Sociologia Da Religiao e Geral
Sociologia Da Religiao e Geral
Sociologia Da Religiao e Geral
Religião
Prof. Gesiel Anacleto
2015
Copyright © UNIASSELVI 2015
Elaboração:
Prof. Gesiel Anacleto
306.6
233 p. : il.
ISBN 978-85-7830-917-6
1. Sociologia e religião.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Olá, caro(a) acadêmico(a)!
III
Esperamos que esta disciplina venha a contribuir para sua formação
acadêmica e humana, pois qualquer conhecimento destituído de uma aplicação
para a vida se torna irrelevante diante da própria existência humana. Por isso
desejamos a você um excelente aprendizado e ótimo aproveitamento.
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – SOCIOLOGIA GERAL................................................................................................. 1
VII
3 DARCY RIBEIRO.................................................................................................................................. 55
3.1 O POVO BRASILEIRO..................................................................................................................... 56
4 GILBERTO FREYRE.............................................................................................................................. 59
4.1 O PROCESSO CIVILIZADOR NO BRASIL.................................................................................. 61
4.1.1 Casa-Grande e Senzala............................................................................................................ 61
4.1.2 Sobrados e Mocambos............................................................................................................ 64
5 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA................................................................................................ 67
5.1 RAÍZES DO BRASIL......................................................................................................................... 68
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 70
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 73
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 74
VIII
UNIDADE 3 – SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO................................................................................... 147
IX
X
UNIDADE 1
SOCIOLOGIA GERAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dos estudos, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos estudados.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste primeiro tópico estaremos abordando de uma
maneira geral o surgimento e o desenvolvimento da sociologia. Por mais que a
disciplina de sociologia seja algo recente, as discussões em torno dos fenômenos
sociais são muito antigas, pois remontam à Grécia clássica. Compreender o
desenvolvimento da história da humanidade é um fator determinante para
compreendermos a sociologia, pois não está desvinculada das transformações
históricas pelas quais a humanidade passou e vem passando, como bem sabemos.
2 O QUE É SOCIOLOGIA
A partir do instante em que os seres humanos foram formando as
comunidades como uma maneira de sobreviver, ao mesmo tempo em que esse
ajuntamento facilitava a luta por sobrevivência, outros problemas foram surgindo,
em decorrência das relações existentes nestes grupos. Nesse sentido, foi necessário
que se criassem mecanismos que regulamentassem a vida em sociedade, para que
a mesma permanecesse em harmonia e todos viessem a gozar de uma vida estável
e feliz. A organização social surgiu devido às necessidades do grupo. À medida
que os grupos foram crescendo, as relações foram se tornando mais complexas.
Nesse momento começam a surgir as primeiras instituições, e dentre elas podemos
destacar o Estado, que serve como mediador nas relações sociais, econômicas e
políticas da sociedade.
3
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
NOTA
O conceito de Helenismo foi usado pela primeira vez pelo historiador alemão Johann
Gustav Droysen (1808-1884) para caracterizar o processo de expansão da cultura helênica, isto
é, grega, para outras regiões do mundo antigo após a morte do Imperador Alexandre, O Grande.
FONTE: Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/idade-antiga/helenismo.htm>.
Acesso em: 18 maio 2015.
4
TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E A SOCIOLOGIA
5
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
senso comum. É importante ressaltar que a sociologia não consiste num conjunto
de afirmações baseadas no senso comum, pois “enquanto o senso comum apresenta
ideias familiares e não testadas, a sociologia, utilizando o método científico,
apresenta ideias fundamentadas que podem ser permanentemente verificadas”.
(DIAS, 2011, p. 16). O fato de a sociologia utilizar métodos científicos em suas
pesquisas é o que lhe confere o status de ciência.
6
TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E A SOCIOLOGIA
os serviços deste eletricista, sabe que não poderá contar com ele no sábado para
consertar algum problema elétrico, apenas depois das seis da tarde. Observe que
aqui há um caso em que os indivíduos estão ligados por laços econômicos, mas
quando se trata de religião, possuem uma visão completamente diferente.
LEITURA COMPLEMENTAR
SOCIEDADE
7
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
FONTE: JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
8
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:
9
AUTOATIVIDADE
a) ( ) F – V – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – V.
10
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
A modernidade é um período da história humana que causou muitas
rupturas em relação ao sistema medieval. Tais rupturas foram sentidas nas
instituições sociais mais comuns, como é o caso da família, a religião e o Estado.
Para entendermos o que foi a modernidade, inicialmente iremos tratar de
entender seu conceito.
2 MODERNIDADE
O período que antecede a modernidade é um momento da história humana
marcado pelo obscurantismo, misticismo e ignorância. Infelizmente, a religião,
neste caso o cristianismo, foi usado como um instrumento de domínio por parte
da Igreja Católica, para controlar a vida das pessoas. No entanto, o poder absoluto
da Igreja teve seu auge, mas começou a dar sinais de que estava se fragmentando
11
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Não está em questão aqui qual a concepção mais correta sobre a modernidade.
O que temos que observar é que cada teórico observa algum aspecto que possa
explicar os acontecimentos deste período e a maneira como isso afetou a vida das
pessoas. O que é possível perceber claramente é que o conhecimento científico é
um elemento fundamental da modernidade. A sociologia surge com a finalidade de
entender e explicar os problemas decorrentes deste novo cenário que se configurava
nas cidades europeias. Todavia, vale ressaltar que a sociologia surge como disciplina
somente em meados do século XIX, com a consolidação do capitalismo.
12
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
3 A REFORMA PROTESTANTE
O surgimento da sociologia teve influência de várias áreas da vida humana,
entre elas podemos destacar os campos filosófico, político, econômico, cultural, e
não podemos esquecer-nos do campo religioso.
13
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
4 O RENASCIMENTO CULTURAL
A produção artística e científica surgida na Europa nos séculos XV e XVI
produziu mudanças no estilo de vida das pessoas. Um exemplo disso foram as
viagens marítimas, que culminaram com a chegada dos europeus em outros
continentes, desencadeando uma euforia muito grande, pois agora o homem
acreditava ser capaz de mudar as coisas e criar o seu próprio destino. A visão
teocêntrica dá lugar a uma visão antropocêntrica, onde o homem é capaz de
intervir diretamente nos destinos da história do mundo.
14
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
15
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
5 O ILUMINISMO
O Iluminismo é um movimento de caráter global, no sentido de que
envolve diversas áreas da vida humana. Este movimento pregava o uso da razão
como o elemento-chave para as mudanças necessárias que melhorariam a vida das
pessoas, tirando-as das trevas da ignorância. Tal movimento promoveu mudanças
importantes nas áreas política, social e econômica.
16
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
6 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
O conjunto de mudanças que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e
XIX é denominado de Revolução Industrial. Nesse período as máquinas a vapor
ganharam importância fundamental para o aumento da produção, tornando-se
símbolo dessa era de elevada produtividade e consumo. Na figura a seguir você
poderá observar como eram os interiores das fábricas de tecidos na Inglaterra.
17
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
18
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
DICAS
SUGESTÃO DE FILME
7 A REVOLUÇÃO FRANCESA
O descontentamento provocado pela divisão da sociedade francesa em
três estados (clero, nobreza e povo) gerou uma onda de descontentamento por
parte do terceiro estado (o povo), porque este arcava com a custa dos demais,
ou seja, trabalhava para pagar a conta. Nesta época a população francesa estava
enfrentando problemas com o clima, secas e/ou inundações. Tais fatores mexiam
profundamente com a economia francesa, pelo fato de a metade da população
trabalhar no campo. Altos impostos, somados aos problemas econômicos e uma
série de outras desigualdades sociais, tornaram-se um campo fértil para o germe
de uma revolução que estourou em 1789.
19
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
De acordo com Silva e Silva (2009, p. 371), “a Revolução Francesa não foi
apenas mais um evento que abalou as estruturas do Antigo Regime, mas um fato
de consequências mais fundamentais para a contemporaneidade do que qualquer
outro, visto que foi uma revolução social de massa”. O ideal da Revolução Francesa
consistia no anseio por liberdade, igualdade e fraternidade. A busca por uma
sociedade igualitária, livre e fraterna despertou nos franceses um sentimento de
inconformismo diante daquilo que vinham enfrentando ao longo de sua história.
Nesse sentido, “a Revolução Francesa não foi uma revolução comum, mas foi uma
revolução que sacudiu as instituições vigentes e propôs novas instituições e valores
ao mundo” (SILVA; SILVA, 2009, p. 367). Se, por um lado, a Revolução Industrial
teve um forte impacto sobre o campo econômico, a Revolução Francesa teve um
impacto mais abrangente, pois seus efeitos são sentidos nas mais diversas áreas da
vida humana. Naturalmente, este evento marca o início das discussões sobre os
direitos universais do homem.
20
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
21
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
22
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
Para Comte (1978, apud SELL, 2002, p. 42), “No estado teológico, o espírito
humano [...] apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua
de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária
explica todas as anomalias existentes no universo”. Neste estado as explicações
partem da ideia de que há deuses (posteriormente surge a ideia de um único Deus
– monoteísmo) que regem os destinos do universo, ou seja, Deus está presente em
tudo e tudo o que acontece parte da vontade Dele.
23
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Entendo a Física Social a ciência que tem por objeto próprio o estudo
dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que
os fenômenos astronômicos, químicos e fisiológicos, isto é, como
submetidos às leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo
especial de suas pesquisas [...]. O espírito dessa ciência consiste,
sobretudo, em ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira
explicação do presente e a manifestação geral do futuro.
24
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
A evolução social é vista por Comte como estando sujeita a leis naturais
que não podem ser modificadas pela natureza humana, cabendo à física
social, pois, alertar para a inutilidade da resistência ao desenvolvimento
que, afinal, é inevitável, podendo, ao mesmo tempo, mitigar ou acelerar
artificialmente tal desenvolvimento [...]. E, fiel a tal perspectiva, ele recusa
a noção de acaso: tudo está interligado, todo fenômeno pode ser estudado
a partir de causas precisas que o motivaram. (SOUZA, 2008, p. 140)
25
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
E
IMPORTANT
9 HERBERT SPENCER
Herbert Spencer, nascido em 27 de abril de 1820 em Derby, morreu em 8
de dezembro de 1903, em Londres, é um filósofo inglês e sociólogo. Defende, em
1857, uma filosofia evolutiva. A evolução é uma transição gradual do homogêneo
para o heterogêneo e contraditório consistente. Um fenômeno evoluindo no
sentido de aumentar a diferenciação e integração. Vindo de uma família de
radicais, muito cedo se interessou em questões políticas. É por isso que ele se
juntou a muitas associações. Tornou-se membro da Anti-Corn Law League,
fundada por Richard Cobden. Se ele ficou conhecido como um sociólogo, no
entanto, praticou os caminhos de ferro na profissão de engenharia.
26
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
27
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Então, para que querem um governo? Não para regular o comércio, não é
para educar o povo, não é para ensinar a religião, não é para administrar a
caridade, não é para construir rodovias ou ferrovias, senão simplesmente
para defender os direitos naturais do homem: para proteger a pessoa e a
propriedade, para impedir as agressões dos poderosos aos mais fracos,
em uma palavra, para administrar a justiça. Essa é missão natural e
original de um governo. Não se pretende que faça menos: não deveríamos
permiti-lo a fazer mais. (1981, apud RICHARDS, 2015, p. 1).
28
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
LEITURA COMPLEMENTAR
29
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Economia Política
(Ciência econômica) (Ciência política)
Cultura
Comunidade societal
(Antropologia)
30
TÓPICO 2 | ADVENTO DA SOCIEDADE MODERNA E A CONSTITUIÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
• Natureza da mudança: por fim, Giddens assinala, ainda, que o mundo moderno
criou instituições sociais novas, que praticamente não existiam em outras
sociedades. Basta pensar em fenômenos sociais como o Estado-Nação, artefatos
tecnológicos e o trabalho assalariado, por exemplo. Assim, pela sua própria
“natureza”, a ordem social moderna está em profunda descontinuidade com os
tipos de sociedade pré-modernas.
É por estas razões que a sociologia pode ser considerada como uma ciência
social cujo objeto de estudo é a sociedade moderna. Em outros termos, a sociologia
é uma teoria da modernidade.
FONTE: SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica. 4. ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002.
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:
• Augusto Comte é considerado o pai da sociologia, pois foi ele quem criou o
termo e contribuiu de maneira efetiva para que a sociologia fosse reconhecida
como ciência.
32
AUTOATIVIDADE
1 A Europa passou por um longo tempo sob o controle da Igreja Católica e dos
reis absolutistas, pois eram eles que determinavam os rumos da política, da
economia e da religião. Para contrapor tal controle, surgiu o Iluminismo.
Nesse sentido, descreva as principais características do Iluminismo.
33
34
UNIDADE 1
TÓPICO 3
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
1 INTRODUÇÃO
A sociologia clássica recebe este nome porque os pensadores deste período
desenvolveram teorias que estruturaram o pensamento sociológico. Esses autores
são considerados os clássicos porque suas obras e seus métodos de análise
sociológica servem de base para o desenvolvimento da sociologia posterior.
35
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
2 ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (1858-1917) nasceu na região de Lorraine, na França, no
dia 15 de abril de 1858. Descendente de família judia, estudou filosofia na Escola
Normal Superior de Paris. O fato de Durkheim não ter seguido os preceitos da
cultura judaica pode ter influenciado o teor de seus estudos e suas preocupações
religiosas, preferindo analisá-las desde o ponto de vista social. Estudou as teorias
de Auguste Comte e Herbert Spencer, o que fez com que conferisse uma matriz
científica às suas teorias.
36
TÓPICO 3 | A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Sobre o que significa um fato social, Durkheim (2007, p. 13) escreve: “É fato
toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior; ou, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando
uma experiência própria, independente das manifestações individuais que possa
ter”. Neste fragmento já é possível perceber as três características dos fatos sociais,
que analisaremos cada uma em particular.
37
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
DICAS
Sugestão de Leitura:
Esta é uma obra clássica da sociologia, pois se trata de
uma obra fundamental para compreendermos a sociedade
contemporânea. Durkheim estabelece métodos sociológicos
e as principais regras adotadas no estudo dos fenômenos
sociais, estabelece também os objetivos da sociologia
enquanto ciência. Boa leitura!
38
TÓPICO 3 | A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Com efeito, o que é coisa? A coisa opõe-se à ideia, como se opõe entre
si tudo o que conhecemos a partir do exterior e tudo o que conhecemos a partir
do interior. É coisa todo objeto de conhecimento que a inteligência não penetra
de maneira natural, tudo aquilo de que não podemos formular uma noção
adequada por simples processo de análise mental, tudo o que o espírito não
pode chegar a compreender, senão sob a condição de sair de si mesmo, por meio
da observação e da experimentação, passando progressivamente dos caracteres
mais exteriores e mais imediatamente acessíveis para os menos visíveis e
mais profundos. Tratar de fatos de uma certa ordem como coisas não é, pois,
classificá-lo nesta ou naquela categoria do real; é observar, com relação a eles,
certa atitude mental. Seu estudo deve ser abordado a partir do princípio de que
se ignora completamente o que são, e de que suas propriedades características,
assim como as causas desconhecidas de que estas dependem, não podem ser
descobertas nem mesmo pela mais atenta das introspecções.
FONTE: TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual Editora, 1993, p.
24-25.
3 MAX WEBER
Max Weber (1864-1920) nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, no dia
21 de abril de 1864. Foi nomeado professor de economia da Universidade de
Heidelberg. Entre 1900 e 1918, ficou afastado do magistério em consequência
de um colapso nervoso. No período que ficou afastado, colaborou em diversos
jornais alemães e realizou diversas pesquisas.
39
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
40
TÓPICO 3 | A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Max Weber entende que a ação social deve ser o objeto de estudo da
sociologia. Nesse sentido, Weber define a ação social da seguinte maneira:
Isso significa dizer que para Weber a ação social “seria a conduta humana,
pública ou não, a que o agente atribui significado subjetivo; acentua a importância
de ser a ação social uma espécie de conduta que envolve significado para o
próprio agente” (LAKATOS; MARCONI, 2006, p. 73). A questão que devemos
levantar para compreender a ação social consiste em saber qual a motivação que
leva os indivíduos a agirem da maneira que agem? Nas relações sociais as ações
individuais são desencadeadas pelas ações dos outros. Uma questão simples para
ilustrarmos nossa discussão é quando perguntarmos qual a motivação que levou
um indivíduo a entrar em uma universidade com uma arma e atirar em seus
colegas de faculdade? Isso é uma ação social desencadeada por alguma motivação.
Qual seria? O que o indivíduo quis mostrar com isso? Qual o objetivo desta ação?
O que significava para ele? Outra questão no estudo da ação social é: por que o
indivíduo cumpre as regras estabelecidas na sociedade? Se existem aqueles que
quebram as normas, por outro lado, outros encontram motivos para obedecer cada
regra social. Nesse sentido, vamos falar um pouco sobre os tipos de ação social
especificamente.
41
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Por fim, a ação racional com relação a fins é “determinada pelo cálculo
racional que coloca fins e organiza os meios necessários” (TOMAZI, 1993, p. 20).
Neste tipo de ação o indivíduo estabelece quais os fins a serem alcançados e define
a partir daí os meios para os fins. Para chegar ao fim almejado, o indivíduo deve
escolher os meios disponíveis e escolhe aquele que considera mais conveniente
para seus propósitos.
O texto a seguir é um fragmento daquilo que Max Weber define como ação
social:
FONTE: TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual Editora, 1993, p.
24-25.
4 KARL MARX
Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo e revolucionário alemão. Criou as
bases da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu
influência em várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito,
Teologia, Filosofia, Economia, entre outras. Karl Marx (1818-1883) nasceu em
Trèves, cidade ao sul da Prússia Renana, na fronteira da França, no dia 5 de maio
de 1818. Filho de Herschel Marx, advogado e conselheiro da justiça, descendente
de judeu, era perseguido pelo governo absolutista de Frederico Guilherme III.
42
TÓPICO 3 | A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Em 1835 concluiu o curso ginasial no Liceu Friedrich Wilhelm. Ainda nesse ano
e boa parte de 1836, Karl estudou Direito, História, Filosofia, Arte e Literatura na
Universidade de Bonn.
43
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
44
TÓPICO 3 | A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
De acordo com Sell (2002, p. 78), o método utilizado por Marx em sua
análise sociológica pode ser apresentado da seguinte maneira:
45
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
FONTE: SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica. 4. ed. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002.
46
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:
• Weber entende que a ação social deve ser o objeto de estudo da sociologia.
47
AUTOATIVIDADE
a) ( ) III – II – I.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – I – II.
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – F – F.
48
UNIDADE 1
TÓPICO 4
A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país relativamente populoso e com características culturais
complexas. Sua colonização conferiu uma configuração singular nos aspectos
sociais, culturais, políticos e religiosos, que por sua vez o tornam uma sociedade
singular, exigindo uma análise sociológica muito particular no sentido de
compreender suas estruturas e funcionamento de suas instituições.
2 FLORESTAN FERNANDES
Florestan Fernandes (22/7/1920 - 10/8/1995) nasce na cidade de São
Paulo, de origem pobre, estuda com dificuldade e destaca-se pela disciplina e
esforço. Torna-se professor da Universidade de São Paulo (USP) na década de
40, sendo afastado pelo regime militar em 1969. A partir daí passa a lecionar
em universidades do Canadá e dos Estados Unidos. Denuncia a marginalização
do negro na sociedade na tese A Integração do Negro nas Sociedades de Classe
(1964). Dedica-se, também, ao estudo das sociedades indígenas, da educação
e da modernização, além da análise crítica da sociologia. Aborda o processo
49
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Florestan Fernandes não foi apenas um teórico social, foi acima de tudo um
militante socialista. As privações e aflições que sofreu enquanto criança o moldaram
para representar as classes desassistidas pelo Estado e reclamar políticas públicas
mais eficientes que fossem capazes de amenizar as desigualdades sociais e outros
problemas inerentes à sociedade brasileira.
50
TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
DICAS
Para conhecer um pouco mais sobre este importante pensador brasileiro, assista
ao vídeo “Florestan Fernandes: o Mestre”, produzido pela TV Câmara e que está disponível no
Youtube: <https://www.youtube.com/watch?v=iJxJd0jXuWw>
51
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Converti essa cadeira em um pião para atingir fins que são inatingíveis
ao professor e ao investigador isolados. Como D’Artagnan ao chegar
a Paris, eu estava disposto a lutar com qualquer um que dissesse
que nós não somos capazes de impor a nossa marca à sociologia. Ao
antigo símbolo de made in France eu pretendia opor o feito no Brasil.
Não estava em busca de uma estreita sociologia brasileira. Pretendia,
isso sim, implantar e firmar padrões de trabalho que nos permitissem
alcançar o nosso modo de pensar sociologicamente a nossa contribuição
à sociologia. Os fatos iriam mostrar que isso era possível, que eu não
forjava uma pura utopia profissional. [...] O nosso esforço não pode nem
deve ser isolado do que fizeram outros sociólogos brasileiros. Contudo,
ele foi encarado, aqui e no exterior, como um índice de autonomia
intelectual e de capacidade criadora independente. O que fomentou
o mito da escola paulista de sociologia e nos conferiu um prestígio
que sobreviveu ao expurgo que sofremos. (FERNANDES, 1994 apud
CAMACHO, 2015, p. 73)
52
TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Tal intenção foi bem-sucedida, pois a sociologia nunca mais será a mesma
depois das suas contribuições e do incalculável número de seguidores de suas
ideias. Suas obras conferem à sociologia brasileira uma identidade que até então
não tinha. Segundo Camacho (2015, p. 59), a obra de Florestan Fernandes
53
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
54
TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
3 DARCY RIBEIRO
Nasceu em 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Minas Gerais.
Depois de abandonar o curso de Medicina, matriculou-se, em 1944, na Escola de
Sociologia e Política de São Paulo. Entre 1947 e 1957 trabalhou com o Marechal
Rondon no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Contratado por Anísio Teixeira,
assumiu, em 1957, a direção da Divisão de Estudos Sociais do Ministério de
Educação e Cultura. Tornou-se um "discípulo" de Anísio Teixeira na defesa da
escola pública e juntos influenciaram o processo de elaboração da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, de 1961. Foi o primeiro reitor da Universidade de
Brasília e ministro da Educação e Cultura do governo João Goulart. Após o golpe
de 1964, exilou-se no Uruguai, Venezuela, Peru, Chile, entre outros países. Com
a anistia, em 1979, associou-se a Leonel Brizola, para reorganizar o velho Partido
Trabalhista Brasileiro. Em 1982, como vice-governador do Rio de Janeiro e
coordenador do Programa Especial de Educação, criou os Centros Integrados de
Educação Pública (CIEPs) e as Casas da Criança, que integravam o atendimento
de saúde e educação a crianças de zero a seis anos. Em 1986 assumiu a Secretaria
de Desenvolvimento Social de Minas Gerais, na tentativa frustrada de implantar
os CIEPs. Como senador, em 1990, foi relator do anteprojeto aprovado da
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), que passou a ser
conhecida como Lei Darcy Ribeiro. No segundo mandato de Leonel Brizola
no Rio de Janeiro, coordenou o 2° Programa Especial de Educação, chegando
à marca de 500 CIEPs, escolas públicas de tempo integral. Autor de diversos
livros, faleceu em 17 de fevereiro de 1997.
55
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Podemos observar que os brasileiros não são os nativos que aqui estavam
por ocasião da chegada dos portugueses, na visão de Ribeiro o povo brasileiro é a
mistura racial e cultural que culminou com o surgimento de um povo totalmente
novo em relação aos demais povos conhecidos até então. Tal miscigenação fez surgir
um povo com características singulares na sua maneira de ser e na maneira como a
estrutura social está organizada. No entanto, o povo brasileiro carrega algo do velho.
56
TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Algo que se faz necessário ressaltar é o fato de que esta mistura de povos
do qual é formado o povo brasileiro não resultou em um povo multiétnico, pois
“apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros
os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas
minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e
disputantes de autonomia frente à nação”. (RIBEIRO, 1995, p. 20). As diferentes
origens do povo brasileiro não têm sido motivo para problemas de ordem étnicos,
com raras exceções.
57
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
58
TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
DICAS
4 GILBERTO FREYRE
Antropólogo, historiador, escritor e pintor, Gilberto de Mello Freyre foi
também um dos mais importantes sociólogos do século XX. Nos Estados Unidos
tornou-se bacharel em Artes Liberais pela Universidade de Baylor e obteve grau
de mestre pela Universidade de Columbia. Retornando ao Brasil, tornou-se o
redator-chefe do jornal Diário de Pernambuco. Foi professor de Sociologia em
universidades do Brasil e dos Estados Unidos. Com sua obra Casa-Grande &
Senzala traduziu a pluralidade étnica e cultural brasileira. Escreveu, entre outras
obras, Sobrados e Mocambos, Nordeste, Um Engenheiro Francês no Brasil e Problemas
Brasileiros de Antropologia. Recebeu o título de Doutor honoris causa pelas
Universidades de Columbia, Baylor, Oxford, Sorbonne, Munique, Salamanca,
e homenagens dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra, de Portugal, da
Espanha, entre outras. Recebeu também o título de Sir Cavaleiro do Império
Britânico, pela Rainha Elizabeth II da Inglaterra; recebeu o Prêmio Internacional
La Madoninna e o Prêmio Aspen pelo que há de original, excepcional e de valor
permanente em sua obra. Foi eleito, por aclamação, Membro da Academia
Pernambucana de Letras, ocupando a cadeira n° 23. Nasceu em 15 de março de
1900, em Recife, Pernambuco, e morreu em 18 de julho de 1987.
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Observe que na visão de Freyre o escravo não era tido como uma ferramenta
de trabalho com objetivo de ganhos econômicos a partir de seu trabalho. Sua
utilidade estava ligada à vida familiar de seus proprietários, ou seja, o escravo
servia aos interesses domésticos. Aqui, é possível percebermos a ideia de uma
sociedade patriarcal onde o senhor era responsável por sua família e por todos os
que estavam sob seu domínio. A família patriarcal, sem dúvida, era a base familiar
da sociedade brasileira durante o período colonial, mas a ideia de que o escravo
era protegido contra os abusos das classes dominantes é utopia, pois estes estavam
à mercê da vontade e dos seus donos e da sua família direta (filhos, esposa). A
ideia de harmonia existente na relação entre o senhor e o escravo é um mito, pois o
escravo estava aqui contra sua vontade, portanto, sua sujeição e a boa relação que
procurava ter com o senhor não eram resultado de consideração (salvo algumas
exceções), eram resultado de não se ter outra saída a não ser submeter-se à vontade
de seu senhor. A casa-grande possuía muita importância para a estrutura do país,
pois era a residência, sede administrativa do engenho e o lugar em que o senhor
exercia seu poder e domínio sobre aqueles que estavam sob seu comando.
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
Essa sociedade híbrida descrita por Freyre é resultado de uma união entre
o colonizador e o colonizado, onde cada um destes absorve alguns costumes um
do outro num processo de aculturação. Observe, porém, que o autor diferencia
o colonizador do colonizado utilizando o termo “atrasado” para o colonizado
e “adiantado” para o colonizador. Novamente é possível perceber a ideia de
superioridade do colonizador presente no pensamento de Freyre. Contudo, vale
ressaltar que os portugueses se valeram dos conhecimentos indígenas como uma
forma de viverem melhor nas terras brasileiras. Nisso podemos perceber que
a cultura não era uma questão de ser uma sociedade adiantada ou atrasada, a
questão é que a cultura dos nativos brasileiros resultava das necessidades naturais
existentes em seu habitat.
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Vale ressaltar que Casa-Grande e Senzala é uma obra que resultou de uma
vasta e monumental pesquisa. Apesar de o ponto de vista de Gilberto Freyre ser
influenciado por sua posição social, não é por isso que a obra perde seu valor, muito
pelo contrário, tal obra deve ser tomada como uma importante fonte de pesquisa
para quem desejar conhecer mais sobre a formação da sociedade brasileira.
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
residências dos senhores nas cidades, enquanto que os mocambos (ou mucambos)
eram as residências das camadas mais pobres da sociedade brasileira. A posse ou a
vida nessas diferentes residências demonstrava a maneira como a sociedade estava
constituída e quais as características sociais, culturais e econômicas dos residentes
de cada uma destas habitações.
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
pois aquele modo natural de viver foi substituído por um comportamento artificial,
marcado pelas regras de etiqueta que alteraram a maneira do brasileiro se vestir,
comer e andar. Não somente nesse aspecto, mas devemos considerar as mudanças
ocorridas na estrutura familiar, pois a promiscuidade sexual e a poligamia da casa-
grande deram lugar a uma vida mais controlada, principalmente nos sobrados, onde
as relações monogâmicas eram mais valorizadas e consideradas como ideal.
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
“Sérgio Buarque de Holanda baseia sua obra Raízes do Brasil sobre uma forte hipótese:
os portugueses eram os mais bem preparados para efetuar a conquista dos trópicos em
benefício da civilização, do que eles tinham consciência”. Um dos capítulos de seu livro
irá discorrer sobre a figura do homem aventureiro e do trabalhador. Os portugueses
eram os aventureiros, estavam dispostos a se entregar ao acaso para alcançar seus
objetivos políticos e econômicos. O fato de possuírem esta característica aventureira os
tornava preparados para os desafios que as novas descobertas lhes trariam, e por este
motivo é que as colonizações portuguesas se diferem das demais.
69
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Essa postura frente à vida social não é vista de maneira positiva, pois o
homem é um ser social e seu comportamento na vida pública deve ser pautado na
racionalidade. A vida social exige que o indivíduo tenha uma postura ética frente às
normas que regem a sociedade. A falta desta postura ética na sociedade brasileira
é vista frequentemente quando um político, por exemplo, coloca seus amigos ou
parentes em cargos de confiança mesmo sem que estes estejam preparados para tal
função. O homem cordial é aquele que não sabe separar o público do privado, e na
visão de Holanda isso tem sido um fator de atraso para o desenvolvimento do Brasil.
DICAS
SUGESTÃO DE LEITURA:
Esta é considerada uma das obras fundadoras da moderna
historiografia e das ciências sociais brasileiras. Neste livro estão
pontuadas algumas das mazelas de nossa vida social, política e
afetiva, entre elas a incapacidade secular para separar o espaço
público do privado. É uma excelente leitura para se compreender
o atual cenário da sociedade brasileira no sentido de conhecer
as raízes dos problemas atuais. Boa leitura!
LEITURA COMPLEMENTAR
RAÍZES DO BRASIL
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TÓPICO 4 | A SOCIOLOGIA BRASILEIRA
chaleur naturelle et la dissipe; et par ainsi sont chaulds seulement par dehors et froids en
dedans”, ao contrário do que sucede aos outros, os habitantes das terras frias, os
quais “ont la chaleur naturelle serrée et constrainte dedans par le froid extérieur qui les
rend ainsi robustes et vaillans, car la force et faculté de toutes les parties du corps dépend
de cette naturelle chaleur” .
71
UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA GERAL
Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim,
o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que
sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as
qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade,
instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção
espaçosa do mundo, característica desse tipo.
Entre esses dois tipos não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta
como uma incompreensão radical. Ambos participam, em maior ou menor grau,
de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro, nem
o trabalhador possuem existência real fora do mundo das ideias. Mas também
não há dúvida de que os dois conceitos nos ajudam a situar e a melhor ordenar
nosso conhecimento dos homens e dos conjuntos sociais. E é precisamente nessa
extensão superindividual que eles assumem importância inestimável para o estudo
da formação e evolução das sociedades.
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RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:
• As obras de Freyre que formam uma trilogia sobre o processo civilizador são:
Casa-Grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso.
73
AUTOATIVIDADE
1 Gilberto Freyre desenvolveu uma obra muito vasta, que aborda diversos
aspectos da vida social brasileira. Sobre sua obra Casa-Grande e Senzala,
analise as sentenças a seguir e assinale V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
( ) Esta obra deve ser considerada uma fonte histórica, todavia, no aspecto
sociológico deve ser ignorada, pelo fato de Gilberto Freyre ter nascido em
uma família abastada e fazer parte da elite pernambucana, nesse sentido
sua visão social é completamente distorcida.
( ) Ao abordar a questão da miscigenação, Freyre entende que foi o ponto
em que as diferenças raciais foram de certa maneira postas de lado, pois a
assimilação cultural e biológica das raças deu origem ao povo brasileiro.
( ) Nesta obra Freyre faz uma análise sobre a colonização portuguesa,
descreve a formação familiar brasileira e o patriarcado, enfatiza também a
miscigenação étnica como um traço da cultura brasileira.
a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – V.
74
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dos estudos, você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos estudados.
75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
O ser humano está em um constante processo de adaptação às mudanças
culturais que ocorrem na sociedade. Tanto a cultura quanto a sociedade nasceram
da necessidade que o homem tem para sobreviver. Nesse sentido é correto
afirmar que a organização social é produto da necessidade humana de formar
uma estrutura capaz de estreitar as relações entre os indivíduos promovendo a
interação e integração.
Dito isto, convido você para discorrermos um pouco mais pelos caminhos
da sociologia na tentativa de compreendermos a relação entre cultura, sociedade e
indivíduo. Mãos à obra!
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UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
2 A CULTURA
É comum ouvirmos as pessoas falarem que determinada pessoa possui
cultura e outra não. Geralmente o termo cultura no senso comum está associado
ao grau de formação e especialização de um indivíduo ou o quanto ele conhece
das coisas. A cultura pode ser definida como “aquele todo complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (TYLOR, 1871 apud DIAS,
2009, p. 52). Podemos observar que a cultura tem um sentido mais global, pois
envolve diversas áreas da vida e da sociedade.
a) Ela se manifesta por meio de tudo aquilo que produz o ser para
satisfazer às suas necessidades e viver em sociedade. A fim de satisfazer
as necessidades de alimentação, criam-se animais domésticos, plantam-
se sementes, produzem-se utensílios (garfo, faca, prato); a necessidade
de abrigo traduz-se na produção de vestimentas, casas etc.
b) É a cultura que estabelece os limites no qual se desenvolve toda a ação
social. Assim, podemos afirmar que, para cada tipo de cultura, pode-se
desenvolver uma determinada ação social relacionada. A ação social é
sempre gerada a partir dos limites impostos por determinada cultura.
Uma sociedade pode ser mais ou menos tolerante ao adultério. As
pessoas são mais ou menos efusivas ao se cumprimentarem. O almoço
pode ser uma situação em que as pessoas conversam animadamente ou
ser um momento em que impera o silêncio etc.
c) A cultura é construída e compartilhada pelos membros de uma
determinada coletividade. Um grupo social compartilha entre seus
membros os mesmos hábitos, costumes, atitudes etc. que caracterizam
aquela cultura em particular. Assim, cada membro vai ser identificado
como integrante de tal ou qual cultura pelos traços que apresenta
e que constituem um conjunto culturalmente identificado. São
compartilhados, de um modo geral, os hábitos de vestir, a alimentação,
as normas de cortesia, o significado dos gestos etc.
d) Toda cultura apresenta elementos tangíveis e não tangíveis. Os
elementos tangíveis são mais fáceis de serem identificados, como a
tecnologia, as ferramentas, os instrumentos de trabalho, as máquinas, as
construções etc. Os elementos não tangíveis podem não ser percebidos
de imediato, pois se constituem, na mente dos indivíduos, como os
valores, a ideologia, as crenças, os mitos, os símbolos, as normas
ritualizadas nos costumes etc.
e) A cultura se manifesta por meio de diversos sistemas (valores,
normas, ideologias etc.) que influenciam decisivamente a personalidade
do indivíduo, determinando seu comportamento, sua forma de pensar,
de sentir e de atuar no sistema ao qual pertence. (DIAS, 2010, p. 67-68)
78
TÓPICO 1 | A CULTURA, A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO
FIGURA 16 - OKTOBERFEST
79
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Cada povo tem uma cosmovisão que consiste na maneira subjetiva de ver
e compreender o mundo. É a partir desta compreensão de mundo que os grupos
humanos desenvolvem seus valores, tradições, hábitos, rituais etc.
E
IMPORTANT
80
TÓPICO 1 | A CULTURA, A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO
A imagem a seguir deve nos levar a refletir um pouco sobre alguns hábitos
comuns em nossa vida:
81
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
O ser humano precisa ter bom senso para refletir sobre quais elementos
culturais são positivos ou não para a sua existência. A cultura do consumismo se
instalou na sociedade de tal forma que o indivíduo é visto e respeitado a partir
daquilo que ele possui ou pode consumir. Tal cultura tem formado e tem lapidado
o comportamento de muitas pessoas, tornando-as cada vez mais materialistas e
egoístas, incapazes de pensar no outro, na sociedade e no meio ambiente.
4 O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO
Para Galliano (1981, p. 303), “A aquisição da cultura é socialização”.
Lembre-se de que no início deste tópico falamos um pouco sobre a cultura e que
a mesma é constituída de vários elementos que compõem uma sociedade, desde
elementos materiais e até imateriais, padrões de comportamento, hábitos, crenças,
costumes etc. A aquisição destes elementos e a adaptação ao meio é denominada de
socialização, pois é o processo em que o indivíduo vai assimilando gradativamente
os hábitos e costumes que são característicos dos grupos sociais.
82
TÓPICO 1 | A CULTURA, A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO
83
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
DICAS
85
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Podemos observar que ao nascer não há como dizer que este ser humano é
isso ou aquilo. O ser isso ou aquilo está diretamente associado com cada fase da sua
vida. A existência como possibilidade indica que o indivíduo vai sendo construído e
se construindo a partir de suas experiências. A existência é permeada de constantes
decisões e na medida em que o indivíduo vai envelhecendo, suas decisões vão se
tornando cada vez mais complexas. Quando criança, grande parte das decisões é
tomada pelos pais ou responsáveis. O indivíduo, em sua grande maioria, quando
está sob os cuidados de alguém, anseia pela liberdade de decidir. Todavia, quando é
livre para escolher, irá se deparar com a angústia de ter que decidir constantemente
diante das possibilidades. A socialização é o meio pelo qual o indivíduo é preparado
e se prepara para viver de maneira independente em seu grupo social.
Para concluir o assunto, vamos ver o que escreve Chinoy (1967, p. 626):
86
TÓPICO 1 | A CULTURA, A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO
E
IMPORTANT
SOCIALIZAÇÃO
Socialização é o processo através do qual os indivíduos são preparados para participar dos
sistemas sociais. Incluídos neste conceito há alguma compreensão de SÍMBOLOS e sistemas
de ideias, LINGUAGEM e as relações que constituem os sistemas sociais. De modo geral, não
somos socializados para compreender os sistemas como sistemas, nem para analisar como
eles realmente funcionam e suas consequências. Em vez disso, viemos a compreendê-los
como realidade que aceitamos como natural, que simplesmente é o que parece ser. Em outras
palavras, o que em geral não é incluído é qualquer tipo de conscientização sociológica do que
é aquilo de que participamos e como estamos dele participando.
LEITURA COMPLEMENTAR
CULTURA
87
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Assim, não podemos considerar a cultura como algo isolado, mas como
um conjunto integrado de características comportamentais aprendidas. Essas
características são manifestadas pelos sujeitos de uma sociedade e compartilhadas
por todos. Com isso, a cultura refere-se ao modo de vida total de um grupo
humano, compreendendo seus elementos naturais, não naturais e ideológicos.
Segundo Ramos (2003, p. 265), “as culturas penetram o indivíduo [...] da mesma
forma que as instituições sociais determinam estruturas psicológicas [...] o homem
pensa e age dentro do seu ciclo de cultura”.
88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:
• A cultura se manifesta por meio de tudo aquilo que produz o ser para satisfazer
as suas necessidades e viver em sociedade.
• É a cultura que estabelece os limites nos quais se desenvolve toda a ação social.
• Todas as pessoas possuem cultura, não se podendo definir uma cultura como
sendo superior ou inferior a outra.
89
AUTOATIVIDADE
1 Sabemos que todas as pessoas têm cultura, pois ela é inerente à própria
existência humana. Nesse sentido, descreva o que é cultura e como se
origina.
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – V.
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
A sociedade em que vivemos não está estruturada por um acaso, isso é
resultado da necessidade de organização para a continuidade e sobrevivência da
raça humana. No sentido de garantir que os indivíduos vivam em harmonia e
sobrevivam aos desafios que a natureza impõe, a sociedade foi se organizando e
estabelecendo normas de conduta e comportamento para garantir a ordem social.
91
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
92
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Inicialmente, vamos buscar uma definição para o que vem a ser um sistema
social. De acordo com Johnson (1997, p. 209),
93
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
94
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
95
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Não se deve supor que a unidade do grupo primário seja uma unidade
de simples harmonia e amor. É sempre uma unidade diferenciada
e habitualmente competidora, que justifica a autoafirmação e
várias paixões apropriadas; mas essas paixões são socializadas pela
solidariedade e caem ou tendem a cair sob a disciplina de um espírito
comum. O indivíduo será ambicioso, mas o principal objeto de sua
ambição será um lugar desejado no pensamento dos outros, e ele será
fiel a padrões comuns de serviço e lealdade.
96
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Pai – filho
da relação Grupo de
Exiguidade do
brinquedos
grupo Amigo – Amigo
A relação é pessoal – Grupo de
avaliação intrínseca de outra amigos
Duração Professor – aluno
pessoa
prolongada da (escolas de Ensino
Aldeia ou
relação Fundamental)
A relação é completa – vizinhança
completo conhecimento de
outra pessoa
97
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
A relação é espontânea –
sentimento de liberdade
e espontaneidade,
funcionamento dos controles
informais
Avaliação intrínseca da
Presidente da
relação
República – Estado
SECUNDÁRIA
98
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
UNI
O site da Câmara dos Deputados fez a seguinte enquete: “Você concorda com a
definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, prevista no
projeto que cria o Estatuto da Família?” Dos 8.123.286 votos, 52,30% responderam “Sim”, 47,38%
responderam “Não” e 0,32% responderam “Não tenho opinião formada”.
100
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
5 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
A questão do estudo da estratificação social é um tema muito discutido
na literatura sociológica. Quando falamos de estratificação social, estamos nos
referindo à divisão da sociedade em classes, pois a palavra estratificação vem
de estrato, que significa camadas. A sociedade está dividida em classes sociais,
marcada pela desigualdade dos indivíduos em relação ao acesso a oportunidades
sociais, ressaltando que não existem sociedades totalmente igualitárias e puras.
101
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
102
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
103
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
E
IMPORTANT
FONTE: SILVA, Kalina V. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009, p. 150.
Feudalismo
104
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Capitalismo
105
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Nesse sentido, vale ressaltar que, por mais que houve mudanças entre o
estamento feudal e as classes sociais na sociedade industrial, o princípio que rege
as relações é o mesmo: aqueles que detêm o capital e aqueles que detêm a força
produtiva. Sabemos que houve muitos avanços sociais nos últimos anos, mas o
poder econômico ainda é instrumento de controle e dominação. Será possível
quebrar essa dominação quando houver distribuição equitativa de riquezas.
106
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Abaixo de todas essas castas estão os párias ou dalits, que são os intocáveis,
pois segundo a tradição, estes se originaram da poeira em que o deus Brahma
pisou. Vivem numa posição extremamente desconfortável, pois são considerados
impuros e são destinados a desempenhar as piores atividades, como limpar
esgotos, banheiros e recolher o lixo. Os párias não se encaixam em nenhuma casta,
nesse sentido, socialmente não possuem nenhum direito, apesar do sistema ser
considerado ilegal desde a independência da Índia em 1950. A condição dos párias
é de extrema humilhação e exclusão, pois não podem sentar-se à mesa com pessoas
de outras classes e não podem usar os mesmos talheres. É classe de pessoas onde
se concentra o maior número de analfabetos, pois mesmo que o governo crie
programas de incentivo para essas pessoas, elas são discriminadas nas escolas
que frequentam e, consequentemente, abandonam os estudos. É uma vida muito
difícil, que reflete o poder de uma cultura baseada no misticismo e que ignora o
valor da vida humana em detrimento de crenças supersticiosas.
107
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
108
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
109
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
110
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
E
IMPORTANT
Weber utiliza três dimensões da sociedade para identificar as desigualdades nela existentes: a
econômica, a social e a política, que estão relacionadas com três componentes analiticamente
distintos de estratificação: classe (riqueza e renda), status (prestígio) e poder [...]. A posição
de uma pessoa em um sistema de estratificação refletiria um pouco da combinação de sua
classe, de seu status e de seu poder. Ao mesmo tempo, essas três dimensões de estratificação
poderiam operar um pouco independentemente umas das outras, determinando igualmente
a posição de uma pessoa.
Chama de ‘classe’ “a todo grupo de pessoas que se encontra em igual situação de classe”, e a
situação de cada uma é definida por ele como “a oportunidade típica de 1) abastecimento de
bens, 2) posição de vida externa, 3) destino pessoal, que resulta, dentro de determinada ordem
econômica, da extensão e natureza do poder de disposição (ou falta deste) sobre bens ou
qualificação de serviço e da natureza de sua aplicabilidade para a obtenção de rendas ou outras
receitas”. (WEBER, 1991, p. 199)
Diferentemente de Marx, que conceituou classe social como determinada pelas relações sociais
de produção (como na sociedade capitalista, em que os proprietários dos meios de produção
formam a classe social dominante – burguesia – e aqueles que não detêm o controle dos meios
de produção, possuindo somente sua força de trabalho, constituem a classe social dominada
proletariado), Max Weber afirmava que as classes sociais se estratificam segundo o interesse
econômico, em função de suas relações de produção e aquisição de bens. A diferenciação
econômica, segundo Weber, é representada, portanto, pelos rendimentos, bens e serviços que o
indivíduo possui ou dispõe. As classes sociais estão diretamente relacionadas com o mercado e
com as possibilidades de acesso que os grupos na sociedade possuem a este.
111
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
Os grupos de status podem ser facilmente reconhecidos segundo seu modo de vida,
costumes, instrução, prestígio do nascimento ou da profissão. As pessoas que pertencem à
mesma camada de status têm a tendência de frequentar os mesmos lugares e conviver com
certa frequência, estão quase sempre nos mesmos clubes, nos mesmos bairros, nas mesmas
áreas de lazer e de compras, e seus filhos estudam em escolas semelhantes. Os clubes sociais
existentes em qualquer cidade expressam com clareza essa tendência: se, ao perguntarmos
a vários membros de uma comunidade a hierarquia de status dos clubes sociais (excluindo-
se os exclusivamente esportivos), veremos que todos apresentam uma hierarquia igual, ou
muito semelhante, estabelecendo-se certo consenso. Além disso, o prestígio social está ligado
a comportamentos definidos, como: a maneira de falar, de gastar, de ler, de comprar, de se
comportar em sociedade.
Além das classes sociais e dos grupos de status, Max Weber distinguia um terceiro tipo de
estratificação social, com base no poder político. Do ponto de vista político, a diferenciação se
dá pela distribuição do poder entre os grupos e partidos políticos e também no interior destes.
‘Partido político’, do ponto de vista de Weber, é uma associação cuja adesão é voluntária e que
visa assegurar o poder a um grupo de dirigentes, a fim de obter vantagens materiais para seus
membros. O poder político, de modo geral, está institucionalizado.
LEITURA COMPLEMENTAR
112
TÓPICO 2 | ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Um exemplo que ficou conhecido em todo o país foi a história de Surjit Singh,
um garoto dalit de 16 anos, trucidado em meados do ano passado no vilarejo de
Una, no Estado de Himachal Pradesh. Ele foi espancado por um professor porque
escreveu um poema de amor para uma menina de casta alta. Muito machucado, no
dia seguinte ele foi espancado de novo pela família da menina e acabou morrendo.
Os ativistas, em defesa dos dalits, alertam que os casos de violência que têm
se tornado mais comuns ultimamente são a reação das castas altas à ascensão dos
“intocáveis”. Os exemplos nos seus arquivos de casos de agressões são inúmeros.
113
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:
• Existem três modelos de estudos dos sistemas sociais: modelo mecânico, modelo
orgânico e modelo de processo.
114
AUTOATIVIDADE
I- Modelo mecânico.
II- Modelo orgânico.
III- Modelo de processo.
a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – I – II.
d) ( ) I – III – II.
115
116
UNIDADE 2
TÓPICO 3
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
1 INTRODUÇÃO
A origem das instituições está na própria sociedade, pois consiste numa
maneira de a sociedade se organizar. A estrutura denominada de instituição social
tem por função controlar o funcionamento da sociedade lidando diretamente com
os problemas comuns à vida coletiva.
2 INSTITUIÇÕES ECONÔMICAS
As relações comerciais e financeiras não são coisas recentes, pois desde
muito cedo na história o ser humano começou a atribuir valor ao que produzia. À
medida que o tempo foi passando, as relações comerciais foram se tornando cada
vez mais complexas e houve o surgimento das instituições econômicas, ou seja,
estruturas sociais organizadas que se especializaram no cuidado com a produção
de mercadorias e a distribuição daquilo que era produzido. As instituições
econômicas surgiram para atender tanto as necessidades naturais do ser humano,
bem como as necessidades criadas pelo mesmo.
117
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
118
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
Qual a função das instituições econômicas? Dias (2010, p. 300) nos responde
dizendo que “uma das principais funções da instituição econômica é prover os meios
necessários de sobrevivência para os membros de uma determinada sociedade. Sua
estrutura está baseada nas funções de produção, distribuição e consumo de bens
e serviços”. No processo produtivo, dois elementos são importantes: os recursos
naturais disponíveis e o capital (finanças e meios de produção). Esses dois elementos
associados ao trabalho, neste caso, a mão de obra, resultarão nos bens de consumo.
Observe a figura a seguir e discuta com seus colegas sobre: Qual a influência
das instituições econômicas sobre a vida particular de cada indivíduo? O que
consumimos realmente precisamos ou compramos apenas por que está na promoção?
119
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
FIGURA 26 - CONSUMISMO
ATENCAO
Consumismo é doença?
Quando o ato de comprar está vinculado diretamente à ansiedade e à satisfação, podemos dizer
que se trata de uma compulsão. Em alguns casos, isso pode representar grandes perdas em
termos de relacionamento interpessoal e qualidade de vida. Para que seja considerado doentio,
o consumismo precisa representar uma parcela significativa da vida e dos pensamentos da
pessoa, de forma que sua saúde emocional, psicológica ou mesmo social e financeira esteja
abalada. Nesses casos, a cisão entre necessidade e motivação da compra é completa, ou seja,
a pessoa definitivamente não precisa e, muitas vezes, nem se dá conta do que está comprando.
FONTE: Disponível em: http://www.brasilescola.com/psicologia/consumismo.htm. Acesso em:
12 jul. 2015.
120
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
121
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
E
IMPORTANT
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TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
3 AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS
A grande questão que sempre desencadeou conflitos, rebeliões, guerras e
muitas mortes ao longo da história diz respeito à divisão do poder. Com o decorrer
do tempo, as comunidades foram se organizando e definindo as instituições que
exerceriam o poder legítimo sobre a vida coletiva e individual. Nasceram as
instituições políticas, que “se ocupam da distribuição do poder na sociedade”
(BOTTOMORE, 1981, p. 150). Nesse sentido, precisamos primeiro responder: De
onde vem o poder na sociedade? É imprescindível que façamos uma distinção entre
sociedade civil e sociedade política. Na sociedade civil nós temos duas instituições
políticas diferentes, o povo e a nação. Por outro lado, na sociedade política temos
duas outras instituições políticas, Estado e Governo.
123
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
124
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
DICAS
4 EDUCAÇÃO
Vivemos em um tempo em que muito se fala em educação. Essa é uma
preocupação que deve ser prioridade na agenda pública. Mas sabemos que em
nosso país, quando se trata de educação, os governos estão deixando muito
a desejar. Talvez você possa estar se perguntando: por que a educação é tão
importante? Por que devem ser investidos mais recursos em educação?
125
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
A educação é uma instituição social que vem ganhando cada vez mais
importância à medida que as relações sociais vão se tornando cada vez mais complexas,
pois ela surge da necessidade do homem se aperfeiçoar no sentido de acompanhar as
mudanças que ocorrem em todos os segmentos da sociedade. No início das civilizações
não havia a necessidade de o ser humano se aplicar aos estudos, pois bastava desenvolver
algum ofício para ocupar seu lugar na economia da sociedade. Geralmente, os ofícios
eram passados de pai para filho sem a preocupação de desenvolver outra habilidade
para competir no mercado de trabalho. Não precisamos ir muito longe na história para
constatarmos isso, pois há alguns anos os filhos de agricultores aprendiam o ofício
com o pai e permaneciam no campo por várias gerações. No entanto, com a crescente
urbanização, o mercado de trabalho vem se tornando cada vez mais competitivo,
exigindo dos indivíduos aperfeiçoamento constante para poder disputar as melhores
e mais bem remuneradas vagas no mercado.
126
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
DICAS
127
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
E
IMPORTANT
A EDUCAÇÃO NO BRASIL
A história da educação no Brasil pode contribuir de algum modo para explicar alguns aspectos da
estrutura educacional brasileira atual. O ensino, de um modo geral, teve ao longo de sua história
um caráter bastante elitista. A administração colonial portuguesa tratava a educação primária
com muito descaso. De início, ela estava nas mãos dos jesuítas. Após a expulsão desses de
todas as coroas de domínio de Portugal, em 1759, o governo se encarregou da educação de
maneira bastante secundária. Não há dados sobre a alfabetização no período colonial. Porém,
se verificarmos que, em 1872, meio século após a Independência, apenas 16% da população era
alfabetizada, podemos ter uma ideia da situação naquela época (CARVALHO, 2002).
No período do Brasil Colônia somente os membros mais abastados das elites enviavam seus filhos
para estudar em universidades. Em contraste com a Espanha, Portugal nunca permitiu a criação
de universidades em sua colônia. No final do período colonial, havia pelo menos 23 universidades
na América Espanhola, três delas no México. Em torno de 150 mil pessoas se formaram nessas
universidades. Somente a Universidade do México formou 39.367 estudantes. No Brasil, escolas
superiores só foram admitidas após a chegada da corte, em 1808 (CARVALHO, 2002).
Os reflexos dessa herança colonial são sentidos até hoje na pouca valorização da educação
como instrumento de ascensão social. A educação é substituída por outros mecanismos
herdados das administrações patrimoniais da colônia e do Império, que se centram no tráfico
de influência como forma de adquirir prestígio e, consequentemente, galgar posições da
hierarquia de status. Daí a grande importância dos cargos públicos, que são procurados não só
pela estabilidade no cargo, mas também pelas possibilidades que oferecem dado o ingresso do
indivíduo na estrutura de poder.
LEITURA COMPLEMENTAR
PARTICIPAÇÃO POPULAR
128
TÓPICO 3 | AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
129
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
131
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
132
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:
• O trabalho faz parte da vida humana, pois ele é fundamental para a sobrevivência
e os seres humanos tentam, de alguma maneira, desenvolver alguma atividade
ao longo da vida que pode ser definida como trabalho.
133
AUTOATIVIDADE
a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – F – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V.
134
UNIDADE 2
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar se em nossa sociedade não existissem leis? O que
seria se as pessoas fizessem o que bem entendessem e não houvesse uma punição
para ações que prejudicassem outras pessoas? O que seria das nossas ruas se as
pessoas andassem em seus carros na velocidade que bem entendessem? O que seria
dos trabalhadores se não houvesse leis que regulassem as relações de trabalho?
Neste tópico nós iremos ver que, ao nascer, o indivíduo passa a fazer parte
de um grupo em que já existem normas estabelecidas e que no decorrer de sua
vida ele terá que se adequar a essas normas ou propor mudanças de maneira
democrática e conciliadora. Nesse sentido, vamos verificar como cada indivíduo é
afetado pelas leis e de que maneira pode lidar com tudo aquilo que exerce controle
sobre a sua vida.
2 O CONTROLE SOCIAL
Na vida em sociedade é comum nos depararmos com uma série de normas
e regras que normatizam o comportamento social. Para que possamos viver em
coletividade é necessário que venhamos a assimilar essas regras e obedecê-las, pois,
do contrário, o indivíduo sofre determinadas sanções e punições em decorrência
do descumprimento das regras aceitas pela maioria. Essas normas têm a finalidade
de controlar, de certa maneira, algumas ações dos indivíduos, pois a convivência
em sociedade só é possível mediante a observância de determinadas regras que
visam proteger os interesses de cada indivíduo.
135
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
As normas sociais não nascem por acaso, pelo contrário, as normas estão
baseadas em valores que a sociedade julga fundamentais para seu funcionamento
e para que seus membros convivam sem maiores problemas. São obrigações
sociais às quais o indivíduo está sujeito ao longo de toda a sua vida, e são tão fortes
quando estabelecidas e interiorizadas, que o controle é autoexercido.
137
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
A figura a seguir reflete um pouco daquilo que estamos falando. Você acha
que isso acontece com que frequência em nosso país? O que é necessário para
mudar isso?
138
TÓPICO 4 | CONTROLE SOCIAL E GLOBALIZAÇÃO
139
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
140
TÓPICO 4 | CONTROLE SOCIAL E GLOBALIZAÇÃO
4 A GLOBALIZAÇÃO
Globalização tem sido um termo muito recorrente no dia a dia das pessoas,
pois esse processo de integração internacional econômica e cultural tem afetado
quase todas as pessoas do planeta, seja de maneira direta ou indireta, de acordo
com Jonhson (1997, p. 117):
141
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
DICAS
142
TÓPICO 4 | CONTROLE SOCIAL E GLOBALIZAÇÃO
No campo tecnológico temos visto uma evolução cada vez mais rápida
nos meios de transporte e da informação, que são fundamentais para as relações
comerciais. Outrossim, as tecnologias da informação têm invadido o mercado
de consumo. Hoje, basta apenas que a pessoa tenha um celular com acesso à
internet e ela estará acompanhando qualquer evento que acontece no mundo em
tempo real. A interação virtual cada vez mais rápida e mais eficiente tem alterado
profundamente o comportamento das pessoas.
Observe a figura a seguir e discuta com seus colegas sobre quem são as
pessoas beneficiadas pela globalização.
143
UNIDADE 2 | PRINCIPAIS TEMAS DA SOCIOLOGIA
144
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:
• A sociedade exerce controle social sobre seus membros de três modos principais:
a socialização, a pressão do grupo, e através de sanções.
145
AUTOATIVIDADE
a) ( ) V – F – V – V.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) F – V – V – V.
a) ( ) O perfil das salas de aula tem sofrido mudanças, pois muitos alunos
estão tendo acesso a um mundo de informações através da internet.
b) ( ) Apesar da disseminação das tecnologias da informação, a escola é o
único lugar onde se deve buscar conhecimento.
c) ( ) Os métodos clássicos de ensino não devem sofrer alterações com a
chegada das tecnologias da informação.
146
UNIDADE 3
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dos estudos você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos estudados.
147
148
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Vários teóricos desenvolveram pesquisas e escreveram sobre a religião. Se
fôssemos enumerar todos eles, faltaria espaço para discorrer minimamente sobre
aquilo que produziram. Nesse sentido, optamos por discorrer sobre o pensamento
de pelo menos três que consideramos importantes para o nosso estudo.
Dito isto, convido você para a leitura de mais uma unidade que consideramos
fundamental para nosso estudo.
149
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
DICAS
DICA DE LEITURA:
A obra intitulada As formas elementares da vida religiosa
foi publicada em 1912, faz parte do conjunto dos grandes
textos fundadores da antropologia religiosa. Neste livro,
Émile Durkheim faz uma análise rigorosa das formas
de religiosidade que se manifestam através dos rituais
e sistemas de crenças arcaicas. Durkheim se revela,
sobretudo, como um filósofo inspirado cujas afirmações
demonstram uma grande acuidade intelectual e mantêm
uma impressionante atualidade.
150
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
151
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
152
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
153
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Uma vez que nem o homem nem a natureza têm, por si mesmos,
um caráter sagrado, isso se deve ao fato de que eles o têm a partir de
outra fonte. Fora do indivíduo humano e fora do mundo físico, deve,
portanto, haver alguma outra realidade em relação à qual essa espécie
de delírio que é de fato, em certo sentido, toda religião, toma uma
significação e um valor objetivo. Em outras palavras, para além do que
chamamos de naturalismo e animismo, deve haver um outro culto, mais
fundamental e mais primitivo, do qual os primeiros são provavelmente
apenas formas derivadas ou aspectos particulares (DURKHEIM apud
HERVIEU-LÉGER; WILLAIME, 2009, p. 185).
O sagrado e o profano fazem oposição entre si, pois o sagrado é aquilo que
está acima do comum, está associado a objetos, eventos e rituais específicos. O
sagrado não é o universo, a natureza, o céu ou um espírito, o sagrado é resultado
do valor que o homem atribui às coisas. A questão que se deve refletir é: de onde
se origina a ideia do sagrado?
154
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
155
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
FONTE: JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 197.
156
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
FIGURA 31 - TOTEM
157
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
A partir desta ligação totêmica surgem tabus e normas. Por vezes leis. No
caso Konkomba, o clã Binaliib não poderá caçar ou comer um leopardo.
Não poderá também partilhar das mesmas presas que ele ou transitar
com muita liberdade em seu território de caça. No caso extremo de
ataques de leopardo de forma constante em uma área Binaliib, pede-se a
um membro de outro clã que possa caçá-lo. As habilidades do leopardo
são valorizadas entre os Binaliib. A velocidade e força são valores
ensinados para as crianças como associados ao totem crendo que,
aqueles que desenvolverem tais habilidades possuirão maior associação
com o animal. Os velhos utilizavam a expressão ndjotiib (irmãos de
sangue) quando se referiam aos leopardos. (LIDÓRIO, 2015, p. 1).
158
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
O clã toma nome e a ele dedica seus rituais, considerando que uma força
misteriosa anime o simulacro totêmico, considerado capaz de punir
toda violação. Como a planta ou o animal que desempenha funções
totêmicas não tem por si particulares potencialidades, devemos pensar
que o totem seja essencialmente um símbolo, que representa ao mesmo
tempo a divindade e o clã. O totem e o clã se identificam, justamente
como a religião e a sociedade. (CIPRIANI, 2007, p.103).
Esse é um aspecto comum nas religiões, onde não são os deuses ou espíritos
que punem ou recompensam os homens, mas o grupo é responsável por isso. Isso
significa dizer que é responsabilidade do coletivo aplicar aquilo que é atribuído à
divindade. Um exemplo disso são as religiões onde o adultério é considerado um
pecado passivo de pena de morte porque um deus assim o determinou. O castigo
não é aplicado pela divindade, mas pela comunidade de fiéis que acredita que a
divindade assim o quer. A vontade da divindade ou dos espíritos é concretizada
por meio da coletividade. Nesse sentido, “a descrição durkheimiana do poder
que a sociedade exerce sobre os indivíduos incita, em último caso, a considerar
esta como uma entidade quase que personificada e dotada de vontade própria”
(HERVIEU-LÉGER; WILLAIME, 2009, p. 190). A vontade atribuída à divindade é
colocada em prática pela sociedade, pelo clã, pela tribo etc. Destarte, “A sociedade
[...] torna-se objeto de crença, de culto por, em si própria, ter qualquer coisa de
sagrado. O crente depende de algo com natureza diferente da sua e que lhe é
superior; o indivíduo social tem a mesma relação com a sociedade. Pela religião, o
crente adora a sociedade transfigurada” (COSTA, 2009, p. 48).
159
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Diz respeito à sua autoridade moral, que faz com que os indivíduos
respeitem suas prescrições, sem questionar a utilidade ou a adequação
das mesmas. O indivíduo obedece porque é preciso obedecer, porque
percebe que é uma força superior que lhe ordena, mesmo que não
identifique a origem real dessa força (WEISS, 2012, p. 112).
160
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
161
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
busca de alguma maneira entrar em sintonia com o divino a fim de pedir alguma
coisa para sua vida aqui, ou agradecer por alguma prece atendida. Desta maneira,
entendemos também que o comportamento ético do crente não visa apenas o além,
mas tem sua relação com o aqui e o agora.
162
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
163
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
164
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Essa não foi a intenção dos reformadores, mas foi consequência do próprio
movimento em si, pois as doutrinas calvinistas da predestinação e o fato de que
o homem não é capaz de obter a salvação por seus méritos ensinam, portanto,
que os crentes deviam viver e agir como santos no mundo para a maior glória
de Deus. Pelo fato de apenas Deus conhecer o destino dos homens (os salvos e
os não salvos), o indivíduo deveria se comportar e viver como um escolhido.
Destarte, o sucesso do crente em relação ao que ele desempenhava neste mundo
não lhe garantia a salvação, mas consistia em um sinal evidente de que este crente
era um escolhido por Deus para a salvação, pois “Considerar-se como escolhido
constituía um dever, e uma insuficiente confiança em si mesmo era a prova de uma
fé insuficiente. O trabalho sem descanso em uma profissão constituía o melhor
modo de chegar a essa confiança em si mesmo e de adquirir a certeza da graça”
(HERVIEU-LÉGER; WILLAIME, 2009, p. 117).
165
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
DICAS
DICA DE LEITURA:
Nesta obra, considerada um dos mais influentes estudos
teóricos escritos no século 20, Weber coloca a influência
da Reforma Protestante, em especial o calvinismo, como
um dos fatores que contribuíram para o desenvolvimento
capitalista de alguns países. No protestantismo o trabalho
diário era tido como uma forma de glorificar a Deus e
isso, por sua vez, consistiu em um fator que impulsionou
profundamente o desenvolvimento do sistema capitalista.
A leitura deste livro é fundamental para compreendermos
a importância do comportamento dos protestantes e sua
relação com a produção e administração das riquezas. Boa
leitura!
166
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Cada indivíduo busca uma posição no espaço social que é definido por
Bourdieu como campo, que em sua concepção é o espaço no qual se desenrolam as
relações de poder. O campo está estruturado a partir de uma distribuição desigual
de capital simbólico. O que significa esse capital simbólico? Para Bourdieu (1990,
p. 51), o capital simbólico é a “forma de que se revestem as diferentes espécies
de capital quando percebidas e reconhecidas como legítimas”. A posse do capital
simbólico reconhecido é o que determina a posição a ser ocupada pelo agente
social. Um exemplo disso é o campo científico, em que os cientistas possuem um
capital científico que determina suas posições neste campo. Sobre a teoria dos
campos iremos voltar a ela mais adiante, quando tratarmos do campo religioso.
167
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
O capital, num sentido mais comum, é tudo aquilo que pode ser usado para
produzir alguma riqueza. Neste sentido o capital é o dinheiro, as ferramentas, as
máquinas que podem ser utilizadas para produzir algum produto para ser vendido
e produzir novas riquezas. No entanto, o conhecimento, a cultura, a informação
também são formas de capital que podem ser utilizadas como ferramentas para
obter lucros em algum tipo de relação.
168
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
169
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
170
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Para desenvolver sua teoria do campo religioso, Bourdieu lança mão dos
clássicos, em maior medida, dos conceitos de Max Weber, tais como sacerdote,
profeta, mago e leigo. A partir desses conceitos Bourdieu busca compreender a
dinâmica existente no campo religioso e as disputas que nele existem.
171
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
172
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
173
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Religious suffering is, at one and the same time, the expression of real
suffering and a protest against real suffering. Religion is the sigh of
the oppressed creature, the heart of a heartless world, and the soul of
soulless conditions. It is the opium of the people (MARX, 1977, p. 45).
A criação de uma ética capitalista somente foi obra – ainda que não
intencionada – do ascetismo intramundano do protestantismo, o qual
abriu precisamente aos elementos mais piedosos e eticamente mais
rigoristas o caminho à vida dos negócios e lhes apontava, sobretudo, o
êxito nessa área como fruto de uma condução da vida racional (WEBER,
1998, p. 391-392).
174
TÓPICO 1 | OS PENSADORES CLÁSSICOS E A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
175
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
176
RESUMO DO TÓPICO 1
• O animismo consiste num tipo de crença presente nas religiões primitivas, mas
que persistem nos dias de hoje, pois determinadas religiões acreditam que os
espíritos podem se manifestar por meio de objetos, pessoas ou lugares específicos.
• A grande questão levantada por Durkheim é que a religião é fruto das relações
sociais. Para explicar isso ele vai recorrer ao totemismo, pois de acordo com os
estudiosos, esta é a religião mais antiga da história humana.
• Para Weber, a religião cumpre um papel aqui e agora, pois ele escreve que “as
formas mais elementares do comportamento motivado por fatores religiosos ou
mágicos estão orientadas para o mundo cá embaixo” (apud HERVIEU-LÉGER;
WILLAIME, 2009, p. 83).
177
• A ética protestante é outro tema recorrente na sociologia da religião de Max Weber.
178
AUTOATIVIDADE
a) ( ) F – V – V .
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – V – F .
179
180
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O volume e a intensidade das mudanças pelas quais nossa sociedade vem
passando nos últimos anos têm levado muitas pessoas a questionarem se a religião
ainda terá espaço na vida das pessoas. Por mais que a ciência tenha fornecido
respostas, todavia o homem contemporâneo ainda se depara com questões
existenciais que ainda lhe incomodam e a ciência não foi capaz de dar uma resposta
satisfatória para esses anseios.
Essas e outras questões servirão como ponto de partida para nossa reflexão
neste tópico. Portanto, convido você para a leitura e uma reflexão sobre os assuntos
aqui tratados. Quero lembrar que esse material não pretende ser uma resposta
definitiva para as questões aqui tratadas, mas consiste em um ponto de partida
para a reflexão, e ainda gostaria de ressaltar que você é livre para questionar e
discordar dos assuntos abordados neste material de estudo.
181
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
E
IMPORTANT
A seguir nós temos duas definições de religião, sendo que a primeira é uma
definição sociológica e a segunda é uma definição eclética. Leia e reflita sobre o sentido de
cada uma dessas definições.
1. Tal como todas as instituições sociais, a religião é definida sociologicamente pelas funções que
desempenha em sistemas sociais. De modo geral, é um arranjo social construído para prover
uma maneira compartilhada, coletiva, de lidar com aspectos desconhecidos e incognoscíveis
da vida humana, com os mistérios da vida, morte e existência, e com dolorosos dilemas que
surgem no processo de tomar decisões de natureza moral. Como tal, a religião fornece não só
respostas a duradouros problemas e perguntas humanos, mas forma também uma das bases
da coesão e da solidariedade sociais.
FONTE: JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997, p. 196.
182
TÓPICO 2 | A RELIGIÃO NA SOCIEDADE ATUAL
183
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Mesmo em um mundo que passou por tantas mudanças, grande parte das
pessoas possui algum tipo de religião ou acredita na existência de um ser superior.
A seguir, trataremos sobre o que é ser religioso numa sociedade secularizada.
184
TÓPICO 2 | A RELIGIÃO NA SOCIEDADE ATUAL
185
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Diante do que falamos, não podemos fugir da seguinte questão: o que tem
levado à secularização da sociedade? Por que está havendo um declínio na prática
religiosa em alguns países? A resposta para estas questões não é tarefa fácil, mas o
que podemos dizer é que a secularização faz parte de um processo de mudança de
paradigmas pelo qual a sociedade vem passando. Um exemplo disso é o avanço da
ciência em busca de respostas para os mais variados dilemas da existência humana.
Destarte, muitas pessoas têm voltado suas atenções para as propostas e soluções
que a ciência oferece, e não mais para as respostas oferecidas pelas religiões. Este
tem sido um processo de rupturas com as concepções religiosas estruturadas, mas
que tem sido afetado pelas novas concepções de mundo e da vida.
186
TÓPICO 2 | A RELIGIÃO NA SOCIEDADE ATUAL
LEITURA COMPLEMENTAR
1. Conceito de laicidade
187
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Mas será Jules Ferry, principal fundador da escola laica, que a partir de 1879
envidará todos os esforços para arrancar as crianças da influência da igreja. Como
ministro da Instrução Pública e de Belas Artes, à época ele nomeará protestantes
espiritualistas liberais, como Ferdinand Buisson, Félix Pécaut, Jules Steig, dentre
outros, para colocar essa escola laica em funcionamento. Ferry vai propor uma
moral laica, ou independente das igrejas, possibilidade por ele considerada viável.
188
TÓPICO 2 | A RELIGIÃO NA SOCIEDADE ATUAL
A Revolução Francesa fez aparecer pela primeira vez com clareza a ideia
de Estado laico, de Estado neutro entre todos os cultos, independente
de todos os clérigos, liberado de toda concepção teológica. [...] Apesar
das reações, apesar de tantos retornos diretos ao antigo regime, apesar
de quase um século de oscilações e de hesitações políticas, o princípio
sobreviveu: a grande ideia, a noção fundamental do Estado Laico, quer
dizer, a delimitação profunda entre o temporal e o espiritual entrou nos
costumes de maneira a não mais sair (apud DOMINGOS, 2008, p.157).
189
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Se hoje isso nos parece evidente, na época foi um grande avanço, tendo em
vista que na Constituição Imperial, de 1824, além de a religião católica ser declarada
“Religião do Império” (art. 5º), as outras religiões somente eram permitidas “com
seu culto doméstico ou particular em casas para isso destinadas, sem forma [sic]
alguma exterior de templo”.
Devemos lembrar que uma das razões que levou Jules Ferry a propor as
diversas leis sobre a laicidade na escola, enquanto ocupou o cargo de ministro
da Instrução Pública na França, entre 1870 e 1882, foi o fato de que não católicos
não poderiam assumir postos de professor no Estado. Também Condorcet (1994),
ao propor a retirada da Igreja do controle da escola, lutava mais pelo direito de
não católicos de terem liberdade de exercício profissional do que propriamente
contra a religião.
Este também foi o espírito da reforma brasileira. Ora, resta-nos então voltar
ao ponto inicial: o conceito de laicidade. O princípio da laicidade é, ao mesmo
tempo, o de afastamento da religião do domínio político e administrativo do
Estado, e do respeito ao direito de cada cidadão de ter ou não ter uma convicção
religiosa e de professá-la. Tem como ideal a igualdade na diversidade, o respeito
às particularidades e a exclusão dos antagonismos.
190
TÓPICO 2 | A RELIGIÃO NA SOCIEDADE ATUAL
FONTE: DOMINGOS, Marília De Franceschi Neto. Ensino Religioso e Estado Laico: uma lição de
tolerância. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv3_2009/t_domingos.pdf>. Acesso em:
13 ago. 2015.
191
RESUMO DO TÓPICO 2
192
AUTOATIVIDADE
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) F – V – V – V.
193
194
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A religião não está restrita às questões espirituais, pois a vida em seus
diversos aspectos é influenciada pelas diferentes concepções religiosas. Desde
os primórdios o ser humano procura estabelecer algum tipo de contato com
o transcendente através de rituais, práticas, crenças etc. A maneira como isso
acontece é diversificada, pois cada povo busca esta relação a partir de sua cultura,
tradições e costumes.
195
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
2 O PLURALISMO RELIGIOSO
No decorrer da história humana, a religião sempre teve um papel importante
na estrutura política, econômica e cultural de um povo. Nesse sentido, a religião
tem um importante significado social. Com relação à religiosidade ocidental
durante a Idade Média, a visão predominante era teocêntrica (Deus é o centro
do universo), e isso fazia com que os homens buscassem na religião a resposta
para as mais diversas questões. Com o advento do Iluminismo e a ascensão da
racionalidade, a visão do universo se tornou antropocêntrica, ou seja, o homem é o
centro do universo e este é capaz de encontrar respostas para as diversas questões
que antes estavam restritas ao campo religioso, a partir de métodos científicos.
E
IMPORTANT
196
TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
3 DIVERSIDADE RELIGIOSA
A diversidade religiosa se difere do pluralismo. Grande parte das religiões
possui elementos que se aproximam. Um exemplo disso é a maneira como as
religiões lidam com o amor. Em sua grande maioria, as religiões incentivam o
amor ao próximo e a prática de boas ações que visem o bem da comunidade. Este é
um elemento de aproximação entre os diferentes credos religiosos. A diversidade
religiosa se concentra nas diferenças que existem entre as religiões. Então,
quando tratamos de pluralismo e diversidade, estamos falando de elementos de
aproximação entre as religiões e de elementos de diferenciação das mesmas.
197
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
198
TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
E
IMPORTANT
199
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Desde que nós aceitamos que os homens e mulheres são iguais em todos
os aspectos da vida e crianças são a esperança do futuro.
Desde que religiões têm contribuído para a paz do mundo, mas também
têm sido usadas para criar divisão e alimentar hostilidades.
Desde que nenhum indivíduo, grupo ou nação pode viver mais como um
microcosmo isolado no nosso mundo interdependente, mas quase todos podem
perceber que cada ação nossa tem um impacto em outros e na comunidade
global emergente.
Desde que não pode haver paz real até que todos grupos e comunidades
tomem conhecimento da diversidade cultural e religiosa da família humana em
um espírito de mútuo respeito e compreensão.
Desde que uma cultura de paz deve ser estruturada sobre o cultivo
da dimensão maioral da paz, a qual é uma herança das tradições religiosas e
espirituais.
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TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
Sob a luz do acima mencionado, e com uma visão à execução dos nossos
deveres à família humana, nós declaramos nosso compromisso e determinação:
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Leia a frase a seguir e discuta com seus colegas sobre o seu sentido.
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TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
FIGURA 37 - TOLERÂNCIA
5 DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
O diálogo inter-religioso visa estabelecer uma relação de respeito
e mutualidade entre as diferentes religiões. Esta iniciativa consiste em um
importante fundamento para a construção de uma sociedade mais tolerante e
pacífica. Quando falamos em diálogo inter-religioso, temos que ter em mente
que isso significa que as ideias estão em movimento, ou seja, todos os envolvidos
têm o direito de falar e serem ouvidos. O diálogo só é possível quando as partes
envolvidas estiverem dispostas a cooperar umas com as outras, pois do contrário
a comunicação é interrompida e inviabiliza qualquer possibilidade de avanço no
sentido do estabelecimento da paz global.
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
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TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
LEITURA COMPLEMENTAR
Jéssica Marçal
“Muitas vezes o fiel não conhece bem a sua própria denominação religiosa.
Ele não tem identidade religiosa suficiente sequer para falar da sua própria religião”.
O segundo passo indicado por Denis é conhecer pelo menos o básico das
outras religiões com as quais se tem contato. Essa é uma condição para que haja
compreensão e respeito em relação à vida do outro.
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
“Para que eu possa respeitar a opção do outro e conviver bem com ele,
entendendo que a religião, em ambos os casos, tem esse interesse: ligar o fiel a
um plano sobrenatural para que este mundo natural se torne melhor”. Segundo
explica o professor, a definição etimológica para a palavra “religião” é esta: ligar
ou religar a pessoa que está no plano terrestre a um plano sobrenatural, ou celeste
ou transcendente.
O homem e o transcendente
“Ela não tem relação alguma com o transcendente, porque ela não acredita
que exista e que seja necessária essa relação”, diz o professor, fazendo a ressalva:
“Para a antropologia religiosa e para as religiões, essa relação é necessária. […]
Uma coisa é aquilo em que o ateu crê e a maneira como ele vive. Outra coisa é o
que as religiões e algumas áreas do conhecimento religioso acreditam e o modo
como enxergam o ateu”.
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TÓPICO 3 | PLURALISMO E DIVERSIDADE RELIGIOSA
“Tem que existir algo entre elas para que eu consiga colocá-las todas em
um mesmo ‘pacote’ e chamá-las de religiões”.
“Esse é o ponto comum entre as religiões. Para que ela seja de fato chamada
de religião ela tem que propor esse caminho”. Como exemplo, o professor cita o
cristianismo, em que o caminho proposto é o próprio Jesus.
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RESUMO DO TÓPICO 3
208
AUTOATIVIDADE
2 O Brasil é uma nação diversa e plural, ou seja, abriga diferentes etnias, credos,
raças e religiões. Nesse sentido, descreva qual a diferença entre diversidade
e pluralismo religioso.
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210
UNIDADE 3
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
O cenário religioso brasileiro mudou muito de 40 anos para cá. Desde
a chegada dos imigrantes portugueses e os primeiros católicos ao Brasil até a
expansão do movimento pentecostal, nosso país passou por inúmeras mudanças
nas áreas política, econômica e cultural.
Neste tópico iremos perceber que, por mais que haja diferenças entre as
diferentes práticas religiosas, cada uma delas tem dado sua contribuição para a
formação social brasileira. Num Estado democrático de direito é assegurada a
liberdade religiosa. Portanto, veremos como cada uma das principais religiões
iniciou e se desenvolveu em nosso território.
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
2 O CATOLICISMO
O catolicismo ainda hoje é a maior denominação religiosa do Brasil.
Chegou em nosso país ainda no período pré-colonial, que vai de 1500 a 1530. Os
missionários que vieram juntamente com os colonizadores foram os responsáveis
por introduzir a religião nas terras recém-descobertas. Desde então o catolicismo
vem desempenhando importante papel na sociedade brasileira, deixando sua marca
em diversas áreas. Exemplo disso, podemos citar as universidades católicas, que no
ano de 2012, “dentre as 20 melhores universidades do ano no setor privado, nove são
católicas, sendo que as pontifícias como a PUC-Rio, PUC-MG, PUC-PR, PUC-RS são
as que ocupam os quatro primeiros lugares, no que se refere aos cursos avaliados e
estrelados” (SIQUEIRA, 2015, p. 1). Isso naturalmente demonstra a importância e a
influência do catolicismo na área educacional, pois ainda existem muitas escolas de
Ensino Fundamental e Médio que são administrados pela Igreja Católica.
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TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
Evidentemente que temos que considerar o fato de esta ser a igreja mais
rica e, portanto, é natural que dê um retorno à sociedade no sentido de prestar
assistência aos que necessitam. A igreja é uma instituição religiosa, mas não pode
se eximir de sua responsabilidade social, até porque esta é uma das orientações
bíblicas quando se fala de cristianismo.
Isso demonstra uma mudança muito positiva, conforme Pierucci (2004, p. 15):
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Mudou o papel da Igreja, uma vez que a sociedade civil constituiu órgãos
próprios de expressão e de mediação com o Estado – como sindicatos,
partidos e movimentos sociais –, se reorganizando e ganhando força. A
Igreja refluiu para um âmbito menos ‘público’ e mais ‘religioso’. Seus
agentes qualificados – padres, bispos e teólogos – deixaram de frequentar
as páginas dos jornais ao lado de personalidades políticas para opinar
sobre os rumos da sociedade civil junto ao Estado. A função de porta-voz
da sociedade, necessária em tempos ditatoriais, deixou de sê-lo.
3 O PROTESTANTISMO BRASILEIRO
A presença dos protestantes no Brasil remonta ao período colonial. É
importante destacar que a chegada deste segmento da religião cristã se deu em dois
momentos importantes. O primeiro momento ocorre por ocasião da chegada dos
franceses à Baía de Guanabara. Isso ocorreu porque o comandante da expedição
francesa, o vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, escreveu ao reformador
João Calvino solicitando que este enviasse pastores e colonos para fazerem parte
da formação de sua colônia. Infelizmente, pouco tempo depois Villegaignon se
desentendeu com os calvinistas e entrou em confronto com os mesmos devido
às opiniões diferentes acerca dos sacramentos. Pouco tempo depois, os colonos
protestantes embarcaram em um navio rumo à França, mas o navio naufragou,
sobrando apenas cinco colonos que retornaram à colônia, mas tiveram um fim
bastante trágico.
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TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
3.1 O PENTECOSTALISMO
O movimento pentecostal é o fenômeno religioso mais importante do século
XX, pois se espalhou rapidamente pelo mundo, chegando aos cinco continentes.
O pentecostalismo é uma extensão do movimento protestante e chega ao Brasil
em meados de 1910, através de dois missionários suecos: Daniel Berg e Gunnar
Vingren, que tiveram contato com o movimento pentecostal nos Estados Unidos.
Este movimento evangélico se afasta em alguns aspectos do protestantismo
tradicional, mas a doutrina é basicamente a mesma.
Observe que o movimento pentecostal tem uma ligação muito forte com a
história de sofrimento dos negros e pobres. Partindo disso é possível compreender
porque o pentecostalismo tem forte apelo às expressões carregadas de emoção.
Nos cultos pentecostais é possível perceber uma maior entrega ao momento da
adoração. Os cultos são a oportunidade do fiel se derramar diante de Deus no
sentido de que este lhe traga paz e contentamento diante dos desafios e sofrimentos
inerentes à existência humana. Esta é uma herança do pentecostalismo negro, pois
nestes cultos há grande liberdade para que o fiel expresse os sentimentos mais
profundos através de orações e canções.
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TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
Enquanto que para os pentecostais negros Cristo era um Cristo negro dos
pobres e oprimidos, também em sua dimensão política, os pentecostais
brancos se limitaram à experiência religiosa unicamente voltada para o
sagrado, separando a prática religiosa da missão sociopolítica. É nesse
pentecostalismo dos brancos nos Estados Unidos que encontramos o
berço do pentecostalismo brasileiro.
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
Diante do que falamos até aqui, podemos estar nos perguntando: qual o
impacto do pentecostalismo na sociedade brasileira? No texto a seguir o professor
Ricardo Mariano responde à questão “Quais as principais transformações que o
pentecostalismo promoveu no cenário religioso e social brasileiro?”, da seguinte
maneira:
FONTE: O pentecostalismo no Brasil, cem anos depois. Uma religião dos pobres. Disponível em:
<http://portal.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/artigos/o-pentecostalismo-no-brasil-cem-
anos-depois-uma-religiao-dos-pobres>. Acesso em: 27 ago. 2015.
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TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
4 RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
As duas principais religiões afro-brasileiras são a umbanda e o candomblé.
De acordo com Jensen (2015, p. 1):
219
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
220
TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
221
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO
FONTE: GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O Livro das Religiões. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 324-325. Disponível em: <http://ir.nmu.org.ua/bitstream/
handle/123456789/143146/99c47c08f92d99f1794d7bf298846a7d.pdf?sequence=1>. Acesso em:
26 ago. 2015.
222
TÓPICO 4 | UM RETRATO DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
223
RESUMO DO TÓPICO 4
224
AUTOATIVIDADE
a) ( ) F – V – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) F – V – V.
225
226
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6. ed. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2012.
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Brasiliense, 1990.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
227
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Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/
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CHINOY, Ely. Sociedade: uma introdução à Sociologia. 3. ed. São Paulo: Cultrix,
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DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2010.
FERREIRA, Olavo Leonel. História do Brasil. 17. ed. São Paulo: Editora Ática S.
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228
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MORAES, José Geraldo V. Caminhos das civilizações: da pré-história aos dias
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SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma
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n20/n20a05>. Acesso em: 10 ago. 2015.
231
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord.). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual
Editora, 1993.
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ANOTAÇÕES
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