D. Sebenta (Mariana Tralhão)
D. Sebenta (Mariana Tralhão)
D. Sebenta (Mariana Tralhão)
COMPETÊNCIA CONTENCIOSA
O Tribunal de Justiça da União Europeia dispõe de competência contenciosa, dirimindo
litígios entre:
1. Instituições, órgãos ou organismos da União Europeia;
2. Estados Membros;
3. Entre Estados Membros e instituições, órgãos ou organismos da União Europeia.
Mariana Tralhão
DUEII 2º ano
Nesta ação (arts. 258º a 260º TFUE), o Tribunal de Justiça tem o poder de declarar a
infração do direito da União Europeia por parte dos Estados membros. Subjacente ao
mesmo está a compreensão da União Europeia como comunidade de direito, juntamente
com o princípio pacta sunt servanda, que se consubstancia no princípio da cooperação leal
(art. 4º/3 TUE).
O Tribunal de Justiça (o Tribunal Geral não tem competência) declara que um Estado
Membro não cumpriu as suas obrigações à luz do direito da União, tais como:
Uma Diretiva não foi transposta a tempo ou a transposição foi feita de forma
incorreta;
Uma entidade pública violou disposições comunitárias:
Diretamente;
Indiretamente (ex: por não controlar atividades desenvolvidas por
privados);
Ativamente (ex: adotando atos contrários ao direito da União);
Por omissão (ex: ao não revogar ou anular um ato contrário ao direitoda
União, quando o devia ter feito).
Não se respeitou um acórdão do Tribunal de Justiça;
A adoção de medidas de implementação pelo Estado-membro não foi notificada à
Comissão, estando prevista essa obrigação.
PRÉ-CONTENCIOSO
Existe necessariamente um período pré-contencioso (administrativo):
Ou iniciado pela Comissão – art. 258º TFUE;
Ou iniciado por um Estado-membro, mas conduzido pela Comissão (situação
pouco frequente – apenas três na história) – art. 259º TFUE.
Não pode ser iniciado por entidades privadas, mas estas podem dar
conhecimento de uma situação de infração, à Comissão, podendo esta
recolher informações e eventualmente dar início a um procedimento pré-
contencioso.
Há especiais obrigações da Comissão perante os denunciantes.
O objetivo deste período é dar aos Estados-membros a oportunidade de remediarem o
incumprimento antes da ação ser iniciada perante o Tribunal de Justiça (aproximação
preventiva).
No entanto, existem situações especiais em que não há uma específica fase
contenciosa: art. 70º (espaço de liberdade, segurança e justiça); art. 108º/2
(ajudas de Estado); e art. 114º/9 (mercado interno).
Deve realçar-se que esta é uma faculdade (ou direito) e não uma obrigação. Se a Comissão
assume normalmente o ónus de uma tal decisão (art. 258º TFUE), que se inclui ainda no
âmbito geral das suas competências enquanto “guardiã dos Tratados” (art. 17º/1 TUE), tal
PROCEDIMENTO
Processo pré-contencioso
Carta de notificação para cumprimento: o objetivo é identificar uma alegada
violação de direito da União Europeia (que definirá o objeto do litígio) e conferir
um prazo para os Estados membros apresentarem as suas observações ou fazerem
cessar a situação de incumprimento.
Deve dar-se um período de tempo razoável aos Estados membros, para apresentar
as suas observações. Todavia, é a Comissão que define este prazo, ainda que se
possa solicitar a sua prorrogação (em regra, este prazo é de dois meses).
Os Estados membros devem responder à Comissão. Esta resposta é entendida
como obrigatória (um ónus administrativo).
Se após estes trâmites iniciais a Comissão considerar que os comentários dos
Estados membros são insuficientes, deve emitir um parecer fundamentado no qual
se constate o incumprimento e se identifiquem as medidas que lhe permitem pôr
termo.
A Comissão deve prescrever ainda no parecer fundamentado qual o período de
tempo que os Estados têm para cumprir o parecer fundamentado. De notar que,
sendo um parecer, os Estados não são obrigados a cumpri-lo, ainda que, de tal
forma, se sujeitam à efetiva propositura da ação por parte da Comissão.
Há diferenças no processo pré-contencioso consoante o tipo de entidade que lhe
deu início (Comissão ou Estado membro):
Iniciativa proveniente da Comissão:
▫ O procedimento desenrola-se entre esta e o Estado membro;
▫ Não se estabelece qualquer prazo para o parecer fundamentado ser
emitido;
▫ A Comissão pode iniciar uma ação perante o Tribunal de Justiça
(poder discricionário), se o parecer fundamentado não for
respeitado.
Iniciativa proveniente de Estado membro:
▫ O procedimento pré-contencioso é também desenvolvido pela
Comissão;
▫ A Comissão tem três meses para proferir um parecer
fundamentado;
Processo contencioso
Sem grandes detalhes, devem destacar-se dois aspetos relativos a:
Identidade entre a fase pré-contenciosa e a fase contenciosa: o Tribunal de Justiça
não considerará uma causa de incumprimento (acusação) que não tenha sido
formulada no parecer fundamentado.
Ónus de prova nestas ações: compete à Comissão (ou ao Estado membro autor) a
prova de que ocorreu uma violação de direito da União, por isso, a acusação
formulada deve ser consistente.
No termo deste processo, o Tribunal de Justiça tanto poderá considerar procedente o
pedido da Comissão condenando o Estado-membro, como poderá absolver o Estado, na
hipótese contrária.
Devido à limitação das suas competências, o Tribunal de Justiça limita-se a
declarar o incumprimento. Ele não anula o ato nacional ou força o Estado a agir de
uma determinada maneira, sendo que não pode substituir-se às autoridades
nacionais na revogação e desaplicação das normas e medidas nacionais em causa:
Por isso o julgamento tem apenas natureza declarativa e não confere direitos aos
indivíduos.
O Estado deve tirar todas as interferências da decisão do Tribunal de Justiça,
compatibilizando a sua ação com a mesma. Contudo, não existe um prazo
estabelecido nos Tratados para que essa compatibilização ocorra, ainda que deva
ter lugar o mais rapidamente possível (princípio da cooperação sincera) – art.
260º/1. Por isso, há quem fale de acórdãos “condenatórios” do TJ.
Se o Estado membro não se compatibilizar com a decisão do TJ:
O Estado membro encontra-se a infringir duplamente direito da União,
porque, para além da reiteração do incumprimento, se encontra a
desrespeitar a decisão judicial;
Se o Tribunal considera que o Estado membro não cumpriu a sua decisão,
pode numa segunda ação por incumprimento impor uma quantia fixa ou
uma sanção pecuniária compulsória, adequada ao caso (art. 260º/2).
▫ Contudo, este artigo contempla um encurtamento da fase pré-
contenciosa do segundo processo por incumprimento, dado que
não é necessário um parecer fundamentado pela Comissão.
▫ Este órgão pode, após ter dado ao Estado em causa a possibilidade
de apresentar as suas observações (notificação por
incumprimento), propor uma ação por incumprimento no Tribunal
de Justiça da União, indicando o montante da quantia fixa ou
progressiva a pagar pelo Estado membro, que considerar adequada
às circunstâncias,
▫ Se o Tribunal declarar verificado que o Estado membro em causa
não deu cumprimento ao seu acórdão, pode, nesta segunda ação,
Com o Tratado de Lisboa foi criado um regime especial da primeira ação por
incumprimento, simultaneamente declarativa e condenatória, apenas para o caso do
incumprimento formal da obrigação de comunicação de medidas de transposição de uma
Diretiva – art. 260º/3.
Este tipo específico de ação de incumprimento afigura-se criticável pela negativa e pela
positiva:
Negativa – por idêntico mecanismo não ter sido estendido a outras situações de
incumprimento nas quais se continua a ter de recorrer a duas ações sucessivas, no
caso da persistência da ação;
Positiva – porque o TJ fica limitado a condenar o Estado infrator “no limite do
montante indicado pela Comissão” – limitação que não se verifica no art. 260º/2
TFUE.
Sanções:
De modo a assegurar que a sua ação é transparente e consistente, a Comissão
adotou uma Comunicação na qual estabeleceu três critérios:
1. A seriedade do incumprimento;
2. A sua duração;
3. A necessidade de assegurar que a sanção previne/evita novas infrações
(além da capacidade de pagamento do Estado membro).
De acordo com a jurisprudência do TJ, este deve aplicar, à luz das circunstâncias do
caso, quais as sanções financeiras a aplicar.
As sugestões da Comissão não vinculam, em princípio, o Tribunal (plena
jurisdição), mas são um útil ponto de referência. Como tal, o TJ pode fixar uma
sanção pecuniária:
Para além do pedido da Comissão Europeia (Ac. Comissão c. República
Francesa) – sanção não constitui uma indemnização, mas uma pressão
económica para que o Estado cumpra;
AÇÃO/RECURSO DE ANULAÇÃO
Atos nacionais
Exceção: art. 14º/2 Protocolo nº4, relativo aos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos
Centrais e do BCE – recurso de anulação para o TJ contra o ato nacional de destituição do
governo do Banco Central Nacional.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Requisitos necessários para ser proferida uma decisão, favorável ou desfavorável ao seu
autor:
1. Atos passíveis de anulação;
2. Legitimidade processual passiva (contra quem?);
3. Legitimidade processual ativa (o autor tem legitimidade?);
4. Prazo para propor ação (ainda há?);
5. Fundamentos para anulação.
Em alguns casos pode ainda haver outros pressupostos relacionados com a existência de
recursos administrativos prévios necessários – art. 73º/1 Regulamento nº2100/94
Conselho.
1. ATOS IMPUGNÁVEIS
Por intermédio desta ação, o requerente solicita a anulação de uma medida adotada
por uma Instituição, órgão ou organismo da União Europeia (art. 263º/1 TFUE).
Atos legislativos;
Atos do Conselho, da Comissão e do Banco Central Europeu, que não sejam
recomendações ou pareceres;
Atos do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu destinados a produzir
efeitos jurídicos em relação a terceiros;
Atos dos órgãos ou organismos da União destinados a produzir efeitos jurídicos
em relação a terceiros.
Estas medidas/atos devem ser emitidos por uma Instituição ou outro órgão ou
organismo comunitário (mesmo que seja um órgão não instituído pelos Tratados),
mas não por entidades nacionais ainda que em execução ou implementação ou
preparação do direito da União.
As medidas/atos sujeitos à apreciação do TJUE nesta ação são apenas os que revistam
de vinculatividade (atos decisórios, obrigatórios e com efeitos externos).
- Medidas vinculativas – aquelas que se destinam a produzir efeitos externos,
positivos ou negativos, relativamente a terceiros/medidas que produzem
efeitos jurídicos vinculativos que afetem os interesses do recorrente,
alterando de forma caracterizada a situação jurídica deste.
Por esta razão se usa a formulação “que não sejam recomendações ou pareceres” ou
“destinados a produzir efeitos jurídicos em relação a terceiros”.
No entanto, deve atender-se que é irrelevante o critério formal nomen iuris, para
definir os efeitos de um ato comunitário.
2. PRAZO DE INTERPOSIÇÃO
Segundo o art. 263º/6 TFUE, o prazo para dar início a esta ação é muito limitado: dois
meses (ao que acresce uma dilatação em razão da distância de 10 dias – art. 51º do
Reg TJ; art. 59º Reg TG), a contar, conforme o caso, desde:
Publicação da medida:
▫ Se a medida é publicada – art. 297º TFUE, o prazo acima referido só
começa a contar a partir do termo do 14º dia subsequente ao dia da
publicação – art. 50º Regulamento de Processo do TJUE e art. 60º Reg TG).
Notificação da medida:
▫ Nos casos não sujeitos a publicação.
Dia em que o recorrente tenha tomado conhecimento do ato:
▫ Aplica-se em situações e que o recorrente não tenha podido tomar
conhecimento do texto preciso da decisão impugnada antes da sua
notificação ou publicação, caso em que deve num prazo razoável solicitar
o texto integral da medida).
Estes requisitos que asseguram a cognoscibilidade da medida, sendo que o
conhecimento exato e inequívoco do ato é condição para a produção de efeitos
jurídicos, se desfavoráveis, da mesma, são aplicáveis de forma subsidiária.
objetivo de garantir uma proteção jurisdicional efetiva dos direitos conferidos aos
cidadãos pelo direito comunitário.
5. FUNDAMENTOS DO PEDIDO
Segundo o art. 263º/2 TFUE, são fundamente quatro os fundamentos (tendo sido
inspirados na tradição francesa):
1. Incompetência:
Parcial – quando o ato é adotado por um órgão e devia ser por mais do
que um;
Total – quando aquele órgão não pode sequer agir ou não pode agir sem
delegação:
▫ Interna;
▫ Externa ou usurpação de poderes – quando a ação for adotada fora
do âmbito de atribuições da União Europeia (tem a consequência
de inexistência e não de invalidade).
2. Violação de formalidades essenciais:
Falta de indicação de base legal;
Ausência de audiência prévia;
Ausência de parecer obrigatório;
Ausência de fundamentação (arts. 296º e 297º).
3. Violação dos Tratados ou de qualquer norma jurídica relativa à sua aplicação
(inclui disposições de direito secundário ou de direito convencional ou
princípios de direito da União, como os da subsidiariedade e
proporcionalidade).
4. Desvio de poder – uma instituição ou órgão é movida, na sua ação, por
finalidades distintas das estabelecidas por lei, ou o seu objetivo é o de se furtar
ao cumprimento de uma regra ou procedimento pré-estabelecido.
A arguição de fundamentos deve ser feita logo com a Petição Inicial, dado o princípio da
proibição de introdução de novos fundamentos (arts. 42º/2 Reg TJ e 48º/2 Reg TG).
Porém, é admitida a ampliação ou novos fundamentos que tenham origem em elementos
de facto de direito revelados ao longo do processo.
EFEITOS DO ACÓRDÃO
Improcedência do recurso – a presunção de validade não foi posta em causa,
inexistindo a específica causa de invalidade apreciada no processo (o que impede
que se inicie uma outra ação com base nos mesmos fundamentos, mas não que se
venha a invocar um vício não apreciado ainda pelo TJUE);
Prevista no art. 265º TFUE, esta ação (por omissão ou para cumprimento) visa controlar a
ausência de pronúncia das Instituições, órgãos e organismos da União, quando um
comportamento ativo destes seja exigível.
O sistema jurisdicional da União ficaria incompleto se apenas a ação das Instituições e
Órgãos da União pudesse ser fiscalizada judicialmente, mas não a sua inação (nalguns
casos o Tribunal de Justiça afirmou a unidade ou complementaridade entre a ação do art.
263º e a do art. 264º TFUE).
PRESSUPOSTOS
Apesar das semelhanças entre a ação por omissão e da ação de anulação, há diferenças
entre estas ações no que se refere aos seus requisitos processuais, que por sua vez
aproxima a primeira ação da por incumprimento:
É sempre precedida de uma fase não contenciosa (fase esta que encontra o seu
fundamento no princípio da separação de poderes e que constitui um pressuposto
processual necessário para o momento judicial);
Tem natureza declarativa, não declaratória.
Apesar do exposto, é possível estabelecer uma forte interligação da ação por omissão da
ação de anulação:
Ambas são um mecanismo de garantia de proteção jurídica.
A ação por omissão é um mecanismo subsidiário relativamente à ação de anulação,
sendo que tudo o que puder ser impugnado por esta via deve permanecer afastado
daquela. As omissões das instituições, dos órgãos e dos organismos da União
Europeia não se confundem com as decisões de indeferimento de uma pretensão
ou de adoção de outro ato que não o pretendido.
A ação de controlo permite exigir a prática de atos insuscetíveis de impugnação
contenciosa.
O controlo das omissões permite considerar os casos em que as Instituições e
órgãos ou organismos da União Europeia não executem o acórdão do Tribunal da
Justiça ou do Tribunal Geral em ação de anulação, nomeadamente quando está em
causa um dever de adotar vários atos de execução, incluindo a execução de atos
que não haviam sido objeto de impugnação.
PROCEDIMENTO
1. Convite à ação (notificação ou solicitação para agir) dirigido pelo interessado à
entidade competente para a prática do ato;
2. Eventual resposta da instituição no prazo de dois meses a contar da data do
convite à ação;
1A. Barbosa de Melo: esta ação é muitas vezes designada de recurso. Esta não é, contudo, a melhor
designação, porque através dela não se reage contra um ato (ainda que silente) da Administração,
mas contra uma omissão.
FASE PRÉ-CONTENCIOSA
O interessado deve primeiro solicitar que a Instituição cumpra o seu dever de decidir de
acordo com o Direito da União.
Este dever deve ser caracterizado como uma verdadeira obrigação, não apenas como
uma faculdade/habilitação para agir. Ele pode ser um dever de adoção de um ato ou de
alteração ou de revogação de um ato existente, que não tem de ser vinculativo.
Obrigações procedimentais:
Não é omissão não iniciar uma ação por incumprimento por parte da
Comissão;
Já poderá ser omissão não iniciar um processo de averiguações quando
tenha sido apresentada uma denúncia no âmbito da política da
concorrência, dada a menor discricionariedade existente neste âmbito para
a Comissão.
Obrigações substanciais:
A não execução de um acórdão do Tribunal de Justiça em prazo razoável
configura uma omissão;
O mesmo poderá decorrer da ausência de regulamentação de uma matéria
referida nos Tratados ou noutras disposições de direito da União Europeia.
CONVITE À AÇÃO:
Convite escrito fundamentado, com intenção de prossecução da ação, dirigido pelo
interessado à entidade reputada competente, num prazo razoável desde a
constatação do incumprimento:
1) Convite para a adoção de um ato devido;
2) Dirigido pelo interessado à entidade a que é imputada a omissão;
3) Deve ser escrito;
4) Não há prazo (embora possa ser rejeitado em caso de demora excessiva,
por razões de segurança jurídica);
5) Deve identificar a obrigação de agir (fundamento) à luz do direito
originário e do direito derivado e o ato pretendido;
6) Deve mencionar a intenção de recorrer à ação por incumprimento, no caso
de a omissão persistir, no prazo de dois meses.
Importância do convite:
É importante que o interessado seja o mais preciso possível ao fazer a
solicitação das medidas concretas que devem ser adotadas, porque este é o
documento que definirá o objeto da disputa (mesmo perante o Tribunal);
É um momento relevante porque os prazos começam a contar da data do
convite:
PROCEDIMENTO JUDICIAL
O recurso pode ser apresentado dentro de um novo prazo de dois meses contra a
entidade que deveria ter praticado o ato.
O decurso do prazo tem efeitos preclusivos.
FUNDAMENTO DE ILEGALIDADE
Uma interpretação textual do art. 266º TFUE, que fala de abstenção declarada contrária
aos Tratados, faz crer que este é o único fundamento de ilegalidade invocável nesta ação.
No entanto, aquela norma deve ser interpretada de modo a abranger todas as formas de
violação de direito secundário, desde que não sejam relativas a questões formais (como o
vício de incompetência ou preterição de formalidades essenciais).
SENTENÇA E EXECUÇÃO
O acórdão tem natureza declarativa, sendo que o Tribunal se limita a afirmar que a
entidade não praticou um ato que deveria ter praticado:
Não se condena o órgão a adotar uma posição, muito menos determinado o seu
conteúdo (seria uma decisão condenatória);
Não se determina a produção dos efeitos jurídicos que o ato em falta deveria impor
(seria uma decisão constitutiva);
Não há lugar à condenação em sanções, como na ação por incumprimento, não
havendo, por isso, utilidade para uma segunda ação por omissão.
O exposto enfraquece substancialmente o controlo da legalidade por omissão. Contudo,
existe uma obrigação de execução da sentença por parte do órgão que incorreu na omissão
(art. 266º/1 TFUE), isto, num prazo considerado razoável. Esta execuçãonão tem
necessariamente de conduzir ao ato pretendido pelo autor da ação.
Nos termos do art. 266º/1, o dever de execução do acórdão não prejudica a obrigação de
reparação que possa decorrer do art. 340º/2 TFUE – responsabilidade extracontratual da
União.
EXCEÇÃO DE ILEGALIDADE
NOÇÃO
Previsto no art. 277º, este é um meio processual subjacente ao princípio de que toda a
pessoa deve poder defender-se de um ato normativo que sirva de base a uma decisão que
lhe seja dirigida, estando presente um interesse de legalidade objetiva, na medida em que
se pretende evitar a aplicação de uma norma de alcance geral ferida de ilegalidade.
O objetivo do mesmo é a desaplicação do diploma em causa no caso concreto (no âmbito
de um processo que decorra perante o TJUE), com efeitos inter partes, segundo o art.
263º/2 TFUE.
FUNÇÕES
Subjetiva
Conferir um acesso mais amplo dos particulares aos tribunais comunitários ou evitar
situações de denegação de justiça – visa primacialmente compensar os particulares pelas
limitações resultantes de um acoesso condicionado ao recurso de anulação.
A exceção de ilegalidade pode ser suscitada pelo (podendo ser o excipiente):
Demandante – em apoio de uma ação;
Demandado – para contestar a pretensão da parte contrária.
Objetiva
Defesa da legalidade “constitucional e ordinária” da União Europeia;
O art. 263º/6 (prazo de dois meses para recurso de anulação) visa promover a
segurança jurídica, enquanto o art. 277º visa a defesa da legalidade;
Relativamente ao art. 36º CECA, o Tribunal considerou estar em causa um
princípio geral de direito, aplicável a qualquer pretensão, de modo a evitar
decisões de aplicação de regulamentos ilegais (Caso Meroni).
CARACTERÍSTICAS
1. Via de recurso acessória, que permite um controlo incidental da legalidade
comunitária;
2. A inadmissibilidade do recurso principal inviabiliza automaticamente a exceção de
ilegalidade;
3. A questão incidental deve ser pertinente para a decisão da causa principal;
4. Verifica-se uma dependência desta relativamente a outras vias processuais, sendo
que é um meio processual que só pode ser usado perante o Tribunal de Justiça, o
Tribunal Geral e Tribunais Especializados e em processos principais que nestes
corram.
1. Ação de anulação
A exceção de ilegalidade constitui um “prolongamento normal” do recurso de
anulação. Isto justitica-se por duas limitações:
O prazo do recurso (dois meses);
Os recorrentes não privilegiados, no que se refere aos requisitos ligados à
ilegitimidade processual (têm de ter um interesse individual e direto).
A cumulação destas duas limitações sobretudo no que aos regulamentos diz
respeito torna difícil a tarefa de reação contenciosa a cargo do interessado, quando
em causa estejam decisões encapotadas em atos normativos.
Para tanto contribuem:
1) Difícil deteção de tais disposições;
2) A inadmissibilidade de reação contra atos confirmativos;
3) Regras da publicidade e notificação.
Sendo que o Tratado de Lisboa refere que a exceção de ilegalidade pode ser suscitada em
qualquer litígio, pode esta ser relevante no âmbito de outros processos levados perante o
Tribunal de Justiça.
3. Ação de indemnização
Não se revela necessária a existência de uma declaração prévia de ilegalidade da
medida comunitária (em sede de ação de anulação) para que a ação de
indemnização seja procedente. Não obstante, a ilegalidade de um ato de alcance
geral pode auxiliar a fundamentar a pretensão do interessado, que invoca um
prejuízo resultante de uma ação ilícita da União.
OBJETO
A exceção de ilegalidade pode ser invocada quando esteja em causa um ato de alcance
geral, adotado por uma Instituição, órgão e organismo da União Europeia para além do
prazo da impugnação de dois meses previsto no art. 263º/6 TFUE.
Assim, incluem-se aqui atos desde os regulamentos aos atos de alcance geral que servem
de norma habilitante à pretensão jurídica individual (Caso Simmenthal):
Atos típicos ou atípicos com efeitos análogos aos Regulamentos;
Deve ter-se em consideração que os regulamentos são atos que podem revestir
uma natureza dual: normativa e individual ou decisional.
No caso do âmbito do escrutínio permitido pela invocação de exceção de
ilegalidade, excluem-se:
Os regulamentos que digam direta e individualmente respeito a uma
pessoa ou pessoas determinadas (Caso Nachi Europe);
Os regulamentos que afetem diretamente sem necessitar de medidas de
execução, porque aqui a reação teria de ser dirigida a título principal, e não
como exceção, contra estes atos.
O controlo, à semelhança do que sucede com o art. 267º/2 TFUE, incide sobre vícios de
incompetência, violação de formalidades essenciais, violação dos Tratados ou de qualquer
norma jurídica relativa à sua aplicação, ou desvio de poder.
LEGITIMIDADE ATIVA
O art. 277º confere o direito de contestar, em caso de litígio, a legalidade de um ato de
alcance geral por “qualquer parte”. Desta forma, tem legitimidade para tal:
1. Os particulares:
Qualquer particular que seja destinatário da decisão comunitária fundada
no ato de alcance geral ilegal ou a quem essa decisão diga direta e
individualmente respeito.
No entanto, excluem-se, em princípio, os particulares que detinham
legitimidade ativa para recorrer diretamente dos atos normativos e não o
fizeram nos prazos estipulados.
2. Os Estados membros:
Dúvidas iniciais: como os Estados membros não têm de invocar interesse
para agir no âmbito da ação de anulação, questionou-se se poderiam mais
tarde invocar a ilegalidade em sede de exceção.
▫ Nos processos Comissão c. França e Comissão c. Bélgica entendeu-se
que, como o Estado não contestou uma decisão no tempo devido,
não pode colocar em causa as suas consequências factuais e legais.
▫ Contudo, no Caso Espanha c. Conselho o Tribunal entendeu que
resulta do art. 277º que um Estado membro pode contestar a
ilegalidade de um regualmento contra o qual não interpôs recuso
de anulação antes de decorrido o prazo para ele determinado (art.
263º/5). O mesmo considera que se fosse acolhida tese em
contrário (afirmada pela Comissão e pelo Conselho), que determina
que, podendo ter arguido no prazo e não o tendo feito, o Estado
membro não pode invocar a ilegalidade, equivaleria a negar aos
Estados membros o direito de contestar, em caso de litígio, a
legalidade de um regulamento para invocar, no Tribunal de Justiça,
FUNDAMENTOS DE ILEGALIDADE
O Tribunal pode analisar a ilegalidade do ato de alcance geral com base em todos os
fundamentos permitidos em direito (e identificados em sede de recurso de anulação), tais
como:
Incompetência;
Violação de formalidades essenciais;
Violação de tratado ou de qualquer norma jurídica relativa à sua aplicação;
Desvio de poder;
Outros fundamentos (erro de direito, erro manifesto de apreciação, etc.).
REGIME PROCESSUAL
1. Arguição expressa ou inequívoca pelos demandantes ou demandados da
ilegalidade do ato contra o qual instaura o recurso fundada na ilegalidade do ato de
alcance geral (este pode ser o fundamento único ou pode ser cumulado com outras
ilegalidade imputadas ao ato individual):
a. A exceção de ilegalidade deve ser invocada logo na petição inicial. No
entanto, nada impede que a mesma seja só explicitamente formulada na
réplica, desde que se entenda que a mesma já estava implícita na petição
inicial (Caso Espanha c. Conselho).
b. Tem de existir um dever de agir (a medida não pode já estar revogada).
2. Tramitação base é a do recurso ou da ação de que se trata a título principal;
3. Necessária intervenção no processo da Instituição ou Instituições, órgãos ou
organismos que emanaram o ato de alcance geral, mesmo que a ação seja dirigida
contra outrem;
4. Apesar de ser um meio processual individualizado não é uma via processual
autónoma mas um incidente processual: a exceção de ilegalidade funciona como
um fundamento do pedido ou da defesa noutro processo perante o Tribunal de
Justiça.
EFEITOS
A exceção de ilegalidade tem como efeito a desaplicação da norma reputada ilegal com
efeitos restritos ao caso concreto (inter partes), não se anulando o ato de alcance geral
ferido de ilegalidade. No entanto, o ato atacado a título principal, se for no âmbito de um
recurso de anulação, é ilegal (ou nulo) com efeitos erga omnes, dada a ilegalidade do ato de
natureza geral em que se funda.
Apesar do exposto, o princípio da lealdade institucional surge como corretor da
ausência de um mecanismo de generalização dos efeitos da sentença relativamente ao ato
normativo impugnado incidentalmente. Ou seja, há uma obrigação de as Instituições
comunitárias que emanaram o ato o revogarem.
AÇÃO DE RESPONSABILIDADE
TIPOS DE RESPONSABILIDADE
1. RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DA UNIÃO: apesar de não estar
expressamente prevista, a União Europeia responde por atos violadores do direito
internacional suscetíveis de causar danos a outros sujeitos do direito
internacional. A União Europeia responde na qualidade de organização
internacional e os Estados membros podem responder subsidiariamente, como
sujeitos do direito internacional.
2Sendo que a União Europeia tem personalidade jurídica, ela pode celebrar contratos de direito
pública e de direito privado, com pessoas físicas e coletivas no seio dos diferentes Estados
membros.
Características processuais:
Prazo de prescrição de 5 anos (art. 46º ETIJ): este prazo conta-se da data
da efetivação do prejuízo (e não da data da emissão do ato ou facto que o
originou).
Autonomia da ação de indemnização: mesmo que haja limitações de acesso
a outras vias processuais, essas não se comunicam à ação de indemnização,
sendo que a questão da ilicitude da ação da União Europeia será apreciada
diretamente na ação de responsabilidade.
Carácter subsidiário da ação em relação às vias nacionais:
▫ No caso de medidas individuais nacionais de aplicação de atos
ilegais da União – é perante os Tribunais Nacionais que se deve
fazer valer esta ilegalidade (por reenvio da validade para o
Tribunal de Justiça). Mas apenas se, no âmbito nacional, o particular
consiga ver a sua esfera jurídica reintegrada. Em caso contrário,
Limitações:
Exclusão da responsabilidade pelo risco;
Limitada aceitação da responsabilidade por atos ilícitos
▫ A verificação da responsabilidade extracontratual por facto ilícito
ou lícito, em qualquer hipótese, pressupõe a demonstração da
realidade do prejuízo alegadamente sofrido e a existência de um
nexo de causalidade entre o prejuízo e aquele facto.
Na hipótese de se reconhecer responsabilidade por facto lícito, a
verificação dessa responsabilidade pressupõe a existência de um
prejuízo anormal e especial. Tende de se encontrar verificadas as
condições enunciadas, cumulativamente – Processo Dorch (C-
237/98).
MEDIDAS PROVISÓRIAS
TIPOS DE MEDIDAS PROVISÓRIAS
Art. 278º – suspensão: os recursos interpostos para o Tribunal de Justiça da
União Europeia não têm efeito suspensivo. Todavia, o Tribunal pode ordenar a
suspensão da execução do ato impugnado, se considerar que as circunstâncias o
exigem.
Art. 279º – autorização genérica de outras medidas provisórias: estas podem
ser conservatórias (mantêm o status quo ante, como a suspensão de efeitos de um
ato) como antecipatórias. Admite-se que possa ser ordenada a suspensão pelo
Tribunal de Justiça de decisões nacionais (Processo CCE c. RFA).
CARACTERÍSTICAS
1. Provisoriedade dos efeitos;
2. Acessoriedade (relativamente a qualquer tipo de ação principal, ainda que a
suspensão de efeitos só faça sentido quanto ao recurso de anulação ou ao
contencioso da função pública);
3. Recorribilidade – a adoção de medidas provisórias é passível de recurso, dado o
seu potencial lesivo e a possibilidad de poderem ser decretadas sem participação
da outra parte – recurso limitado a questões de direito (arts. 57º, 58º e 225º ETIJ)
e com efeito suspensivo (art. 60º ETIJ).
REQUISITOS
1. Urgência (periculum in mora) – evitar um prejuízo sério e irreparável (não
hipotético nem meramente pecuniário, a não ser que a compensação não reponha
a posição do interessado) – aponta para a proporcionalidade da medida.
2. Probabilidade séria de existência do direito (fumus bonis iuris – aparência de bom
direito) – juízo sumário acerca da probabilidade de procedência do pedido.
3. Provisoriedade do efeito – não deve resolver a questão principal, nem desprovê-la
de utilidade.
COMPETÊNCIA CONSULTIVA
A competência consultiva do Tribunal de Justiça emana da norma que prevê a celebração
de acordos internacionais pela União, o art. 218º/11 TFUE. Os acordos concluídos por
aquela são vinculativos para esta e para os seus Estados membros.
Este mecanismo caracteriza-se por ser:
1) Facultativo (resulta expressamente do artigo referido);
2) Prévio – esta natureza preventiva determina que, sendo o acordo concluído, o
Tribunal de Justiça não pode exercer competências consultivas (apesar de, sendo
parte do direito secundário da União, o Tribunal de Justiça poder assumir
competências judiciais a posteriori).
OBJETIVO:
Fiscalização abstrata preventiva da compatibilidade de um projeto de acordo
internacional com os Tratados.
TIPOS DE PARECERES:
1) Compatibilidade de um concreto projeto de acordo (já negociado, portanto) com o
direito da União Europeia;
2) Análise sobre se a União é competente para adotar esse acordo – não é necessário
que haja um projeto formal/já negociado de acordo, sendo suficientes a intenção
de negociar um acordo e o seu enquadramento geral.
PROCEDIMENTO:
1) Pedido de parecer;
2) Nomeação de um juiz relator;
3) Designação de um advogado-geral;
4) Audição do advogado-geral;
5) Apresentação de uma proposta de parecer pelo juiz relator;
6) Adoção do parecer pelo Tribunal.
Como o parecer tem efeitos vinculativos, se o mesmo for pedido, o acordo só pode ser
concluído após a sua emissão.
COMPETÊNCIA DE COOPERAÇÃO
REENVIO PREJUDICIAL
O reenvio prejudicial (art. 267º TFUE) é uma forma de controlo judicial indireto (ou de
colaboração na administração da justiça), pelo qual o Tribunal interpreta ou aprecia a
validade das normas comunitárias.
O Tribunal não decide o caso, respondendo apenas a questões colocadas pelos Tribunais
Nacionais. No entanto, as conclusões a que o Tribunal de Justiça chega são relevantes,
porque vinculam o Tribunal de reenvio (os procedimentos judiciais suspendem-se
enquanto o processo de reenvio prejudicial se encontra pendente).
A decisão do Tribunal de Justiça tem natureza interlocutória/incidental/não litigiosa, por
não dar uma solução para o litígio. Os Tribunais devem ainda analisar os factos relevantes
e concretizar o direito aplicável.
Contudo, discute-se se o Tribunal de Justiça não tem ido, por vezes, longe demais, ao dar
respostas muito precisas no caso concreto, sendo que se revela necessária a autolimitação
dos Tribunais nacionais e do Tribunal de Justiça.
OBJETIVO
Este é um procedimento baseado na cooperação entre os Tribunais Nacionais e o
Tribunal de Justiça, sendo que os primeiros se encontram vinculados à aplicação do direito
da União Europeia e que o Tribunal de Justiça é relevante para a decisão do caso.
Manifestam-se como principais objetivos:
1) Melhorar a administração da justiça – o Tribunal esforça-se por dar uma resposa
útil para a solução do litígio no processo principal, mas é ao órgão jurisdicional de
reenvio que cabe tirar as consequências concretas dessa resposta;
2) Promover a interpretaçãoe aplicação consistente do Direito da União (Ac.
Schwarze);
3) Assegurar que o direito da União é o mesmo em todos os Estados,
independentemente das suas especificidades nacionais;
4) Constituir uma ampliação da garantia de acesso de indivíduos ao Tribunal de
Justiça, dadas as limitações resultantes do art. 230º TFUE;
5) Permitir o desenvolvimento do direito da União, de certa forma.
Reenvio de validade:
Doutrina Foto-Frost (já invocada pelo TJ – posição adotada):
▫ Os tribunais nacionais, de reenvio facultativo, podem apreciar a
validade de um ato comunitário e, se não considerarem
precedentes os fundamentos de invalidade que as partes invocam
perante eles, podem rejeitar esses fundamentos, concluindo que o
ato é plenamente válido. Assim, se a questão é suscitada e
entenderem que o ato é válido, o reenvio é facultativo.
▫ Pelo contrário, os tribunais nacionais não são competentes para
declarar a invalidade dos atos das Instituições comunitárias. Assim,
se entenderem que o ato é inválido, devem reenviar, mesmo que o
reenvio seja facultativo (ou seja, quando ainda é possível recorrer
perante instituições internas).
Argumentos:
▫ Exigência de uniformidade na aplicação do direito comunitário;
▫ Coerência do sistema de proteção jurisdicional instituído pelo
Tratado. Os Tratados estabeleceram um sentido complexo de vias
de recurso e de procedimentos destinados a confiar exclusivamente
ao Tribunal de Justiça a fiscalização da legalidade dos atos das
Instituições.
Esta doutrina estabelece, contudo uma exceção para os tribunais que
decidam a título cautelar (Hoffman La Roche), não sendo para eles
obrigatório o reenvio quando perante um ato que considerem inválido.
Opinião de Gorjão-Henriques:
▫ Viola a letra do art. 267º – este artigo não estabelece qualquer
diferença entre o reenvio de validade e o reenvio de interpretação;
▫ Viola o sentido do reenvio – o reenvio é a prova que os tribunais
nacionais são os tribunais comuns de direito comunitário. Só é
chamado o Tribunal de Justiça quando não há possibilidade de
recurso.
▫ Se os tribunais nacionais têm autonomia para afirmar a validade do
ato, não se compreende que não tenham para afirmar a sua
invalidade.
RECUSA DO PEDIDO
O Tribunal de Justiça pode recusar pronunciar-se sobre uma questão prejudicial:
1) Quando for manifesto que a interpretação do direito comunitário solicitada não
tem qualquer relação com a realidade ou com o objeto do litígio do processo
principal (daí a importância que o Tribunal Nacional justifique o recurso e o
quadro factual na base da questão);
2) Quando o problema for de natureza hipotética;
3) Quando o Tribunal não dispuser dos elementos de facto e de direito necessários
para responder utilmente às questões que lhe são submetidas.
Segundo o art. 99º do Reg. Do TJ, o Tribunal pode, a qualquer momento, mediante
proposta do juiz-relator, ouvido o advogado-geral, decidir pronunciar-se por meio de
despacho fundamentado, quando:
A questão submetida a título prejudicial for idêntica a uma questão sobre a qual o
Tribunal de Justiça já se tenha pronunciado;
A resposta a essa questão possa ser claramente deduzida da jurisprudência ou
quando a resposta à questão submetida a título principal não suscite nenhuma
dúvida razoável.
EFEITOS
A resposta do Tribunal de Justiça não é apenas uma opinião, assumindo a forma de um
julgamento que tem um efeito retroativo – ex tunc (exceto se o Tribunal decidir, por
atenção ao princípio da boa fé, restringir os seus efeitos temporais – acórdão Defrenne).
Desta forma, o Tribunal nacional ao qual a decisão do Tribunal de Justiça é reenviada está
vinculado pela interpretação dada pelo Tribunal de Jusitça (efeito restrito do caso):
O Tribunal nacional, ao decidir o caso, deve:
interpretar as provisões de acordo com as indicações dadas pelo Tribunal
de Justiça:
Desaplicar a norma se esta for considerada inválida e não pode desaplicá-la
se esta for considerada válida.
A decisão do Tribunal de Justiça vincula igualmente outros tribunais nacionais
perante os quais aquele mesmo litígio é suscitado.
INVALIDADE
Se o ato for declarado inválido, a doutrina tem avançado que a decisão se impõe erga
omnes, ainda que a questão prejudicial possa ser colocada se subsistirem dúvidas quando
à invalidade. Todavia, o ato permanece na ordem jurídica da União até à sua alteração ou
revogação.
Esta declaração de invalidade vincula quer os Tribunais nacionais, quer os órgãos da
União, gerando um dever de eliminação ou alteração do ato em causa pelos órgãos
competentes da União.
CONCEITO DE MERCADORIA
Este é um conceito amplo e autónomo, que integra os produtos que podem ser avaliados
em dinheiro e que são passíveis de transações comerciais (Tribunal de Justiça). Excluídos
do conceito ficam apenas os capitais e meios de pagamento5.
O art. 5º (ponto 23) do Código Aduaneiro determina quais as mercadorias comunitárias
5Quando a moeda não se encontra em circulação, não é considerada forma de pagamento e pode
constituir mercadoria. No entanto, se for uma moeda antiquíssima integrada no domínio público de
um Estado, é uma res extra comercium, logo, não é uma mercadoria.
Destaca-se que nos domínios harmonizados pela legislação europeia, os Estados só são
admitidos a derrogar esta proibição (arts. 30º, 34º e 35º) nos casos previstos no art. 36º,
Mercado interno
O mercado interno não é caracterizado apenas pela garantia da livre circulação de
mercadorias, mas por outras políticas como a da concorrência e a da fiscalidade.
Quanto à fiscalidade, apesar de se tratar de uma matéria de competência essencialmente
nacional, os Tratados efectuam também restrições. Existe duas condicionantes:
1) Princípio de neutralidade fiscal – as normas fiscais (sobretudo de tributação
indireta) não podem ser utilizadas como obstáculos à livre circulação de
mercadorias (art. 110º TFUE);
2) Tributação indireta – esta é feita apenas no Estado de importação (consumo) e não
no Estado de exportação (por isso se preveem as isenções às exportações (arts.
111º e 112º).
Assim, proíbem-se certos tipos de tributação direta ou indireta sobre produtos:
Aqueles que favoreçam os bens nacionais ou de determinados Estados
relativamente a produtos similares, isto é, substituíveis ou comparáveis (art.
110º/1);
Aqueles que visem proteger indiretamente outras produções (art. 110º/2 TFUE).
Estas reconduzem-se a:
- Diferentes taxas e incidências;
- Diferentes meios de pagamento (mais onerosos para os produtos importados);
- Diferentes benefícios fiscais.
Um importante passo neste âmbito foi dado Ac. Cassis de Dijon. Desta forma, foi
estabelecido o princípio de reconhecimento mútuo das legislações nacionais no âmbito da
liberdade de circulação.
Segundo o mesmo, uma mercadoria produzida ou legalmente introduzida no mercado de
um Estado membro pode, em princípio, ser introduzida no mercado de outro Estado
(encontra-se em livre prática – art. 28º TFUE).
No entanto, há limitações a este princípio:
Umas provenientes da União Europeia;
Outras adotadas pelos Estados, que devem ser comunicadas à União, e que são
admitidas desde que os Estados provem que estas são restrições:
Que prosseguem fins legítimos à luz do Tratado (art. 346º, art. 36º TFUE ou
outros limites implícitos de interesse geral – EX: proteção do meio
ambiente; eficácia dos controlos fiscais; proteção da saúde pública; defesa
do consumidor).
Sejam proporcionais aos objetivos a atingir;
Não sejam discriminatórias (ainda que nem sempre este critério
prevaleça);
Cumpram o direito comunitário aplicável.
CONCEITO DE TRABALHADOR
O conceito de trabalhador é um conceito autónomo do direito da União Europeia, que
deve ser interpretado independentemente dos conceitos de trabalhador dos direitos
nacionais.
O conceito depende largamente da distinção entre o exercício de atividades
assalariadas e não assalariadas – serviços (art. 48º TFUE), estando associado às
primeiras atividades. Isto porque uma mesma função pode ser assegurada nestes
dois moldes, dependendo da qualificação do vínculo jurídico com a entidade
empregadora/adquirente (critério da relação laboral real e efetiva).
O trabalhador será uma pessoa que realiza, durante um certo tempo, uma
prestação com valor económico determinado em função de uma pessoa,
sob direção desta, recebendo como contrapartida uma remuneração.
Atende-se ainda à relevância transfronteiriça da relação laboral. Com base neste
critério, consideram-se excluídas do âmbito normativo da liberdade de circulação
dos trabalhadores as situações puramente internas de um Estado. Requer-se,
assim, que estejam em causa pelo menos dois Estados.
EX: abrange uma pessoa que procura emprego no seu próprio Estado, quando haja
sido obtido o seu diploma de estudos noutro Estado membro inclui o conceito de
trabalhador.
DIREITO DE RESIDÊNCIA
O Tratado confere aos trabalhadores um direito de residência no país onde exerça a sua
atividade:
Até três meses – direito a residir sem qualquer formalidade (apenas podem ser
exigidos os documentos referidos);
A partir de três meses:
Qualquer trabalhador da União tem direito a uma carta de residente, de
modelo único, se estiver a trabalhar. O direito à carta de residente é
judicialmente exigível.
Se ainda não tiver encontrado trabalho, pode-lhe ser exigido que tenha
recursos financeiros suficientes e um seguro-doença, para evitar
sobrecarregar o Estado de acolhimento.
DIREITO DE PERMANÊNCIA
Depois de trabalhar em certo Estado, o trabalhador não é obrigado a abandonar o Estado
membro de acolhimento. Ou seja, não perde o estatuto de “trabalhador comunitário” se:
Estiver em situação de incapacidade temporária de trabalho, em virtude de doença
ou acidente;
Estiver em situação de desemprego involuntário, desde que tenha trabalhado mais
do que um ano e esteja inscrito num centro de emprego;
Estiver aposentado.
Este regime não é estendido a nacionais de estados terceiros, mesmo que trablhadores
residentes num determinado Estado membro. A única exceção são os familiares dos
trabalhadores que não sejam nacionais de nenhum Estado membro.
LIBERDADE DE ESTABELECIMENTO
O direito de liberdade de estabelecimento encontra-se regulado nos arts. 49º a 55º do
TFUE:
Pretende ser um fator de mobilidade social e económica, protegendo a liberdade
de escolha da localização da atividade e da estratégia empresarial com base em
critérios económicos.
Visa a criação de condições de livre e leal concorrência entre empresas e
profissionais liberais e para a adaptação das estruturas de produção à escala da
União.
Pretende aumentar a mobilidade dos trabalhadores por conta própria;
Permite às empresas a reorganização das suas atividades no mercado interno
reduzindo os respetivos custos de transação.
ÂMBITO DE PROTEÇÃO
Nos termos do art. 49º/2, este direito compreende tanto o acesso a atividades não
assalariadas coo a constituição e a gestão de empresas, sob as mais variadas formas.
Desta forma, ele garante uma atividade económica autónoma (não assalariada, implicando
a assunção do risco e a sua direção própria) com características de permanência ou
estabilidade, num ambiente transfronteiriço e em condições de igualdade e não
discriminação.
PROGRAMA NORMATIVO
O objetivo, como refere o art. 50º/2-f TFUE é a supressão gradual das restrições à
liberdade de estabelecimento em todos os domínios, o que exige a harmonização dos
regimes nacionais e a criação de regimes europeus.
Profissionais liberais:
Neste domínio, é relevante o conhecimento de diplomas e qualificações profissionais.
No caso dos advogados, existem três modalidades de regimes de exercício da atividades
de advocacia em Portugal por parte de cidadãos de outros Estados membros. A primeira
permite a prestação de serviços pontuais, enquanto as restantes supõem um direito de
estabelecimento.
1) O cidadão de outro Estado membro pode exercer a atividade apenas com o título
profissional de origem, prestando serviços apenas nos domínios do direito interno,
do direito comunitário e do direito internacional. Existe aqui o dever de inscrição
no órgão profissional do Estado membro de origem e o de dar conhecimento da
sua atividade à Ordem de Advogados portuguesa.
2) Esta diz respeito ao exercício da atividade com título profissional e registo na
Ordem dos Advogados. O advogado pode exercer uma atividade permanente com
título de origem e inscrição na Ordem dos Advogados. Ele está subordinado às
regras de ambos os Estados.
3) Esta prende-se com o exercício da atividade com qualificações obtidas no Estado
de origem e um título profissional nacional do Estado de acolhimento. O advogado
pode exercer a atividade permanente com o título, desde que se sujeite a um
exame de habilitação ou que comprove a sua experiência.
TITULARES E DESTINATÁRIOS
Este direito é aplicável a entidades privadas, singulares ou coletivas (referidas no art.
54º), e públicas no âmbito dos serviços e do direito das sociedades, que pretende
estabelecer-se num outro Estado membro.
Aplica-se a trabalhadores assalariados num Estado membro que pretendem
estabelecer-se para exercer uma profissão independente noutro Estado membro
(art. 50º/2-d TFUE, destaca-se ainda o art. 7º/1-a da Diretiva nº 2004/38/CE).
O art. 54º TFUE estabelece o princípio da equiparação, às pessoas singulares, as
sociedades que tenham sede, administração ou estabelecimento principal na União
Europeia, afastando do conceito de sociedade todas as entidades sem fins
lucrativos.
Vincula autoridades públicas europeias e nacionais, bem como entidades privadas que
possam adotar práticas contrárias à liberdade do estabelecimento.
RESTRIÇÕES
Apenas se permitem as restrições com fundamentos de natureza não económica. Estes
devem ser alvo de interpretação restritiva.
Elencam-se como limitações à liberdade de estabelecimento:
1) Participação no exercício de atividades de autoridade pública (art. 51º TFUE);
2) Restrições motivadas em razões de interesse público (art. 52º TFUE). Destaca-se
que a Diretiva 2006/123/CE reconhece um vasto elenco de bens dignos de
proteção.
Apenas justifica medidas restritivas não discriminatórias;
Os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito da União Europeia
podem justificar a restrição da liberdade de estabelecimento.
Apesar de a tributação interna ser uma matéria da competência reservada dos Estados
membros, o proíbe-se a discriminação fiscal, ou seja, um tratamento fiscal diferenciando
nacionais, residentes ou sediados em diferentes Estados membros.
Contudo, um qualquer tributo que decorra de um único Estado membro pode constituir
uma restrição ao direito de estabelecimento se torna menos atrativo o respetivo exercício.
A mesma apenas poderia ser admitida se justificada e proporcional.
O TJUE não desconsidera totalmente a proteção de bens estaduais relevantes, como sejam
o combate à fraude e à evasão fiscal, a defesa da coerência e da integridade do sistema
fiscal e a repartição equilibrada do poder de tributar.
Pode questionar-se se não será a própria Constituição que exclui os estrangeiros da função
notarial. Assim, o notário continua a desempenhar uma função pública (mesmo
privatizado), mas coloca-se a questão da sua natureza.
Desta forma, parece haver um eventual desacerto entre direito constitucional e direito da
União, tornando-se imperativo uma interpretação conforme com o direito comunitário.
Até à reforma trazida pelo Decreto-Lei nº 26/2004, de 4 fevereiro, o notariado
regia-se pelo estatuto da função pública (seguia-se o modelo do notariado público),
razão pela qual se considerava, quase sem oposição, que a Diretiva n+º 89/48/CE,
do Conselho, de 21 de dezembro de 1988, não era aplicável aos notários em
Portugal7.
Com o Decreto-Lei nº 26/2004, verifica-se a privatização do notariado, segundo a
qual o notário exerce a sua função no quadro de uma profissão liberal, mas são-lhe
atribuídas prerrogativas que o farão participar da autoridade pública, devendo,
por isso, o Estado controlar o exercício da atividade notarial, a fim da garantir a
realização dos valores servidos pela fé pública, que ficariam necessariamente
afetados caso se consagrasse um sistema de livre acesso à função. Mas a natureza
pública e privada da função notarial é incidível (art. 1º/3).
Este Decreto-Lei estabelece como requisitos de acesso à função notarial (art. 25º), no
entanto, o mesmo não estabelece qualquer referência à nacionalidade portuguesa dos
notários, pelo que parece admitir o acesso ao notariado de estrangeiros. Coloca-se assim o
problema de saber se se incluem aqui apenas nacionais.
À luz do direito da União Europeia, deve atender-se ao facto de:
O art. 49º TFUE reconhecer o direito de estabelecimento, que implica a
possibilidade de um nacional da União participar, de modo estável e contínuo, na
vida económica de um Estado membro diferente do seu Estado de origem.
O art. 51º TFUE estipula também que o direito de estabelecimento não é aplciável
às atividades que, nos Estados membros, estão ligadas, ainda que ocasionalmente,
ao exercício de autoridade pública.
No âmbito da Diretiva nº 89/48/CEE, do Conselho, de 21 de dezembro de 1988, a
tendência ia no sentido de considerar a função notarial excluída das liberdades
comunitárias.
A Diretiva nº 2005/36/CE, por sua vez, trouxe sentidos diversos:
Por um lado, o seu art. 2º/3 refere que sempre que num instrumento separado da
legislação comunitária sejam estabelecidas outras regras específicas diretamente
relacionadas com o reconhecimento de qualificações profissionais para
determinada profissão regulamentada, não se aplicarão as disposições
correspondentes na diretiva.
Por outro lado, no considerando 41 da Diretiva, estatui-se que a Diretica não
prejudica a aplicação dos arts. 39º/4 e 45º do TFUE, designadamente no que diz
respeito aos notários.
No entanto, a proposta inicial era a de considerar expressamente excluída do
âmbito da Diretiva a atividade notarial, sendo que o exposto é apenas uma
7Também as Diretivas sobre advogados, de 1977 e 1998, se permitia que se excluísse um advogado
proveniente de um Estado membro do exercício de atividades tipicamente de um Estado membro
do exercício de atividades tipicamente notariais noutro.
ÂMBITO DE APLICAÇÃO
Investimento estrangeiro direto (aquisição de uma empresa ou de partes
relevantes das suas ações);
Compras ou investimentos imobiliários;
Investimentos no mercado de capitais (ações, fundos, trust);
Concessão de empréstimos e créditos;
Outras operações financeiras (heranças, legados).
RESTRIÇÕES
A liberdade de circulação de capitais pode ser restringida com base em fundamentos
expressamente previstos nos Tratados (ou seus fundamentos implícitos).
Existe a possibilidade de adoção medidas que constituam um retrocesso no direito da
União em relação à liberalização dos movimentos de capitais com destino a países
terceiros ou deles provenientes (art. 64º/3) e ainda a de aceitação de medidas adotadas
por um Estado com o mesmo teor (art. 65º/4).
Segundo o art. 65º/1, os Estados membros têm direito de:
1) Aplicar as disposições pertinentes do seu direito fiscal que estabeleçam uma
distinção entre contribuintes que não se encontrem em idêntica situação no que se
refere ao seu lugar de residência ou ao lugar em que o seu capital é investido
(critérios da residência e da fonte).
2) Tomar todas as medidas indispensáveis para impedir infrações às suas leis e
regulamentos, nomeadamente em matéria fiscal e de supervisão providencial das
instituições financeiras, preverem processos de declaração dos movimentos de
capitais para efeitos de informação administrativa ou estatística, ou tomarem
medidas justificadas por razões de ordem pública ou de segurança pública.
a. Ter fundamento em objetivos legítimos a promoção da coerência fiscal dos
sistemas nacionais, de evitar o branqueamento de capitais, de evitar o
financiamento do terrorismo (desde que não se trate de bens de natureza
económica, como a proteção dos interesses financeiros gerais do Estado);
9Caso Golden Shares Português (regras nacionais que proibiam que investidores de outros Estados
apenas adquirissem um certo número de ações em empresas recem privatizadas).
TITULARES
Os titulares desta liberdades são os nacionais, residentes e sediados na União Europeia.
Os Estados devem garantir que a liberdade de circulação de capitais seja na sua veste de
entidade dotada de poderes públicos, seja enquanto Estado Acionista, independentemente
de o movimento de capitais ser intracomunitário ou entre um Estado terceiro e a União.
A proibição de restrição à liberdade de circulação de capitais e pagamentos tem efeito
direto (Processo Bordessa, Sanz de Lera).
2) As restrições têm de ser justificar com base na conduta pessoal do visado, isto é,
o comportamento da pessoa deve constituir uma ameaça real, atual e
suficientemente grave que afete um interesse fundamental da sociedade.
GARANTIAS PROCEDIMENTAIS/PROCESSUAIS
Acesso a documentos do país de origem (registo de condenações penais, cadastro
criminal);
Prazos para a tomada de decisão;
Direito a ser ouvido;
Fundamentação da decisão;
Notificação da decisão;
Direitos de recurso administrativo e judicial;
Atribuição em princípio de efeito suspensivo ao recurso;
Limites à detenção e deportação.
AMBIENTE
Cada vez há mais atos jurídicos de direito ambiental na União Europeia, este aumento
pode justificar-se pela atuação do princípio da integração.
Princípio da integração – obriga as instituições a integrar as exigências em matéria
de proteção do ambiente na definição e execução das políticas e ações da União,
com o objetivo de promover um desenvolvimento sustentável.
LIBERDADES FUNDAMENTAIS
1. Proc. C-240/83 (livre circulação de óleos usados) – admitiu-se restrições à
liberdade de circulação de mercadorias por razões ambientais.
2. Caso das garrafas dinamarquesas (Proc. 302/86) – Tribunal pronunciou-se em
sentido favorável às restrições à liberdade de circulação de mercadorias por
razões de proteção ambiental (medida impunha o mesmo regime tanto para os
produtores dinamarqueses como para os estrangeiros).
3. Diretiva 2006/123/CE, que veio liberalizar os serviços no mercado interno,
permite regimes restritivos para certos serviços ambientais.
4. Diretiva 2008/87/CE, confirmando a legitmidade do comércio de licenças de
emissões enquanto mecanismo do protocolo de Kyoto, mesmo que configure uma
restrição ao livre estabelecimento de instalações emissoras de dióxido de carbono
ou gases com efeito equivalente.
HISTÓRIA
Nos finais da década de cinquenta do séc. XX, quando as Comunidades Europeias foram
criadas, não lhes foram atribuídas competências em matéria ambiental.
Começaram a ser emitidas Diretivas nesta área, para cuja base legal foi utilizada a norma
que consagrava o sistema de integração de lacunas (art. 352º TFUE). Sendo ténue o
fundamento da competência europeia, foi questionado, a nível dos Estados membros, a
validade destas Diretivas.
O TJUE veio considerar que o fundamento jurídico das diretivas aceitável, uma vez que a
proteção do ambiente é uma condição sine qua non da melhoria das condições de vida, a
qual é um objetivo prioritário expresso nos Tratados.
Com o Tratado de Lisboa (2009), o surgimento da política de energia (art. 194º TFUE) vem
confirmar a íntima ligação entre a política ambiental e a política energética, na luta contra
as alterações climatéricas.
2. Princípio da integração
Este obriga à consideração da proteção ambiental em atividades que não sejam
expressamente ligadas à proteção de componentes ambientais ou à conservação
da natureza.
Nas restantes políticas, o princípio da integração resulta do reconhecimento de
que não há atividades humanas que se possam afirmar como totalmente inócuas
em termos ambientais.
Transversalidade do ambiente:
Neste sentido, uma das principais consequências do dever de integração
das considerações ambientais é tornar obrigatória a aplicação de todos os
restantes princípios ecológicos às restantes políticas europeias – carácter
transversal.
Por força do mesmo, é possível fiscalizar a legalidade de uma política no
âmbito ambiental e sancionar o desrespeito pelos referidos princípios.
O carácter transversal não é único da política do ambiente (ver arts. 8º, 9º
e 10º TFUE), apesar de apenas em relação a este se referir a CDFUE.
Consideração do ambiente:
A ideia de integração do ambiente nas outras políticas significa que tanto
as medidas legislativas como administrativas adotadas no âmbito de
políticas devem ter em consideração os seus efeitos no ambiente.
Realça-se que os seus efeitos relevantes não inclui apenas os diretos e
imediatos, mas todos.
4. Princípio da prevenção
Segundo esta, em vês de contabilizar-se os danos e tentar repará-los, deve
procurar-se evitar a sua ocorrência, antes de os mesmos se verificarem
Ratio da prevenção:
Irreversibilidade dos danos:
▫ A restauração natural, envolvendo a reposição da situação anterior
ao dano, deverá ter sempre prioridade absoluta sobre a solução de
compensação por equivalente.
5. Princípio da precaução
Em comparação com o princípio da prevenção:
Semelhança – destina-se a evitar a ocorrência de danos ambientais futuros;
Diferença – tem a sua máxima aplicação em casos de incertezas.
Fala-se de uma espécie de princípio in dúbio pro ambiente, ou seja, o ambiente
deve ter a seu favor o benefício da dúvida, quando não haja certezas, por falta de
provas científicas evidentes, sobre o nexo causal entre uma atividade e um
determinado fenómeno de poluição ou degradação do ambiente.
Condições de aplicação:
Campo de aplicação: atividades que envolvam riscos ecológicos, impondo
ao potencial poluidor o ónus da prova de que um acidente ecológico não
vai ocorrer e de que adotou específicas medidas de precaução.
O ónus da prova é transferido do Estado ou dos potenciais poluídos para os
potenciais poluidores.
Dúvidas podem existir em diversas circunstâncias:
a. Quando ainda não se verificaram quaisquer danos decorrentes dessa
atividade, mas se receia apesar da falta de provas científicas, que
possam vir a ocorrer;
b. Quando havendo já danos provocados ao ambiente, não há
conhecimento científico de qual a causa que está na origem dos danos;
c. Quando, apesar de haver danos provocados ao ambiente, não há
provas científicas sobre o nexo de causalidade entre uma determinada
causa hipotética e os danos verificados.
Medidas precaucionais:
Este princípio envolve a adoção, em cada caso, de diferentes tipos de
medidas, em cuja escolha deve ter-se em consideração que a gravidades
das medidas preconizadas deve ser proporcional ao carácter dos riscos
6. Princípio do poluidor-pagador
O PPP é mais do que um princípio de responsabilidade, voltado para a reparação
dos danos causados às vítimas.
Este é um princípio de precaução, prevenção e redistribuição dos custos das
medidas públicas de prevenção da poluição, cuja aplicação permite melhorar o
ambiente e a qualidade de vida, com maior justiça social e ao menor custo
económico. O mesmo atua antes e independentemente quer dos danos ao
ambiente terem ocorrido, quer da existência de vítimas.
Montante do pagamento:
Não sendo um princípio a posteriori, o montante dos pagamentos a impor
aos poluidores deve ser proporcional aos custos de precaução e prevenção,
e não proporcional aos danos causados.
Se o valor a suportar pelos poluidores for bem calculado, atingir-se-á uma
situação social e ambientalmente ótima, a redução da poluição a um nível
considerado aceitável e simultaneamente a criação de um fundo destinado
ao combate à poluição residual ou acidental, ao auxílio às vítimas da
poluição e ao financiamento de despesas públicas de administração,
planeamento e execução da política ambiental.
Estes pagamentos são um incentivo aos poluidores que passam a escolher
entre:
▫ Poluir e pagar ao Estado;
▫ Pagar para não poluir, investindo em processo produtivos ou
matérias-primas menos poluentes ou em investigação de novas
técnicas e produtos alternativos, que sejam mais amigos do
ambiente.
Cumprimento alternativo:
Se aos poluidores não forem dadas outras alternativas a não ser deixar de
poluir ou ter de suportar um custo económico em favor do Estado, então,
os poluidores terão e fazer os seus cálculos económicos de modo a escolher
a opção mais vantajosa:
▫ Acatar as disposições dissuasórias da poluição e tomas as medidas
necessárias para evitar a poluição;
▫ Produzir, suportando economicamente os custos que isso acarreta.
Âmbito de aplicação:
O meio para alcançar esses objetivos é a antevisão e a avaliação prospetiva dos
impactes ambientais de certos projetos considerados suscetíveis de gerar impactes
significativos. Os Estados membros têm alguma liberdade na forma como definem
os projetos que, em concreto, irão sujeitar-se a avaliação de impacte ambiental.
Em qualquer caso, o legislador europeu definiu os limiares e os critérios relativos
às características dos projetos, à sua localização ou aos seus impactes que
reforçam a segurança jurídica e garantem a desejável harmonização.
A localização, por sua vez, leva a que se submetam a avaliação de impacte
ambiental os projetos situados em zonas ambientalmente sensíveis ou em locais
onde a afetação do uso do solo, a riqueza relativa, a qualidade dos recursos
naturais e a capacidade de absorção e de regeneração do ambiente natural o
justifiquem.
Por fim, tomam-se em consideração as características do impacte potencial:
magnitude, extensão, natureza do impacte, natureza fronteiriça, intensidade,
complexidade, probabilidade, ocorrência, duração, frequência e reversibilidade, a
acumulação de impactes com projetos existentes ou aprovados e ainda a
possibilidade de redução dos impactes de maneira eficaz.
Mas a União foi mais longe e aplicou, ela própria, os critérios para impor, em
relação a alguns projetos, a realização de avaliação do impacte ambiental.