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Disciplina: História da Filosofia Medieval

Aula 1: História da Filosofia medieval: Conceitos e preconceitos

Introdução
Nesta aula, apresentaremos o período medieval, entre os séculos V ao XV. Buscaremos
desconstruir a noção de que a Idade Média foi um período obscuro, reconhecido por elementos
negativos, especialmente no campo do conhecimento. Descreveremos uma concepção de Idade
Média ampliada, na qual a tradição bizantina e a tradição islâmica são incluídas.

Discutiremos sobre a distinção entre Filosofia e Teologia. Esse ponto é relevante para a História
da Filosofia Medieval, já que foi uma época marcada pela hegemonia da ideologia cristã e pela
expansão do poderio da Igreja católica, com o conhecimento produzido dentro do âmbito
sagrado.

Objetivos
Reconhecer os marcos cronológicos que marcaram o período medieval como organizações
didáticas construídas pelos historiadores;
Identificar as distinções e semelhanças entre Filosofia e Teologia, que aparecem de forma
imbricada durante o período medieval;
Descrever preconceitos em relação ao período medieval, estudando sua rica produção
cultural.
A divisão do tempo
Como todo recorte histórico, a Idade Média é uma abstração, realizada pelos estudiosos
para oferecer uma divisão do tempo em períodos históricos, com características próprias
que facilitariam o estudo e a compreensão pelos estudantes.

Contudo, sabemos que nenhum homem que viveu nos séculos IX ou XII se entendeu
como medieval, pois eles eram contemporâneos de seu tempo.

Então, como surgiu tal recorte que divide a História da


humanidade em Antiga, Medieval, Moderna e
Contemporânea?

Esta última é a mais fácil de explicar, pois comporta o período atual, do qual somos
contemporâneos e, em virtude disso, não poderia receber outro nome, já que o tempo
ainda não operou o distanciamento necessário para que isso ocorra.

Resta explicar a nomenclatura dos outros três períodos e entra aí o significado da


construção de Idade Média. Na realidade, a noção de uma idade do meio começou a ser
forjada durante o Renascimento, quando homens como Petrarca e, pouco depois,
Leonardo Bruni e Vasari buscaram valorizar as descobertas e a produção intelectual e
artística do momento que estavam vivendo.

Para dar ênfase, procuraram se contrapor ao período anterior, que era retratado como
obscuro e intelectualmente pouco interessante. Ao mesmo tempo, os primeiros
humanistas se identificavam com a Antiguidade clássica greco-romana, que era alçada à
época de ouro da humanidade.
 Construção da Idade Média

Ao longo da Era Moderna, começou a ser construída a divisão tripartida da história, em


que os séculos XIV e XV surgiram como um Renascimento da humanidade, que durante
tantos séculos havia ficado adormecida.

Essa perspectiva ganhou força durante o Iluminismo. Para os filósofos do século XVIII, a
Idade Média representava as principais características contra as quais buscavam se
opor:

• Criticavam o predomínio da fé e da concepção religiosa sobre o

conhecimento baseado na razão;

• A razão humana seria a maior potência do homem, com a qual

ele podia refletir sobre as coisas do mundo e se livrar de um

conhecimento baseado apenas na fé e no livro;

• Reprovavam uma concepção de economia controlada pelo


Estado, herança do mercantilismo;

• Condenavam a concepção de sociedade com baixíssima

perspectiva de mobilidade, assentada na posse da terra.


A Idade Média seria o modelo contra o qual buscavam se opor e, em virtude disso,
aparecia como o antiexemplo.


Durante o Iluminismo, a perspectiva negativa sobre o período medieval ganhou força.


A partir do século XVIII, noções como obscurantismo, trevas ou declínio foram
associadas à Idade Média.


Esta associação foi tão eficaz e duradoura que é comum até os dias atuais a Idade Média
ser vista como um momento de decadência da história humana.

Entender que essa perspectiva faz parte de uma construção, que pode ser explicada do
ponto de vista da História é fundamental para desconstruirmos tal visão. A Idade Média,
como todos os demais períodos da História, foi rica em construções intelectuais, sociais,
culturais e políticas.

A formação da Idade Média


Quando falamos sobre Idade Média, estamos nos referindo a um período de quase mil
anos de História, que contém mudanças e contradições próprias das transformações ao
longo do tempo.

Século V

IDADE MÉDIA

De acordo com uma cronologia convencional, a Idade Média se


iniciaria no século V e se estenderia até o século XV. Desse modo,

seu início seria com o processo de desagregação do Império

romano e seu fim com o Renascimento do ocidente e a conquista

de Constantinopla do lado oriental.


Século XV

Essa perspectiva é questionada por certos historiadores que alegam que o período das
migrações é bastante longo e que usar a data da tomada de Roma como marco inicial
apagaria as contradições próprias de um mundo que sequer deu tanta importância à
conquista da cidade eterna, visto que as transformações sociais vinham ocorrendo já há
bastante tempo.

A fundação de Constantinopla 1 no século IV poderia ser entendida como um símbolo


do início do Império Bizantino, que se estende por toda a Idade Média oriental, como
defende o historiador Steven Runciman, de modo que, a Idade Média no oriente teria
iniciado antes do século V.

Se a controversa para o marco inicial gerou alguma polêmica, a data que marcaria o
final da Idade Média é muito discutida. Historiadores que seguem a perspectiva de Longa
Idade Média apresentada por Jacques Le Goff defendem que o período pode se estender
até o século XVIII.

Segundo Alain Guerreau, seria com a dupla fratura do período iluminista que
questionava os pilares do mundo medieval, a ideologia cristã e o senhorio baseado na
concepção de poder ligado à terra, que a Idade Média teria de fato implodido, dando
lugar a uma nova forma de organização social.

Os historiadores ligados a esta perspectiva defendem que o século XIV ou XV não


representou uma ruptura definitiva com a estrutura da sociedade medieva e, por conta
disso, é possível estender até o século XVIII uma estrutura ideológica, social, econômica
e de poder que tem suas bases no mundo feudal. Seja como for, para fins didáticos,
utilizaremos a cronologia convencional, sem perder de vista essa perspectiva mais
ampliada e complexa do recorte cronológico.

Países onde viviam o povo ameríndio

É preciso definir o recorte geográfico da Idade Média, já que, embora seja um período de
tempo, é pouco usual aplicar esse nome às sociedades ameríndias ou aos povos da
África subsaariana, que viveram entre os séculos V e XV.

Regiões do ocidente e do oriente europeu

É comum relacionar o período medieval aos acontecimentos e transformações da Europa


ocidental. Contudo, a Idade Média abrange também o que conhecemos hoje como
Oriente Médio e, assim, inclui o chamado Império Bizantino e o Império Islâmico, a
partir do século VII.
Trajeto de migração dos bárbaros pela Europa

O início da Idade Média foi marcado pelas migrações dos povos vindos do Norte. Durante
muito tempo, foi comum chamar esse fenômeno de Invasões Bárbaras, identificando os
povos como invasores e, especialmente, como bárbaros.

É preciso observar que esses povos conviveram durante longo período na fronteira
romana, o chamado Limes 2, onde ocorriam não apenas trocas comerciais, mas
também culturais entre os povos germânicos e os romanos. Houve um primeiro
momento de contato que não foi marcado pela violência ou invasão, e os que entravam
no Império tinham consentimento das autoridades romanas. Inclusive, foi comum a
entrada de guerreiros germânicos nas legiões do exército romano.


Saiba Mais

O termo bárbaro também sofreu críticas porque partiu da perspectiva romana, da


visão dos cronistas que relatavam a falta de cultura e de civilidade dos povos não
romanos. Bárbaro era aquele que não falava o latim, que balbuciava um idioma
incompreensível.

Essa perspectiva assumia um ponto de vista parcial e fazia julgamento sobre todo um
povo e sua cultura, bem como revelava o desconhecimento das sociedades germânicas,
de suas práticas e organização política e econômica, tomando como referência o povo
romano 3.
Atualmente, a historiografia prefere utilizar migrações germânicas, buscando não
assumir o ponto de vista romano, além de relativizar a perspectiva de que existiram
apenas invasões violentas, introduzindo a contradição e historicidade dos
acontecimentos.

Cristianismo medieval

 Cristianismo na Era Medieval. Fonte: AmazonAWS.com


<http://s3.amazonaws.com/s3.timetoast.com/public/uploads/photos/10334531/cristianismo_medieval.jpg?
1501801267> .

Marcos importantes na transformação do Império romano, deslocando o eixo de


gravidade em direção ao Oriente:

Migrações dos povos do Norte (século III);


Divisão entre Império romano do Ocidente e Império romano do Oriente (século
III);
Conversão de Constantino ao Cristianismo em 312;
Fundação da cidade de Constantinopla - atual Istambul, Turquia;
Édito de Milão em 313, permitindo a liberdade de culto aos cristãos dentro do
Império;
Tranformações na Europa (séculos IV e V).

A religião cristã não se transformou imediatamente na maior força política do império,


mas, lentamente, passou a ser uma religião de Estado, difundida em um esforço político,
militar e administrativo, que durou alguns séculos para alcançar uma posição de
destaque. O Cristianismo se difundiu tanto no lado oriental quanto no lado ocidental do
Império.
Ocidente

Os francos foram grandes patrocinadores do Cristianismo, a partir de uma aliança


com a Igreja romana, iniciada com a conversão de Clóvis, rei da dinastia
Merovíngia. Estabelecer uma aliança com a Igreja foi uma forma de legitimar o
poderio franco na região da Gália, ao passo que para Roma representava uma
espécie de apoio político e militar necessários para sua sobrevivência. No natal de
800, Carlos Magno, da dinastia Carolíngia, que sucedeu os Merovíngios no
controle do povo franco, foi coroado pelo Papa em Roma, fortalecendo os vínculos
da Igreja romana com o poder imperial. Certamente, a difusão do Cristianismo e a
intensa participação da Igreja na vida política e cultural do Ocidente europeu
determinaram a História da Filosofia Medieval, ligando o pensamento e a reflexão
intelectual à doutrina cristã.

Oriente

A História trilhou caminhos distintos. O Império romano com sede em


Constantinopla 4, apesar das dificuldades advindas com a migração dos povos
germânicos no Ocidente e da pressão dos persas, se organizou em torno do
imperador romano, da religião cristã e da cultura helênica. Embora tenha conhecido
uma estrutura menos fragmentada do que aquela que se estabeleceu no Ocidente,
o Império foi arrumado com a aliança entre o imperador e o Cristianismo; a vida
cultural era ligada à doutrina cristã e às disputas cristológicas no interior do
Império.

No século VII, no Oriente, o Islamismo 5 surgiu e se difundiu rapidamente. Com


origem na península arábica, o Império Islâmico, em pouco mais de um século, se
difundiu por boa parte do oriente médio, do norte da África até o sul da península
Ibérica. Nos territórios conquistados pelos povos muçulmanos, a religião islâmica
influenciou significativamente a reflexão filosófica.

O pensamento medieval esteve profundamente ligado ao contexto histórico no qual


as religiões, particularmente o Cristianismo e o islamismo, se difundiram e
organizaram a vida cultural. O poder religioso se consolidou como força política
hegemônica, passando a controlar a produção e a difusão do conhecimento
medieval. Assim, os diversos saberes como os científicos, matemáticos, políticos,
astronômicos, filosóficos, medicinais não ficaram de fora.
Filosofia x Teologia
O tema da distinção (ou não) entre Filosofia e Teologia deve ser abordado quando
buscamos entender a produção filosófica durante a Idade Média. Segundo Étienne
Gilson, o termo Filosofia apresentava para os estudiosos e padres da Igreja a noção de
Filosofia pagã. Essa concepção perdurou ao longo de toda a Idade Média e, mesmo nos
séculos XII e XIII, a distinção entre filósofos e teólogos marcou a diferenciação entre
aqueles que produziram sua reflexão privados da verdadeira luz da revelação e os santos
Padres da Igreja, iluminados pela fé em Cristo.

Essa atitude não significou que a Filosofia antiga, grega e romana foi desconhecida ou
desconsiderada pelos sábios da Idade Média. Os filósofos antigos se tornaram, em
alguns casos, a base de reflexão do mundo medieval.

Desse modo, a influência das doutrinas platônicas da produção do conhecimento durante


a Alta Idade Média, especialmente na obra de Santo Agostinho, foi reconhecida.

As obras do romano Marco Túlio Cícero se tornaram referência para os estudos de


História, política e língua latina.

Aristóteles teve sua obra redescoberta na Baixa Idade Média 6 e se tornou uma
referência para os estudos realizados no contexto da escolástica.


Os pensadores antigos eram vistos como filósofos pagãos e, em virtude disso, suas
ideias e reflexões precisavam ser iluminadas pelo conhecimento verdadeiro. Assim, os
autores cristãos liam os antigos com cuidado, era preciso jogar luz, cristianizar a
Filosofia pagã.


Apesar da influência greco-romana no pensamento medieval, a Filosofia pagã foi vista
com alguma desconfiança. O conhecimento verdadeiro viria dos santos Padres da Igreja,
que produziam conhecimento a partir da verdadeira doutrina.

Segundo Gilson (1995), deve-se distinguir Filosofia e religião, pois “o Cristianismo se


refere ao homem, para aliviá-lo de sua miséria, mostrando-lhe qual a sua causa e
oferecendo-lhe remédio para ela. É uma doutrina da salvação, e é por isso que é uma
religião. A Filosofia é um saber que se dirige à inteligência e lhe diz como são as coisas;
a religião se dirige ao homem e lhe fala de seu destino seja para que se submeta a ele,
como no caso da religião grega, seja para que o faça, como no caso da religião cristã.”
O monopólio do conhecimento

Na Europa ocidental, após o período de desagregação do Império romano, os povos


germânicos se organizaram em reinos, a partir da fusão entre a cultura latina e a cultura
das populações recém-imigradas.

A Igreja buscou selar uma aliança com o reino franco, que havia se estabelecido na
região da Gália, do antigo Império romano 7. O primeiro a se converter foi Clóvis, rei
da dinastia Merovíngia, inaugurando uma tradição de aproximação entre os francos e a
Igreja de Roma.

Havia interesse por parte da Igreja em obter apoio e auxílio militar e político na
Península itálica. As relações com os francos foram fortalecidas com a coroação de
Carlos Magno pelo Papa em Roma.

O apoio franco vinha sendo fundamental para a Igreja, ameaçada pelos Lombardos que
tinham se estabelecido na península desde fins do século VI. Além disso, o Cristianismo
oferecia ao rei franco uma ferramenta de dominação ideológica que permitia construir
uma unidade e uma identidade ao império Carolíngio.

Durante os primeiros séculos da Idade Média, o Cristianismo foi difundido e aumentou


sua área de influência na Europa a partir a ação do Estado franco. Igrejas e mosteiros
foram erguidos pelo Ocidente medieval e, a partir deles, a fé e a doutrina cristã foram
propagadas até as mais remotas vilas e castelos, em um profundo esforço pedagógico
de conversão e produção de conhecimento.

A maioria da população durante o período medieval não sabia ler, nem escrever, e o
acesso aos livros era bastante restrito, especialmente até o século XII. De acordo com
os estudos de Zumthor (1993), o conhecimento popular era transmitido pela oralidade.
As pessoas contavam e escutavam as histórias e, muitas vezes, aprendiam de memória
obras inteiras.
 Sabedoria. Fonte: RicardoCosta.com
<http://www.ricardocosta.com/sites/default/files/imagens/sabedoria/sabedo1.jpg
.

O teatro, os autos religiosos, os sermões e as pregações eram instrumentos por


excelência da transmissão do conhecimento medieval. Observa-se a importância da
memória e sua função social em um mundo que praticamente não tinha acesso à escrita
e aos livros de modo geral.

A cultura erudita, no entanto, se difundia especialmente no ambiente da Igreja. Era ela


quem possuía recursos para produzir e reproduzir um manuscrito, fabricado a partir do
tratamento da pele de certos animais.

Fabricar um livro era muito caro durante esse período


porque, além do suporte material, era preciso ter acesso
às tintas. As iluminuras, que enfeitavam os manuscritos
mais valiosos, continham ouro na composição da tinta
dourada, tornando o livro uma espécie de tesouro
durante o período medieval. Em virtude disso, o acesso
ao livro não fazia parte da vida do homem comum. O
conhecimento erudito foi produzido e reproduzido no
interior das igrejas.

A transmissão do conhecimento ocorreu em língua latina, embora as línguas vulgares,


advindas da influência dos povos germânicos, estivessem cada vez mais difundidas entre
homens e mulheres na Idade Média. O latim se conservou como o idioma erudito, no
qual eram proferidas as missas, além de toda a produção intelectual do período
medieval. O idioma latino se tornou, ao longo dos primeiros séculos da Idade Média,
cada vez mais restrito ao ambiente eclesiástico e a população foi perdendo a capacidade
de compreendê-lo. Ele ganhou o lugar de língua da Igreja, utilizado pelos clérigos e de
língua sagrada, a partir do qual se lia e se transmitia a Bíblia.

A habilidade de ler e, especialmente, de escrever também se tornou domínio da Igreja.


Como a maioria da população não sabia ler ou escrever e, mesmo que soubesse, não
tinha acesso aos livros, os monges assumiam, cada vez mais, a função de copistas e
transmissores do conhecimento.

A escrita passou por uma reforma durante o período Carolíngio com a intenção de
uniformizar e regulamentar os caracteres e as normas gramaticais. Era preciso
desenvolver uma escrita de melhor qualidade e, para isso, os clérigos estabeleceram a
minúscula carolina, uma espécie de letra menor e mais elegante que as utilizadas nos
séculos anteriores, facilitando o trabalho da escrita e da leitura.

Os mosteiros contavam com um Scriptorium 8, onde eram realizadas as cópias


manuscritas, única forma de preservar e difundir uma obra escrita. Os copistas
trabalhavam durante meses em uma mesma obra, fazendo cópias ou traduções que
seriam guardadas nas bibliotecas dos mosteiros e serviriam de instrumentos para a
formação dos monges e clérigos cristãos.

Os estudos tanto de autores pagãos quanto dos teólogos cristãos eram realizados por
religiosos, que detinham praticamente o monopólio sobre a escrita e a transmissão da
doutrina cristã. Segundo Jérôme Baschet, durante a Alta Idade Média essa situação
parece tão difundida que a oposição entre letrados (litterati) e iletrados (illitterati)
recortava a divisão entre clérigos e laicos.

A partir do século XI e, especialmente, XII e XIII a escrita foi difundida e diversificada.


Se ainda é verdade que a maior parte da população não sabia ler nem escrever,
observava-se nos meios aristocráticos maior circulação de livros, particularmente os
9
chamados livros de horas e os romances de cavalaria.

Com um lento desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita apareceram setores de


uma camada média urbana que se dedicou a frequentar as universidades na Idade
Média. Essas instituições surgiram ligadas à Igreja e seus mestres e membros faziam
parte do corpo clerical. Os conhecimentos de Filosofia e Teologia produzidos e difundidos
pelas universidades refletem como a produção do conhecimento permaneceu ligada ao
seio da Igreja ao mesmo tempo que seus conteúdos e saberes, até o período do
Renascimento.

Página de um livro litúrgico escrito em minúscula carolina


Scriptorium Medieval

Livro das Horas


Atividades
1. Indique os marcos cronológicos que definem o período medieval, justificando a
nomenclatura de uma “Idade do meio”, utilizada a partir de determinado período
histórico.

2. (Uepb 2014) Quanto aos povos germânicos que vieram dar origem aos reinos no
ocidente europeu medieval, pode-se afirmar corretamente:

a) No território do antigo Império Romano, um dos reinos que mais se


destacaram no século VII da Era cristã foi o dos Hicsos.
b) A presença dos germânicos no Império Romano foi um processo que ocorreu
gradualmente, iniciado muito antes das “invasões”, à medida que eles penetravam
nos territórios do Império e passavam a ser utilizados em trabalhos agrícolas, bem
como a integrar o exército.
c) O renascimento Carolíngio inibiu o desenvolvimento científico e proibiu a
recuperação de obras clássicas.
d) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente o direito consuetudinário
devido à adoção do Direito Romano.
e) Não há registros históricos que apontem a contratação de bárbaros como
mercenários para lutar no exército romano.
3. (Uepb 2014) (Enem 2014)

“Sou uma pobre e velha mulher,


Muito ignorante, que nem sabe ler.
Mostraram-me na Igreja da minha terra
Um Paraíso com harpas pintado
E o Inferno onde fervem almas danadas,
Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.”

(VILLON. F. In: GOMBRICH, E. História da arte. Lisboa: LTC. 1999).

Os versos do poeta francês François Villon fazem referência às imagens presentes


nos templos católicos medievais. Nesse contexto, as imagens eram usadas com o
objetivo de

a) Refinar o gosto dos cristãos.


b) Incorporar ideais heréticos.
c) Educar os fiéis através do olhar.
d) Divulgar a genialidade dos artistas católicos.
e) Valorizar esteticamente os templos religiosos.
4. (Uepb 2014) Quanto aos povos germânicos que vieram dar origem aos reinos no
ocidente europeu medieval, pode-se afirmar corretamente:

a) No território do antigo Império Romano, um dos reinos que mais se


destacaram no século VII da Era cristã foi o dos Hicsos.
b) A presença dos germânicos no Império Romano foi um processo que ocorreu
gradualmente, iniciado muito antes das “invasões”, à medida que eles penetravam
nos territórios do Império e passavam a ser utilizados em trabalhos agrícolas, bem
como a integrar o exército.
c) O renascimento Carolíngio inibiu o desenvolvimento científico e proibiu a
recuperação de obras clássicas.
d) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente o direito consuetudinário
devido à adoção do Direito Romano.
e) Não há registros históricos que apontem a contratação de bárbaros como
mercenários para lutar no exército romano.

5. Por que é possível afirmar que a Igreja detinha o monopólio do saber na Idade
Média?

Notas
1
Constantinopla

Constantinopla foi fundada pelo imperador romano Constantino, em 330, com o nome de Nova
Roma. Contudo, acabou se tornando conhecida pelo nome de seu fundador, como uma
homenagem ao primeiro imperador a se converter ao cristianismo. A cidade atualmente se
chama Istambul, localizada na Turquia, entre o corno de ouro e o Mar de Mármara.
Estrategicamente localizada no encontro entre a Europa e a Ásia.

2
Limes

O termo assume um duplo significado: como um limite, uma barreira de defesa militar do
interior do Império romano; e significava também um caminho, acesso ao interior dos territórios
conquistados.
3
Povo romano

O cronista romano Amiano Marcelino descreveu a destruição de uma cidade por estrangeiros,
considerados indignos, bárbaros: “Mas, mal a passagem estava aberta e sem nossos homens à
vista, os bárbaros aprisionados, em desordem e sem obstáculos, espalharam devastação sobre
todas as vastas planícies da Trácia, começando com as várias regiões onde flui o Danúbio,
enchendo todo esse território com a maior confusão de roubos, assassinatos, derramamento de
sangue, fogos e uma vergonhosa violação dos corpos de homens livres” (AMIANO MARCELINO,
Hist., XXXI, 8,6).

O Império romano com sede em Constantinopla 4

O Império romano do Oriente irá se constituir como o Império Bizantino, com sede em
Constantinopla. Herdeira das tradições romanas, a História bizantina trilha seu próprio caminho
a partir da desagregação do império romano do Ocidente.

5
Islamismo

Maomé começa a pregar a partir de sua visão do Anjo Gabriel, em um monte nos arredores de
Meca. Para os islâmicos, a religião foi fundada em 622, com a saída dos fiéis de Meca para
Medina. Em 632, o profeta Maomé faleceu sem deixar estabelecido o herdeiro ao trono de um
importante poderio político, que já dominava praticamente toda a península arábica.

6
Baixa Idade Média

Período final da Idade Média, costuma-se fazer o recorte a partir do século XI ou XII até os
séculos XIV ou XV.

Antigo Império Romano 7

Antiga província do império romano que, atualmente, abrange a França e uma parte da
Alemanha do lado oriental e da Espanha, em direção ao Ocidente.

Scriptorium 8

Esses “quartos para escrever” como pode ser traduzida a palavra Scriptorium se localizavam nas
abadias mais poderosas e ricas; nas menores, o trabalho era realizado em alguma parte da
biblioteca ou mesmo nas dependências e habitações dos monges.

9
Livros de horas

Eram livros para devoção particular, continham as datas sagradas de santos e festas do
Cristianismo, as horas da Virgem, da cruz, do Espírito Santo, dos mortos, as orações comuns e
os salmos. Eram utilizados pela nobreza para suas orações e devoções pessoais. Esse tipo de
livro era, em diversos casos, ricamente adornados e iluminados, tornando-os um rico tesouro,
muitas vezes mencionado nos testamentos como herança.

Referências

LE GOFF, Jacques; SCHIMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do ocidente medieval. São


Paulo: Edusc, 2002;

GILSON, Étienne. A Filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1995;

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Próximos Passos

Formação do mundo bizantino;


Cristianismo no oriente - Teorias cristológicas;
Filosofia bizantina medieval.

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Leia os textos:

Marcos cronológicos da História Medieval


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Longa-Idade-Media> ;

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