Paulo Fernando Chiveia Muxanga
Paulo Fernando Chiveia Muxanga
Paulo Fernando Chiveia Muxanga
Inclui referências
.
1. Sociologia Política. 2. Democracia. 3.
Descentralização. 4. Participação. 5. Conselhos Consultivos.
I. Seibel, Erni José. II. Universidade Federal de Santa
Catarina. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
III. Título.
Aos meus pais
Fernando Muxanga e Beatriz João Chiveia (In Memoriam):
Por terem feito tudo para que a escola fizesse parte de mim,
contribuindo de forma inestimável para que eu esteja concretizando este
importante momento, a vossa ausência é uma presença permanente na
minha vida.
Ao meu irmão
Raul Muxanga (In Memoriam):
Por tudo que não pudemos partilhar em vida, esta conquista é também
sua.
À minha esposa
Assunção Quinhentos:
Por ter consentido o meu afastamento por tão longo período, pelos
sacrifícios e determinação durante essa ausência que ia se tornando
eterna, pelo companheirismo, amizade, cumplicidade, parceria e pela
paciência e crença que um dia o seu esposo retornaria para os seus
dóceis braços.
LISTA DE QUADROS
1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 19
1.1 PROBLEMÁTICA ..................................................................... 20
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA...................................................... 25
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA TEÓRICA DA PESQUISA
.......................................................................................................... 25
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................ 26
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .......................................... 29
CAPÍTULO 1 – MOÇAMBIQUE: DAS SOCIEDADES PRÉ-
COLONIAIS AO ESTADO LIBERAL ............................................ 32
1.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO: LOCALIZAÇÃO,
POPULAÇÃO, ECONOMIA ........................................................... 32
1.1.1 Província de Nampula..................................................................34
1.2 SOCIEDADES PRÉ-COLONIAIS ............................................ 34
1.3 MOVIMENTOS ASSOCIATIVOS, NACIONALISMO E
EMERGÊNCIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA .............................. 40
1.4 A PRIMEIRA REPÚBLICA E A OPÇÃO SOCIALISTA ........ 47
1.5 DO SOCIALISMO AO LIBERALISMO POLÍTICO E
ECONÔMICO .................................................................................. 58
1.6 CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA E PROCESSO DE
DESCENTRALIZAÇÃO ................................................................. 63
CAPÍTULO 2 – DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E
GOVERNANÇA ................................................................................. 77
2.1 TEORIAS DEMOCRÁTICO-PARTICIPATIVAS.................... 77
2.2 RISCOS DA GOVERNANÇA PARTICIPATIVA .................... 89
CAPÍTULO 3 – PADRÕES ASSOCIATIVOS E DE
ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA EM MOÇAMBIQUE......... 94
3.1 PADRÃO ASSOCIATIVO E GOVERNO................................. 94
3.2 PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA E
AUTORIDADES TRADICIONAIS................................................. 96
3.3 ASSOCIATIVISMO CIVIL NO PÓS-INDEPENDÊNCIA..... 103
CAPÍTULO 4 – DESCENTRALIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO EM
MOÇAMBIQUE. .............................................................................. 109
4.1 ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA ......................................... 109
4.2 CONSELHOS CONSULTIVOS NO CONTEXTO DA
DESCENTRALIZAÇÃO ............................................................... 113
4.3 OS LIMITES DOS CCs: CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DA
LITERATURA ............................................................................... 117
CAPÍTULO 5 – CONSELHOS CONSULTIVOS: ANÁLISE
EMPÍRICA ........................................................................................ 122
5.1 DESENHO INSTITUCIONAL ................................................ 122
5.2 DISTRITO DE ANGOCHE...................................................... 128
5.2.1 Localização geográfica e limites................................................128
5.2.2 Subdivisão político-administrativa.............................................129
5.2.3 Características socioculturais da população.............................129
5.2.4 Características sociais e demográficas e econômicas...............130
5.2.5. Resultados e discussão..............................................................130
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 148
REFERÊNCIAS ................................................................................ 153
Legislação............................................................................................166
APÊNDICES...................................................................................... 168
APÊNDICE A – ROTEIROS DE ENTREVITAS .......................... 168
ANEXOS ............................................................................................ 171
ANEXO I – MAPA DE MOÇAMBIQUE-DISTRITO DE
ANGOCHE ..................................................................................... 171
ANEXO II – MAPA DE ÁFRICA.................................................. 171
ANEXO III – MAPA DO IMPÉRIO DE MWENEMUTAPA ....... 172
19
1. INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
1
Publicada pelo BR, I Série, Suplemento, n°47, de 22/11/1996.
2
Constituição da República de Moçambique.
22
3
Órgão de consulta das autoridades da administração local, na busca de
soluções para questões fundamentais que afetam a vida das populações, o seu
bem-estar e desenvolvimento sustentável, integrado e harmonioso das condições
de vida da comunidade local, no qual participam também as autoridades
comunitárias (artigo 111, DECRETO 11/2005).
4
É a subdivisão político-administrativa que compõe a localidade e pode
contemplar povoados, aldeias, etc.
24
5
Organizações da Sociedade Civil.
6
Associação Moçambicana para o Desenvolvimento e Democracia.
7
Serviço Holandês de Cooperação e Desenvolvimento.
8
Para efeitos desta pesquisa, parceiros de cooperação internacional refere-se aos
países e agências internacionais com quem Moçambique mantém relações de
cooperação (particularmente no que diz respeito ao apoio – tanto financeiro
quanto técnico – ao desenvolvimento).
9
A escolha da Holanda deveu-se ao fato de ter sido um dos principais países a
apoiarem a descentralização e o planejamento participativo na província de
Nampula e, particularmente em Angoche. A escolha do Banco Mundial tem a
ver com a sua intervenção em todo o processo de reformas que o país tem
estado a realizar desde que se tornou membro desta instituição e do FMI, em
1986, e também, particularmente pelo fato deste ser atualmente o maior
financiador do processo de descentralização no país.
29
10
As projeções indicam uma população em torno de 24 milhões, em 2012 (INE,
2009).
34
11
Sem sermos muito precisos e orientados a partir dos seus limites, podemos
afirmar que o Mwenemutapa estendia-se desde parte do sul de Moçambique
(província de Inhambane), ocupando a região central do país (províncias de
Sofala, Manica e Tete) e ainda o território correspondente ao atual Zimbabwe.
36
12
RITA-FERREIRA, António. Povos de Moçambique: História e Cultura.
Porto: Afrontamento, 1975.
37
13
No seguimento das determinações da conferência de Berlim, realizada entre
19 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, com o objetivo de
estabelecer as regras de ocupação e partilha de África, Portugal conduziu um
conjunto vasto de operações militares de grande envergadura, que ficaram
conhecidas como Campanhas de Conquista e de Pacificação, em territórios
como Angola e Moçambique, visando assegurar o controle efetivo dos mesmos.
14
A soberania do Estado colonial é exercida diretamente sobre os cidadãos
civilizados (não indígenas e indígenas assimilados) por via do direito público e
privado colonial. “O direito português atuava no espaço restrito dos colonos
cidadãos” (MENESES, 2009, p.19).
15
Duas vias de administração indireta podem ser sublinhadas na política
colonial: primeiro, por via das autoridades tradicionais, segundo, por via de
concessões. Para o primeiro caso, os indígenas [não cidadãos – indivíduos
nascidos nas colônias, de pai e mãe indígenas, “não se distinguissem pela sua
instrução e costumes do comum da sua raça” (CUNHA, 1960, Vol.1, p.97, apud
CABAÇO, 2007, p.148)] governados por um direito assente em hábitos e
costumes étnicos (desde que não repugnassem a civilização europeia), que é
inadaptável ao direito europeu, passam “a ser administrados localmente por
entidades reconhecidas pelo Estado colonial como representantes legítimos
dessas populações: as autoridades gentílicas ou tradicionais” (MENESES, 2009,
p.15). Segundo, na incapacidade de estabelecer mecanismos de administração
colonial direta nos vastos territórios de Moçambique, o governo português
decidiu-se pela concessão de 2/3 dos mesmos (zonas Sul e Norte) a companhias
privadas, de capitais majoritariamente ingleses, que ficaram conhecidas como
Majestáticas, uma vez que detinham direitos quase soberanos, sobre os
territórios explorados e respectivos habitantes, podendo inclusive instituir e
cobrar impostos. Três Companhias partilhavam esses territórios, a saber:
Companhia do Niassa, Companhia da Zambézia e Companhia de Moçambique
(HEDGES, 1999).
38
16
Um conhecimento que era fruto de vários séculos de experiência no contato
com estas sociedades, desde o século XVI, como mercadores, depois como
conquistadores (
17
OSÓRIO, J.; RODRIGUES, J. Integração dos atuais régulos na obra
administrativa das colónias de Angola e Moçambique. In Congresso do
Mundo Português publicações: XV volume: memórias e comunicações
apresentadas ao Congresso Colonial (IX Congresso), Tomo 2º, II secção,
Lisboa, 1940.
18
Eram unidades administrativas fundamentais, cujas unidades administrativas
mínimas eram as freguesias, sendo habitadas por colonos e assimilados.
19
Eram as unidades administrativas mínimas, parte da circunscrição, sendo
habitadas por populações africanas indígenas, ou não assimiladas.
20
Eram funcionários públicos com habilitações especiais, exercendo autoridade
alargada, com competências administrativas, policiais, sanitárias, fiscais,
estatísticas, demográficas, cadastrais, notariais e judiciais, e ainda lhes eram
subordinadas as autoridades tradicionais. Era auxiliado nas suas tarefas por um
intérprete africano, conhecedor das línguas locais, e por sipaios (corpo de
policiais armados, que, geralmente tinham sido soldados africanos do exército
colonial) (CABAÇO, 2007, p.102).
39
21
Subordinavam-se diretamente ao Chefe do Posto e, no exercício de suas
funções, eram auxiliados por um conselho de anciãos e ainda por chefes de
grupo de povoações, que, por sua vez, coordenavam os chefes de povoação
(idem, p.103).
22
Os chefes tradicionais desempenharam um papel preponderante e ativo na
persuasão das populações rurais para o chibalo (trabalho forçado), serviços
públicos e outros, e até mesmo, para o pagamento do mussoco (imposto
individual em espécie, devido por todos os homens válidos, maiores de 16 anos)
ou do imposto da palhota, mas também, na gestão das terras comunitárias,
resolução de conflitos e direção das cerimônias mágico-religiosas
(DINERMAN, 1999)
40
23
A sua implementação estava enquadrada nos esforços da “ocupação efetiva”
da colónia, o que implicava a necessidade de “controle efetivo” da mesma pela
metrópole, através, por um lado, do estabelecimento de sua estrutura político-
administrativa localmente, por outro, da aplicação local de um quadro jurídico-
legal emanado da metrópole.
24
Cf. CABAÇO, 2007, ZAMPARONI, 2000.
41
25
“Encontravam-se em finais do século XIX, mais ou menos desvinculados de
seus laços sociais anteriores, vivendo no e do aglomerado urbano, falando
português e seguindo alguns dos hábitos europeus” (ZAMPARONI, 1998,
p.392).
42
26
Inclusive tiveram que passar “a viver da renda das antigas propriedades ou a
buscar trabalho assalariado na burocracia estatal ou nas empresas que se
instalavam no território” (CABAÇO, 2007, p.168-169).
43
27
Fundado no ano de 1908, teve a sua edição de número 1 publicada em Janeiro
de 1909. Suas preocupações centravam-se nas medidas discriminatórias, nas
injustiças que se multiplicavam e nas exigências de reconhecimento dos direitos
da comunidade negra e das elites locais. Este representou, durante alguns anos,
uma força de pressão considerável e, sobretudo, um ponto de referencia que
acabaria por ter repercussões em todo o Moçambique, acabando, no entanto, por
ser vendido à igreja católica, em 1918 (CABAÇO, op. cit., p.171).
28
Fundado em 1908, passou a designar-se Associação Africana, em 1938, e
existiu até 1975, ano da independência de Moçambique. Cf. ROCHA, Aurélio
A. N. Associativismo e Nativismo em Moçambique: o Grêmio Africano de
Lourenço Marques (1908-1938). Dissertação de Mestrado em Economia e
Sociologia Histórica. Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991.
29
ROCHA, A. Associativismo e Nativismo em Moçambique: contribuição
para o estudo das origens do nacionalismo moçambicano (1900-1940). Maputo:
Promedia, 2002.
44
30
Compreende o período histórico de emergência de um discurso que se
distingue pelo seu triplo carácter fragmentário (no pensamento e na ação),
descontínuo (na temporalidade) e ambivalente (no seu posicionamento face ao
sistema colonial) (DE ANDRADE, 1998).
31
Neves, a partir da leitura de O Brado Africano, considera que a “causa
africana” assentava sobre três pilares, nomeadamente, educação, justiça e
trabalho (NEVES, 2009, p.185).
32
Um dos dois irmãos Albasini, fundadores dos jornais O Africano e O Brado
Africano.
45
33
Era composto por emigrantes no Tanganyka (atual Tanzânia), na ilha de
Zanzibar e no Kenya (Quénia).
47
34
Esta organização, tida como a que era ideologicamente mais moderna
comparativamente às outras, foi a que assumiu em especial o processo de
unificação, sendo que um dos seus dirigentes, Marcelino dos Santos, também
era membro da comissão executiva da CONCP.
35
CERVELLÓ, J. S. A Lenta Coesão do Nacionalismo.
36
Esta data foi declarada como dia dos heróis nacionais e feriado nacional,
sendo comemorada todos os anos.
48
37
“Territórios com grande implantação social e política dos guerrilheiros da
FRELIMO e onde a administração portuguesa tinha deixado de exercer funções
devido à guerra” (MOSCA, 2002, p.113).
38
ABRAHAMSSON, H.; NILSSON, A. Moçambique em Transição: um
estudo de história de desenvolvimento durante o período 1974 -1992. Maputo,
Moçambique: CEGRAF, 1994.
49
39
Entrevista concedida a Aquino de Bragança, em 1968, depois do II congresso
da FRELIMO.
50
44
Assembleia popular do nível central, Assembleia popular do nível provincial
e Assembleias do povo dos níveis distrital, de cidade e de localidade. As
Assembleias são constituídas por deputados eleitos pelo povo, artigo 40º (LEI
11/78).
45
As Assembleias do povo são o órgão supremo do poder de Estado
democrático popular na República popular de Moçambique e, através destas, as
massas, guiadas pelo partido, estudam e resolvem os seus próprios problemas.
As Assembleias provinciais e distritais reúnem-se ordinariamente, três em três
meses, as da cidade têm reuniões ordinárias bimensais e as de localidade tem
suas reuniões ordinárias mensalmente (LEI 11/78).
46
A FRELIMO admitira que o poder da aliança operário-camponesa não estava
se manifestando no nível do aparelho de Estado, tendo, por isso, decidido que,
para a materialização do Poder Popular Democrático, Democracia Popular e
aliança operário-camponesa, o órgão supremo do Estado, em cada escalão, da
província à base, era uma assembleia representativa das massas trabalhadoras,
militantes e combatentes e que os órgãos executivos se subordinavam, em cada
escalão, às assembleias do seu escalão (CORRÊA; HOMEM, 1977).
53
47
Alegadamente porque eram feudais, obscurantistas e retrógradas.
48
“Práticas como o recurso a médicos tradicionais, as cerimonias de pedido de
chuvas e os rituais de combate a pragas agrícolas foram consideradas
obscurantistas, e, como tal, fortemente desencorajadas” (MENESES, 2009,
p.26).
54
49
A posição neutral que Moçambique procurou seguir em relação aos dois
blocos (ocidente e leste) no âmbito da guerra fria, foi mal interpretada pelos
dois lados, tendo prejudicado o país. O ocidente entendia que Moçambique era
um país de regime marxista-leninista, por isso, objeto de boicote, por outro lado,
o leste entendia que o país não era nada comunista, nem socialista, recebendo,
por isso, tratamento desfavorável dos seus parceiros do leste. Moçambique
assumia um estatuto interessante sob o ponto de vista de sua afirmação, mas
muito incomodo sob o ponto de vista da sua capacidade de angariar o apoio
necessário para responder à situação concreta que vivia (SAÚTE, 2010).
50
“E quando essa opção se fez, no movimento nacionalista, o desenvolvimento
lógico daquilo que tinha levado à independência, é interrompido, há uma quebra
de continuidade. Este partido deixa de ser o partido de todos aqueles que
lutavam pela construção de um país livre, a dominação estrangeira como
plataforma máxima, todos esses foram alijados da prática política. deixamos, de
repente, de ser um partido de massas para sermos um partido de quadros. E foi-
se criando um vazio à nossa volta” (SAÚTE, 1998, apud SAÚTE, 2010, p.34).
55
51
“Como a Organização da Mulher Moçambicana (OMM), Conselhos de
Produção (mais tarde transformados em sindicatos), etc. Grupos de vigilância
popular foram também constituídos na altura para apoiar o trabalho dos grupos
dinamizadores” (MENESES, 2009, p.26).
52
Princípio mais importante de organização e funcionamento do aparelho de
Estado, derivado dos Estatutos da FRELIMO. Combina centralismo e
democracia. Sua essência reside no fato de um centro único, gozando da
confiança dos militantes e das massas em geral, dirigir o conjunto das
organizações do partido. É neste princípio que assentava o princípio de direção
e planificação unitárias da economia e da atividade social do Estado.
56
53
Destruir completamente o aparelho de Estado colonial, substituindo-o por um
novo, assente numa sociedade moderna, construir uma moçambicanidade
baseada na unidade nacional, acabar com o subdesenvolvimento em dez anos (,
eliminando, por conseguinte, as distorções econômicas e sociais (frutos da
dominação colonial) (FRELIMO, 1977).
54
O partido usa o Estado como instrumento para a realização da sua política
revolucionária, assim, o partido traça as linhas fundamentais de
desenvolvimento em todas as esferas da vida da sociedade e controla sua
execução (FRELIMO, 1980).
57
55
Incluindo as instituições de representação política.
56
Gonçavel, sobre a FRELIMO, afirma: “[...] nesse ambiente de massas, o
secretário da célula local era a peça central por onde gravita todo o processo de
tomada de decisões. Os secretários e os demais membros da celula também
exerciam um papel de controle sobre até que ponto os responsáveis
administrativos, estavam em sintonia com a política e os objetivos do partido no
seu local de trabalho. Este sistema de participação na tomada de decisões era
extensivo até para as forças armadas, onde o lema era de que os nossos oficiais
têm que ser vermelhos por dentro, vermelho bom, quando a Frelimo ainda
iludia-se de ser vermelha” (GONÇAVEL, entrevista em 31/05/2010, apud
NGUIRAZE, s/d).
58
57
Eram ambos aliados do Ocidente, na disputa por zonas de influência na parte
da África Austral.
58
A Rodésia (atual Zimbabwe), sendo dependente dos portos moçambicanos,
especialmente do porto da cidade da Beira, para a recepção de combustível,
assim como para o escoamento de seus produtos, ressentiu-se desta medida
(TAIMO, 2010).
59
59
Mas, também, tanto a Rodésia, quanto a África do Sul, invadiram e
bombardearam partes do território moçambicano, a pretexto de estarem
perseguindo os movimentos que lutavam nos seus países (ibid.).
60
Após a independência da Rodésia, estas forças mudaram suas bases para a
África do Sul, acolhidos pelo governo minoritário branco, de onde se
desenvolveram e ampliaram as suas intervenções (CRUZ E SILVA, s/d).
61
Saúte (2010) refere que, para Geffray, a guerra teria sido alimentada também
das rupturas políticas e sociais internas das sociedades rurais moçambicanas e
que o fato de Moçambique independente transmitir um sentimento de unidade
entusiástica, rara e fascinante, terá levado ao equívoco dos dirigentes
revolucionários, que não intuíram no interior da sociedade o seu caráter
diferenciado e amalgamaram-na num processo cuja expressão era
provavelmente lídima. Por outro lado, para Meneses (2009, p.30), “a ausência
de reconhecimento dos objetivos e projetos das comunidades locais pelo
moderno Estado moçambicano constitui uma das razoes que esteve na origem
do longo conflito armado que marcou o país por mais de uma década”.
62
A FRELIMO, no seu IV congresso, realizado em 1983, reconheceu alguns
desses erros, como a centralização excessiva das decisões e persistência “nas
estruturas estatais de métodos que marginalizam o povo na solução de
problemas econômicos e sociais” (FRELIMO, 1983, p.28).
60
63
Fundado em 1949, pelo bloco socialista, em resposta ao Plano Marshall, o
Conselho de Ajuda Econômica Mútua, visava a cooperação econômica,
científica e técnica entre os países membros, tendo sido extinto em 1991.
64
Representava um conjunto de reformas que significariam a restruturação das
políticas e estratégias da União Soviética, decididas no 27º Congresso do
Partido Comunista da URSS, em 1986. Uma das questões principais da
Perestroika era a redução dos gastos na defesa, o que implicaria a retirada da
União Soviética do Afeganistão (onde ocupava há 10 anos), negociação com os
Estados Unidos para a redução de armamento e a não interferência nos assuntos
internos de outros países comunistas.
65
Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, 1985-1991.
66
Formada a partir dos privilégios do poder político e do prestígio dai
decorrente, aliada a grupos econômicos internacionais com interesse em um
país liberalizado (MAZULA, 1995).
61
67
Moçambique não reunia condições que o permitissem ter acesso aos fundos
do FMI e do Banco Mundial, tendo contando com importante apoio de Ronald
Reagan e Margareth Thatcher. O apoio dos Estados Unidos estava enquadrado
na sua política de “engajamento construtivo” na região, em que se procurava
induzir os governos a desistirem das ambições socialistas, em troca de
benefícios. O apoio britânico justificava-se pelas mesmas razões, mas também
estava baseado nas boas relações existentes entre Samora Machel e Margareth
Thatcher, fruto do papel desempenhado por Moçambique no processo de
negociação da independência do Zimbabwe (TAIMO, 2010).
68
“Tratado de não agressão assinado a 16 de marco de 1984 nos termos do qual
o governo moçambicano se comprometia a suspender o apoio logístico ao
Congresso Nacional Africano (ANC), que combatia o regime de Apartheid na
África do Sul e em contrapartida o governo sul-africano faria o mesmo em
relação aos rebeldes da Renamo. Nos anos seguintes o governo de Maputo
denunciou transgressões do acordo por parte dos sul-africanos” (idem, p.104).
69
HANLON, J. Paz sem benefícios: como o FMI bloqueia a e construção de
Moçambique. Maputo: Centro de Estudos Africanos, 1997.
62
70
ABRAHAMSSON, H.; NILSSON, A. Ordem Mundial Futura e
Governacao Nacional em Moçambique. Gotemburg /Maputo: Ed.
Padrigu/CEEI-ISRI, 1995.
63
71
O Acordo Geral de Paz, segundo Forquilha e Orre (2012, p.332), era uma
carta de transição política para Moçambique, tendo constituído as bases do
processo de transição democrática do país. Portanto, “o processo de transição
política dependia, em grande medida, do sucesso da pacificação do país”.
64
72
Destacando-se a necessidade de reintegração da administração local e o
fortalecimento da sua capacidade na planificação, importantes para a
reintegração socioeconômica (BARNES et al., 1997 apud BOROWCZAK;
WEIMER, 2012, p.104).
73
Entrevista em 07/05/2013.
65
74
O Plano Estratégico para a Redução da Pobreza (PERP) é um plano que as
duas instituições passaram a exigir aos países que desejassem financiamentos no
âmbito da iniciativa de alívio à dívida dos países pobres altamente endividados
(iniciativa HIPC). Esta exigência determinava que as estratégias de governança
dos países devessem ancorar as suas políticas de desenvolvimento na obtenção
de resultados que se traduzissem na redução da pobreza. Dai que esses planos
passaram a nortear as necessidades de financiamentos desses países. O
Programa de Financiamento para Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF)
substituiu, em Setembro de 1999, o Programa Reforçado de Financiamento para
Ajustamento Estrutural (ESAF). Tem como propósito “tornar os esforços de
redução da pobreza nos países membros de baixa renda um elemento primordial
e mais explícito de uma estratégica econômica renovada, voltada para o
crescimento. O objetivo do novo programa é apoiar programas que visem o
fortalecimento substancial e sustentável da posição do balanço de pagamentos
dos países membros de baixa renda habilitados e promover o crescimento
duradouro, resultando na elevação dos padrões de vida e na redução da
pobreza. Assim como os programas da IDA, os programas apoiados pelo PRGF
terão como ponto de partida e serão coerentes com os Planos Estratégicos de
Redução da Pobreza (PERPs) elaborados pelos países tomadores e endossados
pelos Conselhos de Administração do FMI e do Banco Mundial, nas suas
respectivas áreas de competência” (FUNDO MONETÁRIO
IINTERNACIONAL, 1999).
75
“Making state institutions more accountable and responsive to poor people,
strengthening the participation of poor people in political processes and local
decisionmaking, and removing the social barriers that result from distinctions of
gender, ethnicity, race, religion, and social status” (BANCO MUNDIAL, 2000,
p.vi).
66
77
Constituição da República de Moçambique.
78
Artigo 277º (CRM, 2004).
79
Artigo 263º, inciso iv da Constituição da República de Moçambique, 2004.
80
Artigo 3º, Lei 8/2003, de 19 de Maio (Lei dos Órgãos Locais do Estado).
81
Artigo 34º, inciso II, Lei 8/2003, de 19 de Maio.
82
Situação na qual o risco de alteração significativa das relações de poder é
mínimo.
83
Através da nomeação direta dos respectivos dirigentes.
84
WEIMER, 2012, p.88.
70
85
BANCO MUNDIAL (Decentralization).
71
86
Programa composto por dois projetos, sendo o primeiro, o Projeto Integrado
de Segurança Alimentar (PISA) e o segundo, o Projeto de Promoção de
Instituições Locais (PIL).
87
Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Capital.
72
88
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
89
Organização humanitária irlandesa, fundada por missionários, em 1968, no
contexto da guerra do Biafra.
90
Entrevistas com GOV2 e ONG1, em 14/03/2013.
73
91
Entrevistas com GOV3, em 20/03/2013, e ONG1, em 14/03/2013.
92
Projeto de Apoio à Planificação Provincial (PAPP).
93
Esta primeira experiência coube ao distrito de Guro, em Manica.
94
Cooperação Irlandesa para o Desenvolvimento.
74
95
Direção Provincial do Plano e Finanças.
96
Programa de Planificação e Finanças Descentralizadas.
97
Moma, Angoche, Mogovolas, Mongicual – Unidade de Desenvolvimento
Comunitário.
98
ONG Irlandesa que trabalhou em Nampula e Manica na área de Governação
Local Participativa.
99
ONG Suíça que trabalha nas Províncias de Nampula e Cabo Delgado no
Programa de Governação e Água & Saneamento.
100
Dinamarquesa que trabalhou em Nampula e Niassa na área de Governação
Local Participativa.
101
Organização para o Desenvolvimento Sustentável: ONG Local em Nampula.
102
ONG Local baseada em Nampula (Ribaué) focada na área de Saúde
comunitária e HIV/SIDA.
103
Organização Rural de Ajuda Mutua- ONG Nacional focada aos assuntos da
Terra e Recursos Naturais.
75
104
WEIMER, B.; CABRAL, L.; JACKSON, D. Aid modalities, flow of funds
and partner structures. Experiences and recommendations for ASPS II.
final report. Danish Support to the Agricultural Sector in Mozambique within
the framework of Agricultural Sector Programme Support (ASPS). Maputo:
DANIDA, 2004.
105
Os quais passaram a designarem-se Fundos de Desenvolvimento Distrital,
até à sua substituição pelo Orçamento de Investimento de Iniciativa Local
(OIIL), em 2006.
76
106
O que não implica o fim das tensões que sempre caracterizaram e
caracterizam as relações entre o Estado e a sociedade civil.
78
107 107
AZEVEDO; ABRANCHES, 2002; BOSCHI, 1999; COSTA, 1997;
EVANS, 2003; FUNG; WRIGHT, 2001; JACOBI, 2002; SANTOS;
AVRITZER, 2002; SCHNEIDER; GOLDFRANK, 2002 (apud CORTÊS, 2005,
p.14).
79
108
O Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), por
exemplo, são das principais instituições que assumiram a vanguarda na
promoção dos ditames neoliberais.
109
Um dos aspectos principais da teoria habermasiana é a existência de uma
constituição como expressão de uma ordem normativa, que é legitimada por via
da deliberação dos cidadãos. Na sua formulação, o conceito de esfera pública
torna-se central, uma vez que é através desta que se estabelecem interações
comunicativas dos discursos dos atores sociais, construindo-se uma rede de
81
110
Cf. LAVALLE, 2003, DAGNINO, 2006.
111
Caracterizada pela ênfase no associativismo civil para a promoção e
manutenção da democracia: “Entre as leis que governam as sociedades
humanas, há uma que me parece mais precisa e clara que qualquer outra: para o
homem permanecer civilizado ou para assim se tornar, a arte de se associar deve
crescer e melhorar na mesma proporção do aumento da igualdade de condições”
(TOCQUEVILLE, 1969, p.233).
83
112
GOODWIN, 2001; STEINMO, 1993, AMENTA, 2005; LOWNDES, 2002,
apud Cortês e Silva ( 2010).
113
O autor defende que a estrutura de oportunidade política, que é um conjunto
de opções oferecido por um sistema político possibilitando aos atores tomar a
decisão de participar na busca de bens públicos, constitui um de três elementos
centrais para o controle social da gestão pública, a par da tradição associativa e
motivações (VELÁSQUEZ, 1999).
85
114
“É um instrumento teórico de conexão entre os processos organizativos
desenvolvidos no âmbito da sociedade civil e os constrangimentos e
oportunidades estabelecidos pela configuração político-institucional em
determinado contexto. O conceito foi introduzido nas Ciências Sociais, no início
dos anos 70, exatamente para abordar as relações entre os processos de
organização e mobilização política de atores sociais – em particular, dos
movimentos sociais – e o sistema político-administrativo” (idem, p.434).
115
“[...] desenham-se nas identidades, nos laços sociais e nas formas
organizacionais que constituem vida social cotidiana. Dessas identidades, laços
sociais e formas organizacionais emergem tanto as demandas coletivas que as
pessoas constroem quanto os meios que elas dispõem para construí-las”
(TILLY, 2006, apud CORTÊS; SILVA, 2010, p.436) (tradução dos autores),
ou, segundo Pettit (1996), “O comportamento das pessoas em sociedade – seu
comportamento individual, seu comportamento como agentes de coletivos
corporativos e seu comportamento em capacidades públicas – é sensível às
oportunidades e aos incentivos disponíveis a elas como resultado de sua
configuração social, como é sensível a outros fatores: por exemplo, para os
86
117
Designa “os conjuntos de crenças, interesses, concepções de mundo,
representações do que deve ser a vida em sociedade, que orientam a ação
política dos diferentes sujeitos” (DAGNINO, 2006, 38).
88
118
No caso do voto secreto, significa que o direito de deliberar é cedido aos
representantes escolhidos pelos cidadãos, o que gera problemas de
accountability semelhantes aos verificados na democracia representativa, tendo
como consequência a diminuição da importância da instituição de participação
como um vetor de transformação social e como um espaço público deliberativo.
Por outro lado, a mobilização e participação podem engajar maior número de
cidadãos e promover seu envolvimento ativo, aumentando a importância da
instituição participativa como um vetor de transformação social e espaço
público deliberativo (WAMPLER, 2003, p.75-76).
90
119
Referindo-se à corrente cética sobre a governança participativa, Cortês
(2005) fala do risco de legitimidade dos participantes (interesses que
representam, como são escolhidos e ainda as relações que estabelecem com os
grupos sociais supostamente representados), uma vez que apenas teriam acesso
à participação os grupos sociais que dispõem de maiores recursos econômicos e
de poder, sendo que os “excluídos” continuariam à margem dos processos
participativos, isto é, tais institucionalidades não representam os mais pobres ou
a maioria.
120
Cohen (1985) refere-se a modos de controle de inclusão, onde os excluídos
são incluídos nas estruturas decisórias (estas por sua vez, e segundo Foucault
[1980], são produto das relações de poder num dado contexto), onde são
sujeitos a formas de controle mais difíceis de enfrentar, na medida em que
reduzem espaços de conflito, sendo relativamente benignos e liberais. Isto é, as
pessoas com as maiores razões para enfrentar e confrontar as relações e
estruturas de poder são trazidas, ou até compradas, através de sua inclusão no
processo, de forma que os desempodera no enfrentamento das hierarquias e
desigualdades prevalecentes na sociedade, induzindo a conformidade (apud
KOTHARI, 2001, P. 143). Dai a necessidade de manutenção, paralela, de
espaços de debate e de mobilização em instâncias eminentemente civis
(DRYZEK, 2000, apud MARQUES, 2010a).
91
121
WEIMER; MACUANE; BUUR, 2012.
122
Sugere-se que um patrono organiza grupos de clientes através da oferta de
certos benefícios em troca do seu apoio (que pode ser organizacional,
financeiro, acesso aos recursos e oportunidades econômicas, etc.) (KHAN,
95
126
Este grupo étnico-linguístico é composto por vários subgrupos linguísticos
(DE MATTOS, 2012) e é grupo predominante na província de Nampula e no
distrito de Angoche, pelo que as referências deste estudo ajudam-nos, de certa
forma, a compreender também as dinâmicas sociais de Angoche. Segundo
Medeiros (1995), “a partir do século XIX, O etnônimo macua passou a
representar especificamente as sociedades localizadas no interior do distrito de
Moçambique, atual Nampula” (apud DE MATTOS, idem, p.57).
97
Esta autora refere que o ebumba tinha também uma dimensão territorial
com fronteiras bem definidas e com um chefe (napumba), eleito pelo
grupo de descendência (n’loko), entre os irmãos da mulher mais velha.
A autora prossegue afirmando que os indivíduos pertencem não
só ao ebumba e ao n’loko mas também ao nihimo127. Ainda segundo a
autora, a principal divisão política Macua é o elapo128, que tem como
chefe religioso e político o mwené129, um chefe eleito pelo grupo de
descendência (n´loko ou errukulu muthéulene130) que primeiro chegou
ao território (elapo). Sendo, por isso, considerado o dono da terra e o
responsável pela proteção espiritual do território. Nas suas funções, o
mwené “é apoiado por um conselho de anciãos, por uma mulher
escolhida entre o seu grupo de descendência (apwiamwene131) e pelos
líderes das subdivisões do seu território” (TEMUDO, s/d, p.36).
Esta é uma sociedade com uma estrutura política hierarquizada e,
mesmo sendo uma sociedade matrilinear, ela tem suas lógicas de poder
assentes no patriarcalismo (o papel de liderança e poder é exercido pelo
homem), e é caracterizada por uma ideia parecida com a dos chacks and
balances no exercício desse poder. Outra característica importante desta
sociedade é o coletivismo, o qual é permeado por um espírito de
solidariedade assinalável, como podemos verificar nas palavras de
Temudo (idem, p.37),
127
“Categoria frequentemente designada na literatura por «clã». Um nihimo
inclui indivíduos de diferentes ebumbas, n’lokos e grupos étnicos” (TEMUDO,
s/d, P.36).
128
É composto por ebumbas da mesma divisão e designa simultaneamente o
território da chefatura e os seus habitantes (ibid.)
129
Esta expressão designava os chefes do interior, sendo que os do litoral, como
é o caso de Angoche, eram designados xeques, ou sultões. Esta figura era
responsável pela condução das cerimónias da chuva e dos rituais de iniciação,
entre outros – e pela resolução de conflitos (ibid.).
130
Significa linhagem.
131
É a mulher mais velha da linhagem, também denominada por rainha e ocupa
uma posição bastante relevante na estrutura social macua e desempenha várias
funções. Por exemplo, “tinha uma função de conservar a memoria da linhagem
e estabelecer a ligação com os seus ancestrais. Participava de vários momentos
e cerimonias significativos da sociedade e deveria ser sempre consultada em
caso de guerra (...)” (DE MATTOS, 2012, p.73).
98
132
Por exemplo, a Lei 8/2003 e respectivo regulamento (DECRETO 11/2005) e
o DM 80/2004.
133
São as pessoas que exercem certa forma de autoridade sobre determinada
comunidade ou grupo social, tais como chefes tradicionais, secretários de bairro
ou aldeia e outros líderes legitimados como tais pelas respectivas comunidades
locais (DECRETO 11/2005).
134
A legitimação das autoridades tradicionais é feita de acordo com as regras da
respectiva comunidade (artigo 8º) enquanto que a legitimação dos secretários é
através de processo eletivo (artigo 9º) (Decreto-Lei 80/2004).
102
135
Constituição da República Popular de Moçambique.
104
136
Por exemplo, organizações de interajuda agrícola (Kurhimela, Kurhimelissa,
Kuvekeseliwa), grupos de poupança (Male, Yakulahlana, Nssongo-nssongo,
105
140
BRATTON; GYIMAH-BOADI; MATTES, 2009.
141
Id.
107
142
Embora se reconheça os riscos que tais contatos representam para a
autonomia das organizações, também é ressaltado que os mesmos podem
favorecer a inclusão e promover uma maior participação das OSC nos assuntos
públicos (AfriMAP, 2009).
143
Em um estudo realizado com 48 ONGs, Melluci apurou que mais de 70% da
amostragem (42 ONGs) possuía membros que haviam previamente trabalhado
na administração pública (apud AfriMAP, idem).
144
Id.
108
145
“observa-se uma tutela conveniente” (FRANCISCO et al, 2008, P.59)
146
Entrevista com GOV2, em 14/03/13.
109
152
No âmbito do projeto African Futures, do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), um projeto que foi implementado em outros vinte
e cinco países africanos.
153
É um programa da União Africana, funcionando com secretariado próprio,
sediado na África do Sul. Este é assumido como estratégico e estabelece “uma
visão para a renovação de África”. Seus objetivos são: erradicar a pobreza,
111
154
O Secretariado do MARP, atualmente, está ligado ao Ministério de
Planificação e Desenvolvimento (organismo que coordena o processo), e
113
158
Designa dotações financeiras que o governo central começou a transferir
para os distritos, a partir de 2006, com a orientação principal de que este deverá
servir para financiar iniciativas locais de investimento centrados na produção de
comida, geração de renda e criação de emprego. Este financiamento seria
concedido aos beneficiários em forma de empréstimo, que deveriam quita-lo
dentro de prazos acordados, em função do montante recebido. Nessa lógica, este
seria um fundo rotativo, que fosse realimentado pelos juros e capital devolvidos
pelos beneficiários. Contudo, a ideia de fundo rotativo não passou mesmo de
ideia, visto que os níveis de reembolso (quitação) dos empréstimos, por parte
dos tomadores, não ultrapassavam a média de 2% até o ano de 2009, o que se
deve, em parte, pela ausência de mecanismos e critérios claros de contratação
dos montantes e de imputação de responsabilidades e obrigações das partes,
vinculados à garantias sancionatórias, em caso de incumprimento (é uma gestão
meramente política, sem qualquer consequência jurídica). A sua sobrevivência,
de 2006 até ao presente, assente nas transferências anuais que o governo
continua fazendo para os distritos. No primeiro ano foi transferido um montante
equivalente a U$D 300.000, para cada distrito (num total em torno de U$D 36
milhões). Nos anos subsequentes o montante aumentou e foram alteradas as
modalidades de cálculo, passando a considerar aspectos como a extensão
territorial, população, etc., o que significa que os distritos deixaram de receber o
mesmo montante (em 2009, o total de transferências foi em torno de U$D 56
milhões) (ORRE; FORQUILHA, 2012). Para o governo esta iniciativa
enquadra-se nos seus esforços de aprofundar e aperfeiçoar a descentralização,
empoderando a governança local, impulsionando o desenvolvimento local, com
115
são alguns exemplos desse processo, em que parece buscar-se mais gerir
o “tensionamento” das relações entre as elites centrais e locais,
assegurando o controle das primeiras sobre as últimas, do que
propriamente devolver o poder ao cidadão (WEIMER; MACUANE;
BUUR, 2012).
O reconhecimento das autoridades comunitárias também é visto
como mais uma forma de o poder central controlar elites locais,
assegurando a manutenção do seu poder, em vez de assumi-las como
representantes dos interesses das comunidades locais159. Enquanto as
transferências de recursos para os níveis locais, através de fundos como
o FDD, são percebidas como estando a alimentar as redes clientelistas
locais, assegurando lealdades políticas. De acordo com o argumento de
Orre e Forquilha (2012), a transferência massiva de fundos para os
distritos não apresenta qualquer evidência de que possa converter-se em
fator de redução da pobreza, aprofundando a descentralização e
participação das comunidades, como defendido pelo governo e pela
FERLIMO, sendo que, a curto termo, o que se vislumbra é o acesso, por
parte da liderança local do partido no poder, de meios de clientelismo
político sem precedentes, além de colocar em risco pequenos ganhos em
termos de empoderamento popular que a planificação distrital
participativa, através dos CCs, poderá ter iniciado.
Ainda na ótica de Orre e Forquilha (idem) o FDD impactou
profundamente os CCs, uma vez que a introdução deste fundo retirou a
ênfase da planificação participativa ligada a infraestruturas sociais locais
– até então o enfoque do processo de planificação – passando os CCs a
deliberar, quase exclusivamente, sobre a aprovação dos projetos que
beneficiam de financiamento à luz do FDD. Weimer, Macuane e Buur
(2012, p.71), reforçam este cenário, ao defenderem que,
160
Segundo o governo a PAI tem o objetivo de garantir uma melhor presença do
Estado nas zonas rurais, através da capacitação das administrações locais e da
melhoria da prestação de serviços públicos e tornando os governos locais mais
responsáveis perante as populações (Gabinete de Estudos da Presidência da
República, 2009, apud LEININGER et al, 2012, p.217).
161
Associação Moçambicana para a Democracia e Desenvolvimento.
117
162
O que pode ser comparado com a experiência venezuelana, onde o governo
central se utilizou do espaço de organização comunitária para concretizar o seu
projeto de relação direta entre “líder” e “povo” (MENDES, 2011).
163
Entrevistas com SC2 e ONG1, em 14/03/2013, e com PCI2, em 07/05/2013.
118
164
Realizado pela School of Government da University of the Western Cape e a
Faculdade de Agronomia da Universidade Eduardo Mondlane.
165
Neste caso, podem até possuir representação partidária, mas, o fato de não
estar alinhada com o partido no poder pode afetar suas possibilidades de
participação.
119
166
artigos 111 e 122, inciso II (DECRETO 11/2005).
167
Um dos nossos entrevistados, dando exemplo dos planos distritais, dizia que
estes por vezes são apresentados prontos aos membros dos CCs, aos quais é
lembrada a importância de que se reveste a sua decisão de aprovar tais planos,
no entanto, aparecem sem orçamentos, com os membros detendo pouca ou
nenhuma informação sobre o processo que conduziu até aos planos que lhes é
solicitado sua aprovação (entrevista com ONG1, em 14/03/2013).
168
DM 67/2009, de 17 de Abril.
169
A lei 8/2003 e respectivo regulamento, Decreto 11/2005, não chegam aos
participantes/membros dos CCs.
120
170
Moçambique tem um déficit orçamental que nos últimos anos anda em torno
de 50/40%, o qual é financiado, particularmente, por um grupo de 19 países
(G19), que contribuem com valores que deverão rondar os 80% do total do
valor financiado. Este cenário coloca o país numa situação de elevada
dependência externa, o que igualmente o expõe a pressões externas para a
implementação de reformas políticas, econômicas e administrativas, dentro da
lógica neoliberal.
171
Entrevista com SC2, em 14/03/2013.
172
Entrevista com SC2, em 14/03/2013.
121
173
Entrevista com ONG1, em 14/03/2013.
122
178
Artigo 118, Decreto 11/2005.
179
Artigo 117, Decreto 11/2005.
180
No posto administrativo é o chefe do posto, na localidade é o chefe da
localidade e na povoação é a autoridade comunitária (que pode ser régulo, ou
secretário de bairro).
124
181
Compreende régulos, secretários de bairros, etc. Embora não sejam
formalmente reconhecidos como órgãos locais do Estado, estes integram a
estrutura administrativa do Estado e realizam várias funções de Estado.
182
É a subdivisão político-administrativa que compõe a localidade e pode
contemplar povoados, aldeias, etc.
183
Artigo 119, Decreto 11/2005.
184
“No caso de um membro do Conselho Local perder a confiança e a
legitimidade da sua respectiva comunidade ou grupo de interesse, pode o
Conselho Local decidir a revogação do seu mandato, sob a proposta desta
mesma antes do período referido no número 1 deste artigo” (inciso vi, artigo
36º, DM 67/2009).
185
São instituições da sociedade civil que têm como objetivo organizar os
representantes das comunidades e dos grupos de interesse locais para permitir
que eles definam as suas prioridades (artigo 112, Decreto 11/2005).
186
São formas de organização das populações para permitir que as comunidades
se mobilizem na identificação e procura de soluções dos seus problemas,
podendo encaminhar outras preocupações às estruturas pertinentes do sector
público (artigo 113, Decreto 2005).
125
187
Os membros indicados são apresentados em reunião popular, orientada
pelo chefe da Localidade, onde a população legitima ou ratifica a sua
condição de membros do CCP.
188
Decreto 11/2005.
189
Artigo 120, Decreto 11/2005.
190
Entrevista com GOV3, em 20/03/2013.
126
191
São elementos escolhidos entre os membros e têm a função de auxiliar a
presidência da mesa, sendo encarregados de substituir o presidente, em caso de
impossibilidade.
192
Artigo 121, Decreto 11/2005.
193
Através da Equipa Técnica Distrital (ETD).
194
Artigo 122, Decreto 11/2005.
195
O plano distrital é o instrumento principal do desenvolvimento econômico,
social e cultural da República de Moçambique, e a base para a elaboração do
orçamento distrital, sendo que o processo de sua elaboração deve observar a
metodologia e as normas estabelecidas sobre a planificação participativa, de
forma a assegurar a participação comunitária em todas as suas fases (artigos
124, 125, Decreto 11/2005). Em termos mais precisos, teríamos que “os órgãos
locais do Estado devem assegurar a participação dos cidadãos, das
comunidades, das associações e outras formas de organização, que tenham por
objeto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que lhes disserem
respeito”, e que “os planos de desenvolvimento distrital são elaborados com a
127
199
Governo do Distrito de Angoche.
130
200
Instituto Nacional de Estatística.
131
201
Entrevista com GOV3, em 20/03/2013.
202
Entrevista com GOV3, em 20/03/2013. .
203
Designados, a partir de 2004, Planos Estratégicos de Desenvolvimento
Distrital (PEDD).
132
204
Decreto 11/2005.
205
Entrevista com MEMB1, em 26/03/2013.
133
206
Conselho Consultivo do Distrito.
207
Conselho Consultivo do Posto Administrativo.
208
Conselho Consultivo da Localidade.
134
Muaine
19 Total 470
Fonte: GDA (2011a).
209
Entrevista com ONG1, em 14/03/2013.
135
211
Entrevista com GOV1, em 04/04/2013.
212
Serviço Distrital de Planificação e infraestrutura, Serviço Distrital de
Atividades Econômicas, Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia,
Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Assistência Social. Todos eles constituem
o desdobramento local de instituições centrais (ministérios).
139
213
DM 67/2009.
214
São órgãos colegiais eletivos, compostos por organizações políticas, e
operam no nível da província, com a missão de fiscalizar o governo provincial.
Entretanto, são órgãos cuja legitimidade e eficácia tem sido questionada.
Questiona-se a sua relevância no contexto de um sistema político centralizador,
em que, mesmo sendo eleitas, a sua função é de fiscalizar o executivo
provincial, o qual é nomeado pelo governo central, que, por sua vez, tem a
possibilidade de dissolvê-la, caso reprovem duas vezes o plano provincial.
215
GDA, 2011b.
140
216
Entrevista com ONG1, em 14/03/2013. Para a Holanda, através de sua
Embaixada em Maputo, o processo de participação não alimenta os planos, isto
é, os planos distritais não são o resultado dos processos participativos
(entrevista em 07/05/2013).
217
Entrevista com PCI2, em 07/05/2013.
141
219
Entrevista com MEMB7, em 27/03/2013.
220
Entrevista com MEMB6, em 27/03/2013.
143
222
Entrevista com MEMB5, em 27/03/2013.
145
financiados por este fundo, situação da qual acabam por tirar vantagens
e benefícios.
Os CCs, a partir da introdução do FDD, em 2006, passaram a
centrar mais as suas atividades em torno de questões relacionadas com
estes recursos, desviando-se, inclusive, como já o mencionamos, das
atividades relativas à planificação do desenvolvimento local.
Nesse ponto, o distrito de Angoche confirma as constatações que
têm sido feitas por outros estudos (ORRE; FORQUILHA, 2012). Tanto
na avaliação das pautas constantes das atas, quanto na observação
participante, constatamos que as questões referentes ao FDD ocupam
grande parte das reuniões dos CCs, sendo que, no caso da observação
participante, através da participação em três reuniões nos níveis de
localidade, posto administrativo e distrito, o FDD (aprovação dos
projetos a financiar) constituiu a única pauta da reunião. Esta é uma
realidade também referida pelo Banco Mundial223, o qual entende que,
com o FDD, o foco dos CCs deixou de ser a discussão sobre
investimentos locais. Mas também, esta posição é partilhada por alguns
setores do governo, que, inclusive, se mostram preocupados com o
crescente enfoque dos CCs no FDD, em prejuízo de outras atividades.
Segundo nosso entrevistado224
223
Entrevista com PCI2, em 7/05/2013.
224
Entrevista com GOV3, em 20/03/2013.
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
___________________________________________. Plano
Estratégico Distrital de Desenvolvimento (PEDD) (2011-2015).
Angoche, 2011b.
_____________________________________________. III
Recenseamento Geral da População e Habitação 2007: resultados
definitivos-província de Nampula. Maputo: INE, 2009.
Legislação
_________________________________________________ 1990.
Assembleia da República, 02 de Novembro de 1990, publicada no BR, I
Série, n. 048, 3.º Suplemento, de 29/11/1990.
APÊNDICES
1. Identificação pessoal
2. Acha os conselhos consultivos importantes, porquê?
3. Como é que se tornou membro do CC?
4. Representa algum grupo específico (exemplo, jovens,
agricultores, idosos, etc) no CC, como uma associação, grupo
de interesse, ou a comunidade em geral?
5. Concorda com a forma como as decisões são tomadas nos CCs
e está satisfeito com essa forma de tomar as decisões?
6. Acha que os CCs conseguem incluir todos os grupos que
existem na comunidade, estão todos representados nos CCs?
7. Como é que decidem onde vão mandar fazer uma determinada
atividade, como por exemplo, furo de água. Como decidem
colocar o furo aqui e não ali?
8. Quais são as dificuldades que enfrentam para participar das
sessões do CC?
9. Já ouviu falar e sabe o que é o plano estratégico de
desenvolvimento do distrito e o PES?
10. Já participou da sua elaboração?
11. Está satisfeito com os resultados conseguidos pelo vosso CC?
12. Está satisfeito com a resposta do governo aos problemas
encaminhados pelo Conselho?
13. Já recebeu alguma capacitação sobre os assuntos que são
discutidos no Conselho (em que áreas e quantas vezes)?
14. Acha que vale a pena continuar a participar do Conselho?
15. Sente que as suas contribuições são valorizadas no Conselho,
consegue influenciar as decisões do Conselho (acha que suas
opiniões são ouvidas e acolhidas)?
16. Tem alguma sugestão que gostaria de propor para ajudar a
melhorar o desempenho do conselho?
Entrevista ao GOV1
Entrevista às OSCs
ANEXOS