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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE PORTUGUÊS

EDMA JONITO ALFREDO SEGREDO

A Dimensão Externa da Variação Linguística: contribuições


para o acervo linguístico dos alunos da 10ª Classe, C/D da
Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba - 2022

Quelimane
2022
EDMA JONITO ALFREDO SEGREDO

A Dimensão Externa da Variação Linguística: contribuições para o


acervo linguístico dos alunos da 10ª Classe, C/D da Escola
Secundária Geral Josina Machel – Mocuba - 2022

Monografia Científica a ser apresentada ao


Curso de Licenciatura em Ensino de
Português da Faculdade de Educação, para
a obtenção do título de Licenciatura em
Ensino de Português com Habilitações em
Português Língua Estrageira.

Orientadora: Phd. Paula Bambo.

Quelimane
2022
3

Índice
Lista de Tabelas .........................................................................................................................iii
Lista de Siglas e Abreviaturas ................................................................................................... iv
Declaração .................................................................................................................................. v
Dedicatória................................................................................................................................. vi
Agradecimentos ........................................................................................................................vii
Resumo ....................................................................................................................................viii
Abstract ...................................................................................................................................... ix
Introdução ................................................................................................................................. 11
Capítulo I .................................................................................................................................. 13
Capítulo I: Contextualização da Pesquisa ................................................................................ 14
1.1. Tema .................................................................................................................................. 14
1.2. Delimitação do tema .......................................................................................................... 14
1.3. Objectivos .......................................................................................................................... 14
1.3.1. Objectivo Geral............................................................................................................... 15
1.3.2. Objectivos Específicos ................................................................................................... 15
1.4. Justificativa ........................................................................................................................ 15
1.5. Problematização................................................................................................................. 16
1.6. Questões de Partida ........................................................................................................... 17
1.7. Metodologias ..................................................................................................................... 17
1.7.1. Tipo de pesquisa ............................................................................................................. 17
1.7.1.1. Quanto a abordagem .................................................................................................... 17
1.7.1.2. Quanto aos objectivos.................................................................................................. 18
1.7.1.3. Quanto aos procedimentos........................................................................................... 18
1.7.2. Técnicas e instrumento de colecta de dados ................................................................... 19
1.7.3. Questionário ................................................................................................................... 19
1.7.4. Observação ..................................................................................................................... 20
1.8. Universo e Amostra ........................................................................................................... 20
1.8.1. Amostra .......................................................................................................................... 20
Capítulo II ................................................................................................................................. 22
Capítulo 2: Referencial teórico ................................................................................................. 23
2.1. Língua e sociedade ............................................................................................................ 23
2.2. Variação Linguística .......................................................................................................... 25
4

2.2.1.Dimensão externa da variação ......................................................................................... 26


2.2.2. Breve retrospectiva ......................................................................................................... 27
2.2.2.1. Tipos de variação ......................................................................................................... 28
2.2.2.2. Variação regional ou diatópica .................................................................................... 29
2.2.2.3. Variação social ou diastrática ...................................................................................... 30
2.2.2.4. Variação estilística ou diafásica .................................................................................. 32
2.2.2.5.Variação na escrita e na fala ou diamésica ................................................................... 33
2.3. A Influência das Variáveis ................................................................................................ 34
Capítulo III ............................................................................................................................... 36
Capítulo 3: Análise e Interpretação de Dados .......................................................................... 37
3.1. A dimensão externa da variação linguística: Contribuições para o acervo linguístico ..... 37
Conclusões ................................................................................................................................ 48
Sugestões .................................................................................................................................. 51
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 53
Anexos ...................................................................................................................................... 55
Apêndices ................................................................................................................................. 56
iii

Lista de Tabelas
Tabela 1: Dados sobre sexo, idade e naturalidade.............................................................. ........ 38
Tabela 2: Dados sobre o momento em que se sente mais ou menos livre para conversar. ........ 39
Tabela 3: Dados referentes a faixa etária pelo qual gosta mais de conversar. ................... ........ 40
Tabela 4: Dados referentes ao nível de escolaridade pelo qual gostam de conversar. ....... ........ 41
Tabela 5: Você acha que fala diferente dos teus colegas?.................................................. ........ 42
Tabela 6: Da forma como você fala o português com o seu professor é da mesma forma como
fala com teus colegas? ......................................................................................................... ........ 43
Tabela 7: Como você fala o português na comunidade é da mesma forma como fala na sala
de aula? ................................................................................................................................ ........ 44
Tabela 8: Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto? ............ ........ 45
Tabela 9: Acha que escreve da mesma forma como fala o português? .............................. ........ 46
iv

Lista de Siglas e Abreviaturas


AL ..................................................................... Aluno
C/D .................................................................. Curso Diurno
ESG................................................................... Escola Secundária Geral
No ..................................................................... Número
v

Declaração
Declaro que a presente monografia intitulada: A dimensão externa da variação
linguística: Contribuições para o acervo linguístico dos Alunos da 10ª Classe, C/D da Escola
Secundária Geral Josina Machel Mocuba – 2022, sob orientação da minha supervisora, foi
por mim produzida, e que não foi apresentado em nenhuma outra instituição.
vi

Dedicatória
Dedico a presente monografia aos meus pais.
vii

Agradecimentos
À minha supervisora, Phd. Paula Bambo, pela atenção, paciência e dedicação que tem
como docente, e pela disponibilidade demonstrada na orientação deste trabalho de pesquisa.

Aos docentes do Departamento de Educação da Universidade Licungo - Quelimane, em


especial aos docentes do curso de Licenciatura em Ensino de Português, pelos saberes
partilhados durante todo o percurso académico.

E por fim, aos professores e alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel - Mocuba
por permitir que a pesquisa fosse desenvolvida.
viii

Resumo
Cabe salientar que essa é uma pesquisa inicial, constituída por intermédio de um modesto
corpus de pesquisa, mas que em nada compromete sua credibilidade e a validade dos dados
aqui analisados. Com a análise do corpus, verificamos algumas ocorrências sugestivas dos
padrões de comportamento linguístico nessa região, com forte prevalência de factores
externos à própria língua. Com a consolidação desse trabalho, acreditamos ter dado um
pequeno passo para a compreensão do panorama sociolinguístico da escola em alusão,
extremamente rica em variedades, entretanto, ainda pouco explorada em âmbito linguístico.,
entretanto, observando o actual retrato linguístico da região de Mocuba, percebe-se que a
dimensão externa da variação linguística tem contribuído de certa forma no modo de falar da
comunidade dessa região. Com base nessa constatação, procuramos analisar como a dimensão
externa da variação linguística contribui para o acervo linguístico dos alunos da Escola
Secundária Geral Josina Machel – Mocuba. Tendo concluído que todas as línguas apresentam
algum tipo de variação, sendo heterogéneas e estando mutuamente ligadas às transformações
da sociedade, e, em especial, o português moçambicano exibe um alto grau de diversidade e
variabilidade. Essas variações podes estar ligadas à diversos factores, como os externos: etnia
e sexo – relacionados directamente aos indivíduos, e aos factores de uso social, como:
escolarização, classe social, nível de renda. Ou ainda, os factores internos, inerentes à
estrutura da língua, o significado e significante e outros subsistemas da língua. Há ainda, os
factores contextuais, como: grau de formalidade e tensão discursiva.
Palavras Chaves: Língua, Variação Linguística.
ix

Abstract
It should be noted that this is an initial research, constituted by means of a modest research
corpus, but that in no way compromises its credibility and the validity of the data analyzed
here. With the analysis of the corpus, we verified some suggestive occurrences of linguistic
behavior patterns in that region, with a strong prevalence of factors external to the language
itself. With the consolidation of this work, we believe that we taken a small step towards
understanding the sociolinguistic panorama of the school in question, extremely rich in
varieties, however, still little explored in the linguistic field. It is clear that the external
dimension of linguistic variation has contributed to certain extent in the way the community
in this region speaks. Based in this finding, we seek to analyze how the external dimension of
linguistic variation contributes to the linguistic collections of students at Escola Secundária
Geral Josina Machel – Mocuba. Having concluded that all languages present some type of
variation, being heterogeneous and being mutually linked to the transformations of society,
and, in particular, Mozambique Portuguese exhibits a high degree of diversity and variability.
These variations can be linked to several factors, such as external ones: ethnicity and sex –
directly related to individuals, and to factors of social use, such as: education, social class,
income level. Or still, the formal factors, inherent to the structure of the language, the
meaning and signifier and other subsystems of the language. There also contextual factors,
such as: degree of formality and discursive tension.
Keywords: Language, Linguistic Variation.
11

Introdução
Cabe salientar que a sociolinguística enquanto ciência da língua em movimento
considera os factores externos a ela. Trata das variações linguísticas, observando o curso e o
valor das palavras em cada situação de enunciação e grau de formalidade. Daí decorre a noção
de que determinada variante estabelece uma relação de domínio e prestígio em relação à
outra. Verifica-se no entanto, que em bom português, a verdade é que todas as sociedades
humanas estabelecem uma hierarquia entre suas variedades, atribuindo valores a este ou
aquele traço da fala.

Sabendo que todo grupo de fala apresenta variações linguísticas em contínua mutação, é
de primordial importância compreender os factores que desencadeiam estas modificações
constantes na fala dos indivíduos. Assim, evidencia-se que um dos tipos de factores que
produzem diferenças na fala das pessoas são externos à língua. Os principais são factores
geográficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de profissão”.

As formas linguísticas em variação existentes em uma comunidade sempre são factores


de inclusão ou exclusão de um determinado grupo na sociedade. Dependendo do contexto
social e de enunciação, uma forma linguística pode ser estigmatizada ou elitizada, tornando-se
ferramenta de domínio de um conjunto de pessoas sobre outras. A língua diversas vezes é
utilizada para modificar pensamentos e opiniões.

No entanto, os factores que norteiam a fala de um determinado grupo, não são apenas
externos à língua. Esta segue uma regularidade, é regida por uma lógica interna, em que
certos “equívocos” linguísticos não ocorrem. Também há factores internos à língua que
condicionam a variação. Ou seja, a variação é de alguma forma, regrada por uma gramática
interior da língua.

Outrossim, a presente monografia apresenta-se estruturada em três (3) capítulos, sendo o


primeiro Contextualização da Pesquisa, seguido do Referencial Teórico e o último, o da
Análise e Interpretação de Dados.

Ora, no primeiro capítulo é onde demonstramos os caminhos usados para a produção do


presente trabalho, isto é, fazemos menção aos objectivos, problematização, as questões de
partida e as metodologias. Já no segundo capítulo, trazemos vários conceitos, desde a língua e
a sociedade até a questão da variação linguística, isto é, na perspectiva de vários autores,
tencionando desta forma, dar mais sustentabilidade ao tema do trabalho. E por fim, temos o
12

terceiro capítulo, que é a parte onde trazemos, de forma detalhada a análise e interpretação
dos dados colhidos na Escola Secundária Geral Josina Macheel – Mocuba, respondendo
assim, às questões de pesquisa assim como aos objectivos propostos.

Chegado aqui, vamos passar para o primeiro capítulo.


13

Capítulo I
14

Capítulo I: Contextualização da Pesquisa

1.1. Tema
O presente projecto de pesquisa tem como tema: A dimensão externa da variação
linguística: Contribuições para o acervo linguístico.

1.2. Delimitação do tema


O projecto de pesquisa que aqui se apresenta tem como delimitação do tema: A
dimensão externa da variação linguística: Contribuições para o acervo linguístico dos alunos
da 10ª Classe, C/D, da Escola Secundária Geral Josina Machel - Mocuba – 2022.

1.3. Objectivos
Como é de praxe, quando se ambiciona realizar um trabalho de pesquisa, há que ter
em conta à priori, um fim a atingir, um alvo de pesquisa, desígnio de pesquisa,
ou seja, o objectivo que nos leva a fazê-lo.

Desta feita, de modo a percebermos o conceito de objectivo, chamamos


(Lakatos & Marconi, 2003, p.219), que dizem: “o objectivo está ligado a uma visão global e
abrangente do tema. Relaciona-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenómenos e eventos,
quer das ideias estudadas. Vincula-se directamente à própria significação da tese proposta
pelo projecto”.

Não obstante, pode dizer-se que o objectivo de uma pesquisa não foge da finalidade
que leva o pesquisador a fazer o seu estudo. Contudo, o objectivo geral expressa resultado,
indicando outros fenómenos que permitirão uma especificidade a fim de tornar o estudo ainda
explícito.

Neste contexto, toda pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber o que se
vai procurar e o que se pretende alcançar. Assim, definir objectivos de pesquisa é um requisito
para desenvolver um estudo científico. Portanto, os objectivos de uma pesquisa têm o papel
de nortear, pois, direcciona a leitura do texto, bem como, permite entender o que o
pesquisador fez em seu trabalho, tornando claro o problema de pesquisa, possibilitando ao
pesquisador aumentar seus conhecimentos sobre o assunto ou tema tratado. Assim sendo, com
o presente projecto de pesquisa, pretende-se alcançar os seguintes objectivos:
15

1.3.1. Objectivo Geral


 Analisar como a dimensão externa da variação linguística contribui para o acervo
linguístico dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba.

1.3.2. Objectivos Específicos


 Descrever como a dimensão externa da variação linguística influenciam na
constituição do acervo linguístico dos alunos da Escola Secundária Geral Josina
Machel – Mocuba;
 Explicar as diferenças existentes entre a dimensão interna e a dimensão externa da
variação linguística;
 Identificar os tipos de variações linguísticas.

1.4. Justificativa
Como a linguagem é, em última análise, um fenómeno social, fica claro, para um
sociolinguista, que é necessário recorrer às variações derivadas do contexto social para
encontrar respostas para os problemas que emergem da variação inerente ao sistema
linguístico. (Camacho, 2001, p.50).

Atento a este posicionamento supra citado, nós não fugimos a regra, ou seja, optamos
em fazer este estudo em primeiro lugar, por saber que a língua é um fenómeno que está em
constante mudança, isto é, advindo de diversos factores como a questão do tempo, região,
contexto social, entre outros.

Assim sendo, a escolha desse tema deveu-se ao facto da variação linguística ser um
fenómeno que acontece com a língua e pode ser compreendida por intermédio das variações
históricas e regionais. Em Moçambique, com uma única língua oficial, a língua pode e sofre
diversas alterações feitas por seus falantes, e Mocuba não é excepção. Como não é um sistema
fechado e imutável, a língua portuguesa ganha diferentes nuances.

As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação,


então é compreensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas necessidades
comunicativas.

Outra razão não menos importante que influenciou-nos a trabalhar este tema, foi por
constatar que as variações linguísticas acontecem porque vivemos em uma sociedade
16

complexa, na qual estão inseridos diferentes grupos sociais. Alguns desses grupos tiveram
acesso à educação formal, enquanto outros não tiveram muito contacto com a norma culta da
língua.

Por observar também que na Escola Secundária Geral Josina Machel - Mocuba a língua
varia de acordo com suas situações de uso, pois um mesmo grupo social pode se comunicar de
maneira diferente, de acordo com a necessidade de adequação linguística.

1.5. Problematização
Importa de antemão argumentar que a língua não se realiza num vácuo social. Ela não
existe fora da sociedade, da mesma forma que a sociedade não existe sem ela. A relação entre
língua e sociedade não é uma relação em que uma determina a outra, mas de interacção entre
elas, em que uma se refracta na outra, num sistema de influências.

Assim como em quase todas as regiões de Moçambique, Mocuba é uma cidade em que
pode-se encontrar pessoas oriundas das diversas regiões do nosso belo Moçambique, trazendo
contigo sua cultura, hábitos e costumes, e sem se esquecer dum factor não menos importante,
que é a questão da sua língua materna, visto que para a maioria das pessoas tem a sua língua
materna a língua bantu da sua região de nascença.

Entretanto, este fenómeno contribui bastante para que haja as diferentes formas ou tipos
de variações linguística no país, e sem deixar de fora a cidade de Mocuba, particularmente na
Escola Secundária Geral Josina Machel.

Outro aspecto importante a considerar é que todas as línguas apresentam algum tipo de
variação, sendo heterogéneas e estando mutuamente ligadas as transformações da sociedade,
e, em especial, o português falado em Moçambique, na cidade de Mocuba, na Escola
Secundária Geral Josina Machel, exibe um alto grau de diversidade e variabilidade. Essas
variações podem estar ligadas a diversos factores externos como a etnia e sexo relacionados
directamente aos indivíduos, e aos factores de uso social, como escolarização, classe social,
nível de renda; existe ainda factores contextuais, como a questão de grau de formalidade e
tensão discursiva.
17

Contudo, diante desta situação, surge-nos a seguinte questão de pesquisa: De que forma
a dimensão externa da variação linguística contribui para o acervo linguístico dos alunos da
Escola Secundária Geral Josina Machel – Cidade de Mocuba?

1.6. Questões de Partida


 Será que a dimensão ou factores externos da variação linguística contribuem para o
desenvolvimento da interacção verbal dos alunos?
 Qual é o tipo de variação linguística que mais se verifica na Escola Secundária Geral
Josina Machel?
 De que forma a dimensão/factores externos da variação linguística contribuem para a
identidade e etnicidade dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel –
Mocuba?

1.7. Metodologias
A este ponto da monografia, apresenta-se o tipo e os procedimentos baseados em
instrumentos metodológicos, que foram usados para a concretização dos objectivos
anteriormente propostos. Por ora, para além dos métodos que foram usados para a obtenção
de informações inerente à pesquisa, também foi apresentada a população ou grupo alvo no
qual a pesquisa foi realizada.

1.7.1. Tipo de pesquisa

1.7.1.1. Quanto a abordagem


No que diz respeito a abordagem deste trabalho, de salientar que foi usada a pesquisa
qualitativa. Segundo Malhotra (2001, p.155), “a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor
visão e compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura
quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística”. A pesquisa qualitativa pode
ser usada, também, para explicar os resultados obtidos pela pesquisa quantitativa.

Vale referenciar que para a realização do presente projecto privilegiou-se o uso da


pesquisa qualitativa de modo a compreender, detalhadamente, como a questão dos factores
externos da variação linguística na Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba.
18

Assim, a Pesquisa Qualitativa é aquela que não se preocupa pela profunda compreensão
de um dado facto levantado, sendo ele social ou não. E no caso desta monografia, procuramos
compreender como os factores externos da variação linguística podem contribuir para a
interacção verbal dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel.

1.7.1.2. Quanto aos objectivos


Tendo em conta ao objectivo geral anteriormente apresentado, a presente pesquisa foi
meramente de carácter descritiva.

Corroborando com Gil (2002, p.42), este tipo de pesquisa tem como objectivo
primordial “a descrição das características de determinada população ou fenómeno ou, então,
o estabelecimento de relações entre variáveis. […] São incluídas neste grupo as pesquisas que
têm por objectivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população”.

Não obstante, percebe-se que as pesquisas descritivas estabelecem relações entre


variáveis no objecto de estudo analisado, comparativamente a exploratória é que na pesquisa
descritiva o assunto já é conhecido e a contribuição em relação ao assunto é proporcionar uma
nova visão sobre esta realidade já existente.

Para a realização da presente pesquisa fez-se uma descrição do caso em estudo, que
foram os alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel, tendo levando a cabo a questão
de partida, e com ela estabeleceu-se relações entre os alunos que foram submetidos a uma
análise generalizada.

1.7.1.3. Quanto aos procedimentos


Referente aos procedimentos técnicos pelo qual foram obtidos os dados necessários
para a realização desta pesquisa, de salientar que usou-se dois métodos: o bibliográfico e o
monográfico.

Neste tipo de técnica usada, a autora da pesquisa centrou-se, para além de outras
ferramentas facilitadoras de informações, à conciliação dos seus objectivos com as
informações obtidas em manuais de ensino e sobretudo de documentos que forneceram
informações precisas à pesquisadora, sendo eles: os manuais de ensino, a internet, jornais etc.,
sendo eles testemunhos científicos sobre o assunto em destaque.
19

Enfim, pode se dizer que o método bibliográfico baseou-se na consulta de material já


publicado, constituído principalmente de obras, dissertações e artigos científicos que abordam
sobre o tema em estudo. E o monográfico foi usado na medida em que se fazia descrição do
fenómeno que ocorre entre os alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba.

1.7.2. Técnicas e instrumento de colecta de dados


Para a recolha de dados em qualquer que seja o estudo a desenvolver é importante ter
em conta técnicas eficazes de modo alcançar os objectivos pré-definidos. Segundo
(Gil, 2002, p.140), “no estudo de caso utiliza-se sempre mais de uma técnica. Isso constitui
um princípio básico que não pode ser descartado. Obter dados mediante procedimentos
diversos é fundamental para garantir a qualidade dos resultados obtidos.”

Atento ao que foi referido acima, torna-se extremamente pertinente afirmar que para a
realização da presente pesquisa usou-se os seguintes instrumentos de colecta de dados:

1.7.3. Questionário
De modo a realizar a presente pesquisa, um dos instrumentos de colecta de dados que
usamos é o questionário, que dirigido aos alunos.

Lakatos & Marconi (2003, p.201) dizem que questionário é um instrumento de colecta
de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao
informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o
do mesmo modo.

O questionário desempenha um papel fundamental, visto que, a partir deste, vai-se


compreender como os alunos se sentem quando erram ao pronunciar algumas palavras em
Português devido a influência da sua língua materna.

Com esta técnica de recolha de dados, a autora da pesquisa elaborou um conjunto de


questões sistemáticas e sequenciadas em itens que constituem o tema da pesquisa com o
objectivo de suscitar os informantes, respostas por escrito ou verbalmente sobre o assunto e os
informantes soubessem opinar ou informar.
20

Entretanto, o uso do questionário permitiu que as questões fossem respondidas no


momento mais conveniente; e distanciou a pesquisadora do pesquisado como também alguns
questionários são aplicados na presença dos pesquisadores, que podem aguardar seu
preenchimento, ou fazer as perguntas e marcar as respostas.

1.7.4. Observação
Outro instrumento de colecta de dados que foi usado para realização da presente
pesquisa foi a observação.

Conforme Lakatos e Marconi (2003, p.190), “a observação é uma técnica de


recolha de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de
determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em
examinar factos ou fenómenos que se deseja estudar”.

Para a execução da presente pesquisa, a observação foi usada pela autora de modo a
trazer imagens e fenómenos vivenciados de forma directa, entretanto, confrontado o dito e o
visto com a realidade que foi analisada. Outrossim, observou-se se/como os factores externos
da variação linguística contribuem na interacção verbal dos alunos.

1.8. Universo e Amostra


De acordo com Pradanov e Freitas (2013, p.41), “universo ou população é o conjunto
total dos casos sobre os quais se pretende retirar conclusões.” Os autores prosseguem
explicando que casos podem ser pessoas singulares, famílias, empresas, concelhos, ou
qualquer outro tipo de entidade para o qual o investigador pretende retirar conclusões a partir
da informação fornecida.

Nesse contexto, o universo para este estudo foi constituído por 150 alunos da Turma A,
C/D, da Escola Secundária Geral Josina Machel Machel – Mocuba.

1.8.1. Amostra
Considerando o sistema de ensino e as qualidades que este apresenta, a selecção da
amostra se condiciona na parte dos informantes-alunos) aqueles que apresentarem respostas
21

plausíveis e coerentes na construção do pensamento, visto que, a dimensão externa da


variação linguística, pode de certa forma, contribuir para a construção do acervo linguístico
dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel. O objectivo foi recolher o máximo
número de amostras possíveis. Logo, como amostra, usou-se do universo acima mencionado
150, 40 alunos, sem descartar nenhum informante, a fim de se generalizar os resultados que se
obtiverem.

Chegado ao fim do primeiro capítulo “Contextualização da Pesquisa”, de salientar que


deixamos para trás todos os procedimentos que usamos para a compilação da presente
monografia, e entraremos a seguir, no segundo capítulo “Referencial Teórico”, onde
apresenta-se alguns conceitos de vários aspectos referentes ao tema.
22

Capítulo II
23

Capítulo 2: Referencial teórico


Nesta parte do segundo capítulo é a parte onde fazemos ou apresentamos os
conceitos fundamentais de modo que facilite a interpretação e análise dos resultados
obtidos.

2.1. Língua e sociedade


O homem é um ser social. Não há nada mais verdadeiro do que essa afirmação já
bastante comentada desde Aristóteles. Afirmar-se que o homem é um ser social,
consequentemente, demanda a necessita que ele tem de se comunicar, e isso vêm de forma
espontânea, através da fala individual do usuário da língua.

De acordo com Fronkin e Rodman (1993, p.267), todos os falantes do português


conseguem falar uns com os outros e entendem-se bastante bem apesar de não haver dois
sequer que da mesma maneira. Algumas diferenças devem-se à idade, sexo, estado de saúde,
tamanho, personalidade, estado emocional e idiossincrasias pessoais.

O facto de sermos sermos capazes de identificar pessoas conhecidas quando as ouvimos


mostra que cada pessoa tem uma maneira característica de falar, diferente das outras.

Ainda na perspectiva dos autores, além das diferenças individuais, a língua utilizada por
diferentes grupos de pessoas pode apresentar variações regulares. Quando o português usado
por pessoas de regiões geográficas ou grupos sociais diferentes apresenta diferenças
sistemáticas diz-se esses grupos apresentam diferentes dialectos1 da mesma língua.

Para Borin (2010, p.7), a língua é o meio pelo qual o homem expressa as suas ideias, as
da sua geração, as da comunidade a que pertence, enfim, ela não deixa de ser um retracto de
seu tempo. Cada falante é usuário e agente modificador de seu idioma, nele imprimindo
marcas geradas pelas novas situações com que se depara.

Nesse sentido, podemos destacar que a língua é instrumento privilegiado da projecção


da cultura de um povo.

Assim, devemos ser claro que mudanças sociais produzem mudanças na língua. A
língua, por sua vez, incorpora valores sociais. A estrutura social pode influenciar ou

1
Os dialectos de uma língua podem definidos como formas mutuamente inteligíveis dessa língua,
diferenciando uma das outras de maneira sistemática.
24

determinar a estrutura do idioma ou seu comportamento, o que prova que os valores sociais
costumam ter efeito sobre a língua.

Nesse mesmo contexto, Tarallo (1989), afirma que a língua, por ser um marcador que
identifica usuários ou grupos a qual pertence, pode também ser o delimitador das diferenças
sociais no seio de uma comunidade. O comportamento linguístico é um indicador claro da
estratificação social. Nesse caso, também, podemos falar em estratificação linguística.

O valor social da língua só ganha relevância quando formas linguísticas se contrapõem,


ou seja, quando há variação linguística, pois a forma valorizada será a de uso da classe ou
grupo que possui maior status social.

Dessa forma, não há elemento interno na forma verbal que justifique o seu valor de uso,
mas, ao contrário, são elementos extralinguísticos que lhe conferem a supremacia em relação
às formas linguísticas concorrentes. Dessa forma, uma forma linguística é valorizada ou
desvalorizada em função da classe ou do grupo social que a realiza. Ela em si não possui valor
social; este se agrega a ela a partir da posição social de quem a realiza.

O valor social da língua é um mecanismo criado pela estratificação social e ao mesmo


tempo um mecanismo de manutenção dessa estratificação. Não há como existir uma língua
não estratificada em uma sociedade estratificada, uma vez que ela surge e se desenvolve pelas
necessidades sociais.

De acordo com Meillet, 1921 apud (Calvet, 2002, p.16), pelo simples facto da língua
ser um fato social resulta que a linguística e uma ciência social, e o único elemento variável
ao qual se pode recorrer para dar conta da variação linguística e a mudança social”.

Como se pode notar nessa citação, do ponto de vista de Meillet, toda e qualquer
variação na língua é motivada estritamente por factores sociais.

Por ora, a língua é um instrumento de uso dos falantes de um grupo social, sendo que o
contexto sociocultural dos falantes muda em decorrência do grupo social ao qual o falante
pertence, então, inevitavelmente há formas linguísticas inerentes a cada grupo social, sendo
que existe um núcleo linguístico comum, mas também um núcleo diversificado dentro de uma
sociedade de classe. Em relação ao núcleo comum não há valor social explícito, porém em
relação ao núcleo diversificado, a estratificação social é reflectida na língua. A partir da fala
se identifica o grupo social ao qual o falante pertence.
25

2.2. Variação Linguística


Todas as línguas do mundo são sempre continuações históricas – gerações sucessivas de
indivíduos legam a seus descendentes o domínio de uma língua particular. As mudanças
temporais são parte da história das línguas. De acordo com (Bagno, 1997), no plano
sincrónico, as variações observadas na língua são relacionáveis a factores diversos: dentro de
uma mesma comunidade de fala, pessoas de diferentes origens, idades e sexos falam
distintamente.

Como é sobejamente sabido, o homem é um ser social. No entanto, a comunicação entre


os homens não é algo que se possa designar por simples. Contudo, o meio mais comum de
que dispomos para a comunicação é a língua, que está longe de ser um objecto estático.

A variação linguística, segundo alguns teóricos, acontece em todos os níveis de


elaboração da linguagem, e ocorre em função do emissor e do receptor, sempre levando em
conta a região em que se encontra (emissor ou receptor), faixa-etária, classe social e profissão,
sendo eles responsáveis por essa variação.

A Variação linguística é inerente à linguagem humana. Não existe língua falada ou


escrita sem variação. Conforme (Paiva; Scherre, 1999) ela está presente entre os componentes
linguísticos (fonético, fonológico, morfológico, sintáctico, semântico e lexical); entre os
componentes discursivo e pragmático da linguagem; e entre os componentes linguísticos e os
aspectos não-linguísticos (social, cognitivo e interacional).

Deste modo, variação de uma língua é o modo pelo qual ela se diferencia, sistemática e
coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e sócio-cultural no qual os
falantes dessa língua se manifestam verbalmente.

Outro aspecto não menos importante que vale considerar é que a variação linguística
manifesta-se através de dialectos e idiolectos. Dialectos são as variações de pronúncia,
vocabulário e gramática pertencentes a uma determinada língua.

Os dialectos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região
existem também as variações dialectais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e
feminino e estilísticas.

Como exemplo de variação regional, encontramos certas palavras possuindo significados


que necessitam de “tradução”, caso de “pastelaria” significando para os brasileiros o lugar
26

onde se vende pastel de carne, queijo e palmito basicamente. Em Portugal vamos à pastelaria
comprar pães doces, bolinhos e outras guloseimas do género. Um carro velho e muito usado é
apelidado de “chocolateria” em Portugal, mas no Brasil não se usa esse termo.

A variação linguística é estudada a partir de dois pontos de vista: diacrónico e sincrónico.


Do ponto de vista diacrónico (histórico), o pesquisador estabelece ao menos dois momentos
sucessivos de uma determinada língua, descrevendo-os e distinguindo as variantes em desuso
(arcaísmos).

Do ponto de vista sincrónico (mesmo plano temporal), o pesquisador pode abordar seu
objecto a partir de três pontos de vista: geográfico (ou diatópico), social (ou diastrático) e
estilístico (contextual ou diafásico).

Destacam-se como factores, extralinguísticos que influenciam a variação linguística:


distinções geográficas, históricas, económicas, políticas, sociológicas e estéticas, assim como
factores linguísticos (o contacto da língua com outras, com características diferentes).

Enfim, não há casualidade entre o facto de nascer em uma determinada região, ser de
uma classe social e falar de certa maneira. As variedades linguísticas são, de certa forma,
subordinadas a dois amplos campos: variedades diatópica e variedades diastráticas.

2.2.1. Dimensão externa da variação


É importante saber que essa classificação por tipos não quer dizer que eles ocorram
separadamente, e nem que sejam independentes da dimensão interna da variação2.
Normalmente, o que ocorre é uma combinação dos factores que condicionam a forma como
falamos.

Na dimensão externa da variação, estudamos os factores extralinguísticos – aqueles que,


como o nome sugere, encontram-se fora da estrutura da língua. Para a Sociolinguística, esses
factores são tão importantes quanto os linguísticos.

2
Na dimensão interna da variação, consideramos os factores que são internos à língua nos seus diferentes níveis
(lexical, fonológico, morfológico, sintáctico e discursivo).
27

2.2.2. Breve retrospectiva


Os factores extralinguísticos foram o alvo do estudo pioneiro de Labov, realizado na
ilha de Martha‟s Vineyard, Massachusetts, em 1962. O autor procurou relacionar diferentes
produções (i.e., diferentes pronúncias) do primeiro elemento dos ditongos /ay/ e /aw/ (como
em „right‟ e „house‟, respectivamente) com características sociais dos habitantes da ilha.
Essas características sociais, numa pesquisa sociolinguística, transformam-se nos factores
condicionadores extralinguísticos.

Labov procurou dados dos ditongos /ay/ e /aw/ em diferentes situações: na fala casual,
através da observação da interacção entre falantes na rua, em bares etc.; na fala com acento
emocional, através de questionários que requeriam aos informantes emitir juízos de valor; na
fala cuidada, através de entrevistas; e na leitura, pedindo aos informantes para que lessem
uma história em voz alta.

As entrevistas foram realizadas com 69 nativos de Martha‟s Vineyard, representantes


das diferentes regiões da ilha. Entre eles, 40 eram up-islanders (provenientes da Ilha Alta) e
29 eram down-islanders (provenientes da Ilha Baixa). Labov controlou, também, a ocupação
dos informantes: 14 deles eram pescadores, 8 se ocupavam da agricultura, 6 trabalhavam em
construções, 19 eram comerciantes, 3 eram profissionais liberais, 5 eram donas de casa e 14
eram estudantes. A divisão entre grupos étnicos foi a seguinte: 42 descendentes de ingleses,
16 de portugueses e 9 de índios. Os factores „idade‟ e „sexo/género‟ dos informantes também
foram considerados. Por meio das entrevistas, Labov obteve 3.500 dados de /ay/ e 1.500 de
/aw/, que lhe renderam interessantes resultados.

Labov considerou, além dos factores sociais, os seguintes factores linguísticos:

i. Ambiente fonético, ou seja, quais eram as consoantes precedentes e subsequentes aos


ditongos /ay/ e /aw/;
ii. Factores prosódicos, isto é a tonicidade das formas linguísticas em que apareciam os
ditongos;
iii. Influência estilística, que deveria reflectir nos dados as diferentes situações em
que eles foram colectados (fala casual, fala com acento emotivo, fala cuidada e leitura)
e;
iv. Considerações lexicais, ou seja, em que palavras esses ditongos tendiam a ser
pronunciados centralizados. Esses factores, na pesquisa realizada em Martha‟s
Vineyard, se mostraram pouco ou não significativos.
28

Seus resultados mostraram, porém, que a centralização dos ditongos /ay/ e /aw/ estava
atrelada à estratificação social dos informantes, muito mais do que aos factores linguísticos.
As explicações encontradas não estavam na estrutura da língua, não havia quase nada no
contexto linguístico que condicionava um falante a pronunciar de uma maneira ou de outra os
ditongos pesquisados. As explicações estavam fora da língua, estavam no contexto social dos
informantes da pesquisa.

2.2.2.1. Tipos de variação


Todas as línguas do mundo são sempre continuações históricas – gerações sucessivas de
indivíduos legam a seus descendentes o domínio de uma língua particular. As mudanças
temporais são parte da história das línguas. No plano sincrónico, as variações observadas na
língua são relacionáveis a factores diversos: dentro de uma mesma comunidade de fala,
pessoas de diferentes origens, idades e sexos falam distintamente.

De acordo com Garet, as variações que se podem verificar na fala são de três (3)
espécies:
a) Geográficas;
b) Sociológicas- compreendem as variações provenientes da idade, sexo, profissão, nível de
estudos, classe social, localização dentro da mesma região, raça, as quais podem determinar
traços originais na linguagem individual.

No nível sociológico também se situam as seguintes descrições da variação:

(i) Variações diatópicas;


(ii) Variações diastráticas;
(iii) Variações diafásicas;

c) Contextuais - constam de tudo aquilo que pode determinar diferenças na linguagem do


locutor, por influências alheias a ele, como por exemplo, o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar
em que (a fala) ocorre e as relações que une os interlocutores.

Entretanto, a distinguir variação linguística (que origina os dialectos e os idiolectos) e


variedades linguísticas (que constitui uma terminologia para designar línguas diferentes).
29

Assim, Meto, Kwani, são variantes do Emakhuwa, enquanto o Português, o Francês, o inglês,
etc... são variedades linguísticas.

2.2.2.2. Variação regional ou diatópica


De acordo com Mollica (1992, p.88) é a variação diatópica, também conhecida por
regional ou, ainda, geográfica, a responsável por podermos identificar, às vezes com bastante
precisão, a origem de uma pessoa através do modo como ela fala.

É possível saber quando um falante é da zona centro, sul ou norte de Moçambique, por
exemplo.

 Mas o que é que nos permite fazer essa distinção?


O aparato teórico-metodológico da Sociolinguística nos equipa para que possamos sair
de um nível impressionístico (e, às vezes, caricato) da variação geográfica e descubramos
quais são exactamente as marcas linguísticas que caracterizam a fala de uma região em
relação à de outra. Em geral, itens lexicais particulares, certos padrões entoacionais e,
principalmente, certos traços fonológicos respondem pelo fato de que falantes de localidades
diferentes apresentem dialectos diferentes de uma mesma língua.

A variação regional pode ser estudada colocando-se em oposição diferentes tipos de


unidades espaciais: podemos dizer que existe variação regional entre Moçambique e Portugal
(dois países), entre o Norte e o Sul de Moçambique (duas regiões de um mesmo país), entre
Zambézia e Sofala (duas províncias de uma mesma região), entre Quelimane e Mocuba (duas
cidades de uma mesma província) e mesmo entre falantes do Centro da Cidade de Mocuba e
falantes do bairro Josina Machel (dois bairros de uma mesma cidade). É comum também que
se analise variação regional entre zonas urbanas e zonas rurais ou do interior.

De acordo com Garet, a variação geográfica (envolvem as variações regionais), é


preciso separá-las com cuidado para que as diferenças linguísticas por elas determinadas não
sejam confundidas com aquelas ocorridas por influência sociológica, numa determinada
comunidade.

São as modificações da língua relacionadas com os falares locais, regionais e


internacionais; são as diferenças motivadas pelas regiões ou locais geográficos e as
interferências das línguas locais, através das quais distinguimos que um falante é nyanja, yao
30

ou mmakhuwa, do Português, ao nível da Província do Niassa; ou falante norte, centro ou sul,


do Português, ao nível de Moçambique; ou falante moçambicano, angolano, brasileiro ou
europeu, do Português, ao nível internacional.

2.2.2.3. Variação social ou diastrática


Da mesma forma que a fala pode carregar marcas de diferentes regiões, também pode
reflectir diferentes características sociais dos falantes. A essa propriedade dá-se o nome de
variação social.

Para Faria (1996, p.88) os principais factores sociais que condicionam a variação
linguística são o grau de escolaridade, o nível socioeconómico, o sexo/género, a faixa etária e
mesmo a profissão dos falantes, conforme exemplificamos a seguir:

 Grau de escolaridade - Por terem um contacto maior com a cultura letrada e com o
uso da variedade padrão da língua, supõe-se que, em geral, falantes altamente
escolarizados dificilmente produzirão formas como nós vai ou a gente vamos, que são
típicas de falantes pouco ou não escolarizados. É mais provável que eles falem nós
vamos e a gente vai;

 Nível socioeconómico - É um factor muito estudado, principalmente nos


trabalhos de Labov e de seu grupo de pesquisa sobre o inglês de Nova Iorque.
Resultados de seus estudos mostram que o grupo social menos privilegiado favorece o
uso de variantes não padrão da língua, enquanto os mais privilegiados optam pela
variante padrão. Mas essa constatação, em geral, é correlacionada com ocupação e
estratificação estilística. O efeito de indicadores sociais sobre o perfil sociolinguístico
dos falantes não é nada simples. Segundo Mollica (2008), origem social, renda, acesso
a bens materiais e culturais, ocupação, grau de inserção em redes sociais são alguns
dos indicadores sociais;

 Sexo/género. Quanto à variação social relacionada a sexo/género dos


informantes, Paiva (2008) levanta a seguinte questão: Como explicar os padrões
regulares depreendidos em diferentes pesquisas e a natureza das possíveis diferenças
linguísticas entre homens e mulheres?
31

Alguns estudos mostram que as mulheres são mais conservadoras do que os homens.
Elas, em geral, preferem usar as variantes valorizadas socialmente; é como se elas fossem
mais receptivas à actuação normatizadora da escola. Esses resultados, segundo Paiva (2008),
requerem cautela, afinal, os papéis feminino e masculino, nas diversas sociedades,
estão a todo momento sofrendo transformações.

É bem possível que a explicação sobre as diferenças linguísticas entre os sexos/géneros


esteja relacionada com o papel que a mulher tem na vida pública das sociedades. O
comportamento conservador é muitas vezes espelho da história particular e das histórias
culturais das diferentes regiões. As mulheres nas sociedades ocidentais como Europa, EUA,
Canadá e América Latina são mais conservadoras do que os homens, mas em sociedades
como Índia, Ásia e na África – em que não têm um papel de destaque – reagem menos
fortemente às normas da cultura dominante. Nesse caso, o comportamento conservador é
observado na fala dos homens (cf. Labov, 1982).

Paiva sugere que uma atitude mais adequada seria, portanto, a de correlacionar sempre a
variável sexo/género com a faixa etária da população e, se possível, com a história social das
diferentes comunidades investigadas, para que as transformações culturais e as mudanças
comportamentais das faixas mais jovens da população possam ser levadas em consideração
também.

 Faixa etária - A questão da relação entre variação linguística3 e idade do falante tem
suscitado muitas reflexões dentre os sociolinguistas no mundo, pois, em geral, entra
em jogo a questão da mudança linguística4. Estudos que levam em conta esse factor
têm tentado responder as seguintes questões:
o Como se relacionam a variação/mudança no indivíduo e na comunidade?
o A língua falada pelo indivíduo pode realmente mudar no decorrer dos anos?

Segundo Naro (2008), existem duas posições teóricas que, mesmo sem evidência
empírica convincente, dão respostas diferentes a essas perguntas.

A primeira resposta (a “clássica”) vem dos que acreditam que o processo de aquisição
da linguagem se encerra mais ou menos na puberdade, e que a partir desse momento a língua

3
Variação linguística implica duas ou mais formas que concorrem para expressar um mesmo significado.
4
Mudança linguística implica processo de substituição gradual de uma forma por outra.
32

espontânea (ou o vernáculo) do indivíduo fica basicamente estável – ou seja, o indivíduo não
muda sua língua espontânea no decorrer dos anos.

A segunda resposta é que a língua falada pelo indivíduo pode mudar no decorrer dos
anos. Naro mostra que nem toda variação na fala representa mudança linguística em
progresso. Existem casos em que o uso linguístico diferenciado pelas faixas etárias não revela
mudança, mas variação estável.

 Quando essa variação pode se observada?


Em geral, quando jovens e velhos apresentam o mesmo comportamento linguístico,
contrastando-se com a população de meia idade, principalmente com a população que estiver
no mercado de trabalho. Essa, em geral, usa uma linguagem mais monitorada, mais
condizente com a variedade padrão. Isso significa dizer que indivíduos podem mudar sua
língua no decorrer dos anos. E esse comportamento pode se mostrar estável na comunidade.

Nesse caso, o indivíduo muda seu comportamento linguístico durante a sua vida, mas a
comunidade à qual pertence permanece estável. Alguns estudos sobre a concordância verbal e
nominal têm atestado esse processo. Por outro lado, além de a fala do indivíduo mudar, a
comunidade também pode reflectir essa mudança.

Enfim, neste tipo de variação verificam-se as alterações de língua relacionadas com os


níveis de domínio da língua, o que permite a distinção do falar académico e do não
académico.

2.2.2.4. Variação estilística ou diafásica


De acordo com Garet, são as diferenças do falar de uma língua, condicionadas pelo
nível de utilização da língua. Geralmente, há distinção entre a linguagem falada e a linguagem
escrita, as linguagens literárias e as especiais.

Um mesmo falante pode usar diferentes formas linguísticas, dependendo da situação em


que se encontra. Basta pensarmos que a maneira como falamos em casa, com nossa família,
não é a mesma como falamos em nosso emprego, com o chefe. O que está em jogo aí são os
diferentes “papéis sociais” que as pessoas desempenham nas interacções que se estabelecem
em diferentes “domínios sociais”: na escola, na igreja, no trabalho, em casa, com os amigos
etc.
33

Esses papéis sociais são “um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas
socioculturais [...] e são construídos no próprio processo da interacção humana” (Bortoni-
Ricardo, 2004, p.23).

Assim, os papéis sociais que desempenhamos vão se alterando em conformidade com as


situações comunicativas (entre professor e aluno, patrão e empregado, pais e filhos, irmãos
etc).

Os papéis representam tipos de relações que ocorrem entre o locutor e seu interlocutor
(as chamadas relações de poder e solidariedade), o contexto ou domínio social (se a
comunicação ocorre na escola, no trabalho, em casa, na igreja, na vizinhança etc.) e até
mesmo o assunto sobre o qual se conversa.

Esses são factores que determinam a variação estilística – uma questão de adequação ao
contexto em que ocorre a comunicação. Certamente, em situações mais formais usamos uma
linguagem mais monitorada, ou seja, prestamos mais atenção à forma como falamos,
enquanto que em situações mais informais usamos uma fala mais coloquial. Essas duas
linguagens são chamadas, respectivamente, de registro formal e registro informal.

2.2.2.5.Variação na escrita e na fala ou diamésica


Um aspecto não menos importante que vale a pena saber e que a palavra diamésica se
relaciona etimologicamente à ideia de vários meios; no contexto da Sociolinguística, os meios
ou códigos a que nos referimos são a fala e a escrita.

 Mas o que basicamente difere a fala da escrita?


Começando pela fala, podemos dizer que, salvo em situações excepcionais, como o
proferimento de uma palestra, por exemplo, a produção de um texto falado é uma actividade
espontânea, improvisada e susceptível a variação nos mais diversos níveis. Já a escrita
constitui-se como uma actividade artificial (não espontânea), ensaiada (no sentido de que
reserva tempo e espaço para planificação, revisões e reformulações), e um pouco menos
variável, pois em geral está mais vinculada à produção de géneros sobre os quais há mais
regras e maior monitoramento.

 O que essas diferenças fundamentais provocam mais superficialmente nos


próprios textos falado e escrito, que nos permitam falar em variação diamésica?
34

Hora (2004, p.121) salienta que ao falarmos, e, especificamente, ao nos envolvermos


em um diálogo face a face, não temos a nosso dispor o tempo que costumamos ter para a
planificação de um texto escrito. Devido a esse carácter naturalmente improvisatório da
produção do texto falado, as sequências linguísticas produzidas estão sujeitas a falsos inícios,
a reformulações e a correcções que não podem ocorrer senão no momento em que o texto é
produzido.

Leve-se em conta também que, ao interagirmos através da fala, temos acesso a diversas
informações contextuais que não estão presentes em um texto escrito: geralmente podemos
ver/ouvir nosso interlocutor e, no decorrer da interacção, captar sinais que são indicativos de
que direcção devemos tomar em nossos turnos.

Por conta disso, o texto resultante será pontuado de mecanismos de organização textual
particulares, como os marcadores discursivos, por exemplo. Temos assim, em síntese, no
texto falado, o carácter espontâneo, improvisado e em alto grau vinculado ao contexto
extralinguístico que lhe confere (pela possibilidade de correcção e reformulação online do
texto que está sendo produzido) as diversas marcas formais que sinalizam não só esse
processo, mas nossa relação com nosso interlocutor, com o assunto etc.

Já o texto escrito constitui-se de forma diferente, isto e, o grau em que ele se difere do
texto falado se deve em grande parte ao tempo de planeamento que caracteriza sua produção.
Mollica (2008, p.88) afirma que ao trabalharmos sobre um texto escrito como este, por
exemplo, geralmente temos tempo para planejar com antecedência sobre o que discorreremos,
em que ordem os argumentos serão apresentados, que mecanismos linguísticos são os mais
adequados para os objectivos definidos e, concomitantemente, quais são os mecanismos
esperados para o género no qual produzimos nosso texto.

Dessa forma, as hesitações, repetições e reformulações características do texto falado


não são muito prováveis em um texto escrito, pois em princípio toda a tarefa de planificação,
formulação e revisão/reformulação do texto já foi feita antes que seus leitores tivessem acesso
ao produto final.

2.3. A Influência das Variáveis


Na relação língua/sociedade, estão em contínuo contacto, elementos intra e
extralinguísticos. Partindo deste pressuposto, observa-se que alguns factores externos à língua
35

se sobrepõem a outros em nível de interferência na consolidação de determinados fenómenos.


É o caso da variável género/sexo, que desempenha papel preponderante na composição dos
resultados obtidos em todos os fenómenos que analisamos. Conforme ponderam Mollica e
Braga (2003, p.36), “No estudo da correlação entre género/ sexo e mudança linguística, um
aspecto a considerar é o valor social da variante inovadora”.

No mundo hodierno, somos interpelados quotidianamente pelo discurso midiático.


Impassível, ela, a mídia, monopoliza a linguagem e em decorrência o cerne de nossa
actividade enquanto falantes. Tal influência não é menos significativa, punitiva e arbitrária do
que a escola, a mídia configura-se como grande artífice a persuadir, incutir e delegar juízos de
valor acerca do certo e errado. Em O texto na sala de aula Geraldi discorre sobre os
verdadeiros detentores da fala.

A maioria é permitido ouvir, não falar. O professor do ouvir


é a TV, monopólio e concessão do Estado e das empresas
privadas. A TV é a professora antiga, autoritária- só fala, fala,
nunca ouve. O aluno, espectador, é também aquele antigo,
passivo, conformado, só ouve (Geraldi, 2011, p. 15).
Ao abordar o papel mediador entre educando e formas elitizadas, promovidas e
afiançadas pela escola, em detrimento daquelas que fogem ao padrão normativo, Mollica e
Braga (2003) trazem a lume questões relativas à responsabilidade e actuação do corpo escolar,
que, preponderantemente, estigmatiza uma variante em detrimento de outra. Fiorin afirma que
(2011, p.50).

Assim, pode se dizer que a língua nunca está pronta. Ela é sempre algo por se refazer”.
Agindo de maneira punitiva e arbitrária, a escola ignora a mudança linguística e, por
conseguinte, aspectos culturais próprios de determinada comunidade de fala.

Para trás ficou o segundo capítulo, onde foram mencionados alguns aspectos teóricos
referentes ao tema da presente monografia, baseando-se em algumas obras que mencionamos
na bibliografia. A seguir, vem o terceiro capítulo, onde é feita a verdadeira análise e
interpretação dos dados a despeito da dimensão externa da variação linguística: contribuições
para o acervo linguístico dos alunos da Escola Secundária Geral Josina Machel – Mocuba.
36

Capítulo III
37

Capítulo 3: Análise e Interpretação de Dados


O presente capítulo tem como finalidade apresentar, analisar e interpretar os dados
colectados a partir da observação de aulas, dos questionários dirigidos aos 40 alunos.

3.1. A dimensão externa da variação linguística: Contribuições para o acervo linguístico


Para a apresentação dos dados colhidos, usamos tabelas de modo a apresentar os dados e
recorreu-se a codificação que segundo Marconi e Lakatos (2001, p.126), “nesta técnica os
dados são categorizados e transformados em símbolos ou números, e, este processo engloba
classificação e atribuição de códigos”.

Antes de desaguarmos para a referida análise e interpretação, cabe salientar que a em


sociolinguística a língua e sociedade são duas componentes indissociáveis, uma vez que a
variação linguística é influenciada pelos factores linguísticos e extralinguísticos, essa última,
que é o pano de fundo do trabalho. No entanto, importa também referir que num primeiro do
questionário solicitou-se aos inquiridos os dados referentes à idade, sexo, naturalidade, língua
materna, língua segunda e, onde aprendeu a falar a língua portuguesa.

No que tange a parte de identidade, de salientar que a distribuição por sexo, os dados
sociolinguísticos apontam para 20 (vinte) alunos de sexo masculino e 20 (vinte) para o sexo
feminino, quanto à idade dos alunos, constata-se que esta varia entre os 16 aos 23 anos de
idade, sendo que a maioria dos alunos tem 17 anos de idade, que se afigura como a mais
representativa da turma da 11ª classe C/D da Escola Secundária Geral Josina Machel –
Mocuba.

Em relação à naturalidade, os dados evidenciam que a maior parte dos alunos,


constituído por 23, são de Mocuba, 5 são de Quelimane, 3 são de Milange, 5 são da Magana
da Costa e os outros são Nicoadala, 4 alunos. Desta feita, implica argumentar que a maior
parte dos alunos inquiridos são naturais de Mocuba. Outro aspecto não menos importante, dá
conta de que a turma pela qual dirigimos o nosso inquérito é constituída simplesmente pelos
alunos oriundos dos vários distritos da Zambézia, o que pode ser comprovado com a tabela a
seguir:
38

Tabela 1: Dados sobre sexo, idade e naturalidade.


Sexo
Masculino Feminino
o
N 20 20
Idade
16 17 18 19 23
o
N 6 11 8 8 7
Naturalidade
Mocuba Quelimane Milange Maganja Nicoadala
No 23 5 3 5 4
Fonte (Autora, 2022).

Olhando para os dados acima, podemos argumentar que, quando uma pessoa fala, você
pode saber muita coisa sobre ela só por meio da sua maneira de falar! Muitas vezes, mesmo
sem olhar para a pessoa (no caso de língua oral, claro!), você pode adivinhar de onde ela vem,
o sexo, a idade (mais ou menos), a etnia e a classe social, só pela linguagem que usa: as
palavras, o sotaque, as expressões, a entoação, as escolhas gramaticais.

Saber de onde uma pessoa vem não é difícil se a pessoa fala um dialecto, ou se fala com
um sotaque regional. Na Moçambique, é fácil identificar quem é da Zambézia, quem é de
Nampula e quem é do sul do país, só pelo jeito de falar.

Por ora, vamos aqui apresentar os dados referentes as questões do questionário, e sem
mais delongas, vamos para a pergunta 1. “Em que momento se sente mais ou menos livre para
conversar?” Cabe salientar que para esta questão, os dados evidenciam diferentes respostas
como podemos ver: (12) alunos responderam sentem-se mais livres para conversar quando
estão com os amigos, (6) alunos disseram que sentes mais livres quando conversam ao
telefone, que a maior parte do tempo tem sido com seus parceiros, isto é, namorado ou
namorada. Os restantes (12) alunos, responderam que sentem-se mais livres de conversar
quando estão na escola, pois há mais liberdade. Oque pode ser comprovada com a tabela a
seguir:
39

Tabela 2: Dados sobre o momento em que se sente mais ou menos livre para conversar.
No Código Resposta
AL1, AL2, AL3, AL6, AL10, AL12,
12 AL15, AL17, AL22, AL24, AL25, e Com amigos
AL28.
AL5, AL9, AL11, AL13, AL16 e AL19,
AL31, AL32, AL33, AL34, AL35,
16 AL36, AL37, AL38, AL39 e AL40. Ao Telefone
AL4, AL7, AL8, AL14, AL18, AL20,
AL21, AL23, AL26, AL27, AL29 e
12 AL30. Na Escola
Fonte (Autora, 2022).

Indo para a questão do número 2. “Gosta de conversar com pessoas da mesma faixa
etária, mais novas ou mais velhas de ti?” Os dados descrevem que (5) alunos gostam de
conversar com pessoas mais novas, (16) alunos gostam de conversar com pessoas da mesma
faixa etária, (11) gostam de conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam
gostar de conversar com pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior,
mesma idade e superior.

Ocasiona aqui ressaltar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.

De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam de
conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão de
não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles declararam por gostar de vivenciar e
adquirir diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como
de pessoas mais velhas. Atente a tabela abaixo:
40

Tabela 3: Dados referentes a faixa etária pelo qual gosta mais de conversar.
No Código Respostas
5 AL3, AL9, AL16, AL32 e AL36. Mais novas

AL1, AL2, AL6, AL8, AL10,


16 AL12, AL15, AL17, AL22, AL23, Igual
AL24, AL25, AL28, AL31, e
AL34.
AL5, AL11, AL13, AL19, AL33,
11 AL35, AL37, AL38, AL39 e AL40. Mais velhas
AL4, AL7, AL14, AL18, AL20,
8 AL21, AL26, AL27, AL29 e AL30. Todas Faixas
Fonte (Autora, 2022).

Indo na questão 3. “Conversa mais com pessoas de nível de escolaridade igual, inferior
ou alto ao seu?”. Os dados descrevem que dos alunos inquiridos (10) indivíduos gostam de
conversar com pessoas com nível de escolaridade inferior a deles, (10) responderam gostar de
conversar com pessoas com nível de escolaridade igual a deles, (12) indivíduos responderam
gostar de conversar com pessoas com nível de escolaridade superior a deles, (8) indivíduos
responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis, isto é, com pessoas com
nível inferior, igual e superior ao seu.

Como os dados evidenciam, também houve diferentes justificações referente a esta


questão, isto é, dos que responderam gostar de conversar com pessoas do nível de
escolaridade inferior, justificaram por gostar de motivá-los e estar mais próximo de pessoas
com este nível de escolaridade.

Dos que gostam de conversar com pessoas do mesmo nível de escolaridade, disseram
por partilhar da mesma experiência e pensar quase da mesma maneira.

Os que gostam de conversar com pessoas de nível superior, disseram por elas
transmitirem boas ideias e acabam de certa maneira, adquirindo novas competências
linguísticas, sem se esquecer de novos vocábulos.
41

Há ainda outros que responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis de
escolaridade, alegando, no entanto, por gostar de aprender com todos os níveis, visto que
somos seres humanos e estamos em constante aprendizagem.

Vale também destacar que outros responderam gostar de conversar com pessoas de
níveis inferiores e superiores, por gostar de transmitir conhecimentos aos de nível inferior e
aprender com os do nível superior.

Tabela 4: Dados referentes ao nível de escolaridade pelo qual gostam de conversar.


No Código Respostas
AL4, AL7, AL14, AL18, AL20, AL21,
10 AL26, AL27, AL29 e AL30. Inferior
AL5, AL11, AL13, AL19, AL33, AL35,
10 AL37, AL38, AL39 e AL40. Igual
AL1, AL2, AL8, AL10, AL12, AL15,
12 AL22, AL23, AL24, AL25, AL28 e AL31. Superior
AL6, AL3, AL9, AL16, AL17, AL32,
8 AL34 e AL36. Todos níveis
Fonte (Autora, 2022).

Para a questão 4. “Você acha que fala diferente dos seus colegas? Porquê?”. Os dados da
tabela 5, demonstram que muitos responderam sim e outros não., isto é, (25) alunos
responderam “sim”, ou seja, responderam que falam diferente dos seus colegas, e (15) alunos
responderam “não”, isto é, não acham que falam diferente dos seus colegas. Dos que
responderam sim, justificaram por ser da mesma região, e partilharem das mesmas
características linguísticas.

Já os que responderam não, justificaram dizendo que cada uma fala da sua maneira,
apesar de ser da mesma região e partilhar da mesma língua, cada uma fala de forma diferente
do outro.

Assim, de acordo com (Soares, 1999):


Uma das questões cruciais que envolvem problemas de linguagem
na escola está no facto de existir uma barreira entre aqueles que
preconizam a gramática pedagógica e aqueles que ensinam a língua a
partir do uso quotidiano. Em geral, a escola ainda tende a valorizar a
42

gramática pedagógica, considerando-a linguisticamente “correcta” e


“superior”, por ser usada pelas classes sociais de prestígio, (Soares,
1999, p.133).
Essa postura demostra claramente que nas escolas, os alunos são ou estão sujeitos ao uso
da língua (gem) de um forma mais formal, ignorando as aprendizagens quotidianas, que tem
sido maioritariamente, menos formal. Vide o quadro a seguir:

Tabela 5: Você acha que fala diferente dos teus colegas?


No Código Resposta
AL1, AL2, AL4, AL5, AL6, AL10,
AL11, AL12, AL14, AL15, AL16,
AL18, AL19, AL22, AL23, AL25,
25 AL28, AL29, AL30, AL32, AL34, Sim
AL36, AL37, AL38, AL39 e AL40.
AL3, AL7, AL8, AL9, AL13, AL17,
AL20, AL21, AL24, AL26, AL27,
15 AL29, AL31, AL33, e AL35. Não
Fonte (Autora, 2022).

Em relação a pergunta 5. Da forma como você fala o português com o seu professor é
da mesa forma como fala com seu colega? Porquê? De salientar que os dados referentes a esta
questão evidenciam que todos os alunos foram unânimes em afirmar “não”, isto é, todos
responderam que não falam da mesma forma com os colegas como falam com o professor.

Sobre esta questão, quase todos alunos justificaram que com os colegas há mais
simplicidades aquando de uma conversa, o que difere bastante com o professor, o que exige
muita formalidade não só pelo facto de ser professor, mas pela idade e outros factores.

Sobre isso, podemos concordar com Moura (1997), ao afirmar o seguinte: “como em
qualquer outro domínio social, também na sala de aula encontramos grande variação no uso
da língua”. Essa variação pode se dar na fala entre colegas e mesmo na linguagem da
professora que, por exercer um papel social de ascendência sobre seus alunos, está submetida
a regras mais rigorosas no seu comportamento verbal e não verbal.
43

Tabela 6: Da forma como você fala o português com o seu professor é da mesa forma como
fala com seu colega?
No Código Resposta
0 - Sim
40 AL1, AL2, AL3… até AL40. Não
Fonte (Autora, 2022).

Indo para a questão 6. Como você fala o português na comunidade é da mesma forma
como fala na escola? Sobre essa questão, os dados demostram que tivemos igualdade em
termos de números, isto é, (20) alunos responderam “sim” e outros (20) alunos da amostra
responderam “não” para a mesma questão.

De salientar que para esta questão, os que responderam “não” justificaram da seguinte
maneira: “Porque na comunidade falamos espontaneamente, sem antes planificarmos oque
dizer, e que na comunidade, se está sujeito a uso de vários fenómenos da linguagem como o
uso do calão, empréstimos, neologismos até mesmo alternância de códigos, oque não
acontece na escola.

Diferentemente dos que responderam “não”, tendo justificado da seguinte maneira:


falamos da mesma maneira, porque a língua que se usa na escola é a mesma que usamos na
comunidade.

Sobre isso, McCleary (2007, p.45), argumenta que nem toda variação indica quem está
falando. Muita variação na língua indica o que está acontecendo, onde está acontecendo, e
qual é a importância social do que está acontecendo. Ou seja: as mesmas pessoas podem falar
(e precisam falar) diferentemente em horas e ocasiões diferentes. As pessoas não falam
sempre da mesma forma. Elas modificam a maneira de falar de acordo com a situação.
44

Tabela 7: Como você fala o português na comunidade é da mesma forma como fala na
escola?
No Código Resposta
AL3, AL4, AL7, AL8, AL9, AL12,
AL13, AL17, AL20, AL21, AL23,
20 AL24, AL26, AL27, AL29, AL31, Sim
AL32, AL33, AL35 e AL39.
AL1, AL2, AL5, AL6, AL10, AL11,
AL14, AL15, AL16, AL18, AL19,
20 AL22, AL25, AL28, AL30, AL34, Não
AL36, AL37, AL38, e AL40.
Fonte (Autora, 2022).

Respondendo a questão 7. Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo
oposto? Como podemos ver na tabela 8, que diz respeito a faixa etária com quem mais gostas
de conversar, os dados dizem que: (5) pessoas gostam de conversar com pessoas mais novas,
(11) pessoas gostam de conversar com pessoas da mesma faixa etária, (16) gostam de
conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam gostar de conversar com
pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior, mesma idade e superior.

Importa aqui salientar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.

De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam de
conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão de
não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles disseram por gostar de vivenciar e adquirir
diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como de
pessoas mais velhas. Observe a tabela abaixo:
45

Tabela 8: Você conversa mais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto?
No Código Resposta
AL3, AL4, AL7, AL8, AL9,
16 AL18, AL19, AL22, AL25, Homens
AL28, AL30, AL34, AL36,
AL37, AL38, e AL40.
AL6, AL12, AL13, AL17,
AL20, AL21, AL23, AL24,
16 AL26, AL27, AL29, AL31, Mulheres
AL32, AL33, AL35 e AL39.
AL1, AL2, AL5, AL10,
8 AL11, AL14, AL15 e AL16. Ambos sexos
Fonte (Autora, 2022).

Olhando a tabela acima, podemos dizer que o sexo é ponto pacífico que mulheres e
homens não falam de maneira igual. Além das diferenças observáveis no tom de voz, no
ritmo, podemos perceber, também, que há preferência por certas estruturas sintácticas, pelo
emprego de determinados vocábulos, pela omissão de outro, etc.

O tema da relação entre sexo e linguagem tem sido privilegiado na sociolinguística,


dando margem à inúmeras pesquisas que buscam testar as mais diversas hipóteses sobre o que
de fato pode ser atribuído, em termos de variação, ao sexo.

De acordo com Ramos (1997), o que é observável na relação entre a fala masculina e a
feminina é a duração de vogais como recurso expressivo, como em “maaaravilhoso”, assim
como o uso frequente de diminutivos, como “bonitinho”, costumam ocorrer na fala feminina.
É importante destacar que homens e mulheres são socialmente diferentes no sentido de que a
sociedade lhes confere papéis distintos e espera dos mesmos que utilizem padrões de
comportamento também distintos.

Aliando a isso, podemos dizer que o sexo (ou "género"), é claro, é revelado pela
qualidade da voz: mulheres têm vozes mais agudas, homens mais graves. Mas, independente
disso, estudos indicam que existem diferenças entre a fala das mulheres e a fala dos homens.
46

Pesquisas mostram, por exemplo, que a linguagem das mulheres tende a ser menos
afirmativa, e que os homens tendem a interromper quem está falando mais frequentemente do
que as mulheres.

Assim sendo, a linguagem apenas reflecte o facto social. As diferenças linguísticas


devidas ao factor sexo surgem porque a língua como fenómeno social está intimamente
relacionada a atitudes sociais.

Por último temos a questão 8. Você escreve a da mesma forma como fala o português?
Para a esta questão, os dados demonstram que (28) alunos responderam “não”, isto é, que não
escrevem da mesma forma como falam, pois, há uma diferença na forma como falamos e
como escrevemos.

Concordado com esse posicionamento, Koch, estabelece as seguintes diferenças da


escrita e da fala:

A escrita difere completamente da escrita, pois a fala, é não-


planejada, fragmentária, incompleta, pouco elaborada, predominância
de frases curtas, simples ou coordenadas e pouco uso de passivas.
Enquanto a escrita é planejada, não-fragmentária, completa, elaborada,
predominância de frases complexas, com subordinação abundante e o
emprego frequente de passivas, (Koch,1992, p.68).
E os restantes (12) alunos, responderam que “sim”, que escrevem da mesma
forma como falam. Como podemos ver na tabela a seguir:

Tabela 9: Acha que escreve da mesma forma como fala o português?


No Código Resposta
AL1, AL2, AL5, AL6, AL10, AL11,
AL13, AL14, AL15, AL16, AL17, AL18,
28 AL19, AL20, AL22, AL24, AL25, AL28, Não
AL30, AL32, AL33, AL34, AL35AL36,
AL37, AL38, AL39.e AL40.
AL3, AL4, AL7, AL8, AL9, AL12,
12 AL21, AL23, AL26, AL27, AL29 e Sim
AL31.
Fonte (Autora, 2022).
47

Justificando as respostas, os que disseram “não” disseram que isto deve-se ao facto de
que na linguagem escrita se precisar de mais cuidados no que se refere a pontuação,
organização das palavras, entre outros aspectos, oque difere completamente da fala, em que
não se dá muita primazia para a questão da pontuação, ou colocação das palavras. Sobre isso,
Freire (2009) diz o seguinte:

“A escrita é uma forma de comprovar o conhecimento,


bem como o que falamos também fica registado como o nosso
saber. No ato de escrever é que tudo se torna mais complicado,
pois não falamos da mesma forma a qual escrevemos, pois é
preciso encontrar as palavras certas, uma forma mais culta, boa
argumentação e um vocabulário adequado para que os fatos não
sejam distorcidos e mal compreendidos pelo leitor” (Freire,
2009, p.11).
Já os que disseram sim, justificaram da seguinte maneira: “porque fala-se da mesma
forma como se escreve.

Face a resposta desses alunos, (Koch,1992, p.69), sustenta o seguinte: as distinções


apresentadas nem sempre distinguem fala e escrita, especialmente porque uma modalidade
pode se aproximar das outras em situações mais ou menos formais, ou seja, a escrita informal
se aproxima da fala, enquanto a fala formal, se aproxima da escrita, em situações
comunicativas variadas.

Desse modo, podemos dizer que fala e escrita, ao invés de modalidades opostas, estão em
relação contínua no processo de interacção verbal.
48

Conclusões
49

Conclusões
Todas as línguas apresentam algum tipo de variação, sendo heterogéneas e estando
mutuamente ligadas às transformações da sociedade, e, em especial, o português
moçambicano exibe um alto grau de diversidade e variabilidade. Essas variações podem estar
ligadas à diversos factores, como os externos: etnia e sexo – relacionados directamente aos
indivíduos, e aos factores de uso social, como: escolarização, classe social, nível de renda. Ou
ainda, os factores internos, inerentes à estrutura da língua, o significado e significante e outros
subsistemas da língua. Há ainda, os factores contextuais, como: grau de formalidade e tensão
discursiva.

Respondendo ao objectivo geral, que é o de analisar como a dimensão externa da


variação linguística influencia para o acervo linguístico, foi possível concluir através do
questionário e da observação feita que, as escolhas do repertorio linguístico de um falante
relaciona-se com os usos particulares de cada grupo social ao qual ela pertence. Isto é,
verifica-se a ocorrência de variações sonoras de acordo com a estratificação social.

Indo para o primeiro objectivo específico, podemos dizer que no que refere ao sexo,
verifica-se que os homens tendem a ser mais independentes e mantem a sua postura primando
o seu prestígio, enquanto as mulheres desenvolvem a interacção verbal, buscando o
envolvimento do interlocutor mostrando uma postura mais solidária, ou por outra, pode se
dizer que as distinções na fala feminina e masculina estão ligadas à construção de identidades,
bem como os papéis desempenhados pelos indivíduos no contexto social. Contribui para isso,
o facto de a língua ser um facto social, a sociedade estabelecer determinados comportamentos
específicos para homens e mulheres e a língua tornar-se um reflexo dessas distinções pré-
estabelecidas.

No que tange a idade, de salientar que os mais idosos tendem a preservar as variantes,
enquanto os jovens são mais abertos às novas possibilidades de expressão, muito embora
algumas características linguísticas e variações sejam passadas de pais para filhos. No refere
ao nível de escolaridade, verificou-se que a escolaridade influencia nos usos das variantes
pelos falantes, onde os falantes que possuem maior tempo na escola tendem a usar a norma
padrão, enquanto os que estudaram menos utilizam e preservam a variante, muitas vezes
estigmatizada pelo restante grupo. Sobre a variação geográfica, conclui-se que esta influencia
no empréstimo ou fusão de línguas.
50

Sobre o segundo objectivo específico conclui-se que a dimensão interna visa as variáveis
formais de pronunciação, comunicação e fala por diferentes regiões de Moçambique.
Enquanto a dimensão externa trata-se muito da variação regional, variação social e a variação
estilística.

Por fim, o terceiro específico, de salientar que existem os seguintes tipos de variação:
Variação regional ou diatópica; variação social ou diastrática; variação estilística ou diafásica
e variação na escrita e na fala ou diamésica.

No que diz respeito a primeira questão de pesquisa “será que a dimensão ou factores
externos da variação linguística contribuem para o desenvolvimento da interacção verbal dos
alunos?”. Os dados analisados demonstram que a dimensão externa da variação linguística
contribui para o desenvolvimento da interacção verbal dos alunos.

Com relação a segunda pergunta de pesquisa, “Qual é o tipo de variação linguística que
mais se verifica na Escola Secundária Geral Josina Machel?”. Para esta questão, os dados
demostram que a variação que mais se verifica nesta escola é a variação social ou dia mésica,
que tem a ver com a questão de idade, sexo e nível de escolaridade.

Por fim, temos a terceira questão, “De que forma a dimensão/factores externos da
variação linguística contribuem para a identidade e etnicidade dos alunos da Escola
Secundária Geral Josina Machel – Mocuba?”. Respondendo a questão, podemos dizer o
seguinte: a capacidade do falante de identificar o grupo modelo de referência; a capacidade de
ter acesso a esses grupos e a habilidade de trabalhar as regras do seu repertório; o peso de
motivações conflituantes (motivações em relação a um ou outro grupo modelo em relação à
preservação de sua própria identidade e a habilidade de modificar seu comportamento
linguístico.

A partir destas condições que definem o comportamento linguístico dos falantes, é


possível notar que as escolhas linguísticas estão interligadas à identidade social do falante, ao
papel que desempenha na comunidade de fala. Assim, o falante cria regras que possibilita se
integrar ao grupo de referência através de semelhança linguística.
51

Sugestões
52

Sugestões
Tendo feita a análise de dados, concluído, e respondendo as perguntas de pesquisa
assim como aos objectivos propostos para a realização da presente monografia, a este ponto,
podemos sugerir o seguinte:

Em qualquer comunidade de falantes como tal reconhecida, encontramos normalmente


variações da estrutura linguística a todos os níveis – fonológico, gramatical e lexical. Algumas
variações estão estritamente ligadas com a localização geográfica… outras … podem …
depender da identidade da pessoa com quem se fala … outras ainda estão relacionadas com a
idade do falante,. Estas incluem diferenças entre discurso masculino e feminino… a variação
linguística pode também estar relacionada com o estatuto social dos falantes ou com outros
factores do contexto social e cultural.

 À direcção ou docente, compete o papel de sobressaltear sua formação, buscando


resultados que discorrem seus argumentos no contexto escolar, pois a partir do
exercício da reflexão e da criticidade, ele poderá auxiliar na transformação e na
formação de alunos críticos e conscientes do respeito e da importância das variações
linguísticas para a construção de sua identidade pessoal, cultural e social;
 O ambiente escolar deve mostrar ao aluno que realmente existe uma variedade mais
culta e que se deve aprendê-la com o intuito de utilizá-la em determinadas situações
sociais de comunicação a fim de adequar seus discursos a diferentes ambientes, mas
que não se deve deixar de lado o conhecimento de mundo e toda a riqueza de saberes
que cada um traz internalizado, ampliando assim seu conhecimento e aprendizagem,
afinal todos os tipos de variações têm seu valor na escola e na vida do individuo;
 A escola não pode discriminar o estudante pelo seu jeito de se comunicar. Pois, essa
maneira de falar representa muito mais que um processo comunicativo, é a identidade
do falante. Nela, é possível perceber de onde vem este falante, a que classe social
pertence, que cultura possui, etc.;

Para os alunos:
 Apresentem as suas ideias de forma autónoma para uma breve análise da turma e
admitem as suas diversidades linguísticas como o fenómeno natural, todavia, que
merece especial atenção voltada a superação das falhas.
53

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55

Anexos
56

Apêndices

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