Mono VF
Mono VF
Mono VF
CURSO DE PORTUGUÊS
Quelimane
2022
EDMA JONITO ALFREDO SEGREDO
Quelimane
2022
3
Índice
Lista de Tabelas .........................................................................................................................iii
Lista de Siglas e Abreviaturas ................................................................................................... iv
Declaração .................................................................................................................................. v
Dedicatória................................................................................................................................. vi
Agradecimentos ........................................................................................................................vii
Resumo ....................................................................................................................................viii
Abstract ...................................................................................................................................... ix
Introdução ................................................................................................................................. 11
Capítulo I .................................................................................................................................. 13
Capítulo I: Contextualização da Pesquisa ................................................................................ 14
1.1. Tema .................................................................................................................................. 14
1.2. Delimitação do tema .......................................................................................................... 14
1.3. Objectivos .......................................................................................................................... 14
1.3.1. Objectivo Geral............................................................................................................... 15
1.3.2. Objectivos Específicos ................................................................................................... 15
1.4. Justificativa ........................................................................................................................ 15
1.5. Problematização................................................................................................................. 16
1.6. Questões de Partida ........................................................................................................... 17
1.7. Metodologias ..................................................................................................................... 17
1.7.1. Tipo de pesquisa ............................................................................................................. 17
1.7.1.1. Quanto a abordagem .................................................................................................... 17
1.7.1.2. Quanto aos objectivos.................................................................................................. 18
1.7.1.3. Quanto aos procedimentos........................................................................................... 18
1.7.2. Técnicas e instrumento de colecta de dados ................................................................... 19
1.7.3. Questionário ................................................................................................................... 19
1.7.4. Observação ..................................................................................................................... 20
1.8. Universo e Amostra ........................................................................................................... 20
1.8.1. Amostra .......................................................................................................................... 20
Capítulo II ................................................................................................................................. 22
Capítulo 2: Referencial teórico ................................................................................................. 23
2.1. Língua e sociedade ............................................................................................................ 23
2.2. Variação Linguística .......................................................................................................... 25
4
Lista de Tabelas
Tabela 1: Dados sobre sexo, idade e naturalidade.............................................................. ........ 38
Tabela 2: Dados sobre o momento em que se sente mais ou menos livre para conversar. ........ 39
Tabela 3: Dados referentes a faixa etária pelo qual gosta mais de conversar. ................... ........ 40
Tabela 4: Dados referentes ao nível de escolaridade pelo qual gostam de conversar. ....... ........ 41
Tabela 5: Você acha que fala diferente dos teus colegas?.................................................. ........ 42
Tabela 6: Da forma como você fala o português com o seu professor é da mesma forma como
fala com teus colegas? ......................................................................................................... ........ 43
Tabela 7: Como você fala o português na comunidade é da mesma forma como fala na sala
de aula? ................................................................................................................................ ........ 44
Tabela 8: Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto? ............ ........ 45
Tabela 9: Acha que escreve da mesma forma como fala o português? .............................. ........ 46
iv
Declaração
Declaro que a presente monografia intitulada: A dimensão externa da variação
linguística: Contribuições para o acervo linguístico dos Alunos da 10ª Classe, C/D da Escola
Secundária Geral Josina Machel Mocuba – 2022, sob orientação da minha supervisora, foi
por mim produzida, e que não foi apresentado em nenhuma outra instituição.
vi
Dedicatória
Dedico a presente monografia aos meus pais.
vii
Agradecimentos
À minha supervisora, Phd. Paula Bambo, pela atenção, paciência e dedicação que tem
como docente, e pela disponibilidade demonstrada na orientação deste trabalho de pesquisa.
E por fim, aos professores e alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel - Mocuba
por permitir que a pesquisa fosse desenvolvida.
viii
Resumo
Cabe salientar que essa é uma pesquisa inicial, constituída por intermédio de um modesto
corpus de pesquisa, mas que em nada compromete sua credibilidade e a validade dos dados
aqui analisados. Com a análise do corpus, verificamos algumas ocorrências sugestivas dos
padrões de comportamento linguístico nessa região, com forte prevalência de factores
externos à própria língua. Com a consolidação desse trabalho, acreditamos ter dado um
pequeno passo para a compreensão do panorama sociolinguístico da escola em alusão,
extremamente rica em variedades, entretanto, ainda pouco explorada em âmbito linguístico.,
entretanto, observando o actual retrato linguístico da região de Mocuba, percebe-se que a
dimensão externa da variação linguística tem contribuído de certa forma no modo de falar da
comunidade dessa região. Com base nessa constatação, procuramos analisar como a dimensão
externa da variação linguística contribui para o acervo linguístico dos alunos da Escola
Secundária Geral Josina Machel – Mocuba. Tendo concluído que todas as línguas apresentam
algum tipo de variação, sendo heterogéneas e estando mutuamente ligadas às transformações
da sociedade, e, em especial, o português moçambicano exibe um alto grau de diversidade e
variabilidade. Essas variações podes estar ligadas à diversos factores, como os externos: etnia
e sexo – relacionados directamente aos indivíduos, e aos factores de uso social, como:
escolarização, classe social, nível de renda. Ou ainda, os factores internos, inerentes à
estrutura da língua, o significado e significante e outros subsistemas da língua. Há ainda, os
factores contextuais, como: grau de formalidade e tensão discursiva.
Palavras Chaves: Língua, Variação Linguística.
ix
Abstract
It should be noted that this is an initial research, constituted by means of a modest research
corpus, but that in no way compromises its credibility and the validity of the data analyzed
here. With the analysis of the corpus, we verified some suggestive occurrences of linguistic
behavior patterns in that region, with a strong prevalence of factors external to the language
itself. With the consolidation of this work, we believe that we taken a small step towards
understanding the sociolinguistic panorama of the school in question, extremely rich in
varieties, however, still little explored in the linguistic field. It is clear that the external
dimension of linguistic variation has contributed to certain extent in the way the community
in this region speaks. Based in this finding, we seek to analyze how the external dimension of
linguistic variation contributes to the linguistic collections of students at Escola Secundária
Geral Josina Machel – Mocuba. Having concluded that all languages present some type of
variation, being heterogeneous and being mutually linked to the transformations of society,
and, in particular, Mozambique Portuguese exhibits a high degree of diversity and variability.
These variations can be linked to several factors, such as external ones: ethnicity and sex –
directly related to individuals, and to factors of social use, such as: education, social class,
income level. Or still, the formal factors, inherent to the structure of the language, the
meaning and signifier and other subsystems of the language. There also contextual factors,
such as: degree of formality and discursive tension.
Keywords: Language, Linguistic Variation.
11
Introdução
Cabe salientar que a sociolinguística enquanto ciência da língua em movimento
considera os factores externos a ela. Trata das variações linguísticas, observando o curso e o
valor das palavras em cada situação de enunciação e grau de formalidade. Daí decorre a noção
de que determinada variante estabelece uma relação de domínio e prestígio em relação à
outra. Verifica-se no entanto, que em bom português, a verdade é que todas as sociedades
humanas estabelecem uma hierarquia entre suas variedades, atribuindo valores a este ou
aquele traço da fala.
Sabendo que todo grupo de fala apresenta variações linguísticas em contínua mutação, é
de primordial importância compreender os factores que desencadeiam estas modificações
constantes na fala dos indivíduos. Assim, evidencia-se que um dos tipos de factores que
produzem diferenças na fala das pessoas são externos à língua. Os principais são factores
geográficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de profissão”.
No entanto, os factores que norteiam a fala de um determinado grupo, não são apenas
externos à língua. Esta segue uma regularidade, é regida por uma lógica interna, em que
certos “equívocos” linguísticos não ocorrem. Também há factores internos à língua que
condicionam a variação. Ou seja, a variação é de alguma forma, regrada por uma gramática
interior da língua.
terceiro capítulo, que é a parte onde trazemos, de forma detalhada a análise e interpretação
dos dados colhidos na Escola Secundária Geral Josina Macheel – Mocuba, respondendo
assim, às questões de pesquisa assim como aos objectivos propostos.
Capítulo I
14
1.1. Tema
O presente projecto de pesquisa tem como tema: A dimensão externa da variação
linguística: Contribuições para o acervo linguístico.
1.3. Objectivos
Como é de praxe, quando se ambiciona realizar um trabalho de pesquisa, há que ter
em conta à priori, um fim a atingir, um alvo de pesquisa, desígnio de pesquisa,
ou seja, o objectivo que nos leva a fazê-lo.
Não obstante, pode dizer-se que o objectivo de uma pesquisa não foge da finalidade
que leva o pesquisador a fazer o seu estudo. Contudo, o objectivo geral expressa resultado,
indicando outros fenómenos que permitirão uma especificidade a fim de tornar o estudo ainda
explícito.
Neste contexto, toda pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber o que se
vai procurar e o que se pretende alcançar. Assim, definir objectivos de pesquisa é um requisito
para desenvolver um estudo científico. Portanto, os objectivos de uma pesquisa têm o papel
de nortear, pois, direcciona a leitura do texto, bem como, permite entender o que o
pesquisador fez em seu trabalho, tornando claro o problema de pesquisa, possibilitando ao
pesquisador aumentar seus conhecimentos sobre o assunto ou tema tratado. Assim sendo, com
o presente projecto de pesquisa, pretende-se alcançar os seguintes objectivos:
15
1.4. Justificativa
Como a linguagem é, em última análise, um fenómeno social, fica claro, para um
sociolinguista, que é necessário recorrer às variações derivadas do contexto social para
encontrar respostas para os problemas que emergem da variação inerente ao sistema
linguístico. (Camacho, 2001, p.50).
Atento a este posicionamento supra citado, nós não fugimos a regra, ou seja, optamos
em fazer este estudo em primeiro lugar, por saber que a língua é um fenómeno que está em
constante mudança, isto é, advindo de diversos factores como a questão do tempo, região,
contexto social, entre outros.
Assim sendo, a escolha desse tema deveu-se ao facto da variação linguística ser um
fenómeno que acontece com a língua e pode ser compreendida por intermédio das variações
históricas e regionais. Em Moçambique, com uma única língua oficial, a língua pode e sofre
diversas alterações feitas por seus falantes, e Mocuba não é excepção. Como não é um sistema
fechado e imutável, a língua portuguesa ganha diferentes nuances.
Outra razão não menos importante que influenciou-nos a trabalhar este tema, foi por
constatar que as variações linguísticas acontecem porque vivemos em uma sociedade
16
complexa, na qual estão inseridos diferentes grupos sociais. Alguns desses grupos tiveram
acesso à educação formal, enquanto outros não tiveram muito contacto com a norma culta da
língua.
Por observar também que na Escola Secundária Geral Josina Machel - Mocuba a língua
varia de acordo com suas situações de uso, pois um mesmo grupo social pode se comunicar de
maneira diferente, de acordo com a necessidade de adequação linguística.
1.5. Problematização
Importa de antemão argumentar que a língua não se realiza num vácuo social. Ela não
existe fora da sociedade, da mesma forma que a sociedade não existe sem ela. A relação entre
língua e sociedade não é uma relação em que uma determina a outra, mas de interacção entre
elas, em que uma se refracta na outra, num sistema de influências.
Assim como em quase todas as regiões de Moçambique, Mocuba é uma cidade em que
pode-se encontrar pessoas oriundas das diversas regiões do nosso belo Moçambique, trazendo
contigo sua cultura, hábitos e costumes, e sem se esquecer dum factor não menos importante,
que é a questão da sua língua materna, visto que para a maioria das pessoas tem a sua língua
materna a língua bantu da sua região de nascença.
Entretanto, este fenómeno contribui bastante para que haja as diferentes formas ou tipos
de variações linguística no país, e sem deixar de fora a cidade de Mocuba, particularmente na
Escola Secundária Geral Josina Machel.
Outro aspecto importante a considerar é que todas as línguas apresentam algum tipo de
variação, sendo heterogéneas e estando mutuamente ligadas as transformações da sociedade,
e, em especial, o português falado em Moçambique, na cidade de Mocuba, na Escola
Secundária Geral Josina Machel, exibe um alto grau de diversidade e variabilidade. Essas
variações podem estar ligadas a diversos factores externos como a etnia e sexo relacionados
directamente aos indivíduos, e aos factores de uso social, como escolarização, classe social,
nível de renda; existe ainda factores contextuais, como a questão de grau de formalidade e
tensão discursiva.
17
Contudo, diante desta situação, surge-nos a seguinte questão de pesquisa: De que forma
a dimensão externa da variação linguística contribui para o acervo linguístico dos alunos da
Escola Secundária Geral Josina Machel – Cidade de Mocuba?
1.7. Metodologias
A este ponto da monografia, apresenta-se o tipo e os procedimentos baseados em
instrumentos metodológicos, que foram usados para a concretização dos objectivos
anteriormente propostos. Por ora, para além dos métodos que foram usados para a obtenção
de informações inerente à pesquisa, também foi apresentada a população ou grupo alvo no
qual a pesquisa foi realizada.
Assim, a Pesquisa Qualitativa é aquela que não se preocupa pela profunda compreensão
de um dado facto levantado, sendo ele social ou não. E no caso desta monografia, procuramos
compreender como os factores externos da variação linguística podem contribuir para a
interacção verbal dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel.
Corroborando com Gil (2002, p.42), este tipo de pesquisa tem como objectivo
primordial “a descrição das características de determinada população ou fenómeno ou, então,
o estabelecimento de relações entre variáveis. […] São incluídas neste grupo as pesquisas que
têm por objectivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população”.
Para a realização da presente pesquisa fez-se uma descrição do caso em estudo, que
foram os alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel, tendo levando a cabo a questão
de partida, e com ela estabeleceu-se relações entre os alunos que foram submetidos a uma
análise generalizada.
Neste tipo de técnica usada, a autora da pesquisa centrou-se, para além de outras
ferramentas facilitadoras de informações, à conciliação dos seus objectivos com as
informações obtidas em manuais de ensino e sobretudo de documentos que forneceram
informações precisas à pesquisadora, sendo eles: os manuais de ensino, a internet, jornais etc.,
sendo eles testemunhos científicos sobre o assunto em destaque.
19
Atento ao que foi referido acima, torna-se extremamente pertinente afirmar que para a
realização da presente pesquisa usou-se os seguintes instrumentos de colecta de dados:
1.7.3. Questionário
De modo a realizar a presente pesquisa, um dos instrumentos de colecta de dados que
usamos é o questionário, que dirigido aos alunos.
Lakatos & Marconi (2003, p.201) dizem que questionário é um instrumento de colecta
de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao
informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o
do mesmo modo.
1.7.4. Observação
Outro instrumento de colecta de dados que foi usado para realização da presente
pesquisa foi a observação.
Para a execução da presente pesquisa, a observação foi usada pela autora de modo a
trazer imagens e fenómenos vivenciados de forma directa, entretanto, confrontado o dito e o
visto com a realidade que foi analisada. Outrossim, observou-se se/como os factores externos
da variação linguística contribuem na interacção verbal dos alunos.
Nesse contexto, o universo para este estudo foi constituído por 150 alunos da Turma A,
C/D, da Escola Secundária Geral Josina Machel Machel – Mocuba.
1.8.1. Amostra
Considerando o sistema de ensino e as qualidades que este apresenta, a selecção da
amostra se condiciona na parte dos informantes-alunos) aqueles que apresentarem respostas
21
Capítulo II
23
Ainda na perspectiva dos autores, além das diferenças individuais, a língua utilizada por
diferentes grupos de pessoas pode apresentar variações regulares. Quando o português usado
por pessoas de regiões geográficas ou grupos sociais diferentes apresenta diferenças
sistemáticas diz-se esses grupos apresentam diferentes dialectos1 da mesma língua.
Para Borin (2010, p.7), a língua é o meio pelo qual o homem expressa as suas ideias, as
da sua geração, as da comunidade a que pertence, enfim, ela não deixa de ser um retracto de
seu tempo. Cada falante é usuário e agente modificador de seu idioma, nele imprimindo
marcas geradas pelas novas situações com que se depara.
Assim, devemos ser claro que mudanças sociais produzem mudanças na língua. A
língua, por sua vez, incorpora valores sociais. A estrutura social pode influenciar ou
1
Os dialectos de uma língua podem definidos como formas mutuamente inteligíveis dessa língua,
diferenciando uma das outras de maneira sistemática.
24
determinar a estrutura do idioma ou seu comportamento, o que prova que os valores sociais
costumam ter efeito sobre a língua.
Nesse mesmo contexto, Tarallo (1989), afirma que a língua, por ser um marcador que
identifica usuários ou grupos a qual pertence, pode também ser o delimitador das diferenças
sociais no seio de uma comunidade. O comportamento linguístico é um indicador claro da
estratificação social. Nesse caso, também, podemos falar em estratificação linguística.
Dessa forma, não há elemento interno na forma verbal que justifique o seu valor de uso,
mas, ao contrário, são elementos extralinguísticos que lhe conferem a supremacia em relação
às formas linguísticas concorrentes. Dessa forma, uma forma linguística é valorizada ou
desvalorizada em função da classe ou do grupo social que a realiza. Ela em si não possui valor
social; este se agrega a ela a partir da posição social de quem a realiza.
De acordo com Meillet, 1921 apud (Calvet, 2002, p.16), pelo simples facto da língua
ser um fato social resulta que a linguística e uma ciência social, e o único elemento variável
ao qual se pode recorrer para dar conta da variação linguística e a mudança social”.
Como se pode notar nessa citação, do ponto de vista de Meillet, toda e qualquer
variação na língua é motivada estritamente por factores sociais.
Por ora, a língua é um instrumento de uso dos falantes de um grupo social, sendo que o
contexto sociocultural dos falantes muda em decorrência do grupo social ao qual o falante
pertence, então, inevitavelmente há formas linguísticas inerentes a cada grupo social, sendo
que existe um núcleo linguístico comum, mas também um núcleo diversificado dentro de uma
sociedade de classe. Em relação ao núcleo comum não há valor social explícito, porém em
relação ao núcleo diversificado, a estratificação social é reflectida na língua. A partir da fala
se identifica o grupo social ao qual o falante pertence.
25
Deste modo, variação de uma língua é o modo pelo qual ela se diferencia, sistemática e
coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e sócio-cultural no qual os
falantes dessa língua se manifestam verbalmente.
Outro aspecto não menos importante que vale considerar é que a variação linguística
manifesta-se através de dialectos e idiolectos. Dialectos são as variações de pronúncia,
vocabulário e gramática pertencentes a uma determinada língua.
Os dialectos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região
existem também as variações dialectais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e
feminino e estilísticas.
onde se vende pastel de carne, queijo e palmito basicamente. Em Portugal vamos à pastelaria
comprar pães doces, bolinhos e outras guloseimas do género. Um carro velho e muito usado é
apelidado de “chocolateria” em Portugal, mas no Brasil não se usa esse termo.
Do ponto de vista sincrónico (mesmo plano temporal), o pesquisador pode abordar seu
objecto a partir de três pontos de vista: geográfico (ou diatópico), social (ou diastrático) e
estilístico (contextual ou diafásico).
Enfim, não há casualidade entre o facto de nascer em uma determinada região, ser de
uma classe social e falar de certa maneira. As variedades linguísticas são, de certa forma,
subordinadas a dois amplos campos: variedades diatópica e variedades diastráticas.
2
Na dimensão interna da variação, consideramos os factores que são internos à língua nos seus diferentes níveis
(lexical, fonológico, morfológico, sintáctico e discursivo).
27
Labov procurou dados dos ditongos /ay/ e /aw/ em diferentes situações: na fala casual,
através da observação da interacção entre falantes na rua, em bares etc.; na fala com acento
emocional, através de questionários que requeriam aos informantes emitir juízos de valor; na
fala cuidada, através de entrevistas; e na leitura, pedindo aos informantes para que lessem
uma história em voz alta.
Seus resultados mostraram, porém, que a centralização dos ditongos /ay/ e /aw/ estava
atrelada à estratificação social dos informantes, muito mais do que aos factores linguísticos.
As explicações encontradas não estavam na estrutura da língua, não havia quase nada no
contexto linguístico que condicionava um falante a pronunciar de uma maneira ou de outra os
ditongos pesquisados. As explicações estavam fora da língua, estavam no contexto social dos
informantes da pesquisa.
De acordo com Garet, as variações que se podem verificar na fala são de três (3)
espécies:
a) Geográficas;
b) Sociológicas- compreendem as variações provenientes da idade, sexo, profissão, nível de
estudos, classe social, localização dentro da mesma região, raça, as quais podem determinar
traços originais na linguagem individual.
Assim, Meto, Kwani, são variantes do Emakhuwa, enquanto o Português, o Francês, o inglês,
etc... são variedades linguísticas.
É possível saber quando um falante é da zona centro, sul ou norte de Moçambique, por
exemplo.
Para Faria (1996, p.88) os principais factores sociais que condicionam a variação
linguística são o grau de escolaridade, o nível socioeconómico, o sexo/género, a faixa etária e
mesmo a profissão dos falantes, conforme exemplificamos a seguir:
Grau de escolaridade - Por terem um contacto maior com a cultura letrada e com o
uso da variedade padrão da língua, supõe-se que, em geral, falantes altamente
escolarizados dificilmente produzirão formas como nós vai ou a gente vamos, que são
típicas de falantes pouco ou não escolarizados. É mais provável que eles falem nós
vamos e a gente vai;
Alguns estudos mostram que as mulheres são mais conservadoras do que os homens.
Elas, em geral, preferem usar as variantes valorizadas socialmente; é como se elas fossem
mais receptivas à actuação normatizadora da escola. Esses resultados, segundo Paiva (2008),
requerem cautela, afinal, os papéis feminino e masculino, nas diversas sociedades,
estão a todo momento sofrendo transformações.
Paiva sugere que uma atitude mais adequada seria, portanto, a de correlacionar sempre a
variável sexo/género com a faixa etária da população e, se possível, com a história social das
diferentes comunidades investigadas, para que as transformações culturais e as mudanças
comportamentais das faixas mais jovens da população possam ser levadas em consideração
também.
Faixa etária - A questão da relação entre variação linguística3 e idade do falante tem
suscitado muitas reflexões dentre os sociolinguistas no mundo, pois, em geral, entra
em jogo a questão da mudança linguística4. Estudos que levam em conta esse factor
têm tentado responder as seguintes questões:
o Como se relacionam a variação/mudança no indivíduo e na comunidade?
o A língua falada pelo indivíduo pode realmente mudar no decorrer dos anos?
Segundo Naro (2008), existem duas posições teóricas que, mesmo sem evidência
empírica convincente, dão respostas diferentes a essas perguntas.
A primeira resposta (a “clássica”) vem dos que acreditam que o processo de aquisição
da linguagem se encerra mais ou menos na puberdade, e que a partir desse momento a língua
3
Variação linguística implica duas ou mais formas que concorrem para expressar um mesmo significado.
4
Mudança linguística implica processo de substituição gradual de uma forma por outra.
32
espontânea (ou o vernáculo) do indivíduo fica basicamente estável – ou seja, o indivíduo não
muda sua língua espontânea no decorrer dos anos.
A segunda resposta é que a língua falada pelo indivíduo pode mudar no decorrer dos
anos. Naro mostra que nem toda variação na fala representa mudança linguística em
progresso. Existem casos em que o uso linguístico diferenciado pelas faixas etárias não revela
mudança, mas variação estável.
Nesse caso, o indivíduo muda seu comportamento linguístico durante a sua vida, mas a
comunidade à qual pertence permanece estável. Alguns estudos sobre a concordância verbal e
nominal têm atestado esse processo. Por outro lado, além de a fala do indivíduo mudar, a
comunidade também pode reflectir essa mudança.
Esses papéis sociais são “um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas
socioculturais [...] e são construídos no próprio processo da interacção humana” (Bortoni-
Ricardo, 2004, p.23).
Os papéis representam tipos de relações que ocorrem entre o locutor e seu interlocutor
(as chamadas relações de poder e solidariedade), o contexto ou domínio social (se a
comunicação ocorre na escola, no trabalho, em casa, na igreja, na vizinhança etc.) e até
mesmo o assunto sobre o qual se conversa.
Esses são factores que determinam a variação estilística – uma questão de adequação ao
contexto em que ocorre a comunicação. Certamente, em situações mais formais usamos uma
linguagem mais monitorada, ou seja, prestamos mais atenção à forma como falamos,
enquanto que em situações mais informais usamos uma fala mais coloquial. Essas duas
linguagens são chamadas, respectivamente, de registro formal e registro informal.
Leve-se em conta também que, ao interagirmos através da fala, temos acesso a diversas
informações contextuais que não estão presentes em um texto escrito: geralmente podemos
ver/ouvir nosso interlocutor e, no decorrer da interacção, captar sinais que são indicativos de
que direcção devemos tomar em nossos turnos.
Por conta disso, o texto resultante será pontuado de mecanismos de organização textual
particulares, como os marcadores discursivos, por exemplo. Temos assim, em síntese, no
texto falado, o carácter espontâneo, improvisado e em alto grau vinculado ao contexto
extralinguístico que lhe confere (pela possibilidade de correcção e reformulação online do
texto que está sendo produzido) as diversas marcas formais que sinalizam não só esse
processo, mas nossa relação com nosso interlocutor, com o assunto etc.
Já o texto escrito constitui-se de forma diferente, isto e, o grau em que ele se difere do
texto falado se deve em grande parte ao tempo de planeamento que caracteriza sua produção.
Mollica (2008, p.88) afirma que ao trabalharmos sobre um texto escrito como este, por
exemplo, geralmente temos tempo para planejar com antecedência sobre o que discorreremos,
em que ordem os argumentos serão apresentados, que mecanismos linguísticos são os mais
adequados para os objectivos definidos e, concomitantemente, quais são os mecanismos
esperados para o género no qual produzimos nosso texto.
Assim, pode se dizer que a língua nunca está pronta. Ela é sempre algo por se refazer”.
Agindo de maneira punitiva e arbitrária, a escola ignora a mudança linguística e, por
conseguinte, aspectos culturais próprios de determinada comunidade de fala.
Para trás ficou o segundo capítulo, onde foram mencionados alguns aspectos teóricos
referentes ao tema da presente monografia, baseando-se em algumas obras que mencionamos
na bibliografia. A seguir, vem o terceiro capítulo, onde é feita a verdadeira análise e
interpretação dos dados a despeito da dimensão externa da variação linguística: contribuições
para o acervo linguístico dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba.
36
Capítulo III
37
No que tange a parte de identidade, de salientar que a distribuição por sexo, os dados
sociolinguísticos apontam para 20 (vinte) alunos de sexo masculino e 20 (vinte) para o sexo
feminino, quanto à idade dos alunos, constata-se que esta varia entre os 16 aos 23 anos de
idade, sendo que a maioria dos alunos tem 17 anos de idade, que se afigura como a mais
representativa da turma da 11ª classe C/D da Escola Secundária Geral Josina Machel –
Mocuba.
Olhando para os dados acima, podemos argumentar que, quando uma pessoa fala, você
pode saber muita coisa sobre ela só por meio da sua maneira de falar! Muitas vezes, mesmo
sem olhar para a pessoa (no caso de língua oral, claro!), você pode adivinhar de onde ela vem,
o sexo, a idade (mais ou menos), a etnia e a classe social, só pela linguagem que usa: as
palavras, o sotaque, as expressões, a entoação, as escolhas gramaticais.
Saber de onde uma pessoa vem não é difícil se a pessoa fala um dialecto, ou se fala com
um sotaque regional. Na Moçambique, é fácil identificar quem é da Zambézia, quem é de
Nampula e quem é do sul do país, só pelo jeito de falar.
Por ora, vamos aqui apresentar os dados referentes as questões do questionário, e sem
mais delongas, vamos para a pergunta 1. “Em que momento se sente mais ou menos livre para
conversar?” Cabe salientar que para esta questão, os dados evidenciam diferentes respostas
como podemos ver: (12) alunos responderam sentem-se mais livres para conversar quando
estão com os amigos, (6) alunos disseram que sentes mais livres quando conversam ao
telefone, que a maior parte do tempo tem sido com seus parceiros, isto é, namorado ou
namorada. Os restantes (12) alunos, responderam que sentem-se mais livres de conversar
quando estão na escola, pois há mais liberdade. Oque pode ser comprovada com a tabela a
seguir:
39
Tabela 2: Dados sobre o momento em que se sente mais ou menos livre para conversar.
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL6, AL10, AL12,
12 AL15, AL17, AL22, AL24, AL25, e Com amigos
AL28.
AL5, AL9, AL11, AL13, AL16 e AL19,
AL31, AL32, AL33, AL34, AL35,
16 AL36, AL37, AL38, AL39 e AL40. Ao Telefone
AL4, AL7, AL8, AL14, AL18, AL20,
AL21, AL23, AL26, AL27, AL29 e
12 AL30. Na Escola
Fonte (Autora, 2022).
Indo para a questão do número 2. “Gosta de conversar com pessoas da mesma faixa
etária, mais novas ou mais velhas de ti?” Os dados descrevem que (5) alunos gostam de
conversar com pessoas mais novas, (16) alunos gostam de conversar com pessoas da mesma
faixa etária, (11) gostam de conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam
gostar de conversar com pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior,
mesma idade e superior.
Ocasiona aqui ressaltar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.
De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam de
conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão de
não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles declararam por gostar de vivenciar e
adquirir diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como
de pessoas mais velhas. Atente a tabela abaixo:
40
Tabela 3: Dados referentes a faixa etária pelo qual gosta mais de conversar.
No Código Respostas
5 AL3, AL9, AL16, AL32 e AL36. Mais novas
Indo na questão 3. “Conversa mais com pessoas de nível de escolaridade igual, inferior
ou alto ao seu?”. Os dados descrevem que dos alunos inquiridos (10) indivíduos gostam de
conversar com pessoas com nível de escolaridade inferior a deles, (10) responderam gostar de
conversar com pessoas com nível de escolaridade igual a deles, (12) indivíduos responderam
gostar de conversar com pessoas com nível de escolaridade superior a deles, (8) indivíduos
responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis, isto é, com pessoas com
nível inferior, igual e superior ao seu.
Dos que gostam de conversar com pessoas do mesmo nível de escolaridade, disseram
por partilhar da mesma experiência e pensar quase da mesma maneira.
Os que gostam de conversar com pessoas de nível superior, disseram por elas
transmitirem boas ideias e acabam de certa maneira, adquirindo novas competências
linguísticas, sem se esquecer de novos vocábulos.
41
Há ainda outros que responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis de
escolaridade, alegando, no entanto, por gostar de aprender com todos os níveis, visto que
somos seres humanos e estamos em constante aprendizagem.
Vale também destacar que outros responderam gostar de conversar com pessoas de
níveis inferiores e superiores, por gostar de transmitir conhecimentos aos de nível inferior e
aprender com os do nível superior.
Para a questão 4. “Você acha que fala diferente dos seus colegas? Porquê?”. Os dados da
tabela 5, demonstram que muitos responderam sim e outros não., isto é, (25) alunos
responderam “sim”, ou seja, responderam que falam diferente dos seus colegas, e (15) alunos
responderam “não”, isto é, não acham que falam diferente dos seus colegas. Dos que
responderam sim, justificaram por ser da mesma região, e partilharem das mesmas
características linguísticas.
Já os que responderam não, justificaram dizendo que cada uma fala da sua maneira,
apesar de ser da mesma região e partilhar da mesma língua, cada uma fala de forma diferente
do outro.
Em relação a pergunta 5. Da forma como você fala o português com o seu professor é
da mesa forma como fala com seu colega? Porquê? De salientar que os dados referentes a esta
questão evidenciam que todos os alunos foram unânimes em afirmar “não”, isto é, todos
responderam que não falam da mesma forma com os colegas como falam com o professor.
Sobre esta questão, quase todos alunos justificaram que com os colegas há mais
simplicidades aquando de uma conversa, o que difere bastante com o professor, o que exige
muita formalidade não só pelo facto de ser professor, mas pela idade e outros factores.
Sobre isso, podemos concordar com Moura (1997), ao afirmar o seguinte: “como em
qualquer outro domínio social, também na sala de aula encontramos grande variação no uso
da língua”. Essa variação pode se dar na fala entre colegas e mesmo na linguagem da
professora que, por exercer um papel social de ascendência sobre seus alunos, está submetida
a regras mais rigorosas no seu comportamento verbal e não verbal.
43
Tabela 6: Da forma como você fala o português com o seu professor é da mesa forma como
fala com seu colega?
No Código Resposta
0 - Sim
40 AL1, AL2, AL3… até AL40. Não
Fonte (Autora, 2022).
Indo para a questão 6. Como você fala o português na comunidade é da mesma forma
como fala na escola? Sobre essa questão, os dados demostram que tivemos igualdade em
termos de números, isto é, (20) alunos responderam “sim” e outros (20) alunos da amostra
responderam “não” para a mesma questão.
De salientar que para esta questão, os que responderam “não” justificaram da seguinte
maneira: “Porque na comunidade falamos espontaneamente, sem antes planificarmos oque
dizer, e que na comunidade, se está sujeito a uso de vários fenómenos da linguagem como o
uso do calão, empréstimos, neologismos até mesmo alternância de códigos, oque não
acontece na escola.
Sobre isso, McCleary (2007, p.45), argumenta que nem toda variação indica quem está
falando. Muita variação na língua indica o que está acontecendo, onde está acontecendo, e
qual é a importância social do que está acontecendo. Ou seja: as mesmas pessoas podem falar
(e precisam falar) diferentemente em horas e ocasiões diferentes. As pessoas não falam
sempre da mesma forma. Elas modificam a maneira de falar de acordo com a situação.
44
Tabela 7: Como você fala o português na comunidade é da mesma forma como fala na
escola?
No Código Resposta
AL3, AL4, AL7, AL8, AL9, AL12,
AL13, AL17, AL20, AL21, AL23,
20 AL24, AL26, AL27, AL29, AL31, Sim
AL32, AL33, AL35 e AL39.
AL1, AL2, AL5, AL6, AL10, AL11,
AL14, AL15, AL16, AL18, AL19,
20 AL22, AL25, AL28, AL30, AL34, Não
AL36, AL37, AL38, e AL40.
Fonte (Autora, 2022).
Respondendo a questão 7. Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo
oposto? Como podemos ver na tabela 8, que diz respeito a faixa etária com quem mais gostas
de conversar, os dados dizem que: (5) pessoas gostam de conversar com pessoas mais novas,
(11) pessoas gostam de conversar com pessoas da mesma faixa etária, (16) gostam de
conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam gostar de conversar com
pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior, mesma idade e superior.
Importa aqui salientar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.
De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam de
conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão de
não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles disseram por gostar de vivenciar e adquirir
diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como de
pessoas mais velhas. Observe a tabela abaixo:
45
Tabela 8: Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto?
No Código Resposta
AL3, AL4, AL7, AL8, AL9,
16 AL18, AL19, AL22, AL25, Homens
AL28, AL30, AL34, AL36,
AL37, AL38, e AL40.
AL6, AL12, AL13, AL17,
AL20, AL21, AL23, AL24,
16 AL26, AL27, AL29, AL31, Mulheres
AL32, AL33, AL35 e AL39.
AL1, AL2, AL5, AL10,
8 AL11, AL14, AL15 e AL16. Ambos sexos
Fonte (Autora, 2022).
Olhando a tabela acima, podemos dizer que o sexo é ponto pacífico que mulheres e
homens não falam de maneira igual. Além das diferenças observáveis no tom de voz, no
ritmo, podemos perceber, também, que há preferência por certas estruturas sintácticas, pelo
emprego de determinados vocábulos, pela omissão de outro, etc.
De acordo com Ramos (1997), o que é observável na relação entre a fala masculina e a
feminina é a duração de vogais como recurso expressivo, como em “maaaravilhoso”, assim
como o uso frequente de diminutivos, como “bonitinho”, costumam ocorrer na fala feminina.
É importante destacar que homens e mulheres são socialmente diferentes no sentido de que a
sociedade lhes confere papéis distintos e espera dos mesmos que utilizem padrões de
comportamento também distintos.
Aliando a isso, podemos dizer que o sexo (ou "género"), é claro, é revelado pela
qualidade da voz: mulheres têm vozes mais agudas, homens mais graves. Mas, independente
disso, estudos indicam que existem diferenças entre a fala das mulheres e a fala dos homens.
46
Pesquisas mostram, por exemplo, que a linguagem das mulheres tende a ser menos
afirmativa, e que os homens tendem a interromper quem está falando mais frequentemente do
que as mulheres.
Por último temos a questão 8. Você escreve a da mesma forma como fala o português?
Para a esta questão, os dados demonstram que (28) alunos responderam “não”, isto é, que não
escrevem da mesma forma como falam, pois, há uma diferença na forma como falamos e
como escrevemos.
Justificando as respostas, os que disseram “não” disseram que isto deve-se ao facto de
que na linguagem escrita se precisar de mais cuidados no que se refere a pontuação,
organização das palavras, entre outros aspectos, oque difere completamente da fala, em que
não se dá muita primazia para a questão da pontuação, ou colocação das palavras. Sobre isso,
Freire (2009) diz o seguinte:
Desse modo, podemos dizer que fala e escrita, ao invés de modalidades opostas, estão em
relação contínua no processo de interacção verbal.
48
Conclusões
49
Conclusões
Todas as línguas apresentam algum tipo de variação, sendo heterogéneas e estando
mutuamente ligadas às transformações da sociedade, e, em especial, o português
moçambicano exibe um alto grau de diversidade e variabilidade. Essas variações podem estar
ligadas à diversos factores, como os externos: etnia e sexo – relacionados directamente aos
indivíduos, e aos factores de uso social, como: escolarização, classe social, nível de renda. Ou
ainda, os factores internos, inerentes à estrutura da língua, o significado e significante e outros
subsistemas da língua. Há ainda, os factores contextuais, como: grau de formalidade e tensão
discursiva.
Indo para o primeiro objectivo específico, podemos dizer que no que refere ao sexo,
verifica-se que os homens tendem a ser mais independentes e mantem a sua postura primando
o seu prestígio, enquanto as mulheres desenvolvem a interacção verbal, buscando o
envolvimento do interlocutor mostrando uma postura mais solidária, ou por outra, pode se
dizer que as distinções na fala feminina e masculina estão ligadas à construção de identidades,
bem como os papéis desempenhados pelos indivíduos no contexto social. Contribui para isso,
o facto de a língua ser um facto social, a sociedade estabelecer determinados comportamentos
específicos para homens e mulheres e a língua tornar-se um reflexo dessas distinções pré-
estabelecidas.
No que tange a idade, de salientar que os mais idosos tendem a preservar as variantes,
enquanto os jovens são mais abertos às novas possibilidades de expressão, muito embora
algumas características linguísticas e variações sejam passadas de pais para filhos. No refere
ao nível de escolaridade, verificou-se que a escolaridade influencia nos usos das variantes
pelos falantes, onde os falantes que possuem maior tempo na escola tendem a usar a norma
padrão, enquanto os que estudaram menos utilizam e preservam a variante, muitas vezes
estigmatizada pelo restante grupo. Sobre a variação geográfica, conclui-se que esta influencia
no empréstimo ou fusão de línguas.
50
Sobre o segundo objectivo específico conclui-se que a dimensão interna visa as variáveis
formais de pronunciação, comunicação e fala por diferentes regiões de Moçambique.
Enquanto a dimensão externa trata-se muito da variação regional, variação social e a variação
estilística.
Por fim, o terceiro específico, de salientar que existem os seguintes tipos de variação:
Variação regional ou diatópica; variação social ou diastrática; variação estilística ou diafásica
e variação na escrita e na fala ou diamésica.
No que diz respeito a primeira questão de pesquisa “será que a dimensão ou factores
externos da variação linguística contribuem para o desenvolvimento da interacção verbal dos
alunos?”. Os dados analisados demonstram que a dimensão externa da variação linguística
contribui para o desenvolvimento da interacção verbal dos alunos.
Com relação a segunda pergunta de pesquisa, “Qual é o tipo de variação linguística que
mais se verifica na Escola Secundária Geral Josina Machel?”. Para esta questão, os dados
demostram que a variação que mais se verifica nesta escola é a variação social ou dia mésica,
que tem a ver com a questão de idade, sexo e nível de escolaridade.
Por fim, temos a terceira questão, “De que forma a dimensão/factores externos da
variação linguística contribuem para a identidade e etnicidade dos alunos da Escola
Secundária Geral Josina Machel – Mocuba?”. Respondendo a questão, podemos dizer o
seguinte: a capacidade do falante de identificar o grupo modelo de referência; a capacidade de
ter acesso a esses grupos e a habilidade de trabalhar as regras do seu repertório; o peso de
motivações conflituantes (motivações em relação a um ou outro grupo modelo em relação à
preservação de sua própria identidade e a habilidade de modificar seu comportamento
linguístico.
Sugestões
52
Sugestões
Tendo feita a análise de dados, concluído, e respondendo as perguntas de pesquisa
assim como aos objectivos propostos para a realização da presente monografia, a este ponto,
podemos sugerir o seguinte:
Para os alunos:
Apresentem as suas ideias de forma autónoma para uma breve análise da turma e
admitem as suas diversidades linguísticas como o fenómeno natural, todavia, que
merece especial atenção voltada a superação das falhas.
53
Referências bibliográficas
Bagno, M. (1997). A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. Ed. Contexto.
Calvet, L. (2002). Sociolinguística: uma introdução critica. São Paulo, Brasil: Parábola.
Faria, I. (1996). Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. (2ª Edição). Lisboa, Portugal:
Caminho editora.
Gil, A. (2002). Métodos e técnicas de pesquisa social. (6ª ed.). Brasil, São Paulo: Atlas, S.A.
Hora, D. (Org.). (2004). Estudos sociolinguísticos: perfil de uma comunidade. Brasil, São
Paulo: Pallotti.
Labov, W. (1982). Building on empirical foundations. In: Lehmann, W.; Malkiel, Y. (Orgs.).
Perspectives on historical linguistics. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins
Publishing.
Lakatos, Eva & Marconi, M. (2003). Metodologia do Trabalho Científico. 4ᵃ. Edição. São
Paulo: Editora Atlas S. A.
Naro, A. (2008). O dinamismo das línguas. In: Mollica, M.; Braga, M. (Orgs.). Introdução à
Sociolinguística: o tratamento da variação. Brasil, São Paulo: Contexto.
Possenti, S. (1996). Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, Brasil: Mercado
de Letras.
Soares, M. (1999). Linguagem e Escola, uma Perspectiva Social. (16ᵃ. Edição). São Paulo,
Brasil: Editora Ática.
55
Anexos
56
Apêndices