Mono
Mono
Mono
Universidade Pùnguè
Chimoio
2022
Ivone de Lurdes Augusto Duarte Luís
Universidade Pùnguè
Chimoio
2022
Índice
Capitulo 1: Contextualização da Pesquisa ........................................................................ 3
1.1. Introdução .................................................................................................................. 3
1.2. Problematização......................................................................................................... 4
1.3. Objectivos .................................................................................................................. 5
1.3.1. Objectivo Geral....................................................................................................... 5
1.3.2. Objectivos Específicos ........................................................................................... 5
1.4. Justificativa ................................................................................................................ 5
Capitulo 2: Revisão de Literatura ..................................................................................... 7
2.1. A Diversidade linguista de um grupo social .............................................................. 7
2.1.1. Tipos de variedades ................................................................................................ 8
2.1.2. Variação regional ou diatópica ............................................................................... 8
2.1.3. Variação social ou diastrática ................................................................................. 9
2.1.4. Variedade estilística ou diafásica ......................................................................... 11
2.1.5. Variedade na escrita e na fala ou diamésica ......................................................... 12
2.2. Desigualdade Sociolinguística ................................................................................. 14
2.3. O Fracasso Escolar .................................................................................................. 16
2.3.1. A Teoria das Diferenças Culturais e Linguísticas. ............................................... 18
2.3.2. O Fracasso e a Cultura Escolar ............................................................................. 18
2.4. A Teoria dos Códigos Sociolinguísticos. ................................................................ 19
Capitulo 3: Metodologia ................................................................................................. 20
3. População e Amostra .................................................................................................. 20
3.1. Tipo de Pesquisa ...................................................................................................... 20
3.1.1. Quanto aos Objectivos da Pesquisa ...................................................................... 21
3.1.2. Métodos de Pesquisa ............................................................................................ 21
3.1.3. Quanto à Abordagem da Pesquisa ........................................................................ 22
3.1.4. Quanto ao Procedimento da Pesquisa ................................................................... 22
3.2Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados ......................................................... 22
3.2.1. Questionário ......................................................................................................... 22
3.2.3. Observação Directa............................................................................................... 23
3.2.4. Entrevista .............................................................................................................. 23
3.3. Validade e Fiabilidade ............................................................................................. 24
3.4. Analise dos dados .................................................................................................... 24
3.5. Limitações do estudo e resultados esperados .......................................................... 24
3.6. Questões éticas ........................................................................................................ 24
Capítulo 4: Apresentação, Análise e Interpretação de Dados ........................................ 26
4.1. A Diversidade Linguística e o Fracasso Escolar na visão dos Alunos .................... 26
4.2. Atitudes e Percepções dos Professores em relação a Diversidade Linguística ....... 31
Capitulo 5: Conclusões e Sugestões ............................................................................... 34
5.1. Conclusão ................................................................................................................ 34
5.2. Sugestões ................................................................................................................. 35
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 37
3
Considerando que as cidades de nossa região são formadas pela união de diversas raças
e povos, é impossível ignorar que a diversidade étnica caracteriza nosso país. A língua, em
suas diversas formas e variantes, é uma entidade viva, dinâmica e é o código utilizado pelo ser
humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir ideias e
conceitos. O uso da escrita desenvolveu a comunicação entre os homens permitindo-lhes
remontar as barreiras do tempo na recepção de mensagens, além de ajudar muito no
desenvolvimento intelectual do ser humano.
elementos apresentam uma forte ligação visto que os espelham a questão em causa que será
alcançada através de um conjunto de instrumentos metodológicos.
1.2. Problematização
A língua de um povo constitui-se como um dos seus bens mais preciosos. Nela, estão
reflectidas as representações e construções de uma sociedade. É pela língua que se dão as
relações de poder e dominação, os consensos, as discórdias, as transmissões culturais. Assim
como é pela língua que o sujeito constrói seu lugar na sociedade, também é através dela que é
excluído. Olhando para a diversidade linguística que Moçambique apresenta na sociedade,
como dos alunos, indispensáveis pensar-se em que medida a desigualdade compromete a
aprendizagem dos alunos, tendo em conta as realidades culturais de cada aluno.
Para Preti (1982, p.89) “o que se procura na fala de um indivíduo são os índices de sua
classificação social. Segundo ela, as variações extra linguísticas que podem se manifestar no
diálogo são de três espécies: geográficas, sociológicas e contextuais”.
1.3. Objectivos
Como é comum, quando se pretende realizar um certo trabalho de pesquisa, há que ter
em conta em primeiro lugar, um fim a atingir, uma meta de pesquisa, propósito de pesquisa,
ou seja, o objectivo que nos leva a fazê-lo.
1.4. Justificativa
Considerando que as cidades de nossa região são formadas pela união de diversas raças
e povos, é impossível ignorar que a diversidade étnica caracteriza nosso país. A língua, em
suas diversas formas e variantes, é uma entidade viva, dinâmica e é o código utilizado pelo ser
humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir ideias e
conceitos. A escola passou a ser um ambiente voltado à reflexão e o educador passou a actuar
como mediador da aprendizagem, sabendo respeitar e interagir com as diferenças étnicas,
culturais, sociais e económicas do educando.
Neste momento, sociedade escolar, mostra-se cada vez mais exigente. Por isso, importa
ressaltar a reflexão sobre a questão da desigualdade sociolinguística e o fracasso escolar, uma
situação em que a avaliação de conhecimentos e da língua que veicula tais conhecimentos é
6
A razão que motivou a escolha deste tema é relacionado ao facto de a língua ser um
meio que nos permite exprimir e construir o conhecimento e o nosso pensamento crítico,
capaz de expressar suas ideias e lutar pelos seus ideais. Se o trabalho da escola é basicamente
um processo de nível mental e intelectual, então a língua aparece como um dos aspectos mais
importantes de criação e expressão dessa actividade mental e intelectual.
Não obstante, importa também salientar que a Sociolinguística aborda “problemas” que
vão além de relações simplistas entre a língua e a sociedade. Ela estuda a estrutura linguística
e a estrutura social, comparando-as e mostrando as variações sistemáticas entre elas para
proporcionar um relacionamento causal em uma direcção ou em outra, privilegiando a
diversidade linguística, limitando suas dimensões que, a princípio, são: a do emissor, a do
receptor e a da situação (contexto em que ocorrer).
Para Preti (1982), o que se procura na fala de um indivíduo são os índices de sua
classificação social. Segundo ela, as variações extralinguísticas que podem manifestar-se no
diálogo são de três espécies:
8
Não há casualidade entre o fato de nascer em uma determinada região, ser de uma
classe social e falar de certa maneira. As variedades linguísticas são, de certa forma,
subordinadas a dois amplos campos: variedades diatópicas e variedades diastráticas.
É possível saber quando um falante é da zona centro, sul ou norte de Moçambique, por
exemplo.
principalmente, certos traços fonológicos respondem pelo fato de que falantes de localidades
diferentes apresentem dialectos diferentes de uma mesma língua.
Para Faria (1996, p.88) os principais factores sociais que condicionam a variação
linguística são o grau de escolaridade, o nível socioeconómico, o sexo/género, a faixa etária e
mesmo a profissão dos falantes, conforme exemplificamos a seguir:
Grau de escolaridade - Por terem um contacto maior com a cultura letrada e com o
uso da variedade padrão da língua, supõe-se que, em geral, falantes altamente
escolarizados dificilmente produzirão formas como nós vai ou a gente vamos, que são
típicas de falantes pouco ou não escolarizados. É mais provável que eles falem nós
vamos e a gente vai;
Nível socioeconómico - É um factor muito estudado, principalmente nos
trabalhos de Labov e de seu grupo de pesquisa sobre o inglês de Nova Iorque.
Resultados de seus estudos mostram que o grupo social menos privilegiado favorece o
uso de variantes não padrão da língua, enquanto os mais privilegiados optam pela
variante padrão. Mas essa constatação, em geral, é correlacionada com ocupação e
estratificação estilística. O efeito de indicadores sociais sobre o perfil sociolinguístico
dos falantes não é nada simples. Segundo Mollica (2008), origem social, renda, acesso
a bens materiais e culturais, ocupação, grau de inserção em redes sociais são alguns
dos indicadores sociais;
10
Alguns estudos mostram que as mulheres são mais conservadoras do que os homens.
Elas, em geral, preferem usar as variantes valorizadas socialmente; é como se elas fossem
mais receptivas à actuação normatizadora da escola. Esses resultados, segundo Paiva (2008),
requerem cautela, afinal, os papéis feminino e masculino, nas diversas sociedades,
estão a todo momento sofrendo transformações.
Paiva sugere que uma atitude mais adequada seria, portanto, a de correlacionar sempre
a variável sexo/género com a faixa etária da população e, se possível, com a história social
das diferentes comunidades investigadas, para que as transformações culturais e as mudanças
comportamentais das faixas mais jovens da população possam ser levadas em consideração
também.
Faixa etária - A questão da relação entre variação linguística1 e idade do falante tem
suscitado muitas reflexões dentre os sociolinguistas no mundo, pois, em geral, entra
em jogo a questão da mudança linguística2. Estudos que levam em conta esse factor
têm tentado responder as seguintes questões:
1
Variação linguística implica duas ou mais formas que concorrem para expressar um mesmo significado.
2
Mudança linguística implica processo de substituição gradual de uma forma por outra.
11
Segundo Naro (2008), existem duas posições teóricas que, mesmo sem evidência
empírica convincente, dão respostas diferentes a essas perguntas.
A primeira resposta (a “clássica”) vem dos que acreditam que o processo de aquisição
da linguagem se encerra mais ou menos na puberdade, e que a partir desse momento a língua
espontânea (ou o vernáculo) do indivíduo fica basicamente estável – ou seja, o indivíduo não
muda sua língua espontânea no decorrer dos anos.
A segunda resposta é que a língua falada pelo indivíduo pode mudar no decorrer dos
anos. Naro mostra que nem toda variação na fala representa mudança linguística em
progresso. Existem casos em que o uso linguístico diferenciado pelas faixas etárias não revela
mudança, mas variação estável.
Nesse caso, o indivíduo muda seu comportamento linguístico durante a sua vida, mas a
comunidade à qual pertence permanece estável. Alguns estudos sobre a concordância verbal e
nominal têm atestado esse processo. Por outro lado, além de a fala do indivíduo mudar, a
comunidade também pode reflectir essa mudança.
Esses papéis sociais são “um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas
socioculturais [...] e são construídos no próprio processo da interacção humana” (Bortoni-
Ricardo, 2004, p.23).
Os papéis representam tipos de relações que ocorrem entre o locutor e seu interlocutor
(as chamadas relações de poder e solidariedade), o contexto ou domínio social (se a
comunicação ocorre na escola, no trabalho, em casa, na igreja, na vizinhança etc.) e até
mesmo o assunto sobre o qual se conversa.
Esses são factores que determinam a variação estilística – uma questão de adequação ao
contexto em que ocorre a comunicação. Certamente, em situações mais formais usamos uma
linguagem mais monitorada, ou seja, prestamos mais atenção à forma como falamos,
enquanto, em situações mais informais usamos uma fala mais coloquial. Essas duas
linguagens são chamadas, respectivamente, de registro formal e registro informal.
Começando pela fala, podemos dizer que, salvo em situações excepcionais, como o
proferimento de uma palestra, por exemplo, a produção de um texto falado é uma actividade
espontânea, improvisada e susceptível a variação nos mais diversos níveis. Já a escrita
constitui-se como uma actividade artificial (não espontânea), ensaiada (no sentido de que
reserva tempo e espaço para planificação, revisões e reformulações), e um pouco menos
variável, pois em geral está mais vinculada à produção de géneros sobre os quais há mais
regras e maior monitoramento.
13
Leve-se em conta também que, ao interagirmos através da fala, temos acesso a diversas
informações contextuais que não estão presentes em um texto escrito: geralmente podemos
ver/ouvir nosso interlocutor e, no decorrer da interacção, captar sinais que são indicativos de
que direcção devemos tomar em nossos turnos.
Por conta disso, o texto resultante será pontuado de mecanismos de organização textual
particulares, como os marcadores discursivos, por exemplo. Temos assim, em síntese, no
texto falado, o carácter espontâneo, improvisado e em alto grau vinculado ao contexto
extralinguístico que lhe confere (pela possibilidade de correcção e reformulação online do
texto que está sendo produzido) as diversas marcas formais que sinalizam não só esse
processo, mas nossa relação com nosso interlocutor, com o assunto etc.
Já o texto escrito constitui-se de forma diferente, isto e, o grau em que ele se difere do
texto falado se deve em grande parte ao tempo de planeamento que caracteriza sua produção.
Mollica (2008, p.88) afirma que ao trabalharmos sobre um texto escrito como este, por
exemplo, geralmente temos tempo para planejar com antecedência sobre o que discorreremos,
em que ordem os argumentos serão apresentados, que mecanismos linguísticos são os mais
adequados para os objectivos definidos e, concomitantemente, quais são os mecanismos
esperados para o género no qual produzimos nosso texto.
Embora à primeira vista, parece que o uso dos termos variação, variabilidade,
heterogeneidade, diferença, diversidade e desigualdade é indiferenciado e que eles podem ser
de forma indistinta, usados para se referir à falta de igualdade entre as variedades linguísticas,
usar-se-á a palavra «desigualdade», referindo-se os valores sociais que são atribuídos a certas
variedades.
Segundo Gregório Firmino (2001, p.22), em Sociolinguística, uma língua nunca é usada
como uma instituição social homogénea, que seja uniformemente manipulada por todos os
falantes em todas as situações comunicativas, a variação faz parte do modo como as pessoas
usam o português em Moçambique. Parte desta variação está relacionada com diferentes
manipulações das formas linguísticas que tipificam o português falando em Moçambique.
Frequentemente, a crítica contra as línguas ex-colónias toma a língua como uma entidade
singular homogénea, ignorando as complexidades envolvidas no modo como a língua é
manipulada quando os falantes participam em interacções sociais. Por exemplo, em
Moçambique, a associação do português com prestígio social e estatuto social alto é mais
indiciado pelas formas de linguagem que se usam do que pelo conhecimento da própria língua
em si. Por outras palavras, não basta saber português; mais do que isso, é preciso conhecer
formas específicas do seu uso, geralmente associadas a pessoas escolarizadas, e ser capaz e/ou
tentar falá-lo de forma gramaticalmente correcta.
15
Deste modo, o modelo europeu que é valorizado em Moçambique tem estado a ser
reconstruído para seguir padrões linguísticos específicos socialmente aceitáveis. Por outras
palavras, há, em Moçambique, uma construção social do português, um processo que
criativamente faz uso dos recursos disponíveis no modelo europeu, bem como de inovações
enraizadas nas condições políticas, económicas, sociais, culturais e linguísticas prevalecentes
no país.
Para Dias (2008, p.33), os professores deixam-se levar pela forma como os alunos falam
e deixam de lado a avaliação de outras capacidades, habilidades que o aluno desenvolveu. A
sua inteligência é com frequência testada a partir do uso da língua.
Desigualdade linguística, pode ser vista como uma causa, de entre vários outros factores,
da desigualdade social, é perpetuada de geração a geração.
“O grande problema que existe nas escolas, é que os professores não conhecem os
dialectos não - padronizados usados pelos seus alunos, bem como não acreditam que estes
sejam sistematizados e estruturados, conforme (Stubbs, 1987, p.91).”
Os professores consideram como sendo erros as produções linguísticas dos alunos que
se regem por normas diferentes das da norma-padrão. Os professores não conseguem ter uma
visão mais alargada sobre a linguagem do aluno visto que a avaliação da linguagem do aluno
é tipicamente feita na base da sua resposta restrita a uma situação hostil de teste ou de aula.
avaliação do seu domínio. Nesse caso, a avaliação aparece assim como a área em que são
feitos os julgamentos acerca dos alunos e em que os mesmos são considerados fracassados.
Facto este que leva o autor (Perrenoud, 1999, p.22) a afirmar que “o fracasso escolar só
existe no âmbito de uma instituição particular, que tem o poder de julgar, de classificar e de
declarar um aluno em fracasso”.
Esse julgamento é constitutivo do fracasso escolar: é a escola que avalia os seus alunos
e conclui, de modo unilateral, que alguns fracassam. Desse modo, o aluno é considerado
fracassado porque não possui certos conhecimentos e competências. Essa falta de
conhecimento e competências relaciona-se sempre com formas e normas de excelência
escolar, com certos programas, com níveis de exigência e com certos procedimentos
avaliativos. O êxito escolar é uma apreciação global e institucional das aquisições do aluno,
que a escola cria pelos seus próprios meios num dado ponto do curso e que depois apresenta,
se não como uma verdade única, ao menos como a única legítima assim que se trata de tomar
uma decisão de reprovação, de orientação, selecção ou de certificação.
Logo, a criança proveniente de um meio pobre era considerada uma criança com
deficiências afectiva, cognitivas e linguísticas. As causas do fracasso poderiam ser
encontradas no meio sociocultural dos alunos.
18
Na óptica de Soares (1999, p.50), “a escola e os professores devem ter atitudes positivas
e não discriminatórias em relação à linguagem dos alunos, respeitando cada um segundo a sua
cultura.” Nesse caso, a relação entre o bilinguismo e o fracasso escolar deve ser estudada
olhando-se para as desigualdades sociolinguísticas presentes na comunidade.
Ainda em torno da cultura, pode se dizer que, todas as línguas são adequadas às
necessidades e características da cultura a que servem e igualmente válidas como
instrumentos de comunicação social, sendo inconcebível, afirmar que uma língua ou
variedade linguística é superior ou inferior a outra. Neste caso, um professor tem que ver
quantas culturas existem na sua sala e considerar respeitando cada um com a sua cultura.
19
Também os exemplos dados devem enquadrar na cultura do aluno sem deixar de valorizar
cada uma dessas culturas.
Na óptica de Bernstein (1980, p.19) “os códigos se referem aos princípios que regulam,
seleccionam e integram os significados e a forma como esses se manifestam na linguagem”.
O código pode ser definido como sendo «um sistema tácito de regras que controlam as
eleições semânticas que uma pessoa que fala realiza em situações distintas». Neste caso para
Bernstein existem dois tipos de códigos a saber:
Para Bernstein (1980, p.20), a escola cria discursos que fazem com que as crianças das
classes baixas não possam aceder. Tais discursos escolares são apenas acessíveis às crianças
das classes dominantes. As crianças das classes baixas serão excluídas pelos códigos
escolares, enquanto a escola não reconhecer como legítimo o código da criança esta
permanecerá afastada da escola.
20
Capitulo 3: Metodologia
Nesta etapa, o projecto apresenta o tipo e os procedimentos baseados em instrumentos
metodológicos, de modo que se alcance os objectivos previstos. Deste modo, para além dos
métodos usados para a obtenção de informações inerente à pesquisa, também ela apresenta a
população que será estudada.
3. População e Amostra
Para Lakatos e Marconi (2009, p.225) “o universo é o conjunto de seres inanimados ou
animados que apresentam pelo menos uma característica comum.”
A pesquisa irá contar com toda população da Escola Secundária 7 de Abril, Chimoio.
Ainda, Lakatos e Marconi (2003, p.80) afirmar que “a pesquisa qualitativa é um amplo
campo de investigação que emprega métodos de colecta de dados não estruturados (como
observações, entrevistas, pesquisas e documentos) para encontrar temas e significados que
expandam nossa compreensão do mundo”.
Neste caso, compreende-se que a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão e
compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar
os dados e aplica alguma forma da análise estatística.
Segundo (Lakatos & Marconi, 2003, p.90) este tipo de pesquisa, o pesquisador escolhe,
de acordo com a sua perspectiva de estudo, um caso particular (ou uma situação) que
considerou representativo dentre um conjunto de casos semelhantes. O caso ou situação
escolhido, em especial, representa mais adequadamente aquilo que quer investigar. Os dados
devem ser colectados e registados com o necessário rigor e seguindo todos os procedimentos
da pesquisa de campo.
O questionário que será usado nesta para a materialização da pesquisa, será de natureza
mista, isto é, apresentará questões abertas e fechadas. As questões abertas possibilitarão aos
informantes responder de acordo com os seus pontos de vistas, criando espaços para uma
reflexão e a consequente argumentação às questões dadas. Ao passo que as questões fechadas,
os informantes terão apenas que responder “sim” ou “não” e acordo com o que serão
questionados.
Para a pesquisa, esta técnica de recolha de dados consistirá na ida ao terreno, neste caso
a escola em estudo, para que se faça uma observação directa na escola, na sala de aulas e da
convivência social no recinto escolar, na hora do recreio.
3.2.4. Entrevista
Na visão de (Lakatos & Marconi, 2003) “a entrevista é um encontro entre duas pessoas,
a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social,
para a colecta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema
social”. Neste contexto, faremos a entrevista aos professores.
Pergunta 1 _ _
Pergunta 2 _ _
Pergunta 3 _ _
De referir ainda que, os participantes terão um aviso prévio de pelo menos uma mês,
antes da execução da pesquisa. Caso eles aceitem, os dados lá colhidos ficará no anonimato,
ou seja, não se divulgara os nomes dos participantes, garantindo assim que os dados sejam de
extrema confidencialidade.
26
Referente a questão 1.b). Muitos alunos responderam usar a linga portuguesa para se
comunicar como podemos ver a seguir: AL1, AL2, AL3… AL25, responderam usar a língua
português, porque é a língua oficial do nosso país e por ser a língua que é falada em quase
todas as províncias. AL26 e AL27, responderam usar a língua sena para se comunicar com as
pessoas oriundas doutras regiões, porque sentem-se mais a vontades comunicando-se em suas
línguas bantu. Os AL28 a AL30, responderam usar a língua tewe, por ser a língua que convive
com ela na comunidade.
Respondendo a questão do número 1.c), muitos responderam sim e outros não. Dos que
responderam sim, justificaram por ser da mesma região, e partilharem das mesmas
características linguísticas.
27
Já os que responderam não, justificaram dizendo que cada uma fala da sua maneira,
apesar de ser da mesma região e partilhar da mesma língua, cada uma fala de forma diferente
do outro.
No Código Resposta
17 AL1, AL2, AL4, AL5, AL10,
AL11, AL12, AL14, AL15, Sim
AL16, AL18, AL19, AL22,
AL23, AL25, AL28 e AL30.
13 AL3, AL6, AL7, AL8, AL9,
AL13, AL17, AL20, AL21, Não
AL24, AL26, AL27, AL29.
Perante a pergunta colocada no número 2. Em que circunstância usa sua língua materna?
Tivemos diferentes respostas, sendo que a maior parte disseram usar a língua materna com
amigos e em casa, respectivamente. Entretanto, como os dados mostram, 10 alunos
responderam usar a língua materna com amigos, 8 responderam usar a língua materna em
casa, dos 12 alunos que sobram, 5 deles disseram que usam a língua materna com os
familiares e 5 alunos responderam que usam mais a língua materna na escola, e por fim, 2
alunos disseram gostar de usar língua materna na igreja.
28
No Código Resposta
AL1, AL3, AL7, AL8, AL10,
10 AL11, AL12, AL15, AL16, Amigos
AL17.
AL6, AL14, AL20 e AL21 e
5 AL30. Escola
AL9, AL19, AL23, AL25, Casa
8 AL26, AL27. AL28, AL29.
2 AL2 e AL4. Igreja
AL5, AL13, AL18, AL22,
5 AL24. Familiares
Sobre a pergunta do número 3. Gostas de conversar em público sala de aula? Vimos que
muitos não gostam de conversar na sala de aula por viárias razões, a saber: 18 alunos
responderam não gostar de conversar na sala de aula por terem vergonha de falar em público,
e os restantes 12 alunos, disseram gostar de conversar em público e na sala de aula, porque se
sentem a vontade, como podemos ver no quadro a seguir:
No Código Resposta
AL2, AL4, AL6, AL14, AL5,
12 AL13, AL18, AL20, AL21, Sim
AL22, AL24, AL30.
AL1, AL3, AL7, AL9, AL8,
AL10, AL11, AL12, AL15,
18 AL16, AL17, AL19, AL23, Não
AL25, AL26, AL27. AL28,
AL29.
Continuando com a nossa análise, agora com a questão do número 4, que é referente a
sotaque, de salientar que tivemos variadas repostas, mas a maioria para o negativo, ou seja,
muitos tem vergonha de falar por conta do sotaque. Assim sendo, notamos que todos os
indivíduos vindos doutras províncias responderam que o sotaque os impede de conversar com
29
os colegas, primeiro por vergonha e segundo, porque os colegas tentam imitar como eles
falam, isto é, imitando o sotaque.
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL4, AL7,
12 AL8, AL10, AL11, AL12, Sim
AL15, AL16, AL17.
AL5, AL6, AL9, AL13,
AL14, AL18, AL19, AL20,
18 AL21, AL22, AL23, AL24, Não
AL25, AL26, AL27. AL28,
AL29 e AL30.
Indo para a questão do número 5. Como te sentes quando falhas no meio dos teus
colegas? De salientar que sobre essa questão tivemos respostas equilibradas, como os dados
dizem: 15 alunos responderam sentirem-se mal quando falham diante dos colegas, pois
quando erram, os colegas se riem zombando deles, diferentemente doutros 15 alunos, que
responderam sentirem-se tranquilos, justificando que todo mundo erra e que, acima de tudo, o
"erro é humano".
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL4, AL7,
AL8, AL10, AL11, AL12,
15 AL13, AL15, AL16, AL17, Bem
AL22, e AL30.
AL5, AL6, AL9, AL14,
AL18, AL19, AL20, AL21,
30
Referente a reacção da turma quando se erra uma certa palavra, que é a questão do
número 6, de salientar que os alunos foram unanimes na sua resposta, oque pode ser
considerada irónica, mas é oque acontece nas turmas, e de forma geral, nas nossas escolas.
Então, os dados referentes a esta questão, mostram que todos os alunos responderam da
seguinte maneira: que a reacção da turma é rir quando se comete um determinado erro,
principalmente quando é um erro de pronúncia.
Sobre a reacção da turma, temos a corroborar que em algum momento isso pode
influenciar positiva ou negativamente no processo de ensino-aprendizagem do aluno, pois
temos quando acontece caso de género, muitos alunos acabam se isolando, ficando com medo
de repetir o mesmo erro e ter o mesmo tipo de reacção por parte da turma, noutra vertente,
acaba influenciando no aluno, para que antes de proferir uma certa palavra, tenha um
conhecimento prévio da mesma, evitando correr o mesmo risco de pronunciar mal a palavra,
consequentemente, acabar sendo rido pela turma inteira.
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL4, AL5,
AL6, AL7, AL8, AL9, AL10,
AL11, AL12, AL13, AL14,
30 AL15, AL16, AL17, AL18, Reacção positiva
AL19, AL20, AL21, AL22,
AL23, AL24, AL25, AL26,
AL27. AL28, AL29 e AL30.
0 Reacção negativa
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL4, AL5,
AL6, AL7, AL8, AL10,
AL11, AL12, AL13, AL15,
23 AL16, AL17, AL18, AL22, Reacção certa
AL25, AL26, AL27. AL28,
AL29 e AL30.
AL9, AL14, AL19, AL20,
7 AL21, AL23 e AL24. Reacção errada
Sobre a questão do número 8, de referir que esta tem uma relação com a questão do
número 5, portanto, os dados evidenciam que 18 alunos afirmaram que a reacção do professor
tem sido acalmar os colegas que se riem aquando do erro linguístico do colega. Assim, o
professor acaba motivando o aluno que cometeu o erro linguístico. Outros 12 alunos,
afirmaram que a reacção do professor tem sido a mesma com a dos alunos, de se rir junto com
os colegas por conta do erro cometido por um dos colegas.
No Código Resposta
AL5, AL6, AL9, AL13,
AL14, AL18, AL19, AL20,
18 AL21, AL22, AL23, AL24, Reacção positiva
AL25, AL26, AL27. AL28,
AL29 e AL30.
AL1, AL2, AL3, AL4, AL7,
12 AL8, AL10, AL11, AL12, Reacção negativa
AL15, AL16, AL17.
Associado a isso, podemos concordar com a ideia de Soares (1999), ao afirmar que "a
escola tem-se mostrado incompetente para a educação das camadas populares e a grande parte
da responsabilidade deve ser atribuída a problemas de linguagem."
Entretanto, tendo observado as respostas dos professores, podemos dizer que o fracasso
escolar dos alunos na Escola Secundária 7 de Abril está, literalmente associado ao uso
frequente da língua bantu, que na maior parte dos casos, é tida como L1 dos alunos.
Por ora, podemos salientar, tendo em conta os depoimentos dos professores, que os
encarregados envolvem-se no processo educativo dos seus educandos, principalmente quando
se trata em matéria de fracasso escolar.
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Para a questão 4. Quais são as estratégias que usa para ultrapassar ou sanar o fracasso
escolar na escola? De salientar que tivemos respostas diferentes, outrossim, o (P1, P2, P3, e
P4), responderam da seguinte maneira: "as estratégias que uso para ultrapassar ou sanar a
questão do fracasso escolar, é de incentivar na prática de leitura e escrita".
Enquanto para os (P5 e P6), foram unanimes na sua resposta, salientando que as
estratégias usadas de modo a sanar a questão do fracasso escolar são: "planificar sempre e ler
o conteúdo antes de ir a sala de aula; seguir sempre com o programa de ensino; incluir os pais,
sempre que possível no PEA.
Aliado a isso, podemos considerar os dizeres de (Ngunga, 2011, p.180) que "as línguas
bantu constituem o principal substrato linguístico do país, visto que essas são as línguas
maternas de mais de oitenta por cento de moçambicanos".
5.1. Conclusão
Em gesto de conclusão, constatou-se que o processo da diversidade/variação linguística é
pertinente e merece uma enorme atenção num momento em que em Moçambique, o ensino
formal é feito em língua portuguesa, todavia a língua materna para a maior parte das crianças
é uma língua do grupo bantu e o português é língua segunda, sobretudo para a maior parte das
pessoas que habitam nas zonas suburbanas e rurais, pois, nestas áreas muitas crianças
deparam-se com a língua portuguesa em contexto de sala de aula, por essa razão a fala e a
escrita dos alunos são marcadas por interferências das suas línguas maternas.
Referente ao objectivo geral do presente trabalho, podemos dizer que é o uso da língua
na escola que evidencia mais claramente as diferenças entre grupos sociais e gera
discriminações e fracasso: o uso, pelos alunos provenientes das camadas populares, de
variantes linguísticas sociais e escolarmente estigmatizadas provoca preconceitos linguísticos
e leva a dificuldades de aprendizagem, já que a escola usa e quer ver usada a variante-padrão
socialmente prestigiada.
Sobre o primeiro objectivo específico, temos a dizer que os resultados colhidos indicam
existem três tipos de desigualdades linguísticas, sendo a primeira, a desigualdade linguística
subjectiva, que refere-se ao que as pessoas pensam da fala de uns e de outros e está ligada aos
preconceitos linguísticos. A segunda, desigualdade estreitamente linguística, que relaciona-se
com os itens linguísticos, que uma pessoa conhece e que dependem obviamente da sua
experiência, podendo tal experiência ser reconhecida no uso que faz da língua. E por fim
temos a desigualdade comunicativa, que acontece na interacção entre as pessoas e está
presente na forma como os falantes seleccionam as variedades para apresentar aos outros uma
imagem favorável. Tendo descrito esses tipos de desigualdade, pode-se ainda concluir que o
factor impulsionador na desigualdade sociolinguística e no fracasso escolar dos alunos, é a
falta do conhecimento da Língua Portuguesa.
5.2. Sugestões
A questão da qualidade do ensino é, pois, uma preocupação institucional. São as
escolas que precisam ser melhoradas. Sem este esforço institucional, o aperfeiçoamento
isolado docente não garante que essa eventual melhoria do professor encontre na prática as
condições propícias para uma melhoria do ensino. Acredita-se, ainda, que a melhoria da
qualidade do ensino poderia ser impulsionada pelo factor linguístico que é um dos
elementos determinantes de toda aprendizagem. E este factor depende da elaboração de
políticas educacionais mais abrangentes, cujas medidas possibilitassem o encaminhamento
de acções concretas de trabalho nas escolas, relações interpessoais entre os vários agentes
escolares, cultura escolar e cultura docente, administração do sistema escolar e formação
do educador, para mencionar alguns dos mais centrais. Assim as sugestões se direccionam
à escola como um todo:
Sendo a escola uma instituição que deveria ser responsável pela democratização,
considera-se que ela não pode assumir uma postura de discriminações em relação ao dialecto
popular, mas ao contrário, deve ter uma atitude respeitosa em relação à maneira de falar da
comunidade na qual exerce seu trabalho. Ela precisa compreender que todas as variedades
linguísticas têm seu valor, são veículos perfeitos de comunicação dentro da comunidade
linguística que a utilizam.
Aos Professores
É importante nesse momento que todos tomem parte dos problemas relacionados ao
fracasso escolar, mas principalmente que sejam desenvolvidas, por parte das autoridades,
acções no sentido de conceder uma melhor distribuição dos recursos para a educação e para as
escolas, incentivando, também, o aluno, o professor e a família.
Criem um ambiente de debate ou diálogo que envolva todos os alunos a fim de avaliar
o nível de desenvolvimento da oralidade e motivá-los a corrigir determinados traços
das línguas nativas que podem transgredir a norma padrão da Língua Portuguesa.
Para Alunos:
Apresentem as suas ideias de forma autónoma para uma breve análise da turma e
admitem as suas diversidades linguísticas como o fenómeno natural, todavia, que
merece especial atenção voltada a superação das falhas.
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