Coisas Português 11ano
Coisas Português 11ano
A primeira cena diz respeito a uma reflexão de D. Madalena sobre um trecho da obra de
Luís de Camões, “Os Lusíadas”. Nesse excerto, faz-se a alusão à história de amor entre
dona Inês e Dom Pedro, o que indicia, desde logo, a desgraça do casamento de D.
Madalena com Manuel de Sousa Coutinho.
Cena 1 - O ato I inicia-se na cena 1 com dona Madalena, sozinha, a proclamar um
trecho, que refere a felicidade que iria durar pouco e o sofrimento regressaria.
Ato 1
D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer quibir. D. Madalena fez todos os
esforços para o encontrar durante 7 anos, ao fim dos quais se casou com Manuel de
Sousa Coutinho. Este casamento durava há 14 anos, do qual nasceu uma filha, Maria.
Esta menina apresenta uma saúde frágil, pois é vítima de tuberculose.
Dona Madalena é muito dada a presságios, já que teme o regresso do seu primeiro
marido, de cuja morte nunca obteve confirmação. Estes pressentimentos são reavivados
por Telmo, que continua a acreditar no regresso de D. João de Portugal. Manuel de
Sousa Coutinho, ao regressar de Lisboa, pede a família para se preparar, uma vez que se
vão mudar para o Palácio que D. João. no final do ato, Manuel de Sousa incendeia o seu
Palácio para evitar que os governadores espanhóis se instalem na sua casa.
Ato 2
Maria quer conversar com Telmo, na expectativa deste lhe revelar a identidade do
retrato que assustava a mãe (linhas 12-41);
Com o incêndio do Palácio, Maria ficou fascinada, e encontrou neste incêndio uma
oportunidade de usar a sua fértil imaginação (linhas 54-67);
Por outro lado, Madalena ficou doente, aterrorizada, cheia de pesadelos, associa este
incêndio à perda do marido (linhas 70-75);
Cita o início de um livro trágico (pressentimento de fatalidade) (linha 118);
Na presença dos retratos, 3 fascinam Maria. Ela já conhece 2, mas quer confirmar o de
D. João de Portugal (linhas 90-100);
Maria recorda o que aconteceu 8 dias antes, que tanto perturbou a mãe que a deixou
doente (linhas 90-100);
Maria ficou curiosa com as atitudes estranhas da mãe perante o retrato (linhas 90-100);
Telmo anteriormente admitia as qualidades do Manuel de Sousa, mas não o admirava,
Mas depois admirou-o pelo seu patriotismo e lealdade (linhas 119-145);
Telmo não responde a Maria, quando esta lhe questiona em identidade do retrato (linhas
153-157);
O hábito que não faz o monge- significa que não é por usar o revestimento de monge
que tem de ser monge ou boa pessoa
Romantismo
O herói a desequilibrado, impetuoso, insatisfeito, melancólico, revoltado, Herói que
procura evadir-se no sonho, no tempo e no espaço; herói fatal que traz a perdição a
quem o ama, por vezes, suicida.
Apresenta uma nova visão da mulher: anjo redentor ou demónio que leva à perdição
(mulher fatal); quase sempre vítima do herói fatal.
▪ Espaço social:
- aristocracia/nobreza abastada: sala (de um palacete ou solar) ampla e decorada de forma
moderna, requintada, luxuosa e rica (um quadro, mobília elegante e moderna,
porcelanas, etc.);
- família culta e instruída (a presença de livros);
- religiosa (retrato de cariz religioso).
▪ Atmosfera sugerida:
. felicidade e harmonia:
- a luminosidade e a abertura ao exterior (as duas grandes janelas rasgadas);
- as sugestões cromáticas (o verde, o branco, o azul do rio, as flores, etc.);
- a liberdade de movimentação das personagens (as duas portas);
. esta sensação de felicidade poderá ser aparente e pouco duradoura, se atentarmos na
incompletude das “obras de tapeçaria meias feitas”.
Cena I
2.ª parte (de, “Mas eu…” até ao final do monólogo): D. Madalena reflete sobre a
sua situação e revela o seu estado de espírito, marcado pela angústia, pelo medo e
“contínuos terrores”. O que marca a divisão entre os dois momentos da cena é a
conjunção coordenativa adversativa, «mas», que possui o valor de oposição,
contraste.
Cena II
▪ D. Madalena:
- nobre: a designação dona só se dava na época às senhoras da aristocracia;
- receosa e hesitante no que quer dizer a Telmo;
- critica o ascendente do aio sobre si e, sobretudo, Maria, pedindo-lhe que não insista
nesse ascendente;
- casou muito jovem com D. João de Portugal;
- enviuvou com 17 anos;
- procurou exaustivamente D. João, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, durante 7
anos;
- terá 38 anos: a batalha de Alcácer Quibir ocorreu há 21 anos, tinha ela 17; o seu segundo
casamento teve lugar 7 anos depois, teria ela 24; casou pela segunda vez há 14; Maria
tem 13;
- vive constantemente atormentada e aterrorizada pelo passado e pelos agouros de Telmo,
que lhe mantém esse passado bem vivo, ou seja, a dúvida de que D. João não morreu e
pode voltar a qualquer momento, o que destruiria o seu casamento e tornaria Maria uma
filha ilegítima, por isso não consegue ser feliz, já que não se consegue libertar desse
medo;
- não amou D. João, mas respeitou-o sempre;
- é profundamente apaixonada por Manuel de Sousa;
- sente-se vítima do destino;
- a contradição entre a felicidade aparente e a desgraça íntima que revela uma consciência
moral atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente de D. João de
Portugal e pelo remorso proveniente da consciência de pecado – de facto, a personagem
sente-se culpada por ter casado com Manuel de Sousa, sem ter a certeza acerca da morte
do primeiro marido;
- revela, na última fala da cena, a tendência para o devaneio, o que já acontecera na
primeira cena e está de acordo com a tendência romântica e a extrema sensibilidade da
sua alma.
▪ Telmo Pais:
- não possui nobreza de sangue, mas está intimamente ligado à aristocracia pelo modesto
título de escudeiro;
- manifesta ideias reformistas ao condenar o uso do latim na Bíblia (posição dos
Protestantes);
- o seu verdadeiro senhor continuar a ser D. João, primeiro marido de D. Madalena, dado
como morto na batalha de Alcácer Quibir (“… não sei latim como o meu senhor…
quero dizer, como o sr. Manuel de Sousa Coutinho…”);
- possui grande ascendente sobre Maria e D. Madalena;
- é o confidente de D. Madalena, a quem reprova o segundo casamento;
- nas palavras de D. Madalena, é “… o aio fiel de meu senhor D. João de Portugal…”,
digno “… da confiança, do respeito, do amor e do carinho…” de todos e “o escudeiro
valido, o familiar quase parente, o amigo velho e provado de teus amos…”;
- era o aio de D. João, a quem queria como “filho”; é-o também de Maria, a quem “… ao
princípio não podia ver”, mas ela acabou por o cativar: “quero-lhe mais que seu pai” – a
sua não aceitação inicial era originada por ela ser fruto do casamento de Madalena e
Manuel de Sousa, que Telmo via como uma traição a D. João, cuja morte não aceita;
porém, com o passar dos anos, a formosura e bondade de Maria cativaram-no de tal
modo que agora afirma ter-lhe mais amor do que os próprios pais;
- foi “carinho e proteção” e amparo de D. Madalena quando esta enviuvou;
- atormenta-a com os seus constantes agouros, presságios e acusações – é a lembrança
viva e permanente do «remorso» oculto e recalcado na consciência de D. Madalena;
- ama profundamente Maria, como se constatará no ato III, pretendendo ter-lhe mais amor
do que os próprios pais;
- não aprova o segundo casamento de D. Madalena e atormenta-a com insinuações,
agouros, profecias (como, por exemplo, a da carta de D. João de Portugal, escrita na
madrugada da batalha de Alcácer Quibir, onde afirmava: “vivo ou morto, Madalena,
hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo” – se não voltou, é porque está
vivo; além do mais, D. João nunca deixaria de cumprir a sua palavra;
- atormenta-a também com ciúmes póstumos, por conta de D. João: é isto que explica as
prevenções de Telmo em relação a Manuel de Sousa e a sua aversão inicial por Maria;
- começa a ser visível a sua divisão entre o amor a D. João e o amor a Maria
(fragmentação que será confirmada na cena V do ato III): sendo tão amigo dela e
pretendendo ter-lhe tanto amor, sustenta uma crença que, a concretizar-se, significaria a
morte da jovem;
- é sebastianista:
- crê que os eu antigo amo não morreu;
- acredita no regresso de D. Sebastião e, consequentemente, de D. João;
- funções ou papéis que desempenha:
- coro:
- alimenta o sebastianismo;
- anuncia desgraças próximas;
- profere contínuos agouros;
- comenta a ação dramática, predizendo o seu desfecho trágico,
através seus presságios e agouros;
- alimenta a presença de um passado, um tempo que D. Madalena quereria
enterrar, mas não consegue, ou não a deixam;
- confidente de D. Madalena;
- leva à revelação dos pensamentos das outras personagens;
- os seus apartes revelam as dúvidas que possui relativamente à morte de D. João, bem
como a sua intenção de salvar Maria de uma desgraça que considera iminente.
▪ Maria:
- nobre:
- a designação de “dona”;
- o apelido “Noronha” indicia alta estirpe (“é sangue de Vilhenas e de Sousas”);
- o seu nome evoca o da Virgem Maria: é pura e angélica (Madalena e Telmo apelidam-
ma de anjo) – configura a imagem da mulher-anjo dos românticos, contrastando com
D. Madalena;
- tem 13 anos;
- é alta;
- é precoce, tanto física (“Tem treze anos feitos… está uma senhora…”) como
psicologicamente: “… em tantas outras coisas tão altas, tão fora de sua idade, e muitas
de seu sexo também…”; “Maria tem uma compreensão…”;
- é curiosa (“… aquela criança está sempre a querer saber, a perguntar”) e perspicaz (“tão
perspicaz”);
- é bondosa (“um anjo como aquele… e então que coração!”);
- dotada de espírito vivo (“uma viveza, um espírito!”);
- é sonhadora;
- possui uma imaginação muito fértil;
- segundo D. Madalena, é dotada de “Formosura e engenho, dotes admiráveis daquele
anjo”.
▪ Manuel de Sousa Coutinho:
- nobre: “… o retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está” (o ingresso na Ordem
de Malta era limitado aos membros da aristocracia, aos quais se exigia certificado de
nobreza);
- o seu nome é bíblico: é um dos nomes do Messias (Emanuel) e significa “Deus
connosco”, significado que se adequado à personagem, dado(a):
- a boa-fé com que se casou com D. Madalena, viúva;
- a tranquilidade e a paz de espírito que daí lhe adivinha, revelada:
- na resposta aos melindres de Madalena por ter de regressar ao lar onde
vivera com D. João (I, 8);
- na vivência cristã da graça de Deus pela contrição do coração (II, 3);
- pelo contentamento de viver e conviver com os frades de S. Domingos como
de portas adentro, quase no início da mesma cena;
- no desapego dos bens materiais, “coisas tão vis e tão precárias”;
- no desamor pela própria vida (“vida miserável que um sopro pode apagar” – I,
11);
- nas palavras de Telmo:
- “fidalgo de tanto primor e de tão boa linhagem, como os que se têm por
melhores neste reino em toda a Espanha”;
- “é um guapo cavalheiro, honrado fidalgo, bom português”.
Pelo que é dado ler nesta cena, a relação entre estas duas personagens supera em
muito a tradicional ligação entre um criado e o seu senhor. De facto, o escudeiro
apresenta-se mais como um elemento da família de D. Madalena do que enquanto mero
aio, graças aos longos anos passados ao serviço da família (primeiro de D. João e depois
de Manuel de Sousa). Quando ela enviuvou aos 17 anos, foi o seu amparo e quase um
pai, daí a liberdade de que goza quando lida com D. Madalena. Esta respeita-o e
reconhece-lhe alguma autoridade sobre si, seguindo também os seus conselhos como se
fosse sua filha. De igual forma, ele respeita-a e aconselha-a, não obstante, ter sido
contrário ao segundo casamento.
Assim sendo, é natural que a relação (que se foi estreitando ao longo dos anos)
entre ambos seja de grande respeito, amizade, confiança e abertura, como se comprova
ao longo de todo o diálogo, que é motivado pelo pedido que D. Madalena quer fazer ao
seu velho aio: acabar com as conversas sobre o passado com Maria, ligadas à ideia de
que de D. Sebastião está vivo e, por extensão, D. João, facto que, a ser verdade,
acarretaria consequências trágicas para Maria, reduzida então à condição de filha
ilegítima.
E é a questão do passado e da forma como este é alimentado em Maria pelo
escudeiro que perturba a relação. Note-se como Madalena sofre e chora quando Telmo
afirma que a jovem deveria ter nascido “em melhor estado”, pois está claramente a
sugerir que ela era merecedora de ter nascido no seio de uma família constituída por
pais casados legitimamente, sem qualquer sombra a pairar sobre ela, o que não sucede
na perspetiva do aio, dado acreditar que D. João ainda está vivo. A ser assim, a família
seria destruída e Maria uma filha ilegítima, com todas as consequências ao nível da
mentalidade e das convenções sociais da época.
Por isso mesmo, no final da conversa, Telmo reconhece que D. Madalena tem
razão: se continuar a estimular o interesse de Maria pelo passado, com as suas crenças e
agouros, poderá levá-la a descobrir o passado da sua mãe. A ideia de que D. João de
Portugal poderá estar vivo despertaria nela a possibilidade da ilegitimidade e o receio de
tal situação poderia agravar seriamente o seu estado de saúde já tão debilitado.
▪ Os agouros e presságios de Telmo.
▪ Agon:
- de D. Madalena:
. interior, de consciência;
. contínuo;
. crescente;
. com Telmo: apesar de, durante os 7 anos de «viuvez», lhe ter obedecido
como a um pai, D. Madalena não segue o conselho de esperar
o regresso de D. João, anunciado na carta profética, escrita
na madrugada da batalha de Alcácer Quibir;
. com D. João, presente nas conversas com Telmo, testemunha
da «desobediência» de D. Madalena, conversas essas cheias
de reticências, de subentendidos, de duplos sentidos, de
alusões, de agouros, de «futuros», de pressentimentos
de desgraças iminentes;
- de Telmo:
. de consciência: começa a ser evidente o conflito de consciência entre
o desejo do regresso de D. João de Portugal e o amor a Maria;
. com D. Madalena:
- desaprova o seu casamento com Manuel de Sousa, baseado
nos dizeres da carta profética de D. João, escrita na madrugada
da batalha;
- e na superstição (maravilhoso popular) de que, se ele voltasse
e aparecesse a D. Madalena, não se iria embora sem lhe
aparecer também (o que não se tinha verificado);
- daí os “ciúmes”, as alusões, os agouros, os “futuros”;
- o conflito de Telmo com D. Madalena fica sempre sem solução;
. com Maria:
- a princípio, não a podia ver, por causa do seu nascimento em
berço ilegítimo (“Digna de nascer em melhor estado”);
- o conflito com Maria termina, porque ela acabou por o cativar e
ele lhe quer como um pai;
. com Manuel de Sousa:
- apesar das qualidades que lhe reconhece, é, em sua opinião,
inferior a D. João de Portugal;
- por conta deste tem “ciúmes”
- e uma certa aversão, por o considerar um intruso.
Cena III
Para Maria, D. Sebastião é um herói por quem nutre grande admiração e em quem
deposita todas as esperanças para resgatar Portugal das garras do domínio castelhano: “o
nosso bravo rei”, “o nosso santo rei D. Sebastião”, etc.
Cena IV
a. Maria:
. sebastianista fervorosa e nacionalista, crê que D. Sebastião está vivo e vai regressar;
. é uma espécie de porta-voz da sabedoria popular: “Voz do povo, voz de Deus”;
. lê muito (novelas de cavalaria e romances populares);
. manifesta interesse por temas impróprios para a sua idade: romances populares sobre D.
Sebastião e a batalha de Alcácer Quibir;
. sofre ao observar o sofrimento da mãe, que não compreende;
. é bondosa, carinhosa e terna com a mãe;
. muito precoce, possui uma imaginação e curiosidade pouco próprias da sua idade:
“Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são tão pouco para a tua
idade”;
. pensa muito (“passo noites inteiras em claro a lidar nisto”; “a pensar em tudo”): Maria
passa as noites em claro, a rever as suas atitudes e as dos pais, para tentar descobrir as
razões da sua preocupação, por considerar que há algo que não lhe é revelado;
. tem sonhos estranhos, em cuja interpretação revela poderes de profecia: lê nos olhos e
nas estrelas;
. é muito intuitiva;
. é alegre, mas sente-se subitamente invadida por grande tristeza (“uma tristeza muito
grande que eu tenho”): essa tristeza está relacionada com a constante preocupação dos
pais com ela; o seu poder intuitivo e de observação permitem-lhe perceber a
preocupação dos pais com a sua saúde e crenças; quando pergunta à mãe por que razão
o pai não tinha permanecido na Ordem de Malta e deixara o hábito, parece expressar o
desejo de que o pai nunca o tivesse feito, o que corresponderia à sua inexistência; ela
compreende que há algo que lhe escondem;
. é visionária e muito sensível: “não quero sonhar, que me faz ver coisas lindas às vezes,
mas tão extraordinárias e confusas…”;
. possui um conhecimento íntimo de si própria que escapa aos familiares: “O que eu
sou… só eu o sei, minha mãe… E não sei, não: não sei nada, senão que o que devia ser
não sou…”;
. é corajosa, de personalidade forte, destemida e idealista, dotado de caráter varonil,
revelado no desejo de ter um irmão e de resistência aos governadores: “um galhardo e
valente mancebo capaz de comandar os terços de meu pai”; “Tomara eu ver seja o que
for que se pareça com uma batalha!”;
. insurge-se contra as injustiças sociais: “Coitado do povo!”; “… onde a miséria fosse
mais e o perigo maior, para atender com remédios e amparo aos necessitados (cena V);
. Frei Jorge chama-lhe Teodora, nome que significa sábia (cena V);
. é idealista e patriota, manifestando toda a sua vontade de resistir aos governadores:
“Fechamos-lhes as portas. Metemos a nossa gente dentro e defendemo-nos.” (cena VI);
. fica entusiasmada com a notícia trazida pelo pai, dando largas à sua imaginação, ao seu
idealismo e ao seu patriotismo;
. sofre de tuberculose, a doença dos românticos – sintomas:
- a febre;
- as mãos a queimar;
- as rosetas nas facetas;
- a audição a grandes distâncias (cena VI).
b. D. Madalena:
. sofre (chora) com as palavras de Maria;
. evidencia uma grande tensão psicológica, agravada pela menção inconsciente de Maria a
aspetos que a aterrorizam;
. manifesta grande preocupação perante a precocidade da filha.
c. Telmo Pais:
. tem uma presença silenciosa, mas identifica-se com os ideais de Maria;
. contribui para o clima de opressão;
. aparenta resignação e convencimento;
. manifesta preocupação com a debilidade de Maria.
● Características da tragédia
▪ Agón de D. Madalena:
- com Maria: para esta, há um enigma que nem a mãe, nem o pai, nem mesmo Telmo se
prontificam a decifrar; são segredos e mistérios intuitivamente pressentidos que não
consegue desvendar:
. a razão por que nem a mãe nem o pai, apesar do seu patriotismo (“… que ele não é por
D. Filipe, não é, não?”) acreditavam no regresso de D. Sebastião;
. a razão por que, quando em tal se falava, o pai mudava de semblante, e a mãe se afligia e
até chorava;
- com D. João de Portugal, nas reações de aflição, sublinhadas pelas lágrimas, sempre que
Maria se refere à crença popular da sobrevivência e possível regresso de D. Sebastião –
cena III.
▪ Agón de Maria:
- com D. Madalena:
. a propósito da sobrevivência e do regresso de D. Sebastião (cena III) – D. Madalena não
acredita, nem lhe convém acreditar nem uma coisa nem outra. Maria acredita
firmemente;
. desconfia que a mãe oculta alguma coisa muito importante; por isso, está sempre atenta,
a observar os sobressaltos, a ansiedade da mãe a seu respeito; por isso, lê nas palavras,
nas ações e nos gestos da mãe (e do pai), à procura de indícios, de respostas para a sua
curiosidade (cena IV);
. não pode cumprir as esperanças nela depositadas (cena IV);
. por isso, desejaria ter um irmão (cena IV);
- com Manuel de Sousa:
. duvida do patriotismo do pai (cena III), por causa das atitudes que ele toma, ao ouvir
falar de D. Sebastião: “Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe, não é, não?”;
. a hipótese não tem fundamento.
………………………………
▪ D. Madalena parece caída nas garras de um destino inexorável: a última fala de Maria
da cena IV lança nela a dúvida se teria valido a pena ter casado uma segunda vez.
▪ Presságios:
. as flores murchas e os sonhos deixam antever a tragédia com que encerra a obra: a morte
progressiva de Maria (ela colheu papoilas para pôr debaixo do travesseiro, por estas
estarem associadas ao sono e ao sonho, acreditando que, assim, terá uma noite
descansada; no entanto, as flores, que representam, entre outras coisas, a beleza
efémera, murcharam rapidamente, indiciando a proximidade da morte;
. a contemplação do retrato do pai remete para a intuição do malogro do casamento dos
pais.
● Características românticas
Cena V
Cena VI
Cena VII
▪ Tempo
Partindo das informações contidas na cena, podemos concluir que a ação decorre
pelas oito horas do dia 28 de julho de 1599, de noite: “É noite fechada.”; “são oito
horas”.
A mudança do «fim da tarde» para «noite fechada» está de acordo com o que vai
acontecer, quer na família, quer no palácio; neste, permite um final espetacular e
simbólico.
▪ 2.ª parte – Reações das personagens à decisão de Manuel de Sousa.
. Madalena:
- inquieta;
- receosa;
- preocupada;
- pressente desgraças;
- procura chamar o marido à razão e demovê-lo, temendo a vingança dos governadores.
. Maria:
- orgulhosa;
- contente;
- vibrante;
- apoia totalmente o pai.
. Frei Jorge:
- mediador de conflito (concordando com D. Madalena, aconselha prudência;
concordando com Manuel, aceita a mudança de morada;
- assume a função de coro, aconselhando as personagens.
As atitudes de Manuel de Sousa são de anti poder. Tendo em conta que, em 1844,
ano da publicação de Frei Luís de Sousa, Portugal era governado pela ditadura de Costa
Cabral, o gesto de revolta da personagem pode simbolizar (e assim foi entendido na
época, por isso o poder vigente proibiu a representação da peça) a revolta contra esse
governo cabralista.
Cena VIII
▪ Manuel de Sousa:
- sempre respeitou D. João de Portugal;
- não teme o passado;
- sereno e decidido (observe-se a sua linguagem);
- forte;
- patriota: “Há de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal.”
(pleonasmo);
- amor à pátria e à liberdade;
- desrespeito pelos argumentos da esposa, que considera “caprichos”, “agouros”, “vãs
quimeras de crianças”, preferindo magoá-la a esquecer os seus princípios;
- inabalável e firme nas suas decisões;
- crente em Deus: “Não há senão o temor a Deus”;
- ironia das repetições dos pronomes num discurso duplo para o espectador: “E o
presente, esse é meu, meu só, todo meu…”;
- é o modelo do herói clássico:
. age segundo a razão;
. orienta-se por valores aceites como universais:
- a honra cavalheiresca;
- o culto do dever;
- a lealdade;
- o patriotismo;
- a liberdade.
▪ D. Madalena:
- obediente ao marido: “eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter
outra vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo”;
- amargurada e angustiada;
- aterrorizada por constantes agouros e pelo passado: “… que vou achar ali a sombra
despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dous gumes… que a
atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para
sempre…”;
- gradação crescente e hipérbole dos seus temores – menciona todas as preocupações e
profetiza mesmo a morte: “(…) a violência, o constrangimento de alma, o terror (…) viu
ser infeliz, que vou morrer (…) sem que todas as calamidades do mundo venham sobre
nós.”;
- convicta, até ao final, de que consegue demover o marido;
- é o modelo da heroína romântica:
. vive obcecada pelos fantasmas do passado;
. age pelo coração, pelo sentimento.
NOTAS:
2.ª) As duas personagens vivem, pois, um conflito dominado pelo tempo. Neste
campo, a palavra caprichos tem um significado diferente para ambos. Para Manuel de
Sousa, trata-se de uma teimosia incompreensível; para D. Madalena, trata-se de uma
questão de vida ou de morte, um dilema fatal. Um minimiza a situação, o outro empola-
a.
5.ª) A afirmação de Manuel de Sousa de que “não há espectros que nos possam
aparecer senão os das más ações que fazemos” significa que apenas se devem temer os
erros que se cometem conscientemente e mostra que desconhece a motivação profunda
de D. Madalena para recusar mudar para o palácio de D. João.
7.ª) Na sua fala final, Manuel de Sousa reitera a sua intenção de dar uma lição aos
tiranos e um exemplo ao povo, afirmando que se tratará de algo que os há de «alumiar».
Este verbo pode ser interpretado de duas formas: por um lado, com o sentido de “dar
luz”, revelando a decisão de incendiar o próprio palácio (cena XI); por outro, com o
sentido conotativo de “esclarecer”, como um incentivo à oposição e à recusa da
submissão e tirania.
● Elementos trágicos (cenas 7 e 8)
▪ Agón de D. Madalena:
- com Manuel de Sousa:
Manuel de Sousa, no regresso de Lisboa, resolve incendiar o seu palácio, para não
hospedar os governadores Luís de Moura, o conde do Sabugal, o conde de Santa Cruz,
“que tomaram este incargo odioso… e vil, de oprimir os seus naturais em nome dum rei
estrangeiro”. O arcebispo já estava alojado no convento dos domínicos de Almada.
Tomando esta atitude dos governadores como opressão, prepara-se para dar “uma
lição aos nossos tiranos que lhes há de lembrar, … um exemplo a este povo que os há de
alumiar”, numa frase ambígua e profética. Para não “sofrer esta afronta”, diz, “é preciso
sair desta casa”.
D. Madalena interroga-se, aterrada, diante do inevitável (voltar de novo para o
palácio onde vivera com D. João), acerca do novo local de habitação. É a partir desta
premente necessidade de mudar de residência que se manifesta o conflito de D.
Madalena com Manuel de Sousa. As razões de D. Madalena são óbvias:
1.ª) “a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar
naquela casa”;
2.ª) “parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou
encontrar ali”;
3.ª) “vou achar ali a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma
espada de dous gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha,
que nos vai separar para sempre”;
4.ª) “sei decerto que vou morrer naquela casa funesta, que não estou ali três dias, três
horas, sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós”.
Por fim, um pedido ansioso:
5.ª) “Meu esposo, Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor to peço, pela nossa
filha… vamos seja para onde for, para a cabana de algum pobre pescador desses
contornos, mas para ali não, oh, não!...”.
Ouvem-se as lágrimas, sente-se o sofrimento íntimo e atroz nestas palavras
proféticas, dolorosas e ambíguas, carregadas de duplo sentido, cheias de motivações
profundas, claras apenas para D. Madalena, só obscuras para Manuel de Sousa,
desconhecedor do mistério e do segredo nelas contido.
Por isso, Manuel de Sousa, a princípio, interpreta esta repugnância como
«capricho» bem feminino, e leva-a à conta de «fraqueza de acreditar em agouros». Se o
coração e as mãos de D. Madalena «estão puras», colo ele crê, em sua boa-fé, então
«não há espectros que nos possam aparecer». Espectros só os das «más ações». Tudo
isso são «quimeras de criança». Por fim, chama-a à razão e lembra-lhe as
responsabilidades que ela tem, por si e pelos antepassados: «Vamos, D. Madalena de
Vilhena, lembrai-vos de quem sois e de quem vindes, senhora…».
Vencida, mas não convencida, nada mais adiantará para D. Madalena perante o
irremediável: incendiado o palácio de Manuel de Sousa, vê-se forçada, muito a
contragosto, a mudar de residência, a regressar a casa de D. João de Portugal.
o de Portugal: manifesta-se na relutância de voltar a viver sob o mesmo teto em que
fora (não o era ainda?) esposa de D. João, e nas razões que apresenta (I, 7 e 8).
● Características românticas
. crença em Deus;
. nacionalismo e patriotismo;
. interioridade / sensibilidade;
. adequação da linguagem às personagens: coloquialidade e emotividade – reticências,
pausas, exclamações, interjeições, repetições;
. Manuel de Sousa representa o herói romântico que luta pela liberdade e pela pátria,
contra a tirania;
. D. Madalena é a figura romântica da mulher dominada pelo sentimento (medo, culpa,
agouros, terror…).
Cena IX
● Assunto:
a) Telmo traz a notícia da súbita chegada dos governadores de Lisboa (à exceção
do arcebispo, que ficou hospedado n convento de Almada);
b) Manuel de Sousa sente-se enganado por eles, mas não o apanharam desprevenido.
Cena X
● Assunto: saída precipitada das personagens da casa
a) Jorge e Telmo acompanham as senhoras;
Cena XI
● Retrato de Manuel de Sousa
Este monólogo de Manuel de Sousa exemplifica a sua determinação, coragem e
patriotismo.
De facto, “como homem de honra e coração”, o seu foco está no afrontar os
governadores: se for caso disso, está disposto a perder os seus haveres e até a sacrificar
a própria vida, que considera efémera (“vida miserável que um sopro pode apagar em
menos tempo ainda!”), para se opor à tirania.
Por outro lado, a cena enfatiza os valores que Manuel de Sousa representa e que já
conhecemos: a honra, o amor à pátria e à liberdade, o despojamento dos bens materiais.
● Presságio
A evocação por Manuel de Sousa da morte desastrosa do pai (caiu sobre a própria
espada) associa esta morte a uma morte provável, no meio das “chamas ateadas por suas
mãos”. É mais uma prolepse da desgraça que irá suceder. Por outro lado, esta passagem
chama a atenção para a ideia de que é o homem que constrói o seu destino e de que
todas as ações acarretam consequências.
Cena XII
● Assunto: o incêndio do palácio.
● Simbologia do incêndio
▪ O incêndio e a destruição do retrato representam a antecipação da morte de Manuel de
Sousa.
▪ Por outro lado, o mesmo fogo que consome o quadro vai permitir igualmente a
purificação da personagem. De facto, após a morte de Manuel de Sousa para a vida
mundana, dá-se a sua ressurreição espiritual como Frei Luís de Sousa, um dos grandes
prosadores portugueses do século XVII.
▪ D. Madalena:
- aterrorizada com o ato do marido;
- dominada pelo Destino e pelo fatalismo e impotente contra ambos: a tentativa de salvar
o retrato do marido, parecendo prever o que daí adviria;
- ao ver o palácio a arder, a sua única preocupação consiste em salvar o retrato, parecendo
adivinhar na sua destruição algo muito grave. De facto, para ela a destruição do retrato
pelo fogo prenuncia a destruição do marido e da própria família;
- o cerco vai-se fechando à sua volta e os seus contínuos medos e terrores começam a ser
justificados: D. João de Portugal não regressou, mas D. Madalena vai ao encontro do
passado.
NOTAS:
1.ª) Estas derradeiras cenas do primeiro ato são bastante rápidas. Aliás, desde a
chegada de Manuel de Sousa, o ritmo, até então algo lento, torna-se rápido e, depois,
muito rápido, o que está em sintonia com o final espetacular do ato e com a peripécia: a
intriga adensa-se e afunila. Esta aceleração do ritmo da ação é traduzida pela pontuação
usada: frases muito pontuadas, pausadas por vírgulas, pontos e vírgulas e reticências,
mostrando o precipitar das ações; os pontos de exclamação marcam o sentimentalismo
das cenas.
2.ª) Manuel de Sousa afirma conceitos e características do Barroco: nada perdura,
tudo muda, a vida é perpétua mudança, tudo é aparência e sonho.