TEMA 5 - Fisiologia Do Sistema Cardiovascular
TEMA 5 - Fisiologia Do Sistema Cardiovascular
TEMA 5 - Fisiologia Do Sistema Cardiovascular
PROPÓSITO
Conhecer a organização do sistema cardiovascular e o controle do ritmo cardíaco, bem como a
regulação da hemodinâmica, visando o entendimento do controle do débito cardíaco, retorno
venoso, distribuição do fluxo sanguíneo e controle da pressão arterial em diferentes situações
fisiológicas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
Fonte: Shutterstock.com
A partir de agora você vai começar a estudar a organização do sistema cardiovascular. Ele é
dividido em arterial e venoso, por isso é denominado “sistema duplo e fechado”. O órgão principal,
o coração, é reconhecido como uma bomba capaz de impulsionar quantidades relevantes de
sangue para a periferia. Além do coração, o sistema cardiovascular compreende uma rede de
vasos de distribuição de sangue e de coleta de resíduos metabólicos que são as artérias e veias,
respectivamente.
À medida que o sangue flui para as estruturas vasculares distantes do coração, os grandes vasos
se ramificam em uma extensa rede de microvasos, denominados arteríolas e capilares,
responsáveis pela realização das trocas de nutrientes e oxigênio com os tecidos.
Sistema arterial
Pode ser considerado como um sistema de alta resistência e pressão e de baixo volume – por isso
que um sangramento arterial é em forma de jato de sangue de coloração vermelho vivo.
Sistema nervoso
Compreende um sistema de baixa resistência e pressão e de alto volume – por isso, quando
ocorre um sangramento venoso, observamos um comportamento em forma de escorrimento e
cianótico (vermelho escuro).
Fonte: Shutterstock.com
ESTRUTURA DO CORAÇÃO
O principal responsável pelo direcionamento de sangue para os tecidos é o coração. Este órgão
pode ser analisado estrutural e funcionalmente através das diferenças em suas câmaras dos dois
lados (direito e esquerdo), organizadas da seguinte maneira (Figura 1):
Em seguida, o sangue agora arterializado retorna ao coração para o átrio esquerdo, deste para o
ventrículo esquerdo, e depois para a circulação sistêmica (a grande circulação ou sistêmica).
Já os ventrículos direito e esquerdo, que precisam bombear o sangue através das artérias
pulmonares e aórtica, respectivamente, com pressões relativamente elevadas, apresentam
paredes muito mais espessas quando comparadas aos átrios.
As principais diferenças observadas nas estruturas dos ventrículos direito e esquerdo podem ser
assim resumidas:
O ventrículo esquerdo apresenta a espessura de sua parede maior que aquela do ventrículo
direito e trabalha em uma condição de alta pressão para efetivar o bombeamento de sangue para
a circulação sistêmica.
Já o ventrículo direito apresenta tanto uma dimensão interna quanto a espessura de parede
reduzida, se comparado ao ventrículo esquerdo. Isto ocorre pelo fato de o ventrículo direito não
precisar de pressão tão elevada para bombear o sangue em direção aos pulmões.
É possível notar a presença de quatro valvas cardíacas: além das duas atrioventriculares, existem
outras duas responsáveis pela saída de sangue dos ventrículos em direção às artérias pulmonares
e aórtica, respectivamente, essas valvas são denominadas como semilunares pulmonar e aórtica.
A abertura das valvas atrioventriculares permite que o sangue seja direcionado dos átrios em
direção aos dois ventrículos (mais adiante, no ciclo cardíaco, visualizaremos que isso ocorre
durante a fase de diástole ou relaxamento ventricular). Após o fechamento das valvas
atrioventriculares, o sangue é transportado para as artérias pulmonares (lado direito) e aorta (lado
esquerdo, durante a contração dos dois ventrículos, a sístole ventricular).
Fonte: OpenStax College / Anatomy & Physiology, Connexions Web site / CC BY 3.0
Figura 2: Valvas atrioventriculares (tricúspide e bicúspide) e semilunares (aórtica e pulmonar).
O correto fechamento destas valvas depende dos músculos papilares, estruturas localizadas na
parede interna dos ventrículos que, por sua vez, são conectadas as essas valvas pelas cordas
tendíneas. Quando ocorre a sístole ventricular, as cordas tendíneas são responsáveis por realizar
a tração dos folhetos dessas valvas, mantendo-as fechadas e impedindo que o sangue seja
direcionado de volta aos átrios, fenômeno denominado regurgitação (Figura 3).
À medida que o sangue é direcionado dos ventrículos para as artérias aorta e pulmonares, ele
passa por valvas com denominação semelhante a estas estruturas, valvas semilunares aórtica e
pulmonar, respectivamente, constituídas cada uma por três folhetos. A organização estrutural
dessas valvas permite que o sangue ejetado pelo ventrículo flua para as artérias correspondentes,
impedindo assim seu retorno durante a fase de relaxamento (diástole) (AIRES, 2018, p. 381).
Além dos miócitos atriais e ventriculares, o tecido cardíaco é repleto fibroblastos cardíacos,
responsáveis pela produção da matriz extracelular que é composta por colágeno do tipo I e III,
capazes de desempenhar o processo de remodelamento miocárdico (também denominado como
cicatrização do miocárdio durante o infarto, veja a Figura 4).
Quanto à espessura da parede desses vasos, notamos que ela possui relação direta com a
pressão gerada no sistema, que é característico de cada região. Por exemplo, a espessura das
artérias é muito maior do que a espessura das veias. Esta característica está relacionada com a
composição das três camadas em cada artéria ou veia, como se vê na Figura 5.
Fonte: Shutterstock.com
Figura 5: Estrutura anatômica dos vasos sanguíneos.
Basicamente, as artérias e as veias apresentam três camadas, que são expostas na figura 5.
A túnica íntima (mais interna) é constituída por uma camada única de células endoteliais,
recobertas por uma lâmina subendotelial. Na camada subendotelial, além da presença de fibras
colágenas (matriz extracelular), nota-se a presença de células musculares lisas, além de fibrócitos
e macrófagos. É dividida da túnica média por uma estrutura denominada camada elástica interna.
A estrutura da túnica média sofre variação de acordo com sua capacidade contrátil e elástica; em
função disso, os dois principais componentes da túnica média são as células musculares lisas e as
lâminas elásticas presentes entre estas células. Externamente, a túnica média é cercada por uma
lâmina elástica, reconhecida como camada elástica externa, que a separa da túnica adventícia.
Quando comparamos as diferenças de fluxo nos sistemas arterial e venoso, notamos que este
parâmetro é drasticamente reduzido nas artérias de pequeno calibre assim como nas arteríolas.
Nas metarteríolas (porções finais das arteríolas), devido ao seu pequeno diâmetro (cerca de 10 e
40 mm) e pelo fato de serem pouco inervadas, a camada muscular é incompleta, mas
complementada pela presença de um forte esfíncter muscular pré-capilar.
Na rede arterial, os valores pressóricos são maiores que em qualquer outra região do sistema
vascular, no entanto, quando o sangue atinge as arteríolas, ocorre uma queda acentuada na
pressão do sistema. O motivo principal para que ocorra essa grande variação hemodinâmica é o
aumento da resistência ao fluxo criada por esses pequenos vasos.
Desse modo, a partir dos capilares sanguíneos, a pressão e o fluxo sanguíneo serão bastante
reduzidos. Como o sistema arterial é considerado um sistema de alta pressão e baixo fluxo, a
quantidade total de sangue presente neste sistema é cerca de 20%, enquanto nos capilares é de
5% por causa de seu tamanho reduzido. Nas veias é de cerca de 75%, denotando sua função
como reservatório de volume (Figura 7).
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Figura 7: Diferenças no calibre dos vasos sanguíneos explicando as variações de velocidade e
pressão do fluxo.
A microcirculação possui vasos terminais, com grande capacidade para realização de trocas de
substâncias, e é constituída por pequenas artérias, arteríolas, capilares e vênulas. Nos capilares,
sua parede é constituída por uma única camada de células endoteliais. Tal fato favorece o
transporte satisfatório de nutrientes e oxigênio dos capilares para os tecidos e destes para a
remoção de metabólitos (Figura 8).
ATENÇÃO
Fonte: Shutterstock.com
Figura 8: Estrutura dos capilares sanguíneos, representando a microcirculação.
A função principal do sistema venoso é transportar o sangue de todas as veias em direção ao
coração. Neste sentido, o sangue, ao trafegar pelos capilares, será transportado para as vênulas,
seguindo para as veias de pequeno, médio e grande calibre.
Assim, o sistema venoso é responsável em estocar uma proporção muito elevada de sangue
(cerca de 75% do total). Por ser um sistema de baixa pressão e alto volume, o sangue é impedido
de fluir no sentido contrário ao coração pela presença das valvas venosas, possibilitando o fluxo
de sangue pelas veias ocorrer sempre no sentido unidirecional, em direção ao coração.
Certamente você já ouviu falar em varizes ou veias varicosas, mas o que isso de fato
representa?
Fonte: Shutterstock.com
Figura 9: Desenvolvimento das varizes nas veias.
Fonte: Shutterstock.com
Figura 10: Exemplo de veias varicosas.
As varizes nas veias representam regiões onde as valvas venosas se tornam insuficientes ou
incompetentes, reduzindo o fluxo de sangue nessa região (Figura 9). Isso provoca dilatação
excessiva das veias (Figura 10), o que pode acarretar dores e desconforto local, levando
pacientes ao tratamento com laser, clínico/cirúrgico ou estético (aplicação de espumas).
CIRCULAÇÃO SISTÊMICA
A partir desta câmara, o sangue arterial é direcionado para a artéria aorta e, em seguida, para
todos os tecidos (grande circulação).
À medida que o sangue segue, ele é direcionado para o sistema de artérias que serão distribuídos
para os tecidos (exceto aos pulmões).
As artérias se dividem em numerosas estruturas menores, denominadas arteríolas, cujo calibre
pode ser alterado por diversos mecanismos neurais ou metabólicos. As alterações do calibre das
arteríolas podem regular tanto a pressão como o fluxo ao longo da circulação sistêmica.
Uma vez nos tecidos, as arteríolas se bifurcam em estruturas cada vez menores, denominadas
capilares ou sinusóides. Nesses pequenos vasos, o oxigênio e os nutrientes são transportados em
direção ao espaço extracelular e daí para as células. Ao mesmo tempo, os resíduos produzidos
em função do metabolismo celular, passam das células para o fluido extracelular e, em seguida,
para o sangue. Neste momento, o sangue é coletado por um sistema de muito baixa pressão,
constituídos em sequências pelas vênulas e veias, que transportam o sangue venoso de volta ao
coração.
Esta rede venosa, como mencionado anteriormente, atua de modo a drenar quantidades
satisfatórias de sangue (cerca de 75% do volume sanguíneo total). Todas as veias se unem para
formar as duas veias cavas, denominadas com inferior e superior, as quais direcionam o sangue
para o átrio direito (Figura 11).
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Figura 11: Esquema de direcionamento do fluxo sanguíneo arterial partindo do coração, com
trocas de oxigênio, nutrientes, remoção dos resíduos pelos capilares e retorno do sangue venoso
de volta para o coração pelas veias.
As artérias sistêmicas apresentam a espessura de suas paredes mais espessas que as artérias
pulmonares. Além disso, as artérias que se encontram localizadas abaixo da linha do coração têm
parede mais espessa que as que se encontram acima. Estas alterações refletem a maior pressão
exercida pelo sangue (pressão hidrostática) suportada pelos vasos das regiões inferiores do corpo
(Figura 11).
CIRCULAÇÃO PULMONAR
A circulação pulmonar se inicia a partir do ventrículo direito. O sangue venoso chega ao átrio
direito e, em seguida, é direcionado para ventrículo no mesmo lado. Posteriormente, o sangue flui
para a artéria pulmonar e para as artérias pulmonares menores, até formar os capilares
pulmonares.
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Nos capilares pulmonares, o CO2 é transportado em direção aos alvéolos para ser eliminado no ar
ambiente, enquanto o O2 sofre difusão para o sangue, num processo denominado hematose,
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Figura 12: Esquema do sistema vascular. No circuito sistêmico, são evidenciados diversos
tipos de comunicação entre os lados arterial (vermelho) e venoso (azul).
O SISTEMA CARDIOVASCULAR
Assista ao vídeo a seguir, que demonstra os aspectos anatômicos do coração (átrios, ventrículos e
valvas), e como ocorre a circulação sistêmica e pulmonar.
Em função disso, torna-se necessário entender como o ritmo cardíaco é regulado para garantir o
fluxo sanguíneo satisfatório aos tecidos, sem que ocorra grandes variações nas faixas de pressão
e volume do sistema, a fim de garantir o controle da homeostase sistêmica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) O átrio esquerdo possui uma câmara interna menor que o átrio direito em função do aumento
da pressão no sistema pulmonar comparado ao sistema venoso.
B) As paredes dos átrios apresentam menores espessuras em relação aos ventrículos, pois sua
função depende de menor pressão para o fluxo sanguíneo.
C) O ventrículo esquerdo não possui camadas espessas em suas paredes, pois sua função se
resume à distribuição de sangue para os pulmões.
D) Apesar das diferenças morfofuncionais entre os átrios e ventrículos, estas estruturas não
apresentam diferenças entre seus lados esquerdo e direito.
A) As varicosidades observadas nas veias ocorrem pelo fato de serem consideradas um sistema
de alta pressão, por isso ocorre o dilatamento excessivo das veias acarretando as varizes.
B) O volume de sague presente no sistema venoso é baixo. Por este motivo, caso o sistema sofra
uma sobrecarga de volume, irá desencadear a dilatação das veias.
C) As pessoas que possuem varizes não precisam se preocupar com essas alterações das veias,
pois isso se trata apenas de uma preocupação estética.
D) As intervenções cirúrgicas são o único tratamento para as pessoas que possuem varizes.
E) O desenvolvimento das varizes ocorre em função da insuficiência das valvas venosas, pois
quando isto ocorre o fluxo sanguíneo será reduzido, acarretando a dilatação excessiva dessas
veias.
GABARITO
As estruturas das câmaras cardíacas são bem diversas, pois a sua funcionalidade reflete as suas
estruturas. Os átrios distribuem o sangue aos ventrículos, enquanto os ventrículos distribuem o
fluxo sanguíneo à circulação sistêmica. Em termos práticos, esta função depende de maior
pressão para ser efetivada com êxito.
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
O controle do ritmo cardíaco pode ser dividido em duas fases:
A primeira que dá origem aos batimentos por células especializadas na excitação automática do
coração (por isso chamado de automatismo cardíaco), um sistema intrínseco.
A segunda que tem o ritmo cardíaco controlado de maneira extrínseca, inconsciente ou
involuntariamente por um componente eferente visceral chamado sistema nervoso autônomo.
E o sistema nervoso parassimpático, responsável pela secreção de acetilcolina.
Neste módulo vamos entender como ocorrem o controle intrínseco e extrínseco coração.
AUTOMATISMO CARDÍACO
O tecido cardíaco, além de ser constituído por células especializadas em realizar o trabalho
mecânico do coração (miocárdio), possui um sistema constituído por células nervosas
especializadas no desenvolvimento da autoexcitação do coração. Este sistema também pode ser
denominado como sistema de controle intrínseco da ritmicidade cardíaca ou sistema de condução
do coração.
Fonte: Shutterstock.com
Neste sistema, as células que promovem a gênese do impulso nervoso desempenham esse
mecanismo em frequências de disparo diferentes. O nó sinoatrial é a célula que possui maior
frequência intrínseca de disparo espontâneo comparado ao nó atrioventricular e às fibras de
Purkinje (Figura 13, número 1).
A propagação ocorre por este nó a uma velocidade de aproximadamente 0,06 milissegundos (ms),
alcançando o átrio aproximadamente 30 ms após o início desta excitação. À medida que o impulso
nervoso é originado no nó sinoatrial, ele é direcionado para as paredes atriais a uma velocidade
de aproximadamente 0,9 ms, ou seja, leva cerca de 80 a 90 ms para completar sua ativação.
A trajetória do impulso então alcança outro nó, o atrioventricular (figura 13, número 2).
Fonte: J. Heuser / Heart view anterior coronal section.jpg por Patrick J. Lynch (Patrick J. Lynch;
ilustrador; C. Carl Jaffe; MD; cardiologista Yale University Center for Advanced Instructional Media)
/ CC-BY-2.5
Figura 13: Sistema de condução elétrica do coração.
Sequencialmente, uma vez que o impulso nervoso termine seu tráfego através do nó
atrioventricular, a despolarização pelo sistema de condução agora alcança o feixe de His (Figura
15, números 3 e 4) e, em seguida, as fibras de Purkinje. Finalmente, toda onda de despolarização
é direcionada pelas células do miocárdio ventricular, completando a ativação dessas câmaras.
Fonte: J. Heuser/ Heart view anterior coronal section.jpg por Patrick J. Lynch (Patrick J. Lynch;
ilustrador; C. Carl Jaffe; MD; cardiologista Yale University Center for Advanced Instructional
Media)/ CC-BY-2.5
Figura 15: Sistema de condução elétrica do coração. Continuação.
Uma vez nos ventrículos, a onda de ativação percorre inicialmente as células da camada mais
interna dessas câmaras (endocárdio) dos dois ventrículos e, em seguida, os impulsos são
propagados em direção à camada mais externa dos ventrículos (epicárdio) até alcançar à região
póstero-superior do septo interventricular (Figura 15, número 5).
ATENÇÃO
Observa-se a existência de uma fase em que não há nenhum fluxo de corrente ao longo do
coração. Neste momento os átrios encontram-se repolarizados, ao passo que os ventrículos estão
totalmente despolarizados. Este período silente termina quando se inicia a repolarização
ventricular a partir das regiões com potenciais de ação de menor duração. A repolarização de uma
região acelera a repolarização de localidades vizinhas do mesmo modo que a despolarização, por
meio do fluxo de correntes locais. Assim, pode-se dizer que há uma propagação da repolarização,
a partir da região que primeiro depolariza, em direção às vizinhas.
A EXCITAÇÃO AUTOMÁTICA DO CORAÇÃO
Assista ao vídeo a seguir, que demonstra como ocorre o processo intrínseco de excitação do
coração, desde o nodo sinusal até as fibras de Purkinje.
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Nestes tecidos, não se observa um potencial de repouso estável (fixo) como na maioria das outras
células, ao contrário, nota-se uma despolarização lenta seguida do término da fase de
repolarização. Esta despolarização lenta, como ocorre na fase diastólica do potencial
transmembrana, é denominada despolarização diastólica lenta, correspondente à fase 4 dos
potenciais de ação responsáveis pelo automatismo cardíaco (Figura 16).
As correntes iônicas responsáveis pela entrada de íons nas células são denominadas correntes de
influxo. As principais correntes de influxo observadas na despolarização diastólica lenta são:
Corrente marca-passo (também denominada corrente If), sendo esta mediada pelo influxo de
Ao final da Fase 4, quando o potencial transmembrana atinge o potencial limiar (por volta de
-60mV), inicia-se a Fase 0. Nesta fase, observa-se uma despolarização mais rápida que aquela da
Fase 4.
ATENÇÃO
Aqui, a principal corrente responsável por esta despolarização mais íngreme é a corrente de cálcio
do tipo L, ICaL, que se caracteriza por uma ativação mais lenta e uma densidade de corrente bem
Na Figura 16, podemos observar que essas células não apresentam as Fases 1 e 2, como ocorre
no potencial de ação rápido ventricular. Após a Fase 0, segue-se uma repolarização contínua,
mais lenta no início e mais rápida no final (Fase 3).
Já que não há nenhuma evidência de ocorrência de IK1 nem de Ito nestas células, os canais de
K+, IKr e IKs constituem as principais vias de correntes repolarizantes. Contribuem com corrente
despolarizante durante todo o potencial de ação lento, a ICa,L, além da corrente carreada pelo
trocador Na+/Ca2+.
Fonte: Shutterstock.com
Figura 16: Potencial de ação cardíaco lento responsável pelo mecanismo de autoexcitação
celular nos NSA e NAV.
Fonte: Shutterstock.com
No átrio direito, próximo da inserção da veia cava superior, situa-se o nó sinoatrial, que no coração
normal é o local onde ocorre a gênese da atividade elétrica cardíaca. Por isso, o nó sinoatrial é
considerado o marcapasso cardíaco. Também no átrio direito, próximo ao seio coronariano, na
superfície endocárdica da porção inferior do septo interatrial, localiza-se o nó atrioventricular.
A partir deste, outro tecido especializado em condução é o feixe de His, que parte do nó
atrioventricular e se estende para a musculatura ventricular, subsequentemente dividindo-se e
formando uma extensa rede de condução intraventricular, as fibras de Purkinje.
O potencial de ação rápido cardíaco pode ser dividido em fases que serão descritas a seguir:
Fonte: Thoracikey, 2016
Figura 17: Fases responsáveis pelo potencial de ação cardíaco rápido.
FASE 0
Esta fase está relacionada ao aumento rápido que ocorre durante a despolarização do potencial
de ação rápido. Neste momento a principal corrente despolarizante é a de sódio dependente de
voltagem (INa), como mostra a Figura 16. Isto irá promover a despolarização adicional,
caracterizada por um processo de retroalimentação positiva e resultando em rápido e intenso
influxo de Na+. Por sua enorme densidade, esta corrente é fundamental para a rápida propagação
do potencial de ação (1 a 5 ms), no entanto, cabe ressaltar que as menores velocidades ocorrem
no miocárdio atrial e ventricular; e as maiores, nas fibras de Purkinje, tecido especializado na
condução do potencial de ação.
FASE 1
Nesta rápida e transitória repolarização, após a despolarização inicial, está relacionada à abertura
do canal de K+ (representado pela abreviatura Ito1), que por sua vez é ativado por despolarização.
FASE 2
Também considerada como a fase de platô, nesta fase ocorre o equilíbrio das correntes
Cl–). Assim, o fluxo efetivo de carga (somatório de cargas que entram e saem da célula) durante
esta fase é muito pequeno, razão pela qual o potencial transmembrana permanece relativamente
estável. As correntes despolarizantes presentes nesta fase incluem a corrente de ICaL, o
componente não inativável ou de inativação lenta de INa, além da corrente de influxo carreada
despolarização da Fase 0. Assim, durante o platô, ele permanece fechado, contribuindo para
diminuir a corrente de efluxo, mantendo a membrana despolarizada.
FASE 3
A fase de repolarização rápida final ocorre em decorrência de uma predominância de correntes de
efluxo, uma vez que as correntes de influxo presentes durante o platô diminuem
estimulada pela despolarização da Fase 0, que promove um grande efluxo de K+, acarretando
rápida repolarização. Este fenômeno permite a reabertura do canal IK1, responsável por contribuir
para o processo de repolarização. Por todos estes motivos, a Fase 3 é considerada a fase
determinante da duração do potencial de ação.
FASE 4
Quanto ao comportamento do potencial de ação, nesta fase há novamente um equilíbrio entre as
correntes de efluxo e influxo, de modo que o saldo é uma corrente efetiva nula, como já vimos na
Fase 2.
Nos dois sistemas, a inervação é realizada por neurônios efetores que se situam antes da cadeia
simpática, os neurônios pré-ganglionares. Estes originam as fibras pós-ganglionares que
estabelecem as sinapses com os órgãos-alvo. Os neurônios pré-ganglionares são ativados
previamente por conexões diretas de neurônios situados no sistema nervoso central.
Os efeitos do sistema nervoso simpático sobre a musculatura cardíaca são mediados pelos
receptores adrenérgicos do subtipo β1. Já a inervação parassimpática atua diminuindo a
frequência cardíaca, assim como reduz a contratilidade e a pressão arterial através da interação
da acetilcolina com os receptores muscarínicos do tipo 2 (M2).
ATENÇÃO
No coração, ambos os sistemas simpático e parassimpático têm atividade tônica, isto é, as fibras
pós-ganglionares desses sistemas apresentam potenciais de ação contínuos, com liberação
mantida de seus respectivos neurotransmissores. Assim, podemos dizer que a frequência
cardíaca de um indivíduo a cada instante é o resultado do efeito excitatório simpático e do efeito
inibitório parassimpático.
Além do seu importante papel no controle do ritmo cardíaco, o sistema nervoso autônomo é
bastante eficiente no monitoramento rápido da perfusão sanguínea para os tecidos. Para isto, o
sistema nervoso autônomo recebe informações de sensores localizados nos vasos sanguíneos
(barorreceptores) sobre a quantidade de sangue que o coração está bombeando por minuto
(débito cardíaco).
Considerando o sistema cardiovascular um sistema de tubos fechados, para que o coração seja
capaz de bombear certa quantidade de sangue por minuto ele precisa receber a mesma
quantidade das veias, fenômeno este denominado retorno venoso. Sendo assim, o sistema
nervoso autônomo promove o controle da função miocárdica, visando a manutenção do débito
cardíaco e do retorno venoso para garantir níveis adequados de oxigênio e nutrientes para os
tecidos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
I) NÓ SINOATRIAL
II) NÓ ATRIOVENTRICULAR
III) FEIXE DE HIS
IV) FIBRAS SUBENDOCÁRDICAS
A) III, II, I e IV
B) I, II, III e IV
C) I, III, II e IV
D) IV, III, II e I
E) I, III, IV e II
2. O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO REGULA OS BATIMENTOS
CARDÍACOS ATRAVÉS DOS RAMOS SIMPÁTICOS E PARASSIMPÁTICOS.
ASSINALE A OPÇÃO QUE MELHOR EXPLICA ESSE PROCESSO:
D) A estimulação simpática reduz os batimentos cardíacos pela estimulação dos receptores β1.
GABARITO
I) Nó sinoatrial
II) Nó atrioventricular
III) Feixe de His
IV) Fibras Subendocárdicas
O controle do ritmo cardíaco pode ocorrer pelos mecanismos intrínsecos (sistema de condução) e
extrínsecos (sistema nervoso autonômico). No sistema de condução, os impulsos nervosos
percorrem o nodo sinoatrial; em seguida o estímulo é deflagrado para o feixe de His e, por fim, nas
fibras endocárdicas de Purkinje.
De modo geral, o sistema nervoso simpático estimula o aumento da contratilidade cardíaca assim
como a velocidade de contração do miocárdio, aumentando a frequência cardíaca. Isto se dá pela
ação da norepinefrina nos receptores β1. O sistema nervoso parassimpático, por sua vez,
desempenha um papel inverso através da interação da acetilcolina com os receptores
muscarínicos do tipo 2 (M2).
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
A perfusão adequada de sangue para os tecidos se dá pela força de contração que o coração é
capaz de exercer (contratilidade), quer a pessoa esteja em repouso ou desenvolvendo diferentes
atividades diárias. Por isso, o coração é responsável por garantir que a quantidade de sangue
bombeada por minuto no compartimento arterial (débito cardíaco), bem como seu retorno de volta
ao coração pelas veias (retorno venoso) sejam eficientes.
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ATENÇÃO
O sinal para a contração do miocárdio atrial e ventricular é originado pelas células autoexcitáveis
provenientes do sistema de condução do nó sinoatrial e do atrioventricular, porém pode ser
modulado pelo sistema nervoso autônomo. Visualizando as características estruturais, o músculo
cardíaco é estriado, mas difere bastante do músculo estriado esquelético não somente em relação
à estrutura, como também em sua função.
1 - As fibras do músculo estriado cardíaco são menores que as do músculo estriado esquelético;
3 - Essas junções permitem que ocorra o transporte de íons de célula para célula. Por isso,
quando uma célula é estimulada, todas as outras são estimuladas quase que simultaneamente
(motivo pelo qual o coração é considerado um sincício funcional);
músculo esquelético, fazendo com que o músculo cardíaco dependa do Ca2+ extracelular durante
o fenômeno da contração muscular;
5 - O músculo cardíaco consome cerca de 75% do oxigênio que chega a ele, isto se deve ao fato
do alto número de mitocôndrias no citoplasma (ocupam cerca de 40% do volume celular).
Quando ocorre o aumento da necessidade de oxigênio pelo miocárdio (como durante o exercício
físico), o coração consome quase todo o oxigênio que chega pelas artérias coronárias. Por este
motivo, o aumento do fluxo sanguíneo pelo miocárdio é o principal mecanismo que garante mais
oxigênio para o músculo cardíaco nessas condições.
Quando o fluxo sanguíneo miocárdico reduz devido ao estreitamento de um vaso coronário ou de
algum de seus ramos (Figura 21), como ocorre na doença arterial coronariana, as células
miocárdicas podem ser comprometidas ou até mesmo lesionadas, caracterizando o infarto do
miocárdio.
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Figura 21: Progressão da doença arterial coronariana.
ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO NO
CORAÇÃO
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Figura 22: Etapas do acoplamento excitação-contração do miocárdio.
NÚMERO 1 / NÚMERO 2
Com o início do potencial de ação (Figura 22, número 1) e seu tráfego pela membrana do músculo
estriado cardíaco, ocorre a abertura dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem tipo L (IcaL) na
membrana celular (Figura 22, número 2). O Ca2+ entra nas células através desses canais,
NÚMERO 3
À medida que ocorre a entrada de Ca2+ para o interior da célula, ele promove a abertura dos
liberação de Ca2+-induzida pela entrada de Ca2+ através da membrana. Quando os canais RyR2
se abrem, o Ca2+ estocado é liberado para o citoplasma da célula, neste momento o Ca2+ irá
desempenhar o papel no acoplamento excitação-contração, promovendo a contração do
miocárdio.
NÚMERO 4
A liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático fornece cerca de 90% do Ca2+ que é necessário
para contração muscular, e os outros 10% entram na célula a partir do líquido extracelular. O Ca2+
difunde-se pelo citosol para as proteínas contráteis, onde se liga à troponina C e inicia a interação
e o movimento das pontes cruzadas (Figura 22, número 4).
NÚMERO 5
Durante o relaxamento do miocárdio, a maior parte do Ca2+ liberado durante a contração precisa
ser removido do citoplasma para que a interação entre as pontes cruzadas seja desfeita. A maior
parte do Ca2+ é transportada de volta para o retículo sarcoplasmático (cerca de 70%) com o
auxílio de uma bomba, a Ca2+-ATPase do tipo 2 (SERCA2) (Figura 22, número 5). A outra parcela
de Ca2+ que foi liberada durante a contração é removida para fora da célula pelo trocador
Cabe ressaltar que esta análise é realizada nas câmaras esquerdas do coração.
CONTRAÇÃO ATRIAL
O ciclo cardíaco inicia-se com a excitação atrial, com o surgimento da onda P no registro
eletrocardiográfico (ECG). A elevação da pressão atrial durante a contração origina a onda a
(Figura 23). Embora os átrios estejam se contraindo neste momento, o enchimento ventricular
ocorre antes desta fase, basta notar a curva de volume ventricular (vermelha) que sofre pequena
elevação com a contração atrial.
Outra observação importante é a diminuição progressiva da pressão aórtica durante a diástole
ventricular, isto porque o sangue flui dos grandes vasos arteriais em direção aos tecidos.
A explicação está relacionada com o fato de que a maior parte do enchimento ocorre, de modo
passivo, simplesmente pela abertura das valvas atrioventriculares. No entanto, quando a
frequência cardíaca está elevada, o período da fase diastólica reduz bastante. Nestas condições,
a contração atrial passa a exercer um papel importante para o enchimento ventricular. Agora,
observe a curva de volume ventricular (Figura 23, curva vermelha). Note que nesta fase o volume
ventricular atinge seu máximo valor ao final do período diastólico, por isso é chamado de volume
diastólico final.
A elevação da pressão atrial, representada pela onda c, ocorre em função da interrupção do fluxo
sanguíneo do átrio para o ventrículo esquerdo (Figura 23). Observe que neste momento, a valva
mitral e a aórtica encontram-se fechadas. Sendo assim, a sístole ventricular ocorrerá sem redução
do volume no ventrículo esquerdo (esta fase da sístole é denominada contração isovolumétrica
ventricular).
Inicialmente, observamos que ocorre o aumento da pressão ventricular (curva azul) e o declínio da
curva de volume ventricular (curva vermelha). Como a entrada de sangue na aorta ocorre mais
rapidamente do que a passagem deste para as artérias menores, a pressão aórtica, que antes
estava em reduzida (80 mmHg), agora aumenta até atingir um valor máximo (cerca de 120
mmHg), próximo da metade do tempo de ejeção ventricular (Figura 23). Isto ocorre durante a
sístole ventricular, por isso a pressão máxima é referida como pressão arterial sistólica.
Ao final da sístole, a pressão ventricular encontra-se menor que a pressão aórtica, mas a ejeção
continua, com fluxo menor que na fase inicial. A ejeção é mantida pela alta aceleração do sangue
pela contração ventricular na fase anterior. A partir daí, ocorre uma queda rápida da pressão
ventricular esquerda. Isto resulta no fechamento da valva aórtica, terminando o período de sístole
e a ejeção ventricular. No momento em que ocorre o fechamento da valva aórtica, note o
surgimento da segunda bulha cardíaca no fonocardiograma (Figura 23).
Você irá perceber que, mesmo ao final da sístole ventricular, nem todo volume contido no
ventrículo esquerdo é lançado para a aorta, restando um certo volume de sangue no ventrículo ao
final da sístole. Este volume é chamado de volume sistólico final.
Nota Clínica: A fração de ejeção é uma variável importante para o diagnóstico clínico da
insuficiência cardíaca, uma vez que pacientes com insuficiência cardíaca congestiva
apresenta valores inferiores a 40%.
Quando a pressão ventricular (esquerda) fica mais elevada que a pressão intraventricular, a
válvula mitral se abre (a válvula aórtica continua fechada) e termina a fase de relaxamento
ventricular isovolumétrica.
Nesta fase, ocorre a segunda bulha cardíaca, cujo som é provocado, em grande parte, pelo
contato do sangue nas valvas semilunares (aórtica), já que o sangue tenta voltar para o ventrículo
esquerdo pela grande redução de pressão nesta câmara.
ENCHIMENTO VENTRICULAR (RÁPIDO E LENTO)
Com a abertura da valva atrioventricular esquerda (bicúspide), o sangue é transportado do átrio
esquerdo em direção ao ventrículo esquerdo e, à medida que a pressão atrial se estabiliza, ocorre
a contração atrial. Por este motivo os átrios contribuem com apenas cerca de 25% do volume
ventricular.
O enchimento ventricular ocorre de maneira bem rápida no início, porque o gradiente de pressão é
mais elevado nesta fase inicial, favorecendo a passagem do sangue da cavidade atrial para a
ventricular. O enchimento rápido recebe grande influência da perda de tensão na parede
ventricular no início da diástole, que depende tanto da eficiência do processo de relaxamento
muscular como da complacência da câmara.
Assim, esse componente passivo de enchimento ocorre em menor proporção nas câmaras mais
rígidas ou menos complacentes, caracterizando a disfunção diastólica.
À medida que o gradiente pressórico através da valva atrioventricular diminui, na fase média da
diástole, a velocidade de enchimento se reduz. Simultaneamente, a pressão aórtica continua
caindo lentamente até atingir um valor mínimo no final da diástole (pressão arterial diastólica).
O CICLO CARDÍACO
Assista ao vídeo que demonstra as fases do ciclo cardíaco desde a contração atrial até o
enchimento ventricular lento.
Pensando nisso, basta pegar os valores referentes ao volume sistólico (quantidade de sangue
ejetada pelo ventrículo em cada contração, que em uma pessoa em repouso é aproximadamente
de 70 a 80 ml de sangue) e multiplicar pela frequência cardíaca, que representa o número de
batimentos cardíacos durante um minuto. Desta forma, o débito cardíaco pode ser calculado pela
seguinte equação:
Na prática, imagine que em repouso sua frequência cardíaca esteja com um ritmo de 70
batimentos por minuto e seu volume sistólico seja equivalente a 70 ml, assim, seu débito cardíaco
será de 4.900 ml/min ou, aproximadamente, 5 l/min. Por isso assume-se que o débito cardíaco em
repouso de uma pessoa saudável seja equivalente a 5 l/min.
Lembrando o que foi dito na Nota Clínica anterior sobre a fração de ejeção em pacientes
com insuficiência cardíaca congestiva, por que esse diagnóstico padronizado quando a
pessoa possui o valor inferior a 40%?
Diversos estudos demonstraram que abaixo de 40% de fração de ejeção o débito cardíaco em
repouso não consegue manter o valor mínimo de 5 l/min, levando a limitações orgânicas sérias.
Nestas condições, pode-se dizer que a pessoa possui insuficiência cardíaca descompensada.
Mas não é tão simples assim, porque nem sempre aumentos da frequência cardíaca ou do volume
sistólico irão promover aumentos no débito cardíaco. Isto porque o volume sistólico não consegue
se manter estável quando ocorre um grande aumento da frequência cardíaca.
EXEMPLO
Durante uma taquicardia (batimentos acima de 100 bpm em repouso), o intervalo entre os dois
batimentos cardíacos diminui, provocando uma redução no tempo de diástole. Assim, você pode
chegar à conclusão de que o tempo de enchimento ventricular diminui e o volume diastólico final
também ser reduz. Por este motivo, a redução do volume diastólico final e do volume sistólico
promoverá redução ou estabilização do débito cardíaco (Figura 24).
O volume sistólico possui um papel importante no controle do débito cardíaco e pode sofrer
influência de três fatores:
Nesses três exemplos, ocorre o aumento do volume diastólico final, ou aumento da pré-carga. Tal
fenômeno aumenta a força elástica do coração, promovendo assim o aumento da força contrátil e
do débito cardíaco.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DURANTE O PROCESSO DE CONTRAÇÃO DO MÚSCULO CARDÍACO,
EXISTEM ALGUNS ASPECTOS QUE DIFEREM DO MÚSCULO ESTRIADO
ESQUELÉTICO. NAS ALTERNATIVAS ABAIXO, MARQUE AQUELA QUE
REPRESENTA O PROCESSO DE ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO
CARDÍACO:
A) Para a interação e o deslizamento entre as pontes cruzadas, é necessário que a célula possua
íons cálcio (Ca2+) e ATP, para que ocorra a interação e o deslizamento dos miofilamentos
(proteínas contráteis).
C) Para que o Ca2+ seja liberado do retículo sarcoplasmático, é necessária a presença de sódio.
D) Durante a fase diastólica, a maior parte do Ca2+ que foi liberado do retículo sarcoplasmático sai
da célula pelo trocador NCX presente na membrana celular.
E) É fundamental que a célula possua íons de hidrogênio e ATP para que ocorra a interação e o
deslizamento dos miofilamentos.
A) A pré-carga representa a pressão arterial, pois quando a pressão arterial aumenta, ocorre o
aumento da pré-carga.
B) O aumento da resistência vascular periférica pode ocorrer pela venoconstrição que, por sua
vez, promove a redução do débito cardíaco.
C) A contração muscular é responsável pela compressão das veias, também denominado como
bomba muscular. Este fenômeno é responsável pelo aumento do retorno venoso (pré-carga) e do
débito cardíaco.
GABARITO
músculo esquelético, no coração a entrada de ca2+ libera ca2+ do retículo sarcoplasmático e, com
isto, ocorre a interação entre os miofilamentos que acarretará a contração muscular. Por este
2. Sabemos que o débito cardíaco, retorno venoso e pressão arterial são parâmetros
importantes referentes à hemodinâmica do sistema cardiovascular. Sobre estas variáveis
podemos afirmar que:
INTRODUÇÃO
A redistribuição de sangue para diferentes compartimentos corporais é importante não somente
para a oferta aos tecidos, mas também para a regulação da temperatura corporal denominada
como termorregulação.
Quando mensuramos nossa temperatura (próximo de 37°C) com um termômetro, temos uma
estimativa da temperatura interna, pois a temperatura externa normalmente é inferior (Figura 25).
A condução está relacionada com a transferência de calor do corpo para as moléculas presentes
nos objetos que entram em contato direto com a superfície corporal. Geralmente, o corpo perde
somente pequenas quantidades de calor em decorrência desse processo. Um exemplo para esse
mecanismo é a transferência de calor do corpo para uma cadeira de metal. Quando uma pessoa
permanece sentada, o fenômeno ocorre enquanto a cadeira estiver mais fria do que a superfície
corporal que está em contato.
A convecção é uma forma de transferência de calor pelo contato das partículas de ar e da água
com a superfície corporal. Quando isto ocorre, o calor da superfície corporal se dissipa para o
meio ambiente. De modo prático, a utilização de um ventilador desloca grandes quantidades de ar
na superfície corporal, acarretando a perda de calor. Deste modo, a eficiência desse mecanismo
depende da velocidade do fluxo de ar em contato com a superfície corporal. De maneira
semelhante, a exposição da pessoa em água fria e em movimento resulta em uma grande perda
de calor, também por convecção. Cabe lembrar que a água possui uma força convectiva cerca de
25 vezes maior do que a apresentada pelo ar a uma mesma temperatura.
Em seguida, os estímulos são enviados primeiro para a medula espinhal (coluna dorsal, DH) e, em
seguida, para o núcleo parabraquial (LPB). Observe que os estímulos referentes ao frio são
direcionados para a região externa lateral (LPBel, em azul) e os relacionados ao calor, para a
região direita deste núcleo (LPBd, em vermelho).
Na sequência, esses estímulos são direcionados para a área pré-óptica mediana (MnPO). Nesta
região, neurônios excitatórios (glutamatérgicos, GLU em verde) ou inibitórios (GABAérgicos,
GABA em vermelho) são projetados para a área pré-óptica medial (MPO).
MÚSCULO ESQUELÉTICO
ATENÇÃO
Este último, especialmente, é recrutado durante o frio e desencadeia o fenômeno dos tremores.
Como nosso foco está voltado para o centro cardiovascular, veremos o que irá acontecer a partir
daqui. Nesta área, existem núcleos que são excitados com estímulos provenientes do calor e do
frio:
CALOR
Durante o calor (CVC, em vinho), os núcleos são estimulados – mas perceba que esses núcleos
liberam o neurotransmissor inibitório GABA para os núcleos da rafe (rRPa). Neste sentido, os
neurônios inibitórios projetados para os núcleos da rRPa irão inibir neurônios estimulantes,
responsáveis pela liberação de glutamato (GLUT). Os neurônios glutamatérgicos dessa região
(rRPa) se projetam para a cadeia simpática ou intermediolateral, responsáveis pela regulação da
atividade simpática e controle da resposta cardiovascular ao calor.
À medida que os neurônios excitatórios (GLUT) da rafe são inibidos, os neurônios pós-
ganglionares simpáticos irão diminuir a resposta simpática para os vasos na região cutânea,
acarretando a vasodilatação nesta região que ajudará no mecanismo de evaporação e evitará
que ocorra o aumento da temperatura central (hipertermia).
FRIO
Durante o frio, neurônios inibitórios irão se projetar até o centro cardiovascular e, em seguida,
deixarão de inibir os neurônios excitatórios localizados nos núcleos da rRPA. Assim, os estímulos
excitatórios provenientes da rRPA irão aumentar a atividade dos neurônios pós-ganglionares
simpáticos e, como consequência, promoverão vasoconstrição na região cutânea.
Por este motivo, durante o frio, o fluxo sanguíneo na região cutânea reduz e a pessoa se
apresenta pálida. Isso ocorre para redirecionar o sangue para a região central e conservar o calor
do corpo, evitando assim a hipotermia.
Outros fatores podem interferir no mecanismo de termorregulação. Entre eles, a umidade relativa
do ar e a velocidade do vento. Este último contribui com a perda de calor relacionada à convecção
do ar. A umidade relativa do ar pode ser representada como o percentual de vapor de água
contido no ar.
EXEMPLO
A umidade relativa do ar de 40% indica que o ambiente contém apenas 40% da umidade que é
capaz de sustentar. Ou ainda, quando a umidade relativa do ar se encontra a 80%, significa que
apenas mais 20% de umidade podem ser absorvidos pelo ar que nos rodeia. A umidade relativa
do ar de 40% com temperatura de 22°C indica risco baixo no índice de estresse causado pelo
calor (baixa sensibilidade térmica), enquanto a umidade relativa de 80% numa condição térmica
de 33°C apresenta alto risco de estresse térmico (alta sensibilidade térmica).
Quando ocorre o aumento do débito cardíaco e da pressão arterial, essas artérias são
excessivamente dilatadas ocasionando deformações. Quanto maior for a deformação do arco
aórtico e das artérias carótidas, maior será a frequência de disparo através desses
mecanorreceptores.
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Figura 27: Mecanismo de regulação da pressão arterial pelos barorreceptores arteriais.
Quando ocorre a elevação da pressão arterial, os barorreceptores são ativados e enviam impulsos
nervosos para o tronco cerebral, especificamente para o núcleo do trato solitário, informando
sobre a elevação da pressão arterial (deformação das artérias).
A resposta efetora desencadeada por estes centros nervosos promove a redução da frequência
cardíaca, do volume sistólico, da resistência periférica e do retorno venoso. Como consequência, o
débito cardíaco reduzirá promovendo a redução da pressão arterial.
A angiotensina I não possui atividade biológica tão relevante e o seu aumento leva à formação de
um octapeptídeo, denominado de angiotensina II. A reação de conversão da angiotensina I para
angiotensina II é catalisada pela ação da enzima conversora de angiotensina (ECA), que é
expressa em altas concentrações pelo endotélio da circulação pulmonar (Figura 28).
Fonte: Shutterstock.com
Figura 28: Organização do sistema renina-angiotensina-aldosterona e suas influências no
sistema cardiovascular.
A ação da angiotensina II, via receptor AT1-R, está acoplada à proteína Gq qu,e por sua vez, ativa
a fosfolipase C-beta (PLCβ). A PLCβ ativada age sobre o fosfatidilinositol 4,5-bifosfato (PIP2)
transformando-o em dois subprodutos: inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) e o diacilglicerol (DAG).
sarcoplasmático, promovendo a liberação de Ca2+ desta organela, que ativa uma proteína cinase
C (PKC). A PKC promove a fosforilação da proteína cinase ativada por mitógeno (MAPK) que, por
sua vez, promove a ativação de outras cinases, tais como: cinase p38, cinase reguladora de sinal
extracelular (ERK), cinase c-jun terminal (JNK), janus cinase e transdutores de sinal e ativadores
de transcrição (JAK/STAT). Todas essas cinases ativam e aumentam a expressão de fatores de
transcrição (ATF2, ATF6, c-Jun, Elk1, GATA4 e MEF2) que participam da regulação da proliferação
e do crescimento celular, desencadeando hipertrofia cardíaca.
ATENÇÃO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Ação do núcleo do trato solitário, que aumenta a taxa de impulsos para os núcleos do sistema
parassimpático. Assim, a resposta efetora ao coração diminui a frequência cardíaca, volume de
ejeção, retorno venoso, contratilidade e aumenta a capacitância venosa para diminuir a pressão
arterial.
C) Redução da secreção de renina nos rins e, como consequência final, ocorre aumento da
retenção de sódio e água; e tal mecanismo aumenta a pressão arterial a longo prazo.
O sistema barorreceptor é o sistema mais rápido no controle da pressão arterial. Quando aumenta
a PA, aumenta o número de impulsos pelo núcleo do trato solitário. Como consequência, os
neurônios do sistema nervoso periférico aumentam a frequência de disparos para os órgãos
efetores, visando a redução da pressão arterial e a inibição do sistema nervoso simpático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que o sistema cardiovascular se organiza, a fim de garantir a oferta de oxigênio e nutrientes
para os tecidos através de uma complexa rede de integração de diferentes estruturas. Deste
modo, há necessidade da manutenção de forma equilibrada do controle do ritmo cardíaco.
Assim como outros órgãos, o coração depende da propagação de potencial de ação. No entanto,
trata-se de uma estrutura capaz de gerar esse estímulo de forma intrínseca, o que lhe confere
uma característica peculiar. Apesar dessa singularidade, fatores extrínsecos desempenham um
papel de controle do ritmo cardíaco: o sistema nervoso autônomo através da ação dos ramos
simpáticos e parassimpáticos.
Quando atuam de forma integrada, essas estruturas repercutem no débito cardíaco, no retorno
venoso, na pressão arterial e em outras variáveis fisiológicas visando a manutenção da
homeostase.
De posse desses conteúdos, você terá subsídios para compreender o corpo humano
integralmente, associando o funcionamento do sistema cardiovascular aos outros sistemas de
controle. Esse conhecimento é fundamental para a atividade profissional na área de Saúde.
REFERÊNCIAS
AIRES, M.M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
GUYTON, A.C & HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
THORACIC KEY. The Cardiac Action Potential. Consultado em meio eletrônico em: 25 nov.
2020.
EXPLORE+
Para estudo complementar, recomendamos os seguintes livros:
CONTEUDISTA
Silvio Rodrigues Marques Neto
CURRÍCULO LATTES