Info 700 STJ
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Informativo 700-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
▪ É possível a usucapião mesmo em uma área irregular (área na qual não houve regularização fundiária).
USUFRUTO
▪ Usufrutuário havia arrendado o imóvel objeto do usufruto; usufrutuário morreu; com isso, extingue-se o usufruto;
porém, enquanto o proprietário não reivindicar a posse, os sucessores do usufrutuário poderão pleitear os direitos
contratuais em face do arrendatário.
DIREITO AUTORAL
▪ É obrigatório o fornecimento, a qualquer interessado, das informações relativas à participação individual de cada
artista nas obras musicais coletivas.
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
▪ Os créditos decorrentes de contratos a termo de moeda submetem-se aos efeitos da recuperação judicial, ainda que
seus vencimentos ocorram após o deferimento do pedido de soerguimento.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
▪ A parte e o advogado possuem legitimidade recursal concorrente quanto à fixação dos honorários advocatícios.
PROCESSO COLETIVO
▪ O beneficiário de expurgos inflacionários pode promover o cumprimento individual de sentença coletiva para
cobrança exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ACP diversa, também objeto de execução
individual pelo mesmo beneficiário.
DIREITO PENAL
CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
▪ As revisões de valores previstos na LC 123/2006 não retroagem para descaracterizar o crime de frustração do
caráter competitivo de licitação.
DIREITO TRIBUTÁRIO
RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA
▪ A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação relativamente a indébitos de
suas filiais.
PIS/COFINS
▪ É ilegal o art. 9º da MP 690/2015 (convertida na Lei nº 13.241/2015) que reduziu o período de alíquota zero do
PIS/Pasep e Cofins que havia sido concedido pela Lei 11.196/2005 (Lei do Bem).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
AUXÍLIO-ACIDENTE
▪ O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe deu origem,
conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
É possível a usucapião mesmo em uma área irregular
(área na qual não houve regularização fundiária)
Importante!!!
É cabível a aquisição de imóveis particulares situados no Setor Tradicional de Planaltina/DF,
por usucapião, ainda que pendente o processo de regularização urbanística.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.818.564-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1025) (Info 700).
Desse modo, o juiz extinguiu a ação por ausência de interesse de agir, porque eventual sentença
declaratória de usucapião não poderia ser levada a registro no Cartório de Registro de Imóveis. Ademais,
o magistrado sustentou que seria atribuição exclusiva do Governo do Distrito Federal promover a
regularização fundiária urbana, razão pela qual ficaria inviabilizado o reconhecimento da usucapião.
A questão chegou até o STJ, que analisou e respondeu a seguinte pergunta:
É cabível ação de usucapião que tem por objeto imóvel desprovido de registro e situado em loteamento
no Setor Tradicional de Planaltina, o qual, embora consolidado há décadas, não foi autorizado nem
regularizado pela Administração do Distrito Federal?
SIM.
Pode haver direito de propriedade que ainda não está certificado no registro de imóveis
É preciso distinguir o direito de propriedade da situação registrária de determinado imóvel.
Assim, pode haver propriedade imobiliária que ainda não está certificada no Registro de Imóveis.
O cartório de Registro de Imóveis fornece uma presunção relativa de veracidade (presunção iuris tantum),
ou seja, admite prova em contrário. E, se admite prova em contrário, é porque o registro da propriedade
não se confunde com a propriedade em si.
Exemplo de situação na qual existe propriedade mesmo sem a informação adequada no registro
imobiliário: o caso em que o imóvel comum do casal é registrado apenas no nome de um dos consortes.
O cônjuge não mencionado no registro é proprietário, mesmo não constando seu nome nos
assentamentos.
Nas situações de aquisição originária, como é o caso da usucapião, o registro desempenha papel
meramente coadjuvante.
Considerando que a usucapião propicia o cumprimento da função social da propriedade e que esse
objetivo tem previsão constitucional, não se pode querer criar esse outro requisito (existência de matrícula
própria) como uma condição para o reconhecimento da prescrição aquisitiva (usucapião).
Isso significa que as ações de usucapião relativas aos imóveis situados no Setor Tradicional de Planaltina
não devem ser extintas com fundamento no art. 485, VI, do CPC por ausência de interesse de agir ou falta
de condição de procedibilidade da ação.
É possível a usucapião mesmo em uma área irregular (área na qual não houve regularização fundiária)?
SIM.
Existem três dimensões envolvendo a regularização fundiária:
a) a dimensão urbanística, relacionada aos investimentos necessários para melhoria das condições de vida
da população;
b) a dimensão jurídica, que diz respeito aos instrumentos que possibilitam a aquisição da propriedade nas
áreas privadas e o reconhecimento da posse nas áreas públicas; e
c) a dimensão registrária, com o lançamento nas respectivas matrículas da aquisição destes direitos, a fim
de atribuir eficácia para todos os efeitos da vida civil.
(NALINI, José Renato. Direitos que a Cidade Esqueceu. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 167)
Isso, contudo, não interfere no direito de propriedade. A forma como determinado imóvel se apresenta
no contexto urbano não se confunde com o direito de propriedade.
Se o imóvel é assistido por vias públicas, se conta com sistemas de água e esgoto, se foi edificado com
respeito aos recuos e gabarito previsto nas posturas municipais, nada disso é capaz de criar ou suprimir o
direito de propriedade ou os reflexos desse direito no registro imobiliário.
Da mesma maneira se o imóvel é utilizado de forma irregular, com desrespeito à sua função social e
urbanística, isso tampouco é suficiente para interferir com o direito de propriedade.
Não há, portanto, como negar o direito à usucapião sob o pretexto de que o imóvel está inserido em
loteamento irregular, porque o direito de propriedade declarado pela sentença (dimensão jurídica) não se
confunde com a certificação e publicidade que emerge do registro (dimensão registrária) ou com a
regularidade urbanística da ocupação levada a efeito (dimensão urbanística).
O reconhecimento da usucapião não impede a implementação de políticas públicas de desenvolvimento
urbano. Ao contrário, isso representa, em várias hipóteses, o primeiro passo para restabelecer a
regularidade da urbanização.
Se a utilização do imóvel desrespeita o interesse público, isso continuará a acontecer independentemente
do reconhecimento da prescrição aquisitiva. Eventual construção irregular, supressão de nascente ou risco
à saúde pública continuarão a existir independentemente de o juiz, na sentença, deferir ou indeferir o
pedido de usucapião, sendo certo que tais irregularidades devem ser corrigidas por remédios próprios, a
cargo do Poder Público, pelo poder de polícia que lhe é inerente.
A declaração da usucapião, vale dizer, é incapaz de causar prejuízo à ordem urbanística, sendo certo, da
mesma forma, que o indeferimento do pedido de usucapião não é capaz, por si só, de evitar a utilização
indevida da propriedade.
No caso concreto julgado pelo STF, os autores propuseram ação de usucapião tendo por objeto imóvel de
metragem inferior ao módulo mínimo definido pelo Plano Diretor para lotes urbanos. Isso significa que o
imóvel, segundo se pode concluir, não possuía matrícula individual, nem podia ser registrado no Cartório
de Registro de Imóveis por mero requerimento da parte interessada, configurando, por isso, sob o ponto
de vista da norma municipal, verdadeira ocupação irregular.
A despeito disso, o STF reconheceu a usucapião.
Admitindo-se que aquele não era o único imóvel da região com metragem inferior ao módulo mínimo
legal, parece razoável sustentar que o STF, ao fim e ao cabo, reconheceu a possibilidade de usucapião de
glebas inseridas em loteamentos não regularizados.
Desse modo, admite-se a ação de usucapião de imóveis inseridos em loteamentos irregulares.
Em suma:
É cabível a aquisição de imóveis particulares situados no Setor Tradicional de Planaltina/DF, por
usucapião, ainda que pendente o processo de regularização urbanística.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.818.564-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 1025) (Info 700).
USUFRUTO
Usufrutuário havia arrendado o imóvel objeto do usufruto; usufrutuário morreu; com isso,
extingue-se o usufruto; porém, enquanto o proprietário não reivindicar a posse, os sucessores
do usufrutuário poderão pleitear os direitos contratuais em face do arrendatário
Usufruto
Usufruto é...
- o direito real e temporário
- de usar e fruir (retirar frutos e utilidades)
- coisa alheia (bem móvel ou imóvel),
- de forma gratuita,
- sem alterar-lhe a substância ou destinação econômica.
Exemplo: a mãe tinha uma casa e resolve doar para seu filho. Ao fazer a doação, contudo, a mãe estabelece
seu direito real de usufruto sobre o imóvel enquanto viver (usufruto vitalício). Assim, a mãe terá o direito
real de usar e fruir da casa (no caso, morar) até que venha a falecer.
Veja abaixo os personagens envolvidos no usufruto:
USUFRUTUÁRIO NU-PROPRIETÁRIO
É o titular do direito real de usufruto. É o titular do domínio.
É o detentor do domínio útil do bem, uma vez que Tem apenas a nua propriedade, despida dos
a ele pertencem o uso e o gozo sobre a coisa. direitos de usar e fruir.
O nu-proprietário mantém apenas os direitos de
dispor e reivindicar o bem.
Tem a posse direta do bem. Tem a posse indireta do bem.
Em nosso exemplo, é a mãe. Em nosso exemplo, é o filho.
O que o STJ decidiu sobre o tema? O espólio do usufrutuário possui legitimidade ativa neste caso?
SIM.
É verdade que, havendo a morte do usufrutuário, ocorre a extinção do usufruto (art. 1.410, I, do CC).
O usufruto, por ter caráter personalíssimo, não se transmite aos herdeiros, sendo descabida no
ordenamento jurídico brasileiro a sucessividade desse direito real.
“A regra básica dirigida ao usufruto da pessoa natural é que não pode durar além de sua existência. A
morte do usufrutuário extingue-o, não sendo transferido a seus herdeiros.” (VENOSA, Silvio de Salvo.
Direito civil: reais. 20ª ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 564).
Contudo, diante do efeito constitutivo do registro no cartório imobiliário, o falecimento do usufrutuário
não opera efeitos automaticamente, de forma que, mesmo sendo descabida a sucessão do usufruto, as
implicações deste subsistirão enquanto não cancelado o registro e retomado o pleno domínio do bem
pelo proprietário. Explicando melhor esse ponto:
O usufruto, por se tratar de direito real, somente se adquire com o registro no Cartório de Registro de
Imóveis, nos termos do art. 1.227 do CC:
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a
1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Em suma:
A morte de usufrutuário que arrenda imóvel, durante a vigência do contrato de arrendamento, sem a
reivindicação possessória pelo proprietário, torna precária e injusta a posse exercida pelos seus
sucessores, mas não constitui óbice ao exercício dos direitos provenientes do contrato de arrendamento
pelo espólio perante o terceiro arrendatário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.946-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
DIREITO AUTORAL
É obrigatório o fornecimento, a qualquer interessado, das informações relativas à participação
individual de cada artista nas obras musicais coletivas
Vamos entender com calma, aproveitando para fazer uma revisão sobre o tema.
Direito autoral
Direito autoral é o conjunto de regras previstas na lei como forma de proteger os interesses da pessoa
física ou jurídica que criou uma obra intelectual.
Ex: o art. 5º, XXVII, da CF/88 afirma que o autor da obra intelectual possui o direito de utilizar, publicar ou
reproduzir, com exclusividade, a obra que ele criou. Obviamente, este autor poderá ceder, gratuita ou
onerosamente, este direito para outras pessoas, mas esta é uma decisão sua. Confira o texto constitucional:
Art. 5º (...) XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução
de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
A proteção dos direitos autorais é muito importante porque, se não houvesse esse amparo, dificilmente
os autores se sentiriam motivados a produzir obras intelectuais, gastando seu tempo e seus recursos sem
obter qualquer retorno econômico.
A redação não é das melhores, mas o que diz o texto constitucional é que as representações sindicais ou
associativas possuem o direito de fiscalizar o aproveitamento econômico das obras intelectuais. Esse
direito é também assegurado aos próprios criadores e intérpretes.
ECAD
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) é uma sociedade civil, de natureza privada, instituída
pela Lei federal nº 5.988/73 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais Brasileira (Lei nº 9.610/98).
É uma entidade composta por sete associações de gestão coletiva musical (Abramus, Amar, Assim,
Sbacem, Sicam, Socinpro e UBC) e que tem por função formular a política e a normatização da arrecadação
e distribuição de direitos autorais decorrentes da execução pública de composições musicais ou
literomusicais e de fonogramas, possuindo legitimidade para defender em juízo ou fora dele a observância
dos direitos autorais em nome de seus titulares.
Assim, nos termos do art. 98, § 6º, da Lei nº 9.610/98, introduzido pela Lei nº 12.853/2013, as associações
deverão manter um cadastro centralizado de todos os contratos, declarações ou documentos de qualquer
natureza que comprovem a autoria e a titularidade das obras e dos fonogramas, bem como as
participações individuais em cada obra e em cada fonograma, prevenindo o falseamento de dados e
fraudes e promovendo a desambiguação de títulos similares de obras. Ademais, conforme determina o §
7º do mencionado dispositivo legal, tais informações são de interesse público e o acesso a elas deverá ser
disponibilizado por meio eletrônico a qualquer interessado, de forma gratuita.
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Os créditos decorrentes de contratos a termo de moeda submetem-se aos efeitos da recuperação
judicial, ainda que seus vencimentos ocorram após o deferimento do pedido de soerguimento
A fonte (fato gerador) da obrigação de pagar a quantia que vier a ser liquidada na data do
vencimento do contrato a termo de moeda é o próprio contrato firmado com a instituição
bancária.
A oscilação do parâmetro financeiro (taxa de câmbio) constitui evento previsto e traduz risco
deliberadamente assumido pelas partes, não sendo ela, todavia, a fonte da obrigação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
Recuperação judicial
A recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano
com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
Plano de recuperação
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
Este plano deverá conter:
• discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
• demonstração de sua viabilidade econômica; e
• laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
legalmente habilitado ou empresa especializada.
Essa taxa de mercado, no caso do câmbio, é a PTAX (divulgada pelo Banco Central) do dia útil anterior ao
do vencimento.
Exemplo de NDF
Um importador precisa pagar uma dívida de 500 mil dólares daqui a 60 dias.
O preço atual do dólar está em R$ 5,00, mas o importador teme que o dólar dispare e que daqui a 60 dias
esteja bem mais alto.
Ele, então, celebra um NDF com o banco, “travando” a cotação em R$ 5,00.
Se a cotação da moeda estrangeira estiver em R$ 5,25 no vencimento, o importador terá uma dívida maior,
em Reais em face do vendedor daqueles produtos. Todavia, como firmou contrato a termo de moeda,
receberá essa diferença da instituição financeira, desembolsando ao final, portanto, o mesmo valor que
desembolsaria caso o Dólar estivesse no mesmo patamar da taxa acordada (R$5,00).
Por outro lado, se a cotação estiver mais baixa na data do vencimento, sua dívida em relação ao vendedor,
denominada em Reais, será menor, mas, em contrapartida, deverá pagar a diferença relativa à taxa de
câmbio ao banco contratado.
Conforme se depreende do exemplo, não ocorre desembolso de numerário quando da contratação do
NDF, uma vez que o ajuste e a apuração do resultado (positivo ou negativo) são diferidos para a data de
vencimento ou de liquidação, quando, enfim, deverão ser pagos ou recebidos, pela instituição financeira,
os valores correspondentes à diferença da taxa de câmbio.
Disso se pode concluir que, à época em que tais contratos são celebrados, além da ausência de definição
do valor pelo qual serão liquidadas as obrigações assumidas, também inexiste determinação de quem será
o beneficiado pelo ajuste a ser efetivado, haja vista que o resultado das operações NDF está vinculado
diretamente à taxa de câmbio futura.
Para o administrador judicial, o crédito ainda não existia na data do pedido de recuperação.
A empresa devedora insurgiu-se contra essa conclusão. Para a empresa, o crédito surgiu no momento da
assinatura do contrato (e não na data da liquidação). Como a assinatura foi antes do pedido, o crédito
deverá estar sujeito aos efeitos da recuperação judicial.
A questão chegou até o STJ. O tribunal acolheu a argumentação do administrador judicial? Trata-se de
crédito extraconcursal?
NÃO.
Realmente, por força do art. 49 da Lei nº 11.101/2005, os créditos posteriores ao pedido de recuperação
judicial não se submetem aos seus efeitos. Foi o que decidiu o STJ:
Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é
determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador.
STJ. 2ª Seção. REsp 1842911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1051) (Info 684).
Em suma:
Os créditos decorrentes de contratos a termo de moeda submetem-se aos efeitos da recuperação
judicial ainda que seus vencimentos ocorram após o deferimento do pedido de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
PRINCÍPIOS
A parte tem o direito de se fazer representar na audiência de conciliação
por advogado com poderes para negociar e transigir
Importante!!!
Não cabe a aplicação de multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de conciliação,
por ato atentatório à dignidade da Justiça, quando a parte estiver representada por advogado
com poderes específicos para transigir.
Isso está expressamente previsto no § 10 do art. 334 do CPC/2015:
Art. 334 (...) § 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica,
com poderes para negociar e transigir.
STJ. 4ª Turma. AgInt no RMS 56.422-MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
A empresa pode interpor agravo de instrumento contra essa decisão interlocutória que fixou a multa?
Cabe agravo de instrumento neste caso?
NÃO.
A decisão cominatória da multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de
conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não é agravável, não se inserindo na hipótese prevista
no art. 1.015, inciso II, do CPC, podendo ser, no futuro, objeto de recurso de apelação, na forma do art.
1.009, §1º, do CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020.
Essa decisão poderá ser discutida, no futuro, em recurso de apelação, na forma do art. 1.009, § 1º do CPC:
Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.
§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar
agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de
apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.
Superada a análise do cabimento do recurso, vamos tratar da matéria de fundo. Agiu corretamente o
juiz ao impor a multa neste caso?
NÃO.
Não cabe a aplicação de multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de conciliação, por ato
atentatório à dignidade da Justiça, quando a parte estiver representada por advogado com poderes
específicos para transigir.
STJ. 4ª Turma. RMS 56.422-MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
A parte tem o direito de se fazer representar na audiência de conciliação por advogado com poderes para
negociar e transigir. Isso está expressamente previsto no § 10 do art. 334 do CPC/2015:
Art. 334 (...)
§ 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes
para negociar e transigir.
“(...) Caso a parte não deseje comparecer pessoalmente à audiência, o § 10 do art. 334, do Novo CPC
permite a constituição de um representante, por meio de procuração específica, com poderes para
negociar e transigir. Pode ser seu advogado ou um terceiro, e como na audiência não haverá outra
atividade além da tentativa de solução consensual, não há qualquer impedimento para a outorga de
poderes da parte para terceiro.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil.
Volume único. 9ª ed. – Salvador: Juspodivm, 2017, p. 652)
“Constituído o representante com poder para negociar e transigir, a parte não precisa comparecer
pessoalmente à audiência preliminar”. (DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. 20ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2018, p. 724)
Desse modo, ficando demonstrado que o procurador da ré, munido de procuração com poderes para
transigir, esteve presente na audiência, tem-se como manifestamente ilegal a aplicação da multa por ato
atentatório à dignidade da Justiça.
DOD PLUS
Atenção com a Lei 9.099/95 (Lei do Juizado Especial estadual)
Confira o que a Lei nº 9.099/95 prevê sobre a presença das partes na audiência:
Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de
conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação.
Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, poderá ser dispensada a contestação formal e
ambos serão apreciados na mesma sentença.
Nas palavras da doutrina, o não comparecimento do réu importa revelia, não bastando que ele se faça
representar por advogado, ainda que este tenha poderes para transigir. Nesse sentido:
“Nos Juizados Especiais, além dessa, há outra causa de revelia: o não comparecimento do réu a
qualquer uma das audiências, tanto a de conciliação quanto a de instrução e julgamento. É o que
estabelece o art. 20 da Lei n. 9.099/95: ‘Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação
ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido
inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do juiz’. Há necessidade de comparecimento
pessoal, não bastando que ele se faça representar por advogado, ainda que este tenha poderes para
transigir. O Enunciado n. 20 do Fórum Permanente não deixa dúvidas, ao qualificar de obrigatório o
comparecimento das partes à audiência, podendo a pessoa jurídica fazer-se representar por
preposto. Se o autor não comparecer pessoalmente a qualquer das audiências, o juiz extinguirá o
processo sem resolução de mérito; e se o réu não comparecer, será considerado revel” (GONÇALVES,
Marcus Vinicius Rios de. Direito processual civil. 12ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021).
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
A parte e o advogado possuem legitimidade recursal
concorrente quanto à fixação dos honorários advocatícios
Exemplo hipotético: Pedro ingressou com execução de título extrajudicial contra João e
Regina, que são cônjuges. Regina ingressou com exceção de pré-executividade alegando ser
parte ilegítima e que, portanto, deveria ser excluída do processo. O juiz, por meio de decisão
interlocutória, acolheu a exceção de pré-executividade oferecida por Regina e determinou a
sua exclusão da lide. Ocorre que o magistrado não condenou o exequente Pedro ao pagamento
de honorários advocatícios. Tanto Regina (parte) como o advogado de Regina (terceiro
prejudicado) poderão interpor recurso contra essa decisão postulando a fixação de
honorários advocatícios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.425-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 08/06/2021
(Info 700).
É possível entender que o § 5º do art. 99 do CPC/2015 alterou essa legitimidade recursal concorrente em
matéria de honorários sucumbenciais?
NÃO. Veja o que diz esse dispositivo:
Art. 99. (...)
§ 5º Na hipótese do § 4º, o recurso que verse exclusivamente sobre valor de honorários de
sucumbência fixados em favor do advogado de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o
próprio advogado demonstrar que tem direito à gratuidade.
O § 5º do art. 99 do CPC não trata sobre legitimidade recursal, mas sim do requisito do preparo. Assim,
mesmo interposto recurso pela parte que seja beneficiária de gratuidade judiciária e que se limite a
discutir os honorários de advogado, o preparo deverá ser realizado caso o advogado também não seja
beneficiário da gratuidade.
Assim, a própria parte pode interpor, concorrentemente com o titular da verba honorária, recurso acerca
dos honorários de advogado.
Em suma:
A parte e o advogado possuem legitimidade recursal concorrente quanto à fixação dos honorários
advocatícios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.425-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
DOD PLUS
A sociedade de advogados possui legitimidade para pleitear majoração de honorários sucumbenciais
quando, por ocasião do instrumento de mandato outorgado individualmente, não haja menção a ela?
NÃO possui legitimidade.
A sociedade de advogados não possui legitimidade para pleitear, em nome próprio, a majoração da verba
honorária quando, por ocasião do instrumento de mandato outorgado individualmente aos seus
integrantes, dela não haja menção.
STJ. 4ª Turma. AgRg no Ag 1397911/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/11/2015.
Cumprimento de sentença
A autora/credora ingressou com petição em juízo requerendo o cumprimento de sentença.
O juiz determinou a intimação da Supernow para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias.
É necessária a intimação da devedora mesmo ela já tendo sido revel na fase de conhecimento?
Sim. Mesmo que o devedor tenha sido revel, quando chegar a fase de cumprimento de sentença o juiz
terá que determinar, sim, a sua intimação (STJ. 3ª Turma. REsp 1760914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 02/06/2020).
Como é feita essa intimação?
Via postal, ou seja, por carta, com aviso de recebimento (AR), nos termos do art. 513, § 2º, II, do CPC.
Foi expedida intimação via postal para a Supernow efetuar o pagamento da condenação. Contudo, a
intimação foi encaminhada novamente para o endereço incorreto.
ajuizamento da ação rescisória, mediante simples petição ou por meio de ação declaratória de nulidade
(querela nullitatis). Assim, como a inexistência ou a nulidade do ato citatório é um vício muito grave, o réu
poderá obter a desconstituição do título executivo tanto por meio de ação autônoma quanto
incidentalmente, mediante a apresentação de impugnação.
• o que diz o art. 239, § 1º do CPC: o prazo para a apresentação de contestação se inicia na data do
comparecimento espontâneo do réu. Isso significa que o réu não deve ficar esperando a decisão do juiz,
tendo em vista que seu prazo já começou a correr.
• o que disse o STJ: no caso de acolhimento da impugnação ao cumprimento de sentença fundada no art.
525, § 1º, I, do CPC/2015, o prazo para a apresentação de contestação se inicia somente na data em que
houver a intimação da decisão do juiz que acolheu a impugnação. Esse prazo não se iniciou no momento
em que o executado compareceu espontaneamente. Ele pode esperar a decisão do juiz.
Por que o STJ não aplicou o art. 239, § 1º do CPC neste caso?
Porque o art. 239, § 1º do CPC é voltado para as hipóteses em que o réu toma conhecimento do processo
ainda na sua fase de conhecimento. Não se aplica para o caso em que já se está na fase de cumprimento
de sentença.
Repito: o art. 239, § 1º do CPC não se aplica para a fase de cumprimento de sentença
Tratando-se de sentença condenatória e instaurado o cumprimento de sentença, o executado é intimado
para pagar o débito no prazo de 15 (quinze) dias (art. 523 do CPC/2015). Ao término desse lapso temporal,
inicia-se o prazo para o oferecimento de impugnação ao cumprimento de sentença, independentemente
de nova intimação (art. 525, caput, do CPC/2015; STJ. 3ª Turma. REsp 1761068/RS, DJe 18/12/2020).
Dessa forma, o comparecimento espontâneo do executado na fase de cumprimento de sentença não
supre a inexistência ou a nulidade da citação. Ao comparecer espontaneamente nessa etapa processual,
o executado apenas está se dando por intimado do requerimento feito pelo credor para o cumprimento
de sentença (ele não está suprindo a falta de citação da fase de conhecimento). A partir de sua entrada
espontânea na fase de execução, terá início o prazo para o oferecimento de impugnação, na qual a parte
poderá suscitar o vício de citação.
Veja como ficou a conclusão do acórdão da Min. Nancy Andrighi, de acordo com a hipótese dos autos:
“Na espécie, a ora recorrente apresentou impugnação ao cumprimento de sentença instaurado a
requerimento da recorrida, mediante a qual suscitou nulidade da citação. A alegação foi acolhida
pelo juízo de primeiro grau, que definiu novo prazo para oferecimento de contestação a contar da
intimação dessa decisão.
O Tribunal de origem, todavia, deu provimento ao recurso do recorrido, reconhecendo que o prazo
para contestar iniciou a partir do comparecimento espontâneo do executado, nos termos do art.
239, § 1º, do CPC/2015. Assim, manteve a decretação da revelia.
Diante da orientação definida acima, se o executado, revel na fase de conhecimento, apresentar
impugnação com fundamento no art. 525, § 1º, I, do CPC/2015 e esta for acolhida, o prazo para
apresentar defesa inicia-se a partir da intimação dessa decisão, não se aplicando o dispositivo legal
invocado no acórdão recorrido.”
Desse modo, o STJ reformou o acórdão do Tribunal de origem e restabeleceu a decisão proferida pelo
juízo de primeiro grau.
Não será necessário que o autor/credor faça qualquer ato novo pedindo a citação do réu
Vale ressaltar, por fim, que, acolhida a impugnação feita pelo réu de que houve vício de citação, o prazo
para oferecer contestação já se inicia, como vimos, a partir da intimação dessa decisão. Não é necessário,
portanto, que o exequente promova a citação válida do réu.
Isso com base nos princípios da instrumentalidade das formas e na ideia de duração razoável do processo.
Em suma:
O termo inicial do prazo para oferecer contestação na hipótese de acolhimento da impugnação ao
cumprimento de sentença fundada no art. 525, § 1º, I, do CPC/2015 é a data da intimação que acolhe a
impugnação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.930.225-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
PROCESSO COLETIVO
O beneficiário de expurgos inflacionários pode promover o cumprimento individual de sentença
coletiva para cobrança exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ACP diversa,
também objeto de execução individual pelo mesmo beneficiário
Exemplo: a associação de defesa dos consumidores ajuizou ACP pedindo que a CEF fosse
condenada a pagar expurgos inflacionários decorrentes de planos econômicos. Em 2001, o juiz
julgou o pedido procedente, determinando o pagamento dos expurgos inflacionários em favor
dos consumidores. Vale ressaltar que essa sentença determinou o pagamento apenas do valor
principal, sem falar em juros remuneratórios, tendo em vista que não houve pedido expresso
nesse sentido. Houve o trânsito em julgado. Em 2004, João, um dos consumidores que se
enquadrava nessa situação, ingressou com pedido de cumprimento individual de sentença.
Ocorre que tramitava outra ACP, proposta por outra associação, pedindo o pagamento dos
expurgos inflacionários e também dos juros remuneratórios. Em 2007, outro juiz julgou o pedido
procedente, condenando os bancos a pagarem os expurgos inflacionários acrescidos dos juros
remuneratórios. Em 2008, João, sabendo disso, ingressou com nova execução individual pedindo,
agora, o pagamento exclusivamente dos juros remuneratórios não contemplados na primeira
ACP. Isso é possível, não havendo que se falar em violação à coisa julgada.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.934.637-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
O pedido de João foi acolhido pelo STJ? Ele pode promover esse segundo cumprimento individual de
sentença?
SIM.
O beneficiário de expurgos inflacionários pode promover o cumprimento individual de sentença coletiva
para cobrança exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ação civil pública diversa,
também objeto de execução individual pelo mesmo beneficiário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.934.637-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
(Promotor de Justiça MPE/RO 2013 Cespe) O STJ admite a inclusão de juros remuneratórios e moratórios
capitalizados nos cálculos de liquidação, se tal previsão não constar do título executivo. (incorreta)
(Promotor de Justiça MPE/RR 2012 Cespe) A inclusão de juros remuneratórios e moratórios capitalizados nos cálculos
de liquidação, sem a devida previsão no título executivo, não implica violação da coisa julgada, sendo considerada mero
erro de cálculo. (incorreta)
Há coisa julgada material que impede a nova execução individual da ACP 2, tendo em vista que já houve
a execução individual da ACP 1?
NÃO.
Não houve pedido expresso quanto aos juros remuneratórios na primeira ACP (proposta pelo IBDCI),
estando a execução individual, portanto, submetida tão apenas ao que constou do título.
Somente na sentença oriunda da segunda ACP (ajuizada pelo Pro-Just), os juros foram inseridos,
circunstância que motivou a propositura do cumprimento do novo título judicial que, por sua vez, embora
tenha condenado a Caixa Econômica Federal ao pagamento de expurgos coincidentes da primeira
execução, previu, de maneira inédita, a incidência dos juros remuneratórios.
Nessa linha, levando em conta as diretrizes do processo coletivo referidas, bem como os efeitos da coisa
julgada secundum eventum litis (ou res iudicata secundum eventum litis), nos termos do art. 103, §§ 2º e
3º, e 104 do CDC, não há como concluir que o trânsito em julgado da primeira ação civil pública - cuja
execução individual estava adstrita aos exatos termos do título judicial nesta formado - tenha o condão
de espraiar os efeitos preclusivos da coisa julgada de pedido não deduzido. Veja os dispositivos:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de
nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no
inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus
sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
(...)
§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que
não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a
título individual.
§ 2º Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei nº 7.347,
de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente
sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
(...)
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem
litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes
a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais,
se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do
ajuizamento da ação coletiva.
Dessa feição plural do Direito, própria do processo coletivo, sobressai a ideia de solidariedade, que
impõe a transformação do modelo clássico de legitimação processual ativa, inadequado à
regulação dos conflitos de grupos e coletividades.
A coisa julgada nos processos coletivos, especialmente quando relativos aos direitos individuais
homogêneos, como no caso em análise, deve observar a conhecida regra da res iudicata secundum
eventum litis. É o que se extrai dos arts. 103, §§ 2° e 3°, e 104 do CDC: (...)”
Conclusão
Por tudo quanto apresentado, no regime próprio das demandas coletivas envolvendo direitos individuais
homogêneos, a ausência de pedido expresso em ação civil pública ajuizada por instituição diversa, na
qualidade de substituta processual, não impede a propositura do cumprimento de sentença pelo mesmo
beneficiário individual com base em novo título coletivo formado em ação civil pública diversa,
exclusivamente para o alcance de verbas cuja coisa julgada somente se operou com o novo título
proferido, do qual o autor seja também beneficiário.
DIREITO PENAL
Importante!!!
As sucessivas revisões dos quantitativos máximos de receita bruta para enquadramento como
ME ou EPP, da LC 123/2006, para fazer frente à inflação, não descaracterizam crimes de
inserção de informação falsa em documento público, para fins de participação em
procedimento licitatório, cometidos anteriormente.
Caso concreto: foi aberta licitação que era restrita a MEs e EPPs. A empresa “X” tinha um
faturamento acima daquilo que a LC 123/2006 estabelecia como sendo o teto para ser
considerada EPP. Desse modo, a empresa “X”, segundo a lei vigente na época, não podia ser
considerada EPP. Mesmo assim, os sócios da empresa “X” forneceram declaração dizendo que
ela se enquadrava como EPP, com o objetivo de fazer com que ela pudesse participar da
licitação. Pouco tempo depois, entrou em vigor a LC 139/2011, que aumentou os valores
máximos para fins de caracterização como ME ou EPP previstos no art. 3º da LC 123/2006.
Com essa mudança, a empresa “X” passou a ser considerada como empresa de pequeno porte.
Essa alteração legislativa não tem eficácia retroativa, não servindo para absolver os réus pela
declaração falsa.
STJ. 5ª Turma. AREsp 1.526.095-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
Vale ressaltar um interessante ponto: o certame licitatório foi iniciado em 08/11/2011, data em que a
declaração foi apresentada, e concluído em 14/11/2011. Ocorre que, pouco tempo depois, em
01/01/2012, entrou em vigor a LC 139/2011, que aumentou os valores máximos para fins de
caracterização como ME ou EPP previstos no art. 3º da LC 123/2006. Com essa mudança, a empresa “X”
passou a ser considerada como empresa de pequeno porte.
Entenda bem:
Diante disso, a defesa dos réus alegou que a alteração promovida pela LC 139/2011 teria eficácia retroativa
e serviria para absolver os acusados, já que “X” passou a ser considerada como empresa de pequeno porte.
Apenas a título de curiosidade, veja a evolução legislativa:
Redação anterior à LC 139/11 Redação dada pela LC 139/11 Redação atual (LC 155/16)
I – microempresa: receita bruta I – microempresa: receita bruta I – microempresa: receita bruta
igual ou inferior a R$ 240.000,00 igual ou inferior a R$ 360.000,00 igual ou inferior a R$ 360.000,00
(duzentos e quarenta mil reais); (trezentos e sessenta mil reais); e (trezentos e sessenta mil reais); e
II - empresa de pequeno porte: II - empresa de pequeno porte: II - empresa de pequeno porte:
receita bruta superior a R$ receita bruta superior a R$ receita bruta superior a R$
240.000,00 (duzentos e quarenta 360.000,00 (trezentos e sessenta 360.000,00 (trezentos e sessenta
mil reais) e igual ou inferior a R$ mil reais) e igual ou inferior a R$ mil reais) e igual ou inferior a R$
2.400.000,00 (dois milhões e 3.600.000,00 (três milhões e 4.800.000,00 (quatro milhões e
quatrocentos mil reais). seiscentos mil reais). oitocentos mil reais).
A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com a tese de que os novos valores trazidos pela LC
139/2011 poderiam retroagir para descaracterizar o crime de frustração do caráter competitivo de licitação?
NÃO.
No ano-calendário de 2011, a empresa “X” não se enquadrava como microempresa nem como empresa
de pequeno porte. Logo, a declaração prestada foi falsa.
A circunstância de a empresa “X” ter readquirido seu enquadramento como empresa de pequeno porte
no ano de 2012, em virtude das mudanças introduzidas pela LC 139/2011, em nada afeta ou altera os fatos
ocorridos em 2011. O que importa é que, no momento em que a declaração foi prestada, a empresa não
se enquadrava como ME ou EPP, não podendo desfrutar dos benefícios legais.
As alterações legais posteriores são incapazes de modificar a dinâmica fática já ocorrida, porque a conduta
delitiva imputada aos réus é a falsa declaração de uma situação fático-jurídica então inexistente. Uma
modificação legislativa que dê novo enquadramento ao atual regime da empresa não muda o fato de que,
em 2011, a informação prestada à Administração Pública foi falsa.
As sucessivas revisões dos quantitativos máximos da LC 123/2006, para fazer frente à inflação, não se
aplicam a anos anteriores - ainda que para fins criminais -, sob pena de instituir uma grave distorção
concorrencial e atentar contra os próprios objetivos do Estatuto. Afinal, a obtenção de uma receita bruta
de R$ 3.600.000,00 no ano de 2012 representa, na prática, um poder aquisitivo menor do que o
auferimento, em 2011, do mesmo montante.
Ocorre que a LC 139/2011 não tem natureza penal, tampouco serve para complementar o sentido do art.
90 da Lei nº 8.666/93 (atual art. 337-F do CP), o qual não veicula norma penal em branco.
Como já dito, a intenção do legislador ao alterar os valores para enquadramento como ME ou EPP não foi
a de abolir eventuais fraudes cometidas anteriormente, mas apenas de adequar tais montantes à pressão
inflacionária.
Em suma
As sucessivas revisões dos quantitativos máximos de receita bruta para enquadramento como ME ou
EPP, da LC 123/2006, para fazer frente à inflação, não descaracterizam crimes de inserção de informação
falsa em documento público, para fins de participação em procedimento licitatório, cometidos
anteriormente.
STJ. 5ª Turma. AREsp 1.526.095-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
COMPETÊNCIA
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório
de imóvel vinculado ao Programa Minha Casa Minha Vida
Importante!!!
O art. 161, § 1º, inciso II, do Código Penal, incrimina a conduta de invadir terreno ou edifício
alheio, para o fim de esbulho possessório, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou
mediante concurso de mais de duas pessoas.
A vítima do crime de esbulho possessório, tipificado no art. 161, § 1º, II, do Código Penal é o
possuidor direto, pois é quem exercia o direito de uso e fruição do bem. Na hipótese de imóvel
alienado fiduciariamente, é o devedor fiduciário que ostenta essa condição, pois o credor
fiduciário possui tão-somente a posse indireta.
A Caixa Econômica Federal, enquanto credora fiduciária e, portanto, possuidora indireta, não
é a vítima do referido delito. Contudo, no âmbito cível, a empresa pública federal possui
legitimidade concorrente para propor eventual ação de reintegração de posse, diante do
esbulho ocorrido. A sua legitimação ativa para a ação possessória demonstra a existência de
interesse jurídico na apuração do crime, o que é suficiente para fixar a competência penal
federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88.
Os imóveis que integram o Programa Minha Casa Minha Vida são adquiridos, em parte, com
recursos orçamentários federais. Tal fato evidencia o interesse jurídico da União na apuração
do crime de esbulho possessório em relação a esse bem, ao menos enquanto for ele vinculado
ao mencionado Programa, ou seja, quando ainda em vigência o contrato por meio do qual
houve a compra do bem e no qual houve o subsídio federal, o que é a situação dos autos.
STJ. 3ª Seção. CC 179.467-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/06/2021 (Info 700).
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.
A exordial acusatória foi oferecida perante a Justiça Estadual, entretanto, o Juiz declinou sua competência
para a Justiça Federal, tendo em vista que o imóvel é vinculado ao Programa Minha Casa Minha Vida.
A questão chegou até o STJ. A competência para julgar este crime será da Justiça Federal pelo fato de o
imóvel ser vinculado ao Programa Minha Casa Minha Vida?
SIM.
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao
Programa Minha Casa Minha Vida.
STJ. 3ª Seção. CC 179.467-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/06/2021 (Info 700).
O art. 161, § 1º, II, do CP, incrimina a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas. O
crime de esbulho possessório pressupõe uma ação física de invadir um terreno ou edifício alheio, no
intuito de impedir a utilização do bem pelo seu possuidor.
Portanto, tão-somente aquele que tem a posse direta do imóvel pode ser a vítima, pois é quem exercia o
direito de uso e fruição do bem.
Alienação fiduciária
“O contrato de alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em
confiança, aliena a outra a propriedade de determinado bem, móvel ou imóvel, ficando esta parte (uma
instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada
a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Manual de Direito Empresarial -
Volume Único. 11 ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2021, p. 827).
Veja o que determina o art. 23, parágrafo único, da Lei 9.514/1997:
Art. 23. Constitui-se a propriedade fiduciária de coisa imóvel mediante registro, no competente
Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve de título.
Parágrafo único. Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse,
tornando-se o fiduciante possuidor direto e o fiduciário possuidor indireto da coisa imóvel.
Portanto, no caso hipotético, João é o possuidor direto e a Caixa Econômica Federal é a possuidora indireta
do imóvel.
Quem é o sujeito passivo no caso de crime de esbulho possessório de imóvel alienado fiduciariamente?
É o devedor fiduciário, pois somente ele pode ser vítima do crime de esbulho possessório enquanto
permanecer na posse direta do bem. Apenas se, por alguma razão, passar o credor fiduciário a ter a posse
direta do bem é que será ele a vítima.
Entretanto, o fato de o credor fiduciário não ser a vítima do crime, não retira o seu interesse jurídico no
afastamento do esbulho ocorrido.
Há, ainda, outro aspecto que evidencia a existência de interesse jurídico, agora da União, e que também
instaura a competência da Justiça Federal.
O imóvel objeto do esbulho foi adquirido pela vítima, no âmbito do Programa governamental Minha Casa
Minha Vida, criado pela Lei 11.977/2009. Nele, nos termos do arts. 2º, I, e 6º da referida Lei, os imóveis
são subsidiados pela União, a qual efetiva parte do pagamento do bem, com recursos orçamentários, no
momento da assinatura do contrato com o agente financeiro:
Art. 2º Para a implementação do PMCMV, a União, observada a disponibilidade orçamentária e
financeira:
I - concederá subvenção econômica ao beneficiário pessoa física no ato da contratação de
financiamento habitacional;
Art. 6º A subvenção econômica de que trata o inciso I do art. 2º será concedida no ato da
contratação da operação de financiamento, com o objetivo de:
I - facilitar a aquisição, produção e requalificação do imóvel residencial; ou
II – complementar o valor necessário a assegurar o equilíbrio econômico-financeiro das operações
de financiamento realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH,
compreendendo as despesas de contratação, de administração e cobrança e de custos de
alocação, remuneração e perda de capital.
DIREITO TRIBUTÁRIO
RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA
A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição
ou compensação relativamente a indébitos de suas filiais
Importante!!!
As filiais são estabelecimentos secundários da mesma pessoa jurídica, desprovidas de
personalidade jurídica e patrimônio próprio, apesar de poderem possuir domicílios em
lugares diferentes (art. 75, § 1º, do CC) e inscrições distintas no CNPJ.
O fato de as filiais possuírem CNPJ próprio confere a elas somente autonomia administrativa
e operacional para fins fiscalizatórios, não abarcando a autonomia jurídica, já que existe a
relação de dependência entre o CNPJ das filiais e o da matriz.
Os valores a receber provenientes de pagamentos indevidos a título de tributos pertencem à
sociedade como um todo, de modo que a matriz pode discutir relação jurídico-tributária,
pleitear restituição ou compensação relativamente a indébitos de suas filiais.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.273.046-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
Obs: existem alguns julgados mais antigos da 2ª Turma do STJ em sentido contrário. Nesse sentido:
“a matriz não tem legitimidade para representar processualmente as filiais nos casos em que o fato
gerador do tributo se dá de maneira individualizada em cada estabelecimento comercial/industrial”
(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 832.062/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 2/12/2008).
A pessoa jurídica matriz impetrou mandado de segurança contra ato do Superintendente da Receita
Federal pedindo para que fosse declarado que ela e a filial não são obrigadas a pagar determinado tributo
que, durante anos, tem sido cobrado das indústrias de produtos alimentícios.
O magistrado concordou com a tese de mérito, ou seja, disse que realmente a indústria alimentícia não
precisa pagar esse tributo. Contudo, o juiz afirmou que a matriz e a filial deveriam, individualmente, buscar
o Poder Judiciário.
Para o magistrado, a matriz não tem legitimidade para demandar em juízo em nome de suas filiais, nos
casos em que o fato gerador do tributo se dá de maneira individualizada em cada estabelecimento
comercial/industrial.
A questão chegou até o STJ. A matriz tem legitimidade para defender os interesses da filial, neste caso?
SIM.
A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação relativamente a
indébitos de suas filiais.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.273.046-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
A sucursal, a filial e a agência não têm um registro próprio, autônomo. Isso porque a pessoa jurídica como
um todo é que possui personalidade, sendo ela sujeito de direitos e obrigações, assumindo com todo o
seu patrimônio a correspondente responsabilidade.
As filiais são estabelecimentos secundários da mesma pessoa jurídica, desprovidas de personalidade
jurídica e patrimônio próprio, apesar de poderem possuir domicílios em lugares diferentes (art. 75, § 1º,
do CC) e inscrições distintas no CNPJ:
Art. 75 (...)
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.
O fato de as filiais possuírem CNPJ próprio confere a elas somente autonomia administrativa e operacional
para fins fiscalizatórios, não abarcando a autonomia jurídica, já que existe a relação de dependência entre
o CNPJ das filiais e o da matriz.
Os valores a receber provenientes de pagamentos indevidos a título de tributos pertencem à sociedade
como um todo, de modo que a matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou
compensação relativamente a indébitos de suas filiais.
A filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, que faz parte do acervo patrimonial de uma única
pessoa jurídica, não ostenta personalidade jurídica própria, e não é pessoa distinta da sociedade
empresária.
Dessa forma, o patrimônio da empresa matriz responde pelos débitos da filial e vice-versa, sendo possível
a penhora dos bens de uma por outra no sistema BacenJud.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.490.814/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/06/2015.
(PGM Salvador 2015 CESPE) A filial de sociedade empresária também é sujeito de direitos. (errado)
(Defensor DPE/RN 2015 CESPE) A filial é uma espécie de estabelecimento empresarial que possui personalidade
jurídica própria, distinta da sociedade empresária. (errado)
PIS/COFINS
É ilegal o art. 9º da MP 690/2015 (convertida na Lei nº 13.241/2015) que reduziu o período de
alíquota zero do PIS/Pasep e Cofins que havia sido concedido pela Lei 11.196/2005 (Lei do Bem)
Desse modo, o art. 9º da MP 690/2015 (convertida na Lei nº 13.241/2015) antecipou o último dia da
redução a 0 (zero), das alíquotas da Contribuição ao PIS e da Cofins incidentes sobre a receita bruta das
alienações dos produtos especificados na Lei nº 11.196/2005 (Lei do Bem).
A justificativa mencionada para o término precoce da exoneração apontada, segundo a Exposição de
Motivos, foi tão somente aumentar a arrecadação tributária.
Desse modo, a isenção condicionada e por prazo certo não pode ser extinta pela pessoa política tributante,
antes do termo final assinalado, sob pena de ofensa ao direito adquirido, uma das expressões do princípio
da segurança jurídica.
O caso concreto não trata sobre isenção, mas sim sobre alíquota 0 (zero). Apesar disso, o STJ afirmou que
é possível aplicar a regra do art. 178 do CTN para a hipótese de fixação, por prazo certo e em função de
determinadas condições, de alíquota 0 (zero).
Revela-se desarrazoado afastar-se a aplicação de tal dispositivo legal na hipótese da alíquota zero, pois os
contribuintes, tanto no caso de isenção, quanto no de alíquota zero, encontram-se em posição equivalente
no que tange ao resultado prático do alívio fiscal.
(...) Apesar de possuírem naturezas jurídicas díspares, não há diferenciação nas situações em que os
produtos estão sujeitos a saídas isentas, não tributadas ou reduzidas à alíquota zero, pois a consequência
jurídica é a mesma dentro da cadeia produtiva, em razão da desoneração tributária do produto final. (...)
STJ. 2ª Turma. AgR no AgR no RE 379.843/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 07/03/2017.
O varejista tinha que cumprir determinadas condições para ter direito à alíquota zero
Para usufruir da desoneração, o varejista estava sujeito às seguintes condições:
a) limitação do preço de venda; e
b) restrição de fornecedores, traduzindo inegável restrição à liberdade empresarial, especialmente, no
ambiente da economia de livre mercado.
Esse cenário revela a contrapartida que o contribuinte tinha que cumprir para ter direito ao benefício.
Essas condições tinham o objetivo de fazer com que os empresários contribuíssem para a ação
governamental voltada à democratização do acesso aos meios digitais.
Desse modo, as condições para a fruição da mencionada exoneração tributária possuíam nítido caráter
oneroso.
A antecipação do fim da incidência da alíquota zero da Contribuição ao PIS e da Cofins ofende o art. 178
do CTN, o qual dá concretude ao princípio da segurança jurídica no âmbito das isenções condicionadas e
por prazo certo.
Aplica-se aqui o mesmo raciocínio que inspirou a Súmula 544 do STF:
Súmula 544-STF: Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente
suprimidas.
Em suma:
É ilegal a antecipação do vencimento do benefício fiscal pelo art. 9º da Medida Provisória nº 690/2015,
convertida na Lei nº 13.241/2015, sendo imperioso o restabelecimento da desoneração fiscal objetiva
dada ao PIS e à Cofins pelos artigos 28 a 30 da Lei do Bem até o dia 31 de dezembro de 2018, nos termos
do artigo 5º da Lei n. 13.097/2015, incidentes sobre a receita bruta a varejo de produtos relacionados
ao Programa de Inclusão Digital.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.725.452-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Regina Helena
Costa, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
AUXÍLIO-ACIDENTE
O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do
auxílio-doença que lhe deu origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei nº 8.213/91
O que é o auxílio-acidente?
Auxílio-acidente é...
- um benefício previdenciário pago ao segurado que
- sofreu um acidente de qualquer natureza (não precisa ser acidente do trabalho),
- ficou com sequelas e,
- por conta disso,
- continua laborando,
- mas com a capacidade de trabalho reduzida para a atividade que habitualmente exercia.
O auxílio-acidente é um valor a mais, pago pela Previdência Social, como forma de indenizar o segurado
pelas sequelas que ele passou a apresentar em decorrência do acidente sofrido. A pessoa em gozo de
auxílio-acidente continua recebendo, portanto, o seu salário.
Assim, ao contrário da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença*, o auxílio-acidente não substitui
a remuneração do segurado, sendo, ao contrário, um plus, um valor extra.
* Obs: a EC 103/2019 (Reforma da Previdência) alterou a redação do inciso I do art. 201 da CF/88
substituindo o termo “doença” por “incapacidade temporária”. Assim, alguns autores têm sustentado que
o nome do benefício deixou de ser “auxílio-doença” e passou para “auxílio por incapacidade temporária”.
Na prática, contudo, continua se verificando a utilização da nomenclatura antiga.
Requisitos
A partir da definição acima e da previsão legal do benefício, podemos concluir que são exigidos três
requisitos para a concessão do auxílio-acidente:
a) o indivíduo possui a qualidade de segurado da previdência social;
b) o segurado sofreu um acidente de qualquer natureza (não precisa ser acidente do trabalho);
c) houve uma redução da capacidade laboral para o trabalho habitual.
Sem carência
Vale ressaltar que o auxílio-acidente não está sujeito ao cumprimento de carência (art. 26, I, da Lei nº
8.213/91).
A AGU comunga do mesmo entendimento do STJ e possui um enunciado explicitando essa posição:
Súmula 44-AGU: Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão
incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores às alterações inseridas no art. 86 § 2º,
da Lei 8.213/91, pela Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97.
Auxílio-acidente x auxílio-doença
AUXÍLIO-ACIDENTE AUXÍLIO-DOENÇA
(art. 86 da Lei nº 8.213/91) (arts. 60 e 63 da Lei nº 8.213/91)
Pago ao segurado que sofre acidente e fica com Pago ao segurado que apresenta incapacidade
sequelas que reduzem a sua capacidade de temporária para atividade laborativa decorrente
trabalho. de acidente ou doença.
Cumulatividade: por ter caráter indenizatório, Em regra, é vedada a cumulatividade (art. 124 da
pode ser cumulado com outros benefícios pagos Lei nº 8.213/91).
pela Previdência Social, exceto aposentadoria
(depois da MP 1.596-14/97). Vide Súmula 507-STJ.
Nesse sentido:
O termo inicial do auxílio-acidente corresponde ao dia seguinte à cessação do auxílio-doença ou do prévio
requerimento administrativo; subsidiariamente, quando ausente as condições anteriores, o marco inicial
para pagamento de auxílio-acidente será a data da citação.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 811.334/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 09/08/2016.
O laudo pericial não é considerado, como regra, parâmetro para fixar o termo inicial de benefício
previdenciário
Prevalece no STJ a compreensão de que o laudo pericial, embora constitua importante elemento de
convencimento do julgador, não é, como regra, parâmetro para fixar o termo inicial de benefício
previdenciário:
O laudo pericial não pode ser utilizado como parâmetro para fixar o termo inicial de aquisição de direitos.
O laudo pericial serve tão somente para nortear o convencimento do juízo quanto à existência do
pressuposto da incapacidade para a concessão de benefício.
STJ. 2ª Turma. REsp 1831866/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/10/2019.
O laudo pericial apenas norteia o livre convencimento do Juiz e serve tão somente para constatar alguma
incapacidade ou mal surgidos anteriormente à propositura da ação, portanto, não serve como parâmetro
para fixar termo inicial de aquisição de direitos.
STJ. 1ª Turma. REsp 1559324/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/12/2018.
Em suma:
O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe
deu origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.729.555-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 09/06/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 862) (Info 700).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É cabível a aquisição de imóveis particulares situados no Setor Tradicional de Planaltina/DF, por
usucapião, ainda que pendente o processo de regularização urbanística. ( )
2) A morte de usufrutuário que arrenda imóvel, durante a vigência do contrato de arrendamento, sem a
reivindicação possessória pelo proprietário, torna precária e injusta a posse exercida pelos seus
sucessores, mas não constitui óbice ao exercício dos direitos provenientes do contrato de arrendamento
pelo espólio perante o terceiro arrendatário. ( )
3) É obrigatório o fornecimento, a qualquer interessado, das informações relativas à participação individual
de cada artista nas obras musicais coletivas. ( )
4) Os créditos decorrentes de contratos a termo de moeda não se submetem aos efeitos da recuperação
judicial caso seus vencimentos ocorram após o deferimento do pedido de soerguimento. ( )
5) Cabe a aplicação de multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de conciliação, por ato
atentatório à dignidade da Justiça, quando a parte não tiver enviado preposto, ainda que esteja
representada por advogado com poderes específicos para transigir. ( )
6) É o advogado – e não a parte – quem tem legitimidade recursal para questionar a fixação dos honorários
advocatícios. ( )
7) O termo inicial do prazo para oferecer contestação na hipótese de acolhimento da impugnação ao
cumprimento de sentença fundada no art. 525, § 1º, I, do CPC/2015 é a data da intimação que acolhe a
impugnação. ( )
8) O beneficiário de expurgos inflacionários pode promover o cumprimento individual de sentença coletiva
para cobrança exclusiva de juros remuneratórios não contemplados em ação civil pública diversa,
também objeto de execução individual pelo mesmo beneficiário. ( )
9) (Promotor de Justiça MPE/RO 2013 Cespe) O STJ admite a inclusão de juros remuneratórios e moratórios
capitalizados nos cálculos de liquidação, se tal previsão não constar do título executivo. ( )
10) (Promotor de Justiça MPE/RR 2012 Cespe) A inclusão de juros remuneratórios e moratórios capitalizados
nos cálculos de liquidação, sem a devida previsão no título executivo, não implica violação da coisa
julgada, sendo considerada mero erro de cálculo. ( )
11) As sucessivas revisões dos quantitativos máximos de receita bruta para enquadramento como ME ou
EPP, da LC 123/2006, para fazer frente à inflação, não descaracterizam crimes de inserção de informação
falsa em documento público, para fins de participação em procedimento licitatório, cometidos
anteriormente. ( )
12) Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao
Programa Minha Casa Minha Vida. ( )
13) A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação relativamente a
indébitos de suas filiais. ( )
14) (Juiz TJ/SP VUNESP 2018) A filial de uma sociedade anônima tem a natureza de uma
A) pessoa jurídica autônoma.
B) universalidade de fato.
C) subsidiária integral.
D) sociedade coligada.
15) (PGM Salvador 2015 CESPE) A filial de sociedade empresária também é sujeito de direitos. ( )
16) (Defensor DPE/RN 2015 CESPE) A filial é uma espécie de estabelecimento empresarial que possui
personalidade jurídica própria, distinta da sociedade empresária. ( )
17) É ilegal a antecipação do vencimento do benefício fiscal pelo art. 9º da Medida Provisória nº 690/2015,
convertida na Lei nº 13.241/2015, sendo imperioso o restabelecimento da desoneração fiscal objetiva
dada ao PIS e à Cofins pelos artigos 28 a 30 da Lei do Bem até o dia 31 de dezembro de 2018, nos termos
do artigo 5º da Lei nº 13.097/2015, incidentes sobre a receita bruta a varejo de produtos relacionados
ao Programa de Inclusão Digital. ( )
18) O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe
deu origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei n. 8.213/1991. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. C 9. E 10. E
11. C 12. E 13. C 14. Letra B 15. E 16. E 17. C 18. C