Memorial Do Convento
Memorial Do Convento
Memorial Do Convento
representa na obra um operário consciente dos objectivos do seu trabalho e
como elemento do povo, adquire características individuais. O seu trabalho é visto com
dignidade e exercido de forma autónoma e voluntária. Nisto opõe-se aos operários que
trabalho forçado no qual não se envolvem. Como argumento para convencer Baltasar a
doença física comparando-o a Deus. Por outro lado, Baltasar representa o sonho ± à
medida que o seu trabalho progride, a sua expectativa e o seu entusiasmo aumentam,
ou seja, Baltasar não pode ser considerado um mero trabalhador que se aliena da sua
força de trabalho. Para concluir, podemos ainda dizer que Baltasar, juntamente com
apresenta a característica mais curiosa das personagens da obra que é a
capacidade de ver os outros por dentro. Aproveitando este dom, Blimunda recolhe as
³vontades´ que permitirão fazer voar a Passarola; utiliza, também, no momento crucial
em que Baltasar vai ser queimado pela Inquisição. É uma personagem cuja sabedoria a
Baltasar confere-lhe um outro nome, um nome simbólico que representa uma identidade
Blimunda perdura no tempo, projectando-se para uma dimensão intemporal, uma vez
que a ³vontade´ de Baltasar voa ao encontro da amada ± ³O amor existe sobre todas as
coisas´.
± personagem histórica, poderoso e rico mas insatisfeito por não possuir
descendência. Este é o motivo que o leva a fazer a promessa que conduz à acção central
c
± a rainha surge no romance desvalorizada no seu papel como mulher,
doentiamente religiosa. Como não se permite uma existência própria como mulher, tudo
aquilo que possa remeter para o universo feminino lhe surge em sonhos e, portanto, de
forma inconsciente.
vez que consta que veio do Brasil para Portugal pelo interesse por questões científicas.
que vivem os homens e que lutam até à exaustão para alcançar um mundo melhor. Esta
Saramago coloca-se ainda a questão ³Onde é que nos leva a razão?´ e conclui, então,
numa visão realista, que esta não é impedimento para a falta de respeito pelo outro, a
partilham as mesmas vontades podem fazer deste mundo um mundo diferente. Podemos
então concluir que o autor faz uma caricatura da sociedade portuguesa da época, utiliza
preocupações e ainda assim consegue manter-se fiel ao espírito que leva à mobilização
das vontades.
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$ % ± complementaridade, união e
amputação da sua parte mais negativa e a aquisição de uma dimensão mais espiritual
marcada pela perseverança, pela força, pela luta e pelo sentido de futuro.
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± é representada pela sua capacidade de clarividência e
positivo mas de acesso difícil, por isso só Blimunda lhes consegue aceder.
) ± número 9: simboliza a insistência e determinação (Blimunda procura o
homem amado durante nove anos); número 7: data e hora da sagração do convento;
sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti; sete vezes que Blimunda passa por
Lisboa; sete igrejas visitadas na Páscoa; sete bispos que baptizaram Maria Francisca;
*
O narrador assume vários pontos de vista, muitas vezes contraditórios. Torna-se assim
uma voz polifónica que se traduz como marca de modernidade do romance. A focalização
discurso anti-épico quando rebaixa heróis que a História glorifica e nos apresenta como
heróis gente anónima em que se incluem personagens com defeitos físicos como Baltasar
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+
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construção;
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Instrumento da transfiguração do real mobilizada por uma carga imaterial que são as
Ao contrário do que nos fazem supor as falsas pistas, não é a história do convento que
se pretende contar mas a história dos sonhos materializados pela vontade dos homens
capacidade de libertação.
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Espaço Físico ± em termos físicos, os espaços privilegiados são Lisboa e Mafra, locais que
poder da Igreja;
que a situação do narrador num tempo que não corresponde ao tempo cronológico, o
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A história de amor;
Decorre entre 1711 e 1739 (28 anos), não é um tempo contínuo uma vez que o discurso
do narrador cria espaços dentro desse período cronológico para o integrar num tempo
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· Frei António de S. José diz a D. João V que só terá um filho da rainha, D. Maria Ana,
que viera de Áustria havia mais de dois anos para conceber infantes para a coroa portuguesa,
se o rei mandar construir um convento em Mafra
· Nasce o segundo filho do casal real, o infante D. Pedro, que morrerá com dois anos
de idade
· D. João V cumpre a sua palavra e, apesar da morte de Frei António de S. José, vai
a Mafra escolher o local onde será construído o convento
· Baltasar e Blimunda vão viver para S. Sebastião da Pedreira, para que o primeiro
possa trabalhar na passarola do padre Bartolomeu Lourenço
· O padre regressa passados três anos e, antes de ir para Coimbra, dirige-se a Mafra
e pede a Baltasar e a Blimunda que voltem a Lisboa, para continuarem a construção da
máquina voadora, na quinta abandonada, em S. Sebastião da Pedreira
· Blimunda adoece. Domenico Scarlatti toca cravo e, ouvindo a sua música, Blimunda
sente-se melhorar até que "a saúde voltou depressa, se realmente faltara "
· A passa rola está concluída e pronta para voar. Mas, certo dia, o padre Bartolomeu
Lourenço anuncia a Baltasar e a Blimunda que têm que fugir, pois o tribunal do Santo Ofício
anda à sua procura. Decidem, então, utilizar a máquina que voa, passando por Mafra até
Monte Junto, aterrando na serra do Barregudo. Entretanto, o padre tenta incendiar a passa
rola, mas Baltasar impede-o de o fazer; o padre Bartolomeu desaparece
· D. João V diz a João Frederico Ludovice que quer ampliar o convento de oitenta
para trezentos frades, ordenando que todos os homens sejam enviados para Mafra,
independentemente da sua vontade, para participarem na construção do convento
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Procissão da Quaresma
Autos-de-fé (Rossio)
· punição dos condenados pelo Santo Ofício - o povo dança em frente das fogueiras
. dois toiros saem do curro e investem contra bonecos de barro colocados na praça;
de um saem coelhos que acabam por ser mortos pelos capinhas, de outro, pombas que
acabam por ser apanhadas pela multidão
- preparação da procissão:
· descrição dos "preparos da festa " feita pelo narrador, que assume o olhar do povo (as
colunas, as figuras, os medalhões, as ruas toldadas, os mastros enfeitados com seda e ouro,
as janelas ornamentadas com cortinas e sanefas de damasco e franjas de ouro), que se
sente maravilhado com a riqueza da decoração (uma reflexão do narrador leva-o a concluir
que não se verificam muitos roubos durante a cerimónia, pois o povo teme os pretos que se
encontram armados à porta das lojas e os quadrilheiros, que procederiam à prisão dos
infractores)
- realização da procissão:
· visão oficial da procissão como forma de purificação das almas, que tentam libertar-
se dos pecados cometidos
· histeria colectiva das pessoas que se batem a si próprias e aos outros como
manifestação da sua condição de pecadores
A violência das touradas ou dos autos-de-fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante,
se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive.
A capital simboliza, assim, o espaço infecto, alimentado pelo ódio (aos judeus e aos
cristãos-novos), pela corrupção eclesiástica, pelo poder repressivo e hipócrita do Santo Ofício
e pelo poder autocrático do rei.
O trabalho no convento
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Domenico Scarlatti
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Sete
Nove
Passarola
Concebida como uma "barca voadora", a passa rola simboliza o elo de ligação entre o
Céu e a Terra. Símbolo dual, a passarola encerra, na sua concepção, o valor de dois símbolos
que, aparentemente, se opõem: a barca e a ave. Todavia, se pensarmos que a barca remete
para a viagem e a ave remete para a liberdade, concluímos que a passa rola, pelo seu
movimento ascensional, representa metaforicamente a alma humana que ascende aos céus,
numa ânsia de realização que a liberta do universo canónico e dogmático dos homens.
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· o acabamento;
Verbo - levantar, equacionar e tentar dar respostas às dúvidas do homem, ao seu desejo
infinito de explicações: revelação da verdade, do conhecimento. É o conhecimento, porque é
o mundo.