cognitivos e emocionais) no momento da avaliação, ou
seja, a identificação das suas forças e potencialidade
(factores de protecção) e, também, das suas vulnerabili-
dades e aspectos a melhorar (factores de risco). Implica
também a identificação do potencial impacto (positivo
ou negativo) de cada um destes factores no exercício
da parentalidade. Na avaliação dos factores de risco e
de protecção deve ainda ser tida em conta a dimensão
temporal, pelo que os mesmos podem ser considerados
como «estáveis» ou «flutuantes».
CAPACIDADE PARENTAL
A capacidade parental alude ao potencial de mudança
dos pais (avaliar em que medida poderão ser potencia-
dos os factores de protecção e minimizados os factores
de risco) para identificarem e satisfazerem adequada-
mente todas as necessidades da criança.
Para a avaliação psicológica forense/pericial no
A avaliação do potencial de mudança relaciona-se com: âmbito dos RERP, o psicólogo deve avaliar não ape-
nas a COMPETÊNCIA PARENTAL, mas também a
A) O reconhecimento das suas áreas problemáticas; CAPACIDADE PARENTAL.
Podem ainda incluir-se aqui as avaliações que, apesar Para além da autoridade judiciária, as partes também
de serem solicitadas pelo tribunal, não são de âmbito podem propor a efectivação da perícia, devendo nesse
pericial. Referimo-nos em concreto às avaliações reali- caso indicar o objecto de perícia e os quesitos que que-
zadas no âmbito da assessoria técnica aos tribunais por rem ver esclarecidos. A perícia pode incidir não só sobre
parte de equipas multidisciplinares. os quesitos formulados pelo requerente, mas também
nos alegados pela parte contrária, sendo da responsa-
bilidade do juiz a fixação do objecto de perícia, podendo
para tal indeferir desde logo questões que entenda se-
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PERICIAL
rem inadmissíveis ou irrelevantes, bem como ele pró-
Consiste num processo de avaliação psicológica (com prio colocar outras questões que entenda serem essen-
recurso aos métodos e técnicas próprios da Psicologia) ciais ao apuramento da verdade.18Quando a perícia for
enquadrado judicialmente, ou seja, relativo a uma situa- determinada oficiosamente, as partes podem sugerir o
ção sobre a qual decorre um processo, sendo solicitada alargamento do objecto de perícia. 19
directamente pelo tribunal.
OBJECTO DE PERÍCIA
O objecto de perícia é definido no despacho da autorida-
de judiciária, conforme estipula o artigo 476.º do Códi-
go Processo Civil [CPC], e pode corresponder, de forma
simples, ao texto da lei ou ser acompanhado de quesitos
específicos (perguntas), aos quais o perito tem de res-
ponder. Diz respeito, em concreto, àquilo que o tribunal
quer ver esclarecido (e.g., as competências parentais).
Sempre que o objecto de perícia suscitar dúvidas, deve
o perito esclarecer essas dúvidas junto da entidade que
solicita a perícia, não devendo, em caso algum, iniciar
a avaliação sem que esses esclarecimentos lhe sejam
prestados.
17. Artigo 467.º do CPC. 18. Artigo 476.º do CPC. 19. Artigo 477.º do CPC.
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4. Alterada pela Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio que, provendo a regulamentação urgente das responsabilidades paren-
tais em situações de violência doméstica, veio aditar os artigos 24.º-A (Inadmissibilidade do recurso à audição técnica
especializada e à mediação): “o recurso à audição técnica especializada e à mediação, previstas nos artigos anteriores,
não é admitido entre as partes quando: a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição de
contactos entre os progenitores, ou b) Estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência domés-
tica e de outras formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças” e 44.º-A (regu-
lação urgente): “1) Quando seja decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição de contacto entre
os progenitores ou se estiver em grave risco os direitos e a segurança das vítimas de violência doméstica e de outras
formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças, o Ministério Público requer, no
prazo máximo de 48 horas após ter conhecimento da situação, a regulação ou alteração da regulação do exercício das
responsabilidades parentais. 2) Autuando o requerimento, os progenitores são citados para conferência, a realizar nos 5
dias imediatos. 3) Sempre que os progenitores não cheguem a acordo ou qualquer deles faltar, é fixado regime provisório
nos termos do artigo 38.º, seguindo-se-lhe os termos posteriores previstos nos artigos 39.º e seguintes da presente lei”.
5. Destacamos o artigo 1906.º do CC (Exercício das responsabilidades parentais em casos de divórcio, separação judicial
de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do casamento), por ser aquele que se nos afigura mais revelante
para a prática do psicólogo: “1) As responsabilidades parentais relativas às questões de particular importância para a
vida do filho são exercidas em comum por ambos os progenitores nos termos que vigoravam na constância do matri-
mónio, salvo nos casos de urgência manifesta, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar
informações ao outro logo que possível. 2) Quando o exercício em comum das responsabilidades parentais relativas às
questões de particular importância para a vida do filho for julgado contrário aos interesses deste, deve o tribunal, atra-
vés de decisão fundamentada, determinar que essas responsabilidades sejam exercidas por um dos progenitores. 3)
O exercício das responsabilidades parentais relativas aos actos da vida corrente do filho cabe ao progenitor com quem
ele reside habitualmente, ou ao progenitor com quem ele se encontra temporariamente; porém, este último, ao exercer
as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações educativas mais relevantes, tal como elas são definidas
pelo progenitor com quem o filho reside habitualmente. 4) O progenitor a quem cabe o exercício das responsabilidades
parentais relativas aos actos da vida corrente pode exercê-las por si ou delegar o seu exercício. 5) O tribunal determinará
a residência do filho e os direitos de visita de acordo com o interesse deste, tendo em atenção todas as circunstâncias re-
levantes, designadamente o eventual acordo dos pais e a disponibilidade manifestada por cada um deles para promover
relações habituais do filho com o outro. 6) Quando corresponder ao superior interesse da criança e ponderadas todas as
circunstâncias relevantes, o tribunal pode determinar a residência alternada do filho com cada um dos progenitores, in-
dependentemente de mútuo acordo nesse sentido e sem prejuízo da fixação da prestação de alimentos. 7) Ao progenitor
que não exerça, no todo ou em parte, as responsabilidades parentais, assiste o direito de ser informado sobre o modo do
seu exercício, designadamente sobre a educação e as condições de vida do filho. 8) O tribunal decidirá sempre de harmo-
nia com o interesse do menor, incluindo o de manter uma relação de grande proximidade com os dois progenitores, pro-
movendo e aceitando acordos ou tomando decisões que favoreçam amplas oportunidades de contacto com ambos e de
partilha de responsabilidades entre eles. 9) O tribunal procede à audição da criança, nos termos previstos nos artigos 4.º
e 5.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível” (com as alterações constantes da Lei n.º 65/2020, de 4 de Novembro).
6. A Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio, prevendo a regulamentação urgente das responsabilidades parentais em situações
de violência doméstica, veio a aditar o artigo 1906.º-A do CC (regulação das responsabilidades parentais no âmbito de
crimes de violência doméstica e de outras formas de violência em contexto familiar), com a seguinte redacção: “Para
efeitos do n.º 2 do artigo anterior, considera-se que o exercício em comum das responsabilidades parentais pode ser
julgado contrário aos interesses do filho se: a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição
de contactos entre os progenitores, ou b) Estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência do-
méstica e de outras formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças”.
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INTRODUÇÃO
As alterações sociais a que temos assistido em di- regime de convívios da criança com cada um dos pais.
versos âmbitos obriga todos os psicólogos forenses/
peritos a argumentar de forma fundamentada as Segundo os dados da PORDATA, o número de separa-
conclusões e propostas que formulam em qualquer ções e divórcios em Portugal aumentou de uma for-
das suas múltiplas actividades profissionais. A legiti- ma muito significativa nos últimos anos. Estes pro-
midade da autoridade de um psicólogo forense/perito cessos, muitas vezes conflituosos, podem resultar
baseia-se na medida em que aquilo que afirma esteja especialmente adversos para a estabilidade emocio-
sustentado em critérios imparciais, teorias funda- nal das crianças que, para além de viverem a sepa-
mentadas, investigações revistas por pares, instru- ração dos seus pais, acabam também por prescindir
mentos validados e intervenções eficazes baseadas da presença quotidiana de um deles. A esta realidade
nas evidências. acrescem as situações em que existem alegações ou
indicadores de maus tratos, negligência, abuso sexu-
Na sua história recente, os profissionais da Psicolo- al ou violência doméstica, com as especificidades que
gia têm vindo a desempenhar um papel importante estes processos exigem.
de divulgação social do conhecimento que, em geral,
se caracteriza por um elevado grau de complexidade Tendo em conta o elevado número de crianças afecta-
teórica e aplicada. Graças a este esforço e, parale- das mas, sobretudo, as consequências para a sua es-
lamente, ao incremento da presença de psicólogos, tabilidade e desenvolvimento emocional, bem como
têm vindo a ser popularizados muitos conceitos, téc- as repercussões pessoais e sociais que têm as avalia-
nicas e instrumentos próprios da disciplina que, em ções no âmbito do Direito de Família e das Crianças,
alguma medida, têm contribuído também para uma as autoras e os consultores, em colaboração com a
melhor compreensão social da própria condição hu- OPP, assumem o desafio de elaborar o presente GUIA
mana. DE BOAS PRÁTICAS. Por outro lado, este é também
um dos assuntos que mais frequentemente chega
Devido ao grau de complexidade acima referido, em aos conselhos disciplinares das ordens profissionais
muitos âmbitos profissionais da Psicologia, é neces- de Psicologia.
sário compilar os diversos procedimentos, instru-
mentos e técnicas eficazes existentes, a fim de se Finalmente, a diversidade existente no âmbito profis-
poder oferecer à sociedade uma informação válida e sional da Psicologia, e em particular no que diz res-
de utilidade. Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS é, assim, peito às diferentes formas de elaborar um relatório
uma síntese dos conhecimentos existentes a partir da psicológico forense/pericial em matéria de RERP e
investigação científica sobre a forma idónea de reali- de regime de convívios da criança com os pais, re-
zar uma determinada prática forense/pericial e que quer um marco de referência que, respeitando essa
se pretende que sirva para orientar os profissionais, diversidade, contribua para estabelecer as garantias
os clientes, as diversas entidades e a sociedade em necessárias para todas as partes afectadas por este
geral. tipo de relatórios, sejam realizados no âmbito privado
ou em serviços públicos.
Um dos âmbitos da actividade profissional em que se
revela inadiável a elaboração de um GUIA DE BOAS O presente GUIA DE BOAS PRÁTICAS parte de três
PRÁTICAS é a elaboração de relatórios forenses/pe- princípios amplamente consensuais que têm sido
riciais sobre processos de RERP e pareceres sobre o muito debatidos.
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(1) O primeiro é o critério do superior interesse da criança, eixo vertebral em redor do qual são arti-
culados os conteúdos deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS. Não apenas porque assim o define o nosso ordenamento
jurídico, mas também porque as recomendações dos relatórios forenses/periciais neste âmbito afectam de forma
muito significativa o desenvolvimento global da criança.
(2) O segundo princípio, que advém do anterior, considera que qualquer avaliação sobre a idoneidade
dos progenitores para exercer as responsabilidades parentais e para conviver com a criança deve partir do
pressuposto de que ambos são igualmente competentes para o seu exercício. Uma das finalidades da avaliação
consiste, portanto, em confirmar a idoneidade de cada uma das partes para cuidar da criança ou, pelo contrário,
em comprovar e justificar adequadamente a prevalência de um progenitor sobre o outro.
(3) Finalmente, e considerando o princípio anterior, é inevitável estabelecer que a avaliação realizada
tem de incluir o sistema familiar no seu conjunto e na sua totalidade, se se pretende que o relatório resultante
permita concluir sobre o exercício das responsabilidades parentais e o regime de convívios da criança com os pais.
Desta forma, ao longo deste documento estabelece- Relatório psicológico forense/pericial sobre o
-se uma clara diferença entre o que pode ser consi- exercício das responsabilidades parentais (com um
derado um relatório psicológico forense/pericial so- parecer sobre o regime de convívios da criança com
bre a RERP e o regime de convívios da criança com os pais);
os pais e outros tipos de relatórios psicológicos (p.
ex., relatório de avaliação da personalidade e possível Outros títulos como: relatório psicológico de ava-
impacto desta no exercício da parentalidade, relatório liação da personalidade, relatório da relação paterno/
sobre a relação da criança com um dos pais, relatório materno-filial e outros similares.
sobre a relação entre irmãos). Estes últimos, ainda
que podendo ser úteis por reportarem informação so- Assim, deve ficar explícito quando não se avaliou todo
bre a relação de uma criança com uma das partes, ao o sistema familiar e, portanto, não estamos peran-
não terem em conta todos os membros do sistema te um relatório psicológico forense/pericial sobre o
familiar e as suas relações, não podem formular re- exercício das responsabilidades parentais e o regime
comendações sobre a RERP ou o regime de convívios de convívios da criança com os pais.
da criança com os pais.
Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS é aplicável tanto aos
O psicólogo deve evitar confundir os relatórios psico- relatórios periciais, como aos forenses, considera-
lógicos forenses/periciais sobre a RERP e o regime dos «prova documental» a nível jurídico processual;
de convívios da criança com os pais com outros tipos por este motivo, quando ao longo do documento se
de relatórios, inclusive no título, pelo que deve distin- fizer referência a «relatórios forenses/periciais» deve
guir-se entre: entender-se que inclui ambos os tipos de relatórios,
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01
MISSÃO DO PSICÓLOGO NA AVALIAÇÃO DA
IDONEIDADE DE PAIS SEPARADOS/DIVORCIADOS
PARA O EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS E DEFINIÇÃO DO REGIME DE
CONVÍVIOS COM OS FILHOS
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“
cedimentos, técnicas e instrumentos válidos e fiáveis
próprios da Psicologia, a capacidade dos pais para exer-
cer adequadamente as responsabilidades parentais dos
filhos menores de idade, considerando tanto as variáveis
individuais relevantes, como outras relacionadas com a
”
UM DOS PAIS.
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02
PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O
RELATÓRIO FORENSE/PERICIAL
PÁG. 20
Nesta perspectiva, um relatório que não apresente uma No entanto, estes relatórios não abrangem todos os ob-
informação válida e de confiança sobre cada um dos ele- jectivos do relatório psicológico forense/pericial sobre
mentos da família, bem como sobre a relação de cada o tema das responsabilidades parentais e convívios da
elemento com os demais, não poderá ser considerado criança com os pais.
DEVE INFORMAR-SE A ENTIDADE SOLICITANTE E ESTA INFORMAÇÃO DEVE CONSTAR DE FORMA CLARA NO RE-
LATÓRIO (VER QUADRO 1).
Responder claramente aos quesitos formula- Contribuir para o bem-estar dos filhos meno-
dos, fazendo constar que as conclusões se refe- res de idade envolvidos em processos de separa-
rem ao momento em que a avaliação se realiza. ção ou divórcio, assessorando o tribunal no que
respeita ao regime de convívios mais adequado.
Proporcionar ao tribunal informação relevan-
te, fundamentada e compreensível, que o possa Fazer prevalecer durante todo o processo de
ajudar no processo de tomada de decisões em avaliação o princípio do superior interesse da
relação ao exercício das responsabilidades pa- criança, regendo-se por princípios éticos e fun-
rentais e ao regime de convívios da criança com damentos científicos actualizados da profissão.
os pais, em processos de RERP.
20. Quando o psicólogo não avalia todo o sistema familiar, não pode aplicar o protocolo de avaliação tal como é definido adiante (ver figura 1), o que se assume como um
constrangimento muito significativo neste tipo de processos, devendo essa situação ficar explícita no relatório. Existem alguns factores específicos da competência parental
sobre os quais o psicólogo não pode pronunciar-se quando avalia apenas um progenitor, nomeadamente, os padrões parentais e alguns aspectos da dimensão emocional
da parentalidade. Salienta-se que o conceito de competência parental remete para a avaliação de uma relação interpessoal, necessariamente limitada quando se avalia
apenas parte do sistema familiar.
PÁG. 21
03
PRINCÍPIOS ÉTICOS QUE DEVEM ORIENTAR
A CONDUTA DO PROFISSIONAL
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idoneidade dos pais para o exercício das responsabilida- 2) Dinâmicas familiares incluindo, mas não limitando a,
des parentais e para a definição de um regime de con- relações entre pais e filhos, famílias recompostas e re-
vívios da criança com os pais têm, naturalmente, de se lações com as famílias de origem;
orientar pelos princípios gerais e específicos definidos
pelo Código Deontológico da OPP. 21 3) Efeitos da separação/divórcio, da violência doméstica,
do consumo de substâncias, das alterações nos vínculos
O contexto específico a que reporta este GUIA DE BOAS afectivos parentais, dos maus tratos, negligência e abu-
PRÁTICAS exige especial atenção a: so sexual e do conflito interparental nas necessidades
das crianças e dos adultos;
21. Ordem dos Psicólogos Portugueses (2016). Código Deontológico. Publicado em Diário da República [2.ª série – n.º 78, 20 de abril de 2011), com a 1.ª revisão publicada
em Diário da República [2.ª série – n.º 246/2, 26 de Dezembro de 2016].
PÁG. 23
Consideram-se, ainda, áreas de formação adicional Com as crianças, jovens ou indivíduos com limitações
especializada: cognitivas, a natureza específica desta relação deve ser
explicada com especial cuidado, usando uma linguagem
1) Avaliação de alegações de abuso sexual; clara, concreta e acessível.
2) Avaliação de alegações de dinâmicas familiares que Embora o consentimento informado possa ser oral, ten-
envolvem o sugestionamento da criança e o impedimen- do em conta a natureza destes processos, deve ser do-
to não fundamentado desta conviver com um dos pais; cumentado de uma forma escrita.
3) Avaliação de alegadas situações de maus tratos e/ou Quando o examinando recusa prestar o seu consenti-
violência doméstica e elaboração de planos de seguran- mento, a entidade que solicita a avaliação deve ser in-
ça para os pais e para a criança. formada.
O psicólogo deve procurar fazer o bem e evitar a todo o O ponto 2.14 do Código Deontológico da OPP, relativo a
custo prejudicar as pessoas avaliadas, que devem estar situações legais, refere que sempre que exista solicita-
sempre no centro das suas decisões (maximizar os be- ção legal para a divulgação de informação confidencial
nefícios e minimizar os possíveis danos, seja por acção sobre o cliente, é fornecida a um destinatário específico
ou omissão). apenas a informação relevante para a situação em cau-
sa, tendo em conta os objectivos da mesma e aquilo que
Ao actuar de acordo com este princípio, o psicólogo ao psicólogo for dado a conhecer.
deve minimizar o impacto de uma eventual vitimização
secundária e recusar intervir sempre que percepcionar A intervenção do psicólogo deve pautar-se pelo prin-
que a sua intervenção pode causar um dano significa- cípio da intervenção mínima, recolhendo a informação
tivo, informando o tribunal e fundamentando a sua re- estritamente necessária, tendo em conta os quesitos
cusa. formulados e os objectivos definidos pelo cliente (tribu-
nal). Deve manter-se confidencialidade em relação aos
factos que não tenham relação directa com o objecto da
avaliação - não apenas a informação obtida directamen-
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS te, mas também indirectamente, em relação ao próprio
1. Consentimento Informado ou terceiros, incluindo a existência da própria relação.
EM SUMA:
A) Em todos os momentos da actuação profissional de-
verá prevalecer o superior interesse da criança, sobre
qualquer outro interesse legítimo que possa co-existir.
04
METODOLOGIA PARA A ELABORAÇÃO DE UM
RELATÓRIO PSICOLÓGICO FORENSE/PERICIAL
NO ÂMBITO DE PROCESSOS DE RERP E REGIME
DE CONVÍVIOS DA CRIANÇA
PÁG. 26
3) Redacção e entrega do relatório psicológico forense/pericial sobre o exercício das responsabilidades parentais e o
regime de convívios da criança com os pais que minimize possíveis prejuízos. Pode incluir, dependendo do objecto de
perícia e quesitos solicitados e se a avaliação efectuada o permitir, entre outras, algumas das opções seguintes:
QUADRO 2
1 2 3 Recomendação de
4 Recomendação
Recomendação de Recomendação de uma distribuição de residência da
fixação de residên- fixação de residên- tendencialmente criança com outros
cia da criança com cia da criança com o equitativa do tempo familiares, terceiros
o progenitor A. de residência com ou acolhimento fa-
progenitor B.
cada um dos pais. miliar/residencial.
QUE FERRAMENTAS OU INSTRUMENTOS SÃO ADE- Padrões de interacção com a criança (sensibilidade
QUADOS PARA ALCANÇAR O OBJECTIVO? parental, comportamentos aversivos, comportamentos
positivos, envolvimento parental).
As ferramentas ou instrumentos a que o psicólogo deve
recorrer de modo a permitir-lhe alcançar o objectivo e
Qualidade da relação com a criança.
elaborar o correspondente relatório são as técnicas de
avaliação e diagnóstico psicológico. Estas ferramen-
tas devem aplicar-se de acordo com os critérios éticos
Dimensão cognitiva da parentalidade: 26
enunciados e deve evitar-se o uso abusivo e desneces-
sário de provas de avaliação.
Crenças sobre a criança e o seu desenvolvimento.
Recomenda-se a aplicação de:
Crenças sobre a educação e a punição física.
Técnicas de entrevista.
Valores.
Testes psicométricos (descritivos, quantitativos e sis-
Atribuições para os comportamentos da criança (lo-
tematizados - escalas, questionários, inventários).
cus de controlo, estabilidade, generalização e dimensão
de intencionalidade).
Testes projectivos ou semi-projectivos.
25. A dimensão comportamental da parentalidade diz respeito ao que os pais «fazem» e envolve o estudo de três áreas de funcionamento distintas: as interacções entre pais
e filhos, as práticas parentais (de afirmação de poder, retirada de afecto positivo e indutivas) e os padrões parentais (relacionados com a sensibilidade parental e a forma
como os pais exercem controlo).
26. A dimensão cognitiva da parentalidade relaciona-se com o que os pais «pensam». Os principais conceitos associados a esta dimensão são as crenças, os valores, as
atribuições e os calendários de desenvolvimento.
PÁG. 28
Emoções que os pais experienciam (natureza, valên- Técnicas de avaliação para recolher informação relati-
cia e intensidade). va aos aspectos supracitados:
Para além destas três dimensões, devem ainda ava- Observações das interacções familiares (em contexto
28
liar-se os pais no que respeita a: domiciliário ou em gabinete).
27. A dimensão emocional da parentalidade remete para o estudo das emoções parentais – o que «sentem» os pais. Que emoções são activadas, qual a sua valência e
intensidade? Importa ainda avaliar os processos de regulação emocional dos pais.
28. A observação das interacções entre pais e filhos é uma técnica de avaliação complementar que deve ser parte integrante do protocolo de avaliação. O psicólogo deve
orientar-se por um sistema de codificação das interacções validado. Importa avaliar áreas como a comunicação verbal e não verbal, a expressão emocional, a sensibilidade
parental, a reciprocidade, a aceitação, a coerção e a responsividade. Nas crianças, importa avaliar as vocalizações ou verbalizações, eventual inibição, tom emocional, capa-
cidade de auto-regulação e submissão aos pais. Nas sessões em fratria devem avaliar-se os vínculos afectivos entre os irmãos, bem como eventuais conflitos de lealdade
e alianças face aos outros elementos do sistema familiar.
PÁG. 29
PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
PROCEDIMENTO IMPARCIALIDADE
A qualidade de um relatório depende da sua capacida- Implica proporcionalidade e não exclusão na escuta, ob-
de em alcançar os objectivos de uma forma equilibrada servação e experimentação dos diversos estímulos re-
para todos os implicados no processo. levantes na interacção da criança com o seu ambiente
parental e social.
Os relatórios devem cumprir as 3 dimensões de qua-
lidade «CIR»:
RIGOR
C
Rigor no desenho e desenvolvimento do processo para
COOPERAÇÃO uma correcta avaliação das competências parentais e
da capacidade parental, necessidades da criança e me-
dida em que os pais as conseguem identificar e satisfa-
zer adequadamente. Rigor na aplicação, cotação e inter-
I
pretação dos instrumentos de avaliação psicológica. Em
IMPARCIALIDADE
caso de um diagnóstico clínico, importa também avaliar
as possíveis alterações da criança e/ou dos pais.
R
tomar boas decisões sobre o exercício das responsabili-
RIGOR
dades parentais e o regime de convívios da criança com
os pais, de modo a que tenham um impacto positivo no
desenvolvimento e bem-estar da criança.
O parecer deve facilitar o bem-estar da criança, minimi- e em que medida pode estar relacionada com a compe-
zando potenciais efeitos adversos. tência de um ou ambos os pais ou, ainda, com o ambien-
te social associado a cada um deles.
Quando o pedido é feito num serviço privado, é impres-
cindível a colaboração e o consentimento informado de
ambas as partes para efectuar um diagnóstico rigoroso,
DESENVOLVIMENTO DO PROCEDIMENTO
assegurando ainda a imparcialidade e a neutralidade do
relatório. Se, por qualquer motivo, não for possível obter Ainda que as entrevistas devam seguir uma sequência
esse consentimento, o mesmo deve ser comunicado às que facilite a obtenção de informação necessária para
partes envolvidas no processo para que avaliem a perti- uma avaliação psicológica idónea do sistema familiar
nência de activar os recursos previstos legalmente para (ver Figura 1.), o psicólogo deve ter presente que esta
a designação de psicólogos/peritos institucionais. ordem pode ser alterada em determinados casos.
11 Informação suficiente
para colocar hipóteses.
12 Elaboração de relatório.
PÁG. 31
24. A compreensão do funcionamento do sistema familiar deve ser feita com base na perspectiva ecológica desenvolvida
por Bronfenbrenner (1979). Em síntese, esta perspectiva afirma que os processos de desenvolvimento psicológico estão
intimamente ligados ao meio ambiente ou ambiente ecológico em que ocorre esse mesmo desenvolvimento, e que este
ambiente está definido por um conjunto complexo de influências que afectam o desenvolvimento, tanto de forma directa
como indirecta. Estas influências situam-se a diferentes níveis que se organizam numa série de estruturas seriadas em
função da sua maior ou menor proximidade à pessoa:
O nível mais imediato é o microssistema e inclui todos os papéis, relações e fenómenos presentes nos cenários em
que a criança se desenvolve diariamente: a família, a turma, o grupo de pares, etc. As relações que aqui se estabelecem
são de natureza bidireccional e estão habitualmente mediadas pela influência de terceiros, por exemplo, as interacções
entre irmãos podem mudar em função da simples presença/ausência de um dos pais, ainda que esse adulto não parti-
cipe nessas interacções.
Os diferentes microssistemas em que a criança se desenvolve não só têm a sua própria dinâmica interna, como tam-
bém evidenciam importantes conexões entre si, conexões essas que podem ser tão decisivas como o que sucede dentro
de um determinado microssistema. Para Bronfenbrenner, este nível de análise é o mesossistema. Encontramos um
bom exemplo nas relações que existem entre a família e a escola, relações essas que influenciam o ajustamento e o
desenvolvimento da criança no ambiente escolar.
O terceiro nível que se propõe neste modelo é o exossistema, permitindo-nos sair do sujeito em desenvolvimento para
incluir as relações, os papéis e a dinâmica de funcionamento de contextos em que a criança não está directamente pre-
sente. As condições profissionais e o tipo de trabalho de um dos pais, por exemplo, podem influenciar a frequência e a
qualidade das interacções estabelecidas com os filhos.
PÁG. 32
05
O RELATÓRIO PSICOLÓGICO
FORENSE/PERICIAL
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O conteúdo do relatório psicológico forense/pericial deve obedecer a uma estrutura bem definida, tal como se exem-
plifica na figura seguinte:
O relatório, sem perder rigor, deve ser redigido numa da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Recomenda-se
linguagem clara evitando, sempre que possível, o recur- ainda a utilização de vinhetas – ver o parecer n.º 41 ela-
30
so a termos técnicos. Quando não for possível evitar a borado pela Comissão de Ética da OPP.
utilização de termos técnicos, estes devem ser explica-
dos numa linguagem compreensível, ainda que precisa. 3) Identificação de quem fez o pedido: qual o tribunal/
O relatório deve ser sucinto, com uma extensão não ex- entidade que solicitou a avaliação (p. ex., Tribunal Ju-
cessiva, embora suficientemente detalhado para conter dicial da Comarca de Lisboa, Juízo de Família e Meno-
a informação necessária. res de Lisboa, Juiz X), o número do ofício e data (p. ex.,
ofício n.º XXXXX, datado de dia/mês/ano), o número do
Deve ter-se sempre presente a quem se dirige o rela- processo (e.g., Processo de Regulação do Exercício das
tório psicológico forense/pericial – juiz, procurador, às Responsabilidades Parentais n.º XXXX/XX.XTXLSB).
partes e aos respectivos advogados.
4) Identificação das pessoas avaliadas: nome completo,
filiação, data de nascimento, idade, naturalidade, nacio-
Estrutura do relatório nalidade, endereço, habilitações literárias e profissão.
1) Tipo de avaliação: se é uma RERP e avaliação do re- 5) Identificação do pedido em concreto: especificar se
gime de convívios da criança com os pais ou outro tipo foi pedida a avaliação da família (p. ex., foi solicitada a
de relatório psicológico (p. ex., relatório de avaliação da avaliação de ambos os progenitores e da criança), ou
personalidade e possível impacto desta no exercício da apenas de algum dos seus elementos (p. ex., foi solicita-
parentalidade). da a avaliação do progenitor A; foi solicitada a avaliação
da criança X).
2) Autor do relatório: se houver a intervenção de mais
do que um profissional, aconselha-se a que cada um Qual é o objecto da avaliação psicológica forense/peri-
elabore um relatório independente (p. ex., quando um cial, conforme consta do despacho judicial/pedido, e que
psicólogo pede uma avaliação complementar a um psi- pode conter não só os quesitos (perguntas) formulados
quiatra para apurar da existência de uma doença men- pelo tribunal/entidade, mas também os requeridos pe-
tal). Neste caso, o psiquiatra elaborará o seu relatório las partes. O objecto deve ser transcrito de forma textu-
que depois será remetido ao psicólogo. Este, na posse al, entre aspas, e deve ser clarificado quando há dúvidas
de todos os elementos, irá pronunciar-se sobre o solici- sobre o que se pretende em concreto ou quando o soli-
tado. Para além do nome do psicólogo, também deve ser citado não é susceptível de ser avaliado. Se o psicólogo
referido o seu número de cédula como membro efectivo entender que deve ampliá-lo, pode remeter esse pedido
ao tribunal para que se pronuncie sobre o mesmo. trevistas, não só relativamente à pessoa avaliada, mas
também em relação à interação mantida como o outro
Um psicólogo não pode, em circunstância alguma, ini- progenitor, quer durante a vigência da relação (sobre-
ciar uma avaliação sem que o objecto de avaliação psi- tudo questões relacionadas com a parentalidade, uma
cológica forense/pericial esteja clarificado, na medida vez que é essencial perceber-se o envolvimento parental
em que é ele que vai definir qual o escopo da avaliação, existente), quer após esta ter cessado (áreas de acordo
os procedimentos e as metodologias. Só após este estar e desacordo em relação aos filhos) (ver guiões de entre-
definido podem iniciar-se as averiguações necessárias à vista - Anexos 1 e 2).
31
elaboração do relatório.
c) Descrição dos resultados das diversas provas de ava-
liação instrumental aplicadas – descrição sistematizada
6) Metodologia utilizada para a avaliação: prova a prova com os principais valores obtidos e inter-
pretação dos mesmos em cada uma delas.
a) Pesquisa documental (com informação de todos os
elementos, quer processuais, quer extra-processuais d) Descrição das interações realizadas com a respectiva
consultados como, por exemplo, relatórios clínicos que análise.
não constem do processo judicial. Se a informação não
constar do processo, o psicólogo deve informar como e e) Descrição da informação colateral obtida de forma
quando a obteve. Os documentos devem estar datados e sistematizada, para que se perceba claramente quem a
fazer referência às folhas do processo, caso se aplique). forneceu e de que forma.
b) Entrevistas clínico-forenses (preferencialmente, com As descrições, diagnósticos e predições que são expres-
as datas em que foram realizadas). sas no relatório devem limitar-se à situação em que os
dados foram obtidos.
c) Observação clínica dos avaliados.
d) Avaliação psicológica instrumental, com informação 8) Conclusões com resposta aos quesitos solicitados.
das provas/testes que foram aplicados e uma breve des- É importante que o psicólogo responda tendo sempre
crição das mesmas, se possível. em conta o melhor interesse da criança envolvida. A dis-
cussão forense dará origem às conclusões, que terão
e) Informação colateral recolhida junto da rede formal de ser fundamentadas nos vários elementos obtidos du-
e informal (p. ex., entrevistas realizadas com familiares, rante o processo de avaliação. Quando não for possível
pessoas significativas ou outros técnicos, contactos es- concluir (avaliação inconclusiva) ou o psicólogo enten-
tabelecidos, visitas domiciliárias. Todas as fontes cola- der que tem algumas reservas quanto à conclusão, deve
terais devem ser documentadas). expressá-lo claramente.
f ) Observação das interações (p. ex., entre a criança e Se a avaliação incidir sobre todo o sistema familiar,
cada um dos progenitores, entre a fratria e entre os pro- como desejável, e dependendo daquilo que foi possível
genitores, caso seja possível). avaliar, o psicólogo poderá fazer recomendações não
só quanto à residência da criança, mas também quanto
Devem explorar-se as preferências da criança a respeito ao regime de convívios que entende ser o mais indicado
das alternativas de convivência com ambos os progeni- para aquela criança e que cumpra os requisitos do seu
tores, sempre tendo em atenção a possibilidade de esta superior interesse. Quando não for possível avaliar todo
estar a ser sujeita a pressões externas ou a processos o sistema familiar, essas conclusões não podem ser re-
de sugestionamento. Assim, a fim de se evitarem con- alizadas e o psicólogo deve deixar isso claro no relatório
flitos de lealdade e ainda que a criança possa pensar de avaliação forense/pericial.
que tem o poder de decidir, o psicólogo deve abster-se
de formular questões directas sobre esta temática. O As conclusões devem ser explícitas, permitindo que
psicólogo deve explicar de que forma avaliou essas pre- quem recebe o relatório perceba o raciocínio do psicólo-
ferências, ainda que estas não devam ser, de forma al- go e localize os elementos em que este se apoiou para
guma, vinculativas do seu parecer. as fundamentar. Por exemplo, porque é que o psicólogo
menciona que a criança beneficiaria de um regime de
contactos alargado ou, ainda, que factores fundamen-
7) Resultados do processo de avaliação realizado. Nes- tam a conclusão de que existem condições para que seja
te ponto podemos ter vários campos, entre eles: estabelecida uma residência alternada.
31. Conforme decorre dos termos do n.º 1 do artigo 480.º do CPC. O objecto de perícia não pode ser fixado livremente pelos peritos, cabendo apenas ao Tribunal fazê-lo,
conforme decorre do n.º 2 do artigo 476.º do CPC.
PÁG. 35
tida, quer através das fontes colaterais, quer dos ele- que o psicólogo perito complete ou fundamente devida-
mentos processuais ou outros a que o psicólogo teve mente a sua perícia, situação que terá de ser realizada
acesso durante a avaliação. Deve ainda ser salientadas por escrito. Poderão ainda ser solicitados esclareci-
34
as possíveis discrepâncias entre a observação do exa- mentos ou apresentadas reclamações (p. ex., em caso
minando e os resultados da avaliação psicológica ins- de contradições, falta de fundamentação, omissões
trumental, bem como eventuais distorções resultantes relevantes, erros). Os esclarecimentos podem ser soli-
das situações de desejabilidade social, dissimulação ou citados por escrito ou através da audição do perito em
simulação de psicopatologia ou de incapacidades ou dé- tribunal.
fices.
No caso do relatório psicológico forense, este não é
O psicólogo deve ainda relacionar os resultados da ava- considerado um meio de prova. Contudo, atendendo a
liação com a questão legal subjacente. A fundamenta- que estamos no âmbito do Direito da Família, ambos
ção é sempre realizada à luz dos conhecimentos técni- os relatórios – pericial e forense - estão sujeitos à livre
co-científicos. apreciação do tribunal.
32. Esta assessoria está referida no artigo 22.º da Lei n.º 141/2015, de 8 de Setembro, com as devidas alterações introduzidas pelas Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio, que
regula o RGPTC.
33. De acordo com o artigo 480.º do CPC.
34. De acordo com o artigo 485.º do CPC; Ver também o parecer elaborado pela Comissão de Ética da OPP, disponível em:
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/parecer_10_avaliaa_aao_psicolaogica_forense.pdf
35. De acordo com o artigo 483.º do CPC.
36. A não apresentação do relatório psicológico pericial nos prazos fixados, ou um desempenho negligente, pode levar a que o juiz destitua o perito e o substitua por outro.
Caso a substituição venha a acontecer, é notificado para comparecer perante a autoridade judiciária competente a fim de expor as razões por que não cumpriu o encargo. Se
for considerada violação grosseira dos deveres, o juiz pode, oficiosamente ou a requerimento, condená-lo ao pagamento de uma multa (n.º 1 e n.º 2 do artigo 469.º do CPC).
37. Tendo em conta que a avaliação é imparcial, os resultados obtidos podem não ir de encontro às expectativas de quem o solicitou, pelo que é da sua responsabilidade a
decisão de utilizar o relatório, ou não, para a finalidade inicialmente pretendida
PÁG. 36
06
ASPECTOS A TER EM CONTA DURANTE O
PROCESSO DE AVALIAÇÃO E ELABORAÇÃO
DO RELATÓRIO
PÁG. 37
38. O artigo 480.º do CPC refere que: “1. Definido o objecto da perícia, procedem os peritos à inspecção e averiguações necessárias à elaboração do relatório pericial. 2. O juiz
assiste à inspecção sempre que o considere necessário. 3. As partes podem assistir à diligência e fazer-se assistir por assessor técnico, nos termos previsto do artigo 50.º, salvo
se a perícia for susceptível de ofender o pudor ou implicar quebra de qualquer sigilo que o tribunal entenda merecer protecção. 4. As partes podem fazer ao perito as observações
que entendam e devem prestar os esclarecimentos que o perito julgue necessários; se o juiz estiver presente, podem também requer o que entendam conveniente em relação ao
objecto da diligência”.
39. A este propósito, Carmo (2011) refere que “o perito está obrigado a transmitir, com verdade, ao tribunal, todos os factos de que tomou conhecimento e que respeitam ao objecto
da perícia, não podendo, quanto a eles, invocar legitimamente o segredo profissional (…) mas deve garantir a confidencialidade no que respeita a outros factos de que, no exercício
de tais funções, tenha tido conhecimento e que não constituam objecto de perícia (…) relativamente aos factos não integráveis no objecto de perícia, o dever de guardar segredo
profissional (…) mantém-se intocado” (pp. 48-49). Também Silva (1998) refere a importância de se seleccionar a informação que deve constar do relatório pericial, tendo em
conta o objecto do pedido, de forma a minimizar a exposição do sujeito e da sua intimidade.
PÁG. 38
BIBLIOGRAFIA
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vembro, 78.ª versão - Lei n.º 85/2019, de 03 de Setem- promovendo a regulamentação urgente das responsabi-
bro) http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articula- lidades parentais em situações de violência doméstica
do.php?nid=775&tabela=leis e procede à quinta alteração à Lei n.º 112/2009, de 16
de Setembro, à vigésima sétima alteração ao Código de
Código Penal (Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, Processo Penal, à primeira alteração ao Regime Geral
52.ª versão – Lei n.º 58/2020, de 31 de Agosto) http:// do Processo Tutelar Cível e à segunda alteração à Lei
www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ni- n.º 75/98, de 19 de Novembro). http://www.pgdlisboa.pt/
d=109&tabela=leis leis/lei_mostra_articulado.php?artigo_id=2680A0008&-
nid=2680&tabela=leis&pagina=1&ficha=1&so_mio-
Código Processo Civil (Lei n.º 41/2013, de 26 de Ju- lo=&nversao=
nho, 11.ª versão – Decreto-Lei n.º 117/2019, de 13 de
Setembro) http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_ar- Resolução da Assembleia da República n.º 4/2013, de
ticulado.php?nid=1959&tabela=leis 21 de Janeiro, que aprova a Convenção do Conselho da
Europa para a prevenção e o combate à violência contra
Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro, actualizada pela Lei as mulheres e a violência doméstica, adotada em Istam-
26/2018, de 05 de Julho (Lei de Protecção de Crianças bul, a 11 de Maio de 2011. http://www.pgdlisboa.pt/leis/
e Jovens em Perigo). http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_ lei_mostra_articulado.php?nid=1878&tabela=leis
mostra_articulado.php?nid=545&tabela=leis
ANEXO 1
GUIÃO DE ENTREVISTA AOS PAIS/CUIDADORES
40
Nota prévia: Este é um guião semi-estruturado que deve ser adequado à natureza da situação concreta. A informa-
ção a recolher depende do objecto da avaliação psicológica e das questões específicas a que se pretende dar resposta.
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
2.
EXAME CLÍNICO E PSICOPATOLÓGICO
Aparência, postura, comportamento e actividade motora, atitude face ao avaliador, humor, perturbações ao nível da
percepção, processos e conteúdo de pensamento, ideação suicida ou homicida, linguagem, orientação no espaço e no
tempo, memória, atenção e concentração, pensamento concreto ou abstracto, conhecimento e inteligência, insight e
capacidade de julgamento/análise crítica.
3. ANTECEDENTES FAMILIARES
Padrões relacionais passados e actuais, crises normativas e não normativas, acontecimentos traumáticos e situações
de stresse, experiência de qualquer forma de maus-tratos, crenças e práticas religiosas, antecedentes médicos, psiqui-
átricos e criminais, consumo de substâncias, (tentativas de) suicídio.
Se sim, indicar: tipo, quantidade, idade de início, idade de paragem, tentativas de desintoxicação, complicações médicas,
repercussões sociais e no exercício da parentalidade.
Se sim, indicar: tipo, quantidade, idade de início, idade de paragem, tentativas de desintoxicação, complicações médicas,
repercussões sociais e no exercício da parentalidade.
40. Adaptado a partir de Agulhas, R. (2017). Perícias em sede de Direito de família e das crianças e jovens no adulto e na criança: Proposta de um protocolo de avaliação. In
F. Vieira, A. Sobral, & C. Saraiva (Coord.). Manual de psiquiatria forense (pp. 253-275). Lisboa: Pactor.
PÁG. 46
7. HISTÓRIA ESCOLAR
Idade de início da escolaridade, rendimento escolar, escolaridade concluída, dificuldades específicas, problemas de dis-
ciplina ou comportamento, aptidões, idade e razão de abandono da escola, relações interpessoais com pares e profes-
sores.
8. HISTÓRIA PROFISSIONAL
Idade de início da actividade profissional, percurso profissional do indivíduo até à data, assiduidade, satisfação, proble-
mas particulares no trabalho, dificuldades com autoridade, demissões, ordenado actual, padrão relacional com colegas
e/ou chefias.
Se houver referência a violência na relação de intimidade, importa avaliar: comportamentos específicos; duração,
frequência e intensidade dos comportamentos; se os comportamentos ocorrem/ocorreram na presença ou ausência da
criança, ou se esta veio a tomar conhecimento posteriormente; reacção da criança; eventual envolvimento da criança na
situação; eventual impacto desta vivência na criança. 41
Orientação futura: o que gostaria de estar a fazer/como se imagina daqui a 5 anos? 10 anos? 25 anos?
12. PARENTALIDADE
Gravidez e parto da criança: planeamento, vivência emocional, acompanhamento médico, saúde materna, consumo de
substâncias; peso e saúde do bebé; alimentação e contacto com os pais.
Período neo-natal e 1.ª infância: marcos de desenvolvimento, problemas precoces, sono, alimentação, comportamento,
autonomia, linguagem, temperamento.
41. Neste caso, avaliar a existência de situações de violência doméstica nas relações prévias.
PÁG. 47
Qualidade do relacionamento precoce e história da vinculação: prestação dos cuidados, expressão de afecto, responsi-
vidade parental; ansiedade de separação por parte da criança e formas de se conseguir acalmar.
História escolar: adaptação e reacção face à escola, desempenho escolar, relação com pares e adultos, necessidades
especiais.
História social: dinâmicas relacionais com os pares; com adolescentes explorar também as questões relativas à sexu-
alidade.
Relação progenitor/criança: que conhecimento tem do filho (percepção da criança e das suas especificidades, forma
como a descreve, qualidades e aspectos a melhorar; expectativas em relação à criança; em que difere ou é parecida com
os irmãos); prestação de cuidados (quais as necessidades da criança, como as satisfaz, projecção das necessidades no
futuro); interacções típicas (tempo passado em conjunto, actividades realizadas); expressão emocional (forma de mostrar
à criança que gosta dela); regras familiares e estratégias face ao seu cumprimento/incumprimento (regras existentes
em relação à criança; como lhe são ensinadas coisas novas e como é corrigida; tipo de problemas que tem sentido com
a criança e o que faz nessas situações; como reage quando a criança se porta mal). Pedir exemplos de situações em que
a criança tenha tido um comportamento positivo e um comportamento negativo (pouco grave e muito grave) - para am-
bos as situações, avaliar crenças e atribuições; o que pensa/sente/faz em relação às diversas situações exemplificadas.
Percepção de si enquanto progenitor: como se sente no papel de pai/mãe; o que considera mais fácil/difícil; o que lhe
gera gratificação, mau estar, raiva/irritação, ou frustração; competências e fragilidades/aspectos a melhorar.
Percepção do outro progenitor enquanto progenitor: caracterização do outro enquanto progenitor, competências e
fragilidades/aspectos a melhorar.
Áreas de acordo e desacordo no casal relativas à educação da criança: como é gerida a situação e como a criança lida
com isso.
ANEXO 2
GUIÃO DE ENTREVISTA À CRIANÇA
42
Nota prévia: Este é um guião semi-estruturado que deve ser adequado à natureza da situação concreta. A informa-
ção a recolher depende do objecto da avaliação psicológica e das questões específicas a que se pretende dar resposta.
QUESTÕES PRÉVIAS
A entrevista deve decorrer num setting adequado à idade da criança, em termos de decoração e materiais lúdicos dis-
43
poníveis.
A entrevista deve iniciar-se com a apresentação do(s) interveniente(s) e das suas funções. Informar sobre os métodos de
registo da entrevista.
Clarificar que a criança tem o direito a ser ouvida e a dizer o que pensa e o que sente.
Explicar as regras da entrevista (não existem respostas certas ou erradas, pode responder que não sabe ou não se lem-
bra, pode dizer que não percebeu algo, pode fazer perguntas).
Explicar os limites da confidencialidade (podendo recorrer-se à metáfora do “bom segredo” e “mau segredo”, deixando
claro que os pais poderão vir a ter acesso à informação dada).
Iniciar a entrevista com a exploração de temas neutros (e.g., escola, amigos, brincadeiras preferidas).
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
42. Adaptado a partir de Agulhas, R. (2017). Perícias em sede de direito de família e das crianças e jovens no adulto e na criança: Proposta de um protocolo de avaliação. In
F. Vieira, A. Sobral, & C. Saraiva (Coord.). Manual de psiquiatria forense (pp. 253-275). Lisboa: Pactor.
43. Ver https://crlisboa.org/2017/imagens/Audicao-Crianca-Guia-Boas-Praticas.pdf
PÁG. 49
5. AUTO-CONCEITO
Como é se vê a si mesma (aspectos que gosta mais e outros que gostaria de alterar, de que forma e porquê), situações
associadas a diferentes emoções (o que a faz sentir… alegria/tristeza/medo/raiva/culpa/vergonha… como reage?... como
reagem as outras pessoas?).
6. DINÂMICAS FAMILIARES
6.1 Dinâmica familiar prévia ao processo de separação/divórcio
Percepção da relação entre os pais: o que faziam em conjunto, rotinas, áreas de acordo e desacordo, estratégias de re-
solução dos conflitos, emoções, explorar eventual consumo de substâncias e eventuais situações de violência na relação
de intimidade.
Relação da criança com os pais: o que faziam juntos, quem assegurava as diversas rotinas e de que forma, emoções
associadas a cada um dos pais, práticas parentais.
Avaliar se existe fantasia de reconciliação ou crenças disfuncionais sobre o processo de separação parental.
Para cada agregado familiar, explorar: rotinas diárias (semana/fim de semana/férias; tarefas ou actividades que faz com
cada um dos elementos da família), momentos agradáveis ou desagradáveis (o que gosta mais e menos e porquê), per-
cepção de cada elemento da família e padrões relacionais (e.g., papel de cada um, regras e métodos de disciplina, per-
cepção da relação e conflitos parentais), aspectos mais positivos e eventuais aspectos a melhorar em cada elemento da
família, emoções associadas a cada elemento da família, natureza dos contactos e da relação com a família de origem.
(castigos) Natureza e frequência dos castigos, contexto, quem os aplica, consequências do seu incumprimento, descri-
ção dos piores castigos.
(bater) Clarificar como é que os pais batem, com o quê (mão, objecto, etc.), em que parte do corpo, frequência (acon-
teceu uma vez ou mais do que uma vez) e contexto. Avaliar a eventual existência de marcas ou feridas, se alguém as
viu ou se contou a alguém (se sim, avaliar a reacção dessa pessoa). Pedir para descrever detalhadamente uma ou mais
situações de que se recorde melhor.
(nomes feios, asneiras ou ameaças) Clarificar (pedir exemplos e contexto), frequência e emoções associadas. Pedir para
descrever detalhadamente uma ou mais situações de que se recorde melhor.
(violência entre os pais) Clarificar (pedir exemplos e contexto), o que acontece quando os pais não estão de acordo, se
já viu/ouviu (ou tomou conhecimento) de gritos, violência verbal e/ou física, emoções associadas. Avaliar se alguma vez
alguém ficou magoado (se sim, quem e como). Pedir para descrever detalhadamente uma ou mais situações de que se
recorde melhor.
PÁG. 50
Identificar pessoas de confiança: se alguma vez pediu ajuda ou contou a alguém, a quem, como e qual a reacção dessa
pessoa.
Avaliar o grau de segredo da situação: se alguma vez os pais lhe pediram segredo e como acha que os pais poderão
reagir se souberem que outras pessoas têm conhecimento da situação.
7. EXPECTATIVAS
Perspectivas face ao futuro, o que gostaria ou receia que aconteça e porquê, três desejos que gostaria que acontecessem
na sua vida.
PÁG. 51
ANEXO 3
INSTRUMENTOS ESTANDARDIZA- Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Forma
DOS (TESTES, QUESTIONÁRIOS E Paralela (CPM-P; Raven, Raven, & Court, 2009).
ESCALAS) E OUTRAS PROVAS Matrizes Progressivas Estandardizadas de Raven
NÃO ESTANDARDIZADAS (SPM; 1938).
Figura Complexa de Rey (FCR; Rey, 1964; Rocha & Co- Inventário de Personalidade NEO-FFI (versão reduzida;
elho, 1998; Bonifácio et al., 2003; Simões et al., 2016). Pedroso-Lima, Magalhães, Salgueira, Gonzalez, Costa,
Costa, & Costa, 2014).
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (CPM;
1947/1958)
44. Ver Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (2016). Princípio Específico n.º 4: Avaliação Psicológica.
PÁG. 52
Teste de Apercepção Infantil - versão animal e humana Escala de Baixo Autocontrolo (EBA; Grasmick, Tittle,
(CAT-A e CAT-H; Bellak, 1949 e 1965; versão portuguesa Bursik, & Arneklev, 1993; Fonseca, 2002).
de Silva, 1980).
Family Apperception Test (FAT; Sotile, Julian, Henry, & Escala de Desejabilidade Social de 20 Itens (EDS-20;
Sotile, 1988). Simões, Almiro, & Sousa, 2014; Almiro et al., 2017).
Inventário de Estado-Traço de Ansiedade para Crian- Escala de Avaliação dos Estilos Educativos Parentais
ças (STAIC; Spielberger et al., 1973; Dias & Gonçalves, - versão filhos 6-12 (EMBU-C; Castro, Toro, Van Der
1999). Ende, & Arrindell, 1993; adaptação portuguesa de Ca-
navarro & Pereira, 2007).
Escala de Ansiedade Manifesta para Crianças – Revis-
ta (CMAS-R; Reynolds & Richmond, 1978; Reynolds & Escala de Avaliação dos Estilos Educativos Parentais
Paget, 1981; Castro Fonseca, 1992; Dias & Gonçalves, - versão filhos 12-16 (EMBU-A; Gerlsma, et al., 1991;
1999). adaptação portuguesa de Lacerda, 2005).
Inventário de Medos para Crianças - Revisto (FSSC-R; Questionário de Estilos e Dimensões Parentais – Ver-
Ollendick, 1983; Gonçalves & Dias, 1999). são Reduzida (PSDQ; Robinson, Mandleco, Olsen, &
Hart, 2001; adaptação portuguesa de Miguel, Valentim,
Inventários de Comportamento de Achenbach - CBCL, & Carugati, 2009).
YSR e TRF (Achenbach, 1991; Achenbach & McConauh-
gy, 1997; Achenbach & Rescorla, 2000, 2001; Achenbach Escala de Investimento Parental na Criança (PIC; Bra-
et al., 2014). dley, Whiteside-Mansell, & Brisby, 1997; adaptação por-
PÁG. 53
ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE INICIAL - Recepção do pedido de avaliação pericial/forense)
(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 55
ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE DE DESENVOLVIMENTO)
› Avaliar o contexto familiar, escolar e so- › Avaliar o estado emocional, cognitivo, social e
cial. psicomotor da criança no momento da avalia-
ção e não se pronunciar sobre o prognóstico.
› Avaliar o desenvolvimento psicológico e o
bem-estar da criança, o grau e a etiolo- › Avaliar a idoneidade apenas de um dos pro-
gia da perturbação (se for caso disso) e a genitores.
influência de cada membro do meio am-
biente sobre eles. › Aceitar como sendo uma informação objectiva
ou colocar em causa a idoneidade de um dos
› Diversificar os instrumentos de observa- progenitores, apenas com base na informação
ção e registo, priorizando a descrição em dada pelo outro ou por terceiros, sem a validar
vez da categorização diagnóstica. por outros meios.
(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 56
ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE FINAL - Elementos específicos do relatório pericial/forense)
› Fazer recomendações com base nas caracte- › Confundir o relatório com excesso de dados irre-
rísticas do sistema familiar e indicar eventu- levantes ou vários dados psicométricos, sem es-
ais acompanhamentos necessários. tabelecer um sistema coerente que os relacione.
(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 57
www.ordemdospsicologos.pt