Filosofia - O Sagrado e o Profano

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA

O Tempo Sagrado e os Mitos em O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade

Nome: António João Mussate; Código de Estudante: 708215919

Curso: Licenciatura em Ensino de Português


Disciplina: Introducao à Filosofia II.
Turma: F.
Ano de Frequência: 2º Ano
Tutor:.

Chimoio, Setembro de 2022


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Classificação
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Aspectos  Índice 0.5


Estrutura organizacionais
 Introdução 0.5

 Discussão 0.5

 Conclusão 0.5

 Bibliografia 0.5

- Contextualização (Indicação
clara do problema) 1.0
Introdução
- Descrição dos objectivos 1.0

- Metodologia adequada ao
objecto do trabalho 2.0
Conteúdos

- Articulação e domínio do
discurso académico (expressão
escrita cuidada, coerência /
Análise e coesão textual) 2.0
Discussão

- Revisão bibliográfica nacional


e internacionais relevantes na
área de estudo. 2.0

- Exploração dos dados. 2.0

Conclusão - Contributos teóricos práticos 2.0

- Paginação, tipo e tamanho de


Aspectos Formatação letra, paragrafo, espaçamento 1.0
gerais entre linhas.
Normas APA 6ª Rigor e coerência das
Referência edição em citações/referências 4.0
bibliográfic citações e bibliográficas.
a bibliografia
Recomendações de melhoria:

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_______-____________.
Índice
1.

Introdução.........................................................................................................................3
1.1. Objectivos...................................................................................................................3
1.1.1. Objectivo geral........................................................................................................3
1.1.2. Objectivos específicos.............................................................................................3
1.2. Metodologia................................................................................................................3
2. Acepção das palavras Sagrado e Profano......................................................................4
2.1. O tempo sagrado e os mitos........................................................................................5
2.1.1. A sacralidade do tempo...........................................................................................7
Conclusão........................................................................................................................14
Referências Bibliográficas...............................................................................................15
1. Introdução
O sagrado pode ser entendido como algo detentor de uma certa força que foge da razão
humana e evoca a um deus. Mas existem diferentes interpretações do sagrado em povos e
culturas e alguns autores, que destacam a noção de santo e sagrado em lugar da ideia de Deus
como noção básica do pensamento religioso.

O profano se dá em oposição a esses conceitos, sendo remetido à esfera do mal, do


impuro onde o homem praticará todas as transgressões divinas sem pudor algum. Assim, o
presente trabalho propõe uma séria operação de pensar o movimento humano sobre o eixo de
sua realidade religiosa, sob a qual se sucede uma série de atitudes ditas sagradas ou profanas.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
 Compreender e interpretar o segundo capitulo da obra: “O Sagrado e o Profano” de
Mirceia Eliade.

1.1.2. Objectivos específicos


 Compreender a Ciência das Religiões como disciplina autónoma;
 Analisar os elementos comuns das diversas religiões;
 Contextualizar historicamente a génese das religiões no mundo desde a antiguidade até
aos nossos dias.

1.2. Metodologia
Para a materialização do presente trabalho usou-se o método bibliográfico. Este método
baseia-se no estudo da teoria já publicada, assim é fundamental que o pesquisador se aproprie
no domínio da leitura do conhecimento e sistematize todo o material que está sendo analisado.

O método bibliográfico, para Fonseca (2002), é realizada:


[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e
publicadas por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se
com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o
que já se estudou sobre o assunto (Fonseca, 2002, p. 32).

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2. Acepção das palavras Sagrado e Profano
O ser humano sempre passa por alguma experiência ou contacto com algo, que traz em
si uma força ou significado que foge ao mundo da razão. Essas características peculiares
atribuíram-se àquilo que se tem como Sagrado. Ser “sagrado”, geralmente, evoca a um
“deus”. Nesse sentido, o Catecismo da Igreja Católica já o coloca como “O sentido do sagrado
faz parte do âmbito da religião”.

Para Galimberti (2003, p.20), o sagrado significa separado, e religião, vem do termo
latino relegere, significando religar, ou ligar novamente, e, também significa uma crença na
existência de forças ou entidades sobre-humanas responsáveis pela criação, ordenação e
sustentação do universo e, desse modo, fazendo a conotação entre religião e sagrado como
algo que refaz a separação ao contacto regularizado por práticas e rituais a fim de evocar uma
divindade.

Ao sagrado, são designados deuses, pessoas, espaços, tempos. Assim, a religião, que
circunscreve a área do sagrado, leva, por meio de ritos, a uma organização da racionalidade
do ser humano, tornando actos conscientes a fim de introduzir, pela percepção a diferença que
há entre sagrado e o profano.

O termo profano surge em oposição ao que é sagrado. Remete à esfera do mal, às


impurezas que levam a um contágio, a um estágio de terror. Para se livrar dessa esfera, o ser
humano é levado a praticar rituais, magias e sacrifícios e, assim, se afastar dos efeitos
maléficos que a contraposição ao sagrado pode causar no ser.

Segundo (Eliade, 2001, p.20) “o sagrado e o profano constituem duas modalidades de


ser no Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo de sua história”.

Percebe-se no entanto, que o sagrado pode ser também algo relativo porque o que é
sagrado para uma pessoa, necessariamente, não precisa ser para o outro. Nesse sentido, se
quer compreender essas manifestações no decorrer da história das civilizações e, de modo
especial, o que acontece na modernidade, quando homens buscam apoio em diferentes
sacralidades ou diferentes símbolos e, de outro lado, também acontece um repúdio ao que se
tem por sagrado e já enraizado em diferentes sociedades ocorrendo uma transformação
religiosa surgindo hoje, diferentes seitas e grupos. Pois, compreender o universo espiritual do

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homem é buscar o conhecimento geral do homem como se observa dentro da história das
civilizações.
2.1. O tempo sagrado e os mitos
Vale primeiramente argumentar que nesta fase do trabalho é feita a interpretação e o
resumo da nossa compreensão advinda da leitura do segundo capítulo da obra O Profano e o
Sagrado, de Mircea Eliade. Cabe ainda salientar que neste capítulo é analisado a diferença
entre o tempo e a religião.

As diferenças salientadas pelo autor Mircea Eliade entre religião e tempo, se dá


relativamente em construções ligadas ao judaísmo e ao cristianismo. Sobre a sua intenção de
investigar essas diferenças, o autor fala no excerto a seguir:

“Em seguida veremos as diferenças relativamente ao judaísmo e ao cristianismo”


(Eliade, 2001, p.66).

Seguindo o autor na sua investigação sobre as diferenças entre o judaísmo e


cristianismo e se ele autoriza a fazer esse itinerário, está claro, na sua afirmação o objectivo
deste trajecto:

“É sobretudo essa concepção arcaica do Tempo mítico que nos interessa”. (Eliade,
2001, p.66).

Segundo o autor, alguns fatos revelam com mais facilidade o comportamento do homem
religioso em relação ao Tempo. Antes, porém, o mesmo faz a seguinte observação preliminar:

(...) em várias línguas das populações aborígenes da


América do Norte, o termo “Mundo” (= Cosmos) é igualmente
utilizado no sentido de “Ano”. Os yokut dizem “o mundo
passou”, para exprimir que “um ano se passou”. Para os yuki,
o “Ano” é designado pelos vocábulos “Terra” ou “Mundo”.
Como os yokut, eles dizem “a terra passou”, no sentido de que
se passou um ano. O vocabulário revela a correspondência
religiosa entre o mundo e o Tempo Cósmico. O Cosmos é
concebido como uma unidade viva que nasce, se desenvolve e se
extingue no último dia do Ano-Novo, (Eliade, 2001, p. 67).
Atento a isso, é mais compreensível a relação do homem com o Tempo e o Mundo.
Quando de posse do mundo, o homem estabelece uma vinculação com o Tempo, com o
Tempo, também, estabelece uma conexão com o mundo. Portanto, Tempo e Mundo estão

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numa interdependência, quando se referem ao vínculo que se estabelece entre o homem e o
seu comportamento religioso. Assim, conclui o autor:
“A correspondência cósmico-temporal e de natureza religiosa: pois tanto um como o
outro são realidades sagradas, criações divinas”. (Eliade, 2001, p.68).
Para tornar compreensível essa correspondência entre Tempo e Cosmos, o autor cita,
como exemplo, a construção dos edifícios sagrados (templos) que representam a imagem do
Mundo, e que abrigam um simbolismo religioso, resultando, desse modo, em uma relação
tríade entre Tempo e Mundo, unidos pelos laços do religioso contido no homem. Para ilustrar
tais afirmações, o autor dá, como exemplo, o que se encontra entre os algonkins e os sioux:

(...) sua cabana sagrada representa o universo e simboliza também o ano. Porque o ano
é concebido como um trajeto através das quatro direcções cardeais, significadas pelas quatro
janelas da cabana sagrada. (Eliade, 2001, p.67).

Para ilustrar ainda mais as suas afirmações, o autor completa: “Os Dakota dizem: “O
Ano é um círculo em volta do Mundo”, quer dizer, em volta da sua cabana sagrada, que é um
imago mundi”. (Eliade, 2001, p.67).

Diz, ainda, que, na Índia se encontra o exemplo mais claro de correspondência cósmico-
temporal e, por conseguinte, de natureza religiosa. Relata o autor:

Vimos que a elevação de um altar equivale à repetição da


cosmogonia. Ora, os textos acrescentam que o “altar do fogo é
o Ano” e explicam deste modo seu simbolismo temporal: os
trezentos e sessenta tijolos de acabamento correspondem às
trezentas e sessenta noites do ano, e os trezentos e sessenta dias
(shatapatha Brâhmana, X, 5, 4, 10 etc...). Em outras palavras, a
cada construção de um altar de fogo, não somente se refaz o
Mundo, mas também se “constrói o Ano”: regenera-se o Tempo
criando-o de novo. Por outro lado, o ano é equiparado a
Prajâpati, o deus cósmico; portanto, a cada novo altar reanima-
se Prajâpati, quer dizer, reforça-se a santidade do Mundo. Não
se trata do Tempo profano, da simples duração temporal, mas
da santificação do Tempo cósmico. Com a elevação de um altar
do fogo, o Mundo é santificado, ou seja, inserido num tempo
sagrado. (Eliade, 2001, p.68).
Também no templo de Jerusalém se encontra um simbolismo temporal análogo,
conforme o autor, o qual está integrado no simbolismo cosmológico. Afirma, posteriormente,
que:

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(...) segundo Flávio José (Ant. Jud. III, 7,7), os doze pães
que se encontravam sobre a mesa significavam os doze meses do
ano e o candelabro de setenta braços representava os decanos
(quer dizer, a divisão zodiacal dos sete planetas em dezenas). O
Templo era um imago mundi: situando-se no “centro do
Mundo”, em Jerusalém, santificava não somente o Cosmos
como um todo, mas também a “vida” cósmica, ou seja, o
Tempo. (Eliade, 2001, p.68).

Espaço e tempo são os elementos através dos quais o homem manifesta a sua condição
religiosa. A proximidade entre o tempo e o espaço foi descoberta por Hermann Usener, ao ser
citado por Eliade, uma vez que, segundo ele, o espaço e o tempo são meios pelos quais o
homem religioso pode empenhar-se na sua relação trans-humana. Sobre isso, o autor
referenda:
O parentesco entre templum e tempus a que estamos nos
referindo nos textos acima, segundo o autor é de mérito de
Hermann Usener, que o conseguiu ao interpretar os dois termos
pela noção de intersecção e que ulteriormente, a través de
outras investigações, descobriu-se que templum exprime o
espacial, tempus o temporal. E o conjunto desses dois elementos
constitui uma imagem circular espaço-temporal. (Eliade, 2001,
p.68).
Sobre todos esses fatos, pode-se concluir que, para o homem religioso, o mundo
encontra, a cada ano, uma santidade provinda do originário, ou seja, do primitivo, do
primeiro, daquele que não foi copiado de modelo algum. O Mundo que se renova, tornando-se
tal qual foi construído pelo Criador. Assim, exprime-se o autor ao oferecer a sua significação
profunda desses fatos:
“A significação profunda de todos esses fatos parece ser a seguinte: para o homem
religioso das culturas arcaicas, o Mundo renova-se anualmente, isso é, reencontra a cada
novo ano a santidade, tal como quando saiu das mãos do Criador”. (Eliade, 2001, p.69).

2.1.1. A sacralidade do tempo


Mircea Eliade, na sua obra O Sagrado e o Profano, aponta o tempo como um espaço de
intervalos sagrado e profano. Dessa maneira, o tempo pode ser visto como um espaço de
vivência religiosa ou, então, um tempo de ausência religiosa ao qual o autor denomina tempo
profano. Tendo o tempo a sua disposição, tempo sagrado ou profano, o homem pode transitar
entre esses dois espaços, passando de uma situação de duração temporal para um tempo
sagrado. Essa passagem se realiza por meio dos ritos. Sobre isso, o autor se pronuncia da
seguinte forma:
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Há por um lado, os intervalos de Tempo sagrado, o tempo
das festas (na sua grande maioria, festas periódicas); por outro
lado há o tempo profano, a duração temporal ordinária na qual
se inscrevem os actos privados de significado religioso. Entre
essas duas espécies de tempo, existe, é claro, uma solução de
continuidade, mas por meio dos ritos o homem religioso pode
“passar”, sem perigo, da duração temporal ordinária para o
Tempo sagrado. (Eliade, 2001, 63).
Através de um tempo litúrgico que representa a reactualização do evento sagrado, o
homem entra em contacto com um passado que se torna “tempo mítico primordial tornado
presente”. Portanto, toda a festa religiosa, parte integrante do tempo sagrado, representa uma
reactualização da qualidade de um tempo denominado tempo sagrado. Diante disso, o mesmo
autor afirma que o surpreende essa diferença essencial entre a qualidade dos tempos.
Fundamenta a sua explanação sobre a diferença entre os tempos quando afirma:
Surpreende-nos em primeiro lugar uma diferença
essencial entre essas duas qualidades de tempo: o tempo
sagrado é por sua natureza reversível, no sentido que é,
propriamente falando, um tempo mítico primordial tornado
presente. Toda festa religiosa, todo o tempo litúrgico,
representa a reactualização de um evento sagrado que teve
lugar num passado mítico, “nos primórdios”. (Eliade, 2001,
p.63).
Tomar parte de uma festa religiosa subentende-se a passagem ou o escape do tempo
ordinário para um tempo de reintegração com o “espírito” da própria festa, ao que a festa se
propõe. Em consequência disso, o tempo sagrado está constituído de um carácter de duração
reversível, ou seja, é indefinidamente repetível. É o que afirma o autor quando escreve:

Participar religiosamente de uma festa, implica a saída de um tempo temporal


“ordinária” e a reintegração no Tempo mítico reatualizado pela própria festa. Por
consequência, o tempo Sagrado é indefinidamente recuperável, indefinidamente repetível.
(Eliade, 2001, p.64).

Por outro lado, quanto ao tempo sagrado, ele não emana, não tem sua origem e nem
deriva de uma duração irreversível. No ponto de vista heideggeriano, contrário à visão
aristotélica, a ordem é que abranja o próprio ser, como aquilo que torna possível as múltiplas
existências. Assim, o tempo sagrado mantém-se sempre igual a si mesmo, não se modifica e
nem se exaure. O tempo sagrado, por isso, torna-se o reencontro com a primeira festa da
aparição do Tempo sagrado, tal qual ela se fez no decorrer do tempo. Sobre essa realidade o
autor fala:
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De certo ponto de vista, poder-se-ia dizer que o tempo
sagrado não “flui”, que não constitui uma “duração”
irreversível. É um tempo ontológico porexcelência,
“parmenidiano”: mantém-se sempre igual a si mesmo, não
muda e não se esgota. A cada festa periódica reencontra-se o
mesmo Tempo sagrado – aquele que se manifestara na festa do
ano precedenteou na festa de há um século: é o tempo criado e
santificado pelos deusespor ocasião de suas gesta, que são
justamente reactualizadas pela festa. Em outras palavras,
reencontra-se na festa a primeira aparição do Tempo sagrado,
tal qual ela se efectuou ab origine, in illo tempore. Pois esse
Tempo sagrado no qual se desenrola a festa não existia antes
das gestas divinas comemoradas pela festa. (Eliade, 2001, 64).
Exposto ao tempo e inserido nele, donde se faz e se constitui ser humano e, portanto,
subordinado ao que lhe é inerente, o homem tem as duas espécies de Tempo. Se, por estar no
mundo, lhe é conferida a realidade de viver no tempo presente histórico, lhe é possível,
também, se inserir num outro tempo: o Tempo sagrado. Por essa razão, podem existir dois
tipos de homem: um recolhido apenas ao tempo histórico e outro aos dois tempos, uma vez
que ao Tempo sagrado todo o homem pode se integrar.

Dessa forma, pode-se distinguir homem religioso e homem não religioso. O homem
religioso se recusa a crer que a existência humana está concluída com o término de seu tempo
“aqui” e, por isso, crê na vida enquanto processo constante e eterno. Por sua vez, o homem
não religioso aposta na suspensão da vida após seu término no “aqui”, parece-lhe claro que a
vida tem as suas demarcações e uma delas é a sua conclusão, o seu cessar. Sobre os dois tipos
de homens, Mircea Eliade afirma:
O homem religioso vive assim em duas espécies de Tempo,
das quais a mais importante, o Tempo sagrado se apresenta sob
o aspecto paradoxal de um Tempo circular, reversível e
recuperável, espécie de eterno presente mítico que o homem
reintegra periodicamente pela linguagem dos ritos. Esse
comportamento em relação ao Tempo basta para distinguir o
homem religioso do homem não-religioso. O primeiro recusa-se
a viver unicamente no que, em termos modernos, chamamos de
“presente histórico”; esforça-se por voltar a unir-se e um
Tempo sagrado que de certo ponto de vista, pode ser
equiparado à “Eternidade”. (Eliade, 2001, p.64).
Em busca de uma precisão, ou seja, de um absoluto rigor na determinação de medida, da
representação de Tempo para o homem não-religioso da sociedade dita moderna, o autor
afirma que é algo muito difícil de fazê-la em poucas palavras. A intenção de encontrar uma
exactidão o levaria a ingressar no estudo das filosofias do tempo contemporâneo e, ao mesmo
9
tempo, descobertas dos conceitos de que a ciência se utiliza para as suas investigações. Sobre
essa questão o autor prefere enveredar-se por outro caminho: comparar a maneira de proceder
da pessoa referente ao existir. Sobre essa questão, o autor se refere:

É muito difícil precisar, em poucas palavras, o que representa o Tempo para o homem
não-religioso das sociedades modernas. Não é nosso propósito falar das filosofias modernas
do tempo, nem dos conceitos que a ciência contemporânea utiliza para as suas investigações.
Nosso objectivo não é comparar sistemas ou filosofias, mas sim comportamentos
existenciais”. (Eliade, 2001, p.65).

Mas ao homem não-religioso estão destinados dois Tempos. Há um tempo em que a


vida se apresenta continuamente no mesmo tom, ou seja, se repete de forma invariável e
uniforme. Destaca-se pela ausência de continuidade e se mostra enfadonho e maçante.
Contrapondo-se a esse tempo monótono, existe outro tempo: o tempo da cessação de uma
actividade, tempo do descanso e do repouso. Sobre esses dois tempos, o autor afirma:

(...) o que se pode constatar relativamente a um homem não-religioso é que também ele
conhece uma certa descontinuidade e heterogeneidade do Tempo. Também para ele existe o
tempo predominantemente monótono do trabalho e o tempo do lazer e dos espectáculos,
numa palavra o “tempo festivo”. (Eliade, 2001, p.65).

O ritmo do tempo do homem não-religioso é constituído por momentos diferentemente


intensos. Assim, o ritmo do tempo se organiza a partir da escuta de uma música que o toca,
quando espera a pessoa amada no momento em que se encontra apaixonado. Também
apresenta diferente organização quando por ocasião de suas actividades de trabalho ou outra
que o faça sentir-se aborrecido e enfastiado. Portanto, o homem não-religioso está submetido
ao seu tempo e um tempo que lhe traz ritmos temporais diferentes. Sobre o ritmo do tempo do
homem não-religioso, segue-se passagem:

Também ele vive em ritmos temporais variados e conhece tempos diferentemente


intensos: quando escuta sua música preferida ou, apaixonado espera ou encontra a pessoa
amada, ele experimenta, evidentemente, um ritmo temporal diferente de quando trabalha ou
se entedia. (Eliade, 2001, p.65).

Qual a diferença essencial entre o Tempo do homem não-religioso e o do homem


religioso? Esse é o próximo passo que o autor se propõe trazer à luz de sua reflexão. Para ele,
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há uma diferença essencial, e ela se constitui na medida em que o homem religioso conhece
intervalos que são “sagrados”.

A diferença mais central, a mais importante característica e o espírito que separa um


homem não religioso do homem religioso é que o homem religioso traz consigo um tempo
santificado pelos deuses, enquanto o homem não-religioso não apresenta a disponibilidade
para um acesso ao transcendente. O tempo litúrgico lhe é inacessível. Para o homem não
religioso, a sua existência não apresenta nenhum contrato ou acordo para o mistério. Sua vida
se esgota na sua própria existência. Assim, fala o autor sobre essa diferença:
(...) em relação ao homem religioso (...) ele conhece
intervalos que são “sagrados”, que não participam da duração
temporal que os precede e os sucede, que tem uma estrutura
totalmente diferente e uma outra “origem”, pois se trata de um
tempo primordial, santificado pelos deuses e suscetível de
tornar-se presente pela festa. Para um homem não religioso
essa qualidade trans-humana do tempo litúrgico é inacessível.
Para o homem não-religioso o Tempo não pode apresentar nem
rotura, nem mistério: constitui a mais profunda dimensão
existencial do homem, está ligado à sua própria existência (...).
(Eliade, 2001, p.65).
Complementando a diferença entre esses dois tipos de homens com dois tipos de tempo
em suas vidas, o autor conclui sobre o homem não-religioso:
(...) portanto, tem um começo e um fim, que é a morte, o
aniquilamento da existência. Seja qual for a multiplicidade dos
ritmos temporais que experimenta e suas diferentes
intensidades, o homem não-religioso sabe que se trata sempre
de uma experiência humana, onde nenhuma presença divina se
pode inserir. (Eliade, 2001, p.65).

E sobre o homem religioso o autor diz:


Para o homem religioso, ao contrário, a duração temporal profana pode ser “parada”
periodicamente pela inserção, por meio de ritos, de um Tempo sagrado, não histórico (no
sentido de que não pertence ao presente histórico). (Eliade, 2001, p.66).

O Tempo sagrado acontece na ruptura que se dá no tempo profano. Quando esse Tempo
se rompe e se abre uma fissura para o transcendente, se inaugura, a cada rompimento, uma
inserção no Tempo sagrado. Mas onde, em que lugar e espaço acontece esse romper-se? Na
igreja. No seu serviço religioso que se realiza no seu interior. Nesse espaço e através de seu
serviço litúrgico, a igreja recupera a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Assim,
encontra-se nas palavras do autor:
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Tal como uma igreja constitui uma rotura de nível no
espaço profano de uma cidade moderna, o serviço religioso que
se realiza no seu interior marca um rotura na duração temporal
profana: já não é o Tempo histórico actual que é presente – o
Tempo que é vivido, por exemplo, nas ruas vizinhas -, mas o
Tempo que se desenrolou a existência histórica de Jesus Cristo,
o Tempo santificado por sua pregação, por sua paixão, por sua
morte e ressurreição. (Eliade, 2001, p.66).
Cuidadoso ao seu estudo e fiel a sua reflexão, o autor esclarece, no entanto, que o
exemplo acima não esvazia toda a diferença entre o Tempo Sagrado e o Tempo Profano. Por
isso, recorre ao conhecimento de outras religiões, principalmente as religiões arcaicas em que
o Tempo sagrado não se reduz à reactualização, mas a um Tempo mítico, ou seja, um Tempo
primordial, não identificável no passado histórico. O autor, sobre o exemplo acima, menciona,
no entanto, que o cristianismo inovou a experiência e o conceito do tempo litúrgico.
É preciso, contudo, esclarecer que este exemplo não
explicita toda a diferença existente entre o Tempo profano e o
Tempo sagrado, pois em relação às outras religiões, o
cristianismo inovou a experiência e o conceito do Tempo
litúrgico ao afirmar a historicidade da pessoa do Cristo. A
liturgia cristã desenvolve-se num tempo histórico santificado
pela encarnação do Filho de Deus. O Tempo sagrado
periodicamente reactualizado nas religiões pré-cristãs
(sobretudo nas religiões arcaicas), é um Tempo mítico, quer
dizer um tempo primordial, não identificável com o passado
histórico, um Tempo original, no sentido de que brotou “de
repente, de que não foi precedido por um outro Tempo, pois
nenhum Tempo podia existir antes da aparição da realidade
narrada pelo mito. (Eliade, 2001, p.66).
As diferenças entre o judaísmo e o cristianismo parecem ter relevâncias consideráveis
dentro do tema até aqui reflectido: Tempo sagrado e Tempo profano.
No entanto, tendo compreendido este capitulo que aqui recontamos, é pertinente
salientar que hoje se vêem as inúmeras “pequenas religiões” que se espalham pelas cidades
como igrejas, seitas, escolas, todas essas, mesmo que trazem aspectos aberrantes, pertencem
ao círculo da religiosidade. Nesse sentido, se tem movimentos políticos e profetismo sociais
que eclodem em fanatismo religioso, o qual Mircea Eliade faz recordar a estrutura mitológica
do comunismo e sentido escatológico que Marx enriqueceu este mito venerável de toda uma
ideologia messiânica judaico-cristã.

Não obstante, Mircea Eliade mostra no desenvolvimento de sua obra, outras atitudes,
actividades e movimentos que fazem o homem decifrar vestígios de saudade do paraíso, a

12
qual restabelece a interrupção ocorrida entre as beatitudes da carne e a consciência como se vê
ao se deparar com os movimentos de liberdade sexual, nudismo e mesmo um paciente de
psicanálise ao ser convidado a ir no fundo de si mesmo para enfrentar seus traumas. Assim,
oferecer a si mesmo valores espirituais afrontando seu inconsciente a fim de atingir o “mundo
dos valores culturais”. , os quais irão possibilitar atingir o nível adulto e criador como são
concebidas no mundo moderno. Eliade salienta o significado da experiência do sagrado bem
como o papel da religião:
Conforme vimos, é a experiência do sagrado que funda o
mundo, e mesmo a religião mais elementar é, antes de tudo, uma
ontologia. Em outras palavras, na medida que inconsciente é o
resultado de inúmeras experiências existências, não podem
deixar de assemelhar-se aos diversos universos religiosos. Pois
a religião é a solução exemplar de toda a crise existencial não
apenas porque é indefinidamente repetível, mas também porque
é considerada de origem transcendental e, portanto, valorizada
como valorização recebida de um outro mundo, trans-humano.
(Eliade, 2001, p.171).
Enfim, dessa maneira, o homem sai da crise e fica receptível a valores, transpondo
situações pessoais e faz alcançar o mundo espiritual. O homem moderno traz em si muitos
anseios, sonhos e fantasias, suas experiências que não se incluem num todo ao “homo
religiosus” que, assim, não instituem um modo de viver e agir.

Assim, inconscientemente, o homem moderno traz inúmeros símbolos com mensagens a


ser transmitidas ocasionando o equilíbrio da psique ajudando o homem a alcançar o universal.
Em si, os símbolos levam a uma experiência individual e à conversão de um marco espiritual
a perceber metafisicamente o mundo.

13
Conclusão
Conclui-se, de certa forma que O conteúdo que envolve a temática que relaciona o
sagrado e o profano traz à tona um vasto campo de pesquisa. Nesse momento histórico, esse
tema proporciona uma ampla reflexão necessária para articular novos métodos e meios dentro
da Igreja para que possa agilizar uma extensa catequese e actualizar o modo de tratar o
sagrado e o profano hoje.

A sacralidade passa, actualmente, por um período que sucumbe ao colocar-se diante do


mundo tecnológico, um mundo que não se detém em fronteiras, em um modo de vida que
tudo envolve o “descartável” e o “imediatismo”. Percebe-se que esses factores influenciam na
vida do ser humano, nas suas relações sociais e, de modo especial, na maneira de relacionar-
se com Deus. Assim torna-se fácil indicar o que levou o homem, no decorrer da história, a
mudar, tão bruscamente, seu pensamento a respeito de fé, relação transcendente e o modo de
cultivá-la espiritualmente.

Portanto, quando se trata da diferenciação entre o homem religioso e arreligioso, se


constata uma ampla dessemelhança nas características pessoais de cada um e o quanto elas
reflectem na sociedade e na conduta moral, visto que não se pode ter o sagrado como meio
para ditar regras morais, e sim tê-lo como campo aberto em que o homem construa a sua
consciência e sua liberdade não esquecendo da origem da sua vida na sacralidade. O homem
actualizou a história, mas aconteceu que, junto, se formaram grupos que negam a
transcendência, sendo os próprios sujeitos da história, deixando a sua integralidade com
carências antropológicas que provocam uma tensão dialéctica entre o religioso e a história.
Desse modo, se percebe o desejo intrínseco de voltar aos seus princípios anteriores, nos quais
não se percebiam pluralidades históricas e, muito menos, pluralidade de religiões.

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Referências Bibliográficas
Eliade, M. (2001). O sagrado e o profano. A essência das religiões. São Paulo, Brasil:
Martins Fontes.

Fonseca, J. (2002). Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza, Brasil: UEC.

Galimberti, U. (2003). Rastros do sagrado. O cristianismo e a dessacralização do sagrado.


São Paulo, Brasil: Paulus.

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